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Última atualização:10/03/2024

Prólogo

Well my sleeves may be green but my lipstick is red

Mamãe me abraçou uma última vez, contendo as lágrimas.
— Nos vemos nas próximas férias, querida.
— Até, mamãe — eu disse, retribuindo seu abraço.
Depois de dezessete anos vivendo com a minha mãe e recebendo algumas visitas do meu pai, ambos haviam decidido que eu ia me mudar para a Inglaterra para morar com ele, pois eles acreditavam que o novo diretor de Ilvermorny estava negligenciando a educação dos alunos, o que significava que não só iria mudar de casa e de continente, como também de escola, deixando tudo para trás.
— Vamos? — meu pai estendeu a mão.
Olhei para trás pela última vez, respirei fundo e peguei a mão dele. Senti imediatamente o ar ser comprimido no meu corpo e tudo ficar preto. Quando parecia que eu não aguentaria mais um segundo, tudo voltou ao normal e estávamos em uma casa bonita, mas simples.
— Chegamos — meu pai anunciou, orgulhoso. — Venha, vou lhe mostrar seu quarto.
Subimos uma velha escada que levava a um corredor pequeno com duas portas. Eu ainda estava meio desnorteada por ter viajado para outro país e outro continente em poucos segundos.
— Esse aqui será seu quarto, embora seja temporário, já que logo você irá para a escola. Esse aqui é o meu. E aquela porta do fundo é o banheiro — ele falou, apontando tudo, parecendo estar em uma mistura de nervosismo e animação. — Espero que seja suficiente.
— Vai servir, obrigada, pai — eu agradeci, meio formal, pela pouca intimidade que tinha com ele. Apesar de ele e minha mãe serem casados, por questões do trabalho dele, nós convivíamos apenas em alguns feriados e eu nunca havia estado na casa dele, mas, uma coisa que eu tinha aprendido, era me adaptar.
Naquele momento, a campainha tocou, deixando-o tenso.
— Quem pode ser a essa hora? — ele tentou falar, descontraído, mas parecia assustado.
Eu estava analisando o quarto quando vi um brilho vermelho e um barulho forte vindo lá de baixo. Voltei correndo para olhar o que estava acontecendo e me arrependi na mesma hora. Meu pai estava estuporado no chão, enquanto seis adultos e um adolescente me encaravam.
— Pai! — eu corri para ele, mas logo freei perante àqueles estranhos.
— Ora, ora, então é você que meu irmãozinho Alphard esteve escondendo esse tempo todo — a mulher mais velha se aproximou, puxando uma mecha do meu cabelo para analisar, mas eu desviei. Ao contrário do que eu esperava, isso fez a mulher sorrir. — Certamente tem o sangue dos Black.
— Quem são vocês? — eu disse, completamente confusa e apavorada. Eu era inteligente o suficiente para saber que não tinha como duelar, seria uma batalha perdida. E não tinha a menor ideia do que aquelas pessoas queriam.
— Ora, somos sua família — um homem com idade próxima à da mulher e do meu pai se pronunciou. — Ah, que rude não nos apresentarmos! Meu nome é Cygnus Black. Essa — ele apontou para a mulher que falava antes — é Walburga Black. Somos irmãos do seu pai, embora ele não pareça tão contente com isso quanto achávamos.
— Eu sou Regulus Black. Como vai, priminha? — o adolescente de cabelos escuros cacheados me cumprimentou com escárnio. — Essas são Belatrix e Narcisa, suas primas também — ele apontou para uma morena com um ar sádico e uma loira de nariz em pé —, e seus maridos, Rodolpho Lestrange e Lucio Malfoy — ele apontou para o homem moreno e o loiro, respectivamente.
— Eu creio que vocês estão enganados. — Eu me mantive firme e séria, embora parte de mim estivesse quase fazendo xixi nas calças. — Eu não conheço vocês e creio que nem nosso sobrenome é o mesmo. Sinto muito, mas é a casa errada.
— Ah, mas isso é apenas um erro de informação — Cygnus falou. — Não é mesmo, Lynx Picquery? — Me sobressaltei ao ouvir meu nome todo. Nem meus amigos da escola tinham como saber disso. — Ou, melhor dizendo, Black.
— Como sabem quem eu sou?
— Sabe, nem o seu nome do meio é por acaso — a loira falou, me ignorando. — É tradição de família usarmos nomes de constelações. Nossa antiga e nobre família puro sangue sempre viu essa homenagem com bons olhos.
— E, como família, você deve confiar em nós — Walburga sorriu para mim.
— E por que eu confiaria em pessoas que eu nem sequer conheço? — eu falei, alarmada. Vamos, pai, eu pensava. Acorda.
— Talvez, confiança não seja a palavra certa para o caso — a morena sádica disse, se aproximando do meu pai com a varinha na mão. — Sabe, por anos o seu papaizinho manteve você e sua mamãe escondidas. Não vejo o porquê.
— Por sorte, um contato americano vem me avisando sobre o segredo do seu pai nos últimos meses e descobrimos sobre você. E, como uma boa família, ao descobrirmos da sua vinda, viemos recepcioná-la! — Cygnus comentou, em um falso entusiasmo.
— E, agora, você vai aprender a confiar na sua família. Por bem ou por mal — Walburga comentou e aquilo me tirou do sério.
— Como vocês ousam pisar na casa de meu pai e nos ameaçar? Para uma família que se diz tão respeitável, não conseguem nem manter as boas maneiras — revidei, tentando me impor.
— Orgulhosa. É uma de nós — Cygnus sorriu.
— Isso é mentira! — rebati, perdendo o controle. Eu estava apavorada. Aquela gente era maluca e estava atrás de mim.
— Ah, queridinha! Não viemos te matar! — Walburga falou. — Apenas desacordamos Alphard para ele não querer complicar as coisas. Não, nós a queremos bem viva. Você é uma de nós! E vai servir o seu propósito.
— E se eu não quiser? — rebati.
— Se não quiser — Cygnus olhou para o lado, despreocupado —, digamos que o meu contato mora ao lado da Mansão Picquery. Que coincidência! Não é lá que sua mãe, a mestiçinha Annabeth Picquery, mora?
— E seu papai não parece muito bem, não é? — Belatrix disse, sorrindo como uma maluca.
Aquela família me tinha na mão. Eles sabiam disso. E eu também. Eles haviam vencido.
— Então, , se quer que os dois vivam, é melhor ouvir com muita atenção — Walburga falou, se acomodando em uma poltrona enquanto erguia os olhos malignos para mim. — Pronta para ouvir sua missão?

Capítulo 1

Estávamos em uma estação de trem em Londres, onde eu ia pegar o expresso para minha nova escola: Hogwarts. Eu estava extremamente nervosa. Eu não tinha amigos lá, não conhecia ninguém, já era uma velha intrusa, enquanto todos eram entrosados e, além disso, tinha uma missão nas minhas costas.
Depois que a família Black falou comigo, eles acordaram papai e o obliviaram, além de ameaçaram meus pais explicitamente, caso eu contasse para qualquer um sobre o que eles haviam falado comigo. Por isso, tive que fingir extrema surpresa quando papai veio falar comigo antes de entrar no trem.
, é melhor eu te contar uma coisa agora, para não se assustar depois. Eu te inscrevi em Hogwarts com o meu sobrenome, enquanto na sua antiga casa e escola você usava o da sua mãe por conta da influência da sua família por lá. Portanto, não se assuste quando te chamarem de Black. Esse também é seu nome. E não significa nada — ele se apressou em dizer, nervoso. — É só por questões burocráticas. E existem na escola duas pessoas com o mesmo sobrenome — ele disse, cada vez mais nervoso. — São seus primos, Sirius e Regulus Black. Regulus é um garoto confuso, mas acho que pode confiar em Sirius. Conte para ele que sou seu pai. Ele costumava gostar de mim. Talvez isso o ajude a te acolher.
Depois disso, ele me pediu várias desculpas pelo inconveniente, me abraçou e falou que me amava antes de eu partir.
Já dentro do trem, em uma cabine vazia, eu pensava em tudo o que ele falara. Pois é, eu já sabia que tinha dois primos. Um, eu conhecera pessoalmente duas semanas atrás enquanto ele agradavelmente invadia minha casa e, ainda mais gentil, dissera que ia ficar de olho em mim na escola para garantir que eu estava cumprindo minha missão. O segundo, Sirius Black, fazia parte da minha nada espontânea missão. Merda, eu nem sabia como ia fazer tudo aquilo.
— ... e aí nós pensamos: com a quantidade de água que essas crianças engolem, e se nós enchêssemos uma piscina inteira de pó de arroto? — A porta da cabine abriu. Um garoto de cabelos cheios e escuros com uma postura charmosa falava com o sotaque britânico carregado que agora todos possuíam, se jogando para dentro do vagão, sem nem me notar.
— Essa foi genial! Eu tive que comprar a ideia! — Um outro garoto de óculos se jogou no banco de frente para o amigo, ainda me ignorando. Bufei. Estavam mexendo com a garota errada, no meio do meu pior mau humor.
— Er, acho que já ‘tá cheio — um garoto alto e pálido, com cabelos castanhos claros falou, parecendo meio culpado de ter invadido o lugar. Aquilo fez eu me acalmar um pouco. Só um pouco.
— Ora, então temos companhia! — o garoto de óculos falou, sorrindo para mim, como se não tivesse problema nenhum eles invadirem o meu vagão.
— Olá, tudo bem? Estranho não nos conhecermos. Eu lembraria de um rosto assim — o moreno charmoso falou, sorrindo.
— Cheguei! Desculpa o atraso, eu tentei escolher bem qual sapo de chocolate eu ia querer. Sabe, isso muda tudo, porque a figurinha de cada um é diferente! — um quarto garoto baixinho e gordinho com cabelos cor de palha disse, entrando na cabine. — Opa — ele disse, se acuando, e sussurrou nervoso para o amigo alto. — É para a gente sair?
Na mesma hora, um baque me atingiu. Eu havia visto uma foto daquele exato grupo semanas atrás.
Por acaso, minha missão começava exatamente em tentar conseguir a confiança daqueles garotos que, por acaso, haviam entrado na minha cabine. E percebi que sabia o nome de cada um.
Na verdade, o garoto piscando para mim era, inclusive, meu primo.
— Podem ficar — eu disse, lutando contra toda a minha vontade de berrar até o ser humano mais próximo de mim estar a cinco metros de distância. — Prometo que não incomodo.
O garoto gorducho, que agora eu sabia ser Peter Pettigrew, suspirou, aliviado, e se sentou para comer seus doces. O garoto alto entrou, ainda me observando, e se sentou em minha frente, logo pegando um livro para ler. Eu o reconheci como Remus Lupin.
— Sabia que íamos chegar a um acordo — o garoto moreno, que agora eu reconhecia como Sirius Black, sorria abertamente para mim.
— Não conheço seu rosto. Eu achei que conhecia todos naquela escola — o moreno de óculos, James Potter, retrucou.
— Isso, caro amigo, se deve a um caso especial de cegueira em que tudo que você vê se resume a Lily Evans — Black retrucou, acertando-lhe uma bolinha encantada com um estilingue. Pera, de onde ele tirou um estilingue?
— Mas é verdade, não conheço você. Quem é você? — Pettigrew perguntou, acanhado, com sua voz fininha. Me controlei para ser educada.
— Meu nome é ... Picquery — decidi manter o novo sobrenome encoberto. Walburga havia me alertado que Sirius poderia reagir mal se descobrisse minha ligação com a família logo de cara. — E vocês?
— Eu sou Sirius Black — meu primo me cumprimentou, piscando.
— Não liga para ele. Bateu a cabeça quando nasceu. Eu sou James Potter — o garoto de cabelos arrepiados apertou minha mão, cordial.
— Eu sou Peter Pettigrew — o garoto de cabelos cor de palha ia imitar os amigos, mas os dedos estavam lambuzados e ele os recolheu, envergonhado.
— E eu sou Remus Lupin — o garoto pálido e alto disse, lançando um rápido olhar gentil por cima dos livros, mas, depois, voltando a se perder neles. — Você é nova aqui? — ele perguntou, sem tirar os olhos da leitura.
— Sim, eu vim de Ilvermorny, nos Estados Unidos, onde eu morava com minha mãe, mas eu vim para a casa do meu pai esse ano e me mudei para Hogwarts. Vou cursar o sétimo ano.
— Olha, você tem sotaque! — Pettigrew falou.
— Isso é óbvio, cabeça oca — Black falou, revirando os olhos para o amigo. — Bom saber que estamos no mesmo ano. Você já chegou conhecendo as melhores companhias que pode ter.
— Já sabe que casa você quer entrar? — Pettigrew perguntou.
— Bom, eu não conheço as casas de Hogwarts, mas na minha antiga escola eu era da casa Serpente Chifruda — comentei, casualmente. — É dita como a casa dos inteligentes.
— Talvez seja como a nossa Corvinal. Quem sabe você vá para lá — Lupin comentou, agora parecendo atento e curioso com a conversa. Mas, quando olhou para mim, desviou os olhos para sua leitura novamente.
— Seria bom que você fosse da Grifinória. É a melhor casa. Mas sou suspeito de falar — Potter comentou, rindo. Tinha um sorriso travesso e simpático.
— Olha, só espero que essa sua serpente seja diferente da serpente que representa a casa da nossa escola, a Sonserina. Não queira ir para lá. Aquilo é espaço apenas de bruxos malignos — Black falou, carrancudo.
— Nem todos são ruins. Mas, ultimamente, parece que todos são praticamente Comensais da Morte — Pettigrew estremeceu.
Franzi a testa, confusa.
— O que é isso?
Os amigos se entreolharam, sérios.
— São tempos difíceis por aqui — Lupin começou a falar. — Bruxos das trevas estão se tornando mais fortes.
— Defendendo a supremacia dos sangue puros, atacando trouxas e nascidos trouxas. Essa gente é cruel por conta de ideais estúpidos — Sirius disse e parecia estar rosnando.
— Existe um bruxo poderoso das trevas que ‘tá liderando tudo isso e seus seguidores são os Comensais da Morte. Praticamente, todos os sonserinos saem daqui já dentro do grupinho de seguidores malucos dele — James completou.
O clima ficou bem pesado por um tempo. Que incrível. Então, além da minha mudança de continente, casa e escola, além de estar cumprindo uma missão sob ameaça, eu ainda estava em um país cuja guerra podia explodir a qualquer segundo. Cada segundo parecia cada vez mais animador.
— Essas coisas sérias me deixam de mau humor. Vamos falar de algo mais alegre — Sirius disse, bocejando.
— É, conta para a gente da sua escola, — James falou, retornando ao tom animado.
Ficamos conversando o resto do caminho, só Remus que saiu por um período para patrulhar os corredores porque ele era monitor chefe. Era meio parecido com os representantes de Ilvermorny. No fim, acabou que conversar com eles ajudou a me distrair das coisas ruins e eu já não fiquei tão emburrada.
Talvez, aquela missão não fosse tão ruim. Eles pareciam um grupo engraçado e divertido. Se aproximar deles não parecia ruim e eu não estava dispensando amigos. Eu só tinha medo de causar algum mal a eles. Mas era melhor não ficar martelando isso. Por enquanto, só tinha que fazê-los confiar em mim.
Quando estávamos chegando, eu os deixei na cabine e fui me trocar no banheiro do expresso. Já era noite quando chegamos à escola. Diferente de Ilvermorny, que me lembrava um palácio de veraneio, Hogwarts me fazia sentir como se eu estivesse em um castelo da Idade Média, mas ele tinha sua beleza, especialmente com aquele céu estrelado refletido em um grande lago. Quando desci do expresso perto dos meninos, contemplei a beleza daquele lugar.
— Alunos novos, por aqui! — Eu ouvi uma voz grave dizer. O seu dono era um homem gigantesco que, se eu não soubesse que gigantes tem no mínimo 5 metros, ia achar que ele poderia ser um.
— Aquele é o Hagrid — James apontou de uma maneira gentil para o homem grande. — Ele é nosso guarda caças.
— É melhor você ir com ele — Remus pontuou.
— Te vemos lá dentro e espero que você seja da Grifinória! — Sirius disse, acenando, e assim todos os quatro entraram em uma carruagem que era puxada por nada visível.
Seguindo junto com os alunos do primeiro ano, me dirigi até aquele homem grandão.
— Hm... é, com licença, sr. Hagrid? — tentei chamar educadamente.
O homem procurou quem o chamava e me encarou com olhos confusos.
— Boa noite, perdeu as carruagens?
— Na verdade, eu sou nova aqui. Transferida de Ilvermorny — eu falei apressadamente. — Meu nome é . Um monitor me falou que você poderia me levar.
— Ah, claro, claro! — ele falou, me dando tapinhas nas costas, que eu achei que eram para ser gentis, mas quase me mandaram para dentro do lago. — Entre em algum barco. Quatro alunos por vez!
Eu me senti completamente desconfortável e levemente humilhada entre aqueles alunos pequenos. Alguns me olhavam com curiosidade, outros com admiração e alguns com zombaria. Para esses, eu levantei levemente minha varinha e olhei séria. Aquilo os fez ficarem quietos.
Quando finalmente desembarcamos, Hagrid nos deixou à porta, que se abriu e revelou uma mulher de cabelos negros com a cara bem séria. O tipo de pessoa que eu logo vi que não se brinca.
— Aqui estão, professora McGonagall, os alunos do primeiro ano. Ah, e nossa transferida — ele apontou para mim como se fosse necessário apontar para a única garota de 17 anos no meio das crianças de 11.
— Obrigada, Hagrid, agora eu cuido deles.
A professora os conduziu escadas acima até pararem em frente a uma grande porta que abafava o barulho de várias pessoas conversando.
Ela fez um discurso de boas-vindas e falou que ocorreria a seleção que nos dividiria nas quatro casas. Explicou rapidamente o que eram essas casas e seus nomes. Bem parecidas com Ilvermorny mesmo.
— Agora, façam fila e me sigam — ela anunciou ao final do discurso.
As portas foram abertas, revelando um lindo salão encantado. O teto era como um grande céu estrelado, mas haviam velas penduradas. Quatro mesas compridas se estendiam na vertical e eu vi de longe quatro garotos na mesa vermelha que pareciam os meninos do trem. Em frente, uma mesa onde todos os professores e diretores estavam sentados. Hagrid estava lá também.
Mas então eu percebi. Cadê as estátuas que faziam a seleção?
A professora McGonagall colocou um banco simples de madeira em frente a todos, com um chapéu muito velho em cima. E, de repente, o chapéu estava cantando. Era algo bem idiota sobre a criação de Hogwarts, os fundadores e que, para sermos selecionados, só precisávamos experimentar o chapéu que ele anunciaria nossa casa. Tão diferente de Ilvermorny, onde a estátua representante de cada casa se manifestava se queria o aluno na sua casa.
Quando todos terminaram de aplaudir a música do Chapéu Seletor, como ele tinha se autodenominado, a professora McGonagall falou, lendo um longo pergaminho:
— Quando eu chamar seus nomes, vocês porão o chapéu e se sentarão aqui para a seleção.
E, nisso, ela começou a chamar todos os alunos em ordem alfabética, mas o meu nome nunca chegava. Então, depois que todos os alunos novos foram selecionados e só sobrava eu, no meio do salão, com todos os olhos me encarando, curiosos, a professora anunciou:
— Black, .
Se antes as pessoas estavam me encarando, agora estava tudo muito mais intenso. Especialmente os olhares das mesas vermelhas e verdes. Eu ignorei a todos e andei até o banco de cabeça erguida. Se quisessem me olhar, que vissem meu melhor ângulo.
Eu me sentei no banco de madeira e o chapéu foi colocado na minha cabeça, cobrindo toda a minha visão. Tudo estava preto e uma voz começou a falar na minha cabeça.
— Interessante. Corajosa, mas não se jogaria em qualquer batalha. É esperta. Inteligente e poderosa. Mente aberta. Mas uma grande vontade se provar. E não podemos esquecer que é mais uma Black. Ah, mas eu vejo que é mais do que isso. Criança, você não sabe o que você tem dentro de si.
O que isso queria dizer? Que saudade quando tudo era simplesmente um mero sinal de uma pedra entalhada. Aquilo estava me irritando.
— Não fique impaciente tão cedo! Pois bem, você tem um grande potencial e muito a descobrir. Eu já sei onde você deve ser colocada.
Ele fez uma pausa dramática e, agora, ao invés de falar apenas na minha cabeça, falou para todo o salão:
SONSERINA!

Capítulo 2

A mesa explodiu em aplausos e eu fui para lá, meio receosa. Não era aquela casa que os garotos falaram que era ruim? Mas eu não era ruim. Era?
Olhei para a mesa verde e percebi que Regulus estava lá, com sua gravata verde e um sorriso enviesado. Eu estava ferrada. Esse garoto agora ia poder me observar 24 horas por dia. Como se eu precisasse de mais algo.
Quando me sentei, o diretor Alvo Dumbledore, um dos bruxos mais famosos e poderosos da história, falou algumas palavras esquisitas e falou para o jantar começar. Definitivamente, não era o que eu esperava do grande vencedor do duelo mais famoso do século, mas, na mesma hora, a mesa se encheu de comidas quentinhas e frescas. Nossa, eu nem percebi que estava morrendo de fome até aquele momento.
— Ei, Black — uma garota em minha frente falou. — Black! — ela repetiu e eu finalmente entendi que era comigo.
— Ah! Eu?
— É, não é? Quem mais? — a garota revirou os olhos. — Então, você é parente do Regulus e do Sirius?
— Bom, acho que sim! — eu disse, engolindo os bolinhos de carne. — Ouvi falar que eles são meus primos, mas só descobri hoje. Só conheço minha família americana e sempre respondi pelo meu sobrenome americano.
— Que doido chegar em um lugar sem nem conhecer ninguém, sendo que algumas dessas pessoas são até da sua família — ela disse, jogando o cabelo, que estava preso em um elaborado penteado, para trás e pegando mais suco de abóbora.
— É. E você, qual seu nome? — perguntei.
— Sou Snyde. Reydana Snyde. Mas pode me chamar de Rey — ela disse, estendendo a mão.
— Pode me chamar de ou , como você preferir — eu respondi, sorrindo. Rey não parecia ser ruim nem nada daquilo que os meninos falaram. Pelo contrário, ela parecia legal. E era estilosa.
— Adorei o seu cabelo e suas pulseiras.
— Ah, valeu — ela disse, automaticamente passando as mãos no cabelo e ajeitando o penteado complicado. — Então, você veio dos Estados Unidos? Em que ano você vai estudar?
— Eu era de Ilvermorny e vou fazer meu último ano aqui em Hogwarts — respondi e percebi, assombrada, que o jantar magnífico fora substituído por sobremesas mais magníficas ainda.
— Então vamos ser colegas de quarto — ela disse, com um sorriso pequeno, mas sincero. — Se você quiser, eu te ensino a fazer alguns penteados assim.
— Eu amaria! — respondi, animada.
— Ei, Rosier! — Rey chamou e um garoto e uma garota olharam. — Essa é a . A outra Black.
— E aí — a garota de cabelos loiros e olhos verdes com um rosto enviesado falou, antes de se voltar, de novo, para a garota ao seu lado.
— Tudo bem? — o garoto falou, mais simpático. Tinha traços muito bonitos, mas, diferente da outra, tinha um rosto mais gentil. — Eu sou Evan e aquela é minha irmã, Martha.
— Prazer — eu sorri para eles.
— Aquela conversando com Martha é Layla Greengrass. Elas também são do nosso ano, então elas estão no nosso dormitório. Layla é a monitora chefe e aquele ali — ela apontou para um garoto de cabelos pretos até o ombro e oleosos — é o Severo Snape, o outro monitor chefe. Ao lado dele — ela apontou para um garoto de sobrancelhas grossas — é o Jake Wilkes, também do nosso ano e bem amigo do Rosier.
— Com quem você fala mais? — perguntei, mordendo um pedaço de uma torta de limão. Cara, aquilo estava uma delícia.
— Normalmente, falo mais com o Rosier e, às vezes, o Wilkes. Layla também é gente boa, mas vive grudada com Martha e a gente não se bate muito. A gente só se ignora — Rey disse, como se isso fosse super normal. — Você vai adorar nosso salão comunal. Ele é embaixo d'água.
— Que irado! — eu falei, tentando parecer animada.
Ela me analisou.
— Você não sabe o que é um salão comunal, né?
— Não — eu admiti.
Por fim, ela me explicou sobre as aulas, as casas, o quadribol, os salões, os exames (NOMs e NIEMs) e várias outras coisas da escola. Muitas coisas eram parecidas e outras bem diferentes. Como Ilvermorny tinha sido criada por imigrantes bruxos, fazia sentido ter tido tantas inspirações.
Ela estava terminando de me contar sobre a rivalidade da Grifinória e da Sonserina (que era milenar! Briga entre fundadores? Hogwarts tinha. Enquanto isso, em Ilvermorny, os fundadores eram uma família feliz. Bem menos drama), quando o diretor Dumbledore se levantou e começou a discursar.
— Agora que estamos de barriga cheia e mais bem humorados, gostaria de dar algumas palavrinhas.
— Ele é tão engraçado! — eu sussurrei para Rey. — Não imaginava o maior bruxo do último século assim.
— Ele é um louco. Um velho caduco e chato. Mas é um gênio — Rey murmurou de volta.
— Primeiro, para avisar aos alunos novos e relembrar os antigos, é proibido andar na floresta da propriedade.
— Qualquer um que vá é louco, não se sabe tudo o que existe naquela floresta — minha nova amiga falou baixo para ninguém em especial.
— O nosso zelador Argo Filch — o diretor continuou — pediu para lembrar que é proibido fazer magia nos corredores. A lista atualizada de produtos mágicos proibidos estará pendurada perto da sala do sr. Filch. É proibido andar pelos corredores depois do toque de recolher. Mas falemos de coisas boas. Os testes para o time de quadribol começarão daqui a duas semanas, quando seus capitães marcarem. Agora, vamos dormir! Alunos novos, fiquem perto de seus monitores!
Rey fez um gesto com a cabeça me chamando para segui-la e eu levantei da mesa. Admito que a segui igual a um cachorrinho perdido, mas fingi que estava super bem resolvida.
Enquanto saíamos, eu vi, do outro extremo do salão, um grupo de quatro alunos vindo em nossa direção e me encarando. Eu imaginei que eles estivessem confusos e irritados. Peter tinha uma expressão intrigada, James tinha as sobrancelhas franzidas, Remus me olhava como uma questão particularmente difícil e confusa de uma prova. Não preciso dizer que Sirius estava furioso. Olhei para cada um e segui minha amiga. Já era muito tarde para explicações.
Seguindo o corredor, eu percebi que muitos ainda tinham olhos fixos em mim.
— Reydana, é impressão minha ou estão realmente me encarando?
— O que você esperava? Você é uma estrangeira novata com o nome Black e bem atraente — ela disse, completamente direta e indiferente, como se estivesse falando do clima.
— Então eles estão interessados em mim? — eu ri com a ideia.
— Não duvido nem um pouco. Esse bando de bombas de hormônios... Evan estava quase te engolindo com os olhos.
— Acho que eu devia aproveitar a oportunidade — eu disse e ela levantou uma sobrancelha, rindo. — Quer dizer, a não ser que já tenha território marcado por você.
Ela deu uma gargalhada, completamente sarcástica.
— Acredite, a última coisa que eu quero é me envolver com alguém minha vida toda. Beijos são nojentos e amor é uma fraqueza.
— Então sobra mais para mim — eu disse, olhando para um garoto que me encarava por alguns segundos e abrindo um sorriso lento. Ele ficou vermelho como um pimentão. Eu não me aguentei de rir. — Você viu aquilo? Ah, cara, vou me divertir muito aqui.
Nós caminhamos até o subsolo e chegamos às masmorras.
— Ei, Snape, qual a senha? — Reydana falou, completamente seca.
Serpensortia — o garoto de cabelos pretos sebosos respondeu no mesmo tom, sem nem olhar para ela. Nesse momento, uma sala se revelou.
Era muito bonita. A luz mais escura não doía os olhos e a visão do que estava submerso no lago era fascinante. Até as chamas verdes da lareira eram hipnotizantes.
— Vamos, vou te mostrar seu dormitório. Já devem ter colocado a cama extra para você — Rey me guiou para um corredor à direita. — Aqui são os dormitórios femininos. E aqui é o nosso — ela disse, abrindo uma porta.
Quatro camas de dossel com cortinas e cobertas verde e prata se estendiam com o malão de cada uma demarcando as camas. Nós havíamos chegado primeiro e trocamos o malão de Layla com o meu para minha cama ficar ao lado da de Rey.
— Elas não vão reclamar. Estão sempre juntas. E, se reclamarem, estou o verão todo querendo treinar novos feitiços agora que sou maior de idade — Rey disse, simplesmente.
Nos ajeitamos para dormir e, pouco depois, as outras garotas chegaram. Basicamente, ficamos a noite inteira em conversas paralelas, até Layla e Martha deitarem e nos ameaçarem, se não calássemos a boca. Rey revirou os olhos e parecia prestes a falar ainda mais, contudo, eu já estava cansada mesmo. E não queria mais problemas do que a simples existência do Regulus o tempo todo perto de mim já iria trazer.
No dia seguinte, acordei bem mais cedo do que eu queria. Tive um sonho confuso em que minha mãe aparecia na escola com aquelas malditas Walburga e Belatrix, enquanto Regulus dizia de fundo “quem mandou você afastá-los?”. Mesmo assim, acho que até alguns pesadelos eram melhores do que acordar cedo para assistir aulas e, talvez, encontrar um dos personagens do pesadelo tão cedo. Isso, se os quatro grifinórios não viessem me pedir satisfação.
A única coisa que me convenceu a levantar é que, se o jantar já estava delicioso, o café da manhã, que era minha refeição preferida, teria comidas ainda mais maravilhosas.
Quase valeu a pena acordar cedo quando, já no Salão Principal, eu sentava com Rey e devorava deliciosas panquecas. Ah, eu ia acabar com minha saúde nessa escola.
Quando terminei de comer, eu decidi passar meu batom vermelho antes de ir para a aula. Na mesma hora, vários garotos me encararam.
— Ah, isso é tão divertido — eu disse, rindo para Rey.
— Essa cor é muito Grifinória. Por que não usa um roxo ou preto? — ela respondeu, simplesmente.
— Porque, infelizmente, vermelho é minha cor.
Ela me analisou.
— É verdade. Combina com sua pele clara e seus cabelos e olhos escuros. E, se quer mesmo ter efeito, deixa a gravata meio solta e abre os dois primeiros botões — ela disse, me ajeitando. — Coloca a blusa para dentro da saia.
— Certeza? — eu perguntei, agora meio insegura. Era só uma brincadeira.
— Quem você disse que era extremamente estilosa? ‘Tá duvidando agora?
— ‘Tá bom, Snyde! Você venceu — eu peguei as minhas coisas e levantei da mesa. Na mesma hora, olhares para todas as partes do meu corpo me seguiam. — Caramba, garota, você é boa!
— Claro que eu sou — ela disse, dando de ombros.
— Senhorita Black? — Ouvi uma voz me chamar.
Era o professor Horácio Slughorn. Era o diretor da Sonserina. Ai, meu Deus. Será que eu já tinha feito algo errado? Quebrei algum código de vestimenta?
— Olá, professor Slughorn. Algum problema? — falei, nervosa.
— Ho-hô! Não mesmo! Vim apenas te entregar seu horário. Baseado nos exames do seu país e das matérias que você assistia, acho que essas vão ser suas aulas — ele disse, me entregando um papel.
— Ah, muito obrigada, professor!
— Não há de quê! Mal espero para te ver nas aulas de Poções. — Ele me deu dois tapinhas no ombro e saiu.
— É claro que ele ‘tá interessado em você — Rey falou. — É uma Black intercambista que ninguém conhecia. Ele vai querer saber da sua família toda e, talvez, te colocar no Clube do Slugue.
— Que isso?
— Algo muito estranho para ser descrito por palavras — ela disse com uma cara de nojo.
— Então é ruim? — eu perguntei, nervosa.
— Depende. Tem gente que mal espera para entrar. Mas acho que artistas como eu não são tão bons para entrarem em um grupo como esse, apenas para os melhores e mais talentosos.
Ali estava. Um pouco de rancor por não ter sido convidada.
— Qual sua primeira aula? — ela disse, arrancando o papel da minha mão. — Ah, é Herbologia. Eu também. Bora lá.
Ela me guiou até as estufas e, assim, meu dia foi preenchido por várias aulas, algumas matérias mais conhecidas que outras. Foi muito legal conhecer os professores e até outros alunos. E, admito, eu estava me saindo muito bem e isso me deixava muito feliz. Nada me deixava melhor do que eu ser boa em algo e ganhar destaque. Não tem nada errado em uma garota alimentar um pouco seu ego, não é? Mas eu descobri que tinha concorrentes à altura.
No final da última aula do dia, Transfiguração, eu percebi, pelo olhar dos meus quatro acompanhantes do Expresso, que eu não ia conseguir fugir daquele interrogatório. Por isso, ao final da aula, eu virei para Rey e disse:
— Já aprendi o caminho para o Salão. Vai na frente e guarda lugar para a gente. Tenho só que resolver umas coisas.
Ela olhou para os quatro garotos que nos encaravam e depois para mim, por fim dando de ombros, saindo da sala.
Eu fingi estar organizando minha mochila e ouvi aqueles passos se aproximando de mim.
— Então, olha quem ‘tá aqui — eu ouvi a voz de Sirius, cheia de raiva. Eu continuei arrumando minha mochila, mas, quando eu percebi que eles não falariam nada até eu encará-los, eu levantei, jogando o cabelo para trás.
— Até que vocês demoraram — eu disse, com um sorriso discreto que eles confundiram com sarcasmo.
— Chega de piadas, sua mentirosa — Sirius disse, ainda mais irritado. — Que palhaçada de história é essa que você ‘tá se passando por uma Black?

