In Canadá...
— Aqui está ele. — disse ao entrar na oficina e ver James sentado na cadeira, com um olhar amedrontado, certamente não estava gostando do tratamento dos meus mecânicos.
— Lady… Eu juro que não fiz nada de errado. — James se apressou em tentar explicar algo que talvez, nem sabia o que era.
— Se não fez nada de errado, porque está tão nervoso? — dei mais alguns passos até ele, passando pela mesa de ferramentas, peguei uma chave de grifo e continuei — Mas, não me parece ser inocente.
— Senhora, me diga o que fiz para que possa me defender. — ele estava levemente sendo segurado por dois funcionários meus, forçado a permanecer sentado naquela cadeira.
— Bem, andei escutando alguns rumores a seu respeito... — mantive meu olhar nele, enquanto deslizava o dedo indicador pela ferramenta em minha mão — Que estava tentando vender peças de carros roubados na minha área.
— Eu juro… — nem mesmo permiti que ele terminasse, fiz um sinal com o olhar para meus funcionários, que logo derrubou ele no chão.
Rapidamente montei em cima dele ficando de joelhos e o prendendo no chão, então bati a chave de grifo no chão, na altura de sua cabeça, o deixando ainda mais desesperado.
— Escolha bem suas palavras. — disse fitando meus olhos nele.
— S-s-sim, senhora. — parecia gaguejar e medo — Eu juro que não queria, mas estou em dívida com ele, se não pagar com meu trabalho… Minha família.
— Por que foi pedir dinheiro para Dimitri?! — nem precisava mencionar o nome para saber de quem James falava.
Dimitri era uma cobra disfarçado de gente, um dos piores gangster já tive o desprazer de conhecer, havia se instalado no bairro ao leste de Vancouver três meses atrás, onde montou uma espécie de QG para controlar seus negócios ilegais. Não me importei com isso de início, até que seus lacaios começaram a fazer negócios em minha área, nos bairros ao sul da cidade.
— Eu tive alguns problemas e perdi meu emprego. — respondeu ponderadamente.
— E foi recorrer justo… — respirei fundo me levantando, pensando o que poderia fazer para ajudá-lo, mesmo não merecendo — Quanto você ainda deve?
— Cinco mil. — ele continuou no chão, receoso do que eu poderia fazer.
— Onde estão as peças que você está vendendo? Quanto elas custam? — perguntei me virando em direção às grandes janelas laterais da oficina.
— Estão na garagem da minha casa. — respondeu — Elas custam quatro mil.
— O que pretende fazer? — perguntou Jenie, minha amiga desde sempre — Não está pensando em…
— Não vou deixar essa família à mercê dele. — retruquei.
— , você não é a mulher maravilha, não pode sair ajudando todos que se mete em roubada. — Jenie era boa em me dar conselhos, mas meu coração molenga sempre queria comprar briga onde não podia.
— Eu sei, mas conheço a esposa dele, suas filhas… Desta vez, só mais desta vez. — voltei meu olhar para ela, como se pedisse sua autorização.
— Não vou falar mais nada. — ela cruzou os braços — Lavo minhas mãos.
Desviei meu olhar para Rodrigues, meu funcionário mais antigo.
— Vá até a casa dele e traga as peças, traga também sua família. — olhei para James — Onde estão ficando?!
— Em um quarto de uma hospedaria. — respondeu James.
— Pegue o endereço correto e vá Rodrigues. — dei alguns passos até a mesa de ferramentas e coloquei a chave de grifo em cima — Tavares e Torres, vocês ficam de olho no nosso vendedor.
Me afastei deles e subi as escadas que dava acesso ao mezanino, onde era meu escritório, sendo seguida por Jenie. Sei que ela havia dito que não falaria mais nada, porém, sentia lá no fundo sua vontade enorme em me bater por querer me intrometer.
— Não me olhei com essa cara. — segurei o riso — Eu simplesmente não consigo evitar.
— Você é assim , vê um problema já quer se jogar nele. — Jenie respirou fundo se sentando no sofá, passando a mão nos seus ruivos cabelos naturais — Não quero nem imaginar o que a vovó vai dizer.
— Por favor, nem ouse falar sobre isso com ela, não agora. — senti uma leve apreensão por isso.
Vovó Somália era um amor comigo e minha irmã mais velha Mary, desde que nossos pais foram cruelmente assassinados por causa de um mal entendido, ela nos criou em meio a crise e incerteza que daria conta em sua idade avançada. Mas felizmente, Mary se tornou uma excelente enfermeira, trabalhando no St. Paul’s Hospital, além de ter feito um afortunado casamento com o capitão Hilth do corpo de bombeiros da cidade.
Já eu, não era exatamente a ovelha negra da família, mas tinha herdado a paixão do meu pai por carros, principalmente os de corrida, era fascinada com o som do ronco de um motor. Então, fiz questão de continuar com a oficina onde papai trabalhava e conquistou o respeito de muitas pessoas, mas ao contrário dele, eu tinha sim um lado de contravenções que me fazia organizar corridas clandestinas. Foi daí que fiquei conhecida como a Lady das corridas.
— Minha avó está muito feliz com meu diploma da universidade, preciso aproveitar esse momento, para não ser expulsa de casa de novo. — não me contive em soltar um riso, fazendo-a rir comigo.
— Ainda não acredito que você realmente enfrentou uma universidade, só para manter essa oficina viva. — Jenie me olhou com admiração.
— Esse lugar é… Era o sonho do meu pai, se tornou meu sonho também. — me encostei em minha mesa de trabalho, e sentei em cima — Já que a condição da vovó para não vender a oficina e me deixar trabalhar aqui era fazer graduação, até que minha escolha de curso foi bem racional.
— Ah sim, ser a única mulher em meio a um bando de macho exibido no curso de engenharia mecânica, foi bem racional. — comentou de forma irônica.
— Claro que foi, além do mais, me formei com medalha de honra por ter sido a melhor aluna da classe, não é para poucos. — cruzei os braços demonstrando satisfação no olhar — Não qualquer pessoa que consegue vaga na Universidade de Toronto.
— Boa tarde… — disse Freya adentrando minha sala — Posso entender, porque tem um cara lá em baixo sendo vigiado pelos irmãos T? Justo no meu local de trabalho?
Freya Linz, minha melhor mecânica. Mesmo sem ter feito faculdade e ter passado por várias provas com cálculos mais mortais que veneno, eu a considerava mil vezes melhor que eu quando o assunto era montar e desmontar um carro. Havia aprendido tudo com seu pai, que aprendeu com o pai dele, assim como eu, uma tradição que se passava em sua família. Me divertia sempre que os clientes entravam na oficina e viam aquela bela mulher negra consertando motores dos carros, de cair o queixo.
— Pergunta pra chefe. — Jenie lançou seu olhar em minha direção.
— O que? — Freya me olhou também — Não vai me dizer que tá comprando briga de alguém.
— Mas é só isso que ela sabe fazer.
— Ai nossa, nem sou assim. — reclamei delas.
— Tem certeza?! Devo lembrar daquela senhorita que estava sendo despejada e você comprou a casa dela?! — Freya cruzou os braços também — Ou do senhor John da barbearia que estava sendo roubado e você deu um jeito nos meliantes?
— Teve também aquela vez… — Jenie ia completar.
— Ok! Eu entendi. — bufei de leve — A senhora Dolores tinha um grande afeto por aquela casa, morava lá a mais de quarenta anos, não ia deixar uma senhora ser despejada na minha área… O senhor John sempre teve consideração com o papai e minha família, ele nunca fez mal a ninguém e todos sabem que não devem roubar no sul de Vancouver, esse lado da cidade é meu, minhas regras.
— Querida Lady, você não é a mulher maravilha. — Freya retrucou.
— Alguém me entende aqui. — Jenie soltou um suspiro de alívio — Eu disse isso para ela.
— Vocês sabem que eu odeio injustiça, não sou uma santa, mas… Era o que meu pai faria.
Elas se calaram, já sabia que estava com: “Foi por isso que ele morreu.” Na ponta da língua para me dizer, porém, respeitavam muito a memória dos meus pais e de tudo que eles fizeram pelas pessoas daquele bairro, papai realmente era como a válvula de escape para todos. O que precisavam recorriam a ele, que estava sempre pronto para ajudar, o que explicava o carinho e respeito dos moradores por mim e Mary.
— Desculpa, eu sei que não sou nenhuma super heroína e não vou deixar que o mesmo aconteça comigo. — disse me referindo a morte deles — Mas, se eu não manter a ordem aqui, quem vai? A polícia? Semana passada vocês viram comigo a falta de respeito deles e o abuso de autoridade com o dono da mercearia da esquina.
— Só queremos que você tome cuidado. — disse Jenie, como se sentisse um pouco mal por me repreender tanto.
— É claro que tomo, por isso tenho seguranças. — pisquei de leve para elas, que riram de mim.
— Ah sim, seguranças com roupas de mecânico. — Jenie riu.
— Pior é quando pensam que eles é quem vão consertar os carros. — Freya mantinha seu braço cruzado, balançando a cabeça negativamente — Não sabem nem o que é chave biela.
— Deixa de ser ranzinza. — ri dela — Você é muito bonita para ser reclamona.
— Você devia me agradecer por trabalhar aqui, segundo minha mãe, se eu fosse mais esperta, teria me tornado modelo. — Freya soltou uma risada maléfica — Queria ver como ficaria.
— É claro que você não iria me abandonar, somos melhores amigas desde a infância, e seu pai se aposentou trabalhando aqui. — retruquei — O legado da sua família é trabalhar junto com a minha.
— Que lindo. — ela me olhou emocionada — Você falou junto e não para.
— Ai, quem disse que existe hierarquia aqui, você é minha funcionária e ganha mais do que eu. — reclamei.
— Claro, eu trabalho mais.
— Vocês duas. — Jenie se contorcia de tanto rir no sofá.
— Tá ok, vamos deixar a troca de amor para depois, me diz, quem é o cara lá embaixo?
