Finalizada em: 30/04/2018

Capítulo Único


19 de Agosto, 2328
, naquele momento, era o centro do universo.
Era um pouco pretensioso falar isso, não? Mas o pior é que era a mais pura realidade, ele realmente era. Normalmente dividia o seu holofote com os outros doze amigos, mas quando tinha de compor, ele se trancava sozinho e tornava-se um só com a sua inspiração, a sua música e o seu talento, esse último tão impressionante que o tornou o centro de todo aquele mecanismo desenvolvido com o desejo do homem de se sentir acolhido.
Há algo que faça seu coração aquecer mais e te faça se sentir tão compreendido quanto escutar a voz do seu cantor favorito, em uma melodia agradável e cantando tudo aquilo que você quer e precisa ouvir no momento? No ano de 2328, não há, não existe nada maior do que isso, essa conexão com a arte sonora e com os poemas escritos em formas de letras.
A música é o que move as pessoas, o que as dá força para levantar todos os dias e encarar a vida da melhor forma possível, seja trabalhando, estudando e/ou mantendo suas relações interpessoais do jeito mais saudável que se vira desde o início das civilizações.
É assim que funciona para toda a população, com a exceção de apenas uma classe. Os criadores das belíssimas canções que flutuavam por toda a face da Terra, passando de ouvido em ouvido, cérebro em cérebro e penetrando em cada coração. O motivo era óbvio: se eles são quem criam o motivo e o incentivo de existência para os outros, qual seria o motivo de vida deles?
Mal tinham tempo de apreciar o próprio trabalho para se sentirem inspirados com suas criações, a demanda era alta demais e tinham que passar literalmente a vida inteira compondo, porque antes que ouvissem o seu último resultado já tinham que estar escrevendo uma letra nova, ou uma melodia. Por isso apenas os melhores e com capacidade mental acima da média conseguiam se tornar compositores.
Esse se tornou o motivo de vida deles, de todos que se colocavam naquele destino. Era realmente nobre viver apenas para os outros, pensando apenas em fazer as pessoas se sentirem bem e felizes, mas igualmente desgastante e triste quando ninguém pensa em quem está se esforçando para isso, quando eles mesmos não tem razão de vida além dessa, na realidade eles nem mesmo tem vida além disso.
No começo do projeto as coisas não eram dessa forma. Tudo era mais humanizado e pensado de forma que os compositores não se sentissem tão sozinhos e pudessem manter uma rotina normal como qualquer trabalho, mas aos poucos as pessoas começaram a procurar mais e mais músicas, tão massivamente que não importava a quantidade que lançassem em um dia, nunca era o suficiente e ainda haviam casos de que o combustível não havia sido o suficiente no fim do dia.
Então tudo se tornou o que é hoje. Aparentemente todas as vidas têm valor, menos as dos criadores daquele alívio em meio às crises.
era um deles. Considerado o maior gênio da música atualmente, ele não só compunha e tocava diversos instrumentos, como também tinha uma voz de anjo, uma técnica de dar inveja e conseguia dançar tão bem quanto alguém que se concentrava apenas na arte corporal. Todo o seu currículo lhe proporcionou, além do emprego como compositor, a vaga de membro do atual maior grupo da Terra.
Era apenas por isso que não passava toda a sua vida trancado dentro do estúdio, porque tinha de sair para encontrar com os amigos, treinar com eles as coreografias e esporadicamente se apresentar em eventos muito importantes ou shows especiais que faziam para entretenimento de todos. Um costume das gerações antigas que tentavam preservar um pouco, era na verdade um dos poucos momentos que não se sentia verdadeiramente vazio como se sentia todos os dias normalmente.
O Seventeen atualmente era o grupo que mais abastecia o universo, e era o compositor oficial deles. Não é que ele não gostasse do que fazia, porque ele amava, era apenas que depois de cinco anos compondo todo dia e noite, a sua mente parecia que ia explodir. A pressão colocada em era tão terrível que ele não conseguia ficar com a postura relaxada há tanto tempo que estava desenvolvendo problemas na coluna de tanto ficar travado.
Todas suas composições antes de conseguir aquele emprego, que não eram poucas, já haviam sido lançadas, assim como as dos garotos de seu grupo que lhe encaminharam para que ele as finalizasse e trabalhasse até a perfeição e o lançamento. Nunca nada estava sobrando, na verdade sempre faltava, mas ele nunca desistia ou deixava de se esforçar, simplesmente se levantava depois de poucas horas de sono, tomava um banho e ia novamente ao estúdio, passar horas trancado nele.
Era o que devia fazer pelo seu passado, pelas pessoas do mundo e pela a felicidade de seus companheiros que amavam o que faziam tanto quanto si mesmo. Suspirou, abrindo um novo arquivo para iniciar uma nova música após salvar a última. A chuva do lado de fora estava extremamente forte, mas aquilo não era capaz de desanimá-lo nem um pouco, na verdade, era muito pelo contrário. Aquilo apenas lhe dava forças.

