Última atualização: 25/07/2018

Capítulo Único

ATUALMENTE
Take it easy (take it easy)

That's no way to go

Does your mother know?

Take it easy (take it easy)

Try to cool it girl

Take it nice and slow

Acalme-se (acalme-se). Isso não é como deve ir. Sua mãe sabe? Acalme-se (acalme-se). Tente esfriar, garota. Vá legal e com calma.
--

Eu não deveria estar naquela situação. Mais do que isso, ele não deveria estar naquela situação. E para piorar, eu não deveria estar naquela situação por causa dele.
- , fiz uma água com açúcar para nós. – tia Bete disse.
- Obrigada.
, ao meu lado, estava tão em choque quanto eu. Tia Bete, entretanto, era a mais afetada entre nós três. Seu filho estava em uma zona de perigo, fora do país, arriscando sua vida e sem comunicação com a família. As notícias sobre o desempenho das tropas brasileiras no Haiti eram dadas pela mídia, mas sempre de uma forma muito genérica.
- Mais uma tropa do exército brasileiro acaba de pousar na cidade de Porto Príncipe. Após conter os conflitos armados, causados por grupos rebeldes opositores ao atual governo, as tropas brasileiras, com o auxílio do exército de outros países, buscam por sobreviventes. A contagem de mortos e desaparecidos em combate ainda é pequena, e a nossa esperança é que permaneça assim. A equipe de buscas do exército brasileiro está emprenhada em encontrar sobreviventes sob os escombros, e têm esperanças de voltar para casa com todos os seus soldados.
Ouvi tia Bete começar a chorar novamente ao meu lado. segurava suas lágrimas fortemente, mas estava claramente abalada. Eu estava abalada.
- Precisamos nos acalmar. As buscas ainda não acabaram, e agora que os reforços chegaram tenho certeza de que tudo vai ficar bem. – tia Bete disse entre um soluço de choro e outro.
- Claro, claro que sim. Vai ficar tudo bem, mãe. – disse apertando a mão de sua mãe.
Naquele momento me senti uma intrusa. Eu não deveria estar presente neste momento familiar, no qual ambas compartilhavam suas dores e temores. Eu não deveria estar ali, mas ainda assim estava. Porque eu também sentia dor, porque eu também estava com medo.
- Acho que vou misturar mais açúcar com água. Quer mais, ? – tia Bete me perguntou.
Seu filho estava desaparecido sob os escombros na cidade de Porto Príncipe, no Haiti, após uma missão de paz da ONU prestada pelo exército, sem saber se estava vivo ou morto, e, ainda assim, era ela quem estava tentando me acalmar. Aquilo não era certo.
- Vamos fazer assim, tia Bete, você fica aqui e eu vou fazer algo para nos acalmarmos, que tal? – ofereci já me levantando.
- Obrigada. – ela disse baixinho.
Segui para a cozinha com as pernas bambas, me apoiando no balcão.
Isso não deveria estar acontecendo. As coisas não deveriam ser daquele jeito, não deveriam.
Pensei nos momentos que tive com . Pensei nos momentos que não tive com por pura ignorância da minha parte, por puro medo. E então me arrependi de todos eles, desejando poder voltar no tempo e ter uma nova chance de fazer as coisas diferentes.

DOIS ANOS ATRÁS
Well I can dance with you honey

If you think it's funny

Does your mother know that you're out?

And I can chat with you baby

Flirt a little maybe

Bem eu posso dançar com você querido, se você acha divertido. Sua mãe sabe que você não está em casa? E eu posso conversar com você baby, paquerar um pouco talvez.
--

