Prólogo
- É um prazer ser tão bem recebida assim na vizinhança. - a mulher curvava levemente a coluna em direção ao dono da casa vizinha, sorrindo logo depois e cutucando a criança ao seu lado para que ela fizesse o mesmo.
- Oh, e é um prazer pra nós fazer isso. Gostamos que nosso bairro seja um local agradável para se viver, e fazemos questão de ter uma boa relação com todo mundo para que tudo esteja sempre em harmonia. - era uma senhora, provavelmente com mais de quarenta e oito anos, que sorriu de forma maternal, dando um passo para o lado para que entrassem em na casa.
- Isso é admirável, muito obrigada, nós iremos nos dar muito bem. - a mulher de no máximo trinta anos sorriu também, puxando a filha pela mãozinha para que entrasse. - Peço desculpas pelo meu marido não poder vir, mas ele está muito ocupado com o trabalho desde que nos mudamos. As coisas estão realmente corridas.
- Não se preocupe, tenho certeza que haverão outras oportunidades! - a senhora fechou a porta e voltou a andar tranquilamente até chegar na sala de estar que estava vazia, apenas com sua arrumação perfeita e decoração simples em tons brancos e marrons.
Tudo ali exalava um sentimento tão aconchegante que fizeram as duas se sentirem automaticamente confortáveis, como se estivessem em suas próprias casas. Era um pouco antiquado dizer isso, mas aquela casa exalava amor, assim como aquela senhora. Em todas as paredes, móveis, a energia boa não parecia desaparecer em nenhum milímetro da casa.
- Vocês podem ficar à vontade e se sentar, só preciso terminar algumas coisas e o jantar logo estará pronto. - ela andou para trás do balcão que dividia a cozinha e a sala, desaparecendo um pouco por conta da baixa estatura.
- A senhora precisa de alguma ajuda?
- Não, não se preocupe, logo meu neto irá descer e por a mesa. Eu não devia ter dito para ele se arrumar tantas vezes, é capaz de o vermos aparecendo de terno. - a senhora riu, sendo acompanhada pela mulher, enquanto a criança continuava sentada no sofá com o olhar tímido preso no chão. - Ele deve ter a mesma idade da sua menina. Quantos anos essa senhorita linda tem-
A mulher cutucou novamente a filha com o cotovelo para que ela respondesse, e a garotinha dedilhou o seu próprio braço em nervosismo.
- Eu tenho 11 anos. - respondeu com o tom de voz tão baixo que era até mesmo difícil de ouvir.
- Ooh, meu é um pouquinho mais velho, ele tem treze, é seu Oppa. - não podia deixar de achar toda aquela timidez fofa, a menina era realmente adorável. - Então, sua família mudou para Seoul por negócios, não é? Sei como a adaptação é terrível, então se precisar de qualquer coisa, não hesite em me falar. Vocês já decidiram a escola em que vão colocá-la?
- Muito obrigada, senhora , é muito gentil da sua parte. - chegava até mesmo a ser inacreditável, mas ao mesmo tempo a mulher era tão confiável quanto uma avó querida. - Sim, meu marido procurou uma casa próxima de uma escola boa, então estamos terminando de transferi-la para a do bairro mesmo. - a mulher passou a mão carinhosamente pelo cabelo da filha, que voltou a encarar o chão, mas agora com um pequeno sorriso envergonhado.
- Ooh, isso é ótimo! Essa escola é realmente muito boa, meu netinho também estuda nela, vocês não vão se arrepender.
Finalizava as últimas coisas do jantar, e estava pronta para subir ela mesma as escadas e ir até o quarto do menino para chamá-lo, porém antes que a mãe da menininha respondesse qualquer coisa, uma figura adolescente aparecia no pé da escada, a descendo animadamente, vestindo calças jeans escuras e uma blusa branca de mangas compridas e listras pretas, os cabelos escuros e lisos bem penteados e um perfume que embrenhou a sala inteira.
- Finalmente, ! - a senhora falou em um tom de bronca, mas acabou sorrindo orgulhosa de como seu garotinho estava crescendo e se tornando um bonito rapaz. - Essas são a senhora e a filha dela, .
- Meu nome é ! É um prazer conhecê-las! - ele cumprimentou formalmente, sorrindo assim que sua coluna voltou a ficar ereta. A menina também levantou rapidamente e se curvou, sentando novamente logo depois.
- Sabe, , a irá estudar na mesma escola que você. - a avó falou em um tom de quem estava tramando coisas na mente.
- M-Mesmo…?! - a boca do garoto se tornou em um pequeno o, em choque e animação pela novidade.
- Sim! Então seja um bom sunbaenim e Oppa e mostre tudo para ela, certo? - ele balançou a cabeça diversas vezes em confirmação de que o faria. - Inclusive, vocês podem ir juntos durante essa semana, se isso não incomodar. - a senhora olhou para as duas que continuavam sentadas no sofá.
- Nem um pouco, inclusive me deixaria muito aliviada. - sorriu com a proposta, assentindo com a cabeça e olhando para a própria filha que estava de olhos arregalados.
- Tudo bem para você, ? - a senhorinha apoiou no balcão para poder olhá-la com um sorriso ao perguntar.
- S-Sim… - gaguejou pela vergonha, mas balançou a cabeça positivamente também.
- Ótimo, está combinado, amanhã ele irá buscá-la na sua porta! Então, , coloque a mesa, por favor. - pediu, já que o neto pareceu estar tão empolgado que esqueceu do que deveria fazer.
- A pode ajudar, não é mesmo? - falou, colocando a mão em cima da mão da menina para incentivá-la.
- Sério?! - o garoto pareceu meio admirado com isso, sorrindo largamente na direção dela que sentiu até mesmo suas orelhas queimarem.
- Posso… - se levantou rapidamente, as mãos juntas atrás do corpo e andando lentamente até chegar ao lado do rapaz.
- Hey, eu também posso te chamar de ? - ele perguntou de forma animada, olhando para a mais nova antes de começar a andar até os armários.
- Claro, Oppa. - havia algo naquele garoto que a deixava estranhamente confortável, como se soubesse que podia confiar nele e que seriam bons amigos. Esse sentimento bom a fez até mesmo arriscar um sorriso pequeno que sumiu, dando lugar a uma feição envergonhada quando o viu piscando um dos olhos para si.
- Você pode me chamar de Oppa. Vamos nos dar bem, certo, ?!
- Oh, e é um prazer pra nós fazer isso. Gostamos que nosso bairro seja um local agradável para se viver, e fazemos questão de ter uma boa relação com todo mundo para que tudo esteja sempre em harmonia. - era uma senhora, provavelmente com mais de quarenta e oito anos, que sorriu de forma maternal, dando um passo para o lado para que entrassem em na casa.
- Isso é admirável, muito obrigada, nós iremos nos dar muito bem. - a mulher de no máximo trinta anos sorriu também, puxando a filha pela mãozinha para que entrasse. - Peço desculpas pelo meu marido não poder vir, mas ele está muito ocupado com o trabalho desde que nos mudamos. As coisas estão realmente corridas.
- Não se preocupe, tenho certeza que haverão outras oportunidades! - a senhora fechou a porta e voltou a andar tranquilamente até chegar na sala de estar que estava vazia, apenas com sua arrumação perfeita e decoração simples em tons brancos e marrons.
Tudo ali exalava um sentimento tão aconchegante que fizeram as duas se sentirem automaticamente confortáveis, como se estivessem em suas próprias casas. Era um pouco antiquado dizer isso, mas aquela casa exalava amor, assim como aquela senhora. Em todas as paredes, móveis, a energia boa não parecia desaparecer em nenhum milímetro da casa.
- Vocês podem ficar à vontade e se sentar, só preciso terminar algumas coisas e o jantar logo estará pronto. - ela andou para trás do balcão que dividia a cozinha e a sala, desaparecendo um pouco por conta da baixa estatura.
- A senhora precisa de alguma ajuda?
- Não, não se preocupe, logo meu neto irá descer e por a mesa. Eu não devia ter dito para ele se arrumar tantas vezes, é capaz de o vermos aparecendo de terno. - a senhora riu, sendo acompanhada pela mulher, enquanto a criança continuava sentada no sofá com o olhar tímido preso no chão. - Ele deve ter a mesma idade da sua menina. Quantos anos essa senhorita linda tem-
A mulher cutucou novamente a filha com o cotovelo para que ela respondesse, e a garotinha dedilhou o seu próprio braço em nervosismo.
- Eu tenho 11 anos. - respondeu com o tom de voz tão baixo que era até mesmo difícil de ouvir.
- Ooh, meu é um pouquinho mais velho, ele tem treze, é seu Oppa. - não podia deixar de achar toda aquela timidez fofa, a menina era realmente adorável. - Então, sua família mudou para Seoul por negócios, não é? Sei como a adaptação é terrível, então se precisar de qualquer coisa, não hesite em me falar. Vocês já decidiram a escola em que vão colocá-la?
- Muito obrigada, senhora , é muito gentil da sua parte. - chegava até mesmo a ser inacreditável, mas ao mesmo tempo a mulher era tão confiável quanto uma avó querida. - Sim, meu marido procurou uma casa próxima de uma escola boa, então estamos terminando de transferi-la para a do bairro mesmo. - a mulher passou a mão carinhosamente pelo cabelo da filha, que voltou a encarar o chão, mas agora com um pequeno sorriso envergonhado.
- Ooh, isso é ótimo! Essa escola é realmente muito boa, meu netinho também estuda nela, vocês não vão se arrepender.
Finalizava as últimas coisas do jantar, e estava pronta para subir ela mesma as escadas e ir até o quarto do menino para chamá-lo, porém antes que a mãe da menininha respondesse qualquer coisa, uma figura adolescente aparecia no pé da escada, a descendo animadamente, vestindo calças jeans escuras e uma blusa branca de mangas compridas e listras pretas, os cabelos escuros e lisos bem penteados e um perfume que embrenhou a sala inteira.
- Finalmente, ! - a senhora falou em um tom de bronca, mas acabou sorrindo orgulhosa de como seu garotinho estava crescendo e se tornando um bonito rapaz. - Essas são a senhora e a filha dela, .
- Meu nome é ! É um prazer conhecê-las! - ele cumprimentou formalmente, sorrindo assim que sua coluna voltou a ficar ereta. A menina também levantou rapidamente e se curvou, sentando novamente logo depois.
- Sabe, , a irá estudar na mesma escola que você. - a avó falou em um tom de quem estava tramando coisas na mente.
- M-Mesmo…?! - a boca do garoto se tornou em um pequeno o, em choque e animação pela novidade.
- Sim! Então seja um bom sunbaenim e Oppa e mostre tudo para ela, certo? - ele balançou a cabeça diversas vezes em confirmação de que o faria. - Inclusive, vocês podem ir juntos durante essa semana, se isso não incomodar. - a senhora olhou para as duas que continuavam sentadas no sofá.
- Nem um pouco, inclusive me deixaria muito aliviada. - sorriu com a proposta, assentindo com a cabeça e olhando para a própria filha que estava de olhos arregalados.
- Tudo bem para você, ? - a senhorinha apoiou no balcão para poder olhá-la com um sorriso ao perguntar.
- S-Sim… - gaguejou pela vergonha, mas balançou a cabeça positivamente também.
- Ótimo, está combinado, amanhã ele irá buscá-la na sua porta! Então, , coloque a mesa, por favor. - pediu, já que o neto pareceu estar tão empolgado que esqueceu do que deveria fazer.
- A pode ajudar, não é mesmo? - falou, colocando a mão em cima da mão da menina para incentivá-la.
- Sério?! - o garoto pareceu meio admirado com isso, sorrindo largamente na direção dela que sentiu até mesmo suas orelhas queimarem.
- Posso… - se levantou rapidamente, as mãos juntas atrás do corpo e andando lentamente até chegar ao lado do rapaz.
- Hey, eu também posso te chamar de ? - ele perguntou de forma animada, olhando para a mais nova antes de começar a andar até os armários.
- Claro, Oppa. - havia algo naquele garoto que a deixava estranhamente confortável, como se soubesse que podia confiar nele e que seriam bons amigos. Esse sentimento bom a fez até mesmo arriscar um sorriso pequeno que sumiu, dando lugar a uma feição envergonhada quando o viu piscando um dos olhos para si.
- Você pode me chamar de Oppa. Vamos nos dar bem, certo, ?!
