FFOBS - Quando Tem Que Acontecer, por Vicky Reis


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Última atualização:08/10/2024



Capítulo 1

P.O.V :


Sexta-feira, 8 P.M, e a emergência vazia pode soar como algo bom para muitos, mas não para médicos como eu. Se há uma coisa que aprendi trabalhando por oito anos em hospital é que dias tranquilos são sinônimo de noites/madrugadas caóticas. Mas eu preferia estar aqui, salvando vidas, do que estar em casa, cheia da minha própria vida e tendo que encarar meu (não tão mais) amado marido.
Na medicina, há várias regras, mas uma das regras básicas para quem trabalha em hospital é: Jamais, em hipótese alguma, diga que o dia está tranquilo, porque em questão de minutos isso pode mudar!
— Doutora, o chefe está perguntando se a senhora será a médica responsável pelo plantão desta noite — disse Elizabeth, a enfermeira-chefe, assim que me viu deitada no sofá da sala dos médicos.
— Sim, serei sim! — respondi. — Daqui a pouco eu desço para organizar o quadro e dar início ao trabalho.
— Ok. Vou avisar ao doutor Foster. Com licença — ela disse, saindo e fechando a porta.
Meu plantão diurno de 12 horas havia acabado, mas eu ainda teria mais um de 12 horas pela frente, e só tinha mais 15 minutos de descanso! Continuei deitada por mais alguns minutos, mas resolvi levantar logo para encarar mais aquele plantão.
Lavei o rosto, prendi o cabelo em um coque, coloquei meus óculos e segui para o corredor interno principal. Dei de cara com um quadro todo bagunçado; o responsável pelo plantão diurno, com certeza, tinha sido o Edward. Só ele conseguiria entender e fazer toda essa bagunça. Apaguei o quadro e comecei a distribuir os internos, enfermeiros e residentes. Deixei algumas salas de cirurgia livres para emergências futuras e outras à disposição de médicos com cirurgias marcadas. Fiz o que me cabia e não mexi em nada relacionado aos staff.
Essa é a segunda regra para quem trabalha em hospital: Nunca mexa ou dê pitaco no trabalho do seu colega, a não ser que a vida de alguém esteja em risco!
Depois de terminar de organizar o quadro, afastei-me para analisá-lo e ver se precisava de mais alguma alteração. Vi que estava bom e completo.
— Elizabeth, faça o favor de avisar a equipe que o quadro está pronto e que o plantão começa em 5 minutos — pedi.
— Pode deixar, doutora — ela sorriu.

{…}

Estava indo para a cafeteria buscar meu bom e velho café para começar mais uma jornada de trabalho, mas antes que eu pudesse sequer chegar ao andar da cafeteria, meu celular de trabalho tocou. Era um aviso de ambulância chegando. Corri de volta para a emergência enquanto vestia o avental de proteção.
— Jovem do sexo masculino, aproximadamente 16 anos, vítima de acidente envolvendo dois carros. A vítima apresenta batimentos cardíacos irregulares, provável perfuração no pulmão esquerdo e provável fratura no braço esquerdo — disse o paramédico, entregando-nos o paciente junto com sua ficha.
— Adam, leve-o para o leito um. April, ligue e reserve a tomografia, agora! — deleguei as funções para meus internos.
Adam levou o menino para onde eu havia mandado, enquanto eu dava uma breve olhada na ficha. Coloquei luvas e segui para o atendimento do menino. Uma enfermeira já estava preparando o monitor cardíaco enquanto eu cortava a camisa do garoto.
— Eu preciso de um kit de pneumotórax, agora! — falei assim que vi o estado do tórax do garoto.
— Doutora, os batimentos dele estão subindo muito. Ele pode entrar em parada — April disse, observando o monitor.
— Administre 0,15 de amiodarona.
— Aqui, doutora — Adam me entregou o kit enquanto eu começava a limpar a área onde precisaria fazer a incisão.
— Oi, eu sou a doutora , vou cuidar de você. Agora vou precisar fazer um procedimento que vai doer um pouco, mas você vai ficar bem — sorri levemente para o menino, que me olhava assustado.
Apliquei uma anestesia local, peguei o bisturi e fiz um corte de tamanho suficiente para inserir o dreno pulmonar.
— Doutora, a tomografia está pronta, só esperando o paciente.
— Certo, vou terminar a avaliação inicial e você o levará — disse, e ela concordou.
Terminei o procedimento de pneumotórax e segui para o restante da avaliação. O menino não aparentava ter lesões na cabeça ou no abdômen, mas só a tomografia poderia descartar essas lesões.
— Pronto, pode levar para a tomografia. Avise-me quando tiver as imagens — disse a April.
— Pode deixar, doutora .
April seguiu com o paciente com a ajuda de um maqueiro, enquanto eu saía do leito, tirando as luvas e o avental sujo de sangue.
— É, parece que a calmaria acabou por aqui — disse para a enfermeira que estava mexendo nas fichas dos pacientes.
— Não tenho dúvidas, doutora.

{…}

— Últimas notícias: Dois ônibus de viagem acabaram de colidir na rodovia 080, com destino à capital. Um dos ônibus acabou capotando durante o acidente. A informação que temos é que há muitos feridos sendo retirados de ambos os veículos — ouvi de longe a informação dada pela jornalista da BBC.
Agora sim, posso dizer que o trabalho começaria pra valer. Terminei de tomar minha segunda caneca de café daquela noite e já corri para a área externa, onde as ambulâncias nos entregariam os pacientes.
— Pessoal, agora à noite o hospital vai encher. Preciso que vocês se dividam em equipes: serão quatro internos subordinados a um residente, que deverá seguir as instruções do seu staff — disse para todos ali presentes. — Não importa qual será a especialização no futuro, nosso objetivo é atender e garantir o bem-estar de todos os pacientes que chegarem aqui — falei, enquanto via a primeira ambulância chegar.
— Mulher de 32 anos, semiconsciente, com fratura exposta no fêmur direito, provável lesão no abdômen. Respondeu aos estímulos de luz durante o caminho — o paramédico nos passou as primeiras informações.
— Certo, eu e minha equipe ficaremos com essa — disse, fazendo um sinal para meus quatro internos. — Vamos para o leito três.

{…}

A agitação e a loucura foram noite adentro; só consegui parar um pouco para descansar às 7:30 A.M, faltando apenas 30 minutos para que eu pudesse ir para casa. Cheguei em casa às 8:25 e dei de cara com um emburrado tomando café da manhã.
— Bom dia! — disse, ao colocar minha bolsa em uma cadeira.
— Bom dia! — Ele respondeu enquanto lia o jornal em seu iPad. — Você não pegou mais um plantão noturno essa madrugada, não é?
— Não... — Parei para pensar, pois realmente não tinha certeza se tinha ou não pegado mais um. — Na verdade, eu não tenho certeza — forcei um sorriso.
— É sério isso, ? Você esqueceu que temos um evento hoje?
, me desculpa — coloquei uma das mãos na frente da minha boca. — Eu realmente esqueci.
— Que seja. Ligue para o hospital e desmarque esse plantão. Eu preciso de você nesse evento. É uma premiação importante!
— Mas... — Ele não me deixou continuar.
— Mais nada, . Você agora não sai desse hospital, é toda noite fazendo plantão.
— Eu não tenho culpa do meu novo horário!
— Tenho certeza de que, se você falar com o Hunt, ele arrumaria uma escala melhor para você — disse ele, levantando-se, pegando seu paletó e saindo.
, meu marido, também é médico, mas trabalha como chefe de outro hospital e também dá aulas na Universidade de Londres. Nós nos conhecemos durante a faculdade; eu estava no meu primeiro ano e ele, no último. Mesmo assim, ainda tivemos duas matérias juntos e acabamos nos envolvendo, namorando e, anos depois, nos casamos.
é diferente de mim. Ele é um renomado neurocirurgião, assim como meu pai. Ele possui diversos prêmios expostos na estante de seu escritório, e eu sou "apenas" uma cirurgiã de trauma. Não que eu não me orgulhe disso, pois foi nessa especialização que me encontrei, mas, infelizmente, não é uma especialização tão sofisticada e reconhecida.
Hoje à noite ocorrerá um grande evento para premiar médicos de várias áreas, e , como sempre, está concorrendo em duas categorias diferentes. Como será algo importante, eu deveria fazer meu papel de boa esposa e acompanhá-lo.
— Que saco! — Reclamei enquanto subia para o meu quarto para tomar um banho relaxante e dormir um pouco, já que não havia descansado quase nada nas últimas 24 horas

Capítulo 2

P.O.V :


- NÃO! - Acordei em um pulo. Aquele maldito sonho de novo! Aquela maldita cena me acordando outra vez. Acordei assustado, suado e com a respiração pesada. Olhei pela janela e o sol já havia aparecido, leve como de costume. Peguei meu celular para ver as horas e faltavam menos de 15 minutos para o despertador tocar, então resolvi levantar e começar o dia.
 Tomei um banho gelado para despertar. Me troquei, passei o meu bom e velho café forte, como de costume, e então segui para a delegacia, a fim de saber como seria aquele dia de trabalho.

{…}

-Senhora, eu já disse, eu só posso registrar um boletim com 48 horas - Foi o que escutei Potter dizer a um casal que estava em frente à sua mesa.
- Pelo amor de Deus, minha mulher e eu estamos desesperados - disse o homem nervoso.
- Senhor, só consideramos desaparecimentos com 48 ho... - Não poderia deixar aquele caso assim, então o interrompi.
- Bom dia! - Disse, apertando a mão do senhor e da senhora.
- Bom dia! - O homem respondeu, já que a mulher estava aparentemente nervosa.
- Desculpe, ouvi a conversa. Queria saber como posso ajudar? - Perguntei.
- Eles querem registrar um boletim de desaparecimento, mas eu já expliquei que só podemos fazer isso com 48 horas de desaparecimento.
-Não, não é bem assim, Potter - expliquei ao policial.
- Mas detetive…
- Não, Potter - o cortei novamente. - Senhores, me acompanhem, por favor- pedi, guiando-os até minha sala.
-Sentem-se, por favor - disse, sentando-me em minha cadeira e indicando as outras duas para o casal. - Me digam, o que aconteceu?
- Foi a nossa filha. Ela saiu de casa na noite de anteontem para ir a uma peça de teatro e não voltou, não atende o celular, saiu sem documentos - A mulher despejou tudo de uma vez.
- Ela deu mais alguma informação? - Perguntei.
- Ela só me disse que seria um encontro com um rapaz que conheceu pela internet - a mãe continuou.
- Certo, ela disse nome, mostrou alguma foto? - Perguntei enquanto pegava meu bloco de anotações na gaveta.
- Não, ela não me mostrou nenhuma foto, mas disse um nome.
- E qual seria?
- Paul.
- Sobrenome?
- Ela não disse.
- Tudo bem. Qual é o nome da filha de vocês?
- Adeline Heloise Smith - o pai disse, entregando uma foto.
- Idade?
- 19 anos. Faz aniversário dia 11 de abril.
- Certo, vou abrir um boletim oficial de desaparecimento, assim começaremos as buscas e também poderei iniciar os rastreamentos.
- Muito obrigado, senhor?
- , .
- Obrigada, senhor .- foi a vez da mãe agradecer.
- Não precisa agradecer por nada - forcei um sorriso. - Manterei vocês informados de tudo.
- Obrigado novamente.- o homem falou pelos dois, apertando minha mão e saindo da minha sala.
 Assim que o casal saiu, me joguei novamente na cadeira, liguei o computador e comecei a registrar o boletim. Jamais esperaria o tempo estipulado para começar a trabalhar naquele caso.
- Potter, venha até a minha sala agora. - disse ao telefone.
Em menos de 3 minutos o jovem policial bateu em minha porta pedindo para entrar.
- Senhor.
- Sente-se aí, cara. - disse, apontando para o sofá perto da janela e me sentei ao seu lado.
- Fiz algo de errado?
- Fez, mas não vou brigar com você. Vou te explicar como funcionam as coisas aqui comigo.
 Os policiais daquela delegacia não estavam acostumados a trabalhar comigo, já que eu havia começado lá há pouco mais de três meses. Mas não há nada que não possamos resolver com conversa, não é mesmo?
- Potter, quando se trata de um desaparecimento, nunca, jamais se deve esperar.
- Mas... - Ele ia retrucar.
- Essa história de 48 horas é invenção de quem tem preguiça de trabalhar. Em caso de desaparecimento, as primeiras 72 horas são cruciais para encontrar a vítima viva - expliquei. - Não faz sentido esperar.
- Mas precisa dar tempo para que a pessoa possa voltar ou mandar notícias.
- Se alguém vem a uma delegacia registrar um desaparecimento, é porque já esperou. A pessoa desaparecida saiu de sua rotina, não está agindo de acordo com sua normalidade – expliquei.
- Parando para pensar, você tem razão.
- Pois é. Espero que isso não se repita novamente.
- Não se repetirá.
- Certo, pode voltar para o seu posto - disse, e o rapaz levantou, saindo e me deixando sozinho novamente.

 {…}

 Estava debruçado em alguns papéis em cima da minha mesa. Assim que soltei o pedido de busca pela garota, o sistema me liberou alguns perfis de outras garotas desaparecidas. Estava quebrando a cabeça para ver se encontrava algo em comum nos perfis.
-? - Alguém me chamou do lado de fora da minha sala.
- Entre - disse, e o senhor Thompson entrou.
- Como vão as coisas por aí? - Ele perguntou, me entregando uma caneca com chá mate.
- Então, peguei um caso de desaparecimento - disse, mostrando a ficha de Adeline.
- É a garota que o Potter negligenciou com o boletim?
- Sim, mas eu já conversei com ele.
- Esses policiais novos são complicados - ele suspirou. - Não que o senhor seja velho.
- Garanto que tenho mais experiência que um cara de 22 anos - sorri e bebi meu chá em seguida.
- Não é à toa que você é um investigador.
-Você tem um ponto – sorrimos.
Tenho 35 anos, trabalho na polícia desde os meus 20 anos. Quinze anos de experiência é bem significativo. Trabalhei por quase sete anos nas ruas, depois subi de nível e comecei a trabalhar como investigador de crimes atuais, mas devido a problemas pessoais precisei me afastar por alguns meses. Voltei à ativa sendo o responsável por casos arquivados, mas há três meses pedi que me mudassem de delegacia e voltei a trabalhar com crimes correntes.
- Você acha que eles têm ligações? - O senhor Thompson perguntou, apontando para as fichas na minha mesa.
- Ainda não sei. Estou trabalhando nisso.
- Bom, vou deixar você em paz para isso.
- Te aviso quando tiver novidades.
- Fico no aguardo.

  {…}

 Meu horário de ir embora já havia passado há pelo menos 5 horas. Minha cabeça estava latejando, mas, pelo menos, havia começado a montar um quadro. Consegui encontrar poucas ligações, mas isso já ajudaria bastante.
 Ao todo são três garotas desaparecidas. Ambas loiras, com idades inferiores a 25 anos, e desapareceram junto com seus carros. A primeira desapareceu há cinco meses; a polícia fez buscas oficiais por mais de duas semanas, mas não encontraram absolutamente nada. A segunda vítima desapareceu dois meses depois, foi para a faculdade e então não foi mais vista. A polícia também a procurou por duas semanas e meia. A terceira e última é Adeline, a quem a responsabilidade está ligada a mim.
 Não havia mais nada que eu pudesse fazer ali naquela noite, então resolvi ir para casa, descansar para o dia seguinte.

Capítulo 3

P.O.V :


- Uau, você está linda! - disse, entrando no quarto enquanto arrumava a gravata.
- Obrigada! - Forcei um sorriso enquanto colocava meu segundo brinco de esmeralda.
- Você já está pronta?
- Só preciso me calçar. - Fui até o closet, peguei meus saltos Yves Saint Laurent.
- Preciso que você esteja pronta em cinco minutos.
- Já desço.
  desceu, me deixando sozinha em nosso quarto. Bufei de saco cheio e então me calcei. Estava sem vontade alguma de ir a esse evento; odiava todo aquele excesso de narcisismo, principalmente vindo do meu marido.
 Eu já havia amado muito , mas, de dois anos para cá, nosso relacionamento começou a desandar. O desgaste vem se fazendo presente todos os dias, nos afastando cada vez mais. sempre foi um tanto quanto arrogante, mas, após conquistar um cargo de prestígio, ele se tornou ainda pior. O sucesso na profissão subiu à sua cabeça.
- VAMOS, . - O ouvi gritar do andar de baixo.
Peguei minha bolsa, passei meu perfume e desci.
- Vamos. - O chamei.
- Vamos, meu amor. - Disse, me dando um leve selinho.

