Finalizada em: 30/04/2018

Capítulo Único


Primeiro Mês Setembro

sorriu largamente ao sentir o polegar de seguindo o desenho de seus lábios, a unha comprida de tempos em tempos arranhando sua pele levemente de uma forma que sabia ser de propósito para lhe provocar. Estavam deitados em uma rede no deque da casa de praia, a menina confortavelmente aninhada em seus braços de forma que podia sentir o calor que emanava de seu corpo.
Não precisavam de mais nada quando estavam juntos daquela forma, quando seus corpos estavam pressionados um contra o outro e quando seguravam suas mãos juntas, se tornando infinitos como um círculo, sem começo e sem final, apenas infinito. O simbolismo do amor deles era aquele: não sabiam onde começava ou terminava, uma tela em branco completamente límpida, pura e contínua.
― Eu quero ficar assim com você pra sempre… ― sussurrou tão baixinho que até mesmo seria difícil de escutar se o único barulho que houvesse ali além de suas respirações não fosse o das ondas quebrando na praia à poucos metros da onde estavam.
abriu os olhos que estavam fechados após tanto tempo apenas sentindo a carícia de sua noiva, sorrindo largamente ao ver que os olhos da mulher pareciam completamente vidrados em todos os milímetros que se juntavam para formar seu rosto, todos os poros e todas as pintinhas, as linhas desenhando seus lábios e o formato de seus olhos, a linha do maxilar e do queixo que contornavam seu rosto.
Nada passava despercebido pelo olhar analítico de , e apenas de ser um pouco assustador pelo medo dela achar algum defeito ou algo que a incomodasse, o só conseguia sorrir abobalhadamente em vê-la ali, tão bonita quanto sempre esteve sem precisar de maquiagem ou produção alguma, apenas em um vestido leve e florido por cima do biquíni, os cabelos presos em coque e o rosto completamente natural.
― Nós não precisamos ir em lugar algum se você não quiser. ― a voz arrastada do rapaz por si só era capaz de fazer todos os pelos do corpo de se eriçarem de forma prazerosa, principalmente quando ele propositalmente falava naquele tom baixo para vencê-la com seus artifícios.
― Eu não quero. ― ela sorriu de canto, com seus lábios tão próximos dos lábios de que não resistiu em selá-los por alguns segundos, antes de suspirar. Aquilo era como um sonho. Ou talvez realmente fosse um. ― Mas você sabe que eu não posso.
― Você não precisa de nada além de mim. ― sussurrou novamente daquela forma que fazia as pernas de ficarem tão bambas quanto folhas ao vento.
E por mais que ele estivesse certo e ela só quisesse ele e só precisasse dele, a situação tinha uma força maior do que a dela para obrigá-la a ter que ir embora, mesmo contra sua vontade.
― Eu sei. Você é tudo pra mim. ― a paixão que queimou nos olhos da mulher e os acendeu era o suficiente para , que sorriu com aquela afirmação.
Sorriso esse que logo desapareceu quando a viu se levantando mesmo dizendo isso, lhe fazendo arquear a sobrancelha.
… ― resmungou manhoso, seu lábio inferior aos poucos crescendo para formar um bico.
― Shh, shh… ― ela delicadamente ficou em pé ao lado da rede, observando o rapaz atenciosamente enquanto balançava-a devagar para niná-lo. ― Você precisa dormir, . Eu estarei sempre com você, então você não precisa se preocupar, ok?
… Por que você me balança e vai embora? ― sussurrou enquanto seus olhos se fechavam sem permissão.
― Eu não vou embora, .
― Você vai… A bonita você só vive nos meus sonhos.
não queria, mas aos poucos pegou no sono profundamente no embalo aconchegante da rede, falando baixinho e mole por conta da sonolência. Sabia o que ela queria dizer quando lhe dizia que não havia ido embora e estaria sempre com ele, mas não estava pronto para aceitar e provavelmente nunca estaria. Ele sabia que quando acordasse realmente ela não estaria mais lá e era por isso que queria dormir para sempre. Dormir para sempre…
Assim como estava dormindo.

Segundo Mês Dezembro

Teoricamente o fim de ano deveria ser uma época feliz, mas sinceramente para estava sendo completamente agonizante. Cada passo naquela cidade, cada maldito floco de neve caindo do céu era como uma flecha cravada em suas costas, uma flecha com alguma lembrança que acabava completamente com o seu psicológico e com tudo o que tentara fazer durante aqueles meses de recuperação.
Mas no fundo ele sabia bem que não havia recuperação para aquilo. nunca ia desistir, então nunca ia parar de doer.
Chegar à frente a porta daquela casa lhe deu vontade de sair correndo de volta para o seu apartamento, mas não podia. Tinha que vencer seu próprio eu, sabia que o que havia ido fazer ali era mais importante, além disso havia sido convidado, seria falta de educação não aparecer.
Criou coragem ao expirar o ar ao seu redor, tocando a campainha apenas uma vez e então colocando a mão no bolso do casaco outra vez para protegê-la do frio. Estava completamente arrepiado, todos os poros de seu corpo respondiam aquela situação e sentia como se pudesse abrir a porta, aparecer na sua frente, sorrir para si e lhe abraçar como se nada tivesse acontecido, assim como ela fazia há um ano atrás.
Aquelas memórias que agora eram agridoces e aquela ilusão de que isso aconteceria novamente fez com que sorrisse largamente para si mesmo, a esperança corroendo todo seu ser, mas a realidade bateu mais forte e doeu ainda mais quando viu a porta sendo aberta com a mãe de atrás dela.
… ― a mulher tentou sorrir, mas era óbvio que aquele dia não era um dia bom para ela, além de que sua presença provavelmente servia apenas para piorar a situação.
Seus olhos estavam inchados e vermelhos e ela parecia ter emagrecido o peso de uma pessoa desde a última vez que se viram, tanto que ficou até com medo de encostar nela e acabar a machucando, então apenas sorriu de canto como cumprimento, claramente nervoso e inseguro sobre o que deveria fazer. Já fazia nove meses desde a última vez que se encontrara com a mulher, era difícil as coisas não ficarem estranhas, principalmente naquela situação.
Sua ex sogra lhe deu passagem para que entrasse e então apontou para o sofá, trancando a porta enquanto se sentava. Há muito tempo não se sentia assim tão deslocado e seu coração doeu quando viu a árvore de Natal no canto da casa, decorada com fotos e bolinhas coloridas. Fotos de e até mesmo fotos suas com ela de várias coisas que fizeram juntos, desde seus encontros no parque até mesmo do dia da festa de noivado.
― Você não precisa ficar desconfortável. Nós continuamos sendo uma família, você nunca deixará de fazer parte da nossa história, porque você foi uma das melhores partes da história dela. ― aquelas palavras foram capazes de esmiuçar completamente o coração de , os pedaços que ele se esforçara tanto para juntar durante aquele tempo.
― Desculpe. ― sussurrou, seu olhar perdido entre as fotos e a decoração delicada que tanto amava.
Natal era a data favorita dela, mesmo que nem a garota e nem sua família não acreditasse em seu significado. Ela dizia que era a única época que andar na rua se tornava prazeroso por conta das luzes enfeitando todos os lugares, e por pensar que era o único motivo que fazia as pessoas se mobilizarem em massa para algo tão bonito, isso a deixava de coração aquecido.
As decorações a fascinavam completamente, principalmente os piscas. Se lembrava perfeitamente de como ela costumava observá-los como se ainda fosse uma criança de cinco anos e como saíam para caminhar durante a noite simplesmente porque queria ver como as casas do bairro estavam. Consequentemente por conta disso, sua sogra sempre decorava a casa para fazer a filha feliz, colocando luzes em todos os lugares possíveis.
― É só muito estranho… Parece que ela vai descer da escada me chamando. ― suspirou, olhando para o corrimão decorado com mais piscas dourados enrolados em sua extensão.
― Eu convivo com essa sensação todos os dias. ― Hye suspirou, seguindo o olhar do menino pela casa e vendo que ele finalmente se sentava no sofá. Foi então até a poltrona que ficava de frente ao assento, se recostando ali para ter algum conforto. ― Mas você precisa assimilar que ela se foi para sempre, .
As palavras foram duras apesar do tom carinhoso da senhora que ajeitou a coluna para poder olhar em seus olhos que se arregalaram.
― Eu sei que é difícil, nem eu mesma consigo, porém eu soube de tudo o que aconteceu esses meses com você, menino. ― Hye respirou fundo antes de entrar no que queria realmente dizer. ― Me ouça, eu sou velha e posso gastar minha vida com isso. Deixe-me fazer isso por nós dois, enquanto você vive. O quão clichê pode ser te dizer que ela não gostaria de te ver desse jeito? Você finge estar bem e feliz, mas isso está te corroendo por dentro, não é? Você pensa sobre o tempo inteiro e não consegue seguir em frente.
― Eu não estou gastando a minha vida. ― suspirou, balançando a mão espalmada no ar. ― Eu não tenho vida sem ela e nem tenho para onde seguir, então tentar eternizá-la através de mim é o mínimo que eu posso fazer.
… ― Hye sentia o orgulho que ele tinha de falar isso, como se realmente valesse a pena passar todos os dias sofrendo. ― Não serei eu quem vai tentar controlar sua escolha, mas eu tenho algo pra você que deixou. Não sabia se devia te dar, então pensei todos esses meses e resolvi que sim. ― a senhora se levantou e andou até a lareira ao lado da árvore, pegando uma pequena embalagem quadrada. ― Você vai entender o que eu quero te dizer quando ler o que está escrito aqui. Por favor, repense suas escolhas.

