acesso gratis
Última atualização: 21/11/2024

Capítulo 1 — Tan Sola


Canadá
— Ottawa


POV.
Virava meu oitavo copo de tequila enquanto escutava Alex tagarelar pela milésima vez - só naquela noite - sobre o maldito gringo que ele havia conhecido e queria nos apresentar. Eu não aguentava mais ouvir a palavra atleta, o crush de Alex já deveria ter chegado a meia hora, e graças ao seu atraso não fizemos outra coisa a não ser beber todo o bar enquanto esperávamos o indigesto, uma vez que Alex se recusava a se mover dali.
E o problema em ficar no bar, é que cada vez que eu pedia uma bebida nova, eu temia que o barman descobrisse minha identidade falsa, eu era péssima em mentiras e toda vez que eu bebia acabava falando demais. Eu era uma língua solta.
Depois de virar um martini de uma vez emendado com a nona dose de tequila, arranjei a desculpa perfeita para sair dali. Por que eu não pensei antes em dizer que precisava ir ao banheiro?
Desci do banco e ajeitei o vestido preto de paetês que teimava em subir cada vez que eu me sentava, um ordinário. Guardei o falso RG no bojo do vestido e deixei minha bolsa com Laila, que sorriu disfarçadamente ao perceber que eu estava mentindo.
Conforme eu me afastava dos meus amigos, me mesclava a multidão dançante que tomava conta da maior parte do lugar. Eu gostava de pubs, era um dos poucos lugares onde eu me sentia confortável para dançar as vistas de outras pessoas. Não sei se pelo álcool, pela energia do lugar ou simplesmente pelo fato de que os únicos conhecidos eram meus amigos, mas me sentia extremamente confortável.
Assim que me vi longe das vistas nervosas de Alex que buscavam alguém, deixei a música me levar, dancei sozinha, com estranhos e sozinha novamente. Devo ter ficado lá por mais de uma hora.
Quando meus pés ameaçaram doer, eu decidi que era hora de descansar e voltar para o bar onde estavam meus amigos, mas infelizmente eu havia me afastado demais do setor onde eles estavam. Bom o bar da frente teria que servir, o que seriam mais alguns minutos depois do perdido de uma hora que eu havia dado neles.

Infelizmente meus planos foram interrompidos quando um rapaz da altura de um poste trombou comigo e virou toda a sua bebida no meu vestido. Eu jurava que aquele tipo de coisa só acontecia em filmes.
Os pequenos pedaços de gelo da bebida caíram no decote do meu vestido e agora faziam cócegas em minha barriga, claro que se isso fosse acontecer com alguém, seria comigo.
Sacudi o vestido tentando me livrar do gelo. Quando vi uma das pedrinhas cair no chão, reparei no par de pés que ainda estava na minha frente.
— Você vai ficar parado aí ou vai pegar um papel pra me ajudar? — Questionei rindo, enquanto ajeitava o vestido novamente, limpando as mangas que nem sequer haviam sido molhadas.
Ri sozinha mais uma vez enquanto outra pedra de gelo caia, ainda sem obter resposta do desastrado.

— Você é mudo? — Questionei, buscando seu rosto pela primeira vez.

Naquele momento não sabia se ele era mudo, mas eu com certeza perdi minha capacidade de falar quando meus olhos cruzaram com os seus.
Parecia assustado, estava estático e perdido, mas nada mudava o fato de que ele tinha o rosto mais perfeito que eu já tinha visto.
Tudo parecia feito para se encaixar, era perfeitamente moldado. Seu maxilar era bem marcado, tinha lábios finos, olhos que faziam uma ótima combinação com as sobrancelhas naturalmente bem desenhadas, bochechas com um tom levemente rosado e um narizinho de dar inveja.
Eu sabia que estava olhando de boca aberta, mas naquele momento era impossível evitar.

Escutava Travesuras de Nicky Jam tocando ao fundo, a música ecoava nos meus ouvidos, meu corpo queria dançar, mas meu cérebro não parecia estar dando ouvidos, ele não queria dançar, ele queria beijar. Eu queria beijar.

— Perdóname, yo no... — escutei o par de olhos castanhos falar à minha frente. Não prestei atenção no resto da frase, me perdi no seu sotaque. Ele era argentino, eu iria mesmo beijar.

"No me puedo contener"

Ele ainda falava quando eu dei um passo à frente e me estiquei para grudar os meus lábios no seu. Ele permaneceu estático por 5 segundos até que cedeu passagem para minha língua.

"Yo sé que acabo de conocerte
Y es muy rápido pa' tenerte"

Escutei o tinir do copo de acrílico se chocando com o piso, logo depois senti um par de mãos agarrando minha cintura com firmeza, e céus que firmeza.

"Yo lo que quiero es complacerte
Tú, tranquila, déjate llevar"

Sentia uma corrente elétrica passar por todo o meu corpo enquanto sua língua se enroscava com a minha.

"Dime si conmigo quieres hacer travesuras
Que se ha vuelto una locura"

Beijar era bom, mas aquele beijo estava sendo fora de série.

"Y tú estás bien dura
No me puedo contener"

Eu poderia passar o resto da noite ali, mas infelizmente fui obrigada a quebrar o beijo devido a necessidade de respirar, o ambiente abafado não queria colaborar comigo. Minha mãos passaram do seu rosto para seu pescoço, soltei uma risadinha fraca quando ele me fitou mordendo os lábios. Ele logo acompanhou meu riso, mantendo o mesmo tom baixinho. Suas mãos permaneciam na minha cintura, porém de forma mais suave agora.
— ele se apresentou, olhando para a minha boca.
Ficava difícil me concentrar com aquele par de olhos em cima de mim e aquelas mãos me segurando. Eu deveria dizer meu nome, mas estava sem palavras até para o básico.

"Y llevo rato queriéndote hablar, y me pone mal verte bailar tan sola ahí, tú bailando tan sola ahí"

Sem conseguir falar, minhas pernas inquietas começaram a se mover no ritmo da canção. Tocava Tan Sola, e elas sempre reagiam positivamente a um bom reggaeton.

"Voy a acercarme sin permiso a ti, pero es pecado dejarte bailar tan sola ahí, y yo bailando tan solo aquí"

Sorri contente quando ele acompanhou o ritmo da minha cintura. Eu me virei de costas, ainda mantendo seu corpo junto ao meu com suas mãos ao meu redor.

"Paso a paso yo te guío, baby"

Meu corpo estava colado ao seu, o cabelo preso em um coque bagunçado deixava meu pescoço exposto o suficiente para que ele pudesse me beijar. E ele sabia exatamente onde beijar.

"Y piénsalo menos y pégate más, piensa que somos tú y yo nada más.
Si este besito te empieza a gustar
Un mordisquito se puede escapar"

Suas mãos continuavam acompanhando minha cintura. Estávamos bem debaixo da luz, podia observar algumas pessoas parando para nos olhar, mas eu não me importava. Não estávamos fazendo nada demais, e eu estava envolvida demais com a música e seus lábios em meu pescoço.

"Y eso que yo no quería salir. Ni en un sueño había bailado así, tan rico así. Pegadito, tan rico así"

"Mueve, mueve, mueve la cadera"
....
"Lo único que hacemo' es bailar, lo único que quiero es bailar"

Quando a música acabou e começou outro mas calma, fomos parar no canto da pista de dança. Eu não sei se ele me guiou para lá sem que eu percebesse ou se foram minhas próprias pernas, mas era um ambiente melhor. Não haviam tantas pessoas grudadas e era mais amplo. Já que estávamos em um espaço melhor, por que não aproveitar? Sem perder tempo, aproveitei a deixa e acabei pressionando o rapaz contra a parede para beijá-lo novamente. Sorri quando seus lábios se encostaram outra vez nos meus, ele retribuía o beijo com a mesma intensidade, eu não sabia como expressar, mas era provavelmente a boca mais gostosa que eu já tinha beijado na minha vida. Ela me causava arrepios incríveis.
Agradeci mentalmente por estar com um dos maiores saltos que eu tinha, o rapaz era relativamente mais alto e mesmo assim se curvava para me beijar. Ele, no entanto, não parecia incomodado com a minha falta de tamanho, parecia gostar, principalmente quando sua mão deslizava pela minha coluna. Percebi que ele realmente estava empolgado quando senti suas mãos passarem da minha cintura para a barra do meu vestido, mas colocar a mão por dentro da minha roupa em público já era demais.
Ele era parecido com o vestido que eu usava naquele dia: bonitinho, mas ordinário. Ou não…Estava quase quebrando o beijo quando senti a barra da minha única peça sendo puxada para baixo. Ele não queria subir a mão pelas minhas pernas, queria arrumar minha roupa para que eu não mostrasse demais. De onde ele havia saído?
Foi quem quebrou o beijo, ele se afastou com uma risadinha tímida limpando a garganta. Eu ainda não havia dito meu nome.
Ele definitivamente era meu número, um pouco tímido, voz bonita, educado e latino.

— As pessoas me chamam de — falei, de forma divertida.

Depois de fazer uma expressão de confusão, ele riu novamente, dessa vez um pouco mais alto, e era um som delicioso de se ouvir. O acompanhei quando suas mãos foram novamente para a minha cintura, me puxando para mais perto.
— Por que você tava dançando sozinha? — Perguntou no meu ouvido, depois de mais alguns beijos. Senti os pelos da minha nuca se arrepiarem.
— Meu melhor amigo me arrastou pra cá, ele tinha marcado com um amigo dele — falei um pouco mais alto que o normal, para que ele pudesse me ouvir sobe a música alta — mas eu acho que o idiota não apareceu, fiquei muito tempo no bar esperando com ele e uma amiga, mas eu cansei e fugi pra dançar.
O loiro começou a rir outra vez, como se tivesse ouvido uma história muito engraçada.
— Me desculpa, eu... — ele não conseguiu terminar sua frase, uma vez que começou a rir de novo.
Não entendia o que era tão engraçado, mas sua risada era tão melodiosa que eu acabei rindo junto.
Quando o riso cessou, ele me encarou novamente, quase como se tentasse me decifrar.
— Você realmente é muito bonita, .
Sorri em forma de agradecimento.
Ele abriu a boca três vezes pra dizer algo, mas acabou desistindo. Cômico.
Eu conhecia aquele olhar, os caras sempre faziam quando queriam algo mais depois da balada. Mas, para o azar deles, eu não dormia com qualquer um.
, no entanto, soava mais tímido do que qualquer um que eu já havia beijado. Fiquei curiosa se era realmente aquilo que ele queria.
— Pode falar — incentivei. — Sem medo.
Ele riu de cabeça baixa, olhando para os próprios pés. Quando levantou a cabeça, ele umedeceu os lábios diversas vezes antes de falar, como se estivesse procurando as palavras certas.
— Eu tô aqui faz uma semana e... você foi de longe a pessoa mais interessante que eu conheci — ele falava calmamente, não sei se era apenas sura forma de falar ou se tentava não se perder no idioma, suas mãos permaneciam na minha cintura. — O que é estranho porque a gente passou mais tempo se beijando do que conversando.
Foi minha vez de rir.
— É verdade — concordei. — Você quer sair daqui, não quer?
Ele sorriu, confirmando com a cabeça.
— Não é o que você tá pensando, eu juro — soprou em meio a uma risada. — Eu tô num hotel a vinte minutos daqui...ou se você preferir a gente pode ir pra um lugar mais calmo com mais pessoas, o que você pre...
Sua fala foi interrompida por um estalo seguido por meu desequilíbrio. O meu salto havia quebrado, que momento inoportuno. me segurou assim que eu ameacei cair, sorte a minha que eu já segurava seus braços antes.
— Tudo bem? Machucou? — Perguntou, parecendo preocupado.
— Seu quarto de hotel me parece uma boa opção — respondi a sua pergunta anterior, tirando os sapatos. Aquela já seria minha resposta de todo jeito. Observei então a diferença de altura, era gritante agora, ainda assim, ele parecia não se importar.
— Quer avisar seus amigos?
Neguei com a cabeça e o loiro arqueou a sobrancelha numa pergunta muda.
— Digamos que eles estão acostumados com meus sumiços. Eu sempre dou um perdido neles e vou embora pra casa antes de todo mundo.
— Tudo bem. — Respondeu, me estendendo a mão para sair dali. — Cuidado com os pés.

