Última atualização: 12/02/2018

Capítulo 1

E mais uma vez, eu estava correndo pelos corredores do hospital, para salvar um de meus pacientes...

Desta vez era o do quarto 302, ele estava ameaçando a se jogar da janela. Não era a primeira vez que o senhor Kim passava por seus surtos de alucinação, seu quadro clínico tinha melhorado por um tempo, porém recentemente ele estava apresentando sinais de surtos frequentes.

Primeiro pensei que poderia ser pelos remédios que estava tomando devido ao nosso tratamento, porém após alguns testes constatei que, era devido a um leve crescimento no seu tumor, danificando uma pequena parte do cérebro onde estava fixado. A cirurgia era um tanto arriscada devido à localização do seu tumor, infelizmente essa sugestão havia sido descartada após passarmos por três neurocirurgiões.

A boa notícia é que mesmo com seus breves lapsos de alucinações, ele poderia ter uma vida tranquila, desde que esteja em acompanhamento. Quando finalmente cheguei no quarto, pedi para que os enfermeiros saíssem, precisava ficar sozinha com ele para atrair sua confiança e fazê-lo voltar para dentro do quarto.

— Senhor Kim. — eu caminhei suavemente e bem devagar em direção a janela — Senhor Kim sou eu, sua médica preferida.
— Oh! Não venha aqui doutora. — ele gritou do lado de fora encostado na sacada da janela.
— Mas, por que o senhor está aí? — eu me aproximei mais até chegar na janela — O senhor deveria estar aqui dentro, descansando.
— Doutora, eles vieram me matar.
— Senhor Kim, ninguém veio te matar. — eu o olhei com carinho e estendi minha mão direita — Vamos pegue minha mão e venha.

Já havia se juntado muitas pessoas no pátio central olhando aquilo tudo, até mesmo a polícia havia sido acionada, eu olhei de relance para a multidão e voltei meu olhar para ele.

— Senhor Kim, segure, prometo não deixar ninguém levar o senhor.
— Não. — ele se desequilibrou um pouco e eu peguei em sua mão esquerda no susto o puxando para dentro, mas ele escorregou e ficou pendurado — Segure firme senhor Kim.
— Não me deixe cair doutora. — ele me olhou, pude ver o medo em sua face — Prometo não fazer de novo.
— Não vou. — eu gritei tentando puxá-lo — O senhor não vai cair.

Foi quando uma outra pessoa segurou na mão direita do senhor Kim, eu olhei para o lado e congelei por um momento, aquele olhar era de um efeito hipnótico que me fez me sentir estranha, mas era um estranho bom.

O dono do olhar, era ele, o médico misterioso que havia sido transferido há 4 meses, eu não tinha muito contato com ele e nem desejava isso, só o seu olhar já me fazia ficar meio… Mas parecia que todo o hospital o adulava demais e isso me deixava um pouco irritava, assim como os suspiros da equipe feminina quando ele passava.

Seu nome era , doutor Cho para todos. Ele me ajudou a puxar o senhor Kim em segurança e os enfermeiros nos ajudaram a colocá-lo na maca, o amarramos para que se acalmasse e então eu o dei um tranquilizante.

Aos poucos o senhor Kim foi se acalmando até que adormeceu, pedi para a enfermeira Clair ficar com ele o vigiando, enquanto isso a equipe técnica e de segurança do hospital instalou uma grade de proteção em sua janela.

— Obrigada — estiquei minha mão tentando não olhar em seus olhos.
— Não fiz nada que não fosse o dever de um médico. — ele apertou minha mão com suavidade — Eu é que agradeço em poder ajudar.

Eu me mantive em silêncio e me afastei indo para minha sala. Não acreditava que havia feito aquilo, nesses 4 meses eu nunca tinha trocado nem um bom dia com ele, nem mesmo quando ficamos presos no elevador por 2 horas.

 

Flash Back On - No elevador

Era uma tarde calma, tinha acabado de retornar a minha rotina no hospital depois de três dias de folga, estava relaxada e com animação total para reavaliar o quadro de saúde da senhora Lee. Fui até o andar do laboratório, apesar de ficar uns 30 minutos esperando os resultados serem coletados no sistema e imprimidos, me distraí na recepção do laboratório, conversando com a biomédica chamada Seohyun, ela era muito educada e um pouco engraçada, sempre nos divertíamos contando piadas sobre o hospital.

— Ai Seo, adoro suas piadas. — eu tentei controlar meu riso — Sempre me fazem esquecer a pressão que é trabalhar aqui.
— Ah, o que seria de nós sem alguns risos, este hospital a cada dia fica mais pesado o clima.
— Coloca pesado nisso.
— Graças ao “mau humor” do novo diretor. — ela soltou um riso engraçado e alto, mas tampou a boca.
— Má administração você quis dizer. — eu a olhei tentando ficar séria.
— Bem aqui está. — disse o enfermeiro Minjun retornando da parte restrita do laboratório.
— Agradeço a espera. — eu sorri pegando o envelope branco da mão dele.
— Desculpa, é que estamos um pouco sobrecarregados esta semana.
— Alguém sabe o que está acontecendo com este hospital? — eu perguntei.
— Acho que as pessoas combinaram que adoecer todas ao mesmo tempo.

Nós rimos disso, mas realmente era estranho ver como a demanda do hospital havia crescido nos últimos dias, eu caminhei tranquila até o elevador e esperei alguns instantes até ele abrir, entrei e quando já estava fechando a porta uma mão apareceu fazendo a porta se abrir. Era ele, o doutor mistério, ou para todos doutor Cho.

— Me desculpe, não queria assustar. — ele deu um leve sorriso e apertou o andar que iria.

Eu olhei para o lado permanecendo em silêncio, demonstrei a ele que não queria assunto, e não queria mesmo. Desde que ele havia chegado no hospital há duas semanas, vejo os funcionários em cima sendo tão legais e receptivos, isso me deixava irritada, e eu não iria trata-lo da mesma forma. Nem tão pouco suspirar por ele como as enfermeiras estavam fazendo naqueles poucos dias, eu já estava começando a ficar cansada, pois todos os assuntos de conversa eram sobre ele, até mesmo havia entrado na onda de se aproximar do doutor de olhar fatal, como diziam.

O que tinha no olhar dele? Não conseguia mesmo entender por que agiam assim com uma pessoa tão comum, eu até o observei um pouco de longe, admito que seu trabalho era muito bom, e que ele tinha algo na sua voz que fazia até os pacientes mais agitados ficarem tranquilos, inexplicável. Estava tudo sob controle, eu olhando para a parede e ele no canto dele, até que houve uma breve falha de energia e o elevador parou.

— Oh, não. — eu sussurrei para mim mesma.
— Hum. — ele apertou um dos botões do elevador testando — Acho que o elevador parou.

“Não me diga?!” Pensei comigo mesma.

Eu respirei fundo, não acreditava naquilo que estava acontecendo, aquele elevador parado, acho que se eu estivesse sozinha não ficaria tão nervosa. Ele tirou o telefone do elevador do gancho e ligou para o setor técnico, eu ouvi alguns pontos da conversa, para dizer a verdade, estava tão preocupada em quanto tempo que ficaria ali, que nem conseguia me concentrar no que estava acontecendo. Mas me atentei para última parte, eles iriam realizar os ajustes para que saíssemos em segurança.

Ok, em segurança, permanecemos ali naquele elevador que de largo começou a ficar estreito por cerca de 2 horas, eu mantive em silêncio todo o momento, não queria dar nenhum espaço para conversa ou algo do tipo, permaneci com minha atenção voltada para a porta do elevador, ele, porém pude perceber que havia ficado me olhando durante todo aquele tempo. Eu esperava ter passado a impressão para ele, de que não era como as outras pessoas, que o tratava como príncipe médico.

Flash Back - Off

 

Eu o achava arrogante de mais, acho que parte disso era por causa da sua forma impecável de atender os pacientes de urgência, poderia classificar este sentimento como inveja, claro se eu não fosse a melhor médica do hospital. era da área de clínico geral e cirúrgico de emergência, enquanto eu além de clinico geral também me focava nos pacientes crônicos, como o senhor Kim com seu tumor cerebral benigno.

Eu gostava de trabalhar neste hospital, era realmente puxado para mim sustentar minha posição de melhor médica, afinal foi difícil chegar a este nível quando se é uma estrangeira. Morar e trabalhar em Busan também era muito bom, apesar de ser tão movimentada quando a capital Seoul, essa cidade tinha algo de especial para mim.

Quando não estava nos plantões no hospital, passava meus dias de folga em meu apartamento que era em uma cobertura que dava uma vista linda para o centro da cidade. Eu tinha feito um pequeno jardim lá e sempre passava horas naquele lugar de aconchego, lendo meus livros de medicina e sim, eu descansava também, às vezes passava até 12 horas dormindo direto. Mas tinha momentos que eu passava na casa do meu irmão, ele havia se casado com uma coreana e tinha dois filhos, um de 10 anos e outro de 7 anos.

Permaneci sentada na minha sala revendo o prontuário médico dos meus pacientes habituais, além do gentil senhor Kim, que tinha seus experientes 60 anos, eu também acompanhava o quadro clínico da senhora Lee, uma ajumma com uma doença de osteoporose, super educada que sempre me perguntava se eu queria me casar com o neto dela, e o jovem Park Dongho que tinha uma rara doença nos músculos do corpo.

— Toc.. toc.. — disse a enfermeira da porta — Posso entrar?
— Claro. — eu sorri.
— Então , me diga como está o senhor Kim?
— Pronto pra outra. — eu ri — Espero que não.
— Amém. — ela riu e se sentou na cadeira à frente — Então foi socorrida pelo médico novato.
— Não começa. — eu a olhei — O que está insinuando?
— Ah, , você é a única que não olha pra ele.
— Todas se derretem e suspiram por uma pessoa tão comum. — eu ri — Acha que farei o mesmo? Claro que não.
— É porque nunca olhou em seus olhos, ah…. Aqueles olhos profundos, e quando ele cuida dos pacientes, dá até vontade de ficar gripada só pra ser atendida. — ela deu uma risada engraçada.
— Sei. — a olhei com ironia — Eu não acho isso.
— Para amiga, ele é o genro que mamãe pediu a Deus. — ela brincou.

Eu ainda não entendia como, mas realmente tinha uma forma incomum de cuidar dos pacientes, e todas as suas cirurgias eram sempre bem sucedidas, até quando tinha tudo para dar errado.

