Prólogo
Há séculos, as cordas da lira ecoaram pela noite, suas notas sombrias arranhando o véu do tempo. Ninguém mais ouviria aquela melodia fatal — ou, pelo menos, assim ele esperava. Sob o brilho fraco das tochas, o bruxo ajustou os dedos nas cordas negras uma última vez, antes de selá-la nas profundezas. Seu olhar, cansado e sombrio, carregava o peso da responsabilidade: o que ele escondia não era apenas uma relíquia, mas um poder que nenhum bruxo deveria controlar.
O lugar estava frio e úmido, as sombras dançavam nas paredes enquanto as tochas vacilavam. O bruxo avançou, seus passos ecoando suavemente no silêncio sombrio. No centro do altar de pedra, a Lira de Érebo repousava, inerte, mas emanando um poder invisível e pulsante.
Ele parou à sua frente, as mãos tremendo levemente. A responsabilidade que carregava era esmagadora; aquele artefato já havia causado desastres antes, e agora ele seria o último a vê-lo, a ouvi-lo… O Fiel do Segredo. Um sussurro do passado ecoava em sua mente — histórias de outros bruxos que sucumbiram à maldição.
— É agora ou nunca — sussurrou, fechando pesadamente os olhos.
Com a determinação renovada, o bruxo ergueu sua varinha, os olhos fixos na lira. A sensação da magia ancestral pulsando no ar era quase sufocante, como se a própria lira soubesse o que estava para acontecer. Ele respirou fundo, fechando os olhos e começou o encantamento do Feitiço Fidelius, um feitiço que selaria para sempre o segredo da localização da lira dentro dele.
— Fidelitas Immortalis…
Sua voz era firme, mas pesada, ressoando naquele lugar tão escondido e ao mesmo tempo tão próximo, como um eco distante. As palavras antigas fluíam de sua boca, impregnadas com a energia de proteção. As sombras ao redor começaram a se mover, como se fossem atraídas pelo poder da magia que ele invocava.
A varinha brilhou com uma luz intensa, um feixe dourado que se estendeu até a lira, envolvendo-a em uma teia brilhante, enquanto o feitiço começava a se formar. Os fios de luz entrelaçaram-se lentamente, como teias de aranha intricadas, envolvendo completamente o artefato e selando seu poder.
— Que o segredo deste artefato permaneça para sempre escondido dentro de mim — murmurou o bruxo, com uma reverência solene.
Agora, o fardo do segredo era dele; sua mente seria o único cofre capaz de conter a localização da lira.
De repente, uma dor aguda atravessou sua mente, como se algo estivesse sendo gravado em suas profundezas, um segredo tão poderoso que era quase tangível. Ele cambaleou por um momento, mas se manteve firme. Sabia que o feitiço estava funcionando.
As sombras do local pareceram crescer, comprimindo-se em torno dele, como se o espaço estivesse se fechando. O ar tornou-se pesado, carregado com a energia sombria da lira. Ele sentiu o peso do segredo que agora guardava, como uma âncora presa ao seu próprio coração.
O último fio de luz desapareceu na escuridão, e a lira se apagou, como se tivesse sido sugada para fora da realidade.
— Está feito.
Ele guardou a varinha, o coração batendo forte. Agora, só ele sabia o paradeiro da lira, e essa responsabilidade pesava em sua alma. A partir daquele momento, o poder da lira estava oculto no mundo, mas ele sabia que, algum dia, alguém de sua linhagem seria chamado para enfrentar esse segredo mais uma vez.
Atualmente:
As cordas soaram ao longe, como um sussurro perdido no vento, mas, ainda assim, as sombras pareceram se aproximar, encostando na pele de com um arrepio.
