Capítulo Único
Era o último jogo da temporada. Não só isso, eram os últimos segundos da partida, e estava com os nervos completamente à flor da pele, sentindo todos os pelos de seu corpo arrepiados ao voltarem as posições na última jogada que daria tempo para fazer. Estavam ganhando por dois pontos, e não podiam, em hipótese alguma, deixar que o atacante do outro time conseguisse atravessar toda a distância do estádio.
Os gritos exagerados vindo toda a arquibancada recheada de gente faziam seu coração pulsar em pura adrenalina, e quando ouviu o anúncio que podiam começar, não houve nada mais em sua linha de visão a não ser quem segurava a bola do time inimigo, não deixando nada lhe parar naquele momento, mesmo que estivessem lhe atingindo de todos os lados.
Quando se viu livre de todos os corpos que bloqueavam seu caminho, ele correu sem pensar em nada além de interceptar quem ameaçava a sua vitória, e assim que se jogou e conseguiu derrubá-lo, ouviu o soar do apito no fundo de seu cérebro, como se estivesse extremamente distante de si, avisando que sim, haviam acabado de honrar o colégio e conquistar a primeira taça de futebol americano para a academia.
Quando todos seus companheiros de time se jogaram em cima de si aos berros, só conseguiu abrir um enorme sorriso de satisfação e sensação de missão cumprida, mesmo que todos os seus ossos parecessem ter sido moídos por um trator.
Demorou um bom tempo até que organizassem as coisas e conseguisse olhar para a arquibancada, acenando para seus pais e para sua irmã que assistiam de um ótimo ângulo, mas não foi por muito tempo já que logo lhe puxavam para receber a taça e tirar as fotos.
estava completamente eufórico, sem conseguir raciocinar com aquele sentimento de satisfação, mas que conforme ia passando, dava lugar a uma enorme melancolia. Quando deu por si novamente, o estádio estava vazio, e ele já vestia suas roupas normais e estava com os cabelos molhados da ducha que tomara no vestiário.
Havia atingido seu objetivo, mas o que adiantava se tudo havia acabado ali? Não era só o último jogo da temporada. Era o último jogo de naquela escola, naquele estádio. Pra quê havia feito tudo aquilo…?
― A-Ai, merda! ― ouviu uma voz feminina vindo de longe em sua mente, e seus olhos voltaram a procurar algum foco se não o céu, encontrando a dona da voz sentada em um dos bancos da arquibancada e tentando alcançar alguma coisa que havia caído.
― Tudo bem aí? ― ele questionou, arqueando uma das sobrancelhas para a desconhecida. Jurava que estava sozinho ali, quando a garota havia chego?
― S-sim, eu só derrubei meu celular. ― ela respondeu desanimada, suspirando aliviada ao conseguir alcançar o aparelho com a pontinha dos dedos e se certificar de que não havia tido nenhum dano.
― Faz tempo que você está aqui? ― a menina ergueu o rosto para procurá-lo, apenas para dar de cara com o rapaz já subindo a arquibancada e quase alcançando onde estava. ― Quando eu cheguei tinha certeza que o estádio estava vazio…
― A-Ah, eu costumo mesmo ser uma pessoa discreta. ― a desconhecida sorriu sem graça, olhando do chão para o portão rapidamente como se estivesse louca para ir embora.
― Você não é daqui, não é? Nós nunca nos vimos antes… ― comentou, forçando a memória para poder lembrar se já esbarrara com a garota em algum dos corredores, falhando novamente.
― É, eu sou da escola que vocês detonaram. ― ela respondeu sorrindo de canto e segurando uma risada, ainda sem encarar o rapaz a sua frente e omitindo a quantidade de vezes que já o havia visto jogando quando seus colégios caiam um contra o outro. ― Me matariam se me vissem falando justo com você, quem acabou com a oportunidade de virada.
― Bom, ainda bem que não tem mais ninguém aqui, não é? ― riu para si mesmo, ansiando a hora que a garota iria erguer o rosto e deixar com que o observasse.
― Você não tinha uma festa pra ir, ? Soube que todos seus amigos estavam planejando virar a noite, você não vai com eles? ― aquela pergunta pegou-o desprevenido, e arregalou um pouco os olhos, surpreso pelas informações que ela tinha.
― Para alguém que não é daqui, você sabe bastante coisa… E não parece tão discreta assim agora. ― ele riu, passando uma das mãos para arrastar os cabelos úmidos para trás, evitando que molhassem seu rosto. ― Mas, se você quer saber, eu ia mesmo festejar até o sol de amanhã se pôr.
― Bom, acho que estamos os dois indo embora, então. ― a estudante guardou o celular no bolso do casaco, e então esticou o braço, oferecendo a mão em um cumprimento. ― Foi um prazer te conhecer, .
― Igualmente. ― também fez o mesmo, na verdade, apenas para não deixá-la no vácuo, por que sinceramente não queria que ela fosse embora tão cedo, mas por educação acabou apertando os dedos finos dela de forma delicada. ― Por que você não vem comigo? Vai ser divertido.
― Huh? Com você? Lembra a parte que eu te disse que eu sou da escola do time rival? ― ela repetiu como se aquilo fosse um fato muito importante, puxando a mão de volta para apertar a nuca envergonhada e arrancando uma risada alta do que balançou a cabeça em negação. ― Sem contar que você vai ficar bêbado e arrumar outra companhia e eu não sou muito de fazer amizades rápido…
― Nah, ninguém mais liga pra isso agora que nós já ganhamos. Quer dizer, a sua escola vai ligar. ― a velha história, quem dá o tapa nunca lembra, mas quem recebe… ― Mas eu juro que não, vou correr com você em qualquer lugar, como seu guarda costas! O que me diz?
Ela ponderou por alguns minutos, finalmente erguendo o rosto de verdade e fazendo com que os cabelos o moldassem ao invés de escondê-lo. Foi só então que percebeu o quanto ela era bonita e encantadora, com a pouca maquiagem realçando apenas seus olhos e lábios e, não sabia ele, feita de forma preguiçosa em cinco minutos porque ela estava atrasada.
― Se eu perder o último metrô, só vou poder voltar pra casa de manhã, então acho bom cumprir o que você está falando… ― ela avisou outra vez, o fazendo rir de novo.
― Vamos fazer assim, eu não posso ouvir seu nome até o sol nascer. Será minha prova de que eu estarei ao seu lado até lá. ― começou, e a mais nova arqueou uma das sobrancelhas, sem entender o que aquilo implicava.
― Mas por que você ficaria perto por isso? ― indagou confusa, não entendendo o que de tão importante um nome tão simples como tinha. ― Sua mãe não disse para não falar com estranhos? Se eu não te falar seu nome, vou continuar sendo uma estranha.
― Porque eu realmente quero saber o seu nome, então eu vou ter certeza de estar com você para descobrir. ― o sorriso de canto do foi um pouco mais galanteador do que ele esperava, arrancando uma risada harmoniosa dela que apenas o deixou ainda mais empolgado. ― E bom, você parece bem normal pra mim.
― Você fala isso pra todas ou devo me sentir lisonjeada, zagueiro de ouro? ― a garota manteve uma sobrancelha arqueada, mas agora um pouco mais sarcástica, cruzando os braços à frente dos seios como se dissesse que conhecia bem o tipo que era.
― Com certeza lisonjeada. ― ele respondeu, erguendo uma das mãos na direção da ainda desconhecida que timidamente retribuiu o gesto um pouco confusa, apenas para sentir os lábios macios contra a pele dos nós de seus dedos. ― Eu não sou bem esse tipo de cara que você está pensando.
― … ― fingiu uma falsa vergonha, arregalando os olhos levemente e então recolhendo sua mão para aproximar seu rosto do dele, abrindo um sorriso. ― Falar e fazer isso me fazem pensar que você é exatamente o tipo de cara que eu imaginei.
― Não se preocupe. Eu vou mudar o seu conceito. ― falou tão confiante quanto normalmente era, ajeitando outra vez sua postura e começando a descer os degraus da arquibancada. ― Mas precisamos chegar na festa pra isso.
― Okay. ― a garota respondeu girando os calcanhares para segui-lo até a saída, se concentrando em digitar algumas mensagens no celular no processo, não prestando muita atenção ao redor.
só entendeu que havia alguma coisa errada quando ouviu o barulho de correntes, fazendo com que erguesse o olhar vagarosamente até o rapaz para encontrá-lo puxando o portão com praticamente todo o peso do seu corpo.
― Está tudo bem aí…?
― Não… Eu acho que estamos presos. ― respondeu sem pensar duas vezes, desistindo de abrir para olhar por cima da grade do portão e tentar ver se tinha um cadeado.
― Como assim estamos presos? ― ela rapidamente largou o celular também, o guardando no bolso da calça jeans e também tentando enxergar pelas barras o que havia acontecido do lado de fora.
― Trancaram a gente aqui dentro! ― também estava incrédulo, chacoalhando o portão insistentemente como se isso fosse adiantar alguma coisa.
― Bom, então vamos… Escalar? ― ela deu a opção com uma expressão de dúvida, como se não soubesse bem o que dizia.
― Você quer morrer? Tem grade elétrica! ― respondeu apontando para cima, onde o arame farpado fazia voltas espirais e as placas de perigo estavam instaladas.
― D-Droga…! ― grunhiu frustrada, chutando o ferro que lhe separava da liberdade com uma raiva tão intensa que assustou .
Ela se afastou para o meio do campo, e o ficou alguns minutos olhando, ainda estático por aquela ação repentina da mulher. Na verdade, sabia que estava certa, mas aquelas atitudes subitâneas o deixavam confuso de como deveria agir em frente a ela.
― Eu... Vou dar um jeito nisso, não se preocupe, vamos sair daqui logo. ― ele tentou confortar a garota, mas ela apenas ergueu uma das sobrancelhas na sua direção, como se questionasse como. ― Vou ligar pros meus amigos, a diretora e o zelador moram perto, não vai demorar até alguém chegar aqui.
― Fazer o que, né. ― revirou os olhos, erguendo os ombros com desânimo e aceitando calmamente o seu destino por saber que não tinha opção senão essa, então se afastando do rapaz para tomar um ar e praguejar para os céus. ― Dependendo do quão bêbados seus amigos já estão, devemos sair logo daqui.,.. Ou não. Eu já perdi o metrô mesmo, então, não é como se eu fosse conseguir voltar pra casa.
― Bom saber que você mantém as expectativas baixas.
sorriu para si mesmo enquanto a observava se afastando daquela forma revoltada até o meio do campo, questionando-se o que ela faria até vê-la deitando-se na grama, olhando para o céu. Em poucos minutos aos quais estavam convivendo, já havia percebido o quão imprevisível a garota era, e isso na verdade era fascinante. Ele queria descobrir e estudá-la mais, até que pudesse reconhecer todas as reações da sua personalidade tão interessante.
