Finalizada em: 18/08/2018
Music Video: Seventeen - Oh My

Capítulo Único

Ela sorriu.
Finalmente depois de todos aqueles meses, ela sorriu largamente para a luz do sol, como não sorria há anos.
Tinha certeza que era o primeiro dia de verão começando, e sua pele, ao mesmo tempo em que queimava pela falta de costume dos raios ultravioletas, clamava pelo lado de fora. Não via a hora de sair dali, não via a hora de viver outra vez, agora plenamente, porque havia alcançado o seu maior objetivo que havia almejado desde muitos anos atrás.
! ― a voz animada da psiquiatra a chamou enquanto ela terminava de passar a ponta dos dedos nos cabelos, tentando ajeitá-los da forma mais perfeita que se lembrava de ter feito na vida.
! ― ainda com aquele sorriso enorme, ela olhou para trás, encontrando quem havia se tornado a sua melhor amiga durante aqueles oito meses. Quem lhe ajudara a entender que precisava se perdoar e seguir em frente para fazer o que tanto queria: para ajudá-lo, primeiro devia ajudar a si mesma.
Não havia nada que segurasse em suas mãos, uma vez que tinha de usar a roupa de interna e não podia ter pertences pessoais, o que auxiliou quando a mulher se aproximou de si no pátio e a abraçou tão forte que praticamente a tirou do chão, algo que agora era fácil devido todo o peso que havia perdido.
― Esse vestido ficou ótimo em você. ― ela sussurrou contra os cabelos da agora ex paciente, sentindo o cheiro de morangos frescos que ela emanava e sorrindo ainda mais. estava tão ansiosa por aquele dia que, como um presente, dera a peça de roupa para que ela usasse ao atravessar os portões da liberdade, assim como instruiu algumas enfermeiras que admiravam a história da menina a emprestá-la algumas maquiagens, já que sabia o quanto ela gostava disso. ― Eu estou tão feliz de finalmente poder te ver livre. ― afastou os rostos apenas para focar em todo o brilho que emitia. ― Você vai sair daqui!
― Eu vou, não é?! ― ela ainda parecia meio abobalhada e em choque, como se aquilo não estivesse acontecendo. Quando seus corpos se afastaram, olhou para baixo, observando como estava vestida e arrumada, e vendo que suas mãos tremiam insistentemente. Seus olhos começaram a marejar, e a psiquiatra pegou voltou a se aproximar-se para segurar seus ombros em um gesto de encorajamento. ― Obrigada, eu nunca teria conseguido sair se não fosse por você e por toda a sua ajuda.
― Não fale isso, é mérito seu. Existem pessoas que quando entram na escuridão, jamais querem sair dela. Mas você se esforçou, e por isso está radiante assim hoje, pronta para voltar a viver. ― naquele ponto, já chorava repetindo agradecimentos sem fim, e foi novamente amparada pela médica que tentava não cair aos prantos junto.
― Ele já sabe? ― questionou quando teve forças para parar o choro e erguer o rosto, sentindo a amiga limpando o delineador que borrara quase imperceptivelmente, antes que acabasse ficando pior.
― Ainda não, nós preferimos fazer uma surpresa. ― piscou um dos olhos na sua direção, e a menina sentiu o coração pulsar mais forte dentro do peito, em desespero por saber que isso implicava que veria a reação dele.
― Estou preocupada, como será que ele vai reagir? ― umedeceu o lábio inferior, deixando seu nervosismo ainda mais óbvio e arrancando uma risada da mais baixa.
― Tenho certeza que ele vai ficar feliz por você. ― a médica respondeu calmamente outra vez, e então ajeitou a franja da amiga que não parava de cair em seu olho, mesmo já estando comprida demais para isso. Então, pegou na mão da mais nova e saiu a puxando para dentro do primeiro prédio. ― Você vai pra recepção e vai ficar lá, quietinha e esperando. Essa hora já devem ter dito pra ele que ele tem visita, então você está atrasada!
― Nem por sonho! ― acusou com um bico se formando nos lábios, começando a andar mais rápido para chegar mais rápido na recepção e se sentar no banco de madeira para esperá-lo.
soltou uma risada bem humorada quando ficou pra trás e a observou praticamente correndo, outra vez se aproximando apenas para sorrir para a amiga e incentivá-la, tocando em seu ombro.
― Fique aqui só mais um pouquinho, ok? ― assentiu com a cabeça por diversas vezes, como uma criança que esperava por algo a qual estava extremamente ansiosa. ― Eu vou buscá-lo.
Ela pareceu prender o ar nos pulmões ao ouvir as últimas três palavras, e quando ficou sozinha, seus pés começaram a balançar freneticamente no ar porque o banco era alto e ela estava sentada em postura. O sorriso sumiu por alguns minutos durante a espera, dando lugar a mordidas de lábio e olhares fixos na direção do corredor.
Quando viu o primeiro relance da figura masculina, levantou com a coluna rígida, não sabendo bem como reagir ao vê-lo de jeans e camiseta, algo tão diferente do que usualmente vestia. Os pais de levaram as roupas a pedido de , já que ela queria que os dois estivessem bem arrumados naquele dia. , porém, não se lembrava de ter estado tão nervosa assim antes em sua vida, e o olhar confuso dele ao vê-la produzida apenas piorou tudo.
? ― a voz, porém, era naquele tom doce que havia se acostumado a ouvir durante aqueles meses, acabando com toda a sua ansiedade e insegurança com a mesma rapidez que um trovão cortava o céu.
!
Não soube bem se deveria abraçá-lo ou ficar parada, mas durante o tempo da sua hesitação ele mesmo se aproximou, abaixando levemente a coluna e aproximando os rostos para analisar cada traço da feição que estava diferente por conta da maquiagem. E, apesar de saber que ele não fazia aquilo por mal, não conseguiu evitar que sua respiração ficasse presa nos pulmões e seus olhos se arregalassem.
― Você está linda. ― ele sussurrou admirado, fazendo-a abrir um sorriso bobo de orelha a orelha e suas bochechas se avermelharem no mesmo segundo, sem se importar se o Kim observava cada uma dessas reações. ― Mas… Isso quer dizer que… ― ele sabia a resposta, mas ainda queria perguntar, ouvir da boca da garota se aquilo estava mesmo acontecendo. ― Você está indo embora?
respirou fundo e, com a coragem que juntara se preparando durante todos aqueles meses, aproximou-se mais um passo de , encaixando seu rosto ao lado do dele e procurando sua mão para entrelaçar os dedos e apertá-la forte. Apoiou sua bochecha no ombro do rapaz, fazendo com que seus lábios ficassem próximos ao seu ouvido, e então, com toda doçura que guardava em seu ser, soprou as palavras.
― Não. Você não percebeu, ? Nós vamos sair daqui. ― os olhos dele se arregalaram ao ouvir isso, e pôde sentir os músculos do ombro do rapaz se tencionarem com aquelas palavras.
, eu… ― o olhar de ficou perdido, e ele buscou, com a mão livre, segurar na de também, sentindo que apenas daquele jeito estaria equilibrado para digerir o que estava ouvindo, se apoiando completamente nela e com as duas mãos segurando as dela. ― Eu estou com medo. Como vai ser lá fora? Nós… Ainda vai existir nós, não vai?
, é claro que sim! ― ela se afastou para olhá-lo nos olhos castanhos, tão firme nas suas palavras que ele relaxou, confiando plenamente nela. ― Você não precisa ter medo, sabe por que? Nós vamos sair daqui juntos, e de mãos dadas. Porque quando nós seguramos nossas mãos, fica tudo bem, não é?


❥❥❥❥❥


― Meu Deus, parece que eu fiquei fora por uma década! ― reclamou, olhando como seu apartamento estava completamente empoeirado e cheio de teias de aranha, apesar de não ter nada fora do lugar ou bagunçado.
― O que você esperava? Foram oito meses, é muito tempo. ― claramente era por esse segundo motivo que estava ali, porque tinha medo o suficiente de aranhas para ter que passar a missão de matá-las para outra pessoa.
acabou rindo, balançando a cabeça positivamente. Nada era capaz de barrar seu bom humor naquele dia, nem mesmo uma ninhada de aranhas inteirinha. Pegou a bolsa da amiga e a deixou em um cabideiro que estava estrategicamente posicionado próximo a porta, e então respirou fundo, indo para seu quarto.
― Vamos começar o trabalho antes que eu comece com os espirros, então. Vou colocar uma roupa menos bonita. ― sorriu, já correndo para o seu quarto que infelizmente não estava o local mais aconchegante possível naquelas condições, mas sinceramente, até naquele estado era bem mais confortador do que o local de paredes brancas e almofadadas que ficara nos seus últimos meses de vida.
concordou, observando todo o espaço do local que a psiquiatra morava, o tamanho perfeito para duas pessoas morarem. Em uma das sessões, contou que seus pais preferiram ir para o interior enquanto ela fazia faculdade, e por isso ela acabou alugando um apartamento próximo ao subúrbio da cidade. No início, dividia as despesas com uma colega de quarto, mas quando conseguiu o sonhado emprego no hospital mental onde estava, ela também conseguiu dinheiro o suficiente para pagar as contas sozinha e a garota foi embora ao terminar o curso.
Pensar na história de era como pensar em uma loucura dentro de uma loucura, em um ciclo vicioso perigoso, mas extremamente interessante quando colocado nas vertentes da psicologia e psiquiatria.
Como profissional, analisava que ela ficara obcecada por Kim não apenas por ter tido uma paixão reprimida de adolescência por ele a ponto de ficar louca, mas também por seus próprios erros do passado. não conseguia perdoar a si mesma por não ter se esforçado por ele quando o rapaz mais precisou, e saber que a vida dele havia acabado e podia ter feito algo para evitar isso, fez com que ela acreditasse que tinha ajudá-lo de qualquer forma, mesmo que isso implicasse em acabar com a sua própria vida.
Ela estava disposta a dar a sua vida, se ele pudesse ter a dele de volta.
Ninguém conseguia entender o quanto estava feliz de ter tido a oportunidade de entrar na vida dos dois, conhecê-los e tratá-los até que estivessem parcialmente recuperados de todos os traumas que aquela vida fez com que desenvolvessem. Ver enquanto conversava com ela, dividiam as tarefas e cantarolavam alguma música chiclete da época do colegial, encontrando-a tão leve e sorridente, fazia todo aquele trabalho valer a pena.
Sabia que tinham um longo caminho pela frente para a readaptação dos dois ao mundo, principalmente da parte de , mas também sabia que agora os dois se ajudariam em um sentimento saudável e mútuo, que apenas não haviam tido coragem de externar ainda.
Esporadicamente, acabaram abaixando o som para não incomodar nenhum vizinho, e sentaram no sofá já limpo com dois potes de lamen. rapidamente pegou o celular que havia recuperado depois de tanto tempo e desbloqueou a tela, um sorriso enorme e involuntário tomando seus lábios ao encontrar a mensagem de que estava lhe esperando há alguns minutos.

