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Última atualização: 16/04/2024

Capítulo 1

estava sentada à janela, o sol se pondo, enquanto adiava o máximo possível o inevitável: arrumar suas coisas. Os dias de verão estavam se aproximando do fim e, com eles, as férias também, o que significava que devia arrumar o seu malão o mais rápido possível para voltar à escola. Não é que não gostasse de lá, mas não podia negar o quão trabalhoso era fazer isso.
Além disso, naquele ano estava acontecendo, na Grã-Betanha, a Copa Mundial de Quadribol e todos os seus amigos bruxos estavam lá. Por ser nascida trouxa, seus pais não se importaram de a levar e não confiaram nos pais de seus amigos. Embora eles aceitassem a filha, não significava que eles eram muito favoráveis a essa história de magia. Ainda tinham a esperança de que ela se decidisse por uma carreira trouxa quando terminasse a escola, como uma engenharia da vida ou medicina. Mas eles não compreendiam que, para isso, ela teria que abdicar de uma parte de si. E, por isso, apesar de evitar discutir com eles, a perspectiva da vida que eles tinham para estava bem longe do que ela queria. A carta em cima da bancada era mais uma comprovação disso.

RESULTADOS NOS NÍVEIS ORDINÁRIOS DE MAGIA

Notas de aprovação:
Ótimo (O)
Excede Expectativas (E)
Aceitável (A)

Notas de reprovação:
Péssimo (P)
Deplorável (D)
Trasgo (T)

RESULTADOS OBTIDOS POR

Estudo dos Trouxas - O
Aritmancia - E
Astronomia - A
Defesa Contra as Artes das Trevas - O
Feitiços - O
Herbologia - E
História da Magia - A
Poções - O
Transfiguração - O
Trato das Criaturas Mágicas - E

A espera dos seus N.O.M.s tornara cada chegada de uma coruja uma tortura e, pior ainda, não poder demonstrar tanto interesse em frente a seus pais, já que aquilo era importante para seu futuro no mundo bruxo. Mas abrir aquela carta valera completamente a pena. Não esperava resultados impecáveis e, com isso, tinha um motivo para desistir de História da Magia e Astronomia, que sempre a deixavam entediada.
Respirou fundo, sabendo que não podia mais adiar. Faltava uma semana para as aulas e ela tinha que arrumar o malão para deixá-lo pronto para receber apenas os novos livros que compraria na próxima semana no Beco Diagonal. Ah, e seu traje a rigor que, estranhamente, estava na sua lista de materiais.
Naquele momento, sua coruja Estrela entrou, trazendo o Profeta Diário, o jornal dos bruxos, e mais algumas cartas.
— Estava com saudades já. Fez boa viagem? — falou, enquanto ela pousava ao seu lado, bicando carinhosamente o seu dedo enquanto lhe dava biscoitos.
Estava receosa de ler o jornal e ver várias notícias da Copa, então foi acender a luz para ler as cartas dos amigos:

, você não vai acreditar! Os lugares secretos que mamãe conseguiu eram ao lado do camarote!
Mas fique tranquila que nós ainda iremos juntas para uma Copa Mundial de Quadribol – nem que seja do outro lado do planeta!
Papai me deu um dinheiro para a viagem e pretendo comprar um presente para você.
Espero que os búlgaros ganhem com aquele lindo Vítor Krum! Quem diria que eu vou estar no mesmo ambiente que ele...
Mal posso esperar para te encontrar logo! Mas já te aviso: não passei mesmo no N.O.M.s de Transfiguração. Pelo menos eu vou largar Adivinhação e espero que você largue alguma coisa para termos um tempo livre juntas.
Até dia primeiro!


era a melhor amiga de desde o momento que elas foram colocadas na mesma casa e começaram a compartilhar o dormitório. Foi que, sem praticamente conhecer , a visitou na enfermaria depois de poucos dias de aula, quando ela desmaiara na aula de voo. Depois disso, viraram melhores amigas.
Mesmo falando da Copa, sempre conseguia animá-la. Então, assim, passou para a segunda carta:

Querida ,
Espero que suas férias de verão estejam sendo esplêndidas!
Hoje eu fui ao Beco Diagonal (eu sei que ainda falta uma semana...) e comprei tudo. Estou tão animada! Mesmo não tendo tirado um Ótimo no N.O.M. de Poções — e eu sei que o Snape não vai permitir que eu continue na turma... —, pelo menos passei em todos os outros, embora esteja pensando se vou continuar com Transfiguração. Falo isso sem preocupações para você porque tenho certeza de que foi ainda melhor que eu.
Esses dias, eu passei em uma loja trouxa e vi o que vocês chamam de “tevevisão” (escrevi certo?) e estava passando umas imagens engraçadas e coloridas. Os trouxas são tão interessantes! Vocês, por acaso, têm uma dessas em casa?
Estou ansiosa para te encontrar na estação. Falta tão pouco!
Beijos,
P.S.: Rob te mandou oi!

Apesar de sempre ter sido da Grifinória e elas dividirem o dormitório, as duas nunca se falaram muito até o ano anterior, quando se sentou com ela e em uma aula de feitiços. Diferente de , que era pura energia e espontaneidade, era um pouco mais tímida, formando quase dois opostos, mas elas se davam muito bem. Robert era o irmão de , um ano mais novo e que estava na Corvinal, e, de vez em quando, saía com elas por insistência da irmã.
tivera o tato de não comentar sobre a Copa Mundial, apesar de provavelmente estar igualmente animada com o evento. E assim, sem poder mais evitar, pegou o Profeta, derrubando-o instantaneamente.
Não era possível.
Muito diferente da capa com o resultado da partida final, como ela esperava, uma grande caveira com uma serpente projetada no céu estava nas manchetes. O título da reportagem não ajudava a acalmar: CENAS DE TERROR NA COPA MUNDIAL DE QUADRIBOL. Apesar de ser nascida trouxa, sabia muito bem o que aquilo significava. Arrepios subiram por seus braços.
Aquela era a marca de Você-Sabe-Quem. A Marca Negra.
E se seus amigos estivessem feridos? Ou... pior?
Ela leu rapidamente as páginas, até encontrar que não houveram mortos, apenas alguns trouxas assustados. Seu coração começou a voltar ao ritmo normal.
Os gritos de seus pais no andar de baixo a despertaram daquele horror.
— Hugo, você sabe que as aulas começam semana que vem! Não podemos mais evitar, temos que levá-la àquele lugar horrível! — Era a voz estridente da mãe, mais uma vez, brigando com o pai. Sabia que estavam discutindo sua ida ao Beco Diagonal.
Não ia deixar mais nenhuma coruja, carta, preguiça e, até mesmo, notícias chocantes, de impedi-la de arrumar suas coisas. Era melhor que seus pais não tivessem uma desculpa para mantê-la afastada de Hogwarts.

⭐⭐⭐

A caminho da estação King’s' Cross, encostara a cabeça na janela do carro enquanto refletia sobre a última semana.
Hugo, seu pai, estava a levando para a estação, de modo que Janice, sua mãe, a tinha levado ao Beco Diagonal. Seu lado mágico parecia ser um fardo tão grande, que eles precisavam dividir as obrigações.
Apesar de a sua visita ter sido apressada, como sempre, por sua mãe, ficou apreciando ao máximo que podia tudo ao redor. Aproveitou também para tentar sondar informações sobre as preocupações gerais, mas ouviu apenas comentários como:
— Esses repórteres estão ficando cada dia mais criativos!
— Foi uma pegadinha ridícula! Só para apavorar os torcedores.
— Não sei como o Ministério não capturou ninguém, será que tem dedo do ministro nisso?
Cada comentário era mais fantasioso que o outro, mas de uma coisa ela tinha certeza: ninguém estava levando isso a sério.
Embora estivesse muito preocupada com todos os seus amigos que estiveram na Copa, não pôde negar que tivera esperança de a Marca Negra abafar um pouco os gloriosos tempos de jogo. Talvez um pouco egoísta da sua parte, mas não podia negar a inveja de todos que tinham frequentado o evento, especialmente agora que sabia que o perigo não parecia ter sido real.
Comprando seu vestido para cumprir a categoria de vestes a rigor, só pôde ouvir pais e alunos comentando:
— Mas que grande jogada do Krum!
— Não acredito que a Bulgária perdeu por tão pouco!
— Perdi 10 galeões para aquele Bagman. Apostei que o jogo duraria uma semana! Ah, aquele apanhador Búlgaro não deixa para ninguém!
— Não tinha dúvidas que a Irlanda ganharia, foi pa! da goles e pum!, balaço para longe e ah! Era um golaço!
Alguns comentários a faziam rir e até era bom para ficar por dentro do assunto quando encontrasse seus amigos. Mas, ah, tudo parecia um enorme lembrete do evento que não pudera ir!
Seu pai puxou o freio de mão e Estrela começou a piar, de modo que acordou de seu devaneio. Ajeitaram suas coisas em um carrinho e foram em direção às plataformas 9 e 10. Ali, de vez em quando, sem nenhum trouxa passar, um bruxo atravessava para a plataforma 9 ¾, onde esperava o expresso para Hogwarts.
Quanto mais perto chegavam da barreira, mais nervoso seu pai ficava. sabia o quão nervoso ele ficava com magia e, por isso, viu o alívio palpável quando ela avistou .
!
!
As duas amigas foram se abraçar, quase derrubando os carrinhos e fazendo uma grande confusão. Antes mesmo que terminassem de se cumprimentar, Hugo falou:
— Bom dia, Sr. e Sra. . Olá, . Olha a hora. Melhor vocês irem andando e eu também. O trânsito vai ficar muito ruim. Você fica bem com eles, certo, filha?
O pai estava quase suplicando e nem deixou responder para sumir em um piscar de olhos.
— Oi, Sr. . Como vai, Sra. ? — cumprimentou . Ela adorava o pouco que conhecia dos pais de e sonhava que, ao se tornar maior de idade no mundo trouxa (um ano depois do mundo bruxo), ela ganhasse maior liberdade para visitar a amiga e seus pais.
— Olá, ! — disse a Sra. . — Vamos, apenas 15 minutos para o trem partir e temos muitos malões para deslocar.
Para não chamar atenção dos trouxas, e foram à frente e atravessaram a barreira. O casal apareceu logo depois. e foram achar uma cabine para colocar seus malões, achando uma mais para o início, mas também não tanto à frente.
— Ficar à frente é coisa de alucinado — sempre dizia.
Depois, elas voltaram para se despedir. Os pais de sempre trataram como outra filha, mesmo eles se encontrando poucas vezes. A melhor delas fora quando passou o Natal com eles no terceiro ano. Esse ano, ia passar o Natal em casa, como todos os outros, à exceção desse, foram.
Estavam já voltando para o trem, quando ouviram alguém chamar:
, , esperem!
Elas olharam para trás e lá estava , chegando toda elegante com sua coruja e seu malão. Ao seu lado, estava um garoto alto que demorou muito para perceber que era Robert. Puxa, como ele mudara!
Os quatro se cumprimentaram, todos vestidos de trouxas.
— Ei, adivinhem! — Rob comentou, animado. — Virei monitor!
— Papai e mamãe ficaram muito orgulhosos — falou, embora uma pontada de ressentimento passasse por seus olhos.
— Parabéns, Rob! Sabe, você daria uma excelente monitora também, tentou falar, delicadamente. Era difícil dizer isso quando ela mesma era monitora.
ficou constrangida ao perceber o quanto estava sendo transparente.
— Claro que não — ela rapidamente colocou. — Eu não teria coragem para brigar com os alunos.
— Quem olha para a carinha de anjo da também acha que não, mas pobres os alunos que respiram perto dela naqueles dias — provocou, fazendo a olhar furiosa.
Ajudaram a colocar suas coisas dentro da cabine, agora Estrela na companhia de Relâmpago, o gato agitado e cinzento de , e Manhoso, a coruja gentil e malhada de . Ouviram o apito do trem e se despediram de Robert, que ia receber as instruções de monitor, e , que tinha que instruir os monitores mais novos e depois patrulhar os corredores por um tempo.
, uma outra amiga das meninas, chegou e cumprimentou todos, perguntando se podia ficar naquele compartimento. Apesar de não serem tão próximas, e gostavam dela, de modo que a porta fechou com as três conversando.
Ela e Robert seguiram pelo corredor, passando pela família Weasley, em que o filho mais novo, Ronald, se ela não se enganara, gritava:
— Mamãe! O que é que vocês três sabem que nós não sabemos?
Passaram rápido por ali e chegaram ao carro dos monitores, que era maior que o normal para poder receber todos.
— Ah, Sr. , Srta. , vocês chegaram! — o monitor da Lufa-Lufa do mesmo ano que ela, Cedrico Diggory, os cumprimentou. Ele era o exemplo de bom aluno, bom monitor, bom amigo, bom tudo. Às vezes, dava até nervoso o quão perfeito ele era, mas, nesses momentos, abstraía o resto e observava um pouco sua beleza. Não que fosse tããão frequente. Mas fazer o quê, se o garoto realmente era bom em tudo, até na aparência?
Levaram quase uma hora para todas as funções dos monitores serem apresentadas aos mais novos, relembrada aos mais antigos, somado à apresentação dos monitores chefes de cada casa, além de terem relembrado algumas das regras mais importantes. Depois de todo esse discurso, eles finalmente foram liberados. começou patrulhando com Joanne Miller, a nova monitora do quinto ano da Grifinória e, depois, inverteria com Kyle, o monitor do seu ano e seu amigo, e Jonathan, o novato.
A nova monitora era uma menina tímida, mas determinada, sempre atenta, o que fez com que tivesse que segurar a risada várias vezes, como quando Joanne espiava dentro de uma cabine e logo depois voltava a conferir, como se tivesse pegando os colegas de surpresa. Depois de um tempo que elas consideraram suficientemente bom, elas trocaram com os meninos, se despediram e cada uma foi para sua cabine.
se acomodou do lado de e de frente para e , que comiam sapos de chocolate. Droga, ela tinha perdido o carrinho de guloseimas.
Sabendo o que estava pensando, lhe ofereceu um dos seus sapos de chocolate.
— Dividimos uns extras para você — ela disse, como se não fosse nada.
Ela sorriu, agradecida, para as meninas e começou a comer, agradecida pelo doce na boca. Conferiu a figurinha e viu que tirou Salazar Slytherin.
— Alguém ainda não tem? Eu tenho 3 desse.
— Ah, acho que é o último fundador das casas que falta para Rob! — falou e a amiga lhe entregou a figurinha. — Inclusive, quem são os monitores chefes desse ano, ?
— Ah, os esperados — ela falou meio embolado, ainda mastigando. Engoliu o chocolate e continuou. — Reed da Grifinória, Devens da Lufa-Lufa, Boot da Corvinal e Plínio da Sonserina.
— Que papo chato, . AH, , OS SEUS PRESENTES! — se lembrou, saltando da cadeira, imediatamente, para alcançar o malão, assustando o gato de , Froz, que pulou na cara de .
— Ah, me desculpa! — disse, tentando tirar o gato, que só fixou as garras na cara de sua vítima. Quando finalmente Froz foi retirado, uma descabelada, arranhada e assustada estava, agora, no assento.
— Me desculpa — choramingou de novo, mas, agora, pegando a varinha e murmurando alguns feitiços de cura que, apesar de não estarem no nível de Madame Pomfrey, foram muito bons.
— Uau, , seus feitiços estão melhorando muito! — elogiou a colega.
— Ah, só os de cura. Estou pensando em ser uma Curandeira do st. Mungus um dia, então andei treinando. Mas muito obrigada — , que estava ainda mais envergonhada agora, afirmou timidamente.
— Enfim, aqui estão! — disse, colocando alguns objetos em suas mãos.
analisou a miniatura de um jogador de vermelho que voava na sua mini vassoura.
— Ah, esse é o Vítor Krum! – comentou, parecendo perder a timidez. — Me arrependi tanto de não comprar a miniatura dele! Ah, o jeito que ele capturou aquele pomo.
— Ele fez uma Finta de Wronski e tudo. Ah, ele é sinistro em campo! Tinha acabado de levar um balaço, estava na desvantagem e, mesmo assim, capturou o pomo. Bom, eles perderam, mas que captura!
começou a pular nos bancos e tentava imitar as manobras enquanto elas se desviavam de todos os braços e pernas que vinham sem aviso em suas direções. nem teve tempo de sentir inveja de não ter visto ao vivo, só medo de ser atingida.
— Poxa, nem contei para vocês! — disse, se sentando, subitamente séria.
— O quê? — disse, sem poder conter o interesse.
— Decidi tentar me inscrever no time de quadribol novamente!
, isso é ótimo! — falou, realmente feliz pela amiga.
Quando estava no segundo ano, fez o teste para artilheira e rapidamente entrou no time, pois era realmente muito boa, mas, no dia da final, ela ficou tão chateada que perdeu, que bateu com a vassoura na cara de um lufano que estava provocando. Madame Hooch deu falta e tirou 20 pontos da Grifinória, mandando aprender a controlar seu comportamento, senão seria proibida de jogar. Mas a menina, no entanto, respondeu:
— Não precisam me proibir de nada, eu saio por conta própria, seus panacas! — E saiu mostrando o dedo feio, o que lhe gerou uma semana de detenção.
No ano seguinte, ela foi substituída por Katie Bell, uma menina um ano mais nova, e jurou que não voltaria para o time e que eles iriam muito mal sem ela. Bom, isso realmente estava acontecendo, até que, finalmente, no ano passado, a Grifinória ganhou e, ao que parecia, isso fizera baixar a bola.
— Eu pensei melhor e eu era imatura — continuou. — Assistir a Copa Mundial me fez perceber que eu não quero desistir do Quadribol e que me controlar para jogar até que vai valer a pena.
As meninas brindaram com suco de abóbora na cabine pela volta de e conversaram sobre todas as possibilidades de vitória da Grifinória, que agora estava sem Olívio Wood, o goleiro.
— Quem sabe a artilheira que sair vai para o gol — disse, presunçosa.
— Isso é horrível de se dizer! — disse, embora torcesse para a amiga jogar como queria.
— É apenas inevitável — replicou, dando de ombros.
— Só tente não dizer coisas “inevitáveis" perto de Angelina e Alicia — falou, se referindo às outras duas sextanistas. — Não as quer te evitando de novo, certo?
Quando saiu do time, as duas meninas, também artilheiras novas, ficaram um mês sem falar com ela, o que foi bem desconfortável, já que dividiam o mesmo dormitório.
Naquele momento, a escuridão começou a adentrar na cabine.
— Puxa vida, já estamos chegando! Vamos trocar de roupa logo, eu tenho que ajudar os alunos novos a desembarcarem do trem!
— Ai, , desde o ano passado perdemos você para os pirralhos! — falou, dramática.
— Ei, meu irmão está entre eles! — protestou, rindo.
— Então você concorda que são pirralhos — colocou.
— Em nome do meu irmão, eu diria pestes — ela falou, maliciosa, fazendo todas rirem, até , que protegia a tudo e a todos.
— Bom, eu vou lá com as minhas pestes.
saiu com suas coisas pelo corredor, onde algumas poucas pessoas já se espreitavam para fora, também ansiosas.
“Caramba, como é bom estar de volta!”, ela pensou.

Capítulo 2

Quando o trem finalmente parou, uma enorme tempestade caía em todos ali. conduziu os alunos de primeiro ano junto com os outros monitores até o professor Hagrid, o que não foi difícil, visto que ele era duas vezes maior do que qualquer um ali presente – e não só de altura.
— Boa noite, prof. Hagrid! — ela gritou por cima das trovoadas.
— Ah, , boa noite! — ele gritou de volta, apressando os alunos novos, encharcados, para dentro dos barcos.
Ao ver que eles já estavam instalados, correu para pegar uma das carruagens sem cavalos, pisando em várias poças no caminho, já sem se preocupar em não se molhar, pois sabia que até suas roupas íntimas já estavam encharcadas com a tempestade. Esperava pegar uma carruagem sozinha, mas encontrou as meninas esperando por ela, segurando Estrela, que tremia de frio.
— Malucas, o que estão fazendo aqui?! — Apesar de tentar soar irritada, se sentia extremamente grata. Viu outra carruagem atrás sendo formada por Joanne, Jonathan e Kyle.
Elas seguiram pelo caminho escuro até o castelo. Se já não estava enxergando nada, ela imaginava o que estava passando, pois além de encharcada, ela usava óculos.
Quando a carruagem parou, elas subiram correndo os degraus de pedra para poderem entrar no castelo, sofrendo empurrões e dando alguns também.
Acharam que tudo estava finalmente tranquilo, porém, naquele momento, viram apenas um grande borrão vermelho e um grito:
— ARRE!
Todos olharam para cima e lá estava Pirraça, o poltergeist, lançando balões de água nos alunos pingando e tremendo de frio. A grande massa começou a se debater para tentar sair de sua mira e , sabendo que, talvez, aquele fosse seu momento para se provar uma monitora digna, manter a compostura e instaurar a ordem, somente conseguia pensar em fugir desesperadamente do ataque.
— PIRRAÇA! — Ela ouviu uma voz autoritária berrar. — Pirraça, desça já daí, AGORA!
se arrepiou ao ouvir a bronca da Professora McGonagall, mesmo não sendo para ela, e a viu saindo para a escadaria principal, onde eles estavam, no entanto, ela escorregou no caminho e agarrou uma aluna para evitar cair.
— Ai... desculpe, Srta. Granger...
— Tudo bem, professora!
— Pirraça, desça aqui AGORA!
— Não estou fazendo nada! — o poltergeist disse, gargalhando, e jogando mais uma bomba d’água, agora em um grupo de garotas do quinto ano que saíram correndo e gritando. — Já molharam as calças, foi? Que inconvenientes! Ihhhhhhh! — E mais um borrão vermelho caiu em um pobre grupo de alunos do segundo ano que acabara de chegar.
— Vou chamar o diretor! — a Professora continuou, firme. — Estou lhe avisando, Pirraça...
Pirraça, então, finalmente se retirou, mas claro que não sem antes jogar a última bomba d’água para o alto que caiu, com um baque frio, nas costas de , que não conseguiu fugir a tempo.
— Ai... — Fora tudo que ela tivera forças para murmurar, simplesmente derrotada. Por enquanto, estava frio demais para sentir a pancada, mas sabia que ia doer no dia seguinte.
— Bom, vamos andando, então! — disse a professora, autoritária, para os alunos. — Para o Salão Principal!
O Salão estava tão quente, em contraste com a tempestade gelada, que parecia ainda mais mágico aquela noite. As taças de ouro espalhadas pelas longas mesas brilhavam sob as velas penduradas no teto. O céu encantado nunca deixava de tirar o fôlego de : e não só porque era nascida trouxa. Diversos alunos, mesmo puro sangue, nunca haviam visto uma magia como essa em qualquer outro lugar.
As quatro garotas se sentaram em uma das mesas que ficavam nos cantos: a mesa da Grifinória. Se ajeitaram perto dos outros 6 alunos do sexto ano: Kyle Ackerley, o monitor, Lino Jordan, que era locutor dos jogos de quadribol da escola, Jorge e Fred Weasley, os gêmeos ruivos que estavam sempre aprontando, Tyler Madley, o melhor amigo de Kyle, Angelina Johnson, artilheira do time de quadribol, e Alicia Spinnet, sua melhor amiga e também artilheira da Grifinória.
— Puxa vida, ainda temos que esperar a musiquinha do Chapéu Seletor e a seleção de todas as crianças! — murmurou.
— Ah, mas é tão bonitinho! — acrescentou.
— É, mas ser bonitinho não vai matar a minha fome! — disse, ao mesmo tempo em que seu estômago roncava alto.
não teve nem forças para concordar, parecendo quase uma inferi naquele momento, devido a sua imobilidade e falta de reação, frutos de sua fome.
— Ah, eu já não aguento mais! — disse enquanto, ao seu lado, batucava na barriga como se ela fosse um tambor.
A frase acabara de ser dita e as grandes portas do Salão Principal se abriram, silenciando as quatro mesas imediatamente. A Professora McGonagall entrou, seguida de uma fila de alunos que pareciam ter acabado de tomar banho vestidos. A cena ficava ainda mais estranha com a adição de um dos menores alunos que estava quase invisível sob o casaco de Hagrid. Ele olhou para alguém da mesa da Grifinória e ergueu os polegares.
— Caí no lago! — ele exclamou, tão animado, que parecia estar contando sobre seus presentes de Natal.
— Estão vendo o menino loiro de óculos? É meu irmão! — falou.
O tradicional banquinho de três pernas era colocado em frente a todos e, sobre ele, um chapéu tão velho e esfarrapado, que era difícil de acreditar que era tão mágico. Todos observaram quando um rasgo apareceu como uma boca e o Chapéu Seletor começou a cantar.
Foi uma ótima canção sobre a fundação da escola, das casas, os fundadores e de sua própria criação. Quando ele terminou, diversos aplausos inundaram o salão principal, embora suspeitasse que nem metade tivesse escutado, ainda molhados e com fome.
Os aplausos cessaram e a Professora McGonagall desenrolou um longo pergaminho.
— Quando eu chamar o seu nome — ela começou, se dirigindo aos novos alunos —, ponha o chapéu e se sente no banquinho. Quando o chapéu anunciar sua casa, vá se sentar à mesa correspondente — e leu o primeiro nome. — Ackerley, Stuart!
— É meu primo! — Kyle falou, carinhoso, para ninguém em especial.
— Corvinal! — o chapéu anunciou.
— Tudo bem, ficou com a segunda casa mais legal — o monitor disse.
concordou mentalmente com ele. Ela e Kyle se davam muito bem por concordarem em muita coisa. A cerimônia seguiu normal como sempre: dava pena dos alunos nervosos e eles também eram tão fofinhos! Mas ela parecia particularmente demorada quando se estava morrendo de fome e encharcada.
O único momento em que elas prestaram atenção foi na seleção do irmãozinho de , que acabou na Grifinória, radiante com a escolha.
Finalmente, “Whitby, Kevin!” foi selecionado para Lufa-Lufa e a seleção se encerrou.
O diretor Dumbledore, então, se levantou e os olhares famintos e ansiosos o acompanharam.
— Só tenho duas palavras para lhes dizer. — A sua voz ecoando pelo Salão. — Bom apetite!
As travessas se encheram magicamente em frente a todos, fazendo pegar uma grande colherada de purê de batata e se atirar ferozmente sobre o frango. Até , toda educada, estava com os olhos ávidos enchendo um prato do tamanho de sua cabeça.
— Ah, eu amo o jantar, simplesmente amo! — falava, ainda mastigando e lambendo partículas de comida que escapavam de sua boca para seu queixo.
— Nada no mundo deve ser melhor do que comer — concordava, sentindo cada sabor perfeito descer por sua garganta.
— Com toda certeza! — exclamou, antes de colocar mais um bolinho de carne na boca.
A boca de só abria para colocar mais comida para dentro, então ela só sacudiu a cabeça em concordância.
Depois de vários pratos, as travessas se esvaziaram e tornaram a se encher de doces.
— Isso está ficando cada vez melhor! — disse, um pouco tonta de tanto comer.
— Ah, torta de caramelo! — exclamou. — Bolo de chocolate recheado! Qual comer primeiro?
— Por que não os dois? — exclamou, antes de colocar um de cada, inteiros, na boca.
— Isso sim que é magia! — comentou com , assombrada.
Quando as travessas de doces novamente foram devoradas, Dumbledore se levantou para falar, cessando todas as conversas.
— Então! — ele exclamou, sorrindo convidativo para todos. — Agora que já comemos e molhamos também a garganta, preciso, mais uma vez, pedir sua atenção para alguns avisos. O Sr. Filch, o zelador, me pediu para avisá-los que a lista de objetos proibidos no interior do castelo esse ano cresceu, passando a incluir Ioiôs-berrantes, Frisbees-dentados e Bumerangues-de-repetição. A lista inteira tem uns quatrocentos e trinta e sete itens, creio eu, e pode ser examinada na sala do sr. Filch, se alguém quiser lê-la.
— Quatrocentos e trinta e sete possíveis presentes de natal — Fred Weasley comentou para seu irmão Jorge e Lino Jordan, que agora riam baixinho.
— Silêncio! — sussurrou, cumprindo seu trabalho de monitora, recebendo olhares zombeteiros dos três e corando ligeiramente por ser motivo de piada. Tinha uma implicância e trauma antigo com os gêmeos, um que sempre a deixava nervosa quando era tratada assim por eles.
— Como sempre — Dumbledore continuou —, gostaria de lembrar a todos que a floresta que faz parte de nossa propriedade é proibida a todos os alunos e o povoado de Hogsmeade, àqueles que não chegaram a terceira série. Tenho ainda o doloroso dever de informar que este ano não realizaremos a Copa de Quadribol entre as casas.
— O QUÊ?! — gritou, se levantando com um pulo. Se sentou depois, nada constrangida, apenas irritada. Por sorte, muitos estavam tão chocados quanto para reparar em sua cena.
— Como o velhote ousa?! — Jorge Weasley sussurrou entredentes.
— Não pode fazer isso, simplesmente não pode! — Angelina Johnson exclamou.
— Quadribol é a única coisa respeitável nessa escola além da cozinha! — Fred Weasley esbravejou.
— É assassinato do espírito esportivo! — Alicia Spinnet completou, revoltada.
Silêncio... — tentou repreender, mas o seu choque fez sua voz sumir. Ano passado, dementadores estavam na escola e os jogos não pararam. O que faria o quadribol parar?
Dumbledore continuou:
— Isso se deve a um evento que começará em outubro e irá prosseguir durante todo o ano letivo, mobilizando muita energia e muito tempo dos professores, mas eu tenho certeza que vocês irão apreciá-lo imensamente. Tenho o prazer de anunciar que este ano em Hogwarts...
Mas o diretor fora interrompido por uma trovoada ensurdecedora, seguida pela abertura brusca das portas do salão
Um homem de capa preta e coberto de cicatrizes atravessou o salão, parando ao lado de Dumbledore, estendendo a mão para ele, que a apertou. Ele, então, se sentou e percebeu que um de seus olhos era pequeno e normal. Já o outro, era grande, completamente redondo, não piscava e se revirava para todos os lados, até dentro da cabeça, em dissincronia com o olho normal. O delicioso jantar se revirou no estômago da menina.
— Gostaria de apresentar o nosso novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas — Dumbledore continuou. — Professor Moody.
Todos estavam muito chocados para aplaudirem o estranho e suposto professor.
Olho-Tonto Moody? O auror? — indagou, completamente em choque.
— Como eu ia dizendo — Dumbledore continuou —, teremos a honra de sediar um evento muito excitante nos próximos meses, um evento que não é realizado há um século. Tenho o enorme prazer de informar que, este ano, realizaremos um Torneio Tribruxo em Hogwarts.
— O senhor está BRINCANDO! — exclamou Fred Weasley em voz alta.
O choque da chegada de Moody se desfez imediatamente em uma grande gargalhada geral. ria tanto a ponto de roncar. chegou a derrubar um talher que ainda estava na mesa. estava com as bochechas doendo de rir.
Não estou brincando, sr. Weasley — Dumbledore continuou, ainda com traços de sua própria risadinha —, embora, agora que o senhor menciona, tenha ouvido uma excelente piada durante o verão sobre um trasgo, uma bruxa má e um leprechaun que entram em um bar...
A Professora Minerva pigarreou alto.
— Hum... mas talvez não seja a hora... não... Onde é mesmo que eu estava? Ah, sim, no Torneio Tribruxo... bom, alguns de vocês talvez não saibam o que é esse torneio, de modo que espero que aqueles que saibam me perdoem por dar uma breve explicação e deixem sua atenção vagar livremente. O Torneio Tribruxo foi criado há uns setecentos anos, como uma competição amistosa entre as três maiores escolas europeias de bruxaria — Hogwarts, Beauxbatons e Durmstrang. Um campeão foi eleito para representar cada escola e os três campeões competiram em três tarefas mágicas. As escolas se revezaram para sediar o torneio a cada cinco anos e todos concordaram que era uma excelente maneira de estabelecer laços entre os jovens bruxos e bruxas de diferentes nacionalidades — até que a taxa de mortalidade se tornou tão alta que o torneio foi interrompido.
se sobressaltou com o choque. Eles iriam fazer um jogo com alta taxa de mortalidade? parecia igualmente mortificada. Já , estava tão excitada que pouco se importava com aquilo.
— Durante séculos, houve várias tentativas de reiniciar o torneio — continuou Dumbledore —, nenhuma das quais foi bem-sucedida. No entanto, os nossos Departamentos de Cooperação Internacional em Magia e de Jogos e Esportes Mágicos decidiram que já era hora de fazer uma nova tentativa. Trabalhamos muito durante o verão para garantir que, desta vez, nenhum campeão seja exposto a um perigo mortal. Os diretores de Beauxbatons e Durmstrang chegarão com a lista final de competidores de suas escolas em outubro e a seleção dos três campeões será realizada no Dia das Bruxas. Um julgamento imparcial decidirá que alunos terão mérito para disputar a Taça Tribruxo, a glória de sua escola e o prêmio individual de mil galeões.
— Estou nessa! — Fred Weasley falou, tão entusiasmado, que seu rosto brilhava. E não só o dele. parecia estar segurando um troféu imaginário. Muitos e muitos alunos ali estavam entusiasmados com a ideia. Quem queria enganar? Ela mesma estava se vendo com 1000 galeões e sendo aplaudida pela escola inteira, uma bruxa excepcional que teria vencido todos os desafios e enigmas com sua capacidade incrível...
— Ansiosos como eu sei que estão para ganhar a Taça para Hogwarts — o diretor continuou —, os diretores das escolas participantes, bem como o Ministério da Magia, concordaram em impor este ano uma restrição à idade dos competidores. Somente os alunos que forem maiores, isto é, tiverem mais de dezessete anos, terão permissão de apresentar seus nomes à seleção...
— O QUÊ?! — Exclamaram uns 30 alunos de uma vez. Diversas contestações seguiram pelo Salão.
— ISSO É RIDÍCULO! — gritou para todos.
— UM ABSURDO! — Lino Jordan fez coro.
— REGRA IMBECIL! — Jorge Weasley colocou em concordância.
— VÃO SE FERRAR! — Fred Weasley se sobressaltou.
ia reclamar que era injusto, mas então se lembrou das taxas de mortalidade. É, parecia uma regra justa.
— Isto — Dumbledore continuou, erguendo a voz para tentar calar as indignações — é uma medida que julgamos necessária, pois as tarefas do torneio continuarão a ser difíceis e perigosas, por mais precauções que tomemos, e é muito pouco provável que os alunos abaixo da sexta e sétima série sejam capazes de dar conta delas.
— Nós estamos na sexta série — Fred replicou baixo e furiosamente.
O diretor continuou.
— Cuidarei pessoalmente para que nenhum aluno menor de idade engane o nosso juiz imparcial e seja escolhido campeão de Hogwarts. — Seus olhos azuis penetrantes fixaram os gêmeos Weasley um pouco mais do que o necessário, para frisar o comentário. — Portanto, peço que não percam tempo apresentando suas candidaturas, se ainda não tiverem completado dezessete anos.
— Ele fala e todos vão tomar como um desafio — contestou. — E tenho certeza de que vai ficar rindo das tentativas.
— Pois ele que ria quando eu me inscrever — Jorge Weasley falou e o irmão fez coro.
— As delegações de Beauxbatons e de Durmstrang chegarão em outubro e permanecerão conosco a maior parte deste ano letivo — Dumbledore retomou a palavra. — Sei que estenderão suas boas maneiras aos nossos visitantes estrangeiros enquanto estiverem conosco e que darão o seu generoso apoio ao campeão de Hogwarts quando ele for escolhido. E agora já está ficando tarde e sei como é importante estarem acordados e descansados para começarem as aulas amanhã de manhã. Hora de dormir! Vamos andando!
As conversas e os sons de cadeiras se arrastando preencheram novamente o ambiente com excitação e irritação.
— Não podem fazer isso com a gente! — ouviu Jorge Weasley exclamar, emburrado, ainda parado olhando pra Dumbledore enquanto todos os outros estavam se retirando do salão. — Vamos fazer dezessete em abril, por que não podemos tentar?
— Não vão me impedir de me inscrever. — Agora era Fred Weasley quem falava, de cara amarrada e teimoso. — Os campeões vão fazer todo o tipo de coisa que normalmente nunca podemos fazer. E mil galeões de prêmio!
— Fico imaginando como eles iam enfrentar esses desafios, soltando bombas de bosta? — comentou, irônica, para , quando já estavam longe dos outros, e as duas riram.
— Essa era a minha chance! — exclamou, a cara tão emburrada quanto os gêmeos. — Sem quadribol e sem torneio. Acabou meu ano!
— Pelo menos poderemos assistir! Vai ser legal ter tantas coisas diferentes e pessoas diferentes — falou, sempre tão positiva.
de repente parou.
, você vai ser maior de idade em outubro. , você vai poder participar do torneio! E, talvez, se eu te acompanhar, eles nem percebam! Nenhum juiz pode ser 100% imparcial. Você tem que se inscrever!
— Eu?! — guinchou. — , pessoas morreram. Eu não quero participar!
— Mas você pode! — insistiu.
— Mas eu não quero! — o rosto de começou a ficar vermelho de uma forma que nunca vira.
— Bom, sabemos que o pessoal do sétimo ano deve se inscrever — ela comentou rapidamente, tentando desviar o assunto.
— Ia ser legal se Paul Reed fosse o campeão de Hogwarts. Ia ser maneiro esfregar na cara do pessoal da Sonserina que o competidor é da Grifinória — comentou, animando-as um pouco mais.
— Mas seria melhor ainda se fosse eu — estava decididamente emburrada e elas sabiam que isso não iria mudar até o dia seguinte.
— O que vocês fariam com o prêmio? — perguntou.
— Fácil, compraria uma casa nova, como uma mansão — comentou.
— Que brega! — falou, zoando a amiga. — Eu compraria uma vassoura muito rápida, como a Firebolt, ou, quem sabe, gastaria tudo na Zonko's. Ou... JÁ SEI! Usaria para entrar em um time de Quadribol!
— Isso não seria trapaça? — indagou.
— Não comprar a minha entrada! Mas muitos lugares têm taxas para poder se inscrever. E, quanto maior o time, maiores as taxas.
— Isso parece elitista — comentou.
— É elitista. Mas, ao mesmo tempo, até todo o dinheiro do mundo perde para o verdadeiro talento.
— Eu acho que pagaria uma viagem! — disse, animada. — Só não sei para onde... tem a praia, as montanhas, os lagos... e com certeza compraria algumas coisas para mim, como livros novos...
Chegaram em frente à grande pintura da mulher gorda, na Torre da Grifinória.
— Ih, qual a senha? — disse e todas se viraram para .
Asnice.
— Bom — disse , entrando na sala comunal —, eu acho que compraria algum terreno para começar a cuidar de vários animais e também todos os recursos necessários. Seria incrível poder financiar tudo isso e começar a já ganhar experiência. — Seus olhos brilhavam de excitação, pois o seu maior sonho era se tornar uma magizoologista.
— Viu, mais um motivo para você considerar participar do Torneio e... — parou de falar ao ver a expressão dura no rosto de . — Bom, eu vou me deitar.
E correu para o dormitório das meninas.
e riram e revirou os olhos, mas logo todas elas subiram para o dormitório, onde fingia muito mal que estava dormindo. Pouco tempo depois, Alicia e Angelina também chegaram.
Os malões de cada uma estavam aos pés de suas camas correspondentes e, já cansadas, conversaram pouco enquanto colocavam os pijamas e se deitaram para dormir. Em dois minutos, os roncos de se tornaram reais.

Capítulo 3

As quatro meninas desceram para o café da manhã, todas um pouco mais calmas depois de uma boa noite de sono. Claro que, se o assunto fosse tocado, a carranca de voltava, mas, por enquanto, estava tudo bem.
Os gêmeos Weasley e Lino Jordan continuavam discutindo várias maneiras de se tornarem mais velhos, como a Poção para Envelhecer, causando em Alicia e Angelina, que tinham descido mais cedo, acessos de riso, o que fez com que elas tivessem que se sentar em outro extremo da mesa, longe deles, para evitar que entrasse naquela onda.
— Eu só disse que a ideia deles era criativa, ora! — resmungou, colocando uma torrada inteira na boca.
Poucos minutos depois, diversas corujas entraram pelas janelas do salão, trazendo o correio matinal. olhou, procurando Estrela, mesmo sabendo que ela não estaria ali. e também não receberam nada, mas a coruja da família de pousou em sua frente com um grande pacote.
— Droga — ela disse, ainda comendo, fazendo, assim, várias migalhas voarem para o pacote. — Achei que meus pais não encontrariam no esconderijo do terceiro degrau. Preciso inovar.
— O que é isso, ? – indagou.
— Isso? Aquele ridículo traje a rigor. Meus pais me forçaram a comprar, mas eu não queria usar. Tentei esconder e depois daria a desculpa de ter esquecido, mas eles encontraram.
— O que será, afinal, esse evento que exige trajes a rigor? — perguntou, entusiasmada.
— Eu não sei, mas espero que seja opcional — reclamou, com cara de quem não iria, se fosse.
— Será que tem algo a ver com alguma prova do torneio? — especulou.
— Será que vamos viajar? — ofegou com a ideia.
— Não seja boba, eles teriam pedido autorização dos responsáveis, se fosse viagem. Sem contar que não faria sentido recebermos visitantes que viajaram até aqui para, então, viajarmos para longe deles — rebateu.
— Ah, é.
— E se tivermos que usar isso para recebê-los? Pela cara dos professores, eles querem causar impressões impecáveis — comentou.
— Independentemente da situação, isso — apontou para o pacote — vai para o fundo do armário e, quando for seguro, para uma lareira. Tenho certeza que papai colocou algum feitiço de alarme ou proteção prevendo isso. Terei que ser mais esperta.
Logo depois de terminarem o café, todos os demais alunos se retiraram, ficando apenas os do sexto ano de cada casa. Os onze alunos da Grifinória se juntaram quando a professora McGonagall desceu da mesa. A distribuição dos novos horários era um pouco diferente naquele ano. Primeiro, eles iriam escolher todas as matérias. Segundo, tinham que ter obtido nota necessária nos N.O.M.s para seguir nas aulas de nível dos N.I.E.M.s.
Fred e Jorge Weasley foram casos rápidos de se tratar, visto que cada um tinha conseguido três N.O.M.s.
— Três?! — Lino Jordan exclamou. — Vocês são uma vergonha. Desse jeito vão acabar no ministério. Eu só me aprovei em dois N.O.M.s — ele falou, orgulhoso de si mesmo.
— Um N.I.E.M. a mais não vai nos fazer ter menos sucesso na nossa futura loja de Logros! — Jorge falou, desafiando Lino.
— E, também, mamãe nos obrigou a fazer — Fred disse, dando de ombros.
McGonagall ficou extremamente chocada diante daquela conversa. Distribuiu rapidamente os horários para os meninos, de modo que Tyler e Kyle se apressaram para sua aula de Runas naquele horário e Fred, Jorge e Lino saíram para seu tempo livre.
A Professora McGonagall, então, se dirigiu a Angelina e Alicia, que saíram conversando animadas, em seguida, para um tempo livre. Então, se dirigiu para as quatro restantes.
— Srta. , excelentes notas em todas as matérias que escolheu, mas realmente o Professor Snape só aceita alunos que tenham tirado Ótimo em seus N.O.M.s.
— Não custava tentar — respondeu com um sorriso, resignada, pegando seu horário novo e correndo também para as aulas de Runas.
— Srta. , a senhorita conseguiu quatro N.O.M.s que te permitem seguir as suas matérias escolhidas. Está com um foco diferente?
— Não, minha mãe me obrigou — falou com naturalidade. — Quero ser uma Jogadora de Quadribol, mas ela insiste que eu tenha uns N.O.M.s “para depois de velha”.
— Certo — McGonagall disse, entregando seu horário.
— Isso, dois horários livres agora!
— Srta. , excelentes notas, especialmente em Poções e Herbologia, poderá cursar todas as matérias que escolheu — a Professora concluiu, lhe entregando o horário.
— Srta. — ela disse, por fim. — Com toda certeza, aprovada para todas as matérias que escolheu. E, devo dizer, estou muito orgulhosa do seu resultado em Transfiguração. — Um sorriso breve se estendeu por seu rosto. — Você está no caminho certo para ser uma Desfazedora de Feitiços.
— Muito obrigada, Professora! — exclamou, pegando seu novo horário. Ótimo, também tinha dois períodos livres antes da primeira aula do dia. Olhando bem, tinha vários períodos livres. Seu sorriso se estendeu.
A professora se retirou do salão e elas, lentamente, começaram a segui-la.
— Ah! Temos que nos apressar, afinal, temos aula daqui a... — fingiu checar um relógio imaginário — duas horas — e abriu um sorriso preguiçoso.
— Para mim, a folga é só de um tempo — falou, encarando seu horário. — Ah, mas o tempo depois do intervalo é livre!
— Não para mim — suspirou. Tinha Artimancia que, de todas as matérias que ia fazer, era a que menos gostava, mas, se queria ser uma Desfazedora de Feitiços, era o preço a se pagar.
Depois que descobrira que viajar o mundo, lidar com mistérios, enigmas e feitiços e, possivelmente, encontrar tesouros era considerado uma profissão, nada mais foi capaz de encantar . Eram todas as coisas que mais gostava, juntas.
As três passaram o primeiro tempo sentadas perto do Lago Negro, conversando mais sobre as férias e, de vez em quando, viam algum dos outros alunos mais velhos passando por ali também. No segundo tempo, teve que ir para a aula de Adivinhação, então elas entraram para o Castelo e seguiram uma parte do caminho com a amiga, se separando perto da sala comunal, onde encontraram Lino e os gêmeos Weasley em um canto e, do outro lado, , com uma pilha enorme de papéis.
— Olhem só todo esse dever de casa do primeiro dia de aula de Runas — ela falou com um muxoxo. — Os meninos foram todos para a biblioteca começar a fazer. Todo o meu tempo livre será arruinado com tantos pergaminhos a serem escritos.
— Mas tenho certeza que ainda sobrará um tempo livr... Ai! — exclamou.
— O que foi? — perguntou.
— Mordi a língua — ela disse, colocando o dedo no machucado, que ficou manchado levemente de sangue.
— Viu? É um sinal! — exclamou, se erguendo da cadeira.
— Sinal de que, garota? — perguntou, os pés em cima da mesa, próximos demais dos pergaminhos novos.
— De que esse ano será arruinado pelos deveres de casa!
e se entreolharam, caindo na gargalhada logo em seguida.
, se você continuar falando assim de sinais, teremos que correr atrás de McGonagall e acrescentar Adivinhação no seu horário — zombou.
— Tenho certeza que Trewlaney terá um livro pronto só para o que “morder a língua” significa. Vocês podem virar melhores amigas com essa interação!
— Ah, calem a boca — falou, emburrada.
No entanto, tinha razão. A primeira aula de Feitiços fora extremamente exaustiva e o Professor Flitwick passara dever de casa equivalente para a semana toda: e elas já teriam aula no dia seguinte! Pelo menos, era uma aula em que todas estavam e que era conhecida por sua facilidade de se manter conversas. Porém, junto com Transfiguração, era a aula preferida de . , por outro lado, nem tentava mais disfarçar o bocejo.
As meninas desceram para o intervalo, já exaustas, contudo, foi a única que teve que enfrentar a ardilosa aula de Aritmancia em seguida. Kyle, Tyler e Peter também estavam presentes. Pelo que sabia, os três queriam trabalhar no ministério e N.I.E.M.s em matérias como aquela formavam uma boa imagem.
Se na aula de Feitiços ela já recebera dever de casa, a pilha de Aritmancia prometia um longo final de semana na biblioteca.
Durante o almoço, estava muito ansiosa só de lembrar dos seus deveres de casa e sabia que não era a única. Ela e as meninas tiveram que abrir mão de seu primeiro horário livre depois do almoço para começar a adiantar tudo. Mal acabara a primeira parte da pilha e outro tempo já estava para começar: aula de Poções. e correram para não se atrasarem, não precisando dar mais motivos para Snape ser cruel.
Chegaram às masmorras a tempo, o que fora um alívio.
— Ah, olha, Kyle e Alicia também estão nessa matéria — ela apontou.
Alicia estava junto com uma amiga sua da Corvinal, em um canto da sala. Dois alunos da Lufa-Lufa estavam juntos em uma mesa. Três alunos da Sonserina olhavam com superioridade e desgosto para os outros ao redor. Kyle estava sozinho, concentrado em um livro.
— Vamos sentar com ele — disse.
E bem na hora, pois, logo em seguida, Snape entrou na sala, mal humorado como sempre, guardando sua rara simpatia para os alunos da Sonserina.
— Devo dizer que não esperava metade de vocês aqui nessa sala — e ele fuzilou alguns alunos no caminho, inclusive , o que fez se sentir ofendida pela amiga. — Mas, se tiveram sorte com os N.O.M.s, não contem com ela para os N.I.E.M.s. Está na hora de vocês realmente levarem a sério essa matéria. Vamos começar olhando essa poção que está aqui na mesa...
Depois de uma hora, mais pilhas de dever de casa e um grande desgosto pela voz do Professor Snape, a sineta finalmente tocou e os alunos foram liberados para a próxima aula.
— Achei que essa aula seria infinita — comentou.
estava tonta de tantas informações.
— Eu também e olha que eu gosto de Poções.
, e Alicia, então, foram para a última aula do dia, de Defesa Contra as Artes das Trevas. Todo primeiro dia era uma surpresa assistir a aula, já que diziam que o cargo estava amaldiçoado: nenhum professor durava mais do que um ano ali.
Ao entrarem, encontraram todos os alunos da Grifinória ali e Alicia se despediu delas, indo se sentar com Angelina.
Elas se sentaram próximas de onde e estavam sentadas. A sala estava consideravelmente cheia para uma sala de N.I.E.M.s, mas era de se esperar: muitos alunos se interessavam por essa matéria, até mesmo .
— Como você acha que a aula vai ser? — perguntou.
— Eu não sei, mas vocês viram as cicatrizes? — falou.
— É impossível não ver — constatou.
Pouco depois, todos os murmúrios cessaram com a chegada do Professor Moody. A turma inteira parecia estar imersa em uma grande expectativa e apreensão.
— Podem guardar esses livros — ele rosnou ao olhar para as carteiras. — Não vão precisar deles.
Os alunos devolveram os livros para as mochilas, cada segundo tornando a ansiedade quase palpável na sala.
Logo em seguida, ele fez a chamada, fixando seu olho mágico em cada um que respondia presença. não achou que ia se acostumar com isso facilmente.
— Muito bem — ele continuou depois de terminar a chamada, a voz em um rosnado —, como todos que estão aqui passaram nos N.O.M.s com, no mínimo, Excede Expectativas, vocês parecem ter um bom embasamento do que precisaram até aqui, o que corresponde à carta do Professor Lupin sobre essa turma. Maldições e contra maldições devem ter sido ensinadas nessa turma, se o cronograma estiver certo. No entanto, vocês só estudam maldições ilegais no sexto ano, o que eu acho uma proteção desnecessária, mas aqui estamos no sexto ano e mais do que na hora de aprender.”
Cada palavra parecia um rosnado, como se estivesse sempre tendo que ameaçar alguém.
— Vocês precisam conhecer cada uma dessas maldições e estarem prontos para o mundo que existe lá fora, saber que não vão perguntar sua idade antes de te lançarem uma dessas, não vão ser educados e, se você não souber o que está por vir, a sua chance de defesa é nula. Vocês precisam estar preparados e alertas. Precisam conhecer o que o inimigo vai fazer. Pensar como ele, para, então, poderem se esquivar.
A turma inteira estava absorta em cada palavra. Mesmo sendo a última aula do dia, todo o cansaço foi substituído por imensa curiosidade e fascínio.
— Então, alguém sabe como são chamadas as maldições mais severamente punidas pelo ministério?
Algumas três mãos, incluindo a de , se levantaram. Moody apontou para um aluno da Corvinal.
— Maldições imperdoáveis, senhor.
— Muito bem. E alguém poderia me dizer quantas são?
Dessa vez, também levantou a mão, pois associara o nome a quantas e quais eram. O Professor apontou para Mary Sharlin, uma menina da Sonserina.
— Três, senhor.
— Certo, certo. E algum de vocês saberia me dizer uma delas?
Algumas mãos se ergueram hesitantes e as acompanhou, mas a pessoa que Moody escolheu surpreendeu a todos.
— A Maldição Imperius, senhor — respondeu Fred Weasley. — Ou algo parecido — ele murmurou, em dúvida.
— Muito bem. Weasley, certo? Conheço seu pai. Ele teve um grande problema com essa maldição, assim como todo o Ministério.
Então, ele abriu a sua gaveta e tirou um frasco com três aranhas dentro. Pegou uma delas e a segurou na mão para todos verem enquanto apontava sua varinha para ela.
Imperius.
A aranha começou a se balançar, como se fosse uma marionete. Depois, começou a girar, dar cambalhotas e se pendurou em uma teia como se fosse um cipó.
A turma toda ria do espetáculo.
— Engraçado, não é? E se eu fizesse isso com vocês em seguida? — Moody rosnou.
A risada morreu em instantes
— Controle total. Eu poderia fazê-la saltar pela janela, se afogar, se asfixiar... — Moody falou baixo, de um modo assustador. — Há alguns anos, haviam muitos bruxos e bruxas controlados pela Maldição Imperius. Foi uma trabalheira para o Ministério separar quem estava sendo forçado a agir de quem estava agindo por vontade própria.
— A época de Você-Sabe-Quem — sussurrou para seu grupo.
— A Maldição Imperius pode ser neutralizada e eu vou lhes mostrar como, mas é preciso força de caráter real e nem todos a possuem. Por isso, é melhor evitar ser amaldiçoado com ela, se puderem. VIGILÂNCIA CONSTANTE — ele berrou, fazendo todos se sobressaltarem. Uma aluna da Lufa-Lufa deu um gritinho. Mais alguém conhece outra maldição?
Cedrico Diggory levantou a mão.
— A... a Maldição Cruciatus.
— Bom. Não há muito o que explicar nessa. Vou lhes dar uma ideia. — Pegou outra aranha do frasco. — Engorgio! — A aranha cresceu para ficar quase do tamanho da mão que a segurava. — Crucio!
A aranha começou a se contorcer de uma forma sobrenatural, as pernas se dobrando, o corpo estremecendo e se debatendo. estava em estado de choque. parecia a beira de lágrimas.
— Pare! — implorou para o Professor.
Moody ergueu a varinha e a aranha parou de se debater, mas ainda se contorcia.
Reducio! — A aranha voltou a encolher e ele a colocou no frasco.
— Dor. Não se precisa de qualquer outra arma para torturar alguém quando se sabe essa Maldição... ela também já foi muito popular. Muito bem, alguém saberia nomear a última?
A turma ainda estava em choque. ergueu lentamente a mão, ainda nervosa demais.
— Sim?
— A Maldição... da Morte.
— Ah, a Maldição da Morte. A última e a pior de todas.
Ele pegou a última aranha e a colocou na mão. A turma prendeu a respiração.
Avada Kedavra! – o professor berrou.
Um lampejo verde atingiu a aranha, que se virou e caiu morta, mas sem nenhuma marca visível. estava soluçando. tremia. e estavam simplesmente paradas, sem saber como reagir.
— Nada agradável, certo? E não existe contra maldição. Não se dá para bloqueá-la. Se alguém decide lançá-la, é questão de apenas acertar a mira. Somente uma pessoa no mundo sobreviveu a essa maldição e ela estuda nessa escola. Mas creio que não vale a pena importunar esse aluno com isso, correto? — ele rosnou. — A questão de todas essas Maldições é que elas não funcionam se você não desejar usá-las e exige uma magia muito poderosa. Nenhum de vocês nessa sala seria capaz de lançar qualquer uma e não é um desafio, mas, sim, um fato. Isso é magia negra. Mas, se não há como escapar, por que lhes mostrar essa última? Porque vocês precisam conhecê-la. Vocês têm que reconhecer o pior. Pensar nos riscos de uma situação antes de entrar nela. Entender o que alguns são capazes de fazer. VIGILÂNCIA CONSTANTE! — ele berrou e o medo se transformou em susto.
Pelo menos, parara de chorar.
— Essas maldições são chamadas imperdoáveis porque o uso de qualquer uma delas é suficiente para se ganhar uma passagem só de ida para Azkaban. É isso que vocês vão enfrentar. É isso que preciso ensiná-los a combater. Mas, acima de tudo, precisam praticar sua vigilância constante, permanente. Apanhem as penas... anotem o que vou ditar...
O resto da aula foi seguida de anotações sobre as Maldições Imperdoáveis. Nenhum murmúrio foi dito durante a cópia e tal atenção teria causado inveja em vários professores. A sineta tocou e os alunos se retiraram, voltando para a sala comunal para deixarem seus materiais, antes de descerem para o jantar. Já na fila, comentava excitada sobre Moody, escutava apavorada e , muito intrigada. estava um pouco fora do ar ainda. No entanto, algumas pessoas começaram a cochichar sobre algo e isso chamou sua atenção e ela logo ouviu uma voz bem alta e irritante:
— Seu pai está no jornal, Weasley! Escuta só isso!
tentou procurar a fonte daquela voz que estava causando a confusão, mas muitas pessoas estavam em sua frente. Finalmente, viu uma cabeça pálida com cabelos tão claros quanto, que já estava acostumada a ver causando problemas:
— E tem uma foto, Weasley! Uma foto de seus pais à porta de casa, se é que se pode chamar isso de casa! Sua mãe bem que podia perder uns quilinhos, não acha?
Ela viu que o alvo era o menino Weasley mais novo, Ronald. Todos da fila tinham parado para observar a cena e ela percebia que o menino ruivo estava tremendo de raiva. Era melhor interferir antes que algo acontecesse.
— Já volto — ela murmurou para , que parecia ser a única do grupo que não estava alheia ao resto, e tentou se aproximar, mas as pessoas não estavam colaborando.
Quando conseguiu chegar mais perto, aquele que, agora, podia ver que era Draco Malfoy estava discutindo, agora, com Harry Potter, que lhe virou as costas. Então, ela percebeu que Malfoy ia atacá-lo, mas não tinha como avisá-lo, era tarde demais...
BANGUE!
Várias pessoas gritaram e precisou olhar duas vezes para ter certeza do que acabara de ver. Onde antes estava Draco Malfoy, agora estava uma doninha branca agarrada ao rosto de Harry Potter. Ele pareceu tentar se defender, mas, antes de sequer se mover, outro feitiço voou da direção da escadaria, de onde também veio um berro:
— AH, NÃO VAI NÃO, GAROTO!
Era o Professor Moody. Um Professor acabara de transformar um aluno em uma doninha. E, melhor, um dos alunos mais irritantes da escola. podia listar várias situações em que ele a xingara sem nenhum motivo aparente, como fazia com todos.
Todos pareciam estar processando o mesmo choque que ela. Cada aluno congelou onde estava, todos aterrorizados demais até para respirar. nem percebera que estava prendendo a respiração, mas não saberia dizer se de apreensão ou excitação.
O professor se virou para Harry Potter:
— Ele o mordeu? — falou, quase em um rosnado.
— Não, por pouco.
— DEIXE-O! — o professor gritou novamente.
— Deixe... o quê? — o menino perguntou, parecendo espantado.
— Não você, ele! — e apontou para onde um dos guarda costas, quer dizer, colegas de Malfoy estavam prestes a recolher a doninha. O mais apavorante é que ele estivera olhando para Potter durante todo o momento. Seria aquele olho mágico? sentiu o estômago revirar e agradeceu por ainda não ter jantado.
O Professor Moody começou a andar em direção aos dois grandalhões e à doninha, que guinchou e começou a fugir.
— Acho que não! — e começou a fazer a doninha quicar para cima e para baixo. — Não gosto de gente que ataca um adversário pelas costas. — A doninha guinchava de dor, ainda voando e descendo, e, mesmo sabendo que na verdade era um menino terrível, ficou apavorada por ele. — Um ato nojento, covarde, reles... nunca... mais... torne... a... fazer... isso.
E cada palavra foi enfatizada por uma batida no piso.
— Professor Moody!
Todos se viraram e encontraram uma Professora McGonagall chocada descendo a escadaria com vários livros.
— Olá, Professora McGonagall — o professor cumprimentou calmamente, ainda fazendo a doninha quicar.
— O que... o que é que o senhor está fazendo?
— Ensinando.
— Ensinan... Moody, isso é um aluno? — a professora gritou, derrubando vários livros.
— É.
— Não! — ela correu escada abaixo e puxou a própria varinha, apontando par a doninha que, em instantes, voltou a ser Draco Malfoy, completamente desalinhado e vermelho.
— Moody, nunca usamos transformação em castigos! Certamente o Professor Dumbledore deve ter-lhe dito isso? — McGonagall continuou.
— É, talvez ele tenha mencionado, mas achei que um bom choque...
— Damos detenções, Moody! Ou falamos com o diretor da casa do faltoso!
— Vou fazer isso, então — Moody disse, encarando Draco Malfoy com desagrado, que ainda estava humilhado e atrapalhado no chão, mas ele ergueu os olhos maldosamente e encarou o professor:
— Quando meu pai souber disso... — ele falou, tão baixo, que quase não ouviu.
— Ah, é? — Moody disse, abaixando a voz, e se aproximou instintivamente. — Bom, conheço seu pai de outras eras, moleque.... diga a ele que Moody está de olho no filho dele... diga-lhe isso por mim... agora, imagino que o diretor da sua casa seja o Snape, não?
— É — o garoto respondeu, ódio escorrendo de suas palavras, que fez toda a pena que a garota pudesse estar sentindo evaporar. Aquele ainda era o garoto mimado e idiota de sempre.
— Outro velho amigo — Moody rosnou. — Estou querendo mesmo conversar com o velho Snape... vamos, seu... — E saiu arrastando Malfoy pelo braço.
, ainda em choque, voltou correndo para onde as meninas estavam, sem ficar surpresa por já estarem à mesa do jantar. Correu para alcançá-las e nem recuperou o fôlego antes de começar a contar tudo o que assistira, completamente elétrica.
— Moody é, oficialmente, meu novo professor favorito! — falou, animada.
— E aquele Malfoy bem que mereceu! — disse, satisfeita.
— Ah, acho que foi um pouco extremo... — comentou, baixinho.
— Extremo? Talvez. Mas o que aquele garoto Malfoy faz também é. Ele sempre está quebrando as regras por aí e, sempre que eu vou repreendê-lo, ele me chama de Sangue Ruim ou até tenta mandar os amiguinhos para cima de mim. Na hora eu também fiquei assustada, mas aquele Malfoy é um pirralho mimado que merecia! — completou.
— Acho que nunca te vi falar assim de alguém! — arregalou os olhos. — Acho que estou sendo uma boa influência.
As meninas riram.
— Mas aquela aula de hoje foi completamente sinistra! — comentou.
— Eu só queria que ele não tivesse usado as aranhas — falou, chateada.
— Ele precisava colocar um efeito na coisa. Para a gente ter noção, sabe? — a consolou.
— É, eu nunca liguei tanto para essas Maldições até vê-las acontecendo. E aí eu imaginei tudo o que já podem ter passado por causa delas... — colocou de maneira assombrosa.
— Espero que essa matéria acabe logo, senão eu vou acabar tendo um treco de tanto susto! — comentou.
— Será que ele participou de algum dos fatos que ele nos mandou anotar hoje em aula? — indagou.
— Se eu fosse chutar, diria que de todos — comentou. — Fico imaginando se ele vai nos ensinar a nos proteger, tipo, em um Clube de Duelos.
— Desde que seja um de verdade e não como aquele que Lockhart tentou montar a dois anos atrás, acho irado! — colocou.
Elas só pararam de falar quando o jantar foi substituído pela sobremesa e elas perceberam que estavam comendo muito menos do que deveriam estar.