Capítulo 03

Suspirei, colocando a mão na cintura.
— Eu vou ser bem honesta com vocês. — Os quatro pares de olhos me encaravam, carrancudos. — Eu descobri ontem sobre isso do meu nome, também. —Mentira. — Sempre usei o sobrenome da minha mãe, que foi o que disse para vocês...
— Com licença — a professora McGonagall chamou, sem paciência. — Existem dezenas de espaços nesse castelo para conversinhas, mas essa sala precisa ser trancada.
— Ah, certo, professora — Lupin disse, nervoso.
— Já estamos saindo — Potter acrescentou.
— Foi mal, professora! — eu disse, acenando um tchauzinho.
Já havíamos saído da sala, quando Black agarrou meu braço.
— Que porr...
— Nem pense em sair. Você não vai a lugar nenhum — ele disse, me interrompendo.
— E quem disse que eu ia?! — protestei, tentando soltar meu braço, mas ele continuou preso.
— Sirius, larga ela — Remus colocou.
— É, cara, pode machucar — Pettigrew falou, assustado, como se fosse ele na situação.
— Me solta — eu murmurei. Caceta, que garoto forte. — Eu quero falar com vocês.
Black me encarou profundamente, com ódio nos olhos, mas depois olhou os amigos e se acalmou um pouco. Por fim, ele me soltou. Aquilo ia deixar marca, certeza.
— É melhor continuar falando, Picquery. Antes que eu mude de ideia.
Suspirei. Esse garoto tinha muitos problemas. Mas eu tinha que conquistar a confiança dele e dos amigos, então, continuei.
— No dia do embarque, meu pai me chamou em um canto e me disse que eu estava inscrita com o sobrenome dele. Um sobrenome que eu nem conhecia. E ainda me disse que eu tinha dois primos na escola. Regulus, que ele disse ser complicado. E você.
— Então, você já sabia na cabine, mas não falou nada — James constatou.
— Eu tinha acabado de descobrir. E meu pai falou que você não era muito fã da família — eu disse, olhando para Sirius. — Eu sou nova, de outro continente, chegando em um lugar onde todos já se conhecem e ainda descubro que tenho outra família não muito amigável. Vocês foram minha primeira chance de amizade, não queria perdê-la por um sobrenome que eu nem sinto que é meu.
Peter, Remus e James me olhavam de forma mais simpática. Mas Sirius ainda me encarava feio.
— Então, seu pai me conhece e conhece meu irmãozinho — ele disse, sarcástico, o sotaque britânico gritante. — E disse que somos primos. Quem é seu pai?
— Alphard — eu falei, simplesmente, mas vi o choque em seu olhar.
— O quê?! Tio Alphard... tem filhos?
— Eu diria só filha, a não ser que eu também tenha irmãos e não saiba — eu disse, confusa. — Não seria a maior surpresa da semana.
— Então, ele te escondeu da família esse tempo todo. Esperto... — Sirius disse, com raiva.
— E Regulus? Como reagiu? — Remus perguntou, curioso.
— Ele não veio falar comigo, só me olha feio de longe. Parece meio maluco.
— Ele com certeza é — James revirou os olhos.
— Olha, não importa suas desculpas. Você mentiu — Sirius disse, a raiva voltando aos olhos. — E ainda foi para a Sonserina, então coisa boa em você não tem.
— Pera lá — eu disse, irritada. — Você ‘tá me julgando sem me conhecer só pela minha casa. E um monte de gente de lá foi simpática comigo.
— Claro que foram simpáticos com você, você é da casa deles — James falou.
— Eles só tratam bem os seus iguais — Sirius confirmou.
— Ué, e você não ‘tá assumindo coisas ruins sobre mim só por ser da Sonserina? Não ‘tá sendo rude? Mas os seus iguais você trata com respeito. Acho que isso não é exclusivo da minha casa, é?
Touché — Lupin exclamou.
— Cala a boca, Remus. ‘Tá do lado de quem? — Sirius disse, emburrado. O amigo só abriu um sorrisinho e revirou os olhos.
— Olha, eu sei que eu menti, mas eu já expliquei o porquê e disse tudo o que podia. Falei a verdade.
— E por que a gente deveria acreditar se você já mentiu antes? — Pettigrew falou. Ai, achei que ele seria o mais bobinho, mas aquela doeu.
— Eu não sei — admiti. - Mas já respondi vocês. Cabe a vocês acreditarem ou não.
Naquele momento, meu braço ardeu onde Sirius havia apertado e eu instintivamente o segurei com a outra mão. O movimento não passou despercebido pelo garoto.
— Eu... me desculpa. Preciso... preciso pensar — Black disse e seguiu o corredor em direção às escadas.
— Você não parece má gente, . Espero que não seja — Potter falou, sorrindo, antes de correr atrás do amigo.
— Desculpa o jeito que falamos com você. Er... tchau! — Pettigrew saiu como um rato apavorado atrás dos outros.
— É melhor dar uma olhada nesse braço — Lupin, o último que tinha ficado, constatou.
— Não é nada demais, já passa.
— Por experiência própria, machucados que deixamos de lado são muito piores depois de cuidar.
— Ainda acho desnecessário, mas obrigada pela preocupação. É parte do trabalho de monitor ou você é assim? — eu o provoquei, sorrindo.
— Acho que ‘tá mais para a parte de um pedido de desculpas — ele deu de ombros. — Não se chateie com o Sirius. Ele foi um babaca. Mas não é assim sempre. Família é algo delicado para ele. E sei que ele se arrepende te ter te machucado.
— Você é um bom amigo ao falar isso, mas quem precisa se tocar disso é ele. Bom, acho melhor você encontrar seu grupinho. Tenho a impressão que vocês estão sempre grudados.
— É, bom, os marotos gostam de andar juntos. Tchau, — ele se despediu, gentil, antes de seguir o mesmo caminho dos seus amigos.
Marotos? Que nome ridículo, eu pensei, rindo. Mas, por algum motivo, eu senti que combinava com eles.
Com todos longe, respirei fundo. Cara, aquilo tinha sido muito mais intenso do que eu pensei. Meu braço ainda ardia e meu coração batia acelerado no meu peito. Eu sentia minha missão escorregar para longe do meu alcance. Eu tinha que fazê-los gostarem de mim. Mas, droga, como eu ia fazer aquilo com eles cheios de desconfiança?
Eu sentia saudades da minha antiga escola. O jeito que todos eram unidos. Claro, tínhamos nossas competições e rixas, mas nada nesse nível. Sentia falta de estar em um lugar que eu conhecia. No conforto de casa. Sentia falta da minha mãe.
E eu sentia falta de não ver a vida de meus pais ameaçada.
Respirei fundo e decidir ir para o Salão Principal jantar. Meu estômago roncava, mesmo ainda um pouco embrulhado de nervosismo, e nada melhor para afastar as preocupações do que comer.
Mas, logo na entrada, eu já encontrei alguém capaz de arruinar o meu humor.
— Ora, ora, se não é minha priminha estrangeira — Regulus disse, sorrindo, e eu revirei os olhos.
— Olha, se não ‘tá claro, eu estou morrendo de fome, não tenho tempo para uma reunião de família — eu bufei, começando a me afastar. Eu sempre quis primos, mas, pensando bem, antes eu estava muito melhor sem eles.
— Olha aqui você, sua vadia — ele disse, agarrando meu braço machucado. Não pude evitar gemer de dor. Ele se aproximou e começou a sussurrar. — É melhor você lembrar a sua posição aqui. Então, respeite quem pode mudar sua vida em apenas um segundo. Sou eu quem pode dizer que você ‘tá se esforçando na sua missão e deixar seu papaizinho salvo. Ou... — ele segurou meu braço ainda mais forte, me fazendo gritar de dor — Sou eu que posso dizer que você ‘tá falhando e aí sua mamãezinha sofre nas nossas mãos.
Antes que eu pudesse reagir de raiva, ele já tinha sumido na massa de alunos. Ninguém o viu me ameaçando. E, mesmo que vissem, o que poderiam fazer?
Entrei no salão, dividida entre o ódio e a dor. Reydana me encarou e ergueu uma sobrancelha enquanto eu sentava.
— Parece ter sido uma conversa bem agradável — ela disse, botando mais ensopado no prato.
— Esses garotos me estressam — bufei.
Aos poucos, fui me acalmando com a comida e fiquei mais feliz vendo que tinha torta de limão no jantar. Eu e Rey conversamos um pouco sobre o primeiro dia para distrair, até que ela olhou minha cara com aquela expressão de quem consegue ler a alma dos outros.
— O que ‘tá te preocupando?
Fiquei assustada, mas tentei tirar o assunto de foco.
— Eu? Nada. Qual a aula de amanhã?
— Você ‘tá sim. Parece... frustrada. Como se algo tivesse dado errado.
— É que... sinto saudades de casa.
— Verdade. Mas não é isso que ‘tá na sua cabeça.
— Reydana, você já pensou em ser vidente? — Minha amiga continuava me encarando e eu percebi que ela não me daria trégua. — ‘Tá bom, é que... algo que eu queria muito que acontecesse não aconteceu.
— E tem a ver com o grupinho irritante da Grifinória? — Não contive o susto e arregalei os olhos. — Foi o que pensei. O que você quer com eles?
— Eu... — Droga, ela ia perceber que eu estava mentindo. Eu tinha que falar a verdade. Só que omitida. — Eu queria muito me aproximar deles.
— Hm — ela disse, provavelmente percebendo a sinceridade. — E por quê?
— Assunto meu — eu repliquei. Gostava de Rey, mas ainda éramos recém conhecidas. Uma garota precisa da sua privacidade, sabe?
— Então ‘tá — Reydana disse, mas tinha os olhos apertados. Duvidando de mim.
Ela ia ficar curiosa e ia acabar investigando. E descobrindo tudo.
Não. Eu precisava dar um motivo convincente para que ela se contentasse. Mas qual seria um motivo justo e suficiente para uma adolescente fazer isso?
Lembrei dos olhares gentis do garoto que ficou para trás para checar se eu estava bem e minha respiração acelerou de leve, constrangida. Ali estava um bom motivo para uma garota adolescente fazer qualquer coisa: um garoto.
— Promete que não vai contar para ninguém?
— Prometo.
Ela me olhou e, embora tentasse fingir sua indiferença de sempre, eu conseguia perceber que ela estava ávida para descobrir tudo.
— Ok — eu suspirei e deixei meu nervosismo aflorar. Aquilo tinha que soar real. — Bom, eu sei que eles são da Grifinória, mas... — mordi o lábio, segurando uma risadinha. — Eles também são bem bonitos.
Reydana soltou uma risada.
— Claro que tinha que ser sobre esse seu joguinho de conquistas. E o truque do batom vermelho não funcionou com eles?
— Infelizmente, não — suspirei. — Acho que vou ter que conseguir ser amiga deles primeiro. Só que eles me odeiam só por eu ser da Sonserina. Coisa daqueles caras da morte, não lembro.
— Comensais da Morte — Rey disse, fechando a cara. — Entendo a suspeita deles. Realmente, muitos alunos da Sonserina estão se aliando ao Lorde das Trevas. Até meu irmão e a namorada entraram. E o grupinho do Regulus e do Snape tem adoração por isso. Mas eu não quero — ela disse, enfática, levantando o queixo. — E nem vários outros alunos. E já ouvi de vários alunos de outras casas que se aliaram. Então, não é a casa que define. A questão é que a maioria dos puro sangues estão aqui na Sonserina e defendem essa supremacia.
— Isso é tão louco! É praticamente impossível não ter uma mistura, mesmo que pequena, no sangue.
— Pois é, mas quem disse que eles são muito racionais? — Rey disse, limpando a boca e se levantando. — Vamos voltar.
Depois de um dia completamente longo e exaustivo, quando chegamos ao quarto, eu só pensava em tomar um banho e depois dormir. Dormir por muito tempo. Será que eu podia dormir até a semana seguinte e dizer que alguém me deu uma poção para dormir? Não seria muito culpa minha, certo?
Quando entramos no dormitório, no entanto, a primeira coisa que eu notei foi um pedaço de pergaminho na minha cama. Cutuquei ele com a varinha e, ao perceber que nada pegou fogo, eu o abri.

“Seus cabelos são escuros
Seus lábios são carmim
Se eu te pedir para me encontrar
No sábado, depois do toque de recolher, na Torre de Astronomia,
Você dirá que sim?


Responda nesse papel e o deixe embaixo do livro amarelo da terceira mesa. Não tente me ver, pois não conseguirá.”

Eu me acabei de rir. Eu estava recebendo a proposta de um encontro? Que baboseira de poema brega!
— Que isso? — Rey perguntou e eu, ainda rindo, só consegui lhe passar o papel. Logo, ela estava gargalhando comigo. — Pois é, então confirmamos que o batom vermelho fez sucesso!

Capítulo 04

— Bom dia, Rey — eu disse para a minha amiga que estava acabando de acordar.
— ‘Tá maluca, Black? Por que você já ‘tá acordada? — minha amiga resmungou, um olho aberto e o outro ainda lutando.
— Acho que estou me acostumando ao fuso horário — eu disse, retocando o batom vermelho. – Além disso, temos aula.
— Não temos não, hoje é sábado — Reydana replicou, os dois olhos fechados agora.
— Ah, é. Então temos que fazer os deveres.
Snyde não me respondeu e eu imaginei que ela tivesse voltado a dormir.
— Vamos, Rey, você prometeu que hoje me ensinaria algum penteado bonito! — eu falei, agitada, ao lado dela.
— Quer um penteado? Enfia o cabelo na goela e cala a boca — Martha resmungou, jogando os cobertores por cima da cabeça.
Ah, é. As outras meninas também estavam dormindo.
— Ops — eu falei, baixinho.
Mas a bronca de Rosier fez Reydana arregalar os olhos e já começar a se espreguiçar como se tivessem injetado cafeína em seu sangue.
— Tem razão, , hoje é um novo dia que temos que aproveitar! — Rey disse com seu tom adorável e falso. — Qual penteado você quer?
Os dentes de Martha rangiam.
— Uma trança embutida beeem longa — eu respondi, segurando o riso.
— Vou só trocar de roupa — Rey anunciou alto.
Depois de revirar seu malão inteiro da forma mais escandalosa possível, Snyde rearrumou suas roupas de forma igualmente barulhenta. Quando ela acordou, Martha estava em pé como um inferi, olhando muito feio para Reydana.
— Martha! Você está acordada! Perdão, não te incomodamos, incomodamos? — Rey continuou a falsa felicidade e simpatia.
A garota Rosier nos olhos com puro ódio, resmungou algo muito próximo de uma Maldição Imperdoável e saiu, nos fazendo gargalhar.
— O pior é que a coitada da Layla continua dormindo — Rey disse, já em sua forma normal, apontando para a loirinha em um sono profundo.
— Aqui, o que tem entre você e a Rosier? Você disse que vocês não se batem bem, mas é só isso? — indaguei, curiosa.
Reydana suspirou fundo.
— Acho que não tem problema te contar. Não é nada muito definido — ela disse, dando de ombros. — Ela era a irmã do meu melhor amigo e ela não queria dividi-lo. Sendo sincera, nem eu — Rey sorriu amarelo. — E a gente meio que criou uma competição. Além disso, Martha acredita completamente na ideia dos Comensais e eu acho isso ridículo. Evan também e ela diz que a culpa é minha. Nem conhece o próprio irmão.
— Que loucura — eu falei, arregalando os olhos.
Saímos do dormitório em um longo silêncio, até que Snyde voltou a falar.
— Para ser sincera, eu tenho medo. Medo de que Evan siga o mesmo caminho de Martha por medo de ela se machucar.
— Acho que você não tem como interferir muito nisso, Rey, então não vale a pena ficar revirando essas coisas na cabeça — eu falei, tentando escolher as melhores palavras. — Só seja uma boa amiga para Evan e o ajude a lembrar quem ele é.
— É, tanto faz — Rey desconversou, tentando manter a pose de durona desinteressada, mas eu vi um pequeno sorriso em seus lábios. — Mas e aí? Para que acordar tão cedo?
— Sabe como é, muitos deveres para colocar em dia — eu disse enquanto chegávamos à porta do Salão Principal.
— Você não é uma mentirosa ruim, mas eu não sou qualquer uma para ser enganada fácil — Reydana falou. — Então, me diz. É por que é hoje que você vai descobrir o dono do bilhete? Pela sua cara, é óbvio que sim.
Rey tinha acertado em cheio. Desde que eu recebera aquela mensagem, eu estava extremamente ansiosa para descobrir. E se fosse um garoto bonito querendo se declarar? E se fosse uma pegadinha? Realmente me achavam bonita a esse ponto ou Rey apenas dizia isso para me incentivar e não me deixar mal? Eu nunca tinha sido o centro das atenções e ali eu parecia ter ganhado uma semana nos holofotes, ganhando mais olhares do que jamais ganhei na vida. Mas e se estivessem só me achando esquisita? Ou querendo descobrir quem eu sou por causa do meu sobrenome?
— Garota, é melhor você parar de pensar tanto porque, pela sua expressão, sua cabeça vai explodir! — Snyde me chamou a atenção, empurrando uma tortinha para meu prato.
Eu dei uma risada fraca e decidi seguir o conselho dela. Não havia como saber. E eu me conhecia. Se tentassem me ridicularizar, eu ia tentar dar um jeito de sair por cima. Nem que tivesse que virar o feitiço contra o feiticeiro. Talvez até literalmente, se me jogassem alguma magia.
— Vamos, acaba de comer que eu ainda nem fiz a trança no seu cabelo — Rey disse, limpando a boca cheia de farelos.
— Eu falei zoando, não precisa fazer trança nenhuma.
— Ah, mas eu quero fazer. É mais fácil fazer nos outros do que em si mesma. Eu preciso treinar. E você tem que se arrumar para encontrar o poeta hoje.
— E se foi uma pegadinha? — eu expus o que estava pensando.
— Difícil. Mas, se for, vou te ensinar um feitiço que vai dar uma lição em qualquer um rapidinho.
Eu não pude deixar de rir e até ficar empolgada enquanto voltávamos para o salão comunal. Durante o resto do dia, fizemos os deveres de Transfiguração e Defesa Contra as Artes das Trevas. Eu estava bem adiantada em Transfiguração em Ilvermorny, o que deixou tudo mais fácil, mas tive que me esforçar um pouco mais em DCAT, mas era difícil com minha Rey contando diversas lendas sobre a maldição do cargo.
No final da tarde, estávamos passeando perto do Lago, para aproveitar o fim do verão, enquanto Rey me contava mais daquela área, já que passamos a semana praticamente dentro do castelo, sugadas pelas aulas.
— Esse é o Lago Negro. Você veio com os novatos de barco nele, não é? — Rey falava.
— Sim! É tão diferente de dia... menos sinistro. A gente pode nadar? — eu perguntei para ela, animada.
— Acho que nunca vi isso — ela ficou pensativa. — Mas não sei se é por não ser permitido ou porque as pessoas têm medo dos sereianos e da Lula Gigante.
Eu não pude deixar de rir.
— As pessoas inventam cada coisa.
Rey franziu a testa.
— Mas tem uma Lula Gigante e sereianos no Lago. E acho que coisa muito pior.
Eu continuei rindo um tempo, até perceber que ela continuava impassível. De repente, a ideia de nadar naquelas águas já não estava tão atrativa. Continuamos o tour pela parte externa.
— Esse é o Salgueiro Lutador. Ele ‘tá aqui desde que entrei na escola.
— Uau, é lindo — eu disse, sem conseguir não me deslumbrar com aquela árvore enorme.
— É maravilhoso. E tem a capacidade de arrancar sua cabeça. Então, só admire de longe.
— Como assim? — indaguei, bem confusa.
— Só olha.
Depois de dizer isso, Rey fez a gente se afastar mais, pegou uma pedra do chão e arremessou em direção à árvore. Aquilo estava patético. A pedrinha bateu no tronco e caiu no chão logo depois. Normal.
Era o que eu achava. Logo em seguida, a árvore começou a se remexer e seus galhos começaram a tentar acertar qualquer coisa que se mexia. Poucos minutos depois, ela voltou a ficar estática. Meu estômago estava meio embrulhado.
— Não existe nada menos mortal por aqui não? — eu perguntei, engolindo em seco.
— Tem o corujal. Mas não ofenda nenhuma coruja ou tudo pode virar mortal também. — Minha amiga caçoou.
Depois de uma tarde aproveitando o ar fresco e cercadas de várias coisas mortais (o terreno era, literalmente, contornado por uma floresta sombria e cheia de criaturas perigosas. Que tipo de escola para crianças era aquela?), nós voltamos e tomamos um banho refrescante antes de cair de cara nos estudos de novo. Teríamos exames decisivos ao final daquele ano e não podia dispensar uma boa dedicação.
Quando já estava cansada, escrevi uma carta para minha mãe e uma para meu pai. Demorei quase uma hora só na carta de mamãe. Sempre fomos muito próximas e eu sentia saudade, além de ficar preocupada. Queria que houvesse uma maneira de avisá-la que estávamos sendo observadas sem que ela fosse colocada em ameaça. Então, tive que colocar aquele pensamento de lado e invocar as boas coisas que tinham acontecido naquela semana. Afinal, era só eu ficar amiga de um grupo de idiotas e ela continuaria segura. Embora eu não estivesse fazendo muitos avanços.
Como se soubesse o que eu estava pensando, quando Rey se levantou para ir ao banheiro, Regulus surgiu e me chamou para um canto. Na verdade, seria mais apropriado dizer que me arrastou.
— ‘Tá maluco, garoto? Não precisa me arrastar — eu ralhei com ele.
— Não importa. Quero que isso seja o mais rápido possível. Realmente acha que me agrada ter que ficar de babá de uma sujeitinha como você?
— Você é adorável, priminho — eu bufei.
— Cala a boca e me escuta. Recebi uma carta e tem informação para você. Um... hãn... amigo da família fez mudanças na missão.
Senti um calafrio e um súbito frio no estômago. E eu parecia não ser a única. Regulus não parecia nos seus melhores dias.
— O que é? — forcei minha voz a sair mais irritada e menos apavorada.
— Recebemos uma informação especial sobre o mestiço e pobretão do grupo, aquele Lupin. Esse amigo tem um interesse particular nele. Eles querem a confiança dele conquistada o mais rápido possível.
— E posso saber o por quê? — perguntei, intrigada.
— Se ponha no seu lugar, garota, você cumpre as ordens e não questiona — ele explodiu para cima de mim e quase peguei a varinha. Quase. Uma imagem da minha mãe sendo torturada foi o que me segurou.
— Certo — eu falei, entredentes. Sério, na primeira oportunidade, eu ia matar aquele garoto.
— Assim eu acho melhor. É bom ter algum progresso até semana que vem ou já sabe — Regulus disse, me olhando com tanto desprezo quanto o que eu dirigia a ele, e se voltou aos seus amigos.
Eu fiquei tão puta que, quando Rey voltou do banheiro, eu ainda estava exatamente onde Regulus me deixou, ainda controlando a respiração. Minha amiga, que às vezes era bem insistente, só me olhou com a sobrancelha erguida, questionadora, mas não comentou nada.
— Vamos, é hora de se arrumar — ela me puxou para os dormitórios.
Abri meu malão e comecei a vasculhar minhas roupas procurando algo que se encaixasse: arrumado, mas não tanto. Reydana separou algumas peças e tentou combiná-las, até que gritou:
— PERFEITO!
Eu nunca a tinha visto tão animada. Ela levava a sério essa responsabilidade de ser estilosa.
— O que você escolheu aí?
Ela segurou no ar um short preto, uma meia arrastão e uma camiseta verde escura.
— Hm, sei não — eu falei.
— Não entendo porque você me elogia, se depois não confia em mim — ela revirou os olhos. — Veste logo.
Coloquei a roupa e um coturno preto de salto que ela separou. Fiquei um tempão sentada esperando ela fazer a tal trança embutida que eu tinha pedido de brincadeira (e que, nossa, parecia que puxava até o cérebro!), me emprestou uma gargantilha preta e, por fim, ela me deu o batom vermelho para colocar. Depois daquela homenagem, eu não podia deixar de usá-lo, né?
Quando me olhei no espelho, eu tive uma surpresa extremamente agradável. Tudo combinou perfeitamente, me deixando bonita, mas não arrumada demais. Além disso, eu estava com um toque incrível de Sonserina.
— Rey, obrigada, ficou incrível! — eu disse, abraçando-a.
— Eu sei — ela respondeu, dando de ombros, nos fazendo rir.
Me despedi dela e saí para o meu primeiro encontro (ou duelo, porque ninguém mexia comigo de graça, não). Me esgueirei pelos corredores, tentando passar despercebida, e cheguei à Torre antes que a sineta tocasse, achando que seria mais fácil esperar ali do que me arriscar mais ainda depois.
Passados alguns minutos, o toque de recolher indicava que estava cada vez mais próxima de encontrar o meu suposto admirador e meu estômago não parava de se revirar em ansiedade. Me sentei no topo da escada, olhando o céu. As estrelas estavam lindas. Não seria nada mal beijar um garoto bonito em uma noite assim.
E, mal pensei nisso, ouvi passos subindo a escada. Continuei virada, querendo não parecer muito ansiosa, até ouvir um pigarro.
— Oi, Black. Fico feliz que tenha aparecido.

Capítulo 05

— Oi, Black. Fico feliz que tenha aparecido.
Me virei em direção à voz e encontrei um rosto bonito e que não me era estranho, mas eu não tinha ideia de seu nome. Provavelmente, o tinha avistado em algumas aulas.
Sorri para ele, educada, mas sem lhe dar muito espaço. Afinal, eu não tinha ideia de quem era.
— Estudamos juntos, certo? — arrisquei.
— Exato. Phillip Stycer, à sua disposição — ele disse, pegando em uma mão minha e apertando de leve, antes de depositar um beijo. Ergui uma sobrancelha.
— Bom, certamente eu não preciso me apresentar.
Ele soltou uma risada gostosa.
— Só porque eu sei que seu nome é Black, não significa que eu te conheça. E muito menos que não gostaria de conhecer — ele piscou, atrevido.
— Ainda estou avaliando se eu quero te conhecer — falei, em tom de brincadeira, embora parte de mim levasse aquilo a sério.
— Acho que entendo seu ponto — Stycer riu. — Então, me conta aí. ‘Tá gostando de Hogwarts e das aulas?
— Sim, é tudo diferente do que eu conhecia. Nem melhor nem pior. Apenas diferente. Não parece ser um dos lugares mais acolhedores, mas caí em boas mãos — respondi com um sorriso. Eu já estava ali, não tinha porquê bancar a mau humorada.
— Acho que é a primeira vez que vejo alguém se referir à Sonserina como “boas mãos” — ele brincou. — Nós, lufanos, que geralmente temos essa fama. Tinha essa disputa também na sua antiga escola? Qual o nome mesmo?
— Ilvermorny — respondi. — É, as casas lá não são competitivas. E nem tem um monte de gente se auto titulando “comensal da morte”. Acho que nunca mais reclamo das confusões do MACUSA, pelo menos não temos problemas desde Grindewald.
— MACUSA?
— É, nosso ministério.
— Então você ‘tá envolvida no ministério? — ele indagou, do nada.
— ‘Tá maluco? Eu só comentei de lá — eu questionei, achando aquilo muito estranho. Afinal, ninguém gostava de se dizer muito envolvido com aquelas políticas duvidosas.
— Foi mal, foi mal, eu só me deixei levar pela curiosidade. Não conheço nada das Américas. Você é meu primeiro contato e, bem, não posso dizer que me desagradou.
Que porcaria de charme. Não pude deixar de sorrir de volta.
— Mas e você? Gosta de Hogwarts? — perguntei, tentando ser simpática.
— Bom, não vejo porquê desgostar. É ótimo e, né, não tenho muitos comparativos — Phillip sorriu para mim. — E você se mudou por quê? Ficar perto da família?
— Na verdade, meus pais desaprovaram os novos métodos de ensino na escola e acharam que uma mudança no último ano faria bem — eu comentei, sem conseguir conter o sarcasmo. — Eu nem sabia que tinha família aqui.
— Calma, linda, não precisa ficar magoada. Mas que loucura você não saber de nada. Não tinha nem ideia?
— Não — eu reafirmei, um pouco sem paciência. Odiava ficar repetindo coisas, especialmente se duvidavam de mim, mas depois me dei uma bronca silenciosa: ele só estava tentando ser gentil.
— Bom, e já conheceu sua família, pelo menos? Quer dizer, além dos seus primos, não é?
— Ah, só coisa rápida — desconversei, sentindo o calafrio que eu sempre sentia ao lembrar a feição daqueles loucos. E pior, saber que aquela loucura também corria no meu sangue.
— Mas gostou deles? Como foi?
— Olha, se você me chamou aqui no meio da noite para me interrogar, eu acho que já vou indo.
— Calma, bonitinha, me desculpa! Só quis criar um bom clima. Mas gosto ainda mais dessa sua atitude direta — ele falou isso olhando diretamente para meus lábios.
— Tudo bem, sei que só quis conversar, mas limites. Bom, desculpa pela grosseria, pode me fazer mais uma pergunta — eu sorri, culpada.
— Uma pergunta? Pretendo usar bem — Stycer riu, antes de se aproximar e me olhar maroto. — Já a tenho em mente. O que eu preciso para poder tirar o seu batom?
Ergui uma sobrancelha, surpresa com sua pergunta direta, mas feliz que tinha sido assim.
— Acho que essa resposta não é do tipo verbal — eu mordi o lábio, sorrindo.
Entendendo o convite, Phillip se aproximou até nossos lábios estarem colados. Nossa, eu não sabia que era capaz de tanta atitude. Aquilo fez eu me sentir confiante e poderosa. Imersa na sensação, mal percebi quando ele pediu espaço com a língua para minha boca e, distraída, cedi.
O beijo era bom. Eu nunca tinha sido do tipo beijoqueira, então não tinha muitos parâmetros, mas, a princípio, o inglês estava me causando uma boa impressão. Isso é, até ele grudar a mão na minha bunda.
Conduzi a mão dele de volta ao meu rosto, mas ele logo voltou a se aventurar por lá. Me afastei, bufando nervosa.
— Qual é a sua, Stycer? Não entendeu que eu não quero?
— Calma, não precisa bancar a difícil — ele falou, manso, me puxando para ele. — Vamos, Black, até parece que não ‘tá gostando.
— Eu estava gostando. Não estou mais e não quero mais. Boa noite, passar bem.
Antes que, no entanto, eu pudesse me retirar, eu senti seu aperto mais forte no meu braço.
— Você ‘tá de brincadeira, não é? Ficou usando aquele batom vermelho a semana toda e vai dizer que não quer nada?
— Sim, é exatamente o que eu estou dizendo — eu repliquei, mas ele só continuou me puxando.
Eu puxei a varinha com a outra mão e berrei:
Petrificus Totalus!
O aperto no meu braço sumiu e Phillip Stycer caiu pateticamente para trás. Bufando irritada, ajeitei meu cabelo e minhas vestes.
— Que perda de tempo gastar a minha noite com um sujeitinho como você — eu disse, lhe lançando um olhar afiado, enquanto ele não conseguia mexer um único dedo sequer.
Porém, antes de me retirar, eu ouvi os barulhos de alguém subindo correndo. Não tinha lugar nenhum ali onde me esconder e, muito menos, ocultar um corpo petrificado. Senti o desespero e a ansiedade me consumindo. Eu estava, com toda certeza, muito ferrada.
E foi exatamente do jeito que eu estava que Remus Lupin me encontrou.
— Eu poderia me perguntar o que aconteceu aqui, mas não sei se deveria. — Ele tinha as sobrancelhas arqueadas, olhando de Stycer para mim, mas o sorriso de canto o entregava.
— Não se mete, Lupin. Ele pediu por isso — dei de ombros, fazendo cara de inocente.
— Talvez ele tenha pedido pelo feitiço. Mas o que dizer sobre você estar fora da cama?
— E você? Qual a sua desculpa? — rebati.
— Eu sou monitor. Faz parte dos meus deveres — ele replicou, impassível, e eu percebi que estava sem saída.
— Ah, por favor, vai. Eu não sabia que era sério assim. Cobre só essa, juro que não quebro mais as regras. — Provavelmente, uma mentira.
— Não sei se acredito em você, Black — ele pronunciou meu sobrenome com o peso de tudo o que eu, em apenas uma semana, já tinha conseguido enganá-lo. — Mas, dessa vez, eu vou deixar passar. Não abuse. Você ‘tá ferrada na próxima.
Meus olhos se arregalaram e não pude deixar de sorrir. Livre da detenção, especialmente acompanhada de um nojento.
— Obrigada!
— Só me agradeça se conseguir cair fora daqui a tempo. Filch deve estar a caminho.
— Então vamos logo. Ah, só um segundo — eu disse, dando meia volta e me aproximando do corpo estático.
Eu coloquei meu rosto bem próximo ao de Phillip Stycer, a minha voz saindo como um sussurro rosnado:
— Se você contar a alguém que eu estive aqui esta noite ou fizer qualquer coisa parecida novamente, uma noite nas masmorras vai parecer um dia de natal perto do que farei com você, te fazendo desejar nunca ter me conhecido. Até nunca mais, Phillip Stycer.
Dito isto, levantei e joguei os cabelos, sorrindo minimamente com o terror em seus olhos. É, talvez eu tivesse um pouco de sangue Black mesmo.
Segui Lupin pelas escadas, retornando aos corredores escuros de Hogwarts. Sentia a raiva, a angústia e o prazer da vingança percorrendo meu sangue naquele momento, em um turbilhão de emoções.
— Então, vai me contar o que aconteceu lá em cima? — Remus questionou, me tirando dos meus pensamentos.
— Nada que valha a pena ser contado — desviei do assunto.
— Bom, pelo seu batom borrado, achei que seria algo emocionante — ele disse, sarcástico.
Automaticamente, levei a mão à boca e senti minhas bochechas um pouco quentes.
— Como eu disse, nada que valha a pena. Não merecia ter estragado minha maquiagem.
Ele deu uma risadinha, mas logo parou, ao ouvir passos apressados no corredor. Congelei, sem saber se era Stycer, livre do feitiço e ignorando minhas palavras, ou o velho zelador que iria me encrencar. Movida pelo senso de sobrevivência, me joguei em um corredor escuro discreto. Puxei Lupin comigo no último segundo, mas ele apenas se desvencilhou e se colocou à vista para quem estivesse chegando.
— Aluno fora da cama! Aluno fora da cama!
— Boa noite, sr. Filch — Remus respondeu, simplesmente.
— A noite realmente vai ser boa com os seus gritos nas masmorras, seu infrator!
— Como você sempre se esquece, eu sou monitor. Estava apenas fazendo minha ronda e cumprindo meu dever.
— Ah... mas eu te ouvi falando! Deve estar encobrindo algum dos seus amigos delinquentes! — Filch falou e olhou diretamente o corredor escuro. Senti meu sangue gelar.
— Estava falando sozinho para espairecer. Porém, eu realmente escutei algo suspeito vindo da Torre de Astronomia, como alguns feitiços... diria que foi um duelo — ele desconversou rapidamente e eu pude ver os olhos de Filch se arregalando, dividido entre tentar encontrar um suposto infrator ou correr atrás de um possível duelo.
A emoção de pegar alunos duelando no flagra parece ter vencido, porque ele saiu em disparada com seu andar desengonçado na direção de onde tínhamos vindo.
Soltei o ar que nem percebi que estava segurando e saí do corredor, a adrenalina correndo no meu sangue.
— Essa foi por pouco.
— Espero que sirva de lição para não aprontar mais.
— Ei! Pelo que o velhote falou, parece que você e aquele seu grupinho de nome ridículo andam fazendo coisas bem piores.
— Nunca coloque um parâmetro ruim para se justificar — ele rebateu.
— Então concorda que vocês são ruins?
— Ah, nós com certeza somos péssimos — ele sorriu, maroto, e eu não pude deixar de rir.
— É melhor eu ir andando antes que você me leve para o mau caminho, monitor. — Eu já estava saindo andando, quando me lembrei. — Ah, só mais uma coisa. Se puder deixar tudo isso em segredo, eu agradeço.
O tom de voz saiu um pouco mais raivoso do que suplicante, fazendo-o levantar uma sobrancelha.
— Eu não vou contar nada. Na verdade, qualquer um que visse o pânico no olhar daquele garoto hoje não contaria. Me lembre de nunca me meter com você, Black.
Sorri, a onda de poder me invadindo novamente.
— Você é bem frouxo por não se arriscar, Lupin.
E assim, nos separamos, ele subindo para a torre Oeste e eu seguindo para as masmorras.

Capítulo 06

— Então, como foi? — Rey perguntou logo na manhã seguinte. Ela era uma pessoa muito curiosa.
— Digamos que não saiu como eu esperava. E prefiro não falar sobre isso.
— Ok... — ela arregalou os olhos. — Posso, pelo menos, saber quem foi o pretendente misterioso?
— Stycer — eu admiti, depois de engolir em seco. — Phillip Stycer.
— Nossa, aquele lufano bonito?
— As aparências enganam, Reydana — eu disse, simplesmente. — Digamos que os alunos aqui de Hogwarts precisam aprender sobre limites.
Seguimos para o Salão Principal, Rey tentando me tirar mais informações e eu sem desejar muito falar sobre isso. Estávamos quase entrando quando eu ouvi alguém me chamar:
— Ei, Black!
Virei para trás e encontrei Remus Lupin caminhando em minha direção. Bosta de dragão. Só faltava ele decidir ignorar meu pedido de ontem.
— Vai na frente, Rey, quero falar com ele rapidinho — eu disse e minha amiga arregalou os olhos, mas me deixou sozinha.
— Bom dia, Lupin.
— Bom dia, Black.
— Então... como você está? — ele me perguntou.
— Irritada — respondi, simplesmente. — Mas melhor — preferi não entrar em detalhes sobre como eu me sentia indignada e até mesmo suja.
— Você decidiu fazer algo a respeito?
— Eu prefiro esquecer tudo isso. Acho que a maioria iria se virar contra mim se isso viesse à tona. Descobri que minhas roupas e meus batons falam mais por mim do que eu mesma — reclamei.
— Acho que deveria contar ao diretor, mas, se você prefere assim, tem minha palavra de que ninguém saberá por mim. — Por algum motivo, eu sentia que ele me dizia a verdade.
— Obrigada. De verdade. Queria só poder garantir que Stycer vai fazer o mesmo.
— Ah, mas ele não vai contar para ninguém — Remus deu uma risadinha.
— Acha que ele vai ouvir minha ameaça? — indaguei, curiosa.
— Bom, digamos que, depois que eu te deixei na sua sala comunal, eu voltei para ver se Filch o havia encontrado. Não só o encontrou, como o arrastou até as masmorras e o deixou ali, pendurado a noite toda. Eu sou contra esse tipo de atitude e, por isso, tive que contar para todos que Phillip Stycer foi encontrado estuporado e passou a noite algemado no teto das masmorras. Agora, sendo patético como ele é, nunca vai ter coragem de admitir que quem o deixou naquele estado foi uma garota. E claro, além disso, sua ameaça já parecia bem eficaz.
No final, eu não pude deixar de rir.
— Não sabia que você era um fofoqueiro, Lupin.
— E não sou. Escapuliu por acidente — ele falou, se fazendo de inocente.
— Obrigada. Você não precisava fazer isso.
— Eu sei — ele deu de ombros e sorriu. Não pude deixar de sorrir junto. — Bom, a gente se vê por aí — ele anunciou. — Melhor eu encontrar os marotos.
— Eu nunca vou engolir esse nome idiota. Até!
Ele se afastou e eu voltei para o Salão Principal, mais leve. Reydana não podia estar com uma cara de interrogação maior.
— Então quer dizer que agora você é amiga de Remus Lupin?
— Cala a boca — eu falei, rindo.
A hora do correio chegou e, para a minha surpresa, três cartas chegaram para mim: de mamãe, de papai e de Ashley, que era minha melhor amiga em Ilvermorny. Ela devia estar furiosa porque eu ainda não lhe mandara nada.
Após o café, eu avisei Snyder que queria olhar o correio e segui para o meu quarto. Olhei para as três cartas, sem saber por onde começar. Peguei a de papai, que provavelmente seria mais curta.

