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Finalizada em: 12/06/2021

Capítulo I — The Interview

[De: Tom Holland]
Ei, tudo certo para amanhã de manhã?
[Para: Tom Holland]
Acho engraçado que as vezes se esquece que a Marvel me grudou contigo, Holland.
É claro que está tudo certo.

[De: Tom Holland]
Mentira.
Todo mundo sabe que você promove esse filme só pra ficar pertinho de mim.
[Para: Tom Holland]
Boa noite, Tom. ~

deixou o celular sobre as cobertas com um suspiro cansado. Havia sido um longo dia e uma semana mais longa ainda. Tudo isso, pois era o seu rosto que estampava os tabloides de Nova Iorque e os mais variados sites de fofoca no mundo. Após uma leitura de roteiro do mais novo filme em que fora escalada, ela havia cedido ao convite e ido almoçar com o resto do elenco. E é claro que os paparazzi não fotografaram a mesa como um todo, apenas se dedicando em flagrar cada vez que ela murmurava algo para Dylan O’Brien sobre o papel, a leitura do livro e como estava animada por interpretar gêmeas. Então, como boatos correm soltos pela luxuosa Big Apple, todos já apostavam no affair.
Ser o novo rosto da Marvel tinha as suas consequências.
Todos haviam lhe congratulado ou questionado sobre o “romance”. Antony Mackie tinha mandado uma montagem dela e Dylan se beijando e o Downey já tinha prometido ameaçar o rapaz para não mexer com sua filha fictícia. Cada amigo ou colega havia feito seu papel para pôr mais lenha na fogueira, menos Tom (Tom Holland, no caso. Não o Hiddleston, que segurava portas para ela e era um doce); Holland sempre cavalheiro e educado demais para mencionar algo que fosse a deixar desconfortável mesmo que por uma mensagem de texto. Lhe questionar sobre um compromisso que sabia que ela jamais perderia era a sua forma sutil de dizer que se importava além do que a mídia achava. Que o tal rumor não era tão importante assim.
Sarah Hastings havia alertado sobre isso — havia dito para tomar cuidado com os homens na indústria e os boatos que destruiriam uma carreira com facilidade, cumprindo com seu dever de agente e sempre repassando tudo o que a agência de dissesse. Mas, ainda com o estrelato e o mundo buscando defeitos em sua história, não podia evitar breves deslizes como o do almoço. Cochichar com um colega de elenco deveria ser normal igual era enquanto gravava com Tom. Devia poder gargalhar sem precisar cobrir a boca e dar soquinhos no co-star só por diversão entre takes. Porém, nem tudo é como gravar com ele. E ela sabia não poder reclamar, pois havia pedido por isso, é claro: “Quero papeis mais distintos, Sarah. Chega de ser a garotinha da Marvel e a namoradinha do Holland.”
— Namoradinha do Holland... — sussurrou no silêncio do quarto. — Só podia ser piada...
Logo tais papeis vieram, auxiliando a desviá-la da heroína usando cat-suit e a transformando de Jo March à jovem Donna Sheridan em sets de gravação. Mas sempre havia aquele espaço exclusivo para a franquia que a impulsionou e para aqueles que estiveram do seu lado a ajudando crescer, em especial um querido co-star com quem se preocupava muito mais com a opinião do que com a dos críticos sedentos por suas lágrimas. Hastings havia gargalhado com tudo o que tinha acontecido no decorrer da semana, em especial, como, após alguns assessores pedirem com carinho, aceitou gravar uma entrevista com Tom para despistar qualquer burburinho cobre Dylan.
— Se você ainda estiver acordada, eu não vou dividir o sorvete.
Virando o rosto para a porta entreaberta, sorriu para a amiga, que invadiu o quarto sem muita reserva. Katherine ainda usava as mesmas roupas que vestia quando a maquiou no início da noite para uma entrevista com a Juliard sobre “Os entraves para mulheres em um campo predominantemente masculino”, garantindo para quem quisesse que ela havia passado o resto da noite de quinta-feira no celular ou cochilando na sala de estar. Kath se sentou na cama com um salto que fez pular e por fim abrir espaço.
Oh, o luxo que é me sentar na mesma cama em que Dylan O’Brien dormiu...
emitiu um som semelhante a um grunhido pela brincadeira.
— Nem me fale... — A reclamação arrancou uma risada da maquiadora. — O que eu faço? O Watts vai me matar... — esfregou o rosto em ansiedade. — O Favreau me mandou uma mensagem dizendo: “Fica atenta, pirralha”.
Segurando o pote frio sobre a barriga, a loura se acomodou melhor.
— Não me preocuparia com o Watts se fosse você, ... Ou o Favreau — Katherine divagou ao raspar os cantos mais derretidos do sorvete. — Os fãs da Amélia já devem estar putos com você “traindo” eles com alguém que nem seja da Marvel.
Amélia Stark, sim. Ainda havia mais essa ponte a ser cruzada. A filha adotiva de Tony Stark, a famosa Fênix, era o papel dos sonhos para quem queria ser atriz e pagar as contas para enfim sair da cidadezinha no interior. Um aviso vindo da ex-agente e ela havia feito as audições, pintado o cabelo e aprendido taekwondo para as gravações. Do dia para noite, seus contatos no celular deixaram de ser colegas do ensino-médio para serem Gwyneth Paltrow, Robert Downey Jr e Chris Hemsworth. saiu de casa com o primeiro salário de Era de Ultron: 250 mil dólares por míseros 13 minutos de tempo de tela. O estrelato nunca havia parecido tão fácil quanto após o primeiro filme.
No momento do anúncio de Guerra Civil, ela já era um nome relativamente conhecido na indústria e o mundo se atentava à outra estrela revelada pela Marvel: Tom Holland. Os irmãos Russo foram claros nas instruções que lhe deram: “Se aproxime do Tom. Vão promover filmes juntos por um bom tempo.” Então, Homecoming chegou e a jovem Amélia tinha um papel importante no filme. Logo os últimos filmes dos Vingadores vieram e um roteiro lhe foi enviado onde seu nome era o primeiro na lista do elenco. Um filme solo para a personagem de que rendeu oitocentos milhões para a Marvel e um contrato de mais dois filmes solos para a atriz.
— A Sarah pediu que você fosse bem elegante amanhã para a WIRED — Kath comentou, com uma colher de sorvete de morango a caminho da boca. — Sem roupas brancas e sem parecer se sentir culpada pelo acidente, mas como é Dia dos Namorados, deveria ser algo que usaria em um jantar mais refinado.
riu com amargor.
— Não foi um acidente, Katie — ela respondeu, ainda incrédula com todo o reservoir que apenas uma conversa com o outro ator a rendeu. — Eu estava conversando com o Dylan e não quis atrapalhar outras conversas paralelas, por isso falei no ouvido dele — justificou-se da mesma forma que havia feito para a agente que a ignorou. — Somente isso. Não há culpa alguma.
A maquiadora dela balançou a cabeça.
— Pior ainda. — Apontou com a colher. — Você sabe como essa gente é e como é difícil pra uma mulher se manter estável na indústria. Tem sorte que as fãs do Dylan ainda não pularam na sua garganta. — Era verdade, é claro. Todos haviam lhe avisado de como pares românticos causavam ciúmes em fãs. Por sorte, as fãs de Tom não pareciam se incomodar com isso e sim apoiar que um dia se unissem. A atriz sentiu o estômago se remexer. — Ah, a Meghan separou um vestido de couro da Valentino. Preto e bem básico. As joias são as que a Ralph & Russo mandou e eu a convenci a te deixar usar um salto lindo da Prada, também.
— O salto que é um tamanho menor e que você está louca para ganhar?
A vida mundana entrincheirada na realidade de luxo era refrescante.
— Sim. — Kath riu e chutou o pé da amiga. Para ela, não era a queridinha de Hollywood e dos designers de moda: era a melhor amiga que tirou a sorte grande de vestir vestidos de seis mil dólares. — Faça um show amanhã, tá? Você é uma boa atriz, então finge que tá morrendo com aquele salto e a Meghan vai aposentar ele e você pode dar de presente para a mamãe aqui. — A ideia fez rir. Sempre que lhe mandavam roupas pequenas demais, elas paravam com Katherine Colch. devia manter o físico de uma heroína digna da Marvel, então não vestiam o mesmo. — Ou, se quiser, pode fazer um draminha a mais e terminar com o Holland te carregando para o carro no fim das gravações — alfinetou. — E não vamos fingir que você não amou estar agarradinha nele em Homecoming.
Se apaixonar por Tom havia sido fácil para ela e Kath sabia disso.
Tinha gostado do ator desastrado ainda enquanto gravavam Guerra Civil e ele era tímido demais para abrir a boca durante a leitura do roteiro. RDJ gostou do rapaz de primeira e não poupou chances de aproximá-los, os convidando para passarem as falas dele quando fingia não ter tempo. “Gatinha, passa a cena aí com o Tom” e “Filho, você pode treinar com a ? Ela tá meio ansiosa para as cenas”. Então vieram as semanas em que promoviam o filme e as entrevistas com todo o elenco, o casal do cinema já provável ao ponto de fazerem programas juntos e serem mencionados nas entrevistas alheias. Os quadrinhos não erravam: Peter Parker e Amélia Stark seriam um casal. E, surpreendentemente, a mídia também não queria errar: Tom Holland e seriam um casal.
Tom era definitivamente uma das melhores pessoas da indústria: trabalhador, dedicado e pé no chão. Como ela, havia superado bullying na infância por gostar de algo considerado apenas um sonho bobo. E ele adorava a fazer rir, comentar sobre os fãs e simplesmente conversar com ela, pois, mesmo sendo uma atriz, ainda se considerava tímida demais para ser aberta com outras pessoas. A forma que o ator sorria e os dentes brilhavam na luz, o constante desconcerto e a resiliência em aceitar os moldes problemáticos da fama eram um retrato perfeito da pessoa que gostaria de ter ao seu lado.
Porém, as notícias de um namoro surgiram tão rápido quanto o interesse de e, pouco tempo depois, Tom já namorava com Nadia Parkes. Jacob Batalon contou a história do casal para Zendaya e sobre como os dois estavam tão grudados que não conseguiram evitar assumirem o relacionamento para os amigos mais próximos. não se surpreendeu. Tom era um cara maravilhoso e qualquer mulher seria sortuda de namorá-lo, porém gostaria de saber por que não ela. Claro que, na época, os rumores sobre ela e Timothée Chalamet eram enormes, pois confirmaram seu papel em Adoráveis Mulheres e eles haviam saído para tomar um café em Los Angeles e se conhecerem melhor.
Bom, era isso que ela gostava de acreditar ser o seu impedimento.