{…}

- Sorria, meu amor. - disse entre dentes, enquanto apertava meu braço disfarçadamente.
- Ajudaria se você não me apertasse. - Forcei um sorriso para o fotógrafo que estava à nossa frente.
 Tivemos uma pequena discussão no carro enquanto vínhamos. reclamou, mais uma vez, dos meus horários de trabalho e da minha falta de tempo para nós. Tentei desviar a conversa, mas ele insistiu, então acabei falando algumas coisas que estavam presas em minha garganta. Infelizmente, não consegui dizer tudo. Aquela conversa me irritou ainda mais.
 Tiramos as fotos logo na entrada, depois cumprimentamos alguns conhecidos de , como era de se esperar. Peguei uma taça de champanhe que estavam servindo e olhei em volta, procurando meus pais. Eles estariam presentes. Meu pai seria um dos responsáveis por entregar os prêmios, já que é o médico que mais possui “estatuetas” da Academia de Medicina.
- Seus pais chegaram. - disse, olhando para a porta de entrada. - Vamos lá. - Ele pegou minha mão e fomos.
- Filha, você está maravilhosa! - Mamãe disse, sorrindo ao me olhar. - Esse vestido ficou perfeito em você!
- Obrigada!
- Diga a ela quem te deu, amor? - Meu marido sorriu.
- Foi um presente do . - Sorri amarelo.
- Meu genro tem um ótimo gosto. - Disse meu pai, se aproximando e me dando um beijo no rosto. - Como vai, minha princesa?
- Vou bem, Papai.
- E você, cara, como vão as coisas? - Ele cumprimentou com um aperto de mão forte e um meio abraço.
- Ansioso. São duas categorias importantíssimas.
- Você vai se sair bem, tenho certeza! Vi todos os trabalhos concorrendo e, cá entre nós... não são lá essas coisas. - Meu pai sempre elogiando .

 Meu pai e sempre se deram muito bem. sempre foi o genro dos sonhos dele: estudante de medicina, branco, alto, inteligente, politicamente engajado... Não era rico, mas era ambicioso e tinha grandes sonhos, sem medir esforços para conquistá-los.
 Quando o conheci, ele estava prestes a se formar. Possuía uma grande dívida de financiamento estudantil e não estava conseguindo arcar com os custos, já que seu pai havia falecido recentemente. Meu pai gostou dele de imediato e sentiu pena, então decidiu quitar o débito de . Ali começou uma amizade entre genro e sogro.
 A amizade deles cresceu ao longo dos anos. se formou e decidiu seguir a mesma especialidade do meu pai, neurocirurgia, uma das áreas mais "glamurosas" da medicina. Meu pai nutria um orgulho por ele, bem diferente do que sentia por mim.
 Quando me formei, desejava atuar como ginecologista obstetra. Trabalhei nessa área durante o internato, mas, ao começar a residência, percebi que minha verdadeira vocação e paixão era a medicina de trauma, cirurgia geral. Algo não tão reconhecido e nada glamouroso.
- Filha, vamos ali comigo? - Minha mãe me chamou e saí do transe.
- Vamos. - Ela passou um dos braços pelo meu e seguimos para uma área mais afastada, sem muita gente.
- Meu bem, não pude deixar de notar... - Ela me analisou.
- Como assim? - Perguntei, sem entender.
- Você está diferente, cansada... Não sei explicar, mas só sei que você não está como de costume.
- Ah, mãe... É tanta coisa. - Suspirei.
- Pode conversar comigo... Quero saber o que tanto te aflige assim.
- É só coisa de trabalho, mãe.
- O trabalho está te deixando com marcas roxas? - Ela apontou para o meu braço, onde havia apertado um pouco mais cedo.
- Isso... Eu só esbarrei em alguma coisa no hospital ou em casa. - Disfarcei.
- , eu não nasci ontem... Se você não quer conversar comigo sobre isso, tudo bem. Mas, como sua mãe, devo te dizer: nunca, jamais deixe nenhum homem encostar um dedo em você para te machucar. Não te criei para isso. - Antes que ela pudesse terminar, apareceu nos chamando para entrar, pois a premiação começaria.
- Certo, mamãe, eu não vou deixar que nada aconteça de novo.
- Assim espero. - Levantamos e seguimos para encontrar os dois.
 Por mais que estivesse se mostrando diferente daquele homem maravilhoso que conheci, ele nunca havia levantado a mão para mim, nunca havia tocado em um fio de cabelo meu. Mas, de vez em quando, ele reagia assim: me puxando pelo braço, me dando chacoalhadas bruscas, falando alto. Nunca parei para perceber o quanto isso poderia escalar para algo pior.

{…}

 Meu marido já havia ganhado o primeiro prêmio da noite e estava radiante. Ele se gabava para todos que vinham cumprimentá-lo e parabenizá-lo.
Já estava um pouco alterada; havia bebido umas três taças de champanhe, mas ainda estava sóbria quando meu celular tocou. Era do hospital.

Ligação:

- Alô?
- Doutora , sabemos que a senhora não está de sobreaviso hoje, mas houve um grande acidente. O hospital está um completo caos... - Não deixei que terminasse.
- Estou indo para ajudar. Chego aí em 15 minutos no máximo. - Disse antes de desligar.
- Eu preciso ir para o hospital. - Disse, aproximando-me de meus pais e de .
- Como assim? Você nem está de sobreaviso! - estava aparentemente irritado.
- Eu sei, mas houve um acidente que está sobrecarregando o hospital. Eles precisam de mim.
- Eu também preciso da sua companhia. - Ele retrucou.
- Agora não é hora para isso. - Minha mãe o olhou com cara feia. - Vai lá, filha. Bom trabalho.
- Vou indo, então. Tchau, mãe. Tchau, pai. Tchau, . - Disse, colocando o celular na bolsa e saindo. Mas antes pude ouvir:
- Ela poderia ter escolhido algo bem melhor. - Era a voz do meu pai.

{…}

- Ainda bem que a senhora chegou! - Eleanor, uma enfermeira, disse ao me ver entrando.
- O que aconteceu? - Perguntei, entregando minha bolsa e prendendo o cabelo.
- Um trem descarrilhou. Várias vítimas estão vindo para cá. A situação está bem pior que a da madrugada passada. Está feia a coisa.
- Ai meu Deus. Vamos lá. - Me preparei antes mesmo de me trocar. Não haveria tempo para isso agora.
- Doutora , ficaremos com a senhora? - Adam perguntou.
- Claro! Vamos. - Corremos para a entrada.
Várias ambulâncias estavam chegando juntas; a confusão já se instalava em poucos minutos.
-Essa é nossa! - Disse, apontando para uma ambulância, e Adam correu para abrir a porta.
- Puta merda... - Só escutei April murmurar quando viu o paciente.
 Era um homem que aparentava ter trinta e poucos anos. Estava extremamente machucado, mas o que realmente chamava atenção era a barra de ferro que o atravessava um pouco abaixo da cintura. O homem estava acordado e assustado, mas não falava nada.
- Vocês aplicaram algum medicamento? - Eva perguntou ao paramédico.
- Sim, um pré-sedativo e morfina.
- Levem-no direto para o raio-X. Ele não pode entrar na tomografia. Vamos ter que operar às cegas.
- Eu levo! - Adam disparou na frente.
- Pode ser, mas leve-o devagar, com calma. Essa barra de ferro não pode se mover nem um milímetro.
- Posso pedir uma sala? - Eva perguntou.
- Óbvio! Eu vou me trocar e, assim que descer, decido quem vai subir comigo para a cirurgia. Os outros ficarão aqui e procurarão outros médicos para ajudar. - As duas concordaram.
 Subi correndo para sala de cirurgia antes que levassem o paciente, precisava olhar as imagens do raio x.
 Aparentemente a barra tinha atravessado o rim esquerdo e por muito pouco também não tinha atingido o direito. Aquela cirurgia levaria horas.

Capítulo 4

P.O.V :


Cinco horas de sono não costumam ser suficientes para quase ninguém, mas para mim são. Principalmente quando durmo naturalmente, sem ajuda de remédios. No entanto, não consigo aguentar o dia sem tomar pelo menos sete canecas de café.
Hoje acordei muito mais tranquilo do que na manhã anterior, principalmente porque fui acordado com o barulho do despertador e não por imagens que não saem da minha cabeça.
Me arrumei e segui para o trabalho, mas antes resolvi passar em uma cafeteria para pegar o meu fiel escudeiro.
- Bom dia, senhor! - A moça que sempre me atendia falou ao me ver se aproximando.
- Bom dia! - Sorri de canto.
- Vai ser o de sempre? - Ela perguntou, já pegando um copo grande.
- Sim! Também vou querer dois muffins. - Apontei para a vitrine de doces.
- Certo, já eu levo para você.
Me virei para procurar uma mesa onde pudesse me sentar, mas não havia nenhuma vazia. Todas estavam ocupadas com mais de uma pessoa, exceto uma, em um canto, onde havia apenas uma mulher com uma roupa que parecia ser de hospital.
- Hã... a senhora se importa? - Perguntei sem jeito, apontando para uma cadeira em frente a ela.
- Não, pode ficar à vontade. Só estou esperando. - Ela sorriu, parecendo cansada. Eu apenas sorri e me sentei.
Estava olhando para o lado de fora enquanto esperava meu pedido, mas por um segundo olhei para a mulher à minha frente. Ela estava com a cabeça escorada no vidro. Ela parecia estar cochilando quando o seu celular tocou em cima da mesa.
- Moça. - A chamei, tocando em suas mãos que estavam sobre a mesa.
- Oi! - Ela deu um pequeno pulo de susto.
- Desculpe, mas seu celular está tocando. - Apontei para o aparelho.
- Ah, obrigada! - Ela atendeu a ligação e foi ao banheiro.
Alguns minutos depois, ela voltou, pegou sua bolsa e seu pedido no balcão e saiu. Ela provavelmente trabalhava no hospital e precisava voltar para o trabalho.
- Aqui, senhor! - A moça simpática da cafeteria trouxe meu pedido.
- Obrigado. - Agradeci e entreguei duas notas de cinco libras.
Peguei meu pedido e saí, seguindo para a delegacia.
- Senhor , que bom que o senhor chegou! - Potter me recebeu apavorado na porta, sem ao menos me deixar entrar direito.
- Bom dia pra você também, Potter. - Respondi, seguindo para minha sala. - O que aconteceu?
- Então, acharam uma pista do caso das meninas desaparecidas. - Me virei para ele.
- Quando? - Perguntei.
- Há uns 20 minutos.
- O que foi encontrado? - Perguntei enquanto pegava minha arma e o coldre na gaveta.
- O carro da primeira moça. - Potter parecia nervoso.
- Tom, se acalma. - Peguei no ombro dele e ele respirou fundo. - Agora me dê as informações.
- Recebemos uma ligação de uma senhora hoje bem cedo, às 7:30. Ela estava levando o neto para uma consulta e resolveu pegar um atalho por dentro de um parque, quando viu um carro parado dentro da mata. - Arquei uma sobrancelha. - Ela desceu para ver, lembrou da placa e ligou para cá. - Vocês já mandaram uma viatura para o local?
- Já.
- Ligue para eles e mande que cercarem o local, 35 metros antes e depois de onde o carro foi encontrado. Fale para eles não mexerem absolutamente nada antes que eu chegue.
- Você está indo para lá?
- Estou! - Disse, já saindo da minha sala. - Me passe o endereço.
- Não tem endereço exato, só coordenadas.
- Que seja.
Peguei o papel com as coordenadas e as joguei no GPS.
- Avise ao chefe que eu fui.
- Tá. - Ele respondeu, e eu saí.
Entrei em meu carro e segui para onde o GPS estava mandando. O lugar era longe e remoto; só percebi que estava no local certo quando vi carros oficiais da polícia fazendo o que eu havia pedido.
- Senhor, você não pode passar. - Um policial mais velho do que eu disse.
- Eu sou o detetive . - Mostrei minha identificação.
- Pode passar. - Ele levantou a fita, e eu passei.
- Onde está o carro? - Perguntei enquanto olhava o chão para ver se havia alguma marca de pneu.
- Um pouco mais à frente. Foi pedido que nós cercássemos uma área maior. - O mesmo homem de antes falou.
- Fui eu quem pedi! Continuem aqui. - Segui caminhando até o carro.
 O chão estava começando a ficar coberto por uma neve fina, já que a que tinha começado a cair hoje pela manhã não tinha sido suficiente para cobrir o local por inteiro.
- Droga! - Praguejei para mim mesmo.
 Cheguei ao local exato onde estava o carro. Havia mais duas viaturas com dois policiais em cada uma.
- Bom dia! - Cumprimentei cada um deles com um aperto de mão. - Eu sou o detetive , fui designado para esse caso. - Mostrei minha identificação novamente.
- Bom dia! - Eles responderam juntos.
- Detetive, não é por nada não... mas esse caso não era do detetive Harris?
- Era, mas foi designado a mim. Esse caso se chocou com um que eu comecei a investigar, e já que o Harris não teve progresso em nada nos últimos cinco meses.
- Certo... E o senhor quer que sigamos como? - Outro policial perguntou.
- Temos que vasculhar minuciosamente todo esse espaço o mais rápido possível. A nevasca que está por vir vai ser grande e, com ela, podemos perder coisas importantes. - Disse, colocando as luvas que tinham me sido entregues. - Quero que vocês chamem um perito forense para trabalhar com luminol.
- Okay. - Os quatro concordaram com a cabeça. Três começaram a vasculhar a área junto comigo, enquanto o outro se afastou para chamar o perito.

{…}

- Detetive. - Escutei um dos caras me chamarem. - Eu achei isso. - Ele veio até mim e me mostrou o que havia encontrado.
Era uma embalagem de camisinha aberta. Aquilo poderia dizer ou não algo sobre o desaparecimento.
- Vamos guardar isso e procurar por mais coisas. Principalmente o preservativo... - Não terminei de falar.
- Olha só quem está aqui. - Escutei a voz de Harris vindo de trás de mim. - !
- Harris. - Me virei.
- Posso saber o que o senhor está fazendo aqui, na cena do crime em que eu estou investigando?
- Eu vim fazer umas coisas que você não estava fazendo. - Sorri. - Investigando.
- Como? - Ele fez uma cara confusa.
- Simples. Você não estava investigando, então eu vim.
- Você só pode estar de brincadeira.
- Não estou não.
- Você... - Ele também foi interrompido.
- Vocês dois, venham aqui agora. - Chefe Thompson nos chamou.
- Sim! - Respondemos juntos.
- Que porra é essa? - Ele nos olhou.
- Sou eu quem pergunto. - Harris falou.
- , o que você está fazendo aqui?
- Estou trabalhando! Esse caso estava parado há quatro meses. As buscas pela menina foram abandonadas em menos de um mês.
- Você nem sabe o que está falando. - Harris disse irritado.
- Sei! Você foi um incompetente como de costume.
- ! - Senhor Thompson me repreendeu.
- Esse caso é meu! Você não tem que meter o bedelho em nada! - Harris esbravejou.
- Esse caso está interligado a um caso meu. Diferentemente de você, eu faço o meu trabalho.
Harris se irritou e veio para cima de mim, só que o chefe Thompson o impediu. - , vai para seu carro. Preciso conversar com o James.
Não disse nada, apenas segui para o meu carro.

{…}

Estava há mais ou menos 20 minutos ali, perdido em meus pensamentos sobre como seguir com esse caso, quando Edmund se sentou no banco do passageiro.
- Você tem merda na cabeça? - Ele perguntou, me encarando.
- Que? - Olhei para ele.
- É isso mesmo, você tem merda na cabeça? Desde quando você tem alguma coisa a ver com o caso Hanna Fincher?
- Senhor, eu tenho certeza de que esse caso está interligado com aqueles outros dois.
- Sua certeza não pode fazer com que você se intrometa no caso de outro detetive.
- O James é um incompetente de marca maior.
- Eu sei, mas mesmo assim. Você está errado! - Eu apenas bufei. Por um lado, ele tinha razão.
- E agora? - O encarei.
- E agora você vai voltar para a delegacia, vai se sentar na sua cadeira e vai investigar o desaparecimento da menina de ontem.
- E o caso da Hanna Fincher e da Tess Norton?
- Eu vou cuidar disso pessoalmente. - Disse ele, saindo do meu carro. - Agora vai.
- Tá. - Liguei o carro. - Tchau.
- Tchau.
Voltei para a delegacia enfurecido com aquela situação. Provavelmente aquelas famílias ficariam no escuro por mais meses.
James Harris é o policial mais incompetente de toda a polícia de Londres. Ele é conhecido internamente por suas vaciladas em investigações e por negligência em geral. Ele ainda ocupa esse cargo só porque é filho de um ex-primeiro-ministro e se acha superior a todos só por isso. Um poço de arrogância.