Aquilo me deixava intrigada, aquele mistério todo que tinha envolta dele, uma pessoa normal que ficava em um plantão após as 72 horas já dava sinais de cansaço e ficaria com a cara de um zumbi. Mas ele era diferente, ele sempre estava com o mesmo rosto sereno e tranquilo que fazia com que todas as pessoas a sua volta se sentissem bem, aquilo era inacreditável.

“O teu lindo rosto está cegando o meu olhar,
O teu sorriso brilhante é como o sol,
Como uma estrela brilhante no céu escuro.”
- Angel / Teen Top

Eu e conversamos mais um pouco sobre a rotina puxada que estava no hospital. Ela era minha melhor amiga desde o ensino médio, já tínhamos passado por muitas situações inusitadas juntas, e sua melhor prova de amizade foi ter se mudado comigo para Busan.

— Amanhã será minha folga. — disse ela.
— Oh! Parabéns, sua liberdade enfim. — eu ri.
— Você vai completar mais um dia?
— Vou, ainda não cheguei no limite e não tenho nada de interessante para fazer.
— Se tivesse um namorado.
— Para que? Me ligar de uma em uma hora?
— Ah, meu não faz isso, ele só é preocupado com minha rotina profissional e minha saúde mental.  Além do mais estamos a um passo do altar.
— E vai enrolar o pobre rapaz por mais quantos anos? — segurei o riso.
— Não fale assim. — ela riu — Vamos marcar a data logo.
— Sei. — eu me levantei da cadeira e fui até a janela, vi se aproximar do seu carro — Hum, o doutor mistério está de folga hoje.
— Ele está indo? — ela se levantou e correu até a janela — Deve ter completado as 72.
— Ai ai.

Do estacionamento ele olhou para nossa direção, disfarçou olhando para dentro da sala, mas eu fiquei olhando, o encarando, ele sorriu de canto e entrou no seu carro, fechei a persiana e cruzei meus braços.

— Arrogante. — sussurrei.
— Hum. — Rafa riu — Se não fosse você dizendo isso e se não te conhecesse, diria que está interessada, mas sem coragem de admitir.
— Ah , vai completar suas horas.

Ela saiu rindo da sala, minutos depois eu recebi uma mensagem no meu bipe, era óbvio, se o doutor mistério estava de fora, eu que iria ficar na área de urgência e emergência. Fui para o banheiro e lavei meu rosto, estava me preparando psicologicamente para mais uma noite de plantão, e eu só havia cochilado por duas horas pela manhã, até que soaram os alarmes por causa do senhor Kim.

Passei na cafeteria do hospital antes de ir para o andar de urgência, seria uma longa noite de trabalho. Foram três entradas de feridos por um acidente em uma das estradas da cidade, um deles estava com hemorragia interna, foram muitas horas para conseguir deixar o quadro do paciente estável, ele ficaria na UTI. Além disso outro acidente doméstico, onde uma criança ingeriu produto de limpeza, o desespero da mãe me deixou ainda mais focada em salvar a vida daquela criança. Só foi o começo da noite, pois tivemos mais algumas outras emergências até o amanhecer.

Quando consegui um breve minuto de folga fui até o terraço do hospital, eu tinha feito um jardim lá também. Uma campanha de sustentabilidade que tinha promovido no hospital, de reciclar os móveis que não usaríamos mais e transformá-los em acentos para um jardim no terraço, assim os pacientes teriam um lugar mais alegre para caminharem.

Me sentei em um dos bancos e fiquei olhando o sol nascer, meu corpo sentiu um breve cansaço, e sim eu estava acabada. Era diferente a rotina no setor de emergência quando não estava, não que eu não dava conta do recado, mas estranhamente a presença dele deixava o ambiente mais leve e tranquilo, mesmo apesar de tantas entradas de pacientes.

As horas se passaram e depois que atendi meu último paciente que havia marcado consulta, recebi um recado que tinha que ir até o consultório do médico geral, o doutor Junseo era uma pessoa muito simples e simpática, ao contrário do tirano diretor Hwang.

— Doutor Jun. — eu entrei devagar, ele estava falando ao telefone, fiquei esperando um pouco até que ele encerrou a ligação.
— Ah, doutora Miller. — ele sentou sem sua poltrona e sorriu — Sente-se por favor.
— Obrigada. — eu me sentei — O que me traz aqui doutor Jun?
— Bem, me informaram que a senhorita está completando as 72 horas…
— E o senhor quer que eu vá para casa?
— Isso mesmo. — ele me olhou tranquilamente — Vejo o cansaço no seu rosto, a senhorita é uma médica excepcional, mas ainda é humana e precisa ter um pouco de vida própria e descanso.
— Obrigada senhor. — eu me levantei — Estou mesmo sentindo meu corpo reclamar.
— Sim, farei com você o mesmo que fiz com o doutor Cho, aproveite o final de semana e só me volte aqui na segunda-feira.
— Sim senhor. — eu sorri e saí da sala.

No caminho para minha sala meu celular tocou, era uma mensagem no kakaotalk, meu irmão tinha me convidado para o almoço de domingo, oh pessoa de sorte, todas as vezes que ele me convidava para ir em sua casa coincidia com minhas folgas. Peguei minha bolsa e as chaves do meu carro, deixei todas as instruções como o médico que ficaria responsável pelos meus pacientes.

Eu estava em liberdade até segunda-feira, era legal, mas se não fosse o cansaço do meu corpo preferiria ficar mais uns dois dias trabalhando. Quando cheguei no meu apartamento, havia algumas mensagens em minha secretária eletrônica, eram de perguntando sobre meu plantão na emergência sem .

Eu desliguei meu celular e arranquei o fio o telefone, estaria fora de área até no outro dia à tarde, fui para o banheiro e tomei uma ducha relaxante, ah…. Aquela água quente caindo em minhas costas, eram como massagem, nem se comparava aquela ducha fria que tomava no hospital.

Voltei para meu quarto e coloquei o pijama, minha primeira opção seria dormir, mas ainda não me sentia relaxada o bastante, fui até a cozinha preparar algo para comer. Encontrei alguns sanduíches embrulhados na geladeira, com certeza minha cunhada havia passado lá, peguei de bom grado, não queria mesmo ter o trabalho de fazer nada. Voltei para meu quarto com o prato de sanduíches e uma lata de suco natural nas mãos, liguei a televisão e fiquei vendo Emergency Couple no viki enquanto comia.

Eu não tinha tempo para muitos hobbies, mas não abria mão de ver doramas, principalmente quando tinham assuntos de medicina abordados, eu levava um tempo maior para terminá-los, mas já sabia que meu próximo seria It’s Ok, That’s Love.

O episódio estava até interessante, até que adormeci sem nem ver qual parte tinha parado, no dia seguinte como previsto acordei ao meio dia, me espreguicei um pouco até que decidi que deveria mesmo me levantar. Fui até a cozinha e vistoriei a geladeira e meus armários, eu era uma péssima dona de casa, era raro fazer compras, mas eu passava mais tempo no trabalho do que em casa mesmo.

Troquei de roupa peguei minha bolsa e saí em direção ao mercado, fiquei impressionada quando vi que abriram uma lavanderia perto da pracinha há duas ruas do edifício. Fazia tempos que eu não caminhava pelo bairro, eu entrei no mercadinho e passei alguns corredores, apesar de me sentir atraída pelas belas embalagens de salgadinho, eu tinha que manter minha promessa de alimentação saudável. Minhas compras estavam sendo silenciosas até o momento.

— Doutora Miller? — chamou uma voz masculina.
— Sim? — eu me virei segurando uma caixa de leite em minha mão — Você? — eu deixei a caixa cair por descuido e ele pegou no ar.
— Boa tarde. — ele esticou a caixa me entregando — Surpresa em me ver?
— Hum. — eu peguei a caixa e coloquei na cesta — Bem, nunca o vi aqui doutor Cho.
— Ah, por favor, meu chame de . — ele me olhou com gentileza.
— Hum. — eu desviei meu olhar, evitada mesmo encará-lo de perto — Pode me chamar de .
— Eu moro aqui perto.
— Hum. — eu olhei para o corredor — Eu tenho que ir, espero que aproveite sua folga.

Eu me desviei dele, me virei em direção ao caixa, ele veio atrás de mim.

— Posso te convidar para tomar um café?
— Café?! — eu olhei meio sem entender, voltei minha atenção para a senhora do caixa que passou a pouca compra que fiz.
— Sim? Ou não? — ele insistiu, sentia uma certa pressa vinda dele.
— Tudo bem, se conhecer um lugar onde o café seja bom.
— O melhor de Busan. — ele sorriu de canto.

Preferia que ele não sorrisse, assim não teria que concordar com a , que ele tinha um certo charme que atraía minha atenção. Saímos rapidamente do mercadinho e entramos no carro dele, não demorou muito até que estacionou em frente uma cafeteria de esquina. Sai do carro olhando a fachada da cafeteria, era simples e bonita ao mesmo tempo, fazia me sentir em casa.

Entramos e todos nos olharam, achei estranho e me senti meio incomodada. agiu tranquilamente como se não tivesse acontecendo nada e me levou até uma mesa que ficava nos fundos, sentamos e eu pedi um cappuccino de chocolate e um pedaço de uma torta de morango que tinha no cardápio, ele pediu um café sem açúcar.

Não sabia o que dizer, que assunto abordar, era estranho estar ali com ele, com aquelas pessoas a todo minuto nos olhando, mas eu me sentia tão bem naquele lugar que não queria sair de lá.

— Aqui é muito bonito. — eu disse olhando em volta discretamente.
— Que bom que gostou.
— Para dizer a verdade, nunca havia ouvido falar daqui.
— Abriu recentemente. — ele deu um sorriso leve e olhou para a moça que estava nos servindo — Obrigada Celi. — disse ele.
— Obrigada. — eu disse para moça.

Ela se curvou de leve e se afastou, eu provei o cappuccino, o sabor era diferente de todos que havia tomado, gostoso e não muito doce, a torta de morango também tinha um gosto especial.

— Você parece gostar da profissão. — ele tomou um gole do seu café.
— Ah, sim. — eu comi mais uma fatia da torta — Salvar vidas é um trabalho que exige dedicação e vocação.
— Sim, não é todo mundo que abdica uma noite de sono para ficar de plantão em um bloco cirúrgico.
— Com toda certeza. — eu tomei mais um gole do meu cappuccino.