04 de Abril, 2322
Estava chovendo tão forte naquele dia que alguns temiam um dilúvio, mesmo que para um pensamento daqueles fosse totalmente exagerado. Sua mãe iria lhe matar quando soubesse que estava andando na rua com aquele tempo, mas que culpa tinha em se perder em sua música de forma tão intensa? Além do mais, o estúdio de música da escola não tinha janelas, o que dificultava para si checar o tempo e também saber se já havia anoitecido quando estava dentro da sala.
Apenas foi embora porque o zelador foi até lá bater na porta e se certificar de que não tinha mais ninguém nas salas para trancá-las, praticamente lhe expulsando de um jeito amigável, já que passava tanto tempo naquela sala que o homem o conhecia bem o suficiente para ignorar o fato dele não seguir os horários corretos que o clube deveria ser utilizado.
A capa de chuva transparente que cobria sua cabeça e ombros não era capaz de lhe manter aquecido e muito menos tão seco quanto deveria, então seu corpo tremia mais do que gostava de admitir toda vez que um pingo a mais se misturava com os outros em sua pele pálida ou que sentisse um vento mais forte do que os que já estavam cortando o ar.
As duas ruas combinadas com a ponte não muito longa que deveria atravessar para chegar em sua casa nunca pareceram tão distantes e longas, mas foi quando chegou na ligação entre os bairros que seus olhos se arregalaram com a cena.
Estava mesmo vendo direito, ou era um efeito dos olhos embaçados por conta da água?! Passou as mãos pelas pálpebras tentando melhorar a situação, não era a melhor solução uma vez que suas palmas também estavam encharcadas, mas foi o suficiente para confirmar que sim, aquilo estava acontecendo.
A reconheceria em qualquer situação e em qualquer lugar, mesmo que ela estivesse virada de costas para si. Na verdade, como a garota estava era o problema e fez seu coração bater tão forte que só faltou saltar pela boca. estava ali, sentada no parapeito da ponte com as pernas balançando do lado do pequeno abismo, flertando com um perigo que ninguém conseguiria vencer.
Porém entendia bem o que estava acontecendo, o bastante para saber que alguém que estava fazendo a mesma coisa que ela, não queria vencer aquele perigo, queria ser engolido por ele.
! ― chamou desesperado, correndo pelas poças de água no chão para chegar o mais rápido até a garota.
Sua primeira reação foi abraçá-la pelos ombros, a segurando tão forte que ela não poderia cair se tentasse impulsionar seu corpo para frente. Sabia que não deveria tocá-la sem seu consentimento, principalmente um toque tão íntimo quanto aquele, quando seu rosto se encaixava perfeitamente na linha de seu pescoço e podia sentir o cheiro de seus cabelos, mas não se importava. Não naquele momento.
Não pôde ver a expressão surpresa entre as lágrimas da menina que até o momento encarava a queda de seis metros que levaria até um rio, querendo olhar para trás e saber quem é que estava esquentando sua pele fria e pálida com seu próprio calor. No fundo ela reconhecia aquela voz, no fundo sabia quem era, mas preferia pensar que não, preferia pensar que a água em seu ouvido atrapalhou a sua percepção.
Aquela cena era surreal demais para e ele estava prestes a ter um colapso mental quando sentiu as mãos da garota tocando levemente seus braços. Não era para afastá-los como temeu que seria, o toque delicado logo se tornou um agarro forte e parecia puxá-lo mais para si. O barulho da chuva não era nada em comparação com o soar daquele choro sofrido que partia o coração de , sentindo o abdômen da garota subir e descer de forma desesperada e alguns soluços escaparem por entre seus lábios.
Se perguntou por quanto tempo ela estava chorando e apesar de não saber a resposta, sabia que era tempo demais. Não aguentava vê-la daquela forma, queria tirar toda a dor de seu coração e não se importaria nem mesmo se tivesse que transportá-la para si mesmo, contanto que ela parasse de chorar e não conseguia acreditar que ela estava mesmo pensando em tirar sua vida.
e se conheceram em um dia da primavera, ao qual as pétalas de cerejeira caiam ao redor da garota, quando ela estava sentada no balanço que ficava ao lado da quadra do colégio, parecendo entediada e apenas observando as nuvens que mal se moviam no céu azul. Era a terceira vez naquela semana que observava aquela cena por minutos, sendo que da primeira estava com seu caderno em mãos e acabou começando a fazer uma música inspirado por ela.
Da segunda vez que o fizera no dia anterior, ele tentava continuar a música e não deixar parecer muito óbvio que a estava encarando e agora, na terceira vez, ele simplesmente estava paralisado. Havia acabado de finalizar a música e como dizia na letra, queria tanto falar com ela, conversar e falar o quanto havia… O quanto havia a achado bonita. Por isso o nome da música que fizera era Pretty U. Relia a parte do refrão, tentando usar isso para lhe encorajar.