Capítulo 4

No dia seguinte, as meninas se levantaram e se arrumaram para descer para o café. O dia anterior fora uma exceção às manhãs de porque ela estava animada para ver seu novo horário. Seu estado natural era de agir como um zumbi até entrar forçada numa sala de aula ou ter, pelo menos, uma hora de olhos abertos para realmente acordar.
— Estou tão ansiosa para as aulas de DCAT de hoje! — falou, animada.
— Hm — falou, um dos olhos fechando sem querer.
— E hoje teremos Trato de Criaturas Mágicas — disse, maravilhada.
— Eu gosto bastante de Herbologia, mas só penso no dever de casa que temos que fazer — comentou.
— Hm — Foi, novamente, a resposta da garota.
— Parece que hoje teremos que lidar com o zumbi provocou. A menina abriu os olhos e fez careta, o que já era uma baita reação naquele horário.
Pouco depois, foi para a sala comunal com Fred, Lino e Tyler enquanto suas amigas, Kyle, Jorge, Angelina e Alicia iam para a aula de Herbologia.
— Acho que seria uma cena engraçada ver Jorge na primeira aula dele sem Fred e sem Lino — Tyler comentou enquanto caminhavam.
— Ele chorou ontem à noite enquanto dormia — Fred disse, com falsa preocupação. — Sabemos que é um momento delicado da vida dele ter que se separar do irmão que nasceu com as melhores qualidades.
— E de mim também, os elogios vocês acrescentem — Lino falou, falsamente comovido.
Todos riram e até chegou a sorrir, mesmo toda sonâmbula.
— Achei que você fosse fazer a aula, . Com certeza tinha o N.O.M. para isso.
demorou vários segundos para processar a pergunta.
— Não estava com in... in... teresse — ela falou, bocejando.
— Parece que temos um Inferi entre nós — Lino zombou dela, que conseguiu se recuperar para mostrar o dedo feio. — Oh, a monitora fazendo isso? Que decepção! — ele disse, rindo.
— Ei, , já que você está com sono, você topa... hã... testar uma... coisa... que eu e Jorge estamos fazendo? — Fred Weasley comentou, de repente muito animado. — É uma bala de café, mas que fizemos crescer sob circunstancias... hã... diferentes. Eu e Jorge já tomamos, é seguro. E aí, quer testar?
estava tão cansada que não raciocinou o perigo daquilo e só conseguiu murmurar um “Hm", que Fred interpretou como um sim e ele jogou a bala dentro de sua boca.
Poucos segundos depois, os olhos de conseguiram se abrir. Na verdade, não só se abriram, como estavam duas vezes mais abertos que o normal. Observavam tudo. Estava se arrastando antes para acompanhar o grupo, mas, agora, chegara antes de todos e os esperava impacientemente. Já dentro da sala comunal, arrumou algumas mesas e sentou em uma delas para começar a fazer seus deveres, concluindo metade antes de a sineta tocar, indicando o fim da primeira aula. Em um piscar de olhos, já estava avançando para a aula de Feitiços.
— Ei, espera! — Era Fred Weasley, correndo para alcançá-la.
— Oquequefoi? — ela perguntou, irritada que as palavras não pareciam acompanhar o ritmo de seu cérebro.
— Acho... — ele arfou enquanto a acompanhava — acho que você deveria ver Madame Pomfrey. Ou me deixar tentar reverter. Não era para ser assim. Eu e Jorge ficamos acelerados, mas não como um foguete.
— Maseuestouótima! — falou, se frustrando com a lerdeza do garoto.
— Não está não! Ei, escuta...
— Chegamos! AuladeFeitiços! — E foi correndo encontrar , e .
— O que está acontecendo? — comentou, chocada.
— Nada, por quê? — se esforçou para falar um pouco mais devagar e se mostrar normal, mas sua perna não parava de balançar embaixo da mesa.
— Você está com uma cara de alucinada! — respondeu.
— Ésóumabalinhaparaacordar — ela não se conteve e atrapalhou as palavras de novo.
Antes que as amigas, chocadas, pudessem comentar mais qualquer coisa, o Professor Flitwick chegara para a aula.
Não fora um extremo sucesso. queria progredir rápido no feitiço novo, aguamenti, de modo que começou a ficar irritada quando não conseguiu e começou a falar o feitiço rápido demais, se embolando. Pouco depois, ela colocou fogo na própria carteira. Sorte que, na hora, o Professor Flitwick saíra para buscar um livro.
Aguamenti! apagou o fogo. — , você precisa focar! O que está acontecendo? Você adora essa aula! É a melhor de nós quatro.
— ÉsóabaladoFredWeasley — ela falou, irritada e acelerada.
— Fred Weasley, é? — se levantou na mesma hora e foi correndo para a mesa deles. não se importou para acompanhar, murmurando o feitiço até finalmente acertar, fazendo seu corpo ficar duas vezes mais acelerado.
— AI!
Um grito chamou a atenção da turma toda. Fred estava com a mão na barriga enquanto sacudia o punho.
— E nunca mais teste coisas na minha amiga!
— Eu achei que era seguro! Não sabia que outras pessoas reagiam diferente — ele falou, a voz trazendo um pouco de dor.
não aguentou e correu para lá, ainda movida por toda aquela cafeína.
— Comoassimnãosabiaqueagiadiferente? Aylanãobatenele!
— Olha o que você fez! — continuou, com raiva.
— Foi sem querer! — Fred retrucou.
— Você não pode sair por aí batendo nas pessoas! — Jorge passou a defender o irmão.
— Você não pode sair por aí testando produtos doidos nelas!
— Pelo menos, sua amiga começou a reagir. Fizemos um favor a ela!
Naquele momento, começou a sentir a perna parar de tremer de ansiedade. Na verdade, todo o seu corpo voltara a relaxar. Poderia até dizer que se sentia cansada. Mais cansada, até, do que antes do café da manhã.
... — ela chamou a amiga.
— Não, , não vou parar! Eles estão precisando ouvir umas verdades! — retrucou, ainda olhando para os gêmeos de cara feia, que respondiam com a mesma expressão.
— Não... ... acho que...
Mas, antes que pudesse concluir, tudo ficou preto.
Ela acordou na ala hospitalar. Estava praticamente vazia. Só se encontrava Madame Pomfrey, um aluno em uma cama distante e ela mesma.
— Ah, muito bem, vejo que acordou! Tome um chocolate! — Madame Pomfrey disse, já quase colocando ele dentro de sua boca. Por que as pessoas estavam com mania disso ultimamente?
Isso a fez lembrar das últimas coisas que aconteceram na aula de Feitiços.
— Madame Pomfrey, o que aconteceu?
— Ora, sua irresponsabilidade aconteceu! Aceitando coisa daqueles meninos Weasley... aquela suposta bala de café que eles te deram estava com cafeína fora da validade e, por Merlin, com substâncias muito duvidosas e isso fez com que toda a sua energia fosse usada em uma tacada só. Agora, seu corpo está recuperando de ter cedido toda aquela energia de uma vez.
— Isso explica muita coisa... — murmurou.
— Ande, agora tome essa Poção Wiggenweld — e lhe entregou um frasco verde.
— Nossa, me sinto muito melhor!
— E é para se sentir mesmo. Da próxima vez que se sentir cansada, me procure para tomar essa poção e não saia confiando em métodos tão... tão... — e ela saiu resmungando para cuidar do próximo menino.
perdera todos os seus tempos livres na ala hospitalar e, já na hora do almoço, conseguiu convencer a enfermeira de que estava bem, embora tenha escutado vários conselhos e broncas antes de sair de lá.
Chegando ao Salão Principal, ela avistou as amigas na mesa da Grifinória. Fred e Jorge Weasley não estavam lá. Lino Jordan sorriu para ela quando passou, mas ela percebeu que ele ainda olhava feio para .
! Você está bem? — foi a primeira a vê-la.
— Sim, estou sim! Ai, , pode abraçar um pouco mais fraco!
— Desculpa, fiquei tão preocupada! — podia não ser a melhor com demonstrações de carinho, mas era extremamente leal a ela.
— E cadê os gêmeos? — perguntou, morta de curiosidade e ansiedade.
— Na sala da McGonagall — respondeu.
— Você os dedurou? — indagou para .
— Nem precisei. Depois que você desmaiou, Flitwick chegou e mandou que você fosse mandada para a Enfermaria. Mas Madame Pomfrey precisava saber o que tinha acontecido, então Fred Weasley confessou tudo. Apesar de ter sido ele que te deu a bala, Jorge ajudou a fazer, então também foi chamado. Ah, eles estão encrencados, com certeza!
sentiu um pouco de dó dos gêmeos, embora fosse ficar especialmente atenta em relação a eles agora. Podiam acabar testando um desses produtos perigosos em um dos alunos menores, que poderiam reagir ainda pior do que ela.
O almoço terminou e ela foi para a aula de Transfiguração, se despedindo das amigas. Porém, a última pessoa que esperava encontrar lá era o próprio Fred Weasley.
Como ele já a tinha visto, tentou dizer algo para estabelecer uma conversa.
— Esperando McGonagall? — “para o resto da detenção?” ela completou mentalmente.
— Não — ele respondeu, parecendo entender o que ela queria dizer. – Eu faço essa aula.
— Ah — ela disse. E, então, percebeu que ele tinha um longo pergaminho na mão, provavelmente a agenda de todas as suas próximas detenções.
— Obrigada por contar a Madame Pomfrey. Sabe, sobre a bala. Você se meteu em grande encrenca com isso.
— Encrenca? Isso aqui é brincadeira de criança – ele disse, abrindo um sorriso. — Além disso, foi bom ter um teste com a bala fora da validade, pelo que Madame Pomfrey descobriu. Assim, poderemos testá-la dentro da validade com os outros. Isso, se minha mãe não me matar antes, claro! — Ele riu.
ficou petrificada. Ela tinha ido parar na Enfermaria por causa daquilo e ele achava tudo uma piada e uma oportunidade?
— Calma — ele disse percebendo o olhar dela. — Você está bem, não está? Então tudo resolvido!
— Vê se toma jeito, Weasley! — ela falou, antes de seguir em direção a Kyle e Tyler, que tinham chegado para a aula. Eles perguntaram como ela estava e ela acabou sentando-se perto deles.
A Professora McGonagall entrou em sala logo em seguida.
— Bom dia, turma. Antes de começarmos, peço que sentem em dupla. Vou fazer a chamada — ela olhou em volta e viu que todos estavam quase organizados de forma certa. – Ora, muito bem, vamos fazer só uma pequena mudança.
“Ah, não” pensou ao olhar em volta e perceber o que a professora iria fazer.
— Srta. , sente-se com o senhor Weasley para podermos começar.
Fred sorriu do seu lugar, acenando e piscando para ela, enfurecendo-a.
Aquela seria uma longa aula.

Capítulo 5

As semanas foram passando de modo muito parecido. Em praticamente todas as aulas, eles tiveram que começar a aprender feitiços mudos. As Maldições estavam cada vez mais interessantes em Defesa Contra as Artes das Trevas e Moody contava várias histórias reais as envolvendo. Em Poções, era questão de perder ponto por qualquer erro, mas ser ignorada quando acertava tudo, como sempre fora. Aritmancia era a mesma de sempre com a Professora Vector: uma aula séria e cheia de deveres de casa. Feitiços era sua matéria preferida, mas já não estava tendo o resultado impecável que normalmente tinha, o que acabara frustrando-a um pouco. E, em Transfiguração, ela seguia tentando dar o seu melhor, mas frequentemente era atrapalhada por sua dupla, Fred Weasley.
Uma das piores partes eram os deveres de casa que preenchiam vários horários livres e fins de semana. Tentavam adiantar tudo para sempre deixar, pelo menos, um dia do fim de semana completamente livre, embora fosse muito comum que as acompanhasse mesmo sem ter terminado tudo.
— Eu faço depois — ela dizia e, com isso, na realidade queria dizer que ia tentar copiar de alguma delas.
— Ora, a culpa não é minha que eles passem deveres de casa iguais, chatos para mim e possíveis para vocês!
— Eles são chatos para todas — reclamava. Apesar de saber que tinha muito mais afinidade com as matérias do que , não gostava quando a amiga só desistia e começava a se aproveitar dos esforços das outras. Sempre tentava incentivá-la e até ajudá-la, mas se recusava que ela colasse, por mais que ela suspeitasse que invadisse sua mochila em casos extremos. Pelo menos, só faziam duas matérias juntas, o que tornava e responsáveis pelas outras matérias.
Naquele ritmo, setembro e outubro foram passando, o dia mais especial tendo sido o aniversário de dezessete anos de , em que elas conseguiram que os gêmeos Weasley roubassem um bolo da cozinha em troca de alguns sicles, que , e dividiram. Passado isso, a perspectiva do grande evento se aproximava. Então, um dia, na hora do intervalo, os alunos encontraram um grande aviso no saguão de entrada, ao pé da escadaria de mármore:
— VENHAM LOGO! — gritou para as amigas, que tinham parado para conversar com a professora Sprout sobre o último dever de casa. , que estava parada por educação, correu em direção à assim que ela chamou. e demoraram mais, o que deixou muito ansiosa.
— Pronto, chegamos, calma, não precisa fazer essa cara! — falou e as quatro se viraram para o aviso.

TORNEIO TRIBRUXO


As delegações de Beauxbatons e Durmstrang chegarão às seis horas, sexta feira, 30 de outubro. As aulas terminarão uma hora antes...

— Ufa, uma hora a menos de Transfiguração! — exclamou. Apesar de amar a matéria, estava precisando de um descanso dos deveres: e de Fred Weasley.
— Poxa, podia ter sido de alguma aula que a gente assiste, para nós isso vai ser em horário livre! — resmungou.

Os alunos deverão guardar as mochilas e os livros em seus dormitórios e se reunir na entrada do castelo para receber os hóspedes antes da Festa de Boas-Vindas.

— É semana que vem! — arfou de emoção.
— Como será que esses alunos são? Ouvi dizer que eles ensinam magia negra em Durmstrang. Se isso for verdade, será que o campeão de lá vai trapacear com isso? — especulou.
— Acho que Dumbledore deve ter uma medida de segurança contra isso — especulou.
— Acho que ele é muito bonzinho pra pensar nessa possibilidade — disse.
— Bonzinho, talvez, mas não idiota. Devem ter pensado em tudo! — concluiu.
Aquela semana transcorreu com um efeito de animação entre os alunos e um grande nervosismo entre os funcionários. Em todo canto, o torneiro era discutido por todos, com várias especulações, principalmente de quem ia ser o campeão de Hogwarts. , às vezes, insinuava que deveria tentar participar ou, ao menos, subornar o juiz por ela, mas ficava muito irritada ouvindo essas especulações.
O castelo também estava parecendo muito mais limpo que o normal. Retratos, antes encardidos, agora reluziam nos corredores, o que gerou muitas reclamações dos personagens retratados da pintura, que tentavam se encolher perto da moldura ou fugir para um quadro alheio. As armaduras brilhavam. Mas nada surpreendia mais do que a atitude de Filch, que provavelmente escutara vários sermões sobre a limpeza e, agora, assustava qualquer aluno que não estivesse brilhando como o chão encerado. Um dia, teve que consolar uma menina do primeiro ano que entrou na sala comunal chorando porque encontrara Filch com as vestes levemente amassadas.
Muitos professores estavam tão nervosos quanto, especialmente quando os alunos começaram a questionar cada vez mais sobre esse tal juiz imparcial que escolhia os campeões. Alguns professores mandaram alguns alunos insistentes demais calarem a boca ou até para fora de sala.
O dia 30 de outubro finalmente chegou e, ao descerem para o café da manhã, encontraram o Salão Principal todo decorado, com bandeiras de todas as casas em cima de suas respectivas mesas e uma grande bandeira de Hogwarts atrás da mesa dos professores.
e suas amigas repararam que Fred e Jorge andavam meio esquisitos, se isolando dos demais nos tempos livres e muito... quietos. Mas não seria que reclamaria disso. Tentava sempre afirmar às amigas que, talvez, as detenções tivessem dado um jeito neles. Ou pior: estavam planejando algo tão grande que, pela primeira vez, estavam sérios. Tentava firmemente pensar na primeira opção.
As aulas seguintes foram grandes enrolações, pois ninguém realmente prestou atenção nelas, ansiosos demais para aquela noite. Até os professores estavam nervosos demais, alguns dando broncas excessivas, outros nem se dando ao trabalho.
Quando a sineta tocou mais cedo do que o normal na aula de Transfiguração, e Fred Weasley voltaram correndo para a sala comunal, enquanto Tyler e Kyle ficaram para tirar algumas dúvidas.
— Com toda essa expectativa, não sei como eles conseguem — comentou, agora quase correndo de volta. Estava muito ansiosa.
Ao entrar na sala comunal, viu Alicia e Angelina saindo do dormitório, cumprimentando os dois ao passarem. Eles se despediram e se separaram.
Chegando ao dormitório das meninas, ela encontrou todas elas prontas, vestindo capas, como foram instruídas. Bom, prontas do seu jeito particular. estava elegante como sempre. Os cabelos brilhantes e macios pareciam ainda mais brilhantes e macios, ela colocara uma presilha de pérolas discreta e um batom claro. prendera o cabelo em duas tranças embutidas complicadas, trocara os óculos por lentes e passara uma boa quantidade de maquiagem. não se dera ao trabalho. Seus cabelos estavam ainda mais arrepiados do que nunca.
, você chegou! — exclamou, animada. — Rápido, se ajeite.
— Me ajeitar colocando as vestes ou me ajeitar para uma festa? — ela comentou, apontando a discrepância entre as três meninas.
— Ora, você tem ideia de que vários meninos estrangeiros mais velhos estão vindo? Temos que passar uma boa impressão! — disse , pegando um espelhinho e conferindo mais uma vez cada detalhe.
— Ou estrangeiros babacas que você deve evitar o máximo possível — completou , revirando os olhos.
— Acho que entendi os recados — riu.
Colocou as vestes e penteou os cabelos e se deu por pronta. Então, decidiu passar um pouco de rímel de última hora. não estava completamente errada.
As quatro meninas desceram muito animadas e encontraram os diretores das casas separando seus alunos em filas. McGonagall parecia extremamente nervosa e tentava corrigir tudo a sua vista.
— Weasley, endireite o chapéu. Srta. Patil, tire essa coisa ridícula dos cabelos.
Então, o seu olhar encontrou e ela arquejou. Apontou a varinha para ela e, de repente, seus cabelos sempre arrepiados e espetados estavam perfeitamente penteados, como que por um gel mágico, e presos em uma faixa. Nem parecia ela mesma.
se olhou no reflexo de uma das armaduras brilhantes e deu um gritinho, bagunçando os cabelos que sempre voltavam ao lugar, cada vez mais alinhados.
— Nem tente, Srta. , isso vai durar até o final da noite — McGonagall falou para ela, que agora estava com uma cara horrorizada.
— Srta. ! — ela agora olhava para . — Por favor, estamos em uma escola e não em uma festa! — e acenou a varinha novamente, agora fazendo mais da metade da maquiagem de sumir, deixando-a mais parecida com o dia a dia. Ela soltou um muxoxo.
— Sigam-me, por favor — mandou a professora, conferindo todos com o olhar uma última vez. — Alunos da primeira série à frente... sem empurrar...
Eles desceram os degraus da entrada e pararam diante do castelo, enfileirados. O sol já tinha se posto e começava a escurecer e a esfriar. Elas estavam na penúltima fileira por serem da sexta série, junto com os garotos.
— São quase seis horas. Eles devem chegar a qualquer segundo — comentou Kyle, também ansioso. — Fico imaginando quantos alunos são e, se forem muitos, como chegarão até aqui. Todos são maiores de idade, será que aparatarão em uma vila próxima e virão andando?
— Eles têm nomes muito pomposos que me fazem pensar que não andariam nem um metro sequer — comentou.
Os jardins escureciam cada vez mais e as teorias corriam soltas. Todos estavam extremamente ansiosos...
— Aha! A não ser que eu me engane, a delegação de Beauxbatons está chegando! — Dumbledore exclamou, da última fileira, onde ele esperava com os outros professores.
Muitos soltaram arquejos, procurando em vão ao redor.
— Onde? — perguntaram vários alunos.
Ali! — Tyler Madley gritou, apontando para o céu.
Uma forma muito grande voava em alta velocidade em direção aos alunos.
— É um dragão! — gritou uma aluna da primeira série, apavorada.
— Deixa de ser burra... é uma casa voadora! — respondeu outro dos menores.
Então, eles viram uma enorme carruagem azul clara do tamanho de um casarão sendo puxada por cavalos alados do tamanho de elefantes. Vários alunos arquejaram, de surpresa ou admiração.
Quando a carruagem começou a pousar, as primeiras fileiras começaram a recuar, assustadas, espremendo os demais alunos.
— Ai! — Jorge Weasley exclamou quando recuou, pisando em seu pé.
tentou recuar, mas tropeçou no pé de Kyle e quase caiu, sendo salva por este no último segundo.
— Opa, cuidado aí!
Ela corou ao sentir uma das mãos dele em sua cintura.
— Obrigada — ela acrescentou e tentou ficar completamente parada, mas esqueceu toda a situação no momento que pousou os olhos na carruagem.
A porta com um brasão se abriu e um garoto de vestes da cor da carruagem mexeu em alguma coisa no chão, abrindo uma escadinha de ouro em seguida. Então, o maior pé que já vira se apoiou na escada e o resto do corpo de uma mulher enorme se revelou. Ela poderia facilmente ter o dobro do seu tamanho. Só conhecia outra pessoa assim: o Professor Hagrid.
Várias pessoas exclamaram muito surpresas, então Dumbledore puxou aplausos para a mulher. Todos os estudantes seguiram o exemplo e aplaudiram, muitos se esgueirando para tentar vê-la melhor. Usava um coque tão bem preso, que imaginou que fosse uma pessoa muito rígida.
Dumbledore beijou a mão enorme da mulher e disse:
— Minha cara Madame Maxime. Bem-vinda a Hogwarts!
— Dumbly-dorr — ela respondeu. — Esperro encontrrá-lo de boa saúde.
— Excelente, obrigada.
— Meus alunos — ela falou, apontando para cerca de uma dúzia de garotos e garotas com vestes azul clara de seda, tremendo de frio e olhando apreensivamente para o castelo. — Karrkarroff já chegou?
— Deve estar aqui a qualquer momento — o diretor respondeu. — Gostaria de esperar aqui para recebê-lo ou prefere entrar para se aquecer um pouco?
— Me aquecerr, acho. Mas os cavalos...
— O nosso professor de Trato de Criaturas Mágicas ficará encantado de cuidar deles, assim que terminar de resolver um probleminha que ocorreu com alguns de seus outros... protegidos.
— Ah, será que se eu pedir, Hagrid deixa eu ajudar? — sussurrou para as amigas, olhando maravilhada para os cavalos.
— Meus corrcéis ecsigem... hum... um trratador forrte — Madame Maxime disse, parecendo não saber se o Professor que Dumbledore apontava seria capaz de cuidar deles. — Eles son muito forrtes...
— Posso lhe assegurar que Hagrid poderá cuidar da tarefa — o diretor disse, sorrindo.
— Ótimo, por favorrr inforrrme a esse Agrid que os cavalos só bebem uísque de um malte.
— Farei isso.
— Venham — Madame Maxime ordenou e todos os seus alunos a seguiram muito disciplinados, os alunos de Hogwarts abrindo o caminho para eles passarem.
— Será que o pessoal de Durmstrang vai demorar? — indagou, embora ainda parecesse avaliar os alunos da Beauxbatons.
— Será que eles também vão vir de carruagem? Não sei se tem espaço para pousar — Tyler Madley comentou.
— Seria incrível! — ainda estava animada com os cavalos.
— Qual será o tamanho da bosta desses bichos? — Jorge jogou a pergunta.
— Que nojo! — Alicia reclamou.
— É uma realidade que alguém vai ter que enfrentar, se vamos passear pelo pátio — Fred disse, dando de ombros.
— Não significa que seja uma realidade que você tem que comentar — replicou Kyle.
— Se você pisar em um algum dia, você vai desejar que tivéssemos comentado mais — Lino falou e os três amigos caíram na risada.
Eles continuaram parados, esperando, vários tremendo com o frio que veio com a noite. A maioria olhava para o céu. se perguntava quando a próxima carruagem ia chegar. Mas então, um barulho alto e estranho começou e a garota não via nada no céu, não conseguia identificar de onde vinha o som...
— O lago! — Lino Jordan berrou ao seu lado, apontando. — Olhem para o lago!
Todos os alunos se viraram para o Lago Negro, vendo sua superfície escura e lisa. Se bem que ela não estava mais lisa. Grandes bolhas se formavam e ondas grandes se quebravam nas margens da terra. E, então, bem no meio do lago, apareceu um redemoinho gigante.
Lentamente, um navio começou a emergir, balançando nas ondas que formou e deslizando até a margem. Pouco depois, uma âncora foi atirada na água e um pranchão foi baixado.
Então, um grupo de garotos grandalhões desembarcaram. Eles chegaram mais perto e olhou melhor. Eles pareciam grandalhões por causa dos casacos que usavam. Um homem de cabelos prateados os conduzia.
— Dumbledore! — o homem cumprimentou, cordialmente, todo sorrisos. — Como vai, meu caro, como vai?
— Otimamente, obrigado, Professor Karkaroff.
— Minha velha e querida Hogwarts — o homem continuou.
— Nunca vi mais falso — sussurrou ao seu lado e percebeu que ela tinha razão: o sorriso não chegava nos olhos e era completamente forçado.
— Como é bom estar aqui, como é bom... — o Professor Karkaroff continuou. — Vítor, venha, venha para o calor... você não se importa, Dumbledore? Vítor está com um ligeiro resfriado.
Um dos estudantes avançou e todos os seus amigos se espantaram.
reconheceu aquele estudante porque, por acaso, tinha uma miniatura dele em seu quarto.
É o Krum! sussurrou, tentando conter sua excitação.
— Por Merlin, Vítor Krum está em Hogwarts! — falou baixinho, os olhos brilhando em sua direção. Com certeza, era seu estudante estrangeiro preferido até o momento.
— Alicia! Olha ali! É Vítor Krum! — Angelina falou excitada, cutucando a amiga.
— Eu não acredito! Vítor Krum! — Fred Weasley exclamou, espantado e excitado ao ver aquela figura.
Lino Jordan estava pulando nas pontas dos pés para tentar enxergá-lo melhor. , e apalpavam o bolso.
, você trouxe uma caneta? Eu quero um autógrafo! — exclamou.
Os alunos começaram a voltar para o Salão Principal, seguindo os alunos da Durmstrang, embora todos estivessem focados em Vítor Krum. Cada casa se sentou à sua mesa, ainda organizados por série. Os alunos de Beauxbatons estavam sentados à mesa da Corvinal, tremendo de frio.
— Ah, por favor! — falou, revirando os olhos. — O Salão é encantado para ter uma temperatura agradável.
— Eu os entendo — comentou. Ela era a mais friorenta do grupo, uma vez, inclusive, assistiu uma aula em plena primavera de cachecol e luvas. O dia era de sol.
— Onde será que Durmstrang vai se sentar? — começou a se esticar para enxergá-los. — Bosta.
se virou para enxergar o problema e viu que o grupo havia se sentado à mesa da Sonserina. Draco Malfoy tentava puxar o saco de Krum. Olhou para frente, então, e viu Filch arrumar as cadeiras perto de Dumbledore, adicionando quatro.
— Ué — comentou, confusa. — Olhem ali. Só são duas pessoas a mais. Por que o Filch está colocando quatro cadeiras?
— Aquele velho é caduco. Você ainda se questiona? — disse e elas observaram o zelador ralhar com um garoto da Lufa-Lufa que bocejou.
Depois de todos os estudantes se acomodarem, os professores entraram no Salão Principal em fila. Os últimos da fila eram os três diretores. Quando Madame Maxime entrou, todos os alunos de Beauxbatons se levantaram imediatamente. Alguns alunos de Hogwarts riram, mas os convidados não ficaram constrangidos, só se sentando quando Madame Maxime se acomodou ao lado de Dumbledore. O diretor, porém, continuou em pé e todos se silenciaram.
— Boa noite, senhoras e senhores, fantasmas e, muito especialmente, hóspedes —Dumbledore falou, sorrindo para os convidados. — Tenho o prazer de dar boas-vindas a todos. Espero e confio que sua estada aqui seja confortável e prazerosa.
Uma das garotas de Beauxbatons riu, claramente zombando. e reviraram os olhos ao mesmo tempo.
— O torneio será oficialmente aberto ao fim do banquete — Dumbledore continuou. — Agora, convido todos a comer, beber e se fazer em casa!

Capítulo 6

As travessas se encheram de comida, no entanto, com uma diferença peculiar. Diversos pratos pareciam estrangeiros, pois nunca vira na vida.
— Ah, acho que esse prato é francês! — apontou para um prato esquisito. — Vovó Lorraine vive fazendo um bem parecido lá em casa.
provou alguns daqueles pratos, muito curiosa, e alguns eram simplesmente maravilhosos, enquanto outros ela esperava nunca mais ver na vida.
Em algum momento, a menina loira que havia feito a risada zombeteira se dirigiu para a mesa da Grifinória e começou a falar com o Weasley mais novo. Vários olhares, especialmente masculinos, acompanhavam aquela movimentação.
— Garoto, você vai acabar babando no meu prato, fecha a boca! — falou para Tyler Madley, que estava ao seu lado e se inclinando em sua direção, quer dizer, em direção à estrangeira.
— Olhem, parece que o Filch não estava caduco, afinal — apontou, onde dois homens desconhecidos ocupavam as duas cadeiras extras.
— Ei, eu os conheço! — falou. — Eles estavam na Copa Mundial de Quadribol! Aquele de bigode é o sr. Crouch e o outro, que está sorrindo, é Ludo Bagman.
Ao ouvir aqueles nomes, os gêmeos Weasley viraram instantaneamente para a mesa do diretor, trocando, depois, olhares significativos entre si.
“Esquisitos”, pensou.
As travessas, então, se encheram das deliciosas sobremesas de sempre, mas, agora, com algumas bem diferentes também. ficou encantada com um manjar branco e comeu metade dos que estavam na travessa mais próxima.
Os pratos e travessas, então, foram limpos e uma grande expectativa pairou no ar. estava muito ansiosa para o que aconteceria agora. roía as unhas de tão tensa. Fred e Jorge Weasley se inclinaram para frente e fixaram Dumbledore intensamente.
— Chegou o momento — o diretor disse, sorrindo, e todos reagiram, ficando ainda mais tensos. — O Torneio Tribruxo vai começar. Eu gostaria de dizer algumas palavras de explicação antes de mandar trazer o escrínio, apenas para esclarecer as regras que vigorarão esse ano. Mas, primeiramente, gostaria de apresentar àqueles que ainda não os conhecem o Sr. Bartolomeu Crouch, Chefe do Departamento de Cooperação Internacional em Magia — todos aplaudiram, embora fossem aplausos fracos e educados — e o Sr. Ludo Bagman, Chefe do Departamento de Jogos e Esportes Mágicos. — Agora os aplausos foram ruidosos e animados, algumas pessoas até assobiaram e gritaram. — Nos últimos meses, o Sr. Bagman e o Sr. Crouch trabalharam incansavelmente na organização do Torneio Tribruxo e se juntarão a mim, ao Professor Karkaroff e à Madame Maxime na banca que julgará os esforços dos campeões. — Dumbledore percebeu que todos estavam extremamente atentos. — O escrínio, então, por favor, Sr. Filch.
Filch levou uma arca antiga até Dumbledore, cheia de pedras preciosas. Não se ouvia nem o barulho das respirações, todos muito ansiosos e atentos para o que ia acontecer. Um primeiranista subiu em uma das mesas para tentar enxergar, mas nenhum monitor estava dando a mínima.
— As instruções para as tarefas que os campeões deverão enfrentar este ano já foram examinadas pelos Srs. Crouch e Bagman — Dumbledore disse enquanto a arca era colocada na mesa em sua frente — e eles tomaram as providências necessárias para cada desafio. Haverá três tarefas, espaçadas durante o ano letivo, que servirão para testar os campeões de diferentes maneiras... sua perícia em magia, sua coragem, seus poderes de dedução e, naturalmente, sua capacidade de enfrentar o perigo. Como todos sabem, três campeões competem no torneio, um de cada escola. Eles receberão notas por seu desempenho em cada uma das tarefas do torneio e, aquele que tiver obtido o maior resultado final da tarefa, ganhará a Taça Tribruxo. Os campeões serão escolhidos por um juiz imparcial... o Cálice de Fogo.
Dumbledore puxou sua varinha e deu três pancadas leves na tampa da arca, que se abriu lentamente. O diretor, então, tirou dela um grande cálice cheio até a borda com chamas branco-azuladas que se mexiam, hipnotizantes.
— Quem quiser se candidatar a campeão deve escrever seu nome e escola claramente em um pedaço de pergaminho e depositá-lo no cálice. Os candidatos terão vinte e quatro horas para apresentar seus nomes. Amanhã à noite, Festa das Bruxas, o cálice devolverá o nome dos três que ele julgou mais dignos de representar suas escolas. O cálice será colocado no saguão de entrada hoje à noite, onde estará perfeitamente acessível a todos que queiram competir. Para garantir que nenhum aluno menor de idade ceda à tentação, traçarei uma linha etária em volta do Cálice de Fogo depois que ele for colocado no saguão. Ninguém com menos de dezessete anos conseguirá atravessar a linha.
— É o que veremos — sussurrou Jorge Weasley, olhando para Fred, que estava quase em sua frente, ambos com brilho nos olhos.
— E, finalmente — continuou Dumbledore —, gostaria de incutir nos que querem competir que ninguém deve se inscrever nesse torneio levianamente. Uma vez escolhido pelo Cálice de Fogo, o campeão ficará obrigado a prosseguir até o final do torneio. Colocar o nome no cálice é um ato contratual mágico. Não pode haver mudança de ideia, uma vez que a pessoa se torne campeã. Portanto, procurem se certificar de que estão preparados de corpo e alma para competir, antes de depositar seu nome no cálice. Agora, acho que está na hora de irmos nos deitar. Boa noite a todos.
— Uma linha etária! — Fred Weasley disse, antes de sair correndo com o irmão para a entrada.
— Deve ser possível de enganar — bocejou.
— Uma linha etária normal, talvez. Mas uma projetada pelo próprio Dumbledore? Sei não — disse.
— Muito bem, temos que ir dormir porque amanhã teremos muito trabalho a fazer. tem que ir para a biblioteca procurar métodos para contornar esse pequeno obstáculo — continuou.
— E por que você não vai para a biblioteca? — questionou, surpresa.
— Porque eu tenho que preparar meus pergaminhos de teste. E você se negou a se inscrever ou a, pelo menos, tentar me inscrever. Você podia colaborar para o sonho da sua amiga. A não ser que você prefira a ideia de colocar meu nome por mim. Não parece difícil, hein. E você não teria que ficar na biblioteca — Ela continuou, tentando persuadir a amiga.
O dia seguinte chegou rapidamente e todos acordaram extremamente entusiasmados: era Halloween e dia da escolha dos campeões.
— Sabe — disse enquanto elas se arrumavam para descer para o café —, às vezes eu sinto falta do Dia das Bruxas dos trouxas. Nunca cheguei a usar minha fantasia especial de pirata porque a carta de Hogwarts chegou antes. Até trouxe a fantasia, mas depois descobri que ninguém usava.
— Acho que não faz sentido ser uma bruxa e se fantasiar de bruxas — comentou.
— Não seria engraçado se tivéssemos um Dia dos Trouxas para nos vestirmos de trouxas? — exclamou.
— Nós sempre fazemos isso para ir para a estação — replicou.
— Ah, é.
— E não faz sentido termos um dia para comemorar aqueles que nos perseguiram por anos e de quem temos que nos esconder — continuou.
— Mas alguns bruxos também perseguem trouxas e eles continuam comemorando — argumentou.
— Isso porque os trouxas não sabem que bruxos existem e colocam a culpa na natureza — explicou. — Não sei se eles ficariam felizes comemorando o Dia das Bruxas sabendo que realmente existem bruxas.
ficou imaginando se os pais comemoravam o Halloween como antigamente e sentiu que nem precisava pensar muito no assunto para ter certeza que não.
Elas, então, desceram para o saguão bem cedo, onde estava o Cálice de Fogo, cercado pela linha etária. Poucos segundos depois, todos os alunos de Durmstrang entraram em fila e depositaram seus nomes, liderados por Vítor Krum.
— Ah, Vítor Krum é maravilhoso, eu não me importaria se ele ganhasse — falou, com ar apaixonado.
— Garota, você tem que torcer pela sua escola! — brigou com ela.
— Mesmo? — falou, meio aérea.
— Ele nem é tão impressionante ou bonito. Parece meio carrancudo demais — comentou, curiosa.
Depois que eles se retiraram, as meninas foram para o Salão Principal tomar café, que já estava todo decorado de morcegos e abóboras para mais tarde, e depois correram de volta para o saguão, observando se mais alguém iria se inscrever, mas a maioria só olhava o Cálice.
Em algum momento, Fred, Jorge e Lino chegaram correndo, muito excitados. Conversaram um pouco com o irmão mais novo dos Weasley e seus amigos e depois foram em direção ao Cálice, parando no limite da linha etária. Várias pessoas olhavam curiosas, inclusive as quatro meninas.
— Pronto? — Fred Weasley disse, sem conter a excitação em sua voz. — Vamos, então, eu vou primeiro...
E tirou um papel escrito seu nome do bolso.
— Não é possível... ele não vai... — murmurou, os olhos arregalados de medo e excitação.
E, então, respirando fundo, ele cruzou a linha.
Jorge soltou um berro de triunfo e correu atrás de Fred, cruzando a linha também. No entanto, segundos depois, ouviu-se um chiado e os gêmeos foram arremessados para fora do círculo formado pela linha etária. Eles voaram 10 metros longe e, quando aterrissaram, um forte estalo ecoou pelo salão e duas barbas brancas, longas e idênticas cresceram nos dois.
se engasgou com a própria saliva de tanto rir. O saguão explodiu em gargalhadas. Até Fred e Jorge riram quando olharam para a barba um do outro.
— Eu avisei a vocês — disse uma voz grave e risonha e, quando se virou, viu o próprio Dumbledore observando tudo. — Sugiro que os dois procurem Madame Pomfrey. Ela já está cuidando da Srta. Fawcett da Corvinal e do sr. Summers da Lufa-Lufa, que também resolveram envelhecer um pouquinho. Embora eu deva dizer que as barbas deles não são tão bonitas quanto as suas.
Os dois garotos seguiram para a ala hospitalar, com Lino Jordan seguindo atrás, que não parava de rir. Aos poucos, muitos alunos se retiraram do local para tomar café.
— Espero que isso te faça desistir da pesquisa de como cruzar a linha — falou, sorrindo, para , que logo ficou emburrada.
— Talvez. Mas... — o sorriso voltou a seu rosto — você ainda pode me inscrever.
— E correr o risco de acabar na ala hospitalar também? Não, muito obrigada, tentadora a oferta, mas terei que passar.
— Vamos, ! Dumbledore não falou nada sobre um aluno mais velho inscrever outro mais novo! Acho que ele imaginou que nenhum aluno mais velho iria deixar de se inscrever e não ia querer nova concorrência.
— Até que faz sentido — concordou. — Não que eu apoie — ela se apressou a dizer.
— Vamos, , qual a chance de o Cálice escolher , de qualquer jeito? — falou.
— Mas e se escolher? Então, Dumbledore vai perguntar como ela conseguiu e a culpa vai parar em mim. — A menina parecia assustada.
— Eu digo que consegui colocar sem cruzar o círculo, com... com... com um galho muito comprido!
— É a mentira mais idiota que eu já vi — admitiu. — Fale que usou uma poção nela que a fez obedecer!
— Com que talento em Poções? — colocou, só constatando um fato.
— Eu sei fazer uma boa poção quando eu quero! — falou, orgulhosa. — O problema é que Snape nunca me fez querer.
— Então, mentira contada — falou. — Vamos, , é quase impossível o Cálice a escolher mesmo — ela completou, sussurrando.
— E a monitora promete não nos dedurar, certo? — olhou para , esperançosa.
suspirou.
— Ela promete. Vai logo. Deixa ela tentar.
tirou um pedaço de pergaminho do bolso escrito " - Hogwarts".
— Você já sabia que eu ia aceitar? — perguntou, irritada.
— Desejava muito — disse, suplicante.
E, em um piscar de olhos, antes que perdesse a coragem, quando todos tinham se retirado do saguão, cruzou a linha, jogou o papel e voltou correndo e gritando.
Poucos segundos depois, três estudantes mais novos entraram para conferir como andava tudo.
— Essa foi por pouco — falou.
— É! ISSO! — saiu gritando e correndo, sem nem esperar por elas.
parecia a ponto de chorar.
— Ouvi dizer que Cedrico Diggory, do nosso ano, vai se inscrever. Entre vários outros dos mais velhos. O Cálice não escolheria . E, se der ruim, vamos testemunhar que ela te ameaçou — tentou tranquilizar a amiga. — Você sabe que ela ia acabar ameaçando.
— Isso é inaceitável. Ela pode querer correr o risco sozinha, mas sem se importar de eu correr também? — estava muito chateada e entendeu o lado dela.
— Vamos, vamos encontrá-la — disse. — E vamos falar sobre isso. Já fizemos o que ela queria. Agora, ela tem que nos ouvir.
— Desculpa por pressionar você — disse. — Às vezes, eu perco a noção com essa garota.
— Eu sei — disse, sorrindo triste. — A culpa é minha de ter aceitado.
— A culpa é de de ter pedido — falou, muito conclusiva. — E nossa, de ter incentivado. Agora que passou o momento de emoção, eu me sinto péssima por você.
— Eu também — disse. — tem razão. Está na hora de entender algumas coisas.

