I think he knows

Finalizada em: 05/01/2023

Capítulo Único

“ele faz com que as batidas do meu coração
saltem lá pela quinta avenida
eu acho que ele sabe”
I think he knows - Taylor Swift

— Vocês não estudaram juntos?
O tom de voz alto de permitiu que eu compreendesse perfeitamente a pergunta que ela tinha feito; meus olhos acompanharam o dedo em riste dela, tentando notar para quem ela estava apontando, até perceber o pontinho amarelo em forma de gente na área de bola da Espanha.
— Ah — eu refleti por um momento, diante da multidão de pessoas gritando ao meu redor. O futebol fazia as pessoas se agitarem de forma estranha. — Sim.
Ela tinha apontado para Simón, o goleiro titular da Seleção Espanhola na Copa do Mundo.
— Como você sabe? — indaguei, curiosa.
Eu nunca tinha contado a ela sobre Simón. e eu viramos amigas depois que terminei o colégio, quando consegui fazer um intercâmbio de um ano na Costa Rica. Ela era uma nativa bastante extrovertida que me adotou como sua amiga pelo resto da minha estadia e, mesmo quando fui embora um ano e meio depois, nós ainda continuamos sendo amigas. Eu não conseguia decidir se era deprimente revelar que ela era a única amiga que consegui a minha vida toda. O fato de ter sido nerd na escola não me abriu portas no quesito amizades duradouras, mas me trouxe muitas oportunidades acadêmicas e profissionais. Mesmo que fosse filha do líder da equipe médica e estivesse acompanhando a Copa tão de perto por causa dele, eu estava ali a trabalho. O pai dela era o meu chefe e eu integrava a equipe médica da seleção costa-riquenha.
— Eu bisbilhotei o seu anuário — me confessou, cutucando o meu braço logo em seguida, apontando discretamente para Simón agarrando novamente a bola. Ela nem mesmo parecia abalada do seu time estar perdendo por 7 a 0. — Ele é muito bonito. Acha que ele lembra de você?
Simón uma vez me encontrou suja de tinta; um grupo de garotos idiotas estavam pregando uma pegadinha no grupo daqueles que chamavam de nerds e, quando passei pela porta do laboratório de química, uma corda foi puxada e um balde de tinta colorida caiu sobre minha cabeça. Fiquei irritada o suficiente para perceber que eu não conseguiria lidar com um bando de garotos idiotas, então me virei para ir embora e esbarrei em Simón. Sujei a sua camisa. Ele não disse nada. Outra vez, em um evento de patinação artística no gelo na quadra da escola, resolvi me arriscar a patinar, o que foi uma péssima ideia. Só percebi isso quando escorreguei dentro do gelo, caí de costa no chão e levei-o junto comigo. Todos os nossos encontros foram desastres iminentes, resultando sempre na minha completa humilhação. Eu me lembrava dele.
— Acho que não — respondi, guardando as lembrança humilhantes para mim. — Ele era bastante popular.
E, como mandava a tradição ridícula, caras como ele não olhavam para garotas como eu. Eu estava sempre com a cara enfiada nos estudos, presa na biblioteca, passando tempo no laboratório de biologia, enquanto ele só precisava ser bonito e participar da equipe de futebol do colégio. Duas pessoas completamente opostas que nunca pararam para dizer nada mais do que o próprio nome. Eu realmente achava que ele não lembrava de mim, mas eu era patética o suficiente para nunca ter esquecido a queda que eu tinha por ele.
Pensei que nunca mais o veria… até descobrir que ele tinha se tornado o goleiro oficial da Seleção Espanhola e contratado por um clube espanhol. Agora, eu estava cercada pela imagem dele. Como agora.
— Nossa, que merda — murmurou, quando o juiz apitou, encerrando o jogo. — Eu posso xingar o seu país?
Ela olhou para mim, esperando. Eu ri, balançando a cabeça, batendo no seu braço com um saquinho fraco, enquanto a equipe técnica e os jogadores reservas do time se dispersaram entre nós.
— Só um pouquinho — respondi.