Terceiro Mês Junho

Era a tarde do seu aniversário de vinte e cinco anos, mas sinceramente não se importava nem um pouco com ele. Desligara seu celular durante todo o dia, ignorando todas as mensagens e ligações que poderia receber, porque sabia que receberia. Sinceramente não estava pronto para falar com ninguém, mas as pessoas ainda estavam preocupadas já que fazia apenas um mês. Porém sabia que com o tempo elas eventualmente lhe esqueceriam e então poderia ficar recluso da forma que queria.
Tudo ainda era tão recente que tinha certeza de que iria acordar daquele pesadelo e ouvi-la chamar seu nome, segurando um bolinho com uma vela e cantando parabéns baixinho, já tendo planejado seu dia inteiro. Não queria ouvir aquela palavra de forma alguma se não fosse desse jeito, por isso caminhava calmamente até o parque ao qual lhe levou há exatamente um ano atrás. Estava tudo tão vivo em sua mente…

Um ano atrás

nunca foi uma pessoa que se empolgava com o próprio aniversário. Para ele, a graça da data era poder passar um bom tempo com as pessoas mais importantes da sua vida e criar boas memórias, comemorar mais um ano era apenas algo usado para uma desculpa. Porém ele sabia como adorava essa data e por isso todos os anos se esforçava para parecer tão feliz e empolgado como ela.
Mas naquele ano tinha alguma coisa errada. Ela nem mesmo citara nada sobre ou fizera uma contagem regressiva de dias faltando. Sabia que a namorada não tinha esquecido, mas ficava curioso e em dúvida para saber o que ela estava tramando, também se estava tramando ou se decidira lhe deixar confortável para fazer o que quisesse naquele ano, já que nunca precisara falar para soubesse a relevância que dava para aquela data.
Acordou já pensando em mandar uma mensagem para a mulher e chamá-la para jantar após seu dia no trabalho, mas a primeira coisa que encontrou ao abrir os olhos foram os olhos e sua noiva que rapidamente voltou com as costas para trás e recostou nas costas da poltrona ao lado da sua cama que estava sentada, com um cupcake em uma das mãos e um isqueiro em outro tentando acender rapidamente a vela entre o glacê ao perceber que estava acordando.
― Parabéns pra você. ― ela cantarolou em um tom de voz baixo e suave, deixando o isqueiro no criado mudo e então abaixando tanto o bolinho quanto o próprio rosto para que ficassem próximos de .
Ele não conseguiu fazer mais nada além de sorrir e virar levemente o corpo para conseguir assoprar a vela calmamente. tirou o cupcake de sua frente logo depois, lhe deixando provar de outra coisa doce no lugar quando seus lábios se encontraram delicadamente por poucos segundos, pois ela se afastou levemente.
― Eu amo você. ― sussurrou, subindo seu olhar dos lábios rosados de para seus olhos que também lhe observavam cheios de carinho.
O nem mesmo precisou responder aquilo, levando uma das mãos até a nuca dela para que pudesse pressionar seus lábios novamente, dessa vez de uma forma mais apaixonada, porém não conseguiu cumprir seu objetivo: foi mais rápida e colocou o cupcake na frente dos seus lábios, fazendo que “beijasse” o doce e sujasse seu rosto de glacê violentamente.
― V-Você…! ― balbuciou em choque, arregalando os olhos com a petulância da pestinha em ter feito aquilo, observando-a entrar em uma crise de risos.
― Está gostoso, bebê?! ― perguntou em um tom inocente, erguendo as sobrancelhas em curiosidade.
― Por que você não descobre? ― indagou de volta, segurando levemente a mão da noiva pra tirar o cupcake da mão dela e colocá-lo no criado mudo.
arqueou a sobrancelha com aquilo, como ela saberia do gosto se ele tirara o bolinho dali? Foi então que percebeu o que ele planejava fazer e tentou sair correndo, mas foi ágil e envolveu sua cintura com os braços, lhe fazendo cair por cima dele na cama e senti-lo beijando sua bochecha e arrastando os lábios sujos de creme até sua boca, melando todo seu rosto.
― AI, VOCÊ NÃO FEZ ISSOOO! ― choramingou com cara de nojo, com os dedos das mãos abertos em espasmos, agora quem morria de rir era , jogado com as costas na cabeceira da cama e as mãos ainda segurando a cintura da menina.
― Está gostoso, nenê? ― ele revidou a pergunta com um tom carregado no nenê, piscando um dos olhos escuros para ela.
― Ugh, e eu nem consigo te odiar por isso, É TÃO IRRITANTE! ― bateu no ombro de de brincadeira, o fazendo rir ainda mais escandalosamente e encantadoramente.
Era fácil demais de amar , e não tinha preocupação alguma em seu relacionamento a não ser do que faria dia após dia para fazê-lo cada vez mais feliz. Era o clichê sentimento que falavam que você sentiria ao encontrar sua alma gêmea, você não sabe descrevê-lo, porém ele é tão real e intenso em sua vida que tudo que você quer é gritar aos quatro ventos sobre seu amor e vivê-lo com a maior dedicação possível.
― Como você poderia odiar o amor da sua vida? ― já começava com toda a sua humildade, fazendo a menina rolar os olhos e segurar o riso para não incentivá-lo com aquilo, se encolhendo levemente com aquela frase.
― Olha só, você está se esforçando, não é? ― ela balançou a cabeça, os fios de cabelo sem querer grudando no rosto sujo e a fazendo ficar brava. ― Mas tudo bem, vou te dar corda só hoje porque é seu dia especial.
― Me dê corda hoje a noite então, quando nós dois sairmos pra jantar depois do meu trabalho. ― convidou em tom de certeza, fazendo a menina rir outra vez. Sabia que tinham que levantar e limpar seus rostos, mas na realidade nenhum dos dois queria se separar tão cedo.
― Bobinho, vou te dar corda o dia todo hoje. Conversei com seu chefe e você tem trabalhado demais esses tempos então ele te deu o dia de folga, vamos apenas aproveitar hoje. ― ela não se importou em novamente pressionar seus lábios contra os do noivo de leve.
estava com uma expressão surpresa e chocada com o que havia feito. Desde que noivaram estava trabalhando mais ainda como modelo e ator, queria proporcionar a menina melhor e maior casamento já visto, com tudo o que ela havia pensado em seus sonhos. não fazia muito diferente na redação da revista, praticamente não tirando folga alguma e quando o fazia era só pra lhe ver.
A notícia de que passariam aquele dia inteiro juntos era tudo que precisava para abrir o sorriso mais brilhante que não via há meses, fazendo os lábios dela se abrirem também.
― Eu posso falar eu te amo um milhão de vezes, e nunca vai ser o suficiente pra expressar todo o amor que eu tenho por você. ― ele sussurrou baixinho, seus olhos se perdendo nos olhos da menina que até mesmo ficou um pouco vermelha.
― Eu sei. ― riu baixinho, convencida, e rapidamente mudou a expressão para uma ofendida. Ela levantou o dedo indicador, levando-o até a boca ainda suja dele e passando a ponta ali, a levando até a boca depois, fazendo o rosto do noivo se contorcer em uma careta. ― Eu sei porquê sinto exatamente a mesma coisa.
