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Última atualização: Fanfic finalizada.

Capítulo Único

O barulho do alerta de chamada ecoou pela noite, cortando o silêncio de forma ensurdecedora e parecendo três vezes mais volumoso que o normal.
resmungou uma série de palavrões, puxando o celular de seu bolso e se praguejando mentalmente por ter esquecido de colocá-lo no silencioso.
Ele precisava de paz, era tudo o que buscava quando subiu na Varsóvia, a embarcação que era uma herança de seu pai.
Seus olhos se fixaram no visor, onde um nome continuou brilhando até o momento em que a chamada se encerrou, porém, antes que o homem comemorasse, mais uma vez o alerta fez seu coração dar um salto de susto.
Bufou.
Não tinha jeito. Ele teria que atender à chamada.
Irritado, levou o aparelho até a orelha.
? Onde foi que você se meteu? Eu e sua mãe estamos loucas de preocupação! — a voz de , sua esposa, ecoou do outro lado da linha, fazendo-o soltar um longo suspiro.
— Eu… Eu perdi a noção do tempo, — foi sincero, seu tom de voz exalando o cansaço que sentia.
— Como assim perdeu a noção do tempo? Você tem ideia de que horas são, querido? E você não estava atendendo! Isso nos fez imaginar que estava afogado e outras coisas horríveis.
A pontada de culpa fez o homem torcer o lábio, então ele dirigiu seu olhar para o céu noturno, apreciando a ausência de estrelas porque apenas o brilho do farol local era o bastante para que a vista fosse perfeita.
— Resolvi chegar um pouco mais perto do farol. Não se preocupem, eu estou bem — respondeu de forma mecânica e pôde ouvir a esposa bufar em protesto.
— Você sabe que não pode navegar sozinho até o farol nessas horas, . É perigoso! Por que não chamou Aaron para ir com você?
— Não sou nenhuma criança, . Sei me cuidar, relaxe. — E seu tom de voz indicava que realmente não estava preocupado com nada.
… — a mulher iniciou, porém foi interrompida.
— O problema de vocês é que acreditam demais nas lendas dessa cidade. Não tem nada naquele farol, meu amor. — Piscou, só se dando conta de que a esposa não poderia vê-lo segundos depois.
— Não estou falando disso. Não se pode navegar sozinho à noite, . Todo mundo sabe disso.
suspirou.
— Eu preciso disso, . Só assim vou conseguir me sentir em paz.
— Por que, amor? Já passou tanto tempo. Tenho medo do que pode te acontecer — confessou com sua voz quase falhando.
— Ei, daqui a pouco já estarei de volta. Que tal você pedir aquela comida tailandesa que tanto gosta? Assim que eu chegar, podemos jantar e assistir o filme que não sai da sua boca… Qual é o nome mesmo?
soltou uma risadinha baixa.
— The Witcher não é um filme, amor. É uma série. Tem certeza de que quer assisti-la mesmo? — Franziu o cenho, embora tentasse se sentir um pouquinho menos preocupada com o marido.
tinha um poder absurdo de distraí-la, porém seu coração estava apertado e ela continuava repetindo para si mesma que precisava relaxar.
— Tenho. Que mal vai fazer além de eu ter que te ouvir babando no grandalhão lá? — brincou, o que arrancou mais uma risada dela, dessa vez um pouco mais leve.
— Ok. Estou convencida. — Mordeu a boca. — Mas volte logo para casa. Não gosto de saber que está sozinho, .
— Voltarei, meu amor, fique tranquila. — Sorriu, tendo a certeza de que ela perceberia o gesto mesmo não podendo vê-lo. — Eu te amo.
— Te amo mais, querido.
Dois segundos depois, voltava a guardar o celular em seu bolso, focando sua completa atenção à construção que aos poucos ia se aproximando.
Desde criança, havia aprendido a navegar. Seu pai era marinheiro e havia lhe ensinado tudo o que sabia. Porém o gosto por aquilo não era só o que os unia. sonhava compartilhar a mesma profissão que o pai.
Nada parecia mais certo do que estar em uma embarcação. Até o momento em que tudo aquilo deixou de fazer sentido.
Momento este que coincidiu com a misteriosa morte de Harold .
