[Capítulo Um]
Me arrumei rápido. Não vesti nada sofisticado, apenas uma calça jeans surrada, uma camisa simples, meu tênis e um casaco largo. Fui até a sala e encontrei meu irmão assistindo The Mentalist.
— , você viu o meu pai? — perguntei.
— Quem sabe olhando em meus bolsos você o encontre. — respondeu seco.
— Nossa, não precisa ser grosso!
— Para de me encher, garota! Fala logo, o que você quer? — perguntou, impaciente.
— Nada que venha de você, idiota. — fui andando até a porta da sala.
— , é melhor você falar logo — eu estava prestes a girar a maçaneta. — Onde você pensa que vai a essa hora? — ele surgiu à minha frente, segurando a porta.
— Saia da minha frente! — tentei empurrá-lo, mas sem sucesso.
— Se não me responder, você não vai sair de casa.
— Você não pode fazer isso! Eu vou falar com o meu pai. — ele riu, debochado.
— Ah, para de bancar a pobrezinha! Meu pai deve estar agora em uma banheira espumada, com alguma das antigas secretárias, fazendo você sabe muito bem o que. — revirei os olhos. — Agora fale, onde você vai?
— Só vou te falar porque eu realmente preciso ir... — ele assentiu, fingindo compreensão. — Vou na casa da , agora sai da minha frente. — tentei passar por , mas ele me jogou no sofá e trancou a porta.
— Vai na fazer o quê? O que essa garota quer com você, agora? Está tarde e você não pode ficar andando pela rua, sozinha.
— Essa garota é a minha melhor amiga e irmã do seu melhor amigo. — ele rolou os olhos. — E desde quando você se importa comigo? — ele se sentou ao meu lado.
— Não me importo, só não quero ficar ouvindo o coroa reclamando na minha cabeça por ter deixado você sair à noite. — bufei. — Agora saia, vá para o seu quarto! — ordenou.
— Não vou, não — peguei as chaves da sua mão e corri até a porta.
— Volta aqui, garota! — ele me alcançou e tomou as chaves de mim.
— EU DISSE: VÁ PARA O SEU QUARTO! — gritou, me empurrando até a escada.
Fui para meu quarto chorando de raiva, bati com toda força que possuo na porta e me tranquei.
Eu juro que não entendo o porquê desse garoto me odiar tanto. Toda vez é isso, eu falo com ele normalmente e ele grita comigo. Peço algo, grita comigo. Vou dar recado, grita comigo... Caramba!
Tomei um banho gelado, pra tentar acabar com a raiva que estava sentindo e coloquei o pijama. Mandei uma mensagem para avisando que não poderia ir até sua casa e explicando o motivo. Como sempre, ela entendeu.
Eu poderia até ligar para meu pai, mas em um ponto tem razão, ele não liga para nós. Nunca disse um "eu te amo", não lembro de já ter nos abraçado. Só chega em casa tarde, isso quando está em casa. Só sabe ficar bêbado e descontrolado. Eu até desconfio que ele use drogas, mas nunca consegui achar algo que me prove, então só levanto suspeitas. Mas ele é grosseiro, só sabe falar com a gente gritando, frequentemente bate em sem motivos. Quero dizer, o motivo é que está bêbado e não tem controle sobre si, mas meu irmão consegue se desviar de alguns golpes.
era lutador, mas por algum motivo que não sabemos, ele largou o esporte e começou a trabalhar na empresa QUEMEVES. Ele tem um grande cargo, trabalha lá há 15 anos e apesar do salário alto, da boa casa, do carro dos sonhos e de todos os benefícios, não nos dá nada além do necessário. Condições não faltam, claro que não. Mas meu pai costuma dizer que precisamos trabalhar, se quisermos algo, porque da parte dele não teremos nada fácil. Nada mesmo!
Nossa mãe mora em Keoursna, nós só a vemos nas férias, mas eu nem faço mais questão de visitá-la. Ela sempre diz que nos ama muito e que quernos ver, porém não consigo entender como pode nos amar tanto se nos deixa viver com , sabendo que ele é um homem grosseiro e descontrolado.
Ela quase não liga para saber de mim ou do meu irmão; nem mesmo pela internet, que o acesso é mais fácil. E quando vamos visitá-la, ela sempre arruma algum tipo de desculpa para sair e nos deixar sozinhos na casa dela.
Eu só queria saber, que tipo de mãe faz isso?
Meu irmão não se envolve com nada. Não estuda, não trabalha, não sai de casa, a não ser que seja para ir à casa de seu melhor amigo, , mas não se interessa de fazer nada além.
Parece que nem sonhos e objetivos esse garoto tem. Eu já tentei conversar com ele sobre alguma profissão que ele queira seguir, ele disse que adora histórias policiais, o jeito como os detetives procuram os assassinos as evidências, como os peritos descobrem as causas das mortes dos criminosos e das vítimas e como agirão antes do ato, e ele disse que queria ser como Patrick Jane, o gênio do seriado The Mentalist. Eu disse à ele que Jane, na verdade, era apenas um consultor, só que muito inteligente e que seria difícil ele ser como Jane, já que vivia sendo perturbado, vigiado e ameaçado pelo seu maior inimigo, Red John, que parece ser ainda mais esperto que o personagem principal do seriado.
Porém, achou que eu estava sendo ofensiva e debochada e me mandou ir pastar e a conversa se encerrou ali, mas eu só quis que ele soubesse que não seria tão fácil como no seriado.
Será que eu que acabei com as esperanças do meu irmão em ser igual ao Patrick Jane?
Já eu, estou terminando o ensino médio e quero cursar Dança, mas sem a ajuda do meu pai ficará difícil. É meio arriscado pensar na dança como um trabalho futuro, porque não é certo de eu conseguir um bom trabalho nessa área. Esse é o meu sonho desde sempre, eu adoraria viver da dança, mas é tão arriscado eu escolher essa profissão e isso está me gerando dúvidas.
Em uma das poucas conversas que já tive com meu pai, ele disse que não queria me ver rebolando o bumbum por ai. Eu teria que ser uma empresária ou advogada, quem sabe até médica, mas não dançarina, para ficar exibindo o corpo para uma multidão. Pura ignorância!
Fui até o banheiro lavar o rosto, para tentar esquecer esses assuntos, porque não me fazem bem. Voltei e me sentei na cama para começar a ler Os Anjos Sentinelas — Enviados, quando meu pai ligou mandando eu fazer o jantar e não esperar por ele, pois comeria em um restaurante. Sério pai? Quero novidade!
Bati na porta do quarto de umas 5 vezes e nada de ele abrir, então entrei sem a sua permissão.
— Ei ei ei! Tá fazendo o que aqui no meu quarto? Se eu não abri a porta é porque não quero ser incomodado. — disse, irritado.
— Meu pai ligou e mandou a gente fazer o jantar. Pelo jeito ele não vai voltar para casa hoje...
— Quero novidade! — bufou. — Espera, ele ligou mandando nós dois fazer o jantar ou você está querendo se livrar de fazer tudo, sozinha? — tentei dizer algo em minha defesa, porém foi mais rápido. — Ele mandou você fazer, então se vira!
— Deixa de ser nojento, garoto! Eu não vou fazer a janta só pra mim, você também vai comer e não custa nada me ajudar. — eu disse, irritada.
— Não vou fazer nada. Agora, cai fora. — ele disse, abanando a mão, sem paciência.
— Então não saio daqui — cruzei os braços e arqueou as sobrancelhas.
— Você vai sair daqui agora mesmo, antes que eu te coloque para fora. — ele disse, calmamente. Tão calmo que me deu medo, mas não baixei a guarda.
— Só saio daqui com você indo pra cozinha me ajudar. Caso contrário, eu posso ficar aqui a noite, mexendo em suas tralhas. — peguei uma pasta, fazendo ele se levantar nervoso.
— Não toque em meus desenhos! — ele tomou a pasta de mim. — Agora sai daq...
— Espera, você desenha? Desde quando? — o interrompi. — Por que nunca disse nada sobre? Deixa eu ver — puxei a pasta das mãos dele, fazendo-a cair no chão e os papéis serem espalhados.
— Olha o que você fez, sua idiota! — ele me encarou. — Pode ir catando tudo.
— Não vou catar nada! Agora estamos quites. Beijo e tchau. — dei uma piscadela e sai do quarto.
— Pode voltando — veio atrás de mim e eu comecei a correr pelo corredor, indo em direção à escada.
Quando desci o primeiro degrau, meus pés bateram um no outro e acabei rolando por toda a escada.
[Capítulo Dois]
— Tá sentindo dor? — perguntou, um pouco sem jeito, mas ainda preocupado.
— Você se importa?
— Sim ou não? — aumentou o tom de voz.
— Sim. Estou com dor na cabeça, joelho direito e braço esquerdo. — ele riu. — E meu olho esquerdo também tá doendo. — ele franziu a testa — Que foi? Começou a doer agora. — dei de ombros.
— Você é estranha — rimos e pegou mais uma bolsa de gelo e colocou em meu joelho. — E idiota também! Como conseguiu cair da escada, sozinha? — ele gargalhava bem alto.
— Não tem graça, ok?! Eu podia ter quebrado o pescoço.
— E estaria morta agora. — ele sorriu.
— Que horror, ! — disse, incrédula. — Preferia que eu tivesse morrido? Por que você me odeia? — perguntei num tom de brincadeira.
— O quê? Eu não disse isso, sua dramática. E eu não te od... Ah , por que essa pergunta agora? — ele foi pra cozinha, levando as bolsas de gelo.
— Agora é sério — fui atrás dele e insisti na pergunta, mas dessa vez, perguntei séria. — Por que você me odeia?
— Eu não te odeio, ! — franzi o cenho. — A questão é que, você adora dar uma de inocente perto do meu pai, isso quando ele tá em casa. Pra minha mãe, você é a filha que ela pediu a Deus. Todo mundo acha que você não faz nada de errado, e isso me irrita, porque eu sempre saio como a ovelha negra — ele suspirou levemente — Você vive xeretando as minhas coisas, adora ficar se exibindo quando o tá aqui e ainda chama sua amiguinha chata, que não para de me olhar. Além de, entrar no meu quarto sem a minha permissão, como fez minutos atrás.
— Você tem ciúmes de mim? — ele negou. — Inveja? — riu sarcástico.
— Nada disso. Só que pra outras pessoas você age de uma forma e comigo de outra. Isso me irrita! — revirou os olhos.
— , se eu me faço de inocente para o meu pai, é porque quero chamar a atenção dele, mas nunca funciona. Eu não sou a filha que minha mãe pediu a Deus, porque ela não pediu nem eu e nem você a Ele. Ainda vou descobrir essa história mal contada sobre a separação dos nossos pais porque tenho certeza que envolve o nosso nascimento... — revirou os olhos. — Não faça essa cara de tédio, eu sei do que estou falando. Agora continuando, eu não me exibo quando está aqui porque pra mim, não faz diferença. E não finja que não gosta de quando a fica te olhando. Ela é louca, sim, mas só às vezes — nós rimos um pouco — Ela é linda, gente boa, me ajuda muito, tá sempre comigo, é como uma irmã pra mim e você sabe muito bem disso! — ele assentiu. — Eu posso ser uma irmã muito chata pra você, mas tudo que eu faço é pra tentar me aproximar de você. — disse, sincera.
— Como é? — ele perguntou incrédulo. — Tá brincando comigo, né?!
— Não, eu queria mesmo que nós fôssemos mais próximos. Poderíamos ser não só irmãos, mas também melhores amig...
— Pode parando aí! Olha pra minha cara de irmão mais velho amigo da caçulinha — fez careta. — Isso não vai acontecer com a gente.
— Por que não? Você podia pelo menos tentar, né!?
— Faz o seguinte, vá para o seu quarto e durma um pouco. Você bateu com a cabeça, está tendo alguns delírios e...
— Vá pastar, ! — revirei os olhos, o fazendo rir.
— Ser irmãos e amigos também inclui fazer a comida que o outro mais gosta? — perguntou com a sobrancelha erguida.
— Não acredito que você perguntou isso — riu de lado. — O que você quer?
— Almôndegas Suecas. — sorriu largamente.
— Você tá falando igual o Leôncio do Pica-Pau. — disse, gargalhando.
— Continue rindo e você verá o que eu farei — ele apontou o dedo indicador para mim.
— Vai me bater?
— Melhor, vou falar para o que você gosta dele! — deu uma piscadela e riu debochado.
— , eu não gosto do ! Qual é o seu problema? — disse, indignada.
— Acha que eu não reparo que você muda de comportamento quando ele tá aqui em casa? — sorriu vitorioso.
— Você só fala besteiras! Eu não mudo em nada. — bufei, irritada.
— E ainda fica agressiva quando toco no assunto.
— Cala a boca! — revirei os olhos e saí da cozinha.
— Espera, onde você vai? — perguntou confuso.
— Para o meu quarto. — disse, enquanto subia a escada.
— E o jantar?
— Perdi a fome. — disse, seca.
— Mas eu não — o encarei e ergui a sobrancelha.
— Peça a que faça o jantar pra você.
— Quer tanto assim ver ele, agora? — o lancei um olhar mortal.
— Idiota! — ouvi a risada debochada de , e bati a porta do quarto.
Esse garoto não pode estar falando sério, isso nem é verdade. Eu confesso que acho bonito, mas só. Eu não gosto dele!
A única pessoa que eu sei ter um tombo por alguém, no momento, é a . Ela quase enlouquece quando vê meu irmão. Eu já até o perguntei se ele teria interesse por ela, porém, irritante como é, nos chamou de crianças.
Idiota, eu sei!
Fiquei alguns minutos deitada na cama, com os fones de ouvido no máximo e meu estômago começou a implorar por comida.
Então desci para me alimentar, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Cheguei à sala, me certificando de que não estaria ali e fui até a cozinha. Abri a geladeira, peguei a jarra de suco e o bolo de maracujá que eu tinha feito pela manhã, mas quando me virei para colocar as coisas em cima do balcão, dei de cara com .
— AH — gritei assustada, derrubando suco e bolo. ficou rindo, como sempre. — QUAL É O SEU PROBLEMA? — perguntei, irritada.
— Pare de gritar, sua maluca! Já tá tarde. — ele tampou a minha boca, mas eu mordi sua mão. — AI! DEU PRA FICAR SURTANDO, AGORA?
— Pare de gritar, seu maluco! Já tá tarde. — o imitei, tentando engrossar a voz.
— Ha ha ha, tô rolando no chão de tanto rir. — revirou os olhos.
— Por falar em chão, pode ir limpando essa bagunça. — eu disse já saindo da cozinha, quando me puxou de volta.
— Quem derrubou foi você, então não vou limpar nada.
— Mas quem me deu o susto foi você — cruzei os braços.
— E daí? Limpe tudo, sozinha. — disse, apontando para o chão.
— Não. — arqueei as sobrancelhas.
— Limpe agora, ! — neguei com a cabeça — Já mandei você limpar.
— Você não manda em mim!
— Sou seu irmão mais velho, é claro que eu te man... Que droga, garota! Quantos anos você tem? 4?
— CALA ESSA BOCA! — gritei e fui pra sala.
— Pare de gritar, quer acordar os vizinhos? — ele puxou meu braço, novamente.
— Você tá me machucando, então me solta.
[Capítulo Três]
— Ah, pare de fingir que se importa! Você tá sempre fora de casa, nem fica aqui pra ver o que a gente faz.
— O que quer dizer com isso, moleque? — perguntou .
— Que você não tem direito e nem moral pra falar assim com qualquer um de nós. — disse, de braços cruzados.
— É o que, garoto? Repita o que disse — se aproximou do meu irmão.
— Pai, ele não quis dizer...
— Fique quieta, meu assunto é com ele. — me interrompeu de forma agressiva e continuou se aproximando de .
— É isso mesmo que você ouviu, coroa — meu irmão respondeu num tom debochado.
Meu pai deu um soco em seu rosto e em seguida, tirou o cinto de sua calça e começou a bater em .
— Pai, pare com isso! — gritei desesperada e sem pensar muito, me joguei nas costas dele, tentando o impedir. Sem sucesso. — Corra, . Corra!
Meu irmão conseguiu desviar de mais alguns golpes e correr até a porta, saindo de casa com o nariz sangrando.
— Você ficou doida? — meu pai me segurou.
— Não, eu só... — ele nem mesmo esperou que eu terminasse de falar e me deu uma tapa no rosto.
— Vocês quis livrar o seu irmãozinho do castigo, então agora aguente a sua punição, sozinha! — ele me deu mais uma tapa no rosto e começou com as correadas.
— Pare com isso, pai! Você vai me machucar — eu disse, sentindo um líquido escorrendo pela minha boca e quando passei a mão, vi que era sangue.
— Pena que eu não tenho mais o meu chicote, aí você iria ver o que é machucar. — dizia em meio às correadas.
Havia passado alguns bons minutos e meu pai continuava me batendo. Já estava sem forças para relutar, então sentei encolhida no canto da parede e pedi a Deus que meu pai parasse de me bater.
foi se cansando e largou a correia no chão, logo se sentando no sofá e começando um choro alto. Era visível o quão bêbado ele estava.
— Eu não queria ter feito isso, filha. Eu não queria. — meu pai se levantou do sofá e eu me encolhi ainda mais no canto da parede, apertando os meus olhos, com medo de levar outra surra.
Ouvi alguns passos pela escada, logo deduzi que era ele subindo para ir ao seu quarto. Abri os meus olhos e levantei a cabeça, ainda receosa, mas logo percebi que já estava em seu quarto.
Olhei para o meu corpo e tive ainda mais vontade de chorar; eu estava completamente machucada. Tentei levantar-me lentamente, conseguindo me pôr de pé e com muita dificuldade, firmei mais o corpo. Sentia muita dor e uma fraqueza sem igual, mas segui caminhando devagar até a porta de entrada e a abri com o pensamento de fugir o mais rápido possível dali.
Novamente, ouvi passos pela escada e a voz do meu pai, corri até o arbusto, que fica perto do portão e me escondi. Meu pai saiu de casa, furioso e foi até o meio da pista. Reparei no quanto ele estava descontrolado.
correu para a rua de trás e eu aproveitei o tempo em que o mesmo sumiu do meu campo de visão, para sair dali. Certifiquei-me de que ele não estaria de volta à na nossa rua tão cedo e então eu corri, sem rumo, como se não houvesse um amanhã.
Com 5 minutos de corrida, eu já não aguentava mais, meu corpo doía demais. Eu já nem tinha direção para onde ir, fraca e com fome tudo piorou. Só poderia ir para a casa de uma pessoa, .
Apenas mais uns 10 minutos até a casa dela, eu aguentaria.
Cheguei à casa de minha amiga, apertei a campainha umas 3 vezes e ninguém me atendeu. Fiquei com tanto medo de aparecer na rua, que pulei o muro e na queda, bati com meu joelho que já estava machucado.
Fui mancando até à entrada da casa e girei a maçaneta. estava sozinha na sala, me olhando espantada. Correu em minha direção.
— Meu Deus! Amiga, o que aconteceu? O que fizeram contigo? — perguntou incrédula e muito preocupada.
— Meu pai — eu disse, chorando enquanto trancava a porta, com receio dele aparecer. — Ele me espancou.
— Mas por que ele fez isso? — eu dei de ombros — , você está toda ferida! — me olhou de cima à baixo. Reparei que seus olhos começaram a marejar.
— Ele estava batendo em meu irmão, fiquei desesperada e pulei em suas costas para tentar espacar, mas ficou mais irritado e descontou sua fúria em mim. — minha amiga me ajudou a sentar no sofá.
— tá lá em cima com meu irmão, chegou todo ofegante e estranho. Eu até perguntei o que havia acontecido, mas ele não me contou nada. — assenti — Por que o te deixou lá, se sabia que seu pai iria te espancar?
— Na verdade, ele não sabia. acha que eu tenho privilégios com o meu pai, então acredito que ele nem deve ter pensado na possibilidade do meu pai levantar um dedo pra mim. — eu disse, sincera.
— Como assim? Não tem desculpa pra isso, . Seu irmão sabia que tio estava bêbado e poderia fazer qualquer loucura, como fez. — ela estava indignada — Ele te deixou lá pra ser agredida mesmo. sabia do estado em que o seu pai se encontrava e, mesmo assim, pensou só nele. eu balancei a cabeça, respirando fundo — Às vezes, o seu irmão é muito idiota. Não, ele é sempre egoísta e idiota!
— Ah não, você deu mole — ouvimos a voz de se aproximando, junto com os passos fortes que ele dava pela escada.
— Cara, meu pai era lutador, o que eu pod... — , o que aconteceu? — me olhou espantado.
— O que aconteceu, ? Nem se passa pela sua mente o que pode ter acontecido? — meu irmão respirou fundo, tentando não se irritar com minha amiga — Deixe eu te contar então, depois que você a deixou sozinha com o seu pai, que estava bêbado, ele a espancou. — respondeu, num tom elevado. Estava visivelmente furiosa.
— Cara, você fez isso? — o olhou incrédulo — Eu achei que
não estava em casa.
— Foi ela quem tentou impedir que esse idiota fosse morto pelo pai — disse alterada, suas veias do pescoço já estavam dilatadas — Parando pra pensar agora, você merecia ter levado a surra no lugar da sua irmã.
— Amiga, relaxa. Meu irmão não tem culpa! — ela bufou.
— E por que a culpa seria minha? — perguntou, indignado. — Eu nem estava lá.
— DEIXE DE SER CÍNICO, GAROTO! - se aproximou do meu irmão, chorando alto, mas a segurou. — VOCÊ NÃO ESTAVA LÁ PORQUE ELA TE AJUDOU A FUGIR E OLHA QUEM LEVOU A PIOR — ela apontou para mim. — EU SEI QUE PRA VOCÊ ELA FOI IDIOTA DE TER SE ENTROMETIDO NA BRIGA E APANHADO EM SEU LUGAR. — tentou a interromper, mas minha amiga não permitiu — DEIXE EU TERMINAR! EU SEI QUE VOCÊ PENSA ASSIM, EU JÁ OUVI UMA CONVERSA SUA COM MEU IRMÃO A RESPEITO DA MINHA AMIGA. VOCÊ JOGA MIL PEDRAS EM SUA IRMÃ, MAS OLHE AGORA. VEJA O ESTADO EM QUE ELA SE ENCONTRA — se soltou de e segurou firme no rosto do meu irmão, o virando em minha direção. — GUARDE ESSA IMAGEM NA SUA MENTE E PENSE BEM ANTES DE FALAR OU ATÉ MESMO PENSAR EM ALGO SOBRE ELA, POIS QUEM ESTARIA MACHUCADO E CHEIO DE DORES, NESSE MOMENTO, SERIA VOCÊ!
se jogou no sofá, parecia não acreditar no que estava acontecendo e abaixou o olhar, colocando as mãos dentro do bolso de seu casaco e ficou pensativo.
já estava mais calma, apesar de sua revolta ainda visível para todos.
— Vem amiga, você precisa de um banho. — ela me chamou, enquanto secava o seu rosto.
— Mas vai arder. — fiz bico.
— , você tem quantos anos? 4? — olhei para , que me fez a mesma pergunta hoje e ele sorriu de lado, ainda com o olhar baixo.
— Tudo bem, não vou poder ficar sem banho até as feridas cicatrizarem. — dei de ombros, sentindo ainda a dor forte pelo corpo. me ajudou a subir a escada.
Chegando no quarto, ela me emprestou sua roupa e me deu uma toalha. Entrei no banheiro e liguei o chuveiro, fiquei alguns minutos tomando coragem para entrar na água.
Fui me molhando lentamente, sentindo a ardência percorrer por todo o meu corpo; gemi um pouco de dor, minha pele parecia estar sendo esticada, mas consegui terminar o banho.
Me enrolei na toalha e saí do banheiro.
— Viu, nem doeu tanto assim — forçou um sorriso, tentando me animar.
— Fala isso porque não foi com você! — eu ri fraco — Mas obrigada, amiga. Nem acredito que você falou daquela forma com .
— Pra falar a verdade, nem eu. Mas não precisa me agradecer por isso, boba! — a abracei. — Agora, se vista que eu vou preparar algo pra você comer.
— Okay. — sorrimos.
Ela desceu e eu fiquei me vestindo com cuidado, para a roupa não tocar bruscamente nas feridas.
Incrível o que um cinto faz com uma pessoa... Ri sozinha com meu pensamento. Me vesti por completo e sentei um pouco na cama da .
Ouvi o barulho da maçaneta sendo girada e me virei para ver quem era.
— Posso entrar? — perguntou num tom baixo.
— Claro! — sorri.
— Posso me sentar ao seu lado? — ele perguntou coçando a cabeça, meio sem graça, o que me fez franzir a testa.
— Hã? O que está acontecendo? Você não é de pedir permissão. — perguntei, confusa.
— Depois desse choque de realidade que a me deu, fiquei até educado. — nós rimos um pouco. — Mas cara, eu nem sei o que te dizer, sinceramente.
— Não precisa dizer nada. A culpa não foi sua, você não imaginaria. — eu disse.
— A culpa foi minha, sim. Eu não devia ter te deixado sozinha com o , ainda mais sabendo que ele estava bêbado e, consequentemente descontrolado. — ele fez uma expressão de tristeza.
— Eu estou com medo do que ele poderá fazer se descobrir que estamos aqui.
— Uma coisa eu te garanto, ele não encosta mais em você! — disse tão decidido, que me passou uma confiança nele que eu nunca tive.
— ?
— Fala — respondeu.
— Ainda bem que foi comigo, né?! — ele me olhou, confuso — Se você estivesse em meu lugar, ele teria batido mais forte e talvez, você não resistisse. — ele abaixou o olhar — Seria horrível viver sem você perto! — em um impulso, o abracei.
Eu sabia que poderia tirar meus braços de cima dele e me jogar no chão, como sempre fazia quando eu tentava abraçá-lo. Porém, desta vez, por mais surpreendente que seja, ele me retribuiu.
— Ah, eu não imaginava que você gostava tanto assim de mim. — ele beijou o topo da minha cabeça.
— Na verdade, eu te amo. Mesmo sendo grosseiro comigo, é você que me atura todos os dias. Quando meu pai fica no trabalho e não volta pra casa, é você que cuida de tudo, apesar de ser irresponsável. — nós rimos fraco — A única coisa que me deixa chateada é saber que você não gosta de mim. Você já disse que não, mas eu sei que me odeia.
— , eu não te odeio. Na verdade, eu te amo. — arregalei os meus olhos, surpresa e riu — Eu só não sou de dizer e demonstrar esses sentimentos, você me conhece — assenti — Se sou grosseiro é porque, às vezes, você me irrita... Na verdade, é quase sempre. — revirei os olhos. — Não pelo seu jeito de ser, mas você gosta de implicar comigo e sabe disso. — ri debochada. — Eu falo que não me importo com você, mas isso não é verdade, tanto que estou aqui e te abraçando. — ele me apertou mais no abraço — Eu imagino o quanto você sofreu hoje, ainda estou sentindo dor daquelas poucas correadas que ele me deu... Não imagino você.
— Eu vou ficar bem, só preciso ter paciência.
— Eu estou com muita raiva do — ele disse, com as mãos no rosto.
— Eu também estou com raiva, dele e da minha mãe. — franziu a testa.
— O que minha mãe tem a ver com isso? — perguntou.
— Ela deu nossa guarda para , mesmo sabendo que ele tem daquele jeito explosivo e agressivo. Não consigo entender esse amor que ela tanto diz ter por nós. — confessei, chorando de raiva.
— Calma , ela deve ter algum motivo e...
— Fala isso de novo e eu nunca mais olho na sua cara — riu alto — Não estou brincando!
— Vamos descer, você precisa se alimentar. Já tá até tendo alucinações. — dei uma leve tapa em seu braço.
me pegou no colo e levou-me até a cozinha, logo se sentando ao meu lado. e só estavam nos esperando, rapidamente jantamos.
Estávamos famintos!
Ficamos conversando um pouco e depois fomos dormir.
[Capítulo Quatro]
09:00h me levantei e tomei um banho rápido, vesti uma roupa da e depois desci.
Dei uma olhada na geladeira e na dispensa, não vi nada para o café da manhã.
— Tá procurando o quê? — dei um pulo com o susto que levei.
— Ah! — soltei um gritinho histérico, vendo rir de mim. — Quer me matar, garoto?! — perguntei, colocando a mão sobre o peito.
— Foi mal! Só queria ajudar —
disse, arrependido e levantou os braços.
— Ah
, ninguém pode me ajudar! Não do jeito que as coisas estão — pensei alto demais.
—
, eu sei que tá difícil pra vocês, mas isso não é o fim do mundo. — o encarei.
— Diz isso porque tem pais que o ama e se importa com você.
— Sim, isso é verdade. Mas tio ama vocês, sua mãe também ama vocês e nós estamos aqui dando total apoio à vocês e seu irmão. Ou seja, também amamos vocês. — sorri de lado.
— Não é bem assim,
, nosso pai não nos ama. Se amasse, não faria o que fez. E nossa mãe, também não nos ama. Se amasse, não nos deixaria com . Não importa como, ela lutaria para nos sustentar. Mas não, preferiu ir para outro país e nos deixou nos deixou nas mãos de um maluco, que chamamos de pai. — ele ficou pensativo.
— Sabe
, eu nunca falei com seu pai em 6 anos de amizade que tenho com seu irmão. Mas, em todo esse tempo que eu frequento a sua casa, percebi que tio é um homem amargurado, que ama muito vocês mas não sabe como expressar esse amor. Ele precisa de ajuda. — ri sem humor, incrédula com o que acabara de ouvir — Sua mãe não teve condições de ficar com vocês depois da separação, já me contou sobre isso, mas não quer dizer que ela não ame vocês. Sua mãe pode ter achado que ficando com vocês, seu pai mudaria pra melhor — revirei os olhos. — Todos nós erramos. Temos o direito de nos arrependermos e tentar consertar o nosso erro, certo? E assim como nós queremos o perdão, devemos também perdoar. — assenti — Então por que não perdoar o seu pai? — revirei os olhos.
— Tá brincando comigo? Meu pai me espanca e você quer que eu o perdoe? Minha mãe tá em outro país, porque quer ficar longe de nós, mas diz que nos ama e sente saudade. E você quer que eu a perdoe? — perguntei indignada.
— , você tá exagerando. Tá fazendo um drama enorme!
— Você que tá defendendo o errado, ! — apontei para ele.
— Não estou defendendo ninguém, só estou tentando di...
— Quer saber, me poupe! — saí da cozinha, rumo ao quarto da , sem nem mesmo terminar de ouví-lo,.
— Não vai tomar café?
— Perdi a fome. — respondi seca e revoltada.
Era só o que me faltava, querendo defender meus pais. Meu sangue ferve só de pensar!
Essa hora que não passa, que não chega logo da escola e que não acorda logo. E o pior é não poder sair de casa, só Deus sabe o que meu pai faria se me encontrasse na rua.
Só me resta tentar dormir mais um pouco.
— ACORDA, SUPER GIRL! —
chegou, gritando e abrindo as cortinas do quarto.
— Pare de gritar, maluca! — reclamei.
— Fresca. Já são 11:30h, me ajuda a fazer o almoço. — ela pediu.
— Que horas você chegou do colégio? — perguntei, reparando que ela já estava sem uniforme.
— Eu saí do colégio 08:30h, então cheguei aqui 09:00h. — ergui uma sobrancelha.
— 09:00h eu estava lá embaixo conversando com seu irmão, depois subi e dormi mais um pouco. Você não chegou aqui essa hora, aonde estava?
— Ficou conversando com meu irmão? Sobre o quê? — ela perguntou sorrindo sapeca, tentando desviar do assunto.
— Não disfarça não, mocinha. Aonde você estava? — ela bufou.
— Tá bom, eu conto. Quando saí da escola o Tyler me chamou para dar uma volta na praça e eu fui, mas cheguei aqui às 10:00h. — ela explicou.
— Vocês ficaram? — perguntei, curiosa.
— O que você acha? — levantei uma sobrancelha. — É claro que não ficamos! Você me conhece, sabe que não vou conseguir beijar um garoto de novo nem tão cedo. — ela disse, afundando a cabeça no travesseiro.
— , se alguém tem que ficar mal por isso, esse alguém sou eu, né!? Você sabe que nunca beijei ninguém e pelo jeito, nem tão cedo isso acontecerá. — ela me encarou.
— Será que nunca beijaremos e nunca teremos um namorado e nunca casaremos e nunca teremos filho e nunca teremos netos e...
— Chega! Eu já entendi o que você quer dizer e não, não passaremos por isso. — a interrompi.
— Como você tem certeza? — ela perguntou, chorosa.
— Você já beijou, já é um acontecimento. E o Tyler te chamou pra dar uma volta, já é outro acontecimento. — ela revirou os olhos.
— , meu primeiro beijo foi horrível e você sabe disso! Eu só tinha 12 anos, nem sabia o que era gostar de um garoto. Hoje tenho 16 anos e até agora nada. O Tyler é legal, mas é nojento, então não. — fez careta.
—
, você é muito exigente!
— E você não? — dei de ombros.
— Vamos logo fazer o almoço.
Eu nunca gostei de entrar nesse assunto de beijo, a não ser com a
, porque ela me entende. Nunca ter beijado aos 16 anos no século XXI é quase um crime. Não é que eu não queira ou fique me importando com as opiniões alheias, eu só sinto que ainda não é a hora. Mas, fico me perguntando: "quando será a hora?". Essas dúvidas me matam!
— Não é mesmo,
? — ouvi alguém me chamar. —
?!
— Oi? Quem? Não foi eu!
— Tá maluca? Quer se cortar? — percebi que já estava na cozinha e cortava algum legume, distraidamente. — Preste atenção no que você tá fazendo, garota.
— Desculpa, eu estava pensando em...
— 19:00h quero ver vocês arrumadas, vou levar vocês para um lugar legal. —
disse, animado.
— Que lugar legal? — perguntou
.
— Saberás!
— Esse garoto é cheio de mistério. Vive saindo à noite pra um lugar que não conhecemos e volta todo alegrinho.
— Acha que ele anda se drogando? — perguntei, curiosa.
— Já pensei nisso, mas não. Nossos pais contrataram um detetive particular pra descobrir aonde que ele ia. E no primeiro dia que o homem o seguiu,
descobriu tudo e entrou numa igreja pra despistar o cara. O detetive achou que estávamos zoando com o trabalho dele e pulou fora. —
disse, fazendo careta.
— Que loucura! — ela assentiu. — Vai querer cortar em cubinhos pequenos? — perguntei sobre os legumes.
— Pode cortar maior porque aqui em casa não tem miséria! — ela disse num tom engraçado e nós rimos alto.
Depois de aprontar a comida, almoçamos e comemos uma sobremesa que fez. Até que havia ficado bom.
Passamos a tarde vendo filmes e quando deu 17:30h, começamos a nos aprontar para ir ao lugar legal que
falou.
— Caraca, vocês estão me atrasando. Eu ainda falei que era pra estarem prontas às 19:00h. —
reclamou.
— Deixa de ser chato, garoto! Ainda são 19:30h. —
falou.
— Ainda,
? Ainda?
—
, relaxa tá!? Já estamos chegando, não estamos? — perguntei.
— Não
, não estamos chegando.
— Parem de recamar! —
disse, irritado. — Daqui a pouco o motorista vai mandar a gente sair do táxi.
Ficamos calados durante toda a viagem, que durou mais 15 minutos, e enfim, chegamos ao local.
— Que lugar é esse? — perguntei.
— Vai ter algumas oficinas legais aqui hoje. —
disse, empolgado.
— Deixa eu ver se entendi... Você nos trouxe pra cá como um pai que fala pras crianças que tem uma surpresa pra elas, e quando chegam no lugar é um parque de diversões? —
perguntou. Todos nos entreolhamos e caímos na gargalhada.
— Já vi que ser dramático é de família. —
resmungou baixo, mas pude ouvir e dei um leve soco em seu braço. — Ai! O que foi que eu fiz pra você querer me bater?
— Parem com a palhaçada e vamos entrar logo. —
disse, me puxando até a entrada do lugar.
Havia várias barraquinhas de doces, salgados, brinquedos... Logo que
viu a barraca de exposição de desenhos, ficou louco e carregou
com ele. Eu e
caminhos pelo pequeno campo que tinha atrás das barraquinhas, procurando por um banheiro, mas quando estávamos nos aproximando da porta, alguém caiu em cima de nós.
— Mas que droga! Qual é a sua, cara? —
reclamou, totalmente nervosa.
— Me desculpem. — o menino se levantou e nos ajudou. — Eu estava fugindo de uns caras estranhos que queriam me roubar.
— Tudo bem, só presta mais atenção. — eu disse, também nervosa.
— Okay. Me desculpem mais uma vez, eu fiquei nervoso — o menino confessou, enquanto olhava para todos os lados.
— Você tá bem? — perguntei.
—
, o garoto tá se borrando de medo e você ainda pergunta se ele tá bem? Olha como ele se treme —
se apressou em responder, me fazendo a lançar um olhar mortal. Mas quando olhei para o menino, percebi que ele realmente se tremia e continuava olhando para os lados.
— Olha, se você quiser ficar com a gente, pelo menos, até os caras te perderem de vista, pode vir. Nós só vamos no banheiro e...
— Eu não quero incomodar vocês! — ele disse, rapidamente.
— Já incomodou quando nos derrubou — belisquei
, fazendo-a dar um gritinho histérico. — Ai merda! Tá bom, desculpa. Você pode sim ficar perto da gente, contanto que não nos derrube novamente.
— Fechado. — o menino sorriu largamente, talvez de nervoso e ficamos paradas o encarando. — Vocês não iam ao banheiro? — me despertei e puxei minha amiga, rapidamente, para o banheiro.
— Ele é um gato! — minha amiga se apressou em dizer. — Viu aquele sorriso? Chegava a brilhar. —
suspirava.
— Sério que você gostou dele? Não parecia, foi tão grossa com o garoto. — ela me encarou.
—
, você não sabe que tem que se fazer de difícil? Tem que dar uma de durona, fingir que nem tá ligando se ele tem ou não olhos e sorriso bonito e...
— Chega, já entendi! — eu disse fazendo careta, minha amiga realmente é uma louca! Uma menina de pele clara e cabelos ondulados saiu de uma das cabines do banheiro e sorriu simpática, retribuímos. — Você não vai primeiro?
— Não, pode ir. Só vim te acompanhar mesmo, não estou com vontade. —
respondeu, me fazendo revirar os olhos.
Com 3 minutos, fui me olhar no espelho e dei falta de alguém, .
Saí do banheiro a procura da minha amiga, mas nada de achar ela. Fiquei me perguntando aonde aquela cabrita deveria ter ido e me deixado sozinha. Andei até o pequeno campo novamente, estava quase me aproximando de uma das barraquinhas, quando um grupo de garotos estranhos surgiram, de repente. Apertei meus passos para tentar despistá-los, porém eles fizeram o mesmo. Quando pensei em correr, um deles me segurou.
— Aonde pensa que vai com tanta pressa, gata? — o garoto de estatura mediana e cabelos negros perguntou.
— O que você quer? Me solta! — eu ordenei, mas ele apenas riu. — Tá rindo de quê? Já mandei me soltar. — fiz força contra, porém ele era bem mais forte e apertou ainda mais o meu braço.
— Quero saber onde está o playboy que derrubou você e mais uma gatinha ali perto do banheiro?
— Não sei onde ele está. Acabei de sair do banheiro e estava procurando minha amiga, até você me segurar. — disse, olhando para a mão do garoto, que ainda segurava meu braço.
— Eu não vou perguntar de novo, então, acho melhor você falar logo. — ele aproximou mais o seu rosto do meu, me fazendo notar os seus olhos tão puxados quanto os de um asiático.
— Cara, eu já falei que não sei dele! — eu disse, já irritada.
— Se não me falar onde eles estão, não vou te soltar — ele ergueu uma das sobrancelhas. — E eu posso ficar aqui a noite toda.
— O que você quer? É dinheiro? Toma aqui. — tirei algumas notas da calça e estendi a mão, lhe oferecendo.
— Tá brincando comigo, né?! Eu não quero merda de dinheiro nenhum, só quero levar um papo com àquele playboy. — o garoto mentiu.
— Acha mesmo que eu acredito que você só quer "levar um papo com aquele playboy"? — engrossei a voz, na tentativa de o imitar e fazendo seus amigos rir.
— Olha só, acabou a palhaçada! Ou você me fala agora onde ele está ou eu te levo no lugar dele. — arregalei os olhos e engoli o seco.
Olhei para o lado e vi um senhor indo até uma das barraquinhas; senti que era a minha oportunidade de escapar dali, então comecei a gritar por socorro, mas o menino de olhos puxados me calou com um beijo.
— Saia de perto de mim, seu atrevido! — o empurrei com força e cuspi no chão, fingindo sentir ânsia daquele beijo. — Quem você pensa que é pra me beijar assim, de repente?
— Ah, deixe eu me apresentar — ele pigarreou — Me chamo Fishy, prazer em conhecê-la e em beijá-la. — o garoto disse, sorrindo debochado.
— Seu tarado! — avancei em cima do garoto, dando tapas histéricos nele, que me segurou de costas contra o seu corpo. — É melhor você me soltar, senão eu...
— Senão o quê? — ele me perguntou num tom desafiador.
Pisei em seu pé e dei uma cotovelada em seu estômago, o fazendo me soltar e corri o mais rápido que eu pude para longe dali.
Olhei para trás algumas vezes e vi os garotos correndo atrás de mim. Corri para o meio das pessoas, procurando por ou por meu irmão, mas nada deles. Já estava nervosa demais e comecei a gritar por socorro, mas sem parar de correr.
As pessoas me olhavam assustadas e quando os garotos se aproximaram de mim, dois homens enormes os barraram. Mesmo assim, não parei de correr e finalmente, me encontrei com e na barraquinha de jogos para videogame.
— Onde vocês estavam? Droga! — perguntei os empurrando, nervosa.
— Que isso, ?! O que você cheirou? — meu irmão perguntou, rindo.
— , olha o estado da sua irmã. Não é hora pra fazer brincadeiras. —
se virou para mim. — O que houve?
— Um idiota me beijou, mas eu consegui fugir. — eles me olharam espantados — Não me olhem assim, ele me agarrou.
— Como assim? Explica isso melhor. —
pediu.
— Assim que chegamos, vocês foram pra uma barraca longe de nós, eu e
fomos procurar por um banheiro, mas antes de entrarmos, um menino caiu por cima de nós duas. Ele pediu desculpas e explicou que estava fugindo de um grupo de garotos estranhos que o seguia, ai eu dei a ideia dele ficar com a gente, porque ficaríamos perto de vocês e que era só esperar a gente sair do banheiro. — eles assentiam atentamente. — Entramos no banheiro e
ficou me esperando enquanto retocava o batom, quando terminei de fazer minha necessidade,
já não estava mais lá. Saí do banheiro e tentei procurar por ela, mas o grupo de meninos estranhos que estavam seguindo o garoto, que caiu por cima de mim e da , me parou. Melhor dizendo, o menino asiático me parou. Ficou segurando o meu braço e eu tentei me soltar, tentei gritar por ajuda, mas ele me agarrou.
— Espera! Como assim você foi agarrada? Quem fez isso com você? — meu irmão olhava para todos ao nosso redor, procurando pelo cara.
—
, isso não importa agora. Temos que encont...
— Por que isso não importa? Por acaso, você gostou do beijo? —
perguntou irritado, e se não fosse loucura minha, diria que ele estava com ciúmes.
— Não é isso, garoto. É só que, precisamos achar a
antes que o menino de olhos puxados e seus amigos a encontre. — respondi.
— Nossa, até reparou nos olhos "puxados" dele. —
resmungou, me fazendo rolar os olhos.
— Por que temos que encontrar a
antes dos caras? — meu irmão perguntou.
— Eu conto no caminho, agora vamos logo atrás dela. — eles assentiram e fomos em busca da minha amiga.
Caminhamos por mais ou menos uns 30 minutos e não encontramos
. Tentamos ligar para o celular dela por diversas vezes, mas ela não atendia. Começamos a ficar nervosos de verdade e eu resolvi ligar pra polícia.
— Para quem você tá ligando? —
perguntou.
— Polícia.
— Não é pra tanto. —
disse, rolando os olhos.
— Diz isso porque sua irmã está aqui e você sabe que ela tá bem! —
disse nervoso.
—
, o
tá certo. A
pode estar correndo perigo com esses garotos por aí. — eu disse, finalizando a chamada. — Que estranho! Ninguém atende.
— Caraca, também por que essa garota tinha que ficar apaixonadinha por um qualquer que ela mal conhece? — meu irmão resmungou.
— Preferia que ela estivesse apaixonada por você, ? —
perguntou, na intenção de irritar meu irmão.
— Quer saber, vou pra casa. —
falou simples.
— Não acredito que você vai fazer isso! É a
que está correndo risco; minha melhor amiga, minha irmã. — eu disse, indignada.
— Quem quis se engraçar com um garoto barra pesada foi ela... E ainda te deixou sozinha, sabendo que aqueles caras estavam por perto. Ela nem pensou em você! — meu irmão estava visivelmente irritado. — Eu estou indo. Se vocês quiserem continuar procurando por ela, boa sorte! —
se distanciou, chamando um táxi.
— Seu irmão é um babaca! —
ele disse nervoso, passando as mãos pelo cabelo, descontroladamente.
— Não liga pra ele —
bufou — Fique calmo, nós iremos encontrá-la — tentei acalmá-lo.
— Ela é um poço de chatice, mas é minha irmãzinha. Não quero nem imaginar o que pode acont...
— Não vai acontecer nada. — eu o interrompi, rapidamente — Venha, vamos dar uma olhada por outras ruas. — ele assentiu e me acompanhou.
Ficamos por mais 30 minutos procurando por
e nada de a encontramos. Então, eu convenci
a voltarmos para casa, se não tivéssemos notícias dela ainda esta noite, iríamos até a delegacia.
— Finalmente, em casa... To quebrado. — ele disse, se jogando no sofá.
— Também to cansada. — ele me encarou.
— Que foi? — perguntei, erguendo uma sobrancelha.
— Vai deixar mesmo o cara que te agarrou ficar impune?
— Ah
, deixe isso pra lá. Foi só um beijo. — eu abanei uma das mãos.
— Mas ele te agarrou.
— Esqueça isso. No momento, nossa prioridade é a
. Que coisa! Até parece que tá com ciúmes — eu disse, em tom de brincadeira.
— E se eu estiver? — nos encaramos por alguns segundos, até eu ficar desconsertada com seu olhar e me levantar do sofá.
— Bem, eu vou me deitar. Boa noite! — nem esperei por resposta e corri para o quarto.
Sério mesmo que
estava com ciúmes de mim com um garoto que eu nem conheço? Só por que me beijou? Não, ele só podia estar brincando comigo. É claro que é brincadeira dele!
Balancei a cabeça pra tentar espantar meus pensamentos e quando abri a porta do quarto, tomei um susto...
e
estavam dormindo juntos. Não podia deixar que
subisse e assistisse a cena.
Desci correndo, o encontrando ainda sentado no sofá, com um copo de suco em mãos.
— O que houve? Levou susto com algo? Você parece assustada. — perguntou, humorado.
— Não, é que... Bem, eu...
— Você tá bem? — perguntou preocupado.
— Sim, eu só queria que você soubesse que eu não deixei o Fishy me beijar — eu disse aleatoriamente, me sentando ao seu lado.
— Fishy? Então, o nome dele é Fishy? — ergueu uma sobrancelha.
— Bem, ele se apresentou como Fishy e acho que ele é asiático. Se não for, é descendente.
— , você não tem que me dar satisfações de nada. Principalmente sobre isso, ok?! Você beija quem você quiser.
— Eu sei. Só não quero que você pense que eu saio por aí beijando desconhecidos ou garotos barra pesada — eu disse, sem o encarar.
— Até porque, esse foi o seu primeiro beijo — agora sim, o encarei.
— COMO VOCÊ SABE DISSO? — gritei.
— Minha irmã me contou. — ele disse simples.
— Como ela pôde fazer isso comigo? Cara, não acredito que a
te contou isso!
— Por que tá tão brava? Não é nada demais. —
disse, terminando de beber seu suco .
— Claro, não é nada demais. É só a minha intimidade, nada de importante.
— Você é tão dramática! — ele riu fraco e eu me levantei do sofá. — Espere — me puxou de volta, fazendo-me cair em seu colo. — Você ainda não me respondeu.
— Me solta agora ou eu grito. E se eu fizer isso, meu irmão desce e arrebenta a sua cara. — ele obedeceu e eu me sentei ao seu lado. — O que você quer saber?
— Se eu estiver mesmo com ciúmes de você e do tal Fishy? —
disse o nome do garoto, enquanto revirava os olhos, me fazendo rir.
— Acho que não faria diferença, nem pra você e nem pra mim. — respondi sendo sincera e ele deu um longo suspiro.
— Você acha mesmo? — dei de ombros — Então vamos deixar que o tempo tire essa dúvida e nos dê a certeza.