Pela primeira vez eu consegui desenvolver uma conversa saudável e amigável com ele, eu tinha que admitir que era mesmo uma pessoa carismática e simpática, mas eu não iria suspirar por ele. Após alguns minutos ele pagou a conta e saímos da cafeteria, ele me levou de carro até a esquina da minha rua, desci com minhas comprinhas e caminhei mais um pouco.

No momento em que me decidi atravessar a rua, um carro veio em minha direção, eu fiquei tão sem reação no momento que senti minhas pernas paralisarem, meu coração pulsou mais rápido com a adrenalina, mas eu não conseguia sair do lugar. Não sei porque, mas fechei meus olhos de repente, pedindo a Deus para me salvar, foi quando senti uma pessoa me puxar para o lado, quando abri os olhos de novo estava caída no chão e ao meu lado.

— Você está bem? — ele perguntou.
— Sim, eu acho. — ele me senti ofegante por tudo aquilo.

Quando o olhei, um feixe de luz bateu em suas costas por um momento pensei ter visto algo que seria impossível de se ver, era algo parecido com um vislumbre de asas. Fechei meus olhos tentando retornar meus sentidos, eu havia acabado de escapar da morte certa, então com certeza minha mente iria imaginar coisas, já que ele tinha me salvado.

me ajudou a me levantar e foi comigo até a porta do meu apartamento, bem eu não esperava revelar meu endereço para ele, mas depois do que tinha feito por mim. Nos despedimos na porta e eu entrei, ainda estava assustada com tudo aquilo que tinha acontecido, e a imagem daquelas asas ainda estava fixada em minha mente.

“Você é como um anjo.”
- 1004 (Angel) / B.A.P



Capítulo 2

Passei a noite em claro, não acreditava que estava mesmo com insônia, justo quando eu precisava descansar. Quanto mais eu me remexia na cama, mais a imagem daquele vislumbre de asas em permanecia fixada em minha mente.

Levantei da cama ainda sentindo meu corpo pesado e fui para o banheiro, tomei uma ducha quente, para acordar meus músculos e estimular a circulação do sangue. Saí do banheiro enrolada na toalha, secando meu cabelo com uma toalha de rosto, abri o armário e fiquei olhando o que vestiria, optei por uma camisa feminina verde claro e uma calça jeans preta, calcei meu confortável all star.

Peguei minhas chaves e o celular joguei dentro da bolsa e desci para a garagem, entrei no meu carro e dei partida em direção a casa do meu irmão. Ao chegar fui recebida com os abraços dos meus sobrinhos Johnny e Sam, eles eram meus motivos de sorri nos meus dias de folga. Minha cunhada sempre gentil e simpática comigo, fazia de tudo para que eu me sentisse à vontade e confortável.

Nesse almoço comemoraríamos os 12 anos de casados deles, eu vi o brilho nos seus olhos, ambos passaram por tantos preconceitos por terem se casado, eu estava feliz que tudo tenha saído bem com eles, o amor entre eles era visível.

— Noona, estamos felizes que você está aqui. — disse Johnny ao se sentar ao meu lado na mesa.
— Que amor. — eu sorri — Também estou feliz — olhei para meu irmão — Só não tive tempo de comprar um presente para vocês.
— Não se preocupe unnie. — disse minha cunhada — Sua presença já é um presente.
— Oh, muito gentil suas palavras. — eu provei um pedaço do frango que ela tinha assado.
— Para dizer a verdade, estávamos preocupados com você. — disse meu irmão — Não tem vindo nas suas folgas, e fomos ao seu apartamento, não tinha nada na geladeira.
— Eu como no hospital. — retruquei — A comida de lá também é boa.
— Sabe do que estou falando. — ele me olhou — Você não tem nem vida social.
— Tenho sim, meus pacientes são muito falantes, até tenho um noivo. — eu ri.
— É sério. — Joseph me olhou atravessado — Há quanto tempo você não sai com os amigos?
— Que amigos? — eu perguntei.
— Viu. — ele soltou um riso estranho — Nem amigos você tem.
— A é minha amiga. — retruquei.
— Yeobo, talvez a unnie não goste de sair, eu também sou uma pessoa caseira.
— Viu. — eu olhei para ele — Minha cunhada me compreende.

As crianças riram de toda a nossa conversa, mas era mesmo a minha realidade, eu não gostava de sair, mesmo com as insistências de . Quando voltei para casa, já era noite, troquei de roupa colocando meu pijama e me joguei novamente na cama e coloquei no viki, desta vez eu iria mesmo terminar meu episódio. Aos poucos fui sentindo minhas pálpebras ficarem cada vez mais pesadas e adormeci.

* Spin off — Sonho on *

Eu não conseguia reconhecer aquele lugar, era um tipo de casa abandonada, estava meio escuro e havia teias de aranha em todos os lugares, senti um vento frio passar por mim, não sabia o que fazer, se ficava onde estava ou se avançava ainda mais.

Olhei ao meu redor, a casa era de madeira, velha e cheia de buracos de cupins, os móveis quebrados e totalmente revirados, os vidros das janelas quebrados e as portas caindo aos pedaços, a cada passo meu o assoalho do piso rangia ainda mais alto, me veio um certo medo daquele lugar.

— Que lugar estranho. — sussurrei para mim mesma — Será que estou sonhando?

De repente senti um vulto passar por mim, virei meu corpo e olhei para a porta de entrada, havia uma sombra de um homem, não conseguia ver direito, mas conseguia sentir sua respiração, ele se afastou saindo para fora da casa. Por mais que minha razão quisesse ficar e tentar me fazer acordar, eu queria saber o que era aquela sombra, então o segui.

Fora da casa ainda era mais frio e escuro, aquilo me passava um sentimento estranho como se não houvesse vida naquele lugar. Continuei seguindo a sombra até o que parecia uma floresta, mesmo com minhas pernas bambas de medo, tive uma pequena coragem para continuar. Me escondi atrás de uma das árvores, a sombra parou no meio da clareia e em um piscar de olhos uma luz foi surgindo dela, uma luz intensa e forte, eu olhei com meus olhos semicerrados por um instante e consegui ver seu rosto.

* Spin off — Sonho off *

— Ah! — acordei no susto, sentindo meu coração acelerado, olhei para o relógio ao lado da minha cama, marcava 3 da madrugada — O que foi isso? Que sonho esquisito.

Senti alguns calafrios, tentei respirar fundo controlando meus batimentos, logo um barulho surgiu na cozinha, minha primeira reação me encolhi, será que tinha entrado um ladrão no meu apartamento? Me levantei com cuidado e abri a porta do quarto, peguei um bastão de beisebol que sempre mantinha escondido atrás da mesa que ficava ao lado da porta e caminhei em direção a cozinha.

Mesmo estando escuro, a luz que entrada pela janela conseguia clarear alguns pontos da casa, quando cheguei na metade da sala, olhei para a direção da cozinha. Paralisei por alguns segundos enquanto olhava para aquela sombra, a mesma sombra do meu sonho, de leve eu belisquei minha coxa para ver se ainda não era um sonho.

E não era, mantive minha respiração baixa e controlada, segurei firme no bastão, olhando, aos poucos percebi que havia algo em suas costas, eram asas. Eu dei alguns passos lentamente até o apagador e acendi a luz, quando olhei de volta não tinha mais nada lá.

— O que foi isso? — eu sussurrei — O que aconteceu?

Caminhei até a cozinha ainda segurando o bastão, olhei para o chão rapidamente e vi algo estranho, me ajoelhei para ver de perto, não acreditava mesmo naquilo, era uma pena branca em suas bordas havia um brilho prateado.

— Impossível. — eu não acreditava naquilo, era surreal de mais, porém eu estava segurando aquela pena.

Me levantei e voltei para o quarto, coloquei a pena na mesa ao lado da minha cama e fui para o banheiro, precisava relaxar meu corpo, minha mente e esquecer essas coisas loucas que estavam acontecendo. Tomei uma ducha quente, demorei mais que o costume, quando saí, coloquei minha roupa para ir trabalhar, peguei minha bolsa e meu jaleco.

Quando cheguei na rua, ouvi alguns comentários sobre o mercadinho ter sido assaltado, fiquei meio perplexa, pois eu tinha estado naquele mercadinho e iria demorar um pouco mais se não tivesse aparecido, senti como se de alguma forma talvez ele tivesse salvado minha vida.

Ao chegar no hospital, assinei minha entrada na recepção da enfermaria e preenchi alguns papéis referentes ao meu último plantão. Neste momento ouvi mais alguns comentários sobre o tal assalto ao mercadinho, e que houve uma vítima que tinha dado entrada na UTI e ainda estava em estado grave.

— Bom dia. — disse ao se aproximar de mim.
— Bom. — aquilo me pegou de surpresa — Dia.
— Espero que tenha um tranquilo plantão, já que hoje estou na emergência. — ele sorriu de canto e se virou para a chefe dos enfermeiros — Senhora Goo, aqui está meu relatório.

Ele saiu tranquilamente, eu fiquei mesmo sem reação, e mais ainda que estava parada ao meu lado.

— O que aconteceu na sua folga? — perguntou ela.
— Nada. — eu entreguei os papeis para a senhora Goo e me afastei.
— Aconteceu sim. — ela caminhou ao meu lado — Eu saí daqui na quinta e você estava chamando ele de arrogante, agora um “Bom dia” que nunca aconteceu antes?
. — eu a olhei e continuei a caminhar pelo corredor — Foi somente um bom dia.
— Não foi. — ela me olhou, e me conhecia muito bem — O tom da voz dele significava algo mais íntimo, que só um trivial bom dia.
— Que insistência. — eu entrei no elevador — Ele só me pagou um café.
— O que? — ela entrou junto — Como assim, quero detalhes.
— Não tem detalhes. — eu apertei o andar da minha sala de consultas — eu estava no mercadinho, que por sorte minha foi assaltado depois que eu saí de lá, ele me viu lá e me convidou para o café.
— E você diz que ele só te pagou um café, de forma tão seca. — ela cruzou os braços me olhando — , ele te convidou para tomar café, não é qualquer convite.
— Para mim não foi nada demais. — o elevador se abriu e a enfermeira SunHill entrou.
— Como assim não é nada demais. — ela cochichou para mim — É do doutor Cho que estamos falando.
— Ele é só um médico a mais que divide plantão comigo. — eu olhei para o lado disfarçando.
— Você já viu aquele olhar dele, não é só um médico à mais, ele te convidou para um café. — ela suspirou fraco — Não acredito que só eu estou vendo sentimentos nisso.
, vamos parar por aqui. — o elevador abriu no meu andar e eu saí, deixando ela lá.