Tirou o celular do bolso, começando a ligar para todos do time de futebol em sequência, mas nenhum dos infelizes prestou pra atender. Mordeu o lábio inferior, começando a ficar tenso, e então começou a enviar mensagens em diversos aplicativos diferentes. Todas eram enviadas, algumas recebidas, mas nenhuma visualizada. Tentou se tranquilizar, dizendo que era porque a festa acabara de começar e por isso estavam animados.
Esporadicamente, eles sentiriam sua falta e então iriam olhar os celulares para ter notícias, só precisava ter paciência.
Suspirou e se aproximou lentamente da onde ela havia deitado, perguntando-se o que faria agora. A menina sem nome ainda tinha razão de estar irritada, e a coisa que aprendeu com mais facilidade em sua vida convivendo com sua mãe e irmã, era sempre se desculpar quando mulheres estavam irritadas, não importando se você tem ou não razão ou foi quem deu o motivo pra isso.
― Desculpa, sinto muito por isso ter acontecido. ― ele sussurrou ao sentar na grama ao lado dela, mantendo uma distância segura o suficiente para não conseguir ser agredido caso ela tentasse.
― Não se desculpe, não é sua culpa… ― ela reprimiu um suspiro de culpa por ter sido tão grossa, mas a verdade é que ficar sozinha com em uma situação daquelas deixavam todos os seus nervos completamente à flor da pele. ― Eu só… Não é assim que eu esperava acabar minha noite. ― literalmente, não era mesmo.
Mas não era apenas isso que a incomodava. Onde estava com a cabeça quando decidiu sair de casa sem nem mesmo levar um casaco? O vento frio da noite começava a incomodar seus ossos, mas não quis deixar isso óbvio, então tentou esquentar o corpo com suas próprias ferramentas, discretamente abraçando os próprios braços, tentando conter os tremores e arrepios.
― Bom, também não era assim que eu esperava. ― o zagueiro riu, passando a mão pelo cabelo para tirá-lo do rosto e puxá-lo para trás de forma nervosa. ― Mas ela não precisa acabar dessa forma. ― piscou um dos olhos na direção da menina, já sabendo no segundo seguinte que não deveria ter feito isso em hipótese alguma.
― E o que você pretende fazer? ― se retraiu automaticamente e arqueou uma das sobrancelhas. Desviando os olhos que estavam observando perfeitamente a lua cheia que piscava no céu daquele ângulo para encará-lo em dúvida.
― Você precisa relaxar um pouco, estou sentindo daqui essa sua aura hostil. ― ele tentou acalmá-la em um tom brincalhão, se aproximando um pouco do corpo da garota e tirando o casaco do time que aquecia sua pele. Não tinha muito problema, uma vez que estava com uma camisa preta de manga comprida por baixo. ― Toma.
― E-eu… ― queria ser educada, recusar e dizer que ele ficaria com frio, mas sinceramente estava segurando tanto para não bater os dentes contra os outros que simplesmente se deu por vencida, aceitando a oferta. ― Que ninguém me veja vestindo um casaco dos Tiggers, pelo amor de Deus. ― murmurou para si mesma, imaginando o linchamento que aconteceria se seu colégio descobrisse isso, ou se descobrissem com quem estava e que planejara ir a uma festa do colégio rival.
― Você é uma torcedora assim tão dedicada? ― soltou uma risadinha e sorriu ao vê-la erguendo a coluna e controlou sua vontade de auxiliá-la a colocar a blusa, satisfeito quando a garota respirou aliviada ao subir o zíper até seu pescoço.
― Na verdade nem um pouco, eu só assisto os jogos contra… ― arregalou os olhos ao perceber o que quase estava soltando, fingindo uma tosse repentina e colocando a mão na frente dos lábios para tentar disfarçar, se esforçando para pensar rapidamente em como consertar. ― Contra a minha vontade, sabe… Era a final e meus amigos estavam todos ali.
A verdade era que no primeiro jogo, ironicamente contra os Tiggers, ela realmente fora obrigada a ir com a sua melhor amiga, namorada do quarterback da formação do ano anterior do time de sua escola. O problema começou quando depois disso pegou o costume de frequentar apenas os jogos contra esse colégio especificamente, desenvolvendo uma espécie de paixão platônica por um dos jogadores do segundo ano.
Um dos defensores centrais do time, ele aparentemente tinha começado a jogar no início daquela temporada e acompanhou de longe toda a sua evolução como zagueiro até hoje, aquela final a qual o rapaz brilhou mais do que qualquer um, e também, o último dia que poderia vê-lo antes dele se formar e desaparecer completamente do seu mapa, ainda sem saber sobre sua existência.
Nos primeiros jogos acabara ouvindo que chamava-se , e desde então fingia muito bem que estava indo aos jogos apenas para apoiar sua escola, quando na realidade ia apenas para observar a beleza angelical que podia apreciar apenas ao final dos jogos, e sendo na vitória ou na derrota, ele retirava o capacete e oferecia um sorriso capaz de aquecer qualquer coração para e seus companheiros de time e algumas pessoas na arquibancada, que especulou serem sua família quando conseguiu vê-lo os abraçando uma vez, quando perdeu a final do ano anterior.
Não o via tão frequentemente quanto parecia. Apesar de os Tiggers e os Lions serem rivais costumeiros e consagrados naquele mundo, não havia muitos amistosos entre eles, portanto, todos os jogos que ia ficava ansiosa pensando no dia que aquele sorriso dele seria direcionado a alguma garota que desceria correndo a arquibancada e o envolveria em um abraço.
Seu coração sempre ficava apertado conforme o juiz soava o apito final, mas isso nunca aconteceu. O sorriso que fazia seu coração acelerar nunca era direcionado a mais ninguém, e isso aos poucos fez com que aprendesse muito mais sobre futebol americano e também sobre como era o ser humano mais idiota do universo todinho.
― Ah, por que eu não estou surpreso? ― a voz de interrompeu as lembranças como se nenhum tempo tivesse passado, e a risada harmoniosa lhe fez crispar os lábios em total descrença. Como havia parado ali com aquele ser humano? Como aquele infeliz era realmente um ser humano?
― Se você acha que é por que eu não sou muito sociável, está certo. ― ela respondeu com um sorriso forçado típico de quem não era muito simpático também, e o apenas riu mais, a fazendo ter vontade de esconder seu rosto nas suas mãos e chorar.
― Você parece bem simpática pra mim. ― ele disfarçou um bocejo com uma risada nasalada, e franziu o cenho revirando os olhos com o falso elogio, se questionando o quão cansado ele estava depois do tremendo esforço físico que havia feito durante a disputa.
Também sabia que ele estava com frio mesmo que o rapaz estivesse disfarçando, seus músculos do rosto estavam levemente comprimidos e seu maxilar travado. Tudo isso misturado a ansiedade, adrenalina e a euforia que ele provavelmente sentira mais cedo… muito provavelmente estava fisicamente e psicologicamente destruído, não fazia ideia como ele ainda tinha coragem de cogitar ir para uma festa numa situação daquelas.
O rapaz merecia muito mais um bom colchão e uma noite de descanso do que uma madrugada badalada, que provavelmente, deixaria olheiras embaixo dos seus belos olhos vistosos, ou horas incessantes sentado naquela grama com uma companhia tão entediante quanto a sua em uma situação tão improvável quanto aquela.
― Vem aqui. ― ela deu-se por vencida frustrada ao observá-lo ter o primeiro tremor pelo vento frio, se levantando preguiçosamente e indo até a arquibancada. Não sabia como acabar com o frio dele, mas pelo menos poderia distraí-lo.
a seguiu mesmo confuso, e arqueou uma das sobrancelhas em dúvida ao vê-la simplesmente sentando em um dos bancos, olhando para si um tanto a contragosto e então batendo duas vezes em seu colo, o fazendo ficar ainda mais perplexo do porque ela estava fazendo isso.
― Você está cansado. ― desviou o olhar para o céu outra vez, disfarçando seu rosto que queimava de vergonha. ― Deita aqui.
segurou o sorriso e o comentário que ficou preso em sua garganta com a proposta. Podia ver claramente no rosto bonito o quanto ela estava se esforçando para falar isso, e por esse motivo apenas assentiu em concordância e deitando-se com a cabeça encostada nas pernas da garota, vendo-a jogar corpo para trás para afastar a face de seu campo de visão.
Não quis pressioná-la, e por isso decidiu apenas observar o céu sem nuvens e a lua cheia brilhante que os banhava na noite, enquanto tudo o que ela queria era que dormisse logo para poder soltar a respiração presa nos pulmões.
― Nunca consegui decorar como se chamam as constelações… ― ele sussurrou tranquilamente observando uma fileira de três estrelas subsequentes no céu.
― Eu gosto daquela. ― apontou para uma constelação que parecia ter o formato de um soldado, onde podiam-se ver quinze estrelas ao todo.
― Como ela se chama? ― ele questionou curioso ao acompanhar com o olhar o local do céu onde a garota havia apontado.
― Eu também não sei. ― riu da própria burrice, deixando boquiaberto com a sonoridade desconhecida tão suave e doce, contrastante com a forma que ela agia. ― Só sei que eu sempre consigo reconhecê-la no céu, não importa onde eu esteja, porque aquela estrela é tão brilhante. ― apontou outra vez para o local exato onde a estrela estava, a mais brilhante daquele céu inteiro.
― Talvez ela te dê sorte. ― o especulou, sorrindo abobalhado ainda por conta da risada agradável que estava presa em seus ouvidos, mas acabou bocejando outra vez, colocando a mão em cima dos lábios para disfarçar e sentindo os olhos pesarem.
― Eu quero acreditar que sim, . Realmente quero…
A voz feminina, porém, pareceu distante quando suas pálpebras se fecharam, assim como o toque macio em sua bochecha, que não pareceu muito mais que um formigar aconchegante e carinhoso de algo desconhecido. Estava tão cansado que não havia aguentado…
Toda a adrenalina havia lhe deixado, dando lugar ao sono e a necessidade de desligar a sua mente por algumas horas. E foi por isso que deixou-se ser puxado pela maravilhosa dimensão dos sonhos de poeira estelar, quando o vento soprou em seu rosto de forma tão poderosa que podia até mesmo chacoalhar o tempo e o espaço.
