In Brasil...
— Você tem certeza que vai ficar bem aí, no meio da floresta? — perguntou a voz aflita de minha senhora ao telefone.
— Não se preocupe, eu vou ficar bem. — assegurei olhando disfarçadamente em minha volta — Eles não podem me encontrar aqui.
Estava completando cinco meses desde que me mudei para o Brasil, sim, estava fugindo de pessoas muito perigosas que achavam que eu era quem procuravam, talvez pudesse ser a direção. Encerrei a ligação e peguei ao dono da mercearia por ter utilizado novamente seu telefone, isso me levou a perceber que minha reserva já estava chegando ao fim, precisava pensar no que poderia fazer para ganhar dinheiro.
Não que eu gastasse muito, felizmente tinha criado amizade com uma habitante de uma tribo local chamada Tupinambás, o que me possibilitou a conviver com eles facilmente. Todos gostavam de mim, exceto o pajé que sempre me olhava com desconfiança, não podia condená-lo por isso, eu tinha algo dentro de mim que me tornava diferente das pessoas, diferente de tudo que eles conheciam no mundo.
Por isso eu estava escondida na tribo deles, por isso minha senhora me ligava pontualmente toda sexta-feira à tarde de Vancouver, por isso que eu teria que controlar minuciosamente meus passos, para não ser localizada e nem descoberta por eles. Somente Anahí, minha amiga sabia meu segredo, ela me ajudava a sobreviver na simplicidade que uma vida no meio da floresta me empregava, além de manter o pajé longe de mim.
— Ah… Que bom que chegou. — disse Anahí assim que adentrei na grande oca que eles usavam como a cozinha.
— Aconteceu alguma coisa?! — perguntei.
— Papai, ele se machucou grave no rio pela manhã, o pajé não consegue curá-lo. — seu olhar aflito para mim, já significava que ela queria minha ajuda, mas eu não podia fazer aquilo.
— Você sabe que eu não posso me expor, se não, podem me encontrar. — retruquei.
— Por favor, ele está com febre alta, papai se recusa a tomar remédios da cidade. — insistiu.
— E acha que ele vai aceitar uma ajuda minha?
— Ele sabe que você é uma boa pessoa, já ajudou quando meu irmãozinho se machucou ao cair da árvore. — respondeu.
— Aquilo foi algo fácil e leve. — respirei fundo.
Voltando meu olhar para as mulheres que se juntaram para fazer a refeição da noite, percebi que a mãe de Anahí estava sentada em cima de um banco de bambú, chorando certamente pelo marido.
— Tudo bem, acho que posso fazer isso, seu pai como cacique me acolheu sem perguntar de onde vim, mesmo contra a vontade do pajé, então… — era loucura, mas — Vamos lá.
— Obrigado! — ela me abraçou no impulso e segurando minha mão, me arrastou para a oca do cacique.
— Papai, pode ajudar. — Anahí me empurrou para perto da cama de palha em que seu pai estava deitado, para ter mais contato com a terra.
— O que acha que essa estrangeira pode fazer?! — o pajé me olhou atravessado — Eu sou o responsável pela saúde da tribo, estou cuidando do seu pai.
— Até agora o papai não melhorou, suas ervas não estão resolvendo e a ferida dele abre cada vez mais. — Anahí rebateu com um tom aflito — Papai ela pode te curar.
— Se minha filha confia, eu também confio. — disse o cacique com dificuldade — Venha…
Respirei fundo… Tomei toda coragem que podia e me ajoelhei ao lado dele, ao colocar a mão na altura do ferimento na perna, senti seu corpo quente como fogo, como temia era algo grande para se resolver de forma silenciosa. Limpei minha mente de todo pensamento que pudesse me fazer desistir, se fosse para arcar com as consequências, então seria depois de ajudar uma amiga.
Fechei os olhos e me concentrei, assim que os abri, pude sentir minhas púlpilas já dilatadas e certamente até a íris dos meus olhos já havia mudado de cor. Aos poucos um fluxo de energia foi passando pelo meu corpo até chegar a ponta dos meus dedos que tocavam a ferida. Aquela era a minha especialidade, o motivo para que eu fosse tão diferente, havia algo em mim que me permitia curar qualquer ser vivo.
Em segundo um clarão se deu no ponto de contato entre minha mão e a perna do cacique, assim que foi diminuindo eu me afastei logo depois, uma leve tontura sobreveio em meu corpo e me senti sendo amparada por Anahí. Sim, foi exatamente assim que curei escondido os arranhões que seu irmão havia tido em sua queda na árvore.
— Eu sabia, sabia que não era como nós. — a voz do pajé foi a única coisa que me lembro, antes de apagar de vez.
Apesar das poucas vezes que havia ajudado alguém assim, nunca tinha me desgastado tanto, talvez pela condição do cacique ou pela minha falta de prática, já que todas as vezes que usava meu dom, corria o risco de ser rastreada. Não lembro exatamente de como voltei a consciência, mas minhas pálpebras ainda estavam pesadas quando um vento frio e forte passou por meu corpo.
— Eles estão aqui! — eu disse ao despertar definitivamente, erguendo meu corpo.
— . — Anahí estava sentada ao meu lado — Que bom que acordou.
— Ani, preciso ir embora. — disse me apoiando no chão para me levantar.
— Mas , você acabou de acordar… Passou dois duas inconsciente. — questionou ela.
— Eles estão aqui, posso sentir.
Ela se levantou junto e me ajudou a ajeitar algumas coisas dentro da minha mochila, assim que colocamos os pés pra fora da oca, eu os vi ao longe, reconheci de imediato as tatuagens no pescoço. Conversavam com o cacique e estavam acompanhados por um guia turístico, o mesmo que me levou a aldeia quando cheguei em Manaus.
— Oh não. — sussurrei voltando para dentro e puxando ela comigo — Preciso sair por outro lado, está de noite, eles não poderão me ver.
— Tem uma abertura aqui atrás, posso atrasá-los se entrarem aqui. — disse ela.
— Obrigado amiga. — eu a abracei forte, me despedindo — Jamais vou me esquecer por tudo que fizeram por mim.
— Eu que não vou esquecer o que fez por meu pai.
Eu me afastei dela e saí pela fresta que tinha ao fundo da oca, então comecei a correr o mais rápido que pude. Quanto mais eu adentrava as árvores da imensa Floresta Amazônica, mais tudo ao meu redor ficava escuro e denso. Noite fria e sombria, que deixava meu coração ainda mais gélido e apreensivo.
Um som estranho surgiu em meio às árvores...
O latido de alguns cães soava no fundo...
Minha respiração foi ficando ainda mais ofegante, assim como minhas pernas cansadas de tanto correr, sem direção, quase sem esperança. Mas perseverante em minha fuga, persisti correndo o máximo que consegui, trombando nas altas árvores. Ao tropeçar acabei derrapando e saí rolando morro abaixo, nem consegui entender o que estava acontecendo, e acabei perdendo minha mochila. Me levantei e a claridade da lua me permitiu ver os rasgos em minha roupa, assim como os arranhões em minha pele com alguns cortes superficiais.
Logo o som dos cães foi ficando nítido e vozes grossas surgiram a sua frente, no impulso me abaixei me escondendo em um arbusto entre duas árvores. Observando quem me perseguia, notou a cicatriz na face de um dos homens, o que parecia um profundo corte no lado esquerdo de seu queixo, meus olhos fixaram na cicatriz lembrando-me do homem que matara minha mãe.
— Não. — sussurrei.
Ainda abaixada comecei a recuar, a fim de sair dali. Entretanto, ao dar o primeiro passo senti que havia encostando em algo, ou alguém, causando-me um aperto no coração. Assim que me virei, me deparei com outro homem encapuzado segurando uma adaga em sua mão direita. O homem da cicatriz se aproximou com um sorriso nebuloso em sua face e pegando-me pelo braço com força, girando meu corpo, me fez abaixar a cabeça para olhar em minha nuca.
Vendo que não havia o que procurava, ele lançou-me contra uma das árvores com força, ao cair no chão após o impacto voltei meu olhar para ele, pude ver a raiva que exalava de seus olhos.
— Não achou quem procurava? — sorri com deboche e vendo o outro homem se aproximar já erguendo sua adaga — Não adianta, eu não contarei onde ela está.
O outro homem encostou a adaga em minha garganta me fazendo erguer a cabeça, meu olhos se voltaram para o céu, por mais coragem que havia reunido, estava com medo daquela ser a última vez que veria a lua.
"Na escuridão, eu fecho as portas e em silêncio sinto-me impotente."
- Promise / EXO
“Dons: Ainda que exista dificuldades ou barreiras, não desperdice seus talentos; lembre-se de que são dons de Deus.” - by: Pâms
The End...
Aqui estou com mais uma história, essa é um prólogo de uma outra história que eu tinha, e resolvi postar nesse especial. Continuamos seguindo a trajetória das outras cidades, para meu especial que vai seguir até meu aniversário (com a ajuda de Deus)... Fiquem atentos nas minhas fics que saírem na categoria Originais aqui do FFOBS!!! Enfim, vejo vocês nas próximas histórias: Chicago e Vancouver!!!
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
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*as outras fics vocês encontram na minha página da autora!!