*


O estúdio estava cheio como esperado para as gravações. As preparações foram feitas no camarim recluso de , desde ser enfiada em um vestido, até colocarem seus brincos e arrumarem-lhe o cabelo. A estilista havia optado por um penteado romântico que contrastasse com a formalidade do vestido e o salto elegante. Em poucas horas, parecia saída de uma revista de moda. Não hesitou em bater algumas fotos no espelho e postar um sneak-peak dos bastidores para os fãs dedicados, sem dúvida alguma de que eles descobririam onde estaria e o que estava fazendo. Um carrinho agraciou o camarim com os favoritos de logo depois; bagels com creamcheese e chocolate quente, além de notas para a entrevista.
— Qualquer coisa, está bem? — O chefe de direção, Albert, reiterou na porta. — Qualquer coisa mesmo que você quiser, é só pedir para o Justin que ele consegue. — A jovem atriz sentiu o rosto esquentar com o cuidado extremo que recebia da equipe. Sempre temeu que a chamassem de diva, então era certo que nunca pediria por nada além do que fosse razoável ou necessário. — Quando estivermos prontos com a cenografia e o Tom chegar, nós chamamos você, ok?
— Muito obrigada, Albert. — Ela assentiu com um sorriso agradecido. — Perdão, mas o Tom ainda não chegou?
— Ainda não. — O homem balançou a cabeça. — Ele está preso no JFK com a imigração, mas os documentos já estão saindo — o diretor garantiu, automaticamente se desculpando com ela. — Vai dar uma passadinha na acomodação em que estiver hospedado e vem direto para cá.
— Pensei que ele estava em Nova Iorque há mais tempo... — Uma vibração ecoou pelo cômodo e imaginou ser o seu celular. Pelo espelho, dava para ver que Katherine parecia ter se interessado na conversa, afinal tinha largado o pincel e prestava muita atenção no diálogo além de tatear a mesa atrás do aparelho. Já não entendia o motivo de Tom ter aceitado tal agenda se teria de cruzar o oceano. — Obrigada de qualquer forma, irei esperar sim. — Quando o diretor saiu do camarim, Kath esfregou o celular na cara de com um sorriso enorme.

[De: Tom Holland]
Você já chegou ao estúdio? Preciso de mais vinte minutos, .
Prometo que não atraso mais.
[Para: Tom Holland]
Estou esperando, mas pensei que já estivesse em Nova Iorque.

[De: Tom Holland]
Não, não. Vim para a entrevista mesmo.
E porque você sentia saudade :)
[Para: Tom Holland]
Acelera aí, Holland.
Depois falamos da sua autoestima.



*


quis babar quando Tom se sentou no banquinho ao seu lado.
Suas roupas não deviam ser tão bem pensadas quanto as de , mas ainda assim pareciam perfeitas para uma entrevista casual, ou como todos do estúdio preferiram chamar: um encontro casual. Não era uma entrevista ao vivo, então todo o preparo necessário para se apresentar no Jimmy Kimmel ou falar para a Esquire era desnecessário, logo sua calça de alfaiataria simples, uma camisa preta e jaqueta marrom fariam o truque sem problemas. Com Harry Holland ao seu encalço e segurando o celular e fones de ouvido do ator, ambos tinham zarpado pelo corredor dos camarins minutos antes. Kath fez questão de abrir a porta para ver a cena e logo soube que o interesse na amiga não era no ator e sim no seu irmãozinho. Os dois haviam flertado algumas vezes no backstage das coletivas de imprensa para Guerra Infinita, mas nada foi definido ali, pois Katherine ainda considerava Harry uma criança.
— Bom dia, — Thomas cumprimentou ao se sentar e inclinar-se para falar com ela, esfregando as mãos na calça quando ia se levantar para tocar o rosto dela e beijá-la na bochecha. Havia sido alertado sobre o próprio agente para não demonstrar contato físico excessivo na frente das câmeras após o incidente da atriz com O’Brien. — Desculpa a demora.
— Boa tarde, Tom — ela corrigiu com um sorriso, tocando no bíceps dele para substituir o cumprimento físico e afetuoso que tinha certeza de receber em outra situação. Ou não, se considerar que Tom estava em um relacionamento agora e ela não sabia se isso mudaria alguma coisa. — Jetlag está fodendo com a sua cabeça, Homem-Aranha. Ou devo te chamar de Cherry? — Os olhos pequenos de Holland se alargaram, as ruguinhas de sorriso no canto destes também marcando presença.
— Você assistiu? — Era uma pergunta incerta ao considerar a exposição do filme e o momento em que estavam, cinegrafistas e diretores apenas aguardando pelas plaquinhas de perguntas para começarem a entrevista, porém, o ator não conseguiu evitar a pergunta. fez uma cara como quem diria “acha mesmo que eu não ia ver?” e assentiu. — O que achou?
Uma assistente se aproximou com a primeira placa de papel triplex, uma cartolina de alta qualidade que continha um histórico falso de pesquisas. Thomas gesticulou educadamente para receber a placa e a co-star não se surpreendeu com o cavalheirismo.
— É uma história incrível. Você foi muito bem e a Ciara também. — suprimiu todos os elogios que gostaria de lhe oferecer pelo tempo curto e os diretores e técnicos se sentando atrás das câmeras. — Conto mais depois — ela prometeu, a mão sobre a boca para evitar que lessem seus lábios antes de ligarem o microfone preso no vestido. Tom assentiu e sentiu-se subitamente ansioso para ouvi-la.
Afinal, quem não adoraria agradar alguém que gostava?
não havia sido a única a se interessar por um membro do elenco e Tom facilmente podia compreender isso. Atuar é algo complicado e desenvolver a química necessária para tornar diálogos idealizados por um autor em algo gostoso de se ver no cinema também é. Então, em um dos inúmeros cafés que tomaram durante as gravações de Guerra Civil, os dois começaram a conversar e havia mais coisas em comum do que esperavam, muito mais que ele podia desejar de uma colega de elenco. era facilmente quem imaginaria ao fechar os olhos e pensar em um futuro — não que tivesse feito isso mais de duas ou três vezes, preocupado com o sentimento que florescia pela co-star. Mas havia algo na calmaria de e o sorriso gentil que atraía Thomas como um ímã. E isto somado à força da atriz era um atrativo a mais; ela sempre interessada em fazer tudo da forma correta para estar à frente de tudo também o estimulando a ser melhor — muito mais que consideraria antes.
As cenas sempre fluíam com facilidade entre os dois e Tom não podia pedir mais de protagonista, mas a maioria não era como ela. Não sorriam no meio de takes onde o foco da trama era em outro personagem, não saltitavam pelo set de filmagens ou gritavam desesperadas com qualquer som alto como ela. E era a mesma pessoa tanto com as câmeras ligadas quanto desligadas, gargalhando alto quando queria e apertando os olhos para entrevistadores que tentavam resumir sua personagem ao interesse amoroso de Peter Parker. E Thomas a adorava por isso: sua coragem em retrucar para incômodos e bater o pé por respeito quando não lhe era oferecido.
Então as notícias sobre Adoráveis Mulheres surgiram com a mesma animação igual Fangirl fez semanas antes da entrevista lhe ser proposta: nas capas de revistas e com o Twitter fervendo pelo mais novo casal. E em um súbito instante, Tom e não eram o casal favorito do mundo e sim ela e Timothée, aqueles dispostos a levar os títulos de Jo March e Laurie para a próxima geração. E Tom odiava o quanto Jo era a personagem ideal para e como ela iria se dar bem o suficiente para os fãs eternamente lembrarem do “casal perfeito” sendo com Chalamet e não com ele. O sentimento estúpido e egoísta dele apenas amplificou-se pela revista People, essa que o levou a atravessar o oceano para gravar uma única entrevista a fim de lembrar o mundo de quem era o par perfeito de nas telas mesmo que ele não tivesse culhões para fazê-lo por trás da câmeras.
— Vou começar dizendo que é um prazer ter vocês dois aqui na WIRED — o diretor anunciou de sua cadeira e ambos olharam para ele. — E nós estamos muito animados para essa entrevista. É certeza que vocês vão dar uma chuva de visualizações, então muito obrigado por aparecerem. — sorriu com a sinceridade que era sempre bem-vinda. Gostava de saber em que pé estava com todos que trabalhava. — Tom, você já fez uma WIRED dessa, não fez? Pode explicar para a como funciona? Já fizeram por e-mail, mas é sempre bom lembrar.
— Já, já fiz. — Thomas imaginou que devia se dirigir a e assim o fez, tamborilando os dedos na placa com insígnia do Google antes de voltar a fitar o homem. — Se não me engano, acho que foi em De Volta ao Lar, não foi? — Harry Holland concordou com a cabeça de onde estava no backstage segurando um café. Então o ator voltou a olhar para a colega com confusão. — Você não estava conosco? Z e Jacob estavam.
— Eu estava em Genebra na época, mas sei como funciona. Já assisti a entrevista do Gyllenhaal e o Ryan Reynolds umas cinco vezes. — A confissão fez o estúdio rir e percebeu como Kath havia conseguido uma cadeira na primeira fila junto com o irmãozinho de Tom. Ela o cumprimentaria depois. — A gente lê o comecinho, tira a fitinha e lê o resto? — Houve uma concordância geral. — Tudo certo, então.
— Estão prontos pra começarem a gravar? — O casal assentiu. — Ok, vamos começar com vocês dois se apresentando e contando o que vão fazer, beleza? — Concordaram outra vez e o estúdio se silenciou. — Câmeras rodando em cinco, quatro, três...
O homem acenou para que iniciassem.
— Olá, eu sou a . — O rubor ao se apresentar para uma câmera era inevitável, mesmo que se remexesse na cadeira, ansiosa com as perguntas.
— E eu sou Tom Holland. — Sem perder uma batida, ele prosseguiu com um sorriso.
Juntos completaram a intro: “E esta é nossa Wired Autocomplete Interview!”
— Esta é uma Wired Especial de Dia dos Namorados! — continuou e Thomas assentiu com as sobrancelhas apertadas, a olhando. — Trouxeram dois solteiros que namoram em tela para responder perguntas sobre nossos personagens, carreiras e rumores. — teve certeza de que seu sorriso foi amarelo. Essa era a grande ideia de sua agência? A forçar a dizer publicamente que era solteira e depois negar tudo com Dylan?
— Na verdade, a Amélia e o Peter não namoram — Tom adicionou, mantendo a expressão confusa como lhe foi pedido no mini-script da entrevista. “Porque o Peter é um lerdo” A atriz cochichou com um sorriso falso para a câmera. — Porque a Amélia brinca com os sentimentos alheios usando o Harry como marionete — ele clarificou e a mulher revirou os olhos.
jogou um beijo no ar logo depois:
— E um grande beijo para a marionete mais encantadora: Froy Gutierrez!