❥❥❥❥❥
Suas pálpebras tremeram levemente, fazendo os cílios longos baterem contra as bochechas em cócegas. O suspirou frustrado por já estar acordando, mas sabia que era injusto deixá-la sozinha por muito mais tempo uma vez que tinha prometido ser seu guardião. A sua surpresa, foi na verdade, quando encontrou a mais pura escuridão ao abrir os olhos, lhe deixando em dúvida se havia mesmo o feito até entender que estava acordando em seu sonho e não na realidade.
― Uma luz não devia acender…? Tipo como um diamante no céu? ― tentou olhar para os lados, como se isso fosse lhe ajudar a enxergar alguma coisa, mas é óbvio que não. Pelo menos, não até ouvir a voz feminina lhe chamando.
― ? ― não era doce e nem muito gentil, pelo contrário, estava mais para firme e bem acentuada, talvez por isso a houvesse reconhecido tão bem. A voz da garota fez com que um pequeno feixe de iluminação branca surgisse no horizonte, e o rapaz deu o primeiro passo em direção a ele ao responder.
― S-Sim?
― Bem, nós perdemos o convite da lua. ― ela constatou com um suspiro desanimado logo depois, e o juntou as sobrancelhas, enrugando a testa como se perguntasse se havia ouvido aquilo mesmo. ― Mas eu vou fazer isso dar certo. ― agora ele se concentrava para pensar se havia algum sentido no que a menina havia acabado de dizer. ― Hmmm… Para o oeste, para o leste, para onde nós vamos?
― O-oi? ― ele murmurou extremamente confuso, pensando que se lembrasse da sua presença para a companheira, ela voltaria “a realidade”.
― Tudo bem, , não tenha pressa, não precisa! ― o som da voz dela se aproximou de si e sentiu o toque macio em sua mão, a segurando e posteriormente entrelaçando seus dedos. E tudo pareceu ainda mais caótico porque ainda assim não podia vê-la. ― Essa noite estaremos voando sobre o céu!
― Eu estou mesmo sonhando, não é? ― o sussurrou para si mesmo, sentindo-se um idiota por ainda achar que não. Mas o calor do toque da garota na sua mão era tão real e causava um formigamento tão bom… ― Certo, o que nós vamos fazer, então?!
― Nós vamos seguir a órbita brilhante do universo que estamos! ― pelo tom de voz de , ele sabia que ela estava sorrindo largamente, e isso lhe fez ficar mais confiante também. ― Vamos!
Então ela lhe puxou pela mão que segurava com força na direção do pequeno ponto brilhante que havia surgido através da voz, e acabou impulsionando tanto o seu corpo quanto o dela para frente. Seus olhos se arregalaram por instinto, mas na escuridão não adiantava em nada, até que um clarão em puro branco cortou o negro, lhe fazendo pressionar as pálpebras com força pela queimação na sua retina.
Mesmo após a luz desaparecer, ele continuou da mesma forma, com medo de abrir os olhos. Seu corpo parecia flutuar no ar, e ele ouviu a risada satisfeita de vindo do seu lado, lhe fazendo abrir apenas o olho esquerdo para ver se estava tudo bem.
― O que… ― planejava perguntar o que havia sido aquilo, mas ao perceber onde estava com olhares perdidos ao seu redor, sua língua travou entre os dentes e não saiu muito mais que uma exclamação indefinida.
Aquilo era o espaço…? O universo?
O ar pareceu sumir por um segundo e foi aí que percebeu que estava respirando no meio da via láctea, fazendo sua mente lembrar que era apenas um sonho. Não tinha motivo para estar apavorado, nervoso ou ansioso. Era um sonho realista e maravilhoso, onde poderia desbravar toda a galáxia com a garota ao seu lado!
― Vem, vamos passear! ― o pegou pela mão outra vez e começou a correr sob o nada, de forma tão natural e graciosa que reparou mesmo que estivesse sendo arrastado.
Ela era tão encantadora quanto todo o cenário ao redor, formato de planetas, estrelas e rochas que flutuavam na falta de gravidade ante a um fundo negro e azul escuro. E ele começou a se reparar ao perceber o quão compará-la com o universo poderia parecer algo que apaixonados fariam. Só não sabia bem se deveria abraçar esse pensamento ou preocupar-se com ele.
― Para onde estamos indo? ― questionou ao perceber que ela seguia algum caminho desconhecido de forma tão confiante com passos rápidos e firmes que parecia ter estado ali mil vezes antes.
― Eu não sei! ― a forma divertida e risonha que a garota usou para lhe responder fez com que seu coração aquecesse de um jeito confortável, e ele acabou sorrindo também. ― Mas eu posso fazer isso à noite toda, você não?
― Eu também. ― um sorriso tímido tomou os lábios de , mesmo que isso não fosse exatamente de sua personalidade, e ele apertou delicadamente a mão da menina para fazê-la parar de andar, pensando por alguns segundos se devia fazer o pedido que girava em sua cabeça.
― , feche os olhos. E não os abra enquanto eu não falar. ― o interrompeu ainda com seus dedos entrelaçados carinhosamente e também sem a intenção de cortar esse contato. Então virou o corpo levemente para trás, encarando o rosto de traços vindos da própria nobreza do rapaz. Ele arqueou uma das sobrancelhas, não entendendo o pedido. ― Confie em mim.
Como poderia dizer não aquele sorriso de dentes perfeitamente enfileirados e tão brilhantes, ou hesitar cumprir um pedido que viesse naquele tom tão adocicado e macio? Não pensou duas vezes antes de obedecer, e então foi como sentisse outra vez o peso de seu corpo indo para baixo de uma vez só em milésimos, despencando como um cometa.
Queria gritar, arregalar os olhos até que eles saltassem, mas o toque macio lhe transmitia tanta confiança que mesmo sentindo que seu corpo podia se separar de sua alma naquele momento, ele mordeu a parte interna da bochecha e prendeu a respiração, concentrando-se apenas no calor que emanava dela e penetrava em seu corpo através das palmas das mãos.
― Pode abrir! ― A sensação sumiu de repente, e uma brisa leve foi soprada no rosto do rapaz, levando todo o suor e o nervosismo para longe quando anunciou, mas um desconforto incomum lhe acometeu quando sentiu-a desenroscando os dedos e se afastando alguns passos.
buscou encará-la, mas tudo o que conseguiu fazer foi observar cada detalhe da onde estava.
Era como um observatório no meio do céu, a ponta de uma pedra rochosa para um abismo de escuridão e desconhecido. Mas, quando via o que estava acima, nada de ruim parecia existir naquela imensidão. Os diamantes estrelados eram até mesmo capazes de ofuscar a sua visão, e apesar do fato de saber que demoraria toda a sua vida se tentasse, poderia contar todas as estrelas que estampavam aquela tela.
As palavras todas pareceram sumir de sua mente, dando espaço apenas para uma expressão abobalhada e admirada por tanto tempo que seus lábios secaram.
― Você gostou? ― a voz dela lhe despertou finalmente, e ao procurá-la com as íris, encontrou a garota sentada com as pernas balançando no abismo escuro. Seu coração pulou um batimento com a cena, mas respirou fundo.
Era apenas um sonho, não tinha porque se preocupar tanto, por isso resolveu sentar ao lado dela e deixar um sorriso tomar conta de suas expressões como resposta, assim como sua cabeça vagarosamente balançou para cima e para baixo, em uma concordância muda.
― A constelação que você gosta continua brilhante mesmo aqui. ― ele sorriu, apontando para o aglomerado de estrelas em formato de soldado que para eles não tinha nome.
― Sim. Sabe, talvez ela me dê mesmo sorte… ― admitiu após encontrar a estrela mais brilhante dentre as outras, suas bochechas queimando de forma nítida.
― Eu sinto que aqui nossos desejos eternos serão concedidos. ― ele desabafou em um suspiro ainda sonhador e abobalhado com a paisagem, os olhos refletindo o brilho dos astros.
― E qual seria o seu desejo agora? ― ela questionou, desviando a atenção de cima para observar o rapaz e ouvir bem sua resposta.
― Bem, sei que acabamos de nos conhecer e isso pode soar ridículo porque eu já pareço estar apaixonado e é extremamente clichê também, mas eu quero você, só quero fazer você me amar. ― não teve coragem de encará-la, por isso continuou concentrado no que via. ― Essa noite parece que todo o meu universo girou ao seu entorno e que isso estava marcado pra acontecer. E era um universo romântico que eu realmente gostei de estar, que fez meu coração começa a dançar como nunca havia acontecido antes. Então me leve até você, à verdadeira você, que está escondida depois de tantas armaduras. Isso é o que eu pediria agora.
Por um segundo abaixou as orbes que se encontraram timidamente com as de . O sorriso de canto repuxado dela parecia orgulhoso e satisfeito, e o jogador sentiu-se um pouco aliviado ao encontrá-lo.
― , não hesite em me encontrar. Não é tão difícil quanto parece. ― ela ergueu uma das mãos até o próprio cabelo, o puxando para trás para poder olhá-lo melhor. ― Na verdade, você não precisa se esforçar tanto, só seja você mesmo. Porque você só pode amar certo uma pessoa quando a conhece realmente.
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― Bem vindo de volta, Belo Adormecido. ― ela ironizou assim que os olhos de começaram a se abrir preguiçosamente, e ele não sabia se ria da palhaçada ou estranhava o tom de voz tão diferente, ao menos se comparado ao aveludado de seu sonho.
― Eu sonhei com você. ― ele contou sem pensar muito, ainda sonolento e piscando excessivamente, tentando recobrar a consciência aos poucos. ― Como você fez isso?
― Eu não fiz nada, quem fez foi sua imaginação. ― cerrou os olhos como se não fosse nada demais, controlando ao máximo sua vergonha para não acabar outra vez com as bochechas avermelhadas. ― Como foi?
― Eu sonhei que nós estávamos viajando pelo universo, e… ― começou, sentindo seu coração acelerar ao recordar das sensações tão vívidas e reais daquele sonho. ― Bem, você me amava lá, certo?
― Eu não sei, eu amava? ― ela arqueou uma das sobrancelhas ao vê-lo perguntando aquilo para si mesma, sendo que não podia responder algo que apenas ele sabia.
― É, eu acho que sim. Pelo menos parecia que sim.
, ao ouvir aquilo, jogou a cabeça para trás e o rosto para cima, tentando disfarçar a forma que até mesmo suas orelhas queimaram com as palavras que o pronunciava. Não conseguiu segurar a risada que subiu em sua garganta e então deixou-a sair, balançando a cabeça negativamente.
― Você dormiu algumas horas e ninguém apareceu. Seus amigos realmente sentiram a sua falta. ― ela ironizou, tentando não se alongar muito na risada descontraída e vendo que já passavam das cinco da manhã e não devia demorar muito para começar a amanhecer.
preguiçosamente levou a mão até o bolso da calça para pegar o celular e desbloquear a tela, encontrando aproximadamente cinquenta mensagens explicando como uma parte mais responsável dos seus amigos deixaram a festa para tentar libertar a princesa da torre, porém a bruxa má da diretora e seu escudeiro, o zelador, não estavam em casa.
