Interview


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Última atualização: Agosto de 2024

Capítulo 1

Os cliques rápidos e constantes da sala de redação do Metropolitan preenchiam os ouvidos atentos de Liv todos os dias, uma sinfonia frenética que ecoava a pulsação incessante da cidade. Cada tecla pressionada, cada chamada telefônica era uma nota na composição caótica que impulsionava a máquina de contar histórias da qual ela fazia parte. Era um lugar onde as palavras não apenas eram impressas nas páginas do jornal, mas ecoavam pelas ruas da cidade, moldando a narrativa coletiva de Nova York.
Liv navegava por esse mar de informações; ela se tornou a maestrina de sua própria história, escolhendo meticulosamente as notas que formariam sua melodia jornalística. Ela sempre quis viver daquele jeito; ela também amava o caos de Nova York, o trânsito, a pressa, as pessoas; tudo era como um filme onde ela era a personagem principal.

— Bom dia, pessoal. Como estão? - sorriu ao entrar na grandiosa sala e foi recebida por um estagiário que devia estar no seu terceiro ou quarto período.
— Bom dia, Liv. O Alexander espera somente por você na sala de reuniões, disse que é importante. Eu estou indo comprar café, quer um?
— Claro, obrigada. Ah, sim, aceito. Qualquer um com canela está ótimo. - sorriu amigável e o estagiário saiu em retirada.

Liv respirou fundo e foi até a sala de reuniões onde só faltava a cadeira dela ser preenchida. Ela odiava atrasos, odiava ser a última a chegar em qualquer coisa, principalmente ali. Ela bateu na porta delicadamente e entrou pedindo desculpas. Seu chefe Alex deu um sorriso compreensivo e indicou o lugar dela.
Andrew Monroe, o jornalista rival, lançou um olhar de desdém na direção de Liv, insinuando que estava sempre um passo à frente. No entanto, ela estava determinada a não deixar que suas provocações abalassem sua concentração.
Alex deu um pigarro e os dois, juntamente aos demais, o olharam com olhos curiosos e expectativos. Alex era um chefe incrível, mas era centrado e muito autoritário. Alex é conhecido por transformar histórias comuns em narrativas envolventes que ressoam com a diversidade dinâmica de Nova York. Seu escritório, repleto de prêmios e fotografias marcantes de reportagens passadas, é um testemunho do seu compromisso com a verdade e a excelência jornalística. Embora exija o melhor de sua equipe, Alex também é um mentor dedicado, orientando jovens jornalistas em ascensão.

— Bom dia a todos. Como estão? Eu vou direto ao ponto. Temos uma oportunidade única diante de nós, pessoal. Uma promoção para a filial de Londres. É uma porta que se abre para quem estiver disposto a se destacar. E para isso, precisamos de uma história que não apenas atraia, mas que envolva o público. Algo que vá além das manchetes comuns — declarou Alex, sua voz ecoando pela sala de reuniões. - Vocês tem uma semana pra me apresentar um projeto completo. A editora de Londres nos deu seis meses, mas sei que vocês conseguem em bem menos.

Enquanto Alex compartilhava os detalhes da competição e da necessidade de produzir uma reportagem com 10 milhões de cliques em um mês, Liv sentiu a adrenalina pulsar em suas veias. A ideia de conquistar Londres era excitante, mas a chave para isso era uma história verdadeiramente excepcional. A sala se encheu de murmúrios e discussões enquanto cada repórter começava a elaborar suas estratégias para conquistar a promoção. O ambiente estava carregado de expectativa e entusiasmo. Liv, por sua vez, começou a visualizar sua estratégia para a competição. O desafio estava lançado, e ela estava pronta para transformar o ordinário em extraordinário.
Após a reunião, Liv voltou à sua mesa, cercada por um cenário frenético de jornalistas trabalhando incansavelmente em suas matérias. O burburinho da redação era como música para seus ouvidos, alimentando sua paixão pelo jornalismo. A competição seria intensa, mas ela estava determinada a não apenas participar, mas a vencer.
Enquanto isso, Andrew já esboçava sua estratégia para a competição. Ele observava Liv com olhos perspicazes, ciente de que ela era uma concorrente formidável. A rivalidade entre os dois estava prestes a atingir novos patamares, e a batalha pela promoção se desenrolaria não apenas nas manchetes, mas nos bastidores da redação.
Na hora do almoço, Liv se encontrou com sua amiga Jordan em um bistrô perto da redação, onde Liv papeou sobre a promoção e Jordan se ofereceu para ajudar no que pudesse.