“Eu quero juntar todas as palavras doces para você
Elas ficam presas na minha garganta na sua frente
Eu prometo a mim mesmo enquanto bebo um copo de água pela manhã
Que eu confessarei o que está na ponta da minha língua amanhã
Você é bonita”


Na verdade, a letra apenas o desencorajou. Como já podia estar apaixonado por alguém que nem sabia seu nome? Na verdade, ele também não sabia o dela. Não sabia como sua voz soava e nem desde quando ela estava na escola, mas sabia que queria conhecê-la e por isso guardou o caderno, se aproximando e se oferecendo para empurrar o balanço.
Ela lhe deu um sorriso tímido e disse que não, quebrando seu coração em mil pedaços e fazendo com que desse meia volta para ir embora enquanto murmurava um pedido de desculpas por ser intrometido, mas o pediu parar e disse que ficava tonta quando balançava por causa da labirintite, mas ele podia sentar ao seu lado se quisesse.
A forma natural que ela usou para explicar e o tom informal o deixou tão confortável que ele sentou, e desde então sempre conversavam no mesmo lugar, no mesmo horário. Apesar disso, não costumavam andar juntos em outras situações, na verdade estava sempre trancado no clube de música ou com seus amigos que cantavam consigo no clube e ela…
Ele nunca percebeu, mas ela sempre estava sozinha.
E agora estavam ali, e para ele era a única pessoa que podia se agarrar naquele momento. estava sendo seu pilar, sua estrutura para se segurar quando o seu corpo estava literalmente, suspenso no ar, prestes a cair. E ela não fazia a mínima ideia do que deveria fazer depois de deixá-lo a puxar para longe do perigo.

20 de Agosto, 2328
Toda vez que chovia, as memórias de se guiavam automaticamente para aquele dia, principalmente quando era uma tempestade torrencial daquelas. Com a imagem de em sua cabeça, às vezes se tornava difícil se concentrar no trabalho, já que suas composições sempre se tornavam melancólicas e tristes.
Não, não era por causa da situação citada mais acima, mas sim por outra coisa.
foi seu primeiro amor. A primeira garota que deu sentido aquelas letras que passava horas e horas escrevendo. Antes dela, todas as palavras eram vazias por não ter conhecido o sentimento ainda, mas depois tudo criou vida e emoção, tudo se tornou real. Porque seu sentimento por era ela real, mesmo se não soubesse sobre os dela por si.
E tudo se tornava melancólico exatamente por isso.

17 de Dezembro, 2319
estava frequentando mais as aulas depois daquele fatídico dia. conversou com ela durante horas, sem se importar com a chuva, nem com o horário e com a bronca que provavelmente levaria da mãe ao chegar, e depois a levou para casa para ter certeza de que ela estaria bem durante o caminho. A relação deles se tornava mais próxima e o ficava cada dia menos tempo no estúdio, já que sentia aquela estranha necessitada de sempre procurá-la.
Queria sempre se certificar que ela estava bem e por isso aos poucos acabou se enturmando com seus amigos já que estavam sempre juntos. Estava feliz porque ela parecia estar melhorando, sua personalidade estava desabrochando e a garota na verdade era uma companhia maravilhosa, que falava de qualquer coisa que começasse e que também amava música. Estava feliz de ver aquele lado mais brilhante dela.
Mas as coisas não ficaram bem por muito tempo, já que estavam no último ano e iria embora de Seul para estudar no exterior.
― Ela vai embora, não é? ― questionou ao entrar na sala do clube e encontrar no piano, o fazendo errar a nota pelo susto da entrada repentina.
Não era para o amigo saber que estava ali. Na verdade nem era pra ele estar ali e se perguntava como ele conseguira entrar no colégio se estava tudo trancado. Já estavam de férias, na verdade tanto quanto já estavam formados e o só estava ali para se despedir daquela sala que tanto amava e passou tanto tempo.
― O que é isso?! ― reclamou daquela entrada repentina, levando uma das mãos aos cabelos e a passando ali nervosamente.
― Sério, , você precisa falar com ela antes dela ir embora! ― ignorou seu murmúrio para voltar ao desespero, praticamente arrancando os cabelos que estavam entre seus dedos.
― Está acontecendo alguma coisa que eu não sei?! Ela tá bem? ― se preocupou no mesmo instante, levantando do piano para olhar o outro que andava de um lado para o outro.
― Eu não sei, quer dizer, eu nem sei onde ela está! Mas , você precisa se declarar logo, antes que ela vá! ― aquele desespero que emanava de era assustador, mas tinha um porquê daquela conversa estar assustando ainda mais o compositor.
― Ela já foi embora. Ela foi ontem. Agora me fala, o que está acontecendo? ― colocou ambas as mãos no ombro do amigo para olhar em seus olhos e tentar fazer com que ele parasse com aquela andança.
― Ela já foi…? Você deixou que ela fosse? ― parou com o olhar perdido no chão, mas aos poucos se erguendo até chegar no olhar do .
― E o que eu poderia fazer? Eu também não queria isso, mas quem eu sou pra falar pra ela fazer qualquer coisa? Ela tem que escolher os caminhos que quer criar, eu nunca poderia tentar fazê-la mudar de opinião se é o que ela quer! ― não se conformou com o que o amigo disse sobre deixá-la ir. tinha que ir, porque era isso que ela queria.
, seu imbecil, você é a pessoa que ela ama. É isso que você é, e o que ela queria era estar com você!

