Capítulo 1
ANTES
— Eu tenho certeza de que você não vai querer entrar aí agora.
Busco a tal voz, que não me era nada familiar, meu cenho franzido demonstra a confusão que eu sentia. Olho para baixo e o vejo. Ele estava falando comigo?
— Sim, estou falando com você — responde, de maneira sorridente, como se tivesse o dom de ler pensamentos.
— Por que eu não iria querer entrar na minha casa? Eu nem te conheço. É estranho falar para as pessoas não entrar na casa delas — disse, de forma desconfiada. O jovem estava sentado no chão, ao lado da porta da minha casa.
— Eu não disse que não podia entrar, eu só disse que você não vai querer entrar — afirmou, de maneira confiante, deixando-me um pouco mais irritada. — Sua mãe se chama Nora? — Aceno com a cabeça, sem saber exatamente que resposta dar. — Ela está transando com meu pai. E minha mãe não gostou nadinha de saber. Vim aqui confirmar isso, mas... não sei se vou ter coragem de contar a ela.
Sento-me ao lado do jovem, suspirando baixinho. Ele parecia precisar de companhia. Agora entendo, não consigo ficar surpresa com a situação. É o típico comportamento da minha mãe, com fortes camadas de narcisismo.
— Sinto muito — murmuro baixinho, sem saber o que dizer. A melancolia em minha voz era verdadeira, apesar de não conhecer o rapaz. — Me chamo . E, diferente da minha mãe, não saio com homens casados.
O menino então gargalha, as mãos continuavam brincando com alguma pedra que ele havia encontrado no jardim. O olho por alguns minutos, imaginando que idade ele teria. Talvez dezesseis? Com certeza não deveria passar dos seus dezenove anos.
— Me chamo . Eu também não saio com mulheres casadas ou traio mulheres em geral, mas estou esperando ficar adulto pra descobrir se herdei os genes adúlteros do meu pai — brincou, me arrancando uma risada.
Um gemido ecoa o espaço e, por mais constrangedor que aquilo seja, começamos a rir da situação. Lembro da sacola que segurava em minhas mãos e a abro, retirando duas caixinhas de comida dali de dentro.
— Você gosta? Está com fome? — perguntei, e, ao ver sua relutância, decido brincar com o caos que gemia dentro da minha casa. — Sim, o gosto é péssimo, mas tenho certeza de que minha mãe pegou dinheiro com o seu pai pra comprar.
gargalha, pegando a caixinha das minhas mãos e abrindo-a. Após isso, ele pega os talheres de plástico. Aparentemente ele não era fã de comida tailandesa, mas nenhum sabor seria tão ruim quanto chegar em casa e dizer que seu pai tinha uma amante.
— Então, por que sua mãe mandou você aqui? — comecei, curiosa. Ele deu de ombros, como se não soubesse essa resposta.
— Meu pai não está mais chegando em casa com cheiro de cerveja, agora está chegando com cheiro de... bom, da sua mãe. Minha mãe sabe que não cheira como ela, mas é insegura demais pra ver com os próprios olhos.
Concordo com a cabeça de forma positiva, parecia fazer sentido.
— Ela te pediu pra seguir ele?
— Não exatamente. Ela pediu para eu ir ao trabalho dele, mas ele não estava no trabalho e o GPS dele me fez parar aqui. Daí vi o carro dele na sua garagem. — Deu de ombros.
Levo o garfo de plástico até minha boca, com um pouco da comida, e fecho os olhos enquanto a saboreio, pensando na situação por completo. Devia ser difícil pra ele ver seu pai dessa forma, mas ele não parecia estar tão surpreso assim, como eu também não estava.
— Ele já fez antes, não é? — pergunto, meus lábios se comprimem porque não quero que seja um assunto delicado, não quero o forçar a me responder, mas acenou com a cabeça.
— Algumas vezes. A colega de trabalho, minha professora. Fico me perguntando qual o vínculo dela com ele. Se significa alguma coisa ou se ela está sendo só mais uma. — Ele parou, pensando um pouco. Talvez lembrando da sua mãe.
— Minha mãe vai a eventos beneficentes para encontrar homens ricos — falei de maneira tímida, encolhendo o meu próprio corpo vagarosamente. — balança a cabeça, como se isso fosse um bom palpite do motivo deles se encontrarem. — Você não parece rico.
ri. Gosto do seu sorriso.
— Eu não sou, meu pai é — apontou, me fazendo sorrir com a resposta, gostava dessa independência dele em não agir como mais um jovem mimado. — Você não parece filha de uma mulher interesseira.
Não tenho resposta pra isso.
— Acho que eles acabaram. Minha mãe sempre liga o som quando termina — falo, após ouvir o aparelho de som ligar, explicando o motivo do meu palpite. — Quer subir comigo? — parece pensar, olhando para o chão. Ele definitivamente não queria ir para casa e eu não podia deixar com que ele encarasse seu pai assim. Talvez, se ele não ver, não vai ter sido real. — Vem — chamo, segurando sua mão e dou a volta para a lateral esquerda da minha casa, o mostro uma treliça e subo pela janela, o esperando fazer o mesmo.
— Obrigado — ele diz, mas sei que não é por ajudá-lo a mostrar o caminho. — Você gosta de X Ambassadors? — Concordo com a cabeça, de forma orgulhosa. Pouca gente conhecia a banda, mas eu era muito fã. — Você é estonteante, .
Gargalho com a forma que ele fala, as palavras que usava o davam um tom mais sério e eu gostava disso.
— Nunca me chamaram de estonteante antes. Você é peculiar, . — Ele sorri, ainda olhando o meu quarto e mexendo em algumas outras coisas com minha permissão.
O barulho de um carro ecoa pela rua e se aproxima da janela para o olhar.
— Era o meu pai — suspira. — Acho melhor eu ir. A gente se vê por aí? — Concordo com a cabeça, embora provavelmente eu saiba que nós não iríamos nos ver por aí.
Capítulo 2
AGORA
Os olhos da mulher encaram a parede, os lábios entreabertos deixando nítida a decepção que sofria ao perceber que o marido estava, mais uma vez, atrasado. Provavelmente ocupado trepando com uma das várias amantes que tinha. , filha mais nova do casal, se aproximava da mãe, arrastando consigo uma manta pequena que ela usava para dormir. A pequena encosta a cabeça no colo da mãe, que envolve as mãos sobre o cabelo da pequena.
— O papai chegou, mamãe? — a menina perguntou, se juntando à mãe na cama da maior.
— Ainda não, meu amor. Ele deve estar chegando. — concorda com a cabeça, como se não tivesse dúvidas e realmente não tinha o porquê tê-las. O único defeito do marido eram as infidelidades que ele jurava que a esposa sequer desconfiava, mas era um pai perfeito para as suas filhas. E até mesmo um bom marido.
suspirou, puxando a filha pra o seu colo. A mais velha já estava dormindo, era como se fossem duplas perfeitas. era a parceira ideal de e a pequena era completamente ligada a .
Ela não podia ser hipócrita, a culpa de tudo aquilo não era apenas do marido. Era sua também e a mensagem em seu celular, marcando o nome , confirmava isso. A mulher ignora a mensagem, não era porque seu marido estava com uma de suas amantes que ela precisaria estar com o dela.
— Oi, minha princesa, estava esperando o papai? — pergunta, entrando no quarto e afrouxando a gravata enquanto a tirava e jogava sobre a cama. O perfume doce inunda o quarto. Perfume que não era dele, tampouco dela. O homem se aproxima, deixando um beijo carinhoso no topo da cabeça feminina e a pequena pula em seus braços.
— Papai, lê os porquinhos pra mim? — ri, deixando um beijo nas bochechas da mais nova e sai com ela para o quarto rosa da pequena.
então se levanta, também saindo do quarto ou iria ficar nauseada com o cheiro do perfume da outra. A mulher caminha até o quarto de , onde a deixou dormindo horas atrás, e senta-se no chão, observando a pequena. tinha traços de , os cabelos assumiam a mesma tonalidade castanha, os lábios assumiam a linha inferior um pouco mais grossa que a superior, mas as bochechas rosadas eram mérito totalmente de , assim como o nariz fino. , por sua vez, era bem mais parecida com a mãe. A pele branca, pálida e os cabelos loiros. Todo o resto era de .
Ela aninhou a filha, deixando um beijo em seus lábios e a cobriu com as cobertas, antes de voltar para o quarto. Chegando lá, deitou-se na cama, de costas para a porta. Não queria ver o marido chegando, por isso fingia que dormia sempre que ele colocava na cama. ouve os passos de no corredor e se encolhe, fechando os olhos e controlando a própria respiração. Ele entra no banheiro e ela não precisa virar para saber que ele tomaria banho e voltaria com o seu samba canção. Era sempre assim, todas as noites. Então ele sai do banho, apaga a luz, tira a sandália e se deita de costas para a esposa.
— Oi — ele respondeu em um tom baixo, Lucy sorriu o cumprimentando e sua mulher fez o mesmo, mas sem o sorriso.
— Oi — respondeu ela, da forma mais amigável que conseguiu.
— O que vai fazer hoje? Vi que já deixou as meninas na escola, acabei dormindo um pouco mais. Tive reunião até tarde ontem. — Se apressou em justificar, o que deixou a esposa ainda mais irônica em seu sorriso.
Reunião.
já tinha ouvido falar de Maite, Alice, Laura, Helena... Reunião era a primeira vez. Ele achava mesmo que ela era tão cega assim?
— Vou fazer compras com a . — Ele balança a cabeça.
— Melhor eu ir trabalhar, pego as meninas na escola — informa para a esposa, que concorda com a cabeça. Ele lhe deixa um beijo no topo de sua cabeça e sai logo em seguida.
, por sua vez, também não demorou tanto em casa. Assim que sua melhor amiga aparece, ela entra no carro de e vão até o shopping. Chegando lá, como esperado, passeiam por todas as lojas. não era tão consumista, mas ultimamente conseguia descontar boa parte das frustrações de seu casamento na conta bancária do casal.
— Amiga, olha aquela bolsa — a chamou, fazendo-a ir até uma de suas lojas favoritas. estava acostumada com aquela vitrine específica, amava as bolsas de lá e a maioria das pessoas a conheciam, o que tornava comum saberem seu nome. Assim como Tony, um dos atendentes simpáticos que sorriu assim que as mulheres andaram até ele.
— Senhora , bom dia! Gostou da bolsa? — A mulher o olhou confusa, Tony pareceu entender a confusão, então logo explicou. — A bolsa que seu marido comprou no mês passado.
— Ah, claro! Como pude me esquecer, é maravilhosa! — Sorriu desconcertada. Não bastava a trair, ainda comprava presentes para suas amantes em sua loja predileta? Onde todos a conheciam? Rapidamente, pegou seu celular, digitando uma mensagem para seu marido, mas não precisou de tanto, já que ele apareceu atrás de si.
— Senhor , eu estava agora mesmo falando da bolsa que comprou semana passada. Eu falei que ela ia gostar. — O atendente sorriu simpático e saiu logo em seguida, deixando o olhar mortificado do homem sobre sua esposa.
— Foi aniversário da minha mãe — ele respondeu, coçando a cabeça.
se aproximou deles, cumprimentando-o com um abraço e sorriu com a bolsa que ela tinha adorado. Ela pagou, se despediram de e foram para casa.
— Amiga, eu não sei, não. O não teria coragem de te trair sabendo tudo que o pai dele fez com a mãe dele. — ri com desdém. Amava , mas ela era inocente demais às vezes.
— E como você justificaria o cheiro de perfume feminino que ele chega em casa todas as terças? Futebol não causa esse cheiro — falou, apontando os argumentos para as possíveis traições do marido.
suspira, não havia resposta suficientemente boa para aquilo. Apenas conseguia sentir muito pela amiga. O casamento deles fora o que fez a ruiva desejar o mesmo para si e só por isso casou-se com Aaron.
— Eu acho que vocês deviam conversar. — concorda com a cabeça, mas tudo que ela menos fazia e queria agora era conversar com o marido. Ele não sabia da traição dela e ela fingia que não sabia das traições dele. — Vocês vão pra o jantar da Lotus?
— Eu não sei. O precisa ir, vai ser a última festa com o seu pai e depois ele assume a empresa, mas não sei se estou no clima. Fora que não posso levar as meninas e não queria as deixar com a minha mãe.
— Você pode deixá-las com a mãe do — ela sugere, concordo com a cabeça. Se sentia envergonhada pelo que a mãe havia feito a ela, mesmo que nove anos atrás.
— Tem razão, ela é ótima com as meninas. Eu vou — respondeu decidida, quem sabe esse não fosse um momento de deixar as suspeitas e diferenças de lado para apoiar o marido? Seu casamento precisava disso. Ela também.
Capítulo 3
ANTES
Minha mãe me pediu para ir até o mercado, comprar coisas que não precisamos. Eu sabia que ela não estava com fome e não se preocupava em eu estar com fome, provavelmente tinha marcado novamente um encontro com Ethan, pai de . Eu me sentia frustrada, de alguma forma parecia que eu estava sendo conivente com os pesares da mãe dele. me odiaria se soubesse que eu deixo seu pai e minha mãe a sós? Não sei. Ele não parece capaz de odiar alguém.
Me aproximo do setor de hortifruti, as alfaces estavam em uma cor bonita e pego um deles com a mão, segurando o carrinho com a outra.
— Você já experimentou isso? — Olho para trás, a voz nem tão desconhecida atrás de mim leva uma uva até a boca, me aproximo.
— O quê? Uvas? — Me aproximo de , ao ver que ele estava com uma sacola de uvas na mão e uma delas ia em direção à sua boca.
— Não uva normal, . — Ele lembrava do meu nome. — Uva com sabor de céu. Tem mesmo o sabor de céu.
Gargalho baixinho porque não consigo imaginar como uma uva poderia ter sabor de céu.
— E como você sabe qual o sabor do céu, ? — Ele dá de ombros, experimentando mais uma uva.
Então sorri, com aquele sorriso.
— Eu só sei. — Eu gostava do tom infantil que nossa conversa tomava, às vezes. Não parecia que éramos dois jovens adultos com famílias desestruturadas. — Você não acredita em mim, então vem cá. Vai ter que provar uma — ele me chama e eu vou. — Primeiro você precisa fechar os olhos. — O encaro com desdém e ele sorri. — Eu não vou te oferecer a melhor uva do mundo, com sabor de céu barra paraíso assim. Precisa merecer. — Acho engraçado que ele realmente fala a palavra barra. Faço o que me pede.
É hilário porque assim que ele coloca a uva em minha boca, eu realmente sinto o gosto delicioso dela. Indescritível. O encaro surpresa e ele sorri convencido, com a cara de quem diz: “eu te avisei”.
— Se chama viés da confirmação. Quando você realmente acredita que algo pode mudar o sabor de uma coisa, seu cérebro manda sinais ao seu paladar e ele muda o sabor. — Ele leva mais uma uva até sua boca, fechando o saco logo em seguida. — “Uma vez que o entendimento de um homem se baseia em algo, isso atrai tudo à sua volta para apoiar e concordar com a opinião adotada — ele cita, sorrindo, então segura a cesta que estava na minha mão. — Francis Bacon.
— Bacon? Sério? — gargalha. Eu amo sua inteligência. E sua risada.
— Qual a sua sessão favorita? — Eu penso antes de responder, porque nunca havia parado pra pensar nisso.
— Acho que essa. Tem tudo que eu gosto, frutas, verduras, legumes, frio...
sorri de maneira divertida e dá de ombros, juntando minhas verduras com a sua uva na cesta enquanto saíamos dali.
— Eu gosto da sessão três, com salgadinhos, biscoitos e porcarias, mas às vezes saio de lá e venho à parte saudável para flertar com pessoas bonitas que andam por aí vendo... — Ele olha minha sacola, procurando o que eu estava vendo. — Alfaces.
— Seu flerte é citar homens com nome de carne? Oh, ! — desdenho de forma divertida, porque a técnica estranha dele realmente funcionou.
— Você diz isso porque não me ouviu falar do Phillip Acem. Se você acha que minha especialidade para conquistar mulher é porco, devia me ver falando dos bovinos.
Eu gargalho. De um jeito que não era tão comum eu fazer. Amava a forma que mudávamos os assuntos e que tudo parecia ser leve e se encaixar tão bem. Pessoas enxergam pessoas, não .
me nota.
— Qual sua fruta favorita? — Ele parece pensar um pouco, mas dá de ombros, escolhendo maracujá. Acho estranho, ninguém come maracujá. — Por quê? É amargo.
— É versátil e é o fruto da paixão — responde de forma honesta, dando de ombros mais uma vez. A forma que ele dava de ombros era atraente, parecia que nada era importante o suficiente pra tirar aquele sorriso de seu rosto. — Você pode fazer tudo com um maracujá. Além disso, é saudável e ajuda muito com insônia, estresse e ansiedade. — Quero perguntar como ele sabe disso, mas não sei se devo. — E a sua?
— Gosto de morangos. — A resposta é simples, porque não sei como justificar minha resposta. — É gostoso.
Caminhamos em direção ao caixa, após passarmos por mais alguns corredores. Entre uma risada e outra, me conta mais e mais curiosidades sobre as coisas. Gosto da sua inteligência para coisas aleatórias, porque são coisas que não aprendemos na escola ou faculdade e agora era algo meu e dele, claro que todas as outras pessoas do mundo poderiam pesquisar, mas falou só para mim. Após o passeio, vamos ao caixa, onde as compras são pagas.
— Vem, quero te levar a um lugar.
Então eu vou.
Capítulo 4
AGORA
, e estavam reunidos na brinquedoteca. A mais velha sofria constantemente com pesadelos e não havia sido diferente na noite anterior. Após o choro se tornar alto e audível pela babá eletrônica, os pais da pequena acordaram e a trouxeram para a cama com eles. era mais quieta que sua irmã , normalmente era mais séria e não era tão dengosa quanto a mais nova, mas quando tinha pesadelos assumia totalmente uma personalidade mais carente, o que era totalmente compreensível. então se deitou no corpo do pai, enquanto o assistia brincar com sua irmã. , por sua vez, estava entretida com um brinquedo que falava palavras em italiano, presenteado pela sua avó.
As meninas não eram ciumentas uma com a outra, mas detestavam que outras crianças se aproximassem dos pais. aos poucos se juntou às brincadeiras do dia, mas não manteve seu interesse por muito tempo e logo quis mudar o seu foco para a fome que começava a ter. A mãe da pequena desceu com ela até a cozinha, deixando e sozinhos, sentia que eles precisavam disso. A filha mais velha do casal tinha seis anos, mas não gostava de conversar sobre seus pesadelos, no entanto, os pais já estavam acostumados a decifrá-los: quando ela acordava mais carente do pai, o sonho ruim havia sido sobre ele. Quando ficava mais próxima da mãe, o pesadelo tinha como protagonista.
— Papai — chamou a menor, de maneira tímida. O homem então a abraçou com mais força, deixando o nariz próximo dos cabelos escuros da filha. — Às vezes a mamãe chora. Por que ela chora?
é pego de surpresa com a indagação da filha. Ele não tinha resposta pra isso, já pegou chorando uma vez ou outra, mas sempre que isso acontecia, ela falava que estava sensível devido ao seu ciclo menstrual. limpa a garganta, com uma pequena tosse.