Segundo eles, estavam acampando na porta das duas casas, aguardando pacientemente até que eles chegassem, e pela primeira vez se sentiu um pouco desesperado em quanto tempo teria que ficar ali. Sentimento esse que sumiu parcialmente ao ouvir a voz de outra vez.
― E então? ― ela arqueou uma das sobrancelhas com a demora do para falar alguma coisa, começando a ficar ansiosa.
― Parece que é melhor nós não termos pressa. ― suspirou, fechando os olhos e esperando alguma agressão física vindo dela, que apenas respirou fundo algumas vezes pra tentar manter-se calma.
― Fazer o que. ― ela repetiu a mesma expressão que havia dito na noite anterior, mas agora bem mais controlada.
preguiçosamente e sem vontade desencostou a cabeça da coxa da garota, esticando os braços para cima e mexendo o pescoço para os lados. Pensava em algo para falar mesmo com seus lábios secos, mas não sabia bem o que dizer, talvez ainda meio baqueado com tudo o que havia acontecido naquele dia.
― Olha só! ― animadamente cutucou seu braço com o cotovelo, e ele arregalou os olhos ao vê-la tão empolgada, apontando para o céu onde os primeiros fogos de artifícios subiam.
Como uma criança, ela colocou ambas as mãos para cobrir os ouvidos antes que eles estourassem, e as luzes se espalhando pelo negro a fizeram sorrir tão largamente que não conseguiu assistir a queima, concentrado em como o rosto da garota se iluminava sempre que uma cor nova fazia parte do espetáculo.
― São eles. Estão comemorando a formatura. ― explicou com um sorriso de canto abobalhado, ainda com as íris escuras focadas na moça sem nome.
― Bom, ao menos isso eu não perdi.
― ! ― o berro masculino fora tão alto que praticamente o fez cair da arquibancada, desviando os olhos do rosto da menina para procurar quem gritava daquele jeito por si.
― ? ― arqueou uma das sobrancelhas ao encontrar o melhor amigo, completamente confuso em vê-lo ali. Ele com certeza não estava na festa, então como a história havia chego nele?
Foi quando viu a viatura estacionando atrás dele que percebeu o que estava acontecendo, e soltou uma exclamação, levantando rapidamente para correr para o portão. foi logo atrás, afinal, não via a hora de se libertar daquele lugar, estava morrendo de fome.
― Ligaram pro meu pai avisando, mas nós não estamos achando nem a diretora e nem o zelador de jeito nenhum. ― explicou, ofegante por ter corrido até a delegacia logo depois acordar para avisar seu pai e pedir ajuda a ele.
― Como vocês vão fazer, então? ― questionou confuso, olhando para o xerife da cidade que abria o porta malas do carro e tirava um alicate de corte. ― Ah, desse jeito… Acho que a diretora vai me matar. ― murmurou para si mesmo, passando uma das mãos pelo cabelo nervosamente.
― Bom, talvez se o zelador não estivesse com tanta pressa pra sair com ela, isso não tivesse acontecido, então meio que ela não pode falar nada. ― o pai de tentou tranquilizá-lo com uma risada descontraída, e os adolescentes arregalaram os olhos com a revelação. ― Inclusive, você não estuda mais aqui, então relaxa, ela nem precisa ficar sabendo.
― P-Pai! ― cerrou o cenho em direção ao homem, inconformado com a audácia dele de incentivar o amigo a fazer uma besteira. O amigo e… A garota que estava atrás dele? ― Er, oi! ― cumprimentou sem graça, percebendo só agora que não havia dado nem o mínimo de atenção para a menina, ao menos havia a visto.
― Olá. ― ela respondeu tão sem graça quanto ele, erguendo uma das mãos para um aceno tímido.
― Só mais um segundo e vocês já vão estar livres. ― o policial anunciou, trazendo um alicate bem maior do que o necessário nas mãos e o encaixando na corrente grossa que passava pelo portão e então pressionando as duas partes com força para poder cortá-la. ― Vou levá-los para casa, certo?
― A-Ah, não, eu moro longe daqui, só preciso andar até o metrô, não precisam se preocupar com isso. ― declinou com uma expressão um pouco desconfortável, e arqueou uma das sobrancelhas. ― E já está quase de manhã, então…
― Tem certeza? Não vou ficar tranquilo se não souber que você chegou bem em casa. ― ele questionou, inquieto com aquela reação da menina. Odiaria ter que deixá-la sozinha durante o caminho para casa e provavelmente não conseguiria descansar sem saber se ela estava bem.
― Me passe seu número e eu te aviso quando chegar. ― foi só o que ela falou antes de finalmente sair quando o pai de puxou o portão, respirando fundo o ar de fora do estádio e praticamente sentindo como se estivesse em outra dimensão, mesmo que só houvesse dado três passos.
― Quer saber, vocês podem voltar. Eu moro perto do metrô, então posso deixá-la lá e depois ir pra casa. ― anunciou com um sorriso gentil na direção dos outros dois presentes, que o observaram com uma sobrancelha arqueada.
― Bom, se você quer. Não se preocupe sobre os danos, vou conversar com a diretora quando ela resolver aparecer. ― o senhor sorriu para os dois, batendo paternalmente nas costas do garoto como sempre fazia pelo costume a sua presença, já que ele e o filho eram amigos desde quando saíram das fraldas. ― Vamos!
― O-Ok… Tomem cuidado no caminho, vocês dois, e me avise quando chegar. ― instruiu e pediu, acenando para o casal que ficava para trás com uma feição um tanto preocupada enquanto dava passos para trás, alcançando o carro.
― Pode deixar, obrigado por terem vindo salvar a gente. ― ele agradeceu com um sorriso largo, retribuindo ao balançar de mão em direção ao amigo e observando o carro arrancar e começar a sumir pela rua.
― Por que você fez isso? Não precisava… ― murmurou sem graça, iniciando a caminhada de menos de cinco minutos que levava à estação de trem, que provavelmente já deveria estar aberta aquelas horas.
― Claro que precisava! Você velou meu sono a noite inteira. Além disso, eu prometi que ia te acompanhar como um guardião, não é? ― começou a acompanhá-la lado a lado, com vontade praticamente incontrolável de que suas mãos se entrelaçassem assim como se entrelaçaram antes no seu sonho, trazendo aquela sensação tão agradável, como se fossem velhas conhecidas.
― Um guardião que ronca quando dorme! ― ela provocou, deixando o corpo pender para o lado levemente para batê-lo contra o braço forte do que cambaleou discretamente pela surpresa da ação da garota.
― Hey, isso é mentira! ― ele olhou para completamente ofendido, retribuindo a batida com um pouco mais de força que ela, mas ainda de forma completamente inofensiva.
― Hey! ― ela olhou pra ele revoltada, cruzando os braços na frente dos seios e franzindo a sobrancelha, arrancando uma risada alta de que apenas a fez se enfezar ainda mais.
― O sol está nascendo… ― ele apontou os primeiros raios da grande estrela que começava a dissipar a escuridão da noite, ainda com um sorriso que mostrava todos os seus dentes brilhantes estampando sua face. ― Eu cumpri minha promessa, então você já pode me dizer seu nome.
― . Meu nome é . ― ela respondeu, virando o rosto para o outro lado para disfarçar o sorriso de canto que começava a crescer em seus lábios, vendo que estavam a poucos passos da entrada de onde ficaria.
― … ― repetiu baixinho, acostumando sua língua a pronúncia. ― É bonito. ― o sorriso da garota se alargou ao ouvir o elogio, assim como suas bochechas começaram a se avermelhar. ― Então… Onde na via láctea devemos nos encontrar na próxima vez?
― Próxima vez? Ficar preso comigo a noite inteira não foi o suficiente? ― ela arqueou uma das sobrancelhas ainda com os braços cruzados, agora olhando para o rapaz em dúvida.
― Você pediu o meu telefone, também não quer uma próxima vez? ― ele questionou de volta, também arqueando a outra sobrancelha e então se aproximando um passo da mais nova, encostando seu peitoral nos braços dela.
― Eu nunca disse isso. ― riu, voltando para trás o passo que ele havia dado e então pegando a bolsa leve que trazia em seu braço, a abrindo e encontrando um papel e uma caneta, apoiando na pilastra de entrada da estação. ― E só pra contrariar você, eu que vou passar o meu telefone.
― Ah, nossa, que péssimo! ― dramatizou como se estivesse discordando, mas na verdade mal podia disfarçar a sua felicidade em vê-la escrevendo o nome e os dígitos em sequência. ― Estou pessoalmente ofendido com isso!
― Ótimo, é essa a intenção! Toma. ― estendeu a mão com o papel, e o a pegou no mesmo instante.
― Então, eu acho que é isso. Bom dia, . ― ele desejou agora que o sol já despontava e os iluminava completamente, nitidamente não querendo ir embora de verdade, mas se obrigando a dar passos tímidos para trás.
― Tenha um bom dia, . ― ela acenou antes que ele virasse finalmente para o outro lado e iniciasse a caminhada para casa.
, mais de uma vez, puxou o ar fundo e então o soltou, tentando voltar a calmaria de seus pensamentos e de sua respiração quando o rapaz dobrou a esquina e sumiu de uma vez. Inconscientemente, colocou as mãos nos bolsos da jaqueta que usava, e foi só então que percebeu que ainda usava a jaqueta do , com o símbolo do time enorme estampado nas costas. O ar sumiu de novo por mais de bons segundos, e ela acabou rindo para si mesma, mordendo seu lábio inferior com as lembranças daquela noite, não se importando nem um pouco se era do time adversário ao qual deveria torcer.
― Você também é meu universo romântico, .
Os gritos exagerados vindo toda a arquibancada recheada de gente faziam seu coração pulsar em pura adrenalina, e quando ouviu o anúncio que podiam começar, não houve nada mais em sua linha de visão a não ser quem segurava a bola do time inimigo, não deixando nada lhe parar naquele momento, mesmo que estivessem lhe atingindo de todos os lados.
Quando se viu livre de todos os corpos que bloqueavam seu caminho, ele correu sem pensar em nada além de interceptar quem ameaçava a sua vitória, e assim que se jogou e conseguiu derrubá-lo, ouviu o soar do apito no fundo de seu cérebro, como se estivesse extremamente distante de si, avisando que sim, haviam acabado de honrar o colégio e conquistar a primeira taça de futebol americano para a academia.