- Não acredito que está perdendo isso. – comentou ao meu lado.
- Ela foi viajar com a família, visitar uma tia doente. – comentei distraída. Meus olhos estavam ocupados com o ambiente ao meu redor, com as pessoas desconhecidas. A festa mais tradicional da faculdade estava acontecendo naquele exato momento e recepcionar os novos alunos, no início do ano letivo sempre tinha sido uma tradição na faculdade. Uma festa de recepção aos calouros, com direito a seis horas de open bar por um preço que todo universitário pode pagar não era exatamente o tipo de evento que podemos nos dar ao luxo de perder.
A música que tocava era de alguma cantora pop que eu não conhecia, música essa que fazia parte de uma playlist cuidadosamente preparada pelo DJ da noite. Eu sabia que em alguns minutos uma dupla sertaneja subiria ao palco para dar continuidade às atrações da noite – momento em que eu esperava estar muito bêbada para não me importar em não conhecer as músicas – para, só em seguida, o grupo de reggae tomar seu lugar no palco. E, só ao final da noite – quando eu esperava estar minimante sóbria para ainda me aguentar em pé – o DJ voltaria ao palco com as músicas eletrônicas.
- É impressão minha ou a cada ano essa festa melhora?
Não precisei perguntar sobre que aspecto estava falando. De fato, a cada ano, os alunos pareciam mais bonitos, mais atrativos. Eu mesma já havia me interessado por pelo menos três garotos ali dentro, e sabia que a conta de estava infinitamente maior que a minha.
Antes de concordar com a minha amiga minha atenção foi parar em um grupo específico, não muito longe de nós, mas afastado o bastante para me deixar minimamente confusa.
- Ei, está vendo aquele garoto de camiseta branca, naquele grupo perto da porta? – perguntei a , apontando para o garoto a que me referia. Minha amiga apertou os olhos, tentando identificar para quem eu apontava.
- Parece...
- Cara, é o irmão da ! – falei num susto, alto demais.
- O que ele está fazendo aqui?
Não respondi à pergunta de , até porque eu mesma não sabia aquela reposta. E antes de pensar no que estava fazendo, simplesmente abri caminho entre as pessoas para chegar a ele.
estava de costas para mim, mas eu poderia o reconhecer onde quer que ele estivesse. E quando chamei pelo seu nome, e ele virou-se para mim com um sorriso no rosto, agradeci mentalmente por não estar bêbada o suficiente para não conseguir firmar minhas pernas no chão. Ou talvez eu já estivesse bêbada o bastante para ter tido esse pensamento. Quer dizer, desde quando eu reparava no sorriso de ?
- ! – seu sorriso aberto diminuiu minimamente, enquanto ele passava os olhos rapidamente pelo ambiente em volta dele. – Não sabia que você estaria aqui.
- É mesmo? – perguntei com um tom de divertimento na voz. – Pois eu nunca poderia imaginar você aqui também, , já que, bem, você não tem idade para estar em uma festa como essa.
arregalou os olhos, colocando o dedo sobre seus lábios me pedindo silêncio. E nesse momento precisei me controlar para não rir da sua reação. me puxou para um canto mais afastado, longe de seus amigos e, definitivamente, longe dos seguranças que estavam a postos na entrada, perto de onde estávamos anteriormente.
- Caramba, , você não pode falar isso alto assim.
- Pensei que você tivesse ido viajar com a sua família. – comentei ignorando sua fala anterior.
- Eu não fui. Tenho prova essa semana e convenci meus pais a deixarem que eu ficasse em casa para estudar.
E naquele momento pensei que nunca tinha visto com uma expressão mais... fofa. Desconcertado, ele estava, isso era bem verdade. Mas o ato de passar as mãos nos cabelos, desviar os olhos e morder os lábios, em um claro sinal de vergonha por ter sido pego fazendo algo que não devia, foi o que me fez começar a enxerga-lo de uma forma diferente.
- E a sua mãe sabe que você não está em casa estudando, mas em uma festa universitária open bar, na qual não é permitida a entrada de menores de 18 anos?
rolou os olhos dessa vez antes de responder, ainda mantendo a mão na parte de trás da cabeça, o que deixava sua camiseta minimante levantada.
- Até parece.
E dessa vez fui eu quem sorri para a sua resposta debochada, segurando a vontade de rir.
Se eu estava segurando a risada pelo fato do irmão de 16 anos da minha melhor amiga estar em uma festa universitária, na qual ele não poderia estar por, bem, ser menor de idade? Sim.
Se eu estava me segurando para não começar a rir pelo fato de tê-lo pego no flagra, mentindo para a sua mãe? Por estar sendo um típico adolescente rebelde de dezesseis anos? Sim, eu estava.
Se eu estava bêbada? Com certeza. E prova disso era o fato de eu estar rindo, sendo acompanhada por um confuso, porém igualmente divertido como eu.
- Você não vai contar à minha mãe, não é? – ele perguntou sem graça, temeroso.
Fingi pensar no seu pedido quando, na verdade, eu apenas estava aproveitando a chance para olhá-lo. Para realmente olhá-lo, como se fosse a primeira vez que eu via. Aquele à minha frente não parecia ser o garoto que gostava de entrar correndo no quarto da irmã, quando mais novo, apenas para nos irritar quando estávamos olhando fotos dos garotos da sala quando, na verdade, deveríamos estar estudando.
Também não era o mesmo garoto emo que insistia em manter uma franja ridícula sobre a testa e pintar as unhas de preto.
Tampouco era o garoto rebelde que gostava de manter uma pose de revoltado, apenas porque ser levado para a diretoria e ter a mãe chamada a comparecer na escola para tratar de seu comportamento desrespeitoso dentro da sala de aula, era algo cool que os pré-adolescentes gostavam de contar vantagem.
Quem estava à minha frente era um rapaz de ombros largos, cabelos curtos e olhos brilhando de expectativa. Seus lábios eram grossos e acolhiam um sorriso de lado. Enquanto uma de suas mãos repousava sobre sua nuca, a outra estava escondida no bolso da calça jeans de lavagem escura. Calça esta, que estava cuidadosamente caída em seu quadril, deixando a barra de sua boxer branca aparecendo, bem como parte de seu abdômen – esta visão sendo fornecida pela camiseta branca levemente levantada.
Instantaneamente senti calor, muito calor.
- ?
Voltei meu foco para o seu rosto quando percebi que meus olhos estavam vergonhosamente direcionamentos para a pele de seu abdômen. não tinha mais um olhar receoso, preocupado, mas divertido, curioso.
- Claro que não. – respondi, finalmente me lembrando de sua pergunta. Precisei piscar uma ou duas vezes para acordar do transe em que estava, transe este que não fazia ideia de como tinha ido parar.
Acredito que tenha agradecido o fato de que eu manteria em segredo sua pequena mentira, mas não prestei atenção. Meus pensamentos estavam confusos demais com as minhas observações de mais cedo. Quer dizer, eu realmente estava reparando no irmão mais novo da minha melhor amiga? Qual era o meu problema?
- Álcool.
- O quê? – ele perguntou confuso, enrugando a testa.
-Álcool. – repeti mais para mim mesma do que para ele. – Preciso de mais.
Foi quando levantei o copo que estava na minha mão, minha caipirinha toda ainda no copo, já que não havia tomado um gole sequer. Bem, não por muito tempo. Em questão se segundos o copo já estava vazio, e meus olhos ardiam pelo sabor ácido do limão somado com o gosto forte da vodca descendo pela minha garganta.
- Agora sim, preciso de mais.
aumentou seu sorriso aos poucos, e quando olhou para mim, tinha divertimento nos olhos.
- Então, vamos ao bar conseguir mais álcool para a gente! – foi o que ele respondeu.
Pensei em parar de andar e me virar para ele para dizer que estávamos sim indo ao bar, mas para pegar mais álcool para mim. Ele, que não passava de um garoto de 16 anos – precisei repetir esta parte para mim mesma mais de uma vez – não iria colocar uma gota de álcool na boca hoje, não se dependesse de mim. Mas não parei de andar, nem mesmo me atrevi a voltar meus olhos para ele, achando mais seguro manter o ritmo dos passos em direção ao barman.
- Hey, Maicon. – o cumprimentei. – Quero outro desse. – levantei o copo para mostrar a ele no que me referia.
parou ao meu lado, perto demais, praticamente encostando seu braço no meu. Percebi que ele olhava o cardápio com as opções de bebidas alcoólicas.
- E para ele, uma Coca Cola com limão e gelo.
O olhar que Maicon, o barman, me dirigiu fez com que precisasse segurar a vontade de rir, já que podia imaginar o que ele estava pensando. Quer dizer, em que realidade uma pessoa vai a uma festa universitária open bar e troca a cerveja ou a caipirinha por uma Coca Cola com gelo e limão? também me deu um olhar digno de risada, mas fui forte e mantive minha pose.
