Última atualização: 22/12/2019

Capítulo Único

Junho de 2019

queria abrir um buraco num lugar bem distante e se esconder dentro pelo resto de sua vida.
Desaparecer para sempre parecia um excelente jeito de ser esquecida e deixada em paz por muita gente que nem mesmo a conhece e a odeia.
Aparentemente, essas pessoas, que nem fazem ideia de quem ela é de verdade e a quem nunca viu na vida, não conseguem aceitar sua existência e, já que ela mesma nunca tinha sido tão entusiasta da própria vida assim (menos nos últimos dois anos), parecia ótimo sumir no mapa.
Ao contrário de Augustos Waters, não tinha medo nenhum de ser esquecida. Na verdade, ela quer ser esquecida. Deixada em paz.
O motivo? Algumas das fãs do namorado.
Ser a namorada de , aparentemente, despertava uma fúria imensa em diversas mulheres pelo globo inteiro. Pessoas de todos os cantos que conhecem o jogador e que o tratam como uma espécie de deus grego intocável e que só pode namorar uma mulher linda e escultural. Quer dizer, ele só pode namorar uma das fãs. Qualquer outra namorada, ao ver dessas pessoas, é insuficiente para ele, a jovem estrela do Real Madrid, astro da seleção espanhola e um baita colírio para os olhos.
E passa bastante longe de se parecer com aquelas lindas, deusas e esculturais esposas/namoradas de jogadores que o mundo está acostumado a ver.
Não tem (ou melhor, acha que não tem) nem meio porcento da beleza de Pilar Rubio, Sara Carbonero, Antonela Roccuzzo, Georgina Gio, Izabel Andrijanic, Izabel Goulart e tantas outras. Não tinha olhos bonitos, um sorriso perfeito, barriga chapada, um cabelo hidratado e sedoso, não tinha um pingo da classe que aquelas mulheres esbanjam. Não é modelo e por isso não se encaixa nesse seleto grupo de mulheres a quem os corações dos jogadores pertencem.
é vendedora de uma loja de roupas em um shopping de Madri ou era, porque depois de hoje, provavelmente estava desempregada e teria que procurar outra coisa pra fazer da vida, o cabelo é crespo, a pele é negra, a barriga dobra quando senta, há estrias e celulite em seu corpo, os braços balançam quando ela dá tchau, os dentes são ligeiramente tortos e amarelados, o nariz é grande, os olhos são castanho escuro, o rosto é rechonchudo, as coxas se encostam, os pés não são bonitos, os seios são disformes e levemente caídos... Se há um ponto a mirar para ser uma wag, acredita estar bem, bem distante.
Mas isso nunca impediu de amá-la de verdade, de tratá-la com carinho e respeito, de demonstrar seu sentimento e de apreciar por completo, sem se importar com imagem ou com a opinião das pessoas de fora. Ele sempre foi educado, sincero e simpático; deixou claro desde o princípio que gosta dela pelo que ela é e não por uma imagem que as pessoas gostariam que ela tivesse, que ninguém tinha nada a ver com sua vida e que ninguém se apaixona por uma imagem.
Enquanto chorava no banheiro de seu apartamento, depois de ter sofrido um ataque e tanto naquele dia durante o expediente, sopesava se aquele namoro valia o restinho de sua saúde mental. Não duvida de seu amor e apreço por , sabe que ele também lhe ama e lhe aprecia totalmente e sem que haja necessidade de ouvir as pessoas de fora, mas as pessoas continuam falando. Continuam opinando. Continuam ofendendo gratuitamente e sem nenhum motivo.
Tinha combinado de encontrar com na casa dele, que voltava da viagem que tinha feito rapidamente à Mallorca. Ele tinha jogado com a seleção espanhola e depois passou alguns dias em casa com o irmão, mas voltaria a Madri e dali alguns dias iriam para Sevilla para o casamento de Sergio Ramos.
E essa ideia assustava, e muito, .
A imprensa já estava comentando esse maldito casamento desde que os noivos postaram uma foto falando que Pilar tinha aceitado casar com Sergio. é muito amigo do capitão merengue e, óbvio, estaria lá. E era sua acompanhante. O casal Ramos Rubio é ótimo, são pessoas incríveis e bastante educados, humildes e simples, mas aquela aparição em mídia mundial assustava em proporções impossíveis de serem escaladas.
Há meses vinha pensando que não fazia o menor sentido que ela namorasse com , aquele homem que tinha sido perfeitamente esculpido por Deus e a forma tinha sido jogada fora para que não houvesse outro igual, dono de um sorriso contagiante, de olhos castanhos tão sinceros e puros, dono de um corpo escultural adquirido graças ao futebol e um ser humano fantástico. Não fazia sentido MESMO! é infinitamente mais bonito, mais rico e com muito mais classe.
Os dois namoraram escondido por muito tempo. Eram encontros muito bem escondidos e arquitetados, mas, um belo dia, os dois resolveram tomar um café em um local que conhecia e fica no centro de Madri, um café bem escondido e que quem passa por ali com pressa mal nota. Os dois foram seguidos por um fotógrafo, além de pessoas que estavam lá e o reconheceram, as fotos foram parar na internet e pouco mais tarde naquele dia mesmo as fotos de circulavam por toda a internet e acompanhadas de palavras horríveis.
Há três meses a vida de tinha perdido o caráter privado e as pessoas achavam por bem falar dela como se ela fosse a atleta e tivesse uma vida pública. Tinha fechado todas as redes sociais e excluído diversas pessoas que tinham começado a segui-la antes que ela fizesse isso, mas isso não impedia que a marcassem em fotos com comentários absurdos e legendas tão desrespeitosas. já tinha se pronunciado, repudiado e bloqueado diversas pessoas, mas tal qual como as cabeças da Hidra de Lerna, os perfis e comentários pareciam duplicar-se quando apagados e bloqueados. Então ele resolveu que ignoraria cada uma daquelas pessoas.
Para ele aquilo era muito fácil, afinal, os comentários eram direcionados à , quando o mencionavam era para enaltecer sua beleza e seus atributos, não falavam mal dele para que a imagem dela fosse engrandecida. Então ele não sabia o que diabos era aquilo, que ignorar não era uma opção. simplesmente não conseguia ignorar aquele tipo de coisa racista e preconceituosa. E aquilo a esgotava completamente.
E, claro, as “fãs” de descobriram onde trabalha.
Da primeira vez foram apenas muxoxos de longe e olhares que eram direcionados a ela dentro da loja e no shopping, depois começaram as fotos “escondidas” e que eram postadas pela internet, usando localização e tudo mais, com referências e legendas mentirosas. E então, foram à loja e criaram uma confusão. ficou reclusa enquanto os seguranças do shopping dispersavam o pequeno grupo que criou todo aquele alvoroço, a gerente a mandou pra casa e disse que conversariam no dia seguinte. E, desde que saíra do shopping, não tinha parado de chorar.
Há duas horas.
Estava chorando enquanto media os estragos que um término causaria ao seu próprio coração. A imagem era o de menos naquele caso, porque continuariam falando dela eternamente, sempre a comparariam com as possíveis futuras namoradas lindas e dentro do padrão que teria. Chorava por não querer terminar, mas por precisar fazer isso se quisesse preservar o pouquinho de saúde mental que ainda tinha.
chegaria em algumas horas e precisa tomar banho e dar um jeito de desfazer o inchaço do rosto e dos olhos. Seria impossível, ela sabia, porque ele perceberia mesmo que ela fizesse a melhor das maquiagens para disfarçar. a conhecia bem. Bem demais.