....

se recusou a dirigir, disse que havia bebido um pouco e não era do feitio dele ser irresponsável, principalmente se não estivesse sozinho no carro. Ele pediu um Uber e logo depois me ofereceu seu celular, insistindo para que avisasse pelo menos um dos meus amigos aonde eu estava indo. Acabei ligando para Laila, vendo que ele não deixaria de insistir, não admitiria, mas era fofo de sua parte.
Como eu havia imaginado, Laila me contou que Alex havia levado um bolo do atleta, ele tinha enviado apenas uma mensagem a alguns minutos atrás informando que teve um imprevisto. Imagina só se eu estivesse encostada no bar até agora.
— Melhor agora? — brinquei, enquanto devolvia seu celular.
Não dei tempo para que ele respondesse, juntei meus lábios com os seus assim que ele pegou o aparelho de volta.
O caminho que deveria durar cerca de 20 minutos, acabou levando apenas metade do tempo, uma vez que não havia trânsito. Quando chegamos na porta do hotel, ele abriu a porta para que eu saísse, assim como fez na hora de entrarmos, no entanto dessa vez me pegou no colo antes que eu pudesse pisar no chão.
— Não precisa fazer isso — falei, mesmo que minhas mãos já estivessem em seu pescoço enquanto eu segurava meus sapatos. Eu amava cavalheirismo, homens gentis eram meu fraco. Mas ao mesmo tempo eu não gostava de incomodar, e sentia que estava dando um trabalho desnecessário ao rapaz que havia acabado de conhecer.
— Seus pais não te ensinaram que faz mal andar descalço? — Brincou, enquanto caminhava para dentro.
Dei um sorriso sem vida, meus pais não haviam me ensinado muita coisa. Eles nunca tinham tempo para mim.
vendo que eu tinha ficado quieta de repente, deu um pigarro para chamar minha atenção. Infelizmente ele escolheu uma péssima hora para fazer isso, pois quando dei por mim, estávamos quase entrando em um elevador.
— Não não não não — chacoalhei minhas pernas enquanto tentava me afastar do corpo dele.
— O que foi? — Ele respondeu parando de andar, assustado com a minha atitude repentina.
— Eu não vou entrar nessa armadilha do satanás.
— Tá com medo do elevador? — Ele seguiu meu olhar até a caixa metálica e logo começou a rir. — Tem medo de elevador mas não tem medo de sair com um estranho?
Ok, ele tinha um ponto. Talvez eu não tenha juízo mesmo.
— Se essa coisa despencar ou a gente ficar preso...
— A chance disso acontecer é mínima. — Respondeu, entrando comigo no elevador. — Fecha o olho, são só 14 andares, passa rápido.
— SÓ 14 ANDARES? — acabei gritando.
Pensei em descer do seu colo, mas infelizmente era tarde demais, as portas já haviam se fechado e a armadilha do diabo já começava a se mover.
Enterrei meu rosto em seu pescoço e apertei o máximo que pude, tentava aliviar meu nervosismo, no entanto acabei encontrando mais conforto no cheiro que ele exalava, um aroma suave, atrativo e levemente sensual. Uma mescla perfeita que emanava dele.
Infelizmente, chegamos rápido demais ao seu andar e eu me vi na obrigação de me desenroscar do seu pescoço tão convidativo. Nunca pensei que fosse ficar triste por sair de um elevador. Mas também não perdi a chance de dar um selinho naquela curvatura, sorri satisfeita quando ele apertou meu corpo em resposta.
não encontrou dificuldade alguma em pegar o cartão de acesso mesmo comigo no colo, ele parecia ter uma agilidade muito boa. Me perguntei o que ele fazia da vida.
A suíte era ampla e bem completa, ao entrarmos demos de cara com uma pequena sala e uma mesa de jantar. Ao fundo era possível ver uma enorme cama e o banheiro do lado.
— Onde você quer ficar? — Perguntou me olhando.
— Cama. — Respondi de uma vez, ele mal tinha terminado sua pergunta. Droga. Acabei rindo do meu constrangimento e ele me acompanhou, enquanto me colocava sentada na cama macia - na qual eu fiz questão de deixar os meus pés sujos de balada pendurados para fora.
— Eu não vou dormir com você — comecei, ainda rindo, enquanto colocava os meus sapatos no chão e soltava o meu cabelo.
se sentou nos pés da cama, observando a cena.
— Eu disse que não era o que você estava pensando. — Ele não me olhou, mexia em seu celular agora, mas pude ver um sorriso se formando em seu rosto. — Tá com fome?
Balancei a cabeça em negação. Eu havia bebido metade do bar, a chance de comer algo e vomitar na frente dele seria enorme.
— Tudo bem. Eu preciso ir até a recepção, o carro que eu deixei no pub é alugado e tenho que pedir para alguém buscar. Você espera? — Porque tudo que ele falava soava gentil?
— Alguém consegue negar alguma coisa pra você quando você fala assim?
— Assim como? — Perguntou rindo.
Já tinha falado demais
— Vai, eu espero.

Aproveitei enquanto ele até lá embaixo para ir ao banheiro, quando me dei conta de que precisava ir, já estava quase fazendo xixi nas calças. Depois de dar paz a minha bexiga, decidi limpar os meus pés que haviam passado por todo tipo de bactéria.Por último, passei uma toalha molhada no decote do vestido, limpando qualquer rastro de bebida.

….

Tive a impressão de dormir por longas horas enquanto esperava o argentino voltar, mas claro que aquilo não poderia ter passado de um cochilo. Eu não estava tão cansada assim.
Pelo menos foi o que eu achei, mas a luz que penetrava as cortinas me dizia o contrário. Me irritei imediatamente, eu não gostava de acordar com o sol na minha cara, por acaso existia algum imbecil que gostava?
Eu estava deitada de bruços apoiada em um travesseiro, ia usar para proteger meus olhos do sol, mas vi que era melhor usar uma das cobertas.
Engraçado, eu não me lembrava de ter me coberto ontem a noite. Na verdade eu nem lembro de como dormi exatamente. Bom, pelo menos eu ainda estava vestida.
Desisti de lutar contra o sol e me sentei na cama, procurando pelo motivo de eu estar ali, mas percebi que estava sozinha no quarto. Ele não havia voltado?
Quando olhei para a mesinha que ficava perto dos pés da cama, reparei em alguns objetos que não estavam lá na noite anterior; uma caixa branca, uma folha de papel e um celular, o celular dele na verdade.
Fazendo justiça a pessoa curiosa que eu era, me levantei da cama e fui olhar mais de perto.
A folha trazia meu nome em letras grandes, seguidas de algumas palavras em letras menores, antes de ler, não pude deixar de admirar sua caligrafia.
"Eu acabei demorando um pouco na recepção, me desculpe. Você estava dormindo quando eu voltei e preferi não te acordar.
Achei melhor pegar outro quarto essa noite, você estava apagada e não queria que tivesse a impressão errada de mim. Talvez meu único atrevimento essa noite tenha sido te ajeitar na cama, mas uma pessoa como eu não suporta ver pessoas dormindo em má posição, acredito que você também saiba que dormir esparramada não seja muito confortável também
Na caixa tem um par de sapatos novos, achei que você não ia querer chegar em casa descalça. Eu posso te levar, mas você me deve um café da manhã antes, eu quero te conhecer melhor..
Me liga quando acordar, a senha do meu celular e o ramal do quarto estão no final da folha.
Bom dia, McKay. "

Sentei na cama, segurando a carta. Aquele cara existia mesmo?
Reli suas palavras diversas vezes, me encantando todas as vezes com seus detalhes. Na última vez, no entanto, algo chamou minha atenção, ele havia me chamado de McKay, eu não tinha dito meu sobrenome a ele, também não tinha perguntado o seu. Imaginei então que o meu RG falso deveria ter caído do meu vestido, mas ele ainda estava lá quando enfiei a mão no bojo. Aquilo era estranho, como ele sabia meu sobrenome?
Meus pensamentos foram interrompidos pelo som irritante do celular vibrando na mesinha, eu não iria atender mas podia olhar quem era.
Me aproximei do objeto e imediatamente desejei não ter feito aquilo, não estar naquele quarto e nem ter pisado naquele pub ontem a noite. Desejei não ser eu quando vi a foto de Alex na tela.
O argentino era o gringo de Alex, o maldito atleta de quem eu havia reclamado a noite toda.
E infelizmente era também quem eu havia beijado naquela noite.

Capítulo 2 — Malas Decisiones


POV.


— PARA DE RESPIRAR DESSE JEITO — Laila me chacoalhou, enquanto me fazia sentar na cama em seu quarto. — Seu pulmão vai encher de ar e você não vai conseguir respirar.
Ela mexia nervosamente em seus cabelos escuros enquanto gesticulava para que eu ficasse sentada enquanto me acalmava.
Eu nem sabia como havia conseguido chegar até sua casa sem surtar aos gritos no meio do caminho. Depois de ver o número de Alex no celular de , eu saí correndo de lá, deixando os sapatos (os meus e os novos) e minha dignidade de lado enquanto corria feito uma maluca pelo hotel, eu praticamente voei pelas escadas, me recusando a andar de elevador.
Entrei no primeiro Táxi que vi pedindo em falas apressadas que o motorista me levasse até a casa de Laila, demorei para compreender que ele não sabia quem era Laila, muito menos onde ela morava. Depois de 5 minutos respirando fundo, consegui explicar o endereço e ele iniciou a viagem. Ela não entendeu nada quando eu apareci descabelada e sem meus sapatos.
Felizmente ela já estava acordada.
— Ele fez alguma coisa com você? — Perguntou, me encarando de forma séria. Neguei com a cabeça, ainda nervosa. — Graças a Deus — ela levou as mãos até o peito, aliviando a expressão preocupada.
No entanto, não demorou muito para que ela voltasse a me encarar.
— O que houve então? — Sua voz ainda seria.
Olhei ao redor do quarto enquanto respirava fundo algumas vezes antes de contar. Eu sabia que poderia dividir a minha culpa com ela, mas não era fácil.
— O cara com quem eu saí ontem... — minha voz quase não saia — ele... ele não é canadense.
— E...?
Era melhor falar tudo de uma vez.
— Alex levou um bolo ontem a noite porque o gringo dele foi o mesmo cara com quem eu sai.
Falei tão rápido que só percebi que ela tinha entendido quando a vi cobrir as mãos com a boca em uma total expressão de espanto.
Laila se agachou ao meu lado, segurando na cama. Às vezes me esquecia que ela era tão dramática quanto eu.
Me joguei na cama e cobri meu rosto com um travesseiro enquanto choramingava.
Por que eu tinha que ser tão azarada? Ele tinha que ser justo o crush gringo de Alex?
— Meu Deus do céu — escutei Laila (ainda agachada). Choraminguei mais ainda.
— Meu Deus, . O gringo do Alex.
— Eu sei — respondi, querendo chorar de vez.
— Você beijou o gringo do Alex.
— EU SEI — dessa vez foi um grito, abafado pelo travesseiro, mas ainda um grito. Felizmente seus pais não estavam em casa.
Foi quando ela começou a rir, da forma mais descontrolada possível.
Segurei o travesseiro enquanto me sentava novamente. Era sério aquilo?
Laila havia se esparramado no chão e ria com a mão na barriga.
— Raquele. — Chamei, fazendo a cara mais feia que tinha enquanto jogava o travesseiro nela, aquele era o apelido que ela mais odiava.
Entretanto, estava se divertindo tanto com a minha cara que dessa vez nem se importou.
— Ah , você não tinha como saber. — Respondeu, enquanto ajeitava os cabelos lisos que o saco de penas havia bagunçado — Eu sei que parece horrível, mas a situação é cômica. É uma ironia e das grandes.
— O que eu vou fazer?
— Nada.
Ela deu de ombros, como se a situação fosse realmente nada.
Mas não era nada, nosso melhor amigo nunca compreenderia a situação, e eu perdia a chance de conhecer melhor um cara que, à primeira vista, era realmente meu tipo. Fazia tempo que não me chamavam atenção daquela forma.
— Espera — ela chamou, interrompendo meus pensamentos — como você sabe que ele é o gringo do Alex?
Resumi a história pra ela, deixando meu grande interesse pelo argentino de lado e focando principalmente na manhã trágica. Foi quando me dei conta de uma coisa.
E se ele perguntasse algo para o Alex? Eu não sabia exatamente o que ele havia falado de mim para o argentino, mas claro que tinha existido um assunto, ele sabia quem eu era, do contrário não saberia meu sobrenome. poderia perguntar algo e acabar falando demais, no entanto, será que ele falaria algo mesmo? Uma vez que isso seria se entregar e ele e Alex...
Minha cabeça começou a dar um nó.
Me levantei indo procurar a bolsa que eu havia deixado com Laila na noite anterior, encontrei ela em cima de um puff. Só precisava do meu celular, se não tivesse 200 mensagens de ódio vindas de Alex eu poderia ficar pelo menos um pouco em paz, significaria que tinha ficado de boca fechada, ou que pelos menos ainda não havia acordado.
Sentei novamente na cama pegando o aparelho, mas enfiei o celular de volta na bolsa assim que vi as notificações na tela.
— O que foi? — Perguntou Laila, enquanto se levantava para puxar a coisa cinza da minha mão.
Augusto pediu para seguir você — leu, observando a notificação. Percebi que ela havia desbloqueado meu celular.
— Laila eu juro que se você aceitar eu te mato.
Ela não me respondeu, apenas continuou mexendo no celular e andando de um lado pro outro.
— Meu Deus do céu, . — Ela falou, se sentando ao meu lado. Gemi de agonia já esperando o pior. — Ele é o homem dos seus sonhos.
— O que? — Eu sei que eu fiquei caidinha por ele, mas não era possível ela soltar uma dessas.
A morena esticou o celular na minha direção.
Que inferno, só podia ser uma grande piada de mau gosto.
era jogador de futebol, pertencia ao River Plate, parte da categoria sub 20. Eu amava futebol, amava jogadores de futebol. Aquilo era uma tremenda piada de mau gosto da vida comigo.
Seu Instagram era repleto de fotos suas em campo, mas ainda havia espaço para algumas fotos tomando matte e se divertindo o que pareciam ser seus cachorros.
Soltei o celular, me jogando novamente na cama enquanto abraçava uma almofada.
— Não vai aceitar? — Perguntou, enquanto mexia em seu próprio aparelho.
Peguei o celular novamente, recusando a solicitação.
— Não.
— Acho melhor vocês conversarem. Disse virando seu telefone para mim, era a conversa com Alex.
Alex
online

Pub hoje a noite, o gato vai.