- está dirigindo hoje, e se comprometeu a não beber nada alcóolico. Não é mesmo, ? – perguntei com o tom irônico, voltando meus olhos para . Ele sabia que não poderia me contrariar, pelo menos não agora, já que Maicon não podia saber que nem mesmo deveria estar naquela festa. Então, em vez de discutir comigo, apenas revirou os olhos, dando um sorriso sem graça para o barman, como se disse “pois é, cara, fazer o quê?”.
Enquanto esperava minha bebida ficar pronta, voltei minha atenção para a festa. Encostei as costas no balcão do bar, apoiando meus cotovelos na madeira. repetiu meus movimentos, novamente se mantendo próximo demais. Foi nesse momento que senti seu perfume. Canela, eu tinha certeza, misturado com um aroma cítrico do qual não reconheci. O cheiro era bom, muito bom.
- Está calor aqui dentro. – ele comentou. Olhei para ele, vendo seus movimentos de levantar a barra da camiseta minimante, em movimentos repetidos, a fim de refrescar a pele. E então foi minha vez de sentir calor, muito calor.
- Está mesmo. – comentei. Joguei meus cabelos para um dos ombros, liberando meu pescoço que já suava.
- Aqui está, uma caipirinha com pouco açúcar e uma Coca Cola com gelo e limão. – ouvi Maicon falando atrás de nós.
Nos viramos ao mesmo tempo. levantou seu copo, e eu segui seu movimento quando brindamos.
Tomei um longo gole da minha bebida. Apesar de o álcool ser uma bebida quente, o gelo ajudou a refrescar meu corpo, e deixar minha mente mais alerta. ainda estava ao meu lado, aparentando estar decepcionado com o conteúdo do seu copo.
- Você pode voltar a ficar com os seus amigos. – eu disse. – Não vou contar aos seus pais que você esteve aqui.
- Já está querendo se livrar do irmão mais novo da sua amiga? – ele perguntou com tom de brincadeira. – Imagino que não deva ser divertido ficar em uma festa com um adolescente menor de idade.
Ri fraco da sua fala.
- Apenas não quero precisar me responsabilizar por algo que você fizer hoje à noite. – eu respondi sincera. Tudo o que não precisava, naquele momento, era ser babá de um adolescente de 16 anos.
- E o que eu poderia fazer hoje à noite?
não deu tempo para que eu o respondesse.
- Quer dizer, você acha mesmo que essa é a primeira vez que venho a um lugar em que não deveria estar?
Aquilo capturou minha atenção. Quando me virei para olhá-lo, vi que ele já estava de frente para mim, tendo só um dos braços apoiados no balcão, o corpo inclinado em minha direção.
- Sabe, um documento de identidade falso pode te levar a muitos lugares. – ele comentou para, logo após, tomar um gole da sua Coca Cola com gelo e limão.
E aquilo foi o suficiente para que eu entendesse o que ele estava querendo dizer, e começasse a rir.
Onde eu estava com a minha cabeça, afinal de contas? É claro que aquela não era a primeira festa open bar de . É claro que aquela não era a primeira vez que ele mentia sobre a sua idade. Ele era um adolescente de 16 anos, não uma criança inocente.
- Vejo que sua fase rebelde voltou. – comentei ainda rindo, aproveitando para apreciar novamente o gosto da vodca com limão.
- Fase rebelde? – ele enrugou a testa.
- Ah, por favor. – eu disse. – Você teve uma fase de garoto isolado, e então a fase do garoto chato. Depois a fase do garoto emo e, meu deus, o que era aquela franja que você insistia em usar? – perguntei fazendo rir. – E então a fase de garoto rebelde. A qual, aparentemente, ainda não chegou ao fim.
ria ao meu lado, balançando a cabeça de um lado para o outro, como se não acreditasse no que eu havia falado.
- Não é como se você e minha irmã não fizessem a mesma coisa na minha idade.
Abri a boca em uma expressão de surpresa.
- Você sabia? – perguntei me aproximando dele, como se compartilhássemos um segredo.
Foi a vez de rir de mim.
- É claro que sim. Como você acha que conseguia chegar em casa de madrugada, bêbada, sem que meus pais desconfiassem que vocês tinham ido a uma festa para maiores de 18 anos?
- Ela sempre escondia uma chave reserva em baixo do vaso...
- ...Ao lado da porta dos fundos. – ele completou minha fala. – Pois é, não era quem escondia a chave.
E após aquela revelação bombástica – porque para mim era uma revelação pra lá de bombástica – terminou de beber sua Coca Cola, colocando o copo em cima do balcão. Voltou a olhar para mim como se disse “por essa você não esperava, não é?”, enquanto eu ainda mantinha a expressão mais surpresa que poderia ter.
- Fala sério!
- Estou falando. – ele riu. – Para ser sincero, comprei meu primeiro vídeo game com o dinheiro que me pagava para mentir para os meus pais.
E aquilo foi mais do que suficiente para me fazer rir.
não era um garoto rebelde, mas apenas um garoto de dezesseis anos agindo de acordo com a sua idade, desafiando limites, quebrando regras, exatamente como eu e fomos.
- Então imagino que você já tenha bebido álcool. – perguntei, mesmo já sabendo a resposta. E o rolar de olhos de disse mais do que mil palavras.
- Não quero te comprometer, para falar a verdade.
Olhei para ele sem entender o que aquilo significava.
- Quer dizer, eu sei que você pode estar se sentindo meio culpada por ter que mentir à minha mãe, já que prometeu não contar a ela sobre eu estar aqui hoje à noite. Não quero te deixar ainda mais culpada.
E aquilo foi o bastante para que eu enxergasse, ali na minha frente, não um garoto rebelde, mas um homem sério e preocupado, fofo eu diria, que olhava para frente com os olhos sérios, o que me dava a visão de seu perfil. Perfil este que não, definitivamente, não era de um garoto de 16 anos. Quer dizer, onde estavam as infinitas espinhas que todo adolescente tem?
Desci meus olhos por seus braços, ainda apoiados no balcão do bar, flexionados. Aqueles braços não eram de um garoto de 16 anos, impossível.
Quando voltei meus olhos para cima, cumprimentava alguém que passava por ele, sorrindo abertamente. Aquele sorriso não podia ser de um adolescente de 16 anos. Onde estava o aparelho dentário? Onde estavam os dentes tortos e imperfeitos?
voltou sua atenção para mim tão depressa, que nem mesmo pude disfarçar minha análise sobre ele. Pensei que isso fosse deixa-lo constrangido, envergonhado, afinal, ninguém gosta de ser encarado como eu estava fazendo com ele. Mas não foi o que aconteceu. Ao contrário, aproveitou o momento para descer seus olhos pelo meu corpo, olhando-me de cima abaixo, sem se preocupar em disfarçar seu olhar de cobiça.
Não pude conter a mordida no lábio inferior que dei. Foi impossível, instantâneo, automático. E aquilo me deixou constrangida. Afinal, o que estava passando pela minha cabeça?
insinuou se aproximar, mas fui mais rápida. Virei meu corpo de frente para onde o barman estava, chamei a atenção de Maicon e pedi duas caipirinhas, uma para mim e uma para .
- Pensei que fosse embora dirigindo hoje, e por isso eu não poderia beber nada alcóolico. – ele comentou ironicamente, com as sobrancelhas erguidas.
Apenas dei de ombros, não conseguindo achar minha voz para lhe responder.
- Aqui estão, garota. – Maicon me entregou as duas caipirinhas, mais rápido do que antes.
- Obrigada. – disse. E então me virando para , ainda sem encarar seus olhos, falei – Não é como se fosse a sua primeira vez, certo?
- Não, não é a minha primeira vez. Definitivamente. – e mesmo que eu estivesse evitando seus olhos, foi impossível não me ver imersa no seu olhar, simplesmente porque ele me encarava de forma tão profunda, que pensei que o tempo tivesse parado e a musica cessado, quando, por um segundo, nem mesmo me lembrava de onde estávamos.
Sua frase podia ter vários sentidos, eu queria que ela tivesse vários sentidos. Mas talvez fosse apenas minha mente nublada, bêbada, por conta da vodca.
- Vou procurar . – disse me lembrando da minha amiga que eu não fazia ideia de onde poderia estar, aproveitando para fugir daquele momento de reflexão que não queria estar tendo. – Se quiser pode voltar para os seus amigos. Não é como se eu fosse ficar de olho em você para monitorar suas ações e depois contar tudo para a sua mãe. – falei brincando.
riu baixo do meu lado, levando o copo à boca. E depois de fazer uma careta para o que havia acabado de beber, virou-se para mim.
- Isso aqui está muito fraco, se quer saber. – ele disse levantando o copo, com humor nos olhos. E após uma risada, a qual eu acompanhei, continuou – Eu não sei onde meus amigos estão, para falar a verdade. Posso ficar com você até encontra-los? Prometo também não ficar monitorando suas ações.
Não tive certeza se minha risada vinha apenas pela escolha de suas palavras, ou se era um riso de nervoso, nervoso pelo fato de o irmão mais novo da minha melhor amiga ter acabado de se convidar para aproveitar uma festa universitária junto de mim.
- Claro, por que não?
Caminhamos para onde estava a pista de dança, eu abrindo caminho por entre as pessoas, e me seguindo de perto, bem de perto.
Talvez tenham sido as caipirinhas que havia tomado até aquele momento, talvez fosse o calor lá dentro, talvez isso tivesse feito minha pressão cair. Ou talvez fosse apenas a parca iluminação da pista de dança, já que, quando me dei conta, tinha uma das mãos na minha cintura, me abraçando por trás, enquanto me impedia de cair de cara no chão.
- ! – ouvi de longe. Olhei envolta procurando quem me gritava, mas não sem antes olhar por sobre o ombro, vendo com o rosto ao lado do meu, ainda mantendo meu corpo encostado no seu. – !
havia me encontrado antes que eu pudesse continuar a procurando.
- Está tudo bem? – ela perguntou preocupada, porém não menos bêbada.
- Sim, estou. – e então me afastando de , completei. – Obrigada, .
- Disponha. – ele falou baixo, mas isso não significa que não ouvi suas palavras, seu tom rouco, sua voz grossa.
- Espera, esse é o irmão da ? – perguntou e, diferente de , ela não falou baixo, mas gritou, muito mais pelo efeito do álcool do que pela necessidade de gritar.
- Sim, é ele. E nós vamos manter o fato de estar nessa festa em segredo, não vamos? – perguntei a ela.
pareceu pensar por alguns segundos, até que deu de ombros e finalmente respondeu:
- Mana, eu estou tão bêbada que provavelmente nem vou me lembrar dessa conversa amanhã. Relaxa, , nem mesmo vou me lembrar de você no dia seguinte.
riu de , não deixando de agradecê-la ao final.
- Agora vamos sair daqui e procurar um lugar pra gente dançar! - gritou novamente, jogando as mãos para cima, abrindo caminho, me puxando pela mão para que não nos perdêssemos. Automaticamente, minha mão e a de se uniram, ele seguindo atrás logo atrás de mim.
Assim que chegamos a um grupo de alunos, a maioria do mesmo ano que eu, nos separamos, sendo que se encarregou de apresentar aos nossos amigos como “o amigo da ”. , como bom adolescente da sua idade, logo se enturmou com o restante do grupo, e não demorou a cair nas graças de uma das meninas que estudavam comigo e .
- E aí, , é seu namorado? – ela perguntou.
Eu sabia o que aquela pergunta significava. Não, ela não queria saber se era meu namorado, mas saber se estava ou não livre para receber suas investidas. Eu não deveria me importar com isso, não mesmo. Quer dizer, com exceção do fato de ser o irmão mais novo da minha melhor amiga, eu não deveria me importar com o interesse dela.
Mas eu me importava. Pensar em ficando com outra menina ali, naquela festa, na minha frente, me incomodava. Pensar em passando as mãos pelo corpo de outra garota, e tendo essa mesma garota roçando seu corpo no de me incomodava.
E como numa tentativa ridícula de abafar os pensamentos ridículos que a minha mente, bêbada e ridícula demais, estava tendo, fui eu mesma falar com .
- Iana parece estar interessada em você. – eu disse a ele.
estava em uma conversa interessante com alguns rapazes da minha turma, mas não demorou a voltar sua atenção para o que eu havia lhe dito. Apontei para Iana, a poucos metros de nós, fingindo não estar prestando atenção na nossa pequena conversa, para que soubesse de quem me referia.
- É mesmo?
- É mesmo.
preferiu tomar mais alguns goles de sua caipirinha ao em vez de responder qualquer coisa.
- Quer dizer, é claro que ela é bem mais velha do que você. – comentei. – Mas ela não sabe que você é bem mais novo do que ela.
arqueou as sobrancelhas, bebendo o resto do líquido que tinha no seu copo antes de responder:
- Não acho que ela deva ser tão mais velha do que eu.
Ri do que ele disse.
- Iana tem a minha idade, o que significa que ela é bem mais velha do que você.
- Não acho que você seja tão mais velha do que eu.
Meu corpo, que até então estava ao lado do de , ficou de frente para o dele quando voltei a falar.
- , tenho seis anos a mais que você.
Ele apenas deu de ombros.
- Isso não significa nada.
Ri novamente, dessa vez sem acreditar no que ele estava dizendo.
- Bem, aposto que você não se importaria em ficar com uma mulher mais velha do que você. – eu mesma pude sentir o tom irônico na minha voz, e naquele momento quis me repreender. Qual era o meu problema, afinal de contas? Se gostava de mulheres mais velhas, bem, ele tinha uma à sua frente, pronta para conhecê-lo melhor. Não seria eu a empata foda da noite, mesmo que ele fosse o irmão mais novo da minha melhor amiga.
- Não me importaria mesmo. Mas, bem, não sei se a mulher que quero pensa da mesma forma.
- Iana não se importaria com a sua idade, posso te garantir.
- E você? – ele perguntou. – Você se importaria com a minha idade?
Não entendi a sua pergunta, pelo menos não no início. tinha seus olhos presos nos meus, o corpo inclinado em minha direção, e o braço tocando o meu. Em minha cabeça milhares de perguntas se misturavam. Uma escola de samba parecia ensaiar para o próximo desfile de Carnaval em meu estômago.
não podia estar perguntando o que eu achava que ele estava perguntando, podia?
- Depende. – respondi.
- Do quê?
- Depende do que iríamos fazer.
O fato de minha voz sair baixa, rouca, quase sussurrada, não era intencional. Ter meu corpo inclinado em direção ao de , meu pescoço inclinado em direção ao seu ouvido, e meus lábios roçando na sua pele, também não estava sendo intencional. Pelo menos eu acreditava que não.
- E o que você acha que estamos fazendo? – ele perguntou no mesmo tom, com a mesma voz que eu usei antes. Suas mãos, entretanto, foram mais ousadas, tendo uma descansando sobre minha cintura, enquanto a outra jogava seu copo de plástico, já vazio, em qualquer canto.
O que eu achava que estávamos fazendo, ele perguntou? Bem, eu não tinha ideia. Quer dizer, ele era o irmão mais novo, adolescente, de 16 anos, da minha melhor amiga. Ele nem mesmo deveria estar naquela festa, e definitivamente não deveria estar flertando comigo. Porque era isso que estávamos fazendo, certo? Eu não podia estar tão bêbada a ponto de imaginar que aquelas palavras, aqueles toques, eram fruto da minha imaginação.
- Acho que estamos em uma festa universitária, na qual você não deveria estar, tendo uma conversa que não deveríamos estar tendo. – respondi. – E você, , o que acha que estamos fazendo?
- Acho que estamos apenas prolongando a espera de uma coisa que nós dois queremos desde que nos encontramos nessa festa que eu não deveria ter vindo.
Seus lábios estavam próximos, muito próximos. O aroma do seu perfume tomava todo o ambiente, e meu corpo só conseguia sentia o peso de suas mãos, já que agora ambas estavam nas minhas costas, me abraçando, me puxando mais para perto.
- E o que seria isso? – minha voz não foi mais do que um sopro, de tão baixa que saiu. Mas pareceu entender muito bem minha pergunta, já que a sua resposta foi mais do que clara. Em um segundo seus dedos estavam na minha nuca, presos nos meus cabelos, puxando minha cabeça em direção à sua. No instante seguinte eu tinha me beijando, me apertando e fazendo com que eu esquecesse tudo ao meu redor. Senti minhas costas baterem contra a parede, mas não tive tempo para reclamar da temperatura fria. Como se o meu corpo já não estivesse quente o bastante, o corpo de - o qual minhas mãos estavam muito felizes em finalmente poder explorar, muito obrigada – fez o trabalho de deixar o meu em chamas.
Seu cheiro, eu tinha certeza, ficaria impregnado para sempre nos meus pensamentos. Suas mãos atrevidas me apertavam sob a blusa que usava, e seus lábios garantiram que eu tivesse o melhor beijo de toda a minha vida, do tipo que eu sabia que não ficaria satisfeita com apenas aquela amostra. Porque mesmo antes do nosso primeiro beijo acabar, eu já sabia que precisaria de mais, muitos mais.
E depois de olhar para os lábios vermelhos e inchados de , de perceber seu peito subindo e descendo rapidamente devido à respiração descompassada, não precisei pensar na vontade de repetir tudo de novo, porque o irmão mais novo da minha melhor amiga não perdeu tempo em aplacar a vontade que nós tínhamos de continuar o que havíamos começado.

UM ANO ATRÁS
You're so hot, teasing me

So you're blue but I can't take a chance on a chick like you

That's something I couldn't do

There's that look in your eyes

I can read in your face that your feelings are driving you wild

Você é tão quente, me provocando. Depois você está triste, mas eu não posso me aproveitar de uma criança como você. É algo que não poderia fazer. Há aquele olhar nos seus olhos. Eu posso ler em sua face que seus sentimentos estão te deixando maluco.
--

- , vem me ajudar com o bolo! - ouvi gritar de longe.
Imediatamente respirei fundo, ou pelo menos tentei, já que minha respiração estava descompassada demais.
- , onde você está? – ouvi minha amiga gritar novamente.
- Já estou indo!
Fui para frente do espelho. Meu cabelo estava todo bagunçado e minha roupa amassada. As bochechas coradas eram prova do calor que sentia e da falta de ar que estava no momento. Passei os dedos pelos fios dos cabelos, me concentrando em acalmar as batidas do coração. Eu poderia falar que ter o coração batendo em disparado era por conta do susto de ter gritando meu nome, mas eu sabia que isso não era inteiramente verdade.
veio para trás de mim, suas mãos circulando minha cintura, sua cabeça se escondendo na curva do meu pescoço e seus lábios dificultando meu trabalho em me acalmar.
- Preciso me arrumar. – falei baixinho.
- Não precisa não. – disse entre beijos.
- Preciso sim, sua irmã está me esperando lá fora. Se eu não for encontra-la, é capaz de ela vir me procurar. E não queremos isso, não é?
Pelo reflexo no espelho vi dando de ombros.
- Eu não me importaria na verdade.
Minhas mãos, que estavam sobre as suas, pararam no carinho que faziam. ainda tinha os lábios no meu pescoço, ignorando meus olhos que procuravam pelos seus. Suspirei com a sua fala. então olhou para cima, notando minha expressão séria.
Afastei-me lentamente, ficando de frente para ele.
- Pensei que tivéssemos concordado que isso que temos deveria ficar em segredo.
- Na verdade você disse que queria que “isso que temos” – fez aspas com os dedos – ficasse em segredo. Eu apenas concordei porque não queria que ”isso que temos” acabasse.
Senti meu peito pesar. De fato, uma das condições para que continuássemos com “aquilo que tínhamos” era a garantia de manter apenas entre nós dois nossos encontros escondidos. havia concordado com minha condição no início, mas ultimamente vinha mostrando sua insatisfação com isso.
- ...
- Eu sei, eu sei. – revirou os olhos. – Você não quer que nosso relacionamento se torne público porque não sabe como explicar à sua melhor amiga que está ficando com o irmão mais novo dela.
Irmão mais novo e menor de idade, completei mentalmente. Não que isso fosse continuar sendo um problema por muito mais tempo. Estávamos escondidos no banheiro de enquanto sua festa de 18 anos acontecia no primeiro andar da casa, onde seus amigos o esperavam para jogá-lo na piscina e cortar o bolo que sua mãe tanto insistira em ter, para, em seguida, começarem a verdadeira festa: regada de cerveja e batidas de frutas com vodca.
- Você sabe que eu não me importo nenhum pouco com isso. Já deixei claro, várias e várias vezes, que não me importo com o que a minha irmã possa pensar. Eu realmente gosto de você. Muito.
E esse era o real problema. Sim, eu gostava de . Mais do que gostaria de admitir para mim mesma, mais do que seria saudável para nós dois. Eu gostava tanto de , que todas as vezes que sua foto aparecia em meu celular, quando ele me ligava, meu coração se aquecia, meus olhos brilhavam, e a ansiedade por ouvir sua voz era gritante. Eu o amava, e isso não era nada bom para .
- Se você falasse que não quer descer, que prefere ficar aqui em cima, eu mandaria todo mundo embora agora mesmo, sem titubear.
Eu sabia disso. , por meio de suas ações, não deixava dúvidas de que sua prioridade sempre seria eu. Independente do que acontecesse, sempre pensava em mim primeiro, sempre se preocupava comigo, antes mesmo de se preocupar com ele. E isso não era bom.
- Se você dissesse que quer fugir, fingir que não está acontecendo uma festa lá embaixo, e dirigir para longe daqui, eu iria sem pensar duas vezes. Claro que você teria que ser a motorista, como de costume. Mas não se preocupe, amanhã estarei indo na autoescola. – ele disse empolgado.
Não era bom que tivesse nosso relacionamento e, mais necessariamente, a mim, como prioridade, porque estava completando dezoito anos agora. E agora a sua vida estaria tomando outro rumo. Uma nova fase estaria começando. E em poucos meses ele estaria indo para a faculdade. Eu e “isso que temos” estaríamos sendo um obstáculo para isso. Porque é inteligente, e tem capacidade de entrar na faculdade que ele quiser. E sei que vai pensar em mim e “nisso que temos” na hora de tomar a decisão mais importante da sua vida: para qual faculdade ir.
E eu não posso ser esse obstáculo para ele. Isso que temos não pode ser sua prioridade no momento, não quando ele mal começou a viver sua vida. Eu nunca me perdoaria se, por minha culpa, deixasse de viver experiências próprias da sua idade.
- E então, , o que me diz? Vamos fugir? – ele perguntou com um brilho diferente nos olhos, um brilho de expectativa. Ele realmente queria que eu respondesse sim, vamos fugir daqui. E por mais que essa fosse a resposta que quisesse lhe dar, não foi isso respondi.
- Acho que precisamos conversar.
rolou os olhos.
- Não gosto quando você fala isso, sempre fico tenso.
Passei as mãos pelos seus braços que ainda estavam em volta de mim. Repousei as ambas as mãos em seus ombros e o empurrei delicadamente, apenas para que tivesse espaço para que pudesse me afastar dele. Se iria fazer aquilo, eu precisaria de espaço, precisaria ficar longe do seu toque.
Fui até a parede oposta, encostando-me nela, minhas mãos atrás do meu corpo. ficou exatamente onde estava, os braços ao lado do corpo, a expressão séria.
- ... Onde você acha que isso vai nos levar?
fez cara de confusão.
- O que quer dizer com isso?
- Quero dizer... Você acabou de completar 18 anos, o que significa que uma nova fase da sua vida está apenas começando. E você está aqui, escondido no banheiro comigo, enquanto seus amigos, os quais estão vivendo a mesma fase que você, te esperam do lado de fora.
- ... Eu não entendo o que você quer dizer. Achei que o lance da diferença de idade já tinha ficado para trás.
- E ficou. – eu disse. – Mas o problema não é a diferença de anos em si, mas o que eles representam.
- Continuo não entendendo.
- O que quero dizer é que sinto que estou tirando uma parte importante da sua vida. – começou a negar com a cabeça, mas continuei a falar antes que ele pudesse me interromper. – , você mal completou 18 anos, nem mesmo entrou para a faculdade ainda, e já está abrindo mão de muita coisa por minha causa.
- Isso não é verdade...
- Você cancela seus compromissos com seus amigos para poder passar a noite lá em casa. – o interrompi. – E isso ainda é o de menos. Você está até mesmo pensando em mudar sua opção de curso apenas para escolher uma faculdade que fique próxima de onde moro! – disse me lembrando da conversa que tivemos há algumas semanas. Enquanto lia as faculdades que ofereciam o curso que ele sonhava em fazer, ele acabou soltando, vez ou outra, que não escolheria uma ou outra por ser muito longe de onde eu morava.
- Isso não significa nada!
- Isso significa tudo, caramba!
- O que você quer? Quer que eu vá embora para longe? Para outro estado? Porque eu posso fazer isso. Você sabe as minhas notas, sabe que posso passar na porra da faculdade que eu quiser.
- Eu sei, eu sei muito bem disso. E é exatamente isso que me preocupa. Você deixaria a oportunidade de estudar em uma faculdade incrível porque estaria colocando o nosso relacionamento acima disso.
- Muitos casais tomam esse tipo de decisão, . Casais que se gostam de verdade se colocam acima das outras pessoas, acima das outras coisas.
- Eu não quero que você faça isso. – passei as mãos suadas pelos meus cabelos. – Não quero que abra mão de nada, não quer que abra mão da sua vida e de quem você é para que possa continuar comigo. Sinto como se estivesse roubando a sua vida.
- Você está exagerando. – ele negou com a cabeça. – Está exagerando.
- , hoje é o seu aniversário e você está aqui, escondido em um banheiro enquanto seus amigos te esperam lá em baixo.
bufou e revirou os olhos.
- Mas isso é porque você prefere se esconder a mostrar para a minha família que está apaixonada pelo irmão mais novo da sua melhor amiga.
Ele estava certo. Eu era egoísta o bastante para ficar com ele escondido, me aproveitando de tudo o que ele tinha para me oferecer – desde seu carinho e beijos doces, até suas mãos ousadas e beijos quentes – enquanto o obrigava a se esconder também.
E por mais que sim, eu amasse , eu não podia continuar com o que tínhamos. Porque eu via em seus olhos a mistura de sentimentos, o conflito pelo qual ele passava todas as vezes que me escolhia enquanto deixava seus amigos de lado. E eu tinha certeza de que ele iria se abster de viver uma vida universitária plenamente porque estaria preso a mim, a mim que não poderia acompanhá-lo mais, uma vez que já estava formada e tinha uma vida adulta para dar seguimento. Uma vida em que minhas preocupações se dividiam entre pagar minhas contas e fazer plantões no hospital, enquanto ele deveria viver os melhores anos da sua vida.
- Sinto como se estivesse me aproveitando de você. – disse suspirando.
Nesse momento deu os poucos passos que nos separavam e colou seu corpo ao meu contra a parede. Segurou meu rosto com ambas as mãos e olhou em meus olhos. E eu pude ver nos seus tudo o que ele sentia naquele momento e não conseguia colocar em palavras. Eu conseguia ver nos seus olhos sua entrega, sua entrega a mim. E eu não podia ter esse tipo de responsabilidade, não quando mal havia completado dezoito anos, não quando ele mal havia começado a viver. Eu sabia que ele se ele se prendesse ainda mais a mim, em alguns anos ele iria se arrepender por ter perdido seus anos dourados, e então tudo o que construímos juntos iria ruir, e nada de bom iria restar.
E foi por esse motivo que tomei a decisão mais difícil da minha vida até o momento.
- Acho melhor terminarmos.
Os segundos que seguiram pareceram eternos. O silêncio ali dentro era tamanho que até mesmo podia ouvir duas vozes femininas, no andar de baixo, perguntando onde estava. Em minha mente, eu respondi à pergunta delas com o peito apertado, “ele está aqui em cima comigo, e provavelmente esta será a última vez que teremos a oportunidade de ficarmos sozinhos”.
E este pensamento doeu. Só não doeu mais do que olhar para a expressão de .
Seus olhos, antes tão brilhantes e empolgados com a expectativa de fugir comigo, agora estavam opacos e sem vida. Olhavam para lugar nenhum em específico, desfocados, distantes demais para prestarem atenção nas lágrimas que eu já não conseguia mais segurar.
- Você não pode estar falando sério.
Como seus olhos, sua voz parecia distante, sem vida.
Suas mãos, antes no meu rosto, caíram ao lado do seu corpo. Os ombros ficaram curvados. Sua cabeça balançando de um lado para o outro, não acreditando no rumo que nossa conversa tinha tomado. Bem, eu também não entendia. Não entendia porque estávamos bem até alguns minutos, e então já não estávamos bem.
Quer dizer, não é como se eu tivesse tomado essa decisão do nada. Minhas inseguranças em relação a sempre existiram, e minhas preocupações com relação à sua vida – uma vida que ele não poderia viver plenamente se estivesse preso a mim – ficavam mais presentes a cada dia que passávamos juntos.
Eu sabia que poderia estar cometendo um grande erro. Eu sabia que poderia me arrepender disso no futuro – até porque já estava começando a me arrepender neste instante. Mas eu estava certa de que era o certo o fazer. merecia mais, muito mais.
Eu sabia que gostava de mim, é claro que sim. Mas também sabia que ele era jovem, e que as paixões na sua idade muitas vezes eram confundidas com amor. E eu não poderia me aproveitar disso. Eu o amava sim, e era por isso que estava abrindo mão do que tínhamos, porque eu queria que ele fosse completo, feliz e realizado. E eu não poderia ficar no seu caminho.
- Você ainda tem tanta coisa para viver...
- Eu quero vive-las todas com você. – ele me interrompeu. – Quantas vezes eu preciso dizer, ? Eu realmente gosto de você. Isso que sinto não é uma paixonite de adolescente. Não é impulso, não é uma aventura. , eu am...
- Acho que você vai me agradecer depois. – o interrompi. Eu não poderia lidar com o que ele estava prestes a dizer. – Eu vejo nos seus olhos como você se sente em relação a mim. Mas também sei que isso não vai durar para sempre, porque você é muito novo e...
- Mas que merda, ! – ele gritou. Se afastou de mim, passando as mãos por entre os fios do cabelo, sua face ficando vermelha. – Por favor, não comece com essa história da idade de novo. Por favor, . Por favor.
Eu ouvia sua voz implorando para que não começássemos novamente aquela discussão. Via em seus olhos o desespero por ter que falar sobre aquilo de novo. Já havíamos discutido sobre a nossa diferença de idade, e eu havia perdido cada uma das nossas discussões. era muito persuasivo e tinha bons argumentos, então esse assunto havia ficado esquecido no último ano.
Mas não poderia ficar esquecido para sempre.
- Eu só não quero que você se arrependa por abrir mão de algumas coisas agora...
- Eu realmente não sei como você me enxerga. – olhou para mim. – Não, sério. Você deve achar que eu sou uma criança, que eu não tenho consciência das minhas atitudes, que não sei tomar decisões.
- ...
- Bem, me deixe esclarecer uma coisa para você. – tinha raiva, mágoa e pesar no tom de voz, e isso machucou, machucou mito, porque eu sabia que eu era a causadora de cada um desses sentimentos. – Posso ser mais novo que você, posso ter acabado de completar 18 anos, mas eu sei muito bem o que estou fazendo. E se eu digo que quero ficar com você, que não me importo em ter que abrir mão de algumas coisas, que não me importo em ter que mentir para a minha família sobre a identidade da minha namorada, é porque não me importo. E sim, eu tenho consciência dessas decisões. E não, você não tem que tomar as decisões por mim.
Percebi que ao final da sua fala quem respirava com dificuldade era eu. Percebi também que havia prendido a respiração com tanta força que minha cabeça doía.
Como sempre, sabia como argumentar, sabia como fazer minhas incertezas e medos desaparecerem. E ele usou o meu momento de silêncio para se reaproximar de mim, pegar meu rosto novamente em suas mãos e me beijar.
Meus braços se jogaram no seu pescoço, minhas mãos se prenderam nos seus cabelos. Meus lábios clamavam pelos seus com tanto fervor que sentia como se estivéssemos separados há anos, e não há apenas alguns minutos.
- , você ainda está no banheiro?
separou os lábios dos meus, mas não tirou suas mãos do meu corpo.
- Estou terminando de secar o cabelo!
- Caramba, você parece uma noiva às vezes. – gritou do lado de fora.
- Que seja. – ele gritou de volta. – Pode sair do meu quarto agora?
- Claro, claro... Ei, sabe onde está?
Senti o sangue gelar com a pergunta. Eu havia sumido há, pelo menos, 15 minutos. É claro que estaria me procurando.
- Como eu poderia saber? A amiga é sua!
- Nossa, como você é estúpido, garoto! – ouvi bufar do lado de fora. – Termina logo de se arrumar, não aguento mais ter que dar atenção pros seus amigos. A sua namorada não para de me encher o saco me perguntando sobre você.
- Eu não tenho uma namorada! – gritou de volta antes de ouvirmos bater a porta do seu quarto. E então voltando-se para mim, ele falou mais baixo. – Tenho?
Engoli em seco. Ele queria saber se ainda estávamos juntos? Se ainda poderia me chamar de namorada?
- Acho melhor descermos. já está desconfiada, e seus amigos estão te esperando para a sua festa.
Me desvencilhei de seus braços, já abrindo a porta do banheiro sem me preocupar em arrumar minhas roupas e colocar o cabelo no lugar.
- ...
- Volte para a sua festa, . Seus amigos estão te esperando.

Precisei inventar uma desculpa esfarrapada para que não me questionasse sobre o eu paradeiro nos últimos minutos. Felizmente estava tão aliviada por finalmente não precisar mais lidar com adolescentes sozinha, que nem se importou com o que eu falava.
- Não aguento mais precisar ouvir aquela garota tentando ser legal comigo. – disse revirando os olhos.
- Que garota?
- Aquela – apontou. – Não me lembro do nome dela, mas ela parece empenhada em ser legal comigo. O único problema é que ela é muito chata. – disse gemendo. – Acho que ela e têm alguma coisa, e ela está tentando conquistar a família dele. – riu.
Ri junto dela, ainda que minha risada não fosse pelo mesmo motivo da sua. Não, eu não achava graça pelo fato da garota estar tentando cair nas graças da por estar afim de . Apenas queria poder faze o mesmo, provar para minha amiga e sua mãe que eu também podia ser uma boa namorada para .
- Ah, a noiva chegou!
Olhei para atrás onde descia as escadas com uma toalha em mãos, fingindo ainda secar o cabelo.
- Achou a sua amiga? – ele perguntou despreocupado, sem olhar para mim.
- Achei. Agora vá lá para fora dar atenção para os seus amigos adolescentes. Não tenho mais paciência para gente da sua idade.
rolou os olhos.
- Claro, claro... Como se fôssemos crianças.
- Vocês são quase isso. – respondeu apenas para irritar seu irmão.
jogou sua toalha molhada em cima da irmã e passou por nós, seguindo para o lado de fora. Percebi que seus olhos procuraram pelos meus, mas eu não o olhei de volta. Não queria enxergar a tristeza em seus olhos novamente.
- Vamos lá para fora também. Eles podem ser todos adolescentes, mas pelo menos trouxeram cerveja. – disse animada já me puxando pela mão.
E já do lado de fora, pude ver cercado pelos seus amigos brindando pelo seu aniversário. Não precisei perguntar à minha amiga quem era a “garota que estava tentando conquistar a família de ”. Sua tentativa de lhe chamar a atenção estava bem óbvia, ainda que não correspondesse às suas investidas.
- Olha só meu irmão se fazendo de difícil. – comentou com humor na voz.
Não respondi a isso, apenas concordei com a cabeça.
- Isso me faz pensar se não tem uma namorada secreta. – ela disse. – Já tem algum tempo que ele anda estranho.
- Estranho como? – perguntei preocupada.
- Distraído, sempre ocupado, dizendo que vai se encontrar com os amigos quando estava óbvio que ele iria se encontrar com uma garota...
- Por que óbvio?
- Porque demorava mais que o normal no banho, gastava mais perfume que o usual... E, acredite se quiser, uma vez ele chegou a me pedir dicas de restaurantes.
- Sério?
riu antes de responde.
- Sério. Achei fofo, se quer saber. – ela disse ainda rindo. – Nem parecia um adolescente de 17 anos.
E aquilo fez com que meu corpo entrasse em conflito novamente. Ao mesmo tempo em que tinha um sentimento de orgulho por ser a responsável pela preocupação de , também me sentia culpada pelo mesmo motivo.
Olhei novamente para onde estava junto aos seus amigos, rindo e bebendo como um adolescente deve fazer, vivendo seus dezoito anos com pessoas da sua idade, que poderiam compartilhar com ele suas aventuras e sonhos. E foi nesse momento que tive certeza que a decisão mais difícil da minha vida até o momento – a decisão que havia tomado há poucos minutos – por mais dolorosa que fosse, também era a certa.

ATUALMENTE
I can see what you want

But you seem pretty young to be searching for that kind of fun

So maybe I'm not the one

Now you're so cute, I like your style

And I know what you mean when you give me a flash of that smile (smile)

E posso ver o que você quer. Mas você parece muito jovem para estar procurando por esse tipo de diversão. Então talvez eu não seja a única. Agora você é tão fofinho, eu gosto de seu jeito. E agora sei o que você quer dizer quando me dá uma luz de seu sorriso (sorriso).
--

Eu não deveria estar naquela situação. Mais do que isso, ele não deveria estar naquela situação. E para piorar, eu não deveria estar naquela situação por causa dele.
- , fiz uma água com açúcar para nós. – tia Bete disse.
- Obrigada.
, ao meu lado, estava tão em choque quanto eu. Tia Bete, entretanto, era a mais afetada entre nós três. Seu filho estava em uma zona de perigo, fora do país, arriscando sua vida e sem comunicação com a família. As notícias sobre o desempenho das tropas brasileiras no Haiti eram dadas pela mídia, mas sempre de uma forma muito genérica.
- Mais uma tropa do exército brasileiro acaba de pousar na cidade de Porto Príncipe. Após conter os conflitos armados, causados por grupos rebeldes opositores ao atual governo, as tropas brasileiras, com o auxílio do exército de outros países, buscam por sobreviventes. A contagem de mortos e desaparecidos em combate ainda é pequena, e a nossa esperança é que permaneça assim. A equipe de buscas do exército brasileiro está emprenhada em encontrar sobreviventes sob os escombros, e têm esperanças de voltar para casa com todos os seus soldados.
Ouvi tia Bete começar a chorar novamente ao meu lado. segurava suas lágrimas fortemente, mas estava claramente abalada. Eu estava abalada.
- Precisamos nos acalmar. As buscas ainda não acabaram, e agora que os reforços chegaram tenho certeza de que tudo vai ficar bem. – tia Bete disse entre um soluço de choro e outro.
- Claro, claro que sim. Vai ficar tudo bem, mãe. – disse apertando a mão de sua mãe.
Naquele momento me senti uma intrusa. Eu não deveria estar presente neste momento familiar, no qual ambas compartilhavam suas dores e temores. Eu não deveria estar ali, mas ainda assim estava. Porque eu também sentia dor, porque eu também estava com medo.
- Acho que vou misturar mais açúcar com água. Quer mais, ? – tia Bete me perguntou.
Seu filho estava desaparecido sob os escombros na cidade de Porto Príncipe, no Haiti, após uma missão de paz da ONU prestada pelo exército, sem saber se estava vivo ou morto e, ainda assim, era ela quem estava tentando me acalmar. Aquilo não era certo.
- Vamos fazer assim, tia Bete, você fica aqui e eu vou fazer algo para nos acalmarmos, que tal? – ofereci já me levantando.
- Obrigada. – ela disse baixinho.
Segui para a cozinha com as pernas bambas, me apoiando no balcão.
Isso não deveria estar acontecendo. As coisas não deveriam ser daquele jeito, não deveriam.
Pensei nos momentos que tive com . Pensei nos momentos que não tive com por pura ignorância da minha parte, por puro medo. E então me arrependi de todos eles, desejando poder voltar no tempo e ter uma nova chance de fazer as coisas diferentes.
Peguei o celular em uma mínima esperança de ver seu nome na tela, ainda que eu soubesse que isso era impossível. estava no Haiti, sob os escombros, perdido, possivelmente ferido.
- Você sabe que ele pode estar apenas ajudando os sobreviventes, não sabe?
estava atrás de mim. Seus olhos estavam inchados por causa do choro, mas sua expressão era decidida.
- Eu acredito que não esteja ferido ou perdido, mas apenas sem comunicação. Acredito que ele esteja apenas ajudando as equipes de resgate.
- Claro, você está certa. – eu disse. estava certa, as chances de estar a salvo existiam, e tínhamos que confiar nelas. Mas isso não significava que ele estava fora da zona de perigo porque, bem... Porto Príncipe inteiro atualmente era uma zona de perigo.
- Você não precisa se segurar. – disse. – Não perto de mim.
Minha primeira reação foi confusão, porque não entendi do que ela estaria falando. Mas então meus olhos se encheram de lágrimas, primeiro porque meus pensamentos estavam em , possivelmente perdido e ferido, longe da família, longe de mim. E depois porque entendi o que queria dizer.
- No começo eu fiquei muito brava com você, se quer saber. – ela começou. – Não por estar namorando escondido meu irmão, mas por não ter me contado. Quer dizer, por que não confiou eu mim? Meus olhos que já estavam cheios de lágrimas, não foram capazes de segurá-las. Também não fui capaz de evitar o soluço que estava preso em minha garganta, nem mesmo o grito que precisei abafar com a mão para não assustar tia Bete na sala.
- Desculpe, ...
- No começo eu pensei que vocês estavam apenas curtindo. Pensei que você tinha enlouquecido por estar saindo com um garoto mais novo que você, menor de idade. Mas então eu percebi as mudanças de comportamentos em vocês dois, percebi que o que era para ser só uma ficada se tornou algo muito mais sério. Sério a ponto do meu irmão se alistar no exército ao completar de dezoito anos, e ser voluntário na equipe enviada em uma missão da ONU, simplesmente porque precisava se afastar de tudo o que ele tinha depois do término de vocês.
Outro soluço não foi contido.
havia se alistado ao completar 18 anos, como todo homem brasileiro deve fazer. Mas diferente do que a maioria faz, ele não pediu dispensa. Pelo contrário, preferiu se voluntariar para missões de paz da ONU, informando à família que havia decidido seguir carreira dentro do exército, e que para isso iria se mudar, passando quase todos os seus dias no Quartel General, a quilômetros de distância de sua família e de mim.
A decisão tinha sido dele. A escolha em seguir uma carreira dentro do exército, e de ser voluntário na missão da ONU, tinha partido exclusivamente de . Ele sempre foi um bom garoto, sempre se preocupou mais com os outros do que consigo mesmo, então acredito que ele tenha tomado essa decisão com base em sua personalidade altruísta. Mas eu também sabia que o nosso rompimento influenciou sua decisão de se mudar, de se afastar.
- Eu não sabia como você iria reagir. – falei. – Pensei que você poderia não aceitar, que talvez ficasse chateada comigo, começasse a gritar...
não deixou que eu terminasse de falar. Me abraçou com força, enquanto eu chorava no seu ombro.
- Fala sério, ! O único motivo que eu teria para gritar com você era para entender o que diabos passou na sua cabeça para querer namorar com o meu irmão. Eca!
Rimos juntas, especialmente quando ela deu um tapinha no meu braço.
- Você gosta dele, ? – perguntou séria.
- Muito. – falei sem precisar pensar na resposta.
- Então, por que terminaram?
Aquela era uma pergunta complicada, a qual dependia de uma resposta ainda mais complicada.
Por que não estávamos mais juntos, ela queria saber?
- Porque eu via em seus olhos o quanto gostava de mim. E sinceramente? era muito jovem para estar procurando por esse tipo de coisa. Um relacionamento sério, quando ele nem mesmo tinha passado no vestibular ainda...
balançou a cabeça concordando com a minha fala, mas eu não deixei que ela me interrompesse. Eu precisava falar aquilo a ela, precisava colocar aquelas palavras, aquela explicação, para fora de mim.
- Eu sabia que não era a única apaixonada. me conquistou tão rápido... Para ser sincera eu nem mesmo percebi quando aconteceu, como me apaixonei por ele. E sim, nossos momentos juntos eram os meus favoritos, e seu jeito moleque de ser apenas ajudou para que eu me apaixonasse ainda mais.
não tentou me interromper novamente. Ela me ouvia com atenção, mesmo sabendo que aquelas palavras, mesmo sendo ditas em voz alta, não eram para ela, mas para mim. Eu precisava admitir, para mim mesma, o quão apaixonada eu estava por , e quais os motivos (motivos pelos quais eu me arrependia) que me levaram a dar um fim no nosso relacionamento.
- Seu sorriso... Seu sorriso era como uma luz. Tudo se iluminava quando sorria. Era como se todos os problemas desaparecessem. – eu disse sorrindo me lembrando do sorriso dele.
- Isso é lindo, . – disse. – Mas ainda não entendo por que precisaram terminar.
- Porque eu sabia que se sentia da mesma forma, e sabia que ele abriria mão de qualquer coisa, qualquer sonho, apenas para ficar perto de mim. Ele abriria mão de experiências, festas, a oportunidade de estudar em outro estado, talvez até mesmo em outro país, apenas para poder ficar junto a mim. E eu não podia fazer isso com ele. Além disso, era muito jovem. Ele estava apaixonado, é verdade, mas você sabe como são as paixões de adolescente. Confesso que tive... Medo. Medo de estar confundindo paixão com amor, e que por conta disso nós dois saíssemos machucados no final.
E olha onde nós chegamos, afinal, pensei.
- Entendo. – falou após um momento de silêncio entre nós duas. – Entendo de verdade. E se quer saber, não acredito que teria a mesma consciência que você. Quer dizer, eu não conseguiria deixar de ser egoísta e deixar o meu amor ir embora.
Sorri triste antes de responder.
- Bem, ele foi embora mesmo, não é?
O brilho nos olhos de se apagou novamente, e então o clima ficou pesado de novo. Nossos poucos minutos de distração pesaram sobre nossos ombros, o medo pela falta de notícias crescendo novamente.
E foi nesse momento que o telefone na sala tocou. Nós duas permanecendo em silêncio, esperando por uma reação de tia Bete, apenas para sabermos do que se tratava. Nos últimos dias as ligações telefônicas causavam essa reação em nós: silêncio absoluto, à espera que a voz do outro lado da linha trouxesse boas notícias.
Tai Bete conversou baixo, então não pudemos identificar o teor da conversa. Ao desligar, entretanto, ela apareceu correndo na cozinha, com lágrimas nos olhos e um sorriso maior do que seus lábios podiam suportar.
Não ouvi o que ela tinha a dizer, entretanto. O celular em minhas mãos começou a vibrar, e o nome de apareceu na tela. Fiquei alguns segundos olhando para o aparelho, segundos demais, eu diria. Tantos segundos, que a ligação caiu.
- Não...
Antes que eu pudesse retornar a ligação, entretanto, o aparelho voltou a tocar. Atendi no segundo toque.
- Alô?
- ? – mesmo em meio aos chiados do outro lado, e a qualidade ruim da ligação, consegui identificar a voz de . – , está aí?
- Sim. – precisei segurar um soluço. Há meses não ouvia a sua voz, e há um ano não via seu rosto. – Estou aqui. Onde... Onde você está?
- está voltando, ! – ouvi tia Bete gritar, ainda com lágrimas nos olhos, enquanto me abraçava. – está voltando!
- Acho que minha mãe já respondeu essa pergunta. – disse rindo baixo do outro lado de linha. Não pude conter a risada fraca. Aquilo estava mesmo acontecendo? – Chego ainda hoje, mas mesmo assim precisava ouvir a sua voz.
- Ah, ... – suspirei. Em determinado momento, tia Bete e tinham ido para o segundo andar, falando algo sobre trocar de roupa para poderem se encontrar com quando ele, finalmente, desembarcasse. – , eu senti tanto medo...
- Eu também. – ele falou. – Senti medo todos os dias, porque pensei que nunca mais poderia ouvir o som da sua voz.
Novamente suspirei. Suspirei pelas suas palavras e pela sua declaração, suspirei, especialmente, pelo sentimento recíproco.
- ... Preciso desligar agora. Estou embarcando, mas em poucas horas estarei chegando no Brasil.
- Tudo bem. – respondi, mesmo sabendo que não estava tudo bem. Eu não queria que ele desligasse, não agora, não depois de tanto tempo sem ouvir a sua voz.
- Eu só queria saber... – o ouvi suspirar do outro lado da linha. – , você vai estar me esperando quando eu chegar ao Brasil?
E então todo o aperto que sentia no peito desapareceu. Ainda que a ansiedade tivesse aumentado, o medo começou a diminuir, gradativamente. estava voltando, e queria saber eu estaria o esperando.
- ... Eu esperei você por um ano. Esperei por você enquanto arriscava a sua vida para salvar outras. Então sim, eu estarei te esperando quando você chegar no Brasil. Estarei do outro lado dos portões, pronta para recebê-lo e nunca mais deixa-lo ir embora.
- É mesmo? – ele perguntou. – Que bom. Porque depois que eu puder finalmente abraça-la, não pretendo soltá-la tão cedo.
- Então, eu só peço para que você cumpra essa promessa, porque não há nada que eu queria mais do que isso.
- E você promete que não vai fugir de mim? – no fundo de sua perguntando, pude ouvir alguém mandando que ele desligasse o celular, pois já iriam decolar. – Eu preciso saber, ...
- , fugir de você é algo que nunca mais vai acontecer, isso é uma promessa. – respondi firme. – Agora desligue esse celular e volte logo para mim, porque eu preciso de você e do seu sorriso para acalmar o meu coração.
, então, terminou a ligação, não sem antes prometer que, em breve, estaria de volta em meus braços, de onde ele nunca deveria ter saído.





Fim.



Nota da autora: Que honra poder fazer parte desse ficstape! <3
A ideia pra fanfic surgiu no mesmo instante em que li a letra, então espero que vocês tenham gostado, porque eu amei poder escrever essa fanfic! Há tempos queria fazer uma história tendo os personagens principais diferença de idade, mas não tinha surgido a oportunidade ainda até que... Tcharã! HAHAHA É sério, gente, espero, de verdade que vocês tenham gostado! E neste caso, a caixinha de comentários ficar logo aqui em baixo, onde vocês podem deixar algumas palavrinhas lindas que vão deixar uma autora surtando em meio a gritos de alegria, haha.
Um P.S. especial pra minha helper maravilhosa, Isa, que ainda não desistiu de mim e nem das minhas fanfics. Obrigada! <3
Beijos de luz
Angel






Outras Fanfics:
Longfic
Tempo Certo (Outros – Em Andamento)

Shortfics:
21 Months (Atores – Shortfics)
Babá Temporária (Outros – Shortfics)
Café com Chocolate (Outros – Shortfics)
Elemental (The Originals – Shortfics)
Rumor (Kpop – KARD – Shortfics)
Sorry Sorry (Kpop – Super Junior – Shortfics)
Welcome to a new world (Mcfly – Shortfics)

Ficstapes:
06. Every Road (Ficstape #58 - The Maine)
07. Face (Ficstape #104 – GOT7)
10. What If I (Ficstape #36 - Meghan Trainor)
12. Epilogue: Young Forever (Ficstape # 103 - BTS)

Music Videos:
MV: Change (MV: Kpop)
MV: Run & Run (MV: Kpop)
MV: Hola Hola (MV: Kpop)


Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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