— James, aquele que trabalhava entregando jornal, a esposa dele fazia bombons para vender e tem duas filhas. — respondi.
— Gostaria de saber como você consegue guardar os detalhes da vida de todo mundo dessa área. — Jenie comentou embasbacada.
— Pois é. — Freya concordou.
— Herdei do papai. — ri — Mas então, ele ficou desempregado e acabou criando dívidas com quem não devia.
— Não me diga que foi com o Carl?! — presumiu Freya.
— Pior. — Jenie comentou.
Carl era uma criança perto do Dimitri, estava no lugar do pai a quase um ano comandando a área oeste da cidade, mas queriam se mudar definitivamente para Toronto, onde tinham seus parentes.
— Dimitri. — respondi.
— Ah não… Que burro.
— Pois é, pegaram ele vendendo peças de carros roubados na minha área. — suspirei — Justo aqui.
— E quanto ele deve.
— Cinco mil, e sua amiga louca quer comprar as peças. — Jenie desviou o olhar para o jornal da mesinha de centro.
— Estava cedo demais. — Freya suspirou também.
— Se eu não me impor agora, ele vai acabar invadindo. — argumentei.
Toc...toc…
Voltamos automaticamente nossa atenção para porta, Freya abriu e era Rodrigues que tinha retornado com as peças e a família dele.
— Mercedes. — disse ao terminar de descer as escadas — Você está bem?!
— Sim, senhora, um pouco com medo do que possa acontecer com James. — ela olhou para o marido — Ele só queria salvar nossa filha que estava doente.
— Vocês poderiam ter me procurado. — disse com segurança.
— Me perdoe, foi em momento de desespero que a senhora não estava na cidade. — explicou.
Logo me lembrei que havia viajado para Chicago, para organizar uma corrida especial em comemoração do aniversário de um velho amigo da família, senhor Han.
— Poderiam ter falando com a vovó, mas tudo bem, o mal já foi feito e deixa que eu resolvo a partir de agora. — assegurei a ela.
— Como vamos ficar depois disso senhora?! — James se levantou da cadeira em que permanecia sentado até o momento e se aproximou de sua família, segurando na mão de sua filha de dez anos — Não temos para onde ir e não tenho como sustentar minha família.
— Jenie. — mantive meu olhar neles.
— Sim.
— Faça um contrato de trabalho, James é um homem forte, fará parte da minha equipe de segurança. — ordenei — Rodrigues ficará encarregado de cuidar de você, quanto a moradia, tenho certeza que o senhora Kim tem um apartamento no térreo alugando no seu prédio, diga que é um pedido meu, tenho certeza que abrirá exceções.
— Obrigado senhora. — seu olhar de gratidão era sincero, o que me deixou ainda mais feliz por estar ajudando eles.
Era por esse olhar que meu pai jamais negava ajuda.
— Freya, venha comigo, vamos fazer uma visitinha a alguém. — olhei para meus outros funcionários — Irmãos T, vocês vem com a gente, mas de moto.
Eles assentiram. Voltei para meu escritório peguei o valor em dinheiro que James ainda devia e coloquei em uma maleta, tinha que admitir que meu lado mafiosa estava gritando para sair de dentro de mim. Entrei no clássico Chevy Impala 67 do papai, eu amava aquele carro.
Assim que chegamos no tal qg ridículo dele, um pub moderado com traços da arquitetura tradicional francesa, adentrei sem medo acompanhada de Freya, caminhei até a mesa onde estava sentado com seus amigos contando alguns bolos de dinheiro.
— Ora, ora… Visitas. — disse o homem de jaqueta vermelha com ar.
— A quem devo a honra?! — Dimitri desviou o olhar das notas para mim, naquela indiscreta análises partindo dos meus pés até chegar em meus olhos — Eu te conheço.
— Para a sua infelicidade, está conhecendo hoje. — joguei a mala nele — Isto é tudo que James te deve, deixe aquela família em paz.
— James… James… — ele fez uma cara de quem não sabia do que estava falando, então abriu a maleta e viu as notas enfileiradas — Ah sim, o ex entregador de jornal… Quem diria que ele conseguiria, foi para você que ele vendeu as peça?
— Não, suas peças estão devidamente desovadas na frente do seu... disso aqui. — olhei ao meu redor com cara de novo — Não quero nada que venha de você.
— Como queria… — ele deu um sorriso de deboche.
Me virei para sair, porém voltei novamente minha atenção para ele.
— Ah, antes que me esqueça… Trate seus negócios bem longe da área sul.
— Área sul… — ele se levantou, demonstrando um pouco mais de interesse — Devo presumir que você é a famosa Lady.
— Está avisado.
Da mesmo forma que entrei, saí de cabeça erguida e cheia de atitude, já era a hora dele saber quem eu era e que não iria fazer suas negociações na minha área.
Os dias se passaram.
A oficina estava transbordando de trabalho, parecia que quanto a cada um carro que consertávamos, mais quatro apareciam, era bom para os lucros, porém não estava tendo tempo para organizar minhas corridas. Eram elas que aliviava o estresse da vida adulta cheia de responsabilidade, eu precisava da minha válvula de escape, então combinei com Margareth, minha relações públicas e a irmã mais nova de Jenie, para me ajudar a organizar um circuito de corridas pela cidade.
— Preciso que descole a permissão dos outros. — disse me referindo às outras áreas do bairro.
— Dimitri também?! — perguntou Marg inocentemente.
— Claro que não. — respondi prontamente — Quero ele longe de tudo que eu estiver envolvida.
— Como quiser amiga, mas seria bom uma corrida naquela área, tem bastante pessoas de lá que participam.
— Não. — continuei relutante.
— Ok! Não está mais aqui quem perguntou. — Marg segurou o riso, enquanto anotava em sua agenda de estimação — Vou providenciar tudo para o nosso evento.
— Não se esqueça desta vez que informar ao nosso capitão do DP, para ele deixar seus policiais bem longe do nosso caminho.
— Não se preocupe, não me esquecerei desta vez, é a primeira coisa da minha lista de prioridades. — assegurou ela.
— Confio em você Marg. — pisquei de leve.
Ela saiu do meu escritório rindo, logo Mary adentrou acompanhada de sua filhinha.
— Tia . — Clair correu e pulou em mim que estava sentada no sofá.
— Oi princesa!! Que saudade.
— Se você não vai até a família, a família vem até você. — comentou Mary ironicamente.
— Vocês sabem que tenho trabalhado muito.
— Sei, desde quando corridas são trabalho? — ela colocou a mão na cintura.
— Corridas são diversão. — voltei meu olhar para Clair — A mamãe é muito careta.
— Não sou careta. — retrucou — O que anda aprontando agora, vovó vai te matar.
— Ela já me expulsou de casa, o que mais pode fazer?
— e você ainda fala como se fosse normal. — ela cruzou os braços embasbacada.
— Mas é normal, acho que essa já é a décima vez que ela me expulsa.
— Você ainda conta?!
— Claro, minha história de vida.
— Sua história de rebeldia.
— Nossa, você e as menina só me dão bronca.
— Porque você merece, sua descuidada.
Fechei a cara e fiz bico, fazendo Clair rir de mim juntamente com Mary.
— Como está meu cunhado?
— Fazendo hora extra. — respondeu vindo sentar ao meu lado.
— A corporação está sem pessoal novamente?
— Transferiram dois para Toronto, até agora não veio ninguém para substituir. — ela me olhou — E como foi? Ele é medonho como todos falam?
— Tá falando de quem? — perguntei confusa.
— Dimitri né.
— Não achei nada demais.
— Por que você é desligada, quando veste seu lado mafiosa, não tá nem aí pro perigo. Sabe o quanto é tenso isso, vovó pode até ter ficado brava, mas ela se preocupa com você.
— Eu sei, não se preocupe, eu estou bem e vigilante. — sorri de leve — E você mocinha, soube que já começou a ir para escola.
— Estou aprendendo o alfabeto titia.
— Que lindo, isso é muito importante. — sorri para ela.
Mary ficou mais um pouco conversando comigo, sobre um encontro arranjado que estava tramando para mim, era com um médico do hospital onde trabalhava, pela foto era bonito, mas não estava com cabeça para romances no momento. Já tinha se completado dois anos desde que terminei com Joe, meu último namorado, e ao longo desse tempo Mary sempre reservava suas folgas para bolar encontros malucos para mim. Tinha colocado na cabeça que se eu me casasse, pararia com minha vida perigosa.
- x -
— Três… Dois… Um… — assim que Freya deu a largada, arranquei com meu motor.
É claro que eu não abria mão de participar efetivamente de meus eventos. A corrida principal sempre contavam com minha presença, mas também entrava nas batalhas de 3 segundos. Já coleciona cinco carros que ganhei em apostas, naquilo sim eu era a melhor, a cada curva que dava na pista das ruas de Vancouver, era um pulsar mais forte em meu coração. Me fazia ter lembranças vívidas do meu pai me ensinando a dirigir.
— Por que eu já sabia que você venceria?! — disse Jenie assim que eu freiei na linha de chegada.
— Porque eu sempre ganho. — gritei desligando o motor e saindo — Danis, me deve 500.
— Aqui Lady, tenho que admitir, você acelera sem dó. — ele me entregou o dinheiro — Mas me sinto honrado em poder correr com você.
— Que bom dizer isso, porque essa mandona não aceita qualquer desafio. — brincou Jenie.
— Você aceitaria o meu?! — uma voz grossa e firme veio de trás de mim, me fazendo sentir um breve arrepio.
— Está me desafiando?! — me virei e olhei para o dono da voz, estava bastante formal com aquele terno cinza escuro disfarçando o tênis all star branco, para quem queria participar de uma corrida clandestina — Tem certeza?!
— Me disseram que não aceita o desafio de qualquer pessoa, mas acho que é desculpa de quem tem medo de perder. — ele desviou o olhar para Danis — Sem ofensa.
Respirei fundo pensando em algo para retrucar.