⭐⭐⭐


— ... e é por isso que achamos que você deve desculpas à concluiu para .
As meninas a encontraram perto do Lago Negro, ainda toda sorridente. Agora, uma grande carranca se estendia por seu rosto.
— Vocês concordaram — falou.
— Sim, fomos na onda e fizemos tão mal quanto. Já pedimos nossas desculpas e percebemos nosso erro — falou.
— Bom, mas o que está feito, já está feito — disse, desafiadora.
— Você tem razão — respondeu. — A sua inscrição já está feita. Mas você foi uma péssima amiga hoje. Nós ela corrigiu — fomos péssimas amigas hoje. E temos que prometer não tentar impor nossa vontade acima das demais, especialmente se vamos colocar alguém em risco. Se quiser correr risco, corra sozinha, sem envolver ninguém, como os gêmeos Weasley, por exemplo. Não envolva mais nenhuma de nós ou nenhuma outra pessoa em qualquer plano maluco que a pessoa não concordar por vontade própria. Fechado?
ficou longos minutos encarando cada uma, com uma grande interrogação na cara. A amiga sempre fora completamente transparente, mesmo sem querer, e, por isso, depois da grande espera e tensão, ela soltou um suspiro e falou:
— Fechado.
Apesar de todas acreditarem que ela iria entender, não podiam negar o alívio que foi ouvirem aquela palavra. Depois disso, o dia voltou a ser animado.
— Eu ouvi que Warrington, aquele grandalhão da Sonserina, se inscreveu no torneio — comentou.
— Credo, aquele garoto não sabe nem a diferença entre um graveto e uma varinha normal — comentou.
— E o campeão não pode ser da Sonserina! — reclamou.
— Muita gente da Lufa-Lufa está falando do Diggory, não seria mau, não é? — falou, sonhadora.
— Achei que você gostasse do Krum — provocou .
— E o que uma coisa tem a ver com a outra? — ela respondeu, dando de ombros.
— Eu ouvi que a Angelina se inscreveu também! — disse.
— Nossa, seria muito legal! Uma mulher da Grifinória e nossa colega de quarto! — comentou.
A tarde foi repleta de comentários e, frequentemente, encontravam colegas tão excitados quanto. Cedrico Diggory estava completamente cercado por alunos da Lufa-Lufa de todas as idades, principalmente meninas. Ele sorria para todas, sem parecer pomposo e nem chateado. Realmente, o menino de ouro de Hogwarts. E, ninguém podia negar, era uma visão e tanto.
Em dois momentos, teve um colapso e chorou, morrendo de medo de se encrencar. Elas demoraram muito para poder acalmar a amiga.
Até encontraram Angelina, que confirmou que tinha se inscrito.
— Boa sorte, Angelina! — disse. — Espero que seja você!
Todas as meninas ali presentes confirmaram e Angelina abriu um sorrisão, agradecendo.
A noite finalmente chegou e todos desceram para o Salão Principal para a Festa das Bruxas, embora, pela primeira vez, estava desejando imensamente que fosse mais curta. Todo o grupo do sexto ano sentou perto, novamente, e todos pareciam estar torcendo para Angelina. Os outros dois maiores de idade, Kyle e , não quiseram se inscrever. Fred, Jorge e Lino já estavam completamente recuperados e aceitavam bem sua derrota, mostrando seu apoio a ela também. Até , que secretamente ainda tinha chance, não pôde deixar de se comover e torcer pela colega.
Depois do que pareceu uma eternidade, o jantar terminou, o que gerou uma intensa movimentação que cessou imediatamente quando Dumbledore se levantou. Todos estavam imóveis, a expectativa pairando no ar...
— Bom, o Cálice de Fogo está quase pronto para se decidir. Estimo que só precise de mais um minuto. Agora, quando o nome dos campeões forem chamados, eu pediria que eles viessem até esse lado do salão, passassem diante da mesa dos professores e entrassem na câmara ao lado, onde receberão as primeiras instruções.
observou que os olhos de Angelina brilhavam, como se já estivesse imaginando o caminho. Dumbledore puxou a varinha e fez um gesto que apagou todas as velas, exceto as que estavam dentro das abóboras recortadas, deixando o salão muito escuro, o brilho do Cálice se destacando ainda mais intenso. E todos aguardavam. parecia prestes a chorar de novo. fechou os olhos e parecia estar falando sozinha. estava com os olhos completamente arregalados, que mal piscavam. estava tonta com tanta expectativa...
— A qualquer segundo agora — sussurrou Lino Jordan, conferindo seu relógio.
De repente, as chamas do Cálice se avermelharam e começaram a soltar faíscas, pouco depois expelindo um pedaço de pergaminho chamuscado. Dumbledore pegou o pergaminho para ler. Todos prenderam a respiração...
— O campeão de Durmstrang será Vítor Krum.
O salão inteiro prorrompeu em aplausos e assobios.
— ISSO! — gritava tão alto, que alguns alunos se viraram assustados. Mas ela não era a única que chamava a atenção com seus comentários.
— Bravo, Vítor! — dizia o Professor Karkaroff, tão alto que se sobressaía dos aplausos. — Eu sabia que você era capaz!
— Tenho a impressão de que se não fosse pegar mal, ele teria trazido só Krum para não ter chance de ele perder a vaga — comentou com , que concordou, rindo, horrorizada.
Quando o campeão entrou na câmara, todos se calaram e fixaram o olhar no Cálice novamente, que logo voltou a ficar vermelho e expeliu um segundo pedaço chamuscado de pergaminho.
— O campeão de Beauxbatons é Fleur Delacour! — Dumbledore anunciou.
Novamente, o salão voltou a aplaudir e a menina loira, que chamava atenção desde que chegara, se dirigiu para a câmara também.
— Acho que os alunos não gostaram muito dessa escolha — apontou para a mesa da Corvinal, onde alguns alunos de Beauxbatons choravam e se revoltavam.
— Mimados. — Foi o que disse, antes de se voltar, compenetrada, para o Cálice. Não demorou muito para que todos no salão estivessem da mesma forma. Só faltava o campeão de Hogwarts.
Alicia apertava a mão de Angelina, ambas torcendo muito para que a segunda fosse a campeã.
O Cáice de Fogo ficou vermelho, novamente, e expeliu mais um pergaminho. O tempo pareceu estar se arrastando até Dumbledore pegá-lo.
— O campeão de Hogwarts é Cedrico Diggory.
— NÃO! — Os companheiros da Grifinória exclamaram, decepcionados por Angelina, mas não se ouviu nada, abafados completamente pelas comemorações da mesa da Lufa-Lufa. Só aplaudia também, encantada com o garoto.
— O que foi? — ela disse, quando recebeu um olhar feio de Alicia. — Ele é bonito!
parecia extremamente mais calma, como se todo o peso de ter aceitado inscrever tivesse ido embora. Essa, por sua vez, estava aborrecida, mas viu que ela sorriu ao ver relaxada.
Quando finalmente os aplausos, que foram os mais demorados, cessaram, Dumbledore voltou a falar.
— Excelente! Muito bem, agora temos os nossos três campeões. Estou certo de que posso contar com todos, inclusive com os demais alunos de Beauxbatons e Durmstrang, para oferecer aos nossos campeões todo o apoio que puderem. Torcendo pelos seus campeões, vocês contribuirão de maneira muito real...
Mas Dumbledore parou inesperadamente, pois, naquele momento, o Cálice de Fogo se avermelhava novamente, soltando faíscas e expelindo um quarto pedaço de pergaminho.
Dumbledore pegou o pergaminho e o leu. Ele pareceu muito surpreso e ficou ali, relendo. Todos esperavam, mirando Dumbledore fixamente. Então, ele pigarreou e disse:
Harry Potter!
se virou em choque para o garoto de apenas 14 anos, como todos no Salão. Ele parecia em choque e assustado. Será que se inscrevera de brincadeira e achou que nada poderia acontecer?
Fred Weasley, que estava ao seu lado, em choque, derrubou uma das taças douradas no chão. Ainda boquiaberta, automaticamente se abaixou para pegar a taça, mas o garoto tentou esticar o braço para pegar quando ela já estava inclinada embaixo da mesa, o que resultou em uma cotovelada forte no seu supercílio. Ela gemeu de dor ao se levantar e depositar a taça ao seu lado, mas o garoto não percebeu nada. Só olhava em choque para Potter.
— Harry Potter! — Dumbledore tornou a chamar. — Harry! Aqui, se me faz o favor!
O garoto, todo desajeitado, seguiu até a câmara, sob os olhares atentos de todos. Assim que ele entrou, a Professora McGonagall exclamou:
— Todos de volta a seus dormitórios!
E saiu em disparada junto com Dumbledore, Sr. Crouch, Ludo Bagman, Madame Maxime, Karkaroff e Snape. Os demais professores ajudaram a dispensar os alunos.
— Bom, acho que tenho que ajudar a conduzir os alunos — disse, se levantando, a dor incomodando em cima de seu olho esquerdo.
, você está sangrando! — exclamou.
— Ah, é? — ela falou e colocou a mão no supercílio. Quando a retirou, uma mancha de sangue veio junto. Ela ficou levemente tonta. Odiava ver sangue.
— Como que isso aconteceu? — indagou, analisando. — Acho que não é muito sério, é uma região que machuca fácil, mas é melhor ver Madame Pomfrey.
— Então, preciso da ajuda de vocês — disse. — Ajudem a conduzir os alunos mais novos. Eles sempre se perdem em momentos animados.
— Mas...
— Podem ir! — ela exclamou, se levantando com as amigas.
— Isso aí não teria sido fruto de uma cotovelada ou algo parecido, teria? — Ela virou para trás ao ver Fred Weasley falando com ela e passando a mão no cotovelo direito.
— Na verdade, tem exatamente a ver com isso — ela disse, se virando novamente.
— Ih, foi mal, não vi na hora. Mas isso aí você resolve rapidinho com Madame Pomfrey. Ou, se quiser testar um produto que eu e...
— Olha aqui, você já está me mandando para a ala hospitalar pela segunda vez nesse mês. É melhor não interferir mais.
— Relaxa, estressadinha. Só estava brincando! — ele disse, fingindo estar ofendido, fazendo-a revirar os olhos.
— Ei, Fred! — Era Jorge chamando-o. — Vem, temos que passar na cozinha e buscar a comida! Se chegarmos cedo, podemos, talvez, até conseguir alguma cerveja amanteigada.
— É para já! — E saiu correndo, deixando a garota ali, plantada e sangrando. O machucado podia não ser nada demais, mas ele precisava ser tão... tão... argh!

Capítulo 7

— Pode ir agora, pelo menos dessa vez não foi nada demais.
— Obrigada, Madame Pomfrey!
agradeceu e saiu, apressada, já estressada por ter tido que passar na ala hospitalar. Só conseguia imaginar o seu dormitório e poder conversar com as meninas...
A menina chegou à Torre da Grifinória e parou diante do quadro da Mulher Gorda.
— Boa noite. Asnice.
— Boa noite para você também, querida — a mulher piscou, abrindo a passagem.
Uma grande gritaria começou e algumas pessoas agarraram seus braços.
— Peraí! Não é ele! — Jorge Weasley gritou.
— Ah, é só a ! — Lino disse, decepcionado, deixando ofendida, que logo se desvencilhou de todos com cara feia e foi até as amigas enquanto a gritaria virava apenas conversas.
— Ah, , que bom que você está bem! – comentou, alegre.
— Ora, para de cara feia, é só porque estamos todos ansiosos para quando o garoto Potter chegar — disse, compreendendo a carranca da amiga.
— Vai ser uma festa! Afinal, por Merlin, um campeão da Grifinória! Embora, coitado, tão jovem... — falou.
— Não tenha pena de quem pode ficar rico! — rebateu.
— Mas correndo um risco mortal com apenas quatorze anos! — replicou, assustada.
deixou as três e foi para o dormitório tirar a capa, ficando apenas de saia e blusa. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e se jogou na cama, pensando se deveria realmente descer.
Alguns minutos depois, a cama se afundou ao seu lado.
— Sabia que você ia estar aqui assim disse.
suspirou.
— É só que eu estou meio cansada e irritada. Não sei se quero descer.
sorriu.
— Justamente por estar cansada, você deveria descer e aproveitar. Tem cerveja amanteigada, salgadinhos, amendoim... os gêmeos podem ser irritantes, mas certamente sabem dar uma festa. E Lino Jordan tem um rádio enfeitiçado e ele prometeu tocar umas músicas boas. Você está no sexto ano, menina! O que você fez, até agora, além de estudar?
— Fui para a ala hospitalar duas vezes.
— Mas só uma foi interessante — disse, dispensando o comentário. — Olha, não quero ser chata e insistente, mas pensa uma última vez pelo menos. Podemos realmente nos divertir!
Como se fosse uma deixa, a sala comunal se encheu de berros e assobios e soube que Harry Potter havia chegado. Ela olhou para , que parecia ansiosíssima para descer e, ao outro lado, sua pilha de livros, e tomou uma decisão.
— Vamos logo antes que eu desista!
deu um gritinho e abraçou a amiga e já iam descer, quando voltou para reaplicar o batom que a Professora McGonagall retirara com mágica.
Já lá embaixo, Harry Potter estava enrolado em uma bandeira da Grifinória e todos já estavam comendo, bebendo e dançando.
e estavam em um canto, batucando os pés no ritmo da música enquanto conversavam algo, animadas.
— ... aí eu e Rob gritamos tanto que algumas pessoas começaram a encarar e então: eles nos encararam!
— O que vocês estão falando? — questionou.
estava me contando quando ela foi com Rob no show das Esquisitonas — disse.
— AH, MEU MERLIN! VOCÊ VIU TODOS ELES PESSOALMENTE? — deu um gritinho.
— Sim! Papai me deu de presente adiantado quando eu fiz dezesseis anos, então fomos toda a família.
— E ela viu o Kirley pessoalmente — suspirou.
— Que Kirley o que! Estou bem mais animada pelo Myron! — rebateu.
— Eu sempre preferi o Orsino e aquele jeitão misterioso — acrescentou, olhando para o nada.
— ESTÁ TOCANDO THIS IS THE NIGHT! — exclamou. — É MINHA PREFERIDA DELES! POR FAVOR, NÓS TEMOS QUE DANÇAR!
, inspirada por toda a energia de todos ao redor, ajudou a amiga a arrastar e para mais perto de onde um grupo dançava, gerando uma cara feia nas duas, que logo se desfez e todas se divertiram.
A noite seguiu com música, comidas e, em algum momento, alguém desenhou Cedrico Diggory e prendeu o desenho à parede, onde alguns se revezavam para rasgar e amassar o papel ou até mesmo acertar facas. Criaram várias músicas de torcida, colocaram Harry Potter no meio de tudo para que todos pudessem congratulá-lo ou indagar como ele conseguira se inscrever, o que ele negava firmemente não ter feito.
— É culpa da ! — disse. — Ele nunca ia falar a verdade em frente à monitora.
— Ei, quando você fala assim, parece que eu sou dedo duro!
— Você segue as regras, é diferente.
— Mas não sou dedo duro. — Ela fez bico. Odiava quando as pessoas a tomavam como certinha só por causa de um distintivo.
— Acho que ele convenceu um aluno mais velho também — disse, mudando o foco da conversa.
— Mas deve ter sido mais que isso! Ele conseguiu fazer com que o cálice escolhesse dois campeões de Hogwarts — comentou.
— E eu nunca dei muito por esse garoto. Anda com essa cara de inocente, mas se deu melhor que a gente! — disse.
— Inocente? Ele não estava envolvido nos últimos acontecimentos bizarros da escola? — lembrou.
— A gente realmente tem que ficar discutindo sobre um adolescente magrelo? — reclamou.
— Hm, por que, , é dos mais velhos que você gosta de discutir? — provocou.
— Eu... eu nunca... nunca falei... como você ousa! — estava vermelha a esse ponto.
— É um completo desastre que nós sejamos quase maiores de idade, quer dizer, algumas já são, e nenhuma de nós namorou até hoje — apontou.
— Eu namorei! — rebateu.
— Namorar um garoto por menos de vinte e quatro horas no Dia dos Namorados não conta — rebateu.
— Claro que conta!
— Garota, se você realmente insiste que isso conta, você está em decadência — disse.
— Pelo menos, estou melhor que vocês...
— Bom, eu nunca quis namorar mesmo, tenho outras prioridades — deu de ombros.
— Realmente, ainda tenho pena daquele menino que te chamou para ir a Hogsmeade com ele no quarto ano. Quem foi mesmo? Davies? — completou.
— Não importa. E também já teve seus pretendentes. Não sei por que vive recusando. Até Cedrico Diggory chegou a te notar! — continuou.
— Tenho outras prioridades — rebateu, sarcástica, fazendo-as rir.
— Bom, pelo menos eu não me sinto ofendida de ter uma vida amorosa ruim perto da de vocês — comentou, dando de ombros e rindo.
— Ah, como se a gente fosse esquecer os seus memoráveis beijos com Truman... não, nossa memória é muito maligna e eficiente para deixar isso passar — provocou.
— Vai começar a me lembrar daquele desastre?
— Ah, querida , só porque ele te beijou, de repente, em frente a todos no Três Vassouras, inclusive dos professores, e depois você saiu chorando porque não sabia como beijar, não significa que foi um desastre — falou.
— Você literalmente listou todos os motivos para ser um desastre — rebateu, já ficando de mau humor.
— Enfim, mais cerveja amanteigada? — logo ofereceu.
O resto da noite e início da madrugada decorreram com conversas, risadas, danças e cantorias, até que, quase uma da manhã, estava insistindo para elas irem dormir e já estava sentindo o cansaço pesar nela, agradecendo muito que o dia seguinte fosse domingo. Afastou fortemente a lembrança dos deveres de casa e fingiu que seria um dia de descanso. Elas finalmente subiram para o dormitório, como metade dos alunos, especialmente os mais novos, porém alguns como Fred, Jorge e Lino, os organizadores da festa, continuaram.
Nos próximos dias, a escola inteira se voltou contra a Grifinória como uma forma de apoiar Cedrico Diggory: o verdadeiro campeão, como eles estavam chamando. tinha perdido a conta de quantos distintivos escritos “POTTER FEDE" teve que tirar dos alunos e quantas vezes ela teve que impedir os irmãos Creevey de explodirem alguma coisa ao tentar mudar o distintivo.
Se não bastassem os deveres de casa e essas confusões, os gêmeos Weasley estavam cada vez mais tentando vender produtos ilegais. O tempo todo ela tinha que levantar para confiscar um produto ou levar alguma criança à ala hospitalar. Aquilo começou a virar uma guerra pessoal.
Então, certa noite, quando ela estava patrulhando os corredores depois do toque de recolher, ela ouviu algumas vozes vindas da escada e identificou como um par muito irritante já conhecido, se escondeu atrás de uma pilastra e aguardou a chegada deles.
— ... temos que pressioná-lo mais.
— Boa noite, Weasleys — disse, dramaticamente, ao sair detrás da pilastra.
O choque no rosto deles começou a compensar cada tarde em que ela ficara completamente nervosa com eles.
— Vamos, o que estão esperando? Filch vai ficar muito feliz de rever vocês na sala dele.
— Sinto muito, , mas nós temos mais o que fazer essa noite do que encontrar um velho rabugento — Jorge pontuou.
— Sabe como é, ele nem tem mais produtos interessantes na sala dele. Já pegamos todos para nós. Então, vamos ter que dispensar — Fred disse, andando.
— Mais um passo e eu convoco Madame Nor-r-ra para cá — ameaçou, mas nem sabia se conseguia conjurar um ser vivo.
— Então, não temos escolha — Jorge rebateu.
E, ao mesmo tempo, Fred e gritaram:
Petrificus Totalus!
Protego!
O feitiço da menina foi suficiente para ela sair ilesa.
Mas, então, ela ouviu alguém atrás dela.
— Ei, vocês acham que cinco tortinhas para cada um está bom?
O segundo que perdeu olhando para Lino Jordan, que surgira no corredor, foi decisivo.
Levicorpus! — Jorge Weasley gritou e uma luz verde saiu de sua varinha. Quando deu por si, estava pendurada de cabeça para baixo no meio do corredor.
Tentou pegar sua varinha, mas, na mesma hora, sua saia virou. Os garotos riam e corriam para longe enquanto ela tentava esconder suas roupas íntimas.
— VOCÊS VÃO PAGAR POR ISSO! — gritou, frustrada.

⭐⭐⭐


— Que horror! Eles fizeram isso mesmo? — perguntou para .
A noite anterior fora traumática. Atraído pelos gritos dos feitiços, Pirraça apareceu e começou a zombar dela. Teve que soltar a própria saia e deixar a calcinha a mostra para poder lançar nele o feitiço Travalíngua e lançar o contra feitiço que a libertou. Deixou o fantasma para trás com a língua colada no céu na boca (inclusive, foi muito útil saber que funcionava com fantasmas também), mas as palavras “calçolas de velhota coroca" ainda ressoavam em seus ouvidos.
Agora, contava para suas amigas sua trágica história. Não bastasse toda a humilhação passada, seus olhos estavam cheios de olheiras pela ansiedade que não a deixou dormir. Pelo menos, pela primeira vez, Filch não aparecera.
— Então, como você vai se vingar? — indagou, a raiva queimando nos olhos. Era uma amiga muito leal.
— Vou contar para McGonagall sobre o acontecido — disse, decidida.
— E depois? — parecia muito ansiosa.
— Depois, eles vão levar uma bela de uma detenção.
— Só isso? Eles te humilham no meio da noite e é isso que você vai fazer? Contar para um professor? — bufou.
— E o que mais ela faria? — retrucou, apoiando a decisão de .
— Bom, ela, com certeza, poderia pensar em algo mais criativo, eles merecem algo pra nunca se esquecerem com quem estão lidando. Detenção eles recebem todo dia — argumentou, enérgica.
— O que você tem em mente? — perguntou, curiosa. Nunca tinha feito algo daquele tipo.
— Bom, não sei. Talvez descer para o nível deles. Uma pegadinha — pensou.
— Ou humilhação pública — completou.
— Não sei fazer nada disso e nem sei se conseguiria — rebateu.
— Você tem que se impor! Eles estão zombando da sua autoridade — disse.
— Ai, não sei se isso é certo... — advertiu, a cabeça balançando em negação.
— Talvez elas tenham razão, . Talvez seja hora de deixar de ser a monitora certinha — falou para a amiga, sentindo a raiva aumentar sua coragem.
— Olha, eu tenho um estoque novinho em folha de bombas de bosta lá em cima, só para casos urgentes, então posso te emprestar — disse seriamente, como se estivesse falando em um empréstimo de diamantes.
— Não sei, acho que tem que ser algo que os surpreenda completamente — pensou alto.
— Acho que eu tenho uma ideia que talvez funcione muito bem — sorriu, maldosamente.
Cinco horas depois, com o plano bem estruturado, estava batendo à porta da sala da Professora McGonagall.
— Entre. — Ela ouviu a mais velha chamar.
— Boa tarde, professora. Desculpa te incomodar em um domingo. Mas eu estava tendo uma ideia e fiquei muito empolgada para praticá-la! — disse, com entusiasmo, na medida certa.
— Não tem problema, srta. . Sente-se. — A professora sorriu de leve, pois tinha apreço pela menina tão dedicada de sua casa.
— Obrigada, professora. Então, estávamos no salão comunal justamente conversando sobre os N.I.E.M.s do ano que vem e veio o nervosismo... sabe, alguns alunos estavam comentando que sentiam que estavam perdidos e não estavam dando conta. E me veio uma ideia brilhante de criar um grupo de estudos!
— Que interessante — Minerva a olhava, curiosa.
— E, por mais que eu saiba que a organização desses grupos é independente e eu não preciso pedir permissão, eu gostaria de saber sua opinião. E... também trazer um outro assunto.
— Com certeza, acho uma atitude muito nobre, srta. . Mas me diga. O que mais você deseja discutir?
— Bom... eu não sei se deveria falar isso — fingiu certo nervosismo. Era só falar exatamente como treinara com as meninas. — Mas, enquanto estávamos na sala comunal, eu ouvi... ah, professora, não quero fazer fofoca, mas eu fiquei tão preocupada!
— O que houve?
— Eu ouvi Fred Weasley, Jorge Weasley e Lino Jordan falarem preocupados que estão se sentindo muito pressionados e perdidos, mas não tinham coragem de pedir ajuda. Deu para sentir que eles estavam sendo sinceros, sabe? E por isso fiquei tão determinada com esse projeto! Como posso ver colegas meus desistirem assim? Apesar de não sermos próximos, crescemos juntos e eu, inevitavelmente, criei um carinho por todos. Não quero mais vê-los nesse estado — nem precisou fingir que estava mal. O peso na consciência de estar mentindo para uma professora já a deixava assim. Mas valeria a pena.
— Entendo, é um sentimento normal estar assim, do mesmo modo que é esperada certa resistência vinda deles. Então, você veio aqui porque queria minha ajuda com isso, certo? E como, exatamente? — a professora falou, a observando por cima de seus óculos quadrados.
— Acho que eles não vão deixar eu me aproximar. Vão ser orgulhosos demais para isso. Estava pensando se você poderia mandá-los para a sala que eu quero fazer esses estudos, sem avisar o motivo, para fazê-los assistirem uma aula que seja. Tentar mudar a cabeça deles. Talvez, se entenderem que todos estão precisando de ajuda, não se sintam incomodados para as próximas vezes!
— Não é uma ideia ruim, srta. , mas também não é a das mais éticas. Essa questão de não revelar o propósito que vai enviá-los para a sala...
— Tem razão, professora McGonagall — suspirou. — Foi meio idiota. Acho que me empolguei querendo ajudar a todos, mas nem sempre podemos. Melhor deixar isso para lá. Eu só fiquei tão preocupada...
A professora a olhou de forma indecifrável, parecendo refletir sobre tudo. Apoiou os braços na mesa à sua frente e, por fim, suspirou.
— Acho que vale a pena tentar uma vez. Eles realmente estão precisando de motivação extra. Espere um segundo. — A professora conjurou com a varinha diversos papéis e os analisou rapidamente. — Vejo que vocês todos têm um horário livre amanhã nos primeiros tempos da manhã. Vou deixar a sala de História da Magia aberta para vocês, já que o professor Binns não trabalha nesse horário. Lhe darei 15 minutos para organizar tudo na frente e, depois, os avisarei para seguirem até lá. É sua única chance e espero que seja bem sucedida.
— Obrigada, professora McGonagall! — exclamou, genuinamente feliz. — Espero que eles não fiquem bravos, eu só quero tanto poder ajudá-los.
— Fique tranquila ao fazer sua parte e, se não der certo, não se culpe. Não podemos tomar decisões pelos outros.
— Pode deixar, professora. E darei o meu máximo para dar certo.
— Tenho certeza disso. Um dia, você será uma bruxa excepcional, srta. .
— Obrigada, professora — disse, o sorriso forçado. Lá estava a professora a elogiando enquanto ela traía sua confiança. Que legal.
Mas não importava. Aquilo ia ser merecido. E talvez fizesse aqueles garotos finalmente aprenderem uma lição que não tinha nada a ver com a matéria da escola.
Naquela noite, as quatro meninas ficaram muito ansiosas no dormitório e não paravam de falar e repensar partes do plano, recebendo vários olhares curiosos de Angelina e Alicia.
No dia seguinte, elas tomaram café e foi apressadamente para a sala de História da Magia. Deixou tudo pronto. Três cadeiras para eles se sentarem e se posicionou atrás da porta com um feitiço de desilusão para encobri-la. A cada segundo, seu coração batia tão forte que ela jurava que escutariam do outro lado do castelo. Mas nada se comparou a ansiedade de quando eles cruzaram o portal.
No segundo em que eles se sentaram, a varinha de foi rápida.
Incarcerous!
Cordas grossas prenderam os três nas suas respectivas cadeiras e os calaram. Os gêmeos e Lino olhavam ao redor tentando entender o que estava acontecendo, ou melhor, quem estava fazendo isso. Seus olhos encontraram enquanto ela fechava a porta. Eles murmuravam coisas incompreensíveis por conta da corda enquanto a menina se sentava em frente a eles.
— Muito bem. Não há motivos para ficarem nervosos. Por favor, fiquem à vontade! Afinal, ninguém vai escutá-los.
O prazer de se sentir no poder era maior do que o nervosismo por fazê-lo. Sabia que ia se arrepender em algum futuro, porém, naquele momento, sentia-se muito poderosa.
— Pois bem, não acharam que aquela gracinha ia ficar assim, acharam mesmo? Não, está na hora de vocês entenderem o que acontece quando se mexe com alguém do seu tamanho. Agora, o professor Binns está chegando e vai ficar contentíssimo de dar mais uma aula de História da Magia. Honestamente, nem vai reparar em vocês.
— E o que a faz achar que vamos ficar calados? McGonagall vai passar a te odiar depois que você fizer isso — Jorge, que tinha se livrado das amarras, falava, a raiva clara em seus olhos.
— Ah, Weasley, honestamente, é a palavra de vocês contra a minha. Em quem você acha que vão acreditar? Nos encrenqueiros que não levam nada a sério ou na monitora exemplar? Vocês se meteram com a garota errada e agora vão entender o porquê — a garota disse, antes de reforçar o feitiço das cordas e deixar todos bem presos e calados. — Bom, agora eu vou indo. Boa aula para todos! Tenho certeza que será um longo aprendizado.
Os olhos de Jorge e Lino refletiam o puro ódio que sentiam dela naquele momento, mas os olhos de Fred não traziam apenas raiva. Traziam o que parecia curiosidade. Aquilo deixou desconcertada, mas ela apenas sorriu maldosamente e os abandonou naquela sala, antes do professor Binns chegar.
Agora, eles iriam pensar várias vezes antes de se meterem com de novo.

Capítulo 8

Fred Weasley nunca se sentira tão irritado, desafiado e... intrigado.
Era de conhecimento de todos que ninguém na escola estava à altura dos gêmeos, ele não podia negar a fama que eles conquistaram com ardor (e muitas bombas de bosta). Nunca haviam sido desafiados desse jeito e nunca haviam saído por baixo.
Especialmente enfrentando alguém tão patética quanto .
Ela era literalmente o oposto deles. Ou, ao menos, ele achava que sim. Não esperava que, depois de deixá-la pendurada no corredor com a calcinha à mostra, ela fosse ficar tão irritada para dar o troco.
Como a garota mais sem graça de todas se tornara, de repente, tão corajosa e sarcástica?
Bom, certamente o Chapéu Seletor havia deixado a menina na Grifinória por uma razão, mas ele nunca se imaginara descobrindo a razão disso amarrado à cadeira, sendo forçado a ouvir o Binns (aula da qual ele havia finalmente se livrado nesse ano).
Pensando bem, nunca pensara muito a respeito de no geral.
Só possuía duas lembranças marcantes dela antes daquele ano.
A primeira, havia sido quando Fred e Jorge subiram no Expresso de Hogwarts pela primeira vez. Iam iniciar seu primeiro ano e estavam empolgadíssimos. E mais empolgados ainda para testar seus novos produtos. Assim que os acenos chorosos da mãe sumiram na curva, seu irmão Carlinhos, que estava no último ano, foi se sentar com os amigos e Percy, o irmão mais irritante e mandão, mesmo sendo só dois anos mais velho, se fechou em um vagão para ler. Enfim a sós, os dois desembrulharam chumbinhos fedorentos e bombas de bosta que estavam escondidas estrategicamente. Escolheram uma particularmente fedorenta e estavam pensando no que fazer, quando uma menina baixinha e séria apareceu no corredor. Provavelmente era uma primeiranista. Com os olhos curiosos, ela relanceou todos aqueles produtos e olhou para os dois rostos quase idênticos:
— O que é isso? — ela perguntou, com a voz fraquinha.
Os gêmeos se entreolharam e partilharam um sorriso discreto que só poderia significar uma única coisa: o plano já estava em ação.
— Isso aqui? — Jorge perguntou, zeloso. — Nunca viu produtos mágicos?
A menina balançou a cabeça em negação, os olhos ainda mais curiosos.
Os Weasley se entreolharam de novo. A vítima perfeita.
— Esse aqui faz parte de um jogo muito divertido — Fred disse, com um sorriso inocente no rosto, segurando a bomba de bosta. — Quer saber? Temos vários. Pega esse pra você.
A menina, provavelmente nascida trouxa, sorriu.
— De verdade? — questionou, um pouco em dúvida.
— Mas é claro! Você também é do primeiro ano, não é? Então nós somos colegas! — Jorge enfatizou.
— É, e colegas devem ser legais um com os outros.
Os gêmeos sorriam inocentes como dois anjos ruivos e a menina só pôde aceitar.
— Tudo bem, obrigada!
— Aqui, pega! — Fred disse, jogando a bomba para a criança e, imediatamente, ele e Jorge entraram em uma cabine.
Os dois só escutaram o barulho da explosão nojenta e incrível, seguida por um grito meio chorado. Quando abriram a porta, a menina estava imunda, com os olhos cheios de lágrimas, e várias pessoas abriam as portas para ver o que estava acontecendo. As risadas começaram a preencher o corredor e a garota simplesmente desapareceu.
Mais tarde naquele dia, a menina continuava fedida, mesmo com a roupa trocada, e diversas lágrimas se acumulavam em seu rosto. Fred descobriu que seu nome era e que ela também fora para a Grifinória.
Sentada na mesa, todos se afastavam dela, não achando o cheiro dela particularmente agradável para um jantar.
— Vocês viram a menina no corredor completamente suja? — Lino Jordan, a quem os gêmeos ainda não conheciam, falou.
— Não pudemos ver muito. Estávamos nos escondendo antes que explodisse — Fred replicou, pegando mais um bolo de carne.
— Espera. Vocês explodiram?! — o garoto novo questionou em total admiração. — Ah, vocês são meus heróis! Meu nome é Lino Jordan.
— Eu sou Fred. Fred Weasley.
— E eu sou Jorge Weasley.
— E os dois vêm comigo. — Uma voz severa disse atrás deles e, quando se viraram, viram seu irmão, Carlinhos.
— Carlinhos! Como vai o jantar? — Fred perguntou em sua voz infantil, mas que o irmão já sabia enxergar a capacidade de causar problemas naqueles pequenos projetos de gente.
— Estava bom até que a professora McGonagall me pediu para chamar vocês.
— Viu, Fred? Já somos celebridades. É melhor pegar as penas. — Jorge se espreguiçou.
— Vamos. Agora. — O Weasley mais velho pegou os dois pelas orelhas.
— ‘Tá bom, ‘tá bom!
No resto da noite, eles ouviram a fedorenta chorar, viram a professora McGonagall ajudá-la, receberam sua primeira detenção e a primeira carta de decepção da mãe.
Mas foi também graças a isso que foram parar na sala do Filch e encontraram o Mapa do Maroto. Ah, aquilo certamente valera a pena.
A segunda lembrança que Fred Weasley tinha era do Halloween do ano passado. Aquele desafio ridículo de entrarem na floresta proibida havia ficado mais na cabeça de Fred do que ele admitira. Quando Jorge e Lino o questionaram sobre detalhes, ele debochou da garota e seu medo de dementadores, mas não admitiu os pensamentos horríveis que passaram pela sua cabeça. E, muito menos, a preocupação que ele sentira por .
Depois disso, aconteceu algo curioso. Fred e nunca mais se falaram propriamente, mas ele começou a perceber a presença da garota. Ele nunca percebera o quanto ela estava sempre tão próxima, o tempo todo perto, nas mesmas aulas, nos mesmos ambientes. E aquilo o incomodava mais do que ele podia admitir.
E, então, ele oferecera uma bala de café para ela. Não iria mentir e dizer que não se sentira culpado. Pela primeira vez em toda a sua história, ele se arrependeu de uma pegadinha. Desde quando ele, Fred Weasley, se arrependia de algo? Mas passou a semana um pouco aterrorizado com o corpo dela pálido e caído no chão. Claro que, em frente a todos, inclusive dela, ele ria daquilo abertamente e falava como era uma experiência incrível para aperfeiçoar a bala.
E, depois, ela se tornara sua parceira de Transfiguração. Embora ele tivesse certeza que ela o ignorava em todas as aulas, com sucesso, Fred não podia deixar de observá-la e irritá-la. Havia algo fascinante em ver a monitora que representava a compostura ser tirada do sério.
Ele só nunca imaginava que fosse tão tirada do sério a ponto de obrigá-lo a assistir uma aula extra do Binns.
Um arrepio subia por sua espinha só de lembrar do assunto.
— Nós precisamos pensar na nossa vingança — Jorge falou, sem mais delongas.
Os gêmeos e Lino estavam na cozinha, roubando alguns petiscos para diminuir o mau humor, e planejando o que fariam em relação à tortura que sofreram no dia anterior.
— Bom, poderíamos fazer uma viagem no tempo e relembrá-la do saudoso cheiro de Bombas de Bosta — Lino falou, malicioso.
— Hogwarts pode não lembrar mais tanto do acontecimento, mas duvido que ela tenha esquecido — Fred replicou e os três riram baixinho.
— Mais uma tortinha de abóbora, senhor? — Um elfo doméstico se aproximou deles, os olhos ansiosos para servi-los.
Jorge refletiu por um segundo.
— Nos veja mais cinco. Para cada um.
A pequena criatura fez uma reverência entusiasmada e correu para dentro da cozinha.
— Mas não sei. Talvez ela pense que nossa criatividade acabou. Não gosto de não ser original — Jorge sacudiu a cabeça.
— Mas ela não é tão especial a ponto de merecer algo muito novo — Lino retrucou e todos concordaram.
Era quase possível escutar as engrenagens girando em suas cabeças. Com um clique, Fred olhou para os outros.
— Talvez... talvez a melhor vingança seja não fazer nada — ele comentou.
Os outros dois rostos viraram para ele, perplexos.
— Você está maluco?! — Jorge gritou.
— Ouve! Não é não fazer nada para sempre. É não fazer nada por um tempo. Ela vai ficar com medo do que estaremos planejando. Não conseguirá dormir sem antes conferir se não existe algo ali. A ausência da vingança a deixará uma pilha de nervos.
Lino e George refletiram.
— E não só isso — ele correu em explicar, as ideias borbulhando em sua cabeça. — Em um jogo de quadribol, como se consegue uma boa chance de fazer um gol?
— Acertando um balaço na cabeça do goleiro — o gêmeo falou prontamente.
— E que forma melhor de mirar o balaço do que estando no campo adversário sem parecer uma ameaça?
— Não agir e se aproximar? — Lino considerou.
— Mantenha os seus amigos perto e os inimigos mais perto ainda — Jorge começou a sorrir de maneira idêntica ao irmão, a cabeça pensando nas possibilidades.
— Não parece nada mal — Jordan retrucou.
— Mas haverá uma vingança, certo? — O outro Weasley logo tentou se assegurar.
Fred sorriu para o irmão e para o amigo, algumas ideias surgindo à sua cabeça.
— Ah, nós vamos fazer nossa vingança. E ela será inesquecível.

⭐⭐⭐


caminhava pelo corredor, atrasada para a aula. Em toda a sua vida, nunca estivera atrasada, especialmente para a aula de Poções.
Mas não andava sendo ela mesma naquela semana. Entre os olhares que recebia dos gêmeos Weasley e de Jordan, só sentia o medo e o arrependimento crescerem em si. Não deveria ter comprado essa briga, era o que repetia para si mesma. Só desejava se esconder o máximo possível.
Sabia que eles estavam com aquele rosto de quem estava prestes a surgir diante de si com uma surpresa. Uma surpresa nada agradável para o surpreendido.
não conseguia evitar. Verificava todos os dias na sua cama se havia algo. Ou dentro do seu malão. Nunca entrava no banheiro sozinha. Lançava feitiços de revelação antes de fazer qualquer coisa. E, à noite, tinha pesadelos horríveis, nos quais ficava coberta de bombas de bosta em frente à escola inteira. Ela ainda lembrava do cheiro e da textura muito mais do que gostaria. E acordava tremendo, sem se permitir chorar, embora o quisesse.
Nunca agira de forma tão irracional e temerosa antes, porém ainda se lembrava da humilhação que havia passado quando entrara pela primeira vez no Salão Principal, espetacular e maravilhoso, e só conseguia sentir os olhos encherem d’água com todos torcendo o nariz para si.
Ficou uma semana conhecida como a “menina-bosta". Foi um pesadelo virando realidade. Ela cortou o cabelo logo em seguida e começou a se tornar cada vez mais invisível, até todos se esquecerem dela.
Por sorte, poucos eram os estudantes que ainda estudavam em Hogwarts que estiveram presentes no incidente e nenhum deles lembrava da identidade da “menina-bosta”.
E ela esperava que continuasse assim.
Com o pânico somado às noites mal dormidas, se encontrava cansada, com olheiras, assustada e em uma crise de nervos e foi nesse estado, somado ao atraso, que ela entrou na aula de Poções.
E todos se viraram para encará-la, inclusive o professor Snape.
— Ora, ora, srta. , parece que minhas aulas não são tão importantes para que você se digne a aparecer na hora, não é mesmo?
Ela abaixou a cabeça, completamente envergonhada. Aquilo, com certeza, era um pesadelo virando realidade. Todos aqueles olhos julgadores sobre si... até que encontrou um olhar preocupado de e se sentiu um pouco mais tranquila.
— Me desculpe, professor Snape, eu...
— Não quero ouvir desculpas esfarrapadas, , eu quero é que pare de atrapalhar minha aula. Sente-se imediatamente. E menos 30 pontos para a Grifinória.
, Kyle e arquejaram, em choque.
correu para se sentar ao lado dos dois na bancada, o rosto corado com os risinhos das outras casas que a acompanhavam até a bancada.
— O que houve? — perguntou baixinho.
— Eu... eu... — ficava cada vez mais vermelha com o motivo do seu atraso. Como podia estar sendo tão idiota de estragar sua vida por uma “ameaça” que não lhe fizera nada?
— Sabe, você anda bem tensa nesses últimos dias. Mas, depois de amanhã, vamos ter o passeio para Hogsmeade e a primeira tarefa do Torneio terça... você deveria relaxar, sabe? Podemos passar no Três Vassouras ou você pode levar algo para ler em algum lugar tranquilo...
Kyle, que assistia tudo quieto, acenava com a cabeça, encorajando. suspirou. Bom, de nada adiantaria viver com medo eterno, não é?
— Acho que você tem razão, , eu...
— Srta. , já percebi que tirou o dia de hoje para me desrespeitar.. — A voz do professor Snape a interrompeu. — É anseio de conhecer a detenção?
O coração de parou. E, depois, começou a bater muito rápido.
— Não, senhor! — Sua voz saiu esganiçada. Por Deus, um de seus orgulhos era, em seis anos de escola, nunca ter se metido em problemas.
— Menos 10 pontos para você e para a senhorita . Da próxima vez não serei generoso.
Agora, todos a encaravam de novo. Por Deus, ela simplesmente odiava isso.
Alguma espécie de muxoxo saiu de sua boca enquanto ela se encolhia na bancada. Por sorte, Snape começara a aula e todos tiveram que prestar atenção para fazerem a Poção Azul-Hidratante.
O trabalho mecânico foi uma bênção, já que aquele estava sendo um dos piores dias que já tivera (e o dia mal começara). Perdera quarenta pontos para a casa, quase ganhara uma detenção e tudo culpa do maldito trio que a deixava completamente confusa. Por que eles não revidaram?
Talvez a tivessem perdoado. Talvez...
— Coloquem suas Poções em um frasco e coloquem na minha mesa. Irei avaliar cada uma pelos padrões N.I.E.M.s. — A voz irritante do professor se espalhou pelo ambiente.
Kyle, e se encaminharam para a fila, os frascos em mãos. colocou a sua poção verde clara, que ela sabia que deveria estar azul turquesa, em cima da mesa, porém, antes de sair, ouviu a voz do professor Snape:
, fique. Quero falar com você.
O medo cresceu em sua garganta, mas ela apenas assentiu e fez um sinal para que fosse à frente.
Depois de uma espera tortuosa até que todos os alunos entregassem suas Poções, se viu sozinha com o professor. O mesmo, carrancudo como sempre, pegou o frasco da menina em suas mãos.
— Me diga, srta. , de que cor deveria ficar uma poção Azul-Hidratante?
se encolheu.
— Azul, senhor.
— E que cor é essa? — Snape estendeu o frasco.
queria chorar.
— Verde, senhor.
— E por que sua poção está verde e não azul?
A garota sentia suas mãos tremerem.
— Eu... eu não sei, senhor.
O professor colocou o frasco de volta com os outros e sua cara, antes fechada, parecia ainda pior agora.
— Você... não sabe — Snape pontuou. — Vou te dizer o que eu sei, srta. . Sei que você se atrasou para a minha aula, usou esse tempo para conversar e ainda espremeu babosa demais na poção, sem nem sequer se dignar a prestar atenção no que fazia. — O olhar dele se estreitou ainda mais. — Você sabe o que isso significa?
Diversas coisas passaram pela cabeça de . Detenção. Sala do diretor. Até mesmo expulsão, por mais que soubesse que era exagero. Mas ela apenas se manteve quieta, esperando o professor terminar.
— Significa que na próxima aula você me entregará um pergaminho de 80 centímetros sobre as influências de cada medida dos ingredientes da Poção Azul-Hidratante em seu efeito. E visite Madame Pomfrey e lhe peça um pouco de Poção Estimulante. Sua cara está horrível, .
ergueu os olhos, completamente em choque. Uma redação? E passar na enfermaria? Essa era sua punição?
— Obrigada, professor Snape — falou baixinho, mas com um sorriso no rosto.
— Já terminamos. Vá embora antes que pegue uma detenção. E, caso se atrase de novo, eu a entregarei ao diretor Dumbledore pessoalmente — ele disse, a amargura extrema de volta à sua voz.
— Sim, senhor — disse, correndo para fora da sala.
Aquilo realmente acabara de acontecer? A garota saíra em total espanto que nem percebera uma pessoa a sua espera no corredor das masmorras.
— Kyle! O que você está fazendo aqui?
— Eu queria falar com você, então fiquei te esperando — ele sorriu.
— Não precisava, de verdade.
— Ah, não se preocupe! Estamos em intervalo mesmo, então não me atrapalhou em nada.
— Obrigada — ela respondeu, pois parecia uma resposta necessária. — Sobre o que queria falar?
Arckeley coçou a cabeça, pensando.
— Bom, primeiro, queria saber como você está. Sabe, com tudo isso que aconteceu.
— Ah! É... está tudo bem. Só não tive uma boa noite de sono — respondeu, surpreendida por aquele gesto.
— E o Snape... não te deu suspensão nem nada assim?
— Na verdade... ele me passou um pergaminho e me mandou visitar Madame Pomfrey — ela falou, ainda sem acreditar.
— Snape sendo gentil?! Você tem certeza de que não entendeu errado?
— Acredite, se eu estivesse lá, eu também não acreditaria.
Os dois começaram a subir as escadas e logo alcançaram o pátio, que estava lotado de alunos aproveitando o intervalo.
— Apesar de isso ser muito estranho, fico feliz que não tenha sido suspensa nem tenha ganhado uma detenção. Porque eu gostaria que você fosse comigo para Hogsmeade no sábado.
estava em completo choque. Que maldito dia esquisito era aquele, no qual ela se atrasava, Snape era gentil e ela era convidada para um encontro?!
Espera, era um encontro, certo?
— Tipo, só nós dois? Juntos? — se propôs a perguntar. Não entre em pânico.
— Acho que essa era a ideia — Kyle riu fraquinho.
— E... seria um encontro?
Kyle coçou a cabeça no mesmo gesto pensativo de antes. O estômago de parecia corroer todo o resto de seu corpo em uma maldita ansiedade. No entanto, o garoto olhou para ela com olhos castanhos brilhantes e calorosos e sorriu. Um sorriso verdadeiro que a fez tremer de leve.
— Sim, é um encontro.
Hipnotizada, antes que pudesse raciocinar direito, apenas se escutou dizendo:
— Tudo bem.
O sorriso de Kyle triplicou de tamanho e ele segurou sua mão brevemente.
— Fico muito feliz. Te vejo no sábado.
E com um beijo na sua mão, ele a deixou ali, completamente boquiaberta.

⭐⭐⭐


Fred não pretendia ter escutado o tal monitor Arckeley falando com , mas foi um acidente. E, quando o escutou, aquilo o deixou encucado. Simplesmente não parecia certo para o resto do plano que ele se intrometesse chamando para sair.
Weasley havia planejado tudo. Começaria a ser mais gentil nas aulas de Transfiguração. Ele já conseguia perceber que ela estava afetada, mas um pouco demais. Ela não relaxava por um segundo estando ao seu lado. Não era burra, afinal. Mas, para a ideia de a vingança funcionar, ela precisava se abrir para a aproximação.
E o tal Kyle só estava atrapalhando tudo.
Claro que ele estava irritado apenas por não conseguir realizar a pegadinha como queria por interferência deste e nada mais, porém, se havia alguém capaz de mudar aquilo, era Fred.
Ou, ao menos, sua autoconfiança acreditava que sim.
Mais tarde naquele dia, a oportunidade surgiu na aula de Transfiguração. As olheiras da garota estavam horríveis, ele não podia negar, e ela continuava totalmente arisca, à espera de algo ruim. Quando McGonagall passou para a aula prática, Fred soube que era hora de começar.
— Me conta. Se você e o Arckeley ficarem juntos, vocês conseguem aproveitar o banheiro dos monitores?
A cabeça de girou assustadoramente rápido, encarando-o em choque.
— Eu... Nós... Eu nem falo com você! — ela disse, a voz mais aguda que o normal.
Fred sorriu maliciosamente.
— E você também não negou.
O rosto da garota adquiriu um tom de vermelho tão intenso quanto suas vestes.
— Olha, eu... eu não sei que tipo de pegadinha você quer tirar com isso, mas eu só quero dizer que tanto faz — ela replicou e, embora gaguejasse, Fred achou admirável.
— Pegadinha? Não dessa vez. Você já deu o troco, estamos quites. Embora tenha sido um golpe baixo. — Fred sentiu sua voz carregada com um pouco de raiva e se lembrou que devia se controlar para que tudo desse certo.
Ele percebeu o duelo interno que se passava em sua cabeça, sendo refletido por seu corpo tenso. Ela deveria encerrar o assunto ali. Mas, para sorte do plano de Weasley, ela não encerrou.
— Então por que você está falando isso?
— Porque eu escutei ele te convidando para sair.
— Você estava me espionando?! — ela replicou, mais alto do que devia, e olhou temerosa para McGonagall.
— Não estava espionando. Estava passando pelo pátio. Se ele não quisesse que todos soubessem, deveria ter sido mais discreto e, de preferência, ter feito isso em um local privado — Fred desdenhou. — Mas, sabe, meu ponto é que você não devia ir.
— Ah, é? E por quê, hein? — ela replicou, sentindo seu corpo sair do sério a cada vez que escutava o timbre da voz de Fred Weasley.
— Porque você é boa demais para ele.
, que estava tentando transfigurar sua coruja em um binóculo, levou um susto tão grande que transformou a pobre coitada em um óculos berrante. A sala inteira ouviu os pios agudos saindo daquelas lentes estranhas.
Até que, de repente, eles voltaram a ser uma coruja tranquila.
— Srta. , Sr. Weasley. Foco na aula. Os dois estão precisando — a professora disse, com um olhar severo, de frente para a bancada deles.
Se antes Celina havia ficado corada, nada se comparava com agora.
— Me desculpa, professora.
— Foi mal — Fred sorriu para ela.
— Aproveitando que ambos estão aqui, gostaria de saber como foi a sessão de estudos na segunda de manhã.
Sessão de estudos? Segunda de manhã? Fred estava completamente confuso. Então, olhou de relance para . Ela estava ainda mais vermelha, encolhida e... culpada? Aquilo parecia culpa?
A luz se fez na cabeça do garoto. É claro. Ela precisava de uma desculpa para McGonagall enviá-los para lá.
Ah, ele podia desmascarar tudo. Dizer que, na verdade, ela havia abusado do poder. Contar que ela infringira as regras. Que a monitora perfeita, na verdade, era uma mentirosa.
Mas, então, ele a viu sorrir para McGonagall, inocente.
— Acho que os meninos não gostaram tanto. Mas eu já esperava.
Aquela desgraçada. Estava mentindo na cara dura. De novo. Agora, mais do que nunca, queria revelar tudo.
Mas, então, ele se lembrou do que ela dissera aos três. Quem acreditaria na palavra de encrenqueiros contra a monitora perfeita?
Além disso, se mentisse, podia conquistar sua confiança. Para a vingança perfeita. Uma que valeria muito mais a pena do que desmascará-la em frente a McGonagall.
Por isso, ele sorriu.
— Existem coisas bem mais interessantes que estudar.
Minerva acenou com a cabeça, como se ele fosse um caso perdido, mas sorria com carinho. Então, ela se retirou. olhava para ele, assombrada.
— Por que... por que você fez isso?
Ele deu de ombros, engolindo o orgulho ferido.
— Como eu disse, já estamos quites.
Ele olhou para ela e percebeu a mudança nos seus olhos. Ainda continuavam desconfiados, mas existia algo novo ali.
Dúvida.
— Mas, como eu disse, você não devia sair com o Arckeley.
bufou, voltando ao seu normal.
— Não sei de onde você está tirando essas coisas. Boa demais pra ele, hmpf. Não foi você que disse que eu pareço a Minerva de coroa?
Fred encarou a garota, completamente confuso.
— Eu disse isso? Bom, parece algo que eu diria. Mas eu disse? Peraí. — Uma cena voltou à sua cabeça. — Está de sacanagem, não é? Só por que eu caçoei da sua fantasia a mais de um ano atrás? E como você guarda tudo isso?
Ela deu de ombros, constrangida.
— Eu só lembro.
Ele colocou a mão no queixo, fingindo pensar profundamente.
— Entendi, não sabia que você era do tipo rancorosa.
— Eu não sou rancorosa! — ela rebateu, completamente ofendida. — Eu só arquivo fatos.
— Claro. E Moody é só um professor. Me lembre de nunca mais falar nada sério com você. Vai que você usa contra mim daqui a anos?
Ela fez uma expressão de indignação completa.
— Sabe, , você não é de todo ruim quando não está enfiada em livros e regras. Até que você foi bem falante hoje.
— Eu só estava mantendo uma conversa civilizada — ela replicou, embora parecesse envergonhada.
Ambos permaneceram em um silêncio confortável até o fim da aula. , como sempre, foi a única aluna a conseguir transfigurar a coruja em binóculos. Fred conseguiu algo parecido com um óculos com muitas penas. Ele imaginou que, talvez, a Trewlaney gostasse.
Quando estavam recolhendo tudo para sair, Fred se virou rapidamente para .
— Sabe, se o encontro com o bocó ficar insuportável, pode me procurar no Três Vassouras para mais conversas civilizadas. — E, logo em seguida, saiu andando.
— Ele não é um bocó — replicou alto para que ele escutasse.
Só que, dessa vez, ela sorria.

