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Última atualização: Abril/2024

Capítulo 1

Woodsboro, Maryland.


— E aí, o que você acha?
parou o seu Jeep no estacionamento deserto do campus do colégio e olhou para a garota ao seu lado com os pés apoiados no banco do passageiro. Ela tirou os olhos do celular, o olhando, e ambos compartilharam um sorriso sapeca. Um vento mais forte adentrou, fazendo com que os cabelos vermelhos dela esvoaçassem e ele não conseguiu tirar os olhos desse acontecimento.
— Acho que vai ser incrível, .
O silêncio perdurou por alguns segundos entre os dois. Eles se olhavam e Aurora sentiu seu coração palpitar mais forte com a troca de olhares mais demorada. Foi abrir a boca ao ver se curvar e pegar o aparelho celular que se encontrava no painel do carro, no entanto, o celular caiu das mãos do rapaz no chão do automóvel e ele se curvou um pouco mais para alcançá-lo no escuro dos seus pés.
Um barulho no vidro fez com que os dois se sobressaltassem e olhassem na direção de onde vinha esse barulho. Os amigos de gargalharam ao conseguirem dar um susto nos dois e o rapaz abriu o vidro enquanto negava com a cabeça em desaprovação ao comportamento deles.
— Que merda vocês dois tem na cabeça? — disparou, levemente irritado com o susto que havia tomado.
— Relaxa, . Você e a Aurora estavam fazendo algo de errado? — um deles falou, enquanto sorria maliciosamente para a garota, que revirou os seus olhos.
O rapaz engoliu seco antes de responder.
— Mais respeito! — acrescentou ele rapidamente. — O que vocês estão fazendo aqui?
Aquela noite era uma das últimas antes da volta às aulas e consequentemente aos dias mais chatos da sua vida, como chamava o colégio, mas algo em seu coração o dizia para aproveitar aquele ano como se fosse o último, já que no próximo ele estaria em uma faculdade, em uma outra cidade.
— Nós estávamos praticando os 500m na pista — o outro respondeu, enquanto sorria. — Mas já estamos indo, tá tarde.
se despediu dos seus amigos com um aceno rápido com a cabeça e os viu andar calmamente em direção a um dos carros que estava por ali no estacionamento, e logo o automóvel desapareceu na noite. Nem notou que se encontrava sozinho no carro, então saiu, batendo a porta e vendo Aurora parada próxima ao porta-malas. Sorriu.

— Não liga pra eles. São uns idiotas — falou, ao abrir e pegar a cesta com comidas que havia trazido. Aurora estava com uma mochila amarela nas costas e alcançou uma sacola com a toalha que usariam naquele piquenique noturno.
Andaram lado a lado, conversando a respeito de assuntos aleatórios, rindo um com o outro e aproveitando suas companhias. Ela então estendeu a toalha e ele colocou a cesta, logo ambos se sentaram.
— Você já contou? — ouviu Aurora questionar, no instante em que ficaram lado a lado.
— O que eu contei e pra quem exatamente? — Ele a olhou, rindo.
A ruiva observou as sardas no rosto do rapaz perfeitamente desenhado, riu, mordendo o próprio lábio inferior e negou com a cabeça.
— Pro seu pai. Sobre...
— Não falei ainda. — Se apressou em responder.
Certo silêncio se fez presente entre os dois e tirou algumas coisas que haviam trazido de dentro da cesta enquanto pensava em relação à pergunta de Aurora, e ele teria mais cedo ou mais tarde que conversar com o seu pai. Seus pensamentos foram interrompidos pelo toque do seu celular.
— Merda, eu falei que desligaria. Desculpa.
A garota riu ao deitar-se de barriga para cima e continuou rindo ao ver o rapaz ao seu lado procurar pelo aparelho nos bolsos da bermuda que usava.
— Alô. — atendeu com certa impaciência em sua voz.
Tudo que pôde ouvir do outro lado da linha foi uma respiração estranha e uma ou outra palavra incompreensível. Franziu o cenho para o aparelho em sua mão e olhou o visor com a seguinte mensagem:

“NÚMERO BLOQUEADO”