20 de Agosto, 2328
Bom, na hora que descobriu já era tarde demais e provavelmente já chegara nos Estados Unidos. Apesar de doloroso, também não era como se tivesse se arrependido de não ter falado nada, porque ela precisava ir e construir seu futuro, seus sonhos.
Secretamente, também tinha medo daqueles sentimentos que desabafara ter para não fossem reais, fossem apenas algo que ela alimentara por se sentir grata dele a ter encontrado naquele dia, e isso fazia o coração de se apertar. Essa opção era muito dolorosa, ficava feliz em saber que ela estava grata, mas a amava verdadeiramente demais para que aceitasse isso, porque um dia aquela gratidão poderia ficar estagnada e o amor poderia acabar.
Aos poucos com o passar dos anos acabaram perdendo contato, as mensagens foram ficando mais curtas e menos frequentes, até que se restringiram apenas a datas comemorativas e ultimamente, nem isso. Suspirou chateado, a única coisa que era capaz de melhorar seu humor naqueles momentos era pensar que ela estava bem.
Era por isso que ele amava tanto o fato de ter se tornado um compositor, no fim. Sabia que ela o estaria ouvindo de qualquer lugar do mundo que estivesse, e que sua música a faria sorrir. Era por isso o seu orgulho do Seventeen estar em primeiro, pela certeza que tinha que ela iria escutá-los.
tentava começar uma música nova que não falasse sobre memórias, saudade ou distância quando um trovão soou, seguido de um raio que com certeza foi parar no pára raios do prédio. Deu um pulinho da sua cadeira com o susto, o barulho do gerador desligando o fazendo arregalar os olhos.
Ótimo. Era realmente disso que estava precisando.

27 de Agosto, 2328
Fazia uma semana desde o dia do apagão. Os meninos estavam reclamando que parecia diferente desde que tivera que passar a noite toda trancado no estúdio - mas dessa vez sem compor, apenas sozinho com seus pensamentos e a luz de emergência. Não podia arriscar sair com uma tempestade daquelas, mas lhe assustava mais ficar ali.
Era como se só restasse vazio. Quando não estava compondo e não podia o fazer, sempre tinha um choque de realidade. O que era a sua vida além de música? Não queria pensar que isso fosse um problema, mas na verdade era sim. e seus doze companheiros eram o mais próximo que tinha de relações saudáveis depois de seus pais, e que lhe tiravam aquelas sensações ocas da cabeça, mas era difícil não sentir quando uma das suas razões principais de se manter são não está mais presente na sua vida.
Estava mais distante e reflexivo, um pouco desanimado, e isso preocupava a todos os integrantes do grupo ao vê-lo cabisbaixo durante os ensaios naqueles dias. Foi por isso que eles tomaram decisões drásticas e decidiram dedurá-lo para o chefe, e agora estava na sala dele, pronto para levar uma bronca daquelas pela desatenção daqueles dias.
― Então, você está bem? Como tem se sentido esses dias? ― o homem questionou após se cumprimentarem e os dois sentarem na mesa de escritório um de frente para o outro, revelando um sorriso paternal que apenas deixou a situação mais tensa para . ― Soube pelos meninos que você anda um pouco distante esses dias.
― Sim, eu só… ― tentou parar e organizar seus pensamentos na sua cabeça para encontrar um motivo certeiro sobre como estava se sentindo. ― Eu… Não sei bem, na verdade.
, você sabe como tem sido comum os casos de depressão nos nossos compositores? ― o homem disse com um tom de voz rouco que demonstrava sua infelicidade em passar aquela informação. ― É uma falha no nosso próprio sistema que tem causado isso, então eu não deixo de me preocupar com você, principalmente pelo quadro que me falaram que você está.
― O que? Não, não sabia! ― quando sabia de alguma coisa que não envolvesse seu trabalho, não? ― Mas eu não estou deprimido, eu só estou… Um pouco reflexivo.
― Talvez não esteja, mas eu também não quero que algum dia venha a estar, então é melhor me prevenir. Vou te inscrever no nosso projeto. ― na mesma hora o chefe pegou alguns papeis que estavam na mesa e começou a escrever uma carta.
― Projeto? Mas que projeto? ― arqueou uma das sobrancelhas confuso com tudo o que estava ouvindo em um curto espaço de tempo.
― O projeto contra a depressão dos compositores. ― suspirou enquanto escrevia, percebendo que teria de explicar tudo para o rapaz. ― É tudo culpa nossa, esquecemos que vocês também são seres humanos e os tratamos como máquinas. Vocês também tem que sentir e saber como é o que descrevem nas músicas, não só imaginar. Eu quero redimir o que fizemos por todas essas gerações, eu… Sinto muito, . ― o homem lhe ofereceu o papel da carta, assim como dois cartões. ― Você tem que viver.