começou uma sessão de xingamentos na língua materna e sua expressão indicava claramente o que ela estava fazendo, com o olhar feio que ela lançava a cada jogador espanhol em campo. De repente, ela suavizou a expressão e virou o rosto para mim, sorrindo.
— Ninguém vai te xingar mais do que eu por você ter torcido pelo time rival — ela disse.
— Eu nasci na Espanha — rebati, como se fosse argumento suficiente. — E você não sabe se eu torci por eles.
me lançou um olhar, como se soubesse sim. Fiz uma careta desgostosa, nem um pouco culpada por desejar que a Espanha jogasse bem em seu jogo de estreia, apesar de me solidarizar com os meninos do time que tinha me dado um emprego.
— Qual é? — Minha melhor amiga exclamou. — Com um goleiro daqueles, até eu torcia! E vocês estudaram juntos!
Percebi que ela não me deixaria em paz com aquele fato. Era só o primeiro dia de jogo do time na fase de grupos, o que significava que eu ainda estaria no mesmo ambiente que meu ex-colega de escola e que não perderia a oportunidade de falar sobre ele sempre que pudesse.
— Você devia ir falar com os meninos — eu sugeri.
Ela soltou um suspiro dramático, mas acatou a minha sugestão. Minha melhor amiga me deu as costas, me deixando para trás e fiquei observando ela conversar com alguns dos meninos, dizendo palavras que eu não conseguia ouvir por estar longe. Agoniada por ficar ali parada, me juntei aos outros e verifiquei se estava tudo bem com os titulares que jogaram hoje. Eles tinham perdido de sete a zero para a Espanha, um mau começo para uma estreia de copa do mundo, mas fora o emocional, fisicamente eles estavam perfeitamente bem.
Percebi que o estádio estava se esvaziando, o campo ocupado só com os jogadores, a equipe técnica e a equipe de mídia. Os meninos começaram a trocar cumprimentos educados com os jogadores espanhóis e distribuí água para alguns deles. Eu sentia o olhar de em mim o tempo todo. Quando encarei de volta, parada no meio campo, ela me lançou um olhar silencioso, apontando com a cabeça para mim, mas eu não estava entendendo o que ela queria dizer. Joguei uma garrafa para Navas, que agarrou com maestria e me deu um joinha e um sorriso de agradecimento. continuava balançando a cabeça e eu estava prestes a me virar e ignorá-la, quando meu corpo bateu atrás de alguém. Quando me virei, dei de cara com Simón.
Ele estava suado, ainda usando o uniforme, mas sem as luvas nas mãos.
O goleiro da Espanha — e meu ex-crush da adolescência —, levantou o rosto na minha direção, me encarando com um sorriso. E entendi os sinais de .
— Desculpe — murmurou, na língua inglesa. — Eu não te vi aí.
Engoli a seco, sentindo a minha mão suar. Por um momento, me senti no Ensino Médio de novo, onde eu quase sempre esbarrava com ele em uma situação humilhante, mas as coisas eram diferentes agora.
— Tudo bem — respondi, mal notando que eu tinha usado a língua materna para me comunicar, o que meio que me denunciou. — A culpa foi minha.
Unai Simón estreitou os olhos na minha direção.
— Você fala espanhol?
Espremi os lábios e mexi os ombros.
— Sim — concordei. — Eu trabalho com o time da Costa Rica, mas… sou espanhola.
Ele pareceu confuso por um momento; sua testa franziu e o sorriso foi aumentando até sua expressão se suavizou em total reconhecimento.
?
Meu coração errou uma batida. Ouvi-lo dizer o meu nome tinha paralisado meu corpo. Mesmo quando estudávamos juntos, acho que nunca vi ele me chamar pelo primeiro nome ou mesmo se referir a mim, embora nunca tenha sido cruel ou algo do tipo só porque era popular. Na verdade, Simón sempre foi gentil. Me levou para casa suja de tinta, sem se importar se eu sujaria o seu carro. Me levou para a enfermaria durante o acidente de patinação no gelo. Tirou todos os adesivos ofensivos que foram colocados na porta do meu armário.
— É, sou eu.
Se fosse mesmo possível, o sorriso em seu rosto aumentou. Esfreguei minhas mãos no pano da minha calça, sem saber o que fazer com elas, já que eu tinha entregado todas as garrafas de água e não estava segurando nada mais para me ocupar.