{…}

 Já haviam se passado mais de quatro horas desde o ocorrido naquele parque, e eu estava em minha sala estudando a possibilidade de pedir uma coletiva de imprensa com os pais de Adeline, mas antes eu precisava falar com o senhor Thompson. Não poderia dar um passo sem seu consentimento, não agora.
- Toma. - Jogaram duas pastas grandes e amarelas em minha mesa.
- Que? - Olhei para a pessoa, era o senhor Thompson.
- Os casos que você queria. - Ele se sentou na cadeira à minha frente e puxou um cigarro.
- Não estou entendendo. - O encarei.
- Agora você é o responsável pelos três casos de desaparecimento.
- É sério? - Estava incrédulo.
- Sim! Eu convenci o James a te deixar com o caso e falei com o outro investigador, expliquei a situação e ele entendeu.
- Fácil assim?
- Você sabe como o James é. Uma massagem no ego e uma oportunidade de se parecer resolvem tudo.
- Eu não acredito! - Aquele cara era um otário de marca maior. - Ele é um imbecil mesmo, hein?!
- Tenho que concordar com você! Mas também preciso dizer o quão maluco você foi.
- É, eu sei... - Abaixei o olhar.
- , você não pode fazer isso. Se qualquer outro fosse o chefe, você estaria fodido. Iria hoje mesmo para o arquivo.
Ele estava falando do arquivo, onde ocorre o suicídio profissional. Todos que cometem uma grande merda acabam indo para lá e só saem quando se aposentam com um salário mísero, para dizer o mínimo.
- É a segunda vez que eu limpo sua barra. Faço isso pelo seu pai, que foi meu melhor amigo, e por você, cara. - Ele se levantou e foi até mim, me puxando para um abraço.
- Obrigado, Ed. - Agradeci. - Prometo tentar não me meter em mais nenhuma merda.
- Não tem que tentar não. Você tem é que realmente se manter longe. - Disse ele, saindo. - Bom, faça seu trabalho e verifique se vai para casa na hora certa.
- Pode deixar.
Edmund e meu pai foram amigos por mais de 40 anos, e ele foi quem ajudou minha família quando perdemos meu pai. Ele foi a presença paterna que eu tive quando mais precisei, nas minhas duas perdas, e parece que ele continua ocupando esse lugar.

{…}

Fiz o que me recomendaram, fui para casa no horário certo. Não havia por que fazer hora extra, já que ainda não tinham saído os resultados de nenhum exame nos achados do carro e o juiz ainda não tinha autorizado o sigilo telefônico das três desaparecidas.
Antes de ir para casa, passei em um drive-thru para pegar um sanduíche com batata frita bem quentinha para acompanhar um bom filme. Eu precisava desligar um pouco depois do dia de hoje.

Capítulo 5

P.O.V :


A neve caía forte quando entrei no carro para voltar para casa depois de um plantão de 48 horas. Sim, estava trabalhando há dois dias seguidos. Estava exausta, desejando apenas um banho quente e minha cama com meu cobertor mais aconchegante.
Cheguei em casa e percebi que o carro que costuma usar para trabalhar não estava estacionado. Olhei para o relógio e já passava das 21 horas. Ele com certeza ainda estava no trabalho.
Estacionei o carro na garagem interna, pois não queria correr o risco de sair naquela nevasca, e entrei em casa pela porta da cozinha.
- Bom dia, senhora . - Mary, a diarista, disse ao me ver chegar.
- Bom dia, Mary. - Sorri. - O está em casa?
- Não, senhora. O senhor saiu mais cedo que o habitual. - Estranhei.
- Que dia é hoje?
- Sexta-feira.
- Ah, sim, hoje ele tem aula na faculdade. Foi por isso.
- Huum... A senhora quer comer algo agora?
- Não, não. Vou subir para tomar um banho e depois me viro aqui. Obrigada.
- Tudo bem então.
Subi para o meu quarto e fui direto para o banheiro. Enchi a banheira, coloquei sais de banho, me despirei, prendi o cabelo em um coque e então pude finalmente entrar naquela água maravilhosa.
Fiquei ali por vários minutos e até cochilei um pouco, mas precisei sair quando percebi que realmente poderia cair no sono ali mesmo. Me sequei, vesti um pijama quente e fui direto me deitar. O sono, com certeza, estava falando mais alto que a fome.

{…}

Com o estômago roncando, foi assim que acordei. Me mexi na cama algumas vezes, tentando acordar de vez, e depois de alguns minutos, me levantei e fui para a cozinha.
Já passava das 14h e Mary havia ido embora, mas ela deixou o meu almoço pronto, mesmo sem eu ter pedido.
Me servi e me sentei para almoçar no balcão da cozinha. Mas assim que coloquei a primeira garfada na boca, algo chamou minha atenção.
Em um canto do balcão havia algumas cartas. Algumas eram cobranças de cartão de crédito, outras duas eram cartões de felicitações a pelo prêmio que ele tinha recebido esta semana, e a que mais me intrigou: uma carta de cobrança de bolsa estudantil da Universidade de Londres.
Peguei o envelope, que tinha o nome completo de e o endereço da nossa casa. Era estranho, ele não estava fazendo nenhum outro doutorado, e todos os estudos dele já haviam sido quitados, inclusive pelo meu pai.
- Que merda é essa? - Perguntei para mim mesma.
A curiosidade falou mais alto, então peguei uma faca e abri o envelope.
"Prezado senhor , a equipe financeira da Faculdade de Londres está entrando em contato com o senhor devido ao atraso do pagamento da sétima mensalidade do crédito estudantil da aluna, Scarlett Foley, estudante do curso de medicina..."
Só precisei ler até ali para entender do que se tratava.
Joguei o prato com comida e tudo dentro da pia e fui para o escritório de , onde deveria haver mais informações para sanar qualquer dúvida.
Abri todas as gavetas da mesa, revirei os armários, abri o cofre e não encontrei nada, mas sabia que ali deveria haver alguma coisa. Então, olhei para cima e encontrei uma caixa preta no topo da estante. Subi na cadeira para alcançar e a peguei.
Ali estava o que eu procurava: recibos de pagamento das outras parcelas do crédito estudantil, comprovantes de plano de saúde e uma calcinha rosa.
Meu estômago revirou devido ao nojo que eu estava sentindo. Sabia que não era santo, que provavelmente já havia me traído algumas vezes, mas ter a confirmação ali na minha frente era demais.
Saí do escritório com o estômago ainda revirando, passei no lavabo para lavar o rosto e depois voltei para a cozinha, a fim de tomar uma água.

{…}

Estava sentada no sofá, pensando no que fazer, quando percebi que precisava ver aqueles papéis direito. Então, voltei para o escritório, espalhei os papéis e comecei a ler.
Os comprovantes do crédito estudantil eram todos em nome de Scarlett, estudante de medicina, e os comprovantes de plano de saúde também estavam em seu nome, atestando consultas regulares com ginecologista.
E eu pensando que não poderia piorar...
Olhei para o relógio e deveria chegar em menos de uma hora. Voltei para a cozinha, peguei um bom vinho, uma taça e me sentei no sofá da janela do escritório enquanto bebia lentamente o vinho.

{…}

- Amor, o que você está fazendo? - Ele ficou mudo ao ver todas aquelas coisas jogadas.
- Adivinha, querido?! - Levantei, deixando no sofá o cobertor que eu usava para me aquecer.
- ... Eu...
- Pode explicar? - Disse, olhando-o diretamente nos olhos. - Então me explica quem é Scarlett Foley?
- É minha aluna. - Disse, engolindo seco.
- Sério? Você costuma pagar o crédito estudantil e plano de saúde para todos os seus alunos? - Bati as mãos na mesa, o assustando.
- Ela...
- Ela é sua amante, não é mesmo?! - Sentei na cadeira principal da mesa.
- Não!
- Vai negar mesmo?! Vai me dizer também que isso aqui é seu? - Peguei a calcinha com as pontas dos dedos e joguei nele.
- Tá legal, tá legal... - Ele suspirou. - Eu realmente estou tendo um caso com ela. - Olhou para baixo.
- Humm... Continue. - O incentivei.
- Poxa, , nós estamos assim há uns dois anos. Você raramente para em casa quando eu estou. É ainda mais raro quando transamos... Eu estou me sentindo sozinho.
- Você já se perguntou o porquê disso? Já se perguntou como eu me sinto? - Disse com os olhos marejados.
- Não... - Ele sussurrou.
- HEIN, ?! - Disse, dando tapas na mesa.
- Não! - Ele respondeu mais alto.
- Eu já venho me sentindo sozinha há anos! Desde que você conseguiu aquele maldito emprego no hospital, desde que começou a dar aulas naquela merda de faculdade. Você me abandonou dentro dessa casa, meu único refúgio foi o meu trabalho! EU VENHO ME SENTINDO SOZINHA HÁ MUITO TEMPO E NEM POR ISSO EU TE TRAÍ! - Disse a última frase ainda mais alto.
- Eu não tenho nem o que dizer...
- Não tem mesmo! Por que você está pagando o plano de saúde dela? Não vai me dizer... - Não precisei continuar, pois ele concordou com a cabeça.
- Sim, ela está!
- Eu não acredito! - Me joguei na cadeira, coloquei a mão no rosto e desabei em lágrimas.
- EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ FEZ ISSO!!! - Me levantei e comecei a estapear seu peitoral.
- Para, por favor! - Ele me abraçou para que eu pudesse me acalmar.
- Você engravidou a sua amante! Logo você, que nunca quis me dar um filho! - Disse soluçando.
 Meu maior sonho sempre foi ser mãe, mas acabei abrindo mão desse sonho por conta de , que sempre priorizou o trabalho, mesmo tendo de tudo.   Pouco antes do nosso casamento, , disse que não queria ter filhos, que a vida dele seria para mim e para o trabalho, e isso não poderia envolver uma criança. Eu, cega de amor, aceitei, mesmo passando por cima do meu grande sonho. Agora ele seria pai do filho de sua amante, e eu estava ali, com quase 35 anos e com as chances de engravidar reduzindo cada dia mais.
- Eu não quis!
- Mas aconteceu, não é mesmo?! - A ironia já estava de volta em minha voz.
apenas concordou com a cabeça e eu saí do escritório indo para o meu quarto, a fim de fazer minhas malas.
- Aonde você vai? - Ele perguntou ao me ver abrindo uma mala em cima de um balcão no closet.
- Não é da sua conta! - Respondi.
- Por favor... Não me diga...
- Que eu vou embora? Sim, eu vou! - Disse jogando as coisas de qualquer jeito.
- , você está nervosa, não faça isso.
- Nervosa eu fiquei quando descobri a traição, agora eu estou decepcionada! - Peguei minhas coisas no banheiro.
- Pelo menos me diga para onde você vai.
- Não é da sua conta. - Coloquei uma mala no chão. - Eu tô indo, mas depois volto para minha casa e quero você fora daqui!
- Como?
- Você entendeu. Você não é louco!
- Você realmente vai fazer isso?
- Já estou fazendo! - Disse descendo as escadas.
- Você vai me deixar?
- Foi você quem me deixou há muito tempo! - Disse, já na porta da frente. - Aguarde, minha advogada entrará com o pedido de divórcio.
- ! - Ele me chamou, mas eu já estava dentro do carro e dando ré.

{…}

A nevasca estava ainda mais intensa, estava anoitecendo e eu não tinha muitas opções de onde ir. Poderia ir para um hotel? Poderia, mas naquele momento eu estava precisando de colo. Meus pais estavam viajando para a Itália, então não teria como eu ir para a casa deles. Eu não tenho irmãos de sangue, mas tenho , minha melhor amiga, minha irmã de alma!
Dirigi por alguns minutos até chegar no prédio de . Tirei as malas do carro com a ajuda de John, o porteiro. Ele me deixou subir direto, pois já me conhecia e também sabia que estava em casa. Subi até o 14º andar, toquei a campainha do apartamento 1414 e, em três minutos, a porta foi aberta.
- , eu preciso de você! - Disse com os olhos cheios.
- Entra, amiga. - Ela pegou uma mala e abriu espaço para que eu pudesse entrar.
Entrei no apartamento de , ela me guiou até o sofá, me deitou em seu colo, fez carinho em meus cabelos e me deixou chorar, sem fazer nenhuma pergunta. Me deu o tempo que eu precisava, igual fazia na infância e na adolescência.

Capítulo 6

P.O.V :


Uma semana inteira tinha se passado e nada de novo aconteceu em nenhum dos três casos. Para não dizer que não houve nenhuma novidade, o teste biológico feito na embalagem do preservativo encontrado perto do carro da Hanna revelou a presença de material biológico masculino, mas o resultado não foi compatível com ninguém no banco de dados do país. Também recebemos os resultados dos testes de digitais, mas não encontramos nada muito significativo, apenas as digitais de Hanna.
As buscas por Adeline ainda estavam acontecendo, mas nada dela foi encontrado. Seus pais me ligavam praticamente todos os dias, duas vezes ao dia. Eu não reclamo, pois sei como deve ser assustador ter um ente querido desaparecido, mas o que realmente me incomodava era o fato de não poder dar nenhuma resposta a eles e às outras duas famílias.
- Senhor . - Escutei alguém batendo na minha porta.
- Entre!- Respondi enquanto me levantava para me servir mais café.
- Acabaram de mandar isso aqui para o senhor. - Potter disse entregando-me um envelope grande e pesado.
- O que é isso? — Arqueei uma sobrancelha.
- Eu não sei, não abri. - Ele disse sem graça. - Mas quem trouxe foi o entregador da segunda vara de justiça.
- Hum, deve ser algo interessante. - Disse, sentando-me novamente. - Obrigado, Potter.
Potter apenas confirmou com a cabeça e saiu. Então, abri aquele envelope pesado. Ali estava o que esperei a semana toda para ter em minhas mãos: o sigilo telefônico das três moças desaparecidas. Havia três pastas com aproximadamente 1000 páginas cada uma e uma quarta pasta um pouco menor.
- Ótimo, agora eu tenho algo para fazer. - Sorri para mim mesmo e comecei pela pasta mais fina. Nela, estavam apenas as listas com os números de telefones com quem as garotas haviam tido interação.

{…}

Três horas e meia haviam se passado, meus olhos já estavam começando a cansar de tanto analisar números de telefones, mas já havia feito um pequeno avanço. Hanna e Adeline mantiveram contato com um número de telefone específico com frequência, mas não havia nenhum número em comum com Tess...
Será que eu estava errado? Será que o caso de Tess Norton não tinha nenhuma relação com o caso de Hanna e Adeline?
Tirei meus óculos e os deixei em cima da mesa, esfreguei os olhos e tomei mais um gole da minha quinta xícara de café do dia.
- Já não aguento mais olhar tanto número.- Murmurei para mim mesmo enquanto pegava a pasta com as mensagens escritas de Hanna.
Resolvi deixar de lado aqueles números e me concentrar nas conversas; ali deveria ter algo mais interessante.

{…}

- ? - Alguém me chamou, abrindo a porta da minha sala.
-Oi? - Respondi apenas levantando o olhar e encontrei o Chefe Thompson. - Posso entrar?
- Claro!
- Então, como estamos indo? - Ele perguntou, sentando-se em uma cadeira à minha frente.
- Então... Eu ainda não sei. - Sorri cansado. - Finalmente me liberaram os sigilos telefônicos e agora estou aqui, analisando informação por informação. - Apontei para a bagunça que estava na minha mesa.
- Você está fazendo isso desde que horas? - Ele perguntou enquanto olhava minhas anotações.
- Comecei às 11h.
- Você parou pelo menos para comer? — Disse agora me encarando.
- Na verdade, não... Não tive tempo!
- , já são 6:30 da tarde e você ainda não comeu nada?
- Eu estou bem, Ed, daqui a pouco vou para casa e como algo.
- Você vai parar agora e vai comer alguma coisa. Não vou deixar você se afundar de novo no trabalho.
- Não...- Ele não me deixou terminar.
- Você vai e pronto! Amanhã eu vou arrumar outro detetive para te ajudar com esses casos.
- Não precisa, chefe. Eu dou conta e prefiro trabalhar sozinho.
- Você vai ter ajuda sim, não quero saber. - Às vezes, Ed ainda me tratava como o adolescente que ele ajudou a criar, e eu, com meus 35 anos, me via seguindo suas recomendações.
- Tudo bem, desde que não seja o Harris. - Tomei impulso afastando a cadeira para me levantar. Me senti um pouco tonto assim que fiquei de pé, pisquei algumas vezes e me recompus.
- Eu não faria isso com você. - Ele também se levantou. - A não ser que você mereça um castigo. - Sorriu.
- Esse é um castigo que eu jamais faria por merecer. - Saímos os dois juntos.
Ed seguiu para sua sala, e eu fui até o fast food mais próximo.
Peguei minha comida e voltei para a delegacia; queria encontrar mais respostas o mais rápido possível.

