Enviada em: 04/01/2018

Capítulo Único


– Amor, você viu minha maleta? Estou atrasado! – Ouvi a voz de meu marido vinda do cômodo ao lado.
Revirei meus olhos, e abri um sorriso. , sempre tão esquecido. Fechei a torneira da pia e larguei o pano de prato que estava em meus ombros em cima da bancada. Andei até a mesa da cozinha e me abaixei, pegando a maleta ao lado da mesma. Saí da cozinha e andei até a sala para entregá-la a ele. Encontrei-o na porta terminando de ajeitar sua gravata.
– Você só não esquece sua cabeça, porque está grudada em seu corpo. – Comentei divertida enquanto soltava sua maleta no chão.
Em uma atitude muito madura e debochada, meu marido me mostrou a língua e sorriu logo em seguida. Ri de seu feito e levei minhas mãos até o colarinho de sua camisa, ajeitando-o.
– Ainda bem que tenho você para sempre me lembrar de tudo. – respondeu.
Deslizei os dedos por sua gravata, alisando-a, e em seguida levantei meu rosto, olhando em seus olhos.
– Você não seria nada sem mim, meu amor. Já lhe disse para se conformar com isso! – Falei a ele, vendo-o gargalhar e balançar a cabeça negativamente.
– Pois eu já estou me conformando, . Não vivo sem você e sem nossa bonequinha! – falou, levando suas mãos até minha barriga de 38 semanas de gravidez, acariciando-a. – Você vai me ligar caso qualquer coisa aconteça, não? Andrew lhe avisou que...
– Ele avisou que ela pode vir um pouco antes, sim, eu sei. – Interrompi-o, e abri um sorriso sincero. – Mas, se depender de mim, essa pequenininha só sairá com 40 semanas. E sei que ela será obediente. – Comentei, piscando para ele.
levou as duas mãos ao meu rosto e aproximou seus lábios dos meus, encostando-os em um beijo terno. Mordisquei seu lábio inferior de leve, e senti-o sorrir contra minha boca.
– Eu te amo, . – Ele disse encostando nossas testas e me encarando com seus olhos azuis que eu tanto amava.
– Também te amo, . Agora vá, antes que você realmente se atrase! – Falei, afastando-o de mim, e rindo.
se abaixou e pegou sua maleta, andando para fora de casa. Antes de chegar ao carro, ele voltou correndo e deu mais um beijo estalado em minha boca, fazendo-me gargalhar. Encostei-me no batente da porta e continuei a observá-lo, enquanto ele entrava no carro e se afastava. Dentro de casa novamente, permiti-me verificar que horas eram.
7h15 da manhã.
Revirei os olhos pelo horário, e me sentei no sofá com uma xícara de chá em mãos. Com minha gravidez chegando ao fim, estava cada vez mais difícil dormir. Sempre que acordava para o trabalho, eu acordava junto e o fazia seu café da manhã. Há alguns meses, eu permaneceria dormindo; hoje essa já não é mais a minha realidade. Soltei a xícara na mesinha de centro e me ajeitei no sofá, deitando de barriga para cima, única posição suportável no momento. Levei minhas mãos até minha barriga, acariciando-a. Permiti-me sorrir de lado ao imaginar o rostinho de minha filha. Acabei adormecendo sem perceber.

! – Meu nome foi chamado, e eu olhei para trás rindo enquanto continuava a correr para longe do homem que corria alguns metros atrás de mim. – Não adianta, linda! Eu vou ganhar, e você sabe disso!
Continuei a correr, sentindo cada vez mais meu corpo pedir por descanso, sedentária que eu era. Mas, naquele momento, eu não queria parar; eu queria aproveitar a vantagem que eu tinha sobre por ter começado a correr antes dele. Eu não estava ligando para a sensação de estar quase sem fôlego, mesmo a odiando. Nada tiraria minha felicidade naquele momento. Ofegante, diminuí um pouco o passo assim que cheguei ao fim da calçada. Percebi que o sinal estava aberto, e não poderia continuar correndo. Revirei os olhos, já prevendo que perderia a corrida para meu marido. Oh, marido.
Recém-casados, aliás. Recém, na verdade, era um termo muito correto para se referir a nós dois, levando em conta o fato de que havíamos nos casado há menos de dez minutos.
No momento em que cessei meus passos, os braços de me alcançaram e ele me puxou, virando-me e grudando nossos corpos. Eu gargalhei, e ele riu junto comigo enquanto colocava algumas mechas de meu cabelo atrás de minhas orelhas.
– Você realmente achou que iria me vencer? – Ele perguntou erguendo sua sobrancelha de maneira desafiadora, sem deixar de olhar em meus olhos.
Mesmo vestido com aquele terno branco, ele estava extremamente lindo. Não pude deixar de pensar no que as pessoas estavam achando da nossa pequena cena. Eu com um vestido branco, curto e um véu que alcançava meus pés, e ele com um terno branco estilo Elvis Presley, correndo pelas ruas de Las Vegas.
Fiz um biquinho e concordei com a cabeça. Ouvi-o rir, e no segundo seguinte, sua boca estava encostada contra a minha em um beijo lento e apaixonado.
– Senhorita – ele disse, pronunciando meu mais novo sobrenome de uma maneira adorável –, não que eu esteja questionando sua loucura, mas, ao menos no dia de nosso casamento, você poderia permitir que eu a carregasse no colo até o nosso hotel, não?
– falei, levando minhas mãos até seu pescoço, acariciando-o levemente –, desde quando nós somos um casal normal? – Perguntei, abrindo um sorriso de lado.
– Sei que não somos, e sei também que você é maluca, mas eu gostaria de realizar esse feito tão tradicional para os recém-casados. – Respondeu, afastando-se um pouco de mim e segurando em minha mão, seu dedo passando pela aliança recém colocada em meu anelar.
– Nosso hotel fica a três quadras daqui. Você pretende me carregar por todo esse trajeto? – Questionei-o, erguendo minha sobrancelha.
Sem responder, já havia passado seus braços pelo meu corpo e me levantado, carregando-me enquanto recomeçava a andar, atravessando a rua. Soltei uma risada alta enquanto me permitia ser carregada por ele. Passei meus braços ao redor de seu pescoço, de maneira que pudesse me segurar contra seu corpo.
– Nossas famílias vão nos matar! – Falei enquanto andávamos em direção ao hotel. – Você sabe que teremos que fazer uma cerimônia simbólica em casa.
– Claro que sei. – respondeu, desviando seu olhar para os meus olhos rapidamente antes de voltar a olhar para frente, prestando atenção por onde andava. – Mas sei também que irão entender o fato de termos feito isso em Vegas, logo após o maravilhoso sim que ouvi sair de sua boca.
Sorri ao ouvir suas palavras e concordei com a cabeça. Virei meu rosto e levei meus lábios até seu pescoço, depositando um beijo por ali. Senti-o se arrepiar com meu gesto. Entramos no hotel logo em seguida e fomos em direção à bancada da recepção.
– Boa noite. A chave do quarto 302, por favor! – pediu à recepcionista, que nos encarava com um sorriso no rosto.
Ela prontamente assentiu e nos estendeu a chave.
– Recém-casados? – Perguntou, provavelmente observando nossas roupas.
– Há menos de quinze minutos! – Exclamei animada, abrindo um sorriso imenso, e ela riu.
– Parabéns! Mandarei uma garrafa de espumante para o quarto de vocês, cortesia do hotel. – Piscou para nós e se retirou antes mesmo que pudéssemos agradecer.
Olhei para e ambos sorrimos um para o outro. Ele me ajeitou em seus braços assim que entramos no elevador.
– Estou pesada? – Perguntei enquanto acariciava seu rosto.
Ele negou com a cabeça e sorriu em minha direção.
– Não, de jeito algum. Meus braços que estão cansando, mas olha, já chegamos! – Assim que terminou de falar, as portas se abriram revelando o terceiro andar.
Passamos apenas por uma porta no corredor, até chegarmos em nosso quarto. Com um pouco de dificuldade, destrancou a porta e empurrou-a com o pé para que se abrisse. Adentramos no quarto e ele me deu um selinho antes de me soltar na cama, fazendo com o que eu gargalhasse.
– Ótimo, muito delicado, senhor ! – Comentei enquanto me sentava e apoiava meus cotovelos na cama para sustentarem meu corpo. – Isso é jeito de tratar sua esposa?
riu e negou com a cabeça enquanto se abaixava e tirava seus sapatos. Ele tirou seu paletó e deixou-o em cima de uma poltrona. Algumas batidas na porta foram ouvidas e esperei pacientemente que ele fosse atendê-la. Alguns segundos depois, ele apareceu em minha frente com uma garrafa de espumante e duas taças. Abriu um sorrisinho esperto antes de estourá-la e espalhar o líquido por todo o quarto.
– Meu Deus, que bagunça! – Falei rindo, enquanto ele servia as duas taças para que tomássemos.
então veio até mim e eu me levantei, ficando de joelhos na beirada da cama, bem próxima a ele. Ele me entregou minha taça e ergueu a sua com a intenção de fazer um brinde.
– Ao resto de nossas vidas, juntos. – Declarou sem desviar seus olhos cor de piscina dos meus.
– Ao resto de nossas vidas, juntos. – Repeti, e levei minha taça em direção a sua, encostando-as brevemente em um brinde.
Nós dois demos um gole do líquido e logo deixamos as taças de lado, pois já vinha em minha direção, sem quebrar nosso contato visual. Foi se aproximando, fazendo com que eu deitasse meu corpo na cama, deitando sobre mim, e só parou quando estávamos completamente grudados. Ele forçou seu quadril levemente contra o meu e levou sua mão até meu rosto, acariciando-o. Aproximou nossas bocas e roçou seus lábios nos meus.
– Você é tão maravilhosamente linda. – Soprou contra meus lábios, ainda olhando em meus olhos. – E eu te amo muito.
Quase derreti em seus braços. Findei a distância entre nossas bocas, encostando-as, dando-o um selinho.
– Eu também te amo muito, . – Falei antes de voltar a beijá-lo e aprofundar o beijo, dando início a nossa primeira noite como senhor e senhora .


Acordei uma hora e meia depois, com o som da porta sendo esmurrada incessantemente, e meu nome sendo chamado com urgência.
! – Ouvi me chamarem e levantei do sofá em um pulo.
Corri até a porta, e nem mesmo terminei de girar a maçaneta, quando minha mãe e minha irmã entraram em um rompante, quase me atropelando.
– Liga a TV! Agora! Ele te ligou? – Minha mãe, Anna, falava, gesticulando rapidamente.
Seu rosto estava tomado por uma expressão assustada.
– Por Deus, o que você estava fazendo? – Alisson me perguntou enquanto andava em direção a TV e ligava a mesma.
– Dormindo? – Perguntei erguendo meus ombros. – O que foi que aconteceu? Quem deveria ter me ligado? Por que vocês estão com essas expressões aterrorizadas no rosto?
Olhei para minha mãe e minha irmã, e percebi que elas não prestavam atenção em mim, mas sim na televisão. Direcionei meu olhar ao eletrodoméstico.
E então, eu vi.
Uma das torres do World Trade Center estava em chamas. O fogo emanava daquele edifício como eu nunca havia visto antes. Uma fumaça preta saía por todos os lados, escurecendo o céu.
Meu coração acelerou e eu tive que me sentar.
Não conseguia piscar, e poderia jurar que pararia de respirar a qualquer momento.
Um avião havia se chocado contra a torre.
Um avião! Meu Deus.
Eu só conseguia pensar que estava lá.
Meu marido estava lá, em seu trabalho. Há menos de duas horas ele estava em casa, seguro, e agora estava no meio do fogo cruzado, literalmente.
– Foi na torre norte. – Minha irmã comentou.
Eu enfim soltei um suspiro longo e voltei a respirar normalmente.
Não era na torre norte que trabalhava. Era na sul.
Respirei fundo e pisquei algumas vezes, permitindo que as lágrimas, que eu nem percebi que estavam em meus olhos, deslizassem por meu rosto.
Os jornalistas não paravam de falar sobre como aquilo foi inesperado. Sobre como as linhas de comunicação estavam congestionadas, e a polícia recebia ligações de pessoas que estavam na torre nesse momento. Não sabiam quem estava no avião. Não sabiam se havia sido um acidente, se havia sido intencional. Não sabiam qual voo era. Não havia detalhe algum que nos fizesse entender o porquê daquilo estar acontecendo, se é que algum dia entenderíamos.
Nós três ficamos em silêncio enquanto olhávamos para a televisão sem realmente ouvir as palavras dos jornalistas. Algumas pessoas começaram a se jogar da torre para não morrerem queimadas. As pessoas preferiram cair do edifício a morrerem com o fogo. Meu coração apertou. Aquilo era extremamente triste.
Ouvi meu celular tocar ao longe, o que me fez finalmente desviar a atenção do noticiário. Levantei-me rapidamente, e minha mãe e minha irmã fizeram o mesmo. Saí da sala correndo, indo buscá-lo. Quando vi o nome de na tela, soltei um suspiro e o atendi no mesmo instante em que andava de volta para a sala.
! ! Amor! – Falei assim que atendi o celular.
Anna e Alisson me olhavam em expectativa.
, amor... Está tudo bem. Não foi na minha torre. Está tudo bem. – falou ao telefone, e eu soltei pela boca o ar que estava prendendo sem nem ter percebido.
– Você está bem? – Perguntei, sentando-me no sofá, sendo acompanhada pelas outras duas mulheres que estavam comigo.
– Estou assustado. Todos aqui estão. Como assim um avião se chocou contra a torre vizinha da nossa? – Pude ouvi-lo respirar fundo.
– Você tem que sair daí agora! – Exigi, mordendo meu lábio, transparecendo meu nervosismo.
– Estamos tentando. Vamos descer de escada, pois os elevadores estão lotados. – falou e murmurou algo para alguém que deveria estar com ele. – , eu te amo, ouviu?
– Eu também te amo. Venha para casa. – Falei, limpando uma lágrima que escorreu por meu rosto.
– Irei para... – E então, ouvi uma gritaria.
? Amor? – Perguntei desesperada, mas não obtive resposta.
Ao mesmo tempo, olhei para a televisão e vi a pior coisa que poderia acontecer.
Não.
Oh, por favor, não.
Um segundo avião se dirigia contra a torre sul.
A cena estava sendo transmitida ao vivo. Os jornalistas estavam quietos. O país inteiro estava em choque. Ninguém ousava dar um pio. Um silêncio ensurdecedor, se é que isso faz sentido.
! ! Socorro! Meu Deus, meu Deus. – Ouvi falar no telefone. – AFASTEM-SE DA JANELA! – Ele gritou antes da linha ficar muda.
E então, o avião colidiu contra a torre sul, onde meu marido estava.
O celular escorregou de minha mão e caiu no chão. Minha mãe e minha irmã vieram até mim e a última coisa que eu vi antes de desmaiar foram os olhos azuis de .

Eu encarava aquele bastão em cima da bancada do banheiro com um sorriso imenso nos lábios e lágrimas nos olhos. Eu não podia acreditar. Depois de dois anos tentando, eu finalmente estava grávida.
Grávida!
Oh, Deus, surtaria.
Levei minhas mãos até minha barriga e acariciei-a. Mesmo ela não estando evidente, eu sabia que meu bebê estava ali, crescendo e se formando a cada minuto que passava. Não sabia de quantas semanas estava, mas deveria estar bem no início.
Guardei o bastão em minha bolsa e saí do banheiro da cafeteria, recebendo um olhar feio da garota que aguardava para utilizar o toalete. Ignorei-a e fui até o balcão, pedindo dois cupcakes para viagem.
Em casa, coloquei em prática meu plano para anunciar a que ele será pai. Peguei dois papéis pequenos e escrevi em um “Congrats” e no outro “daddy”. Colei os papeizinhos em dois palitos e os coloquei nos cupcakes, um em cada um. Deixei a caixinha com os bolinhos sobre a mesa da cozinha e fui tomar um banho.
Já de banho tomado, eu agora estava sentada no sofá aguardando ansiosamente por . Ele deveria chegar em casa nos próximos dez minutos, como sempre fazia, todos os dias.
Ouvi o barulho da porta se abrindo, e contive o impulso de me levantar e correr até , gritando a novidade.
? Cheguei! – Ele falou, seu tom de voz um pouco alto para que eu ouvisse. – Oh, você está aqui! – Falou quando se virou e me viu no sofá.
Abri um sorriso e me levantei, indo em sua direção. Ele largou sua maleta no chão e passou os braços ao redor de minha cintura, puxando-me contra si.
– Como foi seu dia? – Perguntou, levando seus lábios até minha bochecha e deixando um beijo por ali.
– Normal. Alisson encheu minha cabeça com um projeto novo para uma cliente, e só. – Dei de ombros enquanto passava os braços ao redor de seu pescoço. – E o seu?
– O de sempre. Tive duas reuniões com novos associados. – Respondeu, deslizando seus lábios por meu rosto até chegar perto de minha orelha. – Hmm... Você está cheirosa. – falou contra meu pescoço, fazendo-me arrepiar por completo.
Soltei uma risadinha baixa e me afastei dele.
– Tenho algo para você. – Anunciei enquanto separava nossos corpos. – Espere aqui!
Pude vê-lo erguer as sobrancelhas, demonstrando surpresa. Andei em direção à cozinha e peguei a caixinha com os cupcakes. Respirei fundo e voltei para a sala, parando em frente a ele.
– O que é isso? – perguntou, esticando a mão para pegar a caixa. – São meus cupcakes preferidos? – A animação transparecia em sua voz.
Eu balancei a cabeça em concordância e mordi meu lábio levemente enquanto observava ele abrir a caixinha. Assim que o fez e leu o que estava escrito nos cupcakes, a expressão animada de se fechou e ele torceu a boca em confusão. Alguns segundos depois, seus olhos adquiriram um brilho e ele voltou seu olhar para mim.
– Você está brincando comigo, certo? – Perguntou, incrédulo.
Neguei com a cabeça. Meus olhos estavam marejados, e eu não conseguia mais segurar meu sorriso.
O olhar de voltou para os cupcakes e então foram para minha barriga. No segundo seguinte, os bolinhos estavam no chão e ele me abraçava pela cintura, levantando-me enquanto me girava.
– Eu não acredito! – disse, enquanto eu só conseguia rir. – Vamos ser pais, . Pais!
Quando ele finalmente parou de me girar e me colocou novamente no chão, nossos lábios se encostaram imediatamente em um beijo rápido. E então ele se abaixou, ficando de joelhos em minha frente. Levou as duas mãos até a minha barriga e levantou minha blusa.
, o que você está fazendo? – Questionei enquanto o observava.
Ele não me respondeu e encostou seu rosto em minha barriga.
– Bebê, você vai ser muito amado. – Falou, sua mão acariciando minha pele de leve. – Você será a criança mais feliz do mundo. Seus pais já te amam tanto!
O sorriso em meu rosto não poderia estar maior. seria um pai maravilhoso. Juntos, seriamos os melhores pais que esse bebê poderia ter.
Ali naquele instante, com meu marido agachado em minha frente enquanto falava com nosso bebê, eu soube que minha família só estava começando a se formar. E se todos os nossos momentos emocionantes se assemelhassem a esse, eu não precisaria de mais nada para ser feliz.


Quando abri meus olhos, reconheci minha casa. Eu estava deitada no sofá. Ouvi algumas vozes ao redor. Fiz menção de me levantar e logo Alisson apareceu e segurou em meu braço, ajudando-me para que eu me sentasse.
– Vai com calma, . Por favor. – Pediu assim que se sentou ao meu lado.
Assenti e desviei meu olhar dela, finalmente olhando para o restante da casa. Havia mais pessoas ali. Minha mãe e minha irmã, como antes, mas agora os pais de e seu irmão Andrew, que também é meu médico, estavam conosco.
, querida! – Lilian, minha sogra, veio até mim e me abraçou. Sua expressão estava derrotada, mas mesmo assim, ela abriu um sorriso ao falar comigo. – Está melhor? – Perguntou, passando a mão por meus cabelos.
– Eu... estou. Estou, sim. – Falei, um pouco confusa. – O que aconteceu? Eu só lembro de...
E então, todos os acontecimentos anteriores vieram a minha mente.
Oh, não.
Por um breve momento, achei que tudo havia sido um pesadelo.
– Ainda não obtivemos notícias dele. – Leonard, pai de , respondeu. Seus olhos estavam vermelhos, e nunca o havia visto daquela maneira. – O avião colidiu muito acima do andar onde ele trabalhava, então há chances de que ele consiga descer.
Eu não conseguia responder. Mal conseguia assimilar as informações que estavam me sendo passadas.
Alisson e Lilian seguravam minhas mãos.
? Tudo bem? Você desmaiou, mas foi só isso, está tudo bem com vocês duas, fique tranquila. – Andrew se aproximou de mim e colocou a mão em meu ombro, tentando me tranquilizar.
Olhei para meu cunhado e assenti, mas não consegui abrir um sorriso de agradecimento. – Meu celular, ele... ele pode tentar ligar para o meu celular. Cadê o meu celular? – Perguntei ao mesmo tempo em que me levantava do sofá.
Alisson levantou comigo.
– Ele não... – minha mãe começou a falar, mas o toque estridente de meu celular a interrompeu.
Corri em sua direção e peguei o aparelho de suas mãos, abrindo-o e levando-o ao meu ouvido.
? – Atendi, sem conseguir segurar as lágrimas, que agora escorriam livremente pelo meu rosto.
... – Ouvi sua voz responder, baixinho.
, você está bem? , diga-me que você conseguiu sair da torre! – Pedi desesperada, enquanto todos os olhares da sala estavam grudados em mim.
– Amor, foi horrível... Está horrível... Eu não sei... – Ele dizia, o desespero evidente em sua voz. – Estamos descendo, mas eu não sei se vamos conseguir... – Ouvi-o tossir algumas vezes. – Tem fumaça e poeira por tudo, faltam sete ou oito andares para que eu chegue ao térreo...
– Você está sozinho? Quem está com você? – Perguntei, e tive que voltar a me sentar para que não corresse o risco de desmaiar novamente.
– Tem muita gente, estamos em um grupo... – Ele voltou a tossir, e ouvi alguns barulhos ao fundo.
? – Chamei.
. Preciso desligar se quiser sair daqui. Está tudo desmoronando! – Prendi a respiração ao ouvi-lo. – Mande um beijo aos meus pais e diga que os amo. Andrew também. – falou em meio a ofegos. Meu coração apertou de maneira quase insuportável. – Eu te amo. E amo Lianna.
, não fale isso, amor... Você virá para casa. Eu sei disso. – Respondi em meio a lágrimas, tentando confortar a mim mesma.
Os pais dele estavam ao meu lado e me encaravam apavorados, assim como Andrew, Alisson e Anna.
– Diga a ela que seu pai a amou muito, mesmo antes de conhecê-la. Prometa, . – implorou, e tive que conter meu impulso de gritar com ele e mandá-lo calar a boca e vir para casa.
– Eu direi. Lianna saberá. Agora saia daí. Estamos te esperando.
E então a linha ficou muda.
Fiquei em silêncio algum tempo, chorando sozinha, enquanto o restante das pessoas na sala esperava eu me recuperar para conseguir falar com eles.
– Ele... – Minha voz falhou, e tive que respirar fundo para continuar. – Ele disse que faltavam uns sete andares para que conseguisse sair do prédio. Disse que nos ama. Que ama a todos nós – recomecei a chorar –, ele disse que ama Lianna.
Soltei um soluço alto, e enterrei meu rosto em minhas mãos, permitindo-me chorar copiosamente pela primeira vez no dia.
Minha mãe e minha irmã se aproximaram de mim e me abraçaram de lado. Pelo canto dos olhos, pude ver Lilian, Leonard e Andrew fazerem o mesmo.
Não havia o que fazer no momento. Precisávamos esperar e rezar. Esperar por notícias sobre , e rezar para que ele conseguisse sair da torre.

Eu não aguentava mais esperar, e só fazia 10 minutos que estávamos sentados naquela recepção junto com outros casais ansiosos e algumas mães solteiras.
Estava balançando minha perna impacientemente, até colocar sua mão sobre minha coxa, fazendo-me parar com os movimentos. Soltei um suspiro baixo e coloquei minha mão sobre a dele, entrelaçando nossos dedos.
– Se acalme, amor. – pediu, fazendo carinho em minha mão com seu polegar.
– Estou tentando, mas não aguento mais de ansiedade. – Respondi, mordiscando meu lábio inferior.
– Andrew nos disse que não demoraria, . Ele já sabe que estamos...
? – Andrew interrompeu , chamando-nos.
Nós dois levantamos e andamos até ele.
– E aí. – cumprimentou o irmão com um abraço.
– Ei, Drew. – Falei, dando um beijo em sua bochecha.
– Muito ansiosos? – Perguntou, fechando a porta assim que passamos por ela.
– Extremamente! – Exclamei empolgada, fazendo os dois rirem.
– Bom, então vamos lá. Pode se deitar e erguer a blusa, por favor, . – Andrew pediu, indicando o local para mim.
Assenti e fiz o que ele pediu. se sentou em um banquinho ao meu lado e segurou minha mão.
– É um pouquinho gelado. – Andrew anunciou antes de passar o gel em minha barriga.
Encolhi o corpo com a sensação, mas ela logo passou. E então, começamos a ouvir um batimento cardíaco.
– É o coração? – perguntou, seus olhos fixos no monitor.
Andrew assentiu e sorriu para nós dois.
– São as batidas do coração do bebê. É um bebê forte, está tudo certo. Tamanho adequado, crescimento normal... – Drew nos informou enquanto tinha seus olhos no monitor e apertava alguns botões. – Hm, deixe-me ver se conseguiremos ver o sexo hoje.
– Por que não conseguiríamos? – Perguntei um pouco nervosa.
– O bebê precisa estar de pernas abertas. No caso, minha sobrinha não é nenhum pouco tímida! – Andrew disse com um sorriso imenso nos lábios.
– Sobrinha? – perguntou, aproximando-se do monitor para tentar entender alguma coisa, enquanto eu fazia o mesmo.
– Sim, estão vendo isso aqui? – Drew falou, apontando a área no meio das perninhas do nosso bebê.
Abri um sorriso de ponta a ponta.
– Uma menina! – Falei, minha voz embargada por conta da emoção.
– Ah, meu Deus... Uma princesinha. – disse, voltando seu olhar para mim.
Ele se aproximou e me deu um beijo nos lábios, sorrindo entre o gesto. Estávamos radiantes.
– Papai e mamãe irão ficar muito felizes. – Andrew comentou e nós dois concordamos.
Todos ficariam felizes, mas uma coisa era certa: não havia ninguém mais feliz que e eu.


“A Casa Branca anunciou que o país está sobre ataque, e o presidente Bush confirmou que se trata de um atentado terrorista”.
Todos nós olhávamos para a televisão, completamente chocados.
O que diabos estava acontecendo?
– Meu Deus... – minha mãe comentou, passando as mãos pelo rosto.
– Isso é inacreditável. – Andrew disse, levantando-se e andando para lá e para cá pela sala.
O FBI já sabia que os aviões haviam sido sequestrados por terroristas, e que suas rotas foram alteradas durante o voo. Todos os aeroportos do país foram fechados, e os aviões foram ordenados a aterrissar no local mais próximo. A Casa Branca estava sendo evacuada, assim como todos os locais considerados de grande importância política.
O noticiário então passou a ser transmitido ao vivo de Washington.
Um terceiro avião atingiu o Pentágono, destruindo-o na hora.
– O que mais falta eles atingirem? – Leonard exclamou exasperado.
Durante alguns minutos, assistimos à destruição em Washington. O prédio que era o Pentágono agora estava virado em poeira. Era aterrorizante e completamente revoltante pensar que o ser humano era capaz de realizar atos tão horríveis.
A transmissão voltou para as torres. Ambas estavam completamente tomadas pelo fogo e pela nuvem cinza de fumaça. Imagens de pessoas desesperadas nas janelas passavam a todo o momento. Algumas continuavam a se atirar dos prédios. Não se tinha informações do número de mortos até agora.
Eu segurava meu celular com força, como se isso fosse fazê-lo tocar a qualquer momento. Minha perna balançava incessantemente, demonstrando meu nervosismo. Todos os presentes naquela sala, sem exceção, não estavam muito diferentes de mim.
Leonard e Lilian estavam lado a lado no sofá, abraçados; Lilian rezava baixinho, e Leonard segurava a mão da esposa enquanto mantinha seus olhos fechados; Andrew estava inquieto, andando em círculos sem parar; Alisson olhava para a televisão sem piscar; Mamãe estava sentada ao meu lado, segurando minha mão.
– Oh, não. – Ouvi Alisson murmurar, e voltei minha atenção para a televisão imediatamente, assim como todos ali presentes.
“A torre sul entrou em colapso nesse momento. O prédio acabou de desabar por completo”.
O silêncio era absoluto no cômodo. Ninguém estava acreditando no que havia acontecido.
A torre onde estava desabou.
– Eu preciso... eu preciso de ar. – Lilian disse em meio a suspiros altos.
Ela tremia e tentava puxar o ar pela boca sem sucesso. Andrew se aproximou da mãe, auxiliando-a. Leonard estava com a cabeça abaixada e escondida entre seus braços.
Minha mãe chorava copiosamente ao meu lado. Alisson havia saído do cômodo. E eu encarava a televisão sem esboçar reação alguma, completamente em choque.
E então uma dor lancinante me atingiu e eu gritei, apertando o braço da poltrona com força. Alisson voltou e veio imediatamente até mim. Mamãe levantou e começou a me abanar. Andrew deixou Lilian aos cuidados de Leonard e se dirigiu a mim.
? O que está acontecendo? O que você está sentindo? – Questionou, abaixando-se para checar minha pulsação.
– Uma dor muito forte. Eu acho que foi uma contração...
Ah, não.
Não agora, Lianna. Espere só mais duas semanas, por favor.
– Lianna vai nascer! - Anna gritou. – Vou buscar suas coisas! – Anunciou, e saiu do cômodo correndo em direção a sala.
– Você está entrando em trabalho de parto, . Precisamos ir para o hospital. – Andrew disse enquanto tentava me ajudar a ficar de pé.
Eu forcei meu corpo contra o sofá, impedindo-o de me levantar, e ele me olhou com a sobrancelha arqueada.
– O que você...? – Perguntou, estranhando minha atitude.
– Eu não vou. – Declarei.
Os quatro pares de olhos ali presentes me encararam no mesmo momento.
– Você o que? – Minha irmã questionou exaltada. – Você enlouqueceu de vez? Não seja burra!
– Lianna não vai nascer agora. – Minha voz saiu mais firme do que eu imaginava que sairia, o que me surpreendeu.
, ela está pronta para nascer. Minha neta está pronta para nascer. – Lilian disse ao meu lado, e eu nem havia percebido ela se aproximar. – Por favor, dê-nos um pouco de felicidade nesse dia tão triste, por mais difícil que seja...
Suspirei, afundando mais ainda meu corpo na poltrona. Balancei a cabeça em negação e esfreguei meu rosto, limpando as lágrimas que insistiam em escorrer.
– Eu não estou pronta! Eu! – Falei um pouco alto, exaltada.
Estava extremamente frustrada. Não foi assim que planejei o nascimento de minha filha. estaria comigo, iríamos para o hospital e eu teria um parto tranquilo.
Mera ilusão.
– Ok, já chega! – Ouvi Andrew murmurar antes de, novamente, segurar em meus braços para me levantar da poltrona.
– O que você acha que está fazendo? – Perguntei a ele, tentando me soltar.
– Se souber que lhe deixei aqui até agora, sendo que você já começou a ter contrações, ele me mata. Então pare com essa idiotice e vamos agora para o hospital! – Andrew disse de maneira firme e decidida.
Meus olhos arderam e eu comecei a chorar alto, finalmente permitindo que ele me levantasse e me direcionasse a porta de casa.
.
Oh, , por favor, esteja vivo.
Por favor, por favor, por favor...
– Peguei suas coisas, filha. E separei algumas para Lianna. – Minha mãe falou enquanto saíamos de casa.
– Pai, você dirige e eu vou atrás com . Alisson, você, mamãe e Anna sigam-nos com o outro carro. Vamos ao Bellevue Hospital, que é o mais próximo.
E no segundo seguinte eu já estava no banco traseiro do carro de Leonard, com Andrew ao meu lado, segurando minha mão e tentando me passar conforto, como se aquilo fosse possível naquele momento.

– Amarelo? Ou rosa? – perguntou, erguendo os dois potes de tinta para que eu escolhesse.
– Hm... Que tal branco? – Falei, abaixando-me para pegar outro pote de tinta, estendendo-o a ele em seguida. – Se o quarto for branco, podemos decorá-lo com várias cores, e não só uma.
pensou por um momento e deu de ombros, soltando os dois potes que segurava.
– Esqueço que você é arquiteta. – Comentou, rindo divertido.
Caminhei em direção à mesa e peguei um pincel e dois rolos de pintura. já havia aberto o pote de tinta e me esperava. Entreguei um dos rolos a ele e segurei o outro.
– Pronta para tirar esse bege horroroso da parede? – Meu marido perguntou, e eu o olhei indignada.
– Foi você quem escolheu! – Exclamei e o dei um tapa no ombro, fazendo-o gargalhar.
– Não quer dizer que eu não tenha me arrependido. – Ele disse e abriu um sorriso esperto.
Balancei a cabeça e ri, logo em seguida mergulhando meu rolo no pote de tinta e começando a passá-lo na parede. fez o mesmo.
As coisas iam muito bem, até o momento em que senti algo molhado em meu braço. Ao me virar, encontrei com um sorriso culpado no rosto. Abaixei meu olhar e me deparei com tinta branca por toda a extensão de minha pele.
– Você não fez isso! – Falei apontando o rolo em sua direção. – Ah, , você está muito encrencado!
Antes que ele pudesse pensar em fazer algo, passei o rolo em seu rosto e gargalhei alto assim que o observei com a face toda branca. Havia tinta em sua testa, em suas pálpebras, no seu nariz, nas bochechas e na boca.
! – gritou, e no mesmo momento eu larguei o rolo de pintura e saí correndo em disparada para fora do quarto.
Desci as escadas pulando os degraus, por sorte não tropecei. Assim que atingi o primeiro andar de casa, fui até a cozinha e me encostei na parede ao lado da porta, respirando fundo e segurando a vontade de rir. Pude ouvir os passos de ao mesmo tempo em que ele chamava por meu nome.
Houve um silêncio então, antes que ele entrasse correndo pela porta da cozinha sem nem me perceber ali. Não pensei duas vezes e dei alguns passos em sua direção, pulando em suas costas com as pernas ao redor de sua cintura. deu um berro de susto e eu gargalhei, fazendo com que ele risse junto comigo logo em seguida.
– Você é impossível! – Exclamou, enquanto eu depositava beijos em sua bochecha sem me importar com a tinta que ali estava.
– E você me ama mesmo assim. – Falei contra seu ouvido, dando uma mordida de leve no lóbulo de sua orelha.
Meu marido se arrepiou por completo e soltou um suspiro antes de me responder.
– Amo. E amo muito. – Declarou. – Mas ando questionando o seu amor por mim. – Ele disse, e no mesmo momento eu me soltei dele, colocando meus pés no chão e parando em sua frente com as mãos na cintura.
– O quê? – Perguntei com falsa incredulidade, mas no fundo tinha medo de que ele estivesse falando sério.
– Sim... sabe, – começou, levando sua mão até meu rosto –, você é tão ingênua... – Arqueei minha sobrancelha, tentando entender onde ele queria chegar. – Você nem percebeu que só estou tentando te distrair para fazer isso, não é?
E no segundo seguinte, havia tinta branca por todo o meu rosto e cabelo, e gargalhava.
– Você... – Falei, dando-o tapas no peito, enquanto ele ria e segurava minhas mãos. – Seu idiota!
ainda dava risada, quando eu senti algo estranho em minha barriga e minha expressão se tornou confusa. Levei as mãos até ela. Ele percebeu na hora.
– O que foi? O que aconteceu? O que você está sentindo? – Questionou, alternando seu olhar entre meu rosto e minha barriga.
– Eu não sei. É como uma palpitação, mas... Oh! – Minha barriga se mexeu mais uma vez. E então a ficha caiu. Abri um sorriso imenso e olhei para . – Ela está chutando, !
– Ela está.... O quê? – Suas mãos foram até a minha barriga, e logo em seguida ela chutou novamente, fazendo com que me olhasse embasbacado.
Eu sorri para ele e nós dois permanecemos ali no meio da cozinha, sentindo nossa filha se mexer dentro de mim.


– Esse bebê não sairá de dentro de mim enquanto eu não tiver notícias do meu marido. – Afirmei enquanto estava deitada na cama de um quarto no hospital.
– Todos nós queremos notícias de , ... Mas já são 14h, e se a sua dilatação continuar aumentando assim, não poderemos esperar muito tempo. Você já está com 5 cm. – Andrew comentou ao meu lado enquanto segurava uma prancheta com a minha ficha médica.
– Querida, o intervalo de suas contrações já diminuiu de 8 em 8 minutos para 5 em 5 minutos. Logo nem você aguentará mais. – A enfermeira que estava em meu quarto falou com uma voz doce e um sorriso terno nos lábios.
– Você não está sozinha, filha. – Minha mãe disse a mim, segurando minha mão.
Eu suspirei e enterrei o rosto nas mãos.
Aquilo não podia estar acontecendo.
– Eu quero ficar sozinha, por favor. – Pedi, e todos que estavam no quarto atenderam prontamente.
Minha mãe deu um beijo em minha testa antes de se afastar e Andrew me fez prometer chamá-lo se qualquer coisa acontecesse.
Levei minhas mãos até minha barriga e procurei relaxar, ajeitando-me na cama.
– Lianna... – Falei baixinho. – Minha filha, por favor... aguente mais um pouco. Mamãe nunca lhe pediria isso se não fosse necessário. – Fiz uma pausa assim que um soluço escapou entre meus lábios. – Eu não posso fazer isso sem seu pai, eu não vou conseguir.
Finalmente comecei a chorar. As lágrimas escorrendo por todo meu rosto. Peguei meu celular na mesinha ao lado da cama e disquei o número de novamente.
“Sua chamada está sendo encaminhada para a cai...”
Joguei o celular longe e bufei irritada, ao mesmo tempo em que uma contração me atingiu em cheio. Gemi alto enquanto agarrava as laterais da cama. Meu choro aumentou e eu tive que me segurar para não chamar Andrew e pedir uma anestesia. Comecei a respirar fundo, como havia treinado, e a dor foi passando. Relaxei meu corpo na cama e levei minhas mãos novamente a minha barriga.
– Por favor, filha... – Pedi, minha voz saindo baixinha. – Só até mamãe ter notícias de seu pai.
Fiquei acariciando minha barriga, rezando para que estivesse bem, e acabei cochilando.
Acordei com o início de outra contração, e Alisson em pé ao meu lado. Assim que gemi por conta da dor, ela segurou minha mão com força, encorajando-me.
– Já vai passar. – Alisson disse, tentando me acalmar.
Respirei fundo por alguns momentos, inspirando ar pelo nariz e expirando-o pela boca. Quando me acalmei, sentei-me na cama e Alisson puxou uma cadeira, sentando-se ao meu lado.
... – Começou calma. – Sei que imaginou essa situação de um jeito diferente, mas, por favor, quando atingir o máximo de dilatação, não lute contra isso. Deixe Lianna vir ao mundo. não se perdoaria se soubesse que você fez isso por causa dele.
– Eu não vou conseguir. – Afirmei, desviando meu olhar de Alisson. – Nós treinamos para isso. Ele sabe exatamente o que falar, o que fazer! Treinamos por meses. Meses, Alisson! Para ele não estar aqui agora... – Recomecei a chorar, transparecendo minha frustração.
Alisson se levantou e sentou na beirada da cama, abraçando-me de lado.
– Oh, maninha, eu sei disso. Eu acompanhei tudo, lembra? – Perguntou enquanto fazia carinho em minha cabeça. – E é porque eu acompanhei tudo, que eu sei que ele não iria querer que isso acontecesse. Por favor, .
Esfreguei meu rosto e levantei meu olhar para minha irmã. Ela era minha melhor amiga, me conhecia como ninguém. Foi por isso que não me surpreendi quando balancei a minha cabeça, concordando com seu pedido. Alisson abriu um sorriso e deu um beijo em minha bochecha, levantando-se logo em seguida.
– Vou chamar Andrew para ver como estão as coisas. – Ela anunciou antes de se virar e andar até a porta. – Por que seu celular está todo aberto aqui no chão?
Alisson se abaixou e pegou meu celular, sua bateria e a tampa traseira. Ela o fechou, veio até mim e me entregou o aparelho.
– Eu o joguei longe antes. – Confessei sem tirar os olhos do aparelho em minhas mãos.
Ela riu baixinho e se virou, andando até a porta. Assim que Alisson se retirou, Leonard e Lilian passaram pela porta, entrando no quarto.
– E então, como está minha nora do coração? – Leonard perguntou quando se aproximou de minha cama.
Seus olhos ainda estavam vermelhos, assim como os de Lilian.
– Sinceramente? – Perguntei. – Péssima.
Os dois abriram um sorriso triste.
– Estamos monitorando o noticiário. Há equipes de resgate por todo o local, mas nenhum sobrevivente foi encontrado ainda... – Lilian disse, seus olhos se enchendo de lágrimas no mesmo momento.
Suspirei e assenti silenciosamente, desviando meu olhar para minhas mãos.
– Ele está bem, . Eu sei disso. – Leonard afirmou, tentando parecer forte. – Eu sinto isso...
– Eu realmente espero, Leonard. Realmente espero...

– O que você acha de Lianna? – questionou quando se deitou ao meu lado na cama.
Ele abriu os braços e me puxou para si, aconchegando-me em seu peitoral.
– Prefiro Sarah. – Falei sem olhá-lo, mas soube que ele estava fazendo uma careta.
– Lianna é tão mais bonito... – Ele disse, passando a ponta dos dedos pelo meu braço em um carinho de leve.
– Ainda temos algum tempo para escolher, amor. – Respondi, levando minhas mãos para minha barriga de 6 meses de gravidez.
– Quanto antes decidirmos, melhor. Você mesma disse isso alguns dias atrás. – comentou, olhando-me de maneira esperta. – Eu te conheço, . Não adianta adiar essa decisão porque acha que irá me convencer a chamá-la de outro nome que não Lianna.
Ri baixinho e revirei os olhos.
Era exatamente esse o meu plano.
– Por que é que você quer esse nome, afinal? – Perguntei, virando-me um pouco para poder olhá-lo.
suspirou e abriu um sorrisinho de lado. Levou sua mão até a minha e entrelaçou nossos dedos.
– É a junção do nome de nossas mães. – Ele respondeu, desviando o olhar do meu.
Ergui as sobrancelhas, surpresa. Eu podia jurar que ele estava sem graça.
– Pensei nele esses dias... – Continuou a falar. – Lilian e Anna. Lianna. Uma homenagem para as duas mulheres que nos geraram. – finalizou seu raciocínio, e eu o olhava embasbacada, com um sorriso enorme no rosto.
As bochechas dele coraram um pouquinho.
Adorável.
Completamente adorável.
– Lianna será, então. – Falei, levando minha mão até seu rosto, virando-o, fazendo com que ele olhasse para mim.
sorriu abertamente antes de aproximar seus lábios dos meus e me beijar de um jeito que só ele sabia.


O céu já estava escuro lá fora, e minhas contrações agora vinham de dois em dois minutos. Segundo Andrew, eu já estava com quase 9 centímetros de dilatação. “Só mais um pouco”, ele disse na última vez que me examinou.
Não havia notícias de , ainda. O Bellevue Hospital era o mais próximo das torres, então se alguém fosse encontrado nos escombros, seria trazido para cá, sem dúvidas. Meu quarto estava lotado, porque Andrew havia conseguido permissão para isso. Minha mãe, Alisson, Leonard e Lilian estavam ali comigo. Lilian e Anna seguravam minhas mãos, passando-me força a cada contração que eu sofria. Leonard e Alisson estavam sentados, ambos com o olhar perdido.
– Pessoal... – Andrew falou, entrando no quarto. Não consegui definir o que sua expressão demonstrava. – Acabaram de chegar dois sobreviventes encontrados nos...
Antes mesmo de ele terminar de falar, eu ignorei as dores que estava sentindo e a dificuldade para levantar, e fiquei em pé ao lado da cama.
? O que está fazendo? – Andrew se interrompeu ao me ver levantar, indo até mim.
? – Mamãe perguntou, ainda segurando minha mão.
– Eu vou ver se é . – Anunciei, dando alguns passos em direção a porta.
– Você não pode! – Alisson falou, seu tom de voz alto enquanto se aproximava de mim.
– O cara$*ˆ que não posso! – Gritei, fazendo com que todos me olhassem de olhos arregalados, não só por meu tom de voz, mas pelo palavrão que eu havia dito.
não falava palavrões.
Nunca.
– Eu entendo a situação, , mas não é a melhor... – Andrew disse, tentando me fazer deitar novamente, e eu o cortei.
– Não me interessa! Eu vou, e vou agora mesmo! Eu preciso ver se é meu marido que foi trazido para cá! Vocês têm duas opções, podem vir comigo, ou ficar aqui. – Declarei firme, dando mais alguns passos para alcançar a porta e abri-la.
Mas ao colocar a mão na maçaneta, uma contração veio, fazendo com que eu gritasse de dor, e Andrew e Leonard viessem correndo até mim para me segurar. Respirei fundo várias vezes seguidas, esperando que a contração passasse. Quando me acalmei, depois de alguns segundos, levantei meu olhar para Andrew.
– Drew, por favor. Eu preciso... Eu preciso ver se é . Você pode ir comigo, eu vou de cadeira de rodas, mas por favor – implorei enquanto me apoiava em seu ombro –, por favor, não me negue isso!
Ele pareceu pensar por alguns segundos antes de finalmente balançar a cabeça em confirmação. Eu soltei um suspiro alto e o abracei, agradecendo diversas vezes. No minuto seguinte, a enfermeira que estava acompanhando meu caso apareceu com uma cadeira de rodas, e ela e Andrew me ajudaram a sentar. Antes de irmos, olhei para Anna, Alisson, Leonard e Lilian, que permaneceram no quarto. Todos possuíam expressões esperançosas no rosto, assim como eu.
O caminho até o pronto-socorro foi lento e longo. Tive 3 contrações no caminho. Eu não imaginava que aquele hospital era tão grande. Assim que chegamos lá, Andrew se abaixou para falar comigo.
. Eu vou verificar e você fica aqui, tudo bem? – Perguntou, olhando em meus olhos, para ter certeza que eu entendia o que ele estava falando.
Ignorei-o e levantei da cadeira, ouvindo seus protestos e os da enfermeira. Passei meus olhos rapidamente pelas macas, e encontrei apenas duas que poderiam ser a dos dois homens, pois um grupo de médicos trabalhava sem parar ao redor delas. Sem pensar duas vezes, caminhei até eles. Tentei olhar por sobre o ombro de alguns dos profissionais ali presentes, mas eles eram muito altos. Nenhum parecia ter notado minha presença. Andrew me chamava, tentando me fazer voltar, mas eu fingia que não estava o ouvindo. Uma médica pareceu finalmente me notar e se virou para mim.
– Quem é você? O que é que você está fazendo aqui? – Perguntou a mim, levando a mão até meu ombro, e tentando me guiar para longe dali.
Eu desviei de seu gesto e voltei minha atenção para as macas.
– Dra. Hiatt, desculpe-me, ela... – Pude ouvir Andrew falando atrás de mim.
– Dr. , preciso que tire ela daqui! Imediatamente! – A doutora exigiu.
– Por favor, só preciso ver se um deles é meu marido. – Falei para outro médico, que havia se virado para observar a confusão que eu estava causando.
Ele pareceu se compadecer com minha situação e balançou a cabeça em confirmação, abrindo espaço para que eu enxergasse o paciente, mas antes que eu pudesse olhar para o rosto do homem, a Dra. Hiatt me puxou pelo braço.
– Me solta! Você está me machucando! – Gritei, tentando me desvencilhar de seu toque. – Andrew!
– Doutora Hiatt, deixe a mulher verificar se um dos homens é seu marido. – Outro médico, que eu ainda não havia notado, ordenou.
A mulher soltou meu braço na hora, fechando a cara.
– Dr. Franklin, ela é minha cunhada e minha paciente. Meu irmão trabalhava nas torres, nós só precisamos... – Andrew se explicou para o médico, que parecia ser o chefe do local.
– Não precisa se explicar, Doutor . Só andem rápido, por favor.
Andrew agradeceu ao Dr. Franklin e veio até mim. Ele segurou minha mão e eu respirei fundo antes de nos aproximarmos da primeira maca. O homem que estava ali tinha cabelos castanhos e parecia ter a mesma altura de . Ele estava com arranhões e machucados por todo o corpo, sua perna parecia estar quebrada e seu braço estava roxo, provavelmente por ter ficado soterrado. Seu rosto estava cinza de tanta poeira e fumaça. Mas não, ele não era .
Andrew pareceu perceber também que aquele não era seu irmão, e fomos juntos até a próxima maca. Ambos observamos o outro homem a nossa frente. Este, assim como outro, estava cheio de arranhões e seu braço já estava imobilizado. Seu rosto estava inteiro sujo e ele se contorcia de dor, provavelmente por algum machucado que não era visível. Também não era .
Assim que percebi isso, mais uma contração me atingiu, e Andrew me segurou. A enfermeira apareceu com a cadeira de rodas para que eu sentasse, e assim o fiz enquanto gritava de dor. A enfermeira segurava minha mão, respirando junto comigo, enquanto Andrew se afastou de para agradecer ao Dr. Franklin por ter nos deixado ver os dois homens.
Quando a dor cessou, eu notei que estava chorando e nem havia percebido. A esperança foi tirada de mim assim que olhei para o rosto dos dois sobreviventes do atentado.
– Que líquido é esse? – Dra. Hiatt perguntou quando passou ao meu lado. – Alguém limpe isso antes que alguém escorregue! – Ordenou, afastando-se e indo até as macas novamente.
Andrew se aproximou, verificando o que Dra. Hiatt havia dito, e então ergueu seus olhos, percorrendo meu corpo.
– Sua bolsa estourou, . Precisamos realizar o parto agora. – Andrew disse, fazendo a volta por mim para poder empurrar minha cadeira.
Minha bolsa havia estourado e eu não percebi.
Eu não conseguia reagir.
Estava chorando e meus olhos ardiam devido às lágrimas que saíam sem parar.
Já estávamos quase fora do pronto socorro quando, em um estrondo, as portas da emergência se abriram e os paramédicos entraram, anunciando a chegada de um novo sobrevivente.
, retirado dos escombros da torre Sul, apático, sem movimento em ambas as pernas, batimento cardíaco quase inexistente, possível hemorragia interna na região abdominal e perfuração no braço esquerdo.
Meu coração, se possível, teria parado naquele momento.
Achei que ficaria aliviada ao saber que estava vivo, mas quando ouvi um dos paramédicos anunciar os seus ferimentos, senti como se meu coração estivesse sendo esmagado. Andrew não estava diferente de mim. Ele correu em direção ao irmão e eu fiz o mesmo, levantando-me da cadeira e por pouco não escorregando em meu próprio líquido amniótico que ainda estava no chão. Corri da maneira que pude até a maca e vi meu marido deitado, quase sem vida.
! Oh, ! – Falei alto, mas não obtive resposta alguma dele.
– Doutor , por favor, minha equipe fará tudo o que for possível para que seu irmão sobreviva, mas precisamos que vocês se afastem agora. – Dr. Franklin pediu, pousando sua mão sobre o ombro de Andrew. – Sua sobrinha precisa vir ao mundo.
Nada ao meu redor importava.
Eu não conseguia tirar meus olhos de meu marido.
Ele finalmente estava em minha frente. Não do jeito que eu queria, mas ele estava ali, deitado naquela maca, coberto pela poeira dos escombros, cheio de ferimentos não visíveis aos meus olhos, suas pernas roxas provavelmente já necrosadas, seu braço enfaixado para estancar o sangramento e o monitor cardíaco anunciando batimentos lentos.
Ainda assim, ele era meu marido.
O meu .
O homem que eu amava.
Por agora, ele estava vivo.
E era isso que importava para mim.
Antes de me deixar ser guiada por Andrew, outra contração me atingiu, e eu tive que morder meus lábios para não gritar. Dr. Franklin e Andrew me ajudaram, segurando-me até que a dor cessasse. Quando isso finalmente aconteceu, ouvi a voz inconfundível de me chamar.
. – murmurou extremamente baixo, mas ainda assim eu o ouvi.
Dei meia volta, indo até a maca novamente, encontrando-o de olhos abertos.
Não pude acreditar que estava vendo seus olhos azuis que tanto amo.
– Estou aqui, meu amor, estou aqui! – Falei a ele entre lágrimas, tentando conter o sorriso em meus lábios.
... Você e Lianna... Vocês me mantiveram viv... – tossiu algumas vezes, interrompendo a si mesmo. Seus batimentos cardíacos aceleraram um pouco.
– Sh... – Pedi, levando minha mão até seu cabelo e acariciando-o. – Não precisa falar. Eu sei, , eu sei.
Ele tentou abrir um sorriso, mas não conseguiu.
, precisamos ir. Sua filha vai nascer. – Andrew falou ao meu lado com lágrimas escorrendo por seu rosto.
As sobrancelhas de se levantaram minimamente.
– Você... – Ele falou, olhando para mim. – Eu amo vocês.
Sorri abertamente para ele antes de falar:
– Também lhe amamos. Sobreviva. – Falei a ele antes de me afastar juntamente com Andrew.
Agora sim minha filha poderia nascer.

Acordei com o choro agudo de Lianna.
Antes mesmo que eu pensasse em me levantar, Alisson já estava trazendo-a para mim. Ajeitei-me na cama do hospital, encontrando uma posição confortável para segurar minha filha. Assim que a aconcheguei em meus braços, levei o bico de meu seio até sua boca, e ela imediatamente começou a mamar.
Alisson continuou ao meu lado, observando a cena com um sorriso nos lábios, enquanto eu tinha os olhos fixos em minha filha.
Ela era a cópia de .
Tinha seus olhos azuis, seus cabelos castanhos e sua boca.
Minha filha, por enquanto, não tinha nenhuma característica minha.
E isso não me incomodava nem um pouco.
Levei minha mão até sua cabecinha, acariciando-a levemente.
– Onde está mamãe? – Perguntei a Alisson.
– Foi para casa tomar um banho e descansar. Volta de manhã cedo ou assim que precisarmos.
Assenti para ela sem tirar os olhos de Lianna. Minha mão agora foi até sua pequena mãozinha. Toquei-a com meu dedo indicador e ela imediatamente fechou seus dedinhos minúsculos ao redor dele, fazendo-me sorrir instantaneamente.
– E ? – Enfim perguntei sobre meu marido.
Alisson suspirou e negou com a cabeça.
– Nada, ainda. Já são... – Ela fez uma pausa e se virou para olhar o relógio na parede. – Quatro horas da manhã e ele ainda está em cirurgia. Andrew virá nos avisar assim que souber de algo. Lilian e Leonard estão com ele.
Lágrimas se formaram em meus olhos, e eu mordi meu lábio e olhei para cima, tentando impedir que elas rolassem por meu rosto.
Lianna ainda mamava em meu seio quando Andrew bateu na porta, chamando por Alisson. Já fazia alguns minutos que eles haviam saído e eu estava começando a ficar nervosa. Tive que conter meu impulso de levantar e colocar minha filha no berço, encerrando sua alimentação, mas não o fiz.
Depois de mais alguns minutos – que mais pareceram horas –, Alisson voltou ao quarto. Sua expressão não era das melhores e eu podia ver seus olhos brilhando.
Aquilo eram lágrimas?
– O que foi? O que aconteceu? – Questionei, remexendo-me inquieta na cama.
Alisson se aproximou de mim sem me olhar, e com cuidado retirou Lianna de meu colo. Por sorte, ela já estava adormecida, então colocá-la no berço foi tranquilo. Eu já estava de pé quando minha irmã se voltou para mim, ainda sem me olhar diretamente.
E agora percebi que havia lágrimas escorrendo por seu rosto.
Ah, não...
– Ele morreu, não morreu? – Perguntei, minha voz saindo mais alta que o normal.
Meus olhos já estavam cheios de lágrimas e todas as possibilidades passavam por minha cabeça.
Alisson pegou em minha mão e me puxou para fora do quarto. Foi até uma enfermeira e pediu para que ela ficasse com minha filha por um tempo.
... – Ela falou, mordendo o lábio logo em seguida enquanto mantinha seu olhar baixo.
Alisson parecia estar sem coragem de me encarar.
E isso só podia significar uma coisa.
Mas, não...
Por favor, Deus, por favor.
– Fale de uma vez! – Implorei, quase gritando com ela no meio do corredor.
– Ele... ele não... – Alisson inspirou ar pelo nariz e soltou pela boca, respirando fundo, e então finalmente olhou em meus olhos.
E naquela hora eu soube.
Ela não precisou falar nada.
Meu marido havia falecido.
estava morto.
Morto.
Um grito agudo escapou por entre meus lábio, e eu caí no chão sem me importar com mais nada.
Todos os sentimentos que eu tive nas últimas horas pareciam insignificantes perto da dor que eu estava sentindo agora.
O que eu senti quando vi o avião atingir a torre sul, não chegava aos pés do aperto em meu peito no momento.
O que eu senti ao ver a torre em que ele estava desabar e virar pó, não tinha comparação com o desespero constante dentro de mim.
O que eu senti quando as diversas contrações do parto me atingiram, eram agora meras lembranças distantes.
O que eu senti ao dar à luz a Lianna foi praticamente cócegas, se comparado ao vazio presente em minha alma.
Senti quatro braços me levantarem e os reconheci como sendo Leonard e Andrew. Deixei-me ser levada para um sofá ali perto e alguém me entregou um copo d’água, que eu prontamente recusei.
, preciso que você se acalme. Eu preciso lhe explicar o que aconteceu. – Andrew pediu, sentando-se ao meu lado e me estendendo o copo de água novamente.
Respirei fundo diversas vezes antes de finalmente pegar o copo de água e tomar um gole.
– Isso, vá com calma. – Drew falou, passando a mão pelo meu cabelo.
Esfreguei meus olhos e finalmente olhei para os lados, percebendo que Lilian, Leonard e Alisson também estavam ali. Os pais de estavam abraçados, chorando juntos, um pouco afastados de nós. Alisson estava sentada à minha direita, segurando minha mão. Andrew estava com os olhos vermelhos.
Voltei meu olhar para Drew e ele resolveu começar a falar.
– As duas pernas de tiveram que ser amputadas. Até aí, tudo correu muito bem. Ele viveria sem elas, teria nossa ajuda, você sabe disso. – Andrew parou de falar por um momento, quando uma lágrima escorreu por sua bochecha, mas ele secou-a imediatamente. – A perfuração em seu braço também foi resolvida. O problema eram as feridas internas. Meu irmão estava com o baço e o fígado completamente esmagados. A hemorragia era imensa, ele perdeu muito sangue. – Continuou a falar sem olhar para mim. Seu olhar estava perdido.
Levei minha mão até a dele, segurando-a. Por mais difícil que estivesse sendo para mim, era seu irmão, e Andrew nunca mais o veria.
Ele virou o rosto em minha direção e abriu um sorriso mínimo antes de continuar a me explicar.
– Foram feitas diversas transfusões, mas ele não resistiu. Não tinha mais nada a ser feito. Eu sinto muito, , eu sinto tanto...
Mal ele terminou de falar, e eu joguei meus braços ao seu redor, escondendo meu rosto em seu ombro. Voltei a chorar, agora de maneira um pouco mais calma. Drew passou os braços ao redor de meu corpo, retribuindo meu abraço. Pude ouvi-lo soluçar baixinho e seu corpo tremia levemente. Ficamos ali, chorando juntos, até uma enfermeira nos interromper.
– Doutor ? O outro sobrevivente acordou e está chamando por você.
Andrew e eu nos separamos e ele se levantou, pegando um lencinho em seu jaleco e limpando seus olhos, oferecendo um para mim em seguida. Depois de secar meu rosto, levantei-me juntamente com ele.
, tem duas pessoas que querem falar com você. – Andrew anunciou, e eu o olhei confusa. – Alisson, você pode ficar no quarto com Lianna até voltarmos? Anna já deve estar chegando, preciso que você conte para ela...
Minha irmã prontamente assentiu e deu as costas para nós, dirigindo-se ao meu quarto, onde minha filha estava.
Olhei para Andrew.
– Quem? – Perguntei a ele e começamos a andar juntos pelo corredor do hospital.
– Você já irá saber. – Drew respondeu, colocando suas mãos nos bolsos do jaleco.
Voltei meu olhar para frente e fizemos o resto do caminho em silêncio, até que chegamos em outro setor do hospital. Andrew andou até a porta de um dos quartos que tinham ali e deu duas batidinhas na mesma antes de entrar comigo em seu encalço.
Os dois homens que antes eu havia visto nas macas no pronto socorro estavam ali. Cada um deitado em uma cama.
– Dr. , certo? – Um deles perguntou, e Andrew assentiu ao meu lado. – Sou Matthew, e este é Mark. – Apontou para o homem deitado na outra maca, e ele abriu um sorriso para nós.
Eu ainda não tinha entendido o que estávamos fazendo ali.
– E você deve ser . – Mark comentou, olhando em minha direção.
Eu o olhei confusa, mas concordei com a cabeça, confirmando a informação.
falou muito sobre você, e sobre a filha de vocês. Como será o nome dela, mesmo? – O outro homem, Matthew, perguntou.
– É Lianna. Ela nasceu ontem à noite. – Respondi, não contendo um sorriso, mesmo que pequeno, ao falar sobre minha filha.
– Oh! Não acredito. – Mark disse, abrindo um sorriso sincero. – Bom, meus parabéns!
– Me desculpe, mas como vocês me conhecem e sabem tanto sobre mim? – Finalmente perguntei, fazendo com que os dois se entreolhassem.
, eles estavam com na torre quando tudo aconteceu. – Andrew esclareceu.
– Vocês... Isso é sério? – Perguntei, o aperto em meu peito voltando com tudo.
– Ele salvou nossa vida, . – Matthew afirmou.
Eu tive que me sentar. Andrew sorriu para mim e continuou em pé perto das camas, esperando que os dois sobreviventes continuassem a história.
– Ele quem nos manteve calmos, na medida do possível, enquanto ainda estávamos lá em cima. Foi quem nos guiou enquanto descíamos as escadas. – Mark disse.
– E foi ele, junto com Ralph, que tiraram os pedaços de concreto de cima de nós dois quando tudo desabou. – Matthew completou a fala do amigo. – De alguma maneira, nenhum escombro muito grande atingiu os dois. Ralph queria ir embora, mas o convenceu a ficar e nos ajudar.
Meus olhos estavam transbordando lágrimas e eu não pude deixar de sorrir em meio a elas, porque era exatamente isso que faria. Ele nunca seria capaz de deixar alguém para trás.
– Mas, algum tempo depois, enquanto estávamos tentando sair dali, houve mais um desabamento. E foi aí que ... foi aí que... bom. – Mark respirou fundo antes de continuar. – Ralph morreu na hora. Eu consegui gritar por ajuda, até que um grupo de militares, que estava realizando as buscas por ali, me ouviu. E o resto você já sabe.
Eu chorava baixinho enquanto tentava imaginar os últimos momentos de .
– Se não fosse por ele, , nós não estaríamos aqui. Seremos eternamente gratos a ele, e temos uma dívida eterna com você e com a pequena Lianna. – Matthew finalizou.
Levei minhas mãos a boca para tentar conter um soluço, mas ele escapou de meus lábios mesmo assim.
Meu marido havia morrido. Eu nunca mais seguraria em suas mãos ou beijaria seus lábios. Não sentiria mais o calor de seu corpo contra o meu, e não ouviria sua risada escandalosa. Não seria mais capaz de vê-lo entrando pela porta da frente, como sempre fazia enquanto esperava-o chegar em casa. Não poderia ouvir sua voz novamente. Não acordaria mais com seus beijos matinais. Nunca mais eu diria a ele o quanto eu o amo. Não veria o pai maravilhoso que ele seria para Lianna.
não estava mais aqui. Ele estava morto. Mas ele havia salvo a vida de dois homens antes que isso acontecesse, e isso, de alguma maneira, foi o que confortou o meu coração.

5 anos depois...

– Vamos, mamãe! Não posso chegar atrasada! – Lianna falou, com sua mochilinha em mãos, aguardando-me na porta de casa.
Seus cabelos castanhos já encostavam em seu ombro. Seus olhos azuis piscina, idênticos aos de seu pai, encaravam-me, enquanto eu me aproximava da mesa para pegar minha bolsa. Sorri para ela e me abaixei, dando um beijo em sua bochecha. Ouvi ela rir.
– Vamos, pequena, ninguém chegará atrasada em lugar algum. Pelo menos não hoje!
Ela abriu um sorriso imenso para mim e andamos em direção ao carro. Abri a porta de trás e coloquei-a em sua cadeirinha, passando o cinto logo em seguida. Fechei a porta e me dirigi ao banco do motorista, colocando o cinto e dando partida no carro.
– Você decorou tudinho? – Perguntei a minha filha, olhando-a pelo espelho retrovisor.
Ela balançou a cabeça em confirmação e bateu palminhas animada.
– Tenho certeza que você vai se sair muito bem, Lianna. – Disse a ela antes de voltar minha atenção para o trânsito.
Alguns minutos depois e já estávamos entrando em sua escola. Lianna segurava minha mão, guiando-me pelos corredores até sua sala de aula. Ela andava empolgada e eu precisei acelerar o passo para acompanhá-la. Quando entramos em sua classe, ela me deu um beijo no rosto e me abraçou apertado.
– Te amo, mamãe.
– Também te amo, meu amor. – Disse a ela enquanto retribuía seu abraço.
Lianna se afastou de mim e foi deixar sua mochilinha no lugar, indo cumprimentar seus coleguinhas em seguida. Juntei-me ao restante dos pais no fundo da sala e me sentei em uma cadeira, aguardando que a professora anunciasse o início da atividade.
– Minha mãe faz mágica com as pessoas! Ela é médica! – O garotinho falou, apontando para sua mãe que estava no fundo da sala, assim como eu. – Papai fica bravo porque eu digo que ela é minha heroína, e não ele. Mas é porque ele só vende carros!
Todos nós gargalhamos ao ouvi-lo e o pai do garoto também riu, mesmo fingindo estar bravo com ele.
– Te amo, mamãe! Te amo, papai. Mesmo você não sendo médico! – O garotinho voltou a falar e se retirou, indo sentar novamente, enquanto todos os presentes na sala batiam palmas para ele.
A professora de Lianna se levantou para chamar o próximo aluno.
– Lianna ? – Falou, olhando para minha filha, que se levantou no mesmo momento.
Lianna caminhou até a frente da sala e parou no centro. Ela me procurou com os olhos, e assim que acenei para ela, ela abriu um sorriso e começou a falar.
– Minha mamãe é artiqueta. – Lianna falou, arrancando risadas de todos na sala.
Não importa quantas vezes ela tenha ensaiado, nem quantas vezes eu a ensinei a falar a palavra arquiteta corretamente, ela ainda trocava letras, e isso era adorável.
– Ela faz projetos e decora cozinhas, quartos, salas, a casa inteirinha! Eu ajudo ela a escolher as cores, às vezes. Mas, quando ela faz projetos, é chato. Eu odeio números. – Lianna fez um biquinho e riu, olhando para mim.
Eu pisquei para ela antes que ela voltasse a falar:
– O meu papai... eu não conheci ele, mas mamãe sempre me conta histórias sobre ele, e eu o amo muito! Meu papai é um herói de verdade.
Quando ela falou isso, meus olhos se encheram de lágrimas inevitavelmente, e eu abri um sorriso imenso.
Algumas crianças gritaram, dizendo que seus pais e mães também eram heróis. Lianna não respondeu a elas, e continuou a falar:
– Ele trabalhava nas torres gêmeas. Ele estava lá quando os aviões bateram nelas.
Alguns suspiros foram ouvidos, e a sala inteira ficou em silêncio.
– Ele se machucou muito, muito mesmo. Mamãe disse que é por isso ele não está mais aqui. Mas, antes disso, papai salvou a vida do tio Mark e do tio Matthew. Ele é um herói! É o meu herói!
Lianna finalizou e abriu um sorriso enorme, orgulhosa por ter conseguido falar tudo que ensaiou durante a última semana. As pessoas começaram a aplaudi-la, e eu acompanhei. Uma lágrima escorreu pela minha bochecha, e eu pisquei algumas vezes, levantando meu rosto, tentando evitar que outras escorressem. Mas assim que eu abaixei a cabeça e voltei meu olhar para frente, eu o vi.
.
Ele estava ali, encostado na porta, com os braços cruzados.
Lindo.
Incrivelmente lindo.
Ele olhava para Lianna com um sorriso imenso em seus lábios. Completamente apaixonado por sua filha.
E então, como se soubesse que estava sendo observado, seu olhar se voltou para mim.
Por um momento, foi como se nada ao meu redor existisse. Todas as pessoas que estavam ali sumiram.
Éramos somente nós dois.
e eu.
Ele sorriu para mim, exatamente do jeito que eu me lembrava.
Seus olhos azuis brilhavam em minha direção.
Eu não podia acreditar que estava o vendo.
Foram os braços de Lianna ao redor de minhas pernas que me puxaram de volta para a realidade.
– Mamãe! – Lianna falou, erguendo seus braços em minha direção.
Eu me abaixei e peguei minha filha, erguendo-a e ajeitando-a em meu colo.
– Você foi perfeita, meu amor! Parabéns!
– Eu falei tudo certinho, você viu, mãe? Consegui falar artiqueta! – Ela disse com um sorriso orgulhoso em seus lábios.
Eu ri e concordei com a cabeça, dando um beijo em sua bochecha em seguida. Coloquei-a no chão novamente, e assim que me levantei, virei meu olhar para a porta, porém não estava mais lá.
No mesmo momento, um vento passou por mim e eu me encolhi, abraçando a mim mesma, passando minhas mãos pelos meus braços.
Olhei para as janelas da sala, encontrando-as fechadas.
Tive certeza de que era ele.
E mais ainda, juro que ouvi sua voz sussurrando meu nome.
Olhei para Lianna, e ela acenava para alguém atrás de mim. Ao virar meu olhar, não encontrei ninguém, mas soube que ela também havia visto seu pai.
E, pela primeira vez depois de anos, meu coração se aqueceu, exatamente como acontecia toda vez que e eu estávamos juntos.




Fim.



Nota da autora: Nossa, não sei nem por onde começar. Tive a idéia de escrever essa fic enquanto assistia a um filme sobre o atentado contra as torres gêmeas. Comecei a escrever no celular mesmo. Escrevi ela em fucking três dias. Esse assunto mexe muito comigo, foi muito gostoso escrever essa história, mesmo ela sendo triste.
E peço, por favor, não me odeiem. Eu quis manter a realidade. Houveram apenas 20 sobreviventes e cerca de 3000 mortos com o atentado. Meu pp iria morrer, isso já estava decidido desce o início, mesmo eu tendo pensado seriamente em mudar isso enquanto escrevia. Mas não o fiz, porque sabia que a história não iria ficar tão boa.
Eu espero, do fundo do meu coração, que vocês tenham gostado e se emocionado tanto quanto eu!
Obrigada por terem lido! Agradeço se deixarem um comentário aqui em baixo. Beijos!



   

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