— Então, se não tem medo, pode dar a chance para um desconhecido. — ele sorriu de canto de forma pretensiosa
Se seu objetivo era desencadear meu lado competitivo, estava conseguindo.
— Você parece muito confiante. — ri com deboche — Tudo bem, acho que posso abrir uma leve exceção à regra, afinal de contas, eu sou dona delas.
— Você vai correr com ele?! — Jenie me olhou surpresa.
— Sim, diga que a corrida principal será somente entre nós dois. — voltei meu olhar para ele — Vamos ver como se sai nas ruas de Vancouver.
Entrei no carro e segui com Jenie até a rua onde era a largada, Freya ficou um pouco chocada com minha decisão, assim como os outros corredores, porém entenderam e aceitaram correr sem mim na noite seguinte. Minhas amigas ainda tentaram me fazer voltar a razão da minha regra inicial, mas eu estava motivada a descobrir nem que fosse a 200k/h quem era aquele homem.
— Eu vou ganhar, não se preocupem. — pisquei para elas.
— Que bom que não apostou o carro do seu pai. — comentou Freya.
— Eu nunca aposto o carro do papai, é minha herança. — a olhei.
Pouco antes de entrarmos no carro, enviei para ele o mapa com as ruas por onde teríamos que passar, era uma corrida pela cidade de ida e volta, onde terminaríamos parando no mesmo lugar. Assim que Jenie se posicionou entre os carros, as apostas entre os espectadores já rolavam a todo vapor, até mesmo pelas redes sociais, todo mundo queria saber quem era o louco desafiante.
Respirei fundo, sentindo meu coração acelerar com o ronco do motor, mais uma vez eu correria com o meu pai, simbolicamente, por mais que vovó e Mary não soubesse disso e talvez nem entendiam, aquele era o maior e mais forte motivo para continuar organizando as corridas. Pisei no acelerador assim que a bandeira se levantou nas mãos da minha amiga e parti, eu estava confiante como sempre, fazendo minhas curvas como se estivesse montando um carro.
Em alguns momentos olhava para o lado e o via emparelhado comigo, pelo modelo seu carro era uma Nissan 350Z preta, e muito bem ilustrada, que pena que ficaria suja com a poeira do meu asfalto. A ida foi tranquila, até que na terceira curva de volta passando pelo centro da cidade ele desapareceu de trás de mim, voltando a aparecer na minha frente no semáforo seguinte. Foi quando eu apertei o botão do gás nitro, para acelerar a corrida, mais alguns quilômetros à frente, o carro dele também foi acelerado, aparentemente de forma incorreta, pois começou a sair fumaça da capota da frente.
Isso me fez desconcentrar na corrida, e na última curva ele me ultrapassou, por alguns milímetros e a fumaça, chegou na minha frente.
— Então?! — disse ele ao sair do carro.
Eu ri saindo do meu carro, não acreditava que tinha perdido por uma falta de atenção da minha parte.
— Você pode ter ganhado a corrida, mas pelo visto perdeu seu carro. — disse mantendo minha superioridade — Acelerou na hora errada o que explica a fumaça, certamente acabou danificando o motor.
— Você conhece bastante de carro.
— Se me conhecesse de verdade, saberia disso. — sorri de canto — Entretanto para sua sorte, passe na minha oficina amanhã, consertarei seu carro.
— Essa é a minha recompensa por ter ganhado? — seu olhar intenso para mim me deixou perplexa.
— Entenda como quiser.
Me afastei dele seguindo para meu carro com Jenie.
— O que foi aquilo?
— Se ele queria me impressionar, acabou conseguindo. — disse para ela.
Assim que cheguei na casa da vovó, subi direito para meu quarto, estava morta de cansada e não queria dar espaço para ela me dar alguma bronca por ter chegado de madrugada.
— Aonde pensa que vai?! — perguntou ela assim que passei pela sala em direção a escada.
— Bom dia vovó. — não acreditava que ela estava me esperando, sentada em sua cadeira de balanço ao lado da janela.
— Vou me limitar a não dizer nada sobre o horário, mas tem um presente para você no seu quarto. — comunicou.
— Um presente?! — fiquei confusa — De quem?!
— Vá e veja. — curta e grossa como sempre.
— Te amo vovó!! Bom dia! — abri um sorriso descarado para ela, que ficou segurando o riso de sua cadeira.
— Vá logo menina, antes que eu te dê uma surra. — brincou.
Subi as escadas correndo e ao entrar, vi um bouquet de rosas vermelhas em cima da cama, ao lado um cartão. Estranhei a primeiro momento e logo pensei que pudesse ser de algum outro pretendente que Mary estivesse arrumando para mim, porém, assim que peguei o cartão, constatei que o dono não era quem imaginava.
— Espero que venha me visitar mais vezes, assinado Dimitri. — sussurrei ao ler — Quem esse idiota pensa que é?!
Pensei em rasgar o cartão e jogar as flores fora, mas a ideia de fazer ele engolir aquele presente estava sendo mais convidativa. Na manhã seguinte, acordei um pouco mais tarde para ir trabalhar, ainda sentia minhas costas doerem, minha cabeça pesada e eu nem tinha bebido. Mal cheguei na oficina e me deparei com Frey já xingando as novas retrucas que Jenie contratou, as aprendizes não me pareciam habilidosas na função de mecânicas, mas era esforçadas. Precisavam do emprego, a Taylor precisava ajudar a mãe que havia sido abandonada pelo marido, com outros cinco filhos pequenos para criar; já Holly era órfã e tinha acabado de ganhar sua emancipação aos 16 anos, além da guarda da irmã caçula.
Traduzindo, eu não podia demitir as duas.
— Relaxa e pare de ficar nervosa com facilidade Freya. — disse ao chegar perto dela — No final sempre dá tudo certo.
— Sei. — ela me olhou desconfiada — Acho melhor ir se trocar, antes que o corredor apareça por aqui.
— Ele não veio ainda. — ri — Achei que chegaria logo pela manhã.
Caminhei em direção as escadas rindo e segui para meu escritório, deixei as persianas entreabertas, e me troquei no meu banheiro privado. Passei alguns minutos analisando os impecáveis relatórios financeiros que Jenie fazia com orgulho, se eu fui a melhor aluna de engenharia, ela tinha sido a melhor de administração, com pontuações de dar inveja a qualquer nerd.
Não demorou muito até que ouvi o som estranho de um motor morrendo, um largo e intrigante sorriso surgiu em minha face. Me levantei da minha mesa e desci.
— E não é que veio mesmo. — comentei ao me aproximar dele.
— Não iria desperdiçar a chance, ter meu carro consertado por você. — disse ele num tom sarcástico.
Analisei disfarçadamente seu “look” do dia, estranhamente estava mais casual com uma básica camiseta branca e jeans preto, além do all star.
— Ok, vamos analisar. — disse olhando superficialmente — Marg, faz a ficha do carro para mim.
— Sim, senhora. — disse batendo continência de forma debochada, como sempre.
Minhas amigas ficaram observando discretamente de longe, claro que assim como eu, queria saber aonde aquilo ia dar. Abri o capô do carro e comecei a observar com cuidado cada centímetro, o problema realmente é no motor e na instalação elétrica, peguei minha caixa de ferramentas e a coloquei ao lado em cima da mesa de apoio. Era complicado, não sabia por onde começar.
— Ele vai sobreviver doutora?! — brincou o homem.
— Bem, o paciente está em estado crítico, mas você veio no lugar certo. — sorri de canto, entrando na brincadeira — Então, Desafiante...
— Pode me chamar de . — ele sorriu de volta.
— , acho que seu carro ficará aqui por alguns dias. — informei.
— Devo ficar feliz por isso?! — ele manteve seu olhar fixo em mim.
— Talvez, se o seu objetivo era se aproximar de mim.
— Do que está falando?! — seu olhar ficou confuso.
— Você sabe muito bem.
Assim que peguei a chave inglesa, deu uma rasteira nele para que caísse no chão e montei em cima dele, como sempre fazia, bati a chave ao lado do seu rosto. Todos ao nosso redor ficaram espantados com minha reação, então meus seguranças se posicionaram perto, mostrando estarem armados.
— Quem é você e o que quer aqui?! — perguntei diretamente.
— O que?!
— Fala logo. — gritei — Foi o Dimitri quem te mandou não é?!
— Não, eu juro, nem conheço ele. — respondeu ainda tentando assimilar e voltando seu olhar para os seguranças — Por favor, não é isso que está pensando.
— Claro que não, Dimitri apareceria pessoalmente. — coloquei a chave inglesa no bolso do meu macacão, e comecei a vasculhar os bolsos dele.
— O que é isso, ele se remexeu no chão tentando me impedir — O que está fazendo.
— ?! O que é isso?! — perguntou Freya não entendendo minhas ações.
— É isso. — disse com satisfação ao encontrar um grampo de escuta atrás do cinto da calça — Sabia que você era certinho demais para ser das ruas, é um policial.
Logo meus seguranças apontaram para ele, então me levantei, joguei no chão o grampo e pisei em cima.
— Parece que você me pegou. — ele riu como se não fosse um problema — Acho que agora podemos conversar seriamente.
— Quem é você?! Conheço o rosto de todos os policiais de Vancouver. — disse.
— Agente Lewis, da Interpol. — disse Jenie ao entrar na oficina, como se estivesse esperando essa deixa para aparecer, estava com uma pasta nas mãos — Passei a madrugada com um amigo invadindo alguns sistemas, mas valeu a pena as câmeras de segurança terem filmado seu rosto.
— Sabia que faria o trabalho de casa. — sorri para ela, e voltei meu olhar para ele — Então, agente Lewis, acho que iria me enganar por quanto tempo?
— Confesso que não esperava por uma amiga hacker. — ele olhou para Jenie, depois para mim — Mas, estou aqui por algo do seu interesse.
— Meu interesse?!
— Dimitri Brock. — respondeu — Me parece que você o conhece bem.
— Já até comprou briga. — comentou Freya de forma debochada.
— Freya. — chamei sua atenção, o fazendo rir — Agente, não tenho nada que possa me falar com você, nem mesmo o Dimitri.