*


— Primeira pergunta... — Tom removeu o adesivo, esse não tão barulhento como o da sua primeira entrevista para a WIRED. balançava a perna no banquinho enquanto via a pergunta se formar. — De onde é ? — Ele a olhou com um sorriso de quem sabia a resposta. sentiu um alivio pelo nível de “pesquisas” que estavam sendo feitas sobre ela.
— Eu sou de Brooklyn, Nova Iorque — a jovem atriz respondeu com orgulho.
— Deve ser um saco fazer sotaque britânico, não é? — Thomas questionou para movimentar mais a entrevista após a resposta rápida. E era de conhecimento geral no set que ele gostava do sotaque de , a troca que tinham de fazer um com o outro nas câmeras sendo motivo de risadas sempre que uma palavra errada escapulia e um errava a pronúncia. — Eu digo isso porque tenho que fazer o sotaque do Queens pro Peter e já fiz muitos outros, tanto que sei ser difícil de se acostumar.
O agrado do diretor era claro, a conversa fiada valendo cada centavo de cachê.
— Acho que o grande problema, pelo menos para mim, é manter o sotaque consistente o filme inteiro — respondeu, não olhando tanto para as câmeras e sim para o rapaz. A pergunta sobre o sotaque era facilmente uma que Tom faria a qualquer momento e parecia genuína, portanto merecedora de sua atenção. — Principalmente no nosso caso que é uma franquia enorme de filmes. E também tem a questão de ele não sair ofensivo, é claro. — O ator balançou a cabeça para descartar a preocupação e sorriu em agradecimento.
— Não sai, não — garantiu, se preparando para outra pergunta. — O seu não. — adicionou com gentileza e ela sentiu o peito esquentar. — Hum... Onde você se formou? — Como se tivesse ciência de que a repetição de nomes iria ficar chata, o rapaz decidiu modificar um pouco a “pesquisa”.
— Vamos pular a pergunta, que tal? — deu de ombros com um sorrisinho tímido. — Eu fui aceita na Juliard — ela se explicou para a câmera. — Mas, uma semana antes de finalizar minha matrícula, fui chamada para participar de Era de Ultron. Então... — Holland sorriu ao imaginá-la tão jovem e animada com tantas opções. — Sem faculdade no momento. Mas você se formou, não foi?
— Formei, sim. Curso de representaçãp na RADA. — Ele deu um joinha para a câmera na expectativa que ninguém mencionasse o seu curso de dois anos e Harry gargalhasse dele ao lembrar suas fotos da formatura tiradas pela mãe dos dois. Tirando a terceira fita, ele questionou: — Quando começou a atuar? — Releu mais uma vez e sorriu para . — Essa é uma boa pergunta! — Sua animação óbvia em saber mais sobre ela era um deleite para .
— É sim! — A jovem bateu as mãos. — Trabalhos profissionais mesmo foram na Marvel, obviamente. 2013 para gravar a cena pós-crédito de Soldado Invernal e 2014 gravando Era de Ultron. Mas eu participava das peças da minha escola no ensino-médio e já havia até interpretado Jo March. Por falar nisso: assistam Adoráveis Mulheres! — Não poderia deixar de promover o filme, este tendo estreado um ano antes da pandemia e já disponível em diversas plataformas digitais.
Tom sentiu-se azedo ao pensar no filme e em Chalamet roubando o seu posto.
— É um ótimo filme. — Fez questão de elogiá-la. — Você está ótima. — Apenas elogiá-la. Ele logo pulou para a quarta pergunta. — é a Fênix? — Thomas sorriu largo com a cara incrédula de com a pergunta. Se ajeitando na cadeira, ele colocou o braço na frente dela, como se a poupasse de ter de se defender. — Eu respondo: sim, ela é a Fênix! — “Obrigada! Alguém tira a minha avó do Google? Ela não sabe o nome da minha personagem até hoje.” Rindo ainda mais, ele prosseguiu para a próxima fita. — Fênix de e Sophie Turner?
— Dois universos cinematográficos diferentes e realidades diferentes nos quadrinhos. — Como uma geek de respeito, ela havia feito o favor de aprender tudo sobre a Marvel muito cedo na carreira com eles. — São diferentes “Terras” no Multiverso. Como a Wanda Maximoff da Liz Olsen e a Feiticeira Escarlate dos quadrinhos. A Wanda, até agora onde apareceu no MCU, nunca foi chamada de Feiticeira. Bom, fora de WandaVision. É bem complicado, pois algumas coisas nas histórias são semelhantes e outras não.
Surpreso pela resposta complexa, Holland tirou a quinta fita.
— Quem é ? — Ele olhou para a co-star após ler a pergunta. Havia um genuíno interesse dele e percebeu. — Essa eu te deixo responder — Thomas ofereceu galanteador como se realmente estivesse tentando a conquistar em um encontro.
— Pergunta bem preocupante, hein? Eu ainda estou trabalhando muito em quem sou e quem quero ser, então... Advinha quem vai tomar setralina hoje à noite? — Desde assistentes até o próprio diretor riu da piadinha de mal gosto. Holland soltou um “Dear Lord” e gargalhou. Ele mesmo tomava ansiolíticos às vezes, então era seu direito rir de algo assim. — Para ser bem sincera, é esse tipo de coisa que me deixa um pouco nervosa. Saber se as pessoas me conhecem e o que acham de mim é algo que costuma me fazer pensar muito. Tenho esse problema de me comparar com conhecidos e sempre tentar estar à frente deles. É algo ruim, porém inevitável.
— Quem é o Celebrity Crush de ? — Thomas leu a outra pergunta e arregalou os olhos.
— Meu Celebrity Crush é o Matthew Gray Gubler — a mulher respondeu ao dar de ombros. Com sorte, receberia uma ligação do ator mais velho e Tom fecharia a boca aberta em surpresa antes de começar a babar. — O cara é exatos dezessete anos mais velho que eu. Depois dele, com catorze anos de diferença, é o Henry Cavill. — Ela riu com embaraço. — Meu pai me largou quando eu era pequena então, por favor, entendam.
... — Tom riu com uma mão no ombro da atriz, a cabeça baixa, pois era demais para ela fazer piada com este tipo de coisa. sorriu com o apelido que ele proferiu e com o toque despreocupado, dando tapinhas nas costas de Holland. — Ok, hum... — Tirando a última fita, ele virou a placa na direção dela. — A Fênix poderia ter matado Thanos? Pergunta complicada e que vai gerar briga no fandom, hein?
— Briga na certa... — suspirou e decidiu que deveria dar um docinho para os fãs dos filmes igual Antony Russo havia feito assim que Ultimato saiu nos cinemas. — Bom, enquanto eu conversava algumas vezes com os irmãos Russo, esse assunto chegou a vir à tona — explicou-se. — A Amélia iria, sim, matar o Thanos. Não precisamente em Guerra Infinita, mas em Ultimato. O despertar dos novos poderes dela com a Pedra da Mente foi algo que poderia ter mudado muita coisa na história. — Thomas pressionou os lábios, impressionado com a descoberta. Em sua mente, tal desfecho seria incrível. — Mas muito teria de ser arriscado para dar essa chance a Amélia. Para finalizar o ciclo de alguns personagens, tiveram de remover isso da história.
— Acho que eu estava almoçando no trailer quando você gravava uma cena que nem chegou a sair no filme... — Imediatamente a jovem soube do que Tom falava e assentiu. Não deviam dar spoilers do que podia ou não acontecer nos filmes, então seria um segredo para o público. Lembrando-se disso e de todos os puxões de orelha que recebeu, ele reformulou o que tinha dito. — No fim das contas, acho que esse final foi muito difícil de gravar. Para nós e todo o elenco.
— É... Foram cinco anos gravando esses filmes, pelo menos na minha parte. Com o RDJ, a Gwyneth, a Scarlet e o Evans... Me partiu o coração dar adeus em Ultimato daquela forma. Ter de continuar sozinha... — Havia um sorriso agradecido e doce no rosto dela enquanto falava, provando para Thomas mais uma vez o quão era apaixonada pela personagem e sua trajetória, sendo além de atriz também uma grande fã. Para ele, em um mundo onde atores só conheciam o que estava no script, os passos a mais que dava para aprender e se apegar ao papel eram refrescantes. — É bem difícil de se habituar.
Se ela não estivesse tão focada em relembrar a doçura dos momentos com todo o elenco que a acompanhava há anos, poderia até perceber a forma que Tom a olhava em absoluta adoração em seu banco; as perguntas descansando sobre o joelho e imerso em sua visão dos últimos dias de filmagem, absorvendo cada detalhe dos maneirismos de e como sua voz soava.
— Bem... — Tom iniciou ao despertar. — Não exatamente sozinha...
riu com a alfinetada e afagou o braço do colega.
— Não, não. Não exatamente sozinha — ela corrigiu-se para não o ofender e algumas risadas dos staffs a acompanharam. A jovem sabia que o que diria em seguida soaria arriscado, porém não pôde ou não quis evitar. — Amélia tem seu bom amigo Homem-Aranha para ajudar a salvar o mundo — Holland ergueu a sobrancelha com a surpresa da possível comparação e fez um beicinho ao concordar — e eu tenho meu bom amigo Tom Holland pra me ajudar a seguir com as gravações.
Alguém bateu a claquete para cortar a gravação enquanto providenciavam as perguntas para Tom e ele não impediu um sentimento morno de se espalhar por seu peito e pescoço, mesmo ciente que estaria ruborizado e podia ver como algo assim o afetava. Jacob Batalon ria sobre isso sempre que podia e o carinho que sentia por também nunca passava despercebido pelos amigos e familiares de Thomas. Até mesmo Nadia Parkes comentava sobre tal de tempos em tempos, um dos motivos que resultaram no fim do namoro dos dois há três meses. Havia sido uma briga fútil sobre o desinteresse de Nadia em maratonar os filmes da Marvel com Tom e Paddy.
Após um celular roubado e vinte minutos no banheiro, Parkes decidiu que já sabia tudo o que devia saber sobre o relacionamento dos dois. Sabia que Tom ficava acordado até as duas da manhã para conversar com apesar do fuso-horário, que se falavam diariamente e mandavam fotos e links de fansites um para o outro. Então Nadia terminou com ele, o relacionamento já inexistente para Tom no instante em que ela decidiu invadir sua privacidade e não dialogar. Após severos puxões de orelha da mãe e conversas sérias com Harrison, Holland finalmente havia tomado consciência de sua canalha tentativa de desapegar-se de usando Nadia. Um e-mail enorme de desculpas depois e ela já o odiava muito mais que uma vez tinha amado.
— Vamos começar? — o cutucou com a placa que ele nem havia percebido ser entregue a ela. Como as perguntas eram sobre Tom, desta vez seria ela a segurar e tirar o adesivo. Ainda relembrando as conversas que teve em Londres, o ator assentiu e arrancou a primeira fitinha com certa agressividade, logo rasgando um pedaço do papel. — Grande dia, né? — Rolando a cabeça para trás, o londrino precisou apertar a boca para não rir enquanto ela lutava para cutucar o adesivo. — Dá para ler! Tom Holland... — Tamborilando os dedos para causar suspense, ela sorriu travessa. — Tom Holland faz as próprias cenas de ação? — indagou com um balançar da cabeça. — Graças a Deus não perguntaram isso para mim.
— Eu faço as minhas cenas de ação, porém tem algumas que não posso fazer. E então os meus dois dublês Greg e Luke, que são muito talentosos, fazem elas no meu lugar. — Thomas respondeu e assentiu, já tendo conversado com tais dublês e os visto em ação. — A senhorita aqui os acha tão parecidos comigo que até mesmo já conversou por quinze minutos com um deles no meu lugar sem perceber.
Ela fez um beicinho.
— O detalhe é que são todos britânicos e estavam usando a máscara. — Era uma tentativa de convencer o público e Tom que jamais iria o confundir. — E surpreendentemente, todos falam com o mesmo biquinho que você fala, então fica confuso — assumiu tímida. — Próxima pergunta para não te dar tempo de retrucar! — arrancou a fita enquanto Tom se acomodava melhor no banquinho e ria de sua pressa. — Tom Holland dá spoilers de filmes? — Tom silvou, apertando o rosto em uma careta para desviar de sua característica mais proeminente que o perseguia mesmo após anos. Já , batia palmas com um sorrisão. — Sim! A todos os momentos ele dá spoiler de filmes!
— Foi uma vez! — ele mentiu para tentar se defender.
segurou seu dedo erguido como se pudesse abafá-lo.
— Mais de uma vez, Tom! — reiterou com certeza e o londrino arqueou as sobrancelhas. — Ah, qual é! Eu não tenho dedos suficientes para contar todas as vezes que me ligaram para te usar como mau exemplo! — O estúdio explodiu em gargalhadas, a dinâmica da gigante em entretenimento soando semelhante a uma mãe que usa irmãos como modelos de comportamento. cutucou a bochecha do astro com o dedo dele e foi remover a terceira fita. — Aliás, se eu me lembro bem, a primeira vez que dirigiu uma palavra a mim foi para dar um spoiler de Guerra Civil.
— Ok, isso é verdade. — Thomas apresentou um de seus melhores sorriso para ela, virando-se na cadeira e agora segurando os dedos de em sua palma morna. O ato foi inocente nos olhos dele, da mesma maneira que fariam em outra situação. — O que estávamos fazendo? — Ele franziu as sobrancelhas ao pensar enquanto a mente de navegava para a capa da People quando apenas falava com Dylan e se questionou o que segurar na mão de Tom significaria para a imprensa. — Estávamos tomando café, não é? Eu lembro que fiquei até ansioso no dia por causa da cafeína... — Ela assentiu e não saiu do toque do ator mesmo que isso significasse que Sarah puxaria sua orelha de novo. — Eu falei que não acreditava que os Vingadores iam se separar. — Tom gargalhou e foi acompanhado pelos staffs. Uma risada feminina qualquer trouxe a imagem de Nadia Parkes para a mente de . — Mas assim, eu disse aquilo com fé que você teria lido o roteiro!
Ambos se lembravam daquele dia e isso significava um infinito para . Era uma das poucas cenas em que sua personagem aparecia e ela teria de lutar contra metade do elenco com produtores nos bastidores analisando cada um deles. E no intervalo das gravações ela se enchia de sanduíches e chocolate quente em uma tentativa falha de lutar contra a ansiedade, essa que sumiu assim que conversou com Tom no carrinho de lanches. O script da atriz não continha todas as cenas por motivos de segurança, o que fez todo o encontro ainda mais engraçado de se lembrar. Charlote deu um soquinho no braço de Tom e soltou a mão dele enquanto lia a outra pergunta:
— Você gosta de ler?
— Às vezes. — Ele considerou a pergunta, esfregando as coxas ao ponderar uma resposta decente. Tendo tantos fãs jovens, o mínimo que deveria fazer é influenciar a leitura. — Eu tenho dislexia e um pouco de déficit de atenção, mas consigo ficar tempo suficiente lendo livros que sejam mais... — Gesticulou com as mãos. — Hum...
— Tem criança assistindo... — A co-star cantarolou.
— Estou falando sobre os livros que você me deu. Os especiais. — “Os especiais” eram a coleção de Billy Elliot com uma fonte ideal para disléxicos. — é uma leitora ávida, se vocês não sabem. — Tom se dirigiu à câmera. — Estou tentando pegar o hábito também. — O ator se explicou. — Mas tenho muita dificuldade de concentração, então tento pender mais para audiolivros ou palestras. Sempre que posso, ouço palestras de qualquer assunto que eu ache interessante no momento.
A atriz leu outra pergunta:
— Tom Holland precisa usar óculos? — Balançando a cabeça com uma careta, ela respondeu: — Não, mas ele acha que fica bonitinho. — Tom não teve tempo de responder, afinal já estava rindo com a resposta atravessada de quando os dois já sabiam que ele não precisava de óculos algum. — O Homem-Aranha pode ficar sem teia? — leu.
— Claro! — O ator assentiu com interesse no tema, afinal sempre foi um grande fã do herói mesmo antes de interpretá-lo. — São tipo refis que ele tem, então é normal que acabe. — mantinha-se concentrada em Thomas enquanto ele entrava afundo sobre as teias, como o personagem possivelmente tinha que limpar o lançador e outros detalhes em que ela não pensaria. — Até em... De Volta ao Lar! Sim, em De Volta ao Lar, o Peter estava fazendo as teias em uma cena... — Em silêncio, ela apreciou como Tom demonstrava interesse no assunto e como levava cada pergunta para o coração com carinho pelos fãs.
Talvez esse fosse um dos detalhes que haviam feito se interessar tanto por Holland: sua infinita atenção e carinho com todos, o constante respeito e gentileza que tanto faltavam na indústria tendo culminado em uma só pessoa. Em seus olhos, Tom era uma das pessoas mais belas do mundo. Não por sua aparência externa, mas pela beleza de sua personalidade e o brilho em seus olhos enquanto falava sobre algo que amava. A beleza que cintilava em sua pele parecia ter se esgueirado de sua alma, ao ponto que não imaginava que pudesse melhorar. Ela ainda se lembrava de uma passagem belíssima escrita por Charles Chaplin para a filha: “Seu corpo nu apenas deverá pertencer a aqueles que se apaixonarem por sua alma nua”. E sabia que há muito havia se apaixonado pela alma de Tom.