"Eu queria que você estivesse aqui"

"Eu também queria estar. Muito. Seja forte, eu sei que você consegue".

― E então, vocês e o , o que vocês conversaram naquela hora no hospital? ― questionou ao vê-la tão vidrada no aparelho, sabendo exatamente da onde vinha toda aquela alegria e felicidade. ― Vão continuar se vendo, não é?
― Claro! Quer dizer, por mim, claro. E por ele também, ele disse que não quer perder contato. Mas… Eu não sei. ― deixou um suspiro escapar, deixando o celular em cima da mesinha de centro e voltando a atacar o macarrão instantâneo. ― Não sei quando vamos nos ver de novo. Os pais dele ainda não sabem de mim, só me conhecem como uma garota que estudou com ele, e é normal que controlem mais o âmbito social do filho agora. ― olha só, ela já estava bem o suficiente para voltar a fazer análises, e apesar da felicidade em ver isso, não conseguiu se conformar com aquela situação.
― Eu não aceito que isso aconteça com vocês! Vocês não passaram por tudo isso pra serem separados agora! ― cruzou os braços, fixando os olhos no chão e já começando a girar sua mente em diversas direções diferentes, tentando achar alguma forma que ajudasse a aproximá-los. ― ESPERA, tive uma ideia!
― U-Uh? Como assim?
― Eu tive a ideia perfeita pra vocês dois se verem de novo e logo! Amanhã de manhã eu vou ligar pros pais dele e arrumar tudo. ― estava confusa e assustada, conhecendo bem os planos mirabolantes da amiga para estar em dúvida se devia confiar plenamente nele. ― Relaxa, ! Vai dar tudo certo, tudo o que eu quero é ver vocês dois juntos. Vocês merecem.


