5 Meses

Última atualização: 09/08/2023

Capítulo I - Resting Grinch Face

PRIMEIRO MÊS

🎡

25 de dezembro de 2022
Bruges, Bélgica

“Grace, é Natal, pelo amor de Deus! Pense no menino Jesus, lá em cima naquela torre, soltando os cabelos, para que os três reis magos possam subir e girar o dreidel e ver se há mais seis semanas de inverno.”
Risadas.
Esse é o barulho que vem da TV nesse quarto escuro e silencioso. Eu adoro a Karen Walker, por isso faz uma hora e meia que estou na cama do quarto da minha avó assistindo episódios de Will&Grace. Na sala, todos estão animados, bebendo vinho, trocando presentes e jogando Gipf — um tradicional jogo belga para gente velha. Normalmente eu fico mais vibrante com o natal, sou a primeira a abrir as garrafas de álcool e gosto de brincar com os meus primos mais novos, mas agora é impossível porque está ESTRAGANDO tudo. Não paramos de discutir desde a hora que nos encontramos.
Bem, quando eu enviei aquela foto para ele no dia da final ele simplesmente me bloqueou. Sem brigas, áudios xingando ou ligações consecutivas, o que me deixou desconfiada. Então eu vi que ele estava pulverizando as suas energias para quando nos encontrássemos no Natal.
Não tive escolha, a não ser me isolar e subir até o quarto de vovó para ficar longe dele. Subi com um prato de mokje¹ em um braço e Norby no outro - Norby é o gato da minha mãe, apesar de ele viver na casa dela eu penso que ele é mais meu do que dela. Ele é o british shorthair² mais fofo que existe e achei justo trazê-lo junto porque nem o pobre Norby merece ficar ouvindo as ofensas de a noite inteira.
Esse é, com certeza, o pior natal de todos. Só não está sendo tão horrível porque tenho para me distrair. A gente se fala todos os dias quando dá e quando não dá também, ele nunca me deixa entediada e sinto as coisas ficarem mais leves quando estamos conversando.
Estou enfiando biscoitos na boca, destroçando todas as letras ‘T’s de do prato, quando a luz do meu celular acende no escuro, eu me arrasto no colchão para conseguir pegá-lo e não demoro para checar porque eu sei que é ele.

-
mensagem de:
💙

posso te ter pro natal? 🎅🏼

tipo, embaixo da sua
árvore? 🎄


tipo na minha cama
embaixo de mim


tava achando que vc ia me
dar um feliz natal fofinho


-

Faz duas semanas que não nos vemos, desde a final da Copa. Apesar de ter tido uma semana de folga antes da volta da Premier League, ele ficou bastante ocupado com a rotina de pós campeão mundial, e eu estive envolvida com a finalização da campanha da Nike e Callebaut³ me chamou para um comercial de Natal de última hora. Não costumo aceitar campanhas assim, mas caramba! Era chocolate, não tinha como recusar. No final de tudo, eu estava de volta à Bélgica em pouco tempo, enquanto foi para Portsmouth ficar com a família dele, não sobrando muito tempo para a gente de fato se encontrar.
Eu e ele concordamos que essa agenda caótica é uma droga, mas nós amamos o que fazemos, por isso vale o sacrifício. Foi penoso recusar quando me pediu para ficar em Londres no natal, mas eu já faltei ao aniversário da vovó, se não viesse agora acho que a minha família me deserdava.

-
mensagem de:
💙

não finja que vc n gosta
e eu posso fazer os dois


ah, é?

sim, se estivéssemos em londres,
eu ia te levar pra covent garden
pra gente comprar e trocar globos
de neve, depois ia procurar um
visco pra eu te beijar embaixo
o que achou? talvez ano que vem


odiei pq eu não quero esperar até
ano que vem, eu quero agora


você devia ter pensando
nisso quando eu pedi pra
vc ficar aqui, babe!


-
Norby pula no meu estômago, bem onde estou sentindo as coisas revirarem. Descer até aquele campo foi a melhor decisão que eu já tomei. Desde aquele dia eu e vínhamos subindo níveis de intimidade e ele vem sendo mais carinhoso comigo, sendo com algum apelido fofo ou atitude inesperada, isso, claro, sem perder a malícia da sua personalidade que eu tanto adoro.
Eu sou uma completa bagunça e o meu coração derrete um pouco toda vez que a gente se fala, é como se eu fosse manteiga amolecida e uma faca quente. A cada instante que ele olha para mim, o meu cérebro pisca qualquer tipo de mensagem que diga: “você realmente gosta desse cara, não estrague tudo.”
É, acho que eu posso passar o resto do Natal só trocando mensagens com , parece mais interessante.
-
mensagem de:
💙

carnaby street também parece
uma boa opção. Não podemos
fingir que ainda é natal
quando eu voltar 😩?


não acho que seria a mesma
coisa
mas vc ainda pode me
dar o ano novo


te dar o ano novo ou
te dar no ano novo? 🤪


os dois, é claro
mas não comece com isso
agora


-
Dou uma risadinha e decido me fazer de sonsa, lembrando das fotos que tirei no provador da Bonheiden. Eu e somos provocadores natos. Na semana passada, quando eu estava gravando para a Callebaut, esse maldito me ligou apenas para dizer: "acabei de sair do chuveiro, banhos não tem graça sem você" e depois me enviou um monte de selfies sem camisa e dois boomerangs de pé no espelho, secando o cabelo com a toalha que devia estar na sua cintura, isso bem na hora que eu estava me preparando para filmar.
É claro que eu fiquei intrigada e com tesão, como eu podia gravar a porra de um comercial, se ao invés das falas decoradas, a única coisa que vinha na minha cabeça era passar a mãos pelos seus braços tonificados e beijar as trincas do seu abdômen? Eu lembrei de quando a gente transou no banheiro do meu quarto de hotel no Catar e do quanto eu queria estar lá com ele. Precisei de vinte minutos para me recuperar e voltar a gravar.
-
mensagem de:
💙

começar com o quê?
eu só queria te dizer que agent
provocateur fez uma coleção de lingerie
inspirada nas cores do natal
eu comprei duas e tirei algumas fotos
quer ver?


não, não quero

mentir é feio

-
Reviro os olhos, sabendo que ele está mentindo. Eu tenho um sério problema de consumismo quando se trata de comprar roupa íntima. Tem gente que é viciado em comprar carros, comida, aparelhos eletrônicos... eu gosto de comprar calcinha e sutiã. Devo ter mais de cem pares no meu guarda-roupa, sem brincadeira.
-
mensagem de:
💙

pq vc tem sempre que me
provocar quando estamos longe?


calado, vc faz a mesma coisa

eu? 👼🏻

você

certo, mas agora estou numa reunião familiar,
podemos deixar pra ser sujos
quando meu genro e a
minha sobrinha não estiverem
do meu lado no sofá


🤣
só se você deixar eu ver ela


claro, vou te ligar

-
Fico olhando para tela em expectativa, eu amo bebês e crianças, são as coisinhas mais fofas do mundo. Norby engancha as garras no meu suéter quando a chamada dele no FaceTime aparece. Eu atendo rapidamente, tentando me livrar das unhas do gato.
Hey, babe. Essa é a Summer, minha sobrinha. aparece na tela, ele está em um lugar iluminado, parece uma sala, no sofá. Tem uma touca de papai noel na sua cabeça, tão fofa quanto a garotinha no seu colo. Ela tem duas trancinhas no cabelo liso e bochechas vermelhas. — Summer, diga: “oi” pra .
O-oi. — Ela diz tímida antes de tampar os olhos com as mãos e esconder o rosto no pescoço do tio.
Você está com vergonha? sussurra para ela e depois olha para mim. — É, acho que ela está com vergonha.
Fico encantada com tanta fofura. Eu já a tinha visto no dia da final, mas não houve apresentações formais. Mas não é só isso que chama minha atenção e me deixa sem palavras, está diferente, o cabelo cresceu um pouco e ele não fez a barba. Não sei dizer se é a sua aparência combinada a ter entrado no modo “tio de uma garotinha” que o deixou ainda mais atraente.
Você não vai dizer nada? — Ele franze a testa para mim, estranhando a minha mudez. Eu pisco freneticamente, acho que devo ter ficado que nem idiota encarando a tela.
— Desculpe, estou tentando decidir se digo primeiro o quanto ela é fofa ou o quanto você ficou gostoso com essa barba. — Eu admito. Um sorriso arrogante estampa o rosto dele e por um momento eu percebo o que falei. — Merda… Tem alguém ouvindo aí?
Não, relaxe, estou com os fones. — Ele ri de novo e balança a cabeça para eu poder ver os earPods nas orelhas. — Porque aí está tão escuro?
Finalmente eu me dou conta que a única fonte de luz aqui é a TV ligada e mal deve estar vendo o meu rosto.
— É que eu tô no quarto. — Eu me estico para acender o abajur. — Pronto.
Vejo a minha imagem se iluminar na tela e ele me analisa. O meu cabelo está atrás das minhas orelhas e o meu suéter ombré deixa os meus ombros e clavícula a mostra.
Melhorou. Eu sabia que você ia estar usando esse batom. — Eu deslizo um lábio sobre o outro, como se quisesse espalhar melhor a cor. Nunca acho que o meu batom é exagerado, mas o meu suéter é preto e estou usando calças de couro escuro, mamãe disse que eu precisava de um pouco de cor. — Estou sentindo falta de arruinar isso.
Devolvo a ele um sorriso sacana. Nada que diz me deixa sem graça, na verdade, me instiga, mas não é bem o tipo de conversa que eu quero ter na frente de uma criança de quase três anos. Eu olho para Summer, ela está com um vestido vermelho e parou de se esconder. Ela pega uma rena de brinquedo e começa a brincar com ela, enquanto tenta insistentemente impedir que ela a coloque na boca.
— Não haja assim na frente do primeiro membro da sua família que você me apresenta! Tenha modos, .
É difícil quando você está tão bonita. — Eu balanço a cabeça como se dissesse obrigada. — E eu ia te apresentar para o restante no dia da final, mas você saiu correndo.
Encolho os ombros. — Eu fiquei sem graça, já te disse isso.
Depois daquele beijo, eu fiquei um pouco inibida com tanta gente olhando, claro que não éramos o centro das atenções, mas algumas pessoas realmente pararam para olhar para nós, isso incluía a família dele e combinei com de encontrar com ele no hotel.
Mas por que você tá em um quarto escuro sozinha?
— Estou apenas dando um tempo do barulho da sala. — Eu minto. Não quero estragar esse momento falando do meu irmão e decido mudar de assunto. — Não estávamos falando do ano novo?
Oh, sim. Eu ia perguntar se você quer passar a virada comigo. Vamos alugar a cobertura do The Savoy. Coisa simples pra curtir um pouco e ver os fogos. Acho que todo mundo vai levar alguém, você não pode me deixar segurando vela pra esses caras.
A ideia de passar a virada do ano enrolada em seu pescoço quase me faz delirar, mas a frustração parece triturar a minha cabeça quando lembro que já prometi a Ash que iria para Paris.
— Droga, Ash me chamou pra passar a virada do ano com elas na França.
Chama elas pra vir pra cá, garanto que vai ser mais divertido. — Ele dá um sorriso convencido, estou quase respondendo quando vejo a porta abrir e escuto a voz da minha mãe.
, você pode sair desse quarto e pedir ao seu irmão… Por que está tão escuro aqui?!
Ela acende as luzes e eu digo rapidamente para , que parece confuso: — Vou falar com elas. , eu te ligo de volta daqui a pouco.
Ok.
Eu mal o espero terminar responder e desligo. Não sei se ele estranhou, mas minha mãe escolheu um péssimo momento para me interromper. Eu não faço ideia do que ela ia pedir para eu fazer, mas não sou capaz de fazer nada por agora.
— Não, não posso pedir nada ao meu irmão.
Eu olho para a TV para não ter que olhar para ela. Minha mãe está me olhando feio desde de manhã, porque, de acordo com ela, ‘não estou interagindo direito’ com o resto da família.
— O que diabos está acontecendo com vocês dois? — Ela fica parada na frente da televisão e eu decido desligar.
— Ele está sendo um idiota.
— Você não consegue fazer um esforço, ? — Ela pede e eu devia ficar chateada com ela por pedir para eu me esforçar sendo que não sou que devia ceder, mas não consigo. Mamãe sempre me disse que dentre nós dois, eu sempre fui a mais fácil de lidar. — Parece haver uma nuvem de tempestade ao seu redor afastando os outros.
Ela está certa, eu não venho sendo a pessoa mais simpática do mundo. Eu apenas odeio trazer nossos pais ou qualquer pessoa da nossa família para os nossos problemas.
— Vou tentar. — Solto um suspiro.
— O que realmente está acontecendo? — Ela senta na ponta da cama, eu pego Norby e o coloco no meu colo.
— Ele está implicando comigo por causa de .
— Aquele da Inglaterra? — Eu concordo, não achava que mamãe lembraria dele, mas ela estava do meu lado quando deu aquele carrinho em no jogo das oitavas. — E o que ele é? — Minha mãe parece curiosa, agora me sinto como se tivesse quinze anos novamente e estou contando a ela sobre o meu primeiro namorado. Mamãe sempre foi uma pessoa condescendente, ela prefere conversar e entender a repreender. Nós nunca tivemos problemas para falar de problemas, trabalho, saúde ou sexo.
— Um amigo.
— Você e estão brigando desse jeito por causa de um amigo, com certeza. — Dou risada, tentando esconder as minhas bochechas vermelhas. — Era com ele que você estava falando antes de eu entrar?
— Talvez… — Eu respondo dando de ombros e enfiando um mokje na boca.
— Bem, você deveria levá-lo lá em casa para eu conhecê-lo.
— Muito cedo, mãe, nós ainda estamos nos entendendo. — Essa é a minha brilhante maneira para explicar para a minha mãe xereta quando sexo sem compromisso vira algo a mais, usando o eufemismo.
— E daí? não mora conosco, então você não tem desculpa.
— Ah, tenho. — Cruzo os braços.
— Qual?
— Papai pode ser desagradável.
— Deixe o seu pai comigo. — Ela pisca para mim, estou prestes a argumentar quando um movimento vem da porta.
, ! Vamos dançar comigo? — Bailey diz, aparecendo no quarto. Ela tem onze anos, é uma das minhas primas que eu trato como se fosse a irmã mais nova que eu nunca tive. — Os garotos desocuparam o Xbox.
— Claro, amor. — Eu me levanto, levando Norby no colo enquanto a sigo. Mamãe parece feliz porque finalmente vou sair do meu buraco, mas simplesmente não consigo dizer não para Bailey. Gosto que ela confie em mim e saiba que pode contar com alguém, temos um laço feminino interessante visto que a mãe dela, a esposa do meu tio, é uma megera.
Em todas as reuniões de família nós fazemos uma boa sessão de dança no Just Dance. Quando chegamos no térreo, eu deixo Norby no chão e tiro os chinelos para subir no tapete. Mamãe foi para a cozinha e a maioria das pessoas está na sala de jantar ou na varanda.
— O que você quer dançar? — Eu falo ligando a TV e o vídeo game.
— Bang Bang!
— Você nunca vai cansar de “Bang Bang”? — Digo procurando o CD do Just Dance 2015.
— Não! Mas pode ser “Break Free” ou “Problem”, ou “7 Rings”…
— Já entendi, arianator! — Exclamo e ela sorri, se posicionando. Coloco o disco e nós começamos a dançar.
— Poxa, Bailey, você não tinha dupla melhor? — Eu escuto a voz áspera de atrás de nós e imediatamente reviro os olhos. Pergunto-me onde está a namorada dele uma hora dessas.
— Não, é a minha melhor amiga.
— Jura? E você tá preparada para o momento em que ela vai te trair?
! — Desvio o foco do jogo para olhar para ele. — Você consegue não ser um babaca estupido por pelo menos cinco minutos?
Eu cruzo os braços encarando ele.
— Vejo belas garotas dançando, será que eu posso participar? — Meu pai aparece na sala e toma o meu lugar na dança. Ele está errando todos os passos e isso me faz esquecer de e rir, mas eu ainda o olho feio por ter me tirado dali. — Pode ser o último natal do seu pai.
— Não fala besteira, pai.
Papai está doente, ele tem problemas no coração e os médicos o diagnosticaram esquizofrênico, então ele vive agindo como se todo dia fosse o último. Ele acha engraçado ficar brincando com a própria situação e às vezes eu até prefiro. Ajuda a tirar a tensão do ar.
— Sobremesa! — Vovó diz passando pela sala e todos nós a seguimos para nos reunirmos ao redor da mesa na sala de jantar. — Servida na quantidade de comida alemã, mas com qualidade francesa.
Você não pode lutar contra as sobremesas da família , principalmente as que a minha avó faz. Há tangerinas, pães de gengibre, chocolate, waffles para as crianças e vinho quente para os adultos. Kerststronk está na mesa. É um rocambole recheado com creme de manteiga de chocolate, é uma receita belga tradicional e a minha favorita.
Estamos todos reunidos ao redor da mesa e pelos primeiros vinte minutos tudo parece ocorrer bem, até sentar de frente para mim. Eu tento continuar comendo e ignorar ele, mas é difícil. Sua expressão facial demonstra raiva e irritação, ele é a nossa versão piorada do Grinch.
— Podemos abrir os presentes quando terminarmos? — Bailey pergunta chamando nossa atenção.
— Oh, boa sorte. — comenta antes de todo mundo e eu cerro meus dentes para ele. — quem embrulhou aquilo. Há mais fita adesiva naquele presente do que papel de embrulho. — Ele desdenha e eu quase cravo o garfo na mesa.
— Você vai implicar até com o jeito que eu embrulho presentes agora? Já não basta querer controlar quem eu devo ou não namorar?
— Você sabe que está sendo uma teimosa de merda. — Ele relaxa na cadeira e não é novidade que todos estão olhando para nós, mas vovó parece a mais incomodada.
— Ei, o que diabos está acontecendo aqui? Só vi vocês discutindo o dia inteiro.
está apenas fazendo um esforço absurdo para estragar o nosso natal. — Eu largo o garfo no prato - meu apetite sumiu depois disso - e cruzo os braços. — Ele é a razão pela qual o Papai Noel ainda tem uma lista de travessos.
O sarcasmo é um amigo e Bailey parece gostar já que ela solta uma risada. Adoro essa garota.
— Você devia ter vergonha de aparecer na capa do The Moon beijando aquele cara. Isso sim, mandaria alguém para a lista dos travessos.
— Que cara? — Meu pai entra na conversa e estreita os olhos para mim.
— Cale a boca. — Digo entredentes e chuto a perna de por baixo da mesa, mas ele continua. Eu olho para Valerie, a namorada dele está sentada ao lado dele e ela parece tão desconfortável quanto eu.
— Tudo fica mais vexante quando você vira a página e tem uma foto do Tom Hardy pelado na outra folha. — Ele começa a rir e Val lhe dá uma cotovelada de leve, falando baixo:
— Querido, pare com isso.
— Oh, eu acho que vi essa edição. — Um dos nossos tios comenta rindo.
Eu respiro fundo tentando me controlar. Eu e estamos sendo a atração principal de um Natal que não devia ter atrações.
Quando a Inglaterra ganhou a Copa, isso foi bombardeado pela mídia Inglesa por todo o país e é uma coisa que ainda está sendo repercutida. O beijo que eu e demos no campo não passou despercebido, e como poderia? Com tantas câmeras apontadas para um único lugar. Eu nunca tinha aparecido na capa dessas revistas e sites de fofoca, mas o The Moon é uma daquelas que gosta de sugar até o último suspiro das celebridades, das dos jogadores da Premier League, principalmente.
No início, eu fiquei meio preocupada, mas me disse que não se importava, que a gente não ia conseguir guardar esse segredo por tanto tempo mesmo e ele nem queria.
— Bem, eu não controlo o que a imprensa publica ou deixa de publicar, né?
e , acho melhor vocês subirem para conversar em outro lugar. — Minha mãe tenta interromper nossa discussão, mas nem eu, nem ele damos ouvidos a ela.
— Não tô falando da imprensa. Você prometeu pra mim que não ia mais fazer isso. — joga a cadeira para trás e fica de pé, ele apoia as mãos na mesa e olha diretamente para mim e eu pisco, atordoada, porque pela primeira vez não estou vendo raiva nos seus olhos claros. É… outra coisa, mas eu não deixo isso me abalar.
— Fazer o quê? Namorar? — Eu fico de pé também, inclinada na sua direção na mesma posição.
— Ela tem um namorado? — Ouço a mãe de Bailey cochichar.
— Lembra de onde eu te encontrei quando terminou com o Dom? Chorando no beco sujo daquele pub.
Eu dou um passo para trás e então eu entendo o que ele quer dizer.
— Isso não é justo, e você sabe muito bem!
— O que não é justo?
— Você comparar as situações, eu estava num momento difícil quando fiquei com o Dom.
Dominic foi um rockstar. Quer dizer, ele ainda é. Hoje em dia, bem mais famoso que na época.
Quando a minha carreira no futebol foi para o buraco eu fiquei sem perspectiva alguma de vida e de profissão, eu até tinha uma ideia, queria ser jornalista esportiva. Quer dizer, é isso que a maioria dos atletas faz depois que se aposenta, mas eu não parecia ter um pingo de proatividade no meu sangue para iniciar essa nova etapa da minha vida.
Deixei Paris, voltei a morar em Londres e a minha rotina era sair para me distrair, beber a noite inteira e dormir por mais de dez horas no outro dia ao invés de seguir em frente e procurar um novo rumo. Esse ciclo se repetiu por meses. Eu comecei a frequentar alguns pubs, um deles era onde a banda do Dom tocava. Eu bebia até passar dos limites, fumava igual uma chaminé, seguia basicamente todos os hábitos dele e da banda dele. Sabe aquela história de sexo, drogas e rock n’ roll? Era exatamente isso. Na época, eu tinha 22 anos, como poderia prever que me apaixonar por um rockstar arrogante e mulherengo não acabaria bem? Pois é.
Várias vezes cuidou de mim enquanto eu estava bêbada, e eu pedia para ele não contar para os nossos pais que eu estava jogando a minha vida no lixo. Eu sabia que eles ficariam desapontados e não queria sair da minha ilusão de que aquela rotina indisciplinada me levaria para algum lugar.
Eu realmente achava que aquilo era algum tipo de amor, hoje eu sei como foi abusivo. Dom terminou comigo um dia antes de sair em turnê pela Europa, quase implorei para ele não fazer isso como uma verdadeira idiota, porque eu realmente gostava dele, mas ele foi implacável, me expulsou do pub e disse para eu nunca mais aparecer lá. Depois disso, eu bebi um bocado e fumei alguns cigarros, sentei na porta que ele bateu na minha cara e comecei a chorar. Quando a minha cabeça começou a doer, eu liguei para a única pessoa que ia poder me buscar, o meu irmão, já que todos os meus amigos de verdade estavam em Paris.
— Você acha que eles são iguais? — Ele balança a cabeça de um modo que eu sei que ele quer dizer que sim. — Por quê? Isso não faz sentido.
Eu namorei um bocado de outros caras depois do Dom, e com nenhum deles eu lembro de ser tão intragável. Qual é a merda do problema dele? Mas ele não me dá a chance de dizer o quanto isso é ridículo.
— Quer saber, eu cansei de te avisar. — Ele pressiona a parte superior do nariz entre o polegar e o indicador e aperta os olhos. Sei que ele faz isso quando está com dor. — Não vou mover um músculo para te ajudar se você precisar, como todas as outras vezes.
— Onde você está indo? — Mamãe e Val perguntam, mas ele ignora pegando a jaqueta e saindo da casa.
Eu não movo um dedo, pensando nas suas palavras. Devia estar satisfeita por ele desistir de continuar a nossa briga, pois a melhor coisa que ele faz agora é ir embora, mas eu não estou porque as suas palavras, de algum modo, conseguiram me magoar.
Antes eu tinha um irmão íntegro, leal, confiável, protetor, um amigo, agora eu não tenho mais nada.
Eu olho para os meus pais antes de sair da sala de jantar, acho que eles querem explicações, mas essa conversa vai ficar para amanhã. Lembro do convite de e é nisso que eu vou focar agora.
Volto para o quarto da vovó, onde eu estava antes, e mando mensagem para Ash e Jordyn.
🎡


Portsmouth, Inglaterra
— Não faça isso, estamos nos divertindo! — Eu pigarreio quando Jas desliga a TV. Estava tendo um momento entre tio e sobrinha depois que desligou e ela acabou de arruinar isso.
— Chega de TV para Summer e chega de também. — Ela exclama se abaixando para pegar Summer no colo e eu me levanto indignado.
— Ei! Por que chega de ?
— Você está sendo um mau irmão, . — Jas resmunga sentando Summer no sofá e começa a vesti-la com casacos, toucas, luvas e meias mais quentes.
Eu diria que o natal na nossa casa costuma ser bem tranquilo, abarrotado de tradições natalinas, já que a minha mãe é supersticiosa, como o elfo na prateleira ou os suéteres horríveis que Jasmine insiste em costurar todos os anos e a gente tem que fingir que gostou.
Acho que ela está um pouco chateada porque eu não quis responder a nenhuma das suas perguntas sobre , depois que ela viu a gente se beijando; ela ficou um pouco animada com a ideia de ter uma cunhada. Sempre foi assim quando se tratava da minha vida amorosa, mas acho que é apenas seu lado protetor ganhando vida.
— Você é que está sendo muito enxerida, maninha. — Eu passo por ela, apertando seu nariz, é engraçado não dizer nada a ela. — Ou está chateada porque eu não quis usar aquele suéter feio que você me deu.
— Você sabe que fui eu que fiz aquele suéter. — Ela cruza os braços, chateada. — Ele não é feio.
— Sim, ele é, Sam diga a ela. — Falo quando Sam entra na sala segurando copos, ele entrega um para mim e senta no sofá.
— Cara, me deixe fora dessa.
Jas cerra os olhos para ele. — Você acha os suéteres que fiz feios?
— Bem, amor... — Ele começa e eu dou risada do balcão, tentando abrir a garrafa de eggnog. — Digamos que você não é a melhor costureira do mundo.
Nós trocamos um olhar cúmplice e ela bufa decepcionada, mas acharia pior se mentíssemos.
— Ah, Lewis, ele está usando, diga a eles. — Jas disse quando ele finalmente desce as escadas novamente. Ele estava no quarto por um longo período, dizendo precisar checar algo do trabalho. Nenhum de nós acreditou muito nessa história porque quase ninguém trabalha no Natal.
— É, eu achei que alguém tinha que fazer isso por você, sis.
— Está vendo, , é por isso que eu prefiro o Lewis... — Ela dá um sorriso convencido para mim e nós três nos entreolhamos e rimos. Jas pisca como se desse conta de algo e olha para Lewis. — Ei, espere um pouco. Você o acha feio também?
— Desculpe, Jas, mas eles são horríveis. — Ele admite dando ênfase no 'horríveis' e nós três caímos na gargalhada. Às vezes eu entendo porque ela quer tanto uma cunhada.
— Eu devia banir todos vocês do cartão postal da família, mas eu ainda tive a decência de vir aqui chamá-los. — Ela pega Summer no colo e começa a descer a escada até o térreo e nós a seguimos para tirar a foto. Lewis, Sam e eu vamos atrás rindo.
Está frio, mas tirar a foto aqui fora meio que foi ideia minha.
— Finalmente vocês decidiram descer! — Nossa mãe exclama e nós três nos juntamos ao resto da família, enquanto meu pai arruma o apoio do celular e ajusta o temporizador. — Está frio demais aqui fora.
— Quem teve mesmo essa ideia? — Lewis pergunta.
— Quem você acha? — Jasmine diz olhando para mim, eu abaixo a sua toca até que cubra os seus olhos e dou risada enquanto ela tenta arrumar com Summer no colo. Somos ambos adultos, mas acho que as nossas pequenas provocações nunca vão acabar.
— Vamos lá! — Meu pai dispara o temporizador e corre para se juntar a nós. Ele abraça mamãe, eu fico atrás de Jas com Lewis do meu lado e sorrio para câmera.
São mais algumas para as dezenas de fotos que tiramos desde o dia vinte e quatro no Wintertime Southbank Centre. É uma das minhas épocas favoritas do ano, porque gosto de ficar com a minha família, mas estou com um pouco de saudades de .
Depois das fotos, nós entramos em casa novamente. Minha mãe e a minha irmã se reúnem no sofá para ver o discurso de Natal da rainha, e eu sento perto delas para checar as notificações no celular. Primeiro posto algumas das fotos que o meu pai mandou no Instagram e vou checar se ela me mandou algo. não falou muito, mas percebi que o Natal dela talvez não esteja sendo tão animado como está sendo com a minha família e eu quero saber por quê. Ela desligou tão repentinamente... Eu juro que estou tentando fazer as coisas devagar, mas devagar é um pouco difícil para um cara de vinte e três anos, em forma e cheio de energia no corpo.
, vamos jogar Copas, você vem?
— Guardem o meu lugar. — Ele assente e sai.
Volto para o meu celular e respondo algumas mensagens de 'feliz natal' e envio outras, mas ainda não há nada vindo dela. Penso em mandar alguma coisa, mas faz pouquíssimo tempo que desligou. O convite para o ano novo está me deixando ansioso, eu não vejo a hora de vê-la de novo. Acho que Dec pode me ajudar com isso, ele está há tanto tempo com Lauren que meio que virou nosso conselheiro amoroso oficial.
Antes de abrir a conversa dele, percebo uma agitação diferente no grupo da Inglaterra e tenho uma marcação. São muitas mensagens, desde a Copa esse grupo não parou um segundo. Vou rolando a tela lendo algumas palavras perdidas até a parte que me marcaram.

-
mensagem de:
WORLD CHAMPIONS 🦁🦁🦁🏆🏆

Hazza Kane
@
deve saber

eu devo saber o que?
Stonesy
o que há com declan
Chilly
ele sumiu tem três dias
Jesse
eu o mandei feliz natal tem
cinco minutos e ele ainda
não respondeu 💔

Phil
pare de ser dramático jesse
vc n é a taylor swift

Reece
ela não ama o drama, o drama ama ela!
Phil
como vc sabe disso
Reece
mia gosta dela

-
Reece começa a mostrar a discografia da Taylor Swift para Phil e eu fecho a conversa procurando Declan nos contatos. Isso é um pouco esquisito, pois Declan é um pouco cuidadoso e ele não some assim facilmente. A última coisa que o lembro dizer era que ia ficar em Kingston no Natal.

-
mensagem para:
Deccers

feliz natal, dec!!!!!
Declan
oh, agora você está lembrando de mim?

mas que porra
vc ainda está chateado por aquilo?
o torneio acabou, nos já ganhamos
declan vc vai superar isso do quarto
quando?


-
Declan é como um irmão, mas ele sabe ser uma rainha do drama quando quer e mesmo quando eu tenho que perdoá-lo por trapacear no Blackjack ou no basquete. Agora, no Natal, é a primeira vez que estamos tendo uma pausa para respirar desde a final do mundial e acho que isso o fez lembrar que era para ele ser o meu companheiro de quarto no Catar, como quase em todas às vezes que viajamos juntos com a seleção. Mas James estava se juntando a nós novamente depois de muito tempo, e eu não soube como dizer não quando ele perguntou se podíamos dividir o quarto.
-
mensagem de:
Deccers
Declan
não devia estar falando com você ainda

eu achei que você ia ficar com ben
Declan
ele ficou com jack, porque phil ficou com sterling

jesse foi tão ruim assim? 🤣
Declan
o problema do lingard é que ele é agitado
mas fodase
deve ter sido seu companheiro de
quarto por mais tempo que o james então
vou te perdoar


ohhh não fale como se antes da lauren
vc n fosse pior que eu

Declan
eu sou um homem mudado!

sei
queria te perguntar se você
sabe se já atingiu o limite de
pessoas pro ano novo?

Declan
vc convidou ela?

sim, ela ainda n deu a resposta
mas talvez ela leve mais alguém
se for, você gostou dela?


-

Eu pergunto em expectativa. Não tem nada pior do que seus amigos não gostarem da pessoa com quem você está saindo.
-
mensagem de:
Deccers
Declan
como eu respondo isso de uma forma
respeitosa?


declan
Declan
eu estou brincando!!!
eu a vi virando o barril de cabeça pra
baixo na festa do título
definitivamente ela tem que vir


-

Eu lembro da festa. Jadon adorou a surpresa. Peguei Declan bêbado no banheiro conversando com o atendente da porta durante a noite, tomando Joop Lynchee. Fiz uma aposta com Shaw sobre ele nem saber sobre o que estava falando e ganhei. Kane e Luke eram os rapazes com crianças que foram embora mais cedo. Eu não adicionaria Phil a esse grupo, nem se eu quisesse. Mings e Jordan estavam monitorando tudo para ninguém passar dos limites e fazer alguma besteira, mas Hendo estava quase perdendo a paciência com Pickford, pois ele pedia ao DJ para tocar 'Wonderwall' a cada cinco minutos. Havia barris com mangueiras de cerveja e o desafio era ficar de cabeça para baixo com as mãos apoiadas no barril de chope e beber pelo máximo de tempo que conseguir.
pediu para mim e para Ben segurar as pernas dela, ela disse que não poderia ir embora sem fazer aquilo pelo menos uma vez. Declan contou impressionantes trinta e cinco segundos. Foi foda. Conseguimos ir embora sem ninguém entrar em coma alcoólico.
Eu lembrei da sensação de como foi ganhar a Champions, da emoção, da euforia, do sentimento de poder fazer qualquer coisa, mas talvez tenha sido um pouco mais especial considerando o quão árduo é conquistar o título mundial. A festa só não foi maior porque ainda temos a metade da temporada toda pela frente e tivemos apenas uma semana de folga.
O Chelsea está na briga por tudo e, sim, pretendemos ganhar.
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mensagem de:
Deccers
Declan
mas como assim não deu a
resposta ainda?


eu perguntei quase agora
ela ainda não retornou
na verdade, ela estava um
pouco estranha

Declan
ela está em uma casa com
um cara que te odeia
oq ele disse quando ela
mandou a foto?


