Enviada em: 18/06/2018

A Namorada


null desviou seu olhar da janela, suspirando baixo ao constatar, mais uma vez, que null não estava próximo de chegar a casa. Bufou um pouco impaciente por conta da mais nova mania do marido. O homem já fizera aulas de tênis, de futebol, natação, e agora sua obsessão da vez era golfe. O maldito golfe.
A mulher já tentara de tudo para fazê-lo largar de sua tara por esportes, mas de nada adiantara. Não se tratava de desestimular que o marido fizesse exercícios, muito menos de que não cuidasse de sua saúde, já que para isso ele já tinha a maldita da academia.
Mas entre o tempo que passava em suas viagens de trabalho, sua malhação, seus horários intermináveis no emprego e suas manias, o que sobrava para seu casamento?! Exatamente, nada.
Se fossem mais velhos ela nomearia a situação como “crise de meia-idade”; se fosse um hábito novo, ela diria “surto momentâneo de loucura”. Mas já faziam dois anos. Dois malditos anos que null se distanciara com seus hobbies irritantes. Não que com ela, ele houvesse mudado muito o comportamento. Quando estavam juntos, pareciam o mesmo casal jovem e apaixonado de sempre. Claro que haviam passado por uns percalços no casamento, mas quem nunca?! Afinal, estranho seria, se nunca houvessem brigado. Isso sim.
Porém, como sempre faziam depois de um período ruim, os dois resolveram suas diferenças. Era por isso que null não conseguia entender sua nova personalidade de metido à esportista. Hoje não fora diferente, o problema é que não era um dia comum. null estava no clube, com seus amigos do trabalho, alheio à surpresa de aniversário que ela organizara para quando ele chegasse a casa.
Cansada de esperar, null deu passos decididos até a mesa, o barulho de seus saltos ecoando pelo ambiente. Pegou sua bolsa e saiu de casa com as chaves do Audi Q3 em mãos; em menos de um minuto já estava a caminho do Clube. Chegaria lá e, disfarçadamente, arrastaria null para casa, nem que fosse para discutirem a relação. Ela estava cansada e dessa vez não deixaria passar. Poucos minutos depois, estacionou seu carro no estacionamento do clube e saiu, indo diretamente até a recepção.
- Boa tarde, James. - Cumprimentou o recepcionista.
- Boa tarde, Senhora Harrison. Veio para sua massagem semanal?
- Não, não dessa vez. Estou procurando o null hoje, ele veio assistir à aula de golfe.
O atendente franziu a testa, confuso, e assentiu digitando algo em seu computador.
- Ah, vou verificar aqui se ele veio hoje.
A mulher começou a mexer em sua bolsa, desconfortável. Abria e fechava o zíper, enquanto mordia seu lábio de maneira nervosa.
- O Senhor Harrison não fez check-in hoje. As aulas de golfe as quais a senhora se refere estão sendo ministradas somente aos sábados pela manhã.
- Mas... Er... Ah, claro! - null disse, passando a mão por seu cabelo. - Eu troquei. Ele está fazendo natação. De qualquer maneira, devo ter me enganado. -
Mentiu, pegando sua bolsa.
- Senhora, mas a nataç...
- Obrigada, James. - Cortou, com um olhar significativo antes de se virar e sair pela porta.
Bateu a porta de seu carro assim que entrou e encostou a cabeça no volante. Agora null mentia para ela? Sua mente começou a criar diversas justificativas para ele ter mentido, e nenhuma delas era boa. Em uma atitude desesperada, null pegou seu celular e acessou o rastreador. Nunca tinha usado essa ferramenta, mas a situação praticamente implorava para que o fizesse. Acessou a conta do marido e esperou que o GPS fizesse seu trabalho. Em poucos segundos a localização já piscava na tela de seu aparelho. Ela franziu o cenho, sem reconhecer o endereço, mas, mesmo assim, traçou uma rota pelo GPS do carro e seguiu caminho para o local.
Quando chegou ao destino, olhou ao redor, mas não encontrou nada além de residências - várias, aliás. Era um bairro rico, todas as casas tinham dois andares e eram enormes, com carros caros na garagem. Segundo o rastreador, null estava em uma das residências do lado direito da rua, e o carro dele estava estacionado bem no meio da quadra. null parou o Audi Q3 um pouco longe, mas ainda perto o suficiente para conseguir ver quando o marido resolvesse dar as caras.
Já haviam se passado quarenta minutos e nenhuma movimentação foi vista além de crianças brincando pela rua tranquila. Ela já estava nervosa; em sua cabeça, queria acreditar que existia um bom motivo para que null mentisse sobre onde estava, mas, infelizmente, sabia que as chances eram pequenas. Foi só quando o relógio marcou 18h47 minutos que null viu a porta de uma das casas se abrir e null sair de dentro dela.
Ele tinha um sorriso nos lábios e antes de ir embora, virou-se novamente e riu para a pessoa que estava à porta. Foi só quando ele deu dois passos, aproximando-se da porta novamente, que null foi capaz de ver uma cena que a assombraria por dias a fio. Sim, a mulher captou o exato momento em que uma mulher passou seus braços pelo pescoço de seu marido e lhe deu um beijo na boca.
Seus olhos se encheram de lágrimas imediatamente e ela cravou suas unhas na palma de suas mãos, tentando conter a mistura de sentimentos que estavam dentro de si, prestes a explodir. Como ele teve coragem? Como pode fazer isso depois de anos de casamento? Era inacreditável. Seu corpo começou a tremer e instintivamente ela se abraçou, tentando, a todo o custo, confortar a si mesma. Alguns soluços escaparam de seus lábios conforme ela observou seu marido despedir-se da mulher. Ela viu quando ele finalmente se afastou e foi até seu carro, entrando e partindo logo depois.
null passou suas mãos pelo rosto, completamente desolada. Girou a chave, pronta para dar partida no carro e segui-lo, quando um pensamento lhe ocorreu. Respirando fundo várias vezes para se acalmar antes de sair do carro, ela deu passos decididos até a casa em que seu marido saíra minutos atrás. Pensou e repensou se deveria estar fazendo isso e, quando percebeu, já havia tocado o botão da campainha.
Demorou alguns segundos, mas logo a porta se abriu, revelando uma morena sorridente.
- null, querido, o que você esqueceu dess... - Ela parou de falar ao ver null na porta, franzindo o cenho. - Oh, me desculpe. Achei que fosse meu namorado.
null mordeu seu lábio interiormente ao ouvir a palavra namorado. Seu coração se apertou mais ainda e ela suspirou audivelmente antes de voltar seu olhar para a morena.
- Você está bem? - Ela perguntou, estranhando a mulher sem reação em sua frente.
- Quem é você, aliás?
- Sou a esposa de null.
O rosto da morena se contorceu em uma careta até que ela assimilasse a informação que lhe fora passada e, quando o fez, sua boca se abriu em espanto.
- É O QUÊ?! - Sua voz saiu um pouco esganiçada enquanto ela balançava a cabeça em negação, incrédula. - null não é casado, eu saberia se...
- Eu também achava que saberia se meu marido tivesse uma namorada. - null a cortou, cruzando os braços.
Os olhos da mulher a sua frente já estavam vermelhos, cheios de lágrimas. Ela observava null como se tentasse encontrar algo em sua postura que a mostrasse que era mentira. Não tinha como null ter mentido para ela durante todo o tempo em que estiveram juntos. Seu namorado não podia ter uma esposa, não tinha como isso ser verdade.
Mas era.
- Olha, eu sei que isso está um pouco confuso. Eu também acabei de descobrir a sua existência. - null contou, fungando baixo. - Mas será que a gente pode conversar?
Depois de pensar por alguns segundos, ela deu passagem para que null entrasse em sua casa e depois fechou a porta. As duas seguiram em silêncio para a cozinha, onde a dona da casa encheu dois copos de água e entregou um para null.
- Sou null, aliás. - Ela se apresentou antes de tomar um gole da água.
- null. - A morena respondeu e soltou seu copo em cima da mesa, puxando um banco para sentar-se. null fez o mesmo. - Desde quando você sabe?
- Eu descobri agora. - Respondeu, suspirando. - Há quanto tempo vocês namoram?
- Quase um ano... - null disse, mordendo seu lábio e cruzando os braços. Seus olhos ainda estavam um pouco vermelhos, assim como os de null. - Porque você resolveu vir até aqui?
null abaixou os ombros e tomou mais um pouco de água antes de responder.
- Eu ia seguir ele e confronta-lo, juro que ia. Mas aí me passou pela cabeça que você podia estar sendo enganada também. - Explicou, dando de ombros. - E pelo visto eu estava certa.
- Eu não tinha ideia... - null suspirou, uma lágrima escorrendo por seu rosto. - Nos víamos poucas vezes na semana, mas, mesmo assim...
null olhou para a mulher a sua frente, quase em prantos. O mais esquisito, era que a prática da empatia ali, só serviria para reforçar seus sentimentos de traição e lhe dar ainda mais certeza de que null era o maior canalha que já se vira.
- Querida... - Chamou-a, com um olhar apaziguador. - Eu pensava que o conhecia faz tempo, mas pelo visto, nenhuma de nós duas sabia da picaretice do sujeito. Não se cobre por não ter percebido antes.
A namorada de seu marido, ou o que quer que null pudesse chamar a morena, assentiu, esfregando seus olhos e assumindo um olhar determinado. Até null recuou ante sua súbita obstinação.
- Como você pode estar tranquila? Há quantos anos são casados, afinal? - null perguntou.
- Sete anos. E eu não estou tranquila. Estou bem... quebrada. - Deu um sorriso triste, encolhendo os ombros. - Mas estou redirecionando os sentimentos para null. É ele que merece toda nossa raiva.
- Tem razão, a culpa é total e somente do canalha do null. - Replicou, com um tom duro. - E se o mundo fosse justo, ele seria punido por isso...
- Mas não é. - Cortou a esposa, balançando a cabeça em negação. - Ele vai continuar sendo um bastardo até seu último suspiro, isso eu lhe garanto.
- Se eu pudesse eu daria um murro na cara dele. - null riu com a ferocidade que substituíra a tristeza da namorada de null.
- Olha, se for fazer isso só me chamar. - Piscou.
- Pois então, com certeza que te convidarei. Vamos dar uma de Picasso com o corpo dele. - Gargalhou a artista, recebendo um franzir de testa de null. - O que foi? Eu pinto para viver. - Deu de ombros. - Além disso, Picasso é bem famos...
- Não é isso. - Abanou com a mão para interromper o tagarelar de null. - Está familiarizada com o termo karma, querida null?
- Aquela máxima de que quando se faz algo bom, você atrai coisas boas?
- Sim. - Assentiu null. - E quando se pratica o mal... - Completou, com um olhar significativo. - Quem sabe o karma não precisa de um empurrãozinho?!
null arregalou os olhos com uma careta desconcertada.
- Você está me propondo o que eu penso que está propondo?
- Só se você estiver pensando o mesmo que eu. - Replicou null, com uma sobrancelha arqueada. null gargalhou e de sua carranca nasceu um sorriso amplo.
- Querida, então pode crer que estou dentro.
- Sempre disse que o mundo precisa de mais heroínas.
Apertaram suas mãos, selando o pacto.