Meu celular vibrou logo depois, com a mesma mensagem. Antes de bloquear a tela recebi outra notificação. havia me mandado outra solicitação, recusei novamente.
— Diz pro Alex que eu morri e não posso ir — resmunguei, me livrando do aparelho.
— Porque eu tenho a impressão de que o tal jogador quer ir pra ver você e não o Alex?
— Ele vai ficar querendo, eu não vou.
— Acho que você deveria pelo menos conversar com ele. Não acho que ele sabia quem você era quando tropeçou em você.
Ela tinha razão, droga. Eu não queria conversar com nenhum dos dois. Alex não entenderia e o argentino era a própria tentação.

...


Havia passado o dia todo na casa da Laila, enviei só uma mensagem para Ben pedindo que avisace nossos pais que eu passaria o final de semana na casa da minha melhor amiga, era mais fácil manter a comunicação com meu irmão.
Concordei em ir ao Pub, mas não sabia bem o que faria quando encontrasse os dois lá. Alex avisou que encontraria "o gringo", como ele gostava de chamar, antes e nos encontraria no Pub. Fiquei irritada, se ele tivesse dito o nome do maldito atleta desde o inicio, essa confusão poderia ter sido evitada.
Laila passou o dia me distraindo, assistimos uma série de filmes de comédias enquanto nos empanturramos de besteira e conversávamos sobre qualquer coisa que não fosse Santiago e Alex. Infelizmente não deu pra fugir dos pensamentos quando começamos a nos arrumar.
O argentino era quem mais gritava em meus pensamentos, me repreendia toda vez dizendo que ele era jogador e não deveria valer um peso, com certeza era um galinha como a maioria.
Peguei um tubinho preto com alças grossas emprestado. O vestido era justo e ressaltava todas as minhas curvas, eu me senti linda nele, uma grande gostosa, ri comigo mesma.
Prendi o cabelo em um rabo de cavalo quando finalizei a maquiagem dos olhos, estava em dúvida entre o batom nude e o vermelho, mas acabei optando pelo segundo já que ele daria mais destaque à maquiagem.
Laila estava de braços cruzados me observando, vi ela soltar uma risadinha enquanto eu passava o batom vermelho.
— O que foi? — perguntei rindo, enquanto devolvia o objeto à penteadeira dela.
— Nada. Tá pronta?
Por fora sim, por dentro não.
Mas apenas assenti, pegando minha bolsa.

POV.


Passei o dia todo tentando entender o que havia feito de errado. Reli o bilhete várias vezes tentando descobrir se tinha escrito algo errado que pudesse ter ofendido , mas não tinha nada, meu inglês não era tão ruim assim. A opção que mais martelava na minha cabeça, era de que ela pensava que tinha acontecido algo durante a madrugada, mas não tinha. Não sei o quanto ela havia bebido antes de me encontrar, mas parecia muito sóbria, apesar do gosto de álcool que seus lábios tinham, ela estava normal. E eu estava sóbrio o suficiente para saber que não estava passando dos limites.
Quando vi que ela não estava mais no quarto, meu primeiro pensamento foi chamar Alex e perguntar por sua amiga, mas logo vi que não era boa ideia. Ele marcou comigo no pub e disse que levaria duas amigas junto com ele. Imaginei que ele deveria ter algum tipo de rolo com uma delas e chamou a outra para que eu não ficasse de vela, um pensamento totalmente machista, eu sei. De toda forma, torci para que não fosse com .
Decidi que o melhor a se fazer era tentar falar com ela, procurei por seu instagram nas pessoas que Alex seguia. Não tive dificuldade para achar, mas infelizmente seu perfil era privado, teria que esperar para saber mais dela. Enviei a solicitação esperando que ela aceitasse. Enquanto isso, decidi olhar o perfil dele novamente, buscando por qualquer informação sobre ela.
Haviam diversas fotos com , também tinham outras em que eles apareciam junto com outra garota de cabelos lisos e escuros. Entrei no perfil dela, pensando se encontraria algo lá sobre também, fiquei feliz por ter feito isso. Pareciam ser melhores amigas, tinham diversas fotos juntos, na maioria a garota que se chamava Laila estava vestida de líder de torcida, quando vi uma foto de segurando um bolo com velhinhas de número 16 percebi que as duas eram colegiais e haviam entrado com rg falso no pub, assim como eu sabia que Alex tinha feito. A foto era do ano passado, fiquei feliz também por ver que era apenas uma pequena diferença de idade.
Uma curiosidade inútil mas que eu gostei, pela data da foto éramos do mesmo signo, câncer. Continuei no perfil da líder torcida até que vi diversas fotos suas beijando um rapaz, droga. Se Alex tinha rolo com alguma delas, era . Ele era um cara legal, mas eu tinha gostado dela, sei que os amigos vinham antes, mas ela era incrível, eu queria uma chance.
Entrei em seu perfil novamente para ver se ela tinha aceitado a solicitação, para minha surpresa ela tinha recusado. Enviei novamente.
Logo depois mandei mensagem para Alex, pedindo desculpas novamente. Pedi que ele fosse novamente ao pub com suas amigas e disse que a noite seria por minha conta como um pedido de desculpas. Dessa vez pedi para encontrar com ele antes, assim não haveria chance de nos desencontrarmos e eu me encontraria facilmente com . Claro que eu estava cheio de segundas intenções com meu convite.
Pela primeira vez não me importei de agir como um canalha com um amigo.



Me segurei o caminho o inteiro para não perguntar sobre a Alex, a curiosidade estava me matando. Não prestei atenção na metade das coisas que ele disse, esperava que não fosse nada importante.
Quando chegamos ao Pub, ele disse que e Laila estavam no bar mais próximo da entrada, nos esperando. Imediatamente comecei a me sentir ansioso.
Ela estava de costas ao lado de uma garota um pouco mais alta que ela. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo, eu reconheceria aquela nuca em qualquer lugar. Meus olhos estavam tão fixos nela que não percebi que havíamos nos aproximado, só me dei conta quando Alex disse o meu nome. A mais alta, que era a líder de torcida, se virou na minha direção e eu a cumprimentei, esperei que fizesse o mesmo, mas ela continuou de costas mexendo em sua bebida com um canudo, parecia tomar um suco. Sua amiga lhe deu um cutucão, recebendo um olhar feio e atravessado. Sorri quando ela se moveu no balcão, pensei que eu teria a chance de me aproximar e sentir seu perfume novamente, mas ela apenas virou o rosto pra mim, com um sorriso forçado.
— Sou a — ela estendeu a mão para mim.
Fiquei sem reação, ela ia mesmo fingir que não me conhecia e me tratar com indiferença? Meu Deus, o que eu tinha feito para ela?
Me senti um completo idiota, eu me recusava a fazer aquilo. Coloquei as mãos nos bolsos da calça e fechei a cara.
— Oi — respondi de forma seca.
Ela pareceu nem se importar, deu de ombros e voltou a apoiar sua mão no balcão e brincar com sua bebida.
— Alex chamou — Tá com essa cara de cú por que? Chamou o cara de ontem e ele não quis sair com você de novo?
Meu corpo enrijeceu, encarei ela, curioso para ver o que falaria.
— Eu não chamei — respondeu de forma desinteressada, sem olhar para ninguém.
Escutei uma risada alta vinda do balcão, era a Laila. Ela tentava segurar o riso e só piorava a situação.
Ela sabia?
— Eu perdi alguma coisa? — Alex perguntou, encarando as duas. por sua vez segurava o copo com força enquanto olhava feio para sua amiga.
Estava quase soltando a língua quando escutei rir.
— Laila — chamou, em um tom de advertência enquanto ainda ria. Ela apoiou o rosto nas mãos e riu mais ainda. — Que ódio.
Eu não entendia nada.
— Laila? — Alex chamou, já tão confuso quanto eu.
— O cara de ontem é amigo do Ben.
Encarei a garota, ela piscou disfarçadamente pra mim. Ok, eu sabia que era mentira, eu não conhecia nenhum Ben, mas aquilo já estava virando um circo. Eu entendia que elas eram mais novas, mas eu não tinha mais paciência para esses joguinhos. Principalmente quando não havia feito nada de errado. Iria falar.
— Char..
— Alex — a mais alta chamou, me interrompendo. Se a outra garota escutou que eu a estava chamando, disfarçou. — Eu esqueci minha identidade no carro, pode pegar pra mim enquanto eu levanto o humor da azarada.
— É sério que você se importa com o Ben? — Perguntou rindo, enquanto pegava a chave que lhe era estendida.
Ela não respondeu.
Encostei no balcão assim que ele saiu, encarando as duas e querendo uma explicação.
sugou toda bebida do seu copo e foi empurrada por Laila logo depois enquanto anunciava que uma de suas músicas favoritas estava tocando. Ela empurrou a amiga até que ela se misturasse com a multidão, depois voltou para onde eu havia ficado.
A noite não estava nem de longe como eu imaginei que seria. Cruzei os braços esperando que ela falasse algo. Estava claro que ela sabia de tudo e eu queria respostas. Se Alex não se importasse por ter saído com outro, eles não deveriam ter nada. Sua indiferença não tinha sentido.
— Alex vai voltar em dois minutos, é melhor você ir atrás dela logo.
O que?
— Eu não vou atrás dela, ela fingiu que não me conhecia. O que ela falou pra você?
Tampouco entendia porque Alex não podia estar perto quando eu falasse com ela.
— Droga, eu odeio quando eu tenho razão — disse chacoalhando a cabeça e me encarando, esperei que ela continuasse. — Você não percebeu, né?
— Não, na verdade eu não entendo nada. Nem sei porque ela fugiu de manhã, não aconteceu nada.
— Eu sei.
— Então porque ?
— Você não sabe mesmo? — Neguei com a cabeça, relaxando um pouco a postura. — Alex tem uma quedinha por você.
Não sei exatamente que cara eu fiz, mas com certeza minha expressão foi de espanto. Eu esperava qualquer coisa menos aquilo. Alex? Eu nunca dei nenhum sinal (não tinha nem motivos pra isso), e eu nem sabia que ele gostava de homens.
— A só ligou os pontos de manhã quando o seu celular tocou e apareceu o número do Alex. Ele vai querer matar ela.
— Mas eu..
— Eu sei — ela me interrompeu — você nunca deu bola pra ele nesse sentido, né? — Assenti. — Ele vive se iludindo sozinho.
— Eu nem sabia.
— Ela gostou de você — disse, se virando para o barman e estendo seu RG enquanto tentava esconder um sorriso.
Claro que ela havia mentido, sua intenção, no entanto, era boa.
Sorri, lembrando do meu encontro com a garota na noite anterior. Eu também gostei muito dela.
Laila apontou com a cabeça na direção da pista de dança.
Sorri em agradecimento e fui atrás de . Eu me entenderia com ela e depois com Alex.
Senti meu sorriso se alargar quando encontrei ela dançando sozinha no meio da multidão.

POV.


Estava dançando sozinha, ignorava as pessoas me encarando, aquilo era minha terapia. Curtia as músicas enquanto esquecia do problemão em que eu havia me metido, tentando não pensar tanto em ..

"Hace rato que no me sentía así . Solita bailando, pónganme otra rola"


Senti alguém chegando muito perto, ia me virar para olhar, mas não tive tempo. Seu braço passou pela minha cintura e seus lábios beijaram meu pescoço. Aquele perfume, claro que era o argentino.
Me virei de frente pra ele, que sorriu enquanto ajeitava os braços em minha cintura. Encarei seus olhos, minhas mãos já estavam espalmadas em seu peito. Cogitei me afastar, mas me sentia tão confortável ali, com seus olhos nos meus.

"No te quito la mirada desde que te vi, estoy imaginando el sabor de tu boca"


Abri a boca diversas vezes mas não consegui falar. Eu queria ele, queria muito, mas tinha outra pessoa no meio.
— Não precisa — ele disse baixinho, acariciando meu rosto com as costas de sua mão. — Eu já sei, eu vou resolver.

"Un error que se puede olvidar"


Laila, é claro. Eu sabia que ela estava tramando algo quando mandou Alex até seu carro, eu vi ela guardando a identidade no bolso assim que chegamos. Se foi atrás de mim mesmo depois da minha indiferença, tinha dedo dela.
Eu ainda o encarava quando ele se inclinou para me beijar.

"Que no se acabe la noche, que dure un poco más"


Ele já sabia que eu aceitaria o beijo. Era impossível negar com aquela proximidade toda.

