Aurelia


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Finalizada em: Janeiro de 2025

Capítulo Único


O salão estava envolto por um murmúrio nervoso, como o som de uma represa prestes a transbordar. As paredes de pedra do castelo, cobertas por tapeçarias antigas, pareciam absorver a tensão que pairava no ar, como se o próprio edifício soubesse o que estava prestes a acontecer.
Era o grande dia.
O príncipe , herdeiro do trono de Veloria, se erguia diante de todos, seu manto dourado refletindo a luz que entrava pelas janelas de vidro colorido. Cada movimento seu era observado em silêncio, a expectativa era palpável, mas ele não conseguia afastar a sensação de desconforto que o invadia.
Todos sabiam o que estava por vir. Todos conheciam a profecia.
"Aquele que o príncipe herdeiro beijar sob a luz da lua será sua alma gêmea. O destino será selado, e o amor entre os dois será a força que sustentará o reino ou a ruína que o sucumbirá."

sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Aquelas palavras, antigas como as pedras que cercavam aquele castelo, haviam ecoado em sua vida por anos, mas ele sempre sentiu uma desconexão com elas. O amor não podia ser uma obrigação, um destino selado. Não deveria ser algo forçado, um jogo de marionetes em que ele era o fantoche. Ele queria escolher, queria algo espontâneo, algo que não fosse escrito em algum livro antigo. Mas ali estava ele, debaixo da luz daquela lua maldita, se vendo prestes a ser arrastado para um futuro que ele não escolheu.
Ele olhou ao redor, e seus olhos se encontraram com os das mulheres da corte, todas esperando o momento, todas ansiando por um gesto seu. Lady Elira, a mais bela entre elas, com seus cabelos dourados e olhos azuis como o céu, lhe deu um sorriso suave e confiante. Ela parecia saber que a profecia estava ao seu favor, e quem poderia culpá-la? Talvez estivesse mesmo.
Antes que o príncipe pudesse se perder mais em seus pensamentos, a cerimônia foi interrompida por um barulho estridente. O som cortou o ar, uma sombra se movendo rápido em sua direção. Antes que pudesse reagir, algo rasgou o espaço e um projétil voou na direção de seu peito.
O pânico se espalhou como fogo em palha seca.
— Fuja, príncipe! — gritou um guarda, tentando se mover, mas foi derrubado por um golpe rápido e certeiro. A confusão tomou conta, os nobres gritavam, corriam desesperados, enquanto a luz dourada do salão parecia intensificar-se, como se o castelo estivesse reagindo à ameaça iminente.
, paralisado, viu a sombra se aproximando, uma lâmina reluzindo em suas mãos. Ele sentiu o cheiro da morte no ar. Mas, no meio do caos, uma figura encapuzada apareceu, saltando à sua frente, empurrando-o para o chão com força. O impacto foi violento, seu corpo colidiu com o mármore frio do salão. O calor da ação que a salvou fez sua cabeça rodopiar, mas o que mais o deixou atordoado foi o rosto da pessoa que o havia ajudado. Ela estava ali, entre os guardas e nobres, uma mulher de feições delicadas, mas com olhos cheios de determinação. Seu vestido simples, sem adornos de nobreza, era de tecido gasto, em total contraste com o luxo da corte. Mas o que mais o impressionou foi o olhar que ela fixou nele. Seus olhos transmitiam uma urgência, uma sensação de que ele era a última coisa importante em um mundo desmoronando.
— Você precisa sair daqui, príncipe. Agora! — ela ordenou, sua voz baixa, mas cortante, urgente. Ela o puxou pela mão, forçando-o a se levantar, sem dar tempo para questionamentos.
O príncipe, atordoado, não sabia o que fazer. A situação estava fora de controle. Ele olhou para os guardas tentando proteger o salão, mas todos estavam em desvantagem. A invasão era implacável, silenciosa como uma sombra, destruindo tudo ao seu redor.