planejara o dia deles completamente, desde a chegada dela em sua casa de manhã para a surpresa quando ela iria levá-lo para almoçar e depois para passar na casa de seus pais, onde ficaram durante a tarde. A noiva sabia exatamente como o deixar feliz e sinceramente estava satisfeito apenas com aquilo, mas aparentemente não, já que quando o relógio bateu cinco e meia ela pareceu um tanto desesperada, levantando rapidamente do sofá onde viam qualquer coisa que passava na televisão.
, nós temos que ir! ― a menina parecia estar atrasada para algo importante, o que o deixou ainda mais confuso.
― Pra onde? ― questionou curioso, mas ao ver a expressão dela de cachorrinho perdido soube que não teria resposta. ― Tudo beem, só vamos nos despedir dos meus pais antes…
concordou animadamente, correndo com ele até a cozinha onde os sogros estavam e se despedindo com agradecimentos. Tudo era perfeito em seu relacionamento, até mesmo o fato de seus sogros lhe tratarem como uma filha, assim como seus pais faziam com . Após saírem, rapidamente o colocou no carro e foi para o banco do motorista, tão empolgada que não conseguia nem ao menos esconder.
― O que eu faço com você, huh? ― questionou, balançando a cabeça negativamente e rindo para si mesmo com o prazer de ver aquele sorrisinho satisfeito e ansioso dela, como uma criança quando está esperando algo que queria muito e finalmente vai tê-lo.
― Tem muitas coisas que você pode fazer comigo. ― o tom da mulher era tão inocente que nem mesmo entendeu porque suas bochechas ficaram automaticamente avermelhadas, a fazendo rir quando lhe olhou de soslaio no farol. ― Tipo constatar o óbvio, dizer que eu sou a melhor noiva do mundo e me comprar um sorvete.
― Mas quem é que está se esforçando agora, huh? ― questionou arqueando uma das sobrancelhas e rindo logo depois, balançando a cabeça.
― Aprendi com você, meu amor. ― sorriu largamente, ligando o rádio para distraí-los pelo resto do caminho e começar uma sessão de karaokê caso estivesse tocando algo legal.
Não estava, mas fez questão de passar as estações até que encontrasse alguma que tivesse tocando alguma música que a noiva gostasse, e quando viram os dois já estavam gritando qualquer melodia chiclete que estava nas paradas para os adolescentes de hoje em dia ou simplesmente qualquer coisa que conheciam mesmo.
O caminho não foi longo e logo estacionava em um parque de diversões de bairro, daqueles que têm itinerário de estar a cada mês em um lugar. Arregalou um pouco os olhos com isso, vendo a noiva tirar o cinto de segurança e segurar sua mão por um segundos para lhe incentivar a fazer o mesmo.
estava estático com aquela ideia de . Se perguntando como ela poderia ser tão perfeita dessa forma e lhe deixar tão empolgado apenas com um simples passeio em um parque. Desceu do carro e o contornou correndo, abraçando-a tão forte que até mesmo a tirou do chão por alguns segundos, a fazendo rir.
― Vamos, vamos, eu quero ir nas barraquinhas! ― ela animadamente já saiu o arrastando pela entrada do parque com um sorriso enorme, parando na frente do tiro ao alvo.
Os dois iniciaram uma pequena jogatina com derrotando a menina em praticamente todos os jogos, o que resultou em diversos doces e colarzinhos sendo devorados e enrolados em seu pescoço, respectivamente. não se importava de perder, não assim que via a felicidade de criança nos olhos do noivo e depois o via ficando dez minutos apenas para se esforçar e escolher algo que ele achava que ela ia gostar.
Quando cansaram das barraquinhas por já estarem carregando coisas demais para arrumarem outras, resolveu que queria ir na casa espelhada, mas queria ir na roda gigante, ou em qualquer outro lugar que não envolvessem espelhos e nem monstros em plena noite. Não era novidade que ele não era exatamente corajoso, na verdade era um charme dele e sabia como resolver a situação.
― Vamos jogar dardos! Quem ganhar escolhe o próximo lugar! ― ela sorriu largamente, puxando o garoto pela mão até a barraca de dardos que não ficava muito longe da onde estavam.
se deixou levar, empolgado porque sabia que ganharia da noiva e poderia ir na roda gigante. A verdade porém foi um pouco mais amarga: acabara consigo totalmente, acertando exatamente todos os dardos no meio, na pontuação máxima, enquanto o próprio rapaz errara dois e quase acertou o garotinho que organizava a fila, o fazendo chorar em seu canto.
! ― o estava completamente chocado, como ela perdera em todos os jogos e naquele magicamente poderia ser uma profissional?! ― Você me deixou ganhar até agora?! ― ele parecia uma criança quando é tratada como criança, fazendo a garota entrar em uma crise de risos.
― Talvez. ― ela respondeu arteira, juntando as mãos angelicalmente atrás do corpo e mexeu a cabeça, de maneira que o rabo de cavalo que fizera para conseguir brincar sem que os cabelos lhe atrapalhassem balançassem infantilmente. ― Ou talvez eu só seja muito habilidosa nos dardos. Nós vamos ter que jogar mais vezes para descobrir.
― Essa era a sua estratégia desde o começo pra irmos mais em parques?! ― questionou falsamente ofendido, inflando as bochechas de ar e cruzando os braços na frente do peitoral, arrancando uma risada de que outra vez balançou a cabeça negativamente.
― Vamos logo, vai, já está ficando tarde. ― a menina pegou a mão de para o puxar outra vez, percebendo que ela estava ligeiramente suada e um pouco trêmula. Segurou o riso, andando em passos rápidos.
se preparava mentalmente para os minutos de tortura que passaria, já com os olhos um pouco fechados rezando para que seu coraçãozinho aguentasse os jumpscares, até que parou de andar bruscamente, lhe fazendo voltar a prestar atenção no que acontecia ao seu redor e arquear uma das sobrancelhas ao ver a roda gigante enorme na sua frente.
― Ué…?
― Eu só queria te ver assustado. É uma gracinha.
A expressão de se contorceu em uma ofendida, fazendo a noiva rir outra vez enquanto atravessava rapidamente o portãozinho de aço aberto para ir até o pequeno banco de dois lugares coberto de luzes douradas. mal podia esconder sua empolgação, enquanto o noivo a olhava ainda completamente injuriado, andando calmamente até o assento ao lado.
― O que eu faço com você? ― ele soltou o ar fortemente logo após se sentar, balançando a cabeça negativamente.
Foram os últimos a embarcarem no brinquedo e lentamente ele começou a girar, os fazendo ficarem suspensos no ar com o cenário da cidade aos poucos se tornando panorâmico. não respondeu a pergunta de , pelo menos não até estarem no topo da atração, quando delicadamente segurou a mão do noivo e o encarou. Naquele momento ela percebeu que mesmo a imagem noturna da cidade sendo linda, nada se comparava a face de . Para si, ele não era a oitava maravilha do mundo. Ele era a primeira.
― Tem só uma coisa que eu deixo você fazer comigo. Me amar mais, mais e mais, pra sempre. Pelo resto de nossas vidas. ― levou os dedos até as bochechas do homem, virando delicadamente o rosto dele para si e vendo o sorriso perfeito se formando no rosto perfeito.
― Eu já faço isso, idiota. Mas eu prometo que nunca vou deixar de te amar, pelo contrário. Eu vou te amar mais e mais a cada dia, até mesmo quando nossas vidas acabarem.