{…}

Meu horário tinha acabado há umas três horas, mas eu ainda estava ali, debruçado sobre todos aqueles papéis. Para minha sorte, encontrei algumas pistas.
Paul era o homem que as duas meninas tinham em comum. Para Hanna, ele se apresentava como Luck, mas as mensagens que ele enviava para ela eram praticamente iguais às que enviava para Adeline. Porém, havia algumas diferenças além do nome.
Ele fingia seus interesses pessoais de acordo com os interesses de cada uma delas. Ele parecia ter domínio de todos os assuntos que abordava. Ele tinha uma ótima lábia para encantar as meninas.
Não tenho provas nem pistas de onde as meninas possam estar. Não sei se estão bem ou até mesmo, mortas. Mas agora tenho alguém para investigar.
Infelizmente, precisaria esperar até amanhã, já que quase todos foram embora, restando apenas o pessoal do plantão.

{…}

Minha cabeça latejava de dor enquanto dirigia de volta para casa. Meu estômago também dava sinais de irritação devido à quantidade de café ingerido durante o dia e à falta de alimentação, mas nada que um analgésico não resolvesse.
Cheguei em casa, fui direto para o banho e depois preparei algo para comer. Enquanto esperava o micro-ondas esquentar minha comida congelada, resolvi ver as mensagens que recebi durante o dia. A primeira era da minha irmã.

, está tudo certo para sábado?”
havia marcado um jantar para me apresentar sua nova namorada.

"Sim! Estarei aí às 7:30, como combinamos.”
Respondi.

Fui para a próxima mensagem, era de Alice.

"Oi gato. Como você está?"
— Essa era a primeira, ela havia me mandado às 3:15.
"Estava pensando... Você poderia passar aqui mais tarde, né? Tenho uma coisa para usar com você."
— Suspirei ao ler essa mensagem.

"Desculpa, linda. Hoje o dia foi tão corrido… Só consegui ler suas mensagens agora.”
Enviei a mensagem e ela a recebeu, mas não respondeu. Talvez já estivesse dormindo.

Não havia mais nenhuma mensagem não visualizada, mas estava prestes a entrar no portal de notícias quando o micro-ondas apitou. Peguei meu macarrão e o comi enquanto prestava atenção ao jogo de basquete que havia passado há umas duas horas.

{…}

Acordei no outro dia com o celular despertando. Levantei-me agradecendo mentalmente por não ter sonhado durante a noite; isso me ajudaria muito a enfrentar mais um longo dia! Me arrumei como de costume, passei na mesma cafeteria de todos os dias e segui para a delegacia.
- Bom dia, Potter.
- Bom dia, senhor.
- Alguma novidade? — Perguntei, referindo-me à busca por Adeline.
- Na sua sala. — Ele disse, olhando por cima dos ombros.
- O quê?
- Seu novo parceiro.
- É sério mesmo? — Eu não tinha acreditado muito no que Ed Thompson havia dito.
- É o que parece.
- Affs. - Bufei, seguindo para minha sala.
Entrei em minha sala e me deparei com uma mesa a mais e uma pessoa de costas arrumando suas coisas em uma das estantes.
- Humhum! - Limpei a garganta para chamar a atenção do homem.
- Bom dia, detetive ! - O homem se virou e estendeu a mão para mim.
- Bom dia, senhor... - Dei a deixa para que ele se apresentasse enquanto apertava sua mão.
- !
- Certo... Hã, o que o senhor faz aqui, na minha sala? - Perguntei, sem rodeios.
- Eu fui transferido para cá a pedido do senhor Edmund Thompson. Eu trabalhava no décimo segundo distrito, mas fui encaminhado para lhe ajudar com uma investigação.
- Ah, sim, o senhor Thompson me disse que chamaria alguém, mas eu não imaginei que seria com tanta urgência.
- Eu também fui pego de surpresa. Mas espero que possamos trabalhar juntos e que nos demos bem.
- Bom, é o que eu espero também.
- Eu só preciso terminar de arrumar minhas coisas e então você poderá me passar as informações.
- No seu tempo, cara! - Dei um leve tapinha em seus ombros.
Sentei-me em meu lugar e voltei ao trabalho que estava fazendo no dia anterior, porém desta vez focado em Tess Norton. Não era porque não tinha encontrado outras semelhanças que eu deixaria o caso dela de lado.

Capítulo 7

P.O.V :


- , você tem certeza disso? Você pode ficar aqui o tempo que quiser - Disse , enquanto me via arrumando minhas coisas.
-Tenho certeza, sim, ! Não quero atrapalhar você e tirar sua privacidade.
- Aff! — Ela revirou os olhos. -Você sabe que nunca me atrapalharia em nada!
- Sei não, hein? - Sorri. - Mas é sério, eu não sei quanto tempo vai levar para resolver essa pendência do divórcio. Não sei quando vou poder voltar para casa - respondi, encarando-a.
- Você vai para o seu antigo apartamento mesmo?
- Sim! Ele é pequeno, mas aconchegante - sorri.
- Para uma pessoa sozinha, sim!
- Pois é, não planejo ter ninguém mesmo - Dei de ombros.
Uma semana havia se passado desde o ocorrido. Passei esse tempo na casa de , mas decidi voltar para meu antigo apartamento de solteira, não queria tirar a privacidade da minha melhor amiga. Resolvi tirar essa semana para descansar e viver o "luto" da traição. Tirei alguns dias de folga para colocar a cabeça no lugar, mas essa folga já está acabando. Hoje à noite volto ao trabalho.
- Você vai falar com a hoje? - me encarou.
- Vou sim, no final da tarde.
- Vou mandar uma mensagem para ela, para avisar que você vai.
- Okay, obrigada! - Sorri.
Quando decidi pedir o divórcio, fui direto pedir ajuda à , a advogada mais bem-conceituada que conheço. Porém, direito de família e direito civil não são as áreas de atuação dela, então ela me indicou sua namorada, . Segundo , é uma grande advogada no ramo do direito civil e nunca perdeu um caso de divórcio. Ela é especialista em defender mulheres. Achei uma ótima indicação, não queria perder nada para aquele otário do !
- , eu já vou indo - disse, descendo minha mala. - Quero arrumar minhas coisas antes de ir ao escritório da e também preciso descansar antes do plantão.
- Tudo bem! Você sabe que pode contar comigo para tudo, né? Se precisar conversar mais, de companhia...
Qualquer coisa - disse ela, segurando minhas mãos.
- Eu sei sim, e sou muito grata por isso! - Sorri de lado e a abracei.- Tchau!
- Tchau, !
Desci até meu carro, que estava estacionado do outro lado da rua, em frente à cafeteria que eu costumava frequentar antes do trabalho quando estava atrasada. Coloquei as malas no porta-malas e me sentei no banco do motorista. Estava prestes a dar ré quando percebi que o espaço não era suficiente. Uma Range Rover preta estava me bloqueando.
- Puta merda, quem é o motorista ruim que conseguiu fazer isso?- disse, olhando para trás. Havia um espaço enorme para estacionar, mas a pessoa preferiu bloquear minha saída. Praguejei mais um pouco e buzinei, esperando que o motorista tivesse um pouco de bom senso.
Buzinei uma vez;
duas;
três vezes e nada.
- PUTA QUE PARIU!- Gritei e apertei a buzina de uma vez.
- JÁ VAI!- Um homem vestido de preto saiu da cafeteria. - Desesperada!- disse ao passar por mim.
- Não precisaria ser se você soubesse ao menos estacionar- respondi ironicamente.
- Como se você fosse uma ótima motorista. Não consegue fazer uma manobra para sair, com um espaço desse tamanho- ele disse, antes de entrar no carro.
- Pior é você, acha que paga dois impostos sobre um carro?
- Ah, pelo amor de Deus- ele bateu a porta do carro e saiu cantando pneu.
Sorri ironicamente para mim mesma antes de sair.
Segui para meu antigo apartamento. Não fica longe da casa de nem do hospital onde trabalho; é até mais próximo do que minha casa atual, o que é um ponto positivo.
- Senhora , quanto tempo!- Pedro, o porteiro, disse, vindo ao meu encontro assim que saí do carro.
- Oi, seu Pedro. Tudo bem com o senhor?
- Tudo bem, querida. E você? E o senhor ?
- Então... Eu estou bem, já não sei o - disse, abrindo o porta-malas.
- A senhora veio para ficar?- ele perguntou, apontando para as malas.
- É... Por enquanto sim!- respondi. -Estou me separando do , ainda não decidimos o futuro da outra casa.
- Ah, que pena, senho... senhorita - ele sorriu ao se concertar.
- Pois é. É uma pena mesmo - disse, sem mencionar o motivo do divórcio.
- Você precisa de ajuda com as malas?
- Só até o elevador.
- Certo- ele disse, pegando duas das quatro malas.
Pedro me ajudou a levar as malas até o elevador principal, e então eu segui sozinha até o vigésimo quarto andar. Respirei fundo quando parei em frente ao apartamento 2415. Ali estava eu de novo, depois de oito anos. Abri a porta, acendi a luz e vi que tudo estava do mesmo jeito que eu havia deixado. A decoração que a de 27 anos tanto amava: paredes em cores claras, madeira em tons suaves, leves toques de rosa em alguns objetos... Tudo do meu jeitinho.
O apartamento estava completamente limpo; eu havia pedido para que Mary viesse limpá-lo antes de eu me mudar, pois não queria lidar com o processo de faxina. Eram 11 horas da manhã quando comecei a arrumar minhas coisas. Tinha várias roupas, sapatos, joias, perfumes, maquiagens e objetos pessoais que precisavam ser colocados em ordem, o que levou uma boa parte da manhã.

{…}

- Meu Deus, preciso fazer compras urgente!- disse ao fechar a geladeira, onde não havia nada, apenas uma garrafa d'água.
Olhei no relógio e já eram 2:30 da tarde, já passava da hora do almoço e meu estômago estava reclamando. Peguei minha bolsa e fui ao mercado mais próximo. Tentei pegar tudo o que achava necessário em no máximo 20 minutos e voltei para casa, a fim de tirar um cochilo rápido.

{…}

Acordei com meu celular despertando; já estava quase na hora marcada com a advogada. Levantei do sofá correndo, fui para o quarto me despindo durante o caminho, liguei a ducha e esperei a água esquentar enquanto prendia o cabelo.
15 minutos foi o tempo do meu banho. Pode parecer rápido, mas foi o suficiente para me atrasar, já que ainda teria que me vestir e me maquiar. Fiz uma maquiagem rápida e simples, mas com um batom marcante nos lábios. Vesti um body preto com rendas nas laterais, uma calça social preta e um blazer cinza escuro. Nos pés, optei por um par de Louboutins também pretos. Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo alto, deixando alguns fios soltos na frente. Coloquei pequenas argolas douradas e, por último, meu perfume preferido: Libre Intense.
Me olhei no espelho e gostei do que vi. Peguei minha bolsa e as chaves do carro, partindo para o escritório, que ficava na parte central de Londres.

{…}

Assim que cheguei, vi que a recepcionista estava conversando com um homem moreno, todo vestido de preto. Parecia com o péssimo motorista de mais cedo. Sentei-me em uma cadeira próxima à mesa da recepção e consegui ouvir o que os dois conversavam.
- Meu bem, esses dois últimos dias foram terríveis na delegacia. Mal tive tempo para comer- disse o homem.
- Eu não preciso de explicações, . Nós não temos nada sério! É só um lance bom para nós dois- respondeu a mulher, calma, mas nós mulheres sabemos que por dentro ela estava completamente diferente.
- Mesmo assim, acho que te devo desculpas e uma recompensa- pude ver que ele sorriu, e quase fiz uma careta ao ouvir isso.
- Tá bom. Espera aí que eu tenho que atender a cliente que chegou; daqui a pouco sua irmã fala com você - ela despistou o homem, que se sentou ao meu lado. Ele passou por mim e sorriu, e me forcei a fazer o mesmo.
Estava esperando de pernas cruzadas quando a recepcionista me chamou.
- Senhora , certo?- ela perguntou, sorrindo.
- Isso!- respondi.
- A doutora está esperando por você. Pode vir - ela me guiou até uma sala e abriu a porta.

{…}

— Você deve ser a famosa , certo? — disse a mulher morena à minha frente, levantando-se.
- Isso, sou eu mesma! E você deve ser a também famosa - aproximei-me dela.
- Famosa, não sei, mas sim, sou eu!- Ela me abraçou. - Bom, sente-se - disse, indicando a cadeira à sua frente.- Então, me explicou por alto sua situação. Gostaria que você me contasse com mais detalhes.
- Certo... Bom, fui casada por oito anos e, nos últimos dois, as coisas começaram a piorar... A gota d'água foi na semana passada, quando descobri que meu marido estava me traindo com uma de suas alunas.
- Isso te fez vir até aqui para dar início ao pedido de divórcio?
-Sim! Na verdade, foi a gota para o copo transbordar.
- Vocês têm filhos? - Não. Filhos foram algo que abdiquei por amor a ele- revirei os olhos, achando-me estúpida.
- E animais de estimação?
- Também não. nunca gostou.
- Bom, preciso da certidão de casamento e de uma relação dos bens do casal. Você tem isso aí com você?
- Tenho sim, imaginei que fosse necessário - disse, tirando uma pequena pasta de dentro da bolsa.
Entreguei os papéis a , que começou a ler.
- , seu marido possui muitos bens e um ótimo salário... Podemos pedir uma boa pensão.
- Não quero nada que venha dele. Só quero retirar o sobrenome dele do meu nome e a minha casa, que é uma herança de família.
- Só isso? Você tem certeza?- perguntou ela novamente. Concordei com a cabeça. - Certo, vai ser até mais fácil, já que vocês não possuem vínculos sanguíneos ou emocionais.
- Fico muito feliz com essa notícia- sorri, aliviada.
- Vou começar a dar entrada no pedido agora mesmo, já que você é tão amiga da - ela sorriu, e pude ver o amor em seus olhos ao mencionar o nome de . - Mas ele só será enviado ao seu futuro ex-marido amanhã à tarde, certo?
- Certo! Amanhã à tarde está ótimo!
- Então está combinado. Fico muito feliz em conhecê-la, pena que tenha sido dessa forma.
- Também fico feliz em conhecê-la. Podemos marcar algo para nos conhecermos oficialmente - brinquei.
- Claro que podemos - ela me acompanhou até a porta e me abraçou.
- Muito obrigada, - disse, abraçando-a.
- Não me agradeça.
- Tchau, bom trabalho — desfiz o abraço.
- Obrigada, para você também.
- Obrigada - ela abriu a porta, e vimos o rapaz conversando com a secretária novamente.
- !- ouvi a voz de repreender o homem enquanto eu saía.
Saí sorrindo daquele escritório e fui até o carro. Dessa vez, ninguém me bloqueou.

{…}

Assim que cheguei ao hospital, percebi alguns murmurinhos e pessoas olhando para mim. Provavelmente, a notícia sobre minha vida pessoal já estava circulando, já que passei uma semana fora. Decidi ignorar e fui direto para a sala dos médicos. Troquei de roupa, colocando o uniforme adequado, livrei-me dos saltos e brincos, substituindo-os por crocs brancos e prendi o cabelo em um coque alto. Em menos de 15 minutos, estava pronta para mais um plantão.