❥❥❥❥❥


Reintegração social havia sido uma desculpa maravilhosa para os pais de o liberarem para o retiro de fim de semana que conseguira arrumar de última hora. Eles nem mesmo pensaram duas vezes quando receberem a ligação da médica, os aconselhando a enviá-lo como psiquiatra do garoto. Na verdade, nem bem havia sido uma desculpa, porque era real e tanto o rapaz quanto precisavam sair de casa e redescobrir o mundo. A diferença é que, em uma situação daquelas, eles fariam isso juntos.
Mas claro que iria com eles, afinal, os dois precisavam de supervisão por um tempo e não queria correr o risco de algo ruim acontecer com eles.
― Você está levando alguma camiseta igual a dele, não é? Não vejo a hora de fotografar vocês dois juntinhos andando na Ilha como os casais em lua de mel fazem! ― bateu no ombro de empolgada e rindo ao entrar no aeroporto, e a mais nova bateu com a mão contra a testa, balançando a cabeça negativamente e segurando o riso.
― Não tenha muitas esperanças, meio que eu não tive coragem de pedir uma foto das roupas que ele vai levar pra lá. ― respondeu revirando os olhos e sorrindo, e a amiga fez uma cara feia em sua direção, parando de empurrar a mala no carrinho para encará-la.
― Por que não? Não vejo nada demais! ― obrigou a amiga a parar de andar também, e viu o sorriso dela murchando um pouco conforme esticava o pescoço para encontrá-lo em algum lugar do imenso aeroporto de Incheon, mas não sabia onde havia se enfiado.
― Estou preocupada! Ele disse que ia esperar a gente logo na entrada… ― não conseguia parar de olhar por cima dos ombros das pessoas, e respirou fundo, juntando toda a doçura que não era muito natural de seu ser para tocar no ombro dela.
― Hey, o que nós conversamos sobre tratá-lo como criança e se preocupar demais, ? ― cerrou os olhos ao falar isso, como se estivesse ensinando de novo para a garota onde ela tinha que mais prestar atenção para não acabar errando. Agora que estavam "em mundo aberto", tinha que constantemente instruir , para não correrem o risco dela acabar ficando obcecada novamente.
― Que eu não posso deixar isso ir muito longe. ― ela suspirou desapontada consigo mesma, já que fazia aquilo de uma forma tão natural que nem mesmo percebia, e então ajeitou os cabelos timidamente, observando a parede de vidro. ― Desculpe.
― Não se preocupe. ― sorriu para tranquilizá-la, recolhendo a mão novamente e então se afastando um passo. ― Tenho certeza que o está cuidando bem dele, ele não está sozinho, lembra?
― Eu sei, mas eu não estou com ele. Preciso me acostumar que nós estamos em lugares diferentes agora, e não vou vê-lo e nem me certificar que ele está bem todos os dias… Não pessoalmente. ― suspirou, esfregando o meio de sua testa e tentando se conformar com a nova realidade de sua vida.
― Tudo é um processo, , não se pressione tanto. Vocês estavam em uma situação muito extrema, e aos poucos, tudo vai ser normalizado. ― manteve o sorriso largo, e conforme falava, a expressão de foi suavizando até tornar-se outra vez calma. ― Vai acontecer cedo ou tarde, até lá, estamos juntas, certo?
― Olha ai as donzelas que resolveram me fazer cancelar todo o meu trabalho pra viajar de última hora. ― o tom sarcástico e brincalhão de interrompeu o momento, e as duas amigas viraram com sorrisos na direção dos rapazes que haviam chego.
― E você nem gostou disso, não é? ― revirou os olhos com a fala do namorado, mas com um sorriso de canto que não conseguia disfarçar estampado em seu rosto. Quando ele se aproximou mais, trocaram um selar de lábios rápido e leve por estarem em público, e os outros dois desviaram os olhos, envergonhados.
― Como você está? ― questionou, se afastando dois passos para deixar o casal um pouco mais à vontade.
Era estranho encontrá-lo naquele ambiente e daquela forma. Parecia que havia algo de errado acontecendo, mas a verdade era que tudo estava dando certo. Tão certo que assustava.
― Bem. ― ele pareceu relaxar um poucos os ombros quando ela falou, como se esperasse que porque estavam do lado de fora, na realidade, ela fosse tratá-lo diferente. ― Meus pais estão me assistindo de perto e escutam cada "a" que eu falo. É um pouco irritante, mas entendo que eles estão só preocupados e felizes porque eu voltei pra casa.
também estava feliz por isso. Apesar de todos os problemas que havia enfrentado no passado, ele sempre tivera a filosofia de que nunca era tarde demais para mudar e demonstrar amor, algo comprovado com em sua vida. E, por isso, não lhe incomodava o sufocamento dos pais para cima de si. Estava feliz por saber que as pessoas se importavam, mesmo se elas demonstrassem isso de uma forma um pouco controversa.
― Isso vai passar com o tempo, quando eles virem que você está bem. ― ela sorriu para o rapaz, olhando para o carrinho de metal com rodinhas que lhe auxiliava a levar a mala pesada e a bolsa de mão. ― Eles vão aprender a dosar as coisas.
― Sim. ― ele também não parecia saber muito bem como agir, tão envergonhado e travado quanto à garota, e mais atrás, cutucava para assistir a cena junto com ela, na sua concepção, a coisa mais fofinha do mundo. ― E você, como está?
― Eu estou bem. me ajudou a arrumar tudo no apartamento e está passando alguns dias comigo, então está parece que eu voltei pros tempos da faculdade. ― riu um pouco baixo, ainda timidamente evitando encarar para esconder como suas bochechas estavam vermelhas.
― Meus bebês, se nós formos no ritmo de vocês, vamos acabar perdendo o voo! Vamosss! ― os incentivou ao ver que os dois empurraram as bagagens na maior lerdeza possível, e passou na frente dos dois com um sorriso.
Apesar de serem fofos, aqueles dois haviam se tornado tão retraídos que, para uma shipper como ela, era um pouco agoniante vê-los tão afastados. E durante todo o processo de check-in, checagem de malas e o voo ao qual eles passaram um ao lado do outro em silêncio, soube que apenas um chacoalhão seria capaz de dar coragem pra algum deles fazer alguma coisa.
Uma hora e vinte de voo, mais alguns bons minutos para acharem as malas e então mais algum tempo até atravessarem as montanhas vulcânicas do local, chegando a uma parte de Jeju que tanto quanto conheciam bem.
Próximos às dunas, a estalagem que haviam conseguido de última hora não era a mais luxuosa, mas ia servir uma vez que só pretendiam voltar para ela para dormir, o que reforçava o fato de tanto quanto o namorado dela não estarem nada incomodados em todos dormirem em um quarto só. Apenas não tinha tido coragem de avisar isso para os outros dois ainda.
― Sejam bem vindos a Ilha de Jeju, também conhecida como a Ilha do amor, o lugar predileto dos casais recém-formados. ― a guia que havia contratado os recepcionou assim que desceram do ônibus na porta do lugar, mas apesar de se esforçar, ela não parecia muito animada. ― Meu nome é , e eu vou ser a guia de vocês durante esse fim de semana.
― E você está bem com isso? ― perguntou sem pensar duas vezes em um tom um pouco direto demais, e ao sentir os olhares de todos os outros em cima de si, acabou arregalando os olhos ao perceber o que tinha dito, dando um passo para trás. ― Q-Quer dizer, eu… Eu…
Começou a gaguejar insistentemente, quando queria simplesmente dizer que poderia guiá-los pela ilha já que a conhecia bem, e assim não precisariam incomodar a mulher e fazê-la perder o fim de semana. Era difícil controlar suas palavras agora, elas simplesmente saíam como se tivesse permissão. Sabia que haviam lhe falado para ser mais como e não se reprimir tanto, mas no fim, isso não era desculpa pra ser grosseira.
― Desculpe… ― sussurrou por fim, desistindo de falar qualquer outra coisa e virando o rosto para o lado contrário ao que todos estavam, passando uma das mãos pelo próprio braço.
comprimiu os lábios, observando se aproximar da menina para segurar sua mão carinhosamente e desejando ser ele a fazer aquele gesto.
― Ela quis dizer que você não precisa, a já veio muitas vezes pra Jeju e conhece bem o lugar. ― justificou, transmitindo força em forma de palavras para a amiga, mas nem assim ela teve coragem de erguer os olhos.
― Está tudo bem. ― havia sido instruída que os hóspedes que chegariam estavam passando por uma situação difícil. Não que houvessem lhe contado a história toda, mas era o suficiente para que simpatizasse com a garota e não houvesse se ofendido com a pergunta. ― Não precisam se preocupar. ― tentou um sorriso, mas era verdade que não estava muito feliz em ficar o fim de semana inteiro na estalagem também, só que não tinha muita escolha. ― Por que vocês não vêm comigo até o quarto e depois conversamos sobre isso? Vocês devem estar cansados da viagem e ainda têm dois dias para aproveitar.
― Claro! ― quebrou o clima com um largo sorriso descontraído e tom de voz animado. ― Eu não vejo a hora de ver o que nos espera. ― claro que aí ele também começou a ficar nervoso com a reação que eles teriam com a próxima surpresa, mas fingiu que não, seguindo a mulher de cabelos longos casa adentro.
― Bom, acho que explicaram pra vocês que nós estamos em reforma, então só esse quarto está em uso. Nós também não planejamos receber ninguém nesse fim de semana, mas como vocês precisaram… ― ela começou enquanto colocava a mão na maçaneta e a empurrava para frente após girar. ― Peço desculpas pela situação.
― Não se preocupe! ― foi a primeira a se pronunciar, ignorando completamente as expressões estupefatas de e que os seguiam de perto. ― Nós que agradecemos a vocês por abrirem essa exceção de última hora, não vai ter problema algum!
Haviam acabado de sair de um hospital psiquiátrico e já estavam querendo que dormissem no mesmo quarto?!
Pelo menos o lugar era enorme, com o pé direito tão alto que tinham que inclinar a cabeça para encontrar o ponto mais alto, com painéis solares vindo dos dois lados e seis janelas espalhadas pelas paredes da esquerda, direita e da frente, com uma porta no fim que levava ao banheiro. Além disso, tinha diversas camas de formas variadas, provavelmente todos os móveis dos outros quartos que haviam sido colocados ali enquanto estavam sendo reformados, e estavam espalhados o suficiente para uma distância segura ser tomada.
― Vou deixar vocês se acomodarem, qualquer coisa é só usarem o interfone. ― apontou para o aparelho próximo à porta, e tanto quanto assentiram com a cabeça, arrastando os outros dois pelas mãozinhas para dentro do quarto.
― Vocês estão bem? ― a morena arriscou questionar, arqueando uma das sobrancelhas e observando-os analisar cada mínimo detalhe daquele quarto.
― Sim. ― foi o primeiro a responder, de uma forma bem mais despojada e descontraída que esperava que fosse, jogando sua mochila em qualquer uma das camas e sorrindo ao pular em uma das partes superiores de um dos dois beliches que tinham ali.
― E eu quero essaaaa! ― já se jogava na primeira cama de solteiro que apareceu em sua frente, mas foi empurrado com tanta força por que acabou rolando e caindo, por sorte em um colchão.
― Essa é minha, vi primeiro! ― ela se jogou na tão desejada cama, se apoderando do espaço e arrancando uma risada de que os observava se espalhando pelo ambiente, não percebendo que ainda segurava o metal da sua mala e tinha sua mochila no ombro, completamente alheia às escolhas.
Pelas suas contas, ainda haviam sobrado dez, então não era como se estivesse se preocupando demais em ter pressa.
? ― olhou a feição abobalhada que a amiga estava observando toda a cena, feição essa que conhecia bem e lhe fazia ficar feliz.
fazia aquela cara quando estava alegre, e via no mundo algo que restaurava sua esperança na vida e no amor. Saber que observá-los brincando a deixava tão contente, deixou de coração aquecido.
― Eu vou ficar com essa aqui. ― andou tranquilamente até a cama de casal de edredom dourado, lençol branco e almofadas enormes, encostada na parede do lado esquerdo. ― Alguém tem que ficar perto do interruptor, assim não tem briga na hora de desligar a luz.
teve vontade de rir ao saber que aquele realmente era o motivo da escolha, e ela não havia percebido em momento algum que justo aquela cama dava o ângulo perfeito para que a olhasse lateralmente e vice e versa.
― Então, qual o cronograma pra hoje? ― se conformou com o colchão mesmo, já que pelo menos ali estava próximo o suficiente de para segurar em sua mão caída do lado da cama.