- Querida? É você? - null ouviu null chamar assim que fechou a porta de sua casa.
Respirou fundo antes de continuar a entrar, preparando-se para encarar o marido. Teria que fingir que as coisas estavam ótimas, que não havia descoberto nada e que eles ainda eram o casal perfeito que acreditava até uma hora atrás.
- Claro que sou eu, quem mais seria? - Perguntou, fingindo um bom humor que não lhe pertencia no momento.
O homem riu e levantou do sofá, aproximando-se dela e puxando-a para perto de si. Abraçou-a e colocou uma mecha do cabelo de null atrás da orelha antes de selar seus lábios.
- Obrigado pela surpresa. - Ele disse, apertando-a em seus braços. - Me desculpa demorar, acabei me empolgando no golfe. Acabou que até você desistiu de me esperar. Onde estava?
null abriu seu melhor sorriso falso e passou os braços pelos ombros de null, retribuindo seu carinho.
- Precisei ajudar uma amiga, e como você demorou, pensei que não haveria problema. - Respondeu, tombando a cabeça para o lado.
- E não tem. Eu adorei a surpresa, de qualquer maneira. - null agradeceu, colando seus lábios nos dela novamente. - Podemos jantar agora?
- Podemos. - Sorriu, desvencilhando-se do marido para ir até a cozinha. - Vou finalizar os pratos, me espere na mesa!
Piscou para ele antes de entrar na cozinha. Soltou o ar pela boca longamente, e apoiou se na bancada, respirando fundo. Seus olhos ardiam por conta do esforço que fez para não deixar nenhuma lágrima escorrer por seu rosto. Inspirou e expirou o ar mais algumas vezes antes de se aproximar do forno para pegar a comida. Teria que fingir que estava tudo bem, que ainda eram o casal perfeito e que não tinha descoberto nada. E o faria da melhor maneira que pudesse. null não perdia por esperar.


A Amante


null Bates: null tá com vc?
null Harrison: Não, disse que ia à academia. Achei que tivesse com vc.
null Harrison: Meu Deus, vc acha que...?
null Bates: Ele não seria tão cafajeste assim, seria?
null Harrison: Sinceramente? Eu não sei mais o que esperar.
null Bates: Seu rastreador ainda tá funcionando?
null Harrison: Sim.
null Bates: Passo na sua casa em dez minutos.

Assim que estacionou o carro em frente à casa da loira, null viu a porta se abrir e ela sair, dando passos apressados em direção ao carro. Abriu a porta e entrou no veículo, já com seu celular aberto no rastreador.
- Não conheço o endereço. - null disse, estendendo o celular para que null visse.
- Nem eu, mas já vamos conhecer. - A morena respondeu e acessou o GPS do carro, inserindo as coordenadas antes de dar partida em direção ao local. - Como está sendo fingir que está tudo bem?
- Um porre. Queria soca-lo, mas preciso sorrir e acenar, basicamente. - null riu baixo e null a acompanhou.
- O que vamos fazer se ele tiver outra mulher? - null perguntou, olhando rapidamente para a loira.
- Acha que podemos recrutá-la? - Respondeu e riu com a ideia.
- Não sei, nesse ritmo, teremos um clubinho Anti-null com a metade da cidade.
- A morena respondeu e as duas gargalharam. - A que ponto chegamos... Rindo da nossa própria desgraça.
- Se nós não rirmos, os outros rirão de nós. - Refletiu null. - De qualquer maneira, se realmente for isso, ela que terá que decidir. Infelizmente nem todas as mulheres culpam o homem...
- Você acha que ela vai ter raiva de nós. - Concluiu null, sem tirar seu olhar do trânsito.
- Ou algo pior. Ela pode culpar a si mesma. - null respondeu, encolhendo os ombros e cruzando os braços.
- Bem, espero que ela aceite. Precisamos de mais uma mente para desenvolver o plano. - Kat afirmou.
- Espero que sim, null, espero que sim...
- Olha, já estamos chegando. - null apontou para o GPS e voltou seu olhar para a frente, procurando o local.
- O rastreador diz que ele está... - null olhou para os lados. - Ali. - Apontou para um prédio, franzindo o cenho. Olhou ao redor e enxergou, do outro lado da rua, a academia que ele sempre vinha, reconhecendo-a pelo nome. - Supostamente, aquela é a academia que ele frequenta. Mas o rastreador diz que ele está naquele prédio...
- Vou lá perguntar se ele veio hoje. - null disse, tirando o cinto.
- E vai falar o que?
- Oi, queria saber se meu namorado, null Harrison, veio treinar hoje. - Ensaiou null e null fez uma careta. - É a melhor coisa. Depois a gente espera ele aparecer, igual você fez quando foi a minha casa. Em algum momento ele vai ter que sair do prédio.
- Você tem razão. Vai lá, eu espero aqui. - null avisou, voltando sua atenção para o seu celular.
null saiu do carro e fechou a porta. Olhou para os lados antes de atravessar a rua e rapidamente andou até a academia, entrando na mesma. Foi até a mesa da recepção e sorriu para atendente.
- Boa tarde. - A atendente desejou.
- Boa tarde, querida. Eu preciso de um favor. - null pediu e abaixou a voz quando viu a atendente franzir o cenho. - Eu estou desconfiando que meu namorado está me traindo. Supostamente, ele treina nessa academia. Você teria como me dizer se ele veio hoje?
- Senhora, eu não...
- Por favor. Eu realmente não sei mais o que fazer. É muito ruim se doar em um relacionamento e desconfiar desse tipo de coisa. - null fungou, mordendo seu lábio.
A atendente observou a morena em sua frente por alguns segundos antes de finalmente dar de ombros e assentir.
- Certo, qual o nome dele?
- null Harrison. - null disse, cruzando os braços, um pouco impaciente.
- Ah. - Ela arregalou os olhos, o que não passou despercebido por null. - Ele não veio hoje...
- Você sabe de alguma coisa? - Perguntou, aproximando-se para falar mais baixo.
- Eu não... - Começou a responder, mas mudou de ideia ao ver o olhar triste que a null lhe lançou. - Se puder, fique por perto. Ele deve chegar dentro de alguns minutos. É só o que posso dizer.
null não entendeu e nem quis perguntar, mas faria o que ela pediu. Agradeceu pela ajuda e saiu da academia, caminhando rapidamente até seu carro. Assim que entrou, encontrou null encarando-a ansiosamente.
- Ele não veio hoje. Ainda. - null contou, ajeitando-se no banco. - Mas a moça sabe de algo. Disse pra esperarmos que logo ele aparece.
- Com certeza ele tá com outra. - null disse, sua voz contendo raiva. - Esse filho de uma...
- Espera, não vamos pirar antes da hora. - Tentou tranquilizar null, sem sucesso.
- Anos de casamento pra isso! - null esbravejou. - Que bom que eu não consegui engravidar, Deus que me perdoe, mas...
- Realmente. - null disse e levou sua mão até o ombro da loira. - Vocês estavam tentando?
- Há uns dois anos. - null respondeu, mordendo seu lábio. - Aparentemente meu útero não é um lugar tão aconchegante para um bebê.
- Eu sinto muito, null, mas olha, nós estamos juntas nessa. Eu era só a namorada, não posso imaginar a dor que você está sentindo, mas acredite quando eu digo, estamos juntas nessa. - null declarou, sorrindo para a loira.
- Obrigada, null. Eu acho que se não estivéssemos passando por isso juntas eu já teria sucumbido a tristeza. - null confessou, sorrindo tristemente enquanto uma lágrima escorria por seu rosto.
null sorriu e desviou seu olhar rapidamente, olhando para o prédio no exato momento em que a porta se abriu e null saiu sorridente, de mãos dadas com uma ruiva.
- Ele realmente fez isso. - null comentou, sem tirar seus olhos da cena.
null acompanhou o olhar da morena e viu o casal, observando-os enquanto atravessavam a rua.
- Filho da puta! - null xingou, sua voz saindo embargada. Levou sua mão até a maçaneta, abrindo-a. - Eu vou...
- Não vai, não! - null a cortou, inclinando-se por cima dela e fechando a porta. Colocou as mãos nos ombros de null, acalmando-a. - Por favor, espera. Precisamos ser fortes.
- Eu não consigo mais... - Ela disse baixo e um soluço escapou por seus lábios. Começou a chorar e null envolveu-a um abraço. - Meu casamento de anos é uma mentira.
null não sabia exatamente o que falar, pois também estava sofrendo. Porém, o momento exigia que ela guardasse a própria dor para consolar sua mais nova amiga, que estava em situação pior que a dela. Agora, mais do que nunca, era hora de se unirem, não só pela vingança, mas pela força que tinham juntas.
Após alguns minutos, as duas se separaram e sorriram tristemente uma para a outra.
- Vamos esperar que eles saiam da academia pra tentar falar com a ruiva, tudo bem? - null sugeriu, voltando a se sentar normalmente no banco do motorista.
- Deve levar uma hora, mais ou menos... - null fungou, ajeitando-se no banco. - O que vamos fazer até lá?
- Bom, a gente sempre pode se conhecer melhor. - null deu de ombros e sorriu. - Gosto de você.
- Também gosto de você. - null riu e virou-se, sentando com as costas encostadas no banco. - Certo. Você disse que é pintora. Me conte mais!
Passaram a hora seguinte conversando, conhecendo-se e perguntando tudo o que queriam saber uma da outra. Trocaram confidências, riram de histórias do passado e até dividiram algumas lembranças importantes. Só encerraram o assunto quando observaram null e a ruiva saírem da academia.
Os dois se abraçaram e se beijaram, mas, no final, cada um seguiu seu caminho. A ruiva foi para o prédio e null passou ao lado do carro de null; as duas mulheres tendo que se abaixar para que ele não as visse. Foi só quando ele entrou no carro e se afastou que elas desceram e caminharam até o prédio.
- E agora? - null perguntou, cruzando os braços, tentando disfarçar sua ansiedade.
- Não sei. Não pensei nessa parte. - null riu, aproximando-se do interfone. - E se a gente interfonar pra todos os apartamentos?
- Acho que não precisa. - null também se aproximou do interfone e null deu espaço para que ela apertasse um botão.
- O que você t...?
- Alô? - Uma voz atendeu.
- Oi, boa tarde. Eu sou da empresa de segurança e vim fazer uma vistoria. - Mentiu, torcendo para que a pessoa acreditasse.
- E por que você não fala com o síndico?
- Porque eu não sei o apartamento dele, é uma vistoria de rotina. - Mentiu novamente, vendo null segurar o riso.
- Ahm... - A pessoa resmungou. - Tá, tudo bem. Vou abrir.
Um ruído alto indicou a abertura da porta, e as mulheres entraram no edifício um pouco receosas, mas, com satisfação constataram de se tratar uma daquelas construções com um ou no máximo dois apartamentos por andar. Andaram até o elevador e null apertou o botão do primeiro andar. Ambas aguardaram até que se abrisse para bater na primeira porta.
- Sim?! - Perguntou um senhor, franzindo a testa.
- Bom dia, senhor. Estamos aqui para fazer uma pesquisa sobre a comemoração de natal do prédio, e queríamos saber se...
A batida da porta na cara de null cortou seu improviso e rumaram até o segundo andar para mais uma tentativa. O ruído aterrorizante de latidos assustou a ambas instantaneamente.
- Será que batemos... ?!
O som de patas colidindo e arranhando a porta fez com que as duas balançassem a cabeça em negativa e corressem de volta ao elevador.
- Deus! - Exclamou null, intensificando a crise de riso das duas mulheres.
Passaram por todos os andares e bateram de porta em porta, até alcançarem a cobertura.
- Tinha que ser. - Suspirou null, revirando os olhos, enquanto null tocava a campainha.
“Só um minuto!”, ouviram uma voz feminina berrar, aumentando suas esperanças. Foi somente ao darem de cara com a ruivinha que null murmurou: Bingo!
- Quem são vocês? - Perguntou a ruiva, com a testa franzida.
- A esposa e ... - Começou null, engolindo em seco.
- A namorada do null. - Completou null com uma mão no ombro da confidente.
Ela arregalou os olhos e ameaçou fechar a porta na cara das duas mulheres, mas elas foram mais rápidas ao impedirem-na de fazer isso. Se encararam por alguns momentos, até que a dona do apartamento suspirou e abriu passagem para elas.
- Entrem. - Disse e esperou que as duas entrassem para guia-las até o sofá. - Então você que é a esposa? - Perguntou, analisando null, com a face corada.
- Vocês se conhecem? - Questionou null, arregalando os olhos em surpresa, claramente ignorante quanto à real situação.
- Não, null. - Replicou null, com a voz fria, sem conseguir parar de encarar a mulher a sua frente.
- Então como...? - Começou null, até que finalmente a dona do apartamento esclareceu o que já devia ter sacado.
- Meu nome é null... - Soluçou a ruiva, puxando um fio solto em sua jeans rasgada. - Eu sou a a-amante do null.
- Você é o que?! - Exclamou null, trocando um olhar de null para null, atordoada.
- Amante. Sinto muito, eu... Sei que não faz tanta diferença para vocês, mas... - Inspirou fundo, engolindo as lágrimas que ameaçavam derramar-se por seu rosto.
- Você não sabia que ele tinha a null também, não é? - Indagou null, com um olhar sábio, surpreendendo as duas outras mulheres ao pegar a mão de null entre as suas. - Eu não posso dizer que eu entendo. Só sei que você não me parece uma má pessoa. Somente uma mulher que entrou em uma situação a qual não tinha ideia do quão tóxica era.
- Ele me disse que o casamento ia mal, eu pensava que eu era a única, eu juro! - Completou, balançando a cabeça em negativa, irritada. - Eu...
- Sim. - Suspirou null, limpando uma lágrima, furtivamente e voltando a centrar seu olhar no da mulher à sua frente. - Ele tem seu jeito de tentar foder com a nossa cabeça. - Deu de ombros, recebendo um olhar cômico de null pelo palavrão.
null podia ser uma mulher "de classe", um termo ao qual ela mesma odiava, mas que com seu poder aquisitivo adquiriu o hábito de usar, de tanto ouvir. Porém, ela tinha seus momentos, e esse certamente era um deles.
- O que mais me irrita é que eu deveria saber, sabe?! Que cafajeste trai a esposa?! Por pior que esteja o casamento, isso não condiz com um bom caráter. Porém, talvez isso seja uma daquelas coisas que sabemos, mas escolhemos ignorar. Eu me apaixonei, e...
- Não precisa explicar. - Assentiu null, endireitando-se em seu assento novamente. - Não viemos por esse motivo.
- Então por quê? - Perguntou null, confusa, limpando suas próprias lágrimas.
- Ah, null, temos uma proposta para você. - Falou null, abrindo um meio sorriso frio. - Me diga, quais são seus pensamentos sobre vinganças?

Duas horas depois, em um bar próximo ao apartamento de null Carlson...

- Eu sabia que ele era um merda. MAS PORRA! null consegue elevar essa palavra a outro nível, aquele filho de um pau.
- Filho de um pau? - Perguntou null, erguendo uma sobrancelha.
- Claro! Não vou sair por aí xingando a pobre mulher que teve que carregar esse entojo no útero.
- Bem, a Senhora Harrison pode ser muitas coisas, mas te asseguro que pobre não é uma delas. - Piscou null.
- Meninas, se concentrem! null, você entendeu o que queremos fazer? Está dentro?
- Sim. Claro que topo - Suspirou a ruiva, balançando a cabeça. - Desculpem-me meninas, mas é que eu esperava muito mais xingamentos se um dia conhecesse a esposa do null. - Mordeu o lábio, suspirando novamente.
- Ele é o maior culpado dessa situação, e merece o que vai ganhar. - null afirmou.
- Pena que o karma vai levar toda a fama de nossa pequena vingança. - Completou null, revirando os olhos.
- Mas digam, qual é o grande plano?! - Perguntou null com os olhos brilhando em curiosidade.
- Er... esse é o problema, não conseguimos pensar em nada maldoso o suficiente ainda. - Gesticulou null, debruçando-se em seu conhaque.
- Ao menos nada que não nos desse duas prisões perpétuas. - Falou null com uma careta.
- Isso se formos pegas. - Disse null, dando de ombros.
- A questão é que ele merece sofrer, mas violência física está fora de questão. - Bufou null, rindo da carranca de null contrariada com a restrição.
- Ué?! O que vamos fazer então? Dar carinho até ele morrer de mimos? - Replicou null. - Te digo uma coisa! Meu primo é policial, se matássemos null tenho certeza que auxiliaria nossa fuga, passando pela fronteira até o Canadá, e...
- Pelo amor de Deus! - Berrou null, ao mesmo tempo que null gemeu, chamando a atenção dos poucos clientes do bar àquela hora.
- Ok, péssima ideia. Tudo menos Canadá. - Suspirou null com uma careta, ao ver o aceno das novas conhecidas em concordância.
- Violência psicológica é o que nos resta. - null deu de ombros, erguendo agora uma dose de tequila que acabara de conseguir com o barman.
A mulher tinha sérias habilidades de chamar atenção, mas também talvez fosse a gorjeta gorda que acompanhou seu aceno entediado.
- Bebamos a isso.
Todas tomaram um shot e gargalharam friamente. Testemunhas poderiam dizer também, que diabolicamente. Mas ninguém no Cole’s Pub poderia adivinhar o que aquelas belas mulheres, tão distintas, mas com o mesmo péssimo gosto para homens tramavam.
- Sinceramente eu não sei como ele conseguiu. Três mulheres! O null que eu achava que conhecia não conseguia gravar nem o nome da esposa do chefe, quem dirá ter três vidas.
- Inteligência nunca foi o forte do rapaz, né?! - Gargalhou null. - Se ele tivesse trocado meu nome eu ia matar o bastard...
- Sua gênia! - Disse null, dando um murro na bancada do bar, quase derrubando o copo de whisky que pedira.
As mulheres olharam para a mais velha como se está estivesse gagá, ou só muito bêbada, o que realmente estava.
- Elabore. - Murmurou null.
- Ele nunca trocou nossos nomes, mas imagina se nós trocássemos de papéis.
- Você quer dizer... - Inspirou null, trocando um olhar animado com null que chegara à mesma realização do que ela.
- Tem maior terror psicológico do que fazer null pensar que está ficando maluco? - Riu null.
- Genial. - Acenou null.
- Bebamos a isso. - Completou null novamente, levantando seu whisky e dando uma piscada complacente.


A Vingança


- Querida, vai querer mais vinho? – Perguntou null, piscando para null.
- Por favor, amor. – Replicou, com um meio sorriso, tentando não vomitar ao chama-lo assim.
- Já volto. – Assentiu o homem, levantando de sua cadeira na praia, correndo para a adega da casa.
null assentiu de volta, voltando sua face para observar o mar, enquanto o marido se afastava. Assim que ele sumiu para dentro da residência, ela ergueu-se, apressando-se para o terreno vizinho. O proprietário da casa, Jordan Hayes, era um jovem bilionário que sempre teve uma quedinha por null. Ela nunca havia ligado para isso antes, já que era casada, a despeito dos deslizes do marido. Mas a paixonite lhe fora de grande serventia no final das contas, já que quando pedira para usar a casa de praia, o homem nem piscara.
- null? – Berrou, ao entrar e se jogar no sofá, com um suspiro. – Sua vez!
- Já? – Bufou a artista, trançando seu cabelo lateralmente e preparando-se para substituir null.
- Boa sorte, null fica ainda mais entediante quando vamos para Cape Cod. Ele sabe muito bem como encarnar o ricaço metido a conhecedor de vinho.
null e null gargalharam. A morena pôs seu casaco de couro, assumindo o posto onde null antes se encontrava. O vento golpeava seus cabelos e já havia feito com que seu coque se desfizesse por completo no momento em que null finalmente deu o ar de sua graça.
- null, queria o vinho 1990, mas só tinha o da safra de 98...
- Oi, querido! – Exclamou, virando-se para um confuso e nervoso null. - Quem é null? – Provocou.
- ?! – Berrou, assustado. Mas também, quem não ficaria, com sua namorada sentada confortavelmente no lugar onde há cinco minutos atrás se encontrava sua esposa. – O que... Er... O que faz aqui? – Perguntou, com a voz rouca e desafinada.
- Ué? Estava esperando você voltar com o vinho! – Fez-se de desentendida, estendendo a mão para pegar a taça que ele segurava.
- Mas... Eu... Você... Ela...
- Vamos voltar para dentro, querido? – Cortou, segurando-se para não revirar os olhos com o tapado do namorado. – Estou ficando com frio.
Com os olhos um pouco arregalados, mesmo estranhando a situação, null assentiu e os dois entraram na casa. null mantinha um sorriso em seus lábios, deixando-o ainda mais confuso. Os dois seguiram diretamente para o quarto e null se sentou na cama sensualmente, levando a taça de vinho até a boca e bebendo um gole, chamando a atenção de null.
- Hm, querido... - Chamou, indicando a cama ao seu lado para que ele se deitasse. Quando se deitou, null depositou sua taça no criado mudo e se inclinou por cima dele, passando os dedos pelo colarinho da camisa de null, afrouxando sua gravata. - O que acha de brincarmos um pouco?
- Ah, null, quando é que eu já te disse não?! – Murmurou, com um tom rouco.
Sorriu em confirmação e null tirou a gravata do homem, passando os dedos sugestivamente pelo tecido. Levou-a até os olhos de null e vendou-o, recebendo um murmúrio animado em resposta. Sorriu sozinha e afastou-se dele rapidamente para pegar seu celular e chamar as outras duas. Antes que ele pudesse perguntar por ela, null aproximou-se novamente e posicionou suas pernas ao lado do corpo de null, sentando em cima dele.
Poucos segundos depois null e null entraram no quarto, ambas cuidando para não fazer barulho. null provocou null mais um pouco antes de sair de cima dele e dar espaço para null. A ruiva aproximou os lábios do pescoço do homem imediatamente, beijando o local com certa pressa. As mãos dele subiram pelo corpo dela, acariciando-a enquanto null e null mantinham expressões satisfeitas em seus rostos. null continuou a provoca-lo, sua mão descendo até o fecho da calça de null para abri-la.
- Me deixa te ver... - Ele pediu quando a mão dela alcançou seu membro já ereto.
- Ah, você quer me ver? - Perguntou, virando a cabeça para as outras duas como se estivesse perguntando se já podia tirar a gravata dos olhos dele. Elas assentiram. - Tudo bem...
null levou suas mãos até a cabeça dele e afrouxou o nó, afastando a gravata. Rapidamente ela se afastou e foi até as outras duas, parando ao lado de null. null piscou algumas vezes antes de finalmente abrir os olhos e focar nas mulheres e, quando o fez, sua boca se escancarou em incredulidade.
- Mas que porra...? - Perguntou, esfregando seus olhos e arregalando-os querendo ter certeza de que estava enxergando bem. - Vocês... O quê?! - Quase berrou, sua voz falhando um pouco.
- Mas que porra é mesmo uma ótima expressão para definir esse momento, querido. Um dez para você. – Sibilou null, cruzando os braços.
- Só queria ter uma câmera para fotografar essa cara de palhaço que ele fez. – Sussurrou null, dando um High-Five com a ruiva.
- Você com certeza nunca sonhou com isso, né? - null começou, focando-se na missão. - Estar em um quarto com sua esposa, sua namorada e sua amante? - Cruzou seus braços.
- Eu não... Amor, não é... - Tentou se explicar, mas ela o cortou.
-Nem começa, null. - Replicou, irritada. - Você é pior do que eu imaginava.
Ao perceber que null não lhe daria atenção, tentou, a todo custo, obter a piedade de null.
- Docinho, por favor... Me deixa explicar, você sabe que eu te amo, não sabe? - Declarou, fazendo as três revirarem os olhos.
- Claro que sei. - null se aproximou da cama e tirou o anel de compromisso que usava, jogando-o em null. - Enfia esse anel no cu.
null e null seguraram o riso quando viram o homem engolir em seco. Já quase sem alternativas, ele se voltou para a última que sobrou. A amante o encarava com certo desprezo e já havia imaginado que ele poderia lhe dizer as palavras que saíram de sua boca.
- null... Você não tem motivos para estar assim comigo. - Ponderou, encarando-a.
- Afinal, você era só minha amante, e sabia que null exist...
- Você é inacreditável! - Ela quase gritou, contendo sua raiva. - Não acredito que me deixei levar por você. Não acredito que fiz isso com outra mulher.
- Não faça isso, null. - null pediu, aproximando-se da ruiva. - O único culpado aqui é ele, e você sabe disso.
- Mas eu... - Tentou se justificar, mordendo seu lábio.
- Já falamos sobre isso. - null interviu, voltando seu olhar para null. - A única pessoa que nos devia fidelidade era ele.
- Eu n... - null ameaçou falar, mas as mulheres olharam para ele com tanta raiva em seus olhos que acabou desistindo, encolhendo seus ombros.
- Você não presta, Meu Deus, como aguentei ficar tanto tempo casada com você?! – null disse, a decepção estampada em seu rosto. - Você vai receber os papéis do divórcio semana que vem. Até nunca mais.
A loira disse antes de se afastar e sair do quarto pisando firme, seus passos ecoando pelo corredor.
- Eu espero nunca mais te ver em minha frente, null. - null desejou antes de seguir o mesmo caminho de null.
- E você? - null perguntou, dirigindo-se a null. - Vai me insultar como antes de ir?
null sorriu irônica e cruzou os braços, aproximando-se dele.
- Eu não preciso te insultar. – Riu seco. – Você já consegue ser uma vergonha de ser humano sozinho. Sabe o que mais, null?! Confesso que me senti mal em alguns momentos, afinal, eu posso ter feito outra mulher sofrer, mas era você quem tinha um relacionamento e devia fidelidade a ela. - Explicou, sem ousar desviar o olhar do dele. - Você com certeza se achou muito esperto durante todo esse tempo, mas, no fim, acabou assim: sozinho. E espero que fique assim para o resto de sua vida. - Finalizou, virando-se e saindo quarto com passos apressados.
null encontrou as outras duas na varanda de casa, esperando-a, com sorrisos satisfeitos em seus lábios. Abraçaram-se, curtindo o momento de paz em que se encontravam.
- E agora?! – Suspirou null, olhando para as outras.
- Agora a vida continua, eu acho. – Riu null.
null apertou os lábios em um meio sorriso e separou-se das mulheres com um olhar diabólico.
- Um minuto! – Suplicou, correndo para os fundos. – Peguem nossas coisas e encontrem-me na rua.
- null...? Mas o que...
Deram de ombros, e ambas se apressaram até a casa para pegar suas mochilas. Partiram para a saída da casa que dava para a rua. Suas bocas caíram quando o carro de null parou ao lado delas, um minuto depois.
- null?! – Gargalharam, estupefatas.
- Entrem, meninas. – Riu a loira, abaixando o capô.
Assim que ambas entraram, null pisou fundo, acelerando para longe daquele pesadelo. null e null a encararam tão intensamente no trajeto até o aeroporto, que a mulher não aguentou senão perguntar-lhes o motivo.
- Que foi? – Riu de nervoso, manobrando pela estrada tranquila.
- Que bicho te mordeu, mulher?!
- Ele mereceu essa. – Deu de ombros, sem desviar por um segundo o olhar da estrada.
- Ok, quem é você e o que fez com a null?
- Ai gente, até eu tenho um lado espontâneo. Fazer o que?! – Gabou-se, recebendo empurrõezinhos brincalhões e vaias das novas amigas.
Ligaram o som do carro e tiveram um trajeto surpreendentemente silencioso até o aeroporto. Fora o cantarolar nas músicas mais conhecidas. Chegaram a assustar um pedestre com suas péssimas habilidades de Karaokê ao pararem em um sinal. Mas suas mentes lotadas fizeram com que quando se dessem conta, já estivessem no terminal designado.
- Bem, então é isso? – Falou null, sem jeito, ajeitando a mochila no ombro.
- Creio que sim... – Replicou null, mordendo o lábio, com os olhos úmidos.
As mulheres compartilharam um último abraço e começaram a se encaminhar para a revista, até que null parou-as, puxando a null e null, com um novo brilho em seu olhar.
- Esperem, meninas. Venham comigo!
- null, o que...?
- null, nosso avião vai partir, amig...
- Shh. Só me acompanhem. – Repreendeu, parando-as à frente de um enorme quadro com os voos dispostos.
Tanto null quanto null a encararam em expectativa, não fazendo ideia do que se passava na mente da artista.
- Eu me diverti muito com vocês. – Explicou null, baixando os olhos. – Não quero que isso pare. – Levantou o olhar novamente para ambas. – Não tão cedo. O que achariam de fugir para algum lugar diferente por alguns dias e...
- Claro que sim, sua boba! – Replicou null, correndo para a amiga e dando um de seus braços para ela.
- Bem... – Disse null com receio. – Eu nunca fiz algo assim, mas... – Começou, vendo os sorrisos das amigas murcharem. – Foda-se, só se vive uma vez, certo?! – Terminou, rindo das expressões surpresas. Caminhou até elas e pegou o outro braço de null.
- Ok. – Disse, animada. – Agora só descobrir para onde vamos.
- O voo mais próximo é para... – Falou null, vasculhando as informações do quadro eletrônico. – Las Vegas. – Terminou, abrindo um sorriso malicioso instantâneo.
Olharam-se concordando instantaneamente. Foi só uma palavra de null para uma muito irritada, mas complacente funcionária da companhia aérea que haviam trocado seu destino. Só aí que se permitiram seu momento de extravasar a euforia acumulada.
- Vegas! – Berraram, pela primeira vez pelos próximos dias. Mas a única delas em que estavam sóbrias.
Talvez, no futuro, quando contassem a história de como viraram amigas, ninguém acreditasse. Mas elas não se importavam. Era só dizerem que tinham o mesmo péssimo gosto para homens.
De fato, null causou muito dano. E em muitos aspectos, poderiam demorar a esquecer-se disso, criar cicatrizes ou talvez até superar. Mas o cafajeste também lhes deu algo muito mais valioso e raro: a amizade. Um laço muito mais significativo e profundo do que seu cérebro de amendoim jamais poderia entender. A confiança que possuíam uma na outra - construída com base no trauma que passaram – e a lealdade que passaram a nutrir. Era a forma mais pura de amor cristalizada em uma amizade inesperada.
E isso, meus caros, ninguém poderia tirar delas.


FIM



Nota da Kari: Eu recrutei a Gabi pra escrever comigo de última hora, e como ela tem um parafuso a menos, aceitou HAHAH brincadeira, miga, tiamu <3
Espero que vcs tenham gostado da história, quisemos retratar bem a vingança e a cumplicidade entre as três, e, principalmente, mostrar a amizade que surgiu entre elas.
Até a próxima!





Nota da Gabi Heyes: Pessoall, essa fic é muito especial e estou feliz demais de ter participado delaaa! Esse plot da Kari foi maravilhoso e como sempre, amei fazer essa parceria ❤, que não é a primeira e nem será a última. Não poderia pedir por parceira melhor nesse mundo! Obrigada por terem lido e não se esqueçam de comentar, por favorr!
 

 

Outras Fanfics da Kari:
Finalizadas:
Above It All [Atores - Finalizadas]
A Place to Call Home [Restritas - Outros – Finalizadas]

Em andamento:
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Dear Roommate [Restritas - Outros - Em Andamento]
Outer Space [Restritas - Outros - Em Andamento]

Shorfics:
Sixth Sense [Outros – Finalizada]
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Ficstapes:
01. On The Loose [Ficstape Niall Horan - Flicker]
02. Halo [Ficstape Beyonce - I Am… Sasha Fierce]
02. Tell Me You Love Me [Ficstape Demi Lovato - Tell Me You Love Me]
07. Hot as Ice [Ficstape Britney Spears - The Essential - Restrita]
08. Stay [Ficstape Miley Cyrus - Can’t Be Tamed]
12. Keep Holding On [Ficstape Avril Lavigne - The Best Damn Thing]
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15. Outrageous [Ficstape Britney Spears - The Essential - Restrita]

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Sixth Sense [Outros – Finalizada]
You Give Love a Bad Name [Outros – Shortfic]
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Ficstapes:
05. I'm Not The Only One [Ficstape Sam Smith]

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Her Eyes [Especial Dia dos Namorados]
My Love Is a Cliché [Especial Dia dos Namorados]

MVs:
MV: Beat It MV: Cell Block Tango      
 


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