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Finalizada em: 14/04/2022

Capítulo Único

As palmas das mãos suavam abundantemente, esta era a forma que seu corpo encontrou para expelir o nervosismo que corria por todo o seu corpo, deixando as luvas da jovem levemente úmidas. Contava mentalmente, interligando sua respiração com a contagem que realizava, de modo que não fosse possível reconhecer seu nervosismo por sua respiração descompassada.
Estava debutando tardiamente — em todos os possíveis sentidos da palavra —, a temporada já tinha tido início há poucos dias, o que a deixava em desvantagem em relação às outras damas que já buscavam por um pretendente.
Sem considerar a reação de Vossa Majestade, que poderia facilmente privar seu debute naquele ano.
— Não fiques nervosa, ensaiou toda a sua vida para isto. — o tom reconfortante de sua mãe soou ao seu lado, baixo o suficiente para que apenas a jovem dama escutasse.
— Estás tão fácil assim perceber? — direcionou um sorriso nervoso a sua matriarca.
— Não deixes que baboseiras percorram sua mente, vamos. — deu um último olhar à filha, que concordou singelamente com um aceno de cabeça.
respirou fundo uma última vez, arrumando ainda mais sua postura e abriu o maior de seus sorrisos, enquanto seguia a sua mãe, que caminhava elegantemente em direção a rainha, postada estrategicamente ao meio do salão.
— Lady Marie-Ann, senhorita . — a voz pomposa da rainha ecoou, fazendo as duas mulheres reverenciarem a figura de poder a frente. — Alegra-me a noite saber que retornou para Londres, senhorita .
— Compartilho do mesmo sentimento, Vossa Majestade. — a jovem debutante aumentou ainda mais o sorriso.
Estava, de fato, feliz e satisfeita por retornar a Londres. As temporadas longe, aproveitando a sua falsa liberdade na Escócia, apenas eram uma folga da vida que deveria tomar. Não abdicaria de seus deveres. Se casaria sim, mas casaria por amor e apenas com seus vinte e um anos — de modo tardio na vista da sociedade inglesa.
— Lamentavelmente já escolhi o diamante desta temporada, mas creio que isto não irá lhe afetar de modo negativo.
conteve o suspiro aliviado que ansiava escapar de seus lábios. Sua animação interior era tamanha, que facilmente poderia beijar os pés de Vossa Majestade. Tinha acompanhado de perto o peso que era ser considerada o diamante da temporada, sua irmã era a prova viva de que ter os olhos da rainha Annelise presos em si era um terror psicológico, onde você possuía receios de errar até mesmo na frente de sua própria sombra.
— Creio que Vossa Majestade escolheu perfeitamente bem, como sempre. — o sorriso soberbo da rainha Annelise mostrou-se visível.
Outra coisa que tinha aprendido com o debute de sua irmã, era que independentemente do local, horário e até mesmo motivo, a rainha Annelise sempre adoraria ser bajulada.
— Aproveitem o baile. — Vossa Majestade disse por fim, em um claro sinal de que finalizava a conversa ali.
As fizeram mais um simples reverência, afastando-se graciosamente da rainha e de seus olhos analíticos, que já se fixavam nas outras damas que se apresentavam rapidamente.
— Lhe disse que não precisavas ficar nervosa. — a viscondessa murmurou ao se encontrarem afastadas o suficiente da rainha Annelise.
— Agradeço-lhe, mamãe, mas ainda necessito de ar puro. — respondeu no mesmo tom de voz, olhando para sua mãe, aguardando pela resposta que logo lhe foi concedida com um balançar de cabeça.
— Não demore. Para ser notada, precisas ser vista. — a matriarca falou, sorrindo brevemente antes de sair analisando o salão a procura de pretendentes para sua prole.
Manteve a graça e calmaria a qual fora acostumada a caminhar, mesmo que seu desejo fosse o de mover-se o mais rápido possível na direção do jardim dos St. Clair. Lembrava-se brevemente do caminho, costumava acompanhar Amelia, sua irmã, sempre que a mesma precisava fugir dos olhos atentos de Sua Majestade.
Despiu-se rapidamente das luvas, sentindo a brisa primaveril dançar suavemente pelas palmas de sua mão. Deixou um sorriso largo — e verdadeiro — ocupar seus lábios, amava o clima londrino durante a primavera, em sua visão, a estação era o que tornava a temporada algo tão belo e romântico.
Sua atenção foi capturada por murmúrios indistintos e risadas baixas, que pareciam não vir muito distante de onde a mesma se encontrava. Seguiu o caminho a frente, adentrando ainda mais ao jardim, e ouvindo os sons tornarem-se cada vez mais fáceis de serem ouvidos.
Petrificou onde estava ao parar de frente para um casal que se agarrava sem pudor algum, fazendo com o que as bochechas de corassem, adotando o tom avermelhado similar ao das rosas vermelhas ao seu redor. As pessoas à sua frente pareciam dispostas a se tornarem uma só, tamanho era o modo como seus corpos encontravam-se colados. As mãos do homem passeavam impiedosamente por todo o corpo da mulher, em partes que sequer conseguia imaginar, até mesmo quando se encontrava sozinha em seus aposentos.
— Oh, meu Deus. — a frase não saiu um pouco mais alta que um sussurro envergonhado.
Sentia-se completamente constrangida, mas de alguma forma, não conseguia mover os olhos daquela cena tão imprópria.
A frase de — mesmo baixa —, atraiu a atenção dos desconhecidos no jardim, fazendo-os se separarem rapidamente. O choque e a vergonha da mais nova dos se tornou ainda mais palpável ao reconhecer uma das figuras.
— Jasmine St. Clair. — o nome da jovem saiu sem permissão dos lábios de , causando um constrangimento ainda maior entre as duas damas.
, não tinha conhecimento sobre seu retorno. — Jasmine murmurou com um sorriso, disposta a ignorar o fato de que tinha sido pega em flagrante.
— Mamãe preferiu manter assim, diz que uma surpresa é sempre algo positivo. — os olhos de transitaram rapidamente entre a antiga amiga e o desconhecido. — Fiquei sabendo sobre o pedido, desejo minhas mais sinceras felicitações sobre o noivado.
Os olhos de pousaram rapidamente na figura do homem desconhecido, que possuía um sorriso singelo e permanecia levemente afastado, alheio à conversa, mas seus olhos se encontravam presos na jovem , encarando-a com — aos olhos envergonhados de — curiosidade.
Antes que Jasmine pronunciasse sua próxima frase — que sabia que viria, já que vira a boca da amiga se abrindo —, a jovem deu as costas e pôs-se a caminhar novamente, desta vez retornando para o interior da casa. Não importava-se que Jasmine e seu noivo a achariam mal educada por simplesmente dar as costas e sair, mas era uma perfeita dama e não deveria permanecer ali, sabia bem disso.
Respirou fundo ao parar de frente para a enorme porta que dividia a área externa e o local onde ocorria o baile. Botou rapidamente as luvas, abrindo o seu melhor sorriso ensaiado e cruzou a porta, adentrando ao local e não demorando a encontrar sua mãe conversando com um homem que não lhe era um completo estranho.
— Peço perdão pela minha ausência, mas precisava admirar os jardins de lady St. Clair. — desculpou-se assim que aproximou-se de sua mãe e seu pretendente.
Sabia que a viscondessa não conversava com aquele homem à toa.
— Estava falando de sua estadia na Escócia com o visconde Robertt Haddington. — o sorriso de sua matriarca era grande, não escondendo a satisfação que era ter o visconde, possivelmente, interessado em sua filha.
— Boa noite, milorde. — fez uma singela mesura ao virar-se de frente para o homem, recebendo outra em resposta.
— Encantado, senhorita . — recebeu um sorriso como resposta. — Concede-me a próxima dança?
concordou com um aceno de cabeça, aumentando sutilmente o sorriso em seus lábios e direcionou o pulso para que o visconde marcasse seu cartão de dança, estreando assim, oficialmente, seu debute na temporada.
— Já peço desculpas antecipadas por não ser um exímio dançarino. — o visconde Haddington murmurou divertido, logo após o início da melodia soar.
