Última atualização: 22/02/2019

My Girl

Eu já havia perdido a noção do tempo enquanto esperava terminar sua sessão de fotos. Sentado em uma cadeira desconfortável, meu entretenimento era o alguns jogos do celular, que já começavam a me deixar entediado, parei um momento e passei a mão direito em minha nuca sentindo dolorido pela posição em que me mantinha. Logo senti a aproximação dela por trás, seguido de um beijo em minha bochecha.

— Prometo que já estamos terminando. — deslizou sua mão sobre meu ombro, inclinando-se para frente pousou seu queixo em meu ombro — O que está fazendo?
— Tentando jogar. — soltei um suspiro fraco me inclinando um pouco para olhar sua face — Tem certeza que está terminando? Já é a quinta pausa que fazem.
— Hum… Tenho sim, são as últimas fotos. — ela se afastou um pouco, então se moveu para o lado e se jogou em cima de mim, sentando em meu colo — Você parece meio entediado hoje, o que houve? Sempre gostou de me acompanhar.
— Não é nada. — dei um sorriso forçado — Acho que estão te esperando para terminar as fotos.
— Hum… — ela me olhou meio desconfiada — Você está…
— Eu estou bem, pode ir. — assegurei.

Ela abriu um largo sorriso de satisfação e se levantou, a acompanhei com meu olhar até se aproximar do cenário final que estava sendo reorganizado pelas staffs. Permaneci observando-a falar com o fotógrafo e um editor da revista Harper´s Bazaar Brasil, que havia lhe convidado para participar de um editorial especial de moda vitoriana.

Finalmente as coisas estavam dando certo em sua carreira de modelo, após dois anos correndo atrás de trabalhos e sendo negligenciada pela sua antiga agência, recebeu a proposta de se juntar a agência InH Entertainment. Em apenas nove meses na agência, ela já estava sendo considerada o novo rosto da empresa, se tornando a modelo mais bem paga.

Eu estava feliz por ela, afinal a acompanhava nesse sonho de ser modelo desde o início, quando nos conhecemos na sétima série do ensino fundamental. Naquela época, era somente uma garota alta e longe de ser magra, vivia sempre acima do peso por ser ansiosa demais e descontar na comida. E o fato de estar longe dos padrões de beleza, não impediu meu coração de pulsar mais forte quando a vi pela primeira vez, entrando na sala de aula com suas revistas de moda escondidas entre os cadernos.

— Viu, eu disse que não demoraria. — ela se aproximou de mim novamente um pouco mais empolgada que antes, tirando-me a atenção de meu devaneio momentâneo.
— E eu sempre vou acreditar em você. — sorri de canto e me levantei da cadeira, me espreguiçando disfarçadamente — Vamos para onde agora? Agência? Casa?
— Vamos para agência, tenho uma reunião com a Clair sobre o desfile da Colcci no São Paulo Fashion Week. — respondeu ela ajeitando a bolsa no ombro — Acho que essa vai demorar.
— Pensei que almoçaríamos juntos hoje. — fiz bico mostrando minha frustração.
— Ounn. — ela sorriu e me deu um selinho — Você fica tão fofo quando faz essa cara, farei o possível para pelo menos garantir o jantar. O que acha?
— Acho que não tenho outra opção a não ser esperar. — suspirei guardando o celular no bolso — Vou te deixar na agência e passar na casa do Johnny.
— E vai passar a tarde jogando? — ela cruzou os braços.
— E porque não? Eu ainda serei o melhor jogador de League of Legends que o mundo já viu. — sorri de canto — Serei tão famoso quanto você.
— Hum… Acho que vou precisar cuidar mais do meu namorado. — ela se aproximou um pouco mais de mim e agarrou na minha camisa me puxando para perto dela — Porque eu sei que existe muita Maria Joystick no mundo dos games.
— Nossa… Falando assim, até apaixono. — pisquei para ela.
— Seu bobo. — ela soltou minha camisa e me deu um tapa no ombro — Porque você não é feio e desajeitado como aqueles nerds dos filmes?
— Porque não, sua linda. — sorri por um instante e logo a beijei, sem me importar de estarmos no estúdio ainda.
— Hum… — ouvimos alguns murmúrios ao nosso lado.
— Desculpe. — eu disse me afastando um pouco dela.
— Deseja mais alguma coisa? — perguntou ao produtor.
— Só queria agradecer mais uma vez por seu profissionalismo. — o homem desviou o olhar para mim, como se desaprovasse minha presença ali.
— Eu que agradeço a oportunidade em trabalhar com a Harper’s Bazaar. — sua voz estava firme, então segurou em minha mão.

