Capítulo Único
Era só mais um dia normal para todas as pessoas que corriam para a entrada do metrô naquela quinta-feira, mas não para . Era o seu primeiro dia de muitos que passaria na Coréia, a primeira viagem de sua vida até lá e que abriria uma saga de muitas, muitas outras. Riu abobalhada para si mesma, completamente encantada com toda a atmosfera daquele país e com tudo o que estava acontecendo ao seu redor.
Havia acabado de sair do aeroporto e as suas malas estavam no bagageiro do carro de , mas enquanto ele terminava de estacionar ela já abria a porta e passos a guiavam animadamente até o café de esquina que encontrou, andando toda saltitante até o balcão e olhando para cima para ver as opções. Foi aí que percebeu que estava tudo em hangul, e bateu na sua cabeça, olhando para trás.
A sineta do café tocava sinalizando que alguém estava entrando pela segunda vez em menos de um minuto e rapidamente deixou o celular atrás do balcão, olhando para a porta, mas no meio do caminho e tampando sua visão acabou encontrando uma garota, com um sorriso tão largo que o deixou até mesmo besta.
Ela era completamente diferente de todas as garotas que conhecia e sua aparência chamou a atenção não só de si, mas de exatamente todo mundo que estava naquele lugar que virou o rosto para encará-la, o que não era uma surpresa. No segundo momento, porém, não era apenas a aparência dela que fazia todos manterem os olhares focados na garota, mas também a sua forma espontânea de agir e o seu sorriso tão largo e brilhante.
Era linda, singular e a forma com que ria e andava era completamente natural, e por essa naturalidade estavam todos estagnados com a sua presença. Ironicamente, ela chamava a atenção sem esforço, sem rir alto demais ou sem correr ou qualquer outra coisa, já que a aura da desconhecida ainda era discreta para os estereótipos que a sociedade coreana cultivava em relação à estrangeiras, quebrando todo aquele preconceito apenas existindo e sendo ela mesma.
A garota era, nitidamente, uma estrangeira, algo que podia ser visto até mesmo se ela estivesse de costas, mas mesmo assim ele estava prestes a se apaixonar para sempre por seus cabelos que balançavam conforme andava e seus olhos se fechavam levemente sempre que ria… Ria para o rapaz que vinha atrás de si e havia aberto a porta na segunda vez que ouvira a sineta, se aproximando dela rapidamente com uma expressão meio assustada e preocupada.
O mundo dos sonhos de caiu e os vidros se quebraram ao vê-la abraçando o braço do garoto enquanto eles conversavam em outra língua que nem mesmo se deu ao trabalho de identificar, sofrendo calado pela ilusão que criou e depois poucos segundos de aproveitamento foi estraçalhada. Logo os dois se aproximaram do balcão e o garoto fora quem fizera o pedido, enquanto ela permanecia agarrada e meio escondida atrás de seu braço, timidamente lhe olhando às vezes e sussurrando coisas no ouvido do companheiro outras.
Não teve tempo de se distrair e olhar de volta, na verdade também nem teve vontade já que ela estava acompanhada, e vê-la falando tão intimamente com o outro homem lhe deixava completamente depressivo, então rapidamente se concentrou no seu trabalho e atendendo aos pedidos. Mas por mais que quisesse ignorar o quanto a desconhecida era linda e havia lhe conquistado com só um sorriso, sabia que ela não sairia tão cedo da sua cabeça.
Sempre achava que ao se apaixonar à primeira vista ficaria feliz e radiante, com vontade de rir para o nada, mas sinceramente seu ânimo ficou extremamente baixo. Pelo menos até sua irmã aparecer ao seu lado com uma expressão de quem estava muito julgando seus pensamentos, fazendo com que desviasse o olhar da porta onde a desconhecida saia com um braço entrelaçado com o do provável namorado e a outra mão segurando o café latte que ela pedira, olhando para a irmã com uma das sobrancelhas arqueadas.
― Garotas não podem ter amigos sem já acharem outras coisas, não é?! ― a mais nova questionou ofendida, colocando alguns papéis no balcão, próximo ao caixa, onde costumava ficar. ― Como homem tem ego frágil, nossa. ― revirou os olhos, abrindo uma gaveta para pegar uma caneta e começar a organizar a papelada.
― Quê? ― arqueou uma das sobrancelhas confuso, olhando a feição irritada da irmã.
― Você já ficou todo frustrado achando que a garota tem namorado, mas às vezes eles são só amigos! ― ela reclamou outra vez, apontando para a porta com a caneta, onde podia-se ver o carro dando partida e sumindo pela rua. acabava resmungando até mesmo mais para si do que para o irmão, mas ele ouvia mesmo assim.
― , isso tudo é porque eu falei que vou contar pra mamãe sobre você e o seu coleguinha de classe?! ― podia ser lerdo para algumas coisas, mas não era tanto assim quanto a irmã achava. Ou pelo menos não para tudo que envolvia a sua pequena pedrinha preciosa que ele protegia com muito esforço.
― O quê?! Claro que não! Eu posso só estar dizendo que não acho que eles são namorados. Por que você tem que ficar problematizando tudo, seu chato?!
A mais nova começava as reclamações incessantes, o fazendo rir um pouco baixo. Apesar da irmã só estar fazendo aquilo com segundas intenções, o coração de não pôde deixar de ouvi-la, e, lá no fundinho, nutrir uma pouca e discreta esperança dela ser solteira, e também dela voltar lá no outro dia. De preferência sozinha.
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― , nós estamos muito longe daquele café que passamos ontem? ― questionou quando o relógio batia próximo das três da tarde, sentindo a fome começar a tomar sua mente e tirar a concentração do jogo de cartas que estavam brincando desde o horário de almoço, esperando que o horário chegasse mais próximo de quando haviam marcado a sessão.
― Só duas ruas. Você quer ir até lá antes de irmos até o cinema? ― o menino perguntou inocentemente, deixando o jogo de lado também e as cartas em cima da mesa, para colocar toda sua atenção em .
― Se não for um problema! ― se sentiu orgulhosa de seu autocontrole e aliviada de não ter percebido nada estranho e nem olhado para si de forma analítica.
Acabou lhe fazendo sorrir maldosa quando levantaram e rapidamente se arrumaram para sair, Era apenas uma coisa boba, mas queria ir outra vez até aquele café para ter a oportunidade de ver novamente o rapaz que trabalhava nele. Ele era, literalmente, o ser humano mais bonito que já vira na face da Terra, mas os seus níveis de empolgação quando o viu eram tamanhos pela chegada recente no país que afetaram a sua capacidade de atenção e não conseguia mentalizar o rosto do desconhecido tanto quanto queria.
Sinceramente, queria poder olhar para ele mais uma vez e por mais alguns segundos, apenas para decorar cada coisinha, cada fibra de sua pele que se juntava para formar aquele rosto perfeito, e poder guardar isso para sua mente para sempre poder lembrar quando voltasse para o Brasil. Era ridículo e se sentia uma adolescente outra vez, mas sinceramente não se importava, e se importou menos ainda quando atravessou a porta ao lado de e sentiu seu coração acelerar.
Ele estava lá, na frente da máquina de café, olhando atenciosamente para a bebida sendo derramada, usando uma camisa branca em combinação com o colete preto e o avental também preto bem preso à cintura. Teve a necessidade de agarrar o braço de como no dia anterior, mas era porque havia sentido o chão sumindo de seus pés com aquela visão dos céus e precisou se segurar em algo que pudesse lhe dar firmeza, ou no caso, alguém.
Aparentemente, achou que era apenas uma timidez por estar em público, então apenas olhou para si com um sorriso confortador e balançou a cabeça, para dizer que estava tudo bem.
― O que você vai querer? ― o coreano questionou com o seu tom de voz tão naturalmente calmo a gentil, lhe fazendo estreitar os olhos para tentar entender alguma coisa do que estava escrito no painel de opções, claro que inutilmente.
― Você pode escolher. ― desistiu depois de um tempo, rindo de nervoso e passando uma das mãos pelos cabelos para jogá-los para trás.
Ele ainda não havia percebido a sua presença e também não parecia que ia perceber tão cedo, concentrado da forma que estava em deixar seu trabalho perfeito. Tentava não ser óbvia em encará-lo, mas era difícil controlar o sorriso no rosto com tamanha beleza que via em sua frente. Quem atendeu foi uma garota que não devia passar dos quinze anos, e era completamente igual ao rapaz. Estava estampado o parentesco deles, mas estava concentrada demais em olhá-lo discretamente e para pensar em qual seria o grau.
― Vocês dois são um casal bonito! A sua namorada é linda. ― a menina comentou com um sorriso após anotar o pedido, fazendo arregalar os olhos e olhar assustado para , que continuava com abraçada com seu braço e distraída e alheia a situação toda.
Claro, ela não podia entender já que a garota falara em coreano, por isso seus olhos claros vagavam por todo o estabelecimento transbordando curiosidade e admiração, diferente dos olhos dele que emitiam puro choque e um pouco de desconforto.