Capítulo Único
Não havia sido fácil crescer como uma criança mestiça e estrangeira na Coreia do Sul nos anos dois mil. em praticamente nada puxara a raça asiática de seu pai, sendo praticamente toda sua mãe, o que desencadeava diversos problemas no Colégio. Apesar de ser fluente em coreano e se portar com as tradições e costumes da nação, parecia que nada era o suficiente para fazê-la ser bem aceita simplesmente por sua origem, nem mesmo se decidisse renegá-la, o que nunca fez.
As coisas só não ficaram piores porque sempre teve ao seu lado. Não conseguia estimar o quanto devia à ele e a senhora o fato de ter se tornado a mulher bem sucedida que era agora, uma conceituada stylist. A Coreia ainda engatinhava em relação a combater o preconceito, mas isso era melhor do que antes, quando era uma criança e estavam inertes. e sua avó, porém, eram diferentes e não se importavam com isso, acolheram a si e sua mãe como uma família. Nunca cansaria de agradecê-los.
Não estava errada quando seu sexto sentido lhe fez pensar que podia confiar em e que seriam bons amigos. Se aproximaram tanto que estavam sempre juntos, como o ar. Ninguém conseguia ver onde aquilo daria mais a frente, nem mesmo os dois, mas não se importavam realmente porque amavam a presença um do outro.
Em fotos de família, excursões, festas, bailes da escola, cerimônias, sempre estavam lado a lado. Nos momentos difíceis também, quando o peixinho da menina morreu e ela chorou uma semana em seu ombro, ou quando a provocavam no colégio. Quando o pai de se mostrava um pouco instável, e ele não queria demonstrar que isso lhe machucava, mas mesmo assim ela ficava lá para conversar e distraí-lo de alguma forma.
Eles sempre estavam juntos, um do lado do outro. Quando ele fez a primeira audição da SM, quando ela prestou vestibular. Nos resultados positivos para ambas as coisas, que fez com que comemorassem juntos por dias. No debut do Super Junior, na formatura da faculdade. Nada foi capaz de abalar a relação deles e nem fazê-los se afastar, a famosa friendship goals de infância.
realmente não estava errada. Só que naquela época, era ingênua demais para pensar que seriam qualquer coisa a mais que isso, o que aos poucos foi acontecendo conforme amadureciam. Lembrava-se claramente da primeira vez que se beijaram, e foi, de forma clichê, quando fez seus quinze anos e lhe levou para comemorar na primavera, mesmo que não fosse a data exata de seu aniversário.
Debaixo de uma cerejeira, sentados lado a lado em cima de uma toalha de piquenique enquanto as pétalas caiam das árvores em seus cabelos, estavam meio escondidos dos outros casais que andavam pelo corredor de árvores, comendo algumas coisas que a avó dele havia os dado. pediu permissão antes de o fazer e ela deu, se sentindo a garota mais sortuda do mundo por poder ter seu primeiro beijo com uma pessoa tão especial, mesmo que naquela época ainda não entendesse bem o porquê considerá-lo tanto dessa forma.
Nenhum dos dois tinha alguma pretensão com isso, mas os beijos se tornaram frequentes, tanto que chegaram a ser pegos algumas vezes. Quando estavam juntos, a tensão começava a se formar e era tão pesada que não conseguiam resistir a não ser que colassem os seus lábios até parecer que não existia mais oxigênio no planeta. Mas nunca, nada foi sério entre eles, e com o debut de , a intenção era nada mais do a famosa amizade com benefícios.
conhecia bem o amigo para trancar seu coração a paixão. Um amor de pessoa, daquele tipo que você quer guardar em um potinho de arco íris, mas em questões românticas, nunca foi muito estável, e não o culpava. Nunca assumiram um relacionamento e nem mesmo discutiram se existiam sentimentos além da amizade, ele não estava preso a ninguém para não “aproveitar” aquilo que a fama lhe dava.
E agora eram dois adultos de trinta e um e trinta e quatro anos, com carreiras formadas com vidas financeiras estáveis, e todos os objetivos de infância alcançados, mesmo que tivessem algo em comum: eles sempre queriam voar mais alto em suas carreiras, o que ocasionou que ambos se tornassem solitários.
No caso de , era completamente compreensível pela indústria a qual ele estava inserido, mas no caso de , ninguém conseguia entender como uma mulher linda e bem sucedida não se envolvia com ninguém, principalmente com os contatos que ela tinha. Até mesmo rumores sobre sua sexualidade já haviam sido levantados, porque se não bastasse ela não ser casada, também nunca haviam a visto em qualquer encontro ou namoro. O único homem a qual ela tinha um relacionamento era .
E ela não se importava com isso. Antes. Porque agora talvez estivesse se importando.
- , me assusta você estar tão sozinha. - a mãe da mulher comentou quando estavam sentadas em um café, saindo um pouco juntas em um encaixe da agenda apertada de alguém tão workaholic quanto ela.
- Eu não estou. Tenho você, o papai, meus gatos. - balançou os ombros com um sorriso maroto, levando o canudo do suco natural de laranja que havia pedido até os lábios.
- Você entende o que eu quero dizer, não se faça de cínica. - riu com a resposta da filha, balançando a cabeça negativamente. - Eu estou ficando velha, mas quero conhecer meus netos. Quero poder correr com eles.
- Você já não pode correr muito mesmo se eu ficasse grávida agora… - soltou com o olhar distante de quem pensou alto demais e o tom inocente para completar a provocação.
- .
- Desculpe.
- Filha, eu quero te ver de noiva, estar no seu casamento. Não me leve a mal, eu também ia adorar se você e o finalmente se acertassem. Eu sei o quanto você o ama, mesmo que não admita, mas eu não sei se ele sente o mesmo. E mesmo se sentisse… Você sabe que ele nunca largaria a carreira por ninguém. Não quero que esse amor roube seus anos, mais do que já roubou. - sua mãe sabia tanto sobre sua história com o , que era impossível discordar dela.
Um dia, quando estavam aos beijos no quintal da casa de , chegou mais cedo do mercado e os flagrou, foi uma cena terrível na hora e acharam que nunca mais nem mesmo poderiam se encontrar, mas pela menina ter por volta de vinte anos naquela época, não havia muito que a senhora pudesse fazer. Hoje em dia os três fingiam que nunca aconteceu, ou quando eram forçados a lembrar, riam. E por mais que falasse que nunca mais tinha acontecido e que aquela havia sido a primeira vez… Bem, mãe sabe das coisas.
- Já entendi, você está com saudades de ter uma criança em casa. Por que não adota- Vai ser mais rápido do que me esperar engravidar. - riu maldosa, fazendo a boca da mulher cair embasbacada, ao mesmo tempo que o telefone da filha tocava.
- Que horror!
Entre os risos, apertou o botão de aceitar a ligação. Sabia quem era apenas pela música que tocou, afinal, aquele toque era exclusivo de . Afinal, pra quem mais poderia colocar sua música favorita do Super Junior pra tocar, Mamacita, se não pro próprio integrante do grupo?
- O que deu errado? - ela brincou ao atender, esperando que isso quebrasse o provável nervosismo que estava sentindo para ligar durante as gravações do novo MV.
O conhecia bem o suficiente e há tempo o suficiente, então sempre perguntava isso quando o amigo lhe ligava durante os horários de trabalho, pois sabia que em sua maioria das vezes ele sempre estaria ligando porque estava nervoso com algo e precisasse se distrair e relaxar um pouco conversando. Isso nunca lhe incomodou, muito pelo contrário, adorava saber que ele achava um porto seguro em si e que ele sempre acabava voltando para quem confiava no final.
- , dessa vez deu errado mesmo. Eu preciso de você urgentemente na SM, você pode me fazer esse favor? - o desespero na voz do amigo passava através da linha e a garota levantou na mesma hora, de olhos arregalados.
- Estarei aí em quinze minutos, no máximo.
❥❥❥❥
lhe esperava na porta quando chegou no prédio onde uma das famosas caixas de filmagem da SM ficavam, e parecia que o peso de ter matado alguém saíra de seus ombros quando a viu atravessando a porta giratória, preocupada com o que era tão grave que estava acontecendo.
- Oppa, está tudo bem?! - questionou assustada, tomando o cuidado de ser formal e curvar levemente as costas em sua direção, já que estavam em público e a recepcionista do local não desgrudava os olhos dos dois.
- Não exatamente! Vem comigo, vou te explicar lá dentro. - não se importou de pegá-la pelo pulso e guiar até o elevador, onde apertou o botão do terceiro andar. Balançava a perna ansiosamente, o que só fazia a garota ficar mais nervosa.
- , você está me deixando nervosa, o que aconteceu? - perguntou com uma sobrancelha arqueada, aproveitando que estavam sozinhos para perguntar.
- Nossa stylist sofreu um pequeno acidente de carro e não vai poder vir, então eu preciso muito de você agora! Estava tudo bem por que as roupas estavam separadas, mas a roupa da Leslie rasgou enquanto ela dançava, então…
- Então você precisa das minhas habilidades pra salvar a pele do seu music video? - questionou provocativa, cruzando os braços a frente dos seios e sorrindo de canto.
- Demais! A mulher não tem agenda livre depois disso. Tem que ser hoje. - ele respondeu, já juntando ambas as mãos a frente do rosto, em súplica.
- E o que eu ganho com isso? - indagou outra vez, mantendo a expressão maldosa e o tom de voz. Poderia parecer sério para quem não a conhecesse, mas o saberia que era uma brincadeira.
- Por favor? - ok, talvez não soubesse não, ou parecia que não pelo desespero latente em sua voz.
- Ok, vou me contentar apenas com a satisfação de ter ajudado um dos maiores boy groups do mundo. Parece o suficiente pra mim. - manteve o tom sarcástico para ver se agora percebia que continuava apenas brincando.
Tinha algo estranho com aquela reação do amigo, ele normalmente perceberia na hora que estava apenas dramatizando, entraria na brincadeira e até mesmo flertaria, mas dessa vez ele nem mesmo lhe respondeu após o comentário, puxando seu pulso delicadamente outra vez assim que a porta do elevador se abriu. Deveria estar mesmo muito nervoso com a situação.
- Chegou a salvadora da Pátria! - se pronunciou assim que viu e chegando no lounge de tamanho médio, mas assim que viram os garotos, o soltou-a.
- , muito obrigado por aceitar nos ajudar. - foi o único que levantou e educadamente reverenciou a mulher com um sorriso, recebendo de volta tanto a reverência quanto o sorriso.
- Nós com certeza vamos achar um jeito de te recompensar depois! - voltou a falar, brincando com a mecha cacheada do cabelo que caía em seu rosto. - Ou pelo menos o vai. - não resistiu em soltar, fazendo com que todos os outros rissem, até mesmo a garota que deu um tapa no ombro do também amigo e balançou a cabeça.
O que dizer? Quando você é tão próxima de um deles há tantos anos, acaba ficando próxima de todos.
- Mais respeito, por favor. - pediu, revirando os olhos e já mudando de assunto. Outro alerta acendeu na cabeça de , enquanto ela continuava as coisas muito estranhas, mas outra vez, ignorou. - Vem, , o camarim que ela está é aquele ali. - apontou para uma das portas que ficavam mais para frente na entrada do corredor, a chamando com a outra mão.
- Até depois! - acenou para todos os outros que ficaram no lounge, seguindo que já batia na porta do camarim algumas vezes.
Quando chegou na frente da onde ele estava, a porta já estava aberta e apenas entrou, dando de cara com uma mulher que não aparentava ter muito mais que vinte e dois anos. Ela era linda, com os cabelos longos presos em um rabo de cavalo alto, maquiagens e roupas típicas de perfomance, sua pele dourada parecia brilhar nas luzes pálidas do camarim.
Claro que sabia quem Leslie Grace era, na verdade, antes de fecharem a colaboração entre ela e o Super Junior não sabia muito não, mas fez a lição de casa para ter consciência de que era uma ótima cantora e uma celebridade em ascensão. Não que isso lhe deixasse nervosa, na verdade, estava acostumada.
- E-Eu, é, bem… - Leslie tentou começar em uma mistura de inglês e espanhol, não sabendo bem como devia se referir a que percebeu que entrara em um estado de choque e encarara a menina por bem mais tempo que devia.
- Você pode falar comigo em inglês. - voltou a sua postura profissional, agora com as costas eretas e estendendo uma das mãos na direção da mais nova que sorriu aliviada com isso, e apertou sua mão rapidamente, com a outra a frente dos seios.