*


Quando uma assistente chegou com uma placa rosa, ruborizou.
Ali estava o grande motivo da entrevista e ela se sentia mal por ter arrastado Tom para algo tão expositivo só por um mal-entendido, porém, olhando o ator que bebia água calmamente, ela se confortou ao imaginar que ele não estava tão nervoso como ela. Bom, foi o que ela imaginou. Da mesma forma, Thomas gostava de se imaginar suave e calmo mesmo que suas mãos estivessem suando em apreensão. Ele temia soltar alguma informação indevida sobre seu namoro com Nadia, ou interesse em e outra coisa que fosse lhe embaraçar. E quando lhe entregaram a placa com o nome da atriz ao seu lado, o rapaz não sabia o que pensar. E se confirmasse algo? O que faria?
— Pessoal, todas essas perguntas passaram pelos agentes de vocês e pelas agências. — Parecendo notar o nervosismo dos dois, o diretor fez questão de relembrá-los da condição contratual que tinham. — Não precisam se preocupar. — o homem adicionou e abaixou a cabeça, segurando a apreensão para não parecer tão angustiada. — Prontos? — Tom assentiu pelos dois, ciente de como isso era importante para . — Gravando em três, dois...
Entrando na personagem, esfregou as mãos e Thomas suspirou.
— Pronta, senhorita ? — O ator instigou e ela o olhou com apreensão antes de erguer um joinha, tentando amenizar seu preocupação diante das câmeras. Ele cutucou a fitinha com corações vermelhas e a removeu. — está namorando... Tom Holland? — Thomas não conseguiu impedir o riso tímido e nervoso que prosseguiu a pergunta mesmo que respirasse aliviada, o estúdio rindo pela reação dos dois. — Vamos ser sinceros, foi melhor do que esperávamos, não foi? — Tom brincou de novo, se sentindo ruborizar até a ponta das orelhas.
— Bem melhor... — a menor suspirou e balançou a cabeça. — E, não. — Afiou a expressão. — O Tom não tem essa sorte. — Deu um tapinha no braço dele.
Holland a olhou pasmo pelo fora.
está namorando uma garota?
— Não, não. — Ela segurou um sorriso maior ainda ao responder a pergunta. — Mas! — Então ergueu um dedo como que dita uma condição. — Se você for a Rachel Weisz... Quem sabe?
Fazendo beicinho, Tom deu de ombros ao prosseguir.
— Está namorando o Timothée Chalamet? — Apertando os dentes, o britânico se conteve antes de fazer uma careta. De novo? — Não, ela está namorando o Peter Parker, vocês estão confundindo muito os nomes — respondeu atravessado enquanto gargalhava pela possessividade que já tinha sido mencionada por Sebastian Stan e Anthony Mackie em um tentativa de embaraçar Holland durante um jantar que tiveram. Ela não respondeu para permitir que ele prosseguisse. — Nem namorou ele no filme, gente. Por favor, vamos prestar atenção na história...
— Foi a Florence que namorou o white boy do ano no filme, se não se lembram — também se defendeu e Thomas assentiu diversas vezes antes de parar, pois estava confuso com o uso da denominação. “Pensei que eu era o white boy do ano.” — Não, você foi o white boy de 2018, o Timothée é o de 2019. — a intérprete de Jo March explicou.
Soltando um longo “Ah...”, o rapaz puxou outra fitinha, a última.
— Você namora o Dylan O’Brien? — Tom a olhou com carinho mesmo que a pergunta houvesse feito seu coração apertar ao imaginar o mal que algo assim faria à carreira dela.
sabia que devia agir como fez em outras perguntas, mas não dava.
— Sinto muito em partir o coração da revista People — olhou diretamente para a câmera ao responder —, mas não. — Balançou a cabeça como se também lamentasse que não houvesse se envolvido com Dylan, afinal, ainda fariam um filme juntos e tudo era possível. — Mais sorte na próxima. — Ergueu dois joinhas enquanto Holland sorria por sua coragem e jogava a plaquinha de perguntas bem longe em apoio.


*


— Tom Holland namora... — arrancou a fita. — ?
— Não — ele respondeu a pergunta com a atenção centrada na câmera, lábios apertados em descontentamento enquanto a co-star gargalhava em seu banco pela ironia. — Mas não é por falta de tentativa! — Holland justificou com um motivo arriscado, apontando e lhe culpando pelo relacionamento inexistente.
— Seis da tarde em pleno Dia dos Namorados e você me vem com essa... — lamentou-se com um sorriso enorme que ele fez questão de retribuir. — Ugh. — Ela fingiu ter um calafrio que apenas lhe conseguiu um chutinho na perna vinda do colega de elenco, ainda mais ruborizado com o fora e com o consecutivo beijo no ar enviado por ela que teve ele como receptor. Puxando a fitinha, logo se podia ler: — Você está namorando com a Zendaya, Holland?
Tom flagrou o irmãozinho rindo no backstage.
— Sinto no fundo do meu coração que ela iria dar a mesma resposta que você deu pra essa pergunta. — Ambos gargalharam porque sim, um “ele não tem essa sorte” seria a resposta exata de Colleman para algo assim. Assim como Mackie e Stan, a maior diversão da atriz era aloprar Thomas sempre que possível. Balançando o dedo, o Homem-Aranha reiterou a resposta. — Não, não estou.
mal tinha parado para pensar quando o outro nome surgiu.
— Jake Gyllenhaal! — se abanou com a plaquinha assim que perdeu o ar de tanto rir, sentindo lágrimas se formando em seus olhos, pois imaginar Tom e Jake como um casal era hilário considerando a relação dos dois. Com sorte fariam mais montagens do que as já existentes deles na internet e ela e Mackie teriam mais material para provocarem Holland. — Sim! Eu amei essa pergunta! — festejou sorridente enquanto Tom mantinha a cabeça baixa, pescoço e orelhas rubras visíveis para ela. — Tom, você está namorando o Jake Gyllenhaal?
— Jake e eu somos casados! — Thomas colocou a mão no peito e olhou para a câmera com ofensa.
E soube que aceitaria qualquer piadinha para fazer rir daquela forma.