- Eu sei que você está chorando, mi amor. – ouviu a voz de do outro lado da porta do banheiro e se assustou. Como assim estava em sua casa? – Você pode me deixar entrar?
- Não. – resmungou baixinho, fungando e esticando as pernas no chão para encostar-se totalmente na parede, de olhos fechados.
- Não sei se você respondeu, mas tudo bem. Eu queria tomar um banho, porque não tomei antes de pegar o voo e não queria te abraçar fedorento, mas você está trancada aí e acho que não vai gostar muito se eu tomar banho na pia da cozinha... Eu estou sentindo sua falta de um jeito enlouquecedor, quero um abraço e um beijo da mulher que eu amo. Não me importo com olhos vermelhos, rosto inchado e nem com percursos de lágrimas pelas bochechas, só preciso de você aqui nos meus braços. E espero que você não se importe com um namorado um pouco fedorento, mas que o abrace e o beije da forma como você faz e ele gosta tanto. – ouviu a voz mansa de e quase conseguiu visualizar seus olhos fechados e a mão espalmada sobre a porta fechada. – Eu te amo, , mais do que tudo. Mais do que futebol.

odeia sentir-se tão vulnerável, como se tivesse pendurado no peito um alvo que atraí todas as balas de ódio que existem no mundo. Odeia sentir que se culpa por suas lágrimas, afinal, são as fãs dele quem vêm causando todo esse alvoroço e fazendo com que ela se sinta mal. Odeia o fato de que as pessoas não têm bom senso e nem noção e são maldosas sem propósito nenhum além de magoarem os sentimentos alheios.
sempre tinha sido uma pessoa boa, nunca falava sobre o que não lhe diz respeito e, tampouco, é maldosa com as pessoas a troco de nada. Nunca tinha feito nada de ruim a nenhuma daquelas pessoas que insistiam em despejar ódio e preconceito sobre ela; fora educada para ser uma pessoa boa e não uma idiota sem tato e sem senso. E era isso que a vida lhe dava em retorno depois de vinte e quatro anos de uma existência pacífica e respeitosa.
Se soubesse que sua vida se transformaria naquele inferno, jamais teria aceitado o convite que ele lhe fizera para ir a um jogo do Real Madrid e depois saírem para comer alguma coisa. Não teria aceitado namorar com ele algum tempo depois de muitas conversas e encontros às escondidas (a pedido dela) e que os dois tivessem um relacionamento tão precioso e cheio de carinho, amor e honestidade por outros dois anos.
Levantou-se devagar para ir até a pia, lavou o rosto sem pressa e quando saiu do banheiro, encontrou de pé, encostado na parede do outro lado do corredor, perto da porta do quarto. Ele a observava com atenção, com os olhos ternos e carinhosos de sempre, cheio daquele amor que ele fazia questão de demonstrar que sente. A vontade de era ir até ele, abraçá-lo, beijá-lo, proteger-se do mundo naqueles braços que sempre a acolhem de forma protetora e firme. Mas não o fez, apenas o olhou e tentou organizar mentalmente as palavras para dar fim àquilo tudo.

- Senti sua falta. – foi o que falou antes de dar o passo que os separava e a envolver em um abraço apertado e aconchegante.
O tipo de abraço que ele sempre dava em quando se viam, um abraço confortável e que a fazia lembrar de casa, que a enchia de amor e de uma leveza deliciosa. E, naquele instante, a ideia de nunca mais abraçá-lo sumiu de sua cabeça, enquanto o apertava contra si.
- Eu também senti a sua. – respondeu num resmungo, afundando o nariz no pescoço de e ele deu uma risadinha antes de apertá-la um pouco mais contra si.
- Você quer conversar agora sobre tudo o que aconteceu hoje ou precisa de mais um tempinho pra digerir e conseguir falar? – perguntou, afagando suas costas.
- No momento eu só quero ficar abraçada a você, longe de tudo e todos, longe de qualquer pessoa que não nos ame e nos respeite. Longe de todo mal que andam nos desejando.
- Posso tomar banho primeiro? Saí de Mallorca sem tomar banho, estava com um pouco mais de pressa do que o habitual. – afrouxou o abraço para olhá-la nos olhos e deu um sorriso travesso, que fez sorrir.
- Porquinho.
- Podemos ir juntos pro banho...
- Vá você, eu vou fazer alguma coisa pra gente comer.
- Pede pizza? Daqui uns dias volto praquela alimentação regrada que me permite ser esse baita gostoso que você ama. – brincou, fazendo gargalhar.
- , você é um idiota. – falou rindo.
- Mas eu te fiz sorrir. – falou sorrindo e acariciou o rosto da namorada com o polegar. – E se tem uma coisa nesse mundo que eu amo muito, essa coisa é seu sorriso.
- Tudo bem, pizza. – respondeu num muxoxo envergonhado e ganhou um selinho demorado antes que se soltasse de seu abraço e fosse para o banheiro.
Pediu a pizza por um aplicativo e deitou-se em sua própria cama, voltando a pensar sobre o que tinha acontecido naquele dia e tudo que vinha acontecendo há meses e que a faziam sentir que surtaria a qualquer minuto, mas parece que prevendo que uma demora no banho o fizesse sair daquela casa solteiro, não demorou a sair do chuveiro e chegar ao quarto, usava a toalha de presa na cintura e os cabelos pingavam água pelo próprio corpo e pelo chão.
- Você está molhando minha casa. Espero que saiba que vai limpar tudo.
- E você perdeu a chance de um sexo fenomenal no chuveiro com seu namorado. – deu de ombros, tentando provocá-la.
- Você pode mostrar na cama depois.
- Gostei da ideia. – sorriu, indo até o pequeno armário em que algumas de suas roupas estavam guardadas e vestiu apenas uma cueca boxer, secou os cabelos de forma precária na toalha e foi para a cama, deitando-se ao lado de e a puxou para seu abraço. – Eu já disse hoje que te amo?
- Umas trezentas vezes.
- Então falei pouco. – falou sincero e a olhou nos olhos. – Você é preciosa demais, meu amor. E eu sou um cara de sorte por ter você ao meu lado.
- Não é o que dizem por aí. – soltou uma risadinha pelo nariz, mas sem nenhum humor.
- Eu não me importo com o que dizem por aí, quem sabe o que me faz bem e o que eu tenho como sorte sou eu. E eu tenho total certeza de que você é a melhor parte da minha vida, que tenho uma sorte imensa por namorar com você e te ter comigo, sendo minha melhor amiga e minha melhor metade.
- Ainda bem que você está falando isso aqui, Romeo ficaria com ciúmes ouvindo você falar isso pra mim e não pra ele. – respondeu num resmungo envergonhado.
Não sabia como lidar com elogios e nem queria começar a falar tudo ali. Naquele momento, queria apenas aproveitar o colo que tinha.
- Eu falo a mesma coisa pra ele, mas apenas porque ele puxou isso da mãe.
- Não sei se fico lisonjeada ou ofendida. – sorriu, olhando nos olhos e os olhos dele se iluminaram ao ver o sorriso da mulher.
- Fique lisonjeada, estou te dando a honra de ser a mãe do meu cachorro.
- Tudo bem, vou aceitar com o coração cheio de amor. – sorriu. – E eu te amo, obrigada por me amar também.
- Você não precisa me agradecer, cariño. Eu é que preciso agradecer por você me suportar e me amar, mesmo que eu tenha chulé.
- Não dava pra você ser perfeito, precisava de um pequeno defeito, mas tudo bem, posso conviver com isso se você tomar banho e lavar bem os pés todos os dias.
- Fico agradecido. – deu um beijo em seu rosto e a apertou em seu abraço. – Vi o vídeo e já me pronunciei, não é aceitável que façam o que fizeram com você. Não é aceitável o que vêm fazendo a você desde que descobriram que somos namorados. Ninguém tem que opinar sobre nosso namoro se não formos nós ou se não pedirmos opinião.
- Por que você me chamou pra sair pela primeira vez, ?
- Porque te achei linda. Já te disse isso.
- Não existe nenhuma chance de isso ser verdade. – ela resmungou, soltando-se do abraço e sentando-se na cama.
- Eu não me importo com padrões, , eu não ligo para o que acham que eu deveria fazer ou com quem eu deveria namorar, só eu sei dos meus sentimentos, só eu sei quem eu amo e só eu sei os motivos pelos quais te amo.
- Você pode ter quem você quiser, . Qualquer uma dessas modelos lindas que ficam te dando mole ou que suas fãs dizem ser melhores. – soltou num muxoxo, sentindo os olhos voltarem a arder. – Você pode namorar uma mulher perfeita, que tenha toda a perfeição e que preencha os requisitos para ser a namorada de um jogador famoso e multimilionário como você é.
- – falou, sentando-se na cama e tomou as mãos dela entre as suas. – eu não me importo com padrões. Esses padrões são idiotas e muito irreais, quase inalcançáveis por toda a população e são padrões apenas por isso, para que apenas um pequeno grupo de pessoas se sinta superior às outras e façam com que esse enorme grupo que não se encaixa nesses padrões sinta-se um lixo por não conseguir atender às expectativas que outras pessoas criam sem conhecer a individualidade de cada um. O exterior é o que menos importa.
- Mas é o primeiro contato que se tem, . Você não tem como saber se uma pessoa é ou não é uma boa pessoa só de olhar pra ela, apenas dá pra saber se é bonita ou não.
- Bonito pra quem? – perguntou sério, olhando nos olhos de uma maneira tão profunda que ela sentiu que ele poderia enxergar todo seu interior.
- Bonito, . Bonito como...
- Como o que dizem que é bonito ou bonito como cada um de nós enxerga as coisas? Você gosta de verde, não gosta? Não acha que é uma cor bonita? A cor mais bonita de todas? – perguntou e assentiu. – Eu não gosto de verde, prefiro azul, acho azul uma cor mais bonita. Agora me diga, isso torna uma cor superior a outra? Ou é apenas uma questão de gosto?
- , não é assim que as coisas são.
- Eu acho que cachorros são sensacionais, melhores animais de estimação e companheiros fiéis. Você acha que são os gatos os melhores, que eles são fiéis e que apenas possuem uma personalidade mais marcante. Isso torna um animal superior ao outro? Não seria apenas uma questão de gosto?
- ...
- O que eu quero dizer, , é que nenhum de nós enxerga as coisas da mesma forma e nem tem os mesmos gostos, porque o interessante é, justamente, sermos e gostarmos de coisas diferentes uns dos outros. Eu consigo achar aquelas modelos bonitas, mas também acho bonitas as pessoas que não seguem aquele padrão. Você não precisa ser magra e atlética pra que eu te ame e te aprecie, não precisa daqueles cabelos lisos e loiros ou dos olhos claros. Eu te amo, porque você é você.
- Mas eu e o meu biotipo não fazemos parte do seu mundo, . Não somos feitos pros holofotes e pro seu mundo. Somos feitos pra lidar com pessoas normais e só.
- E eu não sou normal?
- Não. Você é famoso.
- E totalmente normal. A parte famosa da minha vida deveria ser apenas dentro das quatro linhas, nunca minha vida pessoal, mas as pessoas não sabem respeitar os limites e não entendem que eles não podem impor nada na vida dos outros.
- Já li coisas horríveis sobre mim e começo a realmente acreditar, porque se tem tanta gente falando, deve ser verdade.
- Por que é tão fácil acreditar nas mentiras que pessoas que nem mesmo te conhecem contam, mas quando eu, que te conheço há mais tempo, sou seu namorado e te amo de forma verdadeira, falo a verdade é tão difícil? – questionou, o tom de quem não gostava de ver a namorada triste ou se questionando estava ali e queria apenas sumir.
- Porque falam tudo que está na minha cabeça desde sempre, desde que eu era uma criança que não se encaixava nos padrões.
- Então escuta o que está no meu coração. – segurou as mãos de e as levou de encontro ao seu próprio peito. – Sinta meu coração batendo e escute minhas palavras, porque elas vêm de cada uma dessas batidas. Você é linda, inteligente, maravilhosa, completa e tem uma energia contagiante. Seu sorriso é a única coisa que eu preciso ver todos os dias pra me sentir bem, seu abraço me faz sentir em casa, os seus beijos são os melhores do mundo, seus olhos são carinhosos, intensos, sinceros, profundos e calorosos, seu cabelo tem força e personalidade forte como você. Seu jeito de andar é inebriante, suas curvas são apaixonantes, o formato do seu rosto é perfeito. Você tem um coração enorme, um coração bondoso e enorme, que nunca opta pelo mal, mas sempre por fazer o bem, por ajudar e por se comover. Você é inteligente, tem um cérebro que funciona mais do que uma máquina, consegue falar sobre várias coisas com propriedade, mas se não sabe de um assunto, escuta quem sabe e aprende. Você é humilde, trata todas as pessoas com o mesmo nível de respeito e educação. Você é carinhosa, simples e muito apaixonante. Eu não me importo se sua barriga não é chapada e todas aquelas idiotices que as pessoas comentam, porque eu me importo com você, com a pessoa que você é. Se você quiser ficar magra, continuarei de amando, se quiser engordar, continuarei te amando, se pintar o cabelo ou raspá-lo, continuarei te amando, se cortar as duas pernas e os dois braços, eu continuarei te amando. Não me interessa mais nada além de te amar e ter você comigo, de saber que você me ama assim também. O meu coração é seu há muito tempo, . E eu fico realmente feliz de a vida ter me dado esse presente, porque você é uma das melhores pessoas que já conheci e ser seu é um baita presente.