— Imagino que mesmo assim sejas um bom dançarino. — sorriu sincera, pondo-se a dançar a coreografia tão bem decorada que praticava há anos.
A conversa com o visconde estendeu-se até o final da dança, não conversaram nada além do que Amelia já tinha lhe informado — com precisão de todos os detalhes — que seria dito. Foi perguntada sobre sua educação e seus planos para o futuro, o visconde não se encontrava interessado em conhecer verdadeiramente, apenas desejava saber se ela seria uma boa esposa para ocupar o cargo ao seu lado.
E, bom, não era aquilo que a jovem ansiava.
Agradeceu ao final da dança, não deixando transparecer o leve desapontamento que teve com o visconde Haddington, contudo, ansiosa para encontrar com sua progenitora e pedir encarecidamente que o visconde não se encontrasse mais na lista de pretendentes que possuía o conhecimento de que sua mãe criara.
— Boa noite, senhorita…
A voz grossa atraiu a atenção de , obrigando-a a parar de andar e encarar a figura masculina à sua frente. Era o homem do jardim, o qual tinha flagrado com Jasmine. A iluminação no salão era deveras melhor que a da área exterior, à permitindo notar pela primeira vez na beleza do desconhecido, fazendo-a prender a respiração rapidamente, repentinamente nervosa por estar frente a frente com aquele homem.
. — deixou que seu sobrenome saísse, completando a fala do homem em um pedido mudo para que dissesse seu nome.
— Filha do visconde Simon e da viscondessa Marie-Ann , creio eu. — o tom de voz curioso e os olhos interessados aumentavam o leve rubor nas bochechas da jovem. — Sua beleza condiz com os comentários a seu respeito.
Concordou com um aceno de cabeça, sentindo-se incapaz de formular qualquer frase, contudo, ignorando a segunda frase que lhe fora dirigida.
— Concede-me esta dança, senhorita ? — o questionamento saiu em conjunto com a mão masculina que já se dirigia para o cartão de dança de .
— Creio que não sejas correto, meu senhor. — murmurou, mas tudo o que recebeu como resposta foi um sorriso aberto após o desconhecido assinar em seu cartão.
— Correto com base nos achismos dessa sociedade hipócrita? — questionou, por mais que não esperasse uma resposta.
Tomou a mão da jovem , mantendo-a colada a sua conforme seguiam para o centro do salão, prontos para começarem a valsar. O homem possuía uma calmaria de dar inveja, enquanto usava todas as suas forças para conseguir ao menos sustentar o olhar que lhe era direcionado.
— O que Jasmine irá pensar ao observar seu noivo dançando com outra no salão? — o tom de voz confuso de em conjunto com sua frase fez o homem aumentar ainda mais o sorriso, deixando até mesmo uma singela gargalhada escapar. — Não compreendo como podes estar rindo, acontecerão burburinhos após essa dança.
Os passos do homem, diferentes dos do visconde Haddington, eram precisos e ousava dizer que até mesmo eram tão bem ensaiados quanto os dela. Aquele homem a sua frente, ele sim era um exímio dançarino, e o sorriso em seu rosto deixava claro que ele provavelmente tinha completa ciência deste fato.
— Acredito que tenhas compreendido erroneamente, senhorita . — ele tornou a falar, dessa vez com o tom de voz mais baixo. — Jasmine se casará com lorde Basset, não comigo.
não conteve a surpresa, parando repentinamente de seguir os passos de dança. Sabia que aquilo poderia atrair atenção negativa, mas a surpresa era tamanha, que congelou seus movimentos. Se Jasmine se casaria com o lorde Basset, quem era o homem à sua frente e por qual motivo ele beijava Jasmine? Se fosse qualquer outra pessoa em seu lugar, faria questão de espalhar o escândalo que arruinaria o futuro casamento de sua antiga amiga.
Afinal, não tinha nada que a aristocracia inglesa amasse mais do que um bom escândalo.
— Mas… — a voz de morreu no ar antes mesmo de sequer completar uma frase. — Quem é o senhor, então?
— Lorde . — realizaram a mesura após o fim da dança. — Também conhecido como…
— Como um libertino. — o tom de voz enojado não passou despercebido pelo conde, que franziu o cenho, divertindo-se com a reação da jovem. — Boa noite, milorde, mas não gostaria de ser associada a imagem devassa que o senhor possivelmente carrega.
E tão repentino como o conde apareceu à sua frente minutos antes, desapareceu no meio das pessoas que se preparavam para valsar.
Se antes a jovem sentia-se envergonhada por ter interrompido, o que acreditava ser, um ato de dois apaixonados que não podiam esperar seu casamento para demonstrarem todo o amor que sentiam, agora sentia-se apenas enojada por ter presenciado um puro ato de libertinagem que arruinaria completamente a reputação de Jasmine se outra pessoa tivesse os flagrado.
Não conteve o pensamento de que se alguém mais soubesse, ou sequer imaginasse, o que tinha acontecido entre Jasmine e o dito novo conde de Middlesex, aquele seria o maior escândalo da temporada.
E sem sombra de dúvidas, arruinaria a família St. Clair por gerações.
— Oh, querida, vejo que não precisas de minha ajuda para que arrume um bom partido. — a voz da viscondessa soou animada assim que parou próxima a si.
A jovem franziu o cenho, demonstrando sua clara e completa confusão, arrancando uma singela risada da mãe que completou em seguida:
— Dizem as más línguas que um dos solteiros mais cobiçados de Mayfair está agora à procura de uma noiva, já que o mesmo necessita substituir os deveres do falecido conde, que Deus o tenha. — Marie-Ann fez uma pausa dramática em sinal de respeito ao falecimento do conde. — Bom, como eu dizia, já era comentado que o conde de Middlesex ingressaria nesta temporada em busca de uma noiva. E bem, a beleza de lorde é algo bem comentado.
engoliu em seco.
O homem que sua mãe falava com tanta animação e entusiasmo não poderia ser o mesmo com o qual tinha dançado, pois isso acarretaria em ser o mesmo que encontrara atracando-se com Jasmine.
— Lorde ? — questionou, torcendo internamente para que sua mãe negasse.
— Sim, querida. — completou animada. — Observando a dança de vocês, só conseguia imaginar o quão belos seriam os filhos de vocês.
sentiu todo o ar fugir de seu corpo, não acreditava que sua mãe estava lhe dizendo aquelas palavras.
— Pois saiba que, eu preferia fugir de Londres e ser deserdada, do que casar-me com um libertino. — murmurou ultrajada.
— Mas… — a frase da viscondessa pairou no ar.
— Não sinto-me bem, poderíamos ir para casa? — questionou, dando-se assim por encerrado o assunto.

Naquela noite, quando dormiu, ela sonhou com o beijo de Jasmine e do conde de Middlesex, mas não era a sua antiga amiga que estava sendo beijada.


terminava de vestir-se, colocando o paletó por cima da blusa branca de linho, quando sua mãe irrompeu em seus aposentos de modo tão rápido, que parecia que corria de algo. O conde franziu o cenho, deixando o paletó de qualquer jeito e virou-se para a matriarca, encarando-a com as sobrancelhas arqueadas, em um pedido mudo para que a condessa se explicasse.
— Então… — começou, após longos segundos de puro silêncio de sua mãe.
— É verdade? De fato começara a procurar por uma noiva? — a animação estava explícita nos olhos de Viola, que sorria animada mesmo sem a resposta do filho.
suspirou fundo, sabia que uma hora ou outra o burburinho chegaria até sua mãe, afinal, ela não poderia ficar a temporada inteira às escuras. Contudo, o conde só esperava que demorasse um pouco mais.
— Sim, não quero desonrar a promessa que fiz a meu pai. — murmurou simplesmente, o assunto ainda lhe era doído, especialmente se conversado com sua mãe.
A condessa deixou que um grito animado escapasse de seus lábios, não tardando em abraçar o filho.
— És de seu conhecimento que ainda não achei nenhuma senhorita que de fato honrasse o futuro título de condessa de Middlesex, não és? — questionou, afastando-se do abraço da matriarca, ficando assim de forma que pudessem se encarar.