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Declan levanta um ponto e eu começo a pensar nisso. Nada aconteceu depois que mandou aquela foto para enquanto me beijava. Ou nós estávamos muito presos na nossa bolha para perceber, ou ela não me disse nada, e sendo a segunda opção isso me incomoda um pouco.
Estou sendo obrigado a contar todos os detalhes para Dec, porque, de acordo com ele, acompanhar o nosso relacionamento é melhor que maratonar séries na Amazon.
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mensagem para:
Deccers

eu não faço ideia
Declan
jura? eu estava apostando
na terceira guerra mundial
como vc não sabe?


a gente não fala sobre isso
é um assunto meio merda
ela não gosta de me ouvir
falar mal dele
e sei que sabe ser justa
mas é impetuoso quando ela o
defende
não tenho paciência

Declan
bem, vcs deviam
é o meu conselho


-

Eu fecho a conversa com Declan porque em um passe de mágica, está me ligando.
É estranho que ela esteja ligando ao invés de fazer vídeo chamada. Eu vou até à varanda e apoio os cotovelos no corrimão. Ainda bem que eu não tirei o casaco, está frio e o céu está limpo, como uma usual noite de natal.
Eu acho que você é um cara de muita sorte, . diz antes que possa falar algo. Aposto que ela está sorrindo, assim como eu.
— Por que exatamente eu sou um cara de sorte?
Você apenas é.
Eu poderia pensar em vários motivos pelo qual sou um cara de sorte. Não posso discordar.
— Por que você não fez uma vídeo chamada?
Hã... gagueja e a língua fica muda por alguns segundos. Uma linha tensiona a minha testa, porque eu queria estar vendo suas reações para tirar conclusões mais certeiras. — Eu acabei de comer, estou inchada.
— Besteira. Ligue para mim de novo.
Por quê? Você está com a Summer?
— Não, Jas tirou ela de perto de mim.
Por quê?
— Porque estou um pouco bêbado e Jasmine disse que um bêbado não pode ficar perto da Summer. — Não foi essa a exata razão, mas eu encontro uma brecha para provocá-la. A vibração da risada dela atravessa os meus fones e eu estou quase rindo também.
Acho que ela está certa.
— Pelo menos eu não me jogo em cima de ninguém quando estou bêbado. — Provoco. Daria tudo para ver seus olhos cerrados, suas bochechas vermelhas e os seus lábios entreabertos, me desafiando.
Isso foi uma indireta?
— Uma super direta.
Vai se lascar! — Eu dou risada soltando ar pelo nariz. Eu nunca vou esquecer daquela noite e nunca vou deixar esquecer dela também. Cesso a risada, tentando mudar de assunto, quero falar sobre o ano novo, mas sobre outra coisa também.
— Você está bem?
Estou. — Sua voz é calma e suave e eu não escuto nada do outro lado da linha. Acredito que esteja em um lugar silencioso. Então ela fala de algo que não estou esperando. — Nosso beijo foi pauta durante a sobremesa da minha família. — Consigo ouvir o ar saindo pelo seu nariz em uma risada fraca. Isso não parece muito bom. — Eu não sabia que aquela revistinha de fofoca tinha tanto poder nacional.
The Moon. Simplesmente odeio revista de fofoca, mas eu ainda não cheguei ao ponto de processá-los igual Adele ou Johnny Depp. Eu já estou um pouco acostumado com isso, tudo depende do quanto de importância você dá; se você não der nada, eles ficam sem material. Eu realmente não me importo que as pessoas nos vejam e comentem sobre isso. Se o fizesse, acho que eu não teria uma vida. Às vezes essa vida de jogador famoso é complicada, mas tento fazer o que a minha mãe me disse sobre seguir o meu coração e fazer o que acho certo. Não tenho o poder de controlar tudo, e nem quero.
, você realmente está bem com isso? — Quero saber mais sobre isso, mas ela muda de assunto, de novo.
Sim, é só que... — Um segundo de silêncio apreensivo, então ela começa a rir. — Se quando eu voltar pra Londres, a entrada do meu apartamento estiver cheio daquelas pragas com suas câmeras você me paga, .
— Você acha que só você está sendo assediada? Minha família não me deixa em paz por causa de você. Meus irmãos são um pé no saco, é duro ser o caçula.
Você acha que eu não sei? Eu também sou caçula.
— Você tem um irmão chato pra te encher. EU TENHO TRÊS. Mas... achei que você estivesse um pouco acostumada por causa do seu trabalho.
Eu posso fazer comerciais, mas não sou famosa nesse nível. Ninguém quer saber o que a moça da propaganda de perfumes faz da sua vida pessoal. — Ela dá outra risada, dessa vez mais animada. — Mas, okay, você ganhou e ganhou o ano novo também.
— Jura? — Enrugo a testa. Por um momento, eu quase esqueci que ela ainda não tinha dado uma resposta.
Sim, Ash diz que vai comigo, isso é impressionante, ela raramente volta atrás com as coisas, acho que por isso você é um cara de sorte.
— Não entendi, foi difícil convencê-la?
Na verdade, foi bem fácil, o que é estranho. Ashley ama comemorar o ano novo, para ela é como girar um botão no Universo para pausar a nossa vida momentaneamente, dar um ar para respirar e começar tudo de novo. Mas nada realmente para, e é só mais um ano. Bem... Só achei que ela ficaria chateada se eu dissesse que queria ficar com você.
— Ela te chamou primeiro, talvez eu também ficasse. — Olho para baixo para o quintal coberto de neve, sendo sincero. — Mas realmente gostei de saber que vocês vêm.
— Eu também. — faz uma pausa e eu sorrio. — Você gosta de comemorar?
— Você não?
— Eu gosto, é que vezes eu não entendo essa coisa, sabe, eu fico viajando pensando: é só uma volta ao redor do sol, que as pessoas comemoram só pra arrumar um motivo pra festejar e beber champagne.
Ela solta uma risada e eu também, vendo o ar branco saindo da minha boca.
— Não imaginava que logo você estaria contestando uma justificativa das pessoas pra beber.
Acredite, você não vai ouvir isso sempre vindo de mim.
Um barulho vindo a porta chama a minha atenção e eu me viro. Lewis está ali. Ele está sem casaco ou luvas, por isso imagino que esteja congelando.
, você vem? — Me chama da porta e eu balanço a cabeça.
— Estou indo. — Digo a ele e confirma voltando para dentro.
Indo para onde? pergunta.
— Jogar com o meu irmão.
Oh, certo. — Sua voz fala um pouco mais baixo dessa vez e a linha fica uns segundos muda. — Feliz Natal, .
— Feliz Natal, . — Eu digo não querendo realmente desligar. — Então, eu te vejo dia 31?
Te vejo dia 31.

🎡

Três horas depois, está de madrugada e eu estou exausto. Fiquei jogando com Lewis, meu pai e Sam por horas, até Jas e a minha mãe nos expulsarem daquela mesa e nos mandarem ir descansar. Nem sei como o meu pai ficou tanto tempo, geralmente ele dorme mais cedo.
Eu vou para o meu quarto tomar um banho e me jogo na cama. Estou com o suéter horrível que Jasmine fez para mim. É feio, mas confortável. Felizmente ela nunca vai saber que eu penso isso.
Arrumo o travesseiro na cabeça, apago a luz da cabeceira e pego o celular. Dou um sorriso travesso quando vejo que está online.
-
mensagem para:
❤️

agora você pode me mandar aquelas fotos
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🎡



¹: biscoitos belgas feitos no formato de letras
²: gato de pelo curto inglês, é uma raça de gatos de origem britânica, mais conhecida por sua pelagem cinza e olhos cor de cobre vibrantes
³: marca de chocolate belga


Capítulo II - Champagne Problems

🎡

31 de dezembro de 2022
The Savoy, Londres, Inglaterra

A cobertura do The Savoy está rodeada por conhecidos, eu não achei que ia vir tanta gente, mas veio mais do que o esperado, acho que isso é culpa do Declan, que inclusive estava do meu lado tem um segundo, mas ele sumiu rapidamente. Estou procurando por ele enquanto não chega. Ela não deixou que eu fosse buscá-la, o que eu achei um absurdo, mas ela é mais teimosa do que eu. Eu mandei uma mensagem dizendo que ela estava atrasada e recebi uma de volta dizendo que estava chegando em minutos e desde então eu fico olhando para a porta de instante em instante esperando que elas girem e apareça.
— Por que chamaram aquela chata da Clarissa? — Christian pergunta. Ele está no sofá e eu e Reece estamos atrás dele com as nossas taças de champanhe. Eu e Reece olhamos para a garota loira que ele está fitando, e a quem está se referindo, a poucos metros. Clarissa Lacroix é uma das fisioterapeutas do clube e está conversando com outros membros da equipe médica.
— Bem, deve ser porque ela também trabalha no clube? — Reece responde de forma óbvia e Christian cruza os braços. Eu realmente queria entender qual a implicância dele com a garota, ela é nova no clube, não houve realmente muito tempo para desenvolver sentimentos como ódio profundo em tão pouco tempo.
— Isso não devia ser motivo suficiente. Ela não tinha coisa melhor pra fazer? — Ele fala para nós, mas não tira os olhos dela. Acho que Chris está apegado ao fato que nem todo mundo do time veio porque já tinha outros planos e ele achou que ela fosse ser uma dessas pessoas. Eu e Reece nos entreolhamos tentando compreender porque ele está tão incomodado com a presença da Clarissa.
— E você tinha? — Eu pergunto e Reece ri comigo. Christian resmunga desconfortável.
— Eu estou solteiro.
— Ela também deve estar. — Dou de ombros. — Não tem só gente solteira aqui.
— Quem? — Kepa pergunta com o seu marcante sotaque espanhol quando se aproxima. Ele senta nas costas do sofá azul virando a cabeça para ver a quem estamos nos referindo.
— A Clarissa. — Nós indicamos a mulher com o olhar e acho que ela percebeu que um grupo de homens está encarando ela, pois, desvia o olhar diretamente para onde estamos.
— Ah, certo. — Ele fica um tempo analisando ela, como fala, o seu vestido branco, o jeito como as luzes refletem nos seus olhos verdes antes de se voltar para Christian, com um aviso. — Puli, se você não for eu vou.
— O quê?! — Chris franze a testa olhando para trás.
— Você quer ficar com ela. — Eu digo e Reece concorda:
— Se não, não ficaria tanto tempo olhando.
— Afirmativo. Vai que ela também quer. — Kepa pisca como um incentivo.
— Vocês estão loucos? — Ele levanta ficando de costas para Clarissa e encara a gente. — No dicionário da Clarissa ‘TPM’ significa: Tomara que o Pulisic Morra. — Nós três explodimos em uma risada e Pulisic faz uma pausa como se recordasse de algum momento importante, mas logo volta a si e completa: — E, eu não estou interessado nela.
Nós pensamos em rebater, mas ficamos quietos quando a figura loira aparece, de repente, atrás de Christian. Ela cruza os braços e empina o quadril de lado.
— Olá, rapazes, do que estão falando? — Ela continua quando ficamos em silêncio: — Não precisam mudar de assunto só porque eu cheguei. — Christian se vira para ela engolindo em seco, mas logo a carranca volta a estampar sua face. — Deixa eu adivinhar: Christian está falando mal de mim de novo? Sugiro que você tire meu nome de sua boca com rapidez e pressa, querido.
— Como se houvesse algo bom pra falar de você. — Ele dá a volta no sofá e se afasta de Clarissa ficando ao nosso lado. Eu quase dou risada percebendo que esse sofá meio que virou uma forma de escudo.
— O seu currículo não é muito melhor do que o meu. — Ela argumenta mudando de postura, como se soubesse de algo que nós não sabemos. De repente, Clarissa olha para a gente deixando Chris de lado. — Como vocês aguentam essa energia negativa desse cara? Ele tem mais algum defeito além de ser um irresponsável da porra?
— Cale a boca! — Christian se move e eles ficam de frente para o outro, tão perto que se não estivessem a ponto de se matar eu poderia jurar que eles vão se beijar. — Você veio aqui pra estragar a virada das pessoas, porque todo mundo sabe que você é uma estraga prazeres, Lacroix.
Chris parece relaxar mantendo um sorriso arrogante, já Clarissa parece tão irritada que uma veia estala na sua testa.
— Isso não é verdade!
— É sim. Digam a ela! — Chris olha para a gente. Eu, Kepa e Reece estamos bebendo nos nossos como se a discussão na nossa frente não estivesse acontecendo. É como aqueles momentos constrangedores que você fica no meio da briga de um casal, só que Christian e Clarissa não são um casal e eles meio que parecem que se odeiam.
Nós ficamos em silêncio por um momento porque Chris é nosso amigo, mas Clarissa trabalha conosco e não temos nada contra ela. É meio difícil tomar um partido.
— Cara, eu adoraria ficar aqui e agir como terapeuta de casal pra vocês, mas Mia já saiu do banheiro, eu vou lá ficar com ela. — Reece sai dando tapinhas no ombro de Christian e Kepa faz o mesmo.
— Bem, eu preciso ir ao banheiro.
Um por um, os malditos evacuam com suas desculpas, aos risos e, merda, acaba sobrando para mim.
?
— A-anhh… — Eu gaguejo pensando no que dizer porque no exato momento eu vejo passar pelas portas giratórias de vidro de braço dado com uma elegante mulher negra de vestido prateado, que eu deduzo ser Ashley Lawrence. — Com licença.
Começo a me afastar, deixando a discussão de Chris e Clarissa para trás. Seja lá o que for, eles têm idade suficiente para resolver isso sozinhos.
Foco meus olhos nas duas e percebo que Ben também chegou e está atrás delas e eles entram conversando juntos. Eles param na frente da porta, as posições dos seus corpos formando um triângulo no chão. Acho que ainda não me viu aqui, mas eu não consigo parar de olhar para ela. Na maneira como o seu cabelo está metade preso, como o seu vestido preto de paetês abraça as suas coxas e no jeito que a sua maquiagem simples exala luxo e sofisticação em seu estado mais puro.
Mas a coisa mais deslumbrante nela, é o seu sorriso, simples e genuíno, emoldurado pelos seus dentes brancos e boca tingida por vermelho carmesim. Porra, eu faria qualquer coisa por esse sorriso.
Porém, de repente, não estou mais encantado pela sua leveza, mas no fato de que elas duas chegaram no mesmo momento que Ben e isso me incomoda de um jeito esquisito. É como se o champanhe que eu tomei pesasse uma tonelada no meu estômago.
— Porra, vocês chegaram bem na hora. — Comento e eles cessam as risadas para olhar para mim.
— Por que, exatamente? — sorri para mim, mas eu desvio o olhar dela para Ben.
— Eu estava no meio de uma discussão do Chris e da Clarissa. — Respondo coçando a nuca tentando esconder o descômodo da minha voz.
— Oh, eles são bastante persuasivos. — Ben gira o corpo procurando-os. Eu faço o mesmo. Eles estão discutindo no mesmo lugar que os deixei. — Aquilo é um barril de pólvora.
— Por que é um barril de pólvora?— Ashley questiona.
— Eu torci o tornozelo na época que Chris estava com aquele problema no joelho, foi um pouco depois da Clarissa começar a trabalhar no clube. Eles não se bicam, nunca tivemos uma sessão de fisioterapia normal. — Ele explica arrumando o boné branco na cabeça e o colocando para trás.
— Eu e já tivemos problemas com alguém da equipe. O preparador físico.
— E que problema, né, Ash. — comenta como se menção trouxesse lembranças ruins. Eu não estou olhando para ela, mas assim que ela diz isso, sou obrigado a olhar, profundamente interessado. — Aquele idiota do Flick.
— O que ele fez? — Agradeço a Ben por perguntar para sanar a minha curiosidade, não estou bem com vontade de falar agora. Deus, acho que esse sentimento ruim vai me consumir por inteiro se eu não o fizer parar agora.
— Ele era um assediador de merda. Demorou até demais para ser mandado embora. — Ashley explica e suspira:
— Mas graças a Deus, foi!
— Imagino que deve ter sido horrível, mas tenho certeza que não era por isso que vocês estavam rindo tanto. — Eu digo segurando com mais firmeza a minha taça, mas não o suficiente para quebrar e dilacerar a minha mão. Sinto o olhar de nos meus dedos subindo pelo meu rosto.
Ela se aproxima sucintamente de mim, mas não mudo de postura. Fico olhando os pingentes da pulseira no seu pulso balançarem, são tantos e tão diferentes. Eu não sou um especialista em joias, mas lembro que Jas tem uma pulseira igual e a graça de cada pingente é eles terem um significado especial. Agora eu quero saber se para também é assim e perguntar para ela sobre cada um.
— Oh , desculpe, esqueci de apresentar vocês. Meio óbvio, essa é a Ashley. Ash, .
Abro um sorriso simpático e depois de cumprimentá-la, enfio a mão no bolso da frente novamente, não consigo disfarçar o meu incômodo. Eu sinto me analisando da cabeça aos pés, mas ela não diz nada.
— Nós vimos um Dodge Charger lá embaixo, e estávamos discutindo qual é o melhor Velozes e Furiosos.
— E com certeza é o Desafio em Tokyo. — diz olhando para Ben, mas ele revira os olhos não parecendo concordar muito.
Eu quero concordar, mas mordo a bochecha para me impedir de falar. Eu sinto Ben olhar delas para mim, ele coça a barba indeciso, não sei se ele está ciente do meu desconforto. Merda, eu odeio sentir isso. Ele olha de mim para Ash e diz:
— Deixe o casal ter o seu momento. — Uma risada fraca ecoa da sua garganta. — Você quer uma bebida, Ashley?
— Por favor! — Ela responde como se estivéssemos em um naufrágio e Ben tivesse jogado pra ela o último colete salva-vidas.
— Eu já estou indo! — reafirma sorrindo para ela. Ashley olha para ela arqueando uma sobrancelha e quando ela olha para mim eu forço um sorriso.
— Sim, você está. — Há uma pitada de sarcasmo na curva do sorriso dela antes de começar a acompanhar Ben até o bar. Eu os vejo ficarem cada vez menores conforme se afastam e sinto a mão de segurar o meu ombro.
Ela ri depois olha para mim. — Que carranca é essa?
Eu me viro para ela, há cinco minutos eu não via a hora de ficar sozinho com ela, mas agora me sinto estranho, então decido ser direto falar o que está coçando a minha garganta.
— Vocês vieram com o Ben?
— Não, a gente encontrou com ele no estacionamento e subimos juntos. — Ela explica espontaneamente, depois sinto sua mão prender o meu maxilar e levantar a minha cabeça, para que eu pare de encarar o chão e focalize os seus olhos. — Por quê?
— Nada. — Comprimo os lábios tentando disfarçar o pico de alívio que pairou sobre mim.
— Você ficou com ciúmes?
— Não. — Resmungo com os dentes cerrados, ri e balança os meus braços, tentando libertar a minha mão. Se a taça que estou segurando estivesse cheia ela com certeza transbordaria nos nossos pés.
— Sim, ficou. — Ela ri mais e a sua risada quase me desmancha.
Suspiro tirando a mão do bolso, puxo seu corpo na minha direção pela cintura e ela abraça os meus ombros. Seus olhos nas linhas dos meus. — Fui eu que te chamei, então você devia vir comigo.
A minha emoção explode, eu observo o brilho das suas pálpebras, o contorno preto dos seus olhos e a forma que olham para mim. Isso parecia entalado na minha garganta.
Ciúme. Fazia um bom tempo que eu não sentia isso por alguém.
Pelo visto isso que acontece quando você gosta de alguém. Você adquire com um enorme e repentino interesse sobre pingentes e fica ciúmes de um dos seus melhores amigos.
— Eu e Ash viemos com o meu carro, a gente atrasou porque ela chegou em Londres um pouco depois que o planejado e tivemos que sair para comprar sapatos. — Uma das suas mãos sobe pela minha nuca, até a parte de trás da minha cabeça, brincando com o meu cabelo. — Por quê você achou que eu diria não pra você pra vir com o Ben? — A pergunta dela faz com que eu me sinta um idiota.
— É, não faz sentido. — Solto um sorriso constrangido sentindo o calor subir no meu rosto.
— Esse champanhe está te fazendo ver estrelas? Porque se sim, eu quero uma taça. — Ela rouba a taça da minha mão e fixa os olhos nos meus enquanto dá um gole.
Solto um arzinho pelo nariz aproximando seu corpo do meu com a mão na sua lombar. Minha boca roça a sua orelha quando eu falo. — Não sei se o champanhe está me fazendo ver estrelas, mas você está mais bonita do que nunca agora. — Ela solta uma risadinha e encolhe os ombros quando a minha respiração faz cócegas no seu pescoço, eu deixo um beijo ali sentindo segurar o meu braço com a mão livre. — Sei que você acabou de chegar, mas deixa eu borrar o seu batom?
— Hm… — Ela fica uns segundos pensando, com a boca bem próxima da minha e a resposta não é o que eu quero ouvir. — Agora não. Você vai ter que esperar mais um pouco.
— Já esperei duas semanas. — Exagero no lamento com a esperança de que ela mude de ideia.
— Paciência, . — se solta de mim e começa a me puxar pela mão pelo mesmo caminho que Ben fez com Ash. — O ano só está começando.

🎡

Tudo aqui é brilhante, digno de uma festa de ano novo. Eu nunca vim ao Savoy, mas o lugar me surpreendeu.
Mamãe queria que eu ficasse na Bélgica até o dia seis para o Dia de Reis. As crianças se vestem como os três reis magos e vão de porta em porta, pedindo dinheiro ou guloseimas e cantando. Tipo uma versão natalina do Halloween. Agora eu percebo que seria um erro recusar tudo isso.
Já faz algum tempo que deixei falando com o segundo pai dele, Frank Lampard, mas agora estou procurando por ele, porque conforme o meu relógio, faltam dez minutos para meia-noite.
Estou de pé, próximo ao bar falando com Ash e Mia. Nós temos algumas taças vazias e estávamos procurando adornos como cachecóis felpudos e óculos de plástico com os números ‘2023’.
— Olhe para esse cara, ele nem parece o filho da puta que é. — Ash comenta do meu lado e eu não seguro uma risada para a careta que ela faz. Ela está me mostrando uma foto que Jordyn postou com Steban no Instagram. Eles estão juntos, sorrindo para a câmera em um cruzeiro no rio Sena.
— Ainda não acredito que Jordyn nos trocou para ficar com Steban. — Eu comento alternando o peso de uma perna para outra. Há uma pitada de hipocrisia aqui, já que era para eu ter ido para Paris ao invés de arrastar Ash pra cá, mas qual é, tem um voto de confiança, Steban é um babaca completo.
— Quem é? — Mia pergunta.
— Ele namora a nossa amiga, Jordyn. — Explico dando mais uma olhada ao redor para achar , até que eu o encontro. Ele está do outro lado da sala, há três degraus do chão, encostado em uma pilastra grega branca, mascando um chiclete e olhando diretamente para mim. Como se soubesse que uma hora ou outra eu iria olhar para onde ele se localiza.
— Sim, ela vai ver só quando eu voltar para Paris. — Ash joga o cabelo para trás e Mia ri. Paro de prestar atenção em para olhar para elas. Ashley começa a explicar para Mia porque odiamos Steban. Estou quase dando a Ash ideias possivelmente dolorosas que ela pode fazer com Steban quando o celular vibra na minha mão.

-
mensagem de:
💙


o que você está esperando
pra vir até aqui? eu tô doido
pra te prensar nessa pilastra
romana


acho que é uma pilastra
grega, mas não importa
eu vou fazer você cuspir
esse chiclete fora


pode vir

-

Levanto a cabeça e mordo os lábios, olhando para a sua postura lasciva. Eu me desligo completamente da conversa das meninas por alguns segundos enquanto olho para ele. Sua camisa de botões já se encontra um pouco amarrotada e ele balança o pé na borda do degrau, a sola do seu tênis da Nike batendo no chão constantemente impaciente. Eu viro o resto da minha dose de whiskey porque, porra, só o jeito que ele me olha faz o arrepio subir na espinha.
— Nossa! Já é quase meia-noite! — Mia exclama, me trazendo para à Terra e quebrando o meu contato visual com .
— Sim, acho que quase todo mundo está indo para o parapeito. — Falo percebendo a movimentação em bando.
A cobertura do The Savoy possui um alpendre que cobre a maior parte do espaço e janelas de vidro que mantêm o aquecimento. Está frio na parte de fora, mas é o melhor lugar para assistir os fogos.
— Eu vou atrás do Reece, encontro com vocês lá. — Ela sai levando alguns adornos.
— Ash… — Eu me viro para a minha amiga, mas ela parece já ter uma ideia do que eu vou dizer.
— Vá chamar o seu playboy inglês, vou pegar champanhe para nós e espero vocês com Ben, no parapeito.
— Você o aprovou? — Ergo uma sobrancelha e ela enruga o nariz, se dando por vencida.
Nós passamos a noite toda com e os amigos dele conversando e bebendo um pouco. Eu queria me dar bem com os seus amigos tanto quanto queria que se desse bem com os meus.
— Definitivamente aprovado, vou parar de implicar com ele. — Ela fica atrás de mim e coloca suas mãos frias, cheias de anéis, nos meus ombros. — Agora vai!
As minhas pernas começam a se mover na mesma direção que eu estava olhando. continua na pilastra, mas agora ele está apoiado com as costas ao invés de apenas o ombro, suas mãos estão nos bolsos frontais do jeans de lavagem escura e os pés cruzados em um X. Meio alheio, como se já estivesse esperando por mim mesmo que eu não tenha lhe afirmado nada.
Eu dou a volta, saindo do seu campo de visão, subo os três degraus do piso laminado e surjo sorrateiramente do seu lado esquerdo.
— Sabia que você passou no teste da Ash?
— Sério? — Pressiono os quatro dedos da mão no seu ombro e ele vira a cabeça para me olhar.
— Sim, e olha ela consegue ser mais exigente que o meu pai. — O arzinho sai do meu nariz com a minha risada fraca.
— Bom saber que as suas amigas me amam. — Seus lábios se abrem mostrando seus dentes brancos em um sorriso. Tão convencido. — O que você achou dos meus?
Eu me movo ficando na sua frente. Minhas mãos palpitam reivindicando as de e eu pinço a ponta dos seus dedos, apertando suas falanges e mantendo esse o nosso único contato. Por enquanto.
— Todo mundo é bem legal. — Faço uma careta. — Quer dizer, eu não gostei muito do Alonso. Ele ainda usa “my bird” para se referir às mulheres, com ênfase no possessivo. Um tanto chauvinista, se você quer saber o que eu penso.
— Ele é espanhol, dê um crédito.
Ele rio como se já esperasse e agarra a minha mão até o ombro dele. Eu sinto a sua respiração bater no meu rosto e quando move o pulso na minha costela, me puxando para perto eu consigo ver a hora no seu Apple Watch.
— Faltam dois minutos. — Arranco um fio solto da gola da sua camisa. — Acho melhor a gente sair ou só vai sobrar nós dois aqui dentro.
— Isso não seria uma ideia tão ruim, sabe. — deixa um beijo na minha mandíbula e eu puxo ele pela mão dando risada.
Não é como se eu também não quisesse arrancar suas roupas nesse exato momento, mas temos que fingir ao menos ser um pouco sociáveis.
Nós nos misturamos em um grupo com Lauren, Declan, Mia, Ben, Ashley e Reece.
— A sua taça, querida! — O braço de Ashley surge na minha frente. Acho que ela possui o mesmo nível de álcool no organismo que eu. Levemente alcoolizada, mas não sóbria.
Eu seguro o pulso de com a mão livre, meus dedos deslizando na sua palma enquanto seguro a taça com a outra.
— Oh, muito obrigada.
— Um minuto, galera! — Alguém grita no meio da multidão.
olha para mim, colocando para trás os fios do meu cabelo que soltaram. Eu pego os óculos que estava comigo e coloco no seu rosto, o seu nariz separando o 20 do 23. Ele faz uma careta e eu solto uma risada, fazendo uma nota mental para tirar fotos disso depois. No céu já é possível ver e escutar alguns fogos explodindo, o DJ para a música e começa uma contagem regressiva.
— Você vai me dar a honra de ser seu primeiro beijo de ano novo? — Os meus olhos brilham mais do que dez globos de luz. Tenho minhas mãos no seu pescoço e as dele pressionam os meus flancos, transmitindo uma energia vigorosa pelo meu corpo.
Beijo na virada do ano. Isso é tão clichê, mas tudo que eu quero agora é ser o mais monótono dos clichês.
— Eu ia te odiar pra sempre se você perguntasse isso a outra pessoa.
A contagem chega ao zero e as garrafas de champanhe explodem tanto quanto os fogos no céu. Tem tanto barulho e tanta coisa acontecendo, mas a única coisa que tem meu foco são os lábios de nos meus. Não tenho certeza mais se alguma linha divide o meu corpo do dele, seus braços tônicos estão me envolvendo completamente com a pressão necessária conforme a sua língua desenha a minha.
Sua boca pleiteia a minha e é intenso e contundente. Seu cheiro é hipnótico além da razão e seus braços são tão ágeis que é como se eu fosse feita de propelente e estivesse acendendo a faísca com a sua chama. Eu vou detonar no céu se ele não parar.
Nós somos obrigados a nos afastar quando a enxurrada de “Feliz Ano Novo!” chega até nós. Eu abraço Ash primeiro e mais algumas dezenas de pessoas, sempre com um sorriso. Essa noite é perfeita, não consigo parar de sorrir.
O DJ solta o som novamente com It’s Tricky do Run-D.M.C e várias pessoas voltam para dentro, para o lugar reservado para a pista de dança. Eu e enchemos as nossas taças, tiramos algumas centenas de fotos com quem estava por perto antes de seguir o fluxo.
Não sei quanto tempo ficamos dançando, mas é o suficiente para eu conseguir sentir o suor escorrer. Quando Ash diz que vai ao banheiro, eu vou com ela, e quase todo mundo aproveita para descansar um pouco e sentar nos sofás e poltronas distribuídos pelo lugar.
Quando eu volto, está sentado no mesmo sofá azul que eu o deixei, Ashley senta na poltrona do lado, ela está tão animada que está puxando conversa com qualquer pessoa sobre qualquer assunto. Eu fico de pé, coloco minhas mãos nos ombros de e apoio um joelho no braço do sofá. Ben, Reece e Josh Denzel estão conversando alguma coisa com a roda, mas eu paro de prestar atenção quando sinto a mão de subindo pela minha coxa até a minha bunda, ele dá um aperto considerável e a mantém ali.
… Dá pra você tirar a mão da minha bunda? — Olho para baixo e digo entredentes, para que só ele escute. Não quero que o meu traseiro vire o tópico da roda.
— Vamos, não seja uma santa, eu sei que você gosta. — Ele fala baixo igual a mim. Eu cerro os olhos para ele com um sorriso de lado.
— Eu não sou uma santa, só não sou uma puta. — A minha voz sai ficando mais baixa a cada palavra.
— Nem mesmo pra mim? — Seus globos oculares estão cheios de incontinência, e suas íris mais escuras que o mais velho dos carvalhos. Eu perco a voz por um segundo, mas consigo falar sem gaguejar.
— …Não.
— Você hesitou! — me acusa e levanta agilmente, ficando de joelhos no sofá, de frente para mim e quase da minha altura. Ele segura a minha mandíbula e captura os meus lábios, mas o beijo não dura muito porque eu viro a cabeça tentando esconder o rosto e as minhas bochechas ruborizadas com o pequeno constrangimento.
— Não hesitei!
— Hesitou sim.
Reviro os olhos e desisto porque é inútil discutir essas coisas com . Ele senta no braço do sofá e eu tiro o joelho de lá, ficando de pé entre as suas pernas enquanto ele abraça a minha cintura.
— Você quer descer? Reservei um quarto pra gente. — Coloco o seu cabelo para trás, meus dedos estão perambulando as falhas da sua barba e umedeço os lábios, mas antes que eu possa responder Declan nos interrompe.
Ele senta ao lado de , com tanta intensidade que faz o tronco de chacoalhar um pouco para a esquerda.
— Vocês são péssimos em ter modos. — Dec diz e lhe dá um tapa na cabeça pelo impacto.
— Isso é tudo com o seu amigo aqui. — Eu indico com a cabeça e ele responde descendo as mãos pelo meu quadril e apertado a parte de trás das minhas coxas.
— Declan, o que você estava conversando com Buck? — olha para ele. Eu fico a ver navios, pois ele muda de assunto e não sei quem é Buck.
— Nada demais, apenas sobre o jogo da final da Copa. — Dec responde sem nem piscar seus olhos azuis. — É a única coisa que as pessoas perguntam. Isso não acontece com você?
— Claro que acontece. — balançou a cabeça, mas de alguma forma eu ainda o sinto meio desconfiado toda vez que olha para Declan.
— Enfim, vocês vão descer? Acho que Lauren está cansada, e porra, eu não estou a fim de dirigir.
— É, eu nem sabia que íamos passar a noite aqui. — Eu olho para . Ele não me avisou absolutamente nada, mas pensar que estou a um elevador de distância de ter seu corpo nu em cima de mim me faz pensar que a ideia não é tão ruim.
— Fiz reservas por precaução. Vai saber qual ia ser nosso nível alcoólico pra dirigir. — Ele dá de ombros. — Reservei um para Ashley também, caso ela queira.
— Então é isso! Boa noite para vocês e feliz ano novo! — Dec diz se levantando, eu me afasto de e ele se levanta também. Eles dão um abraço rápido e Rice olha para mim. — Bom te ver de novo, , espero que a gente possa sair mais.
— O mesmo, Dec! — Eu retribuo o abraço e o sorriso e ele se vai, provavelmente indo atrás da namorada.
me dá o cartão de acesso de Ash e eu começo a procurá-la. Os quatro dedos da sua mão estão envolvidos nos meus em uma forma de pinça enquanto nos movemos. E encontro a minha amiga dançando com outras duas mulheres que eu não conheço. Sempre admirei a habilidade de Ashley de ser social e se encaixar em espaços. Ela é viciada em conhecer gente nova.
Eu entrego o cartão a ela e explico que se ao invés disso ela quiser ir embora é só me falar. Ela responde que vai ficar dançando e que qualquer coisa irá me ligar. Eu pego a minha pequena bolsa e sigo até o elevador.
Apesar de eu estar descendo com , essa festa ainda não acabou. Acho que está longe de acabar apesar de já ter gente saindo, e eu sempre fui do tipo de pessoa que é sempre a primeira que chega e a última a ir embora quando não há contratempos.
Eu e entramos no elevador vazio. Eu encosto no espelho, meus olhos estão fechados e ouço a música ficar cada vez mais baixa. Sinto os níveis de glicose no meu sangue diminuírem e uma leve falta de equilíbrio me faz dobrar os dedos no corrimão de aço cilíndrico. Ouço digitar o andar no painel touch e eu não vejo quando ele se aproxima. Eu apenas sinto. Sinto o beijo terno que ele deixa na minha boca com todos os meus nervos.
Ele puxa o meu corpo na sua direção pela sua cintura. As minhas pernas amolecem e os meus braços contornam o seu pescoço, me jogando em cima dele como se fosse o meu pedaço de madeira no naufrágio do Titanic.
— Sabe o que você devia fazer? — pergunta beijando o meu pescoço.
— O quê?
— Você devia namorar comigo. — Sua voz é quase um sopro na cartilagem da minha orelha.
— Sim, sim, você também é lindo. — Eu balbucio encostando a bochecha no peito dele e desenhando símbolos aleatórios no seu bíceps com o polegar. É o que os meus últimos neurônios sóbrios são capazes de formular.
Meu Deus. Acho que eu acabei de ser pedida em namoro, mas o excesso de champanhe não está fazendo com que eu reaja direito. Eu começo a rir e ele se afasta, minhas mãos deslizam pelo seu tronco e esfrega os polegares no meu cotovelo.
— Tô falando sério, fique sóbria por dois minutos. — Eu tento, mas não acontece e ele acaba rindo também. Isso é engraçado. Eu não sei porque é tão engraçado.
— Não consigo. — Eu o puxo de volta para mim, apoiando a cabeça no seu peito como um travesseiro fofo. — , não faz nem um mês que a gente se conhece.
— Na verdade, faz bem mais de um mês.
Ele tem um ponto, mas não me faz ceder. Eu movo as minhas e agora é quem está encostado nas portas do elevador. Mantenho os olhos fechados e abraço a sua cintura com mais força.
— Não assim. Você entendeu o que eu quis dizer.
— Entendi, mas… Pode por favor parar de jogar todo o peso pra cima de mim, ? Ou vamos cair os dois. — Seu corpo fica mais rígido, suportando o nosso peso e eu dou risada na sua clavícula.
— Você não era o sóbrio? — Ergo a cabeça por um momento para ver o seu rosto e ele enrola no dedo uma mecha do meu cabelo.
— Nunca fui, mas você bebe bem mais do que eu.
— Sim. — Concordo sorrindo e volto para a posição que eu estava. Abro um pouco os olhos, a luz começando a me incomodar e olho no painel, estamos quase chegando no andar certo. Ou eu estou bêbada demais, ou essa coisa parece estar funcionando com um quarto da velocidade que deveria.
Estou quase convencida que vamos continuar o percurso em silêncio quando volta com o assunto:
— E então?
Eu não olho, mas imagino suas expressões do rosto, todas em expectativa.
— Estou pensando em como isso ia ser. — E realmente eu estou. Não há um segundo que eu não pense nisso durante o meu dia. Eu lembro de , e de repente, não parece mais tão engraçado assim e o sorriso do meu rosto murcha. — Eu já tinha pensado nisso, claro, mas parece que tomei um choque de realidade.
— No Natal? — nem para pra pensar em perguntar e algo me diz que ele já vinha refletindo sobre isso.
Suas mãos massageiam os meus ombros e ele me afasta gentilmente, por mais que eu tente esconder o meu rosto. Eu sou uma nuvem feia e cinza e isso é uma droga porque não vim aqui para ficar lembrando daquele natal horroroso.
— Sim. Eu devia ter ficado aqui ou ido para longe. — Admito friamente. Eu não queria falar para , mas agora parece impossível fugir. — Na verdade, tem algo martelando na minha cabeça.
— Eu sabia. Você ficou um pouco estranha na segunda vez que nos falamos. Me conte. — Sua mão toca o meu pescoço e o seu polegar acaricia a região embaixo da minha orelha.
A minha mente viaja para o jantar de Natal da minha família. Não vou mover um músculo para te ajudar se você precisar, como todas as outras vezes. Me sinto nauseada ao lembrar disso e mais ainda ao olhar para e não saber o que pensar. Ele parece tão receptivo e acolhedor, mas tenho certeza de que não vai gostar do que eu vou falar.
— Lembra do dia da sauna? No Catar? — Pergunto buscando uma pausa momentânea e balança a cabeça. — Quando você me contou o motivo de vocês terem brigado, eu senti que ficou uma lacuna em branco, mas eu deixei pra lá porque no momento eu não achei relevante te questionar. — E não era relevante. Na quela época eu achava que a minha relação com iria acabar antes de começar e não tinha sentido levantar tantas questões. — Mas eu tive uma briga com no Natal, e pela reação dele, isso me deixou tão confusa.
Porra. Eu não queria duvidar dele. Juro que vi sinceridade nos seus olhos quando me contou a história. Mas as reações de na casa da nossa avó e o jeito que ele me magoou bagunçaram a minha cabeça.
— Você acha que eu tô menti pra você? — A mão dele que estava no meu rosto se afasta e ele disfarça pousando ela na própria nuca e arranhando as unhas na pele.
— Mentindo não, omitindo. Acho que você não me contou algo. — Eu tento amenizar, mas isso não reduz o reflexo de decepção no seu olhar.
— Eu te contei absolutamente tudo.
— É que não faz muito sentido pra mim. Ele brigou com você, brigou com ela, depois ele voltou com ela, mas continuou brigando com você? Aconteceu alguma coisa nesse meio, você não acha? — Eu ergo uma sobrancelha. Quero acreditar nele, mas eu não consigo ignorar o pensamento de que tem algo muito errado aí.
— Deve ter sido algum outro delírio dele, que porra. — resmunga. Acho que ele perdeu a paciência. Ele caminha em círculos pequenos ao redor de si mesmo antes de olhar para mim de novo. — Porque eu esconderia alguma coisa, ? — Isso não parece uma pergunta, é mais como um desafio para o qual eu sou muito pávida.
As portas se abrem. Ele continua firme, me encarando, e de repente as dobras da sua camisa branca parecem mais atraentes para mim do que seu olhar incitador.
— Diga. — Ele insiste e eu engulo em seco, não quero acusá-lo de nada, mesmo que pareça.