Caminhei até minha sala em silêncio, entrei e sentei na minha cadeira macia, confesso que naquele dia eu estava muito desanimada. Li alguns papéis que estavam em cima da minha mesa, com certeza era do doutor Park, ele tinha cuidado dos meus pacientes habituais. A única novidade é que a pressão arterial da senhora Lee havia aumentado um pouco, mas já estava normalizada.

— Acho que vou começar vendo meus queridos pacientes. — eu peguei minha pasta de prontuário e saí da sala.

O primeiro foi o jovem Dongho, medi sua pressão arterial e cheguei seus batimentos, conferi o resultado dos exames que tinha solicitado para ele, para minha alegria, o remédio que tinha prescrito estava deixando seus músculos menos contraídos e ele não estava mais sentindo tantas dores nas articulações.

Depois fui até o quarto da senhora Lee, ela estava tão feliz em me ver, seus olhos brilharam quando eu entrei.

— Bom dia senhora Lee. — eu disse ao me aproximar da cama dela.
— Oh, que bom que veio me ver hoje, aquele doutor de ontem era tão sem alegria. — disse ela num tom de queixa.
— Ah, senhora Lee, eu estava de folga.
— Oh, sim, por esse motivo sim. — ela sorriu com gentileza — Você é tão dedicada, precisa mesmo de um tempo para descansar.
— Com certeza, agora vamos medir sua pressão, soube que ela se elevou. — eu a olhei sério — A senhora não andou fugindo da sua dieta não é?
— Ah, claro que não, sou muito obediente. — ela brincou.

“O teu lindo rosto está a cegando o meu olhar
O teu sorriso brilhante é como o sol
Como uma estrela brilhante no céu escuro
Há um anjo no meu coração.”
- Angel / EXO

Eu conferi sua pressão e conferi mais algumas anotações que o doutor Park havia feito, prescrevi mais um remédio para pressão caso ela aumentasse novamente e retirei um outro que estava fazendo ela ter dores de cabeça. Passei mais alguns minutos conversando com a senhora Lee, ela estava me contando suas histórias de quando era garota e estava apaixonada por seu marido, ela era um pouco engraçada quando contava suas aventuras do passado.

E por último fui ao quarto do senhor Kim, ele estava alegre conversando com um enfermeiro, eu o cumprimentei e entrei de intrusa no assunto, estavam falando sobre futebol. O senhor Kim já estava bem mais calmo e suas suspeitas de seguidores já haviam sido esquecidas, eu prescrevi alguns exames para ele refazer, estava querendo tirar algumas dúvidas quanto sua rotina alimentar com a nutricionista do hospital, e pedi outro encefalograma para saber como anda seu tumor.

Na hora do almoço, marquei com a para comermos juntas no restaurante do hospital, chegou alguns minutos depois de nós e se sentou bem no canto perto da janela, ele ficou me olhando discretamente. Eu comi tranquilamente, com meu prato variado de cores e sabores, estava tentando realmente levar minha dieta saudável a sério, riu de mim, ela não abria mão de suas guloseimas.

Logo no final da tarde fui chamada para a sala do diretor Jun, estava curiosa para saber o assunto da vez, quando entrei havia mais três pessoas e uma delas era .

— Bem, me chamou doutor Jun. — eu fechei a porta depois que entrei.
— Sim, doutora Miller. — ele se levantou da sua cadeira — Queria te apresentar o novo diretor geral financeiro do hospital senhor Bang Minsoo, o senhor Hwang como estava previsto se aposentou.
— Boa tarde. — disse Minsoo de forma séria e fria.
— Boa tarde. — eu confesso que me senti meio acuada ao olhar para ele.
— E este é Yejin, o novo cardiologista que estávamos esperando tanto. — continuou o doutor Jun.
— Me desculpe a demora doutor Jun. — disse ele com um sorriso simpático — Estava um pouco afogado em minhas palestras, mas estou feliz por fazer parte da equipe.
— Bem, é um prazer conhecê-lo também. — eu disse.
— Igualmente. — ele me olhou com tranquilidade.
— Assim como o doutor Cho, eu a chamei aqui para apresentá-los primeiro, pois são os melhores médicos do nosso hospital.
— Ah, doutor Jun. — eu sorri meio sem graça — Só tento fazer o que gosto com dedicação.
— Concordo. — disse — Faço minhas, as suas palavras. — ele me olhou meio profundo, senti minha perna bambear um pouco.

Confesso que esse era o motivo de eu não olhar muito para ele, aquele olhar era realmente de te deixar sem reação.

— Oh, não sejam modestos. — disse o doutor Jun.
— Concordo. — Yejin se sentou no sofá — Eu vi o currículo de vocês, realmente são os melhores daqui, acho que terei que trabalhar duro para me igualar.
— Ah, sim. — doutor Jun riu.

Eu estava me sentindo incomodada, não pelos olhares de , mas pelos olhares atravessados de Minsoo, como se ele não me quisesse ali.

— Bem, se me dão licença, meus pacientes me esperam. — eu me afastei um pouco até a porta.
— Não disse. — doutor Jun me olhou — Os pacientes sempre em primeiro.
— Bem até breve. — eu saí o mais rápido de lá.

Caminhei rapidamente pelo corredor até chegar ao elevador, quando se abriu entrei, e acompanhada.

— Está tudo bem? — disse .
— Sim. — eu olhei para o chão.
?! — ele apertou o botão de travamento e o elevador parou — Poderia olhar para mim.
— O que? — assim que meus olhos encontraram o dele, senti como se ele pudesse ver minha alma, meu corpo congelou.
— Você está estranha. — disse ele.
— Você não me conhece, como pode dizer que estou estranha?
— Posso ver isso em seus olhos. — ele continuou me olhando tão profundo, que chegava a doer dentro de mim.
— Já disse, estou bem. — eu apertei o botão e o elevador voltou a se mover — Só um pouco preocupada com meus pacientes.

Quando o elevador abriu, dei de cara com , ela entrou e eu saí mais que depressa, estava mesmo evitando falar com todo mundo. Acho que nem eu mesma estava entendendo o que estava sentindo naquele momento, mas faria o possível para ficar o mais longe possível daquele Minsoo.

Meus três dias se passaram com tanta rapidez que nem senti meu corpo ficando cansado com toda aquela correria, eu até pensava que seria tranquilo, mas sob a influência de Minsoo, o doutor Jun me colocou na emergência também. E oficialmente eu iria trabalhar com , o que eu menos queria naquele momento.

Como era esperado, tanto eu como fomos liberados para mais três dias de folga, eu saí do hospital meio desanimada. Como havia pedido Joseph para levar meu carro para revisão, resolvi voltar para casa caminhando, fazia tempos que não andava pelas ruas de Busan. De repente a tarde que ainda estava ensolarada começou a escurecer, será que choveria?

Parei por um momento para decidir que caminho tomaria, era muitas as opções de ruas e transportes, mas resolvi ir pelo mais longo, caminhei um pouco mais olhando as mudanças que ocorriam no céu, estava tão distraída que não percebi que estava passando a poucos metros de um posto de gasolina. De repente ouvi um barulho estranho, senti um vento gelado passar por mim fazendo meu corpo se arrepiar, me fez lembrar do meu sonho estranho. Em um breve piscar de olhos, um carro que parecia sem freios e sem passageiros veio descendo a rua desgovernado em direção ao posto, até que bateu na bomba de gasolina.

Eu acompanhei tudo aquilo em choque, não conseguia mover os membros do meu corpo, meus sentidos paralisados, houve uma explosão imediata e uma bola de fogo subiu ao céu. Era como se estivesse apertado a tecla stop, eu conseguia ver tudo aquilo sem nenhum movimento de minha parte, como se fosse um filme, o fogo veio em minha direção, senti meus olhos brilharem com aquela claridade toda, minha pele sentia o calor se aproximar, eram segundos que pareciam horas. Senti meu corpo despertar no susto e tentando sair de lá caí, não sabia como iria me proteger, se teria como, me encolhi fechando os olhos, estava me preparando para meu fim.

Foi quando senti uma sensação estranha de alívio, eu estava sendo abraçada. Abri meus olhos, inacreditável, era me envolvendo em seus braços, sua face estava embriagada de brilho, minhas vistas começaram a embaraçar com todo aquele brilho que seu rosto irradiava. Mas eu conseguia ver tudo que acontecia e o que estava atrás dele, fiquei hipnotizada por um momento, havia um par de asas brancas com suas pontas prateadas em suas costas, um breve sentimento de paz e tranquilidade pousou em meu coração. Seria possível isso?

Eram sublimes e suaves, as asas brilhavam mais e mais devido as faíscas do fogo que a tocava, até mesmo tinha me esquecido que estava no meio de uma explosão. Ele estava formando um escudo de proteção com suas asas, eu me sentia tão segura ali, nos seus braços. Ouvi de longe o bater de asas, fechei meus olhos fingindo ter desmaiado, será que havia mais pessoas como ele?

— Ela está bem? — disse uma voz conhecida, era de Yejin.
— Sim está. — me ajeitou em seus braços me pegando no colo e se levantou — Mas…
— Não se preocupe. — disse a outra voz, era mais grossa, parecia a de Minsoo — Vamos cuidar disso. — assim que ele disse ouvi o som de um trovão e senti algumas gotas caírem sobre mim, estava chovendo.
— Leve-a para casa. — disse Yejin — E cuide dela.
— Se ela me perguntar algo? — senti num tom de preocupação vindo de .
— O que mais pode acontecer, ela já viu suas asas. — disse Minsoo — E pela segunda vez.
— Então devo contar tudo? — perguntou .
— Você é quem decidi. — respondeu Yejin.

Eu abri meus olhos um pouco e vi que as asas de já estavam esticadas, ele tomou um impulso e começamos a flutuar, tentei manter minha encenação de desmaio, mas estava com receio de tudo aquilo. Em instantes chegamos no meu apartamento, ele me colocou em minha cama de forma suave, e se afastou um pouco.

— Pode abrir os olhos agora. — disse ele.
. — eu abri meus olhos, ele estava parado perto da janela.
— Você está bem? — ele me olhou, seu olhar sereno.
— Sim, na medida do possível. — eu levantei um pouco meu corpo me sentando — O que foi aquilo?!
— Um vislumbre do que seria sua morte. — ele desviou seu olhar para fora da janela.
— Não falo disso. — eu respirei fundo — Falo de suas asas.
— Elas. — ele sorriu de canto — Acho que se lembra delas.

A primeiro momento, não sabia do que ele falava, mas depois minhas lembranças do passado foram chegando em minha mente.

— Os psicólogos sempre diziam que era do meu trauma do acidente. — ele suspirei fraco — Que aquilo era uma forma que eu tinha encontrado para superar a morte dos meus pais.
— Sim.
— Quem acreditaria que uma criança tinha visto um anjo. — eu o olhei, senti as lágrimas se formarem no canto dos meus olhos.

Sim, naquele momento eu me lembrava de tudo, eu já havia visto suas asas quando era criança. Eu tinha 7 anos quando isso aconteceu, meu irmão estava de férias na casa dos meus avós em Jeju, e eu e meus pais estávamos em viagem para a Daejon onde morávamos, o tempo ficou nublado e começou a chover de repente, um raio atingiu uma das turbinas do avião fazendo ele cair.

Era para ter morrido com meus pais, se não fosse a intervenção de , por isso fui a única sobrevivente, foi naquele dia que eu vi suas asas pela primeira vez.

— Você não me deixou lembrar seu rosto, mas me lembrava das suas asas.
— Sim.
— Por isso sempre tenho o mesmo sonho desde aquele dia, aquela sombra é você, agora faz sentido. — eu limpei as lágrimas que estavam caindo — Por isso que eu finalmente vi seu rosto na última vez que sonhei com aquela sombra.
— Sim. — ele me olhou com ternura — Desde aquele dia eu venho salvando sua vida.
— Por que? — eu me senti um pouco apreensiva — Porque eu deveria ter morrido naquele dia?
— Não. — ele respirou fundo e ficou em silêncio por um momento — Mas por que você viu minhas asas.

“Levados pela brisa ao seu mundo, yeah
Eu vou bem perto de você e você me pergunta de onde eu vim
Você me perguntou inocentemente, então eu respondi que era segredo.”
- Angel / EXO



Capítulo 3

estava na cozinha preparando ramen para eu comer, enquanto isso eu fiquei no meu quarto tentando entender por que o fato de ver suas asas estava relacionado com ele ficar me salvando diariamente.

— Aqui está. — disse ele com uma bandeja nas mãos, me entregou dando um sorriso de leve.
— Komaweyo. — ele sorri de volta e olhei para tigela de ramen — O cheiro está bom.
— Coma bem então. — ele se afastou indo em direção à porta.
— Espera!
— Sim. — ele me olhou de forma serena.
— Você vai embora? — eu olhei para a tigela — Fique, por favor.
— Coma e descanse, voltarei em breve.

Ele se retirou, eu ouvi de longe o barulho da porta se fechando, acho que ele iria se encontrar com Yejin e Minsoo. Eu comi tudo e me levantei, fui até a cozinha e deixei a bandeja em cima da bancada, voltei para o quarto me espreguiçando, porém, ao passar pela sala obtive uma inesperada surpresa.

— Oh, não esperava que voltasse acompanhado. — ela olhei surpresa para Minsoo e Yejin.
— Viemos para ver se está mesmo bem. — explicou Yejin.
— Estou sim. — eu olhei para — Queria agradecer de novo por tudo.
— Nós vamos agora, temos que voltar para o hospital. — Minsoo olhou para — Conte a ela.
— Contar o que? — eu perguntei.
— Temos que ir. — disfarçou Yejin dando um sorriso sem graça.

Eu fui até a porta e abri, os dois saíram e então eu fechei e olhei para .

— O que tem para me contar?
— Acho melhor dormir primeiro, seu corpo está cansado.
— Vai me enrolar? Ouviu Minsoo dizendo.
— Prometo que saberá de tudo. — ele sorriu e caminhou até mim, deu um beijo em minha testa de leve — Boa noite.
— Boa noite. — confesso que senti meu corpo se arrepiar com o toque suave dos seus lábios.

Definitivamente eu admitia, tinha um lado que me atraia de uma forma, se eu contasse aquilo tudo para , com certeza ela falaria que estou me apaixonando.

Voltei para meu quarto, troquei de roupa colocando meu pijama e me deitei, passei alguns minutos olhando para o teto me lembrando de tudo que havia acontecido naquela noite, muitas revelações e lembranças do passado.

Quando amanheceu, fui acordando lentamente ao virar para o lado vi uma bandeja de café da manhã me esperando. Me alimentei adequadamente e me levantei, troquei de roupa e peguei meu celular, havia uma mensagem do meu irmão me convidando para o almoço, mandei outra de volta aceitando e dizendo que levaria uma pessoa comigo.

Ao entrar na sala, estava sentado no sofá lendo um de meus livros que ficavam na estante, estava concentrado.

— Como pode dizer que irei sem me convidar? — questionou ele dando um sorriso tímido.
— Me desculpe, você aceita almoçar com minha família?
— Aceito. — ele fechou o livro e me olhou — Tomou seu café?
— Sim, agradeço, eu comi bem!
— Vamos dar uma volta. — ele se levantou pegou em minha mão e me conduziu para rua.

Caminhamos um pouco pelo quarteirão até que ele me levou novamente à aquela cafeteria, desta vez eu prestei atenção na placa, se chamava Coffee 1004 e nas bordas da placa havia um par de asas de anjo, eu me admirei ao ver aquilo.

— Bonita a placa. — comentei.
— Gostamos de trocadilhos. — ele riu — É legal.
— Estou vendo.

Nós entramos e nos sentamos na mesma mesa dos fundos, desta vez o lugar estava vazio, somente duas pessoas que pareciam os funcionários.

— Posso fazer uma pergunta?
— Sim?
— Pessoas normais vem aqui, ou somente anjos?
— Pessoas normais vem aqui sim. — ele riu — Apesar de o público alvo serem os anjos.
— Por que estão aqui, na terra?
— Nem todos os anjos ficam no céu. — ele me olhou serenamente — Existem alguns como eu, Yejin e Minsoo que somos feitos com o propósito de vir para terra e salvar vidas que merecem uma segunda chance.
— E fazem isso como médicos? — eu o olhei ficando curiosa com aquela história.
— Médicos, bombeiros, policiais, cientistas, desta forma não somos descobertos e podemos fazer nossas tarefas tranquilamente.
— Agora está explicado todos os sucessos das suas cirurgias.
— Sim. — ele respirou fundo — Este foi um modo que o Senhor encontrou para que as pessoas voltassem a acreditar em milagres.
— Incrível. — eu olhei admirada — Isso é incrível, há quanto tempo os anjos fazem isso?
— Pouco mais de cinco séculos, quando a medicina começou a se tornar importante na sociedade de vocês.
— Outra pessoa além de mim viu suas asas?
— Não. — ele desviou seu olhar — Mas um garotinho já viu as asas de Minsoo uma vez.
— O que aconteceu com ele? — eu olhei preocupada.
— Tudo acabou bem. — ele sorriu de leve, mas aquilo não me convencia.

Duas horas depois, fomos para casa do meu irmão. Quando chegamos fomos recebidos na porta pela minha cunhada, meu irmão estava na churrasqueira nos fundos da casa.

esta é minha cunhada Hani. — eu a olhei — E Hani este é , um médico do hospital.
— Prazer doutor.
— Pode me chamar de somente.
— Ah…. Um médico. — disse Joseph vindo da cozinha — É a primeira vez que conhecemos alguém além da .
— Este é meu irmão. — eu olhei para — Joseph.
— Como vai?! — perguntou .
— Melhor agora, estava preocupado com minha irmã, mas olhando você, acho que ela tem salvação.
— Joseph! — eu gritei.
— Brincadeira. — ele voltou rindo para cozinha.
— Por favor, não leve ele em consideração. — eu disse.
— Não se preocupe. — ele riu — Não vou.
— Fiquem à vontade, vou buscar as crianças no quarto.

Não demorou muito e Hani começou a organizar a mesa com minha ajuda, nós conversamos um pouco sobre os estudos dos meus sobrinhos, eu ajudava a pagar a mensalidade do colégio onde eles estudavam. Nos sentamos à mesa e começamos a saborear o delicioso churrasco que Joseph tinha feito.

— Está gostoso como sempre. — elogiei.
— Eu sou o melhor na churrasqueira. — disse ele com um sorriso de satisfação.
— Convencido. — eu o olhei — Retiro o elogio.
— Está mesmo muito gostoso. — disse .
— Não dá corda Cho. — eu o olhei.
— Viu, tem bom paladar — brincou Joseph — Então há quanto tempo estão namorando.
— O que? — eu tossi quase engasgando com o suco que havia tomado.
— Não estamos namorando. — disse — Somos amigos.
— Amigos??? Não existe nem mesmo algo colorido aí??
— Yeobo, está deixando sua irmã constrangida. — Hani me olhou com dó, vendo minha vergonha.
— Vamos mudar de assunto. — eu sugeri.

Joseph adorava fazer piadas sobre mim na frente das pessoas, e desta vez sua plateia era , tirando todo o constrangimento de meu irmão me cobrar uma vida social mais ativa, nós almoçamos bem. Quando voltamos ao meu apartamento, brincou um pouco com os comentários do meu irmão.

— Se continuar falando desse almoço te expulso daqui. — adverti ele jogando minha bolsa na poltrona que tinha ao lado do sofá.
— Seu irmão se preocupa com você. — ele riu se sentando.
— Pode ser, quando ele não está me fazendo passar vergonha.

Nós passamos nossos dois restantes de folga entre conversas sobre como os anjos trabalhavam na terra e sobre as duras rotinas do hospital. Ele me ensinou a cozinhar um pouco, já que eu era uma tragédia em certas partes da gastronomia. Mas eu conseguia perceber que sempre que eu tocava no assunto de eu ver suas asas ele se distanciava um pouco, eu queria tirar aquela história a limpo, queria saber como poderíamos afastar a morte de perto de mim.


“Como seu anjo da guarda, irei bloquear esse vento forte
Mesmo se todos se virarem contra você
Em dias difíceis, Eu irei enxugar todas as suas lágrimas
Se ao menos eu posso ser esse tipo de pessoa
Onde quer que formos, será o paraíso.”
- Angel / Teen Top

Finalmente o dia de voltar ao trabalho chegou, eu e chegamos juntos, e isso causou muitos bochichos no hospital. Assim que eu entrei em meu consultório entrou atrás querendo saber de todas as novidades.