não conseguiu responder com palavras. Tinha lágrimas pelo rosto e um sorriso pequeno em seus lábios. Queria poder dizer a que aquilo era tudo que ela precisava ouvir, que aquilo era suficiente e que pronto, estava tudo resolvido, mas não era assim. Era algo muito, muito maior. Então apenas o abraçou. Não era o momento de falar aquilo. Não depois de ouvir toda aquela sinceridade e de sentir todo o amor dele sendo pronunciado em alto e bom som.
Mas, às vezes, apenas o amor não é o suficiente.

xXx


- Cariño, qual a cor do vestido que você vai usar no casamento? Queria usar uma gravata da mesma cor pra irmos combinando. O que acha? – perguntou, entrando na cozinha na manhã seguinte.

estava sentada à pequena mesa com sua caneca de café e olhava para a geladeira fixamente. Os pensamentos perdidos nas palavras emboladas que dançavam em sua mente desde quando tinha saído da loja no dia anterior. Precisava ir até lá e estava decidida a pedir demissão caso não fizessem isso por ela, as “fãs” não a deixariam em paz e poderia recomeçar em outro lugar. Pelo menos era o que esperava.
A noite tinha sido passada quase em claro, lendo e relendo comentários ofensivos dirigidos a ela, principalmente depois de pronunciar-se contra tudo que tinha acontecido no dia anterior. E ela sabia bem que aquilo perduraria eternamente.

- Não vou ao casamento, . – respondeu sem virar-se para olhá-lo.
- Não vai? Por quê? – perguntou sem entender, sentando-se de frente para e a olhando apreensivo.
- Nós precisamos conversar. – falou séria, seu tom era doído e sabia o que viria a seguir.
Soltou um risinho sem nenhum humor pelo nariz e assentiu, passando uma das mãos pelo cabelo ainda bagunçado e a olhou.
- Mesmo imaginando que isso fosse acontecer, eu esperava que não. – soltou um suspiro pesado. – E eu entendo perfeitamente, apesar de também não entender.
- Você não entende, porque não é atingido diretamente pelas palavras, . – falou num tom brando, sem nenhum resquício de deboche ou intenção de briga. – Apesar de também doer em você, a dor é muito menor.
- O Toni disse que ele e a Jessica passaram e passam muito por isso ainda. Quando estavam na Alemanha as coisas eram piores, mas eles resolveram não dar bola pro que falavam e agora estão casados e com três filhos...
- É diferente. – mordeu a parte interna da bochecha.
- Não vejo como pode ser.
- Porque ela é branca, . Branca de olhos claros e cabelo bom. E, por mais que tenha ouvido coisas horríveis e me compadeço de tudo isso, eu tenho ouvido ainda mais coisas horríveis, coisas racistas e absurdas. Por mais que algumas não sigam os padrões, são coisas diferentes.
- Tudo bem. Eu... eu entendo, de verdade. – suspirou. – E eu sei que isso não interessa, mas eu te amo. Muito. E pra mim não interessa nada além da sua felicidade e de quem você é.
- Eu sei disso, . E eu também te amo. Muito. Mas você sabe do meu histórico de saúde mental e emocional.
- Você sabe onde eu moro e tem meu telefone, se mudar de ideia e quiser reconsiderar isso... – ficou de pé, falou com a voz trêmula pelo choro que segurava. – Vou pegar minhas coisas e vou pra casa. Peço pra alguém trazer as suas, se você quiser.
- Tudo bem. – respondeu por alto, voltando sua atenção para o café que estava esfriando na caneca e apenas ouviu os passos de se afastarem.