― Obrigado, mas nós não somos um casal, somos só amigos. ― ele agradeceu polidamente e fez questão de pontuar. Seria errado caso deixasse as pessoas pensando algo que não era verdade. Levou a outra mão até a nuca e a apertou timidamente. ― Mas ela ficará feliz em saber que você a achou bonita!
― Ooh, me desculpe, eu realmente pensei…! Bom, vocês dois não deixam de ficarem bonitos juntos. Mas não precisam virar namorados por isso! Quer dizer, se quiserem, virem, mas vocês não querem, né? Ela tem que continuar sol... Bom, espera só um minuto, eu vou levar os seus pedidos! ― a menina saiu rapidamente após ouvir sua resposta e falar tudo muito rápido, fazendo estranhar e quase rir daquela reação exagerada, mas assentir por pensar apenas que ela havia ficado muito sem graça pelo erro e então de desesperara.
Enquanto ele chamava a garota e contava o que havia acontecido entre risos, a adolescente rapidamente ia até onde o irmão mais velho estava, cruzando os braços à frente do corpo logo depois de o cutucando a cintura, fazendo com que quase derrubasse a xícara de café que decorava para formar uma folha.
― Eu tenho três coisas pra te dizer. A primeira, toma o pedido da pessoa que está ali no balcão e você não viu até agora porque é um tapado. A segunda é que você tem a melhor irmã do mundo, e a terceira é que você não vai abrir a boca pra falar do meu amigo pra mamãe, porque se não você nunca vai merecer tudo o que eu faço por você!
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Era o terceiro dia que acordava em terras asiáticas, e naquele seu humor era tão brilhante quanto todos os outros. Assim que se espreguiçou, pegou o celular ao lado da cama e olhou que ainda eram nove da manhã, lhe fazendo bocejar de forma preguiçosa e se remexer na cama.
Apesar da vontade de voltar a dormir que lhe fez virar pro outro lado, não conseguiu pegar no sono outra vez, desistindo com um suspiro frustrado. Sabia que estava ocupado, tentando manter os trabalhos de faculdade em dia enquanto estava dormindo ou tomando banho, e queria enrolar ao máximo para aparecer na sala e atrapalhá-lo.
Tomou um banho longo, arrumou os cabelos, escolheu um vestido de saia rodada e então saiu depois de passar uma maquiagem na cara. Fazia questão de estar arrumada todos os dias, literalmente para sair bonita em todas as fotos que fazia questão de tirar durante todo o tempo.
― Bom dia, ! ― se aproximou ao vê-lo sentado na cadeira da mesa de café da manhã que ficava em um canto da sala de jantar, próxima a janela, e abraçou o rapaz por trás para cumprimentá-lo.
― Bom dia, ! ― cumprimentou também, segurando as mãos da garota que se juntavam em seu peitoral e tentando soar mais animado do que realmente estava, mas não por causa da garota e nem de nada que ela havia feito, mas sim por causa do cansaço de toda a rotina corria que estava passando.
― Como você está? Conseguiu dormir algumas horas nessa noite? ― puxou a segunda cadeira para se sentar ao lado do amigo, passando os olhos por todo aquele monte de papelada curiosamente.
― Não muito, na verdade, eu tinha diversos trabalhos de literatura pra fazer. ― deu uma suspirada, sorrindo de canto e passando uma das mãos pelos cabelos para jogá-los para trás.
― Me sinto mal por te atrapalhar tanto. ― comentou desanimada, balançando a cabeça negativamente. ― Queria poder te ajudar um pouco, mas não consigo entender nada além da data.
― Está tudo bem, a sua presença já me ajuda. ― ele piscou um dos olhos para a menina, os dois acabaram rindo logo depois.
― Você engana bem.
― Mas eu tenho um favor pra te pedir.
― Sabia que não era assim tão fácil! ― a menina riu outra vez, balançando a cabeça negativamente e fazendo o menino arregalar os olhos. ― É brincadeira! O que você quiser, você merece. Só não me pede pra ler nada em coreano. ― agora riu junto, jogando a cabeça para trás.
― Eu nunca seria tão cruel. ― o observou pegar uma folha de papel e calmamente escrever algumas coisas nela. ― Me desculpe, mas não tive tempo de fazer nosso café da manhã. Você pareceu gostar da cafeteria de ontem, então pode ir lá buscar alguma coisa pra gente? Eu desenhei um mapinha aqui ― ele apontou para o começo da folha, onde estava bem exemplificado em qual direção devia ir e qual rua deveria virar, tanto para ir, quanto para voltar. ― e o pedido está aqui. É só mostrar e pronto!
― , realmente, quando falaram que você era um gentleman, não estavam brincando. ― olhou a folha ainda em choque, observando todos os detalhes que ele colocou nela, até mesmo o número de casas que passaria e tudo.
― Não me deixe sem graça. ― riu um pouco, coçando a nuca com o dedo para disfarçar que estava envergonhado. ― Tome cuidado com os sinais, por favor, o trânsito aqui é perigoso! E qualquer coisa, qualquer coisinha mesmo, me liga, certo?!
― Está tudo bem, papai, eu vou te mandar uma mensagem assim que chegar lá. ― se levantou, jogando um beijo no ar e guardando o celular no bolso para se concentrar apenas na folha. ― Até logo!
― Volte em segurança!
andava ansioso para saber se a desconhecida iria alguma outra vez na cafeteria. Agora que descobrira que ela era sim solteira, ele não podia controlar sua empolgação sempre que lembrava do rosto bonito, mesmo que não soubesse nomeá-lo e nem se iria vê-lo outra vez.
Balançou a cabeça negativamente, tentando se controlar enquanto observava sua fisionomia no espelho e via o sorriso animado que não conseguia fazer desaparecer do seu rosto desde o dia anterior, quando não precisou mais se sentir mal de achar uma garota comprometida tão bonita. Jogou uma água no rosto para tentar se concentrar melhor no que deveria fazer, mas mesmo assim seu coração continuava batendo como o de uma criança.
O que havia acontecido consigo, quando havia acontecido?! Grunhiu frustrado, mesmo que não estivesse verdadeiramente bravo, rindo consigo mesmo logo depois e então saiu para voltar ao seu posto de uma vez, antes que passasse uma hora ali apenas olhando para si mesmo e rindo. ficaria infeliz durante todo o dia se a deixasse para fazer todas as coisas por muito tempo.
Mas aparentemente, a irmã já estava infeliz, porque assim que apareceu atrás do balcão ela desferiu um tapa pesado em sua nuca, lhe fazendo gemer e levar rapidamente a mão até onde ela batera, local esse que não precisou de mais de dez segundos para começar a ficar bem avermelhado.
― ! Por quê? ― choramingou chateado, olhando para a mais baixa que revirava os olhos com aquele drama.
― Por que você tem que ser tão lerdo assim?! ― a coreana apontou para a porta e olhou para a direção do dedo da irmã, vendo a estrangeira desconhecida andando calmamente para a calçada que levava do deque da cafeteria para a rua, lhe fazendo bater com a própria mão na cabeça e suspirar desanimado.
― E-Eu não tinha como saber! ― teve vontade de sair correndo até para vê-la de perto novamente e poder enxergar seu rosto de frente, já que apenas conseguira ver de perfil quando ela estava virando para seguir a direção da rua, mas infelizmente não podia fazer isso.
― A partir de hoje, você nunca mais vai sair detrás desse balcão.
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Antes de abrirem e virar a placa na porta que estampava um “open/closet” para o lado de fora do café, observava calmamente o diário que mantinha no bloco de notas do celular, lendo o que andava escrevendo naqueles últimos dias. A primeira parte descrevia como fora a primeira vez que a vira e se ofendia nas últimas linhas, porque achava que ela estava em um relacionamento.
No outro dia, os relatos ficavam mais animados por ter descoberto que ela era solteira, e então os do dia anterior eram uma compilação do que sentiu ao vê-la mesmo que de relance,, a sensação estranha de se sentir tão apaixonado por alguém que nem mesmo havia conversado. Como podia, o que deveria fazer? Paixão à primeira vista nunca fora algo que acreditava, mas era isso que parecia ter acontecido.
Tinha também tudo o que queria falar para a estrangeira, mas não havia tido oportunidade, na verdade, mesmo se tivesse a oportunidade, nem sabia como iria o fazer.
“Oi, é um prazer te conhecer
Quando você me vê, garota
Nós nos vimos ontem
Oh não, eu sou o único que te viu
Eu converso com você como se nos conhecêssemos
Mantenho a calma e te chamo para sair
Para um café e filme que eu preparei”
Embaixo, havia visto a tradução no site online, com a esperança de que aquilo lhe desse coragem de falar com ela, caso a garota aparecesse outra vez. Mas sinceramente não conseguia saber nem mesmo como pronunciar a maior parte das palavras, o que esmagava a sua confiança e lhe deixava em completo desespero, principalmente com o medo de tradutor ter colocado uma palavra errada. O que ela pensaria de si?