Capítulo 9

— É isso, eu não vou — disse, se jogando na cama.
As outras três garotas no dormitório, cercadas de peças de roupas, encararam a amiga.
— Como assim? É claro que vai! — exclamou.
— Você me torturou com umas cinco combinações de roupas diferentes. Agora você vai sim! — concordou com .
— O que houve, , você não estava ansiosa para ir? — se aproximou dela com sua voz doce.
realmente tinha estado ansiosa a semana inteira. Sonhava com aquele momento desde o dia em que Kyle a convidara para passear em Hogsmeade. Tinha até conseguido se distrair do medo de ser surpreendida por uma pegadinha dos Weasley e de Lino Jordan. Mas, agora que finalmente era sábado, todas as suas roupas pareciam ridículas e sentia que Kyle deveria estar em seu quarto completamente arrependido por ter convidado alguém como ela.
“Você é boa demais para ele”.
afastou a voz de Fred Weasley que ressoava em sua cabeça. Ele era uma boa parte do problema daquele dia. Honestamente, estava ansiosa para ter seu encontro com Kyle, mas uma parte estranha dela secretamente torcia para que tudo desse errado e ela fugisse para o Três Vassouras e passasse a tarde com o ruivo. O que era completamente ilógico, já que ele era infantil, idiota, responsável por seu trauma de adolescência e nada coerente.
Mas, certamente, ele a intrigava. E, por Merlim, ele até a fizera rir.
— Eu não sei, gente — a garota falou, enfim, tentando focar no presente. — Nada está ficando bom. E se ele desistiu da ideia? E se ele se tocou que foi impulsivo?
— Ele vai mudar de ideia, se você não levantar essa bunda da cama e aparecer no encontro— bufou. — Veste qualquer coisa, não é como se alguém notasse mesmo.
! — a repreendeu.
— Mas é verdade! No fundo, está todo mundo tão preocupado com si mesmo e com o que os outros vão achar que nem conseguem reparar nos demais — a garota completou.
— De uma maneira extremamente grosseira, ela tem razão — concordou, para a surpresa das amigas. — Mas isso não significa que você não pode se vestir para ficar bonita para você mesma. Aqui, essa saia tinha ficado linda — a amiga estendeu para uma saia rosa florida e rodada que ia até seus joelhos.
— E está começando a esfriar, mas ainda não é inverno, então acho que essa blusa aqui vai ficar boa — estendeu uma blusa de manga comprida fina do mesmo tom.
— Viu? Uma roupa decente — disse, o mais próximo de um elogio que ela poderia fazer em relação à moda.
se levantou, olhando as duas peças e as vestiu, sem nenhuma expectativa. Percebeu, então, que até que haviam ficado bem bonitas.
— Viram? É por isso que eu preciso de vocês! — exclamou, se sentindo um pouco mais animada. O que Kyle acharia dela naquela roupa? O que Fred acharia?
Não, ela precisava manter o foco. O encontro era com Kyle. Kyle!
— Venha, vou te maquiar rápido para você encontrar seu namorado logo — falou.
— Ele não é meu namorado! — replicou, completamente vermelha, enquanto as amigas riam.
— Ah, para, vocês são perfeitos um para o outro! — falou em tom de deboche, mas todas as outras concordaram. — Vocês são os alunos mais exemplares, certinhos, inteligentes e estudiosos da Grifinória. E os dois são bregas.
— Ei!
— Vai, , você sabe que vocês combinam demais! Ele é tão seu tipo — acrescentou.
Aquilo deixou incomodada de novo. Seu tipo? Ela nem sabia qual era seu tipo. As amigas não podiam assumir aquilo por ela.
Tudo bem, se fosse racional, ela realmente parecia se dar melhor com pessoas responsáveis como Kyle. Mas, por exemplo, sua melhor amiga era totalmente seu oposto. Assim como o outro ser que rondava seus pensamentos.
— Acho que vou agora — a garota disse subitamente. Ela precisava seriamente se distrair dos próprios pensamentos e preferia não definir nada sobre qual tipo seria o seu.
— Aproveitem muito! — falou, delicadamente.
— Depois conta se ele beija bem! — gritou, enquanto saía.
— Eca! — completou e todas riram. Então, fechou a porta do dormitório e foi tomada por um silêncio assustador.
engoliu em seco e desceu as escadarias. Àquela altura, os alunos já deveriam estar todos em Hogsmeade.
À exceção do garoto loiro que a esperava com uma linda margarida na mão e que sorriu quando a viu.
se sentiu feliz. Era, literalmente, a realização de um sonho. Um garoto bonito esperando por ela, que sorria quando a via e a trazia flores de maneira linda e simples. Era um momento que ela lera sempre em livros românticos e torcera para viver.
Mas ela não sabia se estava totalmente confortável com aquela situação. E, muito menos, com o que ela implicava.
— Você está linda — Kyle disse, o sorriso se ampliando.
corou de leve. Nunca na vida tinha escutado isso de um garoto e a sensação era boa, ela tinha que admitir.
— Você está muito bem — ela replicou, gentil, e era verdade. A blusa abotoada e os cabelos bem penteados combinavam com ele.
Kyle estendeu sua mão para a garota. Por um segundo, pareceu sofrer uma espécie de paralisia. O que ela tinha que fazer?
Bom, logicamente, tinha que colocar sua mão ali.
E isso ela fez, a expectativa correndo em suas veias.
Foi estranho. Bom, talvez, mas esquisito. Ela realmente não sabia viver situações como aquela e parecia não estar se saindo muito bem, mas, então, olhou para Kyle.
Depois de , Kyle foi seu segundo amigo. Eles acabavam se esbarrando na biblioteca direto, já que ambos eram muito estudiosos e acabaram fazendo muitos trabalhos juntos. gostava de conversar com ele, eles eram parecidos, pensavam parecido e não tinha que se esforçar para interagir com ele. Era só o Kyle e ela não precisava ficar nervosa.
Era seu amigo e ela confiava nele.
manteve todo esse pensamento até saírem de Hogwarts com permissão da McGonagall e alcançarem a aldeia bruxa. O dia estava nublado e frio, então Kyle a puxou para mais perto para aquecê-la. Apesar do calor físico que foi acrescentado, se sentiu um pouco sufocada com aquela aproximação e, o desconforto que ela tinha afastado, retornou. Droga, ela queria não se sentir tão esquisita. Era só seu amigo, ela relembrou.
— Aonde você quer ir? — Kyle a indagou, quebrando o silêncio.
— Ah, você quem sabe — ela falou, acanhada. O menino pareceu um pouco decepcionado com a resposta curta, então ela tentou de novo. — Geralmente, eu vou com a na Zonko’s e na Dedos de Mel. também gosta de lá e sempre pede um final de tarde no Três Vassouras.
Kyle sorriu, parecendo contente com algum conteúdo naquela conversa, enfim.
— Então, você citou todos os lugares que suas amigas adoram ir. Mas e você?
sentiu o rosto esquentar. Ela não tinha reparado naquilo e não se sentiu nem um pouco confortável com aquela constatação, por mais certa que estivesse. O que ela gostava?
— E o que você gosta de fazer? — devolveu, tentando tirar o foco de si.
— Espertinha — ele comentou, rindo. — Geralmente eu venho com Tyler e vamos sempre para a Dedos de Mel, mas, quando eu estou sozinho, gosto de ir lá também — ele enfatizou, nada sutil.
sorriu amarelo.
— Devemos ir à Dedos de Mel, então, já que nós dois gostamos.
— Mas você não acha que muita gente gosta de lá? Podemos acabar encontrando nossos amigos — Kyle acrescentou, apertando sua mão mais firme.
— E o que tem? — perguntou, pensando que talvez encontrar não fosse uma má ideia.
— Não me entenda mal. Eu adoro suas amigas — Kyle tratou de logo falar. — E gosto muito do Tyler também. Mas, quando te convidei para vir comigo... queria experimentar algo diferente. Algo só nós dois. Lembra? Um encontro.
Kyle sorriu e se sentiu uma idiota. Ele estava ali se esforçando para fazer aquilo dar certo e ela fugindo das coisas. É claro que era um encontro, ela mesma tinha perguntado, e encontros não vinham com amigos.
— Só para deixar claro, eu não gosto da Casa de Chá Madame Puddifoot. Tentei ir uma vez com e foi um total desastre — contou, tentando deixar o clima mais leve.
O que funcionou, já que Kyle riu.
— Bom, não vou me opor a isso. Alguma outra opção, senhorita odiadora de chás?
— Ei, eu não odeio chás! Eu odeio esse lugar — o corrigiu, rindo. — E, na verdade, eu tive uma ideia.

⭐⭐⭐


estava feliz de ter se lembrado do Empório Musical do Maestro. A pequena loja era raramente visitada, mas ela achava o local encantador. Aquela era a segunda vez que vinha ali, a primeira tendo sido quando comprou o álbum das Esquisitonas de presente de aniversário para Robert, mas ficara encantada com a loja e acabou pesquisando várias curiosidades sobre os instrumentos bruxos e a música bruxa, inclusive tinha sido quando conhecera a banda.
A música favorita de da cantora Celestina Warbeck ressoava no ambiente de forma instrumental, vinda de uma vitrola encantada e não pôde deixar de sorrir ao pensar nas amigas.
— Parece que achamos um lugar que você gosta. É bom te ver sorrir — Kyle disse, deixando-a constrangida. Como diria que, novamente, estava pensando nas amigas? Por isso, só concordou.
— É um local agradável, não é? — Ele sorriu.
— Eu gosto da música — concordou. Depois, se sentiu uma idiota. Havia coisa mais óbvia do que aquela para se dizer numa loja de música?
Por sorte, Kyle sabia como conduzir um assunto.
— Gosta só de ouvir ou de tocar também?
— Ah, com certeza só ouvir, pelo bem de qualquer ser que tenha audição. — replicou, rindo sozinha.
— Ah, você não deve ser tão ruim assim — ele insistiu.
— Habilidades instrumentais? Zero. E os trouxas têm uma expressão que definem bem o resto: “voz de gralha”.
— Ah, vai, canta só um verso rapidinho.
— No meu leito de morte, talvez — replicou e, quando olhou para a cara do amigo, não pôde deixar de rir, sendo logo seguida pelo outro.
Até que eles estavam se divertindo. O medo de , aos poucos, ia embora e ela voltava a ter com ele a mesma relação de amizade de sempre. É, ela podia fazer aquilo.
Quer dizer, até que Kyle colocou a mão em sua cintura e a puxou para mais perto. Todo o conforto que ela estava sentindo evaporou em um segundo com aquela atitude e seu corpo se retesou completamente. O garoto se afastou de leve.
— Desculpa. Eu não queria te deixar desconfortável.
A voz dele transbordava mágoa. Pronto. E lá estava ela estragando tudo. De novo.
estava em seu primeiro encontro há uma hora e já era capaz de escrever um manual “O que não fazer em um primeiro encontro”. É, talvez ela até ficasse rica com isso.
— Me desculpa, Kyle — ela disse, pegando de leve sua mão. Aquele contato ela havia se acostumado. — Olha, eu sei que eu não estou sendo uma pessoa muito legal. É que... — ela respirou fundo. Meu Deus, aquilo era muito difícil. Tudo o que ela mais queria era estar em uma biblioteca, com um livro bem grosso, longe daquela situação e daquela realidade. Era muito mais fácil ler sobre qualquer coisa do que vivê-la em si. — Eu nunca... isso tudo... é novidade... — suas mãos começaram a tremer de leve e ela se afastou do garoto, constrangida o suficiente. — Kyle, você é um ótimo amigo e eu realmente fiquei muito empolgada em estar aqui. Mas...
— Você não precisa falar, se não estiver confortável — ele replicou, sem parecer bravo.
respirou, aliviada. Ela não precisava falar e isso era muito tranquilizador, mas... ao mesmo tempo, era errado. Ele merecia entender a situação.
— Não, está tudo bem. — Não estava nada bem. — Eu quero te contar. — Ela não queria. — Eu nunca... me envolvi com ninguém. Nunca saí em um encontro ou... você sabe. Eu só não estou acostumada. Não é culpa sua.
— Isso está parecendo um clássico “não é você, sou eu” — Kyle disse, de forma humorada.
— Mas meio que é! — nunca se sentira tão constrangida na vida. Se aquilo era ter um encontro, namorar deveria ser muito pior. Ela tinha certeza de que infartaria no dia em que isso acontecesse. Se acontecesse. — É sério — continuou. — Você é um cara ótimo. Eu realmente não sei o que está acontecendo.
Ele a observou seriamente, as mãos da garota começaram a ficar geladas e suadas e tudo o que ela conseguia estupidamente pensar era “então esse é um efeito forte do hormônio adrenalina”.
Então, Kyle sorriu de leve, confundindo-a.
— Se você precisa de calma e tempo para se acostumar, não tem problema. Obrigado por falar comigo e esclarecer as coisas. Sei que isso não é fácil.
— Nem um pouco — gemeu em resposta e o garoto acabou soltando uma risadinha. Aos poucos, suas mãos foram ficando menos frias. Estavam voltando ao seu normal de amizade e aquilo era mais fácil de lidar.
Naquele momento, um velho entrou na loja e os encarou, impaciente.
— Vocês vão ou não comprar alguma coisa?
Os dois se entreolharam, sem saber como responder àquilo, as risadas nervosas se formando na garganta.
— Ahn, acho que é melhor a gente ir — Kyle disse, saindo apressado, com se escondendo atrás dele. O velho senhor os encarou seriamente até que eles já estivessem na rua a uma quadra de distância.
Quando os dois estavam a salvo, a primeira coisa que fizeram, espontaneamente, foi rir sem parar. Os alunos os encaravam, sem entender nada, mas aquilo só fazia seus risos aumentarem. Quando, enfim, conseguiram parar de rir, segurou sua barriga, que já estava sofrendo os efeitos doloridos da gargalhada.
Então, percebeu que Kyle lhe encarava e seu estômago se revirou.
— Sabe — o garoto começou a dizer —, você fica muito bonita rindo.
se sentia uma bandeira da Grifinória de tão vermelha que deveria estar, já que sentia a pele fervendo em seu rosto.
— Eu não sei se é audácia minha assumir isso, mas acho que nós dois nos divertimos hoje — Kyle disse, sorrindo de canto.
Ainda se recuperando do elogio inesperado, sorriu de leve. Pensou em todos os momentos daquela hora tão esquisita, mas, no fim, concluiu que havia sido um bom momento.
— Você tem razão, foi divertido. Que pena que nós nunca havíamos saído antes como amigos, hoje foi bom. — comentou, sincera, mas pensou ter dito algo errado quando o viu levantar as sobrancelhas na menção da palavra “amigos”.
— Acho que podíamos repetir isso um dia — ele arriscou.
se perdeu um pouco em pensamentos. Aquele havia sido um dos dias mais desconfortáveis de sua vida, tendo passado por sentimentos que desejava nunca mais sentir. Porém, ainda contagiada por aquela última risada e por um desejo oculto de fazer com que seus dias não fossem sempre iguais, ela se viu dizendo:
— É uma boa ideia.
Ele sorriu e, antes que ela pudesse entender o que estava acontecendo, se inclinou para depositar um beijo em sua bochecha. A garota entrou em estado de choque, seu corpo sem conseguir reagir a sua mente, que, naquele momento, estava preenchida por pensamentos incoerentes. Quando o menino se afastou, ela pôde pensar um pouco mais claramente.
— Acho que você vai gostar de encontrar suas amigas um pouco, não? Nos atrasamos, mas ainda temos algumas horas de passeio. Você devia aproveitar.
achou aquilo muito considerativo da parte do menino e não conseguiu conter seu sorriso.
— Obrigada, Kyle. E obrigada por hoje. Você... — “é um ótimo amigo”, ela quase falou, mas aquela palavra parecia estar sempre estragando tudo. Por isso, ela optou por mudar sua resposta — é um cara muito bacana.
Ele sorriu e se afastou, descendo a rua em direção à loja Dedos de Mel. Quando ele estava longe o suficiente, a garota, confusa, seguiu para a direção oposta.
Havia uma coisa que ela não contara a Kyle. Um lugar que ela gostava muito de ir, mas, por algum motivo, não se sentira pronta para compartilhá-lo, embora fosse o primeiro local que todos os alunos conheciam.
alcançou a estação vazia de trem e se sentou em um banco afastado, raramente vendo uma ou outra pessoa passar por si. Uma vez, se perdera de no passeio e, acidentalmente, viera parar na estação. Desde então, aquele era um ponto secreto que, às vezes, ela gostava de ir. O barulho do trem e a invisibilidade que ganhava ao se misturar ao cenário eram ótimos para organizar seus pensamentos.
E ela precisava pensar.
Kyle tinha sido extremamente atencioso com ela o dia todo. Quisera saber mais sobre ela, lhe escutara com cuidado, lhe oferecera a oportunidade de escolher para onde eles iriam e a elogiara várias vezes. Ela não podia negar, quando o desconforto a abandonava, aproveitava, e muito. Rira de uma forma que apenas suas amigas conheciam e ela não podia negar que gostara da companhia dele.
Mas, sempre que aquilo passava a parecer um encontro, ela se sentia nervosa, suas barreiras se erguiam e ela estragava tudo. Por Deus, se juntasse todo o tempo que passaram juntos, ela teria no máximo uma hora e meia e, por mais inexperiente que fosse, não era burra para não saber que encontros costumavam ser mais longos.
Ela gostava de Kyle, mas não daquela forma.
Porém, ao mesmo tempo, e se fosse apenas falta de tentativa? As amigas disseram que eles eram perfeitos juntos e eles realmente se davam bem. E se o problema fosse com ? E se ela simplesmente não soubesse como sentir as coisas daquela maneira?
E se tivesse algo de errado com ela?
Não que fosse errado. sempre escutara de pessoas que simplesmente não sentir atrações por outras ou não ter interesse romântico nenhum era tão comum quanto o contrário. O problema é que ela sentia que não era bem assim com ela. Mas, se não funcionara com Kyle, o garoto perfeito, de que outra forma iria funcionar?
— Por que as personagens fazem tudo parecer tão fácil? — ela murmurou para si própria.
— Caramba, , dá para ver seu cérebro prestes a explodir daqui.
se sobressaltou de tal forma, que quase escorregou do banco. Aquela voz... por Deus, agora ela estava alucinando?
No entanto, quando levantou a cabeça e viu Fred Weasley parado em sua frente, ela soube que nem a magia era capaz de criar uma cópia imaginária tão fiel.
Em seu estado de choque, ela demorou vários segundos (que pareceram uma eternidade), para simplesmente formular:
— O que você tá fazendo aqui, Weasley?
Ela queria demonstrar indiferença, raiva, incômodo, qualquer coisa, porém só conseguiu se sentar igual a uma pateta e encará-lo, seu corpo tão sem reação quanto quando ela recebera aquele beijo na bochecha.
— Nossa, , eu sei que minha presença causa certas reações nas pessoas, mas eu não sabia que podia ser tão forte. Caramba, é difícil ser tão incrível e intimidador...
E, com aquela única frase, Fred Weasley conseguiu tirar de seu torpor, fazendo-a bufar e revirar os olhos, como sempre, embora agora tentasse conter um sorriso nos lábios. E tudo estava de volta ao normal.
— É sério, Weasley — ela falou, agora mais confiante e incisiva. — Esse é meu espaço.
— Você comprou esse banco? — ele indagou, a voz em um tom exagerado de admiração.
— Ahn... não, mas...
— Ah, então não é seu mesmo. Eu posso me sentar.
E ele se sentou. Bem ao seu lado. Por Merlim, teria uma jovem bruxa vivenciado tanta ansiedade em um período tão curto de tempo antes?
Agora que o olhava direito, no entanto, não sabia se estava realmente incomodada com sua presença. Sua blusa social combinava com seu cabelo despenteado e suas sardas, que pareciam ainda mais evidentes hoje, como se também tivessem ganhado liberdade por estarem fora da escola. Seus bolsos pareciam suspeitamente cheios e seus olhos... refletiam aquele brilho de agitação de sempre que tanto a intrigava.
Por mais que odiasse admitir, ele estava muito bonito daquele jeito.
E, por algum motivo estranho, segurava uma caneca de cerveja amanteigada na mão.
— O que é isso? — se repreendeu mentalmente na hora em que deixou a pergunta escapar. Desde quando ela puxava assunto com ele?
Mas tudo o que ele fez foi olhar para a própria mão, surpreso, como se tivesse esquecido o que trazia consigo.
— Puxa, que bom que você se lembrou. Na verdade, isso é para você.
E o garoto simplesmente deixou o copo em sua mão. Se antes estava intrigada, agora ela era um poço de confusão.
— Para... mim?
— Eu te disse para passar no Três Vassouras qualquer coisa, mas você não apareceu. Deve ter sido um bom encontro.
— Isso não explica a bebida — replicou, desviando do assunto, já sentindo suas bochechas quentes. Por algum motivo, Fred era a última pessoa com quem ela queria falar sobre isso.
— Ah, eu te vi passando nessa direção e decidi te oferecer a bebida em um gesto de paz. Você realmente parecia estar precisando.
Um gesto de paz? Agora estava intrigada.
— O que você colocou nisso aqui, Weasley?! Pó de arroto? Veneno?
— Se eu tivesse colocado, eu não te contaria, não é? Não faria sentido — ele replicou, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, mas se sentiu ainda mais atacada. — É uma brincadeira! Você leva tudo muito a sério.
— E você não leva nada a sério.
— E qual seria a graça disso? — ele perguntou, de forma tão genuína, que a deixou sem palavras.
— Bom, minha missão está cumprida. Te vejo segunda nas aulas, , ou antes, se você tiver sorte. Só tente não desmaiar.
— Ah, vai se ferrar! — ela respondeu, constrangida, mas tudo o que tirou dele foi um belo sorriso.
E então ele se foi.
Tentando não pensar no silêncio e no vazio que a ausência do garoto parecia trazer, olhou para sua bebida completamente desconfiada.
Aproximou-a de seu rosto e cheirou, sem sentir nada além do doce cheiro de uma boa e quente cerveja amanteigada. Ela olhou em volta, garantindo que estava mesmo sozinha.
— Bom, se algo constrangedor acontecer, pelo menos ninguém vai ver.
Com medo, tomou um gole de leve na bebida e se assustou completamente. Porque, mais estranho do que seria uma bebida envenenada, era constatar que a cerveja amanteigada estava intacta e deliciosa.
Por que diabos Fred Weasley havia lhe oferecido aquilo?
E por que razão ela parecia ter gostado tanto do gesto e daqueles poucos minutos em sua companhia?
Com um choque, ela percebeu que Fred estivera bem próximo a ela quando estavam sentados no mesmo banco e ela não se incomodara nem um pouco. Pelo contrário, parecia... certo.
Mas aquilo era, com certeza, a coisa mais errada que podia sentir.

Capítulo 10

Após o estranho sábado em Hogsmeade, as coisas ocorreram de forma mais tranquila. Por algum motivo, não contou para as amigas sobre a interação com Fred Weasley, pois algo inexplicável a deixava nervosa ao tocar naquele assunto e a fazia querer guardar aquilo para si. Mas decidiu deixar aquilo de lado, pois tinha problemas bem mais urgentes: os N.I.E.M.s.
Faltavam ainda dois anos para a prova e já se sentia sobrecarregada. Moody os ensinava sobre os melhores métodos de proteção (o bisbilhoscópio enlouqueceu perto de Fred, Jorge e seus produtos suspeitos, o que deixou bem apreensiva), Snape andava ainda mais cruel e sempre colocando todos os alunos para baixo (embora ela não se esquecesse de sua inesperada simpatia), Flitwick conseguira, pela primeira vez, dificultar feitiços (que antes era a aula de lazer) e Aritmancia estava com o triplo de dever de casa.
Mas o pior eram as aulas de Transfiguração.
Nunca houve um momento em que Fred conseguiu ficar quieto e assistir qualquer aula, mas, naquele dia, com a primeira prova do Torneio, ele estava no ápice de sua agitação. Sua perna balançava sem parar, ele murmurava palavras incompreensíveis, o sorriso maroto não desgrudava de seu rosto e ele, frequentemente, acabava mexendo nas coisas de ou a atrapalhando.
Fred Weasley era um furacão de euforia e ela estava em seu caminho. Não demorou nem cinco minutos para que ele a perguntasse:
— Vai torcer para quem? Potter ou o idiota do Diggory?
Ela se sentia estranha conversando com ele. Desde o dia do passeio, seu estômago parecia vivenciar uma sensação engraçada quando ele falava com ela ou sorria para ela. Mesmo assim, ela se esforçou para responder o mais naturalmente possível.
— Não acho Diggory um idiota. Ele é um exemplo de aluno e zombar dele é desrespeitoso.
— Ah, qual é, ninguém pode ser assim tão perfeitinho. O último senhor perfeito que tivemos acabou como um maluco — o ruivo disse.
estremeceu só de lembrar de Gilderoy Lockhart.
— Enfim, não é essa a questão. Para quem você está torcendo?
— Para quem você está torcendo? — ela rebateu.
— Ora, essa é óbvia. Fleur e Krum são rivais, Diggory é um cabeça oca, eu fico com o grifinório. O Harry tem um talento para sair de confusões muito bem.
— Bom, fico feliz que você tenha fé na sua casa, porque Potter é o menos preparado. De qualquer forma, não importa quem vai ganhar e, sim, podermos assistir as diferenças de pensamentos entre os alunos e suas execuções de feitiços que evidenciam as peculiaridades das escolas — disse, rapidamente, empolgada.
Fred, por sua vez, fez uma careta.
— Às vezes, você fala tão difícil, que eu me sinto em uma aula do Binns.
O rosto de se fechou na hora e ela se voltou para o canário em sua frente. Por que perdera tanto tempo com ele? Imbecil, imbecil, imbecil! Prometeu a si mesma que nunca mais se dignaria a falar com ele.
Claro que o plano ruiu cinco segundos depois.
— Calma, , foi brincadeira. Acho legal a sua forma de pensar, mas você precisa olhar tudo com mais simplicidade. Se divertir no caos, pelo caos. Aproveitar o Torneio pelo que ele é: uma competição para as pessoas torcerem e agirem como idiotas. E, pra começar bem a experiência, você tem que fazer uma coisa essencial.
É claro que aquilo chamou a atenção de e o canário foi novamente esquecido.
— O quê?
Fred sorriu, radiante.
— Uma aposta.
ficou sobressaltada.
— Uma aposta?! Quantos anos você tem, oito?
— O dobro disso — ele a corrigiu. — E todo mundo faz.
— Geralmente, eu só vejo homens burros fazendo — replicou.
— Ei, eu faço apostas! — o ruivo exclamou, baixo.
— Exatamente — ela murmurou em resposta.
Fred bufou, mas ainda exibia o brilho nos olhos. acreditou que o assunto havia se dado por encerrado e, por isso, voltou-se para a aula.
E pensar que achara que pudesse estar... sentindo alguma coisa por esse garoto. Ainda bem que havia retomado o juízo.
Juízo que perdeu em um segundo quando a perna agitada do menino encostou na sua. Imediatamente, sentiu suas bochechas corarem. Por algum motivo, aquele contato era... estranho. Seu estômago reagia de forma esquisita a tudo aquilo e o calor trocado pelo contato era surpreendentemente agradável.
se afastou, rapidamente, e nunca se esforçou tanto em sua vida para manter o foco. Se continuasse se distraindo daquele jeito, terminaria reprovada! Aquelas sensações poderiam parecer boas, mas eram também assustadoras. Juntando esse medo com o pânico de ser uma futura bruxa desempregada (risco que não poderia correr, se não quisesse seus pais a jogando em uma faculdade de direito), teria que se dedicar.
Depois de ter lançado um Abaffiato discreto em Fred Weasley (e se sentir bem culpada com isso), ela pôde, enfim, analisar o canário com calma, respirar fundo e pronunciar as palavras com precisão:
Avis!
No instante seguinte, outros três canários idênticos ao original piavam e voavam pela sala, chamando a atenção de uma McGonagall orgulhosa.
— Muito bem, !
A garota sentiu seu peito inflar de orgulho. Era assim que queria cumprir cada aula, com sucesso e perfeição. Ela percebia também o quanto o silêncio de Fred Weasley ajudava a atingir esse objetivo, mas, com medo de levar bronca e até sentindo uma leve pena do garoto, desfez o feitiço em que parava de o escutar.
— ... Krum vai ser desclassificado, se usar o que aprende na escola, porque dizem que lá só ensinam magia negra...
O garoto continuou tagarelando a aula inteira, a perna inquieta, e só pôde suspirar e dar o seu melhor para ignorá-lo até o final da aula.

⭐⭐⭐


Finalmente, as aulas tiveram fim e os alunos ansiosos foram liberados para assistir a prova.
, , e estavam eufóricas, cada uma a sua maneira. convencera as meninas a pintarem pelo menos parte do rosto com as cores da Grifinória e encontrou bandeiras para todas (embora parte delas fossem com o rosto de Krum, sendo estas descartadas pelas amigas).
Quando alcançaram as arquibancadas do campo, ficaram abismadas com a transformação. O local parecia ter sido ampliado para receber os convidados extras e os aros do campo de quadribol haviam sumido. No centro, ao invés da costumeira grama verde, diversas pedras cinzentas se espalhavam pelo chão e, no que parecia ser um ninho gigante, um grande ovo dourado se estendia.
— Uau, eles capricharam para valer — disse, encantada.
— Vamos encontrar algum lugar para sentar — disse, prática.
Enquanto subiam pelas arquibancadas cheias de barulhos, gritos e agitação, um grito chamou a atenção do grupo:
— Ei, ! Garotas! Tem lugar aqui!
As quatro meninas se viraram e não encontraram nada mais, nada menos, do que Fred Weasley acenando animado para elas, acompanhado de todo o resto do sexto ano da Grifinória. O grupo se entreolhou e , e encararam de forma suspeita.
— Por que o Weasley está chamando a gente? — perguntou diretamente para .
— Ahn... — a menina não sabia como sair daquela situação sem entregar suas confusas borboletas no estômago — ele comentou na aula de Transfiguração que... todo mundo do nosso ano ia sentar junto e chamou a gente — inventou uma mentira. Ela era uma péssima mentirosa, suas amigas logo iam perceber o que estava acontecendo e aquilo só a deixou mais nervosa.
A testa de só se franzia, cada vez mais.
— Mas eles não te fizeram mal? Com aquela história da bala de café e depois com a humilhação no corredor? — a questionou, parecendo mais confusa do que irritada.
se sentiu mal ao reviver as lembranças na sua cabeça. Ela realmente ficara muito irritada, assustada e fora de si. Porém, foi só lembrar da cerveja amanteigada e dos elogios recebidos, que sentiu seu rosto ficar corado.
— Nós estamos... fazendo as pazes — a menina desconversou. — Vamos, já está tudo lotado, é nossa melhor opção.
As meninas acabaram concordando, embora continuasse encarando de uma forma bem desconfortável. As quatro cumprimentaram seus colegas e se sentiu arrependida quando viu que Kyle estava naquele meio. Estivera fugindo dele desde sábado porque não sabia como reagir. E se ele tentasse beijá-la de novo? Ela não se sentia bem com a imagem e seu estômago se revirava de um jeito ruim.
De repente, percebeu um puxão no seu braço.
— Foi mal pela companhia do idiota. — A voz de Fred estava bem próxima de seu ouvido. — Ele estava do lado de Alicia e Angelina quando as convidamos.
Agora, seu estômago estava se revirando, mas daquele jeito bom. Ficou um pouco perdida antes de, finalmente, conseguir responder:
— Ele não é idiota. É meu amigo — mesmo tendo dito isso, no entanto, se sentou na cadeira mais distante de Arckeley.
O garoto arqueou a sobrancelha e não falou mais nada. As meninas se ajeitaram e se sentaram, ajeitando suas bandeiras. Fred desviou sua atenção para .
! Quanto tempo. Não que minha barriga esteja sentindo saudade — provocou.
— Se comporte e aí não teremos um reencontro do meu punho com o seu estômago — ameaçou, mas Fred apenas gargalhou.
— E aí, qual serão as apostas? — Jorge se meteu, já erguendo uma caixa cheia de moedas.
— Isso é tudo de apostas? — questionou, incrédula.
— Você tinha que ver como os primeiranistas são fáceis de extorquir — Spinnet disse, rindo.
— Não sabia que você estava envolvida nesse esquema, Alicia — Kyle brincou.
— Não estou envolvida. Mas, já que está acontecendo, não vou deixar de olhar e rir.
— Parem de nos enrolar, queremos mais números e palpites — Lino Jordan se colocou no assunto, já apontando para .
, você não vai... — Antes que terminasse, a amiga já tinha gritado.
— TRÊS GALEÕES NO POTTER!
! — brigou, mas ela nem escutava, fazendo as trocas necessárias com Lino enquanto Jorge anotava. — Vocês não se odiavam?
— Menos, , é só uma aposta — a amiga brigou.
— Sua vez, loirinha — Fred apontou para , que levou tanto susto com a atenção que derrubou os próprios óculos.
— E... eu? — ela perguntou, depois de ajustar o acessório. Era engraçado pensar que era a mesma garota solta e tagarela quando estava apenas entre as amigas.
— Vai, , quem vai ser?
— Ela não vai fazer isso — disse, em um tom de alerta. Não sabia mais se estava contra as apostas ou simplesmente contra uma ideia de Fred.
— Pode apostar em mais de uma pessoa? — a amiga questionou, fazendo suspirar, derrotada.
— Não faz muito sentido, mas pode – Jorge disse, dando de ombros.
— Então eu aposto dez sicles no Cedrico e dez no Krum — ela disse, baixinho, entregando as moedas.
— Ah, apostou no bobão do Diggory? — Tyler Madley, melhor amigo de Kyle, disse e fez cara de vômito.
— Já percebeu como só os garotos reclamam dele? Talvez se sintam ameaçados pela presença de uma pessoa decente — falou baixinho, fazendo rir.
— Esses frouxos são invejosos, — a amiga replicou, ainda rindo.
— E você, ? Vai apostar em quem? — Angelina perguntou para .
— Ah, eu não sei...
— Vocês podem ter conseguido com e , mas é do time dos sensatos, certo? — falou com a amiga, sabendo que aquela batalha ela havia ganhado. Até e pareciam saber disso.
— Ah, vai, , é só uma aposta! — Jordan disse e Alicia riu, concordando.
Imediatamente, ficou vermelha de uma forma que nunca havia ficado antes e apenas estendeu uma moeda dourada para Lino.
— Na Fleur. Fleur Delacour. — E se calou logo em seguida.
As amigas se entreolharam. Será que estava gostando de Lino Jordan? Ela nunca havia reagido dessa forma com nenhum outro garoto. Mas aquele assunto teria que ficar para depois, pois a voz de Lino Bagman se propagou por todo o campo.
— Boa tarde, Hogwarts, Beauxbatons e Durmstrang! Sejam todos bem-vindos à nossa primeira tarefa! Estão preparados para essa emoção?
A plateia berrou em resposta, as torcidas e cores se misturando, a mais presente sendo a torcida para Hogwarts e, especialmente, para Cedrico Diggory. Bagman continuou seu discurso.
— Antes de descobrirmos sobre a prova, gostaria de receber nossos ilustres juízes. — Em seguida, os três diretores e o senhor Crouch entraram e se sentaram em um local especial das arquibancadas. — Muito bem! Agora chega de mistério! A primeira tarefa perigosíssima e excitante que nossos campeões enfrentarão será... DRAGÕES!
Como se combinado, naquele momento, um enorme Focinho-curto sueco cinzento apareceu entre as pedras, segurado por diversos bruxos, e rugiu alto. A arquibancada gritou em resposta, parte assustada, parte agitada.
— Ei, é o Carlinhos! — Jorge disse, dando uma cotovelada no irmão.
— Por isso o idiota já sabia de tudo! – Fred o respondeu.
— Cada campeão enfrentará um dragão sorteado aleatoriamente — Ludo continuou. — O que todos têm em comum? São fêmeas muitíssimo dispostas a proteger seu ninho, ninho este que os campeões devem invadir para capturar o ovo de ouro! — Um arquejo geral foi escutado. — Não se preocupem, ninguém irá morrer, se estiverem prontos para a tarefa! Estou brincando, estou brincando... — ele adicionou depois dos gritos da plateia.
— Ele é tão idiota — Fred bufou, revirando os olhos, recebendo uma cotovelada de Jorge, que deixou curiosa.
— Então, nosso primeiro campeão, diretamente de Hogwarts, será o senhor Cedrico Diggory! Boa prova para todos!
Um apito ressoou e Cedrico entrou no campo, sendo ovacionado, inclusive por , que parecia ter perdido a timidez. ficou atenta a cada movimento do campeão, que recebia diversos gritos da plateia e uma narração especial feita por Ludo. Depois de ter sido incendiado, para o terror de todos, transfigurou uma pedra em um cachorro, deixando todos confusos, porém, de alguma forma funcionou.
No momento em que o garoto ergueu o ovo de ouro, a plateia gritou e foi ao delírio completo. Tirando alguns machucados, ele parecia relativamente bem.
— Que maldade com os dragões — sussurrou para enquanto o dragão cinzento era tirado à força e um Verde-galês entrava no campo.
— Tenho certeza de que eles são muito resistentes — a consolou. — Vão ficar muito bem, já já vão voltar para casa... Olha, agora é a Fleur, vamos torcer pela sua aposta, certo?
A amiga se acalmou um pouco, relanceando de leve para observar os dragões, embora, às vezes, seu olhar fosse até Lino Jordan. estava super curiosa com aquilo, mas ficou quieta. Delacour entrou na arena e os gritos recomeçaram, mesmo que menos intensos.
— Ela é linda, não é? — escutou Fred falar. Se sentiu meio esquisita com a reação do próprio corpo àquele comentário, então apenas deu de ombros.
— Não vejo nada demais.
Fred sorriu.
— Olha quem está com inveja agora. Ou, quem sabe, ciúmes.
— Pff, nos seus sonhos, Weasley — ela disse, antes de se voltar para a tarefa. Já tinha perdido boa parte da tarefa.
Ok, Fleur era muito bonita e aquilo era fácil de se admitir, por que, então, ela havia se sentido incomodada e agido de forma tão infantil?
Quando voltou a prestar atenção na prova, a saia de Fleur estava em chamas. Por Deus, agora ela se sentia realmente culpada. A estudante de Beauxbatons estava correndo perigo de vida e estava se preocupando com a aparência da garota. Pouco depois, pelo menos, a garota conseguiu finalmente capturar o ovo de ouro do dragão que parecia sonolento. A plateia foi à loucura, mesmo os rivais. Naquele momento, todos apenas queriam algo legal para assistir.
As notas foram anunciadas e Fleur foi bem, porém ficou abaixo de Cedrico.
— É, , sinto muito, mas perdeu o seu galeão — Fred disse.
— Bom para nós. É sempre bem-vinda para apostar conosco — Jorge completou.
— Foi um bom palpite, pelo menos — Alicia disse, sorrindo.
O apito tocou de novo e agora Krum estava em campo. A plateia agora estava realmente desesperada, afinal, o cara era um astro do quadribol, mesmo que o achasse engraçadinho fora da vassoura, como se não soubesse andar e interagir direito.
Em pouco tempo, Krum lançou um feitiço que acertou os olhos do dragão, deixando-o desnorteado e tirando vários “oh” e “ah” das arquibancadas. Ninguém mais estava sentado, querendo acompanhar tudo, pareciam prestes a pular no meio de tudo. No entanto, o dragão esmagou parte da ninhada real, fazendo começar a chorar.
— Os dragões! Os pequenos dragõeszinhos!
tentou acalmá-la de novo, mas agora não deu certo. Ela estava realmente devastada, era muito sensível quando se tratava de animais. Alicia parecia realmente angustiada de vê-la daquele jeito, porque logo se levantou e a segurou delicadamente pelo braço.
— Vem, vamos beber uma água e, quem sabe, uma poção calmante.
— Obrigada, de verdade — sussurrou para Alicia e balançou a cabeça, reiterando o agradecimento. Alicia apenas fez como se não fosse nada e, depois, saiu acompanhada de .
— Coitada, espero que fique bem — Lino disse, os olhos arregalados.
Naquele momento, no entanto, foram abafados pela multidão enlouquecida. Krum havia pegado o ovo de ouro e recebia agora sua nota dos juízes. Na vez de Karkaroff, recebeu um injusto 10.
— Esse cara não podia ser juiz, é uma fraude! Ele tirou pontos sem motivo da Delacour e do Diggory também — exclamou, irritada.
— Agora, o Krum está em primeiro, injusto! — Angelina, que havia apostado no Diggory, reclamou.
As reclamações apenas cessaram quando o apito soou pela quarta e última vez, anunciando a entrada do minúsculo Harry Potter. O dragão que ele iria enfrentar parecia muito pior do que todos os outros três juntos. Aqueles espinhos malignos fizeram se arrepiar.
— Com medo, ? Se algo acontecer, eu vou estar aqui para te salvar — Fred debochou dela.
— Minha vida? Dependendo de você para ser salva? Então eu vou ser morta mesmo — ela devolveu, embora seu tom também demonstrasse brincadeira. Lino se borrou de rir da carranca de Fred e apenas encarou de forma mais estranha, não parecendo gostar daquela proximidade.
Todos, no entanto, ficaram vidrados quando Harry convocou a sua Firebolt e nem mesmo pôde deixar de gritar loucamente. Talvez a Grifinória tivesse chance real de vencer! A garota não entendia muito de quadribol, mas não podia deixar de notar o óbvio domínio da vassoura que o garoto possuía, tendo ganhado muito mais confiança no ar do que no chão.
Ele, então, foi provocando o dragão, até que este se erguesse do chão, dando a Potter a oportunidade de pegar o ovo de ouro. A arquibancada gritou mais do que nunca e não conseguiu nem acreditar. Harry Potter, mesmo tendo se machucado levemente, fora o melhor e o mais rápido!
As notas apenas confirmaram isso. Mesmo com a clara nota injusta de Karkaroff, Harry ficou em primeiro no placar.
— RÁ! GANHEI A APOSTA! — exclamou, tão animada, que parecia ter sido ela a capturar o ovo de ouro. Na verdade, sua perna ficou tremendo em ansiedade desde o momento da aparição da vassoura. Ela, com certeza, estava com saudade do quadribol.
— Pode deixar que te pagaremos, . Não somos como outras pessoas por aí... ai! — Jorge foi interrompido por uma cotovelada de Fred. Esses dois eram, certamente, muito estranhos.
— É bom me pagarem mesmo, se não meu punho terá três estômagos para socar — disse, bem-humorada.
Se a festa no salão comunal na Grifinória tinha sido grande quando Harry fora escolhido pelo cálice, o evento de comemoração de vitória nem se comparava. Até os desacreditados, como , vibravam loucamente com aquela vitória da casa. Potter foi erguido no ar diversas vezes e todos pareciam felizes como se tivessem acabado de ganhar a taça das casas e a taça de quadribol ao mesmo tempo. Cerveja amanteigada claramente ilegal era distribuída pelos ruivos e cada grifinório ali presente se sentia orgulhoso de pertencer àquela casa.
havia se recuperado muito bem e estava junto com elas, exibindo um sorriso muito feliz enquanto se enchia de bolo, pedia alguns Fogos Fabulosos do Dr. Filibusteiro Sem Fumaça Nem Calor para Lino e conversava com sobre os melhores momentos do dia.
Harry, então, a pedido de todos, abriu o incrível ovo dourado: e fez com que todos tampassem os ouvidos, horrorizados. nunca escutara um som tão aterrorizante em sua vida e tinha certeza de que aquilo afetaria seu ouvido para todo sempre (e seus pesadelos também).
— Fecha isso! — Fred berrou e nunca o achara tão sensato na vida.
— O que é isso? — um quartanista, Simas Finnigan, perguntou. – Parecia um espírito agourento... quem sabe você vai ter que passar por um deles da próxima vez, Harry!
— Era alguém sendo torturado! — o esquecido Neville Longbottom disse. — Você vai ter que enfrentar a Maldição Cruciatus!
— Deixa de ser babaca, Neville, isso é ilegal — Jorge disse e sentiu pena do pequeno, ele parecia realmente assustado. — Não usariam a Maldição Cruciatus contra os campeões. Achei que lembrava um pouco o Percy cantando... quem sabe você vai ter que ataca-lo quando estiver debaixo do chuveiro, Harry.
lembrava-se de Percy Weasley, que parecia uma pessoa muito sensata, até se mostrar um arrogante. Nunca agradeceu tanto por nunca o ter encontrado no Banheiro dos Monitores.
— Quer uma tortinha, Mione? — Fred ofereceu para a menina, que o olhou com um olhar desconfiado.
— Menina esperta — ela murmurou perto dele, segurando o riso. Estava com um ótimo bom humor.
— Ah, parem. Podem se servir. Não fiz nada com elas. É com os cremes de caramelo que vocês têm que se cuidar...
Neville, que havia acabado de se encher de creme de caramelo, se engasgou imediatamente.
— É só uma brincadeirinha, Neville... — O ruivo, então, pegou outra tortinha e, dessa vez, estendeu para . — Quer? Prometo que não coloquei nenhuma bala de café.
riu e revirou os olhos, aceitando a tortinha, se lembrando quando também ficara desconfiada com a cerveja amanteigada. Quem diria que ele poderia ser uma pessoa tão gentil.
— Para o “menos preparado”, até que Harry foi bem — Fred repetiu suas palavras de mais cedo. A garota não pôde deixar de rir.
— Está bom, eu admito, eu estava errada.
O queixo do garoto caiu genuinamente.
admitiu que estava errada? Eu ouvi certo?
— Ouviu, e é melhor aproveitar, porque não vai ouvir de novo — brincou.
Os dois riram e o garoto saiu para conversar com o irmão. Por algum motivo, ela ficou triste com aquela saída. Logo, no entanto, o lugar foi ocupado por Kyle Arckeley. A garota imediatamente ficou tensa.
— Ei, você está aqui! Já estava achando que você estava me evitando — ele disse, rindo, e ela se forçou a rir, porque era exatamente isso que ela estava fazendo.
— Boa festa, não é? — disse, tentando não ser tão estranha.
— Quem diria que o Potter ia vencer, não é? Ele seria minha última aposta.
— Exato, porque ele teve menos tempo de formação...
— ... e aprendeu menos feitiços. Pois é! Mas é bom ter um campeão grifinório. E poder assistir às outras escolas também. É interessante ver como se comportam, não é? Não conhecia o feitiço que Krum usou.
observava Kyle falar com o coração pesando dentro de si. Seria tão fácil ter se apaixonado por ele: eles pensavam igual, tinham objetivos similares e eram amigos. Por que, por Merlin, não poderia sentir uma mínima agitação no estômago que fosse?
percebeu que Arckeley estava perto dela e, sem explicação, se sentiu mal e ansiosa. E se ele tentasse algo e, de novo, ela não conseguisse corresponder? Quando deu conta, havia se levantado em um pulo.
— Eu, ahn... vou buscar mais tortinhas.
E fugiu, antes que ele a abordasse de novo. Apenas quando estava longe, pôde respirar fundo, aliviada. Porém, a sensação não durou muito, já que apareceu de supetão em sua frente, com a cara bem fechada.
— Ah, oi, ! — tentou dizer, normalmente, mas a voz falhou. Estava morrendo de medo de encarar a amiga e ter que responder perguntas que não estava preparada para responder nem para si mesma.
— Por que você está tão amiguinha de Fred Weasley e fugindo de Kyle? O que está acontecendo? Isso não tem nada a ver com você! — a amiga despejou em cima dela de uma vez, a assustando.
, fala mais baixo.
, fala mais baixo — a amiga respondeu, debochando.
— Olha, eu sei que você está irritada, mas quer parar de fazer cena? Vamos conversar como dois seres humanos normais, por favor?! — quase gritou. Odiava, simplesmente odiava, quando começava com aquela voz.
— Ah, então agora você quer conversar? Porque acho que você está me escondendo coisa há muito tempo! — ela exclamou. — Da última vez que eu soube, os gêmeos eram nossos inimigos mortais e você gostava de Kyle.
— Eu nunca disse que gostava de Kyle. Eu só saí com ele!
— E disse que gostou!
— Não foi... péssimo — olhou para o lado e suspirou. — Eu só estava cansada de você e as meninas ficarem me empurrando para cima dele! Vocês dizem que somos perfeitos um para o outro e, eu não sei, eu não consigo sentir nada. Você sabe como é assustador? Não sentir nada nem por uma pessoa perfeita para você? — ela, enfim, desabafou o que vinha sentindo pesar no seu peito desde sábado.
ficou em silêncio em sua frente, o que era um ato raro. Parecia analisá-la dos pés à cabeça, até que também soltou um suspiro.
— Vocês pareciam mesmo perfeitinhos, mas acho que perfeição nunca foi seu tipo, não é? Quer dizer, eu sou sua melhor amiga — afirmou. — Se você não gosta dele, está tudo bem, mas, caramba, , por favor, não deixa de me contar nada, ok?
— Eu... só estava confusa.
— E eu podia ajudar a sumir com a confusão, não é? Tipo agora. Você sabe que não é obrigada a gostar dele, não sabe? Só não pode iludir o coitado. E aí? Não é mais fácil conversar?
— Quem diria que eu estaria recebendo broncas suas — brincou, embora se sentisse aliviada. Estava morrendo de medo de brigar com a melhor amiga.
— Viu como eu também sou sábia? — disse e a amiga riu.
— Obrigada, . Você me perdoa por te deixar de fora?
A garota fingiu pensar.
— Como eu sou solidária e sei que você não vive sem mim, eu te perdoo. Mas com três condições: você nunca mais vai me esconder nada, vai conversar com o Kyle e vai admitir que eu sou a melhor.
As duas riram e abraçou a amiga, falando:
— Pode deixar. E você é a melhor.
— Eu sei — revirou os olhos, convencida. — Ah, mais uma coisa.
— O que é? — perguntou, mais leve.
De repente, ficou mais séria.
— Cuidado com esse seu gosto com pessoas problemas. Não quero que você se machuque — ela relanceou, sem dúvidas, o ruivo que pegara os fogos de artifícios de Lino. — Nem todas são boas como eu.

Capítulo 11

Os alunos tinham que se contentar com as aulas até o próximo evento do Torneio, que seria apenas em fevereiro. Duas semanas se passaram da prova do dia 25 de novembro e a expectativa cerceava os estudantes. Era realmente difícil se concentrar em qualquer coisa com um evento legendário acontecendo.
— Muito bem, não se esqueçam do dever para amanhã: um pergaminho de um metro sobre conjuração de pequenos mamíferos — a professora McGonagall anunciou para a turma, que já se preparava para sair. — Agora, um aviso para todos antes de a aula acabar.
Fred Weasley, que já estava de pé, bufou. Queria sair da sala o mais rápido possível, mas, então, ganhou um leve cutucão de no braço, uma silenciosa mensagem para que ele ficasse quieto. Ele se jogou novamente na cadeira, de cara feia, mas esperando.
— O Baile de Inverno está próximo — a professora continuou —, é uma tradição do Torneio Tribruxo e uma oportunidade para convivermos socialmente com nossos hóspedes estrangeiros. Agora, o baile só será franqueado aos alunos do quarto ano em diante, embora vocês possam convidar um aluno mais novo, se quiserem. O traje é a rigor e o baile, no Salão Principal, começará às oito horas e terminará à meia noite, no dia de Natal.
Muito cedo, pensou Fred, mas sua careta já se transformara em um sorriso. Era uma ótima oportunidade. Tinha que conversar com Jorge: precisavam arrumar uma boa bebida para batizar o ponche, mas, principalmente, preparar a festa pós baile. Os professores estariam concentrados no Salão, o que daria uma ótima oportunidade de encontrarem uma boa sala vazia e afastada para encantarem e...
— O Baile de Inverno, naturalmente, é uma oportunidade para todos nós... hm... para nos soltarmos — McGonagall disse, não parecendo muito feliz com aquilo, o que só aumentou o sorriso do ruivo. — Mas isto não significa que vamos relaxar os padrões de comportamento que se esperam dos alunos de Hogwarts — ela olhou para Fred com as sobrancelhas franzidas — e ficarei extremamente aborrecida se um aluno, principalmente da Grifinória, envergonhar a escola.
A sineta tocou e agora o garoto não pôde ser impedido de sair da sala, correndo, agora ainda mais empolgado do que nunca. Quando estava fora do local, no entanto, esperou até sair.
— Um Baile de Inverno. Parece que esse ano o Natal em Hogwarts será bem movimentado — o garoto comentou, acompanhando-a, enquanto se dirigiam ao pátio no tempo livre antes da aula de Defesa Contra as Artes das Trevas.
— Mal posso esperar. Um baile a rigor! Vai ser como um baile mágico de “Adoráveis Mulheres”. Ou melhor, como Andie entrando na festa acompanhada de Blane em “A Garota de Rosa-Shocking”.
— Quê?
— Ah, são filmes trouxas — desconversou, subitamente constrangida por ter deixado tantas informações escaparem. — Mas vai ser legal, não? Todos arrumados por uma noite, as comidas, a música... Imagine a decoração! O Salão Principal já é lindo em seus dias comuns. O que será que o Flitwick vai pensar para essa festa?
— Vou ter que pegar umas dicas com ele para nossa festa pós baile — Fred riu.
— Festa pós baile?
— Ora, não achou que deixaríamos que a noite acabasse meia noite, quando o Natal estiver apenas começando? Não se preocupe, , quando tudo estiver definido, você será convidada. Se prometer não nos dedurar.
revirou os olhos.
— Eu prometo — falou, com deboche.
— Não estou sentindo muita firmeza nessa promessa.
— Então vai ter que confiar em seus instintos. — A menina acenou para ele no ponto em que se separariam para encontrar seus respectivos amigos. — Tchau, Weasley.
— Sempre um prazer, .
Fred observou a garota caminhar para longe, os cabelos balançando enquanto ela se afastava. Naquele último mês, Weasley se surpreendeu ao perceber que realmente estava gostando de se aproximar de . Toda a vontade de se vingar da menina sumia a cada semana que conviviam, tudo aquilo perdendo o sentido. Ela era, realmente, muito diferente dele, mas aquilo só aumentava uma vontade irresistível de provocá-la. Adorava vê-la revirar os olhos e, principalmente, quando reunia coragem para retrucar.
Sabia, então, que precisava falar com Jorge e Lino, não só para combinarem a festa pós baile, mas, também, para esclarecer que eles não poderiam planejar nada contra , que o melhor era deixar aquilo em paz.
Com sorte, o tempo passado desde o incidente faria os dois escutá-lo.
Acenou para ambos enquanto se aproximava deles, que exibiam sorrisos radiantes no rosto.
— Ouvimos de Tyler que teremos um baile aqui na escola — Lino comentou.
— E que termina meia noite, o que exige uma comemoração depois — Jorge continuou.
Os dois continuaram verbalizando todos os pensamentos que passaram pela cabeça de Fred naquela manhã e ele não conteve o sorriso gigante. É claro que rapidamente seus pensamentos foram afastados de para focalizar em todas as ideias que passavam em sua cabeça que poderiam colaborar para a melhor noite de Natal da história.