— Liv, essa parada é sua. Com certeza. - disse enquanto beliscava uma batata do seu prato.
— É. Mas você esqueceu do meu nêmesis, o Andrew. Ele com certeza vai vir com algo extremamente chocante, como sempre.
— É. As matérias dele são boas, mas você tem garra e talento. Isso também conta.
— Mas não faço a menor ideia do que pode dar dez milhões de cliques. - bufou.

Jordan sorriu de maneira conspiratória, mexendo a colher no suco como se estivesse prestes a revelar um segredo.

— E se você conseguisse uma entrevista exclusiva com alguém? Tipo, Ozzy Osbourne. Dizem que ele tá só esperando pra subir. Ou descer. - sugeriu, levantando as sobrancelhas.
— Ozzy Osbourne, Jordan?
— É. Esquece…
— Mas gosto da ideia de ir atrás de ídolos antigos. Vou pesquisar sobre isso.

As amigas se despediram, e Liv voltou ao trabalho, disposta a conseguir aquela promoção custe o que custar. Ao anoitecer, quando foi para casa, tomou seu banho, colocou seu pijama e sentou-se frente à sua escrivaninha. Começou a listar os ídolos que lembrava ter acompanhado. Percorreu por cantores, personalidades, bandas, atrizes e atores, até que se lembrou de uma pessoa em específico: . Era o queridinho da América; tudo que ele tocava era ouro. Mas ele desapareceu no auge da sua carreira e nunca mais foi visto; apenas sabiam que estava vivo porque o viram uma vez na fase adulta e não quis dar entrevistas. Uma entrevista exclusiva com ele poderia ser a peça-chave para conquistar Londres. Todos iam querer saber o que aconteceu com ele. Ela só precisava de uma coisa: achar .

No dia seguinte, marcou um café cedo com Jordan no centro da cidade, ansiosa para contar sua ideia e pedir ajuda para o próximo passo em sua intensa jornada para desvendar o paradeiro de .

— Jordan, eu preciso achar .. Ele vai ser minha matéria.
., ? Mas ninguém sabe dele há anos.
— Por favor, Jordan. Eu sei que você consegue achar ele.
….
— Por favor… - ela fez um biquinho pidão e a amiga se deu por vencida.
— Tudo bem! Relaxa, . Vou ver o que eu consigo fazer, tá?

agradeceu a amiga e seguiu para o escritório para mais um dia intenso na redação. Enquanto digitava suas matérias cotidianas, sua mente continuava a divagar sobre a busca por .. A promessa de Jordan de ajudar trouxe um certo alívio, mas a incerteza ainda pairava sobre ela. E se não achasse ele? Sobre o que ia escrever? Ela tinha certeza de que Andrew tinha a matéria perfeita na cabeça dele.
Ao longo do dia, manteve-se ocupada com suas responsabilidades profissionais, mas a obsessão por encontrar não a deixava. Ela sabia que a busca seria desafiadora, mas a determinação em descobrir mais sobre o paradeiro dele impulsionava cada palavra digitada em seu computador. Ela ia ganhar aquela promoção.
Mais tarde, decidiu fazer uma pausa para distrair a cabeça e respirar um pouco de ar fresco. Caminhou até a cafeteria mais próxima, pediu um café com canela e observou as pessoas passando pela rua movimentada. Enquanto saboreava a bebida quente, recebeu uma mensagem no celular.
Era Jordan, com informações sobre possíveis pistas relacionadas a . sentiu um misto de esperança e ansiedade ao ler as mensagens. Jordan havia descoberto que tinha sido visto pela última vez em uma pequena cidade a algumas horas dali.
Decidida a seguir a pista, terminou seu café rapidamente e voltou para o escritório. Ela sabia que precisava agir com rapidez, ela tinha uma semana para entregar o projeto e resolveu que se precisasse viraria a noite montando o seu portfólio.
Assim que deu seu horário ela partiu para casa e sentou na frente do seu computador e começou a montar o projeto de apresentação para Alex. Ela sabia que era um passo arriscado e talvez não funcionasse, mas ela tinha certeza que isso renderia sua promoção. Afinal, . era o tesouro da América, uma exclusiva depois de anos seria o maior furo no jornalismo nos últimos anos. E ela seria a repórter responsável por esse furo.


Capítulo 2

. Antigamente.