A escuridão envolvia tudo. se movia por entre os corredores de Hogwarts, mas algo estava errado — terrivelmente errado. As paredes, outrora majestosas, estavam agora em ruínas, rachaduras profundas serpenteando como cicatrizes ao longo das pedras antigas. O ar estava pesado, denso como uma sombra viva, e o silêncio absoluto era quebrado apenas por um som… um som que arrepiava sua alma.
A melodia.
Aquela melodia fatal, ecoando como um sussurro cortante, atingia cada canto do castelo. Era alta e penetrante, uma composição sombria e agonizante. Os gritos dos alunos ecoavam nas paredes destruídas; cada nota da melodia arrancava deles um lamento de dor, como se suas almas fossem despedaçadas.
Horrorizada, correu pelos corredores, vendo rostos conhecidos contorcidos em agonia, alunos caídos, retorcendo-se no chão, suas mãos segurando as cabeças como se tentassem bloquear o som, mas sem sucesso. Ela tentava gritar, tentava parar aquilo, mas não saía som algum de sua boca. Seu coração batia forte, o terror crescendo a cada passo.
O som que fazia os outros sofrerem não a afetava. Ela parou, ofegante, percebendo o que isso significava. O horror invadiu seus pensamentos. Por que ela? Por que só ela era poupada daquela dor infernal?
Ela seguiu pelos corredores destruídos, o castelo desmoronando ao redor, até que as grandes portas do salão principal se abriram com um som oco e retumbante. O Grande Salão agora era um cenário de caos. As longas mesas de banquete estavam tombadas, pratos e cálices espalhados como destroços de uma festa arruinada. E no centro de tudo, Gui Weasley.
Seus cabelos ruivos estavam bagunçados, e os olhos, habitualmente calorosos, agora estavam tomados por um medo profundo. Ele ficou parado, os punhos cerrados, o peito subindo e descendo rapidamente enquanto os gritos continuavam ao redor.
— O que foi que você fez, ? — A voz dele tremeu, um misto de choque e dor.
O som das palavras perfurou sua mente. O que ela tinha feito? Ela não conseguia entender, não conseguia… até que sua atenção foi desviada para um dos pratos prateados caído ao lado.
Com as mãos trêmulas, ela o levantou e olhou para seu reflexo.
O choque a atingiu como uma rajada de vento gélido. Seus cabelos escuros estavam presos firmemente, a pele pálida quase etérea, e seus olhos… seus olhos estavam tomados por uma sombra que não reconhecia. Sua aparência era fria, sombria, como se a própria escuridão estivesse enraizada nela. O terror se apossou de seu corpo, a verdade piscando na borda de sua consciência.
Ela era a causa daquilo. Era como se o poder da Lira de Érebo estivesse fluindo através dela, transformando-a no próprio instrumento de tormento.
— Não… — sussurrou para si mesma, horrorizada, os olhos arregalados.
Mas, antes que pudesse reagir, ouviu a voz. Uma voz familiar, que a perseguia desde que tinha entrado em Hogwarts. Aveludada, rouca, escorregadia como um veneno doce. A voz que vinha daquele garoto da Sonserina.
— Ele jamais vai nos entender — sussurrou em seu ouvido, próximo demais, fazendo sua pele arrepiar, o tom carregado de uma certeza fria. Ele estava lá, em algum lugar nas sombras, observando.
Ao abrir os olhos, o peso daquele sonho ainda estava com ela, pressionando seu peito como se as sombras tivessem atravessado a realidade.
O que aquele sonho poderia significar? Será que o seu quinto ano em Hogwarts estava realmente em perigo de ser o melhor como ela mesma havia prometido e desejado?
Elara não sabia as respostas daquelas perguntas, mas nada jamais a impediria de retornar a escola onde ela se sentia mais em casa do que em seu próprio lar.
Ela retornaria para o seu quinto ano. Elara enfrentaria aqueles pesadelos, que achava serem apenas sonhos. Enfrentaria também o amor platônico que sentia por seu melhor amigo: Gui Weasley. E, claro, enfrentaria aquele sujeitinho da Sonserina, o qual sempre fazia questão de estar presente em sua vida.