As lágrimas escorriam silenciosamente por seu rosto, aquilo tinha se tornado tão recorrente que ela já tinha se acostumado. Agora chorava por perder uma pessoa que a ama tanto e a quem tanto ama, simplesmente por não ser capaz de lidar com os comentários maldosos que faziam a seu respeito e a respeito do namoro. Além de poupar a si mesma daquelas palavras tão ásperas e grosseiras, também queria poupar da maldade das pessoas. Ele merecia apenas amor, nada além disso.
Antes de sair do apartamento, passou pela cozinha apenas para dar um beijo no topo da cabeça de , desejar sorte em sua vida e repetir as palavras ditas antes, caso ela mudasse de ideia deveria falar com ele. E aquilo doeu como o inferno para os dois. Não queriam ter que se deixar, ter que terminar aquele namoro que era tão lindo, sincero e sem nenhuma complicação.
deixou a casa de naquele dia disposto a fazer alguma coisa para mudar aquela situação, disposto a fazer alguma coisa para que voltasse a ficar com ele e que conseguisse, pelo menos, diminuir a voz do ódio que despejavam naquele relacionamento que nunca tinha sido divulgado e nem usado para fazer mídia; mas, por enquanto, ocupou-se apenas em dirigir sem chorar tudo o que queria chorar.

xXx


A imprensa fotografava os convidados com ferocidade. O casamento em si não seria transmitido e nem poderia ser gravado (celulares não estavam permitidos nem na festa), mas a chegada dos convidados e dos noivos era registrada por vários veículos de comunicação não apenas para a Espanha, mas para todo o mundo. E, apesar de todos os jogadores do Real Madrid terem sido convidados, alguns não compareceram, mas lá estava .
Sozinho.
Em seu terno carinhosamente escolhido por , sorrindo sem muito entusiasmo e com os olhos que entregavam que tinha chorado recentemente, estava triste e não fazia questão de esconder. Pelo contrário. Queria que vissem que ele estava arrasado e que a culpa era de todo o inferno que fizeram em sua vida.
Posou rapidamente para algumas das fotos que eram tiradas, ouvindo seu nome ser gritado por fotógrafos e várias perguntas de “onde está sua namorada?” e logo estava dentro da igreja, sentado ao lado de Nacho e María, que apenas observavam o amigo com o semblante desolado. Sabiam o motivo daquela expressão triste que acompanhava há dias, desde o término.
Logo os assentos foram tomados por vários dos jogadores do time e da seleção, além de suas namoradas e esposas, que se cumprimentavam e tomavam seus lugares à espera dos noivos.
O casamento foi rápido, mas para pareceu uma eternidade. Ele apenas queria sair dali e ir pra casa chorar, como vinha fazendo há três dias; mas não podia, o capitão tinha pedido que os amigos ficassem, que aproveitassem a festa. Seria um martírio, sabia, sentar-se à mesa com o nome de ao lado e a cadeira vazia. Ela teria gostado da decoração, da escolha de Pilar pelo buquê, do vestido, de tudo que tinha acontecido. ama casamentos e estava tão animada por ver aqueles dois finalmente se casando...

- Você precisa de alguma coisa? – María perguntou e negou com um aceno de cabeça, tomando um gole do suco que tinha em sua taça.
- A única coisa que preciso é que a volte pra mim. – mordeu a parte interna da bochecha. – E isso não vai acontecer.
- A sua sorte, , é que eu sou muito boa em bolar planos pra ajudar meus amigos a voltarem a namorar. – María deu um sorrisinho, fazendo Nacho dar uma risada pelo tom usado. – Pare de rir, ele vai duvidar que eu consigo mesmo.
- Eu só acredito vendo, María. – implicou, fazendo María sorrir animada.
- Pois verá, . Verá.

xXx


Outubro de 2019

- Julieta! Desce já daí! – ralhou com a gata branca que estava sobre a mesa da cozinha, perigosamente perto da garrafa de vinho e da taça que estavam sobre o objeto.

A gata soltou um miado desaforado ao ouvir a repreensão da dona e bateu na taça com a pata e não conseguiu evitar que a taça caísse e se espatifasse em mil pedaços. Ao ouvir o barulho do vidro se partindo, a gata se assustou e pulou no chão. No chão cheio de cacos de vidro.
E um miado dolorido foi a prova de que a gata tinha se machucado e o sangue escorrendo fez com que praguejasse meia dúzia de palavrões antes de pegar a gata, correr para buscar uma toalha e envolvê-la enquanto descia apressada para buscar o carro e ir para o veterinário.
- Eu falei pra não mexer em nada, Julieta! Você deveria me ouvir, garota! – reclamou, sem desviar os olhos da rua e logo estava parando à porta do local.
Levava Julieta enrolada na toalha e estava um tanto desesperada. Nem sabia se o corte tinha sido profundo, mas estava preocupada com a possibilidade de algum pedaço de vidro dentro da patinha da gata, além da perda de sangue.
- Você gosta tanto daqui que precisa voltar depois de uma hora e meia que saiu? – a veterinária perguntou ao atender a porta. – O que aconteceu agora?
- Essa coisinha me desobedeceu, derrubou uma taça e, não contente com isso, foi lá e pisou no caco de vidro. – respondeu, olhando feio para Julieta, e fazendo a amiga rir.
- Entra logo, vou olhar a patinha dela e ver se foi muito ruim.
- Na verdade, se você puder olhar e eu puder ir fazer umas compras rápidas é melhor.
- Tudo bem. – a veterinária falou e lhe entregou o embrulho de toalha e saiu do local, fechando a porta atrás de si.
Seguiu pela rua até chegar ao supermercado que fica próximo à clínica, pegou um carrinho de compras e seguiu pelos corredores cantarolando a música que tocava nos alto-falantes do local, escolhendo os produtos e pensando no que faria para comer quando voltasse pra casa.
- Y te juro que yo bailaré, borrando tu recuerdo, viviré. Lágrimas de mis ojos secaré y yo por ningún hombre lloraré, no lloraré... – cantou com a voz de Tini que ecoava pelo supermercado, enquanto empurrava o carrinho sem prestar atenção no corredor, pois tinha os olhos nos produtos pelos quais passava.
E bateu o carrinho em alguém.
- Meu Deus! Desculpa, eu... – começou a falar, mas deu de cara com a última pessoa que achava que encontraria num supermercado naquele momento: María Cortés. A esposa de Nacho.
- , você quer me matar? – María perguntou, mas sorria. – Quanto tempo!
- Não queria te matar, eu só estava prestando atenção em outra coisa. – riu sem graça por ter atingido a mulher por pura desatenção. – E é, muito tempo que não nos vemos. Como estão as crianças?
- Ótimas, muito falantes como sempre, mas todos muito bem. E você?
- Tudo ótimo também. – respondeu.
não sabia como continuar o diálogo, por mais que gostasse muito da mulher, aquilo era incomum. Conviveram enquanto namorava com , mas agora não parecia tão... natural e nem normal.
- Vocês não vão mesmo voltar? – María perguntou e deu uma risadinha, balançando a cabeça negativamente.
- Eu não acho que isso vá acontecer, María. Não sei se você sabe como as coisas terminaram, mas eu simplesmente não tinha mais condições mentais e emocionais de lidar com aquelas pessoas.
- Podemos tomar um café? Queria conversar com você e acho que no meio do corredor do supermercado não é lá o local mais indicado pra isso.
- Preciso buscar minha gata no veterinário, mas podemos ir pra minha casa, se você puder.
- Hoje não consigo. – María soltou desapontada. – Mas me dê seu endereço e seu número, podemos combinar isso.
- Por mim tudo bem. – sorriu educada e informou o número do celular, além do endereço e logo as duas se despediram e cada uma seguiu seu caminho.