Capítulo 8

P.O.V :


Acordei com meu celular tocando ao meu lado na cama. Ele já estava tocando pela segunda vez, então não pude ignorar novamente e atendi, sem sequer ver de quem era o número.
- Alô.- Disse com a voz sonolenta.
- , como você está? Tá tudo bem, cara? -Era a voz do chefe Thompson.
- Tô bem, sim. Por quê?-Perguntei desconfiado; ele normalmente não me liga, ainda mais sabendo que em menos de uma hora ele me veria pessoalmente.
- Ué, você não veio trabalhar até agora. Estranhei... Você não é de faltar.
- Ué, mas eu vou trabalhar sim. Agora que são... - Peguei meu relógio que estava na mesa de cabeceira.- Porra, tô atrasado!- Levantei em um pulo.
- Menos mal.- Escutei Ed falando de longe.
- Desculpa, chefe, eu perdi a hora! Chego aí em uns 40 minutos.
- Tudo bem, se arruma aí e vem sem pressa.
- Pode deixar.- Disse desligando o celular e indo correndo para o banho.
Nunca me arrumei tão rápido na vida. Joguei água no corpo, escovei os dentes e dei uma ajeitada rápida no cabelo. Coloquei uma roupa confortável e toda preta para não perder tempo e, por último, passei um perfume tão rápido quanto a velocidade da luz.
Saí de casa trancando as portas enquanto chamava o elevador. Eu realmente estava muito atrasado. Dormi demais na noite passada, provavelmente por conta do remédio que havia tomado para dor de cabeça e dor de estômago, e acabei não ouvindo o despertador.
Entrei no carro e fui direto para a delegacia, mas antes parei na cafeteria de sempre. Estacionei o carro de qualquer jeito, já que pretendia ser rápido e precisava poupar tempo.
- Bom dia!- Falei para a atendente.
- Bom dia!- Ela sorriu. - O que o senhor vai querer hoje?
- O de sempre, só que com o dobro de cafeína, por favor.
- Pode deixar.
Enquanto a atendente preparava meu pedido, fui ao banheiro. Saí do banheiro secando as mãos e vi pela janela que uma mulher estava buzinando feito uma louca. Percebi que era por causa do meu carro, que estava atrapalhando a saída dela.
- É o seu?- A atendente perguntou, apontando para meu carro enquanto me entregava o café.
- É!- Respondi, entregando uma nota de cinco euros, e saí rápido para fazer com que a mulher parasse de fazer aquele barulho irritante.
- JÁ VAI.- Disse enquanto ia para meu carro.- Desesperada!- Falei um pouco baixo, passando pela mulher baixinha de cabelos pretos que estava saindo de seu carro.
- Eu não precisaria ser se você soubesse ao menos estacionar.- Ela sorriu ironicamente.
Olhei bem e vi que havia um espaço no qual aquela motorista poderia ter saído, em vez de buzinar como uma louca.
- Como se você fosse uma ótima motorista. Não consegue fazer uma manobra para sair, com o espaço desse tamanho.- Disse, abrindo a porta do meu carro e vendo as faíscas que praticamente poderiam voar dos olhos dela.
- Pior é você. Acha que paga dois impostos sobre um carro?- Ela me olhou enquanto entrava no carro.
- Ah, pelo amor de Deus!- Eu disse, dando partida para terminar aquela pequena discussão e seguir para o trabalho.

{…}

- Bom dia!- Assustei-me com me cumprimentando antes mesmo de eu ter entrado por completo na sala.
- Bom dia!- Ele percebeu o meu susto.
- Desculpa se eu te assustei.- Ele sorriu.
- De boa!- Respondi, indo para minha mesa.
- , o chefe pensou que você não viria trabalhar hoje, então comecei a estudar os casos e...- Não deixei que ele continuasse.
- Você mexeu nas minhas coisas?- Perguntei, olhando-o por cima dos óculos.
- Só nas anotações que estavam aí por cima.
- Com a autorização de quem?
- De ninguém... Achei que você não se importaria!
- Olha, , eu sei que agora você faz parte disso.- Disse, fazendo um movimento com as mãos para mostrar toda a sala.- Mas eu não aceito que mexam em nada que é meu, principalmente nas minhas anotações.
- Eu... Eu só li.
- Mesmo assim, são coisas minhas!
- Certo, não vai se repetir.
- Espero.- Disse, me sentando. - Aqui tem tudo o que você precisa saber.- Entreguei um resumo que eu havia feito ontem para ele se manter informado de tudo que havia ocorrido.
- Obrigado.- Ele agradeceu sem graça e se voltou para sua mesa.

{…}

Comecei o trabalho por ali mesmo enquanto tomava meu café da manhã corrido. Mas, naquele ponto, não havia muito o que ser feito, então fui até a sala dos especialistas em tecnologia para ver no que eles poderiam me ajudar.
- Detetive , no que nós podemos te ajudar?- Ana disse com um sorrisinho no rosto. Um sorrisinho que eu conheço muito bem, principalmente as segundas intenções que vêm com ele.
- Em muitas coisas.- Sorri de canto e pisquei um dos olhos.- Mas, por enquanto, eu preciso dos dados do proprietário desse número. - Entreguei um post-it a ela.
- Posso conseguir isso para o senhor bem rapidinho.- Ela mordeu os lábios.
- Eu agradecerei muito.- Pisquei novamente e saí.
Ana e eu já tivemos algumas experiências nesses três meses em que comecei a trabalhar aqui, mas não é nada muito sério como de costume, apenas sexo, como já é de se esperar.
Antes de voltar para minha sala, passei no gabinete do senhor Thompson. Precisava falar com ele sobre manter a mídia informada ou não sobre os casos.
- Entre!- Recebi a resposta após ter batido apenas uma vez em sua porta.
- , pensei que você não viesse mais hoje.
- Desculpa, Ed. Eu acabei me sentindo mal ontem e exagerei nos remédios... Acabei dormindo demais e perdi a hora. Não ouvi o despertador. - Me justifiquei.
- Certo... Acontece, mas espero que você esteja melhor.
- Já estou melhor... Mas, enfim, não foi para me justificar que eu vim aqui falar com o senhor. - Disse, me sentando na cadeira à sua frente.
- Espero também que não tenha sido para reclamar do .
- Não.- Sorri. - Já me resolvi com ele! Eu queria mesmo era falar com o senhor sobre a possibilidade de uma coletiva de imprensa com as famílias. Abrir ao público sobre a teoria dos três casos estarem interligados.
- Você acha isso necessário?- Ele me encarou.
- Eu realmente não sei! Mas acho muito importante abrir o espaço para as famílias fazerem mais algumas apelações ao vivo.
- Tudo bem! Converse com o e veja a opinião dele sobre isso. Se ele concordar, por mim tudo bem.
- Okay, vou falar com ele.- Disse, saindo do gabinete do chefe e indo até a minha sala.
Cheguei e Wi não estava em seu lugar, então resolvi esperar para falar com ele depois do almoço. Continuei com as leituras daquelas milhares de páginas de transcrições de mensagens.

{…}

- Senhor , aqui está o que o senhor pediu para o pessoal da T.I.- Potter me entregou uma pasta.
- Já? Tão rápido.- Disse, surpreso.
- A senhorita Todd disse que havia sido pedido com urgência.
- Ah, sim, claro.- Sorri para mim mesmo ao entender tudo.- Obrigado, Potter.
Abri a pasta e encontrei uma ficha. Agora tínhamos um nome, idade e, principalmente, um rosto!
O homem se chamava Douglas Leonard Jackson, tinha 35 anos, era branco, olhos verdes e deveria ter cerca de 1,85 m. Ele tinha duas passagens pela polícia: uma por roubo à mão armada e outra por porte ilegal de drogas.
- De hoje ele não passa!- Falei para mim mesmo, soltando a pasta em cima da mesa e me levantando.
Peguei minha arma e meu coldre, os ajeitei na cintura enquanto caminhava até o gabinete do senhor Thompson. Antes que eu pudesse entrar, escutei uma parte de uma conversa.
- Ele parece não me querer no caso. Mas isso é uma boa ideia!
- Não é isso, ele só tem o jeito dele de li...- Não esperei para ouvir a conversa e entrei, dando de cara com Ed e Wi conversando.
- !
- , eu preciso falar com o senhor Thompson.
- Sobre o caso?- Ed perguntou e eu afirmei com a cabeça.- Então fale.
- Prefiro falar só com você.
- Tudo bem, já estava de saída.- Wi disse, passando por mim.
Wi saiu, meio que apontando para mim com a cabeça, então vi Ed sorrindo e negando com a cabeça.
- Fala, .
- Eu consegui novas informações. Temos uma cara, um nome e um endereço de um suspeito.
- E quem é?- Ed me encarou.
- Um homem de 35 anos, com algumas passagens.
- Certo... Já tem informações suficientes para fazer a prisão?- Ed perguntou e eu balancei a cabeça.
- Então faça o que achar melhor e faça o favor de incluir o nessa ação. Agora ele trabalha com você.
- Eu acho que não será necessário, basta só eu e o Potter.
- Avise o . Você já não está mais trabalhando sozinho.
- Você quem manda, chefe.- Disse, saindo de sua sala.
Odeio ter que avisar, contar com a concordância ou discordância de alguém quando é algo envolvendo o meu trabalho. Sempre preferi atuar sozinho, tudo dentro da minha forma de agir.
- , eu consegui mais informações.- Disse, me sentando em minha cadeira.
- Quais?- Ele perguntou, virando-se para mim.
- Temos os dados do proprietário do número que conversou com a primeira e última vítima. Vou fazer o pedido de busca e apreensão agora.
- Um ótimo avanço. Será que eles liberam esse pedido hoje mesmo?
- Espero que sim... Mas vai ser meio difícil.- Bufei.
- É, pela hora...- olhou para seu relógio.
- Mas eu acho que até amanhã dá certo.
Comecei a redigir o pedido de busca e apreensão, pedi urgência e sigilo das ações, pois poderia haver risco de fuga do procurado.
Por fim, terminei o pedido já se passava das 4 P.M. Seria impossível ser liberado hoje ainda. Me joguei sem jeito em minha cadeira enquanto bufava.
- A resposta só vem amanhã mesmo.- Bufei.
- Ah, hoje não vai dar tempo mesmo.
- Pois é... Bom, eu quero sigilo até efetuarmos essa operação! Se algo vazar, eu sei que o culpado será alguém daqui de dentro! — Falei para Potter e .
- Certo. Não diremos nada para ninguém.- disse e Potter apenas acenou.
Me levantei de uma vez e me senti completamente tonto. Minha cabeça parecia que poderia explodir a qualquer momento.
- , tá tudo bem?- Potter perguntou, indo até mim.
- Sim. É só a minha cabeça.- Disse, me sentando novamente.
- Acho que você deveria ir ver um médico, cara.- disse, me entregando um copo com água.
- Não precisa... Já tive dores de cabeça piores.- Sorri triste por me lembrar do motivo das minhas frequentes dores de cabeça. — Só preciso de mais um pouco de café.
- Bom... Você é quem sabe.- deu de ombros.
Me servi de mais café e segui com meu trabalho. Pelo menos tentei, mas a dor de cabeça estava praticamente insuportável, então peguei minhas coisas para voltar para casa.

{…}

Estava passando em frente ao prédio onde fica o escritório de , então decidi dar uma parada rápida para falar com ela e dar uma explicação a Alice, já que a dor de cabeça parecia estar dando uma pequena trégua.
Entrei e encontrei Alice olhando concentrada para o computador à sua frente.
- Oi, Alice.- Disse, sorrindo.
- , quem é vivo sempre aparece!- Ela também sorriu.
- Pois é... Estava tudo tão corrido, mas consegui um tempinho para ver a .
- Só para ver ela?- Alice me encarou.
- Para ver você também.
- Hum...- Ela murmurou, com uma expressão desconfiada.
- Meu bem, eu queria me desculpar com você.- Comecei a me explicar, então uma mulher muito bem-vestida entrou. Ela passou por mim e seu cheiro tomou conta do ambiente.
Um cheiro tão bom de bergamota com cerejeira, um aroma hipnotizante! Me perdi por alguns segundos, então percebi que estava me desculpando com Alice.
- Meu bem, esses dois últimos dias foram terríveis na delegacia. Mal tive tempo para comer.- Continuei.
- Eu não preciso de explicações, . Nós não temos nada sério! É só um lance bom para nós dois.- Alice disse, calma.
- Mesmo assim, eu acho que te devo desculpas e uma recompensa.- Sorri com segundas intenções perceptíveis.
- Tá bom. Espera aí que eu tenho que atender a cliente que chegou. Daqui a pouco a sua irmã fala com você.- Ela disse, e então me afastei, indo me sentar no lugar vago ao lado da mulher.
Passei por ela e a cumprimentei apenas com um sorriso. Quando olhei para ela, percebi que era a mulher da buzina de mais cedo. Tão bonita e tão escandalosa, pensei, guardando para mim mesmo enquanto esperava por .

{…}

Alice tinha mandado a mulher entrar para conversar com , então eu voltei a conversar com Alice.

{…}

- Então... - Ela parecia querer começar outro assunto.
- O que?- Me fiz de desentendido.
- Quando você terá um tempinho para mim nessa sua agenda apertada?- Ela me olhou por cima dos óculos.
- Eu realmente não sei. O trabalho anda tão corrido, tem aqueles casos... Cada dia mais estagnados.
- Hummm, sei!- Ela murmurou, como se não acreditasse.
- É sério. Hoje eu saí um pouco mais cedo porque eu não estava me sentindo muito bem.
- É sério isso? Não precisa arrumar desculpas, não.
- Que isso, linda?! Hoje eu realmente não me senti bem. Larguei outro investigador tomando conta do caso para poder ir para casa, mas aproveitei para passar aqui rapidinho.- Mal terminei de falar e a porta da sala de foi aberta.
- !- Ela me chamou, num tom como se estivesse me chamando a atenção por estar tão próximo de Alice. Ela sabia que nós já havíamos ficado algumas vezes.
- !- Me aproximei dela, indo abraçá-la.
- Vem, entre.- Ela me chamou para entrar.

{…}

- O que te traz aqui, em pleno dia de semana?
- Ah, precisei sair mais cedo e resolvi dar uma passadinha aqui. Eu não estava me sentindo bem.
- O que você tem? Já está se sentindo melhor?
- Aquela dor de cabeça... Parece que está querendo voltar de novo.
- Você ainda está tomando os seus remédios? Você procurou algum médico?
- Tomo quando eu lembro.- Sorri.
- Não tem graça, ! Isso é sério!
- Eu sei, . É só o trabalho que está me consumindo demais.
- Você sabe muito bem o que eu acho disso! Não quero que você passe por tudo aquilo de novo.
Suspirei fundo; é tão difícil lembrar de tudo o que havia acontecido.
- Eu preciso fechar esse caso, principalmente com esses desaparecimentos...
- Entendo, mas você não pode viver só para isso!
Continuamos conversando por mais alguns minutos, mas eu realmente estava me sentindo exausto, precisando ir para casa, deitar e dormir mais um pouco.

{…}

Cheguei em casa e fui direto para o banho. Eu estava cansado, mas uma coisa não saia da minha cabeça: o perfume daquela mulher!

Capítulo 9

P.O.V :


"Bom dia, ! Ontem tivemos um pequeno problema com o envio da notificação de divórcio, mas já resolvemos. A papelada foi enviada e em breve será entregue."
Recebi essa mensagem às 10 A.M., mas só pude lê-la agora, às 1:30 P.M. Estava no refeitório do hospital almoçando quando a li.

"Boa tarde, ! Só tive tempo de ler sua mensagem agora. Muito obrigada por resolver isso tão rápido!" Respondi com uma felicidade quase visível em meu rosto. Mal podia acreditar que estava realmente dando certo. Não via a hora de finalmente assinar aqueles papéis.

- E esse sorriso aí? – Sloan, uma colega que estava almoçando comigo, perguntou.
- Os papéis do meu divórcio saíram! O vai ser notificado ainda hoje.
- E você realmente está feliz? – Ela me encarou.
- Estou! Eu já queria isso antes mesmo de descobrir a traição, mas no fundo achava que ainda poderia haver uma saída para nós dois. – Foi a primeira vez que assumi isso em voz alta e isso trouxe um sentimento estranho, que eu nunca havia sentido antes.
- Então fico muito feliz por você! Ninguém merece continuar em uma situação que só causa desconforto.
- Espero que você nunca passe por isso!- Disse enquanto me levantava.- Bom, meu horário acabou, preciso assumir mais cinco horas de plantão.- Choraminguei.
- Vai lá, eu também preciso voltar.
Sloan seguiu para o setor de obstetrícia e eu fui para o pronto-socorro.
- E aí, gente, como estão as coisas? – Perguntei para os internos.
- Até então tá tran...- Adam ia dizendo, mas Eva passou na frente.
- Não fala! Lembra da regra.- Todos nós rimos.
- Muito bem! Não devemos jamais dizer isso. – Disse entre risos. – Bom, então vamos subir para ver como está a evolução dos pacientes do plantão passado e depois descemos para atender as emergências que chegarem.
Subimos ao terceiro andar e começamos a visita. Eram três pacientes que tínhamos atendido no plantão passado. Dois deles tinham sofrido acidentes de carro e o outro tinha levado um tiro no tórax. Todas as três cirurgias haviam sido um sucesso, mas ainda precisávamos fazer os acompanhamentos de perto.
Fizemos as três visitas e depois descemos. Não havia nenhuma emergência grave, então deixei April responsável pelas suturas, Adam e Eva pelas consultas, e eu fiquei a postos caso alguém precisasse de ajuda ou se alguma emergência chegasse.
O dia seguiu assim, sem mais ocorrências graves, até o horário em que eu finalmente pude ir para casa.