⭐⭐⭐


Na aula seguinte, Defesa Contra as Artes das Trevas, que muitos sextanistas faziam (todos os grifinórios inclusos), ninguém prestava atenção ao professor, ansiosos demais para comentar apenas sobre o baile. Moody, depois de gritar umas duas vezes, acabou recostando-se à cadeira e dormindo.
— Ele realmente é meu professor preferido! — exclamou por cima das conversas paralelas ao escutar um ronco profundo vindo da mesa do professor.
— Então era para isso que tivemos que comprar os vestidos — pontuou. — Ainda bem que não deixei minha mãe separar um vestido dela da adolescência e juntei dinheiro para comprar um próprio.
— Eu ainda não vou usar o meu — bufou.
— Podemos tentar encomendar algo na Trapobelo Moda Mágica aqui de Hogsmeade.
— Boa, ! E, por favor, deixem eu fazer a maquiagem de vocês — pediu com um beicinho.
— Por Merlin, só não exagera! — , que era o maior alvo do pedido, aceitou, resignada.
— Quem diria que ela aceitaria tão fácil, cadê a verdadeira ? — debochou, rindo.
— Rá, rá, hilária. — A garota mostrou a língua. — Até eu sei que serei expulsa pela McGonagall, se não estiver dentro dos padrões.
— E temos que estar lindas. Já pensaram se um dos lindos meninos de Beauxbatons nos chamam para dançar? — suspirou.
— Você só pensa em garotos — comentou, rindo baixinho.
Desde a primeira prova do Torneio Tribruxo, a amiga andava mais feliz, sorria por tudo e se alegrava com qualquer assunto que elas comentavam. tinha certeza de que era graças à sua nova quedinha, Lino Jordan. Estava feliz por ver a amiga se abrir para novas experiências e pessoas.
— E, falando de garotos, já pensaram em seus pares? — questionou, um sorriso gigante se abrindo em seu rosto. tinha certeza de que ela já tinha pensado em uns treze pares diferentes.
— Acho que vou curtir sozinha, obrigada — pontuou.
— Eu espero que vários meninos bonitos me convidem para eu poder escolher entre eles. Fazê-los sofrer um pouco, como protesto ao feminismo — exclamou.
As garotas não se seguraram e logo estavam gargalhando pela sala. Ainda bem que o professor ainda roncava.
— Espero que uma pessoa especial me convide — falou, baixinho, olhando rapidamente para trás.
As outras três amigas riram baixinho, provocando-a.
— Olha só a , toda apaixonadinha!
— Ah, ! Me deixa! — a amiga falou, rindo. — E você? Pensa em alguém especial para ir ao baile?
parou e se imaginou um pouco na mágica noite de Natal. Todos os filmes trouxas clichês que havia assistido com sua mãe na infância tinham a clássica cena da menina entrando no baile e fazendo o mocinho suspirar. Por um segundo, se imaginou no meio do Salão Principal em seu vestido, rodopiando com um menino ruivo...
Suas bochechas coraram quando ela percebeu no que estivera pensando. Suas amigas a observavam, atentas, à espera de uma resposta, então pigarreou:
— Acho que estou mais com a nessa, podemos aproveitar a noite entre nós no baile! E, provavelmente, em uma festa depois — ela comentou, se lembrando dos comentários de Fred Weasley na aula de Transfiguração.
— Mas e o Kyle? Você não iria com ele? — perguntou.
O olhar de foi atraído pelo de , um olhar que a repreendia. A promessa que havia feito a ela queimava no fundo da sua cabeça. suspirou ao se virar para e .
— Acho que percebi que só gosto dele como amigo. Só não sei o que dizer a ele, não quero magoá-lo!
— Ah, suspirou, puxando-a para um abraço.
— Diga a verdade — disse. — Sempre vai doer, mas é melhor do que uma ilusão que vai machucar muito mais depois.
— Exatamente o que eu disse! — exclamou. — E é melhor resolver isso antes que ele te convide para esse baile.
suspirou. Sabia que as amigas estavam certas, mas não se sentia preparada para enfrentá-lo. Parecia mais fácil arranjar um par e dispensar Kyle por não estar disponível.
E, por mais que negasse com todas as suas forças, sabia quem seu coração desejava que a convidasse.

⭐⭐⭐


Já era a última semana do trimestre e Fred, Jorge e Lino não podiam estar mais envolvidos no baile e na festa pós baile como estavam no momento. Deixaram de prestar atenção nas aulas (não que fizessem isso antes), planejaram o que levariam para o baile, onde fariam a outra festa, música, comida, bebida, convidados...
Mas um problema antigo se fez presente novamente: na hora de arcarem com a parte financeira, Fred e Jorge estavam mais apertados que o normal e a culpa era de apenas um homem: Ludo Bagman.
Antes de as aulas começarem, os gêmeos fizeram uma aposta generosa na Copa Mundial de Quadribol com o homem: e obviamente ganharam. Porém, depois de serem pagos, descobriram que tinha sido ouro de leprechaun, que desaparecia depois de um tempo. Os dois tentaram contatar Bagman, acreditando ter sido um erro do mesmo, mas, depois de serem ignorados algumas vezes, continuaram insistindo com as cartas. Tentaram até falar com ele em Hogwarts, mas só foram ignorados. Agora, estavam tentando contatar pessoas que eles descobriram também terem sido enganadas, como o pai de Lino.
Naquela noite, iam passar no corujal para enviar a última carta antes do Natal e, para isso, precisavam de um favor: Pichitinho, a coruja de Rony.
Entraram no salão comunal da Grifinória, procurando-o, e o avistaram justamente quando as cartas de snaps explosivos chamuscaram suas sobrancelhas ao explodirem na sua cara.
— Ficou legal, Rony... vai combinar bem com suas vestes a rigor, ah, isso vai — Fred falou e Jorge começou a rir da cara do irmão. Eles se sentaram à mesa com Rony, Harry e Hermione.
— Rony, podemos pedir Pichitinho emprestado? — Jorge perguntou.
— Não, ele está fora entregando uma carta. Por quê?
— Porque Jorge quer convidar sua coruja para o baile — Fred falou, com um sorriso sarcástico. Como seu irmão era lento às vezes.
— Porque nós gostaríamos de enviar uma carta, seu panacão — Jorge respondeu o óbvio.
— Para quem é que vocês tanto escrevem, hein? — Rony perguntou.
— Não mete o nariz, Rony, ou vai queimá-lo também — Fred falou, sacando a varinha como uma ameaça. Tudo o que menos precisava era do irmão fuxicando seus assuntos particulares. — Então... vocês já arranjaram pares para o baile?
O ruivo questionou isso para os mais novos de forma descontraída, embora sua mente entrasse em um turbilhão sempre que pensava no assunto. Olhou em volta pelo salão e encontrou o motivo de sua confusão sentado em frente à lareira, lendo um livro com uma cara concentrada e adorável.
Por algum motivo, imaginar com um vestido de baile, o acompanhando, estava mexendo bastante com Fred nos últimos dias, o que o deixava bem preocupado. Tudo bem que havia a aceitado como amiga, mas aqueles pensamentos estavam constantes demais em sua cabeça. Poderia convidá-la, mas algo o fazia ter medo de sua recusa também. Sabia que bastava convidar alguém para tirá-la da cabeça e acabar com aqueles pensamentos estúpidos, mas, de alguma forma, ainda não tinha conseguido se propor a fazer isso.
— Não — Rony respondeu, despertando o gêmeo de seu conflito interno.
— Então é melhor andarem depressa, companheiros, ou todas as garotas legais vão estar ocupadas — Fred continuou.
Naquele momento, talvez por mera coincidência, talvez por uma pegadinha do destino, levantou seus olhos do livro, suspirou e olhou em volta. Ela avistou Fred e seu olhar se prendeu ali. Ela sorriu.
O estômago dele fez algo muito esquisito que ele odiou.
Fred desviou o olhar, nervoso, para o outro canto, onde Angelina e Alícia conversavam. Ali era um lugar mais tranquilo de olhar.
— Com quem é que vocês vão, então? — Rony perguntou, um pouco na defensiva.
— Angelina — Fred disse, prontamente, sem nem perceber o que falava. Quando entendeu o que havia dito, percebeu que estava ferrado. Agora, tinha que cumprir com aquilo, se não quisesse ser zoado pelos irmãos.
— Quê? — Rony perguntou, espantado. — Você já a convidou?
— Bem lembrado. — Fred engoliu em seco e pensou que aquela não seria a pior das possibilidades: Angelina era linda, legal e ele tinha a impressão de que ela gostava dele. Por isso, gritou para onde ela estava: — Oi! Angelina!
— Que foi? — ela perguntou ao se virar.
— Quer ir ao baile comigo?
Angelina lhe lançou um olhar como se o avaliasse de cima a baixo.
— Tudo bem — ela respondeu, enfim, voltando-se para Alícia com um sorriso no rosto.
— Pronto, moleza — falou para Harry e Rony. Então, se levantou, espreguiçando-se. —É melhor usarmos uma coruja da escola, então, Jorge, vamos...
Quando se preparava para sair, Fred não se conteve e olhou novamente em direção à lareira. No entanto, não estava mais ali.

⭐⭐⭐


Dois dias se passaram desde que Fred convidara Angelina para ser seu par no baile, mas continuava chateada. Sabia que não tinha direito e era bobagem, mas, por algum motivo, presenciar aquele convite a magoou mais do que gostaria. Angelina era linda e a tranquilidade com a qual Fred a convidou, como se já soubesse que ela aceitaria, assustou (por mais que ela já soubesse da quedinha que Angelina tinha por ele). Por um mísero momento, ela havia achado que, talvez, eles pudessem ir juntos (sim, uma loucura fantasiosa), mas todos os seus pensamentos malucos ruíram por terra.
Talvez fosse melhor assim: que tivesse voltado à realidade antes que se machucasse de verdade. Mesmo assim, estava muito grata pelo fim das aulas e início do recesso. O que menos desejava era encarar Fred Weasley naquele momento.
O início do recesso, porém, a deixava preocupada: faltavam três dias para o baile e ela ainda não tinha par.
havia sido convidada por um dos meninos de Beauxbatons, Jean, para o baile. realmente mantinha inabalável sua posição de que queria ir sozinha. , por outro lado, vivia sorrindo e dizia ter um par: as meninas tinham certeza de que Lino a havia convidado.
Mas não tinha ninguém. Tudo bem que podia ir com Kyle (vinha fugindo dele na última semana de forma extraordinária), mas não era o que ela desejava, uma noite tensa com o que ele poderia fazer. Poderia também decidir ir sozinha, como . Talvez a poupasse de problemas. Por mais que não fosse o ideal, era o mais provável de acontecer.
No entanto, sua chateação com o convite de Fred talvez a tivesse deixado descuidada. Naquela tarde, indo para a biblioteca escolher sua nova leitura do feriado, não se tocou da aproximação de Kyle. Quando o viu, já era tarde demais.
— Kyle! — o cumprimentou com a voz esganiçada. Por Merlin, o que faria agora?
— OI! — O menino parecia aliviado por vê-la. — Venho tentando falar com você há dias!
— Jura? Não percebi — riu, sem graça. — Sabe como é, final de ano antes do recesso. Colocar tudo em dia para não acumular nada para o ano que vem!
— Entendo perfeitamente. — Ela sabia que ele entendia.
Um silêncio se instaurou, até que os dois chegaram à porta da biblioteca. Antes que eles entrassem, no entanto, o grifinório pigarreou.
, escuta... Eu venho me perguntando se, por acaso, você já tem um par para o Baile de Inverno.
A menina congelou. Sabia. Sabia que pagaria pelo deslize de ter se distraído com aquele ruivo idiota.
— E por que você tem se perguntado isso? — ela tentou questionar de forma alegre, se fazendo de desentendida, tentando aliviar o clima.
Mas ele sorriu de uma forma que fez o estômago de gelar. Ah, ela odiava confrontar as pessoas, odiava mesmo, e sabia que teria que fazer isso com ele! As temidas palavras logo saíram da boca do menino:
— Porque, se estiver desacompanhada, eu gostaria muito que fosse o meu par.
Kyle era um menino encantador. Era bonito, não podia negar, fofo, engraçado, gentil e a entendia bastante, pensava muito como ela. Mas não gostava dele desse jeito. Lembrou-se de alertando-a para contar a verdade a ele. Ela sabia que era o correto. Sabia mesmo.
Mas o que saiu de sua boca foi:
— Poxa, Kyle, eu agradeço muito o convite, mas infelizmente eu já tenho um par. Quem sabe não nos vemos no baile?
E entrou correndo na biblioteca, fugindo do confronto. Quando estava atrás de uma estante bem escondida, suspirou, aliviada. Que tipo de grifinória covarde ela era? Sentia vergonha de si mesma. Mas o que mais poderia ter feito?
E o pior: agora, com toda certeza, precisava achar um par.
Depois de meia hora (dez minutos até ter certeza de que Kyle havia saído da biblioteca e mais vinte para escolher sua nova leitura), foi da biblioteca para o corujal, agora tendo muito mais precaução em seus movimentos. Precisava, urgentemente, pensar numa solução. Não sabia nem por que estava indo para o corujal especificamente, só parecia um lugar que dificilmente encontraria Kyle – ou qualquer outra pessoa.
Mas, surpreendentemente, não estava vazio.
— Rob! — ela exclamou.
O irmão de se assustou ao escutá-la, mas, quando viu quem era, logo abriu um sorriso, tranquilo.
, quanto tempo!
— Pois é, nem parece que estudamos na mesma escola — ela zombou. — O que está fazendo aqui?
— Enviando uma carta para meus pais. Eles me pediram para dizer como a veste para o baile ficou em mim. Era do meu pai, sabe.
— E sua mãe queria vestir com as antigas vestes formais dela.
— Eles adoram tradições — Robert revirou os olhos, mas tinha muito carinho em seu rosto. — Já tem um par para o baile?
— Não — ela respondeu, suspirando. — É parte do motivo que estou aqui. Meio que disse para alguém que eu tinha um par só para não aceitar um convite?
— E por que só não recusou?
— Porque fiquei com medo de magoá-lo — respondeu, sorrindo amarelo.
Rob riu da cara dela e começou a acompanhá-la para fora do local.
— Vem, não vale a pena se esconder em um lugar com cheiro de caca de coruja. Ai, , é tão sua cara se envolver em uma situação dessas por sua extrema gentileza.
— Obrigada por chamar minha covardia de gentileza. E você? Já tem um par? — ela perguntou, desconfortável, querendo mudar de assunto.
Ele sacudiu a cabeça negativamente.
— Infelizmente, a única pessoa que eu queria convidar parece estar bem o suficiente sem o meu convite.
— Sinto muito, Rob.
Então, uma ideia maluca se formou na cabeça de . Talvez mais maluca do que ter mentido para Kyle. Na verdade, estava mais para uma consequência disso e era bem agradável. Esteve tão preocupada em achar um par, mas não se tocou que poderia simplesmente ir acompanhada de um amigo em quem confiasse!
— Rob! — agarrou o braço dele, sacudindo-o. — Rob, tive uma ideia!
— Eu percebi! — ele afastou o braço dela, o rosto incrédulo.
— Vai ao baile comigo, por favor! Eu preciso de um par, você não tem nenhum, somos bons amigos. Que mal tem nisso? Melhor eu que uma terceiranista desesperada para ser convidada, não é?
— Ei, eu não fui convidado só por terceiranistas!
— Tanto faz — ela abanou o ar com a mão, como se afastasse o assunto. — O que importa é que eu sou genial! Vamos juntos! Vai, por favor, aceita!
Rob suspirou e olhou para os lados, como se pensasse na ideia. Então, deu de ombros.
— Mal não faz, não é?
— Quanta empolgação em aceitar meu convite — debochou.
— Não reclama que eu pelo menos aceitei.
Os dois riram e abraçou Robert, agradecida, antes de se despedir e correr para o salão comunal da Grifinória. Um peso havia saído de seu peito. Agora, quando entrasse no baile com Rob, tecnicamente não teria mentido para Kyle. E Rob era divertido, além de, com certeza, não a ver como nada além da amizade. A noite mágica que ela tanto havia sonhado parecia ganhar cores de esperança novamente.
Depois de passar pelo quadro da mulher gorda, olhou rapidamente pelo salão comunal e encontrou as amigas conversando em um canto. Jogou-se na poltrona em frente à elas, assustando-as.
— Tenho um par para o baile!
As meninas arquejaram juntas, surpresas, quase como se fosse uma cena de filme. quase não conseguiu segurar o riso.
— Com quem?! — logo perguntou.
— Com Rob!
certamente não esperava a reação que se seguiu. franziu as sobrancelhas, quase se engasgou de tanto rir e ficou chocada.
— Meu irmão?!
— Relaxa, combinamos de ir como amigos. Digamos que foi uma troca de interesses.
— Interesses? — questionou.
— Digamos que eu ainda não consegui ser sincera com Kyle — desviou o olhar — e que Rob estava sem par. Parece que a garota que ele queria ir negou o convite ou algo assim. Bom, melhor com um amigo do que sozinha!
— Ainda bem que é só amigo. Desculpa, seria só tão estranho pensar em você beijando-o!
— Para mim também, acredite — certificou à amiga, sorrindo. — Agora, seremos sete. Nós quatro, Rob, o tal Jean e Lino!
franziu as sobrancelhas.
— Lino? Eu não vou com o Lino.
a encarou, confusa. O que a amiga estava dizendo?
— Como assim? Você anda toda sorridente desde a prova, quando vocês começaram a conversar!
O rosto de ficou vermelho, mas não de vergonha. Era raiva. nunca vira a amiga tão irritada.
— É claro que você pensou que era por causa dele! Todas vocês, não é? — estava claramente chateada e sua voz saía irritada, o que era estranho de ouvir, já que ela era sempre muito doce. — Nunca pararam para pensar por que eu nunca quis sair com nenhum dos garotos que já me convidaram?
As meninas fizeram silêncio, se encarando. Estavam perplexas demais para responder. suspirou.
— Acontece — ela começou, em um sussurro — que eu não gosto de meninos.
Agora, o seu rosto estava vermelho de vergonha e seus olhos se enchiam de lágrimas.
— Eu gosto de meninas — ela admitiu, a voz tão fraca que mal era audível. — E Alícia me chamou para o Baile de Inverno.
parou, chocada, para absorver a informação. É claro, Alícia, quem havia a levado para a enfermaria. Quem estava ao lado de Lino todas as vezes em que achou que a amiga o olhava. Que estava nas aulas de Herbologia com . Via, às vezes, as duas trocando sorrisos no dormitório, também. Como pôde ser tão cega?
, desculpa — começou.
— Não precisa. ‘Tá tudo bem — suspirou, se recompondo. — Desculpa ter reagido dessa forma, sei que vocês não pensaram nisso por mal, só foi o que todos estão acostumados a pensar. Se uma menina está apaixonada, a causa deve ser um garoto. É o normal.
— Gostar de garotas também é normal — logo afirmou. — Nós deveríamos ter percebido.
— Desculpa não ter contado para vocês antes. Fiquei com tanto medo que me enxergassem diferente, que me tratassem de forma distante, com medo de eu ter interesse em vocês. Acho que preferi só deixar tudo ir acontecendo, achei que vocês já tinham entendido sem eu precisar falar, mas eu devia ter falado. — estava à beira das lágrimas.
— Você não tem que se desculpar. Você tinha que contar quando estivesse pronta — falou.
— E é claro que a gente não vai te tratar diferente. Você sempre será a mesma para nós — afirmou.
— A gente só quer que você seja feliz — acrescentou.
— Obrigada, meninas. De verdade. Eu amo vocês.
— A gente também te ama, ! — disse, puxando as outras três para um abraço em grupo tão desajeitado, que logo todas estavam rindo.
As meninas logo pediram para a amiga contar mais detalhes da aproximação de Alícia e ficou pensando em como era burra: estava estampado na cara de o quanto ela estava apaixonadinha pela menina. E ficava feliz por perceber reciprocidade no que a amiga contava.
Estavam rindo sobre a desastrosa tentativa de primeiro beijo das duas, quando sentiu um cutucão em seu braço. Ela se virou, junto com as três amigas, e encontrou Fred Weasley parado ali. Seu coração, por um motivo desconhecido, errou uma batida dentro do peito.
Foi susto, só isso, ela pensou.
— Oi, meninas — Fred sorriu e, sem pensar, sorriu também. — Só queria chamar vocês para a festa pós baile. É claro que a gente não ia deixar as comemorações acabarem quando o Natal começar, não é? Mesmo esquema de sempre: só seguirem do baile para a sala, estaremos lá a partir de meia-noite e pedimos que venham aos poucos para não levantarmos suspeitas. Será no salão dos artefatos perdidos no terceiro andar. Basta bater à porta três vezes e falar “meias fedidas”.
— Que senha mais original — bufou, mas Fred a ignorou.
— Por quanto tempo você decorou essa fala em frente ao espelho? — não se aguentou e o provocou. O sorriso do menino cresceu diante do que ela disse.
— Duas horas e meia. Preciso passar confiança para convencer meus convidados, não? — Ele piscou e acenou. — Espero vocês lá.
E, por mais que ele dissesse aquilo para todas, uma parte de fingia que ele estava falando aquilo apenas para ela. Ignorou que ele havia convidado Angelina, que não estava interessado nela e que ela dizia não estar interessada nele. Por um segundo, só imaginou que ele queria a presença dela.
Ela sorriu. Por algum motivo, isso parecia bom.

Capítulo 12

O dia do baile chegou e não de uma forma tão tranquila. mal dormiu à noite e, sempre que dormia, sonhava com possíveis acontecimentos da longa noite, tornando seu sono inquieto. Era um misto de excitação com as possibilidades e medo do inesperado. Deixou de lutar contra a ansiedade e levantou às seis e meia da manhã, mesmo sendo feriado de Natal. Enquanto todas as meninas dormiam, vestiu uma camisa de lã vermelha e dourada conjuntamente com uma calça preta. Olhou-se no espelho e percebeu que as olheiras provavelmente não combinariam com o vestido mais tarde. Suspirou e saiu do dormitório.
Desceu até o Salão Principal para tomar café da manhã e encontrou-se sozinha. O céu encantado do local refletia o dia branco, ainda um pouco acinzentado pelo horário. Os flocos de neve caíam pelo Salão, mas desapareciam a uns dois metros e meio do chão. Era um cenário lindo e melancólico, especialmente por estar sozinha no meio daquele local gigantesco. Esteve sempre tão acostumada a vê-lo cheio, que parecia um lugar completamente diferente. Sentia que poderia gritar e ninguém a escutaria (não que fosse arriscar, claro), e aquilo proporcionava uma sensação de liberdade maravilhosa, vencendo a de solidão.
Assim que se sentou à mesa da Grifinória, uma pequena porção do gigantesco banquete oferecido nas refeições de Hogwarts apareceu em sua frente. Não podia negar, estava se sentindo um pouco dona do lugar. Comeu e aproveitou o silêncio e a solidão para pensar mais na noite que viria.
Desde quando descobriu que era uma bruxa, sentiu-se encantada com aquele novo universo e com a possibilidade de aprender uma habilidade tão única que era a magia. Mesmo na primeira semana de aula em que tudo deu errado, ela tentou ao máximo pertencer àquele lugar. Mesmo com seus pais não a compreendendo e querendo uma vida para ela ainda no mundo trouxa, ela sabia que Hogwarts e o mundo mágico eram para ela. Porém, conforme foi crescendo, apenas uma coisa muito boba e praticamente insignificante a fazia se sentir triste por não fazer mais parte do mundo trouxa: o baile de formatura.
Como uma adolescente que adorava ler e assistir filmes, era impossível não se deparar com a festa tradicional que acontecia em praticamente toda história trouxa de comédia romântica. Por mais que acreditasse que os clichês poderiam ser um pouco forçados, era difícil não se imaginar no lugar das personagens.
E, talvez, por isso, tivesse se empolgado com o baile tão desde o início. Era a única coisa que o mundo bruxo pecava em não ter, e agora tinha! Mas a vida não era um romance, ela iria na festa com os amigos e não com algum par encantador, ainda tentaria evitar Kyle e Fred, esse último não sabia exatamente o porquê.
Por algum motivo estranho, pensar nele ao lado de Angelina a fez perder a fome.
Levantou-se subitamente da mesa, sem aguentar olhar para a comida. Decidida a mudar o rumo dos seus pensamentos, lembrou-se das olheiras horrorosas e decidiu passar na biblioteca, talvez encontrasse algo por lá que a ajudasse.
Infelizmente, Madame Pince já estava acordada e teve que encarar seu mau humor pela biblioteca não estar vazia como a bibliotecária desejava. Nem se deu ao trabalho de perguntar à mulher sobre onde encontrar uma solução para seus olhos inchados, não queria receber uma resposta grosseira em uma manhã já tão turbulenta. Mas, graças à , nem precisou de ajuda para buscar o conteúdo.
Em uma parte pouco conhecida pelos estudantes, no final da biblioteca, as edições dos jornais e revistas bruxos ficavam acessíveis para todos. O que buscava não era um jornal tão respeitado quanto o Profeta Diário ou artigos sem fundamento como os do Pasquim. Bom, talvez alguns artigos um pouco sem fundamento.
Encontrou as edições da revista Amortentia e, separando umas quinze, as levou para a mesa mais afastada possível da bibliotecária.
Amortentia trazia conteúdos que toda jovem bruxa deveria saber (ou, ao menos, era o que dizia ): dicas de como beijar, fotos dos mais lindos famosos bruxos, poções e feitiços de embelezamento, as novas tendências da moda, horóscopos um pouco mais alegres que as aulas da professora Trewlaney, recomendação de novas músicas e testes dos assuntos mais importantes para uma adolescente mágica.
abriu a primeira revista e suspirou. Seria um longo trabalho.
Depois de uma hora, conseguiu encontrar um artigo sobre feitiços que faziam diferentes penteados, uma dica de mistura de tons de sombras, um feitiço que deixava qualquer vestido brilhante, outro que mudava a cor do cabelo, mas nada sobre as olheiras. Separou estes mesmo assim, porque sentia que ela e as amigas poderiam utilizar.
A biblioteca ainda estava vazia, mas seus olhos já estavam cansados. Decidiu ler apenas mais uma edição na esperança de encontrar algo.
Folheou algumas páginas e seus olhos se prenderam no título da nova página rosada com corações que subiam e estouravam:

“AMOR OU AMIZADE? FAÇA O TESTE E DESCUBRA!”

O desenho da bruxinha que ficava tentando beijar um bruxinho (que tentava desviar e corava quando ela o beijava) atraía a atenção de . Bom, tinha que ser por isso que ela não conseguia virar a página e estava presa ali. Só por curiosidade, para rir do teste, claro, ela olhou a primeira pergunta.

Você conversa muito com ele(a)?

a) Não
b) Sim
c) Depende do dia


— Que coisa mais ridícula — sussurrou para ela mesma —, como isso determina se é amor ou amizade? Amigos conversam o tempo todo, ué.
Mesmo assim, por alguma razão, leu as instruções de que era só colocar o dedo por cima da letra indicada da resposta e, pensando em um certo ruivo que conversava com ela nas aulas de Transfiguração, pressionou o indicador direito na alternativa c, que brilhou em vermelho.

Você sente ciúmes dele(a) com outras pessoas?

a) Não
b) Claro!
c) Depende da pessoa


Ok, talvez aquela questão fosse melhor pensada. E, graças a Merlin, se ela estivesse fazendo o teste de forma séria, o que com toda certeza não estava, porque só estava curiosa, teria marcado não, afinal, ela não sentia ciúmes de ninguém. ‘Tá, pensar em Fred e Angelina juntos tirou sua fome, mas isso não era ciúmes.
Era?
Depois de olhar em volta para ter certeza de que ninguém a via, ela posicionou o dedo indicador novamente por cima da alternativa c, sentindo as bochechas corarem.

Quando ele(a) sorri...

a) Você fica feliz por ele(a) estar bem
b) Você sente vontade de sorrir de volta
c) Você não sente nada


O sorriso de Fred Weasley lhe veio à cabeça, aquele sorriso maroto de quando ele tinha alguma ideia ou caçoava de . Involuntariamente, ela sentiu os lábios se repuxarem em um sorriso também. Quando se deu conta disso, ficou ainda mais envergonhada e vermelha, o que achou ser impossível.
Rapidamente, antes que se arrependesse, pressionou o dedo por cima da alternativa b.

O quanto você pensa nele(a)?

a) Às vezes
b) Mais do que eu gostaria
c) Quase nunca


continuou respondendo as questões, no geral reparando o quanto pensava no ruivo ou interagia com ele, as sensações esquisitas que ele lhe causava, mesmo que fossem pessoas extremamente diferentes. O problema era que aquele teste estava fazendo mal para seu cérebro: seu rosto não deixava de ficar vermelho, seu coração estava acelerado e seus pensamentos começavam a concluir que Fred Weasley era legal e atraente. A revista devia estar contaminada com Amortentia de verdade, era a única explicação.
Por fim, a tortura voluntária a qual se submetera estava chegando ao fim, ou seja, bastava responder uma última pergunta do teste.

“Imagine que vocês sejam namorados, você ficaria feliz?

a) Sim
b) Não”

fechou a revista. Não, aquilo já era demais. Ela não se submeteria a tanto! Se imaginar namorando com Fred Weasley?! Que pesadelo!
Ele certamente a provocaria todo dia e tiraria sua paciência. Ia atrapalhar seus estudos, se colocar no meio de suas amigas. Só tentaria distraí-la ainda mais nas aulas de Transfiguração, talvez segurando sua mão, roubando-lhe um beijo... Tentaria fazê-la rir sempre que estivesse emburrada, ela tinha certeza. Mas ele era muito agitado, enquanto ela ficava na dela. Aquilo com certeza nunca daria certo.
Mas o que quer que seja que tivesse de errado com aquela revista, fez com que sorrisse com a ideia.
Abriu a revista e folheou a revista em busca do teste. As outras respostas ainda estavam selecionadas com o brilho vermelho. Com embaraço, ela pressionou o dedo pela última vez na alternativa a.
Todas as alternativas brilharam intensamente e se afastou, um pouco temerosa, e encarou a revista, esperando alguma coisa acontecer. Porém, logo depois, todas as alternativas se apagaram.
segurou a revista mais perto, procurando ver se alguma coisa apareceu de forma escondida ou discreta, quando a revista pulou de sua mão. Das folhas, um coração vermelho brilhante do tamanho de sua cabeça saltou para fora, girando. Quando parou de frente para ela, tinha as palavras douradas escritas “amor”. O coração então começou a pulsar, cada vez mais rápido, até que explodiu em confetes vermelhos, em um barulho tão alto quanto explosões de fogos de artifício.
— Shh! — A voz de Madame Pince ecoou pela biblioteca.
fechou novamente a revista às pressas, pegou a varinha e fez com que todos os confetes desaparecessem. Depois de garantir que a edição terrível da Amortentia não faria mais nenhum barulho, juntou todas as suas coisas e devolveu todas as edições que não levaria — especialmente aquela — para a prateleira.
Então, sem conseguir encarar Madame Pince, correu para registrar o empréstimo das quatro revistas. Em seguida, saiu correndo da biblioteca.
Os corredores já estavam mais movimentados, cheios de alunos empolgados com a noite que prometia ser a melhor de suas vidas, mas se encontrava alheia a tudo isso. Sua mente tinha apenas um pensamento em looping: um grande coração vermelho com a palavra “amor” pulsando em sua frente.
Aquilo não podia ser possível. Bom, se pensasse racionalmente, poderia enxergar que a revista era muito sensacionalista e não tinha uma boa estrutura de pesquisa de dados para realmente chegar àquela conclusão. Sem contar que tudo parecia um grande sistema de pirâmide para que, depois de a pessoa descobrir possíveis sentimentos, ser obrigada a comprar a edição seguinte que ensinaria sobre declarações. Ou um teste que indicaria se ele também gostava da pessoa desse jeito.
E era uma pessoa bem racional. Mas isso não significava que conseguia conter todas as dúvidas, maiores do que nunca. Ela gostava de Fred Weasley? Isso era uma besteira. Ela não poderia gostar dele, o teste era idiota! Mas ele era bonito. Bem bonito...
!
Todas as revistas caíram no chão na hora em que escutou a voz. Olhou para trás, afobada, acreditando que talvez tivesse pensado tanto que o foco de seus pensamentos se materializara em sua frente.
— Weasley!
Sua voz saiu mais esganiçada do que gostaria. Se sentiu uma pateta, paralisada no mesmo lugar sem conseguir se mexer. Fred a encarava e seus cabelos molhados, indicando que ele havia acabado de tomar banho, fizeram alguma coisa dentro da menina se remexer. Ele parecia mais atraente do que em seus pensamentos: e isso era um problema sério.
O garoto olhou para baixo, meio confuso, e se abaixou para pegar uma das revistas.
— Amortentia?
O rosto de estava em chamas. De todas as pessoas do planeta, a última que ela queria que a visse com aquelas revistas era Fred Weasley. E lá estava ele, segurando um dos exemplares em mãos. Por Merlin, ela sentia que ele poderia ler seus pensamentos, como se pudesse saber o que acabara de acontecer na biblioteca.
— Ah! — ela se forçou a responder, embolada. — pediu que eu buscasse na biblioteca. Sabe, tem umas dicas para, bom, hoje à noite.
O ruivo se abaixou para pegar todos os exemplares e seu olhar parou em uma das revistas que acabou aberta com a queda.
— “Os melhores feitiços de bom hálito para você dar o beijo do ano”? — ele perguntou, aquele seu sorriso que precedia uma piada se abrindo em seu rosto.
— Não! — praticamente gritou. Pegou a revista da mão dele e folheou até o artigo que separara. — Aqui! “Feitiços para deixar suas roupas mais descoladas”! Só isso, para o baile! Roupas, não beijos!
Fred sorria cada vez mais conforme ela se envergonhava, afundada em uma vergonha tão profunda quanto o Lago Negro. Ele entregou a revista nas mãos dela, que pareciam moles pelo constrangimento (ou talvez por aquela sensação esquisita que ele causava).
— Balas de hortelã são mais simples, sabe, do que esses feitiços — ele provocou.
queria sumir. Para sempre. Pelo resto da sua vida.
— Claro que eu sei. Mas alguém pode ter uma varinha, não balas. — Ela se arrependeu imediatamente de continuar aquele assunto no momento em que a frase lhe escapou da boca.
— Entendo. Está precisando de uma bala? Para caso você esqueça os feitiços — ele continuou torturando-a.
— Não! Eu não esqueço feitiços e... esquece! — ela exclamou. Falar de beijos perto de Fred Weasley não era algo muito bom para sua mente confusa no momento.
Ela se virava para sair quando ele, percebendo a fuga dela, segurou sua mão. Ela congelou no lugar.
— Calma, não precisa ir. só brincando com você. Não precisa ficar assim, sou só eu.
o encarou. A mão dele permanecia sobre a dela. E aquela última frase a deixou ainda mais esquisita.
“Sou só eu”, como isso poderia acalmá-la ao mesmo tempo que a fazia queimar por dentro?
, percebendo que havia ficado em silêncio por tempo demais, pigarreou e separou a mão deles, forçando um sorriso.
— Claro. Me desculpa, dormi pouco essa noite, estou me sentindo um pouco estranha.
— Qualquer coisa, sabe quem procurar por uma bala de café — ele zombou.
— Nunca mais, Weasley. Nunca mais — ela pontou, séria, mas, ao ver o sorriso dele, acabou sorrindo de novo. “Ele deve estar com a Angelina”, uma vozinha sussurrou no fundo da sua cabeça, fazendo seu sorriso morrer e a razão voltar a tomar conta do seu corpo. — Bem — ela pigarreou de novo —, nos vemos mais tarde. Obrigada pela ajuda com as revistas.
— Sempre ao seu dispor, . — Ele se inclinou em uma reverência exagerada e ela se forçou a sair dali, porque seu corpo parecia mais do que disposto a continuar na companhia dele.
A mão dela estava tão gelada em comparação ao calor que sentira quando a mão de Fred a cobria. Foi algo tão confortável e eletrizante ao mesmo tempo. Aquilo a apavorava completamente.
Enquanto se afastava, Fred a encarava de longe. Só desviou o olhar quando ela sumiu em uma curva, e aí pôde se recompor. Ele não deveria ter achado adorável a forma que as bochechas dela ficaram vermelhas, além do nervosismo que ela aparentava, mas achou. Se ela havia reagido dessa forma só com a menção de beijos, o que aconteceria se fosse verdadeiramente beijada?
Fred afastou aqueles pensamentos. Quanta bosta de dragão! Ele não tinha que ficar por aí pensando em como seria beijar . Deixava esse papel de idiota para Kyle Ackerley. Se bem que imaginar Arckeley beijando não o fazia se sentir muito bem.
Deixou para lá aqueles pensamentos. estava entrando em sua cabeça nos últimos meses, mas ele não deixaria aquilo continuar. Não poderia se sentir atraído por ela, porque ela não seria do tipo para ficar e pronto. Ela parecia ser do tipo que se envolveria romanticamente, e ele não queria isso. Então, não importava quão adorável, bonita e irritável ela fosse, tinha que ficar o mais fora de sua cabeça possível.
Aquela noite, ele teria duas festas incríveis acompanhado de Angelina Johnson, uma das meninas mais bonitas da escola e que com certeza estava a fim dele, além de sempre poder jogar seu charme para outras meninas de Beauxbatons e Durmstrang. Decidido, deu um fim àquele assunto na sua cabeça e seguiu para o Salão Principal para tomar café com seu irmão e Lino. Eles estavam empolgados para zoar Rony mais tarde e vestir seus trajes que só os deixariam mais bonitos — se isso fosse possível, Fred pensou, sorrindo para si mesmo.

⭐⭐⭐


, me passa seu batom! — gritou.
, , e estavam no dormitório da Grifinória se arrumando para o tão aguardado baile. O resto do dia correu sem maiores acontecimentos, uma grande expectativa pairando no ar. Quando o relógio de marcou exatas quatro horas da tarde, quatro horas antes do início do baile, nenhuma das meninas conseguiu focar em mais nada. Elas se revezaram para tomar banho e usar todo e qualquer produto especial que era guardado para momentos como aquele.
Angelina e Alicia decidiram se arrumar no dormitório feminino do quinto ano, junto com Katie Bell, amiga de quadribol das duas, porque Alicia e queriam surpreender uma à outra com as roupas prontas. achou melhor desse jeito, porque, além de se sentir mais confortável só entre as amigas, não sabia se conseguiria tolerar Angelina falando de Fred naquela noite, ainda mais já precisando focar suas energias em não se abater com o casal durante a noite.
O quarto estava uma zona. Roupas, sapatos, maquiagens e revistas Amortentia estavam espalhados por todo o ambiente. Para completar, conseguiu um rádio encantado que tocava as músicas bruxas preferidas das garotas, animando o ambiente.
As meninas estavam quase prontas. Todas já estavam vestidas e , com ajuda das dicas da revista, maquiava uma de cada vez, enquanto lia as instruções dos feitiços de penteados. foi a primeira a terminar a maquiagem, então testava nela os diferentes feitiços. acabou escolhendo um coque elaborado com alguns fios soltos. testou o encantamento e viu enquanto o cabelo cacheado de formava sozinho o penteado. Um elástico amarelo brilhante, que combinava com seu vestido, se materializou para prender o coque. Ela estava parecendo uma deusa.
Quando terminou a maquiagem que havia prometido à que esta poderia fazer, um delineado simples e bem marcado acompanhado de um batom azul escuro, ajudou, com um feitiço da revista, a mudar o cabelo de . Nos últimos dois anos, ela havia pintado as pontas do cabelo curto de rosa claro, mas, para combinar com suas novas vestes (é claro que ela se recusava a usar o vestido ridículo), mudou o rosa para um azul gelo.
Se o vestido maravilhoso de e a escolha não convencional de traje de não fossem suficientes para chamar a atenção, , que geralmente era muito tímida, optou por não deixar sua presença passar despercebida. O batom vermelho combinava com seu vestido ousado de mesma cor, com uma grande fenda. Seus óculos dourados foram enfeitiçados para serem enfeitados com pedrinhas vermelhas, e seu cabelo estava meio preso e meio solto. A sua intenção era chamar o máximo de atenção naquela noite e ela com certeza conseguiria.
No ano anterior, havia ido ao casamento trouxa de uma prima distante da família e, para o baile, estava aproveitando o mesmo vestido da ocasião, apenas com um upgrade brilhoso graças à revista Amortentia (o único elogio que conseguiriam arrancar dela sobre aquele conteúdo medíocre). Colocou um salto brilhoso combinando (não muito alto, pois, pela falta de hábito, não queria sentir dores ou simplesmente torcer o tornozelo no meio do baile) e deixou a maquiagem a cargo de .
A amiga era ainda mais mágica que a revista: soube na hora um feitiço para fazer com que suas olheiras desaparecessem. Na maquiagem, deixou escolher um batom rosado mais discreto, mas insistiu em um delineado e uma sombra brilhante lilás que, mais o rímel, deixaram seus olhos bem marcados e intensos.
se olhou no espelho e gostou muito do que viu. Ficou impressionada com o quanto se sentiu bonita. O decote era um pouco mais revelador do que estava acostumada, mas o vestido realçou seu corpo de forma muito bonita, sem contar que usava sua cor preferida.
As quatro amigas não paravam de sorrir e rir entre si, até , que achara a ideia de se arrumar boba no início. Com certeza, aproveitariam a noite toda juntas, ao som de músicas incríveis, comidas deliciosas e se sentindo lindas.
As quatro desceram as escadas do dormitório para o salão comunal às sete e quarenta e cinco. As portas se abriam às oito, o que significava que já estavam com o tempo apertado, mas acharam que teriam mais tranquilidade com o salão menos cheio. E tinham razão, já que muitos dos alunos já haviam ido.
Alicia era uma das pessoas que esperava ainda no local e, quando seu olhar encontrou , percebeu suas bochechas ficarem mais coradas e um sorriso apaixonado brotar em seu rosto sem seu controle. Talvez isso pudesse ser vergonhoso, mas tinha um sorriso idêntico em seu rosto ao analisar Spinnet em seu vestido rosa bebê cheio de camadas. Ambas estavam parecendo princesas encantadas e felizes. conteve seu próprio sorriso: achou a cena fofa demais, mas tinha medo de exagerar na reação. Ainda ficava receosa de machucar a amiga, especialmente depois de supor que ela iria ao baile com Lino.
As duas deram as mãos e começaram a caminhar para fora da sala. As outras três amigas ficaram um pouco mais para trás para dar privacidade naquele pequeno momento.
— Onde está Angelina? — perguntou, olhando ao redor.
— Acho que ouvi comentar que ela iria na frente com Katie Bell, os gêmeos e Jordan para que Lino pudesse buscar o par dele. Acho que era uma menina de Beauxbatons — comentou.
“Melhor assim”, pensou.
— Como assim? — a questionou.
Os olhos de se arregalaram. Que droga! Falou aquilo em voz alta? Como ia explicar para a amiga que, por algum motivo estranho, sentia uma aversão à ideia de Fred e Angelina juntos?
— Ahn... — ela começou —, você sabe! Para não se atrasarem!
Aquela teria sido uma resposta razoável, se não tivesse soltado uma gargalhada nervosa que fez até e Alicia olharem para trás. Aquilo não era nada natural. , que já tinha boa ideia de tudo, talvez até mais que a amiga, apenas revirou os olhos, desgostosa, enquanto franzia as sobrancelhas. De repente, seus olhos se iluminaram, como se tivesse sacado algo. Algo que morria de medo que ela pudesse perceber. Que pudesse ser verdade.
Para sua sorte, saíram do salão comunal naquela hora e encontraram Rob e Jean, o par de de Beauxbatons. Os meninos cumprimentaram a todas e cada um ocupou o lado direito de seu respectivo par. sorriu para Robert.
— Como você está elegante!
— Deveria ter visto todas as poses que fez para o espelho quando experimentou as vestes pela primeira vez, até mamãe teve que implorar para ele se conter — zombou e o irmão fechou a cara. Ela riu, se aproximou dele e depositou um beijo em seu ombro. — Estou brincando, seu boboca, você está maravilhoso, o homem mais lindo do baile! Sem ofensas, Jean.
O menino nem pareceu notar a brincadeira de , pois seus olhos estavam grudados em , como se estivesse enfeitiçado. Eles trocavam sussurros, risadinhas e poderia ver suas mãos se entrelaçando. A menina achou aquilo interessante: esperava que sua amiga se divertisse, mas não conseguia dimensionar se aquele par era algo de momento ou de longo prazo, como e Alicia pareciam ser.
— A propósito, você também está elegante — Rob comentou, chamando sua atenção de volta para ele. — E muito bonita. Ouso arriscar que uma das mais bonitas do baile.
Uma das? — provocou, fazendo-o rir. Por algum motivo, revirou os olhos ao seu lado. Será que estava incomodada por ser a única desacompanhada?
Os sete chegaram à entrada do Salão Principal, que estava simplesmente caótica. Eram muitos rostos misturados na multidão, muitas meninas quase irreconhecíveis e vários garotos parecendo homens. Eram diversos conhecidos, mas, ao mesmo tempo, era impossível reconhecer a todos e encontrar qualquer um, especialmente para eles, que foram uns dos últimos a chegar e estavam no final da fila da entrada.
Às oito em ponto, as portas do Salão se abriram e todos foram entrando, exceto os campeões. mal podia esperar por sua vez, pois a noite inteira parecia como um sonho realizado. As amigas trocaram olhares ansiosos enquanto iam seguindo a multidão, cada vez mais se aproximando da porta.
Quando entrou, perdeu o ar.
As paredes do Salão estavam cobertas de gelo, como se mil espelhos congelados os cercassem. Várias guirlandas enfeitavam o local, assim como um grande pinheiro coberto de neve. O céu estrelado estava mais encantador do que nunca naquela noite. O piso estava completamente branco, como se coberto de uma neve brilhante, e as mesas das casas haviam sido substituídas por centenas de mesas pequenas que acomodavam cerca de uma dúzia de pessoas cada. No fundo, havia uma grande mesa reservada para os professores e os juízes.
ficou um tempo parada na entrada, apenas absorvendo tamanha beleza do local e, quando percebeu, seus amigos já estavam mais à frente. Riu, irônica, ao pensar que teria sido um lindo momento em um clichê para ser observada por seu par romântico, que sentiria todo o seu ar se esvair somente ao olhá-la e precisaria se sentar para se recompor.
Mas essas coisas não existiam na vida real. O que realmente acontecia era a tentativa de se equilibrar nos saltos enquanto tinha que avançar rapidamente para alcançar os amigos.
Suspirou, aliviada, quando finalmente conseguiu, mas o pânico retornou ao seu corpo quando Alicia falou:
— Ah, ali estão! Vamos sentar com Angelina?
Ao que , completamente apaixonada, respondeu prontamente:
— Claro.