,
Como você está? Gostou de Hogwarts? Li que você foi selecionada para a Sonserina e não fico surpreso. Eu também fui de lá, assim como toda a família (menos o seu primo Sirius, claro).
O que achou dos meninos, afinal? Estão pegando muito pesado com você? Sirius deve estar furioso... Ele sempre foi meu sobrinho preferido e eu nunca contei de você.
E você também deve estar furiosa. Me desculpa por te esconder tantas coisas. Um dia, você entenderá.
Espero que tudo esteja bem. Pode sempre contar comigo e com sua mãe, se algo estiver errado.
Abraços”

Suspirei, percebendo que entendia muito mais do que ele imaginava as razões dele me esconder da família. Não sabia como lhe contaria da relação com os meninos sem revelar a missão. Eu pensaria nisso depois.
A carta da minha mãe foi a segunda.

Querida ,
Como você está? Fico feliz que já tenha feito uma amiga na Sonserina. Era a mesma casa de seu pai, sabia?
Sinto tantas saudades suas todos os dias. Quando você ia para Ilvermorny, eu sabia que estaria perto, qualquer coisa. Agora, estando em outro continente... parece que tudo ficou pior. Sinto saudades
da minha pequena.
Tem certeza que está se adaptando bem? E gostou do castelo? Sabe que pode nos contar tudo e faremos o melhor por você. Sempre quisemos apenas isso.
Te amo muito e estou morrendo de saudades,
Mamãe”

Eu terminei de ler tudo com lágrimas idiotas nos olhos. Maldito sentimentalismo. Eu sabia que ela sempre quisera o meu melhor, mas relembrar isso agora... era um peso ainda maior de que era meu dever protegê-la.
Passei para a carta que eu estava com maior receio de abrir. Fiquei incrivelmente surpresa e aliviada por não ser um berrador.

,
Você tem uma sorte do cacete por ser minha amiga. E sabe por quê? Porque só eu para entender essa sua cabecinha e entender o porquê diabos você ainda não me escreveu!
Você sempre foi magnífica ao se adaptar em situações novas. Mas sempre fez isso muito bem porque se fechava para qualquer sentimento ligado a esse passado. Você acha que eu me esqueci como você foi a única criança no primeiro ano que não chorou de saudade dos pais em algum momento?
Mas eu te peço, de verdade, que, por mais que te doa um pouco manter essa amizade a distância, você não se esqueça de mim. Olha isso, era para eu estar furiosa e cá estou eu, tentando te ajudar! Sua amizade é muito importante para mim e não será um mísero continente que mudará isso. Nós duas já sabemos aparatar, afinal.
Então, agora que eu já enfiei senso nessa sua cabeça, espero que você me conte TUDO da escola! Em que casa você ficou? A seleção é mesmo como nos livros? E os garotos ingleses? Espero que sejam ótimos para compensar o clima péssimo do país.
Já tem algum interesse? Me conta tudo e não me exclui da sua vida!
Te amo sua boba,
Ashley"

Ter amigos que te conhecem há tanto tempo é, ao mesmo tempo, uma bênção e uma maldição. Ashley me entendia e, antes mesmo que eu me tocasse do que eu estava fazendo, ela percebeu que meu afastamento era proposital, por mais que inconsciente. Na minha rápida adaptação, eu me afastei de tudo o que me lembrava minha antiga vida.
As lágrimas chegaram sem eu nem me tocar e, ali, eu chorei por tudo. Por ter que passar por uma mudança tão abrupta, por sofrer ameaças, pela maldita missão, por meus pais, pela minha amiga e pelo maldito Phillip Stycer. Eu deixei que eu me libertasse.

🌑🌑🌑


O primeiro mês em Hogwarts foi menos pior do que eu imaginava. Reydana se provou uma grande amiga e ganhamos a confiança uma da outra muito rapidamente. Eu até que estava indo muito bem nas aulas e ganhava muitos pontos para a Sonserina.
Também me descobri como fã de Quadribol, muito mais do que eu já fora na vida. Embora fosse difícil torcer para minha casa com meu maldito primo jogando de apanhador. Uma alegria crescia dentro de mim sempre que um balaço voava ameaçadoramente perto dele. E se esvaía quando a partida terminava com ele inteiro.
E, falando de Regulus Black, este não parava de me perturbar em cada segundo. Ele queria porque queria saber como estava minha relação com Lupin e exigiu que fôssemos amigos até o Natal, dizendo que era meu último prazo antes de passar para a segunda parte da missão.
E quanto a Remus... nos encontrávamos frequentemente na biblioteca, mas nos falávamos muito pouco, pois o grupinho dele ainda suspeitava de mim. O problema é que alguma parte muito esquisita de mim gostava de falar com ele.
Era uma típica segunda feira e, depois do café, não pude escapar de uma aula de Herbologia. Com certeza, não era minha área. Rey até que se dava bem nessa matéria. Suas mãos cuidadosas e meticulosas com roupas e penteados a ajudavam na hora. Também era, infelizmente, uma das aulas que o lufano babaca estava. Quando a sineta tocou, fui direto para a aula de Poções, fugindo de Phillip que, embora se mantivesse distante, me enojava com sua simples presença.
Cheguei à sala e me sentei na mesma bancada que Snape e Rosier, sendo recebida com indiferença pelo primeiro e um sorriso caloroso do segundo, o que já era rotina para mim. Rey odiava a matéria e não estava cursando-a.
— Bom dia! Ora, muito bem, vamos apanhar os livros e os materiais para começar nossa aula! Esse ano teremos os NIEMs, como eu já lembrei vocês, e o ritmo é intenso! Teremos que estudar bastante, certo? Ah, Trevor, meu caro, como vai sua mãe?
— Muito bem, senhor — um menino da Corvinal respondeu. — Disse que agora está sentindo a inspiração para criar mais um contrafeitiço.
— Ho-hô, é claro que está! Mande minhas saudosas lembranças para ela. Muito bem, muito bem, hora de começarmos o trabalho! Quem sabe identificar essa nossa primeira poção? — ele apontou para um caldeirão que tinha o que parecia água.
A mão de uma menina ruiva da Grifinória, Lily Evans, sentada na mesma bancada que Remus Lupin, se levantou. Aquilo era um hábito bem frequente.
— É a poção Veritaserum, professor.
— Muito bem, Lily, como sempre! E para que ela serve?
Agora Snape tinha a mão erguida.
— É o soro da verdade mais forte que existe e, por não ter cor nem odor, pode ser facilmente colocado em qualquer bebida sem ser percebido.
— Excelente, meu caro Severus. Excelente! Não será uma poção cobrada na prática para vocês por sua longa demora de produção, mas pode estar na sua prova teórica. Agora, podemos começar com a prática. Muito bem, alguém conhece os efeitos da Poção da Insanidade?
Lily levantou novamente a mão. Eu já havia aprendido que ela e Snape eram os nerds das poções.
— A Poção da Insanidade causa extrema euforia e confusão em quem a ingere. A duração de seus efeitos depende de sua dosagem. Pode ser similar a embriaguez.
— Mas com certeza pode! — o professor concordou, rindo. — Muito bem, cinco pontos para cada pergunta respondida corretamente. Agora, abram seus livros na página 27 e encontrarão o modo de preparo da Poção. Darei uma hora para vocês. Tenham cuidado e não se frustrem se não conseguirem, é uma poção complexa. Muito bem, podem começar!
Abri o livro e encontrei o que parecia uma receita, embora tivesse ingredientes bem diferentes de um bolo. Primeiro, precisava de Visgo do Diabo.
Segui, junto com todos os alunos, para pegar os ingredientes. Peguei uma boa quantidade daquela planta esquisita e fui pesá-las na balança. Alguns ramos ainda se enrolavam às vezes em meus dedos e eu tinha que manter a calma para eles se soltarem. Que nervoso.
Metade da turma estava presa no início, alguns progrediam lentamente, como eu, enquanto Evans e Snape progrediam de uma forma absurda. Eu espiava o caldeirão do garoto de cabelos negros de vez em quando e percebia que estava muitos passos à frente. Olhei para Rosier, que parecia ter desistido de sua poção.
— Não colocou a infusão de cogumelo? — eu perguntei, puxando assunto enquanto trabalhava no meu ritmo.
— Coloquei, mas cansei de mexer na metade do caminho — Evan deu de ombros. — E eu só faço a aula porque meus pais insistem. Não levo jeito. Não como Severus. Ele é um gênio das poções.
— Eu só presto atenção, Rosier, coisa que você devia fazer — Snape se intrometeu, focado em seu caldeirão, voltando a nos ignorar em seguida. Embora falasse aquilo, tinha um sorriso mínimo de orgulho nos lábios.
— Você poderia me ajudar a prestar atenção, mas você desiste — Evan brincou.
— Você não quer ajuda para prestar atenção, quer que eu faça a poção para você.
— Não podia nem liberar alguma diquinha?
Snape suspirou.
— Coloque três gramas a menos de pó de infusão de morcego — ele disse, antes de sair para pegar seu último ingrediente.
— Se você diz! — Evan replicou, sorrindo, adicionando o pó esquisito.
— Rosier, você nem tinha terminado de mexer ainda! Não era o próximo passo — eu o alertei.
— Não era mesmo, mas o tempo ‘tá acabando — Rosier apontou para a ampulheta no fim da sala.
Merda! Ele tinha razão. Corri para pesar meu pó de infusão de morcego.
— Lembra, três gramas a menos! — Evan repetiu.
— Mas as instruções não dizem isso.
— Vai por mim, o cara é um gênio. Um saco, mas inteligente.
No último segundo, tirei os três gramas e prendi a respiração, mas percebi que a poção atingiu a cor exata descrita. Falta apenas mais uns cinco minutos fervendo e mexendo no sentido anti-horário e...
— O tempo... acabou! — o professor anunciou. — Por favor, parem de mexer.
Frustrada, me afastei do caldeirão. Por tão pouco eu não havia terminado a minha poção que, mesmo que eu pudesse identificar vários erros para não estar perfeita, ia ficar, pelo menos, boa. Snape e a ruiva foram os únicos que se afastaram sorrindo, embora Lupin também parecesse despreocupado.
— Muito bem, Trevor, muito bem. Embora tenha errado a mão na essência de murtisco, estou certo?
— Uma noite mal dormida, professor, e já confundi tudo — o corvino riu e o professor sorriu para ele.
— Muito bem... Vamos ver... — o professor passou rápido pela mesa em que James e Sirius conversavam entre si, com poções razoáveis, mas que pareciam ter sido abandonadas na falta de paciência para ser concluída.
Slughorn sorriu, balançando a cabeça em negação, e foi para a bancada com dois alunos da Lufa-Lufa, sorrindo e dando alguns conselhos, mas claramente sem estar impressionado.
Quando alcançou a mesa dos grifinórios, seu sorriso cresceu muito e eu pude ver sua leve predileção aparecendo novamente.
— Ah, Lily Evans, minha jovem! Excelente, excelente como sempre! Devo dizer que ainda me surpreendo com as suas intuições e seu jeito para poções! Dez pontos para a Grifinória pelo excelente trabalho! E, por Merlin, que trabalho!
Admito que cheguei a ficar sem paciência para aquela bajulação, mesmo estando impressionada com a poção. Qual é, ela só seguiu um bando de instruções.
— Ah, parece que o jovem Lupin também se destacou! Meu caro, quando está longe dos outros, você mostra muito potencial! Deveria refletir sobre isso para o seu futuro.
— Ei, Remus, não escuta ele! — Sirius exclamou e parte da turma riu, enquanto outra parte (Snape, em especial), revirava os olhos.
— Obrigada, professor, mas acredito que pretendo levar mais amizades do que NIEMs para o futuro — Lupin respondeu, educado e envergonhado, fazendo o professor sorrir.
Então, finalmente, o professor chegou à nossa mesa. O caldeirão de Snape fez os olhos do professor dobrarem de tamanho.
— Ho-hô! Parece que dessa vez você teve a melhor poção, meu caro, como sempre! Que talento esplêndido! Daqui a pouco, estarei perdendo meu emprego para você! Quinze pontos para a Sonserina pela melhor poção da sala!
Snape sorria pomposo e eu tive que rir, ao mesmo tempo que revirava os olhos. Talentoso, mas um pouco patético também. Evan foi o próximo a ser analisado e o professor não formulou nenhum comentário concreto, apenas um “continue tentando" com um sorriso benevolente.
O professor podia ter seus favoritos e isso era extremamente irritante, mas, ao mesmo tempo, não humilhava ninguém em sala. Não era o melhor a se fazer como um educador, mas acho que era o jeito dele. Eu já aprendera a lidar.
— Senhorita Black, bom trabalho! Acredito que mais alguns minutos e você teria completado a poção corretamente! Diga-me, por acaso sua antiga professora era Clarion?
Me assustei ao ouvir o nome da minha antiga professora.
— Sim, senhor. Como sabia?
— Ah, Clarion e eu nos conhecemos de muitos congressos bruxos de poções! Excelente professora, brilhante! Deve ter orgulho de nos enviar uma aluna tão boa.
Não pude deixar de sorrir diante dos elogios e sentir, provavelmente, um pouco do que Evans e Snape deviam sentir perante àquela bajulação.
— Obrigada, professor, mas é muita gentileza sua.
— Bobagem! Bom, antes que nosso tempo se acabe, peguem um frasco e coloquem uma amostra da poção para eu avaliar. E, para casa, procurem as legislações e debates acerca da legalização e uso da Poção da Incoerência. 25 cm de pergaminho, para começarmos a aquecer!
O professor mal terminou de falar e a sineta tocou. Imediatamente, Sirius e James deixaram seus frascos e saíram correndo para fora da sala. Remus depositou seu frasco sem pressa, mas logo já estava na cola dos outros. Quando eu estava deixando minha amostra, o professor me chamou:
— Senhorita Black, se importa de ficar um pouco mais?
Engoli em seco e esperei até restarmos apenas nós dois na sala.
— Professor, eu fiz algo de errado?
— Ho-hô, certamente que não! Você é muito carismática e engraçada, senhorita, sempre achando que está com problemas.
— É que, às vezes, pareço atraí-los sem perceber — eu comentei, dando de ombros, tirando-lhe uma risada.
— Acredito que muitos se reconhecem nessa situação. Muito bem, mas eu queria propor-lhe uma coisa.
Meus ouvidos ficaram aguçados.
— Sim, senhor?
— Minha cara, eu não sei se você sabe, mas dei aula para toda a sua família! Os Black sempre foram alunos brilhantes e achei que já estava sendo presenteado com Regulus e Sirius, mas que grande surpresa foi a sua chegada! E Alphard, seu pai, foi um dos meus primeiros alunos. Que grande garoto e hoje um grande homem! Fiquei muito contente ao descobrir que ele tinha uma filha.
Do jeito que Slughorn falava, parecia que ele estava falando de troféus e não pessoas, mas não pude deixar de fechar a cara com a menção dos Black, para depois sorrir ao imaginar meu pai tão novo.
— Sabe — o professor continuou —, no sábado dia 13 eu vou fazer uma pequena ceia nos meus aposentos e eu sempre gosto de ter a companhia de astros e estrelas em ascensão, meus brilhantes alunos! Claro, é uma reunião restrita, apenas para alguns selecionados, mas, para esse primeiro jantar, vou permitir que cada um leve um acompanhante, para nos enturmarmos! E então? O que me diz?
Ah, aquele deveria ser o Clube do Slug ou não sei o que que Reydana tinha falado. Sei que ela desaprovaria aquilo, parecendo nutrir um grande rancor, mas um jantar não daria problemas, certo? Até porque ele provavelmente perderia o interesse por mim logo, eu não era muito brilhante.
— Claro, professor — eu respondi, dirigindo a ele um dos meus melhores sorrisos. — Será uma honra.

Capítulo 07

— Vai lá, agora é sua chance.
— Ashley, eu não sei... E se ele disser não?
— Aí você não vai sair com ele, o que é exatamente o que vai acontecer, se você não for lá. Mas, se você for, ainda terá a chance de ter um sim. Então tira essa bunda daqui e vai convidar esse garoto que você gosta!
Levantei, suando frio. Era horrível ter treze anos e nenhuma experiência com garotos ou encontros. Ou, por Merlin, beijos!
Olhei para a minha melhor amiga. Ela era tão bonita! Tinha acabado de fazer catorze anos e tinha tantos meninos atrás dela. Ashley nem precisava pensar em convidar alguém e, mesmo se tentasse, a resposta era um sim garantido.
Ajeitei uma mecha de cabelo atrás da orelha e respirei fundo. Era só chamar. Se desse errado, seria apenas uma lembrança engraçada no futuro. Uma lembrança humilhante que, provavelmente, me assombraria pelo resto da vida e me traria diversos traumas.
Com as mãos tremendo, avancei em direção a Jacob Kirst. Ele era um ano mais velho, com o cabelo tão brilhante e o sorriso branco lindo contrastando com sua pele escura. Era impossível não se apaixonar, ainda mais que ele era tão simpático e inteligente e popular e...
Afastei aqueles pensamentos. Não adiantaria nada babar aquele garoto de longe e não tomar atitude. Cheguei perto do grupo de garotos saindo da sala de Feitiços e pigarreei. Fui completamente ignorada. Pigarrei mais alto e cutuquei Jacob. Agora, ele olhou para mim.
Na verdade, todos olharam para mim.
Ai, meu Deus. Como eu ia falar aquilo em frente a todos os amigos mais velhos dele? Eu ia ficar taxada como piada! Era melhor voltar atrás, sim, era melhor...
— Posso te ajudar? — Jacob perguntou.
Não tinha mais como voltar atrás. Eu estava presa. Jacob me notara. Por Merlin, Jacob Kirst estava falando comigo! Bom, ele pelo menos agora sabia da minha existência, era melhor não sair como boba, né? Levantei o queixo e o encarei determinada.
— Kirst, eu queria saber se você quer sair comigo.
O primeiro segundo foi de total silêncio. Um alívio tomou meu peito por expulsar aquelas palavras de uma vez, mas, então, o pânico preencheu cada espaço liberado. O que ele iria responder?
Bom, eu deveria ter esperado, mas, mesmo assim, tomei um susto quando todos os amigos dele começaram a rir, chamando a atenção de outras pessoas ao redor. Eu queria sumir. Fugir. Ser engolida. Ou, melhor, estuporada. Até um
Avada Kedavra parecia aceitável. Mas o pior, com certeza, estava por vir.
— Qual é o seu nome, menininha? — Jacob perguntou.
— É... . Picquery.
— E quantos anos você tem, Picquery?
— Treze anos.
— Sabe, , você parece uma boa menina, mas é muito nova. Porém, tenho certeza que um dia você vai achar alguém para você, viu?

🌑🌑🌑


Eu já havia relembrado aquela cena diversas vezes desde o momento em que eu acordara. Lembrei como Jacob Kirst tentou ser gentil, mas sua gentileza só aumentou as risadas ao redor e fez eu me sentir uma pirralha idiota. Lembrei de como Ashley me abraçou a noite toda até eu dormir enquanto chorava. Depois, ela me fez prometer que nunca mais choraria por homem.
Porém, mesmo sem chorar mais por ninguém, eu nunca mais tive coragem de tomar atitude. Eu podia flertar, deixar clara as minhas intenções, mas nunca mais chamei ninguém para sair. Se quisesse, viesse até a mim. Eu nunca mais queria levar um fora.
E, por isso, eu estava para morrer com o que eu estava prestes a fazer.
— Come alguma coisa, Black, parece que você vai desmaiar a qualquer momento. Precisa ir até a Madame Pomfrey? — Reydana disse, mordendo uma torrada.
— Não, eu estou bem — eu tentei tranquilizá-la, mas minha voz saiu um pouco mais aguda do que eu gostaria.
— Não me diga que é por causa daquele convite que você ‘tá enrolando.
— Shhhh! Oh, Rey, você quer que Hogwarts inteira saiba? Já não basta minha ansiedade sozinha?
— ‘Tá com medo de Hogwarts inteira ou de um tal de Lup...?
— Já deu, Snyde! Você pretende me humilhar por conta própria antes que eu faça isso comigo mesma e só me faz ter vontade de não passar por nenhum!
— Ah, vai! Já tem duas semanas e esse garoto ‘tá sempre te olhando, dando sorrisinhos, te cumprimentando, sendo simpático até demais.
— É porque ele é simpático.
— Não é não. Ele é quieto e só fala com os mesmos amigos. Mas ele tenta falar com você!
— Até parece — eu falei, mas senti um sorriso mínimo querer surgir no meu rosto. Maldito Remus Lupin, garoto bobo que eu tinha que me aproximar pela missão.
Ou assim eu afirmava o tempo todo, já que essa era minha única motivação. E não aquele sorriso de lado marcado por uma cicatriz leve no lado direito.
— Que sorriso bobo é esse? Ah, não me venha dizer que estava pensando no grifinório — Reydana debochou.
— Claro que não! — Claro que sim, minha cabeça retrucou e tive vontade de socar a mim mesma por me entregar tão fácil. — Ahn, Greengrass, que horas são?
Martha e Layla estavam conversando, mas a segunda levou um susto ao ser chamada. Educada como sempre, ela olhou para seu relógio delicado e prateado.
— São sete e meia.
— Olha a hora! Obrigada, Greengrass. Vamos, Rey, temos aula de Transfiguração.
Levantei correndo, pegando minha mochila com meu material e não olhei para trás. Ouvi passos e logo vi Rey me acompanhando.
— ‘Tá maluca, ?
— Talvez um pouco — eu admiti.
— Não vejo a hora de você resolver isso da festinha chata do Slughorn e seu favoritismo.
— Tomara que passe logo mesmo. Ai, eu nem comi direito.
— Toma, eu guardei um bolinho pra você.
Eu olhei para Rey, me sentindo grata pela amizade que eu tinha conseguido aqui. Poderia ter me envolvido com alguém que se aproveitasse de mim, ou me excluísse, ou até coisa pior. Mas, já de primeira, eu ganhei uma melhor amiga.

🌑🌑🌑


— Para amanhã, entreguem um pergaminho de um metro sobre os possíveis problemas de uma Transfiguração humana mal feita — McGonagall falou, antes que todos se levantassem.
— Essa mulher se diverte com nosso desespero, só pode. Ainda bem que temos um tempo livre agora — Rey resmungou. — E você: tem um trabalho e um convite a fazer.
Bufei. Como se eu tivesse esquecido. Mas eu estava determinada a fingir que esqueci. Agora não tinha volta.
— ‘Tá bom, ‘tá bom, eu vou lá. Já volto.
Levantei da carteira e peguei meu material, me misturando na onda de alunos saindo para, discretamente, me aproximar do aclamado grupo dos “marotos".
— E pensar que esse é um dever leve para amanhã — James comentou, revirando os olhos. — A Minnie não sabe mesmo ir com calma.
— Meu feitiço é tão fraco que nem problemas ele pode causar — Peter falou em um muxoxo.
— Acho que vou ajudar Lacey Evermore nos estudos — Sirius deu de ombros e sorriu de canto.
— Nos acha tão burros a ponto de pensar que acreditaríamos nisso? — Remus rebateu.
— Mas eu não menti. Só não disse quais estudos — Black piscou e os amigos riram, dando tapinhas nas costas dele.
— Isso é o tipo de coisa que eu gostaria de fazer com a Lily. Mas ela leva os estudos apenas para a parte chata — Potter balançou a cabeça.
— Bem parecida com o nosso amigão Aluado aqui — Sirius abraçou Lupin de lado. Aluado? Que apelido esquisito.
— Não sei como você aguenta ficar mais de cinco minutos na biblioteca — Peter estremeceu.
— Bom, Rabicho, sinto lhe informar que é melhor você aprender a gostar também para se manter nessas aulas — Lupin riu. Aqueles apelidos estavam cada vez piores.
— Eu, pelo menos, não preciso da biblioteca. Vou treinar agora e depois eu vejo o dever. Talvez eu veja minha ruiva favorita nas quadras olhando por mim — James falou, um tom um pouco apaixonado demais, na minha opinião.
— Entre estar na biblioteca estudando e te ver você acha que ela te escolheu? Certeza que o Ranhoso não colocou nada na sua bebida? — Peter retrucou.
— Como se precisasse. Esse aqui caiu de cabeça quando nasceu — Sirius deu uma gargalhada meio latida e os dois amigos começaram a trocar socos, rindo. Não pude deixar de revirar os olhos. Garotos.
— Eu vou passar na cozinha. Estou nervoso demais para pensar agora — Pettigrew disse com a voz aguda.
— Então, eu vou encontrar a Lacey — Sirius piscou. — E você, Aluado? Ah, como se eu tivesse que perguntar.
— Vou para a biblioteca. Vejo vocês mais tarde.
Os amigos vaiaram.
— Você precisa se divertir, parceiro! É o último ano! — James exclamou.
— E eu me divirto. Amanhã, com meus deveres prontos — Remus sorriu.
— É bom planejar algo decente para compensar a perda dessa tarde — Sirius rebateu.
— Esperem semana que vem e vocês verão — Lupin disse.
Os “marotos” se separaram no corredor, cada um para o seu destino, e eu segui no mesmo caminho de Lupin: a biblioteca. Talvez, eu, pelo menos, conseguisse terminar aquele maldito dever.
— Pode parar de se esconder agora, Black. — Eu escutei a voz de Remus. Quando foquei o olhar, ele já estava bem em minha frente. No meio da minha distração, ele parou e eu me aproximei demais.
— E o que te faria achar que eu estava me escondendo? — retruquei, sem ceder.
— Bom, o fato de que estava nos observando desde lá de trás e agora me seguiu por aqui, mas sempre mantendo a distância.
Maldito garoto observador. Mas ele não venceria tão fácil assim. Respirei fundo e levantei uma sobrancelha, sorrindo.
— Ora, ora, alguém anda com a auto estima muito boa! Não se pode mais seguir o mesmo caminho da biblioteca que já estou te perseguindo.
— Seguir o mesmo caminho e ouvir conversas alheias são coisas diferentes, .
— Então, talvez, vocês devessem falar mais baixo, Remus.
Eu vi seu rosto ficar levemente corado e comemorei internamente. Eu não podia já me humilhar sem começar a fazer isso propositalmente.
— Bom, eu vou seguir para a biblioteca, se você não se incomoda. Sabe como é, tenho um pergaminho de um metro para fazer antes das aulas de Feitiços.
Ele pisou para o lado.
— O caminho é seu.
Comecei a andar, um pouco decepcionada com o rumo das coisas, mas meu sorriso voltou assim que ouvi seus passos atrás de mim.
Chegamos à biblioteca e pegamos alguns livros do assunto que a McGonagall estava dando. Nos sentamos em uma mesa e, por algum tempo, ficamos somente ali, com o barulho das folhas dos livros sendo viradas e as penas arranhando o pergaminho. Era confortável. Mas eu sabia que não podia adiar mais aquilo.
Mas, primeiro, estratégia.
— Já que seus amigos falam alto, acho que eu tenho direito de perguntar. Quem é Lacey Evermore?
Lupin ergueu os olhos levemente arregalados.
— Você é um pouco atenta demais na conversa dos outros, não?
Não pude deixar de revirar os olhos.
— Talvez, se vocês fossem mais discretos, eu não precisaria escutar. Vai, você já sabe que eu ouvi. Não custa me contar.
— Lacey é só uma garota da Corvinal. Mais uma das admiradoras do seu primo.
— Então, ele tem admiradoras? — eu perguntei em um sussurro, contendo o riso.
— Ah, sim. Todas as garotas da escola só falam nele. Metade quer arrancar a cabeça de cima e a outra metade quer a cabeça de baixo.
O riso saiu antes que eu pudesse controlar. Como se fosse chamada pelo barulho, Madame Pince se materializou ali.
— Shhhh!
Engoli o riso o máximo que pude e esperei ela sair de perto. Quando a bruxa sumiu, eu me virei para Remus, ainda um pouco sem ar.
— Não sabia que você era tão atrevido, Lupin.
— Sou apenas honesto — ele rebateu.
— Então, Sirius é o desejado, Potter é apaixonado pela Lily. Aposto que até o Peter consegue alguém de vez em quando.
— Algumas cervejas amanteigadas no Três Vassouras podem providenciar de tudo.
— E você? Também joga com os encontros no Três Vassouras? — joguei a pergunta, sabendo ser um pouco ousada, mas precisando averiguar a situação.
Não foi à toa que Lupin ergueu as sobrancelhas.
— Cada vez mais intrometida, Black. Uma verdadeira sonserina.
— Você não está parecendo um verdadeiro grifinório para responder minhas perguntas — respondi na voz sussurrada.
— Acho que não te responder exige certa coragem. Mas não, eu não estou com ninguém. Por que tanto interesse, Black? — ele perguntou, divertido, as malditas sobrancelhas ainda erguidas.
— Por pura curiosidade. Sabe como eu gosto de ser intrometida — eu sorri, olhando em seus olhos, e depois fingi ler algo em um dos livros ali dispostos.
— Mais alguma pergunta, senhorita intrometida? — ele ironizou.
— Ah, já que você foi tão gentil em perguntar... Conhece o Clube do Slug?
— Suas perguntas são realmente caixinhas de surpresa, Black.
— Pode me chamar de , se responder a esta.
— Tudo bem, — ele pronunciou, olhando nos meus olhos. Senti um leve arrepio. — E sim, eu conheço. A namorada do meu melhor amigo é a aluninha preferida do Slughorn.
— Conceito interessante, não acha? Não existia isso em Ilvermorny. O que você acha desse clubinho? — perguntei, fingindo inocência.
— Eu acho importante um professor valorizar um bom aluno, mas não exatamente da forma que ele faz. Ele esquece de incentivar os outros no processo, olhando para os talentosos. Por isso que, quando ele me convidou para ser do clube, eu recusei o convite.
Merda. Eu não contava com essa. Mas fazia todo sentido, afinal, Remus Lupin era muito inteligente para não ser chamado, porém com um lado um tanto rebelde influenciado pelos amigos, que não permitiria que ele fosse.
Ok, mudança de planos. Eu teria que convencê-lo. E eu só tinha uma maneira de tentar.
Cheguei sutilmente mais perto dele e me inclinei para pegar um livro que estava próximo a ele. Esbarrei no seu braço no caminho e eu sabia que ele estava atento a cada movimento. Ao meu lado, ele estava ficando um pouco mais tenso.
— Você poderia ter pedido para que eu pegasse para você — ele disse, a voz agora ainda mais baixa com a nossa proximidade.
— Mas aí não teria graça, certo? — eu levei um dedo aos lábios, pensativa.
Seu olhar percorreu o movimento da minha mão e se deteve na minha boca. Meu estômago se movimentou um pouco com a ansiedade, mas eu me sentia desejada. E aquilo era incrível. Ele se inclinou levemente e eu decidi que era agora ou nunca.
— Sabe, eu sei que você odeia o tal Clube do Slug e sei que ainda é terça, mas... Você reconsideraria seu ódio e iria comigo em um jantar do clube nesse sábado?
Lupin se resetou imediatamente.
— Eu...
Eu comecei a ficar ansiosa. Eu esperava uma resposta imediata. Caramba, ele estava quase me beijando antes!
Eu senti seu corpo se afastar antes de propriamente ver. Ele se ajeitou na cadeira e olhou para o lado.
— Me desculpa, , mas... eu não vou.
Meu sorriso murchou.
— Você não quer ir?
— Não, eu quero! Mas... eu não posso — ele afirmou, me deixando confusa.
— E por quê?
— Porque... Bom, porque... eu só não posso. Desculpa, .
— Por que você não pode, Lupin? — repeti, irritada com aquela enrolação.
— Eu... — ele engoliu em seco e desviou os olhos, ficando em silêncio.
Semicerrei os olhos. Nem conseguia inventar uma desculpa. Maldito Remus Lupin. Peguei meu pergaminho e minha pena e joguei na mochila, levantando rapidamente da cadeira. A voz de culpa dele me atingiu quando eu virei de costas:
...
Eu virei para ele, o ódio frio em meu sangue e repliquei, antes de sair:
— É Black para você.

Capítulo 08

— Mas isso não faz o menor sentido — Reydana comentou, mastigando, irritada, o café da manhã. — Eu tinha certeza que alguma coisa estava rolando.
Eu concordava com ela, mas me recusei a demonstrar. Meu orgulho já estava ferido o suficiente com o fora nada esperado que eu recebera de Remus Lupin.
— Ele estava todo simpático com você. Por que ele falou que não iria? — Rey pensava sozinha.
— Ele falou que não podia — corrigi, sentindo a raiva transbordar no sarcasmo que eu usava.
— E sem justificativa — Rey revirou os olhos.
— Pelo visto, não lhe dei tempo o suficiente para inventar uma — revirei os olhos também.
— Mas, pensa, não é obrigatório você levar um par. E muito menos ir. Você nem deveria se submeter a essa tortura — Reydana completou, me lembrando mais uma vez (como se fosse possível esquecer) o quanto ela odiava aquele clube elitista.
Era algo que fazia sentido de se odiar quando estava de fora. Mas, estando dentro... é, eu certamente queria comparecer.
— Não tem nenhuma chance de você ir comigo, né?
— A não ser que você me queira vomitando a noite inteira, não.
Bufei, mesmo sabendo da resposta que minha amiga daria. Por que aquilo tinha que ser tão complicado? Eu, finalmente, estava vendo uma esperança, uma chance de cumprir minha missão e me divertir porque, apesar de eu nunca admitir, Remus Lupin era charmoso. E inteligente. E engraçado.
E um filho da puta.
Minha expressão irritada se intensificou e procurei um dos causadores de tudo aquilo. Olhei para o “maroto” na mesa da Grifinória. Ele conversava com os amigos e, embora aparentasse estar abatido, nada mais demonstrava nenhum sinal de que havia algo errado. Talvez por sentir o meu olhar, o garoto levantou os olhos e me viu. Não pude deixar de ficar satisfeita quando ele se encolheu no banco. Continuei com o olhar firme até ele desviar o seu. Patético.
Então, me lembrei que nem tudo era culpa de Lupin. Não, havia a maldita família Black. Eu os odiava. Odiava com todas as minhas forças. Eles estragaram um ano de novas possibilidades. Eles arruinaram tudo e se meteram no que era mais importante para mim: a minha família.
Fixei o olhar em Regulus Black, imaginando maneiras torturantes e maravilhosas de assassiná-lo. E claro, na frente da mãe, a idiota que eu amaria atacar em seguida. Rangi os dentes conforme a fúria crescia. Eu os odiava.
Regulus, que não estava tão distante, ergueu os olhos para mim. Suas sobrancelhas saltaram em sua testa, mas ele manteve o olhar. Ridículo. Bom, talvez com ele tão focado em mim, eu poderia colocar minha raiva para fora sem que ele percebesse. Poderia dar muito errado, talvez não fosse o mais sensato.
Mas, então, ele empinou o maldito nariz nojento dele e, para mim, foi a gota d’água. Saquei a varinha por baixo da mesa e, embora olhasse em seus olhos esverdeados e cinzentos, pensei no feitiço e realizei o movimento discretamente. Mantive o olhar nos seus olhos, torcendo para que ele focasse apenas no meu rosto.
— Regulus — o garoto loiro ao lado dele o chamou.
— Depois, Bartô — ele disse, rosnando.
— Regulus, sua calça — Bartô o cutucou até que ele olhasse para baixo. Então praguejou, chamando a atenção de todos à mesa.
Porque o seu suco de abóbora havia caído na parte superior da sua calça, mas parecia, na verdade, que ele não chegara ao banheiro a tempo. Fiz uma cara de surpresa que, com certeza, deixaria Ashley orgulhosa.
Ele praguejou ainda mais e sacou a varinha para se limpar, mas os risinhos já preenchiam a mesa. Afinal, a mancha estava parecendo de outra coisa. Batendo o pé, Regulus saiu do salão junto com seu grupinho de idiotas, seguido pelas risadas.
Ah, o doce sabor da vingança. Bebi o meu próprio suco para esconder o sorriso que brotava em meu rosto. Ninguém vira, nem mesmo Snyde.
Ou quase ninguém porque, do outro lado do salão, Remus me encarava, curioso, e algo me dizia que ele conseguia ler cada um dos meus pensamentos e saber o que eu fizera. Aquilo me deixava nervosa e embrulhava meu estômago. Eu não aguentava mais um segundo estando no mesmo ambiente que ele.
— Rey, esqueci meu livro de Defesa Contra as Artes das Trevas. Já volto.
— Quer que eu vá junto? — ela perguntou, ainda mastigando.
— Não se preocupe. É rápido.
Saí apressada do salão, confusa com tantas coisas acontecendo. Queria estar em casa. Queria que tudo estivesse normal. Queria ter feito meu último ano em Ilvermorny.
Atordoada, olhei em volta e percebi que estava no segundo andar, ainda vazio. Meu estômago estava embrulhado com a ansiedade e eu só pensava em sair dos corredores que faziam eu me sentir exposta. Caminhei até o banheiro feminino, mas fiquei em dúvida se entrava. Reydana havia me dito que ninguém usava aquele banheiro, mas nunca explicara muito bem o porquê. Pensando bem, eu nem sabia se ela mesma conhecia o motivo.
Bom, não custava nada.
Entrei no local e vi um banheiro bem iluminado e organizado, além de bem espaçoso. Não havia nada de errado ali. Nenhum espelho quebrado, nenhuma porta fora do lugar. Tudo estava em perfeita ordem.
O espaço perfeito para organizar minha cabeça também.
Me apoiei na pia, tudo dentro de mim doendo. Eu sentia uma vontade absurda de gritar, chorar, bater em alguma coisa. Qualquer atitude, menos ficar parada aturando tudo aquilo.
Talvez, meus pais estivessem provando do próprio veneno ao serem ameaçados por causa do único segredo em que teimaram em esconder (até onde eu sabia).
Não, aquilo era injusto com eles. Provavelmente, só queriam me afastar daquela gente louca. Droga, mas eu queria ao menos ter sabido que poderia acabar tendo que lidar com eles!
Sem aguentar mais, bati com a mão firme na pia, soltando um arquejo com a dor que invadiu. Garota estúpida!
Então, eu ouvi um sussurro baixo e distante. Me virei apressada, com um receio inexplicável de ser vista assim tão vulnerável, porém, para a minha surpresa, o banheiro estava exatamente igual à quando eu entrara: vazio. Mas o barulho continuava ali. Eu escutava, tão baixo que era quase inaudível.
— Tanto tempo... — Era tudo que eu conseguia escutar.
Procurei a origem do barulho, mas parecia estar vindo de nenhum lugar e de todos os lugares ao mesmo tempo. Minha cabeça parecia prestes a explodir. Eu odiava estar em contato com algo que eu não conhecia e não podia controlar. Peguei minha varinha de precaução e comecei a me aproximar das cabines dos banheiros, lentamente.
Uma a uma, abri as cabines, sentindo a ansiedade acelerar meu coração em cada porta que era aberta: para, então, sentir um alívio por tudo estar vazio. Finalmente, alcancei a última cabine e, respirando fundo, empurrei a porta.
E senti meus tímpanos explodirem com o berro que saiu de lá.
— QUEM É VOCÊ?! O QUE ESTÁ FAZENDO AQUI?! — A voz aguda saía da cabine. Ao olhar dentro desta, fiquei chocada com o que encontrei: o fantasma de uma garota. Não pude evitar encará-la e perceber suas vestes. Não era uma garota qualquer, era uma aluna.
Ao ver seu rosto se contorcer, percebi que não havia respondido sua pergunta.
— Ahn, eu... eu sou Picquery, quer dizer, Black. Black. E eu... estou no banheiro — respondi, confusa.
— Black? — a fantasma de óculos, maria chiquinhas e voz irritante indagou, parecendo divagar sozinha. — Eu conheci duas Black. Elas eram mais velhas e viviam juntas. Estavam sempre rindo de mim — a garota continuou, a voz parecendo um lamento miúdo. — Elas riam de mim — ela parou e olhou para mim. — É isso que você veio fazer, não é? — Sua voz agora estava ácida. — Rir de mim, como todos. “Ah, olhem a Murta Que Geme, por que não atormentamos sua morte?”. “Por que simplesmente NÃO TIRAMOS SARRO DELA?!”
— Olha, mal aí, eu só queria usar o banheiro — falei, vendo a fantasma surtada.
— Ah, só queria usar o banheiro... — ela disse em sua voz suave, olhando para mim. — MENTIROSA! SAIA DAQUI!
A garota morta não parava de gritar e comecei a entender o porquê de ninguém pisar naquele lugar. Peguei minha mochila e comecei a sair, quando de repente me virei:
— Ô, maluca! Quer saber? É por isso que ninguém vem aqui e, quem vem, tira sarro de você. Você é insuportável! Aproveita seus anos de morte e vê se cria vergonha na cara! — falei e corri para fora, escutando seus gritos de lamúria se misturando à raiva e surpresa.
Quando já estava longe do banheiro, o sinal tocou e eu tive que me dirigir logo à sala. Respirei fundo e voltei a andar, ainda incrédula com o que havia acontecido.
Certamente, Hogwarts era uma escola curiosa.