— Ei, quem quer que seja, me liga de novo. O número tá bloqueado e não tá dando pra entender nada.
Assim deixou o aparelho sobre a toalha, enquanto alcançava uma garrafa de água.
— Tudo bem? — Ouviu Aurora indagar. meneou a cabeça, enquanto bebia um gole do líquido.
— Deve ser uns dos meninos. Você sabe que o Alex e o Mike adoram essas coisas.
— Essa é a personalidade deles! — Riu.
Ficou mais à vontade, esticando as pernas ao lado da garota e sorriu rapidamente ao olhá-la.
— E você, está ansiosa para Harvard?
O celular começou a tocar novamente, o mesmo aviso de número bloqueado aparecia no visor e o rapaz voltou a franzir o cenho.
— Coloca no viva-voz — pediu Aurora, ao notar a confusão em sua expressão.
passou o dedo pela tela e fez o que ela havia pedido.
— Oi. Quem é?
— Oi, !
Um arrepio estranho lhe percorreu a espinha e ele engoliu seco instantaneamente.
A voz era estranha. Era rouca. Não lembrava ninguém que conhecia. Soava como algo que ele nunca havia ouvido.
— Desculpa, mas isso está muito estranho, vou desligar.
Foi para apertar o botão vermelho que encerrava a ligação, mas a voz falou novamente:
— Se você desligar, eu corto a garganta da garota ao seu lado na sua frente.
Seu coração bateu tão forte em seu peito que chegou a doer.
Ele e Aurora se entreolharam. Ela, sentindo o corpo inteiro tremer depois do que havia ouvido. O coração da garota batia forte e percebeu pela sua expressão, então pegou em uma das mãos dela.
— Fica calma. Pega o seu celular e ligamos para o meu pai — falou, apenas mexendo os lábios, não emitindo nenhum som.
?
Aurora concordou com um aceno.
— Tô aqui — respondeu para o seu aparelho ainda em mãos.
Olhava para a garota enquanto ela procurava pelo celular nos bolsos da mochila.
— Qual é o seu filme de terror favorito?
Aquela pergunta fez com que, estranhamente, o corpo do rapaz gelasse. Não soube ao certo por que, no entanto, uma sensação ruim se apoderou. Tirou seus olhos da mulher e olhou para o aparelho.
— Eu não gosto de filme de terror. Quem é que está falando, porra? — Não soube dizer de onde, mas tirou coragem para usar aquele tom de voz com a pessoa do outro lado da linha.
— Sou o seu pior pesadelo, Riley.
— Como você sabe meu nome? Como você sabe quem eu sou?
— Você é muito famoso.
De fato, no colégio ele era um rapaz bem popular, todos o conheciam. Viu Aurora começar a discar alguns números de canto do olho.
— Você é um fã? — Foi debochado.
— Da sua família.
— Me diz quem você é. Podemos marcar um encontro.
— Nós vamos nos encontrar sim.
Uma gargalhada rápida foi ouvida no fim da conversa, a ligação abruptamente encerrada e eles se entreolharam.
De repente, todos os postes ao redor do enorme campo de futebol foram apagando, um por um, como se as lâmpadas explodissem. Cada barulho era um susto diferente para ambos, que, no fim, se encontravam em um breu, com o coração batendo forte e a respiração ofegante. Ambos podiam ouvir suas próprias respirações.
— Que merda está acontecendo, ? — a voz de Aurora era exacerbada.
Lágrimas brotaram nos olhos da jovem mulher. Ela não precisava ser uma gênia para saber que as coisas estavam indo de mal a pior. Aquilo não era uma simples brincadeira.
— Vamos sair daqui! Rápido! — O rapaz se colocou em pé num pulo, puxando a garota pela mão e com as telas dos celulares ligadas. — Liga pro meu pai! Agora, por favor! — suplicou.
Aurora, trêmula, começou a mexer no aparelho, mas um barulho fez com que os dois voltassem seus celulares e atenções para frente. A sensação de que tinha mais alguém ali predominava em seus corpos.
Com a mão igualmente trêmula, virou a tela do seu aparelho para si e ligou a lanterna a fim de ver o que estava acontecendo a certa distância dos seus olhos.
A princípio, não viu nada.
— Não tem ninguém aqui — sussurrou, sem certeza. — Fica perto de mim. — Passou um dos seus braços pelos ombros da garota, a mantendo próxima.
Desse modo, começaram a andar lentamente pelo campo de futebol escuro. Seus pés pisavam algumas folhas caídas no local, fazendo com que se assustassem com qualquer tipo de barulho, tendo em vista o silêncio que predominava. O único som que ouviam era das suas próprias respirações.
Mais um passo e o celular de Aurora caiu no chão, pararam de andar imediatamente para que ela pegasse e acompanhou com o olhar o seu movimento, mas, no segundo seguinte, algo brotou na frente dos dois, os assustando.
engoliu seco, reconhecendo a roupa e o pânico tomou conta do seu corpo ao ouvir um grito de Aurora com o susto.
Viu uma mão se levantar, portando uma faca, e ele não pensou duas vezes em seus próximos movimentos, deu um impulso para frente, jogando-se sobre, tentando parar, mas tudo que sentiu segundos depois foi a faca penetrando a sua carne. Um grito engasgado ecoou pela sua garganta, seguido de uma dor insuportável nas costas. Assim caiu de joelhos no gramado, ouvindo o choro de Aurora e certo frio abraçando seu corpo.
! — ela gritou, com os olhos marejados e vermelhos, as bochechas cheias de lágrimas e o corpo travado, vendo aquela cena que parecia ter saído de um filme de terror. Não conseguia se mexer, não conseguia pensar.
O corpo do atleta caiu de costas no gramado com quem tinha feito tudo isso próximo a ambos. Parecia ser destemido, saber o que queria e não ter nenhum tipo de sentimento.
— Aurora, corre, por favor.
A voz de saiu entrecortada e fraca. Notou uma perna por cima do seu corpo e começou a senti-lo todo ficar frio, ele sabia o que iria acontecer, que fim teria, não iria de forma alguma conseguir sobreviver. Esperou pelo pior, mas a dor alucinante novamente atingiu sua carne, um pouco abaixo do ombro e ele gritou.
Sua camisa branca estava tomada pelo vermelho do seu sangue, o gosto metálico era sentido em sua boca e certo enjoo atacou seu estômago, mas sabia que a sensação era de que seu corpo estava desistindo.
Seus olhos começaram a fechar e ele não conseguiu ver com clareza os próximos acontecimentos. Apenas viu vultos distantes, ouviu os gritos de Aurora e o som da faca a atingindo várias vezes. Aquilo parecia estar acontecendo com ele, o tanto que doía saber que ela estava perdendo a batalha.
— Ei, parado! — Ouviu alguém distante gritar, mas não soube dizer quem era.
As luzes se acenderam como um milagre, os refletores foram acesos um a um e pôde ouvir passos se aproximando, enquanto ouvia tiros. Não teve forças para se mexer, a dor que sentia em seu corpo era gigantesca.
— O filha da mãe sumiu! Continuem procurando por ele! — gritou para os outros policiais, que saíram correndo. — , eu estou aqui, filho!
— Pai... — Ele tinha lágrimas nos olhos e levantou uma das mãos, procurando por ele.
— Não fala nada. Não faz nada. Tá tudo bem. — O mais velho puxou o mais novo para o seu colo, pegando em uma das mãos dele. Deixou que lágrimas escorressem pela sua bochecha. — CHAMEM UMA AMBULÂNCIA! — gritou.
— Nós já chamamos, xerife. Eles chegam em 3 minutos — um dos policiais respondeu calmamente.
— A Aurora, ela... — murmurou.
O Riley mais velho levantou o rosto, notando o corpo de Aurora no chão. Estava tão desnorteado que não tinha conseguido prestar atenção em mais nada. Olhou para o lado e viu que um dos seus homens se aproximava e checava se a garota estava viva. Ele negou com a cabeça ao olhá-lo.
— Tá tudo bem, filho. Tá tudo bem. — O beijou na cabeça, mas com o coração apertado de preocupação.
— Ele me ligou.
Os sons da ambulância chegando já podiam ser ouvidos.
O xerife franziu o cenho.
— Quem te ligou? — Olhava para o filho em seus braços, que possuía os olhos fechados e a pele mais pálida do que o normal.
— Ele me perguntou qual era meu filme de terror favorito, pai.
O coração do mais velho quase parou de bater.
— Você viu a máscara dele?
Ele sentia o olhar do mais novo sobre si. segurou no uniforme do pai, o puxando, e sentiu uma lágrima descer pelo seu rosto.
— É o ghostface.


Capítulo 2

1 ano depois.


despertou dos seus devaneios quando o som fortíssimo de uma buzina penetrou em seus ouvidos e fez com que o rapaz desviasse do carro que vinha em outra direção na estrada. Por ter feito isso tão em cima da hora, pôde ouvir o outro automóvel passar rente ao seu e o motorista xingar. Não tirava a razão dele. Apertou o volante com toda força que reuniu e parou no acostamento, achando que seria mais seguro.
— Puta que pariu! — resmungou.
Apoiou a cabeça no volante e respirou fundo. Fechou os olhos e deixou que o ar entrasse pelas suas narinas e saísse pela sua boca bem devagar. Ao abri-los, após se sentir um pouco mais calmo, deu um pulo e um grito. Alguém vestido com a máscara do ghostface estava no banco de trás. Apertou mais o volante, sentiu a sua garganta secar e seus batimentos cardíacos aumentarem, quando se virou, olhando pra trás, não viu mais ninguém.
Com os olhos arregalados e os batimentos cardíacos na boca, soltou a direção, sentindo as mãos suadas. Fechou os olhos outra vez, no entanto com certo receio de acontecer novamente. Olhou pra trás uma segunda vez, e de novo, não viu ninguém. Seu coração batia tão forte que ele achou que fosse passar mal, o calor naquela localidade chegava a ser insuportável na época do ano.
Julho.
Lembrou-se das palavras da sua psicóloga “Não tem nada ali. É coisa da sua cabeça. Siga em frente.” Com as mãos trêmulas, o rapaz deu a partida no automóvel e olhou para o GPS. Chegaria em alguns minutos, estaria seguro em...
Woodsboro.
Voltou a engolir seco quando mudou a marcha para que o carro acelerasse, ele só estava voltando para aquela cidade, pois o seu pai se casaria novamente e fazia questão da sua presença. Aquele tempo longe fez muito bem a , por mais que tivesse pesadelos recorrentes e algumas visões, ele sabia que era questão de tempo de tudo isso acabar.
Enquanto dirigia, lembranças tomaram a mente do rapaz, seu cérebro formou imagens ruins do dia em que estava no campo de futebol com Aurora e quando ambos foram atacados por alguém usando a máscara.
E ninguém havia acreditado nele. Seu pai, policial local, tomou o assunto como se tivesse sido um assalto com duas vítimas, uma delas, fatal.
— Que merda!
A placa dizia “Bem-vindo a Woodsboro” e o total de habitantes que girava em torno de 950 pessoas. O local era pequeno, todos se conheciam, sabiam da vida um do outro e de tudo que acontecia o tempo inteiro, era quase impossível manter um segredo na pequena cidade situada em Maryland.
Passou pelo centro do município, onde havia alguns carros estacionados próximos a lojas de conveniência, mas logo se dirigiu para outro lugar e não à casa do seu pai, para onde ele iria depois. Assim que avistou o local, seu coração bateu um pouco mais forte e um sentimento de saudade e tristeza dominou o seu corpo.
— Vim te visitar, Aurora. Eu nunca... — Negou com a cabeça ao desligar o automóvel, seus olhos arderam tão fortemente que ele não teve controle sobre as suas lágrimas.
Saiu do carro e caminhou em passos determinados, não que ele estivesse totalmente, seu corpo tremia, pois estar naquela cidade, respirando aquele ar, fazia com que sentimentos ruins apossassem espontaneamente do seu corpo. Passou pelo gramado do cemitério, por diversas sepulturas e chegou até onde ele queria chegar.
Um vento extremamente quente lhe atingiu e fez com que as lágrimas que escorriam pelo seu rosto secassem. Ele olhou, sentindo um embrulho no estômago e pensando em como as coisas poderiam ser diferentes. Ao lado da data de nascimento, tinha a data de falecimento de Aurora Miller: 19/07/2022. Aquela data, mesmo há um ano, assombrava a sua vida.
Ajoelhou ali e colocou uma das mãos sobre o jazigo, fechando os olhos e sendo tomado por um sentimento intenso de saudade e nostalgia. Lembrou-se dos momentos felizes com ela, em como gostavam das mesmas séries e sempre conversavam e maratonavam juntos, em como amavam dividir um milkshake de baunilha no Peter’s e como tinham regras na amizade e uma delas era nunca dormir brigado com o outro.
Tirou os olhos do nome da amiga escrito naquele local e olhou pra frente, como se aquilo fosse ajudá-lo a se acalmar, no entanto algo apareceu no seu campo de visão, atrás de uma árvore, um pouco distante. Em um súbito, colocou-se de pé e forçou a vista, mas não obteve sucesso. Cabelos. Longos. Ao vento.
Ruivos.
engoliu seco, pela confusão que apossou do seu corpo e pelo calor intenso que fazia em pleno Verão. Deu alguns passos, sentindo seus pés fraquejarem, mas não hesitou, se apressou e acabou tropeçando em um degrau e não havia visto. Por impulso, foi jogado pra frente, mas não caiu.
Seus olhos voltaram pro lugar de antes e não via nada. Nada. Ninguém.
Eu estou ficando louco. Só pode.
Esse foi o seu pensamento.
Passou as mãos pelo rosto e pensou que dirigiu por duas horas e se sentia um pouco cansado por tudo que havia feito no dia anterior da viagem. Dessa forma, caminhou em passos lentos de volta ao estacionamento e assim que chegou próximo ao seu carro, um barulho fez com que se sobressaltasse.
Era o maldito celular. o tirou do bolso da calça com delicadeza. Desde o acontecido há um ano, os toques de qualquer aparelho telefônico o deixavam afoito. Sentia seu coração bater mais forte e as mãos levemente suadas, talvez pelo calor, talvez pelo nervosismo.

