Capítulo Um
estava abaixando o banco do passageiro para deitar o corpo e apoiar as pernas no painel do carro, se preparando para ouvir as lamúrias do amigo pela terceira vez naquela mesma semana.
— Mais um desentendimento com Maddie? — olhou a amiga de soslaio, com os olhos marejados e acenou em concordância, fazendo-a soltar um longo suspiro e crispar os lábios. — Até quando você vai insistir nisso, ?
— Eu…— O homem começou a falar, apertando os nós de seus dedos no volante. — Não tenho mais no que insistir, porque ela terminou comigo. — dirigia em uma velocidade baixa na interestadual, focando sua atenção na estrada para dispersar os pensamentos da última conversa que teve com sua namorada. Ou, melhor dizendo, ex.
— Madeleine finalmente fez algo de bom, então. — começou, virando o corpo para fitar o rosto do amigo com mais precisão. Ele encarou a amiga com um sorriso incrédulo. — O que? A relação de vocês estava sugando sua alma, você envelheceu uns cinco anos nos últimos meses.
— Eu adoraria te contrariar, mas você está terrivelmente certa. — riu amargo e respirou fundo, girando o volante para a esquerda em uma breve curva na interestadual. — O que me conforta é que eu não vou precisar lidar com ela nesse verão, porque ela decidiu ir para Ohio ontem. E foi por isso que ela terminou comigo, também…disse que não conseguiria ficar sem sexo pelos próximos três meses namorando a distância e, que também não queria que eu fosse, porque ela percebeu que ainda é muito jovem e precisa aproveitar a vida antes de estar em um compromisso. — prendeu o riso e olhou para o amigo, sentindo-se horrível por estar caçoando da situação. — Ela poderia ter entendido isso antes de aceitar estar em um, não acha? — desviou a atenção do volante por alguns segundos, olhando ressentido para a amiga. Percebeu que ela se esforçava para disfarçar o sorrisinho de canto que estampava seus lábios, e apertou os olhos em direção a mais nova. — Você está se divertindo com meu coração partido, ?
— Não, não…— respondeu, soltando uma risada fraca e encarando a paisagem do vidro do carro, escolhendo as melhores palavras para dizer ao amigo. — É só que…Madeleine sempre teve esse espírito livre e desapegado, e eu entendo que você está muito chateado porque pode ter achado que os motivos dela foram fúteis…mas você e eu sabemos como isso não estava funcionando entre vocês nem agora, imagina então com um continente de distância, !
— Disso, eu sei. — estralou a língua, parando o carro no estacionamento de uma cafeteria que ficava no limite da estrada em que estavam, tirou o cinto e se jogou contra o assento de couro, encarando a amiga com olhos cansados. — É que eu estava gostando mesmo dela, entende? E achei que fosse recíproco, afinal, ela aceitou o meu pedido e estava tudo certo para que ela fosse para Brighton com a gente. — acenou em concordância, olhando o amigo com pesar.
— Você é um romântico incurável por trás de toda pompa que você sustenta, , e, Madeleine é…impulsiva, de momento. Ela não pensa nas consequências de longo prazo que as decisões dela podem trazer, então eu não duvido que ela também goste de você e, tenho certeza de que foi de coração que ela aceitou namorar contigo. — lambeu os lábios e olhou pro lado, tentando organizar as próximas falas enquanto a encarava com atenção. — Mas, pensa bem, ela terminou justamente porque entendeu que não dá certo agora, e prefere que você fique sozinho e livre para experimentar a vida, do que continuar nesse relacionamento onde ela sabe que não pode dar a estabilidade que você busca.
— Você fica bonitinha quando me dá lição de moral, sabia? — riu fraco, levantando a mão para colocar uma mecha do cabelo de atrás de sua orelha, e descer a ponta de seus dedos pelo pescoço da mais nova, em um carinho sutil.
— Deve ser por isso que você passa lá em casa quase toda semana pedindo para eu vir junto nessas minis road-trips, elas são inventadas para você me assistir toda linda enquanto compartilho um pouco da minha sabedoria ancestral contigo, confessa vai…— sorriu de canto e tombou a cabeça pro lado, fitando os olhos do mais velho que, agora, estavam indecifráveis contornando cada detalhe do rosto da mulher.
— Pode ser que eu me meta nessas furadas só pra pedir pra você me consolar depois.
— Vou começar a ficar menos disponível pra você.
— Mas, você é meu ponto de sanidade, . Não pode me deixar no mausoléu.
— Vamos atrás de uma psicóloga, agora mesmo.
— Hm…— resmungou lentamente, apoiando ambas as mãos na calça jeans preta que usava.
— Mas, se você descer do carro e entrar nessa cafeteria pra comprar um café gelado gigante pra mim, com um muffin de blueberry bem quentinho…vou considerar continuar disponível.
— Posso te comprar com cafés gelados e muffins, então?
— Você sabe que sim.
O dia havia sido cheio para , ser convidado para um almoço com Maddie depois das aulas da universidade, apenas para ouvir que ela precisava terminar o que eles tinham não era algo ao qual ele estava esperando, então, assim que saiu do campus e ouviu o que não queria, correu para a casa daquela que, costumava saber como colocar os pensamentos dele no lugar. e estudaram juntos desde os primeiros anos, mas se aproximaram com mais veemência no início do colegial, já que ela era excepcionalmente boa em artes e ele precisava de boas notas nessa disciplina, para poder continuar no time de esportes da escola participando dos campeonatos interestaduais com os amigos.
— E como você está, cara? — Peter perguntou, bebendo um gole da cerveja, se jogando no sofá do amigo.
— Estou surpreso, mas tranquilo. — respondeu, apoiando no braço do sofá a long-neck que segurava. — conversou comigo hoje mais cedo e, disse o óbvio: foi melhor assim.
— Eu concordo com a , pelo menos por agora. Quando ela voltar, vocês conversam e tudo mais. — Thom acrescentou.
— E, quando você vai soltar uns elogios meus para sua amiga? — estava levando a garrafa na boca, mas parou no meio do caminho, estranhando a pergunta de Peter.
— E por que eu faria isso?
— Porque você é meu amigão e, melhor amigo dela. Quem, além de você, faria uma ponte tão bonita para o encontro de duas almas gêmeas? — Thom gargalhou ao ouvir o que Peter disse e balançou a cabeça, em negação.
— Eu, definitivamente, não farei isso. — pontuou, sério, apontando o indicador para o colega de campus. — Vocês nem se conhecem!
— Dei uma olhadinha no Instagram dela, quando você disse que ela e as amigas toparam ir para Brighton com a gente. — Peter piscou, maroto. — E Thomas me instigou, disse que ela é ainda melhor ao vivo. — Thom cuspiu a cerveja que tinha acabado de colocar na boca e deu um tapa no braço do amigo.
— Ei, eu estava brincando! — Thomas se defendeu com a primeira frase que passou por sua cabeça, olhando com receio para , que o olhava impassível.
— Ah, estava? — perguntou, divertido. — Tudo bem, Thomas, eu não vou brigar contigo. Pode falar a verdade, sim? — Thomas soltou o ar que nem sabia que estava segurando e sorriu, culpado.
— Podemos dizer que é um espetáculo, daqueles que você chega horas antes para assistir da primeira fileira e torce pra nunca acabar. — concordou em silêncio com tudo o que ele havia dito, mas escolheu fazer uma careta.
— Quieto, Thomas! Assim você vai acabar abrindo os olhos do inimigo para o que ele não enxerga! — Peter sussurrou, desesperado e os três caíram na risada, logo emendando em algum outro assunto que não tinha nada a ver com e, particularmente, preferia assim.
…
— E você ficou sabendo disso, como? — perguntou, enquanto dobrava algumas roupas para colocar na mala que levaria para Brighton.
— Essa cidade não é tão grande, amiga. Madeleine estava beijando Kyle, bem alta, devo dizer, no pub da rua vinte, então deduzi. — Kate comentou, bebendo um gole da água gelada que acabara de se servir. — Eu gostaria que ela fosse, sei lá…meu espírito animal, porque, ter coragem de terminar com o não é pra qualquer um, convenhamos.
— É, creio que ela vai ter certa dificuldade em encontrar um cara tão bonzinho por aí…mas, esse é o ponto chave, amiga: ela não quer bonzinhos, tampouco encontrar alguém. — pontuou, agora separando alguns itens de higiene que estavam esparramados em cima da cama.
— , bonzinho? Ele foi, sei lá, o cara com o maior título de quebrador de corações que eu conheci, na época da escola. — Katherine disse e riu, concordando.
— As coisas mudam, ele estava bem gamado na Maddie.
— Mais do que ele é, em você? Acho que não, não mesmo. — Kate disse, rindo divertida.
— Achei que esse assunto tinha morrido em nossa formatura.
— Ele só não aceitou dar o beijo aquele dia por medo de perder a noção de vez e acabar assumindo que é maluco por você.
— Obrigada por destruir e reconstruir minha autoestima sempre que pode, amiga. — cutucou o ombro da garota, em implicância e aumentou o volume da música que ecoava em seu quarto, enquanto as duas terminavam de arrumar seus pertences para a viagem.
— Feito! Agora, que horas sairemos amanhã? — Kate disse, enquanto sentava na ponta da cama e olhava satisfeita para as malas já prontas perto da porta.
— Acho que em torno das nove da manhã, vou confirmar com os amigos do . — disse, abrindo a porta do quarto. — Mas, ei, toda essa arrumação me deixou com fome…topa um fettuccine?
Katherine pegou uma panela funda e colocou a água para ferver, enquanto separava os ingredientes do molho pesto que faria. A música June, de Briston Maroney, tocava em um volume alto na cozinha, deixando o clima daquela noite ainda melhor e arrancando alguns lip syncs e risos das garotas. As duas se serviram com taças de vinho e aproveitaram o momento que estavam tendo juntas, comeram, e, de banho tomado, vestindo pijamas de cetim e meias combinando, resolveram dormir para que pudessem descansar para a viagem da manhã seguinte.
Mas, em torno de duas e meia da manhã, levantava assustada e, também um pouco desnorteada para confirmar se realmente alguém estava tocando sua campainha de madrugada; temendo ser algum vizinho em apuros, abriu a porta depressa e…
— Oi, você deve ser a ? — O homem sorriu envergonhado, coçando a nuca.
— Isso, e você…? — A mais nova devolveu, ainda confusa.
— Sou Peter e, bem… — O homem apontou para um ponto um pouco mais atrás de onde ele estava, fazendo arregalar os olhos. — Ele me pediu para trazê-lo aqui, tudo bem pra você?
— Oi? — respondeu, ainda olhando o amigo sentado no chão do corredor. — Ele bebeu o bar inteiro ou o que?
— Estava na casa dele mais cedo, fui embora e agora há pouco o Brad, dono do bar e nosso amigo também, me ligou falando da situação em que ele estava. — Peter disse, colocando as mãos no bolso. — Ia levar ele para casa, mas ele continuou falando seu nome e soube me guiar até aqui.
— Tudo bem, não se preocupe. — disse, sorrindo para o homem de cabelo castanho claro. — Fazia tempo que ele não me dava tanto trabalho, sabia? — pediu licença e foi até , que cochilava encostado na parede do décimo andar, onde ficava seu apartamento. — , ei, acorda!
— …— abriu os olhos, falando arrastado, e recebendo ajuda dos dois amigos para levantar e ir para dentro da casa. — Você é tão cheirosa. — escondeu o rosto no pescoço da mulher, que começou a rir. É, ele com certeza tinha bebido alguns shots a mais do que o recomendado.
— Ei, isso faz cócegas. — Ela protestou e respirou fundo contra a pele dela, causando um arrepio leve nos poros da mulher. — Senta aqui no sofá, vou pegar água gelada para você. Quer um copo também, Peter?
— Aceito sim, obrigado. — O homem respondeu, piscando simpático para ela, que logo sumiu de sua vista indo para outro cômodo. — Ei, cara, tá tudo bem?
— Aham, tudo de boa. — respondeu, fechando o olho, parecendo relaxado. — Ela faz tudo ficar de boa, sacou? — olhou o amigo, de repente muito interessado.
— Saquei, sim. — Peter riu, entendendo o estado do amigo, mas, também, percebendo as entrelinhas do que ele dizia.
— Mudei de ideia, …para você, vai ser esse chá gelado que Katherine fez ontem, ela disse para eu não tomar de tão amargo e ruim, então com certeza vai te deixar cem por cento no primeiro gole. — falou, entregando os copos e olhando os dois com um sorriso, descansado as mãos na cintura. — E daqui algumas horas, vamos viajar. Se você quiser, pode ficar aqui com o também, tem um quarto vazio.
— Não precisa , não moro tão longe daqui. Uns 5 minutos na avenida, e tô em casa. — Peter bebeu um gole da água e levantou o copo em direção a garota, sorrindo bonito. — Mas, agradeço a gentileza.
— Isso tem gosto de ferro e asfalto, . — disse, com uma careta enquanto bebia o líquido gelado que havia recebido.
— É gengibre e café amargo com uns cubinhos de gelo, nada demais, vai…— riu, terminando a bebida e se jogando no sofá cor creme da mais nova.
— Me torturou o suficiente , deixa eu me concentrar em dormir agora? — pediu, com voz manhosa.
— Eu estou prevenindo sua ressaca amanhã de manhã, . — respondeu, um pouco brava, e olhou para Peter, que assistia a cena prendendo um sorriso. — Obrigada por ajudar ele hoje, nos vemos em Brighton, então?
— Com certeza, . — Peter disse, apertando a mão da garota, sentindo sua pele quente e macia. Bem que Thomas o avisou…
— Peter, não flerte com a na minha frente, pelo amor de Deus. — resmungou, ainda deitado e de olhos fechados.
— O que? Não, desculpe , eu…
— Tudo bem, você não falou nada demais. É ele quem não está muito consciente, depois dos shots de hoje. — interrompeu, com uma voz divertida e acompanhando o homem até a porta. — Boa noite, Peter. — O homem acenou em concordância saindo do apartamento, e esperou que ele entrasse no elevador para, então, fechar a porta outra vez.
— , pode me dar um cobertor? — pediu e suspirou, olhando um pouco desconfiada para o amigo, já que não o via beber dessa forma desde a formatura da escola, dois anos antes. Talvez o término com Maddie havia o afetado muito mais do que ele transpareceu para ela, mais cedo.
— Você não vai dormir com essa roupa suja no meu sofá, . Pro banho, agora!
— Se eu tomar banho, você deixa eu dormir com você na sua cama?
— Sem chance, bonitão.
— Somos amigos, . Prometo que não ataco você de noite…— levantou do sofá, sentando-se e focando seu olhar na garota, com um sorriso enviesado. — A não ser que você queira, claro. — riu e jogou uma almofada em seu rosto. — Ei, isso doeu.
— Ja disse: banho, ! Vou deixar seu travesseiro e cobertores aqui. E nem tente se esgueirar pro meu quarto, Katherine quem está dormindo comigo lá.
— Deve ser gostoso…
— O que, maluco?
— Dormir de conchinha com você, sentindo seu cheiro de cereja e baunilha, até cair no sono…— apertou os olhos em direção a amiga, apoiando o queixo em suas mãos. — Ei, , dorme comigo hoje, vai…
— Você está insano, quantos shots você bebeu?
— Hm…talvez dois?
— Claro, dois, com certeza. — abanou o ar e puxou a mão de para que ele levantasse, e, mesmo sob alguns protestos do homem, conseguiu fazê-lo chegar até o banheiro. — Não esquece de apagar as luzes depois.
— Tá bom, mandona. — fez continência e revirou os olhos, virando-se para voltar ao seu quarto e recuperar o sono que perdeu. — Ei, calma, só mais uma coisa…
— O que? — virou para o amigo, que a olhava daquela forma indecifrável de novo. Ele desviou os olhos para o teto, respirou fundo, soltou o ar devagar e trocou o peso das pernas. — O que é, ?!
— Obrigado por hoje…— Ele sorriu doce e fez um carinho na bochecha da mais nova, que acenou com a cabeça, como se não tivesse feito nada demais. Ele aproximou um pouco mais o corpo do da amiga, e segurou o rosto dela entre as mãos, enquanto os dedos indicadores brincavam com alguns fios de cabelo atrás de sua orelha, em um cafuné gostoso.
— Não se preocupe com essas coisas, só se cuida, tá bem? — pediu com a voz baixa, e se sentiu em casa.
— Tá bem. — sussurrou, aproximando seus lábios da bochecha de , deixando um beijo casto e demorado ali. — Boa noite, vê se não sonha demais comigo…
— Você precisa ficar sóbrio logo, céus, !
…
— , é seu carro que está cheio de bonitões? — Harper disse, descendo do carro de e indo em direção ao automóvel de , que acabava de estacionar em frente a casa que todos alugaram em Brighton.
— O único bonitão sou eu, Harp. — respondeu rindo, saindo do carro, assim como os outros, que deram um leve empurrão no amigo, pela gracinha. — Esses são Peter, Thomas, Jeremy e Ryan…caras, essa é a Harper, aquela é a Cay, a garota com sacolas na mão se chama Katherine, Margot é quem está vindo para cá agora e é a que sobrou.
— Ei! — protestou e piscou maroto em sua direção. Todos os dez se cumprimentaram, já que apenas Kate, e estudaram juntos quando mais novos e, somente alguns se conheciam por encontros ocasionais nos pubs da cidade.
— Antes de pisarmos no jardim dessa casa, vamos fazer um brinde para que essa viagem comece do jeito certo, e eu não aceito não como resposta. — Kate disse animada, tirando uma garrafa e taças de vidro de dentro das sacolas que estava segurando, todos concordaram e ela estourou a champagne. — A partir de agora, problemas da universidade ficam na universidade, stress do trabalho no trabalho…— Ela discursou quando todos tinham o líquido com gosto de constelações estelares em suas taças — E vamos curtir muito esse verão em Brighton! — Finalizou, erguendo a taça para os brindes e recebendo sorrisos e o cintilar dos cristais se encostando como resposta.
— Agora, uma coisa que precisamos decidir! — disse, terminando de trazer algumas malas para a calçada. — Somos em dez, temos cinco quartos…como fica a divisão?
— Bom, dá pra ser dois em cada, mas se formos preferir ficar com quem já conhecemos, um de nós dos caras e uma de vocês, das meninas, vão acabar no mesmo quarto…ou podemos fazer três em um, um em um, e dois em três. — Jeremy disse, simples.
— Que?
— Dois em três?
— Um em quanto?
— Eu fico com a , e vocês dividem. — soltou, sem pensar muito antes.
— Não, de jeito nenhum. — disse, desesperada. — Eu jamais vou aguentar a bagunça que você faz, sério, vou acordar com meias penduradas na minha orelha toda manhã!
— Mas nós dois nos conhecemos a mais tempo, é mais confortável que seja a gente a dividir o quarto, do que duas pessoas que se viram pela primeira vez hoje, . — tentou ser didático, mas a garota estava irredutível, apesar de concordar um pouco com o argumento.
— Katherine, você conhece ele há bastante tempo também, então, dividam o quarto, sim?
— Nem pensar, ! Você quem trouxe esse ser humano para o nosso círculo de amizade, carregue essa cruz sozinha.
— Margot?
— Eu não quero não, amiga.
— Cay?
— Sem chance.
— Harper?
— Seria muita tentação para o meu celibato, . — gargalhou e piscou para a loira, que abanou o ar, fingindo timidez.
— Você realmente é muito querido e aclamado, cara. — Ryan pontuou para o amigo, achando graça da negociação falha da mais nova.
— Eu prometo que deixo tudo bem arrumadinho, . — disse, mordendo o canto do lábio para prender o sorriso. A mulher olhou pra ele, apertando os olhos, desconfiada.
— E se você não for capaz de cumprir essa promessa?
— Se eu não fosse capaz, eu não prometeria, oras. — andou vagarosamente até o amigo, lambeu o lábio inferior e encostou o dedo indicador no tórax do homem, pronta para impor suas condições.
— Se eu encontrar roupa do avesso jogada no chão uma única vez, você vai nadar pelado na praia.
— Se eu ver calcinha pendurada na maçaneta da porta, você nada pelada comigo. — Cay começou a rir, assim como os outros do grupo.
— Você é um idiota, sabia disso? — respondeu, prendendo o riso.
— Por que tão específico, ? — Jeremy perguntou, achando graça.
— Isso aconteceu mesmo cara, em uma das primeiras vezes que eu fui na casa dela.
— Eu tinha acabado de me mudar e precisava usar a lavanderia que ficava no fim da rua, eu não ia sair de casa só para secar uma calcinha, era quase noite! E apareceu sem avisar, foi uma visita indesejada.
— Você poderia ter pendurado no parapeito da sua sacada…— implicou, ignorando a fala da mais nova.
— Não seria pior vizinhos que eu não conhecia direito verem minha calcinha balançando ao vento?
—Se você chama de pior, então quer dizer que foi bom eu ter visto? — disse sorrindo de canto, assistindo a amiga ficar vermelha como framboesa.
— Não vamos conversar mais hoje, acabei de perceber que zerei os dez por cento de bateria social que separei para gastar contigo. — respondeu, enquanto abanava a mão no ar e dava as costas para os amigos, que riam da interação dos dois.
— Ei, calma! — disse, correndo atrás da amiga assim que ela se afastou apressada do grupo, indo até a portaria da casa. — A reserva está comigo.
— Mais um desentendimento com Maddie? — olhou a amiga de soslaio, com os olhos marejados e acenou em concordância, fazendo-a soltar um longo suspiro e crispar os lábios. — Até quando você vai insistir nisso, ?
— Eu…— O homem começou a falar, apertando os nós de seus dedos no volante. — Não tenho mais no que insistir, porque ela terminou comigo. — dirigia em uma velocidade baixa na interestadual, focando sua atenção na estrada para dispersar os pensamentos da última conversa que teve com sua namorada. Ou, melhor dizendo, ex.
— Madeleine finalmente fez algo de bom, então. — começou, virando o corpo para fitar o rosto do amigo com mais precisão. Ele encarou a amiga com um sorriso incrédulo. — O que? A relação de vocês estava sugando sua alma, você envelheceu uns cinco anos nos últimos meses.
— Eu adoraria te contrariar, mas você está terrivelmente certa. — riu amargo e respirou fundo, girando o volante para a esquerda em uma breve curva na interestadual. — O que me conforta é que eu não vou precisar lidar com ela nesse verão, porque ela decidiu ir para Ohio ontem. E foi por isso que ela terminou comigo, também…disse que não conseguiria ficar sem sexo pelos próximos três meses namorando a distância e, que também não queria que eu fosse, porque ela percebeu que ainda é muito jovem e precisa aproveitar a vida antes de estar em um compromisso. — prendeu o riso e olhou para o amigo, sentindo-se horrível por estar caçoando da situação. — Ela poderia ter entendido isso antes de aceitar estar em um, não acha? — desviou a atenção do volante por alguns segundos, olhando ressentido para a amiga. Percebeu que ela se esforçava para disfarçar o sorrisinho de canto que estampava seus lábios, e apertou os olhos em direção a mais nova. — Você está se divertindo com meu coração partido, ?
— Não, não…— respondeu, soltando uma risada fraca e encarando a paisagem do vidro do carro, escolhendo as melhores palavras para dizer ao amigo. — É só que…Madeleine sempre teve esse espírito livre e desapegado, e eu entendo que você está muito chateado porque pode ter achado que os motivos dela foram fúteis…mas você e eu sabemos como isso não estava funcionando entre vocês nem agora, imagina então com um continente de distância, !
— Disso, eu sei. — estralou a língua, parando o carro no estacionamento de uma cafeteria que ficava no limite da estrada em que estavam, tirou o cinto e se jogou contra o assento de couro, encarando a amiga com olhos cansados. — É que eu estava gostando mesmo dela, entende? E achei que fosse recíproco, afinal, ela aceitou o meu pedido e estava tudo certo para que ela fosse para Brighton com a gente. — acenou em concordância, olhando o amigo com pesar.
— Você é um romântico incurável por trás de toda pompa que você sustenta, , e, Madeleine é…impulsiva, de momento. Ela não pensa nas consequências de longo prazo que as decisões dela podem trazer, então eu não duvido que ela também goste de você e, tenho certeza de que foi de coração que ela aceitou namorar contigo. — lambeu os lábios e olhou pro lado, tentando organizar as próximas falas enquanto a encarava com atenção. — Mas, pensa bem, ela terminou justamente porque entendeu que não dá certo agora, e prefere que você fique sozinho e livre para experimentar a vida, do que continuar nesse relacionamento onde ela sabe que não pode dar a estabilidade que você busca.
— Você fica bonitinha quando me dá lição de moral, sabia? — riu fraco, levantando a mão para colocar uma mecha do cabelo de atrás de sua orelha, e descer a ponta de seus dedos pelo pescoço da mais nova, em um carinho sutil.
— Deve ser por isso que você passa lá em casa quase toda semana pedindo para eu vir junto nessas minis road-trips, elas são inventadas para você me assistir toda linda enquanto compartilho um pouco da minha sabedoria ancestral contigo, confessa vai…— sorriu de canto e tombou a cabeça pro lado, fitando os olhos do mais velho que, agora, estavam indecifráveis contornando cada detalhe do rosto da mulher.
— Pode ser que eu me meta nessas furadas só pra pedir pra você me consolar depois.
— Vou começar a ficar menos disponível pra você.
— Mas, você é meu ponto de sanidade, . Não pode me deixar no mausoléu.
— Vamos atrás de uma psicóloga, agora mesmo.
— Hm…— resmungou lentamente, apoiando ambas as mãos na calça jeans preta que usava.
— Mas, se você descer do carro e entrar nessa cafeteria pra comprar um café gelado gigante pra mim, com um muffin de blueberry bem quentinho…vou considerar continuar disponível.
— Posso te comprar com cafés gelados e muffins, então?
— Você sabe que sim.
O dia havia sido cheio para , ser convidado para um almoço com Maddie depois das aulas da universidade, apenas para ouvir que ela precisava terminar o que eles tinham não era algo ao qual ele estava esperando, então, assim que saiu do campus e ouviu o que não queria, correu para a casa daquela que, costumava saber como colocar os pensamentos dele no lugar. e estudaram juntos desde os primeiros anos, mas se aproximaram com mais veemência no início do colegial, já que ela era excepcionalmente boa em artes e ele precisava de boas notas nessa disciplina, para poder continuar no time de esportes da escola participando dos campeonatos interestaduais com os amigos.
— E como você está, cara? — Peter perguntou, bebendo um gole da cerveja, se jogando no sofá do amigo.
— Estou surpreso, mas tranquilo. — respondeu, apoiando no braço do sofá a long-neck que segurava. — conversou comigo hoje mais cedo e, disse o óbvio: foi melhor assim.
— Eu concordo com a , pelo menos por agora. Quando ela voltar, vocês conversam e tudo mais. — Thom acrescentou.
— E, quando você vai soltar uns elogios meus para sua amiga? — estava levando a garrafa na boca, mas parou no meio do caminho, estranhando a pergunta de Peter.
— E por que eu faria isso?
— Porque você é meu amigão e, melhor amigo dela. Quem, além de você, faria uma ponte tão bonita para o encontro de duas almas gêmeas? — Thom gargalhou ao ouvir o que Peter disse e balançou a cabeça, em negação.
— Eu, definitivamente, não farei isso. — pontuou, sério, apontando o indicador para o colega de campus. — Vocês nem se conhecem!
— Dei uma olhadinha no Instagram dela, quando você disse que ela e as amigas toparam ir para Brighton com a gente. — Peter piscou, maroto. — E Thomas me instigou, disse que ela é ainda melhor ao vivo. — Thom cuspiu a cerveja que tinha acabado de colocar na boca e deu um tapa no braço do amigo.
— Ei, eu estava brincando! — Thomas se defendeu com a primeira frase que passou por sua cabeça, olhando com receio para , que o olhava impassível.
— Ah, estava? — perguntou, divertido. — Tudo bem, Thomas, eu não vou brigar contigo. Pode falar a verdade, sim? — Thomas soltou o ar que nem sabia que estava segurando e sorriu, culpado.
— Podemos dizer que é um espetáculo, daqueles que você chega horas antes para assistir da primeira fileira e torce pra nunca acabar. — concordou em silêncio com tudo o que ele havia dito, mas escolheu fazer uma careta.
— Quieto, Thomas! Assim você vai acabar abrindo os olhos do inimigo para o que ele não enxerga! — Peter sussurrou, desesperado e os três caíram na risada, logo emendando em algum outro assunto que não tinha nada a ver com e, particularmente, preferia assim.
— E você ficou sabendo disso, como? — perguntou, enquanto dobrava algumas roupas para colocar na mala que levaria para Brighton.
— Essa cidade não é tão grande, amiga. Madeleine estava beijando Kyle, bem alta, devo dizer, no pub da rua vinte, então deduzi. — Kate comentou, bebendo um gole da água gelada que acabara de se servir. — Eu gostaria que ela fosse, sei lá…meu espírito animal, porque, ter coragem de terminar com o não é pra qualquer um, convenhamos.
— É, creio que ela vai ter certa dificuldade em encontrar um cara tão bonzinho por aí…mas, esse é o ponto chave, amiga: ela não quer bonzinhos, tampouco encontrar alguém. — pontuou, agora separando alguns itens de higiene que estavam esparramados em cima da cama.
— , bonzinho? Ele foi, sei lá, o cara com o maior título de quebrador de corações que eu conheci, na época da escola. — Katherine disse e riu, concordando.
— As coisas mudam, ele estava bem gamado na Maddie.
— Mais do que ele é, em você? Acho que não, não mesmo. — Kate disse, rindo divertida.
— Achei que esse assunto tinha morrido em nossa formatura.
— Ele só não aceitou dar o beijo aquele dia por medo de perder a noção de vez e acabar assumindo que é maluco por você.
— Obrigada por destruir e reconstruir minha autoestima sempre que pode, amiga. — cutucou o ombro da garota, em implicância e aumentou o volume da música que ecoava em seu quarto, enquanto as duas terminavam de arrumar seus pertences para a viagem.
— Feito! Agora, que horas sairemos amanhã? — Kate disse, enquanto sentava na ponta da cama e olhava satisfeita para as malas já prontas perto da porta.
— Acho que em torno das nove da manhã, vou confirmar com os amigos do . — disse, abrindo a porta do quarto. — Mas, ei, toda essa arrumação me deixou com fome…topa um fettuccine?
Katherine pegou uma panela funda e colocou a água para ferver, enquanto separava os ingredientes do molho pesto que faria. A música June, de Briston Maroney, tocava em um volume alto na cozinha, deixando o clima daquela noite ainda melhor e arrancando alguns lip syncs e risos das garotas. As duas se serviram com taças de vinho e aproveitaram o momento que estavam tendo juntas, comeram, e, de banho tomado, vestindo pijamas de cetim e meias combinando, resolveram dormir para que pudessem descansar para a viagem da manhã seguinte.
Mas, em torno de duas e meia da manhã, levantava assustada e, também um pouco desnorteada para confirmar se realmente alguém estava tocando sua campainha de madrugada; temendo ser algum vizinho em apuros, abriu a porta depressa e…
— Oi, você deve ser a ? — O homem sorriu envergonhado, coçando a nuca.
— Isso, e você…? — A mais nova devolveu, ainda confusa.
— Sou Peter e, bem… — O homem apontou para um ponto um pouco mais atrás de onde ele estava, fazendo arregalar os olhos. — Ele me pediu para trazê-lo aqui, tudo bem pra você?
— Oi? — respondeu, ainda olhando o amigo sentado no chão do corredor. — Ele bebeu o bar inteiro ou o que?
— Estava na casa dele mais cedo, fui embora e agora há pouco o Brad, dono do bar e nosso amigo também, me ligou falando da situação em que ele estava. — Peter disse, colocando as mãos no bolso. — Ia levar ele para casa, mas ele continuou falando seu nome e soube me guiar até aqui.
— Tudo bem, não se preocupe. — disse, sorrindo para o homem de cabelo castanho claro. — Fazia tempo que ele não me dava tanto trabalho, sabia? — pediu licença e foi até , que cochilava encostado na parede do décimo andar, onde ficava seu apartamento. — , ei, acorda!
— …— abriu os olhos, falando arrastado, e recebendo ajuda dos dois amigos para levantar e ir para dentro da casa. — Você é tão cheirosa. — escondeu o rosto no pescoço da mulher, que começou a rir. É, ele com certeza tinha bebido alguns shots a mais do que o recomendado.