Capítulo II — Italian Food

— Eu vou indo, meu amor! — Kath anunciou quando saiu do banheiro A maquiadora e roommate já segurava a maleta de maquiagem e a chave do carro, pronta para ir embora quando a viu. — Vai para algum lugar depois daqui? — A atriz ergueu as mangas do suéter ao caminhar pelo camarim atrás da bolsa e logo balançou um bloquinho de notas para a amiga. — Diabo é isso, ?
— A nota da semana — ela esclareceu mesmo que Kath grunhisse. — Hoje é sábado e é a sua vez de fazer o mercado. E não. Eu vou pra casa te esperar com as compras e com uma pizza no forno. — Enquanto colocava os brincos, ordenou: — Passa oitenta por cento no meu cartão e os outros vinte no seu, Katherine. — conhecia muito bem a possibilidade de a amiga ignorar tal pedido e pagar a metade da compra.
Katherine não ousou passar por Tom Holland na porta sem uma piscadela.
O ator só podia pedir aos deuses que Harry não tivesse aberto sua boca grande para comentar com Kath Colch sobre seu relacionamento com Nadia e como teria sido o pivô do término. Conhecendo como conhecia, Thomas sabia que ela iria se culpar por um bom tempo e até mesmo se afastar dele em uma tentativa de não arranjar mais problemas para ambos. E esse seria o pior pesadelo de Tom.
Dando duas batidinhas na porta entreaberta, ele esperou por uma confirmação antes de abri-la mais e entrar no camarim. Podia ser um pouco precipitado com cantadas malfeitas por mensagens de texto, mas ainda respeitava a privacidade de . Ela estava caçando algo na bolsa da Michael Kors, quando Tom a viu. Usando um short branco de alfaiataria e suéter preto, ela tinha outra aura, diferente da atriz premiada que havia terminado uma entrevista. A aparência mais comum havia a tornado um pouco menos inalcançável aos olhos dele.
— Oi, — Thomas cumprimentou educado. Ao ouvir a voz dele, se levantou e colocou a bolsa na curva do braço, desviando-se dos staffs que cuidavam da limpeza do camarim.
— Oi, Tom! — sorriu com satisfação e se aproximou dele, enfiando as mãos no bolso. — Me desculpa por não ter contado sobre o que achei do filme antes, mas juro que você foi muito...
Holland sabia que a pressa poderia gerar arrependimentos, mas não se segurou:
— Você quer jantar comigo? — Com o máximo de firmeza e coragem possíveis, ele se manteve contemplando ao convidá-la e pôde perceber a forma que os olhos da atriz se alarmaram ao processar o convite. Tom já havia a convidado, então tinha que ter certeza de que aceitaria. Lembrou-se do tapa na moleira recebido da mãe antes de viajar e coçou a garganta. — O Harrison achou um restaurante muito bom aqui perto no ano passado e eu pensei em te levar lá. Eles servem comida italiana e eu sei ser a sua favorita.
sentiu o coração afundar para o estômago com o convite descabido. Ela adoraria poder concordar e ir jantar com Thomas em um outro cenário, mas o empecilho de seu namoro com Nadia Parkes ainda estava fresco na cabeça dela, e não pôde evitar sentir-se extremamente desapontada com o comportamento de Holland em levar outra mulher para jantar enquanto tinha uma namorada o esperando em Londres. E ainda que fosse ultrapassar esse obstáculo por pura petulância e desejo — o que jamais faria — a possibilidade de a noite acabar com sua agente gritando em seu ouvido sobre as capas de revistas de fofoca com Dylan também a impediam.
— Acho melhor não, Tom. — Talvez essa fosse a coisa mais difícil que ela falou em meses e também a mais difícil que Thomas tivesse de ouvir vindo de . — Na verdade, não. Não quero — reformulou a resposta, pondo mais força em suas palavras. Sentiu-se cabisbaixa ao atentar-se à falha no caráter do colega de elenco. Sempre havia pensado o mundo de Tom e agora sentiu que tinha levado um tapa na cara. — Você tem uma namorada em casa e ela com certeza não vai se sentir confortável com isso.
Thomas entrou em alerta ao perceber o motivo do não.
— Nós terminamos! — o rapaz disse mais alto do que gostaria, mas optou por culpar o nervosismo pela necessidade de ser o mais claro possível. Não tinha a mínima ideia de como sabia sobre Nadia, porém fez questão de erguer as mãos para mostrar a ausência do anel de compromisso. Ele havia jogado o seu no lixo do banheiro de casa assim que Parkes foi embora. — Há uns bons meses até! — prosseguiu, assentindo para dar destaque ao que dizia. — Eu não... Eu não iria chamar ninguém para um jantar com comida italiana se estivesse namorando. — Agora as sobrancelhas dele estavam juntas enquanto o encarava petrificada com a descoberta. Maldito Jacob que é péssimo em dar atualizações! — Comida chinesa talvez, mas tem essa questão mais romântica na comida italiana e...
— Olha, eu sinto muito pelo seu namoro, Holland... — ergueu a mão para o interromper. Se Kath estivesse ali, já estaria gargalhando pela mentira.
— Não sinta — o maior a cortou com um franzir de nariz adorável que ela achou semelhante ao de um coelhinho. Foi você quem me livrou de um relacionamento estagnado, a mente de Holland prosseguiu mesmo que sua boca não tenha feito o mesmo. — Sério, não sinta.
Ainda mais admirada, prosseguiu:
— Ok, eu não sinto muito pelo seu namoro... — Tom assentiu com um sorrisinho enquanto ela falava, atento para como o rosto de havia assumido um tom mais rosado. — Mas, além disso, a Sarah não vai me deixar ir jantar com você de forma alguma — lamentou, ainda desgastada mesmo após o trunfo de saber sobre o status de solteiro do rapaz. — Já saí semana passada na People almoçando com o Dylan, então... — Seu suspiro foi a única forma que teve de demonstrar a irritação pelos paparazzi que não envolvia gritar no travesseiro até a cabeça doer. — Me desculpa, Tom. — Então ela deu um pequeno sorriso para ele. — Eu adoraria ir jantar agora que sei que não é um cafajeste tentando trair na namorada.
Ainda incerto de como contornar a situação delicada, Holland esfregava as mãos nos jeans, ato que chamou atenção da atriz para o que ele vestia. Sem as roupas chiques escolhidas pelos estilistas, Tom parecia mais confortável em jeans confortáveis e uma camiseta longa listrada.
— E se formos para o meu loft? Estou ficando em um até quarta-feira. — Foi a alternativa que Thomas conseguiu arranjar no curto espaço de tempo em que a mulher o admirava. — Pedimos a comida no cardápio e levamos para jantar lá. — Ele deu de ombros e colocou as mãos nos bolsos de trás, tentando agir o mais casual possível. Era óbvio que ficarem sozinhos em um apartamento era mais íntimo que jantarem fora, mas havia algo em que não o assustava ao considerar uma aproximação rápida. — Aí você pode me contar sobre o que achou de Cherry e eu posso te elogiar mais por Adoráveis Mulheres.
Lutando contra o embaraço da proposta, a atriz se esforçou para aprovar a sugestão enquanto tentava compreender o que aquilo significava aos olhos de Tom. Eles iriam jantar no apartamento dele como dois amigos e depois ela iria para casa lamentar com Kath o quão tola havia sido por não investir mais nele enquanto sabia que estava solteiro. Isso se não tomasse uma decisão e realmente buscasse se aproximar de Tom e infiltrar-se em seu coração durante a noite, provando que talvez o fim de seu relacionamento com Nadia não fosse tão mal. O pior que aconteceria seria levar um pé na bunda e eles terem de dar um beijo técnico no próximo filme que gravassem juntos.
— É uma opção mais segura — repetiu a confirmação do convite, dando alguns passos para dentro do camarim. — Pode pedir o jantar que eu dispenso a Katherine e minha pizza congelada. — Ela lhe deu um sorriso.
Tom estava segurando-se para não dar um soco celebratório no ar.
— Fechado. — Ele concordou com a cabeça enquanto repetia um mantra interno, esse o mandando ficar calmo e não perder a pose. Iria pedir as melhores massas do cardápio, afinal essa era a sua única chance de conquistar pela barriga, já que não conseguia fazer uma vitamina de frutas sem queimar o liquidificador. — Hum... Você não está de dieta, não, né? — O breve erguer de sobrancelha dela foi proposital, planejado para o deixar embaraçado e surtiu efeito, tanto que Holland rapidamente tentou se explicar. — Não que não pareça, claro que parece! — Gesticulou para a mulher, que se esforçou para segurar um sorriso, pois o deixar assim era fácil demais. — Você está ótima, ! — Ela finalmente riu e assentiu. — É que eles têm uma sobremesa incrível e...
— Calma, Holland... — balançou a cabeça, demonstrando que não havia se ofendido com a pergunta. — E, claro. Pode pedir! — A personal trainer só era contatada uma vez ao ano, normalmente três meses antes de iniciarem as gravações de qualquer filme da franquia. Os outros meses eram passados em uma tentativa de regular frituras com corridas e salada. — Por favor, peça.
Tentando soar o mais casual possível, Tom avisou que lhe informaria sobre a comida quando fosse entregue e se retirou para o próprio camarim, deixando uma ansiosa rogando aos deuses acima por um bom desfecho para a noite.


*


A comida havia sido entregue ainda no prédio da WIRED, se amontoando em sacolas enormes de papel que aguardavam por no andar da garagem, sendo carregadas por um Tom que tentava destravar as portas do carro. Se aproximando com pressa, roubou a chave e tirou uma das sacolas da boca dele, a segurando na mão livre enquanto destrancava o veículo. O processo foi feito em silêncio e com tentativas falhas para não rir de Thomas.
— Eu estava quase lá — ele comentou sem graça ao colocar as sacolas no banco do Volvo que foi alugado na última hora, de forma alguma querendo arriscar serem vistos em um táxi pelo bem da imagem dela. Sacudindo os braços, Tom indicou o banco do passageiro e abriu a porta com cavalheirismo.
— Certeza que estava, Princesa e o Sapo — respondeu com um sorriso.
Balançando a cabeça, entrou no carro ainda segurando no colo a sacola que pegou e esfregando as mãos ao sentir o cheiro delicioso que vinha dela. Talvez, com toda a sua pressa, Tom houvesse a sacudido demais e algo tivesse aberto, mas o cheiro ainda era ótimo. O ator contornou o carro com nervosismo, já imaginando que faria alguma piadinha com ele até o final da noite e satisfeito por não ter pagado tanto mico quanto imaginou que faria. Claro que ele gostaria de já estar abrindo a porta para ela quando ela chegasse, mas se ao menos conseguiu abrir de alguma forma, considerava meio caminho andado.
Se sentando e tomando a chave que foi entregue, Thomas deu a partida.
— O cheiro de morangos disso está forte, não é? — Foi a primeira pergunta que fez enquanto digitava o endereço do loft alugado no GPS. Seria sua casa pelos próximos dias em que estivesse na cidade.
— São morangos? — apertou as sobrancelhas e respirou fundo para sentir o aroma que já dominava o carro a este ponto. — Uh, sim... São sim! — Tom sorriu ao manobrar o carro para fora da vaga, contente por ter a agradado até o momento. A voz do GPS já ditava o endereço e pôde reconhecer que seria um prédio em Soho há poucos minutos de onde estavam. — O que pediu?
— É um crumble. Ainda está desmontado e tem que ir para o forno — Tom explicou-se com certa insegurança, não confiando em sua habilidade de não queimar a sobremesa. — O Sam pediu na primeira vez que fomos lá e é tão bom que passamos a noite toda roubando do prato dele. — Imaginar os irmãos Holland brigando por sobremesa fez sorrir para a janela do carro. — Para ser sincero, estou com medo de queimar o prédio tentando esquentar isso. — Tom coçou a garganta, juntando certa coragem para completar a explicação e dizer toda a linha que tinha ensaiado. Devia terminar com: “É uma boa sobremesa para um primeiro encontro”, porém não conseguiu. Imaginou que a pressa fosse assustá-la. — Tinha de amoras, mas eu lembrei que você gostava de levar aqueles sanduíches horríveis para o set com geleia de morango.
zombou dele, imitando sua voz com desdém ao avançarem por NYC.
— Qual o problema de vocês britânicos com pasta de amendoim?
— Nenhum, mas vocês colocam em tudo! — Foi a mesma resposta de sempre e adorava discutir com Tom sobre os gostos diferentes, gostos estes que haviam lhe rendido um olhar estranho de Benedict Cumberbatch no set de Guerra Infinita e feito os diretores rirem por nenhum dos dois saírem dos personagens. — E tem um gosto estranho... Parece algo que não devia ser comestível, .
— É claro que colocamos em tudo! — Ela assentiu rindo. — É uma delícia! — Tom fez uma careta quando pararam em um sinal de trânsito, balançando a cabeça por ainda não entender a fixação dos americanos com o creme horrível. — Ah, vamos, Tom... — Ela o cutucou com o cotovelo. — É salgado e mistura com o doce da geleia... — quase podia sentir o gosto de um sanduíche com os dois ingredientes, lembrando-se dos que a avó fazia. — Você também come doce com salgado. Croissant com geleia? Eu já te vi comendo isso.
— Croissant não é salgado! — o londrino discordou com um sorriso, só agora lembrando-se de como era divertido ficar alfinetando . Dificilmente teria momentos assim com Nadia, afinal ela sempre fugia de confrontos ou cedia por não querer irritá-lo. E este era o detalhe sobre Tom: ele gostava de coisas assim. De discussões bobas e alfinetadas que só demonstravam a segurança de um relacionamento, sendo este amoroso ou não. — Croissant é doce por fora! — Enquanto ele dirigia, mal pôde se atentar a , que ria em seu banco. Tom a olhou duas vezes enquanto trocava de linhas e ergueu a sobrancelha. — Do que está rindo, ?
Cobrindo os olhos para não ter de olhá-lo, ela respondeu:
“Quackson”. — A risada sem vergonha ecoou pelo carro e esfregou os olhos. — Você falou “quackson” duas vezes e nem percebeu.
Ultrajado e sorridente, Thomas interveio:
— Eu não falo assim!
O resto do rápido trajeto foi uma ávida discussão sobre onde seria adequado usar o condimento e nenhum dos dois conseguia esconder os sorrisos que estampavam os seus rostos; distantes há tanto tempo pela falta de gravações juntos que era delicioso dividirem o mesmo espaço outra vez. E no fundo de seu coração, sabia que a distância apenas fazia o amor aumentar, mesmo que não tivesse certeza de que todo o carinho que tinha por Tom significaria amor, ao menos não com tanta pressa. Ainda assim, ela via uma possibilidade concreta ali.
Era de conhecimento geral que relacionamentos entre pessoas com vidas tão públicas eram perigosos e estavam propensos a se esgotarem pela distância e a mídia sempre em cima, mas não conseguiria imaginar outra pessoa para aceitar tal desafio além de Thomas. Era da natureza dele essa afinidade por desafios e ela também não se via fugindo em um com tanta facilidade. O que diabos estou pensando? se censurou após um tempo. Ela mal via sinais de que era este o interesse dele, mesmo que estivesse estampado no sorriso de Tom durante toda a viagem para seu apartamento.