Os flashes passavam nos meus olhos enquanto os jornalistas gritavam meu nome. Era bom ser jovem e radiante, com cabelos desgrenhados e um sorriso cativante, como meus agentes falavam. Eu podia sentir a eletricidade no ar quando os gritos reverberavam, provocando a histeria nas ruas. Os gritos ensurdecedores, os olhares admirados e a energia contagiante pintavam um quadro de sucesso e euforia na minha vida. Eu era famoso e jovem. Eu vivia o sonho de muitos garotos e garotas da minha idade.
Entre os flashes de momentos de apoteose, surgiam os bastidores, onde eu podia ser eu mesmo. Eu tinha um minigame nos camarins, refrigerantes, fast food, todas essas besteiras de adolescente. Eu era bajulado em todo lugar que eu ia, era como se eu fosse até mais importante que o presidente.

— Bom dia, . - disse uma staff do programa. - Daqui quinze minutos estaremos ao vivo.
— Tá bom, muito obrigado.

Ela sorriu educada e fechou a porta. Levantei-me do sofá e fui até o banheiro escovar os dentes devido às comidas que eu devorei antes. Abaixei o rosto para lavar a boca e quando olhei novamente no espelho notei uma mancha vermelha atravessando minhas bochechas e o dorso do meu nariz. Estranhei de início e lembrei que o salgadinho era de pimenta, então imaginei que fosse aquilo. Estalei minha coluna, que vinha dando sinais de dor há alguns dias, e me ajeitei de novo. Teria que marcar um quiroprata assim que possível. Respirei fundo e esperei me chamarem novamente. Essa press tour seria a última antes do lançamento da nova temporada de Harmony Rhythms, onde eu interpreto Dylan Evergreen.

, é incrível tê-lo aqui hoje. "Harmony Rhythms" é um sucesso absoluto. Como tem sido interpretar o carismático Dylan Evergreen? - perguntou o apresentador segurando uma foto minha como Dylan.
— Obrigado, é uma jornada extraordinária. Dylan é um personagem tão complexo, e a série tem explorado tantas facetas dele. Mal posso esperar para os fãs verem o que está reservado para Dylan nesta temporada. - disse sorrindo.
— Com certeza, a expectativa está nas alturas! E falando em expectativas, há rumores sobre uma reviravolta surpreendente no próximo episódio. Pode nos dar algum spoiler?
— Adoraria, mas acho que seria melhor os fãs descobrirem por si mesmos. Vai ser uma montanha-russa de emoções. Tenho certeza.

Enquanto o apresentador continuava a entrevista, eu comecei a sentir uma súbita onda de tontura. Tentei manter a compostura, mas a sensação de fraqueza crescia a cada segundo. Disfarcei tomando alguns goles de água que pareciam estar ao meu favor e me ajudaram a levar o programa.

, agora nossa brincadeira favorita do programa é “O que tem na caixa?”, pode me acompanhar até nossa estação. - ele disse se levantando e eu o acompanhei.

Quando me levantei para ir até lá, o mundo parecia girar ao meu redor. Tentei dar um sorriso, mas percebi que ele me olhava com uma expressão visivelmente perturbada. Enquanto caminhava em sua direção, a tontura se transformou em um desequilíbrio palpável. Antes que alguém pudesse reagir, senti meu corpo se apagar.

Acordei com a vista embaçada e uma luz muito forte atrapalhou meus olhos a se acostumarem com o ambiente, suspirei devagar e fiquei com os olhos fechados tentando lembrar o que aconteceu. À medida que eu lutava para me livrar da visão turva, percebi que estava deitado em algum lugar desconhecido. Tateei meu corpo e senti algo pinicando e vi que estava com acesso no braço, provavelmente soro com alguma coisa. Os sons distantes começaram a se materializar, e minha mente começou a registrar vozes abafadas e passos próximos. Abri os olhos cautelosamente, deixando que a luz invadisse gradualmente minha percepção.
A imagem à minha frente começou a se formar, revelando uma sala de hospital. Um hospital. Mas por qual motivo? Máquinas emitiam sons familiares, e a brancura das paredes indicava que eu estava em um lugar de cuidados médicos. Enquanto minha consciência se ajustava à realidade, uma enfermeira gentil se aproximou.

— Você está acordado. Como está se sentindo? Sente alguma dor?

A resposta escapava de minha mente, as lembranças ainda eram difusas. Suspirei novamente, tentando encontrar pistas sobre o que me trouxe a esse estado. A enfermeira, notando minha hesitação, ofereceu um sorriso tranquilizador.