Mesmo que decorasse o pequeno texto e a forma de recitá-lo, e por um milagre ela aceitasse seu convite, como diabos conversariam durante as horas do encontro? já estava ficando depressivo com o fato de não ter prestado tanta atenção nas aulas de inglês como deveria, e isso porque nunca fora um mau aluno.
Do outro lado, e entraram em um consenso: ela iria buscar café para eles todos os dias, assim o garoto não teria o trabalho de se pressionar para fazê-lo, e ela se sentia útil em alguma coisa. Claro que a menina tinha segundas intenções nisso, mas o amigo parecia não saber, então estava tudo ótimo e saindo nos conformes.
No dia anterior quando fora até o estabelecimento o barista não estava, o que não servira para a deixar desanimada, na verdade, pelo contrário, ficara apenas mais ansiosa para o próximo dia, quando iria até lá outra vez. Ainda tinha mais uma semana na Coreia para vê-lo, se possível todos os dias, e aproveitaria cada oportunidade de gravar o rosto do rapaz em sua mente.
Quando viu que ele estava no balcão e passava os dedos pelos fios dos cabelos para jogá-los para trás, riu e chorou ao mesmo tempo. Riu porque ele estava ali, e chorou porque o infeliz era tão lindo que doía, além de que o nervosismo em ter que “falar com ele” a atingiu como um tijolo, principalmente porque não sabia exatamente o que fazer.
Foi por isso que fez o que provavelmente era bem estranho e não esperado, mas ela havia feito a mesma coisa no dia anterior para chamar a adolescente que a atendeu de forma simpática. Ela simplesmente deixou o papel com o pedido na letra de em cima do balcão, com seus dedos indicadores segurando a ponta do papel, e quando o rapaz percebeu a presença de alguém e ergueu o olhar, ela sorriu sem abrir os lábios, envergonhada, também acenando timidamente.
não teve coragem alguma de fazer qualquer outra coisa se não o mesmo que a garota. Se naquele momento ele havia esquecido completamente as palavras até mesmo em sua língua mãe, quem dirá em outras? Não teria a mínima capacidade de lembrar aquela pequena tradução, então acabou deixando apenas um sorriso largo nos lábios quando assentiu com a cabeça e foi preparar o pedido.
Aquela foi a primeira vez que viu aquele sorriso adorável. Quis morrer como ele só ficava mais e mais perfeito sempre que descobria um traço novo da sua aparência, como os caninos avantajados ou o dentinho um pouco torto que normalmente teria vontade de mandar a pessoa ir até o dentista arrumar, mas não naquele caso.
No caso dele era charmoso e completava a sua aparência, era apenas perfeito. Também não esqueceu de anotar na sua mente sobre a pinta grande na bochecha direita do menino, a outra na ponta de seu nariz e a terceira que conseguiu olhar, no pescoço, próxima ao pomo de Adão. Era errado demais estar apaixonada pela pessoa apenas por sua aparência? Se sentia péssima, mas não conhecia o rapaz ainda para ter uma opinião sobre a sua pessoa, apenas sobre como ele parecia uma pintura.
Estava prestes a ter um colapso mental, um surto, quando ouviu seu celular tocando. Era , preocupado porque não mandara a mensagem que dissera que mandaria. Se encontrava desconcentrada o suficiente para demorar uns cinco minutos para entender a mensagem, mas assim que conseguiu lê-la, respondeu pedindo desculpas e falando que não deveria demorar para o apartamento. Afinal, por mais que quisesse ficar e conversar com o rapaz, não conseguiria, o que foi confirmado quando ele voltou com a sacola para viagem e seus olhares se encontraram.
Não souberam por quanto tempo, mas simplesmente ficaram se olhando, apenas com os sons das respirações entre eles. Era estranho, e nem mesmo o nome dele conseguia ler na pequena plaquinha que ficava na altura do peito, porque estava em hangul. Controlou a vontade de suspirar frustrada, e deu o dinheiro que contara para si para que não precisasse se comunicar ao falar sobre o troco, pegando a sacola de papel e acenando com um sorriso sem graça para o rapaz antes de virar de costas e sair.
E ele apenas suspirou, afinal, o que mais poderia fazer além disso? Mesmo que sua vontade fosse de pegá-la pela mão, sorrir largamente e chamá-la pra sair, ela simplesmente não ia entender. Podia imaginar perfeitamente o balão de fala acima da cabeça da garota com diversos pontos de interrogação, e o pior de tudo é que se ela tentasse falar qualquer coisa, ele também não ia entender. E isso era o mais frustrante.
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A cena se repetiu por mais aquela semana. Sempre que ia até o café, os dois se olhavam e sorriam um para o outro, mas não havia som algum além da respiração de ambos. Até aquele dia, porque estava decidido a mudar isso. Se passaram oito dias, e não era capaz de deixar as coisas iguais por muito mais tempo. Queria ouvi-la, mesmo que não entendesse nada.
havia lhe ensinado, porque não confiava nos tradutores para ter certeza do que teria que falar, então preferira perguntar pra irmã mesmo que isso ocasionasse que ela fosse zoar com a sua cara pelo resto da vida. Era apenas uma palavra, e na verdade ele sabia qual era, mas tinha esquecido e se sentia um burro com isso. Era tão fácil! Que ela fosse mais uma vez, pelo menos mais essa, para conseguir falar e não se sentir o ser mais idiota do mundo.
― Bom dia. ― ouviu uma voz calma e masculina que se dirigia a . Ergueu o olhar também, mesmo que não tivesse nada haver com a cena, encontrando o amigo da garota, aquele que sempre andava com ela nos dois primeiros dias que a viu.
― Bom dia, o que vai querer hoje? ― a irmã também pareceu perceber a ausência da menina, mas não falou nada, apenas sorriu de canto para atender o cliente, como deveria fazer com todos.
― Só um café, por favor. ― sorriu educadamente, fazendo contato visual com a menina por apenas um segundo antes de voltar a olhar para a tela do próprio celular que lhe distraia um pouco.
― Claro, só um minuto. ― olhou para si daquela forma tão naturalmente inquisidora dela, que queria dizer um “você já sabe o que fazer”.
Teve dificuldades para obedecê-la, a curiosidade sobre o pedido ser apenas de um café, e não de dois, mas não podia falar nada e nem perguntar, que tipo de louco iria parecer?
― A sua amiga não veio com você hoje? ― ouviu a irmã mais nova perguntando quando o rapaz assentiu e antes que ele saísse para esperar sentado. Só faltou surtar por dentro. Amava sua irmãzinha, meu Deus, ia até comprar algum presente pra ela depois.
― Ah, não, ela… Foi embora. ― a expressão de se contorceu numa chateada, enquanto ele olhava para o chão, guardando o aparelho no bolso do casaco que usava, já que estava fazendo um pouco de frio naquele dia.
― O-Oh, mesmo…?
― Sim, ela veio pra cá em um projeto turístico, para conhecer melhor a Coréia e ajudar a divulgar nosso país no Brasil. Eu era o guia turístico dela. ― a verdade era que só fora naquele café outra vez para lembrar da garota, sentiria falta do seu bom humor logo de manhã e aquele lugar parecia exalar um pouco daquela animação, talvez porque a adolescente em sua frente também parecia empolgada logo cedo. ― Bom, a viagem era só de duas semanas, ela viajou ontem.
Ouviu um barulho metálico que chamou tanto a sua atenção quanto a da de . O barista parecia ter derrubado alguma coisa no chão, mas antes que pudesse ver o que era ou a expressão chocada do rapaz, a menina voltou a falar.
― É uma pena! Espero que ela volte algum dia. ― riu de nervoso, balançando os cabelos exageradamente para que olhasse para si e não para o babaca do seu irmão. ― Se um dia isso acontecer, fale pra ela passar aqui! Quero vê-la outra vez.
― Também espero que ela volte. Pode deixar, vou fazer questão de avisá-la pra passar aqui se um dia ela vier, assim você poderá vê-la de novo.
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A frustração de e a de era igual, até mesmo se eles estavam em lados opostos do globo terrestre.
A menina achou que era apenas uma crush saudável durante os tempos que passara na Coréia e que esse sentimento de paixão platônica iria embora depois que voltasse a sua rotina no Brasil, para a faculdade e o trabalho de meio período na embaixada coreana, o que lhe dera a oportunidade de participar daquele projeto que lhe permitiu conhecer o lugar que via em seus sonhos.
Achou que a lembrança do desconhecido se tornaria apenas uma memória agradável do ser humano mais bonito que já viu em toda a sua vida, mas na verdade, toda vez que o rosto dele fazia cócegas em sua mente, uma dorzinha no seu coração se instalava.
Também achou que com o tempo aquilo sumiria, mas não, sua situação não melhorava, só ficava pior. A cada dia a imagem do rosto do rapaz parecia estar mais nítida na sua mente, e era agonizante como mesmo dessa forma, não sabia nem mesmo o seu nome.
Foi por isso que tomou a decisão de estudar coreano três semanas depois de ter voltado para o Brasil. Iria para Coréia outra vez, mas dessa vez fluente, e conseguiria falar com o desconhecido para ver se dessa forma seu coração superava.
