These Days


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Última atualização:14/03/2024

“Eles se amam. Todo mundo sabe, mas ninguém acredita. Não conseguem ficar juntos. Simples. Complexo. Quase impossível. Ele continua vivendo sua vidinha idealizada e ela continua idealizando sua vidinha. Alguns dizem que isso jamais daria certo. Outros dizem que foram feitos um para o outro. Eles preferem não dizer nada. Preferem meias palavras e milhares de coisas não ditas. Ela quer atitudes, ele quer ela. Todas as noites ela pensa nele, e todas as manhãs ele pensa nela. E assim vão vivendo até quando a vontade de estar com o outro for maior do que os outros. Enquanto o mundo vive lá fora, dentro de cada um tem um pedaço do outro. E mesmo sorrindo por ai, cada um sabe a falta que o outro faz. Nunca mais se viram, nunca mais se tocaram e nunca mais serão os mesmos. É fácil porque os dias passam rápidos demais, é difícil porque o sentimento fica, vai ficando e permanece dentro deles. E todos os dias eles se perguntam o que fazer. E imaginam os abraços, as noites com dores nas costas esquecidas pelo primeiro sorriso do outro. E que no momento certo se reencontrem e que nada, nada seja por acaso.”

Capítulo 1

Eu estava sentada no meu quarto, observando pela janela as gotas de chuva que caíam simultaneamente. Ao fundo, a T.V anunciava as diversas teorias malucas sobre o fim do mundo. Eu disse maluca? Sim! Muito malucas. Não é que eu não acredite nessa história de que o mundo irá acabar, mas também não é que eu acredite... Só acho que o mundo está acabando aos poucos e que não vai ser nada como estão pensando os cientistas e religiosos, tipo o mundo acabando em fogo ou em água, ou em uma explosão, quem sabe.
Explosão... Explosão! Sabe, até que não seria uma má idéia o mundo explodir, eu estava tão cansada e esgotada carregando bagagens de problemas pesados da vida que seria fácil se as coisas simplesmente puff, explodissem.
Olhei para o relógio alguns instantes, e depois voltei minha atenção para a chuva que ainda caía insistentemente, molhando as diversas pessoas que passavam desprotegidas pela rua. Fechei os olhos, encostei minha cabeça no vidro da janela e tentei esvaziar a mente, mas era tão difícil e desgastante, pois toda vez que eu fazia isso, ou pelo menos tentava, as lembranças me vinham à mente, lembranças de um passado feliz, de amigos incríveis e de um amor perfeito.
As coisas haviam mudado desde os meus dezesseis anos, as pessoas haviam mudado, eu havia mudado, mas mesmo assim dois sentimentos em mim continuaram iguais a como eram quatro anos antes, o amor e o arrependimento... A consequência do amor era a saudade, e a consequência do arrependimento eram as noites mal dormidas que eu tinha quando acordava às 2hrs da manhã me perguntando onde ele estaria ou o que poderia estar fazendo. Tá certo que às 2hrs da manhã ele provavelmente estaria na casa dele dormindo, mas isso é só um detalhe.
Ouvi passos no corredor.
Toc... Toc... Toc…
Ao ouvir o barulho na porta, abri os olhos repentinamente e balancei a cabeça, a fim de espantar meus pensamentos.
– Pode entrar – eu disse, me levantando e indo para frente da penteadeira. Meu cabelo precisava ser penteado urgentemente, antes que ganhasse vida própria.
– Olá, querida, vim te chamar para o jantar – Minha mãe disse gentilmente, me observando da porta.
– Não estou com muita fome – respondi mecanicamente, enquanto pegava minha escova e passava pelos meus cabelos.
– Está começando de novo, – minha mãe disse, entrando no quarto e fechando a porta. Ela parou atrás de mim e pegou a escova das minhas mãos.
– Não sei do que você está falando – respondi.
– Sabe, sim... Você está de férias agora e com muito tempo livre, e não está se divertindo, você está parando de novo, eu não sei o que acontece com você – ela ia dizendo enquanto passava a escova pelos meus cachos, que caíam como cascata pelos meus ombros.
– Só estou descansando, mãe.
– Não é só isso, toda a vez que você fica com muito tempo livre você acaba se apagando, é como se lembrasse de algo que a congelasse no tempo.
Essas palavras que ela disse me cortaram gelidamente. Respirei fundo e comecei a mexer nas maquiagens esparramadas na minha frente, tentando não olhar pro espelho. Era mais fácil mentir quando não se encarava as pessoas.
– Impressão sua, mãe, eu estou bem – respondi, soltando um sorriso em seguida.
– Tudo bem, querida. – Ela não parecia muito convencida, mas não podia fazer mais nada por ora. – Vou descer e te espero lá embaixo em cinco minutos, ok? Já vou servir o jantar. – Ela me entregou a escova e saiu por fim.
Mamãe estava certa. Era como se eu estivesse congelada no tempo, vivendo de pura inércia. Terminei de me arrumar calmamente, evitando qualquer tipo de pensamento que pudesse aparecer agora, espirrei perfume e me levantei, desligando finalmente a T.V que já estava me irritando de tanto noticiar sobre o fim do mundo. Fala sério, se eles acreditassem mesmo no fim do mundo iriam aproveitar o tempo que ainda tinham, e não ficar aí, relatando fatos de uma população que já morreu havia séculos.
Saí do quarto, fechando a porta atrás de mim quando ouvi a campainha tocar. Parei e esperei, e segundos depois risos invadiram o andar de baixo, animação! Eu conhecia muito bem aquela risada, e ao ouvi-las um sorriso enorme apareceu no meu rosto como mágica, e disparei pelo corredor, descendo as escadas rapidamente.
! – gritei assim que a vi toda molhada por causa da chuva, mas com o mesmo olhar de sempre, cheio de vida.
! – Ela disse, vindo ao meu encontro no pé da escada e me abraçando, sem se importar se me molharia ou não, e quer saber? Realmente não importava, ela poderia me molhar o quanto quisesse, eu tinha tanta saudades.
– Minha nossa, como você está linda – ela dizia enquanto mexia no meu cabelo. – E que peitões, hein? – disse com seus típicos sorrisos maliciosos e divertidos, e foi quando meu pai pigarreou. – Desculpe, senhor Carter, como vai? – ela falou, se dirigindo a ele.
– Eu vou bem, , e você, querida?
– Eu também – ela respondeu, e realmente estava bem. Ela irradiava alegria.
– O que você está fazendo aqui? – perguntei.
– Nossa, eu venho ver você e é isso que eu recebo, ? Um “o que você está fazendo aqui?” – ela disse, tentando se mostrar o mais dramática possível, e depois logo caiu na gargalhada.
– Sua tonta, sabe que estou brincando – eu falei, abraçando-a. – Vamos pro meu quarto, você precisa trocar de roupa.
– Sim senhora! – ela disse rindo, pegando sua mala. E então subimos.

