Fanfic finalizada.

Capítulo Único

Eu nunca pensei que não fosse temer a morte.
Nunca imaginei que em meus momentos finais não imploraria nem um milésimo para que continuasse respirando.
E também sequer considerei que me sentiria tão vivo e... tranquilo.
Mas ali, diante de minha morte iminente, meus batimentos não estavam acelerados, a adrenalina não percorria minhas veias e o nó na garganta nunca apareceu.
Eu encarava meu fim com um pequeno sorriso desenhado em meus lábios e um acenar de cabeça que dizia claramente um: “Manda ver”.
Talvez fosse a atitude mais estúpida que eu poderia tomar, considerando que, obviamente, aquele era o capítulo final da minha história, mas eu nunca liguei para o que pensavam de mim, no fim das contas. Nunca liguei porque me deixar afetar por aquilo seria o mesmo que me deixar afetar por todas as coisas que eu havia feito para chegar até ali.
Mas eu não me afetava. Eu simplesmente não ligava.
E faria tudo outra vez, porque agora eu sabia onde tudo culminava.
Eu não poderia esperar um final mais glorioso para um e o orgulho fazia meu peito se estufar enquanto o sorriso em meus lábios se ampliava de forma presunçosa.
- Estão prontos? – a voz de meu pai, sofrida e cansada de todos os anos árduos de sua vida, ecoou, despertando-me dos pensamentos e desviei meu olhar em sua direção por poucos segundos para assentir de forma solene, mas ele não me encarava de volta, seus olhos estavam fixados em adoração no outro lado da clareira.
Eu não estava surpreso, era para lá onde todos os olhares estavam voltados. Era lá onde todas as esperanças eram depositadas com orgulho e devoção, todos certos de que a decepção não lhes atingiria, haviam escolhido o lado certo.
Minhas mãos se fecharam em punho, mas não por raiva ou qualquer sentimento do tipo, eu já havia aceitado meu destino.
Na verdade, eu queria tudo aquilo pra mim por mais que eu não pudesse ter.
Eu queria ser venerado como um deus, queria ver o orgulho transbordar dos olhares de meus pais e queria também as mãos mais delicadas e os olhos mais belos me encarando com o amor genuíno daquela que estava logo atrás de meu oponente, num gesto claro de que lhe pertencia.
Mas por mais que ela estivesse ali, ao lado dele e demonstrando para todos que quisessem ver que era com ele que estava seus olhos me diziam o completo oposto. Estes estavam fixos nos meus, dizendo todas as palavras que jamais poderiam ser ditas sem consequências piores do que minha derrota iminente.
Por mais que eu tentasse evitar, por mais que meus pensamentos gritassem que eu devia me afastar, que ela seria a minha ruína desde o início eu simplesmente não conseguia fazer com que meu maldito coração não desejasse estar com ela em todos os momentos, sentir o toque da pele dela na minha e os lábios doces dela nos meus.
Peguei-me observando-a de uma forma sedenta enquanto minha mente vagava por todas as imagens que se formavam em meus pensamentos ao analisar suas curvas perfeitas.
Ela era a tentação mais cruel de todas.
Aquela era e o objeto de minha mais amarga inveja era Derek , meu irmão gêmeo.
Isso mesmo, eu estava em um ridículo triângulo amoroso com meu irmão gêmeo e a garota que me jurava todos os dias que era comigo que ela desejaria estar.
Se todas aquelas juras de amor eram verdadeiras ou não eu não saberia dizer e aquilo tampouco importava. Somente um de nós dois sobreviveria naquela noite e todas as fichas apontavam para Derek.
As fichas e todos os bruxos dos sete covens reunidos em Death Valley para testemunhar a escolha do novo líder do clã dos .
Certamente, meu irmão seria ainda mais aclamado depois de minha morte, até porque cada gota de magia de nosso clã se converteria pra ele e com isso ele também ganhava a oportunidade de ser o regente dos sete covens.
Eu duvidava que ele teria muita dificuldade com isso. Ser um líder adorado e aclamado com toda certeza era a menor de suas preocupações.
Derek também havia assentido na direção de meu pai e no olhar completamente tenso de minha mãe eu percebi que ela temia, mas não era por mim, não era por minha vida, ela temia por ele. Temia perder o filho adorado que havia nascido para liderar, o que eu não entendia muito bem.
Talvez meus pensamentos invejosos passem a pior de minhas imagens ou quem sabe a impressão de que eu detestava meu irmão.
Na verdade, eu o amava. Ele era o único que me tratava como se eu fosse importante.
Ele e , para ser sincero.
De uma forma resumida, Derek havia nascido mais forte do que eu e sua magia se revelou muito mais cedo do que a minha, o que fez com que muitos acreditassem que eu era uma anomalia.
Todo bruxo que nascia sem o dom da magia era considerado assim: uma anomalia, uma aberração rejeitada pela natureza.
Mas Derek nunca havia desistido de mim. Ele me incentivava todos os dias e praticava comigo, me ensinando feitiços quando nossos pais não estavam por perto.
Tardiamente, minha magia apareceu, mas ainda assim não era tão fantástica quanto à de meu irmão gêmeo e fagulha que eu imaginei ter visto nas feições de meus pais haviam sumido para voltarem a se incendiar com tudo o que ele podia fazer.
Eu amava meu irmão, amava muito, ele era meu melhor amigo.
O que eu odiava era que quanto mais invisível eu era, mais extraordinário ele se tornava.
Ele era a escolha da magia, de meu clã, de meus pais e da garota que contraditoriamente jurava me amar.
Não era um tolo, então sabia que as coisas não seriam diferentes dessa vez. Nenhum milagre aconteceria.
Sempre seria Derek e eu havia nascido para ser sua sombra.

- Sendo assim, que a cerimônia comece – tive meus pensamentos interrompidos mais uma vez por meu pai, aquele que antes carregava todo o fardo que a liderança de nosso clã significava.
Era evidente o quanto ele ansiava por aquilo, por passar aquele cargo, o que me fez ponderar alguns segundos entre os benefícios e prejuízos de estar onde ele estava.
Respirei fundo, fechando meus olhos para me concentrar e voltando a abri-los quando eu estava pronto para iniciar o ritual.
- Com a bênção da mãe Terra, me ofereço em sacrifício.
Minha voz se mesclava com a de Derek quando as palavras começaram a ser entoadas em meio a uma espécie de cântico. Cada uma delas soava no idioma hebraico, tão natural para nós quanto o inglês americano.
Assim que o coro se iniciou, as cinco tochas dispostas ao nosso redor se acenderam, demonstrando que a mãe Terra nos ouvia.
- Rogo que me aceite como regente dos e clamo o poder que me foi prometido ao nascer.
Um calor, que eu sabia não ter nada a ver com as chamas se intensificando ao nosso redor, foi se espalhando por cada poro de meu corpo. Eu sabia que era a magia com a qual eu havia nascido e com o olhar fixo nos olhos de meu irmão, notei que estes estavam completamente brancos, como se suas pupilas jamais tivessem existido ali.
Ouvi uma exclamação surpresa das pessoas ao meu redor e assumi que seria por causa dele, mas uma fala distante me mostrou ao contrário.
- Você viu isso? Os olhos do ? - não sabia dizer de quem era a voz e nem estava interessado nisso, as chamas dançavam ao nosso redor e tudo estaria acabado em questão de poucos segundos.
- Estão negros. Como pode isso?
Espera, meus olhos estavam negros?
- Que o meu deitar e o meu levantar seja a serviço de meus covens. Que eu seja guiado por nossos ancestrais e que meu povo possa confiar que protegerei cada ser vivo pertencente a ele. Homem, mulher ou criança. Suas vidas serão como o sangue que corre em minhas veias.
No entanto, por mais que eu me sentisse levemente curioso, eu não conseguiria parar o que havia começado. Eu continuaria entoando o cântico, guiado pela magia que havia me rejeitado por tanto tempo, mas que agora considerava minha oferta generosa.
Aquelas palavras haviam sido gravadas em minha mente desde o momento em que tive consciência para entendê-las e eu sabia que as carregaria sempre comigo, não importava o meu destino naquela noite.
- Se me julgares o mais apto, servirei com dedicação até o fim dos meus dias. A tua vitória será a minha vitória. Tua derrota será minha perdição e minha danação eterna.
Embora eu soubesse que não resistiria àquilo porque eu era fraco demais, eu conseguia sentir a onda de poder reverberando de dentro para fora.
Meus músculos se retesaram enquanto minhas mãos tremeram num ato reflexo, então me preparei para o ato final, ignorando o quanto cada coisa ao meu redor havia se tornado mais nítida.
Meus olhos continuavam fixos nos de meu irmão e eu só conseguia vê-lo repetindo exatamente os mesmos gestos que os meus.
Peguei o punhal cravejado com o símbolo de nosso clã. Eu o havia recebido de meu pai quando ainda era criança, como a tradição mandava, e o carregava comigo por onde quer que eu fosse.
Foi apenas naquele momento que desviei o foco de meus olhos e sem pestanejar passei a lâmina na palma de minha mão direita, talhando um corte profundo e não sentido dor alguma enquanto observava o sangue molhar minha pele instantaneamente.
- E como prova de meu comprometimento, lhe ofereço minha essência vital. Que meu sangue lhe regue, Oh, mãe Terra, e que eu seja escolhido como seu filho amado. Que eu seja o seu Eleito.
Virei à palma para baixo, apertando minha mão em punho e deixando o sangue pingar na relva, gotejando profusamente, tão escuro quanto o reflexo de meus olhos nas chamas.
Não estranhei mais o fato de meus olhos estarem completamente negros. Eu devia saber que até assim ficaria evidente o quão sombra de meu irmão eu era.
O fogo nas tochas se intensificou ainda mais em contato com o sangue, como se algo lhes fizesse explodir e o líquido vermelho que saía de minha mão se multiplicou automaticamente, traçando linhas invisíveis, ligando uma tocha à outra e se unindo ao sangue de meu irmão gêmeo, formando o símbolo que todos conhecíamos muito bem. O pentagrama que nos guiava e representava.
Nossa parte do ritual estava completa, então voltei a focar meus olhos nos de Derek. Ele também me olhava e a determinação jorrava deles.
Foi então que eu soube que o estágio final havia chegado.
Eu nunca pensei que não fosse temer a morte, no entanto, eu estava eufórico, ansiando para que ela me encontrasse e sentindo meu corpo tremer em expectativa, vibrando como eu nunca havia sentido antes.
Sem meu consentimento, minhas mãos se viraram na direção de Derek, o corte milagrosamente curado e minhas palmas estavam voltadas para ele assim como eu sabia que as suas estavam voltadas para mim.
Emergir.
Era assim que um derrotaria o outro.
Com uma afirmação como essa, talvez exista a suposição de que não haveria sangue ou declarações calorosas de um irmão para o outro. Nós nos tornaríamos um só e assim lideraríamos juntos o clã quando a essência de um se tornasse parte do outro.
No clã dos não era assim. Era muito mais complexo do que isso.
Tudo aconteceu muito rápido a partir daí.
A onda de poder quadruplicou dentro de mim, meu corpo tremeu com mais intensidade e a luz irradiou de minhas mãos, mas não era branca como eu havia imaginado que seria.
Começou parecendo uma fumaça negra e terminou num clarão acinzentado quando se chocou com a de Derek, que ao contrário da minha era sim branca.
Sempre o mais bonzinho e o mais amado.
E a sensação de euforia aumentou, eu senti meu sangue borbulhar e ferver de uma forma deliciosa, seguida por uma vontade enorme de gargalhar até sentir minha barriga doer em protesto.
Foi o que eu fiz então, sentindo que quanto mais eu ria, mais queria rir e quando acabou meus olhos pegavam fogo, o sorriso continuava em meu rosto e…
Derek estava morto.
Seu coração estava em minhas mãos após minha magia ter atravessado seu peito e o trazido para minhas palmas.
O segurei com firmeza e lancei um olhar à minha volta, percebendo as feições incrédulas e o pesar tomando conta da expressão de meus pais, mas mesmo assim o mais velho engoliu em seco e soltou um urro de triunfo, que se multiplicou assim que cada bruxo dos sete covens o repetiu.
Eu havia vencido.
Eu havia vencido e a tradição dizia que eu precisava fazer aquilo para o qual meu irmão jamais havia me ensinado.
Precisaria comer o coração dele, só assim seu poder seria meu e minha magia seria absoluta.
Senti meus batimentos acelerarem com aquilo, percebendo que todos me encaravam com expectativa enquanto lembranças avassaladoras tomavam conta de mim.
Eu estava pronto para morrer, não para matar meu irmão, aquele que eu havia traído com a garota que ele dizia ser o grande amor de sua vida.
Meu olhar percorreu a multidão então até encontrá-la, com as feições brilhantes de lágrimas e um desespero trêmulo que só podia significar uma coisa.
Ela também havia escolhido a ele, como todos os outros.
Com nova determinação, cravei os dentes no coração de Derek e a cada vez que eu mastigava e ingeria a carne sentia que me tornava mais forte, mais preparado e mais poderoso.
Nenhum poder tiraria de mim a dor de ter matado meu irmão gêmeo, aquele que era meu único amigo e o único que acreditava verdadeiramente em mim.
Mas eu tinha deveres a cumprir a partir de agora. Um fardo que fora passado e do qual eu só poderia fugir quando a hora chegasse.
A mãe Terra havia me escolhido.
Eu seria o líder do clã dos e para honrar a morte de meu irmão eu não descansaria até que também me tornasse o líder dos sete covens.



FIM



Nota da Autora (20.06.2017): Olá, loves! Apresento a vocês um dos meus personagens que eu mais amo na vida (sem mentira): Nathaniel Turner.
Ele surgiu no meu jogo de RPG, o Bellum Vincula, e eu sou completamente apaixonada por ele e pela história dele.
Nathaniel é um personagem que eu considero complexo e é por isso que prometo pra vocês que vão conhecer mais sobre ele. Essa short é uma introdução para o que eu espero que seja uma longfic maravilhosa hahaha.
Cuidem bem de meu menino e comentem comigo o que acharam!
Pra quem já é minha leitora, eu sei que falei que andava mais amorzinho, mas as trevas jamais abandonam meu coraçãozinho hahaha.
Pra quem tá conhecendo meu trabalho agora, deixo aqui meus contatos. Entrem no meu grupo pra gente se conhecer melhor, juro que sou um amorzinho, ok?
Beijos e até mais!
Ste.



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