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Última atualização: 14/02/2024

Prólogo

O hóquei feminino sempre foi considerado — ou melhor, lembrado — como apenas um esporte olímpico, mas não para . Para , o esporte era a sua vida, ela vivia e respirava hóquei vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Afinal, a ex-jogadora havia acabado de se tornar a atual técnica do Boston Pride, e não dava moleza para o time feminino.
Longe de começar a nova temporada, aproveitava mais um almoço de domingo com sua família. Cercada de boas risadas, péssimas piadas de seu irmão, Dylan, e muito vinho, era assim que gostava de passar o tempo.
— Então, ansiosa para a nova temporada? — Foi seu pai, Michael, o primeiro a tocar no assunto.
— Um pouco, mas é normal. Eu sempre vou ficar ansiosa para cada temporada. — Ela deu de ombros, colocando mais um pedaço de queijo na boca. — Mas, por favor, agora eu só quero aproveitar minhas férias. Em breve estarei de volta ao trabalho e terei que colocar um time inteiro em ordem.
— Você não deveria se preocupar, todo mundo morre de medo de você, maninha.
— Não preciso que elas morram de medo de mim, preciso que elas joguem e levem aquilo a sério. Além de amar o que fazem, é claro.
— Ok, agora pare de comer queijo ou vai passar mal. Você sabe que não pode comer essas coisas, . — Sua mãe, Sarah, ralhou. Sem deixar sua mãe ver, revirou os olhos e prendeu o riso ao ver o irmão fazer o mesmo. Eles não gostavam de serem tratados como crianças, mas também não paravam de agirem como tais.
— Hoje tem pudim. — Dylan falou, e os olhos de brilharam na mesma hora.
— Hum, parece que alguém gostou mesmo dessa sobremesa. — olhou para a mãe, sabendo que a mulher não gostava muito de fazer doce, mas desde que aprendera a fazer a sobremesa, aquela tinha se tornado quase um prato principal.
— Culpe o seu pai, ele não perde a oportunidade de pedir. — A matriarca deu de ombros, colocando os pratos na mesa.
— Obrigada, pai. — sorriu para o pai. Ela era considerada uma formiga por todos, não era à toa que desde criança comia açúcar puro escondida na cozinha.
— Vamos almoçar, porque ‘tô sentindo que daqui a pouco você vai fugir de nós. — Sarah estreitou os olhos, sabendo que não conseguiria ficar um pouco mais de duas horas ali dentro. A questão não era que ela não gostava, mas lhe agradava muito mais o silêncio da sua própria casa.
— Desculpa, não gosto de deixar o Sulley e o Wazowski sozinhos. — Ela realmente sentia muito.
— Não acredito que esses são os nomes dos seus gatos. — Dylan retrucou.
— Você chama o seu cachorro de Bambi, vai mesmo falar dos nomes dos meus gatos? — olhou séria para o irmão.
— Alessia tinha apenas sete anos quando adotamos o cachorro, não ia estragar a felicidade dela. — Ela revirou os olhos, como se aquilo não fosse desculpa o suficiente para colocar o nome de um cachorro de Bambi.
— Ótimo, vocês dois continuam os mesmos. — Michael riu, terminando de tomar a sua taça de vinho e ajudando a esposa terminar de colocar a mesa para o almoço.
— Alguns hábitos nunca mudam, pai.
Todos sentaram ao redor da mesa, após Sarah colocar a lasanha no centro, pronta para ser devorada. serviu mais um pouco de vinho, aproveitando que não iria voltar dirigindo para a casa, já que Dylan tinha dito que a volta ficaria por conta dele. Enquanto Michael contava sobre o último jogo de basebol que tinha assistido, Dylan e tentavam fazer alguns comentários também, mas eles não eram muito fãs do esporte. Tanto Michael quanto Sarah sabiam disso, mas eles sempre tentavam se manter ocupados enquanto a temporada de hóquei não começava, diferente de que vivia para o esporte.
— Já ficou sabendo da notícia, ? — Sua mãe parecia animada, mas o olhar que Dylan lançou em direção a mulher não foi dos melhores, por mais que ela não tenha visto.
— Que notícia, mãe? — perguntou, curiosa.
— Acho que não é um assunto para o almoço. — Dylan respondeu, e franziu a testa.
— Ok, conta logo, estou curiosa agora.
está de volta. Parece que conseguiu um emprego melhor aqui, Ethan também acabou se mudando. Parece que eles vão se casar no próximo outono…
Não importava mais o que Sarah contava, não estava mais prestando atenção. Os pais de nunca souberam o real motivo pelo qual a filha parou de falar com a sua melhor amiga. Aparentemente, achavam que tinha sido por causa dos rumos diferentes que suas vidas tiveram, mas apenas Dylan sabia de todos os sentimentos que , um dia, nutriu por , e aquela não era a notícia que ela esperava receber em um almoço de domingo.



Capítulo 01



, você já marcou a prova do vestido? Marcou a prova do buffet? E os convites? Os vestidos das madrinhas já foram escolhidos?
olhou no relógio mais uma vez, respirando fundo antes de fechar a porta do banheiro e se esconder lá dentro. Enquanto do lado de fora do quarto, sua mãe, Grace, falava sozinha. não se deu ao trabalho de responder aquelas perguntas, elas já tinham sido feitas, no mínimo, um zilhão de vezes na última hora. Ela ainda precisava se arrumar e sair para o trabalho, as coisas do casamento poderiam ficar para mais tarde.
Bem, era o que pensava.
Quando a água bateu em seu corpo, foi o único momento naquela manhã que ela se permitiu relaxar. Fez de conta que não existia uma lista enorme de tarefas para ser cumprida, nem que existia uma Grace ao lado de fora do quarto, provavelmente, furiosa com as tarefas que ainda não havia cumprido. E, muito menos, que não tinha um casamento para planejar. O seu próprio casamento.

Casamento ou matrimônio é um vínculo estabelecido entre duas pessoas, mediante o reconhecimento governamental, cultural, religioso ou social e que pressupõe uma relação interpessoal de intimidade, cuja representação arquetípica é a coabitação, embora possa ser visto por muitos como um contrato.