Capítulo 2

era minha melhor amiga desde o ensino fundamental. Nos conhecemos em um passeio no museu de história natural, éramos da mesma turma, porém parecíamos habitar um mundo totalmente diferente, até que a professora de história, Rachel, nos sorteou para um trabalho em dupla, e, ah, fomos uma ótima dupla; aliás, SOMOS uma ótima dupla. Ela era espontânea e extrovertida, tinha a alegria como o que há de mais importante na vida. Fizemos loucuras no ensino médio e tínhamos muitas histórias para contar. Depois do ensino médio, foi para a Columbia, em NY, cursar Biologia, e eu havia ficado em Londres cursando direito. Mas nada disso importava no momento, agora ela estava ali.
– Vai ficar aí me olhando, é? – ela perguntou enquanto trocava de blusa. – Eu sei que eu sou linda, mas não precisa me tarar.
– Como sempre convencida, realmente você não mudou nada – eu disse rindo. – E você não vai me contar porque está aqui? – perguntei com meu melhor olhar de “xeque-mate”.
– Eu infelizmente ainda não sei dizer se você mudou, e nem se mudar seria algo bom ou ruim no seu caso, mas enfim... Não posso querer visitar minha amiga nas férias? Desnaturada.
– Eu, desnaturada, ? – sorri. Apesar de saber o que ela queria dizer sobre mudanças, preferi ignorar. – Senti muito a sua falta!
– Eu também – ela disse, chegando perto e colocando algo em minhas mãos. Era uma pulseira de couro sintético branca, com as iniciais PSOF, que significavam “para sempre onde formos”. Usamos durante todo o ensino médio. Foi um presente dado pelo Dougie, nosso chaveirinho; era assim que chamávamos um dos nossos grandes amigos. Enquanto e eu formávamos uma bela dupla “sozinhas”, junto com ,, e formávamos uma equipe melhor ainda, e foi no verão de 2010 que havia nos dado a pulseira, depois de um show que ele e os meninos fizeram num pub pequeno de Londres.
Eles tinham uma banda chamada Mcfly, e eram ótimos, acreditem! Tocavam com a alma, com o coração e com todas as demais vísceras do corpo. Era verão e eles tinham conseguido um público legal e ganhado uma grana boa, e então, para comemorar, nós pegamos o carro e fomos para o apartamento do . Após algumas garrafas de tequila (e alguns amassos quentes da com o ), nos reuniu e fez um daqueles discursos emocionantes de orador de turma bêbado no final de formatura, e então nos entregou a pulseira, para que usássemos como uma lembrança daquele ano e dos anos anteriores, que foi tão especial para todos nós. E por algum tempo eu usei.
... – Eu tentei afastar minha mão, mas ela me segurava e não me deixava soltar a pulseira.
– Eu só achei que você podia voltar a usar, por favor – ela dizia, e isso soava como se ela estivesse implorando, o que era muito estranho vindo dela. – Pelo , pela gente e pelas lembranças.
– Eu tento me livrar das lembranças todos os dias, – eu respondi séria, e senti que meus olhos ardiam. Talvez fossem lágrimas.
, são tantas lembranças boas… – ela dizia docemente.
– Mas são as ruins que ainda me tiram o sono no meio da noite, que me fazem chorar, que me deixaram por meses sem ouvir uma música ou assistir um filme. Você não entende.
– Não, você tem razão, ... Eu não entendo, mas você sabe o que eu entendo? Que a nossa amizade e a dos meninos com a gente foi a coisa mais linda que já aconteceu. Poxa, ... vem cá, quero te mostrar uma coisa. – Ela me pegou pela mão e juntas nós nos sentamos no chão, perto da cama.
puxou sua mala para mais perto, era preta com bordados coloridos, bem do jeito que ela gostava. Ao abrir a mala, as roupas estavam todas reviradas, e ela revirou mais ainda quando por fim encontrou e retirou do fundo uma caixinha lilás, feita de madeira e artesanalmente.
– Pronto, achei você – ela disse sorridente, pegando a caixinha e fechando a mala.
– O que é isso? – perguntei curiosa, eu nunca tinha visto aquela caixa antes, mas ao mesmo tempo me parecia algo bem familiar.
– Minha caixinha da vida – ela disse pensativa, enquanto a olhava e passava os dedos por ela, como se sentisse ou pensasse em algo muito distante dali.
– Hum, interessante – eu respondi. – Mas ainda não sei exatamente o que é.
– Olhe – ela disse abrindo a caixinha –, aqui tem toda a nossa história, de uma forma resumida, digamos assim. – Ela me entregou a caixa aberta para eu mesma poder ver.
Fiquei em silêncio enquanto revirava seu conteúdo. Lá dentro tinha recibos de passagens antigas de quando íamos ver os meninos tocar nas cidades vizinhas, e cada recibo tinha uma data e o local do show, escritos em cor-de-rosa. Havia um colar de flores, que eu tinha certeza que era do baile da escola do nosso segundo ano; o tema fora Havaí, e eu mesma havia feito os colares. Tinha uma embalagem de chiclete que, segundo a , era o chiclete que o comprou quando os dois deram o primeiro beijo, bem romântico, né? E, ah, havia fotos... Muitas fotos. Peguei uma em que estávamos apenas eu e a , em uma daquelas montanhas russas em que uma máquina instalada tira fotos dos passageiros. E, olha, tenho que dizer, essa foto pegou nossa melhor pose, os cabelos todos bagunçados e a nossa careta seria capaz de espantar baratas, ratos e camundongos... Virei a foto e atrás estava escrito assim: “Por mais que a nossa barriga fique gelada, a emoção final vale a pena”. É, era eu quem havia escrito aquilo e dado a foto pra antes de ela se mudar. E agora eu me perguntava onde estava a que havia escrito aquilo... que pensava daquela forma.
– É, eu também sempre gostei dessa foto – disse, me dispersando do transe. – Olhe, tem mais no fundo.
Eu apenas assenti.
Retirei mais uma foto. Estávamos nós seis na praia, em uma viagem feita para o interior. estava de shorts e usando a parte de cima de um biquíni enquanto abraçava a , que ria enquanto o encarava. estava com uma garrafa de tequila e virava seu conteúdo na boca do , que estava ajoelhado ao seu lado, todo vermelho por causa do sol... e eu? Bom, eu estava montada de cavalinho nas costas do . Eu sorria e ele também. Ah, como éramos felizes juntos.
Senti meus olhos se encherem de lágrimas e então fechei a caixinha.
– Você não vai ver o resto? – perguntou enquanto tentava abrir a caixa novamente.
– Não, já vi o suficiente – eu respondi, tentando espantar as lembranças pra lá. – Vamos conversar, me conte como está indo em NY e as coisas que tem feito.
– Você sabe de tudo, conversamos todos os dias por e-mail – ela disse, fazendo a maior cara de óbvia.
– Eu sei, é que pessoalmente é mais emocionante – eu falei, dando uma piscadela pra ela, que começou a rir. Por alguns segundos rimos juntas, até ela ficar séria novamente.
– O que tem nessa sua cabecinha? – perguntei.
– Eu só estava pensando – ela disse enquanto mexia no zíper da blusa.
– Sobre?
– Você acredita no fim do mundo? – ela perguntou séria, me encarando.
– Não.
– Nem um pouco? – insistiu.
– Não... por um acaso você acredita?
– Não exatamente – ela fez uma pausa, tentando achar as palavras certas. – Só fico pensando que, se for mesmo verdade, eu devia usar o último dia como uma forma de fazer algo único.
– Único como? – perguntei curiosa.
– Fazer algo que me deixe muito feliz, fazer algo que eu nunca fiz ou....
– Ou?
– Acertar questões do passado.
– Ah, ... se você está insinuando que…
– Não estou insinuando nada, , só pensa comigo... Se o mundo acabar mesmo, você não gostaria de acertar as coisas? De viver um dia plenamente feliz de novo?
Fiquei quieta por algum tempo, mas eu sabia que ela iria continuar insistindo com aquilo, então achei melhor levá-la a sério e responder.
– Viver um dia plenamente feliz eu não sei, ... Mas eu gostaria de acertar as coisas – respondi olhando para ela, e ela sabia bem de que coisas eu estava falando.
– Foi por isso que eu vim, , pra acertarmos as contas antes que o “mundo acabe”.
– Mas o mundo não vai acabar, .
– Então finja que vai, oras...
– Parece que você quer usar o fim do mundo como uma desculpa pra consertarmos erros passados.
– Não como uma desculpa, e sim como um incentivo. Pensa nisso, .
– Tudo bem, eu vou pensar.