*


O que Thomas havia comentado ser um loft era um apartamento na cobertura de um prédio de luxo, o que não surpreendeu de forma alguma. A Marvel tinha um histórico de mimar os atores e já era normal. Ela mesmo havia comentado uma vez com um representante que gostaria de ir esquiar e ganhou uma semana em um spa nas montanhas por não poder arriscar o “novo rosto da empresa” com esportes. O loft tinha uma sala espaçosa com móveis de madeira escura e couro, muito distantes do que ela imaginou que Thomas escolheria para seu lar, mas parecia agradável para poucos dias na cidade. Ele, ainda com diversas sacolas, segurou a porta da cobertura para ela e deixou que entrasse primeiro. O rapaz mal havia passado no local antes da entrevista, porém apontou para ela onde podia lavar as mãos.
— É um apartamento legal, Holland — a atriz elogiou enquanto usava o lavabo. Havia sinais dele pelo local, claro. Uma necessaire de couro com pastas de dente e outros itens masculinos adornavam a pia e secou a mão antes de voltar para a área principal. — Mas acho que eu esperava por um monte dos seus irmãos mais novos zanzando por aqui.
Tom havia feito o mesmo que ela no lavabo de serviço e já analisava os pratos disponíveis nos armários, assim como os talheres e taças. A cozinha estava mais bem equipada do que ele esperava e foi um alívio. Thomas se virou para encontrar observando a decoração com as mãos nos bolsos de trás do short e não pôde evitar sorrir para si enquanto apanhava travessas para dispor a comida de forma elegante. A situação não era muito diferente do que seus primeiros encontros costumavam ser, afinal nunca foi muito fã de locais lotados e gostava da privacidade de jantares íntimos. A maior diferença era a falta que Harry fazia por não organizar o “cenário” do jantar. Tom devia metade de suas namoradas aos truques dos gêmeos talentosos. E a fofura de Paddy.
— Eles só podem vir nos fins de semana ou feriados prolongados. Harry veio hoje por palhaçada mesmo — Holland respondeu ao utilizar uma espátula para colocar as entradas em um prato, tomando todo o cuidado do mundo para não deixar que nada escapulisse. — Os gêmeos têm faculdade e o Paddy ainda está na escola, então mal podem sair. Se você vier me visitar em Londres um dia desses, pode jantar conosco. O Harry é um mala, mas vai ser divertido e a comida do Sam faz valer a pena. — concordou de bom grado enquanto se aproximava do balcão da cozinha e fez o favor de abrir os panos americanos que descansavam ali. — ... — Thomas reprovou a atitude dela quando a viu. — Eu faço isso.
— Tom, você já pagou o jantar e está se saindo um ótimo chef empratando a comida — ela retrucou e acenou para que ele voltasse para seus afazeres. — Eu só trouxe um estômago vazio, então o mínimo que posso fazer é pôr a mesa. — Colocando as taças já separadas por Holland em ordem, ela explicou. — Onde tem talheres?
Com o dedo na boca para lamber o molho das entradas, ele respondeu:
— Vi o Harry tirar uma colher dessa gaveta perto do cooktop. — Tom esperou que ela pegasse os talheres e jogou uma toalha quadriculada sobre o ombro. Sam sempre fazia isso enquanto estava na cozinha, então devia ter um motivo. — Frutos do mar vão bem com vinho branco, não é? — questionou ao se adiantar para a pequena adega fria próxima à geladeira, caçando as melhores garrafas. arregalou os olhos pela pergunta, afinal esperava que fosse apenas um jantar entre amigos e não algo que pedisse por vinho. Ansiosa, ela concordou em voz alta. — Ok. Temos um Sauvignon Blanc, por sorte.
se sentou no banquinho de frente para a mesa posta.
— Vou ser sincera e admitir que eu não sei nada sobre vinho.
Erguendo a garrafa caríssima, Thomas sorriu para ela.
— Também não sei — ele assumiu e os dois riram. — Sério, na maioria das vezes, eu só estou fazendo o que o Sam me manda fazer. Na minha casa, só tem cerveja e chá, mas estou dando o meu melhor aqui, tá? — assentiu divertida e agradecida pelo esforço alheio. — Está pronta para sua entrada, Srta. ? — A jovem esfregou as mãos em preparo e Tom tomou cuidado ao pegar os pratos e os posicionou com cuidado no balcão, atento para a expressão admirada de quando pôs os olhos nas entradas apetitosas. — Creme de vôngole com espinafre e molho de gorgonzola. Possivelmente a melhor comida que eu vou servir para você.
Thomas não sabia cozinhar, mas ao menos sabia transformar comida já pronta em algo belíssimo de olhar. O creme estava mais apetitoso que podia esperar, os mariscos dispostos de forma elegante no centro, as folhas cobertas com molho em um canto e croutons com azeite no outro. Antes mesmo de se sentar, o ator fez o favor de abrir o vinho e preencher as taças, também ansioso para provar da comida maravilhosa outra vez.
— A cara disto está incrível! — elogiou e Tom apanhou os talheres com um meio sorriso para ela. — E o cheiro está ótimo, também. — Ela já salivava a este ponto e não gastou segundo algum antes de tirar uma garfada, tomando cuidado com as conchas e as descartando para o canto do prato. fechou os olhos, pois mesmo não sendo fã de saladas, o molho de mariscos era refrescante e muito melhor que soava ser. Cobrindo os lábios, ela assentiu várias vezes apenas para ver o sorriso de Tom tomar proporções maiores. O espinafre e a rúcula não estavam amargos demais e os frutos do mar eram suculentos. — Se você tivesse cozinhado isso, eu diria para largar essa história de ser ator.
— Eu disse que a comida era boa, não disse? — Holland também provou da entrada, a refeição nem comparada com o que comeu o dia inteiro no avião. Ele estava mais que satisfeito com a aprovação de , porém ansioso pelo resto da noite. Não se viam há tanto tempo que soube não poder ficar muito calado enquanto jantassem. — Por falar em história de ator... — Limpou o paladar com um gole do vinho. — Já terminou de gravar com o Woody Harrison?
— Já sim! — assentiu animada antes de também beber um pouco. — A previsão de estreia é em janeiro — respondeu ao lhe dar atenção, tentando driblar a gula para conversar melhor. Tom parecia pecaminoso de onde estava debruçado no balcão com a toalha no ombro. — Eu gostei do roteiro do filme, mas não achava que precisaria de uma continuação, sempre senti que o primeiro finalizou bem a história.
— O Paddy é louco por Zumbilândia. E está mais doido ainda com a continuação — Tom comentou e ela tentou não sorrir de boca cheia, ainda surpresa com o creme de espinafre e a fofura de Paddy Holland. — Na verdade, ele é doido por você. — “Sério?” Ele assentiu ao lembrar-se do irmãozinho e enfiou outra garfada da comida na boca. bebericou o vinho e analisou que tipo de resposta podia dar para tal informação. — Mês passado ele fez a minha mãe assistir Adoráveis Mulheres com ele para diminuir o “teor feminino” do filme. — Thomas coçou a nuca e riu com a cabeça baixa, não conseguindo imaginar como os pais dele a viam. — Acho que esqueci de te mandar a foto da família inteira chorando quando a Beth morreu. Começou só com eles dois assistindo e depois todo mundo se juntou.
— Fico feliz que tenham gostado. — apoiou o rosto na mão. Não costumava assistir os próprios filmes por ter vergonha de acabar se flagrando fazendo algo errado, mas estava satisfeita por ter agradado os Holland. E antes mesmo de unir coragem para falar o que estava na ponta da língua, já se sentiu ruborizar quando Tom se virou para verificar se o prato principal que esquentava já estava bom. — E feliz por você não ser o único Holland louco por moi.
— Não sou o único, mas sim o que tem chances reais. — Enquanto caçava uma espátula, Tom não mediu o sorriso. Ele ainda estava aprendendo a falar com mulheres; afinal, após anos sendo excluído ao ser um “menino idiota louco por dança e musicais”, o sexo feminino e suas muitas camadas ainda eram parte de um território relativamente inexplorado por ele. Já , ergueu o punho vitoriosa, aproveitando-se da distração para celebrar.
Ao se recompor, retrucou calmamente:
— Vamos ver, Tom — ela pediu aos céus que o sorriso não estivesse evidente na própria voz. — Vamos ver.