— Ei, isso faz cócegas. — Ela protestou e respirou fundo contra a pele dela, causando um arrepio leve nos poros da mulher. — Senta aqui no sofá, vou pegar água gelada para você. Quer um copo também, Peter?
— Aceito sim, obrigado. — O homem respondeu, piscando simpático para ela, que logo sumiu de sua vista indo para outro cômodo. — Ei, cara, tá tudo bem?
— Aham, tudo de boa. — respondeu, fechando o olho, parecendo relaxado. — Ela faz tudo ficar de boa, sacou? — olhou o amigo, de repente muito interessado.
— Saquei, sim. — Peter riu, entendendo o estado do amigo, mas, também, percebendo as entrelinhas do que ele dizia.
— Mudei de ideia, …para você, vai ser esse chá gelado que Katherine fez ontem, ela disse para eu não tomar de tão amargo e ruim, então com certeza vai te deixar cem por cento no primeiro gole. — falou, entregando os copos e olhando os dois com um sorriso, descansado as mãos na cintura. — E daqui algumas horas, vamos viajar. Se você quiser, pode ficar aqui com o também, tem um quarto vazio.
— Não precisa , não moro tão longe daqui. Uns 5 minutos na avenida, e tô em casa. — Peter bebeu um gole da água e levantou o copo em direção a garota, sorrindo bonito. — Mas, agradeço a gentileza.
— Isso tem gosto de ferro e asfalto, . — disse, com uma careta enquanto bebia o líquido gelado que havia recebido.
— É gengibre e café amargo com uns cubinhos de gelo, nada demais, vai…— riu, terminando a bebida e se jogando no sofá cor creme da mais nova.
— Me torturou o suficiente , deixa eu me concentrar em dormir agora? — pediu, com voz manhosa.
— Eu estou prevenindo sua ressaca amanhã de manhã, . — respondeu, um pouco brava, e olhou para Peter, que assistia a cena prendendo um sorriso. — Obrigada por ajudar ele hoje, nos vemos em Brighton, então?
— Com certeza, . — Peter disse, apertando a mão da garota, sentindo sua pele quente e macia. Bem que Thomas o avisou…
— Peter, não flerte com a na minha frente, pelo amor de Deus. — resmungou, ainda deitado e de olhos fechados.
— O que? Não, desculpe , eu…
— Tudo bem, você não falou nada demais. É ele quem não está muito consciente, depois dos shots de hoje. — interrompeu, com uma voz divertida e acompanhando o homem até a porta. — Boa noite, Peter. — O homem acenou em concordância saindo do apartamento, e esperou que ele entrasse no elevador para, então, fechar a porta outra vez.
— , pode me dar um cobertor? — pediu e suspirou, olhando um pouco desconfiada para o amigo, já que não o via beber dessa forma desde a formatura da escola, dois anos antes. Talvez o término com Maddie havia o afetado muito mais do que ele transpareceu para ela, mais cedo.
— Você não vai dormir com essa roupa suja no meu sofá, . Pro banho, agora!
— Se eu tomar banho, você deixa eu dormir com você na sua cama?
— Sem chance, bonitão.
— Somos amigos, . Prometo que não ataco você de noite…— levantou do sofá, sentando-se e focando seu olhar na garota, com um sorriso enviesado. — A não ser que você queira, claro. — riu e jogou uma almofada em seu rosto. — Ei, isso doeu.
— Ja disse: banho, ! Vou deixar seu travesseiro e cobertores aqui. E nem tente se esgueirar pro meu quarto, Katherine quem está dormindo comigo lá.
— Deve ser gostoso…
— O que, maluco?
— Dormir de conchinha com você, sentindo seu cheiro de cereja e baunilha, até cair no sono…— apertou os olhos em direção a amiga, apoiando o queixo em suas mãos. — Ei, , dorme comigo hoje, vai…
— Você está insano, quantos shots você bebeu?
— Hm…talvez dois?
— Claro, dois, com certeza. — abanou o ar e puxou a mão de para que ele levantasse, e, mesmo sob alguns protestos do homem, conseguiu fazê-lo chegar até o banheiro. — Não esquece de apagar as luzes depois.
— Tá bom, mandona. — fez continência e revirou os olhos, virando-se para voltar ao seu quarto e recuperar o sono que perdeu. — Ei, calma, só mais uma coisa…
— O que? — virou para o amigo, que a olhava daquela forma indecifrável de novo. Ele desviou os olhos para o teto, respirou fundo, soltou o ar devagar e trocou o peso das pernas. — O que é, ?!
— Obrigado por hoje…— Ele sorriu doce e fez um carinho na bochecha da mais nova, que acenou com a cabeça, como se não tivesse feito nada demais. Ele aproximou um pouco mais o corpo do da amiga, e segurou o rosto dela entre as mãos, enquanto os dedos indicadores brincavam com alguns fios de cabelo atrás de sua orelha, em um cafuné gostoso.
— Não se preocupe com essas coisas, só se cuida, tá bem? — pediu com a voz baixa, e se sentiu em casa.
— Tá bem. — sussurrou, aproximando seus lábios da bochecha de , deixando um beijo casto e demorado ali. — Boa noite, vê se não sonha demais comigo…
— Você precisa ficar sóbrio logo, céus, !
— , é seu carro que está cheio de bonitões? — Harper disse, descendo do carro de e indo em direção ao automóvel de , que acabava de estacionar em frente a casa que todos alugaram em Brighton.
— O único bonitão sou eu, Harp. — respondeu rindo, saindo do carro, assim como os outros, que deram um leve empurrão no amigo, pela gracinha. — Esses são Peter, Thomas, Jeremy e Ryan…caras, essa é a Harper, aquela é a Cay, a garota com sacolas na mão se chama Katherine, Margot é quem está vindo para cá agora e é a que sobrou.
— Ei! — protestou e piscou maroto em sua direção. Todos os dez se cumprimentaram, já que apenas Kate, e estudaram juntos quando mais novos e, somente alguns se conheciam por encontros ocasionais nos pubs da cidade.
— Antes de pisarmos no jardim dessa casa, vamos fazer um brinde para que essa viagem comece do jeito certo, e eu não aceito não como resposta. — Kate disse animada, tirando uma garrafa e taças de vidro de dentro das sacolas que estava segurando, todos concordaram e ela estourou a champagne. — A partir de agora, problemas da universidade ficam na universidade, stress do trabalho no trabalho…— Ela discursou quando todos tinham o líquido com gosto de constelações estelares em suas taças — E vamos curtir muito esse verão em Brighton! — Finalizou, erguendo a taça para os brindes e recebendo sorrisos e o cintilar dos cristais se encostando como resposta.
— Agora, uma coisa que precisamos decidir! — disse, terminando de trazer algumas malas para a calçada. — Somos em dez, temos cinco quartos…como fica a divisão?
— Bom, dá pra ser dois em cada, mas se formos preferir ficar com quem já conhecemos, um de nós dos caras e uma de vocês, das meninas, vão acabar no mesmo quarto…ou podemos fazer três em um, um em um, e dois em três. — Jeremy disse, simples.
— Que?
— Dois em três?
— Um em quanto?
— Eu fico com a , e vocês dividem. — soltou, sem pensar muito antes.
— Não, de jeito nenhum. — disse, desesperada. — Eu jamais vou aguentar a bagunça que você faz, sério, vou acordar com meias penduradas na minha orelha toda manhã!
— Mas nós dois nos conhecemos a mais tempo, é mais confortável que seja a gente a dividir o quarto, do que duas pessoas que se viram pela primeira vez hoje, . — tentou ser didático, mas a garota estava irredutível, apesar de concordar um pouco com o argumento.
— Katherine, você conhece ele há bastante tempo também, então, dividam o quarto, sim?
— Nem pensar, ! Você quem trouxe esse ser humano para o nosso círculo de amizade, carregue essa cruz sozinha.
— Margot?
— Eu não quero não, amiga.
— Cay?
— Sem chance.
— Harper?
— Seria muita tentação para o meu celibato, . — gargalhou e piscou para a loira, que abanou o ar, fingindo timidez.
— Você realmente é muito querido e aclamado, cara. — Ryan pontuou para o amigo, achando graça da negociação falha da mais nova.
— Eu prometo que deixo tudo bem arrumadinho, . — disse, mordendo o canto do lábio para prender o sorriso. A mulher olhou pra ele, apertando os olhos, desconfiada.
— E se você não for capaz de cumprir essa promessa?
— Se eu não fosse capaz, eu não prometeria, oras. — andou vagarosamente até o amigo, lambeu o lábio inferior e encostou o dedo indicador no tórax do homem, pronta para impor suas condições.
— Se eu encontrar roupa do avesso jogada no chão uma única vez, você vai nadar pelado na praia.
— Se eu ver calcinha pendurada na maçaneta da porta, você nada pelada comigo. — Cay começou a rir, assim como os outros do grupo.
— Você é um idiota, sabia disso? — respondeu, prendendo o riso.
— Por que tão específico, ? — Jeremy perguntou, achando graça.
— Isso aconteceu mesmo cara, em uma das primeiras vezes que eu fui na casa dela.
— Eu tinha acabado de me mudar e precisava usar a lavanderia que ficava no fim da rua, eu não ia sair de casa só para secar uma calcinha, era quase noite! E apareceu sem avisar, foi uma visita indesejada.
— Você poderia ter pendurado no parapeito da sua sacada…— implicou, ignorando a fala da mais nova.
— Não seria pior vizinhos que eu não conhecia direito verem minha calcinha balançando ao vento?
—Se você chama de pior, então quer dizer que foi bom eu ter visto? — disse sorrindo de canto, assistindo a amiga ficar vermelha como framboesa.
— Não vamos conversar mais hoje, acabei de perceber que zerei os dez por cento de bateria social que separei para gastar contigo. — respondeu, enquanto abanava a mão no ar e dava as costas para os amigos, que riam da interação dos dois.
— Ei, calma! — disse, correndo atrás da amiga assim que ela se afastou apressada do grupo, indo até a portaria da casa. — A reserva está comigo.
Capítulo Dois
— Aparentemente você vai ter uma palhinha do que me pediu ontem, . — disse assim que os dois entraram no quarto que dividiriam dali para frente, o espaço amplo acomodava uma cama de casal, um banheiro espaçoso o suficiente para ambos, paredes de vidro que funcionavam como portas de correr, dando acesso à pequena varanda com uma mesa de centro e duas poltronas amadeiradas.
— O que foi que eu pedi ontem? — O mais velho perguntou, se agachando para abrir o zíper de sua mala, atrás de seu roupão de banho.
— Você quis dormir comigo.
— Que?
— De conchinha.
— Agora deu para inventar coisas, ? — pegou a peça de roupa e pendurou em seus ombros.
— E ainda pediu por favor!
— Sem chance nenhuma disso ter acontecido. — Segurando seus itens de higiene e mordendo a vontade de sorrir travesso, levantou e virou-se para , com uma cara falsamente entediada. — Digo, sem chance nenhuma disso ter acontecido mesmo, porque você não deixou. — riu do biquinho frustrado que apareceu nos lábios do amigo.
— Vou tomar uma ducha e já volto para ajudar você a organizar nossas coisas. — piscou para a garota, caminhando em direção ao banheiro e fechando a porta.
foi colocando suas roupas no armário embutido que havia em uma das paredes e organizando os sapatos que trouxera, os poucos minutos que gastou para desfazer boa parte de sua mala foram suficientes para que aparecesse de novo, o cheiro de menta que o acompanhou para dentro do quarto mais uma vez fez levantar os olhos para o homem, que passava as mãos no cabelo molhado, vestindo seu roupão azul escuro.
— Esse espelho enorme do banheiro me fez notar uma coisa, …— disse, sentando na ponta da cama. — Madeleine só pode estar maluca!
— O que? — riu, franzindo o cenho em confusão. — Como o espelho fez você notar isso?
— Eu sou muito bonito. — disse, brincalhão e se jogou nos lençóis brancos. — E gente boa!
— Se você reconhece isso, então não vai demorar muito para você superar. — respondeu, juntando o cabelo, antes solto, em um coque.
— Também reconheço que alguns de meus amigos estão de graça pro seu lado, …— O mais velho comentou, cruzando os braços embaixo de seu pescoço, para um maior apoio. — Por favor, não quebre o coração deles.
— Você sabe que eu sou muito cuidadosa com as pessoas que me relaciono, . — disse com um sorriso ladino, esperando a reação do mais velho.
— Oh, então finalmente está considerando se relacionar?
— Estou considerando que meus últimos meses foram exaustivos. Eu preciso viver um pouquinho, aproveitar a juventude antes que minhas costas comecem a doer, e meus joelhos rangerem quando eu estiver andando por aí. — soltou uma risada espontânea, imaginando o que a mais nova havia dito.
— Por mais que algumas coisas tenham fugido do controle, tenho boas intuições para esse verão. — Ele comentou, respirando fundo.
— Eu também, .
gastou mais alguns minutos para colocar seus pertences no armário de forma que as coisas de também coubessem com perfeição e, depois disso, seguiu para o quarto de Kate, onde se arrumariam com as outras meninas para aproveitar a tarde gostosa que aquecia a cidade. Assim que o mais velho se percebeu sozinho no ambiente, e com todos os seus pertences já guardados ao lado dos de , resolveu sentar na poltrona amadeirada que fazia companhia para a vista extensa do pedaço de mar que contornava os limites da vila em que estavam; cruzou os braços na altura da cintura e estendeu as pernas na mesinha de centro, deixando que os sons das ondas atingissem seus ouvidos, e o cheiro da natureza litorânea o trouxessem de volta ao equilíbrio. Por mais que gostasse muito de Madeleine, haviam pontos cruciais de suas personalidades que não se encontraram por diversas vezes durante o tempo em que estiveram juntos e, ainda que a ideia de estar sozinho no verão que esperava estar acompanhado o assustasse, ali, ele poderia confessar que sentia a liberdade dos vinte e poucos anos o abraçar, com as tantas possibilidades que a vida sempre entrega quando algo termina. E, dentro de seu coração, ele sabia que estava ao lado de pessoas que o impulsionariam para frente se ficasse muito tempo revisitando o passado, porque, assim como Thomas havia o alertado poucos dias antes: a vida acontece sempre no agora e em nenhum outro lugar.
…
— Eu vou querer um Rum For Your Life, cavalheiro, comanda 101. — Ryan pediu sua bebida e aguardou enquanto os amigos faziam o mesmo, estavam curtindo o começo da primeira noite em Brighton em um bar com decoração retrô e caixas de Jukebox.
— Thom, enviou o endereço de onde estamos para a Harp? — perguntou, enquanto tirava o celular do bolso para checar se uma das garotas havia enviado alguma mensagem.
— Enviei sim, e parece que estão chegando, ela me avisou que estava saindo com o carro tem uns quinze minutos. — O amigo acenou em concordância e se recostou na cadeira do bar, observando o movimento das pessoas que estavam presentes e esperando as mulheres, que demoraram um pouco mais para se arrumarem e acabaram decidindo ir um pouco depois, já que precisariam usar os dois carros de qualquer forma.
— Deixa eu perguntar uma coisa, . — Ryan iniciou o diálogo com o amigo, que levantou as sobrancelhas incentivando-o a continuar sua fala. — Sabe se Cay está com alguém?
— Provavelmente não, está interessado?
— Vou confirmar isso quando conversarmos um pouco mais hoje, mas ela é muito bonita.
— Todas são, meu caro. Não consigo decidir o que é mais fantástico: a companhia delas na casa, ou o mar como quintal. — Jeremy disse, abrindo a palma das mãos no ar como se apresentasse as duas opções e os cinco riram de seu comentário.
— Acho que você consegue se decidir sobre isso bem rapidinho se prestar atenção ali na porta, Jem. — disse baixo, com as mãos espalmadas no ombro do homem, atraindo a atenção de todos para si. — E fica tranquilo, Ryan, vou deixar a Cay descobrir sobre isso sozinha.
— Quando foi que você chegou, mulher? — perguntou, rindo divertido da aparição da amiga, que levantou os olhos para ele vagarosamente e sorriu de canto.
— Eu sempre chego nos momentos exatos em todos os lugares, . — O mais velho soltou um riso fraco, olhando a garota ocupar o lugar à sua frente, ao lado de Peter, que assistia as outras meninas passarem pela porta e adentrarem o local.
— Mas isso é parte da sua magia, sendo uma deusa disfarçada aqui na terra, não é? — perguntou, entrando na onda da conversa de , que sorriu lisonjeada, arqueando uma das sobrancelhas.
— Você está estonteante essa noite, . — Thom comentou, erguendo sua cerveja para a moça como em um cumprimento e ela agradeceu, logo curvando o tronco na direção de , para que pudesse cochichar.
— Diz que ele é um dos seus amigos que quer me dar mole?
— Olha, eu diria que s…
— Mas, aproveitando que as outras meninas ainda estão vindo pra cá, me confirma também: Harper não tem ninguém com ela, certo? — Thom emendou a pergunta em seu elogio para , fazendo a resposta de morrer na ponta da língua e prender o riso, sentindo-se um pouco boba.
— Não, Thom, pode tentar sua sorte. — A mulher respondeu e se recostou na cadeira, sob o olhar divertido do amigo mais velho.
— O que tem pra beber? — Katherine anunciou sua chegada com a pergunta, sentando ao lado de e Thomas.
— Eu quero o que o Ryan pediu, por favor! — Cay exclamou para o garçom que passava por ali, apontando para o homem e ficando ao seu lado. — Espero que minha intuição não esteja errada quanto ao seu bom gosto. — Ryan riu do comentário da morena e iniciou um assunto breve, ainda que interessante e divertido.
A noite havia começado há pouco mais de duas horas, o grupo de amigos se mostrava cada vez mais animado e entrosado na conversa, às vezes somente entre alguns deles e outras, com todos os presentes na mesa. Em dado momento, depois de algumas rodadas de cervejas e cocktails, Ryan e decidiram jogar em um dos arcades disponíveis no local e escolheram, entre risos e discussões tolas, por competir no Pac-Man e, cinco partidas depois, com poucos segundos de diferença, a competição foi encerrada congratulando Ryan como vencedor.
— Eu deveria saber que meu nível de concentração fica prejudicado quando bebo. — desabafou, olhando Ryan com um bico de insatisfação.
— Não se sinta mal, . É meu desempenho que é absurdamente fora da curva. — O homem respondeu divertido, tocando o dedo indicador na ponta do nariz da mais nova, que riu do gesto inesperado.
— Pessoal, consegui descolar o camarote para o resto da noite, vamos subir? — apareceu indicando o andar de cima com as mãos, no momento em que Ryan sorria para , e algum lugar de sua mente se incomodou. — Os sofás são bem mais confortáveis e podemos ter um jukebox separado do restante do bar. — completou, pegando a garrafa de cerveja que havia deixado aos cuidados de Cay, enquanto conversava com o gerente do local.
— Isso significa que eu não vou precisar suportar o gosto musical das pessoas que estão aqui, e ir de Bob Dylan à Kanye West essa noite? — Margot perguntou, juntando as mãos como se fizesse uma prece e, ao ver rir e concordar com seu comentário, completou. — Você pensou em tudo dessa vez, . — Sem esperar resposta, Maggie liderou a fila para subir as escadas até o próximo andar, enquanto Ryan e continuaram conversando com muitas risadas e empolgação.
— Vai ficar parado aí ou vem com a gente? — Peter perguntou, notando quem observava.
— Estou indo, acha que a e o Ryan ouviram o que eu disse?
— Eles podem nos encontrar depois, . — Peter respondeu com uma voz calma, vendo a inquietude que o amigo adquirira ao perceber os sorrisos de Ryan.
— Cara, ele perguntou sobre Cay há menos de quatro horas e está derretendo igual um palito de marshmallow na fogueira conversando com .
— Um palito de marshmallow? — Peter desatou a rir com a comparação do amigo, completamente espontânea, mas respirou fundo percebendo que realmente estava incomodado com os dois. — Busque sua mulher, então.
— Ela não é minha. — respondeu, desviando o olhar dos dois pela primeira vez, para olhar Peter com o rosto contorcido em confusão.
— Então por que se importar tanto com o que está acontecendo ali? São adultos, .
— São adultos, é. — concordou, dando-se por vencido e passando na frente de Peter, subindo o primeiro degrau da escadaria.
— , onde vocês vão? — A voz de se fez presente e o mais velho deixou um sorriso repuxar o canto da sua boca, ao passo que desistiu de continuar subindo os degraus para caminhar até a mulher. Peter continuou na ponta da escadaria, olhando ir até e abraçá-la pelo ombro, ligeiramente puxando-a para longe de Ryan. Riu do comportamento teimoso do amigo e, alguns segundos depois, os quatro se juntavam ao restante do grupo no primeiro andar.
— O que vai ser de mim amanhã, Jeremy? — Margot perguntou, encostando a cabeça no sofá vinho e olhando preguiçosamente para todos os amigos. — Me lembre de nunca mais acompanhar suas doses no álcool, são altas demais para mim.
— me deu um líquido terrível com gosto de ferrugem para beber ontem e deu certo, diminuiu a ressaca. — comentou, pegando uma tira de batata da porção que haviam pedido.
— Foi um chá amargo que a Katherine havia feito há umas três semanas, e ficou vegetando dentro da minha geladeira. — respondeu mastigando, e a olhou assustado, enquanto Katherine desatou a rir.
— Ela fez você beber aquilo? — Kate perguntou, com a expressão animada e curiosa.
— Você não me disse que faziam semanas que estava na sua geladeira, ! Cada gole daquela coisa me custou, pelo menos, cinco meses de vida.
— Você está vivo agora, não está?
— Estou.
— Então é tudo o que importa, . Sem stress. — sorriu de canto, levando uma tira de batata até a boca do amigo, que mordeu contrariado, enquanto olhava-a com os olhos apertados em desconfiança.
— Consigo descolar ingressos para assistir o jogo do Brighton and Hove, no estádio Falmer amanhã. Quem topa? — Thomas perguntou, recebendo uma afirmativa de quase todos da mesa.
— Onde consigo uma camiseta do time? — Kate perguntou.
— Tem uma loja autorizada deles dentro do Falmer, deve dar tempo de você pegar uma antes da partida começar, a gente chega um pouco antes. — Peter respondeu piscando para a ruiva, que soltou um sorriso contido, voltando toda sua atenção para o porta-guardanapo que estava em sua frente, evitando os olhos do moreno.
— Eu conheço uma das capitãs das cheers de Brighton, se ela for a responsável pela abertura dos jogos de amanhã, possivelmente consigo uns uniformes bacanas na faixa. — Cay disse, animando as amigas.
— Oh, Allyson? — perguntou, sorrindo saudosa.
— Sim, amanhã mando uma mensagem. — Cay completou.
— Allyson… — falou devagar, tentando puxar em sua memória o rosto da garota, cujo nome não lhe era estranho.
— Aquela que enviou para você uma caixa de vinho com chocolates no dia de São Valentim, mas vocês haviam se visto apenas duas ou três vezes, quando precisava de carona depois das aulas de dança. — Cay lembrou, fazendo e Kate rir enquanto , e os outros que ouviam a história pela primeira vez, tinham uma expressão levemente assustada no rosto.
— Cay, eu quero ver o jogo, mas sob hipótese alguma eu quero ver Allyson. Então, mantenha-a longe de mim amanhã caso ela esteja por lá, sim?
— Tudo bem , farei o possível.
— Ela foi muito insistente contigo? — Ryan perguntou, recebendo um menear afirmativo de Cay, que lembrava das poucas, porém significantes situações constrangedoras que presenciou entre Allyson e .
— Eu precisei mudar de telefone, para ela desistir de me ligar. — respondeu, ajeitando a postura no sofá, consequentemente colocando sua perna um pouco mais perto de . — E a gente nem chegou a ter alguma coisa, qualquer coisa. Foram algumas vezes em que eu busquei no estúdio, e quando ela soube que éramos somente amigos, resolveu que não me deixaria mais em paz, mesmo eu sendo muito claro sobre a inexistência de intenções que eu tinha com ela.
— Apesar das atitudes sem noções com o , ela sempre foi um doce, então não tomem isso como um resumo da personalidade de Ally, caso a encontrem amanhã. — disse, poupando a menina de comentários aos quais não poderia se defender, já que não estava ali. — E ela era mais nova, provavelmente foi a introdução que ela teve ao amor, vamos dar uma colherzinha de chá.
…
A madrugada de Brighton chegou ao fim para o grupo de amigos, depois de mais algumas conversas e partidas de arcade. Assim que chegaram em casa, cada um deles iniciou o processo preguiçoso de se desarrumarem para dormir, buscando descansar o suficiente para que o dia seguinte pudesse ser completamente aproveitado.
, aconchegado entre os travesseiros e cobertores macios, observava a porta de vidro que mais parecia uma moldura para a paisagem artística que o vasto azul oceânico complementava; os feixes de iluminação da lua cheia, que cintilavam nas ondas que pareciam pequenas daquela distância, acabaram servindo, também, como um abajur para a escuridão que tomou o quarto, assim que terminou de escovar os dentes e deitou ao seu lado.
— ? — perguntou, encarando os pés da amiga em seu rosto.
— Hm? — A mais nova respondeu, preguiçosamente, devido ao sono que a tomara logo que terminou o banho.
— Você vai dormir assim?
— Assim como?
— Do lado oposto ao meu.
— Vou.
— Por que?
— Porque sim, .
— Pensei que você tinha dito que eu teria uma palhinha do que eu pedi para você ontem. — disse rindo, puxando o dedinho do pé de , em implicância.
— Você está tendo, oras. Pode puxar minhas pernas para mais perto e fazer massagem nos meus pés? — O mais velho desatou a rir, enquanto prendia o riso, com parte do rosto enterrada no travesseiro.
— Esse é o seu ideal de conchinha comigo, então? Me fazer de massagista até você dormir?
— Sim, . — respondeu com a voz mole, sonolenta e o homem sentiu um sorriso totalmente rendido aparecer em seu rosto.
— Como você gosta? — perguntou, enfim puxando as pernas de para mais perto e deslizando seu polegar do tornozelo até o calcanhar da mais nova, causando alguns arrepios no corpo dela.
— Pode apertar.
— Bruto ou com carinho? — riu da pergunta dele, usando o pé para empurrar de leve a bochecha risonha do homem.
— Aperta com carinho, por favor.
— E agora?
— Agora você tá fazendo de um jeito gostoso. — respondeu contra o travesseiro, com a voz fraquinha. piscou algumas vezes seguidas e abriu um pouco os lábios para buscar ar, percebendo que a respiração de havia ficado consideravelmente mais pesada, indicando que a mesma havia dormido. Com isso, convenceu a si mesmo de que as sensações ocasionadas pelas palavras ditas inocentemente por haviam sido culpa do seu estado sonolento também e, com o cenho levemente franzido em confusão, resolveu não pensar muito sobre o assunto, concentrando-se em desligar sua mente assim como ela havia feito.
— O que foi que eu pedi ontem? — O mais velho perguntou, se agachando para abrir o zíper de sua mala, atrás de seu roupão de banho.
— Você quis dormir comigo.
— Que?
— De conchinha.
— Agora deu para inventar coisas, ? — pegou a peça de roupa e pendurou em seus ombros.
— E ainda pediu por favor!
— Sem chance nenhuma disso ter acontecido. — Segurando seus itens de higiene e mordendo a vontade de sorrir travesso, levantou e virou-se para , com uma cara falsamente entediada. — Digo, sem chance nenhuma disso ter acontecido mesmo, porque você não deixou. — riu do biquinho frustrado que apareceu nos lábios do amigo.
— Vou tomar uma ducha e já volto para ajudar você a organizar nossas coisas. — piscou para a garota, caminhando em direção ao banheiro e fechando a porta.
foi colocando suas roupas no armário embutido que havia em uma das paredes e organizando os sapatos que trouxera, os poucos minutos que gastou para desfazer boa parte de sua mala foram suficientes para que aparecesse de novo, o cheiro de menta que o acompanhou para dentro do quarto mais uma vez fez levantar os olhos para o homem, que passava as mãos no cabelo molhado, vestindo seu roupão azul escuro.
— Esse espelho enorme do banheiro me fez notar uma coisa, …— disse, sentando na ponta da cama. — Madeleine só pode estar maluca!
— O que? — riu, franzindo o cenho em confusão. — Como o espelho fez você notar isso?
— Eu sou muito bonito. — disse, brincalhão e se jogou nos lençóis brancos. — E gente boa!
— Se você reconhece isso, então não vai demorar muito para você superar. — respondeu, juntando o cabelo, antes solto, em um coque.
— Também reconheço que alguns de meus amigos estão de graça pro seu lado, …— O mais velho comentou, cruzando os braços embaixo de seu pescoço, para um maior apoio. — Por favor, não quebre o coração deles.
— Você sabe que eu sou muito cuidadosa com as pessoas que me relaciono, . — disse com um sorriso ladino, esperando a reação do mais velho.
— Oh, então finalmente está considerando se relacionar?
— Estou considerando que meus últimos meses foram exaustivos. Eu preciso viver um pouquinho, aproveitar a juventude antes que minhas costas comecem a doer, e meus joelhos rangerem quando eu estiver andando por aí. — soltou uma risada espontânea, imaginando o que a mais nova havia dito.
— Por mais que algumas coisas tenham fugido do controle, tenho boas intuições para esse verão. — Ele comentou, respirando fundo.
— Eu também, .
gastou mais alguns minutos para colocar seus pertences no armário de forma que as coisas de também coubessem com perfeição e, depois disso, seguiu para o quarto de Kate, onde se arrumariam com as outras meninas para aproveitar a tarde gostosa que aquecia a cidade. Assim que o mais velho se percebeu sozinho no ambiente, e com todos os seus pertences já guardados ao lado dos de , resolveu sentar na poltrona amadeirada que fazia companhia para a vista extensa do pedaço de mar que contornava os limites da vila em que estavam; cruzou os braços na altura da cintura e estendeu as pernas na mesinha de centro, deixando que os sons das ondas atingissem seus ouvidos, e o cheiro da natureza litorânea o trouxessem de volta ao equilíbrio. Por mais que gostasse muito de Madeleine, haviam pontos cruciais de suas personalidades que não se encontraram por diversas vezes durante o tempo em que estiveram juntos e, ainda que a ideia de estar sozinho no verão que esperava estar acompanhado o assustasse, ali, ele poderia confessar que sentia a liberdade dos vinte e poucos anos o abraçar, com as tantas possibilidades que a vida sempre entrega quando algo termina. E, dentro de seu coração, ele sabia que estava ao lado de pessoas que o impulsionariam para frente se ficasse muito tempo revisitando o passado, porque, assim como Thomas havia o alertado poucos dias antes: a vida acontece sempre no agora e em nenhum outro lugar.
— Eu vou querer um Rum For Your Life, cavalheiro, comanda 101. — Ryan pediu sua bebida e aguardou enquanto os amigos faziam o mesmo, estavam curtindo o começo da primeira noite em Brighton em um bar com decoração retrô e caixas de Jukebox.
— Thom, enviou o endereço de onde estamos para a Harp? — perguntou, enquanto tirava o celular do bolso para checar se uma das garotas havia enviado alguma mensagem.
— Enviei sim, e parece que estão chegando, ela me avisou que estava saindo com o carro tem uns quinze minutos. — O amigo acenou em concordância e se recostou na cadeira do bar, observando o movimento das pessoas que estavam presentes e esperando as mulheres, que demoraram um pouco mais para se arrumarem e acabaram decidindo ir um pouco depois, já que precisariam usar os dois carros de qualquer forma.
— Deixa eu perguntar uma coisa, . — Ryan iniciou o diálogo com o amigo, que levantou as sobrancelhas incentivando-o a continuar sua fala. — Sabe se Cay está com alguém?
— Provavelmente não, está interessado?
— Vou confirmar isso quando conversarmos um pouco mais hoje, mas ela é muito bonita.
— Todas são, meu caro. Não consigo decidir o que é mais fantástico: a companhia delas na casa, ou o mar como quintal. — Jeremy disse, abrindo a palma das mãos no ar como se apresentasse as duas opções e os cinco riram de seu comentário.
— Acho que você consegue se decidir sobre isso bem rapidinho se prestar atenção ali na porta, Jem. — disse baixo, com as mãos espalmadas no ombro do homem, atraindo a atenção de todos para si. — E fica tranquilo, Ryan, vou deixar a Cay descobrir sobre isso sozinha.