Quarto Mês Novembro

Dia dezoito de novembro era o dia de aniversário de três anos de namoro de e . Naquele ano, ele havia deixado claro que quem planejaria tudo seria ele.
era a única a fazer as festas, os passeios e os jantares, mas no terceiro ano tinha um plano que ela não poderia nem mesmo imaginar. Tirariam aquela semana para uma pequena viagem até um lugar que a namorada sempre tivera curiosidade de visitar, construções de antigas que em sua maioria pareciam ruínas, mas que haviam sido preservadas como patrimônio histórico.
Já faziam dois dias que estavam na cabana quando fez a namorada se arrumar para saírem em um passeio que fariam em um museu que ficavam nas redondezas. Estivera pesquisando por aquela área e na ficou surpreso ao saber que não era exatamente um local bem visto pelos mais tradicionais. Artigos diziam que próximo da onde estavam, existia uma tribo que fora banida da convivência social por motivos no mínimo… Estranhos.
Eles tinham uma crença controversa em rituais de dança e sacrifício para a lua, porém que na visão de todos eram considerados como magia negra, como em uma religião pagã em tempos medievais. Eles queriam mexer no oculto, naquilo que o homem não podia controlar, eles queriam trazer os mortos de volta a vida e criar a partir disso um ciclo vicioso de algo que os mais velhos consideravam insano e doente.
O resultado daqueles rituais era sempre desesperador e traumatizante, por isso foram banidos e mandados para um local afastado, onde não se misturariam com pessoais normais. estava impressionado com aquela história, mas não teve tempo de ler muito mais já que apareceu pronta na porta do banheiro do chalé após uma e meia hora se arrumando.
― Parece até que está indo casar! ― o brincou, revirando os olhos e fechando a tela do notebook.
― Nem fala disso, quando nós formos casar eu vou ter que começar a me arrumar uma semana antes. ― brincou, fazendo um bico nos lábios que não resistiu em beijar suavemente assim que se aproximou da mulher.
― Vai valer totalmente a pena, se você já fica maravilhosa assim com uma hora e meia, imagina com uma semana? ― sussurrou assim que afastou os lábios, sorrindo divertido.
― Besta! ― ela não segurou a risada, batendo levemente no ombro do namorado como bronca, mesmo que ele soubesse que havia achado engraçado.
― Inclusive estou achando melhor a gente nem sair desse quarto, a cidade inteira vai olhar pra você, você nem vai lembrar que tem um namorado acabado e feio do seu lado. ― choramingou, passando as mãos pela cintura de e a trazendo mais para si em um abraço.
― Para com isso, seu idiota! ― a risada da garota ficou abafada contra sua camisa, assim como suas palavras. Então ela ergueu novamente o rosto, fazendo seus olhares se encontrarem. ― Nem se tivesse o mundo todo olhando pra mim, ou a galáxia ou outra dimensão. Mesmo se isso acontecesse, eu nunca iria nem perceber, porque só olho pra você.
tentou até mesmo reprimir sua satisfação e felicidade ao ouvir aquilo, mas era impossível. A sensação de plenamente amar e ser amado, de sentir que não precisava de mais nada na vida, porque tinha tudo o que precisava, como se tudo estivesse perfeito. Era assim que se sentia com e era impossível não se sentir o homem mais sortudo do mundo.
― Bom, se é assim nós podemos sair sim. ― nem ele aguentou segurar a risada depois de falar isso, sendo acompanhado pela namorada.
amava o som daquela risada, era o seu som favorito na vida e era por isso que se esforçava tanto para que fosse constante. Sempre que ria, sentia seu coração acelerar e aquecer ao mesmo tempo, como se o rumo de toda a sua vida estivesse no lugar certo. Aquilo era felicidade verdadeira, amor verdadeiro, não?
O trajeto até o museu foi curto, mas quanto mais perto chegavam, mais nervoso ficava. Ele achou que seria mais simples e que conseguiria fazer aquilo facilmente, afinal, era só ajoelhar e falar a droga das quatro palavras. Sabia que o amor deles era o mais puro e real que poderia existir, sabia que ela diria sim, então porquê estava hiperventilando embaixo do casaco marrom?
, olha issooo! ― gritou assim que desceram do carro, correndo animadamente para uma escada de degraus um tanto altos que levavam para ruínas de colunas que há muitos anos foram brancas. ― Esse lugar devia ser maravilhoso…
O acompanhou a namorada depois de ligar o alarme do carro, rindo em concordância e remexendo a mão ansiosamente no bolso do casaco, segurando a caixinha de veludo vermelho por dentro do tecido. parou no último degrau e virou para trás, buscando ver onde ele estava.
― O que foi, está tudo bem? ― ela percebeu sua ansiedade com um único olhar, o que apenas o deixou mais nervoso ainda e lhe fez mexer os lábios em uma tentativa falha de sorrir.
― Sim, na verdade, está tudo ótimo! ― terminou de subir as escadas, antes que acabasse se desesperando e ajoelhando entre os degraus mesmo. ― Na verdade, está tudo tão bem que eu planejei esse momento várias vezes, eu tenho que fazer isso agora.
…? ― arqueou uma das sobrancelhas, completamente perdida com tudo o que ele estava falando.
Seu coração realmente pareceu parar por um segundo quando viu se ajoelhar na sua frente, ainda olhando o chão como se ele pudesse abrir e engolir os dois vivos. Instantaneamente começou a tremer de uma forma que era difícil até mesmo ficar em pé. sabia o que vinha agora: o momento que esperava desde a primeira vez que vira na sua vida.
― Eu realmente não sei o que eu tenho que falar agora, nem se existe uma coisa certa para se falar nesse momento. Eu acho que não existe nada que eu diga que coloque um por cento do amor que eu sinto por você pra fora. ― o rapaz respirou fundo outra vez, erguendo o olhar timidamente e buscando a mão da namorada com uma das suas para tentar apaziguar seu próprio nervosismo, começando a falar calmamente. ― , eu quero viver com você pelo resto da minha vida e se existir um além dela, eu quero que estejamos juntos lá também. Eu nunca imaginei que fosse amar tanto alguém a ponto de dormir pensando no sorriso desse alguém e acordar querendo ver essa pessoa o mais rápido possível, mas aconteceu e é você. Eu sei que se caminharmos lado a lado, lentamente, como estamos fazendo há três anos, eu e você vamos a cada dia mais aumentar a felicidade que já temos. Eu já sou muito feliz de saber que tenho você na minha vida e tudo o que eu quero é que você esteja nela vinte e quatro horas por dia. Que você esteja nos meus braços, eu quero realizar todos os seus desejos, eu não me importo se você vai demorar um, dois dias ou três semanas pra cerimônia, eu te esperaria o resto da eternidade se fosse preciso. Eu te prometo, meu amor, que a sua felicidade vai ser a minha felicidade, e se você for feliz aceitando ser minha esposa, eu vou ser o homem mais feliz de todo esse mundo, essa galáxia, essa dimensão e qualquer lugar que você cite. ― fez uma pausa para respirar outra vez, agora tirando a caixinha vermelha de seu bolso e soltando a mão da menina para abri-la e revelar a aliança de noivado que repousava ali. ― Você poderia dizer sim? Você quer se casar comigo?
Finalmente seus olhos se encontraram desde quando começara o discurso e se sentiu mais calmo apenas com isso. Os olhos da menina brilhavam tão intensamente com lágrimas acumuladas que ele quis se levantar para secá-las, mas ela foi ainda mais rápida que ele e se ajoelhou também, ignorando o anel e passando os braços por seu pescoço, encostando o queixo em seu ombro e beijando próximo a seu ouvido, para sussurrar logo depois.
― Eu amo tanto você que parece que meu peito vai explodir. Você é o único no meu coração, na minha vida. Essa pergunta chega até mesmo a ser redundante porque não existe nenhuma outra resposta senão “Sim”. Sim, eu quero me casar com você. Sim, eu posso e quero dizer sim, pelo resto dos meus dias, sim, sim, sim! Eu amo você, .