— Você sonhou que sua mãe estava chorando? — nega com a cabeça, brincando os dedos e a mão grande do pai, em comparação à sua.
— A mamãe chora fora do sonho. Às vezes, quando levanto pra fazer xixi, ela tá sozinha no quarto e eu a ouço soluçar. — engasga levemente. Não sabia disso. — Promete não fazer a mamãe chorar? Eu não gosto quando ela chora.
— Eu não vou fazer sua mãe chorar — o maior promete, utilizando aquela promessa pra si também. tinha erros que foram cometidos durante o casamento e sabia que já estava suficientemente longe da esposa e ela dele.
balança a cabeça, ficando quieta por mais alguns segundos, antes de falar novamente.
— Papai... — chamou, agora de forma tímida, encolhendo-se nos braços do maior.
— Oi, meu amor. — Ele acolheu, percebendo pela forma que ela se encolhia que o que viria a seguir seria um tópico sensível para a menina.
— Promete que nunca vai abandonar a gente? — arregala os olhos com a pergunta, ele jamais seria capaz de abandonar alguma das três. Apesar das falhas, ele as amava mais do que qualquer coisa no mundo. — Eu sonhei que... — Lágrimas se formam nos olhos da pequena, e seu pai a conforta ainda mais no abraço. — Eu sonhei que você ia embora. E não voltava mais. Você não queria ser meu pai e nem da .
— — ele chama o nome da pequena pela primeira vez, enxugando as lágrimas que insistiam em cair, pouco a pouco. — Não existe nada nesse mundo inteiro que me faça não querer ser o pai de vocês duas. Eu amo vocês, amo você mais do que qualquer coisa no mundo inteiro. Eu já te amo desde o dia em que eu te vi pela primeira vez e você era bem pequenina.
— Do tamanho da ? — ela pergunta, fazendo o maior sorrir.
— Bem menor do que a . Eu nunca vou abandonar vocês, aconteça o que acontecer. Eu prometo. — A pequena balança a cabeça, enxugando as lágrimas na manga comprida do pijama. — Quer tomar banho pra gente ir pra casa da vovó?
pensa um pouco, concordando com a cabeça, mas depois logo muda de ideia.
— Eu quero ficar com você e a mamãe hoje. Posso ir pra casa da vovó só depois? — O mais velho assente, com um sorriso no rosto. Nunca se negaria a passar mais tempo com a filha, principalmente após um sonho ruim. A mais velha era muito sensível, embora fosse bem mais silenciosa do que a menor das irmãs.
Embora parecesse algo glamouroso, não era um ambiente de tantas pessoas. No jantar, haveria apenas os sócios da empresa, o pai de e suas respectivas esposas, exceto Nora, por motivos óbvios. Ela e haviam combinado de nunca estarem no mesmo ambiente de trabalho de Ethan e ao mesmo tempo, afinal era constrangedor para ter que explicar para todos que sua mãe e o pai do seu marido eram casados. Alguns já sabiam, mas outros acabavam tendo a curiosidade desperta quando ambas estavam lado a lado.
“Vocês se parecem tanto.” “Elas são mãe e filha.” “Oh, então sua mãe é esposa do seu sogro? Suas filhas devem odiar montar árvore genealógica.”
Na maioria das vezes, a mulher evitava esses eventos porque, para sua mãe, era mais importante mostrar que era a esposa de um dos sócios ricos do que para . Era algo que ela amara em , ele não se considerava rico. Havia crescido com muito dinheiro ao seu redor, mas não se achava rico e ensinava isso às filhas. O homem sempre buscou a própria independência e por mais que seja sócio da empresa do pai, seguindo o tal legado, havia ganhado o cargo por mérito seu. Quando Ethan o convidou para a presidência, negou veemente, mas quase dois anos depois, assim que os membros sócios se reuniram e o nomearam, ele aceitou. não gostava de coisas fáceis, embora as pudesse ter.
— E as crianças, como estão? — um dos sócios perguntava, se aproximando do casal juntamente a uma mulher. — , espero que se lembre da minha filha, Andrea — falou o mais velho, que tinha por volta dos cinquenta e muitos anos. — , querida! Como você consegue ficar mais linda a cada dia? — pergunta, rodopiando a mulher, que sorri lisonjeada.
Após alguns minutos de conversa jogada fora, percebe Andrea com mais atenção, observando principalmente o sorriso que ela mantém em direção ao seu marido, a proximidade que ela insistia demonstrar em ter, os toques nos braços de . A loira então se aproxima dos dois, segurando o braço do marido com um sorriso debochado.
— Com licença, Angela. Eu vou roubar o meu marido por alguns minutos. — se despede e agradece por ele não ser tão amigável com a mulher ali, na frente de todos. — Quem é essa?
— Filha do homem que falou com a gente.
— Ela está muito próxima de você, não acha? — resmungou irritada, tentando respirar fundo. Odiava demonstrar ciúmes.
— Não fique com ciúmes. Sabe que sou seu — respondeu, roubando-lhe um selinho. Aquilo agrada a mulher, gostava do como ele não tinha vergonha de mostrar para todos que era casado, embora ainda tivesse certeza que aquela mulher era uma das amantes do seu marido.
Capítulo 5
ANTES
— , isso é... Estonteante — sussurro, aquela palavra havia se tornado a minha palavra favorita desde que ele se referiu a mim com ela. Daquele dia em diante, uso estonteante para definir quando estou maravilhada com algo. Estou maravilhada com aquele lugar e estou maravilhada com o fato de me trazer até ele.
Olho o espaço ao meu redor, a água que vinha de uma cachoeira e causava um barulho tranquilizador descia branca como fumaça, mas logo se misturava à água, que assumia tonalidades diferentes. No meio era azul, mas, devido às rochas, assumia uma tonalidade verde em sua borda. Ao redor de tudo aquilo, existia uma vegetação verde, viva, pássaros cantavam e as rochas eram cobertas pela sombra das árvores. Parecia cena de filme encantado. Do outro lado, um pouco mais acima, era possível avistar ruínas, que tornavam o lugar ainda mais lindo.
— Você é estonteante, . A paisagem aqui é bonita. — Sorrio, mordendo meu lábio inferior. Eu não sabia que mordia meu lábio inferior até aparecer e me arrancar todas as palavras, deixando só um gesto tímido, mas não era bem timidez o que eu sentia. Eu gostava, muito.
De repente, a tristeza me invade, suspiro baixo. Ele estava sendo incrível, me mostrando o seu espaço e eu estava acobertando a relação de minha mãe com seu pai casado, agora, em minha casa. Ele sabia disso? Sabia que seu pai não estava em casa e estava, mais uma vez, fodendo a minha mãe? Fodendo o seu casamento? Me sento sobre a rocha que dava visão à linda cachoeira, envolvendo as minhas mãos em meus joelhos.
— Sinto muito — suspiro e sinto que não preciso falar para que me entenda. Ele se senta ao meu lado, balançando a cabeça negativamente, de um lado para o outro.
— Não é culpa sua, . — É sim, eu penso. Eu poderia fazer algo para evitar ao invés de simplesmente ir aonde minha mãe me manda, mas não digo isso para ele. Não quero que ele me culpe, assim como eu própria faço. — Eu sei que meu pai está lá, é por isso que não tô em casa também. Minha mãe não gosta que eu a veja mal por causa disso. Ela acha que o casamento deles não vai durar.
Fecho os olhos ouvindo aquelas informações. Doía saber que minha mãe era responsável pelo fim de uma família, além da nossa. Crescemos achando que nossos pais são heróis, que eles são invencíveis assim como o tempo, mas eles não são. Eles são humanos, com falhas, erros e péssimas escolhas que refletem em nós. E que se impregnam como furos em nossa pele.
Abro a boca pra responder algo, mas não deixa. Ele continua falando e eu o ouço com atenção porque às vezes a melhor forma de ajudar alguém é a ouvindo.
— Eu quero ajudar ela, sabe? Quero ficar perto, a abraçar e dizer que tudo vai ficar bem, mas ela não chora na minha frente. E pessoas precisam chorar. Não gosto quando dizem que pessoas quebram, não somos tão vulneráveis assim, mas pessoas derramam. Minha mãe precisa derramar, então eu a deixo. Uma pessoa que não derrama se torna pesada demais pra si mesma, .
Concordo, mas me sinto como a mãe dele. Eu acho que não aprendi a derramar. Sempre tive que ser forte, então derramar é algo que eu não tenho costume, hábito ou vontade. Percebo que sou pesada para mim mesma.
— Não é culpa sua, tá? — Me encolho com a pergunta que ao mesmo tempo parece uma afirmação. Me sinto culpada por minha mãe fazer isso, me sinto envergonhada por não poder fazer nada. — Meu pai fez uma escolha e a sua mãe também. Isso é responsabilidade deles, não sua. Não minha. Não da minha mãe.
O abraço, com força.
É só o que consigo fazer e só o que quero sentir. Ele me envolve em seu corpo com cuidado. diz que pessoas não quebram, mas ele me segura como se tivesse medo de que eu quebre. Me sinto protegida. Me sinto em casa, mesmo estando a 7km de distância.
Descubro. Lar não é um lugar, lar é um alguém.
— Quer entrar na água comigo? — pergunta, sem me soltar do abraço. Balanço a cabeça de forma animada.
— Eu entraria em qualquer lugar com você, . — Não penso, falo. Ele sorri. Eu sorrio.
— Que dia é hoje? — ele pergunta, o olho de forma confusa antes de conferir a data em meu celular porque eu também não lembro.
— Dezessete de janeiro — falo, ele acena.
— Lembre-se dessa data, . Dezessete de janeiro é o dia em que você falou que entraria em qualquer lugar comigo. — Ele pega seu celular, digitando algo na agenda. — A partir de hoje, declaro que a data dezessete de janeiro se torna a data oficial de entrarmos juntos na cachoeira. — Gargalho enquanto o ouço falar, mas amo a ideia de termos uma data só pra entrarmos na cachoeira. Amo termos uma data. — Agora entre nessa cachoeira como entrou na minha cabeça, gradativamente e sem medo.
Noto . me nota. Estou em casa.
Capítulo 6
AGORA
— Puta que pariu, irmão. A Andrea está aqui? — Aaron pergunta, virando os olhos de forma disfarçada. Ou tentando.
— Sim, não sabia que ela iria vir — responde, bebendo um pouco do champanhe em sua taça. Sempre nesses eventos o seu pai cuidava do papel sociável, assim ele conseguia ter algum tempo sozinho com o amigo.
— E de brinde você ainda veio com a sua esposa. Isso tem tudo pra dar merda. — suspira, frustrado. As coisas tinham tomado grandes proporções, o seu casamento estava desmoronando e ele sentia que dia após dia se tornava igual ao seu pai.
Ele não sabia apontar quando foi que as coisas mudaram tanto com . De repente, ela sorria menos, se escondia mais. Ela passou a fugir dos seus toques há pouco mais de um ano, mas isso não foi o pior. Ela não conversava com ele e isso era o que mais o afetava. Eles tinham uma família, uma casa, um casamento, mas não tinham mais uma relação. Claro, isso não era desculpa para suas traições, mas ele também gostava de se sentir desejado.
— Eu não vou mais fazer isso. Está ficando cada vez pior. Tenho sorte que não sabe e preciso pôr fim nisso de uma vez por todas — disse, convicto. Aaron concordou.
— Você não devia sequer ter começado. — suspirou, sabia que o amigo tinha razão. Aconteceu tão de repente.
Em um dia, estava em casa, brigando com . Tentou a tocar e ela se afastou. Pediu para conversar e ela se trancou no escritório. fugia, dia após dia, e o homem já não sabia mais como segurá-la, então a deixou fugir. No dia seguinte, estava com Andrea, em sua sala. Ela sorria como quando mais nova. E era divertida como era. Andrea não tinha a aparência que tinha, eram diferentes e belas ao seu modo, mas tinha a alegria que não tinha mais. Então ele a beijou, não foram os lábios da sua esposa que sentiu, ou o sabor de seu beijo, mas era a primeira vez em quase um ano, ele se sentiu ele de novo. não o perdoaria se descobrisse, mas também não se perdoaria. Tampouco podia dizer que mudou de lá pra cá, ao invés disso fez mais vezes. Tocou, beijou, transou, com mais de uma mulher. Pelo menos pensava que nunca ficou com a mesma mulher duas vezes, exceto Andrea. Não tinha por elas nenhum sentimento dos que carregava pela sua esposa. Ele não era como seu pai. Não trocaria a sua família.
O jantar havia começado e Andrea havia feito questão de escolher o acento ao lado de . , por sua vez, estava sentada ao lado da amiga, já que seu marido Aaron também fazia parte do comitê de sócios.
Brindes foram solicitados, após isso feitos. As entradas começaram a ser servidas, mas a mulher já estava cansada e irritada com a tal Andrea, que insistia em encarar seu marido descaradamente.
— Eu vou matar essa mulher — sussurrou para , que riu como se fosse uma piada a fim de disfarçar.
— Calma, pelo menos está a ignorando — a amiga respondeu. direcionou o olhar ao marido, que realmente não estava nem um pouco afim de corresponder ao jogo da amante.
Após mais alguns minutos, os garçons entram com o prato principal e trazem mais bebida. beberica um pouco do líquido em seu copo e sua esposa faz o mesmo, mas a bebida desce quente, mesmo estando gelada. sente algo roçar em suas pernas, imediatamente seu campo de visão é ocupado por Andrea, que mantém no rosto um sorriso provocador.
Discretamente, a menor levanta a toalha o suficiente para ver Andrea esticar a perna, passando-as de suas pernas para as coxas do seu marido. não retira as pernas da mulher, ao invés disso olha pra assustado, vendo que a esposa presenciou aquilo.
— Com licença. — É tudo que a loira diz, jogando o guardanapo sobre a mesa e levantando-se da mesa com pressa, em direção ao jardim.
— — seu marido a chama, em uma súplica, saindo atrás dela, no entanto é quem o segura. — Eu preciso falar com ela.
Os convidados a essa altura olham a cena confusa e Aaron tenta os distrair iniciando algum assunto aleatório sobre o trabalho.
— Espera cinco minutos, aí você vai. Me deixa falar com ela primeiro.
assente, embora não concorde. Ele não aguenta mais ficar na mesa, então sai dali de imediato ou ele mesmo seria capaz de expulsar Andrea daquele lugar, mas a quem ele queria enganar? Ele não faria isso porque sabia que Andrea tinha provocado a esposa, mas tinha sido ele o responsável por trazê-la para a sua vida.
— Amiga, por favor. O que você tá fazendo? — pergunta, observando levar o telefone até a orelha.
— Ligando para .
— Não! — ela responde, pegando o celular da mão da amiga e desligando o aparelho. — Não faz isso, não dê a ela o que ela quer. Ela quer acabar com o seu casamento, amiga.
sorri, de forma irônica. Ela quer acabar com o seu casamento? E quanto ao seu marido que estava indo pra cama com ela?
— Sabe o que eu queria, ? — perguntou, com a voz embargada, embora não se permitisse derramar. — Eu queria que o viesse aqui me buscar e me tirar desse inferno de jantar. Eu quero acabar essa merda, acabar essa farsa — a mulher disse, elevando cada vez mais o seu tom de voz. — ASSIM ESSE BABACA IRIA SABER QUE EU NÃO SOU A ÚNICA CORNA NESSA PORCARIA DE CASAMENTO — gritou, sabendo que ninguém de lá de dentro poderia ouvi-la a essa distância.
se aproximou da amiga e a abraçou, lágrimas caíam de seus olhos, mas ela não iria chorar, não iria derramar. Não daria esse gostinho a ninguém. Ela aguentou coisas piores durante a sua infância, ela passou por momentos mais dolorosos. Conseguiria passar por aquele.
— Está mais calma? — perguntou, com um sorriso terno no rosto. Não sabia quantos minutos haviam ficado paradas ali no jardim, mas imaginava que tinham sido mais do que trinta. — Vem, vamos voltar para dentro. — Chamou, de forma carinhosa.
arrumou a maquiagem antes de voltarem e se depararam com um Aaron aflito na cozinha.
— Onde porra vocês se meteram? Onde porra o foi daquele jeito? — As mulheres se entreolharam confusas. Percebendo a confusão, o moreno logo tratou de explicar. — Ele saiu atrás de você e dez minutos depois foi embora transtornado.
engoliu a seco, olhando , que também havia ficado pálida.
— Eu preciso ir. Desculpa — a loira sussurrou, deixando os amigos e pegando o primeiro táxi para casa.
Sabia para onde ido. E o pior: sabia o que ele tinha ouvido.
Capítulo 7
ANTES
— O que aconteceu? — perguntei, assim que entra pela minha janela com lágrimas nos olhos. Deixo o livro que eu estava lendo de lado e ele caminha em direção a minha cama, me abraçando com força. Retribuo.
— Meu pai pediu divórcio. Ele vai casar com a sua mãe. — Fico sem palavras. Odeio minha mãe naquele momento. chora, eu choro. Me sinto culpada. Me sinto envergonhada.
— Eu... sinto muito. — Ele balança a cabeça, escondendo o rosto na curva de meu pescoço. Envolvo minhas mãos pelos seus ombros, o puxando pra mim com força. O segurando como se ele fosse quebrar.
— Posso dormir aqui hoje? — Beijo o topo da sua cabeça como resposta, afastando pra que ele se acomode ainda mais na minha cama.
— É claro que pode.
Tento não pensar na ironia que toda essa situação traz. Ele vai dormir na casa da amante do pai dele, que ele acabou de descobrir que logo mais será sua madrasta. Seu pai vai ser o meu padrasto. Seríamos quase irmãos. Isso dói em meu peito, de forma física. Não quero como irmão.
— . — Ele me tira dos pensamentos e o encaro, seu rosto a poucos centímetros dos meus, os olhos vermelhos pelas lágrimas. Observo bem os traços do seu rosto, acho que nunca fiz isso. Ele era estonteante pra caralho. Minhas mãos percorrem o rosto dele, as mãos dele agarram meu quadril. — Eu posso te beijar? — Gosto que ele pergunte, mas não gosto que ele pense que eu diria não. Então o beijo.
Nossos lábios se encaixam como se tivessem sido feitos pra isso, o puxo pra cima de mim e ele se acomoda em minhas pernas. O mundo estava desabando lá fora, mas aqui dentro seríamos o refúgio um do outro. busca minha boca com mais urgência, envolvo as mãos em seus cabelos e puxo.
Não é como achei que seria nosso primeiro beijo, mas é bom. É muito bom.
— Eu estava errado. — O encaro, confusa. — A uva não tem gosto de céu, sua boca tem.
Ele puxa minha blusa pra cima e deixo que a tire, suas mãos então se envolvem sobre meus seios, me arrancando um gemido alto. Ele me diz para ficar quieta para minha mãe não nos ouvir, eu fico. Seus lábios descem até meu pescoço e não demoram a abocanhar um dos meus mamilos. passa a língua de maneira circular entre as aréolas, antes de chegar à área sensível e já enrijecida, jogo todo meu corpo para trás porque não posso me enfiar em sua boca.