— Quando foi que você chegou, mulher? — perguntou, rindo divertido da aparição da amiga, que levantou os olhos para ele vagarosamente e sorriu de canto.
— Eu sempre chego nos momentos exatos em todos os lugares, . — O mais velho soltou um riso fraco, olhando a garota ocupar o lugar à sua frente, ao lado de Peter, que assistia as outras meninas passarem pela porta e adentrarem o local.
— Mas isso é parte da sua magia, sendo uma deusa disfarçada aqui na terra, não é? — perguntou, entrando na onda da conversa de , que sorriu lisonjeada, arqueando uma das sobrancelhas.
— Você está estonteante essa noite, . — Thom comentou, erguendo sua cerveja para a moça como em um cumprimento e ela agradeceu, logo curvando o tronco na direção de , para que pudesse cochichar.
— Diz que ele é um dos seus amigos que quer me dar mole?
— Olha, eu diria que s…
— Mas, aproveitando que as outras meninas ainda estão vindo pra cá, me confirma também: Harper não tem ninguém com ela, certo? — Thom emendou a pergunta em seu elogio para , fazendo a resposta de morrer na ponta da língua e prender o riso, sentindo-se um pouco boba.
— Não, Thom, pode tentar sua sorte. — A mulher respondeu e se recostou na cadeira, sob o olhar divertido do amigo mais velho.
— O que tem pra beber? — Katherine anunciou sua chegada com a pergunta, sentando ao lado de e Thomas.
— Eu quero o que o Ryan pediu, por favor! — Cay exclamou para o garçom que passava por ali, apontando para o homem e ficando ao seu lado. — Espero que minha intuição não esteja errada quanto ao seu bom gosto. — Ryan riu do comentário da morena e iniciou um assunto breve, ainda que interessante e divertido.
A noite havia começado há pouco mais de duas horas, o grupo de amigos se mostrava cada vez mais animado e entrosado na conversa, às vezes somente entre alguns deles e outras, com todos os presentes na mesa. Em dado momento, depois de algumas rodadas de cervejas e cocktails, Ryan e decidiram jogar em um dos arcades disponíveis no local e escolheram, entre risos e discussões tolas, por competir no Pac-Man e, cinco partidas depois, com poucos segundos de diferença, a competição foi encerrada congratulando Ryan como vencedor.
— Eu deveria saber que meu nível de concentração fica prejudicado quando bebo. — desabafou, olhando Ryan com um bico de insatisfação.
— Não se sinta mal, . É meu desempenho que é absurdamente fora da curva. — O homem respondeu divertido, tocando o dedo indicador na ponta do nariz da mais nova, que riu do gesto inesperado.
— Pessoal, consegui descolar o camarote para o resto da noite, vamos subir? — apareceu indicando o andar de cima com as mãos, no momento em que Ryan sorria para , e algum lugar de sua mente se incomodou. — Os sofás são bem mais confortáveis e podemos ter um jukebox separado do restante do bar. — completou, pegando a garrafa de cerveja que havia deixado aos cuidados de Cay, enquanto conversava com o gerente do local.
— Isso significa que eu não vou precisar suportar o gosto musical das pessoas que estão aqui, e ir de Bob Dylan à Kanye West essa noite? — Margot perguntou, juntando as mãos como se fizesse uma prece e, ao ver rir e concordar com seu comentário, completou. — Você pensou em tudo dessa vez, . — Sem esperar resposta, Maggie liderou a fila para subir as escadas até o próximo andar, enquanto Ryan e continuaram conversando com muitas risadas e empolgação.
— Vai ficar parado aí ou vem com a gente? — Peter perguntou, notando quem observava.
— Estou indo, acha que a e o Ryan ouviram o que eu disse?
— Eles podem nos encontrar depois, . — Peter respondeu com uma voz calma, vendo a inquietude que o amigo adquirira ao perceber os sorrisos de Ryan.
— Cara, ele perguntou sobre Cay há menos de quatro horas e está derretendo igual um palito de marshmallow na fogueira conversando com .
— Um palito de marshmallow? — Peter desatou a rir com a comparação do amigo, completamente espontânea, mas respirou fundo percebendo que realmente estava incomodado com os dois. — Busque sua mulher, então.
— Ela não é minha. — respondeu, desviando o olhar dos dois pela primeira vez, para olhar Peter com o rosto contorcido em confusão.
— Então por que se importar tanto com o que está acontecendo ali? São adultos, .
— São adultos, é. — concordou, dando-se por vencido e passando na frente de Peter, subindo o primeiro degrau da escadaria.
— , onde vocês vão? — A voz de se fez presente e o mais velho deixou um sorriso repuxar o canto da sua boca, ao passo que desistiu de continuar subindo os degraus para caminhar até a mulher. Peter continuou na ponta da escadaria, olhando ir até e abraçá-la pelo ombro, ligeiramente puxando-a para longe de Ryan. Riu do comportamento teimoso do amigo e, alguns segundos depois, os quatro se juntavam ao restante do grupo no primeiro andar.
— O que vai ser de mim amanhã, Jeremy? — Margot perguntou, encostando a cabeça no sofá vinho e olhando preguiçosamente para todos os amigos. — Me lembre de nunca mais acompanhar suas doses no álcool, são altas demais para mim.
— me deu um líquido terrível com gosto de ferrugem para beber ontem e deu certo, diminuiu a ressaca. — comentou, pegando uma tira de batata da porção que haviam pedido.
— Foi um chá amargo que a Katherine havia feito há umas três semanas, e ficou vegetando dentro da minha geladeira. — respondeu mastigando, e a olhou assustado, enquanto Katherine desatou a rir.
— Ela fez você beber aquilo? — Kate perguntou, com a expressão animada e curiosa.
— Você não me disse que faziam semanas que estava na sua geladeira, ! Cada gole daquela coisa me custou, pelo menos, cinco meses de vida.
— Você está vivo agora, não está?
— Estou.
— Então é tudo o que importa, . Sem stress. — sorriu de canto, levando uma tira de batata até a boca do amigo, que mordeu contrariado, enquanto olhava-a com os olhos apertados em desconfiança.
— Consigo descolar ingressos para assistir o jogo do Brighton and Hove, no estádio Falmer amanhã. Quem topa? — Thomas perguntou, recebendo uma afirmativa de quase todos da mesa.
— Onde consigo uma camiseta do time? — Kate perguntou.
— Tem uma loja autorizada deles dentro do Falmer, deve dar tempo de você pegar uma antes da partida começar, a gente chega um pouco antes. — Peter respondeu piscando para a ruiva, que soltou um sorriso contido, voltando toda sua atenção para o porta-guardanapo que estava em sua frente, evitando os olhos do moreno.
— Eu conheço uma das capitãs das cheers de Brighton, se ela for a responsável pela abertura dos jogos de amanhã, possivelmente consigo uns uniformes bacanas na faixa. — Cay disse, animando as amigas.
— Oh, Allyson? — perguntou, sorrindo saudosa.
— Sim, amanhã mando uma mensagem. — Cay completou.
— Allyson… — falou devagar, tentando puxar em sua memória o rosto da garota, cujo nome não lhe era estranho.
— Aquela que enviou para você uma caixa de vinho com chocolates no dia de São Valentim, mas vocês haviam se visto apenas duas ou três vezes, quando precisava de carona depois das aulas de dança. — Cay lembrou, fazendo e Kate rir enquanto , e os outros que ouviam a história pela primeira vez, tinham uma expressão levemente assustada no rosto.
— Cay, eu quero ver o jogo, mas sob hipótese alguma eu quero ver Allyson. Então, mantenha-a longe de mim amanhã caso ela esteja por lá, sim?
— Tudo bem , farei o possível.
— Ela foi muito insistente contigo? — Ryan perguntou, recebendo um menear afirmativo de Cay, que lembrava das poucas, porém significantes situações constrangedoras que presenciou entre Allyson e .
— Eu precisei mudar de telefone, para ela desistir de me ligar. — respondeu, ajeitando a postura no sofá, consequentemente colocando sua perna um pouco mais perto de . — E a gente nem chegou a ter alguma coisa, qualquer coisa. Foram algumas vezes em que eu busquei no estúdio, e quando ela soube que éramos somente amigos, resolveu que não me deixaria mais em paz, mesmo eu sendo muito claro sobre a inexistência de intenções que eu tinha com ela.
— Apesar das atitudes sem noções com o , ela sempre foi um doce, então não tomem isso como um resumo da personalidade de Ally, caso a encontrem amanhã. — disse, poupando a menina de comentários aos quais não poderia se defender, já que não estava ali. — E ela era mais nova, provavelmente foi a introdução que ela teve ao amor, vamos dar uma colherzinha de chá.
A madrugada de Brighton chegou ao fim para o grupo de amigos, depois de mais algumas conversas e partidas de arcade. Assim que chegaram em casa, cada um deles iniciou o processo preguiçoso de se desarrumarem para dormir, buscando descansar o suficiente para que o dia seguinte pudesse ser completamente aproveitado.
, aconchegado entre os travesseiros e cobertores macios, observava a porta de vidro que mais parecia uma moldura para a paisagem artística que o vasto azul oceânico complementava; os feixes de iluminação da lua cheia, que cintilavam nas ondas que pareciam pequenas daquela distância, acabaram servindo, também, como um abajur para a escuridão que tomou o quarto, assim que terminou de escovar os dentes e deitou ao seu lado.
— ? — perguntou, encarando os pés da amiga em seu rosto.
— Hm? — A mais nova respondeu, preguiçosamente, devido ao sono que a tomara logo que terminou o banho.
— Você vai dormir assim?
— Assim como?
— Do lado oposto ao meu.
— Vou.
— Por que?
— Porque sim, .
— Pensei que você tinha dito que eu teria uma palhinha do que eu pedi para você ontem. — disse rindo, puxando o dedinho do pé de , em implicância.
— Você está tendo, oras. Pode puxar minhas pernas para mais perto e fazer massagem nos meus pés? — O mais velho desatou a rir, enquanto prendia o riso, com parte do rosto enterrada no travesseiro.
— Esse é o seu ideal de conchinha comigo, então? Me fazer de massagista até você dormir?
— Sim, . — respondeu com a voz mole, sonolenta e o homem sentiu um sorriso totalmente rendido aparecer em seu rosto.
— Como você gosta? — perguntou, enfim puxando as pernas de para mais perto e deslizando seu polegar do tornozelo até o calcanhar da mais nova, causando alguns arrepios no corpo dela.
— Pode apertar.
— Bruto ou com carinho? — riu da pergunta dele, usando o pé para empurrar de leve a bochecha risonha do homem.
— Aperta com carinho, por favor.
— E agora?
— Agora você tá fazendo de um jeito gostoso. — respondeu contra o travesseiro, com a voz fraquinha. piscou algumas vezes seguidas e abriu um pouco os lábios para buscar ar, percebendo que a respiração de havia ficado consideravelmente mais pesada, indicando que a mesma havia dormido. Com isso, convenceu a si mesmo de que as sensações ocasionadas pelas palavras ditas inocentemente por haviam sido culpa do seu estado sonolento também e, com o cenho levemente franzido em confusão, resolveu não pensar muito sobre o assunto, concentrando-se em desligar sua mente assim como ela havia feito.
Capítulo Três
e as garotas estavam sentadas nas pedras que antecediam a beira da praia, com água de coco e frutas tropicais, abaixo dos raios de sol quentes e vastos que aqueciam o mar e estimulavam a oxidação da melanina de suas peles.
— Jeremy estava pensando em fazer um luau em casa, tem espaço o suficiente e uma área externa bacana, mas não sei se teríamos muitas pessoas para convidar. - Kate comentou, enquanto passava um pouco mais de protetor solar no antebraço.
— Bom, Allyson respondeu minha mensagem e disse que vai estar no jogo de hoje, podemos convidá-la junto com alguns amigos. - Cay comentou, dando um gole na água de coco antes de continuar sua fala. - Mas, também não podemos estender muitos convites, porque juntos somos em dez e não quero que a casa fique tumultuada.
— É só avisarmos Allyson que os convidados dela não convidam. - falou, deitada de bruços com o sol em suas costas.
— Tem um deus grego sem camisa olhando para você. - Harper disse, cutucando o ombro da amiga com o dedo indicador. - levantou o tronco, olhando-a de um jeito engraçado.
— Onde?
— Perto da orla. - Harper disse. - Mais uma das mil chances que você já teve de sair dessa seca...
— Ei, eu não estou na seca...- esbravejou. Margot e Cay riram da pequena discussão.
— A não ser que você ande escondendo coisas, hoje fazem...- Harper sacou o celular e procurou algo nas mensagens. - Quatrocentos e trinta e seis dias desde que você saiu com um cara.
— Quatrocentos e trinta e seis? - Margot exclamou com a boca aberta, enquanto mastigava um pedaço de manga.
— Como você sabe disso? - se sentou, assustada.
— Favoritei a mensagem que você mandou com sua localização, caso fosse sequestrada. - Harper respondeu.
— Sabem o pior de tudo? - disse, ajeitando-se na canga que estava estendida sob as pedrinhas da praia. - Eu saí com três pessoas durante toda minha vida e...- lambeu a boca e franziu a testa, gesticulando excessivamente. Peter vinha correndo na direção das garotas. - Nem umzinho deles conseguiu...
— ... - Cay a chamou, com um sorriso amarelo.
— Eu preciso tirar isso do meu coração, Cay e agora eu estou com coragem para falar. - Ela respirou fundo e fechou os olhos, soltando o ar depressa e encarando as amigas com um certo desespero. - Nenhum deles conseguiu me deixar satisfeita. Ou me manter interessada por mais de dez minutos.
— Talvez esteja procurando nos lugares errados. - Maggie comentou.
— Concordo. - Peter respondeu rindo, chacoalhando os fios de cabelo molhados pelo mar e recebendo um olhar surpreso e envergonhado de .
— Não poderia ter se aproximado fazendo um pouco mais de barulho? – Ela perguntou, desejando que aquela praia fosse de areia para que pudesse enterrar seu rosto bem fundo por tempo indeterminado. Peter abanou a mão no ar e piscou para a mais nova.
— Sou descolado, . Não precisa medir suas palavras comigo. - Ele disse, apoiando as mãos na cintura, olhando as outras garotas. - Vim chamar vocês para entrarem um pouco no mar, porque as ondas estão bem mais tranquilas.
— Por enquanto estamos aproveitando o sol, e tentando solucionar a entediante e pacata vida sexual da .
— Katherine Wallews! - exclamou com os olhos arregalados e Peter riu alto, apoiando as mãos em seus joelhos.
— Claro que isso se deve ao puro mau gosto que ela tem. - A ruiva completou fazendo uma careta e revirou os olhos.
— Estava para dizer que você pode escolher entre um dos caras, . Mas acho que um deles escolheu você primeiro. - Peter falou e as meninas o encararam.
— Thomas? - perguntou e riu divertida. Harper jogou um pedaço de melancia na testa da amiga. - Ai!
— Ele pediu meu telefone ontem. Ordem de chegada, ... - A loira comentou e abanou o ar em desinteresse.
— Então...Jeremy?
— Temos um longo verão pela frente. Por que não tenta descobrir sozinha? - Peter disse e olhou de volta para lugar onde os meninos o esperavam para surfar. - Estamos esperando vocês lá.
— Daqui a pouco nos juntamos a vocês. - Maggie respondeu e Peter acenou em concordância, saindo de perto das garotas.
— Isso pode ser divertido. - Cay disse enquanto acenava para os meninos de longe. Voltou seu olhar para . - Como uma caça ao tesouro.
— Explique melhor. - Margot pediu e as meninas se aproximaram da morena.
— Peter acabou de nos contar que um deles tem um possível interesse em . Sabemos que não é o Thomas...mas ainda nos restam quatro opções.
— Quatro? - perguntou franzindo o cenho.
— Sim...Ryan, Jeremy, Peter e .
— não é uma opção, Cay.
— Como não? - Margot exclamou e apoiou o rosto nas mãos.
— Ele já me deu um fora antes.
— O que? - Harper perguntou, surpresa.
— Em nossa formatura, anos atrás. - detalhou.
— Não foi bem um fora. Ele só não quis beijar a quando a garrafa parou entre os dois. Correu dois quarteirões descalço num frio de -4 graus como castigo.
— Então foi pior do que um fora. - Cay respondeu Kate com uma careta.
— E por que ele sempre solta uma coisa ou outra com interpretações dúbias para você?
— Eu não fico analisando o comportamento dele. - respondeu enquanto colocava seus óculos de sol. - E vocês também não deveriam.
— , se não acontece mesmo nada entre vocês...- Harper disse apertando os olhos para terminar de conectar seus pensamentos. - Ele é o cara perfeito para você usar.
— Você realmente disse isso? - Margot olhou assustada para a loira.
— Não dessa forma, Maggie. Eles são amigos e precisa construir autoconfiança quando falamos sobre paqueras no geral. - Harper explicou.
— Quer que eu pratique meus flertes com ? - perguntou.
— Seus flertes são horríveis, se depender deles vai levar outro fora. - Cay pontuou e Katherine riu alto.
— Fica quieta, Caylin. - advertiu, controlando a vontade de rir para não classificar aquele comentário como uma verdade absoluta.
— Você pode instigar para saber se com um pouco de abertura ele se interessa em você.
— Eu não acho que quero saber isso.
— Eu sei que não, . Mas instigar ele e ver como ele reage vai ser funcional para que você saiba o que dá certo, ou não, quando estiver realmente a fim de uma pessoa.
— Como no princípio do método científico?
— Precisa mesmo envolver ciência para entender isso? - assentiu e Harper suspirou em derrota. - Bom, considere como a coisa na qual você aplicará hipóteses que poderão, ou não, serem refutadas até que você crie uma teoria.
— Isso soa muito errado. Eu gosto.
— Só que existe a possibilidade...- Maggie levantou o indicador e olhou seriamente para . - Do feitiço virar contra o feiticeiro.
— Sem preocupações com isso, Maggie. - piscou para a amiga e tirou o protetor labial da bolsa. - Estou acostumada com as piadinhas infames e intencionais que ele faz para me desestabilizar de vez em quando. O que pode mudar agora é que das próximas vezes que ele entrar em campo, eu também vou querer jogar.
...
— Finalmente! - Thomas exclamou com os braços abertos ao encontrar as garotas na beira da praia. - Achei que eram alérgicas ao mar.
— Não tanto quanto parece ser alérgico ao sol. - Harper comentou, olhando o amigo de cima a baixo. - Não avisaram que você está parecendo um cosplay de camarão?
— Eu conheço você, Harp. Usou isso como desculpa apenas para apreciar a vista. - disse, sorrindo esperto.
— Não dessa vez...- Harper se aproximou e passou a unha pelo ombro do mais velho que exclamou de dor e fez uma careta feia para ela. - É sério que você não passou uma gota sequer de protetor solar?
— Eu não vou ficar cuidando de você, se pegar uma insolação. - Peter avisou.
— Sobre o que estão discutindo? - chegou junto com as outras garotas e cruzou os braços, sorrindo doce para os amigos.
— Quem vai levar ao hospital mais tarde. - Jeremy respondeu, apontando para os ombros do amigo. O mais velho revirou os olhos.
— Vocês estão subestimando o meu bronzeado.
— E você está subestimando o sol. - Margot disse rindo e mexeu em sua bolsa, para retirar o pequeno frasco e abri-lo. - Passe e fique pelo menos dez minutos fora do mar, . Para dar tempo de secar.
— Okay. - estendeu a mão para a morena, recebendo uma boa quantidade do creme. Piscou, sorrindo. - Obrigada, Margot Willians.
— Margot Willians? - repetiu baixo, virando em direção a Kate.
— O que? - Katherine respondeu, franzindo o cenho.
— Ele está flertando com a Maggie. - disse e Kate olhou para um ponto acima da cabeça de , mas disfarçou a tempo. – Sorriso com piscadinha e ainda a chamou pelo nome completo.
— Então se eu fizer o mesmo com você, vai considerar que estou flertando também? - perguntou perto do ouvido de , que pulou com o pequeno susto.
A mulher apertou os olhos pronta para responder à altura, mas percebeu a mensagem que Katherine passava através de um sorriso forçado e levemente maníaco, enquanto se afastava dos dois: o plano entra em ação agora.
— Se eu considerasse que sim...o que você faria depois? - perguntou com uma voz suave e um sorriso ladino. A mais nova assistiu uma sutil linha de expressão se formar no meio das sobrancelhas do mais velho ao passo que ele compreendia a semântica do que ela disse. Ele se afastou um pouco e passou a língua pelos lábios, estudando o rosto da amiga.
— O que pensa que eu faria depois...se você considerasse que sim? - devolveu, cruzando os braços e a olhando curioso.
fugiu do olhar do amigo e buscou refúgio na paisagem e construções do seu lado, construindo uma resposta que não aumentasse a estranheza e o magnetismo inesperado que surgiu dentro daquela situação. Pensou que seguir a ideia de Harper talvez não fosse tão ideal quanto ela fez parecer que seria.
— Acho que você pergunta coisas demais. – respondeu, deixando de lado os planos de mais cedo.
— E eu acho que você supõe coisas demais. – Ele falou no mesmo tom.
— Também acho que você gosta de me importunar.
— Você acha?
Em um movimento rápido, o mais velho levantou pelas pernas e a apoiou em seu ombro, correndo com velocidade em direção aos amigos que entravam no mar e ouvindo reclamar e pedir ajuda, até o momento em que ele a soltou, de frente com uma onda alta o suficiente para cobri-la.
— ! - Ela gritou enquanto emergia novamente, vendo o homem gargalhar e se aproximar.
— Pelo menos agora você pode ter certeza.
Ele sorriu arteiro, enquanto ela o encarava com os olhos raivosos mais brilhantes da cidade; e, durante os poucos segundos que passou admirando as írises de , pensou que tê-la ao seu lado era tão reconfortante quanto sentir a brisa suave e quente que soprava naquele entardecer.
...
O Estádio Falmer tinha suas arquibancadas lotadas enquanto os times de Leicester City e Brighton Hove se enfrentavam em campo.
— Você não está morrendo de calor com isso? - Margot perguntou para . Ele usava uma das perucas usuais de torcedores, que consistia em um cabelo de comprimento médio dividido em duas cores.
— Estou, mas Allyson está olhando para cá e eu quero que ela continue sem a certeza de que eu estou aqui. - respondeu, apontando discretamente para a líder de torcida que estava do outro lado da arquibancada.
— Pode tirar a peruca, então. - Cay disse, mordendo o sorriso que segurava. - Porque ela nos convidou para a festa que vai acontecer no lounge do estádio, e eu precisei dar o nome de todos. - encarou a morena com indignação, recebendo um levantar de ombros como resposta.
— E ela agiu normalmente com essa informação, ou pediu um beijinho do como pedágio na entrada? - Thom perguntou com um tom de voz brincalhão e os outros riram, menos quem fora citado.
— Não me respondeu ainda, parece estar ocupada demais olhando para cá. - Cay respondeu risonha, checando o celular.
O apito do árbitro indicou que o segundo tempo da partida havia se iniciado e o estádio foi em polvorosa mais uma vez. Nos quinze minutos de prorrogação que foram concedidos aos jogadores para o desempate sem pênaltis, o atacante Welbeck recebeu a bola dentro do ângulo e velocidade ideais para a execução de um gol de ouro e, sem pensar duas vezes, fez o seu trabalho trazendo a classificação para o time da casa.
— E então entramos com todos os passos que aprendi nessa aula particular que recebi com Ammy.
Allyson conversava com empolgação, vez ou outra tocando o braço de e Peter, que a assistiam contar sobre como a abertura dos jogos daquela tarde havia sido inspirada no concurso que ganhou, para uma vaga no workshop de uma das maiores dançarinas da Europa. Com certeza um grande feito, mas a maneira como ela havia focado nisso dentro dos últimos sessenta minutos estava fazendo Peter contar as bolhas que se formavam em seu copo de cerveja e entortar a boca.
— A coreografia de abertura foi linda, Ally. Você fez um ótimo trabalho. - Cay comentou, tomando um longo gole de seu drinque.
— E como anda o coração, ?
O mais velho soltou um sorriso travado pela tendência daquela conversa e notou boa parte dos amigos prenderem o riso com sua reação. Resolveu não dar espaço algum para Ally, porque estavam na mesma cidade. E se ela aparecesse de surpresa na varanda da casa enquanto ele dormia?
— Muito bem comprometido, Ally. - Ele respondeu com um sorriso maior que o rosto e Peter disfarçou suas risadas com algumas tosses.
— Como assim? Você voltou com a Maddie?
— Sabe sobre Madeleine? - franziu o cenho.
— Aquela cidade é pequena, . Madeleine foi minha tutorada antes que eu viesse para Brighton e não perdemos o contato desde então. - Ally comentou e sentiu vontade de desaparecer. - Não acredito que ela não me contou que vocês estão juntos de novo.
— Porque não estamos, Ally...conheci outra pessoa. – disse rápido, sorrindo amarelo para a mulher e torcendo para que ela trocasse de assunto.
— O amor tem dessas. - Ryan tentou decorar a mentira e oferecer uma ajuda ao amigo, levantando o copo de cerveja em sua direção como em um brinde.
— Sempre uma surpresa... - Jeremy comentou e olhava para qualquer lugar que não fosse aquela cena. Explodiria de rir se prestasse um pouquinho mais de atenção nas caretas que fazia ao tentar sair da saia justa que havia se colocado.
— Conheceu outra pessoa...em três dias? - Allyson perguntou confusa e sentiu a impaciência consumir boa parte do seu bom humor. Precisava mesmo se justificar para Allyson Atkins?
—Superamos as coisas de uma maneira moderna. - respondeu seco.
— Eu entendo. Esqueci de comentar que Madeleine chega aqui em poucos minutos, para passar a semana comigo. Sua nova namorada veio com você?
sentiu o ar escapar dos pulmões; nunca pensou que inventar uma coisa boba apenas para poupar vocabulário o colocaria em uma confusão tão grande.
— O que foi, ? - Maggie cutucou a amiga que estava olhando fixamente para o corredor onde Madeleine acabara de aparecer, mostrando sua credencial.
— Madeleine está aqui!? Agora!? - Ela exclamou baixo para as meninas e olhou para .
sabia que o amigo não conseguiria sustentar o que havia dito com a naturalidade que seria requerida caso precisasse interagir com Madeleine de forma tão repentina. A mais nova parecia conseguir escutar os pensamentos desordenados dele tão claramente quanto ouvia as conversas paralelas das outras pessoas que estavam naquele lounge. Madeleine havia mentido sobre Ohio e estava em Brighton. Sem ele.
Essa conclusão foi o suficiente para impulsionar a levantar da cadeira e caminhar decidida a tirar o homem daquela situação sufocante e desesperadora; sentia seus olhos ficarem nublados com a indignação que o tomava, ao tempo que se tornava consciente sobre o fato de que Madeleine não fora capaz de ser honesta nem mesmo no momento em que terminou a relação dos dois.
— Foi um prazer ver você de novo, Allyson. - comentou ao chegar perto dos dois, estendendo as mãos para cumprimentar a garota.
— Não faz nem duas horas que você chegou, . Já vai embora mesmo?
— Nós dois estamos indo. - respondeu, pousando a palma da mão no ombro de , que ainda estava sentado. - Meu namorado e eu não queremos ficar em um ambiente incômodo e desconfortante.
Dez pares de olhos se voltaram para a garota e pareceu entrar dentro de uma realidade paralela. O pacote todo daquela situação estava demais para ele processar de uma vez, especialmente pela postura impecável de , seu tom de voz imperativo, olhos em labaredas e a mão quente e macia segurando firmemente a região de sua clavícula, como se através desse gesto dissesse que estava ali para o defender.
— Como é?
— Você sabia que viríamos hoje, Allyson.
—... - disse em um tom de alerta, para que a amiga não gastasse tanta energia com aquela situação. Mas ela não se importou.
— Cay avisou você pela manhã e mesmo sabendo que estaria aqui, não passou pela sua cabeça que seria patético ele e Madeleine se verem depois de um término conturbado e recente?
— Acho melhor conversarmos depois quando você estiver um pouco mais calma. – Allyson disse e bufou.
— Eu também acho.
— Alguém quer aproveitar a carona para ir embora? – perguntou aos amigos, pousando a mão dele sobre a de e entrelaçando seus dedos nos dela.
— Possivelmente ficamos até o fim da festa. - Thomas disse, erguendo a cerveja e brindando com o grupo. - Pode ir cuidar da sua namorada. - sorriu de lado com a resposta de Thom e alcançou as chaves do carro que estavam em cima da mesa.
— Eu quem vou cuidar dele hoje, Thom. Bem direitinho.
...
bateu a porta do carro e suspirou, recostando a cabeça no assento de couro para entender melhor os acontecimentos dos últimos cinco minutos. encarava, pelo vidro, a parede de concreto que estava em frente ao carro estacionado e pensava o quão maluco foi a solução que arrumou para tirar da enrascada que ele se meteu.
— Você ficou gata demais me defendendo para a Ally.
— Você me deve 250 libras. - Eles falaram juntos e se olharam, com um meio sorriso desenhando seus lábios.
— O que aconteceu com o pagamento em muffins de blueberry e café gelado? - Perguntou curioso, desembalando uma goma de mascar para distrair sua ansiedade da situação anterior.
— Houve uma atualização dos termos e condições.
— Fingir ser minha namorada pode ter benefícios muito melhores do que 250 libras, . - Ele se inclinou na direção da mais nova. - Certeza que não quer descobrir um pouquinho sobre eles?
— , você está dando em cima de mim sem disfarce nenhum agora. - disse rindo e ele a acompanhou, virando as chaves do carro e passando a língua pela boca.
— Efeito colateral da atuação. Preciso de um tempo para sair do personagem. – Ele disse risonho, olhando o retrovisor e girando o volante para sair da vaga do estacionamento.
— O que vamos fazer agora?
— Podemos passar no Mcdonalds e pedir comida pra viagem.
— E levamos para comer assistindo o mar, nas pedrinhas que temos beirando a praia?
— Você manda e eu obedeço, namorada. - Ele disse, mascando o chiclete e piscando para .
— Corta essa, .
— Ser rude desse jeito faz parte da ideia que você tem sobre cuidar bem direitinho de mim hoje?
observou pela visão periférica a risada espontânea que a amiga soltou e as expressões engraçadas que ela fazia ao escolher alguma rádio para tocar enquanto completavam o caminho até a rede de fast-food. As ruas de Brighton estavam vazias e o azul escuro estrelado que preenchia o céu daquela noite adicionou ainda mais leveza ao momento que os dois compartilhavam.
Sempre estariam em casa na companhia um do outro.
— Jeremy estava pensando em fazer um luau em casa, tem espaço o suficiente e uma área externa bacana, mas não sei se teríamos muitas pessoas para convidar. - Kate comentou, enquanto passava um pouco mais de protetor solar no antebraço.
— Bom, Allyson respondeu minha mensagem e disse que vai estar no jogo de hoje, podemos convidá-la junto com alguns amigos. - Cay comentou, dando um gole na água de coco antes de continuar sua fala. - Mas, também não podemos estender muitos convites, porque juntos somos em dez e não quero que a casa fique tumultuada.
— É só avisarmos Allyson que os convidados dela não convidam. - falou, deitada de bruços com o sol em suas costas.
— Tem um deus grego sem camisa olhando para você. - Harper disse, cutucando o ombro da amiga com o dedo indicador. - levantou o tronco, olhando-a de um jeito engraçado.
— Onde?
— Perto da orla. - Harper disse. - Mais uma das mil chances que você já teve de sair dessa seca...
— Ei, eu não estou na seca...- esbravejou. Margot e Cay riram da pequena discussão.
— A não ser que você ande escondendo coisas, hoje fazem...- Harper sacou o celular e procurou algo nas mensagens. - Quatrocentos e trinta e seis dias desde que você saiu com um cara.
— Quatrocentos e trinta e seis? - Margot exclamou com a boca aberta, enquanto mastigava um pedaço de manga.
— Como você sabe disso? - se sentou, assustada.
— Favoritei a mensagem que você mandou com sua localização, caso fosse sequestrada. - Harper respondeu.