Capítulo 3

Depois da conversa que tivemos, ficamos conversando sobre coisas bobas e fúteis do dia a dia, como qualquer garota normal que não vê a amiga há tempos. Comemos o risoto de camarão que a minha mãe havia preparado e depois subimos novamente para o quarto, onde ouvimos músicas, cantamos e ainda assistimos “segunda chance para o amor”, ou seja, um filme bem sugestivo para o momento. Era pouco mais de 3 horas da manhã quando caiu de sono, literalmente, no meio de uma conversa sobre a diferença de preços de cosméticos, que estavam muito mais baratos nos Estados Unidos. E era óbvio que eu deixei bem claro que ia fazer uma listinha para ela me trazer todos na próxima vez que viesse me visitar. Ela estava cansada da viagem e por isso dormia como um neném. Eu tentei dormir, mas não conseguia, me revirei na cama por alguns minutos quando resolvi descer para comer. Assaltar a geladeira de madrugada era uma das minhas especialidades. Ao passar pela penteadeira, notei que a caixinha lilás da estava lá. Hesitei por alguns instantes, mas resolvi pegá-la. Fechei a porta em silêncio e desci para o andar de baixo.
Vasculhando a geladeira, achei um pedaço enorme de torta de chocolate cheinha de cerejas, só pra mim... Retirei o plástico e me sentei no balcão. Enquanto eu comia algumas garfadas, abri a caixinha novamente, passando os olhos e analisando o que eu já havia visto antes de deixá-los de lado. Mas lá no fundo havia mais fotos, e ah... Minha barriga gelou e eu perdi a fome, sendo tomada por uma espécie de ansiedade que eu não sabia de onde estava vindo. Retirei as fotos para vê-las e lá estava eu, com um vestido branco todo de renda, segurando uma taça de champanhe, e ao meu lado me beijava docemente na bochecha. Eu me lembrava bem daquele dia, havia tirado a foto, era ano novo de 2009 para 2010, e a festa era na casa do . Ao virar a foto, vi que tinha algo escrito, e era a letra do , nosso querido fotógrafo da noite. “ e – Eleitos por mim o casal do ano, e de todos os outros também.”
Ah, como será que aquela foto havia parado ali? Eu achei que a tivesse jogado fora. Mas não importava mais, pois eu tinha acabado de ver a foto que estava embaixo. Era minha e só minha. Cabelos soltos, maquiagem leve e um lindo sorriso, era uma foto apenas de rosto, e eu estava realmente muito bonita aos meus 17 anos. adorava aquela foto. Virei ela e vi a música... Aquela que ele havia escrito pra mim e que era tão linda. Fechei os olhos, e era como se eu pudesse ouvi-lo cantando, sim... Ele cantou pra mim aquela música numa tarde de primavera, sentados na varanda como o casal feliz que éramos.

Some people laugh, some people cry, some people live, some people die
(Algumas pessoas riem, algumas pessoas choram, algumas pessoas vivem, algumas pessoas morrem)

Some people run right into the fire… Some people hide their every desire
(Algumas pessoas correm direto para o fogo, algumas pessoas se escondem de seus desejos)

But we are the lovers if you don't believe me, then just look into my eyes 'cause the heart never lies
(Mas nós somos amantes e se você acredita em mim, então olhe dentro dos meus olhos porque o coração nunca mente)

Some people fight, some people fall …Others pretend they don't care at all. If you want to fight I'll stand right beside you, the day that you fall I'll be right behind you.
(Algumas pessoas lutam, algumas pessoas caem… Outras fingem não ligar pra nada. Se você quiser lutar, eu ficarei ao seu lado, no dia que você cair eu estarei bem atrás de você)

To pick up the pieces if you don't believe me. Just look into my eyes 'cause the heart never lies
(Pra recolher os pedaços, se você acreditar em mim. Olhe dentro dos meus olhos, porque o coração nunca mente.)

Another year over and we're still together, it's not always easy, but I'm here forever
(Outro ano se passou e nós ainda estamos juntos, nem sempre é fácil, mas eu estou aqui para sempre)

Yeah we are the lovers, I know you believe me When you look into my eyes Because the heart never lies
(Nós somos os amantes, eu sei que você acredita em mim, porque o coração nunca mente)

Capítulo 4

“Foi exatamente no dia em que te conheci que eu passei a acreditar em amor à primeira vista”