Minhas mãos agarram o tecido da sua camisa e a puxo pra cima. Ele se afasta de mim, me ajudando a retirar a peça. A jogo no chão do meu quarto. Suas mãos são tão urgentes quanto as minhas e não demora até estarmos só com a roupa íntima. pega um embrulho da sua carteira e a devolve para o bolso de sua calça. Ele sorri, selando meus lábios, a urgência ainda estava explícita, mas o cuidado agora era infinitamente maior.
— Tenho certeza de que isso está na minha carteira tem uns seis meses — ele brinca, mas não ligo para o tempo que a camisinha está guardada. Só quero que ele a abra, no entanto, ele não faz isso.
tira alguns fios de cabelo do meu rosto, deixando um beijo em minha testa, seguido do meu nariz, outro em minha boca, ele volta a lamber meus seios. Suas mãos agora estão em meu quadril, descendo por minhas coxas. Sua boca continua a descer até encostar na minha calcinha, ele beija a minha calcinha.
Puta merda.
— Abra os olhos. Quero que olhe pra mim, .
Abro os olhos quando ele pede. Seu olhar está fixo no meu, ele me devora. Tenho certeza de que já me senti bonita antes de aparecer, mas é a primeira vez que me senti tão sexy.
Consigo sentir todo o meu corpo estremecer quando ele começa a descer minha calcinha, não importa quão delicados seus toques são, meu estômago inteiro consegue sentir aquilo. Sinto um calor intenso invadir todo o meu âmago.
Minhas mãos agarram o seu cabelo e pressiono meu corpo ainda mais contra sua boca quando os beijos leves se transformam em beijos intensos. O ajudo a se livrar da peça fina, consigo sentir meus peitos subirem e descerem com a respiração ofegante. Não percebo em que ponto exatamente começo a agarrar em seus ombros ou a puxar seu cabelo, mas começo a oscilar entre esses movimentos. Ele me lambe em pontos que fazem todo o meu corpo tremer. Eu não sabia qual a utilidade de uma língua até me mostrar. Os beijos e movimentos continuam frenéticos. Sinto meu corpo convulsionar abaixo de si, as minhas pernas amolecem e meus braços tremem, a respiração ainda mais ofegante. lambe minha boceta e beija minhas coxas.
Nem sequer tenho tempo de estudá-lo quando ele abre a embalagem da camisinha e a coloca. Ele volta para cima de mim, abrindo minhas pernas para se acomodar ali e grito assim que ele se enfia dentro de mim, meu corpo inteiro fica tenso com a onda de dor que me invade. Ele para os movimentos, me olhando um pouco assustado.
— Você é virgem. — Não é uma pergunta, é uma percepção. Aceno com a cabeça, ele me olha.
— Não quero que pare. Continue, , por favor. — Ele concorda, mas ainda não se move. — Quero que você seja meu primeiro e último. — Seus olhos brilham e ele se mexe lentamente, voltando a me invadir vagarosamente. Eu volto a gemer. — Quero que seja o meu único.
— Porra, — ele diz, intensificando pouco a pouco os movimentos de suas estocadas. — Eu quero ser seu único.
alterna sua atenção entre me beijar e me observar e não sei em qual dos dois ele acerta mais. Os segundos se transformam em minutos, sua boca busca mais ainda a minha e seus olhos prendem-se aos meus sempre que ele se movimenta com mais força. Já não dói mais, agora é gostoso. A forma que ele me olha e me preenche faz com que meu corpo estremeça mais uma vez. Suas mãos vão até o meu clitóris e ele estimula em um movimentar de dedos rápidos, eu grito novamente e ele tapa minha boca com a mão livre.
volta a me beijar enquanto goza, mas só sei que ele está gozando porque ele para de se mover por alguns segundos, de forma sútil. O movimento de seus dedos diminui, mas não param e não demora a ser eu a me desmanchar de prazer. Novamente.
Ele fica alguns minutos deitado comigo, me observando. Ele não finge que nada aconteceu, ao invés disso me beija de forma ainda mais apaixonada que antes. Ele se livra da camisinha no banheiro do meu quarto e volta vestido com sua cueca. Eu visto sua camisa. Ele sorri.
— Minha camisa nunca foi tão bonita.
Gargalho com a frase dele porque sei que isso é só mais uma de suas bajulações, mas amo que ele tenha falado isso. Não sei se sexo é isso, mas sinto que parte minha se fundiu a ele pra sempre. Sinto que perdi uma parte minha com ele, que só vou poder recuperar estando com ele. Ele se aproxima e os lábios dele encontram meu pescoço, onde deixa um beijo suave.
— Obrigada por se entregar a mim. Por me dar você. — Sinto minhas bochechas esquentarem porque não imaginava que ele diria isso. — ... — ele chama baixinho e busco o seu olhar, agora estávamos os dois deitados na cama. Ele sela meus lábios aos dele e encosta sua testa na minha. — Quer namorar comigo?
Fecho os olhos, mas os abro, porque quero vê-lo enquanto respondo:
— Sim.
Ele me beija. E é o melhor beijo da minha vida.
Capítulo 8
Ao chegar, foi rápido ao buscar o telefone fixo da casa. De repente, peças se encaixaram. O número que sempre ligava, mas ficava em silêncio quando ele atendia estava prestes a se revelar em um rosto. Não um trote, não uma criança inquieta, mas no homem que tocava a sua esposa. No homem que ela se relacionava. Ele não era hipócrita, sabia que não tinha direito de cobrá-la porque também não era fiel, no entanto, saber do amante de o quebrou.
De forma dissimulada, o homem discou o número de seu celular, digitando uma mensagem que o convidava ao local. Ele esperou ser engano, esperou ser mentira, algo dito por sua esposa em um momento de raiva, mas toda sua esperança esvaiu quando recebeu a resposta simples, cortante e dolorida do tal homem. “Chego em dez minutos”.
Os minutos que passaram pareciam horas, mas quando uma figura alta entrou pela casa, desviando dos móveis no escuro, sentiu algo em si quebrar ainda mais. Ele conhecia a posição dos móveis, ele tinha ido mais vezes. De forma involuntária, sua mente viajou torturante imaginando quantas vezes a figura alta tinha ido à sua casa. Ele havia transado com sua esposa, em sua própria cama. A raiva o encheu enquanto a tensão palpável se tornava sufocante.
— Então você é o amante da minha esposa — disse, mantendo a voz carregada de desprezo.
não recuou, mantendo o olhar firme.
— E você deve ser o marido, mas isso não o impede de procurar outras mulheres, não é?
As palavras foram disparadas como tiros, cada uma atingindo o alvo com precisão. A troca de olhares carregava um peso muito maior do que as palavras que foram ditas. Era como se todas as emoções estivessem contidas por uma linha prestes a arrebentar.
avançou com o punho cerrado e uma rapidez surpreendente. Um soco preciso atingiu o estômago de , fazendo-o recuar com um grunhido de dor. não hesitou ou parou, os golpes liberaram toda a dor acumulada, eram rápidos e coordenados. Raiva canalizava cada um de seus movimentos. tentou se defender como conseguia, com objetos que alcançava, mas estava claramente desorientado. continuou atacando, nada conseguiria amenizar a raiva que sentia. A ira cresceu mais e antes que a violência acompanhasse os movimentos, um grito lhe fez parar.
— PARE! , VOCÊ VAI MATÁ-LO. — A voz de ecoou o ambiente, fazendo-o se afastar enquanto suas mãos latejavam de dor. Ele observou a esposa se ajoelhar no chão, junto ao seu amante, e se afastou imediatamente. Não queria estar perto dela, a raiva era imensa e por mais dolorosas que fossem as recentes descobertas, temia que sua raiva afetasse sua esposa da pior forma.
Quando ajudou a ir embora, a luz do sol estava vindo além das janelas da sala de estar, pintando o ambiente com tons cinzas e sombras alongadas. A casa estava mergulhada em um silêncio carregado, refletindo a tensão que pairava no ar.
O confronto com havia deixado marcas visíveis. sentia a dor pulsante em seus punhos, lembrando-o do sentimento que o levara a agir impulsivamente. Ele não podia negar que havia sentido uma estranha sensação de triunfo quando finalmente se vingou de alguma forma. No entanto, essa vitória era amarga. tinha enfrentado seu rival, mas a sensação de realização foi substituída rapidamente por um vazio.
No fim, tinha sido ele que ela socorreu.
A mais nova se aproximou cautelosamente, interrompendo os pensamentos de . Ele se levantou devagar sentindo os músculos doloridos protestarem.
— , precisamos conversar — ela disse com uma voz suave, carregada de emoção.
a encarou por um momento, observando os traços que um dia o fizeram se apaixonar. Mas agora aqueles traços também carregavam o peso das mentiras e das traições. Ele suspirou, afastando-se quando a raiva tentou dominá-lo novamente.
Sentaram-se em lados opostos da sala, o silêncio entre eles era opressivo. parecia nervosa, brincando com seus dedos enquanto buscava as palavras certas.
— ... — começou, sua voz embargada.
Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo enquanto se servia com uísque. Ele precisava de algo que esquentasse o seu sangue e sua garganta. Algo além de raiva. Além de dor.
— Nos poupe de mais mentiras, . Acabe logo com isso, caralho.
As palavras de eram carregadas de um cansaço profundo, um cansaço que ia além do físico. Era o peso de uma relação quebrada, de promessas quebradas e confiança perdida.
— Eu também estou cansada. Cansada de esconder, de mentir para todos, inclusive para nós mesmos. — Sua voz saiu marejada, exausta de tentar manter as aparências de uma relação quebrada. — Eu me senti humilhada, — continuou, sua voz tremendo com a intensidade de suas emoções. — Cada vez que eu olhava para uma das mulheres com quem você estava, eu me perguntava o que elas tinham que eu não tinha. Eu me sentia inadequada, insuficiente. — As palavras de cortavam como facas afiadas, perfurando a armadura de . Ele podia sentir a dor dela, a mágoa que ele causara. — Você não sabe o que é ter que sorrir para o mundo enquanto seu coração está desmoronando por dentro. Você não sabe o que é questionar sua própria autoestima por causa das suas ações egoístas. Você pode estar sentindo a dor de ter descoberto agora, mas eu carreguei a dor de suas mentiras por muito, muito tempo. — levantou-se, ficando de pé diante de , uma tempestade de emoções girando em seus olhos. Ela havia acumulado anos de mágoa, anos de traição e mentiras, e agora estava pronta para expor tudo o que havia estado pesando sobre ela. — Você não faz ideia do estrago que fez, . Cada vez que você me traiu, cada vez que você colocou outra mulher acima de mim, você me quebrou em pedaços. — As palavras de eram cortantes, carregadas de dor e ressentimento. Ela havia guardado aquelas emoções por tempo demais, e agora elas transbordavam em uma torrente de verdades cruas.
engoliu em seco, incapaz de encarar o olhar acusador de . Ele sabia que tinha machucado a mulher que amava, mas ouvir as palavras dela tornava tudo ainda mais real.
— Eu me tornei um fantasma na minha própria vida, um espectro da mulher que costumava ser — ela continuou, sua voz tremendo com a intensidade de suas palavras. — E tudo por causa das suas traições, das suas mentiras. Você não entende como é ver a pessoa que você ama, a pessoa com quem você construiu uma vida, te esmagar repetidamente — disse, sua voz embargada pelo peso de suas palavras. — Quer dizer, agora você sabe. Eu queria que você se sentisse da forma que eu me senti. — A sinceridade na voz da mulher era cortante e os olhos do marido estavam completamente escurecidos de raiva. Ela entendia aquilo porque, por muitas vezes, o seu próprio olhar esteve assim.
— E como foi chorar por mim enquanto estava na cama de outro? — As palavras a atingiram como uma faca. — Você transou com ele na nossa cama e vem falar de humilhação? Há quanto tempo você tá com ele, ?
Ela não conseguiu se recuperar da ira das palavras do homem, seus lábios tremeram enquanto uma mágoa crescia em sua garganta. Ele também tinha sido infiel, ele também tinha mentido, traído. Os passos do homem se aproximaram lentamente e ela pôde observar a raiva crescente que emanava dele, principalmente quando ele jogou o copo longe, fazendo-o estilhaçar na parede.
— VOCÊ TÁ SURDA? QUANTO. TEMPO. PORRA?
— Dois anos. — A resposta saiu baixa, rouca, dolorida para ambos.
— Dois anos — ele repetiu, incrédulo. A filha mais nova deles tinha quatro anos. — Eu errei pra caralho em ter te traído, mas não tenho uma história com ninguém com quem dormi. Eu fiz questão de não me aproximar delas emocionalmente, de não as trazer para a minha vida e você está com aquele filho da puta há dois anos. Eu comi muitas mulheres, mas nunca me relacionei com nenhuma delas. — O homem se aproximou da esposa. Ainda que tentasse controlar a sua raiva, precisava ouvir da boca que ele amava os sentimentos dela sobre o maldito amante. — Só falta dizer que minhas filhas o conhecem. — O silêncio fez o ódio tremer em sua boca com uma percepção indesejada. — Ele conhece as minhas filhas? — Novamente o silêncio preencheu a sala. — RESPONDE, CARALHO.
Ainda sem conseguir falar, ela balançou a cabeça positivamente. havia as conhecido um dia, quando precisou buscar as meninas no colégio mais cedo que o esperado, pegando uma carona com o homem.
A ficha caiu aos poucos, não era apenas um homem com quem se satisfazia durante o tempo em que ela e o marido não transavam. Ele conheceu sua filha, estiveram juntos por dois anos.
— Você o ama? — ergueu o rosto, raiva reverberava em seu corpo conforme ela se aproximava do marido também irado. Ao formular a pergunta, a imagem o atingiu em cheio. sendo tocada por outro, sussurrando juras de amor a outro. A menção disto o fez se afastar, precisando imediatamente quebrar algo, ou quebraria ela. Nunca a machucou fisicamente, nunca faria isso em sã consciência, mas, no momento, não confiava em si próprio. As mãos foram ao bar ele revirou tudo com a falta de resposta. Ela não se afastou, ao invés disso se aproximou ainda mais dele.
— Eu o amo. Eu amo perdidamente, completamente. Com fascínio. Eu amo a forma que ele me toca, amo o beijo dele. — Nem acreditou no que falou, mas precisava mentir para machucá-lo porque ele tinha feito isso com ela por tantos anos que agora, de uma forma torta, sombria e imatura, ela precisava descontar. Apesar da mentira ser rouca, ele a ouviu com tanta firmeza que se descontrolou por completo.
O silêncio foi quebrado quando a mão dele atingiu o rosto dela, fazendo-a se desequilibrar e cair sobre o chão. O gosto de sangue ocupou sua boca quando a mão dela seguiu para a ardência no rosto, olhando-o assustada, magoada. Ele continuou parado, observando-a na tentativa de se sentir melhor, mas de alguma forma sentiu que aquilo havia sido insuficiente. Ela merecia mais. Ele merecia mais.
Insatisfeito e aproveitando o momento em que a culpa não o consumia, ele a puxou pelos cabelos para que ela voltasse a ficar em pé. Sua mão agarrou o braço da esposa quando ele a puxou para que seus corpos se chocassem.
Sua cabeça sangrava por algum machucado que ele sequer soube se foi da briga com ou dos cacos que estilhaçou e o rosto dela estava avermelhado pelo tapa dado pelo marido. Seu braço também sangrava pelos cacos espalhados no chão que a atingiram quando ela caiu, mas em ambos as feridas internas eram as que mais sangravam.
Tudo doía, mas era o coração que latejava.
Ele caminhou, levando-a até a cozinha e a jogou de bruços sobre a mesa, sem delicadeza alguma. A mulher gemeu, sentindo a dor do mármore contra seu ventre, mas de alguma forma a dor que sentia era aliviante. Apesar da maneira torta e a situação dolorida, era a primeira vez em muito tempo que o seu marido a tocava, a brutalidade era necessária para que ela se sentisse desejada de novo. Para que ela visse que, mesmo na raiva, a queria.
O choro foi substituído por um tesão crescente quando ele empurrou o rosto dela contra a mesa, encaixando-se entre suas pernas e puxando a sua cabeça para trás pelos cabelos, apenas o suficiente para colar a boca dele no ouvido dela.
— Repita que o ama quando eu estiver te fodendo aqui, em cima da mesa que você alimenta as nossas filhas. — A possessividade em sua voz a fez tremer.
Naquela hora já não havia mais dor, ressentimento, medo, raiva, mágoa ou ódio. Apenas saudade. Uma saudade que gritava, transbordando em seus corpos.
De forma desajeitada, ele a beijou, um beijo que começou com urgência e se alastrou em intensidade. A língua quente, as salivas se misturando, o gosto de uísque em seus lábios... Tudo a lembrava do quanto ela amava a boca do marido. O beijo dele. O toque dele.
Apenas dele.
Com uma urgência intrínseca, a mulher se virou com dificuldade, subindo na mesa com a ajuda do homem.
agora estava de barriga para cima, passeando as mãos pelo abdômen definido do seu marido. se arrepiava com os toques da esposa, ninguém o tocava como ela fazia. Ninguém tinha as mãos mágicas que ela tinha.
Ninguém.
E isso foi o suficiente para trazê-lo a lembrança do porquê estavam ali. Apenas a lembrança fez com que ele tonasse as carícias ainda mais rudes, brutas. As mãos grandes passeavam pelo corpo dela, amassando, apertando e marcando cada íntimo pedaço que conhecia.
O homem afastou os lábios da boca da esposa, levando-os ao pescoço delicado e descendo-os para os seios. O vestido trazia um incômodo, ele precisava da pele dela. Por isso, rapidamente, ele alcançou a peça com as duas mãos, rasgando-a ao meio.
A pele da mulher ardeu com o tecido roçando em sua pele, queimando conforme se rasgava, e buscou a boca do loiro desesperadamente. Ela o queria de uma forma que nunca tinha sentido antes. Suas mãos buscaram o pau marcado na calça social dele e, gemendo contra sua boca, ela massageou a região. Apertando, sentindo o volume e lembrando da falta que seu corpo sentia de tê-lo enfiado dentro de si.
— Eu preciso de você — ela implorou. Não queria preliminares, a urgência era tamanha que não conseguiria aguentar. — Por favor — ela implorou por ele.
Por mais que quisesse resistir, demorando a dar o que ela queria, ele próprio não se aguentava mais. Os seios da mulher pulavam diante de si a cada movimento e quando sua boca mordiscou o mamilo, puxando-o entre os dentes, ela levou uma das mãos dele até a calcinha encharcada.
— Por favor, — implorou mais uma vez, os olhos escuros antes de raiva, agora estavam carregados de desejo pela mulher. Sua mulher.
Com urgência, ele retirou as últimas peças de roupa que os separava, sua calça foi parar no meio de suas coxas e a calcinha dela, seguindo o vestido, foi arrebentada. Ele estava duro como pedra, inchado para foder a boceta de sua esposa, e quando ela abriu as pernas para ele, seu corpo inteiro estremeceu. O moreno encaixou a cabeça do seu caralho na entrada apertada da esposa, mas antes de se enfiar por completo, ele a viu fechando os olhos, ansiosa para ser preenchida.