⭐⭐⭐


Fred se encontrou com Angelina às sete e meia e, para ser honesto, foi uma das primeiras vezes na vida em que foi pontual. Mas aquele dia não era um dia qualquer, era dia do baile.
Jorge e Katie Bell decidiram ir juntos como amigos, todos eram bem próximos por causa do time. Lino havia conseguido que uma linda menina de Beauxbatons o acompanhasse, Amelie, e ela até gostava de quadribol. Tudo estava funcionando perfeitamente entre os seis.
Quando Angelina apareceu, Fred logo a elogiou:
— Fantástica! Se afaste de Lino, antes que ele queira trocar de par. Sabe que ele cisma que um dia ainda vai sair com você.
— Hoje eu tenho melhor companhia, mas quem sabe outro dia, docinho? — Jordan zombou e sua companheira riu, achando a dinâmica do grupo muito divertida.
Os seis desceram para o saguão de entrada, que estava lotado. Ficaram conversando enquanto as portas não se abriam e observando todos chegarem, em especial os campeões.
— Harry está mais nervoso para esse baile do que para enfrentar um dragão — Jorge comentou, rindo, com certa pena do menino.
— Esses campeões de hoje em dia, com medo de garotas — Fred completou.
— Olha o Malfoy naquele terno branco, está parecendo sua versão doninha gigante — Lino zombou.
— Amarei Olho Tonto para todo o sempre por causa disso — Fred disse, em tom de adoração.
— E depois nós é que somos fofoqueiras — Katie brincou, mas as meninas também não paravam de comentar sobre todos que chegavam, especialmente Hermione Granger, e deixando Amelie a par de todas as fofocas de Hogwarts.
Fred fingia procurar Alicia o tempo todo, mas na verdade não conseguia parar de pensar se já havia chegado. Não conseguia tirá-la da cabeça desde aquela manhã. Ou melhor, desde antes.
A mão de Angelina tocou a sua, despertando-o de seus devaneios.
— Estão abrindo as portas do Salão, vamos!
Fred seguiu com o grupo, comentando sobre a decoração e alegre com o baile, mas algo não parecia certo ao segurar a mão da amiga. Parecia um pouco forçado, como se tivesse que lembrar o seu corpo de deixar a mão ali por ser o mais educado a se fazer.
Os seis se sentaram à uma das centenas de mesas dispostas e as meninas cuidaram de expulsar os outros que se aproximavam para guardar espaço para aqueles que iriam chegar. Lino até se dispôs a ficar um pouco na mesa com as amigas de Amelie, mas ela disse que estava se divertindo muito e que depois todos poderiam se reunir quando fosse hora de dançar.
Weasley já deveria ter desistido de procurar na multidão, mas seu cérebro estúpido não deixou de procurá-la pelo Salão mesmo assim. Alguma coisa inconsciente, quase mágica, o fez olhar para a porta de entrada e, assim que o fez, perdeu o ar.
Ao longe, literalmente brilhava em seu vestido que a tornava desejável e adorável ao mesmo tempo. Cada parte do seu corpo parecia chamar mais atenção do que qualquer decoração mágica do lugar. E seu rosto... O rosto já bonito estava estonteante com sua expressão deslumbrada ao olhar ao redor. Ela parecia saída de um dos quadros mais bonitos de Hogwarts, congelada em um momento perfeito.
Weasley só se lembrou de respirar quando a menina começou a correr atrás dos seus amigos, tão desastrosamente adorável que ele não conseguiu conter um sorriso. Ela conseguia ser ainda mais linda daquela forma porque era uma pessoa real.
— Ah, veja, ali está Alicia! — Angelina exclamou, tirando-o do transe que, agora que estava em melhor controle de seu próprio corpo, parecia patético.
O grupo composto de sete pessoas se aproximou e, com a adição de uma cadeira que pegaram emprestada de outra mesa, conseguiram se acomodar bem. Todos pareciam muito felizes e animados com a noite. As outras meninas logo gostaram de Amelie tanto quanto Angelina e Kate já tinham gostado, e os garotos se esforçaram para conhecer melhor Robert e Jean. Por algum motivo, Fred não gostou muito do primeiro, especialmente pela forma descontraída que se comportava perto dele, completamente à vontade, diferente de quando estava com o Weasley, em que parecia evitá-lo ao máximo, como naquele momento à mesa.
— Por Merlin, olhem a McGonagall. — Lino apontou para a professora e a maior parte da mesa teve que segurar o riso ao vê-la tão desconfortável com suas vestes, sentada ao lado de Severo Snape.
— Olhem ao lado dela. Snape não lava o cabelo nem para um baile — Fred perturbou.
— Ele parece estar vivendo seu pior pesadelo — Jorge constatou, sorrindo abertamente. — Um baile com adolescentes cheios de hormônios e pares.
— Já imaginaram se o Snape trouxesse alguém para o baile? — questionou e todos os alunos de Hogwarts fingiram que iam vomitar.
— Que nojo!
— Já imaginaram o Snape namorando em Hogwarts? — provocou as amigas.
— Por que estamos falando de pesadelos tomando vida? — o tal Robert comentou, ainda fingindo que ia vomitar, fazendo com que risse. Fred fechou a cara imediatamente.
O grupo se dividiu em vários focos de conversa, mas Fred continuou quieto, observando a interação entre e Blanck. Ele segurou a taça com suco de abóbora com mais força do que deveria.
— Cara, se está planejando um assassinato, espere, pelo menos, começarem a dança. É mais fácil de disfarçar na multidão — Jorge sussurrou em seu ouvido, fazendo o gêmeo despertar de seus pensamentos.
— Não sei do que você ‘tá falando.
— Eu só não entendo uma coisa... se você ‘tá tão obcecado pela , por que chamou a Angelina?
Fred se sobressaltou com o comentário do irmão. Infelizmente, seu gêmeo o conhecia muito bem, melhor do que qualquer outra pessoa no mundo. Ele poderia tentar se explicar, se abrir, inventar uma desculpa, ficar quieto, explodir.
Ele decidiu só dar um chute no irmão por baixo da mesa.
— Ai!
— Só cala a boca — Fred murmurou.
— Eu pensando no bem de todos, cara. Você não pode ficar brincando assim com a Angelina, ela é nossa amiga.
— Eu não brincando com a Angelina, é só um baile. E até parece que você acredita nessas coisas, já te acobertei quando você saía com cinco garotas de uma vez.
— Então admite que ‘tá saindo com as duas?
— O quê? Claro que não! — Fred sussurrou, se irritando. — Por que se importa tanto com isso?
— Porque eu te conheço. E você ainda não se vingou da . Na verdade, só ficaram mais amiguinhos.
— Sim, talvez tenhamos virados amigos. E daí?
— Então não vai mais se vingar? — Jorge perguntou, tomando um gole do suco de abóbora do irmão. Fred tomou de volta sua taça antes que o irmão tomasse tudo e tirou um pequeno frasco do casaco. Sua intenção era deixar o Whisky de Fogo para mais tarde, mas o irmão estava o tirando do sério.
— Não precisamos nos vingar, estabelecemos uma trégua. De amigos.
— Então você não se importa nem um pouco com aquele quintanista da Corvinal sentado ao lado dela.
— Nem um pouco — Fred respondeu, tomando um gole do suco. Depois, viu sussurrar algo mais perto no ouvido de Robert. Weasley tomou outro gole profundo.
— Me dá isso aqui. — Jorge bebeu um gole da taça do irmão. — Angelina ‘tá muito bonita essa noite.
— ‘Tá mesmo.
— Vai beijá-la? Aproveitar os vestiários vazios ou nossas passagens secretas?
— Por que está tão interessado com o que eu faço com Angelina? — Fred replicou, um pouco de saco cheio do interrogatório do irmão.
Mas Jorge só piscou tranquilamente.
— Porque, se não aproveitar, alguém pode se voluntariar no seu lugar.
— Alguém nada. Você — Fred disse, rindo, ao entender finalmente a questão. O irmão estava demonstrando interesse em Angelina.
— Com nossa companheira, talvez, mas não com sua amiguinha. Essa aí já tem concorrência demais. Arckeley está há umas cinco mesas de distância e não tira os olhos daqui.
Fred reparou que o irmão tinha razão e aquilo, por algum motivo, o estressou. Ele sentiu vontade de socar alguém. Novamente, o gêmeo era o alvo mais fácil.
— Ei!
— Por não ter falado de Angelina antes. Poderia ter vindo com ela, imbecil.
—E você? Teria vindo com a ?
Ao invés de respondê-lo, Fred instaurou uma luta entre os gêmeos por baixo da mesa, onde se chutavam livremente como um esporte. Sem nenhum rancor ou ressentimento, apenas mais um momento entre os dois.
A luta cessou quando o jantar foi servido e todos apreciaram a deliciosa refeição. Porém, passada a fome, os alunos só conseguiam ter uma coisa em mente: dançar.
Finalmente, Dumbledore se levantou, pedindo que todos fizessem o mesmo, enfeitiçou as mesas para que se encostassem nas laterais do Salão, e conjurou um palco cheio de instrumentos. Momentos depois, as Esquisitonas subiram e começaram a tocar.
— PUTA MERDA! — gritou!
— Vocês também estão vendo isso ou eu estou alucinando?! — exclamou por cima da gritaria.
— Como alguém que tem experiência, posso afirmar que são mesmo as Esquisitonas! — disse, pulando de alegria.
— Hoje é o melhor dia da minha vida! — berrou, agarrando as amigas pelo braço e as arrastando para o meio da muvuca.
Fred mal podia acreditar que estava tendo a oportunidade de ver as Esquisitonas ao vivo, era algo que, pela sua condição financeira, ele nunca pensou que aconteceria. Uma música lenta começou a tocar e os campeões começaram a valsar. Fred estava tão focado que só foi tirado de seu momento de distração com um cutucão no braço.
— E aí, vamos dançar? — Angelina o convidou, sorrindo, empolgada, ao ver o palco. Ele percebeu que vários casais seguiam para valsar também.
— Mas com toda certeza! — ele respondeu, segurando a mão dela para conduzi-la para onde Jorge, Katie, Lino e Amelie já haviam ido.
Quando a valsa, enfim, acabou, a música “This Is The Night” começou a tocar ao vivo para todos os estudantes bruxos ali presentes. Sem seus uniformes e enlouquecidos com a banda, não havia mais distinção entre casas e escolas, eram todos apenas adolescentes empolgados com um baile incrível.
O grupo acabou se juntando novamente quando Angelina foi atrás de Alicia que, por sua vez, estava com . Fred podia ver felicidade genuína no rosto de ao pular com a música e cantar a plenos pulmões. Era tão adorável que ele teve que se conter para não a perturbar. Aproveitou para dançar com o irmão e Lino enquanto as meninas dançavam juntas.
Cinco músicas se passaram naquela agitação. Fred agradeceu pelo Salão ser climatizado, pois, mesmo sendo uma noite de Natal, estava começando a sentir o suor escorrer pelo seu corpo. Aquilo estava sendo extremamente divertido.
— Cara, a Angelina não para de olhar para você! — Lino berrou no ouvido de Fred para que ele pudesse ouvi-lo.
— É que eu sou irresistível! — Fred respondeu, completamente honesto, enquanto ainda dançava.
— Ela ‘tá vindo para cá! — Jorge exclamou, cutucando o irmão.
E realmente, Angelina se aproximou dele, um sorriso divertido nos lábios que só a deixava mais bonita. Não era à toa que o time inteiro de quadribol da Grifinória (e provavelmente das outras casas também) era a fim dela. E ali estava, a garota mais bonita do ano sutilmente pegando sua mão e o levando para um canto um pouco mais afastado. O sonho de qualquer um, mas, por algum motivo, não o dele.
— Está quente aqui, vamos pegar um ponche? — ela perguntou.
— Claro.
Eles se afastaram da massa eufórica de jovens bruxos curtindo o show e foram direto para a mesa dos ponches. Aproveitando os professores distraídos, Fred tirou o seu frasco de Whisky de Fogo do paletó e derramou o que restava no ponche.
— Fred Weasley, existe alguma regra que você já cumpriu? — Angelina perguntou, rindo, ao vê-lo guardar o frasco agora vazio.
— Não, isso seria favoritismo. Para não magoar nenhuma, eu descumpro todas igualmente — ele respondeu, sorrindo de volta e arrancando uma risada dela.
— Sempre te achei muito engraçado, sabia? Imaturo, mas engraçado.
— Dizem que é meu charme — ele respondeu, piscando.
— Dizem mesmo.
Angelina passou a mão pelo braço dele e Fred se arrepiou. Mas, por algum motivo, quando ela o levou para fora da porta, em direção aos jardins, ele não conseguiu ir. Ele sabia o que ela queria, levando-o ali, mas aquilo seria injusto, porque ele não queria. E conhecia quem quisesse.
— Não acha que está muito frio para ir para o jardim? — ele perguntou, tentando achar uma saída.
— Pelo contrário, a dança me deixou com calor. Preciso de ar. Você não?
Ele sabia o que ela perguntava. Ela sabia que ele sabia. Por isso, ele segurou a mão dela.
— Sabe que é a melhor artilheira do nosso time, não sabe? Além de ser a garota mais linda do nosso ano.
— Isso é você me bajulando — ela replicou, sorrindo.
— Talvez um pouco. — Ambos riram, fraquinho. — Mas desculpa se te levei a entender qualquer coisa com o convite de hoje que não fosse eu querendo a companhia de uma amiga.
Angelina o olhou de cima a baixo.
— Não quer ficar comigo?
— Olha, você é uma gata — Fred se apressou em dizer. — Mas também é minha amiga e por isso tenho que te dizer que não sinto que é certo.
Ela o analisou, como se buscasse uma resposta no fundo de sua alma. Um motivo para Fred Weasley, conhecido por quebrar tantos corações quanto regras, estar a rejeitando. Nem ele sabia o porquê de a rejeitar. Se tivesse sido a poucos meses atrás, sua resposta seria sim. Mas ele não podia. Não com ela lá.
Angelina suspirou, por fim, e abriu um sorriso de canto.
— Acho que, no fundo, eu já sabia que não era para a gente acontecer dessa forma. Mas não custava tentar, não?
— Isso, querida Angelina, é o que eu sempre digo — ele sorriu e deixou que ela segurasse o braço dele, enquanto ele a conduzia de volta para o baile. — Amigos?
— Amigos, seu panaca. Agora me ajuda a encontrar algum garoto mais bonito para mim.
— Isso é impossível, mas podemos tentar encontrar algum decente.
Fred tentou voltar discretamente, acreditando que ninguém teria percebido a ausência dos dois. Mas havia alguém incapaz de desviar os olhos dele que percebeu imediatamente quando ele sumiu com Angelina.
Na hora em que viu os dois se afastarem para um canto, ela sentiu falta de ar. Ela sabia o que aconteceria ali, ela tinha visto outros casais fugindo para os jardins, mas, ao pensar nisso acontecendo com Fred e Angelina, sentiu um súbito mal-estar.
— Vou pegar um pouco de ponche — anunciou para as amigas, forçando um sorriso para que elas não notassem nada de errado.
Para sua sorte, ou azar, elas estavam tão entretidas no show que não perceberam sua jogada para ficar um pouco sozinha. passou pela mesa de ponche, virou de uma vez um copo e logo se arrependeu, seu estômago estava embrulhado demais. Saiu discretamente pelas portas do Salão e se sentou nas escadas do saguão de entrada para recuperar o ar. Mas a cena de Fred e Angelina, sorridentes, se afastando para um canto não saía de sua cabeça.
? Você está bem?
arregalou os olhos ao perceber que alguém a havia notado. E não qualquer um. Kyle Arckeley a encarava, genuinamente preocupado. Em outra situação, ela teria se afastado, mas já estava com coisa demais na cabeça para pensar naquilo também.
— Ah, oi, Kyle. bem sim, e você?
O menino se sentou ao lado dela da escada e ela sentiu o seu estômago se embrulhar um pouco mais. A última coisa que ela precisava era de uma investida do garoto, mas, ao mesmo tempo, talvez precisasse da companhia de um amigo.
— Você não parece estar bem.
suspirou, sabendo que não seria tão fácil escapar dessa.
— Acho que dancei demais. Me senti um pouco enjoada.
— Quer que eu chame a McGonagall? Ou Madame Pomfrey?
— Não! — ela exclamou, rapidamente. — É só uma besteira. Não precisamos perturbar ninguém.
— Tudo bem.
Ambos ficaram sentados lado a lado, em silêncio.
— Kyle a chamou novamente, fazendo-a virar o rosto para ele —, posso te fazer uma pergunta?
Ela tinha medo do que ele poderia perguntar. O mais seguro seria responder “não”, procurar as amigas e nunca mais encontrá-lo. Mas estava de saco cheio de tanto fugir dele. Além de que, para que fugir tanto de Kyle? Para tentar ficar com Fred? O mesmo Fred que estava muito bem com Angelina? Kyle era realmente uma escolha ruim?
Por isso, ela só suspirou.
— Claro.
Ele segurou uma das mãos dela e a fez se virar para ele.
— Fiz algo que a magoou?
não esperava essa pergunta. Não sabia, na verdade, o que esperar. Mas era claro que, em algum momento, ele iria pensar isso. Afinal, ela o estava ignorando há meses, enquanto antes eles sempre estudavam juntos e conversavam sobre amenidades. Era óbvio que seu afastamento o faria se questionar sobre suas atitudes. E o pobre menino não fizera nada de errado, além de, talvez, ter se interessado nela. Aquele era um erro que ninguém nunca mais cometeria, ela esperava.
Ela deveria falar a verdade para ele. Mas estava com uma tempestade emocional acontecendo em sua cabeça e tinha a impressão que aquele ponche estava deixando-a tonta. Só queria esquecer de tudo e fazer aquela cena sumir da sua cabeça.
Por isso, ela se aproximou e o beijou.
Kyle se sobressaltou, mas logo aceitou os lábios de . Ela não tinha nenhuma experiência, mas ele não pareceu se importar e a beijou delicadamente. Ela conseguia perceber os lábios dele se mexendo nos dela, podia sentir sua língua passando por sua boca. Era um beijo morno, não tinha nada de ruim, mas também nada parecia muito certo. Teria sido um bom beijo, com alguém que ela confiava e a tratava com carinho, se não tivesse começado a chorar.
— Ei, o que houve? — Kyle perguntou, sobressaltado, se afastando.
— Me desculpa! — ela exclamou, as lágrimas saindo descontroladamente, atrapalhando as palavras que saíam de sua garganta. — Eu não sei por que eu fiz isso!
— Ei, não tem problema, eu também queria te beijar — ele tentou consolá-la.
— Eu sei! Esse é o pior! — Ela continuou chorando e o menino se calou, completamente perdido na situação. Ela olhou rapidamente para ele e respirou fundo, deixando escapar alguns soluços. — Eu devia ter te falado antes, Kyle, eu devia. A verdade é que eu gosto de você como amigo, mas nada mais! Eu tentei, eu juro, mas eu não consigo! Me desculpa!
O menino pareceu um pouco chocado e magoado com a informação, e se afastou um pouco.
— Espera. Mas, então, por que você me beijou?
— Eu não sei! Acho que... pensei que eu não tinha tentado o suficiente. Mas quando eu te beijo parece... errado. Eu já sabia disso, mas não me escutei. Me desculpa, Kyle, por favor, não me odeie por isso.
fechou os olhos e esfregou as mãos no rosto, estragando todo o trabalho lindo que havia feito. Ouviu Kyle se levantando e teve certeza de que ele iria abandoná-la. Era o que ela merecia depois de o ter beijado daquele jeito, sabendo o que ele queria.
Mas, para sua surpresa, ele apenas a abraçou.
— Ninguém acerta o tempo todo — ele disse, baixinho. — Não posso mentir, você me deu expectativas quando me beijou só para depois me falar a verdade bem dura. Você podia ter sido honesta comigo.
— Eu sei, me desculpa. Eu não sei lidar muito com essas coisas emocionais — ela replicou, amuada, as lágrimas diminuindo um pouco.
— Tudo bem. Eu também sabia a verdade e não quis enxergar.
Surpresa com aquilo, se afastou e o encarou.
— Então... você não me odeia? — fungou.
— Claro que não. Ainda somos amigos. Eu só preciso de um pouco de espaço agora. E que você não faça isso mais — ele falou, em tom de brincadeira, mas ela escutou um pouco de dor por trás da sua fala.
— Me desculpa, eu não vou fazer. Eu prometo.
Eles continuaram abraçados mais um tempo até se acalmar. Então, Kyle se afastou e puxou a varinha do bolso. Em um segundo, sentiu seu rosto seco novamente. Ela se levantou e olhou para uma parede, que, coberta de gelo, se assimilava a um espelho. Sua maquiagem estava de volta ao lugar.
— Alguns truques que aprendi com a minha prima — Kyle disse, piscando. Seus olhos estavam brilhando com algumas lágrimas contidas. Então, respirou fundo. — Eu te aviso quando estiver pronto para ser seu amigo. Se cuida, .
E entrou, deixando-a sozinha, observando-o sumir de sua vista. Como se sentia estúpida! Por que havia feito algo tão idiota? Havia magoado seu amigo e a si mesma. Agora, seu primeiro beijo sempre estaria marcado como esse desastre. Havia sido com alguém que gostava dela, mas não com quem ela queria, e havia terminado de forma dolorosa.
respirou fundo algumas vezes. Pelo menos o peso de ter que fugir de Kyle, além do desconforto, havia ficado para trás. Se ela tivesse escutado as amigas, poderia ter feito isso de forma mais tranquila há muito mais tempo e teria evitado muita confusão. Mas ela era uma adolescente e, por mais correta que fosse, estava na fase de errar e aprender com seus erros. E havia aprendido lições valiosas naquela noite junto com as besteiras desastrosas que cometeu.
Depois de recomposta, se levantou e se preparou para encontrar as amigas novamente. Não queria estragar a noite de ninguém além da própria. Não queria trazer preocupações. Queria esquecer aquele beijo e queria, de toda forma, tirar Fred Weasley da cabeça.
Dessa vez, ela foi direto pegar uma garrafa de cerveja amanteigada só para si.

Capítulo 13

Existem momentos que, até acontecerem, você não sabe que mudariam sua vida. Que te fariam querer esquecê-los com toda a sua força, todo o seu ser. Momentos decisivos em que tudo muda, dentro e fora de você.
Ver Biachi beijar Kyle Arckeley foi um desses momentos para Fred Weasley.
Ele deveria ter admitido no momento em que seu próprio irmão, que basicamente compartilhava o cérebro com ele, havia percebido: ele sentia uma quedinha por , a garota nerd, apaixonada pelas regras e super sem humor. E não havia nada pior do que descobrir isso enquanto via a garota se atirar para cima de Kyle.
Fred cerrou os punhos. Não podia culpá-la, não tinham nada e ele nunca havia feito nenhum avanço, mas o ciúme (sim, ele admitiu também que aquele era o sentimento) queimava seu estômago e fazia a bile subir pela barriga.
Ele não conseguiu aturar muito da cena e se virou, buscando por alguma distração. Estava desnorteado, o ocorrido queimava por trás de suas pálpebras toda vez que ele piscava os olhos e, mesmo com eles abertos, parecia ver a cena refletida em cada escultura de gelo do salão. Seu corpo o estava torturando.
Olhou ao redor até encontrar Angelina, belíssima, mas que ele havia acabado de dispensar. Ela conversava com Jorge e isso fez Fred sorrir um pouco. Ao menos, a noite não estava arruinada para todos. Até a menina parecia sorridente, como se o fora mais cedo não tivesse acontecido. Ele queria encontrar alguém que o fizesse se esquecer assim do que vira também.
Seu olhar se fixou no final do salão, onde um belo par de olhos verdes estavam fixados nele. Ele sorriu e a garota, provavelmente de Durmstrang pelos traços quase albinos, sorriu de volta. Se aproximou rapidamente dela.
Tanzen Sie mit mir? — Fred a chamou para dançar em alemão, com um sorriso típico de que iria fazer uma travessura. Era claro que, para um baile internacional com garotas internacionais, ele havia aprendido algumas frases básicas em alemão e francês. A mãe o mataria se visse o quão dedicado ele podia ser quando se importava.
A menina loira e branca como o chão da festa sorriu com malícia.
Ja.
Na pista de dança, Fred posicionou suas mãos na cintura dela e começou a rodopiar, implorando que aqueles olhos verdes fossem distração o suficiente.
Do outro lado do Salão, observava tudo, aborrecida. Tinha decidido voltar para a festa e para suas amigas, se deixar curtir e não preocupar ninguém, mas assim que bateu os olhos em Fred com uma menina lindíssima, o mal estar piorou. Ele mal havia beijado Angelina e já havia arrumado outra garota tão linda quanto? Ela terminou de tomar sua segunda garrafa de cerveja amanteigada, se deixando torturar com a cena. Por que exatamente era uma tortura? Ela não queria pensar sobre isso. Já tinha dores e arrependimentos demais para uma noite só.
apoiou o copo vazio de cerveja amanteigada em uma mesa próxima e respirou fundo. Não deixaria tudo ir por água abaixo só porque aquele mal de estômago esquisito a incomodava, pois, independentemente de sua situação com Kyle e Fred, suas amigas vinham primeiro e sempre a faziam se sentir melhor.
se enfiou na massa de pessoas e deu graças a Merlin que as amigas estavam dançando afastadas de Fred e a garota loira. Cutucou , que se virou para ela, assustada, mas depois feliz ao ver quem era.
! Onde você estava?!
— Longa história, conto depois! — ela respondeu, gritando por cima da música.
olhou atentamente para ela, mas pareceu escolher não dizer nada.
— E cadê o seu acompanhante? — perguntou à amiga.
— Foi pegar uma bebida para nós — ela comentou, olhando em volta à espera dele.
O solo de guitarra que iniciava a música “Do The Hippogriff” tomou o ambiente e diversos alunos gritaram, empolgados.
— É minha música favorita! — e Rob gritaram ao mesmo tempo, antes de se olharem e sorrirem.
— Vocês acreditam que as Esquisitonas estão aqui? Já estamos escutando as músicas há uma meia hora e eu ainda não estou acreditando — Alicia disse, encantada, e se sentiu da mesma forma. Como podia estar pensando em garotos com a melhor banda do mundo bruxo ali na frente deles?
Os amigos estavam em uma roda, mas percebeu que estava um pouco mais afastada. Sua suspeita de que ela poderia estar chateada por não ter um par também só aumentava. Ela foi para o lado da amiga e estendeu a mão.
— Vem, você também ama essa música!
olhou em volta, como se pensasse se deveria, mas a guitarra se intensificou e ela não aguentou, abrindo um sorriso. A amiga agarrou pelo ombro e começou a pular para a direita, depois para a esquerda, cantando a música a plenos pulmões.
gargalhou, olhando em volta enquanto cada um engatava em uma dança esquisita. Com certeza tinha sido uma boa ideia voltar para perto de seus amigos, eles conseguiam fazer aqueles sentimentos ruins diminuírem. Não sumirem, mas ao menos melhorarem pelo momento, deixando-a curtir o baile.
Ela dançou e dançou por três horas seguidas, parando raramente para pegar um ar ou tomar um ponche. Em todas essas vezes, seu olhar se desviava levemente para a pista, onde ela já havia contado sete diferente acompanhantes de Fred. Mas, toda vez que seu estômago se retorcia por isso, alguma amiga se aproximava e a levava para dançar mais e mais. A noite estava uma mistura de felicidade e embrulhos de estômago.
Faltavam poucos minutos para a meia noite e, portanto, para o Natal começar. A banda estava já diminuindo o ritmo das músicas. Alicia e dançavam tão coladas que era impossível ver onde uma terminava e a outra começava. O par de havia a puxado para longe. Lino e seu par já haviam ido para fora do salão há um tempo. Angelina, Fred e Jorge haviam sumido, mas preferia não pensar nisso, pois havia recuperado a alegria. Sentados à mesa, se recuperando um pouco da dança, estavam e , sorridentes e, graças ao local magicamente climatizado, apenas um pouco suadas, o que era engraçado para o início do inverno.
Rob voltou à mesa, carregando três copos com ponche, entregando dois para as meninas.
— Aqui estão.
As duas agradeceram e Rob se sentou ao lado de , tão destruído quanto as duas garotas.
— Uma pena que a noite já está acabando, essa foi uma das melhores coisas que aconteceram em Hogwarts — Rob comentou.
— Acabando para você, quintanista. Nós, alunas adultas e maduras, temos mais a comemorar — respondeu com sarcasmo e Rob ergueu uma sobrancelha.
, tem certeza que não foi enfeitiçada?
Os dois riram, mas a risada foi interrompida com uma bufada que vinha da direção de .
, tudo bem?
— Tudo ótimo, pode voltar para o seu par agora, — ela respondeu, claramente nada estando ótimo. revirou os olhos, às vezes a amiga podia ser grosseira ao invés de apenas conversar sobre o assunto.
— Você está chateada porque veio sem par? Achei que você tinha curtido o baile.
— E curti! Ainda bem que vim sem par! Imagina aceitar vir com alguém que muda de interesse em segundos.
— Eu não estou entend…
, corta essa. Eu entendo você não querer vir comigo, mas o que você queria? Que eu viesse sozinho? — Rob respondeu, surpreendendo .
— Para alguém que queria tanto vir comigo, você até que rapidamente mudou de ideia.
— Mas foi você que me rejeitou!
— E daí? Você precisava convidar minha melhor amiga?
— Ela que me convidou!
— Então você não devia ter aceitado!
— Mas ela é minha amiga!
— Então você quis aceitar sim! Tenho certeza que desde o início você queria vir com ela!
, o que…?
— Agora não — cortou , sem encará-la. — Agora não é um bom momento para olhar pra você.
E, sem mais explicações, saiu andando, deixando incrédula. A grifinória se virou para o corvino.
— Robert?
— Desculpa, , mas eu prefiro não falar disso agora.
reparou que seus olhos estavam marejados quando ele se afastou. Agora, estava oficialmente sozinha. Ainda tentava processar internamente o que havia se passado na sua frente. Ao que parecia, alguma coisa estava rolando entre os amigos e ela aparentemente havia atrapalhado. O pensamento fez seu corpo parecer mais pesado. Ela finalmente tomou o ponche que Rob havia trazido para ela e encarou o copo com tristeza. Por que não poderia ter tido uma festa normal?
O salão começava a se esvaziar aos poucos e pôde perceber os cabelos loiros de Kyle não muito distantes de onde ela estava. Por mais que se sentisse melhor por esclarecer as coisas, ainda sentia vontade de se dar um tapa toda vez em que pensava no beijo. Sentiu as lágrimas se formarem novamente e achou melhor se afastar ao máximo do garoto. Queria tanto as amigas no momento…
Saiu do salão e encontrou o exterior transformado em uma espécie de jardim, com fontes, roseiras e estátuas. Se sentou mais afastada de forma que só escutasse a música bem de leve e apoiou a cabeça na parede, desejando firmemente ter um vira-tempo e poder recomeçar a noite. Ou, quem sabe, recomeçar tudo. Começaria esclarecendo desde o início para Kyle que ela não desejava nada com ele além de amizade. E nunca permitiria a si mesma se aproximar de Fred Weasley. Quem sabe se ela implorasse para Kyle e Tyler, um deles tivesse se compadecido e trocado de lugar com ela nas aulas de Transfiguração, de forma que ela nunca tivesse sido dupla do ruivo ou tivesse que conviver com ele.
Muitos “e se” se formavam em sua cabeça e, por mais que logicamente ela soubesse que era inútil repensar o passado, não conseguia se afastar da ideia.
Tentando tirar aqueles pensamentos da cabeça, se levantou e voltou a andar pelas roseiras. Estava se sentindo tão bonita naquele vestido, pena que aquela noite seria marcada pelo primeiro beijo que ela não desejava e por sua melhor amiga brava por algo que ela nem entendia se tinha feito.
Chutou com os saltos uma rosa caída no chão, mas se assustou ao escutar um farfalhar. Uma respiração acelerada. Até onde sabia, estava sozinha naquela parte da festa. olhou para os lados, até que avistou duas silhuetas. Ela rapidamente identificou o vestido branco que Angelina estava utilizando naquela noite e, da forma que os corpos estavam próximos, claramente estava se intrometendo em um beijo. Estava prestes a ir embora quando o luar refletiu na pessoa que beijava Angelina.
Ela não sabia dizer quando tinha começado a chorar, mas provavelmente assim que identificou os cabelos ruivos.
Por que doía tanto ver Fred beijar Angelina? Ela já sabia que aquilo tinha acontecido, claro que aconteceria de novo, mas ainda assim o incômodo era terrível, o bolo na garganta era presente e ela sentia que não conseguiria colocar uma mínima bala na boca.
sentiu uma mão no seu ombro e se empertigou com pressa, se afastando da pessoa. Ela se virou para ver quem havia a incomodado.
E deu de cara com Fred Weasley.
se virou para as roseiras. Angelina ainda beijava Fred. Ou melhor, Jorge.
se virou para o ruivo, sem palavras.
— Noite difícil, hein? — ele quebrou o silêncio, sorrindo.
— Pode-se dizer que sim — respondeu, fungando.
Weasley olhou em volta, como se esperasse que ela dissesse mais alguma coisa. Diante do silêncio da garota, ele pigarreou.
— Quer conversar? Olha, por enquanto é gratuito, eu aproveitaria, muitos imploram por essa chance.
Antes que percebesse, estava revirando os olhos. Ah, mas aquilo era bom. Aquilo fazia com que ela se sentisse tão ela mesma. Desviando o olhar do rosto intenso do grifinório, ela olhou novamente para as roseiras.
— Sabia que seu irmão está beijando Angelina Johnson?
corou logo depois de soltar as palavras. Sua intenção era ter sido um pouco mais delicada, mas estava atordoada com a noite, a presença de Fred e o que ela poderia significar.
Por sorte, o gêmeo apenas abriu um sorriso.
— Finalmente!
franziu as sobrancelhas, esperando qualquer reação de Fred, menos aquela.
— Finalmente? Mas ela não é o seu par? Você… a beijou e agora seu irmão está fazendo o mesmo! — ela exclamou, engasgando ao falar sobre o beijo, aquilo ainda lhe causava enjôo.
Mas Fred apenas pareceu se divertiu com a confusão da grifinória.
— Na verdade, eu não a beijei. Não que fosse ser um problema também, Jorge e eu estamos acostumados a compartilhar.
— Que nojo!
Porém, sua mente estava longe dali. Porque Fred Weasley havia dito que não beijou Angelina. Ele não havia beijado Angelina.
— Por que você não beijou Angelina? — ela o questionou.
— Alguém está curiosa hoje, não? — ele provocou, fazendo-a corar. — Mas, para a sua informação, percebemos que somos apenas bons amigos, nada além disso.
Apenas bons amigos. Aquilo, por algum motivo, fez sorrir. Antes de ela se lembrar das outras meninas que ele havia dançado. Nenhuma delas era uma boa amiga de Fred Weasley.
Antes que seu cérebro pudesse ir muito longe com aquele pensamento, no entanto, o ruivo tirou a varinha das vestes e apontou para , que congelou.
O que você…?
Rutrum Fix!
sentiu um leve formigamento em seu rosto e arquejou.
— O que você fez?! Eu vou matá-lo, Fred Weasley, eu vou…!
Mas seu rosto encontrou uma superfície espelhada e ela percebeu que sua maquiagem havia sido consertada, sem nenhum vestígio de lágrimas. Na verdade, parecia até mais bonita que antes.
— Me desculpe, , me mate por ajudá-la, que terror! — Fred ergueu as mãos para o alto, exagerando sua expressão, mas com um sorriso grudado no rosto.
— Isso não tem graça! Você não pode sair por aí soltando feitiços nas pessoas!
— Ora, me surpreende que a grande não conheça um simples feitiço para maquiagem.
sentiu as bochechas corarem diante da própria ignorância, mas então olhou para Fred com suspeita.
— E como você conhece?
Fred deu de ombros.
— Você pode ser a melhor aluna da aula de Feitiços e de qualquer outra aula, mas eu até que aprendo bem as coisas úteis.
— Não quero nem saber como esse feitiço foi útil para você.
, se eu não te conhecesse, diria que está com ciúmes!
empalideceu ao mesmo tempo que sentiu seu corpo ferver de vergonha.
— O quê? Mas… claro que não! Eu nunca…!
— Vamos, para de reclamar. Eu tive que ajeitar sua maquiagem porque não dava para voltar para o salão assim, não é?
— Voltar para o salão? Por que eu voltaria para lá? A festa já está acabando.
Fred colocou a mão no coração e abriu a boca, como se a garota tivesse o ferido.
— O quê? Vai encerrar a festa sem dançar comigo? De jeito nenhum.
Ele estendeu a mão e a garota precisou processar o que estava acontecendo. Fred estava a chamando para dançar? Fred Weasley, o garoto irresponsável e irritante que havia a atazanado desde o início?
Não, quem estava a chamando para dançar era Fred Weasley, um garoto bonito, engraçado, gentil e inteligente. Ele estava sempre lá nos momentos em que ela precisou, sem ela nem mesmo falar nada. Até quando ela não gostava dele. Um garoto que a havia surpreendido porque, apesar de não fazer quase nada nas aulas de Transfiguração, tinha sido capaz de inventar uma pasta que transformava um humano em canário por alguns segundos. replicava feitiços. Fred criava. Ele era impressionante.
E ele agora sorria para ela, convidando-a para dançar.
Seu estômago deu uma volta e ela estendeu a mão, aceitando a dança. Seria impossível recusar.

⭐⭐⭐

Coloque essa música para tocar.


— Essa vai para todos os amantes por aí. Se abracem firme e se mantenham aquecidos… — o cantor das Esquisitonas falou no microfone, antes de começar a cantar a última música.
Fred estendeu a mão que estava entrelaçada com a de e a olhou de frente, sentindo um leve frio no estômago. colocou a mão em seu ombro e ele apoiou a dele na cintura dela. Aquilo parecia muito certo.
Os pés deles se mexeram em sintonia pelo salão, os olhos grudados um no outro enquanto poucas pessoas permaneciam no local, dançando também. Mas essas pessoas haviam se tornado invisíveis. Eram só os dois, girando pelo salão, a tensão entre os dois palpável.
Os olhos de se arregalaram quando ele a fez girar e ela acabou soltando uma risada fraca. Como ele adorava fazê-la rir, especialmente depois de vê-la chorar. Ele prometeu a si mesmo que não a procuraria, que ela não o queria. Mas ele não se conteve e, quando viu, estava com ela nos braços, rodopiando pelo salão, mais próximos do que a dança exigia — não que ele fosse falar para ela.
Mas, de repente, olhou em volta, parecendo nervosa por estar dançando ali no meio de todos. Ou talvez por estar com ele.
— Não precisa se preocupar, eu não mordo — Fred sussurrou em seu ouvido e ele percebeu a garota ficando ainda mais tensa. — A não ser que você queira.
Ela o empurrou para trás, revirando os olhos, mas com um sorrisinho nos lábios. Era isso que ele gostava. Provocá-la, deixá-la irritada, mas também sem conseguir conter o humor. Ela ficava confortável, levemente irritada e feliz.
Para a surpresa dele, ela aproveitou a quebra da tensão para puxar assunto.
— Então, quais os próximos passos agora que todos já estão alertas sobre o Creme de Canário que vocês inventaram?
Fred nem soube o que responder a princípio. Ela estava verdadeiramente interessada nos seus negócios? Ele pigarreou.
— Bom, Jorge e eu estamos com um pouco de dificuldade no financiamento e isso faz com que a gente tenha que dar passos pequenos, mas estamos pensando em ferramentas para ajudar os alunos a matarem aula. No momento, estamos criando o que queremos que sejam os Febricolates!
Ele sorriu maroto, esperando pela torção de nariz da monitora, treinada a respeitar todas as regras da escola, mas se surpreendeu quando ela desviou o olhar, pensativa.
— Febricolate? Um chocolate que causa febre quando desejar, certo? Seria ótimo para fugir de uma aula do professor Binns… Opa. — As bochechas dela se esquentaram ao lembrar que ela havia colocado Lino e os gêmeos para assistirem uma tarde de aulas dele.
— Sem ressentimentos, gatinha, estamos quites — Fred piscou.
— Na verdade, vocês ainda fizeram muito pior comigo — ela replicou, mas sua mente estava presa no “gatinha”. Tentando se distrair, ela continuou. — Vocês poderiam talvez usar alguns ingredientes da Poção Apimentada. Mas ela cura gripe e a intenção é simular uma gripe, mas ela também esquenta…
— É só potencializar o que esquenta e retirar o que cura. Ou talvez retardar a cura. Afinal, o aluno tem que ficar bem depois.
— Mas isso no mesmo produto? Tipo um prazo de validade dos efeitos? Ou em um produto separado, tipo os cogumelos da Alice, que um lado cresce e outro diminui?
Fred não tinha ideia de quem era Alice, mas estava simplesmente radiante e hipnotizado, escutando . Nunca, a não ser com seu irmão Jorge, tivera a chance de discutir suas invenções e procurar ideias novas. Aquilo era como um estimulante para seu cérebro que não parava quieto e estava sempre tendo novas ideias. era como um combustível, alimentando esse fogo até que ele pudesse aquecer uma cidade inteira.
Antes, havia se questionado como poderia ter se apaixonado por , seguidora de todas as regras de Hogwarts, rabugenta, sem humor, cabeça fechada. Mas a verdade é que havia se apaixonado por , uma garota linda, genial, leal e levemente teimosa, o que só deixava tudo mais divertido. Ela havia se tornado sua amiga, mas com certeza ele a queria como muito mais. Por Merlim, a boca dela perto da dele naquela dança estava deixando-o louco, e da melhor maneira possível.
franziu as sobrancelhas.
— Por que está me olhando assim? Ah, espera! Você não sabe quem é Alice, não é?
Fred tinha certeza que a expressão em seu rosto não era por isso, mas ele apenas disse:
— Não faço ideia.
E se pôs a escutar as palavras empolgadas de , que contava a ele uma de suas histórias trouxas favoritas.
Os dois nem perceberam quando a música acabou, ainda rodopiando no salão por alguns segundos antes de notarem as pessoas se dispersando. Isso fez as bochechas da garota corarem, o que fez o garoto sorrir.
— Senhorita , por mais que tenha adorado esse momento, eu tenho que ir.
Por um segundo, Fred chegou a acreditar que ela estava decepcionada.
— Por quê?
— Tenho que preparar uma festa, lembra? Vejo você em meia hora? Por favor, não me deixe esperando — Weasley piscou, fazendo-a abrir um sorriso.
— Eu estarei lá.
viu Fred ir embora como se fosse um gato ligeiro e, segundos depois, ele havia sumido, levando seu ar junto com ele. Ela encarou a porta, ainda sem acreditar que havia dançado com Fred. Que ele havia a convidado. E que seu corpo estava reagindo de forma muito, muito perigosa.
entrou esbaforida no salão, tirando a atenção de para seus próprios pensamentos. sorriu e acenou, mas parou no meio do gesto quando viu que a amiga tinha lágrimas nos olhos. Ela se apressou para perto e abraçou a amiga.
— Ei, o que houve? — ela sussurrou, se afastando para conduzir para um corredor vazio. Quando já estavam sozinhas, olhou para , o olhar quebrado no rosto da garota. Ela respirou fundo algumas vezes antes de conseguir falar.
— Foi o Jean. Ele me levou para os roseirais e começou a me beijar. Ah, , ele é tão bonito, então eu fui deixando ele me beijar mais e mais… e, quando eu vi, ele me pediu… — travou.
— Eu não vou te julgar, pode falar. — apertou a mão da amiga, que deixou uma lágrima cair antes de continuar.
— Ele pediu para eu abaixar o vestido. Eu não queria! — ela se apressou em dizer, mexendo as mãos com desespero. — Mas ele começou a falar tantos elogios… Quando eu vi, eu tinha tirado a parte de cima. E ele tirou a calça e começou a… você sabe… — Mais uma lágrima caiu, enquanto uma expressão de nojo e pavor tomava conta do rosto de . — E eu só fiquei ali, esperando ele terminar. Eu não sabia o que fazer, ele não parecia muito preocupado comigo. E aí nós ouvimos passos. Sorte que eu consegui colocar a roupa para cima. — Um vestígio de sorriso cobriu o rosto de . — Jean não conseguiu.
— Quem era?!
— Madame Maxime. Ela ficou horrorizada. Mandou Jean colocar as calças e o puxou para dentro da carruagem de Beauxbatons. Falou que ia cuidar de mim mais tarde, mas eu saí correndo. Acho que ela já vai ter trabalho suficiente com ele.
tentou manter o sorriso, mas percebeu o rosto da amiga tremer. De todas, era a que menos conhecia mais intimamente e vice-versa, mas estava adorando se aproximar da garota e aquele era um momento de mostrar que a amizade havia valido a pena e que a amiga não seria deixada na mão.
— Você não precisa fingir que está bem, . Ele foi um escroto com você.
! Acho que nunca ouvi você xingar assim! — a grifinória falou, a boca aberta em choque.
— Ah, mas ele mereceu! — esbravejou. — Se Madame Maxime não acabar com a raça dele, eu mesma acabo! Ou mando acabar, ela vai se divertir à beça com isso e…! — As palavras morreram na sua boca quando ela relembrou que estava chateada com ela.
— Que foi? — perguntou.
— Não é nada, depois eu te conto — espantou o assunto com a mão. — Ei, por que não passamos na cozinha, pegamos alguns chocolates quentes e voltamos para o quarto para abrir os presentes de Natal? Já vai dar meia noite.
— Mas e a festa do sexto ano? — questionou.
— Você acha que eu ligo para uma festa idiota? Vamos — disse, engolindo a culpa de não aparecer mesmo tendo prometido a Fred. Mas ele ia entender. precisava muito mais dela naquele momento.
As duas caminharam na direção das masmorras, se virando no local que tinha uma pintura com peras. fez cócegas nas frutas e uma passagem se abriu. Um dos pequenos segredos que Fred havia compartilhado com ela nas aulas de Transfiguração.
Vários elfos domésticos apareceram para recebê-las, desejando feliz Natal, enquanto ofereciam diversas comidas.
— Vocês por acaso teriam chocolate quente? — ela perguntou, com doçura.
— Claro, senhorita! — um elfo respondeu com a voz aguda. Imediatamente, outros dois elfos começaram a preparar o chocolate quente enquanto outros dois limpavam duas xícaras vermelhas para elas.
Poucos minutos depois, as duas estavam aconchegadas na cozinha, com seus chocolates quentes e, depois de muito insistirem de que não queriam mais nada, os elfos voltaram a limpar as travessas do baile.
— Obrigada, estou me sentindo melhor — disse, depois de um longo gole. — Como você descobriu esse local mágico?
— Vantagens de ser monitora — mentiu, abrindo um sorriso amarelo.
— Puxa, que sorte. Eu já tinha inveja do banheiro de vocês. Imagina um dia entrar e sem querer encontrar Cedrico Diggory tomando banho.
— Ele está namorando a Cho Chang agora.
— Ele está, mas eu não. — O sorriso de se transformou em uma careta. — Sabe qual a pior parte de tudo?
— Qual?
— O pinto dele era feio.
quase cuspiu o próprio chocolate e começou a rir.
— Como pode você estar triste e mesmo assim você me fazer rir?
— Você também parecia estar precisando de umas risadas.
As duas trocaram sorrisos cúmplices e terminaram seus chocolates quentes. Elas agradeceram aos elfos e começaram a voltar para os dormitórios. Encontraram vários alunos voltando do baile no caminho, assim como alguns professores que se colocavam de guarda nos corredores para evitar que os alunos tentassem estender a festa. Não que isso fosse parar os gêmeos Weasley, pensou, sorrindo.
Quando chegaram na frente do quadro da mulher gorda, abraçou , surpreendendo-a.
— Obrigada pela companhia e por me trazer até aqui, mas agora é hora de eu ser uma boa amiga e te mandar para aquela festa.
— O quê? Não, eu disse que ia ficar com você!
— Fala sério, , eu vi você e aquele Weasley dançando no salão. Vocês estavam tão fofos! Estou levemente puta porque você não me contou nada? Sim, mas não vou deixar você perder uma noite incrível por isso. Eu vi nos olhos dele que ele quer que você vá hoje. E eu estou vendo nos seus que você quer ir.
— Isso é mentira…
— Ah, me poupe, ! Você acha que eu não aprendi a ler você? Você já me deixou aqui na porta e agora eu também quero descansar um pouco na minha. Eu preciso ficar um pouco sozinha com meus pensamentos. Então ou eu te tranco para fora do quarto ou você vai para essa festa. E aí? Qual você quer?
estava tão determinada, parada com a mão na cintura e uma sobrancelha franzida enquanto a outra estava erguida, que não conseguiu parar de sorrir. Ela realmente era uma amiga incrível.
— Prometo te contar tudo assim que eu voltar.
— É bom mesmo, senão eu te tranco para fora do quarto pelo resto do ano!
Elas sorriram uma para a outra antes de entrar no dormitório e se esgueirar pelo corredor. Alguns alunos da grifinória passavam por ali, mas qualquer coisa ela poderia dar sua deixa de monitora e dizer que ia apenas usar o banheiro para se limpar pós baile.
E o que queria dizer quando falou que Fred queria que fosse? Claro que ele havia dito aquilo, mas era apenas piada. Ou coisa de amigo. Mas falava como se fosse tão mais. Ok, ela era uma apaixonada incurável, mas será que era apenas aquilo?
chegou no quinto andar com facilidade, sem encontrar nenhum professor, mas o problema agora era chegar no sexto andar, já que as escadas mudavam e a passagem agora se encontrava do outro lado do corredor, tomando um caminho totalmente descoberto. respirou fundo, conferiu que ninguém se aproximava, tirou os saltos e começou a correr o mais silenciosamente possível para o outro lado.
Tudo o que passava por sua cabeça é que ela não tinha sido feita para nada daquilo: não tinha sido feita para festas, não tinha sido feita para quebrar regras, não tinha sido feita para se esgueirar pelos corredores fora do horário. Ela era péssima nisso. E talvez por esse motivo ela tenha sido encontrada tão rápido.
— Bu! — uma voz sussurrou bem perto dela.
Antes que pudesse gritar, uma mão tapou sua boca e a puxou para dentro de uma sala de aula escura. se debateu, desesperada, estapeando a pessoa que a segurava.
— Ai, peraí! Lumos!
Quando a luz da varinha iluminou Fred Weasley, relaxou por baixo da mão dele, antes de ficar furiosa. Ele cuidadosamente afastou a mão e ela explodiu (da forma mais silenciosa possível).
— Qual é o seu problema?! Eu achei que tinha sido pega! Achei que ia ser expulsa! Achei que iam me matar! — ela gritou e sussurrou ao mesmo tempo.
— Calma, gatinha, por que eu te mataria? Só vim te fazer companhia a caminho da festa!
O peito de ainda subia e descia, e ela se apoiou em uma carteira da sala vazia para recuperar a respiração.
— Achei que você já estivesse na festa. O que está fazendo aqui? — ela perguntou, a voz ainda um pouco arisca.
— Quase me esqueci da maior diversão da noite — ele respondeu, tirando um pequeno frasco do bolso de maneira tão hipnótica que não se conteve e se aproximou. — Tcharam!
Weasley mostrou à garota um frasco cheio de líquido prateado borbulhante que a fez arquejar, sua raiva sendo substituída pela curiosidade.
— Poção Veritaserum?! Para que arrumou isso?!
— Isso, minha cara , é parte de uma das melhores brincadeiras do mundo bruxo: Veritaserum ou Felicis. Giramos a garrafinha de uma poção semelhante à Veritaserum e uma pessoa tem que escolher entre verdade ou desafio. Se escolher verdade, outra pessoa faz uma pergunta e essa garrafinha aqui — ele ergueu o frasco de forma vitoriosa — indica se a pessoa falou a verdade ou mentiu.
— Você roubou isso do estoque do Snape para uma brincadeira?
— Pera aí, você que está inventando que eu roubei. Para sua informação, eu e Jorge fizemos essa poção.
ia se perguntar se aquela poção estava correta, já que nenhum dos gêmeos havia conseguido N.O.M.s o suficiente para continuar nas aulas de Poções nível N.I.E.M.s, mas então ela se lembrou de quem se tratava e considerou que sim, com o incentivo certo, eles seriam capazes de fazer a poção mais perfeita de todas. Mas, parecendo compreender a dúvida nos olhos dela, Fred se adiantou.
— Meu nome é Fred Weasley.
A poção brilhou em dourado e o garoto sorriu, maroto.
— O sr. Filch é o homem mais gostoso e respeitado de toda Hogwarts.
A poção rapidamente se tornou negra. Fred deu dois tapinhas na garrafinha, cujo líquido voltou a ser prateado e borbulhante.
— Perfeito. Vamos levar isso logo para a festa, temos uma madrugada de magia e diversão pela frente. Só me dê um segundo.
— O que você vai fazer? — o questionou.
— Verificar se o terreno está livre.
Fred saiu da sala e se sentiu subitamente assustada. Tantas coisas poderiam dar errado se ela fosse pega. Por mais que tivesse a cartada do “sou monitora”, o sr. Filch não era o maior fã dos alunos e isso não excluía os monitores que zanzavam no horário de dormir.
foi desperta de sua preocupação quando Fred retornou para a sala.
— Tudo limpo. Vamos agora antes que…
Os dois congelaram. Fred se calou.
No final do corredor, eles escutaram um miado familiar.
Sem trocarem nenhuma palavra, Fred empurrou de volta para a sala e sussurrou “Nox” para sua varinha, deixando a sala ainda mais escura do que quando eles entraram pela primeira vez. Weasley colocou a mão novamente por cima da boca de , para impedir que ela falasse alguma coisa.
Os passos se aproximaram cada vez mais da porta da sala. O coração de batia tão forte que ela temia que o zelador pudesse escutá-lo. Ela não podia enxergar Fred, que com certeza a tranquilizaria com o olhar. A mão na boca dela parecia fazer com que ela se sentisse ainda mais sufocada e o corpo dele, agora que parava para pensar, encostava no seu muito mais do que só aquela mão…
Os passos passaram por eles e ambos só puderam escutar a voz bêbada e arrastada de Filch:
— Vamos, madame Nora — ele soluçou. — Vamos dormir para varrer todo aquele baile para as masmorras amanhã.
A gata miou na frente da porta e seguiu o dono. Um minuto depois, apenas o silêncio sobrou na sala.
— Ufa, essa foi por pouco — a voz de Fred falou muito próxima. — Lumos.
Os olhos de foram atingidos pela luz forte, mas ainda assim ela conseguiu processar: o seu corpo estava colado ao de Fred, que não havia feito nada para se afastar da garota.
Com os lábios subitamente secos, ela murmurou:
— Sim, muito pouco.
Só precisou que ela falasse para que o olhar dele se fixasse no rosto dela e seus olhos pareceram compreender enfim quão próximos eles estavam. A mão de Weasley que antes estava tampando a boca da menina agora repousava em seu rosto, e o outro braço, caído ao longo do corpo, encostava de leve no quadril da menina. As bochechas de ficaram adoravelmente vermelhas, mas isso foi apenas mais uma prova para Fred de que ela se sentia constrangida e não queria nada. Era uma tentação tê-la ali, mas ele não podia fazer nada.
Mas então ela suspirou. Ele não foi capaz de não olhar para ela e, por Merlim, ela estava olhando para a boca dele e seus olhos brilhavam.
— Que se dane tudo — ele murmurou, antes de erguer a outra mão, segurar o rosto de e puxá-la com vontade em sua direção. Tudo que ela pôde fazer foi arquejar antes de ser devorada pelo beijo.
O beijo foi como tudo entre eles: um choque, uma disputa, um duelo entre a doçura e inexperiência dela com o desejo e paixão dele. Claro que ele cedeu e deixou que o ritmo fosse tranquilo: ou o máximo que conseguiu, porque estava enlouquecendo. Beijar era mil vezes melhor do que beijar qualquer outra garota que já havia beijado. Talvez essa fosse a diferença quando se estava apaixonado por alguém.
Ela arquejou no meio do beijo e ele deixou a língua brincar sobre os lábios dela, ainda mais macios do que ele havia imaginado, e ela apertou os braços dele em desespero como retribuição. Ela sentia desejo, embora não parecesse saber que sentia.
A língua dela entrou em choque com a de Fred novamente e ele gemeu baixinho, sabendo que estava perdido com apenas aquele contato. Ainda beijando a boca dela, uma das mãos que seguravam o rosto de passou a descer pelo pescoço dela, fazendo a garota de arrepiar, chegando no colo do peito e passando pela lateral, esbarrando no seu seio.
arregalou os olhos e empurrou Fred para longe de si.
— Você… Eu…
Ao mesmo tempo, o relógio velho que Weasley usava piscou, atraindo a atenção do ruivo para o objeto. Sorrindo abertamente, ele se virou para .
— Feliz Natal! Já ganhei meu primeiro presente.
Ela arquejou, indignada, e deu a volta de onde estava, se dirigindo em direção à porta.
— Isso não significou nada e nunca mais vai se repetir. Nunca! — exclamou em um sussurro, antes de correr para fora da sala como se sua vida dependesse disso.
Dentro do bolso de Fred Weasley, o frasco prateado ficava negro.

Capítulo 14

O dia 25 de dezembro era uma data mágica, o Natal, um dia de trocas, comemoração, reunião da família e dos amigos. Mas, no mundo em que a magia realmente existia, o dia não começou bem.
acordou com uma dor de cabeça terrível, embora abençoada por aqueles cinco segundos em que seu corpo demorou a entender onde estava e o que aconteceu. Foram cinco preciosos segundos antes que as lembranças da noite anterior voltassem para sua cabeça.
Imediatamente, voltou a se encolher debaixo das cobertas quentinhas e implorou ao seu cérebro que a fizesse dormir de novo. O órgão, por sua vez, entendeu aquilo como um sinal para deixá-la mais desperta e com cenas ainda mais claras da noite anterior passando em sua cabeça, como uma televisão quebrada passando um único anúncio.
Não teria muita saída. Aceitando seu destino, saiu da cama e foi para o Salão Principal, já carregando seu malão para que não precisasse voltar para o dormitório. O quarto estava vazio e, durante o café, deu sorte de não encontrar nenhum amigo — e nem Fred Weasley, graças a Merlin. Não tinha muita felicidade ao admitir, mas até mesmo havia se escondido um pouco na biblioteca, esperando as horas passarem até que não tivesse mais como fugir: devia ir para a estação de Hogsmeade pegar o trem.
Antes, havia ficado um pouco decepcionada porque ia passar a semana do feriado com seus pais mais um ano, mas depois da noite anterior, um tempo afastada do mundo da magia parecia exatamente o que precisava.
Mesmo assim, levou um tempo arrastando seu malão para a estação. Lembrava de Fred comentando na aula que voltaria para casa nesse período e que só por isso ele e Jorge não fizeram a festa ter duração de uma semana. E ela não queria mesmo encontrar ninguém.
Porém, se arriscou um pouco demais. O trem apitou e ela ainda estava se aproximando da estação. Seu coração parou na hora, tomado de pânico. Aquilo seria vergonhoso e tão complicado! Começou a correr, desesperada, gritando sem fôlego:
— Esperem por mim! Eu estou aqui!
Não soube como, foi no último segundo, mas ela conseguiu entrar no trem. Seus pés mal pisaram dentro da locomotiva e ela começou a se mover. Se apoiou na parede e colocou a mão em cima do coração, recuperando o fôlego. Então, seu rosto ficou todo vermelho. Aquilo não tinha nada a ver com ela, sempre discreta e organizada.
Tentando se recuperar, foi de cabine em cabine, espiando com cuidado, para procurar um lugar em que pudesse ficar sozinha, mas a princípio todas pareciam já estar preenchidas. Na quinta tentativa, acabou parando na que suas amigas estavam. Tentou escapar com cuidado, mas escutou a voz de :
! Achamos que tinha desistido da viagem. Não vai sentar com a gente?
Claro que não poderia ser mal-educada. Ainda mais com suas melhores amigas, ora! Por isso, abriu um sorriso amarelo e se esgueirou para dentro da cabine.
— Mas é claro.
e estavam do lado esquerdo, com na janela, enquanto do lado direito, sentava próxima à porta com os olhos fechados. se sentou na outra janela, percebendo que nunca na vida havia visto as amigas tão quietas, além de quando elas não se conheciam bem.
Tentando disfarçar o clima esquisito, ajeitou o malão e pegou um livro que trouxe consigo, abrindo em qualquer página. Não conseguia ler uma única palavra, pensando em como se sentia impura por ter, em uma única noite, deixado de ser uma garota que nunca tinha beijado para uma que o tinha feito não uma, mas duas vezes. Suas bochechas esquentaram de vergonha e ela puxou o livro mais para cima.
Um suspiro leve preencheu o vagão.
— Vocês sabem que eu sou contra fofoca — começou, chamando a atenção das outras garotas, que não entenderam nada —, mas ninguém nem ao menos vai me perguntar sobre a festa de ontem?! Sabe, já que vocês me deram um bolo.
Na mesma hora, olhou para , que por sua vez, olhou para , que, por sua vez, olhou para . Ambas disseram ao mesmo tempo:
— Você não foi?
olhou em volta, tão perdida quanto as amigas.
— ‘Tá legal, acho que temos muito o que conversar. Poxa, nem parece a gente mesmo. — concordou em silêncio, olhando para , que nem a encarava. — Quem começa?
O silêncio voltou para o vagão e, por um segundo, achou que ia ficar por isso mesmo. Mas então ela viu os olhinhos tristes de , cheios de lágrimas. sabia que a amiga era capaz de chorar por isso, tudo que era minimamente triste partia seu coração, e o afastamento das amigas certamente era triste. Por isso, suspirou.
— Eu começo. Eu… — A saliva ficou presa na sua garganta e ficou sem fala. Não queria verbalizar sua vergonha. Seu rosto ficou tomado pelo pânico.
Mas aí pegou sua mão. E pegou a outra. Até a olhou naquele momento, com curiosidade e uma pitada de compaixão.
Eram suas melhores amigas. Não havia problema.
Um suspiro angustiado saiu da boca de .
— Eu beijei o Kyle.
As três arregalaram os olhos. apertava os lábios, claramente cheia de perguntas para fazer, mas nada saiu, o que tomou com gratidão. Se não falasse tudo de uma vez, não ia conseguir mais falar.
— Eu… fiquei chateada e me afastei da festa. Ele me encontrou, perguntou se tinha me magoado de alguma forma, porque eu estava o afastando…
— Eu te di…
— Shh! — interrompeu antes que esta pudesse terminar.
— E aí eu entrei em pânico! Tipo, qual é o meu problema por não gostar dele? E aí eu o beijei… e comecei a chorar.
— Ai, … — massageou a mão da amiga com o polegar.
— Eu percebi definitivamente que não era para ser e falei para ele. Pelo menos. Ele disse que me desculpava e que precisava de um tempo, mas que queria continuar meu amigo. Mas eu fui tão idiota! Tipo, por que eu o beijei? Só pra magoá-lo e gerar uma situação constrangedora? E para sempre, quando eu me lembrar do meu primeiro beijo, vou lembrar que magoei alguém!
A garganta de apertou e algumas poucas lágrimas rolaram dos seus olhos antes que pudesse impedir. Sempre se achou tão esperta, mas aquilo a fez se sentir tão burra. Naqueles últimos meses, esteve completamente fora de si.
— Você não fez por mal, só agiu por instinto e com emoção.
— Um erro que nunca mais vou cometer — falou para , secando as lágrimas.
— Claro que vai! Senão, a vida não tem graça. Precisamos agir com emoção também. E o importante é que vocês esclareceram as coisas e você viu a importância de fazer isso.
— Sem contar que o primeiro beijo nem é tão importante assim. Quando for importante, aí você pode realmente dizer que contou — falou.
— Aí nós temos um outro problema. Porque… eu beijei outra pessoa. E foi bem diferente do beijo do Kyle porque, tipo, foi bom. Mesmo — admitiu de uma vez.
A boca de se abriu em choque, as sobrancelhas de se uniram e colocou as mãos na frente da boca, maravilhada.
— É alguém que conhecemos? , como isso aconteceu? Conte tudo!
não achava aquilo tão empolgante, mas até que contar para as amigas tirava um peso do seu peito e a fazia se sentir menos horrível e mais… humana. Com esse conforto, juntou coragem para dizer.
— O motivo que eu fiquei chateada antes de beijar Kyle foi porque eu achei que Fred tinha beijado Angelina.
não deu tempo de as amigas reagirem às novas informações e desatou a falar.
— E depois, nos jardins, eu achei que o tinha visto beijando-a de novo. Inclusive, fofoca: ela estava beijando Jorge. Eu fiquei chocada, tipo, beijar os dois irmãos na mesma noite? Mas aí eu encontrei Fred e ele me disse que não a tinha beijado, e começou a ser tão gentil, me tirou para dançar… E, se eu for honesta, acho que eu já estava sentindo algo estranho. Então, quando eu estava chegando na festa ontem, esbarrei com ele. Nos escondemos do Filch, acabamos próximos e rolou. E… que ódio dele, mas foi incrível.
As três amigas gritaram, de surpresa, animação, choque, tudo ao mesmo tempo.
— Finalmente você admitiu para si mesma que gosta dele! — falou, feliz.
— Eu sabia que estava rolando algo na festa, eu sabia! — se levantou e pulou em cima de , que deu uma gargalhada.
— Não se anime! Isso foi um erro. Nós não temos nada em comum, sem contar que nunca, na história de Hogwarts, eu vi Fred com alguém sério. Isso não tem chance. Por isso eu disse a ele que não vai acontecer de novo.
— Você disse o quê?! — exclamou.
— Mas, ! Eu sei que é difícil de aceitar pelo histórico dele, mas eu realmente acho que ele pode estar interessado! Quer dizer, vocês já estavam se aproximando como amigos e ele não tirou os olhos de você na dança.
— É, , mas ele também dançou com outras dez garotas além de mim, no mínimo! Entende? Com ele, eu sempre serei mais uma!
olhou para as amigas, suspirando, antes de seu olhar recair em . Ela estava subitamente quieta no caos daquela comemoração/debate.
… o que foi? — também notou.
A garota olhou para as mãos, para o teto, mas não para .
disse o nome da amiga quase em uma ameaça.
— Ah, gente, ‘tá bom! — Jogou as mãos para o alto, a voz, normalmente aguda, saindo alguns tons mais alta, quase como a voz de uma fadinha. — Lembra que eu estava animada para que perguntassem das fofocas da festa? Uma das revelações que eu ia fazer era que Jorge e Angelina se beijaram. A outra era que um jogo muito estranho com uma poção ontem revelou que Rogerio Daves não tinha conseguido… sabe… coisar com Fleur. A outra era que Cho Chang e Cedrico…
! — bateu uma palma na frente dela, fazendo pular no assento. — Foco. O que isso tem a ver?
mordeu os lábios, claramente nervosa.
— A última fofoca… era que Fred Weasley e Katie Bell se beijaram.
O mundo parou para . Aquela sensação de enjoo como na noite anterior ao pensar que Fred e Angelina haviam se beijado voltou, embora mais forte (tinha uma leve suspeita de que o ponche havia sido batizado e que estava com uma leve ressaca).
Não era nenhuma novidade para a grifinória. Era exatamente disso que estava falando, para ele, esses beijos não significavam nada além de diversão passageira. Mas não era o que ela procurava, seu coração estava se envolvendo demais para poder se contentar com isso. Sentiu um aperto no peito e a garganta fechou, tornando difícil respirar. Mesmo assim, forçou um dar de ombros despreocupado.
— Viu? Por isso não vai se repetir. Não significou nada para a gente.
Pelo menos não para ele, ela pensou.