Nos encaramos novamente, e
aproximou seu rosto do meu, fazendo minha respiração acelerar. Ele olhou em meus olhos, profundamente, mas logo direcionou seu olhar para minha boca. Quando estávamos prestes a nos beijar, ouvimos um barulho na escada e nos afastamos, rapidamente.
— O que vocês estavam fazendo? —
perguntou, com a cara toda amassada, cabelo bagunçado e roupa amarrotada.
— Nada — eu me apressei em dizer. — Ah, nós precisamos conversar!
— Amanhã, to com dor de cabeça e dor no corpo. Só vim tomar um remédio e já estou subindo. — ela disse, indo pra cozinha.
— Bem — me virei para — Eu vou subir.
— Eu vou com você. — assenti e subimos.
Fiquei pedindo mentalmente a
que fosse o mais depressa possível para o quarto de
, porque senão seria mais uma confusão na noite. E o mesmo pareceu perceber minha tensão.
— Tá tensa assim por quê?
— Só estou tentando processar tudo que aconteceu esta noite. — sorri fraco.
— Ah sim. Bem, eu vou entrar. — ele disse, abrindo a porta de seu quarto.
— Eu também vou — ele arregalou os olhos. — Para o quarto da
— me corrigi, sem graça.
— Ah, claro — ele riu de nervoso. — Então, boa noite — me beijou na bochecha e sussurrou no meu ouvido: — Sonhe comigo.
Não consegui pensar em resposta, apenas sorri fraco e acenei para ele, já invadindo o quarto da .
Tá bom, o que foi isso? Não só isso, mas aquilo lá embaixo? A gente ia se beijar se não fosse pela
atrapalhando. Mas, claro que agradeci a mentalmente por isso. E a mesma adentrou o quarto.
— Pode me contando agora, o que aconteceu lá embaixo? — ela pulou na cama, empolgada.
— Nada! Não aconteceu nada! Só estávamos conversando. — disse, pegando uma roupa dela e entrando no banheiro.
— Conta outra,
. Conheço você e meu irmão muito bem!
— Sua dor de cabeça e corpo já passaram,
? Vá dormir um pouquinho, quem sabe melhora. — ouvi ela resmungar algo como"eu vou descobrir" e eu ri sozinha.
Tomei um banho meio demorado, ainda sentia ardência quando a água batia nas feridas do meu corpo. Eram recentes, meus machucados ainda não haviam cicatrizado e meu corpo ainda estava dolorido.
Me vesti rápido e saí do banheiro. Deitei ao lado de
lentamente para não despertá-la.
— Eu vou descobrir! — ela disse.
— Eu também vou! — respondi com o mesmo tom de voz.
— Do que você tá falando?
— Amanhã a gente conversa. Boa noite. — nos calamos.
Conhecendo bem minha amiga, sei que ela ficou pensativa e demorou a pegar no sono, pois ela é assim quando sabe que fez alguma besteira, mas tenta esconder. Porém, eu não demorei em nada e caí no sono, rapidamente.
[Capítulo Cinco]
Aproveitei que já estava no banheiro e tomei meu banho. Me troquei rápido e depois arrumei a cama, abri as cortinas do quarto e desci. Não havia ninguém em casa, o que era estranho, pois acabara de descer, mas nem sinal dela.
Ainda eram 09:55h; fiz meu café da manhã e tentei ligar para um dos meninos, porém não atendiam o celular. Então fiquei arrumando a casa e esperando por eles.
Terminei de arrumar tudo 12:10h, mas ninguém havia aparecido. Queria saber se comeriam em casa, porque eu precisava preparar o almoço, mas os celulares davam desligado. Ainda assim, fiz o almoço e deixei para eles.
Eu detestava ficar sozinha em casa, mas como não tive escolha passei a tarde inteira só, o que me preocupava. Onde eles poderiam estar e o que estariam fazendo?
Ouvi um barulho na porta e me virei na direção da mesma, esperando ver um deles, mas quem encontrei foram os pais de e .
— ? Você tá sozinha aqui? Onde estão os meninos? - perguntou tia Audrey, colocando algumas bolsas de compras no balcão da cozinha.
— Ah, eles saíram.
— Ah, como você está? O que são essas feridas em seu corpo? — ela se aproximou de mim com uma expressão preocupada.
— Meu pai me deu uma surra — eu disse cabisbaixa — De cinto.
— Por Deus, ! Por que ele fez isso com você, querida? Você é só uma criança! — ela me abraçou — Amor, olha o que o
fez com a menina.
— Ele enlouqueceu de vez? — tio Michael ficou visivelmente nervoso. — Eu vou agora na sua casa falar com ele.
— Por favor, não faça isso. Ele ficará com mais raiva e vai sobrar pra mim e pra . — eu segurava o braço de tio Michael, para não deixar ele ir.
—
, você é só uma criança, ele não podia ter te batido dessa forma — uma lágrima escorreu — Fique tranquila, eu irei apenas conversar e tentar entender o porquê dele ter feito isso. Eu e seu pai trabalhamos juntos, talvez você não saiba. — neguei com a cabeça — Seu pai não era assim, ele ficou desse jeito quando sua m...
— Querido, é melhor deixar esse assunto para outro momento — tia Audrey o interrompeu, delicadamente — Venha bebê, me ajude a guardar as compras. — ela me chamou e eu a segui até a cozinha. —
, você sabe onde os meninos foram? — fiquei sem resposta. — Já sei, eles devem estar na sorveteria. A vida deles é sorvete! — ela deu um sorriso espontâneo e eu suspirei aliviada.
Guardamos as compras. Conversamos um pouco sobre tudo o que estava acontecendo na minha vida e enfim, decidimos fazer um mousse de limão. Quando estava quase pronto,
chegou em casa com uma expressão cansada.
— Filha — tia Audrey a abraçou — Sentiu falta da mamãe?
— Ah, oi mãe. —
disse, desanimada.
— Que carinha triste é essa? Brigou com o namorado? — tia Audrey riu, fazendo
revirar os olhos e correr para o quarto. — O que deu nela?
— Eu também não sei, mas vou falar com ela. — tia Audrey assentiu e eu segui até a sala.
Corri pela escada e cheguei até a porta do quarto, bati e ouvi dizer: "entra", num tom de voz bem desanimado. Adentrei o quarto e a vi deitada na cama, agarrada a uma almofada escrita: "love really hurts".
Me aproximei dela e reparei que ela chorava. Eu tentei consolá-la, mas minha amiga se virou para o lado oposto e continuou a apertar sua almofada.
— Fala pra mim, o que tá acontecendo? — me sentei ao seu lado. — Eu não vou te condenar pelo que você fez com meu irmão, só quero saber o motivo da sua tristeza.
— O quê? Como assim? Eu não fiz nada com seu irmão! — respondeu se virando para mim.
— Eu vi vocês dois juntos ontem na cama.
—
, me poupe, tá?! Não tô a fim desse papo agora.
— Mas eu vou falar mesmo assim.
— Você não pode falar nada porque eu sei que você também tá se envolvendo com meu irmão. — arregalei os olhos, surpresa com o que acabara de ouvir.
— Não estou me envolvendo com seu irmão, ok?!
— Eu também não estou me envolvendo com o
. — respondeu seca.
— Qual é o problema,
? O que tá acontecendo? Foi ruim pra você? Não foi como você esperava?
— NÃO FOI COMO EU ESPERAVA PORQUE NÃO ACONTECEU NADA! — gritou, claramente irritada, enquanto se levantava da cama.
— Escute aqui, acho bom você não falar assim comigo. Por culpa sua àqueles garotos estranhos de ontem, que seguiram o menino que você ficou de olho, me perseguiram e um deles me beijou.
— Não tenho culpa da sua lerdeza! — ela deu de ombros.
— Meu primeiro beijo foi com um estranho — eu a encarei — Você me deixou sozinha pra ficar com àquele garoto, ontem. E eu ia ser levada no lugar dele por uns caras que eu nunca nem vi, mas você não se importa. — ela bufou, impaciente — Ótima amiga que você é!
— Você é tão egoísta,
! — ela disse irritada.
— Não, você é egoísta. Você. — me irritei também.
— Vá à merda!
— Mas o que é que está acontecendo aqui? — perguntou tia Audrey, invadindo o quarto — Filha, qual é o problema? Você chegou da rua triste, correu aqui para o seu quarto e repare em como você está tratando , sua melhor amiga. —
rolou os olhos. — Pode começar a falar agora mesmo. — sua mãe ordenou, descansando as mãos na cintura.
— Mãe, eu quero ficar sozinha!
— Vai ficar sozinha depois que contar o que está acontecendo, agora fale — tia Audrey ordenou, já sem paciência.
— Tia, lembra do Tyler? O bonitinho que veio aqui uma vez fazer um trabalho do colégio — ela assentiu. — Então, ele chamou a
para ir tomar um sorvete com ele, mas não aconteceu nada e por isso ela tá assim. Acho que queria mais que amizade. — tia Audrey abriu a boca, demonstrando surpresa e
minha amiga me fuminou com o olhar.
— Ah, então é isso? —
assentiu para a mãe. — Filha, fique tranquila, uma hora vai acontecer. Pode não ser com o Tyler, mas com outro. E te garanto que será bem melhor!
— E mais bonito — complementei e nós rimos um pouco.
— É verdade! Agora se alegre, a vida é muito mais que um bobão que te chama pra tomar sorvete. — tia Audrey disse, nos fazendo gargalhar.
— Valeu, mãe. —
agradeceu, do seu jeito.
— Por nada, filha. — tia Audrey a abraçou. — Agora desçam, fiz um bolo de chocolate bem recheado para vocês. Se não forem logo comer,
e
comerão por vocês.
— O
tá lá embaixo? —
perguntou aflita e sua mãe assentiu sorrindo, mas eu desconfiei de sua reação e ela percebeu. — Sabe como é, né?! Aqueles dois comem por todos. — sua mãe riu, concordando com a cabeça e saiu do quarto.
— Tá bom, o que foi isso? Por que essa preocupação toda com o meu irmão? — perguntei séria.
—
, não me obrigue a ser novamente grosseira com você. — ela respirou fundo — Chega dessa história e vamos descer.
Fomos descendo e
foi na frente. Eu fiquei a observando e pensando no quanto ela estava estranha... Ela não é do tipo de menina que fica estranha por garotos. E se não rolou nada mesmo, não tem motivo pra tanta estranheza e agressividade.
Terminamos de descer e demos de cara com os meninos. Percebi um olhar torto de
para
, que virou o rosto, rapidamente. Fomos para a cozinha e ficamos de frente ao balcão como criancinhas esperando o doce que a mãe tá preparando ficar pronto.
Por mais incrível que pareça,
mais tagarelava que comia,
mal tocou no bolo, apesar de ser o seu favorito,
comeu por
e
e eu comi o suficiente para dizer que estava cheia.
Depois de fartos pela comida, ficamos um tempo na sala conversando, na verdade,
e
quase não falaram, mas forçavam sorrisos tortos. Eu e
ainda estávamos envergonhados pelo climinha que rolou entre nós na noite anterior, mesmo assim, tentamos conversar normalmente, até tio Michael chegar.
—
e
, queria conversar com vocês, pode ser? — nos entreolhamos e assentimos. — Okay, vamos até o jardim.
Nos levantamos e saímos da parte de dentro da casa. O homem nos guiou até alguns bancos que ficavam perto da árvore e se sentou junto a nós.
—
, não sei se sua irmã te contou que eu fui em sua casa falar com seu pai. — meu irmão negou com a cabeça e me olhou confuso. — Então, eu conversei bastante com o
sobre vocês e ele...
— Olha, com todo respeito que eu tenho pelo senhor, mas não quero ouvir falar dele. —
o interrompeu.
— Eu te entendo, garoto! Mas escute o que eu tenho a dizer... O
fez aquilo sem pensar! Sei que vocês não acreditarão, mas ele realmente não queria ter feito aquilo. — reviramos os olhos. — Ele está sem se alimentar desde a hora que vocês fugiram de casa. Está fedendo a bebida, quando cheguei lá o obriguei a tomar banho e se alimentar, por isso demorei tanto. — tio Michael ficou mais sério. — Vocês notaram que o comportamento dele está cada vez mais descontrolado, né?
— Sim, ele vivia querendo bater no
sem motivos e quando me via, gritava pra eu sumir da frente dele... Mas por que essa pergunta? — tio Michael abaixou a cabeça e ficou sem fala. — Não importa o que seja, pode falar.
— Seu pai está usando drogas há 1 ano e meio.
— Eu já desconfiava que ele se drogava, mas nunca achei nenhuma evidência que me desse certeza. — disse, sincera.
—
?
— Isso não muda em nada o meu sentimento por ele, tio! — meu irmão disse, seco. — Não sinto pena dele, não por isso.
— Eu não queria que vocês passassem por isso! Eu gosto de vocês como se fossem meus filhos e, tudo de bom que desejo para as minhas crianças também desejo pra vocês. — tio Michael nos abraçou. — Eu posso imaginar como está a cabeça de vocês agora, tá sendo uma barra tudo que vocês estão vivendo, eu sei. Mas conta comigo, com a Audrey, com a
e
para o que der e vier!
— Obrigada, tio. Eu não sei o que será da nossa vida agora, não podemos voltar pra casa com meu pai daquele jeito. — eu disse, aflita.
— Não podemos mesmo! Ele espancou minha irmã, dá próxima ele pode nos matar. —
disse preocupado.
— Fiquem tranquilos, vocês podem ficar aqui em casa pelo tempo que quiserem! — tio Michael disse, simples.
— Tem certeza? — eu e meu irmão perguntamos ao mesmo tempo e com as mesmas expressões de surpresa.
— Sim, eu tenho certeza! Sei que o trabalho será dobrado, porque vocês jovens nos fazem envelhecer mais rápido e olha que eu só tenho 42 anos. — ele disse, coçando a cabeça.
— Só 42? Eu achava que o senhor era mais novo que eu. —
debochou.
— Continua debochando e eu corto meu cabelo igual ao seu.
— Não pode fazer isso, meu corte é jovem e único! —
ergueu uma sobrancelha e passou as mãos pelo cabelo.
— Você nem é convencido, né garoto!? — eu dei um tapa em seu pescoço.
— Desculpa ter herdado mais beleza que você, irmãzinha. — tio Michael e
começaram a gargalhar, o que me deixou irritada.
— Vá pastar!
— Calma, mocinha, seu irmão só está brincando! Ele sabe que é o mais feio da família. — minha vez de cair na gargalhada com tio Michael.
— Tô começando a ficar ofendido... — meu irmão fez cara de triste.
— Deixa de ser fingido, garoto! — nós rimos. — Tio, não é melhor perguntar pro pessoal se eles querem que a gente more aqui? Eles podem não gostar muito da ideia.
— Ah, que isso,
?! Vocês e meus filhos não se desgrudam, eles vão amar a ideia e eu já conversei com a Audrey, ela concordou e já disse que será a nova mãe de vocês. — olhei para
, que sorriu torto. — Você fica no quarto da
e
no quarto do
. Depois providenciamos camas e tudo mais para vocês. — assentimos. — Agora vamos entrar e dar a notícia para a família.
— Mas, e nossas roupas? Nossos pertences? — perguntei.
— É mesmo, eu tinha me esquecido disso. Meus desenhos ainda estão lá e...
— Buscamos tudo amanhã. Agora vamos entrar, está ficando frio aqui fora. — assentimos e entramos em casa.
A atenção de todos se voltou para nós. Ficaram olhando como se quisessem uma explicação.
— Okay, eu já vou contar o que está acontecendo, só não façam essa cara assustadora de novo. — rimos e tio Michael continuou. —
e
serão os novos residentes desse lar! — o homem deu a notícia, todo sorridente.
— O QUÊ? COMO ASSIM? —
gritou assustada e todos a olhamos, sem entender sua reação.
— Que isso, filha? Eles são seus amigos, qual é o problema? — tia Audrey perguntou confusa.
— Problema nenhum, só estou surpresa com a notícia — ela sorriu torto e abaixou a cabeça assim que olhou para
.
— Por você tudo bem, filho? — tio Michael perguntou para
.
— Claro! Vai ser ótimo ter vocês aqui o tempo todo. —
respondeu empolgado, nos fazendo rir.
— Então está resolvido! Mais dois filhos na casa. — sorrimos. — Agora vamos para a cama porque amanhã eu e a mãe de vocês temos que acordar cedo para trabalhar, vocês duas vão para o colégio e os rapazes irão procurar emprego.
— Mas não sabemos fazer nada! —
disse, desesperado.
— Terão que aprender! Boa noite. — respondeu, saindo da sala.
— Awn, meus filhos. Saibam que estou muito contente por vocês aceitarem morar com a gente. — tia Audrey disse, sorrindo largamente.
— Obrigada por concordar e permitir que fiquemos morando aqui. — a abracei.
— Não precisa agradecer, meu anjo. — beijou o topo da minha cabeça. — Agora vou dormir, boa noite e vão logo pra cama, hein. — assentimos e a mulher subiu.
— Agora somos quase irmãs mesmo, não é legal? — comentei com
.
— Claro que é. — ela respondeu desanimada, olhando para
— Vamos subir,
. Boa noite pra quem fica. — me puxou e saímos da sala.
Chegamos no quarto e
logo tratou de deitar na cama, para fingir estar com sono, porque sabia que eu perguntaria sobre essas mudanças emocionais dela.
— Nada disso! Levanta agora e vamos conversar. — joguei o edredom no chão, a descobrindo e puxei seu braço.
— Que isso,
, tá surtando?! — disse indignada. — Não vou conversar com você agora! Estou com sono, já está tarde e nós temos aula amanhã. — pegou o edredom do chão e voltou a se deitar.
— Ou você conta o que está acontecendo agora mesmo, ou eu chamo o
e
aqui e conto o que vi. — ela arregalou os olhos.
— O que você viu? — perguntou desesperada.
— Você sabe o que eu vi, mas não contei nada para
porque não sabia qual seria sua reação.
— Eu perguntei: o que você viu? — perguntou novamente, mas dessa vez irritada.
— Eu vi você e
deitados na sua cama, já te falei isso. — ela se levantou e trancou a porta.
— Não aconteceu nada, que droga!
— Como não? Eu vi e...
— Você só nos viu deitados, não fizemos nada demais. — disse simples.
—
, vai me dizer que vocês ficaram em casa, sozinhos, à noite, deitados na mesma cama e não passaram dos beijos? — perguntei, rindo sem humor.
— Exatamente. — respondeu, confiante. — Não que precise te provar algo, mas foram só beijos.
— Então, por que essas mudanças de humor e esses olhares estranhos de
para você e vice-versa? — ela ergueu uma sobrancelha.
— Porque eu estou com vergonha, é só isso. — assenti, ainda não acreditando nessa história. — Agora, será que podemos dormir?
— Vergonha de que, se vocês não passaram dos beijos? — perguntei, ainda desconfiada.
—
, eu juro que se você me pergunt...
— Ok, nem precisa continuar. Boa noite — desliguei todas as luzes, mas quando me deitei, liguei o abajur novamente e a olhei — Pelo menos agora você não vai mais reclamar de não ter sido beijada recentemente.
—
, desliga essa bosta e durma! — ela ordenou, nervosa e se virou para o lado oposto.
Desliguei o abajur e fiquei rebobinando essa história que não tinha me convencido em nada. Conheço minha amiga, e mais ainda o meu irmão, pra cima de mim que ficou só nos beijos? Até parece...
Depois de ficar pensando em como seria voltar pra escola com aquelas marcas no corpo, com todos me olhando curiosos, com que roupa eu deveria ir pra esconder os machucados e ouvir umas três músicas no celular da , me rendi ao sono.
[Capítulo Seis]
Chegamos à sala, ofegantes.
— Aonde pensam que vão? — professor Ramal nos perguntou.
— Não é meio óbvio? Vamos nos sentar, oras. — respondeu , e fomos até nossas mesas.
— Não vão, não. Podem se retirar agora mesmo! — ele disse, se virando novamente para o quadro, terminando de desenhar o mapa do Brasil, que mais parecia uma coxa de frango.
— Mas por quê? O que nós fizemos? — perguntei confusa.
— Chegaram atrasadas, só isso. — respondeu simples.
— E isso é motivo pra nos colocar para fora da sala? — perguntou irritada.
— Não, tem mais um motivo.
— E qual é esse outro motivo, senhor coxinha de frango do Brasil? — perguntou debochada, fazendo a turma cair na gargalhada, inclusive eu.
— Seu abuso, senhorita deboche. Agora saiam da sala, antes que eu as mande para a direção! — o professor ordenou e saímos da sala, um tanto frustradas.
— Cara, por que você fez isso?
— Isso o quê? Chamar ele de coxa de frango? — perguntou com as sobrancelhas erguidas, me fazendo rir.
— Garota, você precisa parar com esse seu deboche, hein!
— Talvez um dia, mas agora vamos pra sala de música. — ela me puxou.
— Ficou louca? Se a senhora Frida nos ver lá, ela manda a gente ir pra direção na hora e eu não quero causar problemas aos seus pais. Ainda mais agora que estou morando com vocês há pouquíssimo tempo. — disse, fazendo revirar os olhos.
— Por que a professora de física estaria na sala de música? Ela não parece ser do tipo que gosta de artes ou coisas do tipo.
— Estou falando, é melhor não irmos.
— Nós vamos sim, e se ela estiver lá, nós corremos e pulamos o muro da escola. — disse simples.
— Você come cocô? — ela riu, me puxando — Não importa o que acontecer, a culpa será totalmente sua!
Chegamos à porta da sala de música, checamos o corredor para ter certeza de que não teríamos encrenca depois e entramos.
As paredes da sala eram coloridas com algumas letras de música, como: "There will be an answer, let it be", "Girl, I'll be thinking about you worldwide", "Hey, mamacita! Naega ayaya", "We've got nothing to lose", "Baby, you're not the only one", entre outras.
No teto, havia várias notas musicais desenhadas com preto cintilante e no chão, um tapete verde por toda sala, escrito: "Show Me What You Got!". Vários instrumentos espalhados, mas nada desorganizado, pelo contrário, tudo fazia parte da decoração.
A mistura de cores, instrumentos por toda parte, os brilhos no teto, era o que dava a diferença no local. Tudo era incrível!
— Estão perdidas ou matando aula? — eu e
ficamos tão fascinadas com a decoração da sala, que nem vimos o menino que estava nela.
— Que susto, garoto!
— Ainda não me responderam. — ele insistiu.
— E nem vamos responder. —
respondeu.
— Ei, super girl, pega leve — ela revirou os olhos. — Fomos colocadas pra fora porque a simpatia em pessoa aqui resolveu fazer brincadeirinhas idiotas com o professor, mesmo sabendo que estávamos atrasadas. — eu disse apontando para ela e o menino riu.
— A culpa não é minha se o professor não tem um pingo de humor. —
se defendeu, pegando uma guitarra que estava à sua frente.
— Não pegue isso, sua louca!
— Por que não? — o menino perguntou, confuso.
— Ela é toda neurótica, liga não — ergui uma sobrancelha e a lancei um olhar mortal — Que foi? Você sabe que é verdade.
— Entendi. Mas não tem problema nenhum tocarmos com estes instrumentos, pelo menos, não enquanto estivermos aqui. — sorrimos e o menino se levantou. — Sou Drew, e vocês?
—
, a garota que manda a ver na guitarra, sacou? — gargalhamos.
— Nossa, que menina modesta! —
deu de ombros e Drew se virou para mim. — E você? Me deixe adivinhar... É a garota que manda a ver na bateria, certo?
— Certíssimo.
— Tá brincando?! — ele arregalou os olhos.
— Não, é sério. — Drew ergueu as sobrancelhas, me fazendo rir — Bem, eu sei tocar, mas meu irmão é bem melhor. — fiz careta.
— Eu também toco bateria. Na verdade, sou bem melhor no violão, mas consigo tirar algum som legal da batera. — sorri. — Me diga o seu nome.
—
. — eu disse sorrindo simpática e ele retribuiu — Você também canta?
— Ah sim, eu canto um pouco. Faço alguns raps e...
— Será que vocês podem ficar quietos só pra eu tocar um pouquinho? —
, simpática como sempre.
— Tudo bem, senhorita educação. — disse Drew, levantando as mãos, me fazendo rir. — Mas duvido muito que você toque como eu. — ele ergueu as sobrancelhas e sorriu debochado.
— Claro que não! Meu jeito de tocar é único e incomparável. —
rebateu, também erguendo as sobrancelhas.
— Então, nos mostre o que você sabe — Drew se sentou no enorme tapete e eu me sentei ao seu lado.
— I've been trying to keep my grip. Yeah, I think I'm over this, I can hear it now. Oh no, oh no... —
continuou cantando e Drew me olhava surpreso a cada 10 segundos — I'll try my best, how much do I invest? Like cardiac arrest high voltage in her lips. I'll try my best, how much do I invest? Like cardiac arrest high voltage when we kiss. — ela finalizou a música e sorriu satisfeita para Drew. — Mandei bem, né?!
— Com toda certeza. — ele respondeu, a fazendo alargar o sorriso. — A música é bem diferente, nunca tinha ouvido antes. Mas gostei da letra, da melodia, e da sua voz.
— Valeu. Nunca havia tocado ela na guitarra, mas sempre no violão. — ela disse, orgulhosa de si e se sentou ao meu lado.
— Ficou ótimo, mas agora é minha vez. — Drew se levantou, pegando um dos violões e começou: — Out of all the flowers in the bunch, oh, you stood out just like a sore thumb. From the way you shining in the sun, I picked you up. Yeah, you became my only one... — ele cantava de olhos fechados, tão calmo, tão doce. De repente, Drew abriu seus olhos e os fixou nos de
. — Whatcha, whatcha know. I'm telling you whatcha, whatcha know. I hear you're like a fairytale, fairytale. You're like a fairytale, fairytale. Now we're living in la-la-la-la-land, we're living in la-la-la-la-land. Oh, like a fairytale, fairytale. Oh, like a fairytale, fairytale. — ele terminou a música e sorriu abobalhado.
— Drew, essa música é perfeita! — eu disse.
— É de minha autoria. — ele disse envergonhado.
— Sério? Cara, a sua voz é tão angelical, que me fez viajar enquanto eu ouvia a canção —
admitiu.
— Obrigado. — Drew disse sem graça. — Agora é sua vez. — apontou pra mim.
— Eu? — apontei para mim — Sou melhor na dança.
— Para com isso, você canta super bem. —
disse, me dando uma tapa no braço.
— Cante. — Drew pediu, fazendo biquinho.
— Okay.
, você na guitarra e eu no teclado. — ela assentiu e começou a tocar o instrumento. — You fled from medication, cause it only causes pain. You won't go to the doctor he keeps calling you're insane. You're lost even when you're going the right way. You mean the world to me, even though you might be crazy. — Drew nos olhava como um jurado que estava começando a curtir o som do candidado, então tive que fechar meus olhos para o nervosismo não me dominar de vez. — You said we wouldn't make it, but look how far we've come. For so long my heart was breaking, but now we're standing strong. The things you say make me fall harder each day, you're a trainwreck but I wouldn't love you if you changed. — abri meus olhos, ainda nervosa e finalizei: — One more thing I thought I'd share with someone special, I'm falling like I've never fell before. It's funny, you said we'd never make it and look how far we've come. You're a trainwreck, but with you I'm in love.
— Maravilhosas! — disse Drew, alargando o sorriso após ver
se aproximar. — Por acaso, você está apaixonada? — ele me perguntou.
— Não, não. Eu só amo demais essa música, por completo.
— E vo...
— Não, eu não quero saber de paixão tão cedo. —
se apressou em responder, mas eu sabia que era mentira.
— Ok, não precisa me bater por isso, foi só uma pergunta. — Drew dramatizou e nós rimos — Essa música ficou incrível na sua voz!
— Verdade, super girl. Eu poderia ficar aqui o dia todo —
ainda estava com a guitarra.
— Isso porque você ficaria tocando o dia todo. — ela deu uma piscadela.
— Mas sério, sua voz é demais! — disse o garoto.
— Obrigada, de verdade. — contive o sorriso.
— Não precisa ficar envergonhada, foi só um elogio. — Drew apertou minha cintura de brincadeira, o que levantou um pouco a minha blusa e o fez perceber minhas marcas. Ele arregalou os olhos, me deixando constrangida.
— O que foi isso? Você...
— Ela não gosta de tocar nesse assunto. —
respondeu por mim e deu uma piscadela.
— Desculpa, não quis te constranger. Só fiquei surpreso. — Drew pediu, sem graça.
— Tudo bem. Já passamos do horário da próxima aula.
— Então, vamos continuar aqui. —
disse simples, ainda tocando a guitarra.
— Garota, você não está bem hoje, acho que precisa se alimentar.
— Eu estou bem sim, só não quero ir pra aula. —
se defendeu.
— Então, por que veio pra escola? — perguntou Drew.
— Não to a fim de ficar levando bronca do meu pai. — se explicou.
— Tudo bem, vamos ficar. Mas só até a próxima aula.
— Meninas, já está na hora do intervalo. — Drew avisou, receoso.
— Droga! — falei.
— Ah, pelo menos nos divertimos. —
disse sorridente e assentimos.
— Vamos comer alguma coisa — Drew sugeriu.
— E o que te faz pensar que nós iremos comer algo com você? Acabamos de te conhecer. —
ergueu uma sobrancelha.
— Estamos aqui há mais ou menos 3h, já nos conhecemos o suficiente para lancharmos juntos. — Drew disse, com as sobrancelhas erguidas, e dessa vez,
engoliu o seco.
— Ok, agora vamos comer logo, porque minha fome não espera. — eu disse, puxando
para fora da sala.
Chegamos ao refeitório e recebemos alguns olhares maldosos de alguns colegas de classe.
se irritou e quis começar uma discussão com Halston, a "Barbie" da nossa turma, mas Drew a interrompeu e fez sinal para sentarmos em uma mesa mais afastada da garota. Nos sentamos no canto do refeitório e lanchamos, tranquilamente.
Depois de 25 minutos, continuamos conversando até que o sinal tocou e nos despedimos de Drew. Voltamos à sala, assistimos mais três tempos de aula e fomos para casa.
— Meninas? Como foi no colégio hoje? — mal chegamos e tia Audrey já nos fazia pergunta.
— Oi mãe, tô bem também e você? —
ironizou.
— Aonde foi que eu errei com essa menina? — tia Audrey olhava para cima com uma expressão engraçada.
— Mãe, para de fazer essa cara!
— Tia Audrey, acho que fizemos um novo amigo hoje. — falei sorridente.
— É mesmo? Que legal, hein.
— Ele canta bem, toca violão divinamente bem e ainda é bonito... Quero casar com ele! —
soltou.
— É sério isso? — perguntei incrédula.
— Aquela música perfeita que ele cantou é de sua autoria. Eu tô falando seríssimo! — ela subiu suspirando.
— Tá bom, agora me fale o que está acontecendo com a minha filha? Esse não é o seu normal. — tia Audrey parou de mexer na salada e me encarou.
— Tia, o garoto é mesmo muito bonito. E canta, toca instrumentos, é engraçado, gentil e...
—
, quem é que está apaixonada pelo garoto? Você ou
? — franzi o cenho. — Porque as duas estão o elogiando demais, elém de estarem suspirando por ele. — quando cai em si, pigarreei dando uma desculpa para tia Audrey e saí da cozinha o mais rápido que pude.
Não acredito que dei esse mole! Não que eu esteja apaixonada pelo Drew, mas ele é um cara interessante... E bonito, muito bonito.
— Que foi? Tá falando sozinha? —
perguntou.
— Não, só tô pensando na vida.
— Certo — ela assentiu — Hein, você gostou do Drew? — perguntou de repente.
— Por que tá me perguntando isso? — joguei a bolsa perto do armário e o abri.
— Só quero saber sua opinião — respondeu simples.
— Bem, ele é... Interessante.
— Só isso? — olhei para
, que me encarava com uma sobrancelha erguida.
— Ele é bonito, gentil, engraçado e gosta muito de música. — fiquei pensativa, me lembrando do jeito de Drew e me virei para o armário.
— Verdade. Acha que ele se interessaria por mim? —
perguntou curiosa, me fazendo virar em sua direção. Sabia que a minha amiga estava interessada nele e ele por ela.
— Ah, por que não? Você é linda, engraçada, inteligente, sincera... Além de outros adjetivos que você possui. — ela riu fraco.
— Ter vários adjetivos não quer dizer que todos serão só de qualidades. — franzi o cenho. — Super girl, eu tenho tantos defeitos e o Drew é uma pessoa tão legal!
— Bem, pelo menosparece ser.
— Sim, de qualquer forma, eu não sei se ele teria interesse em mim. — ela disse desanimada e se sentou na cama.
— Primeiro, espante logo essa insegurança porque isso nem combina contigo. E depois , eu reparei no modo como ele te olha. — ela sorriu e eu me sentei ao seu lado. — Também já reparei no modo como o
te olha. — ela revirou os olhos.
—
, na boa, não quero falar sobre o seu irmão.
— Queria entender por que você não quer se abrir comigo. Agora mais que nunca somos irmãs, você pode me contar o que tá acontecendo? — segurei em suas mãos e ela olhou em meus olhos.
— Tá bem, eu te conto — ela respirou fundo — Naquele dia que você nos viu abraçados na cama, aconteceu mesmo. — a lancei um olhar reprovador — Por favor, não me olhe assim, ok?!
— Eu sabia, — apertei nossas mãos — Mas por que você não quis me contar antes? Por que preferiu mentir?
— Porque isso é coisa íntima minha, eu não queria contar. — eu assenti, a compreendendo. — E depois do que aconteceu, seu irmão foi um grosso comigo. Está sendo até hoje — seus olhos marejaram. — disse que esse foi um erro que não acontecerá novamente, e se eu contasse pra alguém ele não olharia mais na minha cara. — ela começou a chorar.
— Por isso aqueles olhares dele para você. Você ficava toda triste e cabisbaixa, de repente. Agora entendi tudo! — bufei irritada pela atitude do meu irmão e a abracei forte — Amiga, eu sinto muito mesmo por isso, a gente sempre imagina que seja algo especial e não decepcionante. Mas pense, sempre foi grosseiro comigo e com você, já não era de se esperar que não seria diferente, mesmo nessas circunstâncias? — coloquei uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.
— Eu sei, . Mas ele estava sendo tão fofo comigo, que acabei cedendo e agora me sinto uma idiota. —
chorava cada vez mais. — Eu tô com vergonha dele. Tô com vergonha de você. Tô com vergonha de mim mesma.
— Não precisa se envergonhar de nada, nada mesmo. Todos nós cometemos erros e acertos, é normal. — ela deitou sua cabeça em meu colo — Não se sinta idiota pela babaquice do meu irmão. Pense que, dessa situação, você vai tirar proveito do amadurecimento que obteve. Vai te servir de lição para o resto da vida.
— Sabe, eu ainda me sinto envergonhada e usada... Não sei explicar, é uma mistura de sentimentos. — ela disse num tom baixo. — Mas, obrigada por suas palavras.
— Oh amiga, não precisa agradecer por nada, eu é que te agradeço. Você tá me dando a maior força com esse lance do meu pai e não só isso, mas tá sempre ao meu lado. — ela virou a cabeça em minha direção. — Eu não poderia ter ganhado uma irmã melhor!
— Reparou que estamos bem menininhas hoje? Chorando, revelando segredos uma à outra, falando sobre sentimentos — ela deu língua, fingindo ânsia de vômito e acabamos rindo.
— Reparou que você já está sorrindo? —
se levantou.
— Sem ofensas, mas não quero chorar mais por causa do seu irmão. — ela secou suas lágrimas — Quem sabe o Drew não é melhor que ele, né? — ela foi para o banheiro.
— É, quem sabe — falei quase em um sussurro.
Voltei a procurar alguma roupa da
mais próxima do meu estilo, mas pensando no que ela acabara de me contar. Como pode estar sendo tão babaca com ela? Mesmo sendo um poço de chatice e ignorância, jamais esperaria esse comportamento dele.
Puxa, não merece passar por isso. Tô me sentindo mal por ela.
Preciso conversar com
meu irmão civilizadamente, mas se ele não quiser facilitar as coisas, vai ouvir de qualquer jeito e não será pouco. Não vou economizar palavras, esta situação não vai ficar por isso mesmo.
— Ei, já achou algo mais "" para vestir? —
perguntou, me fazendo despertar dos meus pensamentos.
— É meio difícil encontrar algo mais "" em um armário tão "", mas sim, consegui. — nós rimos alto.
— Ok, tô descendo agora, te espero pra comer se você for rápida. — ela disse normalmente, mas sei que por dentro suplicava para que eu não demorasse.
— Tá bem, super girl. Não vou demorar. — peguei a roupa e levei para o banheiro.
Tomei um banho rápido e me vesti na mesma velocidade. Ouvi um barulho no quarto e cogitei que havia retornado para pegar alguma coisa, então saí do banheiro despreocupada e dei de cara com
.
— Ainda bem que estou vestida — suspirei aliviada. — O que tá fazendo aqui?
— Só vim procurar meu celular, às vezes
pega ele pra usar meus créditos. Ela é uma má irmã! — ele sussurrou, me fazendo rir.
— Ok, fique à vontade. Já estou descendo mesmo.
— Você está bem? — ele perguntou, um tanto preocupado.
— Estou sim, por quê?
— Você está estranha! Só não sei dizer como, exatamente. — ele fixou seus olhos nos meus.
— Ah, deve ser fome — desconversei. — Vamos almoçar?
— Vamos sim, eu só vou... Achei! — ele pegou o celular, que estava embaixo do travesseiro da
.
— Não sabia que ela usava seus créditos. — disse rindo.
— Ela faz isso sempre.
— Por que você não esconde o celular dela? Poderia criar um esconderijo para ele. — ele pareceu estar pensativo — Compre uma caixinha com cadeado ou você mesmo a faça, crie uma chave diferente, algo que só você saiba como destrancar e leve—a contigo aonde você for. — sugeri, e ele me encarou de olhos arregalados.
— , acho melhor você parar de assistir The Mentalist, sério. —
disse, erguendo as mãos e me fazendo arquear as sobrancelhas.
— Eu to tentando te ajudar, ingrato!
— Eu também to tentado te ajudar. Vai acabar ficando igual o seu irmão, achando que é o Patrick Jane e querendo desvendar o que as outras pessoas não conseguem. — o lancei um olhar mortal e
riu de mim. — Vamos embora, o almoço está com um cheiro ótimo! — ele me puxou, mas eu me soltei.
— Don't touch me! — encolhi meus braços e desci, mas pude ouvir sua risada alta.
— Até que enfim, hein?! Venha, faça logo seu prato antes que a comida esfrie. — tia Audrey disse, enquanto preparava a salada.
Preparei meu prato e me sentei ao lado de
. Ainda não tinha visto
e isso me preocupava um pouco, mas não diminuia a minha revolta contra ele.
— Tia, o
saiu há muito tempo? — perguntei preocupada.
— Ele não saiu de casa hoje, está no quarto. — franzi o cenho — Fui vê-lo e ele estava com febre, mas eu o dei um remedinho.
— Meu irmão tá com febre? Ele quase nunca fica doente.
— Não precisa ficar preocupada, , a febre dele não estava tão alta. Mesmo assim, eu dei um medicamento a ele, apenas por precaução. — tia Audrey é enfermeira, sabe bem do que está falando — Ele disse que está com o corpo dolorido e com dor de cabeça também, mas acho que já passou, pelo menos a dor de cabeça.
— Vou ver ele. — me levantei.
— Nada disso, coma primeiro. — tia Audrey ordenou, me fazendo sentar novamente.
Terminamos o almoço e eu fiquei lavando a louça com a
, ela estava guardando tudo.
— Não acha que está se preocupando à toa com seu irmão? —
perguntou simples.
—
, eu sei que ele é um idiota, mas ainda é meu o irmão. — respondi num tom um pouco elevado e ela deu de ombros. — Deixa pra lá.
— Lave tudo direitinho, hein. —
disse e se sentou de frente para nós.
— Cala essa boca! — respondi, fazendo a
rir. — É só secar mais esse prato e acabou, ok? Vou lá ver .
— Você não vai entrar no meu quarto —
brincou.
— É mesmo? — ri sarcástica — E quem é que vai me impedir? Você?
— Já avisei! —
alertou, apontando para mim.
Dei as costas e saí da cozinha. se levantou e veio atrás de mim. Tentei correr, mas quando pisei no primeiro degrau da escada, ele me pegou no colo, indo em direção ao sofá. Belisquei sua cintura, quase que imediatamente me derrubou no sofá e caiu por cima de mim. Nossos rostos ficaram bem próximos, nossos olhos se encaravam e, de repente, começamos a gargalhar.
observava tudo da porta da cozinha e mal se aguentava em pé de tanto rir.
— Vocês ficam tão bonitinhos juntos. — minha amiga disse, em meio às risadas.
— O que significa isso? —
meu irmão chegou na sala, nervoso.
— —
saiu de cima de mim e eu me levantei. — Como está se sentindo? Tia Audrey falou que você estava com febre.
— To melhor, mas não muda de assunto — ele parecia intrigado — Por que o
estava em cima de você? — perguntou desconfiado e nervoso.
— Calma cara, nós só estávamos brincando. —
explicou.
— Sei muito bem que tipo de brincadeira é essa. —
começou a me irritar.
— Não estávamos fazendo nada demais!
me derrubou no sofá, eu o belisquei, ele acabou caindo em cima de mim e começamos a rir da nossa idiotice. Que maldade há nisso? — respondi simples, porém levemente irritada e
bufou.
— Tudo bem, acredito em você. Mas só em você! —
meu irmão apontou para mim, olhando bravo para
.
— Você precisa relaxar —
me surpreendeu, quando falou com .
— Fique quietinha, tá?! — ele colocou o dedo indicador por cima dos lábios, fazendo
revirar os olhos.
— Cara, não false assim com a minha irmã. — reclamou com .
— Ei, família! — tio Michael chegou em casa animado.
— E aí, pai —
o cumprimentou.
— Pai, você tá mais bonito. —
elogiou.
— Você acha, filha? — tio Michael alargou o sorriso.
— Acho que alguém aqui tá precisando de óculos —
brincou, cruzando os braços.
— Acho que alguém aqui poderia deixar de ser tão babaca! —
disse seca e foi para o seu quarto.
— Ok, alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? — tio Michael ordenou.
— A
é estranha, você sabe. —
disse, dando de ombros e se jogando no sofá.
—
, eu sei que você sabe de alguma coisa, então pode começar a contar — tio Michael apontou para mim e os meninos me encararam.
— Ah, é... TPM.
— TPM? — tio Michael perguntou, desconfiado.
— Claro que é. O que mais poderia ser? — falei séria, tentando ser convincente.
— Meninas... Sempre tão estranhas! — tio Michael disse, pisando no primeiro degrau.
— Ei! — dei um gritinho.
— Sem ofensas, , mas mulher é um ser meio estranho. — ele disse simples e os meninos gargalharam.
— Eu ouvi isso, querido. — tia Audrey surgiu na sala com uma colher de pau na mão.
— Oi, meu docinho de coco. Como foi seu dia de folga? — tio Michael a abraçou.
— Foi ótimo! Mas não muda de assunto, Michael — tia Audrey disse, brava — Então, mulher é um ser estranho? Bem, podemos até ser um pouco complicadas e difíceis de lidar, às vezes, porém os homens não vivem sem!
— Em casos mais raros, conseguimos sim.
— Por favor, não comecem com aquelas discussões bobas. —
pediu, mudando o canal da TV.
— Eu concordo com
, não é hora para isso e... — tio Michael sussurrou algo no ouvido de tia Audrey que a fez mordiscar o lábio inferior e o lançar um olhar sapeca.
— Vou terminar minha torta de limão. — ela voltou para a cozinha, mais animada que antes.
— Essa foi por pouco, hein tio! —
disse rindo e tio Michael alargou a gravata.
— Nem me fale, to até suando. — ele passou a mão na testa, ainda com os olhos arregalados e nós gargalhamos. — Ah, quase esqueci de avisar. Vou tomar um banho agora e já desço para levar vocês à casa de
, pra buscar os seus pertences. — assentimos e tio Michael subiu.
— , podemos ir até o quintal? Preciso conversar com você. — perguntei receosa.
— Não pode ser aqui mesmo?
agora mais que nunca é o nosso irmão. — ele perguntou, me fazendo sorrir com o que acabara de dizer.
— Eu sei disso — eu disse, olhando para — Mas é que o assunto é meio íntimo.
— Tá, vamos lá. —
se levantou e saiu na minha frente.
— Tudo bem pra você,
? — perguntei receosa.
— Claro, tá tranquilo. Eu entendo que é assunto seu com
— eu assenti — Pode ir sem receio.
— Valeu, irmão. — dei um beijo em sua bochecha e ele sorriu torto.
Saí de casa e fui até um dos banquinhos que meu irmão estava sentado.
[Capítulo Sete]
— , a já me contou tudo. — despejei de uma vez.
— Contou tudo o quê? — perguntou já nervoso.
— Você sabe bem do que estou falando.
— Ela não tinha que ter falado nada! — ele disse num tom elevado.
— Ela fez muito bem em se abrir comigo, . Você não tem noção do quanto está sofrendo! — ele me encarou. — Eu nem queria acreditar que você tinha sido tão babaca com ela, mas...
— , o que aconteceu foi um erro que não irá se repetir — fui interrompida — Eu fui honesto com ela quando disse isso.
— , você acabou com ela quando disse isso!
— Será que você pode parar de defendê-la e tentar compreender o meu lado? — ele passou as mãos pelo cabelo, freneticamente. — Foi bom, sim, mas não pode se repetir! Tio Michael e tia Audrey estão sendo muito gentis com a gente, estão nos trantando como se fôssemos os próprios filhos deles. E é o meu melhor amigo. — eu assenti — O que eles pensariam e fariam se descobrissem o que eu e fizemos? Ela é a princesinha deles.
— Eu te entendo, , mas não há como voltar atrás, já aconteceu. E a tá muito chateada com tudo isso. — eu o encarei — Você foi grosseiro com ela, e ainda tá sendo. Ela se sente usada. — ele respirou fundo e encarou a grama do jardim. — Você sabe que ela não merece isso! Não digo isso por ser minha melhor amiga, mas por ela ser uma pessoa incrível.
— Sim, eu sei. Eu não quero que ela se sinta usada, eu jamais faria isso com ela ou com qualquer outra garota — ele ainda encarava o jardim. — Eu não soube me expressar bem e só tentei mantê-la distante, na verdade, to com vergonha de falar com ela. Nunca pedi perdão a ninguém antes, como farei isso agora?
— Que tal começar com: ", eu sei que sou um idiota, mas..." — ele arregalou os olhos, me fazendo rir.
— Vou ter que me humilhar para ela? — perguntou, indignado.
— Pedir perdão não é humilhação e nem fraqueza, é uma virtude. — eu disse firme — Diga a ela o quanto você tá arrependido por tê-la tratado daquela forma. Explique a ela o porquê de você ter agido daquela maneira e , seja sincero com minha amiga, mas tome cuidado com suas palavras e com a forma que vai dizer tudo. Se você não gosta de ser magoado, não faça o mesmo. — coloquei uma mão em seu ombro. — E não tenha medo.
— Não estou com medo — ele mentiu e eu arqueei uma sobrancelha. — Só não sei se terei as palavras certas.
— Você terá! — sorri para ele, que retribuiu.
— Acho tivemos uma conversa tão séria, mas foi bom. — confessou.
— Verdade. Eu disse que poderíamos tentar ser não só irmãos, mas também amigos. — ele assentiu — É ótimo saber que agora posso confiar em você para conversar!
— Sim — disse e nós rimos.
— e , venham! Vamos buscar suas coisas — tio Michael nos chamou e corremos até seu carro.
O trânsito estava mais lento que o normal, por isso demoramos uns 30 minutos para chegarmos à casa do meu pai.
Tio Michael apertou a campainha e uma mulher, não tão jovem nos atendeu.
— Oi, boa noite. Esses são os filhos de e eles vieram buscar seus pertences. — tio Michael explicou à mulher.
— Ah sim, o senhor já havia me avisado que vocês viriam. — a mulher disse, sorrindo simpática. — Por favor, entrem. Vocês querem algo para beber? Água, suco, café...
— Eu quero um suco — respondeu rapidamente, interrompendo a mulher e tio Michael o lançou um olhar significativo. — Por favor.
— E o senhor? — ela perguntou.
— Ah, um copo de água, por favor. Obrigado. — tio Michael a respondeu, olhando ao redor da casa.
— E você, mocinha? — me perguntou.
— Ah não, eu tô bem, mas obrigada. — ela sorriu simpática e foi para a cozinha.
— Desde quando o meu pai tem empregada? —
falou, confuso.
— Eu disse a ele para contratar uma, seria melhor assim. — tio Michael respondeu, descansando as mãos na cintura. — Agora vão, peguem tudo o que puderem, mas que seja de vocês. — assentimos e fomos para nossos quartos.