— Não se preocupe, a confusão é comum em situações de desmaio. Vamos dar um tempo para que as coisas se aclarem. Enquanto isso, posso chamar o médico para conversar com você, tá? - ela disse me dando um afago na mão e retirando

Enquanto ela se afastava para buscar assistência médica, meu olhar vagueou pela sala, buscando pistas sobre o que poderia ter levado a essa situação. Fragmentos de memória começavam a emergir, mas a verdade completa ainda escapava, envolta em um nevoeiro mental que eu tentava desesperadamente dissipar. A porta se abriu e o médico entrou, segurando uma pasta com os resultados. Seu semblante sério e as palavras cuidadosamente escolhidas denunciavam a gravidade do que estava por vir.

? Olá. Meu nome é Dr. Noah. Eu sinto muito, mas, após analisarmos seus exames, chegamos a um diagnóstico. Você foi diagnosticado com Lúpus.

Um silêncio tenso tomou conta da sala, minha mente processando a informação recém-recebida.

— Lúpus? Como assim? O que isso significa?
— Lúpus é uma doença autoimune que pode afetar várias partes do seu corpo. No seu caso, vemos sintomas nas articulações e fadiga persistente.
— Mas... isso é sério?
— Sim, é uma condição séria, mas podemos trabalhar juntos para gerenciar os sintomas. Tratamentos e cuidados adequados são essenciais. O importante é não ativá-la ao ponto de transplante.

Enquanto o médico detalhava o diagnóstico e discutia o plano de tratamento, a sala do consultório ficou pequena demais para respirar. Eu me vi obrigado a confrontar uma nova realidade, uma jornada inesperada que alteraria o curso da minha vida.

Capítulo 3

Uma semana depois.

A redação do Metropolitan estava a todo vapor, a semana transcorreu com uma energia palpável. A redação fervilhava de atividade, com jornalistas redigindo, editores revisando e fotógrafos capturando momentos que em breve adornariam as páginas do jornal.
Alex, o editor-chefe do Metropolitan, liderava a equipe com entusiasmo e dedicação. Uma semana antes, ela havia desafiado a equipe a criar uma matéria para a filial de Londres, buscando reportagens investigativas e histórias envolventes que cativassem os leitores. O Metropolitan sempre se destacara por sua abordagem ousada e aprofundada, e Alex estava determinado a manter esse padrão elevado.
respirou fundo antes de bater na porta do escritório de seu chefe. Ela sabia que persuadiria o chefe a aprovar sua proposta de ir atrás do personagem-chave para a reportagem. Adentrando com confiança, encontrou Alexander concentrado em sua mesa.

— Bom dia , algum problema?
— Bom dia. Espero não estar interrompendo nada importante. Eu estive pensando sobre a conversa sobre a reportagem especial. Acredito que tenho uma oportunidade perfeita. Perfeita, arriscada e exclusiva.
— Prossiga.
— Quero ir atrás de .
— Como? Ele não dá entrevistas desde muito tempo.

Alex a encarou confuso por um momento e ela continuou.

— Eu tenho minhas estratégias. Se conseguirmos isso, nossa reportagem será inigualável.
— Você parece bastante confiante nisso.
— Sempre dei meu melhor, não é?
— Você é convincente, . Vá em frente. Mas tome precauções. Quero resultados, mas não a custo de nossa integridade.
— Com certeza. Prometo que farei isso da maneira mais ética e responsável possível. Obrigada pela oportunidade. Só temos uma questão. Eu preciso de uns dias de folga para ir atrás dele.
— Consegue trabalhar por home office?
— Consigo.
— Então pode ir. Permissão concedida.

Com a aprovação em mãos, saiu do escritório com um sorriso de satisfação. Ela estava pronta para ir atrás de . Ao terminar seu turno, comprou uma passagem para Houston, fez uma reserva em um hotel na cidade, avisou Jordan sobre a permissão e partiu para o aeroporto.
Ao desembarcar em Houston, sentiu a atmosfera da cidade envolvê-la. Pegando um táxi em direção ao centro da cidade, observava as luzes cintilantes dos arranha-céus que se destacavam contra o céu noturno.
Ao chegar ao hotel e fazer o check-in, ela deixou suas malas no quarto e rapidamente se recompôs para explorar o centro de Houston. A arquitetura imponente, as ruas movimentadas e a diversidade cultural contribuíam para a riqueza da experiência.
Enquanto caminhava pelas praças iluminadas, sentia uma conexão especial ali. Ela absorvia a energia e se deixava levar pelas nuances que faziam de Houston um local fascinante. Ao passar por cafés locais e bares animados, sabia que essa experiência enriqueceria não apenas sua reportagem, mas também sua vida inteira. Ela iria descansar por uns dois dias e depois iria alugar um carro até Tomball, da onde não sairia até estar com sua matéria pronta.