— Só o fato de abandonar suas libertinagens e meretrizes, e buscar um casamento, já és motivo para que meu dia se torne alegre. — Viola murmurou animada, analisando o filho rapidamente. — Aliás, fiquei sabendo que dançou com uma dama.
Os pensamentos de voltaram para noites atrás, o breve momento de intimidade que compartilhara com Jasmine não era o motivo do leve sorriso que apareceu nos lábios do conde. Seus pensamentos focalizaram imediatamente na presença jovem que os flagrou no jardim, a dama que tinha feito com o que ele dançasse pela primeira vez na temporada.
Muito se ouvia falar da herdeira mais nova do visconde e da viscondessa , mas poucas foram as vezes que a ilustre presença da jovem agraciou os eventos com sua classe e beleza. Beleza esta que era ainda maior e mais formidável do que já ouvira falar a seu respeito, era como se as palavras não fossem o suficiente para fazer jus à beleza da jovem .
Sem dúvidas encontrava-se intrigado — e fascinado — com a jovem , todo o desprezo que pareceu nutrir por ele, assim que classificou-o como um libertino, fez com o que imediatamente resolvesse entrar em um jogo que, aparentemente, só ele jogaria — mas este era apenas um fato irrelevante.
Provaria para a senhorita que sim, fora um libertino e não se arrependia nem um pouco de suas ações, mas que poderia ser um perfeito cavalheiro, melhor do que qualquer um dos futuros pretendes que ela poderia arrumar.
E o motivo, bom, nem ele mesmo sabia.
— Sim, dancei apenas com uma dama, a única que chamou-me atenção. — murmurou, arrependendo-se rapidamente de sua última fala ao observar o sorriso vitorioso de sua mãe, como se tivesse acabado de ganhar o maior dos prêmios. — Isto apenas significa que nenhuma das outras damas possui o mínimo do que eu procuro para ser a futura condessa de Middlesex.
— Bom, isto não importa, já que lhe acompanharei no baile de hoje. — o tom de voz animado da condessa fez com o que arregalasse os olhos. — Não me olhe assim, não é como se eu fosse jogar qualquer senhorita de boa classe para cima de você.
arqueou as sobrancelhas, descrente do cinismo que sua mãe demonstrava.
— Já fazias isto antes mesmo de meu suposto desejo por casar-me. — murmurou contrariado, recebendo um balançar de ombros da mais velha como resposta. — Ainda não precisas comparecer aos bailes, mamãe, sua ausência é plenamente entendível.
O sorriso da condessa tremulou brevemente conforme um suspiro saía de seus lábios.
— Acredito que ele preferiria isto. — murmurou, recebendo apenas um balançar de cabeça como resposta. — Vamos? Lady Fernsby odeia atrasos.
notou os trajes da mãe, ela de fato já estava preparada para o baile.
— Sabes que não precisa comparecer, correto? — questionou de modo cuidadoso, temendo a futura reação de sua mãe. — Todos compreendem sua ausência.
A mais velha concordou com um singelo aceno de cabeça.
— Permanecer sozinha nesta casa parece o pior de meus castigos. — a voz soou chorosa. — Não vejo como algumas horas longe daqui, tentando distrair-me, possa ser pior.
engoliu a seco.
Não tinha o que falar, a mãe o deixara sem palavras. Ele amava o pai, como filho unigênito, tinha recebido todo o amor e atenção possível, mas mesmo amando o pai e sofrendo com a morte dele, ela tinha o conhecimento de que sua dor sequer podia chegar próxima do que sua mãe sentia.
Ela o amava de um modo tão belo e profundo, que possuía a crença de que nunca, em toda a sua vida, amaria alguém daquela forma. Nunca seria capaz de amar alguém com todo o seu ser, de modo que mal conseguisse imaginar sua vida sem a presença de seu amor.
Em alguns momentos até mesmo cogitava se um dia conseguiria simplesmente amar.
Entregou o braço para sua mãe — um pedido mudo para que a matriarca enlaçasse o seu ali — e saíram juntos, seguindo para o exterior da casa, onde uma carruagem já os esperava.
O trajeto não foi demorado, pouco mais de vinte minutos e os dois já se encontravam adentrando ao salão de baile de lady Fernsby. Não estavam atrasados, mas aparentemente quase todos os convidados já estavam ali — ou ao menos as damas que debutavam com suas mães seguindo, incansáveis, atrás dos pretendentes que chegavam.
— Ora, como senti falta dessa energia. — lady murmurou com um sorriso no rosto assim que os músicos iniciaram uma nova melodia.
arqueou as sobrancelhas, sabia sobre ao que a mãe se referia, mas não pode contar a piada:
— Essa energia caótica onde as matriarcas desfilam com suas filhas como se mostrassem animais bem adestrados? — questionou irônico, atraindo os olhos arregalados da mãe para si.
— Eu juro por tudo que és mais sagrado, que eu só não lhe dou um tabefe por estarmos em um local que uma dama não deves agir deste modo. — murmurou entre dentes, por mais que mantivesse um sorriso falso nos lábios.
abriu a boca para responder, mas foi privado pelo beliscão que a mãe lhe deu em seu braço, em um claro sinal para que o filho se calasse. Prestes a reclamar, segurou o suspiro frustrado assim que observou a mão sorrir abertamente — e desta vez de modo verdadeiro.
Aquilo só poderia significar duas coisas:
A primeira era de que sua mãe tinha encontrado com uma amiga querida que não via há bastante tempo. A segunda — e correta, em sua opinião, ao analisar o sorriso de divertimento nos lábios da mãe — era de que uma das mães — das incontáveis jovens à procura de serem desposadas — caminhava em direção até eles.
— Lady Viola, conde . — a voz soou próxima, fazendo se virar.
Olho rapidamente para a mais velha, ciente de que fora ela quem falou, mas seus olhos logo se dirigiram para a jovem que preferia encarar qualquer ponto que não fosse o homem à sua frente.
Não conteve o sorriso que instantaneamente apareceu em seus lábios, por mais que não pudesse deixá-lo tão largo e aberto como desejava. Bem a sua frente, com o vestido claro — em um conhecido sinal de que debutava — e as bochechas avermelhadas — que ele poderia facilmente apostar que não era por vergonha e sim por qualquer sentimento similar a raiva —, se encontrava a senhorita .
— Senhorita , viscondessa . — não tardou em cumprimentá-las, demorando alguns segundos a mais no beijo depositado na mão enluvada de .
A surpresa no cumprimento do conde fez tanto a atual condessa quanto a viscondessa, direcionarem um olhar curioso para . Contudo, os olhos do conde estavam muito mais interessados na figura à sua frente que o encarava com o mais puro desprezo — quase capaz de fulminá-lo apenas com olhos —, porém com um sorriso singelo aberto nos lábios.
— Senhorita , me daria o prazer da próxima dança? — não encarava nenhum outro lugar que não fosse os olhos à sua frente, que brilharam de um modo odioso ainda mais forte após sua pergunta.
— É claro, milorde, seria uma honra. — o tom de voz desprovido de sarcasmo fez arquear uma das sobrancelhas, surpreso com o tom que lhe fora dirigido, por mais que ele soubesse que tudo não passava de uma encenação.
Assinou no cartão de dança e com um sorriso ladino a direcionou até o meio do salão de dança, atraindo uma atenção que não desejavam, mas que sabiam que atrairiam.
— Pus-me a crer que não lhe agradava, senhorita , mas nunca imaginei que seria capaz de fazê-la nutrir um ódio tão visível por mim. — falou durante a singela mesura. — Realmente a enoja e faz com o que me odeie, o fato de eu ter sido um libertino? Ainda sim fui criado e ensinado a ser um cavalheiro, senhorita.
deixou que um risada fraca e sarcástica saísse de seus lábios, os olhos analisaram a figura do conde rapidamente, como se questionasse mentalmente se deveria compartilhar o que passava em sua mente com ele, mas não tardando em falar:
— És um libertino. — murmurou impaciente, como se aquilo bastasse como resposta.
Contudo, para , ele precisava de uma resposta mais elaborada.
— Não, preciso que dê-me motivos sem que ouse dizer esta palavra novamente, pois não estás dizendo-me nada que já não sei. — dançavam frente a frente, os olhos em uma troca de olhares tão intensa que não ousavam quebrar o contato visual nem mesmo quando era necessário que virassem.