Mal entrei no meu quarto e já abri as portas do armário. Precisava das minhas roupas,
estava sendo muito gentil em me emprestar as suas, mas não quero abusar da sua boa vontade. Peguei algumas malas que eu tenho e enfiei roupas, calçados, maquiagem, objetos pessoais, livros, cadernos de música, celular, notebook, fones de ouvido... Tudo de necessário e um pouco do desnecessário também.
Dei uma última olhada no meu antigo quarto e peguei a única coisa que faltava, minha mochila com meus materiais escolares, e finalmente saí do quarto.
Vi
saindo do seu quarto cheio de malas e mochilas, mal aguentava o peso.
—
, você precisa mesmo disso tudo? — perguntei, sem tirar os olhos de toda aquela bagagem.
—
, isso tudo é pra não correr o risco de esquecer algo e ter que voltar aqui pra buscar. — assenti.
— Pegou seus desenhos, né?!
— Foi a primeira coisa que peguei.
— Nossos DVDs do The Mentalist?
— "Meus" DVDs estão aqui, sim. — revirei os olhos.
— Ok, então vamos antes que meu pai apareça aqui. — eu disse, o ajudando a carregar uma mochila.
Quando chegamos à sala,
estava lá com tio Michael.
— Tarde demais! —
bufou e eu fiquei paralisada.
—
? ? — meu pai disse, se aproximando de nós e me fazendo arregalar os olhos.
— Só viemos buscar nossos pertences, já estamos indo, não é tio Michael?! —
disse, asfastando dele.
— Filho, calma aí. Eu tenho sentido a falta de vocês, de verdade. —
falou.
— Não, você sente falta de nos agredir verbal e fisicamente. —
disse irritado.
— Já tá se achando homem? — meu pai riu debochado. — Você não passa de um moleque que mal sabe procurar um emprego descente!
— VOCÊ NÃO SABE NADA SOBRE A MINHA VIDA, POR ISSO NÃO TE DOU O DIREITO DE FALAR DELA! — meu irmão disse, visivelmente nervoso.
— Não ouse em aumentar o tom de voz para falar comigo, garoto! —
colocou o dedo indicador na ponta do nariz de . — Não me interessa o que você faz da vida, contanto que não me traga problemas.
— Como você pode ser tão frio, ? — tio Michael se pronunciou.
— Fique na sua, Michael!
— Tio, vamos embora, por favor. — pedi e encarei meu pai — Não aguento mais ficar nesta casa.
— Olha, se não é a minha caçulinha. Venha dar um abraço no papai — se aproximou de mim, me fazendo dar alguns passos para trás.
— Não toque nela! — meu irmão o empurrou e me puxou para perto dele.
não deixou barato e acertou um soco em .
— Deixa de ser covarde, ! — tio Michael disse alterado, o empurrando.
— Eles precisam aprender a me respeitar!
— Eu sei disso. Mas dessa forma você não vai fazer com que eles te respeitem, mas que sintam medo e raiva de você. — tio Michael o alertou e respirou fundo, tentando se acalmar.
— Senhor, ? — a mulher o chamou, colocando as bebidas de tio Michael e na mesinha de centro — O doutor Phill está o aguardando no telefone e disse que é urgente. — ela deu o recado e voltou para a cozinha.
— Tenho que atender a esse telefonema.
— Pode ir, já estamos de saída. — tio Michael disse, dando de ombros e meu pai assentiu. — Se cuide, .
Saímos da casa do meu pai com certa pressa; olhei para trás antes de entrar no carro e o vi na entrada da porta, com olhos marejados e expressão triste.
acenou para nós, mas me puxou para dentro do carro e fechou a porta rapidamente.
Ficamos em silêncio até nossa chegada em casa.
— Que carinhas tristes são essas? — tia Audrey perguntou.
— Oi tia, eu vou subir. — eu disse desanimada.
— Mas eu fiz uma torta de limão, só estávamos esperando por vocês para comer. — ela falou, animada.
— Eu to sem fome.
— Ah, coma só um pedacinho. — insistiu.
— Audrey, ela não quer. — tio Michael encerrou o assunto. — Pode subir, filha.
— Obrigada, tio. — o abracei e subi.
Entrei no quarto e tomei um banho quente e demorado para tentar relaxar.
Saí do banheiro e fiquei sentada na cama, pensando na vida que não estava sendo fácil. Ver meu pai não me fez nem um pouco bem, e não é exagero, ainda tenho medo dele.
continua se drogando e tomando bebidas alcoólicas, eu vi tudo sobre a mesinha de centro, quando a empregada levou as bebidas de tio Michael e meu irmão.
Como confiar em uma pessoa como ? Simplesmente não dá!
Ouvi uma batida na porta e tomei um leve susto.
— Entre — respondi e
entrou com minhas bolsas.
— Vim trazer suas coisas. — ele sorriu simpático. — Onde eu coloco?
— Pode deixar aí no chão que eu me viro — respondi desanimada — Obrigada por ter trazido.
— Quer conversar? — ele se aproximou, logo se sentando ao meu lado.
— Ai , tá sendo tão difícil. A minha mente tá super cheia. — suspirei forte — Antes de saírmos de lá, nós vimos .
— E como foi? —
perguntou, preocupado.
— Dramático! ficou nervoso e levou um soco do meu pai, tio Michael ficou tentando tranquilizá-lo e eu to me tremendo de medo até agora. — bufei — Antes de entrarmos no carro, meu pai ficou nos olhando com uma expressão triste, sei lá.
— Eu já disse que seu pai ama vocês, mas não sabe demonstrar. Ele precisa de ajuda, . — o encarei.
— E o que você quer que eu faça, ? Não posso ajudá-lo, nem mesmo consigo me aproximar dele sem sentir medo. E eu não posso dizer que estamos bem, eu ainda sinto raiva dele. — bufei.
— Isso leva um tempo mesmo, . Mas não se preocupe com isso agora, meu pai está ajudando tio .
— É, eu sei. Tio Michael também tem ajudado bastante eu e meu irmão. — sorri torto.
— Pode contar comigo para o quê precisar também. — segurou minhas mãos.
— Obrigada. Sei que posso contar com todos vocês! — ele sorriu. — Os amo como se fossem a minha família mesmo.
— Mas nós somos sua família! — sorrimos. — Agora me dá um abraço aqui. — ele pediu e assim fiz. O abracei bem forte.
— Você é muito especial, ! A garota que ganhar seu coração será muito feliz, porque você é um cara incrível. Você faz tudo para deixar seu próximo alegre. — ele sorriu, sem jeito.
— Ah
, falando assim você me deixa sem graça. — ele coçou a cabeça. — Mas você também é especial! Você tá sempre tentando resolver os problemas das pessoas a sua volta, e até se esquece dos seus, só pra deixar todos felizes. — ele acariciou o meu rosto.
— Ter o
como irmão é ótimo, mas ter você também está sendo maravilhoso. — ele sorriu largamente.
— Eu digo o mesmo. — colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e ficamos nos encarando por alguns segundos.
— Acho melhor eu começar a arrumar minhas coisas. — me levantei num pulo.
— Quer ajuda? — perguntou gentilmente.
— Obrigada, mas para este tipo de arrumação, só eu mesma. — entortei a boca e ele assentiu.
— Tudo bem, já entendi. To indo para o meu quarto, boa noite. — ele se levantou e caminhou até a porta do quarto.
— Obrigada por tudo,
. — ele assentiu e sorriu torto, corri até ele e beijei sua bochecha. — Boa noite. — ele sorriu, deu uma piscadela e saiu do quarto.
Seria errado demais se a gente se gostasse, não é mesmo?! Isso nem passa pela cabeça do tio Michael e da tia Audrey, e se caso eles soubessem de algo assim, me mandariam de volta pra casa do meu pai. E mandariam
também, só por precaução.
Ah, o , espero que ele se desculpe com a
, do fundo do meu coração. Seria menos uma preocupação!
— Oi
, como foi lá no seu pai? —
adentrou o quarto.
— Vou avisando logo, não tenho muito o que falar. —
cruzou os braços e me olhou arqueou as sobrancelhas — Ok, eu sei que você não vai sair daqui sem eu contar tudo mesmo.
— Então, fale logo. — bufei.
— Ele foi um grosso.
— Normal —
disse, me ajudando a levar as bolsas até seu armário.
— Meu pai quis me abraçar. — peguei algumas peças de roupa já dobradas e coloquei em uma das gavetas.
— permitiu isso? Ele está sendo tão protetor com você, ultimamente. —
abriu outra bolsa e me deu mais roupas para guardar.
— Ele meio que pirou. Empurrou meu pai e acabou levando um soco no rosto, tio Michael que conseguiu acalmar .
— Nossa! — ela pegou uma bolsa menor e me deu.
— Posso colocar esses hidratantes corporais junto com os seus?
— Claro que pode — assenti — Mas essas coisas sempre ficam no banheiro. Só guardo aqui no armário os objetos que eu não quero pensar na possibilidade da minha mãe usar.
— Como você é exagerada, . — nós rimos alto — Vou colocar essas coisas lá então. — entrei no banheiro e arrumei todos os meus pertences junto com os da minha amiga.
Voltei a arrumar as poucas roupas que faltavam em mais uma das gavetas e ficou pesquisando os preços de algumas guitarras.
—
, aquilo que você me disse é verdade mesmo? —
perguntou, sem tirar os olhos do notebook.
— Aquilo o quê?
— Que um dos meninos estranhos te beijou a força? — parei de guardar as roupas e a encarei.
— Por que você acha que eu mentiria sobre isso? — perguntei indignada e ela me olhou.
— Não quero que se ofenda, mas é ridículo pensar que seu primeiro beijo foi com um qualquer. Quero dizer, você nem o conhecia. —
colocou o notebook de lado e se sentou de forma adequada. — Pelo menos foi bom?
— Não, , você não tá me perguntando isso. — voltei a guardar a última peça de roupa na gaveta.
— Ah, to sim.
— F-foi normal. — respondi simples, me levantando do chão.
— Como assim normal, ? Me explica isso. — ela se levantou e me ajudou a pendurar as bolsas vazias no armário.
— Eu não sei explicar, foi normal — dei de ombros e
cerrou os olhos. — Tá bem, eu confesso que foi bom sim, porém rápido.
— Ah, então você queria um beijo mais demorado? —
começou a rir, me fazendo jogar uma almofada nela. — Deixa de ser agressiva e me conta os detalhes.
— O que mais você quer saber? — perguntei sem vontade.
— Como ele era?
— Asiático, com certeza. —
arregalou os olhos e sorriu largamente — E antes que me pergunte, sim, ele é bonito.
— Nossa, essas coisas estranhas e inusitadas são bem a sua cara! — franzi a testa, confusa — Você gosta de coisas diferentes. Acontecimentos diferentes. Pense, seu primeiro beijo foi com um asiático bonitão que você nunca nem tinha visto. Legal! —
sorriu.
— Você acha isso legal? — ergui uma sobrancelha.
— E você não?
— Chega desse assunto, por favor e obrigada. — dei um basta.
— Tudo bem. Eu vou lá no jardim.
— Fazer o quê lá? Você nem liga para aquela vista linda do jardim, que é todo enfeitado e muito menos gosta de encarar o céu estrelado. — eu disse e
suspirou.
— Observar as lindas estrelas no céu, deitada naquele jardim, todas as noites, realmente não é pra mim. — ela riu sem humor — Mas quer conversar comigo e eu vou dar uma chance para ouví-lo.
— Ah sim, e você aceitou conversar com ele numa boa? — perguntei curiosa.
— Não quero mais saber de em minha vida. Essa conversa não fará diferença alguma pra mim. —
ela deu de ombros e saiu do quarto.
Espero que o
não fale besteiras e a peça perdão com sinceridade. Ele nunca fez isso antes, então é meio preocupante, mas acho que meu irmão se sairá bem... Assim espero!
Fiquei umas 2h assistindo alguns vídeos de dança no notebook da
e imaginando como seria a minha vida de dançarina no futuro.
Eu fazia aula na Thanicia Dance Company, mas por motivos de: provas escolares, problemas familiares e falta de motivação, eu parei.
Vocês devem estar me achando uma covarde, né?! Tudo bem, talvez eu seja mesmo.
Acho que já perdi tempo demais e não tem mais volta. Agora, preciso focar nos vestibulares, passar em uma universidade e cursar Dança. Mesmo sem a ajuda do meu pai que, na verdade, eu nunca tive.
E, eu sei que sou capaz!
[Capítulo Oito]
— Precisa mesmo de toda essa violência? — perguntei, enquanto me levantava e já pegava meu uniforme no armário.
— Invés de ser chata, devia me pedir desculpas e agradecer. Se eu não tirasse meu notebook debaixo de você, ele teria queimado com o tanto da sua baba que caiu nele. — revirei os olhos. — E eu também te cobri, porque essa madrugada fez frio, sua ingrata!
— Tudo bem, . Desculpa e obrigada. Satisfeita? — forcei um sorriso cínico e ela me deu um tapa no braço. — Tá ficando forte, hein.
— Vá logo tomar o seu banho, que eu desço e preparo nosso café da manhã. Hoje minha mãe foi trabalhar, então temos que nos virar.
Adentrei o banheiro e coloquei o chuveiro no mais quente possível. Sei que fritaria minha pele, mas eu não me importava.
Aquelas marcas horríveis ainda estão no meu corpo e parece que, não vão sair tão cedo. Eu tenho vergonha de usar bermuda curta e blusa sem manga. Será que vão ficar? Essas cicatrizes não vão sair?
—
, a
tá te gritando igual uma louca lá da cozinha. —
disse, depois de dar um soco na porta.
— Fala pra ela que já to descendo. — respondi e liguei o chuveiro, rapidamente molhando todo meu corpo.
— Tá bom. Mas, seja rápida! Se ela continuar gritando assim, os vizinhos vão reclamar.
— E que milagre é esse você não estar reclamando dos gritos? — terminei de passar o sabonete líquido e já me enxaguava.
— Porque eu já estava acordado.
— Fazendo o quê? Nunca gostou de acordar cedo. — desliguei o chuveiro e peguei a toalha, me secando rápido.
— E não gosto! Mas vou começar a trabalhar hoje. — coloquei o uniforme e abri a porta do banheiro.
— Essa é uma ótima notícia! — sorri largamente e lembrei de escovar os dentes.
— É, eu sei... Tio Michael viu que não conseguiríamos nada sem ajuda, então ele conseguiu duas vagas de atendentes num estúdio de tattoo, que é do filho de um amigo dele. —
respondeu, sorridente.
— Você parece bem empolgado. — dei uma última olhada no espelho e saí do banheiro. — Esses lugares costumam ser pesados...
— Ah, , não é o emprego dos sonhos, mas estarei trabalhando em um ambiente que gosto. Estarei rodeado por desenhos. — seus olhos brilharam, o que me fez rir — E também, se o lugar fosse barra pesada, tio Michael jamais teria colocado eu e
pra trabalhar lá!
— É o quê? Você e
trabalhando juntos? — ele assentiu e eu dei uma leve tapa em minha testa. — Vai dar merda!
— , esse estúdio é o mais conceituado daqui. Não vamos fazer nada para prejudicá-lo ou prejudicar a nós mesmos e deixar tio Michael mal, porque foi ele quem conseguiu este emprego pra nós. — meu irmão disse sincero, me fazendo dar um longo suspiro.
— Tudo bem,
, confio em vocês. — ele me abraçou, mas eu o empurrei e fiz cócegas em sua barriga.
— Que bonito! Eu lá me matando pra fazer um café da manhã comestível e vocês aqui brincando. —
pousou suas mãos sobre a cintura.
— Desculpa, amiga. — pedi.
— Desçam agora mesmo! — eu e
nos entreolhamos e prendemos o riso. — Não estou de brincadeira, hein. — fomos em direção à ela — Passem na minha frente.
— Ah,
, aí é demais! —
reclamou e ela começou a gargalhar.
— Caramba, eu não sabia que estava com toda essa moral! — disse convencida e foi à frente.
— Você é ridícula, sabia?! — eu disse, indignada com o deboche dela.
— Também te amo, amiga. — adentramos a cozinha e
deu um tapa no pescoço do irmão, que reclamou.
— Bom dia,
. — dei um beijo em sua bochecha.
— Bom dia. — ele respondeu, baixo. —
, coma logo alguma coisa, senão chegaremos atrasados no nosso primeiro dia.
— Na verdade, enquanto você tomava banho, eu desci e tomei um café. Só estou te esperando mesmo.
— Então, vamos. —
se levantou e foi em direção à porta.
— Por que ele tá mais estranho que o normal? —
perguntou para
.
— Eu não sei. Deve ser o nervoso de hoje ser o nosso primeiro dia no primeiro emprego. — olhei desconfiada para meu irmão e ele já ia se retirar da cozinha, mas o segurei.
— Fale a verdade,
. O que aconteceu com
ele?
— tá gostando de uma garota aí que não pode ficar com ele. — eu e
ficamos um pouco surpresas com a notícia. — Mas parece que perdeu o interesse, ele soube que ela ficou com outro cara.
— ANDA LOGO, CARA! —
gritou do portão.
— Acho que ele tá te chamando. — eu disse e meu irmão assentiu.
—
, tente fazê-lo esquecer desse assunto. —
pediu e meu irmão franziu o cenho. — É que não é a primeira vez que fica assim por causa de uma garota, mas eu sempre tento fazê-lo esquecer e dá certo.
— Sim, o distraia o máximo que puder, você sabe bem como fazer isso. —
me lançou um olhar mortal e eu logo o entendi. — Não falei na maldade.
— Tudo bem, vou ver o que faço. Agora, tenho que ir. —
ele beijou eu e
na bochecha e saiu. Notei que ela ficou meio desconfortável.
— Ainda gosta dele? — perguntei.
— Infelizmente —
respondeu derrotada. Eu ia dizer algo, mas ela não me deu tempo. — Não começe a falar sobre isso. Tome aqui — ela me ofereceu um pão de forma.
Fiquei pensando, se mostrava interessado em mim, parecia gostar de mim, mas me enganei. Ele gostava de outra e só queria uma pequena "diversão" em sua casa. Ele
é ridículo!
Pelo menos, será mais fácil de eu acabar com esse sentimento por ele que, teima em não sair do meu coração.
— Tá pensando em que, hein? —
perguntou curiosa, enquanto comia um pão de queijo.
— Hã? Eu? Ah, em nada. — tentei desconversar e comi o pão que ela me ofereceu e mais dois pães de queijo.
— Você não me engana,
. Tá pensando na garota que o meu irmão está gostando, né? — ela perguntou, com uma sobrancelha arqueada e eu acabei me engasgando.
— C-claro que não. — tomei um gole de suco e respirei fundo — Mas, ele deve gostar mesmo dela.
— Por que diz isso?
— Porque ele tá meio pra baixo, geralmente meninos não ligam muito. Só pensam em quem será a próxima. — dei de ombros.
— Pode ser assim com
, , mas o meu irmão é sensível. —
se levantou e pegou sua mochila no sofá.
— Me desculpa, eu não...
— Tudo bem. Vamos logo pra escola. — ela deu as costas e foi à minha frente. Peguei minha mochila e a segui.
Ficamos caladas por todo trajeto.
fingia que eu era invisível e eu me senti péssima por isso, mas continuei calada.
Logo que chegamos ao colégio, Halston ficou cochichando algo com suas amigas e rindo de nós.
já ia na direção delas, mas Drew a segurou.
— É melhor não arrumar problemas. — ele avisou.
— Elas me irritam!
— Eu sei, elas irritam todo mundo, mas tente ignorar. — Drew sorriu e
bufou.
— Olha, isso ela sabe fazer muito bem. — eu disse e me olhou feio.
— Sei ignorar quem merece ser ignorado. — respondeu ríspida e eu dei de ombros.
— Vocês brigaram? — Drew perguntou, confuso.
— Tudo pra
é motivo de briga.
— Isso não é verdade. Você que só fala besteiras! — se defendeu e a encarei.
— Tchau pra vocês. — me afastei deles e segui até à quadra.
Que droga! consegue me irritar bastante quando quer.
Peguei meu fone e conectei ao celular. Coloquei Growl para tocar e fiquei viajando na melodia, até sentir alguém puxando um lado do fone.
— Ei! — dei um gritinho histérico porque estava na melhor parte da música — Por que vo... — fiquei sem reação quando vi quem era o atrevido.
— Olá, gatinha — o garoto falou. — Que foi? Não se lembra de mim?
— Infelizmente, eu lembro sim. — disse com desdém.
— Sentiu minha falta? — ele perguntou, acariciando minha bochecha.
— O que você tá fazendo aqui? — tirei sua mão de mim e me afastei um pouco.
— Oras, eu estudo aqui. — ele sorriu, debochado.
— Eu estudo nesta escola desde o 1º ano e nunca te vi aqui. — ergui uma sobrancelha e cruzei os braços. — Fale a verdade, você está me seguindo.
— Me mudei pra essa cidade há alguns meses e minha mãe me matriculou aqui. — se explicou e eu dei de ombros; ele ficou me encarando. — Você é tão linda! Me diz o seu n...
— Escute aqui, vou deixar uma coisa bem clara pra você, não quero sua amizade! — eu disse irritada.
— Quer mais que amizade?
— Idiota! — virei para frente e coloquei os fones no ouvido, novamente mas ele os puxou — O que você quer agora?.
— Tá na hora da aula. — ele respondeu normalmente e saiu andando.
Nossa, acho que fui grosseira com o menino. Mesmo não simpatizando muito com o indivíduo, não devia ter sido rude, afinal ele só me avisou que as aulas iniciariam logo. Precisava me desculpar!
Peguei minha mochila e corri em direção ao corredor. Olhei para todos a minha volta, mas não o achei. Já desistindo de procurar por ele, fui até o bebedouro e matei minha sede. Assim que me levantei, o vi conversando com um amigo na porta de uma das sala.
— FISHY — ele olhou ao seu redor, procurando por quem tinha o chamado — AQUI NO BEBEDOURO — acenei e o mesmo me olhou sério — PRECISO FALAR CONTIGO! — Vi o inspetor se aproximando de mim, me fazendo correr para minha sala.
Depois de algumas horas de aula, intervalo. Fui para o refeitório e vi minha amiga com seu novo crush. Estava indo na direção deles, mas
se levantou, puxando Drew para outra mesa. Ok, já entendi!
Fui para a pracinha, que fica perto do colégio, comprei um sanduíche e um suco de laranja da fruta. Me sentei em uma das pequenas mesas e comecei a me alimentar.
— Ei gatinha, posso me sentar contigo? — Fishy estava à minha frente.
— Olha, eu só... — ele se sentou — Por que você é assim?
— Assim como? Atrevido?
— Sim. — ele me encarou.
— Só tô aqui porque você disse que queria falar comigo. — assenti, sem graça.
— Verdade — confessei à contragosto — Acho que fui meio rude com você e te peço desculpa por isso. — falei rápido e mordi mais um pedaço do sanduíche, só que bem maior.
— Ah, tudo bem. — ele abanou uma das mãos e deu de ombros. — Era só isso?
— Claro, o que mais poderia ser?
— Você querer mais uma dose do meu beijo que, sei que é inesquecível. — ele me lançou um olhar malicioso e mordiscou seu lábio inferior. O fuminei com os olhos.
— Já pode se retirar. — eu disse séria.
— Pode confessar que sentiu falta do meu beijo. — Fishy sorriu vitorioso e eu me levantei. — Não, fique! Eu prometo me esforçar a...
— Se esforçar?
— Prometo me comportar. — concluiu e eu o encarei, pensativa — É sério! — bufei, me sentando novamente.
— Olha, eu não queria voltar nesse assunto, até porque ele me enche de raiva — ele assentiu — Mas por que fez aquilo? Eu não lembro disso porque gostei, mas porque você foi o causador de um grande problema.
— Eu te achei linda e não me segurei. — respirei fundo, tentando me controlar para não voar no pescoço dele.
— Fishy, as coisas não são assim, ok?! — falei, indignada.
— Você lembrou do meu nome. Já é a segunda vez que você me chama pelo nome. — ele sorriu abobalhado.
— Esse não é o seu nome, mas também não me interessa saber. Só lembrei do seu apelido porque tenho boa memória. — eu tentava ficar o mais séria possível — Mas não mude de assunto; você foi um atrevido, safado, filho da mãe, nojen...
— Já entendi! Eu não tinha o direito de fazer aquilo, me desculpa. — disse, simples.
— Não peça desculpa como se não fosse algo grave, eu podia ter te denunciado.
— E por que não denunciou? Se te causei problema, fui um atrevido, safado, filho da mãe e otras cositas más? — perguntou com as sobrancelhas arqueadas, me deixando um tanto sem graça.
— Eu não quis me preocupar com isso, tinha um problema maior para resolver.
— Foi ruim pra você? — eu franzi a testa — O beijo?
— P-por que tá me perguntando isso? — o assunto "beijo" sempre me deixou muito nervosa, mas tentei disfarçar.
— Só por curiosidade — respondeu simples e eu respirei fundo, tentando manter a calma — Por que tá nervosa?
— Estou normal — tomei o último gole do suco tão rápido, que acabei me engasgando.
— Tô vendo — Fishy se levantou e agachou à minha frente, ficando na mesma altura que eu. Ele segurou o meu rosto, delicadamente e disse: — Tente prender a tosse e respire fundo. — o obedeci, mas ainda demoreo para recuperar minha respiração normalizada.
— Nossa, obrigada. — eu disse baixo, ainda tentando recuperar o ar.
— Não precisa agradecer. — ele sorriu, simpático e os meus olhos se prenderam nele. Sua mão ainda segurava o meu rosto e ele percebendo isso, a deslizou para minha nuca e foi aproximando seu rosto do meu. Seus lábios roçaram nos meus, mas eu recuei. — O que foi?
— Não sei se consigo — eu disse sincera, estava confusa. Ele havia sido um babaca comigo, mas eu realmente não consegui esquecer o seu beijo.
— Sei que está confusa, mas tente esquecer a forma que eu agi naquela noite e pense só no agora. — Fishy selou nossos lábios e dessa vez, eu cedi. Ele logo aprofundou o beijo.
Ficamos assim por alguns minutos, até que eu afastei o meu rosto.
— Precisamos voltar para a escola.
— Queria ficar aqui por mais tempo. — me levantei, pegando minha mochila, mas Fishy me puxou delicadamente — Com você.
— Bem, vamos voltar? — perguntei envergonhada e ele bufou. Fui fria com ele sim, mas não sabia como agir depois desse beijo. Não foi como o primeiro, desta vez, eu cedi.
— Me responda a uma pergunta — assenti, desconfiada — Aquele foi o seu primeiro beijo? Por isso você ficou tão nervosa quando eu comentei sobre? — eu arregalei os meus olhos, tentando dizer algo em minha defesa, mas não fui capaz. Droga! — Eu sabia que esta é a razão por você estar tão revoltada e confusa. — ele apontou para mim.
— Escute aqui, mesmo se aquele fosse o meu centésimo beijo eu teria ficado grilada com você, da mesma forma — respondi nervosa. — Você me agarrou, não devia ter feito isso!
— Imagino que sim, você é meio esquentadinha. — ele fez uma expressão tão fofa, que quase não consegui deixar de olhá-lo. — Que foi?
— Nada — peguei o pequeno pedaço do meu sanduíche que ainda estava sobre a mesa e dei duas mordidas, acabando com ele.
— Quem nada é peixe.
— Então vá nadar, peixinho. É bom que você larga um pouco do meu pé. — eu disse de boca cheia, o fazendo rir.
— É linda até sendo porca! — ele disse e começou a gargalhar. Quando eu ia me virar em sua direção para o bater, ele me apertou num abraço. — É melhor não tentar nada.
— Me solte, idiota! — eu ordenava, mas ele só sabia rir de mim.
— Ah, não fique brava comigo, foi um elogio.
— Oh nossa, que elogio, hein. Não sei se fico lisonjeada ou ofendida.
Fishy tentava parar de rir, mas não conseguia. Pisei no pé dele propositalmente e então ele me soltou, atravessei a rua, indo em direção à escola. Fishy veio andando rápido atrás de mim, mas o ignorei. Ele pegou em minha mão e a beijou, pedindo desculpa, e sim, eu aceitei.
Chegamos na escola e corremos até o corredor, Fishy foi na minha frente. Se caso o inspetor o visse, ele daria uma desculpa e eu um jeito de não ser vista.
—
, a barra tá limpa. Pode vir. — Fishy avisou e andei rápido em sua direção.
— Peguei vocês! — ouvimos alguém dizer e nos viramos. Era o inspetor. — Quase que passaram despercebidos. Quase.
— Nós só...
— Sabem que o horário de intervalo já terminou há tempos, né?! — ele ergueu as sobrancelhas e foi se aproximando de nós.
— Sabemos sim, senhor inspetor. Mas é que — Fishy pensou um pouco — Minha namorada não se sentiu bem e eu não quis deixá-la sozinha. — ele disse ao homem e eu o encarei, de olhos arregalados.
— E por que não falaram com a diretora Dinah? Tenho certeza que ela ligaria para os seus pais e eles te buscariam. — ele me perguntou desconfiado, engoli o seco.
— Fishy até quis falar com ela, mas eu disse que não seria necessário. Afinal, já estou me sentindo muito melhor. — forcei um sorriso e o homem assentiu.
— Tudo bem. Dessa vez vou deixar passar, mas não se acostumem! — ele apontou seu dedo indicador para nós e assentimos. Fishy me olhou cúmplice e demos as costas para o homem.
Estava prestes a entrar em minha sala, quando o inspetor me interrompeu.
— Vocês não são namorados? Por que não se beijam? Os casaizinhos daqui sempre fazem isso antes de entrarem em suas salas. — o inspetor nos surpreendeu com sua pergunta. Olhei para Fishy com a testa franzida e ele deu de ombros, vindo em minha direção. — Estou brincando com vocês! Só queria saber se estavam mentindo pra mim, mas pelo jeito... — fiquei um tanto aliviada por não ter que beijar Fishy de novo. Acho que seria estranho, ainda mais na frente do inspetor. — Não se atrevam a trocarem carícias por esses corredores! Se eu ver, vou levá-los para a direção. — assentimos, ainda surpresos e o homem se afastou, provavelmente foi atrás de algum outro aluno.
— Gostei dessa forma de saber se estamos mentindo ou não, pena que não fui rápido o suficiente pra te beijar antes dele interromper. — Fishy disse, sorrindo malicioso e eu dei uma tapa em seu braço.
— "Minha namorada não se sentiu bem e eu não quis deixá-la sozinha." — o imitei, tentando engrossar a voz.
— Não pensei em desculpa melhor — ele ergueu os braços. — Mas...
— Mas nada, Fishy. Vamos logo para a sala. — ele fez bico.
— Só um beijinho, vai — ele se aproximou e eu o afastei com o dedo indicador em seus lábios. — Caraca, sua ingrata! Eu te livrei de um castigo e você agradece. — ele fez bico.
— Obrigada, Fishy. — eu disse rindo e me aproximei para beijar sua bochecha, mas ele virou seu rosto, selando nossos lábios. — FISHY! — dei um gritinho histérico, o fazendo rir.
— Que foi? — perguntou como se não tivesse feito nada. Bicho sonso!
— Você precisa parar com isso! — eu disse irritada.
— Com o quê, isso? — Fishy me puxou contra ele e me beijou.
— Fishy, você não ouviu o inspetor? — o empurrei, ainda brava e ele sorriu mordendo o lábio inferior.
Dei as costas a ele e entrei na sala, me desculpando com a professora e recebendo os olhares curiosos da turma, inclusive o de
.
Na hora da saída,
passou por mim e carregava Drew com ela, que acenou desajeitado. Pelo visto,
ela conseguiu o que queria para se esquecer do meu irmão. Também não fiz questão de ir atrás deles e segui meu caminho, sozinha.
Me aproximando de casa, senti alguém apertar minha cintura. Dei um pulo com o susto e Fishy começou a rir.
— Você é maluco?
— Não sou, mas estou começando a ficar... Por você — ele disse, sorrindo fofo e eu dei um sorriso de lado. Queria sorrir largamente, mas não deixaria que ele percebesse que já estava me encantando com seu jeitinho fofo e ao mesmo tempo quente.
— Bobo! — ele sorriu.
— Quer que eu te acompanhe até sua casa? — ele perguntou gentilmente, mas eu não queria que ele fosse tão rápido. Sei que estava sendo cavalheiro e eu até curti isso, mas e se ele aparecesse de repente na casa de tio Michael, como eu explicaria isso se ainda estou tentando processar tudo que está acontecendo, desde o dia em que ele me beijou pela primeira vez?
— Ah, não precisa! Eu já estou chegando. — neguei de uma forma delicada, tentando não ser rude.
— Eu faço questão.
— Já que insiste — Fishy sorriu bobo e fomos andando devagar.
Caminhamos por mais duas ruas e chegamos.
— É aqui, obrigada pela companhia. — disse sincera.
— Eu que agradeço. Estar perto de você é sempre bom. — Fishy começou a me assustar com seu comportamento um tanto estranho. Me despedi com um aceno e logo me apressei em entrar.
Fishy estava sendo muito cavalheiro, cavalheiro até demais! Fiquei um pouco receosa. Não esqueci que nosso primeiro beijo foi bem ousado, mas da parte dele. Sim, eu gostei. Mas tenho que ficar de olhos bem abertos, pois ele estava no meio de garotos que pareciam ser barra pesada assim como o próprio.
Ai meu Deus! Será que fui boba em ceder assim tão rápido pra ele? Foi só um beijo, mas e se ele quiser algo mais e eu não? Será que tentará me matar ou algo do tipo? Medo.
— , você tá bem? — fiquei tão envolvida com meus próprios pensamentos neuróticos, que não percebi
e
na sala.
— Tô sim, o que estão fazendo aqui? — perguntei estranhando a presença deles em casa, já que começaram a trabalhar.
— Horário de almoço. —
respondeu sorrindo bobo. — Podemos almoçar em casa todos os dias.
— E isso é bom?
— Claro que é. —
respondeu seco e subiu.
— O que deu nele? — perguntei confusa.
— Ainda aquela história. —
bufou e eu assenti, chateada.
— Vou preparar algo pra gente comer, só espera eu tomar um banho, ok?
— Só não demora muito, tá? Só temos 2h para almoçar e voltar ao trampo. — ergui as sobrancelhas.
— 2h para almoçar e você diz "só"? — perguntei incrédula e ele deu de ombros. — Okay, vou subir. Já volto.
Corri pelos degraus e quando cheguei no último, trombei com
, que estava prestes a descer.
— Caraca, , pare de ficar correndo pela casa. — ele disse nervoso e eu me espantei com tanta grosseria.
— Desculpa,
. — pedi.
— Tanto faz.
— Por que está me tratando assim? — perguntei. Eu tinha direito de saber o porquê de tanta aversão à mim.
— Porque... Nada não. Só estou chateado. — assenti, não me convencendo. — Desculpa.
— É por causa da tal garota, né? — ele me encarou de olhos arregalados.
— Você já sabe?
— Sim.
falou pra mim e pra
que você está gostando de uma garota que ficou com outro. — ele bufou, encostando a cabeça na parede — Não fique assim. Se ela fez isso é porque não gosta de você, de verdade.
— Essa é a pior parte, saber que ela não gosta de mim como eu gosto dela. — ele disse triste, olhando para o teto e respirando fundo.
— Eu te entendo. Também tive uma decepção recentemente — eu disse e
me olhou sério — Mas foi aí que percebi que ele não gostava de mim, só queria diversão. — deixei uma lágrima cair, mas a limpei rapidamente — Vou tomar um banho rápido e já desço para preparar o almoço. —
assentiu e eu dei um beijo em sua bochecha, logo e entrando no quarto de
.
Ele nem imagina que minha decepção foi com ele... Chacoalhei a cabeça para desviar meus pensamentos de coisas que me perturbam e joguei minha mochila na cama, peguei umas roupas no armário e tomei um banho rápido.
Vesti um short jeans rosa e uma blusa branca e saí do banheiro, vendo de bico.
— Tá vendo isso aqui? — ela pegou minha mochila e jogou no chão — Não quero em cima da minha cama.
— Que seja, só não a jogue no chão.
— Jogo onde eu quiser, o quarto é meu. — ela passou por mim e abriu o armário.
— Não vou ficar aqui perdendo meu tempo com você, sua infantil. Prefiro gastá-lo fazendo coisas produtivas. — eu disse num tom superior e andei até a porta.
— Tipo ficar com o tal Fishy depois de todo aquele drama? - a encarei com raiva e ela sorriu debochada. — Quanta produtividade,
!
Respirei fundo para não começar uma discussão com ela e saí do quarto imediatamente. Desci cheia de raiva e adentrei a cozinha, com uma expressão nada amigável.
—
, o que foi? —
perguntou, pegando uma jarra de água e eu logo tirei algumas coisas da geladeira para começar a aprontar o almoço.
— Nada. E só
me irritando, pra variar. — respondi indiferente — Pegue a cebola em cima ali do balcão, por favor. —
pegou o que eu pedi e jogou em cima de mim. — Palhaço!
— O que a
fez? — meu irmão perguntou curioso e engoli o seco. Não queria que
soubesse que eu e Fishy nos beijamos novamente. Dessa vez não foi forçado, meu irmão me mataria!
É melhor não comentar nada agora... Ou nem depois.
— Ah, implicância boba. Nada demais! — sorri de lado e
pareceu acreditar.
— Tem certeza? Tia Audrey estava dizendo que vocês duas estavam apaixonadas pelo mesmo cara. — disse
e na mesma hora,
apareceu na cozinha com uma expressão séria. Eu sabia que ele ainda estava chateado com a história da garota.
—
e
gostam do mesmo garoto? —
perguntou interessado, erguendo uma sobrancelha.
— Não, foi um mal entendido — respondi rápido —
está gostando de Drew e, acho que já estão até tendo alguma coisa. — respondi receosa e
ficou sério. Parecia até ter ficado meio chateado com a notícia.
— Falando da minha vida, ? Você não perde tempo mesmo, né? —
adentrou a cozinha e não perdeu a oportunidade de implicar comigo. Claro que não. — Já contou a eles o que você e Fishy fizeram? — a sonsa perguntou apenas para me encrencar.
— O que vocês fizeram? —
perguntou meio irritado, com os olhos arregalados.
— Nada.
— Diga logo a verdade, . — estava me irritando.
— Não me provoque,
!
— Espera, esse Fishy é o mesmo que te agarrou na noite das oficinas? — meu irmão perguntou já se alterando e eu assenti receosa. — O que tem ele?
— Eu não sei — respondi nervosa.
— Mas eu sei. Eles...
— CALA A SUA BOCA! — gritei para
, que me olhou de olhos arregalados, assustada.
— Termine a frase,
. —
ordenou mas ela me encarou e negou com a cabeça, fazendo o meu irmão bufar. — Por favor, termine a frase.
— Não, eu mesma conto. — disse em um momento repentino de coragem.
[Capítulo Nove]
— Descobri hoje que Fishy também estuda lá na escola. Lanchamos juntos no intervalo e conversamos um pouco.
— E mais o quê? — meu irmão perguntou.
— Como assim “e mais o quê”? O que está pensando que fizemos? — perguntei, fingindo indignação.
— Quer que eu pense o quê, ? Em uma noite o cara te agarra, no outro dia vocês lancham juntos e ficam conversando como se fossem amigos. — ficava cada vez mais irritado.
— Eu só quis dar a ele a oportunidade de se desculpar. — me defendi.
— , você os viu juntos, certo? — perguntou e ela assentiu. — Foi só isso mesmo? Porque aparentemente não há razão para você querer me contar apenas isso, já que não houve nada demais. — engoli o seco, torcendo para que ela não me entregasse.
— Só achei que você deveria saber que estava com Fishy. Afinal, ele a agarrou uma vez, pode fazer isso novamente.
— Verdade, agradeço a preocupação. — agradeceu e fez que sim com a cabeça. Ele me encarou e apontou para mim. — Não quero você perto desse cara.
— Não pode me proibir de vê-lo! — afirmei, cruzando os braços.
— Tem razão. — ele concordou e eu arregalei os olhos, surpresa. — Mas posso te proibir de se aproximar dele. — bufei e deu um passo à frente. — Entenda, só estou querendo te proteger. — mirei o olhar na e a mesma abaixou a cabeça.
— Tudo bem. — assenti com os olhos marejados. — Me desculpe.
saiu da cozinha e antes que seguisse meu irmão, me encarou com mais raiva e fez que não com a cabeça. Olhei para tentando entender o porquê dela quase ter contado sobre Fishy e eu para meu irmão.
— Qual a razão?
— Desculpe. Ainda estava irritada com você e quase fiz besteira. — ela disse ainda de cabeça baixa e continuou: — Isto é assunto seu e eu não devo me intrometer.
— E só agora você tem consciência disso?
— Você me desculpa?
— Tenho escolha? — ergui as sobrancelhas e ela entortou a boca. — Preciso de ajuda com o almoço. — assentiu e foi lavar as mãos.
Tentamos preparar a refeição o mais rápido possível, e acho que conseguimos.
Já estava tudo pronto quando fui à sala para os chamar.
— Meninos, se sirvam. — se levantou e foi para a cozinha. — , o que houve? — perguntei estranhando sua indisposição.
— Nada. Só não quero comer. — respondeu, preguiçosamente.
— Mas vai! Fizemos o seu prato favorito. — puxei seu braço.
— , eu não quero. — ele disse, sério.
— Olha, pode até não estar tão bom quanto o da tia Audrey, mas você vai gostar. — o puxei novamente e ele me empurrou.
— Já disse que não quero. Pare de insistir!
— Você está ficando insuportável... — eu disse com raiva e ele arregalou os olhos. Fui para o quarto da , imediatamente. Me deitei sobre a cama e fechei os olhos, tentando relaxar.
Abri os olhos assustada com o barulho na porta. Espreguicei-me devagar e sentei na cama.
adentrou o quarto com cara de arrependida e se sentou ao meu lado.
— Ainda está brava? — perguntou receosa.
— O que você acha? — a encarei. — Não acredito que ia contar para o meu irmão sobre o Fishy e eu.
— Foi sem pensar! Estava com raiva de você e acabou saindo. — ela se defendeu.
— Deixa pra lá. — respirei fundo.
— Por que não desceu pra almoçar? Os meninos já até voltaram para o estúdio.
— me fez perder a fome. — franziu o cenho.
— O que meu irmão fez?
— Ele sempre foi doce e encantador comigo, mas agora está sendo tão grosso, e eu nem sei o porquê.
— Ele só está chateado com a tal garota. — defendeu o irmão.
— Mas eu não sou ela! Não há motivos para ele descontar sua raiva em mim. — levantei da cama.
— Vai sair? — perguntou.
— Não. Esqueci de tirar meu celular da mochila. — fui em direção à mochila e peguei o celular. — Que estranho!
— O quê? — sempre curiosa...
— Meu pai mandou duas mensagens.
— E o que dizem? — olhei para e ela ergueu as mãos. — Você sabe que sou curiosa. Lê logo! — dei de ombros.
— “, estou te fazendo um favor enviando esta mensagem. Então antes de apagá-la, leia! Sua mãe entrou em contato comigo. Na verdade, ela queria falar com vocês. Enfim, ela disse estar com problemas lá em Keoursna e quer passar um tempo aqui. Bom, achei que você e seu irmão deveriam saber, já que se trata da mãe de vocês!”. — terminei de ler e me olhou confusa.
— Lê a outra.
— ”Sua mãe ficará aqui em casa. Claro que não aceitei facilmente, mas ela quase implorou, e por ser a mãe dos meus filhos, tive essa consideração. Avise sobre a vinda de sua mãe, ele mais que você se alegrará com a notícia. Amo vocês.” — fiz uma expressão de tédio. — Não sei se fico curiosa para saber o porquê da vinda de minha mãe ou enojada do “amo vocês.
— Sua mãe vai passar um tempo por aqui? E na casa do seu pai? Por quê? Que problemas são esses que ela está tendo? Como ele aceitou isso? E que desnecessário esse “amo vocês” no fim da mensagem. — ela disse, me fazendo erguer uma sobrancelha.
— Acho que eu é quem deveria fazer essas perguntas, mas ok.
— A curiosa aqui sou eu. Dá licença? — se levantou e pegou seu celular.
— Tenho que achar as respostas para estas perguntas. E você vai me ajudar! — bateu palminhas e eu ri da cena.
— vai adorar saber que sua mãe passará um tempo por aqui. — assenti. — Mas vai odiar você querendo investigar essa história. — dei de ombros.
— Meu irmão não precisa saber desta parte. — lancei um olhar significativo para e ela pareceu entender. — Red John não perde por esperar!
— Pare de falar como se fosse o Jane. Isso aqui não é The Mentalist, é vida real. — ela disse séria.
— Okay, Lisbon. Parei! — eu disse rindo e bufou.
— Desisto de você! — ela se olhou no espelho e já ia saindo.
— Aonde você vai?
— A curiosa aqui sou eu. — a lancei um olhar mortal e ela riu. — Drew me chamou para ir na sorveteria.
— Gosta mesmo dele?
— Não sei. Mas estamos nos curtindo, acho que é isso que importa. — sua resposta não foi convincente, mas fingi acreditar. — Tô indo. Qualquer coisa, me ligue.
— Vai tranquila. Juízo! — ela bateu com a porta e eu me deitei novamente na cama.
Depois de ficar entediada, coloquei algumas músicas para tocar enquanto arrumava a casa. Eu dançava a cada batida, quando a campainha tocou. Me surpreendi com a pessoa do outro lado da porta.
— Fishy?
— Olá, gatinha — ele deu um passo à frente e selou nossos lábios.
— Ficou maluco? O que está fazendo aqui? — perguntei, nervosa.
— Não vai me convidar para entrar? — bufei e dei lugar para ele passar.
— Olha, você não pode vir aqui. Hoje meu irmão quase descobriu que ficamos.
— E você acha isso ruim?
— Eu acho isso péssimo, ele me mata se descobrir. — respondi, tentando me acalmar. — Fishy, por favor, se retire.
— Eu pensei que depois de hoje, nós poderíamos firmar um relacionamento. — eu arregalei os olhos, não acreditando no que acabara de ouvir.
— Fishy, nós só nos beijamos. Apenas isso. — ele me encarou sério. — Meu irmão jamais permitiria que eu cometesse tal loucura. E eu mal te conheço.
— Mas me beijou mesmo assim. — respondeu, rapidamente.
— Foi um momento de fraqueza que não irá se repetir. Desculpe. — ele assentiu e se dirigiu até à porta. Me lembrei do que meu irmão disse a minha amiga.
— Só quero te deixar bem claro que o peixinho aqui não desiste do que quer tão facilmente. Você não sairá da minha mira! — engoli o seco e tranquei a porta, assim que ele saiu.
Realmente, me senti mal por ter sido tão fria com ele, mas foi necessário. E esse “você não sairá da minha mira!” me deixou assustada. Será que Fishy seria capaz de me fazer algum tipo de maldade?
Passei o resto da tarde arrumando a casa e pensando no que Fishy disse. Isso está me perturbando! Como se já não bastasse a vinda de minha mãe, ainda tem mais essa...
— Vou enlouquecer! — disse, alto o suficiente para invadir o quarto, assustado.
— ? O que houve?
— , por favor, me abrace! — pedi sinceramente e ele caminhou até a cama e se sentou. Me abraçou forte.
— O que está acontecendo? Eu te magoei? Me desculpe pela grosseria, não estou muito bem. — nos afastamos um pouco.
— Fiquei chateada, mas passou. — assentiu. — No momento, só estou assustada.
— Por isso o abraço? — assenti. — O que te deixou assim assustada? — fixou seus olhos nos meus, esperando por uma resposta.
— Meu pai me disse por mensagem que minha mãe está passando por uns problemas e, por isso, ficará durante um tempo na casa dele. — os olhos de quase saltaram de tanta que os arregalou. — Estranho demais, eu sei!
— Sim. Como ele aceitou isso? O que aconteceu de tão grave para ela voltar para a casa do seu pai? — ele perguntou, ainda perplexo.
— São muitas perguntas sem respostas. Eu preciso descobri-las. — disse, decidida.
— vai pirar quando souber disso! — disse e eu concordei.
— Mas acredito que não será tão difícil de descobrir. Só preciso ser cautelosa.
— Não vá fazer besteira! — disse, preocupado.
— Pode deixar, papai! — eu disse e nós rimos. Ficamos nos encarando por um tempo e ele se aproximou mais de mim.
— , o que fazer quando se gosta de alguém, mas sabe que essa pessoa só quer brincar contigo? — me surpreendi com sua pergunta. Afastei-me dele, encostando minhas costas na cabeceira da cama.
— Engraçado... — ele ergueu as sobrancelhas e continuei: — Eu ia fazer a mesma pergunta. — forcei um sorriso de lado e o encarei. Ele se aproximou novamente, me encurralando na cabeceira.
— Estou muito confuso, ultimamente. — ele disse.
— Eu imagino.
— Não. Você nem faz ideia! — ele abaixou a cabeça.
— , não estou te entendendo. Onde você quer chegar com essa conversa? — perguntei receosa e ele levantou a cabeça. Me olhou nos olhos.
— Eu... — foi interrompido pelo toque do meu celular. Era um número restrito. Olhei para e ele fez um gesto com a mão para eu atender. — Põe no viva-voz.