Quatro anos antes…

Que clima irritante estava fazendo hoje. Era junho e o verão chegou com tudo. Sentada perto da janela, eu admirava as crianças brincando lá fora, e os pensamentos iam e vinham, leves e suaves como a brisa do fim de tarde. Fechei os olhos e apenas respirei o ar fresco que entrava e inundava minhas narinas e expandiam o meu pulmão. Apesar de tudo estar bem, ainda assim era como se faltasse algo dentro de mim... algo na minha vida, eu me sentia incompleta.
Alguns minutos se passaram enquanto eu me perdia em meus pensamentos, quando de repente o barulho do meu celular me tirou dos devaneios. Tirei-o debaixo das almofadas e o visor piscava. Era .
, que tal sair desse quarto quente e se refrescar um pouco? O pessoal da minha escola de música vai dar uma festinha na piscina agora à tarde e disseram que tudo bem eu levar alguém. Agora tira essa bunda daí e vai pôr um biquini, te pego em meia hora.”
Sorri involuntariamente.
, minha melhor amiga, era simplesmente apaixonada por música, aliás, toda a família dela. O pai, tio Hector para mim, era economista, mas tinha uma banda com os amigos e ensinava teclado nas horas vagas. herdou todo esse talento musical, mas diferente do pai ela gostava mesmo era de cantar e sua voz era simplesmente INCRÍVEL. Há uns nove meses, o pai fez com que ela entrasse em uma escola de música para se aprimorar, e obviamente, muito popular e saltitante, nem preciso dizer que logo ela fez amizade com a escola inteira, né? Não que a escola fosse muito grande também.... talvez, sei lá, uns quarenta alunos? Enfim, aonde eu quero chegar é que era muito popular, totalmente diferente de mim.
Digamos que meu estilo seja mais solitário e melancólico.
Era muito difícil vê-la encurralada ou acanhada com alguma situação, a não ser, claro, quando se tratava de . Ela tinha um crush muito forte nesse rapaz que fazia aulas de canto com ela e me deixava maluca de tanto que falava dele, eu ainda não o conhecia. Por infinitas vezes ela furou comigo para sair com seu alecrim dourado.... bom, pelo menos dessa vez eu fui incluída, né? Finalmente vou conhecer o pessoal.
Bocejei preguiçosamente e me levantei, abri o guarda-roupa em uma tentativa rápida de achar um biquíni e lá estava ele, no fundo...beeem no fundo. Preto com rosa fluorescente, ao mesmo tempo discreto e sexy, como eu acredito que um biquíni deva ser. Tirei o vestido que eu estava usando e joguei em qualquer canto, coloquei meu biquíni, uma minissaia jeans e um chinelo rosa. Deixei meu cabelo solto cair sobre minhas costas, passei protetor solar, um perfume suave e logo ouvi buzinas. Uma última olhada no espelho e até que gostei do que vi. Peguei minha bolsa e sai rapidamente escada abaixo.
- ! – dizia enquanto levanta seus óculos escuros e sorria para mim.
- Hey, , arrasou na produção, hein! – respondi piscando enquanto me acomodava no banco carona, fechando a porta. Ao fundo tocava uma música que eu não conhecia, com batidas divertidas e dançante. Era boa.
- Finalmente vou conhecer seu pessoal.
- Nem me fale, não acredito que você finalmente vai sair do seu esconderijo super secreto e ser adolescente uma vez na vida.
Rolei os olhos.
- A festa é na casa de quem? – perguntei, apenas ignorando seu comentário ultrapassado sobre mim.
- Na casa do , meu amigo das aulas de composição. Ele é incrível, tenho certeza de que vai gostar dele – ela me respondia com animação.
- Quem mais vai? A escola toda?
- Não, apenas um pessoal, o grupo do vai tocar para apresentar uma música de autoria própria e precisam de opiniões. Não acho que você entenda muito, mas está indo opinar como alguém da plateia.
- Eu entendo sim, ok? Anos de infância convivendo com o alto padrão musical do seu pai me fizeram uma especialista requintada – sorri – De qualquer forma, parece interessante – Respondi, eu gostava muito de opinar sobre coisas. Minha mãe costumava dizer que não havia nada no mundo para qual eu não tivesse uma opinião. Dei um meio sorriso e me acomodei melhor no banco.
Ficamos em silêncio o restante do caminho, apenas sentindo aquele ventinho gostoso no rosto enquanto cantarolávamos qualquer coisa sem sentido. Após uns vinte minutos, começou a reduzir a velocidade e logo estacionamos em frente uma casa, diga-se de passagem, muito bonita. Era branca, clássica, mas com um toque moderno, grama verdinha na frente com flores lilás e amarelas perto das janelas. Desci do carro ajustando minha saia e dando uma última olhada em meu reflexo pelo retrovisor.
- Vamos , você está linda – disse, parada um pouco mais a frente e um tanto inquieta. Ela estava linda, usava um vestido branco e chinelos pretos, por baixo dava pra ver seu biquíni azul que combinava perfeitamente com suas mechas, da mesma cor.
- Calma ...Calma, já estou indo digníssima amiga. Que pressa toda é essa? Você já vai ver o . – Respondi dando risada e a vendo estalar os olhos.
- Cala a boca, , alguém pode ouvir – ela respondeu vindo para perto de mim e olhando assustada para os lados, como se o que eu havia dito fosse um plano secreto para acabar com o governo ou assaltar um banco.
- , que bobagem! Já está na hora de você falar com ele e assumir esses sentimentos – respondi rolando os olhos – vamos, a entrada é por aqui? – indiquei com a mão um pequeno corredor a esquerda, que parecia levar ao fundo.
- Sim – ela simplesmente respondeu passando a minha frente e eu a segui.
Andamos pelo pequeno corredor e logo ouvimos barulho de risadas, conversa e claro, música. Ao chegarmos ao fundo da casa, logo avistei as pessoas e ao correr os olhos brevemente, deduzi que não conhecia ninguém. Uma piscina muito convidativa estava bem ao centro do espaço, havia uma churrasqueira aberta mais ao fundo, onde um rapaz loiro de óculos e shorts laranja fazia carnes e legumes.
Perto da churrasqueira, havia um pequeno espaço coberto, muito parecido com um quiosque. Lá tinham três mesinhas redondas de vidro, cercadas por cadeira de bambu, nos dirigimos até o local e pegamos uma mesa onde eu logo depositei minha bolsa.
Todos estavam felizes e o fato de eu estar pertinho de uma piscina, me deixava feliz também.
- , venha conhecer o disse me puxando pela mão e me levando para perto da churrasqueira, onde o rapaz loiro de óculos estava.
- , quero que você conheça minha melhor amiga desse mundo todo – disse alegre, me puxando para mais perto – Venha, , não seja tímida.
- Olá – eu disse sorrindo – , né?
- Ao seu dispor, melhor amiga do mundo todinho da – Ele respondeu, sorrindo e colocando os óculos em cima da cabeça – é um prazer conhecê-la.
Ele era bem bonito e simpático, tinha o cabelo liso e loiro caído perto dos olhos e covinhas! Caras com covinhas eram muito fofos, na minha opinião.
- Conhecer quem? – Respondeu um rapaz chegando mais perto. Ele era um pouco mais baixo que o Tom e estava sem camisa, com shorts verde, óculos escuros em cima da cabeça e uma bebida azul na mão, seu olhar era descontraído e muito carinhoso, chegou abraçando como se fossem muito íntimos.
- Conhecer a melhor amiga do mundo todo da – Respondeu , rindo.
- Achei que eu fosse seu melhor amigo do mundo todo – O rapaz disse a fazendo biquinho e colocando a mão direita na boca e imitando a expressão de alguém que parecia estar em choque.
Eu ri. Ele parecia ser bem legal também e extrovertido. Não tinha covinhas, mas também era bonito. Aliás, se todos os caras dessa escola musical forem gatos assim, talvez eu até me matricule no próximo mês.
- Você sabe que eu te amo – respondeu bagunçando o cabelo dele – E não seja ciumento, essa é a ... , esse é o .
- Ah então você é a famosa ? – Ele respondeu – A fala muito de você, finalmente a conheci – ele me cumprimentou dando um beijinho na minha bochecha esquerda.
- Sou eu mesma – respondi corando e me aproximando um pouco mais – Espero que ela só tenha dito coisas boas sobre mim... te garanto que se não foi, então é tudo mentira – sorri, mostrando a língua.
- Olha, não garanto muito não, viu – respondeu rindo e deu tapa nele, se fazendo de magoada.
- Brincadeira, querida – ele soltou um beijo no ar e ela fingiu pegar.
- Que tal você parar de me azucrinar as ideias e pegar uma bebida dessas para a gente? – apontou para o copo na mão de e deu uma piscadinha, fazendo charminho.
- O que você não me pede sorrindo que eu não faço chorando? – ele disse – vou lá no bar preparar para vocês.
- Hum... o que é? – perguntei.
- Mojito com curaçau blue, especialidade do respondeu.
- Não tem nada menos alcoólico?
- Ah, , faça o favor e beba alguma coisa... você anda muito tensa, precisa relaxar – respondeu – Pode trazer dois no capricho , e um copo de água.
- Ok – respondeu se afastando. – Já volto.
- Um copo de água? – perguntei curiosa, levantando uma sobrancelha.
- Estou dirigindo, né? Não sou irresponsável – Ela revirou os olhos.
- Então não é mais fácil não beber?
- , você está tão lerda hoje – me puxou de canto, garantindo que Tom não escutasse – Vou falar com o hoje!
- Você vai? – Perguntei um pouco alto demais e dando pulinhos.
levantou os olhos da churrasqueira, mas sua atenção logo foi desviada para uma loira peituda de cabelo rosa que passava. - Shiuuuu – disse, sorrindo.
- Eu ainda não o conheci – respondi. – Quando você vai me apresentar, aliás?
- Vem – respondeu – Ele deve estar mais perto do bar, vamos encontrar com nossos drinks e aproveitamos para trombar com ele, assim meio sem querer, claro. – Ela riu num estilo menina travessa e saímos.
Começamos a andar em direção ao outro lado da piscina. Algumas pessoas estavam na água e outras conversavam animadamente ao redor. A música ainda tocava alto e a festa estava fluindo a todo vapor. Fui andando atrás de , a seguindo sabe-se lá Deus para onde, enquanto me desvencilhava de um casal que passou trombando no que estava pela frente... e em quem estivesse pela frente. Devem ter sido os drinks do .
Paramos abruptamente e senti me cutucando enquanto apontava, não me lembro muito bem do que ela falou devido a música que estava cada vez mais alta, acredito que devido a nossa proximidade agora com as caixas de som, mas ela apontou para alguém do outro lado da piscina e ao levantar meus olhos eu o vi.
Senti meu coração parar por um segundo... ou vários, quem sabe. Era como se o mundo ao meu redor não existisse mais.
Ele era lindo. Sua pele era branquinha e cheia de sardinhas, nos braços e nas costas, seu cabelo era escuro e os cachos perfeitos. Havia tatuagens pelo seu corpo e eu acompanhei cada uma dela, assim como cada músculo desenhado perfeitamente.
Senti meu coração voltar a acelerar e minha barriga ficar estranha, como se tivesse uma pedra de gelo lá dentro. Ele estava conversando e sorrindo... ah, que sorriso! Eu nunca me senti assim antes, um misto de excitação e adrenalina que percorriam o meu corpo. Fiquei encarando sem nem prestar atenção em mais nada, apenas nele e após alguns minutos, seu rosto se virou em minha direção. Seus olhos, azuis da cor do céu, fitaram os meus tão intensamente que senti uma onda de calafrio percorrer todo o meu corpo.
Seu rosto ficou sério e ele apenas me encarou, como se me despisse por inteira e penetrasse a minha alma. Nesse exato momento eu soube... eu o queria.