{…}

Cheguei em casa e fui direto para o banho. Por mais que o dia tivesse sido calmo, eu havia terminado um plantão de 24 horas, e isso por si só era exaustivo.
Tinha acabado de desligar o chuveiro, estava enrolada na toalha e penteando o cabelo quando comecei a escutar alguém apertando a campainha insistentemente.
- JÁ VAI! – Disse indo até a porta, sem ao menos saber quem poderia ser, já que o porteiro não tinha interfonado.
- O que você está fazendo aqui? – Perguntei ao abrir a porta e dar de cara com .
- QUE MERDA É ESSA HEIN, ?? – gritou com raiva, me mostrando um envelope e entrando em meu apartamento.
- , para de gritar e vai embora! – Disse, tentando manter a calma enquanto tentava fechar a porta.
- EU NÃO VOU A LUGAR NENHUM ATÉ RESOLVER ESSA MERDA! – Ele disse, já dentro do apartamento e fechando a porta atrás de si com força.
-
- , eu não acredito que você fez isso! – Ele jogou os papéis em mim.
- EU FIZ SIM E POSSO FAZER MUITO MAIS SE VOCÊ NÃO SAIR DA MINHA CASA AGORA! – Agora era eu quem gritava, enquanto pegava meu celular na bancada que dividia a sala da cozinha.
- Você vai fazer o quê, hein? Ligar para a polícia? – se aproximou de mim e apertou meu braço.
- Se você não sair daqui em 10 segundos, é isso mesmo que eu vou fazer. – Disse entre dentes, enquanto sentia a respiração de em meu rosto.
- Você vai me pagar, ! Eu não vou aliviar em nada para você. – O apertão em meu braço ficava cada vez mais forte. – Eu vou fazer da sua vida um inferno. – Meu braço já estava latejando e, não sendo o suficiente, ele apertou meu outro braço também. Então disquei o número da polícia sem que pudesse ver.
- O que você quer de mim, ? Pelo amor de Deus! – Segurava as lágrimas que queriam sair, mas eu não poderia chorar na frente dele, eu não poderia demonstrar medo.
- Eu quero você! Eu quero o nosso casamento. – esbravejou enquanto largava um dos meus braços, mas apertava minhas bochechas com a mão desocupada.
Pude sentir o gosto do sangue em minha boca; havia apertado tão forte que me fez morder a parte interna das bochechas.
- Que casamento? Nosso casamento já não existe há quase dois anos; você mesmo já tinha percebido isso quando engravidou a outra! – Esbravejei, batendo na mão de , ainda sentindo medo do que ele poderia fazer comigo.
- Esse casamento só vai acabar quando EU QUISER, . – gritou as últimas palavras enquanto socava a parede atrás de mim.
- , por favor, me deixe em paz – sussurrei, enquanto duas lágrimas grossas escorriam pelos meus olhos.
- Eu vou deixar! Eu vou embora agora, mas fique sabendo que EU vou tirar tudo de você! – Ele me soltou e se afastou.
- Veremos! – Disse, desligando a ligação que não sabia se tinha sido atendida ou não.
saiu batendo a porta, então eu corri e a tranquei. As lágrimas que antes eu estava segurando agora escorriam grosseiramente pelo meu rosto.
- AAAAAAAAH! – Gritei enquanto apoiava meu rosto nas mãos. Não conseguia parar de chorar e soluçar.
Meu celular, que estava ao meu lado no sofá, começou a tocar. Passei as mãos no rosto, enxugando as lágrimas, antes de atender a ligação.

*Ligação:*

- Alô.
- Boa noite! Aqui é da delegacia central. Recebemos uma ligação suspeita e incompleta deste número.
- Ah sim, fui eu mesma que liguei. Foi engano. – Um suspiro baixo saiu de mim.
- A senhora tem certeza? Posso mandar uma patrulha.
- Tenho certeza, sim! Era o meu mari... meu ex-marido, mas ele já foi embora.
- Senhora, se aconteceu algo, eu preciso formalizar a queixa de agressão doméstica – O policial do outro lado da linha insistiu.
- É sério, está tudo bem. Não houve agressão.
- Certo, qualquer coisa nós estaremos à disposição.
- Obrigada. Boa noite!
- Boa noite! – Escutei o policial responder antes de desligar.

Me joguei de qualquer jeito no sofá enquanto as lágrimas voltavam a cair. Não estava chorando de tristeza, mas sim de medo.
Sinceramente, não sei do que é capaz! Há alguns anos, eu colocaria minhas duas mãos no fogo por ele, jamais acreditaria que ele pudesse fazer algo comigo. Mas a cada dia que passa, ele se mostra capaz de muitas coisas, coisas que em momento algum eu sequer poderia imaginar.

{…}

Não sei por quanto tempo fiquei jogada naquele sofá, mas provavelmente foi um período bem longo. O frio que entrava pelas janelas começou a incomodar, o cansaço do dia começou a dar seus sinais, mas a tensão da presença de ainda estava presente. Me levantei cansada e fui até meu quarto, me vesti e tomei uma dose do meu calmante. Só ele poderia me fazer ter um sono razoavelmente tranquilo.

{…}

Acordei no outro dia com a leve luminosidade do sol entrando pela cortina mal fechada. Minha cabeça parecia prestes a explodir a qualquer instante e lembrar da noite passada só piorava a situação.
Por sorte, hoje eu não trabalharia, mas também não estava disposta a passar o dia inteiro na cama. Havia coisas que eu precisava resolver.
Me levantei e fui direto ao banheiro. Um banho morno com certeza ajudaria a aliviar o estresse e a dor de cabeça.
Após sair do banho, notei que meu celular estava tocando e, no visor, indicava que a ligação era da minha mãe. Atendi.

*Ligação:*

- Alô.
- Filha, tudo bem? – Minha mãe perguntou com um tom de preocupação na voz.
- Tudo, mãe. – Tentei não demonstrar o que estava acontecendo. Não queria estragar a viagem dos meus pais.
- , eu já sei de tudo o que aconteceu!
- Como assim? – Disse, enquanto segurava o celular com o ombro esquerdo e procurava uma muda de roupa quente.
- Eu e seu pai chegamos hoje de madrugada e, agora de manhã, recebemos a visita de .
- Eu não acredito que aquele filho da puta foi atrás de vocês! – Esbravejei.
- É filha, ele veio! Principalmente por conta do seu pai
- E aí? – Perguntei enquanto terminava de fechar o sutiã.
- O chorou, disse que estava arrependido e que te ama. Disse que não quer e não sabe viver sem você… Seu pai, como sempre, acreditou.
- O beira ao ridículo. – Disse, antes de suspirar. – Pelo visto ele não contou que veio aqui e me ameaçou.
- Como? – Minha mãe parecia incrédula.
- Ontem à noite ele veio aqui depois que recebeu a intimação do divórcio. Ele estava agressivo, disse que não aceitaria, que o casamento só acabaria quando ele quisesse e que tornaria a minha vida um inferno.
- Eu sinceramente não estou acreditando que ele teve essa coragem e essa cara de pau! , ele te machucou?
- Não... – Disse, olhando para meu braço, que estava roxo novamente por conta de .
- Não minta! – Minha mãe disse com um tom de voz grave.
- Ele não me bateu, mas apertou meu braço de novo… e está roxo.
- Você vai dar queixa dele na delegacia, certo?
- Não, mãe, não é necessário!
- Filha, isso é agressão!
- Eu sei, mas não quero fazer isso! Eu estou indo me encontrar com a minha advogada agora de manhã, vou deixá-la a par de tudo e ver no que isso interfere no processo do divórcio.
- Você tem certeza? Se quiser, eu posso ir com você à delegacia.
- Tenho, sim, mamãe. Não quero envolver a senhora e meu pai nisso tudo!
- Bom, você é quem sabe, mas fique sabendo que pode contar comigo para tudo, certo?!
- Certo, mamãe. Obrigada!
- Por nada, meu amor. Tenha um bom dia e não hesite em me ligar!
- Pode deixar. – Sorri, mesmo sabendo que ela não estava vendo. – Bom dia para a senhora também! – Disse ao desligar a ligação.
Suspirei mais uma vez e continuei a me arrumar. Antes, enviei uma mensagem a informando sobre o ocorrido com e expressando minhas preocupações. respondeu minha mensagem prontamente, marcou um encontro comigo em uma cafeteria dentro de 30 minutos para discutirmos os próximos passos do processo de divórcio.
Terminei de me arrumar rapidamente e segui para a cafeteria, a mesma onde tinha discutido com o homem na semana passada.

{…}

- ! – Ouvi uma voz feminina me chamando assim que entrei na cafeteria. Olhei para o lado e encontrei sentada em uma mesa bem reservada. Fui até ela.
- , obrigada por me encontrar agora de manhã. – Agradeci enquanto a abraçava.
- Não precisa agradecer. Sente-se. – Ela indicou a cadeira à sua frente. – Já pedi dois cappuccinos para nós.
- Obrigada! – Sorri de canto.
- Então, me conta o que aconteceu ontem.
- Ontem à noite, meu ex-marido apareceu em casa. Ele me ameaçou, disse que o casamento só acabaria quando ele quisesse, e que tornaria minha vida um inferno se eu continuasse com o divórcio…
- Ele te agrediu? – perguntou com um tom de voz tranquilo, querendo me passar segurança.
- Bater não… Mas ele me apertou com força, como já tinha feito antes. – Tirei um pouco o blazer para que ela pudesse ver.
- Sinto muito, … Eu acho que devemos ir até a delegacia e registrar a queixa.
- Não acho que isso seja necessário.
Eu realmente não queria dar queixa e prejudicar , por mais que isso fosse o certo a ser feito.
- Tudo bem… Não precisa prestar queixa, mas devemos ir para que, pelo menos, as fotos e o exame de corpo de delito sejam registrados. Podemos usar isso no processo, caso o realmente tente dificultar as coisas.
- Você acha necessário? – Perguntei com medo estampado em meu olhar.
- Claro!
- Tudo bem, podemos fazer isso então.
- Certo. Meu irmão é policial na delegacia central. Vou pedir a ajuda dele para que possamos resolver essa situação. – disse, levantando-se e pegando o celular em sua bolsa. – Volto daqui a pouco.
se afastou, me deixando sozinha na mesa quando nossos cafés chegaram. Dei um gole no meu enquanto enviava uma mensagem para minha mãe avisando que precisaria ir à delegacia para fazer o exame de corpo de delito.
- Pronto! Eu já falei com o e ele vai nos ajudar.
- Não sei como te agradecer.
- Não precisa, mas pode agradecer depois que ganharmos essa. – Eu e ela sorrimos.
Terminamos nossos cafés e seguimos juntas para a delegacia. Era a primeira vez que eu estava em uma e, posso dizer, é bem parecido com o que vemos na TV.
- , o que te traz até aqui? – Um senhor alto e barrigudo disse, vindo até .
- Ed! – o cumprimentou sorrindo. – Eu vim com a minha cliente para que ela possa fazer o exame de corpo de delito.
- Oh, sim. Bom dia! – O homem se virou para mim e estendeu a mão. – Eu sou o Chefe Edmund Thompson.
- Prazer. . – Forcei um sorriso enquanto apertava a mão do senhor.
A partir daquele momento, eu jamais me apresentaria usando o sobrenome daquele estorvo. Agora eu usaria meu nome de solteira novamente!
- Meninas, a sala de exames fica no final do corredor à direita, no terceiro andar. O está esperando por vocês. – O senhor simpático disse.
- Obrigada, Ed. – agradeceu antes de irmos para o elevador.
Já dentro do elevador, o silêncio se fez presente. O nervosismo da minha parte era praticamente palpável.
- , fica tranquila. Meu irmão vai ser o policial responsável; ele só vai tirar fotos dos locais onde você está machucada, fazer algumas medições e perguntar sobre o porte físico do . – disse, segurando minha mão.
- Eu sei como esses exames mais ou menos funcionam… Mas mesmo assim estou nervosa. – Admiti.
- Não precisa ficar. – Ela disse, e a porta do elevador se abriu.
Seguimos até a sala que o Chefe Thompson havia indicado. bateu na porta fechada, e, em segundos, a porta foi aberta.

Capítulo 10

P.O.V :


O dia amanheceu frio. O sol fraco iluminava o céu, mas os termômetros nas avenidas marcavam apenas 7 graus. As pessoas que passavam por ali se agasalhavam em seus casacos, tentando se proteger do frio.
Eu estava ansioso pela liberação do pedido de busca e apreensão. Deveria ter sido liberado ontem, mas, segundo algumas informações, o juiz responsável teve um imprevisto pessoal e provavelmente só liberaria hoje.
- Bom dia, !- disse ao entrar na nossa sala.
- Bom dia, .- respondi, desviando o olhar de alguns documentos que estava lendo.
- Chegou cedo para quem fez hora extra.
- Não consegui dormir direito e acordei cedo.- disse, encarando-o.
- Alguma novidade ontem à noite?
- Nada... Foi tudo tranquilo, sem ocorrências.- Lembrei-me de uma ligação que tinha atendido na noite passada.
Estava quase indo embora quando o telefone na mesa de Potter tocou. Ele não estava em seu lugar, então resolvi atender. A ligação estava confusa, parecia que a pessoa havia ligado sem perceber, mas consegui ouvir o que parecia ser uma briga. Eram as vozes de um homem e de uma mulher, ambos falando alto e com raiva. A ligação foi encerrada, mas algo me dizia para retornar.
Retornei a ligação, e a mulher, que antes estava com raiva, agora tinha uma voz chorosa. Perguntei se ela precisava de ajuda ou se queria que enviássemos uma patrulha, mas ela negou, dizendo que tinha sido apenas uma discussão com o ex-marido e que ele já havia ido embora. Não pude fazer nada, então apenas disse que estaríamos à disposição caso precisasse.
- Já sabe se saiu o pedido de busca e apreensão? - chamou minha atenção, tirando-me dos pensamentos.
- Ainda não... Acho que só sai depois das 10.
- Então temos tempo para tomar um café.
- Acho uma boa!- e eu nos levantamos para ir até a cafeteria mais próxima, mas meu celular tocou. Era .

Ligação
- Oi, .
- Bom dia, ! Tudo bem?
- Tudo, e você?
- Estou bem também... , você já está na delegacia?
- Sim, por quê?
- Preciso de um favor...- Ela começou, um pouco sem jeito.
- Qual seria?
- Uma cliente minha foi vítima de violência doméstica, mas não quer registrar ocorrência...- Ela suspirou.- Mas queremos fazer o exame de corpo de delito e registrar as informações, caso seja necessário no pedido de divórcio.
-Tudo bem, eu posso fazer isso, mas tem que ser agora de manhã. Tenho um trabalho importante mais tarde!
- Ótimo! Estamos em Monmouth, já estamos a caminho.
— Estou esperando por vocês.
— Muito obrigada, irmãozinho.
— Você me paga depois. — disse, sorrindo ao desligar.
Saí da sala e encontrei me esperando.
- , eu não vou conseguir ir. Surgiu um imprevisto.
- Sobre o caso das meninas?
- Não! Um caso envolvendo uma cliente da minha irmã.
- Ah, sim. Eu vou lá e trago o seu café.
- Obrigado.- agradeci antes de ir até a sala de exames.
No elevador, encontrei o chefe Thompson, que estava subindo para sua sala. Cumprimentei-o brevemente e avisei que estaria na sala de exames, caso ele precisasse de mim ou se chegassem as autorizações que eu tanto esperava.