"Quiero un shot de tus besos pa' poder recordar"


Senti faíscas quando seus lábios se encostaram no meu, o sorriso foi involuntário. Me deixei levar, eu já sabia que aquilo poderia acontecer. Na verdade eu queria que acontecesse, por mais que negasse.

"Las malas decisiones y las que vamo' a tomar
Lo que pase entre nosotros ninguno lo va a hablar"


Envolvi seu pescoço enquanto retribuía o beijo, me permitindo esquecer toda a confusão. Não sei se ele de fato resolveria a questão entre mim e Alex, mas decidi confiar que sim. Enquanto ele passava a mão pela minha cintura, finalmente entendi o olhar de Laila enquanto eu me arrumava, ela sabia.

"Hoy me puse linda para verte y tú que estás con suerte
No quiero tequila quiero a ese y yo ni sé qué tiene"


É claro que eu havia me arrumado inteira pensando em encontrar com ele, eu nunca me arrumava tanto para ir em um pub. No meu interior eu queria que o argentino me visse e ficasse comigo de novo. Só não tinha coragem de assumir.

"Hoy me puse linda para verte y tú que estás con suerte
No quiero tequila quiero a ese"


— Quer sair daqui? — Perguntou ao partir o beijo. — Acho que a gente precisa conversar.

"Que no se acabe la noche, que dure un poco más"


Ele tinha razão, precisávamos mesmo conversar, eu queria falar com ele antes que ele falasse com Alex, mas sinceramente? Não naquele momento.
Neguei com a cabeça, beijando ele logo em seguida.

"Quiero un shot de tus besos pa' poder recordar
Las malas decisiones y las que vamo' a tomar"


O beijo de era viciante, eu poderia passar a noite inteira com ele assim. Decidi então aceitar sua proposta de sair dali, mas já deixando claro que minha intenção não era conversar.
"Lo que pase entre nosotros ninguno lo va a hablar"


Eu nem sei como chegamos ali, Kevin me pressionava contra a porta enquanto tentava sem sucesso, diga-se de passagem, passar o cartão de acesso para abrir a suíte do hotel. Ele estava mais interessado em minha cintura.
Depois de alguns minutos ele finalmente conseguiu abrir a porta e me guiou para dentro, sem quebrar o beijo.
Em um lugar mais privado, suas mãos já demonstravam mais ousadia com meu corpo, passando por lugares nos quais eu jamais deixaria alguém tocar em público, mas que ali ele poderia me tocar à vontade.
Sua língua deslizava pelo meu pescoço me deixando completamente mole, era quente e suave, uma mistura perfeita que me deixava excitada. Segurei os cabelos recém cortados de sua nunca o incentivado a continuar, minha mão livre passeava por de baixo da camisa branca sentindo cada músculo que havia ali, arranhando levemente uma vez ou outra. Eu podia sentir ele se arrepiando com meu toque.
Gostoso, muito gostoso, não havia definição melhor para a visão que eu tive quando arranquei sua camisa.
Agora em um ambiente mais iluminado e com menos tecidos, me permiti observar mais dele novamente, via que sua pele estava bem queimada de sol, um misto de bronzeado com tons em rosa, típico de quem passa muito tempo debaixo de raios solares. Ele tinha uma série de tatuagens, principalmente em seu braço esquerdo, ontem eu não pude ver nenhuma delas, uma vez que ele usava uma camisa de manga longa.
Impressionante como cada detalhe deixava ele ainda mais bonito. Deslizei minhas mãos por seu corpo explorando tudo, tentando gravar cada parte.
Demonstrando que era habilidoso não só com a língua mas também com as mãos, o argentino me levantou com um movimento rápido e eu logo enrosquei minhas pernas em sua cintura. Meus sapatos? Eu não tinha ideia do momento em que eu fiquei sem eles, mas já não estavam mais ali. A única coisa em que eu conseguia pensar era na ereção que pressionava minha intimidade que a essa altura já estava úmida. Apertei minhas pernas com um pouco mais de força, querendo sentir mais dele. Minha cabeça tombou para trás quando escutei ele gemer com o contato, havia algo que ele fazia que não era excitante? Se ele continuasse gemendo no meu ouvido daquele jeito eu poderia ter um orgasmo só com a pressão da sua ereção no meu sexo. Um calor imenso já tomava conta do meu corpo.
— Você precisa….tirar meu vestido — disse com certa dificuldade quando a sua língua passou pelo decote do meu vestido — Agora.
Ele fez o caminho de volta para o meu pescoço, dessa vez com beijos lentos que me excitava ainda mais. Quando chegou perto da minha orelha, senti seus dentes darem uma leve mordida ali, me causando novos arrepios. Mas nada comparado ao tremor que eu senti quando sua boca passou para a minha bochecha e depois roçou nos meus lábios.
Me sentia hipnotizada, seu olhar era magnético e ele não parava de me olhar.
— Seu pedido é uma ordem — disse baixinho.
Em silêncio, ele caminhou comigo em seu colo até me encostar em uma pilastra, mantendo meu corpo apoiado ali. Eu não me atrevi a soltar seu pescoço, não só por medo de cair, mas também para aproveitar tudo o que podia naquele momento. Enquanto dava beijinhos na sua pele, vi ele pegar a carteira no bolso da calça preta e atirar na cama arrumada. Camisinha, claro.
Suas mãos voltaram ao meu corpo e se prenderam a barra do vestido que eu usava. Soltei seu pescoço e me apoiei com uma mão em seu ombro e outra na pilastra assim que o tecido começou a subir pela minha barriga. Eu adorava admirar o corpo de um cara antes de transar com ele, então porque não deixar eles admirarem o meu? Eu sabia que aquilo era tão excitante para eles quanto era pra mim, porque não dividir?
Soltei uma risadinha baixa quando ele umedeceu os lábios ao terminar de tirar meu vestido. Seus olhos passavam do meu rosto para os meus seios desnudos e demoravam ali, depois seguiam pela minha barriga e demoravam ainda mais na calcinha de renda branca. Ele fez esse caminho diversas vezes até finalmente me tocar.
Sua boca chegou até a minha no mesmo instante em que uma de suas mãos foi de encontro com meu seio, seu toque era firme e suave ao mesmo tempo, ele fazia a mesma coisa no interior da minha coxa com a mão que me sustentava.
Resmunguei quando ele partiu o beijo, só para depois desfrutar da sua voz no meu ouvido. — Vai passar a noite, aqui? Não vai fugir? — Falou em um inglês perfeito, mas sem perder o sotaque argentino.
— Muy temprano, bebé — ri baixinho, passando a mão pela sua nuca.
se afastou, me olhando novamente daquela forma hipnotizadora. Perdi o fôlego outra vez. Aquele olhar era um perigo.
Sem quebrar o contato, sua mão voltou a sustentar minha coluna e ele caminhou comigo em seu colo até me colocar na cama com cuidado, como se eu fosse uma peça extremamente delicada.
A contra gosto, soltei minhas pernas de sua cintura para me ajeitar na cama, mas ele já estava fazendo isso. Enquanto uma de suas mãos permanecia na cama sustentando seu peso, a outra guiava meu corpo para que eu me apoiasse no travesseiro. Gentil.
Sua mão separou com delicadeza minhas pernas, buscando espaço para se encaixar ali. E a forma como ele me olhava, eu não sabia explicar, mas ele não parava de me olhar nos olhos e eu também não conseguia desviar, ninguém nunca havia me olhado assim, e isso me trazia uma sensação nova que eu não sabia como expressar, mas era algo que me agradava. Seus dedos roçaram na lateral da minha calcinha, ele abaixou a peça lentamente, intercalando o olhar entre mim e o novo caminho que descobria entre as minhas pernas. Não tive o mesmo pudor na hora de tirar sua boxer, puxei o pedaço de pano o mais rápido que consegui enquanto ele retirava o preservativo de sua carteira.
Fiquei surpresa quando ele entregou em minhas mãos. Não era algo que eu tinha costume de fazer, mas também não era algo que eu nunca tinha feito.
Me ajoelhei na cama e encarei o belo par de olhos mel enquanto abria a camisinha. Minha mão envolveu seu membro para colocar o preservativo e eu não pude deixar de tirar proveito da posição - ou devo dizer, situação - , principalmente quando escutei ele arfar com meu toque. Deslizei minha mão por sua rigidez novamente, tendo uma resposta positiva através de seus gemidos, repeti o movimento uma série de vezes ao invés de colocar logo a camisinha. Continuei com o toque em seu membro até ele apertar minha cintura com mais força do que nas outras vezes.
Coloquei a camisinha nele e me joguei nos travesseiros novamente, levando o argentino comigo dessa vez.
Eu estava tão molhada que ele não teve dificuldade alguma para se enterrar em mim, mesmo sem preliminares. Ele havia me excitado muito, com pouco. Foi um deslizar tão gostoso que nós gememos juntos. Meu corpo se arrepiou ao imaginar como seria uma entrega total dele. Ele aproveitava cada parte do meu corpo durante o sexo, quando não eram suas mãos em algum lado, era sua boca. me girou na cama, me colocando por cima. Fui surpreendida mais uma vez.
Arqueei uma sobrancelha enquanto olhava para ele, completamente perdida. Eu nunca ficava por cima na primeira transa com alguém. Era sempre mais fácil ficar embaixo quando eu ainda não sabia do que a pessoa gostava.
Escutei sua risada gostosa, enquanto ele se ajeitava para colocar seu membro novamente em mim, me fazendo soltar o milésimo gemido naquela noite. Ele levou minhas mãos até sua barriga, fazendo com que meu corpo arqueasse um pouco sobre o dele, arrancando gemidos involuntários de nós dois. Suas mãos foram até o meu quadril e repousaram ali.
— Eu quero ver você — disse baixinho, mordendo os lábios.
Seus cabelos claros já começavam a grudar em sua testa.
Respirei tentando recobrar os sentidos. Eu sabia fazer aquilo, porque estava agindo feito uma virgem?
Comecei a rebolar lentamente em seu colo, observando o seu rosto mudar de feição com cada movimento meu. Quando ele gemia e me apertava mais, eu acabava acelerando, mas desacelerava logo depois, desfrutando das sensações que seu corpo causava no meu. Sua mão subiu deliciosamente por minhas curvas, até encontrar o elástico que prendia meu cabelo e soltá-lo com facilidade. Os fios escuros caíram em cascata, se juntando às minhas costas.
Intensifiquei os movimentos já necessitando de algo mais. Aproximei o meu rosto do seu, soltando uma formalidade num sussurro, algo que eu deveria ter dito mais cedo.
— É um prazer te conhecer — ri baixinho e voltei a encará-lo, prestes a chegar ao meu ápice.
Ele acariciou meu rosto com as costas da mão novamente e segurou meu quadril, fazendo com que eu parasse os movimentos. O que ele estava fazendo? Antes que eu pudesse questioná-lo, ele me puxou em direção a seu rosto novamente.
— Com essa personalidade e esse rosto — começou, com a voz já rouca — o prazer é todo meu. Arfei mais uma vez quando ele me puxou mais ainda e sussurrou no meu ouvido.
— As damas primeiro.
Foi quase inaudível, mas foi excitante o suficiente para que eu voltasse a rebolar em cima dele, com mais intensidade do que antes.
Involuntariamente fechei os olhos enquanto mordia os meus lábios, sentindo o seu corpo debaixo do meu, desfrutando tanto quanto eu.
Sentia os espasmos cada vez mais intensos, quando abri os olhos e vi ele me olhando novamente daquela forma, foi o suficiente para que eu gozasse.
Gemi sem nenhum pudor enquanto ainda me movimentava em cima dele, para que ele chegasse ao seu ápice também. Não demorou muito para seus dedos apertarem minha cintura com força e ele urrasse de prazer como eu, demonstrando que havia atingido o orgasmo.
Deixei que ele me beijasse por um bom tempo antes de sair por completo de mim. Eu estava sentada em seu colo enquanto ele me envolvia, ainda experimentando algo completamente desconhecido. Eu não gostava daquela proximidade pós sexo, não com recém conhecidos, mas ele me fazia ter vontade de experimentar como era isso. Eu não queria que aquela noite acabasse.
Senti uma sensação estranha quando nossos corpos se separam e ele foi se livrar da camisinha, quase como se faltasse alguma coisa.
Fiquei ali sentada, pensando nos últimos acontecimentos. Eu me senti feliz por estar ali, mas a parte que pensava no surto de Alex queria sair correndo. No entanto, a "cagada" já estava feita, não tinha muito o que fazer.
?
Escutei ele me chamar, estava parado na minha frente, com sua boxer azul marinho. Pelo seu tom, não era a primeira vez que me chamava. Eu nem tinha visto ele voltando do banheiro.
— Sim? — Respondi, ajeitando meu cabelo rebelde em um coque.
— Quer ficar?
Seu sorriso era convidativo, parecia tão interessado em mim quanto eu estava nele. Já estávamos ali. Eu queria ficar.

Capítulo 3 — Labios Compartidos


POV.