— Pode ir me contando tudo. — disse ela se sentando no sofá me olhando.
— Você não tem nenhuma paciente para checar não?
— Pare de me enrolar, eu liguei para casa do seu irmão e ele me disse que você almoçou lá com um doutor chamado .
— E?
— E que eu quero as novidades. — ela me olhou — Querida vocês chegaram juntos hoje, quero saber de tudo.
— Tudo o que, não aconteceu nada.
— Como não ? — ela estava meio indignada.
, minha amiga linda, não aconteceu nada ok?
— Não acontecendo. — eu peguei o prontuário da senhora Lee — Se me dá licença, tenho pacientes para cuidar.

Eu saí indo em direção ao elevador, quando entrei Yejin estava lá.

— Bom dia. — eu disse.
— Bom dia . — ele me olhou com um pequeno sorriso — Animada em voltar para rotina?
— Um pouco, aqui pelo menos me ocupo a mente.
— Sim, o fluxo de paciente é muito grande neste hospital.
— Vocês sempre ficam no mesmo hospital?
— Sim, nós somos formados em trios.
— E só trabalharam em hospitais?
— Bem, gostamos mais deste ambiente, mas uma vez trabalhamos como bombeiros.
— Interessante.

O elevador parou, era meu andar, me despedi dele e sai. Caminhei até o quarto da senhora Lee e entrei, ela estava acompanhada pela enfermeira Clair.

— Bom dia senhora Lee. — eu caminhei até ela — Como foram estes dias sem mim?
— Solitários. — reclamou ela — Nenhum médico veio me ver com a mesma frequência que você.
— Ah, mas a senhora tem a enfermeira Clair. — eu olhei para Clair — Obrigada por ficar com ela, poderia esperar lá fora?
— Sim claro, vou aproveitar e fazer um lanche. — ela sorriu — Até mais tarde senhora Lee. — ela saiu mais que depressa, parecia mesmo que estava com fome.
— Ah. — a senhora Lee me olhou assim que a enfermeira saiu — Não queria falar com ela aqui, mas não é a mesma coisa sem minha médica preferida aqui.
— Senhora Lee, me sinto bem com o modo em que a senhora me trata.
— Estou aborrecida com você doutora, meu neto esteve aqui ontem e a senhora não estava de novo.
— Não faltará oportunidades. — eu ri e retirei meu estetoscópio do bolso do meu jaleco — Vamos medir seus batimentos.
— Mas já fizeram isso ontem. — ela disse se levantando.
— Sim, mas soube que sua pressão arterial está oscilando um pouco, então tenho que checar diariamente, tudo bem?
— Se a doutora está dizendo.

Eu medi seus batimentos e conferi sua pressão, pedi mais alguns exames de sangue como taxa de glicose e anemia, eu me preocupava muito com ela. Mais 72 horas se completaram comigo e trabalhando no hospital, como estávamos no mesmo setor de emergência, sempre trombávamos nos corredores. Eu não conseguia explicar o porquê, mas meu coração sempre acelerava quando ele se aproximava de mim.

Nós dois voltamos juntos à noite para casa no carro dele, bem fomos para meu apartamento. Quando chegamos, fui diretamente para meu quarto tomei uma ducha quente e troquei de roupa, tentei colocar algo leve e confortável. Voltei para cozinha e lá estava ele preparando algo para nós comermos.

— Olha, estou começando a achar que você deveria estar no ramo gastronômico e não na medicina. — comentei rindo.
— Você acha? — ele me olhou com um sorriso gentil.
— Sim. — eu me aproximei — Que ajuda?
— Você quer ajudar?
— É só me dizer o que fazer. — eu sorri.

Ficamos conversando um pouco mais sobre culinária oriental, ele me pediu para cortar algumas cebolas, eu fiz careta no início, mas encarei a missão, quando estava quase terminando me cortei sem querer. me olhou assustado e correu até o banheiro e pegou minha caixinha de primeiros socorros, eu fiquei meio sem reação ao ver ele um pouco apreensivo fazendo meu curativo.

— Está tudo bem , é só um corte.
— Não é só um corte. — ele terminou de colocar o curativo e me olhou — Você não entende não é?
— Entenderia se me dissesse. — retruquei — , Minsoo e Yejin disseram pra você me contar, mas você não me disse tudo não é?
— Não. — ele desviou o olhar para porta — Não disse.
— Vem aqui. — eu peguei na mão dele e o trouxe para sala, nos sentamos no sofá, o olhei de forma séria — Me conta tudo, por que ficou assim por causa do meu corte?
— Por que até mesmo um simples corte como esse pode causar sua morte. — ele me olhou profundamente — E eu não quero que você morra.
— Eu não entendo…
— Desde que viu minhas asas quando pequena, eu te disse que sempre venho te salvando. — ele respirou fundo — Quando te convidei para tomar café aquele dia no mercadinho, eu estava te salvando também, você era a pessoa que seria baleada naquele dia.

— Eu realmente não queria que isso acontecesse com você, não queria que a morte te perseguisse.
— Tem como reverter isso?
— Sim. — ele me olhou sério.
— Como?!
— Apagando sua memória, como se eu nunca tivesse existido na sua vida.

Eu parei por um momento, não conseguia imaginar isso, não queria imaginar minha vida sem . Eu estava tão ligada a ele, que não queria me afastar agora, ele era o motivo de eu estar viva.

— Não. — eu o abracei no impulso — Não quero, prefiro morrer.
, se você morrer não vai ficar perto de mim. — ele retribuiu o abraço — Não quero imaginar algo ruim te acontecendo.
— Você me protege, como sempre me protegeu, , por favor, não me peça para escolher te esquecer.
. — ele se afastou de leve de mim me olhando — Quando os anjos da terra tomam esta forma, somos liberados a sentir algumas emoções humanas, e isso me fez sentir por você algo especial.
— O que quer dizer com isso?
— Eu não sei como definir, mas eu gosto de você. — ele acariciou de leve minha face — E por gostar de você, que quero que fique em segurança.
— Eu estou em segurança, ao seu lado.


Nada do que ele dissesse iria mudar minha ideia, eu não iria pedir a ele para apagar minha memória, eu não iria me afastar do meu anjo. No impulso eu o beijei, me esquecendo de tudo que havia ao nosso redor, senti que primeiramente ele ficou surpreso, mas depois retribuiu o beijo com suavidade, era um beijo doce.

— Me desculpe. — eu disse meio envergonhada.
— Isso não poderá se repetir. — advertiu ele com um sorriso de canto — Ainda sou um anjo.
— Sim. — eu ri de leve — Mianheyo.

Ele voltou para cozinha e terminou de preparar nosso jantar, ele fez um yakisoba super colorido e bem temperado, ele realmente cozinhava bem. Nós comemos tranquilamente até que Yejin e Minsoo apareceram na sala.

— Acho que não vou me acostumar com isso. — sussurrei ao vê-los.
— Te assustamos? — brincou Yejin.
— Não muito. — eu ri de leve — O que estão fazendo aqui?
— Viemos conferir se o doutor Cho te contou tudo. — respondeu Minsoo cruzando seus braços.
— E queremos saber sua resposta. — Yejin olhou para .
— Ele me contou sim, e minha resposta é não.
— Você sabe que está colocando sua vida em risco. — continuou Yejin.
— Minha vida está em risco desde que eu tinha sete anos, e eu sobrevivi até agora.
te salvou até agora. — retrucou Minsoo.
me disse que não podem me obrigar. — eu o confrontei.
. — Yejin deu alguns passos até mim me olhando tranquilamente — Não sei se te contou, mas as asas de um anjo existem como um escudo de proteção, mas não foram feitas para serem vistas por humanos, quem as vê atrai sobre si a maldição da morte.
— Eu sei disso. — o olhei confiante — Mas não tenho medo disso, e não vou aceitar, não quero me afastar de .
— É uma decisão arriscada. — Minsoo olhou para — Mas é uma verdade que não podemos te obrigar, vamos ver até onde isso vai dar.
— Nos vemos no hospital. — disse Yejin.

Eles abriram suas asas e emanaram uma luz intensa, em um piscar de olhos não estavam mais lá. Eu olhei para , a preocupação não havia abandonado sua face, em seus olhos eu conseguia ver o quanto temia por mim.

Eu o convidei para ver tv comigo no quarto, entrei no banheiro e troquei de roupa colocando meu pijama, voltei para o quarto e me deitei na cama em cobrindo com uma manta de tecido leve. Ele se sentou ao meu lado e ficamos vendo meus episódios atrasados de Emergency Couple, a cada episódio ele fazia um breve comentário engraçado. Não consegui sentir quando peguei no sono, mas dormi ao seu lado me passava mais segurança.

Na manhã seguinte, quando acordei ele não estava no apartamento, eu não entendi, mas troquei minha roupa e fui até a cozinha, aos poucos comecei a ouvir gritos vindo do corredor. Caminhei até a porta e quando saí, vi um casal de vizinhos brigando, havia uma criança perto deles, provavelmente era o filho.

— Com licença. — eu dei alguns passos na direção deles — Você poderiam resolver isso longe dessa criança, se quiserem posso leva-la para minha casa.
— Não se meta doutora. — gritou o homem.
— Senhor, o senhor está alterado, por favor tente se acalmar. — eu olhei para sua mão, ele estava segurando uma faca.
— Doutora por favor leve meu filho daqui. — a mulher me olhou, pude ver um hematoma na região do seu rosto, ela empurrou o garotinho para perto de mim.
— Sim claro. — eu puxei a criança para perto de mim, e tentei acalmá-lo.
— Devolve meu filho. — gritou o homem.
— Ele não é seu filho. — a mulher foi pra cima dele.
— Não. — eu gritei meio apavorada, sem saber o que fazer — Socorro.

O homem estava com alguns sintomas de embriagues, ele empurrou com muita força a mulher contra parede, ela caiu desmaiada, eu peguei a criança no colo e corri com ela até o elevador, como estava demorando resolvi descer pelas escadas. O homem continuou nos perseguindo, por mais que eu quisesse ser rápida, não conseguia com ele em meu colo, faltando alguns lances de estava para chegar na portaria o homem me pegou pelo braço e puxou a criança de mim.

Eu o confrontei no susto, acho que tive um breve ataque de adrenalina em meu sistema nervoso, mas ele era mais forte do que eu, em um movimento brusco ele me empurrou escada abaixo. Eu não sei em que momento eu havia perdido a consciência, mas ouvi bem lá no fundo a voz de gritar pelo meu nome.

“Apresse-se e me salve, pare, por favor fique do meu lado.”
- 1004 (angel) / B.A.P



Capítulo 4

* - on *

Eu estava desesperado, estava ensanguentada e inconsciente em meus braços sendo levada ao hospital, não conseguia me acalmar, esse sentimento de perda era um dos piores que os anjos podiam sentir. Quando cheguei no terraço do hospital Yejin já me aguardava, acho que ele também sentiu que havia acontecido algo.