— Quem é você? — conseguiu perguntar, ainda sem entender nada do que estava acontecendo.
— Alguém que não quer que você morra. — ela respondeu, agora mais séria. — Siga-me.
Eles correram por corredores escuros e vazios, os passos rápidos de se misturando com o som da luta distante. O caos parecia distante, como se tudo ao redor estivesse se tornando uma realidade paralela. Ele estava ofegante, com as mãos tremendo, não de medo, mas de confusão. Algo estranho acontecia entre eles, algo que ele não conseguia identificar, uma conexão silenciosa e inesperada. Ela o guiava com força, mas havia algo mais, algo que o atraía a ela.
Quando viraram uma esquina, ela o puxou para uma parede fria, tentando se esconder de uma patrulha que passava. O movimento dela foi tão rápido e certeiro que perdeu o equilíbrio. E foi ali, no aperto entre os dois corpos, no espaço apertado onde não havia tempo para se afastar, que tudo aconteceu.
Ela tentou se afastar, mas o espaço era mínimo. não teve tempo de reagir antes que o corpo dela se chocasse contra o dele, fazendo suas bocas se tocarem.
Foi um choque.
Involuntário.
Mas naquele breve segundo, as bocas se conectaram, como se a pressão do momento e a proximidade criassem algo inesperado. O calor do toque se espalhou por todo o corpo de , uma sensação quente, intensa. Os lábios dela eram macios, mas o que mais o abalou foi o cheiro do cabelo dela, como o frescor de um campo recém-chovido, e o som de sua respiração, suspensa, entrecortada. Por um momento, o mundo desapareceu. Não foi um beijo planejado, não foi amor, mas houve algo inegavelmente poderoso naquele toque.
Ele recuou, afastando-se dela com um impulso quase desesperado. Seus corações batiam descompassados, acelerados. O ar ao redor deles parecia pesado, carregado de uma tensão que nunca havia sentido.
Ela o olhou, seu rosto era pálido e seus olhos arregalados, mas não em surpresa.
— Eu... — ela tentou falar, mas as palavras falharam. — O que... o que aconteceu? Você me beijou?
ficou sem palavras, atônito. Não sabia como explicar, como dizer que aquilo foi um acidente. Um reflexo. Ele estava apenas tentando se proteger, e a única forma de fazer isso foi puxá-la para si. O beijo não foi algo desejado.
— Eu... não... não era minha intenção...
Mas, ao olhar para ela, ele sabia que, de alguma forma, o destino já tinha se alinhado.
Ela o encarou.
— Eu não quero o seu beijo, se quer me pagar por salvar a sua vida, então me pague em ouro. É disto que preciso.
a observou em silêncio, surpreso com sua atitude. Ela não parecia assustada. Não parecia se importar com o que estava acontecendo. Sua força, sua independência, faziam com que ele se questionasse. A mulher diante dele não tinha medo de nada, nem mesmo do que estava prestes a acontecer entre eles.
— Você... — Ele hesitou, sem saber como seguir com as palavras. — Você sabe o que aconteceu? A profecia... você não sabe sobre a profecia, não é?
Ela franziu a testa com um leve sorriso desdenhoso curvando seus lábios.
— Profecia? — Ela repetiu, claramente cética. — Não sou do tipo que acredita nessas histórias, príncipe.
O coração de parecia querer sair pela boca. A profecia estava sempre presente em sua vida, como sua sombra inescapável. Ele nunca soubera o que era realmente escolher, sempre sendo guiado por algo que ele não escolheu, um destino que o seguia, que o empurrava para uma única direção. Mas ela... Ela não estava nem um pouco impressionada.
— A profecia diz que aquela que eu beijar sob a luz da lua será minha alma gêmea. Que nosso destino estará entrelaçado, para o bem ou para o mal. Que nossa união será a força do reino... ou sua destruição.