— Acredito que você saiba quem eu sou, já que não perguntou — ele disse, coçando a nuca, o sorriso diminuindo, mas não por completo. Sua barba dava um ar ainda mais jovem a ele e me perguntei como ele tinha ficado mais bonito em poucos anos. — Digo, eu sei que você sabe quem eu sou, quis dizer…
— Eu me lembro de você, Simón — interrompi, explicando. — Só estou estou surpresa que você tenha lembrado de mim.
Ele olhou para trás rapidamente, mas ninguém estava prestando atenção em nós. Eu aproveitei aqueles segundos de distração para continuar reparando em como ele estava bonito, charmoso e, como gostaria muito de destacar se estivesse comigo agora, um gostoso.
— Espero que eu nunca tenha sido um babaca com você para que ache isso — ele começou a dizer, me distraindo com os movimentos de sua mão passando na barba rapidamente. — Mas as situações cômicas em que a gente sempre se encontrava fez com que você fosse destacada para mim.
Pigarreei, percebendo só agora que estávamos nos comunicando com a nossa língua materna e não a inglesa.
— Situações humilhantes, você quis dizer — corrigi.
Waston passou por mim e nós trocamos um high-five rápido, antes dele seguir direto para onde ficava o banco dos reservas.
— Não — Simón discordou de mim. — Além do mais, você me salvou.
Pisquei meus olhos para ele, tentando entender o que sua frase significava. Eu o salvei? Não havia nada na minha memória a respeito daquilo.
— Você deve estar me confundindo com alguém — eu disse, umedecendo os meus lábios, meio confusa.
— Não, , não estou — O goleiro se apressou em responder. — O campeonato de natação, você lembra?
Uma vez por ano, a escola fazia um campeonato de esportes para que os alunos participassem e competissem com os times de outras escolas. Eu nunca participava como protagonista de nada, exceto como espectadora, mas uma vez, no campeonato de natação, aconteceu uma briga com os integrantes da equipe de futebol com o time rival e Simón foi empurrado para a piscina. Ele não sabia nadar e a piscina era profunda demais e, por impulso, me joguei dentro da água e o tirei de lá. Logo depois de tirá-lo da piscina, minha pressão baixou e eu desmaiei e praticamente esqueci o acontecimento. Eu sabia que tinha salvado alguém de ser afogado, mas eu não sabia que tinha sido ele.
— Eu não lembrava que tinha sido você — confessei.
Caramba.
Uma revelação a essa altura da minha vida mudava um pouco as minhas perspectivas. Ele nunca falou comigo depois, então eu jamais ia lembrar de nada, se não fosse dito agora.
— Sinto muito nunca ter agradecido o suficiente por isso — ele disse, parecendo ler o meu pensamento. — Mas que bom que te encontrei aqui agora. Posso agradecer e dedicar a nossa vitória à você. Eu não estaria aqui se não tivesse me salvado.
Sorri, porque eu não sabia o que dizer. Meu pulso acelerou e eu respirei fundo, me recuperando do mar vasto de emoções que estava me consumindo naquele reencontro inesperado.
— Não há de quê, Simón — murmurei. — Mas você está aqui por mérito próprio. Que a nunca me ouça, mas eu estava torcendo por vocês.
Ele riu, o som arrepiando a minha nuca.
— Espera aí, você disse que trabalha para a seleção da Costa Rica? — ele voltou ao assunto, se dando conta da informação só agora. — O quê? Seu país não tinha uma vaga na área?
Dessa vez, eu ri, balançando a cabeça.
— Não é isso — expliquei. — Eu fiz intercâmbio na Costa Rica e conheci algumas pessoas. Uma dessas pessoas é filha do chefe da equipe médica da seleção, então fiz uma entrevista e fui chamada.
Ele pareceu notar só agora o crachá da FIFA no meu pescoço, anunciando o meu nome e a minha função. , médica ortopedista.
— Você está no time errado, .
Eu ri novamente, dando de ombros.
— Não se preocupe, jogador — murmurei, com um sorriso. — Eu pretendo voltar para a Espanha.