— Tem certeza?!
— Seu carro ficará pronto daqui três dias, quanto ao valor, fica por cortesia da casa. — avisei — Agora pode se retirar.
Dei as costas para ele, e segui em direção a escada.
— Era só o que me faltava. — disse ao entrar no meu escritório, sendo seguida por Jenie e Freya.
— E agora?! — perguntou Jenie — , ele correu com você, ele é um policial.
— O que quer dizer com isso?!
— Ele tem provas contra você. — disse Freya — Não precisamos ser um gênio para imaginar no que pode rolar.
— É a palavra de um… — então caiu minha ficha — Que merda, ele estava com escuta.
— Viu, eu disse que era loucura aquela corrida. — Jenie tentava não se desesperar.
— Calma, o máximo que pode é ser presa por alguns meses. — brinquei.
— Não tem graça.
— Não importa o que possa acontecer, não quero ouvi-lo. — assegurei.
— Eu gostaria. — interviu Jenie.
— O que? — dissemos eu e Freya.
— Ele mencionou Dimitri, não te deu uma curiosidade? — explicou.
— Olhando por esse ângulo.
— Não sei… Dimitri me enviou um bouquet de rosas vermelhas e um cartão. — respirei fundo — Não sei mais o que pensar.
— Aquele babaca ousou fazer isso?! — Freya boquiaberta.
Assenti com a face.
Eu não queria me preocupar com mais isso na minha vida, mandei um entregador devolver as flores e o cartão para Dimitri no final da tarde. Deixei minhas amigas na direção das corridas da noite e passei a madrugada na oficina consertando o carro do agente, quando eu pensei estar sozinha.
— Você não dorme?! — disse aparecendo da porta.
— Estou tentando garantir que você desapareça daqui, agente. — mantive minha atenção no sistema elétrico do motor — O que faz aqui?
— Quero conversar com você. — disse.
— Mas eu não quero, pode ir embora. — larguei a chave de fenda e o olhei — Agora.
— Uau, você é muito autoritária, por isso te chamam de Lady?!
— Não, foi meu pai que me deu esse apelido, as pessoas foram se acostumando com ele. — expliquei.
— Você era bem ligada ao seu pai. — comentou.
— O que sabe sobre isso?
— Você não imagina o quanto eu estudei sobre você. — ele manteve seu olhar fixo em mim.
— E nada disso deu certo para seu disfarce, o que pretendia?! — perguntei — Me fazer apaixonar por você e depois me convencer a te ajudar em algo? Não acredito que achou que eu fosse tão fácil assim.
— Bem, meu plano era um pouco mais simples, mas… A ideia de te fazer se apaixonar por mim. — ele riu — Gostei.
— Ridículo. — voltei meu olhar para o motor — Tudo bem pode falar.
— Falar o que?! — senti sua movimentação.
— O que você quer? — assim que me virei, ele já estava próximo de mim — O que quer de mim?
— Admito que quero sua ajuda, temos um inimigo em comum. — explicou.
— Essa filosofia não cola muito comigo. — ri.
— Eu sei que Dimitri tem causado alguns problemas a você, a Interpol também não gosta dele há anos, podemos nos ajudar. — insistiu.
— Eu até poderia pensar, mas não me envolvo com pessoas do seu tipo.
— Meu tipo?!
— Usam fardas.
— Agentes não usam fardas.
— Trabalha para o governo, prende pessoas, dá no mesmo. — retruquei.
— Você sempre tem respostas imediatas assim? Ou é só comigo? — ele riu.
— Ainda não viu nada. — me voltei para o carro — Já que está aqui, vai me ajudar.
— Você não pode me ajudar, mas eu posso te ajudar. — ele riu mais — Pensei que fosse consertar isso sozinha.
— Pare de falar, se não se comportar eu coloco uma bomba escondida aqui. — o ameacei brincando.
- x -
— Alô. — atendi o celular sem menor vontade.
— ?! Onde você está?! Meu amigo do hospital disse que você o deixou sozinho no restaurante. — disse minha irmã desesperada do outro lado da linha.
— Eu me levantei para ir no banheiro, nossa quando me dei conta já estava bem longe de lá, errei o caminho do banheiro. — respondi com sarcasmo — Juro que não foi de propósito.
— Eu te conheço muito bem , estou envergonhada por você. — me repreendeu — Ele é meu amigo.
— Lamento, mas ele não tinha assuntos legais, eu lá quero saber quantas veias tem no corpo humano?! — retruquei — Me desculpa Mary, mas esse foi o pior encontro que você me arrumou, e olhar que aquele dono de concessionária esnobe conseguiu perder na comparação, pelo menos ele sabia algo sobre carros, e me deixou dirigir o mustang dele.
— !
— Mary! Preciso desligar, diga a vovó que dormirei na oficina, preciso terminar o carro de você sabe quem.
Assim que coloquei o celular no bolso, tive uma surpresa desagradável.
— Ora ora, quem está aqui. — Dimitri sorriu ao se aproximar de mim, se sentando na banqueta ao lado — A garota das corridas.
— Esse bar já foi mais bem frequentado Timothy. — disse ao garçom, conhecido de anos que sempre me servia.
Timothy permaneceu em silêncio secando o copo em sua mão, mas pelo seu olhar sabia que concordava comigo.
— O que faz aqui? Pensei que nunca saísse da espelunca que chama de qg. — voltei meu olhar para ele.
— Estava passando por perto e pensei em beber algo. — respondeu — Que sorte a minha.
— Que azar o meu.
— Por favor, não acredito que ainda me odeia por causa da família do ex entregador, aquelas flores foram meu pedido de desculpas. — o cinismo escorria do seu olhar.
— Pensei que tivesse entendido minha resposta com a devolução. — mantive meu olhar nele — Não está aqui para beber, o que você quer Dimitri?
— Para ser sincero, em um passado próximo eu queria mandar em toda Vancouver, mas após te conhecer, meus interesses mudaram. — ele estendeu a mão para tocar em meu cabelo — Você é uma mulher muito ousada.
— Tira a mão de mim. — eu tentei fazê-lo se afastar, porém ele pegou em meu pulso com força — Posso te oferecer muitas coisas, que outras mulheres se matariam para ter.
— Eu não quero nada que venha de você. — mantive meu olhar firme.
— Então, terei que convencê-la do contrário. — ele sorriu com ar de superioridade e soltou meu pulso.
— Oi querida. — apareceu misteriosamente ao meu lado e me beijou com destreza e certa ousadia, de forma moderadamente intensa.
Me afastei de leve dele e o olhei como um pedido de explicação.
— Não sabia que estava acompanhada. — comentou Dimitri.
— Sim, ela está. — confirmou passando seu braços em minhas costas, pousando sua mão em minha cintura, aninhando meu corpo ao dele — Me desculpe a demora, tive que me atrasar um pouco, e você é quem? Seu amigo ?!
— Não. — disse tentando voltar ao eixo.
— Nos vemos depois Lady. — Dimitri se afastou de nós.
— Querida?! — mantive meu olhar para — E um beijo?!
— O que você queria que eu fizesse? — ele sorriu — Nosso amigo ainda está nos observando.
— Era só o que me faltava. — ri baixo — Porque me beijou?
— Não gostou do beijo?! — ele sorriu audaciosamente.
— Abusado, havia outras formas de se aproximar.
— Eu precisava ser convincente. — ele riu — Mas confesso que o beijo foi intencional.
Respirei fundo, até que não tinha sido tão ruim assim.
— Vocês agentes são sempre assim? — perguntei.
— Não, mas você está despertando vários lados meus. — brincou.
Ridículo. Mas charmoso!
— Porque disse que estava atrasado?
— Foi a primeira coisa que me veio a cabeça.
— Cretino. — sussurrei — Você estava todo esse tempo sentado na quinta mesa aos fundos do bar, me vigiando.
— Como sabia que era eu?! — ele parecia admirado.
— Você está me seguindo desde a hora em que saí de casa para meu encontro. — cruzei os braços — Precisa ser mais discreto em vigiar as pessoas.
— Nunca fui bom em espionagem. — ele suspirou — Podia ter me pedido carona então, já que sabia que era eu.
— E perder a oportunidade de te fazer achar que está um passo na minha frente?! — eu ri — Jamais.
— Mercenária, mafiosa.
— Com prazer. — pisquei de leve.
Ele se manteve ao meu lado todo o tempo, abraçado a mim. Não sabia se aquilo era bom ou ruim, pois já estava um tanto desnorteada pelo aroma envolvente do seu perfume, o tempo foi passando e fui ficando com sono, mas estava relutante para ir embora. Aparentemente, Dimitri estava fazendo mais um de seus negócios no bar do Timothy, porém, quando me dei conta já estava adormecida no sofá da minha oficina.
— Você me deixou dormir. — sussurrei abrindo os olhos e vendo a persiana do meu escritório
— Achei que seria melhor não te impedir. — respondeu.
— Como me trouxe, ou melhor, como conseguiu entrar aqui?! — perguntei erguendo meu corpo.
— Te trouxe de carro, estava um pouco sonolenta, e entrei pela porta da frente, sua amiga Jenie ainda estava aqui quando chegamos. — explicou.
— O que ela fazia aqui.
— Trabalhando eu acho.
— Jenie e sua mania de perfeccionismo. — mantive meu olhar na jaqueta dele que me cobria — Assim nunca vai arrumar um namorado.
— Falou a solteira da cidade. — ele riu.
— Minha vida íntima não te interessa. — o olhei de cara fechada — E não ache que mudei de ideia quando ao que disse, seu carro já está quase consertado, poderá pegá-lo amanhã à tarde e sumir daqui.
— Como eu também disse, ainda te farei mudar de ideia. — ele sorriu de canto.
Ficamos nos olhando por alguns minutos, até que o despachei para fora da oficina. Eu realmente não dormiria aquela noite, tomei um café extraforte e voltei para o trabalho em seu carro. Perder horas de sono foi gratificante, pois na tarde seguinte consegui entregar a chave em suas mãos, o carro estava cem por cento renovado.