Aquelas palavras saíram de sua boca como um peso. Ele as odiava, odiava a ideia de estar preso a algo tão imutável, algo tão além do seu controle. Ela parecia perceber a tensão no ar, o conflito interno que ele tentava esconder, mas o único sinal que ela dava era uma sobrancelha erguida, um olhar que dizia: isso não é meu problema.
Ela fez uma pausa, olhando-o de cima a baixo, como se estivesse avaliando não só suas palavras, mas a própria situação.
— Então, o que você está dizendo é que... a profecia quer que você se case com uma mulher como eu? — Ela olhou para suas roupas gastas, para o vestido simples e sem adornos. — Essa é a mulher com quem o destino o uniu?
não soube o que responder de imediato. Ele estava tentando processar tudo o que ela acabara de dizer. Como ela podia ser tão... Indiferente?
Ela deu um passo à frente, olhando-o nos olhos com uma intensidade feroz, como se ela estivesse desafiando-o a duvidar de sua força, de sua capacidade de enfrentar qualquer destino.
— Não sou princesa, príncipe . E não vou me deixar arrastar por esse tal destino que você fala que o cerca. Eu sou dona do meu próprio caminho. Se você se sente preso, é porque ainda não entendeu que a verdadeira liberdade é saber que podemos escolher. Não importa o que a profecia diga.
sentiu uma mistura de alívio e frustração. Alívio porque ela parecia não se importar com as cadeias invisíveis que a profecia lhe colocava, mas frustração porque ele sentia que, de alguma forma, isso a colocava em uma posição de vantagem — ela não estava presa, ela não sentia o peso da maldição que ele sentia.
O príncipe respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos, mas o peso da situação lhe dificultava a clareza. Ele queria acreditar que poderia lutar contra aquilo, mas as palavras da profecia estavam gravadas em sua mente, como uma sentença que não podia ignorar. Ele sabia o que significava o beijo que havia compartilhado com ela. Sabia que aquilo não seria apenas um acidente, não para ele. Ela era agora parte de seu destino - e isso o aterrorizava.
— Você não entende... — Ele começou, com a voz baixa, mas carregada de frustração. — Não é só uma questão de escolha. A profecia não dá margem para escolha, não dá margem para nada. Não é algo que eu possa ignorar ou tentar lutar contra. Se eu... se eu te beijar, como fiz, já não há mais volta. Isso nos liga, de uma forma que eu não posso controlar.
Ela franziu a testa, as palavras dele pareciam não fazer sentido. Para ela, a liberdade sempre foi uma conquista pessoal, algo que ninguém poderia tirar, mas, ao olhar para , ela viu um homem dividido, alguém que parecia estar preso a algo muito maior do que ele. Ela não sabia como isso funcionava, mas a dor e o desespero no olhar dele eram impossíveis de ignorar.
— Então você está me dizendo que nós... Estamos ligados agora? — Ela perguntou, mas foi impossível disfarçar a incredulidade transparecendo em sua voz.
Ele fechou os olhos por um instante, como se estivesse tentando se proteger de tudo o que acabara de acontecer.
— Sim. De acordo com a profecia, nosso destino está selado. Seja para o bem ou para o mal, estamos entrelaçados. Eu não escolhi isso, não foi minha decisão. Mas, agora, não posso mais fugir disso.
Ela deu uma risada seca, sem humor algum.
— Então o destino decidiu por você? — Ela se aproximou dele novamente, encarando-o com intensidade. — O príncipe herdeiro, governando um reino, e ainda assim, preso por algo tão... frágil quanto uma profecia? Eu não acredito nisso. Não sou parte desse seu destino.
sentiu uma onda de frustração subir dentro de si, a irritação se espalhando pelo peito como fogo. Ele estava tentando ser honesto, tentando explicar a gravidade da situação, mas ela parecia desdenhar de tudo. Ele, que sempre teve que carregar o peso de sua linhagem, agora, diante dela, se sentia vulnerável, como se todas as suas certezas estivessem sendo desfeitas por palavras irônicas e descompromissadas.