- Ótimo! Foi aqui, essa parte do top rasgou enquanto eu dançava. - virou de costas para a mais velha que arregalou os olhos ao ver praticamente toda a parte de cima da roupa solta, entendendo o porquê dela estar “segurando” os seios desde a hora que entrara. Era isso, ou o pano cairia de uma vez e bem, não queria um contato tão íntimo assim com a garota de primeira.
- Certo, eu vou dar um jeito nisso, ok? - respondeu com um sorriso simpático, tentando acalmar a garota e olhando para uma staff que estava com cara de nada, sem entender uma só palavra do que diziam.
Pediu um kit de costura, mas sabia que aquilo não seria o suficiente para tornar as coisas visualmente bonitas, então enquanto a mulher ia buscar o que pedira, pediu um minuto para Leslie para ir ver alguma opção que ajudasse na situação.
Andava até uma das salas de figurino que sabia que tinha naquele prédio, rapidamente achando um casaco dourado peludo que completaria bem o look da garota, ao mesmo tempo que esconderia o problema. Sorriu orgulhosa, saindo da sala e traçando o caminho de volta. Já fizera alguns trabalhos para a SM Entertainment, claro que o amigo sempre quisera lhe ajudar e costumava a indicar como uma ótima estilista, mas preferia focar em sua empresa do que naquele ambiente, onde a sua proximidade com estava sendo sempre questionada e investigada.
Era até mesmo compreensível porque ele se tornava consideravelmente mais frio quando estavam por ali, mesmo que ainda não estivesse entendendo bem a forma de agir de , que tentava ignorar e fingir que não havia acontecido. Mas como poderia ignorar quando tudo foi jogado no ventilador, em direção a si-
- Hey, você é a stylist de hoje, não é? - uma mulher com um vestido de lantejoulas azuis e uma maquiagem forte perguntou quando passou na frente de uma das salas de maquiagem, sorrindo de forma maliciosa.
arregalou um pouco os olhos quando viu o estado em que a maquiagem da garota estava, ou melhor, o estado que seus lábios estavam, completamente borrados como se ela tivesse acabado de… Bem, preferia nem pensar. Conhecia bem a indústria para saber como as coisas funcionavam debaixo dos holofotes, então achou até mesmo que fosse um problema para recolocar as peças de roupa após tê-las tirado tão de pressa.
- Sim, posso ajudar?
- Eu não, acho que preciso mais de uma maquiadora. - riu, parecendo completamente satisfeita com a situação. - Mas o Oppa… Acho que as roupas dele ficaram muito amassadas para continuar gravando com elas, ia ser bom ajeitá-las.
Aquelas palavras junto com o jeito debochado que a mulher falava e a risada da fizeram entrar em um colapso mental, encarando o nada por praticamente um minuto e apertando o casaco contra o corpo, tentando digerir o que estava acontecendo e o que ouvira. A realidade era sempre mais difícil de encarar do que parecia, mas sabia que não podia se ofender e nem se sentir pra baixo com isso. Era direito dele, afinal.
- Claro, eu vou fazer isso. - forçou um sorriso desconfortável, curvando levemente as costas na direção da menina. - Obrigada por avisar.
E então saiu, voltando para onde Leslie estava e passando pelo lounge como um raio, sem nem mesmo olhar para o lado para saber se estava ali. respirou fundo assim que fechou a porta do camarim, e voltou a sua postura. Não seria aquilo que a desconcentraria, não seria aquilo que lhe faria fraquejar agora.
Enquanto costurava o pano da roupa da cantora da forma mais cuidadosa que tinha, a conversa que teve com sua mãe há poucas horas havia voltado a sua mente. Ela estava certa. Devia imaginar, porque mães sempre estavam certas.
- Ai, eu não sei nem como agradecer! Ficou ainda mais estiloso do que antes com o casaco. - a jovem sorriu largamente, não se segurando em lhe dar um abraço.
- Não se preocupe, eu fico feliz em poder ajudar. - sorriu largamente com a reação da menina, a recepcionando também no abraço que logo se desfez.
- Está tudo bem por aí? - a voz conhecida fez com que os sentimentos bons que tomaram sua mente desaparecessem e ficassem confusos. Ele estava ali, tão perto, mas a verdade é que não sabia se queria vê-lo.
Leslie olhou para si um pouco desesperada, fazendo que lembrasse que a garota não entendera nem mesmo a primeira palavra que pronunciara, quem dirá saberia respondê-lo. Respirou fundo e colocou o melhor dos seus sorrisos no rosto, lembrando sempre que nada que o fazia, era da sua conta. Eles eram apenas melhores amigos de infância. E foi com esse pensamento que abriu a porta.
- Tudo pronto, já podem voltar as gravações. - quando encarou o sorriso aliviado do amigo, quis socá-lo ao mesmo tempo que se sentia aliviada também em ver aquele peso saindo das costas dele. A confusão em sua mente era, no mínimo, cômica. Ou pelo menos gostava de pensar assim para que não se tornasse trágica.
- Ótimo! Você fica pra assistir- - pela primeira vez no dia ele sorriu para si, mas seu olhar se guiou lentamente até o chão, enquanto mexia nos cabelos delicadamente.
Forçou um sorriso e assentiu com a cabeça, murmurando um “claro”. Mas tudo isso foi apenas para disfarçar o incômodo que atingiu seu âmago ao ver as roupas de . Elas estavam, realmente e definitivamente, amassadas.
- O que você fez com essa pobre camisa de seda? - perguntou, apontando e disfarçando o sorriso triste com uma sobrancelha arqueada.
- Isso? - arregalou os olhos ao perceber, passando uma das mãos no tecido. - Ah, você sabe, seda amassa fácil e com os movimentos de dança…
- Claro que sim. - riu amarga e então passou por ele, parando no corredor. - Deixe comigo alguns minutos, vou dar um jeito nisso.
concordou e acompanhou a amiga até o camarim. ignorou veementemente sua presença, até mesmo quando ele ficou com o dorso desnudo para entregar a camisa e se jogou no sofá, com o corpo bem desenhado totalmente exposto. Não olhou, mesmo que uma vez só, concentrando-se em realizar aquela espécie de trabalho direito.
Podia sentir o olhar de queimando em suas costas, subindo e descendo como se ele tivesse analisando todas suas curvas e detalhes que lhe doía em dizer naquele momento, conhecia tão bem. Era claro como cristal que ele percebera a mudança em seu humor, o a conhecia bem também em personalidade, o suficiente para entender toda a sua linguagem corporal, porém, com todos aqueles anos mentindo e escondendo seus sentimentos reprimidos, aprendera a disfarçar completamente tudo o que apontasse para o motivo de suas súbitas mudanças de humor.
Quando ouviu, bem baixinho, que havia se levantado e agora dava passos em sua direção praticamente inaudíveis de quem queria surpreendê-la com a furtividade de um felino, todo o seu corpo se tencionou e endureceu no lugar, tornando difícil até mesmo respirar. Não estava pronta para ceder a seus charmes, ao mesmo nível que não estava preparada para resistir à tais.
- Me desculpe por ter sido um pouco frio mais cedo, eu realmente estava preocupado com tudo o que estava acontecendo. Você sabe, eu sempre me sinto muito responsável por qualquer coisa. - sentiu os lábios dele próximos ao seu ouvido, e sua voz soou sussurrada em um perfeito asmr, acompanhada de um pequeno beijo embaixo de sua orelha que lhe fez arrepiar por completo.
Amoleceu por alguns segundos, pelo menos até lembrar o que havia o relaxado. Sorriu com deboche, impedindo que recostasse a cabeça em seu ombro como ele queria fazer, girando o corpo para que ficassem frente a frente. A distância era mínima e podia sentir a respiração pesada do homem em seus lábios, mas não ia deixar com que aquilo lhe abalasse. Manteve o sorriso, levantando uma das mãos entre os dois e próxima ao peitoral do mais velho.
- Sua camisa. Se vista, eu vou estar esperando lá para assistir a sua atuação do século. - não conseguiu controlar o tom de voz completamente ácido em direção a , mas assim que ele pegou a roupa, deu passos firmes em direção a porta e saiu por ela.
Puxou o ar diversas vezes para manter sua sanidade na melhor das condições que podia, mas não conseguia ignorar o conflito de pensamentos que invadia sua mente, lhe fazendo ir até o banheiro para tomar um minuto sozinha.
Uma parte de si dizia que aquele drama já estava acabado, ele havia pedido desculpas sobre sua forma de agir e o resto não era da sua conta, afinal, quantas vezes tinha que convencer seu coração de que não tinham um relacionamento- Mas a outra parte, que ouviu enquanto falava com , dizia que ele fora no mínimo um canalha de ter se atracado com a mulher enquanto também estava ali. Essa parte ignorava completamente o fato do não saber seus sentimentos por ele.
Pensava que podia ter lhe procurado se precisava aliviar o estresse, afinal, ela já estava lá de qualquer forma, e pensar desse jeito a fez entrar em outra crise. Era isso que queria ser para ele- Um escape, como qualquer uma das mulheres que ele rolava nos lençóis macios quando precisava de alívio- Se contentaria com isso, tendo plena consciência de que nunca seria mais-
Fechou os olhos por alguns segundos, ao mesmo tempo que se concentrava em normalizar sua respiração. Não era hora e nem momento para pensar em sua relação praticamente inexistente com , precisaria estar em casa com uma garrafa de algo bem forte que lhe ajudaria a digerir tudo aquilo, por isso saiu do banheiro de cabeça erguida, encontrando com parecia estar lhe esperando.
- Como você está, raio de sol? - ele questionou com um sorriso maldoso, a fazendo arquear uma das sobrancelhas com aquele tom de voz.
- Bem…- - respondeu em um tom não muito confiante, com medo do que o homem escondia atrás daqueles olhos misteriosos e repuxar de lábios cheio de segundas intenções. - E você?
- Ótimo. está gravando e me pediu pra te levar até lá, vamos? - ofereceu o braço para a mulher, que aceitou e entrelaçou com o seu, mesmo que ainda mantivesse uma expressão confusa que incitasse a risada de .
Tentou relaxar os ombros que se ergueram inscientemente quando ouviu o nome do , se esforçando para acabar com a sua tensão e os motivos de risos do mais velho, respirando fundo algumas vezes para retomar a postura que mantinha normalmente.
- Ah, para, vocês dois brigaram- - questionou o que queria há um tempo, deixando a boca entreaberta em choque. - Em todos esses anos nessa indústria vital, essa é a primeira vez que isso me acontece.
- Não, nós não brigamos! - negou no mesmo instante, erguendo as mãos ao alto e as balançando no ar de um lado para o outro. - Eu só ouvi algumas coisas no corredor que me deixaram um pouco… Assustada.
- Você quis dizer enciumada?
- Não, eu não quis.
- Claro. - riu outra vez, balançando a cabeça enquanto a puxava levemente para começarem a andar. Era por essas que não se envolvia diretamente no ambiente de trabalho deles, porque mais cedo ou mais tarde, aquilo aconteceria. - Eu não sei como eu posso ajudar, isso é o que acontece.
- Não preciso que me ajude, não se preocupe. Vou me acostumar com isso em breve. - a confirmação de que aquilo era comum a deixou novamente determinada a manter sua postura e não deixar, de forma alguma, que se abalasse com a situação.
Claro que sabia que tinha casos esporádicos, uma vez que era um deles, mas a naturalidade que aquilo era tratado por evidenciava que a frequência era maior do que havia imaginado, o que lhe fez ficar até mesmo enjoada. O homem por sua vez, apenas suspirou e balançou a cabeça negativamente. Aqueles dois eram dois idiotas desperdiçando o tempo que podiam passar juntos com outras pessoas e escondendo por orgulho e burrice o sentimento que nutriam um pelo outro. Mas quem era ele para julgá-los?
A única coisa que poderia dizer, no fim, é que ele realmente havia sido um cretino de se atracar com uma mulher com tão próxima. Mas no pé da relação deles, como pensaria que aquilo era tão ofensivo-
Para ajudar, quando chegaram até o estúdio de gravação, gravava exatamente sua parte de dança com a atriz que correra os corredores deixando claro que sua relação atravessara os parâmetros profissionais com o homem, fazendo respirar fundo outra vez e puxar o braço que estava conectado com o de .