Nada, . Não se preocupe. É bom saber, antes que eu pudesse cair no charme dele de novo, né?
— Aquele canalha filho da puta! — xingou.
— Ei, coitada da mãe dele! — replicou.
— Tenta canalha escroto do caralho — sugeriu e fez careta, mas não reclamou da nova denominação.
— Ele não te merece — disse.
— Você é tão melhor que ele, foi livramento — completou.
— Você é bonita demais, inteligente demais e legal demais para ele — fez sua contribuição.
abriu um sorrisinho para as amigas. Como podia ter pensado em guardar tudo para si mesma? Ainda era muito para lidar, mas era tão mais fácil ao se ter alguém para te apoiar e dividir o peso.
— Chega de falar de mim — decretou. — Quem é a próxima?
e se entreolharam, antes que suspirasse.
, eu te devo desculpas.
ficou atenta. Ela estava bem curiosa para entender o ocorrido.
— Eu quero pedir desculpas se eu te magoei de alguma forma, , mas eu realmente não tenho ideia do que pode ter acontecido.
começou a mexer nas próprias unhas, evitando olhar para as amigas, as pontas do cabelo caindo na frente de seu rosto. Com o feitiço da revista Amortentia começando a passar, a cor das pontas de seu cabelo agora estava próxima de um lilás.
— Eu fiquei com ciúmes — admitiu. — Mas não porque eu não tinha um par. Eu fiquei com ciúmes… — ela levantou o olhar e o fixou em — porque você foi com o Rob.
demorou um tempo para juntar as peças. Afinal, a amiga nunca tinha demonstrado interesse por homens. Ou por ninguém. Chegou a pensar que talvez ela simplesmente não sentisse nenhuma atração romântica.
Mas ali estava a confissão de que havia algo maior sendo escondido.
— Meu irmão?! — exclamou, chocada.
— É, tanto faz. Ele me chamou para o baile e eu não quis ir, mas depois fiquei com ciúmes de vocês dois. Sei lá, sendo minha amiga, não entendi como você pôde chamá-lo!
— Mas… eu não sabia de nada! — se defendeu.
suspirou, menos combativa.
— Eu sei. Acho que eu queria que você lesse minha mente, mas não é assim que funciona, né? Nem Rob leu minha mente e entendeu que, mesmo eu o negando, não queria que ele fosse acompanhado de mais ninguém.
— Mas é injusto pedir isso, . Por que só não aceitou o convite? — perguntou.
— Não sei! Eu fiquei nervosa e estava tão decidida a ir sozinha… E estava confusa com o que eu sentia, ele era só uma criança, mas ficou tão bonito no último verão…
— É tão estranho te ouvir chamar alguém de bonito — admitiu.
— Ainda mais meu irmão.
— Vocês se resolveram? Depois da briga? — perguntou, se lembrando do ocorrido.
— Ainda não. Ele não veio atrás de mim — comentou, petulante, cruzando os braços.
— Talvez seja hora de ser menos orgulhosa e mais explicativa com o que sente. Você o rejeitou e depois brigou com ele por ter aceitado outra pessoa. Ele deve estar muito perdido! — falou.
— Eu sei… — relanceou a amiga. — Eu tenho medo também. Sabe, se realmente rolar algo e acabar. Você teria que ficar do lado dele, ele é seu irmão, e aí todo mundo ia se distanciar por minha causa.
— Credo, para quem nem admitiu os sentimentos, você ‘tá bem pessimista — comentou.
— É a verdade!
— Claro que não! Você acha que eu deixaria um garoto se por entre a gente? Mesmo meu próprio irmão, não tem como isso ser possível! E… agora que eu tô digerindo a ideia, seria legal ir em um encontro duplo com vocês.
abriu um sorriso maroto e genuinamente feliz, antes de fechar a cara.
— Mas ele vai ter que vir falar comigo.
suspirou, já acostumada com o jeito da amiga.
— Pelo menos é um começo.
Então, se virou para .
— Acabou minha vez.
percebeu imediatamente a amiga ficar nervosa. Sabendo do que tinha acontecido, logo segurou a mão dela.
— Você não precisa falar, se não quiser — sussurrou.
— Eu sei. E justamente por isso eu quero — ela sussurrou de volta, antes de respirar fundo. — Jean… ele me assediou. E fez coisas comigo que eu não tive forças para negar. Nada tão além! — acrescentou, ao ver as lágrimas nos olhos de . — Mas, mesmo assim, que me machucaram bastante. Na alma mesmo.
se levantou na mesma hora.
— Eu vou bater nele.
, não! Madame Maxine já cuidou dele. E acho que agora eu vou querer um tempo de garotos.
— Não pode deixar que um garoto idiota te faça perder boas oportunidades.
— Eu sei. Mas acho que é só o que eu foquei esse ano, e seria bom se eu usasse esse foco para minhas aulas de Poções. Não quero reprovar, afinal, meu foco continua sendo me tornar uma curandeira do St. Mungus, eu só me distraí. Vai ser bom fazer algo por mim ao invés de para alguém me notar, sabe? E vou tomar muito cuidado antes de deixar outro rostinho bonito se aproximar de mim.
— Eu posso te ajudar com Poções, você sabe — se ofereceu.
— Ainda bem que você foi gentil e se ofereceu, porque eu ia te obrigar a me ajudar de qualquer jeito.
Elas riram, antes de dar um abraço coletivo em .
— Estamos aqui pro que precisar — comentou.
— E eu falei sério sobre bater nele — completou.
— Eu sei. Por isso eu amo vocês.
Elas voltaram a se sentar, os corações cheios de diversas emoções, positivas e negativas.
— Uma pena que o baile dos sonhos acabou estragado, não? — comentou.
— Estragado? Eu não diria isso. Afinal, vimos as Esquisitonas ao vivo! — disse.
— E dançamos muito — acrescentou.
— E eu vi o Filch bêbado quase beijando a gata.
— Eca!
— Que nojo, ! — reclamou.
— Mas é verdade!
Elas continuaram conversando, reclamando, rindo e se ajudando durante a viagem. ainda estava processando como um dia que poderia ser um dos melhores de sua vida também poderia ser um dos piores. Mas já bastava de coisas ruins. Estava com suas amigas e queria poder se lembrar das coisas boas.

⭐⭐⭐


Os pais de estavam esperando na estação e ela não havia se dado conta de quanta saudade estava sentindo deles. Se despediu das amigas e foi direto abraçá-los.
— Feliz Natal!
— Para você também, querida! Hugo, pegue a mala dela, vamos guardar rápido no carro.
Eles voltaram para casa com uma conversa educada rondando o ar. Os pais tentavam ser educados e perguntar das aulas, mas franziam o nariz sempre que ela falava de magia. E, conhecendo os pais, ela evitava ao máximo trazer esse assunto para a conversa, mas era impossível quando se tratava de contar sobre sua vida.
Assim que chegaram no seu bairro, percebeu que genuinamente gostava de passar o Natal em casa. As luzes na sua cidade, a neve baixa que cobria algumas árvores e telhados, as cantigas trouxas que ressoavam. Era agradável de ouvir.
Chegaram à casa e o pai da garota levou o malão até o seu quarto, que estava intacto: paredes amarelo claras, estantes de muitos livros, uma cama de solteiro com cobertor lilás, um espelho e um espaço que agora era ocupado pela gaiola de Estrela, que já bicava a janela tentando entrar.
— Também senti sua falta — respondeu, conforme a coruja entrava contente no quarto e ia direto beber água.
Dentro do armário, escondido dos pais, ela guardava um conjunto de fotos mágicas, a maioria com . Tinha uma com Kyle e Tyler de um passeio em Hogsmeade também. Abriu o malão e tirou uma foto do baile que Colin Creevey havia tirado das garotas depois que , maldosamente, prometeu entregar a ele um autógrafo de Harry Potter. Como ela faria isso, agora não era problema de . Só sabia que tinha uma foto em que as quatro grifinórias riam em suas roupas elegantes e acenavam para . Seu coração se encheu de felicidade por ver a foto ali.
, querida.
fechou o armário no susto quando ouviu a voz de sua mãe, encostada na entrada do seu quarto.
— Sim?
Sua voz saiu um pouco mais aguda que o normal. Por sorte, a mãe não notou.
— Mary estava perguntando de você hoje cedo. Podia passar por lá e convidá-la para sair, o que acha? Ela vai ficar contente.
Mary era a vizinha trouxa dos , que tinha a idade de . Elas estudaram juntas na infância e brincavam uma com a outra o tempo todo, até a visita da professora McGonagall mudar tudo. guardava carinho por ela, mas não conversavam há anos. Era uma desconhecida que já fora importante para ela.
Porém, sabia que era importante para sua mãe que ela interagisse com gente normal. Por isso, abriu um sorriso forçado.
— Claro, vou arrumar minhas coisas e já passo lá.
Uma hora depois, bem agasalhada com um moletom bege e um gorro bem quentinho, se viu batendo na porta da frente dos Lewis, seus vizinhos.
A mãe de Mary abriu a porta, e sua boca se abriu em surpresa e alegria.
! Quanto tempo não a vemos, Mary ficará tão feliz!
A mulher abraçou , que ficou um pouco constrangida, mas agradecida por aquele carinho também. Então, a sra. Lewis se virou para as escadas e chamou a filha.
Mary desceu, sorridente, ela era uma garota tão simpática e boa quanto sua família. Junto a ela, um garoto com os mesmos cabelos crespos e olhos verdes apareceu.
, é tão bom te ver! — Mary disse, a abraçando com tanta genuinidade que, quem olhasse de fora, acreditaria que elas nunca deixaram de ser melhores amigas.
— Também é bom te ver! — disse, mas olhou para o garoto com confusão.
— Ah, claro! , esse é Jeremiah, meu primo. Jere, essa é , minha vizinha.
— Prazer — ele disse, abrindo um sorriso que fez a garota corar.
— Igualmente.
— Ah, você precisa nos contar tudo sobre a sua escola! É tão estranho você ter se mudado para longe tão de repente, meus pais sempre perguntam de você.
— Sabe, estava com saudades suas — percebeu que as palavras não eram mentiras —, o que acha de sairmos? Jeremiah também é bem-vindo, claro.
Mary soltou um gritinho animado.
— Tenho uma ideia! Já viu o novo filme da Disney, Rei Leão? Eles estão fazendo uma sessão extra por causa do Natal.
— Ah, eu adoraria, que saudades do cinema!
Os dois olharam para como se ela fosse uma alienígena. Ela pigarreou.
— Na minha escola, não deixam a gente sair fim de semana. É puxado mesmo.
— Eu tenho uma amiga que também foi para uma escola assim — Jeremiah comentou. — Ela disse que se sentia tão presa.
— Nossa, eu imploraria para meus pais me tirarem de lá — completou Mary.
— É, mas sabe como é. Bolsa de estudos com reforço escolar muito bom, meus pais insistem que eu priorize minha educação. De qualquer forma — ela correu para mudar de assunto —, tem certeza que seus pais não se importam de sairmos hoje para o cinema? Eles devem querer comemorar o Natal com você.
— Ah, nós vamos celebrar somente à noite. Você me faria um favor se me tirasse de casa.
— Adoro meus tios, mas também tô precisando de uma folga.
— Uma folga da folga? Se manca, Jere, você ‘tá de férias — Mary bronqueou e riu daquela interação.
Ficou decidido. Logo, os três se despediram do sr. e da sra. Lewis e foram para o cinema.
Tudo saiu de forma perfeita. O gosto da pipoca amanteigada, as poltronas vermelhas macias, o projetor e a tela gigante. Como havia sentido falta! Mary e Jeremiah haviam se provado companhias incríveis também, fazendo com que realmente aproveitasse o tempo. E o filme… a música Can You Feel The Love Tonight ficava tocando sem parar na cabeça de , era tão incrível!
Por um momento, ela se desconectou de todo drama que envolvia sua vida e pôde realmente aproveitar. Mesmo que tivesse que inventar muita coisa sobre sua vida, como quando Mary disse:
— Sinto falta da escola com você! Era uma época tão mais simples, né? Brincávamos muito e estudávamos pouco. E não tinha química, Deus me livre. Aquelas aulas de laboratório…
— Nem me fale. Meu professor é um carrasco, tenta reprovar todo mundo, mesmo que você se esforce, exceto os favoritos dele — disse, se inspirando em um professor em particular que também a levava para quase um laboratório. Só que nas masmorras.
— Que ridículo!
— O meu de matemática é assim — Jeremiah disse. — Ele implicou com minha prova de cálculo só porque eu não calculei as soluções da equação de segundo grau no método que ele pediu.
apenas concordou com a cabeça, sem deixar a confusão transparecer, afinal qualquer escola normal estudaria equações de segundo grau, e não Defesa Contra as Artes das Trevas. Pelo menos ela cursava Aritmancia e podia usar isso para referenciar um pouco de matemática em sua mentira.
O filme acabou quando a cidade começou a ficar escura. Os três se despediram e prometeram se encontrar novamente na cidade para tomarem um chocolate quente. E depois a mãe de Mary insistiu que as garotas fizessem uma festa do pijama.
Constrangida, mas também animada, se despediu e voltou para casa. Entrou e sentiu o cheiro delicioso do peru assado e dos biscoitos de Natal. Se sentiu imediatamente culpada.
— Ah, mãe, me desculpa! Esqueci de te ajudar hoje.
Mas diferente do discurso de "sou sempre eu nessa casa" que ela esperava ouvir, sua mãe abriu um sorriso gentil.
— Tudo bem, querida. Espero que tenham se divertido.
se sentou à mesa, ainda estranhando a reação.
— Ahn… ah, sim, foi bem legal. Eu adorei passar um tempo com a Mary, foi melhor do que eu esperava. E o primo dela é bem divertido também. Ah, e vocês já assistiram a esse novo filme da Disney?
— Eu tentei convencer sua mãe, mas ela disse que é muito coisa de criança.
— Juro que não! Chorei tantas vezes inclusive e a música… Mãe, você vai amar! Vocês deveriam assistir. Podemos ver juntos amanhã, que tal?
— Mas, querida, você viu o filme hoje — sua mãe replicou, soltando uma risadinha.
— Eu sei, mas sinto falta do cinema.
— Acho que podemos dar uma chance, certo, Janice?
A mãe de suspirou e jogou as mãos para o ar.
— Certo.
Sua mãe então serviu o purê de batata na mesa e eles fizeram a oração de Natal. Então jantaram aquela comida, que poderia ser uma competição forte para os deliciosos quitutes preparados pelos elfos domésticos em Hogwarts.
Quando terminaram de comer, o pai da garota foi até a lareira e acendeu o fogo, deixando tudo bem confortável. Ela sorriu ao se lembrar do salão comunal da Grifinória. Se encolheu em uma poltrona e se cobriu com um cobertor enquanto seu pai se sentava em uma poltrona ao lado.
— Biscoitos? — sua mãe ofereceu.
— Claro, obrigada.
Eles tinham gosto de família, sonhos e todas aquelas coisas boas da infância. Inocência principalmente.
Logo em seguida, a mãe segurava um pacote bem maior que um biscoito. encarou os pais, animada. Reconhecia perfeitamente o formato.
— O que é isso?
Os dois se entreolharam e sorriram.
— Seu presente de Natal, claro.
As bochechas de doeram com o tamanho do sorriso que se formou em seu rosto.
— Ah, obrigada!
Ela começou a rasgar a embalagem vermelha e dourada do objeto retangular. Como ela amava receber livros! Talvez fosse um novo romance trouxa, ou um excelente livro de mistério, ou…
Ou talvez fosse o livro Teoria Geral do Direito.
Ela ficou genuinamente sem palavras. O que ela, uma bruxa, ia fazer com um livro sobre as leis trouxas? Para seguir uma profissão trouxa, e ainda uma das que mais a desinteressava?
A mãe abriu ainda mais o sorriso.
— Olhe, Hugo, eu disse que ela ia adorar, está até sem palavras!
, sei que o seu futuro andou… incerto recentemente — seu pai começou a falar, se inclinando para frente e juntando as mãos na frente do corpo. — Mas você sempre foi uma garota brilhante e séria. Precisa de uma carreira brilhante e séria também. Além disso, pode ser bastante progressista, mas quem melhor para gerenciar meu escritório futuramente do que minha própria filha?
Ambos sorriam muito. Há tempos não passava uma noite tão agradável com os pais e se sentia tão amada, até o momento. Ela queria jogar o livro na lareira. Queria gritar que eles não a respeitavam nem a escutavam. Queria narrar todos os detalhes de sua futura profissão: Desfazedora de Feitiços. Queria subir para o seu quarto, bater a porta e gritar contra o travesseiro.
Mas seus pais sorriam tanto. E ela percebeu que, no fundo, sentia saudades de se sentir tão querida e amada por sua família, e eles estavam a fazendo se sentir assim. Talvez, só precisasse brincar um pouquinho mais com o papel de filha perfeita trouxa. Só um pouco mais. Depois, eles acabariam aceitando.
Por isso, ela abriu um sorriso forçado e disse:
— Obrigada, vocês foram muito gentis com o presente.
E enfiou vários biscoitos na boca enquanto esperava os pais falarem sobre a profissão.

⭐⭐⭐


A sessão de cinema no dia seguinte foi bem legal, a mãe realmente acabou chorando no filme e seu pai declarou como o melhor já produzido pela Disney. teve a chance de escutar “Can You Feel The Love Tonight” mais uma vez e experimentar uma saída normal e legal com sua família.
Mas, desde a noite anterior, algo parecia errado. Eles não pareciam a enxergar propriamente, e sim a filha que eles acreditaram ter até os onze anos. Porém, guardava essa impressão para si e sorria, fingindo que tudo estava bem.
Após o filme, ela passou em casa para pegar um pijama e uma escova de dentes: Mary deixou claro que ela não podia faltar a festa do pijama. Sua mãe também ficou contentíssima com o convite.
bateu na porta e a senhora Lewis atendeu, sorridente.
, que bom vê-la aqui! Estávamos acabando de estender os colchões na sala, assim vocês podem ver TV antes de dormir!
sorriu com a ideia e entrou na casa, encontrando uma Mary muito sorridente logo em seguida, que a apertou em um abraço.
— Isso! Noite das garotas!
— Oi, — Jeremiah apareceu atrás de Mary, sorrindo ao cumprimentar a garota.
— Ou quase isso — Mary se corrigiu.
— Neném, vem me ajudar com a pipoca! — a senhora Lewis chamou e Mary corou com o apelido.
— Vai lá, Neném — Jere provocou e segurou o riso. Mary só saiu para a cozinha, sem nem replicar, com cara feia. Então, ele se virou para a visitante. — Seja bem-vinda ao nosso forte/acampamento/cinema/festa do pijama!
entrou na sala e colocou o pijama e a escova de dente em cima de um colchão que ela sabia que era o seu: lilás com estampa de estrelas amarelas. Era o seu preferido quando criança e a senhora Lewis sempre o separava para ela. Ficou tocada com o gesto e com a lembrança.
— Isso faz eu me sentir tão nostálgica — ela comentou para o nada.
Mas não era nada que estava na sala.
— Desculpa me intrometer, mas você parece um pouco abatida hoje. Está cansada? — Jere foi atencioso e perguntou.
o encarou. Ele era realmente muito gentil com ela e bem bonito, sorrindo daquele jeito. Não um sorriso arrebatador e perigoso como o de Fred Weasley. Era mais do tipo adorável e amigável.
— Não é nada demais.
— Mas então tem alguma coisa.
— É besteira, não precisa se preocupar — ela disse, abanando a mão no ar e se sentando no colchão.
— Se está incomodando, não é besteira — Jeremiah comentou, se sentando no colchão de frente para ela.
ergueu uma sobrancelha.
— Você é muito teimoso, sabia?
— Dizem que os iguais se reconhecem.
Touché — ela disse, rindo. Realmente sua teimosia era notável, nem ela podia negar.
Ele continuou a encarando com um olhar interrogador e ela sentiu que estava fazendo efeito. Ela devia estar mesmo desesperada, pronta para contar seus problemas para um estranho. E foi o que ela fez.
— São meus pais. Eu os amo e estávamos nos dando melhor do que nunca nesse Natal. Nem sempre é fácil manter uma relação quando se mora longe — ela pontuou. — Mas então eu descobri que era tudo porque eles estão criando expectativas para que eu seja uma pessoa que eu não sou. É pedir muito que eles me aceitem? Tantos pais fazem isso! Há anos eles sabem que não sou como eles querem, mas eles não aceitam!
Secretamente, morria de inveja de todos os colegas nascidos trouxas que contavam o quão animados suas famílias ficaram no dia em que se descobriram bruxos e o quanto suas famílias adoravam ouvir falar de seu mundo tão novo. Era isso que ela queria.
— Mas o que eles fizeram para te chatear tanto assim?
fez uma careta.
— Meu presente de Natal foi um livro de Direito.
Jeremiah realmente pareceu tentar se conter, mas a risada saiu como um rio rompendo uma barragem. E tão forte, levou com ele, que logo se viu rindo da sua própria desgraça.
— E eu achei tanto que seria um livro de romance! Poderiam ter me dado até sapatos novos, qualquer coisa, mas que maníacos presenteiam seus filhos com livros de Direito?
— Talvez eles acreditem que você anda bem fora da lei — Jere brincou.
— Ou queiram me ensinar as leis para eu saber burlá-las — ela continuou a brincadeira, embora aquilo a fizesse pensar de novo em Fred. Maldita assombração. Ela o varreu para o canto do cérebro.
— Saber as leis pode te ajudar a descumprir uma lei?
— Ora, é claro! Se eu souber em que termos exatos roubar é crime, posso criar uma situação dúbia em que meu roubo não seja exatamente interpretado dessa maneira.
Jeremiah abriu a boca e se afastou ligeiramente.
— Não sabia que estava na presença de uma mente maligna. Tenho medo de me aproximar de você.
— Pode deixar, você não será a vítima.
— É o que eles sempre dizem — ele lamentou, fingindo se tremer inteiro.
Nessa hora, Mary retornou com três baldes cheios de pipoca com manteiga. Literalmente fonte de alegria genuína.
— E aí? Olharam as fitas cassetes que eu tenho? Escolheram um filme?
— Pensei em algo ligado a como se defender de um potencial roubo.
— Ou assassinato, Jere — completou.
— Deus me livre do assassinato. Vamos torcer para que fique no roubo.
Os dois riram ainda mais forte. Mary, mastigando uma pipoca, olhou de um para o outro, confusa.
— O que eu perdi?

⭐⭐⭐


passou a encontrar Mary e Jere todos os dias do recesso. Mas, na última noite, se forçou a voltar um pouco à realidade. Adiantou uma redação de Poções que o professor Snape havia passado de tortura para os alunos no feriado. Também revisou um capítulo da aula de Aritmancia que não havia absorvido bem.
Aquele era seu lugar, com aquelas matérias, com aquele mundo. Objetivamente, sabia disso. Mas aquela semana parecia ter tornado isso um pouquinho mais dolorido.
Em seu último dia, Mary e Jere apareceram em sua casa para se despedirem dela.
— Essas foram as melhores férias de Natal do mundo. Ah, vou sentir tanta saudade!
— Eu também, Mary, mas podemos nos encontrar no verão.
— Mas está tão longe! Você precisa fugir desse internato.
riu, pensando que fugir de Hogwarts era uma missão impossível. Bom, quase impossível, ela sabia quem poderia fazer isso, os gême…
Não, pensou como uma bronca para si mesma. Não vamos pensar nele.
— Precisa de ajuda arrumando a mala? — Mary ofereceu.
— Ah, não — se apressou em dizer. — Quase não tirei nada do lugar. Só um livro de Poç… Química para um dever de casa das férias. Mas já está tudo pronto agora.
— Caramba, esse seu professor é realmente um carrasco — Jere comentou.
— Nem me fale.
— Ah, eu sei que já disse, mas vou sentir sua falta! — Mary exclamou e pulou para abraçá-la em um gesto tão espontâneo que levou um susto.
— Eu também vou — a assegurou novamente.
— Não a assuste, Mary, assim ela não vai voltar nem para o verão.
— Jere, seu idiota!
— Mas foi tudo bem legal mesmo. Vou sentir saudades.
Ele também a abraçou apertado para se despedir.
— Ah, e antes que eu me esqueça.
E tirou de dentro do seu moletom uma fita de música.
— O que é isso? — perguntou.
— Eu percebi que ficou cantarolando a música do filme o tempo todo e pensei… bem, pensei que fosse gostar de ouvi-la quando pudesse. Ouvi tocar na rádio ontem a noite e decidi gravar para você. — Ele corou.
Jeremiah estendeu a fita, que pegou com muito cuidado. Marcada com uma fita, os dizeres diziam "Can You Feel The Love Tonight".
— Muito obrigada, eu amei!
— Para você poder escutar em sua escola que não tem cinema.
O coração de afundou um pouco. Também não tinha rádio em Hogwarts que pudesse tocar uma fita como aquela.
— Não esqueça de me escrever, se puder! — Mary disse, sorrindo.
imaginou os Lewis recebendo uma coruja como entregadora da correspondência. Aquilo não funcionaria.
— Vou tentar, mas não prometo. Eles são muito rígidos e não tem nenhum posto de correio por perto que eles nos deixem acessar.
— Que tiranos!
sorriu, mas percebeu cada vez mais que era o fim de um sonho de inverno. Aquela não era e nunca mais seria sua vida. Talvez em um outro universo, em que não tivesse descoberto que era bruxa. Nessa realidade, talvez passasse todo verão no clube com Mary, recebesse fitas de Jeremiah, talvez com bilhetes românticos. Estudasse advocacia e se destacasse na escola, encontrasse seus pais em todo café da manhã.
Mas aquela não era sua vida. E, honestamente, não era a vida que ela queria que fosse. Por mais gostoso que tivesse sido se afastar de seus problemas e não lidar com as consequências e sofrimentos, era hora de voltar para , e . Para aulas em que ela era realmente boa. Para perspectivas de futuro que fizessem sentido para ela. Para torneios mágicos, quadribol, varinhas e capas.
Era hora de voltar para Hogwarts.
Com um sorriso delicado, disse:
— Preciso chamar meus pais para ir agora.
Se despediu de Mary e Jeremiah, sabendo que não escreveria da escola e não poderia escutar a fita. Também se livrou rapidamente do livro de Direito; ela nunca estudaria aquilo.
Quando estava com o malão pronto na porta da sala, os pais de franziram a testa, quase como se tivessem se esquecido que ela deveria voltar para aquele mundo do qual eles não gostavam.
— Já está pronta para ir?
Ela sorriu para os pais e segurou a varinha que posicionou em seu bolso, por segurança.
— Nunca estive tão pronta.

Capítulo 15

— Agora saca só essa semi Transfiguração. Eu te apresento… passaruga!
— Para de me atrapalhar, Weasley — o cortou imediatamente, sem nem erguer um de seus olhares gelados para o bichinho.
Agora essa era a nova rotina dos dois nas aulas de Transfiguração. ignorava Fred com uma determinação absurda desde que dissera que nunca mais o beijo dos dois se repetiria. E ele nem sabia o que tinha feito de tão errado!
O beijo tinha sido terrível? Não para ele. Pelo contrário, estava tendo um trabalho enorme para esquecer disso todo dia antes de dormir. E toda vez que seu olhar cruzava com o dela. Ou quando notava sua ausência na sala.
Fred batucou no casco que sobrou de sua antiga tartaruga que agora deveria ter se transformado em um pássaro, mas conseguiu algo no meio do caminho. Em sua opinião, tinha conquistado algo muito mais divertido e diferenciado.
Mas não concordava. Nem a professora McGonagall.
— Dever de casa extra, senhor Weasley. Isso estará no nosso exame de fim de ano e, com certeza, em seus N.I.E.M.s.
Weasley bufou, enquanto , ao escutar as palavras acadêmicas mágicas, abriu um sorriso e pegou mais uma tartaruga na mesa da professora para transformar em seu quinto pássaro.
A aula terminou e levantou da cadeira como se tivesse se sentado em brasas. Fred mal piscou e a garota já estava fora de sala, sem dar nenhuma chance para que ele ficasse um segundo a mais do que o necessário em sua presença. Weasley bufou, irritado, enquanto devolvia sua passaruga ao normal.
Ele ainda ficou o suficiente para ver e Arckeley trocarem um aceno. A sua irritação se tornou ainda mais audível: ela também tinha beijado o babaca do Kyle e ele não estava sendo ignorado.
Provavelmente, também não tinha escutado que o beijo nunca mais se repetiria. Talvez já tivessem data marcada para o próximo.
Pensar nisso deu a Fred uma dor de cabeça pior que uma hora na aula do Binns e um enjoo que só sentia quando tinha ressaca. Tinha um tempo livre em seguida e sabia que só uma coisa poderia ajudá-lo a se livrar daquelas sensações idiotas, a coisa da qual mais sentia saudade recentemente.
Logo, estava no campo de treinamento. Com todos os treinos de quadribol cancelados, tudo estava extremamente vazio. Fred gostava de lá, tinha sido o local da sua primeira aula de voo. Passou um ano com Jorge treinando movimentos muito mais arriscados do que a Madame Hooch permitia para, um ano depois, serem aceitos no time de quadribol como batedores. A sincronia perfeita que os dois tinham funcionou perfeitamente para as quadras, mas mesmo assim o time da Grifinória continuou perdendo, até finalmente terem a vitória no ano anterior.
O local coberto de neve não era o ideal para um treino, mas já havia jogado em condições muito piores e mais complicadas. O vento mal o incomodou quando tirou o casaco e a neve apenas deixou seus movimentos levemente mais lentos, além de deixar sua visão um pouco branca demais.
Ele ajeitou o boneco de treino e preparou o bastão. Quando tudo ficou bem, ele soltou o balaço no terreno e deu uma batida forte. A mais forte que conseguiu. Viu o balaço cortar o vento frio e ir de encontro com o boneco de treinamento, que caiu para trás, mas magicamente foi erguido de volta.
Por Merlim, como sentia saudade de dar porrada nas coisas.
Ele continuou batendo no balaço, focando seu pensamento em cada movimento que seu ombro e seu quadril faziam para dar força ao seu braço.
— Eu ia te dar um susto, mas mamãe me mataria se você voltasse para casa sem cabeça por culpa de um balaço — a voz de Jorge alcançou seus ouvidos.
Fred lançou o bastão da mão direita para a esquerda, enquanto percebia que o irmão se posicionava ao seu lado, também com um bastão. Nem se deu ao trabalho de perguntar como o gêmeo havia o encontrado.
— Não sei se ouviu Dumbledore no início do ano, mas o quadribol foi cancelado. — Jorge rebateu o balaço uma vez. — Caralho, que saudades de fazer isso.
— Não temos campeonato esse ano, mas teremos ano que vem. E temos que manter a taça com a Grifinória — Fred rebateu uma vez com a esquerda, começando a aquecer com aquele braço. — Não quero ver o óleo do cabelo do Snape sujando a taça.
— Nenhum outro motivo para você estar destruindo um boneco de treino?
— Nenhum.
— Nem ?
Fred rebateu o balaço com uma parte do bastão a milímetros de sua mão. Por pouco, seus ossos não foram esmagados.
— Definitivamente não tem nada a ver com ela.
Esse era o ruim de ter um irmão gêmeo, que era o mesmo que o bom de ter um: eles conseguiam se ler perfeitamente. Claro que Jorge notou quando começou a evitar o irmão e ser grosseira, e Fred logo contou sobre o beijo. Depois de ser sacaneado (antes que Fred calasse a sua boca ao lembrá-lo de como ele estava seguindo Angelina igual um cachorrinho por toda parte), Jorge ofereceu tudo o que um irmão e melhor amigo poderia oferecer: conselhos, vingança, uma escapada para uma festa, uma cerveja amanteigada, desenrolar uma garota gostosa por lá.
Infelizmente, não funcionou como geralmente funcionava. Fred continuou intrigado e tentando se aproximar de , que nem ao menos se importava em lhe dar uma explicação para agir daquele jeito depois de beijá-lo com tanta vontade. E ele sabia que tinha sido com vontade, ele sabia reconhecer bem quando uma garota o queria.
Isso que o intrigava. Ela não parecia em momento nenhum querer Arckeley, mas o beijou. Pareceu realmente desejar Fred, o beijou, e passou a ignorá-lo. Apenas uma teoria parecia fazer sentido em sua cabeça e, por isso, ele contava os dias para escutar o anúncio de namoro de e Arckeley.
E ele não podia fazer nada. Nem mesmo tentar ser amigo dela, porque aquilo seria o mesmo que suicídio.
Só lhe restava uma coisa: superá-la. Mas, como não estava funcionando, dar umas porradas em um boneco parecia um bom substituto.
Especialmente se imaginava o cabelo loiro e o sorriso convencido de Arckeley.
— Você deveria ter visto minha passaruga da aula de Transfiguração hoje. Ela era maravilhosa.
— Casco de tartaruga e bico de pássaro, né? E as asas?
— Saindo dos cascos, mas fraca demais para levantar.
— Então precisa melhorar! — Jorge bateu no balaço com força. — Você nem acredita sobre que planta eu descobri na aula de Herbologia hoje.
— Melhor do que aqueles cogumelos alucinógenos?
— Não chega a tanto… Mas o idiota do Montague comeu uma folha e a voz dele… Cara, eu te juro, você tem que imaginar comigo… Ficou igual a do Filch.
Os olhos de Fred brilharam e ele sorriu de orelha a orelha.
— Será que todos ficam com a voz igual do Filch ou será que cada um consegue uma diferente?
— Acho que teremos que descobrir. Ainda bem — Jorge mexeu nos bolsos e tirou uma semente rosa choque do bolso — que logo teremos folhas o suficiente para descobrir.
— E ver também o que o caule faz.
— E as raízes, óbvio.
— E comer duas folhas de uma vez?
— E três?
— Teremos no mínimo um mês de teste.
— Ainda bem que o Febricolate já está quase no fim de produção.
Fred foi abruptamente transportado para suas memórias do baile, para o sorriso gigante de ao comentar suas ideias que, surpreendentemente, foram muito bem aproveitadas na semana do feriado pelos gêmeos.
Weasley sacudiu a cabeça, voltando para a realidade no último segundo, conseguindo evitar um balaço no ombro e uma visita à Madame Pomfrey por muito pouco. Rebateu no último segundo para Jorge, que segurou o balaço e quase caiu com o impacto. Guardou-o logo em seguida, depois esfregou a testa com o suor e tirou a neve de seu casaco.
— Acho que já deu de treino. Vem, vamos plantar essa esquisitice.

⭐⭐⭐


No sábado, os alunos do terceiro ano para cima foram liberados para mais um passeio em Hogsmeade. A neve enfeitava completamente o vilarejo, muito diferente da última vez que estiveram por ali. Todos vestiram seus melhores casacos e adereços para o frio, juntaram suas economias e foram investir, alguns em cervejas amanteigadas, outros em doces e, os mais espertos, avaliavam cuidadosamente os novos produtos da Zonko’s.
Claro que, entre eles, estavam Fred, Jorge e Lino.
— Isso parece uma versão pior da nossa ideia de bisbilhoscópio que avisa a chegada dos professores — Jorge comentou.
— Mas esse sabão de ovas de sapo parece perfeito para ser o novo sabonete do dormitório da Sonserina… — Lino comentou, já pegando um para si.
— Interessante, mas não vale nosso dinheiro. Não enquanto Bagman não nos responder — Fred lembrou.
Ludo Bagman trabalhava para o Ministério, antigo jogador ilustre de Quadribol. Um ídolo para eles e responsável pelas apostas da Copa Mundial de Quadribol, que, claro, Fred e Jorge ganharam. No entanto, pouco depois de receberem o dinheiro, este desapareceu. Os garotos imaginaram ser um engano, mas não estavam conseguindo se comunicar com Ludo nos últimos tempos, ainda mais com ele trabalhando no Torneio Tribruxo.
Haviam gastado todo o seu dinheiro na aposta, imaginando ganhar um melhor investimento para as Gemialidades Weasley, mas logo se viram sem nada. E, se queriam expandir a produção do Febricolate, precisavam do investimento.
Por isso, nesse momento, Fred precisava ir contra todos os seus instintos e não levar sabão de ovas de peixe para todo o time da Sonserina. Com muita dor no coração, ele se virou e foi olhar a loja com um olhar de concorrente, mas não cliente.
— Sempre achei as xícaras que mordem nariz geniais.
— Sim, Fred. Elas se misturam com as normais, surpreendem a vítima. Uma boa peça — Jorge comentou.
— É um dos charmes das varinhas falsas de vocês. Quando mal se espera, puf! Uma galinha de borracha — Lino riu.
Fred abriu um sorriso, orgulhoso. Realmente tinha sido uma das melhores ideias que ele e Jorge tiveram. Até Ludo Bagman disse que daria 5 galeões em uma dessas. Mas, no momento, não tinham dinheiro para fazer mais. O sorriso dele sumiu rapidamente.
Depois de fazerem uma última varredura, decidiram ir para o Três Vassouras. O clima frio pedia uma cerveja amanteigada quentinha. Fred mexeu nos bolsos, contou seus últimos nucles e respirou fundo, se convencendo de que era o melhor investimento que poderia fazer no momento. Mereciam alguma boa lembrança do passeio que fosse.
O tradicional sino tocou no bar assim que eles entraram. Já acenaram para Madame Rosmerta, Lino piscando descaradamente para ela. No entanto, assim que iam fazer os pedidos, os olhos de Jorge se arregalaram e ele deu uma cotovelada no seu gêmeo.
— Fred!
E apontou para Ludo Bagman conversando com Harry. Por um segundo, Fred congelou e seu cérebro demorou a associar o que via. Então, seu corpo se encheu de esperanças. Justo no passeio de Hogsmeade, aquele era o momento de sorte dos dois! Poderiam conversar com Bagman, esclarecer o mal-entendido, ganhar o dinheiro, comprar pegadinhas e itens que os ajudariam na produção de seus próprios produtos e ainda beber cerveja amanteigada à vontade! Aquilo definitivamente ia salvar seu passeio, porque, embora tentasse disfarçar, ainda doía não poder comprar um único item da Zonko’s.
Os dois se aproximaram, animados, do ministro.
— Olá, senhor Bagman — Fred começou, sorrindo de orelha a orelha —, podemos te oferecer uma bebida?
Jorge já foi puxando uma cadeira para o mais velho. Mas, diferente do que eles esperavam, o homem fez uma cara assustada e olhou direto para a porta.
— Hmm… não, não, muito obrigado, garotos…
Os dois ficaram em choque e extremamente desapontados. Antes que pudessem insistir ou puxar assunto, no entanto, Bagman continuou:
— Bem, preciso correr. Foi bom ver vocês. Boa sorte, Harry.
E saiu quase correndo do bar. Os gêmeos não deixaram de reparar o rastro de duendes que o seguiram imediatamente. Os dois podiam não ser os melhores alunos da escola, mas com certeza eram bem espertos. Por isso, logo se olharam.
— Isso está me cheirando mal.
— Mal tipo golpe? — Jorge perguntou, as sobrancelhas se franzindo.
— Um golpe ridículo e mal dado. Com uma pitada de bosta de dragão e muito ouro de leprechaun.
Os dois se sentaram, frustrados, no balcão do bar, onde Madame Rosmerta serviu uma cerveja amanteigada para cada um, provavelmente pedidas por Lino, que se aproximou e se sentou ao lado de Jorge.
— Não acredito que ele só saiu andando — Lino comentou.
— Est cada vez mais difícil de tentar negar! — Fred exclamou, frustrado, dando um leve chute na cadeira vazia ao seu lado. — A gente tem que… não sei, fazer alguma coisa.
— O quê?
A voz doce que acompanhou a pergunta fez o cérebro estressado de Fred Weasley congelar. E então colapsar. Era uma voz que ele agora raramente escutava, sentia falta imensamente e, ainda por cima, fez seu coração se acelerar.
Ele se virou e encontrou com um olhar indagador. Estava com um casaco do dobro de seu tamanho e segurava um pirulito vermelho, a mesma cor que estava seu nariz, provavelmente por causa do frio. Usava um gorro de lã lilás, que combinava com as luvas. E pior: parecia preocupada.
Não, ela devia estar curiosa, ele não podia confundir os sentimentos.
Mas a aparição dela não foi das melhores. Fred estava sem uma única moeda no bolso por causa do homem que parecia ter dado um golpe nele. Estava acostumado a privações por sua condição financeira, mas nunca saiu da Zonko’s sem poder comprar uma única bombinha de bosta sequer. E aquela garota vinha confundindo seus sentimentos, fez com que ele se apaixonasse contra sua vontade para então ignorá-lo e tratá-lo mal.
E então, de repente, queria fingir que se importava?
A raiva voltou à tona. O rosto de Ludo Bagman serpenteava a sua mente, assim como os olhares frios que vinha lhe direcionando. Agora ela queria fingir que se importava?
— Não se mete no que não é da sua conta, .
O rosto dela ficou vermelho de vergonha.
— Qual o seu problema? Só queria saber se você estava bem.
Aquela frase o pegou de jeito. Depois de todas as confusões que ela o fez sentir, depois de ele tentar conversar com ela tantas vezes, ela fingia que queria saber se ele estava bem? Ele mal podia acreditar no que estava ouvindo. A raiva era tanta que seu olhar pareceu deletar todos os outros do estabelecimento e se fixou nela. Mas não com carinho como nas últimas vezes em que interagiram.
Não, Fred Weasley estava furioso.
— Vê se ouve e entende: para de meter esse seu nariz esnobe nas minhas paradas — ele explodiu. — Você só quer saber se eu tô fazendo algo de errado para poder denunciar para o Filch como se fosse uma monitora toda boazinha. Adivinha? Não vai encontrar nenhuma merda por aqui. Satisfeita? Pode voltar para sua vida correta e patética agora, procura outra pessoa para encher a merda do saco.
Saiu tudo de uma vez só, sem nem tempo para uma única respiração. Talvez, se tivesse respirado, teria percebido que não achava realmente tudo aquilo, mas que era o cúmulo do estresse nas últimas semanas, somado a um coração partido, falando.
O rosto de ficou mais vermelho. Mas, dessa vez, não foi de vergonha. A raiva foi tomando suas feições a cada segundo. Ele percebeu também as lágrimas que surgiram nos olhos dela, que ela teimosamente não deixou cair. Imediatamente, a raiva evaporou.
Mesmo com a tristeza aparente, ela deixou a fúria a dominar e encarou Fred no fundo dos olhos.
— Obrigada por me lembrar por que eu te odiava.
E virou as costas, saindo do Três Vassouras.
Algumas poucas pessoas comentavam o acontecido, sem entenderem de onde vinha tanta hostilidade entre os dois, ainda mais com a amizade clara que eles vinham desenvolvendo.
E Fred apenas encarava o ponto em que antes tinha estado. E as últimas palavras dela ressoavam em sua cabeça: eu te odiava, eu te odiava, eu te odiava. Bom, para ele soavam mais como “eu te odeio”.
E aquilo só machucou mais seu coração, que parecia mais confuso do que nunca.
Ele sentiu a mão de Jorge no seu ombro.
— Vem. Vamos sair daqui.
Eles pegaram as cervejas amanteigadas e saíram do bar. Embora Fred não quisesse magoar , não podia deixar também de se sentir frustrado com a súbita aparição dela. Por que ali, naquele momento? Por que não nas últimas duas semanas em que ele tentou se aproximar, sem sucesso? Tudo bem, ele havia pesado nas palavras, mas não havia mentido. Ela era uma intrometida que com certeza não se importava com ele. Caso se importasse, eles teriam conversado.
Por isso, Fred sabia também que não era total culpa sua.

⭐⭐⭐


Foi uma péssima ideia seguir Fred, ela já deveria ter sabido disso desde o início. E foi pior ainda se aproximar. Mas por um segundo ela se esqueceu de tudo ao ver o olhar destruído e decepcionado dele. Se esqueceu de que ele era um escroto e sentiu pena.
Pelo menos ele teve a decência de lembrar a ela quem ele era de verdade.
Ora, e ainda tinha a audácia de chamá-la de enxerida? Tudo bem que sua aproximação depois de duas semanas distantes foi súbita, mas foi com ótimas intenções. Tudo isso para levar um fora desnecessário.
Ainda foi chamada de dedo duro. Ah, e sem graça! Como se tudo o que fizesse na vida fosse apenas entregar alunos para o Filch!
As bochechas dela ficaram quentes. Ela realmente já havia feito isso. Mas ela estava apenas cumprindo sua função, não era como se não soubesse quebrar as regras e se divertir caso quisesse!
Ela conseguia. Ia provar isso para si mesma e para Fred Weasley.
Saiu do bar, batendo a porta atrás de si. Estava furiosa e com a visão totalmente embaçada das lágrimas que segurava. Demorou para reparar nas amigas na frente dela. Só se tocou da presença quando a segurou pelos ombros.
— O que foi? Estava lotado? — comentou.
— Para de ser idiota! Vem, vamos para algum lugar mais tranquilo — disse, tranquilizando a amiga.
Elas andaram até uma rua relativamente vazia e com um banco. O vento estava gelado e a neve cobria tudo, mas não sentia a mínima vontade de entrar em lugar nenhum no momento.
— Pode contar tudo para a gente. Se quiser, claro — confortou a amiga.
engoliu as lágrimas o suficiente para poder contar o que havia acontecido rapidamente. Ela ainda estava um pouco em choque.
— O erro foi meu. Não sei o que deu em mim de perguntar a ele o que tinha acontecido, mas ele parecia tão chateado… Odeio ainda me importar!
— Não consigo acreditar que ele foi tão babaca assim! — disse, a única que ainda tinha um pouco de contato com Fred e a quem Alicia confidencialmente relatou que o garoto andava chateado com o afastamento de .
— Eu consigo. Esse garoto nunca foi boa coisa! — esbravejou.
— Tipo, eu sei que a gente sabia que ele é um galinha, mas eu não sabia que ele era um grosseiro.
— Ele sempre foi, falou, se lembrando do incidente no Expresso de Hogwarts na primeira vez em que foi para Hogwarts e conheceu os gêmeos Weasley. — Ele é um insensível e imaturo.
— Bem queria que você tivesse descoberto o que ele está fazendo para poder entregá-lo ao Filch. É errado desejar isso? — comentou, envergonhada.
— Nem um pouco. É um jeito bem gentil para ele se ferrar. Eu pensei em outros piores — comentou, batendo o punho em sua outra mão aberta, preparada para muito dano físico.
— Então vocês vão voltar a ser inimigos? A planejar vinganças um para o outro? — perguntou.
Aquilo era algo que tinha estado na cabeça de nos últimos minutos. Tinha sido humilhada publicamente por Fred na frente de todos no Três Vassouras e ele ainda tinha estragado seu fim de semana em Hogsmeade. A ideia de se vingar e envergonhá-lo era absolutamente tentadora.
Mas ela sabia que não era assim que queria agir. Não queria descer ao nível imaturo dele. Da última vez, teve que mentir para McGonagall e aquilo ainda lhe dava alguns pesadelos. Não, ela precisava de uma abordagem diferente.
“Pode voltar para a sua vida correta e patética agora, procura outra pessoa para encher a merda do saco.”
Dentre tudo o que Weasley disse, essa foi uma das frases que mais doeu na grifinória porque, no fundo, ela sentia que era verdade. nunca quebrava as regras e poucas vezes se permitia fazer algo divertido. Nunca faltava aulas e sempre priorizava o seu dever de casa. Não que estivesse errada: a carreira de Desfazedora de Feitiços exigia muitos estudos e dedicação, e sabia que estava sendo responsável. Mas, no momento, todos os seus deveres estavam feitos. Tudo em sua vida, academicamente, estava perfeito. Até Snape foi obrigado a lhe dar um “Excede Expectativas” na avaliação de seu último dever de casa.
Era hora de permitir se divertir um pouco. Uma ideia brilhante surgiu em sua cabeça, algo que sempre existiu nas suas ideias insanas e impossíveis. Mas, ali, ela queria muito fazer acontecer. O passeio de Hogsmeade com certeza estava acabado e as amigas já haviam comprado tudo o que queriam. A escola estava quase vazia e com muita pouca supervisão, a maioria dos professores supervisionando o passeio.
Um sorriso movido pela raiva se abriu no rosto de . Fred Weasley bem que gostaria de chamá-la de correta e patética agora.
— Não sei se quero vingança — ela disse, olhando para as amigas que não entendiam o significado daquele sorriso —, mas eu com certeza quero uma festa na piscina.