— Eu não estou pedindo para você acreditar, eu estou apenas te dizendo o que aconteceu! — Ele respondeu, o tom mais ríspido do que pretendia, a voz saindo com uma ponta de irritação que ele não conseguiu controlar. — Isso não é sobre o que você acredita ou não! A profecia está em mim, em você agora, não importa o quanto você tente ignorar isso.
Ela o observava com uma expressão desafiadora, sem nenhum sinal de arrependimento.
— E você acha que isso me afeta de alguma forma? — Ela perguntou, cada palavra que saia de seus lábios eram carregadas de sarcasmo. — Que eu vou me curvar a uma coisa dessas? Ou pior, que vou me curvar a você? Não espere que eu me submeta ao que um livro velho diz sobre o futuro.
deu um passo à frente, mais impulsivo do que gostaria. Sua mandíbula estava tensa, os punhos cerrados ao lado do corpo, mas ele tentou não perder o controle.
— Você está falando como se soubesse o que está em jogo, como se fosse tão simples assim! — Ele falou, cada palavra carregada de raiva e uma frustração que transbordava. — Você não tem ideia do que significa estar preso a algo que não se pode controlar. Não tem ideia do peso que isso carrega!
Ela levantou uma sobrancelha, mantendo em seus lábios um sorriso quase divertido.
— Você acha que sou burra? — Ela perguntou, desafiadora, sem qualquer medo ou hesitação. — Não, príncipe , eu não vou me deixar engolir pelo peso das suas correntes invisíveis. Eu não sou você. Não me imponha o seu destino.
sentiu uma raiva crescente, mas ao mesmo tempo, uma espécie de admiração. Ela não estava nem um pouco abalada, não estava cedendo ao medo ou ao peso da situação. Ela estava ali, na frente dele, com um olhar tão intenso e determinado que, por um momento, ele quase desejou poder ser tão resoluto quanto ela.
— Você não entende... — Ele murmurou, com os dentes cerrados, tentando controlar o tom. — Não tem como escapar disso, você está ligada a mim. E você não vai conseguir ignorar isso para sempre. Ela o encarou, mais uma vez com aquele olhar desafiador, como se estivesse à beira de dar o golpe final.
— Eu vou fazer o que for necessário para manter minha liberdade. Não importa o que você ou essa maldição digam. — Ela deu um sorriso irônico, como se tivesse terminado a discussão.
O príncipe se sentiu atordoado, a raiva e a confusão misturando-se em seu peito. Ele queria gritar, queria que ela entendesse, mas a verdade era que ele não sabia como lutar contra aquilo que parecia ser inevitável. A profecia não era algo que ele pudesse simplesmente ignorar – ela agora fazia parte de quem ele era, e, sem querer, ela também fazia parte dela.
— Você é muito problemática para uma plebeia.
— Você não é a pessoa mais amada do mundo para falar de problemas, ou esqueceu que estavam tentando te matar quando eu salvei sua vida e você me assediou com um beijo?
ficou surpreso com a ousadia das palavras dela, a última frase como um soco direto em seu estômago. Ela o olhou de forma impiedosa, desafiando-o com cada sílaba, e a frustração de só aumentou. Ele estava em um campo minado emocional, onde suas próprias palavras pareciam não surtir efeito, e, pior ainda, ela parecia não temer nem um pouco a situação que ele tentava desesperadamente controlar.
— Eu não te assediei! — Ele respondeu com raiva, tentando se recompor. Sua voz saiu mais ríspida do que pretendia, mas ele mal podia se controlar. — Aquele beijo... foi um acidente.
Ela não recuou, não se intimidou. Na verdade, ela parecia aproveitar-se daquela confusão, como se se alimentar do desconforto dele fosse a única maneira de manter o controle. O sorriso dela, ainda irônico, se alargou, como se ela estivesse vendo uma parte dele se desintegrando diante dela.
