Coffee & Snowy Day

Finalizada em: 15/12/2022

Único

olhou pela grande janela a neve caindo do lado de fora, suspirando ao voltar seu olhar para o relógio preso à parede e notar que restava menos de uma hora até a troca do expediente. Deveria ser uma coisa boa, em um dia frio como aquele, parte de si queria chegar em casa o mais breve possível, tomar um banho quente e ficar embaixo das cobertas assistindo algum filme de Natal.
Contudo, a decepção pelo horário tinha nome e um par de olhos capaz de fazê-la esquecer-se do mundo, , também conhecido como seu cliente favorito.
Não sabia muito sobre ele, apenas que além de extremamente bonito, era muito simpático e usava sempre uma roupa social quando passava no café. O era uma presença diária, bem, talvez não diária, já que não trabalhava aos domingos e não lembrava-se de tê-lo visto aos sábados, mas de segunda a sexta ele sempre estava lá. E aquele era o motivo do seu desânimo naquela tarde de quarta-feira: não havia aparecido para pedir seu café.
Seus dias favoritos eram quando ele aproveitava que o local não estava tão movimentado e sentava-se em uma das mesas, trabalhando em seu notebook ou lendo um livro enquanto tomava sua bebida. Era ainda melhor quando ela também não estava tão ocupada com o trabalho e eles conversavam algumas amenidades. Nada muito profundo, apenas o papo de todos os britânicos: o clima, o trânsito ou a agitação do dia a dia. Vez ou outra comentavam sobre algum filme ou série que haviam visto.
Ela nem mesmo sabia com o que ele trabalhava, embora imaginasse que fosse em algum dos escritórios de contabilidade da região. Ele parecia fazer o perfil de contador ou algo parecido, definitivamente da área de exatas.
No fundo queria perguntar um pouco mais, para saber se estava certa em seus palpites, mas o principal era saber se ele era comprometido ou solteiro. Não fazia ideia. Divagava todos os dias em como perguntar aquilo de forma sutil, para saber se deveria continuar fantasiando sobre ele, mesmo que suas chances de realmente chamá-lo para sair fossem quase nulas; Primeiro porque era tímida demais para aquilo e, principalmente, porque não poderia correr o risco de ser mandada embora do café: podia não ser o melhor salário do mundo, mas seu chefe era legal o suficiente para deixá-la alterar seus horários de expediente quando tinha algo na faculdade que exigia uma pouco mais de seu tempo, fossem seminários, provas ou trabalhos em grupo. Além, é claro, da vantagem de poder tomar quantos cafés quisesse ao longo do dia, viciada como era na bebida, era sempre uma vantagem não gastar seu salário com aquilo.
Suspirou um tanto entediada com a falta de movimento daquele dia, o que não era de todo ruim já que sua colega tinha acabado de sair para o intervalo. Prendeu os cabelos em um coque frouxo, ajeitando o avental vermelho antes de virar-se para a prateleira de bolos e cookies, pensando em organizá-la para passar o tempo. Estava fatiando uma das cheesecakes quando ouviu o barulho do sino na porta, não demorando a sentir a rajada de vento que veio assim que a porta foi aberta. Deixou a torta de lado, limpando as mãos em um pano próximo ao virar-se para o cliente recém-chegado.
O homem encarava o chão enquanto tirava o excesso de neve dos cabelos, antes de olhar para frente, abrindo um sorriso leve ao encarar a mulher.
— Boa tarde — disse educado, dando alguns passos para perto do balcão.
sentiu o estômago revirar ao reparar no sorriso do homem e em como seus olhos pareciam ainda mais do que o normal, se é que aquilo era mesmo possível. Piscou rapidamente, sorrindo sem graça ao reparar que ainda não havia dito nada;
— Boa tarde, bem-vindo novamente!
— Vocês já estão fechados? — Perguntou confuso, reparando na falta de movimento.
— Ah, não, não, deve ser o clima — respondeu ansiosa, não querendo arriscar uma saída rápida do —, está assim o dia inteiro.
— Entendo — tornou, logo abaixando seu olhar para a vitrine de doces — o café de sempre e um pedaço dessa cheesecake de blueberry, por favor!
— Para comer aqui ou levar?
olhou pela janela, pensativo, antes de tornar a sorrir em sua direção;
— Aqui mesmo, prefiro evitar o vento por mais alguns minutos! — Explicou antes de virar-se para uma mesa próxima, deixando sua bolsa e casaco na cadeira de frente.

A mulher mordeu o lábio inferior, divagando enquanto preparava o café dele. Aquela era uma oportunidade única! Quando poderia imaginar que ele seria a única pessoa no café? Que ficariam sozinhos por, pelo menos, alguns minutos? Sempre tinha alguém perto, na maioria das vezes nem mesmo conseguia trocar mais do que um “bem vindo/obrigada/até amanhã”, e agora ele estava logo ali, apenas alguns metros de distância.
Mas já teria dito algo se tivesse interessado nela, após tantas semanas, meses! Ele nunca nem mesmo flertou, pelo menos nada que ela tivesse reparado. Caramba, ele provavelmente nem sabia seu nome! E ela só sabia o dele porque no primeiro dia em que o homem apareceu, precisou perguntar para anotar no copo de café para viagem.
Olhou por sobre o ombro em sua direção, estava distraído olhando a neve, enquanto batucava os dedos na mesa, esperando pelo pedido. Vez ou outra anotando algo em uma folha de papel e riscando em seguida.
Suspirou baixinho, terminando de colocar o pedaço de torta em um prato, dando a volta no balcão e levando o pedido em uma bandeja.
tirou os braços de cima da mesa, dando-lhe espaço quando a mulher se aproximou, agradecendo sorridente quando ela terminou de deixar seu pedido.
— Bom apetite! — Sorriu, voltando para atrás do balcão, continuando sua tarefa anterior, tentando ignorar sua mente que gritava para ela iniciar um assunto, na expectativa de conseguir chamá-lo para sair. Logo suspirando ao reparar que perderia mais uma chance, assim como havia sido em todas as outras vezes que havia visto o .
Pouco a pouco, durante os quase trinta minutos que ficou sentado em sua mesa, alguns clientes se fizeram presentes, a maioria pedindo um café para a viagem. Vez ou outra um cookie ou um pedaço de torta. Apenas uma senhora mais velha parou para conversar, falando sobre como aquele dezembro estava frio e que ainda precisava comprar alguns presentes de Natal. E, novamente, eles estavam em silêncio, sozinhos no café.
, ela notou pelo canto do olho, guardou um pequeno caderno na mala, tornando a vestir seu casaco e retirando a carteira do bolso, aproximando-se no balcão, ao tempo que a porta tornava a abrir.
— Caramba, tá muito frio! Sorte a sua já estar indo pra casa! — Evie resmungou, só então parecendo notar que havia um cliente no café, sorrindo sem graça para ele. — Boa tarde!
apenas acenou com a cabeça, sorrindo pequeno na direção da mulher, que logo entrou pela porta lateral dos funcionários. Tornou a virar-se para , com uma nota de dez libras em mãos.
— Ficou 7,50. — A barista avisou ao pegar o dinheiro, separando o troco para devolvê-lo.
— Então você já está saindo também? — Perguntou educado, olhando-a curioso. o encarou por um segundo, acenando com a cabeça.
— Nesse final de ano mudamos um pouco os horários para deixar o café aberto por mais tempo já que, no geral, tem mais pessoas na rua — explicou ao estender a mão com algumas moedas — embora não tenha tido muito movimento hoje… — Deu de ombros — Então entro e saio mais cedo!
Ele concordou com um aceno, passando a língua pelos lábios finos.
— Sorte minha ter passado aqui em tempo — riu baixo, colocando as moedas no bolso.
— Ah, mas o café vai continuar aberto até às oito! — Explicou rapidamente.
O concordou mais uma vez, piscando em sua direção ao completar;
— É, mas aí eu não seria atendido por você, não é? — Sorriu de canto, erguendo a mão para se despedir — Até depois, !
A mulher piscou devagar, demorando para assimilar aquelas palavras, sentindo o rosto corar violentamente.
— Tchau — respondeu baixinho, duvidando que ele pudesse escutar ao sair.
precisou de um minuto inteiro antes de conseguir pensar com clareza, mordendo o lábio inferior para tentar evitar o sorriso.
Aproveitou que Evie tornou a aparecer, já com o avental do uniforme enquanto prendia os cabelos compridos, para dar a volta e limpar a mesa que ele havia usado, para então dar seu expediente por encerrado e, finalmente, voltar para casa.
Notou uma bolinha de papel largada sobre a mesa, pegando-a junto com o restante da louça e levando tudo para a cozinha lateral. Ouviu a porta abrir e uma voz conhecida cumprimentou Evie; Matt, quem iria substituí-la no próximo turno, tinha chego.
Por pura curiosidade, ao deixar a louça separada para lavar, abriu o papel antes de jogá-lo, reparando na caligrafia de ao ler algumas frases riscadas várias e várias vezes;

Oi. Olá!
Você quer sair
Você gostaria de sair comigo?
O que acha d
Você viu que o Winter Wonderland já está aberto?
Você quer ir comigo no Winter Wonderland?


Encarou o papel por alguns instantes, apertando-o entre os dedos.
Seria mesmo possível que aquilo fosse pra ela? Mas talvez ele estivesse pensando em convidar outra pessoa e só estivesse criando coragem para aquilo.
E se fosse ela quem ele queria convidar?
Por fim, tornou a amassar o papel e jogá-lo na lixeira próxima, antes de seguir para seu armário, tirando o avental e colocando seu casaco e cachecol, pegando sua bolsa e saindo do café após despedir-se dos dois colegas.
Deixaria para pensar naquilo numa outra hora, quando não estivesse sentindo o vento gelado em seu rosto, iria divagar sobre tudo aquilo quando estivesse em casa ou, talvez, devesse pensar agora mesmo, já que um par de olhos a encarou assim que ela saiu do café, sorrindo largamente em sua direção.



FIM.



Nota da autora: ESSA FOI CURTINHA, só pra dizer que participei do desafio do FFOBS!
Pois é, quando tava começando nesse mundo de fics, meu sonho era trabalhar em uma cafeteria e encontrar o amor da minha vida, aka Robert Pattinson. Infelizmente nenhuma das duas coisas aconteceu, mas vida que segue!
Espero que gostem e FELIZ NATAL!!!
Até a próxima!!

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