Em nenhum dia daqueles oito meses ele saiu da sua cabeça. Era algo tão louco que estava pensando em se internar, mas lembrava de cada detalhe dele perfeitamente. Com o tempo cedeu e pediu para descobrir seu nome, mas o amigo, que rigorosamente lhe dava aulas de coreano três vezes por semana, apenas riu e disse que teria a oportunidade de perguntar quando fosse até lá. Era uma vingança por ela não ter contado a paixão para si quando ainda estava em solo asiático.
Além disso, parecia gostar de lhe torturar e vez ou outra ainda mandava fotos do rapaz trabalhando, todas em um ângulo onde não poderia aproximar da plaquinha que ele continuava usando no peito da camisa social branca, lhe deixando completamente louca. Não fazia a mínima ideia de como seria sua reação quando visse o coreano outra vez, mas sinceramente esperava que estivesse lá para segurá-la caso perdesse o resto da sanidade que tinha.
Na verdade, depois de oito meses, quando saia da área de desembarque do aeroporto e encontrava lhe esperando, estava mais curiosa ainda para saber qual seria a reação do rapaz quando lhe visse. Será que no momento que se encontrassem, ele iria se lembrar e sorrir?
― Está ansiosa? ― perguntou após metade do caminho que tinham que fazer para chegar de Incheon a Seul.
― Você não tem noção, apesar de ser bem idiota. ― riu para si mesma, observando pela janela o lindo dia ensolarado que fazia e o clima agradável com um vento refrescante.
― Por que idiota? ― o menino arqueou uma das sobrancelhas, curioso mesmo que mantivesse sua concentração na estrada.
― Nós nunca trocamos mais que olhares, e mesmo assim um dos motivos de eu ter me esforçado para aprender uma língua completamente da minha e conseguir uma vaga de intercâmbio foi ele. E se eu chegar lá e ele não lembrar quem sou eu? ― apesar de estar rindo, era de nervoso. Aquela era uma hipótese que levava muito à sério, mesmo que tentasse não acreditar para manter o otimismo. ― Ou se ele tiver namorada, imagina? Eu só sei que ele ainda trabalha lá por sua causa.
― Olha… São opções, não posso dizer que não. ― não se tornara amigo do barista, como saberia se isso não havia mesmo acontecido? Oito meses era bastante tempo, tempo o suficiente para as coisas mudarem. ― Mas você não veio só por ele, como você acabou de falar, ele é um dos motivos, então é só focar nos outros depois. Você é muito brilhante para se focar apenas em uma paixão.
concordou com um meio sorriso sem graça pelas palavras do amigo. O coreano estava certo: não era só pelo rapaz que estava ali, e sim porque havia se apaixonado por aquele país. Quando começou a trabalhar na embaixada, apenas como uma auxiliar, não conhecia bem o que era a Coreia do Sul, mas com o tempo e quanto mais descobria sobre a cultura do lugar, mais tinha vontade de conhecê-lo e de viver lá.
E agora, ao conseguir o intercâmbio, teria dois anos para aproveitar cada pedacinho de Seul e também as outras cidades que não viu na primeira viagem. Mas ia adorar se tivesse a companhia de uma certa pessoa consigo durante os passeios…
― Chegamos. ― anunciou com um pequeno sorriso, estacionando o carro na frente da loja.
A garota sentiu suas mãos tremerem e o estômago revirar ao olhar o deque de cores sóbrias dando boas vindas na entrada do local, as memórias lhe fazendo sorrir. Da primeira vez que tivera ali, sua empolgação impediu que apreciasse todo o momento, o que fazia agora, aproveitando seu tempo por alguns minutos. Depois de descer do carro com o incentivo do amigo, parou ao dar dois passos, observando bem todos os detalhes e gravando toda a sensação de nervosismo apenas de pensar em vê-lo.
Mas não demorou muito para isso, porque o rapaz abria a porta do café e saia, parecendo um pouco perdido porque ouvia uns gritos femininos vindo de dentro, provavelmente , a menina que sempre lhe disse que gostava de si e fazia questão de lhe elogiar. Teve que respirar fundo e fechou os olhos por alguns segundos, tomando coragem para aos poucos ver o coreano.
Não teve muito tempo para pensar e logo ele estava do lado de fora, olhando para as mesas até perceber pernas e subir os olhos rapidamente até o seu rosto. A expressão de era séria, mesmo que quisesse sorrir largamente e falar de uma vez, não estava sendo capaz de controlar toda a ansiedade em saber se ele ainda lembrava de quem era, afinal, não queria tratar como conhecido alguém que nem mesmo se recordava da sua existência.
Mas não era esse o caso, pois assim que seus olhos se encontraram, os dele se arregalaram em choque e o rapaz até mesmo deu um passo pra trás pelo impacto da sua presença, lhe fazendo ter vontade de rir. Ele lembrava, e abriu aquele largo e adorável sorriso, que parecia muito mais bonito pessoalmente do que nas melhores memórias que guardava. Não achava que ele era capaz de ficar ainda mais lindo, mas estava sendo surpreendida.
O tempo que passaram se encarando pareceu se perder no mundo. Não conseguiam desviar os olhares, mas também apenas sorriam. Ele continuava usando a mesma roupa de sempre, e agora pode ler claramente o nome escrito em hangul na plaquinha na altura de seu peito. . Seu sorriso se alargou ainda mais ao conseguir juntar os jamos¹ em seu cérebro e ler. Todos aqueles meses finalmente estavam valendo a pena.
A necessidade de falar logo atingiu os dois, tanto , quanto . Ele estava simplesmente fascinado em vê-la ali outra vez, e descargas de adrenalina eletrizavam todo o seu corpo. Ela estava ali apenas porque havia voltado, ou ela estava ali por que se sentia da mesma forma que ele? Estava mais curioso sobre os sentimentos da brasileira do que sobre os seus próprios, porque tinha certeza que estava apaixonado e esperava que não fosse o único que se sentia assim! O que deveria fazer?
Na verdade, ele sabia o que deveria fazer. Sabia o que queria dizer. E dessa vez, ela entenderia.
― Hello.
― Annyeonghaseyo².
Os dois falaram na mesma hora, mas enquanto curvou a coluna para uma reverência por alguns segundos, deu dois passos em frente e estendeu a mão na direção da menina para a cumprimentar. Ao perceberem isso, os dois voltaram a se encarar de olhos arregalados, as expressões surpresas.
Por um segundo ela apenas pensou que ele havia lhe cumprimentado em sua língua nativa, mas seu cérebro traduziu automaticamente pelo costume de ouvir a palavra enquanto estudava e treinava. Entretanto, percebeu que não ao ver a mão do rapaz estendida em sua direção. Calmamente retomou a postura e deu mais um passo em direção a ele, erguendo a sua mão levemente trêmula para segurar a de .
― Hello. ― cumprimentou outra vez, agora da mesma forma que ele.
Nunca esteve tão perto do garoto nas outras vezes que se encontraram, e sentir o cheiro de baunilha que exalava dele estava a deixando a cada segundo mais sem graça e com vontade de se aproximar ainda mais.
― Faz oito meses que eu quero dizer isso, então eu aprendi coisas que eu nunca achei que aprenderia para você poder me entender, e é ridículo porque eu nem sei seu nome, mas… ― respirou fundo, sentindo a mão trêmula da garota segurando a sua. Mudou a posição rapidamente, entrelaçando seus dedos nos dela e sorrindo amavelmente. ― Estou apaixonado por você. Eu e você, de agora em diante, vamos fazer parte dos dias um do outro. ― levou a outra mão até a nuca para coçá-la levemente, rindo sem graça de quão patética sua declaração soava falando em voz alta. Parecia muito melhor quando a mentalizou… Quis se corrigir rapidamente, com medo de que ela tivesse a impressão errada. ― Se você quiser, é claro.
― Eu passei oito meses aprendendo tudo o que eu achei que nunca teria capacidade de aprender pra voltar aqui e ouvir sua voz. Eu acho que me apaixonei por você antes mesmo de ver o seu sorriso, e eu nunca achei que amor à primeira vista fosse possível ou existisse… ― riu, completamente abobalhada com tudo o que estava acontecendo naquela conversa. ― Eu quero. Vamos fazer parte dos dias um do outro.
¹Jamos: são as sílabas coreanas.
²Annyeonghaseyo: é uma das formas de dizer olá em coreano.
Havia acabado de sair do aeroporto e as suas malas estavam no bagageiro do carro de , mas enquanto ele terminava de estacionar ela já abria a porta e passos a guiavam animadamente até o café de esquina que encontrou, andando toda saltitante até o balcão e olhando para cima para ver as opções. Foi aí que percebeu que estava tudo em hangul, e bateu na sua cabeça, olhando para trás.
A sineta do café tocava sinalizando que alguém estava entrando pela segunda vez em menos de um minuto e rapidamente deixou o celular atrás do balcão, olhando para a porta, mas no meio do caminho e tampando sua visão acabou encontrando uma garota, com um sorriso tão largo que o deixou até mesmo besta.
