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Atualizada em: Mar/2024

prologue

se assustou quando percebeu que acordou antes das 7 da manhã sem despertador. Ela havia chegado tarde na noite passada – pouco tempo depois da meia noite, mas sua manager não ficou nem um pouco feliz de ir embora do apartamento das meninas depois das uma da manhã por ter ficado esperando por ela.
Mesmo assim, estava radiante. Na noite passada, saíra com Jose, sua melhor amiga da Inglaterra, e havia cumprido sua promessa de não comprometer sua imagem. Apesar de ter ficado extremamente tentada em tomar um drink, se segurou e não ingeriu nem uma gota de álcool qualquer. Diferente de Joselin que precisou da ajuda da amiga para chegar em seu apartamento.
Essa ajudinha custou o horário de chegada de ao seu dormitório, mas ela se esforçou para explicar o que acontecera para a manager. Não que a mais velha tivesse gostado da notícia de que a garota estava andando pelas ruas de Seul acompanhada de outra garota bêbada, porém, relevou naquele momento por estar cansada.
Decidida em aproveitar seu bom humor, levantou da cama e fez suas higienes rotineiras, antes de voltar para a cama e deitar outra vez, mexendo no celular. Luna, sua colega de quarto, não estava no cômodo.
— Depois preciso conferir os comentários no Weverse — falou consigo mesma, ainda rolando o feed no Instagram. Mas antes que pudesse trocar o aplicativo, recebeu uma mensagem de Siara, sua líder de grupo.
Abriu a notificação rapidamente, vendo que era apenas um simples aviso de encontro. Respondeu, logo se preparando para fechar o aplicativo e voltar para o Insta, mas a mensagem de Luna apareceu mais rápido em seu visor.
La Luna:
La Luna: *print de site de fofoca*
La Luna: TRAIDORA NÃO ME CONTOU PQ?
As sobrancelhas de se curvaram. Ela tinha desabilitado a função de baixar imagens automaticamente, então estava se sentindo meio perdida enquanto todas as outras meninas respondiam a mensagem. Clicou na imagem.
Antes mesmo que ela pudesse processar o que tinha lido, Luna entrou no quarto batendo a porta, e gritando:
— VOCÊ COMEÇA A NAMORAR E NEM ME FALA?
A fofoca era objetiva, mas não conseguia processar nada do anúncio. Parecia uma realidade paralela, um pesadelo.
Jay do Enhypen aparece jantando em casal com , do ION.
Só podia ser uma pegadinha de mau gosto.
? — Luna se aproximou da amiga, mas a garota parecia completamente estática.
A primeira coisa que sentiu foi confusão. Estava perdida, completamente alheia ao que estava acontecendo. Depois, ficou triste. O único pedido de sua manager fora de que ela não se metesse em nenhuma controvérsia, mas sabia que não tinha culpa alguma naquela fofoca inundada.
Mas, logo depois de concluir sua inocência mentalmente, uma inconformação misturada com raiva correu por todo seu corpo.
De todas as pessoas do mundo, precisava ser justo o JAY?
— Eu não consigo acreditar no que estou vendo — concluiu tentando manter a calma.
— Você sabe que podia ter falado comigo antes, né? — Luna se sentou ao lado da amiga, afagando-a com uma das mãos. — Eu poderia ter te ajudado a disfarçar, sei lá…
— Que? — acabou virando tão bruscamente que assustou a outra. — Você realmente acha que eu saí com o Jay ontem?
— Ué — Luna piscou algumas vezes com a boca aberta. — E não saiu?
— Não??
não conseguiu mais apenas ficar sentada, precisava caminhar pelo quarto para descarregar um pouco da ansiedade que começara a dar seus indícios. Aquilo não podia estar acontecendo.
Seus olhos se enchiam de lágrimas a cada segundo que passava. Queria chorar de tristeza, de preocupação, de raiva… Tudo estava cada vez mais confuso e nem ao menos conseguia entender porque aquilo estava acontecendo.
Ela tinha tacado pedra na cruz, certeza.
— Espera, me explica essa história então — Luna falou depois de passar um tempo com os olhos fechados. Ela também não estava entendendo nada, mas o desespero nítido no olhar de a fizeram puxar o freio e tentar raciocinar um pouco. — Então você não viu o Jay ontem, muito menos saiu com ele?
— Exatamente.
— Então todos os fansites estão divulgando uma mentira?
— Aparentemente — não conseguia formular nenhuma frase que tivesse mais de uma palavra. Jurou que sua cabeça estava girando sem parar. Precisou sentar novamente.
— Mas isso não faz sentido, eles devem ter encontrado alguma coisa — Luna concluiu sozinha, mas percebeu que a amiga estava perdida demais para poder contribuir com sua linha de raciocínio.
Ficou apenas parada, encarando a outra. estava sentada na cama, com as costas encostadas na parede e as pernas juntinhas, como em um casulo. Luna nunca fora boa em acalmar e acolher as pessoas, diferente de , então pensou em alguma solução para aquela situação.
Uma ideia apareceu, mas ela se sentiu um tanto insegura de executá-la.
— Duas cabeças pensam melhor do que uma — concluiu em voz audível, mas nem conseguiu escutar direito por estar completamente mergulhada em seus próprios devaneios. — Eu vou pegar uma água para você, já volto.
Apressou-se em sair do quarto, determinada a ligar para aquela pessoa e tentar pensar em alguma coisa.
— Dohee, ei — chamou a mais nova que saía da cozinha. — Leva um copo de água para a no quarto, mas só deixa lá e já sai.
— Mas você não estava lá com ela?
— Estava, mas preciso fazer uma ligação — disse por fim, já pegando o celular e entrando na lista de contatos.
Dohee apenas fez um bico, mas pegou o copo de água e se retirou, deixando Luna sozinha na cozinha, com o celular iniciando uma chamada.
Estava quase desistindo, mas o rapaz do outro lado atendeu no último toque, pegando Luna de surpresa.
— Oi, Sunoo, deixa eu te perguntar…

— O JAY E A ? — não conseguiu segurar o tom de voz, logo tapando a boca com a mão. Além de Sunoo, apenas Jungwon estava acordado naquela hora.
E o último não demorou para correr até a sala, onde o mais velho estava com a expressão espantada. Cruzaram os olhares, e Sunoo percebeu que Won gesticulava alguma pergunta, mas não conseguiu entender o que era.
— Ok, Luna, eu vou falar com o pessoal aqui e te mando mensagem, tchau — mal conseguiu desligar o telefone e Won se aproximou com pressa.
— O que aconteceu?
— Aparentemente os fãs acharam evidências de que o Jay em um encontro ontem — Jungwon arregalou os olhos, prevendo a merda que iria dar. Sunoo respirou fundo antes de jogar a bomba final. — Com a .
Won não processou inicialmente. Suas pálpebras se mexeram repetidas vezes antes da sua boca proferir outro som:
, a nossa ?
Sunoo apenas concordou com a cabeça. A mão de Jungwon subiu até a direção de sua boca com tanta velocidade que, quando tampou-a, fez barulho.
— Nem ferrando.
O mais velho também parecia não acreditar, então voltou sua atenção ao celular para pesquisar. Porém, assim que entrou no Twitter, foi a primeira postagem que apareceu.
Ele ergueu o celular para que Won pudesse ler, logo salvando a imagem da notícia e mandando no grupo dos garotos. O líder já estava enviando mensagem para o manager naquele meio tempo.
De repente, os outros membros começaram a responder no grupo.
— NOR WAY — Jake chegou correndo na sala com o celular em mãos. Ele tinha um sorriso enorme no rosto, como se aquela fosse uma boa notícia.
— Não é engraçado, Jaeyun — Jungwon disse sério assim que viu a expressão no rosto do amigo.
— Relaxa aí, Won, daqui a pouco a empresa desmente isso — sentou-se no sofá ao lado de Sunoo.
Won revirou os olhos. Uma parte de si queria rir e zombar da situação, mas seu espírito de líder do grupo não permitia que ele fizesse aquilo. Estava preocupado, sim. O Enhypen estava perto de voltar para a turnê mundial e ele sabia muito bem como os staffs ficariam com uma fofoca daquele nível correndo.
Além do mais, ele também se importava com , mesmo que não fossem tão próximos.
— Pelo visto os fãs começaram essa especulação por causa dos posts no Weverse — Sunoo voltou a falar, mostrando o celular aos amigos novamente.
Nesse intervalo, Sunghoon e Heeseung apareceram na sala, também já cientes do que estava acontecendo.
— Eles estão encrencados — Hoon deu risada.
— Vai ficar tudo bem — Jungwon disse engolindo seco. Sua cabeça estava a mil. — O Jay já está sabendo?
— Acho que não — foi a vez de Heesung falar. — Eu conversei com ele ontem antes de dormir e ele passou a noite no hotel com os pais.
— Com os pais? — Sunghoon arqueou uma das sobrancelhas.
— Foi o que ele disse.
Jake estava em silêncio até então, mas ainda tinha o sorriso em seus lábios. Ele sabia que a situação era preocupante e que não deveria estar rindo com o clima que estava na sala, mas não conseguia não achar aquele cenário um tanto interessante.
Precisava ligar para mais tarde.
— Ele não atende — Won resmungou assim que a chamada com Jay deu na caixa postal. Decidiu mandar algumas mensagens para que o amigo acordasse logo.
— Não sei porque você está tão preocupado — Sunoo fez um bico, olhando para o amigo no celular. Won levantou o olhar brevemente. — Com certeza a Belift vai se pronunciar rapidinho e negar os rumores, relaxa.
— Eu sei disso — revirou os olhos, ainda com a tela do celular acesa esperando qualquer sinal de vida de Jay. — Estou preocupado com ela também.
— Eu falei que alguma coisa ruim ia acontecer, eu avisei — Sunghoon deu de ombros.
— Irônico pensar que você acreditava que eu me meteria em problemas só porque não estava respondendo — Jake soltou uma risada, tentando mudar um pouco de assunto para que o clima amenizasse um pouco.
Jungwon começou a receber uma ligação de Jay, se afastando.
— Era só você ter avisado que ia ao cinema que nada teria acontecido.
— Sunghoon virou sensitivo agora — Sunoo riu alto, sendo acompanhado pelos outros.
Um pouco mais afastado dali, Jungwon escutava os gritos de um rapaz extremamente mal humorado.
— Eu não acredito nessa merda.
— Jay, eu já mandei mensagem para o manager, vai ficar tudo bem — agora era Jungwon quem tentava falar palavras de apoio para que o amigo relaxasse. Nem parecia o líder irritado e preocupado de segundos atrás.
— Tinha que ser justo com aquela garota, cara — escutou Jay bufando do outro lado da linha. — De todas as pessoas do mundo.
— A é super gente boa, não entendo sua implicância com ela.
— Ela é uma insuportável — o garoto interrompeu o amigo. — E não vem defender a pra cima de mim não, ela precisa se policiar mais. Já tem um ano de debut e fica cometendo essas gafe.
— Jay… — Jungwon respirou fundo. Sabia que o amigo estava irritado, mas o tom de voz que ele estava usando começara a irritá-lo. — Não é como se ela tivesse como saber que vocês iam comer no mesmo lugar no mesmo dia. Você muito bem sabe da recomendação de postar fotos dos lugares que vamos só depois de alguns dias.
— Não me dá lição de moral agora não, faz o favor.
Jungwon fechou os olhos com força. É o Jay, ele é irritado por natureza, só relevar por agora, repetia para si mesmo.
— Só volta logo para o dormitório, vamos conversar em grupo — disse por fim, sem mais paciência.
— ‘Tô saindo do hotel.
— Certo, estamos te esperando. O manager está vindo para cá também — nem ao menos esperou o mais velho responder, apenas desligando de uma vez. Ele já estava irritado o suficiente para se estressar com o mau humor do Jay.
Se aproximou da sala novamente, percebendo que agora Niki estava com eles.
— Do que estão rindo? — perguntou tentando relevar a exaustão que fora a ligação de pouco tempo atrás.
— Jake está tentando convencer o Hee para juntar o Jay com a oficialmente — Niki respondeu rindo. Won soltou uma risadinha pelo nariz.
— Isso é tão impossível que parece até piada.
— Won, pensa comigo — Jake se virou em sua direção. — O Jay nunca soube explicar a raiva que sente pela e vice-versa. Tem que ser amor isso tudo, ninguém odeia o outro por nada assim.
— O Jay não aguenta nem respirar o mesmo ar que ela, Jake — Sunghoon comentou rindo. — É mais fácil eles acabarem se matando se precisarem se suportar por mais de dez minutos.
— Só acho que daria um casal legal — deu de ombros, desistindo de persuadir os amigos a compactuarem com seu plano de cupido.
— Desiste dessa, oficializar um casal entre os grupos da Hybe é estritamente proibido — Sunoo afagou o ombro do australiano.
— Desencana, Jake.
— Vocês duvidam muito da minha capacidade de juntar casais.
— Você já juntou algum? — Jungwon perguntou já rindo. Nem se lembrava mais que tinha acabado de discutir com Jay.
— Teve aquela vez do Heeseung com a…
— Algum que tenha dado certo no final? — foi a vez do próprio Heeseung interromper.
Jake ficou em silêncio por um tempo, causando uma outra onda de risadas entre os amigos.
— Eu vou provar que estou certo — Jake disse baixo, mas os membros apenas aumentaram a risada.


[I] whiteout

“Você pode ter o que quiser, mas nada é de graça
Talvez as coisas mais preciosas sejam as que você precisa abrir mão"

(🎶🎸🖇️)


Algumas horas antes…
Quando virou o rosto na direção de sua janela, enxergou leves raios de Sol entrando por lá, o que a fez levantar de sua cadeira e ir ajeitar o blackout, tomando cuidado para não despertar uma Luna que dormia profundamente em sua cama, próxima da janela.
Era uma manhã fresca, marcante para o mês de agosto. não sabia ao certo há quanto tempo estava acordada digitando em seu computador, mas tinha certeza que, em algumas horas, seu corpo estaria cansado e ela precisaria repor seu sono perdido.
Mas sua cabeça pouco se preocupava em como ela estaria exausta em breve naquele dia que mal havia começado. Na verdade, em sua mente, apenas uma coisa parecia fazer sentido no momento: feriado de Chuseok.
tinha plena ciência que sua vida tinha mudado da água para o vinho desde o último feriado de Chuseok, era inegável. E, mesmo que ainda faltasse quase um mês para a próxima comemoração, sua cabeça já estava repassando todos os flashes daquela época.
Para a maioria das famílias, aquele 10 de setembro de 2022 havia sido apenas mais uma comemoração do querido dia de Ação de Graças coreano. Porém, para , aquele havia sido o pontapé inicial de sua nova vida.
O dia do anúncio de seu debut.
Sua rotina já era puxada há mais de dois anos, quando começara a treinar para se tornar uma idol no imenso mundo do K-pop. O processo por si só já era extremamente complicado, mas quando se era uma estrangeira vivendo aquilo, tudo parecia cem vezes pior.
Uma japonesa naturalizada na Inglaterra então, nem se fala.
— Por que está acordada? — escutou a voz sonolenta de Luna, tirando-a de seus devaneios.
— Perdi o sono — deu uma desculpa qualquer, observando os olhinhos da garota lutarem para permanecerem semi-abertos. — Volte a dormir, não temos hora para acordar hoje.
— Eu sei, então vai dormir você também — resmungou baixo, virando na cama e adormecendo mais uma vez, sem ter a chance de garantir que iria voltar à cama.
Sorriu. A de 365 dias atrás odiaria a ideia de dividir o quarto com alguém, mas estava feliz por ter Luna ali – mesmo que adormecida. Parecia menos solitário.
Depois de alguns segundos, sua atenção voltou para a tela do computador à sua frente. O fone de ouvido estava largado sobre a mesa, mas leu pela notificação que a música já havia trocado e, agora, tocava sua música de debut: Boyfriend.
As memórias da época de seu debut vieram como uma cachoeira em sua mente. O dia do anúncio, os treinos intensificados para aprender a coreografia e, o pior de seus pesadelos, o aumento das aulas de coreano.
Mesmo já vivendo na Coreia do Sul e encarando a vida de trainee há dois anos, sempre apresentou muita dificuldade para aprender a nova língua. Era minimamente hipócrita tamanho desajuste, uma vez que a garota cresceu em uma casa onde era obrigada a falar duas línguas, inglês e japonês, e teoricamente isso a ajudaria a aprender línguas mais facilmente, mas não foi o que aconteceu.
Mesmo depois de um ano, ela ainda se sentia enferrujada em seu coreano, mas conseguia seguir com uma conversa e responder a maior parte das perguntas em qualquer entrevista.
— Será que vou ficar fluente algum dia? — sussurrou para si mesma, refletindo sobre sua vida.
Balançou a cabeça e voltou a se concentrar na tela, colocando os fones de ouvido e passando para a próxima música da playlist – qualquer uma que não fosse do seu grupo para evitar reflexões indesejadas.
A playlist seguiu com Le Sserafim e trocou de aba, abrindo em seu instagram privado, que a empresa claramente não tinha acesso, e voltando a rolar o feed. Ela não seguia muitas pessoas na rede, apenas alguns de seus familiares, seus artistas preferidos e páginas de fofoca.
Ah, e sua melhor amiga da Inglaterra, Joselin Young.
Jose foi quem apresentou o Kpop à e a responsável por ajudar a garota a alimentar seu sonho de se tornar uma idol. Ela era imensamente grata por todo o apoio.
E quando um post de Joselin apareceu em sua timeline, parou para analisar a foto.
— Espera um pouco, eu conheço essa fachada… — se aproximou da tela do computador e ajeitou a armação no rosto. Como se uma lâmpada acendesse em sua mente, os olhos de se arregalaram no mesmo segundo que ela reconheceu a vaga paisagem da foto. Jose estava na Coreia do Sul.
E o pior: não havia lhe avisado.
A velocidade que atingiu quando se lançou na direção de sua cama, buscando pegar o celular o mais rápido possível, foi impressionante até para ela mesma. Clicou no contato da amiga apressada, ficando em pé mais uma vez e pisando com a ponta dos dedos para sair do quarto em silêncio e ir para a sala.
O telefone emitia o som de chamada sendo realizada, deixando ainda mais nervosa. Como assim Jose estava respirando o mesmo ar que ela e não tinha lhe avisado?
Oi…? — escutou o resmungo da amiga, constatando que ela deveria estar dormindo.
Mas quem liga? precisava confirmar suas suspeitas – que na verdade já havia virado certeza.
— Como assim você está na Coreia do Sul e nem me fala nada? — segurou sua vontade de falar alto, em tom de bronca, para não acordar as colegas do grupo.
Ah, , é você… — a voz permaneceu sonolenta. — Eu queria fazer uma surpresa.
— E como você pretendia me fazer uma surpresa postando foto no seu feed?
Não achei que você fosse ter tempo para reparar até no cenário. — falou divertida. escutou um barulho do outro lado da linha, imaginando que deveria ser Jose se ajeitando na cama. — Me dei ao trabalho de editar bonitinho para que você não visse nada coreano.
— Eu reconheci a fachada… — respondeu com certa timidez. Realmente, pensando por aquele lado, parecia uma stalker maluca.
Esqueci do seu vício preocupante em cafeterias.
— Mas então, o que veio fazer aqui? — ela perguntou depois de alguns segundos em silêncio. Queria ter certeza de que Jose estava desperta.
Tive um projeto de pesquisa da faculdade. — disse como se fosse algo extremamente comum.
— E eles te mandaram da Inglaterra até a Coreia para fazer uma pesquisa que você poderia ter feito no Google? — arqueou uma das sobrancelhas e fez uma careta, mesmo sabendo que a amiga não estava vendo suas expressões.
Vou ficar aqui por onze meses.
Se estivesse ainda bebendo sua água, ela com certeza teria cuspido tudo em seu computador.
— Como é? — perguntou quando conseguiu se recompor. Ela teria sua melhor amiga ali por quase um ano?
É, vai ser por dois semestres. — disse por fim. — Quero te contar sobre isso pessoalmente, porque eu precisarei da sua ajuda.
— Isso vai ser meio complicado… — coçou a nuca, pensando. conseguia imaginar perfeitamente a cara da sua manager quando ela pedisse para sair com uma amiga.
Você não tem tempo nem para me ajudar?
— Não é isso, é só que minha manager é bem chatinha com esse lance de ficar saindo sozinha.
Ah, a sua babá? — os ombros de murcharam. Apesar dela já ter explicado milhares de vezes sobre seu relacionamento complicado com sua manager, Jose não parecia entender direito. Ou ela apenas usava aquilo para zoar a amiga. — Vamos lá, mime ela um pouco. Eu vim do outro lado do mundo, esse é o mínimo que você deveria fazer para me ver.
— Eu vou tentar, ok? — se rendeu, pensando nas possibilidades que tinha.
Bom mesmo jurou que escutou um sorriso sendo formado pelo celular. — Olha, eu ainda estou mega cansada e sofrendo de jet lag, então vou voltar ao meu soninho.
— Tudo bem, amiga, eu também preciso dar uma dormida.
Certinho, bom descanso, . ‘Tô com saudades.
— Bom sono, Jose, também ‘tô com saudades.
Assim que desligaram, colocou o celular no bolso do pijama. A senhorita Gwan era bem rígida, principalmente em época de organização de comeback, quando as meninas precisavam evitar todo e qualquer tipo de confusão o máximo possível.
Mas daria um jeito. Por Jose.