Os corpos não pareciam ter vergonha nenhuma de se colarem uns aos outros, e os olhares deixavam a tensão completamente latente. Engoliu em seco, fechando os punhos em total desgosto. Então era pra isso que ele queria que ficasse ali. Virou as costas e marchou até o elevador para ir embora, sem se importar com as consequências do que aquilo poderia trazer para os pensamentos de . Apenas se importou consigo mesma, e com o que estava pensando ao ver aquela cena.
❥❥❥❥
Pelo resto daquele dia, desligou o celular e deixou sua agenda atrasar. A única coisa que fez foi deitar no seu sofá e remoer toda a sua relação com , desde quando eram crianças até o dia de hoje. Todas as memórias passavam como cenas de um filme em sua mente enquanto olhava as fotos dos dois espalhadas pela sua casa e nos álbuns de família que guardava na estante da sala.
Era torturante pensar que o amava tão intensamente durante todos esses anos e nunca imaginou que pudesse haver algo além disso entre os dois, além daquela amizade. Como seria quando resolvesse estabelecer um relacionamento sério? Como seria quando fosse convidada para ser madrinha de seu casamento?
Um arrepio subiu sua espinha ao pensar nisso, e então chorou até dormir entre as almofadas do sofá espalhadas no chão. Seria uma noite revigorante, se não houvesse esquecido de um pequeno detalhe que lhe fez acordar completamente estupefada. Tinha certeza que acordara ouvindo o barulho de um prato batendo contra a mesa.
Rapidamente virou o corpo e devagar ergueu a cabeça até o assento do sofá, o usando como escudo para caso realmente encontrasse alguém ali e pudesse não ser vista por tempo o suficiente para correr até a porta do apartamento e gritar para o prédio todo que sua casa foi invadida. Mas parou assim que ouviu o tom de voz que cantarolava uma melodia calma que não conhecia ainda, o reconhecendo no mesmo segundo.
tinha a sua chave. Não sabia mais se odiava-se mais por ter esquecido disso, ou por ter um dia dado a cópia para o homem.
- O que você está fazendo aqui? - questionou ainda com a voz meio mole pelo sono e os olhos meio fechados pelo inchaço, além de provavelmente borrados já que nem mesmo se dera ao trabalho de tirar a maquiagem da noite passada, apenas colocara seu pijama ridículo de TVXQ da época de colegial - um desgosto pessoal do melhor amigo que não se conformava em vê-la sendo tão fã do duo quanto do próprio Super Junior.
- Você saiu antes que eu pudesse te agradecer direito por ter salvo as gravações. - a voz conhecida soou aos seus ouvidos novamente enquanto deixava seu corpo cair outra vez por cima das almofadas, sem se importar com o impacto. - O me disse que foi às pressas e você não atendeu o celular ontem a noite, então eu fiquei preocupado. O que aconteceu?
Isso porque nem mesmo quis citar a forma que a amiga lhe tratou no camarim, porque na verdade também não havia sido muito gentil antes daquela hora.
- Ah, isso… Não é nada demais, eu precisei sair, só. - era uma mentirosa horrenda e sabia disso e sabia como explorar sua fraqueza. Quando viu, o homem já estava em pé a alguns centímetros da sua cabeça, olhando para baixo e fazendo seus olhares se encontrarem daquela forma que a dava vontade de morrer.
- Sério? Não é possível, aconteceu alguma coisa, você parece péssima. - a sinceridade de muitas vezes era uma qualidade, mas às vezes… Grunhiu manhosa, girando o corpo e encarando o sofá que estava ao seu lado. - Aaah, não faça assim, !
Ele rapidamente tentou dobrar sua manha, se deitando no sentido contrário que o seu, de barriga pra baixo, e então deixando o rosto de frente para o da garota, um pouco mais acima, enquanto suas duas mãos seguravam suas bochechas para fazê-la lhe olhar. Seus olhos se perderam nos lábios avermelhados de , que foi puxado um pouquinho para o lado ao ver sua reação.
- Eu tive um encontro. - soltou a primeira coisa que passou pela sua cabeça, não conseguindo ver os olhos do se arregalarem já que não prestava atenção nessa parte do seu rosto naquele momento. - Foi por isso que eu saí cedo ontem. Eu tinha um encontro marcado e não podia me atrasar.
- Ah, sério…? Um encontro profissional? - a surpresa em misto com o vacilo na voz de era algo a se esperar, já que em todos aqueles anos ele nunca havia ouvido aquelas palavras saírem da boca da mulher. Mas chegava a ser ofensivo ele pensar que tinha que ser profissional, não achava que ela conseguia um romântico ou o que?
- Não, um encontro mesmo. - agora se tornou provocação, apenas para deixar claro que conseguiria sim sair com alguém se quisesse. - Por que o choque?
- É que… É difícil, você nunca pareceu interessada em ninguém. - a força que usava para manter o rosto de reto para encarar o seu aos poucos foi sumindo, assim como os olhos do homem perderam o foco. - Bom, mas não parece que foi muito bom, levando em conta que você está usando o pijama da depressão adolescente.
- N-Não fala assim! - reclamou, erguendo a coluna de uma vez e desviando apenas da cabeça dele para não se machucarem. - O pijama é maravilhoso. Mas sim, foi horrível. Uma das piores coisas que poderiam ter acontecido. - sussurrou as últimas palavras, os olhos se focando por um segundo no chão quando ela lembrou da cena que presenciou, de dançando agarrado com a mulher. - Eu nem quero falar sobre isso.
- , ele não fez nada demais com você, não é? - o amigo perguntou, voltando a segurar seu rosto de forma firme, mesmo que agora estivessem sentados lado a lado, com as costas no móvel. - Eu nunca te vi falando de ninguém, e muito menos chateada desse jeito!
- Só, aparentemente, achou que seria divertido se esfregar com outra pessoa no banheiro enquanto eu estava lá. - a mulher forçou um sorriso sem abrir os lábios, piscando um dos olhos para o amigo e então conseguindo ver detalhadamente a onda que se formou em seu pescoço quando ele engoliu a saliva a seco.
- S-Sério?
- Sim, acredita? E ainda voltou pra mesa com a roupa toda amassada e a cara borrada, então eu vim pra casa. - levantou, dando as costas para e sorrindo satisfeita com a história meio inventada e meio não, indo até a geladeira e pegando uma garrafa de alguma coisa forte.
- , eu sinto mui...
- Nem precisa. Eu odeio essa raça maldita de homens mesmo, vai ser melhor morrer sozinha, assim eu não tenho dor de cabeça nenhuma. - tirou a tampa da garrafa, a jogando por cima do ombro e fazendo ter que abaixar para desviar dela, chegando na amiga antes que ela virasse o conteúdo do vidro nos lábios.
- E a nossa promessa de que se estivéssemos solteiros até os trinta e oito, a gente casava? - ele perguntou em um tom brincalhão, deixando a garrafa em cima do balcão e então voltando para trás da mulher empurrando a porta da geladeira com uma das mãos enquanto a outra ia para o quadril dela. - Sabia que só faltam quatro anos pra mim?
- Sei sim, . - se desvencilhou da mão dele, sentando em uma das banquetas e observando o pequeno café da manhã que ele havia preparado, com algumas torradas, frutas, suco e geléias.
- , eu fico triste quando o seu ódio por toda a raça masculina me incluí. - ele sentou na banqueta de frente para a garota, segurando sua mão e lhe olhando com os olhos angulados brilhantes. - Eu sou diferente, não sou?
Naquele momento, deixou-se parar de fugir do contato com o melhor amigo e também ergueu os olhos. Ambos se encararam por alguns minutos, nenhum deles fez menção de afastar as iris, mas sentiu um arrepio subir a sua espinha, fazendo seu corpo todo ficar tenso quando viu aquele sorriso de canto satânico dela.
- Eu não sei, me diga você. Você é diferente, Oppa? - ela questionou em um tom duvidoso, arqueando uma das sobrancelhas e carregando ainda mais o tom de voz na última palavra.
Ela sabia o quando isso a deixava louco, mas naquele momento parecia que a mais nova pularia em seu pescoço a qualquer segundo e aqueles dedos que tanto lhe massagearam um dia iriam se comprimir até não lhe restar mais ar algum. Sua garganta secou e aos poucos, antes que respondesse, as coisas começaram a fazer sentido.
As piadas de no dia anterior, lhe zoando por ter ficado com a atriz, assim como ele dizia que as ações teriam consequências. A forma que agira depois de ter chego…
- Você soube? - perguntou, arqueando uma das sobrancelhas em dúvida de como deveria reagir naquela situação.
- Eu tenho algo pra saber? - provocou no mesmo tom de voz e expressão inocente, apenas deixando mais confuso ainda sobre o que deveria falar ou fazer.
- Não aja desse jeito, . - chamou-a com um bico nos lábios, apertando carinhosamente a mão que estava entrelaçada com a sua. - Não faça assim comigo.
cortou o contato visual assim que começou a falar. Não se sentia no direito de fazê-lo se sentir mal por aquilo, pelo menos não enquanto ele não sabia de nada. Sua mente estava nublada naquele momento, o conflito entre seus sentimentos nunca havia sido tão forte, e só havia uma coisa que poderia ser a certa naquela situação.
- , seja qualquer relação que nós tínhamos até hoje além da amizade, é melhor terminar agora. - seus olhos se encheram de água ao falar isso, enquanto puxava sua mão para cortar o contato físico, passando os dedos lentamente pelo próprio braço.
Aquelas palavras foram como um automóvel em alta velocidade que o atingiu em cheio quando atravessava a rua sem prestar atenção. De onde aquilo havia vindo? Por que tão repentinamente?
- , o que você quer dizer com isso? Quer dizer, o que eu fiz de errado? - ele se desesperou com as palavras dela. Nunca achou que ficaria daquela forma se decidisse “terminar” o que tinham, porque sinceramente, nunca achou que acabaria. simplesmente nunca planejou demais quando se tratava dos dois, porque achava que ela estaria lá durante todo o tempo.
Nem sempre eles estavam juntos. Às vezes, era apenas ela que estava lá. E ele nunca percebeu isso.
- Eu não tenho o direito de me sentir mal se você se atracou com a atriz nos bastidores, porque é um direito seu, como um homem sem compromisso firmado com ninguém. Eu não quero me sentir mal por isso, mas eu não consigo parar de pensar no porquê, se eu estava lá. - as palavras saíram um pouco baixas e atropeladas, pelo tom de voz embargado da mulher. - Eu não posso me sentir mal, mas me sinto do mesmo jeito. Por isso, até que eu pare de me sentir, é melhor que nós nunca mais façamos nada, além de sermos só amigos. Porque eu não consigo lidar com isso mais, , eu… - parou de falar, pois sabia que se pronunciasse mais uma palavra, não conseguiria mais engolir o choro.
Naquele momento algo acendeu na cabeça de , um interruptor pressionado que fez a iluminação ligar e mostrar tudo que estava escondido pela escuridão. Ao ver o coração da amiga, o que ela realmente sentia, ele pareceu entrar em estado de choque. Vendo que ele não tinha nenhuma resposta, ela simplesmente respirou fundo mais uma vez, com os cabelos a frente do rosto para cobrir sua feição triste.
- , nenhum brilho é capaz de brilhar para sempre, não importa o quão especial, tudo tem um fim. Isso também acontece com a gente, então não se sinta mal se nossos corações sentem diferente. Tudo acaba, e chegou a hora dos meus sentimentos por você acabarem também. - sussurrou, tão baixinho e inaudível que ele até mesmo teve algumas dificuldades para entender, principalmente porque ainda tentava digerir a situação.
- Não, não fala isso. - o se levantou rapidamente, se desesperando enquanto dava a volta no móvel rapidamente para poder tocar e levantar seu rosto, tirando todo o cabelo que o cobria e vendo seus olhos vermelhos de segurar lágrimas. - Desculpe por meu coração ser muito lento. Desculpe, desculpe.
Abraçou a mulher quando o ambiente se tornou silencioso porque não tinha nada o que dizer, apenas se concentrava em não chorar. Ele acabou puxando-a pelo ombro com uma das mãos e deixando a outra acariciar seus cabelos, fazendo-a poder ouvir as batidas aceleradas do seu coração, por ainda estar sentada, o ouvido dela estava sendo levemente pressionado contra seu peito.