*


— Você não fez isso, ! — Tom cobriu a boca ao gargalhar, a cabeça pendendo para trás como uma criancinha enquanto ouvia a história dela.
riu tímida contra a própria mão, cutucando uma concha que veio no ensopado que comiam como prato principal. Tom havia escolhido todo um menu com frutos do mar e acertado em cheio por serem os favoritos dela, mas toda a conversa ainda conseguia ser mais convidativa que a boa comida. Ele havia lhe contado sobre os pais, a casa que comprou há duas ruas de distância deles, o filme que ia gravar com Chris Pratt e muitos outros detalhes que haviam sido esquecidos nas constantes mensagens de texto que trocavam. contou sobre filmes, a avó em uma casa de repouso de luxo, os namorados de Katherine e sobre todos os problemas envolvendo Chris Pratt que deixaram Tom de cabelo em pé. Agora, lhe contava sobre uma das primeiras gafes que pagou na carreira.
— Foi sem quer, eu juro! — ela continuou, eufórica por o fazer sorrir. — A ligação caiu e eu podia jurar que tinha sido minha culpa. — A memória era tão distante que não podia evitar ficar nostálgica ao lembrar-se. — Então liguei de volta e a Scarlett não atendeu, é óbvio. — A atriz bebeu mais vinho enquanto Tom a olhava incrédulo, reconhecendo a sensação. Já havia ignorado uma ligação de Robert Downey Jr e se culpado durante o dia inteiro por isso, mesmo que o ator mais velho não ligasse muito. — Então eu liguei para a Katherine chorando e falei “Kath, eu vou perder o meu emprego!” — imitou a cara de choro e a voz, usando a mão como um telefone e Tom gargalhou. — Cinco minutos e meia barra de chocolate depois, a Johansson me ligou com todo o carinho do mundo e disse “Meu amor, a bateria caiu! Onde estávamos?”
— Acho que eu tinha passado mal no seu lugar. — Thomas balançou a cabeça. — É estranho porque estávamos começando e qualquer erro mínimo parecia que o mundo ia acabar, não é? — assentiu, pegando um pedaço do pão artesanal que acompanhava a refeição. Havia certo conforto em dividir tais experiências um com o outro; um lembrete de que ambos começaram toda a carreira muito cedo e muito imaturos para a indústria, mas tinham sorte de conviver com outros atores que os compreendiam. — Fico pensando se uma hora vai ter alguém com medo de desapontar a gente igual ficamos com o RDJ e os outros do elenco.
— Talvez — ela respondeu ao pensar bem. — Essa coisa toda de ser o novo rosto da Marvel pode pegar e daqui há alguns anos alguém vai borrar as calças se tiver que contracenar com a gente. — deu de ombros e Tom assentiu. Os novos títulos que seguiram o último filme dos Vingadores estavam pesando para ambos. — E ainda somos tão jovens, Tom... Acho que um dia pode rolar.
Thomas concordou com alívio, relembrando-se o motivo de ter se conectado a em primeiro lugar. 2019 foi um ano cheio para eles e com muitos papeis novos ao tentarem se desvencilhar do título de heróis. Muitos erros e alguns acertos, mas ainda foi valioso. estava abrindo muito espaço em premiações com seus papeis recentes e Tom ainda se esforçava para arranjar tais papeis, mantendo um pensamento positivo. Ele podia reconhecer o valor que tinha em conversar com sobre isso e como ela o entendia bem nesse sentido. E Holland também reconheceu o aroma dos morangos no forno.
— Vou pegar a sobremesa antes que queime! — anunciou ao se levantar. Até aquele momento nada havia pegado fogo ou quebrado, mas ele não podia confiar na sorte. — Tem tido notícias do Froy por esses dias?
afastou os pratos vazios para auxiliar.
— Soube que ele está na Escócia com o namorado — ela comentou. — A Zendaya está em Miami fazendo alguns comerciais para a Lancôme. E o Jacob está em sabe-Deus-onde e me atualizando do seu namoro. — sabia que o assunto podia ser delicado, mas decidiu o mencionar no caso de Tom estar se questionando como ela sabia sobre seu relacionamento sem ele ter lhe contado.
— Fazendo um péssimo trabalho, pelo visto — Thomas reclamou ao lembrar já ter avisado para Jacob sobre o fim do namoro com Nadia e ele ter falhado em contar para . — Nós terminamos em março. Não sei como o Jacob não te avisou mais cedo — ele comentou ao separar um pedaço da sobremesa em um prato, cuidando para que nada se despedaçasse mais que o necessário. — Eu ia te contar, mas então percebi que nunca nem tinha mencionado a Nadia para você e podia soar estranho — o ator justificou-se sem importar-se muito. Ele havia falhado com Parkes e aprendido a lição. — Nós não tínhamos muitas coisas em comum e eu errei feio com ela.
— Podia ter me falado, Tom. Podíamos ter conversado sobre.
Ele voltou para o balcão com os pratos de sobremesa e o chantily em um bowl.
— Chegar com um beicinho e reclamando que terminei com a minha namorada porque ela tinha ciúmes de nós dois? — Thomas questionou com um olhar cínico e um sorriso acompanhando a expressão surpresa de . — Eu bem que queria estar brincando, mas não estou. — Ele já imaginava que ela reagiria assim e tinha pensado bem antes de contar a verdade. — E também, nós nunca fomos tão... Próximos. Sempre teve aquele sentimento de “estamos juntos porque não tem algo melhor” e “é conveniente e confortável”.
atentou-se para a história enquanto Tom lhe entregava o doce, tentando decidir o que lhe chamava mais atenção: a torta ao contrário ou as veias saltadas no braço dele. Respirando fundo, a atriz se pegou surpresa ao imaginar Holland em um relacionamento estagnado, imaginando que se fosse ela no seu lugar, já teria renunciado ao namoro. Não conseguia se ver em algo tão parado; a rotina parecendo uma prisão. não era tão elétrica como Tom ou outros amigos; sempre preferindo estar em casa e com sossego, mas não entendia como alguém podia ser tão acomodado ao ponto de manter um relacionamento sem ação e que fosse tão rotineiro ao ponto de ser fácil de largar.
— Mesmo sendo o pivô do seu término, algo que ainda vamos discutir porque você não se explicou direito — apontou séria para o ator, que ergueu as mãos em rendição. — Eu meio que entendo essa parte de conveniência — ela lamentou sem muita animação, apanhando um garfo que ele ofereceu e tirando um pedaço do crumble. — Longe de mim ser a pessoa que dá a ideia de pular de bungee jumping, mas... — Tom sorriu pela maneira que ela também fez ao imaginar a cena. — Rotina é sem graça e ficar pisando em ovos com alguém é tão chato. — Pela maneira que se expressava, Holland não podia evitar se questionar se ela também esteve presa em algo assim. — A partir de um ponto, é como ter um estranho na sua vida. Não o tipo divertido onde tem sempre algo novo para descobrir na pessoa, mas alguém que já é tão comum que parece estar dividindo a vida com uma sombra.
enfiou a sobremesa na boca para se impedir de prosseguir.
— Está certa — Thomas a imitou. — Eu devia ter te procurado para conversar.
Havia um sentimento morno de compreensão no ar, provando quão confortáveis os dois estavam em dividir tais experiências. Tom nunca falava sobre namoros passados em encontros, mas sentia precisar dividir aquelas informações com , seja para desabafar ou garantir para ela o quão rápido e insignificante os seus meses com Parkes foram. Provar que namorada alguma era capaz de o desvencilhar do desejo de estar com e que seu sentimento por ela era real e não só uma paixonite que podia superar com outra pessoa.
— Como estão as críticas de Cherry? — a atriz indagou para que mudassem de assunto. Estava ciente que, se entrassem de cabeça no tópico dos namoros malsucedidos, teria de contar sobre as suas experiências.
— Estão indo bem, obrigado. — Thomas colocou a mão livre no balcão, próximo o suficiente da mão de e distante o necessário para fingir não ter sido seu intuito fazê-lo. Felizmente, ele não percebeu o olhar que ela trocou entre suas palmas tão próximas. — Estou orgulhoso do filme. A Ciara é ótima, também. — Ignorando o risco que estava tomando, Holland decidiu prosseguir. — Mesmo eu preferindo que fosse você no papel.
interceptou uma garfada ao dar um sorriso tímido para o co-star.
— Quem te contou? — a jovem questionou, correndo a língua pelos lábios.
Tom engoliu um morango flamejante.
— Katherine contou para o Harry — fofocou baixinho. — Por que pulou fora?
— Ah, Tom... — suspirou, mordendo o canto do lábio. Não esperava que ele descobrisse sobre o papel recusado, mas tinha certa ideia de que lhe contaria a verdade um dia. — Nós dois já gravamos tantos filmes e sempre que dois atores conhecidos no mesmo âmbito fazem algo juntos, os holofotes tendem a se dividirem. Não quis isso para você. — Ela pegou um morango amassado com o garfo. — Além disso, Cherry é o seu primeiro papel como ator principal definitivo fora da Marvel e eu não queria roubar isso de você — a mulher se justificou, evitando olhar para Thomas e perdendo a expressão de alívio que ele mantinha no rosto. — A Ciara é jovem e ainda está fresca da faculdade, então toda a atenção foi sua. É um tremendo papel e você mereceu.
Holland sentiu vergonha do que tinha considerado ser o motivo dela.
— E agora eu me sinto um imbecil... — Tom sussurrou, esfregando a testa.
— No que estava pensando, Homem-Aranha? — cobrou sorridente.
O ator balançou a cabeça, tão envergonhado que as bochechas estavam rubras.
— Não sei, só... — ele suspirou e os ombros caíram ao reavaliar tudo o que sabia sobre e o quanto ela ainda tinha muito para lhe mostrar, principalmente se levassem em conta o que tinha feito apenas para lhe oferecer aquela chance. — Ah, eu sou um idiota... — Tom esfregou o rosto exasperado e a ouviu rir antes de sentir a mão macia de em seu pulso, afastando apenas uma mão dele para que Thomas pudesse olhar a sua sobrancelha erguida em confusão. — Pensei que não queria mais gravar comigo e por isso tinha descartado o papel.
Revirando os olhos, ela deu um tapa no braço dele.
— Bobagem, Holland.
— Eu adoro gravar com você, — Thomas esclareceu seus motivos e a preocupação fútil e egoísta, segurando a mão dela com vontade de lhe explicar a razão de aquela possibilidade ter o preocupado tanto. Toda a ideia de a ver com O’Brien e outros atores lhe doía mais por imaginar que foi ela quem decidiu abdicar um papel com ele por já ter se exaustado de sua presença. — Tem sempre esse sentimento bom no set e eu pensei que estivesse pulando para outra — explicou-se com cuidado, atento para como envolveu o dedão dele com os próprios dedos e manteve o contato visual, temendo que Tom pudesse ouvir seu coração batendo mais forte. — Não sei... Fiquei meio magoado, confesso. O ponto alto do ano é filmar com você e imaginar que tinha descartado o filme por outro motivo foi meio chato.
— Ainda temos contrato para mais dois filmes, Homem-Aranha — o lembrou, lutando contra o calor em seu rosto e os sentimentos que fluíam por seu corpo ao considerar as palavras dele. — Vai ter que me aguentar por mais uns anos e pagar mais comida italiana nos próximos dias dos namorados.
Tom pendeu a cabeça para o lado quando ela o soltou e voltou a comer.
— Não era nesse sentido, mas é bom saber — o rapaz comentou.
— Que sentido, então?
Holland balançou a cabeça e pegou um pouco de chantilly.
— Você e o O'Brien, sei lá...
— Ciúmes da sua co-star favorita? — provocou com um sorriso convidativo, certa de que era o mesmo que sua personagem dava para Peter Parker nos filmes. Inocente mesmo que um pouco conhecedora.
percebeu que aquele era o momento ideal para agir e investir no britânico, possivelmente sendo a única chance que teria para fazê-lo. Thomas estava preocupado em ela o largar por não querer mais dividir as telas com ele e tal preocupação era uma pista valiosa do quanto se importava.
Holland engoliu em seco e molhou os lábios.
— Ciúmes de você como pessoa, não como co-star — ele a corrigiu em um tentativa de fingir não pensar muito na resposta, mas o rubor que marcava suas orelhas não era tão fácil de disfarçar e fez sorrir abertamente. — é bem legal, mas eu ainda prefiro a que come manteiga de amendoim com geleia. — A resposta a fez rir.
— O Dylan é ótimo, Tom — ela elogiou, brincando com a comida mesmo que estivesse deliciosa, mesma coisa que fazia descaradamente com os sentimentos dele. — Mas eu não troco isso aqui por outro almoço.
Thomas não conseguiu esconder o sorriso embaraçado que acompanhou as borboletas no estômago.
— Bom saber.