🌖 🌖 🌖


Todas as aulas do dia haviam, enfim, acabado. O último ano já era puxado por conta dos exames finais (que aqui eram chamados N.I.E.M.s), agora some uma mudança de escola, uma ameaça a sua família e uma vida amorosa desastrosa. Não era exatamente o melhor ano da minha vida.
Suspirei, aliviada, com o sinal e peguei meu material. Rey não fazia aquela aula de Aritmancia, então iríamos nos encontrar no Salão Principal para o jantar. Segui para fora, me misturando com os muitos alunos no corredor, desejando só comer logo que possível. Aquele grupo de pessoas, que ajudava a me misturar e me tornar invisível, também estava me irritando com seus passos lentos e paradas repentinas no corredor.
Eu ainda não conhecia a escola bem o suficiente para me aventurar pelos corredores, no entanto, meu humor já estava péssimo e eu não tinha paciência para aturar aqueles alunos lentos. Por isso, virei em um corredor que eu tinha quase certeza que também chegaria lá e segui por aquele caminho, com poucas pessoas e cada vez com menos.
Continuei seguindo pelo corredor até que alcancei as escadas das masmorras. Aí eu me toquei: eu havia errado todo o caminho.
Frustrada, bufei alto. Não acreditei que teria que voltar por todo o caminho. Meu estômago roncou, me deixando mais frustrada.
Decidida a aceitar meu destino, me virei e recomecei meu trajeto, quando fui parada por uma voz:
— Ora, ora, se não encontrei justamente a pessoa com quem eu queria conversar.
Me virei, irritada e levemente temerosa, para encarar aquele garoto saindo das masmorras que eu desejava nunca ter conhecido.
— O que você quer, Regulus? — perguntei, ainda andando.
Rapidamente, ele me alcançou e se colocou em minha frente.
— Aonde vai com tanta pressa? Temos muito o que conversar.
— Não tenho nada a falar com você — eu falei, curta e grossa.
— Ah, é? — ele apoiou uma mão no meu ombro. — E como vai sua missão?
— Não me toque — rosnei, tentando me desvencilhar, porém seu aperto era forte.
— Você não me respondeu. Como vai a missão? Acha que eu não notei aqueles olhares esquisitos no café da manhã?
— ‘Tá me monitorando, é?
— Você sabe que essa é minha parte. — Ele me apertou mais forte. — Desembucha.
— ‘Tá bom, seu idiota. Eu tentei me aproximar dele o chamando pra uma festinha e ele foi escroto. Era isso que você queria? Pronto — rosnei.
De repente, ele me empurrou contra a parede, o aperto do braço machucando ainda mais.
— Você se acha muito engraçadinha e corajosa, né? Achando que pode dar essas respostas saidinhas, pensar em festas, abandonar a missão e tentar fazer gracinhas comigo, não é?
— Não sei do que você ‘tá falando — fuzilei seus olhos.
— Você deve me achar realmente muito idiota para não descobrir o que você fez hoje no café da manhã.
— Eu não fiz nada — respondi, sentindo meu coração acelerar, meu estômago se embrulhar e a raiva aumentar. — A culpa não é minha, se seu controle de bexiga é fraco.
Eu vi a raiva aumentar em seu olhar e quebrar o seu controle. Merda. Eu soube que estava ferrada no mesmo instante. Minha varinha estava no bolso, mas não tive tempo de alcançá-la. A outra mão, que estava livre, avançou rápido demais em direção ao meu pescoço. De repente, eu não conseguia respirar.
— Vamos entender algumas coisas aqui, — ele comentou, apertando ainda mais meu pescoço, me tirando um arquejo. Aquilo doía e eu precisava respirar. — Você não tem liberdade. Ou você me obedece ou sua família morre. Você quer que isso aconteça?
Fiquei em silêncio, procurando, desesperada, uma maneira de fugir. Eu sentia o pânico e o desespero me invadir, precisando do ar ao meu redor. A dor me invadia cada vez mais, queimando meus pulmões.
— Eu perguntei — Regulus repetiu —, você quer que isso aconteça?
Parecia que meus ouvidos estavam submersos e pontos pretos surgiam em minha visão, porém, alcançando o último resquício de ar, tentei gritar uma resposta digna, porém tudo o que saiu foi um sussurro esganiçado:
— Não.
— Então, você vai me obedecer, me entendeu? Você vai fazer tudo o que eu falar sem questionar, não vai me desrespeitar e nem ser uma vadia patética por ter levado um fora. Entendeu?! — ele berrou na minha cara.
Mas eu não conseguia responder. Eu me sentia tão fraca e parei de escutá-lo. Minha visão estava completamente escurecida. A dor diminuía e parecia simplesmente mais fácil ceder àquela escuridão. Era a melhor opção. Na verdade, era a única opção.
Então, no último segundo, senti aquela mão se soltar do meu pescoço. Respirei fundo, mas a escuridão não ia embora. Cedi completamente a ela.

🌖 🌖 🌖


Acordei na minha cama macia e senti uma imensa vontade de voltar a dormir. Com os olhos ainda fechados, tentei me virar para ajustar a posição, mas todas as partes do meu corpo doíam, especialmente meu ombro direito e meu pescoço. Completamente dolorida e desconfortável, abri os olhos.
E tentei gritar. Se minha garganta estivesse boa, com certeza eu teria gritado, mas tudo o que saiu foi um som esganiçado que logo se tornou um acesso de tosses.
E o motivo era que eu não estava no meu quarto. Aquele lugar era muito... vermelho. Olhando bem, vermelho e dourado.
As cores da Grifinória.
Com as últimas forças que restavam em mim, me virei levemente na cama para olhar ao redor. O quarto tinha quatro camas, inclusive a que eu estava, todas decoradas com cortinas e cobertores das cores da casa. Era bem parecido com o dormitório da Sonserina, porém bem iluminado, mais simples e com cores muito quentes. Eu me senti dentro de uma lareira, com suas cores fortes e vibrantes, assim como o ambiente em si.
Nesse momento, a porta se abriu e eu fiquei chocada com quem eu encontrara ali.
— Ah, que bom, você acordou.
Sirius fechou a porta do quarto e chegou mais perto de mim e começou a me analisar.
“Que bom, você acordou”? A última vez que ele me vira, ele tentara me machucar como...
Como o irmão dele me machucara. As cenas voltaram à tona e me senti tonta relembrando tudo aquilo.
— Opa, pera aí, cuidado — Sirius me amparou, provavelmente vendo que eu estava prestes a desmaiar de novo.
— O que que eu estou fazendo aqui? — Era o que eu queria perguntar, mas tudo o que saiu da minha boca foi um novo acesso de tosse.
De repente, senti algo próximo à minha boca.
— Vai com calma, bebe isso — ele falou, gentil. Eu havia visto seu jeito engraçadinho, seu jeito irritado. Mas nunca o seu jeito gentil.
Sem muitas opções, bebi aquele líquido maravilhoso que fez minha garganta ficar melhor imediatamente.
— O que é isso? — perguntei, baixinho, ainda com a garganta sensível.
— A poção mais mágica do mundo — ele sorriu, maroto, mais parecido com o Sirius que eu via nos corredores. — Água.
Depois de mais alguns copos e uma Poção Estimulante, consegui me sentar na cama e senti a dor diminuir um tanto, agora ficando concentrada no pescoço e no ombro. Instintivamente, levei a mão aos locais.
— Como eu vim parar aqui? — indaguei com a voz fraca.
Sirius se sentou na beirada da cama, com o rosto indecifrável.
— Eu a trouxe. Do que você se lembra?
Um arrepio se passou pelo meu corpo.
— Dele... dele segurando o meu pescoço, falando... algumas coisas. Tudo ficou preto e aí, quando eu achei que... não aguentaria mais, consegui respirar. Só lembro disso — eu disse, em um sussurro. Odiei a fraqueza que escutei em minha voz.
— Bom, a verdade é que... — Suas mãos se fecharam em punho. — Eu a encontrei jogada no chão do corredor, inconsciente, enquanto Regulus a encarava. Eu... percebi seus machucados e vi as mãos dele vermelhas. Não foi difícil de deduzir — Sirius suspirou. — Eu deveria tê-la levado para Madame Pomfrey, mas eu congelei, não sabia o que fazer. Eu vim imediatamente para cá.
— É melhor. Não quero... ele...
— Eu entendo. Mas acredito que ele vai pensar duas vezes antes de tentar algo. — Percebi que ele escondeu a mão direita, mas, de relance, eu vi alguns pontos avermelhados. — E você, tente não se meter com ele.
Ah, se fosse fácil. Eu nunca teria dirigido uma única palavra a ele por vontade própria.
— E onde eu estou? — indaguei, querendo mudar de assunto.
— Bom, acredito que a esse ponto você tenha imaginado a resposta — ele riu de leve, apontando ao redor. — Bem-vinda ao dormitório da Grifinória!
Então eu estava certa. Era mesmo um dormitório da Grifinória. E, se eu estava ali com Sirius...
Quatro camas. Não era difícil de adivinhar quem dormia ali.
— Por que você ‘tá sendo tão gentil? — perguntei o que não saía da minha cabeça.
— Digamos que eu tenho um fraco por garotas em apuros — ele brincou, me fazendo revirar os olhos, embora eu sorrisse. Minha cabeça latejou um pouco mais forte.
— Sirius...
— O que foi? — ele se aproximou, visivelmente preocupado.
— Obrigada. Por não me deixar largada no corredor. E por não ter me levado a Madame Pomfrey. Ela... faria perguntas. Como, por exemplo, quem fez isso. E eu não poderia responder sem me assumir um alvo para Regulus.
O semblante de Black ficou ainda mais sério.
... eu entendo que você esteja passando por muita coisa. Mas eu preciso entender. Por que ele fez aquilo?
Olhei para o lado, nervosa. Pelo suco de manhã? Sim. Por desrespeitá-lo? Também. Por não ter conseguido êxito na minha missão de me aproximar dele e de seus amiguinhos? Com certeza.
Mas tudo o que eu pude fazer foi engolir em seco e desviar o olhar.
— Se não quiser contar... — ele repetiu e eu pensei que talvez eu pudesse contar a verdade parcialmente.
— Ele acha que eu derrubei o suco dele no café e o fiz passar vergonha — confessei, com a voz rouca e baixa.
Seus olhos ganharam um brilho extremamente curioso.
— E você fez isso?
Dei de ombros.
— Nunca disse que sim. Também nunca disse que não.
— Entendi — Sirius riu de leve. — Então, vamos apenas supor que você tivesse feito. Qual seria sua motivação?
Me ajeitei de leve na cama apenas para arrumar tempo para pensar. Por que eu o atacaria se não fosse pela missão?
Você vai fazer tudo o que eu falar sem questionar, não vai me desrespeitar e nem ser uma vadia patética por ter levado um fora”.
— Ele estava... falando coisas nada agradáveis sobre mim. Me desrespeitando por eu ter levado um fora — De novo, aquela voz que revelava fraqueza.
As sobrancelhas de Sirius de franziram.
— Um fora?
— É, um fora — bufei. — Não conhece ninguém que deu um fora em mim recentemente, não?
— Alguém que...? Ah. AH! — ele se sobressaltou ao se dar conta.
— Pois é — bufei.
— Por que ele estaria te importunando com isso? — Sirius questionou.
Minha cabeça latejava com aquele interrogatório.
— Olha, ele me ouviu contando para uma amiga e, sendo insuportável como é, Regulus veio zombar da minha cara e, quando eu me irritei, ele se achou no direito de me xingar — respondi com a voz beirando à impaciência. — Satisfeito?
Levei a mão à cabeça que não parava de doer. Então, rapidamente, tinha mais um copo de água estendido em minha frente.
— Desculpa o interrogatório. Eu devia ter visto que você ainda não estava bem. E eu... sinto muito pelo Regulus. E por mim. Eu fui um idiota de te julgar, mas você deve admitir que foi estranho.
— Relaxa, até hoje eu me sinto confusa — repliquei, depois de engolir todo o líquido.
— Mesmo assim... Eu não devia ter feito o que fiz. Não sei exatamente como compensar.
— Não precisa — eu respondi, honestamente. — Você já fez muito.
Mas, então, seus olhos se arregalaram.
— Já sei! Rem... Quer dizer, você ficou sem acompanhante para o jantar idiota, certo?
— Ei, quem disse que eu não tenho acompanhante? — retruquei, emburrada.
— Você arrumou um acompanhante?
— Não, mas eu poderia ter arrumado.
— E acabou de arrumar — ele sorriu, animado. — Me daria a honra de ser seu acompanhante?
Tive que segurar o riso.
— Você não ‘tá falando sério, não é?
— Claro que estou. Vai, eu não posso ser uma opção tão ruim. Muitos me considerariam a melhor — o garoto piscou.
Se eu fosse sincera, ele seria o par perfeito para colocar em dia minha missão. Bom, quase perfeito. Mas o outro idiota estava fora de questão. É, ele serviria.
— Eu aceito seu convite — sorri para ele.
— Beleza! Esse sábado, não é? Vou deixar tudo pronto. Ah, agora tenta deitar mais um pouco. Vou pensar em como voltaremos sem ninguém ver você.
Assenti, cansada, e só me deitei com cuidado na cama novamente. Rey ficaria enlouquecida quando lhe contasse tudo o que acontecera naquele dia, fofoqueira do jeito que era. Minha mente começou a vagar, mas não importava quanto esforço eu fazia, eu sempre acabava com a cena de Regulus em minha frente, sua mão cada vez mais apertada na frente do meu pescoço... As lágrimas que eu tanto segurei começaram a cair, fora do meu controle e eu torci que Sirius não prestasse atenção. Eu me sentia tão impotente. Me encolhi e tentei esconder meu choro, até que meu sono começou a chegar...
A porta foi escancarada e eu acordei com o barulho alto, assustada. Aquilo fez minha cabeça latejar ainda mais. Me virei em direção à porta na mesma hora que a pessoa que entrara falou:
— O que ela ‘tá fazendo aqui?

Capítulo 09

Remus Lupin não estava tendo um bom dia.
Primeiro, desde o momento em que acordara, já começara a sentir os sintomas de uma lua cheia se aproximando. Era quarta feira e a transformação seria apenas sábado, mas ele podia sentir a irritação em sua pele, seus sentidos aguçados e uma constante dor de cabeça que ele, com onze anos como licantropo, havia aprendido a conviver, mas nunca parecia ser menos intensa.
E tudo aquilo levava a um segundo problema.
Remus possuía uma enorme dificuldade de fazer amigos e confiar nas pessoas. Passara a vida inteira sendo um fardo aos pais e, agora, por algum motivo desconhecido, Dumbledore e seus amigos haviam tomado esse papel voluntariamente. Porém, no fundo, Lupin sabia que ele era um incômodo. Nunca poderia ser grato o suficiente a essas pessoas, porque sabia que nunca encontraria pessoas mais leais, todavia, mesmo assim, às vezes uma súbita vontade de fugir e desaparecer se instalava em seu peito. Assim, nunca mais ia ferir nem incomodar ninguém.
No entanto, ele ainda era egoísta, já que sentiria falta demais dos amigos para tomar qualquer atitude. Remus tinha uma nova família e faria de tudo para mantê-la.
Apesar de ter os melhores amigos que qualquer um poderia sequer sonhar, contudo, ele tinha consciência de que eram seus únicos amigos. Ele tinha um grande medo de se envolver com qualquer um e arrastá-lo para seus problemas, além de ser difícil saber que tipo de pessoa ele poderia ou não confiar. Por isso, desde que chegara em Hogwarts, fora parte dos marotos e aquilo era mais do que suficiente.
Até o dia em que chegara.
O garoto ainda não sabia explicar o que era tudo aquilo que sentia, mas, desde o momento no vagão em que a conhecera, ela fora a primeira pessoa além dos garotos (e Lily, claro, mas ela já era uma parte dos marotos) com quem ele sentira qualquer mínimo conforto por perto. O que era completamente estranho, pois ele tinha todos os motivos para não confiar nela.
Ela dissera que seu sobrenome era Picquery, quando, na verdade, ela era uma Black. Prima de seu melhor amigo, pertencente a uma família nada confiável. Depois, fora selecionada para a Sonserina e um grifinório não tendia a confiar nos sonserinos. E não sem motivo: os últimos bruxos das trevas estavam vindo de lá.
Mas, mesmo assim, Lupin não conseguira se conter. Ela tinha um magnetismo próprio que o intrigava e parecia o chamar para mais perto. Nos momentos mais improváveis, ele se vira conversando com ela e tentando de toda forma prolongar aquilo. Pela primeira vez em anos, ele sentira vontade de estar com alguém que não fosse seus amigos.
Porém, como tudo na sua vida, aquilo não poderia dar certo. Mas ele queria que desse, por Merlim, ela até mesmo flertara com ele na biblioteca! Ela estava há pouco mais de um mês na escola e eles já haviam passado por situações bem curiosas, mas, de longe, aquele momento havia sido o melhor de todos.
Isso é, antes de ele estragar tudo.
Por que a maldita reunião do clubinho do Slug tinha que ser naquele sábado? Naquela lua cheia?
Ele nem pudera dar uma desculpa decente. O que diria? Que era um lobisomem? Podia estar confiando nela, mas não era estúpido. Por isso, o que quer que fosse que eles poderiam estar criando, havia morrido ali. A maneira que ela havia saído deixava aquilo muito claro.
E aquilo era só mais uma vez a vida lhe mostrando que, não importava o quanto ele tentasse ser normal, ele nunca seria. E sempre acabaria afastando as pessoas.
Naquele café da manhã, havia recebido todo tipo possível de conselho dos amigos:
— Você quer que a gente invente alguma desculpa pra ela? Aí ela passa a odiar a gente e não você — Pontas falou.
— Valeu, mas não. Ia só virar uma rede de mentiras.
— É uma pena, Remus, mas, com certeza, vão existir outras garotas. Você é um cara incrível — Lily o consolou, sempre gentil.
— E uma delas vai achar que ter um problema peludo é algo charmoso — James o cutucou, animando-o.
— E sua namorada gosta da sua galhada, Pontas? — Sirius provocou, deixando uma careta na cara do primeiro.
— É charmoso — Lily riu.
— Pelo menos ele não cheira a cachorro molhado — Peter disse, levando um tapa amigável de Black.
— Mas é sério. Eu não vou com a cara dela, então acho que foi melhor para você — Almofadinhas colocou, sua testa se franzindo. — Não que isso importe. O que importa é que a gente ‘tá aqui.
E eles estavam mesmo. Apesar de tudo, Remus não podia deixar de se sentir sortudo por conhecer aquelas pessoas. Por que tivera tanta sorte?
Mas sua sorte era limitada. Ele conseguia ver os olhares mortais que atravessavam o Salão Principal em sua direção. Os olhos escuros de estavam fixos nele com puro ódio. Ele sabia que tinha que deixar aquilo para lá. Deixar para lá. Mas até isso sua maldita licantropia conseguia atrapalhar.
Como deixá-la para lá, se estava sempre tão consciente da sua presença? Seu maldito olfato apurado havia fixado o cheiro dela. Aquele maldito cheiro fresco de peônias que o distraía sempre que ele conseguia focar na aula. Em certo ponto, ele simplesmente desistiu e se deixou viajar com aquele cheiro. Por mais que não pudesse encará-la, pensou que poderia, ao menos, sentir um pouco da sua presença.
E também podia ouvi-la. O maldito som da respiração saindo por seus lábios com certeza o enlouqueceria a qualquer minuto.
Quando as aulas finalmente acabaram, Remus fez o que fazia de melhor: fugiu. Ele sentiu o cheiro de peônias se afastar e respirou aliviado por ter sua mente no controle novamente. Se escondeu em seu terceiro refúgio naquela escola.
O primeiro era o dormitório com os amigos, mas ele estava precisando de um pouco de tempo. O segundo era uma forma de escapar em sua forma mais literal possível: o local apelidado como Casa dos Gritos, embora ninguém, além dos marotos, soubessem que aqueles gritos, infelizmente, eram seus. E o terceiro era a biblioteca. O cheiro dos livros, assim como o barulho unicamente das penas riscando o papel, eram perfeitos para alguém que estava com o corpo inteiro sensível demais. Além disso, Lupin precisava urgentemente colocar em dia tudo o que perdera nas aulas por causa das distrações.
Ele quase riu da ironia da situação. A lua cheia estava se aproximando e ele só pensava em uma garota que ele mal conhecia. Quem diria que ela conseguiria se sobrepor a todos os desconfortos de seu corpo, deixando sua mente tão agitada e culpada.
Perdido naqueles pensamentos, o garoto passou todo o seu final de tarde ali, apenas ele, os livros e o barulho da pena no pergaminho. Só parou quando sentiu seu estômago roncar. Aquela era outra coisa ruim de ser lobisomem. Um adolescente no geral já possuía um apetite enorme, agora pense num adolescente com licantropia, especialmente quando se evita a dieta que um lobisomem geralmente tem. Seu estômago roncou novamente, mas Lupin não sentiu nenhuma animação em ir jantar. Por sorte, ser parte dos marotos tinha muitas vantagens.
Quando saiu da biblioteca, ao invés de seguir o fluxo que se dirigia ao Salão Principal, ele desceu até as masmorras. Quando alcançou a pintura com uma taça de frutas, Remus parou e fez cócegas na pêra. Qualquer um poderia achar aquilo uma completa loucura, mas, o que poucos sabiam, é que aquela era a entrada para a cozinha de Hogwarts.
A pêra se transformou em uma maçaneta verde, finalmente revelando a passagem, e logo ele estava dentro do ambiente. Diversos elfos domésticos de uniforme iam de um lado para o outro nas bancadas, arrumando as comidas que, magicamente, apareceriam no Salão Principal. Na hora em que o notaram, começaram a fazer reverências.
— Senhor, como podemos ajudá-lo? — um deles disse.
Remus sempre sentia a ironia da situação. Aquelas pobres criaturas sempre o trataram com imensa dignidade, mas mal sabiam que, em questões de direitos e tratamento dos bruxos, eles não estavam nem um pouco distantes um dos outros. Por isso, ele sempre tentava ser gentil.
— Boa noite — ele disse para todos. — Não quero de forma alguma atrapalhar vocês, mas, se não for incômodo, eu poderia comer alguma coisa aqui? Não estou me sentindo muito bem para subir.
Então, Lupin começou a receber o tratamento de um rei. Bolinhos de carne lhe eram estendidos, assim como copos com suco de abóbora, sobremesas variadas e muito mais. Seu estômago, que tanto roncava, foi logo se enchendo com diversas comidas diferentes, frescas e deliciosas. Aquele era um dos melhores lugares que os marotos poderiam ter descoberto.
Depois de agradecer imensamente aos elfos e ter sido pressionado a levar diversas tortinhas doces nos bolsos, Remus se despediu e deixou o local.
Quando estava saindo da cozinha, no entanto, ouviu passos e se esgueirou mais no corredor, de forma a não ser visto. Não queria se meter em confusão por não ter aparecido no jantar e nem revelar aquele local secreto. Observando silenciosamente, percebeu uma figura familiar se aproximar com um andar esquisito. No momento em que a pessoa se aproximou mais de uma das tochas do corredor, Lupin teve que segurar um arquejo surpreso.
Era Regulus Black com o rosto todo marcado de machucados. O olho estava inchado, o nariz e os lábios sangravam, suas mãos estavam vermelhas e, estranhamente, uma lágrima silenciosa escorria de seu olho bom. Remus ficou ali quieto, esperando e olhando até Black sumir no corredor, provavelmente indo para o dormitório da Sonserina.
Regulus era um garoto complicado. Lupin notara isso desde que o menino entrara em Hogwarts, um ano depois dele, já sendo colocado na Sonserina, arrumando problemas com Sirius ou perto deles, começando a andar com os meninos que todos os alunos já sabiam que tinham ligação com Você-Sabe-Quem. Porém, alguma coisa no jeito que ele andava mostrava que ele não tinha arrumado problema com nenhum garoto problemático da própria casa.
Não, aquilo cheirava a Sirius. Literalmente, já que ele conseguia registrar leves traços do cheiro do amigo vindo do garoto. E outro cheiro nada promissor.
Antes que desse por si, Remus estava correndo, farejando Sirius. Colocou-se no modo automático, animal, predatório. Abstraiu os caminhos solitários que percorriam, tendo em mente apenas o amigo como foco. Quando deu por si, estava de frente para o quadro da Mulher Gorda.
Piscou rapidamente até sair daquele estado e retornar a seu senso humano.
— Boa noite, Mulher Gorda. Mandrágora — ele disse, ansioso.
— Boa noite, querido — ela respondeu, sorridente, enquanto o quadro se movia, liberando passagem para ele. — Se puder, avise seu amigo que, na próxima vez, eu não vou encobri-lo.
— Encobri-lo? — Remus indagou, confuso, mas o quadro já havia se fechado, deixando-o sozinho no salão comunal da Grfinória. Com aquela pequena confusão da fala da Mulher Gorda, ele perdeu o foco de seu faro e passou a sentir o cheiro de tudo novamente, não mais do amigo.
E, então, ele percebeu. Peônias.
O mesmo cheiro que ele achava que tinha sentido em Regulus.
Mais uma vez, seu instinto o moveu e ele subiu desesperado para seu dormitório, sentindo o cheiro cada vez mais forte. Ele sentiu a irritação, a confusão e muitos outros sentimentos surgirem em seu corpo.
Abriu a porta com mais força do que devia e percebeu Sirius sentado em uma poltrona, as mãos cobertas com uma substância gosmenta que eles tinham de reserva no quarto para caso um deles se machucassem (principalmente, Remus). Porém, o mais chocante naquela cena era a garota com o uniforme da Sonserina que se sobressaltou, olhando para ele. Da cama de Sirius.
— O que ela ‘tá fazendo aqui?
Remus queria socar alguma coisa. Por que ela estava na cama de Sirius? Eles não eram primos? Bom, os pais do amigo também eram. Mas ele não dissera que não a suportava? O que ela estava fazendo ali, tão próxima de onde ele dormia? Aquele foi outro pensamento que teve que abstrair, já sentindo uma leve agitação percorrer seu corpo.
Finalmente, Almofadinhas se pronunciou:
, fique deitada. Você não ‘tá em condições de levantar. Aluado, vem comigo.
Remus não queria sair. Não queria deixar aquele cômodo nem aquela garota. E como assim ela não estava em condições de sair? Ele sentia que estava perdendo algum detalhe importante naquela cena.
Então, olhando de leve para a garota que o encarava de forma que parecia prestes a esmagá-lo, percebeu que ela tentava ajeitar o cabelo e cobrir o pescoço que estava cheio de hematomas.
Lupin congelou, sem saber exatamente o que sentia.
— Que merda...?
— Lá fora — Sirius, que já havia se levantado, o puxou, fechando a porta do dormitório atrás de ambos.
Tudo ali cheirava, literalmente, a Regulus, Sirius e . Além disso, ele também conseguia captar algumas emoções: raiva, medo, ódio, dor. Aquilo estava tirando-o do sério e, somado às suas constantes dores de cabeça, dores no corpo e fácil irritabilidade, ele simplesmente precisava entender tudo aquilo ou poderia acabar tendo um colapso.
— Desembucha — ele disse para Sirius, antes mesmo de se terminarem de descer as escadas do dormitório.
— É melhor você se sentar primeiro — Almofadinhas apontou a poltrona, mas aquilo só fez Remus ficar mais ansioso. Porém, para agilizar aquela conversa, ele se sentou em um assento oposto ao que Sirius estava.
— Então? — Aluado colocou, ansioso. Não aguentava aquele suspense.
— Por onde começar? Bom, eu estava saindo das masmorras depois de ter, han, encontrado Margaret Diggory. Eu ia jantar quando... — Os punhos de Sirius se fecharam, o que fez o corpo de Remus inteiro se resetar. Ele esperou o amigo continuar. — Se você visse aquilo, Aluado... Foi quase como se o universo quisesse me fazer pagar com a língua. Eu jurava que ela era uma mentirosa, amiguinha do Regulus ou coisa muito pior, e...
— Almofadinhas, se você não me contar logo, eu vou acabar destruindo essa almofada — Lupin apontou para o objeto acolchoado que apertava com mais força do que deveria.
— É melhor você largar a almofada antes que eu continue — Sirius disse e sua voz estava tão séria quanto no dia em que oficialmente saíra de casa. Aquilo fez seu corpo tenso quase explodir, mas Remus largou a almofada. — Melhor. Bom, vamos lá — Sirius suspirou. — Eu vi a garota largada no corredor, inconsciente. E, em frente a ela, o maldito do meu irmão. — O ódio que fora cuspido naquela frase era intenso. — A mão de merda dele encaixava em cada machucado no corpo dela. Não foi difícil deduzir. Porra, Aluado, ele a enforcou até ela quase... E ainda ficou encarando, parado ali como se não fosse nada!
Lupin se levantou imediatamente, a raiva animalesca se transformando dentro de si. Sempre fora uma pessoa muito controlada e tinha muito orgulho daquilo, mas não havia quem pudesse receber aquela notícia e ficar bem. Ainda mais que, de acordo com a história de Sirius, se aquilo se passara perto das masmorras, Remus teria chegado pouco depois de todo o incidente, por pouco não tendo encontrado Regulus e ele mesmo.
Aquilo o lembrou de outro ponto.
— Mas a história não acabou aí, acabou? — Lupin indicou, nada discretamente, a mão de Almofadinhas ainda com a substância gosmenta.
Sirius nem tentou esconder a mão do amigo, simplesmente dando de ombro.
— Ela não quis contar para ninguém, mas ele não podia sair impune. Você não vai me dizer que eu não deveria fazer nada, né?
Remus olhou para a própria mão retesada e soube que não podia discordar. Talvez, com a irritação do corpo no nível em que estava, ele mesmo poderia ter feito pior. Como teria sido se ele encontrasse e não Sirius?
— Quero vê-la — Lupin disse, subitamente.
— Cara, quem sou eu para falar alguma coisa, mas não acha que é melhor dar um tempo a ela? Ela já passou por coisa demais em muito pouco tempo.
— Você... ‘tá certo — Remus relutantemente concordou, querendo qualquer motivo que pudesse justificar o contrário. — E ela... contou por que Regulus fez isso? — ele indagou, tentando controlar a raiva.
Sirius se mexeu desconfortavelmente na poltrona.
— Ahn... Não exatamente. Briga de família?
— Você é um péssimo mentiroso, Almofadinhas.
Sirius bufou, olhando para a mão machucada.
— Parece que ele provocou , ela retribuiu, ele ficou puto e deu nisso.
— Isso parece muito raso — Remus retrucou.
— Cara, eu não sei muita coisa. E também é uma parada pessoal, não é? Não quis me intrometer muito. Ela... mal estava conseguindo falar.
Lupin subitamente se sentiu mal com aquele interrogatório. Ele estava sendo paranoico enquanto estava mal a poucos metros de distância dele, mas não conseguia evitar as diversas cenas que percorriam sua cabeça, especialmente as piores cenas. Se ele soubesse o que Regulus havia feito quando o encontrou...
Ele não teria se controlado. E aquilo era preocupante.
Remus olhou de relance para Sirius e percebeu que o amigo parecia mais abalado do que estava se deixando demonstrar. O que era óbvio, já que não deveria ter sido fácil para ele encontrar o próprio irmão e brigar com ele.
De novo.
— Como você ‘tá, Almofadinhas? — Lupin se viu dizendo.
Sirius mostrou um sorriso debochado que poderia convencer qualquer um. Qualquer um, menos um dos seus melhores amigos.
— Um dia com a mão enfiada no rosto daquele merdinha nunca é um dia perdido. Ainda mais quando termina com uma garota bonita na minha cama. — Naquela parte, Remus fechou a cara. — É brincadeira!
— Sei... — Lupin fingiu rir, mas aquele comentário o incomodou mais do que gostaria. Porém, aquilo não importava no momento, apenas como seu amigo estava. — Agora, vai me falar a verdade?
Sirius bufou, mas logo sua pose irritada se desfez em um suspiro.
— Eu o odeio tanto. Ele puxou tudo de pior dos meus pais ou, ao menos, tenta mostrar que sim. Mas eu pude ver, enquanto eu metia um soco no olho dele, que ele estava confuso. Ele nem revidou, Aluado, e isso só me deu mais raiva. Porque, no final do dia, ele ainda é meu irmão.
Remus sabia que o amigo estava mal. Por mais que conviver com sua família fosse difícil por causa da licantropia, ao menos, sua relação não era nociva como a da família Black. Lupin não tinha sido o único a ser salvo ao entrar naquela escola e conhecer os seus amigos.
— Sirius... Você todo dia mostra para ele que ele pode ser diferente simplesmente por existir. Você dá uma saída, mas não pode forçá-lo a te seguir. Regulus é seu irmão de sangue, mas ele não é sua família. Nós somos a sua família.
Black olhou para o lado e deu uma risadinha.
— Você é sempre bom com as palavras assim, Aluado, ou é a lua cheia que ‘tá te inspirando?
— É a sua presença, Almofadinhas, a sua presença — Remus debochou, porque sabia que o amigo, na verdade, estava tentando mudar de assunto e tirar o foco de seu rosto que, por mais que Lupin não visse, sabia que o amigo tentava esconder suas lágrimas, tão parecidas com a que o outro irmão Black derramara.
Depois dessa mudança de foco, Sirius voltou a encará-lo, os olhos já secos e sem traços de qualquer choro.
— Cara... Só tem uma coisa que eu preciso te falar. Sobre a .
— O que é? — Lupin indagou imediatamente. Um pequeno incômodo se fez no seu peito e o sentimento de ciúme que sentira ao vê-la na cama do amigo voltara.
“Para. Ela não é nem sua amiga nem nada para sentir qualquer coisa. E Almofadinhas só estava ajudando-a”, Remus se repreendeu mentalmente.
— Bom — Sirius começou, deixando o amigo apreensivo —, eu posso ter, impulsivamente, a convidado para ir ao jantar do clube do Slug comigo.
— Você o quê?! — Antes que desse conta, Lupin já estava em pé, alcançando o amigo.
— Como amigos! Quer dizer, primos! Ou seja lá o que a gente seja, mas nada romântico! Ela não é meu tipo e com certeza ‘tá interessada em você, assim como você nela...
— Eu não estou interessado nela.
— Aham, claro, Aluado, claro que não ‘tá.
— E ela não gosta de mim. Na verdade, ela me odeia — Lupin continuou, ignorando o comentário do amigo.
— Ela odeia que você não vá com ela a um maldito jantar, ou seja, ela se importa.
— E de que adianta se eu não vou ao estúpido jantar e, pior, você vai no meu lugar?
— Calma, lobinho! Porque, assim, ela não vai com ninguém com real interesse e eu posso falar bem de você para ela — Sirius disse, as mãos estendidas para a frente em uma dramática defensiva.
Remus escutou a resposta do amigo e se concentrou. Tinha que se acalmar e ser racional. Não podia deixar seus sentimentos o controlarem, já não bastava não estar no controle durante as luas cheias, precisava ter controle quando desse. Respirou fundo e se concentrou no som dos batimentos do próprio coração, até eles estarem mais lentos. Então, confiou em si mesmo para responder:
— ‘Tá tudo bem. Espero que vocês se divirtam.
E tentou demonstrar o máximo de tranquilidade possível ao dizer aquilo, ao invés da insegurança e do ciúme do amigo poder ir à festa e estar com a garota que ele queria estar.
— Valeu, cara. Mas é sério. Vou falar tanto desse seu rabo peludo que ela vai se encantar.
— Pensando bem, é melhor não falar nada.
Os dois riram juntos e Sirius subitamente arregalou os olhos.
— Nossa, quase me esqueci. Temos que tirá-la daqui logo. Preciso passar na cozinha também, porra, eu comia até um cabrito agora. Acho que ela também deve estar com fome.
Remus tocou os bolsos, lembrando das tortinhas que carregava nos bolsos. Nunca se sentira tão grato àqueles elfos como naquele momento.
— Aqui, cara, pega — Lupin deixou algumas tortinhas na mão de Sirius. — Tenho algumas outras aqui, vou levar para a .
Os olhos de Sirius brilhavam de felicidade.
— Remus Lupin, você sabe mesmo como agradar um cara.
Aluado revirou os olhos.
— Usa essa energia renovada e vai procurar o Pontas. Ele deve estar com a capa. É a melhor forma de tirá-la daqui.
— Além de ter docinhos, você é um gênio! Vou atrás do Potter. Por favor, quando eu voltar, tentem estar vestidos! — Sirius disse, já se levantando e correndo até a porta.
— Vai se foder — foi a última coisa que Remus disse, com o rosto completamente corado, antes que Sirius fechasse a porta atrás de si.
Lupin olhou em volta, sentindo o ar pesado dentro de si. Aquele tinha sido um dia muito longo. Ainda estava processando tudo o que havia acontecido e, agora, ainda tinha que enfrentar a garota disposta a matá-lo.
Não era nada promissor, mas, respirando fundo, ele se levantou da poltrona e começou a subir para o dormitório.
Parando perto da porta, ele se concentrou no barulho do coração dela. Ele batia, lento, o que fez seu próprio peito se apertar. Será que Regulus teria sido capaz de matá-la? Será que essa perda de controle voltaria a acontecer?
Será que ela realmente ficaria bem?
Sua audição captou, então, sua respiração suave. estava dormindo. Era melhor entrar agora, antes que ela acordasse e ele a perturbasse. Talvez o dia dele tivesse sido ruim, mas tudo indicava que o dela havia sido muito pior. Com cuidado, ele abriu a porta, constatando que ela realmente estava dormindo. Ele ficou um tempo simplesmente parado ali, observando-a, com os olhos fechados serenos. Respirando fundo, entrou no quarto sem fazer barulho e cuidadosamente colocou as tortinhas na cabeceira. O cheiro de peônias era mais irresistível do que nunca e ele só queria poder ficar por ali, certificando-se de que ela estava bem.
Suspirando, Remus sussurrou para ela, em uma confissão que nunca seria ouvida:
— Se em um mundo menos complicado eu fosse normal... você não precisaria me perdoar porque eu aceitaria contente ir a esse jantar com você. Mas nesse mundo... não adianta. Eu sempre ia acabar mentindo e você merece mais.
Olhando-a pela última vez, Remus se levantou e foi em direção à porta, esperando os amigos voltarem.
O que ele não sabia, no entanto, é que sua confissão não morrera ali. Porque a garota, embora sonolenta, estava acordada.
E ouvira tudo.