- Tudo acabou agora, você pode soltar todas as lágrimas que esteve segurando, está tudo bem. - sussurrou, abaixando sua cabeça até que estivesse próximo o suficiente da de para que ela lhe ouvisse facilmente. Foi ai que ela derrubou a primeira lágrima, que logo se juntou com diversas outras e escorreram por seu rosto, por seu queixo, até molharem a camisa de . - Eu vou segurar o seu coração quebrado. Deixe as pétalas que caíram florescerem outra vez. Eu sei que nada é eterno, mas só dessa vez, por favor, me ame para sempre. Você é a primeira e única, . Eu não te procurei ontem porque eu nunca quis te usar como um alívio. Eu te procuro quando eu quero sentir amor de verdade.
- Então você quer dizer que…
- Sim, eu quero dizer que te amo, da mesma forma que você me ama. Desculpe por hoje ser tarde demais, meu amor… Me diz que não acabou, que a minha chance não foi embora. - em momento nenhum afrouxou aquele abraço, mesmo que quisesse olhar nos olhos de . Queria senti-la assim, aninhada em seus braços, queria que ela sentisse o quanto amava quando sabia que ela estava junto a si.
- Eu te amo, . Mas tenho medo do futuro, e o meu futuro já chegou, eu não sou mais tão nova assim. Eu não quero que você abra mão de tudo o que você ama por mim, nós temos o exemplo do Sungmin, como isso poderia dar certo? Nós não somos mais os adolescentes sem responsabilidades que éramos da primeira vez. - despejou, o choro tão copioso por ter guardado aqueles sentimentos por tanto tempo que se tornava até mesmo difícil de falar.
- A primeira vez e hoje, eu sei que elas não vão ser iguais. Ás vezes, eu fiz você sofrer e eu não posso prometer um amanhã melhor, mas posso prometer um amanhã onde você será minha e eu serei seu. A única coisa que não vai mudar sou eu, você, e nós. O amor que eu tenho por você, ele não vai mudar. Pra mim isso é o suficiente pra dar certo, e pra você?
As coisas só não ficaram piores porque sempre teve ao seu lado. Não conseguia estimar o quanto devia à ele e a senhora o fato de ter se tornado a mulher bem sucedida que era agora, uma conceituada stylist. A Coreia ainda engatinhava em relação a combater o preconceito, mas isso era melhor do que antes, quando era uma criança e estavam inertes. e sua avó, porém, eram diferentes e não se importavam com isso, acolheram a si e sua mãe como uma família. Nunca cansaria de agradecê-los.
Não estava errada quando seu sexto sentido lhe fez pensar que podia confiar em e que seriam bons amigos. Se aproximaram tanto que estavam sempre juntos, como o ar. Ninguém conseguia ver onde aquilo daria mais a frente, nem mesmo os dois, mas não se importavam realmente porque amavam a presença um do outro.
Em fotos de família, excursões, festas, bailes da escola, cerimônias, sempre estavam lado a lado. Nos momentos difíceis também, quando o peixinho da menina morreu e ela chorou uma semana em seu ombro, ou quando a provocavam no colégio. Quando o pai de se mostrava um pouco instável, e ele não queria demonstrar que isso lhe machucava, mas mesmo assim ela ficava lá para conversar e distraí-lo de alguma forma.
Eles sempre estavam juntos, um do lado do outro. Quando ele fez a primeira audição da SM, quando ela prestou vestibular. Nos resultados positivos para ambas as coisas, que fez com que comemorassem juntos por dias. No debut do Super Junior, na formatura da faculdade. Nada foi capaz de abalar a relação deles e nem fazê-los se afastar, a famosa friendship goals de infância.
realmente não estava errada. Só que naquela época, era ingênua demais para pensar que seriam qualquer coisa a mais que isso, o que aos poucos foi acontecendo conforme amadureciam. Lembrava-se claramente da primeira vez que se beijaram, e foi, de forma clichê, quando fez seus quinze anos e lhe levou para comemorar na primavera, mesmo que não fosse a data exata de seu aniversário.
Debaixo de uma cerejeira, sentados lado a lado em cima de uma toalha de piquenique enquanto as pétalas caiam das árvores em seus cabelos, estavam meio escondidos dos outros casais que andavam pelo corredor de árvores, comendo algumas coisas que a avó dele havia os dado. pediu permissão antes de o fazer e ela deu, se sentindo a garota mais sortuda do mundo por poder ter seu primeiro beijo com uma pessoa tão especial, mesmo que naquela época ainda não entendesse bem o porquê considerá-lo tanto dessa forma.
Nenhum dos dois tinha alguma pretensão com isso, mas os beijos se tornaram frequentes, tanto que chegaram a ser pegos algumas vezes. Quando estavam juntos, a tensão começava a se formar e era tão pesada que não conseguiam resistir a não ser que colassem os seus lábios até parecer que não existia mais oxigênio no planeta. Mas nunca, nada foi sério entre eles, e com o debut de , a intenção era nada mais do a famosa amizade com benefícios.
conhecia bem o amigo para trancar seu coração a paixão. Um amor de pessoa, daquele tipo que você quer guardar em um potinho de arco íris, mas em questões românticas, nunca foi muito estável, e não o culpava. Nunca assumiram um relacionamento e nem mesmo discutiram se existiam sentimentos além da amizade, ele não estava preso a ninguém para não “aproveitar” aquilo que a fama lhe dava.
E agora eram dois adultos de trinta e um e trinta e quatro anos, com carreiras formadas com vidas financeiras estáveis, e todos os objetivos de infância alcançados, mesmo que tivessem algo em comum: eles sempre queriam voar mais alto em suas carreiras, o que ocasionou que ambos se tornassem solitários.
No caso de , era completamente compreensível pela indústria a qual ele estava inserido, mas no caso de , ninguém conseguia entender como uma mulher linda e bem sucedida não se envolvia com ninguém, principalmente com os contatos que ela tinha. Até mesmo rumores sobre sua sexualidade já haviam sido levantados, porque se não bastasse ela não ser casada, também nunca haviam a visto em qualquer encontro ou namoro. O único homem a qual ela tinha um relacionamento era .
E ela não se importava com isso. Antes. Porque agora talvez estivesse se importando.
- , me assusta você estar tão sozinha. - a mãe da mulher comentou quando estavam sentadas em um café, saindo um pouco juntas em um encaixe da agenda apertada de alguém tão workaholic quanto ela.
- Eu não estou. Tenho você, o papai, meus gatos. - balançou os ombros com um sorriso maroto, levando o canudo do suco natural de laranja que havia pedido até os lábios.
- Você entende o que eu quero dizer, não se faça de cínica. - riu com a resposta da filha, balançando a cabeça negativamente. - Eu estou ficando velha, mas quero conhecer meus netos. Quero poder correr com eles.
- Você já não pode correr muito mesmo se eu ficasse grávida agora… - soltou com o olhar distante de quem pensou alto demais e o tom inocente para completar a provocação.
- .
- Desculpe.
- Filha, eu quero te ver de noiva, estar no seu casamento. Não me leve a mal, eu também ia adorar se você e o finalmente se acertassem. Eu sei o quanto você o ama, mesmo que não admita, mas eu não sei se ele sente o mesmo. E mesmo se sentisse… Você sabe que ele nunca largaria a carreira por ninguém. Não quero que esse amor roube seus anos, mais do que já roubou. - sua mãe sabia tanto sobre sua história com o , que era impossível discordar dela.
Um dia, quando estavam aos beijos no quintal da casa de , chegou mais cedo do mercado e os flagrou, foi uma cena terrível na hora e acharam que nunca mais nem mesmo poderiam se encontrar, mas pela menina ter por volta de vinte anos naquela época, não havia muito que a senhora pudesse fazer. Hoje em dia os três fingiam que nunca aconteceu, ou quando eram forçados a lembrar, riam. E por mais que falasse que nunca mais tinha acontecido e que aquela havia sido a primeira vez… Bem, mãe sabe das coisas.
- Já entendi, você está com saudades de ter uma criança em casa. Por que não adota- Vai ser mais rápido do que me esperar engravidar. - riu maldosa, fazendo a boca da mulher cair embasbacada, ao mesmo tempo que o telefone da filha tocava.
- Que horror!
Entre os risos, apertou o botão de aceitar a ligação. Sabia quem era apenas pela música que tocou, afinal, aquele toque era exclusivo de . Afinal, pra quem mais poderia colocar sua música favorita do Super Junior pra tocar, Mamacita, se não pro próprio integrante do grupo?
- O que deu errado? - ela brincou ao atender, esperando que isso quebrasse o provável nervosismo que estava sentindo para ligar durante as gravações do novo MV.
O conhecia bem o suficiente e há tempo o suficiente, então sempre perguntava isso quando o amigo lhe ligava durante os horários de trabalho, pois sabia que em sua maioria das vezes ele sempre estaria ligando porque estava nervoso com algo e precisasse se distrair e relaxar um pouco conversando. Isso nunca lhe incomodou, muito pelo contrário, adorava saber que ele achava um porto seguro em si e que ele sempre acabava voltando para quem confiava no final.
- , dessa vez deu errado mesmo. Eu preciso de você urgentemente na SM, você pode me fazer esse favor? - o desespero na voz do amigo passava através da linha e a garota levantou na mesma hora, de olhos arregalados.
- Estarei aí em quinze minutos, no máximo.
lhe esperava na porta quando chegou no prédio onde uma das famosas caixas de filmagem da SM ficavam, e parecia que o peso de ter matado alguém saíra de seus ombros quando a viu atravessando a porta giratória, preocupada com o que era tão grave que estava acontecendo.
- Oppa, está tudo bem?! - questionou assustada, tomando o cuidado de ser formal e curvar levemente as costas em sua direção, já que estavam em público e a recepcionista do local não desgrudava os olhos dos dois.
- Não exatamente! Vem comigo, vou te explicar lá dentro. - não se importou de pegá-la pelo pulso e guiar até o elevador, onde apertou o botão do terceiro andar. Balançava a perna ansiosamente, o que só fazia a garota ficar mais nervosa.
- , você está me deixando nervosa, o que aconteceu? - perguntou com uma sobrancelha arqueada, aproveitando que estavam sozinhos para perguntar.
- Nossa stylist sofreu um pequeno acidente de carro e não vai poder vir, então eu preciso muito de você agora! Estava tudo bem por que as roupas estavam separadas, mas a roupa da Leslie rasgou enquanto ela dançava, então…
- Então você precisa das minhas habilidades pra salvar a pele do seu music video? - questionou provocativa, cruzando os braços a frente dos seios e sorrindo de canto.
- Demais! A mulher não tem agenda livre depois disso. Tem que ser hoje. - ele respondeu, já juntando ambas as mãos a frente do rosto, em súplica.
- E o que eu ganho com isso? - indagou outra vez, mantendo a expressão maldosa e o tom de voz. Poderia parecer sério para quem não a conhecesse, mas o saberia que era uma brincadeira.
- Por favor? - ok, talvez não soubesse não, ou parecia que não pelo desespero latente em sua voz.
- Ok, vou me contentar apenas com a satisfação de ter ajudado um dos maiores boy groups do mundo. Parece o suficiente pra mim. - manteve o tom sarcástico para ver se agora percebia que continuava apenas brincando.
Tinha algo estranho com aquela reação do amigo, ele normalmente perceberia na hora que estava apenas dramatizando, entraria na brincadeira e até mesmo flertaria, mas dessa vez ele nem mesmo lhe respondeu após o comentário, puxando seu pulso delicadamente outra vez assim que a porta do elevador se abriu. Deveria estar mesmo muito nervoso com a situação.
- Chegou a salvadora da Pátria! - se pronunciou assim que viu e chegando no lounge de tamanho médio, mas assim que viram os garotos, o soltou-a.
- , muito obrigado por aceitar nos ajudar. - foi o único que levantou e educadamente reverenciou a mulher com um sorriso, recebendo de volta tanto a reverência quanto o sorriso.
- Nós com certeza vamos achar um jeito de te recompensar depois! - voltou a falar, brincando com a mecha cacheada do cabelo que caía em seu rosto. - Ou pelo menos o vai. - não resistiu em soltar, fazendo com que todos os outros rissem, até mesmo a garota que deu um tapa no ombro do também amigo e balançou a cabeça.
O que dizer? Quando você é tão próxima de um deles há tantos anos, acaba ficando próxima de todos.