— Sabem o pior de tudo? - disse, ajeitando-se na canga que estava estendida sob as pedrinhas da praia. - Eu saí com três pessoas durante toda minha vida e...- lambeu a boca e franziu a testa, gesticulando excessivamente. Peter vinha correndo na direção das garotas. - Nem umzinho deles conseguiu...
— ... - Cay a chamou, com um sorriso amarelo.
— Eu preciso tirar isso do meu coração, Cay e agora eu estou com coragem para falar. - Ela respirou fundo e fechou os olhos, soltando o ar depressa e encarando as amigas com um certo desespero. - Nenhum deles conseguiu me deixar satisfeita. Ou me manter interessada por mais de dez minutos.
— Talvez esteja procurando nos lugares errados. - Maggie comentou.
— Concordo. - Peter respondeu rindo, chacoalhando os fios de cabelo molhados pelo mar e recebendo um olhar surpreso e envergonhado de .
— Não poderia ter se aproximado fazendo um pouco mais de barulho? – Ela perguntou, desejando que aquela praia fosse de areia para que pudesse enterrar seu rosto bem fundo por tempo indeterminado. Peter abanou a mão no ar e piscou para a mais nova.
— Sou descolado, . Não precisa medir suas palavras comigo. - Ele disse, apoiando as mãos na cintura, olhando as outras garotas. - Vim chamar vocês para entrarem um pouco no mar, porque as ondas estão bem mais tranquilas.
— Por enquanto estamos aproveitando o sol, e tentando solucionar a entediante e pacata vida sexual da .
— Katherine Wallews! - exclamou com os olhos arregalados e Peter riu alto, apoiando as mãos em seus joelhos.
— Claro que isso se deve ao puro mau gosto que ela tem. - A ruiva completou fazendo uma careta e revirou os olhos.
— Estava para dizer que você pode escolher entre um dos caras, . Mas acho que um deles escolheu você primeiro. - Peter falou e as meninas o encararam.
— Thomas? - perguntou e riu divertida. Harper jogou um pedaço de melancia na testa da amiga. - Ai!
— Ele pediu meu telefone ontem. Ordem de chegada, ... - A loira comentou e abanou o ar em desinteresse.
— Então...Jeremy?
— Temos um longo verão pela frente. Por que não tenta descobrir sozinha? - Peter disse e olhou de volta para lugar onde os meninos o esperavam para surfar. - Estamos esperando vocês lá.
— Daqui a pouco nos juntamos a vocês. - Maggie respondeu e Peter acenou em concordância, saindo de perto das garotas.
— Isso pode ser divertido. - Cay disse enquanto acenava para os meninos de longe. Voltou seu olhar para . - Como uma caça ao tesouro.
— Explique melhor. - Margot pediu e as meninas se aproximaram da morena.
— Peter acabou de nos contar que um deles tem um possível interesse em . Sabemos que não é o Thomas...mas ainda nos restam quatro opções.
— Quatro? - perguntou franzindo o cenho.
— Sim...Ryan, Jeremy, Peter e .
— não é uma opção, Cay.
— Como não? - Margot exclamou e apoiou o rosto nas mãos.
— Ele já me deu um fora antes.
— O que? - Harper perguntou, surpresa.
— Em nossa formatura, anos atrás. - detalhou.
— Não foi bem um fora. Ele só não quis beijar a quando a garrafa parou entre os dois. Correu dois quarteirões descalço num frio de -4 graus como castigo.
— Então foi pior do que um fora. - Cay respondeu Kate com uma careta.
— E por que ele sempre solta uma coisa ou outra com interpretações dúbias para você?
— Eu não fico analisando o comportamento dele. - respondeu enquanto colocava seus óculos de sol. - E vocês também não deveriam.
— , se não acontece mesmo nada entre vocês...- Harper disse apertando os olhos para terminar de conectar seus pensamentos. - Ele é o cara perfeito para você usar.
— Você realmente disse isso? - Margot olhou assustada para a loira.
— Não dessa forma, Maggie. Eles são amigos e precisa construir autoconfiança quando falamos sobre paqueras no geral. - Harper explicou.
— Quer que eu pratique meus flertes com ? - perguntou.
— Seus flertes são horríveis, se depender deles vai levar outro fora. - Cay pontuou e Katherine riu alto.
— Fica quieta, Caylin. - advertiu, controlando a vontade de rir para não classificar aquele comentário como uma verdade absoluta.
— Você pode instigar para saber se com um pouco de abertura ele se interessa em você.
— Eu não acho que quero saber isso.
— Eu sei que não, . Mas instigar ele e ver como ele reage vai ser funcional para que você saiba o que dá certo, ou não, quando estiver realmente a fim de uma pessoa.
— Como no princípio do método científico?
— Precisa mesmo envolver ciência para entender isso? - assentiu e Harper suspirou em derrota. - Bom, considere como a coisa na qual você aplicará hipóteses que poderão, ou não, serem refutadas até que você crie uma teoria.
— Isso soa muito errado. Eu gosto.
— Só que existe a possibilidade...- Maggie levantou o indicador e olhou seriamente para . - Do feitiço virar contra o feiticeiro.
— Sem preocupações com isso, Maggie. - piscou para a amiga e tirou o protetor labial da bolsa. - Estou acostumada com as piadinhas infames e intencionais que ele faz para me desestabilizar de vez em quando. O que pode mudar agora é que das próximas vezes que ele entrar em campo, eu também vou querer jogar.
— Finalmente! - Thomas exclamou com os braços abertos ao encontrar as garotas na beira da praia. - Achei que eram alérgicas ao mar.
— Não tanto quanto parece ser alérgico ao sol. - Harper comentou, olhando o amigo de cima a baixo. - Não avisaram que você está parecendo um cosplay de camarão?
— Eu conheço você, Harp. Usou isso como desculpa apenas para apreciar a vista. - disse, sorrindo esperto.
— Não dessa vez...- Harper se aproximou e passou a unha pelo ombro do mais velho que exclamou de dor e fez uma careta feia para ela. - É sério que você não passou uma gota sequer de protetor solar?
— Eu não vou ficar cuidando de você, se pegar uma insolação. - Peter avisou.
— Sobre o que estão discutindo? - chegou junto com as outras garotas e cruzou os braços, sorrindo doce para os amigos.
— Quem vai levar ao hospital mais tarde. - Jeremy respondeu, apontando para os ombros do amigo. O mais velho revirou os olhos.
— Vocês estão subestimando o meu bronzeado.
— E você está subestimando o sol. - Margot disse rindo e mexeu em sua bolsa, para retirar o pequeno frasco e abri-lo. - Passe e fique pelo menos dez minutos fora do mar, . Para dar tempo de secar.
— Okay. - estendeu a mão para a morena, recebendo uma boa quantidade do creme. Piscou, sorrindo. - Obrigada, Margot Willians.
— Margot Willians? - repetiu baixo, virando em direção a Kate.
— O que? - Katherine respondeu, franzindo o cenho.
— Ele está flertando com a Maggie. - disse e Kate olhou para um ponto acima da cabeça de , mas disfarçou a tempo. – Sorriso com piscadinha e ainda a chamou pelo nome completo.
— Então se eu fizer o mesmo com você, vai considerar que estou flertando também? - perguntou perto do ouvido de , que pulou com o pequeno susto.
A mulher apertou os olhos pronta para responder à altura, mas percebeu a mensagem que Katherine passava através de um sorriso forçado e levemente maníaco, enquanto se afastava dos dois: o plano entra em ação agora.
— Se eu considerasse que sim...o que você faria depois? - perguntou com uma voz suave e um sorriso ladino. A mais nova assistiu uma sutil linha de expressão se formar no meio das sobrancelhas do mais velho ao passo que ele compreendia a semântica do que ela disse. Ele se afastou um pouco e passou a língua pelos lábios, estudando o rosto da amiga.
— O que pensa que eu faria depois...se você considerasse que sim? - devolveu, cruzando os braços e a olhando curioso.
fugiu do olhar do amigo e buscou refúgio na paisagem e construções do seu lado, construindo uma resposta que não aumentasse a estranheza e o magnetismo inesperado que surgiu dentro daquela situação. Pensou que seguir a ideia de Harper talvez não fosse tão ideal quanto ela fez parecer que seria.
— Acho que você pergunta coisas demais. – respondeu, deixando de lado os planos de mais cedo.
— E eu acho que você supõe coisas demais. – Ele falou no mesmo tom.
— Também acho que você gosta de me importunar.
— Você acha?
Em um movimento rápido, o mais velho levantou pelas pernas e a apoiou em seu ombro, correndo com velocidade em direção aos amigos que entravam no mar e ouvindo reclamar e pedir ajuda, até o momento em que ele a soltou, de frente com uma onda alta o suficiente para cobri-la.
— ! - Ela gritou enquanto emergia novamente, vendo o homem gargalhar e se aproximar.
— Pelo menos agora você pode ter certeza.
Ele sorriu arteiro, enquanto ela o encarava com os olhos raivosos mais brilhantes da cidade; e, durante os poucos segundos que passou admirando as írises de , pensou que tê-la ao seu lado era tão reconfortante quanto sentir a brisa suave e quente que soprava naquele entardecer.
O Estádio Falmer tinha suas arquibancadas lotadas enquanto os times de Leicester City e Brighton Hove se enfrentavam em campo.
— Você não está morrendo de calor com isso? - Margot perguntou para . Ele usava uma das perucas usuais de torcedores, que consistia em um cabelo de comprimento médio dividido em duas cores.
— Estou, mas Allyson está olhando para cá e eu quero que ela continue sem a certeza de que eu estou aqui. - respondeu, apontando discretamente para a líder de torcida que estava do outro lado da arquibancada.
— Pode tirar a peruca, então. - Cay disse, mordendo o sorriso que segurava. - Porque ela nos convidou para a festa que vai acontecer no lounge do estádio, e eu precisei dar o nome de todos. - encarou a morena com indignação, recebendo um levantar de ombros como resposta.
— E ela agiu normalmente com essa informação, ou pediu um beijinho do como pedágio na entrada? - Thom perguntou com um tom de voz brincalhão e os outros riram, menos quem fora citado.
— Não me respondeu ainda, parece estar ocupada demais olhando para cá. - Cay respondeu risonha, checando o celular.
O apito do árbitro indicou que o segundo tempo da partida havia se iniciado e o estádio foi em polvorosa mais uma vez. Nos quinze minutos de prorrogação que foram concedidos aos jogadores para o desempate sem pênaltis, o atacante Welbeck recebeu a bola dentro do ângulo e velocidade ideais para a execução de um gol de ouro e, sem pensar duas vezes, fez o seu trabalho trazendo a classificação para o time da casa.
— E então entramos com todos os passos que aprendi nessa aula particular que recebi com Ammy.
Allyson conversava com empolgação, vez ou outra tocando o braço de e Peter, que a assistiam contar sobre como a abertura dos jogos daquela tarde havia sido inspirada no concurso que ganhou, para uma vaga no workshop de uma das maiores dançarinas da Europa. Com certeza um grande feito, mas a maneira como ela havia focado nisso dentro dos últimos sessenta minutos estava fazendo Peter contar as bolhas que se formavam em seu copo de cerveja e entortar a boca.
— A coreografia de abertura foi linda, Ally. Você fez um ótimo trabalho. - Cay comentou, tomando um longo gole de seu drinque.
— E como anda o coração, ?
O mais velho soltou um sorriso travado pela tendência daquela conversa e notou boa parte dos amigos prenderem o riso com sua reação. Resolveu não dar espaço algum para Ally, porque estavam na mesma cidade. E se ela aparecesse de surpresa na varanda da casa enquanto ele dormia?
— Muito bem comprometido, Ally. - Ele respondeu com um sorriso maior que o rosto e Peter disfarçou suas risadas com algumas tosses.
— Como assim? Você voltou com a Maddie?
— Sabe sobre Madeleine? - franziu o cenho.
— Aquela cidade é pequena, . Madeleine foi minha tutorada antes que eu viesse para Brighton e não perdemos o contato desde então. - Ally comentou e sentiu vontade de desaparecer. - Não acredito que ela não me contou que vocês estão juntos de novo.
— Porque não estamos, Ally...conheci outra pessoa. – disse rápido, sorrindo amarelo para a mulher e torcendo para que ela trocasse de assunto.
— O amor tem dessas. - Ryan tentou decorar a mentira e oferecer uma ajuda ao amigo, levantando o copo de cerveja em sua direção como em um brinde.
— Sempre uma surpresa... - Jeremy comentou e olhava para qualquer lugar que não fosse aquela cena. Explodiria de rir se prestasse um pouquinho mais de atenção nas caretas que fazia ao tentar sair da saia justa que havia se colocado.
— Conheceu outra pessoa...em três dias? - Allyson perguntou confusa e sentiu a impaciência consumir boa parte do seu bom humor. Precisava mesmo se justificar para Allyson Atkins?
—Superamos as coisas de uma maneira moderna. - respondeu seco.
— Eu entendo. Esqueci de comentar que Madeleine chega aqui em poucos minutos, para passar a semana comigo. Sua nova namorada veio com você?
sentiu o ar escapar dos pulmões; nunca pensou que inventar uma coisa boba apenas para poupar vocabulário o colocaria em uma confusão tão grande.
— O que foi, ? - Maggie cutucou a amiga que estava olhando fixamente para o corredor onde Madeleine acabara de aparecer, mostrando sua credencial.
— Madeleine está aqui!? Agora!? - Ela exclamou baixo para as meninas e olhou para .
sabia que o amigo não conseguiria sustentar o que havia dito com a naturalidade que seria requerida caso precisasse interagir com Madeleine de forma tão repentina. A mais nova parecia conseguir escutar os pensamentos desordenados dele tão claramente quanto ouvia as conversas paralelas das outras pessoas que estavam naquele lounge. Madeleine havia mentido sobre Ohio e estava em Brighton. Sem ele.
Essa conclusão foi o suficiente para impulsionar a levantar da cadeira e caminhar decidida a tirar o homem daquela situação sufocante e desesperadora; sentia seus olhos ficarem nublados com a indignação que o tomava, ao tempo que se tornava consciente sobre o fato de que Madeleine não fora capaz de ser honesta nem mesmo no momento em que terminou a relação dos dois.
— Foi um prazer ver você de novo, Allyson. - comentou ao chegar perto dos dois, estendendo as mãos para cumprimentar a garota.
— Não faz nem duas horas que você chegou, . Já vai embora mesmo?
— Nós dois estamos indo. - respondeu, pousando a palma da mão no ombro de , que ainda estava sentado. - Meu namorado e eu não queremos ficar em um ambiente incômodo e desconfortante.
Dez pares de olhos se voltaram para a garota e pareceu entrar dentro de uma realidade paralela. O pacote todo daquela situação estava demais para ele processar de uma vez, especialmente pela postura impecável de , seu tom de voz imperativo, olhos em labaredas e a mão quente e macia segurando firmemente a região de sua clavícula, como se através desse gesto dissesse que estava ali para o defender.
— Como é?
— Você sabia que viríamos hoje, Allyson.
—... - disse em um tom de alerta, para que a amiga não gastasse tanta energia com aquela situação. Mas ela não se importou.
— Cay avisou você pela manhã e mesmo sabendo que estaria aqui, não passou pela sua cabeça que seria patético ele e Madeleine se verem depois de um término conturbado e recente?
— Acho melhor conversarmos depois quando você estiver um pouco mais calma. – Allyson disse e bufou.
— Eu também acho.
— Alguém quer aproveitar a carona para ir embora? – perguntou aos amigos, pousando a mão dele sobre a de e entrelaçando seus dedos nos dela.
— Possivelmente ficamos até o fim da festa. - Thomas disse, erguendo a cerveja e brindando com o grupo. - Pode ir cuidar da sua namorada. - sorriu de lado com a resposta de Thom e alcançou as chaves do carro que estavam em cima da mesa.
— Eu quem vou cuidar dele hoje, Thom. Bem direitinho.
bateu a porta do carro e suspirou, recostando a cabeça no assento de couro para entender melhor os acontecimentos dos últimos cinco minutos. encarava, pelo vidro, a parede de concreto que estava em frente ao carro estacionado e pensava o quão maluco foi a solução que arrumou para tirar da enrascada que ele se meteu.
— Você ficou gata demais me defendendo para a Ally.
— Você me deve 250 libras. - Eles falaram juntos e se olharam, com um meio sorriso desenhando seus lábios.
— O que aconteceu com o pagamento em muffins de blueberry e café gelado? - Perguntou curioso, desembalando uma goma de mascar para distrair sua ansiedade da situação anterior.
— Houve uma atualização dos termos e condições.
— Fingir ser minha namorada pode ter benefícios muito melhores do que 250 libras, . - Ele se inclinou na direção da mais nova. - Certeza que não quer descobrir um pouquinho sobre eles?
— , você está dando em cima de mim sem disfarce nenhum agora. - disse rindo e ele a acompanhou, virando as chaves do carro e passando a língua pela boca.
— Efeito colateral da atuação. Preciso de um tempo para sair do personagem. – Ele disse risonho, olhando o retrovisor e girando o volante para sair da vaga do estacionamento.
— O que vamos fazer agora?
— Podemos passar no Mcdonalds e pedir comida pra viagem.
— E levamos para comer assistindo o mar, nas pedrinhas que temos beirando a praia?
— Você manda e eu obedeço, namorada. - Ele disse, mascando o chiclete e piscando para .
— Corta essa, .
— Ser rude desse jeito faz parte da ideia que você tem sobre cuidar bem direitinho de mim hoje?
observou pela visão periférica a risada espontânea que a amiga soltou e as expressões engraçadas que ela fazia ao escolher alguma rádio para tocar enquanto completavam o caminho até a rede de fast-food. As ruas de Brighton estavam vazias e o azul escuro estrelado que preenchia o céu daquela noite adicionou ainda mais leveza ao momento que os dois compartilhavam.
Sempre estariam em casa na companhia um do outro.
Capítulo Quatro
Os dois amigos estavam sentados em frente ao mar, nas pedras que antecediam a água, com uma garrafa de vinho pela metade. acendia um cigarro enquanto mantinha sua cabeça reclinada, sentindo o vento forte e a incandescência da lua circundar seu corpo.
— Acha esquisito pensar que o momento em que estamos agora não se repete nunca mais? — perguntou.
— Por que nunca mais? Podemos vir aqui amanhã. — respondeu, sorrindo interessada sobre a pergunta que o mais velho soltou. Ele levantou as sobrancelhas enquanto tragava o cigarro.
— Podemos vir aqui amanhã nesse mesmo horário, com essa mesma garrafa de vinho e as mesmas roupas; ainda assim não vai ser a mesma coisa.
— Aonde quer chegar?
— Insistimos em manter as coisas permanentes, sendo que a permanência não existe. — Ele coçou o maxilar e semicerrou os olhos. — Quando chegarmos aqui amanhã, ainda que sob as condições mencionadas, serão outras ondas se quebrando em nossa frente por uma ventania vinda de outra direção. O asfalto da avenida estará gradativamente mais gasto e as construções mais enferrujadas pela maresia. Nada nunca volta a ser exatamente como foi.
— Tem certeza de que não está fumando nada um pouquinho mais forte do que essa nicotina? — A mais nova perguntou em um tom divertido e deu risada, soltando a fumaça do cigarro.
— Não dessa vez, quer um pouco? — Ele segurou o cigarro por entre os dedos e o apontou na direção da garota, que entreabriu os lábios e acenou levemente com a cabeça.
O mais velho se inclinou na direção da amiga e levou o pequeno cilíndro até a boca da garota, que o segurou em um equilíbrio perfeito entre sutileza e precisão. deixou os olhos caírem para o movimento que o maxilar da mais nova fez ao tragar o cigarro e não conseguiu desgrudar sua atenção de todos os detalhes que tornavam aquela cena tão cativante. O peitoral dela subindo e descendo com o mesmo ritmo da maré que gritava naquela noite, as pupilas grandes e cintilantes o observando, sem fazer ideia de seus pensamentos.
se afastou assim que ela soltou a fumaça.
— Em tudo o que você disse antes, concordo com você. E isso me empolga e assusta ao mesmo tempo.
— Por quê?
— Assusta se pensarmos que talvez não estejamos vivendo o melhor que poderíamos, agora.
— E empolga...?
— Porque a cada segundo estamos dentro de uma situação nova, onde podemos fazer isso.
— Infinitas chances de recomeço. — Ele disse, terminando o cigarro.
— Infinitas chances de recomeço. — Ela concordou com um sorriso leve.
...
O relógio marcava duas e quarenta e cinco da manhã. Da televisão, saía o som dos videoclipes que passavam na tela. Da cozinha, um cheiro confortável de amêndoas e framboesa começava a se espalhar pelos cômodos da casa.
— Com você mexendo na massa desse jeito, vai acabar ativando o glúten e estragando nosso bolo. — alertou risonha, enquanto tomava mais um gole da segunda garrafa de vinho que os dois amigos finalizavam naquela madrugada.
— Tem como não se intrometer na minha função, ? — levantou uma das sobrancelhas, com um sorriso brincando com a ponta de seus lábios. O homem estava apoiado no balcão da cozinha com a tigela em suas mãos, misturando os ingredientes com mais velocidade do que o recomendado; levantou os braços em uma expressão de defesa.
— Perdão, Capitão. — Ela disse divertida e começou a cuidar da calda que jogariam por cima do doce, com um pouco de açúcar impalpável e limões sicilianos.
— Você pegou a forma?
— Aqui, eu levo para você. — avisou, ao terminar de espremer a fruta em sua receita. Então, pegou o objeto metalizado já forrado com papel manteiga e se aproximou do amigo, apertando os olhos na direção dele ao analisar a maneira como a massa caía como uma cascata da colher que ele levantava, sorrindo esperto para ela.
— Talvez, um dia, você atinja esse nível de profissionalismo culinário, . Um dia. — Ele piscou e a garota revirou os olhos, cruzando os braços em seguida.
— As aparências enganam, ainda tenho a impressão de que você mediu e colocou a quantidade de farinha errada.
— Oh, mesmo? — levou o dedo indicador para o meio da massa e colocou a tigela no balcão, apoiando-se no mármore com um braço e inclinando sua mão na direção da mais nova. — Por que não prova?
sustentou o sorriso leve no rosto e deu de ombros, envolvendo a ponta do dedo indicador do mais velho com os lábios, puxando o sabor da receita para seu paladar e fechou os olhos, sentindo a construção de cada ingrediente que haviam colocado em perfeita harmonia. Ele percebeu sua expressão satisfeita e suspirou cansado.
— Precisa aceitar que eu sou bom em tudo o que me proponho a fazer, . É da minha natureza. — A mais nova riu, despejando a massa na forma e caminhando para colocá-la no forno.
— Agora são 25 minutos para ficar pronto. Ou seja…três e vinte da manhã? — acenou para que o mais velho a ajudasse a sentar no balcão da cozinha, e ele apoiou o peso da garota em seus braços, impulsionando-a para cima.
— É, algo assim…— pegou a garrafa de vinho que havia deixado pela metade e virou-a com gosto, deixando uma gota bordô escorrer no canto da boca. seguiu o trajeto da mesma e levantou as mãos para limpá-la, deslizando o polegar próximo dos lábios de , que sorriu fechado ao sentir o toque da amiga.
— Vinho não pode ser desperdiçado, garoto.
— Perdão, Capitã. — Ele repetiu a frase da mulher e ela riu com vontade, inclinando a cabeça para trás. se aproximou, colocando uma mecha do cabelo de atrás da orelha, abrindo espaço para estudar os olhos de verão que ele tanto venerava.
— Obrigada por hoje, por todos os dias, mas, mais especificamente por hoje. Por ter arruinado seu possível romance com o atacante do Brighton ao dizer para Allyson que estamos juntos…
— Aí, não! — o olhou com os olhos arregalados e fez uma cara emburrada. — Eu estava planejando mandar mensagem para ela amanhã mesmo pedindo o telefone daquele deus… — revirou os olhos, beliscando a coxa da mais nova. — Ei!
— Presta atenção quando eu estiver criando um momento, !
— Eu estava prestando, oras...
A conversa se encerrou em um silêncio confortável. se inclinou até deitar a cabeça no ombro de , sentindo as mãos dela delicadamente atravessarem seus fios de cabelo em um carinho gostoso. Suspirou, sentindo aos poucos a cabeça pesar devido ao dia agitado, as garrafas de vinho que tomaram e ao sono que começara a sentir.
— Se continuar com esse carinho eu vou acabar dormindo antes do bolo ficar pronto. — Ele disse com a voz preguiçosa e o afastou de seu ombro, espalmando as mãos em seu tórax, sorrindo doce ao enxergar os olhinhos apertados de cansaço que o amigo adquirira.
— Eu queria estar me sentindo assim, mas, confesso que o cheiro dessa cozinha só está servindo para me deixar bem acordada, selvagem e faminta. — confessou e ouviu a risada do homem.
— Devo prezar pela minha vida e sair correndo daqui?
— Ir até aquela adega e abrir nossa terceira garrafa de vinho é bem mais ideal. — A garota apontou para o lugar e os olhos de seguiram a direção indicada, sorrindo conformado e se afastando da mais nova só para alcançar a garrafa e estourar a rolha.
— Onde vamos parar hoje, ?
— Na cama.
Assim que soltou a frase, percebeu que a maneira que ela soou não ficou de acordo com o que esperava, uma vez que sua intenção foi dizer na cama para ilustrar que ambos parariam aquela noite assim que se deitassem para dormir. continuou servindo as taças com o líquido vermelho escarlate tranquilamente, olhando para a amiga assim que seu trabalho estava concluído, entregando a peça de cristal.
— Me expressei errado.
— Por quê? — perguntou, bebendo um pouco do vinho. — Não é onde vamos parar mesmo, hoje?
— Não! — exclamou, horrorizada. soltou uma gargalhada alta.
— Vai dormir no sofá, ? — Ela apertou os olhos na direção do mais velho.
— Eu não estava me referindo a dormir...
— Não? — confirmou, olhando-a curioso. bateu a mão na própria testa.
— Eu quis dizer que eu estava me referindo a dormir, sem questionamento algum sobre isso, céus! Mas...quando disse que me expressei errado, eu estava querendo dizer que não quis dizer que eu e você...você e e-eu... — achou graça na maneira que a mais nova se embolou com as palavras e encostou no balcão ao seu lado, achando mais seguro sair do meio das pernas da garota e evitar a proximidade que estavam. Olhou-a de lado e sorriu enviesado.
— Vamos ...você consegue. Acredito em você. — Ela olhou-o, confusa.
— Consigo o que, ?
— Completar a frase. — Ela revirou os olhos, e o encarou, passando a língua pelos lábios.
— Eu estava explicando que não quis dizer que eu e você faríamos algo específico na cama hoje...só dormir.
— Em nenhum momento eu disse que interpretei dessa forma. Está se defendendo a toa...
— Acho que a conversa com Harper e as meninas hoje de manhã desestabilizou um pouco meu sistema.
— E essa conversa foi sobre...?
— Elas acreditam que...bem, como eu posso começar a explicar isso para você? — começou a gesticular excessivamente e a morder a parte interna da bochecha, características que o homem sabia que se revelavam sempre que um assunto a encabulava. — Somos amigos...certo?
— Que pergunta é essa? — riu, expressando a obviedade daquela resposta.
— Tá, então, somos amigos. — Ela abriu um pouco mais os olhos para enfatizar o que afirmava, deixando claro que essa seria a primeira parte da explicação que estava trazendo. acenou em concordância e cruzou os braços, depois de finalizar sua taça de vinho em um gole só. — E por causa disso...bom, não exatamente por causa disso, mas, por causa da nossa...cumplicidade?
— Uhum... — resmungou, em um pedido para que ela continuasse o que estava dizendo.
— Por causa da nossa cumplicidade, seria favorável que você, hipoteticamente, me ajudasse a ter mais confiança na hora de... — A voz da mulher foi morrendo aos poucos. — Por que eu estou contando isso para você?
— Por que não contaria?
— Porque esse é um assunto confidencial entre mim e as garotas, seja menos intrometido, .
— Você, deliberadamente, escolheu trazer isso aos meus ouvidos. Não fui intrometido.
— Ok. Posso culpar o vinho por isso?
— Só se terminar de me contar...
— Agora você está sendo intrometido!
— No que eu posso ajudar você a ter mais confiança, ?
— Pensaram que, para toda essa coisa de conquista se tornar mais natural e confortável para mim, eu deveria testá-la com você.
— Que maluquice a delas, não?
— Foi exatamente o que eu pensei! Isso não tem probabilidade de funcionar de uma maneira efetiv...
— No que eu posso ser útil, ? — perguntou, alcançando a luva para retirar o bolo do forno. A massa estava alta, cheirosa, fumegante e com várias framboesas derretidas no topo.
encarou o amigo sem saber ao certo o que responder. Decidiu, então, abrir uma das gavetas, tirando de lá alguns talheres; depois, pegou um pote de sorvete dentro do congelador e colocou uma bola por cima da massa do bolo, junto com a calda que havia feito mais cedo.
Terminou com uma boa garfada no meio da forma, abrindo um buraco nada proporcional no meio do doce que acabara de fazer.
— Agora sim, você parece uma selvagem. — a olhou esquisito, com um sorriso torto.
— Se formos fazer isso...precisaremos ter uma conversa franca. — apontou o dedo em riste para o homem. — Porque não quero expor uma parte privada da minha vida à toa. Você vai precisar se comprometer com a tarefa.
— Combinado.
— E não é como se eu tivesse mudado de ideia, ainda acho que isso não vai funcionar muito bem...
— Tem como pular essa introdução chata e exemplificar o que precisa?
— Mas, ao mesmo tempo eu também não tenho muitas outras opções e você até que é bonitinho...apesar de eu quase considerá-lo um primo. Desses de vigésimo quinto grau, que a gente quase não vê, sabe? — franziu o cenho e a encarou de um jeito engraçado, desistindo de fazê-la ir direto ao ponto e prestando atenção no discurso.
— Só que, também, o fato de eu considerar você um quase-primo de vigésimo quinto grau e não um irmão, é um bom sinal. Porque eu beijaria um primo de vigésimo quinto grau, mas não beijaria um irmão.
— O que? — questionou, rindo quase desesperado pela linha de raciocínio que a mais nova estava seguindo.
— E olha, eu sei que você não me acha muito lá essas coisas. Até porque você me deu um belo de um fora na nossa formatura da escola...— puxou o ar para interrompê-la, mas as palavras se perderam com o choque que discernir aquela frase o causou. — Mas, basicamente, preciso que você me ensine a ser mais confiante na hora de conquistar alguém.
suspirou assim que terminou de falar, fitando em expectativa. Suas mãos suavam e seu coração parecia que sairia pela boca, em pura adrenalina. Tanto pelo vinho. Quanto pelo pedido vergonhoso que fazia ao seu melhor amigo.
— Você me chamou de "até que bonitinho"?
— Eu não acredito que, de tudo o que eu falei, isso foi o que sua cabeça foi capaz de captar, . — gargalhou, jogando a cabeça para trás e voltou a olhá-la com um carinho quase palpável.
— , você não precisa que eu faça isso. Você sabe como conquistar... só ainda não encontrou uma pessoa que a fez se sentir propriamente desejada e a vontade para explorar seu lado mais libertino. — A mais nova entortou a boca, em contragosto.
— Não gosto quando você está certo. — revirou os olhos e sorriu de lado, chamando-a para mais perto com o dedo indicador. foi.
— Tem outra coisa que eu quero corrigir no seu discurso...— Ele embrenhou as mãos no cabelo da mais nova, juntando-os e os segurando como em um rabo de cavalo. — E eu não vou falar isso de um jeito educado, porque você precisa entender de uma vez por todas. — A mais nova franziu o cenho, confusa, e acenou levemente com a cabeça em concordância. — Você é a porra da mulher mais fascinante que passou pela minha vida. — Ele deixou os cabelos de escorregarem por entre seus dedos, e encaixou as mãos na nuca da garota, que o olhava em um misto de susto e curiosidade. — E, por isso, beijar você em nossa formatura por causa de um joguinho idiota dos bêbados graduandos seria incabível. — sentiu um frio no estômago, o polegar de passeava por seu maxilar em um carinho agradável. — E existem algumas coisas que você nunca escutou de mim...— Ela apertou os olhos em desconfiança e um sorriso pequeno despontou sob seus lábios, enquanto identificava o humor maroto de . — Porque são coisas que amigos não devem dizer.
puxou o ar que insistia em se tornar escasso, de volta para os pulmões. fechou os olhos com força, se afastando da mais nova.