— Três dias, você é uma mulher de palavra. — disse ele pegando as chaves.
— Nunca duvide disso. — assegurei — Agora pode ir.
Ele assentiu sem problema, entrou no carro e partiu. Achei estranho, ele não tentar me convencer ou simplesmente argumentar mais, somente se foi.
— Está muito estranho. — sussurrei.
— Pela primeira vez concordamos. — Jenie se colocou ao meu lado.
Os dias de calmaria foram breves, uma semana depois do sumiço geral do agente, recebi uma ligação aflita da minha avó, após a hora do almoço. A padaria do senhor Martim havia sido incendiada criminalmente, parei todo o meu trabalho e corri para o local, por mais que o corpo de bombeiros fizesse todo o trabalho na prática, eu tinha que descobrir o culpado.
— Quem em sã consciência faria isso? O senhor Martim é uma boa pessoa. — indagou Jenie que havia me acompanhado.
— Não sei, mas vou descobrir. — reconheci um rosto e segui até ele — Hilth, cunhado, que bom que está aqui.
— O senhor Martim é um grande amigo do meu pai, não pude deixar de acompanhar pessoalmente. — explicou — O que faz aqui?
— Ainda pergunta, essa área é minha. — respondi — Minha avó me ligou contando, mesmo não gostando de como levo minha vida, ela sempre me liga nessas situações.
— Porque ela confia no seu senso de justiça. — concordou ponderadamente.
— E como está a situação?
— Controlamos o fogo com facilidade, estamos terminando a perícia mas quase certeza que foi criminal. — disse ele — E veio endereçado.
— Como assim?! — o olhei confusa.
— Vem comigo. — ele se aproximou do carro de bombeiros comigo — O senhor Martim estava com alguns ferimentos e escoriações, teve leve queimaduras e já o enviamos ao hospital, mas antes ele me fez prometer que te entregaria isso.
Ele retirou do banco do motoristas um bouquet de rosas vermelhas e me entregou.
— O senhor Martim disse que entenderia o recado.
— Não acredito — sussurrei ao pegar o bouquet já matando a charada — Filho da mãe.
— Você sabe quem foi, não sabe?!
— Sei. — passei a outra não no cabelo, sem saber o que faria — Cuide dos trâmites legais, não se preocupe, vou resolver isso mais tarde.
— Tenha cuidado cunhada.
— Terei.
Pedi que Jenie auxiliasse a família do senhor Martim, aquela padaria era o sustento deles, então me sentia na obrigação de ampará-los naquele momento. Passei a noite em claro no escritório da oficina, controlando minha raiva enquanto mantinha meu olhar fixo naquelas rosas. Na manhã seguinte não perdi tempo ao entrar no carro do papai e seguir em direção ao cg do inimigo. Estava cega de raiva? Sim, queria fuzilar ele.
— Eu não disse para ficar longe. — mantive um tom moderado ao fogar as fores na cara dele.
Em segundos seus homens apontaram suas armas para mim.
— Sabia que viria pessoalmente desta vez. — ele riu — Gostou da surpresa?
— Você é um monstro. — sussurrei.
— Sabe o que mais me atrai em você? E ver como mantém sua postura impecável, mesmo diante dessa situação. — ele me olhou de baixo para cima como da primeira vez — Só me faz te querer mais.
— Vai sonhando, você não me mete medo nenhum.
Ele soltou uma gargalhada.
— Eu disse que te faria mudar de ideia… Não vou desistir.
— Tem razão… — eu ri — Você realmente me fez mudar de ideia.
Me virei e saí do seu qg. Eu havia mesmo mudado de ideia, mas não era da forma que ele esperava.
Voltei para casa da minha avó e expliquei para ela e Mary, o que havia acontecido, ocultando a parte que envolvia Dimitri, não queria causar mais pânico ainda. Fui para meu quarto e me joguei na cama, pela primeira vez estava sentindo um enorme peso nas costas, me sentia culpada pelo que havia acontecido ao senhor Martim. Com isso a primeira lágrima desceu em minha face, não sabia classificar se era de tristeza, raiva, ou curiosamente de saudade dos meus pais. Certamente se papai estivesse aqui, saberia o que fazer.
Horas de sono foi a solução, ou melhor, minha única opção para uma mente cansada e cheia de problemas para resolver. Quase hibernei no quarto, estava mesmo sobrecarregada, acordei no dia seguinte pouco antes do almoço, e já ouvi certa movimentação intensa no andar de baixo. Estranhei, pois a vovó não gostava de receber visitas na hora do almoço, a menos que fosse Mary ou minhas amigas.
Me espreguicei um pouco antes de levantar, então peguei a toalha e adentrei o banheiro, precisava mesmo de uma ducha quente para acordar os músculos do meu corpo. Assim que coloquei a roupa, prendi o cabelo e desci, certamente todo aquele barulho se devia a minha sobrinha vendo tv. Dito e feito, porém um corpo estranho estava sentado no sofá da sala, com o olhar voltado para mim, da forma mais natural possível.
— ! Que bom que acordou. — disse Mary ao me ver, logo me pegou pelo braço e me puxou em direção a cozinha — Trate já de ir contando tudo.
— Como assim contando tudo?!
— Que história é essa de conhecer e começar a namorar o amigo do meu marido, sem eu te apresentar ele antes? — explicou ela.
— O que?
Namorar?!
— Não precisa fingir sua boba, ele me contou tudo. — insistiu ela.
— Ele?!
Eu mato o .
— Ele está aqui desde quando? — perguntei.
— Chegou a pouco tempo.
— E quando ficou sabendo do meu suposto namoro? Desde quando Hilth o conhece?!
— Lembra quando te contei que Hilth já fez um treinamento militar? Mas resolveu mudar para o corpo de bombeiros?
— E?!
— Eles são amigos desde essa época, era ele que eu queria te apresentar há muito tempo, mas você sempre dizia que não queria farda. — explicou.
— Ele não veste farda.
— Mas fez treinamento militar, prende pessoas perigosas, dá no mesmo. — essa fala é minha.
Senti uma leve tontura, estava ainda mais desnorteada.
— Você sabe que ele é um agente da Interpol, não sabe? — perguntei — Foi ele quem correu comigo, foi o carro dele que eu consertei.
— Ou… Isso eu não sabia.
— Então o namoro é…
— Falso. — completei.
— Ai nossa, e agora?! O que ele faz aqui?!
— Ele veio ser a solução do meu problema. — mordi meu lábio inferior pensando — Onde está a vovó?
— Hilth a levou para visitar o senhor Martim no hospital.
— Ele está bem?
— Sim, felizmente a situação não é grave.
— Mary, me faz um favor, dá uma voltinha com a nossa princesa na rua, preciso conversar a sós com meu “namorado”. — pedi.
— Tudo bem, mas cuidado e juízo. — ela me olhou receosa.
Voltamos para sala e ele permanecia com aquele olhar sereno. Mary pegou Clair no colo e saiu dizendo que iriam comprar sorvete para a sobremesa.
— Parece que dessa vez, eu é que estou um passo a frente. — ele riu.
— Não tem graça. — me mantive séria.
— Que história é essa de namoro?
— Acredite ou não, foi a primeira coisa que me veio à mente. — respondeu — Sua avó não queria me deixar entrar.
— Ela não te deixaria entrar só por dizer isso. — retruquei.
— Tenho um amigo na família, seu cunhado.
— Ainda não acredito nessa parte da história.
— E juro que essa parte não foi premeditada. — ele suspirou fraco — Enfim, já que contou a Mary quem eu realmente era, porque não deixá-la participar da nossa conversa? — perguntou.
— Vai me dizer que colocou escutas aqui também?! — cruzei os braços.
— Confesso que fiquei tentado, mas respeito sua privacidade. — ele sorriu — Além do mais, sei que toda ação acontece na oficina.
Mantive meu olhar nele em silêncio.
— E por falar em ação, não foi perigoso demais tentar enfrentar o inimigo sozinho?
— Como soube?
— Voltando a nada ser premeditado, eu soube do incêndio, foi quando me deparei com Hilth, e descobri que ele era seu cunhado. — explicou — Não acredito que deixei esse detalhe passar, estava tão focado em você.
— Sei.
— Mas então, depois que ele saiu da corporação, nos encontramos em um bar para colocar a conversa em dia, foi quando ele mencionou novamente a cunhada que queria me apresentar e mostrou sua foto. — ele sorriu de forma cativante — Parece que estávamos mesmo destinados a nos encontrar.
— Não sorria assim. — o alertei.
— Gosta do meu sorriso?
— Já disse que comigo não funciona, então pare seu plano de me seduzir.
— Eu já disse que não tenho esse tipo de plano. — ele riu — Mas acho que é sua irmã que está tentando nos preparar um jantar romântico.
— Cancela o jantar, ela já sabe quem você é… E logo falarei para minha avó que não somos namorados.
— Não precisa. — ele riu — Ela não acreditou mesmo, disse que eu me vestia muito bem para namorar você, devo levar isso como elogio?
— Minha avó era costureira profissional, sabe o que é uma boa peça de alfaiataria quando vê. — apontei para seu terno — E você está usando uma.
— Estou admirado.
Parei por um momento e pensei.
— Agora eu é que estou curiosa, o Hilth...
— Sabe. — confirmou antes mesmo de ouvir a pergunta toda — Ele sabe que sou da Interpol.
— E ainda assim queria me apresentar a você, eu mato o meu cunhado.
— Nossa, você fala como se eu fosse uma pessoa má. — ele lançou um olhar de ofendido, se levantando da cadeira — Você realmente tem esse pensamento de mim?
Não sei o motivo, mas meu olhar fixou em seus lábios por um momento. Então respirei fundo e voltei a razão.
— Não importa agora, você venceu.
— O que eu venci? — ele continuou dando passos sinuosos até mim.
— Eu mudei de ideia. — respondi.
— Mudou de ideia?! Curioso, o que a fez mudar de ideia?!