Capítulo 10

Todo o meu orgulho gritava para que eu nunca mais olhasse na cara de Remus Lupin, mas eu teria que me reconciliar com ele o mais rápido possível por dois motivos.
Um: eu não queria sequer pensar em ter Regulus Black novamente perto de mim. Os hematomas estavam melhorando com a solução gosmenta que Sirius havia me dado, mas a mera lembrança trazia toda a dor de volta. A impotência que eu senti ainda me incomodava. Eu estava à mercê de um louco e queria dar o mínimo de motivos possíveis para esse mesmo louco me incomodar.
Dois: o que Lupin disse quando ele achou que eu estava dormindo em seu quarto na quarta-feira, depois de toda a confusão. As palavras martelavam dentro da minha cabeça, pensando no que significavam, dizendo que não era normal e precisaria mentir por isso. Que segredos Remus guardava?
E por que eu tinha a terrível sensação de que isso tinha a ver com a missão?
De qualquer forma, de nada adiantou minha mudança de ideia, porque o grifinório simplesmente desapareceu no resto da semana. Não foi às aulas nem de quinta nem sexta e os amigos disseram que ele estava doente. Na verdade, os professores pareciam muito acostumados com aquilo. Perguntei para Evan sobre aquilo na última aula de Poções e ele me respondeu com:
— Ah, ele ‘tá sempre doente.
E, para piorar, Severus Snape estava ao seu lado e se retesou quando Rosier respondeu aquilo, quase como se soubesse de alguma coisa, mas não falou nada.
Aquela história só ficava cada vez mais intrigante.
Outra pessoa que eu não vi também pelo resto da semana, graças a Merlin, foi Regulus. Eu temia o momento em que ele pudesse vir me cobrar sobre a missão novamente, mas, por enquanto, ele estava afastado. Não me olhava nos olhos e parecia sempre ir para a direção oposta a que eu estava.
E eu acreditava que isso fosse graças ao meu outro primo. Era meio cômico chamar alguém que eu nem sabia que existia assim, mas, desde o incidente, Sirius estava sendo mais simpático. Piscava para mim nos corredores, me falava para que eu me arrumasse no sábado porque ele não queria passar vergonha e eu tinha a impressão de que tentava se manter perto de mim o máximo possível para repelir o irmão. Geralmente, eu o mandaria se ferrar e diria que não precisava de ninguém de cobertura, mas, por mais que eu nunca fosse admitir para ele, eu me sentia grata por aquela atitude.
Porém, enquanto eu me aproximava aos poucos de Sirius, eu me afastava de Rey.
Eu estava com tanto na cabeça. O incidente com Regulus, os segredos de Remus, a missão, a festa com Sirius, e ainda tinha que disfarçar tudo de Reydana. Não podia contar os verdadeiros motivos daqueles machucados sem me comprometer ou correr o risco de ela contar a alguém.
Mas eu nem mesmo reparei, no meio da bagunça dos meus pensamentos, como ela estava distante. Só comecei a suspeitar que algo estava errado quando, há duas horas da festa começar, quando nós duas estávamos sozinhas no dormitório, eu tive que chamá-la pela terceira vez:
— Rey!
Ela levantou os olhos de seu caderno de desenho, onde ela rabiscava o que eu imaginei serem alguns rascunhos de vestes de sua criação.
— O que foi? — ela respondeu, seca. Aquilo não era do feitio dela.
— Você me disse que me ajudaria a me arrumar. Você sabe que eu não tenho tanto senso de estilo quanto você.
— Pelo menos a gente concorda nisso — ela murmurou.
Peguei a almofada na minha cama e lancei nela.
— Ei!
— Por que você ‘tá sendo tão grossa?
— Me desculpa se agora eu não quero ser sua amiguinha — ela debochou. — Nos últimos dias, você só me ignorou. Agora que você precisa da minha ajuda, milagrosamente volta a falar comigo.
Senti minhas bochechas esquentarem e percebi que as palavras dela eram reais, mas estava irritada demais para admitir.
— Por Merlin, Reydana, eu sei que eu estava um pouco distante, mas eu só estou um pouco ocupada.
— Não para falar com Sirius Black, pelo jeito.
— Ele é meu primo!
— Como se isso importasse! Antes de quinta, você nem falava com ele — Rey bufou. — Na verdade, antes de quinta, você me contava as coisas, mas isso mudou, não é? Aposto que ele sabe sobre os seus machucados.
Minhas bochechas esquentaram ainda mais. Eu torci muito para que ela tivesse esquecido esse assunto.
— Olha, eu realmente não posso te falar isso.
— Então, nada mudou. Você não confia em mim — ela exclamou, mas sua voz tremeu. Fiquei em alerta, chocada com a tristeza súbita que transpareceu. Isso não era nada típico da minha amiga.
— Rey...
— Eu nunca fui muito próxima das meninas. Você entra na escola e eu penso que finalmente vou ter uma amiga, mas adivinha? Ela também me deixou para trás!
— Não, isso não é verdade...
— Não é? Você me esconde as coisas, some durante a noite, aparece com machucados e não me conta nada. Até quando houve aquele incidente do Phillip você me contou. Mas, de repente, você se fecha e acha um novo amigo!
Sentei na cama ao lado dela, que desviou o olhar. Como explicar tudo sem me expor?
— Rey — eu comecei, devagar —, você foi minha primeira amiga na escola. Você é minha melhor amiga. As coisas que aconteceram... Eu queria, mas realmente não posso contar. E não só para você, não posso contar para ninguém. É sobre a minha família e — um soluço escapou pela minha garganta sem querer e isso fez a sonserina levantar o olhar, encontrando com o meu — eu só não queria estar nessa situação. Eu estou com tanto medo, mas não posso te contar. Me desculpa por não poder te contar.
Nos encaramos por alguns segundos que pareceram uma eternidade. Eu odiava não poder me abrir com ela, seria tudo mais fácil se eu a tivesse ao meu lado, mas isso seria perigoso para nós duas. Minha conexão com Ashley era muito grande e eu realmente acreditava ter encontrado essa amizade com Reydana também. Não queria que fosse mais uma coisa estragada pelos Black.
Por fim, Rey suspirou e desviou o olhar.
— Eu te desculpo. Eu só... queria que você estivesse mais por aqui. Você não é a única com problemas familiares.
Aquilo me deixou alerta. Rey tinha alguns problemas com a família e, principalmente, com o irmão e a cunhada, que eram comensais da morte.
— O que houve?
Ela segurou o caderno mais firme em suas mãos, me deixando preocupada, mas esperei que ela se acalmasse para falar:
— Meu irmão está sendo investigado.
O silêncio caiu no quarto enquanto eu absorvia a informação, em completo choque. Senti uma pontada de culpa me atingir no coração. Não era à toa que minha amiga parecia muito abalada.
— Eu não gosto do que ele faz — ela continuou, falando rápido, em pura ansiedade —, mas eu não quero meu irmão preso. O que seria da minha sobrinha sem os pais? Eu não quero que nada aconteça com ele.
Eu podia perceber que Rey, apesar de tudo, segurava as lágrimas, então eu a abracei firme. Ela retribuiu como se segurasse uma âncora. Ficamos alguns minutos assim até a sua respiração regularizar, então eu me soltei gentilmente e falei para ela:
— Tudo vai ficar bem, Rey. Seu irmão vai ficar bem. E, se o pior acontecer, eu vou estar aqui para o que precisar. Mas não pensa nisso — me apressei a falar. — E, independentemente do que acontecer com ele, sua sobrinha vai ficar bem. Pô, ela tem a melhor tia do mundo!
Reydana riu fraco e olhou para mim. Depois, desviou o olhar, um pouco constrangida.
— Me desculpa não ter estado aqui antes. Conta comigo para o que precisar de agora em diante — afirmei, segurando sua mão.
Ela assentiu, fungou e se afastou um pouco de mim, tentando limpar lágrimas que eu sabia que ela não queria que eu visse em seu rosto.
— Chega de notícia triste — ela afirmou, de repente, se virando para mim. — Você tem uma festa para ir e já perdemos muito tempo com esse sentimentalismo.
— Rey, você tem certeza...?
— Vamos! Essas roupas não vão se ajeitar sozinhas.
Reydana se levantou e foi revirar minhas roupas para preparar o look. Ela podia não ter falado nada, mas eu sabia o quanto ela estava agradecida. Eu também estava.
Duas horas depois, eu estava pronta. Como era apenas um jantar e aproveitando o clima ameno de outubro, optamos por um vestido verde simples de malha que era justo no corpete e um pouco rodado na cintura, terminando na metade da coxa. Um cinto prata circundava a cintura e uma sandália combinando decorava meus pés. Dois colares prateados e uma argola do mesmo material ajudavam a dar um ar um pouco mais sofisticado ao conjunto. Como toque final, Rey arrumou meu cabelo em uma trança embutida e fez um delineado nos meus olhos.
Me olhei no espelho e aprovei imediatamente o que eu vi.
— Rey, o dia que você for uma estilista famosa, por favor, não esquece de mim!
— Você só quer vestes bruxas de graça que eu sei — ela me zoou.
Nós duas rimos e eu peguei minha varinha, colocando-a em um compartimento da veste. Reydana até mesmo me ajudou a esconder os ferimentos.
— Tem certeza que vai ficar bem? — perguntei, me virando para Rey. Mesmo que nós tivéssemos nos acertado, ainda me sentia culpada de deixá-la depois de tudo o que ela contou.
— Claro que vou. Se diverte e, de preferência, tenta rir do Slughorn pelas costas dele. Por mim.
Eu não pude deixar de rir do pedido da minha amiga e me despedi. O jantar era às 19:30, então marquei de encontrar Sirius às 19:20 nas masmorras. Saí do salão comunal ainda faltando dois minutos para o horário marcado. Meus pais sempre foram extremamente pontuais.
Sirius, no entanto, parecia não entender o conceito de horário. Eram 19:28, eu já estava quase desistindo e indo sozinha, quando ele apareceu.
— Por Merlin, finalmente! — exclamei. — Vamos nos atrasar para o jantar por sua causa.
— Boa noite para você também, bonitinha — ele me cumprimentou, sorridente. Estava muito elegante em suas vestes vinho. — Não se preocupe, a festa só começa quando eu chego.
Revirei os olhos, mas não consegui conter a risada e acabamos só seguindo pelo corredor em direção à sala do professor.
— Você é sempre assim tão relaxado, achando que o mundo está à sua disposição, Black? — eu perguntei, sem qualquer ofensa. Eu realmente queria apenas decifrá-lo e, naquela noite, não por nenhuma missão, e sim para conhecer meu primo.
— Sim, Black — ele respondeu, enfatizando o sobrenome que eu tentava há um mês me acostumar com —, sou uma pessoa muito sábia que aproveita a vida sem as amarras dos compromissos de qualquer tipo.
Revirei os olhos e sorri. Então, uma pergunta se formou na minha cabeça:
— Sirius, posso te perguntar uma coisa?
— É sobre meu perfume? Fico tão feliz que você tenha reparado que é novo!
— Ahn, não — eu o cortei, revirando os olhos, o sorriso ainda nos lábios, um sorriso que parecia que ia durar a noite toda. — Queria te perguntar sobre nossos pais.
Senti que seu jeito leve pareceu ficar um pouco mais tenso, mas ele apenas me pediu para continuar.
— Se sua mãe é irmã do meu pai, se meu pai é um Black, mas você também é Black, então seu pai pegou o sobrenome da sua mãe?
Sua postura relaxou quando escutou a pergunta e ele fez uma cara de deboche:
— Acontece que meu pai também é Black. Ele e minha mãe são primos. Já pensou, priminha? Um casamento arranjado comigo ou com Regulus para manter a linhagem pura?
O pensamento me deu uma ânsia de vômito verdadeira.
— Se isso foi uma proposta, valeu, mas eu dispenso — respondi e ele gargalhou.
— Sirius Black, você está atrasado!
Levei um susto quando escutei esse comentário do nada. Olhei para um corredor que estava à nossa direita e percebi um casal se aproximando: James Potter e Lily Evans. A ruiva era, inclusive, a dona do comentário.
Sirius sorriu de forma marota.
— Quem diria, Lilith, é a segunda vez que ouço isso essa noite.
— James, seu amigo me chamou de demônio! — ela exclamou, mas parecia segurar um sorriso.
— Ou de deusa, meu amor, muitos achavam que Lilith era uma deusa — James tentou apaziguar a situação.
— Eu não — Sirius retrucou, sorrindo, para botar mais lenha na fogueira.
Os três começaram a implicar um com o outro, usando piadas internas e compartilhando uma relação que parecia ser de muito amor e irmandade. Invejei um pouco aquela relação, por mais que amasse Rey, ainda estávamos nos conectando e criando laços. Eles pareciam família.
Uma família que parecia me acolher, porque Evans se virou para mim, sorrindo.
— Acredito que não fomos apresentadas oficialmente.
— Não, mas é impossível frequentar uma aula de Poções sem saber quem você é, Lily Evans — falei, tentando ser simpática.
— Acredito que seja impossível estudar nessa escola sem saber quem você é, Black — ela disse, simpática. — E pode me chamar de Lily.
— Então, também pode me chamar de ou .
— Que bonitinhas, se apresentaram, agora vamos andando — James nos interrompeu. — Ouvi dizer que Slughorn conseguiu até mesmo Whisky de Fogo.
Potter e Black trocaram aquele olhar cúmplice de quem ia fazer merda.
— Que Deus nos dê forças — Lily sussurrou e eu não pude deixar de rir baixinho.
Conversamos durante o resto do percurso, até entrarmos na sala. Nunca havia entrado na sala de nenhum professor de Hogwarts, mas me surpreendi com o espaço. A sala parecia ser quase do tamanho do salão comunal, dispunha de uma mesa redonda que mais de vinte alunos já ocupavam e ainda era iluminada por um candelabro e uma lareira que ficava perto de um sofá. Era um ambiente agradável, mas um pouco pomposo como o próprio professor.
Falando nele, quando o diretor da Sonserina nos avistou, seu bigode foi repuxado pelo sorriso que se abria em seu rosto.
— Finalmente, as convidadas que faltavam! Sentem-se, sentem-se. Fawley estava terminando de contar uma história engraçadíssima com seu avô!
A noite começou de forma tranquila. Realmente, estavam servindo Whisky de Fogo para os maiores de idade e experimentei pela primeira vez, já que estava mais familiarizada com a bebida americana: Gin de Fada Mordente. Nos primeiros goles, a bebida queimou como inferno, mas passei a apreciar depois que me acostumei. Não tanto quanto Sirius e James, é claro. Slughorn parecia arrependido de ter oferecido o Whisky.
Percebi algumas coisas durante o evento: a primeira é que realmente havia algo entre os três grifinórios e Severus Snape. No início, eles só trocavam olhares e farpas, mas, então, o professor perguntou para o sonserino:
— Severus, percebi que anda fazendo muitas anotações na aula, quase como se sua mente estivesse trabalhando em algo. Por acaso seria uma poção?
— Ou talvez um shampoo milagroso para o pobre seboso — Sirius sussurrou para James, que chacoalhava a cadeira de tanto rir.
Slughorn não pareceu notar nada, mas Lily fechou a cara e Snape também. Talvez, ele tivesse escutado o comentário. Eu nunca o tinha visto tão sério.
— São só bobagens, professor — Severus respondeu. Então, se virou para os dois grifinórios e falou em tom mais baixo. — A noite está bonita, não? Principalmente a lua. Uma pena que existam tantas monstruosidades na floresta.
Eu, particularmente, não vi nada além da óbvia constatação do perigo da floresta negra no comentário de Snape, mas James e Sirius ficaram tensos imediatamente e sacaram as varinhas por baixo da mesa, ao mesmo tempo que Lily murmurou:
— Sev, pare!
Sev?
— Evans, não se meta — ele retrucou.
Ok, eu estava, com certeza, perdendo algo ali e precisava me inteirar com Rey mais tarde. A tensão circundava os quatro e começava a me deixar nervosa, por mais perdida que eu estivesse. Bebi um pouco mais de Whisky de Fogo para me distrair da confusão.
Quando algo sério parecia prestes a explodir na mesa, no entanto, Slughorn se virou para mim:
, nos conte sobre os Estados Unidos!
Os outros alunos se viraram para mim. É claro que eu não esperava essa súbita atenção e me engasguei com a bebida. A tosse estrondosa pareceu chamar a atenção dos grifinórios, quebrando a tensão e fazendo com que se virassem para mim, preocupados.
— O que gostaria de saber, professor?
— Conte-nos de sua antiga escola! Ho-hô, faz tempo que nas visito aquelas terras!
Ainda meio perdida, contei um pouco mais de Ilvermorny, destacando as diferenças com Hogwarts. Eles ficaram impressionados com a falta de popularidade do Quadribol, com o fato de eu nunca ter experimentado Whisky de Fogo antes e com a nossa Seleção que era feita pelas estátuas.
— E sua mãe? — o professor perguntou. — Qual o nome dela mesmo?
— Annabeth Picquery. Ela trabalha no MACUSA.
— Picquery? Por acaso parente de Serafina Picquery? — os olhos do educador brilhavam.
— Minha bisavó — eu respondi com um sorrisinho. A ex-presidente do MACUSA era muito famosa até mesmo na Inglaterra.
— Brilhante, minha cara! — Slughorn exclamou. — E pretende seguir os mesmos caminhos no ramo da política?
— Provavelmente não — eu disse, o sorriso morrendo. Meu futuro ainda era difuso para mim e um assunto que me deixava um pouco ansiosa. — Minha vó era jornalista de um telejornal trouxa e sempre quis que eu seguisse algo assim, mas não sei se quero lidar com essa exposição. Sempre me interessei por outros tipos de trabalho.
Percebi, envergonhada, que havia falado mais da minha vida que o necessário. Maldita ansiedade que fazia as palavras saltarem sem controle da minha boca, só para depois eu me arrepender de cada sílaba que eu pronunciei. Ah, dane-se, eles que perguntaram.
Todos me olhavam subitamente quietos. Ora, nem para puxarem outro assunto e me deixarem menos constrangida?!
Porém, eu provavelmente estava interpretando a curiosidade deles de forma errada porque, quando uma menina que eu desconhecia o nome abriu a boca, o que ela me perguntou foi:
— Você é mestiça?
Me irritei de leve com aquela indagação.
— Sim, eu sou! Não sei a fixação que vocês ingleses têm com sangue puro, mas nos Estados Unidos não existe uma única família bruxa que não seja mestiça!
— Ho-hô, não se preocupe, ! — Slughorn se pronunciou. — Não confunda nossa surpresa com desgosto. É apenas chocante conhecer alguém que carrega o sangue e sobrenome dos Black sem pureza de sangue.
— Eles se importam muito com isso — um garoto sardento continuou.
— Mais do que deviam — Sirius completou, baixinho.
Um silêncio constrangedor se instalou na mesa enquanto as pessoas observavam a Sirius e a mim. Aquilo era tão idiota ao meu ver, não parecia uma constatação importante, mas as pessoas realmente pareciam impressionadas.
O professor pigarreou, chamando a atenção de volta para si.
— Lewis, como vai seu pai?
O resto da noite passou sem maiores incidentes ou conversas constrangedoras. Conversei um pouco mais com Lily, que parecia genuinamente feliz por alguém entender suas referências trouxas (ela ficou encantada por eu já ter visitado a Disneylândia, enquanto os meninos discutiam sobre o nome patético do lugar) e eu percebi que ela realmente era uma menina muito doce e inteligente, um contraste interessante com James Potter. Mas era impossível não perceber o quanto eles estavam apaixonados.
James e Sirius quase se arrastavam pelo corredor, embora eu tivesse a impressão de que nem estavam tão bêbados assim e só agissem desse jeito para irritar Lily. E funcionou.
, com licença, mas acho que vou levar esses dois para os dormitórios antes que alguém vomite no corredor — Evans disse, a voz irritada e cansada.
— Eu até ofereceria ajuda, mas tenho a impressão que eles vão se recuperar magicamente quando chegarem ao salão comunal — brinquei.
— Estou considerando largá-los aqui. É muito cruel?
— Não acho. Mas não ligue para minha opinião, Lily, eu sou uma sonserina. Tudo em mim é cruel.
Até os meninos riram, um pouco constrangidos, provavelmente por terem compartilhado esses pensamentos.
Os olhos de James subitamente brilharam e ele recuperou a postura, parando de se fazer de bêbado.
— Almofadinhas, sabe que dia é hoje?
Já tinha escutado os meninos chamando uns aos outros por aqueles apelidos, mas nunca deixava de ser patético. Sirius, o apelidado da vez, respondeu, de repente animado e também recomposto:
— Dezenove dias para o Halloween e vinte e dois para meu aniversário.
— Eu amo como você me entende!
— Amanhã, quando Aluado e Rabicho voltarem, nós combinamos?
— Acho que a sala do terceiro andar é uma boa.
— E ainda temos as bebidas da semana passada que estão frescas.
Em certo momento, eu me desliguei do que eles falavam, completamente perdida. Aqueles dois tinham que compartilhar o mesmo cérebro porque como alguém estava acompanhando aquela conversa?
Os dois se viraram de supetão para mim.
— É claro que você será convidada, — Potter falou.
Eu dei de ombros.
— Não tenho ideia de para que, mas acho que aceito mesmo assim.
— Esse é o espírito! — Sirius uivou.
— Acho que os dois já estão excelentes para voltar para o quarto, não é? — Lily puxou a orelha de James, que choramingou. — Obrigada pela noite, , é bom conversar com alguém que tem sensatez. Nos vemos por aí!
Me despedi do trio, ainda um pouco impactada com os eventos e sentindo uma sonolência gostosa, acompanhada de uma súbita inquietude que deviam ser decorrentes da bebida. Por isso, desci animada para as masmorras. Quase errei a senha do salão comunal e, quando entrei no dormitório, suspirei aliviada por ver Rey acordada, desenhando no seu caderno. Quando consegui chamar a sua atenção, gesticulei para que ela me seguisse para o espaço comum. Eu queria conversar, mas sem acordarmos as outras meninas. Seus olhos se iluminaram. Sabia que ela ia adorar as fofocas.
Reydana e eu nos jogamos em um dos sofás de frente para a lareira encantada. Mal me ajeitei e minha amiga já se virou para mim:
— Me conta tudo. Não poupa nenhum detalhe.
Eu ri da empolgação dela e fiz exatamente o que ela me pediu. Deixei claro que o jantar em si era bem chatinho, até porque não tinha nada demais, mas, principalmente, para ela não se sentir muito de fora. Mas também comentei o quanto eu gostei de conversar com os grifinórios e que eles foram os mais legais. Quando cheguei na parte da confusão com Snape, Rey arregalou os olhos:
— Ah, por Merlin! Você realmente não sabe da história!
Franzi as sobrancelhas.
— Que história?
— Evans e Severus eram melhores amigos.
De qualquer coisa que Reydana poderia me contar, nada poderia ter me surpreendido mais. Procurei qualquer traço de zombaria em seu rosto, mas não encontrei nenhum.
— O quê?!
— Acho que eles já eram amigos antes de Hogwarts? Não sei, eles viviam colados desde o dia em que chegaram, mesmo estando em casas rivais. Aí tinha a paixão do Potter por ela desde o início, mas o grupinho dele era bem escroto com o Snape, então a Evans o odiava.
— Rey, para de me zoar. Não é possível. — Afastei meu cabelo do rosto, tentando processar tudo. — A Lily é completamente apaixonada pelo Potter.
— Agora — minha amiga continuou —, você tinha que ver como era antes. Mas acho que teve alguma treta entre Snape e Evans que eles se afastaram e, no ano passado, depois que o Potter deixou de ter mentalidade de oito anos e passou para treze, parece que eles começaram a se dar bem e depois namoraram.
Aquilo parecia tão fora do normal, era estranho pensar em Lily odiando James, mas sendo amiga de Snape. Embora, talvez, aquilo explicasse a tensão entre os dois na aula de Poções e correspondia com as provocações trocadas. Arregalei os olhos, lembrando de outro detalhe:
— Snape também falou algo sobre o perigo da floresta proibida que deixou Sirius e James malucos de raiva. Você sabe algo sobre?
Rey batucou com o dedo na bochecha enquanto pensava.
— Não, não consigo pensar em nada sobre isso. Mas eu também não sei muito sobre tudo, só algumas partes que Evan Rosier me contou. Você devia aproveitar que agora é amiguinha deles e perguntar.
— Hm, não sei se ficaria feio. Mas quem sabe eu pergunto um dia.
— Ah! — Rey exclamou, mexendo nas folhas de seu caderno de desenho. — Quase esqueci, achei essa carta para você na sua cama hoje à noite.
— Quem deixou? — perguntei, enquanto estendia a mão para pegar o pergaminho dobrado.
— Não sei. Eu não vi e não tem assinatura.
Abri, curiosa, a carta e logo reparei que não era muito longa. A caligrafia, no entanto, era bem elegante e o papel era de ótima qualidade. Curiosa, fui logo ler as palavras do ser anônimo:

,
Não sei muito o que dizer, honestamente. Mas desculpa pelo que eu fiz com você. Eu perdi o controle.
Você não é a única que vai sofrer se não concluir a missão. Então, faça certo.
Queime essa carta depois de ler. Se um dia alegar que me desculpei, não me importarei em te azarar.
R.A.B.”

Demorei um tempo para processar que R.A.B. era Regulus Black e que aquilo era um pedido de desculpas de um menino orgulhoso. Por mais que suas palavras ainda me fizessem estremecer com as memórias, algo nelas me fez perceber que, talvez, aquele garoto fosse menos cruel do que eu esperava. Pensando no jeito em que Sirius fechava a cara ao ouvir falar da família, talvez Regulus também fosse uma vítima deles.
Pensamentos conflitantes passavam pela minha cabeça quando Rey me cutucou.
— E aí? O que diz?
Olhei nos olhos dela. Minha amiga, que aguardou acordada que eu voltasse para me ouvir. Que sentiu minha falta com meu afastamento. Que, mesmo passando por seus problemas, se esforçou para tentar me alegrar.
Antes que eu percebesse, abracei Rey e comecei a chorar. Maldito Whisky de Fogo.
— Ei, você ‘tá bem? ?
Funguei e me afastei de leve, encarando minha amiga.
— Desculpa, eu estou bêbada.
— Eu percebi — Reydana comentou, o sorriso sarcástico no rosto. — Mas e a carta? Ah, se você puder falar, claro.
Sorri para ela, feliz por ela estar respeitando os segredos que eu não podia contar. Suspirei ao me lembrar de um outro alguém com segredos que não podia compartilhar comigo. Eu sabia que o próximo passo seria conseguir me aproximar dele de novo e eu não poderia me deixar envolver dessa vez. Seria tudo pela missão e só a missão. Tudo por meus pais, até eu achar uma maneira de escapar dessa situação.
— ‘Tá tudo bem, Rey — eu assegurei, apertando sua mão. — Tudo vai dar certo. Eu vou fazer dar certo.
Então, me levantei e joguei a carta na lareira, vendo-a ser consumida pelas chamas verdes. Todas as feridas, físicas e emocionais, precisavam ser deixadas de lado. Porque eu tinha que focar em ajudar minha família.

Capítulo 11

Na manhã de segunda feira, tomando café da manhã com Reydana, o que eu esperava finalmente aconteceu: Remus Lupin retornou às suas atividades normais. Ele entrou com os amigos, rindo de alguma coisa boba entre eles.
Foram quatro dias distantes e eu parecia ter esquecido o verdadeiro efeito de Lupin. Havia esquecido como ele era alto e magro, mas, mesmo assim, discreto, parecendo sempre um pouco fora da sua área de conforto. Sua figura também se encaixava perfeitamente naquele grupo de adolescentes grifinórios. Eles estavam tão alegres e unidos quanto na primeira vez em que vi a foto deles, sendo informada da minha missão.
E por isso que, mesmo com meu ego ainda bem ferido, depois de acenar de volta para James e Sirius, quando Lupin olhou para mim, eu sorri. Ele pareceu extremamente surpreso, como se não pudesse acreditar que eu estava sorrindo para ele. Não era para menos, nosso último contato foi bem desagradável e eu estava no meu pior.
Eu queria de coração acreditar que só estava perdoando-o por obrigação, mas havia algo magnético em Remus Lupin, algo que transpassava a raiva que eu sentia por seu fora não justificado e por ter escutado sua confissão de que ele estava mentindo. Com medo desse magnetismo, desviei os olhares antes que ele tivesse a chance de corresponder ao sorriso. Não podia também dar tanto na cara que estava me esforçando para nos aproximarmos. Pela missão, claro.
— Por Merlin, o cara ‘tá de volta a cinco minutos e você já está babando — Reydana provocou, me despertando de meus pensamentos. Olhei para ela, que mastigava sua torrada com as sobrancelhas erguidas na minha direção.
— O quê?! Eu não estou babando — repliquei, disfarçando a vergonha de ter sido pega agindo diferente por qualquer razão relacionada àquele garoto.
— Sei — ela disse, rindo, voltando a comer a torrada. — Mas lembra do que ele fez, hein? Não te quero ver chateada de novo.
Sorri para minha amiga, achando sua preocupação bonitinha, mas também um pouco dramática demais para a situação.
— Não se preocupa, eu não vou me chatear.
Porque, daquela vez, eu não envolveria sentimento nenhum.

🌔🌔🌔


As aulas do dia foram tranquilas, se é que aulas do sétimo ano poderiam ser tranquilas. A quantidade de dever de casa não parava de aumentar, e isso porque os primeiros testes seriam dali a mais de um mês.
A maior mudança era que, dessa vez, nas aulas de Poções, Snape ficou de cara amarrada e não quis passar nenhuma dica para mim e para Evan. Algo me dizia que isso tinha a ver com a noite de sábado e os meninos, porque ele se recusava a olhar para minha cara.
Sem a ajuda do sonserino, minha poção não ficou excelente, mas ao menos consegui terminá-la. O professor elogiou o cumprimento do tempo limite, mas também alertou para que eu tivesse cuidado nos passos. Fiquei contentada com a situação, mas murchei um pouco ao escutar os elogios dirigidos à Lily e a Severus.
Além disso, eu podia sentir o olhar de Lupin queimando minha nuca o dia inteiro. Não me aproximei dele, acreditando que o sorriso foi uma forma de indicá-lo que estava aberta a conversar, mas que o interesse precisava partir dele.
O garoto pareceu pegar a mensagem na última aula. Estava conversando com Rey e saindo da sala de Transfiguração, quando senti um leve cutucar no meu ombro direito.
Me virei, encontrando os olhos gigantes de Remus Lupin, me encarando como um cachorrinho perdido.
— Oi, ... Black — ele se corrigiu. — Posso conversar com você? Prometo que vai ser rápido. E entendo se você não quiser.
Olhei para Rey, certa de que deveria escutá-lo pela missão, mas que a aprovação da minha melhor amiga em um momento como esse era essencial. Ela acenou com a cabeça, mas me mandou um olhar que claramente dizia “cuidado! E me conta tudo depois”.
Depois que Reydana se afastou, continuamos andando por alguns segundos em silêncio. Entramos em um corredor que estava relativamente vazio. Assim que paramos, cruzei os braços e o encarei. Ele mexia as mãos sem parar. Estava tão nervoso que quase senti pena.
— E então? — perguntei.
Ele me encarou e engoliu em seco.
— Eu queria pedir desculpa. Acredite, se eu pudesse, tudo o que eu mais queria era ter ido àquela festa com você.
— Mesmo você tendo recusado o convite de Slughorn? — questionei.
— Mesmo assim, até porque eu não iria por ele. De qualquer forma, me desculpa, eu adoraria compensar isso outro dia, se você ainda quiser falar comigo.
Eu o encarei. Remus parecia desesperado ao me encarar, o que era engraçado, já que ele quase se curvava para me encarar. Era claro que eu teria que perdoá-lo para me aproximar dele como deveria, mas ele não sabia. Me aproveitei disso para continuar a conversa.
— Se você não iria na festa por Slughorn, iria por quem, então?
— Por você — ele respondeu tão prontamente que tive que dar um soco imaginário no meu coração, que se rebelou um pouquinho.
— Mas você não foi.
O olhar dele ficava cada vez mais desesperado. Não consegui evitar a pena dele, até lembrar o motivo da conversa.
— Nunca foi culpa sua, eu juro. Eu realmente não podia. Você não sabe o quanto isso me irrita.
— E você realmente não pode me contar a verdade? — perguntei, encarando-o. Admirei-o por não desviar os olhos dos meus.
— Não — ele disse, angustiado.
Nossos olhares continuaram conectados no silêncio. A intensidade dos olhos castanho-claros dele era hipnotizante, mas a sua falta de resposta ainda me incomodava. Então, me lembrei que não era justo da minha parte cobrar nada quando ele era apenas um pedaço de uma missão.
Por isso, não pude deixar de abrir um sorriso para ele.
— Tudo bem. Não somos tão próximos, você não precisa me contar tudo. Podemos, ao menos, ser amigos?
Os olhos dele brilharam, quase como se ele estivesse incrédulo, então ele abriu um sorriso largo que me afetou só um pouquinho. Nunca havia visto Lupin sorrir dessa forma.
— Amigos — ele respondeu, parecendo genuinamente feliz.
Sorrimos um para o outro e nos encaramos em um sorriso confortável. O momento foi quebrado quando uma coruja chegou piando no corredor, deixando uma carta em minhas mãos. Depois, ela levantou voo novamente rumo ao corujal.
Não pude deixar de sorrir mais abertamente quando vi de quem era a carta.
— Boas notícias? — ele perguntou, tentando fingir que não estava tão interessado.
— É uma carta da minha melhor amiga, Ashley. De Ilvermorny, sabe? É dela que eu mais sinto saudades estando aqui, estava acostumada a vê-la todos os dias! É estranho não ter sua presença tão intensa perto de mim. — Senti minhas bochechas esquentarem um pouco. — Me desculpa, não queria falar tanto assim sobre algo desinteressante.
— Não é desinteressante — ele rapidamente disse. — Adoro ouvir sobre você. É isso que amigos fazem, não?
Eu sorri novamente.
— É isso que amigos fazem.
Seguimos até o Salão Principal, conversando um pouco mais sobre nós mesmos. Contei mais alguns fatos de Ilvermorny e sobre o jantar que ele não pôde ir. Ele me contou um pouco mais sobre a relação dos quatro amigos e até um pouco sobre a questão com Snape. Era realmente muito fácil de conversar com ele sobre quase qualquer coisa.
Quando chegamos à porta, nos encaramos, como se fosse difícil interromper o momento para nos separarmos em nossas mesas.
— Acho que te vejo amanhã — ele comentou, enfim.
— Até amanhã — respondi, sorrindo.
Mal me virei quando escutei o grifinório me chamar.
— Espera, Black!
Me virei, um pouco ansiosa para escutar o que ele iria falar. Queria fingir que não fiquei feliz por ele prolongar o assunto.
— Sabe, esse domingo vai ter uma partida de quadribol. Grifinória e Sonserina. Sei que somos rivais, mas acho que vai ser legal assistirmos. Sirius e James vão jogar, sabe, e eles gostam bastante de você agora.
Remus olhava para mim, ansioso, e eu não podia deixar de pensar em como ele era adorável. Deixou minha resposta ainda mais difícil.
— Desculpa, combinei com Rey que iria assistir com ela. Acho que ia ser deserdada da minha casa se assistisse uma partida entre os dois maiores rivais do lado do inimigo — brinquei.
— Ah, claro, não se preocupe! Eu entendo completamente.
— Mas talvez a gente consiga se encontrar antes? — eu sugeri, sorrindo. Remus sorriu de volta para mim.
— Mal posso esperar por isso.