Os olhos dele me encararam de um jeito novo, o sorriso meio perdido nos lábios. O mundo ao nosso redor pareceu sumir para mim por um momento e eu me senti nervosa na sua presença, mas não pelos motivos errados. Era só a percepção de que ele ainda mexia comigo, mesmo depois de tantos anos.
— Quando voltar, me faça uma visita — ele pediu.
Incapaz de dizer qualquer coisa, só acenei positivamente, selando uma promessa silenciosa que eu nem mesmo sabia se iria cumprir.
— E se estiver precisando de um emprego melhor, por favor, venha para o seu time — completou.
A Espanha era a minha casa e eu conhecia alguns dos jogadores da seleção espanhola, mas eu não tinha certeza se eles poderiam ser o meu time, como ele estava fazendo questão de frisar. De qualquer forma, eu tinha gostado da sensação que a frase tinha me causado, então não recusei o convite imediatamente.
— Eu queria que você tivesse me notado antes — falei, meio sem pensar, mas era tarde demais para voltar atrás agora.
Me xinguei mentalmente pelo escape, Simón me olhando com uma surpresa genuína antes de se aproximar mais um pouco de mim.
— Eu sempre te notei, — confessou.
A sensação de borboletas no meu estômago me dominou. Parecia que as sensações adolescentes nunca deixavam de fazer parte de nós nem mesmo na fase adulta. Ele tinha sido minha primeira paixonite e, pelo que acabei de perceber, continuava sendo. Eu estava prestes a dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas fomos interrompidos.
— Oi, ! — Gavi apareceu, sorrindo para mim.
Pisquei meus olhos, desviando a minha atenção do goleiro para o jogador mais jovem do time e sorri também; eu tinha conhecido-o em um passagem pela Barcelona, quando precisei participar de um treinamento e substituir o ortopedista por uma temporada.
— Oi, Gavi. — Devolvi o cumprimento. — Você parece maior do que da última vez.
Ele riu, me abraçando rapidamente, sabendo que eu não me importava com o fato de que ele estava suado.
— Vocês se conhecem? — Simón indagou, confuso.
— É, ela foi nossa médica por um tempo no Barcelona — Gavi explicou. — Enfim, desculpa por isso, , mas preciso roubar nosso goleiro por um minuto — ele continuou, virando-se para Simón. — Estão chamando para a foto com a equipe.
Simón concordou com um aceno e Gavi se despediu de mim rapidamente, nos deixando sozinhos novamente.
— Vou te ver de novo? — ele perguntou.
Eu não sabia aquela resposta, mas queria ser positiva quanto àquilo.
— Espero que sim — respondi. — O Gavi tem meu número.
Ele balançou a cabeça devagar, parecendo pensativo.
— Se nosso time erguer a taça, vou dedicá-la a você — ele avisou, quebrando a distância entre nós. — Foi ótimo te ver, .
Simón se demorou um pouco ao beijar a minha bochecha esquerda e eu mal notei que tinha prendido a respiração com a sua aproximação. Sua barba roçou na minha pele, me causando arrepios e eu vi o seu sorriso quando ele se afastou, me dando as costas.
Soltei o ar pela boca, engolindo a seco, sentindo pena do meu pobre coração que batia mais rápido que qualquer coisa. Meus olhos observaram ele se afastar, analisando cada movimento e interação dele com os colegas.
Quando ele olhou para mim de longe, me flagrando ainda encarando-o, aceitei a minha derrota.
Não tinha como ter dúvidas de que toda minha paixonite de adolescente por ele tinha me acompanhado a vida inteira até aquele momento e me perguntei se ele sabia disso.
Na verdade, eu acho que ele sabe.
Acho que ele sempre soube.





Fim.



Nota da autora: Quis participar de todos os desafios, mas nada fluía, e então, no último a inspiração bateu na minha porta e resolvi me testar a escrever cinco páginas com o tanto de coisa que eu queria explorar com esse não-casal. Graças a Deus a Taylor existe e I Think He Knows me deu o gás que eu precisava. Amei ter escrito esse desafio clichê e espero que vocês tenham curtido um pouco o meu crush momentâneo com o goleiro da Espanha HAHAHA um beijo e até a próxima! <3 <3



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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