— O próprio Dimitri, indiretamente. — dei um passo para frente para ficar mais próximo a ele, então sorri — Você tem razão, inimigo do meu inimigo, é meu amigo.
— Devo presumir que estamos avançando em nossa relação? — brincou.
— Você entendeu o que eu quis dizer.
— Será maravilhoso trabalhar com você. — ele sorriu de canto, mantendo aquele mesmo olhar intenso em mim, fazendo meu corpo se arrepiar.
Sim, seria divertido trabalhar com ele e eu aproveitaria cada segundo.
Minutos depois Mary retornou com Clair, acompanhava de Hilth e vovó. Nós contamos toda a verdade e eles, principalmente a parte em que ajudaria em seu plano para prender Dimitri definitivamente.
— Não sei se fico aliviada pelo agente estar aqui, ou apreensiva por você está se metendo em mais confusão. — disse vovó ao terminar de lavar a louça do almoço, após todos irem embora.
— Não se preocupe vovó, eu sei os meus limites. — assegurei ao despejar a água da garrafa no copo e beber — Não darei o passo maior que minha perna.
— Como se eu não te conhecesse. — ela balançou a cabeça negativamente mantendo o olhar em mim — Você é destemida como seu pai, temo por isso.
Deu alguns passos até ela e a abracei com carinho.
— Me esforcei tanto para que não fosse assim, mas no fim, acabou herdando o gênio dobrado do seu pai. — disse ela começando a chorar.
— Eu também sinto falta dele vovó.
Permanecemos um tempo abraçadas, até minha avó se afastou de mim e riu.
— Que menina de sorte, não vai me perder essa oportunidade. — disse ela dando uma risada maldosa.
— Do que está falando vovó? — a olhei confusa.
— Do agente bonitão. — ela pegou o pano e começou a limpar o fogão.
— Você também?! Já não basta Mary dizendo que coincidências são sinais de sorte. — cruzei os braços ainda desacreditada da história de ser amigo de Hilth — Era só o que me faltava.
— Você está escolhendo demais minha neta. — ela riu de novo — Ou está com medo?
— Não tenho medo de nada vovó. — garanti.
— Sei… — ela terminou sua limpeza e me olhou — Seria pedir demais que você se casasse com um homem bom e honesto e tivesse uma vida normal e segura como a de Mary?
— Vovó, não somos nem gêmeas para termos uma vida igual. v brinquei — Além do mais, eu sei que perigoso ou não, a senhora sabe como é importante o que eu faço, eu não tenho uma vida de contravenções, minhas corridas são saudáveis, e o principal, a área onde moramos é a mais segura da cidade e não temos que presenciar crianças vendendo drogas.
— Odeio admitir, mas sinto um pequeno orgulho da grande mulher que virou, seu pai também estaria orgulhoso com isso. — admitiu ela.
— E com certeza a mamãe estaria ainda mais apreensiva que a senhora. — eu ri.
— Verdade, sua mãe tinha emocional fraco para uma vida de perigos. — ela riu junto — Mas no final, foi valente ao lado do seu pai.
— Quero ser como eles, independente do caminho que eu seguir em minha vida. — disse ao tocar a correntinha em meu pescoço, presente do último natal que passei com eles.
— Mas isso não muda o fato do agente… — ela riu de novo.
— Pare com isso, não vou me casar ou ter algum tipo de relacionamento com um homem que usa farda.
— Ele não usa farda.
— Tem distintivo e prende pessoas perigosas, dá no mesmo. — retruquei.
Ela me deixou na cozinha e saiu para o jardim dos fundos rindo da minha cara. Não acreditava que minha avó e irmã estavam se juntando para me casar, e ainda mais com esse pretendente.
Duas semanas se passaram comigo e estudando tudo sobre o passado e presente de Dimitri, para enfim conseguir arquitetura o melhor futuro para o nosso inimigo em comum, a penitenciária de segurança máxima ao norte de Whitehorse.
— E então?! — perguntou assim que entrei no meu escritório da oficina.
— O que ele faz aqui?! — perguntei desviando meu olhar para Jenie que me acompanhava.
— Não olha para mim, ele chegou de manhã cedo te procurando, disse que ficaria aqui até chegar. — ela entregou a pasta com os balanços do mês e se retirou.
— Espero que não tenha colocado escutas aqui. — disse me dirigindo para perto da mesa de trabalho e colocando a pasta perto do notebook.
— Por quem me tomas?! — ele riu.
— Você é um agente da Interpol. — resumi.
— Não se preocupe, seus negócios na oficina são todos bem vistos perante a lei. — ele piscou de leve — Pode respirar aliviada.
— Como se eu não soubesse que você sabe das minhas corridas. — cruzei os braços e o olhei séria.
— Até o momento você não causou nenhum dano à sociedade com suas corridas e todas estão sendo monitoradas pela polícia local, fique tranquila.
— Sei. — ainda não confiava — E então o que o traz aqui?
— Não me contive de ansiedade, então vim te ver. — respondeu ele — Como foi o café da manhã com a senhora Hana?
— Produtivo, ela aceitou a sua proposta e está inteiramente interessada em nos ajudar. — respondi prontamente — Descobri que ela também possui inimizades com Dimitri, então usei a nosso favor com bons argumentos.
— Garota esperta, você daria uma boa agente. — ele elogiou.
— Deus me livre. — fiz careta e ri — Agora que já sabe, pode ir.
— Mau educada. — sussurrou.
— Eu ouvi essa.
— Temos algumas peças soltas para colocar no eixo, então o dia será longo hoje. — ele piscou e logo deu um sorriso malicioso.
— Não vai achando que pode tirar proveito da situação. — o adverti — O fato de Mary e vovó estarem empolgadas com o tal jantar da vitória não quer dizer nada.
— Eu disse que Mary estava preparando um jantar. — riu.
— Ha… Ha… — remexi de leve em meus cabelos e logo me lembrei do beijo ousado que havia me dado no bar, era um alívio não ter contado para minha irmã.
— Depois que pegarmos o Dimitri, eu vou sair de férias. — anunciou.
— E eu deveria saber disso?! — o olhei surpresa.
— Não, mas não quero que seja pega de surpresa quando eu te desafiar novamente. — ele sorriu com mais ousadia — Vou querer escolher o prêmio da próxima vez.
— E qual seria?
— Um encontro de verdade. — seu olhar fixo em mim, fez meu coração acelerar um pouco.
— E se eu ganhar?! — retruquei.
— Te dou um beijo.
— Abusado. — eu ri dele — Mas, posso considerar.
Brinquei.
— Ainda garante que seu plano não é me conquistar?! — eu instiguei.
— Bem, se tratando das coincidências da vida, acho que sou inocente, mas não nego minha vontade atual. — ele se aproximou um pouco mais de mim — Acho que foi você quem me seduziu.
— Eu é que sou…
Nem mesmo pude terminar a frase e seus lábios tocaram os meus, um beijo ainda mais intenso que o primeiro. Comparado a meus outros relacionamentos, fazia o tempo paralisar de alguma forma, como se tudo ao nosso redor desaparecesse e só existisse nós dois. Meio louco da minha parte, mas passar aquelas semanas com ele, estava sendo uma experiência que não desejava que terminasse, seus comentários sarcásticos e seu bom humor me faziam rir de tempos em tempos.
— Abusado. — me afastei dele, tentando demonstrar indignação, mas não conseguindo.
— Você precisa variar os adjetivos que arruma para me classificar. — ele riu.
— Opa… — disse uma voz vinda da porta, era Mary — Devo me empolgar com isso?!
— Não! Sim! — dissemos em coral, claro que eu negando.
— Hum… — ela tentou segurar o riso sem sucesso.
— O que faz aqui Mary? — eu perguntei.
— Ah… Quase ia me esquecendo. — ela deu alguns passos até nós e me entregou o bouquet de rosas vermelhas que estava em sua mão, juntamente com um cartão — Chegou pouco antes do almoço, como seu celular está fora de área, a vovó me ligou.
— Meu celular descarregou, coloquei na tomada há pouco tempo. — disse pegando as flores. — Dimitri realmente acha que consegue ser cavalheiro.
— “Estas rosas são minha resposta, estou ansioso para saber se vai aceitar desta vez.” — disse ao ler o cartão — O que significa?
— Que ele aceitou minha proposta, vamos fazer a corrida do ano. — expliquei.
A proposta para organizar uma corrida na área de Dimitri, era o que nosso inimigo mais queria de mim, consequentemente era também o ponto inicial do plano milimetricamente calculado de . Meu olhar focou no dele, e um sorriso de satisfação misturado a empolgação logo surgiu no rosto de , consegui sentir uma leve ponta de gratidão misturada ao prazer de ter minha ajuda.
O que me fez ficar ansiosa para próxima corrida.
“Help: Há momentos na vida que a ajuda vem de onde menos esperamos, então fique atento e perceba quem são as pessoas que realmente pode contar.” - by: Pâms
— Lady… Eu juro que não fiz nada de errado. — James se apressou em tentar explicar algo que talvez, nem sabia o que era.
— Se não fez nada de errado, porque está tão nervoso? — dei mais alguns passos até ele, passando pela mesa de ferramentas, peguei uma chave de grifo e continuei — Mas, não me parece ser inocente.
— Senhora, me diga o que fiz para que possa me defender. — ele estava levemente sendo segurado por dois funcionários meus, forçado a permanecer sentado naquela cadeira.
— Bem, andei escutando alguns rumores a seu respeito... — mantive meu olhar nele, enquanto deslizava o dedo indicador pela ferramenta em minha mão — Que estava tentando vender peças de carros roubados na minha área.
— Eu juro… — nem mesmo permiti que ele terminasse, fiz um sinal com o olhar para meus funcionários, que logo derrubou ele no chão.
Rapidamente montei em cima dele ficando de joelhos e o prendendo no chão, então bati a chave de grifo no chão, na altura de sua cabeça, o deixando ainda mais desesperado.
— Escolha bem suas palavras. — disse fitando meus olhos nele.