07 de Setembro, 2328
No início pensou que apenas passaria no psicólogo e iria desabafar conforme sua necessidade até ser liberado, mas estava enganado. Aquele projeto poderia na verdade ser facilmente chamado de algo referente a reintegração social, porque era isso que estavam fazendo consigo.
Primeiro os garotos lhe obrigaram a sair, ir ao cinema, a museus, parques ou até mesmo mercados, qualquer coisa que lhe fizesse sair um pouco do estúdio. falava que tinha que aprender que a composição era apenas um trabalho, uma parte da sua vida, e não ela toda. Eles queriam que visse o quanto havia gente que se importava consigo como pessoa, e não apenas como compositor.
Que ele também era um ótimo cantor, dançarino e tantas outras coisas, que tinha fãs que o seguiam o suficiente para lhe amar pela sua personalidade e não pensando apenas em sugar sua criatividade para uso próprio. Que era algo maior que isso, que o que fazia era na verdade salvar vidas, mas também que não podia deixar a sua se perder.
Então agora, além de todas as vezes que o arrastaram para sair, eles marcaram um encontro para com suas fãs, falando que aquilo faria bem à ele e que abriria mais seu mundo e horizontes, fazendo com que enxergasse que a música era mais que um estúdio. Segundo os amigos, elas estavam lhe esperando na Praça de alimentação do shopping, e agora subia a escada rolante para chegar até lá.
Estava nervoso e suas mãos suavam tanto que tinha que passá-las a cada minuto pelas calças jeans, assim como tremiam um pouco de ansiedade. Era a mesma sensação de quando se apresentavam em festivais. Será que eram muitas pessoas? Elas realmente lhe amavam, realmente lhe conheciam como os amigos falaram, ou eles estavam apenas fazendo média para tentar fazer com que se sentisse melhor?
Um arrepio subiu pela sua espinha ao sair da escada e não encontrar nenhum grupo na Praça de alimentação. Ninguém parecia estar lhe esperando, nem chamou quando deu os primeiros passos na praça, não tinha ninguém em pé olhando para a entrada. Arqueou uma das sobrancelhas.
Ia matá-los. Um por um dos doze, ia matar um de cada vez.
Mas antes ia comer já que havia ido até lá mesmo.
?! ― uma voz feminina em tom duvidoso chamou quando começou a andar na direção do fast food, fazendo suas pernas bambearem.
Reconheceria aquele timbre mesmo após cinco anos sem ouvi-lo pessoalmente e três sem ouvi-lo por lugar nenhum, a não ser seus sonhos. estava ali. Virou apenas para olhá-la, e não para confirmar isso.
― Você… Voltou... ― não sabia o que devia fazer. Queria correr e abraçá-la tão forte que a tiraria do chão, mas eram… Eram muitos anos que para o rapaz criaram um abismo entre eles. Talvez estivessem certos, talvez realmente havia desaprendido a se relacionar com pessoas e tinha mesmo desenvolvido uma certa ansiedade social.
― O que você está fazendo aqui?! ― ela questionou em choque, observando o garoto com uma expressão totalmente confusa. Aquela forma de olhá-lo o deixou completamente chateado, esperava uma recepção mais carinhosa.
― Eu… Vim até um encontro de fãs, quer dizer, foi isso que o disse que era. ― ele respondeu ainda confuso, passando uma das mãos nos cabelos para tentar aliviar o nervosismo.
― Acabei de entender. ― riu um pouco baixo, não conseguindo acreditar naquilo que estava acontecendo. Só podia ser uma brincadeira do destino.
― Entender o quê? ― estava tão confuso e incomodado quanto a garota, mas seu nervosismo desapareceu quando a ouviu rindo, pelo menos boa parte dele.
― Você não sabia que estava vindo em um encontro e eu não sabia que o meu encontro era com você. ― ela riu, se achando o ser mais idiota do mundo por não ter percebido isso antes.
― Encontro? ― a cada segundo ficava mais confuso e por isso riu ainda mais.
― Espera, antes de eu explicar tudo, eu preciso falar que você continua a mesma coisa de quando eu fui embora, não conhece o que é envelhecer? ― ela falou espantada em como ainda parecia aquele garoto de dezoito anos.
― E você… Eu nunca pensei que você...
― Que eu fosse voltar? Eu voltei sim! ― diferente de , não se segurou e seus passos foram rapidamente até ele, o envolvendo em um abraço carinhoso e cheio de saudades, rodeando o pescoço do rapaz com seus braços. Ele ficou um pouco frustrado com a interrupção já que não era isso que ele ia falar, mas se distraiu com o abraço. ― Eu finalmente terminei minha faculdade e pude voltar!
― Quando você chegou?! ― estava completamente em choque, mas ao apertar sua cintura para corresponder o abraço, um sorriso escapou de seus lábios. A sensação de estar em casa era uma das melhores do mundo.
― Fazem seis meses, eu estive te procurando desde então, não queria avisar porque queria fazer uma surpresa. Meio que fazem uma segurança e tanto pra você, ninguém me disse onde te encontrar! O melhor compositor de toda a Terra precisa ser protegido! ― ela riu com isso, uma risada tão sonora e alegre que o coração de se aqueceu.