— Odeio-te por fazeres o que fez. — murmurou fraco, mas ainda assim, com os sentimentos negativos que sentia pelo conde presentes em cada palavra. — Aborrece-me pelo fato de não ousar pensar em sua honra, muito menos nas das infelizes damas que já cruzaram-lhe o caminho.
a rodopiou lentamente, mantendo os olhos queimando em . Não acreditava na audácia da jovem em lhe dizer aquelas coisas, se qualquer outra pessoa presente naquele salão escutasse o modo que ela se dirigia ao conde, sentiria-se completamente ofendido. Mas não , ele possuía um singelo sorriso, ainda levemente descrente em tudo o que lhe era dito — pela primeira por uma dama — que não parecia se importar se ele era alguém mais poderoso que ela ou não.
— Nunca, durante todos os meus vividos, principalmente aos que me entreguei a libertinagem, desvirtuei uma só mulher a qual já cruzou-me o caminho. — sua era baixa, contudo saía forte, mexendo com de um jeito que ela não compreendia. — Nunca seduzi nenhuma dama para que caísse em meus encantos libertinos e devassos, para que as mesmas perdessem sua própria honra. Todas as damas com o qual já tive o prazer de deleitar-me com a presença, e se a senhorita anseia saber para odiar-me ainda mais, sim, foram muitas. Todas elas, sem nenhuma exceção, desejaram-me antes mesmo que eu tivesse a chance de pousar meus olhos sobre elas.
tremeu, não sabendo classificar o motivo pelo qual o corpo reagiu daquela maneira.
— Não sou nenhum santo, senhorita , mas nunca desvirtuei uma dama que já não desejasse ser cortejada por um libertino como eu. — notou que o ódio já não se mostrava tão palpável, mas ainda assim os sentimentos da jovem não eram nada graciosos em relação a ele.
Terminaram a dança, cortando o contato visual intenso que mantiveram, realizando a singela mesura e começando a caminharem próximos, mas sem que seus corpos se tocassem, em direção a condessa e a viscondessa que os esperavam do outro lado do salão.
— Isto não lhe torna menos um libertino, milorde. — retrucou a jovem.
Sebastian riu de modo levemente irônico por ela repetir mais uma vez a palavra — que parecia ser a única — que ela sabia lhe dirigir.
— Bom, e qual o problema de que eu fui um libertino? Isto não me torna incapaz de tratar uma dama, corretamente, aliás, sei até mesmo como tratar uma dama melhor que mais da metade dos ditos cavalheiros presentes aqui. — a fala de ainda continha o tom irônico. — Mas diga-me, o problema és que de fato sou um libertino, mesmo tratando-a com todo o respeito, ou deve-se apenas pelo fato de que a senhorita almejava ao menos uma vez possuir a sensação deleitosa que és tomar alguém para si, sentindo os lábios da pessoa contra os seus?
A iluminação das velas acentuou o tom rubro que tomou as bochechas da jovem . A ausência de uma resposta e os olhos levemente esbugalhados, que ela direcionou a antes de focar em qualquer ponto, e não ao homem ao seu lado, fez-lhe arfar em surpresa.
O modo como a senhorita o encarou por breves segundos, o fez perceber que a reação não fora causada pelas suas palavras — insinuações inapropriadas para uma dama. A resposta para o comportamento da senhorita era simples, e possuía o pleno conhecimento do que era.
A suposta jovem inocente à sua frente já tinha, ao menos uma vez em toda a sua vida, deleitado-se com a magnífica sensação que era ter seus lábios cobertos por outros.
— A senhorita já… — deixou que a frase morresse em seus lábios, ao observar o desespero presente no olhar que a jovem o direcionou.
a encarou atentamente, deixando que um sorriso sincero ocupasse seus lábios — sem qualquer sinal de nenhum outro sentimento, a não ser uma estranha compaixão.
— Não ousarei tocar nesse assunto outra vez, senhorita . — contentou-se em responder. Já estavam próximos o suficiente de suas mães, então, como um perfeito cavalheiro, guardou sua curiosidade para si. Contudo, sabia que por mais que tivesse dito que não tocaria mais no assunto, o conde ansiava descobrir quem fora o felizardo que conseguira beijar aqueles lábios.

Naquela noite, quando dormiu, ele sonhou em como seria poder beijar os lábios da senhorita .


A brisa fraca e os raios de sol tímidos eram a combinação perfeita para que decidisse caminhar naquela tarde. Caminhava pelo Hyde Park com um sorriso singelo no rosto, com o chapéu inclinado para trás um pouco mais do que o necessário, porém deixando que o calor e a claridade alcançassem sua face.
Não possuía um lugar em mente e sequer iria encontrar-se com alguém, apenas caminhava calmamente, aproveitando o dia fresco e sendo acompanhada por sua dama de companhia, que se encontrava-se alguns passos atrás da jovem.
Encontrou dois bancos alocados próximos um do outro com uma bela e ampla visão do parque. Olhou rapidamente para a mulher que a acompanhava, sinalizando os bancos com um movimento singelo ao indicá-los com a cabeça.
Sentou-se ali, admirando os casais que caminhavam pelo grande gramado. Nem todos ali eram um casal, sabia disto, contudo, adorava poder observar a movimentação romântica que tornava-se ainda maior naquela época do ano.
Era óbvio que nem todos os casais que caminhavam por ali estavam de fato apaixonados ou sequer gostavam — minimamente, em alguns casos — um do outro.
deixou que um suspiro escapasse de seus lábios.
Ansiava se casar, desejava encontrar um marido que ela amasse — ou ao menos nutrisse algum sentimento positivo — e que juntos, pudessem viver uma boa vida em harmonia. Mas na sociedade onde vivia, sabia que, infelizmente, poucas eram as felizardas que conseguiam casar-se por amor.
E isto causava-lhe uma grande repulsa.
— Receio que com este olhar de repulsa, só poderias estar pensando em mim. — a voz grave e levemente rouca assustou , que deu um pulinho no banco ao qual estava sentada.
O conde não esperava que de fato fosse assustá-la, sequer desejavas isso, mas não pode esconder o risinho que pendia em seus lábios ao ver os olhos levemente arregalados da jovem , que agora o encarava.
— Sinto-lhe informar, milorde, mas o senhor não povoa meus pensamentos, nem mesmo os piores. — sibilou de modo felino, aumentando o sorriso do homem.
sabia que não deverias falar assim com ninguém, principalmente com um conde, mas algo na figura masculina fazia com o que ela não poupasse todo o sarcasmo e a personalidade forte que era necessário manter afastada da sociedade. Afinal de contas, uma dama não deveria falar e portar-se daquela forma.
O conde deixou que o largo sorriso se mantivesse em seus lábios, era como se sempre que estivesse na presença da jovem , seus lábios ardessem enquanto não direcionasse um sorriso na direção da figura feminina.
— Devo temer perder meu lugar já que não sou o único ao qual sua repulsa é direcionado? — questionou, com um tom de voz que podia jurar que estava forçando para que ao menos parecesse ofendido. — Achei que compartilhássemos algo único.
engasgou com o ar, demorando alguns segundos para recuperar-se.
Dirigiu os olhos desgostosos na direção do conde, assustando levemente até a si mesma quando lhe dirigiu uma explicação:
— Estava observando alguns casais, e infelizmente, o senhor encontrou-me quando eu repensava o fato de que poucas são as mulheres que possuem a oportunidade de casar-se por amor.
— Não creio que todos possam nutrir um sentimento tão singelo qual o amor. — os olhos do conde nublaram, tornando-se mais escuros. — Nem todos os homens foram criados para amar, senhorita .
Seu nome fora pronunciado de modo suave, acreditava ser a primeira vez que ele dizia seu nome e não apenas seu sobrenome, e aquilo fez com o que seus pelos se eriçassem.
— Nunca me apaixonei. — os olhos dela faiscaram minimamente ao ter o contato dos olhos dele ainda presos aos seus. — O senhor já, milorde?
— Creio que faço parte da horda de homens que não nasceram para amar. — murmurou tão baixo, que se os olhos de não estivessem tão atentos a ele, a jovem não poderia compreender suas palavras.
não conteve a surpresa.