— Então, o que você quer, príncipe? — Ela perguntou com um sorriso desdenhoso. — Que eu me ajoelhe e aceite esse destino ridículo que você carrega? Eu não sou sua princesa, . Não sou sua salvadora. E definitivamente não sou sua vítima.
— Por que você me salvou? — Foi a vez dele de, curioso, perguntar.
— Eu já disse, preciso que me pague em ouro.
— Por que? — Ela o olhou nos olhos, sem hesitar, como se estivesse esperando a pergunta dele há muito tempo. O sorriso ainda permanecia nos lábios dela.
— Não é da sua conta, príncipe. — Ela respondeu com firmeza, cruzando os braços. — Esse ouro, é apenas uma pequena parte do que me deve.
sentiu uma pontada de frustração, uma mistura de raiva e confusão. Ele não conseguia entender o que ela queria dele. Ela havia arriscado a própria vida para salvá-lo, mas agora, ela se recusava a dar-lhe uma explicação. A ideia de que ele estivesse em dívida com ela o incomodava. Ele não gostava da sensação de ser um devedor, especialmente diante de alguém que parecia tão fora de controle.
— Você me salva e me joga essa conta de ouro na minha cara? — Ele perguntou, tentando controlar a irritação que surgia. — Eu não pedi para ser salvo. Eu não pedi nada disso!
— Não é estranho a forma que você nunca pede por nada, que você nunca controla nada? Senhor! Você é homem! Um príncipe! Futuro rei, se quer saber, aja como tal.
— Então vou decepar sua cabeça.
O tom de foi ameaçador, mas sua voz traía uma falta de convicção que ele não quis admitir. Ele tentou manter a postura de príncipe, mas a jovem mulher não parecia intimidar-se. Ao contrário, havia algo em seu olhar que indicava que, de alguma forma, ele havia lhe dado a chance de desafiar ainda mais seu poder.
— Ah, sim, claro. — Ela disse, mantendo o tom habitual de sarcasmo. — Você vai me matar, príncipe ? Vai me decapitar porque eu te disse a verdade? Porque você não consegue lidar com ela?
Enquanto o silêncio ainda pairava entre eles, um som distante quebrou a tensão.
— O que foi isso? — perguntou, sua voz agora carregada de uma urgência que ele não conseguia controlar.
A mulher olhou para a direção de onde o som viera.
— Não sei. — ela respondeu, mas sua expressão indicava que sabia mais do que estava dizendo. — Mas seja lá o que for, não é bom esperar.
Ele franziu o cenho, tentando entender o que ela queria dizer. Mas antes que ele pudesse questioná-la, o som dos passos apressados se aproximando aumentou. Eles não tinham mais tempo. Sem outra escolha, eles começaram a correr em direção à origem do barulho, com sentindo o peso de sua coroa e de sua posição pressionando suas costas como uma carga de ferro. No entanto, enquanto corriam pelos corredores sombrios e estreitos, algo mudou entre eles. A tensão de antes ainda estava presente, mas agora havia uma necessidade urgente de agir. Ele olhou para ela e, pela primeira vez, percebeu que, apesar de sua rebeldia e daquilo que parecia ser sua indiferença ao destino dele, ela estava tão perdida quanto ele naquele momento.
— Eu só preciso de uma espada. — Ele murmurou, sua voz tensa. Ela olhou para ele rapidamente, como se já esperasse por isso, e foi até uma das armaduras expostas nas paredes. Com uma agilidade impressionante, arrancou uma espada da parede e a entregou a ele com um gesto rápido e preciso. — Como você sabia do ataque? — Ele perguntou, pegando a espada e se preparando para o que estava por vir.
Ela lançou-lhe um olhar penetrante, com um sorriso sardônico nos lábios.
— Talvez eu tenha vendido sua alma — disse, a voz baixa e carregada de ironia, mas os olhos ainda firmes. — Mas fui enganada. O homem que confiei não me pagou nada, príncipe. Nenhum ouro, nenhuma recompensa. Só a promessa de que você, e sua coroa, caíssem em mãos erradas.
a encarou, chocado por um momento. Mas a expressão dela não era de arrependimento, apenas de pragmatismo.