― Você me procurou? ― ele perguntou aproveitando para olhar nos olhos da garota que havia se afastado um pouco quando desfez o abraço e o puxou delicadamente para alguma das cadeiras vagas, já que estavam parados bem no meio do caminho de quem saia das escadas.
― É claro que sim, eu senti saudades! ― respondeu com um sorriso largo, balançando a cabeça negativamente com aquela pergunta que na sua concepção era inútil.
sorriu também, não conseguiu segurar. Também não conseguia ignorar o quanto ela estava alegre, sorridente e confiante, isso mexia profundamente com ele. Queria saber porquê, tudo o que havia acontecido naqueles anos em sua vida, todos os dias, toda a sua evolução que a levou a ser aquela mulher brilhante que lhe encarava agora.
― E como nós viemos parar aqui? O que um encontro tem haver? Você parece saber mais das coisas do que eu. ― ele perguntou com uma sobrancelha arqueada, se ajeitando no assento um pouco desconfortável com essa palavra encontro.
sempre disse que era apaixonada por si. Era ridículo demais pensar que assim como o dele, o sentimento dela também se perdurou e sobreviveu em todos aqueles anos? Ele queria que sim, mas sabia bem que as coisas não funcionavam dessa forma.
― Eu tinha um encontro marcado aqui hoje. ― sentiu o coração doer com essas perguntas, mas não vacilou a expressão nem por um milésimo de segundo. ― Na verdade não é bem um encontro, é… Bom, você deve saber sobre o projeto contra a depressão dos compositores, não é?
― V-Você está envolvida?! ― aquilo era coincidência demais para ser brincadeira e a cabeça do garoto começou a girar.
― Sou voluntária desde que cheguei e descobri sobre, enquanto procurava você. Veio bem a calhar já que eu me formei como psicóloga. ― a menina riu baixo, balançando a mão no ar com naturalidade. ― Bom, faz parte da reintegração social, ter encontros e conhecer gente nova. Eu me formei para ajudar pessoas com o mesma história que a minha, então pra mim foi um prazer. Mas além disso, eu… Queria te achar, mas realmente não queria te encontrar em uma dessas vezes. Queria encontrar alguém que te conhecia e podia me ajudar. ― ela suspirou, agora o olhar mais sério se dirigindo ao rapaz. ― Você está bem?
sentiu todo o choque percorrendo suas veias. Ela estava fazendo tudo aquilo para lhe encontrar? Um sorriso ameaçou escapar dos seus lábios, principalmente quando sentiu as mãos da menina segurando delicadamente as suas que estavam em cima da mesa.
― Bom, você sabe como estão as crises, já que se envolveu no projeto. Não adianta falar que estou. ― ele suspirou, o olhar caindo para o chão e a expressão mais séria. ― Mas sabe, eu já melhorei muito. Antes eu achava que toda a minha vida era compor e era apenas pra isso que eu tinha utilidade, mas eu ando percebendo que há um mundo inteiro que eu esqueci que existia. Os meninos também estão me ajudando muito.
― Aaah, o famoso Seventeen! ― ela pareceu tão empolgada com isso que não pôde se controlar, puxando de volta as mãos para passar uma delas no cabelo. ― Não vejo a hora de conhecê-los!
― Uma parte você já conhece, não é? ― a animação dela deixou levemente enciumado, mas ele apenas sorriu e balançou a cabeça positivamente. ― sempre fala de você pra eles.
― M-Mesmo?! ― agora até as orelhas de estavam vermelhas e não sabia se ficava feliz ou triste.
Feliz porque era isso que ele sempre quis. Saber que ela acompanhava ativamente o grupo e gostava do trabalho, era esse um dos motivos que o fizera se tornar um compositor, afinal, fazê-la se apegar a sua música e nunca mais se sentir mal. Mas também não conseguia deixar de ficar triste e inseguro com aquela animação em conhecê-los. Será que o favorito dela não era mais si mesmo, depois de todos esses anos?
― Sim. ― ele assentiu, tentando se manter o mais neutro que podia. ― Eu estou feliz que você acompanhe o Seventeen, espero que isso tenha te feito bem. ― agora acabou sorrindo um pouco, não segurando com a palpitação em seu coração. Era aquilo que ele sempre imaginou falar para ela quando se reencontrassem.
… ― sorriu, colocando uma mecha atrás da orelha e erguendo novamente o olhar para chocá-lo contra o do garoto. ― Sabe, naquele dia você não esquentou apenas minha pele. Mas também meu coração. ― era agora, e ela escondeu as mãos no próprio colo para disfarçar que estavam trêmulas. ― O Seventeen me fez sim bem, mas não foi ele que me ajudou a me reerguer. O que me ajudou foi o amor que eu sentia por você.
Aquelas palavras fizeram o silêncio se instalar entre os dois e a expressão de se contorcer, metade rm choque de como ela falara aquilo tão facilmente e metade em tristeza pelos termos do passado. O rapaz tentou por alguns segundos organizar palavras que podiam expressar alguma coisa, mas sua mente estava no mais completo branco. Não sabia o que devia dizer e nem como reagir.
riu. Não ficou sem graça e nem o pressionou em relação aquilo. Ela simplesmente soltou uma risada alta e deliciosa de ouvir, que acabou fazendo-o sorrir largamente também.
― Não era tão difícil assim de perceber! ― ela brincou, balançando a cabeça negativamente e se levantando. ― Vamos lá comer alguma coisa, isso ainda é um encontro, não é?!

