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Última atualização: novembro/2023

Avisos

A leitura a seguir possui plot principal de pai que não sabe que é pai, além disso também aborda temas delicados como a perda, leucemia infantil e envolve esportes, mais especificamente Fórmula 1. Fast Lane também tem cenas explícitas de sexo, uso de álcool e discussões sobre abandono parental. Não leia se for um gatilho para você.


Capítulo 1 –

Racing Hearts: A Twist of Fate

É irônico quando alguém fala que a melhor parte do corpo de alguém é um sorriso, mas há uma boa dose de verdade nisso. Sorrisos errados podem destruir vidas certas. Todos, repito, absolutamente todos possuem uma história em que um simples sorriso foi capaz de instaurar um caos na própria vida.
Eu tenho uma dessas, e ela começa da forma mais ridícula que poderia começar.


Antes

Buren não era exatamente uma cidade famosa pelas atrações ou o tamanho de sua população, na verdade, era mínima e não tinha mais que seus vinte mil habitantes. Não se engane, pode até parecer um número grande, mas não é nada quando você conhece absolutamente todos os moradores do lugar. A atração principal, no entanto, era uma bela pista de corrida capaz de abrigar vários dos jovens que sonhavam em ser pilotos um dia. E para pessoas como eu, universitárias que amavam a adrenalina, mas tinham medo de entrar nela, assistir essas corridas era a melhor coisa a se fazer em um sábado à tarde.
Entre os jovens pilotos do kart, um deles era o maior destaque do Campus: . As expectativas não eram à toa, ele realmente possuía um talento nato nas pistas e um foco devastador para qualquer um que entrasse em seu caminho – as ultrapassagens eram sempre rápidas, chegavam a ser até um pouco agressivas. Foi a sua agressividade que lhe deu o apelido de Mad Max.
Cinco minutos de corrida e o jovem alemão já detinha a liderança, não demorou muito até que ele ganhasse. A cada disputa nova, o loiro era considerado o novo nome do automobilismo. Finjo não entrar em um pequeno colapso quando ele se aproxima de mim, afinal, quem não surtaria com ele se aproximando?
— Eu costumo deixar os outros pilotos terem um pouco de esperança, mas no final sempre ganho. Sou , por sinal. — Ele tinha uma mistura de autoconfiança e charme, o típico conjunto de habilidades de alguém que sabia a impressão que causava.
— Você é bom nas pistas.
— A única coisa desafiadora pra mim nesta pista de kart é ganhar o número do telefone da garota mais bonita desse lugar. Então, o que você acha? Vai me dar a chance de ser tão rápido no seu coração quanto sou nas curvas?


Agora

Foi exatamente naquele ponto em que me apaixonei, caindo na armadilha das palavras envolventes que aquele sorriso possuía. Eu sucumbi àquela cantada barata, sabendo que aquele era um jogo do qual eu já estava em queda, mas não me culpei por isso. No fundo eu sabia: não existia uma alma sequer que resistia a .
E por mais que eu não quisesse ser mais uma em sua cama, eu fui.
À medida que nossos dias juntos se transformavam em noites compartilhadas, eu me pegava mergulhando nas curvas do sorriso estonteante e nos traços dos gestos mais incríveis encontrados em alguém. Porém, conforme o tempo avançava, percebi que meu coração também se entrelaçava nas linhas do garoto além das pistas. Foi um caminho que trilhei confiantemente, sem compreender que aquelas curvas eram tanto um desafio quanto um risco.
Estar com alguém tão popular não trazia apenas benefícios; rapidamente boatos de todos os tipos se espalharam pelo campus: alguns diziam que eu era mais um passatempo, outros diziam que eu transava com qualquer piloto por interesse e alguns simplesmente nos achavam insuficientes um para o outro. No entanto, enquanto meus lençóis tinham o cheiro dele, nada mais importava para mim.
Nós nos pertencíamos, de certo modo, e ele nunca fez nenhuma menção de esconder isso. Em meio a promessas de que seríamos para sempre, a vida chegou com uma baita pancada: uma oportunidade fez com que ele fosse escolhido como piloto da Fórmula 3, e com dois passos à frente ele estaria na Fórmula 1.
Só Deus sabia como era difícil que algo surgisse assim. “É mais fácil ser astronauta do que piloto”, diziam. E no fim tinham razão, o que não fez doer menos no dia de sua partida.


Antes

— Não importa o quão longe eu vá, eu nunca vou esquecer você.
— Não seja bobo, você precisa pensar no seu futuro. Viagens, pressões... Isso tudo pode nos afastar e eu não vou te culpar se sua jornada não for comigo.
— Você é a minha jornada. Prometo a você, não importa o quão longe eu fique, sempre vou encontrar um caminho de volta.