Ela era completamente diferente de todas as garotas que conhecia e sua aparência chamou a atenção não só de si, mas de exatamente todo mundo que estava naquele lugar que virou o rosto para encará-la, o que não era uma surpresa. No segundo momento, porém, não era apenas a aparência dela que fazia todos manterem os olhares focados na garota, mas também a sua forma espontânea de agir e o seu sorriso tão largo e brilhante.
Era linda, singular e a forma com que ria e andava era completamente natural, e por essa naturalidade estavam todos estagnados com a sua presença. Ironicamente, ela chamava a atenção sem esforço, sem rir alto demais ou sem correr ou qualquer outra coisa, já que a aura da desconhecida ainda era discreta para os estereótipos que a sociedade coreana cultivava em relação à estrangeiras, quebrando todo aquele preconceito apenas existindo e sendo ela mesma.
A garota era, nitidamente, uma estrangeira, algo que podia ser visto até mesmo se ela estivesse de costas, mas mesmo assim ele estava prestes a se apaixonar para sempre por seus cabelos que balançavam conforme andava e seus olhos se fechavam levemente sempre que ria… Ria para o rapaz que vinha atrás de si e havia aberto a porta na segunda vez que ouvira a sineta, se aproximando dela rapidamente com uma expressão meio assustada e preocupada.
O mundo dos sonhos de caiu e os vidros se quebraram ao vê-la abraçando o braço do garoto enquanto eles conversavam em outra língua que nem mesmo se deu ao trabalho de identificar, sofrendo calado pela ilusão que criou e depois poucos segundos de aproveitamento foi estraçalhada. Logo os dois se aproximaram do balcão e o garoto fora quem fizera o pedido, enquanto ela permanecia agarrada e meio escondida atrás de seu braço, timidamente lhe olhando às vezes e sussurrando coisas no ouvido do companheiro outras.
Não teve tempo de se distrair e olhar de volta, na verdade também nem teve vontade já que ela estava acompanhada, e vê-la falando tão intimamente com o outro homem lhe deixava completamente depressivo, então rapidamente se concentrou no seu trabalho e atendendo aos pedidos. Mas por mais que quisesse ignorar o quanto a desconhecida era linda e havia lhe conquistado com só um sorriso, sabia que ela não sairia tão cedo da sua cabeça.
Sempre achava que ao se apaixonar à primeira vista ficaria feliz e radiante, com vontade de rir para o nada, mas sinceramente seu ânimo ficou extremamente baixo. Pelo menos até sua irmã aparecer ao seu lado com uma expressão de quem estava muito julgando seus pensamentos, fazendo com que desviasse o olhar da porta onde a desconhecida saia com um braço entrelaçado com o do provável namorado e a outra mão segurando o café latte que ela pedira, olhando para a irmã com uma das sobrancelhas arqueadas.
― Garotas não podem ter amigos sem já acharem outras coisas, não é?! ― a mais nova questionou ofendida, colocando alguns papéis no balcão, próximo ao caixa, onde costumava ficar. ― Como homem tem ego frágil, nossa. ― revirou os olhos, abrindo uma gaveta para pegar uma caneta e começar a organizar a papelada.
― Quê? ― arqueou uma das sobrancelhas confuso, olhando a feição irritada da irmã.
― Você já ficou todo frustrado achando que a garota tem namorado, mas às vezes eles são só amigos! ― ela reclamou outra vez, apontando para a porta com a caneta, onde podia-se ver o carro dando partida e sumindo pela rua. acabava resmungando até mesmo mais para si do que para o irmão, mas ele ouvia mesmo assim.
― , isso tudo é porque eu falei que vou contar pra mamãe sobre você e o seu coleguinha de classe?! ― podia ser lerdo para algumas coisas, mas não era tanto assim quanto a irmã achava. Ou pelo menos não para tudo que envolvia a sua pequena pedrinha preciosa que ele protegia com muito esforço.
― O quê?! Claro que não! Eu posso só estar dizendo que não acho que eles são namorados. Por que você tem que ficar problematizando tudo, seu chato?!
A mais nova começava as reclamações incessantes, o fazendo rir um pouco baixo. Apesar da irmã só estar fazendo aquilo com segundas intenções, o coração de não pôde deixar de ouvi-la, e, lá no fundinho, nutrir uma pouca e discreta esperança dela ser solteira, e também dela voltar lá no outro dia. De preferência sozinha.
― , nós estamos muito longe daquele café que passamos ontem? ― questionou quando o relógio batia próximo das três da tarde, sentindo a fome começar a tomar sua mente e tirar a concentração do jogo de cartas que estavam brincando desde o horário de almoço, esperando que o horário chegasse mais próximo de quando haviam marcado a sessão.
― Só duas ruas. Você quer ir até lá antes de irmos até o cinema? ― o menino perguntou inocentemente, deixando o jogo de lado também e as cartas em cima da mesa, para colocar toda sua atenção em .
― Se não for um problema! ― se sentiu orgulhosa de seu autocontrole e aliviada de não ter percebido nada estranho e nem olhado para si de forma analítica.
Acabou lhe fazendo sorrir maldosa quando levantaram e rapidamente se arrumaram para sair, Era apenas uma coisa boba, mas queria ir outra vez até aquele café para ter a oportunidade de ver novamente o rapaz que trabalhava nele. Ele era, literalmente, o ser humano mais bonito que já vira na face da Terra, mas os seus níveis de empolgação quando o viu eram tamanhos pela chegada recente no país que afetaram a sua capacidade de atenção e não conseguia mentalizar o rosto do desconhecido tanto quanto queria.
Sinceramente, queria poder olhar para ele mais uma vez e por mais alguns segundos, apenas para decorar cada coisinha, cada fibra de sua pele que se juntava para formar aquele rosto perfeito, e poder guardar isso para sua mente para sempre poder lembrar quando voltasse para o Brasil. Era ridículo e se sentia uma adolescente outra vez, mas sinceramente não se importava, e se importou menos ainda quando atravessou a porta ao lado de e sentiu seu coração acelerar.
Ele estava lá, na frente da máquina de café, olhando atenciosamente para a bebida sendo derramada, usando uma camisa branca em combinação com o colete preto e o avental também preto bem preso à cintura. Teve a necessidade de agarrar o braço de como no dia anterior, mas era porque havia sentido o chão sumindo de seus pés com aquela visão dos céus e precisou se segurar em algo que pudesse lhe dar firmeza, ou no caso, alguém.
Aparentemente, achou que era apenas uma timidez por estar em público, então apenas olhou para si com um sorriso confortador e balançou a cabeça, para dizer que estava tudo bem.
― O que você vai querer? ― o coreano questionou com o seu tom de voz tão naturalmente calmo a gentil, lhe fazendo estreitar os olhos para tentar entender alguma coisa do que estava escrito no painel de opções, claro que inutilmente.
― Você pode escolher. ― desistiu depois de um tempo, rindo de nervoso e passando uma das mãos pelos cabelos para jogá-los para trás.
Ele ainda não havia percebido a sua presença e também não parecia que ia perceber tão cedo, concentrado da forma que estava em deixar seu trabalho perfeito. Tentava não ser óbvia em encará-lo, mas era difícil controlar o sorriso no rosto com tamanha beleza que via em sua frente. Quem atendeu foi uma garota que não devia passar dos quinze anos, e era completamente igual ao rapaz. Estava estampado o parentesco deles, mas estava concentrada demais em olhá-lo discretamente e para pensar em qual seria o grau.
― Vocês dois são um casal bonito! A sua namorada é linda. ― a menina comentou com um sorriso após anotar o pedido, fazendo arregalar os olhos e olhar assustado para , que continuava com abraçada com seu braço e distraída e alheia a situação toda.
Claro, ela não podia entender já que a garota falara em coreano, por isso seus olhos claros vagavam por todo o estabelecimento transbordando curiosidade e admiração, diferente dos olhos dele que emitiam puro choque e um pouco de desconforto.
― Obrigado, mas nós não somos um casal, somos só amigos. ― ele agradeceu polidamente e fez questão de pontuar. Seria errado caso deixasse as pessoas pensando algo que não era verdade. Levou a outra mão até a nuca e a apertou timidamente. ― Mas ela ficará feliz em saber que você a achou bonita!
― Ooh, me desculpe, eu realmente pensei…! Bom, vocês dois não deixam de ficarem bonitos juntos. Mas não precisam virar namorados por isso! Quer dizer, se quiserem, virem, mas vocês não querem, né? Ela tem que continuar sol... Bom, espera só um minuto, eu vou levar os seus pedidos! ― a menina saiu rapidamente após ouvir sua resposta e falar tudo muito rápido, fazendo estranhar e quase rir daquela reação exagerada, mas assentir por pensar apenas que ela havia ficado muito sem graça pelo erro e então de desesperara.
Enquanto ele chamava a garota e contava o que havia acontecido entre risos, a adolescente rapidamente ia até onde o irmão mais velho estava, cruzando os braços à frente do corpo logo depois de o cutucando a cintura, fazendo com que quase derrubasse a xícara de café que decorava para formar uma folha.