Capítulo 5

Não sei exatamente quanto tempo se passou enquanto eu fiquei observando aqueles olhos, mas fui retirada de meus devaneios pela voz estrangulada de . Balancei a cabeça, tentando voltar toda a minha atenção nela.
- – ela me chamava e me chacoalhava - parece que estava em outro mundo - reclamou.
- Ai, o que foi menina? - respondi ríspida, ainda com o coração na boca – estou exatamente aqui do seu lado.
- Nossa! Que mal humor – ela respondeu com voz afetada – só quis me certificar que você não teve um aneurisma...oshi, ficou aí com os olhos todos vidrados, cruzes – revirou os olhos, enquanto me analisava.
- Estou bem – assegurei.
- Olha, é ele ... o – Ela disse ao pé do meu ouvido – o menino que eu apontei antes.
Nesse momento eu achei mesmo que fosse ter um aneurisma e em cinco segundos de pânico, desejei mentalmente que não fosse o mesmo rapaz. Não podia ser, porque se fosse, então o mundo seria uma grande piada cósmica e muito sem graça.
-Qual deles? - perguntei com a minha voz mais casual e tentando parecer calma.
- O de camiseta regata preta, de óculos escuros – respondeu sorridente e eu suspirei aliviada, logo depois agradeci mentalmente ao universo.
-Humm – respondi – e o outro rapaz? Aquele de shorts verde? - perguntei tentando parecer indiferente.
-? - ela rebateu.
-Como vou saber? Por isso estou te perguntando – respondi com a voz um tanto esganiçada e me olhou com um dos olhos levantados – soltei a respiração calmamente.
-É o – ela sorriu – ele é muito legal, também está na banda e é divertido, mas um pouco mulherengo pro meu gosto – deu de ombros – acho que agora você conheceu todos e isso é muito importante, porque estou ajudando-os com as coisas da banda e vamos passar muito tempo juntos... então seria bom você ir fazendo amizade mesmo pra poder ficar comigo, sabe...seria muito injusto ter que escolher entre você e – ela disse mostrando a língua.
- Até porque todos sabemos que você o escolheria – respondi também mostrando a língua pra ela, que riu e fez que não com a cabeça.
Fiz um olhar afetado, como se não acreditasse que a escolhida seria eu, mas logo meus pensamentos voltaram ao que ela havia dito sobre . Ótimo, tudo o que eu precisava era de um gato mulherengo me olhando daquela maneira.
Suspirei pesadamente e olhei para o lado e vi que já estava mais a frente, se dirigindo ao bar. A segui por um breve caminho e logo estávamos paradas do lado de fora do balcão, vendo finalizar as bebidas enquanto imitava um garçom profissional. Todos rimos, ele era ótimo nisso... quero dizer, em tirar risos sinceros das pessoas. Ele entregou minha bebida com uma reverência exagerada.
-Para melhor amiga do mundo todinho da – ele disse sorrindo – e agora a mais nova amiga da turma - piscou.
Eu sorri.
-Obrigada – assenti, imitando sua reverência e todos gargalhamos.
-Quem é a mais nova amiga da turma – uma voz grave perguntou atrás de mim e eu senti meu pescoço arrepiar inteiro.
-Ah, é a ! - respondeu – essa lindeza na sua frente, é a amiga da ... e agora vai ser nossa...então seja legal – ele finalizou sério.
? O mesmo que eu acabei de encarar na piscina? Ok. Mais gelo no meu estômago. Respirei fundo e me virei.
-Eu mesma... - tentei parecer o mais natural que pude – mas podem me chamar de Lor – Meu Deus, que olhos!
-Muito prazer Lor – ele disse se aproximando – seja bem-vinda a turma – nesse momento ele deu um beijo na minha bochecha. Pude sentir minhas pernas bambearem e minhas bochechas arderem... provavelmente eu estava com 50 tons diferentes de vermelho no meu rosto..., mas quem liga? Era verão e estava calor.
-Vim te chamar ... - disse desviando seu olhar de mim para o amigo – foi chamar o e já vamos tocar – Você pode vir perto se quiser – ele finalizou dirigindo sua atenção novamente a mim e dando uma piscadela.
Perto? Perto da onde? Esqueçam o aneurisma, era hoje que eu tinha um infarto.
deixou a bebida dela no balcão e bateu palmas de alegria, seguiu dando tapinhas em suas costas e pulando. Os dois riam, acenando para que eu os seguisse.
O palco improvisado estava do outro lado da piscina e quando chegamos lá, e já haviam arrumado a maior parte. e se juntaram a eles, enquanto e eu observávamos.
Rapidamente, as demais pessoas da festa começaram a se aproximar e em questão de segundos estavam todos reunidos em volta. O Sol diminuirá um pouco, deixando uma temperatura bem agradável. Os meninos se posicionaram, no baixo, na bateria, e na guitarra.
- Olá galera – disse pegando o microfone – querem ouvir o que pode ser uma das melhores bandas britânicas? - a empolgação em sua voz era contagiante.
- SIMMM – todos responderam em uníssono.
-Muito bem! - disse sorrindo – essa música é de autoria própria e esperamos que todos vocês gostem.
Batidas agitadas começaram e as pessoas se empolgaram, arriscando pequenos pulos perto do palco improvisado. Junto com as batidas, fui tomada por uma alegria contagiante.... não sei dizer se pela música que parecia muito divertida, ou pelo guitarrista que aquecia meu coração toda vez que sorria.