— Como ela está? — perguntou ele.
— Sua respiração está fraca. — eu a olhei senti as lágrimas já formadas no canto dos meus olhos — Yejin, ela não pode morrer. — sussurrei sentindo meus batimentos cada vez mais fracos.
— Foi ela quem escolheu assim. — disse Minsoo ao se aproxima.
— Não desta vez, eu não vou deixar. — eu a levei para dentro, quando saí do elevador todos ficaram em choque.

Mais que depressa um dos enfermeiros trouxeram uma maca e eu a coloquei com cuidado em cima, a levamos para sala cirúrgica. Ela havia perdido muito sangue, pois a faca que estava na mão do homem havia perfurado de leve a região da sua barriga quando ela havia se jogado contra o homem. Eu estava nervoso demais para cuidar de tudo e não conseguia me concentrar, só queria que ela sobrevivesse. Alguns minutos depois de conseguir controlar sua hemorragia, seu coração parou de repente, senti meu corpo parar no mesmo momento.

Então Yejin parou o tempo e entrou na sala, ele me olhou gentilmente como se estivesse me avisando que aquilo era o ponto final da vida de . Mas eu não queria, não desta vez, eu estava disposto a fazer o certo para que ela pudesse viver uma vida tranquila.

— Yejin, me ajude. — eu o olhei meio desesperado — Não consigo fazer isso, não sozinho.
— E se ela sobreviver? — ele me olhou sério — Vai deixar que ela continue se colocando em risco?
— Não.

Ele assentiu, o tempo continuou paralisado e ele abriu suas asas, assim como eu também, fechamos nossos olhos e nossos corpos começaram a emanar uma luz forte e intensa. E toquei de leve em na altura do seu coração e ejetei uma descarga de energia, repeti o processo por 7 vezes até que seu coração voltou a bater.

Yejin se afastou um pouco, apesar de eu ser um anjo, ele tinha habilidades mais específicas quando o assunto era cardiologia e eu estava muito grato por ele ter me ajudado e pelo Senhor ter permitido esse sucesso. Yejin voltou o tempo ao seu normal e caminhou até a mesa.

Nós dois comandamos a reanimação fazendo massagens cardíacas em , fingindo estar reanimando, então eu olhei para o aparelho e o fiz voltar ao normal indicando os batimentos dela. Após a cirurgia, as enfermeiras a levaram para o quarto juntamente com a enfermeira , seu irmão já havia sido informado e estava na sala de espera.

Eu acompanhei Yejin até a sala de Minsoo, recebi algumas parabenizações por ter salvo a vida dela pelo caminho. Quando chegamos, Minsoo estava em pé olhando para fora da janela.

— Parabéns pelo sucesso de sempre. — disse ele num tom seco.
— Antes que me lembre o óbvio, tomei minha decisão. — disse o interrompendo.
— Aposto que seja sensata. — ele me olhou — Sempre terá nosso apoio, seja qual for, somos uma equipe e irmãos.
— Minsoo está certo. — Yejin sorriu e leve e sentou no sofá — Somos uma mini família.

Nós rimos um pouco e nos lembramos de alguns momentos engraçados. Eu esperei algumas horas até que soube que tinha acordado, então resolvi ir até o quarto dela.

. — ela disse em um sussurro, ainda com seus olhos fechados.
— Oi. — eu sorri de leve — Vim para ver se está bem.
— Você me salvou, não foi? — ela abriu os olhos e me olhou.
— Sim. — eu me aproximei mais parando ao lado de sua maca, olhei todos aqueles aparelhos ligados a ela, e chequei seus batimentos.
— A última coisa que me lembro é sua voz me chamando. — ela olhou para o lado analisando o todo o quarto — Estou na UTI, não estou?
— Está! — assenti me sentando ao seu lado.
— Minha família?
— Na sala de espera, seu irmão está aqui. — eu respirei fundo — Mas ele só poderá te ver…
— Daqui seis horas. — completou ela — Eu sei os procedimentos, eu estou em observação.
, eu…
— Eu sei, imagino o que vai dizer, mas sabe minha resposta. — ela me olhou, sua face estava tranquila e serena — Não quero me esquecer.
— Não deixarei que se coloque em risco só para poder ficar ao meu lado. — eu me curvei um pouco me aproximando mais.
— Você não pode, não pode me obrigar a aceitar. — ela me confrontou.
— Acho que desta vez, poderei violar o livre arbítrio. — eu me aproximei ainda mais dela deixando nossos rostos próximos, conseguíamos sentir a respiração um do outro, eu sussurrei em seu ouvido — Por um instante eu consegui sentir algo mais profundo por você, saranghae. — eu aproximei meus lábios dos dela suavemente a beijando com leveza.

* — off *

Eu acordei de um sonho profundo sentindo falta de ar, não conseguia me lembrar com o que tinha sonhado e nem como tinha voltado para minha casa, sentia que algo estava estranho demais. Ouvi meu celular tocando na minha bolsa e me levantei, o peguei e atendi.

. — disse meu irmão do outro lado da linha — Como está?
— Bem, eu acho, por que está me ligando a essa hora?
— Para saber da sua recuperação. — respondeu ele.
— Que recuperação?
, você não se lembra?
— Me lembrar do que?
— Um casal de vizinhos estava brigando e no meio de tudo você foi ferida quando tentou ajudar a mulher.
— Não me lembro de nada.
— O zelador te encontrou caída na escada e ligou para a emergência, não sabemos direito o que houve.
— Hum. — eu encostei de leve a mão na minha barriga e senti a cicatriz. — Curioso eu não me lembrar de nada.
— O médico disse que você poderia ter…
— Perda de memória devido ao trauma. — eu completei — Sou médica, sei desses detalhes.
— Pois é. — concordou ele.
— Você sabe qual foi o médico que me atendeu?
— Foi o próprio doutor Jun que fez a cirurgia, ele disse que seu coração parou umas duas vezes, tivemos sorte.
— Às vezes o significado de sorte na medicina é milagre. — eu sorri de leve e olhei para janela — Agora entendo por que estou me sentindo estranha como se estivesse me esquecido de algo.
— Não se preocupe , procure descansar e aproveitar seus quinze dias restantes de licença médica.
— Obrigada maninho!!!

Eu desliguei o celular, mesmo com aquela ligação e as explicações do meu irmão eu ainda me sentia muito incompleta, como se algo tivesse sido arrancado de mim. Eu coloquei meu celular na escrivaninha do meu quarto e caminhei até a cozinha, se estava de licença eu tinha que me alimentar muito bem.

Cozinhei um pouco de ramem para mim e comi no quarto enquanto via meus doramas, passei aquela manhã colocando todos os meus episódios de Emergency Couple e dia e finalmente quando terminei comecei a ver It’s Ok, That’s Love. Mesmo tentando voltar a minha rotina de dias de folga eu ainda continuava incomodada com tudo aquilo, a cada momento que eu tocava na minha cicatriz na barriga sentia que havia algo mal resolvido relacionado aquilo, mas eu não conseguia me lembrar de nada.

Ao anoitecer recebi uma mensagem de no kakaotalk, ela estava me perguntando como eu estava reagindo a minha licença e se eu estava me sentindo melhor.

, estou bem, mas me sinto estranha.”
“Também migs, você levou uma facada
e rolou escada à baixo, queria o que?”
“Tem algo que não se encaixa em minha memória,
é como seu eu sentisse um vazio dentro de mim,
um vazio que não pode ser preenchido.”
“Esse vazio se chama seus paciente.”
“Não, tem algo à mais.”
“Como o que?”
“Não sei, mas aconteceu alguma coisa nova no hospital?”
“Não, e já tem mais de dois anos que não vemos nada novo aqui,
sempre as mesmas pessoas e o doutor Park sendo o doutor Park”
“Ele nunca muda, como sabemos, sempre querendo ser o melhor”
“Sim, mas este posto já é seu.”
“E como estão meus pacientes?”
“Todos bem, a senhora Lee sente sua falta, mas isso não é novidade,
o jovem Dongho está progredindo no tratamento
e o senhor Kim não tentou se matar mais, e está com saudades.”
“Quando o senhor Kim tentou se matar?”
“Você não se lembra?”
“Não.”
“No início do mês passado, você e o enfermeiro DongKi
o salvaram de pular da janela do quarto.”
“Acho que me esqueci de muitas coisas.”
“Amiga, você precisa é deixar um
pouco este ambiente de hospital e viver.”
“Vivo para os meus pacientes e assim está bem melhor.”
“kkkkkkkk…. estou falando sério..”
“eu tbm, vou dormir, boa noite!”
“Viu é isso que estou falando,
está de folga e vai dormi às 8 da noite.”
“Boa noite!”


“Você estava parada em frente ao meu eu,
Desesperado e orando.”
- Angel / Teen Top

Eu fechei o aplicativo e me deitei na cama, fiquei vendo um filme pelo aplicativo do Netflix até que cai no sono. Mesmo me sentindo cansada e com o corpo pesado, eu dormi por poucas horas até perder completamente o sono.

— Não acredito que estou com insônia. — sussurrei para mim me levantando da cama, caminhei até a sala, peguei um livro de clínico geral que estava na minha estante e me sentei na poltrona ao lado da porta começando a lê-lo.

* POV - on *

Eu havia parado o tempo novamente para apreciar aquele momento, caminhei até ela e fiquei parado em sua frente, aquela seria a última vez que eu iria vê-la, pois eu, Yejin e Minsoo, estávamos de mudança para um hospital no leste da Indonésia.

Estava feliz mesmo com a despedida, pois ela estava bem e em segurança, eu havia definitivamente quebrado a maldição a fazendo me esquecer, mas não esperava que ela iria se sentir incompleta quando acordasse. Complexo como algo pode ser arrancando da memória, mas não do coração.

Me agachei em sua frente e fiquei a olhando mais um pouco, quando Yejin apareceu.

— Está na hora de irmos, Minsoo foi na frente para preparar nossa suposta transferência.
— Sim. — eu respirei fundo — Me dê mais dois minutos. Quero me despedir, um pouco mais.
— Você realmente desenvolveu um carinho fora do comum por ela. — comentou Yejin rindo de leve.
— Sim. — eu sorri de canto — Acho que se o Senhor nos permitisse sentir o amor, eu com certeza já estaria amando ela, jamais me esquecerei dela pequena humana.
— Vou te esperar no terraço. — disse ele desaparecendo.
— Mesmo não podendo sentir, acho que o que sinto pode ser convertido em uma só palavra. — eu a olhei profundamente e sussurrei — Saranghae.