O quinto ano estava prestes a começar.
Capítulo 1
Ainda era madrugada quando acordou sobressaltada, o coração disparado como se tivesse corrido quilômetros. Ela sentiu o suor frio escorrendo pela nuca, enquanto o ar à sua volta parecia gélido, pesado, sufocante. Na penumbra do dormitório da Grifinória, o som de respirações calmas das outras garotas contrastava com a inquietação que pulsava dentro dela.
Aquele sonho… ou melhor, aquele pesadelo. As paredes desmoronando, os gritos de dor, o olhar de espanto de Gui. Cada detalhe permanecia vívido na sua mente, como se ela ainda estivesse lá, presa na ruína. E, pior, a voz — aquela voz rouca e aveludada que parecia ter um lugar permanente em sua cabeça.
respirou fundo e fechou os olhos, tentando afastar a sensação de que algo a observava.
virou-se pela milésima vez na cama, o travesseiro agora amassado contra o peito, enquanto seus pensamentos se debatiam como tempestades. O silêncio do dormitório parecia gritar, e a escuridão não trazia descanso, apenas ampliava o nó que apertava seu coração. Seus olhos, ardendo pela falta de sono, vagaram pelo quarto até pararem na prateleira ao lado. Com mãos trêmulas, alcançou o pequeno quadro. A luz suave da lua revelava o movimento da foto, onde ela e Gui Weasley riam, jogando neve um no outro. O som de sua risada parecia ecoar em sua memória, aquecendo um pouco o frio que havia se instalado em sua alma. O nó em seu peito afrouxou, e pela primeira vez naquela noite, sentiu o peso da angústia dar lugar a uma melancolia branda, quase doce. Ela ficou ali, perdida na imagem, até que o cansaço finalmente a encontrou.
Quando a primeira luz do amanhecer infiltrou-se pelas janelas altas do dormitório, sentiu a familiar agitação de Hogwarts ganhar vida. A sonolência ainda a acompanhava, mas o castelo, em sua grandiosidade peculiar, parecia respirar de forma própria, como um ser vivo que a acolhia em sua rotina mágica. No caminho para o Salão Principal, ela passava pelas escadarias que mudavam de posição com uma precisão caprichosa, os quadros cochichando e opinando sobre qualquer movimento ao alcance de suas molduras. O cheiro quente de pão recém-assado e bacon flutuava pelo corredor, guiando os passos apressados dos alunos esfomeados.
Ao entrar no Salão Principal, foi recebida pela visão majestosa do teto encantado, onde o céu claro da manhã refletia o que acontecia lá fora, trazendo uma sensação breve de conforto. As mesas estavam lotadas de alunos rindo, discutindo tarefas de feitiços ou simplesmente reclamando das primeiras aulas do dia. Ela avistou Gui Weasley rindo com os amigos na mesa da Grifinória, seu cabelo ruivo queimando como uma chama contra o cenário animado. Ele lançou um olhar casual na direção dela, mas voltou rapidamente à conversa, sem perceber a leve tensão que o gesto trouxe ao peito de .
Enquanto tomava seu lugar na mesa da Grifinória, um arrepio percorreu sua espinha. Foi então que percebeu os olhos intensos de , um aluno da Sonserina, fixos nela do outro lado do salão. Seu olhar era calculado, distante, mas profundamente perturbador, como se ele soubesse mais do que demonstrava. Por um breve instante, sentiu o peso de tudo o que carregava ameaçar romper a ilusão de normalidade que Hogwarts criava. Ainda assim, com o barulho alegre ao seu redor e a comida quente à sua frente, ela tentou ignorar as sementes de inquietação que começavam a brotar.
— Estou com algo sujo? — perguntou ao seu melhor amigo Gui. — não para de me encarar… parece que derrubei suco de abóbora em mim e não percebi! — reclamou rolando os olhos e devolveu o olhar feio de .