— S-s-sim, senhora. — parecia gaguejar e medo — Eu juro que não queria, mas estou em dívida com ele, se não pagar com meu trabalho… Minha família.
— Por que foi pedir dinheiro para Dimitri?! — nem precisava mencionar o nome para saber de quem James falava.
Dimitri era uma cobra disfarçado de gente, um dos piores gangster já tive o desprazer de conhecer, havia se instalado no bairro ao leste de Vancouver três meses atrás, onde montou uma espécie de QG para controlar seus negócios ilegais. Não me importei com isso de início, até que seus lacaios começaram a fazer negócios em minha área, nos bairros ao sul da cidade.
— Eu tive alguns problemas e perdi meu emprego. — respondeu ponderadamente.
— E foi recorrer justo… — respirei fundo me levantando, pensando o que poderia fazer para ajudá-lo, mesmo não merecendo — Quanto você ainda deve?
— Cinco mil. — ele continuou no chão, receoso do que eu poderia fazer.
— Onde estão as peças que você está vendendo? Quanto elas custam? — perguntei me virando em direção às grandes janelas laterais da oficina.
— Estão na garagem da minha casa. — respondeu — Elas custam quatro mil.
— O que pretende fazer? — perguntou Jenie, minha amiga desde sempre — Não está pensando em…
— Não vou deixar essa família à mercê dele. — retruquei.
— , você não é a mulher maravilha, não pode sair ajudando todos que se mete em roubada. — Jenie era boa em me dar conselhos, mas meu coração molenga sempre queria comprar briga onde não podia.
— Eu sei, mas conheço a esposa dele, suas filhas… Desta vez, só mais desta vez. — voltei meu olhar para ela, como se pedisse sua autorização.
— Não vou falar mais nada. — ela cruzou os braços — Lavo minhas mãos.
Desviei meu olhar para Rodrigues, meu funcionário mais antigo.
— Vá até a casa dele e traga as peças, traga também sua família. — olhei para James — Onde estão ficando?!
— Em um quarto de uma hospedaria. — respondeu James.
— Pegue o endereço correto e vá Rodrigues. — dei alguns passos até a mesa de ferramentas e coloquei a chave de grifo em cima — Tavares e Torres, vocês ficam de olho no nosso vendedor.
Me afastei deles e subi as escadas que dava acesso ao mezanino, onde era meu escritório, sendo seguida por Jenie. Sei que ela havia dito que não falaria mais nada, porém, sentia lá no fundo sua vontade enorme em me bater por querer me intrometer.
— Não me olhei com essa cara. — segurei o riso — Eu simplesmente não consigo evitar.
— Você é assim , vê um problema já quer se jogar nele. — Jenie respirou fundo se sentando no sofá, passando a mão nos seus ruivos cabelos naturais — Não quero nem imaginar o que a vovó vai dizer.
— Por favor, nem ouse falar sobre isso com ela, não agora. — senti uma leve apreensão por isso.
Vovó Somália era um amor comigo e minha irmã mais velha Mary, desde que nossos pais foram cruelmente assassinados por causa de um mal entendido, ela nos criou em meio a crise e incerteza que daria conta em sua idade avançada. Mas felizmente, Mary se tornou uma excelente enfermeira, trabalhando no St. Paul’s Hospital, além de ter feito um afortunado casamento com o capitão Hilth do corpo de bombeiros da cidade.
Já eu, não era exatamente a ovelha negra da família, mas tinha herdado a paixão do meu pai por carros, principalmente os de corrida, era fascinada com o som do ronco de um motor. Então, fiz questão de continuar com a oficina onde papai trabalhava e conquistou o respeito de muitas pessoas, mas ao contrário dele, eu tinha sim um lado de contravenções que me fazia organizar corridas clandestinas. Foi daí que fiquei conhecida como a Lady das corridas.
— Minha avó está muito feliz com meu diploma da universidade, preciso aproveitar esse momento, para não ser expulsa de casa de novo. — não me contive em soltar um riso, fazendo-a rir comigo.
— Ainda não acredito que você realmente enfrentou uma universidade, só para manter essa oficina viva. — Jenie me olhou com admiração.
— Esse lugar é… Era o sonho do meu pai, se tornou meu sonho também. — me encostei em minha mesa de trabalho, e sentei em cima — Já que a condição da vovó para não vender a oficina e me deixar trabalhar aqui era fazer graduação, até que minha escolha de curso foi bem racional.
— Ah sim, ser a única mulher em meio a um bando de macho exibido no curso de engenharia mecânica, foi bem racional. — comentou de forma irônica.
— Claro que foi, além do mais, me formei com medalha de honra por ter sido a melhor aluna da classe, não é para poucos. — cruzei os braços demonstrando satisfação no olhar — Não qualquer pessoa que consegue vaga na Universidade de Toronto.
— Boa tarde… — disse Freya adentrando minha sala — Posso entender, porque tem um cara lá em baixo sendo vigiado pelos irmãos T? Justo no meu local de trabalho?
Freya Linz, minha melhor mecânica. Mesmo sem ter feito faculdade e ter passado por várias provas com cálculos mais mortais que veneno, eu a considerava mil vezes melhor que eu quando o assunto era montar e desmontar um carro. Havia aprendido tudo com seu pai, que aprendeu com o pai dele, assim como eu, uma tradição que se passava em sua família. Me divertia sempre que os clientes entravam na oficina e viam aquela bela mulher negra consertando motores dos carros, de cair o queixo.
— Pergunta pra chefe. — Jenie lançou seu olhar em minha direção.
— O que? — Freya me olhou também — Não vai me dizer que tá comprando briga de alguém.
— Mas é só isso que ela sabe fazer.
— Ai nossa, nem sou assim. — reclamei delas.
— Tem certeza?! Devo lembrar daquela senhorita que estava sendo despejada e você comprou a casa dela?! — Freya cruzou os braços também — Ou do senhor John da barbearia que estava sendo roubado e você deu um jeito nos meliantes?
— Teve também aquela vez… — Jenie ia completar.
— Ok! Eu entendi. — bufei de leve — A senhora Dolores tinha um grande afeto por aquela casa, morava lá a mais de quarenta anos, não ia deixar uma senhora ser despejada na minha área… O senhor John sempre teve consideração com o papai e minha família, ele nunca fez mal a ninguém e todos sabem que não devem roubar no sul de Vancouver, esse lado da cidade é meu, minhas regras.
— Querida Lady, você não é a mulher maravilha. — Freya retrucou.
— Alguém me entende aqui. — Jenie soltou um suspiro de alívio — Eu disse isso para ela.
— Vocês sabem que eu odeio injustiça, não sou uma santa, mas… Era o que meu pai faria.
Elas se calaram, já sabia que estava com: “Foi por isso que ele morreu.” Na ponta da língua para me dizer, porém, respeitavam muito a memória dos meus pais e de tudo que eles fizeram pelas pessoas daquele bairro, papai realmente era como a válvula de escape para todos. O que precisavam recorriam a ele, que estava sempre pronto para ajudar, o que explicava o carinho e respeito dos moradores por mim e Mary.
— Desculpa, eu sei que não sou nenhuma super heroína e não vou deixar que o mesmo aconteça comigo. — disse me referindo a morte deles — Mas, se eu não manter a ordem aqui, quem vai? A polícia? Semana passada vocês viram comigo a falta de respeito deles e o abuso de autoridade com o dono da mercearia da esquina.
— Só queremos que você tome cuidado. — disse Jenie, como se sentisse um pouco mal por me repreender tanto.
— É claro que tomo, por isso tenho seguranças. — pisquei de leve para elas, que riram de mim.
— Ah sim, seguranças com roupas de mecânico. — Jenie riu.
— Pior é quando pensam que eles é quem vão consertar os carros. — Freya mantinha seu braço cruzado, balançando a cabeça negativamente — Não sabem nem o que é chave biela.
— Deixa de ser ranzinza. — ri dela — Você é muito bonita para ser reclamona.
— Você devia me agradecer por trabalhar aqui, segundo minha mãe, se eu fosse mais esperta, teria me tornado modelo. — Freya soltou uma risada maléfica — Queria ver como ficaria.
— É claro que você não iria me abandonar, somos melhores amigas desde a infância, e seu pai se aposentou trabalhando aqui. — retruquei — O legado da sua família é trabalhar junto com a minha.
— Que lindo. — ela me olhou emocionada — Você falou junto e não para.
— Ai, quem disse que existe hierarquia aqui, você é minha funcionária e ganha mais do que eu. — reclamei.
— Claro, eu trabalho mais.
— Vocês duas. — Jenie se contorcia de tanto rir no sofá.
— Tá ok, vamos deixar a troca de amor para depois, me diz, quem é o cara lá embaixo?
— James, aquele que trabalhava entregando jornal, a esposa dele fazia bombons para vender e tem duas filhas. — respondi.
— Gostaria de saber como você consegue guardar os detalhes da vida de todo mundo dessa área. — Jenie comentou embasbacada.
— Pois é. — Freya concordou.
— Herdei do papai. — ri — Mas então, ele ficou desempregado e acabou criando dívidas com quem não devia.
— Não me diga que foi com o Carl?! — presumiu Freya.
— Pior. — Jenie comentou.
Carl era uma criança perto do Dimitri, estava no lugar do pai a quase um ano comandando a área oeste da cidade, mas queriam se mudar definitivamente para Toronto, onde tinham seus parentes.
— Dimitri. — respondi.
— Ah não… Que burro.
— Pois é, pegaram ele vendendo peças de carros roubados na minha área. — suspirei — Justo aqui.
— E quanto ele deve.
— Cinco mil, e sua amiga louca quer comprar as peças. — Jenie desviou o olhar para o jornal da mesinha de centro.
— Estava cedo demais. — Freya suspirou também.
— Se eu não me impor agora, ele vai acabar invadindo. — argumentei.
Toc...toc…
Voltamos automaticamente nossa atenção para porta, Freya abriu e era Rodrigues que tinha retornado com as peças e a família dele.