— Eu...falei demais, não falei?
O mais velho perguntou com uma careta e riu fraco, coçando a parte de trás da orelha, tentando expressar descontração e naturalidade no meio do caos que estavam suas emoções. Mas, antes, que pudesse responder, ouviram a porta principal da casa abrir em um rompante, junto com vozes alegres e entusiasmadas.
— Meus queridos! — Jeremy gritou, abrindo os braços em uma calorosa saudação ao adentrar a cozinha.
— O que aconteceu? — perguntou, ao notar Peter entrando carregado na cozinha, com um corte no supercílio.
— Passou do limite e arrumou confusão. — Kate respondeu, colocando-o sentado em uma das banquetas. — Só não fomos ao hospital porque temos um quase médico em casa. — Ela piscou para .
— Meu pai é médico, Kate. Não eu.
— Mas você está estudando e, além disso, cresceu assistindo cirurgias. Aposto que vai se dar bem com esse cortezinho. — Ela deu alguns tapinhas nas costas do homem, como em um incentivo. Ele deu risada e se aproximou de Peter, que fez um bico.
— Não quero lavar, porque vai arder. — O moreno disse e revirou os olhos, puxando a orelha dele até que ele se levantasse. — Aí, caralho!
— Se não quisesse que ardesse, teria se comportado. — retrucou, ainda puxando-o para o banheiro.
— Eu não entrei em briga por vontade própria, . Acontece que essas coisas me procuram…— As vozes foram se distanciando, Jeremy e Kate deram risada da conversa dos dois.
— Que bolo feio é esse? Um tamanduá comeu aqui? — Kate apontou para a forma, entortando o nariz.
— Eu não tive paciência para esperar desenformar. Mas eu juro que está uma delícia! — sorriu, caminhando até a saída do cômodo. — E, Kate, tudo bem se você dormir comigo hoje?
...
— O que aconteceu, ? — Katherine disse, entrando no quarto e se deparando com uma já de pijamas, observando os finos raios de sol que denunciavam o começo da manhã de domingo.
— Não podemos só deitar e dormir, tranquilas?
— E espera que durma com Cay, no meu lugar? — deu de ombros e Katherine revirou os olhos. — Você tem dez minutos, antes que meu sistema entre em pane e me obrigue a descansar. — suspirou, apoiando as mãos no rosto.
— e eu tivemos uma conversa.
— Sobre o que?
— Eu meio que questionei o motivo dele não ter me beijado na formatura.
— Ok...isso é estranho porque faz muito tempo, mas, vocês esvaziaram nossa adega de vinhos. — Katherine tentou a consolar. — Estava alta e, por termos comentado isso mais cedo, acabou ficando na sua cabeça.
— Sim, e possivelmente o vinho nos incentivou a passar um pouco dos limites. Em um dado momento, estávamos perto demais e ele acabou me dizendo algumas coisas que... — grunhiu, esfregando as mãos no rosto. — Que me deixaram...
— Balançada?
— É!
— Mas você deveria estar feliz com isso! Significa que você ainda tem hormônios e não virou uma biblioteca ambulante. — revirou os olhos, mas deu risada do comentário da amiga. — Não tem nada de errado em sentir atração pelo . Vocês são livres e crescidos.
— Só que eu não quero me sentir assim.
— O que foi que ele disse?
— A frase mais nociva que ele usou, foi: existem algumas coisas que você nunca escutou de mim, porque são coisas que amigos não devem dizer.
— E você não o beijou em seguida?
— Katherine! De que lado você está!?
— Existem lados?
— Sim, o da emoção e o da razão.
— Eu estou do lado de você dar um jeito nessa sua frustração sexual. Em qual desses isso se encaixa?
A porta do quarto se abriu, revelando um com uma reconhecível expressão de cansaço. As duas garotas o encararam, enquanto ele caminhava para dentro do cômodo.
— Eu não sei se três pessoas dormiriam confortáveis nessa cama, mas podemos tentar... — Ele falou, com um sorriso pequeno brincando em seus lábios.
— Ah! Eu estou de saída... só estava me contando sobre...— Kate recebeu um olhar ameaçador e riu divertida. — O bolo que vocês fizeram e como ele estava...atraente e gostoso.
— Boa noite, Wallews. — disse, com pressa, e Katherine saiu risonha do quarto.
acompanhou a amiga com o olhar, até que a porta se fechou e ele voltou os olhos para .
— Sobre o que eu disse mais cedo... — Ele começou a se explicar, andando em direção a mais nova.
— Não se preocupa com isso, . Podemos culpar o vinho.
— Acha esquisito pensar que o momento em que estamos agora não se repete nunca mais? — perguntou.
— Por que nunca mais? Podemos vir aqui amanhã. — respondeu, sorrindo interessada sobre a pergunta que o mais velho soltou. Ele levantou as sobrancelhas enquanto tragava o cigarro.
— Podemos vir aqui amanhã nesse mesmo horário, com essa mesma garrafa de vinho e as mesmas roupas; ainda assim não vai ser a mesma coisa.
— Aonde quer chegar?
— Insistimos em manter as coisas permanentes, sendo que a permanência não existe. — Ele coçou o maxilar e semicerrou os olhos. — Quando chegarmos aqui amanhã, ainda que sob as condições mencionadas, serão outras ondas se quebrando em nossa frente por uma ventania vinda de outra direção. O asfalto da avenida estará gradativamente mais gasto e as construções mais enferrujadas pela maresia. Nada nunca volta a ser exatamente como foi.
— Tem certeza de que não está fumando nada um pouquinho mais forte do que essa nicotina? — A mais nova perguntou em um tom divertido e deu risada, soltando a fumaça do cigarro.
— Não dessa vez, quer um pouco? — Ele segurou o cigarro por entre os dedos e o apontou na direção da garota, que entreabriu os lábios e acenou levemente com a cabeça.
O mais velho se inclinou na direção da amiga e levou o pequeno cilíndro até a boca da garota, que o segurou em um equilíbrio perfeito entre sutileza e precisão. deixou os olhos caírem para o movimento que o maxilar da mais nova fez ao tragar o cigarro e não conseguiu desgrudar sua atenção de todos os detalhes que tornavam aquela cena tão cativante. O peitoral dela subindo e descendo com o mesmo ritmo da maré que gritava naquela noite, as pupilas grandes e cintilantes o observando, sem fazer ideia de seus pensamentos.
se afastou assim que ela soltou a fumaça.
— Em tudo o que você disse antes, concordo com você. E isso me empolga e assusta ao mesmo tempo.
— Por quê?
— Assusta se pensarmos que talvez não estejamos vivendo o melhor que poderíamos, agora.
— E empolga...?
— Porque a cada segundo estamos dentro de uma situação nova, onde podemos fazer isso.
— Infinitas chances de recomeço. — Ele disse, terminando o cigarro.
— Infinitas chances de recomeço. — Ela concordou com um sorriso leve.
O relógio marcava duas e quarenta e cinco da manhã. Da televisão, saía o som dos videoclipes que passavam na tela. Da cozinha, um cheiro confortável de amêndoas e framboesa começava a se espalhar pelos cômodos da casa.
— Com você mexendo na massa desse jeito, vai acabar ativando o glúten e estragando nosso bolo. — alertou risonha, enquanto tomava mais um gole da segunda garrafa de vinho que os dois amigos finalizavam naquela madrugada.
— Tem como não se intrometer na minha função, ? — levantou uma das sobrancelhas, com um sorriso brincando com a ponta de seus lábios. O homem estava apoiado no balcão da cozinha com a tigela em suas mãos, misturando os ingredientes com mais velocidade do que o recomendado; levantou os braços em uma expressão de defesa.
— Perdão, Capitão. — Ela disse divertida e começou a cuidar da calda que jogariam por cima do doce, com um pouco de açúcar impalpável e limões sicilianos.
— Você pegou a forma?
— Aqui, eu levo para você. — avisou, ao terminar de espremer a fruta em sua receita. Então, pegou o objeto metalizado já forrado com papel manteiga e se aproximou do amigo, apertando os olhos na direção dele ao analisar a maneira como a massa caía como uma cascata da colher que ele levantava, sorrindo esperto para ela.
— Talvez, um dia, você atinja esse nível de profissionalismo culinário, . Um dia. — Ele piscou e a garota revirou os olhos, cruzando os braços em seguida.
— As aparências enganam, ainda tenho a impressão de que você mediu e colocou a quantidade de farinha errada.
— Oh, mesmo? — levou o dedo indicador para o meio da massa e colocou a tigela no balcão, apoiando-se no mármore com um braço e inclinando sua mão na direção da mais nova. — Por que não prova?
sustentou o sorriso leve no rosto e deu de ombros, envolvendo a ponta do dedo indicador do mais velho com os lábios, puxando o sabor da receita para seu paladar e fechou os olhos, sentindo a construção de cada ingrediente que haviam colocado em perfeita harmonia. Ele percebeu sua expressão satisfeita e suspirou cansado.
— Precisa aceitar que eu sou bom em tudo o que me proponho a fazer, . É da minha natureza. — A mais nova riu, despejando a massa na forma e caminhando para colocá-la no forno.
— Agora são 25 minutos para ficar pronto. Ou seja…três e vinte da manhã? — acenou para que o mais velho a ajudasse a sentar no balcão da cozinha, e ele apoiou o peso da garota em seus braços, impulsionando-a para cima.
— É, algo assim…— pegou a garrafa de vinho que havia deixado pela metade e virou-a com gosto, deixando uma gota bordô escorrer no canto da boca. seguiu o trajeto da mesma e levantou as mãos para limpá-la, deslizando o polegar próximo dos lábios de , que sorriu fechado ao sentir o toque da amiga.
— Vinho não pode ser desperdiçado, garoto.
— Perdão, Capitã. — Ele repetiu a frase da mulher e ela riu com vontade, inclinando a cabeça para trás. se aproximou, colocando uma mecha do cabelo de atrás da orelha, abrindo espaço para estudar os olhos de verão que ele tanto venerava.
— Obrigada por hoje, por todos os dias, mas, mais especificamente por hoje. Por ter arruinado seu possível romance com o atacante do Brighton ao dizer para Allyson que estamos juntos…
— Aí, não! — o olhou com os olhos arregalados e fez uma cara emburrada. — Eu estava planejando mandar mensagem para ela amanhã mesmo pedindo o telefone daquele deus… — revirou os olhos, beliscando a coxa da mais nova. — Ei!
— Presta atenção quando eu estiver criando um momento, !
— Eu estava prestando, oras...
A conversa se encerrou em um silêncio confortável. se inclinou até deitar a cabeça no ombro de , sentindo as mãos dela delicadamente atravessarem seus fios de cabelo em um carinho gostoso. Suspirou, sentindo aos poucos a cabeça pesar devido ao dia agitado, as garrafas de vinho que tomaram e ao sono que começara a sentir.
— Se continuar com esse carinho eu vou acabar dormindo antes do bolo ficar pronto. — Ele disse com a voz preguiçosa e o afastou de seu ombro, espalmando as mãos em seu tórax, sorrindo doce ao enxergar os olhinhos apertados de cansaço que o amigo adquirira.
— Eu queria estar me sentindo assim, mas, confesso que o cheiro dessa cozinha só está servindo para me deixar bem acordada, selvagem e faminta. — confessou e ouviu a risada do homem.
— Devo prezar pela minha vida e sair correndo daqui?
— Ir até aquela adega e abrir nossa terceira garrafa de vinho é bem mais ideal. — A garota apontou para o lugar e os olhos de seguiram a direção indicada, sorrindo conformado e se afastando da mais nova só para alcançar a garrafa e estourar a rolha.
— Onde vamos parar hoje, ?
— Na cama.
Assim que soltou a frase, percebeu que a maneira que ela soou não ficou de acordo com o que esperava, uma vez que sua intenção foi dizer na cama para ilustrar que ambos parariam aquela noite assim que se deitassem para dormir. continuou servindo as taças com o líquido vermelho escarlate tranquilamente, olhando para a amiga assim que seu trabalho estava concluído, entregando a peça de cristal.
— Me expressei errado.
— Por quê? — perguntou, bebendo um pouco do vinho. — Não é onde vamos parar mesmo, hoje?
— Não! — exclamou, horrorizada. soltou uma gargalhada alta.
— Vai dormir no sofá, ? — Ela apertou os olhos na direção do mais velho.
— Eu não estava me referindo a dormir...
— Não? — confirmou, olhando-a curioso. bateu a mão na própria testa.
— Eu quis dizer que eu estava me referindo a dormir, sem questionamento algum sobre isso, céus! Mas...quando disse que me expressei errado, eu estava querendo dizer que não quis dizer que eu e você...você e e-eu... — achou graça na maneira que a mais nova se embolou com as palavras e encostou no balcão ao seu lado, achando mais seguro sair do meio das pernas da garota e evitar a proximidade que estavam. Olhou-a de lado e sorriu enviesado.
— Vamos ...você consegue. Acredito em você. — Ela olhou-o, confusa.
— Consigo o que, ?
— Completar a frase. — Ela revirou os olhos, e o encarou, passando a língua pelos lábios.
— Eu estava explicando que não quis dizer que eu e você faríamos algo específico na cama hoje...só dormir.
— Em nenhum momento eu disse que interpretei dessa forma. Está se defendendo a toa...
— Acho que a conversa com Harper e as meninas hoje de manhã desestabilizou um pouco meu sistema.
— E essa conversa foi sobre...?
— Elas acreditam que...bem, como eu posso começar a explicar isso para você? — começou a gesticular excessivamente e a morder a parte interna da bochecha, características que o homem sabia que se revelavam sempre que um assunto a encabulava. — Somos amigos...certo?
— Que pergunta é essa? — riu, expressando a obviedade daquela resposta.
— Tá, então, somos amigos. — Ela abriu um pouco mais os olhos para enfatizar o que afirmava, deixando claro que essa seria a primeira parte da explicação que estava trazendo. acenou em concordância e cruzou os braços, depois de finalizar sua taça de vinho em um gole só. — E por causa disso...bom, não exatamente por causa disso, mas, por causa da nossa...cumplicidade?
— Uhum... — resmungou, em um pedido para que ela continuasse o que estava dizendo.
— Por causa da nossa cumplicidade, seria favorável que você, hipoteticamente, me ajudasse a ter mais confiança na hora de... — A voz da mulher foi morrendo aos poucos. — Por que eu estou contando isso para você?
— Por que não contaria?
— Porque esse é um assunto confidencial entre mim e as garotas, seja menos intrometido, .
— Você, deliberadamente, escolheu trazer isso aos meus ouvidos. Não fui intrometido.
— Ok. Posso culpar o vinho por isso?
— Só se terminar de me contar...
— Agora você está sendo intrometido!
— No que eu posso ajudar você a ter mais confiança, ?
— Pensaram que, para toda essa coisa de conquista se tornar mais natural e confortável para mim, eu deveria testá-la com você.
— Que maluquice a delas, não?
— Foi exatamente o que eu pensei! Isso não tem probabilidade de funcionar de uma maneira efetiv...
— No que eu posso ser útil, ? — perguntou, alcançando a luva para retirar o bolo do forno. A massa estava alta, cheirosa, fumegante e com várias framboesas derretidas no topo.
encarou o amigo sem saber ao certo o que responder. Decidiu, então, abrir uma das gavetas, tirando de lá alguns talheres; depois, pegou um pote de sorvete dentro do congelador e colocou uma bola por cima da massa do bolo, junto com a calda que havia feito mais cedo.
Terminou com uma boa garfada no meio da forma, abrindo um buraco nada proporcional no meio do doce que acabara de fazer.
— Agora sim, você parece uma selvagem. — a olhou esquisito, com um sorriso torto.
— Se formos fazer isso...precisaremos ter uma conversa franca. — apontou o dedo em riste para o homem. — Porque não quero expor uma parte privada da minha vida à toa. Você vai precisar se comprometer com a tarefa.
— Combinado.
— E não é como se eu tivesse mudado de ideia, ainda acho que isso não vai funcionar muito bem...
— Tem como pular essa introdução chata e exemplificar o que precisa?
— Mas, ao mesmo tempo eu também não tenho muitas outras opções e você até que é bonitinho...apesar de eu quase considerá-lo um primo. Desses de vigésimo quinto grau, que a gente quase não vê, sabe? — franziu o cenho e a encarou de um jeito engraçado, desistindo de fazê-la ir direto ao ponto e prestando atenção no discurso.
— Só que, também, o fato de eu considerar você um quase-primo de vigésimo quinto grau e não um irmão, é um bom sinal. Porque eu beijaria um primo de vigésimo quinto grau, mas não beijaria um irmão.
— O que? — questionou, rindo quase desesperado pela linha de raciocínio que a mais nova estava seguindo.
— E olha, eu sei que você não me acha muito lá essas coisas. Até porque você me deu um belo de um fora na nossa formatura da escola...— puxou o ar para interrompê-la, mas as palavras se perderam com o choque que discernir aquela frase o causou. — Mas, basicamente, preciso que você me ensine a ser mais confiante na hora de conquistar alguém.
suspirou assim que terminou de falar, fitando em expectativa. Suas mãos suavam e seu coração parecia que sairia pela boca, em pura adrenalina. Tanto pelo vinho. Quanto pelo pedido vergonhoso que fazia ao seu melhor amigo.
— Você me chamou de "até que bonitinho"?
— Eu não acredito que, de tudo o que eu falei, isso foi o que sua cabeça foi capaz de captar, . — gargalhou, jogando a cabeça para trás e voltou a olhá-la com um carinho quase palpável.
— , você não precisa que eu faça isso. Você sabe como conquistar... só ainda não encontrou uma pessoa que a fez se sentir propriamente desejada e a vontade para explorar seu lado mais libertino. — A mais nova entortou a boca, em contragosto.
— Não gosto quando você está certo. — revirou os olhos e sorriu de lado, chamando-a para mais perto com o dedo indicador. foi.
— Tem outra coisa que eu quero corrigir no seu discurso...— Ele embrenhou as mãos no cabelo da mais nova, juntando-os e os segurando como em um rabo de cavalo. — E eu não vou falar isso de um jeito educado, porque você precisa entender de uma vez por todas. — A mais nova franziu o cenho, confusa, e acenou levemente com a cabeça em concordância. — Você é a porra da mulher mais fascinante que passou pela minha vida. — Ele deixou os cabelos de escorregarem por entre seus dedos, e encaixou as mãos na nuca da garota, que o olhava em um misto de susto e curiosidade. — E, por isso, beijar você em nossa formatura por causa de um joguinho idiota dos bêbados graduandos seria incabível. — sentiu um frio no estômago, o polegar de passeava por seu maxilar em um carinho agradável. — E existem algumas coisas que você nunca escutou de mim...— Ela apertou os olhos em desconfiança e um sorriso pequeno despontou sob seus lábios, enquanto identificava o humor maroto de . — Porque são coisas que amigos não devem dizer.
puxou o ar que insistia em se tornar escasso, de volta para os pulmões. fechou os olhos com força, se afastando da mais nova.
— Eu...falei demais, não falei?
O mais velho perguntou com uma careta e riu fraco, coçando a parte de trás da orelha, tentando expressar descontração e naturalidade no meio do caos que estavam suas emoções. Mas, antes, que pudesse responder, ouviram a porta principal da casa abrir em um rompante, junto com vozes alegres e entusiasmadas.
— Meus queridos! — Jeremy gritou, abrindo os braços em uma calorosa saudação ao adentrar a cozinha.
— O que aconteceu? — perguntou, ao notar Peter entrando carregado na cozinha, com um corte no supercílio.
— Passou do limite e arrumou confusão. — Kate respondeu, colocando-o sentado em uma das banquetas. — Só não fomos ao hospital porque temos um quase médico em casa. — Ela piscou para .
— Meu pai é médico, Kate. Não eu.
— Mas você está estudando e, além disso, cresceu assistindo cirurgias. Aposto que vai se dar bem com esse cortezinho. — Ela deu alguns tapinhas nas costas do homem, como em um incentivo. Ele deu risada e se aproximou de Peter, que fez um bico.
— Não quero lavar, porque vai arder. — O moreno disse e revirou os olhos, puxando a orelha dele até que ele se levantasse. — Aí, caralho!
— Se não quisesse que ardesse, teria se comportado. — retrucou, ainda puxando-o para o banheiro.
— Eu não entrei em briga por vontade própria, . Acontece que essas coisas me procuram…— As vozes foram se distanciando, Jeremy e Kate deram risada da conversa dos dois.
— Que bolo feio é esse? Um tamanduá comeu aqui? — Kate apontou para a forma, entortando o nariz.
— Eu não tive paciência para esperar desenformar. Mas eu juro que está uma delícia! — sorriu, caminhando até a saída do cômodo. — E, Kate, tudo bem se você dormir comigo hoje?
— O que aconteceu, ? — Katherine disse, entrando no quarto e se deparando com uma já de pijamas, observando os finos raios de sol que denunciavam o começo da manhã de domingo.
— Não podemos só deitar e dormir, tranquilas?
— E espera que durma com Cay, no meu lugar? — deu de ombros e Katherine revirou os olhos. — Você tem dez minutos, antes que meu sistema entre em pane e me obrigue a descansar. — suspirou, apoiando as mãos no rosto.
— e eu tivemos uma conversa.
— Sobre o que?
— Eu meio que questionei o motivo dele não ter me beijado na formatura.
— Ok...isso é estranho porque faz muito tempo, mas, vocês esvaziaram nossa adega de vinhos. — Katherine tentou a consolar. — Estava alta e, por termos comentado isso mais cedo, acabou ficando na sua cabeça.
— Sim, e possivelmente o vinho nos incentivou a passar um pouco dos limites. Em um dado momento, estávamos perto demais e ele acabou me dizendo algumas coisas que... — grunhiu, esfregando as mãos no rosto. — Que me deixaram...
— Balançada?
— É!
— Mas você deveria estar feliz com isso! Significa que você ainda tem hormônios e não virou uma biblioteca ambulante. — revirou os olhos, mas deu risada do comentário da amiga. — Não tem nada de errado em sentir atração pelo . Vocês são livres e crescidos.
— Só que eu não quero me sentir assim.
— O que foi que ele disse?
— A frase mais nociva que ele usou, foi: existem algumas coisas que você nunca escutou de mim, porque são coisas que amigos não devem dizer.
— E você não o beijou em seguida?
— Katherine! De que lado você está!?
— Existem lados?
— Sim, o da emoção e o da razão.
— Eu estou do lado de você dar um jeito nessa sua frustração sexual. Em qual desses isso se encaixa?
A porta do quarto se abriu, revelando um com uma reconhecível expressão de cansaço. As duas garotas o encararam, enquanto ele caminhava para dentro do cômodo.
— Eu não sei se três pessoas dormiriam confortáveis nessa cama, mas podemos tentar... — Ele falou, com um sorriso pequeno brincando em seus lábios.
— Ah! Eu estou de saída... só estava me contando sobre...— Kate recebeu um olhar ameaçador e riu divertida. — O bolo que vocês fizeram e como ele estava...atraente e gostoso.
— Boa noite, Wallews. — disse, com pressa, e Katherine saiu risonha do quarto.
acompanhou a amiga com o olhar, até que a porta se fechou e ele voltou os olhos para .
— Sobre o que eu disse mais cedo... — Ele começou a se explicar, andando em direção a mais nova.
— Não se preocupa com isso, . Podemos culpar o vinho.
Capítulo Cinco
— Acho que você está exagerando. — Peter suspirou, recostando-se na cerca que acompanhava a entrada da casa.
— Não estou, não. — respondeu, cruzando os braços e suspirando insatisfeito. — Eu pisei na bola, feio mesmo, cara. Ela se levantou, passou por mim no corredor, acenou como se eu fosse um vizinho importuno no quintal e sumiu do mapa.
— , ela está bem ali na varanda. Conversando com o Jeremy e a Harper. — Peter levou os olhos cansados até , e voltou as írises para o amigo.
— Só apareceu agora para contradizer minhas observações. — pontuou, levantando o dedo indicador. Peter riu, batendo a palma da mão na testa.
— Eu não tinha ideia que a mexia tanto com seu juízo, na boa. — Peter negou com a cabeça, apoiando as duas mãos na cintura. se preparou para interromper o amigo, que levantou a mão como se pedisse para que mantivesse o silêncio. — Você não fez nada demais, além de responder uma pergunta feita por ela.
— E me insinuar como um idiota. — revirou os olhos e esfregou as mãos no rosto, teatralmente puxando a pele para baixo. — Pior que, eu não me sinto assim sobre a , nem mesmo sei o porquê de eu dizer aquilo. — Peter o olhou com indignação e riu alto.
— , você pode fingir bem para . Para o Jeremy, Margot, Katherine. Até para você mesmo, cara...— Peter apoiou a mão no ombro do amigo, como em um afago. — Mas, para mim? — Peter respirou fundo e acenou vagarosamente com a cabeça, encarando os olhos de . — Para mim, não. — expressou confusão e Peter continuou. — Escuta, vocês meio que cresceram juntos e tenho absoluta certeza de que para você isso tudo parece esquisito, mas eu vou ser um bom amigo e contar para você o que está acontecendo: seu corpo está atraído por ela e sua cabeça ainda não sabe...pelo menos não a de cima. — Peter soltou uma gargalhada ao observar a expressão ultrajada de e acabou chamando a atenção dos outros três amigos que estavam na varanda.
— Que farra é essa aí fora? — Harper perguntou alto, se apoiando no parapeito da varanda e olhando os dois homens.
— está descobrindo que se sente atraí... — A voz de Peter foi interrompida pelo baque de seu corpo na grama junto com a palma da mão de tampando sua boca. Peter chutou o traseiro do amigo e inverteu as posições tomando um soco fraco no ombro, mas a tempo de ganhar a pequena luta com uma chave de braço em , que respirava forte e gargalhava da briga de criança que haviam criado.
— Vocês, homens, não crescem nunca? — apareceu na varanda, com um sorriso divertido. levou os olhos derrotados para a amiga, que estava sendo graciosamente iluminada por uma lâmina de luz solar e dourada. Sentiu a boca seca, mas preferiu associar a atitude de seu corpo ao gasto de energia inesperado que teve ao brincar de lutinha com o Peter.
— Apenas quando é conveniente, . — respondeu ofegante, jogando o corpo para trás e se deitando na barriga de Peter, que também estava estirado no gramado do quintal.
— Bom, eu preciso de uma ajudinha para montar a churrasqueira. Espero que o tamanho da sua fome seja um motivo conveniente o suficiente. — disse e saiu do campo de visão dos dois amigos.
— Minha fome exige que você aja conforme a sua idade e ajude a . — Peter disse, empurrando para que pudesse se levantar e bateu as mãos na calça, para retirar os fiapos de grama que haviam ficado por ali.
— O Ryan e o Thomas estão lá em cima. Por que ela precisa pedir para mim? — resmungou, levantando-se em seguida. — Aí, caralho! — exclamou, protegendo a cabeça com as mãos e olhando para a varanda, onde estava parada, fingindo ler o manual de instruções. Peter gargalhou ao notar que a garota havia arremessado a embalagem de papelão do utensílio de cozinha na direção de seu amigo. — Por que você fez isso?!
— Porque você está se comportando como um folgado fanfarrão. — disse e abriu a boca em surpresa pela ofensa inesperada. — Ryan e Thomas estão ocupados na cozinha. E a partir de agora você, Peter, está encarregado de ajudar Kate nas bebidas, então pode pegar carona com o e subir aqui também.
— Você é sempre mandona assim? — Peter perguntou, caminhando em direção as escadas da entrada principal.
— Apenas quando é conveniente. — piscou e voltou aos seus afazeres, deixando o moreno com um sorriso trancado no canto dos lábios.
— Viu isso? Você percebeu isso? — perguntou, apontando da varanda para o amigo. — Com você, piadinhas intencionais, piscadas e sorrisos. Comigo!? — adotou a postura mandona de , tentando imitar a voz da mais nova. — Você é um folgado insolente, . Joguei um papelão na sua cabeça para ver se a parte pausada do seu cérebro retoma o controle e ajuda você a crescer. — O mais velho soltou um urro estressado e Peter segurou a risada. — Às vezes eu esqueço como essa menina me deixa fora dos trilhos.
— Qual é, cara. Tenho certeza de que você não quer ser rancoroso com a . — Peter apoiou o braço nos ombros de , caminhando com ele para dentro da casa. — E, se você está todo coração por ter respondido a respondido…pensa em como ela deve estar se sentindo por ter feito a pergunta. — Peter se afastou do amigo, indo em direção a Kate para ajudá-la com os drinques que preparariam. — A irritabilidade também é uma forma de autodefesa.
…
estava inquieta e esquiva, após passar boa parte de sua manhã evitando e abominando a ideia de Katherine de que deveria deixar seus hormônios tomarem conta de seu comportamento e avançar em direção ao amigo. Se apenas com a menção do porquê ele não a havia beijado na formatura, ela se sentia estranha como se estivesse categorizando a amizade deles como algo frágil e superficial, não conseguiria imaginar como seriam os próximos dias caso uma ambientação onde os dois experienciassem algo fosse criada. Ele, por outro lado, parecia confortável com a situação, o tempo inteiro insistindo em estar dentro do mesmo espaço que , dividindo as tarefas do almoço após o pequeno desentendimento de ambos no gramado e vestindo um sorriso enorme no rosto, sempre que se voltava para ela; No fundo, sabia que nada muito expressivo havia acontecido entre os dois para que ela estivesse com tanto receio de estar próxima de , entretanto, também conhecia si mesma e, por mais esquisito que fosse aceitar este fato, estava começando a compreender que os momentos que tiveram na cozinha de madrugada foram muito mais íntimos do que qualquer outro que havia compartilhado com ele; a forma como ele tocou seu rosto e mergulhou dentro de seus olhos ao rasgar palavras tão carinhosas e, de certa forma, sedutoras também, a fez recuar pelo tempo necessário até que suas emoções e julgamento estivessem em ordem novamente.
— O que houve entre você e o ? — Cay perguntou, enquanto banhava-se com o sol do entardecer de domingo, estirada na grama verde vibrante do quintal.
—Nada, por quê? — devolveu, afinando um pouco a voz ao negar a pergunta, o que fez Maggie rir e olhar a amiga com diversão nos olhos.
— Sabia que quando você mente, sua voz fica mais aguda que o normal? — Margot comentou e a olhou feio, mas acabou sorrindo torto e concordando em seguida. — Então, conta logo!
— Não vai me dizer que ele frustrou você na cama? — Harper perguntou, assustada.
— Eu não fui para a cama com o , Harp.
— Então, transaram enquanto faziam aquele bolo na cozinha ontem?
— O que? — apoiou o corpo no antebraço, olhando a amiga com indignação. As mulheres riram do desespero de .
— Isso explicaria aquela aparência desastrosa… — Harper insinuou piscando para .
— Vocês são horríveis e estão obcecadas por minha vida sexual. Poderiam, por favor, me deixar em paz e manter o longe disso? — reclamou, voltando a deitar de bruços no gramado do jardim. — Eu me sinto estranha quando colocam ele e sexo na mesma frase.
— Tudo bem, eu vou acostumando você aos poucos. — Harper disse, cutucando o canto do polegar com a unha. revirou os olhos, rindo sobre a insistência. — Mas, de toda forma, o que deu em você para fugir dele o dia todo?
— Já disse, não foi nada demais.
— Rolou um clima ontem na cozinha e a não está sabendo lidar com o fato de que gostaria que tivessem, na verdade, rolado nos lençóis.
— Kate? Qual o seu problema? — perguntou, enquanto a ruiva a olhava com um sorrisinho sarcástico.
— No momento, você. E sua teimosia. — Kate revirou os olhos. — Você acha mesmo que ele falou o que falou ontem por causa de bebida?
— Sim! Eu perguntei o que perguntei por causa disso.
— Não, . — Kate bufou, olhando impaciente para a amiga. — A bebida, no máximo, te desinibiu. Você perguntou porque você quis. — torceu a boca, desistindo de tomar um sol em paz e começou a se servir de um copo de suco de laranja, com bastante gelo.
— Ok, tem como contextualizar para o restante de nós que não vimos o que aconteceu ontem, o que aconteceu ontem? — Cay perguntou e assentiu, colocando um canudo de metal em seu copo, ao menos se hidrataria enquanto tornava público as vergonhas do dia anterior.
— Eu comentei sobre ele me ajudar a ser mais confiante na hora do flerte e ele riu, dizendo que minha má sorte foi não ter encontrado um cara que me deixasse instigada o suficiente… — puxou o suco pelo canudo, engoliu e respirou fundo para continuar. — Mas, ainda assim, ele se mostrou interessado em entender o que eu precisava e, bem, a partir daí, eu entrei em pânico.
— Essa parte, da tal da má sorte…— Margot riu esperta, apertando os olhos em desconfiança. — Isso foi uma indireta, . Entrelinhas, ele quis dizer que você tem um dedinho podre, e que deveria ter apostado nele desde o começo.
— Isso! — Kate comemorou, batendo palmas. — Foi isso mesmo!
— Como eu disse na última conversa que tive com vocês, não perco tempo analisando as coisas que ele quer dizer. — relembrou, enfezada. — Apenas nas coisas que ele, de fato, diz.
— Então, calma lá…— Kate protestou, olhando como se ela fosse um extraterrestre. — O que diabos você entendeu quando ele disse “e existem algumas coisas que eu nunca disse sobre você, porque são coisas que amigos não devem dizer”?
— Ele falou isso!? — Harper gritou, chamando a atenção da outra parte do grupo, os garotos, que estavam próximos da hidromassagem e piscina nos fundos da casa. Mostrou a eles um dedo do meio, claramente expressando que a atenção deles ali não era bem-vinda. Cay apontou para o celular de , em uma permissão para pegar o aparelho e fingiu tirar algumas fotos enquanto, na verdade, abria o aplicativo de mensagens. — Bem, então essa é a sua deixa.
— Precisa descobrir o que ele sempre quis dizer e não podia por causa do limite invisível e estabelecido automaticamente em relações de amizade… — Cay comentou, disfarçadamente digitando no celular de , que, por sua vez, suspirava incomodada com aquele assunto. — E, por isso, acho de bom tom que eu acelere um pouquinho as coisas para você. — Cay sorriu fofa, soltando o celular da amiga e alongando as pernas.
— Como assim? — perguntou, confusa e Cay deu de ombros, optando por omitir temporariamente o que havia aprontado.
— Quer saber? Não queremos ficar na sua cabeça sobre esse assunto, . — Margot começou, e as outras garotas concordaram. — Mas precisa aprender a relaxar um pouco, deixar a vida acontecer, sem ficar tão apegada com o depois.
— Tudo bem, entendi o recado. — sorriu e mostrou a língua para as amigas, tomando mais um gole de seu suco.
Poucos minutos depois, notou a encarar com uma expressão engraçada enquanto segurava o celular, do outro lado do gramado. Franziu o cenho e inclinou a cabeça para o lado, expressando estar confusa sobre o motivo de estar a observando tão incisivamente; ele tinha um sorriso curioso preso nos lábios, analisando-a de uma forma nova e, com esse pensamento, resolveu que era melhor começar a se distrair, ou os arrepios que sentiu em sua nuca se intensificariam de uma maneira incômoda. A insistência das garotas naquele assunto estava começando a causar sérios problemas nas reações de seu corpo para com o amigo.
— Eu estava conversando com Ryan ontem e descobri que ele costumava trabalhar na mesma empresa que estou hoje, foi ele quem gerenciou o início do projeto que estamos expandindo agora. — Cay comentou. — Olhando para ele, de primeira, eu não diria que é tão inteligente…
— Eu também não diria isso sobre você. — Margot disse, rindo em seguida e recebendo uma careta em resposta. O celular de brilhou, anunciando uma nova mensagem de .
— Sério que ele está mandando mensagem para você, sendo que estamos a 10 passos de distância? — Harper perguntou, balançando a cabeça em negação. Cay prendeu o riso, vendo não se importar em pegar o telefone para ler o que o amigo havia dito.
— , não vai checar o que o disse? — Cay perguntou.
— Deve ser alguma foto que esse engraçadinho tirou em algum ângulo que me desfavorece. — disse, abaixando os óculos de sol e olhando Cay. — Por quê? Vocês estão tramando alguma coisa? — Cay negou e a tela do celular de brilhou de novo, puxando a atenção da garota ao aparelho. Ela subiu o olhar até , que estava dentro da hidromassagem com uma lata de cerveja em mãos, e o celular em outra. Parecia concentrado no que escrevia, então, deixando a curiosidade ganhar do desinteresse, pegou seu telefone.
Nova mensagem de :
Hahaha, que proposta indecorosa!
Nova mensagem de :
Não sei se estou mais assustado pelo que você escreveu ou por meu súbito interesse em tentar.
gastou alguns bons segundos para entender que ele estava respondendo a mensagem de alguma outra garota na conversa dela. Revirou os olhos, digitando a resposta através da barra de notificação, sem desbloquear o celular e checar a conversa toda.
Nova mensagem de :
Acho que você errou o contato.
Nova mensagem de :
Tente não enviar mensagens com conotações sexuais para mim…dependendo do conteúdo seria um pouco traumático.
correu os olhos pela resposta da morena e concluiu que ela estava iniciando um joguinho de disfarce de interesses. Então deu de ombros e sorriu fechado, largando a lata de cerveja na beira da hidromassagem e estralando o pescoço, antes de mover os dedos ferozes nas seguintes teclas:
Nova mensagem de :
Então esse vai ser o script que seguiremos?
Nova mensagem de :
Você vai fingir que não sugeriu nada e eu vou fingir que acredito…
Nova mensagem de :
Ao menos, assim, abrimos margem para que eu possa criar jeitos de fazer você ceder :)
leu uma, duas, três vezes e, num ímpeto, sentou-se no gramado ainda sem entender de onde havia tirado aquele tipo de liberdade. Seu coração estava acelerado, suas mãos suavam e o interior de suas pernas, vergonhosamente, se pressionavam em busca de um pouquinho de fricção, como se apenas aquela última mensagem tivesse acendido uma chama convidativa e intensa no vasto campo de gelo que havia virado sua vida afetiva.
Resolveu tomar mais um longo gole de seu suco gelado e refrescante, enquanto prendia o cabelo em um coque no alto de sua cabeça. Abriu a conversa de , notando que ela havia mandado uma mensagem alguns minutos antes; Respirou fundo, sentindo seu corpo inteiro tremer sob o olhar assertivo do moreno sobre si, estava extasiada com a sensação de ser observada de uma maneira tão intensa e, buscando desesperadamente um motivo para justificar as insinuações do amigo, subiu as notificações até encontrar a mensagem que o celular acusava-a de ter mandado, há poucos minutos atrás.
Mensagem de :
Já que você acredita que o meu maior problema mora no fato de que nenhum cara conseguiu fazer com que eu me sentisse desejada o suficiente…
Mensagem de :
Que tal tentar ser o primeiro deles?
adotou a cor de uma plantação de tomates nas bochechas, sentiu a natureza vasta da vizinhança em que estava se tornar um ambiente repentinamente claustrofóbico. Tinha certeza de que não havia digitado aquela mensagem, muito menos sugerido aquela proposta.
— Cay? — chamou a dona dos cabelos curtos e castanhos, que virou em sua direção quase em câmera lenta. pediu para que ela a acompanhasse para dentro de casa. — Você tem cinco segundos para confessar que abriu minha conversa com o e digitou um conjunto de absurdos para ele.
…
— A altura era de uns 160 metros do chão e a corda solta você quando menos espera. Sensação de morte, mas das boas. — Jeremy continuou a conversa, falando sorrindo e apoiando a mão na cintura. precisou dispersar a atenção do amigo para deitar os olhos nas pernas bronzeadas que balançavam de um lado para o outro há poucos metros de distância do lugar onde estava. — Sabe, , você costumava disfarçar melhor nos primeiros dias…
— Eu costumava ser muito bem-sucedido em não notar. — voltou sua atenção ao amigo, rindo amargo. — Mas, de uns dias para cá, meus olhos começaram a trair os meus conceitos. — confessou, apertando a boca em sinal de insatisfação com a consciência que tinha.
— Seus conceitos estavam traindo seus olhos. — Jeremy disse, desviando o tronco para a esquerda de , a fim de melhorar sua visão na direção de antes que ela adentrasse a parte coberta da casa, mas bloqueou, enchendo a mão de água e jogando no rosto do amigo. — Ei, direitos iguais! — Jeremy protestou risonho e soltou uma risada gostosa e espontânea.
— Acho que não, cara. Acho que nunca. — disse devagar, como se estivesse ensinando um vocabulário novo para uma criança de cinco anos. — Mas, devo pontuar, é um sentimento estranho. As vezes olho e penso: caralho, que mulher maravilhosa. — Ele disse, enfatizando a entonação no adjetivo. — E outras vezes, eu lembro dela enfiando o dedo do nariz quando era menor e limpando na capa do meu caderno na escola. — acrescentou, e Jeremy fez uma careta. — Eu quem a ensinei fazer isso. — adicionou, com um sorriso campeão no rosto como se fosse algo ao qual se orgulhar muito.
— , …— Jeremy cantarolou, com um sorriso esperto brincando em sua boca e um apertar de olhos. — Corrompeu a garotinha quando criança, e quer continuar corrompendo agora como adulto…— Jeremy gargalhou com a revirada de olhos que o amigo o lançou. Ele continuou usando seu tom provocativo. — Não escutei você contestar.
— É porque eu acho que você está certo. — alongou os ombros de cima a baixo, estalando a língua na boca. —Terrivelmente certo.
— Ei, seus merdas! — Ryan gritou e os dois amigos voltaram a atenção para ele. — Tá rolando um festival no píer da cidade, vocês têm dez minutos para estarem prontos ou teremos que pagar as entradas. — Ryan levantou o polegar em sinal de positivo no ar.
…
— Esse foi meu troco por você não ter me contado sobre o interesse de Ryan. — Cay riu, se jogando no sofá. — Eu sei muito bem que você estava na rodinha quando ele perguntou sobre mim.
— Espera, você está interessada nele também? — perguntou e Cay balançou a cabeça de um lado para o outro, como se ponderasse aquela possibilidade. — De toda forma, não justifica. Sabe o tamanho do trabalho que eu vou ter para tirar aquele sorrisinho presunçoso da boca do agora?
— E para que tirar? Cai super bem nele…— Cay disse, apoiando o rosto nas mãos e a encarou boquiaberta. — No fim das contas, é só uma versão melhorada do que você mesma pediu para ele ontem. — Cay piscou, levantando-se do sofá e caminhando até os quartos. a seguiu, intrigada.
— Elabore melhor a sua defesa, Andrews. — inquiriu com os braços cruzados, observando a amiga puxar algumas peças de roupa do armário. Cay revirou os olhos ao ouvir o seu sobrenome, sabia que havia o usado apenas por implicância.
— Você pediu que ele ajudasse você a ser mais sedutora, pensou que ele faria o que? Abriria um livro com aulas teóricas? — Cay perguntou rindo, enquanto fechava a porta do quarto e se despia do biquíni que usava e trocava de roupa. — A única forma de efetivamente ajudar você, é sendo a pessoa por quem você se sente atraída.
— Exatamente! E voltamos ao ponto inicial da conversa com as meninas em um dos primeiros dias na praia… — suspirou, empolgada que finalmente conseguiria provar seu ponto de que nada daquilo daria certo. — Eu não sinto nada pelo .
— Exatamente! E voltamos ao ponto inicial da conversa que comecei no seu celular com o … — Cay repetiu as palavras da amiga, no mesmo tom de empolgação. — Foi quase um desafio, então, aposto que você notará comportamentos interessantes vindos dele, que eventualmente farão você começar a sentir. — franziu a testa, sentindo um arrepio correr em sua espinha com a ideia de precisar lidar com um em seu instinto predador, o mesmo que ele tinha para com absolutamente todas as garotas do colegial. — Depois que estiver satisfeita, suada e contente nos edredons confortáveis de sua cama, eu aceito de bom grado um pacote de macarons de pistache, acompanhados de um sonoro e sorridente “obrigada”. — Cay piscou, se enfiando dentro do banheiro para se maquiar e batendo a porta em seguida. respirou fundo, decidindo dar uma pequena chance às loucuras que a cidade de Brighton estava a incitando a cometer.
— Tudo bem, tudo bem… — disse para si mesma, enquanto deixava o quarto de Cay. — Não pode ser tão ruim, assustador, estranho e desconfortável…
— Se precisa se convencer de que não é, então talvez seja. — Jeremy surgiu pelo corredor, causando um pequeno susto na garota.
— Jeremy, isso não ajudou muito. — o olhou engraçado e o moreno riu, colocando as mãos no bolso e se escorando na parede para olhá-la melhor.
— Vim avisar que daremos uma passada no píer, encontra a gente com as garotas mais tarde. — Jeremy convidou, simpático. — Estamos indo a pé para ter mais liberdade para beber por lá, então se quiserem podem levar o carro do . — Jeremy jogou as chaves e pegou-as no ar, girando o molho em seu dedo indicador e o olhando em desconfiança.
— contou que eu bati o carro do pai dele quando éramos mais novos?
— Foi o acidente que deixou ele com aquela cicatriz engraçada no canto da testa, não foi?
— É.
— Pelo menos o cabelo esconde…— Jeremy ponderou, buscando o lado positivo.
— E ele sabe que você está me entregando a chave do carro dele e me dando autorização para o dirigir?
— Tanto quanto eu sei como plantar batatas em Marte. — Jeremy piscou, revelando a intenção de irritar o amigo.
— Combinado, vejo vocês mais tarde. — sorriu arteira e saiu andando em direção ao seu quarto.
…
— Você tem ideia do tamanho da encrenca que vai arrumar com o ? — Katherine perguntou, tomando as chaves do carro de para levá-las até o píer.
— Vai ser divertido. — piscou, entrando no carro do amigo e observando o painel iluminado e moderno de seu carro. — Sempre quis saber o que acontece quando aperto o modo turbo?
— ! Você vai dirigir na orla da praia! — Maggie alertou, recebendo uma expressão descontente de em resposta.
— Tá bem, vou com segurança. — cruzou os indicadores na frente dos lábios, deixando dois beijos estalados em cada lado para afirmar sua promessa e, em seguida, arrancou com o carro em direção ao píer que não ficava tão longe dali.
O entardecer aquarelava o céu em cores amarelas e alaranjadas, um vento um pouco mais frio do que o ideal permeava por aquela parte da cidade, mas nada que tornasse o clima desconfortável. dirigia pelas ruas de Brighton cantarolando qualquer música que começou a tocar assim que ligou o carro de , mas seu humor foi interrompido pelo toque de uma ligação desconhecida no painel do carro e, curiosa, resolveu apertar o botão que a autorizava a atender.
— Quem caralhos está dirigindo a porra do meu carro? — A voz de se fez presente em um tom desesperado e soltou uma risada divertida, fazendo uma leve curva para se aproximar da avenida principal onde ficava o píer. — Eu conheço essa risada, . — disse, reverberando sua voz pelos alto-falantes do veículo. — E conheço o seu histórico no volante, sabe que se eu encontrar um arranhão na lataria você estará em apuros, não sabe?
— Você ameaça demais, . — rebateu, ainda sorrindo divertida com a inquietude dele. — Prometo que tenho tudo sob controle.
— Faz anos desde que você decidiu estacionar o carro do meu pai no meio de uma cerca…— lembrou, notando seu carro próximo ao píer e se afastou dos amigos para encontrar . — Com certeza você melhorou, mas ainda sinto falta das boas libras que eu gastei no conserto.
— Em minha defesa, você estava me ensinando e, portanto, tem culpa completa na batida. — desafivelou o cinto assim que alinhou o carro do amigo em uma vaga, puxando sua bolsa do banco de trás e se preparando para deixar o veículo. — Foi um péssimo professor.
completou, deixando um sorriso ladino brincar em seus lábios e desligou o carro, assim como sua ligação com . Ao tentar abrir a porta para sair, no entanto, não conseguiu a destrancar. Forçou a maçaneta três vezes, franziu o cenho, confusa, e apertou o botão para dar partida no carro outra vez, não obtendo resposta alguma do veículo; a partir desse momento, então, começou a se desesperar: com o azar que tinha, provavelmente havia arranjado uma pane elétrica no carro moderno de e, com esse pensamento, sentiu todas as suas economias irem direto para a conta bancária do amigo.
Grunhiu irritada, apertando o botão de ignição repetidas vezes, tentando sair do carro e tamborilando o volante, indecisa se deveria, ou não, pedir ajuda a que, com certeza, gastaria uns bons minutos do dia com um sermão do tipo “eu avisei, ” em seus ouvidos; desistindo da ideia de ficar presa por mais tempo dentro das quatro rodas, alcançou seu celular e discou o número do mais velho.
— Ora, se não é a mal-agradecida! — atendeu em alto e bom som, brincando sobre a última frase que a amiga havia o direcionado.
— Não enche, . — revirou os olhos, suspirando forte. — Estou com problemas, seu carro resolveu me trancar e não estou conseguindo ligá-lo outra vez.
— Mesmo? — confirmou e sentiu um tom risonho em sua voz, mas decidiu ignorar. — Então temos um problemão, da última vez que aconteceu algo parecido fiquei esperando o suporte da seguradora por duas horas.
— O que? — questionou, apoiando a testa na palma de sua mão e equilibrando o celular na outra. — Eu não tenho a mínima condição de esperar duas horas dentro desse carro sem ventilação, debaixo desse calor! — Ela justificou, jogando o peso do corpo contra o banco. , que estava escondido e encostado na lataria traseira do veículo ao lado, fez uma careta ao segurar a vontade de rir outra vez, com o tom de voz que ela usou. — Sabe de uma coisa, ?
— Diz, linda. — Ele respondeu galanteador, identificando a personalidade mandona de dar as caras. Ela bufou alto.
— Se essas são as condições, você vai vir até aqui e quebrar o vidro do seu carro para que eu consiga escapar. — disse de maneira imperativa.
levantou as duas sobrancelhas e repuxou os lábios em um bico, impressionado com a audácia da mulher. Desligou a ligação, sem mais nem menos, assim como ela havia feito minutos atrás; discou o número dele de novo, cinco vezes seguidas, apenas para ouvir a voz estridente da secretária eletrônica indicando que a ligação cairia na caixa postal.
— Como pode ser tão… — Ela começaria uma lista de adjetivos não muito educados para descrever o amigo, não fosse o barulho de click que interrompeu o silêncio, junto à um corpo bastante conhecido irrompendo no banco do passageiro e batendo a porta em seguida. estava dentro do veículo, as mãos descansando em suas coxas, encarando a mulher com diversão. — Você me trancou aqui de propósito? — perguntou, apertando os olhos em sinal de ameaça.
— Continuando nossa conversa, …— Ele disse baixo, ignorando a pergunta da mais nova e inclinando-se em sua direção. — Acho que mais eficiente do que quebrar o vidro do carro, seria dar um basta nesse seu jeitinho marrento, não acha? — segurou a respiração, notando novidade em tais comportamentos e tom de voz de para com ela. Ele sorriu de lado, focando seus olhos nas irises solares da garota e estendendo seu braço até um botão pequeno e discreto, que ficava abaixo do volante. — Da próxima vez que quiser pegar meu carro por ser uma menininha petulante, lembre-se de desativar o modo de segurança. — pressionou o botão, ouvindo a voz da inteligência artificial atrelada ao seu carro confirmar a desativação. — Assim, eu não recebo alertas no telefone com a localização em tempo real do seu trajeto e não consigo controlar todas as funções do carro através do meu celular. — Ele finalizou, descendo os olhos do rosto da amiga para seu corpo, em um momento de distração. Arranhou a garganta, desviando o olhar ao perceber que ela levantou uma sobrancelha para ele, em questionamento.
— Menininha petulante? — perguntou, sentindo o sangue ferver. deu de ombros, alcançando a caixa de chicletes que guardava entre os bancos da frente e jogando um na boca, para disfarçar, mais uma vez, a ansiedade que estava sentindo ao estar caminhando dentro do campo minado .
— Você pode ser bem desobediente as vezes, . — respondeu devagar, dando ênfase no advérbio de intensidade. Ela riu, incrédula. — Mas não vou deixar isso ser um problema…— Ele disse leve, numa pose descontraída e instigante que nada condizia com o ritmo descompassado que seu coração batia ao perceber que estava, mesmo, dando início ao acordo que havia feito com ela. Inclinou-se vagarosamente na direção da mais nova, sussurrando contra seu rosto. — Porque estou igualmente disposto a mostrar para você todos os benefícios de ser uma boa garota. — Ele soprou, quase como um feitiço, arrepiando cada poro da pele de , que não soube disfarçar o rubor das bochechas, o acelerar da respiração e, muito menos, os poros arrepiados devido à dose alta de sedução contida na voz do moreno. — Reação curiosa, … — Ele disse com um sorriso cafajeste, recuperando o tom de voz regular e deixando seus olhos brilharem na direção da garota. — Acho que vamos nos dar bem nesse acordo. — Ele afirmou, lambendo os lábios devagar e notando que a atenção da mais nova foi chamada com sucesso. — Eu adoro falar sujo, sabia? — Ele continuou seu caminho, aproximando-se do ouvido de . — E, levando em consideração toda essa cadeia de reações que emanam do seu corpo, agora...— Ele riu curto, roçando os lábios na ponta da orelha da mais nova. — Você ama escutar.
E a partir dessa iniciativa, depois de ouvir a risada rouca e convencida de passar por seu pescoço e se afastar completamente, até que a porta do passageiro fosse aberta e fechada em um gesto rápido, indicando que ele não estava mais no veículo, suspirou. Uma lufada de ar alta, forte, nada resignada e desesperadora.
De duas a uma: aquele acordo seria seu maior erro...
Ou o melhor acerto de toda sua vida.
— Não estou, não. — respondeu, cruzando os braços e suspirando insatisfeito. — Eu pisei na bola, feio mesmo, cara. Ela se levantou, passou por mim no corredor, acenou como se eu fosse um vizinho importuno no quintal e sumiu do mapa.
— , ela está bem ali na varanda. Conversando com o Jeremy e a Harper. — Peter levou os olhos cansados até , e voltou as írises para o amigo.
— Só apareceu agora para contradizer minhas observações. — pontuou, levantando o dedo indicador. Peter riu, batendo a palma da mão na testa.
— Eu não tinha ideia que a mexia tanto com seu juízo, na boa. — Peter negou com a cabeça, apoiando as duas mãos na cintura. se preparou para interromper o amigo, que levantou a mão como se pedisse para que mantivesse o silêncio. — Você não fez nada demais, além de responder uma pergunta feita por ela.
— E me insinuar como um idiota. — revirou os olhos e esfregou as mãos no rosto, teatralmente puxando a pele para baixo. — Pior que, eu não me sinto assim sobre a , nem mesmo sei o porquê de eu dizer aquilo. — Peter o olhou com indignação e riu alto.
— , você pode fingir bem para . Para o Jeremy, Margot, Katherine. Até para você mesmo, cara...— Peter apoiou a mão no ombro do amigo, como em um afago. — Mas, para mim? — Peter respirou fundo e acenou vagarosamente com a cabeça, encarando os olhos de . — Para mim, não. — expressou confusão e Peter continuou. — Escuta, vocês meio que cresceram juntos e tenho absoluta certeza de que para você isso tudo parece esquisito, mas eu vou ser um bom amigo e contar para você o que está acontecendo: seu corpo está atraído por ela e sua cabeça ainda não sabe...pelo menos não a de cima. — Peter soltou uma gargalhada ao observar a expressão ultrajada de e acabou chamando a atenção dos outros três amigos que estavam na varanda.
— Que farra é essa aí fora? — Harper perguntou alto, se apoiando no parapeito da varanda e olhando os dois homens.
— está descobrindo que se sente atraí... — A voz de Peter foi interrompida pelo baque de seu corpo na grama junto com a palma da mão de tampando sua boca. Peter chutou o traseiro do amigo e inverteu as posições tomando um soco fraco no ombro, mas a tempo de ganhar a pequena luta com uma chave de braço em , que respirava forte e gargalhava da briga de criança que haviam criado.
— Vocês, homens, não crescem nunca? — apareceu na varanda, com um sorriso divertido. levou os olhos derrotados para a amiga, que estava sendo graciosamente iluminada por uma lâmina de luz solar e dourada. Sentiu a boca seca, mas preferiu associar a atitude de seu corpo ao gasto de energia inesperado que teve ao brincar de lutinha com o Peter.
— Apenas quando é conveniente, . — respondeu ofegante, jogando o corpo para trás e se deitando na barriga de Peter, que também estava estirado no gramado do quintal.
— Bom, eu preciso de uma ajudinha para montar a churrasqueira. Espero que o tamanho da sua fome seja um motivo conveniente o suficiente. — disse e saiu do campo de visão dos dois amigos.
— Minha fome exige que você aja conforme a sua idade e ajude a . — Peter disse, empurrando para que pudesse se levantar e bateu as mãos na calça, para retirar os fiapos de grama que haviam ficado por ali.
— O Ryan e o Thomas estão lá em cima. Por que ela precisa pedir para mim? — resmungou, levantando-se em seguida. — Aí, caralho! — exclamou, protegendo a cabeça com as mãos e olhando para a varanda, onde estava parada, fingindo ler o manual de instruções. Peter gargalhou ao notar que a garota havia arremessado a embalagem de papelão do utensílio de cozinha na direção de seu amigo. — Por que você fez isso?!
— Porque você está se comportando como um folgado fanfarrão. — disse e abriu a boca em surpresa pela ofensa inesperada. — Ryan e Thomas estão ocupados na cozinha. E a partir de agora você, Peter, está encarregado de ajudar Kate nas bebidas, então pode pegar carona com o e subir aqui também.
— Você é sempre mandona assim? — Peter perguntou, caminhando em direção as escadas da entrada principal.
— Apenas quando é conveniente. — piscou e voltou aos seus afazeres, deixando o moreno com um sorriso trancado no canto dos lábios.
— Viu isso? Você percebeu isso? — perguntou, apontando da varanda para o amigo. — Com você, piadinhas intencionais, piscadas e sorrisos. Comigo!? — adotou a postura mandona de , tentando imitar a voz da mais nova. — Você é um folgado insolente, . Joguei um papelão na sua cabeça para ver se a parte pausada do seu cérebro retoma o controle e ajuda você a crescer. — O mais velho soltou um urro estressado e Peter segurou a risada. — Às vezes eu esqueço como essa menina me deixa fora dos trilhos.
— Qual é, cara. Tenho certeza de que você não quer ser rancoroso com a . — Peter apoiou o braço nos ombros de , caminhando com ele para dentro da casa. — E, se você está todo coração por ter respondido a respondido…pensa em como ela deve estar se sentindo por ter feito a pergunta. — Peter se afastou do amigo, indo em direção a Kate para ajudá-la com os drinques que preparariam. — A irritabilidade também é uma forma de autodefesa.
estava inquieta e esquiva, após passar boa parte de sua manhã evitando e abominando a ideia de Katherine de que deveria deixar seus hormônios tomarem conta de seu comportamento e avançar em direção ao amigo. Se apenas com a menção do porquê ele não a havia beijado na formatura, ela se sentia estranha como se estivesse categorizando a amizade deles como algo frágil e superficial, não conseguiria imaginar como seriam os próximos dias caso uma ambientação onde os dois experienciassem algo fosse criada. Ele, por outro lado, parecia confortável com a situação, o tempo inteiro insistindo em estar dentro do mesmo espaço que , dividindo as tarefas do almoço após o pequeno desentendimento de ambos no gramado e vestindo um sorriso enorme no rosto, sempre que se voltava para ela; No fundo, sabia que nada muito expressivo havia acontecido entre os dois para que ela estivesse com tanto receio de estar próxima de , entretanto, também conhecia si mesma e, por mais esquisito que fosse aceitar este fato, estava começando a compreender que os momentos que tiveram na cozinha de madrugada foram muito mais íntimos do que qualquer outro que havia compartilhado com ele; a forma como ele tocou seu rosto e mergulhou dentro de seus olhos ao rasgar palavras tão carinhosas e, de certa forma, sedutoras também, a fez recuar pelo tempo necessário até que suas emoções e julgamento estivessem em ordem novamente.
— O que houve entre você e o ? — Cay perguntou, enquanto banhava-se com o sol do entardecer de domingo, estirada na grama verde vibrante do quintal.
—Nada, por quê? — devolveu, afinando um pouco a voz ao negar a pergunta, o que fez Maggie rir e olhar a amiga com diversão nos olhos.
— Sabia que quando você mente, sua voz fica mais aguda que o normal? — Margot comentou e a olhou feio, mas acabou sorrindo torto e concordando em seguida. — Então, conta logo!
— Não vai me dizer que ele frustrou você na cama? — Harper perguntou, assustada.
— Eu não fui para a cama com o , Harp.
— Então, transaram enquanto faziam aquele bolo na cozinha ontem?
— O que? — apoiou o corpo no antebraço, olhando a amiga com indignação. As mulheres riram do desespero de .
— Isso explicaria aquela aparência desastrosa… — Harper insinuou piscando para .
— Vocês são horríveis e estão obcecadas por minha vida sexual. Poderiam, por favor, me deixar em paz e manter o longe disso? — reclamou, voltando a deitar de bruços no gramado do jardim. — Eu me sinto estranha quando colocam ele e sexo na mesma frase.
— Tudo bem, eu vou acostumando você aos poucos. — Harper disse, cutucando o canto do polegar com a unha. revirou os olhos, rindo sobre a insistência. — Mas, de toda forma, o que deu em você para fugir dele o dia todo?
— Já disse, não foi nada demais.
— Rolou um clima ontem na cozinha e a não está sabendo lidar com o fato de que gostaria que tivessem, na verdade, rolado nos lençóis.
— Kate? Qual o seu problema? — perguntou, enquanto a ruiva a olhava com um sorrisinho sarcástico.
— No momento, você. E sua teimosia. — Kate revirou os olhos. — Você acha mesmo que ele falou o que falou ontem por causa de bebida?
— Sim! Eu perguntei o que perguntei por causa disso.
— Não, . — Kate bufou, olhando impaciente para a amiga. — A bebida, no máximo, te desinibiu. Você perguntou porque você quis. — torceu a boca, desistindo de tomar um sol em paz e começou a se servir de um copo de suco de laranja, com bastante gelo.
— Ok, tem como contextualizar para o restante de nós que não vimos o que aconteceu ontem, o que aconteceu ontem? — Cay perguntou e assentiu, colocando um canudo de metal em seu copo, ao menos se hidrataria enquanto tornava público as vergonhas do dia anterior.
— Eu comentei sobre ele me ajudar a ser mais confiante na hora do flerte e ele riu, dizendo que minha má sorte foi não ter encontrado um cara que me deixasse instigada o suficiente… — puxou o suco pelo canudo, engoliu e respirou fundo para continuar. — Mas, ainda assim, ele se mostrou interessado em entender o que eu precisava e, bem, a partir daí, eu entrei em pânico.
— Essa parte, da tal da má sorte…— Margot riu esperta, apertando os olhos em desconfiança. — Isso foi uma indireta, . Entrelinhas, ele quis dizer que você tem um dedinho podre, e que deveria ter apostado nele desde o começo.
— Isso! — Kate comemorou, batendo palmas. — Foi isso mesmo!
— Como eu disse na última conversa que tive com vocês, não perco tempo analisando as coisas que ele quer dizer. — relembrou, enfezada. — Apenas nas coisas que ele, de fato, diz.
— Então, calma lá…— Kate protestou, olhando como se ela fosse um extraterrestre. — O que diabos você entendeu quando ele disse “e existem algumas coisas que eu nunca disse sobre você, porque são coisas que amigos não devem dizer”?
— Ele falou isso!? — Harper gritou, chamando a atenção da outra parte do grupo, os garotos, que estavam próximos da hidromassagem e piscina nos fundos da casa. Mostrou a eles um dedo do meio, claramente expressando que a atenção deles ali não era bem-vinda. Cay apontou para o celular de , em uma permissão para pegar o aparelho e fingiu tirar algumas fotos enquanto, na verdade, abria o aplicativo de mensagens. — Bem, então essa é a sua deixa.
— Precisa descobrir o que ele sempre quis dizer e não podia por causa do limite invisível e estabelecido automaticamente em relações de amizade… — Cay comentou, disfarçadamente digitando no celular de , que, por sua vez, suspirava incomodada com aquele assunto. — E, por isso, acho de bom tom que eu acelere um pouquinho as coisas para você. — Cay sorriu fofa, soltando o celular da amiga e alongando as pernas.