O garoto riu, maldosamente e desviou o olhar para os outros amigos da Sonserina, — os quais achava porcos imundos, mesmo considerando uma ofensa aos porcos.
— Relaxa, — disse Gui, com um sorriso meio travesso, enquanto empurrava uma mecha de cabelo para longe dos olhos. — Talvez ele só esteja encantado com seu charme irresistível. Ou… — ele fez uma pausa dramática, o rosto iluminado por uma expressão exageradamente séria — …talvez você seja a próxima vítima de algum plano sinistro da Sonserina. Melhor começar a dormir com uma varinha embaixo do travesseiro.
Ele deu uma risada abafada, claramente se divertindo mais do que deveria com a situação, enquanto roubava um pedaço de torrada do prato dela.
— Ou, quem sabe, ele só quer uma desculpa pra levar outro feitiço seu na cara. Honestamente, acho que ele curte a emoção.
tentou rir da brincadeira de Gui, mas a gargalhada dele, tão despreocupada, pareceu ecoar em seu peito de um jeito desconfortável. “Encantado pelo meu charme irresistível…” A ideia deveria fazê-la revirar os olhos, mas, ao contrário, ela sentiu o rosto esquentar. Desejava que Gui fosse o único afetado pelo suposto charme que ele mencionara. Seria tão ruim assim se, por um instante, ele notasse como os olhos dela brilhavam mais para ele do que para qualquer outro?
Ela apertou os lábios, tentando conter um suspiro que insistia em escapar, mas falhou, soltando-o de maneira suave e involuntária. Gui, distraído com sua torrada recém-roubada, não pareceu notar o pequeno som, o que a fez respirar fundo, aliviada e frustrada ao mesmo tempo. Enquanto ele mastigava, ainda rindo da própria piada, ela se pegou pensando que talvez fosse ela quem estivesse encantada demais por ele, e não o contrário.
— Poderia ter mais duelos para eu dar uma surra naquele abusado. Ele não tem outra pessoa para importunar, não? — finalmente conseguiu responder o amigo, rindo em seguida e comendo a outra torrada que Gui tinha deixado. — Qual motivo será da obsessão, né?! — Fiz uma careta.
— Obsessão? — Gui arqueou uma sobrancelha, um sorriso brincando nos lábios enquanto se inclinava levemente na direção dela. — Ah, , vai ver ele só gosta de desafios impossíveis. Quem não ia querer irritar a garota que poderia derrotá-lo num duelo com os olhos fechados? — Ele deu de ombros, pegando outra torrada do prato dela, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Depois de mastigar calmamente, ele completou, com um brilho travesso nos olhos:
— Mas se ele continuar olhando assim, talvez eu mesmo precise resolver isso. Não vou deixar ninguém roubar o meu lugar de te provocar.
As palavras de Gui foram ditas com o tom despreocupado de sempre, mas para , acertaram como um feitiço direto no peito. Seu coração deu um salto, como se estivesse tentando escapar, e o mundo ao redor pareceu ficar embaçado, com apenas os olhos dele focados nela. Eles brilhavam com aquele misto de travessura e sinceridade que só Gui conseguia carregar, e sentiu como se estivesse perdendo o chão.
Ela tentou manter a compostura, mas o sorriso dele, o jeito que ele a olhava como se estivesse completamente à vontade ao seu lado, tornou impossível desviar o olhar. O calor subiu pelas bochechas dela, e, por um segundo, os seus pensamentos fugiram do controle. “Será que ele sabe o efeito que tem sobre mim?”
Gui estava tão perto, e sua presença era esmagadoramente familiar e, ao mesmo tempo, estranhamente nova. percebeu que seu coração acelerado não era só uma reação ao momento; era uma confissão silenciosa de tudo o que ela sentia. E naquele instante, com as risadas ao redor deles no Salão Principal desaparecendo, ela soube que estava irremediavelmente apaixonada por seu melhor amigo.