— Vivemos em uma sociedade onde arranjos matrimoniais são considerados mais importantes que o amor, milorde. As pessoas tendem a se apressarem, desejando assim, não se casarem por amor, mas por receio de que percam um bom pretendente e, por consequência, uma boa fortuna. — o tom de voz sério fixou ainda mais a atenção de lorde . — Creio que o senhor possa sim amar alguém, milorde. Não importa a quantidade de mulheres com a qual já ficou, o amor não é sobre isso…
As bochechas de enrubesceram, não contendo a leve timidez que tomava conta de si quando falava sobre os modos do conde — ou a falta deles.
— Só é preciso uma mulher para lhe mostrar o que significa amar.
Os olhos do conde brilharam, não conseguindo conter a malícia enquanto um único pensamento ocupava sua mente:
Será que a jovem tinha percebido que o modo ao qual ela falava podia parecer que ela insinuava que poderia ser aquela dita mulher?!
— Se nunca se apaixonou, como podes dizer isto com tanta propriedade? — questionou com curiosidade, disposto a não pronunciar em voz alta seus pensamentos.
suspirou baixo.
— Lorde
— Me chame de , por favor. — falou prontamente, interrompendo a jovem.
Os olhos femininos tremeram, cogitando metalmente se atenderia ao pedido do conde ou se apenas ignoraria. Soltou outro suspiro, retomando a fala em seguida.
. — o nome saiu baixo, como se não tivesse força o suficiente para dizer o nome dele em voz alta. — Não é preciso vivenciar o amor para conhecer o básico, milorde. Todos podemos amar, só basta que nós nos permitamos.
Outro suspiro ressoou, mas desta vez, o som saía dos lábios do conde. não se importava que não deveria encará-lo fixamente, mas quando estava com o conde — ou melhor, —, fazia deveras coisas classificadas como impróprias.
Mantinham uma conversa séria, importante, o mínimo que ela podia fazer era encarar atentamente todas as expressões e movimentos que o homem ao seu lado fazia. Além da pequena — mas existente — vontade de poder observá-lo.
Ela queria encará-lo, não desejavas cortar o contato visual que mantinham. Era como se ao encarar os olhos de , todo o restante do parque sumisse. Estava interessada no que ele falaria, quais trejeitos possuía. Mas era apenas naquele momento.
Só durante aquela infame conversa.
— E a senhorita crê que és tão fácil assim encontrar o amor? — o questionamento fez tossir fraco.
Ela não sabia o motivo, mas sentiu-se levemente nervosa.
— Creio que se sabes o que desejas e onde procurar, não deves ser tão complicado como lhe ditam. — respondeu facilmente.
A sobrancelha de arqueou levemente, mas os olhos de estavam tão atentos na face do conde, que o gesto não passou despercebido pelo jovem.
— Discordas de mim, milorde?
O conde deixou que uma risada fraca soasse de seus lábios.
— És uma palavra muito forte, senhorita , mas não sei se dirias de fato o mesmo que a senhorita. — rebateu ele, o tom risonho presente em sua voz. — Ainda creio que o amor não seja para todos, afinal, nem todos nós merecemos sentir um sentimento tão belo e ardente quanto este.
deu de ombros — por mais que não o fosse o socialmente recomendado.
— Não creio nisto, o amor podes florescer em qualquer um, e isto é uma das coisas que torna o sentimento tão belo. — ela tinha total certeza do que falava, contudo, o olhar atento de a fazia sentir-se levemente receosa, mas não de um jeito negativo. — O amor não tem discriminações, e qualquer um é digno de amor.
arqueou as duas sobrancelhas, questionando-a silenciosamente se ela referia-se a ele. Ou ao menos, foi isto que imaginou, não tardando em responder:
— Sim, milorde, creio que até mesmo um libertino como o senhor és digno para poder usufruir de um amor que lhe tire o fôlego. — os olhos de o analisaram rapidamente, não deixando nenhuma parte fugir da análise. — Afinal de contas, não és tão desprezível quanto a reputação que lhe precede.
deixou que uma risada baixa escapasse de seus lábios, surpreso — e levemente encantado — pelo modo como a mulher ao seu lado não possuía receios de lhe dizer exatamente o que pensava a respeito dele.
sabia que não era apropriado falar daquele modo com nenhum homem, as mulheres deveriam respeitá-los e especialmente, segundo a sociedade, obedecê-los. Mas a jovem já tinha sido repreendida diversas vezes ao longo de toda a sua juventude sobre o seu comportamento.
Acreditava que sua opinião era tão importante quanto a de um homem, e mesmo que ele fosse de uma classe social um pouco mais elevada, ela não poupava seus pensamentos sinceros.
E este era o motivo pelo qual sua mãe a fizera debutar tardiamente.
Marie-Ann esperava — ou melhor, rezava — para que os dois anos sem debutar, finalmente fossem o suficiente para domar a língua e a personalidade da filha, contudo, se a viscondessa a visse conversando com lorde , era capaz de ter uma síncope ali mesmo.
O atraso de não tinha ajudado em nada — e nem ajudaria. Aquela era sua personalidade, e se deveria encontrar um marido, bom, ele teria que gostar dela exatamente daquela maneira.
O pigarro de sua dama de companhia atraiu sua atenção, um claro sinal de que deveriam voltar para a casa.
— Gostaria de dizer que adoraria poder aproveitar a sua presença por mais alguns minutos, milorde, mas estaria mentindo. — falou com um sorriso nos lábios ao levantar-se do banco. — Boa tarde, milorde.
sorriu — de modo verdadeiro desta vez — para sua dama de companhia, em um sinal mudo de que poderiam começar a caminhar.
— Permita-me que lhe acompanhe, senhorita . — as palavras saíram suavemente, contudo, foi o suficiente para que congelasse no lugar. — Algum problema, milady?
A jovem virou o rosto na direção do conde, procurando quaisquer indícios de que ele estava sendo irônico, mas tudo o que encontrou era a expressão singela — atribuída facilmente a um decente cavalheiro.
— Não estás falando sério, estás? — questionou confusa.
Libertinos não eram cavalheiros ou educados, tinha sido educada sua vida inteira para manter-se longe deles, para não deixar que eles a disvirtuassem e sujassem sua honra, mas ali estava ela, encarando o libertino mais cavalheiro que já tivera o desprazer de conhecer.
— E por qual motivo não estarias a falar sério?
deu de ombros, disposta a não compartilhar o que de fato se passava por sua mente, ao menos uma vez.
— Não acho que sejas apropriado, acharão que o senhor está cortejando-me.
riu baixo, fazendo com o que arqueasse a sobrancelha, questionando-se mentalmente se o conde zombava de sua cara.
— E qual o problema nisto? — questionou, esperando por uma resposta que não veio. — Aliás, estou de fato a cortejando.
Os olhos de se arregalaram, não conseguindo esconder a surpresa. Suas bochechas coraram e sua boca abriu, pronta para rebater, mas pelo o que ela achou ser a primeira vez em sua vida, não sabia o que falar.
— Pois bem, acho melhor nos adiantarmos, sua dama de companhia parece disposta a mandar-me para a forca se passarmos um segundo a mais parados nesse parque.
Os pés de seguiram de moto automático após a frase de , pondo-se a andar pelo caminho que ela conhecia tão bem, mas desta vez, sendo acompanhada pelo conde de Middlesex.
A caminhada do parque até sua casa, a número oito da rua Chesterfield Hill, era consideravelmente rápida — motivo pelo qual a jovem preferia ir andando do que solicitar que uma carruagem a levasse. Não levaram mais de quinze minutos na caminhada, mas a conversa que se desenrolou por todo o trajeto fez com o que cogitasse sua aversão ao conde.

voltava de um compromisso no parlamento, quando resolveu que aproveitaria o resto da tarde em uma caminhada pelo Hyde Park. O dia estava lindo, o clima ameno da primavera deixava uma leve brisa fluir pela tarde ensolarada, contudo, a imagem mais bela — e surpreendente — para o conde, foi quando seus olhos focalizaram a dama sentada alguns bancos a sua frente, não tardando em reconhecer a senhorita .