- Mais respeito, por favor. - pediu, revirando os olhos e já mudando de assunto. Outro alerta acendeu na cabeça de , enquanto ela continuava as coisas muito estranhas, mas outra vez, ignorou. - Vem, , o camarim que ela está é aquele ali. - apontou para uma das portas que ficavam mais para frente na entrada do corredor, a chamando com a outra mão.
- Até depois! - acenou para todos os outros que ficaram no lounge, seguindo que já batia na porta do camarim algumas vezes.
Quando chegou na frente da onde ele estava, a porta já estava aberta e apenas entrou, dando de cara com uma mulher que não aparentava ter muito mais que vinte e dois anos. Ela era linda, com os cabelos longos presos em um rabo de cavalo alto, maquiagens e roupas típicas de perfomance, sua pele dourada parecia brilhar nas luzes pálidas do camarim.
Claro que sabia quem Leslie Grace era, na verdade, antes de fecharem a colaboração entre ela e o Super Junior não sabia muito não, mas fez a lição de casa para ter consciência de que era uma ótima cantora e uma celebridade em ascensão. Não que isso lhe deixasse nervosa, na verdade, estava acostumada.
- E-Eu, é, bem… - Leslie tentou começar em uma mistura de inglês e espanhol, não sabendo bem como devia se referir a que percebeu que entrara em um estado de choque e encarara a menina por bem mais tempo que devia.
- Você pode falar comigo em inglês. - voltou a sua postura profissional, agora com as costas eretas e estendendo uma das mãos na direção da mais nova que sorriu aliviada com isso, e apertou sua mão rapidamente, com a outra a frente dos seios.
- Ótimo! Foi aqui, essa parte do top rasgou enquanto eu dançava. - virou de costas para a mais velha que arregalou os olhos ao ver praticamente toda a parte de cima da roupa solta, entendendo o porquê dela estar “segurando” os seios desde a hora que entrara. Era isso, ou o pano cairia de uma vez e bem, não queria um contato tão íntimo assim com a garota de primeira.
- Certo, eu vou dar um jeito nisso, ok? - respondeu com um sorriso simpático, tentando acalmar a garota e olhando para uma staff que estava com cara de nada, sem entender uma só palavra do que diziam.
Pediu um kit de costura, mas sabia que aquilo não seria o suficiente para tornar as coisas visualmente bonitas, então enquanto a mulher ia buscar o que pedira, pediu um minuto para Leslie para ir ver alguma opção que ajudasse na situação.
Andava até uma das salas de figurino que sabia que tinha naquele prédio, rapidamente achando um casaco dourado peludo que completaria bem o look da garota, ao mesmo tempo que esconderia o problema. Sorriu orgulhosa, saindo da sala e traçando o caminho de volta. Já fizera alguns trabalhos para a SM Entertainment, claro que o amigo sempre quisera lhe ajudar e costumava a indicar como uma ótima estilista, mas preferia focar em sua empresa do que naquele ambiente, onde a sua proximidade com estava sendo sempre questionada e investigada.
Era até mesmo compreensível porque ele se tornava consideravelmente mais frio quando estavam por ali, mesmo que ainda não estivesse entendendo bem a forma de agir de , que tentava ignorar e fingir que não havia acontecido. Mas como poderia ignorar quando tudo foi jogado no ventilador, em direção a si-
- Hey, você é a stylist de hoje, não é? - uma mulher com um vestido de lantejoulas azuis e uma maquiagem forte perguntou quando passou na frente de uma das salas de maquiagem, sorrindo de forma maliciosa.
arregalou um pouco os olhos quando viu o estado em que a maquiagem da garota estava, ou melhor, o estado que seus lábios estavam, completamente borrados como se ela tivesse acabado de… Bem, preferia nem pensar. Conhecia bem a indústria para saber como as coisas funcionavam debaixo dos holofotes, então achou até mesmo que fosse um problema para recolocar as peças de roupa após tê-las tirado tão de pressa.
- Sim, posso ajudar?
- Eu não, acho que preciso mais de uma maquiadora. - riu, parecendo completamente satisfeita com a situação. - Mas o Oppa… Acho que as roupas dele ficaram muito amassadas para continuar gravando com elas, ia ser bom ajeitá-las.
Aquelas palavras junto com o jeito debochado que a mulher falava e a risada da fizeram entrar em um colapso mental, encarando o nada por praticamente um minuto e apertando o casaco contra o corpo, tentando digerir o que estava acontecendo e o que ouvira. A realidade era sempre mais difícil de encarar do que parecia, mas sabia que não podia se ofender e nem se sentir pra baixo com isso. Era direito dele, afinal.
- Claro, eu vou fazer isso. - forçou um sorriso desconfortável, curvando levemente as costas na direção da menina. - Obrigada por avisar.
E então saiu, voltando para onde Leslie estava e passando pelo lounge como um raio, sem nem mesmo olhar para o lado para saber se estava ali. respirou fundo assim que fechou a porta do camarim, e voltou a sua postura. Não seria aquilo que a desconcentraria, não seria aquilo que lhe faria fraquejar agora.
Enquanto costurava o pano da roupa da cantora da forma mais cuidadosa que tinha, a conversa que teve com sua mãe há poucas horas havia voltado a sua mente. Ela estava certa. Devia imaginar, porque mães sempre estavam certas.
- Ai, eu não sei nem como agradecer! Ficou ainda mais estiloso do que antes com o casaco. - a jovem sorriu largamente, não se segurando em lhe dar um abraço.
- Não se preocupe, eu fico feliz em poder ajudar. - sorriu largamente com a reação da menina, a recepcionando também no abraço que logo se desfez.
- Está tudo bem por aí? - a voz conhecida fez com que os sentimentos bons que tomaram sua mente desaparecessem e ficassem confusos. Ele estava ali, tão perto, mas a verdade é que não sabia se queria vê-lo.
Leslie olhou para si um pouco desesperada, fazendo que lembrasse que a garota não entendera nem mesmo a primeira palavra que pronunciara, quem dirá saberia respondê-lo. Respirou fundo e colocou o melhor dos seus sorrisos no rosto, lembrando sempre que nada que o fazia, era da sua conta. Eles eram apenas melhores amigos de infância. E foi com esse pensamento que abriu a porta.
- Tudo pronto, já podem voltar as gravações. - quando encarou o sorriso aliviado do amigo, quis socá-lo ao mesmo tempo que se sentia aliviada também em ver aquele peso saindo das costas dele. A confusão em sua mente era, no mínimo, cômica. Ou pelo menos gostava de pensar assim para que não se tornasse trágica.
- Ótimo! Você fica pra assistir- - pela primeira vez no dia ele sorriu para si, mas seu olhar se guiou lentamente até o chão, enquanto mexia nos cabelos delicadamente.
Forçou um sorriso e assentiu com a cabeça, murmurando um “claro”. Mas tudo isso foi apenas para disfarçar o incômodo que atingiu seu âmago ao ver as roupas de . Elas estavam, realmente e definitivamente, amassadas.
- O que você fez com essa pobre camisa de seda? - perguntou, apontando e disfarçando o sorriso triste com uma sobrancelha arqueada.
- Isso? - arregalou os olhos ao perceber, passando uma das mãos no tecido. - Ah, você sabe, seda amassa fácil e com os movimentos de dança…
- Claro que sim. - riu amarga e então passou por ele, parando no corredor. - Deixe comigo alguns minutos, vou dar um jeito nisso.
concordou e acompanhou a amiga até o camarim. ignorou veementemente sua presença, até mesmo quando ele ficou com o dorso desnudo para entregar a camisa e se jogou no sofá, com o corpo bem desenhado totalmente exposto. Não olhou, mesmo que uma vez só, concentrando-se em realizar aquela espécie de trabalho direito.
Podia sentir o olhar de queimando em suas costas, subindo e descendo como se ele tivesse analisando todas suas curvas e detalhes que lhe doía em dizer naquele momento, conhecia tão bem. Era claro como cristal que ele percebera a mudança em seu humor, o a conhecia bem também em personalidade, o suficiente para entender toda a sua linguagem corporal, porém, com todos aqueles anos mentindo e escondendo seus sentimentos reprimidos, aprendera a disfarçar completamente tudo o que apontasse para o motivo de suas súbitas mudanças de humor.
Quando ouviu, bem baixinho, que havia se levantado e agora dava passos em sua direção praticamente inaudíveis de quem queria surpreendê-la com a furtividade de um felino, todo o seu corpo se tencionou e endureceu no lugar, tornando difícil até mesmo respirar. Não estava pronta para ceder a seus charmes, ao mesmo nível que não estava preparada para resistir à tais.
- Me desculpe por ter sido um pouco frio mais cedo, eu realmente estava preocupado com tudo o que estava acontecendo. Você sabe, eu sempre me sinto muito responsável por qualquer coisa. - sentiu os lábios dele próximos ao seu ouvido, e sua voz soou sussurrada em um perfeito asmr, acompanhada de um pequeno beijo embaixo de sua orelha que lhe fez arrepiar por completo.
Amoleceu por alguns segundos, pelo menos até lembrar o que havia o relaxado. Sorriu com deboche, impedindo que recostasse a cabeça em seu ombro como ele queria fazer, girando o corpo para que ficassem frente a frente. A distância era mínima e podia sentir a respiração pesada do homem em seus lábios, mas não ia deixar com que aquilo lhe abalasse. Manteve o sorriso, levantando uma das mãos entre os dois e próxima ao peitoral do mais velho.
- Sua camisa. Se vista, eu vou estar esperando lá para assistir a sua atuação do século. - não conseguiu controlar o tom de voz completamente ácido em direção a , mas assim que ele pegou a roupa, deu passos firmes em direção a porta e saiu por ela.
Puxou o ar diversas vezes para manter sua sanidade na melhor das condições que podia, mas não conseguia ignorar o conflito de pensamentos que invadia sua mente, lhe fazendo ir até o banheiro para tomar um minuto sozinha.
Uma parte de si dizia que aquele drama já estava acabado, ele havia pedido desculpas sobre sua forma de agir e o resto não era da sua conta, afinal, quantas vezes tinha que convencer seu coração de que não tinham um relacionamento- Mas a outra parte, que ouviu enquanto falava com , dizia que ele fora no mínimo um canalha de ter se atracado com a mulher enquanto também estava ali. Essa parte ignorava completamente o fato do não saber seus sentimentos por ele.
Pensava que podia ter lhe procurado se precisava aliviar o estresse, afinal, ela já estava lá de qualquer forma, e pensar desse jeito a fez entrar em outra crise. Era isso que queria ser para ele- Um escape, como qualquer uma das mulheres que ele rolava nos lençóis macios quando precisava de alívio- Se contentaria com isso, tendo plena consciência de que nunca seria mais-
Fechou os olhos por alguns segundos, ao mesmo tempo que se concentrava em normalizar sua respiração. Não era hora e nem momento para pensar em sua relação praticamente inexistente com , precisaria estar em casa com uma garrafa de algo bem forte que lhe ajudaria a digerir tudo aquilo, por isso saiu do banheiro de cabeça erguida, encontrando com parecia estar lhe esperando.
- Como você está, raio de sol? - ele questionou com um sorriso maldoso, a fazendo arquear uma das sobrancelhas com aquele tom de voz.
- Bem…- - respondeu em um tom não muito confiante, com medo do que o homem escondia atrás daqueles olhos misteriosos e repuxar de lábios cheio de segundas intenções. - E você?
- Ótimo. está gravando e me pediu pra te levar até lá, vamos? - ofereceu o braço para a mulher, que aceitou e entrelaçou com o seu, mesmo que ainda mantivesse uma expressão confusa que incitasse a risada de .
Tentou relaxar os ombros que se ergueram inscientemente quando ouviu o nome do , se esforçando para acabar com a sua tensão e os motivos de risos do mais velho, respirando fundo algumas vezes para retomar a postura que mantinha normalmente.
- Ah, para, vocês dois brigaram- - questionou o que queria há um tempo, deixando a boca entreaberta em choque. - Em todos esses anos nessa indústria vital, essa é a primeira vez que isso me acontece.
- Não, nós não brigamos! - negou no mesmo instante, erguendo as mãos ao alto e as balançando no ar de um lado para o outro. - Eu só ouvi algumas coisas no corredor que me deixaram um pouco… Assustada.
- Você quis dizer enciumada?
- Não, eu não quis.