— Você? Indo tirar satisfações com o , por minha causa? — Ela ergueu as sobrancelhas, tentando recuperar a compostura.
riu de uma forma debochada, tirando onda com Gui, mas sabendo que ele tinha coragem suficiente para fazer algo assim.
— Aliás, tenho Poções hoje… Terei que aturar ele por mais tempo. Talvez seja melhor eu ser a que vai confrontá-lo.
— Tá bom, tá bom — Gui cedeu, levantando as mãos em rendição teatral. — Mas, ó, só porque você quer resolver as coisas sozinha, não vá acabar duelando de verdade com ele em Poções. O Snape vai me culpar se você explodir alguma coisa por lá.
— Quem sabe ele não precisa mesmo levar uma explosão no caldeirão? — deu de ombros, pegando mais uma torrada. — Mas, relaxa. Se eu fizer isso, prometo que vou culpar você.
Gui soltou uma risada alta, mas antes que pudesse responder, a voz familiar de Carlinhos Weasley cortou a conversa.
— Ei, Gui! — chamou ele, aproximando-se com passos largos. — Preciso de uma ajuda lá fora. Coisa rápida, prometo. Gui suspirou, balançando a cabeça com um olhar de quem sabia que “coisa rápida” para Carlinhos geralmente significava o contrário.
— Já volto — disse a , levantando-se. Ele ainda lançou um último sorriso brincalhão na direção dela. — Não vá causar confusão sem mim, hein?
apenas revirou os olhos com um sorriso no rosto, observando os irmãos Weasley se afastarem. O peso do dia parecia mais leve, mas o coração dela, bem, esse ainda batia acelerado.
Os corredores de Hogwarts estavam mais silenciosos do que de costume naquela manhã, exceto pelo eco distante de passos apressados e conversas abafadas vindas de outras alas do castelo. apertou os livros contra o peito, seus dedos levemente trêmulos. O caminho para o calabouço, onde a aula de Poções seria ministrada, sempre a fazia sentir-se um pouco desconfortável, mas hoje parecia pior. Havia algo no ar, um peso estranho que ela não conseguia explicar.
Ao passar por uma das paredes antigas, coberta por trepadeiras secas e um leve musgo, uma onda de frio percorreu sua espinha. Ela parou, franzindo a testa, enquanto um murmúrio quase imperceptível chegou aos seus ouvidos.
— …
O som era tênue, quase como o suspiro de uma corrente de ar, mas tinha uma clareza perturbadora que fez seus olhos se arregalarem. Ela girou nos calcanhares, esperando encontrar alguém ao seu redor. O corredor, no entanto, estava vazio, exceto por uma tapeçaria balançando suavemente no fim do corredor, como se tivesse acabado de ser tocada.
Ela deu um passo hesitante em direção à parede, sentindo o frio aumentar. Passou a mão pelos tijolos, tentando descobrir se havia alguma passagem oculta ali, mas encontrou apenas a pedra áspera e irregular sob seus dedos. O sussurro não se repetiu, mas a sensação de que algo — ou alguém — estava ali com ela não desapareceu.
— Deve ser minha imaginação… — murmurou para si mesma, afastando-se apressadamente.
Mas enquanto descia os últimos degraus rumo ao calabouço, um pensamento insistente não a abandonava: Por que só ela ouviu?
Enquanto descia os degraus em direção ao calabouço, o som surgiu, quase imperceptível no início. Uma melodia baixa, que parecia se misturar com o próprio murmúrio das pedras antigas ao seu redor. Ela parou no meio do corredor, seu coração disparando, e os pelos de sua nuca se eriçaram. A música era hipnótica, bela de uma forma perturbadora, mas havia algo profundamente errado nela, como se cada nota carregasse um eco de escuridão que fazia sua pele arrepiar.