Aquela definição se encaixava perfeitamente com a vida que , provavelmente, teria. Afinal, casar nunca foi seu sonho e nem sua prioridade, ainda que conhecesse Ethan desde o último ano da faculdade. Mas desde então sua vida teve uma mudança drástica e teve a sensação que foi naquele ano que perdeu totalmente o controle das coisas que aconteceram a seguir. Ela não sabia se ficava feliz de estar de volta a Boston, por mais que tivesse passado os melhores momentos da sua vida ali, ela também estava ciente de toda a carga emocional que aquele lugar sempre acarretaria em sua vida. Principalmente, pelo fato de ter entregue o convite de casamento para a família . Bem, apenas para Michael e Sarah, ela não teve nem coragem de mencionar na sua lista de casamento.
Isso a corroía por dentro. Mas foi uma decisão que ela precisou tomar, para o seu próprio bem.
, eu estou falando com você há horas. — Grace adentrou o banheiro, sem se importar se a filha já tinha tomado o seu banho.
— Mãe, pelo amor de Deus! Eu estou tomando banho. — Ela desligou o chuveiro, se enrolando na toalha. — Eu sei que você está falando há horas, está repetindo a mesma coisa desde que chegou. Eu preciso trabalhar, e você deveria ir para sua casa.
Num rompante de raiva, extravasou. Sua mãe sabia extrapolar todos os limites, mas com o tempo aprendeu a ser firme com a mãe, mesmo quando não queria.
— Você está me expulsando da sua casa? — O olhar firme de Grace fez se sentir uma garotinha novamente, mas ela não tinha mais doze anos, ela não precisava passar por aquilo.
— Não, estou dizendo que tenho outros compromissos e não estou disponível o dia todo. Já respondi o que você queria, agora eu preciso trabalhar. — Se a expulsasse de casa, Grace certamente faria mais uma das suas chantagens emocionais. não tinha mais tempo e nem paciência para lidar com aquilo.
Quando Grace murchou os ombros ao ouvir a resposta da filha, tinha mesmo entendido que havia exagerado. Então virou as costas e fechou a porta do banheiro, deixando sozinha novamente. Um gemido exasperado escapou dos lábios de , ela não lembrava mais do último dia que tinha realmente ficado sozinha naquele apartamento. O último dia que aproveitara o silêncio da sua própria casa já não era uma memória tão recente quanto gostaria. Desde que comunicou sua família sobre o noivado, foi como se tivesse dado passe livre para a sua mãe voltar a ser presente na sua vida, mas a verdade é que não gostava de quando Grace controlava tudo. Uma vez livre das garras da mãe, jurou nunca mais voltar para o mesmo lugar.
— Você quer uma carona para a clínica? — Grace perguntou quando apareceu, vestida com o uniforme do trabalho, na sala minutos mais tarde.
— Não, obrigada. — Ela gostava de ir sozinha para o trabalho, durante o caminho colocava uma música e tentava esquecer os problemas que a incomodavam. Não gostava de deixar que seus problemas pessoais afetassem seu desempenho no serviço. — Eu vou tentar marcar essa prova do buffet logo, então te aviso, ok? — Grace pareceu mais alegre dessa vez, como se sua insistência tivesse surtido algum efeito positivo. Mesmo que achasse totalmente o contrário.
— Tudo bem, seu pai não está muito feliz com tudo isso, mas tenho certeza que ele não vai aguentar te ver de noiva.
— Não é como se o papai estivesse feliz o tempo todo, raramente algo o agrada. — A verdade é que Robert era mais pão duro do que aparentava, se não fosse por Grace, ele não gastaria um real de toda a sua fortuna.
— Ele trabalhou muito para ter o que tem hoje. — Grace sempre defenderia o marido, então era uma discussão que não estava disposta a entrar.
Após se arrumar e sair de casa, o pequeno percurso até o estacionamento do prédio em que morava foi silencioso. Ainda que se sentisse um pouco mal por ter sido rígida demais com a sua mãe, ela também se sentia bem em conseguir impor um limite, e, de certo modo, conseguir ter mais controle da sua própria vida. Algo que alguns anos atrás, isso não era possível. Por fim, deixou aqueles pensamentos para trás, ela teria um dia cheio na clínica. Se concentrar em seu trabalho era sua prioridade no momento, então se despediu de sua mãe no estacionamento e dirigiu até o trabalho.
Durante o pequeno trajeto, deixou o rádio ligado, em meio às notícias ela se permitia prestar atenção na letra das músicas ao mesmo tempo que tentava não pensar em nada. A manhã tinha sido exaustiva, mas qualquer momento consigo mesma era sempre bem-vindo. até se permitiu cantarolar, mesmo que errado, as músicas que tocavam no rádio, e toda vez que percebia que a letra estava errada, ela ria de si mesma. Pelo menos, naquele momento, a tensão que sentia em seus ombros se dissipou.
Oh, saturday sun, I met someone. Don't care what it costs, no ray of sunlight's ever lost. cantarolou quando saiu do carro, o estacionamento da clínica em que trabalhava não estava tão cheio. Isso era um bom sinal.
— Que bom humor. — Janice comentou, sorrindo, ao estacionar ao lado de .
— Ah, é o jeito, né? — deu de ombros, sorrindo para a colega de trabalho.
— Fiquei sabendo que Lenna está de volta. — Os olhos de brilharam, estava aliviada com a notícia. Lenna era uma senhora cheia de comentários sarcásticos e histórias vividas na juventude que contava para os enfermeiros, mas que no fundo tinha um coração bom. tentava não se apegar aos pacientes, sabendo que qualquer dia que ela chegasse, eles não estariam mais lá. Principalmente agora, no novo emprego onde estava trabalhando há pouco mais de um mês, mas a conexão que teve com Lenna foi quase instantânea que nem sequer tentou esconder o carinho que nutria pela senhora.
— Que ótima notícia. — colocou a mochila no ombro, caminhando ao lado de Janice para dentro da clínica.
— Você sabe o que isso significa, não é? — olhou para Janice, esperando uma resposta. — Mais trabalho, é claro. Lenna é tão teimosa.
— Bom, eu já estou familiarizada com tanta teimosia, que dificilmente Lenna me dá trabalho. — Naquele momento pensou na relação com a sua mãe, e nada chegava perto da teimosia daquela mulher. Lidar com Lenna não era nenhum trabalho para .
— Eu não sei qual é o problema dela com todos nós, mas com você ela é sempre tão… — parou de caminhar, virando-se de frente para sua colega, mas a expressão que encontrou no rosto de Janice foi quase de inveja.
— Tudo tão...?
— Sei lá, com você é tudo mais fácil. — Janice deu de ombros, voltando sua atenção para o celular.
— Não é, acredite em mim. Mas tem que ter um jeitinho com Lenna, e ela vai te ajudar a fazer o seu trabalho, só isso.
— Ah, isso é quase impossível.
balançou a cabeça, rindo baixo e voltando a fazer o seu caminho. Lenna estava longe de ser a paciente mais fácil de lidar na clínica, mas não era impossível, um pouco de conversa aqui e ali, e pronto você já tinha feito o seu trabalho no final. Quando entrou na clínica, a correria pela troca de turno era tão habitual que ela conseguiu desviar dos colegas de trabalho e ir direto para o vestiário, guardou sua mochila no armário e trocou de roupa rapidamente. Enquanto caminhava para a ala infantil, passou em frente ao quarto de Lenna e foi inevitável ouvi-la reclamar do enfermeiro que tentava tirar sangue de seu braço.
— Senhora Carter. — a cumprimentou, controlando o sorriso em seu rosto. Lenna pareceu aliviada quando encontrou com o olhar de , mas não tirou a carranca mal humorada do rosto.
— Ei, deixa comigo. — Dylan não demonstrou nenhuma resistência em tentar fazer seu trabalho, e logo saiu do quarto, deixando apenas e Lenna no cômodo. — Então, Lenna, vejo que você anda dando trabalho para os meus colegas.
— Não é culpa minha, . — Lenna nunca a chamava pelo nome, o que soava até engraçado para . — Mas que bom que você já chegou. E, bem… não foi dessa vez que eu parti para o outro plano.
— Lenna! — Dessa vez, não conseguiu controlar o riso. A conversa fiada era tão natural entre as duas, que Lenna parecia não notar que tirava sangue de seu braço. E se notava, bom, então ela fingia muito bem.
— E o casamento? Eu não sou surda, escutei a fofoca entre os seus colegas, mas então eu fui parar no hospital antes de conseguir comentar com você. — Os olhos verdes de Lenna não eram julgadores, mas curiosos.
— Eu juro que faria você voltar para esse plano a todo custo só para mim mesma poder contar a novidade. — tentou parecer animada, mas algo dentro de si não a deixava mais tão entusiasmada quando contava sobre o noivado.
— Não, por favor! Eu ficaria bem lá, não se preocupe. — Lenna calçou o chinelo peluciado, caminhando até a janela, esperando que falasse sobre a novidade. Quem visse de fora entenderia que eram duas grandes amigas, e que tinha todo o tempo do mundo para ficar horas e horas conversando com a senhora Carter. No fundo, ambas gostavam da companhia uma da outra, e era isso que os outros enfermeiros não conseguiam compreender. Entretanto, essa parte elas também não faziam muita questão de explicar.
— Então… — Lenna sentou na poltrona próxima da janela, apertando o cardigan no corpo pequeno, e esperou que fizesse o mesmo. — Eu espero uma história romântica, de desastre já basta a minha vida.
— Foi tão romântico que eu acho que você vai ficar até enjoada. — respondeu, rindo ao lembrar do pedido de casamento, voltando a sentir as famosas borboletas da boca do estômago.
— Essas são as melhores.