🎤📝❤️‍🔥


Jay odiava perder.
Na verdade, qualquer pessoa competitiva odeia perder, mas perder um jogo de Pedra, Papel e Tesoura contra os membros mais novos era um absurdo.
Principalmente quando era contra Sunoo.
— Obrigado pelo jantar, senhor — o mais novo deu um sorriso aberto, se curvando e saindo dando risada logo em seguida, deixando Jay com a mão em formato de tesoura sozinho na sala.
Jungwon ria da cena, encarando o amigo.
— Sunoo sempre perde, mas dessa vez você me surpreendeu — não conseguiu disfarçar a risada, sendo fuzilado por Jay com o olhar.
— Cala a boca.
Os três haviam desistido de sair com os outros membros para aproveitar os últimos dias de folga no dormitório, comendo e jogando. Jungwon e Sunoo achavam que já tinham ido a todos os lugares que queriam, por isso resolveram permanecer em casa mesmo.
Já Jay estava um pouco arrependido de não ter ido fazer compras com Jake.
— Eu poderia estar comprando uma calça nova — reclamou enquanto ia em direção a cozinha, organizando os potes de comida e indo lavá-los. — Mas não, preferi ficar jogando com aquelas pestes e ainda vou ter que pagar o jantar.
— Você reclama demais — escutou a voz de Won mais uma vez. Park virou para trás brevemente apenas para constatar que o mais novo estava entrando na cozinha e se apoiando na mesa. — Era só um jogo.
— Mas eu odeio perder.
— É só ganhar, então — soltou uma gargalhada alta, mas se recompôs rapidamente, antes que Jay pensasse em jogar a esponja ensaboada em sua cabeça. — E sobre o jantar, precisa ser hoje a noite, hein?
— ‘Pra que essa pressa?
— Se sairmos para comer amanhã, vamos precisar ir com todos os membros — Jungwon caminhou para perto da pia, se apoiando ali e ficando de braços cruzados ao assistir seu hyung¹ lavando a louça. — Só se você quiser pagar para todo mundo.
— Você fala como se dinheiro nascesse em árvore.
— Você já é rico, hyung!
Jay revirou os olhos. Era sempre essa mesma carta na manga que os garotos jogavam.
— Vamos hoje, então — desviou o olhar da louça para o amigo. — Daqui a pouco vocês já começam a se arrumar então.
— Sim, senhor! — Won bateu em continência enquanto sorria, fazendo Jay soltar uma risada mínima. O mais novo se ajeitou e juntou as mãos na frente do corpo, se curvando 90º. — Comerei muito bem, obrigado.
Jay não observou o rapaz sair apressado da cozinha, mas sabia que Jungwon deveria estar sorrindo à toa por saber que iria ganhar um jantar. O mais velho apenas torcia para que nenhum dos garotos escolhesse beber naquela noite, pois eles não podiam nem sonhar em sair em qualquer site de fofocas.
Em poucos dias, eles estariam embarcando para o Japão para continuar a turnê mundial e promover o seu novo single. Uma vez que eles já tinham ensaiado durante todo o mês de agosto, a empresa decidiu ceder uma semaninha de folga para os sete rapazes. A maioria apenas dormiu no primeiro dia, deixando para fazer as coisas fora do dormitório quando sentissem vontade, e por isso a casa parecia vazia naquele momento.
Assim que toda louça foi lavada, Jay decidiu deitar e pregar um pouco os olhos. Ele tinha passado a madrugada jogando com Heeseung, e não conseguia entender como o mais velho tivera pique para passar o resto do dia fora de casa. Ele se sentia detonado, como se todos os ossos de seu corpo doessem.
Ele definitivamente precisava descansar para o restante da turnê.
E era isso que ele pretendia fazer naquele restante de tarde, se não fosse o seu celular tocando incansavelmente sobre a cômoda, fazendo-o se revirar na cama que ele havia acabado de deitar.
— Não é possível — resmungou enquanto se levantava a contra gosto, imaginando quem deveria ser àquela hora da tarde. — Se for alguma sasaeng², eu vou me preparar para cometer um crime.
Um alívio correu em seu corpo quando notou que era de um número já salvo em seus contatos. Sua surpresa veio quando ele leu o nome indicado no visor: mãe. O alívio que outrora percorreu seu corpo, agora parecia ter desaparecido outra vez.
— Alô? — perguntou assim que atendeu a ligação, questionando-se agora se algo tinha acontecido para sua mãe telefonar.
— Oi filho, como você está? Nunca mais ligou para a mamãe…
Jay não pôde deixar de sorrir. Pelo tom de voz da mulher, estava tudo bem.
— Estou bem, desculpa não ter te ligado antes.
— Eu sei que sua agenda é super lotada, mas estou com saudades.
— Também estou com saudades.
— Olha, filho, o seu pai precisou viajar para resolver algumas coisas da empresa e estamos aqui em Seul esse fim de semana — ela voltou a falar logo em seguida, Jay ficou em silêncio apenas apreciando a voz de sua mãe. — Você está livre hoje?
— Eu… — ia dizer que tinha prometido aos garotos que iria levá-los para jantar, mas repensou. Ele podia apenas trazer um lanche a eles, certo? — Estou sim.
Ai, finalmente! — a mulher choramingou, fazendo-o lacrimejar minimamente. Fazia muito tempo desde a última vez que ele se encontrou com seus pais, por causa de sua agenda lotada. — Onde você quer ir?
— Pode ser no Gordon Ramsay? — sorriu. Ele estava realmente com vontade de comer hambúrguer.
Claro que pode — Jay teve certeza que a mãe sorria. — Nos encontramos lá então.
— Certo, às sete?
Combinado! — a mulher respondeu ainda mais animada. O garoto sentia seu coração saltando no peito. — Estou tão feliz que poderei te ver, meu filho.
Era uma sensação estranha, algo que ele não sentia há anos. A mansidão que exalava em cada palavra dita pela mulher fazia cada centímetro da pele de Jay se arrepiar. Escutar a voz de sua mãe era reconfortante, mesmo que o som parecesse dolorido em alguns momentos.
— Eu também, mãe — ele fungou assim que sentiu os olhos marejarem outra vez.
Tudo bem, então vou ajudar seu pai aqui com a papelada para podermos ir sem preocupações essa noite.
— Ok, tchau, mãe.
Eu te amo, Jongseong — ele a escutou dizer antes que finalizasse a ligação. Um frio percorreu sua espinha.
— Eu também te amo, mãe.
Assim que o rapaz desligou a chamada, uma única lágrima escorreu por sua bochecha. Ele sentia saudades dos pais como qualquer pessoa, mas seu lado mais fechado sempre deixava-o sem fazer nada. Raramente ele ligava, ou mandava mensagem falando que estava com saudades, pois optava por essa solidão à enxurrada de sentimentos de sempre.
Antes de voltar ao aconchego de sua cama e largar o celular onde já estava anteriormente, decidiu enviar uma mensagem para o privado de Jungwon avisando sobre a mudança de planos.
Won leria em breve, ele tinha certeza.
Desligou a tela assim que o tick de mensagem enviada apareceu, sorrindo ao constatar que, agora, ele poderia dormir.
E Jay havia se prevenido e colocado o celular no silencioso. A última chamada poderia ter sido importante, mas nada garantiria que a próxima não seria de uma sasaeng maluca.
Não demorou para que seu corpo todo relaxasse sobre o colchão e sua mente divagasse para seu mundo recluso, desligando-se do que acontecia mundo afora.

🎤📝❤️‍🔥


— Você pode sair, mas nada de chegar tarde e se meter em encrenca — foram as palavras que a manager Gwan dissera para .
A mais nova piscou algumas vezes antes de realmente processar o que havia escutado. Sua manager estava deixando ela sair sozinha para ver uma amiga. A sua manager, que sempre implicou com ela, estava finalmente lhe dando um voto de confiança e deixando-a sair.
— Ha-ham… Ok! Eu voltarei cedo, pode deixar — se curvou ainda chocada com o que estava acontecendo. jurou que precisaria fazer o impossível para conquistar sua manager para que ela pudesse sair com Jose naquela noite.
Mas ela só precisou pedir uma vez e prometer que não iria causar nenhum escândalo. Era simples.
Rapidamente, enviou uma mensagem avisando que conseguiria sair naquela noite para a amiga, que não demorou nem mesmo um minuto para responder, combinando o rolê. estava animada para encontrar com Jose. Se sentia tão animada com esse reencontro quanto com seu álbum que estava para sair na semana seguinte.
Era a primeira vez que uma música que ela havia participado da composição saía do papel e ia para os estúdios. nunca tinha colocado muita fé em suas letras, mas estava extremamente orgulhosa com a de Love Thing.
Agora, sonhava com o momento em que escreveria uma canção completa.
— Unnie³, você pode me trazer um lanche também? — escutou a voz de Dohee, a maknae do grupo, assim que ela atravessou o corredor encarando a tela do celular. levantou o olhar minimamente, dando atenção à garota.
Assentiu com um sorriso.
— Eu ainda não sei para onde vou, mas prometo trazer alguma coisa para você.
A menina sorriu, levantando-se de sua cama e indo até o corredor abraçar a mais velha. aceitou rapidamente, logo se esquivando e seguindo para seu quarto, a fim de se arrumar. Não era a maior fã de abraços – ou qualquer tipo de toque, mas não costumava se esquivar quando alguma das garotas se aproximava.
— Melhor não colocar nada chamativo — refletiu em voz alta enquanto encarava seu guarda-roupas aberto.
Escolheu uma simples calça cargo verde escura com uma camisa preta canelada de gola alta e mangas curtas. A terceira peça ela escolheria depois quando fosse sair.
amava roupas e moda. Era uma das características que ela mais se orgulhava de si mesma: ser lembrada por suas vestimentas. Ela se importava mais com seu estilo do que com qualquer outra coisa. E esse estilo incluía roupas, calçados, maquiagens e penteados.
Mas principalmente roupas.
Save me, save me, still you bite me — começou a cantarolar uma de suas músicas enquanto organizava as coisas para o seu banho. — Next me, next me, when you save me.
A água gelada começou a cair sobre suas costas, dando-lhe leves tremeliques, mas deixou a água correr na mesma temperatura. Lavou o cabelo, tomando cuidado com as partes tingidas de colorido, e ensaboou todo o corpo enquanto ainda cantava.
Era cômico pensar que sua ambição para se tornar idol havia começado quando Jose a inscrevera secretamente em uma audição global on-line. não estava preparada e muito menos se imaginava vivendo aquele nervosismo.
Mas quando o “reprovada” apareceu na resposta do email, seu orgulho falou mais alto e, depois, se tornar uma idol virou uma obsessão. E ela conseguiu, como sempre conseguia.
Não apenas conseguiu como, de quebra, ainda debutou em uma das maiores corporações da atualidade: Hybe.
Aquele não tinha vindo no momento certo, por fim.
— Por favor, me diga que vocês vão comer hambúrguer hoje — se assustou quando a voz de Luna soou assim que ela abriu a porta do banheiro. A garota deu um leve pulo para trás.
— Por Deus, para que fazer isso? — esbravejou, colocando a mão na altura do peito. odiava quando a assustavam.
— Desculpa — a outra colocou os dedos sobre a boca, mostrando arrependimento pelo olhar. apenas abanou com a mão, como se pedisse para esquecer o que tinha acabado de acontecer, voltando a andar na direção do armário.
Felizmente havia se vestido dentro do banheiro.
— Se você for comer hambúrguer, eu vou querer.
— Mas todo mundo agora vai me pedir comida? — se virou na direção da amiga, rindo. Recebeu apenas uma mexida de cabeça de resposta. — Quando eu decidir para onde for, eu aviso e mando o cardápio para vocês todas escolherem algo, pode ser?
— Você nunca nos decepciona, ! — Luna piscou um dos olhos, causando uma onda de risadas na outra, contagiando o quarto. — Mas eu pago o meu.
— Tranquilo — deu de ombros, não é como se elas não vivessem comprando comida umas para as outras. — Vai ficar aqui enquanto me arrumo?
— Se estiver tudo bem para você…
— O quarto também é seu, Luna — riu outra vez, agora empenhada em secar seu cabelo antes de colocar a blusa que iria usar naquela noite.
Luna apenas se levantou para encostar a porta antes de correr de volta para sua cama e deitar-se.
— Você deveria aproveitar a noite.
— Mas eu irei — encarou Luna pelo reflexo do espelho. A menina apenas levantou um pouco a cabeça.
— Estou falando de aproveitar… — arregalou mais os olhos, mexendo a cabeça e as sobrancelhas como se aquele gesto fosse mais que o suficiente para fazer entender o que ela queria dizer.
Se encararam pelo espelho. até mesmo desligou o secador para responder.
— Você enlouqueceu? — Luna sorriu ao perceber que ela havia entendido. — A manager me deu um voto de confiança, não vou avacalhar.
— Só tomar cuidado — revirou os olhos, sentando-se na cama para poder encarar a amiga. — Você não quis sair comigo da última vez sendo que você tinha passe livre.
— Luna, você queria sair para beber e beijar, especificamente.
— Coisa que você deveria fazer também.
— Estou de boas, obrigada — desviou o olhar, agora ajeitando os fios e pensando se prendia com alguma piranha ou se o deixava completamente solto.
Luna bateu na própria perna, chamado a atenção de mais uma vez, que agora se virara completamente para encarar os olhos da amiga.
— Eu só queria minha parceira de balada de volta!
— Eu realmente estou tranquila sobre isso.
— Mas…
— Você só faz essas coisas para tentar esquecer seu crush no Jaeyun.
— Cala a boca — ameaçou jogar o travesseiro na direção da amiga, mas desistiu da ideia quando percebeu que poderia acabar acertando as coisas em cima da penteadeira. — Se a manager escutar isso, eu ‘tô ferrada
— Olha, todo mundo tem uma queda pelo Sin, é completamente compreensível — começou a se defender, mas Luna não a encarava mais. Estava muito envergonhada para isso. — Mas você não vai conquistá-lo sem nem ao menos falar com ele.
— Eu nem penso em conquistá-lo, ‘tá maluca? — Luna riu em descrença. Era apenas um crush, nada demais, ela não pensava que poderia namorar com o rapaz algum dia. — Namorar alguém do Enhypen a essa altura do campeonato? Não, obrigada.
— Fala isso da boca para fora, porque se o Jake te chamasse para sair…
— Uma utopia muito distante da realidade, relaxa aí — cortou-a antes que a imaginação de saísse da curva. — Quem vive fanficando é você.
— Só crio uma realidade paralela onde você e o Jaeyun são casados e têm dois filhos — riu, deixando Luna ainda mais constrangida.
— Quando eu descobrir quem é o seu crush, você vai estar tão ferrada… — disse entre dentes, fazendo a amiga rir mais uma vez.
— O meu é bem secreto, pode ficar tranquila.
Luna revirou os olhos mais uma vez. nunca falava muito sobre esse tal crush secreto dela, mas a garota sabia que em algum momento, isso viria à tona. Uma lâmpada acendeu em sua mente, deixando-a animada com o assunto que iria trazer para a conversa.
— Falando em Enhypen…
— Lá vem — começou a rir antes mesmo da amiga começar seu doraminha de sempre.
— Ai, , eu tenho tantos shipps de você com algum deles que nem sei qual é o melhor!
não respondeu. A garota agora se preocupava com a maquiagem que faria para aquela noite, mas estava inclinada a fazer a maquiagem de sempre com algum batom amarronzado.
— Você e o próprio Jake fariam um friends to lovers muito fofo — Luna voltou a falar quando percebeu que não receberia nenhuma resposta. — Uma nipo-inglesa com um coreano-australiano, com os sotaques diferentes se completando! — os olhos da garota brilhavam.
apenas ria quando notava as expressões que a amiga fazia pelo espelho.
— Eu sentiria um ciuminho no começo, mas por essa fic, eu dou a vida!
— Desencana, Luna — a japonesa riu. — Ele é meu melhor amigo.
— Mas também tem o Niki, que também é japonês e vocês ficam conversando sozinhos sem que quase ninguém mais consiga entender — Luna ignorou, voltando a sua linha de raciocínio.
— Niki é mais novo que eu.
— E? — Luna a encarou pelo espelho outra vez, com as sobrancelhas arqueadas. — Como se isso te impedisse de alguma coisa.
A outra apenas revirou os olhos, tendo a convicção que nada que ela falasse faria Luna parar de imaginar tantas histórias de amor em sua vida. nem ao menos almejava se relacionar com outra pessoa do meio artístico, ela tinha pavor do que os fãs poderiam dizer.
Não, não. Melhor ficar solteira por bastante tempo, até se esquecerem um pouco dela e ela poder viver sua vida com uma família anônima em paz.
— Também tem o Sunghoon… — Luna entrou outra vez em seus devaneios, mas nem ao mesmo prestava atenção. Estava concentrada demais em acertar aquele delineado. — Vocês dois gostam de patinar no gelo, não tem como não pensar nesse casal! Até os fãs fazem edits de vocês dois.
— E você fica assistindo esses edits? — deu uma risada alta. Agora ela entendia porque a amiga passava tanto tempo assistindo TikTok.
— Ei, eu gosto de ver os edits que os Chargers⁴ fazem da gente, não tenho culpa se aparecem edits seus com o Hoon — ela deu de ombros, mas logo olhou para o teto como se pensasse em quais membros faltavam. — Ah, com o Heeseung também daria um casal icônico.
O coração de deu uma leve tropeçada, mas ela não expressou nada.
— Vocês gostam de ficar flertando com os fãs, são iguaizinhos! — Luna voltou a encarar as expressões da amiga pelo espelho, e precisou atuar para disfarçar o sorrisinho besta que surgiu involuntariamente em seus lábios.
Luna não pareceu perceber nada.
continuou em silêncio, pensando que quatro casais diferentes com o mesmo grupo já tinham extrapolado a cota e que Luna finalmente pararia de falar absurdos.
Mas Luna sempre tinha uma boa carta na manga.
— Tem o Jay também.
Foram quatro palavras. Quatro palavras que fizeram parar exatamente tudo o que estava fazendo e virar para trás, com uma escova de cabelo em mãos, e tacar o objeto na direção da amiga.
— Você está delirando muito.
— Por que? — Luna se levantou, aproximando-se da penteadeira onde terminava de passar o batom com gloss.
— Ele nem mesmo aguenta ficar na mesma sala que eu por mais de cinco minutos — deu de ombros.
— Enemies to lovers! — Luna deu pequenos pulinhos, animada.
— Tecnicamente, não somos inimigos — se virou para a amiga. — Estamos mais para fã e ídola.
Os pulinhos de Luna pararam e sua careta pareceu ser a coisa mais engraçada que vira naquele dia – só não ganhava do show de horrores que a outra apresentara enquanto falava de seus casais imaginários.
— Ele me odeia e eu não dou a mínima para ele — se levantou depois de se olhar uma última vez, pegando o celular e enviando uma mensagem para Jose, confirmando se a outra estava pronta.
— Não ligo, ainda assim fariam um casalzão.
apenas balançou a cabeça enquanto assistia os ombros de Luna subirem e descerem repetidas vezes, gesto que ela sempre fazia quando queria mostrar que não ligava para o que os outros diziam.
A notificação no celular chamou sua atenção, e deu a oportunidade perfeita para finalizar aquela conversa tenebrosa.
— Bem, estou chamando o táxi para ir, se cuide e pensa com carinho no que eu te disse.
As sobrancelhas de Luna se juntaram.
— Mas eu nem lembro o que você me disse.
já estava com a mão na maçaneta quando se virou minimamente com um sorriso sapeca no rosto.
— Pensa em você e no Jake casados com dois filhos.
E saiu, deixando uma Luna extremamente vermelha parada no quarto.

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Jay saiu do banho quente com os ombros muito mais relaxados. Sua soneca da tarde, que se estendeu por quatro horas, havia renovado completamente a sua energia. Ele se sentia muito mais tranquilo e sã.
Como ele já esperava, tanto Sunoo quanto Jungwon foram compreensivos e aceitaram a proposta de ir outro dia, mesmo que aquilo provavelmente significaria que Jay teria que pagar para os outros membros também.
Pelo menos estaria livre para aproveitar a saída com seus pais e jantar com eles.
— Eu vou querer um lanche também, Jay-hyung — escutou a voz de Sunghoon e começou a rir, olhando para ele logo em seguida.
— Nesses momentos eu viro seu hyung, né?
— Mas é óbvio — acompanhou o amigo na risada, entrando no quarto e sentando na cadeira. — Achei que Jake estaria aqui.
— Acho que ele ainda não chegou — não encarou Hoon daquela vez, concentrado no espelho enquanto avaliava suas possibilidades de roupa para a noite. — Ou pelo menos não apareceu aqui no quarto enquanto eu estava.
Sunghoon murmurou antes de começar a mexer no celular. Conhecia bem o amigo para saber que ele estava extremamente empenhado em montar seu look, mesmo que ele estivesse apenas indo para uma mera hamburgueria.
Jay e seu vício em moda.
— Enfim, eu quero um lanche, por favor.
— Larga de ser folgado — Jongseong riu outra vez. Ele já estava certo que usaria uma calça jeans branca e uma camisa azulada. Só precisava escolher o cinto. — Preto ou azul escuro?
Hoon levantou o olhar quando percebeu que sua opinião era solicitada, encarando as opções nas mãos de Jay, que estendia os braços em sua direção para que ele pudesse avaliar.
— Preto.
— Então vou de azul escuro, obrigado — deu um sorriso sapeca, fazendo Sunghoon rir e fechar os olhos, desacreditado.
— Bem, vou indo então — disse depois de algum tempo. O mais velho já estava arrumado e apenas ajeitava o cabelo no espelho. — Traz um para mim.
— Vai sonhando.
— Eu sou seu melhor amigo, eu mereço! — Hoon colocou uma das mãos sobre o peito, como se estivesse se sentindo traído. Jay apenas revirou os olhos, como sempre.
— Eu não vou trazer lanche nenhum hoje, mas quando eu for sair com os garotos para comer, você pode ir junto.
— Obrigado hyung, você é o melhor! — fez um joinha com ambas as mãos, se virando logo em seguida e saindo do quarto do amigo.
Jay só precisava esperar por qualquer sinal de seus pais para que saísse de casa. Ele estava bem tranquilo sobre sua saída, e nem ao menos disse ao seu manager para onde exatamente pretendia ir.
“Estou saindo com meus pais’’ foi a única mensagem que enviara, e que nem mesmo tinha sido visualizada ainda.
Depois de três anos de debut, seu manager já sabia que podia confiar nos rapazes tranquilamente. Ele nunca foi de ficar em cima de algum deles e muito menos de proibi-los de sair. Felizmente, todos se cuidavam muito para que nenhum rumor sobre eles surgisse. Menos os que os fãs inventavam do nada, mas eles já não tinham controle algum sobre isso.
Decidido a esperar por uma mensagem dos pais enquanto conversava com os garotos, Jay conferiu se estava tudo em ordem no quarto antes de sair e fechar a porta. Jake não tinha mandado nenhum sinal de vida, e ele não fazia ideia de onde o amigo estava naquele instante.
E pelo visto, Hoon ainda procurava por ele.
— Jaeyun ainda não respondeu? — perguntou assim que se aproximou de Heeseung e Sunghoon que estavam sentados no sofá da sala. O encarou.
— Ele deve estar fazendo alguma coisa legal — o mais velho deu de ombros, concentrado no filme que passava na televisão.
— Você está preocupado à toa — Jay falou enquanto se sentava no braço do estofado, largando o celular sobre a mesa de centro.
— Sei lá, estou com um mau pressentimento.
— Sobre? — Jongseong se mostrou curioso.
— Não sei, é só uma sensação ruim de que algo vai acontecer — agora foi a vez de Hoon dar de ombros. Jay revirou os olhos.
Ele não gostava quando os garotos começavam a falar sobre pressentimento ruim e coisas do gênero. Jay achava que a maioria dessas falácias eram apenas… Falácias. Que nunca agregavam em nada e só trazia uma preocupação à toa. Mas talvez esse seu preconceito era puro fruto de frustrações passadas, e ele sabia bem.
Sunghoon deixou uma última mensagem enviada a Jake e descansou o celular na mesinha ao lado do telefone de Jay. Heeseung parecia completamente alheio a toda aquela última conversa.
Os três continuaram a assistir o filme, mas Jay não prestou atenção alguma. O que Hoon havia dito não tinha nada demais, certo? Ele nunca gostou de dar bola para aquelas coisas mesmo. Era tudo balela, apenas uma comida que fez mal ao estômago. Qualquer coisa conseguiria explicar aquelas “premonições”.
Mas apesar de sua convicção, as palavras do amigo não saíram pelos ouvidos como deveriam.
— Seu celular está tocando — escutou o resmungo de Heeseung ao seu lado, fazendo o americano despertar de seu devaneio. Ele estava realmente pensando naquela conversa ainda?
Chacoalhou a cabeça como se pudesse afastar os pensamentos daquela forma, pegando o celular e vendo o contato de sua mãe no visor. Engoliu em seco.
— Alô? — se levantou para ir até a cozinha, que estava vazia, para conseguir escutar a mulher.
Oi filho, estamos chegando — ouviu a mulher e sentiu os ombros relaxarem. Ele nem mesmo havia percebido que os tinha tensionado tanto.
— Oi, mãe, ainda preciso sair do dormitório — sua voz soava aliviada. — Devo chegar em uns 15 minutos, tudo bem?
Sem problemas, filho. Te esperamos aqui, então!
Assim que desligou o telefone, Jay jurou que sentiu o alívio correndo por toda a extensão do seu corpo. Estava tudo bem, tudo estava bem. Nada daria errado e, como sempre, todo o pressentimento ruim de Sunghoon vai ficar na lembrança como algo banal de sempre, sem importância.
Jongseong correu e ligou rapidamente ao staff que iria levá-lo. Já estava atrasado, então precisaria sair o quanto antes.
— Falou galera, ‘tô indo — disse simplesmente enquanto confirmava que estava com a carteira no bolso e as chaves do dormitório. Sunghoon e Heeseung estavam concentrados demais no filme, então apenas murmuraram alguma coisa que Jay não foi capaz de compreender. — Me avisem quando o Jake voltar.