— Então você me ajudou só porque não teve outra escolha?
Ela riu baixo, sem humor.
— Acho que, se fosse assim, teria deixado você ser engolido pelos traidores. Mas não sou tola o suficiente para ver uma oportunidade de ouro escapar.
Dentre todas as ironias que o príncipe poderia imaginar, nenhuma delas era tão grande quanto essa: ele, o herdeiro de Veloria, estava agora preso a uma mercenária. Uma mulher que, literalmente, venderia sua vida a qualquer um que oferecesse ouro suficiente. E, no entanto, ali estava ele, dependendo dela, com a coroa pesando mais sobre sua cabeça do que nunca.
sentiu um desprezo crescente por si mesmo por ter se colocado na situação em que estava. Ele, que sempre se orgulhou da sua linhagem e do poder que carregava, agora se via obrigado a seguir os passos de uma mulher que tratava sua própria vida como uma mercadoria.
— Não gosto disso, — ele murmurou, mais para si mesmo do que para ela — Mas vou precisar de você, até o fim.
Ela o olhou, cintilando com uma mistura de desdém e uma satisfação silenciosa.
— Não se engane, príncipe. Eu não estou aqui para salvar você. Estou aqui porque, por enquanto, você ainda tem algo que eu possa usar.
As palavras dela caíram pesadas sobre ele, mas ele não teve tempo para refletir mais. O som dos passos se aproximando mais uma vez os fez se mover rapidamente. Agora, mais do que nunca, sabiam que estavam juntos nessa, pelo menos até o momento em que seus caminhos se separassem. Mas, naquele instante, ele não sabia o que era mais difícil: lidar com sua própria natureza, tão presa ao destino, ou com o fato de que, talvez, ela tivesse mais controle sobre o que acontecia a eles do que ele próprio.
— Eles estão próximos, — disse, a voz carregada de uma urgência que ele nunca tinha experimentado antes.
Ela não respondeu. Apenas acenou com a cabeça, sem perder o foco, e acelerou o passo. Ele não entendia como ela fazia aquilo. Como conseguia manter uma calma quase desumana diante de tudo. Era como se nada a assustasse.
De repente, uma sombra se moveu rapidamente pela passagem à frente. Sem pensar, ergueu a espada, pronto para se defender, mas ela foi mais rápida.
— Espera! — Ela o puxou para o lado com força, evitando que a lâmina cortasse o ar vazio onde ele estava segundos antes.
Antes que ele pudesse questionar, ela já estava em movimento, seus passos ágeis e silenciosos, como um predador em território desconhecido. Ela lançou-se sobre o primeiro atacante que apareceu, um homem grande, com um machado pesado em mãos. Ela não hesitou. Com uma habilidade que nunca imaginou ser possível, ela se esquivou da lâmina que vinha em sua direção, e com um golpe preciso, cravou uma faca em seu pescoço, fazendo-o cair silenciosamente no chão.
O príncipe ficou parado, paralisado. A mulher era uma tempestade de violência e controle, e ele? Ele era um príncipe treinado para governar, mas jamais havia enfrentado algo assim. Ela olhou para ele rapidamente, um sorriso perigoso nos lábios.
— Eu disse que não sou sua salvadora. Não conte comigo para sempre.
não tinha mais tempo para se questionar. Ele precisava agir. Ele precisava proteger a si mesmo e a ela. Então, com um impulso de raiva e adrenalina, ele avançou, desferindo um forte golpe contra o homem que se aproximava de seu flanco. O som da lâmina cortando o ar fez com que ele se sentisse mais vivo do que jamais imaginara. A espada atingiu o ombro do inimigo, fazendo-o recuar, mas não o derrubou. O homem grunhiu e voltou à carga, pressionando o príncipe com um ataque feroz. A batalha se intensificava ao redor deles, o som dos choques de metal e gritos preenchendo os corredores sombrios. estava perdido no ritmo da luta, sua mente focada no aqui e agora, sem espaço para pensar nas consequências. Era estranho, mas ele sentia uma sensação de libertação. Como se, por um breve momento, estivesse controlando seu próprio destino.