— Como assim? — perguntou, confusa e Cay deu de ombros, optando por omitir temporariamente o que havia aprontado.
— Quer saber? Não queremos ficar na sua cabeça sobre esse assunto, . — Margot começou, e as outras garotas concordaram. — Mas precisa aprender a relaxar um pouco, deixar a vida acontecer, sem ficar tão apegada com o depois.
— Tudo bem, entendi o recado. — sorriu e mostrou a língua para as amigas, tomando mais um gole de seu suco.
Poucos minutos depois, notou a encarar com uma expressão engraçada enquanto segurava o celular, do outro lado do gramado. Franziu o cenho e inclinou a cabeça para o lado, expressando estar confusa sobre o motivo de estar a observando tão incisivamente; ele tinha um sorriso curioso preso nos lábios, analisando-a de uma forma nova e, com esse pensamento, resolveu que era melhor começar a se distrair, ou os arrepios que sentiu em sua nuca se intensificariam de uma maneira incômoda. A insistência das garotas naquele assunto estava começando a causar sérios problemas nas reações de seu corpo para com o amigo.
— Eu estava conversando com Ryan ontem e descobri que ele costumava trabalhar na mesma empresa que estou hoje, foi ele quem gerenciou o início do projeto que estamos expandindo agora. — Cay comentou. — Olhando para ele, de primeira, eu não diria que é tão inteligente…
— Eu também não diria isso sobre você. — Margot disse, rindo em seguida e recebendo uma careta em resposta. O celular de brilhou, anunciando uma nova mensagem de .
— Sério que ele está mandando mensagem para você, sendo que estamos a 10 passos de distância? — Harper perguntou, balançando a cabeça em negação. Cay prendeu o riso, vendo não se importar em pegar o telefone para ler o que o amigo havia dito.
— , não vai checar o que o disse? — Cay perguntou.
— Deve ser alguma foto que esse engraçadinho tirou em algum ângulo que me desfavorece. — disse, abaixando os óculos de sol e olhando Cay. — Por quê? Vocês estão tramando alguma coisa? — Cay negou e a tela do celular de brilhou de novo, puxando a atenção da garota ao aparelho. Ela subiu o olhar até , que estava dentro da hidromassagem com uma lata de cerveja em mãos, e o celular em outra. Parecia concentrado no que escrevia, então, deixando a curiosidade ganhar do desinteresse, pegou seu telefone.
Nova mensagem de :
Hahaha, que proposta indecorosa!
Nova mensagem de :
Não sei se estou mais assustado pelo que você escreveu ou por meu súbito interesse em tentar.
gastou alguns bons segundos para entender que ele estava respondendo a mensagem de alguma outra garota na conversa dela. Revirou os olhos, digitando a resposta através da barra de notificação, sem desbloquear o celular e checar a conversa toda.
Nova mensagem de :
Acho que você errou o contato.
Nova mensagem de :
Tente não enviar mensagens com conotações sexuais para mim…dependendo do conteúdo seria um pouco traumático.
correu os olhos pela resposta da morena e concluiu que ela estava iniciando um joguinho de disfarce de interesses. Então deu de ombros e sorriu fechado, largando a lata de cerveja na beira da hidromassagem e estralando o pescoço, antes de mover os dedos ferozes nas seguintes teclas:
Nova mensagem de :
Então esse vai ser o script que seguiremos?
Nova mensagem de :
Você vai fingir que não sugeriu nada e eu vou fingir que acredito…
Nova mensagem de :
Ao menos, assim, abrimos margem para que eu possa criar jeitos de fazer você ceder :)
leu uma, duas, três vezes e, num ímpeto, sentou-se no gramado ainda sem entender de onde havia tirado aquele tipo de liberdade. Seu coração estava acelerado, suas mãos suavam e o interior de suas pernas, vergonhosamente, se pressionavam em busca de um pouquinho de fricção, como se apenas aquela última mensagem tivesse acendido uma chama convidativa e intensa no vasto campo de gelo que havia virado sua vida afetiva.
Resolveu tomar mais um longo gole de seu suco gelado e refrescante, enquanto prendia o cabelo em um coque no alto de sua cabeça. Abriu a conversa de , notando que ela havia mandado uma mensagem alguns minutos antes; Respirou fundo, sentindo seu corpo inteiro tremer sob o olhar assertivo do moreno sobre si, estava extasiada com a sensação de ser observada de uma maneira tão intensa e, buscando desesperadamente um motivo para justificar as insinuações do amigo, subiu as notificações até encontrar a mensagem que o celular acusava-a de ter mandado, há poucos minutos atrás.
Mensagem de :
Já que você acredita que o meu maior problema mora no fato de que nenhum cara conseguiu fazer com que eu me sentisse desejada o suficiente…
Mensagem de :
Que tal tentar ser o primeiro deles?
adotou a cor de uma plantação de tomates nas bochechas, sentiu a natureza vasta da vizinhança em que estava se tornar um ambiente repentinamente claustrofóbico. Tinha certeza de que não havia digitado aquela mensagem, muito menos sugerido aquela proposta.
— Cay? — chamou a dona dos cabelos curtos e castanhos, que virou em sua direção quase em câmera lenta. pediu para que ela a acompanhasse para dentro de casa. — Você tem cinco segundos para confessar que abriu minha conversa com o e digitou um conjunto de absurdos para ele.
— A altura era de uns 160 metros do chão e a corda solta você quando menos espera. Sensação de morte, mas das boas. — Jeremy continuou a conversa, falando sorrindo e apoiando a mão na cintura. precisou dispersar a atenção do amigo para deitar os olhos nas pernas bronzeadas que balançavam de um lado para o outro há poucos metros de distância do lugar onde estava. — Sabe, , você costumava disfarçar melhor nos primeiros dias…
— Eu costumava ser muito bem-sucedido em não notar. — voltou sua atenção ao amigo, rindo amargo. — Mas, de uns dias para cá, meus olhos começaram a trair os meus conceitos. — confessou, apertando a boca em sinal de insatisfação com a consciência que tinha.
— Seus conceitos estavam traindo seus olhos. — Jeremy disse, desviando o tronco para a esquerda de , a fim de melhorar sua visão na direção de antes que ela adentrasse a parte coberta da casa, mas bloqueou, enchendo a mão de água e jogando no rosto do amigo. — Ei, direitos iguais! — Jeremy protestou risonho e soltou uma risada gostosa e espontânea.
— Acho que não, cara. Acho que nunca. — disse devagar, como se estivesse ensinando um vocabulário novo para uma criança de cinco anos. — Mas, devo pontuar, é um sentimento estranho. As vezes olho e penso: caralho, que mulher maravilhosa. — Ele disse, enfatizando a entonação no adjetivo. — E outras vezes, eu lembro dela enfiando o dedo do nariz quando era menor e limpando na capa do meu caderno na escola. — acrescentou, e Jeremy fez uma careta. — Eu quem a ensinei fazer isso. — adicionou, com um sorriso campeão no rosto como se fosse algo ao qual se orgulhar muito.
— , …— Jeremy cantarolou, com um sorriso esperto brincando em sua boca e um apertar de olhos. — Corrompeu a garotinha quando criança, e quer continuar corrompendo agora como adulto…— Jeremy gargalhou com a revirada de olhos que o amigo o lançou. Ele continuou usando seu tom provocativo. — Não escutei você contestar.
— É porque eu acho que você está certo. — alongou os ombros de cima a baixo, estalando a língua na boca. —Terrivelmente certo.
— Ei, seus merdas! — Ryan gritou e os dois amigos voltaram a atenção para ele. — Tá rolando um festival no píer da cidade, vocês têm dez minutos para estarem prontos ou teremos que pagar as entradas. — Ryan levantou o polegar em sinal de positivo no ar.
— Esse foi meu troco por você não ter me contado sobre o interesse de Ryan. — Cay riu, se jogando no sofá. — Eu sei muito bem que você estava na rodinha quando ele perguntou sobre mim.
— Espera, você está interessada nele também? — perguntou e Cay balançou a cabeça de um lado para o outro, como se ponderasse aquela possibilidade. — De toda forma, não justifica. Sabe o tamanho do trabalho que eu vou ter para tirar aquele sorrisinho presunçoso da boca do agora?
— E para que tirar? Cai super bem nele…— Cay disse, apoiando o rosto nas mãos e a encarou boquiaberta. — No fim das contas, é só uma versão melhorada do que você mesma pediu para ele ontem. — Cay piscou, levantando-se do sofá e caminhando até os quartos. a seguiu, intrigada.
— Elabore melhor a sua defesa, Andrews. — inquiriu com os braços cruzados, observando a amiga puxar algumas peças de roupa do armário. Cay revirou os olhos ao ouvir o seu sobrenome, sabia que havia o usado apenas por implicância.
— Você pediu que ele ajudasse você a ser mais sedutora, pensou que ele faria o que? Abriria um livro com aulas teóricas? — Cay perguntou rindo, enquanto fechava a porta do quarto e se despia do biquíni que usava e trocava de roupa. — A única forma de efetivamente ajudar você, é sendo a pessoa por quem você se sente atraída.
— Exatamente! E voltamos ao ponto inicial da conversa com as meninas em um dos primeiros dias na praia… — suspirou, empolgada que finalmente conseguiria provar seu ponto de que nada daquilo daria certo. — Eu não sinto nada pelo .
— Exatamente! E voltamos ao ponto inicial da conversa que comecei no seu celular com o … — Cay repetiu as palavras da amiga, no mesmo tom de empolgação. — Foi quase um desafio, então, aposto que você notará comportamentos interessantes vindos dele, que eventualmente farão você começar a sentir. — franziu a testa, sentindo um arrepio correr em sua espinha com a ideia de precisar lidar com um em seu instinto predador, o mesmo que ele tinha para com absolutamente todas as garotas do colegial. — Depois que estiver satisfeita, suada e contente nos edredons confortáveis de sua cama, eu aceito de bom grado um pacote de macarons de pistache, acompanhados de um sonoro e sorridente “obrigada”. — Cay piscou, se enfiando dentro do banheiro para se maquiar e batendo a porta em seguida. respirou fundo, decidindo dar uma pequena chance às loucuras que a cidade de Brighton estava a incitando a cometer.
— Tudo bem, tudo bem… — disse para si mesma, enquanto deixava o quarto de Cay. — Não pode ser tão ruim, assustador, estranho e desconfortável…
— Se precisa se convencer de que não é, então talvez seja. — Jeremy surgiu pelo corredor, causando um pequeno susto na garota.
— Jeremy, isso não ajudou muito. — o olhou engraçado e o moreno riu, colocando as mãos no bolso e se escorando na parede para olhá-la melhor.
— Vim avisar que daremos uma passada no píer, encontra a gente com as garotas mais tarde. — Jeremy convidou, simpático. — Estamos indo a pé para ter mais liberdade para beber por lá, então se quiserem podem levar o carro do . — Jeremy jogou as chaves e pegou-as no ar, girando o molho em seu dedo indicador e o olhando em desconfiança.
— contou que eu bati o carro do pai dele quando éramos mais novos?
— Foi o acidente que deixou ele com aquela cicatriz engraçada no canto da testa, não foi?
— É.
— Pelo menos o cabelo esconde…— Jeremy ponderou, buscando o lado positivo.
— E ele sabe que você está me entregando a chave do carro dele e me dando autorização para o dirigir?
— Tanto quanto eu sei como plantar batatas em Marte. — Jeremy piscou, revelando a intenção de irritar o amigo.
— Combinado, vejo vocês mais tarde. — sorriu arteira e saiu andando em direção ao seu quarto.
— Você tem ideia do tamanho da encrenca que vai arrumar com o ? — Katherine perguntou, tomando as chaves do carro de para levá-las até o píer.
— Vai ser divertido. — piscou, entrando no carro do amigo e observando o painel iluminado e moderno de seu carro. — Sempre quis saber o que acontece quando aperto o modo turbo?
— ! Você vai dirigir na orla da praia! — Maggie alertou, recebendo uma expressão descontente de em resposta.
— Tá bem, vou com segurança. — cruzou os indicadores na frente dos lábios, deixando dois beijos estalados em cada lado para afirmar sua promessa e, em seguida, arrancou com o carro em direção ao píer que não ficava tão longe dali.
O entardecer aquarelava o céu em cores amarelas e alaranjadas, um vento um pouco mais frio do que o ideal permeava por aquela parte da cidade, mas nada que tornasse o clima desconfortável. dirigia pelas ruas de Brighton cantarolando qualquer música que começou a tocar assim que ligou o carro de , mas seu humor foi interrompido pelo toque de uma ligação desconhecida no painel do carro e, curiosa, resolveu apertar o botão que a autorizava a atender.
— Quem caralhos está dirigindo a porra do meu carro? — A voz de se fez presente em um tom desesperado e soltou uma risada divertida, fazendo uma leve curva para se aproximar da avenida principal onde ficava o píer. — Eu conheço essa risada, . — disse, reverberando sua voz pelos alto-falantes do veículo. — E conheço o seu histórico no volante, sabe que se eu encontrar um arranhão na lataria você estará em apuros, não sabe?
— Você ameaça demais, . — rebateu, ainda sorrindo divertida com a inquietude dele. — Prometo que tenho tudo sob controle.
— Faz anos desde que você decidiu estacionar o carro do meu pai no meio de uma cerca…— lembrou, notando seu carro próximo ao píer e se afastou dos amigos para encontrar . — Com certeza você melhorou, mas ainda sinto falta das boas libras que eu gastei no conserto.
— Em minha defesa, você estava me ensinando e, portanto, tem culpa completa na batida. — desafivelou o cinto assim que alinhou o carro do amigo em uma vaga, puxando sua bolsa do banco de trás e se preparando para deixar o veículo. — Foi um péssimo professor.
completou, deixando um sorriso ladino brincar em seus lábios e desligou o carro, assim como sua ligação com . Ao tentar abrir a porta para sair, no entanto, não conseguiu a destrancar. Forçou a maçaneta três vezes, franziu o cenho, confusa, e apertou o botão para dar partida no carro outra vez, não obtendo resposta alguma do veículo; a partir desse momento, então, começou a se desesperar: com o azar que tinha, provavelmente havia arranjado uma pane elétrica no carro moderno de e, com esse pensamento, sentiu todas as suas economias irem direto para a conta bancária do amigo.
Grunhiu irritada, apertando o botão de ignição repetidas vezes, tentando sair do carro e tamborilando o volante, indecisa se deveria, ou não, pedir ajuda a que, com certeza, gastaria uns bons minutos do dia com um sermão do tipo “eu avisei, ” em seus ouvidos; desistindo da ideia de ficar presa por mais tempo dentro das quatro rodas, alcançou seu celular e discou o número do mais velho.
— Ora, se não é a mal-agradecida! — atendeu em alto e bom som, brincando sobre a última frase que a amiga havia o direcionado.
— Não enche, . — revirou os olhos, suspirando forte. — Estou com problemas, seu carro resolveu me trancar e não estou conseguindo ligá-lo outra vez.
— Mesmo? — confirmou e sentiu um tom risonho em sua voz, mas decidiu ignorar. — Então temos um problemão, da última vez que aconteceu algo parecido fiquei esperando o suporte da seguradora por duas horas.
— O que? — questionou, apoiando a testa na palma de sua mão e equilibrando o celular na outra. — Eu não tenho a mínima condição de esperar duas horas dentro desse carro sem ventilação, debaixo desse calor! — Ela justificou, jogando o peso do corpo contra o banco. , que estava escondido e encostado na lataria traseira do veículo ao lado, fez uma careta ao segurar a vontade de rir outra vez, com o tom de voz que ela usou. — Sabe de uma coisa, ?
— Diz, linda. — Ele respondeu galanteador, identificando a personalidade mandona de dar as caras. Ela bufou alto.
— Se essas são as condições, você vai vir até aqui e quebrar o vidro do seu carro para que eu consiga escapar. — disse de maneira imperativa.
levantou as duas sobrancelhas e repuxou os lábios em um bico, impressionado com a audácia da mulher. Desligou a ligação, sem mais nem menos, assim como ela havia feito minutos atrás; discou o número dele de novo, cinco vezes seguidas, apenas para ouvir a voz estridente da secretária eletrônica indicando que a ligação cairia na caixa postal.
— Como pode ser tão… — Ela começaria uma lista de adjetivos não muito educados para descrever o amigo, não fosse o barulho de click que interrompeu o silêncio, junto à um corpo bastante conhecido irrompendo no banco do passageiro e batendo a porta em seguida. estava dentro do veículo, as mãos descansando em suas coxas, encarando a mulher com diversão. — Você me trancou aqui de propósito? — perguntou, apertando os olhos em sinal de ameaça.
— Continuando nossa conversa, …— Ele disse baixo, ignorando a pergunta da mais nova e inclinando-se em sua direção. — Acho que mais eficiente do que quebrar o vidro do carro, seria dar um basta nesse seu jeitinho marrento, não acha? — segurou a respiração, notando novidade em tais comportamentos e tom de voz de para com ela. Ele sorriu de lado, focando seus olhos nas irises solares da garota e estendendo seu braço até um botão pequeno e discreto, que ficava abaixo do volante. — Da próxima vez que quiser pegar meu carro por ser uma menininha petulante, lembre-se de desativar o modo de segurança. — pressionou o botão, ouvindo a voz da inteligência artificial atrelada ao seu carro confirmar a desativação. — Assim, eu não recebo alertas no telefone com a localização em tempo real do seu trajeto e não consigo controlar todas as funções do carro através do meu celular. — Ele finalizou, descendo os olhos do rosto da amiga para seu corpo, em um momento de distração. Arranhou a garganta, desviando o olhar ao perceber que ela levantou uma sobrancelha para ele, em questionamento.
— Menininha petulante? — perguntou, sentindo o sangue ferver. deu de ombros, alcançando a caixa de chicletes que guardava entre os bancos da frente e jogando um na boca, para disfarçar, mais uma vez, a ansiedade que estava sentindo ao estar caminhando dentro do campo minado .
— Você pode ser bem desobediente as vezes, . — respondeu devagar, dando ênfase no advérbio de intensidade. Ela riu, incrédula. — Mas não vou deixar isso ser um problema…— Ele disse leve, numa pose descontraída e instigante que nada condizia com o ritmo descompassado que seu coração batia ao perceber que estava, mesmo, dando início ao acordo que havia feito com ela. Inclinou-se vagarosamente na direção da mais nova, sussurrando contra seu rosto. — Porque estou igualmente disposto a mostrar para você todos os benefícios de ser uma boa garota. — Ele soprou, quase como um feitiço, arrepiando cada poro da pele de , que não soube disfarçar o rubor das bochechas, o acelerar da respiração e, muito menos, os poros arrepiados devido à dose alta de sedução contida na voz do moreno. — Reação curiosa, … — Ele disse com um sorriso cafajeste, recuperando o tom de voz regular e deixando seus olhos brilharem na direção da garota. — Acho que vamos nos dar bem nesse acordo. — Ele afirmou, lambendo os lábios devagar e notando que a atenção da mais nova foi chamada com sucesso. — Eu adoro falar sujo, sabia? — Ele continuou seu caminho, aproximando-se do ouvido de . — E, levando em consideração toda essa cadeia de reações que emanam do seu corpo, agora...— Ele riu curto, roçando os lábios na ponta da orelha da mais nova. — Você ama escutar.
E a partir dessa iniciativa, depois de ouvir a risada rouca e convencida de passar por seu pescoço e se afastar completamente, até que a porta do passageiro fosse aberta e fechada em um gesto rápido, indicando que ele não estava mais no veículo, suspirou. Uma lufada de ar alta, forte, nada resignada e desesperadora.
De duas a uma: aquele acordo seria seu maior erro...
Ou o melhor acerto de toda sua vida.
Capítulo Seis
O píer estava cheio, com barracas gastronômicas e tendas de artesanato se estendendo por toda a estrutura de ferro, Ryan e Cay estavam conversando em um tom de flerte há alguns metros de distância, Kate e Maggie saíram em direção a uma tenda com o aviso de um luau, que aconteceria em uma praia próxima dali alguns dias, Jeremy e Harper competiam em uma pista de dança improvisada e Thomas e Peter alimentavam gaivotas com o recém saco de donuts que haviam comprado.
e caminhavam lado a lado experimentando algumas comidas exóticas disponíveis nas barracas, deixando um pouco de lado o episódio do carro. De certa forma, causar reações positivas em era parte do combinado entre os dois e, ainda que ela não assumisse, o plano de Cay soava perfeito aos seus ouvidos, porque confiava veementemente no amigo. Haviam terminado de tomar uma garrafa de cerveja Thatcher juntos, quando parou a caminhada para amarrar o cadarço do tênis e rodou os olhos pelo local, parando em um ponto interessantemente específico. Um ponto alto, de cabelos propositalmente desgrenhados e um sorriso maroto direcionado a ela.
— Escuta: a partir de agora nosso relacionamento falso precisa urgentemente ser aberto. — avisou em um tom de diversão, avistando um dos jogadores do time de Brighton a encarar encostado em uma das tendas na orla da praia. estreitou os olhos em direção a ela, com um sorriso irônico nos lábios.
— Em que mundo você acha que eu dividiria minha maior sorte com outros caras, ?
— Essa sua sorte não existe, . Não estamos juntos. — Ela rebateu, provocando um riso dele. deu um empurrãozinho no ombro dela, em implicância.
— Mas você é mesmo minha maior sorte. — Ele disse, recebendo um estalo de memória e torcendo a boca, em seguida. — Exceto, quando você pulou da sacada do seu quarto para a minha e atrapalhou meus beijos com a Cindy, por causa daquele otário. — revirou os olhos e deu risada, lembrando dos acontecimentos tristes que envolveram aquele dia.
Oito anos antes, 20:30, Residência dos
“— Seus pais não voltam hoje? — Cindy perguntou acanhada e um pouco curiosa.
— Meu pai está de plantão essa noite e minha mãe foi visitar meus avós. — respondeu, puxando a garota para mais perto. — Quem sabe eu não te convenço a passar a noite aqui comigo?
— Você precisaria ser bem persuasivo… — Cindy sorriu de lado, sussurrando fraco.
— E se eu prometer te beijar gostoso a madrugada toda, hum? — arrastou os lábios pela boca da loira. Ela suspirou, aproximando seus narizes. — Você fica? — Ele perguntou com a voz rouca, puxando o lábio inferior de Cindy em uma mordida leve e provocante. A garota sorriu de lado, correspondendo ao beijo quente e molhado que havia iniciado, as mãos explorando o corpo um do outro e a vontade lasciva de finalizar o que começaram pulsava em suas veias, até que batidas fortes vindas da janela da sacada os fizeram interromper o momento, em um pulo assustado.
— Ele teve coragem de terminar comigo por telefone, ! — gritava do lado de fora, com a voz embargada de choro. O menino franziu o cenho, levantando-se de sua cama e destrancando a fechadura para que Vitoria entrasse em seu quarto. Ela tinha o rosto inchado devido as lágrimas incessantes e os cabelos desgrenhados, ao passo que andava de um lado para o outro na frente do amigo. — Semana passada estávamos bem, eu me declarei para ele naquela sorveteria e ele sorriu para mim, disse que também me amava, para depois sumir por três dias e me ligar dizendo que acabou. — esbravejou, jogando o celular de qualquer jeito em cima da cama do amigo e, só então, reparando que quase acertou Cindy, a paquera mais longa de : estava durando mais que duas semanas. — Ah, meu Deus. Eu estou atrapalhando vocês, não estou? — perguntou com a voz embolada.
— Não, eu já estava de saída. — Cindy se apressou, buscando sua bolsa no pé da cama de e se aproximando de , dando-lhe um abraço desajeitado. — Você se apaixonou pelo cara mais babaca do colégio, . O problema não é você. — Cindy sorriu doce para a garota e acenou para , que sibilou um pedido de desculpas e gesticulou que a ligaria mais tarde.
Assim que ouviu o baque da porta do quarto, suspirou e puxou para a ponta de seu colchão, sentando-se ao seu lado.
— Chegou o momento mais esperado por mim nos últimos meses…— falou, limpando a garganta antes de apontar para si mesmo, usando um tom de voz comedido. — Eu avisei, . — Ele disse, rindo divertido da feição odiosa que a amiga o lançou. Ele a guiou para o meio da cama, ainda achando graça do bico que ela sustentava nos lábios e a aconchegou nos seus braços, sentindo o cheiro que soltava dos cabelos dela o tomarem em uma sensação confortável de estar em casa. — Amanhã, prometo que faço ele tropeçar feio na quadra, o suficiente para um roxo decorar a cara de pau dele por uns dias. — disse, correndo os dedos pelo cabelo da amiga. Ela soltou um riso fraco, se aninhando mais nos braços dele.
— É muito bom ter um segurança particular para me defender de idiotas. — respondeu com a voz abafada, pois estava com o rosto afundado no travesseiro. — E um amigo que desista da transa da vez para consolar meu coração partido.
— Ah, cara…— exclamou descontente, batendo a mão na testa e rolando para o outro lado da cama. — Essa é, com certeza, a minha maior prova de amizade verdadeira, . — A mais nova deu risada, levantando-se e pegando uma camiseta no guarda-roupa de para usar como pijama, e uma calça de moletom que tinha, ao menos, duas vezes o seu tamanho. Se trocou no banheiro e voltou a deitar na cama do amigo, puxando os cobertores até a ponta do nariz e se enrolando tal qual um caracol, virando os olhos brilhantes para ele, que a observava de uma forma contemplativa.
— Avisou seus pais que veio aqui? Ou pulou a sacada como uma rebelde? — perguntou, notando que a amiga estava se aprontando para dormir com ele.
— Como uma rebelde. — Ela respondeu, fechando os olhos e se concentrando no conforto do colchão. soltou um suspiro de desaprovação e puxou o celular, mandando uma breve mensagem para a mãe de , avisando que a garota estava com ele e que dormiria por lá.
— Obrigada por não me expulsar do seu quarto, . Eu precisava confirmar que seres humanos movidos a testosterona não são alérgicos à minha existência. — disse e a olhou esquisito, gargalhando em seguida.
— Metade dos meus amigos da escola são doidos por você, . — Ele comentou, dando um peteleco na testa da garota, fazendo-a franzir o cenho. Estava fofa, com o edredom tampando metade do seu rosto e a expressão emburrada em direção ao melhor amigo. — Amanhã, vou chegar contando que você dormiu nos meus braços. — se desenroscou dos cobertores e jogou o travesseiro no rosto de .
— Diga isso e você será decapitado em praça pública. — Ela ameaçou, voltando a se deitar. Ele gargalhou, levantando-se para ir em direção a cozinha.
— Já jantou, senhora rabugenta? Ou está vivendo de desilusões e lágrimas?”
— Você não deveria jogar essas coisas na minha cara, quem usou meu ouvido para reclamar da Madeleine nos últimos 3 meses?
— Você não estava quase transando com ninguém, todas as vezes que eu fui à sua casa para reclamar dela. — deu de ombros, com uma feição divertida. — E, afinal, o que foi que mudou na dinâmica da nossa relação para você parar de pular sacadas e invadir meu quarto, roubar metade da minha coberta durante a noite e, especialmente, não dormir comigo em hipótese alguma depois desse episódio com Cindy? — segurou o riso.
— Estou dormindo com você desde que chegamos em Brighton, seu maluco.
— Não, você dorme com meus pés. Não comigo. — pontuou, referenciando a posição esquisita que escolheu dormir para dividir o quarto com ele.
— Tudo bem…— suspirou, sentando-se em um banco em frente à roda gigante, onde conseguia notar Thomas e Jeremy como duas crianças animadas, tentando furar a fila do brinquedo. — Eu vou contar um segredinho para você.
— Ora, ora…— exclamou e sorriu curioso, uma fileira de dentes brancos encarando , que o achou temporariamente esquisito. — O que você ocultou de mim em anos de amizade?
— Bom, foi mais por vergonha do que qualquer outra coisa. — disse, mordendo a ponta da unha e soltando um sorriso enviesado, observando o amigo pelo canto do olho. Ele sentiu algumas cambalhotas no estômago, mas com certeza havia sido o espetinho de legumes que comeu da barraquinha duvidosa no píer há pouco. Com certeza, ele repetia para si mesmo. — Mas, naquele dia em que James terminou comigo e eu dormi com você, de manhã… — começou a falar e mordeu a parte interna da bochecha, evitando olhar a todo custo. — Bem, você estava…estava…
— Estava o que? Com muito bafo? — perguntou, franzindo a testa sem entender onde queria chegar.
— Não, . — revirou os olhos, decidindo falar de uma vez. — Voceestavacomumvolumeestranho.
— O que? Fala mais devagar, .
— Você estava comumvolumeestranho.
— Eu estava com o que?
— Um volume estranho! — disse em alto e bom som, irritada por ter decidido falar sobre isso. Sempre se arrependia de contar coisas vergonhosas para ele, e ainda assim continuava com os mesmos hábitos. — Bem, não estranho, mas um volume. E nunca tinha acontecido antes então, bem, foi esquisito. Decidi não dormir mais com você desde então…— Foi uma questão de três segundos, para cair em uma gargalhada com direito a inclinar o rosto para trás em busca de alívio.
— Meu Deus! Eu sou tão gostoso assim que você ficou com medo do meu pau? — Ele perguntou entre risadas e arregalou os olhos, estapeando o braço de . — Porra, para de ser uma ogra!
— Você que precisa parar de ser um imbecil! Eu não tenho medo do seu pau! — disse alto, brigando com . Alguns pares de olhos a encararam em surpresa e desaprovação, fazendo o mais velho cair na gargalhada de novo. — Tá vendo como você me descontrola? — reclamou, bufando e tentando disfarçar o vexame que havia sido o diálogo gritado por ela.
— Ei, tudo bem, tudo bem…— a chamou, passando o braço pelo ombro da mulher. — Que bom que você não tem medo do meu melhor amigo, cara, porque se não teríamos problemas em continuar o nosso acordo. — soltou, despreocupado, como quem pergunta que horas são. o olhou resignada, arqueando uma sobrancelha, silenciosamente solicitando uma explicação. — O que você me pediu, nos obriga a cruzar um pouco o limite da amizade, . — disse, torcendo o pescoço. — E usando dessa desculpa agora, vou dizer: você é linda demais... — O elogio escorreu da boca de , com um sorriso ladino ilustrando seu rosto. — Gostosa demais, cheirosa demais para que eu possa garantir que volumes estranhos não apareçam durante nossos testes. — Ele finalizou, fazendo uma careta engraçada e se afastando um pouco da amiga, apenas para respirar um ar menos impregnado de .
— É muito estranho ouvir você me chamar de gostosa. — pontuou, fazendo rolar os olhos. — Me soa um pouco forçado.
— Han? Forçado? — a olhou como se fosse um alienígena. — Por que raios eu precisaria me forçar a chamar você de gostosa?
— Nunca tivemos esse tipo de conversa. Me soa estranho quando você fala, como se fosse uma mentira.
— , pelo amor. Eu não estou mentindo ou forçando, eu acho você gostosa.
— Ainda parece que você está dizendo isso como se estivesse programado para aumentar meu ego.
— Caralho, sério isso? — perguntou desolado e afirmou, olhando-o em desdém. — Tá legal, minha vez de te contar um segredinho. — o olhou curiosa. — Quer saber por que eu não beijei você na formatura da escola e corri descalça no gelo por alguns bons quarteirões?
— Porque você não me beijaria por causa de um joguinho inventado por idiotas do ensino médio. Você contou para mim, aquele dia na cozinha.
— Esse foi um dos motivos, teve um bem maior antes. — Ele disse, sorrindo esperto e respirando fundo. — Eu te busquei em casa no dia da formatura, certo?
— Sim?
— E você sabe da conversa que seu pai teve comigo antes de pedir para você descer as escadas para me encontrar?
— Meu pai teve uma conversa com você? — franziu o cenho, achando graça da confissão.
Seis anos antes, Residência dos , horas antes do baile de formatura
tirava o carro emprestado da garagem de seu pai, para estacionar em frente a casa de , bem ao lado da sua. Assim que alinhou as rodas com a calçada, deu uma última arrumada nos fios de cabelo pelo retrovisor e desceu do veículo, apressando seus passos até a porta dos . Não precisou tocar a campainha, porque a porta se abriu assim que se aproximou, revelando o pai de com um sorriso simpático.