Quinto Mês Maio

naquele dia não estava feliz como costumava estar quando ligou para si. Na verdade a noiva estava em prantos e parecia desesperada, o que para foi ainda mais angustiante. Ele odiava completamente vê-la triste, principalmente quando não sabia bem sobre o que era e não podia ajudar.
Rapidamente deu um jeito de sair do trabalho e marcou de se encontrarem no apartamento dela, mas dissera que já estava perto de sua empresa então podiam se encontrar em um café que costumavam frequentar quando queriam passar um tempo juntos durante o expediente. Correra como louco para chegar até lá o mais rápido possível, mas não podia prever o que aconteceria no caminho.
estava desorientada com o baque que recebera há poucos minutos atrás. Como seu futuro com ficaria agora? E os planejamentos para o casamento? Não podia deixar tudo na mão do noivo, era injusto! Teriam que pausar tudo e adiar o sonho dos dois… Sua visão estava completamente embaçada enquanto andava pela rua para chegar no local de encontro com ele.
Havia sido demitida. Não apenas isso, a empresa havia falido e não iria pagar nem mesmo um centavo de todos os seus direitos. O local que trabalhara por seis anos e achava que era um ambiente ao qual poderia se estabilizar e crescer para um dia ter uma vida confortável. Ignorava totalmente a voz da consciência que dizia que não era tão grave assim e podiam superar aquilo, dando ouvido apenas ao desespero.
Enquanto corria pela avenida que levava ao café que ficava na esquina, avistou andando do outro lado da rua e por um minuto foi como se todo o mundo ao seu redor tivesse desaparecido e seu único objetivo fosse alcançá-lo. Não havia movimento de carros naquele momento e a rua estava completamente deserta, por isso não hesitou em correr para o meio do asfalto quando viu o noivo.
! ― gritou a plenos pulmões com a voz embargada.
Ele reconheceu a voz no mesmo instante, girando o corpo para encontrá-la indo em sua direção. Mas apesar da rua estar vazia, o sinal do cruzamento ficou verde enquanto atravessava, e o carro estava em uma velocidade mais alta do que o recomendado para conseguir frear a tempo.
ainda se lembrava claramente do estrondo do baque quando o corpo dela foi atingido, do desespero, do corpo da noiva esfriando ainda nos seus braços e de seu rosto ficando a cada segundo mais pálido. Todo dia se pergunta se ela sofreu naqueles minutos que resistiu. Se ela sentiu muita dor… Queria poder ter trocado de lugar com ela.
Ela tentou e lutou para ficar viva, sussurrando o quanto lhe amava e pedindo desculpas até não conseguir mais mover os lábios. A batida a levara, não só a do carro, mas também a da sua cabeça que foi de encontro ao asfalto duro. E foi assim que ela partiu, segundo todos, para sempre.

Sexto Mês Janeiro

Quem é pra mim?
Essa é uma das perguntas mais difíceis que alguém poderia fazer pra mim, isso se não for a mais difícil, e eu realmente não sei como começar a respondê-la. Eu ainda acho ridículo como eu tenho essa necessidade de anotar meus sentimentos em um diário, eles não deviam se expressar por si próprios? Talvez se eu tentar reformular a pergunta…
O que ele representa na minha vida e o que a sua existência significa?
Eu não gosto de usar a palavra tudo. Ela é muito clichê e diz muito ao mesmo tempo que não diz nada, mas não sei falar sobre ele sem pensar em como ele é tudo, cada respiração minha e cada batida do meu coração. Eu gosto de descrevê-lo como a maior fração da minha felicidade na Terra. A pessoa que eu daria a minha última dança e torceria para que ela durasse para sempre, e que suas mãos nunca soltassem minha cintura.
O tempo que passamos juntos é algo inexplicável e sublime. É como se estivéssemos em um lugar só nosso que se abre sempre que eu olho em seus olhos, o nosso mundo, onde não há nada de ruim nos rodeando e todas as preocupações desaparecem, pois está tudo bem. Eu quero dar meu último suspiro em seus braços, porque nesses braços eu sei que estarei no nosso mundo, então eu estarei partindo feliz.
É muito ruim falar em partida quando estamos planejando o início de nossas vidas juntos, mas não consigo evitar, porque eu quero passar todos os dias da minha vida ao lado de , até o final. Eu espero ir primeiro, porque nunca conseguiria ficar nesse lugar sem ele. Talvez isso seja um pouco egoísta, porque eu nunca pensei como ele ficaria sem mim… Desculpa, .
Eu sei que nosso amor é verdadeiro e que ele me ama tão plenamente quanto eu o amo. sempre diz que nosso amor transcende vidas, eu realmente não sei se acredito nisso, porém essa parte vem de que eu não acredito de que exista vida após a morte. Mas eu quero que ele seja feliz, siga em frente de cabeça erguida e guarde esse amor como memórias de todos os nossos momentos juntos, porque todos foram momentos bons.
Sabe que nós nunca discutimos? Muitos acham que por isso nosso relacionamento é falso e não nos amamos de verdade, mas não é nada disso. É só que… Eu não consigo colocar em palavras, mas é como se nós estivéssemos em completa sintonia durante todo o tempo. Eu não poderia pedir uma pessoa melhor e mais perfeita para me casar e para viver ao lado.
Eu me sinto transbordando com o , ele me faz completa e me enche mais que a minha medida. Eu vou viver uma vida transbordando ao lado dele. Espero ser tão boa para ele quanto ele é para mim, pois se eu for nós vamos ser felizes até o último segundo, nunca faltara amor e cumplicidade na nossa relação. A quem eu devo agradecer por essa experiência maravilhosa que é amar e ser amada dessa forma?


Sétimo Mês Julho

Não tinha vontade e nem muito menos força alguma de levantar daquela cama e sair daquele quarto que definhava desde o mês passado, quando foi até aquele espaço onde ficava o parque. As palavras que falaram naquele dia e as juras de amor, elas não saiam da sua cabeça. Como a deixaria ir? Como conseguiria lidar com aquilo? Deveria continuar vivendo, fingindo que nunca viveu aquele amor arrasador?
Não. não merecia aquele final. O amor deles não merecia aquele final. E era por isso que aquele não seria o final.
“― Tem só uma coisa que eu deixo você fazer comigo. Me amar mais, mais e mais, pra sempre. Pelo resto de nossas vidas. ― levou os dedos até as bochechas do homem, virando delicadamente o rosto dele para si e vendo o sorriso perfeito se formando no rosto perfeito.
― Eu já faço isso, idiota. Mas eu prometo que nunca vou deixar de te amar, pelo contrário. Eu vou te amar mais e mais a cada dia, até mesmo quando nossas vidas acabarem.”

prometera para ela que o amor deles seria eterno, além da vida, mas não conseguia sobreviver naquele mundo sem que estivessem juntos. Deveria haver um jeito… Tinha que ter um jeito. Ela não podia partir daquela forma e simplesmente deixá-lo ali. sabia o quanto sofreria sem ela naquela Terra.
Olhou para a janela, se lembrando do dia em que se despediu dela. A expressão de era serena, como se ela tivesse cumprido sua missão no mundo. Os lírios que a rodeavam de forma majestosa, simbolizavam a pureza da alma da menina. Mas além disso, eles representavam renascimento, e sabia disso quando quis que aquela flor estivesse em todos os locais do velório.
acreditava que a missão dela era viver consigo até a velhice, então para ele não havia cumprido sua missão, então ela não podia ter partido. Para que a noiva a cumprisse então, ele faria qualquer coisa, nem que para isso ela tivesse que renascer.
levantou sua mão pelo ar vagarosamente, até que o dedo da mão esquerda estivesse a frente de seus lábios. Beijou a aliança que repousava ali, a observando carinhosamente logo depois.
― Eu te prometo. E dessa vez, eu vou cumprir.