continuou pelo supermercado em busca de alguns suprimentos para a casa, ainda cantarolando as músicas que tocavam e surpreendendo-se quando uma música do McFly começou a tocar. A banda tinha anunciado seu retorno há pouco mais de um mês e vinha lançando músicas novas desde então, para a felicidade de suas fãs, as chamadas galaxy defenders. E, orgulhosamente, era uma.
“Love is Easy”, tocava pelo supermercado, mas aquela ali, no momento, é uma das músicas que ela prefere evitar. Faz com que se lembre de e da separação, ainda que passados quatro meses, ainda doí. E muito. E ouvir aquela música que descreve perfeitamente o namoro dos dois. Era fácil, muito fácil. Uma equação simples, sem complicação para deixá-los confusos. Era amor. E amor é fácil.

- Com licença... – ouviu e virou-se, encontrando uma garota que devia ter uns dezesseis anos. – Você é a ? A ex-namorada do ?
- Depende de quem pergunta. – soltou uma risadinha cansada.
- Eu sou da parte das fãs que gosta de você e que sabe que vocês se amam e não importa a aparência ou qualquer coisa. – a garota deu de ombros. – Meu nome é Deborah.
- Hm, obrigada. – agradeceu. – Posso te ajudar em alguma coisa?
- Eu só queria te perguntar se você está bem. – Deborah sorriu educada. – Eu vi várias pessoas tentando consolar o , mas pouquíssimas se importando em saber como você está de verdade. Pra mim é visível que vocês se amam e que o namoro de vocês era verdadeiro, sem interesses e intenção midiática. E parece devastado desde então, a lesão só contribuiu pra tudo ficar ainda pior e olhando pra você... dá pra ver nos seus olhos que você ainda está triste e sofrendo.
- Uau. – falou depois de ouvir tudo. Estava surpresa. – Bom, obrigada por isso, por suas palavras. E eu estou tentando seguir a vida, porque depois de terminar com uma pessoa a quem se ama, a vida fica um pouco mais lenta e parece muito difícil pegar no tranco de novo, mas eu estou tentando. é uma pessoa fantástica e eu o amo muito, mas o momento não é para que eu abuse da sorte e insista em ferir meu psicológico da forma como ele vinha sendo ferido por vários e vários comentários preconceituosos e racistas que eu vinha lendo. Nem eu, nem e nem nosso namoro merecia ser julgado e mal falado daquele jeito.
- Sinto muito por vocês terem terminado por causa dessas pessoas idiotas. Você é linda, , por mais que não acredite e que digam o contrário. E você é linda por dentro e por fora, porque tenho certeza que você tem um coração muito bom e que é uma excelente pessoa, posso ver isso só de te olhar, só de ver as fotos que postou com você quando vocês eram um casal. Espero, de verdade, que vocês encontrem um jeito de ficar juntos de novo, pra mim vocês são perfeitos um para o outro. – Deborah falou sincera, fazendo perder as palavras.
Nunca tinha sido tão bem tratada por algum fã de antes. Aquilo era novidade e ela não sabia nem como expressar a gratidão por ouvir aquelas palavras tão carinhosas e sinceras vindas da adolescente.
- Obrigada. De verdade. E eu também espero que isso aconteça.
- Desculpa incomodar, mas eu sempre quis te falar isso, mas no Instagram eu sabia que você nunca aceitaria minha mensagem e a apagaria antes mesmo de ler. Você é ótima e espero que vocês voltem, torço pelo casal desde o princípio. – Deborah falou, abraçando em seguida e saiu pelo corredor sem esperar resposta.

As palavras afetuosas da garota deixaram o coração de um pouco aquecido, mesmo que fosse apenas uma pessoa, pelo menos alguém não julgava por aparências e ela podia sentir-se um pouquinho feliz, pelo menos. Alguém reconhecia o bem que ambos se faziam. E isso era ótimo.
Quando, finalmente, estava de volta ao apartamento, acompanhada de algumas sacolas de compras e uma gata com quatro pontos na pata e um cone preso ao pescoço para que não lambesse os pontos, limpou a bagunça causada pelo vidro espatifado e pegou um copo qualquer para saborear seu vinho e curtir o resto da noite de sexta-feira que ainda tinha pela frente.

xXx


- Você deveria estar aproveitando a noite de sexta-feira com sua namorada e não na minha casa enchendo o meu saco, Francisco. – reclamou após perder a quinta (ou sexta) partida no videogame.
- Ela saiu com umas amigas, meu filho está em Málaga e eu não queria ficar sozinho, então você tem a sorte de ter minha presença. – Isco respondeu dando de ombros.
- E ela não tem medo de aparecer nas notícias saindo sem você? Porque agora ela tem diversos fotógrafos a perseguindo...
- Você conhece a Marina. – Isco deu de ombros, mas riu. – Ela disse que quer mais que eles se explodam e “as chatas que acham que são donas do nosso namoro podem ir pro inferno se acham que eu sou obrigada a aturá-las enchendo o saco”.
- O sangue Ramos é forte. – deu uma risadinha. – Queria que a fosse assim.
- Ela sofreu com comentários muito ruins, cara, você sabe. Pelo que a Nina me disse, foram coisas bem sérias e isso é péssimo. O que falam da Nina é o mesmo que falavam da Pilar no começo do namoro dela com o Sergio, por exemplo, que ela quer apenas se aproveitar da minha fama.
- O irmão dela é muito mais famoso que você. – respondeu em tom de implicância e Isco concordou.
- Pois é. Só que pra ela falam isso, as vezes aparece alguém falando sobre a imagem dela, mas a Nina não se importa com isso, mas é algo dela. A autoestima dela é muito bem trabalhada e não é algo que a faça mal, entende?
- Pessoas são todas diferentes mesmo. – resmungou, suspirando demoradamente.
- Essa é a graça, no fim das contas.
- Eu fui iludido pela María no casamento do seu cunhado. Ela disse que me ajudaria a reconquistar a , mas já se passaram quatro meses e nada aconteceu.
- Calma, pequeno gafanhoto. – Isco deu uma risadinha. – María é uma pessoa que sabe o que faz. Ela deve estar planejando tudo para que você consiga êxito total em sua demanda.
- Você está convivendo demais com sua namorada. – fez uma careta, fazendo Isco dar uma risada.
- Ela é uma figura. Eu queria muito assistir uma audiência da Nina um dia, mas ela não deixa. Fala que a imagem fofa que tenho dela vai mudar completamente... como se eu tivesse uma imagem fofa daquela garota. Nunca tive.
- Será que ela sabe o novo endereço da ?
- Sabe, mas ela preferiria me matar de forma lenta e dolorosa a te passar. – Isco respondeu à pergunta implícita. – E, talvez, se ela me matar, você consiga me vencer no videogame.
- Vá pro inferno. – praguejou, fazendo Isco gargalhar e isso chamou a atenção de Romeo, que levantou de sua cama e foi até o colo do dono. – Você acordou meu cachorro.
- Vamos jogar de novo. Quero aumentar o placar. – Isco implicou, fazendo o mais novo bufar e resmungar um palavrão antes de recomeçarem o jogo.

O celular de tocou antes que ele perdesse pela sétima (ou oitava) vez para Isco e essa foi a desculpa para encerrar o jogo antes da hora. Nacho. Avisou que chegaria lá em breve, pois María tinha saído com as crianças e ele estava cansado de ficar sozinho em casa. E não demorou a chegar, tinha lesionado o joelho há alguns dias e vinha de muletas com uma expressão entediada e logo estavam os três pela sala.