Capítulo 4

. Antigamente.

As consultas médicas começaram a ficar cada vez mais frequentes. As dores nas articulações, a fadiga persistente e outros sintomas iniciais do Lúpus começavam a se manifestar. Apesar desses desafios, eu tentei me dedicar cada vez mais no meu trabalho, sem deixar transparecer o que eu estava passando. A dor física não diminuía minha determinação de não permitir que minha condição afetasse negativamente o ambiente de trabalho ou a moral da equipe da série. Às vezes a dor era demais e eu me retirava para recuperar o ar, mas voltava sempre.
Em meio aos desafios da minha saúde, o estúdio tornou-se um refúgio onde eu pude canalizar minha paixão por atuar. Enquanto as consultas médicas preenchiam minha rotina, eu buscava refúgio nos roteiros e em tudo que girava em torno de gravar a minha série, tentando encontrar um equilíbrio delicado entre os dois.
A equipe ao meu redor, apesar de não estar plenamente ciente da extensão dos meus desafios, oferecia um apoio silencioso. Cada episódio de dor era seguido por uma volta fora do estúdio, onde eu me esforçava para liderar com a mesma paixão de sempre. Às vezes, a dor se tornava insuportável, forçando-me a me retirar brevemente para recuperar o fôlego, mas a minha determinação era inabalável.
Eu escolhia não permitir que o Lúpus definisse minha trajetória ou minasse minha capacidade. A cada momento, reafirmava meu compromisso de contar as histórias que importavam, mesmo que isso significasse enfrentar dores físicas e emocionais. Tudo ia ficar bem uma hora ou outra. Era o que eu esperava. Era o que eu desejava.

Capítulo 5

Dois dias depois, estava arrumando suas malas para partir para Tomball para procurar . Ela sabia que ele podia se recusar a falar com ela, mas ela não iria desistir assim tão fácil. Ela era bem teimosa quando queria. Sabia que convencer a falar com ela seria uma tarefa árdua, especialmente quando a revelação de sua profissão pairasse no ar.
Contudo, a determinação de não conhecia limites. Ela estava disposta a enfrentar qualquer resistência, a superar obstáculos e a provar a que suas intenções eram genuínas. A paixão pela verdade e a convicção de que sua matéria poderia fazer a diferença impulsionava cada passo dela naquela jornada.
Com as malas finalmente prontas, respirou fundo, sentindo a mistura de nervosismo e empolgação. Ela estava decidida a seguir adiante, mesmo que isso significasse enfrentar o desconhecido em busca de respostas. fez o seu check out e logo depois o carro que ela alugou havia chegado. Ela entrou no carro, colocou no Waze e partiu. Ela estava dirigindo devagar, aproveitando as imagens que corriam nos olhos dela. Repassando o que ia falar na sua cabeça, mas ela não podia deixar de pensar em como ele estaria. Ele sempre foi bonito, como será que ele estava agora? Ela sentiu a barriga gelar na possibilidade de encontrar com ele.
chegou a Tomball e, após algumas perguntas na cidade, finalmente encontrou a casa de . Ela era grande e ficava bem no meio de uma grande área verde, mas ainda sim, tinha um quê de qualidade.

? - disse batendo palma. - ?

A porta se abriu, revelando um olhar desconfiado e surpreso de .

— Quem é você e o que está fazendo aqui?
— Hm, meu nome é . Como está? - sorriu. - Eu sou do Metropoli….
— Não tenho nada a dizer para uma jornalista. - disse fechando a porta.

bufou incrédula e bateu na porta de novo.

— Por favor, , só me dê alguns minutos. Eu não estou aqui para prejudicar ninguém.
— Você já causou problemas suficientes. Vá embora.
— Mas eu nem disse nada! Eu só quero entender a sua versão da história. Não estou tentando prejudicar ninguém, só quero a verdade. Por favor, , confie em mim. Não vou distorcer os fatos. Só quero que sua voz seja ouvida.

Ele fechou a porta mais uma vez, deixando do lado de fora, frustrada e determinada a encontrar outra maneira de descobrir a verdade.