– Então... – começou, enquanto fazia carinho no meu ombro.
– Então... — disse, rindo baixinho e sendo acompanhada pela risada suave dele.
Estávamos a um bom tempo em silêncio, só apreciando a companhia um do outro.
estava encostado na cabeceira da cama e eu encostada nele, não me importei em me vestir, me sentia confortável enrolada no lençol enquanto ele contornava meu ombro e abraça minha cintura com a mão livre.
Apertei a perna dele por cima do lençol quando senti seus lábios na curvatura do meu pescoço novamente, arrancando outro riso dele.
— Posso te perguntar uma coisa? — Perguntou de forma tranquila.
– Pode.
Fiz carinho de forma distraída no seu braço que estava sob minha barriga. Ele não parava de beijar meu pescoço, ia ficar difícil manter a conversa se ele continuasse me deixando mole daquele jeito.
— Quantos anos você tem?
– Quantos anos VOCÊ tem? - Retruquei, imaginando que ele já sabia a resposta para sua própria pergunta. Mas também queria saber sobre ele.
— Eu perguntei primeiro – disse enquanto mordia minha orelha, ao mesmo tempo me deu um cutucão na barriga fazendo com que eu risse.
– Aí - resmunguei. – Tenho 16, vou fazer 17.
— Tenho 20.
— Bom.
Já imaginava que ele fosse um pouco maior que eu. Mas eu era como a Becky G, a mi me gustan los mayores.
— Uhum – sua mão abandonou meu ombro e começou a percorrer meu braço. — Quer saber mais alguma coisa?
Tudo. Queria saber absolutamente tudo sobre ele, parecia ser o cara mais interesse que eu havia conhecido nos últimos tempos, e tinha algo nele que me fazia querer mais dele, não sexualmente falando (embora essa parte tenha sido muito boa), mas era ele, a pessoa em si, me parecia atrativa demais.
– Muitas coisas, mas vai ficar difícil me concentrar com você me alisando desse jeito. – falei, em tom de brincadeira.
riu, pousando a mão perto da minha que estava em sua perna.
— Pode perguntar — disse, dando um beijinho em meu pescoço.
— O que você veio fazer no Canadá? — Aquilo talvez fosse uma das maiores curiosidades em relação a ele.
– Eu…— sua mão se agitou perto da minha, temi ter tocado em assunto delicado quando vi que ele enrolava para falar.
— Esquece – falei querendo mudar de assunto. — Me conta o que a Laila te falou pra você ir me procurar.
– Não, tá tudo bem — disse, ajeitando meu cabelo. — É só que eu passei os dois últimos dias enlouquecido por sua causa e esqueci o motivo de ter vindo pra cá, não tinha pensado nisso até agora.
Me ajeitei na cama, puxando o lençol junto comigo e me sentei de frente pra ele, minhas pernas esbarrando nas suas.
sorriu sem graça, um pouco tímido. Seu olhar era adorável.
Sorri admirando enquanto ele abaixava os olhos para os lençóis e mordia os lábios.
– Eu fiz de propósito – confessou, voltando a me olhar.
Não entendi o que ele havia feito, a confusão deveria estar explícita em meu rosto, já que ele logo começou a se explicar.
— A bebida, derrubei em você de propósito.
Oi?
riu baixinho, percebi que estava de boca aberta. Tratei de fechar e chacoalhei a cabeça em negação, ainda sem acreditar.
– Eu estava procurando o Alex — A forma envergonhada como ele mordia os lábios roubava a minha atenção — Só que eu vi você dançando sozinha, chamou minha atenção na mesma hora que eu olhei pra você, .
– E você achou que o jeito mais fácil de falar comigo era derrubar uma bebida em mim? – ri ainda sem acreditar.
– Não vou entrar nesse assunto agora — ele riu quando eu fiz cara de emburrada. — Vou responder sua outra pergunta.
— Não precisa, sério.
– Não, tá tudo bem. Eu já me acostumei, ou quase.
Fiquei ainda mais confusa.
— Vim consultar um especialista – começou a falar, enquanto puxava distraidamente meus pés para cima de suas pernas. — Eu arrebentei meu joelho no começo do ano passado - ele fazia carinha em meu tornozelo – e me falaram que eu não podia mais jogar.
Imediatamente me senti péssima por ele, como um jogador deve se sentir quando alguém diz que ele não pode mais jogar? Seus sonhos, sua carreira...tudo indo por água abaixo.
, eu...
— Tá tudo bem — interrompeu, apertando carinhosamente meu joelho. — Eu demorei quase um ano pra aceitar, mas sei que tudo tem uma razão, não descobri ainda qual, mas sei que tem uma. Percebi que realmente aceitei minha condição quando o especialista me disse que meu joelho não tinha mesmo solução e eu fiquei numa boa. Então talvez eu não devesse estar jogando nesse momento.
Coloquei a minha mão por cima da sua, que ainda estava no seu joelho.
— Sinto muito.
Ele assentiu, fazendo carinho na minha mão com o polegar. Logo meu pensamento foi pra outra coisa.
— Então acho que você não vai ficar muito tempo por aqui, né? — Tive a impressão que a minha voz saiu triste.
— Eu não tô com pressa de voltar, — sua mão brincava com a minha. — Meu visto é de três meses e eu não tenho nada pra fazer em Córdoba.
Sorri, sem tirar os meus olhos dele.
— Vem cá — ele disse, me puxando para perto dele novamente.
Minhas pernas ficaram em seu colo enquanto eu permanecia sentada quase em cima dele. Enquanto uma mão me sustentava, a outra passava pelo meu pescoço enquanto ele aproximava seus rosto do meu. Mordi os lábios quando senti seu hálito bater em minha pele.
Ele beijou devagar a curvatura do meu pescoço e foi subindo lentamente até encostar seus lábios nos meus, cedi assim que sua língua pediu passagem
tinha um beijo tão delicioso, eu não cansava de pensar o quanto era gostoso sentir os seus lábios nos meus, podia jurar que a sua boca foi feita pra se encaixar com a minha. Resmunguei quando ele partiu o beijo, recebendo uma risada baixinha em resposta, ele foi dando selinhos em meu queixo e continuou descendo, até chegar ao meu colo e roçar os lábios ali. Embrenhei minha mão livre em seus cabelos enquanto desfrutava das suas carícias.
— Achei que a gente estava conversando — arfei.
Eu não sabia se queria mais uma rodada de sexo imediata ou simplesmente conversar, a transa havia sido muito gostosa e ao mesmo tempo, me despertava muita curiosidade.
— Mas a gente tá conversando — riu, passando a língua perto do vão entre meus seios. O engraçado é que ele mesmo poderia ter abaixado o lençol, mas ao invés disso segurava o tecido na minha cintura para que ele me mantivesse coberta. Ok, a curiosidade venceu.
Soltei seus cabelos e coloquei a mão no seu ombro o empurrando de leve enquanto ria.
Ele voltou a se encostar na cabeceira da cama, mordendo os lábios na tentativa de esconder uma risada.
— Pode perguntar.
— Você me parece tão gentil que eu me pergunto de onde saiu — soltei, sem conseguir formular uma pergunta.
Notei seu rosto assumindo um tom avermelhado.
— Eu cresci vendo o meu pai tratar minha mãe muito bem — sua voz tinha um tom de admiração. — Ele sempre dizia pra gente que ela era uma dama e que era assim que deveríamos tratar as mulheres.
Então era assim que era ter bons pais? Que se preocupavam em te passar valores?
— Como são seus pais? — perguntou, me pegando de surpresa.
Eu odiava falar dos meus pais, era difícil explicar e nem sempre eu era compreendida. Tentei mudar de assunto.
— Você disse a gente, tem irmãos? — perguntei, ajeitando o lençol no meu corpo.
No começo ele me olhou confuso, mas depois sua expressão se suavizou. Não sei se ele entendeu ou não que eu não queria falar sobre esse assunto, mas fiquei feliz por ele ter dado continuidade a minha pergunta ao invés de ter insistido na dele.
— Eu tenho um irmão, ele é 4 anos mais velho e é biólogo — contou.
— Eu tenho um também, ele tem um ano a mais que você. Ben.
— Devo me preocupar? — brincou.
— Normalmente quem deve se preocupar são as namoradas dele — ri.
— Não parece ciumenta — sua sobrancelha arqueada me fez achar graça.
— E não sou, exceto quando o assunto é meu irmão.
Ele assentiu, tentando esconder sua risada mais uma vez. Achei fofo.
— Falou em espanhol mais cedo, a quanto tempo aprendeu?
Me ajeitei na cama, coçando um pouco a cabeça.
— Eu falo desde que eu sou criança.
— Por isso você sabe falar com sotaque? Com quantos anos te colocaram em uma escola?
Cocei mais um pouco a cabeça, eu não ligava em falar daquilo, mas às vezes as pessoas achavam que era piada e eu me sentia ofendida.
Decidi dar um voto de confiança, com a sua reação eu poderia descobrir mais sobre ele, sem perguntar.
, — comecei — eu nunca fiz aulas, eu aprendi sozinha. Falo e entendo espanhol desde que era criança — ele se ajeitou na cama, me olhando de forma séria, continuei. — Ninguém nunca me ensinou e nem falava outro idioma comigo que não fosse o inglês.
— As vezes eu acho que trouxe isso de uma vida passada ou sei lá, eu..
Ele me interrompeu.
— Acredita nessas coisas? - Assenti. — Eu também.
Sorri, achando ele ainda mais interessante.
— Gosto muito da cultura de vocês também, sinto como se fosse algo ao qual já pertenci, que um pedaço meu não pertence ao Canadá mas sim a Argentina.
— De onde você acha que era? Na sua outra vida - explicou.
— Não sei se eu era, mas gosto muito de Buenos Aires — percebi ele abrindo um sorriso. — Gosto muito do país, do futebol, das músicas. É estranho, porque eu nunca pisei lá, mas gosto, sinto como se eu tivesse uma ligação com esse lugar.
Sua mão buscou a minha e ele entrelaçou os seus dedos nos meus.
— Irônico você ter trombado justo com um argentino — ele riu enquanto me olhava.
Me encostei na cabeceira da cama, sem soltar nossas mãos.
— O mais irônico é você ser cordobes.
— Porque? — Questionou, suas sobrancelhas arqueadas demonstravam curiosidade.
Brinquei com a cordinha em seu pulso antes de responder.
— Eu gosto muito de um gênero musical que é de lá, cuarteto, meu cantor favorito do gênero é cordobes também - olhei pra ele enquanto ainda brincava com o fio vermelho em seu braço. — E se você me falar que não gosta de cuarteto eu vou embora desse quarto agora mesmo — brinquei.
— Se você me falar que esse cantor não é o Rodrigo, eu te expulso agora mesmo - disse no mesmo tom que eu.
Era ele mesmo, Rodrigo.
— Parece que hoje é nosso dia de sorte — me inclinei para ele enquanto rimos. Enrosquei meus braços em seu pescoço e estava prestes a beijá-lo, mas quando seus lábios estavam próximos o suficiente dos meus, escutamos um barulho de celular tocando.
Era o meu.
— Não atende — pediu, roçando o nariz na minha bochecha. Suas mãos passeavam pelas minhas costas descobertas. Atendi seu pedido, mas não adiantou muita coisa, já que seu celular começou a tocar. Como ele estava bem mais próximo que o meu, pude ver quem era. Alex. Me afastei de , quando ele ficou sem entender, peguei o celular da mesinha de cabeceira e entreguei na sua mão.
— Quer que eu atenda? — Assenti. Ele atendeu e colocou no viva voz.
— Ei, já tá voltando? — Escutamos a voz do outro lado da linha.
— Voltando? — perguntou, me olhando confuso. Neguei com a cabeça, sem entender também.
— Sim. Laila me disse que passou mal e você se ofereceu pra levar ela em casa.
— Ah sim — ele me olhou, querendo ajuda para emendar a desculpa, mas não me atrevi falar nada, não queria que Alex ouvisse a minha voz. — Cara desculpa, ela vomitou quando chegou na casa dela e eu passo mal toda vez que vejo alguém vomitando. Eu deixei ela com o irmão e achei melhor voltar pro hotel.
— Eu não acredito que a estragou meu rolê - escutei ele reclamando, achando que tinha se afastado o suficiente do telefone, ele sussurrou um "vagabunda" e logo em seguida escutei a voz de Laila mandando ele calar a boca. fechou a cara na hora. Me levantei da cama procurando pela minha calcinha e meu sutiã, acompanhou com o olhar enquanto eu pegava as peças, mas voltou a olhar pra cama quando eu comecei a soltar o lençol.
— Não foi culpa dela. Na verdade eu já estava dormindo, acabei não te avisando que não ia voltar, mas a gente pode conversar depois? — Alex concordou, com voz de quem não gostou muito.
se despediu e encerrou a chamada, desligando o telefone logo depois.
— Vai embora? — Parecia desapontado.
— Não — respondi enquanto voltava para cama. Me encostei na cabeceira novamente. — Só que a ligação quebrou o clima.
— Tudo bem.
Ele ficou me olhando, como se quisesse falar algo, mas não soubesse como.
— Pergunta.
Ele estava deitado de lado enquanto apoiava a cabeça na mão, sustentada por seu cotovelo.
— Não é exatamente uma pergunta, mas é que parece que você tem medo do Alex.
— Eu tenho - respondi, sem olhar para ele.
— Vocês não são amigos? — Concordei com a cabeça. — Que amizade estranha é essa?
— Ele é muito rancoroso - comecei. — O Alex sabe como acabar com a raça de uma pessoa quando fica com raiva e eu não tô afim de entrar pra lista negra dele - expliquei.
— Não me parece que uma amizade deva funcionar assim - seu tom era sério, quase de reprovação.
E não devia mesmo, mas Alex também tinha coisas boas das quais eu gostava.
— Eu vou falar com ele, não se preocupe.
me puxou devagar, me deixando bem perto dele.
Eu assenti, concordando, mas na realidade eu me preocupava sim, porém não adiantava muito expor aquilo a ele, não tinha muito o que fazer por hora.
Ficamos em silêncio novamente, depois do que pareceram cerca de 10 minutos, começou a demonstrar sinais de sono e eu resolvi levantar para apagar a luz, quando eu voltei arrastei um edredom para cima de nós dois. Gostei quando ele envolveu meu corpo com os braços, não demorei muito para me encolher em seu peito, me sentindo extremamente confortável ali. Porque aquilo parecia tão certo?