Oitavo Mês Agosto

Não tinha ideia alguma de como faria aquilo. Já pesquisara em tantos lugares e de tantas formas diferentes que sua mente estava em um looping completamente desconexo. Talvez tivesse que tentar encontrá-la em outra galáxia ou dimensão? Onde ela estava agora? Será que ela estava vendo todo seu sofrimento e todos seus esforços?
Suspirou. Por momento algum aquilo parecera uma loucura para , na verdade parecia ser exatamente o que ele precisava fazer para continuar vivendo, só não fazia ideia de como. A ciência não era capaz de lhe ajudar em uma situação daquelas quando estava indo contra todos os seus princípios, o que restava para que se agarrar…?
Pegou seu celular, destravando a tela e abrindo a galeria. Conforme seus dedos deslizavam para as fotos ao lado, seu coração se despedaçava mais a cada segundo. As fotos dela sorrindo entre seus braços no aeroporto quando voltou de viagem do trabalho. As fotos do dia em que foram até o parque de diversões em seu aniversário, de quando fizera uma festa de aniversário surpresa para ela no ano anterior, o vídeo de como ela chorou e agradeceu falando que era o melhor namorado do mundo.
As fotos dela dormindo, dela acordando ou simplesmente respirando. Adorava cada um delas, assim como os vídeos dela cantando - às vezes muito bem e às vezes desafinada, dependendo do quão a sério estava levando a situação - ou simplesmente comendo ou tomando um sorvete. Sabia todas de cor, mas nunca se cansava de vê-las e sorrir quando ela olhava para câmera, como se estivesse olhando para si. Era nisso que devia se agarrar, na esperança de vê-la outra vez.
Levantou da cama pela primeira vez por um bom tempo, indo para o banheiro e tomando um banho demorado. Fez sua barba, passou o perfume favorito de , vestiu a roupa que ela mais gostava de lhe ver com e penteou os cabelos para trás, algo que ela sempre elogiava quando o fazia, saindo do quarto logo depois, pegando as chaves do carro no caminho até a garagem e então saindo.
Dirigiu concentradamente por dez minutos, parando em um lugar que precisava antes de voltar para o automóvel, onde passou mais meia hora até chegar em seu destino final. Um arrepio se apoderou de si quando encarou o terreno amplo e aberto, decorado de árvores e lápides, apertando o caule do buquê de lírios brancos e rosas vermelhas que trouxera em suas mãos.
Iria visitá-la pela primeira vez desde quando chegara ali após o velório e por isso se arrumara daquela forma, queria estar bonito para ela. Mesmo que só tivesse feito aquele caminho uma vez, seus pés automaticamente começaram a andar até os últimos corredores, como se soubessem exatamente onde deveriam chegar. E realmente sabiam. Lá estava o túmulo da sua amada, a foto circular estampada com ela sorrindo era capaz de rasgar seu peito em dor e desespero, mas disfarçou com um sorriso.
não queria que houvessem lágrimas naquele encontro, apenas felicidade por estarem juntos de alguma forma, mas ao ler amada filha, amiga e noiva, seus olhos se encheram de água de uma forma estrondosa e logo suas lágrimas regavam a grama ainda curta que começava a crescer após ser arrancada para que cavassem a terra.
― Eu não devia estar chorando, eu sei que você vai voltar pra mim. ― deu passos lentos até a pedra, se ajoelhando em frente a ela e passando o polegar levemente pela foto. ― Eu sei que não foi um adeus e sim um até logo. Mas a saudade… Ela é terrível, . Não tem um segundo que eu não pense em você. Um milésimo… Só tem você no meu coração, na minha mente. Eu sinto tanta a falta do seu abraço que não sei se consigo aguentar até nos encontrarmos novamente, mas eu sou mesmo um bobo, não é…? Quando se tratava do nosso amor, eu sempre fui um bobo, e isso nunca foi ruim. E nunca vai ser. Porque o nosso amor foi a melhor coisa que aconteceu comigo e a mais verdadeira. Eu não me envergonho de ter sido um idiota por isso, e nem de continuar sendo.
Deixou as flores encostadas na pedra, virando o corpo e se sentando na grama com as costas contra a lápide. Respirou fundo tentando acalmar o choro, fungando algumas vezes e passando a manga do casaco contra as bochechas, secando o rosto ao menos momentaneamente já que o choro não parava por mais que tentasse.
― Eu estou me vestindo do jeito que você gosta, e até penteei o cabelo para trás. Eu planejei fazer isso no nosso casamento, porque eu sei que você gosta. ― sorriu abobalhado em meio às lágrimas. ― Você deveria começar a se arrumar agora para não atrasar demais no dia do casamento. Mais de meia hora é cansativo, não esqueça que eu vou estar esperando em pé no altar, tenha dó do seu amado noivo! ― riu um pouco, balançando a cabeça logo depois. ― Você se lembra dos nossos preparativos pro casamento, não é? Não tive coragem de cancelar nenhum, eu estou esperando você voltar para mim e eles ficarão esperando também, pode não ser mês que vem, mas um dia vai acontecer. Eu tenho certeza que um dia, tudo o que nós sonhamos vai se tornar realidade. Eu continuo te amando, . Eu te amo mais que ontem e menos que amanhã, como eu te prometi, meu amor vai crescer mais a cada dia, e nunca vai acabar. Nunca.