* POV — off *

Minha leitura estava sendo profunda e minuciosa, quando senti um leve arrepio, mesmo sabendo que as janelas estavam fechadas olhei para frente para verificar.

Não sabia porque, mas sentia que não estava sozinha, era como se uma pessoa estivesse em minha frente me olhando, era uma loucura pensar isso, mas eu conseguia sentir. De repente eu pisquei e a sensação passou automaticamente, eu ri meio sem saber o porquê, me achava uma louca naquele momento. Me espreguicei um pouco e voltei a minha leitura.

Os dias da minha licença havia se passado rapidamente, e estava de volta a minha rotina no hospital, aquilo me deixava mais animada eu me sentia mais viva quando trabalhava. Saí da minha sala e caminhei tranquilamente pelo corredor até o elevador, estava de folga, então com certeza minha tarde seria silenciosa. Então para passar o tempo, resolvi ir no quarto da senhora Lee.

— Boa tarde senhora Lee, como prometido voltei para ouvir mais histórias.
— Ah, que bom que está aqui doutora. — ela sorriu para mim com muita animação — Meu neto veio me visitar hoje, ele foi pegar um presente da minha filha no carro.
— Que legal. — eu me aproximei dela e examinei novamente seu prontuário — Finalmente vou conhecer meu noivo arranjado.
— Sim. — ela riu — Já tem sete meses que ele retornou dos seus estudos nos Estados Unidos, e eu estou tentando promover este encontro.
— Agradeço sua perseverança. — eu ri também — Agora poderei dizer a minha família que finalmente conheci meu noivo.

Nós duas rimos mais um pouco até que o rapaz entrou no quarto, eu virei meu rosto e o olhei, senti meu coração parar de repente, fiquei um pouco sem reação quando nossos olhares se encontraram, ele abriu um sorriso tímido e olhou para meu nome escrito no jaleco, como certeza sua timidez era por causa da senhora Lee e de como ela se empenhava em nos unir e me tornar sua neta oficialmente.

— Oh, que bom que voltou rápido, querido esta é minha médica preferida a doutora Miller. — disse ela com um largo sorriso.
— Ah, halmeoni¹. — ele olhou para a senhora Lee — Que bom que ela está aqui desta vez. — ele caminhou até mim e se curvou em cumprimento — Prazer doutora Miller, minha avó tem falado muito sobre você.
— Igualmente. — eu segurei um pouco o riso, estava me sentindo meio envergonhada naquele momento — Mas pode me chamar de se achar mais confortável.
— Tudo bem, pode me chamar de . — ele sorriu de canto, eu senti meu coração parar novamente quando ele falou seu nome.

Eu me sentia familiarizada com aquele nome, como se já ouvisse antes.

— Bem, você trouxe meu presente querido? — reclamou a senhora Lee, me fazendo voltar a realidade.
— Sim halmeoni¹!!! — ele entregou o embrulho para ela.
— Ah. — ela pegou transbordando alegria — Estava esperando por isso.
— Se eu soubesse que era o aniversário da senhora tinha comprado alguma coisa. — eu coloquei o prontuário na mesa ao lado da porta.
— Oh, não precisa se incomodar, meu maior presente vindo de você doutora, é se tornando minha neta. — ela olhou para .

Eu senti que ele havia ficado tão constrangido quanto eu, então inventei uma desculpa para sair do quarto. Voltei para minha sala em risos, passei o final da tarde checando alguns exames do senhor Kim, que tinha pegado no laboratório. Infelizmente por causa da minha recuperação, eu não poderia fazer plantão nas próximas quatro semanas, quando estava me preparando para ir embora, bateram na porta e eu avisei para entrar.

— Com licença. — disse ao abrir a porta — Está ocupada?
— Bem. — eu peguei minha bolsa e as chaves do meu carro — Estava de saída.
— Ah. — ele recuou um pouco meio sem saber o que fazer.
— Deseja alguma coisa? — eu o olhei.
— Bem, minha avó disse que não me perdoaria se eu fosse embora sem me despedir de você. — ele riu de leve — Louco isso não é?
— Se tratando a senhora Lee, eu acredito que sim. — eu ri também.
— Então, já que você está de saída, eu…
— Você?!
— Queria saber se está livre esta noite.
— Acho que sim, por que? — o olhei curiosa.
— É que abriu uma cafeteria nova aqui perto e de repente você está com fome, poderíamos…
— Sim. — eu aceitei no impulso não o deixando terminar a frase, não entendia o porquê, mas sentia que deveria me aproximar mais dele — Qual o nome da cafeteria?
— Você vai ver quando chegarmos. — ele sorriu de canto — Vamos?
— Claro.

Nós saímos juntos do hospital, com certeza muitos comentários iriam surgir até o dia seguinte, e iria querer saber todos os detalhes. Caminhamos um pouco até chegarmos no lugar, olhei para placa e a achei diferente, a sensação de algo familiar voltou.

Coffee 1004. — li em voz alta.
— Dizem que é um trocadilho. — explicou ele — Por causa das asas.
— Interessante aqui.

Nós entramos e nos sentamos em uma mesa perto da vidraça principal, pedimos um cappuccino para mim e um café expresso com creme para ele, e dois pedaços de bolo de limão. Comemos tranquilamente enquanto ele contava sobre sua grande família e seus estudos no exterior. era uma pessoa interessante e muito educado, gentil e simpático, logo me senti interessada por ele.

Demoramos um pouco no lugar e prolongamos muito a conversa, ele me levou de volta para o hospital, nos despedimos e trocamos os contatos, assim eu fui até meu carro e voltei para o apartamento.

No dia seguinte, logo quando cheguei na recepção e assinei minha folha de presença, se colocou ao meu lado me enchendo de perguntas sobre minha saída no dia anterior. Fomos até a lanchonete e pegamos nosso café, voltamos para minha sala para termos privacidade.

— Você vai me contar tudo em detalhes, não quero deixar nada passar. — advertiu ela saboreando seu sanduíche.
— Não aconteceu nada demais. — eu disse ela rindo ao tomar um gole do meu cappuccino.
— Como assim nada? — ela me olhou indignada — Eu mal chego hoje de manhã e ouço os comentários que você saiu daqui acompanhada por um homem lindo e charmoso.
— Era o neto da senhora Lee. — expliquei a ela.
— Não? — ela deu um pulo ficando com a boca aberta — Não brinca que você finalmente conheceu seu noivo arranjado? Conta tudo.
— Foi ontem à tarde. — ela me sentei na minha cadeira — Foi meio constrangedor, conhecê-lo.
— Sei, me conta mais, como ele é?
— Bem, simpático.
— Só? — ela fez uma careta — Querida desenrola isso!
— Ah , não sei como detalhar ele. — eu desviei meu olhar — Ele tem um rosto sereno que transmite segurança, tem um olhar profundo e intenso, tem um sorriso tímido e charmoso ao mesmo tempo…
— E seus olhos estão brilhando. — disse ela me interrompendo.
— Que isso, invenção sua. — eu revirei meu copo tomando todo o cappuccino.
— Invenção nada, não vejo seus olhos brilharem assim desde que pegou seu diploma na universidade.
, para.
— Hum. — ela me olhou — Está ficando apaixonada.
— Não brinca com essas coisas. — eu me levantei caminhando até a janela.
— Sério. — ela deu uma risada estranha e escandalosa — Me diz o que você sentiu perto dele?
— Não sei explicar, eu me senti diferente.
— Diferente como?
— Sabe aquele incômodo que eu sentia há dias atrás, um vazio.
— Sei.
— Tudo isso passou quando eu o vi no quarto da senhora Lee.
— Ah, está explicado. — ela se levantou e jogou o seu copo no lixo juntamente com o saquinho do sanduíche — O vazio que estava sentindo era falta de companhia, o incômodo era solidão sentimental, e com certeza a tradução para tudo isso ter passado ao olhar para ele é amor à primeira vista.

Eu fiquei sem reação as suas palavras, se dirigiu à porta e saiu. Fiquei pensando naquilo o resto do dia, mas as palavras dela por mais que fossem racionais e lógicas, não batia com o que eu sentia de fato.

Passaram se algumas semanas, eu e trocávamos muitas mensagens no kakaotalk. Era sábado e ele tinha me convidado para um piquenique no parque de Parque Yongdusan. Sentamos de baixo de uma árvore e conversamos um pouco enquanto degustamos o lanche que ele havia levado.

— Você cozinha muito bem. — eu comentei o elogiando.
— Komawo. — ele sorriu meio tímido — Como morei muito tempo fora e às vezes sozinho, tive que aprender a cozinhar.
— Aprendeu muito bem. — eu o olhei.
— Que bom que gostou. — ele me olhou automaticamente.

Ficamos em silêncio por um bom tempo nos olhando, eu sentia meu coração pulsar mais forte e acelerado, de repente começou a chover. Nós juntamos tudo rapidamente e procuramos um lugar para nos esconder da chuva, que estava forte e intensa. Ele avistou um ponto de ônibus e pegando em minha mão de puxou até lá.

Quando chegamos ele me virou em direção a ele, tentando me proteger. Nos olhares se encontraram novamente, nossas respirações sincronizadas, estávamos molhados e tentando recuperar o fôlego, mas mesmo assim nossos olhares fixados um no outro.

Em um impulso repentino, foi se aproximando cada vez mais até que nossos lábios se encontraram. Aquele beijo molhado era doce e suave, ele deixou a cesta cair no chão e envolveu seus braços em minha cintura de leve, senti um breve arrepio passar pelo meu corpo.

Meu coração se acelerava a cada instante, me senti aquecida naquele momento, me senti completa de novo, senti que era o complemento daquele vazio que eu sentia.

“Parece que eu não posso suportar,
Em algum lugar, algo estava balançando.
Nos meus lábios, isso se estabilizou.
Essas palavras, são palavras que eu preciso dizer.
Eu gosto de você
Sem ninguém saber, isso se estabilizou.
Essas palavras. Eu gosto de você.”
- I Like You / One Sunny Day OST (Ggotjam Project)

1. halmeoni: avó em coreano.


The End!



Nota da autora:
Mais uma fic minha aqui no FFOBS, espero que tenham gostado dessa também, estou com essa nova loucura de escrever fics de doramas.
Comentários, críticas e elogios sempre serão bem-vindos!!
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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