Capítulo 02



Assim que atravessou as portas duplas, o rinque ainda estava vazio. O ar frio a recebeu como um velho amigo e ela inspirou fundo, sentindo falta de tudo que aquele lugar sempre lhe proporcionava. analisou mais uma vez o plano de aula para aquele semestre. Ela sabia que estava ótimo, era um pouco perfeccionista com essas questões, mas sentia que faltava alguma coisa e ainda não descobrira o que era. Tentaria lembrar ao longo do dia, e se não fosse possível, deixaria daquela forma se desse certo para o time da escola.
Apesar do pouco interesse dos alunos e a pouca verba que a escola tinha para oferecer as aulas, aproveitou para formar um time misto de meninas e meninos, o que de início foi um desafio para criar uma tática que desse certo com eles. Porém, alguns rostinhos a reconheceram logo de cara, já que também era conhecida por seu desempenho como treinadora do Boston Pride. Além de ser um pouco autoritária, ela conseguia ser bem convincente quando queria com as crianças e não deixava que houvesse briga entre os colegas de equipe. Aos poucos, as crianças foram chegando e se encaminhando direto para o vestiário, já acostumados com aquela rotina. Ao passarem pela treinadora, ela dava um hi-five em cada um, vendo o sorriso nos rostos tão conhecidos por ela, o que a motivava cada vez mais estar naquele lugar. apoiou a prancheta com as anotações ao seu lado no banco, assim que avistou a nova aluna se aproximando.
— Ei, você deve ser a Violet, certo? — se abaixou, ficando na mesma altura da menina, ainda que ela não fosse tão baixa quanto a maioria das crianças.
— Sim, treinadora. — Os olhos curiosos de Violet mostravam o quanto ela estava ansiosa para aquele momento. — Cadê o restante do time?
— No vestiário, mas logo estarão aqui conosco. — Ela deu um sorriso para a menina. — Por que não coloca os patins e esperamos a turma no gelo? Acho que isso é mais animador do ficarmos aqui paradas.
Assim que Violet escutou a palavra patins, ela não esperou muito para colocá-los em seus pés. Foi inevitável Violet virar a cabeça para o lado à procura de outro colega de time, mas entendia perfeitamente o que se passava na cabeça da pequena defensora. Quando a turma saiu do vestiário, pronta para pisar na pista de gelo, haviam olhos curiosos para todos os lados. Violet analisava seus novos colegas e o restante da turma fazia o mesmo ao vê-la ao lado da treinadora.
— Pessoal, essa é a Violet, nossa nova colega. Ela vai jogar na linha de defesa e tenho certeza que vocês têm muito o que aprender com ela e ela com vocês, certo? — Os rostinhos atentos, balançaram a cabeça em concordância.
— Treinadora, . — Erick levantou a mão, enquanto balançou a cabeça pra ele continuar. — Você vai tirar alguém do time?
De repente a turma começou a falar ao mesmo tempo, fazendo com que ninguém entendesse o que o outro falava.
— Não, Erick. Não irei tirar ninguém do time, nós sabemos que nosso time sempre cabe mais um, não é mesmo? — O menino suspirou, aliviado, concordando com a treinadora.
— Ok, ok. Agora vamos fazer o que sabemos de melhor. Exercícios, agora! — Ela disse, rindo, mas sem deixar o seu leve tom autoritário de fora.
A turma já conhecia o ritmo da treinadora, e ela o deles. Sabia que eles se expressavam muito melhor com um taco em mãos, e não perdeu tempo ao mandá-los começar a fazer os exercícios básicos de treino. aproveitou para observar o desempenho de Violet com os seus novos colegas, a pequena defensora era rápida e habilidosa, principalmente para a sua idade. Mas o que a deixou ainda mais contente, foi o ótimo desempenho que a turma teve naquela tarde. Após o fim do treino, conversou com cada um individualmente, destacando os erros que cometeram, mas dando algumas dicas de como eles poderiam melhorá-los na próxima vez. Ver o sorriso no rosto de cada um, o brilho nos olhos e a vontade de vê-los querendo melhorar a cada dia era um incentivo para continuar ensinando os pequenos.
— Oi, senhora . — Dakota, a irmã mais velha de Erick, apareceu no rinque.
— Oi, Dakota, como está? Ah, e já disse que não precisa me chamar de senhora. — Ela sorriu para a garota, que apenas revirou os olhos.
— Estou bem, apenas cansada. O pirralho do meu irmão ainda está lá dentro?
— Eles só estão trocando de roupa, logo, logo, ele estará aqui.
Dakota jogou a mochila no banco e sentou-se, esperando o irmão aparecer. Porém, a menina não parava de olhar o celular há cada cinco segundos, o que, obviamente, chamou a atenção de .
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou baixo, mas Dakota apenas balançou a cabeça, negando. Ela não insistiria para que a garota falasse, se sentisse à vontade ela falaria.
— Tudo bem. — Ela bufou, irritada. — Erick está demorando e, se não aparecer em dois minutos, nós perderemos nosso ônibus.
— Eu vou chamá-lo, tudo bem? — A garota balançou a cabeça, parecendo um pouco mais aliviada, mas sentia que essa não era a sua única preocupação.
— Eu já estou aqui. — Erick apareceu antes mesmo que pudesse se levantar.
— Vamos logo, pirralho. — Dakota o puxou pela mão, arrastando o irmão mais novo para fora do rinque sem que ele pudesse, ao menos, se despedir da treinadora.
— Se cuidem! — gritou os vendo sair porta a fora.
Quando o restante do time foi embora, começou a guardar os tacos no armário da parede, fechando o vestiário e saindo da arena em seguida. A temporada oficial da National Hockey League ainda não havia começado, o que dava uma folga para se dedicar totalmente ao seu pequeno time, mas ela sabia que iria precisar de um ajudante muito em breve. Assim que guardou os instrumentos de treino e pegou sua bolsa, pronta para ir embora, seu celular vibrou no bolso do casaco.
— Fala, pirralho. — não precisou olhar na tela do celular para saber que era seu irmão. Afinal de contas, I Want It That Way só tocava quando ele ligava.
— Você sabe que eu sou o irmão mais velho, não sabe? — A voz do outro lado da linha tentava se manter séria.
— Acho que três anos de diferença nem é tanto assim. — Ela segurou o riso, apenas para provocar o irmão.
— Que seja. — podia jurar que Dylan tinha acabado de revirar os olhos. — Eu liguei para falar uma coisa.
— ‘Tô entrando no carro, mas pode falar que ‘tô te ouvindo. — jogou a mochila no banco do carona e colocou o celular no suporte, escutando o irmão pelo fone de ouvido.
— Olha, sobre domingo… — Dylan estava receoso sobre o assunto, eles não tinham conversado desde então, e até pensou que ele tinha esquecido. — Eu ia te contar, só na-
— Dylan, você não precisa me contar nada. Sobre o almoço está tudo bem. A nossa mãe não é adivinha, né?
não queria deixar transparecer sua mágoa, mas já era tarde demais.
, você não precisa ficar na defensiva comigo. — A voz suave do irmão a fez se sentir culpada.
— Desculpa, é inevitável. E cansativo, sabe? Não achei que depois de todos esses anos, ela ainda pudesse ter algum efeito sobre mim.
Se tinha alguma pessoa para quem não conseguia mentir, essa pessoa era o seu irmão. Dylan tinha sido por anos o melhor amigo de , e depois que saiu de vez da vida da patinadora, não havia outra pessoa no mundo em quem confiasse mais.
— Olha, não precisamos falar disso, tá bom? — não queria que seus pensamentos voltassem para . — Que dia você vai buscar Alessia? — Ela mudou de assunto.
— Amanhã, e acabei de lembrar que ela pediu para você preparar aquele pão recheado que só você sabe fazer.
— Ela pediu? — soltou uma risada. — Quem não te conhece que te compre, Dylan!
— Tenho certeza que você não irá resistir a esse pedido da sua sobrinha e afilhada. — Dylan não resistiu e começou a rir.
Até a metade do caminho de sua casa, foi conversando ao telefone com o seu irmão. Dylan contava sobre as férias de Alessia com a mãe na França. No primeiro casamento de Dylan, ele e Julia tiveram Alessia. Apesar de novos, Dylan não podia ter ficado mais animado ao descobrir que seria pai de uma menina. Agora, com Alessia prestes a completar dezesseis anos, ela o deixava com o cabelo em pé. aproveitava a fase da sobrinha — um pouco rebelde — para atormentar ainda mais seu irmão, mas adorava poder ser a tia babona que ela sempre quis ser. Mesmo com todo o esforço, o casamento de Dylan não deu certo e os dois enfrentaram um divórcio amigável, principalmente para manter uma relação saudável com a filha. A situação toda já era difícil e brigas na frente de Alessia era a última coisa que eles queriam. No fim das contas, perceberam que funcionavam melhor separados, e a cada quinze dias Alessia intercalava entre a casa da mãe e do pai.
Quando entrou em sua casa naquela noite, ela sabia que precisava tomar um banho e descansar. Os treinos seriam mais intensos nos próximos dias, principalmente porque começariam os encontros com o time profissional. Mas, antes que ela pudesse chegar até o banheiro, a campainha da sua casa tocou.
— Pois, não? — não conhecia a mulher parada em frente à sua porta.
— Boa noite, desculpe aparecer assim. Mas minha avó insistiu que eu trouxesse esse prato de empada para você.
— Sua avó? — Aquele papo não fazia nenhum sentido na cabeça de , e definitivamente, ela não aceitaria aquele prato de uma estranha. — Desculpe, acho que errou o apartamento.
— Ah, claro, desculpe. — A loira do outro lado da porta balançou a mão, pegando o celular do bolso da calça para conferir o número do apartamento em que estava. — Me chamo Lilian, minha avó é a Margo do apartamento 205.
De repente um alívio percorreu o corpo de . É claro que ela conhecia a dona Margo, já tinha perdido as contas de quantas tardes passou assistindo as reprises dos jogos de hockey com a senhorinha do segundo andar.
— Ah, dona Margo. — sorriu ao lembrar da vizinha. — Está tudo bem com ela? — Logo seu tom de preocupação apareceu, mas Lilian sorriu antes de responder.
— Está ótima, quase me enlouquecendo. — A loira riu ao lembrar da tarde agitada em que passou com a avó.
— Por acaso você é a pequena Lilica, de quem a dona Margo comenta? — O rosto de Lilian esquentou ao lembrar dos apelidos que já recebera da avó ao longo dos anos. — Ok, vamos esquecer esse apelido.
— Bem, como pode ver eu já não sou tão pequena e Lilica é um apelido de infância, meio que não faz mais sentido usá-lo. — Ela fez uma careta ao pronunciar o apelido. Sabia que não adiantaria discutir com a avó sobre isso, mas com as outras pessoas ela poderia tentar.
— Ah, claro. — concordou com a cabeça, sem saber o que dizer em seguida e deixando que o clima ficasse um pouco constrangedor. — Olha, eu acabei de chegar em casa, então eu preciso mesmo descansar. Mas pode avisar sua avó que eu passo amanhã na casa dela para compensar?
— Você é treinadora do Boston Pride, não é? — A postura de Lilian mudou rapidamente, quase demonstrando um leve nervosismo.
começou a rir. Não, melhor ainda, a gargalhar. Era bem possível que Dona Margo tenha deixado aquela informação escapar. Ela adorava contar para as suas amigas do clube de xadrez que tinha uma amiga "famosa", nas suas palavras. Por mais que tentasse manter toda a sua vida em segredo, sabia que tinha se tornado uma figura pública, pelo menos no meio esportivo. Então, muitas vezes, era difícil manter a sua vida o mais discreta possível.
— Sua avó deixou essa informação escapar, não é? — disse, dessa vez, mais controlada.
— Na verdade, assisti ao último campeonato da Liga Nacional. Bem, não só o último. — Lilian deu de ombros, tentando controlar o sorriso.
Aquela informação pegou totalmente de surpresa, principalmente porque estava sendo uma segunda-feira totalmente atípica para ela.
— Bom, eu vou deixar você descansar logo. — tratou de pegar o prato que Lilian ainda segurava. — Desculpe o incômodo. Boa noite, .
— Boa noite, Lilian.
Quando fechou a porta, ela ainda ficou parada no mesmo lugar tentando compreender o que acabara de acontecer. Lilian era tão diferente da Dona Margo, principalmente a personalidade, e aquilo deixou ainda mais intrigada.
— Não sei o que acabou de acontecer aqui, mas eu preciso muito de um banho. — falou para si mesma, aproveitando para desfrutar de um delicioso e longo banho de banheira.