- Claro. - riu outra vez, balançando a cabeça enquanto a puxava levemente para começarem a andar. Era por essas que não se envolvia diretamente no ambiente de trabalho deles, porque mais cedo ou mais tarde, aquilo aconteceria. - Eu não sei como eu posso ajudar, isso é o que acontece.
- Não preciso que me ajude, não se preocupe. Vou me acostumar com isso em breve. - a confirmação de que aquilo era comum a deixou novamente determinada a manter sua postura e não deixar, de forma alguma, que se abalasse com a situação.
Claro que sabia que tinha casos esporádicos, uma vez que era um deles, mas a naturalidade que aquilo era tratado por evidenciava que a frequência era maior do que havia imaginado, o que lhe fez ficar até mesmo enjoada. O homem por sua vez, apenas suspirou e balançou a cabeça negativamente. Aqueles dois eram dois idiotas desperdiçando o tempo que podiam passar juntos com outras pessoas e escondendo por orgulho e burrice o sentimento que nutriam um pelo outro. Mas quem era ele para julgá-los?
A única coisa que poderia dizer, no fim, é que ele realmente havia sido um cretino de se atracar com uma mulher com tão próxima. Mas no pé da relação deles, como pensaria que aquilo era tão ofensivo-
Para ajudar, quando chegaram até o estúdio de gravação, gravava exatamente sua parte de dança com a atriz que correra os corredores deixando claro que sua relação atravessara os parâmetros profissionais com o homem, fazendo respirar fundo outra vez e puxar o braço que estava conectado com o de .
Os corpos não pareciam ter vergonha nenhuma de se colarem uns aos outros, e os olhares deixavam a tensão completamente latente. Engoliu em seco, fechando os punhos em total desgosto. Então era pra isso que ele queria que ficasse ali. Virou as costas e marchou até o elevador para ir embora, sem se importar com as consequências do que aquilo poderia trazer para os pensamentos de . Apenas se importou consigo mesma, e com o que estava pensando ao ver aquela cena.
Pelo resto daquele dia, desligou o celular e deixou sua agenda atrasar. A única coisa que fez foi deitar no seu sofá e remoer toda a sua relação com , desde quando eram crianças até o dia de hoje. Todas as memórias passavam como cenas de um filme em sua mente enquanto olhava as fotos dos dois espalhadas pela sua casa e nos álbuns de família que guardava na estante da sala.
Era torturante pensar que o amava tão intensamente durante todos esses anos e nunca imaginou que pudesse haver algo além disso entre os dois, além daquela amizade. Como seria quando resolvesse estabelecer um relacionamento sério? Como seria quando fosse convidada para ser madrinha de seu casamento?
Um arrepio subiu sua espinha ao pensar nisso, e então chorou até dormir entre as almofadas do sofá espalhadas no chão. Seria uma noite revigorante, se não houvesse esquecido de um pequeno detalhe que lhe fez acordar completamente estupefada. Tinha certeza que acordara ouvindo o barulho de um prato batendo contra a mesa.
Rapidamente virou o corpo e devagar ergueu a cabeça até o assento do sofá, o usando como escudo para caso realmente encontrasse alguém ali e pudesse não ser vista por tempo o suficiente para correr até a porta do apartamento e gritar para o prédio todo que sua casa foi invadida. Mas parou assim que ouviu o tom de voz que cantarolava uma melodia calma que não conhecia ainda, o reconhecendo no mesmo segundo.
tinha a sua chave. Não sabia mais se odiava-se mais por ter esquecido disso, ou por ter um dia dado a cópia para o homem.
- O que você está fazendo aqui? - questionou ainda com a voz meio mole pelo sono e os olhos meio fechados pelo inchaço, além de provavelmente borrados já que nem mesmo se dera ao trabalho de tirar a maquiagem da noite passada, apenas colocara seu pijama ridículo de TVXQ da época de colegial - um desgosto pessoal do melhor amigo que não se conformava em vê-la sendo tão fã do duo quanto do próprio Super Junior.
- Você saiu antes que eu pudesse te agradecer direito por ter salvo as gravações. - a voz conhecida soou aos seus ouvidos novamente enquanto deixava seu corpo cair outra vez por cima das almofadas, sem se importar com o impacto. - O me disse que foi às pressas e você não atendeu o celular ontem a noite, então eu fiquei preocupado. O que aconteceu?
Isso porque nem mesmo quis citar a forma que a amiga lhe tratou no camarim, porque na verdade também não havia sido muito gentil antes daquela hora.
- Ah, isso… Não é nada demais, eu precisei sair, só. - era uma mentirosa horrenda e sabia disso e sabia como explorar sua fraqueza. Quando viu, o homem já estava em pé a alguns centímetros da sua cabeça, olhando para baixo e fazendo seus olhares se encontrarem daquela forma que a dava vontade de morrer.
- Sério? Não é possível, aconteceu alguma coisa, você parece péssima. - a sinceridade de muitas vezes era uma qualidade, mas às vezes… Grunhiu manhosa, girando o corpo e encarando o sofá que estava ao seu lado. - Aaah, não faça assim, !
Ele rapidamente tentou dobrar sua manha, se deitando no sentido contrário que o seu, de barriga pra baixo, e então deixando o rosto de frente para o da garota, um pouco mais acima, enquanto suas duas mãos seguravam suas bochechas para fazê-la lhe olhar. Seus olhos se perderam nos lábios avermelhados de , que foi puxado um pouquinho para o lado ao ver sua reação.
- Eu tive um encontro. - soltou a primeira coisa que passou pela sua cabeça, não conseguindo ver os olhos do se arregalarem já que não prestava atenção nessa parte do seu rosto naquele momento. - Foi por isso que eu saí cedo ontem. Eu tinha um encontro marcado e não podia me atrasar.
- Ah, sério…? Um encontro profissional? - a surpresa em misto com o vacilo na voz de era algo a se esperar, já que em todos aqueles anos ele nunca havia ouvido aquelas palavras saírem da boca da mulher. Mas chegava a ser ofensivo ele pensar que tinha que ser profissional, não achava que ela conseguia um romântico ou o que?
- Não, um encontro mesmo. - agora se tornou provocação, apenas para deixar claro que conseguiria sim sair com alguém se quisesse. - Por que o choque?
- É que… É difícil, você nunca pareceu interessada em ninguém. - a força que usava para manter o rosto de reto para encarar o seu aos poucos foi sumindo, assim como os olhos do homem perderam o foco. - Bom, mas não parece que foi muito bom, levando em conta que você está usando o pijama da depressão adolescente.
- N-Não fala assim! - reclamou, erguendo a coluna de uma vez e desviando apenas da cabeça dele para não se machucarem. - O pijama é maravilhoso. Mas sim, foi horrível. Uma das piores coisas que poderiam ter acontecido. - sussurrou as últimas palavras, os olhos se focando por um segundo no chão quando ela lembrou da cena que presenciou, de dançando agarrado com a mulher. - Eu nem quero falar sobre isso.
- , ele não fez nada demais com você, não é? - o amigo perguntou, voltando a segurar seu rosto de forma firme, mesmo que agora estivessem sentados lado a lado, com as costas no móvel. - Eu nunca te vi falando de ninguém, e muito menos chateada desse jeito!
- Só, aparentemente, achou que seria divertido se esfregar com outra pessoa no banheiro enquanto eu estava lá. - a mulher forçou um sorriso sem abrir os lábios, piscando um dos olhos para o amigo e então conseguindo ver detalhadamente a onda que se formou em seu pescoço quando ele engoliu a saliva a seco.
- S-Sério?
- Sim, acredita? E ainda voltou pra mesa com a roupa toda amassada e a cara borrada, então eu vim pra casa. - levantou, dando as costas para e sorrindo satisfeita com a história meio inventada e meio não, indo até a geladeira e pegando uma garrafa de alguma coisa forte.
- , eu sinto mui...
- Nem precisa. Eu odeio essa raça maldita de homens mesmo, vai ser melhor morrer sozinha, assim eu não tenho dor de cabeça nenhuma. - tirou a tampa da garrafa, a jogando por cima do ombro e fazendo ter que abaixar para desviar dela, chegando na amiga antes que ela virasse o conteúdo do vidro nos lábios.
- E a nossa promessa de que se estivéssemos solteiros até os trinta e oito, a gente casava? - ele perguntou em um tom brincalhão, deixando a garrafa em cima do balcão e então voltando para trás da mulher empurrando a porta da geladeira com uma das mãos enquanto a outra ia para o quadril dela. - Sabia que só faltam quatro anos pra mim?
- Sei sim, . - se desvencilhou da mão dele, sentando em uma das banquetas e observando o pequeno café da manhã que ele havia preparado, com algumas torradas, frutas, suco e geléias.
- , eu fico triste quando o seu ódio por toda a raça masculina me incluí. - ele sentou na banqueta de frente para a garota, segurando sua mão e lhe olhando com os olhos angulados brilhantes. - Eu sou diferente, não sou?
Naquele momento, deixou-se parar de fugir do contato com o melhor amigo e também ergueu os olhos. Ambos se encararam por alguns minutos, nenhum deles fez menção de afastar as iris, mas sentiu um arrepio subir a sua espinha, fazendo seu corpo todo ficar tenso quando viu aquele sorriso de canto satânico dela.
- Eu não sei, me diga você. Você é diferente, Oppa? - ela questionou em um tom duvidoso, arqueando uma das sobrancelhas e carregando ainda mais o tom de voz na última palavra.
Ela sabia o quando isso a deixava louco, mas naquele momento parecia que a mais nova pularia em seu pescoço a qualquer segundo e aqueles dedos que tanto lhe massagearam um dia iriam se comprimir até não lhe restar mais ar algum. Sua garganta secou e aos poucos, antes que respondesse, as coisas começaram a fazer sentido.
As piadas de no dia anterior, lhe zoando por ter ficado com a atriz, assim como ele dizia que as ações teriam consequências. A forma que agira depois de ter chego…
- Você soube? - perguntou, arqueando uma das sobrancelhas em dúvida de como deveria reagir naquela situação.
- Eu tenho algo pra saber? - provocou no mesmo tom de voz e expressão inocente, apenas deixando mais confuso ainda sobre o que deveria falar ou fazer.
- Não aja desse jeito, . - chamou-a com um bico nos lábios, apertando carinhosamente a mão que estava entrelaçada com a sua. - Não faça assim comigo.
cortou o contato visual assim que começou a falar. Não se sentia no direito de fazê-lo se sentir mal por aquilo, pelo menos não enquanto ele não sabia de nada. Sua mente estava nublada naquele momento, o conflito entre seus sentimentos nunca havia sido tão forte, e só havia uma coisa que poderia ser a certa naquela situação.
- , seja qualquer relação que nós tínhamos até hoje além da amizade, é melhor terminar agora. - seus olhos se encheram de água ao falar isso, enquanto puxava sua mão para cortar o contato físico, passando os dedos lentamente pelo próprio braço.
Aquelas palavras foram como um automóvel em alta velocidade que o atingiu em cheio quando atravessava a rua sem prestar atenção. De onde aquilo havia vindo? Por que tão repentinamente?
- , o que você quer dizer com isso? Quer dizer, o que eu fiz de errado? - ele se desesperou com as palavras dela. Nunca achou que ficaria daquela forma se decidisse “terminar” o que tinham, porque sinceramente, nunca achou que acabaria. simplesmente nunca planejou demais quando se tratava dos dois, porque achava que ela estaria lá durante todo o tempo.
Nem sempre eles estavam juntos. Às vezes, era apenas ela que estava lá. E ele nunca percebeu isso.
- Eu não tenho o direito de me sentir mal se você se atracou com a atriz nos bastidores, porque é um direito seu, como um homem sem compromisso firmado com ninguém. Eu não quero me sentir mal por isso, mas eu não consigo parar de pensar no porquê, se eu estava lá. - as palavras saíram um pouco baixas e atropeladas, pelo tom de voz embargado da mulher. - Eu não posso me sentir mal, mas me sinto do mesmo jeito. Por isso, até que eu pare de me sentir, é melhor que nós nunca mais façamos nada, além de sermos só amigos. Porque eu não consigo lidar com isso mais, , eu… - parou de falar, pois sabia que se pronunciasse mais uma palavra, não conseguiria mais engolir o choro.