— Fale. — Ele continua intransigente. — Se você não for covarde.
Eu olho para o corredor atrás do seu corpo. Está vazio, as portas estão abertas, mas estamos presos aqui nessa situação desconfortável. Eu paro para olhar para . O som da sua voz é áspero, quase colérico e é horrível o jeito que ele olha para mim. Todos os seus músculos estão tensos e sinto que ele criou uma barreira de espinhos pontiagudos ao redor de si. É um claro aviso: se eu tentar tocar, vou me machucar.
Respiro fundo adquirindo alguma postura. Não consigo ser a garotinha assustada por muito tempo, por mais que doa.
— Você quer que eu te acuse de alguma coisa? — Cruzo os braços projetando dois passos para trás, quase encostando no espelho de novo.
— Eu não sei, você quer? — Ele solta uma risada nasal petulante.
— Pare com isso.
— Se você parar com esse olhar desconfiado toda vez que olha para mim. Eu odeio isso. — Ele admite e eu desvio o olhar porque agora eu estou irritada. Eu devia ter o direito de desconfiar.
— Sinto muito, mas é o que eu estou sentindo agora. Você ser intransigente não ajuda enquanto eu estou tentando ser condescendente.
— Que porra, agora eu sou o cara mau? Eu só estou tentando te entender. — Não vim me fazer de vítima, estou prestes a negar, mas ele solta uma risada irônica e continua. — Você acha que eu sou um mentiroso de merda, não é?
— Eu não falei isso, . — Eu odeio que ele coloque palavras na minha boca. — Você podia ser mais flexível.
— E você podia me dar o benefício da dúvida.
Suas palavras são um balde de água fria cheio de cubos de gelo. Eu balanço o pé no chão abraçando o meu corpo. Ficamos algum tempo nos ignorando até cortar o silêncio me obrigando a olhar para ele.
— Então? Como ficamos?
Eu mordo a parte interna da boca, mas não troco de postura. franze a testa para mim. Não sei porque ele perguntou essa merda. Ele sabe que eu não vou ceder, e muito menos ele.
— Não ficamos. — Respondo olhando para o painel touch do elevador, sem fazer ideia do porquê esse pedaço de lata está parado por tanto tempo.
Bem, agora com certeza eu estou sóbria.
— Belo jeito de começar o ano. — Ele dá um sorriso irônico e agora sou eu quem tem espinhos me rodeando.
A minha boca se curva levemente para o lado tão falsamente. O sarcasmo está nos corroendo e eu não aguento mais ficar com ele aqui dentro um minuto sequer.
— Com certeza é.
Eu o empurro levemente pelo peito e dá um passo para trás, para fora do elevador. Eu vejo o seu rosto sumir conforme as portas se fecham.
Digito o térreo no painel e seguro os corrimãos forte o suficiente para eu não desabar no chão do elevador. Eu respiro profundamente enquanto o paralelepípedo sobe de novo. Esse pico de sobriedade é demais para mim, isso significa que eu tenho que subir e beber mais.
Lá em cima eu acho Ashley no bar, com tanta gente, mas não estou em condição de identificar ninguém. Eu me sento ao lado dela, derrotada.
— Por que você voltou? — Ela pergunta quase gritando por causa da música.
Isso está uma porra. Devia ter ido para Paris com você. Vamos embora. É o que eu penso.
— Quero beber mais. — Eu forço um sorriso. — Você está se divertindo?
— Com certeza, eu amo os ingleses. — Ela me abraça pelo ombro e eu chamo a atenção do barman que está atendendo outro cliente. — Achei que você tivesse descido com .
— Não. — Eu minto, se contar a verdade para Ashley ela vai querer ir embora, e eu não quero cortar a sua diversão agora. — Ele desceu sozinho, estava cansado.
Não tenho a mínima condição de dirigir, e mesmo se eu tivesse não posso deixar Ashley sozinha aqui. Ash balança a cabeça para mim, ela parece convencida e isso é bom.
Tento identificar qual é a conversa do grupo e peço ao barman a coisa mais forte que ele tem no cardápio.

🎡

Eu devia ter ido dormir, porra, tenho treino hoje a tarde, eu devia estar dormindo, mas uma hora e meia depois eu não consegui pregar o olho. Os ânimos altos não deixaram que eu e tivéssemos uma conversa civilizada, mas agora depois de alguns jatos de água gelada no rosto, estou mais são. Fiquei olhando seu Instagram, mas ela não postou mais nada desde então, o seu celular parece estar fora de área ou descarregado.
O conselho de Dec foi bom, mas eu sabia que tocar nesse assunto seria uma merda. Imagino o quão ruim deve ter sido o seu Natal, mas eu tenho certeza das minhas palavras e atitudes. Eu não brinco com a verdade para sair por cima da situação. Foi horrível quando me afastou para fora do elevador e subiu, mas foi pior ainda saber que ela pensava aquilo.
Resolver isso parece ser a coisa mais sensata, mas para ser sincero, eu não sei se isso vai acontecer. Não diria que estou irritado, é algo mais como chateado, aborrecido, porém não consigo pregar o olho sem antes saber se ela ainda está aqui ou se pelo menos chegou bem em casa.
Vou até o elevador e subo. A cobertura já está quase um deserto, então desço até o saguão do térreo. Ainda há pessoas esperando carros ou motoristas para ir embora, quando meus olhos batem em Ashley Lawrence.
— Oi, Ash.
?! — Ela responde como se fosse muita surpresa me ver, mas seu tom de voz é ameno e chego a conclusão que não contou nada para ela.
está com você? Você viu ela?
— O bar da cobertura fechou, ela me falou que ia atrás do bar de algum dos restaurantes. — Ela explica balançando a chave de um carro. — Eu posso dirigir, então estava indo atrás dela pra gente ir embora. Inclusive ia te agradecer o quarto depois, mas acho que prefiro dormir com ela no apartamento. — Ela me oferece o cartão de acesso de volta, mas eu não o pego. Estou preso na informação de que ela ainda está aqui.
— Você se importa de esperar um pouco? Preciso falar com ela.
— Tudo bem, mas… — Não sei se o meu tom de voz entrega, mas ela percebe que algo entre nós, não está bem. — Se acontecer alguma coisa eu vou saber que foi você.
O seu dedo indicador apontando para mim, é quase ameaçador e eu balanço a cabeça em gratidão e compreensão.
— Você é meio intimidadora, sabia disso? — Forço uma risada. Ela sorri orgulhosa e depois me indica o caminho que estava prestes a seguir.
— Sabia. Agora vai logo.
O restaurante fica quase do outro lado do The Savoy. No caminho vou falando com alguns caras e me despedindo deles. Quando chego lá, as portas estão abertas. Por estar de madrugada, o serviço não está funcionando, mas tem pessoas trabalhando no bar e uma única alma sentada em uma das banquetas. tem os antebraços apoiados na madeira e a coluna um pouco curvada. Observo suas costas e os ossos das suas omoplatas esticados pelo vestido e quando me aproximo mais, percebo que ela tem um copo de whiskey pela metade do lado e suas mãos estão quebrando palitos de dente ao meio.
— Eu tava te procurando. — Falo ficando de pé ao seu lado. Porra, a ideia de descer era apenas saber se ela estava bem e se chegaria segura em casa, mas eu não consigo fazer isso. Nós precisamos conversar.
parece finalmente perceber que eu estou aqui e olha para mim. E pela primeira vez eu odeio vê-la bêbada, porque não tem nada de feliz no seu olhar como geralmente é.
— Você sabe quem são meus homens favoritos, ? — Ela balança a cabeça e olha para a estante de bebidas na sua frente e começa a apontar garrafa por garrafa. — Jim, Jack, Campari, Jose, Richard, Johnnie Red, Black e Walker. Acabei de perceber que dois deles coincidem com os nomes dos seus companheiros de seleção. Não é engraçado? — dá uma risada irônica e volta a quebrar os palitinhos.
Percebo sua tática de desviar do assunto falando alguma besteira, mas a encaro sério, deixando claro que não funcionou.
— Por que você está aqui?
— Eu ia embora há muito tempo, mas não queria estragar a diversão da Ash. Ainda não quero estragar a diversão dela, mas estou muito bêbada pra me importar agora isso. — Suas mãos seguram a base da garrafa de Jack Daniels e ela encosta a cabeça na ponta. — Ou com você.
O complemento da sua frase é uma clara tentativa de me atingir e eu reviro os olhos.
— Não pode terminar o nosso namoro com apenas um dia. — Argumento tentando entrar no seu jogo embriagado que não faz sentido nenhum.
— Não estamos namorando! — Exclama, porém, as palavras saem arrastadas.
— Estamos sim. — Eu seguro seus pulsos e tiro a garrafa dos seus braços, se solta das minhas mãos e cruza os braços em cima do balcão. Ela vira a cabeça para me ignorar, mas eu mudo de lado e sustento seu maxilar, fixando seus olhos em mim. — Ei! Eu era quem devia estar com raiva. Você está bebendo por despeito ao invés de conversar comigo.
— Eu não estou bebendo por despeito!
— Sim, está. — Insisto, ela finalmente dá um suspiro derrotado e abaixa o tom de voz. olha para a minha mão e para a dela em cima do balcão, lado a lado, depois olha para mim.
— Você surtou porque eu te fiz uma pergunta, o meu natal foi um lixo por causa disso.
— Eu sabia que tinha algo errado. — Eu a solto e sustento os antebraços no balcão, com a cabeça abaixada. Lembro de Dec falando esperar a Terceira Guerra Mundial, e pelo visto aconteceu mesmo. — Não devia ter mandado aquela foto para ele.
— Ele já sabia bem antes daquela foto. — Franzo a testa um pouco cético. Isso é novo para mim e é um pouco desconfortável porque eu gostaria ter conhecimento disso. Começo a lembrar dos nossos dias em Doha, qual foi a porra do detalhe que eu deixei passar? — E você quer que eu faça o quê? Fique te escondendo a vida toda da minha família? Desculpa, eu não funciono assim.
Eu concordo. Ela tem razão. Manter um segredo é legal no começo, mas não sustentável durante o resto do tempo. E agora estou tão cansado. Eu não gostaria de ficar preso em um segredo com , por mais que isso talvez nos desse mais paz.
— Podemos parar de falar disso? Sempre discutimos ou há algum incômodo. — Eu peço, mas ela não responde, apenas desce do banco, pendura sua bolsa no ombro e começa a andar em direção a saída do restaurante. — Para onde diabos você está indo? — Questiono indo atrás dela.
— Eu não quero mais discutir com você, se eu ficar isso vai acontecer. Eu tenho que achar Ash para gente ir embora, eu deixei ela sozinha. — Ela cambaleia umas duas vezes e quando olho para os seus pés, percebo que está descalça.
— Acho que ela já foi e levou o seu carro. — É o que eu deduzo visto que Ashley me ofereceu o cartão do quarto de volta, mas isso não faz parar de andar e sou obrigado a andar mais rápido e ficar na sua frente.
— Ótimo, vou atrás de um Uber. — Pressiono os dedos nos seus braços, mas ela não para de ser mover o que me faz continuar dando alguns passos para trás.
— Não vou deixar você entrar nesse estado no carro de um desconhecido a essa hora da noite. — Eu seguro a risada porque ela parece estar usando toda a sua força de bêbada para me vencer na potência, o que é quase inútil.
— Eu sou uma mulher adulta, , não preciso de babá. — A sua voz sai embargada, com menos rigidez do que ela gostaria, e o seu corpo fica menos resistente, como se ela estivesse cansada, a raiva se esvaiu e só há no seu rosto um aspecto abatido. Seguro seus ombros e a observo suspirar pesadamente, seus olhos encontram os meus como se estivessem interligados e convergindo em algo confuso e melancólico. É como se se conversássemos através das nossas pupilas e nos perguntássemos: o que porra estamos fazendo?
Minha mão sobe do seu ombro para arrumar uma mecha do seu cabelo e estou pensando em meio mundo de coisas, mas aproveito para abraçá-la quando noto que a sua armadura se desmanchou após olhar para mim. Ouço fungar e ela passa os braços ao redor de mim.
Estamos no corredor, do lado de fora do restaurante. Alguns poucos funcionários transitam com carrinhos de comida, mas é como se fossemos invisíveis.
— Desde quando ele sabe?
— Desde aquele dia na praia. Estamos brigando feio desde então. Só abre a boca para me falar coisas terríveis. — Escuto o seu desabafo afagando o seu cabelo macio com a mão. O cheiro é sempre tão bom.
— Do tipo?
— Ele disse que eu fui atrás de você porque não consigo fechar as pernas e mais um monte de porcaria desagradável. — Ela dá uma risada sarcástica.
A raiva sobe pelas minhas veias e eu cerro os dentes. Eu odeio tanto esse cara. Às vezes queria que fosse de outra família, é um pensamento egoísta demais, então decido manter a boca fechada.
— Bem, ele é um babaca.
— Sim, é. Você queria um passe livre para falar mal dele? Está aí. — Eu dou um sorriso de lado, poderia facilmente aproveitar a oportunidade, mas decido não fazer isso.
— Por que você não me contou? — Perguntou sentindo a garganta seca, ao invés de responder se afasta e passa as costas da mão nas bochechas molhadas, acho que ela deixou cair uma lágrima ou duas. Ela respira fundo e vai até à parede, deslizando até sentar no chão com os joelhos abraçados.
— Lembra que você perguntou porque eu não tinha feito uma chamada de vídeo?
— Lembro. — Eu vou até ela e sento do seu lado. Estamos entre duas pilastras brancas e acima das nossas cabeças há um grande quadro de Munch pendurado, intitulado “The Dance of Life”.
— Era porque eu chorei, e não queria que você visse. Você quer saber o que está acontecendo? — Confirmo balançando a cabeça. É o que eu mais quero. Sei que de alguma forma que a sua angústia está indo além da nossa discussão no elevador e sinto que talvez isso vá tirar um peso das suas costas. — Eu estou triste porque eu perdi o meu irmão. Ele nunca foi assim. Nós tínhamos um laço legal e agora não temos mais.
Sinto o meu peito arder e a dor é lancinante. Triste. É a primeira vez que ela diz a palavra com todas as letras. Uma parte dela está infeliz e ela escondeu isso porque eu estava feliz demais. Por nós. Não tenho dúvidas que goste de mim, mas também não posso culpá-la por sentir falta de uma parte da sua vida. Por mais que o irmão dela seja a pessoa mais insuportável do mundo. Eu não saberia viver se vivesse em pé de guerra com os meus irmãos.
Eu seguro a sua mão em cima do carpete vermelho e olha para mim com os seus olhos taciturnos e opacos. Sei que vou me arrepender de dizer isso, mas a minha garganta está irritada e é o certo.
— Por causa de mim?
sustenta seu olhar em mim, ela abre e fecha a boca algumas vezes, mas não responde. Eu também não responderia se soubesse que é verdade. Ela solta a minha mão e abraça os joelhos novamente, mais forte dessa vez, apoiando o queixo no topo deles. Sinto a culpa corroer o meu peito, se eu não tivesse cruzado o seu caminho, se eu tivesse lhe deixado em paz naquele maldito hotel em Doha isso não estaria acontecendo.
… — Começo. Iniciar esse tipo de coisa é sempre uma merda. — Eu não gosto de te ver triste, então… — A frase serve de gatilho para a sua cabeça virar para mim de novo. Já eu não consigo olhar para ela, não para fazer isso. — O que eu vou dizer é algo que provavelmente vai partir o seu coração.
— Então não diga. — Ela tenta me interromper, mas eu ignoro suas palavras. Meus antebraços estão apoiados no meu joelho e eu olho a hora no Apple Watch. 02:34. Feche seus olhos. Desobstrua seu coração. Corte o cordão.!
— Mas seria melhor se…
!
Eu posso sentir seus olhos corroendo o meu perfil, mas eu não consigo olhar de volta. Eu fecho os olhos e falo de uma vez só:
— Você ficasse longe de mim. — Baixo e rápido, mas o suficiente para paralisá-la. Eu levanto e procuro o cartão do quarto no meu bolso da frente, pensando que quanto mais rápido eu sair daqui menos o meu coração vai ser desmantelado por um taco de beisebol cheio de pregos.
— O quê? Não! — Ela pisca diversas vezes e se levanta. Se colocando no meu caminho como eu fiz da outra vez.
— Porra, eu não percebi que eu era uma inconveniência.
— Você não é uma inconveniência. — segura os meus pulsos com certo desespero, suas mãos estão tremendo, mas eu continuo ignorando os seus protestos. Fica mais difícil cada vez que a sua boca solta uma palavra.
— Toma, você pode ficar com o meu quarto.
— Não quero esse estúpido quarto se você não estiver nele comigo. — Ela pega o cartão que eu ofereci e joga em algum lugar do chão.
— Só quero consertar isso… — Eu coço a nuca sem querer encarar seu olhar cheio de súplica e lágrimas que não caíram. Isso está me dilacerando, mas não mudei de ideia sobre ser o melhor. Nem sempre a coisa certa vai ser aquilo que você quer fazer.
— Eu sei o que você está tentando fazer, mas você não vai consertar nada. — Ela faz uma pausa, colocando os cabelos atrás da orelha. — Eu não posso fazer isso passar te tornando um vilão.
— Eu devia ser a pessoa que está do seu lado pra te consolar, te apoiar, e não a pessoa que te derruba e te deixa triste. — Decido dizer já que me fazer de surdo e ignorante não está funcionando.
— Você não é essa pessoa. Da onde você tirou isso?
Caralho, acho que eu tive o melhor mês da minha vida, mas também acho que eu nunca fui tão incapaz de ler os sinais dela. Uma lágrima escorre na sua bochecha, eu fecho os dedos em um punho para me impedir de limpá-la. Se eu não sou competente o suficiente para impedir isso, qual a porra do meu papel aqui?
Acho que isso acabou agora. Não consigo encontrar nada para dizer. Tento desviar do seu corpo para abrir caminho no corredor, mas mal dou um passo e o meu corpo bate no seu. olha para mim me impedindo de ir. Seu rosto está a centímetros do meu, mas eu prefiro olhar para o chão.
— Deixe-me ir. — Peço quase em um sussurro e ela cruza os braços na minha nuca. encosta o nariz no meu e balança a cabeça para os lados. Droga, ela não pode simplesmente aceitar que assim é melhor? Meus braços estão grudados na lateral do corpo e pareço um robô enquanto ela tenta de forma obstinada me fazer mudar de ideia, com seu toque macio, seu cheiro narcótico e seus lábios tentadores. — Você não está sendo sensata, .
— Você que não está, ! — A sua língua umedece seus lábios secos e sinto meu pulso acelerar quando sua mão desliza pelo meu braço. Ela está tremendo o que agita o meu corpo também. É um medo genuíno. — As atitudes dele me deixam muito triste, mas você me deixa muito feliz. Eu não quero que a gente desista de algo certo porque ele é errado, eu não quero que você faça isso comigo, achando que vai ser melhor pra mim, porque não vai. Não deixe isso passar pela sua cabeça, por favor, só desista de nós se você não gostar de mim.
Suas palavras são como máscaras de oxigênio em um quarto sem ar. Ela sorri de lado que acaba desencadeando o meu, é reconfortante. Há poucas coisas mais difíceis na vida do que virar um jogo decisivo na prorrogação ou ganhar uma Copa.
— Você me deu um alívio do caralho agora. — Abraço os seus ombros e deixo um beijo na sua testa. — Não queria fazer isso.
— Eu sei que você não queria.
— Me partiria em um milhão de pedaços, mas achei que deveria pôr os seus sentimentos antes dos meus, já que você perdeu algo.
— Você é tão altruísta, é lindo. — Ela passa a mão no meu cabelo. Dessa vez, eu encontro o brilho nos seus olhos. — Mas não faça isso, os seus sentimentos são tão importantes quanto os meus.
Eu retribuo seu sorriso com um beijo. Porque é aqui que eu quero estar, onde é tão doce e celestial. segura a minha nuca e encaixa melhor sua boca na minha, é um beijo delicado antes de se tornar mais apaixonado. Consigo sentir o cheiro do whiskey que ela estava bebendo misturado com o seu perfume de flor de laranjeira. Eu deixo um último beijo nos seus lábios antes de segurar a sua mão. Nós andamos até onde eu enxergo que ela jogou o cartão do quarto e o pego do chão.
— Cadê os seus sapatos? — Olho para os seus pés descalços e contorce os dedos no carpete.
— Eu tirei porque os meus pés estavam doendo e os deixei embaixo da mesa lá na cobertura. Vim aqui atrás de água e quando voltei pra pegar eles não estavam lá. Acho que alguém os pegou.
— Certo. — Fico de costas na sua frente e dobro os joelhos. — Sobe aqui.
não hesita e pula nas minhas costas, ajusto as mãos nas suas coxas enquanto ela me abraça pelos ombros e pousa a cabeça na curva do meu pescoço.
— Você veio aqui só pra pegar água? — O ceticismo ensopa a minha frase e começo a caminhar em direção ao elevador.
— Sim, eu queria andar, sair um pouco lá de cima, mas aí vi que o bar também estava funcionando e fiquei por aqui. — A vibração da sua risada dá calafrios no meu pescoço e eu aperto suas coxas mais forte. — Bem, você tem que revesar entre água e o álcool para não entrar no último nível de alcoolismo no sangue e virar o famoso estraga prazer que precisa de uma babá para te carregar no final da festa.
— Que nem eu estou fazendo agora? — Dou risada e ela dá um tapa no meu ombro.
— Não! Eu consigo andar perfeitamente, estou meio tonta e tudo parece estar girando feito uma beyblade? Sim, mas não estou passando mal, você não vai precisar segurar o meu cabelo enquanto eu me inclino sobre uma privada.
— Se você consegue andar perfeitamente bem porque eu estou te carregando?
— Foi você que se ofereceu. — Solto uma risada, ela belisca uma das minhas bochechas e deixa um beijo na outra.
— Ash disse que ia levar o seu carro então você vai ter que ficar comigo. — Eu paro para apertar o botão e chamar o elevador.
— Ah é? Quem disse que eu quero ficar com você?
— Você não tem escolha. — Balanço a cabeça para os lados e sinto uma de suas mãos me soltar e descer até o bolso da frente do meu jeans, tateando as chaves do meu carro.
— Eu podia pegar as suas chaves e roubar o seu carro.
— Você pode tentar, mas não vai ter êxito. — Respondo tirando a sua mão e bufa.
O elevador está vazio quando as portas se abrem. Eu digito o andar no painel e acho que está quase dormindo quando chegamos lá porque ela não fala mais nada. Eu passo o cartão na trava e abro a porta, o quarto está do mesmo jeito que o deixei, e estou feliz que estou voltando com ela e não sozinho. se remexe para descer e eu a solto lentamente. Ela se desequilibra e quase cai e não evito uma risada.
Seus olhos se reviram para mim, antes de me empurrar até a parede com as mãos no meu abdômen e os seus lábios atacam o meu pescoço. Consigo ver o seu sorriso travesso conforme ela me morde e me beija, mas apesar de eu querer muito, isso não vai acontecer hoje.
.
— Hm? — Ela me beija para que eu não fale mais e as suas mãos tateando o meu tronco faz o meu estômago se contorcer e um arrepio se alastrar pelo meu corpo. Eu quase me rendo a sua sedução, mas detenho suas mãos antes que elas alcancem a minha virilha.
— Eu não vou deixar você dormir na cama se você não lavar esses pés sujos. — Dou risada e ela revira os olhos para mim.
— Você não conseguiu pensar em coisa melhor pra me interromper? — Ela tenta me beijar de novo, mas eu cruzo os braços na frente do corpo e balanço a cabeça para os lados.
— Cuidado pra não escorregar lá! — Aconselho, me solta e deixa a bolsa na mesa antes de ir até o banheiro. Ela resmunga algo frustrado antes de sumir pela porta. Dou risada, esse jogo ela não vai ganhar.
Enquanto ela está lá, eu evacuo todos os meus bolsos das calças, deixando os objetos em cima da mesa. Me livro da camisa e sento em uma das cadeiras próximo da varanda para tirar os tênis. Dormir de roupa é uma merda.
Ouço o barulho do chuveiro abrindo e fechando e minutos depois volta. Percebo que o penteado do seu cabelo não existe mais, um bagunçado rabo de cavalo foi feito no lugar. Ela vai até o espelho e olha para mim antes de começar a se contorcer para alcançar o zíper do vestido.
— O que diabos você está fazendo?
— É só você que pode se livrar das roupas desconfortáveis pra dormir? Esse vestido é cheio de pedras, elas machucam a costela. — Eu suspiro pensando que essa noite vai durar muito se eu continuar a ignorar toda essa nossa tensão sexual. — Você vai me ajudar? — Eu poderia perceber a insinuação da sua pergunta a milhas de distância.
— Depende, você vai me atacar se eu o fizer?
Ela coloca as mãos para cima e quase perde o equilíbrio de novo quando começa a rir. — Não prometo nada.
Caminho até ela e deslizo o zíper para baixo. Antes que ela se vire, vou até o banheiro para lavar as mãos e o rosto e quando volto está sentada na cama, com as pernas cruzadas, só de calcinha e sutiã e brigando com o fecho da sua bolsa como se fosse um marido infiel.
— Você está legal? — Sento do seu lado e dou risada ao ouvir os seus resmungos.
— Não! Estou tentando abrir essa porcaria pra pegar lenços e tirar a minha maquiagem, mas a minha cabeça tá rodando tanto agora e parece que mergulhei meu dedos em vaselina! — Ela joga a bolsa na cama sem paciência, e cruza os braços na altura do peito.
Quero rir novamente. Seus surtos embriagados são adoráveis, aposto que fariam sucesso se virassem um reality show.
— Vem cá. — Abraço os seus ombros e ela se inclina o suficiente para que a sua cabeça deite na minha coxa. repousa as mãos no estômago e seus olhos estão fechados enquanto seu peito sobe e desce.
O fecho da sua bolsa faz um “clique” quando eu a abro facilmente. Acho os lenços dos quais ela falou e começo a passar pela pele do seu rosto desobstruindo os poros conforme saem as camadas de maquiagem. Seguro o seu cabelo para trás com a outra mão e quando deixo os seus olhos limpos, os abre olhando para mim. Suas pupilas estão dilatadas e ela pisca constantemente. Ela desce o olhar do meu e sinto seus dedos tateando a minha costela, bem na região da tatuagem da Champions.
Um arrepio percorre a minha espinha conforme ela passa a mão e as suas unhas arranham a minha pele. Não sei o que está pensando, mas eu sei que isso aqui é muito melhor do que discutir.
— Posso gravar isso? — Ela olha para mim de novo, sem tirar a mão do meu abdômen enquanto eu limpo suas bochechas fazendo movimentos circulares.
— Por quê?
— Porque você tá sendo um fofo e é provável que eu não lembre de nada disso amanhã. — O seu sorriso singelo se torna malicioso em segundos. — E também fica muito gostoso olhando desse ângulo. — A sua unha risca o meu eterno, descendo numa linha invisível até o cós da minha calça.
— Fique com essas mãos longe de mim, vamos dormir. — Dou um sorriso nervoso e amasso os lenços sujos quando percebo seu rosto suficientemente limpo. Afasto sua mão de mim, quebrando o nosso contato. É quase doloroso.
— Eu te quero. — Ela senta e atravessa as minhas pernas com o braço, apoiando a mão no colchão e por um momento eu me encontro preso. encosta o nariz no meu e geralmente fico muito tentado a beijá-la quando tenho sua boca tão perto, mas tenho um bom autocontrole. Muito autocontrole. Esse é o pior jogo pelo qual eu já me esforcei para ganhar.
— Você estava planejando roubar o meu carro e agora você me quer? — Passo o polegar pelo seu lábio inferior encarando seus olhos cheios de luxúria.
— Eu ia levar você no banco do passageiro. — Ela sorri antes de segurar a minha cabeça e me beijar, mas eu não deixo que ela aprofunde o beijo. resmunga frustrada e eu dou risada. — É cruel demais que você negue sexo a uma mulher tão carente.
— Talvez você tenha mais sorte de manhã, menina bonita. — Dou dois tapinhas na sua coxa para que ela se mova, e ela o faz a contra gosto. Ela foca em algo atrás de mim, depois me olha. Conheço esse olhar, são seus olhos de vingança.
— Certo, eu vou ficar com aquele lado. — ajoelha no colchão antes de começar a engatinhar pela cama até o outro lado da cama, empinando o quadril bem na minha cara. Solto um suspiro tentando ignorar o que o movimento da sua bunda moldada pela lingerie está fazendo com o meu pau e seguro no colchão.
— Pare de me provocar! — Ela começa a rir quando as minhas mãos atingem os seus flancos. Eu a deito de barriga para cima e faço cócegas na sua barriga até que ela comece a se contorcer e a perder o fôlego. Ao invés de suplicar para eu parar, me desafia:
— S-se não o quê? — Eu puxo os cobertores e enrolo o seu corpo, como se fosse um pacotinho, um presente perfeito pronto para ser entregue pelo Papai Noel.
Prendo o seu corpo embaixo do meu, o edredom nos separando e olho nos seus olhos. — Eu sou a babá aqui, então eu estou no comando. — Dou um selinho nos seus lábios e levanto para tirar o jeans.
— Isso soou ridiculamente sexy, . — ri e se mexe nos cobertores para se libertar. Ela arruma o edredom na cama e se deita puxando a coberta pelos ombros. Acho que ela finalmente sossegou a tempo de eu não ter que lutar contra bolas azuis.
Chuto o jeans para o lado ficando só de cueca e apago o abajur deixando o quarto escuro. Me enfio do seu lado na cama, seus olhos estão fechados e puxo seu corpo para perto pela cintura e deixo um beijo no seu ombro. murmura algo confuso e passa o braço por cima do meu.
— O que você achou dessa volta ao redor do sol? — Pergunto antes que a sua respiração pese e ela caia no sono. Tentando ignorar as partes ruins da noite e focando apenas nas boas.
— Bem, foi mais uma volta ao redor do sol, mas foi uma volta ao redor do sol com você então… Valeu muito a pena.

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Capítulo III - Stranger Things Happened

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1 de janeiro de 2023
The Savoy, Londres, Inglaterra

Há uma luz branca incomodando os meus olhos e atingindo em cheio a minha enxaqueca quando o meu corpo começa a despertar. Estresse pós-embriaguez é sempre uma porcaria, parece que alguém acertou a minha cabeça com uma bigorna de cinco toneladas. Eu me remexo na cama sentindo uma pressão diferente em cima do meu rosto. Inspiro fundo quando percebo que está em cima de mim, a ponta do meu nariz toca a sua pele e sinto cheiro de... limpeza. Sabonete e shampoo de hotel e um pouco de menta.
Inspiro novamente. Caralho, é tão bom. Sua pele está mais fria em cima da minha e tiro as minhas mãos quentes do cobertor para examinar suas costas, escrevendo algumas palavras invisíveis com as pontas dos meus dedos, de tudo que estou sentindo agora. Eu não abro os olhos, mas fala quando percebe que eu acordei.
— Me escreva notas de amor com as falanges dos seus dedos nas minhas costas e eu vou te escrever de volta com a minha língua entre as suas coxas. — O seu rosto afunda na curva do meu pescoço e ele sussurra no meu ouvido. O meu corpo vibra só de imaginar e algo me diz que já faz algum tempo que está acordado.
— Oi.
Eu abro os olhos. Ele olha de volta para mim, apoiando os cotovelos ao meu redor.
— Oi.
Ficamos alguns segundos nos encarando e eu mexo no seu cabelo, colocando ele de lado. está só de calça jeans e consigo ver os seus músculos do braço se contraindo enquanto ele se apoia.
— Bom dia! Que horas são? — Eu me inclino para frente para sentar e ele sai de cima de mim, deitando de barriga para cima do meu lado. A minha cabeça lateja e sinto o enjoo da ressaca subindo pela garganta.
— Onze. — Ele coloca uma mão embaixo da cabeça flexionando o bíceps. Eu poderia ficar horas babando nos seus músculos e nas suas tatuagens, mas caio em mim quando escuto a hora.
— Estou com uma ressaca fodida e você me acorda de madrugada, ? — Resmungo indignada e volto para debaixo do meu cobertor tentando fugir da luz do sol.
— Desculpa te acordar tão cedo — Ironiza com uma risada. —, mas eu preciso voltar pra Cobham uma da tarde.
Solto um suspiro de lamentação quando ouço os seus planos. Não é como se eu também não tivesse coisas para fazer hoje, não checo meu celular desde ontem, mas deve estar abarrotado com mensagens de Jenna. Coloco a cabeça para fora, está sentado olhando para mim, e já que temos pouco tempo, eu decido aproveitar.
Me livro do cobertor e rastejo até onde ele está. me olha com curiosidade enquanto planto as mãos nos seus ombros e arrasto o nariz pela linha do seu pescoço.
— São longas duas horas até lá. — Murmuro com os lábios rente a sua pele antes de deixar um beijo na sua mandíbula. Ele não diz nada de imediato como eu achei que faria. Estou de joelhos atrás do seu corpo e uso a posição para atacar o seu pescoço com mais facilidade.
solta um suspiro enquanto as minhas mãos se aventuram pelo seu tronco. Ele devia ter pensado duas vezes antes de decidir me acordar sem camisa.
.
— O que foi? Você disse que talvez eu tivesse mais sorte de manhã. — Resmungo. Não era de frustração que eu queria estar gemendo.
— É, mas você não teve.
começa a rir, bobo, isso não é engraçado.
— Por que eles não te deram o dia todo de folga? — Apoio o queixo no seu ombro chateada. Eu perdi outra batalha. — É o primeiro dia do ano, as pessoas precisam juntar energia pra aguentar os próximos 364 dias.
— Sério, eu concordo com você, mas vá dizer isso pra FA. — Eu reviro os olhos. Maldita tradição inglesa. Ele vira o rosto para mim. — Tava pensando na gente almoçar e depois eu te deixava em casa.
— Não quero ir pra casa. Quero ficar aqui com você pra sempre. — Eu abraço pelos ombros de novo e enfio o nariz na curva do seu pescoço antes que ele possa se afastar.
— Impossível.
— Contra quem é o jogo?
— Norwich, fora, depois de amanhã.
— Vocês vão ganhar tão fácil que nem precisam treinar. Que horas vai ser? — Pergunto na esperança de conseguir assistir e sinto a mão de no meu joelho, desenhando círculos com o polegar.
— Às 15h. — Sua mão sobe pela minha coxa e vejo o seu sorriso confiante. Ele não precisa olhar para mim para saber que estou odiando isso. — Você aguenta mais um dia ou dois, babe.
— Dias? Eu achei que você fosse falar horas. — Chio encostando a bochecha nas suas costas. Eu não lembro de ficar tão carente. Não pode ser TPM, eu acabei de menstruar e o meu período fértil está longe de começar. — Eu acho que você vai chegar cansado.
— Não vou não. — afirma e muda de postura ficando de frente para mim. — Mas agora acho que você devia ir tomar banho. — Ele se aproxima o suficiente para me fazer crer que vai me beijar, mas se afasta logo em seguida e eu faço uma careta. — Você está com cheiro de champanhe.
— Ótimo, vamos comigo.
Se tem algo que eu aprendi com a minha mãe, é ser obstinada.
— Eu já tomei o meu. — Inspiro o seu cheiro novamente fechando os olhos. É, eu percebi.
— Não foi comigo, então não conta.
— Pare de usar as minhas palavras contra mim! — Ele ri apertando a minha barriga o que me faz rir também, mas eu não o solto. — Sério, Tuchel vai me matar se eu chegar atrasado, seja um bom exemplo pra mim e eu vou fazer valer a pena, .
segura o meu rosto, sua última frase sai mais premeditada e o anelo na sua voz me faz morder os lábios. Eu inspiro e fecho os olhos quando a sua testa encosta na minha. Passo a mão no seu rosto sentindo a sua barba queimarem as pontas dos meus dedos.
— Eu espero que você cumpra as suas promessas, .
— Eu sempre cumpro. — Ele deixa um beijo no canto da minha boca, tão bom que quase desalinha todos os meus hormônios, antes de se levantar. — O pessoal da recepção ligou, eles acharam os seus sapatos e um funcionário trouxe pra cá.
Ele aponta para o chão perto da porta, mas ao invés disso eu olho para o meu corpo. Ainda estou só de calcinha e sutiã e o meu cabelo deve estar pior que um ninho de passarinhos.
— Que pena, eu queria tanto que você me carregasse de novo. — Faço um beicinho.
— Preguiçosa.
Eu levanto finalmente querendo arrastar ele para o banheiro comigo, mas acabo indo sozinha.

🎡

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mensagem de:
JH

Jordyn
, você precisa me contar
ash está sendo hoser!!!
e você não me responde
isso por acaso é um complô de
vocês duas contra mim?


-

Estou lendo as mensagens de Jordyn enquanto o elevador sobe. Eu e decidimos almoçar no The Savoy mesmo porque era mais discreto e também porque economizaríamos tempo de deslocamento. Tive o prazer de conhecer o banco passageiro do seu Bugatti Chiron preto e lhe dei o meu endereço. Ele me disse que não ficava tão longe de onde ele morava, estou louca para saber se isso é verdade, mas pelo visto vou ter que esperar mais um pouco. Acho que eu nunca tive tanta paciência na vida.
Não respondo às mensagens de Jordyn e procuro minhas chaves na bolsa. Eu abro completamente a porta do meu apartamento e do batente vejo Ash deitada no meu sofá com a TV ligada.
— Boa tarde. Por que Jordyn está chamando você de hoser? — Isso é uma expressão canadense para dizer que alguém está sendo desagradavel. Ash e Jordyn disseram que a gíria veio do hóquei, eu tive que basicamente decorar o dicionário delas para não me perder nas conversas.
Ela vira a cabeça para olhar para mim.
— Ela quer saber como foi a nossa noite. Eu disse que ela saberia se estivesse aqui.
— Haha, boa! Ela vai ficar curiosa. — Eu fecho a porta e balanço os pés para me livrar dos sapatos, entendendo finalmente o que está acontecendo entre as minhas amigas e decidindo adotar o mesmo proceder de Ash. Vou até à cozinha pegar a minha garrafa de água e volto para a sala.
Ash está assistindo Lupin completamente em francês, começo a perceber como eu tenho saudade de Paris. Pego o meu celular e começo a checar as mensagens e as postagens de ontem.
— Você chegou tarde. Vai me contar ou não como foi a sua noite de núpcias com o ? — Ela bate o ombro no meu e eu faço uma careta. Se ela encontrou com antes de ele me achar, Ash percebeu algo. Não sei bem definir como foi a noite de ontem nem para mim quanto mais explicar para alguém.
— Péssima? Triste? Incrível?
— O quê? — Ela parece tão confusa quanto um dia eu já estive e passo os próximos quinze minutos contando a ela o que aconteceu. — Por que diabos você não me falou? — Ash joga uma almofada em mim, bagunçando o meu cabelo e eu decido jogá-la de volta.
— Porque fui eu que te arrastei até aqui, você estava se divertindo, não ia ser justo!
— Fodasse, , a gente arrumava outra coisa pra fazer. — Ela pode dizer o que quiser que não me faria mudar de ideia. Foram as primeiras horas do meu ano e elas foram péssimas, mas por uma amiga eu não faria diferente. — Da próxima vez que você for pra Bélgica, você vai precisar me levar junto. Eu vou falar poucas e boas pro seu irmão!
— Ele provavelmente já voltou para Londres, se você quiser a gente sai agora e eu te deixo na porta do CT do Tottenham. — Sinto um gosto amargo na boca quando lembro de , e não, eu tive uma manhã maravilhosa, não preciso lembrar desse estraga prazeres. — Mas podemos não falar desse cuzão?
Desabo no sofá. Não quero opiniões ou conselhos, eu só quero paz agora.
— Credo, a briga deve ter sido bem feia para você xingá-lo assim. — Ash se encolhe encarando a minha carranca. — Mas tudo bem, não vamos falar dele. Eu estava pensando que… pelo menos deu tudo certo no final.
— É… eu acho. — O seu sorriso é reconfortante, mas eu olho para baixo brincando com os pingentes da minha pulseira. Eu ainda estou tentando entender a noite passada, mas acho que preciso de uma cabeça sem ressaca e um pouco mais de tempo para fazer isso. — E você? Pegou alguém ontem?
— Não! Claro que não! — Ela se defende como se eu tivesse acabado de acusá-la de um crime. Dou risada e encolho as pernas no sofá.
— Qual é, Lawrence, tinha muita gente bonita e solteira lá pra você escolher.
— Obrigada, , mas não estou procurando um english affair, ou qualquer namoro, preciso focar na temporada.
Acho que Ashley é a pessoa mais responsável que eu já conheci, mas também a mais rigorosa consigo mesma.
— Você sabe que dá pra fazer os dois, certo? Eu fazia, Jordyn faz e sempre mantém o nível.
— Eu sei, é que o meu nível de autocobrança é um pouco maior do que o de vocês.
Não vou dizer a ela para tentar diminuir isso, nós já tivemos essa conversa milhares de vezes e está ficando repetitivo. Acho que o sucesso de uma amizade é você saber até que ponto você pode interferir na vida dos seus amigos sem eles pedirem.
Eu levanto olhando a hora no celular e percebendo que não tenho mais tempo pra ficar aqui de bobeira. — Bem, só tente se soltar mais, pelo menos agora.
— Posso fazer isso hoje. Você vai ter que me aturar mais um dia, meu voo é só amanhã.
— Você sabe que pode ficar o quanto quiser. — Respondo pegando os meus acessórios para levar para o quarto. — Marquei de ir à academia encontrar com Jenna, ela vai me deixar a par da agenda de janeiro. Você quer ir comigo?
— Malhar? No meu dia de folga? Sem chance. — Ela se joga no sofá apoiando a cabeça no travesseiro e cruzando as pernas.— Eu vou ficar aqui usufruindo dos seus aplicativos de stream.
— Boa sorte, eu vou me trocar. — Dou risada querendo poder acompanhá-la. Eu odeio malhar, mas a única coisa que envolve atividade física para a qual ainda tenho tempo é correr e não me parece tão atrativo agora. A tarde talvez seja chata, mas eu e Ashley podemos aproveitar a noite. — Estou com saudade das nossas saídas, vou procurar um lugar legal pra gente jantar hoje.
— Ah você está com saudade das nossas brigas pra ver quem ia ser a motorista da vez?
— Hm… Dessa parte eu não sinto tanta falta.
— Você odiava quando era a sua vez.
— E odeio.
Resmungo e ela dá risada. Quando me mudei para Londres cheguei a contratar um motorista para não ter que me privar de beber nas festas e nos eventos, mas o demiti um tempo depois por recomendação da minha endocrinologista. Minha família paterna tem histórico de alcoolismo e eu não quero ser uma das vítimas.
— Mas hoje você vai ter que suportar, eu sou a convidada. — Ashley empina tanto o nariz ao falar que seguro a risada.
— Você está parecendo uma daquelas mulheres esnobes dos sheiks que são donos do Paris.
— Credo, . — Por pouco eu consigo desviar da almofada que Ash joga na minha direção. — O que eu fiz pra você me ofender assim?
Olhando para ela esparramada no sofá percebo o quanto sinto falta das minhas melhores amigas. Nós falamos quase todos os dias, mas nunca é a mesma coisa.
Abaixo para pegar a almofada do chão e deixo com ela novamente antes de ir até o meu quarto.
— Eu vou fazer esse esforço por você hoje, Ash.

🎡

1Rebel South Bank

A 1Rebel é a academia que eu costumo frequentar, porque é mais perto da minha casa. Quando você fica adulto tudo é uma questão de tempo e todas as nossas decisões são tomadas de forma que eu consiga economizar qualquer segundo no relógio.
Ficar quase dez dias parada não foi bom, e Jacob, meu personal trainer não facilita nada para mim. Quando Jenna começou a me agenciar ela me passou uma lista de todos os profissionais que eu devia consultar regularmente e deixou que eu escolhesse. Por que diabos eu escolhi alguém tão rígido? Desde que eu me entendo por gente, o meu corpo é meu trabalho então decidi não dar mole comigo mesma.
Estou correndo na esteira. A minha respiração está um pouco desregulada e estou suspirando enquanto Jenna me informa das campanhas. Basicamente, ela filtra tudo que é oferecido a mim, lê todos os contratos e apenas me consulta para saber quais eu vou querer fazer. Tudo que eu tenho que fazer depois é assinar um papel. Jenna ainda organiza os dias e horários de todas e eu monto o resto da minha agenda pessoal baseado no que ela me passa. Sempre sei quando eu preciso ficar o dia em um salão, meditando, malhando ou quando posso ficar o dia todo em casa e sair à noite.
É realmente ótimo não ter que lidar com toda essa burocracia chata e não cair em uma roubada. Eu amo ter agente. Posso dizer que tenho a mais competente de todas.
— Sapatos para L.K Bennett? — Ela pergunta de frente para mim. Jenna está com o seu iPad fazendo um checklist e eu tento responder enquanto corro.
— Uh, é aquela marca que a Kate Middleton usa? — Ela acena. — Eles são bonitos, não fazem muito o meu estilo, mas ainda assim são bonitos, eu vou querer.
Jenna confirma e passa para o próximo. Aproveito que Jacob não está olhando e diminuo a velocidade da esteira.
— Joias para HStern?
Quem no mundo consegue recusar joias?
— Com certeza.
— Surgiu uma coisa para a campanha de um carro. É um comercial pra Jaguar. Você nunca fez nada para carros, então achei...
— Carros? Para Jaguar? Claro que sim! — Eu a interrompo no mesmo momento. Normalmente as minhas campanhas giram em torno do mundo da moda, alguma vez ou outra destoam, mas carros é a primeira vez que acontece. Normalmente eu preciso fazer testes quando são comerciais, mas isso nunca é um problema grande. — Imagina se eles me dão um carrão? Tava mesmo querendo trocar o meu.
A ideia me deixou tão animada que eu até começo a correr mais rápido e Jenna dá uma pequena risada. — Certo, então, sim, para Jaguar. — Jenna faz uma pausa momentânea e continua. — Perfume para Jo Malone?
— Você sabe que eu amo as de perfume.
— Ama também os modelos... — Ela cantarola olhando para a tela do iPad e eu reviro os olhos. As campanhas femininas e masculinas de perfume quase sempre acontecem de forma síncrona e os modelos vivem se esbarrando. Não é nada fácil resistir a um cara bonito e cheiroso. Infelizmente, Jenna sabe o suficiente das minhas aventuras comerciais com o sexo oposto.
— Agora esse mercado está fechado para mim, você tem conhecimento disso, Jenna. — Eu dou risada entre uma lufada e outra.
— Eu posso alterar seu status quo pra comprometida?
— Essa é uma palavra forte demais, mas é, acho que sim. — Dou um sorriso satisfeita com isso. Eu e estamos construindo uma relação legal, mas Jenna não está tão feliz quanto eu achei que ela fosse ficar. — Que cara é essa?
Jenna dá um breve suspiro antes de continuar.
— Certo, , acho lindo te ver apaixonada de novo, acho mesmo, mas você tem que ficar longe desses tabloides. Aqueles crápulas do The Moon e Weekly Mail sabem ser sanguessugas de dinheiro quando querem. Sabe como é difícil impedir que eles publiquem alguma coisa? — O seu semblante é bem sério e não achei que fôssemos ter essa conversa de novo.
— Relaxe, eu e somos discretos. — A minha tentativa de amenizar as coisas é completamente falha, pois Jenna continua arqueando suas sobrancelhas para mim. — Tá, não tão discretos, mas vamos ser a partir de agora. Eles não conseguiram nada além daquele beijo, não houve nenhum escândalo.
— Esses vermes estão em todo lugar. — Reclama apoiando os cotovelos na extremidade da esteira. Me preparo para escutar todas as suas possíveis preocupações porque eu sei que elas vão vir.
Eu tive que contar para Jenna da minha discussão com no hotel. Ela não sabe de tudo que acontece na minha vida, mas isso faz parte do nosso acordo de agente e cliente. Se eu quero que ela manuseie a minha carreira e mantenha a minha imagem limpa, eu preciso confiar nela.
— Podia ter algum infiltrado como garçom na festa de ano novo, ou hospedado a uma porta de distância do elevador que vocês estavam discutindo. Você já pensou nisso?
Não. Até agora eu nunca tinha parado para pensar nisso. Desde que o meu irmão descobriu, eu confesso que me tornei menos cautelosa. Grave erro. Eu simplesmente me apeguei ao que falou sobre não se importar, mas Jenna está me mostrando que eu preciso me importar. Uma confusão, por menor que fosse, pode me afetar muito mais do que ele.
Jenna é divorciada, e mesmo sendo uma mulher cansada de relacionamentos e age como se não acreditasse mais no amor, ela costuma apoiar meus namoros desde que não manchem a minha imagem em potencial. Não é como se não tivéssemos tido essa conversa milhares de vezes. Eu lembro perfeitamente da vez que sentamos e tivemos nossa primeira reunião.
— Nem passou pela minha cabeça, mas eu sei que você tem razão. — Passo a mão pela testa para limpar o suor e vou diminuindo a velocidade da esteira quando Jacob faz um sinal para eu trocar de aparelho.
— Eu confio em você, querida, pra saber se policiar. O mais particular dos lugares, nem sempre é tão privado. — Aconselha e eu balanço a cabeça.
— Eu sei, prometo que vou tomar cuidado. — Quando a esteira finalmente para eu desço, jogo uma toalha no pescoço e pego a minha garrafa de água. — Terminamos por hoje?
— Por hoje sim. — Jenna fecha a capa do seu tablet. — Amanhã a gente se encontra pra você assinar tudo.
— Okay, até amanhã então. — Começo a me dirigir até as bicicletas onde Jacob está me esperando quando Jenna diz atrás de mim.
só mais uma coisinha, ligue para a Sylvie depois, ela deixou uma mensagem dizendo que queria falar com você.
Interessante. O que será que Sylvie Schillaci quer comigo?

🎡

Depois de passar a tarde toda me matando naquela academia, eu finalmente peguei meu carro para ir pra casa. Jenna foi embora um pouco depois que terminamos de acertar todos os compromissos e me deixou lá para Jacob terminar de judiar de mim. Estou toda grudenta e a roupa de ginástica parece mais justa do que realmente é, mas já que vou sair com Ash, decido deixar para tomar banho em casa mesmo.
Fui o caminho todo com o rádio ligado e quando paro em um sinal, aproveito para checar as minhas mensagens. Há três ligações perdidas da minha mãe, mensagens de uns amigos e uma de . Eu falei para ele me avisar quando terminasse.

-
mensagem de:
💙


🤕

o que é isso?

tô morto

uma tarde de treino te deixou assim?
acho q eu estava certa
vc vai voltar super cansado de norwich


não!!!

sim??
esqueça, são quatro horas de viagem
se vc contar ida e volta
quando chegar em londres vc só vai dormir


chega
isso não é mais uma promessa
é uma aposta


-

Largo o celular porque o semáforo abriu e dou risada. Agora sim ele consegue prender a minha atenção. Só volto a responder quando paro em outro sinal vermelho.


- mensagem de:
💙


🤨
ah é?
carrie bradshaw tem usa uma bolsa da
mark cross na série que eu costumava assistir
quando era adolescente
eu nunca achei ela pra comprar
se eu ganhar, você vai ter que
conseguir ela pra mim


fechado.
pensando bem, isso não é muito justo
você vai ganhar dos dois jeitos


a ideia foi sua 😛

-

Bloqueio o celular de vez e o jogo na bolsa. Quando chego no prédio, estaciono na minha vaga de sempre e subo de elevador até o meu apartamento. No caminho eu ligo para a minha mãe para saber o que ela queria e não é nada grave. Ela apenas quer que eu a visite para um brunch ou coisa do tipo e quer que eu leve . Nem parece que faz pouco mais de uma semana que nos vimos, mas acabo aceitando também porque quero ver Norby.
— Ash! Cheguei. — Eu digo abrindo a porta e a empurrando com o corpo enquanto checo na minha bolsa se não deixei nada no carro. — Tava olhando uns restaurantes pra gente poder jantar hoje... — Minha frase morre quando eu olho para cima e vejo o meu irmão parado no meio da minha sala. — O que você tá fazendo aqui?
— Ah, oi amiga, o seu irmão está aqui. — Ash aparece sorrateiramente e fala com tanta normalidade que quero bater nela.
— Por que você deixou ele subir? — Eu resmungo ignorando o indivíduo em questão. Ash se aproxima de mim.
— Ele disse que era importante e urgente. — Ela quase cochicha e penso seriamente em pegar o guarda chuva pendurado no hall de entrada e expulsar daqui.
Começo a pensar no que pode ser tão urgente ao ponto de fazê-lo vir até aqui sem a intenção de querer brigar comigo. Ele não está em posição de ataque como das outras vezes.
— Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui. Eu vim em paz, ok?
— Jura? O que você quer? — Eu cruzo os braços cravando a unha na palma das mãos. O guarda chuva está a centímetros de distância.
— Eu vou me arrumar e deixar vocês conversando. — Ash percebe o nosso embate e ele não fala nada e por um tempo ficamos apenas nos encarando, logo sou obrigada a me pronunciar.
— E então?
parece desconfortável, mas ele limpa a garganta e fala finalmente.
— Vim te pedir desculpas.
Sua fala é curta e rápida e sinto a rigidez do meu corpo diminuir após ouvir. Meus braços caem do lado do corpo e meu maxilar relaxa.
— Como é? — Pergunto boquiaberta e ele suspira, sentando no braço do sofá. Suas mãos estão juntas e a sua cabeça pende para baixo. Uma clássica postura de rendição.
— Estive pensando... — Ele coça a região da mandíbula e noto seu kit de treinamento do Tottenham. Acho que ele veio direto de Enfield para cá. — O pai está doente e não acho legal ficarmos brigando assim, na frente dele.
Lembro das ligações da minha mãe, mas não faz sentido. Acabamos de nos falar e ela não falou nada sobre o papai. O choque me deixa consternada. Isso é coisa demais para processar.
— Espere, o quê? — Eu me aproximo e sento em uma das poltronas. — O que aconteceu com o papai?
— Nada demais, , o eletro dele estava irregular, mas está tudo certo agora e papai vai passar com um cardiologista.
Quanto mais ele fala mais eu fico com raiva. Eu odeio que me escondam as coisas, por pior que elas sejam.
— E por que ninguém me falou nada? Eu estava malhando a tarde toda sem fazer ideia que o papai estava no hospital?
— Ele não queria que mamãe contasse. Não foi nada sério, ele já está em casa.
Eu suspiro buscando paciência e calma. Ficar discutindo com não vai mudar nada, eu só preciso deixar claro para a nossa mãe que gostaria de ser informada desse tipo de coisa. Eu olho para , quase esqueci o motivo dele estar aqui.
O choque do estado de saúde do meu pai conseguiu suplantar o outro choque: finalmente decidiu voltar a ser gente.
— Então, você realmente sente muito? — Ele não afirma nem nega, apenas outro suspiro pesado.
— Isso é ruim para nós e para ele. Não vou ser melhor amigo do seu namorado, eu ainda o odeio, mas não quero mais brigar com você. Se você quer fazer isso, faça, mas depois não diga que eu não avisei.
não consegue fazer um pedido de desculpas sem ser insolente, mas eu apenas reviro os olhos. Se ele não veio aqui para brigar, não sou eu que vou começar.
— Você vai ficar jogando essas provocações o tempo todo? — Se isso é um recomeço preciso ter certeza das coisas.
— Não — Ele diz com os dentes cerrados, como se fosse uma tarefa muito difícil. —, prometo que parei com você. Com você.
— Confirme mais uma vez que isso é um pedido formal de desculpas. Por tudo.
— Sim, , é um pedido de desculpas, por tudo. Sinto muito.
— Ótimo, desculpas aceitas. — Eu balanço a cabeça, mas ainda não terminei, ainda não esqueci aqueles comentários desagradáveis. — Mas da próxima vez que você for um porco chauvinista eu vou te dar um chute em um lugar que você não vai gostar de saber onde. — Ele ri de nervoso da minha ‘ameaça’. — Ficou claro?
— Claro como a neve.
— Ótimo.
Eu sento do seu lado. Quase feliz. Não, ‘quase’ é eufemismo. Eu envolvo meus braços ao redor dos seus ombros. resiste no começo, ele nunca foi muito fã de abraços, mas logo ele cede e me abraça também.
— Hm, seria pedir demais se você tentasse se dar bem com ele? — Pergunto cautelosamente com a cabeça no seu ombro.
— Sim, maninha, seria. — Ele dá dois tapinhas na minha cabeça.
— Certo, por enquanto está bom então.
Depois que vai embora eu vou até o meu quarto. Ash está lá só de toalha, tirando quase todas as roupas do meu guarda roupa e colocando na cama. Nós sempre dividimos e emprestamos roupas uma para outra. Isso nuns foi um problema para mim.
Sei que eu devia ir tomar um banho, mas ao invés disso eu deito em cima do monte de roupas de barriga para baixo e encaro a parede.
— Isso sim foi episódico!
Acredito que ela tenha ouvido a conversa toda. As paredes não são tão grossas.
— Com certeza foi.
— Que cara é essa? Você não devia estar feliz? — Ela pergunta sentando na cama para vestir uma meia calça e eu levanto, sentando ao seu lado, expressando o que passa na minha cabeça.
Se há um minuto estava perfeito, agora uma pontinha de desconfiança parece me corroer.
— Ele cedeu fácil demais.
— E daí? — Ashley expressa uma cara de tédio. Ela odeia quando eu começo a complicar as coisas. — Não era isso que você queria?
— Era! Mas Ash, entende, eu conheço o meu irmão melhor do que ninguém. Ele não dá o braço a torcer assim. — Balanço a cabeça para os lados. Não sei se papai pode ser motivo suficiente. consegue ser bem egoísta às vezes quando quer, mas me sinto mal por pensar assim, não parece justo. — Será que eu devia perguntar? Ir mais afundo nessa história?
— Eu meio que concordo com ele, essa desavença entre vocês não é bom pra sua família. Estraga momentos bons que podem ser únicos. — Lembro do natal e no mesmo segundo eu quero esquecer. — você não disse que não tem nada a ver com essa briga? Se você quer um conselho, esqueça isso, deixe que eles se resolvam, pare de procurar sarna para se coçar e pare de brigar com por causa disso também. Se forem fazer isso por você, eles vão fazer. não veio pedir desculpas? É um começo, apenas aceite e fique feliz.
Ela tem razão. Os dois têm razão. Apesar da desconfiança, vou ser obrigada a deixar isso de lado. Talvez seja melhor assim. me pediu desculpas. Estamos bem de novo. As coisas vão melhorar.
Fico analisando isso e quando olho para Ash de novo, ela já está com um vestido vermelho, justo, moldado perfeitamente no seu corpo.
— Você está certa. — Concordo e Ashley me dá uma piscadinha.
— Estou sempre certa. E então, onde vamos jantar?



🎡


Capítulo IV - Me & You

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3 de janeiro de 2023
Stanford Bridge Stadium

Dois dias de treino e Tuchel não pegou leve com ninguém. Ele devia imaginar que quem pesou a mão nas festas de ano novo se fodeu. Felizmente eu não fui um deles e estou perfeitamente pronto para mais uma rodada da Premier League. Chegamos a Carrow Road com um objetivo único. Eu gosto de janeiro por termos uma rotina mais tranquila, diferente de fevereiro que é quando começa o mata-mata da Champions e o calendário vira uma loucura. Mal temos tempo de respirar entre um jogo e outro.
No vestiário, checo o meu celular uma última vez antes de guardá-lo e começar a trocar de roupa.

-
mensagem de:


ei ,
boa sorte com o jogo hoje
antes que eu me esqueça,
não vou conseguir assistir,
mas estou torcendo
por você


obg babe

hm vc está sozinho?

não necessariamente
to no vestiário
por que?


nada
queria te mostrar uma coisa,
mas acho que vou deixar
pra depois
se vcs ganharem
pegue isso como incentivo


eu consigo sentir sua
malícia daqui
hoje
no meu apartamento


no seu... ah ok 🙃

vc n parece animada 🧐

acredite eu estou
vibrando por dentro
não achei que você fosse
voltar ainda hoje


nada me interessa em
Norwich se eu tenho você aí
não esqueci da nossa
aposta


droga, eu estava te testando
já ia comemorar vitória
😒


mais sorte na próxima 🤣
eu te busco assim que chegar
em londres


tenho um compromisso
a tarde


tenho que ir agora
te mando o endereço
mais tarde


-

— Ei, , James está dizendo que é um garçom melhor do que você. — Kai diz com o seu usual sotaque alemão enquanto termina de vestir a blusa do uniforme.
— Apenas uma palavra: Porto.
Eu sento ao lado de Ben tirando a camisa enquanto Chilly desenrola seu meião. Eu olho para James que dá de ombros. Eu e Reece estamos empatados na liderança de assistências do Chelsea nessa temporada e isso meio que virou um jogo entre nós. Quem terminar com mais assistências no final da temporada escolhe o corte de cabelo que o outro vai ter que usar até o início da próxima temporada.
É sempre bom um pouco de competição em um ambiente esportivo e sinto que preciso ganhar isso porque Reece não vai pegar nem um pouco leve na sua decisão se ele vencer.
— Realmente, foi um passe magistral. — Kai concorda e isso infla o meu ego, o que incomoda James que revira os olhos.
— Começou com quem mesmo? — Ben diz.
— Comigo! — Mendy se intromete e damos risada. Ele não está exatamente errado.
¡Tonterías!¹ — Azpilicueta balbucia em espanhol chamando nossa atenção. Ele também está rindo enquanto posiciona a braçadeira de capitão. — O que realmente importa é conseguir repetir o feito se chegarmos em Istambul.
— Afirmativo, kapitän.² — Kai concorda quando termina de amarrar as chuteiras e olha para mim e para Reece. Estou passando a camiseta pela cabeça quando ele volta a falar. — Não sei quem vai desempatar isso hoje, mas passem para mim.
— Vai ser eu, claro.
Reece afirma e ficamos mais algum tempo discutindo sobre isso com muito bom humor até a hora que o chefe entra com o resto da comissão técnica para o seu usual discurso pré-jogo. Tuchel acabou de soltar a escalação e já estamos prontos para o aquecimento.
Achtung! ³ — Todos paramos o que estamos fazendo para prestar atenção. O burburinho que existia no vestiário agora é um completo silêncio. Tuchel odeia quando alguém fica disperso quando ele está falando. Ele cruza os braços e mexe no boné constantemente enquanto fala. — Como vocês sabem, é o primeiro jogo do ano contra um adversário aparentemente fraco, mas não se enganem achando que os Canaries não podem ser competentes. Eu quero foco total, os mais improváveis de perdemos às vezes são os pontos que mais perdemos. Eu quero voltar para Londres com o Chelsea ainda na liderança e abrindo vantagem para o Manchester City, por isso deem o melhor de vocês e façam um bom trabalho, conforme treinamos.
Somos os líderes da Premier há sete rodadas seguidas, assumimos quando vencemos West Bromwich em casa e o City perdeu para o Watford. É bom demais acordar e dormir na liderança do campeonato inglês. A Premier é o único título que ainda não conquistei no futebol inglês e esse talvez seja o nosso ano.
O City está em segundo com 55 pontos. Logo atrás vem o Liverpool e o Arsenal fechando o G4. Conseguimos uma boa vantagem nos últimos jogos antes da pausa para a Copa, todos ainda possuem probabilidade matemática de serem campeões, mas o Manchester ainda é a nossa principal ameaça. A pressão é sempre gigante e nessa altura ninguém mais quer ver o título nacional indo para Manchester novamente. Todos concordamos que está na hora desse troféu voltar para a capital londrina.
Como de usual, nós saímos do vestiário obstinados com as palavras do treinador, a promessa de não perder pontos preciosos.

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O primeiro tempo acabou 1-0 para nós. Reece enfiou uma bela bola para Pulisic entrar na área e abrir o placar. Eu tive que aguentar Reece enchendo o saco durante o intervalo porque ele desempatou a nossa competição. A sorte é que eu estou em um dia bom e no segundo tempo, após um lançamento em profundidade de Ben, consegui driblar a marcação e cruzei para Kai que ampliou o placar.
Tivemos mais algumas chances aproveitando as rápidas saídas de bola, mas só fomos marcar novamente aos trinta do segundo tempo. Um pênalti que Jorginho converteu sem problemas. No final, ganhamos de 3-0 com uma atuação muito segura. Ainda acho que o placar poderia ter sido maior, mas aumentamos a vantagem para o City e também o saldo de gols.
O vestiário está leve com a vitória, Tuchel passou aqui logo que o jogo acabou para nos parabenizar pelo bom trabalho. Tudo está bom se o chefe está feliz. Depois que ele sai há um movimento na porta e por ela entra Sally da Chelsea TV e Theo com sua câmera. Eles abordam o Thiago primeiro antes de vir até mim.
! Estamos fazendo uma cápsula do tempo em forma de vídeo, então além de títulos, nos diga alguma das suas metas de ano novo com o Chelsea!
— Só pode uma? — Eu sorrio para a câmera conforme ela aponta o microfone na minha direção.
— Apenas uma! Nosso tempo está curto! — Sally bate no relógio de pulso. É engraçado porque ela sempre parece acelerada, como se estivesse andando constantemente na Kings Cross tumultuada.
— Vamos ver… — Eu passo a mão pelo cabelo suado. Quero me jogar debaixo do chuveiro e voltar para casa, mas eu adoro quando Sally nos chama para produzir mídias para o clube, é uma das coisas que eu mais gosto de fazer além de jogar. — Melhorar a minha finalização, eu acho.
— Certo, obrigada, !
— De nada! — Dou um sorriso, mas acho que Sally mal me ouve antes de passar para o próximo, Ben que está do meu lado. Sento no banco e tiro a camisa antes de começar a desamarrar as chuteiras.
— Passar o menor tempo possível no DM. — Ben suspira balançando a cabeça. Desde da sua última lesão no joelho, que o deixou sete meses fora ele está tomando todos os cuidados possíveis para não se lesionar de novo.
Eu nunca fiquei tanto tempo fora por motivos médicos. Sete meses é tempo demais, acho que ficaria maluco.
— Títulos, claro! — O que N'Golo não tem de altura ele tem de potência vocal. Sua resposta é alta o suficiente para todos nós ouvirmos e damos risada quando Sally friza:
— Além de títulos, Kanté!
— Aumentar a minha participação em gols então.
— Obrigada, N’Golo. Jorginho, sua vez!
— Não perder nenhum pênalti é claro!
Eu paro de prestar atenção por alguns momentos para separar as minhas roupas e checar meu celular rapidamente quando Ben bate de leve no meu ombro. Eu olho para ele confuso, ele não diz nada, apenas indica Sally novamente com seus olhos azuis, quando chega a vez de Reece.
— Ganhar do Money em assistências. — Ele grita do outro lado do vestiário quando dá a sua resposta.
— Isso não vai acontecer, James! — Eu grito de volta antes de me levantar e ficar de costas para pegar uma toalha no meu box. — Fala sério, ele está confiante demais. — Digo a Ben.
— Não seria o Reece que a gente conhece se não fosse. Estou curioso para saber o que ele vai fazer com o seu cabelo.
Ben ri pelo nariz e eu reviro os olhos.
— Ele não vai fazer nada. Não vai acontecer. Ele está sendo muito verossímil.
— Pelo menos é uma meta mais realista que as de Christian. — Christensen, a dois boxes de distância, diz. — Vocês ouviram quais são as metas dele?
— Quais? — Pergunto, mas antes que o dinamarquês possa responder, Pulisic aparece, voltando do chuveiro para o seu box que fica entre o de Andreas e o de Ben.
— O que esse Aaron Piper da Shoppee está fuxicando com o meu nome?
— Suas metas utopistas de ano novo. — Zomba Andreas. — Beijar cem mulheres e marcar cem gols.
— Cale a boca, Andreas. — Pulisic resmunga quando nós três começamos a rir. Ele senta no banco e passa uma toalha na cabeça para secar o cabelo.
— Estou apenas tentando te dar um choque de realidade, irmão. Você devia mudar sua meta para uma igual a de Ben.
— Verdade, Andreas tem razão. Puli, você vai precisar de muita sorte... — Ben faz uma pausa o puxando pelos ombros. — Com as mulheres.
— Se acontecer o mesmo que aconteceu hoje não vai conseguir nem um, nem outro.
Ben e Andreas trocam um cumprimento cúmplice, eu levanto os olhos da tela do meu celular. Joguei os noventa minutos inteiros, mas Christian saiu antes da metade do segundo tempo ao sentir a coxa.
— O que aconteceu?
— Ele e Clarisse estavam discutindo no banco de reservas.
— Quando é que eles dois não estão discutindo? — Pergunto pendurando uma toalha azul do Chelsea no pescoço. A conversa está legal, mas eu realmente preciso de um banho.
— Ela é apenas uma chata exagerada. Ela estava preocupada com uma entorse, eu avisei que estava bem.
— Você deveria ouvir, ela é a profissional. — Ben dá de ombros.
— George já tinha examinado no campo, foi apenas um desconforto, mas entendi que vocês estão todos contra mim, quando se trata dela. — Christian acrescenta dramaticamente enquanto veste a camiseta recebendo um revirar de olhos de Andreas. George é o outro fisioterapeuta do clube, eu particularmente não tenho preferência por profissional diferente de alguns. — Enfim, Junert’s hoje?
Metade do time ficou em Norwich para celebrar a vitória. Eu decidi voltar para Londres no ônibus do Chelsea. Ben voltou do meu lado, e eu aproveitei para mandar meu endereço para , ela não está online e acredito que esteja ocupada com qualquer coisa que seja das suas responsabilidades.
Ben colocou os fones e o clima no ônibus está frio, escuro e silencioso. Perfeito para dormir. Mas Declan me manda uma mensagem, e ao invés de dormir eu passo o resto do tempo discutindo com Dec suas ideias para o nosso aniversário.

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Turnham Green

A ligação com Sylvie Schillaci me trouxe até aqui. Fazia um bom tempo que eu não colocava os pés nessa sede. Acho que a última vez foi quando fui convidada em um dos programas noturnos de esportes. Eu tenho que esperar em uma salinha de recepção com um cartão de convidado até que Sylvie apareça para me buscar.
Sylvie sempre foi uma inspiração. Ela é elegante e simpática como sempre. Schillaci foi uma das melhores zagueiras que eu já vi, ela jogou e foi capitã do Tottenham Hotspur durante sua ascensão das divisões inferiores para a Super Liga Feminina da FA. Eu via essa mulher jogar quando eu estava toda molhada de chuva depois de um treino, na base do Union Saint-Gilloise, porque não queria perder um segundo da sua atuação indo tomar banho. Eu sentava na bola e ficava duas horas em frente a TV da sala, vidrada nos seus lances, dribles e gols.
O futebol sempre esteve muito presente na minha vida, não só por causa de , eu ia atrás das minhas próprias inspirações.
Quando Sylvie aparece nós não perdemos muito tempo com cumprimentos ou com conversa fiada. Ela é uma mulher ocupada e assim que me viu começou a me guiar atrás dela em direção a sua sala. Passamos por diversos bastidores e escritórios, repórteres e jornalistas conversando, digitando e andando para todos os lados, mas o que realmente prende a minha atenção é a sua postura perfeita, e o seu rabo de cavalo loiro que não possuí um fio fora do lugar.
— A redação sempre foi assim…
— Agitada? Sempre, mas hoje estão dando início ao meu projeto, é também um dos motivos de você estar aqui. — Ela me olha por cima dos ombros e continua andando. Cada vez mais rápido com seus saltos batendo no piso.
— Parece importante.
— E é. É algo que quero fazer antes da minha aposentadoria.
Sylvie entra na sua sala e vai até a sua mesa. Eu fico parada por alguns segundos na porta antes de entrar em passos lentos.
— O quê? — Pisco rapidamente. — Você está…
— Me aposentando? Sim. — Ela responde com um sorriso. Sei que aposentadoria parece um grande sonho de todos, mas depende muito do seu ponto de perspectiva. Eu me sento em uma cadeira de frente para ela, tentando me recuperar do choque. — Vou sair do canal daqui a sete meses, . Estou montando um programa, “Woman’s Cup Centre”, vai ser o primeiro dando destaque que as mulheres merecem durante a copa do mundo feminina desse ano que acontecerá na Austrália e na Nova Zelândia. Anos prestando serviço ao jornalismo e só agora como diretora chefe me deram tal liberdade. O programa já foi aprovado e estou montando a equipe para cobrir o evento. Queria chamar você para começar.
— Eu? Sério mesmo?
Acredito que em toda a minha vida eu nunca fiquei tão lisonjeada com um convite.
— Claro, você fica ótima nas câmeras e conhece o universo do futebol feminino como ninguém. Estava pensando em você dividir o host do programa com a Trish. Aconteceria diariamente após os jogos até o final do torneiro.
— Meu deus, isso seria incrível!
Na minha cabeça eu só consigo pensar que ia poder acompanhar Ash e Jordyn. Não há dúvidas que elas vão ser convocadas pela seleção canadense. Assistir o torneio pela TV sem poder mais participar é meio taciturno, mas agora eu finalmente poderia dizer que faço parte novamente.
— Então, você aceita? — Ela me olha cheia de expectativa e estou pronta para dizer um enorme ‘sim’ cheio de entusiasmo quando o rosto de Jenna vem a minha mente como um lembrete de que eu não posso tomar essas decisões e assumir qualquer compromisso sem falar com ela.
Eu tenho uma carreira no mundo comercial e ser apresentadora não é a minha profissão. Eu nem sei se tenho carisma suficiente para isso, mas seria uma oportunidade tão boa para deixar passar que eu quase gemo de frustração.
— É que... tem as minhas campanhas. — Eu falo devagar e Sylvie parece murchar, como se fosse uma grande decepção eu não ter aceitado de cara, por isso decido completar rapidamente. — Mas normalmente eu tiro férias no verão, preciso conversar com a minha agente.
Jenna com certeza daria um jeito nisso. Ela é a melhor de todas e talvez eu consiga sim, fazer os dois.
— Certo, , ainda estamos em janeiro. Os contratos vão ser assinados apenas em maio, mas já estou mandando material de estudo pro pessoal da equipe desse projeto. Pense com calma e me dê uma resposta daqui a uns dias.
— Te dou uma resposta até segunda-feira.
Mais tarde eu saio de Turnham Green pensando em como sou uma bastarda sortuda.

🎡

Eu odeio chuva.
Os dias em Londres são sempre cinzentos, nublados e frios, mas com chuva é pior ainda. A Kings Road está movimentada essa hora da noite, o que significa que eu tenho que parar em vários semáforos antes de cruzar a ponte Putney sobre o Tâmisa. O meu para brisa está ficando embaçado conforme eu dirijo seguindo o GPS para a casa de . Coloquei Little Joy no rádio pra me acalmar no caminho antes que eu desistisse devido ao trânsito. Eu simplesmente detesto ficar parada atrás de vários carros que não andam.
A água está batendo no vidro das janelas quando eu viro na esquina do condomínio. Até que achei facilmente o local, muito na contramão do lugar que eu estava, mas relativamente perto da minha casa.
Quando eu bato na sua porta, me recebe com um sorriso. Ele está com um jeans azul-claro e um moletom Dior amarelo. Ele tem um cheiro divino, recém-saído do banho, mas com a quantidade certa daquela loção pós-barba sexy e almiscarada.
— Alguém está atrasada.
— Peguei horário de pico. É horrível dirigir com chuva. — Respondo tirando o sobretudo e penduro em um dos cabides do hall de entrada. Não quis e nem tive muito tempo para elaborar o meu look: jeans justos de cintura alta e uma roupa tipo espartilho decotado, combinado com uma jaqueta jeans oversized e os meus Vans favoritos que eu decido deixá-los no hall também e ficar só de meias como ele. Sinto suas mãos na minha cintura e deixa um beijo na minha bochecha.
Meu corpo gira quase 180 graus, guiado pela curiosidade de explorar o seu humilde lar, que de humilde não tem nada. mora em um tríplex na cobertura do edifício. A decoração do piso inferior é limpa com cores neutras e escuras, como azul e preto, mas tem a sua personalidade. Na parede oposta a porta há alguns quadros da Marvel e no meio deles estão as portas de aço de um elevador privativo.
dá um simples comando de voz e algumas luzes se apagam e outras se acendem. As cortinas das portas de vidro começam a descer e a música que sai da caixa de som fica um volume mais baixa. Acho que vim parar na casa do Homem de Ferro e ninguém me avisou. No meu apartamento, as luzes não acendem sozinha e eu uso o elevador social. — Você comprou a casa do Tony Stark depois que ele morreu?
— Tópico sensível, .
— Oh claro, desculpe. — Dou alguns passos para dentro enquanto ele fecha a porta. Há um caminho livre entre a sala de estar, a de jantar e a cozinha. — Então, é aqui que você se esconde?
— Gostou? Sinta-se em casa.
pisca para mim e eu continuo andando, observando a decoração da prateleira e os porta-retratos com fotos da sua família. Quero pegar e olhar um por um, mas outra coisa chama a minha atenção. Corro até o outro lado da sala de jantar como se os saltos das minhas botas não tivessem quase dez centímetros.
— Olha o que temos aqui, um bar! — Apoio os braços ali, ignorando como isso tudo humilha o carrinho bar do meu apartamento, e olho para ele. — E você ainda tem coragem de falar de mim.
— Eu quase não bebo isso aí, é mais pro meu irmão e pro meu pai. Eles gostam de uísque. — Explica ainda parado perto da porta.
— Hm, vamos ver o que você tem aqui. — Eu me viro e abro as portas de vidro analisando as bebidas.
— A propósito, gostei da calça. — Eu não vejo, mas posso senti-lo se aproximando. Ele para do meu lado apenas me observando, e não posso mentir, estou adorando a liberdade que tenho para mexer no seu armário. Meus olhos viajam para baixo, vejo o seu dedo brincar como um dos passantes do cós, o puxando levemente para baixo. Homens, no geral, não gostam de roupas, pelo menos não assim. Quando um homem elogia as suas calças ele quer dizer que gostou de como as suas pernas ficaram nela.
— Obrigada.
Tento ignorar o seu olhar na parte inferior do meu corpo e volto minha atenção para o armário. Leio o nome de quase todas as garrafas, são inúmeras, destilados de várias partes do mundo. Sem falar nas taças, nos copos, nas coqueteleiras, e nos outros instrumentos. Se fosse um bar de boate, estaria completo.
— Pra quem não bebe tanto você até que é bem preparado hein, ? Olha, tem até um dosador.
Eu agacho para ver o armário de baixo e olho para ele de relance. Acho uma garrafa de Chivas Regal e meus olhos brilham.
— Conheço esse olhar. O que você vai aprontar?
— Vamos virar uma!
Levanto com a garrafa na mão, me olha não tão animado e esconde um bocejo com a boca. Cerro os olhos na sua direção e passo o dorso da mão na sua bochecha, como um bebê. Automaticamente lembro da nossa aposta.
— Own, acho que alguém está cansado.
Isso parece ligar uma chavinha no seu cérebro e ele olha feio para o meu sorriso vitorioso.
— Não! — Exclama pegando a minha mão que estava no seu rosto e se aproximando de mim. — Vamos virar isso. — Ele pega a garrafa dos meus dedos e a deixa na pia. Dou risada e acompanho os seus movimentos. pega dois copos de dose única e os posiciona no balcão. Eles os enche o máximo possível e entrega um para mim.
Eu o encaro por alguns segundos, só para saber se ele não vai amarelar, mas ao invés disso ele me incentiva. Nós contamos três e viramos. Fecho os olhos sentindo o gosto forte queimar a minha garganta, mas não consigo evitar uma risada com a careta que faz.
— Esse negócio é horrível, definitivamente. — Ele bate o copo no balcão e eu junto o meu ao dele. Ambos vazios.
— Tá, então vou fazer algo mais gostoso.
No armário, eu pego uma garrafa de Pimm’s No. 1 e duas de limonada com gás. Espumante é muito manjado e o vinho me deixa com sono, eu não quero dormir cedo hoje. Deixo as garrafas na pia do bar imaginando que deve ter limão e gelo na geladeira, mas ainda preciso de taças.
— O que você vai fazer? — Posso sentir seus olhos curiosos em mim.
Anos frequentando aqueles clubes e fazendo amizades com barmans me ensinaram a fazer alguns drinks, mas eu não respondo a sua pergunta, ao invés disso olho para o armário de novo tentando localizar as taças Copa Balon e claro que elas ficam na prateleira mais alta. Tento pegar uma delas, na ponta dos pés. Ouço uma risadinha atrás de mim, e no segundo seguinte está atrás de mim. O braço dele alcançando o lugar que eu não consigo, sinto a sua outra mão na minha cintura, descendo até o meu quadril e dando um leve aperto na minha bunda quando ele diz:
— Baixinha.
— Você que tem prateleiras altas demais, Tony. — Retruco quando ele me entrega as taças e vou até à cozinha enquanto traz as garrafas. O cheiro de alho, orégano e azeite vai me guiando e eu enfim percebo que ele está cozinhando quando a água evaporando de uma panela no fogão de indução e a sua ilha abarrotada de ingredientes.
— Você não me chamou de ‘Tony’. — Ele parece indignado. Eu dou risada. — É o nome do meu pai, é estranho.
Eu me viro para ele e pego as garrafas da sua mão, depois de deixar as taças na ilha e aproximo o rosto do seu.
— Agora você sabe o que eu sinto quando você me chama de .
Ele bufa e tenho certeza que deve ter revirado os olhos, pois sabe que eu estou certa.
— Você vai ficar me chamando de Tony agora?
— Talvez. — Eu brinco.
Fico um tempo procurando o resto das coisas até me mostrar o lugar certo e eu ter tudo na ilha para fazer os drinks.
— Certo, não te chamo mais assim então. — Ele diz apoiando o queixo no meu ombro. — Satisfeita, ?
— Muito. — Eu balanço a cabeça e dou um sorriso triunfante. Ele me dá um beijo e se afasta.
Passo alguns instantes focada no nosso Pimm’s and Lemonade que mal percebo o que ele está fazendo. Esse cheiro não é de comida requintada muito menos foi comprada.
— Eu não sabia que você cozinhava.
— Realmente eu não sabia, mas… Achei que você ia gostar.
Nos próximos dez minutos ele passa contando como foi cozinhar para o YouTube do Wagamama e como ele pegou gosto pela coisa. Já eu conto a ele como eu sempre fui ruim no fogão, sou o completo oposto da minha mãe, não possuo os dotes culinários da minha família.
— Agora eu fiquei com medo de você por fogo na minha cozinha. — Eu reviro os olhos e entrego a taça de Pimm’s a ele. Coloquei uma dose e meia a menos do que eu geralmente coloco, aquele virote de Chivas Regal foi um esquenta bastante efetivo.
— Olha eu não fiz aulas com o dono do Wagamama, mas também não sou um desastre. O que você está fazendo? — Eu olho para o molho fervendo na panela.
— Penne ao molho branco. — Ele diz orgulhoso.
— Ótimo, eu posso ralar um queijo. — Dou dois goles na taça e a deixo no balcão ao lado da pia. Pego o pedaço de queijo parmesão na ilha e começo a ralar com o ralador.
— Você não devia ter vergonha? Vinte e cinco anos e não sabe cozinhar, !?
— Pare de me julgar! — Pego o primeiro pano de prato que eu vejo, mas ele desvia do meu golpe, rindo no último segundo. — Eu estou aprendendo, ok?
— Na verdade, acho que isso dá certo. Você cuida das nossas bebidas e eu fico com a comida. Acho até mais seguro.
! Se estava querendo me impressionar com isso, na verdade, só está fazendo com que eu queria ir embora.
— Ir embora agora seria ousado demais, até mesmo pra você, .
— Aposto que você iria dormir no momento em que eu saísse pela porta. — Provoco soltando uma pequena risada e me concentro nos farelos de queijo que estão se formando na tábua. fica quieto de repente e eu só percebo que ele está atrás de mim quando ele coloca as mãos na minha cintura. Com os arrepios, sou obrigada a engolir o riso quando ele beija um ponto do meu pescoço. Eu movo a cabeça para ele ter um acesso maior.
Com a boca ele rabisca uma linha pelo meu pescoço até a minha mandíbula e suas mãos ficam mais firmes quando me giram para ficar de frente para ele. Eu solto rapidamente tudo que estou agarrando para segurar seu pescoço, com as minhas mãos vacilantes, mas não me beija como eu achei que faria e eu mordo os lábios abafando um gemido. Sua mão sobe até a minha nuca e sinto minhas costas sendo pressionadas contra a ilha conforme ele impõe seu corpo ao meu.
— Eu sou um atleta profissional. Eu posso ir mais de 90 minutos em um campo. — Diz bem perto do meu ouvido antes de prender a minha pele com os dentes em um chupão. Ele deixa um beijo no canto da minha boca e com os lábios roçando os meus continua: — Se eu fosse você eu não duvidaria de mim assim.
Não consigo parar de ansiar seus próximos movimentos. É sempre assim quando eu o provoco de propósito com a intenção dele me mostrar o quão errada eu estou. se afasta no momento em que eu me inclino para beijá-lo e aí eu percebo como caí tão fácil na sua armadilha. Eu cruzo os braços inconformada. Às vezes eu o odeio tanto. — Sinto muito, meu anjo, não posso deixar isso queimar.
Ele ri e mesmo de costas eu consigo ver o seu sorriso bastardo.
— Ah, isso vai ter volta, , pode apostar!
Ele apenas ri mais jogando um pacote de salsa desidratada na panela e eu reviro os olhos.
— Não sabia que você estava tão carente, meu bem.
— Você sabia sim, só está sendo um provocador com requintes de crueldade. — Comento terminando de ralar o queijo e começo a analisar os seus armários tentando adivinhar onde guarda os pratos e talheres.
Ele deve pensar em responder outra coisa até me ver com os pratos indo em direção a mesa.
, o que diabos você está fazendo?
— Arrumando a mesa?! — Respondo como se fosse óbvio. Ele vem até mim, balançando a cabeça para os lados e tirando os pratos da minha mão.
— Não vai não. Você é a minha convidada. — Eu deixo que ele me guie para longe da mesa de volta a cozinha porque essa é uma batalha perdida. Se eu recebesse no meu caótico apartamento eu também não deixaria ele fazer mais do que ralar um queijo.
— Achei que era para eu me sentir em casa.
— Espere até chegar no meu quarto. — Sussurra e as suas mãos apertam os meus ombros antes dele se afastar de volta ao fogão e a pia.
— Okay, então eu só vou ficar aqui olhando você cozinhando. — Pego a minha taça e cruzo as pernas quando sento em uma das cadeiras da ilha. — É satisfatório.
Coloco o canudo na boca sugestivamente e sugo o líquido quando ele me olha por cima do ombro.
— Jura?
— Uhum, muito sexy. Sabe um daqueles aventais com um homem nu estampado? Vou te dar um de aniversário.
— Eu posso ser o homem nu.
É a minha vez de rir. — Não se você segue protocolos de higiene. — Falo brevemente com a imagem nublando a minha mente. — Mas falando em aniversário, o que você vai querer fazer dia 10?
— Como você sabe que o meu aniversário é dia 10? Não lembro de ter te dito.
— Eu pesquisei no Google.
— O quê? Sério?
— Sim, por quê? — Franzo a testa. — Não posso te pesquisar no Google?
— Não, você está terminantemente proibida de me pesquisar no Google. — passa por mim para pegar o queijo que eu ralei e no caminho, envolve os meus ombros e deixa um beijo na minha bochecha.
— Isso é medo de eu achar algum podre seu?
— Não. Só quero que você me pergunte quando quiser saber algo.
— Ok, nada de pesquisas no Google. — Levanto as mãos em rendição e isso o faz sorrir. De fato eu não preciso pesquisar nada quando posso descobrir as coisas direto da fonte.
— Ah, Dec sugeriu que podíamos fazer algo juntos no dia quinze. Talvez ir ao Heaven.
— Por que dia quinze?
— Dia dez o Chelsea tem jogo contra o Wolves, e o West Ham no dia seguinte contra o Leicester. Dia quinze nós dois temos folga.
Tanta coisa para resolver com Jenna que eu realmente não estava a par do calendário futebolístico. Preciso dar um jeito de encaixar isso na minha agenda por que até hoje eu não consegui ainda ir ao Stamford Bridge para vê-lo jogar.
Adoro a relação que tem com Declan e essa importância de fazerem as coisas juntos. Amizade como essas são uma em um milhão.
— O aniversário dele também é dia dez?
— Dia quatorze, na verdade.
— Meu Deus, vocês nasceram quase no mesmo dia.
— Sim. — Ele assobia contente. Há coisas que realmente são para ser. — E você vai me dizer quando é o seu ou eu vou ter que pesquisar no Google.
— Sem pesquisas no Google. — Faço uma pausa para beber o Primm’s. — É dia 1 de abril.
— No dia da mentira? — olha para mim como se eu de fato estivesse contando alguma piada. Previsível, as pessoas sempre têm a mesma reação ao saber a data do meu aniversário, mas nele fica algo extremamente atraente. — A sua mãe não podia esperar mais um pouquinho, até o dia 2?
— Todo mundo sempre faz essa piada. Seja mais criativo.
— Ok, vou pensar em algo melhor no dia 1. — desliga o fogão e fico olhando seus braços mexerem a colher na panela pelas últimas vezes. Eu quase perco seus movimentos me devaneando com o cheiro da comida. É tão bom que de repente estou faminta.
— Nada de pegadinhas, estou cansada delas!
O dia da mentira é sempre chato, mas mais ainda quando é o seu aniversário.
— Entendido, mas sobre o meu aniversário, o jogo vai ser em casa, queria que você fosse e a gente podia fazer algo depois. Só nós dois.
Ele abre uma gaveta perto da pia e tira de lá talheres e quando se vira para mim, eu me sinto suficientemente à vontade para me aproximar do seu corpo. A ideia de monopolizar no seu aniversário me deixa embevecida.
— A minha mãe quer te conhecer, acho que ela quer fazer um brunch. Podemos ir quando o jogo acabar e depois... — Minhas mãos circulam os seus ombros e falo perto do seu ouvido. — eu te dou o seu presente. Parece bom?
— Parece perfeito.
diz que a comida vai esfriar como desculpa para nos afastar e eu penso que essa cozinha não ficaria fria nem com todo o aquecimento de ar desligado.

🎡

— Eu estava aqui pensando uma coisa. — Digo coçando os dedos enquanto observo sugar todo o conteúdo doce e gelado de sorvete do copo. É claro que eu tive que garantir um pouco de açúcar para alimentar essa formiga, não tinha um batedor de sorvete aqui em casa, mas não foi difícil de achar na Amazon.
Estamos na parte externa coberta da varanda e apesar de ter espaço suficiente nesse sofá de dois lugares, está sentada de lado no meu colo e, bem, não sei ainda se isso foi uma boa ideia porque a posição é favorável o suficiente para me fazer querer deitar para trás e cochilar. O vidro nos protege da chuva, e olhando de dentro, lá fora nem parece tão frio.
— O quê? — Ela pergunta concentrada demais raspando o canudo de metal no copo para olhar para mim.
— Já que você não tem um time, você pode torcer pelo Chelsea.
— Quem disse pra você que eu não tenho um time?
O jeito que ela me refuta faz eu enrugar a testa, mas logo reviro os olhos quando me dou conta de que isso é algo muito óbvio.
— Ah claro, já sei, você torce para o inimigo. Tottenham. — Digo tediosamente e começa a rir negando com a cabeça para os lados.
— Eu tenho algumas camisas do Tottenham por causa de , mas não é o meu time do coração.
Os seus dedos brincam com a gola da minha camisa e me predisponho a dizer o óbvio mais uma vez. Os clubes espanhóis são sempre os queridinhos.
— Já sei! Barcelona? Real Madrid?
— Não.
— Bayern? City? Juventus? Milan? United? — nega mais uma vez e eu suplico: — Por favor, não diga Arsenal.
— Também não. — Ela ri da minha expressão de alívio, meu Deus, isso seria péssimo. Eu teria a árdua tarefa de convertê-la, conhecendo isso seria quase impossível. Forço o meu cérebro a pensar um pouco mais.
— Paris? — Estalo o dedo médio no polegar e ela pondera por alguns segundos.
— O feminino.
— Qual, então?
— Torço pro Club Brugge desde que eu era criancinha. — Sua cabeça repousa na linha do meu ombro e aperto o seu corpo repousando a mão na sua coxa. — Era o time do meu avô, ele me levava em todos os jogos que podia. Posso ter jogado no rival? Posso. Mas isso é só um detalhe.
— Qual foi a sua passagem?
Pergunto curioso para saber como foi da Bélgica para a França. Eu considero a minha um círculo perfeito. Chelsea. Vitesse. Derby. Chelsea. Felizmente. Não tem nada melhor do que voltar para casa e dar tudo certo.
— Union Saint-Gilloise. Anderlecht. Augsburg. Wullaert. Paris.
— Você queria voltar pra Bélgica? — Para a minha surpresa ela nega.
— Não, sempre quis a França. Quase fui parar na Espanha três vezes, mas o meu sonho era o Lyon. Quase se realizou se não fosse… Você sabe. — força uma risada e o seu olhar desce até as suas pernas arrastando o meu. Eu decido mudar de assunto para isso não ficar angustiante com ela lembrando de coisas ruins e também porque o contorno das pernas dela, nessa calça estão me excitando novamente. Estou com vontade de arrancá-las desde o minuto que passou pela porta.
— Bem, o Brugge não é um clube da Premier, então você pode torcer pro Chelsea e ter várias camisas por causa de mim! — Deixo um beijo no seu pescoço e ela se remexe no meu colo passando o braço esquerdo pelos meus ombros.
se inclina levemente para deixar o copo na mesinha de centro e depois disso eu a puxo de volta pela cintura. Meu nariz traçando a linha da sua mandíbula.
— É, elas são melhores que as da Inglaterra. — Ela se remexe no meu colo passando o braço esquerdo pelos meus ombros e eu rio pelo nariz. nunca vai superar aquela eliminação mesmo que tenha sido ela que nos trouxe até aqui hoje.
— Todas são perfeitas.
— Há controvérsias.
Encaro o seu sorriso divertido e desfaço todas as suas feições contestadoras quando a beijo, do jeito que eu queria fazer a noite toda. agarra o meu cabelo e eu desço as mãos pelo seu corpo até as suas pernas enquanto o nosso beijo se torna caloroso e intenso. O tecido da sua calça faz um atrito na falange dos meus dedos conforme eu aperto as duas coxas. Estou mais concentrado na circunferência delas, moldadas no tecido justo do que no beijo, que inclusive é que está guiando, girando a língua na minha e roubando o ar com cada suspiro.
Seu corpo antes relaxado se contrai inteiro quando movo a mão para o seu quadril e abro a palma para apertar o máximo de área possível.
— Realmente gostei dessa calça, você devia usar mais vezes.
— Sério? Por quê? — não afasta tanto a cabeça e eu deixo um beijo no vão entre o seu queixo e o lábio inferior que ela agora está mordendo. Mantenho a mão direita na sua bunda, arranhando o tecido com as minhas unhas curtas e uso a outra para puxar sua perna um pouco mais para cima de mim, como se quisesse grudar sua pele na minha.
— Porque a sua bunda fica gostosa nela, fiquei olhando a noite toda. — Ela ri e continuo. — Fiquei me segurando pra não te agarrar.
Beijo o seu pescoço, os passantes do cós parecendo muito interessantes para os meus dedos brincarem quando escuto seu primeiro gemido ecoar baixinho da garganta.
— Por que não o fez?
— Pra não estragar o nosso jantar.
puxa a minha cabeça para trás e deixa seus olhos na altura dos meus. Ela parece um pouco indignada e não há nada mais sexy. Talvez... quando essa calça estiver no chão.
— Não ia estragar nada.
— Certo, então da próxima vez a gente pula o jantar...
balança a cabeça freneticamente, concordando conforme os meus dedos afastam o cabelo do seu rosto. Eu seguro o seu queixo e ela me beija de novo, as pontas das suas unhas riscam a minha nuca gerando um arrepio eletrizado que desce pela minha espinha até o meu saco.
Acho engraçado como ela se move em cima de mim, suas sinapses parecem aceleradas demais conforme suas mãos me tocam em todos os lugares e ela me beija. fica agitada quando se excita e adoro ser capaz de perceber suas reações, mesmo que mínimas, em tão pouco tempo. Desse modo, eu sei exatamente o que fazer. Ela me esquenta no mesmo nível. Sua agitação ferve o sangue nas minhas veias que desce veemente até o meu pau.
Paro nosso beijo frenético quando prendo o seu lábio inferior com os dentes e o solto lentamente como um pedido de paciência. fecha as pernas grudando os joelhos um no outro, mas eu os separo novamente, ela geme baixinho quando mantenho os dedos da mão na parte interna da sua coxa e círculo a região da sua virilha com o polegar, sem fazer pressão.
, o zíper fica mais em cima.
— O que você quer que eu faça? — Me desfaço do botão e pergunto segurando o cursor do zíper.
— Você realmente vai fazer eu dizer? Achei que você estava desesperado.
— Eu, desesperado? — Dou um sorriso arrogante, eu até podia fazer ela choramingar mais um pouco, mas acabo ignorando o seu aperto no meu braço e deslizo o zíper para baixo. — Talvez eu queira ver o quanto você ficou molhada com só alguns beijinhos.
— Certo e o que é isso duro embaixo da minha coxa? — apoia as mãos nos meus ombros buscando mais estabilidade para mover o quadril e pressionar a minha ereção. — Você esqueceu algo nos bolsos?
— Vai se foder.
— Eu preferia que você fizesse isso.
Suas mãos estão frias quando ela puxa o meu rosto para me beijar de novo. De repente não estou nenhum pouco cansado, suas palavras me deixam faminto para engolir todos os seus suspiros pesados. Eu sempre arrumo energia para gastar com . Não é nada difícil.
O zíper desliza facilmente e eu puxo o cós da sua calça para baixo o suficiente para a minha mão ter acesso a sua calcinha. me dá um beijo contundente conforme eu passo os dedos pelo tecido molhado, mas isso não garante que ela fique quieta, principalmente quando finalmente afasto a renda de lado e me concentro no seu clítoris inchado. Ela move o quadril e arqueia um pouco as costas quando atinjo certa pressão com movimentos circulares.
Posiciono dois dedos na sua entrada e eles deslizam facilmente para dentro por conta da sua lubrificação natural, eu fico satisfeito quando as mãos dela agarram os meus bíceps, o seu corpo vacila e se torna a minha bagunça favorita ao passo que acelero os movimentos da mão. Contraio a barriga quando suas mãos invadem a minha camiseta e as suas unhas forjam rastros leves no meu abdômen.
— Oh, Merda! — Ela solta um gemido agudo que vibra na minha língua. Os seus beijos são tão quentes que estão quase me tirando do foco, por isso eu viro o rosto para beijar o seu pescoço e deixar sua boca da minha orelha. Eu mudo de ideia segundos depois pensando que melhor que ouvir ela gemer, era ver isso.
— Olhe para mim.
Eu peço, move a cabeça e encosta o queixo no meu, a ponta dos nossos narizes se encostando, e abre os olhos. Ela morde os lábios e seus olhos quase rolam para trás quando curvo os dedos atingindo seu ponto G, deixando meus movimentos mais rápidos e precisos.
Morar na cobertura é algo magistral, parece que não tenho vizinhos. No caso de hoje, a chuva batendo no vidro é um ótimo abafador de som, mas não é isso que eu quero.
— Ah, , foda-se! — Dou um sorriso e deixo um beijo na sua boca antes de afastar a cabeça novamente, apreciando sua respiração ofegante e suas bochechas rosadas. — Continue, estou quase lá!
Suas últimas palavras são um gemido sôfrego e aperta os meus ombros. A dinâmica da sua cintura tenta seguir as moções dos meus dedos, mas eu seguro mais forte tentando manter seu quadril no lugar. Quando suas paredes internas começaram a pulsar ao redor dos meus dedos entre o vai e vem eu aplico mais pressão no seu ponto mais enervado e sensível.
Vejo os dedos dos pés de se contorcendo quando ela treme de fraqueza e prazer em cima do meu quando atinge o seu pico mais alto. O barulho dos seus gemidos finais acaloram os meus ouvidos conforme as ondas de espasmos se alastram pelo seu corpo. Consigo ver estrelas nos seus olhos cor de avelã antes de inclinar a cabeça para beijar sua mandíbula.
— Porra, tão bom!
Puxo minha mão embebida com seus sulcos cristalinos e chupo os meus dedos quando ela olha para mim. Depois, passo a mão pelo seu rosto vermelho afastando os fios do seu cabelo para trás.
— Adora te ver carente. — E realmente adoro. É um estímulo para o meu ego.
— Por quê?
— Gosto de me sentir necessário e ver que sou o único que pode fazer você se sentir bem. — Ela revira os olhos, provavelmente para a minha arrogância e desmancha o meu sorriso ufano com um beijo. — Você não negou.
— Eu não poderia. — Sua boca encosta na minha de novo. — Mas se estou carente a culpa é toda sua, então dê um jeito nisso!
espalma suas mãos no meu abdômen tentando tirar a minha camiseta enquanto me beija. Meu pau está tão duro que posso dizer que ela não é a única carente. Nossa rotina é tão abarrotada que não quero perder um segundo, mas seguro os seus pulsos, puxando eles para baixo e interrompendo os seus movimentos. Aproximo a boca do seu ouvido antes que ela se queixe.
— Eu poderia te foder aqui mesmo, mas acho que a minha cama é mais confortável. — Sussurro e a sua boca aberta, quase indignada vira um sorriso.
— Onde fica o seu quarto?
— Por que você não tenta encontrar sozinha?
O olhar de está longe, atrás de mim, provavelmente imaginando a via até o meu quarto. Ela pula do meu colo, mais animada, com as mãos nos cós tentando arrumá-lo de volta na sua cintura e eu balanço a cabeça para os lados. Para mim isso não faz sentido nenhum.
— Tire logo isso. — Bato o pé na sua panturrilha levemente, olha do chão para mim, arqueando as sobrancelhas para o meu olhar voraz. Continuo no sofá com as mãos atrás da cabeça aguardando que ela se dispa para mim.
— Você vai me fazer desfilar de calcinha nesse frio?
Rio pelo nariz balançando a cabeça, mas sem conseguir desviar o foco enquanto ela desliza a peça para baixo, desnudando suas pernas. E que pernas. Sou apaixonado por elas.
— Sim, eu vou.
termina de se livrar da roupa com os pés e com as mãos livres ela se inclina e me puxa para levantar do sofá, interrompendo todo meu show, mas se eu dissesse que não estou louco para pôr as mãos nela de novo eu estaria mentindo.
— Quem está te ensinando a ser cruel assim?
— Você.
Eu a sigo para dentro e acho uma ótima ideia segurar a alça da sua calcinha com o dedo indicador ao invés da sua mão. começa a subir os degraus e eu quase caio da escada porque não consigo parar de olhar para a sua bunda. Perfeita.
— Tudo bem aí? — Ela ri e me olha por cima do ombro.
— Mais que ótimo. — Belisco a sua cintura e deixo um beijo no seu pescoço.
— Eu acho que deve ser lá em cima. — Ela fala e julgo estar se referindo a localização do meu quarto. Sua cabeça alterna entre as várias portas do primeiro andar, mas seu corpo se dirige a outra escada, me levando junto.
O bom de ser esperta é que erros demais nos levaria a perda de tempo abrindo portas desnecessárias.
No último andar ela hesita no meio de duas portas e eu empurro levemente a sua cintura para a esquerda indicando a correta. Seus pés descalços seguem o caminho adentro e abre a porta devagar, mas empurro o seu corpo para dentro com as mãos firmes na sua cintura e as suas costas acabam batendo no meu peito. Ela ri quando quase tropeça. Estou sendo controlado pelos meus picos de ansiedade, que prendem o seu corpo na parede antes que as mãos dela consigam acender a luz.
De imediato, embrenha os meus cabelos e me traz para mais perto, retribuindo o meu beijo voraz. A língua dela perfura a minha enquanto tateio os lugares macios do seu corpo arrancando gritinhos abafados da sua garganta. Um formigamento familiar desce até a minha virilha e uma vontade impetuosa de empurrar o quadril para frente cresce dentro de mim.
Deixo que se livre das minhas roupas até certo ponto, enquanto guio seu corpo em direção a cama. A luz embutida atrás da cabeceira estofada é a única acesa, mas o suficiente para fazer as minhas pupilas dilatarem quando tiro sua jaqueta e aprecio o volume dos seus peitos presos em um espartilho preto de cetim.
— Por que você está tão distante? — pergunta quando se deita. Seus cabelos escuros são a única cor nos meus lençóis brancos. Estou em cima dela, mas não exatamente com a sua pele na minha, meus joelhos me dão certo tipo de apoio enquanto desprendo cada botão frontal do seu espartilho, tendo quase certeza de que não vou encontrar nenhum sutiã embaixo dele.
Eu não respondo, ao invés disso trabalho com a boca na dela no ritmo certo, e quando termino com o último botão, desço as mãos até a sua cintura procurando seus pulsos. Suas mãos estão alisando as minhas costas os músculos dos meus braços até eu as puxar para longe. O cheiro do seu cabelo e da sua epiderme quase me faz perder o foco. é tão gostosa e cheira tão bem, eu a estou pressionando como se quisesse nos fundir.
Suspiro nos seus lábios, mas não paro de beijá-la. Estou segurando os seus pulsos de cada lado da sua cabeça e é engraçado sentir tentando se soltar.
! Eu quero te tocar.
Ela faz um esforço descomunal ao mesmo tempo que parece massinha nas minhas mãos.
— Nada de tocar hoje menina bonita.
Desacelero, lhe dando pequenos beijos e pinicando o meu rosto com a barba como eu sei que ela gosta.
— Eu vou-
Seu corpo arroja uma força calculada para cima, tentando ganhar do meu e eu pressiono o quadril para baixo e aumento a potência nos meus dedos. — Não, não vai.
A palavra segura de é “Tamagotchi”, absolutamente perfeita porque acho hilário, mas em dois meses que a gente vem transando, ela nunca precisou usar.
— Por enquanto… — Ela parece desistir quando mordo seu lábio inferior e me afasto. Sua cabeça se inclina na minha direção, suplicando por mais. — Mas você sabe que depois eu vou fazer você pagar por isso certo?
— Sim, eu sei. — Respondo não levando muito a sério a sua ameaça intimista. — Também sei que você gosta de controle, por isso hoje, você vai fazer o que eu digo se quiser gozar. — Eu completo a frase, pois é uma informação pertinente enquanto revira os olhos. Ela deve estar odiando e amando isso. — De novo.
Deixo um beijo mais terno e suave na sua boca e vou seguindo pelo seu pescoço. Apoio o queixo na sua clavícula para lhe dar um aviso antes de descer mais. olha para mim, ávida.
— Mantenha elas aqui em cima. — Digo me referindo as suas mãos quando eu as solto, ela obedece muito relutantemente, mas sinto seu corpo relaxar conforme faço uma linha reta de beijos começando no vão entre os seus seios e os meus dedos enrolam no elástico da sua calcinha, a puxando para baixo. Sua pálpebra se fecha e seus lábios se separam enquanto eu começo a beijar seu corpo, encontrando todos os pedaços dela que adoro.
Separo suas coxas até que ela se espalhe o máximo possível e sussurro: — ...
— Sim? — ela geme.
— Olhe para si mesma.
Ela olha para baixo e me vê entre as pernas dela, minha boca está preparada para lambê-la. Abro os lábios dela com os dedos e ela olha de novo, vendo apenas um pouco do que eu posso ver, mas ainda o suficiente. assobia quando eu lambo indulgentemente das suas fibras até o clitóris, choramingando em seus sucos. Seu cheiro almiscarado está me consumindo... Seu gosto é doce e espesso de desejo e nada mais apazígua os meus ouvidos do que seus doces gemidos e palavrões sussurrados.
— Puta merda ! — Ela chora levantando seus quadris em minha boca enquanto seus pés se curvam inquietos. Expresso um leve sorriso quando tenho um vislumbre das suas mãos agitadas, procurando algo para se agarrar desesperadamente e contendo-se para não ser o meu cabelo.
Eu sugo furiosamente em todas as partes deliciosas e delicadas dela, seu corpo tremendo e tremendo constantemente sob meu toque. Eu a vejo se contorcer embaixo de mim, suas mãos nos seios, seu rosto e pescoço vermelhos e manchados, suando em sua testa. Bem, eu realmente não disse que ela não podia se tocar. Isso só faz disparar mais ainda os meus níveis de excitação.
Comprimo os lábios no seu clítoris avidamente, realizando pressão no interior da boca para chupar algumas vezes antes de enfiar a língua no seu núcleo quente, mas paro o que estou fazendo quando sinto seu punho triscar a minha cabeça.
— Eu vou ter que te amarrar, baby?
O seu gemido agudo é sôfrego. Enrolo suas coxas nos meus braços para que ela não consiga se mover tanto. Levanto a cabeça quando a ouço ofegar alto.
— Você está me matando, sabia?
Beijo na parte interna delas e deixo um chupão em um dos lados antes de continuar. rola seus quadris sem nenhuma inibição, dando-me a si mesma, seu prazer, seus desejos... sua concupiscência. Eu abano seus sucos e focalizo minha língua sobre seu clitóris e em nenhum outro lugar, até ela gozar de novo. Não deixo seus quadris nem mesmo por um segundo, até ela não aguentar mais, gritando e gemendo o meu nome.
cai em uma confusão de membros e cabelos, espalhados pela cama, seu peito ofegante para cima e para baixo no rescaldo. Suas mãos ainda estão meio perdidas no espaço e ela encarando teto quando eu fico do seu lado na cama. Solto uma pequena risada e deixo um beijo na sua bochecha. Esse é o melhor momento para lembrar da nossa aposta. Só mesmo ela para me deixar ligado por tanto tempo.
— Eu ganhei.
desce das nuvens e olha para mim, ela empurra o meu peito levemente, mas isso não diminui meu sorriso jupiteriano.
— Não… — Sinto seu olhar descer em mim até a minha cueca, mais precisamente para a minha ereção. — Ainda não!
Ela move a cabeça o suficiente para conseguir me beijar provando do próprio gosto lentamente. Eu me desloco ficando em cima dela de novo e abraça a minha cintura com os pés. Suas pernas tremem um pouco quando seguro suas coxas, já sensibilizadas pelos meus toques preliminares.
— Você precisa de um tempo, anjo? — Pergunto beijando os seus seios.
— Eu preciso de você. — responde segurando o meu rosto e me puxando mais para perto, mas eu me afasto o suficiente para tirar a minha Calvin e colocar uma camisinha.
— Você está indo para a terceira. — Digo posicionando meu pau na sua entrada, sentindo seu calor na ponta. Se não estivesse tão frio eu já estaria suando.
— Por favor, a minha mãe não me fez uma fraca, ! — Ela ri na minha boca e geme quando eu me afundo nela. — Mas… acho que talvez eu não dure nada.
Sua umidade quente ao meu redor me faz pensar que talvez eu também não dure nada. Meu corpo é uma bagunça de exaustão e excitação e isso me faz empurrar com mais força. Seguro seu quadril, inclinando sua pélvis para cima procurando um novo ângulo, conseguindo senti-la melhor e eu quase posso ver os olhos dela revirarem. Eu suspiro tentando manter um ritmo. Enfio a cara no seu pescoço, adorando sentir o baque rápido de seu pulso, conforme a gente transa. O jeito que as suas paredes quentes e molhadas apertam ao redor do meu pau é demais para mim. Está acabando comigo do melhor jeito possível.
Quando puxa o meu cabelo seus lábios pousam no meu queixo e instantaneamente eu trago a minha boca para a dela, me desmanchando. Sua boca dançando, roubando minha alma de novo, não tem sensação melhor. Tudo fica mais duro e prazeroso quando suas coxas apertam meus quadris me aprisionando enquanto eu me dirijo para dentro dela de novo e de novo.
— Por que você não deixa eu terminar? — Suas unhas pinicam nas minhas costas, mas estou envolvido demais para me importar com o estrago que elas estão fazendo e o quanto vou ser zoado no vestiário por isso depois. Ela usa os braços para se apoiar e sentar e nós trocamos de posição.
senta de costas para mim, descendo no meu eixo novamente e nem consegue esconder o quanto ficou animada por eu deixar ela ficar um pouco no controle. Eu esfrego suas costas, puxo seu cabelo para trás, salpicando beijos pelo seu pescoço e massageio seus seios por algum tempo antes de cair para trás e deixar ela livre para perseguir o próprio orgasmo.
O colchão balança com cada empurrão do seu quadril no meu, e o início de um orgasmo se espalha em espiral pelo meu estômago e a deliciosa pressão de coleta na base de minha espinha range minha mandíbula em um chiado gutural. adora quando eu faço barulho, não consigo ver o seu rosto, mas a visão do seu cabelo caindo em ondas pelas costas enquanto senta no meu pau é tão boa quanto.
Eu aperto a sua bunda e só relaxo depois que ela atinge o ápice pela terceira vez antes de mim. Fecho os olhos coletando todos os seus suspiros e longas arcadas de ar, lembrando do porquê serem os meus favoritos.

🎡

Demoro algum tempo para descer da minha onda, mas consigo perceber quando fica mais quieto.
Quando eu viro de frente, ainda sentada no seu colo, tenho a melhor visão do mundo: o seu corpo parece brilhando para mim, enquanto sua cabeça repousa no travesseiro, de olhos fechados, completamente absorto, em um exato de puro êxtase e prazer. Por mais que eu me mova depressa ele não abre os olhos e a única coisa que posso sentir são suas mãos no meu quadril certificando que eu não saia de onde estou.
Continuo olhando maravilhada para o seu torso definido, conforme ele reveza entre expirar o ar pelo nariz e pela boca entreaberta, soltando esses sons sexys e guturais. A sua linguagem corporal está quase me fazendo gozar de novo.
Seus lábios se movem e proferem baixinho alguns xingamentos e eu inclino o tronco apoiando as mãos no colchão, uma de cada lado do seu corpo sem parar os movimentos repetitivos do meu quadril. Receber prazer é sempre bom, mas transportar alguém para outra realidade é tão satisfatório quanto. Fico presa nessa sensação e nesse momento por um tempo e acho que ele está preso comigo também.
?
Meu cabelo está caindo no meu rosto e eu tenho certeza que ele adoraria essa visão, mas nem a menção do seu nome o faz abrir os olhos para mim. Dou um sorriso quando suas mãos apertam a minha bunda e o seu quadril impulsiona para cima no mesmo instante que o meu afunda para baixo. Posso ouvir bem as lufadas de ar que ele solta misturadas com os ruídos das suas cordas vocais enquanto ele goza. Eu me deito até o meu peito esmagar o dele. joga os braços ao redor da minha cintura e eu beijo o seu peito sentindo o seu pau pulsar dentro de mim.
Fico algum tempo nessa posição, ouvindo o seu coração bater e apreciando enquanto sua respiração regulariza e fica menos inquieto, antes de olhar para ele. O seu rosto está meio avermelhado, mas sereno, e dormente, ou no estágio inicial de um sono bom, diferente do que eu espero, mas completamente compreensível.
Deixo um beijinho no seu nariz antes de sair de cima dele e me recolher ao seu lado.
— Boa noite, .
Acho que isso foi um empate.

🎡



¹: besteira em espanhol
²: capitão em alemão
³: atenção em alemão

Capítulo V - 19 Victories

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10 de janeiro de 2023

Tudo que podia dar certo essa semana está dando.
Tirei todas as fotos para L.K Bennett ontem e isso me deu o dia livre hoje. Cheguei exausta em casa e com muita dor nos pés por decidir fazer a sessão inteira no mesmo dia, mas valeu a pena.
Vim para a casa da minha mãe hoje de manhã por dois motivos: 1) L.K me deu de presente mais sapatos do que eu estava esperando e como eu e mamãe calçamos o mesmo número vim trazer alguns para ela; e 2) se tem uma coisa que ela me ensinou foi que o presente ideal para uma pessoa com dinheiro suficiente para comprar tudo são: momentos. E nos últimos sete dias eu fiquei pensando qual o melhor momento eu poderia dar de presente de aniversário para o além do dia de hoje.
insistiu para que fôssemos à casa da minha mãe hoje para um brunch, mesmo que fosse o aniversário dele e eu quisesse apenas fazer coisas para agradá-lo. Eu gostava de ser mimada no meu aniversário e achei que ele também gostasse. Por isso eu decidi fazer um bolo ao invés de comprar um. Não confio nenhum pouco nas minhas habilidades culinárias, por isso pedi ajuda da minha mãe. Além disso, consegui dois ingressos para o show do The Killers em maio, estavam esgotados, mas Jenna tinha um amigo que devia um favor para ela. Eu queria os do Drake, mas só ia acontecer em setembro e é tempo demais.
Só tem uma coisa a mais que eu queria fazer, mas não ia conseguir sem ajuda, então pedi ao Ben uma forcinha. Eu paro tudo que estou fazendo na cozinha quando ouço a campainha tocar. A minha mãe me olha curiosa, quem poderia estar batendo na porta dela a essa hora da manhã, mas eu não digo e vou atender antes que ela chegue primeiro.
— Ben! — Eu digo quando abro a porta, animada. Eu poderia usar a educação que a minha mãe me deu dar um cumprimento decente a Chilly, mas estou muito ansiosa. — Conseguiu?
Mais cedo Ben foi até a casa de deixar uma caixa lá por mim, para ele ter uma surpresa quando chegarmos lá mais tarde. Eu mesma poderia ter feito, mas não sem desconfiar. Fiz em formato de prisma hexagonal, um tipo diferente de porta-retrato, mas não coloquei fotos, deixei as laterais para ele colocar as fotos que quiser. É seu aniversário de 24 anos, então criei cartõezinhos com 24 cumprimentos com esboços, mostrando 'Como eu comemoraria todos os aniversários dele de 1 a 24' porque não fomos amigos de infância e os coloquei dentro do prisma, além do ingresso dele para o show e uns cartões que enchi de colagens e escrevi umas besteiras das coisas que eu mais gosto nele. Completei com bombons e amarrei balões de hélio azul na tampa que diziam “Feliz Aniversário, !”. No final eu fiquei bem satisfeita com o resultado.
Ben abre um sorriso para mim. — Claro que consegui.
— Ele não viu nada, certo?
— Quase certeza que não. Se tivesse visto teria perguntado, mas eu acabei ficando com a chave reserva. Acho melhor você devolver pra ele.
Eu pego a chave, tem um molho de chaveiros no mosquetão, não paro para analisar cada um, mas são várias miniaturas de troféus.
— Ótimo, você é o melhor sabia disso?
— Claro que sei. — Ele responde cheio de si.
— Está indo para o estádio agora?
— Sim, inclusive se eu não sair agora vou me atrasar. E deve perguntar porque eu sumi já que estava com o carro atrás do dele. — Ben fala mexendo no boné branco. — Você quer uma carona?
— Não, tá muito cedo e eu preciso terminar uma coisa antes. — Aponto o polegar para dentro, em outra ocasião eu o convidaria para entrar e a minha mãe o forçaria a tomar um dos seus chás verde de chocolate amargo. É chocolate belga, não tem como recusar.
— Tudo bem, então, torça por nós. — Ele diz antes de se virar para ir embora no seu carrão. Eu aceno antes de fechar a porta com um sorriso.
— Eu vou, boa sorte e até daqui a pouco.
Penso em falar para Ben mandar um beijo para Alex, mas talvez eu encontre com ela no Stamford Bridge.
Volto para dentro rapidamente porque tenho um bolo para terminar e um jogo para assistir.

🎡

Stamford Bridge Stadium

Tudo que podia dar errado hoje está acontecendo.
Na metade do segundo tempo, estamos perdendo de dois a zero. Tuchel está gritando em alemão na linha do campo. O time todo sabe que as coisas estão ruins quando ele começa a praguejar em alemão. Timo levou um esporro apenas por estar do lado errado do campo e eu estou insatisfeito comigo mesmo. Fui substituído antes que o jogo terminasse, o que é uma merda porque se estou apto gosto de jogar os 90 minutos, mas entendo porque TT tomou essa decisão.
Aos 36 minutos do primeiro tempo, eles estavam ganhando por apenas um gol de diferença. Tive a chance de empatar, parti sem marcação e fiquei de cara com o goleiro deles. Para tentar concluir a jogada, optei por uma malsucedida cavadinha, que parou nas mãos de José Sá, foi a nossa melhor chance e eu desperdicei. Meu pé de apoio escorregou e eu não consegui finalizar bem, sem falar que não consegui acertar um passe em profundidade durante o jogo inteiro.
Assisto do banco o resto da partida que muda um pouco com as substituições do treinador. Não levamos mais nenhum gol, conseguimos articular e terminar melhor, as trocas têm mais volume e qualidade por dentro, mas tecnicamente erramos bastante e não conseguimos a virada. Acho que entramos muito mornos para um Wolverhampton que entrou muito forte, com intensidade alta. Quando conseguimos ter a bola e rodar, erramos o último passe.
Mas é isso, o juiz apita finalizando a partida nos obrigando a lidar com a derrota. No banco de reservas, jogo a água da garrafinha direto no rosto e fico frustrado com as vaias indignadas, porém totalmente compreensíveis. Quando voltamos para o vestiário, o lugar parece um enterro. É sempre assim quando perdemos, mas perder em casa é cem vezes pior, parece que o lamento de 40 mil torcedores fica ecoando na nossa cabeça e não vai embora nunca. Péssimo presente de aniversário.
O som de chuteiras batendo no chão duro ecoa por todo o vestiário. Eu tiro cada uma, sem nem mesmo me preocupar em desamarrar os cadarços. Elas são jogadas ao lado do banco e chutadas enquanto eu tiro minha camisa encharcada de suor. A psique de todo mundo está péssima igual à minha, isso fica claro no jeito que todos entram no vestiário, cobrindo seus rostos com toalhas para esfregar o suor produzido por um jogo exaustivo, sem realmente falar um com o outro. Fico remoendo aquele gol perdido todo maldito minuto e pensando que a partida poderia ter tomado outro rumo se eu tivesse acertado. Não sei, é estranho, eu fico mal quando perdemos, mas hoje é diferente. De um jeito pior.
Tuchel ainda não veio falar conosco e eu não quero nem pensar no que ele vai dizer. Ele ainda deve estar concluindo com o resto da comissão técnica algo para nos falar. Ele sabe ser compreensivo, mas nunca passa a mão na cabeça de ninguém, nós nem achamos que deve. Me encosto na madeira e pego o meu celular. Está cheio de mensagens de ‘feliz aniversário’ e até minutos antes do apito inicial, estava sendo um dia bom, mas eu ignoro todos eles e abro o Twitter.

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twitter

@user1:
pior jogador em campo
➥ ↱↲ ❤

@user2:
superestimado
➥ ↱↲ ❤

@user3
mickey
➥ ↱↲ ❤

@user4
jogador inútil
➥ ↱↲ ❤

@user5
ele está exatamente onde ele pertence no banco
➥ ↱↲ ❤

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Eu sei que não devo ficar dando atenção para essas coisas, mas às vezes é mais forte do que eu. Há um tweet específico para o qual eu cerro os olhos, por não param de me marcar nele.

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Em resposta a e outras 394 pessoas:
@
kim kardashian do futebol 😂😂😂
➥ ↱↲ ❤

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Solto uma risada baixa e irônica após ler a indireta. Jogo uma toalha no rosto e encosto a cabeça na parte de trás. Ele está tentando me provocar. Engraçado seria se estivesse mais preocupado em marcar Zaha, talvez o Tottenham ontem não tivesse perdido de 4-1, derrota que os deixa cada vez mais longe do G4. Mas pelo visto ele só se interessa em ser um zagueiro sujo fora de campo também. Seria uma bela resposta, mas eu bloqueio a tela antes de cometer essa loucura. Solto um suspiro pesado e tiro a toalha do rosto quando um barulho irrompe da porta principal.
O burburinho do vestiário vira um silêncio total quando o chefe passa pelas portas.
— Bom, acho que não preciso dizer o óbvio. — Ele começa sem muita enrolação. — Tecnicamente foi um jogo ruim, individualmente as decisões também foram equivocadas, faltou sensibilidade. — Não importa quão calmamente Tuchel faz o seu relato, as palavras ainda são duras. — Houve alguns bons passes, mas também alguns que eu gostaria de esquecer. Sua formação no primeiro tempo foi horrível e nada efetiva no segundo. — Todos nós olhamos diretamente para ele e acredito que todos devem estar pensando que seria bom se pudéssemos pular essa parte. — Eles foram bons, o que significa que precisamos ser melhores. Estamos cometendo erros nas duas áreas, defesa e ataque. Temos que trabalhar e entender que a Premier League não é fácil. Tem que competir com muita intensidade em todos os jogos. Não procurem culpados, só espero que vocês recebam essa derrota como uma oportunidade para se levantar e que o treinamento seja diferente na próxima semana.
Tuchel faz mais algumas poucas críticas a respeito da nossa performance coletiva, dando ênfase no baixo volume ofensivo apresentado em campo, e mesmo que não tenha apontado erros individuais, apenas generalizado, eu me sinto levemente afetado pelo seu parecer.
— Ei, cara, tudo bem? — Jorginho bate o cotovelo no meu braço. Ele é o único com coragem para falar comigo.
— Na medida do possível. — Puxo a toalha pendurando ela no pescoço, buscando disposição para levantar e tomar banho. — Mas ele estava falando de mim porque eu perdi aquele gol.
— Se você tivesse feito aquele gol, nós ainda assim teríamos perdido, .
— Quem sabe. — Dou de ombros.
— Não ouviu o que o chefe disse? Não vamos procurar um culpado, já não basta a mídia fazendo isso.
— Tem razão. — Eu concordo não realmente de acordo, mas não estou a fim de discutir isso com Jorginho agora. — É só… A mesma merda de sempre.
Olho para o celular e fecho a mão em um punho para desbloquear e responder. Ele não me marcou diretamente ou citou o meu nome, então para o exterior tudo não passa de uma suposição.
Eu não sou nem nunca vou ser desse tipo. Há jogadores que perdem fácil a cabeça ao ponto de se indispor nas redes sociais, porque é algo inofensivo se você escolhe as palavras certas, mas eu prefiro ficar na minha, não só para não dizerem que a carapuça serviu, mas também para não arrumar confusão com pessoas tão desagradáveis quanto o irmão de . Foi essa a instrução que me deram a vida toda desde que entrei nesse mundo e é o que eu prefiro fazer.
Não dou muita abertura para continuar a conversa com Jorginho, me dirigindo para o chuveiro logo em seguida.

🎡

O que eu gosto no Estádio do Chelsea é que ele fica em Fulham Broadway e eu ficaria o dia todo tranquilamente batendo perna pela região, mas não foi o caso de hoje. Pelo horário eu só consegui ir até à loja oficial do clube e comprei um boné para combinar com a camisa e o cachecol que me deu e com o resultado conclui que fico muito bem nesse tom de azul.
Meu pé está batendo no chão conforme eu observo o estádio ficar cada vez mais vazio. Se já não bastasse a derrota do Chelsea, o céu está ficando cinza, dando fortes indícios de que vai chover. É um daqueles dias feios.
Olho para a tela do meu telefone pela centésima vez esperando uma resposta de , mas ela não vem, então eu decido descer. O nosso combinado era eu encontrar com ele lá dentro para sairmos juntos no seu carro, ele ia me avisar quando estivesse pronto, mas já faz quase quarenta minutos que o jogo terminou e ele ainda não me disse nada. Não é possível que ele demore tanto para tomar um banho, nem eu que sou mulher demorava tanto tempo assim no vestiário.
Faço a direção contrária da glass box deixando o campo para trás. Fico o caminho inteiro pensando que talvez eu não encontre no seu melhor humor, mas estou pronta para isso. Perder faz parte no futebol como em qualquer outro esporte, mesmo que seja no seu aniversário, você tem que saber lidar com essa situação, acredito que deve estar bem-acostumado.
É perceptível que a maioria das pessoas já foi embora, isso inclui jogadores e imprensa, já que a área está quase vazia, então não tenho muita dificuldade em passar. Eu paro próximo da porta do vestiário quando vejo Ben sair por ali. Ele está com o seu usual boné branco, fones e mochila nas costas.
— Ei, Ben!
Ele para quando me vê e se aproxima.
— Oi, . — Ben tira um dos fones para falar comigo e o seu ânimo não é dos melhores, o que é compreensível.
— Não vou falar do jogo, sei que foi uma merda. — Eu faço uma careta e Ben ri sem graça.
— Eu agradeço.
— Enfim, você viu o ? Ele não tá me respondendo. — Pergunto com as mãos nos bolsos traseiros da calça.
— Ele ainda tá lá dentro. — Ben indica a porta do vestiário com a cabeça. — Todo mundo já foi embora, só sobrou ele, então você pode entrar… e boa sorte.
Não sei o que ele quer dizer com a última parte, mas eu só aceno e agradeço. — Obrigada.
Dou curtos passos até a porta dupla de madeira e aço, ponho a mão na maçaneta encarando os dois escudos do Chelsea, não sei bem o que fazer, mas na minha cabeça não faz sentido bater se Ben disse que está sozinho, se ele estiver nu não é nada que eu já não tenha visto. Encolho os ombros e abro a porta devagar. De início apenas coloco a minha cabeça para dentro para inspecionar o lugar.
Está realmente vazio e silencioso. Meus olhos focam o chão primeiro, polido e pintado com letras brancas e grandes “𝗧𝗛𝗜𝗦 𝗜𝗦 𝗢𝗨𝗥 𝗛𝗢𝗠𝗘 𝗣𝗥𝗜𝗗𝗘 𝗢𝗙 𝗟𝗢𝗡𝗗𝗢𝗡” e vou subindo, entre os armários espaços até encontrar de frente para o seu box e de costas para a porta. Ele está terminando de colocar a camiseta quando eu entro, a porta não fecha com muita delicadeza e o barulho é suficientemente alto para ele levantar o rosto e perceber a minha presença ali.
O seu rosto é inexpressivo, mas quando ele me olha muda para algo intransigente. não fica muito tempo me olhando e logo volta a arrumar as suas coisas na mochila, tão vagarosamente que parece em câmera lenta.
— Você não responde as minhas mensagens, mas não ia me impedir de te dar feliz aniversário, queria fazer pessoalmente! — Desencosto da porta e me aproximo dele tentando decifrar o que se passa na sua cabeça nesse momento.
— Sério? — me olha por cima do ombro por um milissegundo antes me dar as costas novamente e confesso que isso está me irritando, mas o que eu aprendi com relacionamentos passados é que você tem que aprender a ser tolerante e compreensiva em alguns momentos.
— Sim, o Chelsea ganhando ou perdendo ainda é o seu aniversário. — Eu cutuco o seu braço e seguro o seu ombro o puxando levemente para trás, tentando desfazer a sua cara amarrada. desvia da minha mão quando se senta no banco e começa a desembolar o par de meias.
— Não tenho nada pra celebrar.
— Pare de exagero, . Não queria falar do jogo, mas é só mais uma derrota, e você já superou derrotas piores que essa. A perda dos pontos nem coloca a liderança em risco, vocês estão com uma boa vantagem em relação ao Manchester Azul. — Falo encarando a sua nuca, querendo tocá-la. está olhando para baixo enquanto calça as meias. — Você precisa focar no otimismo e melhorar no próximo jogo. O que foi que Tuchel falou?
— Não é esse o ponto… — Ele suspira pesadamente e pragueja baixinho. — droga.
— Então qual é o ponto? — Franzo a testa, isso pode soar meio prepotente, mas tinha quase certeza que as minhas palavras amenizariam um pouco as coisas.
— Você nem imagina o quanto de merda eu já tive que ler e escutar hoje.
Ele continua me evitando e agora eu estou realmente confusa.
— Sim, imagino. — Solto uma risada mordaz, como se eu também nunca tivesse passado por isso inúmeras vezes. — É uma merda, eu entendo, mas vamos , você não é mais um garoto da base inexperiente, então suplante logo essa cólera, porque agora você… só está sendo rude, enquanto estou tentando te ajudar a se sentir melhor.
Coço o pouco da cabeça que o boné não cobre quase sem paciência. está com raiva e está descontando em mim por algum motivo que eu não faço ideia.
Ele olha para mim quando termina de calçar os tênis da Nike, mas me responde antes de amarrar os cadarços: — Você não joga mais, você não entende.
Os seus pés têm sua atenção novamente antes que eu possa esboçar minha face indignada, mas o que esperar de um olhar tão insensível quanto o que ele me deu?
— É isso que você faz quando não vence no argumento? Coloca o dedo na ferida? — Pergunto ainda desacreditada. Esse não era um defeito de que eu queria ter conhecido. Ele finalmente me olha e abre a boca quando se dá conta, mas ele não pode desdizer. Eu já ouvi. — Se vocês tivessem aberto a marcação e atacado pelos lados poderiam ter ganhado. — Ao poucos, as imagens do jogo vão voltando a minha mente. Eu não ia fazer isso, só dou minha opinião tática quando pedem porque é pungente apontar os erros de quem já está sofrendo com a situação e Thomas Tuchel já deve ter dado um esporro em todo o time, mas é mais forte que eu. É assim que eu reajo quando perturbam os meus pontos fracos. — Houve três ou quatro lances de precipitação e muitos erros de passes que só fizeram vocês gastar energia para se recompor ao invés de atacar. Sem falar que por causa disso, só conseguiam ganhar a bola longe do campo ofensivo, e isso não dá muita chance para os meias criarem, não é? — Solto uma risada ríspida encarando sua face atônita com a minha indireta. — Mas se o resto do time compartilha dessa sua estupidez, vocês mereceram perder.
Eu cruzo os braços e dou de ombros. Se ele pensa que vou ficar quieta enquanto é rude comigo de graça, está muito enganado.
Leva um segundo para eu perceber que talvez tenha pegado pesado com a indireta, mas é tarde demais. me ignora de novo e arrumar as suas coisas parece ser dez vezes mais interessante do que eu agora.
— Você pode apenas sair? Quero ficar sozinho. — É única coisa que ele diz e sua voz é cansada e arrastada. Fito suas costas curvadas me recusando a olhar para outro lugar. Não acredito que ele está me pedindo isso. — Por favor.
— Usar ‘por favor’ não te faz ficar menos boçal. — Quase gaguejo meio atordoada, levo alguns segundos para aceitar que ele está me claramente me expulsando.
— Não precisa me esperar.
Balanço a cabeça freneticamente para cima e para baixo e levanto os braços, mesmo que ele não possa ver. Vai ser isso mesmo e não vejo por que me desgastar mais para mudar a situação.
Respondo enquanto ando em direção a porta: — Eu não ia.
Eu ia, mas isso de alguma forma acabou comigo e com todos os meus planos.

