Malibu, 92

Fanfic postada em: 07/04/2018

Capítulo Único

I watched you board an airplane
A high dive from a summer’s heat wave, down

O dia estava bonito quando ela entrou no lugar cercado por paredes de vidro. As luzes do sol de Malibu faziam seu cabelo brilhar, mesmo através do que estava a rodeando. Seu reflexo me fazia a ver em todos os lugares. Era como se eu soubesse que ela não sairia da minha vida. Não tão cedo. Não como eu esperava.
A voz dela ainda estava em minha cabeça quando dei as costas para aquele aeroporto. Pensando aonde chegamos para aquilo tudo acontecer. Para um relacionamento acabar é preciso de muita coisa. E eu ainda receava saber pouco sobre o que havíamos passado para ter aquele fechamento. Mas parecia que ela sabia bem demais.
De qualquer forma, aquele era o fim.
Ela estava indo. E eu iria ficar. Naquele lugar que eu não sabia se gostava ou desgostava, depois de ter passado os melhores momentos de minha vida, do lado da pessoa que eu mais amava, e agora ela estava indo embora.

A bit tongue and a taste of iron
Sweethearts that high school soured, now

Algo dentro de mim explodia, quanto mais perto eu chegava do lugar em que selamos nosso amor. Eu queria gritar. Entender como um amor pode acabar tão rápido era difícil pra mim.
Minha cabeça girava e meu cabelo, que já estava grande demais, caía sobre meus olhos.
Estava ficando tarde e o sol já dava adeus. Assim como ela. Não, ninguém ficaria comigo. Nem quem trouxe ela pra perto de mim.
Parecia que nossos tempos de escola realmente haviam ficado para trás. Nossas fugidas, a praia, o vento que batia em nossos rostos quando nos beijávamos. Agora aquilo era passado. Estava se tornando passado. Algo que eu achava que era pra vida toda, havia se acabado.

Our time had grown to a closing
You moved when you ran out of money to stay

Todavia, eu havia escutado as palavras dela. Aquelas que ficaram me perturbando desde que foi embora. Quando ela dizia que seu dinheiro estava acabando, eu achava que era apenas um aviso estúpido que ela iria partir. Nunca achei que realmente daria aquela desculpa esfarrapada como o estopim para o nosso relacionamento acabar.
Na época, eu não entendia como o dinheiro podia mexer tanto com a cabeça das pessoas. Mas éramos novos. Eu era ingênuo. E ela esperta. Enquanto eu ainda pensava em enriquecer, ela queria aquilo pro ‘agora’. E não me esperaria para tal coisa.
Afinal, não podemos controlar os desejos dos outros. E eu não pude fazer isso com ela.
Deixei-a ir, mesmo sabendo que um dia eu estaria com dinheiro e poderia dar tudo que ela quisesse. Meus sonhos poderiam esperar. Os dela, não.

Your parents house in Ohio
Your old bed replaced with a treadmill, now

Joe me ligou um mês depois de eu ter lhe contado sobre nosso rompimento. Ele também não entendia como aquilo que parecia amor teve aquele fim.
No telefone, ele falou, conciso, sobre as fofocas que se passavam pela cidade. Ela não tinha ido para casa; para a nossa cidade, onde tudo começou. Ela realmente estava fugindo.
A cama dela foi encontrada no lixo dos ’s e agora tudo fazia sentido. Ela não voltaria. Não queria ver ninguém. Não quando tudo estava desmoronando.
Assim como eu, ela fugiu. Eu fiquei em Malibu. E ela? Eu não sabia. E realmente tinha raiva de quem sabia. Pois eu faria de tudo pra saber onde ela tinha se enfiado com o amor que eu queria que ela cultivasse. Que na verdade nunca esteve ali.