Doo, doo, do, do, doo, dooo
Doo, doo, do, do, doo, dooo

She's got a lip ring and 5 colours in her hair
(Ela tem um pircing no lábio e cinco cores no cabelo)

Not into fashion but I love the clothes she wears,
(Não entendo de moda, mas eu amo as roupas que ela usa)
Her tattoo's always hidden by her underwear.
(A tatuagem dela sempre escondida pela calcinha)

Everybody wants to know her name,
(Todos querem saber o nome dela)

I threw a house party and she came
(Eu dei uma festa em casa e ela veio)

Everyone asked me
(Eu dei uma festa em casa e ela veio)

Who the hell is she?
(Quem diabos é ela?)

That weirdo with five colours in her hair.
(Aquela estranha com cinco cores no cabelo)

AAAHHHH – deu um gritinho e feliz – Sou eu! Sou eu!
Realmente a menina da música parecia ser ela. Ri alto da sua empolgação e de seus pulinhos, também ria de cima do palco e todos pareciam muito felizes. Quando chegaram no refrão pela segunda vez, todos cantaram juntos e eu realmente pude perceber que eles eram bons e se investissem, realmente poderiam ser ótimos. Como eu disse anteriormente, não entendia muito de música, mas não significava que eu não amasse as melodias e as letras que sempre carregavam uma história por trás e que pareciam sempre se encaixar em fases da nossa vida... em histórias.
Após a música original, os meninos ainda tocaram alguns covers e não sei quanto tempo se passou, mas já escurecia quando a música cessou.
-Gostaríamos de agradecer a todos que vieram a festa – se despedia no microfone – e se puderem deixar comentários da nossa performance, no balcão do bar, há papeis e canetas – ele apontava ao fundo – por favor escrevam, mas peguem leve ok? - ele piscou e sorriu.
As pessoas começaram a dispersar, alguns se dirigiam para deixar comentários onde havia indicado e outras reuniam suas coisas, prontos para irem embora.
Os meninos começaram a organizar os instrumentos e vi quando subiu feliz para ajudar, aposto que doida pra perguntar se a música realmente foi inspirada nela e em seus cabelos coloridos. Sorri ao vê-la abraçando .
-Espero que esse sorriso seja de alegria por ter visto uma possível banda em potencial hoje – disse se aproximando e eu o encarei.
- Não entendo muito da parte técnica - respondi retribuindo seu olhar – mas vocês me alegraram e isso pra mim foi o suficiente pra saber que vocês são bons.
- Não precisa entender da parte técnica - ele disse, se aproximando mais – a música tem que tocar seu coração...proporcionar emoções aqui – ele disse colando a mão sob meu coração e eu arfei.
- Então acho que vocês conseguiram – respondi baixinho – ele estava tão perto que eu achei que fosse desmaiar... seu cheiro era bom e seu hálito de menta. Tudo o que eu queria nesse momento era sentir o gosto dos seus lábios e sentir sua pele na minha. Céus, eu nunca havia me sentido assim antes. O que estava acontecendo comigo hoje?
- Ei vocês - disse chegando perto e com os olhos um tanto arregalado - Os meninos estão chamando pra gente entrar – ela apontou pros caras andando em direção a casa – a galera já está indo e a temperatura aqui fora já está esfriando.
A minha com certeza não estava... eu estava muito quente, mas ela não precisava saber disso.
-Claro – respondeu com um sorriso maroto – vamos entrar, você vem? - ele perguntou pra mim.
-Claro, porque não? - respondi.
- Vejo vocês lá dentro – respondeu e saiu andando em direção a casa. chegou perto de mim, parecendo um tanto quanto incrédula.
- O que o estava fazendo com a mão no seu peito ?
- Ele não estava com a mão no meu peito, sua louca ... Estava apenas dizendo sobre quando a música provoca emoções dentro da gente – me defendi.
- Aham, sei bem a emoção que ele quer provocar – respondeu, nada convencida.
- Ah ... vê se me erra – retruquei fazendo careta – vamos entrar ou você precisa ir pra casa?
- Ta doida menina? Claro que vamos entrar – ela disse - não vou perder a oportunidade de ficar pertinho do .
- Até porque ainda não vi você se declarando pra ele ainda – respondi e a abracei.
- Você é muito apressada minha amiga – ela riu, passando os braços em volta da minha cintura e juntas seguimos para dentro da casa.