― Nós vamos sair pra jantar, fiz reserva no restaurante chique à beira mar! E depois dormir, porque eu sei que tá todo mundo morto. Não tem muito pra fazer hoje não, comer e é isso aí. ― riu da forma despojada que a amiga falava, deixando a mala ao lado da cama e a mochila pendurada em sua lateral. Pegou o celular apenas para olhar a hora, e se espantou ao ver que já eram mais de sete da noite. ― Vamos nos arrumar, nós merecemos jantar como os reis e rainhas que somos.
Foi aí que entendeu porque a amiga havia escolhido cada exata peça de roupa que levaria em sua mala. Ela havia planejado todos os passos que dariam naquele lugar, e não era surpreendente que quisesse que a forma que estivesse vestida combinasse com cada ambiente. Ela provavelmente vai fotografar isso tudo escondida, pensou consigo mesma, sorrindo enquanto observava-a expulsando os homens com suas malas e dizendo para eles se arrumarem em outro lugar para que elas tivessem privacidade.
― Vamos, , cadê aquele vestido verde que eu te falei pra trazer? Você não esqueceu, né? ― questionou assim que fechou a porta, e revirou os olhos com a empolgação completamente exagerada da mais velha, mas ainda sorrindo.
― Está tudo aqui. ― respondeu ao puxar a mala para cima e abri-la, encontrando todas as peças dobradas perfeitamente uma em cima da outra.
― Ótimo, por que você vai estar deslumbrante essa noite!
não entendeu muito bem o motivo daquela vontade enorme de em arrumá-la e muito menos o porquê a amiga ficou aproximadamente uma hora cacheando seus cabelos e fazendo questão de maquiar seu rosto, quando mesmo sendo em um lugar chique, não era assim tão necessário e estavam todos cansados. Mas aceitou calmamente, vendo-a se divertir ao misturar cores de batom para chegar na tonalidade perfeita para os seus lábios, segundo ela.
― Você passou muito tempo sem nem pentear os cabelos direito, merece essa noite pra ser a princesa que é. ― alargou o sorriso enquanto terminava de jogar os cabelos da amiga para trás, vendo que nem mesmo a maquiagem era capaz de esconder quando as bochechas dela queimavam em vermelho de vergonha.
― Eu…
― Nem precisa me agradecer, , é só a realidade. ― agora jogou seus próprios cabelos para trás, auxiliando a amiga a levantar com os saltos altos e entrelaçando seus dedos para andar até a porta. ― Pronta? ― questionou antes de abri-la, e tomou como um sim o sorriso de canto e o tímido aceno positivo de cabeça da garota.
Abriu a porta apenas para encontrar e jogados brincando com algum jogo no celular do segundo, mas desligando assim que ouviram o barulho da entrada sendo empurrada, os dois olhando por cima do ombro para encontrá-las, e foi quando entendeu porque o amigo havia lhe obrigado a pentear os cabelos para trás e colocar um paletó azul escuro por cima da camisa branca e da calça jeans escura.
Eles estavam manipulando tudo! Mas a verdade é que encontrar com o vestido de saia rodada, decote arredondado e cintura bem marcada, em um tom que combinava tão bem com os seus olhos, fazia valer a pena se deixar levar pelo plano dos amigos.
― Vamos, não quero perder a reserva! ― nem mesmo deu muito tempo para que os dois se encarassem, entrelaçando seu braço com o da mais nova e já a arrastando para fora da recepção vazia da casa.
Foram poucos passos que, pelas duas estarem de salto, pareceram bem mais dolorosos e longos do realmente eram. Ao menos as amigas se ajudavam a manter-se em pé e se equilibrar no meio fio, e entre risadas e tropeções, finalmente avistaram o restaurante de frutos do mar que estava os esperando na esquina do fim da rua em menos de cinco minutos.
Durante toda a noite tentou fazê-los interagir o máximo possível, direcionando questões para os dois, cutucando para que ele fizesse o mesmo e demonstrando ser o ser humano mais interessado na vida deles em todo o mundo. Apesar de estar sempre com um sorriso no rosto, responder e comentar tudo, sabia que o sorriso era de nervoso e ela estava evitando olhar para frente, na cadeira onde estava.
E a situação dele também não era muito diferente, com os olhos focados na madeira da mesa e um sorriso quebrado aparecendo quando tinha coragem de erguê-los e observar a menina. Estava a ponto de ter um surto e, enquanto pagavam a conta decidiu que não podia ir pra casa com aquela cena em sua mente, pegando na mão de e se levantando animada.
― Vamos caminhar na orla! ― aquilo era, com certeza, a desculpa perfeita. Ficaria para trás com namorado entre alguns abraços e beijos e, constrangidos, e iriam andar rápido demais ou mais devagar ainda, não importava, o que importava é que eles ficariam sozinhos de qualquer jeito.
― Com esses saltos? ― quase estragou o rolê, só percebendo que havia falado demais quando puxou sua mão para trás do corpo e discretamente quase esmagou seus dedos de tanto apertá-los, o obrigando a forçar um sorriso e fingir que não estava doendo como estava.
― A gente tira na areia, não tem problema! ― a mulher riu amarelo, e, por sorte já havia topado a ideia, balançando a cabeça positivamente, ou provavelmente teria seus planos frustrados pelo próprio namorado. ― Você também, ?
― Claro… ― se todos haviam aceitado como ele teria coragem de dizer não? Sorriu sem graça pela pergunta diretamente a ele, guardando as mãos no bolso do paletó. Também não era como se não quisesse ir, ele… Sentia-se desconfortável naquele lugar, de alguma forma, mas estava lutando para que esse sentimento não sobrepusesse a felicidade de estar livre e ali com ela.
Os quatro atravessaram a rua e as duas precisaram sentar em um banquinho para tirar os sapatos, segurando-os em uma das mãos antes de finalmente descer os três degraus que levavam até areia fofa e branquinha, que automaticamente entrou entre os dedos do pé de , fazendo-a sorrir abobalhada enquanto observava o chão forrado.
Mesmo que houvesse postes a cada cinco metros na parte cimentada, só podiam-se ver as ondas já quebradas que estavam quase alcançando seus pés em uma marezinha baixa, o resto sendo a pura escuridão e mistério que o mar era, com algumas poucas luzes no horizonte, dos barcos que se aventuravam em viagens.
― Faz muito tempo que você não vem à praia? ― questionou após algum tempo de silêncio, e foi só então que percebeu que brincando de correr até se tornarem uma mancha no meio da areia, lhe deixando sozinha com o rapaz.
― S-Sim… ― respondeu um tanto aérea, se esforçando para não parecer nervosa por estarem só os dois, e então respirou fundo. ― Desde o Ensino Médio. Eu nunca mais viajei depois do segundo ano, estava focada em estudar. ― contou um pouco receosa de dar tantos detalhes, mas também não queria dar uma resposta vaga e achar que estava sendo arredia.
― Como foram? ― ele questionou com os olhos brilhando em curiosidade, e a garota finalmente depois de toda aquela noite sufocante parou para encará-lo, confusa.
Quase perdeu o fio do pensamento quando observou os cabelos perfeitamente penteados de , fazendo uma onda para trás e deixando todo seu rosto iluminado à meia luz amarelada que era fornecida. Aquele olhar recaindo em seu rosto era capaz de fazê-la enlouquecer novamente, e teve de tomar cuidado para não se perder naqueles lábios…
― Os seus últimos anos. Foi isso que eu quis dizer. ― ele explicou quando percebeu o quão confusa ficara com a sua pergunta mal formulada, e isso a acordou do momento que tirara para admirar o rapaz.
― Ah! ― ela grunhiu ao voltar a si, mentalmente agradecendo por ele não ter percebido seu devaneio. Ou pelo menos, não ter percebido o motivo do seu devaneio.
Acabou percebendo como em oito meses que passou ao lado de naquele sanatório foram praticamente à mesma coisa que nada, uma vez que eles não conversavam de muitas coisas além das dimensões que o rapaz entrava, e ela desviava de assunto sempre que ele questionava o motivo de ter ido parar lá. Era como se estivesse compartilhando suas particularidades com ele pela primeira vez, o que fazia o amor que sentia por ser ainda mais louco. Ela o conhecia bem, todos seus trejeitos, sua rotina e manias, mas ele… Nem mesmo fazia ideia de quem era. E isso era sua culpa também, por nunca ter se aberto para ele.
― Não foi nada extraordinário. Eu estudei muito pra conseguir passar no vestibular e me dediquei completamente à faculdade. Tive que dividir o apartamento com uma amiga quando meus pais foram embora de Seul e as coisas ficaram complicadas por um tempo, mas depois tudo se acertou e eu consegui a vaga no hospital um ano depois de me formar. ― fez um breve resumo que continha todas as informações importantes, que não eram muitas, com um sorriso tímido ameaçando aparecer toda vez que citava a sua faculdade.
― Por que você escolheu esse curso? ― ele voltou a indagar, curioso porque sempre parecia tão feliz e satisfeita com a sua carreira. Não que isso o incomodasse, só queria saber mais da paixão que ela cultivava.
Ela, porém, voltou a congelar assim que ouviu essa questão, mordendo o lábio inferior de forma nervosa e olhando para os lados.
― Eu… ― tentou achar qualquer desculpa que não fosse toda a história que a levou a se esforçar tanto para ser uma psiquiatra, uma vez que tudo envolvia o próprio homem a sua frente.
― Desculpa se é muito pessoal. ― ele não entendeu bem porque entrar naquele assunto parecia deixá-la tão desconfortável, mas logo voltou atrás, sem querer pressioná-la. ― Não precisa me responder se não quiser.
― Não! Quer dizer, não é que é pessoal, eu só fico com vergonha… ― se martirizou de como parecia tão difícil interagir com , justo agora que deveria ser extremamente mais fácil. Talvez fosse mais fácil admitir de uma vez? Não, ainda era muito cedo… Aquilo poderia assustá-lo e fazê-lo ficar inseguro novamente. ― Eu queria ajudar as pessoas. Fazer algo que não fosse pra mim mesma e pensar mais em quem estava precisando. ― não deixava de ser verdade, no fim.
― Você não precisa ter vergonha. ― ele abaixou um pouco a cabeça para conseguir fitar o rosto coberto pelos cabelos, já que estava com a cabeça abaixada. ― É um motivo muito bonito. ― e, mesmo que os fios o atrapalhassem um pouco, pôde ver um sorriso nascendo no rosto dela. ― Só tem mais uma coisa que eu queria te perguntar, mas você não precisa responder se não quiser.
Agora fora que virou o rosto para o outro lado, vendo o infinito céu em tom escuro da noite e mordendo a parte interna da bochecha.
― Pode fazer. ― observou o nervosismo do rapaz de soslaio, e a curiosidade de saber qual seria a pergunta fez suas mãos suarem.
― Você lembrou de mim durante esses anos? Achou que nós fôssemos nos reencontrar alguma vez? ― não foi muito mais que um murmúrio, mas ela pôde ouvir claramente.
Seu rosto ficou até mesmo pálido e não soube de onde tirava forças para continuar andando, mesmo que naquele ritmo lerdo e quase parando.
Lembrou de quando ele sumiu, não aparecendo na primeira semana de aula do terceiro ano. Pensou que ele havia apenas mudado de escola, para um lugar onde finalmente teria paz, mas a verdade é que não conseguia ficar tranquila e, por isso, resolveu investigar. Ninguém fazia ideia do que havia acontecido com e qual era o motivo de seu paradeiro, então, com toda a coragem que ainda tinha naquela época, resolveu ir até a casa dele.
A mãe do rapaz parecia sensível e destruída, sem acreditar que eram amigos, e com razão. De início, disse que ele estava apenas na casa da tia, mas conforme foram conversando e demonstrou que o conhecia realmente, ela desabou e admitiu que foram obrigados a interná-lo, porque não conseguia mais lidar com a realidade e havia parado no tempo.
Foi ali que começou. O sentimento de culpa e a necessidade de consertar aquilo que havia ajudado a quebrar: a mente e o coração do garoto, além das sequelas físicas, porque às vezes, ainda mancava e sentia dores no joelho. Mudou completamente o rumo que pretendia dar a sua vida, largando a aspiração a carreira de professora e abraçando a psiquiatria como se tivesse sido seu sonho desde a infância, porque ele merecia que se esforçasse.
Lembrou-se de todas as vezes que parou seus estudos e simplesmente começou a chorar, frustrada se realmente conseguiria alcançar o que tanto almejava na sua vida, que era libertá-lo. Não havia tido um dia sequer que deitasse sua cabeça no travesseiro e não pensasse no rosto dele, abraçando o ursinho que o rapaz havia lhe dado, a única coisa relacionada a ele que podia se agarrar.
E, agora que havia finalmente conseguido e estava na sua frente, mal era capaz de conversar e dizer tudo o que passava em sua mente, mesmo que tudo isso ele também merecesse saber.
… Eu lembrei de você todos os dias. E, não sabia exatamente se íamos nos reencontrar, mas sabia que era o que eu queria que acontecesse.


❥❥❥❥❥


― Vamos acordar, meus docinhos de maracujá! ― gritou pelo quarto assim que seu celular despertou, se jogando na cama por cima de para conseguir alcançar o interruptor e ligar a luz, enquanto a coitada apenas conseguiu soltar um gemido abafado.
Não que precisassem de luz, na verdade, o quarto já era extremamente claro por si só, e mesmo que fossem os primeiros raios de sol do dia, tudo já estava iluminado por culpa das clarabóias e janelas verticais. Mas, ligou mesmo assim, apenas para irritar mais as retinas dos três restantes e fazê-los levantar mais rápido.
― Cronograma de hoje! ― começou a recitar animada, ignorando os murmúrios de dor e sofrimento que partiam dos três cantos do local. ― Primeira e única tarefa: pegar o carro e ir com a para um dos lagos que fica próximo ao vulcão! ― contou empolgada, esperando que aquilo os fizesse levantar correndo e comemorando.
Estava claramente errada, e enquanto ignorava e virava o corpo para o outro lado, murmurava coisas desconexas e fingia um ronco forçado, que a fez ficar com tanto ódio que caminhou a passos firmes até o colchão que ele dormia, chutando-o sem dó nenhuma.
― VOCÊS NÃO ME OBRIGUEM A FICAR NERVOSA!
Conhecendo o tom da amiga como conhecia, se preparou mentalmente e abriu os olhos de forma preguiçosa, enquanto não tinha opção alguma senão fazer o mesmo, antes que acabasse com um olho roxo que não combinaria em nada com a camiseta estampada de palmeiras amarela, verde e azul, que planejava usar naquele dia. era quem mais relutava em finalmente ceder aos gritos de , mas não era algo que ela reclamaria de estar acontecendo.
Apenas lançou um olhar significativo a uma de cabelos bagunçados de um jeitinho charmoso e olhos ainda fechadinhos. , mesmo com a lerdeza de quem havia acabado de levantar, se recuperou rapidamente por entender que aquilo significava que se não acordasse , acordaria. E bem, a escolha era bem óbvia, e a mais nova se levantou com passos lentos, tentando arrumar um pouco as mechas bagunçadas no caminho.
… ― o chamou pelo apelido sem nem mesmo perceber ao subir três degraus do beliche para estar mais próxima do rapaz, e ele sentiu todo o sono ir embora quando ouviu aquilo no tom ainda rouco de quem não falava a muito tempo, combinado com o toque delicado da garota em seu ombro, que foram como despertadores instantâneos. ― , vamos lá, não quero a gritando logo cedo…
Não que ela já não estivesse fazendo isso, mas com certeza não faria mais por um bom tempo ao ver o rapaz assentindo com a cabeça, fingindo ainda estar sonolento e não elétrico como ficara com aquele toque e aquele soar de seu apelido na voz de . A mando da sargento , não demorou tanto até que estivessem prontos e arrumados, indo até a recepção para encontrar a bem humorada guia que girava a chave do carro no dedo indicador e que, ironicamente, parecia realmente mais bem humorada hoje.
― Dormiram bem? ― ela puxou assunto após os cumprimentos formais e comuns, começando a andar até a porta de entrada e sendo seguida de perto pelos dois casais.
― Se nós tivéssemos ao menos dormido antes de alguém nos chamar… ― provocou a namorada, revirando os olhos dramaticamente e encenando um mal humor matinal que revoltou profundamente , a fazendo empurrá-lo com o cotovelo para o lado, o que quase ocasionou em uma queda do rapaz. ― A-Ai!
― Como você quer aproveitar a viagem dormindo no quarto?! Nós ainda temos tantas coisas pra ver! ― a mulher retrucou, cruzando os braços acima dos seios com um bico nos lábios cheios que apenas o fez rir ainda mais ao envolvê-la em um abraço lateral para tentar acabar com a manha de , ambos praticamente ignorando que os outros três do lado de fora do local.
― Esse carro é o máximo! ― soltou com uma empolgação quase chocante ao descer os degraus do deque que levavam até a rua, e fazendo tanto a dona do automóvel quanto sorrirem ao vê-lo dar a volta no clássico fusca branco que estava estacionado ali, observando as rodas e todos os detalhes que tanto lhe chamavam a atenção, desde a pintura perfeita até as listras de borracha preta que davam um charme a mais. ― Nós vamos nele?!
― Sim. ― respondeu com um sorriso de canto ao puxar a maçaneta da porta do motorista, entrando logo depois e revelando o interior reformado com bancos de estofados pretos e todos os detalhes na mesma cor. ― Podem entrar!
Não precisou falar duas vezes, e os quatro se dividiram, com sentando no banco do carona e no meio de e , claramente morrendo de vergonha com os ombros encolhidinhos e os braços juntos com as próprias mãos entrelaçadas no meio dos joelhos, enquanto brincava de mudar as estações de rádio com a permissão de . Durante os quinze minutos que passaram no carro, não se ouviu nem mesmo a respiração vinda dos bancos de trás, com exceção de que de tempos em tempos provocava a namorada, falando em como ela não conseguia deixar em uma música por mais de um refrão.
E, quando finalmente chegaram no estacionamento improvisado do lugar e saltaram do automóvel, pareceu respirar de novo, apoiando as costas na lataria do clássico e fingindo que estava estarrecida com a bela vista à sua frente, e não com falta de ar porque a coxa de coberta pela bermuda de pano preta roçava incansavelmente com a sua coberta pelo short jeans toda vez que o carro balançava um pouco pelo caminho. Ao menos a vista realmente era bela - ignorava completamente o fato de estar na sua visão periférica - e não demorou muito para se distrair com o pequeno lago de água completamente cristalina que haviam arrumado para enfiá-los na manhã de sábado, completamente perplexa na beleza de um local que estava tão vazio.
abriu o porta malas do carro para tirar duas cestas de vime com diferentes conteúdos, e, como estava acostumada com a paisagem, apenas estendeu as três toalhas de piquenique por ali, com um espaço considerável de uma para outra, deixando tudo o que havia levado para que comessem na do meio. Escolheu a do canto esquerdo para ficar, simplesmente porque uma árvore próxima fazia sombra e não estava muito a fim de torrar no sol. Desistiu de esperá-los para tomar café ao ver que pegava no colo pelas pernas sem permissão alguma e a jogava em seus ombros, girando algumas vezes antes de finalmente se jogar na água e levá-la junto, com a trilha sonora sendo os gritos revolta da namorada e a risada baixa que tentava controlar ao morder o lábio.
Acabou se esforçando para se concentrar no com um livro que tirou da sua bolsa, alheia a situação entre os outros que começava a se tornar um caos. tentava afogar o namorado por nem mesmo tê-la esperado ficar com a roupa de banho antes de fazer uma palhaçada daquelas, e se afastava da beira do lago antes que alguma água respingasse em si antes de estar psicologicamente para isso. observava toda a cena, inclusive a garota andando calmamente até a toalha onde estava após pegar uma fruta na cesta, suspirando desanimado ao ver que ela fugira do fato de serem claramente toalhas para dividi-los entre casais.
― É um ótimo livro. ― puxou assunto timidamente, mentalmente torcendo para que não tivesse atrapalhando a leitura da garota e ela não ficasse brava com isso. ― Mas só fica interessante depois da metade, na verdade.
― A-ah, é sério? Eu estava quase desistindo, tá muito entediante. ― inclusive assim que teve a oportunidade de conversar, porque mesmo esforçada para lê-lo, a história ainda não estava prendendo tanto a sua atenção. O colocou em cima da toalha ao seu lado, erguendo os olhos e vendo a menina sentada em um dos cantos, segurando timidamente as próprias pernas e olhando para si de soslaio, mordendo uma parte da maçã.
― Você já está quase na parte boa, não desanime. ― ela incentivou com um sorriso de canto nascendo no rosto, mas ficando sem graça automaticamente quando após a confirmação da outra, o assunto entre elas morreu e se tornou um silêncio não exatamente desconfortável, mas que a deixava extremamente nervosa. então recordou-se do dia anterior e de como havia sido mal educada com a mais velha. ― Me desculpe por ontem, eu acabei falando demais. ― acabou abaixando a cabeça para que os cabelos compridos cobrissem seu rosto e mordendo o lábio de vergonha.
― Não precisa mais pensar sobre isso, eu realmente estava de mal humor ontem. ― confirmou a impressão que havia tido, e ela arregalou os olhos chocada com a naturalidade e sinceridade que ela falava sobre isso com alguém que nem mesmo conhecia. ― Digamos que eu tinha planos de ir pra Seul nesse fim de semana, mas meus pais tinham um compromisso inadiável e eu que tive que ficar pra receber vocês. Então, passar o fim de semana com dois casais não era exatamente uma ideia animadora…
― V-Você tinha planos?! ― começou a se desesperar ao perceber que haviam realmente atrapalhado a mulher e tudo o que ela queria fazer, o que pareceu piorar ainda mais quando ela falou sobre serem dois casais, fazendo seu rosto inteiro queimar em pura vergonha. ― M-Mas eu… Nós não somos…
― Tá tudo bem, obrigação antes da diversão. Quer dizer, não que esteja sendo tão ruim assim, Vocês até que são legais, então… Podia ser pior. ― riu um pouco baixo antes que a garota entrasse em um surto, e balançou a cabeça negativamente com todo o nervosismo dela. ― Mas, deixa eu te falar, acho que o seu namorado ia gostar se você fosse lá com ele, porque desde que você sentou aqui, ele não para de olhar… ― o sorriso e a vontade de rir de aumentavam a cada palavra que pronunciava e fazia com que se encolhesse mais, nem mesmo conseguindo continuar comendo.
― N-Nós não somos…
― HEY, vocês não vão entrar aqui? ― gritou agora que já tinha se conformado em estar completamente molhada, chegando na beira do lugar pra que lhe ouvissem melhor. ― Vem, , já estou entediada só com o ! ― chamou com um sorriso maldoso para provocar o namorado, que, ofendido, agarrou seus ombros e pulou dentro d’água, colocando todo o peso em seu corpo e lhe fazendo afundar um pouco. ― AI, MALDITO!
E, enquanto ainda estava tentando assimilar tudo o que havia escutado e praticamente não vira a cena, e o rapaz já iniciavam outra guerra embaixo d’água. Acabou desistindo de ficar ali após alguns segundos, se afastando de com um sorriso sem graça para atender o pedido da melhor amiga e percebendo que ia ser mais fácil de disfarçar a vergonha se estivesse com o rosto parcialmente coberto de água, mas ainda teve que criar coragem para tirar a regata e o shorts, fazendo questão de nem mesmo olhar para o lado onde estava enquanto o fazia.
― CHEGOU A MODELO! ― gritou quando balançou os cabelos para trás depois de tirar a blusa, ajeitando discretamente a parte a alça fina do sutiã do traje de banho, a fazendo começar a rir de nervoso e balançar a cabeça negativamente. ― Entra de uma vez que dói menos!
― Nem morta! ― respondeu a sugestão da amiga com as duas mãos a frente do peitoral e as balançando freneticamente.
O lado do lago que estavam era como uma piscina, com uma pedra baixa fazendo com que o início já fosse relativamente fundo. Para a altura média dos três que interagiam com a água, não era mais do que nos joelhos, mas mesmo assim, para alguém medrosa como era o suficiente para a fazer sentar na pedra antes de se aventurar a descer.
― Vem cá, bebê, a mamãe cuida. ― a melhor amiga se desvencilhou de para andar de um jeito engraçado até onde estava sentada, balançando os pezinhos que estavam imersos até os tornozelos.
Ergueu as mãos para ajudá-la a descer, e então quando a amiga as pegou, puxou-a de uma vez. A mais nova perdeu o equilíbrio e o corpo ficou leve, fazendo ser fácil para trocar as posições de suas mãos, agora nas pernas e pescoço de , e submergir até seu rosto, quase afogando a garota que ao voltar a superfície tinha os olhos arregalados e a expressão completamente confusa escondida pelos cabelos molhados, sem entender nem o começo do que havia acontecido naquele intervalo de tempo.
― Pronto, já tá batizada, pode ir brincar. ― a ajudou a recuperar o equilíbrio, deu um tapa na bunda dela e então saiu de perto outra vez, rindo escandalosamente com que apontava para com uma das mãos enquanto a outra segurava sua barriga.
― VOCÊ! ― gritou assim que conseguiu perceber as intenções de e, revoltada, ajeitou os cabelos para fora de seu rosto e tentou correr atrapalhada para alcançá-la, jogando água no caminho.
, ME AJUDA! ― a namorada gritava enquanto tentava se esconder atrás dele, mas ele desviava com o rosto e ficava pulando para que conseguisse acertá-la.
― Você quer me usar de escudo humano, ?! ― ele gritou de volta completamente inconformado, e ela parou de se esconder por um segundo para olhá-lo nos olhos.
― Ué, mas não é pra isso que se tem um namorado? ― ela questionou confusa, como se tivesse realmente em dúvida da resposta, e até mesmo a terceira pessoa por ali parou de jogar água para observar a cena, começando a rir assim que a feição de se contorceu em descrença e desgosto.
― Aish, essa garota…
nadou para longe, balançando a cabeça negativamente enquanto ria e deixava o casal aproveitar o momento à sós, se aproximando da pedra e vendo que se aproximava também, com as mãos para trás das costas. Ela arqueou uma das sobrancelhas, curiosa com o que ele fazia, mas apenas sorriu de canto quando seus olhos se encontraram, escondendo parte de seu rosto embaixo da pedra.
― Você não vai entrar? ― perguntou baixinho, olhando o rapaz debaixo e vendo que ele ainda estava com a camisa verde clara de estampas marrons e a calça jeans rasgada.
andou até ela com um sorriso de canto, ainda com as mãos pra trás, e então se agachou até ficar mais perto da menina, balançando a cabeça negativamente.
― Ainda não, eu achei uma coisa legal ali atrás e fui olhar. ― ele comentou com uma expressão inocente e infantil, a deixando ainda mais curiosa para saber se isso tinha haver com o fato dele parecer estar escondendo alguma coisa.
― É? O que?! ― ela questionou com as iris já começando a brilhar, apoiando as mãos na pedra para erguer um pouquinho mais seu rosto e ver se assim conseguia ver o segurava.
― Isso. ― o homem mostrou as mãos e, junto com elas, um girassol amarelo que ele segurava entre os dedos, o sorriso se alargando um pouco mais quando viu as bochechas de se avermelhando, mesmo que ele ainda nem tivesse falado nada.
― Hey, vocês! Não vão tomar café da manhã, não?


❥❥❥❥❥


Estava prestes a ficar louca naquele lugar, e, se não falasse com naquele exato segundo iria ter um ataque de ansiedade. Por sorte, conseguira convencer a levar o casalzinho para comprar sorvetes para todo mundo no caminho de volta, e com a desculpa de que estava com preguiça, conseguiu os almejados cinco minutos a sós com a mulher.
, eu preciso te perguntar uma coisa. ― ao menos o fato de estar no banco do carona facilitava com que se olhassem, e levou como uma permissão para prosseguir o olhar que a mulher lhe lançou. ― Sei que nós já abusamos da hospitalidade, mas realmente não tem nenhum outro quarto lá?
― A-anh… ― a primeira coisa que passou pela cabeça da mulher foi arquear uma das sobrancelhas, se perguntando porquê eles queriam tanto um quarto diferente. E foi quando lembrou que eram dois casais que entendeu. Bom, seria pior se eles fizessem tudo no mesmo lugar, né. ― Não…
― Não é isso que você está pensando! ― teve que se controlar pra não gritar e chamar a atenção dos que estavam fora do carro, mas perto o suficiente para ouvir se falasse muito alto.
― Eu não falei nada!
― Você não precisa falar, sou psiquiatra, sei pela sua cara! ― apontou ofendida, e a motorista revirou os olhos, continuando com a palavra de que não falara nadinha. ― Não é isso. e ainda não se acertaram, e nós queremos deixar os dois a sós. Quer dizer, a gente só disse que eles estavam passando por uma fase delicada, mas é bem mais sério que parece. Eles estavam internatos em um hospital mental.
― Eles o que??? ― agora fora que teve que controlar o tom de voz, com uma expressão acentuada que perguntava o que havia sido aquilo jogado na sua cara daquela forma. ― Mas ela não é psiquiatra também?
― É longo, mas o teve problemas durante o Colégio e a era da classe dele e viu tudo. Ela quis virar psiquiatra pra ajudá-lo, mas acabou tendo um pequeno distúrbio de obsessão no processo e teve que passar alguns meses na clínica também. ― explicou com um suspiro desanimado ao lembrar de tudo o que sabia. ― Lá, eles conversavam o tempo todo e não se desgrudavam, mas desde que saíram eles mal conseguem se olhar sem quase morrerem do coração. Eu achei que fossem se acertar mais fácil, mas acho que precisam de um tempo a mais sozinhos…
pausou por um momento, pensando em tudo o que havia sido lhe dito e processando as informações. Aquela história parecia uma loucura, algo surreal demais para se acreditar, e estava prestes a pedir provas quando olhou para os três que voltavam com os sorvetes nas mãos, e quando sem querer o ombro de esbarrou no de , ela só faltou começar a chorar.
― Vocês… Podem ficar no meu quarto.
Grunhiu quase que se forma inaudível, claramente discordando de si mesma, mas, sua consciência sabia que aquela era a coisa certa a se fazer. quase a agarrou para agradecer na emoção, mas teve que abrir a porta e descer do carro para os outros três entrarem na parte de trás. Não demorou muito mais que cinco minutos até que estivessem outra vez na estalagem. rapidamente saiu, e assim que o fez, não o deixou sair andando em direção a porta do lugar, sorrindo largamente e fingindo que estava sussurrando um convite quando na verdade estava dizendo para ele ficar quieto e concordar com o que ela dissesse.
, ! Nós vamos dar uma volta na praia! ― avisou ao chamar os dois que só agora saíam do carro, deixando um sorriso malicioso tomar seus lábios e piscando um dos olhos para eles. ― Não nos esperem acordados! ― insinuou, e a olhou horrorizado, se perguntando o que é que ela estava planejando.
― Tudo bem, bom passeio.
concordou com um aceno de cabeça, enquanto respondeu já vermelha como não podia deixar de ser, ignorando o comentário da amiga e tentando não pensar no que aquilo implicava. e ela ficariam sozinhos. Mas, pelo menos, já era dez da noite e tinha certeza que não ia demorar muito mais do que meia hora para ceder ao cansaço de seu corpo e acabar pegando no sono.
Não teve opção a não ser seguir atrás do homem para dentro do lugar, e depois para dentro do quarto, se despedindo de com um aceno silencioso já que ela estava falando no celular, provavelmente com o namorado que ela contou que tinha durante o horário do almoço, aquele que se encontraria com ela em Seul no fim se semana que haviam estragado.
Contentou-se apenas em olhar para sua cama e depois para o quarto relativamente escuro que os esperava, indo rapidamente acender a luz. O brilho da lua não deixava que tudo se obscurecesse, mas precisou da tecnologia da lâmpada, já que ainda teve que achar seu pijama no meio da mala e tomar um banho, algo que cordialmente deixou com que fizesse primeiro. E, após sair e agradecê-lo com um sorriso tímido, deitando-se entre o edredom, pensando como aquele quarto ficava vazio sem e .
Provavelmente se a amiga estivesse lá, seria mais fácil falar sobre bobagens aleatórias e distrair o ambiente, mas com a sua habilidade de interação social precária, apenas o silêncio pairava entre os dois. Aquilo, na verdade, não era algo exatamente recente. sempre teve problemas em falar com as pessoas, e o bullying apenas não veio para ela porque havia uma história na escola que ela lutava jiu jitsu e, por isso, todos tinham medo de acabar a irritando. Acabou passando todo o ensino médio sem amigos, pulando em grupos aos quais faltavam pessoas para completar o número solicitado pelos professores.
? ― chamou baixinho, sem saber se ele ainda estava acordado ou não, e não querendo correr o risco de acordá-lo. Porém, quando a resposta veio como um "sim?", não soube bem o motivo de tê-lo chamado, já que se desesperou automaticamente. ― Posso desligar a luz? ― perguntou a primeira coisa que veio em sua cabeça, se sentindo uma anta porque aquilo não era uma forma de puxar assunto.
― Sim. ― ele respondeu outra vez a mesma palavra, e isso a deixou meio desesperada. Será que ele estava bravo? Queria olhar para o lado para vê-lo deitado naquele beliche e buscar saber sua expressão, mas teve receio que seus olhos se encontrassem no processo. ― Boa noite, .
Como se soubesse o quão ansiosa ela havia ficado, ele sussurrou baixinho entre os cobertores, com apenas os olhos para fora, observando-a deslizar a mão pela parede e então desligar a luz. Teve a impressão de que viu, pouco antes do lugar ficar escuro, um sorriso no rosto da menina ao ouvi-lo pronunciar seu apelido.
― Boa noite, .


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Dali de cima de manhã, com uma perna em cima da outra e os olhos ainda um pouco inchados, ele podia vê-la dormindo como um anjo. deixava uma das mãos caídas em cima do travesseiro e estava deitada de lado para sua direção, lhe dando o prazer de poder observar a sua feição serena e tranquila que os cabelos atrapalhavam um pouquinho estando à frente do rosto. Mas sua paz não durou muito e, ao ouvir a maçaneta girando, imediatamente deitou de novo e fechou os olhos, pretendendo não ser pego pelo casal que entrava pela porta aos risos, sem se preocupar em acordá-los.
― CRONOGRAMA DE HOJE! ― gritou alto o suficiente para que levantasse em um pulo só, arregalando os olhos e observando a amiga como se ela estivesse completamente louca. ― Vamos tomar café e vamos para as dunas!
― As dunas… ― os olhos arregalados logo se tornaram perdidos, e tentava lembrar porque pensar nas dunas era tão aterrorizante. Esforçou-se um pouco, até que seus olhos se encontraram com os de que ainda parecia estar meio dormindo. ― As dunas…!
― Vamos para as dunas, então.
Ouvi-lo falar aquilo foi como ouvi-lo falar um palavrão. Ela se lembrava do que aconteceu nas dunas, na viagem de fim de ano. Não havia visto e nem sabia o que acontecera exatamente, porém sabia que havia sido sério, porque ouvira os malditos que o fizeram se vangloriando de ter acabado de uma vez com aquele imbecil. Quando correu para procurá-lo por diversos lugares da praia, apenas encontrou um buraco na areia, mas não. E então nunca mais o viu, até que fosse uma adulta e se tornasse psiquiatra dele. Não entendeu como o garoto aceitou ir para um ambiente que o traria tantas lembranças ruins, e não conseguiu pensar em nada, além disso, nem mesmo quando chegaram lá.
Com o carro sendo estacionado em uma parte onde ficava um divisor entre algumas lojas e a areia que subia em montes logo depois. nem mesmo havia descido do carro e já se aproveitava de para tirar fotos e vice e versa, o casal animadamente posando para selfies, enquanto estava tão nervosa quanto . Sabia que a paisagem era linda e tudo aquilo, mas seu coração pulsava tanto que parecia que ia sair pela boca de preocupação, o que apenas piorou ao vê-lo travar um passo depois de sair do carro.
simplesmente ficou paralisado, sem ir nem pra trás e nem pra frente, com os olhos vidrados no chão dourado brilhando. Ninguém além dela pareceu perceber, mas mesmo se tivesse, ele não teria tido nenhuma outra reação. A verdade é que estava em pânico apenas de pensar em pisar ali, naquela areia quente. Lembrava-se da sensação de queimação em toda a sua pele, do tempo que ficara ali e de tanto que haviam lhe bat-
! ― a voz de não o deixou completar os pensamentos, e ele mentalmente agradeceu por isso, mas se assustou ao sentir os dedos da garota se entrelaçando com os seus de forma carinhosa, no fundo da sua mente, ouvindo a voz doce sussurrando que apenas precisava segurá-la, s então tudo ficaria bem. Com isso em mente, ele a apertou o mais delicadamente que pôde, fechando os olhos e se concentrando apenas no contato. ― Não se preocupe, , você não está sozinho dessa vez. Eu estou aqui. ― aproximando os corpos levemente para aproximar o rosto do ouvido do rapaz, ela sussurrou para docemente para tranquilizá-lo.
― Eu não… Não consigo… Não consigo ficar aqui, não quero ficar aqui.
― E nem precisa ficar aqui! Vamos voltar, tá? Não precisa se preocupar, nós dois vamos sair daqui.
Ela sussurrou novamente para mantê-lo calmo, e a essas horas já havia percebido que havia algo errado e se aproximava dos dois. apenas disse que ele não estava se sentindo bem e por isso precisariam voltar. Vendo o estado de choque do rapaz, rapidamente se ofereceu para levá-los, e não demorou para que outra vez, estivessem naquele quarto, onde a garota precisou de um minuto para pensar no que fazer após ter dado um copo d'água pra e fazê-lo sentar na primeira cama que apareceu na sua frente.
O ambiente estava claro demais para que ele conseguisse relaxar, e teve uma ideia idiota e infantil ao mesmo nível. Começou a mover algumas camas e roubar os lençóis delas, montando um círculo e jogando vários, um por cima do outro, para que dentro do círculo ficasse o mais escuro possível. Deixou também um quadrado para entrarem com um lençol para ser puxado para baixo e, dez minutos depois começar sua obra de arte, voltou para , o puxando pela mão sem explicar nada e agachando para entrar na cabana improvisada.
― Viu? Aqui nada nós estamos protegidos. Não precisa se preocupar. ― ela sorriu largamente para ajudá-lo a normalizar sua mente quando sentaram um ao lado do outro, encostados nas paredes feitas com as camas, e apesar de toda a bagunça, ele ficou feliz daquele sorriso estar direcionado para si, e tocado do quanto ela se esforçava para lhe ajudar.
… ― ele mordeu o lábio um pouco nervoso do que falaria a seguir, mas motivado pelo olhar da psiquiatra. ― Eu não te contei tudo. Alguns dias atrás, eu comecei a pensar uma coisa. E se as dimensões não fossem um problema? E se fossem um poder? Algo bom pra me distrair do caos? Eu só precisava aprender a controlá-las. Tudo precisa passar por um período de exagero para depois vir o período de equilíbrio, não é? ― ouvia atentamente, apesar do susto de lembrar-se das dimensões, tão relacionadas com o terror psicológico que ele sofreu. ― Pensando nisso, eu entrei de novo.
…!
― Não se preocupe, é um lugar bom, onde eu me sinto confortável. Assim como quando eu estou com você. ― ele sorriu sem graça ao falar a última parte, encarando a garota de forma envergonhada. ― Vem, entre você também. Você quer?
― E-eu posso? Mas como? ― as sobrancelhas de se juntaram no meio da testa e seu cenho se franziu em confusão, arrancando uma risadinha baixa do rapaz que acenou positivamente com a cabeça.
― Claro que sim. Apenas segure a minha mão e feche os olhos. Eu vou te levar até lá.
Quando viu a mão de estendida para si e aberta com a palma para cima, não hesitou nem mesmo um segundo para obedecê-lo e segurá-la. Sua respiração estava descompassada pela ansiedade, e conforme os segundos passavam tudo parecia deixá-la mais eufórica. Até que ele, finalmente, disse para abrir as íris e ficou paralisada quando o fez e se encontrou sentada, da mesma forma que estava, em cima do teto de um carro. Era o fusca que havia amado tanto e, rapidamente todo o peso foi embora de duas costas, deixando uma leveza e uma vontade de enorme de rir.
― Você gostou mesmo desse carro, não? ― ela perguntou ao encontrá-lo folgadamente deitado no capô, com ambas as mãos atrás da cabeça e os cabelos voando com a brisa leve, porque estavam em… Uma ilha? Na verdade, um mínimo pedaço de terra no meio do mar mais lindo, limpo e azul que já vira, que servia apenas para acomodar o carro, algumas plantas e uma pessoa em sua largura.
― Já está impressionada? ― ele indagou escorregando pela lataria do automóvel e sorrindo com a expressão admirada no rosto dela. Mas claro, que, assim que percebeu, disfarçou um pouco e balançou a cabeça.
― Acho que você vai precisar se esforçar um pouco mais! ― mentiu, fazendo um biquinho nos lábios que para ele foi completamente adorável. Resignado em cumprir isso então, ele andou até chegar na lateral, abrindo a porta do automóvel e pegando algo que ela rapidamente pôde ver o que era, fazendo-a se aproximar da borda completamente interessada, abaixando um pouco o rosto.
― Um buquê de girassóis amarelos. ― ele mesmo disse, com um sorriso largo ao fechar outra vez a entrada e apoiar o antebraço no carro, com o rosto perigosamente próximo ao de que observava as flores, animada. ― Era isso que eu queria te dar quando nós saíssemos. ― essa parte foi um sussurro, e se não fosse a proximidade entre os dois, ela provavelmente não teria ouvido. ― Na simbologia das flores e plantas, o girassol representa a luz do sol, a vivacidade e a alegria, por isso, quem presenteia com um, expressa um sentimento de alegria d quer homenagear a pessoa, representando-a tão cheia de vida. E era isso que eu queria falar pra você.
… ― não soube bem como reagir aquela súbita declaração. A primeira coisa que fez foi pegar o buquê das mãos do rapaz, e então quando sentiu o polegar dele desenhando a forma da sua bochecha, envolveu ambos os braços ao redor de seu pescoço.
Podiam sentir a respiração um do outro, e até mesmo era sincronizada. Seus olhos já estavam fechados e não percebeu quando as flores escorregaram entre seus dedos, caindo na água e criando uma onda em seus reflexos bem quando seus lábios roçaram um no outro.
Era macio, tão macio que parecia estar flutuando em nuvens.
Mas como em um sonho que você acorda subitamente, percebeu que estava deitada, e não estava sentindo a presença de perto de si. Abriu os olhos perplexa, apenas para contemplar o céu completamente azul que estava em cima de si, e suas mãos que apertavam algo que parecia… Algodão? Era tão fofo que quis sair rolando ali! Mas, espera… Ela estava mesmo flutuando nas nuvens?!
, nós estamos nas nuvens?! ― perguntou completamente sem ar, sentando rapidamente e o encontrando um pouco longe, com alguns tufinhos pequenininhos e brancos misturados ao seu cabelo deixando-o com uma aparência tão angelical que doía olhar, mas ao mesmo tempo, ela não conseguia ver nada senão ele. Se procurassem perfeição no dicionário, tinha certeza que estaria a foto do rapaz naquele exato momento como a descrição.
― Desculpa, ainda é um pouco instável dependendo das minhas emoções… ― ele tirava todas as partículas de nuvens que estava enrolada em seus cabelos, e mentalmente se xingava por ter pensado que beijar era como ir às nuvens sem saber como era ir as nuvens, fazendo seu cérebro querer lhe mostrar pra comparar se era mesmo. Agora, literalmente, havia ido e sinceramente estava tão frustrado que nem gostara tanto, além de que não sabia bem quando teria coragem de se aproximar dela daquela forma de novo.
― Isso é incrível! ― ela parecia uma criança brincando com todo o algodão fofo que soltava sempre que ela se mexia, e acabou se dando por vencido e sorrindo. Pelo menos ela estava feliz, então isso superava qualquer outra coisa. Alguma hora teria outra oportunidade, com certeza. ― …! ― a garota pareceu perder o ar ao olhar para cima, lhe fazendo rapidamente virar para trás para olhar o que a deixou tão espantada.
Sua reação não foi muito diferente da dela, abrindo um largo sorriso ao entender o que seu cérebro queria dizer. Um pouco à frente deles estava a exata única coisa naquele lugar que estavam, um paredão que subia das nuvens, que precisavam encostar a cabeça no pescoço para ver seu fim, com uma janela bem no centro. Mas, nesse paredão, tinha uma escada branca que subia até a janela, tornando-a acessível.
… Você sabe o que tem lá em cima, não sabe? ― ele questionou, mas em momento nenhum o sorriso saiu de seu rosto. Estava feliz por estar ali com ela, dividindo aquele momento e sabendo que havia superado aquela parte obscura da sua história.
― Aquele… É onde ficava o seu quarto, não é? ― ela parou de brincar com as nuvens, depositando toda a atenção na parede e em si.
― Sim. Era onde eu observava as pessoas livres e felizes pela janela… Mas agora, você percebeu? Eu estou aqui embaixo, eu estou brincando aqui embaixo e sendo livre e feliz como eu sempre desejei enquanto estava lá em cima. ― sentiu um nó na garganta ao ouvir aquela declaração de , tão inocente e pura, demonstrando que ele nunca perdera a sua alma de criança. Seus olhos automaticamente começando a ficar molhados, tendo que prender a respiração para não começar a chorar. Admirava-o em tantos níveis diferentes que era difícil se controlar.

Não sabia se era exatamente a hora certa para falar sobre aquilo, mas precisava. Precisava pôr para fora e ter certeza que ele sabia que nunca havia o rejeitado, e sim, que ela havia sido uma idiota. Para conseguir seguir em frente com o rapaz, queria explicar, cem por cento, o quanto nunca quisera machucá-lo. Quando conheceu , no segundo ano, as coisas foram de mal a pior. Ela começou a observar o fato de implicarem com ele por motivos ridículos e isso fazia seu sangue subir, mas não sabia como ajudá-lo. As exatas duas vezes que o fez, teve de correr para o banheiro para não se apavorar, pois suas mãos tremiam incessantemente.
, desculpe por… Por não ter ficado com você, naquela época. Eu não conseguia ver as coisas pelo seu ângulo e achei que se eu me envolvesse ia ser pior, que você teria mais uma preocupação e mais um fardo caso eu começasse a ser um alvo também, achei que tudo seria pior ainda. Eu não pensei que você… ― não conseguiu aguentar mais, e começou a soluçar, as lágrimas que segurou ao começar a ouvi-lo descendo todas de uma vez e encharcando seu rosto. ― Você só precisava de apoio, e eu não fui capaz de te oferecer isso.
, n-não! ― ele começou a se desesperar ao vê-la chorando, e tão rápido quanto um piscar de olhos a envolveu em seus braços fortemente, a escondendo e protegendo de qualquer coisa que pudesse tentar atingi-los. Esperava que aquele abraço também servisse para protegê-la dos pensamentos ruins que estavam a assolando durante todos aqueles anos. ― Olha ali… ― ele virou o corpo para o lado, puxando-a delicadamente para se aninhar em seu peitoral e apontando para a escada que estava na janela. ― Você está vendo aquela escada? ― ela assentiu com a cabeça positivamente, não entendendo bem o que ele queria dizer. ― Você sabe, ela não estava ali, e eu… Teria que me jogar, se quisesse chegar aqui embaixo. Mas hoje, eu posso usar a escada.
Ela arqueou uma das sobrancelhas confusa, sussurrando quando ele pausou para abrir um sorriso. Daqueles brilhantes e que a deixavam sem ar e completamente em outra… Espera, já estava em outra dimensão, essa comparação não seria muito válida.
― Sabe quem colocou a escada lá pra mim? ― carinhosamente, tirou uma mecha do cabelo de que caía em seus olhos, a arrastando vagarosamente para trás de sua orelha e então descendo a mão até o queixo da menina, virou o rosto dela na sua direção. ― Você. ― respondeu quando seus rostos estavam alinhados e podia olhar profundamente dentro dos olhos dela. ― Então, por favor, não pense mais em uma coisa dessas. Você veio. Não naquele momento, mas… Você veio, e estamos aqui juntos. É isso que importa pra mim.
… ― não fez muito além de suspirar, não percebendo que era, literalmente, na cara de , e que ele saberia que aquele suspiro era de paixão e amor por ele.
― Eu sei de uma coisa que é fofa como as nuvens! ― e, finalmente quando seus lábios voltaram a se aproximar, sorriu de canto maldosa, interrompendo o momento e fixando seus olhos no rosto perfeitamente esculpido tão próximo do seu...
― O que? ― abaixou o olhar levemente, já imaginando qual a resposta que ela daria, passando pelas bochechas completamente vermelhas dela.
Mas claro que estava errado, e no segundo seguinte, estava beijando um tufo de nuvem que ela colocara à frente de seus lábios. Um tufo que logo se tornou um travesseiro que soltava suas penas pelo chão por causa do impacto. O garoto acabou voltando à realidade ainda um pouco perdido, onde já saia correndo da cabana improvisada e pulando pelas camas para se esconder atrás da cabeceira de uma delas, cobrindo o rosto com uma das mãos. Sabia que era uma idiota, sim, mas a verdade é que a coragem que estava sobrando em , estava faltando nela.
― Você não fez isso, ! ― ele estava completamente atordoado, e quando se levantou acabou esquecendo-se do teto de lençóis, levando-o junto e ainda arrastando algumas camas também.
se assustou com o barulho, saindo do seu esconderijo apenas para vê-lo parecendo uma múmia, enrolado nas roupas de cama. E, quando saiu correndo para ajudá-lo já estava desesperada, mordendo o próprio lábio de nervosismo.
― Você está bem?! ― questionou preocupada, colocando uma das mãos no ombro do mais alto enquanto a outra tirava algumas penas que haviam ficado presas nos cabelos.
E, sem que percebesse ou tivesse tempo de reação, lhe acertou na cabeça com um travesseiro que escondia atrás do corpo, se desvencilhando facilmente dos lençóis logo depois e começando a rir.
― EI! ISSO É TRAIÇÃO! ― choramingou quando quase engoliu uma das plumas, balançando as mãos no ar insistentemente para afastá-las de seu rosto.
― E o que você fez não foi?! ― ele estava pessoalmente ofendido e ela podia ver isso, mas resolveu ignorar no momento para se vingar, buscando outro travesseiro para acertá-lo.
Não demorou até que estivessem debaixo de uma chuva de penas, tão fofinhas e brancas quanto às nuvens de mais cedo. Distraídos o suficiente para não perceberem o click na porta e continuarem com a brincadeira com sorrisos e risadas, arrancando os mesmos sinais de alegria dos amigos que observaram a cena de fora.

Epílogo

! São balanços!
Ela apontou animada assim que viu qual era o objeto da vez na ilha, o fazendo sorrir largamente com quão empolgada ela ficara. Era um balanço de metal, alto, prateado e com dois lugares. apareceu sentada em um, com suas mãos segurando a corrente firmemente, enquanto estava encostado no apoio de ferro ao lado dela, sentado na grama e olhando para o céu.
― Você sempre gostou, não é? Lembro-me de ter te visto balançando em um no dia do parque de diversões. ― ele comentou, ainda observando o horizonte bonito formado pelo mar da noite que a lua iluminava delicadamente. Era o mesmo lugar onde aparecera com o fusca da primeira vez, e onde quase aconteceu o primeiro beijo entre eles, a minúscula ilha. ― Você estava com um sorvete em uma mão e o ursinho que eu te dei agarrado no seu braço, mas quando me viu, tentou disfarçar. ― ele riu ao lembrar-se da cena como se ela estivesse sendo repassada em sua cabeça naquele momento, fazendo até mesmo suas orelhas corarem.
― Como você lembra tão bem?! ― perguntou chocada com um sorriso nervoso, levando uma das mãos até a testa para disfarçar toda a timidez que havia se apoderado de si por ele recordar até mesmo de quando fingira que não estava extremamente feliz com o presente.
― É fácil, como eu não me lembraria tão bem? Eu já te amava desde aquela época. ― ele discretamente virou um pouco o corpo para olhar para cima e observar a reação que ela teria com aquelas palavras, e ao ver todo o corpo dela se encolhendo por conta de um arrepio que subiu por sua espinha, ele sorriu.
… ― ela sorriu abobalhada, levantando do balanço e então se sentando ao lado do rapaz, sem se importar se estava com as pernas descobertas na grama verdinha e molhada. ― Eu ainda tenho o ursinho. Ele se chama ! ― respondeu infantil, e agora ele que arregalou os olhos, não acreditando no que ela estava contando para si. ― E eu dormi abraçada com ele todos esses anos. ― essa parte já era ridícula o suficiente, e ela começou a rir de forma escandalosa, com ambas as mãos acima dos lábios.
― É brincadeira? ― questionou perplexo, inclinando o corpo um pouco para frente para olhar melhor a feição da garota e tentar descobrir se ela estava brincando, mas a forma que continuava rindo sinalizava que não, não estava.
― Você pode perguntar pra se quiser, ela já me pegou falando sozinha com ele várias vezes. Quase me atestou com esquizofrenia. ― começou a rir ainda mais, já sentindo a barriga e as bochechas começarem a doer e sem ver o sorriso largo que tomava os lábios de ao descobrir tudo aquilo.
― E o que você falava pra ele? ― perguntou interessado, discretamente aproximando um pouco mais seu corpo do de e abaixando o rosto para que ficassem nivelados.
― Eu pedia desculpas e dizia que ia recompensá-lo, porque ele era um bom menino. E dizia que eu nunca ia esquecê-lo, porque ele foi a primeira pessoa que eu me apaixonei. ― contou calmamente, sentindo o calor do corpo de já contra o seu ombro.
― Você falava tudo isso pro urso? E eu achando que você não tinha motivos pra parar no sanatório…
!
Ele riu com a reação exagerada da menina, que deu um tapa estalado em sua coxa para repreendê-lo. No fim, acabaram por alguns minutos assim como a maré daquele mar iluminado pela prata da lua, com seus peitos subindo e descendo em uma respiração calma e tranquila e o silêncio confortável os abraçando, até que não conseguiu mais ficar quieto. Ele ergueu a mão com o dedo indicador e anelar apontados para seu e o polegar para cima, como uma arma. Ela observou cada mínimo detalhe dos movimentos do rapaz, curiosa com o que viria a seguir.
E quando simulou um disparo e seu corpo foi levemente para trás ao mesmo tempo em que um fiozinho de fumaça saia de seu dedo, coisas que ela nem mesmo percebeu, totalmente impressionada com a queima de fogos que tomou vida em sua frente, iluminando a água e os seus rostos com uma força que a deixou em completo êxtase.
… ― chamou baixinho, pegando na mão da mulher e, pela terceira vez, virando delicadamente seu rosto para sua direção com uma expressão séria, com um pouco de receio que, mais uma vez, não desse certo. ― Eu posso te beijar agora?
E, enquanto a dança no céu continuava, sentiu as borboletas seguirem o ritmo em seu estômago e todo o nervosismo que tomava conta. Mas, naquela vez, para ter certeza, fora a menina que se aproximou de uma vez, pressionando os lábios de contra os seus e, oh, Meu… Parecia que suas almas haviam se conectado completamente com esse gesto, e, acabou confirmando tudo aquilo que já sabia: era a pessoa que lhe faria ser capaz de qualquer coisa contanto que estivessem juntos, ou para estarem juntos.
Era que era a sua escada e o seu girassol, em qualquer dimensão do universo ou fora dele que estivesse.


Fim.



Nota da autora: Olá amores, como vocês estão?!

A louca dos MVs atacou novamente, e eu nunca poderia deixar esse nenê em forma de MV de fora, né? Fiquei tão apaixonada que escrevi na mesma semana que lançou e ferrei meu cronograma mais ainda, mas VALEU A PENA HAUAHUAHAUAHAU É Seventeen e Seventeen merece, além de tudo que eu escrevo com esses meninos parece sair com uma facilidade que eu desconheço de mim!

Usei também como continuação de Trauma por que algumas cenas me chamaram a atenção por parecerem os mesmos ambientes, mas como se fosse em uma versão alegre, e acho que esse pp merecia demais um final mais feliz do que o da outra fic, e foi o que eu tentei dar aqui. Foi a primeira vez que eu quase bati no limite de páginas, mas pra mim valeu a pena demais e eu amei o resultado, espero que todo mundo tenha gostado também!

Pra quem leu e chegou, muito obrigada, e não esquece de deixar um comentáriozinho falando se gostou ou não, é muito importante pra mim! Um beijo enorme ♥





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