Well I come here more than you know
And I’m sure you think I’ve outgrown you
But I couldn’t

E lá estava eu. Mais uma vez na droga daquela praia. Vendo a droga daquele mar estupidamente azul contrastando com o céu alaranjado. Pensando em como eu não conseguia largar aquela cidade. Eu podia visitar quaisquer outras por ali, mas sempre voltava pro lugar onde tudo havia terminado.
Pensei, mais do que devia, nela.
Se ela pensava que eu tinha a superado. Ah, ela devia achar que tudo tinha acabado perfeitamente. Com seu jeito certo de querer as coisas, ela devia achar isso de mim também. Uma pena, pois eu estava na lama. E até planejava sair dela, se meus pensamentos conseguissem focar noutra coisa.
Os anos estavam passando e a única coisa que eu sabia fazer era pensar no passado. Aquela merda de amor me consumia. E eu ao menos queria que parasse. Até porque parecia rápido demais. Quem consegue se livrar de um sentimento tão grande do dia pra noite?
Então eu esperei. Não sei por que. Nem pra que.

Our names carved in the pavement
Sealed by what’s left of our handprints, now

Até que um dia eu passei por uma rua que fazia anos em que eu não passava. Nem lembrava dela, para falar a verdade. Mas eu vi algo vivo nela. Ou apenas uma faísca de vida de algo que estava sendo apagado pelo tempo.
Nossos nomes no concreto. Do dia que juramos que nosso amor nunca iria acabar.
A tristeza tomou meu coração tão fortemente que eu nem consegui me mover, pensando naquele dia em específico. Muitas lembranças e nostalgia, depois de anos, não me faziam bem. Não quando eu não havia encontrado um outro amor e ela continuava sendo o único de minha vida.
E a nostalgia não me soltou até que eu lembrasse de tudo.
De todas as palavras não ditas. E ditas.

I told my mom she’d love to meet you
But it’s too bad, she won’t get the chance to

Por exemplo, de como minha mãe sabia sobre nosso romance. Das fotos dela que eu escondia debaixo da minha cama para que minha irmã não as achasse e ficasse zombando de mim. Ela era outra que nunca entenderia o que era sentir o amor que eu sentia.
Mas minha mãe… Ela entendia. Ela também sofreu como eu sofria naquele momento. Mas eu não podia dizer a ela aquilo. Não podia voltar a Ohio e dizer o motivo do fim do meu relacionamento. Isso não só a mataria, como me mataria.
Então deixei ela saber pelos meus amigos. Não seria tão doloroso, certo?
E não voltei. Não queria voltar.
Ela entendeu que não teria uma nora e que seu filho era um covarde. E eu realmente era.

Oh, I did it again, I did it again
Oh, I did it again, I must still want you

E eu sabia.
Lá no fundo, passasse o tempo que for, eu sempre iria querer ela.
Não pra reviver nosso passado, isso eu já fazia todos os dias, mas para fazer um futuro.
Eu queria revê-la, ter um daqueles reencontros de filmes, dizer que eu sempre a amei e ela diria a mesma coisa.
Quando eu pensava nisso, um sorriso brotava em meu rosto. Hoje em dia, a coisa é meio diferente.
As notícias haviam se espalhado e eu já sabia que aquilo nunca iria acontecer.
Nossos destinos nunca se cruzariam novamente.

And I might be part to blame
And I might be part to blame

Nada que acontecesse seria um motivo para eu cobrar algo dela também.
Eu tinha de aceitar que tínhamos tido um fim. E que também foi minha culpa. Aliás, quando ela foi embora, entramos num acordo. Tudo havia acabado e a decisão havia sido conjunta.
Ela tinha fugido, sim. Mas não de mim. E sim da verdade.
Que era que ela nunca havia me amado.