“NÚMERO BLOQUEADO”

Era uma piada. Com certeza era uma piada. Alguém ficou sabendo o que aconteceu e estava lhe pregando uma peça. Sua mão tremeu mais, e no instante em que foi atender, a chamada caiu, como se encerrassem. engoliu seco, sentindo a sua garganta doer e mordeu o interior da sua bochecha.
O clima da cidade era quente, como de costume em Julho, mas a sensação que tinha era que estava um milhão de vezes mais quente. Um pingo de suor escorreu pelas suas costas e se manteve na posição com o aparelho nas mãos. O mesmo toque começou, mas outra mensagem apareceu na tela.

“PAI”

Suspirou aliviado.
— Oi, pai — disse, assim que atendeu.
— Oi, filho. Já está em Woodsboro? Achei que fosse chegar mais cedo. — Ouviu a voz do seu pai e levou uma das mãos até a testa, fechando os olhos.
— Hm, cheguei. — Ao abrir os olhos, entrou no carro para que enfim saísse dali. — Eu chego aí em casa daqui a pouco, tá bom?
Apoiou a cabeça no banco do motorista e fechou os olhos após desligar a ligação, deixou o aparelho de qualquer jeito no banco do passageiro e respirou fundo. Pensou nas palavras da sua psicóloga.
“Não tem nada ali. É coisa da sua cabeça. Siga em frente.”
Mentalmente mudou algumas palavras, mas mentalizou quase a mesma coisa: “Você não viu nada ali. É coisa da sua cabeça. Siga em frente.”
Deu a partida e dirigiu, ligou o rádio enquanto isso, fazendo com que a sua mente fosse tomada pela letra da música e deixasse o que havia acontecido pra trás. Seu coração ainda batia forte quando estacionou atrás do carro da polícia do seu pai e, assim que desligou, o silêncio fez com que um barulho ensurdecedor de ambulância invadisse a sua cabeça.

— Levem-no ao hospital mais próximo. Ele foi esfaqueado duas vezes e está perdendo sangue...
Aquela trágica noite ainda martelava seus pensamentos em flashes.
— Homem. 17 anos. Foi esfaqueado em um assalto.

Manteve sua cabeça apoiada no volante e fechou os olhos com força, como se aquilo fizesse com que as memorias desaparecessem, no entanto não adiantava muito e ele sabia disso.
Um barulho no vidro fez com que um grito de susto escapasse entre os seus lábios e ele olhou na direção em que aquele som vinha.
— O que você está fazendo aí? Sai desse carro. — Seu pai abriu a porta, fazendo com que o ar quente de fora abraçasse seu corpo e ele apenas concordou. — Oi, filho. — O xerife levou os braços ao redor do corpo do mais jovem.
se sentia confuso. O que havia acontecido no cemitério com o vislumbre de uma mulher ruiva, a chamada bloqueada na tela do seu celular, as visões no banco de trás enquanto vinha para Woodsboro, sua cabeça até doía por conta de tantos acontecimentos.
— Oi, pai — o mais novo sussurrou e acariciou o pai nas costas. Logo que se afastaram, o rapaz forçou o seu melhor sorriso. — Como você está? Como estão as coisas para o casamento? — Fingiu ânimo, mas sabia que tinha dado certo, afinal o mais velho abriu um sorriso.
— Estou bem. Estamos bem. Depois você pega as malas, vem. Me conta como estão as coisas em Harvard.
— Lionel, você precisa parar de encher o garoto de perguntas.
Uma voz feminina ecoou no ouvido do jovem Riley e seus olhos foram diretamente na direção de onde vinha aquele som, sorriu com aquilo e em passos rápidos aproximou-se da futura esposa do seu pai e a abraçou. Eles sempre tiveram uma relação um pouco conturbada, tendo em vista que boatos surgiram na cidade a respeito do relacionamento dos dois ter começado ou não antes de Lionel ter se separado da mãe de .
Mas ele iria fingir ao máximo. Os próximos dias eram todos sobre puro fingimento.
— Bom te ver — afirmou, ao se afastar.
— Bom te ver também, garoto. — Ele sentiu as mãos dela em seu rosto, passando pelos seus cabelos e fazendo um carinho gostoso. — Vem que eu fiz a sua torta favorita.
O dia seguiu normal até demais depois de tudo. Comeu a torta de maçã feita por Jennifer, que, a propósito, estava deliciosa e pôde subir para o seu quarto depois de uma maratona de perguntas sobre a nova faculdade que começaria em algumas semanas e como estavam os seus treinos no atletismo.
Acordou na sua antiga cama algumas horas depois, com o susto de uma porta batendo e fazendo um estrondo dentro do seu quarto. Colocou-se sentado e respirou fundo, focando em apenas um pensamento. Já já ele iria embora e não voltaria pra Woodsboro tão cedo.
Dirigiu-se até o banheiro e jogou uma água gelada no rosto, aquilo sempre o ajudava a acordar. Caminhou até a enorme janela do seu quarto e viu que o céu tinha uma coloração alaranjada no horizonte e sabia que o Sol estava se pondo.
Depois de trocar de roupa, pegou o que precisava e desceu as escadas com as chaves do carro nas mãos e o celular. Assim que chegou ao andar debaixo, ouviu vozes na cozinha e reconheceu como sendo do seu pai e de Jennifer, sua madrasta.
— Oi — murmurou, ao se aproximar do batente da porta e os dois olharam pra ele no mesmo instante. — Vou correr um pouco na pista de atletismo da universidade. Volto logo. — Rodou a chave no dedo indicador e se virou para sair dali.
— Se cuida. — Ouviu a voz do seu pai, tombou a cabeça pra trás e suspirou.
— Não se preocupe. O assaltante não vai me pegar.
Não se deu ao trabalho de olhar para o seu pai antes de sair. Bateu um pouco forte a porta da frente e correu até o seu automóvel, já rumando em direção ao campus da faculdade local, que não ficava muito longe de casa.
Aumentou o volume do rádio, abriu os vidros e deixou que Taylor Swift fizesse com que ele esquecesse, ou tentasse, os últimos acontecimentos daquele dia.
‘Cause the players gonna play, play, play, play, play. And the haters gonna hate, hate, hate, hate.
Logo que estacionou em um local vago, constatou que havia alguns carros ali, provavelmente de pessoas que trabalhavam na faculdade e estavam no campus antes das aulas começarem. O rapaz saiu, foi até o porta-malas e colocou o tênis e uma roupa própria a fim de correr mais confortavelmente.
Era irônico pensar que ele estava ali um ano depois. Naquele campus.
Sentiu um ar mais frio tomar conta do seu corpo ao se aproximar da pista, mas ignorou, sabia que aquilo era puro psicológico. Olhou o seu relógio e passou o dedo, deixando na opção em que marcaria o tempo da sua corrida.
Respirou fundo e fechou os olhos.
Colocou-se em posição de aceleração, manteve as mãos na pista e os olhos abertos e vidrados no fim. Por mais que a noite já estivesse tomando conta, ele ainda conseguia ver o fim.
Um barulho fez com que ele olhasse por cima do próprio ombro, era o vento, os galhos das árvores se moviam graciosamente, como se fosse uma música.
— Foco, . Teu tempo tá uma merda. Você precisa melhorar isso — falou pra si mesmo, sabendo que só dependia dele.
Fez o que sempre fazia quando treinava. Manteve os polegares alinhados e levantou o corpo. Mentalmente ouviu o tiro iniciando a corrida, sabia que o corredor atingia a sua maior velocidade entre 50 e 60 metros e era quando ele dava o melhor de si.
Correu. Fez o seu melhor ao mover as pernas e os braços ligeiramente, tentou manter a respiração no ritmo para que não se cansasse tanto. Momentos variados do dia de hoje apareceram em sua mente enquanto corria. Ao terminar, olhou no relógio de pulso, com a respiração ofegante, e fez uma careta com o seu tempo.
Voltou à posição inicial em passos rápidos mesmo com a boca seca, a respiração ofegante e o corpo quente. Pensou que a última coisa que havia comido fora a torta de sua madrasta e sentiu fome, sentiu-se mentalmente exausto.
Olhou novamente pro fim e sua vista estava levemente embaçada, mas ignorou, era algo que fazia regularmente. Ouviu o barulho de um galho quebrando e olhou na direção onde vinha esse som com os olhos arregalados e seu coração palpitando.
Subitamente se colocou de pé e deu uma volta de 360º, olhando para todos os lados, assustado, querendo saber o que era aquele maldito barulho. Um galho caindo? Um animal solto no campus?
O único som que conseguia ouvir era da sua própria respiração. Mordeu o lábio, com um único pensamento em mente: ir embora. Deu um passo e um barulho fez com que ele gritasse. estava com o seu coração na boca e seu celular tocava no bolso do agasalho de corrida.
Com uma das mãos levemente trêmula, o rapaz tirou o aparelho de lá, demorou alguns segundos para conseguir tomar coragem e virar a tela pra si.