― Eu tenho três coisas pra te dizer. A primeira, toma o pedido da pessoa que está ali no balcão e você não viu até agora porque é um tapado. A segunda é que você tem a melhor irmã do mundo, e a terceira é que você não vai abrir a boca pra falar do meu amigo pra mamãe, porque se não você nunca vai merecer tudo o que eu faço por você!
Era o terceiro dia que acordava em terras asiáticas, e naquele seu humor era tão brilhante quanto todos os outros. Assim que se espreguiçou, pegou o celular ao lado da cama e olhou que ainda eram nove da manhã, lhe fazendo bocejar de forma preguiçosa e se remexer na cama.
Apesar da vontade de voltar a dormir que lhe fez virar pro outro lado, não conseguiu pegar no sono outra vez, desistindo com um suspiro frustrado. Sabia que estava ocupado, tentando manter os trabalhos de faculdade em dia enquanto estava dormindo ou tomando banho, e queria enrolar ao máximo para aparecer na sala e atrapalhá-lo.
Tomou um banho longo, arrumou os cabelos, escolheu um vestido de saia rodada e então saiu depois de passar uma maquiagem na cara. Fazia questão de estar arrumada todos os dias, literalmente para sair bonita em todas as fotos que fazia questão de tirar durante todo o tempo.
― Bom dia, ! ― se aproximou ao vê-lo sentado na cadeira da mesa de café da manhã que ficava em um canto da sala de jantar, próxima a janela, e abraçou o rapaz por trás para cumprimentá-lo.
― Bom dia, ! ― cumprimentou também, segurando as mãos da garota que se juntavam em seu peitoral e tentando soar mais animado do que realmente estava, mas não por causa da garota e nem de nada que ela havia feito, mas sim por causa do cansaço de toda a rotina corria que estava passando.
― Como você está? Conseguiu dormir algumas horas nessa noite? ― puxou a segunda cadeira para se sentar ao lado do amigo, passando os olhos por todo aquele monte de papelada curiosamente.
― Não muito, na verdade, eu tinha diversos trabalhos de literatura pra fazer. ― deu uma suspirada, sorrindo de canto e passando uma das mãos pelos cabelos para jogá-los para trás.
― Me sinto mal por te atrapalhar tanto. ― comentou desanimada, balançando a cabeça negativamente. ― Queria poder te ajudar um pouco, mas não consigo entender nada além da data.
― Está tudo bem, a sua presença já me ajuda. ― ele piscou um dos olhos para a menina, os dois acabaram rindo logo depois.
― Você engana bem.
― Mas eu tenho um favor pra te pedir.
― Sabia que não era assim tão fácil! ― a menina riu outra vez, balançando a cabeça negativamente e fazendo o menino arregalar os olhos. ― É brincadeira! O que você quiser, você merece. Só não me pede pra ler nada em coreano. ― agora riu junto, jogando a cabeça para trás.
― Eu nunca seria tão cruel. ― o observou pegar uma folha de papel e calmamente escrever algumas coisas nela. ― Me desculpe, mas não tive tempo de fazer nosso café da manhã. Você pareceu gostar da cafeteria de ontem, então pode ir lá buscar alguma coisa pra gente? Eu desenhei um mapinha aqui ― ele apontou para o começo da folha, onde estava bem exemplificado em qual direção devia ir e qual rua deveria virar, tanto para ir, quanto para voltar. ― e o pedido está aqui. É só mostrar e pronto!
― , realmente, quando falaram que você era um gentleman, não estavam brincando. ― olhou a folha ainda em choque, observando todos os detalhes que ele colocou nela, até mesmo o número de casas que passaria e tudo.
― Não me deixe sem graça. ― riu um pouco, coçando a nuca com o dedo para disfarçar que estava envergonhado. ― Tome cuidado com os sinais, por favor, o trânsito aqui é perigoso! E qualquer coisa, qualquer coisinha mesmo, me liga, certo?!
― Está tudo bem, papai, eu vou te mandar uma mensagem assim que chegar lá. ― se levantou, jogando um beijo no ar e guardando o celular no bolso para se concentrar apenas na folha. ― Até logo!
― Volte em segurança!
andava ansioso para saber se a desconhecida iria alguma outra vez na cafeteria. Agora que descobrira que ela era sim solteira, ele não podia controlar sua empolgação sempre que lembrava do rosto bonito, mesmo que não soubesse nomeá-lo e nem se iria vê-lo outra vez.
Balançou a cabeça negativamente, tentando se controlar enquanto observava sua fisionomia no espelho e via o sorriso animado que não conseguia fazer desaparecer do seu rosto desde o dia anterior, quando não precisou mais se sentir mal de achar uma garota comprometida tão bonita. Jogou uma água no rosto para tentar se concentrar melhor no que deveria fazer, mas mesmo assim seu coração continuava batendo como o de uma criança.
O que havia acontecido consigo, quando havia acontecido?! Grunhiu frustrado, mesmo que não estivesse verdadeiramente bravo, rindo consigo mesmo logo depois e então saiu para voltar ao seu posto de uma vez, antes que passasse uma hora ali apenas olhando para si mesmo e rindo. ficaria infeliz durante todo o dia se a deixasse para fazer todas as coisas por muito tempo.
Mas aparentemente, a irmã já estava infeliz, porque assim que apareceu atrás do balcão ela desferiu um tapa pesado em sua nuca, lhe fazendo gemer e levar rapidamente a mão até onde ela batera, local esse que não precisou de mais de dez segundos para começar a ficar bem avermelhado.
― ! Por quê? ― choramingou chateado, olhando para a mais baixa que revirava os olhos com aquele drama.
― Por que você tem que ser tão lerdo assim?! ― a coreana apontou para a porta e olhou para a direção do dedo da irmã, vendo a estrangeira desconhecida andando calmamente para a calçada que levava do deque da cafeteria para a rua, lhe fazendo bater com a própria mão na cabeça e suspirar desanimado.
― E-Eu não tinha como saber! ― teve vontade de sair correndo até para vê-la de perto novamente e poder enxergar seu rosto de frente, já que apenas conseguira ver de perfil quando ela estava virando para seguir a direção da rua, mas infelizmente não podia fazer isso.
― A partir de hoje, você nunca mais vai sair detrás desse balcão.
Antes de abrirem e virar a placa na porta que estampava um “open/closet” para o lado de fora do café, observava calmamente o diário que mantinha no bloco de notas do celular, lendo o que andava escrevendo naqueles últimos dias. A primeira parte descrevia como fora a primeira vez que a vira e se ofendia nas últimas linhas, porque achava que ela estava em um relacionamento.
No outro dia, os relatos ficavam mais animados por ter descoberto que ela era solteira, e então os do dia anterior eram uma compilação do que sentiu ao vê-la mesmo que de relance,, a sensação estranha de se sentir tão apaixonado por alguém que nem mesmo havia conversado. Como podia, o que deveria fazer? Paixão à primeira vista nunca fora algo que acreditava, mas era isso que parecia ter acontecido.
Tinha também tudo o que queria falar para a estrangeira, mas não havia tido oportunidade, na verdade, mesmo se tivesse a oportunidade, nem sabia como iria o fazer.
Quando você me vê, garota
Nós nos vimos ontem
Oh não, eu sou o único que te viu
Eu converso com você como se nos conhecêssemos
Mantenho a calma e te chamo para sair
Para um café e filme que eu preparei”
Embaixo, havia visto a tradução no site online, com a esperança de que aquilo lhe desse coragem de falar com ela, caso a garota aparecesse outra vez. Mas sinceramente não conseguia saber nem mesmo como pronunciar a maior parte das palavras, o que esmagava a sua confiança e lhe deixava em completo desespero, principalmente com o medo de tradutor ter colocado uma palavra errada. O que ela pensaria de si?
Mesmo que decorasse o pequeno texto e a forma de recitá-lo, e por um milagre ela aceitasse seu convite, como diabos conversariam durante as horas do encontro? já estava ficando depressivo com o fato de não ter prestado tanta atenção nas aulas de inglês como deveria, e isso porque nunca fora um mau aluno.
Do outro lado, e entraram em um consenso: ela iria buscar café para eles todos os dias, assim o garoto não teria o trabalho de se pressionar para fazê-lo, e ela se sentia útil em alguma coisa. Claro que a menina tinha segundas intenções nisso, mas o amigo parecia não saber, então estava tudo ótimo e saindo nos conformes.
No dia anterior quando fora até o estabelecimento o barista não estava, o que não servira para a deixar desanimada, na verdade, pelo contrário, ficara apenas mais ansiosa para o próximo dia, quando iria até lá outra vez. Ainda tinha mais uma semana na Coreia para vê-lo, se possível todos os dias, e aproveitaria cada oportunidade de gravar o rosto do rapaz em sua mente.
Quando viu que ele estava no balcão e passava os dedos pelos fios dos cabelos para jogá-los para trás, riu e chorou ao mesmo tempo. Riu porque ele estava ali, e chorou porque o infeliz era tão lindo que doía, além de que o nervosismo em ter que “falar com ele” a atingiu como um tijolo, principalmente porque não sabia exatamente o que fazer.