— Abra os olhos — ele pediu, controlando-se. Usando todo o autocontrole que já não sabia se ainda tinha. — Olhe para mim — ordenou, em um tom autoritário. Ela obedeceu, delirando com a sensação de sentir-se alargando, aberta para o seu homem. — Fale que o ama agora — o homem disse, antes de penetrá-la com força, de uma única vez.
gritou, incapaz de não sentir uma dor fina e desconfortável com o tamanho e a força. Antes que ela se acostumasse, os movimentos dele aumentaram com intensidade. Ele não ia apenas rápido, ele ia fundo. Forte. Duro. Ela então entrelaçou as pernas na cintura do homem, gemendo, descontando todo o prazer em seu lábio já machucado.
— Fala — ele repetiu, desta vez diminuindo tortuosamente os movimentos dentro dela. — Ele te come assim? — perguntou, movimentando-se com ainda mais brutalidade. Ele sentia a boceta dela o apertar e a cada vez que os movimentos eram dificultosos, ele se forçava mais para dentro da esposa. — Ele te fode como você gosta, hm? — O tom de voz rouco acompanhava movimentos lentos e intensos, fazendo-a gemer mais alto.
De forma inesperada, ele saiu de dentro dela, deixando o seu pau roçar pelos lábios da boceta rosada da esposa.
— Por favor, não para — ela suplicou, apertando mais a cintura do marido com as pernas. Ele sorriu satisfeito.
— Então fala, me diz o que você quer. — De forma provocante, a mão dele alcançou o pau, esfregando-o no clitóris inchado da esposa. — Seja uma boa puta e me diga quem você ama, .
— Você — ela admitiu, por fim, quando ele voltou a se encaixar dentro dela. — Oh, ... Eu amo você, porra. — Ouvindo a esposa falar entre uma respiração falha e outra, ele a penetrou novamente, iniciando os movimentos lentos e aumentando assim que percebeu o corpo dela estremecer.
Agora a força havia diminuído, suas mãos a ajudavam a gozar e quando ela tremeu abaixo dele, amolecendo as pernas que o agarravam pelo quadril, ele continuou trilhando um caminho de beijos pelos seios dela. Sentindo o cheiro dela.
Vendo-a ali, entregue, gemendo o seu nome e falando que o amava, ele gozou dentro dela, afundando seu rosto sobre o ombro pálido da esposa e deixando um selinho em seu pescoço.
— Eu também amo você.
De forma dissimulada, o homem discou o número de seu celular, digitando uma mensagem que o convidava ao local. Ele esperou ser engano, esperou ser mentira, algo dito por sua esposa em um momento de raiva, mas toda sua esperança esvaiu quando recebeu a resposta simples, cortante e dolorida do tal homem. “Chego em dez minutos”.
Os minutos que passaram pareciam horas, mas quando uma figura alta entrou pela casa, desviando dos móveis no escuro, sentiu algo em si quebrar ainda mais. Ele conhecia a posição dos móveis, ele tinha ido mais vezes. De forma involuntária, sua mente viajou torturante imaginando quantas vezes a figura alta tinha ido à sua casa. Ele havia transado com sua esposa, em sua própria cama. A raiva o encheu enquanto a tensão palpável se tornava sufocante.
— Então você é o amante da minha esposa — disse, mantendo a voz carregada de desprezo.
não recuou, mantendo o olhar firme.
— E você deve ser o marido, mas isso não o impede de procurar outras mulheres, não é?
As palavras foram disparadas como tiros, cada uma atingindo o alvo com precisão. A troca de olhares carregava um peso muito maior do que as palavras que foram ditas. Era como se todas as emoções estivessem contidas por uma linha prestes a arrebentar.
avançou com o punho cerrado e uma rapidez surpreendente. Um soco preciso atingiu o estômago de , fazendo-o recuar com um grunhido de dor. não hesitou ou parou, os golpes liberaram toda a dor acumulada, eram rápidos e coordenados. Raiva canalizava cada um de seus movimentos. tentou se defender como conseguia, com objetos que alcançava, mas estava claramente desorientado. continuou atacando, nada conseguiria amenizar a raiva que sentia. A ira cresceu mais e antes que a violência acompanhasse os movimentos, um grito lhe fez parar.
— PARE! , VOCÊ VAI MATÁ-LO. — A voz de ecoou o ambiente, fazendo-o se afastar enquanto suas mãos latejavam de dor. Ele observou a esposa se ajoelhar no chão, junto ao seu amante, e se afastou imediatamente. Não queria estar perto dela, a raiva era imensa e por mais dolorosas que fossem as recentes descobertas, temia que sua raiva afetasse sua esposa da pior forma.
Quando ajudou a ir embora, a luz do sol estava vindo além das janelas da sala de estar, pintando o ambiente com tons cinzas e sombras alongadas. A casa estava mergulhada em um silêncio carregado, refletindo a tensão que pairava no ar.
O confronto com havia deixado marcas visíveis. sentia a dor pulsante em seus punhos, lembrando-o do sentimento que o levara a agir impulsivamente. Ele não podia negar que havia sentido uma estranha sensação de triunfo quando finalmente se vingou de alguma forma. No entanto, essa vitória era amarga. tinha enfrentado seu rival, mas a sensação de realização foi substituída rapidamente por um vazio.
No fim, tinha sido ele que ela socorreu.
A mais nova se aproximou cautelosamente, interrompendo os pensamentos de . Ele se levantou devagar sentindo os músculos doloridos protestarem.
— , precisamos conversar — ela disse com uma voz suave, carregada de emoção.
a encarou por um momento, observando os traços que um dia o fizeram se apaixonar. Mas agora aqueles traços também carregavam o peso das mentiras e das traições. Ele suspirou, afastando-se quando a raiva tentou dominá-lo novamente.
Sentaram-se em lados opostos da sala, o silêncio entre eles era opressivo. parecia nervosa, brincando com seus dedos enquanto buscava as palavras certas.
— ... — começou, sua voz embargada.
Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo enquanto se servia com uísque. Ele precisava de algo que esquentasse o seu sangue e sua garganta. Algo além de raiva. Além de dor.
— Nos poupe de mais mentiras, . Acabe logo com isso, caralho.
As palavras de eram carregadas de um cansaço profundo, um cansaço que ia além do físico. Era o peso de uma relação quebrada, de promessas quebradas e confiança perdida.
— Eu também estou cansada. Cansada de esconder, de mentir para todos, inclusive para nós mesmos. — Sua voz saiu marejada, exausta de tentar manter as aparências de uma relação quebrada. — Eu me senti humilhada, — continuou, sua voz tremendo com a intensidade de suas emoções. — Cada vez que eu olhava para uma das mulheres com quem você estava, eu me perguntava o que elas tinham que eu não tinha. Eu me sentia inadequada, insuficiente. — As palavras de cortavam como facas afiadas, perfurando a armadura de . Ele podia sentir a dor dela, a mágoa que ele causara. — Você não sabe o que é ter que sorrir para o mundo enquanto seu coração está desmoronando por dentro. Você não sabe o que é questionar sua própria autoestima por causa das suas ações egoístas. Você pode estar sentindo a dor de ter descoberto agora, mas eu carreguei a dor de suas mentiras por muito, muito tempo. — levantou-se, ficando de pé diante de , uma tempestade de emoções girando em seus olhos. Ela havia acumulado anos de mágoa, anos de traição e mentiras, e agora estava pronta para expor tudo o que havia estado pesando sobre ela. — Você não faz ideia do estrago que fez, . Cada vez que você me traiu, cada vez que você colocou outra mulher acima de mim, você me quebrou em pedaços. — As palavras de eram cortantes, carregadas de dor e ressentimento. Ela havia guardado aquelas emoções por tempo demais, e agora elas transbordavam em uma torrente de verdades cruas.
engoliu em seco, incapaz de encarar o olhar acusador de . Ele sabia que tinha machucado a mulher que amava, mas ouvir as palavras dela tornava tudo ainda mais real.
— Eu me tornei um fantasma na minha própria vida, um espectro da mulher que costumava ser — ela continuou, sua voz tremendo com a intensidade de suas palavras. — E tudo por causa das suas traições, das suas mentiras. Você não entende como é ver a pessoa que você ama, a pessoa com quem você construiu uma vida, te esmagar repetidamente — disse, sua voz embargada pelo peso de suas palavras. — Quer dizer, agora você sabe. Eu queria que você se sentisse da forma que eu me senti. — A sinceridade na voz da mulher era cortante e os olhos do marido estavam completamente escurecidos de raiva. Ela entendia aquilo porque, por muitas vezes, o seu próprio olhar esteve assim.
— E como foi chorar por mim enquanto estava na cama de outro? — As palavras a atingiram como uma faca. — Você transou com ele na nossa cama e vem falar de humilhação? Há quanto tempo você tá com ele, ?
Ela não conseguiu se recuperar da ira das palavras do homem, seus lábios tremeram enquanto uma mágoa crescia em sua garganta. Ele também tinha sido infiel, ele também tinha mentido, traído. Os passos do homem se aproximaram lentamente e ela pôde observar a raiva crescente que emanava dele, principalmente quando ele jogou o copo longe, fazendo-o estilhaçar na parede.
— VOCÊ TÁ SURDA? QUANTO. TEMPO. PORRA?
— Dois anos. — A resposta saiu baixa, rouca, dolorida para ambos.
— Dois anos — ele repetiu, incrédulo. A filha mais nova deles tinha quatro anos. — Eu errei pra caralho em ter te traído, mas não tenho uma história com ninguém com quem dormi. Eu fiz questão de não me aproximar delas emocionalmente, de não as trazer para a minha vida e você está com aquele filho da puta há dois anos. Eu comi muitas mulheres, mas nunca me relacionei com nenhuma delas. — O homem se aproximou da esposa. Ainda que tentasse controlar a sua raiva, precisava ouvir da boca que ele amava os sentimentos dela sobre o maldito amante. — Só falta dizer que minhas filhas o conhecem. — O silêncio fez o ódio tremer em sua boca com uma percepção indesejada. — Ele conhece as minhas filhas? — Novamente o silêncio preencheu a sala. — RESPONDE, CARALHO.
Ainda sem conseguir falar, ela balançou a cabeça positivamente. havia as conhecido um dia, quando precisou buscar as meninas no colégio mais cedo que o esperado, pegando uma carona com o homem.
A ficha caiu aos poucos, não era apenas um homem com quem se satisfazia durante o tempo em que ela e o marido não transavam. Ele conheceu sua filha, estiveram juntos por dois anos.
— Você o ama? — ergueu o rosto, raiva reverberava em seu corpo conforme ela se aproximava do marido também irado. Ao formular a pergunta, a imagem o atingiu em cheio. sendo tocada por outro, sussurrando juras de amor a outro. A menção disto o fez se afastar, precisando imediatamente quebrar algo, ou quebraria ela. Nunca a machucou fisicamente, nunca faria isso em sã consciência, mas, no momento, não confiava em si próprio. As mãos foram ao bar ele revirou tudo com a falta de resposta. Ela não se afastou, ao invés disso se aproximou ainda mais dele.
— Eu o amo. Eu amo perdidamente, completamente. Com fascínio. Eu amo a forma que ele me toca, amo o beijo dele. — Nem acreditou no que falou, mas precisava mentir para machucá-lo porque ele tinha feito isso com ela por tantos anos que agora, de uma forma torta, sombria e imatura, ela precisava descontar. Apesar da mentira ser rouca, ele a ouviu com tanta firmeza que se descontrolou por completo.
O silêncio foi quebrado quando a mão dele atingiu o rosto dela, fazendo-a se desequilibrar e cair sobre o chão. O gosto de sangue ocupou sua boca quando a mão dela seguiu para a ardência no rosto, olhando-o assustada, magoada. Ele continuou parado, observando-a na tentativa de se sentir melhor, mas de alguma forma sentiu que aquilo havia sido insuficiente. Ela merecia mais. Ele merecia mais.
Insatisfeito e aproveitando o momento em que a culpa não o consumia, ele a puxou pelos cabelos para que ela voltasse a ficar em pé. Sua mão agarrou o braço da esposa quando ele a puxou para que seus corpos se chocassem.
Sua cabeça sangrava por algum machucado que ele sequer soube se foi da briga com ou dos cacos que estilhaçou e o rosto dela estava avermelhado pelo tapa dado pelo marido. Seu braço também sangrava pelos cacos espalhados no chão que a atingiram quando ela caiu, mas em ambos as feridas internas eram as que mais sangravam.
Tudo doía, mas era o coração que latejava.
Ele caminhou, levando-a até a cozinha e a jogou de bruços sobre a mesa, sem delicadeza alguma. A mulher gemeu, sentindo a dor do mármore contra seu ventre, mas de alguma forma a dor que sentia era aliviante. Apesar da maneira torta e a situação dolorida, era a primeira vez em muito tempo que o seu marido a tocava, a brutalidade era necessária para que ela se sentisse desejada de novo. Para que ela visse que, mesmo na raiva, a queria.
O choro foi substituído por um tesão crescente quando ele empurrou o rosto dela contra a mesa, encaixando-se entre suas pernas e puxando a sua cabeça para trás pelos cabelos, apenas o suficiente para colar a boca dele no ouvido dela.
— Repita que o ama quando eu estiver te fodendo aqui, em cima da mesa que você alimenta as nossas filhas. — A possessividade em sua voz a fez tremer.
Naquela hora já não havia mais dor, ressentimento, medo, raiva, mágoa ou ódio. Apenas saudade. Uma saudade que gritava, transbordando em seus corpos.
De forma desajeitada, ele a beijou, um beijo que começou com urgência e se alastrou em intensidade. A língua quente, as salivas se misturando, o gosto de uísque em seus lábios... Tudo a lembrava do quanto ela amava a boca do marido. O beijo dele. O toque dele.
Apenas dele.
Com uma urgência intrínseca, a mulher se virou com dificuldade, subindo na mesa com a ajuda do homem.
agora estava de barriga para cima, passeando as mãos pelo abdômen definido do seu marido. se arrepiava com os toques da esposa, ninguém o tocava como ela fazia. Ninguém tinha as mãos mágicas que ela tinha.
Ninguém.
E isso foi o suficiente para trazê-lo a lembrança do porquê estavam ali. Apenas a lembrança fez com que ele tonasse as carícias ainda mais rudes, brutas. As mãos grandes passeavam pelo corpo dela, amassando, apertando e marcando cada íntimo pedaço que conhecia.
O homem afastou os lábios da boca da esposa, levando-os ao pescoço delicado e descendo-os para os seios. O vestido trazia um incômodo, ele precisava da pele dela. Por isso, rapidamente, ele alcançou a peça com as duas mãos, rasgando-a ao meio.
A pele da mulher ardeu com o tecido roçando em sua pele, queimando conforme se rasgava, e buscou a boca do loiro desesperadamente. Ela o queria de uma forma que nunca tinha sentido antes. Suas mãos buscaram o pau marcado na calça social dele e, gemendo contra sua boca, ela massageou a região. Apertando, sentindo o volume e lembrando da falta que seu corpo sentia de tê-lo enfiado dentro de si.
— Eu preciso de você — ela implorou. Não queria preliminares, a urgência era tamanha que não conseguiria aguentar. — Por favor — ela implorou por ele.
Por mais que quisesse resistir, demorando a dar o que ela queria, ele próprio não se aguentava mais. Os seios da mulher pulavam diante de si a cada movimento e quando sua boca mordiscou o mamilo, puxando-o entre os dentes, ela levou uma das mãos dele até a calcinha encharcada.
— Por favor, — implorou mais uma vez, os olhos escuros antes de raiva, agora estavam carregados de desejo pela mulher. Sua mulher.
Com urgência, ele retirou as últimas peças de roupa que os separava, sua calça foi parar no meio de suas coxas e a calcinha dela, seguindo o vestido, foi arrebentada. Ele estava duro como pedra, inchado para foder a boceta de sua esposa, e quando ela abriu as pernas para ele, seu corpo inteiro estremeceu. O moreno encaixou a cabeça do seu caralho na entrada apertada da esposa, mas antes de se enfiar por completo, ele a viu fechando os olhos, ansiosa para ser preenchida.
— Abra os olhos — ele pediu, controlando-se. Usando todo o autocontrole que já não sabia se ainda tinha. — Olhe para mim — ordenou, em um tom autoritário. Ela obedeceu, delirando com a sensação de sentir-se alargando, aberta para o seu homem. — Fale que o ama agora — o homem disse, antes de penetrá-la com força, de uma única vez.
gritou, incapaz de não sentir uma dor fina e desconfortável com o tamanho e a força. Antes que ela se acostumasse, os movimentos dele aumentaram com intensidade. Ele não ia apenas rápido, ele ia fundo. Forte. Duro. Ela então entrelaçou as pernas na cintura do homem, gemendo, descontando todo o prazer em seu lábio já machucado.
— Fala — ele repetiu, desta vez diminuindo tortuosamente os movimentos dentro dela. — Ele te come assim? — perguntou, movimentando-se com ainda mais brutalidade. Ele sentia a boceta dela o apertar e a cada vez que os movimentos eram dificultosos, ele se forçava mais para dentro da esposa. — Ele te fode como você gosta, hm? — O tom de voz rouco acompanhava movimentos lentos e intensos, fazendo-a gemer mais alto.
De forma inesperada, ele saiu de dentro dela, deixando o seu pau roçar pelos lábios da boceta rosada da esposa.
— Por favor, não para — ela suplicou, apertando mais a cintura do marido com as pernas. Ele sorriu satisfeito.
— Então fala, me diz o que você quer. — De forma provocante, a mão dele alcançou o pau, esfregando-o no clitóris inchado da esposa. — Seja uma boa puta e me diga quem você ama, .
— Você — ela admitiu, por fim, quando ele voltou a se encaixar dentro dela. — Oh, ... Eu amo você, porra. — Ouvindo a esposa falar entre uma respiração falha e outra, ele a penetrou novamente, iniciando os movimentos lentos e aumentando assim que percebeu o corpo dela estremecer.
Agora a força havia diminuído, suas mãos a ajudavam a gozar e quando ela tremeu abaixo dele, amolecendo as pernas que o agarravam pelo quadril, ele continuou trilhando um caminho de beijos pelos seios dela. Sentindo o cheiro dela.
Vendo-a ali, entregue, gemendo o seu nome e falando que o amava, ele gozou dentro dela, afundando seu rosto sobre o ombro pálido da esposa e deixando um selinho em seu pescoço.
— Eu também amo você.
Capítulo 9
ANTES
havia dito que pediu transferência de sua escola. Não por razões acadêmicas, não por problemas com a antiga escola, mas por uma única e surpreendente razão: eu.
Ele queria estar mais perto de mim. Eu, honestamente, achei que ele estava brincando no início. Mudar de escola apenas para estar mais próximo de alguém parecia uma ideia um tanto absurda. Eu o achava louco, mas ao mesmo tempo admirava a coragem que ele tinha. fazia por mim coisas que eu não teria coragem de fazer.