“Número bloqueado”

Engoliu seco, mas o celular não parava de tocar e aquele barulho estava o irritando. Sem pensar duas vezes, passou o dedo pela tela, atendendo a chamada e trazendo o aparelho até próximo da orelha.
Olá, .
Fechou os olhos no mesmo instante em que aquela voz distorcida entrou pelos seus ouvidos. Seu coração batia tão forte que achava que passaria mal em breve. Tentou se concentrar, colocar as ideias no lugar e pensar no que estava acontecendo.
— Você não é real. Você não existe. Não. Você. É. Coisa. Da. Minha. Cabeça — expressou em pausas, sua voz mal saiu pelo tamanho do seu nervosismo.
Uma gargalhada foi ouvida do outro lado da linha e não teve tempo de pensar, algo brotou ao seu lado e ele olhou, com o celular ainda próximo à orelha e os olhos arregalados.
Era ele.
De novo.
Um segundo foi o suficiente para reagir e dar impulso pra frente com o seu tronco, seguido das suas pernas. Enquanto corria, tentava respirar pelo nariz, mas, pelo nervosismo, o ar entrava pela sua boca e ressecava a sua garganta. Tentou olhar por cima do ombro, contudo, nada viu.
Alcançou um muro de arame no fim da pista, depois da pequena grama, e escalou, com certa dificuldade, pois estava com o celular em mãos. Ao chegar ao topo, enroscou o seu pé e caiu lá de cima do outro lado, batendo o ombro ao encontrar o chão e gemeu de dor. Imediatamente seus olhos percorreram o caminho que ele tinha feito, mas não viu ninguém.
Com os olhos arregalados, a respiração ofegante por tudo que tinha acontecido, o rapaz se levantou e correu, subiu um pequeno morro de gramado e chegou até o calçadão do campus, mas seu corpo se encontrou com outro corpo e ele foi jogado no chão.
Ao cair de bunda, olhou pra cima, assustado. Aqueles cabelos ruivos se movimentaram por debaixo do capuz por conta do vento noturno mais forte e ele franziu o cenho. Sua mente demorou para entender o que estava acontecendo.
Sua boca estava quase pronunciando um nome, mas ele foi interrompido.
? Tá tudo bem? — Ela se aproximou um pouco mais, abaixando e tirando o capuz.
O loiro fechou os olhos rapidamente, logo os abrindo, era como se a sua mente estivesse pregando peças.
— Foi você quem eu vi no cemitério — ele sussurrou o óbvio.
A garota se colocou de pé com um sorriso sapeca nos lábios e pegou algo dentro do bolso do agasalho, era um cigarro.
— Eu cheguei lá pra visitar a minha irmã e você estava lá.
— Você é... — franziu o cenho.
. Sou irmã gêmea da Aurora.


Capítulo 3

fez uma careta rápida ao acariciar o seu ombro e notar que a dor estava o incomodando um pouco, mas sabia que um relaxante muscular mais tarde o ajudaria a dormir.
— Tem certeza de que não quer ir a um hospital? — a garota à sua frente lhe questionou.
Ele negou com a cabeça e alcançou o copo com milkshake próximo de si. Depois do que havia acontecido na universidade, precisava conversar com e entender melhor algumas coisas que se passavam em sua cabeça. Decidiram ir a uma lanchonete no centro da cidade, algumas mesas estavam ocupadas e sentaram-se perto da janela.
— Me explica como eu não me lembro de ter ouvido falar de você. Como assim você é a irmã gêmea da Aurora? — indagou, de forma curiosa, e deixou o milkshake de lado.
manteve um dos pés em cima do banco e o canudo do próprio milkshake ela segurava entre os dedos, como se fosse um cigarro. Olhou para e deu um suspiro.
...
— Como você me conhece? Como você sabe quem eu sou? — Seu tom de voz era calmo, mas por dentro queria gritar. Mantinha os olhos naquela garota à sua frente, ela era Aurora, mas ao mesmo tempo não era.
! — o chamou, novamente.
Tapou o rosto com as mãos e respirou fundo, sua cabeça chegava a doer de tantos pensamentos que possuía a cada segundo, e a respeito de tudo que havia acontecido naquele dia. A miragem do ghostface em seu carro, o vislumbre da ruiva no cemitério, as ligações, o que aconteceu na pista de atletismo e agora isso.
Sentiu algo tocar uma das suas mãos e se sobressaltou. Com o cenho franzido, olhava para e viu ela afastar uma das mãos.
— Desculpa, eu não queria te assustar. Quero te explicar as coisas.
Por um lado, ele queria, sim, saber. Se não quisesse, não teria ido àquele lugar com ela. No entanto, ao mesmo tempo, não aguentava mais ouvir e nem pensar em nada.
— Eu preciso ir, nós conversamos outra hora.
simplesmente se levantou, fez uma careta rápida em reação à dor no seu ombro e tirou uma nota qualquer de dentro do bolso da sua calça jeans, olhou para a mulher ali e suspirou.
— Desculpa, realmente preciso ir. Hoje eu não...
Pegou o celular e foi saindo. Sentia o olhar dela sobre si, nas suas costas, todavia, não iria voltar. Até que, chegando à porta do estabelecimento, algo fez com que ele parasse.
— Não quer saber a verdadeira história sobre a sua melhor amiga psicopata? — falou alto, com raiva.
estava com o coração na boca, batendo forte. Engoliu seco e virou um pouco para olhá-la. Nesse momento, a ruiva estava de pé, o olhando.
— Que merda é essa? — a questionou, com o cenho franzido.
— Essa é a verdade sobre a Aurora, , mas talvez você não esteja pronto pra ouvir.
Ele acompanhou os passos dela. A ruiva se aproximou e passou por ele, saindo da lanchonete pelas ruas de Woodsboro. Com o olhar, a viu sumir entre as árvores e pensou no que acabara de ouvir.
poderia estar mentindo, certo? Era a única alternativa. Conhecia Aurora desde sempre, eles estavam juntos o tempo inteiro, não teria a possibilidade de ela não ser a pessoa que ele conhecia.
Dirigiu até a casa do seu pai totalmente aéreo. O rapaz só conseguia martelar as palavras de em sua cabeça.