🌓🌓🌓


A semana talvez tenha sido uma das mais tranquilas que eu já havia vivenciado em Hogwarts. Regulus continuava me ignorando e, como os garotos casualmente conversavam comigo pelos corredores, ele não podia me importunar sobre não estar cumprindo o que eu precisava. Na verdade, pude basicamente esquecer a missão e viver uma semana de uma adolescente normal, já que era muito fácil ficar amiga dos quatro garotos.
Infelizmente, também tivemos que fazer vários deveres de casa durante a semana. Para conseguir ficar livre no domingo, não consegui nem deixar de estudar no sábado, mas, pelo menos, nos tempos livres, ficava mais com Rey. Na verdade, nem me importava de estar estudando tanto, sentia uma paz que, desde o meu primeiro dia na Inglaterra, me havia sido negada.
Domingo foi difícil de convencer meu corpo a se levantar da cama sem ter aula no dia, mas a animação de Rey era contagiante. Até mesmo Martha estava mais simpática naquela manhã. O quadribol realmente era um evento que mobilizava toda a escola, como se fosse o futebol americano do meu país.
Reydana decidiu que deveríamos vivenciar a experiência de forma completa, ainda mais com a Sonserina na frente do placar por enquanto, por ter vencido o último jogo contra a Lufa-Lufa. E também porque era um jogo contra a Grifinória, era competitividade aflorada por toda a parte.
Nós colocamos calças bonitas e confortáveis, botas e blusas simples, para dar maior destaque aos casacos da Sonserina que vestimos. Rey prendeu meu cabelo em duas tranças e enfeitiçou o seu próprio para ficar verde e prata. Fizemos algumas pinturas faciais para entrar ainda mais no clima e descemos para o Salão Principal.
O clima de agitação já dominava o ambiente. Alguns jogadores falavam sobre suas expectativas da partida, outros se exibiam com a vitória certa e alguns poucos comiam em silêncio, a aparência de nervosismo estampada na cara.
Eu e Rey nos sentamos ao lado de Evan Rosier, que estava usando um cachecol no formato de uma serpente.
— Adorei o cachecol — eu disse, ao me sentar à mesa.
— Adorei a pintura — ele replicou, sorrindo, apontando para nosso rosto.
— Claro que adorou, foi feita por uma profissional — Rey brincou, tirando-lhe uma risada.
— E será que essa profissional me daria a honra de ter uma de suas pinturas em meu rosto?
Rey revirou os olhos, mas tirou o kit de tintas mágicas e brilhantes da sua bolsa. Com paciência, escreveu "Sonserina" na testa do garoto, que, com a tinta encantada, ficava se mexendo em sua testa de uma forma bem descolada.
Comemos rapidamente para pegarmos um bom lugar nas arquibancadas, mas, antes de sair, decidi passar na mesa da Grifinória.
— Encontro vocês lá — avisei a Rey e Evan, que acenaram para mim enquanto iam para a parte externa da escola.
Os meninos acenaram para mim enquanto eu me aproximava e não pude deixar de sorrir para eles.
— Afaste-se, traidora, dessa mesa de bravos corajosos e futuros campeões! — Sirius bradou, apontando um dedo na minha direção.
— Futuros campeões? Eu não contaria com isso — entrei na brincadeira, mesmo que eu pouco soubesse de quadribol.
— Pois saiba que a Grifinória tem ótimas chances, ganhamos as últimas cinco competições, ou seja, desde que eu e Almofadinhas estamos no time — James pontuou. — Aluado, por favor? — ele disse, do nada, se virando para Remus.
Mas Lupin devia estar acostumado, porque apenas sacou a varinha e apontou para a cara de Potter, murmurando um feitiço para deixar seus óculos bem presos à face.
— Beleza — Potter comemorou, conferindo que o óculos não saía de seu rosto.
— Cadê a Lily? — perguntei.
— Escolhendo um bom lugar na arquibancada. Vamos para lá depois — Peter respondeu.
— É, eles precisam de boa vista para nos verem vencer — Sirius disse, dando depois um high five em James.
— Bela pintura, pena que as cores são horríveis — Lupin me provocou. Não pude deixar de abrir um sorriso irônico.
— Sabe, até ia oferecer ajuda para vocês fazerem suas pinturas, mas agora vão ter que ficar com seus rostos sem graça.
— Se isso é sem graça, só Merlin sabe o que é beleza — Sirius disse.
Revirei os olhos, mas não pude segurar a gargalhada.
— Tudo bem, foi uma ameaça falsa. Eu nem sei fazer isso mesmo, foi tudo graças à Rey. E eu não preciso mesmo dar nenhum motivo para aumentar o ego de vocês.
— Não é ego, , é a pura verdade — James pontuou, tão sério, que eu só pude pensar em como seria ter uma autoestima tão inabalável assim.
— Pena que você não é da Grifinória, a festa de comemoração que planejamos vai ser incrível.
— Peter, pare de contar nossos planos para o inimigo! — Potter bronqueou, sorrindo. — Foi mal, , mas essa é a única festa que não vamos poder te chamar mesmo.
— Não se preocupem, eu não ia querer estar lá comemorando a vitória enquanto vocês sofrem, parece desleal — fingi falsa preocupação.
Depois de mais um tempo nos provocando, a hora do jogo ficou bem próxima, então Sirius, que era batedor do time, e James, capitão e artilheiro, se despediram para irem ao vestiário se trocar. Dei uma trégua em nossa brincadeira e os abracei para desejar boa sorte. Eu segui com Peter e Remus na outra direção, para as arquibancadas.
Na hora de nos separarmos, sorri para os dois de forma um pouco marota e disse:
— Bom jogo para vocês, estarei disponível para ouvir seu choro depois se precisarem.
— Vai sonhando, ! — Peter brincou, antes de me dar um abraço.
Logo depois, Lupin me abraçou também.
— Quando vocês perderem, se precisar de ajuda com o seu choro, estarei por aqui — ele sussurrou em meu ouvido, me causando um arrepio.
— Você bem que queria, Lupin.
Nos afastamos e sorrimos um para o outro antes de seguirmos nossos caminhos.
Depois de me espremer na multidão agitada de sonserinos, consegui encontrar Rey e Evan, que tinham conseguido, de alguma forma, uma gigante bandeira encantada de nossa casa.
— Finalmente você chegou, a partida já vai começar! — Rey gritou para que eu pudesse ouvir por cima do barulho da multidão.
E realmente, logo depois, os dois times entraram voando no campo de quadribol, saídos de direções opostas. As torcidas, antes agitadas, começaram a gritar descontroladamente. É claro que eu berrei junto.
— Bom dia, professores e estudantes! — Uma aluna da Lufa-Lufa, Jennie Arckeley, estava narrando o jogo, assim como havia narrado o último. — O dia está com ótimas condições, o que só melhora o clima de nós, torcedores, que queremos ver essa grande partida. Os atuais campeões contra os maiores aspirantes à vitória! Madame Hooch pega o apito… e começa a partida!
Os jogadores eram borrões velozes ao meu ver. Mal conseguia enxergar os competidores, quem dirá as bolas. Mas Evan começou a revezar comigo e com Rey um binóculo encantado que ele possuía que possibilitava assistir melhor ao jogo.
Não precisei assistir muito para perceber que Potter e Black realmente formavam uma dupla imbatível. O primeiro era extremamente veloz e tinha um arremesso infalível, enquanto o segundo tratava de derrubar a qualquer um com um balaço bem direcionado por seu bastão. Eu não pude deixar de perceber que seu maior alvo era Regulus: eu não ia mesmo reclamar se algo o atingisse…
O time da Sonserina era muito bom, não tinha como negar. Se não fosse por Sirius, teríamos feito oitenta pontos a mais do que realmente constava no placar. O goleiro da Grifinória era bom, mas era falível, só que o batedor não deixava quase ninguém se aproximar da zona de ataque.
— Grifinória está na frente por 160 pontos — Arckeley anunciou no microfone. — Goles na mão da Sonserina. Será que teremos um contra-ataque?
A torcida verde e prata gritava, um pouco mais de desespero do que de empolgação, enquanto via um dos artilheiros se aproximar do gol. Rey agarrou minha mão, nervosa, enquanto Evan gritava ao olhar por seu binóculo.
— O balaço de Black o errou por centímetros! Ele continua na vassoura em direção ao gol!
Não deu outra. Passado por Sirius, o sonserino conseguiu acertar a goles pelo aro da esquerda, fazendo com que toda a torcida sonserina vibrasse de emoção.
— Gol de Henry Pucey! Sonserina agora está cento e cinquenta pontos atrás! Mas James Potter já recuperou a goles e passou para seu companheiro de equipe, Jack Johnson.
A minha vez de usar o binóculo chegou e eu pude ver claramente a velocidade que James atingia com sua Shooting Star, esperando apenas um passe de Johnson. Um artilheiro sonserino vinha na direção de Potter para impedi-lo antes mesmo de ele estar na posse da goles, mas Sirius, atento, mandou-lhe um balaço certeiro. O pobre artilheiro não caiu da vassoura por muito pouco.
Livre da ameaça, James recebeu o passe de Johnson e, depois de ameaçar ir para a esquerda, acelerou para a direita e goleou o aro dessa direção.
A torcida da Grifinória foi à loucura. Apontei o binóculo para lá, vendo Lily Evans sorrir igual a uma boba para o campo. Achei a cena uma gracinha e não pude deixar de sorrir, mesmo depois de algo prejudicial para meu time.
Passei o binóculo para Rey, que esperava ansiosa o objeto para acompanhar melhor o jogo, que não trazia muitas esperanças para os sonserinos.
— Henry Pucey agora está em domínio da bola — Jennie Arckeley anunciou. — Ele passa a bola para Luciana Goyle. Ela avança e… espera. Acho que Polly White avistou o pomo de ouro.
As duas torcidas pararam e observaram a apanhadora da Grifinória, que estava bem acima da arquibancada dos professores, começar a mergulhar.
— Senhoras e senhores, White definitivamente avistou o pomo! Se a Grifinória capturar o pomo, pode ganhar uma grande vantagem no placar! Mas Regulus Black não está longe. Ele percebe o mesmo que Polly e dispara atrás dela! O jovem Black é muito rápido e consegue se aproximar bem de White… Ambos estendem as mãos…
Os olhos de Rey estavam grudados no binóculo. Evan segurava seus cabelos com força. Eu não sabia se torcia para a vitória do meu time ou para que Regulus se ferrasse. Fechei os olhos, sem saber exatamente que final desejar.
Então, ambas as torcidas começaram a berrar.
— Regulus Black captura o pomo de ouro! Mas… — Jennie Arckeley parecia confusa. — A vitória é da Grifinória, por apenas dez pontos!
Abri os olhos, incrédula. Reydana e Evan pulavam em comemoração, o que me deixou mais confusa.
— Por que estamos comemorando? Não perdemos?
— Só por dez pontos! Regulus evitou uma catástrofe! — Evan comentou.
— Ganhamos com larga vantagem da Lufa-Lufa, então ainda temos a chance mais alta de vencermos! — Rey completou, puxando a nós dois para um abraço coletivo.
Pulamos abraçados, comemorando aquela perda que ainda tinha muita cara de vitória. Eu não pude deixar de sorrir com a energia intensa que as torcidas emanavam. Torcer para o quadribol em Hogwarts, especialmente com uma partida entre Grifinória e Sonserina, era algo único.
Assim que nos soltamos, avistei uma vassoura cruzando o campo em direção à arquibancada da Grifinória. Peguei os binóculos de Rey e consegui ver James Potter colocando Lily em sua vassoura. Bem acomodada, ele acelerou a vassoura, cruzando o campo, soltando fumaça vermelha e dourada de sua varinha.
— James Potter! — Ouvi a voz amplificada magicamente de Madame Hooch. — Deixe a torcida na arquibancada ou terei que tirar dez pontos da Grifinória!
O garoto nem pareceu abalado em deixar Lily de volta e eu só pude deixar de rir. Ele era realmente uma caixinha de surpresas. Com o binóculo ainda em Lily, olhei um pouco para o lado e encontrei Peter. Ao seu lado, vi Remus também com um binóculo. E estava apontando para mim.
Sorri e acenei com a mão, para deixar claro que eu o via. Pude ver um sorriso se formando no seu rosto e ele acenando de volta.
Tirei o binóculo e devolvi a Evan, me dirigindo com ele e Rey para a saída.
— Sabe, isso aqui é muito bom — apontei para o objeto. — Acho que preciso conseguir um para mim.

🌓🌓🌓


A segunda-feira chegou ainda com clima de vitória no ar. Todos comentavam sobre a próxima partida, dali a um mês, entre Grifinória e Corvinal, que seria decisiva para compreender a posição da primeira casa no campeonato. Os sonserinos estavam contentes. Os grifinórios, esperançosos. Havia até boatos de que a professora McGonagall tinha apostado com o professor Slughorn sobre o resultado final. Ao que parecia, ela era uma fã imensa do esporte e tinha até mesmo sido atleta na sua época de Hogwarts.
Ela estava até mais bem-humorada na última aula, que era Transfiguração. Geralmente, começava a semana passando um dever de dois metros de pergaminho sobre o último feitiço visto em aula. Dessa vez, ela pediu apenas meio metro. Os quatro grifinórios até soltaram exclamações de alegria quando a professora disse isso, e ela nem reclamou! Na verdade, só revirou os olhos e sorriu. No fundo, ela parecia gostar muito deles.
Quando a sineta finalmente tocou, o clima estava muito animado para aquele dia da semana geralmente tão odiado (inclusive por mim). Juntei meu material e saí da sala junto com Rey e a onda de alunos do último ano.
— Ei, ! — Escutei a voz de Peter e me virei.
Os quatro estavam na direção contrária ao fluxo para o Salão Principal e me chamaram com a mão, um pedido para que eu me aproximasse. Achei que seria sacanagem deixar Reydana sozinha de novo em uma situação como essa, então, dessa vez, a levei comigo.
— E aí, gente?
— E aí, perdedora?
— Almofadinhas! — Remus bronqueou.
— Foi mal, não resisti!
— Coitados, achando que podem te zoar quando, na verdade, nós estamos na liderança — Rey comentou comigo, mas falando de forma bem alta para os meninos ouvirem.
— Espere até o jogo contra a Corvinal!
— Ok, James, já entendemos! — o cortei, antes que aquele assunto rendesse o resto do dia todo. — O que foi?
Os quatro se entreolharam, como se não soubessem se deveriam falar na frente de Reydana, mas me posicionei ao seu lado o tempo todo, deixando claro pela minha postura que ou falavam com ela ali, ou não falariam.
— Se lembra da noite do jantar? Sobre o que eu e Almofadinhas comentamos? — James disse.
— Vocês falam como se não tivessem ficado três horas direto sem falar — zombei.
— Mas estamos comentando sobre o mais importante! Sabe, sobre agora faltarem dez dias para o Halloween e treze para o meu aniversário.
— Ah, lembrei, quando você e Potter estavam se arrastando pelos corredores, se fingindo de bêbados incapazes — comentei, arrancando risadinhas de Rey, Remus e Peter.
— Não importa a circunstância— James falou.
— É, o que importa é que eu, com toda certeza, preciso comemorar meu aniversário em conjunto com essa data especial. No sábado, dia 2, para virarmos juntos a noite — Sirius comentou, empolgado.
— Uma festa de aniversário de Halloween?! — exclamei, empolgada. Então olhei para minha amiga. — A Rey também pode ir, ?
Foi um pedido ousado, eu sabia. Os quatro garotos encararam minha amiga, depois se encararam, a encararam de novo, me encararam, até que Sirius suspirou.
— ‘Tá legal. Snyde, você também ‘tá convidada.
— Maneiro! — ela disse, sorrindo.
— Mas sem mais sonserinos! — ele exclamou.
— Pode deixar! Vamos, Rey, vamos planejar nossas fantasias.
— Fantasias? — todos perguntaram, juntos, até mesmo Rey.
Me virei para eles, confusa.
— Ué, a fantasia da festa.
— Por que você usaria uma fantasia no aniversário de Sirius? — Peter perguntou, confuso.
— Porque é Halloween — eu respondi, direta, porque era a coisa mais óbvia do mundo. De repente, tive um estalo. — Espera, vocês não usam fantasias no Halloween?
Eles negaram com a cabeça, me encarando como se eu fosse louca. Me sentia frustrada por eles não compreenderem.
— Nos Estados Unidos, as pessoas se fantasiam no Halloween. Os Não-Mag que começaram com isso e, no início, eles se fantasiavam de bruxas e coisas que eles acham que são lendas: fantasmas, vampiros, lobisomens, zumbis e, bom, bruxos. — Todos me olhavam enquanto eu explicava. — Mas hoje em dia é algo mais variado, virou algo meio geral, até porque os bruxos aderiram também à ideia. Muitos se fantasiam de coisas que lembrem algo sangrento, ou de personagens, animais, o que a criatividade deixar.
Eu estava pronta para ouvir os meninos zombando daquela tradição, afinal, em Ilvermorny, os garotos eram os mais resistentes em pensar em fantasias realmente legais.
Mas Sirius abriu um sorriso enorme.
— Se fantasiar de animais? Qualquer animal?
— Qualquer animal — eu respondi, um pouco confusa com sua animação. — Gatos, coelhos…
— Cachorros? Ratos?
— Veados? — James também perguntou.
— É, acho que sim. O que você quiser.
Potter e Black pareceram muito animados com aquilo, por algum motivo, enquanto Lupin e Pettigrew tinham expressões desanimadas.
— Pois saiba que agora eu sou completamente a favor de fantasia no Halloween! Tenho que avisar meus convidados da ideia!
— Sério? — eu perguntei, um pouco surpresa com a reação de Sirius.
— Mas é claro! Caraca, tenho que avisar muita gente. E temos que começar a nos preparar! Tchau, ! Ah, e tchau, Snyde.
Reydana colocou dois dedos na testa e os afastou em uma saudação, enquanto Remus e Peter eram arrastados pelos outros dois amigos. Eu estava genuinamente surpresa com toda aquela animação.
Rey se virou para mim e esbarrou seu ombro no meu.
— Uma festa à fantasia faltando menos de duas semanas, ainda mais de grifinórios? Como planejar todas as fantasias? Não sei nem o que vestir!
— Calma, Rey, você é uma gênia, sei que vai conseguir. E eu vou te ajudar! Ou pelo menos gritar palavras de incentivo.
Ela riu e eu entrelacei meu braço no dela. Eu queria pensar na fantasia perfeita, afinal, eu era muito perfeccionista com essas coisas. Não era do tipo que fazia nada parecido, se eu me comprometia a fazer algo, eu faria da melhor forma possível. Ainda mais tendo mágica a minha disposição.
Uma ideia surgiu nos meus pensamentos. Seria perfeito! Mas será que Rey iria topar?
Me virei para ela, sorrindo, e ela me encarou com os olhos semicerrados, como se tentasse adivinhar o que eu estava pensando.
— Lá vem.
— Rey, eu preciso te mostrar uma coisa. Vem, vamos para o dormitório agora!