Seu gesto me fez entender que ela pretendia mostrar ao produtor minha importância para ela, o que fazia meu coração acelerar ainda mais. Nos afastamos do homem e saímos do estúdio, assim que entramos no carro do meu pai que tinha pego emprestado, a levei até a agência.

— Chegamos. — disse ao estacionar o carro.
— Nos vemos à noite então. — disse ela abrindo a porta do seu lado.
— Não esqueça de almoçar, e nada de deixar esse povo te colocar em dietas malucas. — reclamei a olhando de forma séria.
— Fique tranquilo, estou no meu peso ideal, nem uma grama a mais e nem uma a menos. — garantiu ela.

Antes de sair do carro me deu um beijo na bochecha e seguiu em direção ao prédio. Arranquei com o carro e fui para casa do meu amigo, assim que cheguei todos já estavam reunidos no terraço coberto brincando no pebolim. Aquele lugar era nosso refúgio do mundo caótico, ou como diria Johnny, nosso paraíso dos gamers, construído por sua mãe que é arquiteta só para que o filho não saísse de casa e gastasse dinheiro em lan houses.

? O que faz aqui essa hora? — disse Johnny ao me ver — Levou um bolo da ?
— Verdade, você disse que almoçaria com a senhorita modelo. — concordou Mateus num tom de implicância de sempre.
— Aish, seu invejosos. — eu fiz careta para eles — Minha garota é uma profissional muito requisitada, ela está numa reunião agora.
— Hummmmmmmmm…. — disseram todos em coral.
— Toma cuidado ein. — continuou Davi num tom de brincadeira.
— Yahhh. — o olhei atravessado.
— Ai gente, por favor, vamos nos concentrar. — Caio que estava deitado entre as almofadas, ergueu seu corpo — Temos uma partida hoje à noite.
— Ahhhh. — levei a mão na testa, havia me esquecido totalmente disso.
— O que foi ? Está com medo de enfrentar os japoneses? — brincou Davi — Você também é asiático, por favor, seu país arrasa no LoL.
— Yah, não é isso. — bufei um pouco — Eu combinei de jantar com a .
— Ah não. — protestou Mateus — Nem de brincadeira, não temos um reserva.
— Perde de wo, não. — Caio me olhou desanimado.
— Calma. — eu o olhei — Eu não vou deixar de jogar, vou enviar uma mensagem pra ela.
— E fala pra não ligar até a partida terminar. — disse Johnny.

Certamente relembrando nossa última partida que quase perdemos porque me ligou em um momento crucial da nossa estratégia.

— Não se preocupem, vou deixar meu celular desligado. — anunciei retirando o aparelho do bolso.

Assim que enviei a mensagem a ela, Johnny nos arrastou para cozinha, o almoço estava pronto e todos estavam famintos. A comida da dona Carmen sempre conquistava nosso paladar, ainda mais quando estava inspirada a fazer pratos tradicionais da culinária italiana, que segundo ela, aprendeu com sua nona desde pequena.

Essa era a parte boa e divertida da minha família ter vindo morar no Brasil, existem muitas culturas em um só lugar. Mesmo longe de Busan, cidade onde nasci e estão meus avós, tios e primos, eu conseguia matar um pouco a saudade no bairro Bom Retiro onde morávamos em São Paulo, conhecido como o bairro dos coreanos. Era como o Liberdade sendo o bairro dos japoneses, Bela Vista, mais conhecido como Bixiga sendo o bairro dos italianos.

— E aí, já deixaram de frescura e viram High Score Girl? — perguntou Davi.
— E vi, e surtei com tanta referência. — Caio parecia empolgado com o assunto — Street Fighter mano.
— Eu sei. — Davi se empolgou também — Velho, aquela Oono é muito hard, eu surtei com ela.
— Quando eu crescer quero ser que nem aquela menina. — comentou Mateus tranquilamente.
— Você também viu? — Davi o olhou — Fiquei surpreso, você não gosta de animes seu nerd.
— Estou me abrindo para novas experiências. — explicou ele — Conheci uma otaku naquele festival do Japão que fui ano passado em Bh, fizemos uma aposta e eu perdi então tive que ver um anime com ela.
— Uuuuuhhhhhhhhllllllll. — todos zoamos a cara dele.
— Nossa…. Suas crianças. — ele nos olhou com desaprovação.
— Ah, agora fiquei curioso para saber como um antissocial como você conheceu uma garota. — Johnny fez cara de pensativo.
— Vai morrer sem saber. — Mateus riu.
— Olha quem está namorando pela internet. — eu brinquei com ele.
— Não estou… Ainda…

Nós rimos e zoamos a cara dele.

— Acho que sou o único que não viu ainda. — admiti.
— Seu fraco. — disse Caio se jogando nas almofadas de novo.
— Yah, estou aproveitando ao máximo meu momento com a . — expliquei — Depois do tal Fashion Week, ela vai viajar para Argentina.
— Vai fazer o que lá?
— Trabalhos de publicidade, sei lá o que. — respondi.
— Ou seja, vai ganhar dinheiro. — brincou Davi.
— E assim como ela, nós também temos que ganhar o nosso. — chamei a atenção deles — Se vencermos a partida de hoje, teremos um patrocinador.
— Verdade, não aguento mais meus pais dizendo que se não der certo, ano que vem eu faço faculdade de direito, eu lá tenho cara de quem vai usar gravata o resto da vida. — reclamou Caio — Fazer parte de uma família de advogados não é legal. Sabiam?!
— Já até imagino você entrando no tribunal e dizendo game over para os bandidos. — Davi soltou uma gargalhada maldosa fazendo todos rirem também.
— E você acha que é fácil pra mim convencer meus pais e vou ganhar dinheiro jogando games. — eu suspirei — Pior ainda, meus sogros.
— Os pais da não querem um gamer na família? — perguntou Johnny.
— Eles não queriam nem uma modelo. — respondi — Imagina quando eu disse que seria gamer profissional.

Eles fizeram uma careta.
Mas era real, a família de era tradicional quanto a alguns costumes, eles sonhavam ver a filha formada em letras dando aulas como a mãe, se casando com um homem que tivesse alguma profissão de farda ou de renome. Mas é claro que nem tudo o que queremos é o que temos. Desde criança quando viu pela primeira vez um desfile da modelo Naomi Campbell na televisão, soube o que queria ser quando crescesse, assim como eu senti quando ganhei meu primeiro console do PlayStation.

- x -

— Toc… Toc… — disse ao bater na porta do meu quarto.

Eu ainda estava jogado na cama, tentando despertar da minha sonolência. Nossa partida havia sido longa e cansativa, mentalmente falando, porém vencemos, era o que importava.

?! — senti sua aproximação — Acorda seu dorminhoco, já é tarde.
— Passei a madrugada em claro... — reclamei quase em sussurro me virando para o canto e me cobrindo mais.
— Yahhhhh. — gritou ela — Eu venho passar meu final de sábado com você e é assim que me trata? Seu chato!
Lightning. — disse chamando-a pelo apelido.

Era o nome da minha personagem favorita da franquia Final Fantasy. Mas o trocadilho era pela forma que agia quando estava com raiva, juntamente com seu medo de relâmpagos. Ergui meu corpo e a vi ao lado la cama, então peguei em sua mão e a puxei para cima de mim, envolvendo meus braços em seu corpo, fechei os olhos novamente rolando nosso corpo naquela cama de solteiro, para que ela se deitasse ao meu lado.

— Pronto, agora sim está bem melhor. — sussurrei me remexendo um pouco mais.
— Seu folgado. — ela riu se aninhando em meus braços — Como foi o jogo?
— Nós ganhamos. — respondi mantendo minha voz sonolenta.
— Isso que dizer que conseguiram o patrocínio? — perguntou num tom de esperança.
— Sim.
— Que bom! — ela se remexeu para me beijar de leve — Estou feliz por você, agora o Scar Gaming vai poder se profissionalizar.
— Mais que isso. — completei — Podemos competir oficialmente a nível nacional e internacional, somos profissionais agora.
— Que lindo, meu namorado é um gamer profissional. — ela abriu um largo sorriso, juntamente com aquele olhar orgulhoso — Estamos realizando nossos sonhos.
— Sim, e o que mais me deixa feliz é que estamos juntos. — a aninhei ainda mais em meus braços — Já me vejo ganhando o mundial e minha namorada supermodelo vindo me dar o beijo da vitória.
— Então essa é a sua ambição? Eu ser sua namorada pro resto da vida?! — ela ergueu seu corpo um tanto indignada.
— Hum… Isso é errado?
?!
— Sua boba. — eu segurei em sua cintura e a beijei de forma suave — Não se lembra do nosso acordo?
— E se eu não conseguir?
— É claro que vai, você é a melhor.

Confesso que odiava aqueles breve momentos em que ela duvidava de seu potencial.
Dos muitos acordos que fizemos ao longo dos anos, tanto na época de amigos e depois que a pedi em namoro, havia me feito prometer que a pediria em casamento somente depois que conseguisse chegar ao topo de sua carreira, ou seja, ser uma angel da Victoria’s Secret.

— Eu te amo. — sussurrou ela sorrindo de forma singela.
— Eu também te amo. — sorri de volta.

Nos olhamos por um tempo em silêncio.

— Como foi a reunião? — perguntei.
— Fizemos alguns ajustes em minha agenda. — respondeu se deitando novamente ao meu lado — No próximo final de semana como disse será o desfile da Colcci, e logo na segunda viajamos para a Argentina.
— Minha garota está ficando internacional. — brinquei arrancando uma risada gostosa dela — E você volta quando?
— Segundo a Clair, devo ficar uns três ou quatro dias em Buenos Aires. — respondeu e brincando — Já estou com saudades e nem chegamos no dia do embarque.
— Somos dois. — me remexi um pouco e comecei a acariciar seus cabelos — Minha mãe estava em casa quando chegou?
— Foi ela quem abriu a porta para mim, estava saindo atrasada. — ela riu baixo — Disse para termos juízo e que sua irmã estava no quarto brincando.
— Juízo é o que mais temos. — ri junto — Te garanto que na primeira oportunidade, compro um apartamento, assim teremos privacidade.
— Não é vergonhoso morar com os pais, só temos 19 anos e a vida fora de casa é dura e muito cara. — assegurou ela — Falo por experiência própria.
— Ainda não acredito que seus pais deixaram você morar sozinha. — mantive meu olhar no teto, enquanto mexia em seus cabelos.
— Eu precisava ter fácil acesso à agência, e tecnicamente não moro sozinha, divido o apartamento com mais duas modelos. — explicou — E uma delas tem um cachorro muito fofo.
— E o sargento Jonas deixou.
— Meu pai consegue ser bem liberal quando é preciso, principalmente porque já provei que consigo ser mais responsável longe de casa. — era mesmo assim.
— Você é maravilhosa.

Ela riu.

— Vamos ficar aqui na cama o resto da tarde? Não está com fome?
— Não ainda, eu comi um sanduíche antes de cair na cama. — respondi — Por hora, só quero ficar aqui com você em meus braços, paralisar o tempo e aproveitar o momento.

Ela assentiu meu desejo e se aninhou ainda mais.
Mesmo preocupado com sua primeira viagem internacional, com a assinatura do contrato com o patrocinar e nossa entrada nos grandes torneios de LoL. Com o nosso futuro que ao mesmo tempo mostrava ser promissor, também poderia ser perigoso, eu estava feliz por tê-la em meus braços.

Sabia que por mais que fosse as pressões em nossas carreiras tão distinta, as distâncias que poderiam ocorrer em alguns momentos, no final do dia estaríamos juntos e conectados de alguma forma.

Todo dia e toda noite eu só queria ela, e vice-versa.

Alguém pode me dizer
Se essa decisão é certa ou errada
Em todos os momentos que eu te encontrei, você era destaque
Eu não me arrependo, é bonito.
- All Day All Night / SHINee

Love: Se você ama uma pessoa de verdade, mesmo longe fisicamente seus corações permanecem próximos e aquecidos.” - by: Pâms



The End.



Nota da autora:
Então é isso, passei minhas férias tentando pensar em um enredo legal para essa fic, espero ter conseguido, escrevi faltando uma semana pra voltar as aulas... Vejo vocês nas outras fics!! Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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