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— Acabei de entrar, estou te esperando em uma mesa no cantinho esquerdo — falava com Jose no telefone, que parecia extremamente perdida. — Só procurar uma garota de cabelo colorido e camisa preta de gola alta.
Como se roupa preta fosse uma peça muito única — Jose reclamou, fazendo a amiga rir no telefone. — Estou descendo do táxi, vou entrar!
— Ok!
Ambas continuaram na ligação, mas em silêncio. escutava a amiga tentando falar em inglês com algum atendente e sentia ainda mais vontade de rir do perrengue de Joselin. Ela com certeza estava a ponto de surtar.
Quando uma loira de rabo de cavalo alto, pele branca e olhos visivelmente perdidos apareceu no campo de visão da japonesa, uma felicidade explodiu em seu peito. Era Jose, sua melhor amiga que ela deixara na Inglaterra para viver a vida de idol.
E que, pelos próximos meses, estaria morando a menos de 20km de distância.
Ela esticou um dos braços, começando a abaná-lo para chamar sua atenção. Não demorou muito para Joselin notar um movimento esquisito no canto da hamburgueria e sorrir na direção da amiga.
— Você está cada dia mais linda — disse enquanto se levantava para abraçar a garota, que se aproximava. Ainda não conseguia acreditar que Jose estava realmente ali com ela na Coreia do Sul.
Ambas se abraçaram com força, tentando matar a saudade uma da outra naquele mero contato. sentia os olhos marejando cada vez mais. Ela tinha certeza de que choraria em algum momento.
Mas não seria a única, visto que naquele meio tempo, Joselin já derramava lágrimas de felicidade.
— Não acredito que estou te vendo depois de dois anos.
— Nem eu! — se afastaram minimamente para se encararem, mas logo engataram em outro abraço apertado. — Vamos, precisamos colocar o papo em dia!
Assim que as garotas se sentaram, um garçom apareceu para anotar os pedidos. Joselin e pediram os mesmos hambúrgueres:
— E uma Coca, por favor.
— E eu vou querer uma água com gás.
No momento que o garçom se movimentou para sair, a inglesa virou na direção da amiga com uma careta.
— Quem come hambúrguer com água com gás? — ela parecia descrente. — Você sempre foi viciada em refrigerante.
— E justamente por isso eu não posso mais beber — deu de ombros, mas Jose pareceu ainda mais inconformada.
— Como é?
— Ah, você sabe, Jose — apontou para o próprio corpo, como se fosse óbvio. — Refri dá muita celulite, e eu não posso engordar nadinha.
— 2023 e eles continuam assim? — os ombros da inglesa murcharam, principalmente quando a cabeça de confirmou. — Então você não bebe mais nada?
— Refri muito raramente, mas hoje em dia eu não sinto mais falta.
— E seu cappuccino com marshmallows quando está triste, parou também?
assentiu.
— Esse faz mais de anos que não bebo, desde a época de trainee.
— Meu Deus, que vida desgraçada, com todo o respeito.
A idol apenas deu de ombros, já conformada com sua nova realidade. Era óbvio que ela sentia falta das coisinhas que ela gostava de comer, mas, no fim, quem escolheu viver aquilo fora ela, então apenas aprendeu a se contentar com sua nova vida.
Mesmo que fosse uma vida longe de refrigerantes e cappuccinos com marshmallow.
— Mas vamos mudar de assunto, me conta da sua faculdade! — deu um jeito de desviar o rumo da conversa, mesmo sabendo que em breve a amiga iria querer saber mais sobre os bastidores da vida de idol.
Jose não enrolou para engatar na conversa, falando sobre como a faculdade de cinema era realmente o que ela amava fazer e que esse intercâmbio para a Coreia iria abrir demais todo seu repertório e experiência.
As garotas estavam engajadas na conversa sobre a vida de Joselin quando seus pedidos chegaram. Mudaram brevemente o rumo do papo para apreciar os hambúrgueres.
— Antes de comer! — chamou antes mesmo de Jose encostar em seu lanche. — Tira uma foto minha? Quero postar no Weverse!
Joselin apenas puxou o celular do bolso, pedindo para a amiga fazer a pose que quisesse. Foram apenas três fotos, e Jose nem ao menos deixou a amiga conferir, já guardando o aparelho e pegando seu hambúrguer.
— Que divino — Jose murmurou e precisou segurar a risada. Não podia cometer o erro de rir de boca cheia e algum fansite a fotografar.
— Está uma delícia — disse depois de engolir a comida e limpar os lábios. Joselin curvou uma das sobrancelhas.
— Fez aulas de etiqueta mesmo.
— Fiz — encolheu os ombros. Ela tinha consciência de que, antes das aulas obrigatórias da era de trainee, ela era meio sem modos na mesa. — Hoje eu me policio muito mais, preciso tomar cuidado sempre.
Joselin apenas concordou com a cabeça, tampando a boca com uma das mãos para falar:
— Pegam muito no seu pé?
— Em qual sentido? — agora foi a vez de arquear as sobrancelhas.
— No fato de você ser estrangeira.
— Ah… Sim, bastante — deu um sorriso sem graça, encarando o hambúrguer para não precisar encarar os olhos da amiga. — Na verdade, parece que, por eu não ser coreana, se eu faço algo, vira um escarcéu.
— Por isso você mudou toda sua dieta e modos, para não dar motivos para a galera não gostar de você.
— Também, mas principalmente porque tenho muita dificuldade com o coreano, então algumas pessoas não me curtem por isso.
Joselin ficou tão chocada que precisou soltar o hambúrguer sobre a mesa.
— Te odeiam porque você tem dificuldade, é sério?
— Amiga, eu tenho quase certeza que já comentei sobre isso com você.
— Eu me lembraria se você me contasse um absurdo desses — a voz da garota soou levemente grossa, sinal de que Jose estava irritada. Os coreanos eram desgraçados em alguns momentos mesmo. — Imagina se algum dia você aparece namorando? Que caos.
— Nem fala — riu, lembrando-se da conversa que tivera mais cedo com Luna. Sua reação pareceu interessante para Joselin, que tombou a cabeça para o lado enquanto terminava de mastigar.
— Que risadinha foi essa? — animou-se repentinamente. — ‘Tá me escondendo o que?
— O quê? — ficou meio confusa. — De onde você tirou isso?
— Essa sua risadinha sapeca, parece até que você está conversando com alguém por aí…
precisou piscar algumas vezes até juntar as pecinhas. Jose realmente estava achando que ela, , estava de conversinha com alguém?
Coitada, mal sabia ela.
— Eu não consegui me interessar por ninguém por enquanto — resmungou ignorando o nome de um serzinho que apareceu em sua mente.
— Mentira, impossível, com aquele tanto de idol que você se esbarra por aí e você não deu nem uns beijinhos? — Joselin se impressionava cada vez mais, mas de uma forma ruim.
— Espera aí, eu disse que não me interessei por ninguém no sentido de criar vontade de manter uma conversa séria, mas já beijei alguns idols sim.
— MEU DEUS E NÃO ME FALOU ANTES POR QUÊ?
A japonesa soltou uma risada alta. Estava realmente com saudades das reações extremamente exageradas de Jose.
— Eu não posso falar sobre essas coisas pelo celular, imagina se vaza?
— Por Deus, você precisa me contar cada detalhezinho!
— Pode ser em outro lugar? — olhou o relógio do celular, percebendo que ficava cada vez mais tarde e a hamburgueria começava a lotar.
Quanto mais gente em um lugar, mais alto o barulho, ou seja, mais alto ela precisaria falar e mais chances de alguém escutar sobre aquele assunto.
E havia garantido que não se meteria em controvérsias naquela noite.
— Pode ser, onde você quer ir? — Joselin disse assim que terminou de beber sua coca.
— Karaokê! Como nos velhos tempos.
Jose riu alto.
— Tudo bem, vamos só pagar e já iremos para o melhor karaokê dessa Seul!

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— Jay! Aqui! — o rapaz escutou uma voz conhecida entre as demais, chamando sua atenção. Quando percebeu quem o chamava, um sorriso imediatamente cresceu em seus lábios, ao mesmo tempo que suas pernas caminhavam na direção da mesa.
Sua mãe e seu pai o receberam de braços abertos, sem nem ao menos dizer mais palavra alguma. Eles estavam ali juntos, em família, depois de tanto tempo separados.
— Você é realmente impossível — a mulher riu com a voz levemente embargada, fruto das lágrimas que insistiram em cair assim que os braços de seu filho único rodaram seu pescoço. — Parece que não tem mãe.
— Que horror — Jongseong riu, um pouco envergonhado. Ele não gostava das palavras que sua mãe quase sempre dizia quando eles se viam, mas tentou relevar naquele momento.
— Sente-se, filho.
Fazia muito tempo desde a última vez que Jay tinha ido em um dos restaurantes de Gordon Ramsay. Se lembrava de ter ido em uma das unidades de Washington na última vez que visitou sua família, em 2021. Mas ele ainda se recordava das vezes em que fora quando criança, sempre em alguma das confraternizações da empresa de seu pai.
Ele se sentiu acolhido por sua família naquele instante, como nos velhos tempos.
— Como estão as coisas da empresa? — começou a puxar assunto com o chefe da família, que quase nunca falava nada, mesmo que fosse sua maior inspiração.
— A empresa está indo cada vez melhor, felizmente — o mais velho disse com um sorriso simples nos lábios, encarando o filho. — Estamos conseguindo expandi-la e abrir filiais em novos países.
— Fico feliz — Jay confessou, sorrindo abertamente. Ele gostava de como seu pai era dedicado em seu negócio e como aquilo sustentou toda sua família desde sempre. Era uma inspiração de vida.
Jongseong imaginava que, algum dia, num futuro ainda distante, ele seria um pai de família e cuidaria de seus filhos com o mesmo amor que fora criado por seu pai. Mesmo que algumas coisas na vida de herdeiro não lhe agradassem, ele tinha plena ciência de que tudo o que viveu foi graças a empresa, então queria poder passar esse conhecimento aos filhos também.
Isso se algum dia ele conseguisse se apaixonar por alguém novamente.
— A senhora vai querer alguma coisa? — perguntou para a mãe que parecia concentrada no cardápio. A mulher levantou o olhar diretamente ao garçom, como se ignorasse a pergunta do filho.
— Apenas uma salada caesar, por favor — a mulher esperou o garçom se afastar para se virar na direção do filho e perguntar — Como está indo essa vida de idol?
— Está tudo bem — ele se limitou a dizer, não sabendo onde a mãe queria chegar com aquele assunto.
O garçom apareceu novamente, trazendo as bebidas e as servindo.
— Já está conversando com alguém? — ela o encarou novamente.
— Mãe, já falamos sobre isso… — Jay sentiu a garganta ficar seca e se remexeu na cadeira. Qualquer coisa menos isso, por favor, seu subconsciente repetia sem parar.
A mulher se limitou a subir ambas as sobrancelhas e descê-las, tomando um leve gole de seu vinho tinto. Ela estava agindo com tranquilidade e uma leve frieza, do jeitinho que Jay estava familiarizado.
Precisava cortar o assunto antes que aquele nome surgisse na conversa.
— Mãe, será que podemos não falar sobre qualquer coisa que envolva minha antiga vida em Seattle, por favor? — ele perguntou com a voz ruída.
Tinha um motivo para Jongseong sempre evitar falar com seus pais e marcar de vê-los. A agenda cheia era apenas uma desculpa que ele havia encontrado para não ter que ver sempre sua progenitora. Ele a amava muito, mas sua insistência em perguntar sobre as pessoas do seu passado que ficaram em Seattle o magoava profundamente.
Seu pai estava quieto, apenas observando o fogo subir entre os dois outros membros da família. Ele nunca fazia nada. Nunca intervia nas brigas e discussões, muito menos se pronunciava sobre suas opiniões.
Jay precisava de uma única pessoa para o acolher sem questionar nada, já seria o suficiente.
— Você como filho único deveria entender o nosso lado — escutou a mãe reclamar em voz baixa.
A senhora Park se preocupava com o filho como qualquer outra mãe. Mas depois do acidente, Jay se fechou em um casulo de onde ele nunca saía, e sua vida em Seattle pareceu ser o assunto mais sensível do mundo.
As mãos do garoto se fecharam sob a mesa, mas ele preferiu ficar em silêncio.
— Você nem ao menos pensa em ter uma namorada? — ela parecia desesperada. — Eu preciso que você desencane do que aconteceu em Seattle e…
— Mãe, eu acabei de começar minha carreira, e só tenho 21 anos — Jay se esforçou para manter a calma em sua voz, mas estava ficando cada vez mais difícil. — Não posso e nem quero pensar em relacionamentos agora.
— Mas… — a mulher mencionou a insistência, mas ele logo a cortou.
— Por favor, podemos fingir que somos uma família unida e feliz pelo menos por hoje? Me sinto cansado — Jay fechou os olhos, derrotado. Ele sabia que tinha usado palavras pesadas e que não definiam a reação familiar deles, mas não viu escolha quando se sentiu encurralado pelas perguntas da mãe.
Ele não sentia saudades daquilo.
Quando Jay falava sobre saudades, falava sobre quando sua mãe ainda o tratava com carinho e cuidado. Quando ela ia buscá-lo de guarda-chuva na escola, mesmo que ela odiasse molhar suas roupas caras e pudesse apenas mandar uma secretária ir buscá-lo em seu lugar. Quando ela ainda se esforçava para preparar um jantar em família para que ninguém comesse sozinho. Qualquer momento antes do acidente.
A mulher abriu a boca algumas vezes, mas as palavras do filho foram como uma faca afiada em seu peito. Ela se sentia uma péssima mãe, mas não conseguia deixar de se afobar quando queria falar sobre o passado que Jay abandonara em Seattle.
Precisava falar com ele sobre aquilo, só não sabia como.
Então a mulher apenas se contentou em ficar em silêncio pelo resto da noite, deixando que apenas Jay e seu pai conversassem sobre qualquer coisa, menos Seattle.
O idol tirou uma foto de seu hambúrguer assim que o recebeu, postando-o no Weverse logo em seguida para atualizar as Engenes sobre sua vida.
Pelo menos elas não ficam me perguntando de Seattle sem parar.

¹: pronome de tratamento que garotos usam para chamar/se referir a garotos mais velhos;
²: fã obcecada que invade a privacidade dos idols;
³: pronome de tratamento que garotas usam para chamar/se referir a garotas mais velhas;
⁴: fandom fictício do grupo das meninas, ION;


[II] mixed up

“Eu me tornei o personagem principal sem nem mesmo saber
Por causa dessas fofocas”

(🎶🎸🖇️)


— E se a gente saísse para tomar um café? — Luna disse sorridente, parada de frente a uma cabisbaixa.
— A manager me proibiu de sair, lembra? — a garota resmungou.
— Quer jogar cartas com a gente?
— Não vou conseguir me concentrar.
— E se assistíssemos algum dorama?
— Assistir coisas românticas agora vai me dar enjoo, Dohee.
— Então um filme de terror?
— A minha vida já está um terror — choramingou, sentindo uma ardência no nariz imediata. Enfiou o rosto no travesseiro antes que alguma lágrima escorresse. As outras membros do quarto se entreolharam.
sabia que, inconscientemente, suas respostas curtas e voz embargada soavam como um poço de drama, mas ela não conseguia evitar.
Naquele momento, ela só queria desaparecer.
Havia se passado algumas horas desde que a manager Gwan saíra do dormitório das garotas para ir à empresa resolver a situação. A mulher passou pouco mais de uma hora no apartamento, e foi o suficiente para deixar de olhos inchados e um semblante de derrota completo pelo resto do dia – ou talvez pelo resto da semana.
Luna e Dohee foram obrigadas a ficar trancadas dentro do quarto da mais nova enquanto a Gwan e “conversavam” no quarto, mas apenas os berros da mais velha foram audíveis durante todo o tempo de discussão. Siara até conseguiu chegar a tempo de intervir na briga e tentar proteger a amiga de grupo, porém, a manager estava com os olhos fervendo de raiva.
— Você precisa comer alguma coisa… — Dohee tentou colocar um prato de donuts nas mãos de , que ela também recusou.
— Sinto muito, meninas — foi a única coisa que ela disse, encarando as três amigas à sua volta. — Eu deveria ter conferido se alguém tinha postado algo naquele dia no Weverse.
As três estavam em volta da cama de , que permanecia de ombros caídos e olhos avermelhados. Já faziam alguns minutos que elas se esforçavam para conversar com a garota, a fim de distraí-la um pouco, mas não obtinham nenhum resultado promissor.
Parecia até mesmo que queria continuar desanimada.
— Você poderia ter sido mais cuidadosa.
— Siara-unnie! — Luna chamou sua atenção, olhando desacreditada para a líder.
— Todas nós sabemos que devemos postar fotos de algum restaurante pelo menos três dias depois de irmos, é uma regra — ela levantou os ombros, encarando Luna de volta brevemente. — Mas se serve de consolo, Jay também errou por ter postado no mesmo dia.
Jay.
ainda não havia processado o fato de que ela estava encrencada em um escândalo de namoro com Park Jongseong, o cara que mais a odiava na face da Terra. Aquilo era obra da Lei de Murphy ou de qualquer espírito traiçoeiro, pois era irônico demais para ser verdade.
Pensar em Jay fazia se lembrar do seu melhor amigo, Jake, que havia mandado diversas mensagens desde que a fofoca saíra pela manhã, e que ela ainda não tinha conseguido ler.
Se ela encostasse em seu celular enquanto a manager Gwan brigava consigo, ela possivelmente perderia o direito de ter o aparelho. E depois já estava ocupada demais chorando sem parar para sequer pensar em responder ao amigo.
, vamos pensar positivo — Siara voltou a falar, tirando de suas reflexões sobre a amizade dela com Jake. — A Belift nunca vai deixar um escândalo desses correr por muito tempo, isso seria péssimo para a imagem do Jay também.
— Isso aí! Logo, logo, eles vão postar uma nota negando o namoro e vão falar que foi uma mera coincidência — Dohee continuou com um sorriso, causando uma resposta involuntária imediata em . A maknae era sua serotonina diária que funcionava em momentos de nervoso.
— Eu espero mesmo — suspirou, jogando a cabeça para trás.
A verdade é que estava frustrada consigo mesma por ter cometido aquele erro. Era uma das regras básicas da vida de idol: nunca postar uma foto na mesma hora que tirou, principalmente se for expor a sua localização.
A lição veio, ainda que da pior forma possível. Contudo, ela gostava de acreditar que a Belift realmente negaria o rumor com rapidez e ela poderia seguir sua vida normalmente depois de tanto nervoso. Se isso significasse que ela teria que se afastar de todos os garotos do Enhypen, o faria mesmo assim. Ela lidaria com as consequências de suas ações.
Apenas a ideia de se afastar de Jake fazia seu peito doer, porém, ela estava determinada a seguir com o que quer que a empresa lhe passasse. Ela já estaria sendo poupada de muito estresse e onda de hate com o rumor.
— Vou fazer um fondue de chocolate e frutas que eu sei que você ama — Luna disse com empolgação ao ver o sorrisinho da amiga.
apenas assentiu, se permitindo ser cuidada pelas amigas. Siara, Luna e Dohee eram as únicas pessoas que poderiam apoiá-la fisicamente naquele momento, então ela sabia que precisava deixar que as meninas a ajudassem. As três ficaram animadas com a mudança de humor de – mesmo que mínima.
Luna saiu do quarto rapidamente para preparar o fondue para as quatro, enquanto Dohee se levantava dizendo que iria arranjar alguma comédia romântica para elas assistirem juntas na sala.
Apenas Siara permaneceu ali ao lado de , encarando-a.
— Me desculpa de verdade, unnie — a garota suspirou, sentindo a derrota sobre seus ombros.
, vai ficar tudo bem — a mais velha se sentou no colchão ao lado da garota e a abraçou. — Se isso aconteceu, é porque você vai aprender alguma coisa com isso.
— Já aprendi que devo repassar as regras todos os dias antes de fazer qualquer coisa — respondeu com a voz divertida, fazendo Siara soltar uma risada nasalada, desvencilhando-se do abraço.
— Nem falo sobre essa lição, mas pode ser uma oportunidade.
— Fala sério, que tipo de oportunidade essa situação poderia me dar? — soltou outra risada, agora irônica. — A chance de eu e Jay virarmos amigos?
havia perguntado de forma sarcástica, como se aquilo fosse um absurdo escancarado. Porém, o silêncio de Siara a incomodou.
— Você não pode estar falando sério.
— Eu só acho que essas coisas sempre acontecem por um bom motivo.
— Unnie, isso é simplesmente impossível — começou a tentar justificar sua ideia de quão absurda era a possibilidade dela e Jay se tornarem amigos algum dia. — Ele me odeia! A gente se mataria em menos de uma semana.
— Mas você nem ao menos sabe o motivo dele te odiar.
— Exatamente, isso só mostra o quão pirado aquele cara é.
Siara riu da forma que falava de Jay. Era sempre assim. Quando o nome do rapaz era citado, já fechava a cara e reclamava do quão infantil ele era por odiá-la sem qualquer motivo válido.
— Sei lá, só tenta encarar essa situação de uma forma mais… leve — a líder disse por fim. — Vai te fazer muito bem.
A garota apenas concordou com a cabeça, absorvendo as palavras de Siara. A mais velha levantou, batendo as mãos e estendendo o braço direito na direção da amiga, ajudando-a a se levantar também.
— Agora vamos antes que a Dohee coloque algum dorama meloso que vai nos deixar diabéticas — riram juntas.

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O clima no dormitório estava esquisito, e Jay sabia que era sua culpa o fato dos garotos estarem em silêncio na sala, apenas encarando os rostos um dos outros. A ansiedade para falar sobre o assunto da vez era nítida nos olhos curiosos dos garotos, e todos aguardavam um alguém específico começar a falar sobre o tópico sensível.
Então Jay suspirou, tentando tomar coragem – e paciência – para começar a falar sobre o escândalo que tinha saído poucas horas antes daquela pequena reunião no dormitório.
— Se vocês quiserem perg–
— Desde quando?
— Você ‘tá me zoando que nunca me contou nada sobre você e a ?
— O que diabos aconteceu ontem?
— Você estava com a mesmo?
As quatro perguntas foram feitas de uma vez, sem que Jay conseguisse completar sua fala inicial. Ele nem mesmo conseguiu diferenciar quem estava perguntando o que. Os corpos de Jake, Heeseung, Sunghoon, Sunoo e Niki estavam projetados em sua direção, com os olhos arregalados e atentos para o que quer que ele falasse a partir daquele momento.
Apenas Jungwon permanecera com as costas encostadas no sofá, de braços cruzados e uma expressão séria, apenas encarando a cena toda.
— Eu e a não temos nada, foi uma maldita coincidência — suspirou outra vez, sentindo toda sua paciência se esvair em menos de dois minutos de conversa. — Eu saí ontem com meus pais para ir ao Gordon e aparentemente ela teve a mesma ideia de ir lá.
— Chega a ser engraçado — Sunoo desfez sua postura e jogou as costas para trás. Ele estava com um sorriso divertido nos lábios.
— Mas vocês chegaram a se encontrar ou algo assim? — a pergunta veio de Heeseung. Jay estava com uma das pernas sobre a outra e de dedos cruzados sobre o joelho esquerdo quando parou para encarar o amigo.
— Não sabia que ela estava lá, se soubesse, não teria postado a foto do hambúrguer.
— Você já errou postando enquanto estava no restaurante — a voz séria de Jungwon assustou Sunoo que estava ao seu lado. Ele sabia que o amigo incorporava a skin de líder em momentos sérios, mas não achava que Won levaria aquela conversa no dormitório tão a sério.
— Eu sei — Jay abaixou a cabeça, coçando a nuca antes de voltar a encarar Yang. — Se eu pudesse voltar no tempo, não teria postado nada.
— Mas agora já foi — Heeseung, que estava do outro lado de Jungwon, apertou a coxa do líder com calma, tentando deixá-lo mais relaxado ao toque. — Deixa que a Belift vai se pronunciar e tudo ficará bem, você só precisa se policiar mais.
— Pode deixar, nunca mais vou me permitir cometer um erro desses — Jay assegurou os amigos, mas ninguém se pronunciou.
Jake e Sunghoon se encararam, conversando pelo olhar. Ambos já haviam preparado uma coletânea de piadas e zoações que fariam com Jay assim que ele chegasse no dormitório, mas não conseguiam garantir se já estava liberado fazer piada com a situação.
O clima da sala parecia ter caído assim que a voz séria de Jungwon soara pela primeira vez naquela conversa. Todos haviam percebido, até mesmo Niki que parecia um pouco alheio à conversa. Jake apenas negou com a cabeça, constatando que ainda não era hora de brincar.
— O manager disse que precisou ir direto para a empresa, então mais tarde ele passa aqui para ter uma conversa séria com você — Won disse, por fim, com o olhar fixo em Jay, a voz baixa e soltando um suspiro no final.
Ele ainda estava chateado pela forma que Jay o tratara mais cedo pelo telefone. Jungwon tinha a convicção de que quando chamasse Jay para conversar particularmente sobre a conversa no celular, eles se resolveriam. Porém, naquele momento, ele não estava a fim de conversar.
A atmosfera permaneceu tensa, principalmente com o silêncio que reinava por ali.
— A gente vai simplesmente ignorar o fato que o Jay está em um escândalo de namoro com a garota que ele mais odeia da empresa mesmo ou… — a voz de Niki soou baixa, mas todos conseguiram escutar.
Assim que escutaram aquilo, Jake e Sunghoon não conseguiram mais segurar a risada que estava presa em suas gargantas. Os outros garotos os acompanharam.
— Céus, finalmente — Sunghoon gemeu ainda rindo. — Achei que ficaria aquele clima de merda ‘pra sempre.
— Em algum momento alguém iria rir, era óbvio — Heeseung respondeu mais controlado.
A troca de risadas já fora o suficiente para amenizar a atmosfera. Os sete não gostavam de ficar com o clima estranho entre eles por muito tempo, mesmo quando acabavam brigando e caindo no soco entre si – como já tinha acontecido algumas boas vezes.
— Eu tenho tanta coisa para falar que nem sei por onde começar — os olhos de Jaeyun brilharam.
— Por favor, não diga nada — os ombros de Jay murcharam assim que ele percebeu que aquele seria o assunto de perturbação por alguns dias. — Eu não processei a informação ainda.
— Hoje cedo, quando a Luna me ligou para avisar, eu não acreditei — Sunoo levantou os ombros ainda com o sorriso divertido em seus lábios.
Jay olhou diretamente em sua direção, arqueando uma das sobrancelhas antes de perguntar:
— Espera, vocês não descobriram pelos fansites?
— Na verdade, o Sunoo entrou em ligação hoje cedo e gritou pela casa, então acabei escutando — Jungwon entrou na conversa, um pouco mais leve. — Depois ele mandou no grupo e o resto você já sabe.
— Isso quer dizer que a também já deve saber — Jay concluiu seus pensamentos em voz alta, olhando para um ponto fixo na mesa.
Os garotos se entreolharam antes de fixarem seus olhares em um Jay pensativo, com a boca torta e a testa enrugada olhando para um ponto aleatório. Não precisavam pensar muito para entender que o americano já deveria estar xingando toda a existência da garota em sua mente.
— Já conseguiu falar com a , Jake? — a voz de Heeseung surgiu depois de um período em silêncio.
— Pior que não — o garoto murchou a postura. — Ela está me ignorando, mas aparentemente é porque a manager brigou muito feio com ela.
— Bem feito — Jay resmungou baixo, mas Jake conseguiu escutar.
Olhou-o com desgosto.
— Cala a boca, vocês fizeram a mesma cagada.
— Ei!
— Relaxa aí vocês dois — Jungwon estendeu os braços na direção de cada um, com as palmas viradas na direção de seus rostos.
Os olhos de Jay reviraram no mesmo instante. Não aguentava quando era defendida pelos garotos, principalmente por Jake. Ele sabia que todos ali eram amigos das meninas do ION e que apenas ele não gostava de , mas, de qualquer forma, odiava quando não concordavam com ele.
Só ele que conseguia enxergar o quanto ela era falsa e não confiável?
— Sei que pode parecer meio chato da minha parte pedir isso, mas será que a gente poderia mudar de assunto pelo menos por agora? — Jay tentou suavizar a voz o máximo que conseguia.
Ele estava um poço de estresse e mau humor. Não que ele fosse uma pessoa naturalmente calma, mas naquele dia em especial, suas frustrações estavam crescendo exponencialmente. E falar de , ou o simples ato de mencionar o seu nome, já fazia todo seu sangue borbulhar.
Suspirou. Quando Jay apoiou a cabeça no travesseiro na noite anterior, repetiu para si mesmo que o jantar com seus pais seria seu pico de estresse da semana, mas agora ele estava vivendo um verdadeiro pesadelo. Desejou voltar na noite anterior e mudar toda sua trajetória, mesmo que tivesse de escutar sua mãe perguntando de Seattle outra vez em menos de 24 horas.
Aquilo era, sem sombra de dúvidas, menos torturador que um escândalo de namoro com .
— Só porque você ainda parece estar digerindo isso tudo — Heeseung respondeu pelos amigos do grupo, encerrando aquele papo por ali. O que eles mais teriam eram oportunidades para zoar com Jay e seu cômico destino.
— Valeu.
Os garotos começaram a conversar sobre outros assuntos, a maioria envolvendo a turnê no Japão que eles iriam começar em alguns dias, mas Jay não estava mais escutando nada.
Sua cabeça estava revivendo a noite anterior.
Você precisa desencanar do que aconteceu em Seattle, a voz de sua mãe ecoava em suas lembranças.
Tremeu os ombros. Ele odiava pensar em Seattle e nos assuntos que deixou por lá, mas ele sentia que, em algum momento, precisaria encarar seu passado para, enfim, se curar.
E Jay contava com a possibilidade de estar dopado de remédios controlados quando esse dia chegasse.

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estava uma pilha de nervos.
— Se você continuar andando assim, vai cavar um buraco nesse chão — Luna falou enquanto assistia a amiga andar em círculos pela sala de treino.
— Cala a boca — respondeu sem olhar em sua direção enquanto mordiscava a ponta de seus dedos, quase roendo a unha.
Já haviam passado alguns dias desde a confusão com a fofoca de namoro entre ela e Jay e, até naquele momento, a Belift não tinha se pronunciado sobre a fofoca, tampouco negado o relacionamento, o que não era convencional para a equipe da empresa.
E isso deixava ainda mais angustiada.
— Tente se acalmar pelo menos um pouco — Luna se levantou e foi até , encostando em seu ombro e fazendo a garota parar de andar por um instante.
Dessa vez, a encarou.
— Estou desesperada.
— Eu sei, mas continuar agindo desse jeito não vai te levar a lugar nenhum — deu um meio sorriso, acariciando levemente o seu ombro.
Estavam apenas as duas na sala de ensaio. Dohee havia saído apressada assim que dançaram a última música para gravar alguma OST em alguma das salas de gravação e Siara estava cumprindo seu papel de líder e conversando com os managers e diretores da Belift sobre a situação de .
Joselin não se encontrava com desde o dia da hamburgueria, quando a fofoca de namoro entre ela e Jay estourou. Apesar de elas conversarem diariamente e Jose se esforçar para tranquilizar a amiga por ligação, a falta de contato físico era uma ruína certeira. Se ao menos conseguisse se acostumar com o toque das colegas de grupo…
Mas não. O único toque que a tranquilizava era o de Jose, e infelizmente elas não podiam se encontrar por causa da ordem da manager Gwan.
— Olha, vamos tentar pensar em coisas boas, pode ser? — Luna chamou sua atenção outra vez. — Q&A está indo super bem nos charts e nossos nomes continuam em alta.
Apesar do primeiro full album das meninas, Q&A, estar com uma classificação muito boa naquela primeira semana de promoção, o suposto clima feliz de conquista estava sendo ofuscado pelo mau humor e preocupação de sobre o escândalo de namoro.
Mesmo assim, ela tentou sorrir um pouco.
— Love Thing, que é sua primeira música creditada, pegou um chart individual muito bom mesmo sendo uma b-side⁵ — Luna continuou citando e acabou soltando um sorriso mínimo. Saber que uma composição que ela participou estava tendo um bom desempenho a animava verdadeiramente. — Isso! É disso que eu estou falando!
Não evitou dar uma revirada de olhos. Luna sabia como distrair mesmo que por apenas alguns segundos.
No entanto, mesmo com todos os esforços de Luna, não conseguia e nem ao menos queria pensar em outra coisa se não na crítica situação em que sua carreira se encontrava. Uma batalha mental era travada em seu subconsciente: de um lado, ela queria parar de relembrar um pouco do escândalo e se poupar; de outro, porém, o sentimento de culpa era regado com a falácia de que, se ela se esquivasse do assunto, ela estaria negligenciando sua responsabilidade como idol.
sentia que, em breve, começaria a delirar com as vozes discutindo em sua cabeça.
— Obrigada por tentar me ajudar a desviar meus pensamentos, Luna — foi sincera, encolhendo os ombros. — Não sei se consigo por agora, mas obrigada por tentar mesmo assim. Sei também que você vai me falar que a culpa não é minha e que eu não posso fazer nada mais, mas mesmo assim, essa situação toda me incomoda, sabe? — jogou a cabeça para trás e bagunçou os cabelos, fechando os olhos. Respirou fundo algumas vezes antes de voltar a encarar os olhos da amiga.
De canto de olho, Luna viu alguém aparecer na porta, mas se esforçou para não reagir, ficando em silêncio ao prever o que estava prestes a acontecer.
— E eu também não aguento mais ter que fugir sempre que a gente esbarra com alguém do Enhy–
Duas mãos geladas encostaram com força nos ombros de .
— AAAAAH! — ela deu um pulo, assustada, fazendo Luna e o dono das mãos se jogarem no chão de tanto rir.
Era Jake, como deveria já ter suspeitado.
— Meu Deus, você viu a cara dela? — ele tentava falar enquanto rolava de rir, sendo acompanhado de Luna, que nem ao menos conseguia falar.
Nesse meio tempo, já tinha fechado a cara e passado a encarar os dois rindo sem parar, se segurando para não rir junto. Ela não podia acreditar que Jake aparecera naquele exato momento.
— Desculpe, , mas não pude perder a oportunidade — ele levantou os ombros assim que conseguiu respirar fundo. Luna se levantou ainda rindo.
— Eu deveria ter gravado a sua reação, foi maravilhosa.
Ver seus amigos rindo acabou contagiando-a, e acabou soltando uma risada leve pelo nariz. Desde a confusão, ela não teve nenhum momento de qualidade com seu melhor amigo e sentia falta daquilo.
— Então você está realmente fugindo de mim? — Jake puxou o assunto que temia, mas ela apenas deu de ombros. Ele já deveria ter escutado o que ela estava conversando com Luna pouco tempo antes.
— Não de você especificamente…
— Você nem respondeu às minhas mensagens de dias atrás! — reclamou, apontando o dedo na direção da amiga, com uma expressão desacreditada. — Yah, eu achava que éramos melhores amigos!
— Eu só estava desconcertada demais para encarar qualquer um de vocês — tentou se defender enquanto remexia todo o corpo. Ela estava nervosa, mesmo que um sorriso leve permanecesse em seus lábios por estar na companhia do amigo.
Nem mesmo ela sabia porque não tinha respondido Jake desde o dia do incidente, apenas não conseguia. Seus sentimentos pareciam em uma constante montanha-russa, revezando entre vergonha e raiva, quando seus pensamentos iam de encontro ao outro ser envolvido no escândalo.
E, querendo ou não, o simples fato de Jake existir já fazia lembrar sobre Jay.
ia dormir pensando no escândalo e acordava pensando nele. Ela queria poder descansar a mente por pelo menos uma noite, mas sua preocupação e incerteza sobre tudo o que poderia acontecer a partir do estouro da fofoca a consumia por completo.
— Mas então, por que veio aqui? — a garota mudou o assunto encarando o amigo.
— Pelo visto só eu estava com saudades — fez uma voz de sofrência forçada enquanto se aproximava da amiga, abraçando-a de lado. — Eu e os garotos estamos ensaiando os últimos detalhes para a turnê no Japão, e agora é nosso momento de pausa.
— Ah, então é a nova música de vocês que ‘tá tocando pelo andar — ela assentiu enquanto refletia. — Eu gostei, achei a letra linda.
— Blossom, não é? — Jake ergueu os ombros, convencido. — Nossas letras sempre são ótimas.
Querendo provocar o melhor amigo, pressionou os lábios e arqueou as sobrancelhas, entortando a cabeça para o lado, fingindo não concordar totalmente, mas Jake apenas riu da expressão da garota.
— Luna concorda comigo, não é? Ela tem cara de quem tem bom gosto musical, diferente de você — mostrou a língua para a amiga.
Luna apenas mexeu a cabeça em um sim animado.
— Mas e vocês? Onde estão as outras? — Jake mudou de assunto, olhando confuso para os lados.
— Nós já terminamos o ensaio — voltou a falar. — Então Dohee foi correndo porque precisava gravar alguma OST, e Siara está conversando com os managers.
Antes que Jake pudesse perguntar se mais alguma coisa havia acontecido, Luna se pronunciou:
— Ela foi perguntar por que a Belift ainda não se pronunciou sobre a fofoca.
— Ah… — suspirou, observando a expressão mudar no rosto de . Ele conseguia entender tamanho incômodo. — Sei que não serve de consolo, mas o Jungwon e o Jay tentaram conversar com a liderança ontem e não receberam nenhuma resposta.
— Eu acho que vou enlouquecer até o final dessa semana.
— Não desanime — Jake acariciou os ombros da amiga, fazendo uma massagem rápida. — Vai ficar tudo bem.
— O Jay ficou nervoso assim também? — Luna encarou o rapaz.
Jaeyun encarou o teto, pensativo. Suas mãos logo foram para sua cintura.
— No dia, ele ficou bem estressado — falou depois de alguns segundos. — Mas, agora ele está focado nos ensaios da turnê, então não tem muito tempo para se irritar com essa história.
— Deve ser bom ser um idol masculino — resmungou enquanto encarava seus tênis encardidos. Ela precisava lavá-los o mais rápido possível.
— Como assim?
— Ah, Jake, você sabe… — a garota deu uma embolada para falar, tentando pensar nas palavras mais corretas. — Quando um escândalo de namoro desses sai, não é em cima do cara que o público cai em cima.
Luna apenas concordou com a cabeça mais uma vez.
— Então o Jay pode sim ficar preocupado e tal, mas ele não vai ser esculachado na internet por isso — ergueu os ombros, pressionando os lábios em seguida. Jake mexeu a cabeça minimamente, como se compreendesse um pouco daquilo que a amiga dizia.
— Ainda não tinha parado para pensar por esse lado.
— Relaxa — ela deu um meio sorriso, revezando seu olhar entre o amigo e Luna, que não parava de encarar Jake. sorriu mais. — Só tentei explicar mais ou menos porque eu ‘tô mais nervosa com esse escândalo do que o Jay deve estar.
— O mínimo ‘né, porque quem fez merda foi você.
Assim que aquela voz se fez presente, o sorriso de se desmanchou. Não podia ser. Ela tinha evitado todos os corredores possíveis da Hybe para que não precisasse vê-lo.
Mas, mesmo com todas as suas esquivas, quase ao mesmo tempo que a voz soou na sala, Jay atravessou a porta e a fechou atrás de si. E ele parecia furioso, como sempre.
— Vai começar — Luna murmurou, se afastando. Ela odiava estar no mesmo ambiente que Jay e .
— Olha, não é como se você tivesse feito algo muito diferente de mim — a garota manteve o mesmo tom de voz, cruzando os braços lentamente. O autocontrole de deixava Jay ainda mais irritado.
Bufou.
— Um ano de debut já e você ainda não aprendeu a respeitar os mais velhos? — Jay se aproximou com as mãos fechadas.
Bro, relaxa — Jake entrou na frente de com as mãos estendidas, protegendo-a. Ele sabia que Jay não faria nada contra nenhuma garota, mas quando se tratava deles dois, todo cuidado era pouco.
— Vai me bater mesmo? — levantou a voz e avançou para frente, desafiando-o. Jake e Luna apenas pressionaram os lábios, mas ele não saiu da frente da amiga.
— Diferente de você, eu recebi muita educação em casa e aprendi que não se deve bater em mulher — apesar do maxilar de Jay já estar enrijecido, o rapaz tinha um sorriso ladino no rosto, e sua voz soava sarcástica.
Luna e Jake se entreolharam.
— O mínimo, não é? — a garota imitou a forma que ele havia falado poucos minutos antes.
— Pode ficar tranquilo, Jake, ninguém aqui vai avançar em ninguém — ele ignorou o que dissera, olhando na direção do colega de grupo. Deu outro sorriso de lado, dessa vez desviando o olhar para a garota. — Acho que todos já estão bem grandinhos para não estapear os outros no rosto, não é mesmo, ?
Agora, quem tinha fechado os punhos era .
Na última vez que ela e Jay discutiram, em um pub durante o aniversário de Sunoo, a garota havia erguido a mão e batido em seu rosto. Ela estava bêbada, então não se lembrava das coisas com clareza. Todas as suas “lembranças” daquela noite vieram do que Luna lhe contara.
— Quantas vezes eu vou ter que dizer que eu estava bêbada naquele dia? — sua voz soou em um mix de cansaço e raiva.
Além do mais, odiava quando a chamavam de . E Jay logicamente sabia e a chamava assim de propósito.
Ela só nunca soube o porquê.
— Como se isso fosse justificativa…
e Jay viviam em uma briga de cão e gato desde a primeira vez que se esbarraram, quando ela era trainee⁶. Desde então, sempre que se encontravam pelos corredores da empresa ou em comemorações mais privadas, eles se alfinetavam.
E, mesmo que a garota dissesse que apenas não se importava com as discussões contínuas, sabia que, no fundo, aquela guerra sem fim a cansava e ela já estava exausta daquilo.
Ela apenas nunca assumiria em voz alta, pois isso soaria como uma redenção na guerra.
E odiava perder tanto quanto Jay.
— Vocês nunca vão conseguir ficar em um mesmo lugar sem brigar por pelo menos dez minutos? — a voz de Jake saiu arrastada.
O australiano abaixou as mãos e encarou o amigo à sua frente, logo saindo de entre os dois. Revezou o olhar entre os amigos. Luna continuou em silêncio.
Na verdade, depois da súplica implícita de Jake para que eles parassem de discutir, os quatro permaneceram em silêncio, apenas trocando olhares.
A mente de já estava viajando de volta ao passado, quando ela e Jay se esbarraram em um corredor da Hybe pela primeira vez, e refletindo sobre as mesmas perguntas sem resposta. Por que Jay implicava tanto com ela? Qual a verdadeira razão por trás das alfinetadas? E por que a guerra entre eles parecia ser tão importante para ambos?
Em seguida, flashes de uma das vezes em que ela decidira desabafar com Luna sobre essa guerra instaurada entre ela e Jay vieram a tona em suas lembranças. Lembrou-se das garrafas de soju⁷ sobre a mesa, as risadas e as lágrimas que derramou. Não se recordava do motivo das lágrimas terem participado daquela rodada de soju – e muito menos Luna –, mas sabia que elas estiveram presentes em algum ápice daquela conversa.
Perguntas e mais perguntas iam se formando em sua mente, todas sobre a mesma pessoa:
Jay.
? — uma voz longínqua pareceu despertá-la de seu tormento. Era Siara deixando a porta aberta atrás de si. — Você pode vir comigo?
A voz da mulher soava doce, como se ela sentisse receio de falar mais alto. Não que a voz de Siara já não fosse delicada por natureza, mas aquele tom não era habitual. estranhou na mesma hora.
Mas, antes de conseguir perguntar qualquer coisa, outra pessoa entrou na sala. Um alguém de cabeça baixa, expressão de derrota e um desânimo nítido em sua linguagem corporal.
Era Jungwon.
Ele encarou todas as pessoas na sala com os olhos cansados. Seu olhar viajou de Jake para Luna, depois para , Siara, até chegar em Jay.
Engoliu em seco, mas trocou olhares com Siara antes da mais velha falar:
— Eles querem falar com vocês sobre o escândalo de namoro.

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achava que já estava em seu pico de nervosismo, mas, naquele momento, ela jurava que todos à sua volta poderiam escutar o seu coração batendo forte e descompassado no peito.
O clima estava nebuloso. Não tinha como ele estar leve de forma alguma. Estavam ela, Jay, Jungwon e Siara caminhando em completo silêncio pelos corredores da Hybe há cerca de dez minutos, entrando e saindo de elevadores e cruzando corredores para chegar na torre principal, onde ficava a sala do diretor Bang.
nunca precisou ir até a sala do diretor muitas vezes. Na verdade, ela se recordava de apenas dois momentos nos quais ela precisou se dirigir até aquela sala: no dia do contrato de debut e quando ela foi chamada para conversar sobre a possibilidade de ela começar a atuar em algum momento futuro.
— Irei avisar ao senhor diretor sobre a chegada de vocês, só um momento — a secretária se curvou antes de sair e ir em direção a sala do chefe.
O diretor Bang era um senhor sério, coisa que era esperada visto toda a decoração do corredor do andar de sua sala e o interior de seu escritório. Todos os móveis, cores de parede e chão revezavam entre tons acinzentados e preto.
Jay imediatamente seguiu na direção de uma das poltronas que ficavam na recepção e se sentou, mexendo no celular despreocupadamente. Jungwon permaneceu em pé, próximo das meninas, mas quieto, encarando o chão.
Siara se virou para a amiga, pegando em seus dois ombros e apertando com força.
, eu sei que você está nervosa, mas olha para mim e presta muita atenção — sua voz era mais séria e rígida, mesmo que em um volume reduzido. A garota apenas concordou com os olhos arregalados, sentindo a garganta ficar cada vez mais seca. — Você e Jay vão precisar entrar naquela sala sozinhos, eu e Won ficaremos aqui fora esperando por vocês.
— O quê? — interrompeu-a, chamando a atenção do garoto ao lado. — Por quê?
— O diretor Bang disse que precisava conversar com vocês dois a sós, então nem eu, nem Jungwon estaremos lá para amenizar as discussões entre você e Jay.
— Mas–
— Ou seja — Siara falou por cima de , sem dar a chance dela reclamar de algo. — Eu peço para você, por favor, não ceder a nenhuma indireta ou provocação que ele possa fazer durante a conversa naquela sala. Apenas fique quieta e concorde com o que o diretor disser, ‘tá me entendendo?
Ela assentiu devagar.
— Eu conheço muito bem o seu senso de justiça, e sei que você sabe defender a sua imagem quando é necessário — continuou, ainda olhando fixamente nos olhos da mais nova. — Porém, dessa vez, eu realmente preciso que você apenas responda positivamente para qualquer pergunta e proposta do diretor. Considere que a sua vida de idol está em jogo agora.
piscou algumas vezes, atordoada. Ela sabia que a situação estava ruim, lógico. O diretor Bang não chamaria ela e Jay para irem conversar na sala dele por qualquer coisa. A garota pensava já ter imaginado todos os cenários possíveis para o que poderia acontecer após o escândalo de namoro. Suas teorias mais fortes, no entanto, eram apenas duas:
Ou ela e Jay escutariam uma bela bronca do diretor Bang, ou a Hybe decidiria colocar em hiatus até que a fofoca fosse abafada com o tempo.
Contudo, quando ela percebeu que tinha sido chamada para ir junto do rapaz, por mais irônico que soasse, ficou aliviada. Durante aquela fração de tempo, acreditou que, como eles estavam indo juntos, a segunda opção não estaria mais em discussão.
E, com os avisos de Siara, ela sentiu que qualquer coisa poderia acontecer assim que ela pisasse dentro daquela sala.
— Vai ficar tudo bem, — a voz de Jungwon chamou sua atenção, e o pequeno sorriso nos lábios do garoto transmitiram paz, mesmo que momentânea.
Sorriu de volta.
— Jay? ? — a secretária apareceu outra vez, carregando uma pasta entre os braços e sorrindo abertamente. Jay parou de prestar atenção em seu celular. — Sigam-me, por favor.
A ânsia no estômago de pareceu se intensificar a cada passo que ela dava na direção da sala do diretor Bang. Sua garganta estava seca e ela podia jurar que toda sua nuca estaria encharcada de suor. Já Jay, que mantinha uma distância de pelo menos dois pés de , apenas caminhava com as mãos ao lado do corpo, com a mesma expressão de tédio.
Esse cara não fica ansioso?, se perguntou enquanto observava a fisionomia do rapaz pelo canto do olho.
A secretária parou do lado da porta, batendo três vezes na madeira e logo em seguida escutando um “entre” de dentro do escritório. A mulher, que deveria estar na casa dos 30 anos, se virou para ambos com um sorriso mediano.
— Podem entrar.
dirigiu seu olhar para Jay em um pedido de socorro. Ele a encarou brevemente antes de revirar os olhos e jogar o tronco de leve para frente, rodeando o corpo da garota com o braço e esticando a mão até a maçaneta. Jay virou a manivela e abriu a porta devagar, girando a cabeça para encarar a garota e deixando seus rostos próximos.
— Damas primeiro — disse baixo com a voz cheia de sarcasmo.
Ele sabia que estava extremamente nervosa, e não podia perder a oportunidade de provocá-la e deixá-la ainda mais desconfortável com a situação. Não que ele estivesse ileso à ansiedade de estar ali, mas nada que pudesse comparar à aflição nítida da garota.
A garota pressionou os lábios e fechou os olhos com força, imaginando que o diretor Bang poderia ter assistido toda aquela cena e imaginado o pior: que o escândalo era verdadeiro.
Ela olhou para frente, respirando fundo antes de começar a andar para o interior da sala com o peito estufado, tentando transmitir confiança. Jay a seguiu em silêncio, escutando a porta ser fechada pela secretária do lado de fora da sala.
O diretor Bang, que outrora parecia concentrado em uma papelada em suas mãos, levantou o olhar assim que escutou o bater da porta. Sua expressão era séria.
— Park Jay, , — encarou cada um enquanto dizia seus nomes. — sentem-se.
Ambos obedeceram conforme foi-lhes aconselhado por seus líderes de grupo. sentia o coração batendo cada vez mais forte contra o peito, e agradeceu mentalmente quando sentou-se, pois acreditava que poderia desmaiar a qualquer momento.
O mais velho soltou um suspiro antes de começar seu discurso:
— Vocês fizeram uma bela bagunça, não? — a sentença parecia leve, mas o tom de voz que o diretor Bang usava era baixo e assustadoramente calmo.
— Perdão por isso, diretor — Jay se pronunciou, cruzando as mãos sobre o colo e girando os dedos em nervosismo. apenas concordou com a cabeça.
Outro suspiro.
— O erro que vocês cometeram é clássico de novatos — o senhor descansou as costas no encosto da cadeira. — Eu até poderia esperar isso de , pois ela debutou há menos de um ano. Mas você, Jay, é inadmissível falhar dessa forma com quase três anos de indústria.
— Me perdoe, senhor diretor — o rapaz se curvou, quase encostando a cabeça na mesa. Seus lábios estavam pressionados e sua testa começava a suar frio.
apenas acompanhou seu movimento de forma mais leve, observando a feição de Jay endurecer cada vez mais.
— Eu deveria continuar brigando com vocês, mas acredito que essa chamada de atenção já foi o bastante — o diretor continuou, mas nenhum dos idols reagiu. Ele deu mais um suspiro antes de continuar. — O nome de ambos ficou em alta desde o escândalo, vocês viram?
Concordaram com um aceno.
— Vocês chegaram a ter curiosidade de ver o que estavam falando sobre vocês?
Jay e se entreolharam, confusos. Óbvio que eles tinham ficado curiosos, mas se respondessem aquilo, poderia soar como se eles tivessem realmente ficado no Twitter apenas lendo o que o público estava comentando.
— Não cheguei a ler os comentários, senhor… — respondeu com a voz um pouco mais baixa do que o desejado, e a garota se martirizou por aquilo.
O diretor concordou com a cabeça antes de se levantar e ir até a televisão pendurada em uma das paredes. Ele mexeu com o controle até abrir em uma seleção de slides. sentiu o nervoso correndo por toda a extremidade de seu corpo.
Em silêncio, o diretor foi passando slide por slide, mostrando alguns prints de tweets com muitas curtidas. Todos falando sobre Jay e .
Porém, algo estava estranho.
Todos pareciam estar… Apoiando. Apoiando Jay e .
E não apoiando-os individualmente, como idols.
Mas como casal.
Casal.
Jay e .
— Como puderam ver, vários fãs gostaram da notícia — o diretor Bang desligou a televisão, voltando para seu lugar. — Foram muitas postagens apoiando o suposto namoro de vocês dois, e esse assunto está em alta até agora.
Os dois estavam de boca aberta. Jay piscava repetidas vezes, encarando o diretor com uma expressão confusa. E não estava muito diferente.
— Tudo já foi conversado com ambos os managers e com todas as equipes de Marketing e Planejamento, tanto do Enhypen quanto do ION — o mais velho continuou, tossindo rapidamente antes de parar com os dedos cruzados sobre a mesa, revezando o olhar entre e Jay.
Um último suspiro.
O diretor descruzou os dedos, pegando a papelada que anteriormente estava em suas mãos, e estendeu uma folha na frente de Jay e outra na frente de .
A garota desceu o olhar para ler o que dizia no papel.
Contrato de Sigilo e Compromisso - Park Jay e
— Durante os próximos 5 meses, no mínimo, vocês, Jay e , precisarão manter um namoro público.

⁵: música que não é a título de algum álbum;
⁶: idol em treinamento antes de estrear;
⁷: bebida tradicional coreana com alto teor alcoólico;


[III] tamed-dashed

“Você foi presa nas mesmas escolhas que eu
Você está congelada sem saber o que fazer
Então pegue na minha mão e corra"

(🎶🎸🖇️)

— O quê? — a garota piscou algumas vezes, revezando seu olhar entre os managers e o diretor Bang. Não. Eles não podiam estar falando sério com aquela sugestão. — Vocês querem que o Jay e a finjam um namoro público? Sério?
— Acreditamos que seja a melhor saída — a manager Gwan encarou o diretor antes de responder, tomando cuidado para não deixar sua voz falhar em nenhum momento. — Será uma ótima estratégia de marketing e…
— Isso não exclui o fato que eles se odeiam e não conseguem conviver sem brigar a cada cinco minutos — Siara cortou a fala da mulher, não se importando se estava sendo desrespeitosa ou não. — Eles só vão se estressar e, de quebra, vão estressar todo mundo em volta junto.
Ela era amiga de , e conhecia Jay o suficiente para saber que nenhum dos dois gostaria daquela notícia. Isso se eles aguentassem escutar a novidade sem começar a discutir na frente do diretor Bang.
— Isso não está mais em discussão, Siara — a voz do diretor soou firme, e seus olhos estavam cravados nas expressões da garota.
Suspirou. Siara sabia que e Jay não teriam outra opção senão aceitar a proposta que a equipe de marketing planejara. Gostaria de poder mudar algo como líder, mas não poderia fazer mais nada ali. Era jogo perdido.
havia errado, e agora deveria arcar com as consequências.
— Essa proposta foi apresentada para o Jungwon ontem — dessa vez, quem tomara a palavra foi o manager dos garotos. Siara direcionou seu olhar ao seu rosto. — Ele e Jay me chamaram para conversar com o diretor ontem, mas não havíamos batido o martelo ainda sobre qual seria a melhor saída.
— Jungwon permaneceu na sala e Jay saiu depois de um tempo, então apresentamos a proposta para ele — o diretor Bang ainda falava com firmeza, mas seu tom era mais leve. — Apresentamos a proposta e ele concordou sem muita insistência de nossa parte, por isso já organizamos a papelada para hoje.
A garota abaixou a cabeça, respirando fundo. Ela era amiga de Jungwon também, sabia que ele, assim como ela, defendia seus membros como podia. Confiava em sua decisão.
Suspirou outra vez, passando a mão sobre os olhos marejados. Sabia que tanto quanto Jay sofreriam com aquela decisão, mas a decisão final já havia sido tomada. Ou eles aceitavam a proposta, ou poderiam colocar toda sua vida de idol a perder.
— Deixem-me a sós com Siara.
Os managers se levantaram com pressa, curvando-se brevemente antes de caminharem até a porta e saírem. Siara levantou o olhar para o diretor, desfazendo a boa postura e jogando seu corpo para trás.
— Tio, isso é loucura.
— Siara, você precisa entender que não é porque eu sou seu padrinho que eu posso aliviar para o seu grupo — ele cruzou os braços. — sabe muito bem das regras básicas de segurança pessoal de uma idol. Você deve parar de defendê-la só por ser sua líder.
— Eu só… — murmurou, encarando as próprias mãos. O diretor Bang nunca havia tratado as garotas do ION de forma distinta aos outros idols da empresa, e Siara ficava aliviada com aquilo. Ninguém poderia saber do grau de parentesco dela com o diretor. Jamais. — Posso chamar a então?
Ele juntou as sobrancelhas, confuso.
— Não quer que a manager Gwan a chame? Você disse que ela poderia ficar nervosa.
— E ela vai — Siara soltou ar pelo nariz, olhando para seu colo mais uma vez antes de encarar os olhos do diretor. — Mas eles vão ter que assinar um contrato provavelmente, certo? Então é melhor que ambos descubram ao mesmo tempo aqui com o senhor.
— Você tem certeza, Siara?
Ela assentiu.
— Só vou conversar com Jungwon primeiro e já chamo a e o Jay.

🎤📝❤️‍🔥


— Ham… Siara? — ela se virou. Jungwon respirou fundo antes de abaixar a cabeça e murchar os ombros. — Me desculpe por não ter te contado sobre a reunião de ontem. Eu deveria ter te ligado no mesmo instante.
A garota apertou os lábios. e Jay estavam dentro da sala do diretor Bang tendo a conversa naquele momento, e os líderes ficaram do lado de fora esperando.
— ‘Tá tudo bem, Won. Perdão por ter me exaltado também.
Assim que Siara saíra da sala do diretor, após conversar sobre a sentença final do escândalo de namoro, ela foi em busca de Jungwon para perguntar sobre o que tinha sido discutido no dia anterior.
— A gente tinha combinado de ir se atualizando caso ficássemos sabendo de algo — ele mordeu o lábio inferior, com os olhos nervosos enquanto encarava a garota. Ela apenas manejou a cabeça. — Eu acabei ficando tão perplexo com a decisão que nem me lembrei de te avisar.
— Eu entendo — ela sorriu doce. — Só vamos tomar mais cuidado agora, pois eles vão precisar da nossa ajuda.
Jungwon não aguentou segurar a risada fraca.
— O Jay deve estar surtando por dentro.
— A não está muito diferente, pode apostar — Siara acompanhou o colega na risada. O clima do lado de fora do escritório também estava tenso, mas ela tentaria descontrair pelo menos até os dois voltarem. — Estou tentando imaginar a reação dos dois quando verem o contrato na frente deles.
— Você acha que o diretor vai simplesmente entregar a papelada e pronto? — Jungwon virou o corpo de frente ao da garota.
— Ele não é um homem de muitas palavras, não é? Então acho que ele vai ir pelo caminho mais fácil de deixar que e Jay entendam sozinhos o que está acontecendo ali — deu de ombros, ainda sorrindo. — Mas não consigo imaginar o diretor apenas falando “vocês estão namorando sobre contrato por cinco meses a partir de agora” — ela tentou imitar a voz firme e grossa do diretor, fazendo Jungwon rir em resposta.
— Seria engraçado.
Siara concordou, trocando o olhar com Jungwon uma última vez antes de escutar a porta do escritório abrir e ver um rapaz e uma garota com os rostos vermelhos.
Eles poderiam explodir em questão de segundos.
— Quando eu achei que não era possível você fazer mais merda, você vai lá e me mostra que eu estava errado.
— Cala a boca que a culpa não é só minha!
Siara e Jungwon correram na direção de Jay e , que se xingavam baixo para que o diretor não escutasse. A secretária passou perto deles rapidamente antes de entrar na sala e fechar a porta atrás de si mais uma vez.
— O que aconteceu? — Won perguntou assim que trocou olhares com Jay, que revirou os olhos. Além de seu rosto vermelho, sua testa estava encharcada de suor, sinal que ele já estava transpirando de nervoso.
— A pior coisa possível.
— Eles querem que a gente namore publicamente, dá para acreditar? — a voz de soou com alto tom de sarcasmo.
Jungwon e Siara se encararam brevemente, mas não disseram mais nada. Ambos conseguiam imaginar o que o outro pensava no momento: e se eles descobrissem que nós já sabíamos o que iria acontecer?
E percebeu a troca de olhares suspeita. Uma pequena luz se acendeu no fundo de sua cabeça e, engolindo em seco, questionou com insegurança:
— Espera, vocês já sabiam o que ia acontecer assim que entrássemos naquela sala? — torceu para que estivesse errada. Porém, assim que o olhar de Siara caiu sobre si, ela suspirou.
Eles sabiam.
— Bro, você precisava ter me falado antes — o tom de voz de Jay mudou drasticamente ao se dirigir a Jungwon. revirou os olhos.
— Falando manso assim, nem parece que estava xingando até minha sétima geração trinta segundos atrás.
— É que você merece.
— Será que vocês podem parar por um minuto que seja? — Siara bufou, suplicando por paz de olhos fechados. — Vocês já estão grandinhos o suficiente para parar de ficar se alfinetando toda hora.
Jay revirou os olhos.
Seu corpo inteiro queimava, como se estivesse em combustão. Ele podia sentir seu sangue borbulhando por toda a extensão de sua estatura. Ele estava nervoso. Com raiva.
Poderia gritar com qualquer um que dissesse um A para ele.
— Nós já sabemos em suma o que aconteceu lá dentro — Jungwon se pronunciou dessa vez. — Vocês devem arcar com as consequências das suas ações.
— Mas um namoro, Won? — soltou todo o ar de seus pulmões, bufando. Ela precisou respirar fundo muitas vezes para não chorar na frente de todos.
— Foi a melhor saída que a equipe encontrou, como o diretor já deve ter explicado.
— Eles poderiam ter negado logo no primeiro dia e nada disso estaria acontecendo agora, Siara.
— Isso se chama estratégia de Marketing, caso você não saiba, Jay — ela apertou os lábios. Respirou fundo. — Eu sei que vocês estão irritados com a decisão, e acreditem, eu também não fiquei feliz quando soube quais seriam as medidas tomadas pela empresa, mas, assim como eu, vocês têm que cumprir com o contrato que assinamos no dia que cada um debutou.
Enquanto Jay sentia seu corpo ferver, sentia que suas pernas cederiam a qualquer momento. Parecia irreal, um êxtase que afastava sua mente daquela realidade. Por alguns segundos, seu sangue borbulhou também, mas ela logo projetou sua vida pelos próximos cinco meses e se viu encurralada.
Cinco meses regidos por um contrato de sigilo e compromisso que ditaria cada mísera ação pública que eles tivessem. Ditaria cada passo, cada fala. E o pior não era nem estar presa em um namoro falso, mas sim estar presa em um namoro falso com Park Jongseong.
Seriam cinco meses de puro estresse e discussão. E não tinha certeza se aguentaria.
— Preciso de uma água — disse com a voz fraca, se afastando. Siara encarou Jungwon brevemente antes de ir na direção de .
— Você está bem, ? — pegou em seu ombro, sentindo a região úmida. — Isso é suor?
— Acho que fiquei nervosa — deu um sorriso amarelado, encolhendo os ombros ao se virar na direção da amiga. — Esse assunto ‘tá atacando minha enxaqueca.
— Vem sentar — a mais velha pegou no pulso da garota, chamando sua atenção. — Vou ligar para a Dohee, espera um pouco.
Siara guiou até as poltronas nas quais Jay estava sentado mais cedo, antes da reunião com o diretor Bang. A garota suspirou ao relaxar o corpo sobre o almofadado. Suas pernas estavam tremendo de nervosismo, e ela tinha certeza que seu coração batia descompassadamente.
— Dohee? Você já saiu da sala de gravação? — Siara permaneceu com a mão sobre o pulso de , conversando pela ligação enquanto observava a amiga levemente pálida. — Que bom, você ainda está aqui perto da torre principal, certo? Traz sua garrafinha, por favor. O bebedouro daqui ainda está com defeito.
Desligou.
— ‘Tá tudo bem, ? — Jungwon parou na frente dela. A garota assentiu, vendo de canto de olho que Jay também olhava em sua direção. Ele parecia preocupado, afinal.
— Só fiquei nervosa, ‘tá tudo bem, sim — deu seu melhor sorriso, sentindo a garganta ficar cada vez mais seca. Precisava poupar sua saliva até Dohee chegar com a água.
tinha problemas de pressão baixa. Não era nada muito comprometedor, ela apenas se sentia um pouco mais fragilizada em momentos de nervosismo, quando sua pressão oscilava demais. Ela tinha descoberto durante a época de trainee, na sua primeira avaliação mensal.
Seu único desejo era que ela não tivesse passado mal na frente de Jungwon e Jay, pois queria prevenir qualquer estresse com os garotos. Jay já tinha material suficiente para encher o seu saco. Porém, mesmo que suas oscilações de pressão arterial virasse motivo de chacota dali para frente, ela saberia lidar.
Não é como se ela já não estivesse acostumada com Jay a incomodando por qualquer coisa da sua vida.
— Aqui! — escutou a voz de Dohee e virou o rosto na direção que viera o som. Dohee carregava a garrafa roxa em uma das mãos, e a outra segurava sua bolsa e outras coisas que não conseguiu diferenciar. — Não está muito gelada.
— Não tem problema — sorriu para a mais nova, pegando a garrafa e tomando alguns goles de água. Despejou um pouco do líquido na mão, passando atrás de sua nuca.
Ninguém falava nada. Todos pareciam estar concentrados em observar a expressão de mudando e seus lábios voltando a ter uma cor natural. Até mesmo Jay ficou encarando tudo acontecer, ainda que de longe.
— Melhor? — Siara apertou o punho da amiga, chamando sua atenção. concordou devagar.
— O que aconteceu para você ficar assim? — Dohee perguntou assim que pegou a garrafa de volta. Seu olhar pousou em cada um dos presentes. — Por que todos vocês estão com essa cara de derrota?
— Longa história — Siara sorriu, respondendo rapidamente antes que alguém se pronunciasse. — Depois a gente te explica, não é, ?
— Sim, claro — deu um meio sorriso para acompanhar, mas não conseguiu segurar o suspiro de cansaço que escapou de seus lábios logo em seguida.
Ela precisava contar o que tinha acontecido na reunião para Luna antes que a notícia confirmando o namoro saísse. E antes do Sunoo descobrir também, pois ele contaria tudo para a garota se não fosse mais rápida.
Joselin também deveria saber antes do pronunciamento da Belift, ou ela ligaria em surtos para . E ela também tinha o dever de contar para Jake antes de Jay para poder xingar o estadunidense o máximo que pudesse ao amigo.
Era gente demais.
— Won, posso falar com você um pouco? — Jay se aproximou com as mãos juntas na frente do corpo, chamando a atenção do amigo ao empurrar levemente seu ombro contra o dele. Jungwon se virou em sua direção, assentindo.
Mutuamente, caminharam alguns passos para ter uma maior privacidade, mesmo que o líder não tivesse certeza sobre o que Jay gostaria de conversar justo naquela hora. Assim que pararam de andar, encarou o amigo com os braços cruzados, impulsionando a cabeça levemente para a frente no intuito de incentivar o outro a falar.
Jay suspirou.
— Quero pedir desculpas.
— Sobre?
— Eu ainda não tinha parado para realmente te pedir perdão pela forma que te tratei no dia da notícia — Jay encolheu os ombros, envergonhado. Sua cabeça estava tão transtornada nos últimos dias que ele nem ao menos se lembrara de pedir desculpas a Jungwon de uma forma apropriada.
Eles apenas haviam continuado a se tratar da mesma forma de antes da discussão pelo telefone.
— Eu realmente fiquei chateado no dia — Won descruzou os braços, mantendo o contato visual. — Mas fique tranquilo, eu entendo que você estava digerindo toda a informação naquela hora.
— Obrigado — Jay bateu com a mão no ombro do amigo. — Eu realmente tinha ficado muito estressado, mas não deveria ter te tratado com tanta grosseria. A culpa não era sua.
— Relaxa, Jay — ele riu com tranquilidade. Depois da pequena reunião que os membros tiveram no dormitório, Jungwon desabafou com Heeseung sobre a discussão que tinha tido com Jay, então ele já estava se sentindo muito mais leve. — Você tem problemas maiores para lidar agora.
— Ah, nem fala — coçou a nuca. — Vou precisar de muito soju e cerveja para sobreviver aos próximos meses.
— Jay e — uma staff apareceu pelo corredor com a roupa toda preta e máscara, além de uma prancheta e um tablet entre seus braços. Ela se aproximou com agilidade, revezando seu olhar entre os ambos citados. — Vocês precisam vir comigo.
não disse mais nada, apenas se levantou e encarou as amigas, levantando os ombros. Ela não sabia porque estava sendo chamada outra vez, mas preferiu não questionar. Jay apenas encarou Jungwon uma última vez e seguiu em silêncio, se aproximando da staff e de .
Saíram pelo corredor, deixando os outros três parados se encarando.

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— Como é que é? — A indignação de Jay foi perceptível pelo seu tom de voz. Ele estava com as mãos na cintura e o pescoço estendido para frente, encarando seu manager como se ele não tivesse entendido o que o outro dissera segundos antes.
— Você precisa fazer uma live confirmando o namoro — o mais velho manteve a expressão séria e os braços cruzados. não esboçava nenhuma reação relevante. — O artigo vai sair em menos de dez minutos e você precisa entrar em live antes disso. A intenção é que as fãs questionem durante a live e você ignore por um tempo, até que o assunto nos comentários seja apenas esse. Eu vou avisá-lo no momento em que você deve escolher algum comentário aleatório para falar sobre o namoro.
Jay piscou os olhos algumas vezes.
— E por que eu quem tenho que fazer essa live e não a ? — Apontou para a garota encostada no canto da sala. Ela o encarou com tédio.
— Para causar uma boa imagem sua — o manager deu de ombros, se desencostando da mesa atrás de si. — Você pode falar que estava mantendo em segredo, pois ficou preocupado de alguém tratar a mal e coisas desse nicho. Seja um cavalheiro.
precisou pressionar os lábios com força para não soltar uma risada. O Jay sendo um cavalheiro? Aquela seria a piada do ano, com certeza. Jay era o segundo cara mais esnobe e ignorante que conhecia, perdendo apenas para seu ex que ficara na Inglaterra.
O nome de Jay Park e o adjetivo de cavalheiro não cabiam na mesma frase.
— O manager virou em sua direção. Ela ajeitou a postura, levantando as sobrancelhas para mostrar que estava atenta ao que quer que o homem dissesse. — Você deve ficar na sala também durante a live para interagir com o Jay quando o assunto do namoro começar.
Perdão?
Agora era Jay quem mantinha um sorriso debochado nos lábios. Ele sabia que estava com a pior parte, mas pelo menos seria obrigada a passar pela live infernal junto dele, mesmo que por trás da câmera.
— O Jay pode te chamar algumas poucas vezes, só para mostrar que você está aqui com ele — o mais velho continuou, ignorando a expressão azeda que se formou no rosto de . — Você não pode aparecer, no máximo um tchauzinho com a mão, mas apenas o rosto de Jay pode aparecer dessa vez. Mais para frente vocês devem acabar fazendo alguma live juntos, mas não agora.
sentiu as palavras fugirem de sua língua, deixando-a em um completo silêncio. Ela piscou repetidas vezes, com a boca levemente aberta e a expressão perdida. Acreditou por alguns segundos que Jay arcaria com aquela responsabilidade sozinho, mas logo tiraram-na da sua zona de conforto.
Como se já não bastasse ter que entrar em um namoro por contrato com Jay, agora ela precisaria aturá-lo por mais tempo que o desejado. Ela já não se importava mais com a postura de garota que faz pouco caso do cara que a odeia – ela realmente sentia uma repulsa mais forte por Jay naquele momento.
Estaria em apuros por cinco meses.
— Bem, acho que vocês já entenderam como vai funcionar a live, então vou ajudar a staff a arrumar a câmera — o manager sorriu pela primeira vez, olhando de até Jay. Ele desviou o olhar e foi em direção a outra garota que estava na sala, ajudando-a a organizar o cenário da live.
Jay suspirou alto, jogando a cabeça para trás, sentindo suas orelhas emitirem uma fumaça de sua mente. Ele já estava irritado antes, mas naquele instante, conseguia sentir até a sua pele ficando mais quente.
revirou os olhos. Ela nunca tivera muita paciência para a cabeça quente de Jay, e não era ali que ela mudaria sua opinião sobre o rapaz.
— Sua cara está tão vermelha que parece que irá explodir a qualquer momento — ela disse rindo, olhando para a expressão de ódio do garoto. Se Jay gostava tanto de irritá-la, ela faria a vida dele um inferno nos próximos cinco meses. — Agora eu entendo o porquê do Won te chamar de angry birds, você consegue ficar igual ao pássaro vermelho.
— Cala a tua boca — murmurou com a língua entre os dentes, esforçando-se para o manager não escutar a discussão que estava crescendo entre eles. — A culpa é toda sua.
— Eu já falei que não fiz merda sozinha — ela também cerrou o maxilar, dando pequenos passos na direção do rapaz de braços cruzados.
— De qualquer forma, agora quem precisa lidar com a sua cagada, sou eu.
— Se você amadurecesse um pouquinho que só, — aproximou seu indicador do dedão direito, apertando um dos olhos como se observasse o pequeno espaço entre os dedos — poderíamos viver em harmonia, mas você fica enchendo meu saco que nem criança sempre que me vê.
Jay inflou os pulmões, fuzilando os olhos de a ponto de deixá-la constrangida – não que ela tivesse demonstrado qualquer reação àquilo, mas o olhar irritado de Jay era assustador. Deu um sorriso ladino antes de jogar sua cartada final, retrucando as provocações de sempre:
— Parece até que você é apaixonadinho por mim.
— Você só sabe falar muita merda. Que nojo — Jay fingiu barulho de vômito, irritando , que precisou respirar fundo. — Tenho pena do seu futuro marido, imagina ter que te aguentar pelo resto da vida?
— Sinto lhe informar que, por causa de uma merda que você também fez, — frisou o advérbio — você vai precisar me aturar como namorada pelos próximos cinco meses.
Ele fechou os olhos com força.
— Eu ‘tô pagando por todos os meus pecados.
Os olhos de se reviraram outra vez, e a garota deu alguns passos para trás. Era engraçado provocar Jay até que ele perdesse a cabeça de tanto ódio: ela se sentia vingada naqueles momentos. Ele sempre a atazanava e brigava com ela sem qualquer motivo, então deixá-lo tão irado quanto ele a deixava virava uma pequena conquista.
Não que fosse muito difícil deixar Jay com cara de quem tomou leite estragado.
— Podemos começar? — Uma outra staff apareceu com um tablet na mão, que tinha o símbolo do Enhypen atrás.
juntou as sobrancelhas. A staff tinha uma franja escura bem longa, tampando seus olhos amendoados. Seu cabelo era mediano, bem escuro e desorganizado, e cobria quase todo seu rosto. Isso tudo além de grandes óculos de grau e uma máscara. nunca tinha visto nenhum staff andar tão coberto pelos corredores da Hybe, mas resolveu ignorar.
Já estava com a cabeça cheia demais para se importar com pequenos detalhes.
Jay seguiu a staff até a mesa, sentando-se de frente para a câmera já posicionado por seu manager. Depois de se ajeitar na cadeira, conferindo seu rosto no visor, estendeu o braço para a staff de óculos e pegou o tablet.
— Ligando a live em 3, 2… — a primeira staff começou a contagem enquanto olhava para Jay por meio da câmera. olhou em volta, pensando onde seria o melhor lugar para se sentar.
— Sente-se aqui — o manager de Jay sussurrou em sua direção, empurrando uma cadeira almofadada na direção da garota. Ela curvou a cabeça para o homem, agradecendo, mas ele já estava com os olhos vidrados na transmissão.
se acomodou na cadeira enquanto observava a expressão irritada de Jay se transformar da água para o vinho quando o rapaz sorriu com os olhos na direção da câmera.
— Oi, galera — ele falava com o sorriso estampado. Falso ‘pra cacete, deu um sorriso de lado, desacreditada com a cena que estava assistindo. Jay, definitivamente, tomava outra postura quando o assunto era seus fãs. — Vou esperar mais gente entrar para começarmos a conversar.
se coçou para não abrir a live em seu celular e mandar comentários duvidosos, apenas para irritar o rapaz. Era entediante estar ali. As duas staffs e o manager estavam sentados apenas olhando para Jay, revezando seus olhares com um monitor que passava todos os comentários feitos na live. E ela não podia fazer nada, apenas esperar o grande momento do anúncio de namoro.
Martirizou-se por não ter colocado lentes de contato novas. Se não estivesse usando o mesmo par a mais de um mês, talvez ela conseguisse ler os comentários pelo monitor.
— Como as Engenes estão? — O tom de voz que Jay usava para falar com os fãs era repugnante aos ouvidos de . Ele conseguia soar de uma forma calma e amorosa, imagem que a garota não conseguia imaginar vinda dele.
Jay, aos olhos de , era apenas um cara fragmentado. Ele tratava todos com respeito, menos ela. Conversava civilizadamente com qualquer idol da empresa, menos . E ela nunca soube o porquê.
Talvez não tenha um motivo, lembrou-se das palavras que Siara disse uma vez. Às vezes ele apenas não se sente confortável contigo.
— O que você estava fazendo antes de começar a live? — Jay leu uma das perguntas pelo tablet, desviando o olhar brevemente para seu manager como se perguntasse se já deveria falar sobre aquele assunto. O homem apenas negou com a cabeça. — Eu estava ensaiando com os membros para o resto da turnê — sorriu para a câmera, agindo com naturalidade.
havia se sentado em um dos cantos da sala, do lado oposto de onde a equipe de Jay estava posicionada, e aquilo permitia que eles não fossem obrigados a trocar olhares. Ambos se esforçaram para que o encontro de olhares não acontecesse. Porém, em algum momento, Jay percebeu que precisaria dar umas encaradas na direção de .
Não que ele quisesse, mas como precisaria atuar por causa do tal namoro, que fosse direito. Ele sabia que, em breve, teria que parar de ignorar a existência da garota na sala e agir como se fossem namorados.
Seu peito subiu algumas vezes enquanto ele refletia em qual momento deveria olhar na direção dela. Só faz de uma vez, seu subconsciente gritava no fundo de sua mente.
Suspirou antes de erguer o olhar em sua direção.
Inicialmente, apenas observou os olhos escuros de Jay avaliarem todo o seu rosto. Sentiu-se constrangida pela primeira vez. Jay era bonito e ela sabia, mas toda aquela guerra implantada entre eles a privou de sentir qualquer mínima atração por ele.
Mas era apenas isso, beleza. E ele ainda a tratava com grosseria, com aquela imagem de bom moço sendo direcionada unicamente para as fãs. Ela podia lidar com a beleza superficial dele. Havia outros idols tão bonitos quanto ele.
Preciso tomar uma água, pensou. Minha cabeça está girando mais uma vez.
— Se eu estou ansioso para falar com os Engenes de Tokyo? Mas é claro — não soube dizer em que momento Jay rompeu o contato visual, mas ela agradeceu mentalmente por isso.
Ele passou a encarar a tela com o chat passando, lendo os comentários. De canto de olho, percebeu que fechava os olhos e massageava suas têmporas, parecendo cansada.
Jogou a cabeça para o lado, não querendo olhar para a garota. Já tinha mantido contato visual com ela o suficiente por um mês inteiro.
— Então… — começou a murmurar. Desde o início da live haviam muitas perguntas sobre o escândalo de namoro, mas ele estava conseguindo ignorar. Seu olhar seguiu na direção de seu manager em puro desespero.
O mais velho encarou o monitor uma última vez, girando a cabeça para observar e Jay e levantando o polegar, dando um joinha.
É agora, pensou, respirando fundo mais uma vez antes de começar as falas que ele ficou repetindo em sua mente desde o início da live.
— Tem muita gente perguntando sobre o rumor de que eu estou namorando — sua voz saía baixa e meio falha. Engoliu em seco, não conseguindo olhar para a câmera. As linhas decoradas que ele repassou tantas vezes pareceram desaparecer em sua mente.
Inevitavelmente, seus olhos caíram em outra vez. Ela batucava os dedos em sua coxa, visivelmente nervosa com o assunto que estava surgindo na live. Apesar de olhar na direção de Jay, seus olhares não se encontraram.
Ele precisava se concentrar.
— Na verdade, eu queria esperar mais — soltou sem saber como continuar sua frase. Suas mãos suavam. Seu coração estava acelerado. Sua perna tremia sem parar por baixo da mesa. — Mas, infelizmente, não fui eu quem contou a vocês, então o clima ficou meio chato.
Clima? Que clima? Que merda eu ‘tô falando?
Olhou para outra vez. Ela parecia tão nervosa quanto ele.
— E… — sentiu sua voz tremer. — Agora pode parecer que eu só estava querendo esconder das Engenes.
Aquilo não estava indo bem. Ele só precisava dizer três palavras: Sim, estou namorando. Mas era muito mais difícil do que parecia.
Talvez porque falar aquilo tornaria o namoro real, mesmo que apenas para a mídia. Pronunciar aquelas três palavras seria sua ficha caindo. Aquele seria o novo status social dele: Jay, namorado da . E ele não queria assumir um namoro falso. Muito menos um namoro falso com .
Precisava pensar. Precisava repassar suas anotações mentais para não se perder nas palavras. Pense, pense… Por que eu iria querer esperar mais para anunciar um namoro? Pense, Jay, pense!
De repente, uma ideia surgiu. Seria a desculpa perfeita – e, de quebra, ele sairia como um namorado bom e preocupado com sua amada.
— Mas primeiro eu queria deixá-la confortável para falar também — voltou a olhar na direção de , mas evitou encarar seu rosto. — Porque ela debutou faz pouco tempo e eu logicamente não quero que ela sofra nenhum hate.
Seus olhos correram para o outro lado da sala, encarando a expressão das staffs e de seu manager, que mexia a cabeça em concordância. Ele olhou na direção de Jay, fazendo outro joinha com a mão.
Perfeito.
Ao mesmo tempo, as engrenagens no cérebro de pareciam trabalhar com dificuldade. Ela estava surpresa por causa das palavras que Jay decidira usar. Ele conseguiu elaborar uma desculpa incrivelmente boa. Ele é bom, admitiu para si mesma.
Jay não precisava saber que ela estava o elogiando.
— Então eu peço para vocês a tratarem com carinho — completou com chave de ouro, dando um pequeno sorriso de lado. Ele sabia que tinha arrasado. Estava orgulhoso de si mesmo.
Seus olhos desceram para o tablet à sua frente. Havia falado muito e gastado todos os seus neurônios para formular aquela desculpa. Pelo menos, agora, ele já tinha feito o trabalho mais difícil de toda a live: assumir o namoro.
Jay leu alguns comentários, quase todos felicitando pelo namoro e surtando pelo novo casal. Segurou-se para não revirar os olhos. De todas as pessoas do mundo para suas fãs o shipparem, precisava ser justamente com a pior delas? Suspirou.
Levantou a cabeça mais uma vez, observando seu manager brevemente antes de voltar a encarar . A garota estava com as pernas cruzadas sobre a cadeira, com a expressão neutra e olhos perdidos em algum outro canto da sala. Ela conseguiu ficar mais nervosa que eu, ele pensou enquanto seu olhar ia de cima a baixo. Ele precisava fazer ela falar alguma coisa.
Deu um sorriso mínimo.
— Ei… — continuou encarando a garota, que agora virara em sua direção. Os olhos de se arregalaram no mesmo instante que ela percebeu que ele estava falando com ela no meio da live. — Você quer falar alguma coisa?
Ela sentiu todos os pelos de seu corpo se arrepiarem. Em um ato de desespero, sua cabeça girou até o manager de Jay, que agora a encarava. O homem apenas assentiu, com as sobrancelhas arqueadas, em um ato claro que era para ela começar a encenar.
Borboletas no estômago. sentiu que, se tivesse comido algo, estaria colocando tudo para fora. Ela não queria falar com as fãs de Jay.
— H-ham… — sua voz saiu falha e ela precisou engolir em seco. Céus, não deveria ser tão difícil quanto estava sendo. — Melhor não…
Pronto. Ela tinha conseguido. Tinham sido apenas três palavras, mas por que ela sentia que sua boca estava tão seca quanto um deserto?
— A está… — percebeu que Jay pigarreou antes de conseguir continuar. — Aqui comigo agora.
“Aqui comigo agora?” Não sabe mais falar que nem gente?, Jay se martirizou, não acreditando que havia voltado a ficar desconcertado depois de tudo que ele já tinha falado naquela live.
Voltou a prestar atenção no chat. Ele queria mudar de assunto, mas simplesmente todos os comentários eram sobre o namoro.
user29386: vocês fazem um casal tão fofo!
user1023193: vocês poderiam lançar um cover juntos.
user9438: imaginem Jay e em uma performance de casal 😭
user463221: oppa, eu não acredito que você está me traindo!
user992100: o EnhyION é real!!!
Levou as mãos até o rosto, tampando suas expressões de mau gosto. Ele não conseguia acreditar que realmente estavam apoiando ele e como um casal. Ao seu ver era tão… Impossível.
Ele a odiava demais para aquilo se tornar até mesmo uma mera possibilidade algum dia.
Soltou uma risada irônica. Precisava acabar com aquela tortura o mais rápido possível.
— Obrigado pelas comemorações — iniciou seu discurso de fim de live, sem ao menos consultar seu manager. — Fico feliz que vocês tenham gostado da novidade.
Não conseguia mais encarar a câmera. Era uma sensação estranha estar mentindo daquela forma. Claro que em três anos de Enhypen, ele já tinha mentido para as fãs sobre coisas supérfluas. Mas sobre um namoro? Era demais.
Seus dedos estavam cruzados sobre a mesa, e ele sentia que, aos poucos, o nervosismo ia se dissipando. Claro que isso estava diretamente ligado com o fato de que a live acabaria em alguns minutos, mas Jay preferiu não se atentar para aqueles pequenos detalhes.
Ele tinha conseguido.
— Eu… — não pôde evitar outro sorriso ladino. Outra ideia apareceu em seus pensamentos, e ele não demorou para aplicar mais uma falácia naquela live. — Ela está sorridente também.
engasgou com sua própria respiração. Ela, ? Não. Ela não estava sorridente. Na verdade, suas expressões faciais estavam mais próximas de alguém que comeu algo estragado do que de uma pessoa feliz. Ele logicamente estava apenas fazendo um joguinho com as fãs, sendo profissional.
Ela estremeceu. Precisaria lidar com aquele Jay por longos 150 dias, no mínimo. Pioraria ainda mais quando ela tivesse que agir daquela maneira, quando precisasse mentir sobre estar sorrindo ao lado de Jay.
Não, aquilo era demais. Eles não precisavam ser melosos daquela forma, certo?
Errado.
— Eu estou muito feliz ao lado dela — foi a cartada final do rapaz, o que fez todo o estômago de revirar. A garota jurou ter sentido seu suco gástrico subir pelo esôfago, mas permaneceu quieta no mesmo lugar, sem demonstrar qualquer reação.
Encarou o garoto. Ele não olhava mais em sua direção, porém, era óbvio que ela estava em seu campo de visão.
Soltou outro suspiro, dessa vez um longo que expirava todo o nervoso de dentro de si. Ela precisava se recompor. Em algum tempo, seria a sua vez de fazer uma live e comentar sobre seu “namoro” com Jay, e ela necessitava estar pronta.
Jay ainda leu outros comentários e fez mais algumas interações com os fãs antes de se despedir e desligar a live.
Assim que a câmera foi desligada e a tela de live encerrada apareceu no monitor, o rapaz bufou alto. Acabou. A primeira tortura tinha, finalmente, chegado ao fim.
— Céus, isso vai ser muito mais difícil do que eu imaginei — disse em voz alta, olhando para seu manager que tinha um sorriso mediano nos lábios.
— Nunca dissemos que seria fácil, mas vocês conseguem.
Quando o plural foi utilizado pelo mais velho, Jay automaticamente direcionou seu olhar para a garota no canto da sala. Seus olhos se encontraram por um período muito breve, pois ela logo agilizou de quebrar qualquer contato visual. Sentia-se constrangida. Jay tinha feito um trabalho digníssimo como idol, e ela precisaria fazer tão bem quanto, no mínimo.
Mesmo que ela tivesse cortado o contato, Jay permaneceu com os olhos sobre ela. Percebeu a garota abaixar a cabeça e fechar os olhos, logo murmurando algumas coisas que ele não foi capaz de entender. Contudo, ela levantou o rosto mais uma vez, com o olhar penetrando o dele.
— Eu ainda te odeio muito.
— Eu também te odeio — desviou o olhar.
Aquele seria apenas o começo do inferno de cinco meses.


[IV] question

“Papéis com perguntas não respondidas, infinitamente escrito
Como as ondas que percorrem o ritmo no mar do pôr do Sol
Por agora, eu vou flutuar"

(🎶🎸🖇️)


Droga, essa palavra se repetia de forma constante nos pensamentos de , ele realmente é um profissional.
Ela odiava pensar que estava, de certa forma, em desvantagem naquela situação. Jay já tinha quase três anos de experiência no mundo idol, enquanto estava concluindo seu rookie year⁸.
Durante aquela live, em alguma fração de minuto, aquilo se tornou uma disputa. Uma disputa para ver quem saberia lidar melhor com toda aquela situação. queria ser tão profissional quanto Jay.
Na verdade, ela queria ser ainda mais profissional que o rapaz.
— Acho que a gente deveria conversar — Jay cruzou os braços, jogando o corpo para trás enquanto encarava a expressão confusa no rosto de .
— Conversar? Sobre o que?
— Sim — ele suspirou, olhando para o próprio colo para evitar os olhos da garota que estavam sobre si. — Acho que precisamos alinhar algumas ideias e enumerar alguns pontos importantes agora que vamos… — se perdeu nas palavras, mordendo o lábio inferior. Jay sentia todo o peso do mundo sobre os ombros, não por culpa, mas por se ver encurralado em uma situação terrível, na qual ele nunca tinha se imaginado antes. — Estamos trabalhando juntos nessa, né?
levantou as sobrancelhas. Somente eles dois estavam na sala. A equipe de staffs, que outrora orientava a live de Jay sobre o anúncio do namoro, já havia saído e levado todos os equipamentos consigo, deixando-os sozinhos ali. Eles, duas cadeiras e uma mesa os separando.
A garota curvou o corpo para frente, observando Jay mais de perto.
— Do que que você ‘tá falando?
— Sobre o namoro, — ele revirou os olhos assim que a olhou. Como ela consegue ser tão sonsa?, pensava. bufou. — Precisamos conversar sobre algumas coisas sobre o nosso “namoro” — enfatizou as aspas ao levantar dois dedos de cada mão, não se importando em minimizar a expressão de nojo que tomou seu rosto.
deu um sorrisinho de canto. Era engraçado ver o quão incomodado Jay parecia com aquele contrato. Não que ela estivesse feliz com a decisão da diretoria, muito pelo contrário – mas ela podia sentir que conseguiria lidar com aquela situação muito melhor que o rapaz a sua frente.
Sorriu. Aquilo a confortava de certa forma pois parecia como uma vaga vantagem naquela competição que ela havia criado dentro da própria cabeça.
Se for para eu passar por isso, que seja de uma forma divertida, concluiu.
Pelo pouco que conhecia de Jay – e tudo que ela sabia sobre ele era contra a sua vontade, tinha consciência que Park Jongseong era um garoto com pouca paciência. Que Jay não gostava de quando as coisas saíam de seu controle. E não gostava ainda mais de precisar mentir, principalmente para os seus fãs.
E ela sabia que ele, acima de tudo, a odiava, o que aumentava ainda mais aquela bola de neve na qual eles haviam se enfiado.
— Como nosso namoro vai ser público, é bem provável que nos perguntem sobre ele — Jay comentou enquanto cruzava os braços novamente. Ele dava pequenos beliscos em sua pele para não se desconcentrar. — Então é bom inventarmos uma história ou algo assim.
balançou a cabeça em um cumprimento. Ela concordava plenamente com cada palavra que ele dizia – o que era tão estranho quanto estar presa em um namoro contratual com Jay.
— E no que você pensou? — ela batia um joelho contra o outro por debaixo da mesa. Precisava externalizar sua ansiedade de alguma forma, mas não queria que ele percebesse. Estar ali sozinha com Jay, tendo uma conversa minimamente civilizada, era uma novidade e tanto para ela.
E não queria estragar aquele momento de paz.
— Não precisamos criar nada demais — Jay descruzou os braços, batucando os dedos sobre a mesa e olhando para o canto da sala. Ele costumava encarar os outros nos olhos para conversar, mas não conseguia fazer aquilo com . Sua raiva falava muito mais alto, e ele estava batalhando internamente para não gritar qualquer merda e sair daquela sala depois de começar outra discussão. — Podemos falar que nos conhecemos durante algum evento da Hybe e começamos a conversar depois.
— De acordo — concordou com a cabeça, direcionando o olhar algumas vezes na direção dele. percebeu que Jay estava evitando a encarar de qualquer jeito, e deu outro sorriso de lado. Era a oportunidade perfeita. — A gente pode falar que você se apaixonou pelos meus olhos.
Jay respirou fundo.
Dane-se o momento de paz.
— Cala a boca — finalmente a encarou. abriu o sorriso ainda mais em vitória. — Você não leva nada a sério, precisa ficar falando merda sem parar.
— Já ‘tá ficando estressadinho? — riu baixo, deixando-o ainda mais irritado.
— Você me tira do sério.
— Quando você assumir que toda sua raivinha por mim é amor acumulado, tudo vai ficar mais fácil — debochou, descansando o corpo para trás. Era sua cartada final, e ela sabia muito bem que tinha sido o suficiente para deixar Jay completamente insano.
Seu rosto começou a ficar cada vez mais avermelhado.
— Cala a droga da boca, .
— É tão divertido ficar te provocando! — riu alto, sentindo-se aliviada.
Ela não gostava de viver com o pé em guerra com Jay, mas precisava assumir: irritá-lo era uma das coisas que mais a deixava feliz.
— Se você conseguisse agir que nem adulta, não estaríamos discutindo agora — ele disse depois de alguns segundos em silêncio.
A respiração de Jay estava pesada. Sua mente ficava repetindo sem parar: ela só quer provocar, ignora que passa. Mas era impossível ignorar as provocações de . Tudo nela irritava-o. Sua voz, sua forma de falar e enganar aos outros, sua cara…
Tudo. Jay odiava cada fio de cabelo de .
— Ok, vou levar a sério — desistiu de brincar, ainda com um sorriso no rosto.
Provocar Jay era engraçado. Ainda quando era uma trainee, descobriu que Jay se irritava muito facilmente. Ela não daria bola alguma para aquela informação, mas como ele fazia questão de tratá-la com desprezo sempre que eles se esbarravam, ela aproveitava para tirar onda com o pavio curto do rapaz.
E sempre dava certo.
— Para ser sincera, eu acho que podemos só falar que nos conhecemos nos eventos da empresa mesmo e que sentimos um interesse mútuo — ela voltou a falar, agora com seriedade. Jay ainda não a encarava nos olhos. — E começamos a conversar até que começamos um namoro, simples.
— Certo — ele assentiu minimamente, grato pela integridade repentina de . Se ela sempre agisse civilizadamente, eles poderiam não se matar em poucos dias de contrato. — Se perguntarem como nos aproximamos, podemos dizer que foi por causa do Jake.
— É uma boa — começou a encarar as próprias unhas. — Nossos fãs já sabem que somos melhores amigos, então fica mais fácil.
— Ótimo.
Jay se limitou em assentir com a cabeça, sabendo que a garota perceberia. Ele não a encarava, mas tinha certeza de que ela o observava, mesmo que disfarçadamente.
— E eu que te pedi em namoro.
— Fala sério, Jay — uma risada incrédula saiu pelos lábios de , que revirou os olhos no mesmo segundo. As suas unhas perderam a graça no mesmo momento, fazendo-a prender os olhos no rosto do rapaz, que direcionou o olhar a ela. — Você é frango demais para pedir uma garota bonita em namoro.
Ele fechou os olhos por algum tempo, outra vez, respirando fundo. Ela se mostrava cada vez mais incapaz de agir com maturidade em momentos sérios como aquele, o que fazia seu sangue ferver por todo seu corpo.
era daquele jeito. Infantil e mimada, falsa e dissimulada. Ele sabia desde o início que ela não era flor que se cheire, mas nunca conseguiu entender com Jake caiu em seus encantos fajutos que não valeriam a pena no final.
— Sinceramente, — ele soltou um suspiro cansado antes de continuar. Pela primeira vez no dia, sentiu coragem de falar firmemente com ela. — Graças a Deus o nosso namoro é uma chacota, pois eu tenho pena de quem for namorar com você de verdade no futuro.
Incômodo.
As palavras de Jay saíram e atingiram-na como uma faca de gume afiado. sentiu como se seu orgulho esfarelasse entre seus dedos assim que seus ouvidos escutaram e sua mente processou as palavras malditas de Jay.
Ela não era ruim. Ela dava o melhor de si para tudo naquela empresa, e aquele deslize das postagens soava como uma decadência certeira em sua carreira – o que a aterrorizava dia e noite, desde o dia do incidente.
Pena?
aguentava qualquer coisa fútil que Jay falava para ela, mas pena não era uma delas. Ela odiava que sentissem pena dela, sobre qualquer coisa.
E ela só não sabia como namorar alguém. Mas aquele não era um problema que Jay precisava saber.
Em silêncio, encarou mais uma vez as próprias unhas sobre a mesa que separava ela de Jay. Ambos os corpos estavam inclinados para frente, com o olhar dele penetrando o mais íntimo de , deixando-a cada minuto mais constrangida.
Ele esperava alguma reação dela. Esperava que ela risse de forma sarcástica, ou que pelo menos o mandasse a merda. Mas não. não disse, ou muito menos fez, nada.
Engoliu em seco.
— Desculpa, fui grosseiro — Jay falou com o tom baixo, de ombros caídos, mas ainda sim com o olhar preso no rosto de . — Acho que a gente deveria dar bandeira branca durante esses cinco meses, pois precisaremos trabalhar juntos.
piscou algumas vezes antes de voltar a encará-lo.
Disfarce. Você precisa disfarçar,
— Eu concordo — sorriu tênue. Decidiu que focar exclusivamente na conversa deles seria a melhor forma de esquecer seu passado que a assombrava, mesmo que fosse uma distração momentânea. — Outra coisa é que eu acredito que seja melhor que o mínimo de gente saiba sobre esse namoro falso — apertou os lábios, ansiosa pela reação do rapaz.
Jay apenas tombou a cabeça para o lado. — Digo, quanto menos gente saber que é encenação, melhor, certo?
— Você sabe que isso significaria que a gente teria que fingir para ainda mais gente, né? — ele não gostara muito daquela ideia de .
Ela respirou fundo e fechou os olhos por um curto período. Jay tinha razão.
Quanto menos gente soubesse, mais eles precisariam atuar. Mas ao mesmo tempo, sabia que sua linha de raciocínio não estava errada.
Pensou por um tempo. O que pode ser pior do que ter que atuar sobre nosso namoro até mesmo na frente de nossos amigos?
— Mas quanto mais gente souber, mais chance de alguma sasaeng descobrir — foram as palavras necessárias para que encerrasse aquela pequena discussão.
Sasaengs eram piores que uma atuação. E Jay sabia disso. Portanto, ele apenas apertou os lábios, sem saber como contornar aquela proposta de . Ela estava certa, afinal.
— Vamos fechar um contrato entre a gente.
Enquanto as sobrancelhas de Jay se curvavam, estranhando a mudança de humor repentina da garota, se levantava e ia até o canto da sala.
não esperava um pedido de desculpas de Jay. Ele sempre fora aquele cara que dava cortes e prolongava uma discussão. Eles sempre viveram em pé de guerra.
Porém, quando aquele pedido saiu de seus lábios, enxergou de longe aquilo que Luna e Siara sempre diziam: Jay era um cara legal.
Legal já é demais, mas ele é minimamente educado, concluiu em sua própria mente.
— Eu começo — voltou a falar com um sorriso no rosto, olhando para o rapaz sentado do outro lado da mesa. — Sem contato físico quando não estivermos em público.
— De nenhum tipo! — ele ainda intensificou, encarando-a nos olhos finalmente. — Sem pedir favores um para o outro também, nem em público.
— Como assim eu não vou poder te fazer de escravo na frente dos outros? — deu uma risada baixa, fingindo indignação. Jay apenas revirou os olhos.
Ele conseguia imaginar muito bem o tipo de namorada que seria: a que faz do namorado de gato-sapato para todo mundo ver.
— E o mais importante: lembrar que não somos amigos — ela completou enquanto se sentava outra vez. — Apenas estamos levantando bandeira branca. Não vamos trocar segredos, ter conversas profundas ou coisas desse tipo, vamos apenas… nos suportar.
— Justo — ele concordou, cruzando os braços sobre o corpo, agora encarando a mesa entre eles por uma fração de minutos. Ele ainda deu uma risada de escárnio. — Jurei que você fosse falar que é proibido se apaixonar.
piscou algumas vezes. Ela ouviu certo? Ele realmente tinha falado aquilo?
Riu. Começou com um filete de ar saindo por suas narinas, mas logo uma gargalhada alta saiu por sua garganta, causando até uma leve tosse. Ela sempre duvidara da capacidade de Jay ser engraçado, mas ele tinha se superado.
— Você ‘tá falando sério? — perguntou enquanto recuperava o fôlego. Jay apenas concordou, segurando o sorriso.
jogou a cabeça para trás mais uma vez, ainda desacreditada do que tinha acabado de ouvir. Ela? Apaixonada? E o melhor: apaixonada por Jay Park?
A piada do século.
Respirou fundo antes de continuar:
— Pode ficar bem tranquilo, Jay, isso nunca aconteceria. É como pedir para uma vaca botar ovos.
Ele se limitou a levantar os ombros.
— Eu posso me comprometer a fazer você se apaixonar por mim como vingança por você ter me colocado nessa situação — deu um sorriso ladino, levantando apenas uma das sobrancelhas enquanto a encarava.
A garota soltou um riso descrente. Garoto presunçoso e insolente.
Optou por entrar no joguinho dele, inclinando o corpo em sua direção, assim como ele tinha feito alguns segundos antes:
— Fica tranquilo, Jay. É mais fácil você se apaixonar por mim.
Ele riu. Era óbvio que diria algo daquele tipo. Era bem o feitio dela.
Pronto. Aquilo havia se tornado uma competição em sua mente. Droga, .
— Podemos fechar nisso então? — ele perguntou querendo encerrar com aquele assunto. — Bandeira branca, sem toque, sem favores, e sem amizade?
deu um leve sorrisinho de lado. Bingo. Jay estava querendo fugir daquele papo que ele mesmo começou.
Ah, como era tentador deixá-lo surtado da cabeça.
— O que foi, Jay? — ela precisava aproveitar aquela última oportunidade para irritá-lo. Era mais forte que ela. — Mudando de assunto assim? Ficou com medo de se apaixonar, foi?
Jay cerrou os olhos outra vez, como ele sempre fazia quando o tirava do sério. Se ele ainda não tivesse criado aquela aposta besta na própria mente dele, ele a mandaria calar a boca, como todas as outras vezes.
Mas se abateu em sorrir, juntando toda sua paciência.
— Isso é impossível, — sorriu como ela, a encarando fortemente nos olhos. — Eu não me odeio ao ponto de me apaixonar por você.
Ela permaneceu com um sorriso no rosto.
— É o que veremos.

🎤📝❤️‍🔥


A aspirina não fazia mais efeito.
Se Jay soubesse antes que em pouco mais de uma semana sua vida daria um capote completo por causa de uma foto de hambúrguer, ele nunca teria saído do dormitório naquela noite. Sua cabeça latejava de tanto processar o que ele estava vivendo em uma pequena fração de tempo. E a droga do remédio parecia não ajudar em nada.
Abriu a porta do dormitório a contragosto. A conversa com ainda assombrava a sua mente, junto de uma martirização à sua escolha particular de fazer uma aposta sobre seus sentimentos.
Ele venceria de qualquer forma.
Os garotos estavam espalhados pelo apartamento. Jungwon e Sunghoon jogavam as embalagens do que tinham pedido para comer no lixo e separavam o que havia sobrado em algum pote para colocar na geladeira. Niki parecia concentrado no videogame e seus dedos apertavam os botões do controle em sua mão fervorosamente enquanto Jake encarava a televisão com expectativa. Sunoo estava sentado no sofá ao lado dos dois, mas com os olhos focados em seu celular.
— Cadê o Hee? — perguntou enquanto fechava a porta atrás de si, trancando-a.
— Está no quarto dele — a resposta veio de Hoon, sem que ele olhasse para o amigo.
— Você já comeu?
— Sim — respondeu à pergunta de Won já passando no meio da sala, entrando no corredor que dava acesso aos quartos.
Caminhou até o quarto de Heeseung, que estava com a porta fechada, e bateu algumas vezes antes de abrir. Ele imaginava que o amigo estaria jogando com fones de ouvido e não conseguiria nem mesmo escutar o outro o chamando do lado de fora.
— Trouxe o que me pediu — pensou em deixar a sacola em sua mão em cima da mesa, ao lado do computador, de uma forma que Hee pudesse enxergá-la em seu campo de visão, e sair do quarto.
Mas não foi isso que aconteceu.
— O salgadinho era para você, senta aí — tirou os fones, olhando na direção de Jay.
O estadunidense juntou as sobrancelhas, confuso.
— Achei que estivesse jogando.
— Eu estava, mas queria conversar com você — deu de ombros, abrindo a sacola e pegando a barra de chocolate e passando o outro pacote ao outro. — Sei que você gosta desse salgadinho de banana.
Jay se sentou na ponta da cama do quarto e abriu o pacote em suas mãos com um sorriso no rosto. Ele amava salgadinho de banana.
Heeseung abriu o chocolate e quebrou os tabletes, oferecendo para o mais novo.
— O que aconteceu? — Park perguntou enquanto recusava o doce com a cabeça, muito mais satisfeito com o gosto do salgadinho.
— Eu que te pergunto — Hee colocou um pedaço de chocolate na boca, girando a cadeira para ficar de frente a Jay. — Eu só sei da sua live por causa dos comentários em massa no Weverse.
As agulhadas na cabeça voltaram no mesmo instante.
— Pois é…
— Vocês estão namorando mesmo? — a voz de Hee soou com leveza, mas ao mesmo tempo, com um tom diferente. Heeseung não costumava tremer a voz quando falava.
A careta com uma jogada de pescoço para trás e a curvatura nas sobrancelhas de Jay foi inevitável. Ele nunca tinha presenciado o amigo perguntar sobre qualquer coisa daquele jeito. Era curioso no mínimo.
— Que pergunta é essa de repente?
— Só estou perguntando se é verdade — levantou os ombros.
Jay ficou em silêncio. Sua mente estava dividida entre dizer a verdade ou não.
Mas quanto mais gente souber, mais chance de alguma sasaeng descobrir, a voz de soava no fundo de sua mente, fazendo com que Jay mexesse a cabeça em um ato rápido. Qualquer coisa, menos a voz da falando na minha cabeça sem parar.
Ele estava verdadeiramente em dúvida. Era óbvio que em algum momento, todos os garotos do grupo saberiam. Jungwon já sabia e com certeza desabafaria com Jake para reclamar sobre o contrato.
Mas Heeseung é muito amigo dos meninos do TXT, e o Soobin é uma boca de sacola, continuou refletindo, sem sucesso.
Jay precisava falar sobre aquilo com alguém. Ele sabia que Jungwon estaria de braços abertos para escutar qualquer reclamação e desabafo sobre como era insuportável e o quanto Jay desgostava dela.
Mas ele queria mais. já vai ter o Jake e a Siara para desabafar, eu também mereço ter duas pessoas, certo?
— Na verdade, não — decidiu contar de uma vez. — Tivemos que assinar um contrato de namoro e sigilo por cinco meses, então, por favor, não conte para absolutamente ninguém.
Heeseung piscou algumas vezes. Não era um namoro de verdade, repetia consigo mesmo.
— Entendo — respondeu enquanto virava a cadeira para ficar em frente ao computador, de costas para Jay. — E ela está de boa com isso?
Jay revirou os olhos.
— Eu te contei para que alguém pudesse ficar preocupado sobre como eu estou em relação a isso, não sobre como a reagiu, sabe.
— Desculpa — Heeseung voltou a ficar de frente a Jay, dando um sorriso com os lábios apertados. — É que você fica brigando com ela por qualquer motivo.
— Eu não–
Em um suspiro, Jay parou de falar. Iria restringir seus desabafos com Heeseung exclusivamente para falar sobre o namoro falso com . Seus problemas pessoais com ela eram exclusivamente problemas dele e de mais ninguém.
— Ela ‘tá bem, ok? — reservou-se.
Aquilo seria mais complicado do que ele pensava. Pensar em seu verdadeiro motivo dele e não se darem nem um pouco bem tocava em uma parte de sua vida que estava guardada no fundo do baú, embaixo de sua cama.
Precisava de um remédio mais forte. Até o salgadinho de banana – que era o seu favorito – tinha perdido toda a graça.
Por alguns poucos segundos, Jay sentiu seu estômago revirar. Era óbvio que sentiria enjoo ao pensar em e seus problemas. Era óbvio que sua dor de cabeça pioraria e tiraria todo seu apetite. E era ainda mais óbvio que ele não ficaria nem um pouco bem durante todo tempo de contrato do namoro.
Suspirou. Jay acreditava que conseguiria ser mais forte do que estava sendo.
— Certo… — Heeseung coçou a garganta, refletindo se mudava de assunto ou não. — Por que vocês precisaram assinar um contrato? Eu achei que a Belift fosse negar os rumores.
— Todos achávamos — revirou os olhos, jogando seu corpo para trás. O pacote de salgadinho continuava em seu colo, praticamente intocado. — Mas, pelo visto, a galera gostou até demais da ideia de estarmos em um possível relacionamento, então deu nisso.
Pressionando os lábios, Heeseung olhou em volta, aproveitando que Jay não olhava em sua direção. Alguns pensamentos passavam por sua mente, mas ele preferiu fingir que eles não estavam ali.
Pelo menos por enquanto.
— E quem sabe disso?
— Até agora, nós dois, Jungwon e Siara.
— O Won já sabe? — os olhos de Hee se arregalaram.
— Sim — Jay entortou a boca, descontente. Ele ainda precisava falar seriamente com Jungwon sobre essa palhaçada. — Ele foi chamado para conversar com o manager antes de mim, inclusive.
— Caramba, e ele apoiou essa ideia?
— Acho que ele estava de mãos atadas — Jay se sentou outra vez. — Eu imagino que tenha sido uma daquelas reuniões que o Bang fala o que vai acontecer e só nos resta aceitar, sem questionamentos.
Hee concordou. Ele sabia muito bem de que tipo de reunião Jay estava falando.
— E o que você está achando disso tudo?
— Sinceramente? Uma grande merda — encarou o amigo, que soltara uma risada alta com sua resposta ríspida. — Conviver com a já é um saco por si só, imagina namorar com ela.
Heeseung segurou o que gostaria de falar, então contentou-se em apenas rir das expressões do amigo. Jay sempre foi um cara tranquilo e educado. Geralmente, Sunoo era quem se encrencava mais nessas situações de não se dar bem com os outros e não saber disfarçar.
Mas, quando o assunto era , Jay realmente se transformava da água para o vinho.
— Nunca entendi essa sua birra com a garota.
— É complexa demais para eu te explicar… — encarou a parede. Odiava quando perguntavam o porquê que ele tratava daquele jeito.
Para Jay, a resposta era muito clara: ele a tratava da forma que ela merecia ser tratada.
Mas os seus amigos nunca entenderiam.
De repente, sentiu-se desanimado outra vez. Poder desabafar um pouco com Heeseung havia sido reconfortante por 3 minutos, mas Jay estava se sentindo dentro de uma neblina novamente.
O verdadeiro motivo que o levava desgostar de e evitá-la ao máximo envolvia seu passado mais sombrio. Aquele que Jay fugia todas as noites.
Aquele que ele jurava ter deixado para trás.
Quase afogado em seus próprios pensamentos, ele se levantou da cama.
— Por hora é isso — deixou o pacote de salgadinho quase cheio em cima da mesa de Heeseung. O mais velho arqueou uma das sobrancelhas. Jay havia mudado de humor de repente, outra vez. — Eu estou um pouco cansado. Ensaiei, tive uma reunião com o Bang e a , depois fiz uma live para falar de um namoro que nem mesmo existe e que supostamente eu sou o cara mais apaixonado do ano — deu um riso irônico.
Ele precisava rir da sua desgraça, ou desmancharia ali na frente do amigo.
— Jay, se voc–
— Não se esquenta, Hee, eu ‘tô bem — era mentira, mas Jay mentia com um sorriso de canto que transmitia uma segurança confusa. — Você tem o número da , né?
Heeseung apenas balançou a cabeça, em dúvida se o amigo estaria sendo sincero sobre estar bem ou não. Sem escolha, decidiu deixar para lá. Se Jay precisasse de um tempo para processar tudo que estava acontecendo em sua vida, ele daria esse tempo a ele.
— Me manda o contato dela depois, por favor.
Jay já ia caminhando em direção a porta quando Hee o chamou uma última vez:
— Eu prometo não falar para ninguém, Jay — voltou no assunto anterior com um sorriso mínimo. — Sempre que quiser conversar, estarei disponível.
E saiu.
Jay deu dois passos grandes até a porta de seu quarto, que ele dividia com Jake, e agradeceu mentalmente pelos garotos estarem gritando na sala com o jogo, empolgados. Espero que fiquem jogando até eu conseguir dormir, pensou.
Assim que colocou a cabeça no travesseiro, Jay sentiu todo seu corpo cair em exaustão e algumas lágrimas se formarem em seus olhos. Ele estava cansado como nunca tinha se sentido antes. Mentalmente exausto, por completo. Aquela semana conseguia estar sendo pior que todo o i-land.
Ele precisava de um abraço, um conforto, alguma coisa. Sua mente inconsolável pesava muito mais do que qualquer cansaço que ele se lembrava de já ter sentido. Em alguns momentos era inevitável não se lembrar de sua vida em Seattle e o que ele abandonou quando decidiu se tornar um idol ao invés de voltar para os Estados Unidos.
Abandonou sua liberdade, uma vida mais privada e ela.
Sentiu os olhos se encherem de lágrimas outra vez. Que saudade. Era uma saudade que não cabia em seu peito. E uma saudade que ele queria se livrar o mais rápido possível.
Ela não precisava se tornar a sua décima dor de cabeça do dia.
Abriu a única gaveta de chave do cômodo ao lado de sua cama, esticando a mão até o fundo e pegando a cartela de remédios psicotrópicos. Precisava dormir. Desligar de seus próprios pensamentos.
A cartela ainda estava cheia, o que incomodou Jay. Ele estava bem até pouquíssimo tempo atrás. Foram mais de 8 meses sem problemas para dormir.
Mas tudo tinha ido por água abaixo.
E claro que, novamente, estava envolvida em sua necessidade de dopar-se para conseguir dormir.

🎤📝❤️‍🔥


XX-XXX-XXXX: Oi , aqui é o Jay.
XX-XXX-XXXX: Peguei seu número com o Heeseung pois sei que será necessário entrar em contato com você em alguns momentos.
leu essas mensagens pela tela do celular, que estava em cima da mesa, e lembrou de colocar o aparelho no Não Perturbe. O que quer que fossem as mensagens de Jay, elas precisariam esperar.
— Luna, os fãs estão comentando muito sobre sua voz em Who am I — levantou o olhar assim que escutou a voz de Eunhyuk, o locutor. — Pode cantar uma linha para a gente?
— Ah — percebeu a amiga ruborizando ao seu lado. — Claro.

A voz melodiosa de Luna encheu os fones de retorno:
Who am I
I don’t know myself
Just save me now

Elas estavam em uma rádio promovendo o novo álbum.
amava ir em todos os programas que seu grupo era chamado, sempre se sentia bem ao poder mostrar um outro lado de si. Seus preferidos eram os programas de variedades, onde ela se divertia mais.
Mas não que ir em um programa de rádio fosse ruim, só era mais… monótono.
— Uau, você canta muito bem, Luna! — era a voz da outra locutora. — Meus parabéns.
— Obrigada — Luna sorriu abertamente, sorrindo e dando um tchauzinho para uma das câmeras que transmitiam ao vivo as imagens das garotas na rádio.
— Acho que já podemos entrar em contato com a primeira ouvinte — Eunhyuk novamente.
pousou seu olhar no rapaz, aguardando com expectativa sobre como seria aquela interação com algum fã. Todas as outras vezes que elas foram em uma rádio, as garotas recebiam palavras de conforto e perguntas engraçadas.
Ela tinha ciência que as interações passavam por um filtro antes de irem ao ar, e que as mensagens eram pré-gravadas por questão de segurança – pois nunca se sabe quando um hater podia ligar e falar palavras ruins para qualquer convidado da rádio, mas não focava nesse lado do backstage.
Suas expectativas sempre eram altas para qualquer interação com fãs. E naquele dia não seria diferente.
— Alô? — Eunhyuk olhava para uma das câmeras com um olhar divertido, além da voz animada.
Meu Deus, eu estou na linha?! — a voz da ouvinte se fez presente, mesmo que baixa. sorriu. Era sempre daquele jeito.
— Está sim! — Enhyuk abriu ainda mais o sorriso. Ele era um locutor muito amigável. — Sinta-se à vontade para dizer algumas palavras para as meninas do ION e fazer alguma pergunta.
— Ok…
A voz da garota estava nitidamente nervosa, de uma forma que ela parecia que gaguejaria a qualquer momento. ajeitou a postura, colocando uma das mãos em um dos lados do fone para poder escutar com mais clareza.
— Eu queria perguntar algo para a — a menina continuou, com uma voz risonha. — Fiquei super feliz quando vi o pronunciamento da Belift ontem.
sentiu todos os pelos de seu corpo se arrepiarem e seus músculos congelarem. Não podia ser sobre o…
— Queria saber a quanto tempo você e o Jay estão namorando, e quero ouvir a história de vocês! — a voz da ouvinte ficava cada vez mais estridente, sinal de seu nervosismo para falar. parecia petrificada ainda. — Mas antes de desligar, só queria dizer que acho vocês muito fofos e que desejo o melhor no relacionamento!
Fim da ligação.
Todos os olhares da sala viraram na direção de . Suas pálpebras abriam e fechavam sem parar, em um mix de nervosismo com surpresa. Ela sabia que precisaria falar sobre o namoro em algum momento, mas não queria acreditar que já seria naquele dia.
— Eu… — foi a única coisa que saiu de seus lábios, com a voz trêmula.
Buscou ajuda com o olhar. Luna não esboçava nenhuma reação, provavelmente por causa do choque pela pergunta e pela forma que a ouvinte falava.
Siara, cadê a Siara, o subconsciente de gritava em sua própria mente, fazendo-a buscar os olhos da líder.
Ela olhava em sua direção.
“Você consegue”, foi o que ela leu nos lábios da amiga.
respirou fundo, fechou os olhos e contou até três.
Eu consigo. Eu preciso.
Abriu os olhos, aproximando-se do microfone.
— Eu nem sei o que falar — deu uma risada nervosa. — Acho que primeiro vou agradecer pela mensagem, saber que os fãs me apoiam é muito importante para mim.
Embaixo da mesa, em um lugar onde as câmeras com transmissão ao vivo não alcançavam, as mãos de desciam e subiam por sua perna, apertando com força sua coxa de uma forma que os nós de seus dedos ficavam cada vez mais avermelhados.
Ela literalmente não sabia mais o que falar.
Apertou os lábios.
— Sobre a minha história com o Jay… — lembrava-se de conversar sobre isso com o rapaz no dia anterior, mas sua mente parecia um completo breu. Ela tinha esquecido. Esqueceu-se de absolutamente tudo que tinham discutido.
Pressionou as mãos com ainda mais força. Precisava de alguma ideia, rápido.
Olhou para as coisas em sua volta, encarando o seu próprio celular.
Já sei.
— Acho que vai ser mais divertido falar sobre isso com ele junto algum dia, né? — deu uma risada leve, levantando os ombros e trazendo uma das mãos na altura do rosto, querendo se esconder.
— Uau, agora até eu estou curiosa! — a outra locutora comentou, aliviando . Ela tinha conseguido. — Eu estou arrepiada! Já quero saber quando vocês vão falar sobre.
sorriu na direção da mulher.
Tinha se livrado daquilo por um pequeno espaço de tempo, mas seria o suficiente para ela se organizar e preparar-se melhor para o que estava por vir. E ainda teria a chance de acertar tudo com Jay.
Ela precisaria falar com Jay. De novo.
Pensar no Park era sinônimo de caos. Sua vida estava completamente virada de pernas pro ar por causa de duas fotos de hambúrguer. Fotos de hambúrguer. E de quebra, ainda tinha uma maldita disputa criada dentro de sua própria mente.
Ela precisava ver uma psicóloga urgentemente.
Voltou a encarar o celular, que agora estava com a tela desligada, uma vez que permanecia no Não Perturbe.
sabia que, assim que saísse da rádio, estaria cheia de mensagens de Jay – caso ele visse o programa, mas optou por prestar atenção na próxima ouvinte que entrava na linha.
Ela só torceu para ninguém mais perguntar sobre o namoro.
Muito menos que mencionassem o nome do garoto.


🎤📝❤️‍🔥


— Por favor, eu prometo não sair em nenhum outro tabloide de fofoca — esfregava as mãos uma contra a outra enquanto seus olhos ficavam cada vez maiores. Gwan revirou os olhos.
Jose havia enviado uma mensagem avisando que iria para o Coffee & Cia, uma das cafeterias prediletas de , e que queria encontrar com a amiga.
Jose Soul: Vou passar no café perto do seu dormitório, acha que consegue me encontrar lá?
Jose Soul: Preciso falar com você…
— A última vez que você me disse isso e eu te liberei, você conseguiu se envolver em um escândalo de namoro!
— Eu não tinha como saber que o Jay sairia no mesmo dia e iria para o mesmo lugar que eu! — levantou um pouco o tom de voz, mas logo encolheu os ombros. Esse assunto ainda a estressava demais. — Manager Gwan, veja bem… Eu já estou namorando agora, não tem como sair nenhuma notícia neste âmbito! E eu serei ainda mais cuidadosa, e não vou postar nada.
A mulher tinha os braços cruzados na frente do corpo. Sua estatura era maior que a de , o que a dava uma aura ainda mais assustadora quando estava irritada.
— Gwan, acho que você pode dar esse voto de confiança para a . Ela se saiu muito bem na rádio hoje, e os nomes dos dois estão em alta, com comentários positivos.
Siara se aproximou devagar, colocando uma das mãos no ombro da companheira de grupo. até mesmo virou o rosto na direção da líder, mas esta tinha os olhos fixos na manager.
Gwan suspirou.
— Tudo bem, a Siara tem razão — descruzou os braços, mas com os olhos cravados na feição alegre que tomou o rosto da mais nova. — Mas você precisa voltar para o dormitório antes das 20h e não deve postar absolutamente nada, e trate de ir com roupas leves para não suspeitarem que você está escondendo algo.
— Obrigada, senhorita Gwan — , que já estava com as mãos coladas, cruzou os dedos e agradeceu algumas vezes, curvando-se.
Siara é minha heroína mesmo, pensava com um sorriso no rosto.
— Vai se arrumar então que vou chamar um motorista para te levar.
— Não precisa! Eu posso ir a pé — assegurou com o rosto confiante. — Eu sempre vou a pé até aquela cafeteria, e os fãs sabem que eu gosto de ir para lá. Se eu for de carro de repente, pode parecer estranho.
A manager fechou os olhos, completamente sem paciência. Ela não achava a melhor ideia do mundo sair sozinha por aí, principalmente depois do escândalo que ela se envolveu.
Mas, por algum motivo, ela respondeu:
— Certo, mas me envie sua localização para eu poder te acompanhar.
— Tudo bem! — ela abriu o sorriso novamente. — Obrigada. Muito, muito obrigada!
Gwan apenas assentiu com a cabeça e virou de costas, saindo da sala e caminhando até a cozinha. Siara tirou a mão do ombro da mais nova, o que a fez virar em sua direção.
— Obrigada pela ajuda, unnie — abriu um sorriso, que foi correspondido. — Vou te trazer um docinho.
— Não precisa se preocupar com isso, — a mais velha riu. — Sua cabeça está muito cheia nesses últimos dias, vai aproveitar um pouco. Só não faça nada que você se arrependa depois.
A garota apenas concordou com a cabeça, saindo até seu quarto para trocar de roupa e ir à cafeteria. A ida para a rádio pela manhã e a ligação da ouvinte perguntando sobre o namoro com Jay realmente alterou um pouco o humor de , mas ela daria um jeito, assim como ela sempre fazia com tudo que tirava a sua paz.
Quem disse que fingir que seus problemas não existem não é eficiente?
Não era de seu feitio, mas ela estava evitando entrar no Weverse e todas as outras as redes sociais por medo dos possíveis comentários. Ela sabia que nem todos apoiavam – mesmo que fosse a minoria, mas não queria mais problemas para a cabeça. Até mesmo tinha aproveitado para excluir os aplicativos de seu celular, pelo menos durante o próximo mês.
Apenas pegou o aparelho para ligar para Jose, avisando que iria se arrumar e em breve apareceria na cafeteria.
Não acredito que vamos nos ver — a voz da inglesa era baixa, mas expressava nitidamente um tom de ânimo. — Estou te esperando aqui, então.
Assim que ela desligou a ligação, uma nova notificação apareceu. Era uma mensagem de um número desconhecido.
XX-XXX-XXXX: Você realmente vai ser imatura e me ignorar até quando?
Merda, esqueci de responder o Jay.
Quando abriu o aplicativo de mensagens, recebeu a ligação do mesmo número. Apertou os lábios e respirou fundo antes de atender:
? — parecia a voz dele.
— Sou eu.
Seu aplicativo de mensagens não funciona ou o que?! — agora sim era o tom de voz que reconhecia muito bem. — Eu te mandei um monte de mensagens desde de manhã.
Ela revirou os olhos, procurando sua caixinha de fones de ouvido para conseguir terminar de se arrumar enquanto conversava com ele. tinha certeza de que Jay passaria alguns bons minutos falando sem parar, por isso, quis otimizar o seu tempo.
— Eu esqueci de te responder na hora, desculpa — foi sincera, caminhando até o armário assim que colocou os fones. — Quando você mandou as primeiras mensagens, eu estava ocupada numa rádio, e depois não mexi no celular.
— Duvido muito — ele reclamou do outro lado da linha, com sua voz um pouco mais calma. E Jay não estava errado: tinha mexido no celular para falar com Joselin.
Ela só esqueceu de responder depois.
— Enfim, eu te liguei só para saber se o seu número estava certo mesmo. Lê logo as minhas mensagens e me responda.
— Eu vou sair agora, só consigo mais tarde — disse alto enquanto vestia a camiseta.
— Vai fazer o que?
— Não te interessa? — soltou um riso no final. Pôde escutar um resmungo vindo dele.
— Tanto faz, eu não me interesso pelo que você faz mesmo — o tom raivoso voltou. — Só não inventa de fazer merda que nem sempre e me pintar com papel de corno para todo mundo.
E desligou.
apertou os dedos com força. Aquela ligação de quarenta segundos tinha conseguido alterar todo seu humor mais uma vez. Como Jay consegue ser tão insuportável?
Fechou o zíper da calça jeans que ela vestira enquanto escutava Jay destilar todo seu mau humor e tratou de pegar uma meia limpa e vestir um par de tênis o mais rápido possível.
Se fosse para ela continuar irritada, que ela tivesse um copo enorme de Affogato na sua frente.
— Não sabe conversar que nem gente grande. Precisa ficar murmurando alto e dando corte de graça, parece um adolescente — reclamou consigo mesma, ficando a cada segundo mais irritada.
Jay era extremamente chato. Pelo menos com ela, ele agia como criança em todos os momentos que eles se viam. Jake e Luna tentavam defendê-lo e diziam para ela ignorar as provocações, mas odiava a sensação de levar desaforo para casa e acabava respondendo a altura todas as vezes.
— Para você estar com fumaça saindo pelas suas orelhas, é porque está irritada.
Era Siara.
— Dois reais ou um motivo misterioso?
— Eu sei que é por causa do Jay — ela desencostou do batente da porta, dando alguns passos para dentro do quarto. — Mas esses pobres cadarços rosas não têm culpa.
Foi nesse momento que percebeu que já tinha feito uma fileira de nós no cadarço. Suspirou. Ficou tão irritada se perdendo em seus próprios pensamentos que não conseguiu terminar o que estava fazendo.
— Eu sei que é fácil falar, mas acho que você precisa aprender a lidar melhor com as provocações do Jay — ela sorriu, se abaixando ao lado de e tirando as mãos dela do tênis, desfazendo cada um dos nós enquanto conversava com a mais nova. — Vocês vão precisar se aturar e encenar um relacionamento por pelo menos cinco meses, então precisam amadurecer essa discussãozinha de vocês.
— É que ele–
— Ninguém briga sozinho, — Siara a cortou com a voz pacífica. — Você pode se mostrar mais madura que ele e ignorar suas hostilidades.
— Impossível — resmungou.
— Você consegue, vai.
Siara fez um laço perfeito nos cadarços de , se levantando logo em seguida e estendendo uma das mãos. Ela aceitou a ajuda para levantar-se, mesmo que a contragosto.
— Eu já te falei um milhão de vezes: Jay é um cara legal.
— E eu já te respondi um milhão de vezes que não sou eu quem provoco.
— Eu sei — Siara soltou ar pelo nariz. — Eu só quero dizer que eu tenho certeza de que ele tem algum motivo para isso.
Uma das sobrancelhas de se curvou. Ela nunca tinha feito nada. Desde o dia que ela viu Jay pela primeira vez e foi apresentada, ele fez desfeita e agiu de forma grosseira. Não tinha nem dado tempo de ela fazer alguma coisa para ele odiá-la tanto.
— Minhas apostas são de que ele é louco — concluiu enquanto erguia os ombros. — Ou então ele é perdidamente apaixonado por mim e não sabe expressar.
Dessa vez, Siara não aguentou segurar a gargalhada entalada em sua goela. A linha de raciocínio que seguia nunca fazia sentido direito, e essa era a parte mais divertida daquela amizade.
Em um gesto singelo, a mais velha procurou as mãos de e as segurou com carinho. Siara sempre era extremamente cautelosa com tudo, cuidando das meninas do grupo como uma boa irmã mais velha. continuou com os olhos presos na amiga, observando cada movimento.
— Acho que você poderia perguntar para ele o que ele acha de você.
— Ok, agora eu acho que a louca da história é você mesmo.
— Presta atenção, ! — Siara nunca a chamava por seu nome todo. tombou a cabeça para o lado. — Tente descobrir se existe algum motivo do porquê Jay parece ser tão hostil contigo. Vocês podem ter uma conversa civilizada e tirar toda a sujeira debaixo do tapete.
— Ele pode me odiar por simplesmente existir.
— Você já pensou sobre isso?
— Até demais… — revirou os olhos, soltando as mãos de Siara para passar sobre suas coxas. De repente, sentia-se aflita outra vez. Nem mesmo conseguia olhar em sua direção. — Jay nunca me tratou bem. Desde o momento em que Jake me apresentou, ele começou a agir que nem um ogro quando eu estava por perto.
Apesar da bandeira branca declarada durante os próximos 5 meses, no fundo, se incomodava em não saber o porquê era tão odiada pelo rapaz. Em suas memórias, ela se lembrava claramente do dia em que eles se esbarraram em um dos corredores da HYBE e ela derrubou um pouco de café no casaco que Jay carregava em um dos braços. Jake, que estava acompanhando-o, os apresentou logo após o pedido de desculpas da garota, que foi respondido com rispidez.
Se aprendesse a olhar por onde anda, talvez não tivesse derrubado o café, conseguia escutar a voz de Jay em sua mente.
se lembrava de Jake ficar parado, tão sem reação quanto ela, enquanto os dois observavam Jay se afastar sem olhar para trás. Desde então, todas as vezes que ela e Jay estavam no mesmo lugar, eles trocavam farpas. até aguentou de boca fechada algumas vezes, mas depois da quinta vez que ele a cortou sem razão alguma, ela não aguentou mais segurar.
Nem mesmo o respeito com ele sendo seu sunbae⁹ a impedia de responder mais.
, sendo bem sincera, eu tenho duas opiniões sobre isso.
Ela voltou seu olhar para Siara assim que escutou seu nome. O pequeno movimento de suas sobrancelhas foi o suficiente para a amiga continuar:
— Sinceramente, acho que você deveria apenas se preocupar em fazer um bom trabalho e lidar com a situação da melhor maneira possível, sem ligar para o que o Jay fala ou te trata nos bastidores — de fato, ela não esperava por aquilo. Siara sempre defendera o bom e velho diálogo. — Você já meio que o trata com a mesma moeda, né? Então acho que poderiam ficar quites dessa forma.
Inevitavelmente, sentiu vontade de rir. Não conseguiu evitar o ar saindo de suas narinas de forma veloz, muito menos a pequena curvatura no canto de seus lábios. Aquela conversa não parecia real.
— Para de rir — Siara também curvou os lábios, mas voltou a pose seria muito mais rápido.
— Desculpa.
— Eu falo sério. Você não deveria se importar com essas picuinhas do Jay, seria bem mais fácil. E outra, eu até mesmo acho que ele pararia com esse negócio — ela revirou os olhos. — Mas, ao mesmo tempo, eu sei que você se importa, e muito.
Os ombros de caíram. Não que ela estivesse tentando manter uma pose confiante, muito longe disso. Mas o suspiro pesado foi tão automático que a garota se sentiu sem qualquer armadura.
Já tinha virado algo natural fingir não se importar com toda aquela situação, mas, em alguns momentos, se perguntava o porquê tudo aquilo estava acontecendo. Por que com ela? O que ela tinha feito?
cruzou os braços. A conversa mais tranquila que ela tivera com Jay tinha sido há pouco mais de 24h e foi repleta de farpas e provocações desnecessárias, que havia resultado em um contrato de normas de namoro e em uma competição idiota para ver quem se apaixonava primeiro.
A única coisa civilizada ali foi eles não terem atirado a cadeira um no outro.
— Não sei se quero ir atrás disso.
— Pensa com carinho — Siara deu um selar na testa da mais nova. — Agora vai logo que a Jose já deve estar te esperando.
Com um sorriso mínimo em agradecimento, se levantou e saiu do apartamento em uma velocidade impressionante. Ela refletiu por alguns segundos se entraria naquele tópico com Jay, mas logo afastou aqueles pensamentos.
E o mais importante: lembrar que não somos amigos. Apenas estamos levantando bandeira branca. Não vamos trocar segredos, ter conversas profundas ou coisas desse tipo, vamos apenas… nos suportar.
Ela mesma havia determinado que não existiriam diálogos reflexivos entre eles.
Bufou. Precisaria aprender a lidar com o mau humor e ódio gratuito de Jay mesmo.


⁸: ano de estreia/debut;
⁹: expressão para veterano;



continua >



Nota da autora: É isso! Eu amo esse contrato deles DEMAIS!!!!
Espero que você tenha amado esse capítulo tanto quanto eu. Para saber mais do meu mundinho de fics, me siga no insta!
~xoxo

HEY HEY! DEIXE SEU COMETÁRIO ICÔNICO BEM AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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