Agora

Foi naquela tarde, com as palavras dele ecoando em meus ouvidos e o olhar penetrante gravado em minha memória, que eu soube que nossos corações estariam unidos por algo mais profundo que a distância. Foi com essa certeza que eu olhei bem o sinal que ele tinha no canto superior dos lábios e me perdi nos brilhos intensos dos seus olhos. Eu acreditei. Acreditei mesmo que ele voltaria para mim, que seríamos para sempre. Foi com essa certeza que eu fui sua, mais uma vez, em meio aos seus lençóis.
Na manhã seguinte, terminamos.
Trinta e nove semanas depois, num quarto mal iluminado de hospital e um leito desconfortavelmente vazio, encarei pela primeira vez os olhos idênticos de . Quando olhei para meu filho, apesar de feliz, me controlei para não chorar por ter sido estupidamente burra. Observando o sinal familiar no lábio superior do meu filho, não pude controlar o arrependimento de ter trocado meus sonhos pelo sonho que agora estava em meus braços. Por mais grata que fosse pelo meu presente precioso, eu não podia negar a dor silenciosa de saber que eu havia desistido de mim mesma para isso.
Eu não tinha mais a minha bolsa de estudos, e o choro de todas as noites e o cansaço que me traziam fez com que minhas notas baixassem, por mais esforçada que eu fosse. Eu não seria mais uma médica de sucesso e não teria um futuro brilhante repleto das oportunidades que um dia sonhei, mas eu tinha o meu filho. E céus, como ele é lindo.
Respiro fundo, tentando afastar os pensamentos do passado e focar no futuro à minha frente. Em minha mesa havia vários papéis de contas prestes a vencer, incluindo o meu aluguel. De repente, a ideia de vender alguns órgãos ao mercado negro não era tão ruim assim. Eu tinha estudado alguns períodos de medicina, sabia que dava pra viver sem um rim.
Em pleno domingo, eu ouvia o barulho na televisão avisar que já eram sete da manhã. acordaria em algumas horas, e eu tinha acordado mais cedo apenas para constatar o óbvio: estava mais fodida do que imaginava.
Como em uma ironia clássica da vida, ele aparece na televisão, com o sorriso autoconfiante de sempre. Os olhos ainda mais intensos do que anos atrás. Estava prestes a ser tricampeão, liderava a competição com quase cem pontos de diferença e tinha doze vitórias consecutivas. Ele batia todos os recordes, dia após dia, e vê-lo tão incrível quase me fazia esquecer o motivo de odiá-lo tanto.
Como uma medida de autodefesa, a minha mente me lembra o motivo da dor que sinto ao ver a felicidade dele.
“Como você pode garantir que é meu?”
se aproxima, acordando mais cedo que o esperado, arrasta a sua manta pela casa e caminha até o sofá. Observo os traços do meu filho – sua beleza se tornava maior a cada dia, e foi olhando aquele rostinho dócil que entendi. Não tinha a menor possibilidade de ter um pai tão covarde a ponto de sequer reconhecer sua própria responsabilidade. Meu filho seria meu e, assim, não sofreria com a ausência de alguém que ele nunca conheceria.
entrou na Fórmula 1 um ano depois, sendo o piloto mais jovem a ingressar numa equipe oficial. Ele foi tão bom que pularam as etapas, e sequer participou da Fórmula 2. Foi inevitável me perguntar se ele se lembrava de que era eu quem o confortava e acalmava antes das corridas mais difíceis. contou para alguém que fui eu quem o impedi de desistir de pilotar quando o pai dele o castigou por perder uma das corridas de kart?
Afasto os pensamentos, abraço com mais força o meu filho em meus braços e torço o nariz. Odiava ter esses pensamentos porque me faziam duvidar da minha capacidade de seguir em frente. Se eu ainda pensava tanto, então era porque eu ainda sentia algo. E isso me doía.
sonhava que um dia seria piloto, e os papéis na mesa me traziam o medo de que ele não fosse conseguir. Parte das dívidas estavam diretamente ligadas ao tratamento dele e às contas intermináveis do hospital. Aos cinco anos de idade, havia sido diagnosticado com leucemia – foi quando meu coração partiu em mil pedaços. Quando recebi a notícia, senti o chão desaparecer dos meus pés, deixando-me à deriva em um mar de medo e incerteza.
Olho para aqueles olhos pequenos e inocentes. A dor vem de forma letal e em doses pequenas, fazendo-me perguntar como algo tão cruel podia afetar alguém tão jovem.
Meus olhos desviam da telha e pousam sobre o pequeno loirinho em meus braços; seus cabelos já estavam começando a perder a cor dourada. Respiro fundo, sentindo as lágrimas acumularem em meus olhos, uma raiva borbulhante tomando conta de mim. Eu sabia que raiva não me traria conforto e que comparar as situações era injusto e improdutivo. não tinha controle sobre a doença de , assim como eu não tinha controle sobre suas vitórias, mas ainda assim, eu não podia controlar o ressentimento que vinha forte como uma onda gigante.
ergue o troféu sob gritos e aplausos da multidão entusiasmada. Enquanto ele estava lá, no centro das atenções, meu filho enfrentava uma batalha dolorosa, uma que ele nunca pediu para travar.
Todos diziam que Mad Max odiava perder, mas ele já tinha tido a maior derrota de sua vida. Quando se negou a acreditar que era seu filho, o maldito holandês perdeu a criança mais incrível que já existiu. Nenhuma vitória seria como aquele pequeno menino loiro, de olhos verdes e sorriso invencível.
Com um suspiro, pego meu filho nos braços. Ele sorri da forma manhosa e dengosa que sempre fazia e uma gratidão enorme toma conta de mim. A glória de nas pistas era uma coisa, mas a força e a resiliência de na vida eram uma vitória muito maior – uma que eu sempre celebraria, mesmo nas sombras.
Sinto o ar pesar em tensão assim que minha mão pousa sobre a testa de . Ele estava quente ao toque e seu rosto exibia uma palidez repentina, me fazendo tremer por dentro. O médico tinha nos instruído sobre as possíveis crises que a leucemia poderia causar, mas estar diante disso era uma realidade assustadora demais.
— Mamãe, dói — ele murmura com a voz fraca, buscando conforto nos meus olhos. Tento manter minha voz calma e reconfortante enquanto acariciava seu cabelo.
— Eu sei, meu amor. Vai ficar tudo bem, a mamãe está aqui com você.
Seguro o telefone e disco o número do hospital com uma urgência que transparecia a cada toque. A angústia que eu sentia me apertava como um punho cerrado, e enquanto a voz do outro lado da linha me explicava os procedimentos e cuidados que seriam oferecidos, eu não podia evitar a sensação de impotência que me dominava. Olho para a pilha de contas em cima da mesa e respiro fundo. Não importa o que acontecesse, eu não podia deixá-lo sofrer. Mesmo que isso significasse um desafio financeiro monumental.