You’re some old man’s new trophy
Locked up in some house in New Jersey

Finalmente quando eu descobri, eu desejei nunca ter o feito.
Desejei não ter voltado para Ohio. Desejei não ter aquela vontade enorme de recomeçar a vida. Talvez não com outra pessoa, mas comigo mesmo.
E quando encontrei com todos no aeroporto, na chegada, eu já sabia. Os olhares me diziam que ela não estava lá. Ela não tinha ido me ver.
Mais tarde, foi a vez da namorada de Joe de colégio vir falar comigo. E numa conversa que eu também desejei nunca ter acontecido, descobri que ela havia se casado. Com um homem mais velho. E que vivia em Nova Jersey.
Foi como um soco no estômago.
“Então ela me largou para isso?” Pensei, enquanto bebia mais um gole de vinho, e acabei deixando escapar. O olhar de piedade de Lucia foi direcionado ao chão, evitando me fitar.
Enquanto o silêncio preencheu a conversa e eu pegava mais uma taça de vinho, ela resolveu falar. Que era apenas uma mulher casada que vivia presa numa casa. Justamente o que eu pensei que nunca aconteceria.
Fazia muito tempo que eu não ouvia o nome dela, e ouvir junto de maneiras que eu nunca pensei ser dela, foi estranho. Estranho de uma forma que eu não a conhecia mais.
A menina independente que um dia eu amei, agora era uma mulher que servia a seu homem.
Aquilo era demais pra mim.
Saí da casa quase correndo e ainda com a taça na mão. Bebi o último gole e pensei: até onde eu iria para entender que o amor que eu sentia nunca mais seria correspondido?

Now money’s not a problem
But 20 years it seems you’ve forgotten
Malibu, 92

Depois que o dia escureceu, sentei mais calmo em casa e conversei com meus pais. E minha irmã. E meus amigos que nunca me abandonaram, mesmo eu tendo virado um adulto completamente cego por um amor que nunca deu certo.
E eu finalmente entendi o que estava a um palmo de distância de meu rosto.
A estabilidade financeira que ela tinha ganhado, eu ainda não tinha. Eu havia me perdido no caminho, e talvez aquilo aconteceria se ela continuasse ao meu lado também.
Eu tentei muitas vezes por a culpa nela. Quando eu sabia que a culpa era de nós dois. E também minha. Nada era tão simples, mas eu podia ter entendido isso mais cedo. Não vinte anos após tudo acabar.
Agora eu tenho quase 40 anos e uma vida não feita. Uma vida que eu deixei passar por culpa apenas minha. Por culpa de arrependimentos. Por culpa de momentos que nunca vão voltar.
E se eu tivesse corrido atrás? E se eu tivesse voltado para casa mais cedo?
Eu nunca iria descobrir.
Mas o importante é que eu tenho saúde. E que 40 anos não são uma vida toda. Ainda há muito para se viver, certo?
Respirei fundo e pensei comigo mesmo: e agora?
O tempo em momento algum parou para mim. Vinte anos havia se passado e eu precisava decidir minha vida. Naquele estágio, eu não poderia me dar ao luxo de pedir ajuda aos meus pais.
Então decidi fazer aquilo que um dia ela tinha me roubado.
Um sonho que eu teria realizado se não tivesse ido pra Malibu com ela e com falsas esperanças.
No dia seguinte, junto com os galos, eu acordei, me vesti, tomei um café bem forte e escrevi num papel um recado pros meus pais, que coloquei na geladeira.

‘Fui na loja de discos,
vou finalmente comprar minha guitarra’


E num outro papel escrevi apenas um bilhete que eu pediria pra Lucia entregar a ela quando fosse à Nova Jersey a visitar. Uma lembrança que eu não queria mais ter e estava entregando a ela.

‘Parece que você esqueceu,
Malibu em 1992’


Fim.



Nota da autora: Estava na dúvida se devia postar ou não essa fic/conto e depois de pensar mil vezes (literalmente), resolvi que sim. Já faz quatro anos que eu posto fics aqui no FFObs e minha primeira fic solo foi exatamente assim. Um conto meu que foi pro mundo e que foi tão bem recebido… Eu tava lembrando disso e percebi que se “A Song About Love” tem espaço aqui, “Malibu, 92” também tem. Espero que vocês tenham gostado da história! E caso queiram deixar uma autora feliz, é só ir ali na caixinha de mensagens e deixar uma!
Recomendo escutarem a música que me inspirou a escrever.
Beijos e até a próxima!



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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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