Eu era uma estranha entre rostos desconhecidos, uma voz silenciada pelo medo de nunca pertencer a lugar algum. E então ele apareceu. tinha um sorriso que desafiava todas as sombras que me cercavam, ele não ligava para a minha mãe golpista que era amante de seu pai e que fez o casamento deles acabarem. Tudo se tornava diferente na presença dele. Eu, que sempre me afastei, agora tinha alguém ao meu lado. não apenas mudou de escola, ele quebrou cada uma das barreiras que eu montei com aquele sorriso presunçoso e o tom de voz confiante.
O lugar em que eu estudava estava melhor, mas não foi apenas a geografia da escola que mudou, foi a dinâmica do meu mundo. Ele não apenas mudou de escola por mim, ele mudou a minha escola inteira. E, ao fazer isso, trouxe cor ao meu mundo preto e branco. Como se dissesse que, não importava onde eu estivesse, ele estaria ali também.
Eu, que antes via a escola como uma prisão, agora a via como um lugar de possibilidades. E tudo porque ele decidiu, com um gesto tão simples e extraordinário, estar presente na minha vida de uma maneira que ninguém jamais esteve.
Admirá-lo era um hábito que se instalou sem pedir permissão. No primeiro dia de aula dele, vestido com o uniforme escolar torto, parecia mais bonito do que eu poderia ter imaginado. Seu sorriso, aquele sorriso que parecia feito sob medida para mim, fazia-me acreditar que o amor tinha seu próprio tamanho. Talvez tivesse.
— Por que está me olhando assim? — ele perguntou, o sorriso evidente nos lábios. Dei de ombros, incapaz de desviar o olhar. Como alguém que só existia uma vez poderia ser tão perfeito?
— Porque eu te amo. — A resposta o fez rir, e, em um movimento rápido, ele me beijou.
— Merda, . Você me olhando assim faz com que eu não consiga guardar nenhum segredo — sussurrou, fazendo-me rir, mas o olhar curioso dele permaneceu. — Quero te levar a um lugar.
— Nós devíamos ir para a aula agora. — Minha voz soou divertida, mas era inútil disfarçar a curiosidade estampada em meus olhos.
— Talvez a álgebra possa esperar. Acho que teremos algo mais interessante hoje.
O entardecer antecipado do céu o deixava com tons suaves de laranja e roxo quando ele, com um brilho travesso nos olhos, me pediu para fechá-los.
— É uma surpresa — disse ele, mantendo um tom animado, transmitindo em sua voz a promessa de algo especial.
Observei a escuridão atrás das pálpebras, a antecipação aumentando a cada passo que ele me guiava. Seus dedos seguraram os meus com confiança, e eu me deixei levar pela escuridão, confiando no caminho que ele escolhera.
O som abafado de passos no asfalto indicava que estávamos nos aproximando do carro. , sempre tão cuidadoso, abriu a porta e me ajudou a entrar. A ansiedade crescia dentro de mim, mas eu me segurava com a excitação do mistério.
O carro começou a se mover e eu senti cada curva e giro, tentando decifrar o destino da surpresa. , ao volante, não deixava escapar nenhum detalhe sobre para onde estávamos indo. Sua voz fazia-me sorrir mesmo sem abrir os olhos cada vez que suas expectativas vinham à tona.
Finalmente, o carro parou. Ele pediu para eu esperar mais um pouco antes de revelar a surpresa. Quando ele abriu a porta, senti o aroma fresco de algo que deveria parecer a natureza e um suave toque de brisa acariciou meu rosto.
— Está pronta? — perguntou. Abri os olhos e fui recebida pela visão de uma casa iluminada pela luz suave. Era uma casa à venda, com um jardim que parecia um pedaço do céu na terra.
— … — sussurrei, sem palavras para expressar a surpresa e alegria que inundavam meu coração. Ele sorriu, parecendo tão feliz quanto eu.
— Esta será a nossa casa quando nos casarmos — anunciou, com seu olhar cheio de esperança.
Exploramos a casa como se fôssemos os donos temporários daquele domínio, mas foi no jardim que verdadeiramente nos perdemos.
— Você gostou? — ele perguntou, deitado ao meu lado no meio da grama verde e fofa do jardim. Gargalhei, concordando com a cabeça.
— Eu amei, mas sabe que não vamos nos casar tão rápido, não sabe?
— Eu não ligo se vamos nos casar hoje ou daqui a cem anos, . Eu só quero que saiba que iremos nos casar, porque não existe nenhuma outra mulher no mundo que tenha sido feita para mim como você foi. Eu quero que você saiba que eu te amo e esse sentimento não é algo que vai acabar de um dia para o outro. Não vou acordar de repente dizendo que não te amo mais. Eu quero que você seja a minha mulher e a mãe dos meus filhos, e quando nossos filhos ou filhas tiverem idade suficiente, eles vão correr por esse jardim sabendo que tiveram um fim diferente do nosso. Que pudemos dar a eles uma família saudável. Eu quero te oferecer tudo aquilo que te faltou, porque você é tudo aquilo que eu não tive.
O peso das palavras dele ressoou no silêncio que se seguiu. E, na quietude da noite, pude sentir a profundidade do compromisso que expressara. Não era apenas uma casa; era o altar dos nossos sonhos compartilhados, o lugar onde o amor seria a base de cada tijolo.
A casa, iluminada pelas estrelas cintilantes, parecia aguardar ansiosamente o momento em que se tornaria o cenário de nossa jornada conjunta. Não era sobre o quando do casamento, mas sobre o como construiríamos nosso amor e família naquele lar.
Entrelacei meus dedos nos dele, sentindo a segurança e calor que ele oferecia. Naquele instante, sob o céu, o futuro se revelou como uma tapeçaria de esperança e promessas. E, no coração de tudo, estava a certeza de que, independentemente do tempo, a nossa casa seria mais do que paredes e telhado; seria um refúgio onde os nossos sonhos se tornariam realidade.
Capítulo 10
acordou na penumbra do quarto, uma suave luminosidade matinal penetrando pelas cortinas semiabertas. Por um momento, ele permaneceu imóvel, ainda envolto nos resquícios do sono, até ser despertado por um aroma familiar. O cheiro dos cabelos loiros de preenchia o ar ao seu redor, uma fragrância que, mesmo nos momentos difíceis, ainda o acalmava.
Ao virar o rosto para o lado, deparou-se com deitada ao seu lado. Seu corpo repousava suavemente no lençol, os traços suaves de seu rosto refletindo a tranquilidade do sono. No entanto, assim que seus olhos se concentraram em seu rosto, uma onda de culpa se apoderou dele. Marcas visíveis de sua briga da noite anterior adornavam o semblante sereno de . Uma sombra de dor se formou em seus olhos enquanto observava os hematomas e cortes que decoravam a pele delicada dela. O coração de apertou com a visão. Ele havia batido nela. Não podia suportar a ideia de ter causado aquela dor a ela. Não apenas emocional, mas agora física também. A culpabilidade o envolveu como uma névoa e ele percebeu que, por mais que amasse , não podia permitir que a violência se tornasse uma parte de sua relação. Eles não eram assim.
sentiu um nó se formar em seu estômago. Ele sabia que as palavras ditas em meio à raiva podiam causar feridas tão profundas quanto qualquer traição. Fitando o rosto de , ele se perguntou como pôde ser tão insensível, como pôde deixar que a mágoa obscurecesse sua visão da mulher que tinha ao seu lado.
Com cuidado para não a acordar, se levantou da cama, seus pensamentos giravam em sua mente. Enquanto se dirigia ao banheiro, a luz fria do amanhecer iluminou o seu rosto casado no espelho. Ele se encarou, refletindo sobre suas próprias ações e a direção que sua vida tomara.
Foi então que a decisão tomou forma em sua mente. Ele amava profundamente, ela era a mãe de suas filhas e a mulher que ele amava, mas amá-la também significava protegê-la, mesmo quando fosse dele. Não podia arriscar ferir a mulher que era o centro de seu mundo novamente. O preço da reconciliação parecia alto demais e ele não podia permitir que a escuridão que os envolvia na noite anterior se tornasse um padrão.
Foi por amor a ela que ele decidiu se afastar, reconhecendo que, às vezes, o ato mais significativo de amor é deixar. Ainda mergulhado em pensamentos tumultuados, ele caminhou até o closet do casal, arrumando uma mala simples com alguns itens essenciais e, em seguida, deixou o quarto, fechando a porta suavemente atrás de si, deixando para trás a mulher que amava, mas que agora precisava seguir seu próprio caminho.
O silêncio na casa foi quebrado pelo suspiro suave de quando ela despertou. Seus olhos se abriram lentamente para a penumbra do quarto e uma sensação de vazio a envolveu quando não encontrou ao seu lado na cama. Um arrepio de apreensão percorreu sua espinha. Apesar de tudo, ela estava feliz, eles tinham finalmente feito as pazes. Depois de anos de sentimentos escondidos, eles puderem se mostrar um ao outro, eles mostraram que os sentimentos não haviam morrido, estavam ali. Então por que seu marido não estava na cama?
levantou-se com pressa, notando a ausência reconfortante do peso do corpo de . Seu olhar se desviou para a camisa dele, jogada sobre a cadeira. Ela a pegou instintivamente e sentiu o cheiro familiar dele impregnado nas fibras. Vestiu a camisa como se buscasse aconchego em meio à incerteza.
A casa estava envolta em um silêncio desconcertante enquanto , ainda meio adormecida, começou a procurar por . Seus passos ecoavam pelos corredores vazios e uma sensação de urgência a impulsionava adiante.
Ao alcançar a sala, congelou ao ver , sua figura destacada contra a luz do amanhecer, que invadia timidamente a janela. Ele estava ali, de pé, com a mala feita aos seus pés. O coração de começou a bater descompassado, uma ansiedade crescente tomando conta dela.
— … — sua voz quebrou o silêncio e ele se virou para encará-la. O rosto dele, normalmente expressivo, agora exibia uma seriedade dolorosa. Os olhos de buscaram os dele em busca de respostas, mas a verdade já se desenhava em seus traços. Ele não teve coragem de encará-la. A mala estava pronta, a camisa que ela usava, a expressão nos olhos dele. sentiu o chão se abrir sob seus pés. — Você está indo embora — ela murmurou, quase incapaz de acreditar nas palavras que escapavam de seus lábios.
assentiu, mas o olhar dele transmitia uma mistura de tristeza e dor. sentiu o mundo ao seu redor desmoronar, como se estivesse perdendo o chão sob seus pés.
— Por quê? — Ela mal conseguia articular as palavras, mas sua voz carregava um peso de angústia.
Ele hesitou por um momento antes de responder, as palavras saíram com a dor de uma despedida não desejada.
— , eu bati em você. Eu não posso continuar machucando você. Por mais que eu te ame, não posso permitir que isso aconteça de novo. Você merece algo melhor.
As palavras de pairaram no ar, pesadas como o silêncio que se instalou na sala. O confessionário silencioso de seus erros ecoava nas paredes, enchendo o espaço com uma atmosfera sufocante de desespero. , de olhos marejados, ouviu a confissão de como um golpe visceral.
— , não faça isso comigo — ela implorou, a voz embargada pela mistura de emoções. — Você não pode me dar o mundo e depois arrancá-lo de mim. Por favor, não faça isso comigo. Nós podemos consertar. Eu traí você, porra. Eu te traí e apresentei nossas filhas a ele. Eu mereci a briga que tivemos ontem, eu também te agredi. Por favor, . Não vá.
As palavras dela flutuaram pelo espaço, carregadas de arrependimento e súplica. O desespero de preenchia a sala, criando uma atmosfera densa. Ela se aproximou dele, tentando segurar a mão que segurava a alça da mala, mas ele se afastou.
— Não podemos continuar fazendo isso. — A voz de era um sussurro, carregado de sua própria dor. — Você merece mais do que eu posso oferecer agora.
O coração de se partiu enquanto ela tentava conter as lágrimas.
— Eu sei que machucamos um ao outro, mas nós podemos superar isso juntos. Não podemos deixar que isso destrua tudo o que construímos. Nossas filhas... elas precisam de um pai, eu preciso de você.
desviou o olhar, incapaz de suportar o tormento refletido nos olhos de .
As palavras de cortaram o ar, carregadas de dor e desespero. Seus olhos, inundados de lágrimas, buscavam desesperadamente os de , em busca de uma resposta que pudesse mudar o curso inevitável da partida iminente.
— Você jurou que nunca me abandonaria, . Você prometeu! Eu te amo, eu ainda te amo. Eu te amo mesmo com tudo que aconteceu e eu te amo além de tudo que aconteceu. — As palavras dela ecoaram na sala, criando uma harmonia trágica com o silêncio que as seguia. O apelo de estava impregnado de uma intensidade genuína, como se ela estivesse tentando segurar nas mãos a vida que ameaçava escorregar por entre seus dedos. — Nós dois fizemos coisas que não queríamos. As traições…
A voz de , baixa e cheia de culpa, interrompeu-a antes que pudesse continuar.
— Quando você descobriu? — perguntou, sua voz carregada de uma tristeza profunda. Ele evitava o contato visual, como se temesse confrontar a realidade do que havia feito. A força que ele não sabia que possuía causando danos irreparáveis.
— Eu sei desde a primeira vez. Quando você chegou em casa, você estava com o olhar perdido, com o cheiro de perfume feminino, e quando a te chamou de papai, você a abraçou e chorou. Eu descobri ali.
As palavras de cortaram como facas afiadas, revelando a extensão da ferida emocional que ela carregava desde o momento em que a primeira traição veio à tona.
— Por que você não fez nada? Digo, por que não tomou nenhuma atitude?
— Que atitude eu poderia tomar, ? Pedir o divórcio? A mal respirava sem você por perto e a tinha pouco mais de um ano. — O silêncio pesava o ar entre eles, os olhos ainda lacrimejados da mulher tentavam esconder a realidade adiada da perda iminente. — Por que me traiu?
— Eu… não queria. — Seus olhos foram fechados com pesar, mas ele se manteve parado no lugar que estava. — Depois que você engravidou da , você me olhava com desprezo, você me afastava o inteiro. Eu achei que fosse depressão pós-parto, mas não era. Conversei com a e você só estava infeliz comigo, não estava mal com ou com a gravidez. Eu tentei me aproximar, mas você parecia sentir nojo de mim. Depois de uns meses assim… Eu sinto muito.
— Não era nada com você, eu só não me sentia bem com o meu próprio corpo. Na gravidez da , eu ainda me sentia bonita e sexy, mas quando tive a … Foi diferente. Você vai mesmo embora?
— , acabou.
A realidade das palavras dele atingiu como uma onda, deixando-a cambaleante diante do abismo que se abria à sua frente.
— Você disse que me ama. Você disse que não iria embora. Você prometeu aqui no jardim dessa casa, anos atrás, que nossas filhas não cresceriam da forma que crescemos. Você disse que nossa casa seria montada de amor. Você prometeu que não me abandonaria.
A voz de carregava a força de uma lembrança, um eco do passado que agora parecia distante. A promessa feita sob o sol do jardim agora se desfazia como cinzas levadas pelo vento.
— Por Deus, . Eu te amo, caralho, mas não quero que nossas vidas sejam assim. Não quero nossas filhas crescendo no meio de mentiras.
O desespero se insinuava na voz de , um homem dividido entre o amor que ainda persistia e a necessidade de encarar as consequências de suas ações.
— Nosso amor não é uma mentira.
tentava desesperadamente reivindicar o que restava, agarrando-se ao elo que parecia se desfazer entre eles.
— Não, mas eu não consigo ficar depois do que fiz. Eu machuquei você.
As palavras dele eram carregadas de uma dor genuína, um reconhecimento da gravidade das feridas que ele infligira. Nos olhos da mulher que ele amava tinha dor, mágoa, arrependimento, angústia e ele tinha causado tudo aquilo. Era insuportável permanecer ali.
Ao virar o rosto para o lado, deparou-se com deitada ao seu lado. Seu corpo repousava suavemente no lençol, os traços suaves de seu rosto refletindo a tranquilidade do sono. No entanto, assim que seus olhos se concentraram em seu rosto, uma onda de culpa se apoderou dele. Marcas visíveis de sua briga da noite anterior adornavam o semblante sereno de . Uma sombra de dor se formou em seus olhos enquanto observava os hematomas e cortes que decoravam a pele delicada dela. O coração de apertou com a visão. Ele havia batido nela. Não podia suportar a ideia de ter causado aquela dor a ela. Não apenas emocional, mas agora física também. A culpabilidade o envolveu como uma névoa e ele percebeu que, por mais que amasse , não podia permitir que a violência se tornasse uma parte de sua relação. Eles não eram assim.
sentiu um nó se formar em seu estômago. Ele sabia que as palavras ditas em meio à raiva podiam causar feridas tão profundas quanto qualquer traição. Fitando o rosto de , ele se perguntou como pôde ser tão insensível, como pôde deixar que a mágoa obscurecesse sua visão da mulher que tinha ao seu lado.
Com cuidado para não a acordar, se levantou da cama, seus pensamentos giravam em sua mente. Enquanto se dirigia ao banheiro, a luz fria do amanhecer iluminou o seu rosto casado no espelho. Ele se encarou, refletindo sobre suas próprias ações e a direção que sua vida tomara.
Foi então que a decisão tomou forma em sua mente. Ele amava profundamente, ela era a mãe de suas filhas e a mulher que ele amava, mas amá-la também significava protegê-la, mesmo quando fosse dele. Não podia arriscar ferir a mulher que era o centro de seu mundo novamente. O preço da reconciliação parecia alto demais e ele não podia permitir que a escuridão que os envolvia na noite anterior se tornasse um padrão.
Foi por amor a ela que ele decidiu se afastar, reconhecendo que, às vezes, o ato mais significativo de amor é deixar. Ainda mergulhado em pensamentos tumultuados, ele caminhou até o closet do casal, arrumando uma mala simples com alguns itens essenciais e, em seguida, deixou o quarto, fechando a porta suavemente atrás de si, deixando para trás a mulher que amava, mas que agora precisava seguir seu próprio caminho.
O silêncio na casa foi quebrado pelo suspiro suave de quando ela despertou. Seus olhos se abriram lentamente para a penumbra do quarto e uma sensação de vazio a envolveu quando não encontrou ao seu lado na cama. Um arrepio de apreensão percorreu sua espinha. Apesar de tudo, ela estava feliz, eles tinham finalmente feito as pazes. Depois de anos de sentimentos escondidos, eles puderem se mostrar um ao outro, eles mostraram que os sentimentos não haviam morrido, estavam ali. Então por que seu marido não estava na cama?
levantou-se com pressa, notando a ausência reconfortante do peso do corpo de . Seu olhar se desviou para a camisa dele, jogada sobre a cadeira. Ela a pegou instintivamente e sentiu o cheiro familiar dele impregnado nas fibras. Vestiu a camisa como se buscasse aconchego em meio à incerteza.
A casa estava envolta em um silêncio desconcertante enquanto , ainda meio adormecida, começou a procurar por . Seus passos ecoavam pelos corredores vazios e uma sensação de urgência a impulsionava adiante.
Ao alcançar a sala, congelou ao ver , sua figura destacada contra a luz do amanhecer, que invadia timidamente a janela. Ele estava ali, de pé, com a mala feita aos seus pés. O coração de começou a bater descompassado, uma ansiedade crescente tomando conta dela.
— … — sua voz quebrou o silêncio e ele se virou para encará-la. O rosto dele, normalmente expressivo, agora exibia uma seriedade dolorosa. Os olhos de buscaram os dele em busca de respostas, mas a verdade já se desenhava em seus traços. Ele não teve coragem de encará-la. A mala estava pronta, a camisa que ela usava, a expressão nos olhos dele. sentiu o chão se abrir sob seus pés. — Você está indo embora — ela murmurou, quase incapaz de acreditar nas palavras que escapavam de seus lábios.
assentiu, mas o olhar dele transmitia uma mistura de tristeza e dor. sentiu o mundo ao seu redor desmoronar, como se estivesse perdendo o chão sob seus pés.
— Por quê? — Ela mal conseguia articular as palavras, mas sua voz carregava um peso de angústia.
Ele hesitou por um momento antes de responder, as palavras saíram com a dor de uma despedida não desejada.
— , eu bati em você. Eu não posso continuar machucando você. Por mais que eu te ame, não posso permitir que isso aconteça de novo. Você merece algo melhor.
As palavras de pairaram no ar, pesadas como o silêncio que se instalou na sala. O confessionário silencioso de seus erros ecoava nas paredes, enchendo o espaço com uma atmosfera sufocante de desespero. , de olhos marejados, ouviu a confissão de como um golpe visceral.
— , não faça isso comigo — ela implorou, a voz embargada pela mistura de emoções. — Você não pode me dar o mundo e depois arrancá-lo de mim. Por favor, não faça isso comigo. Nós podemos consertar. Eu traí você, porra. Eu te traí e apresentei nossas filhas a ele. Eu mereci a briga que tivemos ontem, eu também te agredi. Por favor, . Não vá.
As palavras dela flutuaram pelo espaço, carregadas de arrependimento e súplica. O desespero de preenchia a sala, criando uma atmosfera densa. Ela se aproximou dele, tentando segurar a mão que segurava a alça da mala, mas ele se afastou.
— Não podemos continuar fazendo isso. — A voz de era um sussurro, carregado de sua própria dor. — Você merece mais do que eu posso oferecer agora.
O coração de se partiu enquanto ela tentava conter as lágrimas.
— Eu sei que machucamos um ao outro, mas nós podemos superar isso juntos. Não podemos deixar que isso destrua tudo o que construímos. Nossas filhas... elas precisam de um pai, eu preciso de você.
desviou o olhar, incapaz de suportar o tormento refletido nos olhos de .
As palavras de cortaram o ar, carregadas de dor e desespero. Seus olhos, inundados de lágrimas, buscavam desesperadamente os de , em busca de uma resposta que pudesse mudar o curso inevitável da partida iminente.
— Você jurou que nunca me abandonaria, . Você prometeu! Eu te amo, eu ainda te amo. Eu te amo mesmo com tudo que aconteceu e eu te amo além de tudo que aconteceu. — As palavras dela ecoaram na sala, criando uma harmonia trágica com o silêncio que as seguia. O apelo de estava impregnado de uma intensidade genuína, como se ela estivesse tentando segurar nas mãos a vida que ameaçava escorregar por entre seus dedos. — Nós dois fizemos coisas que não queríamos. As traições…
A voz de , baixa e cheia de culpa, interrompeu-a antes que pudesse continuar.
— Quando você descobriu? — perguntou, sua voz carregada de uma tristeza profunda. Ele evitava o contato visual, como se temesse confrontar a realidade do que havia feito. A força que ele não sabia que possuía causando danos irreparáveis.
— Eu sei desde a primeira vez. Quando você chegou em casa, você estava com o olhar perdido, com o cheiro de perfume feminino, e quando a te chamou de papai, você a abraçou e chorou. Eu descobri ali.
As palavras de cortaram como facas afiadas, revelando a extensão da ferida emocional que ela carregava desde o momento em que a primeira traição veio à tona.
— Por que você não fez nada? Digo, por que não tomou nenhuma atitude?
— Que atitude eu poderia tomar, ? Pedir o divórcio? A mal respirava sem você por perto e a tinha pouco mais de um ano. — O silêncio pesava o ar entre eles, os olhos ainda lacrimejados da mulher tentavam esconder a realidade adiada da perda iminente. — Por que me traiu?
— Eu… não queria. — Seus olhos foram fechados com pesar, mas ele se manteve parado no lugar que estava. — Depois que você engravidou da , você me olhava com desprezo, você me afastava o inteiro. Eu achei que fosse depressão pós-parto, mas não era. Conversei com a e você só estava infeliz comigo, não estava mal com ou com a gravidez. Eu tentei me aproximar, mas você parecia sentir nojo de mim. Depois de uns meses assim… Eu sinto muito.
— Não era nada com você, eu só não me sentia bem com o meu próprio corpo. Na gravidez da , eu ainda me sentia bonita e sexy, mas quando tive a … Foi diferente. Você vai mesmo embora?
— , acabou.
A realidade das palavras dele atingiu como uma onda, deixando-a cambaleante diante do abismo que se abria à sua frente.
— Você disse que me ama. Você disse que não iria embora. Você prometeu aqui no jardim dessa casa, anos atrás, que nossas filhas não cresceriam da forma que crescemos. Você disse que nossa casa seria montada de amor. Você prometeu que não me abandonaria.
A voz de carregava a força de uma lembrança, um eco do passado que agora parecia distante. A promessa feita sob o sol do jardim agora se desfazia como cinzas levadas pelo vento.
— Por Deus, . Eu te amo, caralho, mas não quero que nossas vidas sejam assim. Não quero nossas filhas crescendo no meio de mentiras.
O desespero se insinuava na voz de , um homem dividido entre o amor que ainda persistia e a necessidade de encarar as consequências de suas ações.
— Nosso amor não é uma mentira.
tentava desesperadamente reivindicar o que restava, agarrando-se ao elo que parecia se desfazer entre eles.
— Não, mas eu não consigo ficar depois do que fiz. Eu machuquei você.
As palavras dele eram carregadas de uma dor genuína, um reconhecimento da gravidade das feridas que ele infligira. Nos olhos da mulher que ele amava tinha dor, mágoa, arrependimento, angústia e ele tinha causado tudo aquilo. Era insuportável permanecer ali.
Capítulo 11
— Eu já estou chegando, você é a mulher do padre! — a voz animada de ressoou, preenchendo o vazio tenso na casa. Suas passadas infantis ecoavam pelo quintal, anunciando sua chegada iminente.
— Eu já cheguei, minhas pernas são maiores! — emendou, entrando na casa com a mesma efusividade. As risadas infantis preenchiam o ambiente, mas se extinguiram abruptamente assim que as duas crianças, acompanhadas por , entraram na sala.
As meninas, inicialmente cheias de energia e alegria, se viram diante de uma atmosfera densa e carregada. Seus olhos curiosos se voltaram para e , captando a tensão no ar. lançou um olhar significativo para , incentivando-o a se dirigir às filhas, pois duvidava da coragem dele de romper os laços com as duas pequenas.
engoliu em seco, os olhos fitando as duas crianças, que o olhavam com curiosidade e inocência. Ele se enganou ao pensar que o mais difícil seria se despedir de . A verdadeira provação estava diante dele, nas expressões confusas e expectantes de suas filhas.
— Eu vou esperar lá fora — sussurrou, sabendo que aquele momento precisaria ser apenas da família. Logo em seguida, ela se afastou.
Com um suspiro profundo, se aproximou das crianças, tentando sorrir apesar do nó em sua garganta. e trocaram olhares, sem entender completamente a gravidade do momento, mas a aura pesada na sala deixava claro que algo não estava certo.
— Oi, minhas princesas. — tentou manter a voz firme, apesar da tristeza que o envolvia. — Papai vai precisar ir embora… por um tempo.
As pequenas pestanas piscaram em confusão, mas a compreensão começava a se infiltrar em seus olhares infantis. Os olhos de rapidamente foram até a mala pronta do pai. De forma rápida, ela observou o choro que ameaçava sair da garganta da mãe e os próprios olhos lacrimejantes do pai.
— Você vai viajar? — perguntou, enquanto a mais velha das irmãs permaneceu em silêncio.
O diálogo entre as crianças e era como um eco doloroso da despedida iminente. , ainda abraçada ao pai, olhava para ele com olhos grandes e inocentes, tentando compreender o que estava acontecendo.
— Não é isso, princesa.
— Ele vai embora, — falou, por fim, sentindo a voz embargada. — Ele vai nos abandonar, que nem no meu sonho.
— … — o mais velho chamou, sentindo a dor partir seu peito. Sua esposa, no entanto, não se mexia. Ela se recusava a olhar aquela cena. — Venham aqui, as duas. — correu para os braços do pai, mas a mais velha permaneceu ao lado de sua mãe. — Filha, por favor.
Contra sua própria intuição ela se aproximou do pai, permitindo que ele as abraçasse enquanto se ajoelhava ao chão para ficar em suas alturas.
— Eu não vou mais morar aqui, mas eu ainda vou vir visitá-las. Eu as amo, amo muito, vocês são tudo para mim e eu sempre vou ser o pai de vocês duas, assim como a… sempre será a mãe de vocês. Nós não seremos mais um casal, mas ainda estaremos aqui para vocês duas. Vamos morar em casas separadas, assim como o vovô e a vovó. Eu sempre vou amar vocês duas.
A explicação de era como um fio delicado que tentava tecer um senso de normalidade na trama tumultuada das emoções. As crianças, apesar de sua tenra idade, começavam a captar a gravidade da situação.
— A mamãe também?
— Sim, ela também sempre vai amar vocês duas, .
— Você sempre vai amar a mamãe também?
A pergunta de pairou no ar, capturando a essência da angústia infantil diante da dissolução da imagem do casamento dos pais. O olhar de encontrou o de , compartilhando uma comunicação silenciosa sobre o amor que, apesar de transformado, ainda permanecia. A resposta de era carregada de uma sinceridade que tentava acalmar as incertezas crescentes no coração da menina.
— Sim, eu sempre vou amar a sua mãe também.
A explosão de emoções infantis preenchia a sala, fazendo com que o peso do momento se tornasse quase insuportável. , incapaz de conter o descontrole, deixou suas palavras escaparem como um grito de dor.
— É mentira — ela falou, segurando o descontrole infantil e a explosão que viria a qualquer momento. — Você mente, você não fala a verdade. Você não a ama. Você não ama a gente.
As palavras de , carregadas de uma mistura de raiva e tristeza, eram como punhais, penetrando fundo na atmosfera já carregada da sala. O choro da menor, , também se somava ao tumulto emocional que se desenrolava.
— , eu amo vocês.
— É MENTIRA. VOCÊ NÃO AMA! VOCÊ MENTE. — A explosão de palavras de era um eco da angústia que se desenrolava em seu coração infantil. Ela se recusava a aceitar a realidade dolorosa que se desdobrava diante dela.
— O papai nos ama, . Ele ama, sim. Não ama, papai? — , a mais nova das duas, tentava encontrar conforto na possibilidade de que o amor do pai, de alguma forma, permanecesse.
, de joelhos, abraçava as duas filhas, mas a dor refletida em seus olhos mostrava que as palavras delas eram como punhais em seu próprio coração. O turbilhão de emoções parecia incontrolável e a sala testemunhava a tristeza de uma família desfeita.
— VOCÊ DISSE QUE NÃO IRIA ME ABANDONAR. VOCÊ DISSE QUE NÃO IRIA DEIXAR A MAMÃE CHORAR. VOCÊ DISSE. VOCÊ PROMETEU E VOCÊ MENTIU!
— PARA DE MENTIR, . O PAPAI NÃO MENTE.
O grito estridente de cortou o ar, uma defesa veemente ao pai diante das acusações de . A tensão na sala atingiu um novo patamar, enquanto a energia nervosa se materializava em ações impulsivas. , consumida pela raiva e pela sensação de abandono, reagiu de forma impulsiva, empurrando a irmã mais nova.
— ELE ESTÁ ABANDONANDO VOCÊ TAMBÉM — gritou, repetindo as palavras carregadas de dor e ressentimento. , por sua vez, soluçava, tentando entender a turbulência emocional que se desenrolava à sua volta.
, até então uma espectadora silenciosa da angústia das crianças, interveio pela primeira vez. Ela se aproximou, pegando no colo, na tentativa de acalmar a confusão que se instalava.
— , pare com isso! — repreendeu, sua própria voz denotando a frustração diante da situação. — , está tudo bem. Vamos para o seu quarto.
Enquanto buscava acalmar , , em meio à explosão de emoções, correu em direção ao seu quarto e se trancou lá. A porta batendo ecoou pela casa, um eco sombrio da ferida que rasgava a família.
, oprimido pela magnitude do momento, seguiu para o quarto de . Batia na porta com a esperança de suavizar a dor que se desdobrava dentro dela.
— , por favor, me escute. Eu sei que você está magoada, mas precisamos conversar. Abre a porta, filha.
O pedido de flutuou pelo corredor vazio, mas a porta permaneceu fechada. , do lado de dentro, sentia-se afogada em uma tempestade de emoções, uma mistura tumultuada de raiva, tristeza e a sensação esmagadora de ter sido abandonada por aquele que deveria ser o seu porto seguro.
Os gritos de ressoaram dentro do quarto, uma manifestação dolorosa da tormenta emocional que a envolvia. A raiva, o ressentimento e a tristeza convergiam em suas palavras, carregadas de uma intensidade que ecoava pelos corredores vazios da casa.
— VAI EMBORA. EU ODEIO VOCÊ. VOCÊ NÃO É MEU PAI. VAI EMBORA.
As palavras dela, carregadas de uma dor que ultrapassava sua tenra idade, eram cortantes e dirigidas ao coração de . Do lado de fora da porta, ele ficou momentaneamente paralisado, absorvendo cada palavra como uma ferida que não podia curar.
O choro de ecoava pela casa, uma melodia triste que parecia harmonizar com o colapso da família. A dor que ele carregava ia além das lágrimas; era um fardo pesado de desespero e arrependimento. Ao esconder o rosto entre as mãos, ele se via diante da cruel realidade de ter perdido o amor e o respeito de sua própria filha.
, no andar de baixo, cerrava os olhos com força, incapaz de escapar das palavras ferinas de . A tristeza e a raiva misturavam-se em seu peito, formando uma tempestade emocional que deixava um rastro de devastação.
desceu as escadas e pegou a mala em mãos, seus passos pesados como se carregasse o peso do mundo. , chorando no colo de , assistia ao colapso daquilo que um dia chamou de lar.
— Eu te amo, pequena. Cuide da sua irmã, tá bom? Fala pra ela que eu a amo também. — Ele beijou a testa de , tentando deixar uma impressão de amor na filha mais nova. — Se cuida, por favor. — Um beijo na testa de foi o último gesto antes de enfrentar a porta.
— Eu nunca vou te perdoar por isso — declarou, suas palavras finalizando o corte no coração do marido.
ouviu, mas não respondeu. O peso da sua própria culpa pesava sobre ele enquanto saía pela porta, carregando consigo não apenas a mala, mas também os escombros do que um dia foi uma família unida. Ele estava acabado, dilacerado por dentro, e nem mesmo se dava ao luxo de encontrar consolo ou perdão diante do abismo que se abrira entre eles.
Enquanto o homem partia carregando a mala e a devastação das suas decisões, o eco das palavras não ditas e das lágrimas não choradas reverberava nas paredes da casa que um dia chamaram de lar. E , perdido na tristeza que ele mesmo provocou, se via afastando-se não apenas fisicamente, mas emocionalmente, da família que, de alguma forma, ainda amava apesar de todos os erros.
Estava tudo acabado.
Em ruínas.
— Eu já cheguei, minhas pernas são maiores! — emendou, entrando na casa com a mesma efusividade. As risadas infantis preenchiam o ambiente, mas se extinguiram abruptamente assim que as duas crianças, acompanhadas por , entraram na sala.
As meninas, inicialmente cheias de energia e alegria, se viram diante de uma atmosfera densa e carregada. Seus olhos curiosos se voltaram para e , captando a tensão no ar. lançou um olhar significativo para , incentivando-o a se dirigir às filhas, pois duvidava da coragem dele de romper os laços com as duas pequenas.
engoliu em seco, os olhos fitando as duas crianças, que o olhavam com curiosidade e inocência. Ele se enganou ao pensar que o mais difícil seria se despedir de . A verdadeira provação estava diante dele, nas expressões confusas e expectantes de suas filhas.
— Eu vou esperar lá fora — sussurrou, sabendo que aquele momento precisaria ser apenas da família. Logo em seguida, ela se afastou.
Com um suspiro profundo, se aproximou das crianças, tentando sorrir apesar do nó em sua garganta. e trocaram olhares, sem entender completamente a gravidade do momento, mas a aura pesada na sala deixava claro que algo não estava certo.
— Oi, minhas princesas. — tentou manter a voz firme, apesar da tristeza que o envolvia. — Papai vai precisar ir embora… por um tempo.
As pequenas pestanas piscaram em confusão, mas a compreensão começava a se infiltrar em seus olhares infantis. Os olhos de rapidamente foram até a mala pronta do pai. De forma rápida, ela observou o choro que ameaçava sair da garganta da mãe e os próprios olhos lacrimejantes do pai.
— Você vai viajar? — perguntou, enquanto a mais velha das irmãs permaneceu em silêncio.
O diálogo entre as crianças e era como um eco doloroso da despedida iminente. , ainda abraçada ao pai, olhava para ele com olhos grandes e inocentes, tentando compreender o que estava acontecendo.
— Não é isso, princesa.
— Ele vai embora, — falou, por fim, sentindo a voz embargada. — Ele vai nos abandonar, que nem no meu sonho.
— … — o mais velho chamou, sentindo a dor partir seu peito. Sua esposa, no entanto, não se mexia. Ela se recusava a olhar aquela cena. — Venham aqui, as duas. — correu para os braços do pai, mas a mais velha permaneceu ao lado de sua mãe. — Filha, por favor.
Contra sua própria intuição ela se aproximou do pai, permitindo que ele as abraçasse enquanto se ajoelhava ao chão para ficar em suas alturas.
— Eu não vou mais morar aqui, mas eu ainda vou vir visitá-las. Eu as amo, amo muito, vocês são tudo para mim e eu sempre vou ser o pai de vocês duas, assim como a… sempre será a mãe de vocês. Nós não seremos mais um casal, mas ainda estaremos aqui para vocês duas. Vamos morar em casas separadas, assim como o vovô e a vovó. Eu sempre vou amar vocês duas.
A explicação de era como um fio delicado que tentava tecer um senso de normalidade na trama tumultuada das emoções. As crianças, apesar de sua tenra idade, começavam a captar a gravidade da situação.
— A mamãe também?
— Sim, ela também sempre vai amar vocês duas, .
— Você sempre vai amar a mamãe também?
A pergunta de pairou no ar, capturando a essência da angústia infantil diante da dissolução da imagem do casamento dos pais. O olhar de encontrou o de , compartilhando uma comunicação silenciosa sobre o amor que, apesar de transformado, ainda permanecia. A resposta de era carregada de uma sinceridade que tentava acalmar as incertezas crescentes no coração da menina.
— Sim, eu sempre vou amar a sua mãe também.