*


— Quanto tempo vai passar em Nova Iorque, Tom?
A dupla ocupava-se com as louças do jantar ainda que Holland houvesse exigido que não encostasse em nenhuma delas enquanto ele as lavava. Após certa discussão sobre o agradecimento correto por um bom jantar, ela havia o convencido a secar as louças enquanto ele as lavava, acelerando o processo para que pudessem conversar por mais um tempo antes de precisar ir para casa ou Harry Holland voltasse de onde diabos estivesse. No processo, a atriz só conseguia pedir aos céus que não fosse em sua casa e na cama de Kath. A possibilidade a fez sorrir mesmo sabendo que traria muita dor de cabeça, seu interesse na felicidade de Katherine ultrapassando qualquer coisa que pudesse dizer para os impedir.
Thomas estava tentando usar a bucha para remover uma mancha em um prato, quando percebeu o sorriso mínimo no rosto dela, euforia o dominando ao considerar que poderia, com sorte, ter mais sorrisos e momentos assim com ela. havia lhe dado mais espaço em sua vida e a promessa de mais dias dos namorados que pudessem passar juntos o deixava ansioso de uma maneira boa. Ele pegou um pouco de água limpa da torneira entre os dedos e espirrou nela para chamar sua atenção, sendo retribuído com um toque atrás dos joelhos e que o fez quase perder o equilíbrio. Tom e Froy sofriam com isso sempre que a provocavam no set e já havia se tornado um traço característico.
— Em três dias — Thomas respondeu, ciente que era muito pouco tempo.
Os lábios de se curvaram em um beicinho.
— Com sorte, dá pra matar a saudade em três dias e marcar o seu território no caso de o O’Brien pagar o engraçadinho — provocou, esbarrando nele ao abrir o armário e colocar os pratos secos dentro. Ela sabia que Dylan nunca faria isso, muito cavalheiro para sequer pensar na possibilidade. Porém não ia perder a chance de importunar Tom ainda mais.
O outro ator apenas revirou os olhos.
— Isso depende. — Ele deu de ombros, dedicando-se a limpar as taças. — Planos?
— Te levar a um tour pela cidade. — o olhou, apoiada de costas na pia e mantendo toda a atenção nele. Seu rosto tinha mudado um pouco desde a última vez que se viram, mas ainda parecia o mesmo cara desengonçado que conheceu anos atrás. — Ilha Ellis, Broadway, Central Park... — ela enumerou e Thomas assentiu, satisfeito com o cronograma e a chance de passarem mais tempo juntos agora que os sentimentos um pelo outro estavam claros. A mulher mordeu a língua para não adicionar “meu quarto” no planejamento. — Aí pode decidir qual prefere.
Holland a olhou pacientemente por um instante antes de balançar a cabeça.
— Não preciso de três dias para decidir.
O contato no queixo de serviu como um apoio durante os breves segundos necessários para que se aproximasse e a beijasse, olhos fechados ao mergulhar no toque delicado. Thomas inclinou-se sobre ela assim que o selar foi retribuído, os dedos da atriz automaticamente erguidos para descansarem em sua nuca e o aproximarem ainda mais. Tom tinha gosto de vinho floral e morangos, e suspirou no beijo ao senti-lo; um sorriso mínimo escapando, pois enfim. Porém, o breve ósculo foi interrompido pelo som agitado que ecoou pelo loft, os rostos dos dois tão próximos que pôde sentir quando Tom franziu a face em confusão antes de se afastar, virando-se na direção da porta com o susto apenas para flagrar o irmão mais novo e uma Katherine Colch aos beijos na entrada da sala.
— Kath... — sussurrou incrédula, os olhando por trás do rapaz.
Ele fechou a torneira antes de coçar a garganta audivelmente e os dois soltaram-se como se estivessem em chamas. Os olhos claros de Katherine estavam acesos e os cachos de Harry molhados de suor quando olharam de Tom para e então um para o outro, ambos limpando os lábios manchados pelo batom rubro da maquiadora enquanto mantinha um sorriso enorme e o Holland mais velho respirava fundo. Kath puxou o casaco para se cobrir e Harry passou o cinto pela fivela com um sorriso amarelo ao propor:
Double-date?


Epílogo

"A paciente, uma mulher de 30 anos, contraiu o vírus durante uma viagem internacional para o Irã e está atualmente isolada em casa. O mundo está em alerta com o avanço do novo coronavírus, que surgiu em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, na China. A doença que causa a atual pandemia foi batizada pela Organização Mundial da Saúde como Covid-19. No próximo bloco, confira as principais perguntas e respostas sobre sintomas, transmissão, cuidados e possível cura."


enviou a matéria do The New York Times para Tom enquanto assistia o noticiário, Katherine agarrada com uma tigela de cereal ao seu lado no sofá. colocou a mão na tigela e levou algumas bolinhas de chocolate para a boca em uma tentativa de se manter quieta e ocupada. A epidemia se alastrava pelo mundo e o CCD já dava sinais claros de que ela se tornaria uma pandemia se permanecesse fora de controle. A única coisa capaz de acalmar a atriz era saber que a avó não teria de enfrentar tal mártir, descansando em paz após quase 90 anos de vida. Ela considerou, durante os comerciais, a gentileza e carinho que o namorado havia demonstrado quatro meses antes ao lhe acompanhar durante todo o processo em que esteve de luto pela falecida avó e a última pessoa de sua família. Tom voltou para Nova Iorque por ela e esteve no funeral, não ousando a deixar sozinha nem um minuto.
? — Katherine chamou, com os olhos baixos. — Acho que vamos precisar ir ao supermercado hoje. Não quero abraçar a bandeira americana, mas temos que comprar papel-higiênico e água.
— Se você não encontrar com o Harry no caminho, está tudo feito.
O “incidente” do Dia dos Namorados não foi tão facilmente esquecido e ainda não tinha encontrado diversão maior que esfregar na cara da melhor amiga que ela esteve muito perto de dormir com ele se não houvesse sido pega.
— Eu te odeio — Kath murmurou com um punhado de cereal na boca e mudando de canal. Não aguentava mais ouvir que estavam fadados a fazerem parte do elenco de The Walking Dead em breve. Ainda distante em seus pensamentos, o som do celular de vibrando passou despercebido pela dona e Colch o apanhou, dando uma boa olhada no remetente. — Mas pelo visto o meu cunhado não...
Um sorriso enorme surgiu no rosto de ao apanhar o celular. Saltando do sofá e seguindo para a varanda, ela atendeu a ligação ao sentar-se no chão.
É só me dar o sinal, que eu compro sua passagem — Thomas avisou ao jogar a bolinha amarela na direção do jardim, o som das patas de Tessa soando pelo assoalho de madeira quando ela zarpou pela casa para pegar o brinquedo. — É sério, . É só dar um bocejo que eu compro essa passagem. — Um segundo depois ele chamou: — Ei! Longe da piscina!
Uma risada escapou da namorada, esta que observava a vista de Nova Iorque.
— Eu não sei, Tom... — ela lamentou com um peso na consciência. — Nós mal começamos a namorar e, pelo que a ONU e o CCD estão falando, a quarentena vai durar um bom tempo. — tocou no vidro esverdeado do parapeito.
Thomas se sentou no deque quando Tessa começou a seguir uma borboleta.
Mais tempo pra ficarmos juntos. — Ele se pegou sorrindo mesmo que toda a situação fosse horrível, descartando a felicidade de imediato. Sua principal preocupação era manter a família segura e, segundo o “Boletim do Harry”, todos estavam bem e Paddy levaria brownies para ele depois do jantar. Agora, sua maior intenção era garantir que também estivesse. — E você prometeu que viria me visitar em Londres, lembra?
— Visitar, não passar um tempo indeterminado! — interveio, observando a cidade movimentada e nem sequer imaginando como ela ficaria em alguns dias. Tom estava certo em se apressar por uma resposta, pois a fronteiras fechariam em breve. — Fico preocupada de praticamente morarmos juntos e tudo ir rápido demais, entende? — Ela sentiu um rubor se formar, fechando os olhos. — E tem a sua família, também. Quem garante que eles vão me aguentar?
A ideia fez Tom rir ainda que atento para a cachorrinha perto da piscina.
Quem garante que você vai nos aguentar, ? sorriu com a provocação. — E a Kath vai para casa, baby. Eu não aceito que fique sozinha aí. — Katherine iria embora em quatro dias para casa em Minnesota, decidida a ficar com a irmã e os sobrinhos após uma longa conversa com a amiga, também não aceitando a deixar sozinha no meio do caos que o mundo havia se tornado. — Se pudesse iria para Nova Iorque, mas não podemos mais deixar o país. mordiscou os lábios e respirou fundo. — Antes de isso acabar, como sabemos que vamos nos ver de novo, hum? — Tom indagou, estalando os dedos para chamar Tessa. — E eu sinto a sua falta. — O rapaz sentiu o rosto esquentar e não pôde culpar o tempo fechado de Londres. Do outro lado do oceano, sorria ao deitar-se no chão gelado. — Eu não te vejo desde Barcelona... É tortura.
— Sabe o que é tortura? — Ela olhou por cima do ombro para ver se Kath estava longe. — Tortura é ter que usar gola rolê em pleno verão por que você não tem limites, Thomas — reclamou e o ouviu gargalhar do outro lado da linha.
Outro ponto positivo, então! — Ele sorriu ladino, tirando o celular do ouvido e batendo na janela atrás de si para que a namorada ouvisse. — Todas as janelas têm fumê e eu moro sozinho. Não vai precisar vestir nada se quiser.
considerou a oferta por um momento e sorriu, arrebatada por ele.
— Compra a passagem, Holland.


FIM



Nota da autora: Olá! Aqui é a Elis e eu espero que todas estejam bem e tenham gostado da fic! A PP interpreta uma personagem de criação minha na fanfic Phoenix — The Homecoming Endgame (sim, estou fazendo jabá :D) e eu tava louca pra postar essa aqui já faz um tempo, então fico feliz por terem lido até aqui :) Podem conferir mais sobre as fics que tenho no meu Instagram de autora (@autoraelis) e também irem lá fofocar comigo sobre o que acharam de WIRED. Esse epílogo deixou um gancho para uma segunda parte da fic que eu quero fazer, mas ainda não tenho previsão, então, me seguindo no insta, vocês serão informadas quando sair.
Muito obrigada por lerem até aqui e não deixem de comentar <3



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Trick & Tease [Restritas – Livros/Harry Potter – Shortfics]
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