Capítulo 2 –

Summer’s Hush: Between Triumphs and Emptiness

O Summer Break era o período mais esperado por todos os pilotos.
Eu odiava. As férias eram boas para quem tinha para onde ir, não era o meu caso.
A ideia de três semanas longe das pistas pesava em meus ombros com um lembrete anual de que o sucesso no mundo das corridas vinha acompanhado de um vazio peculiar. Superficialmente, minha vida era um testemunho de conquistas: o piloto mais bem pago do mundo, uma cobertura ampla em Mônaco, com todo luxo e glamour que isso trazia, uma garagem repleta dos carros mais caros – mas à medida que a pausa começava, um vazio ecoava dentro de mim. Um vazio que nenhum grau de fama ou fortuna podia preencher.
Me pergunto o que mais eu poderia querer. Tudo o que eu sempre desejei estava à minha volta: a riqueza, o reconhecimento, a velocidade. Eu tinha mais dinheiro do que jamais poderia gastar, um estilo de vida que muitos consideram invejável e, mesmo com tudo isso, me sinto como um corredor solitário em uma pista completamente vazia.
Contemplo as paredes opulentas do meu apartamento enquanto a sensação de solidão se intensifica. Não havia vozes de amigos ou familiares para preencher o ambiente. Apenas o som ocasional do mar lá fora e os ecoantes pensamentos na minha mente.
Os flashes das minhas conquistas passavam diante dos meus olhos. Eu pensava nas corridas e em cada vitória que vinha delas, em cada pódio, mas nada disso preenchia o vazio que eu sentia. Numa tentativa de entender o que eu havia perdido de tão fundamental, minha mente fez questão de vagar pelo rosto que eu não via há muitos anos, . A mulher que encheu meus dias com risos e promessas. A única que me viu além das curvas das pistas e me mostrou que na vida havia mais do que velocidade. Ela me largou sem desculpas, sem aviso prévio, e apesar de ter seguido em frente, algo dentro de mim ainda se perguntava o que aconteceu. Ela estava feliz? Encontrou o que buscava? Pensava em mim como eu pensava nela?
Volto ao dia em que a cantada ousada que lancei arrancou dela um sorriso e um brilho único nos olhos. Tudo isso parecia ser uma vida atrás, uma que tinha desaparecido completamente. As lembranças traziam uma verdade amarga que se infiltrava na minha consciência. Eu tinha conquistado muito, mas ao longo do caminho, deixei muito para trás também. não era apenas uma lembrança; era a parte de mim que eu ignorava, que eu tinha negado.
Não era como se eu nunca tivesse ido atrás dela. Uma semana após ela ter sumido, eu busquei formas de procurá-la em todos os meios de comunicação possíveis. Não a encontrei em nenhuma das redes que ela costumava ter – ela claramente havia trocado o número de telefone, me bloqueado em cada espaço de sua vida e, por mais que a ideia de um perfil fake fosse tentadora, eu sentia que precisava respeitar a sua decisão em manter a distância. Ela tinha o direito de buscar a sua felicidade, afinal de contas. Relacionamentos à distância só funcionavam em uma realidade fictícia, assim como o para sempre.
Eu não sou infeliz. Amo as corridas, amo a sensação da velocidade, a adrenalina que corre nas minhas veias a cada curva. Amo as viagens, os diferentes lugares que visito, as culturas que mergulho temporariamente. Amo o meu trabalho, a dedicação que coloco em cada treino livre, em cada volta cronometrada. Tudo isso faz parte de quem sou, é a essência que me trouxe até aqui, mas mesmo com toda essa paixão pelo que eu faço, mesmo com as multidões que aplaudem e os patrocinadores que sorriem, há um canto dentro de mim que permanece vazio. Posso mentir que não sei o motivo desse vazio, mas a verdade é que em tantos anos, ainda tem o espaço exato do buraco de meu coração.
Já fui pra cama com mulheres de sua altura, já me relacionei com outras que possuíam uma aparência bem semelhante à sua, mas nenhuma tinha o tamanho do vazio que ela deixou. Nenhuma boca, pele ou cama funcionava.
Foi quando essa ficha caiu que, em uma tentativa de encontrar algum significado, decidi que era hora de direcionar minha paixão e recursos para algo maior do que as pistas e corridas. Foi assim que surgiu a ideia de criar um hospital especializado no tratamento de leucemia infantil. Lembro-me de , maldita , e sua aspiração em ser médica. Ela sempre quis ser médica para ajudar os outros e, de alguma forma, através do hospital que tinha construído, eu podia me tornar parte daquilo que ela sempre aspirou ser. Era uma forma de me conectar com o passado sem ter contato com ele.
O zumbido do telefone quebra a confusão dos meus pensamentos.
— Oi, Lara — digo, curioso sobre o motivo da ligação. Lara era alguém da minha mais inteira confiança, no entanto, suas ligações eram quase nulas.
, sei que você está de férias, mas... precisamos conversar. — Sua voz soava séria e um tanto tensa.
— Do que se trata? — pergunto, sentando-me em uma poltrona, coberto pela preocupação que começava a se infiltrar.
Ela faz uma pausa antes de responder, escolhendo cuidadosamente as palavras.