Foi por isso que fez o que provavelmente era bem estranho e não esperado, mas ela havia feito a mesma coisa no dia anterior para chamar a adolescente que a atendeu de forma simpática. Ela simplesmente deixou o papel com o pedido na letra de em cima do balcão, com seus dedos indicadores segurando a ponta do papel, e quando o rapaz percebeu a presença de alguém e ergueu o olhar, ela sorriu sem abrir os lábios, envergonhada, também acenando timidamente.
não teve coragem alguma de fazer qualquer outra coisa se não o mesmo que a garota. Se naquele momento ele havia esquecido completamente as palavras até mesmo em sua língua mãe, quem dirá em outras? Não teria a mínima capacidade de lembrar aquela pequena tradução, então acabou deixando apenas um sorriso largo nos lábios quando assentiu com a cabeça e foi preparar o pedido.
Aquela foi a primeira vez que viu aquele sorriso adorável. Quis morrer como ele só ficava mais e mais perfeito sempre que descobria um traço novo da sua aparência, como os caninos avantajados ou o dentinho um pouco torto que normalmente teria vontade de mandar a pessoa ir até o dentista arrumar, mas não naquele caso.
No caso dele era charmoso e completava a sua aparência, era apenas perfeito. Também não esqueceu de anotar na sua mente sobre a pinta grande na bochecha direita do menino, a outra na ponta de seu nariz e a terceira que conseguiu olhar, no pescoço, próxima ao pomo de Adão. Era errado demais estar apaixonada pela pessoa apenas por sua aparência? Se sentia péssima, mas não conhecia o rapaz ainda para ter uma opinião sobre a sua pessoa, apenas sobre como ele parecia uma pintura.
Estava prestes a ter um colapso mental, um surto, quando ouviu seu celular tocando. Era , preocupado porque não mandara a mensagem que dissera que mandaria. Se encontrava desconcentrada o suficiente para demorar uns cinco minutos para entender a mensagem, mas assim que conseguiu lê-la, respondeu pedindo desculpas e falando que não deveria demorar para o apartamento. Afinal, por mais que quisesse ficar e conversar com o rapaz, não conseguiria, o que foi confirmado quando ele voltou com a sacola para viagem e seus olhares se encontraram.
Não souberam por quanto tempo, mas simplesmente ficaram se olhando, apenas com os sons das respirações entre eles. Era estranho, e nem mesmo o nome dele conseguia ler na pequena plaquinha que ficava na altura do peito, porque estava em hangul. Controlou a vontade de suspirar frustrada, e deu o dinheiro que contara para si para que não precisasse se comunicar ao falar sobre o troco, pegando a sacola de papel e acenando com um sorriso sem graça para o rapaz antes de virar de costas e sair.
E ele apenas suspirou, afinal, o que mais poderia fazer além disso? Mesmo que sua vontade fosse de pegá-la pela mão, sorrir largamente e chamá-la pra sair, ela simplesmente não ia entender. Podia imaginar perfeitamente o balão de fala acima da cabeça da garota com diversos pontos de interrogação, e o pior de tudo é que se ela tentasse falar qualquer coisa, ele também não ia entender. E isso era o mais frustrante.
A cena se repetiu por mais aquela semana. Sempre que ia até o café, os dois se olhavam e sorriam um para o outro, mas não havia som algum além da respiração de ambos. Até aquele dia, porque estava decidido a mudar isso. Se passaram oito dias, e não era capaz de deixar as coisas iguais por muito mais tempo. Queria ouvi-la, mesmo que não entendesse nada.
havia lhe ensinado, porque não confiava nos tradutores para ter certeza do que teria que falar, então preferira perguntar pra irmã mesmo que isso ocasionasse que ela fosse zoar com a sua cara pelo resto da vida. Era apenas uma palavra, e na verdade ele sabia qual era, mas tinha esquecido e se sentia um burro com isso. Era tão fácil! Que ela fosse mais uma vez, pelo menos mais essa, para conseguir falar e não se sentir o ser mais idiota do mundo.
― Bom dia. ― ouviu uma voz calma e masculina que se dirigia a . Ergueu o olhar também, mesmo que não tivesse nada haver com a cena, encontrando o amigo da garota, aquele que sempre andava com ela nos dois primeiros dias que a viu.
― Bom dia, o que vai querer hoje? ― a irmã também pareceu perceber a ausência da menina, mas não falou nada, apenas sorriu de canto para atender o cliente, como deveria fazer com todos.
― Só um café, por favor. ― sorriu educadamente, fazendo contato visual com a menina por apenas um segundo antes de voltar a olhar para a tela do próprio celular que lhe distraia um pouco.
― Claro, só um minuto. ― olhou para si daquela forma tão naturalmente inquisidora dela, que queria dizer um “você já sabe o que fazer”.
Teve dificuldades para obedecê-la, a curiosidade sobre o pedido ser apenas de um café, e não de dois, mas não podia falar nada e nem perguntar, que tipo de louco iria parecer?
― A sua amiga não veio com você hoje? ― ouviu a irmã mais nova perguntando quando o rapaz assentiu e antes que ele saísse para esperar sentado. Só faltou surtar por dentro. Amava sua irmãzinha, meu Deus, ia até comprar algum presente pra ela depois.
― Ah, não, ela… Foi embora. ― a expressão de se contorceu numa chateada, enquanto ele olhava para o chão, guardando o aparelho no bolso do casaco que usava, já que estava fazendo um pouco de frio naquele dia.
― O-Oh, mesmo…?
― Sim, ela veio pra cá em um projeto turístico, para conhecer melhor a Coréia e ajudar a divulgar nosso país no Brasil. Eu era o guia turístico dela. ― a verdade era que só fora naquele café outra vez para lembrar da garota, sentiria falta do seu bom humor logo de manhã e aquele lugar parecia exalar um pouco daquela animação, talvez porque a adolescente em sua frente também parecia empolgada logo cedo. ― Bom, a viagem era só de duas semanas, ela viajou ontem.
Ouviu um barulho metálico que chamou tanto a sua atenção quanto a da de . O barista parecia ter derrubado alguma coisa no chão, mas antes que pudesse ver o que era ou a expressão chocada do rapaz, a menina voltou a falar.
― É uma pena! Espero que ela volte algum dia. ― riu de nervoso, balançando os cabelos exageradamente para que olhasse para si e não para o babaca do seu irmão. ― Se um dia isso acontecer, fale pra ela passar aqui! Quero vê-la outra vez.
― Também espero que ela volte. Pode deixar, vou fazer questão de avisá-la pra passar aqui se um dia ela vier, assim você poderá vê-la de novo.
A frustração de e a de era igual, até mesmo se eles estavam em lados opostos do globo terrestre.
A menina achou que era apenas uma crush saudável durante os tempos que passara na Coréia e que esse sentimento de paixão platônica iria embora depois que voltasse a sua rotina no Brasil, para a faculdade e o trabalho de meio período na embaixada coreana, o que lhe dera a oportunidade de participar daquele projeto que lhe permitiu conhecer o lugar que via em seus sonhos.
Achou que a lembrança do desconhecido se tornaria apenas uma memória agradável do ser humano mais bonito que já viu em toda a sua vida, mas na verdade, toda vez que o rosto dele fazia cócegas em sua mente, uma dorzinha no seu coração se instalava.
Também achou que com o tempo aquilo sumiria, mas não, sua situação não melhorava, só ficava pior. A cada dia a imagem do rosto do rapaz parecia estar mais nítida na sua mente, e era agonizante como mesmo dessa forma, não sabia nem mesmo o seu nome.
Foi por isso que tomou a decisão de estudar coreano três semanas depois de ter voltado para o Brasil. Iria para Coréia outra vez, mas dessa vez fluente, e conseguiria falar com o desconhecido para ver se dessa forma seu coração superava.
Em nenhum dia daqueles oito meses ele saiu da sua cabeça. Era algo tão louco que estava pensando em se internar, mas lembrava de cada detalhe dele perfeitamente. Com o tempo cedeu e pediu para descobrir seu nome, mas o amigo, que rigorosamente lhe dava aulas de coreano três vezes por semana, apenas riu e disse que teria a oportunidade de perguntar quando fosse até lá. Era uma vingança por ela não ter contado a paixão para si quando ainda estava em solo asiático.
Além disso, parecia gostar de lhe torturar e vez ou outra ainda mandava fotos do rapaz trabalhando, todas em um ângulo onde não poderia aproximar da plaquinha que ele continuava usando no peito da camisa social branca, lhe deixando completamente louca. Não fazia a mínima ideia de como seria sua reação quando visse o coreano outra vez, mas sinceramente esperava que estivesse lá para segurá-la caso perdesse o resto da sanidade que tinha.
Na verdade, depois de oito meses, quando saia da área de desembarque do aeroporto e encontrava lhe esperando, estava mais curiosa ainda para saber qual seria a reação do rapaz quando lhe visse. Será que no momento que se encontrassem, ele iria se lembrar e sorrir?
― Está ansiosa? ― perguntou após metade do caminho que tinham que fazer para chegar de Incheon a Seul.