Naquele momento algo acendeu na cabeça de , um interruptor pressionado que fez a iluminação ligar e mostrar tudo que estava escondido pela escuridão. Ao ver o coração da amiga, o que ela realmente sentia, ele pareceu entrar em estado de choque. Vendo que ele não tinha nenhuma resposta, ela simplesmente respirou fundo mais uma vez, com os cabelos a frente do rosto para cobrir sua feição triste.
- , nenhum brilho é capaz de brilhar para sempre, não importa o quão especial, tudo tem um fim. Isso também acontece com a gente, então não se sinta mal se nossos corações sentem diferente. Tudo acaba, e chegou a hora dos meus sentimentos por você acabarem também. - sussurrou, tão baixinho e inaudível que ele até mesmo teve algumas dificuldades para entender, principalmente porque ainda tentava digerir a situação.
- Não, não fala isso. - o se levantou rapidamente, se desesperando enquanto dava a volta no móvel rapidamente para poder tocar e levantar seu rosto, tirando todo o cabelo que o cobria e vendo seus olhos vermelhos de segurar lágrimas. - Desculpe por meu coração ser muito lento. Desculpe, desculpe.
Abraçou a mulher quando o ambiente se tornou silencioso porque não tinha nada o que dizer, apenas se concentrava em não chorar. Ele acabou puxando-a pelo ombro com uma das mãos e deixando a outra acariciar seus cabelos, fazendo-a poder ouvir as batidas aceleradas do seu coração, por ainda estar sentada, o ouvido dela estava sendo levemente pressionado contra seu peito.
- Tudo acabou agora, você pode soltar todas as lágrimas que esteve segurando, está tudo bem. - sussurrou, abaixando sua cabeça até que estivesse próximo o suficiente da de para que ela lhe ouvisse facilmente. Foi ai que ela derrubou a primeira lágrima, que logo se juntou com diversas outras e escorreram por seu rosto, por seu queixo, até molharem a camisa de . - Eu vou segurar o seu coração quebrado. Deixe as pétalas que caíram florescerem outra vez. Eu sei que nada é eterno, mas só dessa vez, por favor, me ame para sempre. Você é a primeira e única, . Eu não te procurei ontem porque eu nunca quis te usar como um alívio. Eu te procuro quando eu quero sentir amor de verdade.
- Então você quer dizer que…
- Sim, eu quero dizer que te amo, da mesma forma que você me ama. Desculpe por hoje ser tarde demais, meu amor… Me diz que não acabou, que a minha chance não foi embora. - em momento nenhum afrouxou aquele abraço, mesmo que quisesse olhar nos olhos de . Queria senti-la assim, aninhada em seus braços, queria que ela sentisse o quanto amava quando sabia que ela estava junto a si.
- Eu te amo, . Mas tenho medo do futuro, e o meu futuro já chegou, eu não sou mais tão nova assim. Eu não quero que você abra mão de tudo o que você ama por mim, nós temos o exemplo do Sungmin, como isso poderia dar certo? Nós não somos mais os adolescentes sem responsabilidades que éramos da primeira vez. - despejou, o choro tão copioso por ter guardado aqueles sentimentos por tanto tempo que se tornava até mesmo difícil de falar.
- A primeira vez e hoje, eu sei que elas não vão ser iguais. Ás vezes, eu fiz você sofrer e eu não posso prometer um amanhã melhor, mas posso prometer um amanhã onde você será minha e eu serei seu. A única coisa que não vai mudar sou eu, você, e nós. O amor que eu tenho por você, ele não vai mudar. Pra mim isso é o suficiente pra dar certo, e pra você?
Epílogo
Anos haviam se passado, e até hoje se pegava pensando sobre a pergunta que lhe fizera. O amor para ela era suficiente, mesmo sabendo que teriam um relacionamento instável e secreto? Mesmo não tendo certeza de quando poderiam simplesmente andar de mãos dadas pela rua sem que isso virasse o título de uma matéria em diversas plataformas, sem que os atacassem por se amar ou sem que a carreira de acabasse por isso?
Olhou uma última vez sua aparência no espelho, ajeitando a blusa larga com mangas compridas de cor branca e finas linhas pretas. Ajeitou seu cabelo e pegou a bolsa, respirando fundo pelo cansaço de todo um período de trabalho, já que haviam pedido todo um conjunto de roupas para um grupo que teria um comeback logo.
Passara a noite toda no estúdio, e agora já batiam dez da manhã. Embaixo de seus olhos tinham profundas olheiras que a maquiagem não era capaz de esconder, mas antes de finalmente ir para casa, quis atravessar a pé o parque que ficava no caminho entre onde trabalhava e onde morava.
As majestosas cerejeiras que dominavam a paisagem fizeram um sorriso melancólico aparecer no rosto da mulher, lhe fazendo lembrar-se dos momentos da sua adolescência. Do primeiro beijo. Talvez estivesse particularmente concentrada em lembrar-se do passado naquele dia, mas tinha seus motivos. As palavras de , que ouvira há seis anos, não saiam de sua mente toda vez que olhava aquelas árvores tão bonitas.
“Deixe as pétalas que caíram florescerem outra vez”
Enquanto andava, a cada passo uma pétala se desprendia do galho e podia sentir um pouco das lembranças invadindo seu peito e sua mente, lhe fazendo sorrir mais largamente. O que não esperava, na verdade, era vê-lo andando na sua direção em plenas seis e meia da manhã, com os cabelos bagunçados e ainda vestindo sua calça do pijama, enquanto a camisa era exatamente igual a sua, de mangas compridas, branca com linhas pretas.
- … - O que você está fazendo aqui? - perguntou confusa, arregalando os olhos que se comprimiam levemente pelo sono.
- Eu não consegui pregar os olhos sem a minha esposa ao meu lado na cama. - ele sussurrou sonolento, abrindo os braços para os lados para que se alinhasse ali.
Era cedo demais e os únicos que passavam ali estavam em direção a suas escolas e trabalhos. Mas mesmo que estivesse passando uma multidão, eles ainda estariam abraçados. Porque não havia nada melhor para os dois que se sentirem completos da forma que se sentiam quando estavam conectados daquela forma tão íntima.
- Estar aqui com você me traz tantas lembranças. - a mulher sorriu com aquilo, deixando as mãos arrastarem os fios lisos do homem enquanto as mãos dele possessivamente seguravam sua cintura.
- Sim… - sorriu nostálgico. Parecia que havia voltado no tempo, para aquele dia que havia criado coragem de beijá-la pela primeira vez. - Eu me lembro de tudo, desde quando nos beijamos, até finalmente o nosso casamento que demorou tanto pra acontecer e só faz alguns meses. O tempo que você gastou me protegendo, eu vou te recompensar. Por acreditar e esperar por nós, obrigado, . - beijou a testa da esposa que sorriu largamente, se agarrando as costas de .
Aquele discurso podia não fazer tanto sentido, mas eles sabiam do que se tratava. Pelo tempo que ela esperou até que ele pudesse assumir um relacionamento sem que isso trouxesse uma reação ruim. Pelo tempo que ela protegeu o seu sonho de cantar e de ser Super Junior. era, de todas as formas, uma mulher admirável.
- … - a mulher sorriu, sentindo as lágrimas encherem seus olhos com as palavras dele. Estava sensível, sim, e o marido maravilhoso que tinha não ajudava em nada seu autocontrole.
- Essas palavras caindo como as pétalas são simples, mas é tudo o que eu posso dizer. - sussurrou ainda com os lábios próximos da testa de , acariciando os cabelos dela para tirar os fragmentos das flores que haviam caído ali. - Eu te amo.
A senhora suspirou de paixão, e, em um sorriso ainda maior, selou os lábios do amado por alguns segundos, não pensando direito quando pronunciou as próximas palavras que atingiram como da vez que dissera que não deviam continuar juntos.
Mas agora, havia outra conotação a sua frase. Porque havia, na realidade, outra pessoa em sua frase.
- Você está feliz assim, imagina só quando eu te contar que somos três?
Ou melhor, um projeto de pessoa. O projeto dos dois, que encheu o coração de de euforia e da maior alegria que ele sentiu em toda a sua vida.
Olhou uma última vez sua aparência no espelho, ajeitando a blusa larga com mangas compridas de cor branca e finas linhas pretas. Ajeitou seu cabelo e pegou a bolsa, respirando fundo pelo cansaço de todo um período de trabalho, já que haviam pedido todo um conjunto de roupas para um grupo que teria um comeback logo.
Passara a noite toda no estúdio, e agora já batiam dez da manhã. Embaixo de seus olhos tinham profundas olheiras que a maquiagem não era capaz de esconder, mas antes de finalmente ir para casa, quis atravessar a pé o parque que ficava no caminho entre onde trabalhava e onde morava.
As majestosas cerejeiras que dominavam a paisagem fizeram um sorriso melancólico aparecer no rosto da mulher, lhe fazendo lembrar-se dos momentos da sua adolescência. Do primeiro beijo. Talvez estivesse particularmente concentrada em lembrar-se do passado naquele dia, mas tinha seus motivos. As palavras de , que ouvira há seis anos, não saiam de sua mente toda vez que olhava aquelas árvores tão bonitas.
“Deixe as pétalas que caíram florescerem outra vez”
Enquanto andava, a cada passo uma pétala se desprendia do galho e podia sentir um pouco das lembranças invadindo seu peito e sua mente, lhe fazendo sorrir mais largamente. O que não esperava, na verdade, era vê-lo andando na sua direção em plenas seis e meia da manhã, com os cabelos bagunçados e ainda vestindo sua calça do pijama, enquanto a camisa era exatamente igual a sua, de mangas compridas, branca com linhas pretas.
- … - O que você está fazendo aqui? - perguntou confusa, arregalando os olhos que se comprimiam levemente pelo sono.
- Eu não consegui pregar os olhos sem a minha esposa ao meu lado na cama. - ele sussurrou sonolento, abrindo os braços para os lados para que se alinhasse ali.
Era cedo demais e os únicos que passavam ali estavam em direção a suas escolas e trabalhos. Mas mesmo que estivesse passando uma multidão, eles ainda estariam abraçados. Porque não havia nada melhor para os dois que se sentirem completos da forma que se sentiam quando estavam conectados daquela forma tão íntima.
- Estar aqui com você me traz tantas lembranças. - a mulher sorriu com aquilo, deixando as mãos arrastarem os fios lisos do homem enquanto as mãos dele possessivamente seguravam sua cintura.
- Sim… - sorriu nostálgico. Parecia que havia voltado no tempo, para aquele dia que havia criado coragem de beijá-la pela primeira vez. - Eu me lembro de tudo, desde quando nos beijamos, até finalmente o nosso casamento que demorou tanto pra acontecer e só faz alguns meses. O tempo que você gastou me protegendo, eu vou te recompensar. Por acreditar e esperar por nós, obrigado, . - beijou a testa da esposa que sorriu largamente, se agarrando as costas de .
Aquele discurso podia não fazer tanto sentido, mas eles sabiam do que se tratava. Pelo tempo que ela esperou até que ele pudesse assumir um relacionamento sem que isso trouxesse uma reação ruim. Pelo tempo que ela protegeu o seu sonho de cantar e de ser Super Junior. era, de todas as formas, uma mulher admirável.
- … - a mulher sorriu, sentindo as lágrimas encherem seus olhos com as palavras dele. Estava sensível, sim, e o marido maravilhoso que tinha não ajudava em nada seu autocontrole.
- Essas palavras caindo como as pétalas são simples, mas é tudo o que eu posso dizer. - sussurrou ainda com os lábios próximos da testa de , acariciando os cabelos dela para tirar os fragmentos das flores que haviam caído ali. - Eu te amo.
A senhora suspirou de paixão, e, em um sorriso ainda maior, selou os lábios do amado por alguns segundos, não pensando direito quando pronunciou as próximas palavras que atingiram como da vez que dissera que não deviam continuar juntos.
Mas agora, havia outra conotação a sua frase. Porque havia, na realidade, outra pessoa em sua frase.
- Você está feliz assim, imagina só quando eu te contar que somos três?
Ou melhor, um projeto de pessoa. O projeto dos dois, que encheu o coração de de euforia e da maior alegria que ele sentiu em toda a sua vida.
Fim.
Nota da autora: E chegamos ao fim de mais um ficstape! Espero que tenham sido momentos de uma leitura prazerosa e que cada um tenha gostado do que leu! Muito obrigada por ter chegado até aqui, e me deixe saber o que achou nos comentários! Um beijo ♥
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(No) F.U.N
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MV: Please Don’t…
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MV: Shangri La
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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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