— Eu ouvi... Ouvi uma história perturbadora hoje. Eu não sei se é verdade, no entanto, acho que você precisa saber. negou cuidados a uma criança com leucemia porque a mãe não tem condições de pagar o tratamento.
A informação me atinge como um soco no estômago. Meu pai era obcecado por vitórias, mas não era alguém ruim, por isso foi tão difícil acreditar nas palavras da mulher. No entanto, eu já tinha visto lados egoístas dele.
— Não pode ser verdade. Eu garanti que o hospital fosse um lugar onde todas as crianças pudessem receber um tratamento, independentemente das suas circunstâncias financeiras.
— Essa não é a primeira vez que ouço histórias assim — ela sussurra, incerta do que compartilhava. — Claro, você não deve duvidar do seu próprio pai por boatos, mas... acho bom você acompanhar isso de perto.
— Obrigado por me contar, vou lidar com isso imediatamente, mas de antemão, ligue para a mãe da criança. Peça desculpas e o acomode, eu chego em algumas horas.
O avião me levou de Mônaco para uma cidade holandesa, próxima daquela onde eu e nos conhecemos. Era irônico como o destino me levava de volta às minhas origens, a um lugar onde minha paixão pelo automobilismo e minha história com a mulher que eu amei haviam se cruzado pela primeira vez.
Ao chegar, não procurei um hotel e tampouco fui para o meu apartamento. Fui direto para o hospital, ainda que me sentisse um tanto fora do meu elemento. Minha presença atraiu olhares curiosos, mas eu não estava ali como piloto; eu estava ali como um homem determinado a fazer o que eu tinha jurado fazer: honrar os meus próprios princípios.
Enquanto caminhava pelos corredores, os murmúrios diminuíram e eu fui capaz de observar de perto a operação do hospital. Era um lugar colorido, cheio de esperança, com crianças batalhando contra doenças terríveis e profissionais da saúde dedicados a ajudá-las. No entanto, minha mente estava focada em uma única missão: encontrar a criança que supostamente havia sido negada tratamento por falta de pagamento.
Com a ajuda de uma das enfermeiras, ela compartilhou informações sobre o caso da criança. Não demorei a achar o seu quarto; uma auxiliar estava com o menino e, assim que entrei, ela tratou de explicar que a mãe tinha ido tomar banho e voltaria logo.
O hospital era um dos projetos que eu fazia questão de manter longe dos holofotes da fama. Eu não queria que a exposição prejudicasse o tratamento das crianças e não precisava da mídia para ajudar aquelas vidas.
Quando entro no quarto, meu olhar cai sobre o menino. Ele estava deitado na cama, frágil e determinado, olhando para o teto com uma expressão que era um misto de coragem e vulnerabilidade. Uma sensação estranha me percorreu, uma conexão que eu não conseguia entender completamente. Ele é... diferente.
Enquanto observo o menino, meus pensamentos se perdem em um labirinto de emoções confusas. Não era apenas por ele ter, possivelmente, seus seis anos de idade, mas era como se algo, naquele momento, me ligasse a ele de forma inexplicável. O modo como ele olhava ao redor, como mantinha a cabeça erguida apesar das circunstâncias era estranhamente familiar.
Eu não conseguia tirar os olhos dele. Cada movimento, cada olhar parecia ressoar dentro de mim de alguma forma sobrenatural, mas apesar da sensação de familiaridade, eu não conseguia identificar de onde vinha. Era como se uma peça crucial estivesse faltando no quebra-cabeça.
Porra. O que está acontecendo comigo?
Meu peito aperta, mas de uma forma diferente dessa vez. Quando o olhar curioso do menino se vira para mim, eu me aproximo. Algo me puxa para ele.
Ele é familiar.
Muito familiar.
Ele me lembra alguém.
Quem?
Seus olhos verdes se fixam aos meus por um momento. Eu me sinto como se estivesse olhando para alguém que eu conhecia, mas a lembrança continuava a escapar pelos meus dedos. Meus olhos estavam completamente presos a essa criança. Presos pra caralho. Por quê?
— Oi — eu digo, sentindo minha voz falhar enquanto me aproximava da cama do pequeno. A auxiliar de enfermagem que cuidava dele me olhava com uma mistura de surpresa e curiosidade, sem falar nenhuma palavra.
O menino desconhecido vira o rosto em minha direção novamente. Era como se houvesse um lampejo de reconhecimento ali, algo que eu não conseguia explicar.
— Oi — ele responde com a voz fraca, mas cheia de curiosidade.
— Eu sou — me apresento, sentindo um nó na garganta enquanto falava. — E você?
— Eu sou o — ele responde com um pequeno sorriso aparecendo em seus lábios.
O nome atingiu-me como um soco no estômago. . Era um nome que eu nunca tinha ouvido antes, mas por alguma razão, parecia ressoar em algum lugar profundo dentro de mim. Era uma coincidência, uma ligação inexplicável ou havia algo mais?
Sento-me na beira da cama, com os olhos ainda fixos no dele. Os cabelos loiros, claros como mel, parecem mais nítidos agora de perto.
, é um prazer conhecê-lo. Você é um lutador, sabia?
— Minha mãe diz que tenho que ser forte — ele diz com os olhos misturados em orgulho e determinação.