“Se você pensa que vai se livrar de mim, está muito enganada! Eu sei onde você mora, sei dos horários que você fica em casa e até mesmo quando está sozinha. Eu te observo desde o primeiro dia em que nos vimos. Como eu já disse, não desisto do que quero tão facilmente, e você sabe o que quero... Enfim, você não tem saída! Não te farei mal algum se você colaborar comigo, caso contrário, você e os que te rodeiam não perdem por esperar...”. O sujeito desligou.
— , o que foi isto? — perguntou, assustado. Tentei responder, mas não consegui. — Por que estão te ameaçando? — minhas lágrimas escorriam. Continuava tentando dizer algo, mas não consegui. — O que está acontecendo?
— Eu... eu só...
— ! — ouvi me chamar, mas tudo ficou escuro de repente.
[Capítulo Dez]
Eu estava deitada na cama com um pano úmido na cabeça. veio em minha direção e tirou o pano de mim.
— Você nos assustou! — ela disse, se sentando ao meu lado.
— nos contou tudo. Quero explicações! — ordenou e eu me sentei.
— Antes, quero falar com a . A sós.
— Não! — encarei e ele ergueu as sobrancelhas.
— Fishy veio aqui em casa hoje. — arregalaram seus olhos e eu respirei fundo. — Ele queria que começássemos um relacionamento.
— O que ele pensa...
— Eu disse que não. — interrompi meu irmão. — Ele disse que não desiste do que quer facilmente e que eu ficaria na mira dele. Mais tarde, eu estava aqui no quarto conversando com quando Fishy ligou e fez ameaças.
— Me responda uma coisa, você ficou com ele hoje no colégio? — perguntou já furioso e eu assenti — Ele te agarrou novamente ou você quis? — engoli o seco e fiquei encarando meu irmão. — RESPONDA!
— Eu quis. — respondi, chorando e bufou.
— Você tem merda na cabeça?! — se aproximou de mim como um cão raivoso e se levantou.
— , calma! Por favor, agora não. — ele a encarou e se afastou.
— Eu me arrependo.
— Adianta se arrepender agora? — perguntou, nervoso. — Que droga!
— Precisamos ir até à delegacia. Esse cara pode tentar fazer algo contra nós. E mais ainda, contra a . — disse e assentiu.
— Preciso falar com o . — meu irmão disse.
— Não há necessidade! Temos o tio Michael.
— Não vou envolver o tio Michael nisso! Nosso pai tem seus contatos, vai saber como lidar com a situação. — meu irmão disse decidido e pegou o telefone.
— Não queria que estivesse acontecendo isso!
— Tarde demais. — falou e saiu do quarto.
ficou bastante tempo no telefone conversando com o e desceu para conversar com seus pais. Meu irmão finalizou a chamada e me encarou.
— Meu pai vai vir aqui agora. — arregalei os olhos. — E com ele vai vir nossa mãe.
— O quê? Ela já chegou? Tão rápido! Ele me mandou mensagem hoje avisando que ela viria.
— Pois é. Minha mãe mal chegou e já tem mais uma preocupação, graças a você. Satisfeita? — disse, seco, e saiu do quarto.
Fiquei pensando no quão perigoso Fishy poderia ser. Mostrou-se ser um cara legal, apesar de ter me agarrado. Confesso que gostei dos beijos. Mas me ameaçar por não querer relacionamento firme com ele? Isso é demais! Sem contar que ele pode mesmo fazer uma maldade comigo. E pior, com as pessoas que amo também.
— ? — chamou-me. — Seus pais chegaram. — respirei fundo, tentando criar coragem para ficar frente ao meu pai novamente e encarar minha mãe depois de tanto tempo, ainda mais nessa circunstância. Não será nada fácil. — Vem logo! Todos estão te esperando. — me levantei da cama e segui .
Estava tentando criar coragem de levantar o olhar. Todos estariam me encarando. Realmente!
— Filha — minha mãe deu um gritinho histérico. — Que saudade do meu bebê! — ela me abraçou com vontade.
— Você entrou numa encrenca daquelas, ! — tio Michael disse. — O que deu em você para se envolver com um garoto desses, criança? — ele me olhava triste.
— Me desculpe, tio. — ele respirou fundo. — Tia Audrey...
— Não peça desculpas a nós, mas aos seus pais e seu irmão. — ela disse, decepcionada. — cuida tanto de você, tudo que faz é pensando em te proteger. — olhei para meu irmão e ele ergueu as sobrancelhas.
— Ela deve desculpas a vocês, sim! Foram vocês que abrigaram ela e o irmão depois do que o fez. — minha mãe disse, lançando um olhar mortal para ele.
— A questão é que esse garoto está querendo a e não vai sossegar enquanto não tiver ela. — disse, ignorando o olhar da minha mãe.
— Que horror, , não fale assim! — minha mãe o repreendeu.
— Infelizmente, ele está certo. — se pronunciou, me fazendo o encarar. — Você está na mira dele desde o dia que ele te agarrou.
— Ele já tinha te agarrado?! — minha mãe deu outro gritinho histérico e eu assenti. — Meu Deus!
— Calma! O importante agora é manter afastada do tal garoto. — tia Audrey falou.
— Ele estuda na nossa escola. — contou e tia Audrey bateu as mãos no quadril, bufando.
— Eu tenho um esconderijo há anos. Posso levar para lá. — meu pai disse.
— Por que você tem um esconderijo? — foi quem fez a pergunta, mas acho que todos queriam saber a resposta.
— ficará lá por um tempo. — disse, ignorando a pergunta do meu irmão.
— Vou perder o resto do ano letivo? — me desesperei.
— Terá que pagar esse preço, criança. É a sua vida que está em risco. — tio Michael disse.
— Não só a dela, mas a nossa também. — disse, irritado. Qual é o problema desse garoto?
— , acha que pode levá-la quando? — minha mãe perguntou, acariciando meu braço.
— Ainda hoje.
Queria dizer algo. Queria me defender, mas não pude; eu não tinha direito algum de contestar, vacilei feio e tinha que arcar com as consequências.
— Não esqueceu de nada, querida? — tia Audrey perguntou e eu corri para abraçá-la. — Quero que você tenha muito juízo de agora em diante, e nem de brincadeira pense em fazer besteira novamente.
— Obrigada por me acolher em sua casa quando mais precisei e por ser minha mãe durante esses anos. — ela se emocionou. — Obrigada por tudo. — me abraçou mais uma vez.
— Tio Michael! — ele abriu os braços e eu corri em sua direção. — Assim como eu considero tia Audrey minha mãe, considero você como pai. — ele sorriu largamente.
— Isso são lágrimas nos seus olhos, Michael? — meu pai o provocou.
— Lágrimas? Foi só o cabelo da que quase me cegou. — tio Michael tentou desconversar, mas ninguém acreditou. Todos rimos.
— Só você para nos fazer rir num momento como este, Michael! — minha mãe falou.
— ? Venha me abraçar! — ela fingiu sentir tédio e me abraçou. — Diga ao Drew para escrever músicas sobre vocês dois. — disse baixo e ela me deu um tapinha.
— , me desculpe! — pedi e ele me abraçou.
— Já aconteceu. O que importa agora é você ficar bem. — sorri de lado e ele beijou minha bochecha.
— ? — o chamei e ele veio em minha direção. Todo preguiçoso. — Pensei mesmo que não se despediria.
— Pra quê? Logo você estará de volta mesmo! — sorrimos e beijei sua bochecha.
— Agora vamos! — meu pai disse e saímos de casa. — O que foi?
— Ainda não acredito que isso está acontecendo...
— Só pense que vai passar logo! — meu pai disse e eu assenti. — Entre no carro.
Meu pai guardou minhas malas e adentrou o carro. Ligou o carro rapidamente e seguimos uma estrada desconhecida para mim.
— Chegamos! — meu pai estacionou no meio do mato. — Não vai sair do carro?
Saí do carro e esperei meu pai pegar minhas malas. Passamos pelo matagal e juro que, se pudesse, teria voado até o local, porque sentir rãs pulando nos meus pés não é nada agradável! Passamos por uma cabana que parecia ter sido cuidada recentemente. Fiquei mais tranquila com esse esconderijo. Não que eu já tenha morado em uma, mas acho cabanas tão bonitas e aconchegantes. O problema é que estávamos no meio de uma floresta, bem sinistra, por sinal.
— Pai, por que não entramos logo na cabana? — perguntei, já que havíamos passado direto.
— Por que faríamos isso? Caso o garoto apareça por aqui, logo suspeitará da cabana.
— Mas então...
— Você terá que sobreviver fora da cabana. Dormir aqui no mato, caçar para comer. — olhei incrédula para o meu pai e ele riu. — Só estou brincando! Ninguém vem aqui desde que eu comprei essa cabana. E já faz vinte anos.
— Por que comprou essa cabana?
— Para curtir a vida no mato. — ele sorriu forçado e eu fingi acreditar.
— Não era para ser um esconderijo? — perguntei.
— E não é? O que esperava que fosse? Uma casinha abandonada, cheia de armas e drogas, para quando o inimigo se aproximar não durar um minuto? Está me achando com cara de mafioso? — riu debochado e eu revirei os olhos sem paciência.
Ele foi na frente e eu o segui, olhando para todos os cantos. Quando adentramos na cabana não acreditei que podia estar tão organizada. É aconchegante e bonita. Do jeito que eu imaginava que uma cabana fosse.
— Tão bonitinha! — eu disse, sincera, e meu pai sorriu.
— Eu gosto de mantê-la arrumada. — ele disse, orgulhoso.
— É você mesmo quem cuida?
— Isso aqui é o meu xodó! Só estou te trazendo aqui hoje porque é caso de necessidade. — assenti. — Agora se acomode. Tem um quarto que você vai amar, ele é todo colorido e...
— Por que você tem um quarto colorido? — perguntei, prendendo o riso.
— Imaginei que um dia traria você e seu irmão aqui, então fiz um quarto para cada. — franzi o cenho.
— Mas isso aqui não é o seu xodó? Nem me traria aqui hoje senão fosse pela circunstância. — eu disse, confusa.
— Eu realmente tenho muito cuidado com essa cabana, mas eu fiz tudo isso aqui pensando em como você e seu irmão gostariam que fosse. — fiquei pensativa, mas ainda confusa. — Quando vocês eram crianças, tudo o que eu fazia era pensando em vocês. Nada era mais importante que vocês!
— Por que isso mudou?
— Não vamos entrar nesse assunto agora. — ele pegou as malas e levou até o quarto. Realmente, o quarto é muito lindinho!
— Só mais uma pergunta: — eu disse e meu pai bufou, assentindo. — Por que está sendo legal comigo?
— Não importa o que aconteça, você continuará sendo minha filha. — ele ficou muito sério, de repente. — Eu já disse que não queria ter te espancado. Você e são as pessoas mais importantes da minha vida, eu jamais teria feito algo para machucar vocês em sã consciência! — eu engoli o seco e se afastou.
Não queria ser tão dura com ele, mas é tão difícil de acreditar no que meu pai diz. É muito fácil dizer tudo isso agora depois de ter feito a besteira, nunca demonstrou afeto por mim ou pelo meu irmão.
Tomei um banho gelado e vesti meu pijama, fui até à cozinha procurar por algo para comer.
— Está com fome? — ele perguntou e eu assenti. — Fiz uns sanduíches, pegue. — apanhei um e logo mordi. Até que estava bom. — Gostou?
— Sim, está bom. — ele sorriu satisfeito.
Comemos calados e sem olhar um para o outro. Fiquei limpando a mesa e meu pai assistindo TV.
— Está dando aquele programa que você e gostam. O Menta...
— Já terminei de limpar aqui. Vou dormir. Boa noite! — disse, seca, e já caminhando para o quarto.
— Tudo bem — sua voz que antes era animada, saiu quase num sussurro. Senti uma pontada de remorso por ter acabado com sua esperança de assistir TV comigo.
— Pai — me aproximei dele, ainda receosa pelas vezes que fiz isso e ele quase me agredia, apenas por estar na sua frente enquanto assistia algo. — Obrigada por ter me trazido aqui. Você pode achar que não, mas está cuidando de mim como tio Michael. — ele me encarou e eu engoli o seco, esperando o pior.
— Não importa o que aconteça, você continuará sendo minha filha. — repetiu o que já havia dito, me fazendo respirar fundo. — Meu dever é te proteger até eu não poder mais. E quando isso acontecer, você ainda terá seu irmão e Michael como protetores. Arrisco até em dizer que você terá também, já que ele gosta de você.
— não gosta de mim!
— E eu nasci ontem. — ele riu. — Vá descansar.
— Boa noite. — eu disse e ele sorriu para mim. Retribuí o gesto e fui para o meu quarto.
Parece mesmo que meu pai está tentando ter um relacionamento que nunca teve comigo. Se pudesse ver isso... Ele não acreditaria da mesma forma.
Mas a questão é: Será que ele realmente quer se tornar o pai que nunca foi?
[Capítulo Onze]
Arrumei minha cama e fui para a cozinha. estava arrumando a mesa.
— Bom dia, filha! — sorriu para mim.
— Bom dia.
— Dormiu bem?
— Para falar a verdade, não. — ele me encarou. — Foi difícil sentir sono com todos os pensamentos que estão me perturbando.
— E o que está te perturbando? — perguntou preocupado. Pelo menos, aparentava estar.
— Muitas coisas.
— Tipo?
— Olha,
, eu não estou me sentindo confortável aqui. Principalmente, por estar com você. — ele arregalou os olhos. — Ainda é difícil me aproximar de você sem tremer da cabeça aos pés.
— Me desculpe. Eu realmente não queria ter te causado trauma.
— Não digo só pela surra — cocei a cabeça. — Você nunca demonstrou carinho por mim ou por , mas disse que fez essa cabana pensando em nós. Não te entendo!
— Há muitas coisas que você não entenderá, mas...
— Mas o quê? Eu preciso saber das coisas, como vou poder confiar em você? — eu estava confusa e irritada ao mesmo tempo.
— Eu te entendo, juro. — bufei. — Mas...
— Mas. De novo o "mas". — o encarei. — Assim fica difícil!
— Eu vou dar uma olhada lá fora e você tome o seu café da manhã.
— Não estou com fome. — eu disse, cruzando os braços.
— Está sim, mas não vai perder a oportunidade de dramatizar. — ele ergueu as sobrancelhas e saiu.
Estou cada vez mais confusa, porém acho que posso aproveitar essa aproximação para descobrir o que eu estava querendo investigar há tempos, a separação dos meus pais. Nada me tira da cabeça que o nascimento de
e o meu tem algo relacionado com o termino do casamento deles. É estranho pensar nisso, porque é natural dois jovens se casar e ter filhos. Por que o nascimento dos bebês causaria um divórcio? Se não for coisa da minha cabeça, tem uma treta muito grande por trás disso.
Terminei meu café da manhã, arrumei a mesa e lavei alguns talheres que estavam na pia. Não tinha mais o que fazer, então fui para fora. Meu pai estava com uma seringa na mão.
— Por que está com isso?
—
! — ele me olhou assustado e pôs a mão com a seringa para trás. — O que está fazendo aqui fora?
— Eu é quem pergunto. O que está fazendo aqui fora e com essa seringa na mão? — ele já ia inventar uma mentira. — Sim, eu vi e não adianta esconder.
— Não consigo me livrar disso. — abaixou a cabeça e jogou a seringa à sua frente. — Ainda não estou liberto.
— Me espantaria se já estivesse! — ele me olhou, confuso. — As coisas não são assim. Tudo leva um tempinho.
— Tem razão!
— Mas você precisa lutar contra. — assentiu.
— Obrigado, filha. — fiz que sim com a cabeça e ele sorriu. — Você me lembra a...
— Te lembro quem? — ele hesitou.
— Sua mãe. — ergui uma das sobrancelhas.
— É exatamente sobre ela que eu queria falar com você. - meu pai me encarou e eu engoli o seco.
— O que quer saber?
— Por que vocês se separaram? —
franziu o cenho.
— Por que essa pergunta agora? De repente?
— Acho que eu e
merecemos saber. Desde quando se separaram nunca nos deram uma explicação.
—
não está aqui.
— Mas eu estou e exijo uma explicação! — disse já irritada e ele me encarou.
— Você não está em condições de exigir nada! Só te lembrando. — disse firme. — E eu te sugiro que nunca mais me faça essa pergunta, novamente.
— Por que?
— CHEGA DE TANTOS PORQUÊS! — meu pai gritou, realmente irritado, o que me assustou bastante.
Minhas pernas começaram a vacilar e
percebendo, se aproximou mas corri para dentro de casa. Caí no meio da cozinha e ele me olhava sem entender. Deu um passo à frente e se abaixou.
— Não me machuque, por favor! — pedi, enquanto fechava os olhos e levantava uma das mãos, na tentativa de me proteger.
— Se você soubesse o quanto dói te ouvir me pedindo isso. — Abri meus olhos devagar e
abaixou a cabeça, respirando fundo. — É o preço que eu pago por ter sido tão covarde. — ele se levantou rápido e foi para o seu quarto, batendo a porta assim que entrou.
Fui para o meu quarto e joguei-me na cama. Estava me sentindo estranha. Por mim e pelo
. Confesso que, às vezes, sinto pena dele. Me sinto mal por tudo que aconteceu e, se pudesse, mudaria muitas coisas. Mas, não posso.
Acabei cochilando e me despertei com um barulho vindo da sala. Levantei-me e entrei no banheiro. Estava com olheiras e expressão de cansaço, não era para menos. Lavei meu rosto, ajeitei o cabelo e fui verificar o que seria o barulho.
Chegando perto da cozinha, ouvi a voz de Fishy. Fui engatinhando para trás do balcão. Realmente, a voz era muito parecida com a de Fishy, mas ainda tinha esperança que não seria ele. Lentamente, fui me movimentando até a beira do balcão e consegui ver a pessoa. Meu coração quase saltou pela boca quando o vi conversando com meu pai. Me abaixei, novamente, e fui engatinhando rápido até chegar no meu quarto, tranquei a porta. Não sei como ele conseguiu achar a cabana, também não sei porque ele está conversando com meu pai, mas o medo tomou conta de mim!
Se passaram alguns minutos e ouvi batidas da porta do meu quarto. Arregalei os olhos e comecei a suar frio.
— Q-quem é?
— Seu pai, menina. — suspirei aliviada e abri a porta. — Por que se trancou?
— Entre!
—
, o que está acon...
— Por favor, entre logo! — o puxei pelo braço e tranquei a porta, novamente. — Pai, de onde você conhece aquele garoto?
— Não o conheço. Ele parecia estar perdido e eu apenas o ajudei. —
se sentou na poltrona mais próxima da janela e eu andava de um lado para outro. —
, você está bem?
— Pai, o que ele disse?
— Nada demais. Só que estava procurando a namorada que se perdeu dele por esse matos e... Quer me explicar o que está acontecendo? — disse, já irritado.
— O que ele te perguntou?
— Se poderia passar a noite aqui e amanhã bem cedo, voltaria a procurar a namorada. — parei de andar e me virei para
. Tive a sensação de não estar mais respirando.
— O que você respondeu? — engoli o seco.
— Claro que eu não deixei! — pus a mão no peito e tive a sensação que minha respiração tinha voltado. —
, me conte agora mesmo o que está acontecendo! — meu pai ordenou, já sem paciência.
— Pai — não sabia como contar à , mas ele percebeu minha aflição.
— Filha, não importa o que seja, conte-me. — assenti.
— Esse garoto — ele mexia as mãos, como uma forma de me incentivar a continuar. — É o que me ameaçou. —
se levantou.
— Não me diga que ele é o tal...
— Fishy. — confirmei, respirando fundo e meu pai deu um soco na parede. Pulei de susto.
— O que aquele moleque está fazendo por aqui?
— Me procurando.
— Não tem nem 3 dias que você saiu da casa do Michael. — ele coçava a cabeça, nervoso — Não acredito.
— Pai — me encarou. — Eu to com medo.
— Venha aqui. — estendeu seus braços e me apertou num abraço. — Fique tranquila, eu irei te proteger.
— Como posso ficar calma depois de saber que Fishy apareceu aqui e ainda conversou contigo? — comecei a chorar.
—
, calma. Eu estou aqui contigo.
— O que faremos agora?
— Precisamos entrar em contato com Michael e sair daqui. —
me soltou e destrancou a porta.
— Não faça isso. Ele pode arrombar a porta de entrada e te abordar. — pedi, nervosa.
— Só vou pegar meu celular na sala, fique aqui. — obedeci meu pai e fiquei observando os matos pela janela. Avistei Fishy, descansando as mãos na cintura e olhando para a casa. Me escondi e puxei uma pequena parte da cortina, continuei o observando e o mesmo deu as costas e saiu andando. — Voltei.
— Ah! Que susto!
— Desculpe.
— Pai, eu...
— Só um momento, estou ligando para Michael.
Aproveitei a conversa de meu pai com tio Michael para continuar observando aquele matagal. Nem sinal de Fishy. Só não sabia se ficava feliz ou com medo disso.
—
, todos já estão avisados e Michael já ligou para a polícia. Agora, precisamos sair daqui.
— Fishy estava olhando aqui para casa há pouco tempo. — disse de uma vez e
andou rápido até à janela. Escondido, abriu uma pequena parte da cortina.
— Não estou o vendo.
— Ele já foi, mas ainda deve estar próximo.
— Venha aqui — obedeci meu pai. — Consegue me dizer para qual lado ele foi?
— Tá vendo aquela árvore mangueira ali? — apontei e
assentiu. — Ele foi nessa direção.
— Direção norte. — meu pai se afastou da janela, pensativo. — Iremos pelo leste. Pegue tudo que puder e me encontre na sala.
Não tinha muito o que recolher, tudo que usava depois eu guardava na mala. Só peguei meu livro, Os Anjos Sentinelas - Enviados, que estava em cima do criado-mudo. Tentei ler antes de dormir, mas não consegui. Juntei tudo e desci com dificuldade, as malas estavam pesadas.
— Deixa eu te ajudar.
— Não precisa, já estou aqui mesmo. — coloquei as malas no chão.
— Tá bom, temos que ir agora mesmo!
— E se Fishy voltar?
— Se sairmos daqui agora, mesmo que ele volte daqui a pouco, não terá tempo de nos seguir porque já estaremos bem longe daqui. E ele irá calcular que iremos pelo oeste, que é o caminho mais perto, mas iremos pelo leste, que é o mais complicado depois do sul. — assenti.
— Ele irá perceber que fomos pelo leste! — eu disse, num óbvio.
— Até ele perceber isso, já estaremos chegando na casa do Michael. Agora, vamos! — pegamos tudo que pudemos e meu pai trancou a casa.
Colocamos nossas malas no carro e meu pai arrancou com tudo. Estava aliviada por me distanciar de Fishy, mas receosa porque tinha certeza que ele viria atrás de nós.
— Não fica com pena de deixar sua cabana? Provavelmente, Fishy arrombará a porta nos procurando e talvez, bagunce tudo ou até ponha fogo, só de raiva.
— Ele não perderia tempo fazendo isso, podendo vir logo atrás de nós. — realmente, faz sentido. Senti-me uma idiota perto de
. — Mas, sua vida é bem mais importante para mim. — ele me olhou e eu sorri.
É, acho que ele quer mesmo ser o pai que nunca foi.
Havia 40 minutos que tínhamos deixado a casa, meu pai resolveu parar numa barraquinha perto da estrada e comprar sorvete para nós. Continuei no carro e ele voltou rápido.
— Aqui seu sorvete. — me entregou e ligou o carro. — Temos que voltar para a cabana!
— Como assim? Por quê?
— O dono da barraquinha disse que ouviu uns moleques dizendo que interditariam as estradas, disfarçados de policiais. Estão procurando por uma garota que se perdeu do namorado. — meu pai me olhou e fez o retorno. — Não podemos arriscar agora. Vou ligar para o Michael e pedir que ele avise a polícia.
— Não temos saída?
— Por enquanto, não. — bati a mão na testa e minhas lágrimas desceram. — Não fique assim,
. Já disse que te protegerei!
— Se eles te machucarem, como vai poder me proteger?
— Sabe, te ouvir falando com essa voz chorosa, me faz lembrar de quando você era bem pequena. Veio correndo em minha direção, chorando muito e, eu te perguntei o que tinha acontecido, você respondeu que seus chinelos estavam virados para baixo e
havia falado que eu morreria. — ele ria. — Eu disse que não me aconteceria nada, mas foi um custo para você acreditar. Você ficava repetindo: "se o papai for pra longe, quem vai me proteger do bicho?".
— Bicho?
— Você dizia que tinha um bicho no seu quarto, mas era apenas
imitando um dinossauro no escuro. — não sabia se chorava ou se ria.
— Que ridículo! — nós gargalhamos.
— Foi a melhor fase de vocês.
— Porque foi a que você ainda demonstrava se importar com a gente. — me virei para a janela.
—
, por que você sempre tem que me lembrar que eu não fui um bom pai? Sério, estou tentando melhorar, mas assim é difícil! — o encarei. — Eu sei que o processo leva tempo, mas me ajude, né?!
— Acho que é só uma forma de defesa. — meu pai suspirou. — Desculpe.
— Só preciso que você e seu irmão confiem em mim.
— Posso até tentar, mas com
será bem mais difícil.
— Tô preparado! — disse empolgado.
Aproveitei que meu pai colocou para tocar o CD do Elvis Presley e eu dormi ao som de Because of Love.
[Capítulo Doze]
Levantei-me devagar, me espreguiçando e saí do carro. Joguei o cabelo para trás adentrei a casa.
— Ainda estou inconformada por termos que voltar!
— Deixa isso pra depois. Leve as malas para seu quarto, enquanto eu ligo para Michael.
Com dificuldade levei as malas para o meu quarto e nem mexi muito nelas, só peguei o necessário e coloquei em cima da cômoda. Fui no banheiro e depois para a sala.
— Falou com tio Michael?
— Na verdade, falei com porque Michael foi para a empresa. Mas, ele disse que avisaria a todos e já estava até ligando para a polícia.
— Por falar em empresa, a QUEMEVES não vai te demitir por tantas faltas, não?
— Que faltas? Estou de férias! — ele sorriu, vitorioso.
— Ok, então.
— Está com fome? Vou fazer algo para comermos agora.
— Beleza!
Fiquei observando meu pai cozinhar, e não é que o coroa leva jeito de "mestre-cuca".
Arrumamos a mesa e nos sentamos; o cheiro estava maravilhoso, a aparência do prato mais ainda.
— Se sirva! —
disse, animado.
Estava tão sonolenta, que derrubei meu prato já pela metade.
— Desculpe. Eu vou...
— Deixe que eu limpo tudo aqui, pode ir dormir.
— E você?
— Fico aqui vigiando. Hoje eu prefiro que você durma. — ele sorriu parar mim.
— Ah, obrigada. — me levantei e por impulso, abracei
. — Boa noite.
— Boa noite, filha. Durma bem.
Fui caminhando devagar para o meu quarto e me joguei com tudo na cama. Abracei
sem medo pela primeira vez depois da surra, o que o sono não faz, né?!
Ouvi um barulho de vidro quebrando e acordei no susto, dei um pulo da cama, corri para o banheiro e tomei um banho rápido. Vesti-me com uma bermuda jeans preta e uma camisa branca escrita: "princess", escovei os dentes, arrumei o cabelo e saí do banheiro. Estava arrumando o quarto, começando pela cama, quando ouvi uma voz que não consegui identificar, mas não era a de
. Terminei a arrumação e já estava a caminho da cozinha, agora ouvia outras vozes. Desesperei-me!
Só consegui imaginar que eram os amigos de Fishy e que tinham levado meu pai, porque não ouvia a voz dele. Escondi-me atrás do balcão, criando coragem para saber de quem eram aquelas vozes, quando vi os pés da pessoa ao meu lado.
—
, o que você tá fazendo? — essa voz eu conhecia bem, era . Olhei para cima e confirmei minha suspeita.
— O que você tá fazendo aqui?
— É bom te ver também. — revirei os olhos e levantei para abraçá-la — Que história é essa de Fishy estar por aqui.
— Nem me lembre! Achei até que era ele quando ouvi um barulho de copo quebrando.
— Eu quebrei um dos copos sem querer.
— Ei, garota! Não fala com seu irmão? — olhei na direção da porta e
estava me esperando, de braços abertos. Corri até ele e o apertei. — Fiquei muito preocupado com você,
. Eu queria ter vindo contigo para te proteger de
, mas não posso faltar o trabalho.
— Eu sei. Mas fique tranquilo, meu pai está sendo muito protetor... Conversamos sobre isso depois. — ele assentiu. —
não veio? —
olhou para
.
—
teve que me cobrir lá no estúdio, mas ele queria vir. — forcei um sorriso.
— Tudo bem. Sabem onde está o meu pai?
— Lá fora fazendo umas armadilhas. — disse
. — Vou ver se ele precisa de ajuda.
—
, precisamos conversar! —
me olhou séria e eu a puxei para o meu quarto, sentamo-nos nas poltronas.
— O que houve? Brigou com Drew?
— Antes fosse isso.
— Então?
— Acho que estou grávida.
— Quê? — não controlei as risadas.
— É sério!
— Você só pode estar brincando! — ela negou com a cabeça. —
e você não se protegeram?
— Não. Na hora nem pensamos nisso, para falar a verdade. — bati a mão na testa e a encarei. — Eu sei que vacilei.
— Os dois vacilaram!
— Sim, eu sei. Mas to com muito medo agora. — ela começou a chorar.
—
já sabe disso? — ela fez que sim. — E Drew?
— Na verdade, minha mãe estava desconfiando do meu comportamento e eu contei. Ela não ficou com raiva de nós, só se decepcionou. — arregalei meus olhos. — Ela ordenou que eu o chamasse para conversarmos. Ele ficou mais surpreso que eu. — passei as mãos no rosto, sem acreditar. — Drew ainda não sabe. Não quero contar antes de ter certeza, mas provavelmente ele não irá me perdoar.
— E por que não? Você nem falava com ele quando aconteceu.
— Na verdade, nos beijamos nesse mesmo dia, mas quando voltei pra casa eu e
... Você sabe.
— Nossa, eu nem imagino o que está passando pela cabeça de vocês! O medo eu também sinto, então te entendo.
— Mas é diferente,
.
— Eu sei. — ela encarou o chão. — Amiga, pode contar comigo sempre!
— Obrigada. — a abracei.
— Vocês não ficaram com medo de vir aqui? Fishy está por perto.
—
ficou muito preocupado e quis vir. Senti que precisava vir e te dar apoio também. — sorri para ela. — Mas a polícia já foi avisada e estão pelas ruas procurando por Fishy. Ele tem ficha por roubos e perseguição.
— Eu sei que não devia ter ficado com ele, mas Fishy foi tão legal comigo. Estávamos nos entendendo, ele é bem divertido. Você pode não acreditar, mas ele foi cavalheiro comigo. Não entendi porque me fez ameaças.
—
, ele é perigoso, você que não percebeu. — entortei a boca. — Mas ele se apaixonou por você e foi rápido demais!
— Na verdade, depois que ele me beijou na noite das oficinas, não me esqueceu. — suspirei. — Quando ficamos na escola, eu estava começando a olhar para ele de outra forma.
— Achou que ele poderia mudar e por isso teria a aprovação de
? — encarei
.
— Sei que parece bobo, mas sim, imaginei que seria dessa forma.
— Gosta dele?
— Não, eu só estava encantada. Eu gosto de outro, mas vamos deixar isso para lá.
— Preciso da sua ajuda, . —
invadiu meu quarto.
— O que houve?
— Um probleminha no carro do tio Michael. — ela se levantou e seguiu
Levantei-me e abri uma parte da cortina, nem sinal de Fishy. No mesmo tempo que senti, fiquei preocupada. Afastei-me da janela e quando olhei para a porta,
estava lá, sorrindo para mim.
— Posso? — fez sinal para entrar no quarto.
— Deve. — ele veio rápido em minha direção e nos abraçamos forte.
Ficamos assim durante um tempo, até
se afastar para me olhar.
—
disse que você estava no trabalho.
— Eu estava, mas dei meu jeito. — ele sorriu. — Fiquei preocupado contigo.
— Não quero que se prejudique por minha causa.
— Não vou. Eu expliquei a situação para o meu chefe e ele mesmo disse para eu vir, fique tranquila.
— Difícil, não estou tendo tranquilidade, ultimamente. — bufei.
— Eu ainda falei pra não deixar aquele beijo impune, mas você deixou. — revirei os olhos e me joguei na cama. — Me desculpe, mas o problema começou daí.
— Esqueça isso. —
sentou de frente para mim.
— Eu tento esquecer, mas não consigo parar de pensar que o seu primeiro beijo foi com aquele cara e não comigo.
Depois de perceber o que havia dito,
me encarou de olhos arregalados. Eu estava do mesmo estado.
— Pra vocês é uma disputa ser o primeiro de alguma menina, não é mesmo?! E não me refiro apenas a beijo.
— O quê? Claro que não, não da minha parte. — ergui as sobrancelhas e o encarei. —
, lembra de uma menina que havia me magoado?
— Sim, você ficou muito chateado. — ele assentiu. — O que tem ela?
— Demonstrava interesse por mim, mas ficou com outro.
— Entendo. Eu gosto de um que demonstrava interesse por mim, mas gosta de outra. — encarei
e ele ficou sério. — Eu lutei tanto pra deixar de gostar dele, que acabei me envolvendo com Fishy, só pra tentar esquecer o outro.
— Você só ficou com Fishy pra esquecer de outro? — assenti. — Quem é esse outro?
— Você saberá!
— Preciso saber disso agora! Você ficou com um bandido pra esquecer outro cara.
— Sim. E fica cada vez mais difícil me aproximar dele, sem que o mesmo perceba meu nervosismo. Ele mexe comigo.
— Aquela menina também mexe comigo, demais. —
me observava e mordia seu lábio inferior. Não faça isso comigo, menino!
— Você deve gostar mesmo dela. — eu disse num tom triste.
— Bastante. Só vivo escondendo esse sentimento de todos, mas ela já percebeu.
— Como ela é? — eu estava muito curiosa.
— Além de linda, é muito prestativa e tem o sorriso mais lindo que já vi! —
dizia, alegremente e eu tentava engolir o choro. Tentativa falha. — Está tudo bem?
— Não se importe comigo, pode continuar. — sequei meu rosto, mas as lágrimas não paravam.
— É uma menina simples e sonhadora. Gosto muito de ficar perto dela, porque parece que estamos num mundo só nosso, mas sempre tem um para nos atrapalhar. — ele sorriu, lindamente para mim, com os olhos brilhando e meu coração se apertou.
— Crianças, vamos almoçar? —
surgiu na porta, nos assustando. — O que estão fazendo?
— Nada demais, só estamos conversando.
— Sei — ele arqueou uma sobrancelha. — Venham antes que a comida esfrie! — assentimos e meu pai se afastou.
— Eu não disse? Sempre tem alguém para nos atrapalhar. —
repetiu suas palavras e sorriu para mim.
— O quê? — ele se aproximou ainda mais de mim e segurou minha nuca, me beijando.
— Desculpe. Sei que você gosta de outro e... — o interrompi com outro beijo.
— Eu gosto de você. — ele me olhou surpreso.
— Eu nunca imaginaria isso, . Quero dizer, eu achei que você estivesse brincando comigo.
— Jamais faria isso! Eu fui me apaixonando por você há tempos, mas achava que você só queria se divertir comigo e nada mais. — ele negou com a cabeça.
— Eu não faria isso com a irmã do meu melhor amigo, que era quase minha irmã também. — engoli o seco, lembrando de
e
. — Mas confesso que queria mais que irmandade. — nós rimos e eu dei uma tapinha nele.
— Vamos almoçar antes que alguém venha e nos interrompa, novamente. — ele assentiu. —
, vai ter coragem de contar para eles que gosta de mim?
— Isso não será novidade. Todos já desconfiam, nós só iremos confirmar.
— Tá ok. Agora, vamos.
Nos levantamos e eu fui na frente. Antes de sairmos do quarto,
me puxou e selou nossos lábios, pouco depois, ouvimos um barulho na janela, nos aproximamos e eu abri a cortina. Fishy estava em cima da árvore mangueira, com um binóculos, e tinha jogado um pedaço de galho na janela para chamar nossa atenção.
— Por que está beijando esse cara? — perguntou com raiva e minha reação foi puxar
e correr para a cozinha.
— Precisamos sair daqui, agora!
— O que houve?
— Fishy estava em cima da árvore mangueira, de binóculos, me viu com
e virou uma fera. Provavelmente, está descendo a árvore e vindo atrás de nós.
— O que vocês estavam fazendo? — meu pai perguntou, desconfiado.
— Não temos tempo para isso agora, Fishy virá atrás de nós. Precisamos sair daqui imediatamente! —
disse e todos corremos para fora.
—
, siga na direção leste, estarei logo atrás. —
entrou no carro com meu irmão. — Por que não foi com meu filho e sua irmã?
perguntou para
, que já ia responder.
— Não temos tempo para isso! — entrei no carro e
me seguiu. Meu pai mal sentou no banco do motorista e já arrancou.
Olhei para trás com medo de Fishy nos surpreender, mas ele não estava lá, suspirei aliviada e me virei para
.
— Essa foi por pouco!
— Não quero te desanimar, mas ele ainda pode tentar muitas coisas enquanto estivermos por aqui.
—
está certo. Esse moleque tem amigos espalhados por esses matos e estradas. — meu pai disse, acelerando ainda mais. — Só podemos ficar aliviados quando eles forem presos, todos juntos.
Depois de 1h, já estávamos na estrada.
dormia ao meu lado e nossas mãos estavam entrelaçadas, a cada 10 segundos eu olhava para trás.
—
, pare com isso! — meu pai ordenou.
— Chegamos à estrada agora, os amigos de Fishy podem estar por aqui.
— Pense positivo. —
terminou de falar e ouvimos alguém gritando. Olhei para trás e três carros nos seguiam. — Merda!
— O que foi isso? —
acordou assustado.
— Pai, o que iremos fazer agora? — tentava respirar fundo, mas o pânico não me deixava.
— Mantenham a calma! —
acelerou o veículo, ficando ao lado do carro de
. — Acelera sem pena, estão atrás de nós. — meu irmão olhou pelo retrovisor e pisou fundo.
O que me deixava mais apavorada eram os carros quase encostando nos nossos, um deles passou por nós e bateu no carro de
, no lado do carona. Dei um gritinho, lembrando que
suspeita estar grávida e qualquer susto ou stress muito grande, corre risco de perder. Meu irmão fez sinal com a mão para fora da janela e meu pai acelerou, novamente.
—
desmaiou, preciso levá-la para algum hospital!
— Deve ter sido pelo nervoso, daqui a pouco ela acorda. — me esforcei para olhar minha amiga e vi uma mancha vermelha escorrer entre suas pernas. Meu Deus!
—
, ela precisa de um médico imediatamente! — eu disse, nervosa. Meu irmão arrancou com o carro. — Vamos tentar despistá-los.
— Como faremos isso? —
perguntou.
— Eu não sei.
— Não será preciso. — meu pai disse e alguns carros de polícia vieram em nossa direção.
Os amiguinhos de Fishy recuaram assim que perceberam a aproximação da polícia, mas não adiantou. Os policiais foram atrás deles e meu pai continuou seu caminho, prevendo que haveria um confronto.
[Capítulo Treze]
— Filho, como você está? — tio Michael perguntou para
.
— Um pouco assustado, eu confesso.
— Agora vai ficar tudo bem. — tio Michael o abraçou. — E você,
?
— Estou muito assustada, muito mesmo.
— Oh, filha. — minha mãe desceu da escada e me abraçou. — As coisas vão melhorar!.
— Tia Audrey não está em casa?
— Ela está no quarto. — tio Michael respondeu.
—
desmaiou e
a levou para o hospital mais próximo.
— Como assim? Por que ela desmaiou? — tio Michael ficou nervoso.
— Deve ter sido o susto da perseguição, de repente. Se acalme, Michael. —
disse.
— Como posso me acalmar com minha filha em um hospital que nem conhecemos? Tenho que ir atrás dela.
— O que?
está no hospital? Atiraram nela? — tia Audrey apareceu na sala.
— Não, ninguém atirou nela.
— Em qual hospital ela está?
— Provavelmente, está no Cross Hospital. É o único daquela região. — disse
.
— Michael, eu vou com você. — tia Audrey foi buscar sua bolsa.
— Me empresta o seu carro,
?
— Nem precisava pedir. — meu pai entregou as chaves para tio Michael.
— Obrigado. — meu pai sorriu. — Vamos logo, Audrey!
Tia Audrey desceu correndo e eles foram para o hospital.
— Filha, que carinha triste é essa? — minha mãe perguntou.
— Estou normal, mãe. — ela ergueu as sobrancelhas. — É só preocupação com a .
— Ela vai ficar bem. —
me abraçou.
— Vocês estão muito próximos desde que
foi à cabana.
—
, não é hora para cismas. — minha mãe disse.
— Obrigada, mãe.
— Mas depois nós conversaremos. — rolei os olhos.
— Vou tomar banho.
— Eu também. —
se levantou comigo.
— O quê? — meu pai arregalou os olhos.
— No meu quarto. —
disse amedrontado e
apontou para mim.
— Pai! — o encarei indignada e ele continuou apontando para mim. — No quarto da
.
Viramo-nos e fomos para nossos quartos, enquanto meu pai nos vigiava. estava começando a tentar ser legal, mas está conseguindo ficar chato. De novo.
Tomei banho e me deitei um pouco. Senti algo em minha boca e acordei me debatendo, assustada.
— Ai! —
se afastou, com a mão no rosto. — Precisava mesmo dessa agressividade?
— Desculpa, achei que fosse uma barata. — ele riu e eu me sentei. — Tem notícias da
?
— Ela está no soro e vai passar a noite no hospital.
— Só isso? Ela não teve algo grave?
— Não sei dizer, minha mãe não entrou em detalhes. — assenti — Por que toda essa preocupação?
— Ela é a minha melhor amiga, . — me levantei.
— Depois que
voltar, temos um segredo para descobrir.
— Qual?
— A separação dos meus pais, mas vamos esperar as coisas se acalmarem. — ele assentiu e se aproximou de mim. — Que foi?
— Quero um beijo seu. — ele tentou me beijar, mas virei o rosto.
— Vai ficar querendo! — corri até a porta, rindo e ele me alçançou. Beijou-me. — Quando contaremos a eles sobre nós dois?
— Quando você achar melhor.
— Então é melhor esperarmos mais um pouco. — ele assentiu e nos beijamos mais uma vez.
—
— ouvi a voz de meu pai — Venha lanchar!
— Acho que seu pai está querendo recuperar o tempo perdido mesmo, ele está te tratando como uma criança.
— Eu acho que em partes, estou gostando disso. — selei nossos lábios — Eu desço primeiro e você vai depois de 3 minutos.
Abri a porta e meu pai me olhou, bravo.
— O que estavam fazendo?
— Nada demais, nós...
— Desçam agora! — o obedecemos — Estavam sozinhos no quarto.
— O quê? — minha mãe me encarou.
— Não fizemos nada demais.
só foi me acordar e conversamos um pouco. — respondi irritada.
— Não fale comigo nesse tom,
! — minha mãe ordenou. — Fiz um bolo de chocolate, comam.
— Eu estou um pouco sem fome.
— Mas vai comer, precisa se alimentar. — meu pai disse e
me olhou rindo — Você também, garoto. Senão conto para o seu pai.
— O quê?
— Vocês ainda são crianças em fase de crescimento. — minha mãe disse.
— Vou fingir que não ouvi isso! —
e
riram.
Ouvimos um barulho na porta e
apareceu na cozinha, triste.
— O que houve, filho?
está bem? — minha mãe perguntou.
— Ela está melhor.
— Então por que essa cara? —
perguntou.
— Só estou cansado.
— Coma um pedaço de bolo, fiz agora. — minha mãe se aproximou do tabuleiro.
— Não quero, obrigado. Vou tomar um banho e descansar um pouco. — ele subiu.
— Terminem logo para eu limpar a mesa. — minha mãe pediu.
Havia acontecido algo muito grave, meu irmão não ficaria assim apenas por cansaço. Eu não queria pensar que o pior tivesse acontecido, mas precisava saber.
Bati na porta do quarto de
e abri,
estava dormindo. Fiquei um tanto aliviada, talvez fosse mesmo cansaço.
—
, o que está fazendo aí?
— Vim ver
.
— Venha, quero conversar contigo. — segui minha mãe.
Fomos para o jardim e nos sentamos nos banquinhos perto da árvore.
— O que houve?
— Você está muito distante de mim e muito próxima do seu pai,
.
— Eu estou do jeito que sempre fui com você e meu pai está se mostrando arrependido, cuidou de mim como nunca antes. Só estou dando uma chance a ele.
— Por que não me dá essa chance também?
— Porque você nunca se mostrou arrependida pelo seu abandono, você nunca nos explicou o porquê de ter feito isso, você nunca nos deu a devida atenção, nem se quer explicou o motivo de estar morando na casa do meu pai, e com ele...
— Eu não posso explicar agora. — ela suspirou e abaixou a cabeça.
— Você é toda misteriosa. Mal te conheço e você ainda quer que eu tenha consideração por você?
— Preciso que você fique ao meu lado.
— Por que se separou do meu pai? — ela me encarou.
— Por que essa pergunta agora?
— Me responda.
— Se
não quis te contar, eu também não farei isso. — ela se levantou e foi para dentro de casa.
Eu não consigo entender essa mulher que eu chamo de mãe! Eu mal a conheço. Confesso que isso me dó muito, porque só agora estou começando a ter um relacionamento de pai para filha com
, mas com minha mãe é diferente. Não sei se consigo me aproximar dela. Tenho um bloqueio tão grande em relação a ela...
Lembro-me de todas as vezes que eu e meu irmão fomos para a casa dela, em Keoursna, e ela nos largava para sair. Passávamos a maioria do tempo sem ela em casa. Eu só ia mesmo porque era obrigada, mas meu irmão não, sempre foi o defensor dela e eu só me sentia sozinha.
Tudo que sempre quis foi dançar e viver fazendo isso, mas nunca tive apoio para isso, apenas de
.
mal falava comigo, com meu pai eu nem tinha diálogo e com minha mãe... Que mãe? Eu nunca a tive presente em minha vida mesmo.
Tive um bombardeio de pensamentos sobre meus pais e minha vida. Comecei a chorar sem querer. Eu não queria, mas sentia que era uma forma de colocar para fora o que eu sempre prendia. Era uma sensação de que as coisas ruins iam embora junto com as lágrimas, pelo menos eu tinha que acreditar na sensação. Deitei-me em cima dos banquinhos e passei a noite ali.
Acordei no dia seguinte, com
me chamando. Virei esquecendo que não estava na cama e acabei caindo.
—
, você está bem?
— Vou melhorar.
—
chegou agora, venha. — ele me ajudou a levantar e fomos para dentro.
Tia Audrey e tio Michael estavam com expressões tristes e
com a cabeça baixa.
— Por que estão com essa cara? — perguntei, receosa.
— Diga,
. Diga a todos. — tio Michael a ordenou, nervoso.
— Eu estava grávida.
— O quê? —
fechou os punhos. — De quem?
— Por que quer saber? Eu perdi o bebê. — ela disse chorando e eu fui abraçá-la.
— Quem era o pai? — ele insistiu.
— Ai meu Deus! — eu suspirei. —
, por favor, mantenha a calma.
— ME FALE, QUEM ERA O PAI? — ele gritou, nos assustando.
— Eu. —
apareceu na sala.
arregalou os olhos e nos encarou, voltou seu olhar para meu irmão e foi para cima dele.
— Você é um babaca! — meu irmão tentou se defender, mas não adiantou. Foi acertado no rosto e no estômago. Tio Michael segurou
e o afastou de
. — Por que com a minha irmã, cara?
—
, eu...
— Quer saber, cala a sua boca antes que eu a quebre! — ele tentou se reaproximar de
, mas tio Michael o segurou mais forte. — Eu te considerava o meu irmão.
— Ainda somos.
— Não. Eu não quero mais olhar pra essa sua cara!
— Você precisa se acalmar. —
disse. — Você também gosta da minha irmã. — arregalei meus olhos surpresa e esperei pela reação de
.
— É diferente, nunca desrespeitei .
— Não fale como se eu tivesse a forçado,
quis tanto quanto eu.
— Chega,
, eu não quero ouvir isso! — tio Michael ordenou — Ela é a minha filha, mas eu estou decepcionado com os dois.
— Desculpa, pai — ela pediu, chorosa.
—
, eu não quero ouvir a sua voz. E engoula esse choro.
— Querido...
— Audrey, não. Ela está errada!
—
, arrume suas malas e vamos para casa. — meu pai disse.
— Mas...
— Não quero te ver aqui de novo tão cedo. — tio Michael disse e foi para o seu quarto.
— Pegue suas coisas e vaza daqui! —
foi para o jardim.
—
, eu...
— Por favor,
, agora não. — tia Audrey pediu, levando a filha para o seu quarto.
— Não estou acreditando no que está acontecendo! — minha mãe disse, com as mãos na cabeça. — Vá logo pegar suas coisas! Conversamos em casa.
—
, vá buscar suas coisas também.
— O que? Pai!
— Não quero mais você aqui. Chega de problemas! — ele disse e foi para o lado de fora da casa.
Prendi as lágrimas que teimavam em querer escorrer e subi rápido, bati na porta algumas vezes e entrei em seguida.
—
, não é hora...
— Eu sei, só vim pegar minhas coisas.
— Vai embora também? —
perguntou um tanto nervosa.
— Calma, você não pode se alterar agora. — tia Audrey disse. — E será melhor assim, cada um em sua casa.
— Mas mãe, lá eles correm risco.
— Ficaremos bem, não se preocupe. — a abracei. — Apenas cuide de você.
Peguei algumas coisas, não daria para levar tudo de uma vez. Desci com
, nossos pais já nos esperavam no carro. Vi
sentado em um dos banquinhos perto da árvore.
—
, pode ir. Quero falar com ele.
— Não é uma boa hora.
— Preciso fazer isso. —
assentiu e foi para o carro. Sentei ao lado de
e o abracei. — Eu...
— Não quero conversar agora — encolhi os meus braços e levantei, indo para o portão. Ele veio em minha direção e me segurou — Desculpa.
— Só queria te contar que vou voltar a morar com meu pai. — algumas lágrimas eu não consegui evitar que escorressem.
— Desculpe, eu não quis...
— Fique bem e cuide de sua irmã.
Enxuguei minhas lágrimas e entrei no carro. Meu pai logo acelerou.
[Capítulo Quatorze]
— Mãe, por favor. —
disse impaciente, com a mão na cabeça. — Não é hora para isso.
— Eu concordo — meu pai disse, sentando-se no sofá. — Por que está com essa cara, filha?
—
foi meio grosseiro comigo.
— O que ele fez? —
arqueou uma sobrancelha.
— Tentei avisá-lo que eu voltaria a morar aqui, mas ele nem me deu chance.
— E você queria o quê? Ele está com a cabeça quente, assim como eu. — minha mãe se jogou no sofá, nos encarando.
—
só precisa de um tempo para pensar. —
disse, fulminando minha mãe com os olhos. — Não é nada com você.
— Desculpe,
. A culpa é toda minha —
bufou de raiva. — Eu vou para o meu quarto.
— Eu sinto tanto pelo meu irmão. — eu disse, observando ele subir.
— Minha vontade é de dar uma surra nele! — minha mãe disse, me fazendo rolar os olhos.
— Inverteu os papéis, agora? — perguntei, franzindo as sobrancelhas. — Não ficarei aqui ouvindo você. — fui para o meu quarto.
Peguei minhas coisas e arrumei em seus lugares, teria que pegar o restante no dia seguinte ou mais para frente. Tomei um banho relaxante e deitei-me na cama, terminando de ler Os Anjos Sentinelas - Enviados. Pelo menos, consegui ler. Nna cabana eu não conseguia me concentrar, até era aconchegante, mas sentia falta do meu quarto.
Estava começando a ler Os Anjos Sentinelas - Eternamente, quando ouvi batidas na porta.
— Entre. — eu disse, me sentando.
— Filha — meu pai adentrou o quarto e sentou-se à minha frente. Marquei a página em que parei de ler e coloquei o livro sobre o criado-mudo. — Estou preocupado com você.
— Não fique. Eu estou bem.
— Não está, não. Você passou por tantas coisas, em espaço mínimo de tempo — eu suspirei. — Há algo que eu possa fazer por você?
— Você não pode fazer a gente voltar no tempo, pai.
— Ah, se eu pudesse... — ele pensou alto.
— Será que o
vai me perdoar?
— Você não fez nada de errado, não é mesmo?! — fiz uma linha com a boca. —
, é melhor começar a contar!
— Na noite em que
e
... — o lancei um olhar significativo e ele assentiu. — Eu os vi juntos na cama, mas não contei para
.
— Filha, você não devia ter feito isso!
— Eu sei, mas também não podia contar, era assunto íntimo deles.
— Isso é verdade. Mas, imagine quando seu namorado descobrir que você já sabia de tudo, desde o dia que aconteceu, e não contou a ele. — meu pai ergueu as sobrancelhas.
— Não quero pensar nisso agora.
— Você gosta mesmo dele, né? — abaixei os ombros, assentindo.
— Me apaixonei por
desde o começo da amizade dele com
, mas agora eu nem...
— Vamos tentar esquecer isso um pouquinho e deixar que o tempo amenize a situação. — meu pai se levantou.
—
— ele me olhou. — Vê como
está — ele ia dizer algo, mas o interrompi. — Meu irmão está precisando de apoio agora, principalmente do seu.
— Ele não vai nem me deixar entrar no quarto dele — meu pai riu fraco. — Mais tarde eu converso com ele, mas agora,
precisa de um tempo.
— Tudo bem. — ele beijou minha testa e saiu.
Peguei meu celular e liguei para
.
— Alô?
— Oi, super girl.
— Como você está?
— Fisicamente, me recuperando. Psicologicamente, destruída. — ouvi ela chorar um pouco e meu coração se apertou. — , quando eu disse que desconfiava estar grávida, eu sentia de verdade que estava e comecei a amar esse bebê desde então. Eu queria essa criança!
— Eu entendo, amiga. Mas calma, você não pode se alterar.
— Eu tô nem aí! Perco um bebê e ainda tenho que sofrer calada? — ouvi a voz de tia Audrey mandando
desligar o celular.
—
, venha aqui em casa, por favor.
— Tia Audrey não vai gostar.
— Estou te esperando. — ela disse e finalizou a chamada.
Não sei se seria bom eu aparecer lá sem o consentimento de tia Audrey e tio Michael, mas me sinto mal por
, precisava falar com ela.
Sem pensar muito, dei uma bagunçada no cabelo e desci.
— Onde você vai? — minha mãe perguntou, aproximando-se.
— Vou ver
, ela está precisando de mim.
— Melhor não. — a encarei, bufando — Quer ir? Vá, mas não reclame depois.
Dei as costas a ela e fui para o quintal, peguei minha bicicleta e cheguei mais rápido a casa da minha amiga. Apertei a campainha.
— Oi —
ergueu as sobrancelhas. — Entre.
— Está melhor? — o olhei.
— Vou ficar — ele disse seco e eu assenti — Se veio conversar comigo eu vou logo avis...
— Na verdade, vim ver
— ele pareceu surpreso — Eu posso?
— Claro. — dei as costas a ele.
—
, espere! — ele segurou meu braço, mas não me virei. — Desculpe a minha forma...
— Melhor conversarmos sobre isso em outra hora, . — o olhei de relance e adentrei a casa.
O local estava silencioso, subi os degraus rapidamente e bati na porta do quarto dela. Ouvi a voz da
dizendo para entrar.
— Oi — adentrei rápido e fechei a porta.
—
! — ela já ia se levantar.
— Nada disso, mocinha — ela bufou e tornou a deitar-se — Amiga, eu...
— Não quero que se desculpe, por nada. Não foi culpa sua. — sentei-me ao seu lado.
— Não consigo pensar assim. Minha mente me culpa o tempo todo, por tudo o que está acontecendo — eu disse, deixando algumas lágrimas escaparem e percebi que
evitava me olhar. — Eu precisava vir aqui e te pedir perdão.
— E-eu não...
—
, o que está fazendo aqui? — tia Audrey adentrou o quarto, com um prato de sopa em suas mãos.
— Só vim ver , mas já estou de saída. — levantei-me e já me dirigia à porta.
— Não está, não! —
disse firme e encarou a mãe —
veio me dar apoio.
— Mas...
— Mãe,
não tem culpa do que aconteceu.
— Como não? Foi ela que se envolveu com aquele moleque — tia Audrey me olhou com raiva. — Por culpa dela você perdeu seu bebê!
— CHEGA! —
gritou e no mesmo instante, se contraiu. — Ai!
— O que houve, filha? — tia Audrey perguntou, deixando o prato de sopa sobre a mesinha e aproximando-se de
.
— Estou sentindo uma dor abdominal muito forte — ela se contraiu ainda mais.
— Olha o que você fez,
. — arregalei meus olhos. — Mais uma vez causando dor e sofrimento para minha filha... Saia daqui!
— Não —
disse com dificuldade. — Ela fica.
— Não, tia Audrey está certa. Me desculpe, amiga. — saí do quarto o mais rápido que pude.
Não consegui controlar as lágrimas que já escorriam em meu rosto e deixei-me pôr para fora toda minha tristeza e culpa. Caí de joelhos, frente à escada e não consegui fazer mais nada, além de fechar meus olhos e chorar. Senti alguém me levantando e deixei-me ser guiada pela pessoa.
—
, o que houve? — abri meus olhos e vi
. Eu estava sentada em sua cama.
— Eu tô com muita raiva de mim mesma! — confessei, nervosa. — Eu só prejudiquei a todos vocês e a minha família também. Tô cansada!
Levantei-me rápido e fui para o banheiro, pegando uma navalha.
tentou tirar da minha mão, mas eu o golpeei nas partes baixas e ele arriou, aproveitei-me para colocar o objeto sobre meu pescoço.
— PAI! — ele gritou e tio Michael surgiu, quase arrombando a porta do quarto.
— O que hou...
! — quando tentei afundar a lâmina em meu pescoço, tio Michael correu em minha direção, tirando a navalha de minha mão. — Só quero que me diga o porquê dessa loucura.
— Eu só quero sumir! — eu disse, tentando me acalmar e
se levantou aproximando-se de mim.
— Não fale isso, nem brincando. — ele acariciou meu rosto, mas eu o empurrei. — Por que está agindo assim?
— Tia Audrey tem razão, causei muitos problemas a vocês. — ele negou com a cabeça.
— Nada dis...
— Não tente negar,
— eu disse irritada. — Mas que droga!
— Audrey te acusou pelo o que está acontecendo? — tio Michael ergueu uma sobrancelha. — Preciso saber,
.
— Ela só disse a verdade — eu respondi cabisbaixa. — Vou para minha casa, agora. Desculpem-me por tudo. — desci a escada correndo.
—
, espere! —
me segurou e olhou em meus olhos. — Não dê ouvidos à minha mãe, ela só está com o psicológico abalado. — respirei fundo, de olhos fechados. — Entendo que se sinta culpada, mas você não é.
— Agradeço a compreensão. — abri os olhos e o observei. — Preciso te contar uma coisa.
— Vamos até o jardim e você me conta. — nos sentamos nos banquinhos. — Então?
— No dia em que fomos às oficinas, quando chegamos aqui, depois de procurar por
, eu vi ela e
na cama. — sua fisionomia mudou na mesma hora.
— É o quê? Você os viu e não me contou?
— Eu fiquei constrangida, e também era assunto deles.
— Mas é a minha irmã! — ele disse, indignado. — Um casal deve contar tudo um para o outro.
— É por isso que estou te contando, agora.
— Tudo bem, não era obrigação sua me contar. — eu assenti — Até porque não estamos juntos. — eu me encolhi ainda mais ao ouví-lo dizer aquelas palavras.
— Eu vou para casa. — me levantei rapidamente.
— Me desculpe. —
pegou em minha mão e virou meu rosto para ele, delicadamente. — Por favor, me desculpe. Eu não queria te magoar.
— Eu te entendo, mas você precisa de um tempo para pensar — ele abaixou a cabeça — E eu vou te dar esse tempo.
— Não quero que se afaste de mim — eu tentei pronunciar-me, mas ele não me deu chance — Eu só estou...
— De cabeça quente, eu sei. — ele suspirou e eu acariciei seu rosto. — Por isso é melhor ficarmos afastados durante um tempo.
— Se você quer assim, eu respeito.
— É para o seu próprio bem. — quando eu ia abraçá-lo, ele me surpreendeu com um beijo.
Durante o beijo fiquei pensando no quão difícil seria me afastar dele, já que demoramos tanto para ficarmos juntos. Não oficialmente, mas estamos nos gostando e é quase uma covardia as circunstâncias fazerem isso com a gente!
Soltei-me do abraço que ele me deu e peguei a minha bicicleta, já indo para casa. Quando cheguei, peguei minha mãe dormindo de boca aberta no sofá.
—
? —
disse alto, enquanto saía da cozinha. Acabou acordando minha mãe. — Michael me ligou e já contou tudo. O que estava pensando quando fez àquilo?
— Você está se drogando? — minha mãe se aproximou de mim, com as mãos na cintura. — É melhor responder logo! Está ou não? Por que se estiver...
— Olha só, eu tô cansada, tá?! — ergui minhas mãos — Não vou ficar aqui ouvindo besteiras. — fui para o meu quarto.
As semanas se passaram rapidamente e eu já havia voltado ao colégio.
estava de licença, então minha única companhia era Drew.
— Fico feliz que tenha escapado das mãos daquele idiota. — ele sorriu, simpático.
— Eu também. — sorri fraco. — Já falou com a
?
— Sim, eu a visitei algumas vezes. Ela não te contou? — ele franziu o cenho.
— Nós... Estamos muito ocupadas, ultimamente. Não dá pra conversarmos muito.
— Entendi. — ele suspirou. —
me contou que estava grávida do seu irmão, mas perdeu a criança.
— Olha, Drew...
— Não, tudo bem, ela já me explicou a situação e está tudo resolvido.
— Que bom! — eu disse sincera, suspirando aliviada. — Tenho que ir para casa agora. Obrigada pela ajuda no exercício de física.
— Pode contar comigo sempre que precisar. — ele disse e foi andando para a direção oposta.
Fui para casa e como de costume, corri para o meu quarto, joguei a mochila no chão e tomei um banho relaxante, eu precisava. Quando estava passando pelo corredor para ir à cozinha, ouvi uma discussão no quarto do meu pai. Aproximei-me da porta e fiquei escutando.
—
, deixe a menina dançar. Que mal há nisso?
— Você sabe muito bem por que eu não permito que a dance! E me admira você, depois de tudo que passou, querer que nossa filha siga o mesmo caminho.
— Ela não seguirá o mesmo caminho!
— E quem me garante que ela não vai ser uma stripper assim como você?
Minha cabeça deu mil voltas ao ouvir o que meu pai acabara de dizer.
— Fale baixo,
! Isso é segredo nosso.
— Não sei por que aceitei você de volta à esta casa.
— Você sabe que estou com dívidas altíssimas e se eu voltar à Keoursna, serei morta.
— Isso não é problema meu.
— É sim, mataram nosso filho por culpa sua! — a voz da minha mãe estava embargada — E agora estão querendo o que é deles, eu não vou ser morta por sua causa,
. Não vou.
Ouvi a porta do quarto do meu pai ser destrancada e imediatamente corri para o meu quarto. Sentei-me no chão e tentei colocar em ordem tudo que ouvi, sem deixar passar nem uma vírgula. Ainda não sabia o que fazer, mas precisava contar ao meu irmão.
[Capítulo Quinze]
— Vi sua mensagem agora, o que houve? — puxei seu braço e tranquei a porta, novamente.
—
, preciso te contar algo muito grave.
— Tá me assustando! — nos sentamos na cama.
— Ouvi nossos pais dis...
—
, há quanto tempo está aqui? — minha mãe nos interrompeu, me olhando desconfiada — Por que ainda não desceu para almoçar?
— Eu vim aqui conversar com ela, preciso desabafar. —
mentiu.
— Tudo bem, mas desçam logo. — nós assentimos e ela saiu.
— Melhor continuarmos depois, quando o seu turno no trabalho terminar.
— Ela pareceu desconfiada. — suspirei — Acha que nossa mãe está escondendo algo?
— Shh — ficamos em silêncio e a ouvimos pigarrear — Tenho certeza, mais tarde descobriremos. — eu sussurrei e nós levantamos.
Saindo do quarto, encontramos minha mãe no corredor, perto da porta. Ela fingiu sentir uma tontura e
a segurou, o lancei um olhar significativo e ele pareceu entender. A levamos para a sala de jantar e ela pediu água, meu pai se aproximou.
— O que houve?
— Parece que minha mãe sentiu uma tontura. — respondi, a olhando.
— Eu já estou bem, foi só um mal-estar. — ela foi para a cozinha e nós sentamo-nos à mesa.
— Pai, não tinha uma senhora trabalhando aqui? — perguntei e ele me olhou.
— Sua mãe a expulsou.
— E por que ela fez isso?
— Não sei, ela só me disse depois que cheguei do trabalho e eu tinha mais o que fazer, então. — meu pai deu de ombros e
ergueu as sobrancelhas.
— Está tudo aqui, agora se sirvam. — minha mãe sentou-se ao lado do meu pai.
Terminamos o nosso almoço, mas estavam todos muito silenciosos. Minha mãe lançava olhares para o meu pai a cada minuto e nós já havíamos percebido.
— Vocês estão estranhos, o que aconteceu? — minha mãe disse e eu olhei para
, ele assentiu.
— É grave, filha? —
tinha uma expressão de preocupação.
— Sim.
— Aquele moleque saiu da cadeia e está te ameaçando de novo? — minha mãe parecia nervosa.
— O QUÊ? — meu pai se irritou. — O DELEGADO HOPPER ME GARANT...
— Não tem nada a ver com Fishy. — respirei fundo — Quando cheguei do colégio, ouvi a discussão de vocês.
— Como?
— Vocês estavam gritando dentro do seu quarto, mas eu fiquei ouvindo atrás da porta. — meu pai coçou a cabeça. — Você disse que minha mãe é stripper e ela te culpou pela morte de um filho, e estão querendo algo que pode custar a vida dela ou a sua.
— O quê? —
me encarou. — Que história é essa?
—
, você passou do limite! — minha mãe apontou para mim. — Como pode inventar algo desse tipo? — ela olhou para o meu irmão — Filho, você sabe que sua irmã assiste essas coisas doidas na TV e depois fica alucinando.
— Claro que não. , estou falando a verdade.
— Eu não quero acreditar que você está inventando isso, . — ele arqueou as sobrancelhas e minha mãe o abraçou, de lado.
— É verdade, filho. Tudo verdade. — meu pai se pronunciou.
— Ficou maluco? — minha mãe aproximou o rosto do meu irmão, mas
colocou uma de suas mãos sobre o rosto dela e a empurrou para o seu lugar. — Eu não vou perder a confiança dos meus filhos, novamente e eles precisam saber a verdade sobre nossa separação.
— EU NÃO VOU FICAR AQUI OUVINDO MENTIRAS! — ela gritou e já ia se retirando, quando
a impediu.
— Mãe, eu sempre fiquei do seu lado, sempre. Mas agora, preciso saber a verdade. — ela abaixou a cabeça e tornou a sentar-se.
— Quando conheci a mãe de vocês, ela tinha 14 anos, era uma menina doce e gentil e eu me apaixonei. Depois, nos conhecemos melhor, até que pouco mais tarde, nos casamos e ela engravidou. Depois do nosso filho, eu comecei a trabalhar muito como lutador e só chegava a nossa casa pela madrugada. — meu pai passou a mão no rosto, respirando fundo. — Então, um colega me contou que ela dançava numa boate próxima ao bairro que a gente morava e ainda levava o nosso filho para lá. Ele me levou até o lugar e eu dei de cara com ela, quase sem roupa, rebolando no colo de um homem e o nosso filho no colo de uma estranha.
— Eu não consigo e nem quero imaginar minha mãe dessa forma! —
estava muito abalado, mas eu só queria saber quem ela realmente era.
— Peguei nosso filho e fomos para casa. Eu a expulsei, mas ela implorou por perdão e disse que jamais voltaria àquele lugar. Realmente, ela não voltou, foi para outro.
— Como você pôde? — indignei-me e
pediu para eu manter a calma.
— Nosso filho faria uns 4 anos quando ela ficou grávida de
, eu achei que ela fosse tomar jeito, mas só piorou. Até mesmo com a barriga grande ela ia dançar e eu, idiota, não sabia. Num dia que não tive treino e nem luta, a segui. Observava ela de longe, até um velho a agarrar, eu me levantei furioso e o empurrei. Alguns homens, a mando dele, me seguraram e o lutador levou uma surra. Minha reputação caiu ali.
— Mas foi covardia! Qualquer lutador...
— Tudo bem,
. A pior parte não foi essa. — ele suspirou e minha mãe começou a chorar. — Eu tinha saído da boate, mas o vi de novo com a mãe de vocês, tentei me vingar quebrando os vidros e amassando todo o carro. Fui buscar o nosso filho na casa da minha madrinha e, quando estava saindo, uns homens atiraram no meu carro — meu pai tentava segurar o choro. — Quando olhei para o banco de trás, nosso filho estava com os olhos arregalados. Eu perguntei se ele estava bem, mas não tive resposta, então o sacudi e ele foi caindo de lado. — meu pai começou um choro silencioso, mas logo já soluçava.
e eu não conseguimos os ver assim e não fazer nada, eu abracei meu pai e ele a minha mãe. — No dia do enterro, sua mãe passou muito mal, tive que a levar ao hospital e ela teve
, dois dias depois, prematuro de 7 meses. Foi muito difícil voltarmos a ter um relacionamento normal depois de tudo que aconteceu, ela vivia me culpando pela morte do nosso filho e eu nunca me defendi, porque sabia que a culpa era minha mesmo. Foi aí que me envolvi com as drogas e bebidas, se antes estava ruim, passou a ficar tudo pior e nos separamos.
— Espere, eu sou adotada? — perguntei de forma ingênua e
começou a rir, contagiando aos nossos pais.
— Filha, claro que não. — minha mãe disse, segurando minha mão, mas eu me afastei dela. — Quando seu irmão fez 3 anos, nós voltamos a morar juntos e ficamos assim até
viajar com
e você recém-nascida, esperei ele chegar e pedi o divórcio. — Aí voltei a morar em Keoursna e deixei vocês com ele. — ela abaixou a cabeça. — Eu continuava trabalhando na mesma boate, até vir pra cá. Estou sendo ameaçada de morte pelas dívidas altas que fiz ao longo dos anos, fiquei sozinha naquele lugar e vivia pedindo empréstimos ao dono da boate, o homem que mandou matar nosso filho.
sabia de tudo e por isso, não me suportava, mas ele sabe que a culpa também é dele e não pode me deixar sozinha nessa.
— Não pode mesmo! —
defendeu minha mãe. — Ela tá correndo risco por culpa sua também.
— Pai, está devendo dinheiro de droga pra eles? — ele assentiu. — Isso é muito grave.
—
, aquele velho é muito perigoso! — minha mãe afirmou. — Ele já chegou ameaçar
e
.
— O quê? — ele a encarou. — E quando foi isso?
— Antes de eu vir para sua casa.
— QUE ELE NÃO SE ATREVA! — meu pai socou a mesa.
— Calma, pai. — dei um copo d’água para ele beber. — Nós estamos seguros aqui, relaxa. Fishy já está preso e nada...
— Esse garoto pode ter vindo a mando desse velho. —
disse, franzindo o cenho.
— Eu prefiro pensar que esse garoto foi só uma coincidência ruim. — minha mãe saiu, levando as sobras à cozinha.
— Pai, e se
estiver certo? — perguntei, nervosa.
— Não pense nisso, filha. Eu vou à delegacia agora e vai ficar tudo bem. —
beijou a minha testa e saiu de perto.
— Nada de mal vai te acontecer! — meu irmão se aproximou e abraçou-me. — Eu vou te proteger, ok? Agora preciso voltar ao trabalho.
A tarde foi uma loucura para mim, eu não conseguia pensar em outra coisa a não ser o que
havia dito sobre Fishy e eu comecei a entrar em pânico. Ouvi alguém bater na porta.
— Quem é?
— Sou eu, filha. — suspirei aliviada e destranquei a porta. — Está assustada?
— Mais que isso, estou apavorada. Em pânico!
— Se acalme, meu amor — ela me abraçou e eu pensei em soltar-me, mas precisava de um abraço. — Filha, eu nunca quis causar problemas para vocês!
— Como não? — eu me soltei do abraço e a encarei. — Por que dançava naquela boate?
— Seu pai não me deixava trabalhar, então...
— Para de mentir! — ergui as sobrancelhas e ela bufou.
— Sempre gostei de dançar e lá foi uma oportunidade para isso — ela deu de ombros.
— Por que ainda tá mentindo? Eu já sei que sua mãe tinha uma companhia de dança.
—
te contou? — assenti. — Na verdade, a companhia de dança era da minha mãe e do meu pai. Eles tinham uns amigos bem próximos, que sempre frequentavam a nossa casa. Mas as despesas começaram a ser mais altas que o lucro e meus pais venderam a companhia para eles, junto com nossa casa, pedi para continuar frequentando as aulas de graça, porém aqueles traíras não permitiram e ainda nos expulsou.
— O que vocês fizeram?
— Quando isso aconteceu eu era bem mocinha e queria viver da dança, então conheci uma menina que disse que me ajudaria, me prometeu um trabalho que eu teria que dançar. Eu contei para os meus pais, e nem me fizeram perguntas, apenas concordaram, então eu fui com ela e estou nessa vida até hoje.
— Por que continuou nessa vida depois de conhecer meu pai? E depois dos filhos?
— Eu tenho um contrato e até certa idade, eu continuo lá. A não ser que eu não agrade mais àqueles homens. — quando eu ia fazer mais uma pergunta, ela continuou: — Antes que me pergunte, sim, eu tentei fazer com que meu contrato fosse quebrado, mas nunca deu certo.
— O preço do seu contrato é muito alto?
— Sim, a vida do seu pai. — arregalei meus olhos.
— Por que não conta a ele?
— Ele nem me ouviria, nunca me perdoou por estar nessa vida até hoje e não vai ser agora. — eu suspirei e minha mãe me olhou. — Não se atreva a tentar contar, isso é assunto meu!
— Tudo bem. — ela assentiu. — Você ainda fala com seus pais? Sabe como eles estão?
— Como eles já eram de idade avançada, assim que percebi que só queria meu dinheiro, os mandei para um asilo. — ela disse, friamente. — Eles devem estar bem, tanto faz.
— Nossa! Você tem mágoa deles?
— Muitas — seus olhos começaram a marejar. — Eles sempre souberam do que se tratava aquele trabalho e mesmo assim, não falaram nada.
— Deveria perdoá-los.
—
, você é a pessoa mais rancorosa que eu conheço e quer vir me...
— Eu fiquei muito magoada com o meu pai e nunca vou esquecer o mal que eles nos fez, mas consegui perdoá-lo. — ela forçou uma risada. — Não temos um relacionamento de mãe e filha, mas consigo compreender você, um pouco. Acho até que consegui te perdoar também.
— Podemos ser amigas! — ela disse, empolgada.
— Não, eu não quero a sua amizade. — ela me encarou. — Se você tem um contrato que custa a vida do meu pai, por que fugiu? — ela parou de sorrir na hora e me encarou.
— Não fique pensando besteiras.
— Algo me diz que você quer a morte do meu pai, é isso mesmo?
— Já disse a você que...
— Quanto vai ganhar pra fazer isso? — ela segurou meu braço, mas eu me soltei e corri pra porta. — Vou contar para o meu pai. — assim que me virei, senti algo bater forte em minhas costas e caí de joelhos.
— Não ouse em estragar meus planos, garota! — minha coluna latejava de tanta dor e ela me empurrou, fazendo-me deitar de frente para o chão. — Se
morrer, vou recuperar a minha vida. Não entende que eu preciso disso? — ela saiu do meu quarto, levando a chave e me trancou.
Tentei gritar, mas parecia que qualquer força que eu tentava fazer doía ainda mais minha coluna. Mesmo assim, me rastejei até chegar ao pé da cama e estendi o braço, pegando o meu celular e liguei para
.
— Amiga, preciso da sua ajuda! Por favor, me ajude!
— O que aconteceu,
?
— Preciso que você venha até minha casa, mas não bata na porta, suba no muro de frente para o meu quarto e entre pela janela.
— Mas por quê?
— Eu te explico tudo quando você chegar aqui, mas não fale nada com sua mãe agora. — ela já ia dizer algo, porém, fui mais rápida. — Deixe um bilhete num lugar que tia Audrey possa ver, escreva apenas: "Mãe, estou na casa da
. Se eu demorar, ligue para a polícia!".
— Amiga, o que está acontecendo?
—
, você precisa confiar em mim! — suspirei. — Por favor, venha o mais rápido que puder.
Finalizei a chamada e coloquei o celular no meu bolso, tentei levantar aos poucos, mas não consegui. Minha coluna continuava latejando muito e isso me preocupava.
—
? — ouvi a voz de
.
— Pai! — percebi que ele tentou abrir a porta, mas não conseguiu. Quando menos esperei, a porta se abriu.
— O que aconteceu com você? — ele me levantou, bruscamente, mordi meu lábio para não gritar de dor. — O que você tem? — deitou-me na cama.
— Não tô conseguindo me mover bem, minhas costas doem muito. — respirei fundo e ele se levantou.
— Por que isso está aqui no chão?
— Minha mãe usou. — olhei para a porta e nem sinal dela. — Onde ela está?
— Foi ao mercado. —
se aproximou de mim. — Pra que sua mãe usou este pedaço de madeira? — ouvimos um barulho na janela e
pulou. — E o que sua amiga está fazendo aqui agora?
—
, ainda bem que você chegou.
—
—
me chamou, impaciente. — Conte tudo.
[Capítulo Dezesseis]
— Não desvie de assunto.
— Só confie em mim, ok? — eu disse, tentando me remexer na cama.
— Você que precisa confiar em mim, por que não quer me contar? — franziu o cenho, descansando as mãos na cintura.
— Pai, por favor, deixe-me a sós com — pedi, mas ele negou com a cabeça. — Caramba!
— Isso é jeito de falar comigo, mocinha? — rolei os olhos e suspirei. — Já pode começar.
— E se eu não quiser? — ele somente ergueu uma das sobrancelhas, e já ia começar a falar quando foi interrompido pelo toque do seu celular.
— É o doutor Phill, preciso atender, mas ainda não terminamos. — apontou para mim e foi atender a ligação no outro cômodo.
— Temos que sair daqui enquanto minha mãe não está. — eu disse.
— Mas...
— Eu explico tudo depois, precisamos ser rápidas!
Fui me virando devagar até colocar os pés no chão e me levantei com a ajuda da
. Saímos pela janela. Depois do esforço de pular o muro, andar rápido estava sendo um sacrifício, porém conseguimos chegar à casa de tio Michael.
—
, que bilhete é este? — mal entramos e tia Audrey já nos recepcionava, erguendo a sua mão, mostrando o papel. — Que história é essa de ligar para a polícia?
— Mãe, eu... — interrompi
quando senti uma pontada mais forte na coluna.
— Nossa! A dor está ficando mais intensa. — tentei respirar fundo.
— Temos que te levar ao hospital.
— O que aconteceu,
? — tia Audrey se aproximou. — Não me diga que seu pai...
— Não. Desta vez fui golpeada nas costas pela minha mãe.
— Por que ela fez isso?
— Eu também quero saber. —
sentou-se à minha frente. —
, o que tá acontecendo?
— Eu descobri o motivo da separação dos meus pais — tia Audrey arregalou os olhos. — Minha mãe é uma stripper e meu pai não a suporta por esse motivo. Eles perderam um filho por conta disso, então
começou a beber e se drogar, acumulando dívidas altas na boate. —
arregalava os olhos. — Minha mãe trabalha lá até hoje e veio fugida, pra pedir ajuda ao meu pai, mas isso foi o que ela disse a ele e meu irmão. O que ela quer mesmo é que meu pai morra, o preço de sua liberdade é a morte dele.
— Então a história é muito mais complicada do que imaginávamos! — tia Audrey pôs a mão na boca e andou de um lado para o outro. — Tenho que contar tudo ao Michael.
— Mãe, isso é assunto da .
— Não mesmo, somos a família dela e precisamos ajudar. Não entende que
pode morrer? — eu e
nos entreolhamos, estranhando o comportamento de tia Audrey. —
e
também correm risco de vida.
— Meu pai não pode saber de nada agora, ele ficaria possesso e tentaria fazer algo contra minha mãe, já que o velho dono da boate ameaçou a mim e meu irmão.
— Eu não disse — ela coçou a cabeça. — Vocês também estão em perigo.
— Tia, eu temo que minha mãe tente fazer alguma maldade com as próprias mãos.
— Ela não teria coragem.
— Eu acho que ela teria, sim. —
opinou. — A maluca golpeou a própria filha, imagine o que pode fazer com o ex-marido.
— Mas isso é muito grave! — tia Audrey disse, já se descontrolando.
— Entende por que não posso contar ao meu pai?
— Ele agiria diferente com sua mãe e ela perceberia. — assenti. — Mas eu vou contar isso ao Michael, assim que ele chegar do trabalho.
— Gostaria de contar a
também, mas não sei se devo. Ele vive defendendo minha mãe, e pode acabar nos prejudicando, mesmo sem intenção.
—
, o seu irmão precisa saber a mãe podre que tem.
—
, isso é jeito de falar? — olhamos assustadas para tia Audrey, que parecia bem nervosa.
— É a verdade, — ela respondeu.
— Não quero que fale da mãe da
desta forma. —
rolou os olhos. — Eu te dei educação, menina, não se esqueça de usá-la. E trate de desfazer essa cara de...
— Tia, tá tudo bem.
— Não está, não — ela me olhou. — Não importa o que aquela mulher faça, ela não vai deixar de ser sua mãe. — olhou para
. — E eu exijo que você respeite isso.
— Já terminou? —
a provocou. Tia Audrey ficou vermelha de raiva. — Não sei por que está assim, tão nervosa.
— Ah, ela não sabe por que eu to nervosa — a mulher a nossa frente riu, sem humor. — Então deixa eu te contar, A SUPER GIRL E O IRMÃO DELA ESTÃO CORRENDO RISCO DE VIDA! — ela gritou, enquanto sacudia
, que mantinha seus olhos arregalados. — Entendeu a gravidade da situação, agora?
— Tia — ela me olhou — Por que tá agindo assim? — perguntei receosa. Ela olhou arrependida para
e a abraçou.
Eu não disse, mas estava assustada com sua reação, ela teve um surto daqueles. Sinistro!
— É a segunda vez que passamos por algo do tipo. — tia Audrey se sentou ao lado da minha amiga, que se esforçava para não chorar, ou rir, não dá para saber quais serão as reações da
. Deve ter herdado isso da mãe. — Primeiro aparece aquele moleque para tentar estragar sua vida e, consequentemente, a nossa. Agora surge a sua mãe querendo desgraçar a todos nós.
— Mas, não precisa se preocupar tanto, tia. — eu disse sincera.
— E você acha que eu consigo? — ela suspirou. —
, eu conheço você e seu irmão há anos. Amo vocês dois como se fossem minhas crias, jamais deixarei de me preocupar. A mesma felicidade que eu desejo para
e
eu desejo para você e
.
— Obrigada, tia. Você é a mãe que eu não tive.
— É por isso que me preocupo, sou sua mãe. — ela sorriu pra mim e beijou minha testa. — Acho que te devo desculpas, não é filha? — disse a
.
— Não, eu entendi que você está bastante nervosa. — ela mexeu em seu cabelo. — Não vou mais te provocar, pelo menos, por enquanto.
— Meus amores. — tia Audrey nos abraçou e foi tão forte que senti minha coluna pulsar, novamente. Resmunguei de dor.
— Mãe, você tá nos esmagando e a
tá machucada.
— Vou te levar ao hospital, espere só eu pegar minha bolsa. — tia Audrey subiu.
— Detesto hospital! — resmunguei.
— Eu também. Ainda mais porque me lembro de tudo o que aconteceu. —
suspirou. — Mas vou com vocês.
— Obrigada. — ela sorriu. — E se meu pai vir atrás de mim?
— Qualquer coisa eu te protejo. — tia Audrey disse, pegando as chaves. — Venha, eu te ajudo.
Depois de mais ou menos 1h e meia, eu estava de volta à casa da
. Precisei tomar um medicamento pela veia para aliviar a dor, porém ainda sentia um pouco de dificuldade no caminhar.
— Está melhor? — tia Audrey perguntou ainda preocupada.
— Sim, tia — ela deu um suspiro de alívio. — Obrigada.
— Mãe, o que vamos fazer? —
perguntou. — Porque a
não pode voltar para casa.
— Olha, não vamos pensar nisso agora, ok? — tia Audrey estava indo para o seu quarto. — Mais tarde seu irmão e Michael chegam e nós resolvemos isso.
Fiquei pensando em
, havia algumas semanas que eu não o via e estava sendo torturante, mas eu não fazia ideia de qual seria a sua reação ao ver-me, novamente. Meu pai acha que nós estamos namorando, mas a verdade é que
ainda nem fez o pedido e, sinceramente, não acho que ele fará tão cedo.
—
? Não está me ouvindo? —
chamou minha atenção me dando um tapinha na testa.
— Pra que mais violência na minha vida? — ela riu alto, me contagiando. Logo senti uma leve pontada na coluna. — Ai!
— Você tá igual a minha avó. — rolei os olhos. — Vamos para o meu quarto, você deita na minha cama e fica mais a vontade.
— Obrigada, mas acho que neste momento, eu preciso mesmo é de um banho.
— Vamos subir então. —
me ajudou a ficar de pé, mas eu fui caminhando sozinha mesmo.
Estava sentindo o efeito da medicação e já conseguia andar sem que minha coluna latejasse ou desse alguma pontada.
— Nossa!
— Que foi? —
me olhou.
— Essa nova cor das paredes deu um realce legal aqui.
— Minha mãe que teve a ideia de mudar um pouco a cor e a decoração, no geral. — ela deu de ombros. — Quer uma toalha? — assenti e ela tirou uma de dentro de seu armário.
— Valeu. — entrei no banheiro.
— , minha mãe está me chamando, já volto.
— Okay.
Demorei no chuveiro porque queria relaxar um pouco. Ouvi um barulho na porta, sabia que era a minha amiga.
—
, o shampoo acabou. Tem outro aí? — ela não respondeu, mas colocou o vidro na prateleira. — Obrigada, super girl.
Saí do banheiro e vi
, prestes a entrar em seu quarto. Ele me olhou.
—
, o que está fazendo aqui? — ele adentrou o quarto de
. Deitei-me na cama, com cuidado. — O que houve? Está machucada?
— Sim, mas é uma longa...
— Não voltou por minha causa, não é mesmo? — sua voz estava num tom elevado.
— Sendo tão babaca, ultimamente, acha mesmo que estou aqui por você? — ele respirou fundo. — Pare de me punir desta forma, tá!? Eu sei que errei, mas não fui a única a cometer erros.
— Tem razão.
— Não quero discutir com você toda vez que nos encontrarmos.
— Também não. — ele se aproximou. — Eu gosto de você, de verdade.
— Sinceramente, eu não tenho mais certeza disso. — ele franziu a testa. — Mas, tenho certeza do que sinto por você, e é tão forte que me faz querer te ter por perto, sempre. O que é ridículo, porque sei que pra você não faz diferença. — bufei com raiva de mim mesma.
— Não diga o que não sabe! — ele disse firme. — Eu só me afastei de você, com sua própria aprovação, para não terminarmos algo que mal havia começado. Se ficássemos juntos, num momento tão difícil para nossas famílias, não teríamos futuro. — minhas lágrimas já escorriam, involuntariamente. — Você precisa entender isso!
— Eu não quero falar sobre nós dois, não agora.
— Já estamos falando.
— Mas eu não quero continuar! — eu elevei meu tom de voz e o encarei. — Eu não estou em condições, você não percebe?
— Percebo. Você nunca está em condições.
—
, to passando por problemas, novamente, e desta vez, eu não faço ideia de como resolver. É mais grave do que eu pensava. — respirei fundo.
— Sua mãe? — assenti. — Desculpe, eu não sabia. Eu disse que te ajudaria a descobrir os segredos dos seus pais, porém não cumpri com minha palavra.
— E foi melhor assim! — afirmei, secando minhas lágrimas. — Você teria se envolvido num problemão por minha causa.
— Acho que já estou envolvido em problemas relacionados a você, há tempos. — ele riu fraco. — Mas eu não ligo, farei o que for necessário para te proteger.
— Não preci...
— Nem termine a frase. — ele me interrompeu, fixando os olhos nos meus. — Você pode até não acreditar, mas eu me preocupo com você.
Ele acariciou o meu rosto, senti meu coração acelerando, estávamos prestes a nos beijar.
—
— olhamos para a porta e
tinha uma expressão nada amigável. — É sério isso?
— O que você tá fazendo aqui? —
se aproximou dele, nervoso.
— Vamos conversar civilizadamente, por favor.
— Não tem conversa, quero seu irmão fora da minha casa.
— Eu não quero brigar,
. —
ergueu os braços. — Só vim ver minha irmã, que por sinal está adorando ficar aqui.
— Seu imbecil! —
sufocou meu irmão, contra a parede. Tentei puxá-lo.
— Pare com isso!
—
, esse cara é um...
— Babaca? Pode ser, mas é o meu irmão, então solte ele.
— Me desculpe, mas o que ele fez com a minha irmã não tem perdão.
— Sério,
? Não era você que dizia pra eu perdoar
por todo mal que ele causava a mim e meu irmão? — ele bufou.
— Quantas vezes eu vou ter que dizer que não forcei
a nada?
— Cala essa boca! —
socou
. — Eu tento me controlar, mas ele me provoca. Droga!
— Vocês poderiam ter mais consideração por mim, já que não posso ficar aqui tentando separá-los dessa briguinha ridícula. — a contragosto
o soltou. — Estou machucada. Quero dizer, quase tive uma lesão grave na coluna.
— Quem foi que te machucou? Não me diga que... —
se irou.
— Não, meu pai nem me encostou, mas ele está envolvido.
—
, explicação. Eu quero explicação de tudo. — meu irmão exigiu.
— Deixa ela se sentar. —
me levou até a cama da
. — Pronto.
— Já pode nos dar licença, cara. Isso é assunto de família. — meu irmão começou a provocar.
— Esqueceu que sou parte da sua família há anos,
? —
rebateu. — Além disso, estou em minha casa.
— Vou ter que esperar as criancinhas briguentas terminar a discussão? Eu posso deixá-los aqui pra se matarem, sozinhos. — eles se calaram. — Melhor assim.
Contei tudo o que aconteceu para eles e
também se juntou a nós na conversa, estávamos bolando algum plano para proteger meu pai.
— E se eu pedir meu pai pra falar com o diretor da QUEMEVES pra...
— Mandar
a uma viagem de trabalho? — continuei e
assentiu.
— Acho que seria muito arriscado. Minha mãe vai logo desconfiar. — disse
.
— Eu concordo. Sua mãe é mais esperta do que imaginamos. — dessa vez, foi
. — Acho que seu irmão puxou a esperteza dela.
— Qual é, cara? Vai ficar me provocando o tempo todo?
— Eu só não quebro essa sua cara por respeito a sua irmã.
— Não, isso não é verdade. — me olhou. — Você quer bater nele toda vez que o vê. Como conseguem trabalhar juntos?
— Isso que eu ia perguntar. —
confessou.
— Ele fez o que não devia com a minha irmã, quer que eu me sinta como? —
me encarou, de braços abertos. Estava bastante enraivecido.
— Pare de ficar dizendo isso. Já aconteceu, não há mais o que fazer. — eu disse e ele bufou, se virando para outro lado. — E deixe de ser cretino!
— Vai ficar me ofendendo agora? — se indignou.
—
, você precisa entender que eu também quis. —
manifestou-se.
— Mas ele não gostava de você, só se aproveitou do momento, dos seus sentimentos. —
parecia envergonhada, e a conhecendo bem, sabia que o irmão estava a constrangendo.
— Você não percebe que este é um assunto delicado para sua irmã? — ele me encarou, novamente. — É a intimidade dela que você fica expondo toda vez que vê o meu irmão. Você nem se importa se têm pessoas ao redor ouvindo tudo.
— Imagine então se eu fizesse o mesmo com você,
. — riu sem humor.
— Ótimo, se ponha no lugar do meu irmão, da mesma forma que eu me coloco no lugar da sua irmã e tente ver as coisas deste lado. — ele murchou — Se você fizesse o mesmo comigo, seria tão insensível quanto está sendo agora. —
ficou sério, repentinamente. Olhou para
.
— Eu não quero te magoar ainda mais — disse, a abraçando. — É difícil perceber que você deixou de ser uma criancinha. Eu só quis te proteger.
— Sei disso. — ela concordou, se soltando do abraço. —
, ainda não houve uma conversa entre nós dois sobre o acontecido, mas eu tenho consciência do que fizemos e assumo a responsabilidade também. Sei que meus pais e
não foram justos com você, mas nunca concordei com isso.
— Ao contrário do que seu irmão pensa, eu não me aproveitei do momento e muito menos dos seus sentimentos. — ele deu uma rápida olhada para
, que virou o rosto. — Eu gosto de você,
.
— O quê? — dissemos em uma só voz.
— Só não admitia a mim mesmo, até a perda do bebê.
— Não vamos falar...
— Vamos falar disso, sim. — ele insistiu. — Eu fiquei tão mal quanto você. Aliás, não há um dia em que eu me esqueça dessa dor. — minha amiga chorava silenciosamente,
secou suas lágrimas, suavemente.
Olhei para
e ele mordia o lábio, se segurando para não gritar, enquanto meu coração parecia estar despedaçando.
—
—
o chamou. — Desculpa, cara.
— Tudo bem, eu faria o mesmo se fosse com a minha irmã. — eles se cumprimentaram. — Mas só por isso não revidei, até porque seria covardia.
— Tá me chamando de fraco?
— É você quem tá dizendo. — meu irmão ergueu os braços, rindo fraco.
— Não era pra ser mesmo, eu prefiro pensar assim. —
disse, tentando conter o choro.
— Fico muito feliz por vocês terem feito as pazes! — eu disse empolgada e
se aproximou de mim, mas não o dei confiança.
— Ei —
reclamou. — Fique longe da minha irmã!
— Deixe de ser tão protetor,
—
nos defendeu. — Eles ficarão juntos, de qualquer forma.
— Não tenho tanta certeza disso. — sussurrei para mim mesma.
— Eu ouvi, hein —
disse, sem me olhar.
—
, eu queria te dizer que — meu irmão respirou fundo, hesitando em dizer o que ela gostaria de ouvir há tempos. — Acredito que você será muito mais feliz.
— É só isso que tem a dizer? — ela perguntou esperançosa.
— Sim, é só isso. —
se afastou covardemente e minha amiga pareceu decepcionada. — Você viverá bem melhor do que vive agora.
— Tenho certeza que sim. — ele a olhou. — Drew e eu conversamos e...
— Drew?
— Meu namorado. —
disse, tentando atingí meu irmão. Deu certo.
— Ah claro, o seu namorado.
abaixou a cabeça, erguendo as sobrancelhas. Era visível a tristeza do depois de ouvir
, e eu me senti mal por ele.
— Você também será muito feliz,
— ele assentiu — Independente de quem estiver ao seu lado. — fui até
e a abracei forte.
— Se todos nós estivermos felizes nesse futuro que você imaginou, então eu mal posso esperar por ele, super girl!
[Capítulo Dezessete]
— Como está, ?
— Bem, na medida do possível.
— Audrey me contou tudo. — olhei para ela, que assentiu. — Acredito que seu irmão também já saiba.
— Sim. — confirmou.
— Na verdade, todos nós já sabemos. — disse.
— Vocês estavam chorando? — tia Audrey perguntou preocupada.
— Não, só estávamos resolvendo algumas questões entre nós, nada demais, mãe. — disse, rolando os olhos.
— Nós também precisamos resolver algumas questões — tio Michael se aproximou de e todos sentiram a tensão no ar.
— Querido... — tia Audrey já ia interceder por meu irmão.
— Fique tranquila, Audrey. Eu só quero me desculpar com — eu e nos entreolhamos, confusas. — O que aconteceu foi doloroso para todos nós e eu não pensei em você, apenas te condenei. Não quero que fique com esse peso nas suas costas, garoto, porém tenha mais juízo daqui pra frente. — ele abraçou meu irmão. — Isso vale pra vocês também. — ele apontou pra nós.
— Quanto drama! — deixou escapar e tio Michael a olhou feio. — Só to brincando.
— Também preciso me desculpar com e — tia Audrey se aproximou do meu irmão. — Você é como um filho pra mim, eu jamais faria algo para te magoar, criança! Assim como Michael, eu também te condenei e nem se quer pensei no quanto você estava sofrendo. — ela me puxou pelo braço. — , você não teve culpa de nada. Nada mesmo. Você foi a maior vítima de tudo que aconteceu e, eu até me envergonho pela minha atitude contra você e seu irmão. — engoli o choro — Minhas crianças, eu vou proteger vocês. — ela nos abraçou. — Vocês não estão sozinhos nessa!
— Mãe, eu to tão feliz que você, finalmente, entendeu que eles não tiveram culpa.
— Eu também, filha.
— Assim, eu não quero cortar o clima dramático, mas precisamos bolar um plano pra tirar a mãe da e de circulação.
— Como assim? — meu irmão franziu a testa. — Qual é, ? É a minha mãe, cara.
— Se acalma, — pediu. — Não vamos matar sua mãe!
— Que ideia é essa? — eu perguntei, rindo e todos me acompanharam.
— É que falou de uma forma estranha, achei que ele faria como o Red John.
— Lá vem esse moleque falando dessa série, de novo. — tio Michael resmungou.
— Tenho certeza que se vocês tirassem um tempo pra assistir apenas um episódio, gostarão tanto quanto eu.
— Acho meio difícil alguém gostar tanto quanto você, uma vez que seu nível de vício já passou do que é conhecido como "limite" — rolou os olhos, fazendo rir. — Mas, acredito que possam curtir mesmo.
— Vocês não irão nos convencer, crianças. — tia Audrey deu uma risadinha. — Falando sério agora, o que vamos fazer para proteger as crianças e , Michael?
— Então, nós pensamos que você poderia falar com seu chefe pra fazer meu pai "viajar a negócio".
— O doutor Phill jamais mandaria .
— Por que não?
— Seu pai é ótimo no que faz, todos precisam dele na QUEMEVES. — bufei. — , não acha esse plano muito arriscado, não?
— e também acham. — disse, bufando. — Mas, se não contarmos ao tio , vai ser mais fácil de convencer a mãe da .
— Porque com certeza ela vai investigar todos os fatos para saber se realmente está indo a trabalho ou para se proteger. — tia Audrey completou.
— Isso é verdade. — disse . — Não vai dar certo, melhor contarmos a verdade a ele.
— Melhor não fazer isso, não neste momento. — me olhou. — Vai por mim.
— Tem razão, filho — tio Michael se levantou. — Não quero que vocês se preocupem com isso. Tragam seus pertences e voltem a morar aqui.
— Michael, isso é pior! — tia Audrey, disse óbvia. — A mãe deles desconfiará logo.
— Acho melhor eu fingir que não contei nada a ninguém.
— Que ideia é essa? Ela vai ficar te ameaçando. — disse, irritado.
— Porém, vai achar que estou nas mãos dela.
— Mas, você estará nas mãos dela. — disse, negando com a cabeça. — Não vai dar certo!
— Ela só quer o meu pai.
— , não seja ingênua — olhei para . — Ela vai fazer o que for preciso para atingir seu pai, e não hesitará em machucar você ou pra conseguir o quer.
— É verdade. — tio Michael se pronunciou.
— Ela não é tão má assim. — mais uma vez a defendendo.
— Não, ela é doente mesmo. — ele me olhou, irritado. — Vocês precisam confiar em mim, vou fingir que só vim aqui pra estudar com a para a prova de amanhã.
— Vocês têm prova amanhã? — tia Audrey pôs as mãos na cintura. me olhou e assentimos receosas.
— Química. — eu disse, fazendo careta.
— Eu não quero saber como, mas é bom que as duas tirem uma ótima nota!
— Então tá valendo colar do Tyler? — perguntou animada e tia Audrey arqueou uma sobrancelha, eu apenas ri.
— Assim você estraga a nossa tática. — eu disse, e ela deu de ombros.
— Olhe, eu vou fingir que não ouvi isso. — tio Michael foi à cozinha.
— Voltando ao assunto anterior, você veio machucada — respirei fundo e assenti. — O que dirá a sua mãe quando ela perguntar se alguém desconfiou? — já estava me irritando com tanta preocupação.
— Digo que vocês acreditaram que eu caí ao tentar pular o muro pra vir estudar.
— Ainda acho arriscado. — ignorei .
— A única coisa que pode colocar tudo a perder é a desconfiança do meu pai.
— Ele percebeu?
— Foi ele quem abriu a porta, que estava trancada, me tirou do chão, e viu o pedaço de madeira, que a minha mãe usou pra me bater, caído. — levantei os ombros. — Não sei, mas acho que ele foi ligando uma coisa na outra.
— Você vai saber se livrar dessa também, certo? — mais afirmou do que perguntou.
— É claro que sim! — engoli o seco. — Minha mãe vai ser mais insuportável do que sempre foi agora.
— , apesar de tudo, ela é nossa mãe. Você não pode se esquecer disso.
— Até porque você tá sempre me lembrando. — o olhei séria. — Depois de tudo que aquela mulher fez você ainda insiste em defendê-la.
— Crianças, não comecem! — tio Michael ordenou. — Vocês precisam, mais que nunca, ser mais unidos agora.
— A chave para um bom vigarista, é sempre fazer o alvo achar que está no controle. — eu disse, olhando para o meu irmão.
— Patrick Jane. — ele sorriu largamente e eu assenti.
— Ah não. Eu não aguento mais ouvir vocês falando sobre essa série. — tio Michael foi para seu quarto.
— Eu faço das palavras de Michael as minhas. — tia Audrey o acompanhou.
logo se aproximou de mim, sussurrando em meu ouvido e eu ria junto a ele. Meu irmão nos olhava como se fosse nos fulminar.
— , deixe os dois em paz. — ouvi pedir. — Eles passaram por tantas coisas, mal tiveram tempo pra ficarem juntos.
— E nós? — segurou a mão da minha amiga. — Quando ficaremos juntos?
— Solte a minha irmã. — me deu um susto, com sua agressividade. Irritei-me com sua atitude. E pelo susto que tomei também.
— Sabe o que vai acontecer? — se afastou do meu irmão e apontou para , me juntei a ela. — Você vai perder a por dar mais atenção a minha vida, que não te pertence, do que a ela.
— , desse jeito só vai afastar cada vez mais a de você por não saber como lidar com ela. — eu disse a ele. — E outra, cansei dessa briguinha ridícula entre você e !
— Não precisam ficar tão bravas.
— Cale a boca, ! — minha amiga estava realmente irritada. — To a ponto de dar um soco na sua cara.
— Essa é a minha irmã! — sorriu orgulhoso.
— Imbecil! — o lancei um olhar mortal.
— O que está acontecendo com você hoje?
— Você só tá me irritando com essas babaquices.
— , eu não quero...
— Vamos para o meu quarto? — me chamou e na mesma hora concordei.
Corremos pela escada e ela bateu com a porta.
— Super girl, eu sei que não é o momento de falarmos sobre isso, você está passando por novos problemas familiares.
— Quanto aos problemas com os meus pais eu só quero esquecer, pelo menos, por enquanto. — deitei-me em sua cama, olhando para o teto. — Pode desabafar.
— Fiquei mexida com o que seu irmão disse. — ela se deitou do meu lado, olhando para a parede. — Acredita que ele está sendo sincero?
— Eu te confesso que nem desconfiava desse sentimento dele por você, mas ele me pareceu muito sincero.
— Agora as palavras dele vão ficar martelando no meu subconsciente.
—
ficou mal por você ter falado do Drew, ainda mais por vocês estarem muito emotivos naquele momento.
— Não queria magoá-lo.
— Eu sei. — respirei fundo. — Mas isso foi bom pra ele.
— Como assim?
— Meu irmão finalmente tomou coragem de admitir a ele mesmo que gosta de você. E com Drew no caminho dele, ou ele corre atrás do prejuízo ou te perde de vez. — olhei para
e ela ria abobalhada.
— Verdade. — ela suspirou.
— E quanto a Drew?
— Ele é maravilhoso, eu gosto tanto dele, mas...
— Gosta ainda mais de
?
— Tenho Drew como um amigo que beijo de vez em quando. — eu ri alto. — Não fique rindo, to me sentindo culpada por dizer isso.
— Eu te entendo, super girl.
— Mas eu gosto do seu irmão há tanto tempo, e o sentimento foi ficando cada vez mais forte. — ela me olhou. — Eu quero o
pra mim.
— Então se ele te pedir em namoro...
— Eu aceito.
— Na hora?
— De jeito nenhum! Ele vai ter que me provar que realmente gosta de mim e me merece, depois de tudo. — assenti. — Não acha que deveria cobrar o mesmo do meu irmão?
— Discutimos sobre isso hoje — sentei-me na cama, segurando a almofada escrita: "love really hurts", ela combina tanto com a situação. — Eu disse a ele que não tenho mais certeza do sentimento dele por mim.
— O que ele fez?
— Se irritou bastante. — ela arqueou as sobrancelhas. — O problema é que não estamos tendo tempo para nós dois.
— Eu concordo.
— Por que vocês não saem um pouco? Só os dois.
— É uma ótima ideia! —
apareceu na porta. — O que você acha?
— Agora?
— Por que não?
— Ainda estou brava com você.
— Isso vai passar assim que eu te beijar. — ele se aproximou.
— Sai daqui. — disse o empurrando e ele riu. — Tudo bem, mas preciso me arrumar e as roupas da sua irmã não me ajudam muito. —
me lançou um olhar mortal.
— Não diga bobagem, você está sempre linda. — sorri largamente ao ouvi-lo.
— Eu agradeço, mas prefiro passar em casa antes.
— Como quiser, minha jovem donzela. — nós rimos. — Só espere mais uns 10 minutos, ao contrário de você, eu preciso de muita arrumação pra ficar apresentável.
— Eu concordo. —
disse. — E chega desse clima meloso na minha frente. — ela reclamou, me fazendo rolar os olhos.
— Eu não demoro. — ele disse, entrando em seu quarto.
— Não pode deixar de ser chata? — perguntei.
— Por quê? É tão divertido irritar vocês. — ela riu. — Você fica tão boba perto dele, e o pior é que ele fica mais idiota do que já é quando te vê.
— Seria tão legal se você e meu irmão se acertassem.
— Sinceramente, eu também acho. — ela se virou, olhando para o teto. — Mas ele não demonstra sentimento algum, ele não se afeta.
— Eu acabei de me afetar com o que disse. —
apareceu na porta e
deu um salto, se sentando com postura. Ri ao presenciar a cena. — Será que podemos conversar?
— Vai me levar pra sair também?
— Na verdade, eu pensei nos banquinhos do seu jardim. — ela murchou e
ficou confuso. O olhei feio, e ele pareceu entender. — Mas, eu tenho uma ideia melhor. — antes que
perguntasse, ele respondeu: — É surpresa.
— Okay, me espere sentado, precisarei de tempo para me arrumar.
— Não diga bobagem, você está sempre linda. — bati com a mão na testa e
me olhou, estava perdido.
— Sério que você tá repetindo o que meu irmão disse a
? — ele ficou sem saber o que dizer. — Tudo bem, pelo menos você tentou. E agradeço pelo elogio, é a mais pura verdade.
— Ah, fico mais aliviado. — ele sorriu bobo.
— Mas na próxima seja mais original. — eu ri alto. — Pode sentar se quiser, vai demorar um pouco até eu me arrumar.
— Vou ficar te esperando no jardim.
— Eu vou com você. — disse a
.
— Como assim? Não vai me ajudar na escolha da roupa? —
se indignou.
— Você nunca usa as roupas que eu escolho pra você.
— Por isso preciso da sua ajuda, quando você escolhe tenho a certeza que as roupas não são tão boas, então já as elimino.
— Vou fingir que não ouvi isso. — não esperei por resposta. Saí logo do quarto.
Fui até
e ficamos esperando
e
nos banquinhos. Conversamos um pouco e eu dei algumas dicas pra ele não vacilar com minha amiga.
—
, vamos? —
estava simples, porém linda. Meu irmão me olhou.
— Tudo bem, eu espero
aqui sozinha, ele já deve estar descendo. — meu irmão voltou seu olhar para
, o belisquei.
— Sinto-me até constrangido diante de tanta beleza. — ela franziu o cenho. — Estou lisonjeado em ter a sua companhia, minha cara milady.
— Obrigada,
.
— Por obséquio — ela entrelaçou o braço no dele. — Estás preparada?
— Sim. —
me olhou com sua típica expressão de "what?" e eu dei de ombros.
Só fiquei pensando se esse comportamento do meu irmão era bom ou ruim.
—
, esperou muito aqui? —
apareceu a minha frente.
— Foi o tempo suficiente para eu conversar com meu irmão.
— Vai ser difícil pra ele aprender como tratar
de um jeito que ela se agrade.
— Acredite, será mais difícil do que imaginamos — ele fez careta — Mas vamos continuar tentando ajudá-lo. — assentiu e fixou os olhos em mim. — Por que tá me olhando assim?
— Porque eu quero te beijar. — ele já ia se aproximando, quando o interrompi.
— Pois não vai. — ele franziu o cenho. — Não agora.
— O que houve desta vez?
— Vamos para minha casa? — ele assentiu.
[Capítulo Dezoito]
— Por que não me conta o que tá acontecendo?
— Você sabe, ouviu minha conversa com sua irmã. — ele abaixou a cabeça e me olhou em seguida.
— Ainda acha que eu não gosto de você? — mordi meu lábio. — O que você quer que eu faça?
Ouvimos um barulho na porta e ela se abriu, era minha mãe.
— O que ele faz aqui,
?
— Nós vamos sair, eu só vim me trocar.
— Vão para onde?
— Ao parque, colocaram brinquedos novos. —
respondeu por mim.
— Você não tem prova amanhã? — minha mãe perguntou.
— Como sabe?
— Está no seu quadro de avisos. — ergui as sobrancelhas, me lembrando de ter escrito mesmo.
— Não iremos demorar, prometo que trago ela antes das 00:00h.
— O que? Esse horário já é tarde.
— Mãe! — a olhei, indignada.
— Vou ter que falar com o seu pai.
— Caramba! — reclamei, mas ela ignorou. — Vamos entrar,
.
— Sua mãe te controla mesmo — ele sussurrou em meu ouvido. — Pelo menos ela acha.
— Não fale nada, apenas entre.
— O que houve desta vez,
?
— Eu só quero ir ao parque com
.
— Ele quer trazê-la às 00:00h. — minha mãe disse.
— Aí não, garoto. — meu pai se irritou. — Qual é a sua intenção com minha filha? Você ainda nem a pediu em namoro.
— Pai, por favor! — fiquei envergonhada, mas no fundo, eu queria essa resposta tanto quanto meu pai.
— Filha, eu preciso saber!
—
, não responda.
— , eu e seu pai precisamos saber com quem você se relaciona. — minha mãe disse. Meu rosto estava quente, de tanta vergonha e raiva.
— Eu gosto da sua filha, ainda não a pedi em namoro porque mal tivemos tempo de ficar juntos. — ele me olhou de relance — Mas, se vocês permitirem, teremos tempo parar firma um compromisso sério.
—
, eu acho melhor...
— Gostei da sua resposta, garoto! Sendo filho do Michael, não podia pensar de outra forma. —
suspirou aliviado. — Só não demore muito com isso, minha filha não é bagunça. E não ouse em magoá-la!
— Mas quer trazer a menina às 00:00h, vão ficar fazendo o quê até esse horário se ainda são 18:50h?
— 21:30h quero que traga minha filha de volta. — minha mãe estava mesmo envenenando o meu pai.
— Não vamos aproveitar nada. — eu disse, indignada.
— E vocês querem aproveitar o quê? — minha mãe me olhou. — Já tive a sua idade, menina. Sei como as coisas funcionam.
— Você tem prova amanhã, chegue cedo para descansar e ter um bom desempenho. — disse
.
— Acho melhor você se aprontar logo, o tempo tá passando. — a mulher disse, somente para me provocar.
Subi rápido e escolhi uma roupa simples e casual, me vesti rápido, dei uma bagunçada no cabelo, usei apenas rímel, gloss e delineador, estava pronta.
— Gosta mesmo dele, não é? — minha mãe entrou no quarto.
— Sim, eu gosto.
— Bom saber disso. — arregalei meus olhos.
— Você...
— Fique tranquila, eu só quero o seu pai. — bufei. — Não contou ao namoradinho, contou?
— Claro que não, acabei de dizer que gosto dele. Não colocaria a vida de
em risco.
— Nem pelo seu pai? — respirei fundo.
— Nós podemos resolver essa situação, pra que morte?
— Porque vai ser mais rápido. — ela sorriu e se aproximou. — Acha mesmo que eu sujaria as minhas lindas mãos com o sangue do seu pai?
, eu só fugi pra alguém fazer o trabalho sujo pra mim.
— Então aquele velho virá atrás do meu pai?
— Se ele já não estiver por aqui. — engoli o seco. — Não tenha medo, eu jamais faria algo contra você e seu irmão. A dor de perder um filho é terrível.
— Não percebe que também está colocando nossa vida em risco?
— Eu vou proteger vocês! — ela me abraçou. — Me desculpa por hoje?
— Agora você está arrependida?
—
, você ia contar ao seu pai, queria estragar meus planos. — rolei os olhos. — Você só tem 16 anos, não deve se intrometer nestes assuntos de adultos.
— Não me trate como criança! — pedi irritada.
— Então não haja como uma. — ela ergueu as sobrancelhas. — Não vai me desculpar?
— Você me machucou mesmo, por pouco não fiquei paraplégica.
— Não exagere.
— Foi o médico quem disse.
— Audrey te levou ao hospital?
— Sim, tive que tomar medicamentos fortes pela veia pra aliviar a dor.
— Se sente melhor? — assenti.
— Sim, parece que estou anestesiada, só ando com um pouco de dificuldade, mas vai passar.
— Não era pra você estar em repouso? — ela arqueou uma sobrancelha.
— Sim, mas como já me sinto melhor...
— Deveria seguir o conselho do médico!
— Mãe, por favor — ela cruzou os braços. — Eu preciso desse tempo com
!
— Por que quer tanto isso? — ela estava muito interessada nos detalhes e claro, estranhei toda a conversa, mas precisava fazê-la acreditar que está no controle.
— Você mesma disse que já teve a minha idade, pode me entender, não é? — ela concordou. —
é a primeira pessoa com quem me relaciono depois do Fishy. — ela já ia dizer algo, mas não deixei. — Não quero falar sobre isso agora.
— Tudo bem, o importante é que você não contou nada a ninguém e está bem. — ela sorriu, passando as mãos pelo meu cabelo. — Não vai mesmo desculpar a mamãe?
— Desculpo, no entanto, ainda não quero ser sua amiga. — ela bufou. — Mas, eu confesso que é bom ter uma mãe por perto. Só gostaria que você fosse sincera quanto aos seus sentimentos por mim e meu irmão. — uma lágrima escorreu em meu rosto. Foi um tanto de encenação, com um pingo de verdade.
— Não fique assim, filha, isso me parte o coração. — ela pareceu preocupada — Eu amo você e seu irmão mais que tudo nesse mundo!
— É difícil acreditar em você. — ela suspirou.
— Eu posso compreender.
— Às vezes, eu tento aproveitar sua companhia, porque por mais que eu não queira admitir, você sabe como se achegar a mim. — eu disse sincera. — Mas aí eu lembro de tudo que você fez até hoje e isso me dói.
— Eu quero mudar.
— Quer nada. — ela me encarou. — Se quisesse, não planejaria a morte do meu pai.
—
, esqueça isso. Não foi você quem disse que podemos resolver essa situação? — assenti. — Então, meu amor, vamos tentar.
— Tudo bem, eu preciso ir agora.
— Aproveite sua noite, mas não do jeito que você tá imaginando.
— Eu não imaginei nada. — disse, franzindo a testa e ela riu. — Qual é a graça?
— Você é tão ingênua, filha.
— Quer dizer idiota? — ela rolou os olhos.
— Não, eu quis dizer com alma pura. — eu ergui as sobrancelhas e ela me olhou de um jeito materno. — Você está tão linda!
— Isso foi estranho. — ela bufou, rolando os olhos.
— Sai da minha frente. — tentei prender a risada. Sua expressão de “desisto de tentar agradar essa menina” foi a melhor.
Peguei meu celular e saí do quarto, corri pela escada, assustando meu pai.
— Que isso, trem? — eu ri. — Já vai?
— Tô até atrasada. — beijei a bochecha dele — Fui.
— Tchau, tio
. — meu pai apenas acenou para
.
Já no caminho para ir ao parque,
entrelaçou sua mão na minha. O olhei sorridente e ele me deu um selinho.
— Acho que já entendi seu ponto de vista,
. — ele não me olhava. — Assim como o seu pai você acha que não quero algo sério contigo.
— Ele achava que você era meu namorado.
— E no fundo você queria que fosse assim? — me olhou de relance.
— Confesso que sim. — ele já ia dizer algo, mas não dei tempo — Porém, eu não quero que você tome essa atitude só porque meu pai te deu uma prensa.
— Você ainda quer mais de mim? — assenti, sem o olhar. —
, se há algo que te incomoda, você pode conversar comigo abertamente. Não precisa ter vergonha.
Com mais alguns minutos, chegamos ao parque.
comprou algodão doce para nós e seguimos para a fila de um dos brinquedos.
— Eu não quero apressar as coisas, muito menos te pressionar a isso. — ele concordou. — Não quero ser chata com você.
— Chata? Eu adoro o seu jeitinho. — sorri involuntariamente, mas sem o olhar. — Acredite, eu gostaria de te dar mais atenção, e vou tentar mais de agora em diante.
— Fico muito feliz em ouvir isso.
Ele se aproximou ainda mais para me beijar, mas fomos interrompidos pelas reclamações de pessoas que estavam na fila. Quando percebemos, já era a nossa vez.
— Caramba
, isso me dá medo!
— Eu vou estar contigo. — eu não disse a ele, mas suas palavras não me acalmaram em nada.
Vi que algumas pessoas que saíram do brinquedo reclamavam, enquanto outras nem conseguiam falar de tamanho enjoo, já os mais aventureiros queriam repetir a dose. Olhei para o brinquedo e me senti como no filme Premonição, sim, eu estava me tremendo toda.
—
, você está bem? — ele perguntou preocupado.
— Só estou receosa.
— Vai ficar tudo bem. — disse animado e eu forcei um sorriso.
Entramos no brinquedo e eu mal conseguia respirar, ele segurou minha mão e eu a apertei como se estivesse prestes a parir. O brinquedo começou a girar, a velocidade foi ficando mais alta a cada segundo, eu já não tinha controle sobre o meu nervosismo. Tentei gritar por
, mas a voz não saía, era estranho. Tudo já estava girando junto com o brinquedo, porém eu suava cada vez mais, não conseguia parar de tremer, minha visão foi ficando turva até que tudo escureceu.
Acordei assustada e sentindo um mal-estar, quando dei por mim, já estava no meu quarto. Sentei-me, ainda meio tonta e vi
me olhando da poltrona.
—
, que bom que você acordou! — ele se aproximou, sentando-se frente a mim. — Fiquei preocupado.
— Como foi que eu cheguei aqui?
— Não é meio óbvio que eu te trouxe? — dei de ombros.
— O que eu tive?
— Você desmaiou no brinquedo e eu só percebi quando descemos. Uma ambulância que estava perto foi até o local e cuidaram de você. — ergui as sobrancelhas. — Uma enfermeira disse que foi uma crise forte de pânico. — respirei fundo. — Mas já passou, não é mesmo?
— Sim, só estou enjoada. — tentei me levantar.
— O que tá fazendo? — ele tentou impedir.
— Não é meio óbvio que eu estou me levantando? — quando me levantei, senti as pernas bambas. Meu pai adentrou o quarto na hora.
— Volte para a cama. — obedeci. Não tinha escolha mesmo.
— Filha, que susto você nos deu! — minha mãe disse, com uma caneca nas mãos.
— Por que estou tão fraca?
— Você precisou de calmantes. —
disse, entortando a boca. Arregalei meus olhos — Mas está tudo bem agora.
— Eu to com tanto sono. — passei as mãos em meu rosto.
— Fiz um chá para você. — minha mãe disse e
me lançou um olhar significativo.
— Eu odeio chá! — reclamei, na tentativa de não tomar aquilo. Só Deus pra saber o que tinha naquela caneca.
— Vai te fazer bem, filha.
— Não, tem um gosto horrível.
— Como sabe? Você ainda nem provou.
— Estou dizendo, eu não gosto de chá.
— Mas vai tomar! —
ordenou, bufei.
— Acho que você já pode ir, garoto. Está tarde e não é bom sair por aí neste horário. — disse minha mãe.
— Ele não tem culpa. — deixei claro, antes que começassem a condená-lo.
— Sabemos disso,
. — minha mãe se aproximou com o chá e me entregou — Mas, você precisa descansar, tem prova amanhã.
— Tudo bem, só queria me certificar de que ela acordaria bem. — ele selou nossos lábios e meu pai pigarreou, nos provocando.
se levantou e eu o mandei um beijo no ar. — Boa noite a todos.
— Vou te levar até a porta. —
me surpreendeu com sua atitude.
— Não vai beber?
— Que chá é esse? — perguntei desconfiada.
— De malva, vai aliviar suas dores na coluna, caso ainda esteja sentindo. Também vai te dar mais energia física e mental, para fazer uma boa prova amanhã. — olhei para o chá, receosa. — Pode beber sem medo, você vai se sentir melhor.
Confesso que estava com muito receio de tomar o chá, mas para não levantar desconfiança, bebi tudo num só gole.
— Prontinho. Agora, deite-se e descanse. — ela saiu do quarto, levando a caneca.
Aproveitei o tempo que fiquei só para me trocar, minhas roupas de dormir são mais confortáveis. Voltando pra cama, meu irmão invadiu o quarto.
—
—
correu até mim.
— Você ainda pode usar a educação — ele rolou os olhos. — Se tiver, é claro.
— Se for pra rir, me avise, prometo me esforçar pra não te deixar sem graça. — eu ri do mau-humor dele. — Encontrei com
no meio do caminho e ele me contou tudo. — ele olhou para a porta e depois pra mim. — O que ela te deu pra beber?
— Chá de malva.
— E você diz isso, tranquilamente? — dei de ombros. — Não pode deixar ela te controlar.
— Mas tenho que fazer com que ela pense assim. — ele pôs as mãos na cintura e me olhou. — Amanhã, precisamos nos encontrar longe daqui.
— Descobriu mais coisas? — perguntou num sussurro.
— Apenas uma, porém a mais ameaçadora.
— Assim você me deixa preocupado.
— Não fique, haja naturalmente. — ele assentiu. — Agora, eu tenho que fingir que já estou dormindo.
No mesmo momento, deitei-me novamente e
apagou a luz.
— Boa noite, irmãzinha.
— Boa noite, bipolar. — ouvi sua risada, enquanto fechava a porta.
Fiz tanto esforço para dormir e nada, acho que o chá já estava fazendo efeito, me despertou. Liguei o abajur e peguei meu livro, aproveitei o silêncio da madrugada para continuar minha leitura. Os Anjos Sentinelas — Eternamente, esse livro é tão maravilhoso, pena que e eu mal tenho tempo de ler, mas aproveito toda oportunidade para apreciá-lo.
Já havia lido mais ou menos cinco capítulos quando meu celular vibrou no criado-mudo, era
mandando mensagem: "Olhe para a sua direita". Assim fiz e levei o maior susto da minha vida.
— Ficou louco? — pus a mão no peito.
— Calma, respira. — disse, se sentando ao meu lado. — Tá muito assustada, ultimamente.
— Vou nem te dar uma resposta.
— Acabou de me responder.
— Tanto faz. — pigarreei. — O que deu em você para vir aqui essa hora?
— É assim que me recepciona? — rolei os olhos e selei nossos lábios. — Achei que sua mãe tinha colocado veneno no chá.
— Bom, como pode perceber, o veneno não foi forte o bastante para me derrubar. — ele riu e eu o acompanhei. — Meu irmão também chegou aqui desesperado achando que eu tinha sido envenenada.
— Quando vi sua mãe te entregando aquela caneca, eu pensei que desmaiaria como você hoje no parque. — dei um soco em seu braço, mas ele me segurou.
— Seu idiota. — ele riu, me olhando de forma sedutora. — Por que tá me olhando assim? — franzi a testa sem entender, até vê-lo desviando o olhar para o meu corpo, me cobri rapidamente. — Desculpe, é que eu nunca havia te visto assim.
— Eu também nunca vi você me olhando dessa forma.
— Só agora eu pude ver o quanto você cresceu.
— Não sou mais uma menininha,
. — ele assentiu. — Aliás, deixei de ser há um tempinho.
— Você ainda tem 16 anos.
— Faço 17 daqui a uma semana. — disse o testando e ele arregalou os olhos. — Esqueceu?
— Não, claro que não. — ele ficou nervoso — Acha que eu esqueceria a data do seu aniversário? — aproximou seu rosto do meu, já prestes a me beijar.
— Tenho certeza. — o empurrei brava — Meu aniversário é daqui a três dias, na mesma data de aniversário da sua irmã.
— Acho que agora eu vacilei feio, não é mesmo? — ele baixou a cabeça.
— Nos vemos amanhã. — me virei de costas para ele, bufando de raiva.
Antes de ir, ele me desejou uma boa noite, mas eu não o respondi, até porque ele fez questão de estraga-la. Depois de tanto pensar no quanto me irritou, o sono me alcançou.
[Capítulo Dezenove]
Merda! Levantei da cama num pulo e vesti o uniforme, rapidamente, corri para o banheiro e mal me olhei no espelho, só precisava escovar os dentes. Peguei minha mochila e meu celular, desci.
— Vai tomar seu café, já aprontei tudo. — minha mãe disse, vindo da cozinha.
— Não, vou comer qualquer coisa na escola.
—
, você precisa se alimentar.
— Mãe, eu já to atrasada. — ela bufou. — Não irá se repetir, se é o que te preocupa. — ela assentiu.
— Bom dia, família. — olhei para
. — Tchau, família.
— Me dá uma carona. — saímos de casa.
— Eu vou me atrasar para o trabalho.
—
, eu tenho prova hoje, por favor. — ele me olhou indeciso.
— Tá bom, sobe aí na garupa.
— Valeu, maninho.
No meio do caminho, me lembrei de que
saiu com minha amiga, estava curiosa.
— Como foi ontem com
?
— Uma droga! Não quero falar sobre.
— Tá bom. — olhei para o relógio no meu pulso e fiquei mais preocupada. — Não dá pra você ir mais rápido?
— Se você fosse menos pesada eu pedalaria mais rápido. — dei um tapa em sua nuca. — Você vai nos fazer cair.
— Só seja mais rápido e cala a boca.
Não demorou muito e eu cheguei à escola. O sinal já havia tocado e eu precisava correr.
— Mocinha — parei e me virei. — Vai tomar uma advertência se continuar correndo. — o inspetor disse firme.
— Também vou tomar um zero se não chegar a tempo na sala, dá licença. — dei as costas ao homem e continuei correndo. Não sei de onde tirei coragem para enfrentá-lo, mas eu precisava fazer a prova.
— Volte aqui, menina atrevida! — corri até a sala, não ia ficar me atrasando mais por conta dele.
Fiquei frente à porta e respirei fundo, arrumando o cabelo. Vi o inspetor se aproximando e adentrei logo a sala.
— Professor, bom dia! — sorri simpática e ele retribuiu. — Desculpe a demora, eu tive um pequeno atraso.
— Bom dia,
. — me sentei ao lado da
. — Seu atraso não foi tão pequeno assim.
— Ah, é que...
— Professor Nathaniel, com licença. — o inspetor estava na porta me olhando.
— Que merda você fez,
? —
me perguntou, num sussurro e eu apenas escondi meu rosto. Que vergonha!
— Aquela mocinha ali me deu as costas enquanto eu falava com ela e veio correndo pelos corredores. — ele apontou para mim e a turma toda me olhou. Novamente, que vergonha!
—
, por que fez isso? — professor Nathaniel me olhou confuso.
— Eu não podia perder a prova!
— Mas ela só vai começar depois do intervalo.
— Ah — eu fiquei sem fala e todos começaram a rir de mim, inclusive
. — Sua traíra!
— Eu vou deixar passar desta vez porque a mocinha estava confusa, mas que não se repita.
—
, você não vai dizer nada? — professor Nathaniel me despertou.
— Ah, claro. Ér, obrigada pela sua bondade. — eu disse ao inspetor e a turma riu ainda mais. — Gente, eu não to entendendo a graça.
— E nem eu. — professor Nathaniel se pronunciou, assim que o inspetor saiu da sala. — Chega de brincadeiras! Façam os exercícios agora e tirem suas dúvidas enquanto há tempo, a prova vai ser difícil.
No intervalo, fomos até a cantina. Compramos qualquer besteira para comer e fomos até a pracinha.
— Como foi ontem com meu irmão? — perguntei já me alimentando.
— Uma droga, ele parece ter medo do que vai falar. Fica medindo as palavras.
— Isso não é bom?
— Lógico que... É? — eu ri da cara que ela fez. — Sério, eu não sei se vai dar certo.
— Você precisa ter paciência, meu irmão é pior que
quando o assunto é "garota". Ele só não quer te magoar.
— Nem meu irmão. — pigarreei. — Ele me contou da mancada que deu ontem.
— Ele vive dando mancadas.
— Você tá pegando muito no pé dele.
— Eu não estou exigindo nada, só...
— Quer que ele te peça em namoro, tá desesperada pra isso. — a conversa estava desagradável.
— Eu não estou desesperada para namorar
, só não sinto que ele gosta de mim tanto quanto eu gosto dele.
— Ele só quer ter certeza de que vocês têm futuro juntos.
— Então ele ainda tem dúvidas sobre o que sente por mim?
— Não, ele tem dúvidas sobre como o sentimento de vocês vai sobreviver a tantos acontecimentos. — cocei a cabeça. — Você é toda complicada!
— Ah, qual é? Você é toda indecisa, namora o Drew, mas gosta do meu irmão.
— Pelo menos eu tenho alguém pra chamar de ‘namorado’.
— Está sendo ridícula!
— Não, a situação é ridícula.
— E você não está ajudando em nada. — deixei bem claro.
— Então estamos quites.
—
, cala a boca. — ela me olhou, de sobrancelhas arqueadas. — Tá falando muita besteira.
— Eu não sou a única.
— Ah, claro que não, você nunca pode errar sozinha, não é mesmo?
— O que você quer? — ela bufou. — Eu gosto do Drew, ele é um cara legal, mas eu não sinto por ele o mesmo que sinto pelo
, é complicado.
— Você precisa dizer isso ao Drew.
— Não, eu vou acabar o magoando.
— Tenho certeza que ele vai te entender.
— Drew é uma das melhores pessoas que eu já conheci, não quero ferí-lo. — seus olhos marearam. —
é um idiota, mas é dele que eu gosto.
— Ele tem se esforçado para tentar ser menos idiota. — ela riu fraco.
— Eu só preciso que ele seja ele, entende? — eu assenti. — Sem tentar copiar o meu irmão e sem seguir as suas recomendações.
— Só tentei ajudar.
— Eu sei, mas "milady" é demais pra mim! — nós rimos. — Desculpa por falar daquela forma contigo, sei que foi eu quem deu a ideia de fazer meu irmão provar que gosta mesmo de você.
— Tudo bem, eu fiz isso por mim. Precisava ter a certeza.
—
, ele não para de falar em você, e quando não fala tá pensando. — eu sorri. — O que faz ele se irritar é a sua desconfiança, não duvide dos sentimentos dele.
— Acho que também vacilei com ele.
— Todos nós vacilamos, relaxa.
—
,
— olhamos na mesma direção e Halston estava acenando para nós com suas amigas. — Acho que as idiotas vão se atrasar para a prova.
— Como assim, ainda estamos no horário — elas estavam fechando o portão que dá acesso à pracinha e à escola. — Droga!
Corremos até elas, porém não deu tempo.
— Merda! —
estava irritadíssima. — Essa garota me estressa!
— Ela estressa todos nesta escola.
— Menos o professor Nathaniel. — ela bufou.
— Já sei.
— Fala logo.
— Vamos pular.
— Ficou louca? Olha a altura disso. —
ficou socando o portão. — Mas que merda! Eu me matei de estudar pela madrugada pra não ficar em dependência nas férias e essa jararaca faz isso. A vida não é justa!
— Mas Deus é! — ela me olhou, rolando os olhos. — Que foi? É verdade.
— Tá bom.
— É sério — ela tampou minha boca, mas mordi sua mão. — Vamos pular logo.
— Canibal. — dei de ombros. — Eu não quero fazer isso.
—
, eu vou primeiro.
— Como você vai escalar esse muro, inteligência?
— Vou ficar do outro lado da rua, aí eu corro e quando me aproximar do muro, dou impulso e pulo. —
franziu a testa.
— Você é ginasta?
— Não, mas...
— Então não inventa de se quebrar. Quer ficar paraplégica pra valer? — neguei pensando na possibilidade. — Você me dá uma ajudinha e eu vou aparecer na câmera que fica ali perto do portão. — ela apontou e eu assenti. — Alguém vai me ver e saberão que o portão foi fechado.
— Tá bom, vamos tentar.
Juntei as mãos e ela pisou, quando deu impulso não aguentei o peso e a deixei cair.
— Droga,
! — eu fiquei rindo alto — Saia de perto de mim.
— Vamos tentar, novamente. — a ajudei a levantar.
— De jeito nenhum! — continuei rindo. — Vou ligar pra diretora Dinah, ela vai nos ajudar.
— Por que não pensou nisso antes? — ela me lançou um olhar mortal e eu ri mais forte.
Não demorou muito e o inspetor Meia-Noite abriu o portão para nós.
— Obrigada! — eu disse.
— A diretora Dinah está esperando vocês na porta da sala. Corram, a prova já começou.
— Mas não podemos cor...
— Vamos logo! —
me puxou e corremos juntas.
Diretora Dinah nos esperava na entrada da nossa sala.
— Não precisam dizer nada, vi tudo pela câmera. — ela abriu a porta. — Professor Nathaniel, com licença.
— Toda. — ele nos olhou. — Onde estavam? A prova começou há 15 minutos.
— Professor Nathaniel, essas meninas foram vítimas da babaquice da aluna Halston e do seu bando, desculpem os termos. — olhei para
que ria alto, assim como eu e a turma.
— Não pode falar assim de nós! — Halston se levantou. — O meu pai é advogado e...
— Por isso conhece bem as cláusulas que estão no contrato que o mesmo concordou e assinou para você estudar aqui. — a diretora rebateu e Halston fez sua melhor expressão de coitada. — Não ouse em me ameaçar, menina!
— Diretora, elas estavam aqui o tempo todo. — professor Nathaniel estava tentando defendê-las. Lamentável!
— Tenho as imagens da câmera do portão que dá passagem à pracinha, elas o fecharam propositalmente, para as alunas
e
se atrasarem para o começo da prova.
— Meninas, isso é verdade?
— Acha que estou mentindo, professor Nathaniel?
— De forma alguma, diretora Dinah. Mas preciso saber se elas vão desmentir. — olhamos para elas. — Então meninas, digam a verdade.
— Eu não fiz nada, foram elas. — Halston começou com suas mentiras.
— Pare de mentir, sua cara de cavalo está filmada como a mandante dessa idiotice. — minha amiga disse, sem paciência.
—
, tenha modos. — professor Nathaniel pediu. — Façam silêncio! — disse a turma.
— Vocês não percebem? Elas me obrigaram. Eu jamais faria isso! — ela se defendeu, novamente.
— Meninas, vocês fizeram isso?
— Professor Nathaniel, por favor, você está mesmo acreditando na aluna Halston? — diretora Dinah estava inquieta. — Não vê que ela quer pôr a culpa só nas amigas?
— Eu as vi fechando o portão. — Simon disse simples.
— E por que não abriu? — perguntei.
— Achei engraçado. — o idiota respondeu, dando de ombros.
— Você vai achar mais graça quando estiver em casa com a suspensão que vai receber, junto com as meninas. — a diretora disse e a sala foi à loucura.
— Diretora Dinah, isso é realmente necessário? — professor Nathaniel estava nos irritando.
— Por uma vez na vida, professor, não seja a voz da razão. Seja a voz da ira. — eu disse.
— The Mentalist é? — a diretora perguntou, me surpreendendo. — Gosto da série.
— Professor, só falta 1h pra terminarmos a prova, o que faremos? — Tyler perguntou.
— Pergunte às suas colegas que vieram atrapalhar a prova. —
me olhou indignada.
— Você sabe muito bem de quem é a culpa do atraso das meninas, professor Nathaniel. Não jogue a responsabilidade nas costas das alunas
e
. — diretora Dinah mais uma vez nos defendeu. — São quantas questões?
— 5. — Tyler respondeu envergonhado.
— Não dá pra terminar em 1h?
— Pra mim sim, eu to achando tudo fácil. — a turma reclamou com Tyler. — Mas eu não sei para os outros.
— Vocês — a diretora apontou para Halston, Simon e as outras meninas. — Na minha sala assim que terminarem as provas e não ouse em tentar ir embora, o inspetor Meia-Noite sabe muito bem quem vocês são e não vai deixá-los ir.
— Se sentem logo e façam essa prova. — professor Nathaniel disse para nós, assim que diretora Dinah se retirou. — De jeito nenhum que você vai fazer essa prova ao lado da sua amiga,
!
— Mas...
— Quero você aqui na minha frente, ao lado de Tyler. — obedeci. — Sejam rápidos!
Terminamos a prova que, realmente, não foi difícil, estava tudo exatamente igual aos exercícios e testes. Professor Nathaniel sempre tentar nos pôr medo, mas acredito que eu tenha me saído bem.
— Caramba, que sortuda! — a olhei. — O professor te colocou ao lado do Tyler, ele é um gênio.
— Você sabe que eu não colo. — ela me olhou desconfiada.
— O gênio que você não quis...
— Ele pode ser gênio, mas ainda é nojento. — eu ri fraco.
— Como a prova foi pra você? — perguntei, enquanto estávamos nos aproximando da casa dela.
— Pra mim tudo é difícil, mas consegui fazer os cálculos, então acho que me saí bem. — bati palminhas a provocando e ela rolou os olhos. — Você lembra qual foi sua resposta da questão número 1?
— Sim, respondi 18 u. — ela fez sua típica expressão de "what?S".
— Como assim? A minha resposta deu 36,5 g/mol. — eu ri forte. — Não tem graça, eu to ferrada!
— Relaxa, eu só estou brincando. — ela parou na rua pra me lançar um olhar mortal. — Respondi igual você.
— Quer almoçar aqui? — ela disse já no portão de casa.
— Acabei de lembrar que preciso falar com você e os meninos.
— Aqui em casa?
— Melhor não. — pensei um pouco. — Vamos até o estúdio e esperamos eles saírem para almoçar.
Retornamos ao nosso percurso que era próximo ao colégio, e os esperamos em frente ao estúdio.
Passaram-se 15 minutos e eles não saíam.
— Tá demorando. —
reclamou.
— Ali eles saindo. — levantamos e fomos até eles.
— Ei, o que estão fazendo aqui? — meu irmão perguntou, desconfiado.
— Preciso falar com vocês três, juntos.
— Mas, você não está mais brava comigo? —
perguntou e eu neguei com a cabeça. Ele sorriu bobo.
— Precisamos ir para um lugar reservado, quanto menos pessoas melhor.
— Tem uma sala que não é usada há anos aqui no estúdio, acho que não teremos problemas se formos para lá. —
disse, despreocupado.
— Certeza?
— Sim, o nosso chefe sempre pede pra gente dar uma olhada, lá. —
disse para
. — Não vamos ter problema nenhum.
— Então parem de perder tempo. —
disse, nos empurrando.
Seguimos os meninos pelo estúdio, que mais parecia o do Ink Master, e encontramos uma sala cheia de tralhas. Adentramos o lugar e nos sentamos no chão.
— Vocês trouxeram algo pra comer? — meu irmão perguntou, fazendo eu e
nos entreolharmos.
— Nós estamos com fome, vamos ter que sair para comprar alguma coisa. —
disse, quase se levantando.
— Eu tenho alguns biscoitinhos na mochila, querem? —
perguntou, já tirando a vasilha da mochila.
— Eu também tenho. — tirei da mochila e entreguei a eles.
já ia comer, mas dei uma bofetada em sua mão e ela me olhou, sem entender — Comam sozinhos, a gente espera, daqui a pouco estamos em casa.
— O que quer nos dizer? — meu irmão perguntou não se preocupando com a cena nojenta dele falando de boca cheia.
— Ontem, quando eu estava me arrumando para ir ao parque com , minha mãe foi ao meu quarto e ficou conversando comigo. Ela confessou que fugiu para outra pessoa matar
. —
arregalou os olhos. — Disse que não sujaria suas mãos com o sangue dele.
— Ela podia estar brincando com você,
. — ele a defendeu. — Mães são assim.
—
, o pior cego é aquele que não quer ver. —
disse a ele, que parecia incrédulo.
— A pior parte é que o velho, dono da boate, já deve estar entre nós pra matar meu pai.
— Ela também disse isso? — meu irmão perguntou e eu assenti.
estava visivelmente chateado. — Eu não consigo acreditar que ela seja essa pessoa tão fria!
— Cara, eu posso imaginar o quão difícil deve estar sendo, mas você precisa acreditar na sua irmã. —
disse a ele e meu irmão assentiu.
— Acho melhor falarmos com a polícia. —
sugeriu.
— É arriscado — eu disse.
— Risco nós já estamos correndo. — disse
.
— Precisamos contar isso ao delegado Hopper. — foi à vez do meu irmão. — Só assim teremos algum tipo de proteção.
— Sério? Agora vocês estão contra mim? — me indignei.
— Ninguém tá contra você,
.
— Estão sim! — me levantei. — Eu estou fazendo de tudo para proteger a todos e vocês tentam me ferrar desse jeito?
— Para mudar o mundo, você precisa antes mudar a sua cabeça.
—
, vá à merda e leve essas frases contigo! — ele me encarou. — Já te disse que você não é o Patrick Jane.
— Ei, se acalme —
levantou-se, vindo em minha direção.
— Não to entendendo toda essa preocupação com um pai que só faz você sofrer. —
disse. — Ele até te espancou, ou você se esqueceu disso?
— As marcas no meu corpo não me deixam esquecer, e você também não. — ela bufou. — O que você não consegue entender é que
agora é o pai que nunca.
— Agora? —
se pronunciou. — Faz uma análise do tempo que ele perdeu nos desprezando como filhos até agora. Como eu sempre disse, você fica fazendo doce pra ele, por isso o idiota que chamamos de pai te atura.
— Isso não é verdade.
— Ah não? — ele riu. — Por que acha que ele continua me tratando de forma indiferente? Eu não fico atrás dele. Acha que meu sentimento por ele mudou?
— Você precisa dar uma chance a ele.
— A mesma chance que eu dou a minha mãe? — bufei de raiva.
— Você se importa mais com a mulher que só causou sofrimento a nossa família do que com
que...
— Só causou sofrimento a nossa família. — ele me olhou. — Se a nossa mãe é uma pessoa horrível, o nosso papai tá no mesmo barco.
— Se você for à polícia, ficará do lado dela. Se ficar no mesmo lado que ela, vou entender como uma declaração de guerra.
— Se é isso que você quer.
— Gente, vamos nos acalmar. —
nos interrompeu. — A situação é muito grave.
— Sim, eu sei. Aliás, nós sabíamos disso, e resolvemos deixar minha mãe pensar que está no controle. — eu me afastei dele. — Era pra vocês fingirem que não sabiam de nada, mas não, os espertos estão querendo encrenca. Pois bem, o meu pai vai morrer. — olhei para eles. — Se é isso que desejam, devo parabenizá-los. Vocês vão conseguir mais rápido do que imaginam! — aplaudi, rindo sarcástica e peguei minha mochila.
— Onde você vai? —
, perguntou.
— Pra casa do... — respirei fundo — Me dê um tempo, por favor.
— Super girl —
me chamou.
— Deixem
ir. — meu irmão pediu, me olhando. — Assim que eu sair do trabalho, contarei tudo ao delegado Hopper
Minha ira aumentou ainda mais e eu saí dali, sem dar ouvidos a mais ninguém. Eu já nem estou mais me importando comigo, mas é o meu pai quem está correndo risco de vida, e o pior é que ele nem sabe. Como vai poder se defender? Droga de vida!
Meu celular tocou e era minha mãe.
—
, está tudo bem? — rolei os olhos. — Já era para você ter chegado aqui em casa. Onde você está?
— Não precisa fingir que se importa comigo, tá!? — pigarreei. — E também não importa onde estou se ficar longe de você é o que eu quero.
— Filha, você não percebe que eu só quero o seu bem?
— O que você quer pra mim tá longe de ser o meu bem. — a ouvi bufar do outro lado da linha.
— Se você não me contar onde está eu vou te achar! — não respondi, esperando pela sua reação. — Está avisada.
Olhei a minha volta e comecei a caminhar, passando pelo colégio. Fui até a pracinha e fiquei ali, observando o movimento e a hora que abririam o portão que dá entrada à escola.
Já eram 14:00h, eu teria que esperar um pouco mais se quisesse entrar na escola. Não parava de olhar ao meu redor, minha mãe é louca, só Deus sabe do que ela seria capaz.
Coloquei a mochila na frente do meu rosto, caso alguém estivesse a minha procura, não me reconheceria. Fiquei assim durante alguns minutos, até perceber alguém se sentando ao meu lado. Meu coração disparou.
— Melhor não gritar e nem tentar nada, só to aqui pra te proteger! — eu reconheci a voz. Quando levantei meu rosto para ter certeza de quem era, meus olhos quase saltaram do rosto — Sentiu saudades?
— Fishy?! — comecei a me tremer. — Era pra você estar preso.
— To em liberdade a mais tempo do que você imagina. — eu bufei de raiva. — Mas isso não importa agora.
— Como não? Você estava me perseguindo, me ameaçou. — levantei a cabeça, o olhando. — Por culpa sua minha amiga perdeu um bebê.
— Isso é sério? — Fishy parecia ter se afetado. — Eu peço desculpas, apesar de saber que isso não importa pra vocês.
— O que vai fazer comigo?
— Nada de ruim, eu prometo. Agora, se abaixe.
— O que te faz pensar que eu acreditaria em você?
— Eu sou apaixonado por você, jamais te machucaria.
— Isso não quer dizer nada. — respirei fundo. — Foi minha mãe quem te mandou, não é mesmo?
— Se você não se abaixar eles vão te reconhecer. — continuei do mesmo jeito, esperando pela resposta. — Não, sua mãe mandou os homens do velho Martin, dono da boate.
— Você o conhece? — franzi a testa.
— Sou filho dele.
— O QUÊ? — dei um gritinho, chamando atenção de algumas pessoas que passavam pela pracinha.
— Têm dois homens caminhando em nossa direção.
— E você diz isso, tranquilamente? — ele riu fraco.
— Põe esse boné, com a aba virada pra trás — me entregou o objeto.
— E agora?
— Fazemos isso — Fishy segurou meu rosto, me beijando de forma intensa.
[Capítulo Vinte]
— Ficou louco? — sussurrei, irritada.
— Essa é sua forma de me agradecer? — rolei os olhos e ele soltou uma risada — Esses homens não vão sossegar enquanto não te encontrarem, então é melhor você entrar no personagem e colaborar comigo.
— Terei que fingir ser sua...
— Namorada — engoli o seco — Exatamente!
— Mas...
— Não gosta da ideia? — ele tombou a cabeça, arqueando as sobrancelhas — Porque eu me agrado muito.
— Fishy! — me olhou de forma sedutora — Eu sou quase comprometida, não posso.
— Com aquele cara que te beijou na cabana? — assenti — Me rejeitou pra ficar com quem não te quer?
— Vamos mesmo ficar falando sobre isso enquanto estou sendo "caçada"? — me irritei e ele olhou para os lados.
— Vista essa jaqueta — ele me entregou a roupa e virou a aba do meu boné para frente — O portão do colégio abriu, mas não acho que seja uma boa ideia passarmos por lá. Não quero que deem pistas que você passou por aqui.
— O que eu farei? — perguntei preocupada.
— Eu vou te ajudar. — senti sinceridade em suas palavras. — Precisamos ir para um lugar seguro.
Mais uma vez, Fishy olhou ao nosso redor, se levantou e segurou em minha mão, me levando para um caminho desconhecido por mim. A cada 10 segundos ele me pedia para abaixar a cabeça, senão me reconheceriam, já estava ficando mais aflita que o normal.
Estávamos a tanto tempo caminhando, que comecei a sentir dores nos pés. Pedi para pararmos um pouco, mas Fishy achou melhor continuarmos, caso contrário, nos alcançariam.
O medo já estava me dominando de tal forma, que a cada passo que eu dava, olhava para trás, receosa de que os homens estivessem nos seguindo.
— Fishy — ele me olhou de relance — Eu não aguento mais.
— Só mais um pouco, estamos quase chegando.
— Chegando aonde? — ele não respondeu, apenas continuou no caminho.
Finalmente, depois de caminhar muito, por uma estrada deserta e meio assustadora, avistamos uma casinha pequena e, aparentemente, frágil.
— Nossa! — franzi o cenho.
— O quê?
— Parece tão...
— Velha? — o olhei.
— Eu diria humilde. — ele riu fraco — Será que é segura?
— Sim, eu mesmo a construí. — respondeu se aproximando da casa — Entre.
Ainda receosa, adentrei o local analisando cada detalhe. Não tinha decorações, era apenas composta por alguns móveis muito antigos e gastos, havia muita sujeira também.
— Há quanto tempo esse lugar não é limpo? — perguntei, olhando para as teias de aranha nos cantos da parede.
— Desde quando construí. — respondeu simples.
— E quando você o construiu? — o olhei séria.
— Há bastante tempo! — arregalei os olhos. — Eu queria um lugar calmo e escondido para o caso de alguma necessidade, como agora. — ele trancou a porta.
O trinco parecia ser tão antigo que me fez pensar se trancaria mesmo a porta, como se tivesse ouvido os meus pensamentos, Fishy usou um pedaço de madeira para reforçar a segurança na porta.
— Você parece meio assustada. — me olhou.
— Eu preciso me esconder — ele assentiu — Mas você não.
— Preciso sim. — ele limpou um banquinho, fazendo sinal para eu me sentar — Sua mãe me ajudou a sair da cadeia, e me pediu pra ficar te vigiando.
— O quê? — me desesperei — Então, eu fui muito idiota em acreditar em você! Ainda mais depois de tudo que fez.
—
, calma — se aproximou, me fazendo levantar e correr até a janela — Eu não vou te entregar.
— Não acredito em você.
— Depois que fui solto, eu ficava te observando dia e noite, mas hoje sua mãe me pediu pra te encontrar, e eu sabia que não era pra boa coisa.
— Claro que não, aquela mulher é um monstro!
— Por isso resolvi te proteger — arqueei as sobrancelhas — Neste momento, os homens do velho Martin devem estar me procurando também.
— Você traiu minha mãe?
— Pra te proteger, eu faço qualquer coisa. — afastei-me da janela, tornando a me sentar no banquinho.
— E-eu nem sei o que dizer — suspirei.
— Eu sou louco por você — se aproximou de mim, ajoelhando-se para ficar na mesma altura. — Jamais permitiria que fizessem algum mal a você.
— Mas você mesmo tentou fazer. — ele abaixou a cabeça.
— Por favor, me perdoe por aquilo. — suspirei alto — Enlouqueci quando te vi beijando aquele cara, mas isso não justifica.
— Não mesmo! — ele levantou seu olhar pra mim — Eu gosto muito do
, mesmo que eu saia desta situação, é com ele que eu vou ficar.
— Ele também gosta e quer ficar com você? — eu engoli o seco, desviando meu olhar para qualquer lugar que não fosse seus olhos. — Por que ele não tava com você quando te encontrei? Porque eu vi que você estava com ele, sua amiga e com seu irmão.
— Nós brigamos, foi só isso.
— Ok. — Fishy se levantou, indo para perto da janela.
Ficamos em silêncio durante um tempo, eu sabia que ele estava chateado, mas não podia alimentar qualquer tipo de esperança em relação a nós. Da última vez, ele me perseguiu por isso.
Ainda era difícil acreditar que estava confiando nele, depois de tudo que aprontou, porém Fishy se mostrava sincero em suas intenções de me ajudar.
— Pode ficar tranquila, não farei nada dessa vez. — eu estava de costas para ele — Se você não gosta de mim, não posso te forçar a isso.
— Eu fiquei encantado por você. — me virei, o olhando — Mas você foi muito ansioso, se tivesse esperado mais...
—
, eu não quero ouvir isso, tá?! — ele suspirou.
— Desculpe. — olhei para o chão e me espantei, novamente, com o tanto de sujeira. — Tenho que limpar essa casa. — me levantei.
— Eu te ajudo.
Fishy me mostrou onde ficavam os produtos e objetos de limpeza, passamos o fim de tarde limpando tudo.
— Eu preciso de um banho.
— No armário do quarto, tem toalhas e roupas minhas. — ele apontou e eu assenti — Esse lugar só pode estar limpo durante os dias que ficarmos, caso saiamos daqui, teremos que sujá-lo, novamente.
— Ok. — me afastei indo pegar as coisas no armário.
Tomei um banho rápido, eu ainda estava muito cismada e se precisasse correr, não queria sair de toalha ou nu. Pode parecer loucura, mas eu estava sujeita a tudo, a qualquer momento.
— Eu deixei uma toalha pra você — disse assim que saí do banheiro, o vendo deitado na cama.
— Obrigado. — ele me olhou — Até que as minhas roupas ficaram boas em você. — soltei uma risada fraca.
Fishy se levantou, pegando algumas roupas e indo ao banheiro.
Depois de algum tempo conversando sobre minha mãe e o velho Martin e sobre como nos defenderíamos, caso fosse necessário, senti fome.
— Tem algo para comermos?
— Eu trouxe alguns biscoitos. — ele fez careta.
— Tudo bem. — Fishy pegou os biscoitos e comemos de forma rápida. — Você não teme por sua vida?
— Eu temo pela sua. — ele me olhou nos olhos, e eu suspirei — A minha já não vale muita coisa mesmo. — deu de ombros. — Já errei demais nesse meu pouco tempo de vida.
— Não fale assim! — disse e ele arqueou as sobrancelhas — Todo mundo comete erros, assim como todo mundo merece uma chance. Com você não seria diferente. — ele respirou fundo, parando de comer para me olhar — Percebe o que está fazendo por mim?
— Faço isso porque gosto de você. — disse mais uma vez.
— Então, você merece a cofiança que eu estou o depositando. — ele abaixou a cabeça. — Eu vou tentar te proteger também. — ouvi sua risada baixa.
— Como?
— Não sei, mas vou tentar. — virei o rosto para o meu celular, estava tarde.
O celular começou a tocar, era .
— Não atenda. — olhei para Fishy.
— Ele já sabe sobre minha mãe.
— Ela pode estar o usando pra tentar chegar a você. — arregalei os olhos. — É só ameaçá-lo.
—
jamais me entregaria.
— Tenho certeza disso, mas se gosta dele, não atenda. — assenti meio triste. — Melhor descansarmos.
Fishy fez uma cama no chão e se deitou, eu apenas continuei onde estava e, fiquei pensando na minha vida. Mais uma vez, eu tendo que me esconder, mas agora da minha mãe.
Tive receio de dormir, eu não estava totalmente segura de que Fishy me protegeria mesmo, mas não tinha escolha. Eu não parava de olhar para a janela, mas por um momento, desviei o olhar para Fishy e tomei um leve susto, ele me observava.
— Descanse.
— Eu não to conseguindo. — suspirei.
— Você nem tentou. — ele riu fraco. — Não confia em mim, né?! — eu ia falar, mas ele não me deu tempo. — Tudo bem, eu entendo.
— Desculpe, é difícil pra mim.
— Como disse, eu entendo. — assenti, respirando fundo e me virei para o lado contrário a ele. — Boa noite, gatinha.
— Boa noite, peixinho. — sorri ao ouvir sua risada.
Resolvi dar lugar ao sono.
Passados dois dias escondida no pequeno esconderijo de Fishy, amanheci na manhã do meu aniversário com uma leve dor de cabeça, me virei na cama e olhei para o chão, Fishy não estava lá. Engoli o seco e fui ao banheiro, ele também não estava lá, aproveitei para me higienizar e tudo que eu pensava era manter a calma.
Fui caminhando devagar para a cozinha, torcendo para vê-lo, mas não o encontrei, olhei para a porta, que ainda estava trancava e franzi a testa, achando estranho. Respirei fundo e me aproximei da janela, nem sinal dele.
Fiquei sentada na cama e liguei o celular, pensando se ligaria ou não para
ou meu irmão, havia ligações e mensagens deles, e a incerteza de Fishy ter ou não armado uma emboscada para mim era grande.
Ouvi um barulho na cozinha, meu coração começou a palpitar forte e minhas mãos suarem. Engatinhei até o local e vi Fishy segurando algumas sacolas, saindo por uma pequena porta, no chão. Levantei-me rápido e corri até ele, o abraçando.
— Que droga, Fishy!
— O que aconteceu? — perguntou sem entender. Afastei-me para o olhar.
— Achei que você tinha ido me entregar, ou que levaram você — disse aflita. — Por que não me avisou que ia sair?
— Eu não quis te acordar, você parecia cansada. — ele colocou as sacolas em cima da pequena mesa e apontou para a porta. — Mas você tava segura, eu nem mexi no trinco.
— Sim, eu vi. Por isso também fiquei assustada. — respirei fundo. — Fico mais aliviada agora por te ver.
— O que eu posso fazer pra provar que to fazendo tudo isso pra te proteger? — ele fixou seu olhar em meus olhos.
— Nada, eu sinto que você está sendo sincero. — o olhei na mesma intensidade. — Você já tá fazendo muito por mim, por isso agradeço. — ele forçou um sorriso.
— Comprei alguns mantimentos pra ficarmos aqui, sabe cozinhar?
— Não tão bem quanto o meu pai e tia Audrey, mas sei. — fiz careta.
— Não tem problema, eu faço as nossas refeições. — ergui as sobrancelhas e ele riu. — Tá preparada pra mudar a aparência?
— Como assim? — franzi a testa, desconfiada.
— Mudar a cor e o corte do cabelo. — ele disse, mexendo em uma das sacolas.
— Não é exagero?
— Se você quiser sair na rua, não.
— Pois eu não quero, estou muito bem trancada aqui. — menti, o fazendo arquear uma sobrancelha. — Fishy!
— Gosto tanto quando você me chamar pelo nome. — sorriu bobo.
— Esse não é o seu nome. — ele rolou os olhos. — Aliás, qual é o seu nome?
— Para a sua segurança, melhor você não saber. — bufei — E então — tirou da sacola e ergueu os tubos de tinta — Vai encarar?
— Claro. — eu disse firme e ele sorriu.
Confiei, mais uma vez, em Fishy. Ele fez questão de pintar minhas madeixas e cortá-las, fiquei meio receosa, claro, mas ele parecia saber o que estava fazendo.
— Já se passaram 40 minutos, pode lavar o cabelo que ainda te resta. — ele disse, enquanto preparava algo para comermos.
— Como assim? — arregalei os olhos. — Quanto do meu cabelo você cortou?
— Verás — ele sorriu despreocupado. — Vá logo lavá-lo!
— Ok.
Tomei um banho rápido, e conforme via o excesso de tinta escorrendo pelo meu corpo e indo para o ralo, sentia um friozinho na barriga. É sempre bom mudar, apesar de eu não ter o costume de fazer coisas do tipo, estava gostando da sensação.
Saí do banho na esperança de olhar no espelho, porém não tinha um ali, tentei arrumar o cabelo do jeito de sempre, mas temia por não estar bom, já que o corte havia mudado.
—
, por que a demora? — ouvi a voz de Fishy.
— Eu queria um es... — assim que me virei saindo do banheiro, deparei-me com o espelho e abri o maior sorriso que já dei em todos os tempos. — Nossa! E-eu estou...
— Ainda mais gata!
Olhei para Fishy ainda sorrindo, logo desviando o olhar para o espelho, novamente. Aproximei-me, mexendo no cabelo e analisando cada detalhe.
—
ia amar me ver assim. — suspirei, lembrando que era o aniversário dela também. — Hoje nós fazemos 17 anos. — disse meio triste.
— Por isso resolveu mudar? — olhei para Fishy — Trocando de idade e de cabelo... Quer ser uma nova
?
— Só quero ser uma versão melhorada de mim mesma. — ri sozinha. — Amei o presente, peixinho.
— Ah, não era essa a intenção, mas já que gostou. — dei uma piscadela, tornando a olhar para o espelho. — Já sei o presente que posso te dar! — ele saiu do quarto.
— Fishy, não precisa. — vi pelo espelho ele segurando um pequeno bolo, me virei para ele, que sorria largamente.
— Feliz aniversário, gatinha! — fiquei boquiaberta e sem reação — Não vai assoprar as velas?
— Oh, claro. — me aproximei dele, soprando as velas para a felicidade do mesmo. O olhei ainda incrédula. — Como soube?
— Sua mãe me contou. — respirei fundo. — Ela disse que faria uma festa surpresa pra você e sua amiga hoje, mas não deve acontecer.
—
nunca iria aceitar que fizessem uma festa sem eu ali presente.
— Mas seria surpresa.
— Acredite, ela acabaria com a festa. — ri lembrando o jeito da minha amiga. — E todos, exceto a minha mãe, dariam razão a ela.
— Tá sentindo falta deles? — Fishy colocou o bolo em cima da cama e se aproximou de mim.
— Sim. — o abracei num impulso. — Mas pelo menos você tá aqui comigo, eu detestaria ter que passar meu aniversário, sozinha.
— Estarei com você sempre que quiser. — me afastei para o olhar. — Você não tem noção do quanto eu te gosto. — ele me fitou — O que posso fazer para...
— Tudo que você têm feito já me prova que é sincero quando diz que gosta de mim — suspirei, o encarando. — Só me sinto mal por não poder retribuir a você esse sentimento.
— Eu não a culpo. — ele virou seu rosto, mas eu o puxei em minha direção, olhando em seus olhos. — Sabia que isso é uma tortura?
— Desculpe. — disse o soltando, ficando de costas para ele.
— Me desculpe você.
Fishy puxou meu braço, virando-me em sua direção e levando-me até a parede, me beijando. Arregalei os olhos, surpresa, mas não conseguia resistir aos seus beijos.
Senti minha respiração ficar ainda mais falha quando ele interrompeu o beijo e começou a acariciar meu rosto, me olhando, intensamente, nos olhos.
— Fishy — ele arqueou uma sobrancelha — É melhor pararmos por aqui.
— Tem certeza? — perguntou quase num sussurro — Porque eu sinto uma dúvida da sua parte, posso até vê-la em seu olhar. — ele mordeu o lábio inferior, fazendo-me fitar sua boca.
— S-sim, eu tenho. — o empurrei no mesmo instante. — Não vamos comer o bolo? Parece estar delicioso!
— Que habilidade em fugir do climão, hein. — ele riu — Parabéns duas vezes.
— Idiota.
A tarde se aproximou rápido, conversamos durante um bom tempo sobre como poderíamos ajudar
a sair da mira da minha mãe.
— Você acha que...
— Espere — o celular dele tocou. — Meu pai tá ligando.
— Não vai atender? — ele negou com a cabeça.
— Agora não. — ele me olhou.
— Quer que eu pinte o seu cabelo?
— Não preciso disso, vou ficar o tempo todo de boné. — tombei a cabeça, o observando. — Que é?
— Vai ficar bom.
— Tudo bem, . — me levantei no mesmo instante, preparando a mistura.
Não sabia ao certo o que estava fazendo, mas tinha a certeza de que não ficaria tão bom. Fishy me perguntava se eu estava conseguindo usar a tinta a cada 5 segundos e eu mentia dizendo que sim, e desconversava.
Passaram-se 40 minutos, Fishy foi lavar o cabelo e eu fiquei sentada na cama, o esperando.
—
, que merda você fez no meu cabelo?! — levei um susto com seu tom de voz elevado.
— Nem deve estar tão... — quando o vi na minha frente arregalei os olhos.
— Ruim? Tá péssimo! — tentei prender a risada, mas não consegui. — E ainda ri de mim?
— Ah, Fishy — andei em sua direção — Nem ficou terrível. — menti.
— Vou ter que raspar meu cabelo, nem brincando encaro as ruas desse jeito! — ele disse irritado.
— Se acalme peixinho. — pensei um pouco — O cabelo está ótimo assim, seu pai nunca irá imaginar que você fez isso.
— Eu fiz? — ele me olhou, arqueando as sobrancelhas. — Pior que eu ainda deixei você fazer esta merda.
— Fishy, você tá exagerando um pouco. — analisei seu cabelo.
— Exagerando? Meu cabelo tá parecendo pelo de cachorro de rua. — gargalhei tão alto, que ele acabou sendo contagiado.
— A cor também ficou uma droga. — confessei, ainda rindo. — Desculpe.
— Só você pra fazer isso comigo,
.
— O lado bom é que nós nunca seremos reconhecidos! — tentei reanimá-lo e ele assentiu. — Agora, vamos comer algo?
— Sim, isso tudo me deu fome. — ele brincou e eu o acompanhei até a cozinha, para me certificar de que ele não se vingaria usando a comida.
O jantar estava pronto, Fishy se sentou à minha frente e preparamos o nosso prato. O cheiro era bom, o sabor mais ainda.
— Pelo jeito você gostou da minha comida. — ele disse, enquanto eu lavava a louça.
— Sim, você é um ótimo dono de casa. — nós rimos. — Por falar em casa, to sentindo falta da minha.
— Eu não sei por quanto tempo mais teremos que ficar aqui, mas pelo menos estamos tentando bolar alguns planos pra tentarmos sair desta situação, que já tá sendo sufocante. — o olhei, de relance. — No que tá pensando?
— Meu pai. Seu pai. Minha mãe. — terminei de lavar a louça e me virei na direção de Fishy, que estava encostado à parede, de braços cruzados. — Eu estou com um medo enorme de a essa altura, eles terem matado o meu pai.
— Olha, não fique pensando nisso agora, o mais importante no momento é a sua vida. — respirei fundo. — Sei o quanto é difícil pra você, mas tente relaxar.
— Não dá! É a segunda vez que tenho que passar por uma situação assim de ter que fugir e ficar escondida, ter que ficar longe da minha família... Eu sinto a falta deles. — meus olhos começaram a marejar. — E parece não adiantar ficar afastada, porque tenho a sensação de estar em perigo o tempo todo.
— Ei, não fique assim. — Fishy se aproximou de mim, me abraçando. — Eu não disse que vou te proteger?! — resmunguei. — Então, não importa o que aconteça, ou o quanto isso custe, eu vou te proteger!
— Obrigada. — o apertei no abraço. — Será que podemos sair um pouco?
— Agora? — me afastei para o olhar e assenti — Acho que não é uma boa ideia.
— Teríamos uma menor possibilidade de sermos reconhecidos, porque você sabe que mudar o visual só despista por algum tempo, mas uma hora ou outra vão nos descobrir.
— Mas a gente não vai ficar saindo de casa sempre, não podemos abusar do perigo. — suspirei. — É melhor amanhã, cedo.
— Se você diz — me afastei dele, indo para o quarto. — Boa noite.
— Boa noite.
Deitei na cama um tanto irritada, queria muito sair e respirar um ar diferente daquele dentro de casa. Já estava sufocada, me sentindo presa, eu queria a liberdade, pelo menos naquela noite.
Esperei Fishy dormir e me levantei devagar, vestindo a jaqueta e guardando o meu celular com o fone de ouvido no bolso, e colocando o tênis, indo para a cozinha. Achei a chave da pequena porta que fica no chão dentro do armário e a abri, indo para o lado de fora. Estava tão escuro e assustador que pensei em voltar para o lado de dentro da casa, mas eu precisava desse tempo só pra mim. Liguei o celular e conectei o fone, havia muitas ligações perdidas da minha família, fora as mensagens.
Coloquei Hero para tocar e fiquei lembrando do quanto eu dançava esta música na Thanicia Dance Company, acabei abandonando as aulas de dança e no fundo, sabia que não devia ter feito isso. Tantas coisas acontecendo no mesmo momento, nem mesmo para os estudos eu estava tendo tempo de dar importância, e não fazia ideia de como conseguiria uma bolsa para cursar Dança, nem mesmo sabia como passaria de série, mas daria um jeito.
Fiquei caminhando com a lanterna do celular ligada, até que ouvi um barulho estranho, sabia que Fishy estava dormindo, não seria ele. Respirei fundo e tentei voltar rápido para casa, mas tropecei em alguma pedra e caí, a lanterna do celular desligou, então não consegui achá-lo. Algo se aproximou de mim e eu comecei a suar frio, senti uma mão apertar meu ombro e no mesmo instante, desmaiei.
Abri os olhos rapidamente, olhando ao meu redor e ficando ainda mais assustada. O dia já tinha amanhecido e eu estava em casa, na cama e Fishy próximo à janela, olhando para o lado de fora.
— Como...
— Eu poderia ser seu herói, sabia?! — ele se virou para mim.
— O que aconteceu? — me sentei, escorando as costas na cabeceira da cama.
—
, por que você acha que eu disse pra sairmos de casa hoje cedo e não ontem à noite? — rolei os olhos, não estava a fim de me irritar logo pela manhã — Já sabe, né?!
— Eu só queria...
— Arrumar problema. — o encarei. — Custava esperar mais um pouco?
— Tá me custando essa conversa chata. — me levantei da cama.
— Aonde vai?
— Vai ficar me monitorando agora?
— Esse era o meu trabalho. — ele sorriu fraco.
— Pois não é mais. — ergui uma sobrancelha. — Você já tá me irritando demais!
— Calma, não foi a minha intenção.
— Nunca é. — entrei no banheiro, batendo forte a porta.
— Se bater mais forte ela vai cair. — bufei ao ouvi-lo.
Fishy estava me irritando como costumava fazer, era como uma diversão para ele. Meu irmão eu até consigo aturar, mas outro dele eu não encaro, não.
[Capítulo Vinte e Um]
Olhei ao meu redor, sendo incomodada pela claridade, eu estava sozinha. Levantei-me da cama e fui ao banheiro, tomei um banho bem demorado e voltei ao quarto não encontrando Fishy, abri o armário e peguei suas roupas.
Retornei ao banheiro e vesti uma calça branca e regata preta comprida, terminei de me arrumar e saí, o vendo trocar a camisa. Virei meu rosto tentando ignorar o belo físico que estava à minha frente, disfarcei calçando o meu tênis.
— Você não sabe disfarçar. — o olhei de relance. — Preparei o seu café, se alimente e vamos sair.
— Para onde?
— Que tal caminhar pela pracinha e tomar um sorvete? — franzi a testa.
— Estamos seguros o suficiente para fazermos isso, tranquilamente?
— Eu não disse que seria tranquilo. — ele ficou pensativo.
— Ok. — me levantei. — Por sorvete eu corro o risco.
— Pensando melhor, não vamos correr risco por uma coisa banal. — o olhei, indignada.
— Vamos sim — pigarreei — Ninguém mandou você falar, agora eu quero e nem adianta dizer que não. — ele cruzou os braços, me observando. — O que é?
— Essa roupa ficou melhor em você do que em mim. — apenas o ignorei, indo para a cozinha.
Não estava com muita fome, mas terminei o café e voltei ao quarto para pegar meu celular.
— Droga! — bufei, não lembrando onde o deixei.
— Tá procurando isso? — Fishy ergueu o celular.
— Onde estava? — o peguei rápido.
— No banheiro. — franzi o cenho, estranhando e ele assentiu.
— Ok, obrigada por encontrá-lo. — ele suspirou.
— Coloque esta jaqueta e este boné. — estendeu a mão para me entregar.
— A jaqueta eu até visto, mas o boné não. — Fishy respirou fundo, parecia irritado. — Não arrumei meu cabelo para colocar o boné e escondê-lo.
— Fico muito satisfeito que você tenha gostado tanto assim do seu cabelo, mesmo que já tenha se passado um mês e ele precise de um retoque — rolei os olhos. — Mas, por favor, coloque o boné, apenas por precaução.
— Fishy, eu não vou usar! — vesti a jaqueta e joguei o boné na cama.
— Eu já não quero ir, e você ainda não facilita. — o olhei firme.
— Por que tá sendo tão chato?
— Você que tá sendo teimosa! — arqueei as sobrancelhas, descansando as mãos na cintura. —
, por que você não quer colaborar comigo hoje? — ele parecia realmente nervoso. — Eu só to tentando te proteger, mas que droga!
— Ok. — peguei o boné e o coloquei com a aba virada para trás. — Eu uso.
— Obrigado.
Já nas ruas, caminhamos tanto que eu sentia calor, mas Fishy não me deixou tirar a jaqueta, por precaução. Essa historinha estava me irritando por demais, ou eu que estava sendo chata demais.
Encontramos algumas pessoas desconhecidas numa pracinha que eu nunca havia ido antes, eram bem mais movimentada e bonita que a de perto do colégio.
—
, quer o sorvete agora? — Fishy me perguntou, sorridente.
— Que pergunta, é claro que eu quero! — disse sem paciência e ele murchou na hora.
— Por que tá agindo assim comigo? — o olhei — Eu não entendo.
— Deve ser porque você tá me irritando muito mais hoje. — respirei fundo. — Vá lá comprar nosso sorvete. — eu estava indo sentar em um dos bancos, quando Fishy me parou. — O que é dessa vez?
— Qual sabor você quer?
— Chocolate branco.
Afastei-me dele, peguei meu celular e li algumas das mensagens que minha família me enviou, como pareciam desesperados, pelas palavras. Fishy sentou-se ao meu lado e entregou-me o sorvete.
— Nem em pensamento os responda. — olhei para ele. — Eu falo sério.
— Você tá ficando insuportável! — levantei-me, porém Fishy me parou.
— Por que tá agindo assim? — respirei fundo.
— Nada. — ele arqueou uma das sobrancelhas. — É sério!
— Você sabe que pode se abrir comigo. — o olhei bem nos olhos.
— Desculpe, eu não posso descontar em você tudo que estou sentindo, até porque não são sentimentos bons. Também não quero que pense que não sou grata por tudo que está fazendo por mim — ele assentiu e eu suspirei alto. — Agradeço por me aturar, você não é obrigado a passar por isso.
— Não sou mesmo. — ele me olhou de cima a baixo, cruzando os braços e me fazendo rir fraco. — Mas pra ficar perto de você, eu aguento até esse seu mau-humor, que não quer passar.
— Desculpe Fishy — ele mordeu o lábio e eu fingi não me afetar após ver isso — Mesmo.
— Tudo bem, gatinha. — ele soltou risada gostosa.
— AÍ ESTÃO VOCÊS! — olhamos na direção de quem gritava, um policial apontava para nós. Droga!
— Venha! — Fishy pegou em minha mão e corremos para trás do parquinho.
— Como nos descobriram?
— Devem ter oferecido uma recompensa pra algum morador daqui nos entregar. — bufei. — Temos que tentar voltar para o nosso esconderijo.
— Como? Eles não vão descansar até...
— Já sei — ele me levou até uma área não movimentada. — Tire a jaqueta, boné e calça.
— O quê? — arregalei os olhos e ele bufou.
— Você precisa ser rápida! — Fishy disse, tirando sua camisa e me entregando. — Vista isso por cima da regata, vai ficar como um vestido. Quando tirar a calça, me entregue.
Arqueei uma sobrancelha e ele virou o rosto, retirei o boné e jaqueta, jogando no chão e vestindo a camisa que ele usava.
— Será que você pode ser mais rápida? — retirei a calça, rapidamente, o entregando e ele a vestiu. — Pronto.
— Não vai tirar sua touca? — Fishy apertou os olhos. — Ninguém vai reparar no seu cabelo, tire logo. — assim ele fez, cavando um buraco e escondendo as roupas ali. — Você é rápido.
— Já você — tombei a cabeça e franzi o cenho, quando eu ia respondê-lo, ele tampou minha boca. — Eles estão por perto, não faça barulho.
Vimos um dos policiais de costas para nós, Fishy, rapidamente, puxou-me contra ele, me beijando.
— Ei, vocês! — o homem nos chamou e eu meio que paralisei, mas Fishy continuou me segurando e não parou o beijo. — Não viram uma garota de boné com um garoto estranho de touca por aí? — não o respondemos, apenas continuamos nos beijando. Senti que o policial se aproximava. — Vocês não me ouviram? — Fishy parou o beijo, lentamente, segurando em meu rosto, eu fiz o mesmo.
— E você não vê que tá atrapalhando? — ele disse ao homem.
— Isso lá é jeito de falar comigo, moleque? — o policial se irritou, e eu abracei Fishy, tentando esconder ainda mais nossos rostos. — Saiam daqui.
— Obrigada. — eu disse, abraçada a Fishy e caminhamos, rapidamente.
— Esperem! — o homem pediu, nos fazendo parar de costas para ele. Respirei fundo.
— Fica calma. — Fishy sussurrou no meu ouvido. — O que quer dessa vez, senhor?
— Que vocês fiquem — ainda estávamos de costas — Vocês são estranhos demais para o meu gosto, estou achando suspeito.
Olhei para Fishy e o mesmo fez sinal para eu me acalmar. Abaixou-se, fingindo estar amarrando o tênis e pegou um pedaço de madeira que estava ao seu lado, golpeando o policial.
— Vamos, rápido! — me puxou, correndo pelo caminho que fizemos da pracinha do colégio ao esconderijo, no dia que fugimos. — Daqui a pouco o encontram caído e viram atrás de nós.
— E agora, o que faremos?
— Toda vez que me faz essa pergunta, tenho a impressão que você quer que eu te beije. — ele me parou, roubando-me um beijo.
— Fishy, tá maluco?! — bati em seu peito, e ele riu, tornando a me puxar e correr. — Que ideia é essa? Estamos em perigo.
— Não estamos em perigo, só não queremos ser pegos.
— Então espere até seu pai te encontrar e minha mãe também. — ele me olhou de relance, correndo mais rápido. — Não to aguentando mais, meus pés estão doendo.
— Quer que eu te leve no colo? — ouvimos o barulho de uma sirene, apertei a mão de Fishy e corremos mais rápido.
Depois de alguns bons minutos correndo, paramos um pouco para retomar o fôlego.
— É isso que dá não se exer...
— Não venha me chamar de sedentária! — levantei a mão o olhando firme.
— Eu não ia.
— Sei. — ele riu fraco, olhando ao nosso redor.
— Vamos continuar? — eu assenti e continuamos.
— ESTAMOS CHEGANDO! — ouvimos alguém gritar de algum lugar escondido, porque não vimos ninguém. — EU POSSO VÊ-LOS!
— Mas que droga! Isso tá parecendo filme de terror durante o dia! — eu disse nervosa.
— Vamos mais rápido. — tirei forças e fôlego não sei de onde, mas acelerei. — Pode ser algum morador querendo nos assustar.
— Ninguém mora aqui por perto, a sua velha casinha é muito bem escondida. — engoli o seco, olhando a minha volta. — O pior é que nem tivemos tempo de bagunçar as coisas pra tentar despistá-los.
— Não tínhamos como adivinhar. — ele respondeu segurando em minha mão, novamente, e fomos mais rápido.
Finalmente, chegamos ao esconderijo. Fishy se aproximou da portinha no chão a abrindo e entrando, na minha vez, senti alguém me segurar, tampando a minha boca.
— Calma. — a pessoa me virou.
— O que você tá fazendo aqui,
? É arriscado!
— Vim salvar você. — me abraçou. — Ele te fez mal?
— Não, claro que não. — me soltei para o olhar. — Fishy está me protegendo da minha mãe, por isso você pode ficar tran...
— Ela o denunciou.
— O quê? — arregalei os olhos.
A porta que estava trancada foi aberta e Fishy saiu algemado com delegado Hopper e minha mãe o seguindo.
— O que está acontecendo? — me aproximei.
— Ele não devia ter saído da prisão,
. —
disse, saindo da casa junto com meu pai. — E você não devia estar aqui com ele! — disse ríspido.
—
, de qual lado você está?
—
, o que achou que estava fazendo quando resolveu se aproximar, novamente, desse moleque? — meu pai perguntou nervoso. — RESPONDA!
— Pai, eu também me surpreendi ao vê-lo, mas acredite, o reencontrei no momento certo. — ele bufou, descansando as mãos na cintura. — Ele me protegeu esse tempo todo, vocês estão cometendo uma injustiça! — eu disse firme e meu pai socou a parede, que deu uma leve balançada.
— Você está defendendo esse filho do cão? — minha mãe me olhou firme.
— E quem é você para chamá-lo assim, sua diaba?! — ela se aproximou. — Ele estava me protegendo de você.
— Está percebendo, delegado? Esse moleque sequestrou minha filha e ainda fez a cabeça dela contra mim, que só estou tentando ajudar.
— Ajudar?
—
, pare com isso! — meu irmão me puxou pelo braço. — Você tá passando dos limites!
—
, você sabe de tudo, por que está agindo assim? — sussurrei em seu ouvido.
— Só vim aqui pra ajudar vocês, todos, exceto nossa mãe, estão encenando. Explico melhor depois, agora apenas entre no personagem e continue com sua histeria. — ele sussurrou de volta e eu assenti. — Você entendeu? Ela é a nossa mãe e você a deve respeito! — aumentou o tom de voz.
— Não! - aproximei-me de Fishy. — Olhe para mim, eu estou bem. Não tem necessidade de prendê-lo, ele não fez nada grave.
— Mocinha, eu já sei do caso desse aqui — delegado Hopper disse — Ele te perseguiu, foi preso, saiu da cadeia, te sequestrou... E agora, vai voltar pra cadeia. — eu comecei um choro bem falso, porém convincente. — Me admira você estar o defendendo. Como conseguiu ficar aqui por um mês?
— Fishy cuidou muito bem de mim — não deixava de ser verdade. — E a companhia dele é ótima.
— Ele a enfeitiçou, só pode ser isso. — minha mãe disse.
— Não, mãe. Fishy gosta de mim e demonstra isso, eu apenas o retribui o sentimento. — ele me olhou, sorrindo de lado.
— Você esqueceu seu namorado?
veio para te tirar das mãos desse moleque atrevido e você diz essas coisas na frente dele?
—
sabia que o nosso relacionamento, que nem chegou a se firmar, estava sujeito a isso. — eu o olhei, dando uma piscadela e o mesmo se fingiu de triste.
—
, as suas palavras são como facadas, atingindo sua ponta bem no fundo do meu coração. —
se aproximou de mim, acariciando meu rosto. — Não signifiquei nada para você?
— Significou, sim. — olhei em seus olhos. — Mas desde que Fishy apareceu na minha vida...
— Você está estranha! — minha mãe interrompeu-me. — Olhem para o cabelo dela, e essas roupas.
— Eu me sinto muito bem assim. — passei as mãos pelo cabelo.
— Já eu — Fishy resmungou, quase me fazendo rir.
— Seu cabelo tá uma droga, como fez isso? —
perguntou a Fishy, que me olhou. Fiquei implorando, mentalmente, para meu irmão conter a vontade de rir, senão eu riria junto.
—
, você ficou ainda mais linda.
— Poupe-me dos seus vagos elogios,
. — tirei sua mão de meu rosto e afastei-me. — Eu não entendo qual é o real motivo da prisão de Fishy, ele não fugiu da cadeia, foi solto e desde então, não me fez mal algum.
— Como não? Ele te sequestrou. — meu pai disse.
— Delegado, se você colher algumas informações, saberá que eu estava na pracinha perto do meu colégio, sozinha, minutos antes de Fishy aparecer.
— Fishy deve ter te mandado alguma mensagem, que você provavelmente apagou, ou te ligou e você apagou do registro, já que ele a ameaçou.
— Ele não me ameaçou! — eu fingi indignação. — Eu quis vir.
— Mas ele é maior de idade e você só tem 16 anos, é errado. — minha mãe disse firme.
— Ela fez 17 anos, mulher. — meu pai disse, balançando a cabeça em negação.
— Mas continua sendo menor de idade. — ela passou as mãos pelo cabelo, tentando não mostrar que ficou sem graça por ter errado a minha idade.
— Fishy tem a idade de
. — a olhei. — E de
também, seria errado eu namorar ele?
— Não importa, mocinha. Foi sem o consentimento dos seus pais e são eles que respondem por você. — delegado Hopper me calou com suas palavras. — Sem mais delongas, vou levá-lo para a delegacia. Um dos responsáveis de
, por favor, venha comigo para prestar queixa.
— Eu vou. — minha mãe disse rapidamente, me olhando.
— O quê?
— me aproximei dele. — Ela vai ferrar com Fishy lá. — sussurrei.
— Não se preocupe, o delegado está ciente das mentiras dela, fique tranquila. — assenti e meu pai me abraçou.
— Farei isso para o seu bem. — ela disse, antes de entrar no carro da polícia e eu rolei os olhos.
Os policiais iam saindo, mas eu ainda não acreditava no que estava acontecendo. A minha mãe é a pessoa mais mau-caráter que eu já conheci, imagine se não fosse parente.
— Filha? — olhei para
— Eu estava com tanta saudade, temia por sua vida.
— Já eu temia pela sua — suspirei. — Minha mãe quer te matar desde que voltou, mas como você ficou comigo na cabana por aqueles dias, só foi atrasando a execução do plano dela.
— Já parou para pensar que essa perseguição, que levou a nós nos escondermos na cabana, pode ter sido um plano de Fishy para te proteger? — me afastei para olhá-lo nos olhos.
— O quê?
— Até mesmo quando ele apareceu no dia da oficina, não foi por acaso. — disse
.
— Mas por qual razão?
— Te proteger?! — foi vez de
.
— Mas, por que tantos beijos? — sussurrei para mim mesma.
— O quê? — disseram em uníssono.
— Nada — eu cocei a cabeça, nervosa. — Só estou confusa. —
ficou me olhando desconfiado.
— Sua mãe formou um plano macabro de acabar comigo para ficar com você,
e meus bens, claro. Mas ela contou ao velho Martin, por isso ele mandou seu filho, o Fishy, com a ordem de te proteger. E desde então, Fishy planeja encontros nada casuais para te ver porque sabia que sua mãe estava para voltar a Keoursna com esse plano. — meu pai ia dizendo e minha mente parecia dar um nó apertado a cada palavra. — No dia da oficina, ele só queria te conhecer e achar uma brecha para te ver novamente e ficar por perto, então se matriculou na escola, mas depois você o dispensou, então pensou que te ameaçando seria uma boa forma de você o obedecer, não se distanciando, até mesmo para ele poder ficar sempre te observando. — pensei no bebê que a
havia perdido e no quanto o culpei por isso. — E agora, mais uma vez, ele reapareceu para te proteger.
— Como vocês sabem disso tudo?
— O velho Martin nos procurou, de forma indireta, e contou toda a verdade. —
disse.
— Quando o velho decidiu contar isso? Como vocês acreditaram? E por que ele quis me proteger?
— Há poucos dias, e não foi difícil de acreditar, só ligamos um ponto ao outro. E ele quis te proteger porque sua mãe foi mandante do crime que levou o nosso primeiro filho à morte, e talvez fosse capaz de fazer o mesmo com você para tentar me atingir, de alguma forma. — os olhos do meu pai marejaram.
— Ela não seria capaz, seria?!
— Eu briguei com o velho Martin naquele dia, eu não suportava saber que sua mãe trabalhava daquela forma. — ele respirou fundo — Então, para ela deixar claro que eu não podia a impedir e que se eu tentasse, novamente, acabaria com a minha vida, mandou alguns homens do velho atirarem no meu carro. —
tentava impedir o choro, mas sua voz estava embargada demais. — Tudo isso por dinheiro, por ser a favorita dos homens, por ambição.
— Ela é pior do que eu pensava! — estava impressionada. — Minha mãe é um monstro!
— Sabíamos que ela ia querer prestar queixa contra Fishy, afinal, ele atrapalhou os planos dela com sua traição, então combinamos assim com o delegado e ele vai prendê-la.
— Sem provas?
— O velho Martin está a esperando na delegacia, ele têm provas e testemunhas. —
disse um tanto triste.
— Por que ele não fez isso antes?
— Ninguém acreditaria nele.
— Mas se ele tem provas contra ela.
— E quem ia garantir que ele não forjou as provas? — meu pai indagou e
ficou meio inquieto.
— E quem garante que ele não fez isso agora?
— Cara, não faça isso consigo mesmo. —
apertou o ombro do meu irmão. — O velho só deu tempo para todos perceberem quem realmente é a sua mãe, mas antes que ela fizesse mais ruindades, ele tomou providências.
— Nossa! E-eu... É muita coisa pra eu processar ao mesmo tempo. — confessei. — Pai, eu sinto muito por esse meu irmão.
— Acredito que essa não tenha sido a real intenção dela.
— Está a defendendo? — meu irmão levantou o olhar para
. — É sério isso?
— Não estou a defendendo, mas a real intenção de sua mãe era apenas dar um susto em mim, se ela quisesse mesmo me matar, naquela época, teria feito. — respirei fundo. — Ela não sabia que nosso filho estaria comigo no carro, e agora a vingança dela é por isso.
— Ela acha que o culpado da morte dele foi você? — meu pai assentiu. — Essa mulher é louca!
—
, pare de falar assim! —
estava nervoso. — Ninguém nunca a ajudou, por isso ela age dessa forma.
— Filho — meu pai tentou se aproximar, mas
o empurrou contra a parede, tentando asfixia-lo.
tentou o parar, mas meu irmão estava irado. Meu pai apenas o empurrou, segurando um de seus braços para trás. — Eu entendo o seu sentimento de revolta, também o sinto, perdi um filho por conta dessa mulher que você adora e chama de mãe. Mas tome cuidado, eu o conheço muito bem e não quero perdê-lo também.
Meu irmão caiu de joelhos, em lágrimas, e num impulso o abracei forte. O abraço que raramente desfrutávamos, mas que no momento era necessário.
— Por favor, deem um tempo para nós dois. — pedi a
e
, eles se afastaram.
— Me sinto um idiota — ele chorou mais forte — Eu a defendi, tratei-a muito bem, a amo como a mãe que ela nunca foi, eu não entendo como pode ser tão fria!
— Eu sei que você estranhará o que vou dizer, mas ela nos ama. Do jeito dela, mas ama. — ele me olhou. Seus olhos estavam tão vermelhos por conta do choro. — É verdade, eu também dei uma brecha a ela para ter um pouquinho da mãe que não tive e estava gostando, até ameaçar o meu pai e querer controlar os meus passos. Mas ela me disse que não faria nada contra eu e você, que nos protegeria.
— Você acreditou?
— Não tão rápido, oras. Você sabe como sou. — suspirei. — Mas eu quis acreditar.
— Sente que é verdade? — assenti.
— Sim, o que meu pai disse faz sentido, e o comportamento dela durante esse tempo perto de nós também me leva a crer.
— É engraçado te ouvir falando isso, você sempre teve rejeição a ela. — sorriu de lado.
— Porque eu sentia a rejeição dela com a gente. — o olhei. — Ainda não sei o que ela entende de amor, mas acho que nem mesmo ela entende, só sente.
— Não sei por que sou tão ligado a ela.
— Já eu sou mais ligada ao meu pai. — sorri — É normal,
.
— Mas ela não é uma mãe como tia Audrey, por exemplo.
—
também não era um pai como tio Michael. E por falar nisso, você precisa dar uma chance a ele.
— De novo? — arqueei uma sobrancelha. —
, você precisa entender que...
— Ele mudou. — meu irmão bufou. —
realmente se preocupa.
— Com você.
— Não seja injusto com ele,
. — firmei meu olhar. — Você sabe que depois de todos esses acontecimentos nosso pai mudou muitas de suas atitudes.
— Você sabe que ele ainda se droga? — arregalei os olhos. — Todas as noites, ele vai para o terraço e aí você já sabe.
— Ah, bem eu não sabia, mas — respirei fundo, desviando o olhar dos olhos do meu irmão. — Como você...
— Não estou inventando, eu vejo,
. — engoli o seco — Vai ficar com essa cara?
— Eu só to surpresa, achei que ele já tivesse parado com isso. — bufei. — Mas eu já tinha visto também, na cabana. Pensei que seria a última vez.
— Ele também precisa de ajuda, assim como nossa mãe. — encarei meu irmão. — Se eu tenho que dar uma chance ao
, você precisa dar uma chance a ela. — dei um longo suspiro.
— Já que é assim, tudo bem. — nos levantamos.
—
está tão calado. — estranhei. — Você sabe por quê?
— Ah, eu acho melhor você conversar com ele.
— Me conte logo. — ele bufou.
—
não ficou nada confortável ao saber que você estava com Fishy — eu já ia me defender, mas meu irmão foi mais rápido. — Antes que você comece a dar suas desculpas, quero lembrar que você tem uma queda por esse cara e nunca sentiu necessidade de esconder isso.
— Sim, eu tenho uma queda por Fishy, e agora mais ainda porque — meu irmão cruzou os braços e sua expressão ficou mais séria. — Eu conheci o lado carinhoso e protetor dele, mas de verdade, sem aquelas falsas ameaças.
— Você acha mesmo que ele estava sendo sincero contigo?
— E por que não estaria? — meu irmão rolou os olhos.
— Não seja ingênua, tudo isso estava nos planos dele pra te proteger, foi só encenação.
— Não foi! — disse firme. — As trocas de olhares, os sorrisos, os abraços, os apertos de mão, os beijos... Tudo foi sincero. —
ficou ainda mais sério, e eu me arrependi do que havia dito. — Até mesmo as irritações, foram verdadeiras.
— Os beijos?
— É — pigarreei — Nós nos beijamos algumas vezes.
— Quantas vezes? — minha vez de cruzar os braços e deixar a expressão mais séria. — Eu não vou brigar com você, mas me ajude a entender.
— Entender o quê? — bufei.
— Nem mesmo você tá entendendo, né. — desviei meu olhar para o lado contrário de
. — Você gosta do
, mas tá apaixonada pelo Fishy.
— Não é isso! — suspirei — Eu gosto muito de
, muito mesmo.
— Mas? — olhei para o meu irmão. — Pode se abrir comigo, eu não vou te dar bronca.
— Ele não tem atitude.
— E você gostou dele mesmo assim. — suspirei alto. — Por que isso mudou?
— Depois que conheci Fishy, eu pensei muito no jeito dos dois.
— Há quanto tempo você vem comparando ele com
? — abaixei a cabeça. —
, as pessoas são diferentes umas das outras.
— Eu sei.
— Então respeite isso. — fechei meus olhos, respirando fundo. — Você não pode cobrar ou querer de
algo que não seja do feitio dele, só porque viu isso em outro cara e se agradou.
—
!
— Estou dizendo o que você precisa ouvir, é para o seu bem. — o encarei. — Pode me dizer por que se apaixonou por Fishy?