Capítulo 6

Passamos pela varanda, que serviu de bar improvisado, e adentramos a casa, ainda abraçadas, pela porta lateral. Ela era de vidro, com bordas pretas e nos levava direto para uma cozinha interna, ampla, toda trabalhada em mármore branco e espaçosamente agradável. No centro havia uma mesa e em cima dela um vaso com petúnias roxas.
Ao me virar para esquerda, vi que ela levava a sala que era igualmente ampla, em tons de terracota. Os meninos estavam reunidos ali, com o violão sentado no chão da sala, sentado no sofá em sua frente e em pé junto com , olhando um folheto e tentando decidir algo que parecia ser muito importante.
— Hey, vamos pedir pizza — se virou subitamente para nós —, topam?
— Opa — se desgrudou de mim e saiu andando em direção à —, pode ser metade aliche?
Então pizza era o assunto importante, ri internamente.
— Nem vem — respondi, me aproximando. — Eu odeio aliche.
— Eu também detesto — disse, fazendo careta. — Pede alguma coisa com gosto de pizza de verdade.
— Pizza de verdade tem gosto do que escolhermos — mostrou a língua e retribuiu.
— Podemos pedir duas — intervi — ou três, não sei o tamanho da fome de vocês — dei de ombros. — Aí dividimos os sabores.
— Minha fome é gigantesca — gritou, mais à frente.
— Diferente do seu tamanho — disse, rindo.
— Vai se foder, dude — berrou.
— Parecem que vocês têm dez anos — retrucou. — Vamos pegar três, somos seis... então cada dupla escolhe um sabor.
Achei justo.
— Eu não sei quem é minha dupla, mas gosto de mussarela — respondi, me sentando em uma poltrona perto de e .
— Então eu sou sua dupla — Danny disse, se largando na poltrona da frente, e eu estremeci.
— Seu gosto é muito peculiar, disse, virando-se para ela —, mas vou te apoiar nessa, porque nenhum dos caras vai querer comer isso — ele riu e corou.
— Obrigada — ela respondeu. — Vamos ver o que e querem.
— Opa — respondeu, a seguindo para onde os meninos se encontravam.
Alguns silenciosos segundos se passaram e sabem aqueles momentos em que vocês sentem que tem alguém olhando para vocês? Pois bem, era isso que eu estava sentindo naquele momento. Meu coração ficou acelerado novamente, mas eu não tinha coragem de encará-lo. Eu não queria correr o risco de demonstrar o efeito que ele estava causando em mim, assim, com sua simples presença.
Permaneci em silêncio.
— Então sobramos eu e você, senhorita mussarela — disse e eu me virei, mas ele não estava rindo... estava sério e me analisava.
— Exatamente, parceiro — respondi, fazendo careta, em uma tentativa desesperada de romper a tensão que estava ali, pairando. — Quer se juntar ao pessoal? — apontei para os demais.
— Não, está bom aqui — ele simplesmente disse.
— Humm — eu não sabia exatamente em como puxar assunto, então optei pelo clichê.
— Faz tempo que você toca? — perguntei.
— Faz sim — ele respondeu. — Comecei pequeno e posso dizer que sou completamente apaixonado — ele se ajeitou na poltrona.
— Hummm — olhei para as minhas mãos e comecei a brincar com meu anel.
— Você sabe tocar algum instrumento? — questionou. Não sei se estava interessado ou só não queria deixar o assunto morrer.
— Não, mas sempre achei violão uma coisa muito legal — respondi, sincera.
— Quer aprender? — ele me perguntou, animado, e eu arregalei os olhos.
— Ah... Não sei, , nunca pensei muito sobre isso.
— Não, Lor, eu digo agora... tem um violão lá em cima no quarto do , podemos dedilhar uns acordes — ele sorriu.
— Será que você vai ter paciência? — fiz uma pergunta retórica, mas com biquinho para dar charme... céus, eu era realmente péssima nisso.
— Paciência? — gargalhou. — Eu dou aula, Lor, sempre que posso... me ajuda a arcar com algumas despesas ... vou lá em cima buscar e já volto.
Apenas assenti. subiu animadamente as escadas que eu presumi que levavam ao quarto do . Ele parecia ser muito legal, era divertido e descontraído... com um ar mulherengo, realmente, mas era tão agradável que a companhia dele fazia com que todo o resto fosse apenas isso... resto.
Alguns minutos se passaram e ouvi passos pesados pela escada, em segundos ele estava sentado novamente em minha frente. Me entregou o violão e me ajudou a posicioná-lo de forma correta.
Apenas concordei com todas as instruções que ele me passava.
— Tá vendo? — ele disse, endireitando meus braços. — É assim que seguramos. Logo depois ele me deu uma paleta cor de rosa, disse que era sua favorita, pois sua avó havia dado a ele a alguns anos atrás, dizendo que ela acreditava no sucesso dele. Achei fofo.
seguiu me ensinando os acordes básicos, até arrisquei um dedilhado. Sempre sorrindo, entre um acorde e outro ele me olhava e eu retribuía, eu pude sentir que fosse lá qual o sentimento ou sensação que ele me provocara aquela noite, era recíproco.
— Você devia fazer isso — disse. — Aprender — ele apontou para o violão.
— Talvez eu queira — respondi, tímida. — Talvez você possa me ensinar.
— Talvez — ele respondeu e, nesse momento, o silêncio que ficou entre nós foi gritante, mas muito bom ao mesmo tempo. Existem silêncios assim para mim, que falam mais do que qualquer palavra que o alfabeto possa formar.
Mais à frente, os meninos e riam exageradamente. A campainha tocou e se levantou, assobiando para nós.
— Hey, vocês aí — disse. — Acho que a pizza chegou… , você recebe? — pediu.
— É para já — disse, dando um pulo da poltrona e se dirigindo para a área externa.
Apenas observei e então me levantei também e resolvi me unir ao pessoal, que ainda ria.
— O que vocês estavam fazendo ali? — perguntou enquanto eu me sentava ao lado dela.
estava me ensinando a tocar violão — dei de ombros. — O que vocês estão fazendo aqui?
— Jogando truco, mas o é péssimo nisso — disse, pegando as cartas da mão do menino.
— Eu não! — ele se defendeu. — Vocês que ficam aí se unindo contra mim.
— Ai ai ai coitadinho dele — riu, apertando suas bochechas. — Prometemos pegar leve da próxima, ok?
— Quero revanche — disse, pegando as cartas de volta da mão de .
— Agora não, pessoal — surgiu logo atrás —, as pizzas chegaram e estão com um cheiro para lá de bom.
— PARTIU — levantou-se em um pulo só, acompanhado por e por mim, mas, ao olhar para trás, percebi que e não tinham vindo.
? — chamei.
— Podem ir na frente — ela disse e eu entendi. Era agora que a minha amiga covarde ia se declarar... esperava que ela conseguisse ou então teria perdido 15 libras no bolão das meninas.
A cozinha cheirava muito bem, havia tirado a tampa das três pizzas que pedimos: mussarela, aliche e “de tudo um pouco”, como havia nomeado. Apesar da aparência estranha, parecia muito bom.
Sentei-me, peguei um prato e me servi sem vergonha... eu estava faminta, nem me lembrava da última vez que havia comido; sentou-se do meu lado e e na minha frente. Conversamos minutos adentro, os meninos me explicaram como se conheceram e como se deu a formação da banda, além de compartilharem coisas do dia a dia. Eles eram três anos mais velhos do que nós e não estavam cursando faculdade, apenas investindo na carreira musical.
dava aula de música, como ele mesmo havia mencionado anteriormente, mas achei grosseiro perguntar o que os demais faziam da vida enquanto o grande sonho não se realizava.
Coloquei mais pedaço de pizza na boca, quando entrou no cômodo com um sorriso de orelha a orelha e aquele olhar que só eu sabia o que significava: ela conseguira.