{…}

A sala de exames parecia o ambiente mais frio daquele prédio, e não era só pelo ar-condicionado. As paredes brancas, os móveis claros, a maca metálica... Tudo ali tornava a sala ainda mais fria e menos aconchegante.
Não costumo vir a essa sala, muito menos fazer esse tipo de trabalho, mas como era um pedido de , não pude negar ou recusar.
Estava ajustando a câmera para tirar fotos quando alguém bateu na porta.
- Bom dia! - disse assim que me viu abrindo a porta.
- Bom dia!- respondi, dando espaço para que ela e a outra mulher pudessem entrar.
- , este é meu irmão, . Ele vai fazer o seu exame. , esta é minha cliente, .- nos apresentou, e eu estendi a mão para cumprimentar a mulher, que parecia desconfortável.
- Prazer, . Você tem alguma dúvida sobre o procedimento?- perguntei.
- Não, não.- ela respondeu.
era a mulher que eu tinha visto dias antes no escritório de . Quando a encontrei pela primeira vez, ela estava linda, muito bem-vestida e com um perfume marcante, mas hoje estava diferente. O perfume ainda estava presente, ela continuava bem-vestida, mas sua aparência era cansada e triste.
- Certo, vou começar te fazendo algumas perguntas.- disse, indicando o pequeno sofá para que ela pudesse se sentar.- Seu nome completo e idade?
- , 34 anos.
- Casada?
- Estou me divorciando.
- Profissão?
- Médica.
- Conhece o seu agressor? Se sim, quem é?
- Conheço, é meu ex-marido, .
- Você sofreu agressão física? Sexual?- perguntei, parando de digitar e olhando-a.
- Física.- Ela gaguejou um pouco, parecia nervosa.
- Pronto, terminei as perguntas iniciais. Agora vou precisar tirar algumas fotos dos seus machucados e medir algumas lesões.- disse, e ela apenas confirmou com a cabeça.
Saí para pegar a câmera e deixei e conversando. Quando voltei, já estava sentada em uma cadeira, sem suas roupas de frio.
- Onde estão as lesões?- perguntei.
- Nos braços e na parte interna da boca.- ela respondeu.
- Vamos começar com as dos braços.
Comecei tirando fotos das marcas roxas nos braços dela. Os hematomas tinham marcas e formatos de dedos. O cara que fez isso definitivamente colocou uma força quase sobre-humana na pele clara da mulher. Após tirar as fotos, medi as lesões. A mão daquele homem era grande.
Com todo o cuidado possível, tirei fotos dos machucados na parte interna da bochecha de . Era impossível medir as lesões ali, mas colhemos um pouco de material para provar que houve sangramento, mesmo que pequeno.
- Acabou? — perguntou enquanto eu guardava o swab.
- Só preciso fazer mais algumas perguntas. Prometo ser rápido.
- Tudo bem!
- , você quer alguma coisa? Uma água, um café?- perguntou enquanto colocava o blazer de volta.
- Só uma água.- ela forçou um sorriso.
- E você, ?
- Um café.- forcei um sorriso amarelo.
saiu, me deixando a sós com .
- Preciso que você me conte como foi a agressão.
- Então...- Ela soltou um longo suspiro.- Eu estava em casa, tinha acabado de sair do banho quando o chegou. Ele tocou a campainha várias vezes até que eu abrisse... Ele estava muito nervoso, jogou os papéis do divórcio em mim, me segurou com força e me ameaçou.- ela disse com lágrimas nos olhos.
- Ameaçou?
- Sim! Ele ameaçou fazer da minha vida um inferno... Disse que não assinaria o divórcio.
- Ele te ameaçou de algo mais grave?- perguntei enquanto entrava na sala com dois copos de café e uma garrafa de água.
- Não especificamente.- pegou a garrafa.
- Certo... Você tem certeza de que não quer registrar o boletim de ocorrência?- perguntei, tomando um gole do meu café.
- Tenho... Tenho medo de que o fique ainda mais irritado.
- Você não precisa ter medo. Pode pedir uma medida protetiva.- sugeriu.
- Eu sei... Mas realmente não quero.
- Tudo bem, é uma escolha sua.- disse, olhando diretamente para ela, que apenas acenou.
- Terminamos?- perguntou.
- Sim, terminamos!- respondi, levantando-me.- Se vocês mudarem de ideia ou precisarem de qualquer coisa, podem me procurar.- disse já ao lado da porta.
- Muito obrigada, detetive .- agradeceu formalmente.
- Não precisa agradecer, senhora .- chamei-a pelo último nome, já que ela ainda não havia formalizado o divórcio.
- Bom, já vamos indo.- se aproximou e me deu um beijo rápido no rosto.- Mais tarde eu te ligo. Tchau.
- Tchau, .
Observei as duas andando pelo corredor e só entrei novamente depois que elas entraram no elevador. Voltei para o computador, ainda faltava registrar alguns detalhes no laudo do exame.

{…}

Terminei o laudo em cerca de 30 minutos. não tinha muitos machucados, mas os que tinha já eram suficientes para colocar aquela filho da puta na cadeia por pelo menos cinco meses, sem direito a fiança. Mas é uma pena ela não querer registrar a ocorrência.
Durante todo o meu tempo de trabalho na polícia, nada me incomodou tanto quanto casos de violência doméstica, especialmente depois de .
Como uma pessoa diz amar a outra e no mesmo momento é capaz de machucá-la? Matá-la? Deixá-la viver infeliz? Eu realmente não consigo entender como funciona a cabeça de um filho da puta desses.

{…}

Saí da sala de exames e fui direto para o meu escritório. Quando entrei, estava sentado à minha mesa, mexendo no celular.
- Demorei muito?- perguntei, fechando a porta atrás de mim.
- Não. O seu café está ali na mesa.- ele respondeu, apontando para o copo de café.
- Obrigado.- agradeci, sentando-me à frente do computador.
- Como foi lá?
- Tranquilo... Uma pena que a vítima não quis registrar o boletim de ocorrência.- suspirei, tomando um gole do café.- E você, alguma novidade? Chegou o nosso pedido?
- Na verdade, sim. — ele disse, pegando um papel em cima da mesa.
- Já podemos ir?- Perguntei enquanto lia as informações.
- Podemos.- Disse ele se levantando.
Peguei meu casaco, meu distintivo, minha arma e meu coldre, enquanto fazia o mesmo.

{…}

- A casa é meio longe... Coisa de 18 km. - disse enquanto caminhávamos pelo pátio em busca de uma viatura descaracterizada.
- Você dirige. - Disse, jogando as chaves para ele.
- Eu dirijo agora, mas a volta é com você. - Ele respondeu rindo.
- Então eu prefiro dirigir agora!
- Tarde demais. - disse, entrando pela porta do motorista enquanto sorria.
- Aff! - Disse, entrando e me sentando ao lado dele.
O caminho até a casa do suspeito foi tranquilo. passou a maior parte do tempo em silêncio, focado na estrada.
estava se mostrando ser um cara gente boa, um bom policial, e estou tentando lidar com isso.
Não é que eu não goste dele, mas para mim é complicado trabalhar com outros policiais, dividir funções, lidar com conflitos de opinião, etc.
Na maior parte do meu trabalho, atuei sozinho, resolvendo vários casos que estavam arquivados há anos, o que me fez desenvolver uma certa relutância.
Durante o caminho, perdi-me em pensamentos, imaginando as perguntas que faria para o desgraçado do Douglas Jackson e o que precisaria fazer para que ele respondesse. Mas uma parte de mim ainda pensava na mulher que havia atendido mais cedo, .

{...}

- , chegamos! - me deu dois leves tapas no peito para me tirar do transe.
- Ah, foi mal! Estava distraído.
- Sério? Nem percebi! - brincou.
A casa era simples, com paredes pintadas de um amarelo desbotado, uma cerca baixa pintada de branco e um quintal com a grama por cortar.
- Não parece ser a casa de um criminoso. - Wilian me olhou.
- Nem sempre as aparências revelam tudo. - Disse enquanto caminhávamos até a porta.
Dei três leves batidas na porta, mas ninguém respondeu. Tentei novamente, sem sucesso.
- Tente mais uma vez. Vou olhar as janelas. - Disse para .
- Certo! - Ele respondeu enquanto eu me afastava.
Coloquei minha arma em punho enquanto olhava cada janela da casa. As cortinas estavam fechadas, mas ainda dava para ver algo através delas.
Consegui ver uma sombra no andar de cima. Alguém estava ali, com certeza.
- Nada? - Perguntei ao me aproximar de .
- Não. - Ele respondeu.
- É a POLÍCIA! ABRA A PORTA! - Disse, batendo forte na porta.
Em questão de segundos, a porta foi aberta por uma senhora de cabelos grisalhos.
- Desculpe a demora... Estava lá em cima. - Ela arregalou os olhos ao ver a arma na minha mão. - Em que posso ajudá-los?
- Boa tarde! Somos policiais e estamos atrás de Douglas Jackson. - disse amigavelmente, abaixando minha arma com uma mão e mostrando seu distintivo com a outra.
- Só pode ser brincadeira. Meu Doug não fez nada!
- Senhora, a senhora realmente acha que estamos brincando? - Perguntei, sem paciência.
- Não é isso... É que é impossível o Doug estar envolvido em algo errado.
- Não é o que dizem nossas provas e a ficha criminal dele.
- O Douglas está acamado há três anos. - A senhora suspirou.
- Como? - perguntou para confirmar.
- Entrem, por favor. - A senhora disse, afastando-se da porta para que pudéssemos entrar.
Entramos na casa, e ela nos guiou até a sala de estar, onde nos sentamos.
- Então... - Disse, dando a deixa para que ela começasse.
- Meu filho mais velho, Douglas, está em estado vegetativo há três anos. Ele se envolveu em um roubo e acabou sendo baleado pelo segurança da loja.
- E em qual hospital ele está no momento? - perguntou.
- Ele está aqui. Conseguimos trazê-lo para casa seis meses após o acidente... Vocês podem vê-lo. - A senhora apontou para o andar de cima.
- Eu gostaria. - Disse, assentindo.
A senhora Jackson nos levou até o segundo andar, mais precisamente ao último quarto do corredor.
No quarto, vi um homem de aproximadamente 35, 40 anos, deitado em uma maca e ligado a vários tubos e a um respirador.
- É complicado vê-lo assim... Todos os dias. - A mulher disse, com os olhos cheios de lágrimas, enquanto acariciava os pés do homem.
- Eu posso imaginar. - tentou ser compreensivo.
- Senhora Jackson, eu entendo que é difícil, mas realmente preciso colher as digitais do seu filho. - Disse, olhando-a sério.
- É realmente necessário?
- Sim! Os dados dele estão envolvidos em dois casos de desaparecimento.
- Mas... - Ela parecia não entender.
- Precisamos seguir todos os protocolos. - Wilian explicou com todo o tato.
- Tudo bem então. - A mulher concordou, e comecei a coleta com o pequeno kit de papiloscopia que havia trazido.

{...}

A coleta foi rápida e tranquila; em cerca de 5 minutos, já estávamos de volta à sala.
- Senhora Jackson, a senhora sabe se alguém tem acesso ao celular antigo do Douglas ou aos documentos dele? - Perguntei.
- O celular dele foi apreendido pela polícia e eu nunca fiz questão de pegar de volta. Quanto aos documentos, só eu e meu outro filho temos acesso.
- Outro filho? - perguntou, me olhando.
- Sim. Kevin é meu filho mais novo.
- Ele poderia ter pegado os documentos do irmão para cadastrar um número novo?
- Do Kevin, espero tudo... Aquele menino sempre foi meu maior desgosto!
- Como assim?
- Doug sempre me deu trabalho, mas Kevin sempre deu o dobro. Ele está desaparecido há uns quatro meses. - Assim que ela disse isso, eu e nos entreolhamos.
- A senhora não tem ideia de onde ele possa estar?
- Não! Ele sempre foi assim... Some por meses e, quando acaba o dinheiro, volta.
- Isso costuma demorar quanto tempo? - Perguntei, anotando.
- Não tem um tempo certo... Já sumiu por um ano, por dois meses... Por aí vai.
- A senhora poderia nos dar uma foto, o número de celular... Algo que possa nos ajudar? - pediu, e a senhora acenou positivamente.
- Claro, claro. Nunca compactuei com nada de errado que meus filhos fizeram na vida... Tudo o que mais quero é que Kevin tome um rumo e não acabe como o irmão. - A tristeza era visível nela.
- Muito obrigado, senhora Jackson. - Wilian agradeceu, e eu apenas assenti.

{...}

A mulher subiu e voltou depois de alguns minutos com algumas fotografias e um pequeno papel.
- Aqui está o que posso oferecer para vocês... Ele não deixou nada em casa que possa servir como pista ou ajudar de alguma forma.
- Isso está ótimo, senhora. Sua ajuda será muito útil.
- Espero realmente ter ajudado. - Disse ela, abrindo a porta para que pudéssemos sair.
- Obrigado! - Eu e dissemos juntos.
Wilian e eu seguimos para o carro em silêncio. Estava óbvia nossa frustração. Estamos novamente na estaca zero.
- É a sua vez! - Wilian jogou as chaves para mim, e eu apenas as peguei, dirigindo-me ao lado do motorista.
O caminho de volta foi basicamente como o da ida: nós dois em silêncio, exceto pelo som do rádio e por termos trocado de lugar. Por mais que eu esteja dirigindo agora, ainda estou perdido em meus pensamentos e em minhas frustrações.

Capítulo 11

P.O.V :


Os primeiros raios fracos de sol do dia entravam pela minha janela, atingindo levemente o meu rosto, causando um pequeno desconforto. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, precisaria me levantar.
Nunca o cansaço físico havia me vencido, mas, neste momento, eu me sentia destruída, derrotada pelo meu próprio cansaço mental.
A noite retrasada e o dia anterior tinham sido extremamente complicados. A briga com , que escalou para uma agressão, o procedimento na delegacia — por mais que não tenha sido invasivo e por mais que o irmão da tenha sido atencioso e compreensivo — tudo isso havia sido demais para mim.
Virei-me na cama mais algumas vezes e, ao olhar as horas, vi que já passava das 8h30. Agradeci mentalmente por estar de folga. Eu claramente não conseguiria enfrentar um plantão na situação em que me encontrava.
Levantei-me. Não podia passar mais um dia inteiro deitada, remoendo tudo o que havia acontecido nos últimos dias. Eu precisava seguir em frente, enfrentar de peito aberto toda essa situação, por mais difícil que fosse.
Comecei o dia tomando um banho quente, deixando que a água levasse toda a minha tensão ralo abaixo.
Já devidamente vestida e com os cabelos penteados, fui comer algo, já que no dia anterior passei praticamente 24 horas à base de Snickers e café.
Estava na mesa da cozinha, comendo algumas panquecas enquanto lia algumas mensagens.
", só para te avisar, já entrei com o pedido da ordem de restrição. Deve ser concedida nas próximas 24 horas. Qualquer coisa, me avise.” — havia mandado essa mensagem ontem à tarde, mas eu não tive cabeça nem para ler, quanto mais para responder.
“Muito obrigada, . Isso me traz um grande alívio!” — Respondi e segui para a próxima mensagem, que era de .
“Amiga, a me contou o que aconteceu. Como você está? Quer conversar? Posso passar aí depois do trabalho.” — A mensagem de tinha sido enviada hoje, bem cedo.
“Oi, amiga. Eu estou bem, na medida do possível. :) Claro que você pode vir. Hoje estou de folga e estarei em casa no horário em que você sair.” — Respondi.
Abri a última conversa, que continha duas mensagens da minha mãe.
“Bom dia, meu amor! Espero que você tenha conseguido dormir bem, apesar de tudo.
” “Filha, eu e seu pai estamos esperando você para o almoço hoje. Não quero que você passe o dia todo sozinha.” — Suspirei fundo ao ler a última mensagem.
“Bom dia, mãe! Irei para o almoço, sim! Devo chegar por volta das 12h30.” — Respondi, bloqueando meu celular logo em seguida.
Terminei meu café da manhã e segui para a sala, com a intenção de assistir algo na TV, mas aquele sol fraquinho lá fora me chamou a atenção.
Abri um pouco a janela e deixei o vento frio entrar. O dia estava bonito—sol fraco, céu um pouco acinzentado, vento frio, e um clima agradável.
Olhei ao redor do apartamento e decidi que não passaria o resto da manhã ali. Calcei meus tênis, vesti um casaco quentinho e segui para uma caminhada no parque próximo ao meu prédio.
.
{…}.