O lorde não pensou muito antes de seguir em direção a mulher, não conseguia explicar, mas de algum modo, era como se algo nela o atraísse para perto.
Este foi o motivo pelo qual atravessou o parque em sua direção, e este também era o motivo pelo qual agora caminhavam lado a lado, com as mãos dela repousando no braço do conde, enquanto seguiam o caminho até a Casa .
— Gostaria que sanasse minha curiosidade, contudo, não quero intrometer-me em seus assuntos pessoais, milady. — os olhos do conde prestavam toda atenção na dama ao seu lado, o que o permitiu visualizar o pequeno aceno de cabeça que a jovem fez. — Por qual motivo debutou apenas agora? Não é usual que damas de sua idade ainda não estejam desposadas.
voltou sua atenção para o caminho à sua frente, após quase tropeçar em um obstáculo ao qual não tinha visto.
— Sabes minha idade? — a pergunta da jovem demonstrava a surpresa que a mesma sentia.
— Como poderia ousar cortejá-la, sem ao menos possuir conhecimento sobre a senhorita? — os olhos do conde voltaram rapidamente para a jovem , notando as bochechas adquirirem um tom rosado.
deixou que um sorriso ocupasse seus lábios ao voltar a olhar para a rua.
— E o que o faz pensar que eu aceitaria seu cortejo, milorde?
O conde deixou que uma risada baixa escapasse de seus lábios, a língua ferina da jovem era algo que o divertia, os comentários ácidos o arrancavam verdadeiros sorrisos.
Se os escutassem, diriam que a jovem estava sendo desrespeitosa, contudo, não era assim que enxergava a situação. Para ele, Lady apenas tinha suas próprias opiniões sobre os assuntos, era como se, de algum modo, ela se sentisse confortável para ser ela mesma na presença do conde. Mesmo que isso significasse deixar claro o desprezo que parecia sentir pelo nobre.
— Não respondeu minha pergunta, milady. — contentou-se em falar.
— Não queria debutar sendo mais uma jovem tola, que não possui o mínimo de conhecimento sobre a vida e aceita qualquer nobre que a sociedade considere um bom partido. — a voz era doce, mas seu tom era firme. — Eu desejo casar-me por amor, milorde, ou ao menos com um nobre que eu sinta que possa amá-lo no futuro. E, se eu debutasse aos dezessete, assim como minha irmã, não tenho dúvidas de que me deixaria levar por qualquer mísero sorriso e acreditaria ser amor.
O conde não conteve o vinco que formou-se em sua testa, entre suas sobrancelhas.
— E agora a senhorita sabe reconhecer o que é ou não amor? — o conde externou sua dúvida.
Sabia que a jovem ao seu lado já tinha, ao menos uma vez na vida, beijado outra pessoa. O pensamento que ocupou sua mente foi rápido, e o conde sentiu-se levemente enojado com a pergunta que ressoava em seus pensamentos:
Estaria ela, a jovem intrigante a sua frente, apaixonada por esse cavalheiro?
Um arrepio frio e incômodo apoderou-se de e sua garganta pareceu fechar.
— Fui capaz de entender um pouco mais sobre ele durante minha viagem na Escócia, acredito que saiba que minha irmã e seu esposo moram lá. — a jovem falava normalmente, como se não tivesse sequer notado que, de um segundo para o outro, o corpo do conde tornou-se rígido.
engoliu em seco.
— É capaz de achar-me impróprio após essa pergunta, mas a senhorita apaixonou-se por lá, lady ? — a voz saiu ainda mais baixa, para que a acompanhante atrás deles sequer ouvisse o som de sua voz. O conde virou o rosto para observar a dama a seu lado, que possuía um sorriso nos lábios e os olhos distantes, como se visualizasse o passado.
Conteve o suspiro frustrado, sua resposta estava exposta e entregue na expressão da jovem.
Ele só não conseguia compreender o motivo pelo qual se sentia tão frustrado com isso.
— Apaixonei-me por cada canto daquele lugar, é como uma versão mais cativante de Kent, e, como eu amo o campo, não pude evitar ficar tão encantada por aquele local. Aberdeenshire possui as paisagens dos campos ingleses e a agitação de Londres, além de um litoral de tirar o fôlego. — os olhos da jovem brilhavam, e, movido por uma ponta de esperança, esperava que era apenas pelas paisagens que a jovem tivesse se apaixonado. — Contudo, o amor ao qual eu me referia, era o de minha irmã e seu esposo, era possível reconhecer e sentir o sentimento entre eles, mesmo eu sendo uma mera espectadora.
O sorriso voltou a aparecer nos lábios do conde, a senhorita não estava falando dela, afinal.
— Sua irmã casou-se com o conde de Aberdeen, correto? — questionou, recebendo um singelo balançar de cabeça como resposta. — A Escócia é um lugar deveras bonito, mesmo sem conhecer Aberdeenshire, compreendo o motivo pelo qual gostou tanto do local. Contudo, sequer cogitaria o pensamento de que a senhorita aprecia a paisagem campestre.
Uma risadinha, sem ironia ou desprezo, saiu dos lábios de , encantando ainda mais o conde.
— O senhor não conhece-me, milorde, não sou igual as outras jovens que anseiam unicamente pela temporada para que arranjem um bom casamento, eu prefiro as férias em Primrose Hall e a calmaria do campo ao fim da temporada.
O sorriso já presente nos lábios de , tornou-se ainda maior.
— Pois então compartilhamos do mesmo apreço pelo campo.
Uma risada fraca e descrente escapou dos lábios da jovem ao seu lado. O conde encarou , observando a expressão descrente no rosto da jovem.
— Creio que não acredite no que acabei de lhe confidenciar. — a jovem o encarou nervosa. — Não pense que irei ralhar com você ou lhe repreender, mas gostaria de compreender o motivo pelo qual não acredita que sou um apreciador da pacatez em Kent.
Os olhos de tremeram levemente, como se duvidasse da palavra do conde, mas um suspiro deixou os lábios da jovem, dando para a certeza de que ela compartilharia o motivo pelo qual discordava do conde, mesmo que possuísse o conhecimento de que não era o apropriado.
Contudo, já tinha notado que não era a melhor em etiqueta quando se tratava de seus pensamentos.
— Não consigo crer que um desavergonhado como o senhor, poderia apreciar a calmaria do campo ao invés dos pecados noturnos londrinos.
Uma risada não tão nobre, porém verdadeira, saiu dos lábios do conde.
— Aprecio sua sinceridade, milady. — lhe direcionou uma piscadela, observando as bochechas de ganharem um tom avermelhado. — Ainda sim, preciso lhe confessar que confessar que aprecio mais o silêncio do campo e a calmaria que eu costumava usufruir sempre que estava em Fitz Manor.
— É a casa de sua família, correto? — o conde anuiu com um movimento singelo de cabeça. — Dizem muitas maravilhas sobre o jardim de sua mãe, que perde o posto de mais bonito apenas para os jardins reais.
Um sorriso sincero e grande estampou os lábios de , se sentindo estranhamente satisfeito por possuir o conhecimento de que, de alguma forma, sabia ao menos um pouco sobre sua vida além de suas antigas libertinagens.
— Desenvolvi o amor pelo campo com minha mãe, sou um belo conhecedor de plantas graças as temporadas que passamos no campo, boa parte das flores atuais em nossos jardins em Kent, foram plantadas por mim. — um sorriso surpreso ocupou os lábios de , fazendo se sentir ainda mais satisfeito
. — Nunca tive uma boa mão para o plantio ou a paciência para esperar que a semente brotasse. — a jovem confidenciou com um riso fraco. — Eu adoraria poder abandonar Londres por alguns dias e me refugiar em Kent, mas enquanto temos a temporada, preciso contentar-me em caminhar pelo Hyde Park e sentir os aromas das flores dispostas por aqui.
Uma curiosidade ocupou toda a mente de .
— Passeia pelo parque todos os dias? — questionou curioso.