Capítulo 6



Abri a boca em descrença da audácia dele em bater a porta na minha cara. Respirei fundo, tentando controlar minha língua pra não gritar com ele pela falta de educação. Determinada, virei-me na direção da porta de novo e bati nela com força, fazendo ecoar pelo ambiente. Ele iria me ouvir, gostando ou não, nem que eu tivesse que atravessar aquela porta.

— Qual seu problema?! - gritou
— Eu não vou sair daqui enquanto você não me ouvir. - disse cruzando os braços.
— Então eu vou jogar um colchão no chão pra você, vai ficar aí por muito tempo, moça.
— Meu nome é .
— Bom pra você.

Ele bateu a porta pela terceira vez e eu decidi sentar na cadeira de balanço que tinha na varanda. Eu não ia sair dali sem minha entrevista. Não ia mesmo. Abri minha mochila e comecei a tamborilar os dedos no meu app de escrita. Eu não ia perder essa vaga e nem que eu tivesse que morar na calçada dele, ele ia me ouvir. Um estrondo forte me tirou dos meus pensamentos quando eu vi a chuva torrencial caindo e trazendo consigo um vento gelado capaz de arrastar qualquer um que viesse no seu caminho. Fechei meu notebook rápido e o guardei na mochila e tentei me proteger ao máximo da chuva. Por sorte minha bolsa é impermeável. Eu nunca tinha visto uma chuva daquelas na cidade, fazia tanto barulho que eu não conseguia ouvir meus próprios pensamentos. Eu já estava completamente ensopada pela chuva quando abriu a porta e me puxou pra dentro.

— Segunda porta à esquerda. O registro de água quente é o da direita. Deixei uma muda de roupa velha e seca para você, mas não se iluda achando que isso vai te garantir uma entrevista só porque te ofereci abrigo.
— Obrigada — murmurei, ainda meio atordoada, enquanto me dirigia ao banheiro.

Me livrei das roupas encharcadas, torcendo-as sobre a pia enquanto pensava na maré de azar que me cercava. Se não pegasse um resfriado depois disso, seria um milagre. Entrei no box, e a água quente caiu sobre mim, tentando afastar o frio que parecia entranhado nos meus ossos.

Depois de alguns minutos, comecei a sentir meu corpo relaxar, o calor finalmente me alcançando. Quando saí do banheiro, vesti a roupa seca que ele havia deixado para mim, agradecendo silenciosamente pelo gesto, mesmo que fosse apenas por uma noite. Enrolei a toalha na cabeça e voltei até a cozinha, onde encontrei preparando algo quente para beber quando me aproximei.

— Pode ficar até a chuva passar — disse ele, sem tirar os olhos do que fazia. — Mas isso não muda nada sobre a entrevista.

Eu assenti, prestes a me retirar para um canto da sala, quando a voz do locutor no rádio chamou nossa atenção.

"...fechamento das estradas principais devido à forte tempestade que atinge a região. Moradores são aconselhados a permanecer em casa e evitar viagens desnecessárias. As vias só devem ser liberadas em alguns dias."

Ele olhou para mim, sem disfarçar a preocupação que começava a aparecer em seu rosto.

— Parece que você vai ter que ficar mais do que eu gostaria. As estradas estão fechadas, e ninguém vai a lugar nenhum até que a tempestade passe.
— Tudo bem. — respondi, sentindo o constrangimento de depender de um estranho. — Só… posso usar o Wi-Fi? Preciso avisar algumas pessoas que estou bem.
— A senha está anotada em um papel perto do roteador, na estante ao lado do sofá. Mas não espere sinal forte com essa tempestade, moça.
— Entendo, obrigada de novo. Ah… — hesitei, não querendo pedir mais, mas sabendo que era necessário. — Você teria um carregador de celular? Acho que deixei o meu no hotel.

Ele soltou um suspiro leve, mas não era de impaciência, apenas de resignação.

— Gaveta da cozinha, à direita. Tem um carregador universal ali. — Ele se aproximou, entregando uma caneca com chá fumegante. — Beba isso antes que esfrie. E depois de se conectar, sugiro que descanse.
— Eu…obrigada .

Ele deu um meio sorriso, finalmente relaxando um pouco.

— Vamos nos preocupar com isso quando a tempestade passar.

Peguei a caneca da sua mão e o carregador, indo para o sofá. Ao me acomodar na poltrona, encontrei o papel com a senha do Wi-Fi e digitei no celular enquanto ouvi seus passos ecoando pelo lugar.