Seu corpo nunca foi encontrado. Tudo o que se sabia era que Harold havia saído para navegar e nunca mais retornou.
Na manhã do dia seguinte, a Varsóvia foi achada atracada no farol da cidade e depois de semanas de busca o homem foi dado como morto.
não conseguiu sequer olhar para o mar durante anos, até o dia em que resolveu enfrentar seus próprios demônios.
E ali estava ele. Seguindo em direção ao mesmo farol onde seu pai havia partido, tentando não se agarrar ao fio de esperança de encontrá-lo ali com vida, porque sabia que era impossível.
Se todos os boatos sobre aquele lugar fossem verdadeiros, Harold não teve a menor chance.
Dizia a lenda que o farol de Little Hampton era o lar de uma figura feminina que vagava solitária.
Para algumas pessoas, era uma sereia. Outros falavam que era a própria morte em carne e osso. Porém o boato mais contado era o de que uma jovem foi assassinada no local, mas não se dera conta daquilo e por isso seu espírito perambulava eternamente por ali. Ela se aproximava de quem visitava o farol e pedia por ajuda, mas ninguém nunca tinha as respostas que ela precisava, então, cheia de ira, a mulher se vingava, matando quem lhe poupava da verdade.
A lenda se fortaleceu quando Harold desapareceu e as autoridades chegaram a fechar o farol, não permitindo que ninguém visitasse nem mesmo seus arredores. Ele não havia sido o primeiro homem a simplesmente sumir sem deixar rastros e aquilo não poderia mais se repetir.
, no entanto, não se importava se poderia ser preso ao invadir aquela propriedade. Precisava de respostas, precisava ao menos tentar entender o que havia acontecido. Só assim conseguiria finalmente se despedir de seu pai.
Sabia que não teria muito tempo até que a guarda costeira percebesse sua presença no local e viesse verificar, então não hesitou assim que a Varsóvia atracou.
O farol fazia seu trabalho de iluminar toda a região, mas, só por precaução, ligou a lanterna de seu celular, seguindo em direção à antiga construção.
A porta rangeu mais alto do que imaginava e a impressão que teve foi a de que aquele barulho atravessaria o mar e alcançaria a cidade em mais um alerta de intruso.
hesitou na entrada do ambiente, sentindo o vento frio bater em suas costas e o cheiro da maresia se misturar ao do acúmulo de poeira, o que causou um certo incômodo em seu nariz.
Um acesso de espirros naquele momento era o que menos desejava.
Por algum motivo, toda a coragem que sentiu enquanto ia até o grande farol simplesmente se esvaiu em uma fração de segundos e o homem abraçou o próprio corpo.
Sua intuição de repente lhe dizia que o melhor era se afastar dali o quanto antes.
Algumas verdades nunca deveriam ser desenterradas.
Deu dois passos para trás, virando-se para seguir de volta à sua embarcação.
Aquela ideia de ir até o lugar era realmente estúpida e ainda por cima havia deixado sua mulher em casa o esperando. O que tinha na cabeça?
Queria uma justiça que nunca teria.
Seus lábios tremeram. Um suspiro escapou de sua boca e antes que embarcasse, algo chamou sua atenção.
Um assobio distante o fez franzir o cenho e mais uma vez se voltar para o farol.
Engoliu a seco, empurrando para bem longe de sua mente todas as lembranças dos boatos que rondavam a cidade e se aproximou outra vez da construção.
Quanto mais perto ficava, mais alto era aquele som, o que lhe deu a certeza de que vinha, sim, de dentro do local.
A porta permanecia escancarada, outro farfalhar do vento bagunçou seus cabelos, mas daquela vez não hesitou ao adentrar o farol de Little Hampton.
Percebeu então que o assobio se transformava em uma melodia triste, até que subitamente foi interrompida com um soluço sufocado.
— Olá? — num ímpeto de coragem, a voz rouca de ecoou pelo ambiente, preenchendo-o instantaneamente.
Os soluços continuaram e o homem resolveu seguir os sons até encontrar sua origem.
— Eu sei que você está aqui. Consigo te ouvir. — Sentiu um arrepio em sua espinha e um aperto no peito.
Estava indo contra todos os seus instintos que lhe diziam para ficar quieto e fugir.
— Ei! — Subiu uma escada circular e lamentos baixos tomaram o lugar dos soluços.
Mas que caralho. Por que não me responde?
Talvez devesse mesmo seguir seus instintos, dar o fora dali e ignorar a pessoa que certamente precisava de ajuda.
— Por favor, não vá embora. — Conseguiu distinguir algumas palavras, bem como o tom feminino da voz.
— Onde você está? Me dê algum sinal. — Olhou em volta, esperando que realmente fosse atendido.
No entanto, isso não aconteceu.
Então não pare de falar.
— Não vá embora. Por favor, não vá embora — a voz continuou repetindo.
perdeu a conta de quantos lances de escada subiu e só percebeu estar no alto do farol quando a luz atingiu seu rosto, quase o deixando cego.
O homem ergueu uma das mãos, então deu mais alguns passos, não localizando ninguém.
Até que finalmente a viu.
Parada há alguns metros dele, estava a silhueta a quem pertencia a voz.
E quando a luz a revelou por completo, precisou sufocar um grito de horror.
Ela parecia ter saído do mar naquele exato momento. Seus cabelos tinham um tom de loiro escuro e estavam empapados de sangue e sujeira.
A pele esverdeada trazia marcas de mãos em toda a extensão dos braços, pernas e costas, e a mulher estava completamente nua.
O medo não deixou se afastar. Prendeu suas pernas no chão e sussurrou em seu ouvido que qualquer movimento o faria desmoronar e perder sua vida.
— Me ajude. — O rosto se virou em sua direção e a boca do homem ficou tão seca que arranhava.
Os olhos da mulher estavam completamente tomados pelo sangue, que transbordava pelo rosto esquelético.
A boca, com os dentes apodrecidos, havia se aberto, e não sabia se a pior visão era o rosto ou o restante do corpo dela, repleto de marcas escuras e cortes.
— O que aconteceu com você? — balbuciou as palavras, porque não tinha alternativa. Suas pernas se recusaram a se mexer.
— Me ajude a descobrir.
Os olhos de se preencheram pelas lágrimas. Ele sabia o que aquilo significava.
A lenda urbana era real.
Aquela era Malina Johnson.
— V-você foi assassinada — contou o que diziam nos boatos.
— Como? — A voz dela ficou chorosa e os soluços voltaram a ecoar, tão perturbadores que pareciam penetrar os ossos do homem.
Ele engoliu a seco, tentando buscar em sua memória detalhes do que se sabia sobre o caso.
No entanto, estava nervoso demais. O medo da morte o impedia de raciocinar.
— Eu… E-eu não sei, Malina.
Pediu aos céus que tivesse misericórdia. Que conseguisse escapar dali e não tivesse o mesmo destino que seu pai.
Naquele momento, não havia mais nada que lhe dissesse o contrário.
— Mentira — a mulher rosnou.
— N-não…
— Mentira! — Avançou para cima de , o segurando pelo pescoço com seus dedos pútridos.
A força de Malina era sobrenatural e o odor fez o homem engasgar, cambaleando para trás enquanto tentava se desvencilhar dela.
— Por favor… — Sua voz fraca quase não pôde ser ouvida.
— Você mente como todos os outros. Como ele mentiu pra mim. Você merece apodrecer aqui.
Não. Eu não vou morrer assim, caralho.
Num último ato de coragem, empurrou a mulher com toda a força que possuía.
No entanto, não contava que estivesse tão próximo à beira da escada.
Por breves segundos, ele se viu livre e teve a esperança de que conseguiria fugir.
Então seu corpo se lançou escada abaixo e a dor foi atingindo cada parte sua sem que conseguisse frear.
O estalo do pescoço do homem se partindo ecoou ainda mais alto que o ranger da porta.
E seguido dele, o assobio lamentoso de Malina Johnson voltou a ser entoado.



FIM



Nota da autora: Eu adoro escrever um terrorzinho com espíritos, não vou negar, não.
Espero que vocês tenham gostado. Comentem aqui para eu saber e continuar postando mais fics como essa!
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Beijos e até a próxima.
Ste.



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