— Boa noite, moleque! — O mais velho o saudou, junto a um peteleco na nuca. deu risada, afastando o braço de Adam e dando um soco fraco em seu ombro. Costumavam se cumprimentar de uma forma não tão usual, sempre que se viam. — Veio roubar a minha filha?
— Por algumas horas, mas eu a devolvo sã e salva. — piscou, colocando a mão no bolso da calça de alfaiataria, bisbilhotando além do ombro de Adam. — Ela está pronta?
— Terminando de se arrumar, entra aqui garoto. Para o meu escritório, vamos ter uma conversa. — Adam liberou a passagem de e fechou a porta, tendo o mais novo em seu encalço com uma expressão confusa, devido ao tom incisivo utilizado pelo pai da melhor amiga. — Aceita uma dose de whiskey?
— Ahm… — franziu o cenho, detectando aquilo como um tipo de teste. — Não, senhor. Vou dirigir sua filha para o baile. — Ele respondeu, maroto. Adam soltou uma risada gostosa, servindo-se do líquido escuro.
— Bom, muito bom. Garoto esperto. — Adam o parabenizou, jogando-se sentado em uma das poltronas de sua sala. — Quero só te preparar para não morrer do coração quando aparecer. — inclinou a cabeça para o lado, confuso. — Qual é, . Eu também sou um homem apaixonado, consigo identificar os sinais que você dá.
— O que? — questionou, rindo desacreditado. — De onde você tirou isso? Eu não sinto nada romântico pela .
— Ah, deixe-me corrigir. — Adam rolou os olhos, segurando o riso ao completar. — Eu também já fui um tapado apaixonado, consigo identificar os sinais. — Adam gargalhou do rosto confuso de , e se aproximou do mais novo. — Olha, você vem aqui em casa quase todo dia, ou vice-versa, porque parece que vocês dois nasceram grudados em cola. — Adam torceu a boca, agora repreendendo um pouco a convivência extrema. — E ela sempre corre chorando para você quando um babaca quebra o coração dela, como aquele tal de Janis.
— James, o nome dele é James. — corrigiu, rindo e Adam bufou, abanando o ar em indiferença.
— E o mais bizarro: vocês simplesmente dormem com a câmera do celular ligada um para o outro. — Adam pontuou, fazendo corar um pouco. — Peguei isso acontecendo duas vezes na semana passada, porque fui apagar a luz do quarto dela e vi você dormindo de boca aberta pela tela do celular. — Adam bebeu mais um gole do whiskey e encarou . — Então, você vai me desculpar, garoto, mas meus quarenta e três anos de vida não me deixam fechar os olhos para coisas que são óbvias.
— Olha, Adam, eu…
— Mas, veja bem, você está certo em ignorar isso. São muito novos, e tudo tem seu tempo correto. A maneira certa de acontecer, com a maturidade necessária. — Adam continuou o discurso, ouvindo a risada de e de sua esposa no andar de cima. — Mas, eu já vi e ela está deslumbrante, moleque. E, sei muito bem que, o pós dessas festas de formatura são cheios de bebida, com muita curtição e falta de juízo. — Adam apontou o dedo para o mais novo, como se o culpasse por todos os pecados do mundo. ergueu a sobrancelha, levemente ofendido. — E meu maior alerta para você hoje é: não deixe seus instintos adolescentes causarem arrependimentos amanhã.
— Agradeço as palavras, Ad. Mas tudo o que existe e sempre existiu entre mim e sua filha, é amizade. Talvez um pouco mais melosa do que o necessário…— confessou, dando de ombros. — Mas eu e nos damos muito bem, então acho que é natural sempre estarmos juntos. Aposto que ela me vê como uma de suas amigas; não existe, mesmo, nada entre nós dois.
— Certo, e você? Vê ela como um dos seus parceiros de quadra brutamontes, também?
— Tenho meus amigos brutamontes zumbindo no meu ouvido o dia todo com milhares de elogios para ela, como ela é bonita; como ela é simpática; como ela é sexy;
— Ei! Modos!
— Isso não sou eu quem falo! São meus amigos!
— Ora, me respeite! Não me faça de bobo, você pensa o mesmo!
— Bom, eu penso os dois primeiros. O terceiro eu nunca reparei…
— E nem vai reparar!
— Nem vou reparar! — respondeu ao mesmo tempo, suspirando ao sair da enrascada que se meteu sem querer. — O que quero dizer é que não consigo olhar como um brutamontes, mas não a olho com interesse romântico. Somos amigos desde sempre, Adam. Por que você está, com todo o respeito, enchendo meu saco hoje? — soltou a pergunta, impaciente com aquele diálogo cansativo e sem nexo.
— Porque quando ela descer as escadas, alguma parte de você vai repensar essa amizade toda. — Adam disse, com um sorriso divertido.”
— E, puta que pariu, quando você desceu aquela escada, caralho…você estava tão maravilhosa. — disse com um sorriso encantado, olhando para o céu estrelado de Brighton. — Que eu vergonhosamente repensei mesmo nossa amizade, . Eu me perguntei durante o baile todo como eu não era mais um dos meus amigos babões e apaixonados por , assistindo você naquele vestido prata, com o batom emoldurando o sorriso mais bonito do mundo. — disse, dedicado a fazer acreditar no que sentiu aquela noite. — Quando aquele jogo esquisito insinuou que eu te beijasse, eu entrei em curtocircuito. Minha mente só sabia surfar entre o alerta do seu pai, e aquele vestido que te desenhava. O alerta do seu pai, e a sua boca pecaminosamente vermelha. O alerta do seu pai, e seus olhos cheios de expectativa. O alerta do seu pai, e a gente brigando quando crianças porque você queria assistir Clube das Winx e eu, Dragon Ball Z. O alerta do seu pai, e o possível arrependimento no dia seguinte. — lambeu os lábios, respirando fundo e virando o rosto para ela. — Por isso eu preferi correr, . Imagina o tamanho da merda se eu gostasse do seu beijo, tanto quanto eu já gosto de você? — Ele ponderou, arqueando uma sobrancelha.
— Eu… — começou engolindo em seco. Seus sentimentos estavam uma bagunça, mas sentia seu coração lisonjeado com tudo o que havia escutado. se aproximou, levando os dedos para a nuca da amiga, em um carinho confortável. Ela suspirou discretamente, lambendo os lábios antes de continuar. — Eu não esperava ouvir nada disso. — Ela disse, em meio a um sorriso pequeno.
— Fica tranquila, . — disse, se aproximando um pouco mais dela. — No dia seguinte, quando você acordou vomitando de ressaca no banheiro, com a maquiagem de um panda e o cabelo cheirando suor, o encanto passou tão rápido quanto veio. — disse, se afastando e caindo na risada com a cara de indignação que o lançou.
— Você não cansa de ser babaca?
— está sendo babaca? — Margot perguntou, chegando próximo aos amigos no meio da conversa, junto com Kate. acenou em afirmação em direção a elas e olhou para , tentando fazê-lo calar a boca sobre o que conversavam antes.
— Mas, se não fosse o alerta do seu pai buzinando na minha cabeça a cada cinco segundos, … — ignorou as perguntas e presença das outras amigas, continuando o discurso para . — Usando a desculpa daquele joguinho idiota, eu teria te beijado a noite toda. — Ele confessou, piscando em direção à garota e se levantando para ir até Jeremy e Thomas, não sem antes roubar um punhado de pipoca da embalagem de Kate, que tinha os olhos arregalados com o que tinha escutado.
— Caramba…— Maggie comentou, abanando-se teatralmente enquanto encarava, incrédula, as costas largas do amigo se distanciarem cada vez mais.
…
— Espera, então, você mentiu para mim?
— Parcialmente, só não contei que fui eu quem terminei. — Madeleine respondeu, enquanto se arrumava. — Porque você me encheria de perguntas e eu estava sem saco. — Ally rolou os olhos, sentando-se na ponta da cama e observando a amiga.
— Mas, se você quem terminou e ele assumiu um romance com a logo em seguida…
— Ele fez o que? — Madeleine franziu o cenho, largando a chapinha em cima da cômoda.
— Ele e estão namorando, Maddie. Pelo menos foi o que me disseram quando notaram você entrando no estádio. Te evitaram a todo custo, não percebeu
— Então…— Madeleine sentia as engrenagens do seu cérebro trabalharem com afinco. — Eu fui corna em 70% do tempo que estivemos juntos? Porque sempre era aqui, lá, , , ... — Maddie rolou os olhos, respirando fundo e se concentrando na maquiagem. — Eu deveria ter suspeitado, ninguém guarda uma polaroid da melhor amiga na carteira.
— Tá brincando que ele guardava uma foto da na carteira, enquanto estava com você?
— Eu vi no dia que terminamos, ele deixou a carteira cair e uma foto dos dois se abraçando e sorrindo um para o outro piscou na minha direção, praticamente. — Madeleine explicou.
— E por que você não parece tão indignada quanto eu estaria, se tivesse descoberto isso?
— Porque eu também traí o . — Madeleine confessou e a boca de Ally foi parar no chão. — Me envolvi com um cara de Ohio que estava de passagem por Londres, quando eu passei um fim de semana por lá. Foi fugaz, arrebatador, uma coisa de outro mundo, Ally. — Madeleine suspirou. — Não me senti bem quando voltei e precisei fingir para o que estava tudo certo. Experimentando com outra pessoa, eu tive certeza do que não tinha com ele: cumplicidade. E esse cara, Brad, me convidou para passar as férias de verão em Ohio antes de ir embora. Eu ponderei um pouco antes de tomar a decisão, mas não conseguimos nos enganar por muito tempo e eu sabia que não gostava mais do . — Madeleine explicou e Ally torceu a boca, tentando entender o lado da amiga. — E, honestamente falando, do eu espero qualquer coisa, porque ele é homem. — Madeleine deu risada, usando um tom de obviedade. — Mas, nunca pensei que se rebaixaria ao papel de vagabunda. Afinal, se eu não tivesse terminado por culpa de tê-lo traído, eles pretendiam continuar me fazendo de idiota até quando?
e caminhavam lado a lado experimentando algumas comidas exóticas disponíveis nas barracas, deixando um pouco de lado o episódio do carro. De certa forma, causar reações positivas em era parte do combinado entre os dois e, ainda que ela não assumisse, o plano de Cay soava perfeito aos seus ouvidos, porque confiava veementemente no amigo. Haviam terminado de tomar uma garrafa de cerveja Thatcher juntos, quando parou a caminhada para amarrar o cadarço do tênis e rodou os olhos pelo local, parando em um ponto interessantemente específico. Um ponto alto, de cabelos propositalmente desgrenhados e um sorriso maroto direcionado a ela.
— Escuta: a partir de agora nosso relacionamento falso precisa urgentemente ser aberto. — avisou em um tom de diversão, avistando um dos jogadores do time de Brighton a encarar encostado em uma das tendas na orla da praia. estreitou os olhos em direção a ela, com um sorriso irônico nos lábios.
— Em que mundo você acha que eu dividiria minha maior sorte com outros caras, ?
— Essa sua sorte não existe, . Não estamos juntos. — Ela rebateu, provocando um riso dele. deu um empurrãozinho no ombro dela, em implicância.
— Mas você é mesmo minha maior sorte. — Ele disse, recebendo um estalo de memória e torcendo a boca, em seguida. — Exceto, quando você pulou da sacada do seu quarto para a minha e atrapalhou meus beijos com a Cindy, por causa daquele otário. — revirou os olhos e deu risada, lembrando dos acontecimentos tristes que envolveram aquele dia.
Oito anos antes, 20:30, Residência dos
“— Seus pais não voltam hoje? — Cindy perguntou acanhada e um pouco curiosa.
— Meu pai está de plantão essa noite e minha mãe foi visitar meus avós. — respondeu, puxando a garota para mais perto. — Quem sabe eu não te convenço a passar a noite aqui comigo?
— Você precisaria ser bem persuasivo… — Cindy sorriu de lado, sussurrando fraco.
— E se eu prometer te beijar gostoso a madrugada toda, hum? — arrastou os lábios pela boca da loira. Ela suspirou, aproximando seus narizes. — Você fica? — Ele perguntou com a voz rouca, puxando o lábio inferior de Cindy em uma mordida leve e provocante. A garota sorriu de lado, correspondendo ao beijo quente e molhado que havia iniciado, as mãos explorando o corpo um do outro e a vontade lasciva de finalizar o que começaram pulsava em suas veias, até que batidas fortes vindas da janela da sacada os fizeram interromper o momento, em um pulo assustado.
— Ele teve coragem de terminar comigo por telefone, ! — gritava do lado de fora, com a voz embargada de choro. O menino franziu o cenho, levantando-se de sua cama e destrancando a fechadura para que Vitoria entrasse em seu quarto. Ela tinha o rosto inchado devido as lágrimas incessantes e os cabelos desgrenhados, ao passo que andava de um lado para o outro na frente do amigo. — Semana passada estávamos bem, eu me declarei para ele naquela sorveteria e ele sorriu para mim, disse que também me amava, para depois sumir por três dias e me ligar dizendo que acabou. — esbravejou, jogando o celular de qualquer jeito em cima da cama do amigo e, só então, reparando que quase acertou Cindy, a paquera mais longa de : estava durando mais que duas semanas. — Ah, meu Deus. Eu estou atrapalhando vocês, não estou? — perguntou com a voz embolada.
— Não, eu já estava de saída. — Cindy se apressou, buscando sua bolsa no pé da cama de e se aproximando de , dando-lhe um abraço desajeitado. — Você se apaixonou pelo cara mais babaca do colégio, . O problema não é você. — Cindy sorriu doce para a garota e acenou para , que sibilou um pedido de desculpas e gesticulou que a ligaria mais tarde.
Assim que ouviu o baque da porta do quarto, suspirou e puxou para a ponta de seu colchão, sentando-se ao seu lado.
— Chegou o momento mais esperado por mim nos últimos meses…— falou, limpando a garganta antes de apontar para si mesmo, usando um tom de voz comedido. — Eu avisei, . — Ele disse, rindo divertido da feição odiosa que a amiga o lançou. Ele a guiou para o meio da cama, ainda achando graça do bico que ela sustentava nos lábios e a aconchegou nos seus braços, sentindo o cheiro que soltava dos cabelos dela o tomarem em uma sensação confortável de estar em casa. — Amanhã, prometo que faço ele tropeçar feio na quadra, o suficiente para um roxo decorar a cara de pau dele por uns dias. — disse, correndo os dedos pelo cabelo da amiga. Ela soltou um riso fraco, se aninhando mais nos braços dele.
— É muito bom ter um segurança particular para me defender de idiotas. — respondeu com a voz abafada, pois estava com o rosto afundado no travesseiro. — E um amigo que desista da transa da vez para consolar meu coração partido.
— Ah, cara…— exclamou descontente, batendo a mão na testa e rolando para o outro lado da cama. — Essa é, com certeza, a minha maior prova de amizade verdadeira, . — A mais nova deu risada, levantando-se e pegando uma camiseta no guarda-roupa de para usar como pijama, e uma calça de moletom que tinha, ao menos, duas vezes o seu tamanho. Se trocou no banheiro e voltou a deitar na cama do amigo, puxando os cobertores até a ponta do nariz e se enrolando tal qual um caracol, virando os olhos brilhantes para ele, que a observava de uma forma contemplativa.
— Avisou seus pais que veio aqui? Ou pulou a sacada como uma rebelde? — perguntou, notando que a amiga estava se aprontando para dormir com ele.
— Como uma rebelde. — Ela respondeu, fechando os olhos e se concentrando no conforto do colchão. soltou um suspiro de desaprovação e puxou o celular, mandando uma breve mensagem para a mãe de , avisando que a garota estava com ele e que dormiria por lá.
— Obrigada por não me expulsar do seu quarto, . Eu precisava confirmar que seres humanos movidos a testosterona não são alérgicos à minha existência. — disse e a olhou esquisito, gargalhando em seguida.
— Metade dos meus amigos da escola são doidos por você, . — Ele comentou, dando um peteleco na testa da garota, fazendo-a franzir o cenho. Estava fofa, com o edredom tampando metade do seu rosto e a expressão emburrada em direção ao melhor amigo. — Amanhã, vou chegar contando que você dormiu nos meus braços. — se desenroscou dos cobertores e jogou o travesseiro no rosto de .
— Diga isso e você será decapitado em praça pública. — Ela ameaçou, voltando a se deitar. Ele gargalhou, levantando-se para ir em direção a cozinha.
— Já jantou, senhora rabugenta? Ou está vivendo de desilusões e lágrimas?”
— Você não deveria jogar essas coisas na minha cara, quem usou meu ouvido para reclamar da Madeleine nos últimos 3 meses?
— Você não estava quase transando com ninguém, todas as vezes que eu fui à sua casa para reclamar dela. — deu de ombros, com uma feição divertida. — E, afinal, o que foi que mudou na dinâmica da nossa relação para você parar de pular sacadas e invadir meu quarto, roubar metade da minha coberta durante a noite e, especialmente, não dormir comigo em hipótese alguma depois desse episódio com Cindy? — segurou o riso.
— Estou dormindo com você desde que chegamos em Brighton, seu maluco.
— Não, você dorme com meus pés. Não comigo. — pontuou, referenciando a posição esquisita que escolheu dormir para dividir o quarto com ele.
— Tudo bem…— suspirou, sentando-se em um banco em frente à roda gigante, onde conseguia notar Thomas e Jeremy como duas crianças animadas, tentando furar a fila do brinquedo. — Eu vou contar um segredinho para você.
— Ora, ora…— exclamou e sorriu curioso, uma fileira de dentes brancos encarando , que o achou temporariamente esquisito. — O que você ocultou de mim em anos de amizade?
— Bom, foi mais por vergonha do que qualquer outra coisa. — disse, mordendo a ponta da unha e soltando um sorriso enviesado, observando o amigo pelo canto do olho. Ele sentiu algumas cambalhotas no estômago, mas com certeza havia sido o espetinho de legumes que comeu da barraquinha duvidosa no píer há pouco. Com certeza, ele repetia para si mesmo. — Mas, naquele dia em que James terminou comigo e eu dormi com você, de manhã… — começou a falar e mordeu a parte interna da bochecha, evitando olhar a todo custo. — Bem, você estava…estava…
— Estava o que? Com muito bafo? — perguntou, franzindo a testa sem entender onde queria chegar.
— Não, . — revirou os olhos, decidindo falar de uma vez. — Voceestavacomumvolumeestranho.
— O que? Fala mais devagar, .
— Você estava comumvolumeestranho.
— Eu estava com o que?
— Um volume estranho! — disse em alto e bom som, irritada por ter decidido falar sobre isso. Sempre se arrependia de contar coisas vergonhosas para ele, e ainda assim continuava com os mesmos hábitos. — Bem, não estranho, mas um volume. E nunca tinha acontecido antes então, bem, foi esquisito. Decidi não dormir mais com você desde então…— Foi uma questão de três segundos, para cair em uma gargalhada com direito a inclinar o rosto para trás em busca de alívio.
— Meu Deus! Eu sou tão gostoso assim que você ficou com medo do meu pau? — Ele perguntou entre risadas e arregalou os olhos, estapeando o braço de . — Porra, para de ser uma ogra!
— Você que precisa parar de ser um imbecil! Eu não tenho medo do seu pau! — disse alto, brigando com . Alguns pares de olhos a encararam em surpresa e desaprovação, fazendo o mais velho cair na gargalhada de novo. — Tá vendo como você me descontrola? — reclamou, bufando e tentando disfarçar o vexame que havia sido o diálogo gritado por ela.
— Ei, tudo bem, tudo bem…— a chamou, passando o braço pelo ombro da mulher. — Que bom que você não tem medo do meu melhor amigo, cara, porque se não teríamos problemas em continuar o nosso acordo. — soltou, despreocupado, como quem pergunta que horas são. o olhou resignada, arqueando uma sobrancelha, silenciosamente solicitando uma explicação. — O que você me pediu, nos obriga a cruzar um pouco o limite da amizade, . — disse, torcendo o pescoço. — E usando dessa desculpa agora, vou dizer: você é linda demais... — O elogio escorreu da boca de , com um sorriso ladino ilustrando seu rosto. — Gostosa demais, cheirosa demais para que eu possa garantir que volumes estranhos não apareçam durante nossos testes. — Ele finalizou, fazendo uma careta engraçada e se afastando um pouco da amiga, apenas para respirar um ar menos impregnado de .
— É muito estranho ouvir você me chamar de gostosa. — pontuou, fazendo rolar os olhos. — Me soa um pouco forçado.
— Han? Forçado? — a olhou como se fosse um alienígena. — Por que raios eu precisaria me forçar a chamar você de gostosa?
— Nunca tivemos esse tipo de conversa. Me soa estranho quando você fala, como se fosse uma mentira.
— , pelo amor. Eu não estou mentindo ou forçando, eu acho você gostosa.
— Ainda parece que você está dizendo isso como se estivesse programado para aumentar meu ego.
— Caralho, sério isso? — perguntou desolado e afirmou, olhando-o em desdém. — Tá legal, minha vez de te contar um segredinho. — o olhou curiosa. — Quer saber por que eu não beijei você na formatura da escola e corri descalça no gelo por alguns bons quarteirões?
— Porque você não me beijaria por causa de um joguinho inventado por idiotas do ensino médio. Você contou para mim, aquele dia na cozinha.
— Esse foi um dos motivos, teve um bem maior antes. — Ele disse, sorrindo esperto e respirando fundo. — Eu te busquei em casa no dia da formatura, certo?
— Sim?
— E você sabe da conversa que seu pai teve comigo antes de pedir para você descer as escadas para me encontrar?
— Meu pai teve uma conversa com você? — franziu o cenho, achando graça da confissão.
Seis anos antes, Residência dos , horas antes do baile de formatura
tirava o carro emprestado da garagem de seu pai, para estacionar em frente a casa de , bem ao lado da sua. Assim que alinhou as rodas com a calçada, deu uma última arrumada nos fios de cabelo pelo retrovisor e desceu do veículo, apressando seus passos até a porta dos . Não precisou tocar a campainha, porque a porta se abriu assim que se aproximou, revelando o pai de com um sorriso simpático.
— Boa noite, moleque! — O mais velho o saudou, junto a um peteleco na nuca. deu risada, afastando o braço de Adam e dando um soco fraco em seu ombro. Costumavam se cumprimentar de uma forma não tão usual, sempre que se viam. — Veio roubar a minha filha?
— Por algumas horas, mas eu a devolvo sã e salva. — piscou, colocando a mão no bolso da calça de alfaiataria, bisbilhotando além do ombro de Adam. — Ela está pronta?
— Terminando de se arrumar, entra aqui garoto. Para o meu escritório, vamos ter uma conversa. — Adam liberou a passagem de e fechou a porta, tendo o mais novo em seu encalço com uma expressão confusa, devido ao tom incisivo utilizado pelo pai da melhor amiga. — Aceita uma dose de whiskey?
— Ahm… — franziu o cenho, detectando aquilo como um tipo de teste. — Não, senhor. Vou dirigir sua filha para o baile. — Ele respondeu, maroto. Adam soltou uma risada gostosa, servindo-se do líquido escuro.
— Bom, muito bom. Garoto esperto. — Adam o parabenizou, jogando-se sentado em uma das poltronas de sua sala. — Quero só te preparar para não morrer do coração quando aparecer. — inclinou a cabeça para o lado, confuso. — Qual é, . Eu também sou um homem apaixonado, consigo identificar os sinais que você dá.
— O que? — questionou, rindo desacreditado. — De onde você tirou isso? Eu não sinto nada romântico pela .
— Ah, deixe-me corrigir. — Adam rolou os olhos, segurando o riso ao completar. — Eu também já fui um tapado apaixonado, consigo identificar os sinais. — Adam gargalhou do rosto confuso de , e se aproximou do mais novo. — Olha, você vem aqui em casa quase todo dia, ou vice-versa, porque parece que vocês dois nasceram grudados em cola. — Adam torceu a boca, agora repreendendo um pouco a convivência extrema. — E ela sempre corre chorando para você quando um babaca quebra o coração dela, como aquele tal de Janis.
— James, o nome dele é James. — corrigiu, rindo e Adam bufou, abanando o ar em indiferença.
— E o mais bizarro: vocês simplesmente dormem com a câmera do celular ligada um para o outro. — Adam pontuou, fazendo corar um pouco. — Peguei isso acontecendo duas vezes na semana passada, porque fui apagar a luz do quarto dela e vi você dormindo de boca aberta pela tela do celular. — Adam bebeu mais um gole do whiskey e encarou . — Então, você vai me desculpar, garoto, mas meus quarenta e três anos de vida não me deixam fechar os olhos para coisas que são óbvias.
— Olha, Adam, eu…
— Mas, veja bem, você está certo em ignorar isso. São muito novos, e tudo tem seu tempo correto. A maneira certa de acontecer, com a maturidade necessária. — Adam continuou o discurso, ouvindo a risada de e de sua esposa no andar de cima. — Mas, eu já vi e ela está deslumbrante, moleque. E, sei muito bem que, o pós dessas festas de formatura são cheios de bebida, com muita curtição e falta de juízo. — Adam apontou o dedo para o mais novo, como se o culpasse por todos os pecados do mundo. ergueu a sobrancelha, levemente ofendido. — E meu maior alerta para você hoje é: não deixe seus instintos adolescentes causarem arrependimentos amanhã.
— Agradeço as palavras, Ad. Mas tudo o que existe e sempre existiu entre mim e sua filha, é amizade. Talvez um pouco mais melosa do que o necessário…— confessou, dando de ombros. — Mas eu e nos damos muito bem, então acho que é natural sempre estarmos juntos. Aposto que ela me vê como uma de suas amigas; não existe, mesmo, nada entre nós dois.
— Certo, e você? Vê ela como um dos seus parceiros de quadra brutamontes, também?
— Tenho meus amigos brutamontes zumbindo no meu ouvido o dia todo com milhares de elogios para ela, como ela é bonita; como ela é simpática; como ela é sexy;
— Ei! Modos!
— Isso não sou eu quem falo! São meus amigos!
— Ora, me respeite! Não me faça de bobo, você pensa o mesmo!
— Bom, eu penso os dois primeiros. O terceiro eu nunca reparei…
— E nem vai reparar!
— Nem vou reparar! — respondeu ao mesmo tempo, suspirando ao sair da enrascada que se meteu sem querer. — O que quero dizer é que não consigo olhar como um brutamontes, mas não a olho com interesse romântico. Somos amigos desde sempre, Adam. Por que você está, com todo o respeito, enchendo meu saco hoje? — soltou a pergunta, impaciente com aquele diálogo cansativo e sem nexo.
— Porque quando ela descer as escadas, alguma parte de você vai repensar essa amizade toda. — Adam disse, com um sorriso divertido.”
— E, puta que pariu, quando você desceu aquela escada, caralho…você estava tão maravilhosa. — disse com um sorriso encantado, olhando para o céu estrelado de Brighton. — Que eu vergonhosamente repensei mesmo nossa amizade, . Eu me perguntei durante o baile todo como eu não era mais um dos meus amigos babões e apaixonados por , assistindo você naquele vestido prata, com o batom emoldurando o sorriso mais bonito do mundo. — disse, dedicado a fazer acreditar no que sentiu aquela noite. — Quando aquele jogo esquisito insinuou que eu te beijasse, eu entrei em curtocircuito. Minha mente só sabia surfar entre o alerta do seu pai, e aquele vestido que te desenhava. O alerta do seu pai, e a sua boca pecaminosamente vermelha. O alerta do seu pai, e seus olhos cheios de expectativa. O alerta do seu pai, e a gente brigando quando crianças porque você queria assistir Clube das Winx e eu, Dragon Ball Z. O alerta do seu pai, e o possível arrependimento no dia seguinte. — lambeu os lábios, respirando fundo e virando o rosto para ela. — Por isso eu preferi correr, . Imagina o tamanho da merda se eu gostasse do seu beijo, tanto quanto eu já gosto de você? — Ele ponderou, arqueando uma sobrancelha.
— Eu… — começou engolindo em seco. Seus sentimentos estavam uma bagunça, mas sentia seu coração lisonjeado com tudo o que havia escutado. se aproximou, levando os dedos para a nuca da amiga, em um carinho confortável. Ela suspirou discretamente, lambendo os lábios antes de continuar. — Eu não esperava ouvir nada disso. — Ela disse, em meio a um sorriso pequeno.
— Fica tranquila, . — disse, se aproximando um pouco mais dela. — No dia seguinte, quando você acordou vomitando de ressaca no banheiro, com a maquiagem de um panda e o cabelo cheirando suor, o encanto passou tão rápido quanto veio. — disse, se afastando e caindo na risada com a cara de indignação que o lançou.
— Você não cansa de ser babaca?
— está sendo babaca? — Margot perguntou, chegando próximo aos amigos no meio da conversa, junto com Kate. acenou em afirmação em direção a elas e olhou para , tentando fazê-lo calar a boca sobre o que conversavam antes.
— Mas, se não fosse o alerta do seu pai buzinando na minha cabeça a cada cinco segundos, … — ignorou as perguntas e presença das outras amigas, continuando o discurso para . — Usando a desculpa daquele joguinho idiota, eu teria te beijado a noite toda. — Ele confessou, piscando em direção à garota e se levantando para ir até Jeremy e Thomas, não sem antes roubar um punhado de pipoca da embalagem de Kate, que tinha os olhos arregalados com o que tinha escutado.
— Caramba…— Maggie comentou, abanando-se teatralmente enquanto encarava, incrédula, as costas largas do amigo se distanciarem cada vez mais.
— Espera, então, você mentiu para mim?
— Parcialmente, só não contei que fui eu quem terminei. — Madeleine respondeu, enquanto se arrumava. — Porque você me encheria de perguntas e eu estava sem saco. — Ally rolou os olhos, sentando-se na ponta da cama e observando a amiga.
— Mas, se você quem terminou e ele assumiu um romance com a logo em seguida…
— Ele fez o que? — Madeleine franziu o cenho, largando a chapinha em cima da cômoda.
— Ele e estão namorando, Maddie. Pelo menos foi o que me disseram quando notaram você entrando no estádio. Te evitaram a todo custo, não percebeu
— Então…— Madeleine sentia as engrenagens do seu cérebro trabalharem com afinco. — Eu fui corna em 70% do tempo que estivemos juntos? Porque sempre era aqui, lá, , , ... — Maddie rolou os olhos, respirando fundo e se concentrando na maquiagem. — Eu deveria ter suspeitado, ninguém guarda uma polaroid da melhor amiga na carteira.
— Tá brincando que ele guardava uma foto da na carteira, enquanto estava com você?
— Eu vi no dia que terminamos, ele deixou a carteira cair e uma foto dos dois se abraçando e sorrindo um para o outro piscou na minha direção, praticamente. — Madeleine explicou.
— E por que você não parece tão indignada quanto eu estaria, se tivesse descoberto isso?
— Porque eu também traí o . — Madeleine confessou e a boca de Ally foi parar no chão. — Me envolvi com um cara de Ohio que estava de passagem por Londres, quando eu passei um fim de semana por lá. Foi fugaz, arrebatador, uma coisa de outro mundo, Ally. — Madeleine suspirou. — Não me senti bem quando voltei e precisei fingir para o que estava tudo certo. Experimentando com outra pessoa, eu tive certeza do que não tinha com ele: cumplicidade. E esse cara, Brad, me convidou para passar as férias de verão em Ohio antes de ir embora. Eu ponderei um pouco antes de tomar a decisão, mas não conseguimos nos enganar por muito tempo e eu sabia que não gostava mais do . — Madeleine explicou e Ally torceu a boca, tentando entender o lado da amiga. — E, honestamente falando, do eu espero qualquer coisa, porque ele é homem. — Madeleine deu risada, usando um tom de obviedade. — Mas, nunca pensei que se rebaixaria ao papel de vagabunda. Afinal, se eu não tivesse terminado por culpa de tê-lo traído, eles pretendiam continuar me fazendo de idiota até quando?
Continua...
Nota da autora: Oi, raios de sol! Espero que estejam morrendo de amores com os diálogos desse capítulo tanto quando eu morri quando estava escrevendo. E uma gaivota maluca da praia de Brighton me contou que o furacão Madeleine vai passar a qualquer momento para bagunçar um pouco toda essa maré tranquila e baixa. Vejo vocês e breve!
Outras Fanfics:
→ 09. Last Cigarette.
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