— Se precisar de algo mais, estou no escritório — disse ele, já a caminho da outra sala.
— Tudo bem. Obrigada… de novo.

Ele desapareceu pela porta, me deixando sozinha com o barulho da chuva e a estranha sensação de segurança que começava a se formar.

Capítulo 7



A chuva pegou a tal jornalista de surpresa. Aquela tempestade não dava sinais de que iria cessar tão cedo. Quando abri a porta, a vi ali, encharcada. Fiquei com peso na consciência de que isso a deixaria doente. Não era comum para mim abrir as portas, literal ou figurativamente, mas naquele momento, parecia a coisa certa a fazer. Puxei ela para dentro da minha casa e fechei a porta. Não era sobre ser rude, mas sim sobre manter uma distância segura. Ajuda temporária, nada mais.
Enquanto ela se aquecia no banheiro, fui para a cozinha, buscando algo para fazer, qualquer coisa que me mantivesse ocupado. Aquecer água para chá parecia o mínimo. O rádio na prateleira ao lado começou a crepitar com a previsão do tempo, e eu me vi ouvindo mais atentamente do que normalmente eu faço. A notícia do fechamento das estradas me atingiu com a inevitabilidade de uma mudança de planos. O silêncio que se seguiu foi carregado de uma realidade que eu não tinha considerado: ela não poderia ir embora tão cedo.
Quando ela saiu do banheiro, vestida com as roupas que eu havia separado, notei como parecia um pouco mais confortável, mas ainda desconcertada. Era como ver um hamster sair da sua rodinha sem sucesso.
Ao entregá-la o chá, via um olhar de agradecimento, era uma situação difícil para ela, e eu não pretendia torná-la mais complicada. Mas a ideia de conviver com alguém, mesmo que por alguns dias, me deixava em um estado de alerta que eu não sentia há muito tempo.
A presença dela na sala ao lado era uma distração inegável. Eu podia ouvi-la mexer em seu celular, provavelmente avisando a quem quer que fosse necessário sobre sua situação.
A tempestade continuava lá fora, mas uma tempestade diferente se formava dentro de mim. Não era comum, essa sensação de perder o controle do que eu queria. Havia aprendido a estar no controle desde jovem. Eu já havia lidado com muito na vida, e isso era apenas mais um obstáculo. E ainda assim, havia algo diferente, algo que me dizia que essa não era apenas uma noite qualquer.
Tentei me concentrar em qualquer tarefa que pudesse manter minha mente ocupada, mas a presença de continuava a pesar no fundo da minha cabeça.
O som ocasional de passos no corredor ou o leve sussurro de uma notificação em seu celular ecoavam pela casa, lembrando-me de que eu não estava mais sozinho. Era um pensamento que me inquietava tanto quanto me intrigava.
Bufei e caminhei para fora do escritório, sem saber exatamente porquê, caminhei até a sala onde ela estava. Ela se encontrava sentada no sofá, com o celular na mão, os olhos grudados na tela.

— Eu estava pensando — comecei, quebrando o silêncio. — Não há muito que possamos fazer agora, mas posso preparar algo para a gente comer. Não é muito, mas ajuda a passar o tempo e manter as mentes ocupadas. Quer ajudar?

Ela pareceu um pouco surpresa pela oferta, como se não esperasse essa gentileza de alguém que, até agora, havia sido mais distante do que acolhedor. Além de ter batido a porta na cara dela algumas vezes.

— Isso seria bom — respondeu, com um pequeno sorriso que não chegou a seus olhos.

Comecei a preparar algo simples, talvez mais por mim do que por ela. Cozinhar sempre fora uma maneira de organizar meus pensamentos, de trazer um pouco de ordem ao caos, e agora, mais do que nunca, eu precisava disso. Pedi alguns ingredientes que ela facilmente achou, pra minha surpresa, e os colocou em ordem na bancada.
Enquanto mexia a sopa na panela, meus pensamentos voltaram ao motivo pelo qual eu tinha decidido me isolar tanto. A solidão tinha sido uma escolha consciente, uma maneira de evitar o fuxico de outras pessoas sobre minha vida. Mas agora, com sob meu teto, essa escolha parecia menos segura, menos certa. Como se ela fosse minha tábua de salvação.
Quando a sopa estava pronta, servi duas tigelas e as levei para a sala. Sentamo-nos em silêncio por alguns minutos, o único som era o da tempestade lá fora e das colheres raspando o fundo das tigelas.
Finalmente, ela quebrou o silêncio, sua voz suave, mas com um toque de diversão.

— Sabia que eu era sua fã? — perguntou, assoprando a colher antes de levá-la à boca.
— Sério? — ri.
— Eu tenho uma caixa enorme na casa da minha mãe só com coisas sobre você. Ela disse que eu tinha que jogar fora antes de ir pra faculdade, mas eu convenci ela a guardar no porão.
— Obrigado. — ri baixo. — Deve ser a única existente então.
— Duvido. Você ainda é o assunto preferido dos tabloides, todo mundo quer saber o que houve.

Engoli seco e voltei a comer em silêncio. Ninguém precisava saber o que tinha acontecido. Ela notou meu silêncio e também voltou a se concentrar na sua comida. Quando acabamos, peguei as duas tigelas e as coloquei dentro da pia. Com um último aceno, caminhei de volta ao escritório, percebi que, pela primeira vez em anos, a casa não parecia tão vazia. E eu gostava disso.

Capítulo 8



Os dias começaram a passar se arrastando. A tempestade vinha e voltava, como todos os dias. A cada manhã, eu acordava com a esperança de que a chuva tivesse cessado, que as nuvens tivessem se dissipado. Mas, ao abrir as cortinas, sempre me deparava com o mesmo cenário: um céu cinzento, pesado e interminável.
Um dia, quando a chuva parecia menos intensa, abri a janela da sala e deixei um pouco de ar fresco entrar, esperando que isso me trouxesse algum alívio. apareceu logo depois, como se o movimento de abrir a janela o tivesse o chamado.

— Parece que a tempestade está finalmente enfraquecendo, não é?— comentei
— Talvez. Mas as estradas ainda estão alagadas, e com o solo tão molhado, pode levar dias pra secar totalmente e limparem a estrada.
— É estranho, mesmo com toda essa chuva, aqui é muito tranquilo. Eu gostei. - confessei
— Esse lugar tem esse efeito. A solidão, o silêncio... pode ser fácil se perder nele.

Naquela noite, depois do jantar, me ofereceu uma taça de vinho. Aceitei, e nos sentamos juntos na sala, a garrafa entre nós, enquanto a lareira lançava sombras suaves nas paredes. Conversamos mais do que em qualquer outro dia desde que cheguei.
— Há quanto tempo você mora aqui? — perguntei, girando o vinho no copo.
— Faz alguns anos. Queria um lugar para fugir do caos, para ter paz. Você sabe, pra fugir da fama.
— E tem funcionado? — arrisquei, minha voz suave.
— Às vezes. Outras vezes, é apenas outra forma de isolamento. Funcionou até você chegar. - brincou.

Enquanto a noite passava, eu me dei conta de que algo havia mudado. A tempestade lá fora ainda rugia, havia uma aceitação crescente de que, por mais que desejasse sair daqui, algo me dizia que essa experiência, tinha um propósito que eu ainda não entendia completamente. Desde que cheguei aqui, não havia aberto meu notebook para escrever nada sobre a matéria.

— Boa noite — disse, em um sussurro quase inaudível.

Ele respondeu da mesma forma, sem desviar o olhar do fogo.

— Boa noite .

E assim, subi para o meu quarto, sentindo que, mesmo em meio à tempestade e ao isolamento, havia algo no ar, uma possibilidade de que, quando finalmente tudo acabasse, nenhum de nós seria o mesmo.


Continua...



Nota da autora: Oi pessoal! Tive essa ideia do nada e resolvi postar, agora não sei se irei manter, haha.
Espero que tenham gostado dos primeiros passos de Interview. Qualquer coisinha, deixem um recadinho pra mim, viu?
E caso vocês desejem saber mais sobre a doença do Luke:
https://www.lupusresearch.org/ e https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/l/lupus
Beijos!

Outras Fanfics:

Ficstapes

03. Courage
03. Read Your Mind
04. Falling over Me
05. The art of Realization
06. For You Now
07. Older
07. Nada É Por Acaso
08. Cinema
12. Tequila
12. Bad for Business
14. First Man
15. Moodswings
23. Não é Fácil
28. Desperdiçou

Longfics/Shortfics

08. Cinema (especial de Natal)
Amour Interdit
MV: Out of The Woods
MV: Sue Me
MV: Skinny Dipping
Marry You
The Freshman Series (Wedding Edition)



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