Última atualização: 14/02/2019

Capítulo Único

, você tem que estar em cinco minutos no sétimo andar!
Uma voz gritou no corredor, e por estar com a porta da minha sala aberta, acabei ouvindo. Apesar de odiar aquela mania que tinham de berrar quando podiam simplesmente ligar na merda do interfone e me explicar o que estava acontecendo, naquela vez aceitei calmamente por ser uma emergência e também culpa minha mesmo, e sem tempo para dar broncas em ninguém, fechei a aba do que lia rapidamente no notebook e peguei o blazer preto.
Não consegui fazer muito além de sair correndo, agradecendo as divindades que a porta do elevador estava aberta e me esperando. Por sorte, eu trabalhava exatamente na revista ao qual a matéria sobre mim sairia, então não tinha que me preocupar demais sobre estar atrasada para a sessão de fotos que dividiria com a dona do lugar, porque se eu estivesse, o máximo que minha chefe faria seria ia me dar um tapa brincalhão no ombro, fingir alguma irritação com uma frase e depois ignorar.
Apertei o botão do sétimo andar uma vez só, então apoiei as costas no corrimão de ferro que ficava acoplado nas paredes e rodeava o quadrado de vidro, sentindo o gélido do metal contra as minhas costas. Respirei fundo, não por ansiedade, mas por saber exatamente o que me aguardava quando eu descesse da espécie de transporte. Eu estava sozinha nele, então podia revirar os olhos em um desgosto disfarçado.
provavelmente estava me esperando com uma equipe inteira de maquiadores e cabeleireiros, o que não me incomodava tanto, até chegar na equipe de stylists. Eu tinha certeza que passaria mais de uma hora só saindo e entrando do provador, e não tinha nada que eu detestava mais do que ter que colocar cinquenta combinações de roupas diferentes. Ela fazia isso com todo mundo, certeza que não ia ser diferente comigo.
E realmente não foi, porque assim que eu dei o primeiro passo pra fora, minha amiga já apareceu me puxando pela mão com um largo sorriso satisfeito.
― Achei que eu ia ter que te buscar no departamento! Inclusive já estava indo até lá mesmo. ― ela começou a me arrastar pela mão para dentro daquela loucura que estava acontecendo em todo o ambiente, enquanto as pessoas montavam todo o cenário ao qual iríamos chamar de nosso e a sentavam na cadeira do cabeleireiro. ― Está tudo uma loucura aqui, e eu preciso falar com você urgentemente.
― Eu nem estou atrasada e você estava assim?! ― sentei na cadeira ao lado dela, arqueando uma sobrancelha. Conhecia-a bem demais para saber que ela estava espumando de ansiedade e não ia esperar muito mais para despejar o que estava em sua cabeça em mim.
― Sim! Eu não vou conseguir falar com você depois que a sessão terminar, precisa ser agora. ― soltou um suspiro frustrado pela correria, enquanto o hairstylist começava a nos olhar como uma expressão julgadora um tanto assustadora. ― Eu e o vamos viajar pra comemorar nosso noivado, e eu vou ficar fora por um tempo.
… Por quanto tempo? Você sabe que essa empresa vai implodir sem você aqui, não sabe? ― eu quis voar no pescoço dela sobre como ela estava sendo irresponsável fazendo aquilo, mas logo recordei que era ali, e tudo o que ela mais detestava ser, era irresponsável.
― Eu sei, mas também veio no tempo certo! Pensa, o vice-presidente da empresa é meu irmão, mas todo mundo sabe que ele não dá uma foda desde que aquela filha dele nasceu. ― minha amiga tinha problemas de ciúme até mesmo com a sobrinha, o que eu, na verdade, sempre achei meio doente. Mas que era verdade que o irmão concentrara toda a atenção na recém formada família, bem, isso era. ― E antes disso ele também não era muito presente, então… Eu chutei ele. Sabe o que isso quer dizer?
― Que estamos sem vice presidente? ― arqueei uma das sobrancelhas, não entendendo bem qual era o ponto que ela queria chegar, e tentando relaxar meus ombros quando o homem começou a mexer no meu cabelo para que ele não sentisse minha tensão.
― Isso. E eu preciso de um novo vice presidente, rápido, porque com o casamento eu não vou conseguir me concentrar direito em todas as edições. ― bom, essa parte já era óbvia e, de novo, não entendi o ponto. O que aquilo tinha haver com ela deixando tudo à beira da anarquia em uma viagem inesperada e romântica? ― Preciso de alguém que eu ame e confie plenamente, e que eu saiba que não vai me apunhalar pelas minhas costas, além de estar em sinergia comigo e entender meus métodos de trabalho e meus gostos.
― Você vai colocar seu noivo? ― questionei, ficando ainda mais confusa com todo aquele discurso.
― O que?! ― riu tão alto que meus ouvidos quase doeram, mas aquilo não me incomodava exatamente, no fim, eu sempre gostei do som da sua risada. Mesmo que às vezes fosse muito alta. ― Não! ― ela riu ainda mais, e eu acabei deixando um sorriso de canto escapar, mesmo que estivesse irritada por não estar entendendo. ― O só entende de cozinha e de gastronomia. Nadinha de arte, e olha que ele mesmo é uma obra de um ótimo artista. ― revirei os olhos com o elogio que ela soltou para o noivo, mas no fundo achei fofo. Minha amiga nunca escondeu o quão apaixonada era por ele, talvez por isso eles davam tão certo.
― Então o que você quer dizer, afinal? Não entendi. ― desisti de uma vez de tentar descobrir pelas palavras dela e perguntei, mas o sorriso de canto que vi de relance me deixou ainda mais assustada.
― Eu quero que você cuide da empresa enquanto eu estiver fora, por isso o timing é perfeito! Não tem ninguém melhor pra isso do que você, , você é a mais capacitada aqui dentro e conhece todas as rotinas, além disso, eu confio em você. ― minha cabeça girou um pouco com aquela notícia, e ao perceber que eu fiquei em choque, ergueu uma mão do encosto da cadeira para tocar meu braço carinhosamente. Aquilo estava parecendo um pedido de casamento, talvez fosse a vibe que minha amiga vinha com todo o alvoroço do evento. ― Isso é um teste mais pra você do que pra mim, porque eu conheço sua capacidade, mas não sei se você tem certeza se quer isso pra você, então é só se você quiser, não precisa dizer sim se você não tiver vontade. E, se depois desse tempo, você ainda não quiser, você realmente não precisa aceitar nada. Você aceita?
― Sim. ― respondi inconscientemente, ainda com meus olhos piscando automaticamente pelo choque da situação, e vi o sorriso sarcástico crescer no rosto da peste, me fazendo bater levemente contra a mão dela que me tocava ao perceber o que ela havia feito. ― Você é ridícula! ― grunhi tentando segurar minha risada, mas foi impossível vendo a expressão de satisfação dela.
― Não me importo, FOI MUITO BONITINHO! ― começou a rir de novo e a olhar para os lados, atrapalhando o trabalho do cabeleireiro que tentava trançar os cabelos dela em uma tiara. ― Será que alguém gravou?!
― Para, besta! ― tentei me controlar em não rir, mas como de costume, a praga era tão extra fingindo que ia levantar para perguntar para as pessoas, que eu acabei não conseguindo.
― Tudo bem, eu já estou satisfeita com você aceitando tão fácil! Achei que eu ia ter que partir pra chantagem psicológica e dizer que eu não ia poder viajar se você recusasse. ― olhei incrédula para a expressão infantil que ela ostentava no rosto, como se não estivesse falando um absurdo. ― Imagina, eu perder minha viagem romântica de noivado por que ninguém ia poder cuidar da revista?
― Se você fizesse isso, … ― fiquei vermelha só de imaginar a palhaçada, e minha amiga riu ainda mais, pondo em dúvida se realmente teria a coragem de fazer uma coisa daquelas. Mas eu também a conhecia bem o suficiente para saber que sim, ela teria.
― Eu vou deixar a sua agenda e tudo com a Lauren, ela vai ser a sua secretária e te obedecer como se você fosse eu. A primeira coisa que eu preciso que você organize é a edição sobre os , e tudo sobre a nova exposição. Eu fiz um dossiê com a minha opinião e tudo, não vai ser muito complicado, tá? E qualquer coisa você pode me ligar, não precisa se preocupar demais. ― agora já voltava ao modo normal, compreensivo e prestativo, e eu respirei fundo para acompanhar tanta loucura, assentindo com a cabeça. ― Se qualquer um te desobedecer, for hostil ou algo desse tipo, você tem permissão de chutar a bunda do indivíduo pra longe dessa empresa.
― Relaxa, . ― eu ri com a última fala dela, balançando a cabeça negativamente. ― Você sabe, ninguém é louco de fazer isso. Porque se você não tivesse me dado permissão, eu quebrava a cara do imbecil. ― os olhos dela brilharam ao ouvir isso, me fazendo rir ainda mais e balançar a cabeça negativamente.
― Eu consigo sentir o quanto isso vai dar certo, .