16 de Fevereiro, 2329
Quanto mais o tempo passava, mais ansioso ficava.
O tratamento estava dando certo, sua alegria e empolgação estavam retornando desde quando seus encontros com se tornaram semanais. Tudo parecia estar entrando nos trilhos, mas não era isso que o deixava ansioso e sim seus pensamentos que não saíam daquele dia que conversara com , as palavras dela não saíram da sua cabeça.

O amor que eu sentia por você.
Amor. Sentia.


Suspirou sozinho, batendo a caneta no papel incansavelmente para tentar uma se livrar da descarga de sentimentos que preenchia seu coração e distraía sua mente. Queria saber se aquele sentimento se restringia apenas ao passado, ou se ele ainda estava vivo no coração da garota, mas não fazia a mínima ideia de como deveria tocar nesse assunto.
! ― passava a mão a frente de seu rosto repetidas vezes para fazê-lo despertar, o que demorou mais ou menos cinco minutos.
― Ah, oi. ― respondeu ao finalmente perceber a presença do mais velho, tirando os fones de ouvido que se escondiam por trás da sua cabeça.
― Eu tenho um recado do CEO pra você. Ele disse que você já pode parar os seus encontros, se quiser. ― o amigo passou o recado mesmo que sua expressão ainda fosse desconfiada daquela viajada pesada que tivera.
― Como assim, se eu quiser…? ― o arqueou uma das sobrancelhas confuso com aquela frase, largando até mesmo o caderno em cima da mesa para se concentrar na conversa.
― Ué, a partir de agora se você quiser continuar saindo com a é por vontade própria, não por projeto nenhum. ― aquilo fez um sorriso tomar os lábios de que quase riu da expressão de desespero de . ― Entende o que eu quero dizer, não é?
Entendia bem e também não resistiu em sorrir, sabendo passo por passo tudo o que deveria fazer agora. Mas apesar de ser exatamente aquilo que estava precisando aqueles dias, começara a pedir coragem aos céus para colocar o plano em prática.