“— Não quer saber a verdadeira história sobre a sua melhor amiga psicopata?”

Estacionou novamente, assim que chegou, atrás da viatura do seu pai. Saiu, coçando a cabeça e jogando os cabelos pra trás até chegar à porta. Ao se aproximar, pegou a chave, mas derrubou no chão. Em um gesto rápido, se abaixou pra pegar, logo se levantou e deu de cara com o seu pai.
— Porra! — Deu um passo pra trás no susto, riu nervosamente e colocou uma das mãos no peito. — Pai, que susto!
— Demorou! Onde você estava mesmo? — o mais velho questionou, com o cenho franzido.
— Fui correr na pista de atletismo da universidade, te falei. — Foi entrando na casa e deixou as chaves do carro e da casa por ali. — Todo mundo já está dormindo? — Virou-se, a fim de olhá-lo.
— Todo mundo você diz a sua madrasta? — Ouviu uma risada do pai. — Ela está terminando de falar com a irmã ao telefone. Com fome? — Colocou uma das mãos no ombro do mais novo.
— Um pouco, sim.
Na verdade, não estava. Se sentia enjoado com tudo.
Acompanhou o pai até a cozinha, onde as luzes foram acesas e o xerife pegou um prato que haviam deixado para do jantar, tirou o plástico protetor de cima e o colocou no micro-ondas. acompanhou o que o pai fazia enquanto se sentava à mesa.
— Pai, você... — O jovem mordeu o lábio inferior de leve e olhou para as próprias mãos.
O aparelho apitou quando a comida já estava aquecida e o mais velho pegou o prato e colocou em frente ao mais novo.
— Você sabia das gêmeas?
— Aurora e ?
Ele apenas concordou.
— Se eu sabia ou sei? Sei que a existe. E está na cidade.
— Como assim existe? Como eu n-nunca... — Negou com a cabeça.
O rapaz viu o seu pai sentar-se à sua frente e respirar fundo.
— Talvez você deva deixar a te explicar o que aconteceu, filho. Eu sei, pelo que conversei com os Miller, mas vocês deveriam conversar. Têm a mesma idade, vão se entender.
sentiu o seu coração bater mais forte ao ouvir o pai dizer que deveria deixar lhe explicar o que havia acontecido. A única sensação que predominava em sua mente era de confusão.
Pegou o garfo e fincou em um dos brócolis.
— Não sei se você lembra, mas eles moram na mesma casa, você poderia ir lá e...
— Pai, eu não saí da casa deles nos últimos anos e nem a Aurora daqui. Ela ter uma irmã gêmea tá no topo das coisas mais bizarras dessa cidade, e olha que Woodsboro só tem coisas bizarras. Nada nessa cidade é normal, nada — o jovem disse, nervoso.
Sua mente foi tomada por um acontecimento que seu pai lhe contou alguns anos a respeito da sua família, e com aquela informação ligou alguns pontos. Olhou pro pai e viu a forma como ele lhe retribuiu o olhar.
— Você acha que eles sabem sobre...
O mais velho negou com a cabeça. tinha se esquecido completamente daquela história. Era a sua mente pregando peças, de novo.
Passou as mãos pelas têmporas, depois de largar o garfo com raiva. Sentiu uma leve dor começar e seu ombro estava do mesmo jeito, então colocou-se de pé, foi até o armário de medicamentos e pegou um comprimido para dores musculares.
— Eu tô sem fome. Amanhã a gente se fala, tá? Hoje tá tudo bem difícil.
Olhou para o pai pela última vez antes de sair da cozinha, subiu as escadas rapidamente e, em passos rápidos, chegou ao seu ex-atual-quarto e encostou a porta, a trancando.
Fez o mesmo com as janelas do cômodo, puxou as cortinas para que ficassem bem fechadas, não tinha pretensão de acordar cedo no dia seguinte, e torceu para que o remédio o apagasse. Com a ajuda de um copo de água, bebeu e engoliu o medicamento, já se jogando na cama e fechando os olhos com força.

“— Se você desligar, eu corto a garganta da garota ao seu lado na sua frente.”

Seu coração voltou a bater ligeiramente com aquela voz dentro da sua cabeça e respirou fundo, colocou o travesseiro sobre a cabeça e pediu para que o sono o atingisse imediatamente. Não queria lembrar, não queria sentir, não queria pensar. Só dormir, descansar e esquecer.

Acordou no dia seguinte com batidas fortes na porta, demorou alguns segundos para despertar realmente e entender onde estava. Pelo menos a dor de cabeça tinha sumido.
— Espera! — pediu, com a voz rouca, e meio cambaleante se levantou.
Abriu a porta em tempo de ver o seu pai descendo as escadas. Logo ele voltou alguns degraus e o olhou.
— Oi, filho. Estamos saindo, tá? Pra resolver algumas coisas do casamento. Você fica bem sozinho? Tem comida na geladeira.
Respondeu a todas as perguntas com um simples aceno de cabeça e não demorou a ouvir a porta da frente bater.
Bons minutos depois, estava em frente à pia da cozinha e acabava de virar uma das panquecas que fazia. Comia outra, pura, sua mente o levou para a noite anterior e ele ligeiramente fez uma careta.
— Que esse casamento passe logo pra eu ir embora! — resmungou.
Sentou-se à mesa com a calma que não habitava em seu corpo, comeu e, com pensamentos conflitantes a respeito da sua vida. Havia passado boa parte dela com Aurora, eles se conheciam desde pequenos e sempre estavam juntos, e principalmente, sabiam tudo sobre o outro.
Pelo menos era o que achava.
A casa estava em silêncio absoluto quando um barulho fez com que ele se sobressaltasse. Imediatamente seus olhos foram em direção ao celular que vibrava em cima da mesa, bem próximo ao seu braço.
Engoliu a panqueca e sentiu a garganta quase doer por estar seca. Levou uma das mãos até o aparelho, o virou pra si de uma vez e viu algo na tela que fez com que seu coração quase parasse.

“NÚMERO BLOQUEADO”.

De novo. Estava acontecendo de novo. O que havia acontecido na noite anterior foi real e não uma alucinação como a sua mente estava gritando.
O som de uma mensagem recebida ecoou no ambiente e prontamente viu algo na tela.

“Oi, ”.

Não, não, não, não, não, não, não, não.
A sensação ruim dentro do seu peito só aumentava. A cozinha parecia girar e os gritos de Aurora, naquela noite, ecoaram em sua mente. Seu coração batia forte e sua respiração começou a ficar desregulada. levou uma das mãos até a testa, mas algo chamou a sua atenção.

“Um vídeo pra você com uma pergunta importante”.