— Isso mesmo. Às vezes a vida nos apresenta desafios difíceis, mas o que importa é como nós os enfrentamos.
me observa por um momento, seus olhos cheios de uma sabedoria que parecia muito maior do que seus poucos anos.
— Minha mãe é forte também, ela nunca desiste.
Minha atenção estava inteiramente voltada para , nosso diálogo possuía um significado repleto de emoção. Eu não esperava que um estrondo repentino me tirasse da conversa, e o empurrão que veio logo em seguida me pegou totalmente desprevenido. Caio da cama, sentindo meus instintos de piloto entrarem em ação enquanto eu tentava minimizar o impacto.
Levanto-me rapidamente, voltando meu olhar para o homem que estava diante de mim. Ele estava furioso; a raiva emanava dele como um furacão e eu o reconheci imediatamente. Mesmo que nosso último encontro tivesse sido anos atrás.
— O que porra você está fazendo aqui? — ele rosna, com a voz repleta de hostilidade.
Olho para , que parecia assustado com a cena, então me controlo, sendo invadido por uma preocupação quase imediata com o garoto.
— Eu... Eu estava conversando com o — respondo, ainda momentaneamente atordoado. Não apenas pela queda, mas também pela súbita aparição dele. — Ele é uma criança incrível.
O homem ri amargamente, com os olhos cheios de desdém.
— Incrível? Você realmente acredita que pode aparecer aqui do nada e ser um herói, não é?
Levanto as mãos, em um gesto de calma. Não queria fazer uma cena na frente de , que agora nos olhava curioso com o desenrolar do impacto.
— Eu não estou tentando ser um herói. Eu só estava conversando com ele.
Ele me interrompe de forma abrupta, aumentando o volume de sua voz:
— Você não tem o direito de estar aqui, de se intrometer na vida dele.
Não percebo quando a enfermeira liga para Lara, mas a vejo entrar com a expressão doce de sempre. A mulher se coloca entre nós, provavelmente percebendo a mistura de emoções que fervilhavam de um para o outro. O olhar do garoto não sai da minha cabeça, nem mesmo quando me afastam dele, me colocando em alguma sala fechada e vazia, com a presença de Kyle.
— Kyle, pelo amor de Deus, não faça uma cena. Eu precisei fazer algo enquanto você não chegava. O menino estava tendo uma crise e eu pedi pela ajuda de alguém que podia ajudar.
— Ajuda. Não esse filho da puta.
— Filho da puta?! — repito, rindo com ironia. — O que porra eu te fiz, caralho? — Não controlo mais o timbre de voz, já não estava mais na frente do garotinho de minutos atrás.
— Ele não precisa de você, . — As palavras me cortam, afiadas como uma faca, e sequer entendo o motivo daquilo. — Ninguém aqui precisa ou gosta de você. Pegue suas coisas, seus troféus de merda, suas vitórias insignificantes e vá embora. Você é mestre em fazer isso.
não parece compartilhar a mesma opinião que você.
— Você vai ficar bem longe dele.
Ele se aproxima de mim, o rosto vermelho; sua raiva parecia aumentar a cada segundo. Com um último olhar para Lara, ele balança a cabeça e sai. Penso em ir atrás, penso em voltar para o quarto de , mas Lara me segura pelas mãos.
— Você vai me dar alguma resposta do que merda tá acontecendo aqui?
Ela me olha conflitante, como se ao mesmo tempo que quisesse me responder, não soubesse se deveria dizer algo. Seu silêncio, no entanto, é o suficiente para que eu me vire e saia.
Apesar da raiva que sentia e da ânsia por respostas, volto a procurar , mas não o encontro. Ele não estava mais no quarto, mas estava em cada pedaço de minha mente. Uma sensação de ansiedade percorre minha espinha quando não encontro a criança e, de forma impulsiva, decido percorrer os corredores do hospital em busca do garoto que tinha me atingido tão fortemente no coração.
Por mais que eu o procure, não consigo achá-lo. Uma sensação de frustração me atinge quando chego à cafeteria do hospital, peço um café na tentativa de afastar os pensamentos tumultuados que me assombram e, quando recebo o meu pedido, mexo a colher na xícara, vagando com o olhar pela sala, até que algo me faz parar.
Lá estava ela, parada a distância. Meu coração salta em meu peito, como se eu estivesse acelerando na pista de corrida. Ela estava ali, diante dos meus olhos, e o choque nos rostos de ambos era evidente.
Antes que eu consiga processar completamente a cena diante de mim, um copo de café quente escorrega das mãos dela e cai no chão como um estrondo. O líquido quente se espalha pelo chão, formando uma pequena poça. De forma instintiva, dou um passo à frente como se quisesse correr até ela e garantir que estava bem. Nossos olhares se encontram e o tempo parece congelar. Estavam repletos de choque, como se todo o mundo ao nosso redor tivesse desaparecido. Minha mente estava turva com memórias do passado. O tempo parecia ter perdido seu poder sobre nós e eu vejo que, apesar dos anos que se passaram, a beleza dela continua tão impactante quanto antes.
Naquele momento, eu soube que as feridas que eu pensava estarem curadas estavam ainda abertas, pulsando de uma forma que eu não podia mais ignorar.
Consigo ver em câmera lenta o momento em que minha vida muda por completo.