Capítulo 03



— Tem algo programado para amanhã à noite? — Ethan perguntou, de novo, na esperança que tivesse trocado o seu plantão.
— Sim, ainda vou trabalhar. — ouviu o suspiro descontente do outro lado da linha, Ethan odiava ser contrariado. Às vezes, ele parecia uma criança birrenta.
— Não existe nenhuma possibilidade de você trocar?
— Não. — nem ao menos tinha tentado, mas não queria ceder sempre as vontades de Ethan. Era o seu trabalho e ele precisava entender que ela não estaria sempre disponível para o que ele quisesse. — Podemos viajar no próximo fim de semana, vou estar de folga.
— Já tenho uma viagem marcada para a próxima semana.
— Ok, vamos dar um jeito. — o cortou logo, conhecia Ethan o suficiente para saber que ele era capaz de falar durante horas até fazê-la mudar de ideia e ceder a sua vontade. Mas estava tentando cortar algumas manias. — Eu preciso trabalhar.
Ethan desligou sem se despedir de , um sinal claro de que ele não havia ficado contente com o fim daquela conversa. apenas guardou o celular de volta no bolso da calça, realmente não era sua prioridade no momento. Já tinha preocupações o suficiente, principalmente com um casamento para planejar, aquilo era o que mais tirava seu sono nos últimos meses. já estava pensando em fazer um casamento mais simples, apenas com pessoas realmente próximas, no entanto, era tarde demais para cancelar tudo.
, você pode olhar o quarto do Darwin? — Maggie passou correndo ao lado de , sem dar chance de resposta para ela. logo fez o caminho contrário ao que tinha planejado, indo para a ala oeste da clínica. Às vezes, ela se perguntava como aquele lugar era tão grande, mas apressou o passo, tinha um paciente esperando por sua ajuda.

Quando o intervalo para o almoço de chegou — também conhecido como os únicos minutos de descanso que ela conseguiu no dia —, ela aproveitou para buscar qualquer lanche rápido e um copo de café no restaurante da clínica. O tempo era curto e infelizmente não poderia gastar seus preciosos minutos para desfrutar de um almoço decente. Sabia que o pastel era puro carboidrato, não ajudando em nada a perder aqueles quilinhos para caber no vestido, algo que sua mãe odiaria saber.
Antes de voltar para o próximo paciente, foi até o estacionamento da clínica, aproveitando para refrescar a mente, numa tentativa falha de organizar seus pensamentos. Pegou o celular no bolso e abriu a página da ESPN, já salva no navegador. Ler as notícias do dia era uma forma de se manter informada sobre , mas a treinadora do time de hóquei conseguia manter sua vida de forma tão discreta, que todo o trabalho que tinha em ler as reportagens era quase em vão. Às vezes, com sorte, conseguia uma notícia ou outra da mulher. Antes que conseguisse terminar de ler a reportagem aberta na tela de seu celular, o aparelho vibrou com uma mensagem de seu noivo.

Ethan: Consegui sair mais cedo do escritório, uma garrafa de vinho e o seu jantar favorito para hoje. Até mais tarde, te amo

Na mesma hora, começou a repensar suas atitudes com Ethan. Estava tão sobrecarregada por causa dos preparativos para o casamento, com as loucuras que sua mãe inventava de última hora e a correria do serviço, que na maioria das vezes não conseguia enxergar o apoio que recebia de Ethan. Ele tinha algumas manias que a irritava, mas ela também tinha e, mesmo assim, ele estava ao seu lado. sentia falta do tempo que conseguiam passar juntos, mas com a mudança para Boston as coisas acabaram se perdendo no meio do caminho. Talvez, aquela noite fosse uma forma deles conseguirem se reconectarem e as coisas voltassem a ser como era antes. No fundo, torcia para que tudo fosse como antes.

Mel: Desculpe por hoje mais cedo, é muita coisa para o casamento. Vou chegar cedo para o jantar. Te amo

Aquilo tudo era só uma fase, era só a loucura de preparar um casamento. torcia para tudo passar o mais rápido possível; mas a angústia que sentia no peito lhe dizia justamente o contrário, mesmo que ela tentasse ignorar.



Capítulo 04



não lembrava a hora que tinha ido dormir na noite anterior, mas, com certeza, a última coisa que desejava era ouvir seu despertador tocando insanamente ao lado da cama. Ainda sonolenta, acabou pegando o aparelho e visualizando quem tentava, desesperadamente, falar com ela às sete da manhã. Se não estivesse de férias, ela já estaria acordado, no mínimo, uma hora atrás. Mas o recesso a estava fazendo bem, e ela gostava de aproveitar as poucas horas livres que tinha durante o ano.
Quando percebeu que eram algumas mensagens de Dylan, ela apenas quis voltar a dormir, mas uma em específico, chamou sua atenção.

Dylan: Boa sorte hoje.
Se precisar bater em algum fotógrafo, por favor, me chame!
Eu tô falando sério.
Me liga
te amo

Ao lembrar do telefone da noite anterior, soltou um gemido sofrido. Um telefone confirmando sua presença do evento de pré-temporada e uma cansada, resultava em arrependimentos. odiava participar desses eventos, dar entrevistas e ficar parada para inúmeras fotos; agora, como treinadora, ela sabia que participar disso era importante. O patrocínio era importante, e, com sorte, conseguiria até alguma ajuda para o seu time infantil.
Tentando ao máximo ficar animada com a tarde cheia que tinha pela frente, ela resolveu levantar-se da cama, tomar um banho e preparar seu café da manhã. Há anos mantinha uma rotina organizada, mas desde que voltara para Boston, não sentia que sua vida estava em ordem.
Ela sabia exatamente o motivo disso.

[...]

sentiu seu corpo formigar ao avistar o estacionamento do TD Garden lotado de pessoas, ela mal conseguia imaginar como estaria lá dentro. Mas toda vez que voltava para a arena, se sentia em casa. O burburinho, os jornalistas, fotógrafos, fãs, todos estavam chegando ao local. No entanto, o evento de pré-temporada era mais do estilo beneficente, com vários empresários envolvidos a fim de mostrar suas almas caridosas, do que com foco nos esportes e eventos culturais que aconteceriam depois dali. Desde jovem, estava envolvida com eventos culturais, foi assim durante o ensino médio, a faculdade e, óbvio, durante sua vida de jogadora profissional; então, quando recebeu a ligação de Olivia, talvez, ela não lembraria, solicitando a sua confirmação no evento no dia seguinte, não teve como sua resposta ser diferente de algo como “claro, com certeza. Conte com a minha presença”, de uma maneira que nem reconheceu sair de sua boca.
Assim que avistou o portão de entradas para convidados credenciados, não esperou mostrar o seu e seguir para o local indicado. A sala de convidados era uma espécie de área vip, ainda que eles preferissem colocá-la sempre em alguma sala mais reservada para não ser incomodada, gostava de ser prática, e torcia para aqueles compromissos não durarem mais do que era capaz de suportar.
? — Ao ouvir seu nome ser pronunciado, olhou para trás, a fim de identificar quem a chamava. No entanto, se surpreendeu ao encontrar Lilian.
— Lilian? — Ela enrugou a testa, surpresa ao avistar a neta de Dona Margo.
— Que bom te encontrar aqui. — A loira não se importou com o espanto da treinadora, soltando uma risada baixa a reação da mulher a sua frente.
— Hum… desculpa, mas eu deveria ficar preocupada? — mordeu o lábio, nervosa. — Você aparece na porta da minha casa e agora está aqui, sabe…
— Nah, não. Eu trabalho aqui. — Ela mostrou o crachá pendurado no pescoço.
— Smith — a olhou confusa.
— Lilian Smith. Acho que não fomos devidamente apresentadas. — A mulher esticou a mão para , a fazendo rir. — E não, eu não sou nenhuma stalker, serial killer, ou seja lá o que você esteja pensando.
O rosto de ficou vermelho, seguido de uma crise de riso e um misto de vergonha.
— Ok, desculpe. Nossa, desculpe. — Ela ainda ria de si mesmo, mas apertou a mão de Lilian e a mulher sorriu, deixando o clima mais leve.
— Está tudo bem, minha avó costuma dizer que eu sou um furacão. Talvez ela não esteja errada. A propósito ela qua- — A conversa foi interrompida pelo celular de Lilian. — Droga, eu preciso ir. Nos encontramos depois?
Lilian torcia que sim, mas não teve tempo de escutar a resposta de , saindo corredor a fora. , no entanto, ficou parada alguns segundos, tentando assimilar todas as informações da última conversa. Quando avistou a porta com as letras garrafais escrito VIP, não esperou que já tivesse alguém lá dentro, mas aquela tarde seria uma caixinha de surpresas.
— Se fosse para reclamar tanto, não precisava ter vindo. — O sussurro quase desesperado foi interrompido quando a porta abriu e todos ficaram espantados.
— Boa tarde. — fingiu que não ouviu a última frase, entrando na sala de convidados de vez. No entanto, não teve resposta ao seu cumprimento.
No outro lado da sala, o casal permaneceu em silêncio. Mas não conseguiu deixar de ver a carranca de Ethan antes de desviar o olhar para a treinadora. tentava ignorar a vontade de olhar para , ela não havia mudado quase nada desde a última vez que encontrara com a mulher. Tirando o fato de que as duas não tinham mais vinte anos, os traços de estavam muito bem guardados na mente de , e ela tentava ignorar a palpitação acelerada em seu peito.
! — olhou para a porta, encarando quem tinha a chamado. — Fico feliz de te encontrar, criança!
O senhor Carlsen, ex-treinador de , entrou na sala. Atualmente, ele era o Gerente Geral do time masculino de hockey, o Boston Bruins, o qual também era uma torcedora fanática.
— Treinador, é sempre bom reencontrar o senhor. — foi até o homem, o abraçando com carinho. Carlsen já havia presenciado alguns momentos incríveis, e outros nem tanto, da vida da jogadora. — É sempre bom ver um rosto conhecido nessa tortura. — Ela disse baixo o suficiente para que somente ele escutasse.
— Você não muda nada, não é mesmo? — Ele a soltou, mas a manteve por perto para continuar a conversa. — E o time infantil?
— Ah, está ótimo. Estou ansiosa pra descobrir o que eles podem fazer ainda, mas já é possível separar alguns nomes.
Conversar com Carlsen sempre foi algo que gostou de fazer, na época de treinador, ele estava sempre disposto a escutar suas jogadoras, mas também sabia ser firme em suas decisões quando precisava; tinha se inspirado no homem quando decidiu seguir a carreira de treinadora de vez. Ainda assim, amava pisar no gelo, sentir a adrenalina de competir com o adversário, tudo aquilo sempre faria parte de sua vida.
— Com licença, Senhor Carlsen, podemos conversar? — Ethan Coleman os interrompeu, sem se importar com a presença de .
— Não, Coleman. Estou ocupado agora. — O homem nem sequer olhou para o empresário. — Vamos, . Temos muito o que conversar.
Carlsen arrastou para fora da sala, já conhecendo aquele lugar como a palma de sua mão. Talvez Lilian tivesse um pouco de trabalho para encontrá-los em meio a todas aquelas pessoas, mas não se importou de sair do mesmo ambiente de e Ethan.

[...]

— Ah, aí está você. — Lilian estava um pouco esbaforida quando avistou .
— Às vezes é bom um pouco de álcool no sangue para aguentar esses eventos. — levou a taça de espumante até a boca, acabando com o líquido de vez. Arrumou o blazer preto que usava, pela milésima vez, e encarou Lilian.
— Você está muito bonita. — Lilian disse, passando os olhos pela roupa que usava. usava um conjunto de terno e scarpin preto, o cabelo agora mais curto e os lábios pintados de vermelho, tornava difícil a tarefa de passar despercebida entre todas aquelas pessoas.
— Ah, para com isso. — Ela sentiu seu rosto esquentar, tentando disfarçar. — Então, deu tudo certo?
olhou ao redor, as pessoas estavam sorridentes, satisfeitas, os empresários conversavam animadamente, os jornalistas e fotógrafos conversavam entre si e se concentravam em suas câmeras. As crianças corriam para todos os lados, tentando decidir quais das mil atividades fariam primeiro. A comida e a bebida estavam ótimos, mas encontrou um olhar no outro lado da multidão, desta vez, preferia não ter visto.
— Sim, não é o meu primeiro evento, na verdade. Mas, ufa! Deu tudo certo. — Lilian sorriu, animada. — Eu sei que não é da minha conta, mas você está se escondendo ou eu estou ficando maluca?
— Você não está maluca, mas… — fez uma careta, se odiando por ter sido pega no flagra. — Eu não gosto muito desses eventos de pré-temporada. É meio pessoal, desculpa.
— Tudo bem. — Lilian ficou em silêncio, mas gostou da companhia da mulher. A energia dela era contagiante, e Smith estava sempre com um sorriso no rosto. — Se precisar de qualquer coisa, me deixe saber, ok? Eu lutei box na faculdade, acredite ou não, sei me virar muito bem.
— Você é doida. — soltou uma gargalhada alta, o que atraiu a atenção de algumas pessoas próximas.
— Você tem dúvidas sobre isso? — Foi a vez da Lilian pegar uma taça de espumante.
— Você é inacreditável, sério.
— Treinadora , pode conversar com a gente um pouquinho? — Uma jornalista do canal de esportes chamou a atenção de .
— Claro. — fez um sinal para Lilian de que continuariam aquela conversa depois.
respondeu todas as perguntas sobre a temporada da Liga Nacional de Hockey, até mesmo sobre os projetos beneficentes e do time infantil de Hockey que estava formando. Ela ficou animada por a jornalista ter conhecimento sobre a área e não ser apenas perguntas genéricas.
— Agora, no esporte, percebemos que você está ótima. Mas, e no amor? Será que tem alguém especial?
— Há bons motivos para isso continuar sendo uma incógnita. — Ela riu, vendo a cara de decepção da jornalista. — Espero encontrar vocês novamente quando a temporada começar. Eu preciso ir agora.
estava cansada, seus pés imploravam por um descanso e sua mente tentava processar tudo que havia acontecido naquela tarde. Assim que as entrevistas acabaram e os fotógrafos foram se importando com os outros convidados, conseguiu uma brecha para ir embora. Aproveitando o corredor de saída vazio, não demorou para encontrar a porta que dava para o estacionamento, mas assim que abriu deu de cara com Lilian.
— Ei, está fugindo já? É cedo ainda. — A loira fez um biquinho, fingindo estar chateada com a partida de .
— É, acho que já deu minha hora. — Lilian tinha uma energia tão contagiante, que até considerou ficar alguns minutos a mais.
— Ah, tudo bem. — Ela abanou a mão no ar. — Eu faria a mesma coisa se pudesse.
— Então, a gente se vê por aí. A temporada começa em breve.
— Sim. — Os olhos de Lilian brilharam. — Então, a gente se vê por aí.
Apesar da despedida desajeitada, nenhuma das duas sequer moveu um passo. Os olhos castanhos de Lilian passeando pelo rosto de , a fim de guardar cada traço da mulher a sua frente; parando, então, nos lábios carnudos e vermelhos de .
... — A voz baixa de Lilian chamou a atenção de .
— Smith. — Lilian sorriu ao ouvir o seu sobrenome soar da mesma forma pela boca de .
— Eu vi quando você fugiu da pergunta da jornalista, mas será que você poderia me responder? — Lilian manteve o olhar firme, mas o lábio quase se tornando um sorriso. Se seu olhar não demonstrasse o desejo daquela resposta, não teria sentido o arrepio que passou por sua nuca.
— Hum, qual era a pergunta mesmo? — Ela manteve o mesmo tom de voz.
— Você está solteira, ? Porque se estiver, eu adoraria sair com você. — Lilian era tão direta e decidida, sem medo de receber uma resposta que não queria. gostava daquilo.
Antes de responder, ainda conseguiu avistar Ethan e abraçados, também em direção à saída. Ela precisava seguir com a sua vida, e deixar no passado.
— Eu estou solteira, Smith. E vou adorar sair com você.



Capítulo 05



Quando Ethan finalmente terminou de fazer negócios naquele evento, mal podia aguentar seu corpo naqueles saltos. Além do plantão da noite passada, ela quase não conseguiu descansar para estar no TD Garden na tarde seguinte. No entanto, o estopim foi encontrar depois de tantos anos, e a pior parte foi a (ex) melhor amiga não ter olhado nem sequer na sua cara. Nem ao menos um "oi, tudo bem? Como anda a vida?", mas isso era querer demais. sabia que tinha motivos o suficiente para ignorá-la pelo resto da vida, ela só não imaginou que fosse doer tanto.
se encontrava ao lado do carro no enorme estacionamento da arena, ela ainda esperava o noivo voltar quando ele havia alegado que tinha esquecido algo dentro do local. sabia que era mentira, mas não perguntou e apenas o deixou voltar. Nesse momento, preferiu ficar dentro do carro, seu corpo estava cansado demais para que ela mantivesse os olhos abertos por mais alguns minutos. Foi então que avistou indo em direção ao seu carro, por coincidência do destino (ou não) o veículo estava ao lado do seu. Apesar do estacionamento cheio, reconheceria aquele corpo independente do lugar que estivesse.
? — não precisou virar o corpo para saber quem estava a chamando. Seu corpo ficou rígido ao ouvir seu apelido daquela forma depois de tanto tempo. estava receosa, com medo que a mulher a ignorasse, no entanto, não foi isso que fez.
— Oi. — virou, encarando . Mas não encontrou o sorriso que costumava ver no rosto de . Antes que deixasse sua coragem se esvair, saiu do carro, ficando de frente para .
— Tudo bem? Eu vi você lá dentro. — enrugou a testa, tentando entender onde queria chegar com aquilo, e, depois de muitos anos, a única coisa que conseguiu sentir foi pena.
— É, eu também vi você lá dentro. — O tom de voz não foi nada agradável. deu dois passos para trás, encostando o corpo na porta do carro.
— Será que podemos tomar um café, conversar, qualquer dia? — riu, ainda sem acreditar no que estava ouvindo.
— Sério? Agora você quer tomar um café, conversar e tal? Será que não vai ser muito ruim para a sua reputação ser vista com uma lésbica? — As palavras saíram ácidas da boca de . — Porque, sabe, sempre tive a sensação que você tentava se esconder enquanto estava comigo.
, eu não…nunca… você não entenderia de qualquer forma. — manteve o olhar distante, mordendo o lábio e cruzando os braços na frente do peito, nervosa com o modo que a situação estava ficando.
— Você tem razão, eu não estou mais disposta a entender nada, porque, por muito tempo, eu fiquei esperando algo que nunca aconteceu. — sentia suas mãos tremer, a raiva dominando seu corpo e sua língua afiada totalmente sem controle.
— Eu espero que um dia você queira ouvir o meu lado da história. — disse, tentando afastar o sentimento de mágoa, de rejeição, mas não conseguiu controlar quando seus olhos marejaram. Ela odiava se sentir fraca na frente de qualquer pessoa, e tinha esse poder sobre seu corpo. Até aquele momento, ela nem lembrava que aquilo era capaz de acontecer novamente.
— Eu juro que, por muito tempo, eu quis saber o seu lado da história. Mas agora eu não tenho mais nada a perder, não faz diferença. — Uma lágrima escorreu pela bochecha de , e ela a secou rapidamente, sem acreditar ainda no que estava ouvindo. — Você seguiu com a sua vida, . Por favor, deixe eu seguir a minha, vai ser melhor para nós duas.
Sem esperar qualquer resposta, entrou em seu carro e saiu do estacionamento. No entanto, continuou parada no mesmo lugar por mais alguns minutos. Era como se um balde de água fria tivesse sido jogado na sua cara, ou, pior, um soco no estômago doeria muito menos do que o efeito que as palavras de tiveram. Ela sabia que não seria fácil, mas foi muito mais difícil, e doloroso, do que imaginou. Por impulso, agarrou a corrente que carregava sempre consigo, às vezes, até escondida por baixo da blusa, mas aquilo aumentou ainda mais a dor em seu peito.