― Você não tem noção, apesar de ser bem idiota. ― riu para si mesma, observando pela janela o lindo dia ensolarado que fazia e o clima agradável com um vento refrescante.
― Por que idiota? ― o menino arqueou uma das sobrancelhas, curioso mesmo que mantivesse sua concentração na estrada.
― Nós nunca trocamos mais que olhares, e mesmo assim um dos motivos de eu ter me esforçado para aprender uma língua completamente da minha e conseguir uma vaga de intercâmbio foi ele. E se eu chegar lá e ele não lembrar quem sou eu? ― apesar de estar rindo, era de nervoso. Aquela era uma hipótese que levava muito à sério, mesmo que tentasse não acreditar para manter o otimismo. ― Ou se ele tiver namorada, imagina? Eu só sei que ele ainda trabalha lá por sua causa.
― Olha… São opções, não posso dizer que não. ― não se tornara amigo do barista, como saberia se isso não havia mesmo acontecido? Oito meses era bastante tempo, tempo o suficiente para as coisas mudarem. ― Mas você não veio só por ele, como você acabou de falar, ele é um dos motivos, então é só focar nos outros depois. Você é muito brilhante para se focar apenas em uma paixão.
concordou com um meio sorriso sem graça pelas palavras do amigo. O coreano estava certo: não era só pelo rapaz que estava ali, e sim porque havia se apaixonado por aquele país. Quando começou a trabalhar na embaixada, apenas como uma auxiliar, não conhecia bem o que era a Coreia do Sul, mas com o tempo e quanto mais descobria sobre a cultura do lugar, mais tinha vontade de conhecê-lo e de viver lá.
E agora, ao conseguir o intercâmbio, teria dois anos para aproveitar cada pedacinho de Seul e também as outras cidades que não viu na primeira viagem. Mas ia adorar se tivesse a companhia de uma certa pessoa consigo durante os passeios…
― Chegamos. ― anunciou com um pequeno sorriso, estacionando o carro na frente da loja.
A garota sentiu suas mãos tremerem e o estômago revirar ao olhar o deque de cores sóbrias dando boas vindas na entrada do local, as memórias lhe fazendo sorrir. Da primeira vez que tivera ali, sua empolgação impediu que apreciasse todo o momento, o que fazia agora, aproveitando seu tempo por alguns minutos. Depois de descer do carro com o incentivo do amigo, parou ao dar dois passos, observando bem todos os detalhes e gravando toda a sensação de nervosismo apenas de pensar em vê-lo.
Mas não demorou muito para isso, porque o rapaz abria a porta do café e saia, parecendo um pouco perdido porque ouvia uns gritos femininos vindo de dentro, provavelmente , a menina que sempre lhe disse que gostava de si e fazia questão de lhe elogiar. Teve que respirar fundo e fechou os olhos por alguns segundos, tomando coragem para aos poucos ver o coreano.
Não teve muito tempo para pensar e logo ele estava do lado de fora, olhando para as mesas até perceber pernas e subir os olhos rapidamente até o seu rosto. A expressão de era séria, mesmo que quisesse sorrir largamente e falar de uma vez, não estava sendo capaz de controlar toda a ansiedade em saber se ele ainda lembrava de quem era, afinal, não queria tratar como conhecido alguém que nem mesmo se recordava da sua existência.
Mas não era esse o caso, pois assim que seus olhos se encontraram, os dele se arregalaram em choque e o rapaz até mesmo deu um passo pra trás pelo impacto da sua presença, lhe fazendo ter vontade de rir. Ele lembrava, e abriu aquele largo e adorável sorriso, que parecia muito mais bonito pessoalmente do que nas melhores memórias que guardava. Não achava que ele era capaz de ficar ainda mais lindo, mas estava sendo surpreendida.
O tempo que passaram se encarando pareceu se perder no mundo. Não conseguiam desviar os olhares, mas também apenas sorriam. Ele continuava usando a mesma roupa de sempre, e agora pode ler claramente o nome escrito em hangul na plaquinha na altura de seu peito. . Seu sorriso se alargou ainda mais ao conseguir juntar os jamos¹ em seu cérebro e ler. Todos aqueles meses finalmente estavam valendo a pena.
A necessidade de falar logo atingiu os dois, tanto , quanto . Ele estava simplesmente fascinado em vê-la ali outra vez, e descargas de adrenalina eletrizavam todo o seu corpo. Ela estava ali apenas porque havia voltado, ou ela estava ali por que se sentia da mesma forma que ele? Estava mais curioso sobre os sentimentos da brasileira do que sobre os seus próprios, porque tinha certeza que estava apaixonado e esperava que não fosse o único que se sentia assim! O que deveria fazer?
Na verdade, ele sabia o que deveria fazer. Sabia o que queria dizer. E dessa vez, ela entenderia.
― Hello.
― Annyeonghaseyo².
Os dois falaram na mesma hora, mas enquanto curvou a coluna para uma reverência por alguns segundos, deu dois passos em frente e estendeu a mão na direção da menina para a cumprimentar. Ao perceberem isso, os dois voltaram a se encarar de olhos arregalados, as expressões surpresas.
Por um segundo ela apenas pensou que ele havia lhe cumprimentado em sua língua nativa, mas seu cérebro traduziu automaticamente pelo costume de ouvir a palavra enquanto estudava e treinava. Entretanto, percebeu que não ao ver a mão do rapaz estendida em sua direção. Calmamente retomou a postura e deu mais um passo em direção a ele, erguendo a sua mão levemente trêmula para segurar a de .
― Hello. ― cumprimentou outra vez, agora da mesma forma que ele.
Nunca esteve tão perto do garoto nas outras vezes que se encontraram, e sentir o cheiro de baunilha que exalava dele estava a deixando a cada segundo mais sem graça e com vontade de se aproximar ainda mais.
― Faz oito meses que eu quero dizer isso, então eu aprendi coisas que eu nunca achei que aprenderia para você poder me entender, e é ridículo porque eu nem sei seu nome, mas… ― respirou fundo, sentindo a mão trêmula da garota segurando a sua. Mudou a posição rapidamente, entrelaçando seus dedos nos dela e sorrindo amavelmente. ― Estou apaixonado por você. Eu e você, de agora em diante, vamos fazer parte dos dias um do outro. ― levou a outra mão até a nuca para coçá-la levemente, rindo sem graça de quão patética sua declaração soava falando em voz alta. Parecia muito melhor quando a mentalizou… Quis se corrigir rapidamente, com medo de que ela tivesse a impressão errada. ― Se você quiser, é claro.
― Eu passei oito meses aprendendo tudo o que eu achei que nunca teria capacidade de aprender pra voltar aqui e ouvir sua voz. Eu acho que me apaixonei por você antes mesmo de ver o seu sorriso, e eu nunca achei que amor à primeira vista fosse possível ou existisse… ― riu, completamente abobalhada com tudo o que estava acontecendo naquela conversa. ― Eu quero. Vamos fazer parte dos dias um do outro.
¹Jamos: são as sílabas coreanas.
²Annyeonghaseyo: é uma das formas de dizer olá em coreano.
Fim.
Nota da autora: Antes de tudo, UM BEIJO PRA MAYARA QUE ME CEDEU ESSA DELÍCIA! SAHSUAHSUHA
Hello foi praticamente inteira composta pelo amor da minha vida todinha, Kim Mingyu, e eu queria fazer essa short especial por isso e também porque eu a escrevi pensando no aniversário dele que passou esse mês, por isso o pp é barista e etc. Então meus parabéns que vão sair atrasados pra esse nenê! Tudo foi milimetricamente feito pensando nele, então me desculpe se nem tudo encaixa com seu bias! USAHUSAHUSHA Eu só queria mesmo imprimir um pouco do meu amor por esse menino nessas palavras e deixar o coração de vocês bem quentinho! Espero que tenha sido uma leitura leve e divertida, e se você gostou, me deixe saber!
Se quiser falar comigo, é só me procurar no Twitter!
Outras Fanfics:
LONGS:
Trespass
Kratos
(No) F.U.N
Ficstapes:
01. Intro. New World
06. Lilili Yabbay
11. Hello
11. Hug
13. Outro. Incompletion
Music Video:
MV: A
MV: Callin
MV: Don’t Wanna Cry
MV: Gashina
MV: Hyde
MV: Please Don’t…
MV: Trauma
MV: Heroine
MV: Mysterious
MV: Shangri La
MV: Very Nice
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Hello foi praticamente inteira composta pelo amor da minha vida todinha, Kim Mingyu, e eu queria fazer essa short especial por isso e também porque eu a escrevi pensando no aniversário dele que passou esse mês, por isso o pp é barista e etc. Então meus parabéns que vão sair atrasados pra esse nenê! Tudo foi milimetricamente feito pensando nele, então me desculpe se nem tudo encaixa com seu bias! USAHUSAHUSHA Eu só queria mesmo imprimir um pouco do meu amor por esse menino nessas palavras e deixar o coração de vocês bem quentinho! Espero que tenha sido uma leitura leve e divertida, e se você gostou, me deixe saber!
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