Nono Mês Outubro

A quantidade de ligações que estava recebendo naquele dia era insuportável, então resolveu simplesmente desligar o celular e parar de responder qualquer mensagem que fosse. Tentava manter o mínimo de contato possível com qualquer pessoa que fosse, mas naquele dia tudo estava agravado.
Guardou o celular no bolso do paletó, voltando a prestar a atenção na pequena caderneta que preenchia a folha branca com um desenho que tomava toda sua concentração. Queria tentar mentalizar como seria o vestido, que tipo ela havia escolhido. Será que conseguiria imaginar? Conhecia bem a noiva para saber qual o estilo ela costumava querer, mas mesmo assim suas mãos não paravam de suar e tremer.
― Senhor ? ― a voz de uma mulher jovem o despertou, fazendo-o deixar a caderneta de lado e erguer o olhar para encontrá-la com um pequeno sorriso desconcertado.
― Sim? ― disse, voltando a fechar o paletó após guardar o bloco no bolso interno.
― É só me seguir, irei levar o senhor até a sala de provas.
não respondeu, apenas se levantou e fez o que a mulher pediu em passos calmos, com os olhos focados no salão e em todos os detalhes daquele lugar. Queria imaginar como estava quando fazia o mesmo caminho que estava fazendo agora. Ansiosa, nervosa? Conseguia enxergá-la choramingando com a consultora sobre como achava que havia engordado e que estava com medo de que o vestido não servisse mais tão bem.
Chegaram na frente de uma porta vinho e a mulher a sua frente parou, virando novamente para si.
― Vou deixá-lo entrar sozinho por alguns minutos, mas estarei do lado de fora, é só me chamar caso precise. ― assentiu com a cabeça, estranhando o fato dela não sair dali mesmo após falar isso. ― Ela… Ela realmente teria ficado linda com ele. Já ficava nas provas. Eu sinto muito muito mesmo. Ela te amava muito, dava pra sentir isso sempre que falava seu nome. Não sei se isso te faz sentir melhor, mas… ― ela parou ao perceber que talvez estivesse indo longe demais, erguendo o olhar meio desesperado para que apenas abriu um pequeno sorriso de canto.
― Obrigado, faz com que eu me sinta melhor sim. ― respondeu apenas, vendo-a puxar a maçaneta e então sair de seu caminho.
Ele respirou fundo, entrando sem hesitar na sala. As luzes estavam apagadas quando a porta bateu suavemente, mas assim que deu mais um passo, o sensor fez com que a iluminação acendesse e pôde encarar o manequim exatamente da altura e das medidas de a sua frente, lhe fazendo dar um passo para trás pelo susto.
Estava adornado com um vestido de ombro a ombro e decote reto, com uma espécie de bolero de tecido transparente coberto de bordados por cima que subia até a parte do pescoço. A saia era cheia e a cauda longa como ela sempre dissera que queria, e um sorriso se formou em seu rosto ao conseguir mentalizar exatamente como ficaria nele, principalmente porque o vestido era em praticamente tudo igual ao esboço que fizera.
― Ela ficará linda nele. ― sussurrou para si mesmo, andando até ficar a frente do manequim e levando uma das mãos para frente.
― Senhor , tudo bem? ― a consultora questionou ao abrir a porta, mas ele nem mesmo olhou para trás, apenas balançou a cabeça positivamente.
― Sim. Por favor, embrulhe ele. Eu vou levá-lo.
não só o levou para casa, como também algumas horas depois quando o início da noite chegou, o levou para o salão de festas que estava completamente decorado como planejou. Era a festa de casamento deles que estava montada, mesmo que não estivesse acontecendo.
Ele estava sozinho ali, no meio do lugar, de olhos fechados imaginando como seria se eles pudessem compartilhar daquela dança que tanto ensaiaram durante as aulas que dera para a noiva, se lembrando da última vez que tentaram e em como haviam evoluído e em como não estava mais pisando no seu pé e conseguia acompanhar seu ritmo sem tantas dificuldades como no começo. Diferente de si, ela sempre fora um pouco dura para danças lentas e sempre ficava sem graça quando seus rostos ficavam tão próximos e os olhares tão intensos.
Lembrava até mesmo se como suas orelhas queimavam e ficavam vermelhas.
Riu com esse detalhe. Ela teria ficado tão feliz… Tudo ali estava da forma que ela pedira, todos os arranjos de flores, todas as toalhas de mesa. O branco e o vermelho se entrelaçando nos tecidos da decoração, tudo ali remetia a e a seu gosto, até mesmo o fraque que usava e o cabelo penteado para trás, tudo isso porque ela sempre sonhara assim.
Não pensou em como aquele sonho havia se perdido. Ele estava sendo realizado agora com tudo perfeito como ela queria, mas também seria realizado quando ela voltasse para seus braços.

Décimo Mês Fevereiro

era um homem controlado.
Controlado, decidido e mentalmente equilibrado, era assim que se descrevia em seus próprios pensamentos enquanto andava calmamente pelo aeroporto após descer do avião e pegar sua única mala. Lembrava-se bem da primeira vez que estivera naquele lugar há dois anos atrás, quando colocava a mão acima da sua em cima das malas e sorria para si empolgada com a viagem.
Mas não ia mais se preocupar com isso. Logo aquela situação ia acabar, só precisava reprimir a saudade e aguentar um pouquinho mais. Tudo o que fizera e estava fazendo não era capaz de acabar com toda aquelas características que citara.
Pegou um táxi até próximo de seu destino e então desceu com o celular em mãos, se achando pelo GPS e esperando o carro desaparecer pelo horizonte para poder fazer o que queria. Não tinha pra quê enrolar mais e nem queria descansar, tudo o que queria era uma forma de tê-la outra vez e estava perto demais para parar por qualquer coisa que aparecesse em sua frente.
Estava escurecendo quando encontrou o caminho, caminho esse que sabia ser sem volta, mas isso não lhe incomodava. Quando tudo acabasse, teria tudo que precisava naquele lugar e por isso seria pleno e feliz sem precisar sair dali nunca.
atravessou a encruzilhada então, sem olhar para trás nem por um milésimo, se embrenhando na mata cada vez mais fundo, até que sentiu algo em seu pescoço. Não teve tempo de erguer a mão até lá, pois seu corpo caiu leve como uma pluma no chão e então tudo ficou a primeiro momento borrado, a paisagem desaparecendo da sua frente até tudo se tornar a mais pura escuridão.

Décimo Primeiro Mês Março

Sua cabeça latejava de forma extremamente dolorida enquanto se esforçava para acordar. Não sabia mais onde estava e nem quanto tempo ficara dormindo, mas todos os seus ossos estalando quando tentou se mexer quis dizer que fora tempo demais… Arregalou os olhos que procuraram por qualquer coisa conhecida que estivesse perto de si, tentando descobrir onde estava.
Era uma espécie de… Oca, literalmente uma oca feita de teto de palha e paredes de madeira. Não havia nada ali além da cama onde estava deitado, uma pequena espécie de criado mudo ao lado com um copo de barro em cima e no canto do local, a sua mala, fechada e bem encaixada na parede, lhe fazendo respirar aliviado.
― Eu disse para aqueles idiotas que estavam colocando sonífero demais na droga da zarabatana. Quase te deixaram em coma eterno! ― a voz da senhora era arranhada e falhava quando ela tentava subir o tom, além de com um sotaque fortíssimo que nunca havia ouvido antes em nenhum lugar. Porém podia entendê-la perfeitamente apesar disso, o que era o que lhe importava no final.
― Quanto tempo eu dormi…? ― queria que sua voz tivesse saído mais forte, porém ela não lhe obedeceu e se tornou praticamente um sussurro.
― Tempo demais, talvez vinte sóis e vinte luas? Já achei que estivesse morto, mas não está, então está com problemas. ― não, ele nem mesmo teria tempo para se recuperar e pensar. Os exilados estavam esperando.
― P-Por que…?
― Você invadiu um território sagrado, garoto. Você sabia onde estava entrando? E se sim, qual foi seu motivo? ― a senhora cruzou os braços na frente do corpo, esperando uma explicação plausível vindo do rapaz.
― Sim, eu sabia… ― apesar do corpo mole e do organismo fraco, não estava machucado e conseguiu com um pouco de esforço se sentar na cama e pegar o copo de barro que estava cheio d’água, tomando um pouco dela. ― Eu quero estar aqui.
― E por que?
― Eu ouvi que vocês tem rituais para trazer os… ― engoliu a saliva, não tendo coragem de pronunciar aquela palavra quando se tratava de . ― Os que partiram de volta. Eu preciso fazê-los. Qualquer um que vocês tiverem, qualquer coisa, eu faço.
Apenas agora percebera que a cama onde estava era da altura do chão e a velha também estava sentada no chão. Ela parecia uma sábia ou ao menos alguém muito importante por ali, e com suas palavras abriu os olhos que brilharam de forma um pouco assustadora.
― Você nunca mais poderá viver depois disso, entende o que implica? Suas memórias serão tudo que você vai ter do mundo exterior, e irá condenar a pessoa que pretende trazer a mesma vida. Pense bem nas consequências e se não quiser aceitá-las, pegue o que é seu e volte rapidamente pra sua vida, como se nada tivesse acontecido, antes que seja tarde demais. ― aconselhou calmamente, vendo os olhos de se encherem de determinação quanto mais falava.
― Eu quero e tenho certeza que ela também entenderá isso. ― a convicção em sua voz era tanta que praticamente se tornava palpável. ― O que eu tenho que fazer para trazê-la de volta pra mim?
O silêncio tomou conta do ambiente por minutos a fio, fazendo o coração de se apertar com o medo. Medo de ouvir uma resposta negativa quando estava tão perto assim. A senhora apenas respirou fundo, levantando do chão e olhando para o menino de cima.
― É noite. Saia e fale com a lua. Nós o prepararemos depois disso.
verdadeiramente não entendeu aquelas palavras, mas foi deixado sozinho com elas no ar antes que pudesse perguntar o significado delas. Resolveu então obedecê-las, não se importando de sair daquela oca mesmo estando sem camisa e usando a mesma calça de quando chegara ali.
Tudo ao seu redor estava vazio e a senhora desaparecera tão rápido que chegava a ser assustador. Apesar de várias tendas e ocas estarem espalhadas por ali, não havia ninguém, nem uma só pessoa fora delas.
A única companhia que era a do céu límpido e estrelado, com a lua cheia sendo o ponto principal daquela pintural natural perfeita. Sem pensar duas vezes, caiu no chão de terra de joelhos, com os olhos fixos no que parecia ser uma imensidão prateada.
… Onde quer que você esteja, eu espero que você me aguarde. Eu olho para a lua e rezo por você, peço para que olhe por você e que você não fique muito cansada de me esperar, porque eu estou chegando, meu amor.