17 anos atrás

terminava de tomar seu café da manhã antes de ir para a escola, a garota que olhava a vizinhança através da janela da cozinha de sua casa, tentava se prender em uma realidade através dos seus livros de fantasia. Na vizinhança, a maioria das crianças iam acompanhadas de seus amigos até o ponto de ônibus, ou, com sorte, pegavam caronas com os pais que não se importavam de levar os amigos de seus filhos para a escola. Era um bairro calmo, um pouco chique demais, mas não havia nada que os pais de não aprovassem para não morar ali.
— Vamos, estamos atrasadas. — Grace apareceu na cozinha, o cabelo impecável, a maquiagem no rosto parecia ter sido feita por uma profissional e o barulho do salto alto estalando no piso dava arrepios em . Olhando para o uniforme em seu corpo pequeno, ela sabia que a mãe projetava nela tanta perfeição quanto ela mesma mantinha em si, e odiava tudo aquilo.
— Não posso mesmo ir de tênis hoje? É sexta-feira. — pediu mais uma vez, mas o olhar fulminante da matriarca foi o suficiente para ela encolher os ombros e pegar a mochila, seguindo para o carro em silêncio.
O caminho em silêncio até a escola tornavam as manhãs de uma prova de resistência, depois do último ano, sua vida não parecia mais a mesma e a relação com a sua mãe tinha mudado completamente. Ela, nem mesmo, conseguia reconhecer mais a mulher que considerava, antes, sua melhor amiga.
— A vida nem sempre é fácil, . — Grace estava mais calma, sua voz até tinha um tom terno. — Se eu sempre ceder as coisas que você quer, não saberá lidar quando receber um “não” e estiver mais velha.
— Tudo bem, mãe. — A garota sabia que a melhor opção era sempre concordar com a mãe, evitando uma briga maior.
Quando o veículo parou em frente à escola, a garota se despediu rapidamente de sua mãe e saiu do carro. Respirando aliviada na calçada da escola, até se sentia feliz por estar ali, não que gostasse das aulas, mas sua primeira aula seria de química, sua matéria favorita.
— Hum, que cara é essa? — apareceu no meio da multidão, parando ao lado de . A amiga, assim como metade do colégio, tinha se livrado do uniforme e dos sapatos horrorosos que era obrigada a usar durante os outros dias da semana. Mas a mãe de não abria exceção.
— Adivinha? — Ela apontou o dedo indicador para a sua roupa, revirando os olhos em seguida. Mas tinha um sorriso no rosto. — O que foi?
— Nada. Vamos. — abraçou a amiga pelos ombros, a puxando para a sala de aula da amiga. — Pelo menos sua primeira aula do dia é a sua matéria favorita, uma linda e tortuosa aula de química com o senhor Patrick. Ah, lembrei de uma coisa.
já não tinha mais a postura tensa e o mau humor de antes, mal podia acreditar que tinha tido a sorte de conhecer naquela escola, já que não tinha facilidade em fazer amizades.
— Por favor, não me faça ler isso de novo. — Como uma fã de terror, havia emprestado um dos livros do Stephen King para , mas a garota não curtia o mesmo estilo de leitura que a amiga. — E isso é para você.
entregou um pacotinho junto com o livro, mas era curiosa demais para esperar a aula acabar e ela poder abrir o presente que havia recebido da amiga. Guardando o livro na mochila de qualquer jeito e rasgando o pacote em seguida, ela ficou surpresa com a corrente fina com os dizeres “melhores amigas”.
— Ei, não esquece, meu irmão vem buscar a gente hoje. — gritou, acenando para já na direção contrária.

Desde aquele dia, nunca mais tirou a corrente, nem mesmo quando o laço de amizade entre as duas acabou. Nem por um segundo, por mais doloroso que fosse, deixou de esquecer .



Capítulo 06

Banks

— Você está muito quieta hoje. Aconteceu alguma coisa? — As palavras de Ethan chamaram a atenção de , mas ela não desviou o olhar da janela. Tentando se distrair com o movimento do centro de Boston, tentava esquecer as palavras de , mas toda vez que elas voltavam à sua mente, seu coração parecia quebrar em mais pedacinhos.
— Estou cansada, ainda não dormi depois do plantão.
— Podemos sair para jantar? — Ethan parecia ignorar as palavras da noiva.
— Não, preciso descansar — ela foi firme, dando a última palavra e encerrando de vez aquela conversa.
Ainda que não estivesse satisfeito, Ethan seguiu o restante do caminho em silêncio, estacionando o veículo na garagem de casa e deixando para trás. Ela sabia que ele não tinha gostado de sua resposta, mas sua cabeça estava pesada demais para se preocupar com as manias do noivo. Já havia visto mais momentos daqueles do que gostaria de confessar, mas, no fundo, conseguia entender todo aquele comportamento mimado. Afinal, sempre teve o azar de estar rodeada de pessoas com aquele tipo de comportamento, e uma delas era a sua mãe.
Assim que entrou em casa, resolveu ir direto para o seu quarto. O apartamento estava do mesmo jeito que ela havia deixado a dois dias atrás, mas ele não parecia tão aconchegante naquele momento. Ignorando sua fome, resolveu tirar aqueles malditos saltos, tomar um banho quente e poder descansar na sua cama era tudo o que ela mais queria. No entanto, Ethan não parecia tão contente com os planos de para aquela noite.
— Ethan, o que você está fazendo? — parou próximo à porta de seu quarto, encarando o noivo. Ele estava na cozinha, tirando algumas panelas do armário.
— Vou preparar o jantar — ele respondeu, calmo.
— Não vou jantar, só preciso dormir. — Seu corpo cansado implorava por um minuto de sossego, mas estava longe de conseguir o que queria.
— Você encontrou com ela, não foi? — Ethan conseguia disfarçar muito bem qualquer sentimento e foi por isso que não conseguiu entender se ele estava com raiva, magoado ou qualquer outra coisa, quando o noivo fez a pergunta. Conseguir compreender Ethan sempre foi uma dificuldade para , mesmo que ela insistisse em dizer para si mesma que conhecia o noivo bem o suficiente. Mas era uma grande mentira.
Sua vida era uma grande mentira.
E ela continuaria mentindo o quanto fosse necessário.
— Está estranha desde que voltamos e você só fica assim quando envolve a... como é o nome dela mesmo? — O escárnio estampado em sua voz fez enrugar a testa, com certa repulsa de Ethan. — Ah, . — Ele estalou a língua no céu da boca e se controlou para não dar uma resposta desaforada.
— Por que acha isso? — Tentou manter a calma, coisa que ela conseguia bem mais do que a maioria das pessoas e ficou contente por não dar o que Ethan tanto queria.
ainda te afeta e, toda vez que isso acontece, você desconta em mim, . Pode não perceber, mas eu percebo sempre e muitas vezes deixei passar.
respirou fundo, não por Ethan estar mentindo, ela sabia muito bem que ele não estava; mas não era sobre isso. Toda aquela postura do noivo a irritava tanto, que ela nem conseguia controlar muitas vezes e disparava verdades em cima dele sem se importar se suas palavras estavam sendo duras demais.
não me afeta mais, não me afeta há muito tempo. — Ela se manteve firme, apesar de tudo ser mentira. — Parece que você não consegue perceber que eu estou cansada por ter trabalhado por mais de trinta horas e ainda tive que ir a um evento, onde o único interessado em estar lá era você. É difícil perceber, mas o mundo não gira ao seu redor; e, agora, eu preferia que você fosse para a sua casa.
Os olhos de Ethan escureceram e ela viu quando o noivo engoliu seco quando compreendeu suas palavras, mas não mudou sua postura, aquilo tinha sido a gota d'água para ela. Seu apartamento era o único lugar em que poderia ter paz, e se não estivesse ali, então ela estava muito na merda. Para a sua surpresa, Ethan parou tudo que estava fazendo, pegou seu terno no sofá e deu um último olhar para . Ele não tentou conversar ou, sequer, dar uma resposta, apenas se virou e fechou a porta do apartamento, permitindo que desmoronasse.
E foi o que fez.

[...]