❥❥❥❥❥

Nunca tive problemas em admitir minhas limitações, e aquele era um desses momentos.
Eu havia começado a enlouquecer assim que pegou aquele elevador, acenando animadamente e se despedindo com um largo sorriso no rosto há três dias, logo após fazer uma transmissão para todos os autofalantes da empresa anunciando que eu estaria no comando enquanto ela estivesse fora e que todos me deviam obediência e respeito.
Dali em diante, todos os olhares, toda a pressão e todas as dúvidas se voltaram para mim. Eu estava acostumada com prazos, gente do meu departamento enchendo o saco e ameaças de processos por críticas negativas a artistas arrogantes, mas no fim, tinha uma coisa que sempre me manteve firme e forte no cargo de chefe da coluna, e era que eu era uma crítica de arte.

Uma boa crítica de arte. Segundo , a melhor de todas da cidade e, pra encher minha bola, ela podia até falar do país, do mundo e de toda a galáxia. Aquele era o meu trabalho, que eu havia estudado e me preparado para desempenhar da melhor forma possível. Mas nesse momento, eu havia percebido que eu também era uma crítica de arte, e não uma CEO.
Era uma vulnerabilidade humana, não queria dizer que eu era fraca. Eu nunca tinha sido CEO antes, então era óbvio que eu não sabia como ser uma. O problema é que eu estava sozinha para aprender, porque por mais que soubesse que eu podia contar com a minha amiga, eu não estava disposta a estragar as férias dela, mandando uma mensagem a cada dois minutos porque estava em dúvida ou a ponto de surtar.
Observei bem a capa da edição da semana que estampava, falando sobre os motivos do sucesso da revista. E então eu abri na página sete, a qual tinha uma foto minha, sozinha, e no topo da página estava escrito em letras rosas e bem grandes “Tenham uma crítica de arte maravilhosa”, e, logo abaixo, no fim do discurso de havia feito sobre mim, continuava com “e mantenham pessoas que vocês confiem na sua equipe”.
Sorri e virei a página, balançando a cabeça negativamente ao encontrar uma foto de nós duas jogadas em um sofá, ambas com os notebooks no colo e concentradas nas telas, com o título enorme na parte superior como “a dupla dinâmica”. Eu deveria avaliar aquela edição, mas como eu reprovaria algo ao qual eu estava tão diretamente envolvida?
E, lembrar de aprovação ou reprovação, me fez morder os lábios levemente em nervosismo.
Eu havia lido o dossiê que minha chefe deixara sobre os , e nunca a havia visto ser tão dura em uma crítica. sempre queria ser condescendente, se dar bem com todos e evitar falar algo que pudesse magoar outras pessoas, mas agora, apenas vendo as prévias, ela já dizia que eles não teriam capacidade de conectar o tema entre as telas, e tudo, muito provavelmente, pareceria ter saído de várias exposições diferentes, e a única coisa em comum entre todas seria os traços entediantes.
A família era extremamente conceituada no mundo artístico de Los Angeles, e exatamente todas as outras revistas sempre tiveram opiniões favoráveis às suas exposições, com exceção da que eu trabalhava. Faziam seis anos desde quando eles abriram o último evento do nome, e eu me lembrava de ter ido ainda como uma estagiária, para acompanhar . Ela fora educada e simpática durante o evento, e eu fui completamente ignorada pelos ricos infelizes.
Eles não eram tão ruins como ela conseguia fazer parecer, mas também não eram bons o suficiente para todo aquele escarcéu.
nunca disse, porém eu sempre desconfiei que aquilo fosse pessoal, mesmo que eu não entendesse bem o porquê. Eles eram ricos e influentes, obviamente não eram todos que tinham coragem de criticá-los. E tinha porque era tão rica e influente quanto eles. Talvez ela se sentisse obrigada já que eles nunca poderiam derrubá-la?
? ― a voz feminina me chamou a atenção, acompanhada de duas batidas na porta de vidro, e eu ergui a cabeça da revista para encontrar a minha secretária postiça.
Lauren parecia uma porta, mas eu admirava isso nela. Não era barulhenta, nem escandalosa e era extremamente educada e discreta, o que no meio da loucura que era aquela empresa, eram características para serem exaltadas.
― Oi?
― O carro para te levar a exposição está chegando em alguns minutos, nós já devemos descer para esperá-lo. ― ela explicou em um tom tão calmo que chegava até mesmo a me tranquilizar, e eu assenti com um sorriso, me levantando e pegando apenas minha bolsa que estava pendurada no cabideiro próximo à porta.
Eu não estava me esforçando nem um pouco para parecer mais arrumada ou intimidadora, mas conforme eu passava, todo mundo calava a boca e fingia que não estava me olhando de soslaio e sim, fazendo seus trabalhos nos computadores. Revirei os olhos, porque aquilo era ridículo. Nem bom dia tinham coragem de me dar mais, e só me procuravam quando era problema pra resolver.
― Quer ouvir uma revisão sobre o conceito da exposição de hoje? ― Lauren perguntou enquanto andava no meu encalço, apertando o botão do térreo no painel do elevador.
― Claro. ― eu já havia lido o resumo, visto as prévias e estudado tudo o que haviam falado sobre, mas não seria nada mal confirmar tudo.
― O conceito é juntar diversos países em um local só, pra ressaltar a diversidade e a miscigenação das pessoas. Para isso, eles apostaram em telas extremamente diferentes umas das outras, mas que podem ter harmonia entre elas mesmas. ― provavelmente aquilo havia sido dito em uma entrevista por eles, e a garota pareceu animada de uma hora para a outra. ― Mas eu sinceramente espero que esteja péssimo. Não sei se eles são merecedores de uma boa crítica.
Arqueei uma das sobrancelhas ao ouvir aquilo, agora entendendo que realmente as coisas eram pessoais, e não partiam somente da CEO da empresa. A mais nova pareceu captar o ponto de interrogação em minha cabeça, e então iniciou a explicação enquanto eu saía do elevador.
― O senhor não abre muito a boca, não precisa se preocupar com ele. Mas a mulher… ― Lauren revirou os olhos dramaticamente, como se estivesse prestes a gorfar ao descer do elevador e começar a andar na direção da saída. ― É a próprio cão vestido de prada. Terrível. Evite ela o máximo que conseguir.
Tenho que dizer que aquilo não foi muito tranquilizante e nem me deixou mais animada em ir até lá, mas mentalmente tomei nota e agradeci o aviso, procurando o carro que nos esperava no acostamento da avenida.
― Como você sabe disso tudo? ― perguntei curiosa. Pelo o que eu ouvira falar, Lauren era uma estudante de artes plásticas que passara na entrevista de estágio apenas porque fazia um ótimo café.