Capítulo 3 –

Unexpected Encounters

Não pude acreditar nos meus próprios olhos quando o vejo se aproximar. estava ali, expondo a figura alta que eu sempre quis enterrar e o tempo pareceu desacelerar como se o universo tivesse conspirado para fazer esse momento durar para sempre. O choque de sua presença envia arrepios pela minha espinha, e eu sinto como se estivesse de volta ao passado, revivendo memórias que me esforcei tão fortemente para esquecer.
A enfermeira se aproxima e me entrega . Os olhos do meu filho se iluminam ao me ver, trazendo em seu sorriso um raio de sol que ilumina todo o meu mundo.
— Eu estava com saudades, mamãe — ele exclama com a voz cheia de empolgação.
Desvio os olhos de , concentrando-me apenas no pequeno em meu colo. Minha voz tremia em emoções que minha voz não conseguia nomear.
— Oi, meu amor — respondo, controlando o choro e a voz que começava a se embargar, trazendo à tona as emoções que tanto lutei para não sentir.
— Você derramou o seu café, mamãe? — ele pergunta, observando o líquido escuro no chão.
— Filho, vai com a tia Susie, okay? Daqui a pouco eu vou pro quarto — murmuro, entregando-o para a auxiliar que cuidava do meu filho. Ele demora um pouco, mas acaba indo.
As pessoas parecem perceber que bem no meio de um hospital infantil estava o bicampeão mundial de Fórmula 1, e, para afastar os olhares, empurro o meu ex, espalhando a mão sobre o seu peito e o afastando dali para um lugar mais reservado. Ao chegarmos, ele respira fundo como se estivesse juntando os pontos; eu podia ver o reconhecimento se manifestando em seus olhos.
A tensão no ar parecia palpável, era como um campo de batalha emocional onde as palavras não precisavam ser ditas para serem sentidas. Kyle, de repente, se aproxima e eu pude sentir seu apoio silencioso, determinado a me proteger em qualquer situação.
— Quantos anos tem, ? — ele perguntou com a voz firme e os olhos penetrantes.
Meus lábios tremem ligeiramente, e sinto uma mistura de raiva e frustração se formando dentro de mim. Meus olhos se encontram com os dele e eu me pergunto se ele realmente estava falando sério ou apenas confirmar o que já sabia. Lembrei-me de sua última mensagem, carregando a dúvida que ele enviou anos atrás, quando tudo ainda estava fresco e quando sua presença ainda era uma promessa do que poderíamos ter tido.
“Babaca”, o insulto ecoa em minha mente, trazendo lembranças que aumentavam ainda mais a minha irritação.
— Ele é meu? — sua pergunta carregava dúvida e incredulidade. E enquanto ela ressoava em meus ouvidos, eu sentia a raiva borbulhar dentro de mim.
Como ele ousava questionar a paternidade do meu filho mais uma vez? Como ele podia duvidar de algo que eu havia enfrentado e lutado sozinha durante todos esses anos devido ao egoísmo dele?
Eu o encaro, sentindo minha voz carregada de uma mistura explosiva se emoções.
é meu, .
parecia ter sido pego de surpresa por minha fúria, no entanto, a hesitação em seus olhos também era evidente.
, você quer que ele vá embora? — a pergunta veio de Kyle, que se coloca ao meu lado.
— Ele já está de saída.
No entanto, não vai embora como eu esperava. Ao invés disso, ele permanece ali, com os olhos fixos em mim.
— Ele é meu filho? — repete, a incredulidade e a incerteza em sua voz se tornando quase uma súplica.
Minhas mãos tremem ligeiramente. Eu lutava para controlar a torrente de emoções que ameaçavam me dominar. A raiva ainda estava presente, mas agora estava misturada com uma confusão dolorosa.
é meu filho, — respondo, com a voz mais firme do que consigo. — Fui eu quem acompanhei sozinha o seu nascimento, fui eu quem estive presente em todas as noites sem dormir, fui eu quem estava lá quando ele sentiu a primeira cólica, fui eu quem o alimentei pela primeira vez na vida. Eu acompanhei cada dia dele, eu participei de cada segundo de sua infância. Quando ele teve sua primeira crise, fui eu que estive ao seu lado, segurei sua mão e o acalmei. Quando descobri sua leucemia, fui eu que estive lá, lutando a cada momento ao lado dele. — Minhas lágrimas ameaçavam transbordar, mas luto para mantê-las sob controle. — Ele é meu filho. Eu o criei sozinha e lutei por ele a cada dia. nunca foi seu, .
O loiro parecia atordoado, seus olhos refletiam uma gama de emoções. Ainda assim, mantenho o meu olhar firme no dele, esperando que minhas palavras tivessem o penetrado e que ele pudesse compreender a profundidade do que ele havia perdido.
— Você não tem o direito de dar essa resposta.
Gargalho, sentindo ódio evaporar de minhas veias.
— Você vai me dizer o que tenho direito agora? — Meu tom de voz era debochado, carregado de uma mágoa que eu não tinha ideia do tamanho, até agora. — Você não tem a porra de direito algum sobre mim ou sobre o meu filho.
— Não acredito que fez isso comigo — ele diz, me deixando ainda mais incrédula. — Ele é meu filho, caralho. Você escondeu o meu filho de mim.
Saio da sala e vou atrás do meu filho, porque não consigo passar mais um minuto olhando para o desgraçado do pai dele. Kyle o impede de me seguir e agradeço por isso. Assim que fecho a porta, não consigo mais controlar as lágrimas, e quando chego no quarto do meu pequeno, o abraço com força.
— Você tá chorando porque eu estou doente? — ele pergunta. Nego com a cabeça, embora parte do meu choro também fosse por isso. — É por conta do tio ?
— Eu estou chorando porque derramei o café, filho — digo, tentando não preocupar o pequenino, e ele sorri de forma suave.
— Tá tudo bem derramar as coisas, às vezes — ele diz, repetindo o que eu digo quando ele derruba algo.
Sinto medo transbordar de todos os meus poros.
— Te amo muito, — murmuro e ele deixa um beijo em minha bochecha.
De repente, começo a pensar em tudo que poderia acontecer.
Sinto medo de perdê-lo para a doença, sinto medo de perdê-lo para .
Tenho medo que ele descubra que escondi dele um pai por seis anos e me odeie por isso.
Me sinto fraca quando penso que meu filho pode descobrir a verdade e gostar mais do do que de mim. Ou que ele cresça e nunca entenda por que eu fiz o que fiz.
— Eu te amo muito mais, mamãe — ele murmura, silenciando todos os meus pensamentos. Não importa o que aconteceria depois, naquele momento o mundo era apenas nosso e do nosso amor.


Capítulo 4 –

Unraveling Bonds

Menos de um dia perto da minha cidade de origem e minha vida virou de ponta cabeça. Eu tenho um filho e a mãe dele me odeia. Não consigo acreditar que a mulher que tanto amei e admirei os princípios tinha escondido algo assim de mim; ela tinha me negado o meu filho, mas por mais que tentasse dizer que ele não era meu, eu o conhecia. Conhecia a familiaridade que tinha no rosto pequeno dele, no início desconhecida, mas agora nitidamente semelhante a mim próprio.
Ele tinha minha cor de olhos, mas o formato era de . Ele tinha meu cabelo, mas o nariz era dela. O sorriso também era o dela, mas o jeito que ele se movia era completamente igual ao meu. Dou para ela o espaço que ela precisa, não insisto em procurar respostas hoje, no entanto, descubro que ela trabalha como garçonete em um dos restaurantes locais.
No dia seguinte vou de encontro ao seu trabalho, ela finge que não me vê e ignora por completo a minha existência. Fico ali, sob olhares desconfiados, duvidosos de que um piloto de Fórmula 1 estaria numa cidade pequena como aquela; no entanto, lá estava eu. Enquanto as férias de verão não acabassem, eu estaria ali, fornecendo ao meu filho todo o afeto que sua mãe o negou.
Quando a vejo sair, vou atrás dela. Segurando-a pelo braço com delicadeza, sinto uma onda elétrica me atingir com o choque do nosso contato.
— Não ouse me tocar — ela diz entredentes, ainda mais brava que o dia interior. — Eu vou chamar a polícia se você não parar de me perseguir.
— Nós temos que conversar, . — Minha voz sai como uma súplica, e ela sorri com desdém. — O que ele sabe sobre mim? O que ele sabe sobre o pai dele? Você disse alguma coisa? Ele ao menos sabe que tem um pai?
— Ele sabe que o pai dele não estava pronto para ser o pai que ele precisava ter — ela responde friamente. — Vai. Embora.
se afasta, mas minha urgência me domina e eu a alcanço mais uma vez, agarrando seu braço com um toque firme e quase desesperado. Eu estava tão imerso em minha própria agonia que não percebi quando trouxe o corpo dela para mais perto do meu; nossos corpos se aproximam como ímãs, como se estivessem buscando o que perderam. O aroma familiar do seu perfume invade minhas narinas, um cheiro que havia ficado gravado em minha memória ao longo dos anos.
Ela não me empurra, não grita mais, e nossos olhos se encontram em um silêncio carregado de anos de história não contada. Seus lábios estavam tão próximos dos meus que a distância não parecia ser nada além de uma barreira que precisava ser quebrada. Meus olhos percorrem seu rosto, cada traço familiar que eu havia esquecido, mas que agora estava diante de mim, nitidamente visível. Ela era linda e o tempo parecia não ter deixado marcas em sua beleza. Ainda era a mesma mulher divina que eu havia conhecido anos atrás.
Minha mente estava em um turbilhão de emoções, misturando as mágoas com o desejo conflitante. era a porta para um passado que eu havia decidido deixar para trás quando ela sumiu, mas agora ela me envolvia em si novamente como se eu nunca tivesse saído.
Meus lábios quase tocam os dela, mas algo dentro de mim congela o movimento. Eu não podia simplesmente agir impulsivamente, não podia esperar que um beijo fosse resolver todos os problemas que havíamos acumulado, mas a proximidade era tentadora. Um lembrete que a nossa conexão havia sobrevivido ao tempo e à distância.
Eu recuo, liberando seu braço lentamente. Nossos olhos ainda estavam conectados, carregados de sentimentos não ditos.
— Por favor, não fuja. Você me deve isso.
— Eu não te devo porra nenhuma — ela murmura, de forma irritada, mas não foge mais de mim.
— Se ele for meu filho, sim, você me deve.
— Você foi pai dele em algum momento nos últimos seis anos?
— Graças a você, não.
— Agora eu sou a culpada? — ela pergunta, voltando com o ar incrédulo. — Seu desgraçado, filho da puta do caralho — me xinga, balançando a cabeça de um lado para outro como se tentasse se controlar de algo. — Você é o mesmo moleque de quando saiu daqui. Você é um idiota, um babaca incapaz de assumir suas responsabilidades. Você culpa os outros pelas merdas que fez. Você ainda é o imbecil estressadinho que não sabe lidar com os próprios problemas e que lida com tudo de forma imatura e inconsequente.
Sua raiva demonstra que ela se sente magoada por algo, mas eu não faço ideia de onde vinha essa reação ou esses sentimentos. Eu precisava descobrir. Então, deixo que ela fale.
— Ele é o meu filho, — digo, controlando a própria raiva que crescia dentro de mim. — Eu tenho direitos sobre ele.
— Ele nunca vai ser o seu filho — ela resmunga em um tom de desafio. Volto a me aproximar, não percebendo sequer quando a coloco contra mim e a parede atrás dela.
— E como vai impedir? Vai esconder ele de mim, mais uma vez? — pergunto, deixando uma mão ao lado de sua cabeça. — Vai me afastar do meu próprio filho pelo egoísmo de eu não ter voltado por você? Hm? Você vai negar a ele uma boa chance de vida e um tratamento bom porque não consegue perdoar que eu não corri atrás de você como um cachorrinho quando você agiu como uma maldita criança? Eu posso ser o pai que ele precisa. Assuma isso, não mate nosso filho. Eu não querer você não significa que não quero ele.
— E o que vai ensinar a ele? A ser um lixo como você? — ela pergunta ainda mais irritada, e começa a me bater numa tentativa de descontar sua raiva. Deixo que ela continue, embora sinta meu rosto arder em uma raiva que eu mesmo não conhecia.
Eu achava que ela me odiava, mas era pior.
Ela me via como um monstro.
Ela não apenas me desprezava, ela me abominava.
Por um motivo estranho, isso dói mais do que eu esperava.
De repente, ela para de socar o meu peitoral e começa a chorar, se encolhe e desliza para o chão, perdendo suas forças. Tento segurá-la, mas impede que eu a toque.
— Eu não escondi, eu não neguei nada a ele. Foi você que o rejeitou. Pare de me culpar, foi você — ela diz, soluçando enquanto a falta de ar começa a aparecer em meio às lágrimas. Me sento ao seu lado, permitindo que ela coloque tudo para fora. — Eu te disse que estava grávida. Eu te mandei... Eu te mandei mensagem. — Seu choro continuava incessante. Vê-la assim era ainda mais dolorido do que vê-la com ódio de mim. — Você duvidou que fosse seu. Você me mandou sumir... Você... Você sumiu. — A dor dela é tão verdadeira que me destrói por completo.
— Eu nunca fiz isso — falo em um tom baixo, vendo-a se perder em meio às lágrimas. — Eu nunca te abandonaria grávida.
Ela ri com escárnio. Exausta, incapaz de acreditar em qualquer palavra que eu digo.
— Você mente tão bem quanto corre — se apoia na parede para ter forças de se levantar. Como se percebesse que a conversa não valeria a pena, ela dá dois passos e se afasta. Tento decidir se a deixo ir ou se insisto para que ela me conte de onde merda surgiu esse pensamento de que fiz isso com ela.
Passei seis anos sem conseguir superar uma mulher e, em três dias, descobri que temos um filho juntos. Filho que ela me escondeu a paternidade e que eu jamais saberia se não tivesse recebido a ligação de Lara. Se eu não tivesse vindo, eu jamais veria o meu filho. Porra. Meu filho.
Me levanto depressa, mas não a toco dessa vez. Sinto um nó em minha garganta embargar os meus próprios sentimentos.
— Eu jamais deixaria sem pai se eu soubesse desde o início — falo, rezando para que ela acredite em mim, porque eu não era culpado de nada do que ela alegava. — Pelo amor de Deus, acredita em mim. Eu não sei quem te mandou qualquer mensagem que seja, mas eu jamais te abandonaria. Eu te amava, .
Ela me olha confusa, parecendo finalmente estar disposta a acreditar em mim e, como se nunca mais fosse ter essa chance, confesso para ela e para mim uma verdade que lutei para esconder em meio a velocidade das pistas:
— Eu te amo.


Capítulo 5 –

Unraveling Bonds

Suas palavras param algo em mim e me viro em sua direção, buscando a verdade delas. Ele estava ali, como o menino que eu amei anos atrás, o fora das pistas que era sensível e chorava quando seu pai o tratava mal por perder. O mesmo menino que eu lembrava todas as vezes que olhava para meu filho.
Merda. Ele estava sendo sincero, ele não fez aquilo. Ele não tinha rejeitado e agora eu não sabia o que fazer, afinal, eu tinha pintado ele de vilão por seis anos. Tinha negado uma vida e um pai ao meu filho, e agora o desconforto de suas palavras me atingiam de forma forte.
— Eu procurei você em todas as redes sociais possíveis — ele murmura. Eu engulo em seco e volto a me sentar no chão, porque não tinha força alguma para continuar aquela conversa de pé.
— Eu te deletei depois que... que pensei que você fez aquilo. Depois da mensagem.
Um silêncio desconfortável se instaura entre nós. Eu ainda não sabia se podia confiar nele e, por mais que visse verdade em seus olhos e em suas palavras, eu não sabia se podia confiar meu filho nele. estava sofrendo dia após dia com uma doença que podia acabar com a sua vida, e agora eu tinha o envolvido em mais drama.
— Deve ter sido difícil — diz. Engulo o choro, porque ele não faz ideia do quanto foi difícil. — Quero dizer, a sua gravidez. Passar por isso sozinha. A doença dele…
Balanço com a cabeça, concordando.
— Deixou seu celular com alguém? — pergunto, e ele parece pensar, encostando a cabeça na parede enquanto mexia nos dedos de forma aleatória.
— Faz muito tempo, . Eu não lembro, mas acho que sei quem pode ter feito isso.
Fico pensativa com sua resposta. Eu podia acreditar nele?
— Quando descobriu que tinha leucemia?
— Quando ele tinha cinco anos. No início, ele começou a sentir um cansaço extremo, mesmo quando dormia a noite inteira. Perdia o apetite, ficava pálido e muitas vezes febril. — Minha voz treme com as lágrimas enquanto as memórias dolorosas vinham à tona. — Com o tempo, os sintomas se intensificaram. Ele começou a ter sangramentos frequentes, pequenos hematomas apareciam em seu corpo sem motivo aparente... Ficava fraco com facilidade, e a doença aos poucos arrancou dele a sua capacidade de brincar e se divertir como uma criança normal. — Minhas palavras saem carregadas de tristeza, a dor por tudo que meu filho passou e pelo que ele não pôde viver. — As idas ao hospital se tornaram constantes. Consultas médicas, exames de sangue, quimioterapia... Ele tinha que lidar com efeitos colaterais como náuseas, perda de cabelo, queda da imunidade... — O peso de tudo isso era insuportável, e conforme eu falava, mais medo eu sentia pelo que ainda estava por vir. — Cada vez que eu olhava para o , eu lembrava de você e de como você não estava aqui pra ele.
— Eu sinto muito. Não posso mudar o passado, mas quero estar aqui agora. Por favor, me permita isso.
Engulo a vontade de chorar com o seu pedido. Por mais medo que eu tivesse, não poderia negar a aflição de ter que passar por tudo isso sozinha. Eu não queria sua ajuda, mas eu precisava dela. Meu filho precisava. As contas intermináveis diziam isso, e a possibilidade de um transplante de medula comprovavam. Eu não era compatível, mas talvez fosse.
— Se você magoar ele...
— Eu prometo que não vou.
Me contenho com a sua resposta.
— Como você ficou sabendo dele?
— Eu recebi uma ligação falando sobre uma criança que não teve assistência médica devido... a uma complicação com o pagamento.
A vergonha me invade, sinto minhas bochechas queimando.
— Você é sócio do hospital?
— Quase isso — ele responde, parecendo desconfortável. — Eu... Eu vou assumir as despesas médicas dele. E tudo o que for necessário.
Minha primeira reação é de defesa, sentindo um impulso de rejeitar a ajuda que ele está oferecendo.
— Eu não preciso da sua pena.
— Eu não estou sendo piedoso, estou cuidando do nosso filho.
A resposta dele me deixa sem palavras, porque não há argumento que possa ir contra isso. Mesmo sendo orgulhosa, não posso negar a ajuda que meu filho precisa e que está disposto a oferecer. Concordo com a cabeça, ficando em silêncio mais uma vez.
— Falou sério quando disse que me ama?
— Eu te amo mais do que amei qualquer pessoa na minha vida, . — As palavras saem da boca dele com uma verdade arrebatadora.
Olho para . A lembrança das palavras que trocamos no passado, a mágoa e o ressentimento que cresceram ao longo dos anos... com curiosidade.
— Eu amei ele — ele diz. Demoro um pouco a perceber que era de que ele falava. — Eu amei aquela criança desde o primeiro minuto em que pus os olhos nela. Antes mesmo de saber que era meu filho, eu olhei para ele e senti um vazio que carregava há anos ir embora diante daqueles olhos.
— Você realmente quer tentar? — A pergunta sai em um misto de surpresa, esperança e cautela.
— Mais do que qualquer coisa no mundo.
— E quando o Summer Break acabar? Quando você for embora, isso vai destruir ele, .
— Eu largo as corridas por ele, se é isso que quer saber — ele responde de forma firme e direta, mas nego com a cabeça. Acredito no que diz, mesmo sabendo que ele conhece o meu filho há menos de quarenta e oito horas. — Vocês podem vir comigo para Mônaco, lá podemos conseguir um tratamento ainda mais eficaz pra ele.
— Não sei se é uma boa ideia, . Eu ainda não sei se vamos contar a ele ou quando vamos.
— Se vamos contar a ele? — ele pergunta, sentindo o impacto das palavras.
— Você precisa estar pronto.
— Eu estou.
— Não pronto para ser pai, pronto para conseguir ser. Você é o piloto mais famoso da atualidade, está em meio a um campeonato e tem câmeras por todos os lados. E se algum fotógrafo ficar na porta de casa? E se tumultuarem a cabecinha dele em troca de fotos para serem vendidas? E se usarem a doença dele em capas de jornais? O que você vai fazer?
— Eu não sei — ele responde de forma sincera, e engulo o nó que se forma em garganta, porque eu também não sabia. — Obrigado, .
Olho para ele, confusa enquanto me levanto, exausta daquela conversa e das possibilidades que viriam.
— Obrigado por ter tido e criado nosso filho, mesmo que sozinha. Eu não sei do que você teve que abrir mão, mas obrigado por ter escolhido nosso filho. Eu te admiro ainda mais.
— Eu faria tudo de novo, . é o meu mundo, e eu faria qualquer coisa por ele.


Continua...



Nota da autora: Obrigada por cada leitura, carinho e participação de vocês. Comentem pra que eu fique super inspirada e faça muitos capítulos e participem do grupo do whatsapp. Lá eu sempre posto quando vai ter atualização e dou spoiler, além de liberar pequenos jogos com temática da fic. Vocês são divines.



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