•••


Acordei com a luz do dia invadindo o quarto, pareciam ser 9:00 horas. Eu havia dormido tão bem, tão confortável, e eu sabia que não era por causa da cama, uma vez que eu tinha uma igual.

— Bom dia — escutei a voz dele, as costas de sua mão passavam pelos meus ombros em uma espécie de carinho.
Me afastei um pouco, olhando para ele.
— Bom dia — pisquei algumas vezes, tentando me acostumar com a claridade — Acordou faz tempo?
Ele assentiu, disfarçando uma risadinha. Senti o aroma de pasta de dente quando ele riu. Ou ele não dormiu nada ou já estava acordado a muito tempo. Apostava na primeira opção.
— Eu te chutei, né? A noite toda. - Queria sumir.
riu, concordando com a cabeça.
— Mas eu consegui dormir, fica em paz. — Suas palavras vieram acompanhadas das suas mãos me puxando pra mais perto dele.
Dei um tapa em minha própria testa. Eu sempre fazia isso.
Me inclinei por cima dele para pegar meu celular, o relógio marcava 11:47. Meu Deus.
Me assustei com a hora e acabei derrubando os dois celulares na hora de colocar de volta na mesinha.
— Tenho 40 minutos para chegar em casa — disse apressada, saindo da cama.
Corri pelo quarto atrás dos meus pertences enquanto fazia tudo com calma, não tive muita dificuldade em achar tudo, uma vez que era pouca coisa e o quarto estava arrumado. Coloquei o vestido no caminho para o banheiro, felizmente era uma suíte de casal e eu encontrei uma escova de dentes fechada em cima da pia. Comecei a escovar assim que lavei meu rosto.
entrou no banheiro logo depois, ele já havia colocado a calça, meias e um par de botas.
Ele parou atrás de mim e subiu o zíper do meu vestido enquanto eu ainda escovava meus dentes. Quando ele olhou para a pia, imaginei que ele queria escovar seus dentes novamente, então dei um espaço na pia para que ele pudesse fazer o mesmo que eu. Mas ao invés disso ele pegou um pente que estava lá e simplesmente começou a pentear o meu cabelo.
Fiquei imóvel com a escova na boca observando o que ele fazia através do espelho. De onde esse homem havia saído?
Quando vi a hora no relógio em seu pulso, voltei a movimentar a escova na boca, mas sem tirar os olhos dele, observei pelo reflexo ele tirar um elástico do pulso - o mesmo que eu havia usado na noite anterior - e prender meu cabelo em um rabo de cavalo quase perfeito. Depois ele simplesmente me deu um beijo na bochecha e saiu, encostando a porta.
Meu Deus, eu queria que ele fosse meu namorado.
Cuspi o resto da pasta de dente na pia e enxaguei minha boca, ainda sem acreditar que os últimos 3 minutos não foram uma alucinação da minha cabeça.

Quando sai do banheiro, estava sentado na cama já com a camisa e as chaves do seu carro na mão.
— Eu posso pegar um táxi, não precisa se incomodar — falei, buscando meus sapatos.
— Não tem incômodo, . Eu te levo.
— Obrigada, só preciso colocar meus sapatos.
Me sentei na cama, pegando o par de sapatos pretos.
puxou um dos pares da minha mão e colocou nos meu pé, enquanto eu colocava o outro.
— Obrigada - agradeci com um sorriso, admirada mais uma vez. Ele retribui o sorriso.
Me levantei para pegar o meu celular e joguei o coitado de qualquer jeito dentro da bolsa depois de ver que tinha apenas 25 minutos.
me chamou, enquanto eu brigava com o zíper da bolsa.
Ele me estendeu uma caixa branca, a mesma que eu havia visto na manhã anterior.
Abri a caixa enquanto me sentava novamente, de um lado estavam os meus sapatos da noite anterior e do outro havia uma sacolinha de tnt com o par que havia comprado para mim, sapatos esses que eu nem me dei ao luxo de abrir depois da ligação do Alex. Era um presente de certa forma, e eu me recusava a ser mal educada com ele e dizer que veria depois, me permiti esquecer do horário por alguns minutos.
Abri o tnt e puxei um dos sapatos de dentro. Fiquei maravilhada quando o primeiro saiu, ele era todo preto, tinha uma tira na parte do tornozelo que parecia ser de um glitter muito discreto e uma tira lisa na parte do pé. Era lindo.
O Argentino me observava em silêncio.
Coloquei os saltos novos na cama e tirei os meus (que na verdade eram de Laila), jogando dentro da caixa, junto com o outro par.
Assim que eu calcei os saltos vi como eles ficaram perfeitos nos meus pés, eram bonitos, sofisticados e combinavam comigo, até mesmo com o vestido que eu usava naquele momento.
Peguei a caixa novamente e fiquei de pé na frente de .
— Obrigada, eu amei.
Ele sorriu em resposta. Peguei sua mão sem pensar duas vezes quando ele a esticou na minha direção.
— Eu achei que você ia gostar de algo com brilho, tinha bastante no seu vestido quando eu te conheci — explicou enquanto saiamos da suite.
Sorri maravilhada pelo fato dele ser detalhista.
Paramos em frente ao elevador.
— Por aqui é mais rápido, mas a gente pode ir pela escada se você quiser.
— Tudo bem, vamos por aqui.
Assim que a porta metálica se abriu, me puxou para dentro e aproximou seu rosto do meu.
— Respira fundo — sua mão apertava a minha.
Fechei o olho, respirando da forma mais decente que conseguia no momento.
Pareceu uma eternidade até aquela coisa parar. Quando saímos, eu precisei respirar fundo mais um par de vezes. Meu Deus eu odiava mesmo aquela coisa.
— Precisa parar de pensar no elevador - começou, pegando na minha mão novamente. Parecíamos até um casal. — Ontem você tava tão distraída que não deu a mínima pra ele - brincou.
— É que eu tinha coisas bem melhores pra prestar atenção.
Ele ainda ria quando abriu a porta do carro para mim.
— Seus pais não sabem que você saiu de casa ontem? - Perguntou, ajeitando o cinto.
— Eu estava na casa da Laila.
Liguei o GPS no carro e coloquei o meu endereço, assim eu não teria que ficar explicando o caminho o tempo todo. Eu tinha 15 minutos e o gps apontava que levariam cerca de 12, esperava que ele estivesse certo.
— Então você foi pro pub escondido? - Perguntou novamente.
Rolei os olhos, meus pais isso, meus pais aquilo, meu Deus.
— Você é muito curioso, sabia? - ri tentando escapar do assunto pais.
Ele deu partida no carro enquanto ria do que eu disse.
— É que você tem 16 anos, tava em um pub com identidade falsa e agora tá desesperada pra chegar em casa antes do almoço. Parece que tem algo errado, sei lá - ele falava sem tirar os olhos da rua.
— É um almoço idiota da empresa dos meus pais, todo domingo tem uma especie de almoço com os sócios e suas famílias, é um saco. E toda semana Ben e eu somos arrastados para lá - expliquei enquanto ele assentiu, parecia mais tranquilo agora. — Laila normalmente também vai, mas como os pais dela estão viajando ela tá livre disso.
— Não me parece algo tão ruim.
— É porque não são os seus pais se gabando sobre os filhos perfeitos que eles nem tem. Quando o sinal fechou, ele me olhou e me ofereceu um sorrisinho constrangido.
— Desculpa.
— Tudo bem, eu já me acostumei, só é chato escutar sempre a mesma coisa quando eles começam a falar.
— Vai fazer o que depois? - Perguntou, olhando novamente para a rua.
Sorri ao notar que ele mudou de assunto vendo que o anterior não me agradava muito.
— Fala sério, eu vou dormir o dia todo - ri, sendo acompanhada por ele novamente.
— Que pena - ele fez uma careta fofa enquanto encostava o carro na frente da minha casa — Achei que talvez quisesse jantar comigo.
Sorri involuntariamente. O convite era tentador, mas eu realmente precisava de descanso depois daquele final de semana, e eu sabia que se fosse encontrar ele naquela noite, a última coisa que faria seria descansar. Tirei o cinto e aproximei meu rosto do seu, dando um selinho nele.
— E se você me levar pra jantar amanhã? - Propus.
Observei ele morder os lábios antes de assentir.
— Vou resolver nosso problema hoje, ok? - Disse de forma tranquila.
Ele achava mesmo que ia conseguir resolver aquilo sem deixar Alex uma fera. Eu não sabia muito bem o que ia acontecer, mas ele com certeza não aceitaria aquilo numa boa. Como eu não queria estragar o momento com aquele assunto novamente, só concordei com a cabeça.
— Vem cá - sua mão quentinha fez um carinho na minha bochecha, mas quando eu achei que ele fosse me dar um beijo de até logo, ele simplesmente me deu um beijo na bochecha.
Oi?
Me afastei um pouco tentando entender o que aconteceu. se ajeitou no banco e começou a rir.
— Hm.. - parecia constrangido — Tem um cara na porta olhando a gente, acho que é seu irmão.
Foi minha vez de rir. Olhei pela janela do carro para confirmar se realmente era Ben, mas qual era o problema? Pelo amor de Deus.
Me inclinei novamente na direção dele, eu queria pelo menos um beijo decente antes de Alex me trucidar. Eu nem tinha garantia de que ia mesmo conseguir me encontrar com o argentino de novo depois que ele ficasse sabendo da história toda.
Apesar do constrangimento de poucos segundos atrás, ele não teve dificuldade nenhuma de retribuir o beijo. Com a mesma intensidade do dia anterior.
— Te ligo mais tarde pra saber como foi a conversa? - Perguntei, mais na intenção de simplesmente falar com ele do que saber sobre o infeliz assunto.
— Eu ligo pra você.
Dei mais um selinho nele antes de sair do carro.
Ben estava parado na porta com um sorrisinho debochado. Fiz uma careta enquanto me aproximava da porta.
— Você é inacreditável, - Ben me abraçou pelos ombros, enquanto me arrastava para dentro de casa.
Ri com ele enquanto escutava o carro de dar partida.
POV.



Havia dormido quase o dia todo e mesmo depois de uma ducha fria, meu cérebro ainda tinha um pouco de dificuldade para assimilar o que foram os últimos dias.
... Meu Deus eu não tinha palavras pra descrever o que era . Depois ainda tinha toda a confusão com o Alex.
Eu tentei ligar para ele assim que cheguei no hotel, mas ele não atendia. Tentei o whatsapp também, mas as mensagens não eram visualizadas. Eu duvidava muito que iria querer sair de novo comigo se aquele assunto não tivesse sido resolvido.
Liguei novamente. Sem resposta, droga. Tentaria novamente mais tarde.
Estava com a cabeça tão confusa que não havia notado as outras notificações no celular, a primeira era de no direct do instagram. Ri assim que vi a mensagem que ela tinha mandado "Wakeup, princess". Percebi também que ela aceitou minha solicitação e havia me seguido. A curiosidade estava me matando.
A primeira publicação que abri era do dia de hoje, provavelmente do famoso almoço. estava impecavel em um vestido negro, quando passei para foto seguinte da publicação vi que o vestido era longo e que ela usava o par de saltos que eu tinha comprado duas noites atrás, ela tinha mesmo gostado. A foto seguinte era abraçada com seu irmão que eu havia visto mais cedo, logo depois veio outra onde estava abraçada com um cara de cabelos castanhos, e não era só um abraço, estavam muito próximos, passei as outras fotos e eles estava em várias delas, quase sempre do lado de .
Busquei seu perfil nas marcações, King. A pessoa tem que ser muito babaca pra se auto denominar rei. O imbecil era jogador de hóquei, estudavam na mesma escola, boa parte das fotos eram jogando hóquei no gelo, mas haviam várias com , inclusive fotos que eram só dela. Fiquei irritado quando vi uma foto de na arquibancada de um jogo torcendo por ele, parecia um líder de torcida, ela segurava um par de pompons vermelho e parecia tão feliz. Quando voltei para o instagram dela, vi que ela também tinha fotos só com ele e fotos só dele.
Estava na cara que eles tinham algo, ela traiu o namorado comigo. Estava perfeita demais para ser de verdade. Inacreditável. E ela ainda se achou no direito de ficar ofendida comigo uma noite atrás quando eu era o único inocente naquela história toda.
Abri o direct ignorando sua mensagem para enviar a minha.