Ela, por sua vez, estava imersa no caos. Como uma sombra, ela se movia com uma graça mortal, seu corpo dançando ao redor dos inimigos, sua lâmina sempre encontrando um ponto vulnerável. a observava de relance, sem conseguir tirar os olhos dela. Havia algo perigoso em sua habilidade, algo que o fascinava e aterrorizava ao mesmo tempo.
Quando ele finalmente derrubou seu atacante, ofegante, o som de metal batendo no chão trouxe uma sensação de alívio. Mas, antes que pudesse comemorar a vitória, ela apareceu ao seu lado, com um sorriso travesso.
— Está começando a entender? — Ela disse, com um tom de zombaria.
Ele a olhou, sem palavras, apenas observando como ela, mais uma vez, fazia o impossível parecer simples.
— Não... — Ele respondeu, ainda tentando recuperar o fôlego.
Ela deu uma risada baixa, satisfeita, enquanto se afastava para enfrentar mais inimigos. Ele a seguiu, sem hesitar desta vez, lado a lado. A luta continuava, mas, de alguma forma, ele já não sentia tanto o peso da profecia. Estava com ela. E, por mais contraditório que fosse, isso talvez fosse a única coisa que realmente importava agora.
Finalmente, quando os últimos inimigos caíram ao chão, o silêncio tomou conta dos corredores. O som das respirações pesadas foi o único a quebrar a quietude. , ofegante, olhou para a mulher à sua frente. Sua expressão estava firme, mas havia algo diferente nos olhos dela. Algo como... respeito? Ou talvez apenas um reconhecimento silencioso. Ele não sabia o que sentia agora. Não sabia o que ela significava para ele, nem o que ele significava para ela. Mas havia uma coisa que ele sabia com clareza: eles haviam sobrevivido juntos, e isso, de alguma forma, os unira de uma maneira que nenhuma profecia poderia quebrar.
Ela deu um passo à frente, limpando a lâmina com um gesto rápido, antes de olhar para ele com um sorriso enigmático.
— Não se esqueça de me pagar o ouro, príncipe. — ela disse, com um tom mais suave agora, mas ainda brincalhão.
não respondeu de imediato. Ele sabia que, naquele momento, não importava o ouro, nem a profecia, nem o peso de sua coroa. O que importava era o que estava acontecendo entre eles, o entendimento silencioso de que, juntos, eles poderiam enfrentar qualquer coisa e, talvez, mais do que isso, o reconhecimento de que não havia controle total sobre nada. Não sobre o destino, nem sobre os outros, mas sobre as escolhas que faziam a cada passo.
— Talvez... Eu deva pagar você com algo mais do que ouro. — ele respondeu, finalmente quebrando o silêncio, sua voz era um pouco mais baixa, mais sincera.
Ela o olhou com uma curiosidade crescente, mas ele não se atreveu a continuar. Não ainda. Mas algo havia mudado entre eles. Algo que não poderia ser ignorado. O príncipe sabia que, embora estivesse amarrado a um destino desconhecido, agora havia uma possibilidade – uma escolha, talvez – que ele nunca imaginara antes.
E, quando ela finalmente virou as costas para ele e se afastou, ficou parado por um momento, permanecendo com os olhos fixos nela. Ele ainda estava perdido em tantas coisas, mas uma coisa estava clara: A luta deles, juntos ou separados, estava apenas começando. E talvez, por mais que tentasse, ele não pudesse escapar dessa mulher que havia, sem querer, se tornado a única verdade real em sua vida.


Fim



Nota da autora: Sem nota.





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