— Você já sabe para qual faculdade vai? — escutou a pergunta, mas não respondeu tão rapidamente quanto gostaria. Ela não tinha tanta certeza sobre seu futuro, queria tanta coisa e ao mesmo tempo não queria tomar aquelas decisões. Sabia que qualquer decisão sua mãe teria uma forte influência sobre ela e aquilo era cansativo demais. Jogar aquela responsabilidade nos ombros de antes mesmo de precisar era exaustivo demais e, agora que precisava de fato escolher, ela não queria.
— Ainda não — ela fez uma careta, sabendo que a julgaria devido a sua indecisão. — Só não quero escolher algo que eu me arrependa.
Às vezes, , sentia inveja de sua amiga, ela já sabia o que queria, para onde iria e parecia ter todo o seu futuro trilhado, planejado; mas sabia que a amiga havia batalhado muito por isso, era por esse e tantos outros motivos que sabia que merecia todo o sucesso que o futuro estava reservando para ela.
As duas estavam deitadas debaixo da árvore no jardim da casa dos pais de , a primavera deixava o clima ameno e amava a estação, a sensação de leveza e ansiedade pelas férias que todos tanto almejavam, ela amava tudo aquilo. Principalmente quando conseguia passar esse tempo apenas ela e . O problema é que, talvez, esse fosse o seu último verão, a última férias ao lado de e isso a assustava demais.
— Não estou te cobrando nada, ok? — fez um carinho na mão de , a tranquilizando-a. — Vamos mudar de assunto.
— Tá tudo bem — virou o rosto, encarando os olhos de e encontrando a tranquilidade que ela precisava. — Acho que eu mesma estava tentando fugir dessa pergunta, porque estou com medo.
— Eu sei, eu também — apertou os lábios, tentando não transparecer tanta insegurança, não quando era quem precisava de seu apoio. — Eu sei que é cedo ainda, mas quero que saiba que, independentemente de qualquer coisa, você sabe onde me encontrar e eu sempre estarei disponível para você. Não importa se será uma emergência ou, até mesmo, para uma conversa banal. Eu estarei lá.
apenas selou seus lábios com o de , como uma forma de resposta e aquilo foi o suficiente para .

acordou assustada com o toque do seu celular, ela não tinha percebido o quanto tinha dormido e o quanto seu corpo precisava daquilo. Quando olhou pela janela do seu quarto, percebeu que estava amanhecendo. Ela havia conseguido dormir mais de dez horas e ainda assim não parecia o suficiente. Antes que ela pudesse aproveitar o dia de folga na cama, o telefone voltou a tocar. Por um instante, pensou que fosse Ethan e se recusou a pegar o telefone, ela não queria mais estresse no seu dia de folga. No entanto, ficou contente por ler o nome de Cristina na tela, sua colega de profissão e amiga de longa data.
— Oi. — Sua voz sonolenta a denunciou.
— Isso são horas de estar na cama? O dia está lindo — Cris riu baixo e pôde imaginar que a amiga estava sorrindo.
— Eu não costumo me importar muito depois de um plantão daqueles.
— Nossa, nem me fala. Mas liguei pra saber se você topa ir ao parque comigo e com o Nate, ele está com saudade da tia ; são palavras dele, eu juro.
— Assim fica difícil mesmo de recusar. — se virou na cama, ficando de barriga para cima e se assustou ao olhar no relógio, já era quase uma da tarde. — Nos encontramos em uma hora, pode ser? Preciso comer algo.
— Nos encontramos em meia hora e almoçamos juntas, o que acha?
— Perfeito, até mais.
Quando saiu de casa, um pouco mais de meia hora depois, ela sabia que Cristina a estaria esperando, mas junto viria uma pequena bronca da amiga, como de costume. Algo que realmente não se importaria. Passar a tarde com Cris e Nate faria bem para , além de matar um pouco da saudade daquela pequena familia.
Assim que avistou os cabelos ruivos de Cristina, não conseguiu evitar um sorriso em seu rosto. A mulher falava alguma coisa baixo com Nate, o que fez o menino de cinco anos rir, desviando sua atenção da mãe para a rua e foi quando ele avistou a poucos passos dos dois.
— Tia ! — Nate correu até e ela logo se abaixou para que ele pudesse abraçá-la. — Senti saudade!
— Oi, meu amor. Eu também senti saudade. — ganhou mais um abraço de urso do menino, o soltando apenas para cumprimentar Cristina. — Oi, amiga.
— Oi, sua desnaturada. Como você está?
— Morrendo de fome. Podemos? — ela apontou para o restaurante na próxima esquina.
— Claro, vamos logo. — Cris pegou Nate pela mão, segundo para o restaurante.
O restaurante lotado e os comentários de Cris e Nate fizeram se desligar dos próprios problemas e ela só percebeu isso quando começou a rir ao ver o rosto de Nate sujo de chocolate.
— Vem cá, meu amor, a tia vai limpar seu rosto sujo. — pegou um guardanapo da mesa e passou no rosto de Nate, um pouco do chocolate ainda ficou no canto da boca do menino, mas ele não parecia se importar muito com aquilo.
— Você deveria ter um, eu já disse isso. — Cristina olhava atenta a amiga, sempre foi boa com crianças, mesmo quando queria fugir delas.
— O quê? — Ela não encontrou o olhar de Cris, dando atenção ao menino em sua frente.
— Ainda sonha em ter filhos, não é? — anos.
— Não, esse sempre foi o seu sonho. Eu estou bem, de verdade.
— E o casamento? — Agora fez uma careta de verdade, era o assunto mais estressante da sua vida e ela não achou que fosse realmente difícil organizar um casamento.
— Olha, se eu soubesse que era tão estressante organizar tudo, eu teria dito não.
— Que horror, — Cris jogou um guardanapo na amiga, como se ela estivesse falando algum absurdo.
— É sério, principalmente quando os convidados não confirmam presença, não é mesmo, Cristina? — ergueu a sobrancelha, um olhar de desgosto para a amiga.
— É que eu ainda não sei se vou — a mulher respondeu, um pouco envergonhada.
— Desembucha logo.
— Ei, Nate, que tal brincar um pouco com as outras crianças enquanto eu e tia conversamos mais um pouquinho? — Os olhos do menino brilharam ao ouvir a palavra brincar e ele saiu correndo em direção à área kids do restaurante. As duas mulheres acompanharam com o olhar o menino se juntar às outras crianças. — Talvez eu tenha conhecido alguém — Cris comentou, fingindo interesse em seu copo de suco. E quase se engasgou com a própria saliva.
— Conta tudo. Vamos, conta, conta! — quase bateu palminhas para a amiga em sua frente.
— Não é nada demais.
— Mentirosa!
— Nós ainda estamos nos conhecendo e não quero envolver Nate nisso. Ele é famoso, jogador de hockey. — Cris ignorou o revirar de olhos de em menção ao esporte. — E, por enquanto, é isso.
— Ah, não. Quero nomes.
— Não, nem pensar — Cristine balançou a cabeça em negação e sabia que não ouviria uma palavra a mais sobre aquilo. — Vou aproveitar o sexo por enquanto.
soltou uma gargalhada alta no restaurante, atraindo a atenção de algumas pessoas, e Cristine apenas a acompanhou, aproveitando aquele momento com a amiga.
— Eu não acredito que estou ouvindo isso de você. Sério, acho que estava precisando disso há muito tempo.
— Ah, por favor, não se faça de santa. Eu queria que tivesse me contado antes que o sexo com os jogadores era tão bom, sua egoísta safada.
— Fico feliz por você, espero que dê muito certo. Você merece demais — tentou mudar de assunto enquanto ignorava o arrepio em seu corpo ao lembrar das infinitas noites que passou na cama de . — Eu também espero — Cristina sorriu, feliz. — Agora vamos logo, tem alguém que precisa gastar muita energia até chegar em casa.
passou o resto da tarde na companhia de Cris e Nate, e aquilo era tudo que ela precisava.


Continua...



Nota da autora: A PRIMEIRA ATUALIZAÇÃO DO ANO CHEGOU!!!!
Depois de um pequeno surto noturno, eu consegui terminar esse capítulo que tava amarrado, hein. Espero que gostem.
Bjs, até a próxima!




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