Wakeup, princess

Foi divertido brincar comigo?





Desliguei o celular na tarde anterior logo depois de enviar a mensagem a , não queria falar com ninguém e por mais que estivesse com raiva dela, também não queria ser grosseiro. Preferi deixar minha mente tomar seu tempo antes de iniciar uma discussão com ela.
Quando liguei meu celular vi que tinham algumas notificações de Alex no whatsapp, ele não havia respondido as mensagens que eu enviei dizendo que precisava falar com ele, mas tinha me enviado uma foto e um vídeo. Fiz o download da primeira foto e do vídeo logo em seguida.

Não. .

A foto era como se fosse uma espécie de panfleto, parecia que tinha uma pilha deles, no centro tinha uma foto dela em formato polaroid só de lingerie e tinham coisas horríveis escrito em volta, embaixo da foto alguém tinha escrito vadia.
Queria não ter aberto o vídeo. estava aos gritos tirando a roupa enquanto perguntava chorando se os babacas que tinham suas fotos nas mãos nunca tinham visto uma garota sem roupa.

Eu ia matar Alex.

Capítulo 4 —


POV.



Matava a aula de química pela milésima vez naquele ano enquanto acompanhava Laila em mais um treino das líderes de torcida. No entanto, dessa vez, meus motivos eram diferentes, por mais que eu amasse ver as coreografias e me sentir parte daquilo, naquela ocasião eu aproveitava para atualizar Laila dos meus últimos dias. Assim que chegamos no vestiário eu soltei a língua sobre tudo que ainda não tinha falado a ela, até sobre a mensagem que ainda não fazia sentido para mim. Mas para a minha surpresa, aquilo para Laila parecia ter algum sentido.
- , não passou pela sua cabeça que tem alguma coisa a ver com o Alex? - Ela falou como se fosse algo muito obvio, e talvez devesse ser mesmo. - Será que ele não inventou algo sobre você quando o Santigo foi conversar com ele?
Sentei em um dos bancos pensando no que Laila havia dito.
- Eu chutaria em uma aposta - ela continuou falando enquanto retirava o uniforme de dentro do armário. - É o que faria sentido com a resposta dele.
Droga.
- Por que é que a gente ainda é amiga do Alex? - Laila me questionou.
Balancei a cabeça, concordando. tinha razão, não era assim que uma amizade deveria funcionar. Respirei fundo organizando minhas idéias. Por um lado me espantava muito que ele tivesse acreditado em Alex sem conversar comigo antes, mas por outro, parecia algo fácil de resolver. Talvez eu pudesse ir até o hotel conversar pessoalmente com ele mais tarde.
Quando Laila jogou um pompom na minha, eu notei que ela já estava vestida com o uniforme vermelho e eu havia me perdido nos meus pensamentos.
- Vai comigo ou matou a aula de química a toa?
Ri fazendo um careta enquanto me levantava para seguir Laila até o gramado.
Mais um dia admirando as garotas que eu queria ser.
....