Passou o dedo levemente trêmulo pela tela do celular, abrindo a conversa e carregando o vídeo. Seu coração estava na boca e ele achou que poderia passar mal.
Era . Na casa dos Miller. Tocando piano. A filmagem parecia estar sendo feita do lado de fora da residência, e ela, sem perceber, estava sendo filmada enquanto tocava algo no piano da sala. A cortina se movimentou e olhou para o lado atentamente, como se algo chamasse a sua atenção.

“Você pode salvá-la? Ou vai perdê-la igual aconteceu com a Aurora, ?”

A mensagem era a mais direta possível, sem enrolações ou trocadilhos. Com o celular em mãos, saiu em disparada. Assim que passou pela porta, abandonando a residência, continuou a correr pela rua e, em poucos passos, se encontrava na esquina. Ele parou, olhando para todos os lados.
Sua boca estava seca, a respiração irregular e as batidas do seu coração eram sentidas, no entanto, não iria desistir. De forma alguma iria perdê-la. Do nada, uma memória brotou em sua mente e o rapaz iniciou uma corrida veloz em direção à casa dos Miller, que ficava no fim da rua.
Desviou de um carro que vinha na direção contrária, resolveu correr pela calçada e não demorou a avistar a casa dos Miller. Tudo parecia bem, pelo menos a princípio. Chegou ao seu destino e se aproximou da porta de entrada. Respirou fundo e usou as duas mãos para bater na madeira.
! ! ! ...
Olhou pra trás, por cima do seu ombro, pois uma sensação ruim se apossou do seu corpo, mas tudo que viu foi a calmaria da rua e as outras casas. Voltou a olhar pra frente ao ouvir o som da porta sendo aberta.
? Você está malu...
Fez o sinal para que ela não falasse nada e entrou na residência, imediatamente fechando a porta atrás de si e a trancando. Levou uma das mãos ao ombro de como se pedisse calma e fez o um com o dedo, saindo de perto dela e indo até o piano.
— O que aconteceu? — Ouviu a voz dela totalmente impaciente.
Virou para a ruiva e mostrou o seu celular. Suas mãos estavam trêmulas, mas, assim que focou no conteúdo, seus olhos se arregalaram.
— O assassino te mandou isso? — questionou baixo.
Ele apenas concordou com um aceno rápido e guardou o celular no bolso da calça jeans.
ia falar, contudo um barulho foi ouvido no fundo da casa. Olhou para , que olhou para ele da mesma forma, confusa. Pegou em uma das mãos dela e a puxou em direção ao corredor, mas, antes de passarem pela porta da cozinha e poderem ir para o andar superior, algo apareceu próximo à ilha.
Olhou novamente para e pediu silêncio.
— Ele tá aqui — apenas sibilou.
Olhou para os lados e procurou por algo que poderia ajudar a distraí-lo, encontrou uma bola de cristal em um aparador e pegou. Segurou com firmeza o objeto e o jogou com toda força que reuniu em direção à sala. O item voou e caiu no chão.
Puxou uma das mãos de e entraram em um pequeno corredor que dava para uma outra porta nos fundos do local. Ficou ali, olhando atentamente entre a parede para ver aonde ele iria e o viu caminhar em direção à sala, bem onde a bola de cristal espatifada estaria.
A roupa, aquela máscara, tudo fazia com que ele sentisse seu corpo inteiro tremer de medo. Revivia momentos daquela noite que jurou que esqueceria. Era apenas chegar alguns dias antes, esperar pelo casamento do pai e ir embora o mais rápido possível.
? — Ouviu a voz baixa de ao seu lado.
— Onde fica seu quarto? Vamos nos esconder lá e ligamos pra polícia. — Seu tom de voz era baixíssimo.
apontou com a cabeça para a escada, a sensação que tinha era a de que nunca havia vindo ali. Engoliu seco e concordou, a seguindo escada acima. Ele não se lembrava de ter frequentado aquele local a sua infância e adolescência, mas imaginou que seu cérebro estava o poupando de lembranças dolorosas.
Enquanto subiam, o Riley mais novo olhava por cima do seu ombro, vez ou outra, para identificar se estavam sendo seguidos ou não. Pelo corredor, havia quadros espalhados por todo o local, com fotos da família Miller, e apressou-se para chegar ao quarto de .
— Debaixo da cama.
Já foi tirando o celular do bolso da calça, enquanto se abaixavam para entrar juntos no local. foi primeiro e logo depois. Afastou um ou outro par de tênis dela que tinha por ali e manteve seus olhos no corredor, mesmo naquela posição desconfortável.
Abriu uma conversa com o pai e, antes de digitar, ouviu um ranger do chão, era no corredor.
O respirar de se encontrava muito alto, o rapaz se virou e pediu para que ela ficasse em silêncio.
— Shhh! — Colocou uma das mãos nos próprios lábios e a olhou. Ela se encontrava com os olhos arregalados e certo suor escorrendo pela sua testa. Seu coração batia freneticamente. — Ele vai nos ouvir.
Ambos olharam para o corredor. Viram botas, por cima de um dos ombros de . passou um dos braços e levou uma das suas mãos até a boca dela, a silenciando, pois ambos estavam tão assustados que suas respirações acabariam por serem ouvidas.
— Eu to aqui, calma.
Quase disse isso pra si mesmo ao sentir a vibração do quarto mudar ao perceber que ele estava ali, era só uma simples olhadinha debaixo da cama e iriam ser pegos. No fundo, queria que isso acontecesse. E se fosse necessário pra descobrir quem era? Mas, ao pensar naquilo, suas cicatrizes doeram ao sentir a força da faca penetrando a sua carne.
Fechou os olhos com força e desejou que aquela sensação ruim passasse. Não entendeu quantos minutos ou segundos ficaram em silêncio total, mal respiravam, no entanto logo a casa voltou a estar em um silêncio. Os passos não eram ouvidos e muito menos o ranger da madeira.
Tirou a mão do rosto de e ligeiramente discou os números do seu pai. Passou a língua pelos lábios, os sentindo secos e ouviu o mais velho atender.
— Pai?
Foi saindo aos poucos de debaixo da cama e olhou para os lados atentamente, com medo dele aparecer do nada.
— Pai, eu tô na casa dos Miller. Ele esteve aqui. — Levou uma das mãos até a testa.
— Quem esteve aí? — O mais velho parecia confuso.
engoliu seco, sabendo que o seu pai tinha imensa dificuldade em acreditar no que havia acontecido com ele há um ano.
— Ele, pai. Com a máscara — respondeu, ao alterar um pouco o tom de voz. — Ele me mandou uma mensagem com um vídeo e disse que era pra eu salvar a ou se eu a deixaria morrer igual a Aurora.
Olhou pro lado e viu se sentar devagar na cama e com as mãos levemente trêmulas.
— Vou mandar o Ethan aí com uma viatura pra conversar com vocês e...
Uma risada fraca saiu da boca de .
— Está acontecendo de novo! Ele vai fazer mais vítimas e você está me tratando como se esse fosse um caso normal, pai? Um caso normal? — Fechou as mãos em punho e sentiu uma decepção imensa tomar conta do seu corpo.
Não pensou duas vezes, apenas desligou e jogou o aparelho na cama, que acabou rolando e caindo no chão, fazendo um barulho um pouco mais alto. Olhou para e respirou fundo.
— Seu pai não acredita no que aconteceu? Com a minha irmã e com você naquele dia no campo de futebol? — o olhou e usou um tom de voz baixinho.
Ele negou e se aproximou dela, sentando-se na cama, de frente para a garota.
— Nós precisamos conversar sério. Você precisa me contar algumas coisas e eu pra você, a minha família... — foi pra dizer, mas acabou hesitando.
Mordeu a parte interna da bochecha.
— Há muitos anos, quando eles eram da nossa idade, a minha família já passou por isso. Pelo que estamos passando.
franziu o cenho. O rapaz deu uma olhada pelo quarto, como se tomasse coragem para pronunciar as suas próximas palavras.
— Minha tia já usou a máscara. Há muit-muitos anos — disparou.