⭐⭐⭐


— Ok, não é exatamente uma piscina — disse , em frente à porta, enquanto as amigas a olhavam, confusas.
— Você tem certeza disso? — perguntou .
— Não 100%. Mas sempre foi algo que eu tive vontade. Nos meus sonhos mais loucos — ela acrescentou, correndo, ao ver que a amiga parecia prestes a desistir.
— O que está esperando? Sei que a movimentação está menor por causa do passeio, mas ainda assim podem nos pegar — murmurou .
— Certo, certo. — passou as mãos suadas na blusa de moletom. Era a terceira vez no ano que infringia as regras e continuava tão ruim quanto na primeira. — Frescor de Pinho.
A porta se abriu e, na mesma hora, as reclamações das amigas cessaram. percebeu que, de certa forma, já havia se acostumado com o ambiente, mas este era arrebatador: uma banheira enorme que elas ainda nem sabiam o que cada uma das torneiras faziam (nem havia experimentado todas), o vitral da sereia, as velas iluminando todo o ambiente. Mas o mais importante era com certeza o trampolim.
tirou a roupa na mesma hora, ficando apenas com o biquíni preto.
— Seu maior erro foi me mostrar a senha desse lugar, . Guarde minhas palavras!
E subiu no trampolim, pulando na banheira de ponta.
— Você tem certeza de que não é uma piscina? — perguntou, boquiaberta.
— Não muita. — deu de ombros.
— Ok, talvez tenha sido uma ótima ideia — disse, tirando sua roupa e revelando o maiô branco que usava.
— O que essa torneira faz? — nem esperou a resposta para abrir a torneira com uma pedra laranja fogo, que soltou bolhas que mais pareciam bolas de fogo. — São quentes! E fazem cócegas!
se abaixou e abriu outra torneira, de onde saíram bolhas rosadas com cheiro delicioso. A garota se abaixou, pegou uma e colocou na boca.
! — exclamou , horrorizada. Já imaginava que a amiga ia engasgar profundamente.
Mas ela abriu um sorriso.
— Tem gosto de sorvete de chiclete. Faz sentido?
— Não! — respondeu, mas já se abaixando para abrir outra torneira.
sorriu. Sabia que não seria uma ideia terrível. O idiota do Fred Weasley poderia ter provocado sua coragem, mas a vontade era dela. E só dela. Aquele era seu sonho e estava se tornando realidade.
A sua vida era extremamente divertida.
Ela tirou o moletom que usava, ficando apenas com um maiô preto com um leão dourado no peito que comprou no mundo trouxa. Estava andando com a mãe numa loja quando avistou. Na sua cabeça, aquilo era o mais próximo que a Grifinória teria de um uniforme do time inexistente de natação. Ela teve que comprá-lo.
— Esse aqui é muito cheiroso — ela disse, se aproximando, e abrindo uma torneira com pedras beges. Então, bolhas com cheiro de baunilha preencheram o ar.
— Será que são comestíveis? — botou uma na boca, para então cuspir. — Não, definitivamente não. — E pegou uma do sorvete de chiclete.
, que já havia tirado a roupa e agora usava seu biquíni vermelho, se aproximou do trampolim e começou a saltitar na borda.
— Abram espaço que aí vem bomba!
E, depois de dar mais alguns pulinhos, se jogou com tudo na banheira/piscina.
— Como que Hogwarts pode deixar uma piscina dessas escondida? Para os monitores?!
— A magia nunca deixa de me surpreender — disse , maravilhada, entrando pela borda e mergulhando por completo naquele mundo de bolhas coloridas.
abriu mais uma torneira, com bolhas em formato de animais, antes de se dirigir para o trampolim.
— Quando eu era criança, sonhava que ia fazer isso aqui nas Olimpíadas.
— Oli o quê?
— Uma competição esportiva trouxa, — ela tratou de explicar rápido.
Então, saltitou uma vez antes de realmente pular na direção da piscina, dando um mortal não muito bem feito, mas bem divertido no caminho.
Emergiu com uma onda de aplausos de outras 3 pessoas. E do vitral de sereia.
— Faz de novo! Me ensina! — exclamou .
Elas passaram uma hora abrindo torneiras (a de sorvete de chiclete ainda era a melhor e ocupava quase toda a piscina agora), fazendo competição de natação ( e foram as melhores, por melhor preparo físico e contato com aulas de natação, respectivamente), dando cambalhotas ( realmente se aprimorou na cambalhota para trás), fazendo imitações de nado sincronizado (mesmo sendo algo trouxa, e pegaram a ideia muito bem) e apenas boiando, olhando para o teto alto e para o vitral de sereia que parecia ter gostado da companhia.
Depois de tudo isso, elas ficaram levemente exaustas. se sentou no trampolim, boiava de um lado para o outro, tinha os cotovelos apoiados na borda da banheira, e estava deitada na beirada, do lado de fora, contemplando o teto.
Ah, e agora elas estavam na fase fofoca/perguntas esclarecedoras.
— Mas se vocês tivessem que matar… não, demitir um professor. Sem ser o Snape! — acrescentou, já vendo todas as amigas abrirem a boca.
— Aí ficou difícil… Já sei, a Trewlaney!
, não! A Trewlaney é incrível! — exclamou, ofendida.
— Ela é doida.
— Ela é incomprendida.
— Vou na Trewlaney também — disse .
— Somos três — acrescentou , se lembrando da vez em que a professora previu que o cachorro dela morreria. Ela só tinha uma coruja.
— Vocês são muito chatas… Ok, pergunta de verdade. Quem vocês trariam aqui para o banheiro dos monitores… para ficarem a sós.
As quatro se entreolharam.
— Alicia.
— Óbvio. — revirou os olhos. — Eu escolho o Myron, das Esquisitonas.
— Não pode ser famoso — disse.
— Ah, merda! — mergulhou e voltou à superfície de cara fechada. — Vejamos então…
Todas esperavam que ela falasse “Rob”. Justamente por isso, todas sabiam que ela não iria falar “Rob”.
— Filch.
— QUE NOJO! — gritou.
— Calma! Para afogá-lo sem testemunhas.
— Pois eu escolheria Cedrico Diggory. Imagina, ele entra no banheiro e me encontra sozinha na piscina, apenas com um biquíni bem revelador. O pau dele fica duro…
— Chega! Isso está muito visual! — fechou os ouvidos.
— Sua sem graça. E você, ? Quem você escolheria?
encarou o teto para evitar responder de primeira. Só tinha um rosto que vinha em sua mente e, quanto mais ela tentava tirá-lo de lá, mais ele cismava em ficar marcado em seus pensamentos. Estava lhe dando náuseas.
— Cedrico — ela correu para responder. — Coitada da Cho Chang, mas ele é bonito demais.
concordou e continuou dando detalhes do que ela queria que Diggory fizesse com ela naquele banheiro enquanto a mente de viajava para aquele rosto indesejado que invadia seus pensamentos.
O rosto do garoto que gritou com ela. Que dançou com várias meninas. Que beijou Katie Bell. Katie Bell, que era muito bonita.
O banheiro subitamente ficou em silêncio. demorou alguns segundos para perceber que tinha acabado de dizer em voz alta a última frase que passou em sua cabeça.
— Ah, … — Ela logo ouviu a voz de .
— Ela é linda, mas você é absurda de linda! E muito legal. E tem acesso a uma piscina maravilhosa — completou .
— Ninguém é como você.
Ela não queria falar sobre aquilo, mas ela precisava falar sobre aquilo. Fazia semanas que estava engolindo o que sentia e transformando seus sentimentos em raiva e frieza direcionadas. Agora que tinha começado, não havia escapatória. Era como uma das torneiras, mas as bolhas que sairiam dela seriam bem amargas e tristes e autodepreciativas.
— Mas às vezes eu penso… será que não fui bonita o suficiente para ele? Por que ele agiu como se gostasse tanto de mim para depois agir desse jeito? É isso que amizade significa para ele, se aproximar até conseguir o que quer?
— Ele foi escroto porque ele é um escroto, não porque você não é bonita. Você é gata demais, não tinha motivo nenhum além de mau caratismo!
— Isso aí, ! Ele é imaturo, enquanto você é um ser muitíssimo superior que merece muito mais. Você é muita areia para o caminhãozinho dele — completou .
— Vocês sempre falam isso, mas eu não me sinto assim. Não quando ele pode ter qualquer uma e eu sou uma qualquer.
— Não, nada de pensamentos deprimidos e poéticos — reclamou . — Você não pode deixar esse garoto estragar sua festa na piscina.
— Que eu só fiz para provar que eu não sou uma chata. Mas ele tem razão, eu sou uma chata, só sei seguir as regras e fazer deveres de casa certinhos.
— E qual o problema disso? Significa que você é madura, responsável, com um lindo futuro pela frente, que quer mais do que só umas bobeiras passageiras.
— Mas e se eu também quiser umas bobeiras passageiras? E se eu também quiser aproveitar minha adolescência além de estudar?
— Então faz isso, ué. Não é o que você está fazendo agora? — questionou .
— Você colocou na cabeça que ser uma monitora certinha é o que te define — começou , colocando a mão gentilmente na canela de —, mas você é muito mais! Para começar, você é uma ótima amiga.
— Um pouco dramática, mas sim. Ótima — completou . — E mesmo sendo uma péssima cantora e uma nadadora pior que eu, você dá uns saltos mortais maneiros. E sabe fazer o melhor chocolate quente.
— E é uma boa professora. Eu estaria totalmente reprovada em Poções se não fosse você, paciente e gentil — acrescentou , sorrindo.
— E você é muito mais. Coisas que você já é e coisas que você vai ser. Caraca a gente só tem dezesseis anos!
— E dezessete — relembrou .
— E dezessete — repetiu . — A gente não tem que saber de tudo, né? Imagina saber tudo que a gente é.
sorriu para o teto, grata por ter as amigas que tinha. Tinha medo de sobrecarregá-las com seus problemas idiotas, mas era isso que a amizade era, certo? Um espaço seguro para dizer que demitiria a professora Trewlaney, transaria com Cedrico Diggory e que você se apaixonou por um idiota.
— Eu amo vocês, sabia?
— A gente sabe — disse, colocando uma mão na outra canela de .
Ela devia ter percebido o que ia acontecer quando saltou do trampolim. Imediatamente, as pernas da garota foram puxadas.
— Eu não amo mais voc…!
Antes que pudesse terminar, ela caiu com tudo na piscina, engolindo algumas bolhas sabor sorvete de chiclete no caminho. Ela sorriu embaixo d’água. Ela definitivamente precisava de mais festas na piscina.

⭐⭐⭐


Fred estava passando para Jorge o sabão de ovas de sapo comprado por Lino, pensando em como aquilo poderia inspirá-los para um novo produto: um xampu de xixi de Troll. Agora só precisavam de um Troll. Talvez apelassem para xixi de vampiro, já que tinham um no sótão.
O sol já tinha se posto e todos os alunos haviam retornado de Hogsmeade, a maioria se sentava no salão comunal e mostravam suas novas compras, enquanto os alunos do primeiro e segundo ano olhavam tudo com admiração e inveja.
O quadro da mulher gorda se moveu e quatro figuras se moveram para dentro. Fred sentiu uma fisgada. Mesmo com a raiva, estava se acostumando a sentir aquilo, sabia que apenas uma pessoa poderia causá-la.
ria com suas amigas enquanto elas se esgueiravam para dentro, curiosamente todas com o cabelo molhado. Weasley não conseguiu parar de encarar, especialmente com o cheiro doce o atingindo tão em cheio, o convidando para se aproximar. Uma armadilha ardilosa.
pareceu sentir o seu olhar sobre ela, porque o encarou, levantando uma sobrancelha em seguida. Ainda tinha um pouco de mágoa em seus olhos, o que atingiu Fred bem no peito, antes que ele pensasse “ela mereceu”. Não era totalmente verdade, mas aliviava um pouco a culpa.
Ele então se tocou que os cabelos molhados indicavam algo diferente. Percebeu então que elas carregavam roupas de banho emboladas nas mãos. Suas sobrancelhas se franziram. O que elas andaram fazendo?
Fred olhou para , que andava na frente com um sorriso orgulhoso, quase como se fosse tudo arte dela.
E ele ficou doido para descobrir o que ela andou fazendo porque era inevitável: Fred Weasley era atraído por problemas.

Capítulo 16

A neve de fevereiro estava ainda mais intensa do que a de janeiro. Já no primeiro fim de semana, a camada branca e fofa cobria todo o terreno de Hogwarts, o que obrigava os alunos a ficarem dentro da escola.
Por isso, e estudavam para um dos trabalhos gigantescos de Poções enquanto cochilava em cima do seu livro aberto de Feitiços, a baba manchando algumas palavras. e Alicia estavam conversando baixinho, abraçadas no sofá em frente à lareira, cercadas por outros tantos alunos da Grifinória.
E foi depois de explicar detalhadamente por que a seiva de Cocleária era essencial em auma Poção para Confundir e Entontecer que suspirou, também se jogando na mesa.
— Eu acho que quero fazer uma festa de aniversário.
bateu a pena com mais força do que deveria no pergaminho, manchando as páginas e acordando no susto.
— Pirraça? É você?
— Você quer fazer uma festa de aniversário proibida? — questionou , em choque, ignorando .
, por sua vez, esfregou os olhos, mais acordada do que nunca.
— Uma festa? Para você? Contra as regras? — O queixo dela caiu. — O que eu fiz com você, ?
bufou, voltando a olhar para as páginas.
— Tá, foi mal, eu sei que foi uma péssima ideia.
— Não, não! — se apressou a dizer. — Só foi inesperado, mas é uma ideia muito maneira.
— Com certeza, é irada — acrescentou, rapidamente.
— Mesmo?
— Claro! — responderam em uníssono.
abriu um sorriso, feliz pela ideia estar ganhando vida. Quando seu aniversário caía no meio das aulas e ainda era preciso manter suas notas impecáveis, era difícil de comemorar. Mas ela percebeu que uma pausa de vez em quando não faria suas notas caírem, pelo contrário, ela estava ótima. E o dia na piscina foi tão bom que ela mal via a hora de repetir algo assim.
O sorriso da garota morreu. Só tinha um problema.
— Eu não sei como arrumar uma festa clandestina de aniversário — murmurou, abaixando a cara até bater no livro. — Ai.
— Ei, a gente te ajuda com o que puder — falou , esperançosa, mas também parecia um pouco perdida no que fazer.
— Nós sabemos quem poderia nos ajudar, se não fossem uns cuzões — xingou , apontando com a cabeça os dois gêmeos ruivos jogando Snap Explosivo com Rony e Harry Potter.
suspirou, desviando o olhar.
— Eu vou dar um jeito. Afinal, meu aniversário é só… domingo que vem. — Ela sorriu amarelo, esperando não transparecer tanto seu nervosismo com ter que pensar em tudo em cima da hora. — Eu vou fazer uma lista de convidados e arrumar um lugar. Preciso que vocês me ajudem com comida, bebida e decoração.
— Sim, senhora. — bateu continência.
— Vai ser a melhor festa de dezessete anos que Hogwarts já viu — falou , contente. — Vamos começar a lista de convidados?
— Não, vamos terminar os deveres.
voltou a deitar no seu livro, fechando os olhos.
— Que mundo cruel.

⭐⭐⭐


realmente poderia adorar as aulas de Poções, se não fosse Snape. Parecia ter um jeito para a matéria que ninguém na turma apresentava, assim como nas aulas de Feitiços. Mas, diferente de incentivá-la, como o professor Flitwick fazia, o professor Snape se contentava em dizer:
— Espera passar nos N.I.E.M.s com esse desleixo todo, srta. ? Se fosse você, considerava outra profissão.
Mesmo que sua poção fosse a melhor da classe!
E, em seguida, ainda tinha aula com Moody, que, apesar de ser legal, ensinava de um jeito muito caótico e prático (lê-se: usar os alunos de cobaia) para seu gosto. Além de estar sentindo algo muito esquisito vindo dele, embora não conseguisse explicar o que era.
Por isso, as segundas-feiras estavam se tornando muito cansativas. Só não superavam os dias que tinham aula de Transfiguração. Mas estava cansativo.
As garotas se sentaram no Salão Principal para comer (que Deus abençoasse os pobres elfos domésticos que faziam comidas tão deliciosas) e, imediatamente, se voltou para ela:
— E aí? Já achou um lugar para comemorar a festa?
Apenas um dia havia se passado e a resposta era a mesma: não. Aparentemente, Hogwarts não tinha tantos lugares escondidos de fácil acesso como os Weasleys faziam parecer. Ou eles eram muito escancarados, ou eram tão escondidos que ela não sabia achar. Só que ela tinha apenas quatro dias para resolver sua situação.
Mesmo assim, sorriu amarelo.
— Eu vou dar um jeito.
As amigas se entreolharam, sem acreditar muito, mas mudaram de assunto.
O peso de precisar desse lugar tomou ainda mais a cabeça de .
De noite, se revirou de um lado para o outro na cama, em claro. Sabia que era uma besteira, poderia só cancelar com as amigas, mas ela estava sentindo uma vontade absurda de fazer aquela festa acontecer.
Ok, em parte, aquilo era para esfregar na cara de Fred Weasley que ela poderia organizar festas clandestinas tão bem quanto ele. Que ela era incrível, descolada e tão despreocupada com as regras quanto ele (por enquanto, todos esses itens não estavam sendo verdadeiros).
Mas também tinha a ver com realmente desejar um aniversário em Hogwarts com suas amigas. Era o ano em que se tornaria maior de idade no mundo bruxo, ela não merecia algo marcante para comemorar?
Olhando ao redor e vendo que todas as garotas dormiam profundamente, ela se levantou. O mais silenciosamente que pôde, pegou suas roupas e seu broche de monitora, se trocando no banheiro.
Desceu para o salão comunal deserto e, iluminado apenas pela luz da lua, ela encontrou um relógio que marcava dez minutos para uma da manhã. Poderia ser pior.
Não era seu dia de ronda, mas duvidava muito que Filch soubesse os dias de cada aluno. Mesmo que fosse seu dia, ainda seria possível que ele a ameaçasse, só parando quando ela apontava calmamente para seu broche.
Era uma das grandes vantagens de ser monitora, tinha muito mais liberdade que o resto, e era responsável para não abusar disso. Bem, não tanto, considerando que tinha levado suas amigas para o banheiro dos monitores.
vagou pelos corredores vazios, se perguntando o que tinha dado em sua cabeça para querer planejar uma festa de aniversário. Sempre se contentou em ser acordada com pulando em cima de si, comendo um bolo, recebendo uma carta de parabéns dos pais e pronto. Mas agora ela tinha muito mais pessoas em sua vida, e parecia uma boa perspectiva celebrar com todos eles.
Isso se tivesse onde celebrar. Ela subia lances e mais lances de escadas que se moviam, perdida nos pensamentos de que precisava de um espaço agradável, onde não seriam pegos e ela teria segurança. Um lugar onde Filch não suspeitaria, escondido o suficiente para a festa, mas fácil de ser encontrado somente pelos convidados.
Já que estava mesmo sem sono, ficou andando de um lado para o outro pensando na festa ideal (que nunca aconteceria): um globo de luz, balões lilases, sua cor favorita, fitas prateadas, as luzes negras pela festa, fumaça, e todos os apetrechos que sonhava quando criança para sua festa de dezesseis anos, que, na vida real, acabou sendo um teste surpresa de Feitiços.
estava pensando no bolo de três camadas e em suas amigas cantando parabéns quando levou um susto.
Hogwarts era enorme, então claro que não sabia tudo sobre o castelo, mas ela tinha plena certeza que a porta diante dela não existia a cinco minutos atrás. Poderia ser sua imaginação e o sono, mas ela podia jurar que nunca tinha visto aquela porta. E poderia estar alucinando muito forte, porque podia jurar que, pela fresta da soleira da porta, uma luz neon brilhava. Ela quase desmaiou quando um filete de fumaça escapou pelo mesmo local.
Receosa, se aproximou e colocou a mão na maçaneta. Era sólida, tanto quanto seu braço. Não, ela não estava dormindo.
Mas, quando abriu a porta, foi difícil acreditar que não estava sonhando.

⭐⭐⭐


— Eu acho que era bem… aqui.
apontou para uma parede em branco.
— Ok… ótimo tom de bege — ironizou.
franziu as sobrancelhas.
— Eu tenho certeza que era aqui! — Ela olhou em volta e apontou para a tapeçaria na parede oposta. — Eu decorei que era de frente para cá!
, mas não tem nada aqui — tentou falar delicadamente. — Talvez você estivesse com muito sono…
— Não, eu tenho certeza! — ela falou, embora a voz vacilasse. O que ela havia feito mesmo?
— Não adianta ficar batendo cabeça, acha mesmo de boa a gente ficar aqui no meio do corredor ao invés de ir para a aula? — perguntou, e parecia algo que a própria consideraria.
Mas ela nem mesmo escutou. Tentando refazer o que tinha feito, estava pensando em cada detalhe da sala que havia visto na noite anterior, cada decoração que se encaixava em seus sonhos mais loucos, tudo que ela mais precisava em um único lugar.
Ela soube que tinha dado certo quando gritou.
— O quê…? — se perdeu nas próprias palavras.
Onde antes estava a parede vazia, agora a mesma porta da noite anterior estava em sua frente. não pôde deixar de sorrir.
— Bem-vindas à minha alucinação. — E abriu a porta.
As meninas ficaram boquiabertas, como ela antes havia ficado. A sala estava escura, iluminada por luzes negras, um globo de luz no centro fazendo luzes pratas dançarem pela sala, iluminando os balões lilases e as fitas de mesma cor que pendiam do teto. Uma caixa de som tocava algum sucesso das Esquisitonas, enquanto mesas dispunham de copos e pratos vazios ( imaginava que estavam assim por causa da exceção à Lei da Transformação Fundamental de Gamp). Até fumaça e uma pista de dança faziam presença, além de alguns pufes pretos e roxos, perto de uma mesa de ping pong.
A festa adolescente perfeita.
— E aí? O que acharam?
— Acho que isso é a coisa mais mágica que eu já vi — disse, ainda olhando em volta com cara de admiração.
— Eu juro que achei que você estava louca, mas… nossa — disse, encantada demais para se expressar direito.
As meninas exploraram cada canto (a aula de Feitiços já havia sido esquecida). encontrou um banheiro bem arrumado (“melhor que do nosso dormitório”, ela disse), mas foi quem encontrou as pilhas de roupas.
— O que é isso?
pegou uma pilha e desdobrou, encontrando uma calça preta e um top prateado.
— Roupas bonitas de graça?! — gritou, já pegando outra pilha e encontrando uma mini saia lilás justinha junto com uma blusa de manga comprida preta transparente, com uma camiseta preta para usar por baixo. — Hoje é facilmente um dos melhores dias da minha vida.
— Acho que eu nunca vesti algo tão bonito. Quer dizer, tirando o baile — acrescentou, estendendo um vestido lilás com pontinhos brilhantes de corte reto que ia até a altura dos joelhos, acompanhado de um cinto prateado.
foi em direção à última pilha de roupas, revelando um vestido lilás que ela nem ousaria em sonhar com: tomara que caia, ajustado em cima e bem rodado embaixo, embora extremamente curto. Era um vestido de festa do início ao fim, e o local ainda lhe havia proporcionado uma meia calça arrastão preta, botas prateadas de cano longo e uma tiara.
— Meu Deus, , você precisa usar isso! — gritou.
— É muito lindo! — concordou, e assentiu, animada.
— Não sei… é muito extravagante, não?
— Como uma boa roupa de aniversário — disse, rindo. — Vem, temos que arrumar comida e convidar as pessoas. Você vai ter uma festa de aniversário.
sorriu de orelha a orelha.
— Eu vou ter uma festa de aniversário! — exclamou, e todas as meninas gritaram, riram e comemoraram.
Os próximos dias correram com expectativa, uma ansiedade leve e muitos risos. Terminaram a lista de convidados (mantiveram algo pequeno, embora maior que seu ciclo normal de amigos, e achou que, já que ia convidar todo o sexto ano da Grifinória, era no mínimo educado chamar os gêmeos), e se programaram para conseguir as únicas coisas que a sala não podia providenciar: comida e bebida.
A única coisa que poderia agradecer a Fred era por ele ter compartilhado o segredo da cozinha de Hogwarts com ela. e se encarregaram de convencer os elfos domésticos a gentilmente cederem alguns petiscos para a festa (três deles se recusaram a deixá-las sair sem um bolo próprio de aniversário). Então, passaram na sala mágica para deixarem caixas de comidas e ainda um bolo de chocolate com morango, que conseguiu deixar lilás e prateado. Já e se responsabilizaram por conseguir as bebidas de Madame Rosmerta.
Era sábado à tarde, mas elas já estavam na sala organizando os últimos detalhes. Decidiram também se arrumar por lá para evitarem se movimentar depois do horário de recolher. Uma nostalgia do dia do baile se abateu sobre ao ver todas as amigas reunidas, cantando uma música pop bruxa, enquanto colocavam as roupas e testavam cabelo e maquiagem.
tinha deixado o próprio cabelo loiro com as pontas prateadas. Tinha combinado bastante no seu corte arrepiado e curto, e ela estava começando a ficar muito boa no feitiço de troca de cor de cabelo. finalizou os cachos com um feitiço e fez maria chiquinhas altas, aplicando um delineado prateado nos olhos para combinar com a roupa. deixou o cabelo solto e mudou a armação dos óculos para prateada, sem ofuscar a sombra lilás linda que havia aplicado.
ficou muito tempo se olhando no espelho, dividida entre maravilha e incerteza. O vestido tinha servido perfeitamente nela, melhor que muitas de suas roupas. Abraçava perfeitamente sua cintura, deixava um decote de leve e tinha um tecido maravilhoso de tão lindo. Combinou perfeitamente com a meia calça, a bota e até com a tiara, que enfeitava os cachos largos feitos com magia. O problema era que, como esperado, a roupa mostrava muito de suas pernas, muito mais do que ela jamais tinha mostrado.
Claro que as amigas tomaram isso como mais motivo para ela usar.
— Você está perfeita! — deu um gritinho.
— Nossa menininha vai virar adulta! — disse, abraçando .
— Estamos tão felizes por você, , hoje vai ser incrível! — comemorou, antes de ouvir um barulho e se voltar para a porta. — Mô!
se soltou do abraço de e viu o trio do Quadribol entrando: Angelina, Alicia e Katie Bell. Seu estômago se revirou ao ver a última, que estava linda demais em um vestido curto e justo azul, que acentuava o moreno de sua pele. Apenas um idiota não ia querer beijá-la, então ela entendia Fred Weasley.
Não tornava menos doloroso.
— Isso aqui é mais mágico do que você descreveu — Alicia comentou, olhando em volta, depois de dar um selinho na namorada.
— Né? Vocês conseguiram chegar tranquilo?
— Eu duvidei um pouco no início, mas a gente pensou que precisava encontrar a festa da e pronto… estava na nossa frente — Angelina comentou, então seus olhos encontraram . — A aniversariante!
As três meninas vieram animadas abraçar . não pôde deixar de sentir seu coração se aquecer ao perceber que elas poderiam não ser suas melhores amigas, mas tinha encontrado pessoas que tinham carinho por ela, e também sentia esse carinho. Tinham crescido anos lado a lado, viraram uma família.
— Aqui, nós três escolhemos juntas. — Katie estendeu um pacote embrulhado, sorrindo de orelha a orelha com expectativa.
— Gente, não precisava! — sorriu, embora um pouco amarelo. Estava com inveja da garota, enquanto ela não fazia nada menos que ser gentil com . A grifinória afastou os pensamentos, abrindo o presente. Ela arfou, sentindo seu estômago se revirar ainda mais. — Obrigada, de verdade.
As meninas não perceberam que ela tinha ficado afetada, e ela se afastou discretamente enquanto mostrava o local para elas. encarou mais uma vez o presente. Era uma foto deles no baile. Estavam todos ali. , , , Angelina, Katie Bell, Alicia. E, claro, Fred, Jorge e Lino. Tinha sido ideia de Katie que eles fizessem um registro da Grifinória, e Rob tirou a foto.
A da foto abraçava , mas às vezes parecia olhar em outra direção. Parecia a direção do ruivo.
abaixou o presente, sem conseguir encarar mais aquilo, e percebeu que tinha caminhado para o lado das bebidas. Ela encarou a garrafa de hidromel. Em menos de quatro horas, já seria maior de idade. Poderia fazer as aulas de aparatação, e até mesmo seria uma possível candidata do mortal Torneio Tribruxo.
Com certeza estava liberada para tomar uns goles daquela bebida traiçoeira.

⭐⭐⭐


Fazia dias que Fred não tentava nem mesmo dar bom dia para . Desde o dia em que eles brigaram no Três Vassouras, mais especificamente. Eles se sentavam juntos na aula de Transfiguração sem proferir uma palavra, como em um voto de silêncio, e levantavam depois da aula sem um único aceno sequer. Esse era o acordo que eles pareciam ter estabelecido.
E agora ele estava indo para a festa de aniversário dela.
As instruções que Angelina tinha passado para os três já não faziam muito sentido, e os deixavam intrigados. Subir para o sétimo andar, moleza. Parar de frente para a tapeçaria, ok. Agora, pensar na necessidade de achar a festa de e imaginar o aniversário? O que isso significava? Queriam que todos entrassem cheios de expectativas?
Eles chegaram em frente à tapeçaria e, como se lembrava e até mesmo pedira ajuda de Harry para conferir no Mapa do Maroto, não havia nada lá. Nenhuma sala, nenhuma passagem secreta, nada.
Os três pararam ali, olhando de um para o outro.
— O que a gente tem que fazer agora mesmo? Sonhar acordado com uma festinha de menina? — Jorge perguntou.
— Se isso for uma pegadinha de Angelina, você vai ficar sem namorada — Fred falou para o irmão.
— Nunca vi algo mais menininha que isso — Lino resmungou.
— Vamos logo, antes que Filch chegue.
Fred estava bem relutante a princípio. O que imaginar? Para ele, festas eram bebidas, gente, música, jogos, beijos… nada daquilo parecia ser algo que ele associaria à . Bom, talvez as músicas, ela tinha dançado muito no baile. E com certeza poderia associá-la com um beijo, o melhor de toda sua vida.
Imaginá-la naquele dia do baile, com aquele vestido lilás e o sorriso no rosto lhe trouxeram muitas memórias que ele tentava afastar, mas que pareciam insistir em voltar junto com sua curiosidade de ter sido convidado, mesmo que por educação. Ele precisava encontrá-la, perguntar o significado daquele convite depois de tudo ter ruído entre eles.
— Puta merda! — A voz de Jorge o despertou de seus pensamentos.
E seus olhos se arregalaram, convencido que tinha sido teletransportado, porque uma porta tinha aparecido diante de si. Ele olhou para trás e encontrou a mesma tapeçaria de antes, percebendo então que ainda estava no mesmo lugar. Seria a porta só uma ilusão?
Os três correram, intrigados, e tocaram o portal, que parecia bem real. Lino foi quem ansiosamente abriu a porta, sem conseguir esperar mais.
A porta não era uma ilusão, mas tudo que estava dentro parecia uma: uma sala espaçosa, com todas as decorações de festa possível, música, beer pong, tudo. Parecia um local feito para realizar uma festa. Um local que nenhum dos gêmeos conhecia.
— Jorge! — Angelina gritou, antes de segurar no braço do namorado. Ela cumprimentou os dois amigos em seguida. — Isso aqui é demais, né?
— Não acredito que finalmente estou conhecendo um local novo de Hogwarts — o ruivo admitiu, antes de dar um beijo na testa da garota.
— Nós batizamos de Sala Secreta — Alicia disse, aparecendo de mãos dadas com .
— Eu, na verdade, queria nomear de Sala dos Desejos, mas fui voto vencido — Bell falou, andando logo atrás.
— E como isso aqui funciona? — Lino perguntou, maravilhado.
disse que estava passando, pensando muito em como precisava de um lugar para fazer a festa e pensando em tudo que gostaria e de repente… puf. Surgiu uma porta. E quando abriu, estava tudo pronto. Tudo mesmo, até as roupas! Eu nem acreditei nela, até ver com meus próprios olhos. Só comida e bebida que tivemos que arrumar!
Fred parou, se entreolhando com Jorge, ambos embasbacados. Talvez aquele fosse o maior segredo de Hogwarts que ele já tinha visto. E ele se sentia traído pela escola por não o conhecer.
— A próxima festa precisa ser aqui — Katie falou, e todas as meninas concordaram, animadamente.
— Vocês querem uma bebida? — Angelina perguntou, guiando-os para a mesa.
Enquanto pegava uma cerveja amanteigada para se aquecer, Fred pensava sobre a sensação ruim no seu estômago e percebeu que estava com inveja. Com inveja que , a garota que nunca fazia nada de errado e nunca se desafiava, estava fazendo uma festa no que parecia ser o lugar mais incrível de todos.
— Não consigo acreditar que nunca esbarramos nesse lugar antes — Fred disse, sua voz entregando um pouco de seu ressentimento.
— Nós fizemos tudo por essa escola. Tudo! — Jorge complementou, sua voz soando igual.
— Tratamos bem os elfos…
— Limpamos as passagens secretas…
— Quase nunca assaltamos a Dedos de Mel…
— E poucas vezes jogamos bombas de bosta nas costas do Filch…
— E mesmo assim a escola não mostra essa sala para a gente? Eu sinto que entreguei todo meu amor a quem nunca gostou de mim — Fred concluiu sua lamúria.
— Já deu de se lamentarem — Lino disse, se intrometendo. — Pensa que, agora que a gente conhece, isso abre muitas possibilidades. Tipo, o que essa sala pode fazer?! Coisas que pessoas normais como nunca pensariam.
Fred batucou com um dedo no queixo.
— Você tem razão, Lino. Talvez essa seja a forma da escola mostrar essa nova oportunidade para nós.
— Então ainda amamos Hogwarts? — Jorge perguntou, terminando sua cerveja amanteigada.
— Ainda amamos Hogwarts — seu gêmeo concluiu.
Mal disse essa frase quando seu olhar foi atraído para a pista de dança. Ali, iluminada pelos feixes prateados do globo de luz, dançava com e . Fred ficou um pouco desnorteado pela visão. O vestido que ela usava era lindo, ou talvez ele assim pensasse porque ela estava linda. Ela estava fofa com tantos babados, mas a forma que a roupa destacava suas pernas e ressaltava suas curvas… estava longe de ser fofa.
Não sabia se deveria se aproximar, até que acenou para , apontando para os recém-chegados. Eles então se aproximaram, uma sensação de desconforto se apossando do garoto.
— Feliz aniversário, — Jorge começou, dando um abraço rápido nela.
— Parabéns — Lino disse em seguida.
— Feliz aniversário — Fred repetiu, encarando-a e sem saber se a abraçava. Não parecia certo depois de, na última interação entre eles, ele ter gritado com ela, então ele acabou se mantendo assim.
— Obrigada, meninos — ela sorriu, o olhar se prendeu em Fred por um instante, mas depois desviando rapidamente. — Fiquem à vontade aqui na festa.
Eles acenaram e se afastaram, enquanto as meninas permaneceram na pista, voltando a dançar animadamente.
— Fecha a boca, irmãozinho, essa sua baba está meio patética — Jorge provocou, e Fred desviou os olhos que nem tinha percebido que estavam fixos em .
— Muito engraçadinho isso vindo do maior gado de Hogwarts.
— Eu assumo que sou, pelo menos eu estou com a minha garota.
— Calma, Jorginho, não precisa machucar tanto nosso menino — Lino falou, dando tapinhas nas costas de Fred, que se afastou.
— Vocês estão muito chatos, nem parece que estão em uma festa. Eu não sei vocês, mas acabei de ver Cedrico Diggory com um baralho na mão. Eu não sei o que é, mas eu vou vencer.
— Você vai perder, Weasley! Você sabe que as cartas são a minha parada — Lino falou, já andando atrás dele.
— Só se forem os berradores, né? Tipo aquele que você recebeu da Amelie depois do baile.
— Eu não sabia que ela era amiga da Lisa. Como eu ia saber que ia dar problema sair com as duas?
Os três se aproximaram dos outros garotos. A festa não era muito grande, mas até que estava bem movimentada: todos do sexto ano da Grifinória estavam lá (inclusive Kyle, para infelicidade de Fred), assim como alguns meninos do quinto ano da Corvinal (um deles Fred reconheceu como Robert , o par de do baile, e já não simpatizou), além de Cedrico Diggory, seus amigos, e Cho Chang com algumas amigas.
Perderam facilmente pelo menos uma hora ali no jogo, e Fred se esforçou ao máximo para não manter os olhos em , e sim nas cartas. Até que conseguiu jogar bem e vencer algumas rodadas, a cerveja amanteigada aos poucos o deixando mais relaxado também.
Não demorou muito para o grupo começar a migrar para a mesa de ping pong e a festa ficar ainda mais animada, a música mais alta, assim como o falatório e as pessoas. Quando Angelina, Katie Bell e Alicia ganharam a terceira rodada seguida, os três se levantaram, abandonando as cartas.
— Vamos mostrar como se joga beer pong de verdade — Lino disse, e todo o grupo concordou.
Os três entraram já para jogarem contra as meninas, e Jorge jogou um beijinho para a namorada antes de se posicionar.
— Preparada para perder?
— Você bem queria acreditar nisso, Weasley.
O jogo começou acirrado, e todos em volta começaram a tomar partidos. Os seis eram muito amigos há anos, então claro que já haviam jogado muitas outras vezes juntos.
E por isso nenhum deles se surpreendeu com o resultado.
— Você tá deixando eu ganhar, benzinho? — Jorge provocou Angelina, depois que ela errou mais um copo. Ele já pegou a bolinha, acertando perfeitamente o último copo.
— Esperava mais das artilheiras da Grifinória! — Fred zoou.
— Quero ver se você continua assim se marcarmos um amistoso de Quadribol. Vocês vão ser amassados, Weasley! — Alicia gritou, bebendo o último copo e correndo para os braços da namorada.
— Como eu sinto falta do Quadribol — Cedrico disse, enquanto ele e mais um amigo se posicionaram para jogar.
— Nisso eu tenho que concordar com você, Diggory — Jorge disse, lançando a bolinha direto no copo do meio.
Os três garotos conseguiram se manter na mesa por várias jogadas, a cerveja amanteigada os deixando levemente bêbados, mas ainda com uma mira impressionante. Não tiveram dificuldade nenhuma em eliminar os meninos da Corvinal pela terceira vez.
— Quem mais quer perder e ficar bêbado? — Lino gritou.
— Cuidado com o que fala, Jordan, nós podemos dar trabalho — Tyler Madley comentou, chegando na frente dos dois junto com seu melhor amigo, Kyle Arckeley.
A cara de Fred se fechou imediatamente.
— Vamos dar uma chance para os perdedores e deixar vocês começarem — Jorge falou, entregando a bolinha para Tyler. — Em homenagem ao nosso aniversário do ano passado, quando vocês perderam feio.
— Continuem subestimando a gente e vão acabar com muito álcool no sangue — Kyle provocou.
— Isso é um jogo de bebida, não uma prova de Transfiguração. Certeza que se garante? — Fred retrucou, sentindo aquilo ficar um pouco pessoal, mesmo sem motivos para isso.
Kyle jogou a bolinha e ela caiu exatamente no copo que estava na frente do ruivo, como uma provocação.
— Acho que eu me viro — Arckeley sorriu, batendo as mãos com Tyler.
Fred bebeu o copo enquanto Lino acertava um copo deles também. Os dois garotos pareciam bem relaxados jogando e isso irritou Weasley ainda mais. Apesar de não ter visto Kyle fazer nada com além de conversar com ela e cumprimentá-la amigavelmente, ele ainda se incomodava por eles conversarem normalmente. Tinha a impressão de que os dois riam e falavam mal dele pelas costas.
Tyler ter acertado mais um copo deles não ajudava na simpatia que Fred não estava conseguindo sentir. E nem no foco da sua mira.
Jorge deu um tapa em suas costas enquanto terminava o copo da rodada anterior.
— Tá viajando, Fred?
— Foi mal, vacilei — ele disse, devolvendo um leve empurrão.
Mas Arckeley não vacilou e logo Lino estava bebendo o próximo copo. O tempo passou em um piscar de olhos, pois, quando viram, a bolinha flutuava na frente do último copo deles, e no fundo os dois garotos comemoravam a vitória.
Cho Chang e sua amiga, Marieta, apareceram para tomar o lugar do trio, que ainda estava em choque, e quase teve que ser empurrado para fora do jogo, se mesclando no outro grupo que também assistia ao jogo.
— Não acredito que os nerds ganharam da gente no beer pong — Jorge reclamou, e Lino xingou, concordando.
— Nem parece que ano passado Arckeley acertou o olho de Madley ao invés de acertar um copo — Fred reclamou.
— E nem parece que você errou uma das jogadas mais fáceis. Você praticamente entregou o jogo! — Jorge reclamou. — O que rolou ali, cara?
— Nada. O Arckeley só me irrita bastante — Fred desconversou.
— E não tem a ver com ele ter beijado a mesma garota que você?
— Nada a ver! — Fred exclamou, mas nenhum dos outros dois pareceu acreditar nele.
— Qual é, você nunca encanou com isso — Lino reclamou, olhando para os outros garotos. — Arckeley é tranquilo.
— Ele é arrogante.
— Desiste, Lino. Fred tá com ciúmes e não quer admitir — Jorge falou, irritando o irmão ainda mais.
— Eu não tô com ciúmes — rebateu.
— Aham. Vai pegar uma bebida para a gente, hein? A gente te espera aqui na fila para uma próxima partida, quando você tiver mais calmo — Jorge falou, puxando Lino com ele, deixando Fred apenas com uma batida de uma música animada que não combinava com como ele se sentia.
Weasley passou por algumas pessoas, a maioria aglomerada perto do jogo que rolava, até voltar para a mesa de bebidas, mas ele estagnou no caminho quando viu se servindo.
Ele queria fingir que a visão dela não tinha mexido com ele, que ele não tinha ficado fascinado pela forma que o vestido a deixava fofa, linda e sexy ao mesmo tempo, com aquelas pernas compridas parecendo exigir que ele as desse atenção suficiente. Não importava quantas vezes ele a visse, ainda assim ficava mexido. E, apesar de querer evitar esse sentimento, sabia que seria bom falar com ela sozinho.
Ele não havia contado nem para Jorge (por motivos óbvios), mas havia comprado uma lembrancinha para a menina de aniversário. Fred tentou não se importar, mas não conseguiu não pensar em algo. E agora parecia uma ótima oportunidade para entregar o presente.
não percebeu enquanto ele se aproximava, então o ruivo precisou cutucar de leve suas costas.
— Ei, feliz aniversário, .
Ela demorou ainda uns dois segundos antes de erguer os olhos para ele, e, quando os ergueu, eles não pareciam focar tão bem no seu rosto.
— Fred Weeeeeasley — ela se prolongou bastante no sobrenome dele, caindo na risada em seguida.
Ele ergueu as sobrancelhas, surpreso. Ela claramente estava bêbada e aquilo era uma completa novidade para ele. Suspeitava até que fosse uma novidade para ela.
— Sim, sou eu, — ele disse, sem conseguir conter o sorriso com as expressões que ela fazia.
— O que você tá fazendo aqui? — ela perguntou, as sobrancelhas franzidas como se ela tentasse buscar ao máximo uma explicação para isso na sua cabeça.
— Você me convidou para o seu aniversário — ele disse, meio rindo, enquanto buscava o pequeno embrulho no seu bolso. — Inclusive, seu presente.
Ela pegou o pequeno embrulho da mão dele, passando de uma mão para a outra.
— É tão pequenininho. Tããão pequenininhooo. — Ela fechou um olho e aproximou o presente do outro olho. — É meu presente de aniversário?
— É. — Ele coçou a cabeça, meio sem graça. — Também é um pedido de desculpas por ter gritado com você naquele dia.
— É, foi bem maldoso. Seu malvado! E eu não sou certinha, viu? Eu posso fazer festas como você, uhuuuul!
— É, você me surpreendeu bastante.
— Viu, eu te provei que eu sou demais.
— Você não precisa me provar nada. Eu só estava bolado com outra coisa e descontei em você. Foi mal, de verdade.
Mas ela já estava focada novamente no presente, que sacudia de leve perto do ouvido agora.
— É tão mini, mini, mini. Parece um ovinho de pufoso. É um ovinho de pufoso?
— Você vai ter que abrir para descobrir.
Ela rasgou o embrulho e Fred se sentia leve e feliz depois de pedir desculpas (esperava de verdade que ela se lembrasse delas depois) e por estar interagindo normalmente com depois de tanto tempo. Ou tão normal que pode ser quando uma das partes está bêbada.
Ela jogou o conteúdo do pacote na sua mão, e segurou o pequeno colar de nylon com um pequeno pingente de pomo de ouro que caiu dele, olhando atentamente as asas que batiam levemente. Tinha custado o último galeão que Fred guardava secretamente em seu malão, mas ele sentiu que precisava comprar o presente.
E valeu a pena quando ela abriu um sorriso enorme.
— Que lindo! Ele se mexe de verdade! Parece que ele vai voar da minha mão! — desatou a falar, e depois riu, deixando o pingente balançar na frente do seu rosto. — Coloca pra mim?
Ela colocou o colar na mão de Fred e se virou de costas, afastando o cabelo.
Ele paralisou por um segundo, mas então se aproximou, delicadamente passando a corrente em volta do pescoço de , tentando não encostar na pele da garota, que parecia muito macia e convidativa tão exposta pelo vestido tomara que caia como estava.
Mesmo assim, não conseguiu evitar ficar perto dela, e a escutou suspirar.
— Sua respiração faz cosquinha no meu pescoço. É gostoso — ela balbuciou.
Fred engoliu em seco e correu para fechar o colar.
— Prontinho.
Ela se virou para frente, olhando o colar que agora enfeitava seu colo.
— É tão bonito! — Então, ela ergueu o rosto e olhou para ele. O olhar dela o prendeu no lugar, mesmo ele sentindo que deveria se afastar. Mas ela estava tão linda, e solta de uma forma que ele quase nunca presenciava.
A tensão entre eles era palpável. O olhar dela desceu para a boca dele, e ele engoliu em seco.
— Você vai me beijar? — perguntou, fazendo uma cara de curiosidade adorável.
E ali, Fred teve que por seu autocontrole em prática, porque percebeu que nunca havia sentido raiva verdadeira da garota: estava era frustrado por ter sido afastado, porque o que queria de verdade era vê-la, conversar com ela, beijá-la, e tudo o mais. Ele realmente tinha se apaixonado e não tinha superado.
Mas não podia beijá-la quando ela não estava no controle de todas as suas faculdades. Por isso, com muito pesar, ele se afastou.
— Desculpa, mas não posso.
A garota fez um biquinho e ele percebeu que os olhos dela se tornaram mais brilhantes pelas lágrimas que surgiam ali.
— Fred Weasley, por que você sempre parte o meu coração? — ela praticamente cantarolou e tomou um gole da bebida que tinha colocado em seu copo, como se tivesse acabado de comentar o clima.
Mas aquela pergunta fez o garoto paralisar.
— O quê?! — ele perguntou, sem conseguir processar direito todo o significado que aquela frase poderia conter.
— Você sabia que Whisky de Fogo queima muito a garganta? Eu me sinto como um dragão que vai queimar todo mundo se eu cuspir isso aqui. — Ela fez um biquinho e assoprou, então sorriu. — Ah, eu adoro essa música!
Ela estava tão vulnerável naquele momento, despejando tudo que estava em sua cabeça. Mas Fred precisava de respostas, não estava também em seu melhor estado depois de tantos copos de bebida, e, talvez, aquela fosse a única vez que conseguiria que falasse com ele. Ele precisava conversar com ela e entender se realmente o que estava pensando era verdade.
— Droga, eu preciso de um lugar reservado… — ele murmurou.
Olhou em volta, desesperado, e encontrou um corredor que ele jurava que não estava lá antes. Ele segurou a mão de e a puxou delicadamente.
— Vem, vamos conversar.
— Mas nós não estamos nos falando! Tem que fazer silêncio. Shhhh!
— Depois nós podemos fazer silêncio, se você quiser — ele comentou, enquanto passavam pelo corredor, que os levou para uma sala com dois pufes, com uma luz amarelada iluminando melhor o ambiente, e a música baixa soando distante, um lugar perfeito para conversar.
Fred sentia que aquela sala estava lendo exatamente suas necessidades.
se jogou no pufe, rindo do barulho que o tecido fez em contato com o seu corpo, enquanto Fred se sentou ereto, tenso, na expectativa.
Ela ainda estava distraída com aquele novo lugar, então ele estendeu a mão e segurou a dela, prendendo sua atenção.
, conversa comigo. Por que você disse que eu sempre parto seu coração?
Ela fez um biquinho, tirando a mão da dele.
— Eu não posso falar com você, você vai me magoar!
— Te magoar? Mas o que eu fiz pra te magoar?
— Você não quis me beijar. Você beija todo mundo, mas não quis me beijar — ela choramingou.
— Porque você tá bêbada e provavelmente vai se arrepender disso tudo amanhã. — E se sentiu na necessidade de acrescentar: — Eu não beijo todo mundo.
— Claro que beija. Você dançou com tooodas as meninas do baile, e depois saiu beijando todo mundo.
— Eu não saí beijando todo mundo, eu beijei você.
— E a Katie Bell! — ela reclamou, cruzando os braços. — Essa conversa tá chata. Eu tenho que ficar brava com você e não falar com você.
Mas Fred nem processou o que ela disse depois, ainda preso na informação que ela tinha dito.
— Quê?
— A conversa tá cha-ta.
— Não. O que disse, da Katie?
— Até parece que você não lembra que a beijou na sua festinha de Natal. E depois de me beijar. Ou talvez você não lembre mesmo, não sei quantas garotas você beija toda noite — ela se embolou nas palavras no final, então pareceu tomar um susto com o quanto falou, porque colocou a mão na boca. — Eu não estou falando com você!
— Eu não beijei ninguém além de você aquela noite — Fred disse, ainda processando tudo aquilo.
tirou a mão da boca e fez cara de brava, colocando a mão na cintura.
— Para de mentir, você beijou a Katie! me contou, seu beijoqueiro safado!
— Eu a beijei por causa do jogo, não porque eu queria. A única menina que eu queria beijar naquela noite era você. E você correu de mim!
— Eu fiquei confusa! Meu coração tava batendo tão alto, era tão esquisito! — Ela sacudiu a cabeça. — Eu não quero gostar de você!
Fred parou de respirar. O tempo e o espaço pareciam ter desaparecido, como se quisessem dar privacidade aos dois.
— Você gosta de mim?
Porém, antes que ela pudesse responder, se levantou e correu para um canto, onde ela vomitou no chão mesmo. Ele correu para segurar o cabelo dela.
Ela tentou falar alguma coisa, mas se embolou nas palavras.
— Shh, põe pra fora que é melhor — ele disse.
— Eu não quero que você me veja vomitando, eu não quero que você me veja feia — ela balbuciou.
— Isso é impossível — ele respondeu com carinho, enquanto segurava o cabelo dela, massageando a nuca da garota. Quando percebeu que ela não vomitaria mais nada, ele a apoiou de volta para o pufe. — Fica aí, eu vou pegar uma água pra você.
— Não vai embora — ela choramingou.
— Eu vou voltar já, já.
— Promete?
Ele olhou para ela e sorriu, tranquilo, o peito se enchendo de esperanças confusas.
— Prometo.
Fred voltou correndo para a festa, não falando com ninguém enquanto focava em pegar uma água e um cupcake de chocolate.
Ele voltou para a sala de antes, encontrando adormecida no pufe. Weasley se agachou na frente dela, fazendo um carinho no braço.
— Ei, acorda, dorminhoca. Não preciso te dar outra bala de café, né?
Ela murmurou algo incompreensível, mas abriu os olhos, que se iluminaram.
— Você voltou!
— Eu voltei. E trouxe coisas muito interessantes para você.
Ele segurou o copo de água perto da boca dela e a ajudou a tomar o líquido. Depois, ela comeu obedientemente o cupcake, lambendo os dedos sujos da cobertura.
— Você está sendo tão legal comigo, Fred. Eu tô sonhando?
— Não, mas talvez esse seja o meu sonho.
— Então estamos no seu sonho? — Ela ficou pensativa. — É meu aniversário no seu sonho?
— É, é seu aniversário e você diz que gosta de mim. Não é um sonho espetacular?
— É um sonho engraçado. Espero que não apareça nenhum dragão. Às vezes eu tenho que derrotar alguns dragões nos meus sonhos, desde que a gente assistiu a tarefa do Torneio Tribruxo, e você apostou tantas moedas…
Ela bocejou, voltando a se deitar no pufe.
— Eu quero dormir, mas eu não posso. Os elfos fizeram um bolo tão lindo pra mim. Como eu não vou cantar parabéns? — ela disse, os olhos marejando, ele não sabia se de sono ou de tristeza pelos elfos domésticos.
— Então você andou visitando a cozinha?
— Você me ensinou, é bem legal lá — ela comentou, e Fred sentiu uma pontada de orgulho em seu peito. — Os elfos são tão gentis. Eles vão me odiar!
— Tenho certeza que eles vão entender — Weasley disse, se sentando ao lado dela e a puxando para perto de si. — Vem, você precisa descansar. Já tá tarde.
— Você vai ficar aqui comigo? — Ele ouviu a pergunta meio abafada, e imaginou que fosse porque o rosto dela estava colado no seu peito, e isso pareceu sensacional.
— Eu vou ficar o quanto você quiser.
— Você é muito legal.
— É óbvio que sou. Mas não sei se você vai achar isso amanhã.
Ela bocejou mais uma vez e abraçou o corpo dele. Fred passou as mãos pelo cabelo dela, fazendo cafuné para deixá-la confortável. A respiração de foi se tornando mais profunda e seu corpo estava relaxando.
Ele achou que ela já estava dormindo, até que ela murmurou:
— Sabe, eu não te odeio mais. Na verdade, eu gosto de você de novo.
O coração dele errou uma batida, e ele a abraçou mais firme.
— E eu gosto de você. Droga, acho que estou apaixonado por você.
Mas não respondeu, já tendo sido levada pela inconsciência.



Continua...



Nota da autora: OLÁ, GENTE BONITA!
Estou simplesmente em êxtase depois de terminar esse capítulo depois de tanto tempo com a ideia dele na minha cabeça! Espero que vocês gostem tanto quanto eu gostei porque, sério, eu sou muito apaixonadinha por esse casal. E sou totalmente apaixonada pelo Fred HAHAHAH
Não deixem de comentar o que acharam da história. Ah, e agora eu coloquei aqui na fic uma playlist de músicas que me lembram a história e até me ajudaram a escrevê-la. Não deixa de ouvir, viu?
Beijinhoss <3





Nota da beta: Esse final!!!! Sou muito mãe, amo meus filhos descobrindo o amor, mas infelizmente sei que você vai nos torturar um pouco mais e no próximo capítulo a Celine não vai lembrar de metade das coisas que aconteceram k k k k ansiosa por mais ❤️



Outras Fanfics:

Anne With An E:
➽ Depois De Anne (Longfic - Em andamento)

Harry Potter:
➽ A Night To Remember - The Snake (Shortfic - Finalizada)
➽ A Very Black Christmas (Longfic - Finalizada)
➽ Beggin' (Longfic - Em andamento)
➽ Last Chance To Win (Shortfic - Finalizada)
➽ Magically Haunted With You (Shortfic - Spin-off de "Magically Troubled With You")
➽ Observatório Potter (Shortfic - Finalizada)
➽ One More Chance To Win (Shortfic - Continuação de "Last Chance To Win")
➽ The Black's Decision (Shortfic - Finalizada)
➽ Todos Os Defeitos (Shortfic - Finalizada)
➽ Todos Os Efeitos (Que Você Tem Sobre Mim) (Shortfic - Continuação de "Todos Os Defeitos")
➽ Trapping The Wolf (Longfic - Em andamento)
➽ Um Motivo Para Ficar (Shortfic - Spin-off de "Magically Troubled With You")

Originais:
➽ 07. Te Assumi Pro Brasil (Shortfic - Finalizada)
➽ 13. How To Be A Heartbreaker (Shortfic - Finalizada)
➽ Correio Do Amor (Shortfic - Finalizada)
➽ Correio Para o Meu Amor (Shortfic - Continuação de "Correio Do Amor")
➽ MV: Give Me Love (Shortfic - Finalizada)


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