Décimo Segundo Mês Abril

Há um mês todos os dias passava a noite orando para a lua, mesmo quando as nuvens estavam a encobrindo. Já faziam três dias que não voltava para a tribo e não visitava o que estava se acostumando a chamar de sua casa. O vento era cortante e a falta de roupas naquele local não ajudava, mas ele continuava firme, de joelhos no chão e olhos focados.
Aquela era a preparação para os ritos. A lua deveria lhe falar como fazer, e então obedeceria e seguiria tudo o que ela dissesse.
Faltavam apenas alguns dias para que se completasse um ano desde que lhe deixou, agora era o último dia de Abril e entrariam no mês de sua partida, por isso sua ansiedade se tornava maior a cada dia, assim como a saudade e tristeza. Evitava chorar por saber que logo a teria novamente em seus braços, mas aquele dia não segurou. Fora a primeira vez que chorara desde quando chegou ali, enquanto as palavras ditas pareciam sair direto de seu coração.
― A oração feita para você, eu acredito que não desaparecerá. A fé nunca me traiu, é por isso que ela me deu você. ― fungou silenciosamente. ― Estou com sede e com frio neste lugar…
Conforme sussurrava, o brilho da lua se tornava mais e mais forte, e também as poucas nuvens que a rodeavam se dissiparam no ar. arregalou os olhos em choque: suas preces finalmente estavam começando a ser atendidas…? Uma sombra começou a surgir na lua, no formato bem definido de um casal dançando.
E foi ai que ele entendeu, um sorriso estampando o rosto belo rosto cansado como há muito não fazia.

Décimo Terceiro Mês

Doze meses não eram suficientes para englobar o amor dos dois e aqueles sentimentos, para digerir toda a conexão de suas almas. O universo precisava de mais, precisava transcender. E era por isso que o encontro deles deveria acontecer no décimo terceiro mês, porque não podiam se trancar nas quatro estações.
O amor deles era maior que isso, era maior que tudo. Estava seguindo o fim da linha que desenhara com a primavera passada, mas também se lembrava de quando suas lágrimas se transformaram em neve branca, fazendo ondas de sentimentos entre os dois mesmo que estivessem em planos diferentes.
correu. Tão rápido que era inacreditável, sem nem mesmo saber onde estava indo, como se seus pés pensassem e pudessem levá-lo ao lugar certo sozinho. Lugar certo esse que não, ele não fazia a mínima ideia da onde era, mas sabia que chegaria nele, porque estava indo na hora certa e tudo, exatamente tudo, iria dar certo.
Quando seus joelhos pareciam que iam explodir de tanto correr, ele se deparou com as ruínas de colunas brancas antigas, seus olhos se arregalando com a lembrança. Nada por ali havia mudado, e sabia que aquele era o lugar. Era como se a lua tivesse lhe transportado para onde deveria estar.
Seu corpo então começou a se mover instintivamente. Não havia som algum além dos seus pés se arrastando no chão de terra e grama e sua respiração pesada que a cada giro parecia piorar. Dançaria ali até a exaustão, até não aguentar mais e cair, e então se levantaria e começaria de novo. Por toda sua vida, se fosse necessário.
― Meus movimentos são muito significativos, eles abrem o momento em que só nós dois podemos existir. No nosso mês, no nosso lugar, você é tudo o que eu vejo diante dos meus olhos. ― por mais que seu corpo girasse e seus movimentos fossem diversos, não passava mais de um milésimo sem encarar a lua cheia.
― Somente no mês treze, na frente daquele lugar especial para nós, eu vou dançar. ― murmurou, os movimentos não perdiam o entusiasmo nem por um segundo. ― Pra você, minha Lilili Yabbay. Meu lírio branco precioso, minha . Pra você, até que você volte pra mim.
O não desistiu, não até não restar forças em seu corpo para continuar. Ele queria levantar e tentar novamente, não queria parar nem por um segundo, mas suas pernas já não aguentavam mais o peso do próprio corpo e nem conseguia erguer seus braços, a exaustão se apoderando de todo seu corpo até que caiu, com uma das mãos erguidas ao céu, na direção da lua.
― Se isso pudesse acontecer… Sim, se apenas isso pudesse acontecer…
Os olhos de tentavam continuar focados na lua, mas a cada segundo ficava mais difícil até que então se fecharam e seu corpo ficou leve, tão leve quanto uma pluma que podia flutuar por todo o mundo. Não havia mais nada em sua mente, completamente limpa pelo cansaço. O que outrora fora desespero, ansiedade e amor, agora era simplesmente um poço do mais puro nada.
Naquela dimensão escura e cheia de coisa alguma como o mais profundo dos sonos, não sabe se passou segundos, minutos, horas ou dias. Mas mesmo que tudo fosse escuridão ao seu redor, antes que qualquer sentimento tomasse seu coração naquele momento vazio, um toque macio de uma mão em sua bochecha o fez se sentir em casa, seja lá onde é que estivesse, ou o que tivesse acontecido consigo.
Apenas por aquele toque, sabia que estavam novamente juntos. E era isso que importava para ele.

“Meus movimentos
São muito significativos
Eles abrem o momento em que só nós dois podemos existir
Se isso pudesse acontecer
Sim, apenas se isso pudesse acontecer
Eu farei pra você
A dança do mês 13
Pra você Lilili Yabbay”.


Fim.



Nota da autora: Olá outra vez! Como foi? Estamos todos bem? Vivos?! AUHAUHAUHA
Eu tinha o que eu queria fazer com Lilili Yabbay ainda antes do ficstape ser lançado, e sério, parecia que um peso tinha sido jogado das minhas costas quando eu peguei essa obra de arte pra mim! ♥ Mas aí veio um peso muito maior: honrá-la! Não sei se consegui, mas pessoalmente eu amo a história dessa short e essa música é maravilhosa demais, espero que vocês tenham gostado porque eu realmente me esforcei!
Se você chegou até aqui, muito obrigada por ter lido, me deixe saber o que você achou e um beijo! Nos vemos novamente em Hello e Unfinished! AUHAUHUAHUAH
Se quiser falar comigo, é só me procurar no Twitter!





Outras Fanfics:

LONGS:
Trespass
Kratos
(No) F.U.N

Ficstapes:
01. Intro. New World
06. Lilili Yabbay
11. Hello
11. Hug
13. Outro. Incompletion

Music Video:
MV: A
MV: Callin
MV: Don’t Wanna Cry
MV: Gashina
MV: Hyde
MV: Please Don’t…
MV: Trauma
MV: Heroine
MV: Mysterious
MV: Shangri La
MV: Very Nice


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus