Finalizada em 03/04/2021
Music Video: Nothin' - EXO-SC

Capítulo Único

Eu não me importo agora
Não estou com medo agora
Esvazie seu copo agora
Estou com a cabeça limpa agora, sim
Meu humor já está no topo
Ele aumenta sem razão
Avise-os que nunca irei embora
Nothin’ – EXO-SC


A comoção é algo pouco exemplificado para terceiros. No dicionário está registrado como um substantivo feminino, tendo como significado um abalo físico ou uma emoção forte e repentina. Se fosse necessário explicar para alguém o que é estar comovido, com certeza diria que aquele caminho que estava fazendo em direção ao galpão, que por anos lhe serviu como refúgio, era um ponto de partida para a teoria didática sobre isso. As mãos eram firmes no acelerador e suavam como se fosse seu corpo derretendo em ansiedade.
Voltar para o interior depois de um certo tempo longe de casa, longe de sua família, da cidade em que cresceu, dos amigos e dela, fazia ter receio sobre o que encontraria quando chegasse de surpresa na pequena e pacata cidade com menos de quatro mil habitantes. Acabou por ser tranquilo o primeiro contato com os locais, e a sensação de ser acolhido por seus conterrâneos algo muito agradável. Exceto pela parte curiosa por não ter encontrado durante aquele dia que, mesmo mal tendo pisado na cidade, passou andando pelas ruas e fazendo visitas aos locais que adorava.
Soube por algum ou outro que ela estava estudando na cidade vizinha, ele logo imaginou que fosse o curso dos sonhos dela: arquitetura. Infelizmente aquilo ficou apenas em sua imaginação durante o dia, visto que ela não apareceu – apenas o reforçando a necessidade de ter forçado manter contato com ela. Mas o que podia fazer se dois anos antes ele não tinha maturidade suficiente para compreender que a ligação que possuía com era totalmente verdadeira e algo que ele gostaria de manter para sempre?
Talvez ainda não fosse um homem completamente evoluído intelectualmente para compreender muitas coisas, mas já era grato o suficiente pelo o que tinha conquistado e reconhecia a saudade que sentia da .
Era uma saudade genuína, diferente da que sentia por sua família e amigos, era algo mais único. E, pensando bem sobre isso, era compreensível. Cresceram juntos, moravam lado a lado, estudaram na mesma escola, faziam o mesmo caminho e numa situação eventual, acabaram por misturar o desejo carnal na amizade; não chegou a ser um erro. Inclusive, era algo que e não se preocupavam de fato.
Não era como nos filmes que os dois melhores amigos usufruíram da amizade colorida e no final acabaram se apaixonando e se afastaram – ou o final feliz sobre eles ficarem juntos, que neste caso poderia ser uma alternativa futura. Não, os dois possuíam aquele sentimento genuíno de atos conscientes, apesar de todo o afeto, não sofreu com a decisão dele de ir embora para seguir a carreira como fotógrafo que tanto sonhara, e muito menos ele sofreu com a ideia dela de permanecer na cidade pequena, com sua vida da forma como era.
As ambições distintas não foram um problema. Sequer havia um.
Era apenas a saudade mesmo. Da risada, da voz, do corpo, da companhia…
E ver na boate, a única da cidade, aliás, dançando com Han e se divertindo com ele como se o mundo não existisse, apenas acentuou o sentimento da falta que ela fez. viajou boa parte do mundo no período que esteve fora, conheceu muitas pessoas, ganhou muito dinheiro, fez seu nome e conquistou lugares. O sentimento de posse nunca lhe caiu bem ou lhe apeteceu, então se tornava repetitivo dizer que aquela comoção causada por era pelo todo que ela significava em sua vida somado a saudade.
O caminho até o galpão foi feito em poucos minutos e não pela curta distância, mas pela velocidade que a moto de rodou pelas ruas, consequentemente à sua mão pesada no acelerador. Ao chegar fez como sempre: abriu a porta, já acostumado com a dificuldade de puxá-la para cima por seu peso e falta de lubrificante, entrou com a moto e depois abaixou novamente. Era seu momento de relaxar e ficar tranquilo em seu lugar favorito.
Inclusive, era a primeira vez que ia àquele lugar desde que retornara e estava se preparando para reviver as sensações em sua memória das quais foram geradas por estar ali.
Não era um lugar muito requintado, mas era bom. Tinha uma cama pelo motivo dele sempre se perder nos horários ali e insistir para que colocasse algo em que pudesse dormir confortavelmente – além de todo o conforto para quando acabassem na parte colorida da amizade. O maior foco ali era para a área em que ele revelava as fotos tiradas, desde a época adolescente até a fase inicial da vida adulta, antes de encontrar o emprego dos sonhos com uma agência de fotógrafos. Tudo era esteticamente organizado para que fosse o ambiente propício para ele exercer seu hobby e profissão, desde o local tranquilo até a iluminação escura.
jogou o capacete em cima da cama e acendeu a luz, sendo iluminado pela cor vermelha intensa, agradecendo mentalmente pela lâmpada que ainda estava funcionando. Caminhou pelo local reparando que tudo estava em seu devido lugar, até parar de frente com o mural de fotos que tinha ali, era uma parede enorme com todas as suas recordações que um dia fizera questão de revelar e pendurar. Se lembrava de o ajudando sempre, fosse por ser sua modelo ou ajudar a revelar as imagens ali mesmo, de forma “caseira”.
E por falar nela, o pensamento pareceu tão sincronizado, por não passar despercebido a forma como tudo estava limpo sem poeira ou cheiro ruim, com o cheiro do perfume dela. Tão forte que parecia que ela estava ali.
E estava. Trazendo-o de volta para a realidade, o barulho dos saltos dela colidindo com o chão denunciou sua presença.
– Espero que não fique chateado por eu ter limpado e mantido tudo organizado.
A voz dela o fez se virar, justamente a tempo de vê-la jogar o próprio capacete na cama, para o mesmo destino que o dele levou quando chegou ali pouco antes.
– Como você-
– Eu tenho a chave, . – revirou os olhos, sabendo a dúvida que ele iria proferir. Além de o conhecer tão bem, ela sabia que aquele vinco em sua testa era o de confusão.
Ele apenas umedeceu os lábios, afirmando positivamente. Era estranho ele não saber exatamente o que dizer, ou como dizer.
– Mantive tudo no lugar – continuou, caminhando em direção a mesa, ao lado direito de onde estavam. – Até mesmo esse rolo que você nunca revelou.
Ela se virou novamente para ele, mostrando o rolo de filme fotográfico. O sorriso em seus lábios passava uma tranquilidade comum para e o seu peito devagar começou a se acostumar com a situação, reconhecendo que não eram dois estranhos e, caso estivesse certo sobre isso, não havia nada de diferente entre os dois. – Nossa, esse é o daquela-
– Sim! Da última vez que fomos à fazenda do seu tio e você me jogou naquela piscina de lama.
Falante. era extremamente falante e ele gostava disso. Sempre apreciou os monólogos dela, outra característica da mesma que o fazia se sentir confortável.
– Acho que não consigo mais revelar, deve ter perdido totalmente a cor. – disse, aproximando-se dela.
– Achei que se estivesse bem guardado, duraria algumas décadas – ouviu ela dizer um tanto duvidosa e decepcionada.
– Dura, mas depende muito. – A encarou. – Quer tentar?
– Enquanto você me conta sobre seus dois anos sumido pelo mundo? – sorriu de lado, novamente o transmitindo uma tranquilidade. sorriu de volta, porém de lábios fechados, e concordou assentindo. – Muito bom, porque eu quero saber de tudo !
Ele riu fraco, vendo-a tirar a própria jaqueta jeans e jogar para qualquer canto ali. Olhou em volta, lembrando-se do capacete dela e se preocupou em onde estaria a moto, pois a julgar pelo horário, mesmo que fosse uma cidade a qual todo mundo conhecia todo mundo, era perigoso dar mar para o azar. Muitos trombadinhas vinham de cidades maiores da região para tumultuar por ali.
– Cadê sua moto? – perguntou, ganhando a atenção de novamente.
– Lá fora, por que? – Ela respondeu com outra pergunta, colocando as mãos na cintura.
– Não acha perigoso? Cadê a chave para colocar aqui dentro?
– Não é perigoso – revirou os olhos. – Você sabe, ninguém se mete com a filha do delegado.
, isso é de quando tínhamos quinze anos e achávamos que a vida era um velozes e furiosos.
A feição de tédio dela não durou muito, logo caindo na gargalhada e ele a acompanhando. Ela o jogou a chave e ele pegou no ar.
– Consegue abrir o rolo? – perguntou indo em direção à porta.
– Sim, senhor!
Enquanto trazia sua moto para dentro, fazia o que ficou encarregada de fazer, sentindo a maior satisfação por estar na presença dele e poderem passar aquele tempo juntos. Ela sentia falta dele – e sem saber que possuíam essa igualdade na ausência um do outro, até porque mesmo que pela ordem ele tenha ido embora, estarem separados causava a exiguidade para ambos os lados.
Não demorou para que o barulho da Harley Davidson Dyna dela ecoasse no galpão, procedendo o da porta se abrindo e depois se fechando, o vermelho da pintura se camuflando pelo vermelho da iluminação.
suspirou, sentindo a coceira tão conhecida em seu corpo. Ela adorava ver de capacete e em cima de uma Harley Davidson, principalmente quando usava uma jaqueta de couro preta, jeans apertado e pouco desfiado nos joelhos, com o cabelo e aquele peso nos ombros de “eu não tenho nenhuma preocupação na vida”. Era óbvio que ele tinha, eram adultos e haviam os detalhes da vida para lidar no dia-a-dia, mas a questão era que ele lhe passava tanta segurança e conforto, desde a infância, que ela pouco se preocupava com outras coisas.
Ou se preocupava, mas sem fazer disso uma religião.
– Então vamos? – Ele perguntou ao descer da moto, vendo que ela encarava sua direção.

– De jeito nenhum você foi em um baile… como é mesmo?
– Funk, baile funk. – repetiu, terminando de colocar o produto químico revelador dentro do recipiente respectivo.
– Isso! Eu não acredito que você foi em um baile funk no Rio de Janeiro. – Ela repetiu a indignação. – Han me contou que é algo de cair o queixo e bem libertino.
– Libertino é pouco na verdade.
Ela apenas negou com a cabeça, tentando imaginar as coisas das quais o amigo Han havia lhe contado sobre sua experiência em uma visita ao Brasil, em mix com o que estava ouvindo de . Enquanto pensava, observava a movimentação dele, às vezes bebendo sua cerveja direto da long neck, às vezes usando as duas mãos para aquele trabalho cauteloso com a revelação.
Todo o passo a passo mais específico da revelação foi feito por em silêncio e nesse meio tempo se jogou na cama, encarando o teto vermelho. Perdeu um bom tempo ali, olhando aquela cor vermelha refletida pela lâmpada, se sentindo um tanto nostálgica sobre o que um dia já fez naquele lugar, naquela cama. Agora lhe restava apenas as lembranças e admirar o perfil dele concentrado no que estava fazendo, uma estética completamente satisfatória para ela.
Era incrível como ela conseguia se sentir uma pessoa normal, tranquila e sem preocupações excessivas estando com ele. Em seu histórico com , não tinha clima ruim e muito menos cobranças sobre sentimentos ou coisas como “o que fazemos agora?” depois de um tempo juntos.
Ela não se sentia sendo cobrada e a sensação era de liberdade. O que havia sentido saudade, inclusive.
– Eu não fiquei triste que você não me ligou pra me contar sobre sua passagem no Brasil, as fotos que conseguiu tirar na Patagônia ou sobre as loucuras cometidas em sua curta passagem por Vegas. – Mal se deu conta de quando iniciou, parando para respirar e perceber isso somente quando ele se virou completamente para ela, prestando atenção em suas palavras. – Mas eu senti sua falta, – completou, virando o corpo de lado, apoiando a cabeça na mão com o braço sendo sustentado pelo cotovelo dobrado.
Levou alguns segundos para que ele se esquivasse da dúvida quanto ao tom de e percebesse que ela não estava o cobrando de nada, apenas lhe dizendo o que sentia, que era o mesmo dentro dele.
– Também senti sua falta.
– Nós crescemos juntos e criamos essa amizade inabalável. – sorriu com os lábios fechados. – Você poderia ter me mandado uma mensagem, ou algo do tipo, sinal de fumaça talvez? – forçou um riso frouxo. – Eu não entenderia que sua intenção era de tentar alguma coisa a distância. Achei que tínhamos claro sobre esse lance.
– Mas você também poderia ter me mandado algo, . – sentiu o vinco em seu cenho se formar sozinho, mas não se esquivou.
Era uma via de mão dupla, certo? Da mesma forma que ela esperava algo dele, ele poderia esperar dela. Mesmo que não estivessem de fato esperando – ou estavam?
– Não foi eu quem foi embora. – Ela rebateu, voltando o corpo de forma reta no colchão, mantendo-se sustentada pelos cotovelos, encarando o teto.
Na sua concepção, tinha decidido ir viver a vida livremente pelo mundo com a profissão que escolheu. Sob o apoio de todos que eram próximos a ele, incluindo ela. Para , o interesse de se manter próximo a quem ficou, deveria ser dele – ou ela estava equivocada e deveria ser uma entrega dupla, inclusive, em sua mente naquele momento veio a dúvida do que de fato tinham para entregar um ao outro?
Ela estava significando ou ressignificando o que disse sobre achar terem deixado claro sobre o lance que tinham criado?.
– Eu não fui embora, . Eu fui trabalhar. – Ele deu um passo, ignorando o tempo de retirar os itens que estava cuidando e levando a mão até a pilastra no caminho lateral.
bufou, agora se sentando na cama.
– Olha, escuta – passou a mão no rosto. – Não estou te cobrando nada-
– Não é o que parece.
Ela virou o rosto para a direção dele e o encarou diretamente nos olhos.
– Você quer falar sobre o que parece, então? Porque mantém essa postura de não se importar e não querer um compromisso quando sequer olhou para meus olhos ao me ver com o Han na boate – despejou, lembrando-se como viu as costas dele caminhando na direção da saída, depois de uma amiga lhe dizer que havia o visto encarando-a com Han na pista de dança.
perdeu um pouco do compasso de seu batimento cardíaco. Parecia um jogo de bingo e sentia como se ela tivesse encontrado o número final da cartela, descobrindo o maior receio dele.
Gastou muito tempo de sua vida se dedicando à amizade, àquela comoção que o causava sem que ele ao menos reclamasse ou pedisse para parar. Muito porque gostava, além de ter certeza de não ter a chance de encontrar em nenhum lugar do mundo alguém que o compreendesse como ela. Pelo menos ele acreditou nisso até ela despejar aquela última sentença nele.
– Eu já estava de saída – resolveu mentir, mesmo que não precisasse, porque não sabia mesmo de fato qual foi o sentimento que o fez sentir aquele ciúmes. Não era algo consciente, provavelmente.
– Claro, chegou, deu meia volta e já saiu. – Ela riu, desta vez uma meia gargalhada. – Você esquece que nós dois praticamente nascemos grudados, .
– Eu não compreendi ainda a qual ponto você tá querendo chegar, .
– O ponto em que você assume ter sentido minha falta apenas no momento que chegou aqui, assim como eu, que só senti quando soube pela sua mãe que você viria. Ontem, aliás. – Ela disse e se levantou, indo até a jaqueta perdida. – Nós não saímos dos filmes de Hollywood, estamos aqui com os pés bem firmes no chão da realidade. Eu não sou apaixonada por você e muito menos fiquei te esperando voltar, não nesse sentido – fez uma pausa, ajeitando a peça de roupa no corpo. – Como eu disse, achei que tínhamos isso bem resolvido. Só que você colocou isso ralo abaixo com essa mania de “não me preocupo”, achando que eu seria uma Polly Hetfield que iria te mandar mensagens todos os dias antes de dormir e na hora de acordar.
Ele apenas prestava atenção no que ela dizia, sentindo-se besta por ter deixado que seus pensamentos fossem bagunçados por sua falta de feeling ao interpretar o que ela, uma pessoa que ele tanto conhecia, estava dizendo e expressando. No fim, o pensamento inicial era certo, ele não precisava mesmo se preocupar com , ela o compreendia e se sentia da mesma forma, e a amizade era mesmo o que os mantinham juntos, fosse pela parte convencional ou a colorida.
Não era como se ela fosse o obrigar a algo que ele não queria, justamente por conhecê-lo.
havia sido apenas um idiota por se perder na própria linha de raciocínio.
E Polly Hetfield realmente era um trauma de caso eventual em sua vida.
...
A chamou, vendo-a pegar o capacete em cima do colchão, caminhando apressada até a moto.
– Sabe, eu vim pra gente conversar, porque eu realmente sou sua amiga e queria te ouvir contar sobre essa fase da sua vida, a primeira da qual eu não estive presente e só poderia tomar conhecimento pelas palavras proferidas por você.
– Você não precisa ir embora. – Ele insistiu, já ao lado dela, que havia tomado seu lugar na moto.
– Mas eu também queria te contar sobre meu estágio com o arquiteto mais renomado da nossa região, como a faculdade tem sido um porre e no fim, somente no fim, cair naquela porra de cama com você. Fazendo sexo, . Sexo por sexo, sabe?
Monólogos. e seus monólogos. O que o fazia se perder em admirar como ela ficava linda quando os executava, porque estava brava em sua maioria, e ela brava conseguia ser extremamente encantadora.
– Você está sorrindo, ! – Ela esbravejou, parando com o capacete no meio do caminho.
– Sim, porque estamos sendo dois idiotas. – E ele tirou o objeto de sua mão, jogando em direção a cama, mantendo o olhar fixo no dela.
– O único idiota aqui é você. Confundindo tudo, como sempre. – O respondeu mais baixo, abaixando a guarda.
– Eu esqueço às vezes que estamos na mesma frequência. Me desculpa.
Desta vez foi quem umedeceu os lábios, mordiscando a bochecha por dentro. Ela cruzou os braços, continuando a encarar o olhar dele.
– Você esquece de muitas coisas, . Já me acostumei. Além de fofo e desastrado, esquece quem somos.
– Não, eu nunca esqueci quem você é.
– E quem eu sou?
– Minha melhor amiga e a melhor tela para eu pintar.
Qualquer pessoa que ouvisse essa parte do diálogo deles ficaria sem compreender o que a fala de significava. Mas compreendia muito bem; em um diálogo antigo ela lhe confessara que tinha com as amigas um código sobre quando sairia com alguém afim de sexo ou iria praticar, que seria dizer “vou colorir”. dizia que ele era quem coloria com ela, porque não só na transa, mas na vida, era seu arco íris. E sua melhor amiga.
– Até o dia que você conhecer alguém.
– Enquanto eu não conheço, por não estar procurando, a gente continua nossa coleção. Pode ser? – disse mais baixo, como se não quisesse que os ouvissem, descruzando os braços dela.
estava de costas para a moto, apoiada, mas sem jogar todo o peso de seu corpo ali e ele estava em sua frente. Mesmo com os saltos que usava, ela ainda precisava erguer um pouco o rosto para encará-lo. E assim o fez quando se aproximou mais, cortando toda aquela distância.
Os olhares ainda eram fixos um no outro, os lábios dela estavam à altura da mandíbula dele e podia sentir o calor da proximidade da pele. levou sua mão direita até o pescoço dela, do lado esquerdo, fechando ali na curva exata, fazendo com que sua palma pegasse a extensão dele e o polegar pressionasse a bochecha dela. Aquela sensação de toque macio ao senti-la embaixo de si, era completamente única.
Foram segundos, mas a contagem deles, influenciada pela intensidade, pareceu durar horas. Talvez milênios. A química que possuíam era a culpada total por aquela intensa e forte tensão que pairava sobre os dois e, claro que, a saudade fazia o respaldo. Os lábios se chocaram, em harmonia, sincronia e total desejo. A única paixão que tinham era pelo respeito um com o outro e quando o beijo lento já não parecia mais o suficiente, o ritmo foi aumentando, a mão livre foi em direção à cintura de e nesta sequência teve ela completamente fechada em seus braços, colada em seu corpo.
Em um certo momento o ar se fez faltar, os beijos então partiram para o pescoço de , o colo, enquanto ela tirava a jaqueta de couro pesada dele e em seguida se livrava da própria. Ele demorou com os beijos no colo dela, aproveitando o decote da regata branca, e ela cravou os dedos entre os fios dele, se deliciando com a sensação dos lábios contra sua pele. Os apertos de em sua cintura com certeza deixariam marcas, mas era algo que ela nunca havia se preocupado ao tratar-se dele. Ela permitia e não se importava.
Não demorou para a necessidade aumentar e, naquele momento, nenhuma preliminar seria necessária, eles poderiam tratar disso em outra rodada. O clima era de preenchimento e a sintonia era tão forte que ambos compartilhavam da mesma certeza. Se afastaram apenas para tirarem as camisetas e se preocupou em abrir o jeans dela enquanto ela fazia o mesmo com o dele, ao mesmo tempo que tirava os próprios saltos, os empurrando para o lado. Estavam quase despidos, as calças encontrando o mesmo rumo que as peças superiores, ele tendo o vislumbre do corpo dela coberto apenas pela lingerie rendada e ela do corpo definido dele, com a peça íntima preta escondendo o volume que já se formava.
Novamente os lábios se reencontraram, desta vez com mais necessidade que o início da anterior. As mãos dele caminharam diretamente ao sutiã dela, abrindo o fecho nas costas sem muita dificuldade e liberando os seios para seu prazer - e o de também, obviamente. Arfar não foi algo inédito, mas a cada vez que ele a ouvia, enquanto se ocupava de estimulá-la naquela região, parecia que seu corpo respondia de forma diferente.
… eu preciso de você, não aguento joguinhos. Não agora.
– Não agora. – Ele a respondeu, depois de erguer o rosto, compartilhando do mesmo desejo.
Agachou-se, tirando a calcinha dela, fazendo a peça deslizar pelas pernas de como se fosse simples e movido apenas pela força de um pensamento. Ao se levantar novamente, levou sua mão direto para a região íntima dela, sendo cordial ao primeiro toque, massageando a região de prazer feminino. O gemido que ela soltou, assim que os lábios se grudam novamente, causou uma corrente elétrica no corpo dele, o guiando para deslizar dois dígitos para dentro, devagar e delicado, para que ela sentisse o prazer prévio de ser de outra forma.
...
– Shh… – A calou com um beijo.
Se afastar e parar o vai e vem lento de seus dedos não foi tortuoso só com , mas com ele mesmo também. Mas era necessário, precisava buscar um preservativo para seguir até a próxima etapa. Ela compreendeu e quando ele retornou, teve seu corpo virado no lugar, por ele, para que se debruçasse no assento largo e acolchoado de sua Dyna.
Um tapa lhe foi desferido na nádega direita, seguido de um aperto e do som do pacote sendo rasgado. Não levou mais de trinta segundos para que sentisse o corpo de debruçar-se em cima do seu com cuidado, sentindo o membro protegido dele roçar sua entrada. A respiração falhou e todos os pelos do corpo se eriçaram não só com esta proximidade, mas com a mão direita dele passeando por suas curvas com tanta destreza, até se alcançar e posicionar-se para penetrá-la.
Para , comoção poderia ser descrita como a sensação física ao estar com , cercado pela emoção forte e repentina pelos hormônios da felicidade que o preenchiam quando estava com ela ou dentro dela.
Era o pacote completo.
… – tentou, mas o gemido foi cortado quando ele aumentou um tanto a mais da força e velocidade em seu quadril.
Não estavam se preocupando com uma eventual queda da moto, até porque a mente divagava no prazer, não na realidade de situações caóticas.
O corpo dele deixou de estar debruçado contra o dela e a mão que caminhou pelas curvas, agora era firme embolada nos fios de cabelo, enquanto a outra apertava o seu quadril, ajudando a ritmar os movimentos dos corpos se chocando.
Era uma visão satisfatória, principalmente pelo conceito mais intimista com a iluminação vermelha. O que levou a o desejo por levá-la até a cama e terminar essa primeira fase num ritmo mais tranquilo, ainda fora do convencional.
Se afastou por completo e a puxou contra si, virando-a de frente e tomando seus lábios mais uma vez. Os braços serviram como suporte para que pegasse impulso e rodeasse as pernas no tronco dele, sendo levada até a cama e colocada em cima do colchão com todo o cuidado por ele, como se qualquer movimento fosse capaz de quebrá-la.
E como toda vez que estavam de frente um para o outro, os olhares estavam presos. Ele virou-a apenas do quadril para baixo, erguendo apenas a perna direita e segurando pelo tornozelo antes de se ajoelhar no colchão e a penetrar novamente. Desta vez não demorou a aumentar força e ritmo, foi tudo de acordo com a necessidade, sendo guiada por aquele prazer de tê-la ali o correspondendo. A mão livre encontrou com a direita dela e os dedos se entrelaçaram; mantinha sua esquerda em seu ponto de prazer externo, estimulando-se.
mordia os lábios, gemia, arfava e pedia por mais. correspondia e ofegava sentindo os espasmos em seu corpo.
Ele estava quase lá. Ela também, pois podia sentir conforme a invadia – no sentido figurado e não literal, afinal era tudo consentido.
… eu… eu…
– Vem pra mim, vem. – A incentivou, diminuindo a própria intensidade antes de retornar ao mesmo ritmo.
E então ela chegou ao ápice, soltando um gemido alto e apertando a mão entrelaçada dele com a dela. sentiu a perna dela que ele segurava pelo calcanhar pesar, no mesmo instante que seu corpo começou a adormecer.
Era a vez dele se desfazer.
De olhos fechados, pôde sentir ele sair e voltar a sua perna para baixo. Quando a ausência dele foi demorada, ela abriu as pálpebras. O sorriso dele foi a primeira coisa que ela viu. Ele estava vestido com a própria cueca e então ela se enrolou no lençol, continuando reta e encarando o teto. O colchão se afundou ao seu lado, com o corpo dele caindo ali, da mesma forma que ela, encarando o mesmo ponto.
– Você sabe que eu sei que isso não significa nada, . – foi a primeira a dizer, querendo cortar aquele silêncio.
– Shh… por favor, eu não quero me preocupar com nada agora. – Ele se virou, a puxando para perto pela cintura para que fosse para os braços dele como um coala agarra a árvore. E ela foi.
– Mas não precisa se preocupar. Todos esses momentos, tudo o que dividimos, nunca foi só pelo sexo. E eu fiz tudo conscientemente da nossa amizade, nada além disso.
Um silêncio de poucos segundos tomou conta do espaço entre os dois, ambos encarando o teto iluminado apenas pela luz vermelha.
– Eu também. – A respondeu, por fim, apertando mais a própria mão na cintura dela, sentindo aquela sensação satisfatória de pele macia.
Ele virou apenas o rosto na direção de , encarando aqueles olhos brilhantes que correspondiam aos seus, e suspirou a vendo sorrir sinceramente.
Se tinha uma coisa da qual possuía total certeza, isso era sobre todos os momentos compartilhados com a mulher em sua cama, desde a infância e em todas as fases de sua vida.
No fim, o sexo foi uma consequência, e, claro que ele gostava, não podia negar. Até porque, com ele não teria que se preocupar com nada. Nem mesmo a comoção era um motivo de preocupação.



FIM



Nota da autora: Olá! Obrigada por ler e, se possível, não esqueça de comentar. É muito bom saber o que você achou da história.

Espero mesmo que tenham gostado!
Por último, aqui embaixo tem o link onde você consegue acompanhar a autora pelo instagram e entrar no grupo dos Leitores da May 🎈



CAIXINHA DE COMENTÁRIOS

Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.


comments powered by Disqus