🎡

, saia desse computador e vá dormir!
Mamãe diz quando ela passa pela sala acendendo seus incensos. Eu estou na varanda por mais frio que esteja fazendo a pesquisa que Sylvie me pediu. Foi a primeira tarefa que ela me deu desde que aceitei a sua proposta. Está meio tarde, o dia de hoje foi desagradável, mas estou sem um pingo de sono.
Não assinamos nada, a parte burocrática só vai ser resolvida mais para frente, mas ela quer que eu comece a estudar e me preparar. Ela me deu uma lista de nomes de prováveis desistências do torneio e quer que eu vá investigando os motivos e monitorando a situação até a divulgação das listas de convocadas. De acordo com Sylvie, quanto mais cedo isso for apurado, mais fácil fica para os comentaristas técnicos montarem os seus roteiros e suas suposições para dinamizar o programa.
Depois do jogo eu voltei para a casa dos meus pais por quatro motivos: 1) era mais perto do estádio, 2) papai e ficaram o dia jogando golf então tive o prazer da companhia de mamãe só para mim quase que o dia todo, 3) Norby e 4) aqui eu tenho um bolo delicioso para devorar. Olho para o prato vazio ainda sem acreditar que comi quase tudo sozinha.
— Eu já estou indo. — Aviso e volto minha atenção para a tela do computador.
Você viu Pamela Sandoval? — Diz Jordyn. Estamos fazendo uma videochamada e ela está me ajudando a lembrar de alguns nomes para a pesquisa.
— Ela vai ter um bebê, Sylvie pediu que eu focasse em outras possibilidades, gestações vão ser abordadas em uma matéria.
Hm… Ada Hegerberg?
Meu rosto se acende como existisse uma luzinha no topo da minha cabeça quando me recordo de Ada.
— Bem ela voltou a defender a seleção ano passado depois da eleição de Lise Klaveness na NFF¹ então eu acredito que sim. — Pondero e Jordyn balança a cabeça concordando enquanto eu anoto o nome de Ada no iPad. — Ela deu uma entrevista para Suzanne Wreck do The Guardian bastante positiva, não comentou nada a respeito do Mundial, mas é bom ponto para eu investigar.
Ada é uma mulher genial, ela joga pelo Lyon, conquistou a Champion's League feminina por quatro anos consecutivos e em 2018 foi a primeira vencedora da Bola de Ouro. Na última Copa, ela se recusou a defender a Noruega em um protesto a NFF exigindo igualdade de gênero em relação à seleção masculina.
Desde 2017, é tempo pra caramba, ela teve um motivo muito nobre. — Eu concordo bebericando a minha xícara de chá. — Mas conversei com ela uma vez, e ela me disse que viveu um pesadelo e teve vários problemas psicológicos. — Quase rio da careta que Jordyn faz e anoto enquanto ela fala. Saúde mental é um ponto que eu posso explorar. — Não sei por que, mas isso está me levando a lembrar da França.
— Amandine Henry, Sarah Bouhaddi, Wendie Renard, Eugénie Le Sommer… — Eu digo lembrando dos nomes que, se tudo caminhar pelos trilhos que estão caminhando, provavelmente não vão jogar a Copa esse ano. — Deus, a seleção francesa é a coisa mais conturbada que existe! Amandine ainda é brigada com Corinne?
Amandine também joga pelo Lyon e Corinne Diacre é a temida treinadora da FFF².
Elas não se bicam de jeito nenhum e acho que isso não vai mudar. — Jordyn explica. Saber dessas coisas é muito mais fácil quando você está lá e pode conversar com elas quase diariamente. Sinto falta disso.
— Que péssimo! As coisas já deveriam ter se acertado a essa altura do campeonato já que demitir Corinne não é uma opção dos Bleus.
Péssimo, ? Não são os franceses que gostam de colocar fogo nas coisas? Liberté, Égalité, Fraternité, amor! Que deixem queimar! — Jordyn aproxima o rosto diabólico da câmera e eu desato de rir.
— Que coisa horrível, Jordyn! — Repreendo ainda rindo.
O que foi? Eu quero aquela taça! Eu as adoro, e não acho que mereçam uma técnica tão crápula como Corinne, mas convenhamos, fica mais fácil pra gente.
Jordyn cruza os braços encolhendo os ombros e não posso discordar. Se as Red Flames³ não ganharem, minha torcida é toda do Canadá.
— Lembro dela dizendo em 2019 como tinha certeza que não foi bem esportivamente durante o campeonato, mas também humanamente porque as atletas choravam constantemente. Eu não ia querer viver esse pesadelo.
Amandine, Sarah, Eugénie, até mesmo Wendie, todas elas já criticaram Corinne. Sei lá , mexe com o psicológico da gente. Eu não as culpo por se recusarem a jogar, já não bastam as outras pressões exageradas pelas quais temos que passar das cobranças externas, ter que lidar com isso internamente também é muito difícil.
Quando Jordyn desliga eu fico pensando na matéria e no que aconteceu hoje por algum tempo. Digito mais alguns nomes e coço a cabeça com a caneta digital do iPad enquanto a pesquisa aparece na tela, pensando.
Acho que já tenho um bom material, mas entre as pesquisas acho uma matéria do jornal Mirror sobre Drinkwater. É claro que não vou fazer isso girar em torno de macho, ainda mais homens como Danny Drinkwater, mas as palavras de Sam Quek me dão uma ideia.
Eu fecho o computador, pego o meu celular e abro o Instagram.

_: “cesare cremonini cantou uma vez: tutti col numero dieci sulla schiena, e poi sbagliamo I rigori. che in questo mondo di eroi, nessuno vuole essere robin. e bem, o que eu consigo passar com isso é que a perspectiva de vida quando colocada nas mãos de jogadores de futebol excessivamente emocionais pode sugerir que a superioridade é garantida para sempre apenas pela aceitação de um escritório de admissões. os jogadores profissionais de futebol não são mais vistos como pessoas ordinárias, e sim pessoas com uma camada excessiva de indulgência que tem uma grande soma de dinheiro depositada em suas contas bancárias todos os meses. o que embora seja verdade, máscara como o futebol ainda é o seu trabalho, um trabalho que vem com suas próprias pressões especiais. eu sei que o que eu estou dizendo pode despertar suspeitas porque parece abrandar certos limites que contornam uma imagem ideal, mas ainda é a realidade. cada atleta tem sua individualidade, seu nome, e as pessoas têm que parar de tratá-los como apenas um número. o fato que deve alarmar os que estão no conforto de suas casas e que possuem um esbelto teto de vidro é que, apesar dos anos de esforço dos atletas para alcançar sua taxa exemplar de graduação, o futebol criou a aparência de ser muito parecido com aqueles lugares onde a única coisa errada com uma sequência de 19 vitórias é que ela não chegou a 20.”

Fico tempo suficiente vendo as reações da minha postagem pare receber a ligação de , mas eu não atendo, preferindo fazer o que a minha mãe me disse. Dormir.

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Capítulo VI - Stop Calling

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15 de janeiro de 2023
Gallery of Penhaligon Studio

Tento não espirrar quando a maquiadora borrifa o perfume na minha cara. Já faz um tempo que estou sentada de frente para essa penteadeira, o pessoal da produção já veio retocar a minha maquiagem umas vinte vezes enquanto eu aguardo e finjo que não odiei o cheiro desse perfume ou que as luzes ao redor do espelho não estão fazendo a minha vista doer. A vida comercial tem um problema: depois que você assina um contrato não tem como retroceder. Eu odeio isso às vezes, mas não mais do que o cara parado atrás de mim que não para de me encarar pelo reflexo.
Ele deve ser algum dos modelos masculinos e assim como eu, ele está todo arrumado e elegante, o seu sorriso braco brilha mais que um diamante, mas mesmo assim eu não mudo de postura. Eu não sei porque os homens não entendem que quando olhamos feio para eles significa que não estamos interessadas.
— Jenna por que isso está demorando tanto? — Viro a cabeça para o lado com um certo tipo de alívio quando a mulher se aproxima. — É algum problema comigo?
— O quê? — Ela me olha preocupada. — Não! Não há nada com você. Por que a pergunta?
— Sei lá, achei que pudesse estar um pouco aérea hoje.
E realmente estou. Tenho o roteiro todo da campanha na cabeça, mas é como se eu pudesse esquecer a qualquer momento, sem conseguir focar no trabalho.
— Entendi, mas pode ser que demore um pouco, está entediada? — Jenna me encara pelo espelho com as mãos nos meus ombros. — Quer o seu celular? O não para de te ligar.
Ela balança a mão com o celular próxima do meu rosto, o vislumbre de Norby no meu papel de parede quase me faz pegá-lo, mas eu afasto com o antebraço. Faz cinco dias que eu não falo com e não quero fazer isso agora. Ele não tem nada melhor para fazer do que ficar me ligando? Treinar quem sabe? Eu nem fiz questão de saber se o Chelsea ganhou ontem.
— Eu sei, é por isso que eu não quero o meu celular.— Respondo calmamente olhando para as minhas unhas. Um silêncio estranho se segue e eu olho para o reflexo de Jenna. Ela tem uma face culpabilizada que não é típica dela. — O que foi?
— Chegou isso aqui pra você. — Jenna dá um sorriso amarelo e se move para esquerda, revelando que atrás dela tem um carrinho, com não uma, mas três cestas bem espalhafatosas de trufas de chocolates e alguns lírios.
Giro a cadeira em 360º e me inclino para alcançar o bilhete em papel-moeda dobrado no topo.

Para:

“Caso você esteja tendo um dia amargo.”
ps: me perdoe por favor


Amargo talvez seja a palavra certa, mas como alguém pode saber o que eu preciso, sem saber?
— Como ele sabe que eu estou aqui?
— Bem… Eu posso ter atendido uma das ligações… — Eu cerro os olhos para ela, mas Jenna continua antes que eu possa contestar. — Não me olhe feio, ! Ele estava insistindo tanto que achei que fosse importante e você estava ocupada.
Meu rosto fica inexpressivo e eu encosto na cadeira. Mordo a parte interna da bochecha e pego uma trufa, brincando com os dedos no papel alumínio da embalagem. São de cereja com chocolate da Charbonnel Et Walker. Eu adoro os doces de lá.
— Está tudo bem?
— Sim… Eu só quero ir embora, eles disseram que fariam tudo em uma manhã, e já é quase onze horas e não fizemos nada praticamente, estou ficando faminta.
— Come uma trufa vai. — Uma? Acho que eu poderia comer umas dez. Ela me guia de volta para a cadeira empurrando o chocolate na minha direção. Eu desembrulho e coloco logo na boca, se tem uma coisa que eu não consigo resistir é ao açúcar. — Vou perguntar ao diretor o porquê da demora e quando vai ser a pausa para o almoço.
Jenna me deixa sozinha com os meus próprios pensamentos enquanto como uma trufa atrás da outra. Não estou mais com tanta raiva, mas o despontamento ainda é tão chato. Estava evitando falar disso, primeiro por que não é a pauta da minha vida e segundo por que queria dar tempo aos meus sentimentos para eles se manifestarem sem interferência externa.
Olho para as cestas, elas são divinas. Pego o meu celular que Jenna deixou em cima da penteadeira.

-
mensagem para:
💙


você não pode me ganhar com açúcar
eu vou comer e continuar fingindo que
você não existe


então, como eu te ganho?

-

— E então? — Pergunto quando Jenna se aproxima de novo.
— Estão checando um problema com as câmeras, por isso a demora, mas vamos , me diga o porquê dessa sua inquietude? Você nunca foi de reclamar de atrasos. — Ela me olha com dúvida e eu dou de ombros. Nem sei porque estou tão aborrecida, deve ser uma soma de fatores. — Primeiro eu achei que você tinha marcado algo com e está irritada porque vai ter que furar, mas pelo visto estão brigados. Pensei que tivesse o dia livre, você sabe que às vezes isso pode atrasar.
— Eu sei. Só queria que sobrasse um tempo pra eu continuar a pesquisa. Sylvie gostou muito do que eu já mandei, queria retomar. — Respondo já sabendo que vou receber aquele olhar de repreensão.
, você me prometeu que isso ia ficar em segundo plano até junho e que você ia se dedicar aos trabalhos que você tem agora.
— Prometi e estou cumprindo! — Eu me exalto um pouco me inclinando para frente, Jenna não parece tão convencida. — Estou aqui não estou? Eu sei ser profissional, mas se eles não sabem a culpa não é minha! — Falo mais baixo do que eu queria e cruzo os braços.
Jenna não está errada em ficar pegando no meu pé, fui eu que insisti para ela que isso daria certo, ela analisou todos os riscos para o meu próprio bem e só deixou eu aceitar porque não tive que me comprometer com um contrato agora.
— Tem certeza que ainda quer fazer isso?
— Absoluta. — Digo convicta.
— Mesmo abrindo mão das suas férias de verão? — Balanço a cabeça confirmando, Jenna solta aquele suspiro derrotado que diz “eu nunca consigo vencer a sua teimosia, .”
— Sim, agora come você uma trufa e relaxa. — Eu puxo a sua mão em direção à cadeira do meu lado. — Não é trabalho se você está se divertindo.

🎡

Heaven Club

Você não pode ficar bêbado. É o que estou repetindo para mim a noite inteira quando olho para a garrafa de cerveja na minha mão. Nunca precisei de bebida para me divertir e, além disso, estou dirigindo. Está sendo uma noite agradável, poderia ser melhor se estivesse aqui ou voltasse a falar comigo, mas nessas horas eu lembro que tenho bons amigos.
— Alguém tem que ir ajudar o Josh. — Eu digo movendo a cabeça e olhando para baixo.
Josh Denzel está ridiculamente preso na escada em alguma situação bizarra com duas mulheres que não parecem muito felizes. Eu não faço ideia do que seja, mas não queria estar no lugar dele.
— Pede pro Jesse ir, ele não vai fazer falta mesmo. — Declan fala abraçando Lauren pelos ombros. Estamos sentados na área VIP em uma pausa acordada mutuamente para comermos bolo. Foi Jesse quem trouxe, então não sabemos ainda se a procedência do produto é duvidosa, mas neste momento ninguém se importa muito.
— Eu venho dirigindo de Manchester até aqui e é esse o tratamento que eu recebo? — Ele realmente veio dirigindo de Manchester, Declan e eu juramos que Jesse estava blefando quando disse que viria. Uma pena que os outros não puderam vir, mas é muito difícil juntar todo mundo para comemorar algo que não seja um título. — Vocês não sabem me valorizar. — Lingard cruza os braços, indignado. Em outro segundo ele levanta. — Vou pegar o meu bolo e vou embora.
— Ei! Não! — É Reece quem o impede de colocar as mãos no tablete que apoia o bolo. Mia está do lado dele como uma boa namorada o apoiando.
— Pode ir, mas deixe o bolo.
Jesse olha para o resto de nós, acho que ele está esperando algum apoio, mas simplesmente damos de ombros.
— Eu pelo menos estou do lado de James nessa. — Digo rindo.
— Eu também! — Todos concordam em uníssono e isso é o suficiente para sentar Jesse no seu canto e mantê-lo calado.
— Eu odeio todos vocês! — É o que ele exclama, o que só nos faz rir mais. Quando Lingard não está sendo o palhaço do time, ele está sendo a piada.
— Não odeia nada, pare de fazer drama, Lingard. — Lauren se inclina na mesa para pegar uma White Claw e encher um copo para ela e um para Dec.
Jesse continua predisposto a rebater, mas o foco muda quando Ben reaparece.
— E aí? — Pergunto quando levanto e fico do seu lado. Ben me olha exalando um ar de derrotado. Não é à toa, já que ele voltou sozinho.
Ben estava interessado em uma garota que estava sentada no bar, ela não quis subir, então ele desceu para tentar convencê-la.
— Ele deve ter falado alguma merda. — Mia solta uma gargalhada e Ben olha feio para ela. — Com certeza.
— Não falei merda nenhuma, ok?
— Então o problema deve ser você inteiro. — Jesse diz e Ben revira os olhos.
vá lá e tire a nossa dúvida se o problema mesmo é o Ben.
— Aproveite e traga o Josh de volta. — Acrescenta Lauren.
— Ficou louco? — Eu ignoro Lingard e foco em Dec que deu essa brilhante ideia. — não está falando comigo, se ela me ver flertando com outra mulher é o meu fim.
Eu não gosto nem de imaginar a cena, mas isso me deixa pensando novamente em como eu queria que ela estivesse aqui e ela não está porque é tudo minha culpa.
— Mas não ia ser um flerte sério. — Ele argumenta tediosamente, se juntando a nós em pé e me abraçando de lado. Eu retribuo o abraço apertando seus ombros e indicando seu corpo na direção da escada.
— Ah então, porque não vai você, bonitão? Aposto que a Lauren ia adorar ver. — Bato no ombro encarando o seu cabelo partido no meio. Os olhos azuis de Dec ficam mais escuros quando olhamos para Lauren, ela está balançando o conteúdo do copo enquanto comprime olhos para ele. — Não é Lauren?
— Oh sim, eu quero ver ele tentar.
Nós rimos com exceção de Dec e voltamos a nos sentar com ele tropeçando nas suas ideias ridículas. Esse é o Rice depois de algumas doses.
— Ela é ciumenta nesse nível? — Ben pergunta momentos depois. Estou olhando a hora no celular. Não que a festa esteja chata, mas se alguém me chamasse para ir embora eu não inventaria desculpas para recusar.
— Não… Quer dizer, eu não sei, mas eu acho que não. — Dou uma risada sem humor. — E não é assim que eu quero descobrir.
— Que pena, eu realmente queria saber se o problema era eu.
— Você é tão frívolo às vezes, Chilly. — Digo rindo para ele saber que eu estou brincando.
— Se eu sou frívolo, você é um estúpido. — Ele rebate também rindo, mas sinto que na sua provocação tem um pingo de verdade. — Se não fosse tão idiota, estaria transando agora.
— Obrigada por me lembrar.
— Você não falou com ela ainda?
— Eu tentei.
Shakespeare disse uma vez: quando estamos com raiva, temos o direito de estar com raiva, mas isso não nos dá o direito de sermos cruéis. E odeio como me permiti ser cruel com ela por uma coisa que não era sua culpa, mas só percebi isso quando a raiva passou, naquele mesmo dia, no momento em que eu cheguei em casa apenas para me martirizar mais. Hoje eu tentei a noite inteira ignorar a minha situação com , talvez só para não ouvir de Dec e Ben toda hora como fui um idiota ou ir em direção ao bar várias vezes como se lá existissem shots de segundas chances. Mas não dá para continuar tentando.
Olho no celular todas as chamadas que ela não atendeu e Ben diz do meu lado, ajeitando o boné:
— Pare de ligar.
Mas eu ignoro e disco o seu número mesmo assim pela septuagésima vez nessa semana e para minha surpresa ela atende no quarto toque.
Você pode, por favor, parar de me ligar? não permite nem que eu diga ‘oi’, mas apesar das palavras sua voz é fleumática, não tem raiva. Isso tem que ser um bom sinal.
— Eu pararia se você conversasse comigo. — Coloco a mão no outro ouvido tentando abafar o som da música.
Eu não posso, pelo menos agora, agora não dá. — Franzo a testa com um pingo de esperança. Isso não é um ‘não’, mas sim ‘agora não’.
— Você tá em casa?
Sim, e estou ocupada.
— Tudo bem.
Ela desliga. Eu guardo o celular.
Ben tem razão. Eu devia parar de ligar.

🎡

?! — não abre muito a porta, mas mesmo assim eu consigo ver o quão bonita ela está vestindo um chemise azul e branco listrado e o cabelo preso com um lápis.
— Não me manda ir embora. — Disparo dando um passo para frente antes que a sua expressão neutra se altere. segura a porta e me encara por alguns segundos, seus olhos me examinando. Ela está mais calma do que eu achei que estaria.
— Entra logo. — Ela empurra a porta e se afasta deixando o caminho livre para mim e quando eu entro olho para todos os lugares do seu apartamento.
As paredes são cheias de prateleiras com livros, quadros e plantas. Muitas plantas. A sala não é muito diferente, tem um tapete divertido e uma lareira pintada com um verde-mar nada convencional. Tem papel de parede em todo lugar e o seu carrinho de bebidas é bem abastecido, vigiado por um quadro enorme da Marilyn Monroe mascando um chiclete logo acima. Mas é um excesso de informação confortável.
— Então, aqui que você mora. — Meu olhar viaja para a outra parede pintada de preto. Tem uma placa no topo escrito “Meu 2023” e pouco mais de 15 polaroids coladas. Aproximo-me o suficiente para perceber que tem uma foto nossa ali, do ano novo. — É…
— Uma merda comparado ao seu. — solta uma risada fraca e eu olho na sua direção. Ela está se sentando de frente para uma mesa de vidro que tem um computador em cima.
— Não é nada, é cheio de personalidade, na verdade. Eu consigo ver você em cada canto. — Completo quando acho uma garrafa de Jack Daniels com água até a metade servindo como vaso para três flores no peitoril da janela. — São as flores que eu te dei?
— São. E eu prefiro rosas. — Responde encostando na cadeira. — Sei que vão morrer em alguns dias, mas até lá… Você está julgando meu vaso improvisado?
— Não, é que… — Digo me aproximando e tocando as pétalas. — Meu Deus!? Isso é tão… Você.
Quando eu olho para , consigo ver os cantos da sua boca se curvarem levemente, mas isso se desfaz tão rápido e ela se concentra na tela do computador na sua frente. — É, talvez.
Eu me aproximo e fico atrás dela, apoiando as mãos nos braços da sua cadeira. — O que você tá fazendo?
— Pesquisando.
Inclino o tronco e olho para baixo, não para a tela do computador, mas para o topo da sua cabeça e vejo a ponta do seu nariz, quero que ela olhe para cima, mas continua o que está fazendo como se eu não estivesse aqui.
Ela realmente deve estar ocupada com esse novo trabalho, mas eu não consigo sair. ficou tão animada quando me contou, eu jurei que ela poderia ministrar palestras sobre aquilo e fiquei feliz por ela. Estou quase perguntando como isso está caminhando, mas ela fala antes.
— A festa não tava legal?
— Tava. — Dou uma risada fraca. — Josh se encrencou, Ben levou um fora, eu trouxe bolo pra você que eu esqueci no carro.
— Gentil.
Suspiro quando o assunto de repente morre. Essas conversas soltas não vão nos levar a lugar algum. Preciso de mais do que suas respostas com palavras singulares, então giro a sua cadeira e fica de frente para mim.
— Eu sei que você está ocupada, mas podemos conversar?
Quando olha para mim, eu me pergunto como alguém pode ser tão bonita com o cabelo desgrenhado e a cara de quem trabalhou o dia inteiro. Seu rosto está um pouco avermelhado e quero tocar suas bochechas fofas, mas os seus olhos frios me afastam de alguma maneira.
— Conversar sobre como usei o seu bolo pra cantar parabéns pro Norby? O aniversário dele é só mês que vem, mas ele merecia mais do que você. — Ela cruza os braços na altura do peito e está ali todo o aborrecimento que eu vinha procurando. — Ou sobre como eu vendi o seu presente e doei o dinheiro pra caridade?
— Você vendeu o meu avental com um homem nu estampado? — Brinco, mas ela não ri. Merda. Eu jurei que ia dar certo. continua relutante e distante, ela tenta virar a cadeira, mas eu não deixo.
. — Eu chamo para que ela olhe para mim. — Sinto muito pelo jeito que eu agi…
— Vai ser sempre assim quando vocês perderem? Eu realmente não queria torcer pela vitória do Chelsea pelos motivos errados.
— Você tinha razão, eu já superei derrotas piores, mas naquele dia eu estava chateado não pela derrota em si, mas sim porque... Eu acabei lendo muita merda depois do jogo, uma delas vindo do seu irmão, e geralmente eu tento bloquear tudo que vem além de tentar fazer o meu melhor, mas não consegui naquele dia.
— Pareceu que fui eu que te disse aquelas coisas.
fala mais baixo, visivelmente chateada e encolhe os ombros quando cruza os braços. Isso mexe com algo dentro de mim, pois ainda consigo ver uma película de mágoa no seu rosto. Eu nunca devia ter mencionado o que falei, sobre ela não me entender. A melhor pessoa para me entender naquele momento talvez fosse ela.
, me desculpe por ter dito aquilo, foi baixo, muito baixo, mas foi inconsciente e eu me arrependo, acho que eu queria que você... — Faço uma pausa momentânea para limpar a garganta antes de continuar. — parasse de falar.
Não há sutileza no mundo suficiente para dizer isso, mas é assim que eu lido melhor em algumas situações, com o silêncio e um abraço reconfortante. me olha mais indignada do que antes, mas eu preciso ser sincero com ela se quero que isso entre nós, dê certo.
— Eu estava tentando te ajudar!
— Eu sei, e não é que eu não quero o seu apoio, só que eu prefiro lidar com essas coisas de um jeito diferente. Você não precisa fazer uma grande confusão quando achar que eu estou me sentindo para baixo ou chateado; eu demoro um pouco mais pra me abrir nesses casos e prefiro dormir a conversar até me sentir confortável pra desabafar.
Desde que subi pro profissional e Lampard me dava liberdade para lidar comigo mesmo, costumo ser muito obstinado e não deixo que muitas coisas me afetem. Mas naquele dia eu não consegui fazer isso. Foi uma falha na matriz descomunal. Um lampejo de raiva e consternação que me cegou completamente. Aquela palestra no vestiário não era bem o que eu precisava dela no momento e o comentário de só me deixou com mais raiva. É como se esse cara nunca fosse me deixar em paz.
— Nossa, obrigado por ter me contado isso só agora, como eu iria imaginar, . — O sarcasmo na sua voz é tão forte que me faz soltar um suspiro. vira a cabeça para o lado, curvando a coluna preguiçosamente, mas eu seguro o seu rosto e faço ela olhar para mim de novo.
Uma vez, em uma de nossas conversas quando ainda estávamos em Doha, disse que o fato de ela parar de jogar futebol, não era uma insegurança ou um trauma, talvez fosse no início já que depois disso a vida dela desandou por algum tempo, mas agora é diferente. De acordo com ela, é um problema do passado sobre o qual ela consegue conversar normalmente, porém não da forma desdenhosa e ignorante como eu havia feito.
— Eu sei, realmente sinto muito por isso, também sei que não justifica, mas eu queria que você soubesse que sou realmente grato a você por tentar e por dar conselhos que eu sou burro demais para seguir. Também peço desculpa por ser irritante quando quero falar ou por ficar insistindo, mas é que eu gosto muito de você e não quero que isso acabe. — Dou um último suspiro antes de continuar porque não queria ir embora sem saber que estamos bem, mas respeitar o espaço das pessoas é uma virtude que a gente precisa aprender a ter. — Também vou entender se você precisar de mais tempo pra me perdoar.
São moribundos os segundos que passa me olhando, pois não consigo ver seu rosto e prever suas ações. Ela mexe a cabeça e segura os meus pulsos, tirando as minhas mãos da cadeira e me empurrando para trás, o suficiente para conseguir espaço para levantar.
— Talvez você tenha me ganhado nas trufas... — revira os olhos. Não seguro um sorriso e ela continua depois de tanta esperança refletir nos meus olhos. — Mas não te perdoei ainda!
— Ah, é? Então o que é isso? — Digo abraçando a sua cintura quando ela deixa que eu me aproxime e me abraça de volta.
— Apenas porque preciso de você para algo. Minha mãe não para de encher o meu saco porque um cara que eu ia levar ela pra conhecer surtou e furou. Agora preciso de outro pra levar no lugar dele para ela me deixar em paz.
— Bem, sendo assim, você pode me usar o quanto quiser. — Falo antes de deixar ela me beijar.
Eu deixei que terminasse o que ela precisava fazer, mas não fui embora. tinha um Xbox na sala e eu fiquei jogando, até ela se juntar a mim pouco tempo depois. Nós jogamos Battlefield por um tempo e paramos quando ela levantou para fazer um chá.
Enquanto ela está na cozinha, eu fico olhando para as coisas no apartamento dela, tem muitos itens de decoração e é quase impossível ver tudo olhando tão rápido. No topo da parede de onde fica a lareira, tem um trecho pintado que eu deduzo estar em italiano.

ti sei accorta anche tu, che siamo tutti più soli?
tutti col numero dieci sulla schiena, e poi sbagliamo I rigori
ti sei accorta anche tu, che in questo mondo di eroi
nessuno vuole essere robin

As duas linhas de baixo não me são estranhas e eu lembro de onde já tê-las visto.
— Posso fazer uma pergunta? — Questiono quando volta com duas xícaras na mão, ela me entrega uma e senta do meu lado.
— Claro.
— Isso na sua parede. — Indico o local com a cabeça. — Tinha dois trechos no texto que você publicou no Instagram. O quê quer dizer?
— É um trecho de uma música de Cesare Cremonini. Significa: “Você também percebeu, que estamos todos mais sozinhos? Todos com o número dez nas costas, e então perdemos os pênaltis. Você também percebeu, que neste mundo de heróis ninguém quer ser o Robin?” Eu gosto de deixar essa frase aí porque a letra e a música são bem contundentes, me acalma.
— Por que você postou aquilo? — Encaro os seus olhos enquanto ela vira a xícara. Não quero ser prepotente, mas foi isso que eu senti quando li a sua postagem, por isso pergunto: — Teve a ver comigo? Pode me chamar de convencido, mas eu acho que teve. — Solto uma risada fraca. — Foi o que eu senti quando li.
Levo a xícara à boca e sinto a sua mão na minha nuca, suas unhas friccionando o meu couro cabeludo.
— Eu estava fazendo a pesquisa e achei pertinente, mas é teve um pouco a ver com você. — Ela admite empurrando o meu ombro. — Apesar de estar com raiva, eu pensei que talvez fosse esse o tipo de apoio que você precisasse.
— O 19 foi um easter egg. — Inclino a cabeça e deixo um beijo na testa dela. Eu afirmo porque tenho certeza. poderia ter usado qualquer numeral para indicar as vitórias, mas ela usou o 19 por um motivo.
— Foi. — Ela admite se aproximando mais de mim e apoiando a cabeça no meu ombro. — Ainda bem que você pegou.
— Você é maravilhosa. — Movo a cabeça para olhá-la e beijo os lábios que ela estava mordendo. — Sabia disso?
— Sim, sabia. — ri e eu seguro a sua mão. — Você já sentiu vontade de responder? Eu sentia toda hora.
Ela encolhe os ombros. Acho que qualquer pessoa teria vontade de responder tais comentários e provar com argumentos o quanto as pessoas estão erradas.
— Toda santa vez e então eu penso na besteira que vou receber da RP do Chelsea e eu prefiro ser chamado de todos os nomes sob o sol do que tê-la em mim. — Dou de ombros. — Ela é assustadora. — ri comigo, mas ela para de repente. — O que foi?
— Estava pensando naquilo que eu te disse... — Seu olhar é absorto e o seu sorriso é fácil e natural que eu condeno todas vezes em que ela bebe na xícara e me impede de vê-lo. — A parte do presente era brincadeira, mas a do bolo… — se move repentinamente sentando de lado para mim, flexionando os joelhos no sofá e colocando as solas dos pés juntas uma da outra. Sua mão livre segura o meu braço e me olha seriamente. — Meu Deus, , eu comi um bolo inteiro em menos de cinco horas. Por que você namora comigo? Eu sou uma bagunça.
Rio de novo e deixo a xícara na mesa de centro.
— Você é uma bagunça que eu gosto. — Seguro o seu rosto e beijo as maçãs do seu rosto antes da sua boca. — Uma bagunça pela qual eu sou apaixonado. — sorri e me abraça se jogando em cima de mim. Eu faço um carinho nas suas costas e falo no seu ouvido. — Eu sabia que a parte do presente era brincadeira, até porque você deixou lá em casa e sim, eu amei. Obrigado. — Ressalto a abraçando mais forte. — Mas queria te perguntar, por que só tinha um ingresso pro show no envelope?
— O outro está comigo, a não ser que você não queira que eu vá com você. — Responde deixando um beijo na minha bochecha.
— É lógico que eu quero. — Junto os nossos lábios antes de puxá-la para deitar no meu peito. — Você precisa ir lá em casa ver as fotos que eu coloquei no porta retratos. O que você vai fazer amanhã?
— Eu tenho uma campanha amanhã de manhã na Intimissimi, inclusive não era pra você ter vindo, eu preciso dormir cedo! — Sua mão bate na minha barriga e eu a seguro deixando um beijo nela.
— Tarde demais! — Exclamo porque não tenho a mínima intenção de ir embora daqui agora. revira os olhos.
— Mas se você não estiver em concentração, eu posso ir de noite.
— Eu vou estar em casa.
É legal ficar no CT, mas eu prefiro mil vezes a minha casa, ainda mais se estiver lá comigo.
— Combinado então.
Ficamos conversando sobre outras coisas até terminar de beber a xícara dela. Depois, eu deito a cabeça no seu colo e peço que cite o resto da letra da música para mim, porque fiquei interessado.
Suas mãos estão rumando no cabelo enquanto a sua voz acalora os meus ouvidos e acho que poderia passar o resto da vida assim.

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Capítulo VII - 's Room

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16 de janeiro de 2023
Intimissimi Store

Eram sete da manhã quando eu saí de casa com sono e com frio porque tinha que estar aqui, na Intimissimi às oito. Eu não teria ido dormir tão tarde ontem se não tivesse ido lá em casa, mas dormir nos braços dele é bem melhor.
Agora estou em um dos provadores da loja, que hoje virou um estúdio fotográfico. Danielle, uma das assistentes da produção, está jogando diversas peças de lingerie por cima da porta para eu provar. Graças a Deus são apenas fotos de divulgação da marca, ou seja, vão para sites, redes sociais, outdoors espalhados pela cidade e eu não preciso ficar decorando textos.
Ouço alguém dar três batidas na porta quando termino de vestir um conjunto branco. Acredito que seja Dani voltando para pegar as peças que já provei e trazendo outras, por isso jogo um conjunto cinza por cima da porta.
— Então, Dani, esse aqui ficou pequeno.
Não sou a Dani, mas eu adoraria ver o quão pequeno ficou.
Eu paraliso de frente para o espelho quando ouço a voz.
? — Ele solta uma risadinha e confirma as minhas suspeitas. — O que você tá fazendo aqui?
— O único, meu amor. Mas acho bom você abrir a porta antes que me vejam aqui.
Destranco e abro a porta rapidamente, encontrando-o de frente para mim, segurando a peça que eu joguei.
—... Nossa! — Ele exclama quando me vê e sinto os seus olhos queimarem por todo o meu corpo.
Estou levemente surpresa porque lembro de tê-lo deixado dormido como um anjo na minha cama. Agora ele parece o próprio Asmodeus disposto a me fazer cometer os piores pecados a favor da luxúria.
— Você ficou maluco? — Pergunto olhando para os lados, e o puxo para dentro antes que alguém o veja. A sorte é que todo mundo é bastante competente ao ponto de se preocupar em fazer o próprio trabalho.
— Não fiquei ainda não, mas acho que vou ficar. — Ele sussurra umedecendo os lábios e suas mãos seguram a minha cintura me trazendo para perto. — Por que você está reclamando? Você vai nos meus jogos porque eu não posso ir nas suas campanhas?
Viro de costas encarando o espelho e franzo a testa achando graça do seu genial argumento. E apesar de eu estar de roupa intimida, de repente esse cubículo fica muito quente, pois a boca de está deixando marcas no meu pescoço e as suas mãos estão me apertando na linha do elástico da minha calcinha.
— Você não tem treino hoje? — Eu tento empurrar ele pelo ombro, sentindo a minha pele arrepiar, mas é inútil.
— À tarde. — A sua voz não é nada menos que um sussurro rouco tão sexy e estimulante e pressiono uma coxa na outra em um impulso. — Mas você devia aproveitar. Depois de hoje só vamos nos ver daqui a uns dias.
— Como diabos você conseguiu entrar aqui?
— O grandalhão lá na frente talvez seja um grande fã do Chelsea. — Ele me dá um sorriso convencido através do espelho e eu dou risada para me impedir de gemer quando os seus dentes puxam a pele do meu pescoço.
— A gente não devia fazer isso aqui, a Dani vai voltar e...
Digo sem realmente frear os seus movimentos. está me beijando com mais intensidade e o seu joelho exerce força suficiente para separar as minhas pernas. Suas mãos macias estão percorrendo todo o meu corpo até uma delas apertar o meu peito e outra segurar a parte interna da minha coxa.
Jesus, estou quase suando frio com os arrepios me dilacerando. Ele sabe como me deixar quase subindo pelas paredes.
— Você nunca ouviu falar em rapidinha, ? — Retribuo o seu sorriso sacana. Não só ouvi falar como também já fiz várias vezes. — Eu trouxe até camisinha para não fazer sujeira.
enfia a mão no bolso e tira um preservativo de lá, e isso me lembra que tenho consulta com um ginecologista para por um DIU e abolir de vez a camisinha.
Eu mordo o lábio inferior quando os seus dedos roçam a minha umidade por cima do tecido, não há autocontrole no mundo que me faça resistir a isso, então deixo que ele me segure contra a madeira da cabine.
Solto um suspiro pesado antes dos seus lábios grudarem nos meus e eu sentir na minha coxa o quão duro o pau dele está. Seguro o seu rosto querendo mais desse beijo para mim e enfio a língua na sua boca. Já as mãos de estão ocupadas demais apertando a minha bunda e tentando encontrar espaço no meio das minhas pernas.
Eu realmente espero que a loja me deixe ficar com essa calcinha. Eu preciso repor todas as que rasgou ou não me devolveu.
— Não é o lugar mais público no qual você já transou? — Pergunta, já ofegante.
— Na verdade, não. — Admito sem muito escrúpulo, beijando o seu pescoço. Desço as mãos pela sua barriga, para procurar a braguilha da sua calça, mas faz isso antes de mim.
Me contenho em apalpar o seu abdômen por baixo da blusa, a minha vontade é deixá-lo completamente nu e chupar cada pedaço do seu corpo.
— Onde foi então? — Ele parece ligeiramente curioso enquanto rasga o pacote de camisinha com os dentes.
— Em um comboio quando viajei para Portugal. E você? — Abraço os seus ombros deixando beijos na sua mandíbula observando ele respirar com dificuldade.
Eu nunca fui de deixar pequenas coisas como não ter privacidade e a chance de ser vista me impedissem de fazer sexo, pelo menos quando eu era mais jovem e não agora. O risco faz parte da emoção.
— Não me julgue. — Ele olha para mim antes de apertar a parte de trás das minhas coxas e dar um impulso para cima. Eu abraço a sua cintura com as pernas e arranho a sua nuca, sentindo o seu corpo vacilar com o meu toque. O olho em expectativa, realmente curioso. — Na lavanderia do CT.
— Levando sexo para o trabalho, — Falo como se estivesse horrorizada, imaginado ele fodendo alguém sobre uma máquina de lavar e agora estou irritada porque queria que essa pessoa fosse eu, mas suavizo a expressão. — eu jamais poderia te julgar, .
— Inclusive, a gente devia tentar um dia. — Recebo o seu sorriso sujo e a sua mão desce até a minha calcinha, afastando ela para o lado. Eu arfo quando sinto a ponta do seu pênis no átrio da minha intimidade. — Sei que foram só cinco dias, mas eu senti a sua falta.
segura o meu rosto me dando um beijo suave enquanto me penetra e eu não sei lidar com a forma que ele aquece o meu coração e a minha intimidade.
— Aprendeu a lição?
— Sim. O seu silêncio destrói.

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20 de janeiro de 2023

Eu fico apenas alguns segundos no hall antes de abrir a porta. Ela vive dizendo que deixa a porta aberta para mim e diz que eu posso entrar sempre, mas não sei se ainda consigo ir entrando assim, a minha mãe me ensinou a sempre apertar a campainha e esperar, então é isso que eu faço.
Por falar em mãe, hoje vamos jantar com a mãe dela, depois de eu ter arruinado o primeiro encontro.
Em um estágio de um relacionamento você começa a adquirir importância suficiente para uma pessoa para ela querer te apresentar para a sua família, então estou relativamente ansioso, mas de uma forma tranquila, diferente de , que parece mais nervosa do que eu.
A família de sempre foi um ponto delicado entre a gente por causa do seu irmão insuportável que eu finjo não odiar quando estou com ela, mas mães sempre costumam ser encantadoras. A de , pelo menos, eu imagino que seja. Eu nunca tive problema com sogra, modéstia à parte elas sempre gostam de mim e seremos apenas nós três hoje. Sem pai ou irmão desequilibrado. O que pode dar errado?
— Não acredito. Você ainda tá assim?
Digo quando abre a porta, ela está de roupão e com o cabelo preso.
— Ah, sinto muito se o senhor impaciente chegou com trinta minutos de antecedência.
Entro quando ela dá espaço, seguro a sua cintura e deixo um beijo na sua bochecha em meio a risos antes dela se afastar até o quarto. — Estava entediado, me arrumei em vinte minutos.
A sua risada fraca é a última coisa que eu escuto antes de voltar para o quarto fechar a porta. Franzo a festa por ela ter me deixado na sala sozinho e vou até a porta do seu quarto, quando eu forço a maçaneta percebo que ela trancou.
, por que você trancou a porta?
— Porque eu sei que se eu te deixar entrar a gente não vai mais sair. — Ela explica em meio a risos e bem, eu não posso discordar.
Não insisto e vou fazer uma das minhas coisas favoritas: explorar a decoração do apartamento dela.
As flores na sua garrafa de Jack Daniels já morreram, então faço uma nota mental para mandar mais.
Cada vez que eu olho encontro uma coisa nova. Eu não tinha reparado tão bem antes, mas tem vários portfólios com fotos e mais fotos dos seus trabalhos e das suas campanhas. Alguns posters também, realmente bonitos, mas o que eu pego é uma bola de basquete que está entre dois armários.
, você não está jogando basquete na minha sala, né?
— Claro que não! — Dou risada parando de quicar a bola. Essa não é mesmo uma boa ideia, eu ia precisar de uma tonelada de açúcar para fazer me perdoar caso eu quebre algo no seu carrinho de bebidas. — De quem é essa bola?
Do meu irmão. — Ela grita do quarto e eu solto a bola imediatamente a devolvendo para o lugar. Escuto o barulho da fechadura e abre a porta. Eu penso que não quero contato com nada que tenha a ver com , mas agora é tarde demais pra isso. — Agora você pode entrar.
Eu a sigo para dentro do quarto. está usando roupas simples, jeans e jaqueta, como eu. Ela senta de frente para a penteadeira cheia de luzes no espelho. Eu fico atrás dela com a mão nos seus ombros e me inclino até conseguir beijar a sua testa.
se você me fizer borrar o rímel eu juro que te dou um chute.
— Pra que essa produção? É a casa da sua mãe. — Pergunto sentando na ponta da cama, ficando de frente para o perfil dela.
— Mamãe se sente importante quando eu me arrumo para vê-la.
Deus, mulheres.
Eu apoio as mãos no colchão atrás de mim e fico quieto, apenas observando enquanto ela termina de se arrumar. Poderia ficar horas olhando para e admirando os seus expressivos olhos, um pouco mais claros que os meus, a suas maçãs do rosto elegantes, o jeito como o seu cabelo cai no ombro e o seu arco do cupido rosado em cima da boca que eu amo beijar. percebe que eu estou olhando e não sei se o rubor nas suas bochechas são reais ou maquiagem.
— Saia daí e sente direito. — ri passando algo na cara que eu não consigo identificar o que é, me tirando momentaneamente do meu transe de admirá-la.
— Por quê? — Minhas sobrancelhas se juntam.
— Você está me fazendo querer pular em cima de você.
— Não seria má ideia. — Meus lábios se curvam em um sorriso astuto e abro mais as pernas em um descarado convite, mas apenas me dá um tapa na coxa e continua se arrumando.
Eu levanto, desistindo.
— Essa porta sempre esteve aqui? — Aperto os olhos em direção à parede, tem uma arara com roupas penduradas escondendo o que parece ser outra porta. Eu afasto os cabides e as roupas deslizam revelando o corte de uma porta branca com “’s Room” escrito em tinta preta. — O que é isso?
olha para mim, ela se levanta e se aproxima me afastando pela mão antes que eu tenha a chance de abrir a maçaneta. Nesses momentos eu queria não ser tão curioso.
— Não! Aí não! Fique longe desse quarto.
— Por quê? O que tem aí? Um sex shop? — Pergunto entre risos e revira os olhos, sorrindo.
— Não. — Ela segura os meus ombros começando a me empurrar para trás. — Na verdade, é um closet de memórias, eu guardo aí adolescente cheia de sonhos e esperança, a jogadora de futebol realizada e a groupie depressiva e destroçada. Guardo as lembranças dessa parte da minha vida aí porque não consigo jogar fora. Então saia.
— Qual é a que eu conheço agora?
— A adulta que aprendeu a lidar com as coisas com mais maturidade.
— Porra, agora estou curioso. Queria conhecer todas. Sério mesmo que você não vai deixar eu ver?
se abaixa para calçar os tênis e em poucos segundos estamos saindo do quarto. Estou rezando para não ficar com isso na cabeça a noite inteira.
— Muito sério. Você não ia gostar de conhecer elas.
— Eu duvido. — Seguro a sua cintura roubando um beijo dos seus lábios que infelizmente é rápido.
— Você vai ficar com essa dúvida, meu amor. Agora vamos. — me guia da sala até a porta. Eu ia bufar de frustração, mas dou um sorriso de lado pelo apelido.
Nós entramos no elevador, eu encosto no espelho enquanto fica se encarando no reflexo com os olhos cerrados. Eu aperto o térreo no painel.
— O que foi?
— Acho que esqueci alguma coisa... — Sua expressão muda e ela abre a boca como se lembrasse e começa a mexer na sua bolsa. Eu entendo do que se trata quando ela tira de lá um tubo de batom.
— Por que você passa isso sabendo que eu vou borrar tudo depois?
Pergunto observando atentamente enquanto a cor vermelha tinge os seus lábios. me olha pelo canto dos olhos.
— Boa sorte esse aqui não sai nem fazendo força, só com água micelar bifásica. — Ela ri fechando o tubo e ficando do meu lado enquanto esfrega um lábio no outro.
— Eu vou fingir que sei o que é isso.
O seu braço enrola no meu e deixa um beijo na minha bochecha, certo de que ela tem razão.

🎡

A casa dos meus pais fica há alguns minutos do meu apartamento. O tempo até lá é rápido, mas o suficiente para eu explicar para o porquê de eles ainda morarem aqui em Londres. Achei fofo a preocupação dele de querer saber sobre isso, para não dar nenhuma bola fora durante o jantar com a minha mãe. Porém, não tem muito mistério, a minha mãe quer ficar perto de mim e de e o meu pai gosta da cidade. Eles vivem fazendo viagens de trem até Luxemburgo, como desculpa para visitar Paris, mas não sentem vontade de voltar a morar lá, apesar de a minha mãe já ter me perguntado se eu iria junto caso eles decidissem mudar para Bruges.
Minha situação é completamente diferente de já que eu não tenho mais nenhum clube me ‘prendendo’, eu conseguiria dar continuidade ao meu trabalho de lá, mas não sei se vejo mais a minha vida fora de Londres.
estaciona em frente a casa, eu uso a minha chave para abrir a porta com uma mão enquanto a outra está sendo apertada pelos dedos ansiosos dele. Meus pais moram em uma casa com estilo vitoriano, mas simples em questão de tamanho.
Eu entro primeiro e vem atrás de mim. Norby é o primeiro a nos receber se esfregando nas nossas pernas.
— Mãe? — Eu pergunto olhando ao redor.
— Estou indo, querida. — Ela grita e segundos depois aparece vindo da cozinha. Mamãe está bonita como sempre, ela veste um vestido branco longo e nas orelhas tem as argolas douradas que ela tanto gosta. Ela me recebe com um sorriso.
— Mãe, esse é o . , minha mãe. — Puxo para mais perto de mim, e fecho a porta. Sinto-me esquisita. Faz um tempo que eu não trago ninguém aqui em casa.
— Ah, finalmente! — Ela diz e olha para notando a presença dele.
— É um prazer, Sra. .
Ele beija a mão da minha mãe, ela sorri em resposta. Eu me abaixo para pegar Norby no colo e cumprimentá-lo de forma decente. Quando eu digo que esse gato é mais meu do que dela, não estou brincando.
— Não, nada de senhora, por favor! Me chame de Marina. — Mamãe ri sem graça e acena sorrindo.
— Certo, Marina.
— Vocês chegaram mais cedo do que eu previa, estou terminando de gratinar os presuntos.
Meu estômago se contorce. Gratinar presuntos significa que mamãe está fazendo Chicória Gratinada. Um dos meus pratos favoritos, o que é ótimo, já que hoje estava planejando pedir comida no delivery.
— Quer ajuda? — Eu ofereço.
— Não precisa querida, pode esperar com o na sala, eu chamo vocês.
A minha mãe volta para a cozinha e eu puxo até a sala com Norby no colo e vamos até o sofá.
— Qual foi a desse ‘finalmente’? — Ele cutuca a minha barriga. — Era pra eu me sentir intimidado? Pressionado?
Solto uma risada fraca e passo o dedo no seu rosto, tentando suavizar a linha na sua testa e deixo um beijo na maçã do seu rosto.
— Não liga pra isso, , a minha mãe é emocionada, e já faz um tempo que eu não trago ninguém pra cá.
— Ela é muito simpática, você acha que ela vai gostar de mim?
— Ela gostou de você antes de te conhecer. — Sopro lembrando da nossa conversa no Natal.
— Mesmo com o seu irmão me odiando?
— Eu e a minha mãe somos quase iguais, nós gostamos de tirar nossas próprias conclusões sobre as pessoas. — sorri para mim como se entendesse, mas depois sua expressão muda, para algo mais travesso.
Quase iguais… porque ela sabe cozinhar diferente de você, né?
— Ei! — Rosno dando um tapa no seu braço, mas isso não faz com que ele pare de rir.
— Foi tão engraçado, eu quase ri quando você ofereceu ajuda pra ela!
— Pare com isso! — Eu pulo em cima dele procurando os seus pontos de cócegas, se queria rir, iria doer um pouco.
— Você fica tão fofa quando está com raiva. — Ele segura os meus pulsos carinhosamente e rouba um selinho, mas isso não desfaz a minha cara feia.
— Se você continuar jogando isso na minha cara, eu vou jogar o Norby na sua e mandar ele arranhar todo o seu rostinho bonito.
Ameaço, tentando parecer séria e olho para Norby no meu colo. segura a parte de trás dos meus joelhos trazendo as minhas pernas para cima da dele. Ele se afasta momentaneamente, me dá um selinho e volta me beijar. É lento e ardente. Me sinto como labaredas em uma lareira dispendiosa. O problema de beijar é que eu nunca me contento com pouco e quero arrastá-lo para o quarto vazio mais próximo.
Faço um carinho na sua nuca enquanto suas mãos apertam a minha cintura me trazendo para mais perto. Penso em falar, mas falar vai quebrar o nosso beijo e eu não quero atrapalhar isso, mas outra coisa interrompe o nosso momento.
Beijar faz bem à saúde, principalmente beijar quem a gente ama. — Eu pulo de susto quando ouço a voz do meu pai e me afasto de rapidamente.
— Pai?! — Pergunto sem acreditar que ele está mesmo aqui. Ele está atrás de nós, parado, com os braços junto do corpo como se fosse um daqueles guardas da coroa britânica.
Papai me ignora e continua falando.
— Na verdade, no início do século XX havia a tuberculose, então as pessoas não se beijavam tanto. — Seu olhar desce da parede para nós dois e ele completa: — Mas vocês dois não me parecem apaixonados.
Finaliza e eu quero morrer. olha para mim, sem saber o que falar ou o que dizer. Eu não faço ideia do que o meu pai está fazendo aqui e não faço ideia de o porquê ele estar dizendo essas coisas. Não é essa a noite que eu estava idealizando.
Claro que eu quero que conheça o meu pai, mas não desse jeito, não com o cérebro dele contaminado com as mentiras do meu irmão.
— Achei que o seu pai não ia estar aqui. — Ele sussurra para mim enquanto papai dá a volta na sala, despreocupado, como se o que acabasse de nos dizer não fosse grande coisa.
— Eu também achei. — Sussurro de volta. Eu levanto indo até ele e acaba vindo comigo, ficando atrás de mim. O seu peito triscando nos meus ombros.
— Pai, o que o senhor está fazendo aqui? Achei que ia sair com os amigos do golf!
— Caiu do céu, senhor ?!
Eu vejo sorrir e chuto a sua canela de leve. Sei que está tentando brincar de descontrair o clima, mas agora essa é uma péssima ideia.
— É, mas errei o alvo, se não você não tava aqui de pé sorrindo. — O meu pai olha para ele com uma carranca tão feia que o seu sorriso some.
— Pai! — Eu o repreendo com os dentes cerrados.
— Onde está o seu senso de humor, querida? — Brinca e eu resmungo.
— Junto com o seu.
— Você mentiu pra mim, . — Ele acusa e eu reviro os olhos sem paciência para esse drama agora.
— Não menti, agora seja mais gentil o meu namorado. — Puxo o braço de entrelaçando com o meu e deitando a cabeça no seu ombro. tenta sorrir de novo e estende a mão na direção do meu pai.
— Eu sou o…
— Eu sei quem você é. . — Papai aperta a mão de e continua o encarando enquanto fala. — Eu assisto futebol.
, esse é o meu pai, a pessoa mais simpática do mundo como você pode ver. Vic .
— É um prazer.
— Você tem o aperto de mão igual ao do meu irmão. — Vejo tentar sorrir de novo soltando a mão do meu pai como se fosse um alívio.
— ...Obrigado?
— Isso não foi um elogio.
— Chega! — Decido interromper me afastando de e guiando o meu pai para o caminho da cozinha. — Pai, vai ajudar a mamãe na cozinha.
Ele resmunga e resiste um pouco antes de aceitar e ir até lá, mas acaba indo. O que eu acho ótimo, preciso de tempo para descobrir o que fazer a noite inteira durante um jantar com o meu pai e .
— Vamos esperar lá em cima, na sala de TV.
Decido e me segue pelas escadas. Se formos interrompidos novamente, pelo menos vamos ouvir o ranger dos degraus da escada.
— Desculpe por isso. — Suspiro e decido sentar no tapete, abrandando os joelhos. fica do meu lado com as pernas esticadas e percebo que Norby nos seguiu quando ele se acomoda nas coxas dele, enchendo o tecido preto do seu jeans com pelos de gato, mas não parece se importar. — Ignore o meu pai, ok? Ele não costuma ser assim. Ele tem a síndrome do filho primogênito e está cada vez mais biruta por causa da doença. Às vezes ele fala como se fosse um ex-soldado da segunda guerra, sendo que ele é de 68.
Ele ri pelo nariz. — Tudo bem, nem foi tão ruim. Tirando o fato de ele tentar me menosprezar o tempo todo, é até engraçado.
— Jura?
— Não. — arqueia as sobrancelhas momentaneamente e suspira. — Nem um pouco.
— Quer ir embora? A gente pode voltar outro dia. — Pergunto jogando o seu cabelo para o lado, sabendo o quão difícil é tentar agradar uma pessoa que não gosta de você.
— Não, ele vai achar que eu sou um covarde, e eu não sou. Sem falar que não vai ser justo com a sua mãe.
Eu aceno, mais uma vez apreciando o seu altruísmo.
Ficamos os próximos quinze minutos conversando distraidamente. me conta que quer fazer outra tatuagem, essa pelo título da Copa e eu o ajudo com ideias de como ele pode marcar na pele o seu primeiro título mundial. Pouco tempo depois, a minha mãe me manda uma mensagem falando para a gente descer.
A mesa está bonita, o cheiro da comida melhor ainda, mas a presença do meu pai não ajuda. Eu olho chateada para mamãe, porém o jeito que ela suspira indica que ela também não sabe o que o meu pai está fazendo aqui e que mal viu quando ele chegou.
O início do jantar é difícil, mamãe está animada, mas papai mal deixa falar, sempre o cortando com algum comentário de escárnio. Se está se sentindo incomodado, eu estou dez vezes mais, mas não é como se eu pudesse expulsar o meu pai da sua própria casa. Pelo menos não está aqui. Isso, sim, seria um verdadeiro desastre.
Estou tentando manter a conversa leve, falando das nossas famílias, férias, hobbies. parecia genuinamente interessado no que a minha mãe falava sobre a sua paixão por cozinhar e dos jardins que ela gostava de cuidar, mas não há caminhos fortes o suficiente que desviem o assunto do futebol. Ainda mais em uma família como a minha e namorando o cara que eu namoro.
— Então, , como foi ser campeão mundial? — Mamãe pergunta sorrindo, ela parece ter tanto orgulho como eu senti no dia e isso aquece o meu coração.
— Foi…
começa, mas é rudemente interrompido pelo outro homem entre nós.
— Foi roubado. Como o primeiro título. Poderiam fazer um DVD com os jogos e botar no museu britânico, lá é cheio de coisas roubadas.
Eu quase engasgo olhando para o meu pai e a sua tentativa de provocá-lo, mas não parece afetado.
— Eu não posso responder pelo elenco de 66, mas ganhamos esse título com a mais nobre honra e integridade. — Seguro um sorriso, feliz com a sua resposta contida, mas inteligente. Bater de frente com o meu pai só vai piorar tudo, é exatamente isso que ele quer.
— Como você explica uma sequência de atuações ridículas resultarem em um título mundial sem levar em conta fatores externos? Não faz muito sentido para mim, pra você faz, Sr. ?
— Pai, por favor!
Eu fuzilo o meu pai com os olhos enquanto ele cruza os braços e relaxa na cadeira. apenas franze o cenho, mantendo a voz calma.
— Ridículas?
— “Ridícula” não pretendia significar “má”. — Ele desdenha. — O que torna a seleção inglesa ridícula a meus olhos é o abismo entre o grau de cagança com que se apresentam e a performance. Toda. Santa. Vez. — Papai balança a cabeça negativamente e eu vejo o maxilar de travar. — Inclusive, mande um abraço para os nossos amigos da Dinamarca, acho que eles concordam comigo.
O meu pai pisca para com um olho só, tal falsamente e a sua voz está afogada em ironia. Estou prestes a falar para acabar com isso, quando se inquieta do meu lado. Eu olho para os seus punhos cerrados e a minha garganta fica seca.
— Respeito a sua opinião, senhor , mas acho que você está um pouco equivocado. Os jogos contra a Argentina em 86 e a Alemanha em 2010 mostram que a moeda gira para os dois lados. — É a vez de piscar e eu solto o ar que nem sabia que estava segurando.
O meu pai arregala os olhos por um momento e a risada que ecoa da sua garganta é estridente.
Eu afasto o meu prato, sou incapaz de comer mais nada, mas adotar uma postura é algo que eu sempre vou conseguir fazer.

🎡

Pour l'amour de Dieu. — O homem na minha frente resmunga em francês e a partir daí eu não entendo mais nada.
Deus sabe o quanto eu queria ter rebatido de outra maneira quando ele citou a Dinamarca, se referenciando a Eurocopa, ainda mais porque aquele jogo com a Itália foi um jogo que me marcou muito. Foi meu primeiro torneio oficial com a seleção principal e eu lembro que depois do jogo eu estava chorando para caramba. Ali eu percebi que você sofre como jogador e torcedor, é uma mistura de emoções muito grande.
Porém, eu sabia que se fizesse isso, jogasse mais lenha na fogueira que o pai dela estava fazendo, não iria gostar, e para passar por essa noite eu preciso dela do meu lado e não contra mim.
Très bien, ça suffit, papa! Je ne veux plus que tu parles à mon petit ami comme ça. Il ne vous a donné aucune raison de le traiter de cette façon. se altera do meu lado. Ela suspira e eu nunca vi o seu rosto tão sério.
C'est impossible, , que tu sois vraiment intéressée par ce type.
— Tu parles que je le suis, que tu le veuilles ou non.

Eu olho para os dois discutindo como se estivesse em uma partida de tênis até o pai dela decidir incluir Marina na conversa.
Allez, Marina, dis-lui.
— Je suis d'accord avec , chérie, arrête de faire ta rabat-joie.
— A mulher diz com uma voz mais aveludado e menos agressiva o que eu acho bom, pelo menos a forma que ela olha para mim é bem acolhedora, apesar de eu não entender uma palavra do que eles estão falando.
Il n'est pas fait pour toi. — O pai de desdenha e ela rebate imediatamente.
Tu ne le connais même pas.
— Será que vocês podem, por favor, parar de discutir na minha mesa? — Graças a Deus, Marina volta com o inglês, e interrompe a discussão e olha feio para o marido sentado do outro lado da mesa. — Vic pelo amor de Deus, tenha modos!
Ele não parece se abalar, já tem os braços cruzados em cima da mesa e os olhos caídos. Acho que eu nunca a vi tão chateada. Sinto que ela está prestes a chorar, mas não cai nenhuma lágrima.
Segundos depois, ela finalmente olha para mim e levanta. — , vamos embora.
Quero perguntar o que está acontecendo, mas o jeito que o pai dela me olha me diz que é mais sensato apenas levantar e fazer o que ela diz.
Nos despedimos da mãe dela brevemente e agradecemos pelo quase jantar antes de sair pela porta e ir em direção ao carro.
— Podemos ir pra sua casa? — pergunta na minha frente sem parar de caminhar e respondo destravando o carro.
— Claro.
Estou frustrado. Por não saber o que aconteceu, eu não sei o que fazer, e eu odeio não saber o que fazer.
— Ele vai pagar caro por me fazer perder a sobremesa. — reclama quando já estamos no carro colocando o cinto. — A minha mãe fez Kerststronk, a última vez que comi isso foi no Natal!
Olho para ela uma última vez antes de dar a partida no carro. Não consigo esperar chegar em casa para perguntar, ainda mais quando tenho certeza que os motivos dos seus resmungos exasperados não são por uma sobremesa.
, o que diabos aconteceu lá?
Ela suspira pesadamente antes de responder e eu ligo o pára-brisa quando começa a chover do nada. O clima de Londres sempre é ironicamente maravilhoso.
— Desculpe por isso, eu queria que ele parasse de falar e troquei o idioma pra te deixar menos desconfortável. Você não merecia ouvir aquilo.
— O que ele disse?
— Não importa.
A expressão no seu rosto não é nada boa e eu não insisto porque agora eu acho que não quero saber o que o pai dela falou.
Aperto o volante e fixo o olhar nas ruas de Londres, apesar da chuva atrapalhar. Estamos passando na ponte sobre o Tâmisa quando eu quebro o silêncio.
— Ele me odeia muito. — Tento rir fazendo daquilo uma piada para quebrar esse clima tenso.
Começo a pensar no que ela disse sobre não passar feriados, festas, aniversários com a sua família era algo sério, e bem, na minha cabeça não devia ser assim. Não parece certo. Eu não quero ver brigando com todo mundo que ela ama por causa de mim.
— Ele não te odeia! Só está alienado. — No início, a sua voz é estridente, mas depois fica suave conforme ela busca a minha mão e aperta os meus dedos. — É impossível te odiar.
— Você odiou. — Acuso com um meio sorriso e uso a embreagem para mudar de marcha.
— Eu também estava alienada. — Rebate e eu também rio. — Sabe… — muda de assunto e sinto sua mão subindo pelas minhas omoplatas até a minha nuca, onde as suas unhas raspam graciosamente o local. É tão bom que se não tivesse que focar na rua, eu viraria o pescoço. — O meu pai não é tão ruim quanto parece.
— Hm. — Murmuro ceticamente.
— É sério, tudo bem se você não acredita, mas ele vai dar o braço a torcer uma hora. Do jeito dele, mas vai.
Há esperança nas suas palavras, mas não sei se consigo sentir o mesmo, e aquela sensação ruim de insegurança me perturba de novo.
— Você vai esperar por isso? — Indago voltando a segurar o volante com as duas mãos. Consigo sentir os olhos dela me perfurando e sua voz sai mais baixa do que antes.
— O que quer dizer?
— Você sabe o que eu quero dizer.
Dou de ombros e de relance vejo se mover no assento, como se quisesse ficar de frente para o meu perfil.
— Você acha que eu te largaria por causa do meu pai? — Não tinha calculado o quão horrível seria ouvir isso em palavras acuradas e quase me sinto enjoado. Não respondo deixando a aflição e o receio se misturarem com o ar quente do aquecedor e ela continua. — É aquela coisa sobre querer e precisar. Eu quero a aprovação dele, mas eu não preciso dela, . Nem da dele, nem da de ninguém.
Admiro o jeito que ela fala, tão firme, tão inabalável, com tanta certeza no que acredita e segue isso fielmente. Eu quase sorrio porque, essa é a minha , e ela não pode ser igual a ninguém. Me sinto sortudo por conhecer esse pedaço da sua personalidade, é um pedaço que fez com que eu me apaixonasse por ela, porém ainda não sinto como se tudo estivesse perfeito.
— Você está chateada.
Afirmo e acho que não vou sossegar enquanto não vê-la radiante, mas isso não reverbera positivamente em .
— Claro que eu estou chateada! E o fato de você querer terminar comigo antes que eu termine com você, achando que isso vai nos impedir de sofrer, não ajuda. Acho que eu já vi esse filme antes, e eu não gostei do final.
O seu estado emocional se altera em um nível e o sinal vermelho vem na hora certa quando eu freio.
— O quê!? Eu não quero terminar!
O seu rosto impassível me deixa ansioso, mas é aquela ansiedade que parece te corroer. Estou sendo 100% sincero quando falo essas palavras, contudo eu estaria mentindo se dissesse que às vezes não penso que seria a coisa mais certa e fácil de se fazer.
Mas aí que estão os desafios da paixão, não existe nada fácil. O amor não te entrega nada de mão beijada, ele é egoísta e te coloca a prova. Para usufruir de todas as suas regalias você precisa lutar e ceder.
— E por que parece que quer?
Encaro profundamente as suas íris tentando me conectar com ela. O âmbar dos seus olhos parecem mais escuros e profundos e odeio o lugar que estamos. Não devíamos ter essa conversa em um carro, não em um espaço que me impedisse de prendê-la no meu abraço e eliminar qualquer resquício de dúvidas.
— Eu não quero, . Só estou preocupado porque não gosto de te ver brigando com quem você ama por causa de mim.
O sinal verde me faz acelerar e parar de olhá-la. Sinto necessidade de acelerar só para chegar mais rápido.
— Eu sei que não dá pra evitar ficar inseguro às vezes, mas você precisa acreditar em mim quando eu disser que está tudo bem. Você não lembra o que eu te disse naquele dia, ?
— Lembro. — Respondo rápido porque não é difícil buscar no meu cérebro aquelas palavras. Foi no ano novo.
Só desista de nós se você não gostar de mim.
Eu guardei elas porque são importantes para mim. Não são só palavras, elas eram um pedido de respeito de pelos meus sentimentos e pelos dela. Se diz que sou altruísta, ela tem tanto altruísmo quanto.
— É o caso nesse momento? — Sua pergunta vem com um leve arquear das sobrancelhas.
— Não! Não é o caso. — Respondo apertando a região um pouco acima do seu joelho.
— Que bom, então estamos bem.
segura o meu antebraço e se inclina levemente até conseguir deixar um beijo na minha bochecha.
Dirigir mais rápido não parece mais tão importante quando está tudo confortavelmente bem aqui.
E eu acredito nela. Eu acredito em nós.

🎡





Continua...



Nota da autora: Veio ai uma att duplaaaa como eu amo, se pudesse so atualizava duplasmente 💗 me digam se vcs estão gostando da continuação, amo tanto esse casal e não troco ele por nadaaa e nem vcs que comentam sempre 💗



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