A explosão de emoções infantis preenchia a sala, fazendo com que o peso do momento se tornasse quase insuportável. , incapaz de conter o descontrole, deixou suas palavras escaparem como um grito de dor.
— É mentira — ela falou, segurando o descontrole infantil e a explosão que viria a qualquer momento. — Você mente, você não fala a verdade. Você não a ama. Você não ama a gente.
As palavras de , carregadas de uma mistura de raiva e tristeza, eram como punhais, penetrando fundo na atmosfera já carregada da sala. O choro da menor, , também se somava ao tumulto emocional que se desenrolava.
— , eu amo vocês.
— É MENTIRA. VOCÊ NÃO AMA! VOCÊ MENTE. — A explosão de palavras de era um eco da angústia que se desenrolava em seu coração infantil. Ela se recusava a aceitar a realidade dolorosa que se desdobrava diante dela.
— O papai nos ama, . Ele ama, sim. Não ama, papai? — , a mais nova das duas, tentava encontrar conforto na possibilidade de que o amor do pai, de alguma forma, permanecesse.
, de joelhos, abraçava as duas filhas, mas a dor refletida em seus olhos mostrava que as palavras delas eram como punhais em seu próprio coração. O turbilhão de emoções parecia incontrolável e a sala testemunhava a tristeza de uma família desfeita.
— VOCÊ DISSE QUE NÃO IRIA ME ABANDONAR. VOCÊ DISSE QUE NÃO IRIA DEIXAR A MAMÃE CHORAR. VOCÊ DISSE. VOCÊ PROMETEU E VOCÊ MENTIU!
— PARA DE MENTIR, . O PAPAI NÃO MENTE.
O grito estridente de cortou o ar, uma defesa veemente ao pai diante das acusações de . A tensão na sala atingiu um novo patamar, enquanto a energia nervosa se materializava em ações impulsivas. , consumida pela raiva e pela sensação de abandono, reagiu de forma impulsiva, empurrando a irmã mais nova.
— ELE ESTÁ ABANDONANDO VOCÊ TAMBÉM — gritou, repetindo as palavras carregadas de dor e ressentimento. , por sua vez, soluçava, tentando entender a turbulência emocional que se desenrolava à sua volta.
, até então uma espectadora silenciosa da angústia das crianças, interveio pela primeira vez. Ela se aproximou, pegando no colo, na tentativa de acalmar a confusão que se instalava.
— , pare com isso! — repreendeu, sua própria voz denotando a frustração diante da situação. — , está tudo bem. Vamos para o seu quarto.
Enquanto buscava acalmar , , em meio à explosão de emoções, correu em direção ao seu quarto e se trancou lá. A porta batendo ecoou pela casa, um eco sombrio da ferida que rasgava a família.
, oprimido pela magnitude do momento, seguiu para o quarto de . Batia na porta com a esperança de suavizar a dor que se desdobrava dentro dela.
— , por favor, me escute. Eu sei que você está magoada, mas precisamos conversar. Abre a porta, filha.
O pedido de flutuou pelo corredor vazio, mas a porta permaneceu fechada. , do lado de dentro, sentia-se afogada em uma tempestade de emoções, uma mistura tumultuada de raiva, tristeza e a sensação esmagadora de ter sido abandonada por aquele que deveria ser o seu porto seguro.
Os gritos de ressoaram dentro do quarto, uma manifestação dolorosa da tormenta emocional que a envolvia. A raiva, o ressentimento e a tristeza convergiam em suas palavras, carregadas de uma intensidade que ecoava pelos corredores vazios da casa.
— VAI EMBORA. EU ODEIO VOCÊ. VOCÊ NÃO É MEU PAI. VAI EMBORA.
As palavras dela, carregadas de uma dor que ultrapassava sua tenra idade, eram cortantes e dirigidas ao coração de . Do lado de fora da porta, ele ficou momentaneamente paralisado, absorvendo cada palavra como uma ferida que não podia curar.
O choro de ecoava pela casa, uma melodia triste que parecia harmonizar com o colapso da família. A dor que ele carregava ia além das lágrimas; era um fardo pesado de desespero e arrependimento. Ao esconder o rosto entre as mãos, ele se via diante da cruel realidade de ter perdido o amor e o respeito de sua própria filha.
, no andar de baixo, cerrava os olhos com força, incapaz de escapar das palavras ferinas de . A tristeza e a raiva misturavam-se em seu peito, formando uma tempestade emocional que deixava um rastro de devastação.
desceu as escadas e pegou a mala em mãos, seus passos pesados como se carregasse o peso do mundo. , chorando no colo de , assistia ao colapso daquilo que um dia chamou de lar.
— Eu te amo, pequena. Cuide da sua irmã, tá bom? Fala pra ela que eu a amo também. — Ele beijou a testa de , tentando deixar uma impressão de amor na filha mais nova. — Se cuida, por favor. — Um beijo na testa de foi o último gesto antes de enfrentar a porta.
— Eu nunca vou te perdoar por isso — declarou, suas palavras finalizando o corte no coração do marido.
ouviu, mas não respondeu. O peso da sua própria culpa pesava sobre ele enquanto saía pela porta, carregando consigo não apenas a mala, mas também os escombros do que um dia foi uma família unida. Ele estava acabado, dilacerado por dentro, e nem mesmo se dava ao luxo de encontrar consolo ou perdão diante do abismo que se abrira entre eles.
Enquanto o homem partia carregando a mala e a devastação das suas decisões, o eco das palavras não ditas e das lágrimas não choradas reverberava nas paredes da casa que um dia chamaram de lar. E , perdido na tristeza que ele mesmo provocou, se via afastando-se não apenas fisicamente, mas emocionalmente, da família que, de alguma forma, ainda amava apesar de todos os erros.
Estava tudo acabado.
Em ruínas.
Capítulo 12
A luz suave do dia começou a filtrar através das cortinas, iluminando o quarto de e misturando os tons laranjas do dia aos tons rosa do lugar. A voz de , repleta de carinho, rompeu o silêncio da manhã.
— , meu amor. Bom dia. — tentou transmitir tranquilidade, mas havia uma preocupação latente em sua voz. acordou, ainda de maneira sonolenta, e percebeu a ausência do pai, uma figura que costumava ser a primeira a cumprimentá-la pela manhã. — Você está melhor? — perguntou, com ternura, mas a pergunta despertou a lembrança do dia anterior.
A pequena sentou em sua cama, revelando o semblante triste, que contrastava de forma pesada com sua habitual doçura.
— Ele foi mesmo embora? — A pergunta de carregava a angústia de uma criança que tentava entender o impacto da ausência do pai. sentiu o nó apertar em sua garganta, sua mente pensou em diversas respostas, mas nenhuma era fácil de ser dada. Ela olhou para o teto por um momento, tentando controlar a emoção antes de falar, consciente de que precisava ser forte para consolar a filha, mesmo que ela própria também estivesse em pedaços.
— Seu pai…
— Ele não é mais meu pai. — A interrupção de foi afiada, revelando a sua mágoa.
— Ele sempre será o seu pai. Nós não seremos mais um casal, mas isso não muda o amor dele por você. Ele ama você.
— Quem ama não vai embora. — As palavras da menina eram um eco triste da compreensão que ela estava começando a formar sobre complexidade e partida.
suspirou, tentando encontrar as respostas certas para confortar a filha.
— Às vezes as pessoas seguem caminhos diferentes, mas isso não significa que o amor delas diminua. — A pequena ouvia atentamente, seus olhos eram uma mistura de confusão e tristeza. acariciou suavemente os cabelos bagunçados da filha, tentando oferecer um conforto que, neste momento, ela própria ansiava. — Eu sei que é difícil entender, meu amor. Às vezes, os adultos cometem erros e isso nos afeta, mas o amor entre pais e filhos permanece, mesmo quando outras coisas mudam. — permaneceu em silêncio, absorvendo as palavras da mãe. A verdade ainda era uma ferida fresca, sangrando de uma forma que ela, com toda sua ingenuidade, era incapaz de entender. — Eu sei que você está magoada e está tudo bem sentir isso. Se precisar chorar, fique à vontade. Estou aqui para você agora. E seu pai, mesmo que não esteja aqui fisicamente, sempre fará parte da sua vida.
sentiu seu coração se apertar, sendo esmagado dentro do peito de uma forma que ela não compreendia. A pequena fechou os olhos, lutando contra as lágrimas.
— Por que ele foi embora? — A voz dela era um sussurro cheio de dor.
inspirou fundo, se preparando para abordar um tópico delicado.
— Às vezes, as pessoas precisam de tempo para resolver suas próprias questões. Seu pai sentiu que precisava fazer isso sozinho. Isso não tem nada a ver com o quanto ele ama você. — assentiu levemente, mas a dor ainda era visível em seus olhos.
— , O PAPAI CHEGOU. — A empolgação de era gritante. A mais velha apenas olhou para a mãe de forma reflexiva e, como uma súplica, se aproximou mais da mulher.
— Eu ainda não quero que ele seja meu pai, mamãe. — As palavras de foram sussurradas em um tom baixo, como um segredo compartilhado apenas com a mãe. olhou a irmã com estranhamento, incapaz de compreender completamente as emoções que envolviam a família.
, ciente da dor e da confusão da filha, a abraçou com suavidade.
— Está tudo bem, meu amor. Você precisa de tempo pra processar tudo isso. O papai está aqui agora e ele quer falar com você, mas você decide como quer lidar com isso, está bem? Se não estiver pronta, tudo bem. Eu estou aqui para apoiar você.
assentiu lentamente com gratidão.
O cenário da manhã continuou a se desenrolar à medida que e suas filhas desciam para a sala. A luz do dia preenchia o ambiente, contrastando com a tensão que o escurecia. , após ajudar a escovar os dentes, notou que a menina, normalmente carinhosa, estava ainda mais reservada e introspectiva.
— Está tudo bem? — A gentileza na voz da mãe foi evidente, mas a pequena apenas assentiu, com seus olhos revelando uma mistura de tristeza e confusão.
A família se reuniu na sala e foi lá que encontraram , que aguardava em pé, coberto por um silêncio desconfortável. Ele estava distante aos móveis, distante ao espaço da casa. Apenas um dia fora e tudo parecia ter mudado.
, ainda irradiando alegria pela presença do pai, correu na direção dele, saltando em seu colo.
— Papai! Eu estava morrendo de saudades! — ela exclamou, o abraçando com força e efusividade.
, por sua vez, tentou sorrir, mas seus olhos buscavam , cujo cumprimento ausente não passou despercebido.
— E você, princesa? Como você está? — dirigiu-se a , mas ela permaneceu em silêncio, o ignorando por completo.
tentou se aproximar de , mas ela o ignorou, dando as costas e indo em direção à sua mãe. A dor da rejeição ardeu fundo no peito de , mas ele decidiu persistir, era a sua filha e ele não desistiria dela, mesmo que demorasse muito.
— , meu amor, podemos conversar? — A menina permaneceu em silêncio, ainda ignorando a presença do pai. , vendo a dificuldade da situação, tentou mediar.
— Talvez seja melhor dar um tempo. Ela está passando por muitas emoções agora.
assentiu, mas não pôde evitar a dor que sentia a cada afastamento da filha.
— Eu só quero que saiba que eu…
se afastou mais, aumentando a distância entre eles, pedindo o colo da mãe, que prontamente a pegou. O gesto foi claro; ela não estava pronta para ouvir o que ia dizer. acariciou as costas da filha com carinho.
— Mamãe, pede para o parar. Eu não quero ouvir ele — falou, com uma firmeza surpreendente, sua voz carregava toda a rejeição que doía mais do que qualquer palavra proferida.
sentiu seu coração parar. O nó em sua garganta foi grande o suficiente para parar sua respiração por alguns segundos. Aquelas palavras o cortaram como facas afiadas. A menina que, orgulhosamente, o chamava de pai, agora o chamava pelo nome, como se ele tivesse deixado de ser a figura paterna que um dia fora.
— … — murmurou, vendo a expressão devastada no rosto do marido.
Ele engoliu em seco, tentando esconder a dor que o consumia.
— Tudo bem, . Eu… eu vou dar tempo a ela. — A voz de estava carregada de tristeza, aceitando o afastamento doloroso que se tornava presente entre ele e a filha.
Não havia o que fazer para diminuir a dor. As escolhas, feitas ao longo do tempo, haviam conduzido até aquele ponto, e agora, diante das consequências, tudo que restava era assumir. A sala estava carregada com a sombra das palavras não ditas e das emoções não expressas. Cada olhar, cada silêncio, eram testemunhas da fragmentação de uma família que um dia fora unida, mas que agora era apenas um lembrete disso: do passado.
, em meio à dor, respirou fundo, aceitando o peso de suas decisões. O caminho para a reconciliação parecia distante, e a cicatriz da rejeição de marcava uma ferida que não podia ser ignorada.
— , meu amor. Bom dia. — tentou transmitir tranquilidade, mas havia uma preocupação latente em sua voz. acordou, ainda de maneira sonolenta, e percebeu a ausência do pai, uma figura que costumava ser a primeira a cumprimentá-la pela manhã. — Você está melhor? — perguntou, com ternura, mas a pergunta despertou a lembrança do dia anterior.
A pequena sentou em sua cama, revelando o semblante triste, que contrastava de forma pesada com sua habitual doçura.
— Ele foi mesmo embora? — A pergunta de carregava a angústia de uma criança que tentava entender o impacto da ausência do pai. sentiu o nó apertar em sua garganta, sua mente pensou em diversas respostas, mas nenhuma era fácil de ser dada. Ela olhou para o teto por um momento, tentando controlar a emoção antes de falar, consciente de que precisava ser forte para consolar a filha, mesmo que ela própria também estivesse em pedaços.
— Seu pai…
— Ele não é mais meu pai. — A interrupção de foi afiada, revelando a sua mágoa.
— Ele sempre será o seu pai. Nós não seremos mais um casal, mas isso não muda o amor dele por você. Ele ama você.
— Quem ama não vai embora. — As palavras da menina eram um eco triste da compreensão que ela estava começando a formar sobre complexidade e partida.
suspirou, tentando encontrar as respostas certas para confortar a filha.
— Às vezes as pessoas seguem caminhos diferentes, mas isso não significa que o amor delas diminua. — A pequena ouvia atentamente, seus olhos eram uma mistura de confusão e tristeza. acariciou suavemente os cabelos bagunçados da filha, tentando oferecer um conforto que, neste momento, ela própria ansiava. — Eu sei que é difícil entender, meu amor. Às vezes, os adultos cometem erros e isso nos afeta, mas o amor entre pais e filhos permanece, mesmo quando outras coisas mudam. — permaneceu em silêncio, absorvendo as palavras da mãe. A verdade ainda era uma ferida fresca, sangrando de uma forma que ela, com toda sua ingenuidade, era incapaz de entender. — Eu sei que você está magoada e está tudo bem sentir isso. Se precisar chorar, fique à vontade. Estou aqui para você agora. E seu pai, mesmo que não esteja aqui fisicamente, sempre fará parte da sua vida.
sentiu seu coração se apertar, sendo esmagado dentro do peito de uma forma que ela não compreendia. A pequena fechou os olhos, lutando contra as lágrimas.
— Por que ele foi embora? — A voz dela era um sussurro cheio de dor.
inspirou fundo, se preparando para abordar um tópico delicado.
— Às vezes, as pessoas precisam de tempo para resolver suas próprias questões. Seu pai sentiu que precisava fazer isso sozinho. Isso não tem nada a ver com o quanto ele ama você. — assentiu levemente, mas a dor ainda era visível em seus olhos.
— , O PAPAI CHEGOU. — A empolgação de era gritante. A mais velha apenas olhou para a mãe de forma reflexiva e, como uma súplica, se aproximou mais da mulher.
— Eu ainda não quero que ele seja meu pai, mamãe. — As palavras de foram sussurradas em um tom baixo, como um segredo compartilhado apenas com a mãe. olhou a irmã com estranhamento, incapaz de compreender completamente as emoções que envolviam a família.
, ciente da dor e da confusão da filha, a abraçou com suavidade.
— Está tudo bem, meu amor. Você precisa de tempo pra processar tudo isso. O papai está aqui agora e ele quer falar com você, mas você decide como quer lidar com isso, está bem? Se não estiver pronta, tudo bem. Eu estou aqui para apoiar você.
assentiu lentamente com gratidão.
O cenário da manhã continuou a se desenrolar à medida que e suas filhas desciam para a sala. A luz do dia preenchia o ambiente, contrastando com a tensão que o escurecia. , após ajudar a escovar os dentes, notou que a menina, normalmente carinhosa, estava ainda mais reservada e introspectiva.
— Está tudo bem? — A gentileza na voz da mãe foi evidente, mas a pequena apenas assentiu, com seus olhos revelando uma mistura de tristeza e confusão.
A família se reuniu na sala e foi lá que encontraram , que aguardava em pé, coberto por um silêncio desconfortável. Ele estava distante aos móveis, distante ao espaço da casa. Apenas um dia fora e tudo parecia ter mudado.
, ainda irradiando alegria pela presença do pai, correu na direção dele, saltando em seu colo.
— Papai! Eu estava morrendo de saudades! — ela exclamou, o abraçando com força e efusividade.
, por sua vez, tentou sorrir, mas seus olhos buscavam , cujo cumprimento ausente não passou despercebido.
— E você, princesa? Como você está? — dirigiu-se a , mas ela permaneceu em silêncio, o ignorando por completo.
tentou se aproximar de , mas ela o ignorou, dando as costas e indo em direção à sua mãe. A dor da rejeição ardeu fundo no peito de , mas ele decidiu persistir, era a sua filha e ele não desistiria dela, mesmo que demorasse muito.
— , meu amor, podemos conversar? — A menina permaneceu em silêncio, ainda ignorando a presença do pai. , vendo a dificuldade da situação, tentou mediar.
— Talvez seja melhor dar um tempo. Ela está passando por muitas emoções agora.
assentiu, mas não pôde evitar a dor que sentia a cada afastamento da filha.
— Eu só quero que saiba que eu…
se afastou mais, aumentando a distância entre eles, pedindo o colo da mãe, que prontamente a pegou. O gesto foi claro; ela não estava pronta para ouvir o que ia dizer. acariciou as costas da filha com carinho.
— Mamãe, pede para o parar. Eu não quero ouvir ele — falou, com uma firmeza surpreendente, sua voz carregava toda a rejeição que doía mais do que qualquer palavra proferida.
sentiu seu coração parar. O nó em sua garganta foi grande o suficiente para parar sua respiração por alguns segundos. Aquelas palavras o cortaram como facas afiadas. A menina que, orgulhosamente, o chamava de pai, agora o chamava pelo nome, como se ele tivesse deixado de ser a figura paterna que um dia fora.
— … — murmurou, vendo a expressão devastada no rosto do marido.
Ele engoliu em seco, tentando esconder a dor que o consumia.
— Tudo bem, . Eu… eu vou dar tempo a ela. — A voz de estava carregada de tristeza, aceitando o afastamento doloroso que se tornava presente entre ele e a filha.