- Parece uma sala de espera de hospital. – Isco falou rindo. – Dois lesionados e eu, voltando de lesão.
- Eu tinha pensado em uma noite do pôquer, mas tem gente demais fora da cidade e, no fim, seríamos apenas nós três mesmo. – Nacho deu uma risada.
- Cadê seu pai, ?
- Palma. Foi visitar o Igor. – deu de ombros. – E eu fiquei aqui com esse saco de pulgas e com vocês dois.
- Você teve notícias da , ? – Nacho perguntou e negou com um aceno de cabeça.
- Sua esposa prometeu ajuda e até hoje eu não fui ajudado em nada. – reclamou, fazendo Nacho rir.
- Se eu fosse você, não ficaria tão desesperado. María sabe o que está fazendo e quando fará efeito. Apenas confie.
- Eu tento, mas é difícil. – resmungou. – Sinto falta da , mas entendo que ela precisava cuidar da própria saúde mental e emocional, além de querer proteger o que tivemos de todos os comentários idiotas e estúpidos, mas minha cabeça saber que ela fez o certo não adianta, porque meu coração continua partido e eu continuo esperando pelo dia em que ela vai me ligar e falar que me quer de volta. É uma merda que as pessoas achem que minha vida inteira diz respeito a elas e não apenas a parte pública, dentro de campo e enquanto atleta do Real Madrid.
- Sei como é. – Nacho deu uma risadinha pelo nariz. – Mas nós sabemos bem menos do que elas, afinal, quem toma a maior quantidade de tiros são nossas namoradas e esposas. Nós somos apenas chamados de trouxas, burros... e nossas imagens são enaltecidas, enquanto elas são atingidas por todos os xingamentos possíveis e imagináveis.
- Na época que eu estava com a Vito... coitada. Ela recebia tanto, mas tanto, ódio e a chamavam de coisas horríveis, tentaram nos separar a todo custo. Quando terminamos e quando eu estava com a Sara, os comentários eram pedindo para que eu voltasse pra Vito, porque ela sim era mulher de verdade, era o amor da minha vida... agora com a Nina é bem parecido. As pessoas se intrometem demais no que não lhes diz respeito e acham que somos obrigados a acatar cada uma das coisas que querem que façamos.
- Certo fazem o Eden e o Gareth, no fim das contas, não expõem as próprias vidas e as pessoas nem sabem de nada, não têm do que falar além de criticar o que fazem em campo.
- É, mas nós já nos ferramos, porque compartilhamos coisas e as pessoas simplesmente não respeitam. – deu uma risadinha ressentida. – Quando aconteceu toda aquela fofoca sobre a Nina e eu... meu Deus! Eu queria falar até convencer todo mundo de que nada tinha acontecido, queria falar e falar... mas Nina disse algo que fez todo sentindo: quanto mais a gente se pronuncia, menos respeitam e mais falam. Então é melhor largar pra lá e deixar que falem, fingir de surdo e de idiota é a melhor solução.
- Novamente, apenas pra nós. – Isco deu uma risadinha. – Pra elas não é assim, porque se falam as pessoas implicam, se não falam as pessoas também implicam. É complicado pra elas de todas as formas.
- Podemos mudar de assunto? É sexta-feira à noite e eu estou em casa, machucado, com meu cachorro e com vocês dois. Isso, por si só, já é triste o suficiente.
- Tudo bem, vamos falar sobre como você é muito ruim jogando videogame. – Isco implicou, fazendo Nacho rir.

Os dois resolveram ficar por ali, fazendo companhia a e passava das três da manhã quando, finalmente, foram dormir. Isco e Nacho foram para os quartos de hóspedes e , deitado em sua cama, recordava-se do dia em que tinha conhecido : ele entrou na loja em que ela trabalhava.

observava as roupas nas araras e não sabia bem o que fazer. Mesmo que conhecesse bem o gosto da avó, era difícil comprar um presente. Era uma mulher simples e não dada a muito exibicionismo. Não sabia bem o que fazer e nem o que comprar.

- Bom dia. – ouviu uma voz feminina e virou-se na direção da vendedora.
E deu de cara com , com um sorriso tão bonito e receptivo que parecia ser realmente sincero. Tinha olhos bonitos, de um castanho escuro profundo, a pele negra parecia cintilar e a pequena covinha na bochecha esquerda era encantadora. Ele compraria o que ela quisesse vender.
- Bom dia. – respondeu segundos depois, percebendo que tinha demorado demais olhando para a mulher, que parecia sem graça com tamanha atenção.
- Meu nome é e você parece precisar bastante de ajuda. – ela deu uma risadinha, arrancando um sorriso de , que assentiu.
- Vou visitar minha avó e queria levar um presente, mas não sei o que comprar.
- Qual tipo de roupa ou acessórios ela gosta?
- Ela é bem simples, sabe? Não queria levar algo muito exibido... só algo que ela vá gostar.
- Você já deu muitas camisas do time pra ela? – brincou, fazendo dar uma risada e assentir. – Acho que você precisa ver as coisas e quando sentir que aquilo é a cara dela, você leva.
- Alguma dica?
- Você tinha algo em mente quando veio até aqui?
- Talvez alguma roupa. – mordeu a parte interna da própria bochecha enquanto observava pensar, ela pareceu ter uma ideia ótima, pois os olhos se iluminaram e um sorrisinho surgiu em seu rosto.
- Acho que você pode levar um cardigã e uma blusa bem bonita, pra combinar com o cenário holandês, o que acha? Algo que seja confortável e bem bonito.
- Mostre-me sua mágica. – deu uma risadinha.
caminhou até uma das araras próxima ao local em que estavam e tirou de lá um cardigã simples, azul claro, que fazia lembrar-se dos olhos da avó e de como o céu da Holanda ficava claro e bonito assim na primavera e no verão.
- Você parece estar lembrando de alguma coisa. – sorriu. – E é esse o tipo de sentimento que você tem que ter quando compra um presente.
- Estou anotando suas dicas. – deu um sorrisinho. – Vou levar esse, vai servir e vai ficar ótimo pra ela. Posso ver algumas blusas?
- Claro. – sorriu e os dois deram poucos passos até um local em que diversas blusas bastante coloridas e estampadas estavam penduradas. – Divirta-se.
- Alguma dica?
- Pense fora da caixinha. – voltou a sorrir e aquela pequena covinha fez dar um sorriso ainda maior. – Vou só ajudar uma outra cliente, mas se precisar é só me chamar.
- Claro. – respondeu e voltou sua atenção às blusas enquanto se afastava para atender outra cliente.
Uma blusa clara, lisa e de um tom pastel chamou sua atenção. Combinaria bastante com a avó, porque ela, apesar de ter bastantes roupas estampadas e coloridas, também usava bastante roupas mais sóbrias. Após conferir o tamanho, a pegou em suas mãos, indo, depois, até um lenço muito bonito, escuro e que mesclava tons de verde e azul, como a avó gostava.
O presente estava pronto, ele sabia. E quando chegou até , o sorriso que ela lhe ofereceu fez com que ele tivesse certeza que tinha feito um bom trabalho ao comprar o presente sozinho.
- Tudo certo? – ela perguntou e assentiu satisfeito.
- Consegui comprar algo que, com certeza, ela vai gostar. – respondeu enquanto os dois caminhavam até o local em que ela faria a notinha para que ele pagasse pela compra.
- Espero que goste. – respondeu sorrindo. – Você não vai levar nada pra você?
- Talvez o seu telefone, se você quiser me passar. – falou sem pensar muito, fazendo o olhar surpresa.
- Como é?
- Desculpa, eu... – coçou a nuca visivelmente sem graça. – Mas eu te achei realmente bonita e você parece ser bem interessante e eu... Eu devia imaginar que você é comprometida. Desculpa.
- Não. Eu... eu não sou comprometida, só não... esperava por isso. – deu uma risadinha totalmente sem graça.
- Desculpa. De verdade. – soltou, totalmente sem graça. – Não era minha intenção te deixar sem graça ou qualquer coisa do tipo.
- Tudo bem. – resmungou, voltando sua atenção ao pequeno pedaço de papel para descrever a compra e que ele levaria ao caixa.
- Se você achar melhor, eu te passo o meu número e você, se sentir vontade, pode entrar em contato. – respondeu, fazendo olhar surpresa.
- Você, , estrela do Real Madrid e da seleção da Espanha vai passar seu número pra uma desconhecida? – perguntou, ainda surpresa. – E se eu espalhar esse número pela internet?
- Isso é com você. – respondeu, dando um sorriso. – Eu estou te passando meu número confiando que, caso queira, falará comigo.
- E se eu não falar?
- Isso também é com você. – respondeu educado. – Eu estou apenas confiando que, talvez, você me ache um pouquinho interessante e aceite conversar comigo sem ser contato estritamente profissional.
- Torço pro Atlético. – falou, fazendo os olhos ficarem pequenininhos como duas fendas e sorriu.
- Não, você não torce.
- E como você pode saber disso?
- Um, você não me olhou com cara de nojo em momento algum; dois, você não fez cara de nojo ao falar do Real Madrid; três, você chamou de Atlético e não de Atleti. – respondeu, fazendo dar uma risadinha. – Você pode até não torcer pelo Real Madrid, mas não torce pro outro time também.
- Eu sou madridista, . – respondeu, entregando a nota para o rapaz. – Passe no caixa, pague e volte pra buscar o embrulho.
- Tudo bem. – respondeu, pegando o papel e seguiu para o caixa. – Você tem um pedaço de papel e uma caneta pra me emprestar, por favor?
- Claro. – a mulher respondeu sem lhe dar a devida atenção enquanto ele entregava a nota e o cartão.
anotou o número do celular no papel, devolveu a caneta, digitou a senha e realizou o pagamento. Voltou até para buscar o embrulho, que já estava pronto, e estendeu o pequeno papel.
- Você pode amassar e jogar fora se quiser, mas está aqui. Caso queira conversar é só chamar. – falou e deu uma risadinha incrédula, mas pegou o papel. – E obrigado pela ajuda nas compras.
- Disponha. E volte sempre. – ela respondeu.
pegou a sacola já sem nenhuma esperança de que fosse, em algum momento, receber uma mensagem de ou uma ligação, tinha sido bastante precipitado e, talvez, até mesmo afobado.
Mas, quando o celular vibrou no bolso da bermuda e ele pegou o aparelho, seu sorriso foi grande o suficiente para que fizesse suas bochechas doerem.
“Se você for chato, eu vou te bloquear”, era o que dizia a mensagem de . Virou-se na direção da loja, mas ela já estava ocupada atendendo outra pessoa.