Ela fechou os olhos por um instante, tentando afastar o pânico crescente, mas, ao fazê-lo, a melodia ficou mais nítida. sentiu um calafrio percorrer sua espinha quando percebeu de onde conhecia aquela música. Seu pesadelo. A mesma melodia, a mesma sensação de frio e vazio que a perseguira enquanto corria por corredores intermináveis em sua mente, como se fugisse de algo que não podia ver, mas que sabia que a seguia.
Agora, no silêncio de Hogwarts, aquela canção parecia ainda mais real, como se sempre tivesse estado ali, escondida nas profundezas de sua mente, esperando o momento certo para despertar. Algo dentro dela se apertou em pavor, mas ao mesmo tempo, de forma inexplicável, uma parte distante de si reconhecia aquela música. Não apenas como algo aterrorizante, mas como uma lembrança esquecida — ou pior, como uma canção de ninar antiga, cantada para ela antes mesmo que pudesse entender seu significado.
abriu os olhos, ofegante, e deu um passo para trás, sentindo as costas tocarem a parede fria. A melodia sumiu tão repentinamente quanto começara, deixando um silêncio quase sufocante no ar. Ela respirou fundo, forçando-se a recompor. A sensação de que algo a observava ainda estava ali, mas ela se obrigou a seguir em frente.
— Não é real. Só estou cansada— sussurrou para si mesma, apertando os livros contra o peito com mais força.
Mas o tremor em suas mãos dizia o contrário. Ela sabia que havia algo muito real naquela melodia.
parou abruptamente ao ouvir a voz dele, a melodia perturbadora ainda ecoando em sua mente como uma sombra persistente. estava encostado na parede à frente, a postura casual em completo contraste com a intensidade de seu olhar. Ele parecia estar à espera dela, como se soubesse exatamente por qual caminho ela viria.
— Algo está diferente em você, — disse ele, sua voz baixa e calculada, cada palavra como uma lâmina afiada cortando o silêncio. Seus olhos, sombrios e insondáveis, não desviaram dela nem por um instante. — Acho que você percebeu também.
engoliu em seco, o coração ainda pulsando freneticamente com o peso do que acabara de experimentar. Ela manteve a postura firme, porém, tentando esconder qualquer sinal de vulnerabilidade.
— Não sei do que você está falando, — respondeu, a voz mais estável do que esperava.
Ele inclinou a cabeça levemente, como se estudasse cada detalhe do rosto dela, o que só aumentava a sensação de que ele sabia mais do que deveria. Um sorriso quase imperceptível curvou seus lábios.
— Claro que sabe. — Ele deu um passo para o lado, permitindo que ela passasse. — Cuidado, . Coisas que estão adormecidas geralmente não gostam de ser despertadas.
— Do que é você tá falando? Está ficando cada vez mais perturbado, é isso? Ou é essa sua obsessão esquisita comigo? — confrontou , erguendo a cabeça e o olhando por inteiro agora.
sorriu, aquele sorriso enviesado e cheio de intenção que fazia sentir que ele sempre sabia algo que ela não. Ele descruzou os braços lentamente, ajustando o cachecol verde e branco da Sonserina com um gesto despreocupado, mas o brilho calculado em seus olhos não desapareceu.
— Perturbado, ? — Ele inclinou a cabeça, deixando as mechas de cabelo bagunçadas caírem ligeiramente sobre os olhos, que pareciam analisá-la com uma calma desconcertante. — Talvez. Ou talvez eu só esteja… curioso.
Ele deu um passo para mais perto, o suficiente para sentir o peso de sua presença, mas não invadir completamente seu espaço.
— Você prefere acreditar que é obsessão, mas acho que isso diz mais sobre você do que sobre mim. — Ele fez uma pausa, o tom de sua voz caindo para algo quase íntimo. — Quem sabe eu só veja algo em você que ninguém mais viu. Ainda.