— Não, consigo apenas duas vezes por semana dependendo dos compromissos da temporada e do clima.
abriu a boca para que pudesse falar, mas logo emendou:
— Agradeço pela companhia e pela conversa, milorde, mas já compartilhei tempo o suficiente com o senhor para que eu ainda possua a etiqueta de questioná-lo se gostaria de entrar para tomar uma xícara de chá. — os olhos de o olhavam com um traço de diversão, por mais que suas palavras não possuíssem esse tom.
encarou rapidamente a casa à frente deles, vendo que a dama de companhia de já se encontrava de frente para os degraus que a levariam para dentro da casa, tornando a encarar a jovem posta ao seu lado. Desfez o contato de seus braços, não tardando em segurar os dedos de e depositar um beijo no dorso de sua mão.
— Espero encontrá-la novamente, milady, e peço aos céus para que seja logo, não se ainda sou capaz de sobreviver sem ser agraciado com sua beleza.
O rubor voltou a tomar conta das bochechas de — abrindo um sorriso ladino nos lábios do conde — e o breve contato entre suas mãos, abafado pelas luvas que trajavam, foi suspenso.
— Adeus, milorde. Ao que depender de mim, espero não precisar deparar-me com o senhor nem tão cedo.
Antes que pudesse permitir-se se sentir chateado, um sorriso singelo apoderou-se dos lábios de , e, por esse breve momento, o conde esqueceu-se como respirar.
Aparentemente, a jovem não o odiava, afinal.

A mente de não parava de pensar no conde e na atípica tarde que compartilharam no passeio. O único pensamento em sua mente era o conde de Middlesex, com seus sorrisos ladinos e suas expressões que fariam qualquer jovem cair de amores.
Não estava apaixonada pelo conde, não era tola a este nível, mas não conseguir parar de pensar nele a deixava confusa e exasperada.
Não o considera mais alguém tão repugnante por causa de seu passado, de fato ele era um cavalheiro melhor do que muitos nobres com o qual já tivera o desprazer de conhecer. Não que cogitasse que ele era um marido aceitável, bem longe disto, mas a forma como ele não a repreendia pelo modo como ela falava — até mesmo rindo de seus comentários mais sinceros e inoportunos —, e a incentivava a compartilhar seus verdadeiros pensamentos.
tinha a tola sensação de que parecia que o conde queria saber verdadeiramente sobre ela.
Não perguntou quanto filhos ela queria ter, quantos idiomas sabia, quais instrumentos tocava e se poderia cuidar das crianças sozinhas, já que um homem aristocrata precisava cumprir seus deveres com o parlamento.
Perguntou se ela sabia ler, e então a questionou sobre seus livros preferidos. Perguntou sobre sua temporada na Escócia e sobre seus passatempos. Conversaram como dois bons amigos, e isto já foi o suficiente para distinguir-se de todas as conversas que teve desde o início da temporada.
A jovem chegou então à conclusão de que ele até era minimamente decente.

Naquela noite, quando dormiu, ela sonhou com um par de olhos que transbordavam paixão e desejo, direcionados especialmente a ela. O único detalhe, era que os olhos eram deveras similares aos do conde de Middlesex.


sentia-se exaurida.
Completamente exausta da rotina de bailes que seguia constantemente a mesma.
Arrumava-se um pouco animada — sempre com o pensamento de que aquela noite seria diferente —, chegava nos grandes salões de baile da alta sociedade, cumprimentando todos que sua mãe achasse ser deveras importante, e então dançava uma, duas, três e, às vezes, até mesmo cinco valsas em uma noite. Os homens sempre eram estimados cavalheiros, todos com a classe social igual ou superior a sua, até mesmo um marquês tinha a convidado para dançar naquela noite.
Contudo, era sempre a exata mesmice.
sentia como se só a aparência da pessoa a sua frente mudasse. A dança, as perguntas, o suposto interesse, todos eles eram exatamente a mesma coisa. As perguntas que recebia não eram sobre ela, eles não desejavam conhecê-la verdadeiramente, as perguntas eram as quais fora ensinada a vida toda quais deveriam ser as respostas.
“Acredito que a quantidade ideal de filhos seja a que meu esposo desejar.”
“Estudei inglês, francês e espanhol, milorde, poderei ensiná-lo a meus filhos.”
“Não importo-me com o tempo que meu futuro marido passará ausente, terei meus filhos para que me façam companhia.”
podia jurar que se necessitasse repetir aquelas frases, qualquer uma delas, mais uma vez naquela noite, ela iria expelir tudo o que comera durante o dia no primeiro que cruzasse a sua frente.
Ela odiava aquelas perguntas usuais, odiava as respostas que era obrigada a dar e odiava ainda mais — ela não sabia se a si mesma ou os outros cavalheiros — o fato de que não podia ser sincera e dizer o que de fato desejava.
Ela odiava o fato de não poder conversar com eles do mesmo modo que conversava com , sem se importar em como ele reagiria ou o que falaria dela no dia seguinte para as outras damas da sociedade.
O pensamento instantaneamente a fez se sentir sem ar. O salão de baile dos Flaschbell de repente pareceu pequeno para o tanto de gente presente no recinto.
— Preciso de um ar. — murmurou para a mãe e saiu dali antes mesmo que ouvisse uma resposta.
Suas mãos suavam por dentro das luvas que começavam a grudar em sua pele, sua respiração descompassada fazia com o que alguns olhares virassem em sua direção conforme ela caminhava em direção às enormes portas duplas que estavam escancaradas.
Ela sabia que o pequeno ataque de nervos que lhe acometia não era sem motivos, pelo contrário, ela sabia muito bem o motivo e isso a fazia ficar ainda mais nervosa.
— Infernos! — praguejou baixo ao livrar-se das luvas quando enfim alcançou um caminho que parecia levar para os jardins.
— Não sabia que damas podiam blasfemar. — o corpo todo de resetou ao ouvir o tom de voz.
Seus pelos se eriçaram e sua respiração tornou-se ainda mais descompassada. virou-se, apenas para constatar o óbvio, e estava alguns passos atrás dela, com um sorriso de lado. Ali estava o motivo do seu ataque de nervos, a razão pela qual todas as outras danças e conversas tinham lhe soado tão falsas e agoniantes. Nenhuma delas eram com o conde de Middlesex.
Nenhuma delas era com .
E isto a deixava estarrecida.
Como ela, uma jovem a ser desposada, poderia querer que todos os outros pretendentes fossem ao menos um pouquinhos mais similares ao libertino parado à sua frente.
— Você sumiu. — as palavras saíram dos lábios de sem sua permissão, fazendo-a se arrepender no segundo seguinte ao ver o sorriso de se alargar.
Não desejavas ter dito aquilo, mas era verdade.
Após o dia em que caminharam até sua casa, não tinha mais visto o conde. Não que esperasse de fato que ele fosse formalmente a cortejar em sua casa ou mandar um arranjo de flores, mas sequer chegou a encontrá-lo nos bailes que sucederam esse dia.
Sete bailes, para ser exato. Pouco mais de duas semanas e meia.
Não que ela estivesse contando…
Mas a ausência do conde tornava-se ainda mais amarga com o passar dos dias em que sua presença pairava apenas em sua mente. Não tivera um dia em que a figura de não estivesse presente nos pensamentos de , e aquilo começava a deixá-la aflita.
— Um problema com o condado fez com o que eu me ausentasse da temporada nos últimos dias. — ele respondeu simplesmente, mas o sorriso vitorioso ainda estava presente em seus lábios.
Vitorioso, pois ele achava uma conquista ter notado sua ausência.
— Se achou que eu tinha desistido de cortejá-la, minha cara, sinto muito em lhe avisar. — ele aproximou-se. — Não desistirei tão fácil.
— E o que o leva a pensar que eu aceitaria seus cortejos e cogitaria seu pedido? — os olhos de tornaram-se debochados, mas sua voz não transmitia a mesma certeza de antes.
O conde riu baixo, aproximando-se um pouco mais, parando de frente a jovem e deixou que os dedos de sua mão esbarrasem nos dela. prendeu a respiração, o singelo toque em seus dedos a fez ficar sem palavras. Não por causa do ato em si, mas ao que ele lhe remetia.