Quando todos seus companheiros de time se jogaram em cima de si aos berros, só conseguiu abrir um enorme sorriso de satisfação e sensação de missão cumprida, mesmo que todos os seus ossos parecessem ter sido moídos por um trator.
Demorou um bom tempo até que organizassem as coisas e conseguisse olhar para a arquibancada, acenando para seus pais e para sua irmã que assistiam de um ótimo ângulo, mas não foi por muito tempo já que logo lhe puxavam para receber a taça e tirar as fotos.
estava completamente eufórico, sem conseguir raciocinar com aquele sentimento de satisfação, mas que conforme ia passando, dava lugar a uma enorme melancolia. Quando deu por si novamente, o estádio estava vazio, e ele já vestia suas roupas normais e estava com os cabelos molhados da ducha que tomara no vestiário.
Havia atingido seu objetivo, mas o que adiantava se tudo havia acabado ali? Não era só o último jogo da temporada. Era o último jogo de naquela escola, naquele estádio. Pra quê havia feito tudo aquilo…?
― A-Ai, merda! ― ouviu uma voz feminina vindo de longe em sua mente, e seus olhos voltaram a procurar algum foco se não o céu, encontrando a dona da voz sentada em um dos bancos da arquibancada e tentando alcançar alguma coisa que havia caído.
― Tudo bem aí? ― ele questionou, arqueando uma das sobrancelhas para a desconhecida. Jurava que estava sozinho ali, quando a garota havia chego?
― S-sim, eu só derrubei meu celular. ― ela respondeu desanimada, suspirando aliviada ao conseguir alcançar o aparelho com a pontinha dos dedos e se certificar de que não havia tido nenhum dano.
― Faz tempo que você está aqui? ― a menina ergueu o rosto para procurá-lo, apenas para dar de cara com o rapaz já subindo a arquibancada e quase alcançando onde estava. ― Quando eu cheguei tinha certeza que o estádio estava vazio…
― A-Ah, eu costumo mesmo ser uma pessoa discreta. ― a desconhecida sorriu sem graça, olhando do chão para o portão rapidamente como se estivesse louca para ir embora.
― Você não é daqui, não é? Nós nunca nos vimos antes… ― comentou, forçando a memória para poder lembrar se já esbarrara com a garota em algum dos corredores, falhando novamente.
― É, eu sou da escola que vocês detonaram. ― ela respondeu sorrindo de canto e segurando uma risada, ainda sem encarar o rapaz a sua frente e omitindo a quantidade de vezes que já o havia visto jogando quando seus colégios caiam um contra o outro. ― Me matariam se me vissem falando justo com você, quem acabou com a oportunidade de virada.
― Bom, ainda bem que não tem mais ninguém aqui, não é? ― riu para si mesmo, ansiando a hora que a garota iria erguer o rosto e deixar com que o observasse.
― Você não tinha uma festa pra ir, ? Soube que todos seus amigos estavam planejando virar a noite, você não vai com eles? ― aquela pergunta pegou-o desprevenido, e arregalou um pouco os olhos, surpreso pelas informações que ela tinha.
― Para alguém que não é daqui, você sabe bastante coisa… E não parece tão discreta assim agora. ― ele riu, passando uma das mãos para arrastar os cabelos úmidos para trás, evitando que molhassem seu rosto. ― Mas, se você quer saber, eu ia mesmo festejar até o sol de amanhã se pôr.
― Bom, acho que estamos os dois indo embora, então. ― a estudante guardou o celular no bolso do casaco, e então esticou o braço, oferecendo a mão em um cumprimento. ― Foi um prazer te conhecer, .
― Igualmente. ― também fez o mesmo, na verdade, apenas para não deixá-la no vácuo, por que sinceramente não queria que ela fosse embora tão cedo, mas por educação acabou apertando os dedos finos dela de forma delicada. ― Por que você não vem comigo? Vai ser divertido.
― Huh? Com você? Lembra a parte que eu te disse que eu sou da escola do time rival? ― ela repetiu como se aquilo fosse um fato muito importante, puxando a mão de volta para apertar a nuca envergonhada e arrancando uma risada alta do que balançou a cabeça em negação. ― Sem contar que você vai ficar bêbado e arrumar outra companhia e eu não sou muito de fazer amizades rápido…
― Nah, ninguém mais liga pra isso agora que nós já ganhamos. Quer dizer, a sua escola vai ligar. ― a velha história, quem dá o tapa nunca lembra, mas quem recebe… ― Mas eu juro que não, vou correr com você em qualquer lugar, como seu guarda costas! O que me diz?
Ela ponderou por alguns minutos, finalmente erguendo o rosto de verdade e fazendo com que os cabelos o moldassem ao invés de escondê-lo. Foi só então que percebeu o quanto ela era bonita e encantadora, com a pouca maquiagem realçando apenas seus olhos e lábios e, não sabia ele, feita de forma preguiçosa em cinco minutos porque ela estava atrasada.
― Se eu perder o último metrô, só vou poder voltar pra casa de manhã, então acho bom cumprir o que você está falando… ― ela avisou outra vez, o fazendo rir de novo.
― Vamos fazer assim, eu não posso ouvir seu nome até o sol nascer. Será minha prova de que eu estarei ao seu lado até lá. ― começou, e a mais nova arqueou uma das sobrancelhas, sem entender o que aquilo implicava.
― Mas por que você ficaria perto por isso? ― indagou confusa, não entendendo o que de tão importante um nome tão simples como tinha. ― Sua mãe não disse para não falar com estranhos? Se eu não te falar seu nome, vou continuar sendo uma estranha.
― Porque eu realmente quero saber o seu nome, então eu vou ter certeza de estar com você para descobrir. ― o sorriso de canto do foi um pouco mais galanteador do que ele esperava, arrancando uma risada harmoniosa dela que apenas o deixou ainda mais empolgado. ― E bom, você parece bem normal pra mim.
― Você fala isso pra todas ou devo me sentir lisonjeada, zagueiro de ouro? ― a garota manteve uma sobrancelha arqueada, mas agora um pouco mais sarcástica, cruzando os braços à frente dos seios como se dissesse que conhecia bem o tipo que era.
― Com certeza lisonjeada. ― ele respondeu, erguendo uma das mãos na direção da ainda desconhecida que timidamente retribuiu o gesto um pouco confusa, apenas para sentir os lábios macios contra a pele dos nós de seus dedos. ― Eu não sou bem esse tipo de cara que você está pensando.
― … ― fingiu uma falsa vergonha, arregalando os olhos levemente e então recolhendo sua mão para aproximar seu rosto do dele, abrindo um sorriso. ― Falar e fazer isso me fazem pensar que você é exatamente o tipo de cara que eu imaginei.
― Não se preocupe. Eu vou mudar o seu conceito. ― falou tão confiante quanto normalmente era, ajeitando outra vez sua postura e começando a descer os degraus da arquibancada. ― Mas precisamos chegar na festa pra isso.
― Okay. ― a garota respondeu girando os calcanhares para segui-lo até a saída, se concentrando em digitar algumas mensagens no celular no processo, não prestando muita atenção ao redor.
só entendeu que havia alguma coisa errada quando ouviu o barulho de correntes, fazendo com que erguesse o olhar vagarosamente até o rapaz para encontrá-lo puxando o portão com praticamente todo o peso do seu corpo.
― Está tudo bem aí…?
― Não… Eu acho que estamos presos. ― respondeu sem pensar duas vezes, desistindo de abrir para olhar por cima da grade do portão e tentar ver se tinha um cadeado.
― Como assim estamos presos? ― ela rapidamente largou o celular também, o guardando no bolso da calça jeans e também tentando enxergar pelas barras o que havia acontecido do lado de fora.
― Trancaram a gente aqui dentro! ― também estava incrédulo, chacoalhando o portão insistentemente como se isso fosse adiantar alguma coisa.
― Bom, então vamos… Escalar? ― ela deu a opção com uma expressão de dúvida, como se não soubesse bem o que dizia.
― Você quer morrer? Tem grade elétrica! ― respondeu apontando para cima, onde o arame farpado fazia voltas espirais e as placas de perigo estavam instaladas.
― D-Droga…! ― grunhiu frustrada, chutando o ferro que lhe separava da liberdade com uma raiva tão intensa que assustou .
Ela se afastou para o meio do campo, e o ficou alguns minutos olhando, ainda estático por aquela ação repentina da mulher. Na verdade, sabia que estava certa, mas aquelas atitudes subitâneas o deixavam confuso de como deveria agir em frente a ela.
― Eu... Vou dar um jeito nisso, não se preocupe, vamos sair daqui logo. ― ele tentou confortar a garota, mas ela apenas ergueu uma das sobrancelhas na sua direção, como se questionasse como. ― Vou ligar pros meus amigos, a diretora e o zelador moram perto, não vai demorar até alguém chegar aqui.
― Fazer o que, né. ― revirou os olhos, erguendo os ombros com desânimo e aceitando calmamente o seu destino por saber que não tinha opção senão essa, então se afastando do rapaz para tomar um ar e praguejar para os céus. ― Dependendo do quão bêbados seus amigos já estão, devemos sair logo daqui.,.. Ou não. Eu já perdi o metrô mesmo, então, não é como se eu fosse conseguir voltar pra casa.
― Bom saber que você mantém as expectativas baixas.
sorriu para si mesmo enquanto a observava se afastando daquela forma revoltada até o meio do campo, questionando-se o que ela faria até vê-la deitando-se na grama, olhando para o céu. Em poucos minutos aos quais estavam convivendo, já havia percebido o quão imprevisível a garota era, e isso na verdade era fascinante. Ele queria descobrir e estudá-la mais, até que pudesse reconhecer todas as reações da sua personalidade tão interessante.
Tirou o celular do bolso, começando a ligar para todos do time de futebol em sequência, mas nenhum dos infelizes prestou pra atender. Mordeu o lábio inferior, começando a ficar tenso, e então começou a enviar mensagens em diversos aplicativos diferentes. Todas eram enviadas, algumas recebidas, mas nenhuma visualizada. Tentou se tranquilizar, dizendo que era porque a festa acabara de começar e por isso estavam animados.
Esporadicamente, eles sentiriam sua falta e então iriam olhar os celulares para ter notícias, só precisava ter paciência.
Suspirou e se aproximou lentamente da onde ela havia deitado, perguntando-se o que faria agora. A menina sem nome ainda tinha razão de estar irritada, e a coisa que aprendeu com mais facilidade em sua vida convivendo com sua mãe e irmã, era sempre se desculpar quando mulheres estavam irritadas, não importando se você tem ou não razão ou foi quem deu o motivo pra isso.
― Desculpa, sinto muito por isso ter acontecido. ― ele sussurrou ao sentar na grama ao lado dela, mantendo uma distância segura o suficiente para não conseguir ser agredido caso ela tentasse.
― Não se desculpe, não é sua culpa… ― ela reprimiu um suspiro de culpa por ter sido tão grossa, mas a verdade é que ficar sozinha com em uma situação daquelas deixavam todos os seus nervos completamente à flor da pele. ― Eu só… Não é assim que eu esperava acabar minha noite. ― literalmente, não era mesmo.
Mas não era apenas isso que a incomodava. Onde estava com a cabeça quando decidiu sair de casa sem nem mesmo levar um casaco? O vento frio da noite começava a incomodar seus ossos, mas não quis deixar isso óbvio, então tentou esquentar o corpo com suas próprias ferramentas, discretamente abraçando os próprios braços, tentando conter os tremores e arrepios.
― Bom, também não era assim que eu esperava. ― o zagueiro riu, passando a mão pelo cabelo para tirá-lo do rosto e puxá-lo para trás de forma nervosa. ― Mas ela não precisa acabar dessa forma. ― piscou um dos olhos na direção da menina, já sabendo no segundo seguinte que não deveria ter feito isso em hipótese alguma.
― E o que você pretende fazer? ― se retraiu automaticamente e arqueou uma das sobrancelhas. Desviando os olhos que estavam observando perfeitamente a lua cheia que piscava no céu daquele ângulo para encará-lo em dúvida.
― Você precisa relaxar um pouco, estou sentindo daqui essa sua aura hostil. ― ele tentou acalmá-la em um tom brincalhão, se aproximando um pouco do corpo da garota e tirando o casaco do time que aquecia sua pele. Não tinha muito problema, uma vez que estava com uma camisa preta de manga comprida por baixo. ― Toma.
― E-eu… ― queria ser educada, recusar e dizer que ele ficaria com frio, mas sinceramente estava segurando tanto para não bater os dentes contra os outros que simplesmente se deu por vencida, aceitando a oferta. ― Que ninguém me veja vestindo um casaco dos Tiggers, pelo amor de Deus. ― murmurou para si mesma, imaginando o linchamento que aconteceria se seu colégio descobrisse isso, ou se descobrissem com quem estava e que planejara ir a uma festa do colégio rival.
― Você é uma torcedora assim tão dedicada? ― soltou uma risadinha e sorriu ao vê-la erguendo a coluna e controlou sua vontade de auxiliá-la a colocar a blusa, satisfeito quando a garota respirou aliviada ao subir o zíper até seu pescoço.
― Na verdade nem um pouco, eu só assisto os jogos contra… ― arregalou os olhos ao perceber o que quase estava soltando, fingindo uma tosse repentina e colocando a mão na frente dos lábios para tentar disfarçar, se esforçando para pensar rapidamente em como consertar. ― Contra a minha vontade, sabe… Era a final e meus amigos estavam todos ali.
A verdade era que no primeiro jogo, ironicamente contra os Tiggers, ela realmente fora obrigada a ir com a sua melhor amiga, namorada do quarterback da formação do ano anterior do time de sua escola. O problema começou quando depois disso pegou o costume de frequentar apenas os jogos contra esse colégio especificamente, desenvolvendo uma espécie de paixão platônica por um dos jogadores do segundo ano.
Um dos defensores centrais do time, ele aparentemente tinha começado a jogar no início daquela temporada e acompanhou de longe toda a sua evolução como zagueiro até hoje, aquela final a qual o rapaz brilhou mais do que qualquer um, e também, o último dia que poderia vê-lo antes dele se formar e desaparecer completamente do seu mapa, ainda sem saber sobre sua existência.
Nos primeiros jogos acabara ouvindo que chamava-se , e desde então fingia muito bem que estava indo aos jogos apenas para apoiar sua escola, quando na realidade ia apenas para observar a beleza angelical que podia apreciar apenas ao final dos jogos, e sendo na vitória ou na derrota, ele retirava o capacete e oferecia um sorriso capaz de aquecer qualquer coração para e seus companheiros de time e algumas pessoas na arquibancada, que especulou serem sua família quando conseguiu vê-lo os abraçando uma vez, quando perdeu a final do ano anterior.
Não o via tão frequentemente quanto parecia. Apesar de os Tiggers e os Lions serem rivais costumeiros e consagrados naquele mundo, não havia muitos amistosos entre eles, portanto, todos os jogos que ia ficava ansiosa pensando no dia que aquele sorriso dele seria direcionado a alguma garota que desceria correndo a arquibancada e o envolveria em um abraço.
Seu coração sempre ficava apertado conforme o juiz soava o apito final, mas isso nunca aconteceu. O sorriso que fazia seu coração acelerar nunca era direcionado a mais ninguém, e isso aos poucos fez com que aprendesse muito mais sobre futebol americano e também sobre como era o ser humano mais idiota do universo todinho.
― Ah, por que eu não estou surpreso? ― a voz de interrompeu as lembranças como se nenhum tempo tivesse passado, e a risada harmoniosa lhe fez crispar os lábios em total descrença. Como havia parado ali com aquele ser humano? Como aquele infeliz era realmente um ser humano?
― Se você acha que é por que eu não sou muito sociável, está certo. ― ela respondeu com um sorriso forçado típico de quem não era muito simpático também, e o apenas riu mais, a fazendo ter vontade de esconder seu rosto nas suas mãos e chorar.
― Você parece bem simpática pra mim. ― ele disfarçou um bocejo com uma risada nasalada, e franziu o cenho revirando os olhos com o falso elogio, se questionando o quão cansado ele estava depois do tremendo esforço físico que havia feito durante a disputa.
Também sabia que ele estava com frio mesmo que o rapaz estivesse disfarçando, seus músculos do rosto estavam levemente comprimidos e seu maxilar travado. Tudo isso misturado a ansiedade, adrenalina e a euforia que ele provavelmente sentira mais cedo… muito provavelmente estava fisicamente e psicologicamente destruído, não fazia ideia como ele ainda tinha coragem de cogitar ir para uma festa numa situação daquelas.
O rapaz merecia muito mais um bom colchão e uma noite de descanso do que uma madrugada badalada, que provavelmente, deixaria olheiras embaixo dos seus belos olhos vistosos, ou horas incessantes sentado naquela grama com uma companhia tão entediante quanto a sua em uma situação tão improvável quanto aquela.
― Vem aqui. ― ela deu-se por vencida frustrada ao observá-lo ter o primeiro tremor pelo vento frio, se levantando preguiçosamente e indo até a arquibancada. Não sabia como acabar com o frio dele, mas pelo menos poderia distraí-lo.
a seguiu mesmo confuso, e arqueou uma das sobrancelhas em dúvida ao vê-la simplesmente sentando em um dos bancos, olhando para si um tanto a contragosto e então batendo duas vezes em seu colo, o fazendo ficar ainda mais perplexo do porque ela estava fazendo isso.
― Você está cansado. ― desviou o olhar para o céu outra vez, disfarçando seu rosto que queimava de vergonha. ― Deita aqui.
segurou o sorriso e o comentário que ficou preso em sua garganta com a proposta. Podia ver claramente no rosto bonito o quanto ela estava se esforçando para falar isso, e por esse motivo apenas assentiu em concordância e deitando-se com a cabeça encostada nas pernas da garota, vendo-a jogar corpo para trás para afastar a face de seu campo de visão.
Não quis pressioná-la, e por isso decidiu apenas observar o céu sem nuvens e a lua cheia brilhante que os banhava na noite, enquanto tudo o que ela queria era que dormisse logo para poder soltar a respiração presa nos pulmões.
― Nunca consegui decorar como se chamam as constelações… ― ele sussurrou tranquilamente observando uma fileira de três estrelas subsequentes no céu.
― Eu gosto daquela. ― apontou para uma constelação que parecia ter o formato de um soldado, onde podiam-se ver quinze estrelas ao todo.
― Como ela se chama? ― ele questionou curioso ao acompanhar com o olhar o local do céu onde a garota havia apontado.
― Eu também não sei. ― riu da própria burrice, deixando boquiaberto com a sonoridade desconhecida tão suave e doce, contrastante com a forma que ela agia. ― Só sei que eu sempre consigo reconhecê-la no céu, não importa onde eu esteja, porque aquela estrela é tão brilhante. ― apontou outra vez para o local exato onde a estrela estava, a mais brilhante daquele céu inteiro.
― Talvez ela te dê sorte. ― o especulou, sorrindo abobalhado ainda por conta da risada agradável que estava presa em seus ouvidos, mas acabou bocejando outra vez, colocando a mão em cima dos lábios para disfarçar e sentindo os olhos pesarem.
― Eu quero acreditar que sim, . Realmente quero…
A voz feminina, porém, pareceu distante quando suas pálpebras se fecharam, assim como o toque macio em sua bochecha, que não pareceu muito mais que um formigar aconchegante e carinhoso de algo desconhecido. Estava tão cansado que não havia aguentado…
Toda a adrenalina havia lhe deixado, dando lugar ao sono e a necessidade de desligar a sua mente por algumas horas. E foi por isso que deixou-se ser puxado pela maravilhosa dimensão dos sonhos de poeira estelar, quando o vento soprou em seu rosto de forma tão poderosa que podia até mesmo chacoalhar o tempo e o espaço.
Suas pálpebras tremeram levemente, fazendo os cílios longos baterem contra as bochechas em cócegas. O suspirou frustrado por já estar acordando, mas sabia que era injusto deixá-la sozinha por muito mais tempo uma vez que tinha prometido ser seu guardião. A sua surpresa, foi na verdade, quando encontrou a mais pura escuridão ao abrir os olhos, lhe deixando em dúvida se havia mesmo o feito até entender que estava acordando em seu sonho e não na realidade.
― Uma luz não devia acender…? Tipo como um diamante no céu? ― tentou olhar para os lados, como se isso fosse lhe ajudar a enxergar alguma coisa, mas é óbvio que não. Pelo menos, não até ouvir a voz feminina lhe chamando.
― ? ― não era doce e nem muito gentil, pelo contrário, estava mais para firme e bem acentuada, talvez por isso a houvesse reconhecido tão bem. A voz da garota fez com que um pequeno feixe de iluminação branca surgisse no horizonte, e o rapaz deu o primeiro passo em direção a ele ao responder.
― S-Sim?
― Bem, nós perdemos o convite da lua. ― ela constatou com um suspiro desanimado logo depois, e o juntou as sobrancelhas, enrugando a testa como se perguntasse se havia ouvido aquilo mesmo. ― Mas eu vou fazer isso dar certo. ― agora ele se concentrava para pensar se havia algum sentido no que a menina havia acabado de dizer. ― Hmmm… Para o oeste, para o leste, para onde nós vamos?
― O-oi? ― ele murmurou extremamente confuso, pensando que se lembrasse da sua presença para a companheira, ela voltaria “a realidade”.
― Tudo bem, , não tenha pressa, não precisa! ― o som da voz dela se aproximou de si e sentiu o toque macio em sua mão, a segurando e posteriormente entrelaçando seus dedos. E tudo pareceu ainda mais caótico porque ainda assim não podia vê-la. ― Essa noite estaremos voando sobre o céu!
― Eu estou mesmo sonhando, não é? ― o sussurrou para si mesmo, sentindo-se um idiota por ainda achar que não. Mas o calor do toque da garota na sua mão era tão real e causava um formigamento tão bom… ― Certo, o que nós vamos fazer, então?!
― Nós vamos seguir a órbita brilhante do universo que estamos! ― pelo tom de voz de , ele sabia que ela estava sorrindo largamente, e isso lhe fez ficar mais confiante também. ― Vamos!
Então ela lhe puxou pela mão que segurava com força na direção do pequeno ponto brilhante que havia surgido através da voz, e acabou impulsionando tanto o seu corpo quanto o dela para frente. Seus olhos se arregalaram por instinto, mas na escuridão não adiantava em nada, até que um clarão em puro branco cortou o negro, lhe fazendo pressionar as pálpebras com força pela queimação na sua retina.
Mesmo após a luz desaparecer, ele continuou da mesma forma, com medo de abrir os olhos. Seu corpo parecia flutuar no ar, e ele ouviu a risada satisfeita de vindo do seu lado, lhe fazendo abrir apenas o olho esquerdo para ver se estava tudo bem.
― O que… ― planejava perguntar o que havia sido aquilo, mas ao perceber onde estava com olhares perdidos ao seu redor, sua língua travou entre os dentes e não saiu muito mais que uma exclamação indefinida.
Aquilo era o espaço…? O universo?
O ar pareceu sumir por um segundo e foi aí que percebeu que estava respirando no meio da via láctea, fazendo sua mente lembrar que era apenas um sonho. Não tinha motivo para estar apavorado, nervoso ou ansioso. Era um sonho realista e maravilhoso, onde poderia desbravar toda a galáxia com a garota ao seu lado!
― Vem, vamos passear! ― o pegou pela mão outra vez e começou a correr sob o nada, de forma tão natural e graciosa que reparou mesmo que estivesse sendo arrastado.
Ela era tão encantadora quanto todo o cenário ao redor, formato de planetas, estrelas e rochas que flutuavam na falta de gravidade ante a um fundo negro e azul escuro. E ele começou a se reparar ao perceber o quão compará-la com o universo poderia parecer algo que apaixonados fariam. Só não sabia bem se deveria abraçar esse pensamento ou preocupar-se com ele.
― Para onde estamos indo? ― questionou ao perceber que ela seguia algum caminho desconhecido de forma tão confiante com passos rápidos e firmes que parecia ter estado ali mil vezes antes.
― Eu não sei! ― a forma divertida e risonha que a garota usou para lhe responder fez com que seu coração aquecesse de um jeito confortável, e ele acabou sorrindo também. ― Mas eu posso fazer isso à noite toda, você não?
― Eu também. ― um sorriso tímido tomou os lábios de , mesmo que isso não fosse exatamente de sua personalidade, e ele apertou delicadamente a mão da menina para fazê-la parar de andar, pensando por alguns segundos se devia fazer o pedido que girava em sua cabeça.
― , feche os olhos. E não os abra enquanto eu não falar. ― o interrompeu ainda com seus dedos entrelaçados carinhosamente e também sem a intenção de cortar esse contato. Então virou o corpo levemente para trás, encarando o rosto de traços vindos da própria nobreza do rapaz. Ele arqueou uma das sobrancelhas, não entendendo o pedido. ― Confie em mim.
Como poderia dizer não aquele sorriso de dentes perfeitamente enfileirados e tão brilhantes, ou hesitar cumprir um pedido que viesse naquele tom tão adocicado e macio? Não pensou duas vezes antes de obedecer, e então foi como sentisse outra vez o peso de seu corpo indo para baixo de uma vez só em milésimos, despencando como um cometa.
Queria gritar, arregalar os olhos até que eles saltassem, mas o toque macio lhe transmitia tanta confiança que mesmo sentindo que seu corpo podia se separar de sua alma naquele momento, ele mordeu a parte interna da bochecha e prendeu a respiração, concentrando-se apenas no calor que emanava dela e penetrava em seu corpo através das palmas das mãos.
― Pode abrir! ― A sensação sumiu de repente, e uma brisa leve foi soprada no rosto do rapaz, levando todo o suor e o nervosismo para longe quando anunciou, mas um desconforto incomum lhe acometeu quando sentiu-a desenroscando os dedos e se afastando alguns passos.
buscou encará-la, mas tudo o que conseguiu fazer foi observar cada detalhe da onde estava.
Era como um observatório no meio do céu, a ponta de uma pedra rochosa para um abismo de escuridão e desconhecido. Mas, quando via o que estava acima, nada de ruim parecia existir naquela imensidão. Os diamantes estrelados eram até mesmo capazes de ofuscar a sua visão, e apesar do fato de saber que demoraria toda a sua vida se tentasse, poderia contar todas as estrelas que estampavam aquela tela.
As palavras todas pareceram sumir de sua mente, dando espaço apenas para uma expressão abobalhada e admirada por tanto tempo que seus lábios secaram.
― Você gostou? ― a voz dela lhe despertou finalmente, e ao procurá-la com as íris, encontrou a garota sentada com as pernas balançando no abismo escuro. Seu coração pulou um batimento com a cena, mas respirou fundo.
Era apenas um sonho, não tinha porque se preocupar tanto, por isso resolveu sentar ao lado dela e deixar um sorriso tomar conta de suas expressões como resposta, assim como sua cabeça vagarosamente balançou para cima e para baixo, em uma concordância muda.
― A constelação que você gosta continua brilhante mesmo aqui. ― ele sorriu, apontando para o aglomerado de estrelas em formato de soldado que para eles não tinha nome.
― Sim. Sabe, talvez ela me dê mesmo sorte… ― admitiu após encontrar a estrela mais brilhante dentre as outras, suas bochechas queimando de forma nítida.
― Eu sinto que aqui nossos desejos eternos serão concedidos. ― ele desabafou em um suspiro ainda sonhador e abobalhado com a paisagem, os olhos refletindo o brilho dos astros.
― E qual seria o seu desejo agora? ― ela questionou, desviando a atenção de cima para observar o rapaz e ouvir bem sua resposta.
― Bem, sei que acabamos de nos conhecer e isso pode soar ridículo porque eu já pareço estar apaixonado e é extremamente clichê também, mas eu quero você, só quero fazer você me amar. ― não teve coragem de encará-la, por isso continuou concentrado no que via. ― Essa noite parece que todo o meu universo girou ao seu entorno e que isso estava marcado pra acontecer. E era um universo romântico que eu realmente gostei de estar, que fez meu coração começa a dançar como nunca havia acontecido antes. Então me leve até você, à verdadeira você, que está escondida depois de tantas armaduras. Isso é o que eu pediria agora.
Por um segundo abaixou as orbes que se encontraram timidamente com as de . O sorriso de canto repuxado dela parecia orgulhoso e satisfeito, e o jogador sentiu-se um pouco aliviado ao encontrá-lo.
― , não hesite em me encontrar. Não é tão difícil quanto parece. ― ela ergueu uma das mãos até o próprio cabelo, o puxando para trás para poder olhá-lo melhor. ― Na verdade, você não precisa se esforçar tanto, só seja você mesmo. Porque você só pode amar certo uma pessoa quando a conhece realmente.
― Bem vindo de volta, Belo Adormecido. ― ela ironizou assim que os olhos de começaram a se abrir preguiçosamente, e ele não sabia se ria da palhaçada ou estranhava o tom de voz tão diferente, ao menos se comparado ao aveludado de seu sonho.
― Eu sonhei com você. ― ele contou sem pensar muito, ainda sonolento e piscando excessivamente, tentando recobrar a consciência aos poucos. ― Como você fez isso?
― Eu não fiz nada, quem fez foi sua imaginação. ― cerrou os olhos como se não fosse nada demais, controlando ao máximo sua vergonha para não acabar outra vez com as bochechas avermelhadas. ― Como foi?
― Eu sonhei que nós estávamos viajando pelo universo, e… ― começou, sentindo seu coração acelerar ao recordar das sensações tão vívidas e reais daquele sonho. ― Bem, você me amava lá, certo?
― Eu não sei, eu amava? ― ela arqueou uma das sobrancelhas ao vê-lo perguntando aquilo para si mesma, sendo que não podia responder algo que apenas ele sabia.
― É, eu acho que sim. Pelo menos parecia que sim.
, ao ouvir aquilo, jogou a cabeça para trás e o rosto para cima, tentando disfarçar a forma que até mesmo suas orelhas queimaram com as palavras que o pronunciava. Não conseguiu segurar a risada que subiu em sua garganta e então deixou-a sair, balançando a cabeça negativamente.
― Você dormiu algumas horas e ninguém apareceu. Seus amigos realmente sentiram a sua falta. ― ela ironizou, tentando não se alongar muito na risada descontraída e vendo que já passavam das cinco da manhã e não devia demorar muito para começar a amanhecer.
preguiçosamente levou a mão até o bolso da calça para pegar o celular e desbloquear a tela, encontrando aproximadamente cinquenta mensagens explicando como uma parte mais responsável dos seus amigos deixaram a festa para tentar libertar a princesa da torre, porém a bruxa má da diretora e seu escudeiro, o zelador, não estavam em casa.
Segundo eles, estavam acampando na porta das duas casas, aguardando pacientemente até que eles chegassem, e pela primeira vez se sentiu um pouco desesperado em quanto tempo teria que ficar ali. Sentimento esse que sumiu parcialmente ao ouvir a voz de outra vez.
― E então? ― ela arqueou uma das sobrancelhas com a demora do para falar alguma coisa, começando a ficar ansiosa.
― Parece que é melhor nós não termos pressa. ― suspirou, fechando os olhos e esperando alguma agressão física vindo dela, que apenas respirou fundo algumas vezes pra tentar manter-se calma.
― Fazer o que. ― ela repetiu a mesma expressão que havia dito na noite anterior, mas agora bem mais controlada.
preguiçosamente e sem vontade desencostou a cabeça da coxa da garota, esticando os braços para cima e mexendo o pescoço para os lados. Pensava em algo para falar mesmo com seus lábios secos, mas não sabia bem o que dizer, talvez ainda meio baqueado com tudo o que havia acontecido naquele dia.