Capítulo 12

Dentro do seu grupo de amigos, Remus com certeza era o menos chegado a festas.
James e Sirius haviam nascido para o barulho, a interação social, jogos de bebida, danças animadas e flertes com garotas, portanto, eram os maiores organizadores e frequentadores de festas na escola. Peter não se encaixava naquele perfil, mas ele adorava tudo que o fizesse parecer mais legal, popular e enturmado.
Remus gostava de tardes com cerveja amanteigada só entre os amigos próximos, momentos de silêncio na biblioteca com um livro envolvente, seus próprios pensamentos trabalhando em uma partida de xadrez bruxo. A música alta incomodava um pouco sua audição, especialmente quando estava próximo da lua cheia e esta ficava mais sensível. Ele até gostava de interagir com pessoas, mas preferia aquelas que ele já conhecia e gostava. De toda forma, não tinha o jeito para tudo aquilo.
Mas, sendo parte dos marotos, ele automaticamente também era um dos maiores organizadores e frequentadores de festa (Sirius dizia essas palavras como se fossem um título oficial). Como Lupin amava os amigos, e os amigos amavam festas, ele acabava envolvido.
E aquela festa não era uma festa comum. Uma comemoração extra de Halloween na virada do aniversário de Sirius. E agora, graças a Black, era também uma festa à fantasia.
Para Lupin, havia poucas coisas mais ridículas que isso, mas havia sido sugestão de que, depois de ficar possessa por ter levado um fora dele (não que ele quisesse), tinha agora estabelecido que eles poderiam ser amigos, e ele precisava se manter no lado bom dela por algum motivo estranho.
Porém, se esse fosse o único motivo, ele poderia pensar em uma fantasia agradável para usar. Simples. Se tivesse algum adereço dos Vagamundos de Wigtown, por exemplo, vestiria e falaria que é Ethan Parkin, o famoso jogador de quadribol. Prático e nada ridículo.
Mas, como também estava fantasiado porque seus amigos haviam amado a ideia, prático e nada ridículo eram o total oposto de sua roupa.
— Alguém viu meu rabo?! — Rabicho gritou.
Os quatro marotos estavam em uma sala do terceiro andar de Hogwarts que, graças a anos de encantamentos lançados por eles, o zelador Argo Filch desconhecia. Por fora, apenas se via uma imensa parede de tijolos, mas alguns deles eram mais irregulares, um em especial se tornava uma maçaneta encantada para lá. Era justamente nessa sala que a festa ocorreria, que agora estava decorada com teias de aranha, abóboras, morcegos falsos, velas com fogo vermelho encantado que não queimava de verdade, diversas balas e doces, uma mesa com bebidas, alguns pufes laranjas e um espaço no centro para dança. O ambiente era complementado com uma leve fumaça sem cheiro que dava um ar misterioso. Aquele feitiço era a marca oficial de Lupin complementando a festa.
Como estavam desde cedo organizando o ambiente, os amigos decidiram se organizar no banheiro conectado à sala. Sirius estava vestindo apenas uma calça preta e uma jaqueta de couro da mesma cor. Ele conjurou orelhas pretas de cachorro e um rabo que combinava. Ele não fez a barba para que os pelos completassem o conjunto. Já James era com certeza o mais chamativo com calça e blusa marrom claro e, claro, uma galhada com pequenas orelhas marrom para complementar. Se estivesse com um nariz vermelho, estaria igual a uma rena. Peter tinha recebido bigodes mágicos de gato, assim como orelhas e um rabo removível. Rabo que ele tinha perdido.
— Eu te disse para conjurar direto da sua bunda e não na calça — Sirius replicou enquanto se olhava no espelho e penteava os cabelos, quase flertando consigo mesmo.
— Mas ia doer — Pettigrew choramingou.
— Você deixou na mesa de bebidas — James falou, entrando no banheiro, e Peter saiu correndo para fora. Então, Pontas olhou para Aluado e franziu as sobrancelhas. — E as garras? O rosto peludo? O focinho?
— Eu não vou realmente me transformar em um lobisomem, já aceitei a maquiagem ridícula — replicou, levemente irritado.
Estava vestindo uma calça e camiseta quase do seu próprio tom de pele e tinha aceitado até que bem o rabo encantado e as orelhas. Mas aí Lily veio mais cedo para maquiá-lo com um conjunto de maquiagem encantado. Fez seu rosto ficar mais alongado. Depois, encantou seu cabelo para ficar mais comprido e rebelde emoldurando seu rosto, além de ter encantado seus olhos para suas írises ficarem maiores, parecendo mais animalesco. Seus amigos adoraram o resultado, mas Remus se achou ridículo. Não gostava de chamar muita atenção e sua altura já dificultava isso, além de seus sumiços por causa da licantropia. Achava que, inclusive, aquela fantasia era uma enorme bandeira para a situação e até mesmo falou para os amigos sobre isso.
— Ninguém seria tão óbvio ao ponto de se entregar por uma fantasia — Sirius o respondeu na hora.
— E por ser tão óbvio, ninguém vai suspeitar — James completou, enquanto buscava feitiços para fazer sua galhada.
Então, ele não teve escolha. Lupin se encarou pela última vez no espelho, torcendo que não o achasse muito ridículo naquela noite. Suas mãos suaram frio com a expectativa de vê-la.
Remus saiu do banheiro e encontrou Evans mexendo no rádio encantado com a varinha, com certeza sintonizando na rádio bruxa Mexa Sua Poção, que tocava os maiores sucessos atuais e as preferidas dos jovens bruxos. Quando finalmente conseguiu, Lily assoprou uma mecha de cabelo de seu rosto e viu Lupin, acenando para ele.
— E aí, o que achou? — ela perguntou, dando uma voltinha na frente do amigo com os braços estendidos.
A garota estava usando um vestido roxo curto com mangas compridas, junto com sapatos roxos e uma tiara da mesma cor, além de um lenço verde amarrado no pescoço. Ela estava linda, mas Remus não tinha ideia de que fantasia era aquela.
Ele ficou em silêncio, Lily o encarando com os olhos cheios de expectativa.
— Está ótima! É… um pufoso roxo?
Os braços dela tombaram e a grifinória revirou os olhos.
— Eu realmente preciso forçá-los a conhecerem mais a cultura trouxa. Vamos marcar um dia lá em casa, eu tenho televisão e podemos assistir Scooby Doo.
— Se você diz — ele respondeu, rindo de leve.
James saiu do banheiro junto com Sirius, Peter se juntando aos dois no meio do caminho.
— Minha princesa, você está linda de… ahn… Magne.
— Daphne — Lily corrigiu, sem paciência. — Qual é, não é tão difícil, e minha fantasia está impecável!
— Tenho certeza que sim, princesa.
— Eu disse que era melhor você vir de Lilith — Sirius provocou.
— Se você me chamar de demônio mais uma vez, enquanto você estiver distraído, eu vou lançar um Feitiço de Encolhimento em você. Exatamente no meio das suas pernas — Lily rebateu.
— Viu? Algo que um demônio faria.
Os quatro amigos caíram na gargalhada e até mesmo Lily riu, sendo interrompida pela chegada de uma garota de saia vermelha, blusa laranja de manga comprida, meias laranjas, sapatos vermelhos, óculos redondos e um cabelo castanho curto, liso e com franjinha.
— Lene, você ficou perfeita! — Lily exclamou, indo abraçar a garota.
Com um susto, Lupin se tocou de que se tratava de Marlene McKinnon, amiga de Lily da Corvinal. Ela estava irreconhecível.
— Lily, você está perfeita! Ah, eu queria tanto poder tirar uma foto nossa agora — Marlene respondeu, sorridente. Então, se virou para os meninos. — Oi, garotos! Vejo que estão de… animais.
— E você tá de… laranja — Peter comentou, meio perdido.
— Meu Deus, como podem nunca ter assistido Scooby Doo?!
— Eu estava falando a mesma coisa — Lily concordou.
As pessoas começaram a chegar logo depois que Lene apareceu, aos poucos enchendo a sala. Todo o time de quadribol da Grifinória estava presente, assim como Margaret Diggory, Lacey Evermore e outras garotas com quem Sirius ficava às vezes. A maioria dos convidados eram alunos do sétimo ano, mas Sirius era um garoto bem popular, então claro que a festa não se restringia a eles. Na verdade, Remus tinha a impressão de que Hogwarts inteira estava naquela sala.
Menos Black.
Lupin estava ansioso como se fosse um dia de prova final. Na verdade, esteve mais tranquilo fazendo alguns N.O.M.s no quinto ano do que estava agora porque ao menos tinha segurança do que estava fazendo porque tinha estudado muito e lido muitos livros.
Ele não conseguia ler . Quando achava que ela nunca mais iria perdoá-lo, ela se propunha a ser sua amiga. Agia como se nunca tivesse se interessado por ele e não o tivesse odiado até a morte. Mas o que ela queria dele? Amizade? Algo a mais? Além disso, o que ele podia oferecer sabendo que era uma pessoa extremamente perigosa?
A ansiedade era tanta que Remus não parava de olhar para a porta, esperando que ela entrasse por ali. Devia estar parecendo um maluco, porque Peter o abordou, preocupado.
— Cara, você tá bem? Quase parece que você tá realmente se transformando. Nem reagiu quando o Pontas falou que era o melhor em Beer Pong.
Lupin sacudiu a cabeça, se forçando a focar no amigo e abrir um sorriso despreocupado.
— Acho que bebi um pouco demais. — Era uma mentira péssima, ele havia tomado três goles de Whisky de Fogo no máximo. — Então, onde está o mentiroso do James Potter?
Lupin tentou colocar um pouco de senso na própria cabeça: era aniversário de Sirius, tinha que se preocupar com os amigos e não com uma garota, por mais linda e intrigante que ela fosse. Então, de forma racional, optou pelo Beer Pong.
— Aluado! Veio desafiar meu posto de rei da mesa? — James, levemente alterado, disse ao lado de Sirius. — Acabamos de destruir a Lily e a Marlene.
— Destruir?! — Lily reclamou, indignada. — Foi sorte, nós dois só estávamos com um copo.
— Chame do que você quiser — Sirius deu de ombros. Evans se virou para Remus.
— Eu faço o que você quiser se você vencer dele — implorou.
Remus se posicionou com Peter do outro lado e sorriu. Era assim que queria comemorar a noite. Rabicho entregou a bolinha para ele e Lupin acertou de primeira o copo da base direita. Ele se virou pra Lily.
— Já se prepara para o próximo passeio a Hogsmeade. Estou precisando repor meu estoque da Zonko’s.
James vaiou e Sirius jogou a bolinha. Ela bateu na beirada do copo da frente e quicou de volta.
— Injusto! Isso foi manipulado!
Talvez se Lily e Lene não tivessem feito um estrago antes, a disputa tivesse sido mais acirrada, mas apesar de às vezes a mão tremendo de Rabicho o atrapalhasse, os dois conseguiram vencer com cada um levando o prejuízo de apenas um copo de cerveja amanteigada. Como os novos reis da mesa, começaram a enfrentar vários outros grupos e foram vencendo, sempre bebendo alguns copos no caminho. Já tinha tomado pelo menos uns oito copos quando escutou uma voz:
— Agora a concorrência de verdade chegou.
Não era culpa do garoto achar que estava alucinando. Já tinha bebido o suficiente para sua sanidade não estar das melhores, mas parecia uma visão na sua frente. Usava uma cartola engraçada na cabeça, mas não havia nada de cômico no resto da sua roupa: um espartilho branco que marcava todas as suas curvas, um short preto tão curto que poderia ser na verdade uma calcinha, meia calça arrastão preta e salto agulha da mesma cor, além de uma gravata borboleta branca ao redor do pescoço. No rosto, usava uma maquiagem que ressaltava seus olhos escuros e um batom vermelho que tornava sua boca ainda mais atraente. Era como se a palavra “tentação” tivesse acabado de se materializar em uma pessoa.
Remus se perdeu no que pareceu ser uma eternidade, até perceber uma sobrancelha levantada da garota, como em provocação. Ele sentiu as bochechas corarem (e teve certeza que ouviu risos de James, Peter e Sirius) e pigarreou.
! Que bom ver você. Ah, oi, Snyde.
O garoto acabara de reparar na amiga de , que agora estava bem diferente: seus cabelos estavam loiros e ondulados, presos em um rabo de cavalo. Ela usava uma roupa quase tão curta e justa quando a de Black, com um short e blusa pretos, meia calça arrastão azul, assim como a jaqueta que usava. Botas pretas, luvas de mesma cor e uma gargantilha completavam o visual. Estava tão confuso sobre o que ela estava vestida quanto com .
— Meu Deus, vocês estão perfeitas.
Lily, levemente alterada, correu para as duas, as mãos nas bochechas e a boca aberta em um pequeno "O". Marlene seguiu a amiga, também parecendo admirá-las.
— Uau, e vocês também! — respondeu. — Rey, depois eu preciso te mostrar Scooby Doo.
— Finalmente alguém que sabe do que estamos fantasiadas! — A amiga de Lily jogou os braços para o alto em frustração. Ela estendeu a mão em cumprimento. — Marlene McKinnon.
Pi… Black — ela se corrigiu.
— Ah, eu sei quem você é — Lene exclamou com uma sobrancelha erguida. — Não sabia que Sirius tinha convidado a família.
— McKinnon — Reydana cumprimentou, sóbria.
— Snyde — Lene retribuiu. Então abriu um mínimo sorriso. — Canário Negro? Está idêntica. Não sabia que conhecia coisas da cultura trouxa.
— Eu estou fazendo esse trabalho extremamente necessário — exclamou, a mão no peito como quem está muito orgulhosa.
De repente, Almofadinhas estava no meio da conversa.
— Parem de me ignorar, eu sou a atração da festa!
soltou uma exclamação quando viu Sirius e correu para abraçá-lo. Remus sentiu uma leve pontada de ciúmes com a demonstração espontânea de carinho.
— Você realmente se engajou com essa de se vestir de animal. — olhou para os Marotos e pareceu estar segurando o riso. — Na verdade, todos vocês.
— Eu sei, somos incríveis, não é? — James se gabou.
— Ei, achei que vocês iam jogar. Amarelaram? — Peter perguntou.
— Para o azar de vocês, não mesmo. — piscou. — Eu e Rey estamos prontas, certo?
— Eu não tenho escolha — a sonserina reclamou, mas tinha um pequeno sorriso nos lábios.
Lily e Lene soltaram exclamações de torcida, mudando de torcida. Como tinham ganhado a partida anterior, Lupin e Pettigrew tinham o direito de começar. Peter começou acertando uma bola certeira bem no meio. Agora ele já estava pegando o jeito.
Potter e Black comemoraram, já se esquecendo que tinham perdido para os amigos. Remus e Peter trocaram um high five enquanto cuidava do primeiro copo de cerveja amanteigada. Um calafrio percorreu seu corpo enquanto ela bebia.
Ela pegou a bolinha de ping pong na mão e a jogou para o alto, sentindo seu peso. Com certeza essa era uma das vantagens dos garotos: já estavam há tanto tempo no jogo que já estavam acostumados com a forma de jogar.
Depois de terminar sua inspeção, se inclinou na mesa para jogar a bolinha, mas Remus nem conseguiu ver se ela tinha acertado ou não, pois, no momento em que se inclinou, o decote da garota se tornou mais evidente. Um calor tomou seu corpo e ele se sentiu novamente nos seus quinze anos.
Despertou da sensação com os gritos de Lily e Lene, e, quando olhou para baixo, a bolinha boiava no copo que estava perfeitamente em sua frente. Seu olhar se voltou para e ela sorriu, como se soubesse exatamente tudo o que havia se passado na sua cabeça. Subitamente constrangido, Remus focou em beber o copo.
Agora, era sua vez. Respirou fundo, saberia fazer aquilo até de olhos fechados, se quisesse, mas a garota estava desequilibrando-o. Firmou a postura e focou os olhos no copo na beirada da mesa que queria acertar. Preparou a mão.
— Caramba, você realmente se engaja.
Ele não deveria ter erguido os olhos para quando ela falou aquilo. Assim, não teria visto seu sorriso provocador. Ele engoliu em seco e jogou a bolinha. Que bateu na beirada do copo e quicou para fora.
Snyde, Evans e McKinnon comemoraram enquanto Potter e Black vaiavam.
— Não está me deixando ganhar, não é? — gritou do outro lado da mesa. — Eu vi que você é bom, não é pra fingir que não sabe jogar!
Lupin sentiu um calor gostoso no corpo por escutá-la falar que ele era bom e que ela o tinha visto jogar. Eles se encararam por alguns segundos. Ela sustentou o olhar e ele sabia que ela não iria desviar, era como ela era, sem medo ou dedos. Ele acabou sendo o primeiro a desviar.
O jogo continuou com a jogada de Snyde, que errou o copo por muito pouco. Os marotos comemoraram enquanto as meninas resmungavam. Lily e Lene então se aproximaram de e Snyde, e não pararam de trocar sussurros suspeitos. Quando os garotos iam reclamar, as duas que não estavam jogando se afastaram rapidamente. Lupin pegou a bolinha e entregou na mão de Rabicho.
— Só faz o que você já sabe.
Ele sorriu, contente com o reconhecimento, e se preparou para jogar. Na hora, no entanto, um grito feminino o interrompeu.
— Vai, Peter!
Era Mary MacDonalds, uma menina da Grifinória do mesmo ano que eles. Estava usando um vestido quadriculado azul e branco, tranças no cabelo e sapatos vermelhos. Da mesma cor que as bochechas de Peter assumiram quando percebeu de onde o grito encorajador vinha. Antes que pudesse se controlar, a bolinha escapuliu de sua mão e quicou duas vezes antes de rolar pateticamente até encostar na base de um copo.
As meninas comemoraram enquanto Peter soltou um muxoxo. Mary abriu um sorriso meio envergonhado que fez com que ele acabasse sorrindo também. Remus olhou para o amigo, descrente.
Do outro lado da mesa, sorria de maneira muito suspeita. Pegou a bolinha de ping pong e a lançou no ar, segurando-a logo em seguida. Parecia se divertir muito além do que Lupin poderia compreender. Então, com um sorriso tranquilo, ela acertou mais um copo deles.
— Trapaça! A bola está enfeitiçada! — Sirius gritou, enquanto James vaiava.
— Aceitem perder! — Marlene rebateu, com um sorriso enorme no rosto.
Peter foi o encarregado do copo da vez, enquanto Remus se preparava para seu lançamento. Ele era muito bom naquele jogo, não ia errar de novo. Só para ganhar um pouco mais de confiança, mirou no copo da esquerda da segunda fila.
, achei! — Lily exclamou por cima da música alta, erguendo uma caixa por cima da sua cabeça, junto com um objeto que parecia uma pequena caixinha.
bateu palminhas agitadas, enquanto Evans colocava a caixinha dentro da caixa de som e desligava a música do ambiente.
— Ei! — James reclamou, mas sua exclamação foi engolida por um som alto. Uma música que Lupin nunca tinha escutado antes, mas era extremamente animada. Imediatamente, Lily, Marlene e começaram a cantar.
Ooh! You can dance, you can jive! Having the time of your life! Ooh, see that girl, watch that scene, digging the dancing queen!
As três começaram a dançar e todos os olhares se desviaram do beer pong para observar a cena que estava praticamente hipnotizante. Pelo menos para Remus.
Os quadris de se mexiam de forma tão conectada com a música que pareciam ter sido feitos para aquele momento. Lupin tentou, de todas as formas, desviar o olhar, mas era impossível. Ainda mais quando o olhar dela estava fixo nele enquanto se movia.
Sacudindo a cabeça para despertar do que parecia um feitiço, Aluado jogou a bolinha, atraindo alguns poucos olhares de volta para a mesa. E, dessa vez, conseguiu acertar o copo da esquerda.
Sirius comemorou, mas James já estava junto com sua namorada, esquecendo totalmente que estava em um momento de rivalidade com ela. Nem mesmo Peter comemorou muito, o olhar preso em Mary, que balançava a cabeça com o ritmo.
Do outro lado, estava com um biquinho na boca, como se estivesse frustrada por ele ter acertado. Foi quando as peças se encaixaram para Lupin, enquanto via a Snyde beber o copo de cerveja, Mary aos poucos se aproximando de Peter e se esforçando mais para dançar: estavam sendo distraídos propositalmente.
Lupin ficou dividido entre a raiva e a vergonha do plano ter funcionado. Mas a raiva ganhou quando Snyde acertou mais um copo e Remus teve que bebê-lo.
Aluado puxou Rabicho para um canto.
— Mary está tentando te distrair, não se deixe levar — murmurou.
— Quê? — O amigo nem mesmo olhava para ele, os olhos fixos em MacDonalds. Lupin suspirou, derrotado.
Peter pegou a bolinha, mas jogou de qualquer jeito. Nem mesmo olhou para perceber que a bolinha não tinha acertado nenhum copo. Nem sequer a mesa.
Pelo menos ele apareceu para beber mais um copo que tinha acertado.
Lupin era a única esperança de seu time. Por isso, ignorou os quadris de . E seus olhos. E sua boca. E suas pernas. E o decote. Não, ele não podia pensar em nada disso. Só no copo.
Sua mão deu uma leve tremida, mas ele respirou aliviado quando acertou um copo, gerando mais uma careta adorável no rosto de Black, que bebeu a cerveja.
Era a vez de Snyde. Ela parecia ser o elo fraco, pelo menos tinha errado uma de suas jogadas, enquanto não tinha errado nenhuma. Talvez ela errasse de novo.
Mas ele não teve sorte. Pelo menos, serviu para Peter sair um pouco dos encantos de Mary.
— Só sobrou um copo?!
Lupin bebeu a cerveja para evitar soltar uma resposta afiada. O amigo, assustado, pelo menos conseguiu acertar uma das bebidas das garotas. Porém, não era suficiente, e isso aterrorizava Lupin.
Porque a próxima era .
Ela abriu um sorriso que ele poderia descrever típico sonserino (ela estava se adequando muito bem à sua casa): confiante, debochado e de quem sabe mais do que você. Ele olhou dentro daqueles olhos castanhos em busca de um sinal de fraqueza, alguma dúvida ou incerteza.
Não encontrou.
Logo, Peter estava bebendo o último copo enquanto Snyde e Black pulavam, vitoriosas, com direito a aplausos estrondosos de McKinnon e Evans.
— Vocês realmente conseguiram! Vocês são lendárias! — Lily berrou.
— Ei, elas só ganharam uma partida, nós ganhamos de… o quê? Umas oito duplas? E elas só ganharam de nós! — Remus reclamou.
— É, o que equivale a termos ganhado de todos de quem vocês ganharam. As verdadeiras campeãs!
Todas as garotas comemoraram e ignoraram as reclamações dos marotos. Lily, levemente alterada, estava, inclusive, tomando conta da festa, colocando mais das músicas que apenas ela, Lene, e os nascidos trouxas pareciam conhecer. Não que Remus pudesse dizer que eram músicas ruins.
parecia ter nascido para estar naquele ambiente. Lupin nunca a tinha visto antes em uma situação assim, mas ela já estava conversando com as outras como se estas se conhecessem há anos. E ela não parava de dançar e, por Merlin, ela sabia dançar muito bem. Ele já tinha reparado antes enquanto jogavam, mas agora ela parecia ainda mais solta.
E olhava para ele. Agora, já não havia mais aquela competitividade por trás do olhar, mas havia ainda uma malícia, uma língua secreta sendo compartilhada que ele desejava muito conseguir decifrar.
Quando sorriu para ele, o ressentimento de Remus evaporou e ele apenas viu uma garota maravilhada com uma festa e se divertindo. E ela parecia interessada nele.
Como se atraído por aquele magnetismo, Remus começou a andar na direção de Black, que se afastou levemente das amigas. Ele achou interessante como, mesmo com o salto, ela ainda estava alguns bons centímetros mais baixa que ele.
— Espero que tenha vindo me parabenizar formalmente. — E sorriu.
Maldito sorriso.
— Talvez eu devesse mesmo — ele disse. — Embora eu sinta que não foi um jogo justo. O que você fez com o Peter foi golpe baixo.
— Uso apenas as cartas à minha disposição — ela deu de ombros, antes de erguer uma sobrancelha.
— Suas estratégias foram praticamente ilegais. A gente teria vencido.
— Está dizendo que elas funcionaram? — perguntou, agora sorrindo mais abertamente. Claro que não estava perguntando de Peter e Mary.
As bochechas de Lupin esquentaram. Ele tossiu para disfarçar a forma que estava envergonhado enquanto a música do ambiente mudava novamente.
— Nunca tinha escutado essas músicas na minha vida. Parece que estive em um mundo completamente oposto ao seu até agora.
— E estava mesmo! Imagina viver em um mundo sem ABBA, telefone, cinema, DC, Scooby Doo, Disney… Ou até mesmo sem dançar direito. Eu e minha amiga Ashley fundamos o grupo de líderes de torcida da escola e não percebi que sentia tanta falta até dançar hoje à noite aqui na festa.
O garoto escutou todas aquelas palavras, faladas de forma intensa e interessada para ele, mas que ainda pareciam estar em outra língua.
— Líder de quê?
Black sacudiu a cabeça em negação, como se não pudesse acreditar que ele não conhecia aquilo. Mas, mesmo assim, explicou pacientemente. Então, ele lhe contou da vez em que o professor Flitwick montou uma peça de teatro em Hogwarts e depois assumiu o coral de sapos, o máximo de arte que tinham por ali. Ela replicou, contando de uma vez que eles tentaram montar uma peça em Ilvermorny, mas acabou cancelada porque o menino principal foi suspenso. O que, claro, levou Lupin a revelar várias das encrencas que se meteu (e a maioria se safou) por causa de Pontas e Almofadinhas. Vê-la se interessar por seu passado apenas o incentivou ainda mais a ir adiante em seu relato e se surpreendeu com o quanto estava animado com aquela conversa de coisas tão cotidianas.
— Eu não acredito que vocês conseguiram se livrar de ter colocado um filhote de lula gigante no banheiro dos professores — tapou a própria boca com a mão, contendo um riso, enquanto a outra mão segurava um copo de cerveja amanteigada.
— Sem evidências, sem crime — Lupin deu de ombros, antes de arregalar os olhos em falso terror. — Olha, te contei isso, mas você precisa jurar por sua vida que não vai contar para ninguém. Vez ou outra, eu sinto que os professores, quando passam pelo lago, sentem um peso a mais nas costas, como se o mistério não resolvido ainda fosse um problema.
A risada de escapuliu e o som sincero e alegre se espalhou pela sala antes de ser engolido pela música. Lupin sentiu uma sensação no estômago que era boa e esquisita ao mesmo tempo, tudo por ter sido o responsável por fazer a garota rir.
Na mesma hora, outra música da banda que Lupin agora sabia que era ABBA começou a tocar, fazendo os olhos de brilharem.
— Eu amo essa música. Lançou esse ano e não consegui parar de ouvir nesse verão! — E começou a cantarolar. — Honey, I’m still free, take a chance on me.
E encarou Aluado. Seu coração acelerou ao interpretar que aquele olhar poderia ter sido proposital, como se o verso fosse para ele. Mas seu coração andava muito confuso, e ele precisava era confiar em sua mente. E esta dizia que uma garota como Black estava fora de seu alcance e nunca faria aquilo.
Mas então o olhar dela baixou para os lábios dele. Então, ela tomou um gole da bebida, como se a visão subitamente tivesse a deixado quente. Ou com sede.
Vendo que um pouco da espuma ainda estava em seus lábios, o cérebro de Lupin pifou e os instintos tomaram conta dos movimentos de seus dedos, que foram até a boca da garota e a contornaram enquanto tirava a espuma. Sem perceber, roçou no lábio inferior da garota, que era extremamente macio.
O olhar de se acendeu com o calor do sol no dia mais quente do verão. Ela deu um passo à frente e ele não sabia dizer se tinha sido consciente. Mas não se importava. Porque agora os olhos dele estavam fixos nos lábios dela, que estavam cada vez mais próximos. A distância era um pouco maior que a de uma mão. Os olhos dela pesavam, como se ela quisesse fechá-los e sentir o momento. Se ele se inclinasse apenas um pouco…
— PARABÉNS PARA MIM! — O grito de Sirius ressoou pela sala.
Tanto Remus quanto deram um salto ao escutar o amigo, se afastando como se tivessem levado um choque. As bochechas de Lupin queimavam em seu rosto, mas, para sua satisfação, não parecia inabalável.
Levou um susto quando olhou para o relógio e percebeu que já era meia noite. O tempo, que antes havia se arrastado, agora tinha voado na companhia de Black. Talvez aquele fosse um feitiço que ele desconhecia.
Sabia que aquela era sua deixa, mas seu corpo parecia resistir ao deixar a companhia da garota.
— Eu tenho que ir — disse, embora soasse levemente como uma pergunta. Aquilo fez a expressão de se suavizar.
— Vai. Sirius vai me matar se eu for a estrela da festa e não ele.
Lupin retribuiu o sorriso, se sentindo mais empolgado, e acenou com a cabeça antes de se afastar. Encontrou Pontas, Rabicho e Evans em um canto, com uma sacola enfeitiçada que continha muito mais itens do que deveriam caber nela.
James e Lily posicionaram as velas em cima de um bolo vermelho e dourado enquanto Peter tirava da sacola uma faixa com os escritos “COMANDANTE” e garrafas de Champagne Arco-íris, uma bebida bruxa que soltava bolhas coloridas.
Incendio — Lily murmurou, apontando para as velas. Imediatamente, faíscas quentes e brilhantes se acenderam. Lupin correu para pegar as bebidas, enquanto Peter guardava a sacola e carregava a faixa.
Conviver com Sirius Black era um evento para toda uma vida. Era como se rebeldia, narcisismo e vitalidade tivessem um filho humano. E, por mais que para muita gente ele pudesse ser demais, Remus só podia agradecer por ter um melhor amigo assim. A pessoa mais popular e incrível da escola, que tinha decidido amar a ele, um garoto que não tinha nada além de problemas para oferecer.
Mas Almofadinhas era amante de problemas. Então, claro que ele também passou a amar Remus.
A música trouxa de e Lily parou e foi substituída por uma que Lupin finalmente conhecia. Com todas as palmas acrescentando para a energia, o grupo inteiro começou a cantar “Parabéns pra você”. James e Lily apareceram com o bolo, enquanto Peter colocava a faixa em Sirius, como em uma premiação trouxa para garotas bonitas que Lily tinha mostrado.
— Que o dia de Sirius comece! — o grifinório gritou enquanto assoprava as velas. A festa inteira vibrou junto porque ele sabia como ter todos na palma de suas mãos.
Então, Almofadinhas olhou em volta, como se estivesse em busca de algo, até encontrar Aluado. Os olhos do aniversariante brilharam na hora com empolgação.
— E para marcar como nos meus 18 anos serei uma versão mais sábia, incrível, gostosa…
— E humilde! — James gritou.
— De mim mesmo — Sirius o ignorou —, vamos fazer um brinde.
A varinha de Black se sacudiu e as garrafas na mão de Lupin, exceto por uma, voaram pelo salão, enchendo copos que os convidados foram pegando.
— Um brinde ao melhor aluno que Hogwarts já teve: eu!
Todos riram ao brindar, mas, diferente de todo o resto, os marotos não fizeram um brinde. Lupin se aproximou com a garrafa que ainda estava em sua mão e apoiou em uma mesa enquanto os quatro amigos se enfileiravam lado a lado, de frente para o champagne.
— Preparado? — Potter perguntou, um sorriso ansioso em seus lábios. Afinal, a maior parte da ideia tinha vindo dele.
— Eu nasci preparado — Black respondeu, com um sorriso de orelha a orelha, porque quem havia conseguido concluir a ideia tinha sido ele.
— 3, 2, 1… vai! — Pettigrew exclamou, apontando a varinha para o champagne.
A bebida estourou e a tampa voou pela festa, mas, antes de chegar ao chão, foi transfigurada por Lupin em uma fumaça preta encantada na forma de um cão do tamanho de sua mão que passou a correr pela festa, acima da cabeça dos convidados. Enquanto isso, James e Sirius apontavam para a bebida e resmungavam palavra atrás de palavra, a expectativa crescente em cada sílaba que saía de suas bocas.
Então, os quatro se viraram de novo para a garrafa, levantaram o queixo e abriram a boca.
Com a última palavra saída da boca de James e Sirius, a bebida saiu da garrafa com velocidade, subiu para o teto, fez diversas curvas e formou rapidamente a imagem de um leão, antes de se desfazer em 4 quedas d’água, cada uma caindo dentro da boca de um maroto.
A sala explodiu em aplausos.
— E é assim que se faz um brinde — Sirius disse, depois de engolir o champagne e olhar em volta, com uma cara de convencido.
A música voltou a tocar e se misturou com a gritaria de pessoas que iam abraçá-lo para lhe desejar parabéns e perguntar como ele fez aquilo com a bebida.
Lily voltou, trazendo pedaços de bolo de chocolate para todos.
— Obrigado, Lilith — Sirius sorriu abertamente.
— De nada.
James a olhou, confuso.
— Você… não vai reclamar com ele sobre o apelido?
— É o dia dele, eu só posso aceitar — disse, dando de ombros, e fazendo uma gargalhada escapulir da boca de Sirius.
— Isso foi genial! Mais surpreendente que os fogos de artifício do ano passado.
— Porque fogos de artifício são fáceis. Quero ver qualquer um reproduzir o nosso feitiço.
— Fiquei com tanto medo de estragar alguma coisa — Peter admitiu, as palavras meio emboladas enquanto ele mastigava o bolo.
— Você treinou muito, Rabicho, não precisava se preocupar.
— Já pensou que é o último aniversário seu que passamos aqui em Hogwarts? — Remus pontuou. Aquele ano estava cheio de “últimos momentos”. — Para onde vamos ano que vem?
— Na última vez que visitei Lily, podia jurar que vi uma corrida de motocicletas, no estilo que você adora.
— James! Isso é ilegal!
— Ah, isso é música para os meus ouvidos! — Sirius comentou, antes de dar mais uma garfada no seu bolo.
Estava parecendo o dono do mundo com aquela faixa, aquele sorriso maroto e o brilho nos olhos. Mas justamente por conhecer tanto o amigo, Remus sabia que a razão disso não era apenas a festa. Era principalmente por os amigos estarem ali, todos juntos, por ele. E não se preocupava com o fim da escola porque não havia nada no universo capaz de separá-los.
O coração de Lupin acelerou sem que ele percebesse. Logo, o cheiro de peônias invadiu o seu nariz. Seu corpo sentiu a presença dela antes que sua mente pudesse propriamente processá-la.
— Feliz aniversário, Lorde Black! — abraçou Sirius pelo ombro.
— Gostei do título. Vocês bem que podiam me chamar assim — Almofadinhas disso para os amigos, enquanto esfregava o cabelo de .
— Nunca! — Remus, Peter e James responderam, ao mesmo tempo que a sonserina disse: — Você vai arruinar meu cabelo!
— Estou tentando te deixar mais parecida com um demônio sonserino, tipo a Lilith. — Sirius encarou a ruiva enquanto falava, como se estivesse se deliciando com ela segurando suas palavras duras e apenas transformando em um sorriso conformado.
— Então esse é o poder do aniversariante — falou, fingindo assombro.
Todos riram e terminaram de comer os bolos, prontos para voltarem para a pista de dança. A noite estava apenas começando.
🌗🌗🌗
O sol já estava quase nascendo e era possível perceber isso pela pequena janela na sala com vista para o lago. A luz dourada invadia com lentidão o espaço da festa. A maioria dos convidados já tinha ido, com medo de, com o amanhecer, esbarrarem em algum professor. Entre eles, Snyde, que disse não ser a maior fã de festas, embora tenha agradecido o convite e dito que tinha aproveitado. Ela não era um monstro da Sonserina como todos os grifinórios pensavam de qualquer um que vestia verde e prata.
Em um canto, Peter e Mary estavam sentados, embora estivessem dormindo, a cabeça dela apoiada no ombro dele. Lily e James dançavam em câmara lenta, abraçados, as testas encostadas, a uma música trouxa chamada “All By Myself” que Marlene e Sirius cantavam em um karaokê improvisado, a sensação dos anos 70 tanto no mundo bruxo quanto no trouxa. Restavam apenas Remus e , que estavam deitados no chão, escutando ao karaokê e olhando para o teto, com as abóboras e morcegos pendurados que pareciam menos assustadores com a luz do dia.
Ambos lutavam contra o sono em uma conversa leve e honesta, quase etérea, e se agarravam ao momento para que ele não acabasse, pois parecia um sonho prestes a se desfazer.
respirou fundo e Lupin observou seu peito subir e descer.
— Hoje foi tão bom. Me lembrou da escola.
— Vocês faziam festas assim o tempo todo? — Remus perguntou, a voz rouca da música que James o obrigara a cantar, relanceando a garota.
— Não exatamente assim. Nunca tivemos recursos para uma máquina de karaokê.
— Só temos isso por causa de Sirius. E, claro, o seu pai.
o encarou, confusa.
— Meu pai?
— Ah, você sabe, o dinheiro que seu pai envia para Sirius. É o que permite que ele fique bem. Além, é claro, dos pais de James.
A garota suspirou e encarou o teto, mas sua postura parecia um pouco mais irritadiça.
— Eu sempre soube que não conhecia tudo sobre meu pai, até porque ele trabalhava longe e eu morava na escola. Mas sempre senti que, apesar de tudo, tínhamos uma conexão. Que talvez eu não conhecesse o nome de todas as pessoas que trabalhavam com ele, e ele não soubesse sobre todas as pessoas que eu beijei, mas que eram segredos normais entre pai e filha. Não… uma vida inteira escondida.
Lupin sentiu uma inesperada onda de ciúmes de todos aqueles garotos, mas, ignorando o sentimento irracional, ele apenas disse.
— Sinto muito.
— Eu não quero pena. Eu… só queria que ele não escondesse isso de mim e da minha mãe.
— Sua mãe não sabia também?
Ele a encarava quando fez a pergunta, por isso pôde ver os vincos em sua testa quando ela franziu a sobrancelha.
— Não. Tipo, acho que não. Nunca perguntei diretamente, mas ela não iria me esconder isso, certo?
Mas Aluado escutou um tom de incerteza na voz dela.
— Por que você não escreve para ela?
— E se meu pai não tiver contado? E se eu virar a razão do término deles?
— Ele te disse para não contar para a sua mãe?
Ela pareceu pensar um segundo, um pouco nervosa.
— Acho que não.
— Então não vejo motivo para não perguntar. Eles são adultos e, se eles se amam, precisam lidar com a verdade.
No mesmo momento em que disse isso, Remus se retesou. Era por isso que, em nenhum momento da sua vida, poderia se permitir a amar alguém, porque aquilo exigiria a verdade, e a verdade dele não poderia gerar nada além de tristeza, raiva, rompimentos e esconderijos.
O que era realmente difícil porque, pela primeira vez, ele parecia estar conhecendo alguém que poderia fazê-lo querer se arriscar por algo real.
Ao seu lado, ele nem reparou que a garota também enrijeceu.
Alguns segundos de silêncio se passaram, cada um perdido em seus próprios pensamentos, com pano de fundo as vozes de Almofadinhas e Pontas roucas enquanto mais sussurravam do que cantavam a letra de Feitiço da Ingratidão.
rompeu o silêncio.
— Não sei como vocês suportam essa energia suspensa no ar. Como se estivesse tudo à espera de explodir, tudo esperando uma catástrofe acontecer.
— Acho que é assim desde que eu nasci. — Sem contar que ele mesmo era uma catástrofe sempre prestes a acontecer. O estado de espera e de suspensão já era comum para ele.
Mas aquele não era o dia a dia de uma garota como Black, que descrevia sua escola cheia de festas, líderes de torcida, cultura trouxa por toda parte, sem guerras. Ela estava tensa e ele podia sentir.
Sem perceber, estendeu a mão na direção da dela. Mais tarde, poderia culpar o sono e os resquícios de álcool em seu organismo.
— Não precisa se preocupar. Dumbledore sempre irá proteger a todos nós aqui em Hogwarts.
— Mas e depois? — A voz dela parecia tomada de desespero, algo além do que ele podia entender.
Ele apertou suavemente a mão dela, sentindo o coração acelerar com aquele contato, a mão macia e um pouco mais fria que a sua.
— Hoje nós não precisamos pensar no depois. Hoje a gente pode pensar que não tem guerra nenhuma, só por mais alguns minutos.
Ela recebeu aquela resposta em silêncio, antes de se sentar bruscamente e olhar para ele.
— Você tem razão.
— Geralmente eu tenho — ele provocou, mas então se calou ao perceber a intensidade do olhar dela.
Ela parecia ter desligado em si mesma o botão que chamava as consequências e pensava no futuro. E o seu olhar o convidava para o mesmo.
Uma voz baixa sussurrou em seu cérebro, o alertando que se envolver traria problemas depois.
Mas hoje eles não precisavam pensar no depois. Então, ele deixou os instintos agirem.
Suas mãos avançaram para a cintura dela e, quando percebeu, tinha a puxado para seu colo. Ela estava com uma perna de cada lado do quadril dele, de joelhos, e eles estavam muito próximos. Lupin podia sentir como os corpos estavam quentes em contato um com o outro, como pareciam se encaixar perfeitamente. Ele podia sentir tudo.
Remus quase ganiu e rosnou ao mesmo tempo.
— Não esperava tudo isso de você, Remus Lupin — ela sussurrou, e parecia estar ofegante.
— Nem eu — ele respondeu, honestamente, antes de baixar os olhos para os lábios dela. O botão das consequências estava definitivamente desligado.
Sem esperar mais um segundo, ele grudou a boca na dela e, por algum motivo, foi diferente de todos os beijos em garotas desconhecidas de festas que ele havia dado. Havia algo além do tesão puro. O calor dos lábios dela causavam arrepios. E a língua dela na boca dele… era mais enlouquecedor e prazeroso do que algumas transas que ele já tivera.
Por um tempo, eles se permitiram ficar ali, com aquelas pessoas que eram as mais importantes na vida de Remus e que nem reparavam na cena, apenas explorando um ao outro em beijos lentos e toques certeiros.
Pela forma que estava duro e seu coração acelerava, Lupin sabia que ia se ferrar muito por causa daquele beijo ainda. Mas aquilo era um problema para depois.
E, ali, aquilo não importava.

Capítulo 13

Acordei no domingo com a garganta seca e uma dor de cabeça bem chata. Whisky de Fogo realmente era bem diferente de Gin de Fada Mordente. E aquele Champagne Arco Íris também não tinha ajudado em nada.
Memórias da noite anterior invadiram minha cabeça de uma vez só. Coloquei um travesseiro em cima do rosto, sentindo meu rosto esquentar. Remus e eu no beer pong. Remus e eu conversando.
Remus e eu no chão da festa nos beijando de uma forma deliciosa e que estava escalando rápido demais, mas nunca o suficiente.
Queria ficar presa naquelas lembranças, sem saber muito bem como seria o meu dia, mas eu tinha que comer. Mesmo que meu estômago parecesse determinado a colocar tudo para fora.
Encontrei Rey vestindo uma calça preta de moletom e passando um suéter das Harpias de Holyhead pela cabeça. Pelo seu cabelo, que estava completamente solto e preto, além da cara amassada, imaginei que ela estivesse tão cansada e de ressaca quanto eu. Enquanto isso, Martha e Layla conversavam, animadas, no quarto.
— Bom dia — falei para Rey, bocejando.
Ela retribuiu com um aceno de cabeça. Então, me analisou mais atentamente. Ela parecia um pouco mais descansada que eu, mas também tinha voltado mais cedo.
— Algo aconteceu depois que eu fui embora, né?
Fiquei de queixo caído.
— Você vai roubar o emprego da professora de adivinhação. Você é bizarra.
— Eu sou atenta. Anda, me conta tudo.
Abri um sorriso, mas olhei de esguelha para Martha e Layla, não querendo que aquela notícia se espalhasse pelo salão comunal da Sonserina.
— Vamos tomar café.
No caminho do corredor tranquilo de domingo, tentei me decidir o que contar exatamente para Reydana. Então, comecei a falar do diálogo que eu e Remus tivemos que, apesar da bebida, ficou completamente marcado em mim. E então contei do beijo.
Snyde deu um berro no meio do corredor, atraindo olhares que eu antes nem mesmo sabia que estavam ali. Ignorei todos.
— Finalmente, porra! — ela falou, mais baixo. — Me desculpa, aquela tensão na festa estava desconfortável. Ele tem aquela carinha de cachorro perdido, sabe? E quando olhava para você, quase parecia estar implorando por carinho.
Ri da analogia, especialmente com aquela fantasia de lobo. Achei hilário como os garotos realmente tinham se empolgado com as roupas de animais.
— E como foi o beijo?!
Suspirei, sem querer deixando o sorriso escapar.
— Perfeito. Achei que eu teria que pular nele a qualquer segundo, mas acabou que ele tomou a iniciativa. Achei que ia ser super calmo, ele é todo tímido, né… — me calei quando as memórias voltaram para minha cabeça, sentindo as bochechas esquentarem.
Não houve timidez nenhuma quando eu me esfreguei nele e senti o quão duro ele já estava.
— Caraca, não foi nenhum beijinho tímido mesmo pela sua cara de safada.
Gargalhei mais uma vez. Ah, era tão bom ter essa relação de confiança com uma amiga. Precisava, inclusive, escrever pra Ashley, ela ia surtar ao descobrir isso.
Me lembrei também da outra parte da conversa com Lupin. Seria bom eu também escrever para minha mãe.
Aquela calmaria estava boa demais para ser verdade. Preocupada com um garoto, fofocando com as amigas. Não parecia que meu mundo estava prestes a ruir.
E, com a distância de Regulus, talvez as coisas realmente tivessem se acalmado. Talvez aquela família maluca tivesse desistido de mim.
Com os ombros leves com aquele pensamento, senti um arrepio na nuca e me virei para trás, instintivamente sabendo quem estava atrás de mim.
Os olhos de Remus se fixaram nos meus, antes de ele corar e abrir um sorrisinho. Meu estômago deu uma cambalhota.
Ok, eu prometi que não ia me aproximar mais dele depois do fora, prometi depois que só estava me aproximando por causa da missão, mas quem eu queria enganar? Eu estava caidinha por Lupin e usei a missão como desculpa para não ser chamada de burra por voltar para quem não me queria.
Ainda bem que ele me beijou, essa humilhação eu não queria passar de novo não.
Quando meu olhar desviou do dele, finalmente vi que ele estava acompanhado de seus companheiros fiéis e Lily Evans. Sirius usava óculos escuros que provavelmente escondiam olhos vermelhos da noite anterior.
— Bom dia, cobrinhas — Sirius cumprimentou, fazendo uma continência com o dedo indicador.
— Feliz aniversário de novo, Black — Rey disse, sorridente, e eu tive que controlar minha cara de choque. Mesmo que ela tivesse sido convidada, não esperei nada além de uma convivência pacífica.
— Queria não ter tantos deveres e dormir até o dia seguinte — Evans disse, enquanto me abraçava.
— Eu acho que foi de propósito. Suspeito que Minnie sabia da festa. Ela sabe que seu aniversário é hoje — James falou, com uma pontada de dor. — Fala aí, outra Black. E aí, Snyde.
Nos cumprimentamos e Peter deu um tchauzinho tímido, parecendo muito cansado ainda da festa (ou de todos os ataques cardíacos que teve ao ver Mary). Então, depois de ser educada com todos, eu voltei a olhar para Lupin, meu coração parecendo vítima de um feitiço de sapateado.
Andei em sua direção, ansiosa para abraçá-lo, tomando cuidado para não ir rápido demais. Os olhos dele estavam fixos nos meus e eu sentia algo quente ali. Meus lábios ficaram secos com o que estava por vir.
E aí ele estendeu a mão na minha frente na velocidade da luz.
Encarei aquele membro, bloqueando meu caminho e esticado como se fôssemos advogados fechando um contrato.
Tomada pela confusão, eu apertei a mão dele em um gesto automático, silenciada pela mortificação.
— Oi — ele disse.
Aquele cumprimento me despertou de leve. Então, pelo visto, o plano dele era fingir que nada tinha acontecido. Algo que, bom, eu já fui culpada de fazer algumas vezes. Mas não depois de algo tão intenso quanto a poucas horas atrás.
Franzindo as sobrancelhas, eu o encarei.
— Oi. — Então me virei para os outros. — Com licença.
Peguei Rey pelo braço e arrastei-a para a mesa da Sonserina.
— O que foi aquilo?
— Eu que te pergunto! Um aperto de mão? Vindo dele, eu devia esperar. Aquele lobo traiçoeiro…
Reydana ficou quieta enquanto a gente ia para a mesa. Meu estômago continuava não muito feliz. Comi por obrigação as tortinhas deliciosas que pareciam sem muito gosto enquanto minha cabeça processava aquele gesto, ligando com a madrugada.
Será que ele estava arrependido? Afinal, só tinha me beijado depois de repetir que não precisavam pensar no depois. E o depois dele claramente não me envolvia.
Tudo bem, se eu tivesse raciocinado com calma, eu teria percebido isso. E talvez não precisasse ter saído irritada de perto dele. Mas, honestamente, eu não tinha maturidade para encará-lo depois daquilo tão rápido.
— Eu sou muito estúpida — sussurrei para Rey.
— Não. Ele que é. Quem cumprimenta alguém com um aperto de mão sem ser o Ministro da Magia?
— Eu sei que ele tem o direito de não querer mais nada, mas é muito errado eu me irritar por ele não conseguir me abraçar direito depois de parecer desesperado para ficar comigo?
— Nem um pouco.
— Ótimo.
Deixei meu copo e me levantei, sentindo Reydana me seguindo. Não lancei um único olhar para a mesa da Grifinória.
— Preciso escrever algumas cartas — avisei minha amiga.
— De boa. Potter tinha razão, eu tenho que fazer o dever da McGonagall.
— Merda. Depois eu também vou fazer isso.
Olhei para a janela, para o tempo cinzento com árvores de folhas marrons que não demoraria muitos dias para se desfazer em neve. Com o castelo aquecido, poderia facilmente me esquecer que o outono gelado tomava o jardim, anulando minha chance de escrever perto do lago. Pelo menos não eu, que não estava me acostumando facilmente ao frio da Escócia.
Me contive em escrever as duas cartas dentro do salão comunal escuro. A de mamãe, que antes era a que eu estava mais receosa em escrever, se tornou a primeira. Contei rapidamente sobre os dias em Hogwarts e travei um pouco antes de colocar as próximas palavras.
Mãe, não sei se é meu dever te contar isso. Mas, desde que cheguei à escola, estou usando o sobrenome de papai: Black. Ele usava esse sobrenome quando vocês se conheceram? Descobri pela escola que algumas pessoas da família dele não eram exatamente as mais… corretas. Você sabia disso?
Frustrada, me contive para não amassar a carta e jogá-la fora. Eu me sentia uma criança idiota, fazendo perguntas ridículas que eu nem mesmo conseguia formular. Mas era minha mãe. Quando descobrisse, ia amar papai mesmo assim. E se já soubesse… Bom, talvez ela não soubesse quão ruim a família de papai era. Só por isso guardaria esse segredo de mim também. Afinal, mamãe nunca me escondeu nada.
Assinei a carta antes que me arrependesse e estiquei os dedos, preparando para escrever a próxima.
As palavras foram praticamente cuspidas na escrita: a festa, como eu dancei pela primeira vez em muito tempo e aquilo me despertou muitas saudades. Como eu troquei muitos olhares com Remus Lupin (sim, Ashley, aquele que me deu um fora). Como ele me beijou no fim da festa (sim, eu lembrava que ele havia me dado um fora). Como hoje ele me deu um aperto de mão (o que esperar de alguém que te deu um fora?).
Esse garoto é tão estranho, Ash! Tipo, em um segundo, parece que eu sou tudo o que ele quer. Então, ele me trata como se nada importasse. Eu sei que você vai dizer que isso é apenas o comportamento padrão de um homem mediano, mas eu te juro que tem algo a mais. Eu sei que não tô sentindo isso sozinha.
Assinei e olhei o relógio, tomando um susto ao ver que quase duas horas haviam se passado. Guardei as cartas para enviar para o corujal e me aproximei de Rey.
— Já conseguiu começar o dever?
— Uma linha conta? — Reydana estendeu o pergaminho quase em branco. — Em minha defesa, me distraí com algo mais importante.
Ela me estendeu um papel de comunicado e passei os olhos correndo, ficando mais energética conforme lia o aviso sobre o próximo passeio de Hogsmeade no dia 17 de novembro, dali a duas semanas. Seria o primeiro desde que eu havia chegado à escola e mal podia esperar para conhecer todas as lojas da qual Reydana havia me contado.
— Juro, momento perfeito para comprar os presentes de natal e mais tecido. Eu gastei muita coisa com nossas fantasias.
— Eu sei, e eu te amo por isso.
Ela sorriu abertamente para mim e percebi que era a primeira vez que eu falava que amava minha amiga. E eu sentia que as palavras haviam saído naturalmente porque eram verdadeiras.
— Eu te perdoo, porque também te amo — ela retrucou, e eu me vi rindo.
Segui para o corujal para deixar as cartas, mas minha cabeça estava no passeio. Como seria incrível ir com alguém, e como aquilo não aconteceria.
Maldito, lindo, confuso Remus Lupin.