― Bom, eu não sirvo só pra fazer café. ― ela sorriu de canto e eu arregalei os olhos, mas acabei sorrindo também, entrando no automóvel preto e observando-a fazer o mesmo. ― Eu sempre fui uma grande fã da revista e acompanhei desde o início. Sabia que uma crítica tão pesada ia ter seus motivos quando a última exposição dos apareceu, então fui pesquisar e descobri depoimentos de críticos que disseram que foram ameaçados por ela. Ou uma crítica boa, ou uma carreira inteira indo por água abaixo.
Ótimo. Mais um incentivo, todas as minhas teses sendo confirmadas uma atrás da outra…
― Mas você não precisa se preocupar com isso. ― Lauren pareceu sentir o meu desgosto e já se adiantou. ― Nossa revista é livre da praga, nosso nome é maior que o dela.
― Eu espero que sim…
Nossa conversa então mudou de rumo, passando por assuntos aleatórios como o clima, a empresa e tudo mais até que chegássemos no museu de arte contemporânea quase quarenta minutos depois, uma distância que sem trânsito seria de quinze, nada muito novo em Los Angeles. Desci do carro me sentindo liberta e com a maior parte dos ossos do corpo estralando, arrancando um sorrisinho de Lauren que seguiu ao meu lado.
Logo na entrada da construção excêntrica de arcos geométricos e paralelos, havia um enorme cartaz anunciando a exposição intitulada “Internacionalize”. Eu estava realmente curiosa para descobrir como eles iriam retratar aquele conceito, então não demorei para entrar e mostrar minha carteira VIP como crítica, burlando a fila e estando dentro do lugar em menos de cinco minutos.
― Ela está à direita, então seria bom continuar indo pela esquerda. ― Lauren sussurrou para mim de forma discreta, fingindo que olhava para o seu celular e digitava alguma mensagem, e não seguindo uma das anfitriãs com o olhar discreto.
Os quadros estavam dispostos em uma parede para cada continente, mas os países estavam misturados entre si. A forma de reforçar a ideia havia sido interessante, mas no início foi muita informação para avaliar de uma vez, uma explosão de cores e formas que não consegui digerir bem como um todo e precisei me concentrar para prestar atenção individualmente.
Sozinhas as telas não melhoraram muito, apesar dos traços estarem bem nítidos e parecerem bons. Eram um pouco estereotipadas uma vez que o Brasil era representado com futebol, o Cristo Redentor e carnaval, o Japão com samurais, Estados Unidos com a estátua da liberdade, França com a Torre Eiffel e assim sucessivamente.
Literalmente tudo era a primeira coisa que passava em minha cabeça quando ouvia falar o nome de tal localidade, e eu ainda não sabia distinguir se isso era ruim ou não, mas aparentava ser desleixado. A exposição era pró-diversidade e contra preconceitos, mas estava reforçando o quanto na América Latina só havia festas e irresponsabilidade, enquanto a Europa era maravilhosa e rica. Parecia faltar pesquisa e dedicação, e eu anotei isso sem perceber que havia alguém do meu lado.
― Eu tenho a impressão que já te vi antes… ― acordei da minha concentração arregalando os olhos. Não esperava ser interrompida daquela forma rude, mas também não podia esperar muito mais de gentileza e simpatia depois do perfil que haviam me passado sobre aquela mulher.
― E realmente nos vimos, senhora . ― respondi, não me dando muito a oportunidade de encará-la por pura falta de vontade. Já conhecia bem a aparência elegante que aparentava ter quinze anos a menos do que realmente tinha e costumava estampar diversas revistas. E afinal, eu estava ali para fazer o meu trabalho, e o meu trabalho era avaliar os quadros e a arte, não manter uma conversa falsamente alegre. ― Estive na sua última exposição. ― não que eu acreditasse que ela se lembraria, afinal, ela fizera questão de ignorar completamente minha existência naquele ano.
― Sei bem com quem você estava. ― ela pareceu satisfeita em questionar isso, e eu me assustei ainda mais com a memória da praga, sabendo que não tinha como vir alguma coisa boa disso. O marido dela estava próximo o suficiente para ouvi-la, e eu comecei a me sentir extremamente intimidada com todo aquele ar de máfia. ― Huh, a Meraki¹ mudou de crítica? Quem sabe essa não tem mais bom gosto do que a anterior. ― ela olhou para trás, comentando com o homem que sorriu de canto, balançou a cabeça e se afastou.
― Não precisa pensar demais sobre isso, eu e presidente temos o exato mesmo gosto e pensamos igual, então se ela achava as suas exposições péssimas, eu também vou achar. ― sorri de volta de forma larga e dócil, e a boca da mulher se escancarou em completo choque. Eu nunca tive paciência pra aqueles jogos de poder e falsidade, talvez fosse por isso que eu era tão odiada assim no meio de quem eu criticava. ― Inclusive, já até tirei minhas conclusões, não preciso ficar mais aqui.
Dei o primeiro passo para girar meus calcanhares em direção a saída, mas fui impedida quando a mulher segurou o meu braço com uma força que eu nitidamente não esperava vindo de alguém com pelo menos quinze centímetros a menos que eu. Tentei me soltar, mas parecia impossível, e percebi que eu devia mesmo voltar a academia se estava fraca ao ponto daquilo estar acontecendo.
Acabei procurando por Lauren com olhares discretos para os lados, mas a abençoada justo naquela hora resolvera sumir da minha vista para comer alguns canapés que estavam sendo servidos do outro lado do salão, me deixando sozinha e desprotegida, mesmo se a garota só fosse gritar para que a madame me soltasse e talvez isso não soasse como uma opção verdadeiramente boa na situação a qual eu estava metida.
― Não me importo com o que você acha ou deixa de achar. ― ela começou com aquele discurso batido de vilã de filme, e eu revirei os olhos sem paciência, sentindo um formigamento na parte do meu braço onde a infeliz segurava. ― Acho bom a crítica ser boa dessa vez, ou eu vou fazer você cair. Eu tenho todo o poder e o controle agora, e eu vou derrubar um por um que tentar acabar com a minha carreira.
― Seu ego é frágil o suficiente pra achar que uma crítica irá acabar com a sua carreira? ― arqueei uma das sobrancelhas ao encarar os olhos da velha, puxando outra vez meu braço para baixo e conseguindo, finalmente, me desvencilhar das mãos da cobra. ― Você pode tentar então, mas no fim, será a única que irá cair. ― ajeitei o terno feminino preto que sempre era obrigada a usar naqueles eventos, batendo com a palma da mão algumas vezes onde ela tocava há alguns segundos.
― Vamos ver quem vai ganhar então. ― a mulher cruzou os braços e me olhou de cima, arrancando outro sorriso meu, tão arrogante quanto o dela própria.
― Então é bom preparar o seu ego e ficar quietinha quando as coisas que você querem não acontecerem, senhora . É muito feio não saber perder. ― senti o olhar assassino que ela desferiu em minha nuca, mas já havia começado a andar para a saída, chamando Lauren para me acompanhar assim que a encontrei.
Agora sim, eu realmente havia entendido o porquê era pessoal.

¹Meraki - É um termo de origem grega que significa: “dar parte de si em algo”, “fazer algo com a alma”. Esse termo é intenso, profundo, e implica em relacioná-lo a algo que você realmente ama fazer e quer imprimir sua marca em tal.

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Sinceramente…
Eu havia checado meu celular no mínimo quinze vezes para ter certeza de que não iria chover naquele dia. A reunião sobre a edição era importante e ia ser a primeira vez que eu ia expor a minha opinião sobre o que havia visto e eu não podia me dar ao luxo de molhar nem um fio de cabelo da minha cabeça, precisava estar com a aparência impecável. Mas fora só eu fechar a porta do carro após estacioná-lo que os primeiros pingos grossos caíram bem no centro da minha raiz.
Pressionei meus lábios e mordi o inferior, reprimindo toda a raiva que subiu pelo meu corpo naquele momento. Já dava pra ver que meu dia ia ser ótimo.
― Achei que a crítica de arte mais conceituada de Nova Iorque seria um pouco mais cuidadosa. ― ouvi uma voz masculina desconhecida se aproximando de mim e logo após os pingos pararam de cair, mesmo que não adiantasse muito pois já estava com a blusa e o cabelo encharcados. Pelo menos não era branca. ― Você acha que não se molha?
Olhei para cima e percebi que o homem usava seu guarda chuva para me cobrir, o que eu agradeceria se ele não tivesse me deixado confusa com aquela fala. Logo após o encarei tentando saber se já nos conhecíamos antes, mas isso fora apenas uma confirmação de que não. Como ele conhecia meu apelido e sabia minha função na empresa? Eu lembraria daquele sorrisinho de canto se já o tivesse visto antes.
― Bom, eu sei que me molho, mas fica difícil você imaginar que vai chover quando a previsão do tempo disse que não vai chover de jeito nenhum. ― respondi, ainda confusa sobre a presença daquele homem, mas aceitando calmamente o fato de estarmos dividindo o mesmo guarda-chuva.
― Então… Quer dizer que você é realmente tão fissurada na tecnologia como dizem que você é? ― ele questionou uma das sobrancelhas arqueadas na minha direção, fazendo minha expressão se emburrar automaticamente por estar ficando ainda mais ansiosa e curiosa para saber da onde aquele desconhecido sabia tanto de mim.
Mas o frio que eu sentia por conta da água me distraiu antes que eu conseguisse questioná-lo, e quando tentei pensar nos xingamentos para proferir, acabei percebendo que meu corpo tremia não muito discretamente. Posteriormente a isso, apenas senti uma mão passando por meu ombro e o impacto leve do mesmo contra o peitoral do abusado, mas que esquentou minha pele o suficiente para fazer o tremor diminuir.
― Vem aqui, vamos dar um jeito nisso. Tem uma lavanderia logo ali. ― ele apontou para o outro lado da avenida movimentada, e fui obrigada a reprimir meu orgulho e concordar. Ainda podia dar um jeito em meus cabelos com as mãos, mas a roupa seria bem mais complexo.
― Espera, eu… Tenho um casaco no carro, vou pegar. ― interrompi os passos para tentar ir na direção do meu automóvel, mas ele me parou com um toque delicado em minhas mãos, e sorriu de uma forma tão encantadora que eu tive um lapso temporal por alguns segundos, só conseguindo prestar atenção nos dentes perfeitamente alinhados que me cegaram por milésimos.
― Não precisa, você pode usar o meu casaco enquanto sua blusa seca.
Demorei para raciocinar individualmente sobre as palavras dele, o suficiente para já estarmos do outro lado da avenida. Olhei para os lados um tanto perdida, mas me dei por vencida outra vez em muito pouco tempo para ser pra alguém que eu nunca tinha visto. Já estava ali, de qualquer forma, não tinha volta.
Entramos no estabelecimento apenas para encontrá-lo vazio. O rapaz ao qual eu ainda não sabia o nome, mesmo que soubesse muito sobre mim, acabou tirando o casaco preto que cobria a camiseta branca e ofereceu-a pra mim, que, frustrada, não tive outra opção senão aceitar e rumar até o banheiro.
Não tinha motivo para se apavorar, magicamente aquele estranho aparecera e havia salvo a minha pele, eu devia ao menos pegar o contato e mandar um cartão de Natal no fim do ano. Talvez se eu estivesse menos surtada eu tivesse percebido o quão bonito ele era, mas isso só passaria na minha mente de novo quando eu chegasse em casa a noite.
Agora eu estava ocupada em fechar os botões do casaco até o meu pescoço, tentando deixá-lo o mais discreto possível e sair timidamente pela porta do banheiro, segurando minha camisa nas mãos, apenas para não encontrar ninguém na lavanderia, apenas um guarda-chuva transparente que eu reconheci encostado no banco, parecendo me esperar, e o som da chuva que caía do lado de fora do estabelecimento.
E apesar de curiosa do porquê e sem entender nada, eu tinha algo mais importante para fazer, e joguei minha camisa na primeira secadora que encontrei.
?! ― Lauren me chamou assim que eu entrei enlouquecida pela porta da empresa, deixando o guarda-chuva no apoio e já correndo para o elevador, apertando o botão de subir bem mais vezes do que precisava.
― Eu estou atrasada, não estou? ― questionei, olhando para os lados meio desesperadamente e sentindo as mãos da garota segurando meus ombros e me olhando completamente em choque. ― O que foi, o que aconteceu?
― Você está dormindo com ?
― Dormindo? COM QUEM? Espera, ISSO NÃO É UMA PERGUNTA MUITO PESSOAL PRA VOCÊ FAZER DESSE JEITO ASSIM? ― eu estava a beira de um surto, e Lauren arregalou ainda mais os olhos ao perceber, me jogando no elevador e impedindo qualquer outra pessoa de entrar.
― Ok, vamos com calma. ― ela suspirou, e parecia falar mais consigo mesma do que comigo. ― Eu estava te esperando lá embaixo, quando me parou e me entregou a sua pasta de anotações. ― ela me soltou e então abriu a própria bolsa, mostrando a pasta prata e me fazendo arregalar os olhos. Eu não fazia a mínima ideia de quando havia deixado algo tão importante na mão dele. ― O que isso quer dizer, exatamente? Porque eu não entendi nada.
― Olha, nem eu, Lauren. ― me defendi rapidamente, pegando a pasta e checando se estava tudo dentro. ― Eu tomei chuva, e esse cara me ajudou com o guarda chuva e com o casaco dele. ― que eu, por algum acaso, ainda estava usando, já que estava frio o suficiente para que não quisesse tirá-lo. ― E me levou até a lavanderia. Ai eu fui no banheiro pra tirar a blusa e quando sai ele tinha sumido como se nunca tivesse existido, e… ? Você só pode estar me zoando, não é?
― Não! Ele é filho da embuste, você estava com o filho do próprio cão, ! ― a recepcionista começou a se desesperar, e sinceramente eu não estava em uma situação muito melhor quando fui obrigada a digerir sem nem tomar água a notícia, ao mesmo tempo que a porta do elevador abria no andar que eu tinha que descer como uma profissional impecável e respeitada, não me dando tempo algum para recuperação.

❥❥❥❥❥

Dizem que não se pode ter paz antes de uma guerra, então a minha paz devia estar a caminho, porque eu havia começado a enfrentar a guerra.
Eu havia terminado minha crítica em relação a exposição dos a tarde, e enviado para revisão há alguns minutos. Desde então, minha mente começou a divagar no que estava acontecendo desde cinco dias atrás, o pedido de , a exposição e o que havia acontecido de manhã. havia sido a mais baixa das pessoas se iria mesmo tentar me chantagear daquela forma, e só pela hipótese eu talvez tenha pego um pouco mais pesado no texto do que deveria. Só talvez.
Quando vi, já era o fim do expediente e eu me preparava para ir embora quando Lauren entrou na minha sala e trancou a porta atrás. Eu nunca havia a visto tão pálida, e logo fiquei automaticamente tensa, esperando qual seria a notícia ruim para fechar o dia com chave de ouro, já que ele havia começado uma bosta.
― Antes de eu te avisar… Sobre o , eu imagino que você seja inteligente o suficiente para saber que…
― Que a mãe dele provavelmente o mandou aqui para tentar me seduzir e mudar a crítica da porcaria da exposição dela? ― questionei com uma sobrancelha arqueada e um tom raivoso, que não eram exatamente direcionados para a coitada, mas pela postura tensa que ela assumiu, provavelmente parecia que era.
― Bem, esclarecido que nós pensamos a mesma coisa, é minha obrigação avisar ele está no térreo, te esperando. ― e então Lauren abriu a porta de vidro e saiu correndo tão rápido que eu nem mesmo tive tempo de gritar para que ela voltasse, apenas observando a fumaça que a menina deixara, em choque.
O que ele estava fazendo ali? Se aquela maldita achava que era assim que ia assumir o controle das coisas, ela estava extremamente errada. Peguei o casaco do que descansava no meu cabideiro e minha bolsa que já estava arrumada, atravessando o departamento como um foguete e descendo os andares como de costume, pelo elevador.
Mordi o lábio em um misto de irritação e ansiedade em encontrá-lo, e quando sai pelo meio de transporte, o vi encostado no capô de um carro, do lado de fora do prédio. Segui com passos firmes até estar do lado de fora e perceber que não havia chovido mais nenhuma gota desde que eu chegara no prédio, e estava até mesmo calor.
― Tive uma emergência e precisei ir embora, mas que bom que deu tudo certo. ― ele moveu o queixo em direção a minha blusa, e tive que respirar fundo para manter minha sanidade.
― Seu casaco. ― ergui a mão que o segurava, o olhando nos olhos de forma tão intensa e indiferente que ele me encarou de volta, porém confuso, pegando a blusa de volta. ― Obrigada pela ajuda. ― e sorri irônica, já querendo sair da presença dele o mais rápido possível, sabendo do magnetismo perigoso que ele exalava.
― Pera! Calma! ― se colocou na minha frente, me irritando ainda mais ao me fazer ser obrigada a parar e olhá-lo. ― O que é isso? Você… ― ele parecia procurar as palavras, sem saber direito o que devia dizer, e eu bufei, sem paciência para esperá-lo escolher como iria tentar me enganar. ― Aconteceu alguma coisa?!
… ― eu resmunguei baixo, mas em um tom suficiente para que ele escutasse, e seus olhos se arregalaram quando eu pronunciei o sobrenome, expondo que eu sabia quem ele era e não estava disposta a ignorar o tal fato, mesmo com aquela cara bem esculpida que ele tinha. ― Você pensa que é engraçado, você pensa que é esperto?
― N-Não, espera! Você entendeu errado! ― ele mordeu os lábios, parecendo realmente nervoso, e cheguei a conclusão que ele merecia um papel em uma série de televisão com aquela atuação.
― Você pensa que vai partir meu coração? ― continuei com um sorriso sarcástico, e ele pareceu se desesperar ainda mais, balbuciando sem conseguir falar nada exato. ― Você pode ser bonito, mas não é uma peça de arte, então, não tenho nada para tratar com você.
Ele até tentou me chamar algumas vezes, mas eu ignorei completamente, desativando o alarme do meu carro e então entrando nele logo depois, ainda conseguindo ver pelo retrovisor, encarando meu automóvel ainda estático e ficando para trás conforme eu seguia meu caminho para casa.
A primeira coisa que eu fiz após tirar meus sapatos de salto na porta e jogá-los em algum lugar, foi me jogar no sofá e ligar para , sabendo que conversar com a peste em uma situação daquelas, me ajudaria a me tranquilizar e voltar com a cabeça aos eixos. E, como eu imaginava, ela devia estar esperando ansiosamente pela minha ligação, porque nem mesmo esperou que o telefone tocasse duas vezes para atender e eu ver a cara costumeiramente maquiada dela estampando a tela, exageradamente perto.
― VOCÊ DEMOROU TANTOOOO! Achei que não precisava de mim! ― ela começou a dramatizar, falando tão alto que pude ouvir o seu noivo questionando-a sobre o que ela dizia. ― Não, , não é com você!
― Eu não preciso. ― comecei a rir já nos primeiros segundos de chamada, em partes pelo drama que ela fazia questão de encenar e em partes por ela estar gritando comigo e com o futuro marido ao mesmo tempo.
― A-Ai! ― apesar de falar naturalmente alto, daquela vez em especial eu também pude ouvir o barulho de chuva alto que vinha do outro lado da chamada, e arqueei uma das sobrancelhas, afinal, ela estava na praia. ― Por que você me ligou então? Finalmente achou um parzinho pra ir pro meu casamento? ― claro que ela não ia deixar barato, e pude ver claramente um sorriso satisfeito nos lábios coloridos de vermelho antes que eu revirasse os olhos.
― Você pode desistir dessa ideia, eu não preciso de acompanhante. ― respondi o que sempre dizia, mas aquilo não parecia ser o suficiente para fazer com que minha amiga desistisse da ideia, tendo até me oferecido a companhia de seus primos algumas vezes.
― Ainda tem um ano e alguns meses, não precisa ter pressa. ― ela piscou e riu, e eu bufei irritada. ― Bem, se você não quer admitir que está com saudades e por isso me ligou, eu mesma admito e já te falo que não precisa se preocupar, porque eu vou voltar mais cedo.
― O que?! Por que? Tava tudo tão em paz e indo tão bem! ― provoquei, e a expressão chorosa que ela direcionou a câmera quase me fez gargalhar.
― Por que não para de chover desde que a gente pisou o pé aqui! E o pior é que não tem previsão alguma de quando vai parar, ou seja, férias frustradas do futuro casal, aposto que é tudo culpa dele. ― ela reclamou, virando a câmera para me mostrar o noivo dela que estava atrás do balcão, cozinhando alguma coisa, e logo depois voltando para si. ― Além disso, nós não saímos do quarto e o cozinha o dia e a noite toda. Se eu não sair daqui o mais rápido possível, aquele vestido de noiva não vai entrar nem no meu dedo do pé.
― Ué, fiquem no quarto e façam bebês, não era esse o intuito da viagem mesmo? ― eu perguntei me fingindo de tonta, e aproveitei pra afastar o celular um pouco do meu rosto, sabendo que o grito que estava vindo seria perigoso o suficiente mesmo naquela distância.
― QUE ABSURDO, LOGO VOCÊ QUE SABE DO MEU VOTO DE CASTIDADE! ― agora eu não me aguentei e comecei a rir de verdade, irritando ainda mais que insistia em dizer que estava falando sério.
― Quando você chega? ― consegui perguntar só depois de dois minutos, tempo que precisei pra me recuperar daquela afirmação dela.
― Amanhã a tarde, já mandei a Lauren resumir tudo o que aconteceu pra mim nesses dias e me mandar por e-mail, só estou esperando ela enviar. ― prendi a respiração com isso, sabendo bem que a recepcionista faria questão de falar sobre com . ― Mas pra empresa, só depois de amanhã. Até lá, você sabe, é tudo seu.
― Ceeerto… ― respondi com um sorrisinho, já procurando meu notebook com os olhos e tentando lembrar onde eu tinha o deixado.
― Eu preciso ir, o quer que eu experimente uma receita nova. ― por incrível que pareça, ela realmente parecia desanimada pra isso, e enquanto ela levantava na cama, eu via a bagunça de pratos e copos em todos os lugares da casa. ― Mas qualquer coisa me liga, viu, qualquer coisa que precisar!
― Tudo beem! Vai aproveitar sua última noite de viagem. ― acenei na tela enquanto berrava despedidas, e balancei a cabeça negativamente ao apertar o botão para desligar.
Eu não sabia se devia contar sobre o que havia acontecido entre mim e o para , e se fosse pra contar, com certeza seria pessoalmente e não por intermédio de Lauren. Foi por isso que, antes de finalmente morrer na cama, eu pedi para a recepcionista não citar nada sobre isso.

❥❥❥❥❥

Não se preocupe, não vai ser nada escandaloso.
Foi isso que ela disse três semanas atrás, quando eu decidi aceitar o cargo de vice-presidente da revista, e então quis comemorar com uma festa, que, de novo, era pra ser discreta e particular. Só que agora eu estava sozinha, dentro de uma limousine e vestindo um vestido de uma grife que nem me esforçando conseguia lembrar o nome. Devia esperar isso de alguém que estava planejando o próprio casamento há cinco anos, mas provavelmente o erro era meu de ainda manter esperanças em relação a .
Me sentia a própria Rainha do West Side, e aquilo não era algo que eu exatamente apreciava, principalmente quando observei a fileira de fotógrafos que me esperavam no tapete vermelho estendido na porta do salão. Como todo bom clichê, eu deveria subir a escada de tapete vermelho estendido, que levava até a entrada do salão que ela havia alugado, bem maior do que parecia ser nas fotos.
Eu queria tanto matá-la, mas não o faria por respeito a noite e porque sabia que, no fim, ela só queria me agradar. Por isso respirei fundo e criei coragem para me equilibrar nos malditos saltos, focando os olhos no caminho e, me esforçando com toda a força do universo para não cair de forma alguma. Não é que eu não estivesse acostumada ou não soubesse andar de salto, era só que eu havia assistido clichês o suficiente para saber que você poderia usar salto a sua vida inteira, mas cairia no momento mais inconveniente possível.
Não fiz questão nem de sorrir pras câmeras e nem mesmo de acenar, e quando terminei de desfilar naquela desgraça e cheguei no topo, minha respiração finalmente pode sair normalmente e se desprender dos meus pulmões. Mas claro que não por muito tempo, porque quando olhei pra frente, encontrei tudo aquilo que havia planejado me esperando, e a vontade de morrer novamente foi real.
― Finalmente! ― ela me gritou do outro lado do salão, porque claro, ela podia até mesmo fazer uma festa de gente rica, mas continuava tão escandalosa quanto de costume, me fazendo perceber que eu estava meia hora atrasada. ― Eu já estava ficando preocupada!
― O que aconteceu com o discreto ― rodei o dedo indicador pelo salão completamente decorado com flores, lustres e vidros. ― e particular? ― e então apontei para trás, onde toda a imprensa estava concentrada, fazendo começar a rir alto.
― Me desculpa, eu ia realmente fazer isso, mas… ― minha amiga me puxou pelo braço para um dos cantos do lugar, e eu arqueei uma das sobrancelhas. ― Você acredita que aquela infeliz teve a coragem de processar a gente? ― ela sussurrou ao aproximar os lábios da minha orelha, e eu arregalei os olhos, incrédula. ― Por conspiração e danos morais. Claro que isso não me incomoda nem um pouco, sempre quis que ela tivesse essa audácia pra responder como ela merece, mas, quero que apareça na primeira capa da revista amanhã que ela mexeu com a minha vice-presidente e melhor amiga!
― Você tá fazendo isso só pra aparecer nas revistas quem é a nova vice, ?! ― eu a encarei cruzando os braços, e ela apenas deu de ombros, dando risada, como se não fosse nada demais.
― O que eu posso dizer? Agora é pessoal, quero esfregar na cara da maldita. A Lauren me disse que ela quis te intimidar, então, eu vou intimidá-la ainda mais. ― ela piscou um dos olhos pra mim e jogou um beijo, e apesar de achar aquilo uma das maiores loucuras e infantilidades que já a vi fazer, o fato de estar sendo pra me defender e o jeito que ela tratava como se não fosse nada demais, acabou me fazendo rir também. ― E claro, porque você merece uma festa a altura!
― Ah, mas com certeza. ― revirei os olhos com a segunda desculpa, claramente demonstrando que não havia colado comigo.
― OLHA, o ! ― e claro que logo depois, quando viu o noivo entrando pela porta do salão que nós já havíamos nos afastado consideravelmente enquanto conversávamos, eu me tornei invisível e fui completamente ignorada enquanto ela corria até ele.
Nada de novo, nem espantoso ou que me incomodasse.
Eu costumava acreditar que o amor era sempre um cabo de guerra. Um lado sempre daria pouco, e receberia demais. Isso quando desse. Homens e mulheres são iguais, mas o amor é sempre um jogo. e , porém, eram tão apaixonados que me faziam repensar essa ideia e, se eles continuassem dessa forma daqui há uns seis anos, eu poderia começar a pensar em me casar também…
― Olha só, a nova vice presidente da revista! Será que hoje seu humor está melhor?
Infelizmente e mesmo sem querer, eu reconheci aquela voz imediatamente, e tive também que controlar o tremor que subia por minha espinha quando o timbre soou tão próximo assim de mim.
― O que você está fazendo aqui? ― disparei quando girei o corpo para trás para encará-lo, e o homem fez uma expressão chateada.
― O que todos estão fazendo aqui…? ― rapidamente ele mudou a feição para uma pensativa, e eu precisei de um minuto para acompanhar o quão bem ele conseguia transmitir o que queria apenas com seu rosto. ― Vindo te parabenizar? Pelo menos era isso que estava escrito no convite…
― Convite…? ― não pensei, nem por um segundo, que para estar ali dentro ele precisaria de um convite, e claramente sai surtando sem nem pensar duas vezes. Mas agora que ele havia falado…
― Sim, eu fui convidado! ― confirmou contente, fazendo um joinha com a mão de quem estava satisfeito de não ter entrado de penetra em uma festa daquele nível. ― Está chocada?
Quis socá-lo quando ouvi aquela pergunta. Era óbvio que eu estava, e acho que a minha boca entreaberta em um círculo expressava bem a confusão da minha cabeça. Acabei lembrando também que com toda a correria que estava acontecendo desde que eu assumi meu novo cargo, eu e minha amiga não havíamos conseguido muito tempo, então eu não contei nada sobre o dia em que conheci para ela já querer me juntar com ele, então isso só piorava as coisas.
Por que convidaria um dos ? Pra debochar sobre a nossa superioridade com louvor? Mas se fosse isso, por que diabos ele iria? Eu estava completamente perplexa, com a mente rodando em trezentos e sessenta.
! ― novamente a voz da minha amiga, que gritava se aproximando com ao seu lado, e eu fiquei ainda mais confusa e em choque, principalmente quando os dois sorriram um para o outro tão amigavelmente quanto ela fazia comigo.
! ! ― ele cumprimentou os dois de uma forma tão empolgada que nem mesmo parecia ele. Não que eu o conhecesse muito para saber, mas não esperava ser comum vê-lo trocando high fives com o casal.
― Eu fiquei em dúvida se você ia vir depois do que aconteceu, mas estou feliz que tenha vindo. ― finalmente resolveram parar de fingir que eu não estava em um colapso mental ao lado do trio felicidade e virou sua atenção para mim. ― Você já conhece a ?! Ela é o amor da minha vida. ― minha amiga largou a mão do próprio noivo para me agarrar e abraçar de lado pela cintura, e a minha expressão se contorceu rapidamente em nojo.
― Ei! ― eu e soltamos na mesma hora, ofendidos por motivos diferentes, mas foi válido já que serviu para que ela me soltasse e risse.
― E quem não conhece? Ela estampou várias revistas como a promessa da nova geração da crítica de arte. ― comecei a ficar sem graça com as citações, e inconscientemente desviei os olhos para o chão bem encerado, tão bem encerado que eu conseguia até mesmo ver meu próprio reflexo.
― E desde quando você se interessa nessas coisas? ― a voz de ficou um pouco longe enquanto eu estava distraída observando como no fim aquele vestido era lindo, e que aquela silhueta no chão daria uma ótima foto.
― Você sabe, eu sempre fui obrigado, acabou virando costume ler o que deixam na porta de casa. ― e então houve um silêncio no meu cérebro antes que acendessem um interruptor e eu criasse coragem de interrompê-los.
― Vocês dois se conhecem de onde? Quando? Como? ― disparei de uma vez, a forma íntima que eles conversavam sendo ainda mais assustadora do que no começo da cena, quando se encontraram como melhores amigos.
― Nós estudamos juntos. ― começou, e assentiu positivamente com a cabeça.
― Eu fui obrigado a fazer artes pelos meus pais, já que eles queriam que eu seguisse os passos deles, e eu e a acabamos na mesma sala. Claro que eu não durei muito. ― ele sorriu de canto sem graça, quase rindo com a própria constatação. ― Diferente de vocês eu não sou muito chegado na área.
― Durou o suficiente pra ter bom gosto, pelo menos! ― se aproximou de mim dois passos outra vez, sussurrando com uma das mãos a frente dos lábios e um sorriso maldoso. ― concorda com as nossas críticas sobre os pais dele também, e isso só faz a mãe dele me odiar ainda mais.
― Você pode falar isso alto. Não é como se fosse uma novidade lá em casa. ― e foi a primeira vez que eu o vi sorrir de forma aberta, o que se tornou incômodo e irritante por me fazer não conseguir pensar em outra coisa além de como o sorriso daquele infeliz era bonito e brilhante, algo que eu nunca iria aceitar admitir na minha vida, mas precisei de alguns segundos pra me recuperar.
― E-espera, como assim, você concorda com as nossas críticas? ― arregalei os olhos em descrença, aproveitando para pegar uma taça de champanhe que o garçom oferecia enquanto passava e a virar de uma vez só, pedindo pro alto que aquilo me auxiliasse a voltar ao meu estado normal de personalidade.
direcionou aquele sorriso irritante para mim agora, e eu tive a impressão de ficar cega por alguns segundos, quando na verdade, apenas não estava conseguindo raciocinar direito. Se ele também não gosta dos quadros dos pais dele, ele não teria porque tentar me seduzir para que eu mudasse minha crítica…
E eu realmente percebi que, assim como ele tinha dito, eu havia entendido tudo errado.
― Tem alguma coisa errada que eu não sei? Vocês já se conhecem? ― questionou o que estava louca para fazer, e eu ergui os olhos, encarando que ainda sorria daquele jeito pra mim.
― Nós nos esbarramos na rua, mas eu não tive a oportunidade de me apresentar do jeito que eu queria ter me apresentado. ― o se aproximou um pouco mais, e então estendeu a mão na minha direção. ― Meu nome é , e eu não sou como os meus pais.
― Eeeeeh, amor, por que nós não vamos comer alguma coisa? ― claro que a infeliz já havia pego no ar que havia alguma coisa além de um simples esbarro na rua, e logo saiu arrastando por todo o salão, me deixando sozinha com aquele ser humano em poucos segundos.
Não sabia exatamente o que devia falar. Na verdade até sabia que eu devia pedir desculpas, mas estava com tanta vergonha e tão nervosa de ficar na frente dele daquela forma, que queria seguir o baile como se nada tivesse acontecido. Olhei ao redor do lugar, vendo que estávamos próximos da escada que levava a galeria do salão, mas antes que eu tivesse a oportunidade de fingir que tinha que ir pra lá, eu o ouvi suspirando na minha frente.
― Eu devia ter falado quem eu era, me desculpe. Você estava certa de pensar daquele jeito, nós nem nos conhecemos… ― ele sorriu, tentando me fazer ficar mais confortável na sua presença, mas me deixando ainda mais nervosa.
― Não, não se desculpe, a culpa é minha… Eu devia ter te dado a chance de se explicar. ― tentei sorrir também, mas na frente de , não parecia muito mais que uma tentativa nervosa e falha. Ajeitei meu cabelo que caía insistentemente em cima do meu olho, e respirei fundo. ― Então, me desculpa.
― Depende. ― o tom dele se tornou mais despojado e o sorriso mais natural, enquanto o colocou ambas as mãos nos bolsos do paletó que usava em combinação com uma jeans e uma simples camisa branca por baixo. ― Eu te desculpo se você aceitar jantar comigo. O que acha?
Aquilo, com certeza, me pegou totalmente desprevenida, e o olhei com uma sobrancelha arqueada e uma feição de dúvida tão acentuada que o próprio mordeu o lábio e apertou a nuca, sem graça.
― Eu fui muito direto? Quer dizer, se pareceu abusado, desculpa, é… É que eu fiquei feliz de nos encontrarmos de novo e eu poder tirar a impressão ruim que você teve de mim, então, se quiser, eu ia adorar e…
― Eu aceito. ― respondi antes que ele acabasse desistindo, e meu sorriso finalmente pareceu sair mais natural. ― Eu também adoraria, Hansol.

❥❥❥❥❥

Eu, , costumava acreditar que o amor era sempre um cabo de guerra. Um lado sempre daria pouco, e o outro lado sempre receberia demais. Isso quando um dos lados desse. Homens e mulheres são iguais, mas o amor é sempre um jogo.
Porém, um ano e seis meses depois ter me tornado a vice-presidente da revista, eu estava olhando ajeitando o véu longo que cobria a parte das costas de seu vestido, com um sorriso involuntário começando a aparecer no meu rosto. Talvez não só apenas por estar feliz por ela, mas porque eu havia encontrado alguém que restaurara minha fé no amor. Só não sabia ainda se isso era bom ou ruim, mas estava feliz por mim também.
― Você não está nervosa? ― questionei-a, confusa ao olhar para o relógio e ver que faltavam vinte minutos para o horário marcado no convite, mas ela já estava pronta há mais vinte e sentava em uma poltrona como se não estivesse com o maior e mais bufante vestido de noiva que eu já tinha visto, completamente tranquila.
― Eu estou morrendo por dentro. ― respondeu balançando os ombros, largando o espelho por alguns segundos para olhar para mim enquanto sorria tão largo que chegava a ser incômodo. Como ela podia dizer aquilo com aquela expressão. ― Quer dizer, a gente sabe que tá fazendo a maior cagada da nossa vida, né? Mas sabendo disso, eu tô tão feliz.
pareceu tão genuína falando que eu não consegui nem rir, só ficar sem reação, até ouvi-la soltando uma gargalhada alta. Sabia que minha amiga tinha mania de fazer piada quando se sentia tensa, mas sinceramente, aquilo não estava soando muito encorajador pra mim.
― E você? ― ela indagou quando percebeu que, diferente do nervosismo bem-humorado dela, eu estava hiperventilando e sentada na frente de um ventilador pra tentar disfarçar isso, colocando meus cabelos longos para trás com cuidado para tentando não desfazer o penteado. ― Você não pode desistir agora, se estragar seu casamento, você estraga o meu também!
― Palhaça! ― grunhi revirando os olhos com a pressão psicológica, mas não resisti e acabei sorrindo como aquela brincadeira conseguiu me aliviar e distrair um pouco, pensando em tudo o que estava acontecendo e que parecia tão surreal.
Todo mundo havia apostado que eu seria obrigada a ser dama junto com as sobrinhas de quinze anos de e , ou que entraria com o único primo solteiro dela. Mas a verdade, é que estava lá, e não só para segurar minha mão e caminhar ao meu lado pelo tapete vermelho, mas sim, para me esperar do lado direito do altar com um olhar brilhante e abobalhado. Pelo menos, era assim que eu esperava que ele estivesse, afinal, a gente tinha que começar bem, não é?
Eu não conseguia me preocupar com poder, controle, críticas extensas e exposições de arte quando estávamos juntos, tudo o que passava pela minha cabeça era que eu havia encontrado o amor perfeito e equilibrado que eu sempre jurei que não existia. E isso era a sensação mais assustadoramente prazerosa que me levou fazer a loucura mais concreta que eu já tinha feito: casar-me com ele.



Fim.




Nota da autora: Meu Deus, nem acredito que consegui terminar no prazo! SUAHSUAHUSAH Esse mês eu já estava à beira de um surto nervoso com tanta coisa pra escrever, e peguei esse plot tentando mentalizar pra ele ser rápido, mas gostei tanto da ideia que saiu bem maior que eu imaginei que ficaria! Queria fazer uma coisa bem West Side e Gossip Girl, o problema é que… Eu nunca assisti Gossip Girl T-T USAHSUAHUSHA Também é a primeira vez que eu escrevo uma coisa em primeira pessoa, então tomara que as descrições e os sentimentos tenham ficado bem feitos. Enfim, eu amo a letra dessa música, e espero ter conseguido honrar a nossa Rainha das Frutas e dos diamantes! Muito obrigada a quem leu até aqui, e sua opinião é muito importante pra mim, se você puder deixá-la na caixinha de comentários aqui embaixo eu vou ficar muito feliz ♥





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