¬
queria mandar uma mensagem para , mas era melhor não. Era melhor deixar que ela tivesse o próprio tempo de processar tudo e, quem sabe, ela não ligasse mesmo?
xXx


Dezembro de 2019

- O que você está fazendo aqui? – perguntou quando abriu a porta do apartamento e encontrou María parada ali, acompanhada de Alejandra.
- Eu disse que eu tinha um plano.
- Seis meses depois... – soltou uma risadinha pelo nariz, mas deu espaço para que María entrasse.
- Antes tarde do que nunca. – María respondeu.
- Oi, tio. – Alejandra chamou atenção para si e a pegou no colo, ganhando um abraço e um beijo no rosto.
- Oi pirralha. Tudo bem?
- Cadê o Romeo?
- Lá no quarto. – apontou e a menina seguiu correndo até onde o cachorro estava. – E então, María, qual seu plano?
- Um milagre de Natal, . – María deu um sorriso enorme.
- Milagre de Natal? – perguntou e a mulher assentiu animada.
- Pode me considerar uma espécie de fada madrinha do Natal.
- Ou uma rena. – brincou, mas María lhe deu um tapa no braço. – Ai! Porra, você tem a mão pesada.
- Você teve total culpa desse tapa. – María respondeu.
Antes que pudessem começar a conversar de verdade sobre o que importava, a campainha voltou a tocar e foi até a porta, encontrando Marina Ramos. A irmã mais nova do capitão.
- Claro que você também está envolvida. – soltou uma risadinha pelo nariz e deu espaço para que a Ramos mais nova entrasse.
- Eu disse que era pra me esperar, sua ridícula. – Marina falou para María e logo sentou-se ao lado da amiga. – Já contou?
- Ainda não.
- Então sente-se , as fadas madrinhas do seu Natal acabaram de chegar.

xXx


23 de dezembro de 2019

estava apreensivo. Como, por tudo que era mais sagrado, aquilo daria certo? Tudo bem, tinha grandes chances de dar certo, mas também havia grandes chances de tudo dar errado. Marina, conforme suas próprias palavras, tinha movido céus e terra para fazer aquilo acontecer e teve ajuda de todas as esposas dos jogadores do Real Madrid, ainda que as coisas fossem acontecer em total e completa privacidade entre e (bom, talvez não total, mas esse pequeno detalhe seria perdoado por ela).
Quando Marina chegou à sua casa, duas semanas antes, María e ela já tinham tudo arquitetado e uma nova “reunião” foi feita com todas as esposas dos jogadores e tudo foi explicado e esclarecido. estava impressionado com todas as informações que tinha e como elas tinham conseguido fazer tudo. Conseguia visualizar em cada detalhe do que fora preparado e, por isso, sentia um fio de esperança que tudo daria certo.
A casa de Nacho, local de execução do muito bem elaborado plano, estava vazia à exceção de María (que daria uma desculpa qualquer para sair e deixá-los a sós), e algumas outras pessoas que fariam parte daquilo. Ele estava nervoso, sentia as mãos suando mais do que quando ela aceitou sair com ele pela primeira vez. estava achando que era apenas a “tradicional” reunião para comemorar “a véspera da véspera de Natal”, coisa que sempre tinha feito com algumas amigas e que, nos últimos dois anos, essas amigas também incluíam algumas das esposas e namoradas dos companheiros de time de .
Ou seja, totalmente normal para ir se encontrar com essas pessoas. Certo, ela deveria estar receosa quanto ao local, pelo término, mas pelas mensagens que tinha lido do grupo de WhatsApp criado para que elas combinassem tudo, ela parecia bem convencida e sem nenhuma suspeita.
Quando o interfone tocou, sabia bem quem estava chegando e respirou fundo. Estava preparado para tentar sua cartada final e, se desse errado, tudo bem, ele pelo menos teria tentado.

- Ela chegou. – ouviu María falar e assentiu. – Vou atender a porta e falar que preciso sair pra comprar uma coisa pra levar à festa do pijama da Ale, mas que algumas pessoas já chegaram. E aí é com vocês.
- María, jamais conseguirei agradecer tudo isso.
- Apenas voltem. Só peço isso. – a mulher sorriu e saiu para a porta da casa, quando ouviu batidas leves.
- Vai dar tudo certo. – ouviu e assentiu, respirando fundo e mordeu a parte interna da bochecha.
Era bom que desse certo mesmo. Não saberia o que fazer caso não funcionasse.
- Tudo bem, vou pra lá conversar com elas e aguardamos você. – ouviu a voz de e por um segundo sentiu seu coração parar de bater.