18 de Fevereiro, 2329
Era teoricamente, o seu último encontro com , pelo menos pelo projeto. Planejara tudo minuciosamente, desde o local que iriam até mesmo todas as palavras que usaria para entrar naquele assunto. Suas mãos suavam enquanto a esperava naquele jardim, nos fundos do prédio tecnológico de empresa.
Não era pra ser nada demais, apenas mais um encontro casual entre os dois, comeriam, conversariam e então iam decidir seguir a vida como os amigos que eram desde o ensino médio. Mas não era isso que queria, por isso tudo se tornava mais enlouquecedor.
― Olha só quem chegou cedo! ― brincou ao vê-lo sentado nos bancos de pedra, deixando a cesta de vime com algumas coisas que trouxeram pra comer em cima da mesa também de pedra.
… O meu CEO disse que o tratamento terminou. ― foi direto ao ponto. Quanto mais adiasse aquilo, mais nervoso ficaria e menos ia ter vontade de falar.
― Huh, mas o que tem? Não é como se eu fosse sumir da sua vida só por isso. Sei que ia ser muito difícil pra você. ― ela riu com aquela expressão amuada de , seu ego inflado em pensar que ele ficara daquela forma em pensar em perdê-la.
― Você vai continuar querendo ter encontros comigo? ― agora a expressão do mudou levemente para uma mais sugestiva, fazendo a menina frisar o cenho.
― O que você quer dizer com isso? ― aquele tom de voz e expressão confusa mataram toda a esperança do rapaz em uma resposta positiva. Mas agora havia ido longe demais pra voltar atrás, ele precisava ter alguma resposta, qualquer uma que fosse.
― Bom, teoricamente nossas saídas são encontros. ― ele riu de nervoso, passando uma das mãos nos cabelos e encostando as costas no apoio de pedra para olhar para cima, diretamente no rosto da menina. ― Você vai querer continuar me vendo em encontros, ou…
, você está tentando me chamar pra sair? ― ela o interrompeu ao vê-lo fazer todo aquele drama, dando a volta na mesa e se sentando ao lado do rapaz, segurando a risada.
― Bom, é isso, sim. ― o suspirou derrotado, fechando os olhos. ― Eu fiquei pensando durante todos esses meses, quando você falou sobre sentir amor por mim e que foi isso que te ajudou, eu queria saber se era realmente um sentia e não um sinto. Porque , eu sentia isso, e ainda sinto. Desde aquela época eu te amava, e agora eu te amo ainda mais, e percebi que o que mais me ajudou agora foi exatamente esse amor. Então sim, eu quero ter mais encontros com você. E não só isso, eu quero que nós sejamos namorados, noivos, marido e mulher e pais dos nossos filhos, quero que estejamos juntos a vida toda, talvez eu esteja indo muito rápido, mas é porque esses anos sem você… Eu me senti perdido, e eu não quero que isso aconteça, nunca mais. ― desabafou de uma vez todos os sentimentos que guardara por todos aqueles anos em seu coração, com o resto de coragem que tinha sendo usada para olhar nos olhos dela que estavam arregalados.
apenas riu. Riu tão alto que até mesmo se sentiu desconfortável, olhando para o alto e encarando a projeção do último videoclipe do Seventeen que passava no último andar daquele prédio, tentando se manter calmo e tentando entender o que havia falado de tão engraçado para a garota rir daquele jeito.
― Sabe, … ― sentiu a mão da garota tocando levemente a sua, assim como sentiu seu corpo se aproximando também e aninhando carinhosamente com o seu, com a garota apoiando ambas as mãos em seu ombro e encarando seu rosto. ― Eu sonho com o dia que o combustível do nosso mundo vai ser o amor, então ninguém nunca mais vai precisar fazer sacrifícios. O nosso mundo não está terminado e sempre estará incompleto, porque ele está em constante evolução, mas talvez quando o amor se tornar o mais importante, ele alcance a maior evolução possível. ― ela sussurrava baixinho próximo a sua orelha, fazendo arrepios subirem por sua espinha. ― Mas talvez se o amor que eu sinto por você fosse o combustível do mundo, ele nunca iria parar, e ele ninguém nunca poderia falar que ele não está terminado.


Fim.



Nota da autora: Ok, de todas as shorts desse ficstape, essa aqui com certeza foi a mais difícil de ser feita e a que mais mexeu pessoalmente comigo. Apesar do tema sensível, eu realmente gosto dessa ideia e tentei fazê-la da melhor forma, espero que ninguém tenha se sentido mal pelo jeito que eu abordei o assunto! Obrigada a Laysa linda que me ajudou a manter a delicadeza nisso. Muito obrigada se você chegou até aqui, e me deixe saber o que você achou! Um beijo ♥
Se quiser falar comigo, é só me procurar no Twitter!





Outras Fanfics:

LONGS:
Trespass
Kratos
(No) F.U.N

Ficstapes:
01. Intro. New World
06. Lilili Yabbay
11. Hello
11. Hug
13. Outro. Incompletion

Music Video:
MV: A
MV: Callin
MV: Don’t Wanna Cry
MV: Gashina
MV: Hyde
MV: Please Don’t…
MV: Trauma
MV: Heroine
MV: Mysterious
MV: Shangri La
MV: Very Nice


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus