Capítulo 01.
— Senhorita, estamos chegando. — o motorista informou em tom gentil, me tirando o foco dos pensamentos turbulentos.
Agradeci com um aceno, colocando o celular no bolso do casaco antes de pressionar as têmporas pesadas pelo cansaço; tinha largado todo trabalho na Sede e entrado em um jatinho assim que vi aquelas fotos, louca para encontrar para tirar a limpo toda essa história.
Graças a minha relação estável com , fui a primeira a descobrir sobre a mentirinha de meu irmão sobre a pós na Alemanha, pois, tendo em vista o quão delicada é a relação de com o nosso avô, as coisas poderiam sair do controle facilmente sendo o patriarca da família em meu lugar.
Assim que o automóvel estacionou, peguei a minha bolsa e puxei algumas notas em euro para pagar a viagem.
— Obrigada. Fique com o troco. — sorri pequeno, descendo do carro; o homem tinha sido ágil em todo o trajeto, me trazendo do aeroporto ao destino final em menos de meia hora, então a gorjeta era muito mais que merecida.
Caminhei pelo saguão do simplório prédio de seis andares localizado no subúrbio da cidade, parando na recepção para me acertar com a dona do lugar por tão gentilmente apoiar a minha entrada; quando estava saindo da empresa, liguei com a desculpa de que planejava uma surpresa para alguém próximo e que gostaria de entrar sem ser anunciada ao morador – após uma centelha rasa de hesitação, ela se deu por convencida mediante a minha clara demonstração de boa vontade. Subi as escadas em passos largos, usando o apoio do corrimão por conta dos sapatos de salto que não tive tempo de trocar.
Ao chegar em frente a porta do apartamento número cinco, puxei uma lufada de ar para dentro dos pulmões . Eu e não nos víamos a quase dois anos, mas, quando enfim era chegada a hora de nos reencontrarmos, o principal motivo não seria sanar a saudade. Ainda que temerosa pelo que estava por vir, busquei dentro de mim alguma confiança e bati na porta algumas vezes. Esperei um pouco, mas não ouvi nada do outro lado... Quais seriam as probabilidades de ter sido enganada por minha informante?
Com as sobrancelhas franzidas, estava prestes a bater na madeira tingida de verniz escuro com mais força dessa vez, porém, fui surpreendida com a abertura brusca que fez.
— Dia, que bom que voltou, eu... —- falava de costas e, no instante em que se virou para mim, se calou. Os olhos dele, que eram do mesmo tom de azul oceano que os meus, estavam arregalados e, embora abrisse e fechasse os lábios repetidas vezes, não formulava qualquer frase.
— Olá, irmão — o cumprimentei primeiro, sorridente. Apesar do contratempo que vim tratar, estava feliz por vê-lo.
— Sah, o que você…
— As notícias sobre a sua aventura chegaram a mim, então tive que vir conferir. — o interrompi de maneira amena, içando a bandeira de paz. — Podemos nos abraçar antes de mais nada? — expus a minha oferta, me aproximando um pouco mais. — Senti a sua falta.
Ele assentiu devagar, abrindo os braços para me acolher – primeiro de maneira receosa, então, pouco a pouco, calorosa. Embora o clima fosse tenso entre nós, suspirei em agrado, quase sem saber como pude ficar tanto tempo longe de um dos meus abraços favoritos no mundo.
— O que você sabe? — cochichou, agindo como uma criança que era pega no meio da baderna.
— Fala da mentira sobre um ano sabático na Alemanha ou das corridas? Porque, bem, sei de tudo. — estou sorrindo, mas ele não me acompanha.
— E o vovô?
— Ainda não está ciente de nada. — sou rápida em aliviar a sua preocupação e posso senti-lo soltar de uma só vez o ar que vinha mantendo preso nos pulmões nos últimos segundos. Me afastei, findando o abraço para o encarar nos olhos.
— Isso é bom — embrenhou os dedos nos cabelos, um misto de alívio e nervosismo na face.
— Nunca pensei que o veria como um piloto da fórmula um. — murmurei, tentando não evidenciar tanto a chateação que sentia. Sempre fomos próximos e estar, de repente, fora de sua vida tinha me magoado deveras; todo aquele papo de confiança entre gêmeos devia ter prazo de validade, pelo visto. — Gostaria que tivesse confiado em mim o suficiente para dividir isso, .
— Vem, entra primeiro. — cabisbaixo, me deu passagem para dentro do apartamento.
Assim o fiz, dando uma rápida olhada na atmosfera simplista do local; era difícil acreditar que um menino nascido em berço de ouro pudesse viver em um conjugado de três cômodos, mas não parecia afetado pela humildade de sua nova residência. Ouso até dizer que ele estava mais radiante, portando um brilho vivaz nos olhos expressivos.
— E então? — cruzei os braços, pronta para ouvi-lo.
— Bem... — começou, esfregando as palmas contra o tecido da calça jeans surrada. — Quando mais uma especialização enfadonha veio em minha direção, eu apenas menti sobre aceitar e tomei um tempo para mim... Não estava pensando em nada, só não queria ficar naquela prisão dos infernos. — disse. — Fiz bicos e vivi por conta própria, mantendo o dinheiro dos Lamborghini na poupança para devolver. Viajei para cidadezinhas, li, pintei... Foi assim durante meses, até que em um acaso conheci as pistas.
— E? — o encorajei a continuar.
— E aí que que me apaixonei pela fórmula um! Mais até mesmo do que um dia já fui apaixonado pela arte — abriu um pequeno e brilhante sorriso, fitando-me com um expressivo desejo de compreensão.
— É para valer?
— Muito mais do que isso — me confidenciou. — É a primeira vez que sei que estou, de fato, vivo.
Ao vê-lo assim, tão encantado, senti o coração bater forte dentro do peito. Há alguns anos começou a perder a sua luz... Por isso, saber que algo poderia reacender a chama em seu interior me preencheu com alegria e alívio.
— Isso é tão precioso, irmão — falei, envolvendo as suas mãos com as minhas. — Se encontrou o que nasceu para fazer, não deve mesmo seguir se preparando para liderar a empresa. — concluí. — Mas, para trilhar esse caminho, precisa ser sincero com o vovô. Essas mentiras não vão durar muito mais.
se desvencilhou, mal me olhando. Um misto de dor e frustração tomou forma em sua face enquanto amuava os ombros.
— Por que eu deveria fazer isso? — resmungou, amargura prevalecendo em seu tom. — Para o senhor Lamborghini só sou útil se for como CEO. Esse é o único lugar que me cabe nessa família, não vale a pena perder tempo tentando mudar tal condição.
— ... — chamei baixinho, preocupada com o rumo de seus pensamentos.
— Olha, antha), não me venha com esse papo de tentar ganhar o vovô, pois você já ocupou este lugar — ditou. — Dessa vez eu não vou voltar. Não vou mudar de ideia. Não vou implorar.
— Não quero que volte e nem que desista de tudo o que conquistou — afirmei, tocando seu ombro com suavidade. — Ao invés disso, corra para mim. — sugeri sem pensar muito. — Sabe que tenho meus negócios. Posso apoiá-lo mesmo que o vovô seja contra.
— O que?! — exclamou, arregalando os olhos.
Igualmente surpresa, me afastei um pouco, começando a analisar o que, no calor do momento, havia acabado por dizer. Em suma, não era uma ideia ruim e, se bem executada, poderia agradar o nosso avô e garantir a felicidade de . Por consequência, eu acabaria tendo que assumir as rédeas dos assuntos administrativos também, mas era um preço pequeno se comparado ao resultado final.
— Veja, se correr com o nosso sobrenome, teremos um trunfo que fará com que o vovô veja com bons olhos essa situação. — lhe expliquei, sentindo que havia acabado de achar ouro no final do arco-íris. — Poderá fazer o que deseja e ainda ficará livre do peso de se tornar o sucessor da família. — me permiti sorrir, orgulhosa do que tramei em poucos minutos.
— Não, ! — esbravejou, crispando os lábios. Franzi as sobrancelhas, não entendendo tamanha contrariedade. — Essa ideia rasa não vai mudar em nada a minha situação.
— Por que acha isso? — indaguei. Não havia impossibilidades em nosso mundo. Como herdeiros da Lamborghini, as oportunidades eram infinitas e ele sabia disso tão bem quanto eu.
Meu irmão se jogou no sofá, surrado da sala, rindo sem humor.
— Já tenho um contrato em andamento, não vou mudar isso em prol dos Lamborghini — ditou com aspereza.
— Contrato? Que tipo de contrato?
— Um contrato de trabalho? — revirou os olhos, batendo sem parar os pés descalços contra o piso manchado.
Puxei uma lufada de ar, encontrando em mim a compostura que, visivelmente, não estava sendo capaz de demonstrar.
— Entendo. — murmurei. — E com quem você assinou? Talvez possamos patrocinar você.
— Ferrari.
Aquele único dizer, proferido em seu timbre desafiador, me arrepiou os pelos da nuca.
— Está brincando, não é? — sorri, pronta para ouvir que se tratava de uma piadinha de mal gosto.
— Por que estaria?
Pisquei um par de vezes, tentando digerir a sandice sem tamanho que havia escutado. Só podia ser brincadeira, por Deus! Como um Lamborghini ousaria cogitar pilotar em nome da maldita Ferrari? Isso não tinha cabimento.
— Como pode me perguntar uma coisa dessas, Lamborghini? — gesticulei, estarrecida com a expressão de divertimento dele.
— Está falando exatamente como o velho senhor Felippo — zombou. — Para mim eles são uma empresa respeitável. A estúpida rixa entre famílias não me interessa. — deu de ombros.
— Minha nossa, você não tem noção do que está dizendo!
— Tenho sim — se pôs de pé. — Diferente do que pensam a meu respeito, não sou um anencéfalo incapaz de tomar as próprias decisões.
— Não se trata disso, . — rebati, pressionando a ponte do nariz com os dedos. Já podia sentir a cabeça latejar e sabia que teria que lidar com uma enxaqueca dos infernos dentro da próxima hora. — Se vincular a Ferrari trará o caos para o seio de nossa família... E, ainda por cima, é um risco e uma exposição desnecessária.
— Não me interessa a família — sussurrou em resposta. — É da minha vida que estamos falando.
Bufei, não conseguindo compreender aquela rebeldia. Se podia estar nas pistas através do apoio dos Lamborghini, ajudando a família a crescer e ainda construindo um sonho de maneira estável, por que preferia se aliar aos inimigos?
— Sua vida estará melhor se for parte da equipe da Ferrari, então? — o confrontei com veneno escorrendo na ponta da língua.
Em meio a um suspiro desgostoso, negou com a cabeça.
— Essa conversa não vai nos levar a lugar algum, . — concluiu, indo até a porta e abrindo em um convite silencioso e hostil para que eu me fosse. — Tenho que estar em um compromisso importante dentro de algumas horas. É melhor falarmos depois, de cabeça fria.
Mais que ofendida pela sua postura, segurei com força a alça de minha bolsa e assenti com amargor. Segui o meu caminho sem olhar para trás. Tendo a frustração a tira colo, desci os lances de escadas com pressa. Ao chegar no térreo do prédio, tomei a decisão de seguir em frente com a proposta que fiz a , e mandei uma mensagem para minha assistente para que lançasse as boas novas em redes de mídia e nos canais de notícias.
Nas próximas horas tudo estaria pronto para que a Lamborghini se expandisse ao mercado das corridas da fórmula um de maneira estrondosa. Assim, preparando um terreno sólido e confortável, eu mostraria a a certeza de que nós éramos a melhor decisão, então ele desistiria da Ferrari por escolha própria e seria o melhor piloto para a melhor marca.
Continua...
Nota da autora: Sem nota.
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