Não havia o que fazer para diminuir a dor. As escolhas, feitas ao longo do tempo, haviam conduzido até aquele ponto, e agora, diante das consequências, tudo que restava era assumir. A sala estava carregada com a sombra das palavras não ditas e das emoções não expressas. Cada olhar, cada silêncio, eram testemunhas da fragmentação de uma família que um dia fora unida, mas que agora era apenas um lembrete disso: do passado.
, em meio à dor, respirou fundo, aceitando o peso de suas decisões. O caminho para a reconciliação parecia distante, e a cicatriz da rejeição de marcava uma ferida que não podia ser ignorada.
Capítulo 13
ANTES
— Qual o pior vício que considera em alguém? — A pergunta foi involuntária, aumentando mais um dos momentos de intimidade que tínhamos. Eu gostava quando ele me fazia essas perguntas. Eram interessantes e me faziam pensar.
— Eu odeio cigarros. — A resposta foi honesta e não precisei pensar nela por muito tempo. — Meu pai sempre fumava quando estava muito magoado com a minha mãe.
— Você sente falta dele? — Eu sentia? Demoro um pouco mais nessa resposta. Meu pai tinha ido embora quando eu ainda era muito nova, e quando estava em casa, sua figura era sempre ausente. Sentir falta dele era incerto, pois nunca soube, de fato, o que era tê-lo por perto. — Acho que não sentimos falta do que nunca tivemos. — me olhou compreensivamente, mas a reflexão da pergunta ainda rodava a minha mente. — Tem dias que me pego pensando sobre as ausências. Sobre o que teria sido se ele tivesse ficado — confessei, mantendo os olhos fixos em algum ponto distante. — Mas a verdade é que o cheiro do cigarro, de alguma forma, se tornou uma forma de partida. Quando ele partiu, o cheiro foi embora também. Passei a ter raiva desse cheiro porque foi com ele que aprendi que alguns espaços não são preenchidos. Às vezes sinto o cheiro de cigarro em algum lugar e, por um breve instante, quase consigo ouvir a voz do meu pai.
me escutou em silêncio. Não era apenas sobre a aversão ao vício em si, ou ao que isso impactava na saúde das pessoas, era também sobre as memórias atrelados ao cheiro. Acho que, no fim, todos são assim em relação a vícios de desagrado. Não desgostamos de algo sem motivo, sempre tem alguma dor atrelada. Invisível ou não.
— Às vezes, as ausências nos ensinam mais do que as presenças — murmurou, sua voz gentil como uma brisa que acaricia a superfície da água gelada do inverno. — Eu não posso mudar quem seu pai foi pra você, ou quem sua mãe foi, mas posso mudar quem serei para os filhos que tivermos um dia. E eu prometo que eles nunca vão aprender com a ausência. — Ele não falou da boca para fora, seus olhos tinham um compromisso tão sólido quanto a terra sob nossos pés.
Eu não tinha tido um bom pai, não tinha tido um bom pai, mas nossos filhos teriam. Eles teriam mais do que tivemos e isso era a minha esperança.
Por um bom tempo achei que não podia ser mãe porque não tinha um bom exemplo em casa. Pensei que cometeria os mesmos erros que minha mãe cometeu, que por não ter tido tanto amor, eu não saberia dar. A verdade era que ainda não podia afirmar com certeza como seria quando a maternidade fizesse parte da minha vida. No entanto, uma certeza emergia em minha mente: duvidava muito que o ciclo de ausência de amor se repetiria. Sabia, com convicção, que seria uma boa mãe e ofereceria o amor que nunca tive. Seria uma boa mãe, não porque havia sido amada, mas porque eu sabia o que era não ser amada e de forma alguma deixaria meus filhos saberem disso também. Eu não tive um exemplo da mãe que eu queria ser, mas tive um exemplo do que eu não queria.
— Obrigada — mencionei de forma franca, mais baixa. Eu não estava agradecendo pelas suas palavras em específico, mas pelo conjunto de coisas que era e representava.
— Obrigado — ele respondeu no mesmo tom, me fazendo rir assim que suas mãos foram envoltas em minha cintura e ele me moveu para cima dele. Tive mais tempo para observá-lo.
Entre as poucas certezas que tinha na vida, a maior delas era . Não podia ser outra coisa senão destino. Não se tratava apenas da forma como nos conhecemos, nem sobre como duas almas quebradas conseguiram parecer tão boas uma para a outra. Era sobre a maneira como ele tornava meu mundo mais leve. Quando nos conhecemos, algo extraordinário aconteceu. Era como se o universo, em toda sua complexidade, tivesse conspirado para juntar duas peças que se encaixavam perfeitamente.
não havia sido apenas o meu primeiro namorado, ele era a âncora que mantinha minha existência equilibrada. Havia algo mágico na forma que ele tocava minha alma, curando feridas que nem mesmo eu sabia que existiam.
Ele não era apenas o amor da minha vida, era minha certeza em meio à incerteza, minha luz nas noites mais escuras. era mais do que um amor, era a razão pela qual as incertezas se dissipavam quando ele segurava minha mão.
E, céus! Eu queria segurar essa mão por toda a minha vida.
Capítulo 14
AGORA
— Você acha que tem volta? Já se passaram alguns dias… — A pergunta de parou no ar, fazendo a loira se encolher exausta em sua cama.
— Provavelmente não. — A resposta era sincera, mas havia um fio invisível de esperança em sua voz. Era impossível não haver. — Ele foi embora. Ele ouviu as filhas chorando e foi embora. — A constatação ecoou no quarto, destacando a crueldade da realidade. A dor das lágrimas das filhas traziam o som inconfundível da família se desfazendo.
— E quanto a ? Ainda pretende vê-lo? — se acomodou na cama, olhando para o teto como se o gesso branco pudesse lhe dar as respostas que precisava.
— Não sei, amiga. As coisas mudaram tanto… não sei se posso continuar com essa história. Não quero continuar — murmurou, com sua voz em um tom cansado que carregava o peso das escolhas difíceis que ela sabia que teria que fazer por si e, principalmente, por suas filhas. — Tantas coisas desmoronaram e eu não faço a menor ideia de onde começar a reconstruir.
— Sabe que não está sozinha, certo? — O aceno de cabeça de foi o suficiente para puxar a amiga para um abraço. Elas eram como irmãs, inseparáveis desde o dia que se conheceram, quando ainda estava tentando encontrar o vestido de noivas perfeito. — Ele veio buscar as meninas?
— Mamãe? — As duas foram interrompidas quando surgiu, pequena mediante à porta aberta.
— Sim, meu amor?
— Posso ficar com você? — A pergunta trouxe um sorriso nos lábios de , mas ela sabia o motivo do pedido. estava perto de chegar e as levaria para passar o dia com ele. estava evitando ficar no mesmo ambiente com o pai, como se a dor da presença dele fosse insuportável.
— Eu vou deixar vocês duas juntinhas e vou falar com a .
Quando saiu, entrou em passos lentos, subindo na cama junto à mãe e se agarrando a ela. Era doloroso ver a filha assim, ela tinha poucos anos, mas já estava lidando com uma carga emocional enorme e não tinha nada a ser feito.
— Está aqui para não ver o seu pai? — A pergunta era sincera, não havia como falar de outra forma. Ela precisava falar sobre o assunto, mesmo que isso também doesse nela.
— Ele não é o meu pai. Ele é o pai da . — O sussurro saiu baixo, rasgando o coração da mais velha. A voz da menina era quase embargada pela mágoa.
— Filha… Ele sempre vai ser o seu pai, mesmo que ele não more aqui. Ele ama você e a sua irmã e esse sentimento é algo que nunca vai mudar. — As palavras de eram uma tentativa de suavizar a dor que pairava entre elas, mas ela sabia que a ferida era profunda e que suas palavras, por mais sinceras que fossem, não podiam apagar o amargor de ver um pai saindo pela porta. se aproximou mais, buscando consolo nos braços da mãe. Seu abraço era uma mistura de tristeza e desamparo. — Eu sinto muito, . — acariciou os cabelos da filha, tentando transmitir conforto, mesmo que ela própria se sentisse perdida. — Às vezes, as coisas quebram, mas isso não significa que o amor se desfaz.
— Mas ele foi embora quando a gente precisava dele. — A voz da pequena carregava uma mistura de sentimentos grandes demais para uma criança carregar.
A mulher suspirou, sentindo o peso da dor da filha arder em seus ombros. As lágrimas ameaçavam escorrer, mas ela se esforçou para ser o pilar de força que a filha precisava.
— Pessoas cometem erros e esses erros machucam, mas isso não significa que o amor desaparece. — absorveu as palavras da mãe, mas a confusão ainda permanecia estampada em seu rosto.
— Eu queria que ele ficasse.
— Eu sei, meu amor. — acariciou suavemente os cabelos de , oferecendo um consolo que, mesmo para uma mãe, parecia insuficiente diante das circunstâncias. — Vamos ver a sua irmã? Ela também precisa de nós.
, ainda desconfiada, acenou com a cabeça, dando a mão para a mãe para que juntas fossem até a cozinha. Ao chegarem, já estava lá, encolhido como se não fizesse mais parte daquele ambiente, daquela família. Talvez porque não fizesse.
— Bom dia — ele sussurrou, seu olhar foi ao resto da esposa e desviou para a sua filha mais velha, que continuava a ignorá-lo. — Eu… queria levar as meninas para ficarem comigo, se estiver tudo bem para você.
não falou, apenas balançou a cabeça em afirmação. Jamais impediria de ver as filhas ou de passar tempo com elas. Apesar de serem apenas três dias sem ele em casa, ainda era uma dor recente e inflamada.
— , sua avó queria te ver também. — A tentativa dele, no entanto, era em vão. A menina ainda não falava com ele, por maior que fosse o seu esforço.
— Mamãe, eu posso ficar com você? Eu não quero ir com o . — finalmente quebrou o silêncio, expressando seu desejo com um tom de súplica.
olhou para , percebendo a dificuldade que ele enfrentava para se reconectar com a filha, mas não podia ignorar os sentimentos da pequena ou obrigá-la. Sabia que seria pior ainda para a confusão emocional e mental que ela já tinha.
— Claro, meu amor. Se é isso que você quer, pode ficar comigo — respondeu, tentando amenizar a situação da forma mais gentil possível.
O olhar da mulher encontrou o de , carregando uma mistura de compaixão e tristeza. , engolindo o nó na garganta, assentiu, compreendendo.
— Papai, papai! Corta as minhas panquecas? — A voz animada de era um raio de sol em meio às nuvens sombrias que pairavam sobre a família.
, ainda carregando a dor pela rejeição de , forçou um sorriso e se aproximou da pequena.
— Claro, pequena — ele respondeu, tentando esconder a tristeza nos olhos enquanto ajudava com as panquecas.
Enquanto isso, se retirou para o quintal, buscando um refúgio silencioso para suas próprias reflexões. a seguiu, mantendo uma distância respeitosa, permitindo à filha o espaço necessário para processar seus sentimentos.
Decidindo dar a um momento de privacidade, se dirigiu à porta dos fundos. Ao sair para o quintal, acendeu um cigarro, buscando um breve refúgio na fumaça enquanto contemplava de longe. A cena era triste e familiar, não era a primeira vez que fumava. Apesar de nunca gostar do cheiro, o sabor tinha se tornado um vício que a aliviava das emoções que passava. Apesar de prejudicial, ter o amargor em seus lábios diminuía o amargor de sua mente.
Quando se é pequeno, você não pensa que seus pais foram ausentes porque tinham os motivos dele, você se culpa, pensa que não era importante ou suficiente para que seus pais te dessem amor. Não se torna algo sobre eles, se torna algo sobre você. Foi uma culpa que ela sentiu, mas se sentia despedaçada com a possibilidade de sua filha também se sentir dessa forma.
A fumaça do cigarro se dissipava no ar, assim como as esperanças que um dia ela tinha para seu casamento e sua família.
Capítulo 15
AGORA
— Ela dormiu? — A pergunta rouca de preencheu seus ouvidos, então ela apenas balançou a cabeça de forma positiva. se escondia quando o pai avisava que vinha e dormia cedo para não o ver sair novamente. — Podemos conversar?
Havia um tom carinhoso em sua voz, mas a mágoa ainda era dura demais para uma conversa. No entanto, sabendo que não podia evitar, concordou e ambos caminharam até a sala.
O ambiente estava impregnado com a tensão que se tornara uma presença constante na casa. e , dois estranhos que compartilhavam um passado feliz e um presente doloroso, se sentaram em lados opostos do sofá.
— , eu... — começou, mas as palavras pareciam escorregar de sua língua antes que ela pudesse formar uma frase coerente.
— Eu sei que as coisas não estão bem entre nós — interrompeu, sua voz pesada com um peso que ambos carregavam. — Mas eu queria tentar fazer isso direito, . Pelas nossas filhas.
fechou os olhos por um momento, sentindo a dor latente no fundo de seu ser. Com os olhos ainda úmidos de lágrimas contidas, lançou um olhar acusador para .
— Um pouco tarde para isso, não acha?
— Nós dois erramos, não dá pra consertar, mas pelo menos podemos tentar não piorar.
— Nós dois erramos? Foi você quem abandonou as suas filhas chorando e foi embora sem olhar para trás. Você só pensou em si mesmo.
— Eu não as abandonei, eu evitei que elas vissem os seus pais se desrespeitando. Que elas crescessem em meio a um casamento infeliz achando que isso é amor, quando não é! O que ia dizer quando elas começassem a perguntar o porquê estávamos gritando?
— Pra você nunca existe uma opção melhor. Podíamos ao menos ter tentado, . Mas é isso que você faz, você vai embora. Você falou tanto do seu pai, mas se tornou igual a ele.
— Quer falar sobre mudanças comportamentais? Eu achei que você odiasse cigarros, mas pelo visto aprendeu a fumar e nem se alimentando está. Você perdeu peso, acha que isso é tentar? Porra, .
— Não sou mais sua preocupação, . Se eu quiser fumar, eu vou. Se eu não quiser comer, eu não vou comer.
— É minha preocupação quando você é a mãe das minhas filhas. Você acha que ser uma mãe irresponsável vai resolver alguma coisa? — questionou, sua expressão estava carregada de desaprovação. Ele sabia que era uma mãe maravilhosa e jamais questionaria isso se não fossem as circunstâncias acaloradas da briga. — Você está permitindo que elas vejam você se afundar! Você acha mesmo que isso é ser uma boa mãe?
— Eu não preciso dos seus conselhos sobre como ser mãe — retrucou, sentindo a raiva surgir em seu rosto. — Aliás, quer saber? E você, hm? Acha mesmo que está fazendo o papel de pai? A sequer fala com você, ela te rejeita completamente. É isso que você chama de ser um bom pai? Elas já me viram sofrer, . Elas já viram você indo embora. Você acha que eu não percebo o olhar delas, a confusão nos olhos inocentes delas? Talvez seja melhor elas me verem afundando do que repetir o ciclo de abandono que você começou.
, ferido pelas palavras de , sentiu um aperto no peito. As palavras dela o acertaram em cheio e, apesar da dor, ele engoliu a verdade a seco, respirando fundo e se aproximando da mulher com os olhos fechados.
— Não se afunde nesse abismo, . Por favor, não faça isso consigo mesma — sussurrou com tristeza e preocupação. As testas colidiram suavemente, numa tentativa de compartilhar o fardo pesado que ambos carregavam. Apesar das dores inflamadas, ele sabia que a melhor forma de desarmar a autodefesa de era cedendo pouco a pouco. — Você precisa se alimentar, você odeia cigarros, não se afunde. Não quis dizer que só me importo pelas meninas, peço porque eu me importo com você. — , incapaz de conter as lágrimas, desabou nos braços de . Ele a apertou mais forte, sentindo o peso da culpa em seu peito. — Desculpe — murmurou, sentindo suas palavras abafadas pelos soluços de . — Sinto muito, por tudo.
O abraço entre e permaneceu por um instante mais, como se ambos estivessem relutantes em se soltar desse refúgio temporário. No entanto, a realidade os chamava de volta, e rompeu suavemente o abraço.
— Eu preciso ir ver o apartamento que vou alugar — ele disse, com voz contida, seus olhos encontrando os de . Ela assentiu, tentando sorrir mesmo que seus olhos ainda estivessem marejados. beijou delicadamente a testa dela, sentindo o familiar cheiro do shampoo que sempre associou ao aconchego do lar que construíram juntos. — Se cuide, . Por favor, não suportaria se algo acontecesse com você.
Ao ver se afastando, sentiu o peso da culpa pesar sobre seus ombros. As palavras ditas durante a discussão, especialmente aquelas sobre a filha mais velha, ecoavam em sua mente, trazendo uma dor aguda. Um instante de clareza a envolveu e ela reconheceu a veracidade nas palavras de .
Com um suspiro resignado, dirigiu-se até a embalagem de cigarros que havia comprado anteriormente. Pegou-os com mãos trêmulas e, olhando para aquelas pequenas varetas de fumo, reconheceu a autodestruição que estivera prestes a abraçar.
Num gesto determinado, ela jogou todos os cigarros fora, como se estivesse se livrando não apenas do tabaco, mas também de uma parte da dor que a consumia.
, com seus olhos sonolentos, se aproximou da mãe, que a acolheu nos braços com carinho. , envolvendo a filha mais nova com ternura, depositou beijos suaves em sua testa, como se cada beijo carregasse consigo uma promessa de amor e segurança.
— Mamãe, por que a ficou brava com o papai? — perguntou , com os olhinhos curiosos fixos em .
, acariciando suavemente os cabelos da filha, suspirou antes de responder.
— É uma situação complicada, meu amor. Às vezes, as pessoas ficam magoadas e é difícil lidar com esses sentimentos.
— A disse que o papai não é mais o pai dela. Isso é verdade?
fechou os olhos por um momento, ponderando como explicar aquela situação delicada.
— Não, querida. O papai sempre será o pai da , mesmo que as coisas estejam difíceis agora. Às vezes, as pessoas dizem coisas no calor do momento, mas isso não muda o amor que temos uns pelos outros.
— Eu não quero que a fique triste, mamãe.
sorriu gentilmente para , apertando-a nos braços.
— Eu também não, meu amor. Vamos dar um tempo para que as coisas se acalmem, e tenho certeza de que, com o tempo, tudo vai melhorar.
olhou para a mãe com seus olhinhos cheios de compaixão.
— Mamãe, o papai vai voltar?
hesitou por um momento antes de responder, escolhendo suas palavras com cuidado.
— Não tenho certeza, querida. Mas, independentemente do que acontecer, nós sempre estaremos aqui para vocês duas.
assentiu com compreensão, mas seus olhinhos ainda carregavam uma preocupação infantil.
— Eu amo o papai, mamãe.
sorriu, beijando a testa de .
— E o papai também ama você, meu amor. Mesmo que as coisas estejam difíceis agora, o amor entre vocês nunca vai mudar.
— Eu só quero que a e o papai fiquem felizes de novo.
era a menor, talvez por isso acabasse se deixando afetar menos pelo que acontecia ao seu redor. A menina não entendia bem sobre a briga dos pais ou a separação deles e não deixava que ela sentisse tanto a ausência dele, já que todos os dias ele colocava a filha na cama. Tudo para que ela sentisse menos o impacto da ausência diária do homem.
Continua...
Nota da autora: Sem nota.
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