A coreografia nova era tão impressionante que eu acabei matando não só a aula de químicia, mas a de matemática e de história também. Já que eu não tinha coragem de ser uma líder torcida, pelo menos passaria o tempo que pudesse admirando o trabalho delas.
Depois de juntar minhas coisas e me despedir de Laila, decidi dar atenção ao meu celular que havia vibrado várias vezes enquanto eu observava o treino. Pensei que era que havia respondido a minha mensagem perguntando do que ele estava falando, mas eram várias mensagens de perguntando onde eu estava, haviam mais de 17. Meu Deus. Como a minha próxima aula era com ele, joguei o celular dentro da bolsa e fui em direção ao prédio para a aula de artes. Veria o que era tão urgente pessoalmente.
Me senti um pouco paranoica enquanto caminhava em direção a sala de aula, parecia que todo mundo estava me olhando ao mesmo tempo. Em um certo momento fiquei tão incomodada com os olhares que me senti naqueles sonhos onde a gente vai parar na escola só de toalha.
Quando entrei no corredor onde ficava a sala de artes, avistei . Claro que com seus 1,94 ele já tinha me visto muito antes. A ironia é que ele caminhava sentido oposto a sala para qual deveriamos ir, o que era tão importante que ele não podia esperar mais? Ignorando a paranóia dos olhares sobre mim, parei no corredor e fiz uma careta para , mostrando a lingua enquanto ele se aproximava. Mas conforme ele andava, notei que ele estava sério e parecia um tanto quanto agitado, desfiz a careta e o sorriso assim que ele ficou próximo o suficente para que eu pudesse sua cara de desespero. O jogador de hoquéi respirava rápido demais, seu rosto estava vermelho e ele não parava de olhar em volta, seus olhos passavam de mim para os outros alunos, assustado, parecia confuso. Vi ele umedecer os lábios três ou quatro vezes quando parou na minha frente, mas ainda assim ele não disse nada, parecia que não conseguia falar.
- ? - Chamei, já ficando preocupada com a sua agitação.
Seus olhos castanhos pousaram em mim, quando eu ia perguntar o que diabos estava acontecendo, ele abaixou a cabeça e segurou meus punhos. Senti um mau pressentimento de imediato, ele só fazia aquilo quando tinha que me dizer algo ruim, a última vez que ficou assim foi antes de me contar que meu irmão havia enfiado o carro em um poste e estava preso nas ferragens. No entanto, sentia que dessa vez era algo comigo.
- Ok...então - tentava motivar a falar - O que você precisa me dizer? - Ele continuava em silêncio enquanto mantinha a cabeça baixa, seus pés se mexiam de maneira agitada. Olhei em volta mais uma vez, não era possível que aquilo fosse só uma impressão - , você sabe porque... as pessoas... estão me olhando? - Perguntei com medo da resposta, obviamente não era algo bom. Fiquei um pouco mais nervosa, minha linguava parecia ter enrolado para falar.
- - sua voz era baixa, quase um sussuro - Eu não sei quem foi, eu sinto muito.
Quando ele levantou a cabeça eu quis desaparecer ali mesmo. estava chorando, eu já tinha visto ele chorar muitas vezes, mas ele nunca fez aquilo na frente de outras pessoas. O que era tão ruim assim?
- ... - minha voz saiu tremula enquanto eu olhava as pessoas a nossa nos encarando.
Uma das suas mãos que estava em meu punho deslizou até encontrar a minha mão, a outra soltou meu braço de forma delicada para que ele buscasse um papel dobrado em seu bolso.
- Eu juro por Deus que não fui eu, - sua mão apertou a minha enquanto ele me entregava o papel que havia pegado.
Quando eu peguei a folha, notei que algumas das pessoas - várias delas na verdade - que me olhavam tinham uma folha na mão também.
- Você sabe que eu nunca faria isso - a voz chorosa de chamou minha atenção novamente, tirei os olhos do papel e voltei a olhar pra ele com uma sensação horrivel. Não sei que raios tinha naquele papel, mas eu tinha ficado com medo de olhar. - Eu nunca mostrei isso pra ninguém, ninguém mexe no meu telefone... - Ele gesticulava com a mão livre enquanto tentava se explicar, mas porque precisava se justificar de algo?
"Telefone."
"Eu nunca mostrei isso pra ninguém".
Não, não, não, não.
Senti como se eu tivesse ficado surda, a única coisa que eu escutava era um zumbido irritante que se tornou pior ainda quando a minha vista ficou embaçada. Fechei os olhos quando senti meu coração acelerar.
De repente tudo fez sentido, os olhares, os cochichos, o desespero de . Não precisava olhar no papel para saber o que era, também não precisava que ele dissesse nada, eu sabia que jamais faria uma coisa dessas comigo.
Senti a mão fria dele enxugando algumas das minha lágrimas, eu queria morrer. Meus pais iam me matar e eu nem sei o que ia dizer.
- ... ...
O zumbido em meu ouvido era tão alto que a voz de parecia mais baixa que um sussuro. Precisava acalma-lo, dizer que sabia que a culpa não era sua, mas como eu ia fazer aquilo se nem conseguia acalmar a mim mesma? Respirei fundo mais uma série de vezes enquanto tentava controlar o choro. havia soltado minha mão e agora me segurava pela cintura, de fato acho que se ele não estivesse me segurando eu já teria desabado no chão. Podia sentir sua mão livre no meu rosto enquanto ele retirava os fios que haviam grudado por conta das lágrimas.
Conforme a minha respiração se tornava menos agitada, o zumbido no meu ouvido diminuía, e eu podia ouvir a voz de com mais clareza.
-Eu sinto muito mesmo, - sua mão enxugou mais uma lágrima no meu rosto enquanto ele falava. - Eu não sei como isso aconteceu.
Mas eu sei. Eu sabia exatamente quem tinha feito aquilo. Só haviam duas pessoas que tinham aquela foto, e só uma delas era cruel o bastante para fazer aquilo.
Senti meu sangue subir, a dor aos poucos se transformando em raiva, a vontade de quebrar alguma coisa, de descontar a minha raiva em alguém muito específico.
Abri os olhos devagar, sentindo a minha visão desembaçar aos poucos. Olhei para e vi que ele tentava lutar contra suas lágrimas, provavelmente pra não aumentar mais o meu desespero. Eu jamais pensaria que aquilo era culpa dele. Respirei fundo tentando esconder minha fúria, não queria que ele pensasse que eu estava zangada com ele.
Coloquei a minha mão encima da dele que ainda estava no meu rosto e utilizei a que estava livre pra retribuir o seu gesto constante. Assim que meu polegar secou uma de suas lágrimas, vi fechar os olhos e soltar um suspiro, era alívio. Quando ele os abriu novamente, fiz carinho na sua bochecha e fiquei na ponta dos pés para dar um beijinho no rosto, deixando claro que sabia que ele não tinha nada haver com aquilo.
-Eu sei exatamente o que aconteceu, - falei baixinho. - E te garanto que essa foto não saiu do seu telefone.
Desviei os olhos de , que havia ficado bastante confuso com a minha fala, para as pessoas à minha volta, qual era o problema delas? Principalmente as garotas, era patético. E se fosse com elas? Com as amigas delas?
- , acho melhor a gente sair daqui. - Ele olhava na mesma direção que eu, senti seus braços novamente na minha cintura, tentando me proteger daquilo.
Notei que o papel ainda estava na minha mão e tomei coragem para abrir.
Filho da mãe.
Meu sangue subiu novamente. Amassei o papel com raiva e quando estava prestes a atirar aquilo longe, vi o sorrisinho debochado de Alex enquanto ele me olhava da porta da sala de Biologia.
Empurrei as mãos de e caminhei na direção da sala. Ele ia ver só
- , espera. - Escutei a voz do jogador de hóquei, mas eu estava cega demais pela raiva naquele momento pra me explicar.
Infelizmente, minha coragem foi pelo ralo quando eu entrei na sala e fui recebida com diversas piadinhas obscenas por garotos que seguravam a minha foto naquele panfleto idiota.
- QUAL O PROBLEMA DE VOCES? - Gritei, arrancando a folha da mão de um imbecil jogador de basquete.
- Calma , a gente só tava apreciando.
- VOCES NUNCA VIRAM UMA GAROTA SEM ROUPA? - Esbravejei.
Abri o zíper do moletom e joguei a peça em cima de um deles, fazendo o mesmo com a minha blusa logo depois.
- QUAL É O PROBLEMA DE VOCES?
Gritei novamente, deixando a sala em absoluto silêncio, sentía tanta raiva, tanto ódio, eu nunca mais queria ver a cara daquelas pessoas. Não percebi quando comecei a chorar de novo, mas dessa vez era um choro diferente. Enquanto tentava entender a confusão de sentimentos que havia em mim naquele momento, escutei uma risada baixinha.
Alex ria enquanto tinha o celular virado na minha direção.
Caminhei pisando forte até onde ele estava, e antes que ele pudesse pensar, peguei o aparelho da sua mão e o joguei contra a parede ao fundo, quase acertando um grupo de garotas.
- SUA VADIA - ele gritou, ficando de pé enquanto olhava o celular se espatifar no chão.
Aquilo não era nada perto do que eu queria fazer com ele. Um soco seria muito poco. Trinquei os dentes, me recusando a chorar de novo na frente dele.
Acertei o rosto com a mão, dobrando a ponta dos dedos assim que a palma encontrou seus olhos. Arranhei com toda a força que pude. Não demorou muito para que ele estivesse se contorcendo de dor enquanto pressionava a região do olho onde eu tinha arranhado.
- Sua MALUCA, você quer me deixar cego? - Alex choramingou.
- Cadê o seu sorrisinho debochado agora, Alex? - Falei entre dentes, tentando sustentar o sorriso sádico no meu rosto apesar da minha situação. - Mecheu com a vadia errada.
Senti uma coisa quentinha e macia encostando na pele dos meus ombros, mas antes que eu virasse pra ver quem era, escutei a voz de surrando perto do meu ouvido.
- Vamos sair daqui, não vale a pena.
Aceitei o casaco que ele tinha colocado nos meus ombros e cruzei os braços, não tinha nada que todo mundo ali já não tivesse visto na última meia hora, mas acho que foi mais instinto da minha parte. começou a me guiar pra fora da sala, mas quando ele parou no caminho pra pegar minhas coisas, me lembrei de algo que Alex havia contado a Laila e a mim a muito tempo atrás.
- Alex - chamei, fazendo ele me olhar. Ele ainda tinha a mão no olho que eu havia acertado. - Quis se vingar por causa do ? - Provoquei, andando na sua direção novamente. - Porque você não aproveita e conta pro que ficou sem falar comigo por três meses quando descobriu que a gente transando, só porque você também era apaixonado por ele? - Parei na frente da sua mesa, era minha vez de rir.
Quando olhei pra baixo, vi algo na mesa que não tinha notado antes. As risadinhas na sala já pareciam ser humilhação o suficiente depois que eu revelei um segredinho dele, mas sinceramente? Nem se comparava ao que eu havia sentido. Destampei o copo e despejei todo o líquido azul em sua cabeça, jogando o copo vazio nele logo depois.
Sai da sala com logo atrás de mim. Não demorou muito para que seus braços me envolvessem e eu começasse a chorar novamente, eu não era durona e nem vingativa, é claro que aquela pose não duraria muito. Seu polegar fazia carinho em meu braço enquanto ele caminhava comigo até o estacionamento. Para completar o combo, havia começado a chover, ótimo.
Desabei no banco assim que ele abriu a porta do carona para mim.
- Eu esqueci minha mochila, fica aqui enquanto eu vou buscar, tá?
Assenti, me recostando na porta assim que ele a fechou. Ainda não acreditava em tudo que tinha acontecido.
Me sentia humilhada, machucada, com raiva e com medo.
Me encolhi no banco enquanto me desfazia em lágrimas. Eu sabia que Alex não aceitaria aquilo numa boa, mas jamais imaginei que ele faria algo assim. E ... ele disse que resolveria as coisas, bela bosta ele fez. Sentia raiva dele também.
Eu não conseguia para de chorar. Tampei o rosto quando entrou no carro e bateu a porta. Além de toda a minha humilhação, eu acabei expondo ele por acidente, era óbvio que ele escutaria algumas piadinhas a respeito daquilo.
Apesar da bola fora que eu dei, parecia que a única preocupação dele era o meu bem estar. puxou minhas pernas até que eles ficassem apoiadas nas suas, fazendo carinho no meu joelho. Fiquei um bom tempo tentando enxugar as minhas lágrimas até que o choro finalmente foi dimuindo.
Quando ficou mais fácil de enxergar, notei que uma das mãos de estava machucada. É claro que ele não ia perder a chance de esmurrar Alex, tive certeza que ele voltou lá só pra fazer isso quando vi a mochila dele jogada no banco de trás junto com as minhas coisas. Ele tinha já tinha perdido a paciência com meu agora ex amigo a muito tempo. nunca suportou as piadinhas de mal gosto que Alex fazia comigo dizendo que era apenas brincadeira. Eu deveria ter escutado quando ele disse pra me afastar.
- Você vai ser suspenso - falei baixinho.
- Eu não ligo - ele deu um sorrisinho.
- Obrigada, .
O Jogador de hóquei assentiu. Ri quando ele sacudiu a cabeça igual um cachorro pra retirar água do cabelo, molhando ainda mais o carro.
- Quer conversar? - Concordei com a cabeça. - , eu achei mesmo que a foto tinha saído do meu celular. Eu nem sabia que Alex tinha aquela foto também. Tive certeza que você ia me...
- Te culpar? - Interrompi. Ele concordou com a cabeça. - , eu jamais desconfiaria de você - ele sorriu, afagando meu joelho. - Foi o Alex quem tirou aquela foto - expliquei, deixando o garoto um pouco confuso. - A gente tava na casa da Laila experimentando algumas roupas para o baile de inverno do ano passado, normalmente a gente não se importa muito de trocar de roupa na frente de um cara quando ele é gay - nota mental, nunca mais fazer isso. - Alex tirou foto de todas as roupas que a gente experimentou, teve uma hora que eu tirei o vestido e disse que ia de lingerie porque nada tinha ficado, então ele tirou uma foto e disse pra eu comparar com as outras. Na hora a gente tava rindo e eu achei que fosse só brincadeira... mas olhando agora eu acho que ele já tirou a foto pensando no momento certo pra usar. Alex nunca foi meu amigo, eu deveria ter te escutado.
- , você precisa entender que nem todas as pessoas são boas como você. Eu queria que você tivesse percebido isso antes disso acontecer. - Seu olhar sobe mim era cheio de compaixão.
Assenti, eu também queria.
- Me desculpa por ter contado sobre a paixão de Alex por você daquele jeito, eu espero que você não tenha que ouvir muitas piadinhas.
- Eu não ligo, , fiquei surpreso com a noticia mas eu realmente não dou a minima. E você não precisa se desculpar, fico feliz que você tenha reagido - ele falou e sorriu, me encorajando a continuar.
- Eu sabia qual foto era porque foi a única foto assim que eu já tirei. Eu só mandei ela pra você, achei que Alex tinha apagado mas não, e ele sabia que você tinha essa foto - soltei um suspiro enquanto pensava na sacanagem ainda maior que ele tentou fazer. - Tenho quase certeza que ele fez isso também achando que eu ia te culpar e me afastar de você.
- E o outro motivo? - Perguntou com um sorrisinho de lado.
Não sei porque, mas fiquei com um pouco de vergonha de contar a Dylan sobre . Olhei para o parabrisa enquanto brincava com o meu cabelo molhado.
- - ele chamou. - A gente tem um acordo.
- Eu sei - respondi, ainda sem olhar pra ele.
- Você não gosta de mim e eu também não gosto de você, não dessa forma. É só sexo e a gente mantém a amizade como sempre foi quando um dos dois quiser parar ou encontrar alguém - ele relembrou nosso acordo.
- Eu sei - repeti.
- Então porque não quer falar?
Porque às vezes, só às vezes, eu acho que gosto de você. Pensei comigo mesma.
- , você.. ? - Ele não terminou a frase, mas a pergunta estava óbvia na sua cara.
- NÃO - gritei em tom de brincadeira, chutei uma de suas pernas e ele riu.
- Me conta.
Soltei um suspiro, pensando por onde eu começava.
- Eu conheci um cara alguns dias atrás….
Contei a história a , que escutava tudo atentamente enquanto mexia nos meus pés.
- eu entendo que você esteja chateada, mas não tem sentido estar com raiva dele - ele se ajeitava no banco, ficando de lado enquanto falava comigo depois de ouvir a história toda.
Não tinha, mas mesmo assim eu estava e não queria ver a cara dele tão cedo. Não sabia nem se queria ver ele de novo.
Escutei o meu celular vibrando no banco de trás dentro da bolsa. Revirei os olhos, eu jogaria ele pela janela se fosse alguém mandando uma foto do panfleto.
- … eu liguei pro Ben. Desculpa, mas ele ia ficar sabendo e eu preferi que fosse por mim.
Eu costumava ficar brava quando Dylan contava meus problemas para meu irmão, mas depois de um tempo percebi que ele só fazia aquilo quando era algo grave e eu não daria conta de lidar sozinha com a situação.
Dei um sorrisinho para ele em sinal de agradecimento. Ben poderia pensar em um jeito dos nossos pais não me matarem quando descobrissem.
Quando eu comecei a tremer no banco por conta da roupa molhada, tirou os meus pés do seu colo com cuidado e se ajeitou no banco.
- Coloca o cinto, gatinha.
Me ajeitei no banco, sentindo mais frio ainda conforme a roupa pingava.
- Sabe que vai ser suspensa também, não sabe? - Perguntou enquanto começava a dirigir.
- Uhum.
Apoiei o cotovelo na janela fechada, pousando a cabeça ali logo depois.
- Queria que a suspensão fosse de 6 meses.
- Vai passar , não vai ser agora, mas logo - era fofo quando ele tentava me reconfortar, sua voz era sempre tão gentil.
- Eu espero que você esteja me levando pra sua casa e não pra minha.
- Eu tô querendo te ajudar, não te jogar na toca dos lobos - ele brincou, se referindo aos meus pais. - Se as coisas ficarem feias, você pode ficar comigo, ok?
Ele me olhou quando parou no farol, logo após me fazer sua proposta. Eu assenti, agradecendo.
Eu sabia que poderia “me esconder” na casa de Laila também, mas era emancipado e vivia sozinho em seu próprio apartamento. Sem olhares de adultos para julgar ou questionar.
Na metade do caminho comecei a me sentir extremamente incomodada com o casaco molhado de , além de me deixar com mais frio, pesava demais por conta da água da chuva. Acabei tirando e jogando nos pés do banco, não me importei em ficar só de sutiã, o vidro do carro era escuro e ele já tinha me visto sem roupa. Colocaria de volta só para sair do automóvel.
Trocamos poucas palavras durante o caminho, ele sabia que eu precisava de um pouco de silêncio e preferiu me deixar quieta, o que eu imaginava estar sendo um pouco difícil, uma vez que o jogador de hóquei era tão tagarela quanto eu.
Quando chegamos no apartamento nós nos livramos imediatamente das roupas molhadas, assim como eu já começava a tremer de frio. Gentil como sempre, ele se enfiou dentro de um roupão branco e me disse pra que eu tomasse banho primeiro, enquanto isso ele colocaria as roupas na máquina de lavar. Aceitei de bom grado, imaginando que um pouco de água quente também me faria bem internamente.
Não queria demorar muito no chuveiro por questões óbvias, tinha mais alguém ali que também precisava de uma ducha quente, mas acabei levando mais tempo que o necessário. Não chorei, mas repassei todos os acontecimentos novamente na minha cabeça, mais de uma vez. Parecia até que eu gostava de me torturar.
Quando sai do chuveiro peguei a primeira roupa de que encontrei no armário, provavelmente tinham diversas peças minhas por lá, mas eu não estava com paciência para procurar. A blusa era de manga longa e como ele era alto, ficava comprida o suficiente em mim, também parecia ser quentinha.
Resmunguei várias vezes seguidas enquanto o pente de cabelo dele enroscava no meu cabelo molhado, droga. Qual a dificuldade dos homens em usar uma escova?
Depois de muito tempo consegui desembaraçar meu cabelo, um pouco mais e eu teria quebrado aquela droga de pente. Coloquei as toalhas e o objeto de volta no banheiro e voltei para sala, encontrando no telefone.
Quando eu me ajeitei no sofá ele me ofereceu com um sorriso amigável uma xícara com café fervendo. Quando eu fui pegar ele sussurrou baixinho que era Laila no telefone. Me permiti escutar a conversa, vendo que era sobre mim. Agradeci mentalmente por ele também conversar com Laila além de Ben, eu honestamente não queria conversar com mais ninguém sobre aquilo naquele momento. Beberiquei o café enquanto mais uma vez observava meu celular vibrando, provavelmente tirou da minha bolsa para secar tudo. Desliguei o aparelho sem olhar nenhuma notificação, talvez amanhã eu pudesse lidar melhor com aquilo.
desligou o telefone e deixou o seu aparelho próximo ao meu na mesinha.
- Só pra você saber, a Laila também bateu no Alex - ele riu enquanto contava. Acompanhei ele, imaginando a cena.
- Obrigada, . Por tudo.
Ele assentiu, com um sorriso de canto. Quando ele se abaixou na minha frente e apertou meu joelho, eu acabei largando a xícara no braço do sofá e abraçando ele. Não foi um abraço demorado, mas foi o suficiente para que eu me sentisse um pouco melhor.
- Eu preciso de um banho quente, vai ficar bem enquanto isso? - Sua mão ainda afagava as minhas costas quando ele perguntou.
Fiz que sim com a cabeça, voltando a tomar o café.
me deu um beijinho na testa e saiu, me deixando sozinha com os meus pensamentos.
O que eu ia fazer?



Continua...



Nota da autora: Oi pessoal, espero que vocês tenham gostado do capítulo 🥰
Sei que vocês estavam esperando uma conversa da nossa líder de torcida com o jogador de futebol, mas acho que primeiro vocês precisavam conhecer o nosso jogador de hóquei.
Se você gostou do capítulo e tá curioso pra saber o que vai acontecer nos próximos capítulos, não deixe de comentar. Seu comentário é muito importante e as atualizações dependem dele pra sair, ou seja, quanto mais comentários tiver, mais rápido o próximo capítulo sai.
E se você quiser ficar por dentro das atualizações, spoiler, indicações e mais é só me seguir no Instagram @maruliteraria.
Ah, agora a gente também tem um grupo no whatsapp pra conversar sobre as minhas histórias e lá vocês recebem spoilers exclusivos das minhas fanfics Grupo do WhatsApp
Até breve ❤️
Entrevista com a Autora




Outras Fanfics:
Beautiful Liar

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Para saber se há atualizações pendentes dessa fic, clique aqui.