Capítulo 7

Eu não sei ao certo que horas eu cheguei em casa. Eu ouvia o tic tac do relógio, mas não me dei ao trabalho de olhar. Subi as escadas, tentando não fazer barulho, meus pais detestavam quando eu chegava muito tarde.
O silencio pairava sobre o meu quarto.
Cheguei perto da janela para observar a cidade que agora dormia enquanto a brisa leve soprava no meu rosto. Fechei os olhos por um momento e, então, de repente, a imagem dele invadiu meus pensamentos. Os olhos azuis, as sardas, os lábios perfeitos... céus, o que estava acontecendo comigo?!
Eu não era assim, não me derretia fácil por ninguém, mas era diferente, ele parecia diferente.
Chacoalhei minha cabeça para espantar os pensamentos, como se minha mente fosse um espanador de pó e a poeira. CREDO, que comparação mais sem graça. Eu precisava dormir.
Tomei um banho rápido e me deitei, o cansaço batia forte e meus olhos quase se fechavam sozinhos, mas eu estava me sentindo estranhamente feliz.
Olhei para o relógio, eram duas e quinze da manhã. Com um sorriso nos lábios, adormeci.

. — Ouvi uma voz distante me chamar. Abri os olhos lentamente e olhei no relógio de porquinho que ficava na minha cabeceira: onze horas.
, filha. — Minha mãe abriu a porta lentamente.
— Hmm. — Foi tudo o que eu consegui responder.
— Querida, já é tarde. Seu pai e eu vamos almoçar na casa da June, você quer ir?
— Não, mãe — respirei fundo, me sentando na cama. — Estou muito cansada para qualquer tipo de evento hoje.
— Tudo bem, mas não fique na cama o dia todo... está um dia lindo lá fora. — Ela se despediu com um beijo no topo da minha cabeça. — Voltamos no final da tarde.
— Ok — sorri. — Te amo.
— Também te amo, querida — ela se despediu.
Escutei vozes e passos, por fim a porta da sala se fechando. Desabei na cama de novo, sem nenhuma coragem de levantar. Peguei o celular debaixo do meu travesseiro e o visor acusou uma mensagem da .

Lor,
Vamos para casa do hoje? Os meninos vão estar lá também.

Xoxo

Ah, ! Eu era capaz de sentir a alegria dela à distância. Depois de muito tempo, finalmente ela se declarou para o e parecia que as coisas iriam começar a caminhar romanticamente para os dois.
Romanticamente...
Talvez todo esse clima romântico da me fez querer um namorado também. Pensava em e meu coração acelerava. Esperava que ele estivesse lá.
Digitei uma mensagem rápida para responder e me encaminhei ao banheiro para realizar a higiene matinal.

Claro, você pode me pegar?
Meus pais saíram.

Xoxo

Joguei o celular em cima da cama e dei uma olhada rápida no espelho. Céus, precisava de um banho.
Depois do meu ritual no banheiro e garantir que eu me encontrava cheirosa e apresentável, voltei para o quarto e chequei meu celular para ver que horas viria me buscar.

Sinto muito, Lor, meu irmão pegou meu carro hoje.
veio me buscar, desculpe, desculpe.

Xoxo

Droga.

Humm, sem problemas. Aproveite seu deus grego.
Vou pegar um táxi e jajá estou aí.

Xoxo

Droga, droga e droga. Odiava pegar táxi.
Aliás, eu estava absurdamente cansada e falando para minha mãe que eu ficaria em casa, então por que iria sair? Talvez eu soubesse a resposta.
Me dirigi emburrada até o guarda-roupa e respirei fundo, olhando as minhas opções, e por fim me decidindo por um vestido preto, básico, curto e apertado, sem frufru nem nada, apenas confortável e perfeito para usar com meu tênis da VANS.
Borrifei meu perfume de baunilha e passei um gloss transparente. Dei uma checada no espelho antes de chamar o táxi e tudo parecia ok.
Bom, vamos lá...
Peguei o celular, quando vi uma mensagem da com letras bem grandes.


NÃO PEGA O TÁXI.
disse que o pode te buscar, é caminho da casa dele.
Já passei seu endereço, em 10 minutos ele está aí.

Xoxo

Ok, respira. Aquilo realmente me pegou de surpresa.
Porque será que se ofereceu para vir me buscar? Ou será que foi quem pediu, a fim de agradar a possível-quase-nova namorada ou seja lá o que ele e são no momento?
Tratei de espantar os pensamentos da minha cabeça, afinal, pensar demais nunca fora o meu forte. Eu tinha sérios problemas em me preocupar demasiadamente com o futuro.
No meio dos meus devaneios, escutei uma buzina e espiei rapidamente pela janela.
Era ele.
Daniel Jones estava em frente à minha casa.
Meu coração batia rápido.
Meu estômago congelava.
Respirei fundo e peguei minha bolsa, desci a escada rapidamente e, ao trancar a porta da frente, vi que saiu do carro e agora me esperava, encostado, ao lado da porta do passageiro.
Ele estava lindo. Usava uma calça clara e uma camiseta preta, os cabelos bagunçados e o sorriso maroto me faziam querer abraçá-lo.
Andei em direção ao carro e fui recepcionada por um sorriso caloroso.
— Você está muito linda, Lor — disse.
MEU DEUS, ELE DISSE QUE EU ESTAVA LINDA!
— Obrigada — respondi. — Acho que vamos cantar hoje, estamos combinando e tudo — dei uma piscadela e apontei para a camiseta preta dele que fez uma ótima dupla com meu vestido.
Ele sorriu, abrindo a porta para que eu entrasse, e prontamente obedeci. O carro de era bem limpinho por dentro (eu realmente não imaginava que músicos podiam ser organizados, principalmente com carros) e cheiroso. No banco de trás, estava seu violão e alguns CD’s espalhados.
— Gostou do carro? — ele perguntou, sentando-se e colocando o cinto de segurança.
— Sim, é ótimo — respondi.
— Obrigado. — Ele me olhou, sincero.
— Em qual rua você mora? disse que sua casa era caminho da minha.
abaixou a cabeça e soltou um risinho.
— Eu moro perto da casa do , na verdade. — Ele me encarou e eu o olhei, confusa.
— Não entendi... a disse....
— Eu queria vir buscar você, . — Seu olhar mudou e se tornou misterioso. Sua voz, firme.
Senti minha respiração falhar.
— Por quê?
— Sério mesmo que você não imagina? — Ele fitou meus olhos como se me lesse inteira. Ele se aproximou mais de mim e meu coração acelerou. Senti seu hálito de menta perto do meu rosto e eu só conseguia me perguntar se ele iria me beijar.
— Porque eu gostei de você — ele, então, sussurrou as palavras no meu ouvido e uma onda de arrepio passou pela minha coluna. Céus, como eu queria ouvi-lo dizendo isso. Desde a noite anterior eu não parava de pensar em .
Senti minha bochecha corar e então se afastou, arrancando com o carro.


Continua…



Nota da autora: Sem nota.



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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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