— Ora essa — ele ergueu as sobrancelhas. — Fishy tem um jeito tão ousado que não dá pra ignorar, foi o que mais me chamou atenção, no começo. — fiz uma linha com a boca, desfazendo em seguida. — Confesso que também me deixei envolver porque queria esquecer , mas depois de ficar com Fishy por esse tempo, eu notei o seu lado carinhoso, mas sem deixar de lado o jeitão atrevido, além de brincalhão, protetor e sincero. — sorri de lado.
— Hum, ok. — não estava conseguindo entender o meu irmão. Esse tipo de conversa eu costumo ter com . — Agora me diga, por que se apaixonou por ?
— Aish! — fiquei alguns segundos pensando. — é muito ajuizado, diferente de Fishy.
— Sem comparações! — tombei a cabeça, olhando séria para meu irmão. — O que tá esperando? Continue. — olhei para o céu, pensativa.
— sempre acalma a minha pessoa quando estou muito nervosa, me aconselha quando estou confusa, me faz rir quando estou triste ou brava, me dá forças quando passo por alguma dificuldade, é cavalheiro e sensível, é tão sentimental quanto eu e por isso me compreende bem mais que a , às vezes — ri fraco ao lembrar algumas situações. pigarreou — Desculpe, eu esqueço. — ele fez sinal para eu continuar. — Ele faz eu me sentir a garota mais linda aqui de Keoursna, não que eu já não saiba. — meu irmão rolou os olhos e eu ri — Estou brincando, claro. Mas, é como me sinto, e tem sua parcela de culpa em tudo de bom que sinto, sempre tem um dedinho dele. Ele é como um amigo que eu posso contar sempre, um parceiro mesmo, por quem eu sou completamente apaixonada, entende?!
— Sim, eu entendo. Mas e você? — olhei para meu irmão. — Percebe o quanto ele te faz bem, mesmo "sem atitude"? — ele fez aspas com os dedos.
— Acho que fui injusta com ele.
— continua sendo o mesmo de sempre, você que mudou e queria que ele fizesse o mesmo. — assenti. — Eu não falo só do seu cabelo e dessa roupa.
— Eu só queria ser uma versão melhorada de mim mesma. — suspirei — Quanto às roupas, eu não tive escolha.
— Não há problema em querer mudar para melhor, todo mundo tem esse direito e é até bom — estava atenta a cada palavra de . — Só não é quando não fazemos isso por nós mesmos, mas porque pessoas más e inconvenientes se aproveitam de nossas fraquezas, e se intrometem em nossas vidas, para tentar nos moldar conforme acham que será bom para nós. Ninguém tem esse direito, oras!
— Mas, se fazem isso, não é por que damos alguma brecha?
— Às vezes sim, por isso devemos ser mais fortes que qualquer opinião contrária, sobre nós. — meu irmão disse firme. — Você realmente quis mudar por você?
— Não no começo, eu achava que mudando até mesmo algumas atitudes, talvez pudesse me pedir em namoro de uma vez por todas. — confessei e meu irmão respirou fundo — Mas, depois eu pensei bastante e percebi o quanto estava sendo imatura, então pensei mais ainda e decidi mudar, inclusive esse tipo de pensamento, por mim mesma.
— Sua relação com Fishy te ajudou a mudar esse pensamento? De querer namorar, desesperadamente?
— Eu só deixei de ser dependente desse pensamento — ele assentiu. — Mas, de alguma forma, esse tempo com Fishy me fez muito bem e eu sou grata a ele por isso.
— Imagino que sim. — meu irmão sorriu. Aproximei-me dele, o abraçando.
— O jeito protetor dele lembra o seu e, isso fazia a saudade que eu sentia de você, aumentar ainda mais. — senti ele me apertar no abraço. — É muito ruim ficar longe de quem a gente ama.
— Eu sei, fiquei longe de você por duas vezes, mas essa foi bem mais demorada. — ele riu fraco. — Agora estamos juntos, novamente, e nada irá nos separar.
— Assim espero! — ouvimos uma buzinada, que nos assustou.
— Não dá pra deixar a conversa para depois? — olhamos para trás e meu pai estava no carro. — Vocês estão demorando demais!
Desviei meu olhar para o banco de trás, não estava lá. Franzi o cenho, estranhando e olhando ao meu redor.
— Por que será que não está com o meu pai?
— Porque eu preferi voltar e ficar aqui com você e , mesmo que escondido — ele saiu de trás da porta do esconderijo e eu fiquei boquiaberta. Olhei para o meu irmão, ele sorria largamente.
— Você sabia? — ele assentiu.
— Eu o vi voltando, quando estávamos falando sobre , então...
— Você me fez um monte de perguntas e eu boba, respondi tudo, sinceramente.
— Não fique brava — se aproximou, segurando em minhas mãos — Eu...
— Estamos aqui há tempo demais. — meu pai reclamou. — Entrem logo nesse carro!
— É como eu disse quando estávamos na cabana, sempre tem alguém para nos atrapalhar! — resmungou, enquanto caminhávamos até o carro.
sentou-se no banco do carona e conversou com o meu pai até chegarmos à casa de tio Michael. Já eu e apenas aproveitamos a companhia um do outro em silêncio, deixamos nossos olhares falarem por si só. Parecia que o mundo era só nosso... Até meu pai, mais uma vez, nos interromper.
— Chegamos, saiam logo do carro!
[Capítulo Vinte e Dois]
— Assim você vai me sufocar, — ela suspirou — Senti sua falta, super girl.
— Tem noção do quão chato foi passar o nosso aniversário sem você? — ela deu uma tapa em meu ombro, fazendo-me rir.
— Ah, eu posso imaginar — caminhei até tia Audrey e ela me apertou num abraço. — Foi dureza pra mim também.
— Não faça mais isso, mocinha! — ela acariciou meu rosto — Você me deixou muito preocupada.
— Por que você quer testar o nosso coração, criança? — tio Michael se aproximou me olhando firme, mas logo sorriu e me abraçou — Esses meus filhos estão me deixando cada vez mais velho, olhem a quantidade de fios brancos que estão se alastrando no meu cabelo.
— Pensei que era por conta da idade avançada — provocou.
— Não me provoque, garoto — tio Michael apontou o dedo indicador para o meu irmão — Quer que o meu neto cresça sem pai?
— De forma alguma! — alisou a barriga de .
— E eu achando que estava menos ajuizada do que a amiga. — tia Audrey resmungou.
— Não estou entendendo. — engoli o seco.
— Você terá um sobrinho — meu irmão afirmou sorridente.
— Ou sobrinha — ressaltou.
— O QUÊ?
Tentei dizer algo sobre a notícia que acabara de ouvir, mas não consegui esboçar reação. Eu não imaginava algo do tipo, novamente, e tão cedo.
A parte mais chocante é que todos estão tranquilos e felizes com a gravidez da , mas isso só me assusta.
— , está tudo bem? — tia Audrey perguntou preocupada.
— Sim, só fiquei meio zonza, mas já passou.
— Às vezes, eu fico assim também — disse tranquilamente — É normal na gravidez.
— O QUÊ? — , , tio Michael e me olharam de tal forma, que nem sei descrever.
— Não fale besteira, menina! — tia Audrey repreendeu minha amiga, que ficou rindo.
— Não me olhem assim, eu não estou grávida! — eles suspiraram se entreolhando.
— Mas seria legal se estivesse — olhei para — Nossos bebês cresceriam juntos.
— Tia — ela me olhou — Gravidez faz a pessoa ter pensamentos loucos?
— Geralmente, vai amadurecendo a mulher, mas eu não sei o que acontece com sua amiga.
— Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui — reclamou — Querem saber, vou para o meu quarto.
— Quer ir falar com ela agora ou quer comer primeiro? — tia Audrey perguntou já sabendo a minha resposta. Apontei para o quarto de e ela assentiu.
Adentrei o quarto, encontrando-a deitada na cama, comendo uma pequena barra de chocolate.
— Sei o que está pensando — ela disse.
— Ah, é? — cruzei os braços, arqueando as sobrancelhas — E no que eu estou pensando?
— Que eu devia ter me cuidado.
— O que? também se descuidou. — me sentei na cama — Mas eu não estava pensando nisso — ela parou de comer e me olhou — Amiga, tem certeza que você está grávida?
— Eu sei que parece loucura, mas sinto tudo que senti na primeira gravidez.
— Super girl — respirei fundo — Será que não é psicológico?
— Lembra quando você teve um encontro com o meu irmão? — eu assenti. — No mesmo dia, eu tive um encontro com o seu irmão, então... — ela me lançou um olhar significativo.
— Vocês... Ah, por isso ele não quis contar como foi o encontro. — assentiu — E você ficou dizendo que foi horrível, que não sabia se daria certo... Até discutimos nesse dia.
— Eu precisei me desviar do assunto — nós rimos — Mas continuando, há pouquíssimos dias eu comecei a me sentir estranha e minha mãe desconfiada, me levou à sua ginecologista e eu fiz um exame que confirmou a gravidez.
— Nossa, eu nem sei o que dizer.
— Tô com um mês, eu acho.
— Você acha? — eu ri.
— Eu ainda não entendo muito bem dessas coisas, minha mãe que tenta me explicar — ela resmungou. — Por isso eu não fui te buscar com os meninos, ela disse que seria melhor se eu ficasse, já que da última vez sofri um aborto espontâneo.
— Claro, eu entendo. Você precisa de todo cuidado. — ela concordou — Ai meu Deus, eu vou ter um sobrinho! — eu disse empolgada.
— Ou sobrinha — ela destacou sorridente — Eu confesso que ainda estou meio assustada, foi tão repentino. Parece que foi algo planejado, mas eu juro que fomos pegos de surpresa.
— Ah, eu sei disso. Vocês jamais planejariam um bebê, não agora. — ela suspirou — Mas, algumas coisas acontecem dessa forma na nossa vida, surpreendentemente.
— Tem razão — ela ajeitou o cabelo — E com o apoio da nossa família, me sinto mais aliviada.
— Eu também. Saber que meu irmão não será morto por me deixa bem aliviada. — brinquei, fazendo-a rir — Mas sério, a primeira gravidez foi um susto muito grande.
— Desta vez também foi — ela se ajeitou na cama — Mas, todos têm se esforçado pra me deixar o mais tranquila possível, inclusive a sua mãe.
— O quê? — arregalei os olhos — Como seus pais puderam permitir que aquela mulher se aproximasse de você? — indignei-me.
— Calma, parece loucura, mas ela realmente quer esse neto, ou neta. — fez careta — Ela até comprou isso — tirou da gaveta um par de sapatinhos de lã brancos, me entregando — São lindos, né?!
— Sim, são lindos — segurei os sapatinhos — Mas não se engane, amiga.
— , eu entendo sua preocupação, mas percebi o quanto sua mãe gostou da notícia.
— , você nunca foi ingênua — a olhei firme — Por que seria agora?
— Bem, você também nunca foi uma pessoa fria e, no entanto, está sendo — pegou os sapatinhos para guardar — Por qual razão?
— Olha, eu não quero brigar com você — respirei fundo, enquanto ouvia meu estômago roncar. — Vamos mudar de assunto.
— Vá comer algo.
— Eu gostaria de tomar um banho primeiro, me empresta uma roupa?
— Pega no meu armário — peguei a toalha e um macaquinho jeans preto com uma camiseta branca — Amei o seu cabelo.
— Foi ideia do Fishy.
— Como foi passar esse tempo com ele? — me virei para ela, que me olhou curiosa.
— Bom — ela arqueou as sobrancelhas — Meio irritante às vezes, mas ele foi tão...
— Tá apaixonada pelo Fishy?
— Ele é apaixonante — sorri ao lembrar o quanto tentava me proteger.
— E muito bonito, convenhamos. Com aqueles olhinhos puxados e toda aquela ousadia — eu assenti, rindo — Ficou dividida entre ele e meu irmão?
— Cheguei a ficar, sim — pigarreei — Mas, eu conversei com e ele me fez enxergar o quão imatura, e injusta eu estava sendo.
— Já sei que ele será um ótimo conselheiro para nossa filha — ela disse empolgada, alisando a barriga.
— Ou filho — eu ri e ela concordou. — Vou para o banho.
Caminhei, preguiçosamente, até o banheiro e tirei a roupa, me deparando com uma discreta manchinha de sangue na camisa, que mais parecia um vestido em mim.
— Isso explica a irritação exagerada nos dias anteriores. — sussurrei para mim mesma.
Tomei o banho quente e longo que eu merecia, depois de tanta informação na mente.
Olhei as pequenas gavetas do armário, procurando o que eu precisava para me manter protegida e limpa, por algum tempo. Mais uma vez, meu estômago roncou e eu me vesti mais rápido, sem demora saí do banheiro.
— ?! — me deparei com ele sentado na cama — O que houve?
— Só queria ficar a sós contigo — sorri, sentando-me à sua frente. — Você está bem com a prisão da sua mãe?
— Isso foi só consequência das más ações dela. — suspirei — Mas, não vamos falar disso agora, por favor.
— Ok. — ele sorriu e ficou me observando durante alguns segundos.
— Por que está me olhando assim?
— São tão raros os momentos que podemos ficar a sós, até parece mentira.
— É verdade — ele sorriu, me fazendo sorrir junto — Acho que preciso me desculpar com você.
— Não precisa, não. — disse num tom suave.
— Preciso sim, eu não estava sendo madura — respirei fundo — Fiquei tão confusa.
— Isso é normal. Eu também sou imaturo às vezes, mas a gente vai aprendendo e amadurecendo, é a vida. — ele suspirou.
— Sim, mas eu não quis te magoar.
— Eu sei. — ele forçou um sorriso — Mas, confesso que foi desconfortável ouvir você me comparando ao Fishy — engoli o seco — Até então, eu achava que você gostava do meu jeito.
— Mas eu gosto, sempre gostei. — olhei em seus olhos — E me fez lembrar o quão bem você me faz e significa para mim.
— Sim, preciso agradecer ao seu irmão. — nós rimos. me puxou para si, deslizando sua outra mão até minha nuca. — Eu gosto muito de você, . Muito mesmo. — ele encostou seus lábios nos meus, me beijando delicadamente — Senti tanto a sua falta. — confessou, enquanto acariciava o meu rosto.
— — olhei assustada em direção à porta, era meu pai — Não vai descer para comer? disse que você está com fome. — perguntou num tom elevado.
— Sim, eu já vou — ele continuou nos olhando. — O que é?
— Estou esperando vocês se afastarem.
— Pai, por favor.
— Não , e pode ir à minha frente, não quero vocês tão grudados assim.
— é o meu namorado, é claro que vamos nos acariciar! — eu disse num tom óbvio.
— Ele já te pediu em namoro? Porque eu acho que não. — ele ergueu uma sobrancelha e eu engoli o seco — Agora, vamos descer.
Fui andando em direção ao meu pai, quando se colocou ao meu lado, me parando. Não entendi sua reação.
— Tio — ele chamou meu pai, que parecia ainda mais impaciente quando se virou para nós — Você me permite namorar a ?
— O quê? — meu pai nos olhou, surpreso — Você está certo disso, garoto?
— Sim, eu estou. — sorriu para mim.
— — desviei o olhar para — Você realmente quer isso?
— Pai, você sabe que sim.
— E então, tio? — o pressionou e meu pai o olhou de sobrancelhas erguidas.
— Tudo bem.
— Sério? — perguntei desconfiada.
— E eu tenho escolha? — meu pai resmungou.
— Finalmente — me abraçou.
— Encontro vocês lá embaixo, não demorem. — a contragosto nos deixou e eu ri do descontentamento dele.
— Eu nem acredito! — disse, me afastando um pouco para o olhar — Está mesmo certo disso?
— Como nunca estive antes. — me beijou mais uma vez — Pensei que o seu pai não iria permitir, ele ficou tão bravo quando nos viu.
— Ele vai parar de nos interromper.
— Não, não. Agora mesmo que ele vai nos interromper, seu pai faz isso de implicância — resmungou, fazendo biquinho.
— Bem, agora que somos namorados, teremos bastante tempo pra ficarmos juntos e matar a saudade. — selei nossos lábios.
— Hum, de qual forma? — ele sorriu malicioso.
— Não da que você está pensando — ele fez careta e eu ri — Vamos comer algo, eu estou mesmo com fome.
Depois de contar a novidade para todos, comemos e conversamos bastante sobre como eu passei esse tempo longe da família.
Não demorou muito para eu ir embora. Amo estar com minha família, mas também amo estar na minha casa.
Fui para o meu quarto e antes de adentrar, parei na porta e fiquei observando cada detalhe. Sempre gostei de mudar a decoração do quarto, eu fazia isso todos os anos com a ajuda de e , assim meu pai só ficava sabendo quando já estava feito. E como ele raramente entrava nos nossos quartos, fazíamos o que tínhamos vontade.
Meu irmão não era tão prestativo assim, na verdade, ele nunca foi e, nossa relação familiar também não cooperava. Confesso que eu precisava chantageá-lo; ou me ajudava, ou ficava sem se alimentar até que o quarto estivesse completamente renovado. Claro que ele não concordava inicialmente, mas sempre se rendia às minhas almôndegas, então no fim nós dois éramos beneficiados.
Já , ficava satisfeita apenas em ficar perto de como pagamento, então sempre era tranquilo.
— Esse ano você ainda não mudou a decoração — meu pai se aproximou da porta. — Não vai mudar?
— Como você sabe?
— Achou mesmo que eu não sabia? — dei de ombros e ele riu.
— Eu sou receosa quanto à mudanças, mas sempre gosto do que faço aqui no quarto.
— Ficando ruim ou não, quem além de nós e seus amigos, entrariam aqui para ver? — o olhei — Não se preocupe tanto com mudanças, pode ser bom de vez em quando.
— É que às vezes as pessoas são tão cruéis em seus comentários.
— Besteira, as pessoas sempre irão falar. Algumas bem, outras mal, mas sempre irão falar. — ele abanou as mãos — Você só não pode deixar isso te afetar.
— Caramba — ergui as sobrancelhas — O fala como você! — ele riu — Sério, o meu irmão lembra muito você, às vezes.
— Hum, será porque ele é meu filho? — disse brincalhão, me fazendo gargalhar — Venha me dar um abraço, senti muito sua falta e fiquei preocupadíssimo. — o abracei forte — Sua mãe quase me enlouqueceu, precisei...
— Se drogar? — me afastei para o olhar, mas ele abaixou a cabeça — Pai, com qual frequência...
— Você não precisa saber disso, — me olhou firme. — Deixe isso pra lá.
— Você tem paixão por luta e já teve a oportunidade de ser um lutador profissional, mas por conta das drogas perdeu essa chance. — ele deu um longo suspiro. — O que mais vai precisar perder?
— Eu vou parar com esse vício.
— Quando? — ele bufou — Você terá um neto. Não espere que ele cresça e te veja nesta situação, para só depois você pensar em parar.
— Chega desse assunto!
— Só quero te ajudar.
— E-eu sei, mas... — respirou fundo — Preciso sair agora. — ele beijou minha testa e saiu rápido.
Senti-me frustrada por não conseguir ajudá-lo, bem, ele nem me deu a chance de tentar, mas entendo que um vício como esse não seja fácil de se libertar, ainda mais pelo tempo de uso. São muitos anos vivendo assim, acredito que para o caso de , só reabilitação. Eu não sei bem, não entendo do assunto, mas poderia me aprofundar só para ajudá-lo.
— O que houve? — meu irmão adentrou o quarto.
— — dei um leve pulo — Que susto! — ele ficou me olhando, esperando pela resposta — Nada, eu só estava pensando em mudar a decoração do quarto.
— Ah, é verdade, você ainda não fez isso nesse ano. — ele olhou ao redor — No que está pensando?
— Desta vez, eu quero trocar os móveis de lugar também, ok?
— Não — franzi a testa — Não mova o armário, ele é muito pesado. — o olhei séria — Ah, não faça essa cara, eu vou ficar quebrado pra ir trabalhar amanhã.
— Não vou fazer isso hoje, meu dia foi cheio, estou cansada!
— Mesmo quando não estiver cansada, não vou tirar o armário do lugar.
— Tudo bem, — rolei os olhos — Então, me ajude a... — suspirei.
— ?
— Eu gosto de como tudo está — o olhei — Porém, quero algo mais.
— E como quer que eu te ajude?
— Faça um desenho que represente a nossa família — ele ergueu as sobrancelhas — Isso incluiu...
— Tio Michael, tia Audrey, , e nosso filho, eu sei. — concordei com a cabeça — Mas, eu não faço ideia do que desenhar.
— , você é criativo, pense em algo — ele cruzou os braços, arqueando uma sobrancelha — Por favor!
— Tá bem — sorri largamente. — Amanhã eu tento desenhar algo, no trabalho.
— Obrigada. — ele assentiu — Caramba, hoje foi o dia.
— Pois é, nossa mãe sendo presa, você descobrindo que terá um sobrinho...
— Nosso pai saindo pra se drogar.
— Mas isso não é novidade! — o olhei séria — Foi mal, desculpa.
— Eu só queria ajudá-lo.
— não quer ser ajudado, pelo menos por enquanto, então tenha paciência. — assenti — Já reparei que ele não deixa você e ficarem a sós por muito tempo.
— Sim, ele sempre nos interrompe, fica o tempo todo perguntando o que estamos fazendo — suspirei — Mal conseguimos nos beijar.
— Já com o Fishy, você não perdeu tempo.
— Yah, esqueça isso! — bufei.
— Tudo bem — riu debochado — Como se sente agora que é oficialmente namorada do ?
— Sinto que eu não devia ter me importado tanto com isso, como fiz antes, mas o sentimento é muito bom, agora — assentiu — Nossa, é demais saber que ele gosta de mim a ponto de querer assumir isso ao resto do mundo. — suspirei — Mas, me conte como foi descobrir que você será pai?
— Um susto enorme! — ele arregalou os olhos, sem perceber — A primeira coisa que pensei foi em não perder esse bebê também, porque essas coisas acontecem muito com as mulheres.
— Desta vez, nós iremos cuidar para que nada de ruim aconteça à , assim ela terá uma gravidez saudável. — segurei em seu ombro — Não vai acontecer de novo, relaxa.
— Agradeço o apoio. — ele forçou um sorriso — Só quero que essa criança seja saudável, eu já a amo tanto. — eu me emocionei com a forma que meu irmão estava se expressando, nunca foi tão sentimental. — Queria tanto que nossa mãe pudesse acompanhar esse momento com a gente.
— Eu não. — ele me olhou espantado. — E dou graças a Deus por ela estar presa neste exato momento.
— ?!
— Estou pensando na segurança de todos, e principalmente, do bebê. — disse convicta — Não é bom que ele tenha contato com uma mulher como a nossa mãe.
— Nunca mais diga isso! — ele já ia saindo do quarto.
— , eu não quis... — bateu a porta do quarto, antes mesmo de eu terminar — Te magoar. — bufei — Droga!
À noite foi se aproximando e eu fiquei arrumando as minhas coisas da escola, teria que repor todas as faltas e notas, de alguma forma, mas só de pensar já me batia o cansaço.
Pendurei minha mochila na parede e vesti minhas roupas de dormir.
— Ei, moça linda! — olhei na direção da janela e lá estava , adentrando o meu quarto — Que foi?
— Você viu eu me trocar?
— Ah, dessa vez eu não tive sorte, fique tranquila — ergui as sobrancelhas — Quem sabe na próxima...
— Yah, seu pervertido! — dei umas tapas nele.
— Calma, só estou brincando, você sabe o quanto eu te respeito!
— Sim, eu sei, estava brincando. — o abracei — O que te traz aqui, a essa hora da noite?
— Não gostou?
— Eu não disse isso, só estou surpresa. — ele sorriu — Mas gostei sim.
— Eu só queria passar um tempo com você, e aqui no seu quarto é menos agitado que o da — nós rimos um pouco — Podemos conversar com mais calma.
— Só não sei por quanto tempo, daqui a pouco meu pai aparece aqui.
— Acho que não, tio está com meu pai na delegacia — franzi o cenho, estava confusa — O delegado Hopper precisa do depoimento deles para inocentar Fishy. — assenti, ainda estranhando — E está lá em casa.
— Meu irmão está chateado comigo.
— Ele nos contou e por isso minha mãe ficou coversando com ele e . — suspirei, assentindo — Eu aproveitei a distração deles para escapar e vir aqui. — nós rimos um pouco — Depois de tudo que aconteceu, não quero te deixar sozinha.
— Não se preocupe tanto, a minha mãe já está presa. — eu o puxei para nos sentarmos na cama.
— Mas Fishy não. — respirei fundo tentando me preparar para os ciúmes de — Eu o invejei tanto por estar com você... Só com você, durante esse tempo todo.
— Primeiro: foi por apenas um mês. Segundo: não fale como se tivéssemos ido para uma viagem de férias, a situação não foi nada agradável. Terceiro: a dramática aqui sou eu. — segurei em sua mão — , tudo que Fishy fez foi me ajudar, me proteger. E eu preciso ser grata a ele por isso.
— Se você diz. — sussurrou cabisbaixo.
— Não fique assim — ergui seu rosto, o olhando nos olhos — É de você que eu gosto, de verdade. — ele sorriu de lado. — Além do mais, teremos todo tempo do mundo para aproveitarmos a companhia um do outro.
— Que tal começarmos agora?! — envolveu-me em seus braços e beijou-me delicadamente. — É incrível.
— O que? — sussurrei em meio ao beijo, mas ele parou para me olhar.
— O sentimento que tenho por você cresce a cada dia, eu nem consigo mais pensar no meu futuro sem que você esteja nele.
— Você quer me fazer chorar? — ele riu fraco.
— Só se for de alegria — sorri largamente — Porque a minha intenção é te fazer feliz até o fim dos meus dias.
— Nossa! Você fala como se estivéssemos prestes a nos casar. — eu ri de nervoso.
— Você quer — arregalei meus olhos — Casar comigo?
— Você — ele me olhou atentamente — Ficou maluco? — começou a gargalhar, me deixando confusa e um pouco irritada.
— Eu só estou brincando com você! Nossa, devia ter visto a sua cara — ele fez uma careta e continuou rindo, me deixando ainda mais irritada. — Ah, não fique brava. — selou nossos lábios.
— Eu não estou — menti forçando um sorriso.
— Tenho algo para você — ele retirou um embrulho do bolso do casaco — Fiz para te entregar no seu aniversário, mas isso não foi possível. De qualquer forma, espero que você goste. — me entregou.
— Não precisava se incomodar — ele deu de ombros, sorrindo. Retirei a embalagem do objeto e me deparei com uma caixa de madeira escura, no formato de um livro antigo. Quando a abri, havia duas páginas amareladas, uma contendo a minha imagem, delicadamente pintada, e outra com notas musicais. Na pintura, eu soprava as notas musicais, que iam voando ao céu, como se faz com as bolhas de sabão. Fiquei maravilhada e grata em como pensou em cada detalhe de sua obra.
— Você gostou? — perguntou esperançoso, porém um tanto receoso.
— Eu amei! — respondi animada e o abracei forte. — Muito obrigada.
— Fico muito feliz que tenha gostado — afastei-me um pouco para admirar seu sorriso satisfatório — Sei o quanto você gosta de coisas simples, decorações de madeira, livros, música... Enfim, tentei juntar tudo e acho que deu certo.
— Deu muito certo! — olhei mais uma vez para a caixa, logo desviando o meu olhar para ele. — Muito obrigada mesmo, esse é o presente mais lindo e significante que já recebi, não tenho como expressar o quanto amei. — o abracei novamente — Estou sem palavras, você é maravilhoso!
— Você é ainda mais! — sorri involuntariamente ao ouvir suas palavras — Não quero ser chato, adoraria ficar mais com você, porém você precisa voltar à escola amanhã e eu preciso manter o meu emprego.
— Está gostando mesmo do trabalho.
— Vez ou outra, os caras deixam eu e fazermos alguns rabiscos, como os mesmos chamam. Contudo é dureza, criticam tudo que desenhamos, mas acredito que, de alguma forma, isso tem nos ajudado. — ergui as sobrancelhas levemente — Estamos aprendendo a dar mais atenção aos mínimos detalhes, linhas retas, precisão, desenhos bem projetados, não errar na tinta...
— Fico muito feliz por vocês, de verdade. — disse sincera — Sei que você sempre fez esse trabalho utilizando a madeira e o desenho, mas nunca levou a sério. — concordou — Meu irmão também sempre desenhou, mas até escondia suas artes da gente. — ri fraco. — Aproveite esse aprendizado, você terá um retorno positivo no futuro, também.
— Sim, você tem razão. — ele sorriu — Agora preciso ir. — se levantou, caminhando até a janela. Fiz o mesmo.
— Bom trabalho amanhã — selei nossos lábios. — Boa noite.
— Durma bem e tenha uma ótima aula amanhã.
— Tenha cuidado na rua. — depositou um beijo na minha testa e saiu pela janela.
Guardei meu presente dentro do armário com o maior cuidado e carinho possível, e corri para fechar a janela.
Não estava sentindo fome, mas sono. Apaguei todas as luzes e me joguei na cama, desmaiando de sono.
[Capítulo Vinte e Três]
— O que houve? — me chacoalhava.
— Está atrasada! — lembrei que da aula e dei um pulo da cama — Da próxima vez, eu vou te deixar perder um dia de aula. — ele saiu do quarto, pelo seu tom de voz, ainda estava bravo comigo.
Troquei minha roupa de dormir pelo uniforme da escola e corri para o banheiro.
Peguei minha mochila e saí do quarto, gritando pelo meu irmão.
— Você sabe que horas são pra estar gritando desse jeito? — saiu do seu quarto, todo arrumado.
— Você precisa mesmo trabalhar nesses trajes? — perguntei, o observando arrumar a gravata.
— Se eu quiser manter meu emprego, sim. — ele disse num tom óbvio e eu dei de ombros. — Por que ainda está parada aí? Vá tomar o seu café da manhã.
— Não vou comer, estou atrasada.
— Desça e faça o seu desjejum, agora — disse firme — Não mandei você ir dormir tarde ontem. — fui para a cozinha, encontrando devorando o bolo de laranja.
— Vai me levar de carro para a escola? — me sentei à mesa.
— Não, te leva na bicicleta dele. — meu pai disse, enquanto passava o requeijão no pão.
— Minha bicicleta tá ruim, eu ia mesmo te pedir uma carona. — bufou — Vai nos levar?
— Sim, só porque estão atrasados.
— Na verdade, só a tá atrasada.
— Então você vai a pé.
— Mas assim eu vou me atrasar — meu irmão se indignou e eu ri.
— — olhei para — Já que está rindo de , vai a pé com ele. — parei de rir no mesmo instante.
— Isso não é justo, eu realmente estou atrasada, droga!
— Cuidado como fala! — levantei-me e peguei minha mochila, correndo até a saída de casa. Peguei o celular e liguei para .
— Oi, super girl.
— Vai pra escola hoje?
— Já to na escola, vim com — bufei, perdendo a esperança — O que aconteceu?
— Não vou conseguir chegar a tempo de assistir a primeira aula. — respirei fundo — Mas tudo bem, eu copio do seu caderno depois.
— Tá, preciso ir pra sala agora.
— Ok, tchau. — finalizei a chamada e vi meu pai saindo da garagem.
— , entre no carro. — disse.
— Mas você...
— Entre logo! — meu irmão ordenou impaciente. Entrei rapidamente, precisava da carona.
Cheguei à escola já correndo pelos corredores, mas fui parada pelo inspetor Meia-Noite. Bati na minha própria testa, bufando.
— Olha, me desculpe, sei que não posso ficar correndo pelo colégio — ele assentiu de braços cruzados e olhar firme. — Mas me quebra essa, eu não posso mais faltar e já estou atrasada.
— Tudo bem — arquiei as sobrancelhas, incrédula, o fazendo rir — Senti falta de você correndo por esses corredores — sorri junto, mas ele parou de rir na hora — Não nos assuste mais assim, menina!
— Okay.
— Quer se atrasar mais? — neguei com a cabeça — Vá logo para a sala!
Não esperei por mais nada, apenas corri como se não houvesse amanhã e invadi a sala.
— ?! — professora Frida me olhou assustada — Está tudo bem?
— Agora sim. — sorri.
— Ficamos todos muito preocupados. — ela me abraçou.
— Eu não fiquei — ouvi Simon dizer.
— Muito menos eu — Halston concordou e suas amigas me olharam com desdém. — Seu cabelo está horrível!
— Egoístas como são, não poderiam mesmo pensar em outro alguém, além de si mesmos. — senhora Frida disse em minha defesa e foi a primeira a rir. — Eu amei o seu cabelo! Se ainda fosse jovem, faria igual. — ri de sua empolgação — Falando sério agora, você terá muitos trabalhos pela frente para recuperar nota e frequência, mas tenho certeza que sua amiga irá te ajudar.
— Tô aqui pra isso — disse, me fazendo rir.
— Agora todos prestem atenção na revisão — me sentei ao lado da minha amiga — Vocês terão prova daqui a duas semanas, então não brinquem em serviço. — assenti tranquilamente, mas minha vontade era de chorar.
Depois da aula de física, tivemos geografia e finalmente, o intervalo.
— Eu não aguento mais tanta matéria. — disse chorosa, enquanto lavava o meu rosto na pia do banheiro.
— Esse mês que você ficou ausente foi como uma chuva de exercícios e pesquisas — disse desanimada, enquanto saía de um dos sanitários — Eu não quero te assustar, mas você vai ter muito trabalho pela frente.
— Eu sei — suspirei — Mas farei o que for necessário para ser aprovada nos exames finais.
— Eu te ajudo.
— Não, nada de estresse para você e o bebê. — alisei sua barriga.
— Amiga, sei que está querendo nos proteger, mas não estou doente, apenas grávida.
— Então você está grávida? De novo? — Halston surgiu no banheiro, parecia preocupada.
— Isso é problema seu? — perguntou um tanto irritada.
— Se o Drew for o pai, sim, o problema também é meu.
— O que quer dizer? — ela hesitou em responder. — Deixa pra lá, de qualquer forma, isso não nos interessa.
— Vocês sabem que eu saía com o Drew antes o envolvimento dele com , quando ele decidiu parar de me ver, eu comecei a desconfiar que de gravidez — ela respirou fundo. — Ontem eu tive a confirmação.
— Por que você está contando isso pra gente? Cadê suas amigas? — estava tão confusa quanto eu.
— Quais amigas? — ela nos olhou — Essas interesseiras que me seguem não são minhas amigas.
— Pelo tempo, você deve estar com 2 ou 3 meses, não desconfiava?
— Sim, mas tinha medo de ter a confirmação — ela abaixou a cabeça. — Mas agora tenho uma solução para isso, vou abortar. — engoli o seco.
— Alguém mais sabe dessa gravidez? — perguntou preocupada, mas Halston negou com a cabeça.
— Vocês são as primeiras pessoas para qual eu contei.
— Você precisa contar ao Drew. — eu disse receosa por sua reação.
— Não posso fazer isso — Halston disse aflita — Não quero que ele pense que essa gravidez é só para prendê-lo a mim.
— Mas ele é o pai dessa criança, você não pode tomar uma decisão assim, sem antes falar com ele. — estava se envolvendo demais, e isso estava me preocupando. — Drew é uma ótima pessoa, jamais negaria essa criança.
— Os meus pais nunca aceitarão — ela desatou a chorar.
— É nesse momento que entra o Drew pra te apoiar. — falei, me aproximando dela — Por favor, não tome nenhuma decisão precipitada, pelo menos desta vez, não seja egoísta.
— Por que se importa?
— Estava demorando — se irritou.
— Só não gostaria que você se arrependesse quando já for tarde, essa decisão é para sempre e traz consequências.
— Eu preciso pensar — ela ia saindo um tanto atordoada, mas parou na porta — ...
— O pai do meu filho é o , meu namorado e irmão da .
— Que alívio! — ela suspirou, enxugando as lágrimas. — Agradeço pelas palavras, tentarei fazer a coisa certa desta vez. — Halston saiu sem nos dar tempo de resposta.
— Está tudo bem? — parecia enjoada.
— Sim, foi só uma tontura, já passou. — ela lavou o rosto — Acho que me envolvi demais no problema da Halston, mas eu só tentei ajudar. Perder um bebê é algo triste demais!
— Acho que é o seu instinto materno florescendo. — ela me olhou sorrindo.
— Vamos, ainda temos mais matérias pela frente.
As aulas terminaram, e eu estava acompanhando até sua casa, seus enjoos repentinos me preocupavam.
— Parece que as coisas mais loucas só acontecem com a gente — eu disse a .
— Ainda mais na escola. — ela concordou — Sempre há alguma treta.
— E sempre estamos no meio. — nós rimos — O que de mais louco poderia nos acontecer hoje?
Na esquina da casa da , passou o carro da cocada, o homem que anunciava os tipos e preços do produto, estava vestido de gorila, e parou o anúncio para dar suas cantadas. Eu e entreolhamos-nos, rindo e quando olhamos para trás, lá estava ele nos mandando beijos no ar.
— Não acredito que vi isso! — eu disse, rindo alto.
— Super girl, nem eu! — adentramos a casa, gargalhando forte.
— Do que tanto vocês estão rindo, hein? — tia Audrey desceu as escadas indo para a cozinha.
— Mãe, você não vai acreditar... — a seguiu.
— Está livre hoje à noite? — perguntou, me assustando — Calma — ele riu, enquanto me abraçava.
— Eu não estarei livre nos próximos dias — ele franziu o cenho — Tenho muitos trabalhos escolares para fazer.
— Eu entendo. — assenti — Mas já que estamos aqui — ele envolveu seus braços em minha cintura e nos beijamos.
— Os pombinhos já estão grudados?! — tia Audrey se aproximou — Ah , estou tão feliz que tenha assumido de vez que gosta de você! — ela segurou em minhas mãos — Amo você como filha e não poderia estar mais satisfeita com a escolha do meu filho.
— Mãe, é estranho você falar assim, porque parece que eles são irmãos.
— Menina, me deixe falar o que eu quiser — levantou os braços em rendição e eu apenas ri. — Quero que saiba que não importa o que aconteça, eu sempre estarei aqui com meu amor de mãe para você.
— Obrigada, tia Audrey — a abracei forte — Eu sempre te considerei como uma mãe para mim, e agora mais ainda — sorri olhando para — E agradeço por toda ajuda que sempre me deu.
— A mãe é minha, hein — disse, demonstrando ciúme.
— A mãe é nossa! — afirmei e ela ergueu as sobrancelhas — Agora eu preciso ir, só vim mesmo trazer a .
— Não quer almoçar com a gente?
— Terei que recusar, eu preciso aprontar o almoço para o meu irmão.
— Você nem faz isso — fiz careta para e, no mesmo instante, surgiu na sala. — Agora você não tem mais desculpa.
— Todos para a mesa, agora! — tia Audrey nos ordenou.
Nosso almoço foi um pouco mais demorado que o normal, mas divertido como sempre. Os meninos voltaram ao trabalho e eu fui para casa.
Três semanas se passaram, e eu precisei ficar em recuperação na escola junto com os alunos menos interessados, incluindo Simon, enquanto os outros estavam aproveitando as férias, incluindo .
Errei quase todas as questões na prova de física, fora as outras matérias que também fui mal. Eu precisava repor as notas.
— Professor Ramal, com licença — olhei para a porta indignada por estarem atrapalhando a minha concentração, era diretora Dinah — Eu preciso que a aluna vá até a minha sala.
— Claro. Pode ir, .
— Mas eu estou terminando o exer...
— Agora — elevou o tom de voz — É importante! — ela deu as costas, saindo da porta.
— Ok, agente Lisbon. — sussurrei.
— Hum, parece que hoje ela está brava — professor Ramal disse, sorrindo debochado — Tome cuidado! — forcei um sorriso e arrumei meu material.
Fui à direção e me surpreendi ao ver meu pai sentado em uma das cadeiras, já conversando com a diretora, aos risos.
— Oh , sente-se — diretora Dinah pediu e assim fiz — Seu pai é muito divertido! — franzi o cenho, estranhando o comentário — Bem, eu já conversei com o senhor e...
— Ah, por favor, me chame apenas de — eles sorriram um para o outro e eu estranhei mais ainda.
— Já conversei com — ela o olhou de relance — Sobre a sua situação e o deixei a par de tudo. Seu pai também me explicou tudo que aconteceu com você e eu sinto de verdade por isso, sempre gostei muito de você e , desejo o melhor as duas e aos outros alunos, apesar das suas diferenças. — assenti — O que posso fazer para te ajudar, como eu já disse ao seu pai, é conversar com seus professores e pedir para que te deem trabalhos extras para reposição de nota e frequência.
— Agradeço — disse preocupada.
— Algo te preocupa? — ela perguntou desconfiada.
— São muitas matérias e eu estou com dificuldade em todas elas, e agora com mais trabalhos, não tenho certeza se vou conseguir. — eu disse sincera.
— Eu entendo — ela pensou um pouco — Acho que posso pedir para os professores pegarem leve, mas não tenho como garantir nada. De qualquer forma, os professores Nathaniel e Ramal não irão te prejudicar.
— Saber disso já me alivia um pouco.
— Esses professores estão prejudicando a minha filha? — meu pai ergueu uma das sobrancelhas.
— Pai — o olhei — Eu e somos meio... — tentei encontrar o termo certo.
— Faladeiras — diretora Dinah me ajudou, temendo pela reação de .
— E isso irrita alguns professores. — eu disse.
— Mas nada que eu não possa resolver — respirei fundo, meu pai parecia ter se acalmado — Bem, é só isso, qualquer coisa estamos à disposição.
— Agradeço a ajuda que está dando a minha filha.
— Esse é o meu trabalho — diretora Dinah estava me preocupando com seus sorrisos largos para o meu pai — , você já pode ir com seu pai, eu e os professores teremos uma reunião agora.
Chegando à casa, tomei um banho rápido e abri o caderno, mais uma pesquisa a ser feita. Peguei meu notebook e comecei o trabalho de biologia. Não demorei tanto desta vez, mas minhas mãos estavam doendo.
Recebi uma mensagem de pedindo para eu ir ao trabalho dele, peguei minha bicicleta que estava no conserto e fui ao estúdio.
— — eu guardei a bicicleta na entrada e me aproximei do balcão — Me dê um bom motivo pra ter me feito vir aqui agora.
— Chegou mais cedo do colégio? — ele olhou para o relógio.
— Sim, e aproveitei para adiantar uma pesquisa de biologia. — olhei ao meu redor, reparando no estúdio.
— Te atrapalhei? — perguntou, enquanto colocava uma pasta de desenhos no balcão — Foi mal.
— Não, eu já tinha terminado.
— Onde está ? — reparei nos desenhos que ele separava
— Ele deu uma saída.
— , por que você...
— Fiz o desenho — ele pôs sobre a mesa e eu analisei. — Duas luvas de boxe para representar , papel com um lápis em cima pra me representar, notas musicais pra te representar, olhos revirados pra representar . — ri alto ao ouvir , não teria nada melhor que olhos revirados pra representá-la. — Fiz também um coração de madeira sendo pintado por um pincel pra representar o , colar de pérolas pra representar tia Audrey, blazer pra representar tio Michael, sapatinhos pra representar o bebê e...
— Amei! Ficou tudo lindo — sorri satisfeita — Mas para que essa algema no desenho? — ele engoliu o seco — ?!
— Pra representar a nossa mãe. — fiquei séria na mesma hora — , querendo ou não, ela faz parte da nossa família.
— Eu nem sei o que dizer agora, sinceramente — respirei fundo — Você estragou um desenho lindo.
— — eu olhei para trás, era — Eu trouxe algo para você. — ele mostrou uma caixinha de madeira vermelha.
— Eu temo que seja o que estou imaginando — ele olhou para o meu irmão e eu abri a caixinha, encontrando uma pulseira prateada com as representações de de nós penduradas, como pingentes. Suspirei forte ao ver a algema — , você concordou com isso?
— Aquela mulher nunca irá deixar de ser sua mãe! — ele afirmou, me fazendo bufar.
— Jogue isso tudo fora e... Querem saber, não vou brigar com vocês por causa dela. — fui caminhando até entrada do estúdio, para pegar minha bicicleta, saindo esbarrei em um homem.
— Ei, calma bebê! — engoli o seco — Tá assustada?
— Desculpe! — ele sorriu de lado, ainda me segurando — Pode me soltar?
— Até posso — ele se aproximou mais — Mas não quero.
— Chris, solta ela! — meu irmão apareceu na entrada do estúdio com , que bufava. — Não vou falar de novo.
— Qual foi, ? — ele me olhou novamente — Deixa eu me divertir. — o homem aproximou sua boca da minha nuca, mas o empurrou, fazendo-o cair no chão. — Então o frangalho quer briga?! — ele se levantou.
— Vai ser babaca assim com a sua... — meu irmão já se juntava ao .
— Deixa para lá, ! — tentei segurá-lo, sem sucesso — — virei seu rosto para mim — Não vale a pena!
— Ele te desrespeitou — disse indignado, conseguia ver a raiva em seus olhos — Não vou deixar isso impune, não desta vez! — ele socou o rosto do homem, que o golpeou na costela e a briga continuou.
Antes que fizesse o mesmo, outro homem surgiu, o segurando.
— Chega! — ele gritou — , entre agora e leve a sua irmã contigo. — ele separou do outro homem. Meu irmão me puxou, levando-me para a sala de tralhas.
— — ele resmungou — Desculpa.
— Não foi culpa sua, aquele cara é um safado! — disse nervoso — Chris já deu em cima da também, mas eu o alertei, não quis ouvir.
apareceu na sala, sendo imobilizado pelo chefe deles e o outro homem veio atrás.
— Até quando vai ser assim? — ele largou .
— Nava, você me conhece o suficiente pra saber que...
— Foi você quem começou a confusão, Chris. — o chefe disse firme — Essa menina é irmã do e namorada do .
— E daí? — ele piscou para mim e avançou em cima dele, mas foi novamente imobilizado. — Só por isso não podemos nos divertir?
— Aprenda a respeitar mulheres, babaca! — deu uma sequência de socos nele, fazendo-o desmaiar.
— Droga, — o chefe soltou para socorrer Chris — Assim você só piora as coisas.
— Desculpa Nava, não consegui controlar a raiva desta vez.
— Tudo bem, Chris mereceu — suspirou — Eu no lugar de vocês teria feito o mesmo, ou até pior. — Nava suspendeu Chris — Vou levar esse idiota do meu primo pra casa, vejo vocês amanhã. — ele saiu com o outro nas costas.
— Está tudo bem? — acariciou meu rosto.
— Sim, obrigada — o abracei. — Vamos sair daqui?
— Agora! — respondeu já se retirando.
Chegamos à casa, explicou toda situação ao meu pai e eu fui para o meu quarto. Tomei um banho quente e bem demorado. Vesti minha calça jeans velha e meu moletom, junto com a meia, estava frio.
Desci, encontrando já de banho tomado, na sala de jantar, ao lado do meu pai.
— Só estávamos esperando por você. — meu pai disse, se servindo.
Terminamos o jantar e recebeu uma ligação, olhei confusa para que deu de ombros.
— A mãe de vocês vai ser transferida ao leito, está com transtornos mentais graves. — ele se levantou — Quero acompanhar isso, vocês vêm?
— Sim — se levantou, seguindo meu pai.
— Eu também vou. — disse quase num sussurro e os segui.
— Ligue para o Michael, ele vai querer ir também. — meu pai disse a , enquanto tirava o carro da garagem.
Fomos durante todo caminho calados, acredito que se passaram mil coisas na mente deles, assim como na minha.
Chegamos à delegacia, e tio Michael entraram e nós aguardamos ao lado de fora, durante um bom tempo.
— Olhe, ela está vindo. — disse, me apertando no abraço.
Pareceu que, de repente, tudo ficou em câmera lenta quando minha mãe ia saindo algemada acompanhada de dois policiais, com e tio Michael à frente.
— Você vai pagar por tudo que me fez! — disse a meu pai.
Um barulho estrondoso foi ouvido por todos, e no momento de distração, mesmo algemada minha mãe puxou do coldre a arma do policial.
— Morra desgraçado! — ela atirou na direção de .
Os policiais a desarmaram e a equipe médica se aproximou, foi então que percebi o desespero no olhar da minha mãe. Não entendia o que ela estava gritando, só via ela se debatendo nos braços dos policiais.
Olhei para o meu pai e senti alívio ao vê-lo bem, mas não entendia a sua expressão de desespero ao olhar para o chão, até eu direcionar os meus olhos para o mesmo local e me deparar com meu irmão; estirado em um mar de sangue que jorrava de seu próprio corpo, sendo socorrido ali mesmo pela aglomeração de paramédicos que tentavam mantê-lo acordado.
me olhava como se estivesse pedindo ajuda, tentava dizer algo, porém tudo que saía de sua boca era sangue. Ele ergueu uma de suas mãos como despedida e meu coração acelerou ainda mais. Contudo, o meu total desespero e descontrole se iniciou quando, de repente, seus olhos se fecharam e não mais se abriram.
[Continua aqui]
Espero que goste da continuação! 💙
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