Capítulo 4

andava de um lado para o outro no corredor da delegacia. Estava próximo a , que terminava de falar com os pais ao celular, e se sentia mal pela forma que o seu pai tratava o caso. Desde o ocorrido com Aurora, há um ano, ele não dava a atenção devida.
Assim que a ruiva desligou, o rapaz parou de andar e a olhou, se aproximou, se sentando ao lado dela.
— Falou com eles? Onde eles estão?
— Eu já te disse, . Meus pais estão na casa da minha avó, mãe do meu pai. Ela está doente — respondeu baixo e guardou o aparelho na pequena bolsa preta.
O loiro mordeu seu próprio lábio inferior e suspirou baixo enquanto olhava para frente.
— Você ia ficar sozinha em casa? — Voltou a sua atenção para a garota.
— Não tem problema ficar sozinha em casa em Woodsboro. — Algo como uma risada fraca ecoou dos lábios da mulher.
— Jura? — Foi debochado. — Essa noite você dorme lá em casa. É mais seguro.
— Talvez seja bom. Você tem coisas a me contar também.
O rapaz apenas concordou com a cabeça, realmente não havia explicado nada desde que contou o maior segredo da sua família. Ouviu a porta se abrir e seu pai aparecer. O homem acenou com a cabeça para que os dois entrassem em sua sala e ele andou primeiro, tamanha era a sua ansiedade.
Ao colocar os pés na sala do pai, lembranças de um pequeno invadiram a sua mente, pois ele vivia ali. Era antes ou depois da escola. Aos finais de semana, ou feriados. Ele sempre estava ali. Cresceu naquela delegacia. Olhou para os lados, viu o mexer da cortina por conta de um vento mais forte, notou os quadros na parede que mostravam as congratulações que seu pai recebeu da polícia nos anos.
— Podem se sentar. Os dois. — Sua voz era firme.
se sentou na cadeira mais próxima da janela e fez o mesmo ao seu lado. Observou os porta-retratos na mesa, do seu pai com ele e outras dele com a sua madrasta, engoliu seco. Uma prateleira cheia de livros também compunha o ambiente.
— Agora você me conta o que aconteceu, tá bom? Com calma. — Notou o tom de voz áspero do mais velho e seu olhar.
— É sério isso? — O mais novo soltou um risinho. — Você não precisa tomar o meu depoimento? Eu não sou seu filho aqui, xerife. Sou uma vítima. Igual ela. — Apontou para a ruiva ao seu lado.
Ele percebeu que a expressão no rosto do seu pai mudou minimamente, mas mudou. As sobrancelhas ficaram mais próximas e naquele momento pareceu que as linhas de expressão do rosto do xerife ficaram mais evidentes.
— Certo, Riley. Você quer que eu te trate como uma vítima, né? — O policial afastou um pouco a cadeira de rodinhas e pegou algo no lado esquerdo da sua mesa, era um bloco. Alcançou uma caneta perdida por ali também, apertou o topo a fim de começar a escrever. — Seu depoimento vai ficar registrado, começa a falar. E se você mentir, vai ser considerado crime.
ouviu com atenção começar a contar tudo, desde o início do que havia acontecido com ele, no instante em que recebeu a mensagem em casa. Ela se encontrava no piano, tranquila. A garota aprendeu a tocar quando pequena, juntamente à sua irmã gêmea. Momentos das duas juntas, felizes, brotaram em sua mente, pois eram raros.
Se lembrou de quando chegou à sua casa, em como ele bateu na porta desesperadamente, mostrou o vídeo e disse que o assassino estava ali, atrás dela. Contudo, não havia visto nada.
Nenhum assassino.
Ninguém de máscara.
Apenas confiou em .
Decidiu manter isso para si, falaria para depois, afinal notou como o relacionamento dos dois era complicado.


***


— Você acha que pode dar certo? — olhou para assim que pararam em frente a biblioteca da cidade.

BIBILIOTECA MUNICIPAL DE WOODSBORO


Era o que dizia os enormes letreiros na fachada.
— Seu pai claramente não vai nos ajudar. — deu de ombros e sentiu o vento bagunçar seus cabelos. — Talvez tenha algo nos jornais que nos conte o que realmente aconteceu naquela época. Sem mentiras.
O loiro concordou com a cabeça e mentalizou que as coisas dessem certo. Começou a andar, com ao seu lado, e subiram algumas escadas, passaram pela porta giratória e entraram na biblioteca. Era pequena, mas ele sabia que encontraria respostas ali.
Se aproximou da bancada, tocou uma campainha de sino e o barulho estridente fez com que uma careta brotasse em seu rosto. Olhou para trás, vendo as prateleiras cheias de livros e sorriu brevemente ao se lembrar de quantas vezes frequentou por conta da escola.
?
Virou-se para o lado de onde a voz vinha, era um rapaz como , com a mesma idade e o mesmo tipo de corpo. Sorriu, se aproximando e o abraçando rapidamente.
Lembrou-se que o encontrou no dia em que Aurora foi morta, antes de saírem do carro.
— Achei que você tivesse se mudado de Woodsboro!
— Digo o mesmo! — O viu fazer uma careta rápida e acabou rindo.
Seu olhar caiu em , que estava próxima deles. Viu o amigo acompanhar seu olhar e notou a sua surpresa. Era evidente que ele nunca havia a visto, pois sua boca abriu um pouco, espantado.
— Aur...
. Ela é irmã gêmea da Aurora! — explicou, com certa calma em sua voz.
deu um sorriso fechado, um tanto quanto constrangida, não sabia o que falar, ou como agir.
— Prazer.
, esse é o Alex — os apresentou. — Alex, essa é a .
Reparou no olhar confuso que ambos trocaram, principalmente vindo de Alex. Entendia, afinal ele havia passado pela mesma coisa quando conheceu a garota.
— Bom, o que trás vocês aqui? — Alex foi para trás do balcão e os olhou sorrindo.
— Preciso de notícias de uma época. Quero entender bem o que aconteceu. — colocou as mãos sobre a bancada e mordeu o interior da sua bochecha. Torceu para que Alex não fizesse muitas perguntas.
— Só preciso saber qual é a época. — O rapaz dirigiu-se para frente do computador.
— 1993.
Sentiu se aproximar e pôde sentir o perfume que exalava dos cabelos dela. Observou Alex teclar e levar uma das mãos ao queixo.
— Cara, faz muito tempo que eu não te vejo!
— Desde o velório — disse, baixo.
Ouvia o amigo teclar e sentia a ansiedade por respostas pulsar em seu corpo. Olhou para , sorrindo fraco, e viu ela corresponder imediatamente. Voltou a olhar para Alex e pensou se ele sabia algo a respeito da sua família.
— Alguma coisa?
— Pode ser no jornal local, né?
— Sim. Tem que ser no jornal de Woodsboro — respondeu ligeiramente e, em passos rápidos, se colocou ao lado do amigo.
Trinta anos atrás. Trinta anos. Olhou para o monitor do computador e sentiu seu coração bater mais rápido. Queria resolver aquilo, não piscava, apenas via as imagens dos jornais irem passando, até que algo chamou a sua atenção.
— Espera! Olha! Para nesse! — pediu, ao apontar.
A manchete estava em caixa alta: “JOVEM SURTA E MATA OS AMIGOS” e embaixo a letra era um pouco menor: “Jovem de 17 anos, que depois foi descoberta que se vestia com uma máscara, matou amigos na cidade de Woodsboro. Provocou grande comoção na cidade, pois seu irmão mais velho e sua melhor amiga foram quase vítimas fatais.
sentiu a sua garganta ficar extremamente seca e um bolo se formar nela. Leu a notícia algumas vezes, passando os olhos pelos nomes e murmurando baixinho algumas palavras mais importantes.
— Pode imprimir pra mim? Por favor? — quase implorou baixinho.
Em questão de minutos, estava com os papeis em mãos e olhou para , dando a entender que já precisariam ir, no entanto, ao começar a andar, ouviu a voz de Alex.
— O que está acontecendo, ? — O ouviu questionar de forma curiosa.
Não queria envolver mais ninguém naquilo. Não queria.
— Só toma cuidado. Não sei se você lembra do que te falei no velório, mas é real. Tá acontecendo!
Empurrou a garota um pouco mais rápido para que saíssem dali uma vez fora da biblioteca, suspirou pesadamente e começou a descer as escadas.
— Por que ele não pode saber o que aconteceu e o que está acontecendo? — ouviu ela perguntar, enquanto caminhavam lado a lado.
— Não quero envolver mais ninguém.
Foram chegar à casa dos Riley cerca de alguns minutos depois. Tudo era perto demais naquela cidade, era tranquilo andar pelas ruas de Woodsboro. Pelo menos era o que todos achavam.
No entanto, precisava de roupas, já que dormiria na casa dele essa noite, fato que estava a deixando estranhamente nervosa. Ele a acompanhou até a sua casa, lá pegou a quantidade necessária e voltaram para a casa do rapaz.
Horas depois, era noite, ambos estavam no quarto que estava ficando e se sentaram lado a lado na cama, com as costas para a parede.
— O que ele te disse? No dia em que... — a ruiva foi questionar, mas a sua voz sumiu ao lembrar da irmã.
— Primeiro ele me perguntou qual era meu filme de terror favorito, depois de falar que, se eu desligasse, ele cortaria a garganta da Aurora.
engoliu seco e sentiu os seus olhos arderem.
— O que mais? — O olhou.
— Ele disse que eu era famoso. Depois disse que era fã da minha família e por fim falou que me encontraria quando falei a respeito de marcar um encontro. — Franziu o cenho ao falar e encará-la. — É alguém que odeia a minha família pelo que aconteceu com a minha tia?
Ela pareceu pensar na pergunta dele e sua expressão mudou, arregalou os olhos e se moveu na cama, ficando de lado.
— E se for algum familiar das vítimas? Você sabe quem morreu no dia?
deu um pulo da cama, foi alcançar as folhas que se encontravam sobre a bancada do quarto e voltou para cama enquanto lia.
— Steven Orth, Casey Becker, Stu Macher e Billy Loomis — ele leu os nomes. Se sentou ao lado dela e a olhou. — Sabe quem pode nos ajudar com isso?
— Quem?
— Meu tio. Ele viveu isso. Ele e a esposa viveram e vão vir para o casamento.
— E quando...
Ouviram batidas na porta e logo o pai de surgiu com um sorriso nos lábios.
— Estou indo buscar pizzas. Quer ir comigo?
olhou do pai de para o próprio, nem parecia que os dois haviam passado aquela tensão toda na delegacia mais cedo. Viu o rapaz ao seu lado concordar com a cabeça e olhar pra ela ao pegar os sapatos.
— Já volto, ok? É rápido.
A garota concordou ao sorrir fechado pra ele, viu os dois saírem e a porta ser fechada. Respirou fundo, se jogando na cama e sentindo seu corpo relaxar momentaneamente. Mordeu o próprio lábio inferior, pensando em tudo que estavam vivendo, era tudo tão surreal que ela achava que ainda vivia na clínica psiquiátrica.