As imagens de seus sonhos não demoraram para aparecer em sua mente, seus olhos pareciam nublados e apenas o que conseguia visualizar era as imagens criadas por sua mente traiçoeira, fazendo-a se sentir ridiculamente devassa. Sua mente estava repleta de sonhos nada puritanos e todos eles, sem nenhuma exceção, envolviam o conde parado à sua frente.
E isso fazia suas bochechas arderam tão forte, que não duvidava que pudesse ver o rubor em suas bochechas mesmo com a pouca iluminação do jardim.
não sabia quando tinha começado e nem como, mas o desejo de sentir, ao menos as mínimas sensações que seus sonhos a proporcionavam, a tomou por completo tão forte quanto o desejo de que a tomasse para si.
— A senhorita negaria meu desejo de cortejá-la, senhorita ? — a voz soou rouca conforme as mãos de começavam a passear por suas mãos despidas.
O carinho começou na ponta de seus dedos, tão leve e sutil que podia questionar-se se ele de fato a tocava ou se era apenas o desejo dela de que ele o fizesse. O carinho foi subindo por todo o seu braço, vagarosamente, até chegar às bochechas de , onde continuou o carinho.
Aquele toque era impróprio, até mesmo indecente, mas não sentia vergonha, apenas desejava que a pele de continuasse em contato com a sua.
— Negaria? — perguntou ele outra vez, mordendo o sorriso satisfeito que queria rasgar seus lábios.
apenas negou com um singelo balançar de cabeças.
— A senhorita costuma ter tanto o que dizer, não tem nada para falar nesse momento? — questionou, o tom de voz calmo contrastando com o fogo em seus olhos.
Os olhos de tremeluziram conforme ela era tomada por um momento único de coragem. — Gostaria de fazê-lo uma pergunta.
concordou com um aceno de cabeça, não cessando o carinho e fixando o olhar nos olhos nublados de .
— És uma simples pergunta, és capaz de responder-me apenas com sim ou não. — pausou novamente, aguardando por outro aceno de cabeça que não tardou em receber. — O senhor deseja-me?
De todas as perguntas que o conde poderia cogitar, aquela não fazia parte das que esperava que o perguntasse, e isso o deixou atônito.
— Não responderei isto a você, senhorita , não é assunto para se conversar com uma dama. — respondeu após alguns segundos, cessando o carinho que fazia.
Os olhos de se tornaram semelhantes a fendas, tão estreitos que pareciam estar fechados. Ela queria aquela resposta, ansiava por ela. Não poderia estar fantasiando com um homem que sequer a desejava. Era categórico que, pela sociedade, ela sequer deveria possuir os sonhos que vinha sonhando — ou saber da vida de um casal após o casamento —, muito menos perguntar a um cavalheiro se ele a desejava.
Céus, era imperdoável e sujo o que estava fazendo, mas ela queria saber. Não desejava ser a única a nutrir o desejo que aprecia queimar seu corpo pedindo para que fosse saciado.
— Por favor, não é hora de ser um cavalheiro, . — deu um passo hesitante, na dúvida se de fato deveria aproximar-se.
Afinal, ela não desejava nada além da resposta para a sua pergunta imprópria.
Era tudo o que queria, ou ao menos queria forçar seu corpo a acreditar que era isto.
— Não posso, não posso. — o conde repetiu conforme balançava a cabeça de forma negativa, como modo de reafirmar o que dizia.
Naquele momento sentiu toda a vergonha tomar conta de seu ser, arrependendo-se amargamente de não pensar duas vezes antes de simplesmente falar. Ela deveria, no mínimo, estar parecendo extremamente patética após seu questionamento para saber se ele a desejava.
A única coisa que tinha feito que poderia chocar a sociedade, era o singelo estalar de lábios que compartilhou com um desconhecido durante sua estadia na Escócia. Já , bem, era mais fácil procurar algo que ele tivesse feito que não chocou a sociedade.
— Eu não posso respondê-la. — repetiu , arrancando um suspiro frustrado de .
— Eu já tinha entendido na primeira vez, milorde. — murmurou contrariada e envergonhada.
riu, o som saindo baixo e rouco.
— Não, a senhorita não está entendo. — seu tom de voz tornou-se suplicante. — Eu não posso respondê-la, pois assim que o fizer, estarei admitindo para nós dois e então como ei de conter o desejo de provar seus lábios e tomá-la em meus braços? E isto, este simples ato, faria-me perder todo o controle e decoro que estou inutilmente tentando manter.
abriu os lábios para falar, mas, outra vez, o conde a deixara sem palavras.
— Sabes o que isso significaria? — murmurou ironicamente, não esperando por resposta. — Eu estaria me entregando aos meus desejos mais devassos e todos eles envolvem o que desejo fazer com a senhorita, e um beijo só não seria o suficiente para que minha mente e meu corpo se sintam tão satisfeitos com tudo o que ela vem imaginando.
suspirou, os olhos aflitos encaravam como se a qualquer momento ela pudesse sair correndo dali, assustada o suficiente com tudo o que ele lhe dissera.
— Não posso admitir e não posso beijá-la, por mais que queira muito realizar os dois, ainda sou um homem de honra e um cavalheiro. — ele pausou. — E tudo o que se passa em minha cabeça, tudo o que eu desejo fazer com você, nada ali sequer passa perto do que uma debutante, uma jovem que anseia ser desposada, deveria ouvir.
fechou os olhos, desejando que esquecesse a honra e tudo mais.
Ali, nada mais importava a não ser o desejo dos dois.
— Então deseja-me. — o tom de voz saiu levemente surpreso.
Os olhos em fendas analisavam o homem à sua frente em uma clara procura de que o conde brincava com suas palavras, por mais que o modo como ele falara não a fizesse sequer ter dúvidas.
deixou que uma risada descrente soasse baixa.
— Eu lhe desejo desde a noite que coloquei meus olhos em ti pela primeira vez naquele jardim dos St. Clair, a partir daquela noite, a senhorita tornou-se a atração principal de meus sonhos, estrelando-os em todas noites que vieram a seguir. — o tom de voz rouca era dito com uma necessidade que fez com o que se arrepiasse. — Acredito que, desde o dia que lhe conheci, não desejei nenhuma outra mulher a não ser você, unicamente você. Ansiei poder deleitar-me com seu corpo, provar a maciez do seus lábios e desfrutar de todo o prazer que eu poderia proporcioná-la.
deu o último passo que os distanciava, o corpo tremendo de desejo em relação às palavras que escutara. Estavam cara a cara, milímetros de distância, mas apenas suas testas se tocavam.
— Meu corpo clama pelo seu, . — o modo como ele pronunciou seu nome fez suspirar fundo. — Minha mente, meus lábios e todo o meu corpo anseiam em tê-la por inteiro para mim, mas essa noite, contento-me apenas com o fascínio que seria poder desfrutar de seus lábios.
— Então beije-me, eu venho desejando-o em silêncio por isto, por ti. — resfolegou ela, sem forças para falar mais do que isto. As palavras de fizeram arquear as sobrancelhas, surpreso com o que tinha ouvido, o levando a confessar o que nem mesmo ele entendia:
— Eu a desejo, isto és claro desde o primeiro momento que a encarei, mas após um determinado momento, não era só o desejo que lhe era atribuído quando eu a encarava.
piscou os olhos, questionando-se mentalmente se ele falava sobre o que ela imaginava.
— É um sentimento novo, diferente, e ele não és atribuído a mais ninguém a não ser a ti, apenas a senhorita faz com o que eu me sinta desta maneira. — os lábios de tremeram, incertos de se deveria continuar. — Desejo não és o único sentimento que eu nutro por você, , e sinto-me afortunado por ser capaz de demonstrar isto para ti..
E disto isto, ele selou seus lábios.

Naquela noite, nenhum dos dois precisou sonhar com o beijo que ansiavam. Ele de fato tinha acontecido, e tinha sido melhor do que qualquer um poderia imaginar.




Fim!



Nota da autora: Esse não seria o meu plot, mas saiu a segunda tempoarada de Bridgerton e não satisfeita em assistir, eu também li mais da metade da saga, o que consequentemente me obrigou a modificar meu plot inteiro, mas me fez amar essa fic. Espero que vocês tenham gostado o mesmo tanto que eu gostei de escrever!





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