🌕🌕🌕


A semana seguinte passou de forma normal. Normal até demais, no que se referia a Remus. Ele acenava quando os amigos falavam comigo, e era gentil quando tinha que ser, do jeito mais formal possível.
Na segunda, eu reclamei com Sirius que o dever tinha sido gigante. Ele respondeu:
— Na biblioteca, tem um livro chamado Desvendando a Transfiguração Humana com Devis Portley. Pode te ajudar.
Na terça, no meio da aula de Herbologia, quando eu ganhei de James na guerra de polegares, ele sorriu e disse:
— Eu sabia que você ia ganhar.
Na quarta, quando Rey listava para Peter todos os motivos para ela odiar Slughorn, eu adicionei a poção terrivelmente difícil que ele cobrou da gente, ao que ele observou:
— E você quase conseguiu terminar na última vez.
Na quinta, eu o peguei me encarando na aula de Transfiguração, mas ele logo desviou o olhar.
Na sexta, eu estava passando por ele no café e nossas mãos se esbarraram. Eu jurei que podia sentir um choque ali, uma faísca, alguma coisa, mas ele se afastou tão rápido que achei que eu estava imaginando.
No fim de semana, quase não nos vimos. Fiquei estudando com Rey, e até que foi bom. Não sabia se queria falar com ele ou se preferia que ele só não falasse comigo. Melhor do que esse limbo de relação esquisita em que estávamos.
E então, terça, mais uma vez ele sumiu.
— Ah, ele vive doente — Sirius enrolou, antes de correr para fora da sala de Feitiços.
Me joguei de novo na cadeira na sala já vazia, intrigada com aquilo. Reydana voltou para a sala.
— Vamos, a gente vai se atrasar para Herbologia.
— Como você pode achar isso normal? — questionei, irritada.
— Ir para aula? Não acho essa tortura normal, mas não tenho escolha.
— Não é isso! Remus — eu pontuei. — Como todo mundo acha normal ele sempre dar esses sumiços?
— Ah, sei lá, é estranho, mas sempre foi assim desde o início. Ele é esquisito mesmo.
— Ele estava normal a semana toda e aí ele some hoje? Qual o sentido? — perguntei, confusa.
— Sei lá. Pergunta para ele.
— Como se ele fosse falar comigo por vontade própria — resmunguei.
Reydana me puxou da cadeira e eu a segui, ainda tentando fazer as peças na minha cabeça se encaixarem e revelarem… alguma coisa.
Então, eu tive um clique.
— Ele não estaria doente para me evitar, né? Porque primeiro foi quando eu o chamei para sair, e agora logo depois de a gente se beijar…
Reydana caiu em uma gargalhada sarcástica que fez minhas bochechas corarem.
— Calma, bonitinha, o mundo não gira ao seu redor! Isso acontece desde sempre mesmo, foi só coincidência.
— Coincidência até demais…
Nós nos calamos quando entramos na estufa e o assunto morreu pelo resto do dia, embora ainda continuasse batucando em minha cabeça.
Na quarta, encontrei Potter, Black, Pettigrew e Evans conversando baixinho depois do jantar e me aproximei.
— E aí? Hoje vai ser o dia em que vocês vão oficialmente me mostrar a cozinha?
O assunto morreu na hora e isso me deixou com um incômodo inexplicável, aumentando a sensação de que havia algo muito maior por ali.
— Ah, foi mal, , mas hoje a gente vai passar — Sirius comentou, olhando para o teto como se me evitasse.
— É, vamos ficar com o Aluado essa noite — Peter acrescentou, recebendo um olhar atravessado dos outros.
— Como ele está? — perguntei, me sentindo ainda mais agitada com sua menção.
— Abatido e cansado, mas vai ficar bem — Lily disse, com um sorriso carinhoso.
— Será que eu posso visitá-lo? — perguntei subitamente, soltando aquilo antes que meu cérebro processasse se era uma boa ideia.
Os quatros se entreolharam e mais coisas foram ditas sem que nenhuma palavra fosse pronunciada.
James que se virou para mim.
— É complicado entrar no dormitório da Grifinória essa hora, do nada…
— Fala sério, Potter! Até parece que já não fiz isso antes, até descobri que você tem “a capa” — falei, fazendo as aspas no ar.
— Mas era diferente, os professores ficam agitados quando Lupin fica doente, McGonagall fica bem mais em cima da gente — Pettigrew acrescentou, com uma cara de rato encurralado.
— Sem contar que Aluado precisa de descanso agora — Sirius acrescentou.
Eu ainda queria argumentar, mas a última frase me quebrou inteira. Indiretamente, ela dizia “você só vai atrair problemas para ele”. Era o que Lupin sempre parecia achar, embora eu nunca soubesse o porquê.
Se em um mundo menos complicado eu fosse normal…
Afastei aquela peça do quebra cabeça confuso que parecia que eu escutara há anos e esbocei um sorriso que eu esperava que soasse tranquilo.
— Entendo. Fala para ele que eu espero que ele fique bem. Boa noite, gente.
E me afastei, fingindo para mim mesma que não estava frustrada. Tomou tanto esforço que quase pude jurar que James estava falando sobre algum “problema peludo”.
Eu estava muito feliz com a amizade com os grifinórios e até mesmo a inclusão de Rey no nosso grupo, mas passei os próximos três dias mais afastada. Não podia deixar de me sentir uma intrusa, com tantos segredos e escolhas de palavras permeando o ar.
Isso fez com que Rey voltasse a falar um pouco mais com Evan e, por consequência, eu também. Mas eu sentia que o garoto estava um pouco mais distante, os exames do fim de ano realmente pareciam estar pesando bastante sobre ele. Não tinha mais aquele humor leve que o cercava e isso me dava pena. Além de me alertar que eu deveria estudar mais.
Então, veio sábado.
Slughorn tinha passado um novo dever de Poções, então, enquanto Rey ficou no salão comunal fazendo os rascunhos de seu novo vestido de Natal, eu fui direto para a biblioteca, perdendo mais um fim de semana. Estava sendo muito cansativo e não tinha nem mesmo a dança para descontrair. Eu precisava de novas festinhas.
Ao entrar na biblioteca, no entanto, eu travei na porta, encarando quem estava na bancada, lendo tranquilamente.
Remus Lupin parecia um belo fantasma depois de desaparecer por quatro dias. Se eu não soubesse que fantasmas eram transparentes e impossíveis de tocar, eu poderia achar que esse era seu mistério.
Como se atraído por meu olhar, ele ergueu o próprio do livro e me encarou, parecendo surpreso. Não esperei um convite para me sentar com ele.
— Dever atrasado? — eu disse, apontando para o livro de Herbologia que ele segurava.
— Ah, é… — ele mexeu nos cabelos claros e ficou injustamente lindo. Que ódio, eu queria tanto beijar esse homem. — Esse é o ruim de ficar doente.
— O que você tem? — perguntei, encarando-o para tentar observar tudo em sua reação.
Ele suspirou, como se esperasse a pergunta, mas mesmo assim não estivesse disposto a respondê-la.
— Ainda estão tentando descobrir, mas é uma doença autoimune. Ataca meu corpo periodicamente e me deixa… exausto.
Ele puxou a manga da blusa para baixo rapidamente, mas pude jurar que haviam bandagens em seu punho. Exaustão não era a palavra que eu usaria, mas não sabia muito o que perguntar. Pelo menos ele tinha me dado uma resposta.
— Por isso você não foi comigo na festa do Slugue? — perguntei, pegando um dos livros para evitar encará-lo.
Ou tentar. Eu dei uma espiadinha e vi suas bochechas se avermelharem. Voltei a encarar o exemplar.
— Tipo isso. Eu vi os sintomas e percebi que provavelmente estaria doente na festa.
— Por que você não me disse? — reclamei, encarando as palavras do livro que eu nem processava.
— É meio difícil dizer que eu vou estar doente daqui a uma semana — ele disse, sorrindo resignado.
— Tudo bem, eu ia achar que é uma desculpa — admiti.
— Eu sei que ia.
Ficamos em silêncio por mais um segundo. Eu abaixei o livro e o encarei, os olhos semicerrados.
— Isso também é o motivo de você ter me ignorado depois de me beijar?
Eu não o encarei para ver suas reações, mas virei a página do livro, tentando me fazer de desentendida. Então, depois de contar quatro segundos mentalmente, eu o encarei.
Remus estava vermelho como um pimentão. Senti um pouco de pena dele, mas só um pouquinho. Só até me lembrar do cumprimento com aperto de mão.
Lupin pigarreou.
— Mais ou menos isso… — Ele coçou atrás da orelha, parecendo olhar para qualquer lugar, menos para mim. Eu esperei. — Sabe, essa… doença… ela não me faz ter uma vida normal. E não sei ao certo quão perigosa ela seria se eu… bem… me envolvesse com alguém. E se, de alguma forma, eu tornar a pessoa… o que eu sou?
Se em um mundo menos complicado eu fosse normal…, as palavras da noite em seu dormitório voltaram em minha cabeça e meu coração se encheu de empatia. Será que…
— Remus — eu encostei em sua mão, sentindo-a quente contra a minha —, você já… se envolveu com alguém? Para valer?
Ele olhou nossas mãos juntas, depois encarou meus olhos, mas não se afastou. Apenas negou com a cabeça.
— Nunca ninguém que eu conhecia. Nunca ninguém mais de uma vez. — Ele me encarou. — Desculpa.
E aí ele tirou a mão.
Estava definido. Remus nunca ia se envolver comigo porque achava que me colocaria em risco de alguma forma. Mas aquilo não fez que eu me conformasse, apenas me frustrou.
— Sabe, você diz que não quer colocar ninguém em risco. Mas você já perguntou para alguém? Perguntou se a pessoa estaria disposta a correr os riscos?
— Eu nunca faria isso com ninguém! Você não entende a gravidade…
— E se eu entender? E se mesmo assim eu escolher? — perguntei, uma força de vontade tomando conta do meu corpo. — Não me importo que você suma uma vez por mês. Não me importo se o mesmo acabar acontecendo comigo. Podemos cuidar um do outro e…
— Não — ele disse, duro, me assustando. Então, suas feições se suavizaram. — Me desculpa, . Sei que você quis ser gentil, mas eu realmente não posso fazer isso.
Eu quis questionar. Eu quis me rebelar e gritar até a bibliotecária brigar comigo. Eu quis beijá-lo e fazê-lo mudar de ideia.
Mas eu apenas me levantei para pegar o livro de Poções que eu precisava. Voltei para o seu lado, sentindo que fora observada por cada mínimo movimento realizado.
— Posso fazer meu dever aqui? — perguntei, apontando para o livro.
— Claro.
Ficamos assim por uma hora, sem falar uma palavra. Eu tentei focar no pergaminho e me esquecer de suas palavras, me esquecer que, por ele, nunca haveria um esforço para a gente acontecer. Mas que talvez fosse medo e não falta de interesse. Eu teria que pensar em algo a mais, mas não hoje.
Uma coisa de cada vez.
Na hora do almoço, guardamos nossos materiais e saímos da biblioteca, o silêncio ainda reinando entre nós. Quando passamos do portal, paramos um de frente para o outro.
Eu pigarreei.
— Bom… Obrigada pela conversa esclarecedora. A gente se vê por aí.
— A gente se vê.
Eu virei de costas, mas mal comecei a caminhar em direção às masmorras quando ouvi a voz grave dele.
!
Me virei, o coração palpitando dentro do peito, mas tentando fazer a cara mais indiferente e tranquila possível.
— O quê?
Ele deu mais uma bagunçada no cabelo, ficando de novo irritantemente bonito.
— Amanhã, eu, os marotos e Lily vamos no Três Vassouras tomar uma cerveja amanteigada, provavelmente mais para o fim de tarde. Você devia ir. Você e a Snyde. Eu ficaria feliz. — Lupin ficou vermelho. — Quer dizer, nós ficaríamos felizes.
Eu sorri, não conseguindo resistir à sua fofura.
— Eu adoraria. Mal posso esperar para conhecer esse lugar que todos falam tanto.
Os olhos dele se iluminaram.
— É verdade, vai ser sua primeira vez. Espero que você goste.
— Vou estar com você, então provavelmente vou gostar — disse, me arriscando.
Ele abriu um sorriso de lado, parecendo tímido e feliz, antes de acenar para mim e se afastar. Mordi o lábio, pensando que eu precisava controlar o que andava saindo da minha boca.

🌖🌖🌖


— Autorizações dos responsáveis em mãos, por favor — McGonagall anunciou para a fila.
— Vamos, você precisa conhecer a Zonko’s. — Rey me arrastou assim que passamos pela professora.
O clima frio de meados de novembro nos atingiu, mas fiquei confortável com minha calça de malha preta boca de sino e uma blusa de manga branca um pouco mais curta, além de uma faixa branca no cabelo, uma bota preta no pé e o batom vermelho.
Eu estava muito bonita, mas não que importasse. Eu ainda tinha aquele diálogo do dia anterior na minha cabeça. Remus não queria nada comigo, e ele não parecia suscetível a mudar de opinião.
Mas eu bem que podia tentar.
Entrei com Reydana em uma loja que me deixou de queixo caído. Tudo que a imaginação bruxa poderia cobrir estava ali naquela loja, e mais. Não à toa ela estava lotada de estudantes de todos os anos e casas.
No meio da confusão, conseguimos nos aproximar das estantes.
— Aqui, esse é o meu preferido.
Reydana me estendeu uma xícara linda e delicada de porcelana. Passei o dedo pela borda toda pintada de flores e ramos lindos e bem feitos.
— Que lind… Ai! — berrei, soltando a xícara.
Rey a capturou no ar, soltando uma risada.
— Meu Deus, ninguém mais caía nesse truque, obrigada por existir! — ela gargalhou, apontando para o nome do produto.
Xícara que morde o nariz. Fiz uma careta.
— Morde dedo, morde tudo.
Passamos por vários outros produtos, o mais famoso de todos sendo as bombas de bosta. Reydana pegou uma para si (nunca se sabe se vai precisar, ela disse). Peguei uma caneta açucarada para mim.
— Mas não gaste muito em doce aqui — ela me alertou, depois que pagamos, já me arrastando de volta para o ar frio.
Seguimos um pouco mais pelas ruas movimentadas até entrarmos em mais uma loja colorida.
Que, por Merlim, tinha cheiro e cara de paraíso.
Olhei em volta as milhares de prateleiras de doces e mais doces me chamando, e senti meu estômago roncar. Eu não conseguia resistir a uma boa bala.
Sim, seria ali que eu ficaria pobre.
— Você tem que levar pelo menos três sapos de chocolate para ter chance de ganhar alguma figurinha que preste — Rey disse. — E você precisa comprar um feijãozinho de todos os sabores. Podemos fazer uma noite de perguntas e, se alguém quiser evitar alguma, tem que comer um desses aleatoriamente! Hmm, e pelo menos uma varinha de alcaçuz. Vou pegar para mim também.
Eu estava encantada com aquele novo universo, então claro que aceitei todas as sugestões de Rey, além de pegar também uns quadradinhos rosa que pareciam simplesmente deliciosos. E levar cinco sapos de chocolate ao invés de três.
Minha amiga comprou também dois sapos de chocolate, porque disse que precisava atualizar suas figurinhas.
Olhei para o relógio da loja e fiquei chocada que duas horas já tinham corrido.
— Vamos passar na loja que você quer rápido para a gente poder encontrar o pessoal no Três Vassouras — falei para Rey assim que pagamos.
— Aham, o pessoal — ela ironizou e eu não pude deixar de rir. — Vem, a TrapoBelo fica no fim da rua.
Seguimos mais em frente e conseguimos escapar da maior concentração de alunos. Agora, eu podia apreciar com mais calma o vilarejo. Era uma gracinha, cheio de ruas estreitas e casas de pedra, mesclados com vários estabelecimentos. Não era muito grande, mas parecia bem acolhedor.
Exceto por uma estrutura estranha que era vista ao longe, nas montanhas.
— O que é aquilo? — apontei para o que parecia ser uma casa comprida e abandonada.
— Ah, a Casa dos Gritos — Rey respondeu com naturalidade.
— Ahn?! Que tipo de lugar se chama Casa dos Gritos?!
— Ah, sei lá. Desde que eu cheguei a Hogwarts, ela já existia. E os moradores de Hogsmeade falam que escutam gritos horrendos vindo de lá, como se ela fosse amaldiçoada.
— E você acredita nisso? — questionei.
Ela bateu o indicador no queixo e olhou para cima, pensativa.
— Olha, Hogwarts tem fantasmas, mas sempre os achei bem comportados. Não vejo sentido numa história de terror a não ser assustar crianças para não saírem da vista dos pais.
— Tipo o homem do saco — pensei em voz alta.
— Aham, se você diz.
Chegamos à TrapoBelo e minha boca se abriu em um pequeno “O”. Roupas lindíssimas eram expostas pela loja inteira, além de roupas casuais, mas, honestamente, as casuais eram bem bregas. Essa moda inglesa de usar chapéus pontudos e capas era bem estranha. Ainda bem que a maioria dos adolescentes não abraçava isso.
Reydana se dirigiu logo ao caixa e abriu um sorriso simpático para a mulher de meia idade que nos encarava sem nenhuma expressão.
— Olá, gostaria de ver os tecidos.
— Porta dos fundos — a mulher respondeu, apontando um dedo longo para uma porta meio escondida.
— Obrigada — Rey respondeu, então revirou os olhos quando deu as costas para ela. — A educação em pessoa — sussurrou para mim.
Entramos na área da loja e o rosto da minha amiga se iluminou por completo. Eu não pude deixar de rir. Rey começou a andar pelas prateleiras com tecidos de todas as cores e todos os tipos, suspirando ao passar a mão por alguns deles.
— Então, o que você precisa? — perguntei.
Ela pareceu despertar em parte de seu devaneio, a mão ainda alisando um tecido preto de veludo.
— Certo. Foco. — Ela olhou em volta, ainda maravilhada. — Preciso repor o azul que gastei na minha fantasia… — Ela caminhou até a prateleira dos azuis e analisou minuciosamente tons que eu poderia jurar que eram os mesmos. — Aqui. Agora… vermelho. Seda. — Ela deu uma espiadinha em mim. — Qual você acha mais bonito, ?
Olhei para os vários tecidos de vermelho e ela me mostrou os que eram de seda. Apontei para um vermelho profundo que começava a se encaminhar para o vinho.
— Esse.
— Bom gosto — ela respondeu, adicionando o tecido em sua pilha. — Preciso de linha dessas cores. E linha prateada… ah, e renda preta também. Por que não a branca? Talvez uma vermelha?
Rey foi pegando e trocando tecidos, decidindo quais ia levar. Às vezes, escolhia um de algodão verde, apenas para trocar por uma viscose marrom. Demoramos pelo menos mais uma hora ali dentro, mas eu me recusei a reclamar. Era claro que ali era o lugar feliz da minha amiga.
Depois de adicionar um tecido furta-cor em sua pilha gigantesca, nós voltamos para a mulher do caixa.
Ela pareceu bem mais agradável depois de ver os galeões dourados de Rey.
— Voltem sempre! — ela cantarolou, enquanto Reydana colocava seus tecidos em uma sacola mágica que reduzia o peso e o tamanho do produto. Muito, muito útil.
Saímos da loja, mais uma vez sendo recebidas pelo vento gelado da rua. A luz do sol por trás do céu cinzento e branco estava menos intensa. Meu estômago roncou, sentindo que já tínhamos passado muito tempo da hora do almoço. Me virei para minha amiga.
— Três Vassouras?
Andamos um pouco e ela apontou para uma casa grande com três vassouras formando um triângulo na entrada, bem perto da estação de trem.
— É, não sei como não reparei.
Senti um leve frio na barriga antes de entrar no estabelecimento, mas Reydana abriu a porta antes que eu pudesse pensar demais.
O ambiente era quente e acolhedor, e não teve como não enxergar os grifinórios bebendo e conversando no balcão.
Sirius foi o primeiro a nos avistar, abrindo um sorriso enorme e erguendo a bebida como que em um brinde.
— Cobrinhas!
Pettigrew nos viu e acenou, contente. James fechou a cara, revirando os bolsos e entregando três moedas para Sirius. Ergui uma sobrancelha.
— E o que significa isso?
— Apostei que vocês não vinham — Potter disse, com naturalidade, dando de ombros.
— Eu sempre soube que viriam — Sirius disse, apontando nada discretamente com a cabeça para Remus e depois dando uma piscadinha para mim.
Eu escondi o rosto entre as mãos por um segundo. Por Merlin, eu queria morrer.
Depois de respirar fundo, ergui o rosto e sorri simpática para Lily, que estava junto com sua amiga da festa, McKinnon. Elas acenaram para mim, parecendo muito entretidas.
Por fim, virei meu olhar para Lupin.
O rosto dele estava levemente corado, mas ele não desviou o olhar. Na verdade, ele não parava de me encarar, os olhos descendo pelo meu corpo de uma maneira que fez meu estômago se revirar e me fez perceber que valeu a pena escolher aquelas roupas.
Sorri para ele, cumprimentando-o, e ele me ofereceu um raro sorriso aberto em troca, fazendo meu coração dar uma pirueta.
Merda de garoto bonito.
— Abram espaço que a gente está morrendo de fome — Rey anunciou, e eles ajudaram a posicionar as cadeiras.
De forma nem um pouco tendenciosa, eu acabei do lado de Remus.
Uma mulher extremamente linda apareceu do outro lado do balcão, uma loira de olhos verdes que não parecia muito mais velha que a gente, e tinha um sorriso fácil e sedutor nos lábios.
— Olá, meninas, o que gostariam de beber? — ela perguntou, abrindo um sorriso que até me fez corar.
— Vamos querer duas cervejas amanteigadas, por favor — Rey pediu por nós. Fiquei me sentindo menos pior quando percebi que até minha amiga estava um pouco corada.
— E traz um daqueles seus hidroméis especiais, Rosmertinha — Sirius pediu, fazendo-a erguer uma sobrancelha, porém sem rebater. Ele então se virou para mim. — Você precisa experimentar tudo isso, não é à toa que esse é o melhor bar por aqui.
— Obrigada — Rosmerta cantarolou em resposta enquanto enchia uma caneca do que eu imaginei ser a cerveja amanteigada.
— E o que vocês recomendam para comer?
— A costelinha com milho. É tão boa que eu ainda acho que tem rastros de Amortentia nela — Evans falou.
— Ou frango com batata, esse é meu preferido — McKinnon opinou.
— Acho que vou na costelinha — eu disse, depois de pensar.
— Essa aqui sabe apreciar uma boa carne — Potter falou, aprovando.
— Vocês precisam ir um dia nos Estados Unidos para provarem o hambúrguer. Eu garanto que nunca comeram nada melhor — eu afirmei, depois de Rey e eu fazermos nossos pedidos.
— Ela é suspeita, do jeito que ela fala todo dia no meu ouvido, faz os Estados Unidos parecerem o paraíso! — Reydana resmungou.
— Se morasse lá e depois viesse para esse mundo cinza, você também acharia — caçoei.
— Eles têm rachas de motos lá nos Estados Unidos? — Black perguntou, parecendo ansioso até demais.
— Ahn… tem.
— Agora nós precisamos ir.
— Eu sempre quis conhecer a Broadway. Já pensou, assistir Grease lá? — Lily comentou, bebendo sua cerveja amanteigada.
— Aqui, meninas. — Rosmerta serviu a minha bebida e a de Rey.
Reydana agradeceu e já bebeu um tanto da bebida de uma vez. Eu encarei a caneca transparente, pensando que a única outra bebida inglesa que eu tinha experimentado me deixou bem bêbada.
— Só experimenta. Você está me deixando nervoso. — A voz baixa de Remus alcançou meu ouvido, me causando um arrepio.
Dei uma risada para Lupin antes de colocar a caneca na boca.
— Hmm, tem gosto de biscoito amanteigado com caramelo! — Mal terminei de falar e já estava bebendo mais um bom gole, fissurada pela bebida.
Eu nem sentia gosto de álcool, só o gosto docinho. O que poderia ser um perigo, parando para pensar.
— Quantas canecas você bebeu só hoje? — eu perguntei para Lupin, franzindo as sobrancelhas ao ver que a minha mal tinha chegado e já estava na metade.
— Três — ele respondeu, rindo de leve de mim.
— Tô ferrada. Isso é viciante demais — falei, dando outro gole.
— Eu daria de tudo para poder sentir o gosto assim pela primeira vez de novo. Mal me lembro como foi — Marlene comentou.
— Provavelmente envolveu muitos “ai, meu Deus, ai, meu Deus, ai, meu Deus!” — Sirius imitou com a voz aguda. A mesa toda começou a rir.
— Isso é muito melhor que o Whisky de Fogo! — afirmei, antes de voltar a me concentrar nos últimos goles.
— Pera lá, aí você está enganada — Pettigrew falou, com cara de choque.
— Acho que depende do contexto — Reydana partiu na defesa também.
— O único contexto possível do Whisky de Fogo é se embebedar — falei.
— Um contexto muito justo e feliz! — Potter disse, ganhando um aceno de Black.
— E muitas vezes necessário — Lupin acrescentou, concordando com os amigos.
— Mas eu posso me embebedar com algo gostoso que não vai me dar uma ressaca desgraçada no dia seguinte. Tipo Gin de Fada Mordente — falei.
— Ah, não, começou a defesa dos americanos de novo — Rey resmungou.
— Eu só estou falando a verdade!
Continuamos o debate até nossos pratos de comida chegarem. Meu estômago roncou alto e dei sorte que o barulho do ambiente, tomado de alunos, escondeu essa vergonha. Me deliciei na costelinha e na minha segunda caneca de cerveja amanteigada.
— Lily, você tem um excelente gosto — eu comentei, enquanto lambia os dedos com o resto do molho.
— Eu sei — Potter rebateu, ajeitando os óculos em uma tentativa ridícula para ser sensual.
— Deixa eu me corrigir: Lily, você tem um excelente gosto, exceto para namorados.
— Ei!
— O coração é cego, não é? — Lily falou, fingindo suspirar.
— Como ousa?! — James olhou para a namorada como se tivesse sido traído.
— Você sabe que ela é muita poção para o seu caldeirãozinho, Pontas — Lupin provocou e sua mão, que se levantou para apontar para o amigo, encostou de leve no meu ombro.
Eu não ouvi a resposta de Potter, focada demais nos arrepios que tomaram minha pele. Nossos olhares se encontraram e ele pareceu ter sentido essa mesma eletricidade entre nós. Ele tinha que ter sentido, né?
— Mais uma caneca de cerveja amanteigada para a mocinha aqui! — Rosmerta colocou uma caneca na minha frente, o baque me despertando com um salto da troca de olhares.
— Ah… obrigada!
Escondi minha cara na cerveja amanteigada e observei um pouco a conversa enquanto me recuperava. Comecei a balançar os pés, talvez agitada por uma quantidade pequena de álcool que estava se acumulando com a quantidade de canecas.
Meu pé então esbarrou em uma sacola embaixo da mesa.
— Opa, foi mal — eu falei, quando vi Remus se abaixar para ajeitá-la.
— Tudo bem.
— O que tem aí? — perguntei, não conseguindo conter a curiosidade de conhecer um pouco mais sobre ele.
Ele levantou a sacola e tirou de lá três itens: duas bombas de bosta e um livro.
— Bombas de bosta?
— Então já conheceu as melhores invenções bruxas? — Remus perguntou, rindo.
Mas meu olhar se fixou no livro. As Conquistas de Merlin, por Harry Prince. Peguei no livro antes de pedir permissão, intrigada por suas páginas. Já havia visto um exemplar na biblioteca de Ivermorny.
— Eu adoro esse livro, mas acho ele muito tendencioso na história de Morgana — falei, olhando a capa brilhante com uma ilustração que eu conhecia. Reconheci a pintura dos quadros de Hogwarts.
— Tendencioso? — ele questionou.
— Claro! Não acha estranho descreverem a única bruxa mulher da corte como usuária de magia negra, mesmo com tantos relatos de suas curas?
— De fato é algo a se considerar, mas há muitos relatos na história de seu uso de magia negra.
— Relatos coletados na época de um rei, irmão dela, que provavelmente era um aborto e que tinha inveja dos poderes da irmã?
— Você tem muitos argumentos e suposições sobre isso — ele comentou, com um sorriso pequeno.
— Fiz um trabalho de história uma vez com esse tema. Usei esse livro e o livro trouxa Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda para analisar como os autores falam de Morgana. Sabe qual a minha conclusão?
— Qual?
— Que talvez ela de fato fosse cruel.
Ele franze as sobrancelhas.
— Como? Não foi você que disse que a história era tendenciosa?
— Por retratá-la apenas como uma vilã e santificar Merlin e Arthur. Acho que ela deve ter mesmo tido contato com a magia negra e ter cometido erros, mas deve ter feito tão mais. Assim como eles devem ter tido seus erros e conquistas. Mas nós transformamos tudo em contos de fadas.
Eu terminei de discursar e encarei seus olhos. Ele estava com o olhar tão fixo em meu rosto, bebendo de cada palavra que eu falava, que até me senti constrangida.
— Prometo levar tudo isso em análise quando eu ler o livro — ele disse, e parecia sincero.
Eu sorri para ele.
— Depois quero saber o que achou. Nem eu posso tentar dizer que Merlin não foi um bruxo gigantesco para a história.
— E pensar que ele passou pelos mesmos corredores que nós… — Remus comentou, pensativo.
— Será que ele também dava festas secretas?
— No meio tempo entre aprender todos os feitiços e criar direitos para os trouxas? Claro, mas não sei se o Whisky de Fogo era tão bom na época — Lupin disse, seriamente, me fazendo rir.
A hora passou voando enquanto estávamos ali. Meu coração mole já havia perdoado Remus por ele ter desistido da gente sem me dar a chance de escolher, e estava novamente determinado a conquistá-lo. Talvez, ao invés de Lynx, meu nome do meio devesse ser Teimosia. Ou Idiota.
Sem contar que aquele grupo era tão unido… A Sonserina era uma casa legal, mas as pessoas eram mais individualistas e ficavam em grupos pequenos e fechados. Aqui, não. Eu sentia calor, alegria e acolhimento em cada um dos nossos encontros. E podia perceber que Reydana também era afetada por isso, por mais que ela tentasse fingir que ainda não gostava dos grifinórios e da corvina.
O sol já estava se pondo e era hora de retornarmos ao castelo. Decidi apenas dar uma passada no banheiro antes de ir para ajeitar meu cabelo e escovar os dentes.
Mal saí do banheiro quando escutei meu nome sendo falado e me joguei novamente para dentro, tentando passar batida.
— … com a ?
Era a voz de Lily. Agora, o que ela estava falando? E com quem?
Um suspiro abafado chegou aos meus ouvidos.
— Você sabe muito bem por que eu não posso chamá-la para sair.
Remus. Eu poderia reconhecer aquela voz em qualquer lugar.
— Você vai deixar que isso sempre te impeça de ter conexões na vida? Olha, eu, Pontas, Almofadinhas e Rabicho ficamos, porque sabemos que você vale a pena. Por que não deixá-la perceber isso também? — Lily parecia um pouco angustiada.
A conversa era muito semelhante com o que eu tinha falado para ele na biblioteca. Entendi o que ela estava tentando fazer na hora.
— Lily, eu não consigo… E se eu matá-la? Ou assustá-la?
— Ela não parece uma garota frágil. E você não precisa contar e envolvê-la até ter certeza de que a ama.
Contar o quê? Será que Lily não sabia que ele já havia me contado da doença?
O ambiente ficou em silêncio, antes de um suspiro feminino preenchê-lo.
— Eu te quero feliz, Aluado. Você merece tanto quanto todos nós.
— Eu não…
— Você merece. Se dê a chance de tentar, pelo menos. Se permitir alguma vez… se apaixonar.
Meu coração disparou com aquela fala e continuou batendo forte enquanto eu escutava o som das botas de Lily se afastando, deixando Lupin provavelmente sozinho, confuso e pensativo.
Me senti murchar um pouco. Quantas pessoas teriam que convencê-lo a fazer algo por mim? Seria sempre tão difícil dar qualquer passo com ele?
Quando escutei os passos dele se afastando, eu saí do banheiro, repassando o diálogo em minha cabeça. Será que ele iria escutá-la? Eles pareciam ser muito amigos e ter muito carinho um pelo outro.
Saí do Três Vassouras e senti o ar ainda mais gelado que pela manhã, já que o sol já se despedia no horizonte, o céu passando de branco para cinza.
Rey acenou para mim, o resto do grupo já começando a andar na frente. Eu os segui e não demorou nem cinco minutos para alcançarmos as entradas do castelo.
— Cobrinhas, foi bom encontrar com vocês. Agora, nós vamos voltar ao lado civilizado — Sirius disse.
— Não sabia que você tinha se mudado para a Sonserina — Reydana provocou.
— Nunca! — Peter exclamou, com a mão no coração, antes de nos abraçar.
Abraçamos também James e Lily, Marlene e Sirius, mas Lupin apenas acenou de longe. Me contive para não revirar os olhos. E fingi que isso não me magoou.
Acenei de volta e me virei para seguir com Reydana pelas masmorras.
— Espera — ouvi a voz baixa dele ao mesmo tempo que senti sua mão quente no meu punho direito. Corei ao pensar que ele podia sentir minha pulsação acelerada.
Será que ele teria escutado Lily, afinal?
— Pode indo — falei para Rey, que nem escondeu as sobrancelhas bem arqueadas olhando a situação. Mas saiu logo em seguida.
Me virei para Lupin.
— O que foi?
Ele mexeu no cabelo, então já soube que ele estava nervoso. Obviamente, eu fiquei nervosa também.
— Desculpa pela despedida ruim agora. E pelo aperto de mão semana passada. Acho que… eu fico um pouco tenso perto de você.
Arqueei uma sobrancelha.
— Eu sei que sou da Sonserina, mas não vou sair lançando uma maldição em você só porque você não quer sair comigo.
Ele se encolheu.
— Não é que eu não queira, é que…
— É complicado — eu completei, suspirando, já decorando o discurso de cor. — É, eu já entendi.
Ele me encarou, e havia tanta intensidade atrás de seus olhos, tantas coisas não ditas que eu queria entender. Ele então quebrou o contato ao abaixar os olhos para sua mão, que ainda me segurava. Lentamente, ele escorregou de meu punho para minha mão, segurando-a com carinho.
Meu coração deu um salto.
— Por favor — eu falei, com a voz um pouco trêmula, agradecendo por mais ninguém estar testemunhando aquilo. — Por favor, não se afasta.
Ele olhou para mim, as feições atormentadas. Então, abriu um pequeno sorriso.
— Não vou.
E me puxou para um abraço, me surpreendendo. O peito dele estava quente como eu me lembrava da festa. Agora, estávamos em pé e o topo da minha cabeça batia no seu ombro. Ele era tão magro que eu esquecia quão alto ele realmente era. Me afundei no corpo dele e me mexi de forma que fiquei na ponta dos pés para abraçar seu pescoço, fazendo com que suas mãos escorregassem para minha cintura. Tudo parecia encaixar e isso parecia delicioso.
— Seria tão ruim assim? — eu perguntei, afastando minha cabeça que estava alinhada em seu ombro para olhá-lo.
Ele engoliu em seco.
— Não, não seria.
Lupin desviou os olhos, antes de soltar os braços ao meu redor delicadamente. Soltei os meus também, ficando difícil de alcançá-lo. Mas, antes de se erguer totalmente, ele se inclinou e deixou um beijo na minha bochecha.
— Boa noite, . Eu adorei te ver hoje.
E saiu, com um pequeno sorriso angustiado no rosto. Eu fiquei congelada, a mão no rosto onde ele havia me beijado, como se eu fosse uma criança.
Eu só não sabia se poderia criar expectativa com aquilo ou não.


Continua...



Nota da autora: Eba, mais um capítulo veio aí! Aff, como eu queria que esses dois só se beijassem! Mas nunca é tão simples com segredos no meio… Mal posso esperar que vocês leiam os próximos capítulos. Tem muita coisa para vir aí.
Beijos!





Nota da beta: Ai, que pena que dá da , imagina quando ela descobrir??? Já quero mais capítulos ❤️


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Originais:
➽ 07. enough for you (Shortfic - Finalizada)
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➽ 13. How To Be A Heartbreaker (Shortfic - Finalizada)
➽ 14. Kiss Me More (Shortfic - Finalizada)
➽ Correio Do Amor (Shortfic - Finalizada)
➽ Correio Para o Meu Amor (Shortfic - Continuação de "Correio Do Amor")
➽ MV: Give Me Love (Shortfic - Finalizada)


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