A tranquilidade que eu tanto procurava transparecia naquele local. As árvores, despidas de suas folhas, erguiam-se como silhuetas contra o céu acinzentado e pouco iluminado, suas sombras longas estendendo-se pelo gramado. Poucas pessoas passeavam por ali, a maioria encolhida em seus casacos, caminhando rapidamente para espantar o frio. No entanto, eu continuei em um ritmo mais lento, permitindo-me sentir o ar frio encher meus pulmões a cada respiração.
Eu seguia por um caminho de pedras que serpenteava entre canteiros adormecidos e bancos vazios, onde algumas aves destemidas se empoleiravam, agitando as asas contra o vento gelado. O som dos meus passos era suave, quase abafado pela grama úmida, enquanto meus pensamentos flutuavam entre o presente e o passado.
Caminhei por mais alguns minutos até encontrar um lugar tranquilo, longe das poucas pessoas que estavam presentes.
Sentei-me em um banco frio e me perdi em pensamentos enquanto observava os poucos passarinhos que estavam ali, em busca de algo para comer.
É interessante pensar em como aqueles passarinhos, tão acostumados a voar livres, também enfrentam momentos de extrema vulnerabilidade. Eles não têm controle sobre o tempo, sobre o frio que os deixa mais lentos, ou sobre a escassez de alimentos que o inverno traz. Mesmo sendo feitos para voar, para alcançar o céu.
No fundo, sei que todos nós somos como passarinhos: temos que enfrentar os invernos da vida. Os períodos de frio, de dificuldade, de solidão. E, como eles, sei que nem sempre sairemos ilesos. Há uma fragilidade inevitável em ser humano, em sentir, em querer viver plenamente. E, assim como alguns dos pássaros ali no parque, sei que talvez eu não sobreviva ilesa a todas as tempestades.
.
{…} .

- Noah, não corra!- Fui tirada dos meus pensamentos pela voz de uma mulher falando em tom alto e pela imagem de um menininho correndo à minha frente.
- Bom dia!- A mulher passou por mim e me cumprimentou.
- Bom dia!- Respondi, percebendo que já estava ali há horas.
Levantei-me e segui o mesmo caminho de pedras até a saída do parque, mas dessa vez com passos mais rápidos e pensamentos mais leves. Aquelas horas de reflexão me fizeram muito bem.
Cheguei ao meu apartamento apenas para pegar as chaves do carro e seguir para a casa dos meus pais, mas acabei não as encontrando no lugar onde sempre as deixava.
- Droga!- Murmurei para mim mesma enquanto revirava as coisas na bancada da cozinha. - Onde deixei essas chaves, hein?.
Coloquei as mãos na cintura enquanto olhava por cima de cada móvel da sala, até que finalmente as encontrei em cima do sofá, junto com a bolsa e as outras coisas que havia usado ontem.

{…}

Entrei no carro, ajustando o espelho retrovisor e dando partida, seguindo para a casa dos meus pais enquanto agradecia a Deus pelo movimento fraco nas ruas de Londres.
Ao virar a esquina, pude ver o grande portão e o jardim bem cuidado da casa dos meus pais. Apertei o interfone e, logo em seguida, o portão foi aberto para que eu pudesse entrar.
Estacionei o carro na entrada, desliguei o motor e fiquei ali por um momento, pensando em como seria lidar com meu pai naquela situação. Sei que, dentro daquela casa, encontraria o apoio e o amor de que precisava, mas também sei que teria que contar meu lado da história.
Antes mesmo de sair do carro, vi minha mãe saindo pela porta principal e vindo ao meu encontro, então saí para poder abraçá-la.
- Oi, meu amor.- disse ela, me abraçando e afagando meus cabelos.
- Oi, mãe.
- Como você está?- Ela me soltou do abraço para me ver melhor.
- Bem... Eu acho.- Forcei um sorriso.
- Vem, vamos entrar.
Entramos juntas naquela casa enorme onde morei por alguns anos. Estava tudo em silêncio, exceto pelo barulho vindo da parte de trás da casa, onde provavelmente as empregadas estavam trabalhando.
- Cadê o papai?- Perguntei assim que não o encontrei na sala.
- Ele foi resolver algumas pendências da clínica, mas volta para almoçar conosco.
- Hm.
- Mas, filha, me diz como você está com tudo isso? Como foi com sua advogada ontem?- Minha mãe perguntou enquanto se sentava em uma poltrona ao meu lado.
- Ah, mãe, estou confusa e com um pouco de medo.- Admiti, mais para mim mesma do que para ela. - Eu até estava bem, aceitando o processo de divórcio, mas o que o fez naquele dia... Isso me deixou assustada! Ele me mostrou um lado dele que eu nunca tinha visto em todo esse tempo.
Nesse momento, me peguei pensando: Será mesmo que ele nunca havia mostrado esse lado agressivo, ou eu sempre me fiz de cega para certas atitudes dele? Essa é uma pergunta que não consigo responder para mim mesma.
- Filha, tem coisas que as pessoas escondem até mesmo de si mesmas, quem dirá do parceiro.
- Eu sei, mas é tão estranho... Parece que eu não conhecia meu próprio marido.
- Às vezes me pego pensando a mesma coisa...- Minha mãe disse em um tom mais baixo, enquanto encarava a grande janela que dava para a entrada principal.
- Você e o papai estão passando por algo?.
- Não vamos falar sobre isso agora.- Ela voltou a olhar para mim. -Como foi com a advogada?.
- Foi tranquilo... Ela me acompanhou para fazer o exame de corpo de delito e registrar as provas. Hoje de manhã, ela entrou com o pedido de medida protetiva contra o ... Agora é esperar as próximas 24 horas.
- Você fez muito bem em aceitar a medida. Não sabemos o que ele pode vir a fazer.
- Eu sei, nunca imaginei que ele pudesse fazer o que fez.- Suspirei.
Continuamos nossa conversa por mais uns 15 minutos, até que fomos interrompidas pela porta se abrindo e meu pai entrando por ela.
! — disse ele assim que me viu. Levantei-me imediatamente.
- Oi, pai.- Fui até ele e o abracei. - Como o senhor está?
- Bem... mas decepcionado- respondeu ele, colocando a pasta em cima de um aparador.
- Como?- perguntei, encarando-o com uma sobrancelha arqueada.
- É isso mesmo que você ouviu. Estou decepcionado com toda essa história, assim como você.
- O senhor só pode estar brincando, né?- perguntei, incrédula.
- , como você decide acabar um bom casamento de oito anos assim, do dia para a noite?
- Pai... Aquilo não era um bom casamento, não para mim! E não foi do dia para a noite- respondi, com a voz tingida de raiva e dor.
- Tem coisas que precisam ser relevadas em uma relação. Precisa haver diálogo antes de tomar uma decisão tão drástica- ele insistiu, como se eu estivesse sendo precipitada.
Andei de um lado para o outro, tentando processar o que ouvia. Não podia acreditar que aquelas palavras estavam vindo do meu pai. A raiva começou a ferver dentro de mim.
- Eu sei que o veio aqui choramingar para o senhor, mas eu realmente pensei que, pelo menos uma vez na vida, o senhor pudesse me dar o benefício da dúvida. Que, pelo menos nessa situação, ficaria do meu lado.
- Eu não vou ficar do seu lado só porque você é minha filha. Vou ficar ao lado de quem está certo! Ele errou, mas quem não erra? Quem não merece uma segunda chance na vida?
Cada palavra era um golpe, maior que o anterior. Meus olhos se encheram de lágrimas, e minha mãe, até então em silêncio, olhava para nós com os olhos arregalados, incapaz de intervir.
- Tá certo... Uma pessoa trai a própria esposa, engravida a amante, usa o dinheiro da família dela para sustentar a amante e o bebê, abusa psicologicamente dessa esposa, e, por último...- parei, minha voz tremendo enquanto tirava o casaco pesado e a blusa de frio para expor os hematomas em meus braços - a agride quando ela tenta botar um ponto final em tudo isso. Essa pessoa é quem merece uma segunda chance, pai?
Minha mãe começou a chorar, e meu pai ficou pálido ao ver os vergões roxos que marcavam minha pele.
- O fez isso?- ele perguntou, apontando para os meus braços, a voz vacilante.
- Fez, e teria feito muito mais se eu não tivesse me imposto- respondi, vestindo novamente as roupas.- Mas deve ser muito difícil para o senhor acreditar que o seu tão querido genro seja um merda.
- , não é bem assim…
- Vai dizer que ele tinha os motivos dele? Que estava nervoso e que a culpa também é minha?- perguntei, pegando minha bolsa, o coração pesado.
- Filha, você vai para onde?- minha mãe perguntou, vindo até mim, ainda em choque.
- Para minha casa, já que eu não tenho nem ao menos o benefício da dúvida aqui.- Olhei diretamente para meu pai, que estava calado, incapaz de sustentar o meu olhar.
Não disse mais nada, apenas saí, com minha mãe me acompanhando até a porta.
- Você vai dirigir assim, nervosa desse jeito?
- Eu estou bem, mãe.
- Não para dirigir. Vou chamar o motorista para te levar em casa.
- Não precisa. Eu consigo ir sozinha, não se preocupa.
- Certeza?
- Absoluta.- Forcei um sorriso, embora minha vontade fosse chorar.
Abri a porta do motorista e joguei minha bolsa no banco ao lado, mas antes que pudesse entrar no carro, minha mãe segurou meu pulso, o toque suave, mas cheio de preocupação.
- Filha, eu nem imaginei que seu pai pudesse reagir assim. Estou tão chocada e chateada quanto você.
- Eu sei, mãe. Eu já sabia que ele não aceitaria ou reagiria bem ao divórcio, mas não pensei que ele seria tão incompreensível assim.
- Às vezes, seu pai me surpreende tão negativamente.
- Não só a senhora, mamãe- disse, sentando-me no banco do motorista e ligando o motor em seguida.
- Me perdoa, filha. Eu não queria que você passasse por mais isso.
- Tá tranquilo, mãe. A senhora não tem culpa de nada.
- Eu te amo!
- Eu também te amo!- respondi, dando partida no carro e saindo daquela casa, com o peito apertado e os pensamentos confusos.
Fiz todo o caminho de volta no automático, sem prestar atenção em quase nada, só na pista à minha frente.
Ao chegar ao meu apartamento, deixei a chave na mesinha de entrada e tirei os sapatos sem sequer me preocupar com a bagunça que se formava no chão. O ambiente ao meu redor estava quieto demais, opressivo demais, mas ao mesmo tempo, era um alívio estar sozinha. O peso das expectativas e dos julgamentos dos outros, mesmo da minha própria família, ficava do lado de fora da porta.
Passei o dia tentando me distrair com atividades simples. Lavei a louça que estava acumulada, organizei algumas coisas que estavam fora do lugar, mas nada parecia ser suficiente para afastar os pensamentos dolorosos. A imagem do meu pai, desapontado, continuava a me atormentar, não por ter o deixado assim, mas pela falta de apoio e compreensão da parte dele.

{…}

Já era quase oito da noite, e eu estava em casa, preparando uma tábua de frios enquanto esperava o vinho gelar. deveria chegar em menos de 30 minutos, como havíamos combinado mais cedo. Com tudo pronto, corri para tomar um banho rápido e, em menos de 20 minutos, já estava pronta, esperando por ela.
Liguei a televisão e tentei me distrair com algum programa enquanto aguardava, mas não demorou muito até que a campainha tocasse.
- Oi, amiga.- disse ao abrir a porta.
- Oi, amiga. Como você está? - perguntou, me abraçando.
- Bem, apesar dos dias difíceis.
- Posso imaginar... Estou aqui para conversar, ouvir tudo o que você tem a falar.
- Obrigada- agradeci, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. - Vem, entra- disse, puxando-a pela mão.
se sentou no sofá enquanto eu servia duas taças de vinho e levava os petiscos que havia preparado.
- Como foi o dia?
- Complicadíssimo...- comecei a contar tudo o que havia acontecido mais cedo na casa dos meus pais, incluindo o que aconteceu comigo e com . Contei tudo, sem deixar nada de fora.
- Amiga, eu quero que saiba que você pode contar comigo para tudo. Independente da situação, estarei ao seu lado sempre!
- Obrigada, amiga. Saber que posso contar com você é um grande alívio.
- Nós sempre fomos assim, não seria agora que mudaria- disse, sorrindo.
- Mas mudando de assunto... Como estão as coisas entre você e a ?- perguntei, buscando um assunto mais leve.
- Estão indo bem. Na verdade, está indo muito bem, . É estranho, sabe? Parece que estamos juntas há muito mais tempo do que realmente estamos.
- Isso é um bom sinal, não é? Quando as coisas fluem assim.
- Sim, é um ótimo sinal- riu, mas havia uma pontinha de incerteza em seu tom. - Mas também me assusta um pouco. Às vezes, fico pensando se não estamos indo rápido demais. Estamos juntas há o quê... dois, três meses?
- Por aí- confirmei. - Mas o que te preocupa?
- É que... nunca me senti assim antes. Com ninguém. E é assustador, porque é como se tudo que eu quisesse fosse estar com ela o tempo todo. E ao mesmo tempo, fico me perguntando se estou sendo irracional, se não estou me jogando de cabeça em algo que pode acabar me machucando.
Eu a ouvi atentamente, entendendo bem o que ela sentia.
- , você precisa seguir o que sente. Não adianta tentar prever o futuro. Se você está feliz, aproveite isso. E se algo der errado... bem, você vai lidar com isso, como sempre fez.
assentiu, pensativa.
- é incrível. Ela me faz sentir segura, sabe? Como se eu pudesse ser eu mesma, sem máscaras.
- Isso é o que importa- disse, sorrindo. - E você merece isso, . Não deixe o medo te impedir de ser feliz.
- Eu sei, é só... acho que tenho medo de perder isso, de estragar tudo. Mas você está certa. Não adianta ficar me preocupando com o que pode acontecer. Vou aproveitar o agora.
- Exatamente – concordei. - E eu estarei aqui para te apoiar, não importa o que aconteça.
me olhou com gratidão e, por um momento, o peso do dia pareceu mais leve. Ela sempre teve esse efeito sobre mim, de me fazer sentir que, apesar de tudo, as coisas poderiam ficar bem. E eu estava feliz por ela, por ter encontrado alguém que a fizesse sentir assim, mesmo que ainda houvesse incertezas.

{…}

Já estávamos na metade do vinho quando sorriu sem graça, parecendo um pouco nervosa, enquanto mexia no cabelo.
- Ah, tenho uma novidade... quer que eu conheça o irmão dela. Vai ser um jantar no sábado, nada muito formal. E eu queria que você fosse comigo. Seria bom ter você lá, sabe?
Olhei para ela, surpresa, mas também tocada pelo convite.
- Tem certeza de que eu não vou atrapalhar? Parece algo importante entre vocês duas.
- Claro que não! Você é minha melhor amiga, . Além disso, acho que vai me ajudar a ficar menos nervosa - respondeu, soltando uma risada suave. - Vai ser ótimo. E disse que seria bom você ir também.
- Tudo bem... Mas, na verdade, eu já conheci o irmão dela.
- Sério?- perguntou, surpresa. - E como ele é? Vocês se conheceram onde?
- Ele é... simpático. Nós já nos trombamos em alguns lugares, mas só descobri que ele era o irmão dela ontem... Ele foi o policial que fez o meu exame.
- Ah, sim, tinha me contado sobre o fato de ele ser policial.
- Mas enfim, mesmo não estando no clima para grandes eventos sociais, eu vou, por você.
sorriu, aliviada.
- Eu entendo e agradeço. Mas quem sabe não seja bom para você? Uma noite diferente, com pessoas novas... Pode ser que te faça bem.
- Talvez- concordei, mais para tranquilizá-la do que por acreditar nisso. - Só espero que a comida seja boa.
Nós rimos juntas, e, por um breve momento, o peso da minha realidade pareceu mais leve. Mesmo que eu não estivesse empolgada para o jantar, o fato de querer minha presença significava muito para mim. E, por ela, eu faria esse esforço.
Seguimos conversando por mais algumas horas, mas foi embora por volta da meia-noite.
Arrumei a pequena bagunça que fizemos, coloquei as louças na máquina e fui me deitar, pois teria que acordar logo cedo para enfrentar mais um plantão na emergência do hospital.



Continua...



Nota da autora: alguns nomes estão em uso: Adam, Eva, April, Jason Hunt, Erick Potter, Edmund Thompson.

Nota da scripter: Nossa,serio que vontade de descer o liam na porrada kkkkkkkkkk.

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