― Olha só! ― animadamente cutucou seu braço com o cotovelo, e ele arregalou os olhos ao vê-la tão empolgada, apontando para o céu onde os primeiros fogos de artifícios subiam.
Como uma criança, ela colocou ambas as mãos para cobrir os ouvidos antes que eles estourassem, e as luzes se espalhando pelo negro a fizeram sorrir tão largamente que não conseguiu assistir a queima, concentrado em como o rosto da garota se iluminava sempre que uma cor nova fazia parte do espetáculo.
― São eles. Estão comemorando a formatura. ― explicou com um sorriso de canto abobalhado, ainda com as íris escuras focadas na moça sem nome.
― Bom, ao menos isso eu não perdi.
― ! ― o berro masculino fora tão alto que praticamente o fez cair da arquibancada, desviando os olhos do rosto da menina para procurar quem gritava daquele jeito por si.
― ? ― arqueou uma das sobrancelhas ao encontrar o melhor amigo, completamente confuso em vê-lo ali. Ele com certeza não estava na festa, então como a história havia chego nele?
Foi quando viu a viatura estacionando atrás dele que percebeu o que estava acontecendo, e soltou uma exclamação, levantando rapidamente para correr para o portão. foi logo atrás, afinal, não via a hora de se libertar daquele lugar, estava morrendo de fome.
― Ligaram pro meu pai avisando, mas nós não estamos achando nem a diretora e nem o zelador de jeito nenhum. ― explicou, ofegante por ter corrido até a delegacia logo depois acordar para avisar seu pai e pedir ajuda a ele.
― Como vocês vão fazer, então? ― questionou confuso, olhando para o xerife da cidade que abria o porta malas do carro e tirava um alicate de corte. ― Ah, desse jeito… Acho que a diretora vai me matar. ― murmurou para si mesmo, passando uma das mãos pelo cabelo nervosamente.
― Bom, talvez se o zelador não estivesse com tanta pressa pra sair com ela, isso não tivesse acontecido, então meio que ela não pode falar nada. ― o pai de tentou tranquilizá-lo com uma risada descontraída, e os adolescentes arregalaram os olhos com a revelação. ― Inclusive, você não estuda mais aqui, então relaxa, ela nem precisa ficar sabendo.
― P-Pai! ― cerrou o cenho em direção ao homem, inconformado com a audácia dele de incentivar o amigo a fazer uma besteira. O amigo e… A garota que estava atrás dele? ― Er, oi! ― cumprimentou sem graça, percebendo só agora que não havia dado nem o mínimo de atenção para a menina, ao menos havia a visto.
― Olá. ― ela respondeu tão sem graça quanto ele, erguendo uma das mãos para um aceno tímido.
― Só mais um segundo e vocês já vão estar livres. ― o policial anunciou, trazendo um alicate bem maior do que o necessário nas mãos e o encaixando na corrente grossa que passava pelo portão e então pressionando as duas partes com força para poder cortá-la. ― Vou levá-los para casa, certo?
― A-Ah, não, eu moro longe daqui, só preciso andar até o metrô, não precisam se preocupar com isso. ― declinou com uma expressão um pouco desconfortável, e arqueou uma das sobrancelhas. ― E já está quase de manhã, então…
― Tem certeza? Não vou ficar tranquilo se não souber que você chegou bem em casa. ― ele questionou, inquieto com aquela reação da menina. Odiaria ter que deixá-la sozinha durante o caminho para casa e provavelmente não conseguiria descansar sem saber se ela estava bem.
― Me passe seu número e eu te aviso quando chegar. ― foi só o que ela falou antes de finalmente sair quando o pai de puxou o portão, respirando fundo o ar de fora do estádio e praticamente sentindo como se estivesse em outra dimensão, mesmo que só houvesse dado três passos.
― Quer saber, vocês podem voltar. Eu moro perto do metrô, então posso deixá-la lá e depois ir pra casa. ― anunciou com um sorriso gentil na direção dos outros dois presentes, que o observaram com uma sobrancelha arqueada.
― Bom, se você quer. Não se preocupe sobre os danos, vou conversar com a diretora quando ela resolver aparecer. ― o senhor sorriu para os dois, batendo paternalmente nas costas do garoto como sempre fazia pelo costume a sua presença, já que ele e o filho eram amigos desde quando saíram das fraldas. ― Vamos!
― O-Ok… Tomem cuidado no caminho, vocês dois, e me avise quando chegar. ― instruiu e pediu, acenando para o casal que ficava para trás com uma feição um tanto preocupada enquanto dava passos para trás, alcançando o carro.
― Pode deixar, obrigado por terem vindo salvar a gente. ― ele agradeceu com um sorriso largo, retribuindo ao balançar de mão em direção ao amigo e observando o carro arrancar e começar a sumir pela rua.
― Por que você fez isso? Não precisava… ― murmurou sem graça, iniciando a caminhada de menos de cinco minutos que levava à estação de trem, que provavelmente já deveria estar aberta aquelas horas.
― Claro que precisava! Você velou meu sono a noite inteira. Além disso, eu prometi que ia te acompanhar como um guardião, não é? ― começou a acompanhá-la lado a lado, com vontade praticamente incontrolável de que suas mãos se entrelaçassem assim como se entrelaçaram antes no seu sonho, trazendo aquela sensação tão agradável, como se fossem velhas conhecidas.
― Um guardião que ronca quando dorme! ― ela provocou, deixando o corpo pender para o lado levemente para batê-lo contra o braço forte do que cambaleou discretamente pela surpresa da ação da garota.
― Hey, isso é mentira! ― ele olhou para completamente ofendido, retribuindo a batida com um pouco mais de força que ela, mas ainda de forma completamente inofensiva.
― Hey! ― ela olhou pra ele revoltada, cruzando os braços na frente dos seios e franzindo a sobrancelha, arrancando uma risada alta de que apenas a fez se enfezar ainda mais.
― O sol está nascendo… ― ele apontou os primeiros raios da grande estrela que começava a dissipar a escuridão da noite, ainda com um sorriso que mostrava todos os seus dentes brilhantes estampando sua face. ― Eu cumpri minha promessa, então você já pode me dizer seu nome.
― . Meu nome é . ― ela respondeu, virando o rosto para o outro lado para disfarçar o sorriso de canto que começava a crescer em seus lábios, vendo que estavam a poucos passos da entrada de onde ficaria.
― … ― repetiu baixinho, acostumando sua língua a pronúncia. ― É bonito. ― o sorriso da garota se alargou ao ouvir o elogio, assim como suas bochechas começaram a se avermelhar. ― Então… Onde na via láctea devemos nos encontrar na próxima vez?
― Próxima vez? Ficar preso comigo a noite inteira não foi o suficiente? ― ela arqueou uma das sobrancelhas ainda com os braços cruzados, agora olhando para o rapaz em dúvida.
― Você pediu o meu telefone, também não quer uma próxima vez? ― ele questionou de volta, também arqueando a outra sobrancelha e então se aproximando um passo da mais nova, encostando seu peitoral nos braços dela.
― Eu nunca disse isso. ― riu, voltando para trás o passo que ele havia dado e então pegando a bolsa leve que trazia em seu braço, a abrindo e encontrando um papel e uma caneta, apoiando na pilastra de entrada da estação. ― E só pra contrariar você, eu que vou passar o meu telefone.
― Ah, nossa, que péssimo! ― dramatizou como se estivesse discordando, mas na verdade mal podia disfarçar a sua felicidade em vê-la escrevendo o nome e os dígitos em sequência. ― Estou pessoalmente ofendido com isso!
― Ótimo, é essa a intenção! Toma. ― estendeu a mão com o papel, e o a pegou no mesmo instante.
― Então, eu acho que é isso. Bom dia, . ― ele desejou agora que o sol já despontava e os iluminava completamente, nitidamente não querendo ir embora de verdade, mas se obrigando a dar passos tímidos para trás.
― Tenha um bom dia, . ― ela acenou antes que ele virasse finalmente para o outro lado e iniciasse a caminhada para casa.
, mais de uma vez, puxou o ar fundo e então o soltou, tentando voltar a calmaria de seus pensamentos e de sua respiração quando o rapaz dobrou a esquina e sumiu de uma vez. Inconscientemente, colocou as mãos nos bolsos da jaqueta que usava, e foi só então que percebeu que ainda usava a jaqueta do , com o símbolo do time enorme estampado nas costas. O ar sumiu de novo por mais de bons segundos, e ela acabou rindo para si mesma, mordendo seu lábio inferior com as lembranças daquela noite, não se importando nem um pouco se era do time adversário ao qual deveria torcer.
― Você também é meu universo romântico, .
Fim
Nota da autora: FINALMENTE! Ai, eu achei que eu não fosse conseguir terminar essa fic nunca, e estou morrendo de sono demais pra conseguir formular uma nota de autora decente! SUAHSUASHA
Uma observação é: a posição do pp no time, como citado na narração, se chama de Defensive Tackle ou Defensor Maior, mas como na tradução esse nome quebra um pouco o ritmo de falas e textos, eu preferi chamá-lo de zagueiro já que eles têm funções semelhantes. Espero que isso não tenha incomodado ninguém ♥
Eu passei por um momento delicado e entrei em um bloqueio fortíssimo enquanto escrevia, e por isso eu estou extremamente insegura com o resultado dessa fic! Vou ficar muito, muito feliz se você deixar a sua opinião nos comentários, e me falar se você gostou e no que acha que eu posso melhorar! Essa música é, sem dúvidas, uma das minhas músicas favoritas do EXO e eu queria realmente fazer uma coisa legal.
Um beijo enorme pra todo mundo que leu e chegou até aqui, muito obrigada ♥
Outras Fanfics:
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Incomparável - Dia dos Namorados
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A
Callin
Don’t Wanna Cry
Heroine
Hyde
Gashina
Mysterious
Please Don’t…
Shangri La
Thanks
Trauma
Very NICE
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Uma observação é: a posição do pp no time, como citado na narração, se chama de Defensive Tackle ou Defensor Maior, mas como na tradução esse nome quebra um pouco o ritmo de falas e textos, eu preferi chamá-lo de zagueiro já que eles têm funções semelhantes. Espero que isso não tenha incomodado ninguém ♥
Eu passei por um momento delicado e entrei em um bloqueio fortíssimo enquanto escrevia, e por isso eu estou extremamente insegura com o resultado dessa fic! Vou ficar muito, muito feliz se você deixar a sua opinião nos comentários, e me falar se você gostou e no que acha que eu posso melhorar! Essa música é, sem dúvidas, uma das minhas músicas favoritas do EXO e eu queria realmente fazer uma coisa legal.
Um beijo enorme pra todo mundo que leu e chegou até aqui, muito obrigada ♥
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