Sentiu como se tudo em seu corpo tivesse parado de funcionar pela brevidade de tempo que ela demorou até aparecer na área externa. Estava frio e, claro, ela deveria ter suspeitado que ninguém em sã consciência ficaria do lado de fora da casa numa temperatura de sete graus. Mas, não suspeitou.
Quando entrou na área, deparou-se com a olhando com tanta ternura e com uma felicidade tão grande por vê-la depois de tanto tempo, com uma admiração contagiante e um sorriso ladino, daquele que fazia duas ondinhas em sua bochecha e que fazia o coração dela errar as batidas, que quase não percebeu quem mais estava ali.
Nada menos que sua banda favorita.
E, quando aquela música começou a tocar, apenas observava Tom Fletcher cantando que ela não precisa de dinheiro para ser algo no mundo, muito menos ser magra... bastava apenas sorrir e aquilo seria um bom começo.
Tudo bem, aquilo não fazia o menor sentido na cabeça dela. Que diabos o McFly estava fazendo na casa dos Fernandez Cortés? Que diabos o McFly estava fazendo ali, cantando para ela e para ? Não iam apenas ver alguns episódios de Friends, comer e falar?
Não, claro que não.
cantarolava baixo, tinha aprendido todas as músicas e se tornado fã da banda inglesa por causa dela.
Ele já tinha cantado aquela música pra ela diversas vezes, já a dançaram na cozinha uma vez enquanto tentavam cozinhar juntos e tudo deu errado, porque acabaram dançando demais e queimaram a comida.
Ele já tinha cantado aquela música quando foram para a Holanda pela primeira vez e estava nervosa e incerta sobre conhecer os outros familiares dele. Principalmente a avó.
tinha cantado aquela música quando estava apreensiva sobre sua aparência para ir a uma reunião com o dono da marca da loja em que ela costumava trabalhar.
cantou aquela música todas as vezes que alguém falava alguma idiotice sobre ela na internet e ela ficava visivelmente ressentida.
postou aquela música em seu Instagram com fotos dos dois e em diversos stories.
lembrava-se de todas as vezes. Sua memória afetiva com aquela música era muito maior do que ela tinha imaginado, principalmente porque nem era uma das músicas que mais ouvia do Radio: Active.
E ver ali, com uma das mãos estendidas, enquanto uma versão acústica e exclusiva era feita para os dois, fez com que ela lembrasse de um trecho de livro que tinha lido há algumas semanas e que ainda martelavam em sua cabeça: “As pessoas escondem relacionamentos por vergonha, mas mantêm um relacionamento em particular por outros motivos. Todos os relacionamentos são, de uma forma ou de outra, particulares – se você estiver feliz, por que os outros precisam saber?”
E fazia total sentido.
Sempre fez.
Encerrou a distância entre ela e e ele lhe ofereceu um de seus melhores sorrisos, aquele do qual gostava tanto, pequenininho e que fazia com que ele parecesse uma criança.

- Agora que a música acabou, vamos dar privacidade pra vocês. – a voz de Harry Judd fez com que despertasse de seu transe e percebesse que a música tinha mesmo acabado.
- Mas, antes... – foi a vez de Tom falar. Bom, ele não era nem de perto o favorito de , por várias razões, mas sentiu-se ansiosa por ouvir o que ele tinha a falar. – Ouvi dizer que você é muito fã da banda desde o começo.
- Sou.
- Então, você lembra de todas as coisas horríveis pelas quais todos passamos. E pelas coisas horríveis que a Gio ouviu e ainda ouve. Deve lembrar de todas as pessoas que a chamavam de gorda, horrorosa, ridículas e coisas assim. Sei que com você as coisas foram bem piores, que além de terem sido preconceitos físicos, também foram racistas. Isso é uma merda pra quem tem problemas de autoestima e transtornos de imagem, mas, por mais difícil que seja, você tem que silenciar essas pessoas e seguir em frente. Não pode entregar sua felicidade nas mãos de quem não tem nada a ver com sua vida. Gio quis terminar várias vezes, muitas eu também considerei que fosse uma boa ideia, porque eu via como ela estava triste e cogitando acreditar naquilo. Mas o relacionamento é de vocês, não deixe que outras pessoas tenham voz ativa e queiram ditar o que acontece ou não. A felicidade é de vocês e não dos outros. Não abra mão da sua felicidade por pessoas que não te conhecem e nem sabem da realidade que vocês vivem. E nós sabemos que vocês são um casal feliz e que se faz bem, recebemos uma comitiva de amigos de vocês nos pedindo por isso. Ninguém teria feito todo esse esforço se não torcesse pela felicidade de vocês. Sejam felizes por vocês e para vocês.
- Meu Deus, você fala demais. – Danny Jones falou, tentando amenizar o clima, e fez todos rirem. – Agora vamos mesmo. E aguardamos notícias.
- Antes de vocês irem... – falou, dando um sorriso tímido e tentando não chorar ainda, mesmo depois daquelas belas e verdadeiras palavras de Tom (mesmo que não tendo entendido todas, tinha pego a essência do que tinha sido dito). – Posso tirar uma foto?
- Por favor. – Dougie falou, sorrindo educado e as fotos foram tiradas, além de abraços dados e desejos de boa sorte.
Agora estavam sozinhos.
- Prefiro se entrarmos, não quero que você fique doente. – falou, mas apenas o abraçou.
- Desculpa.
- Pelo quê?
- Por ter desistido da gente.
- Eu sei que não desistiu, . Você tomou a decisão certa naquele momento, a decisão que precisava tomar. Sua saúde mental é sua prioridade sempre, lembre-se disso. Ficamos tristes, mas acredito que você vem cuidando mais de você agora.
- Sim. Tenho feito terapia e, mesmo que doa muito e que não pareça ajudar, sei que ajuda e que tenho plena consciência de que preciso lidar com todos os meus problemas com minha imagem e autoestima. Não sei se consigo reaparecer em suas redes sociais tão cedo ou divulgar pro mundo que voltamos, mas sei que te amo e que nós somos felizes e, depois de hoje, depois de entender que as pessoas que nos conhecem nos querem bem, o resto pode ficar pra depois.
- Suas amigas são todas doidas. – falou baixo em seu ouvido, fazendo dar uma gargalhada. – Elas fingiram que iam visitar a Iza lá em Londres e foram atrás do McFly.
- Se essa ideia não foi da María e da Marina, não foi de mais ninguém. – deu uma risadinha e se aconchegou ao abraço de , encostando a cabeça no ombro do rapaz e ele a envolveu num abraço carinhoso.
- Eu te amo, .
- Eu também te amo, . Desculpa por ter sumido.
- Cariño, era o que você precisava. E eu entendo. Você tem todo tempo do mundo, , quero que você cuide de sua saúde mental e que esteja bem. Sua felicidade é o que me faz feliz.
- O que me faz feliz, , é você. – levantou o rosto para olhar nos olhos, e abriu um sorriso. – Cause everyone's got troubles, that's the way the story goes...
- You don't need to get in trouble baby to see whats underneath your nose. Oh, cause if your feeling happy that's the place to let it show. So just remember to, smile, smile, smile, so everybody knows...
completou, juntando os lábios aos de , finalmente, depois de tanto tempo separados.
Amava o sorriso dela, muito. Mas, no momento, apenas queria beijá-la e voltar a fazer as coisas serem muito melhores.

-
O trecho de livro citado pertence ao livro “As Mães”, de Brit Bennett.




FIM!!!!!!!!!!!



Nota da autora: Pois cá estou eu escrevendomais fanfic com jogador de futebol! Dessa vez com Marco Asensio que nem mesmo faz meu tipo, mas quando idealizei esse plot, ele foi o primeiro a surgir na minha mente e fluiu muito bem com ele sendo o PP, espero que vocês tenham gostado.
"Smile", tal qual para a PP, não é uma das minhas músicas favoritas do "R:A", mas é uma música linda e eu realmente gosto bastante dela, acho que tem uma mensagem muito forte por trás e que vale a pena ser disseminada.
Eu nem consigo me prolongar muito nessa nota, apenas espero que tenham gostado, que tenham sentido essa conexão gostosa entre os PPs e saibam que vocês são lindas, cheirosinhas, maravilhosas e donas dessa porra toda de mundo! Que nada e nem ninguém pode pará-las e nem falar sobre aparência, porque cada um enxerga beleza de formas diferentes e se fosse pra ser todo mundo igual, não teria graça nenhuma!
Era isso, venham pro grupo, tem mais fanfic minha nesse especial (porque eu sou descontrolada!) e é isto.
Beijos!





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