e o pai optaram por irem andando, tendo em vista que tudo era muito perto e não precisariam ficar usando carros. Ficaram em silêncio boa parte do caminho, mas, ao chegarem à rua da pizzaria, o mais novo pensou que talvez aquele fosse um bom momento para descobrir algumas coisas.
— Pai, queria que a fosse ao casamento. Como minha convidada! — Olhou para o mais velho, que concordou. — Quando o tio Dewey e a tia Gale chegam?
— Amanhã.
O casamento seria no dia seguinte da chegada deles, então teria um bom tempo para conversar.
— Pela amizade deles com a Sidney, eu a convidei, mas ela me disse que não tem pretensão de voltar a Woodsboro. Não a culpo!
franziu o cenho, sem entender quem era Sidney e o porquê da importância dela.
— Quem é Sidney?
— Ela era uma das melhores amigas da sua tia quando tudo aconteceu. A Sidney foi uma das sobreviventes junto ao seu tio e Gale.
Agora entendia a importância de Sidney. Com certeza ela, Gale e Dewey deveriam ter sido assunto por anos em Woodsboro. Principalmente Dewey, por ser irmão da assassina, principalmente a família dele. pensou que o assassino, quando ligou para ele há um ano, deve ter falado da fama da sua família a respeito desse fato.
— Chegamos! — o Riley mais velho falou, com uma falsa empolgação, fazendo com que o garoto risse.


Alex empurrava o carrinho com os livros, os colocando no lugar enquanto ouvia apenas o ranger das rodas. Assoviava e aproveitava a própria companhia, como sempre fazia. Ao terminar uma sessão, parou de andar assim que ouviu o barulho da campainha de sino sendo tocada e franziu o cenho, pois já havia fechado a porta da frente.
— Espera! Já vou! — falou mais alto para quem estivesse lá o esperasse.
Deixou o carrinho por ali e caminhou através do corredor. Nesse momento, ouvia seus próprios passos e chegou à parte da frente, não viu ninguém. Estranhou. Andou mais um pouco, chegando próximo à bancada e olhou para os lados.
— Olá? — Usou seu tom de voz mais alto.
Deu alguns passos até a porta de frente, havia puxado as cortinas e a placa que já estavam fechados, no entanto, a levantou e olhou lá fora. Era noite e a cidade estava deserta.
Tão logo que se virou, seu coração bateu tão forte pelo susto que levou a sua mão ao peito. Arregalou os olhos ao ver uma pessoa parada atrás da bancada, com a roupa toda preta e usando uma máscara.
Lembrou-se das palavras de Riley no velório, as palavras exatas: “Alguém me atacou usando uma máscara!”.
A faca que carregava em uma das mãos passou afiada pela bancada, fazendo um barulho, e Alex fez uma careta com isso, sentindo os batimentos cardíacos aumentarem e não tendo reação nenhuma para sair dali. No entanto, quando notou que se aproximaria dele, deu um impulso para correr e saiu correndo.
Entrou no primeiro corredor, olhou para trás e estava bem ali, próximo a ele. Sua respiração tornou-se ofegante, a sua boca ficou seca e parecia que as pernas não lhe obedeciam, mas ele continuou correndo. Chegou ao fim, virou e acabou indo de encontro com parte do carrinho que empurrava antes.
— Droga! — murmurou ao cair, batendo o cotovelo e ombro.
Olhou para trás. Quem o perseguia se aproximava lentamente, mostrando a faca em mãos e parecia que queria vê-lo sofrer. Aquilo tudo era divertido para ele. Colocou-se em pé com certa dificuldade, voltando a correr, e entrou sem olhar para trás em um dos corredores. Podia ouvir a sua própria respiração e parou, olhou para trás e estava sozinho.
Aquilo causou estranheza em seu corpo, porém, não sabendo de onde tirou um pouco de calma e coragem, andou em passos lentos até o fim das prateleiras da biblioteca e espiou. Nada. Olhou para trás novamente, nada. Engoliu seco, moveu os dedos, os sentindo doloridos pela tensão que estava e deu um passo para ir, mas parou.
Espiou entre os livros, mesmo com a visão um pouco embaçada por conta do nervosismo. Andou novamente no corredor, não conseguindo ver nada do outro lado, ninguém parecia estar ali, ninguém além dele. Foi até o fim e, ao se virar, teve a sensação de alguém lhe prensar. Segundos depois, as costas bateram em uma das prateleiras e alguns livros caíram.
Tentou levar uma das mãos até a máscara. Ao fazer isso, sentiu a faca penetrar em seu abdômen. A dor fez com que ele gemesse, seus olhos lacrimejaram e deu uma tombada de leve para o lado. Logo recebeu outra. Outra. E outra. E mais uma. Em determinado momento, Alex não sentia mais dor, era como se seu corpo estivesse inerte ao que acontecia e um gosto metálico predominou em sua boca.
Murmurou algo que simplesmente saiu dos seus lábios, até que seu corpo foi solto e ele caiu sentado entre os livros, a vista estava embaçada, mais do que antes, e o borrão sumiu. Seu último pensamento foi que estava certo. Não entendia nem como e muito menos por quê, mas acontecia de novo.


Continua...



Nota da autora: Sem nota.





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