Com isso, se virou, as pontas do cachecol balançando levemente enquanto ele seguia pelo corredor, deixando ali com suas palavras, tão irritante e intrigante quanto ele próprio.
Ela estreitou os olhos para ele, sem responder. Cada fibra de seu ser queria ignorar aquelas palavras, mas algo dentro dela — algo que parecia ecoar a mesma melodia perturbadora — sussurrava que ele estava certo.
O cheiro acre de ingredientes fervidos e ervas esmagadas enchia o ar abafado do calabouço. As tochas nas paredes lançavam sombras dançantes sobre os rostos tensos dos alunos, todos em silêncio sob o olhar penetrante do professor Snape. Ele caminhava entre os caldeirões com a graça de um predador, sua capa esvoaçando como um corvo negro.
— Hoje vamos estudar algo que, francamente, é muito mais avançado do que a maioria de vocês está preparada para lidar — começou Snape, com aquele tom de desdém que parecia destinado a esmagar qualquer confiança. — A Poção da Verdade. Uma mistura sutil, perigosa e, se feita incorretamente, potencialmente letal. É claro que não espero milagres, mas espero que pelo menos sigam as instruções corretamente.
engoliu em seco, sentindo o suor escorrer pela nuca. Seus dedos estavam gelados, apesar do calor do calabouço, e sua mente parecia lutar para manter o foco nas palavras de Snape enquanto ele escrevia os ingredientes no quadro com movimentos rápidos e precisos. Ela nunca se sentia confiante em Poções; era a única aula em que sempre parecia um passo atrás de todos.
Ela abriu o livro tremendo levemente e começou a separar os ingredientes, lutando para ignorar o olhar ardente que sabia estar vindo da mesa ao lado. . Desde o momento em que se sentara, ele não tirara os olhos dela, e isso a deixava tanto irritada quanto desconcertada.
Tentando ignorá-lo, começou a mexer o conteúdo de seu caldeirão, concentrando-se no ritmo indicado: três movimentos no sentido horário, dois no anti-horário. Quando ela parou para adicionar as folhas de murtisco, sentiu mais uma vez aquele olhar fixo. Ela ergueu os olhos devagar, e lá estava , o rosto parcialmente escondido pela sombra do cabelo loiro desgrenhado, mas os olhos brilhando como se estivessem se divertindo com seu desconforto.
Ela estreitou os olhos, encarando-o de volta desta vez. O que ele quer? arqueou uma sobrancelha, um sorriso quase imperceptível brincando nos cantos dos lábios enquanto ele continuava mexendo sua própria poção, como se não tivesse nada melhor a fazer do que provocá-la.
— Senhorita — a voz gelada de Snape cortou o ar como um chicote, e se sobressaltou, derrubando o frasco de essência de mandrágora que estava em sua mão. — Será que você pode fazer o favor de prestar atenção na sua poção em vez de bancar a artista dramática?
O calor subiu para o rosto de enquanto alguns alunos ao redor abafavam risadinhas. Ela abaixou a cabeça rapidamente, tentando recuperar o controle. Sentindo o olhar ainda mais intenso de , ela respirou fundo e voltou ao trabalho, mas, quando desviou os olhos por um instante, viu que ele estava sorrindo. Não zombeteiro, mas de uma forma que a desarmou. Como se soubesse algo que ela não sabia.
Determinada a não deixar aquilo mexer com ela, manteve o olhar fixo no caldeirão, mexendo a mistura com cuidado. Ainda assim, sentia a tensão entre os dois crescer a cada segundo, como se as notas da melodia perturbadora que ouvira antes estivessem ecoando baixinho no fundo de sua mente.
Continua...
Nota da autora: Olá olá!! Espero que estejam gostando. Eu sempre AMEII esse universo mágico de HP, mas nunca tinha me arriscado a escrever algo nesse mundo. Espero que não tenha ficado algo tão viajado assim. Comentários são bem-vindos sempre!!!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.