— Mercedes. — disse ao terminar de descer as escadas — Você está bem?!
— Sim, senhora, um pouco com medo do que possa acontecer com James. — ela olhou para o marido — Ele só queria salvar nossa filha que estava doente.
— Vocês poderiam ter me procurado. — disse com segurança.
— Me perdoe, foi em momento de desespero que a senhora não estava na cidade. — explicou.
Logo me lembrei que havia viajado para Chicago, para organizar uma corrida especial em comemoração do aniversário de um velho amigo da família, senhor Han.
— Poderiam ter falando com a vovó, mas tudo bem, o mal já foi feito e deixa que eu resolvo a partir de agora. — assegurei a ela.
— Como vamos ficar depois disso senhora?! — James se levantou da cadeira em que permanecia sentado até o momento e se aproximou de sua família, segurando na mão de sua filha de dez anos — Não temos para onde ir e não tenho como sustentar minha família.
— Jenie. — mantive meu olhar neles.
— Sim.
— Faça um contrato de trabalho, James é um homem forte, fará parte da minha equipe de segurança. — ordenei — Rodrigues ficará encarregado de cuidar de você, quanto a moradia, tenho certeza que o senhora Kim tem um apartamento no térreo alugando no seu prédio, diga que é um pedido meu, tenho certeza que abrirá exceções.
— Obrigado senhora. — seu olhar de gratidão era sincero, o que me deixou ainda mais feliz por estar ajudando eles.
Era por esse olhar que meu pai jamais negava ajuda.
— Freya, venha comigo, vamos fazer uma visitinha a alguém. — olhei para meus outros funcionários — Irmãos T, vocês vem com a gente, mas de moto.
Eles assentiram. Voltei para meu escritório peguei o valor em dinheiro que James ainda devia e coloquei em uma maleta, tinha que admitir que meu lado mafiosa estava gritando para sair de dentro de mim. Entrei no clássico Chevy Impala 67 do papai, eu amava aquele carro.
Assim que chegamos no tal qg ridículo dele, um pub moderado com traços da arquitetura tradicional francesa, adentrei sem medo acompanhada de Freya, caminhei até a mesa onde estava sentado com seus amigos contando alguns bolos de dinheiro.
— Ora, ora… Visitas. — disse o homem de jaqueta vermelha com ar.
— A quem devo a honra?! — Dimitri desviou o olhar das notas para mim, naquela indiscreta análises partindo dos meus pés até chegar em meus olhos — Eu te conheço.
— Para a sua infelicidade, está conhecendo hoje. — joguei a mala nele — Isto é tudo que James te deve, deixe aquela família em paz.
— James… James… — ele fez uma cara de quem não sabia do que estava falando, então abriu a maleta e viu as notas enfileiradas — Ah sim, o ex entregador de jornal… Quem diria que ele conseguiria, foi para você que ele vendeu as peça?
— Não, suas peças estão devidamente desovadas na frente do seu... disso aqui. — olhei ao meu redor com cara de novo — Não quero nada que venha de você.
— Como queria… — ele deu um sorriso de deboche.
Me virei para sair, porém voltei novamente minha atenção para ele.
— Ah, antes que me esqueça… Trate seus negócios bem longe da área sul.
— Área sul… — ele se levantou, demonstrando um pouco mais de interesse — Devo presumir que você é a famosa Lady.
— Está avisado.
Da mesmo forma que entrei, saí de cabeça erguida e cheia de atitude, já era a hora dele saber quem eu era e que não iria fazer suas negociações na minha área.
Os dias se passaram.
A oficina estava transbordando de trabalho, parecia que quanto a cada um carro que consertávamos, mais quatro apareciam, era bom para os lucros, porém não estava tendo tempo para organizar minhas corridas. Eram elas que aliviava o estresse da vida adulta cheia de responsabilidade, eu precisava da minha válvula de escape, então combinei com Margareth, minha relações públicas e a irmã mais nova de Jenie, para me ajudar a organizar um circuito de corridas pela cidade.
— Preciso que descole a permissão dos outros. — disse me referindo às outras áreas do bairro.
— Dimitri também?! — perguntou Marg inocentemente.
— Claro que não. — respondi prontamente — Quero ele longe de tudo que eu estiver envolvida.
— Como quiser amiga, mas seria bom uma corrida naquela área, tem bastante pessoas de lá que participam.
— Não. — continuei relutante.
— Ok! Não está mais aqui quem perguntou. — Marg segurou o riso, enquanto anotava em sua agenda de estimação — Vou providenciar tudo para o nosso evento.
— Não se esqueça desta vez que informar ao nosso capitão do DP, para ele deixar seus policiais bem longe do nosso caminho.
— Não se preocupe, não me esquecerei desta vez, é a primeira coisa da minha lista de prioridades. — assegurou ela.
— Confio em você Marg. — pisquei de leve.
Ela saiu do meu escritório rindo, logo Mary adentrou acompanhada de sua filhinha.
— Tia . — Clair correu e pulou em mim que estava sentada no sofá.
— Oi princesa!! Que saudade.
— Se você não vai até a família, a família vem até você. — comentou Mary ironicamente.
— Vocês sabem que tenho trabalhado muito.
— Sei, desde quando corridas são trabalho? — ela colocou a mão na cintura.
— Corridas são diversão. — voltei meu olhar para Clair — A mamãe é muito careta.
— Não sou careta. — retrucou — O que anda aprontando agora, vovó vai te matar.
— Ela já me expulsou de casa, o que mais pode fazer?
— e você ainda fala como se fosse normal. — ela cruzou os braços embasbacada.
— Mas é normal, acho que essa já é a décima vez que ela me expulsa.
— Você ainda conta?!
— Claro, minha história de vida.
— Sua história de rebeldia.
— Nossa, você e as menina só me dão bronca.
— Porque você merece, sua descuidada.
Fechei a cara e fiz bico, fazendo Clair rir de mim juntamente com Mary.
— Como está meu cunhado?
— Fazendo hora extra. — respondeu vindo sentar ao meu lado.
— A corporação está sem pessoal novamente?
— Transferiram dois para Toronto, até agora não veio ninguém para substituir. — ela me olhou — E como foi? Ele é medonho como todos falam?
— Tá falando de quem? — perguntei confusa.
— Dimitri né.
— Não achei nada demais.
— Por que você é desligada, quando veste seu lado mafiosa, não tá nem aí pro perigo. Sabe o quanto é tenso isso, vovó pode até ter ficado brava, mas ela se preocupa com você.
— Eu sei, não se preocupe, eu estou bem e vigilante. — sorri de leve — E você mocinha, soube que já começou a ir para escola.
— Estou aprendendo o alfabeto titia.
— Que lindo, isso é muito importante. — sorri para ela.
Mary ficou mais um pouco conversando comigo, sobre um encontro arranjado que estava tramando para mim, era com um médico do hospital onde trabalhava, pela foto era bonito, mas não estava com cabeça para romances no momento. Já tinha se completado dois anos desde que terminei com Joe, meu último namorado, e ao longo desse tempo Mary sempre reservava suas folgas para bolar encontros malucos para mim. Tinha colocado na cabeça que se eu me casasse, pararia com minha vida perigosa.
— Três… Dois… Um… — assim que Freya deu a largada, arranquei com meu motor.
É claro que eu não abria mão de participar efetivamente de meus eventos. A corrida principal sempre contavam com minha presença, mas também entrava nas batalhas de 3 segundos. Já coleciona cinco carros que ganhei em apostas, naquilo sim eu era a melhor, a cada curva que dava na pista das ruas de Vancouver, era um pulsar mais forte em meu coração. Me fazia ter lembranças vívidas do meu pai me ensinando a dirigir.
— Por que eu já sabia que você venceria?! — disse Jenie assim que eu freiei na linha de chegada.
— Porque eu sempre ganho. — gritei desligando o motor e saindo — Danis, me deve 500.
— Aqui Lady, tenho que admitir, você acelera sem dó. — ele me entregou o dinheiro — Mas me sinto honrado em poder correr com você.
— Que bom dizer isso, porque essa mandona não aceita qualquer desafio. — brincou Jenie.
— Você aceitaria o meu?! — uma voz grossa e firme veio de trás de mim, me fazendo sentir um breve arrepio.
— Está me desafiando?! — me virei e olhei para o dono da voz, estava bastante formal com aquele terno cinza escuro disfarçando o tênis all star branco, para quem queria participar de uma corrida clandestina — Tem certeza?!
— Me disseram que não aceita o desafio de qualquer pessoa, mas acho que é desculpa de quem tem medo de perder. — ele desviou o olhar para Danis — Sem ofensa.
Respirei fundo pensando em algo para retrucar.
— Então, se não tem medo, pode dar a chance para um desconhecido. — ele sorriu de canto de forma pretensiosa
Se seu objetivo era desencadear meu lado competitivo, estava conseguindo.
— Você parece muito confiante. — ri com deboche — Tudo bem, acho que posso abrir uma leve exceção à regra, afinal de contas, eu sou dona delas.
— Você vai correr com ele?! — Jenie me olhou surpresa.
— Sim, diga que a corrida principal será somente entre nós dois. — voltei meu olhar para ele — Vamos ver como se sai nas ruas de Vancouver.
Entrei no carro e segui com Jenie até a rua onde era a largada, Freya ficou um pouco chocada com minha decisão, assim como os outros corredores, porém entenderam e aceitaram correr sem mim na noite seguinte. Minhas amigas ainda tentaram me fazer voltar a razão da minha regra inicial, mas eu estava motivada a descobrir nem que fosse a 200k/h quem era aquele homem.
— Eu vou ganhar, não se preocupem. — pisquei para elas.
— Que bom que não apostou o carro do seu pai. — comentou Freya.
— Eu nunca aposto o carro do papai, é minha herança. — a olhei.
Pouco antes de entrarmos no carro, enviei para ele o mapa com as ruas por onde teríamos que passar, era uma corrida pela cidade de ida e volta, onde terminaríamos parando no mesmo lugar. Assim que Jenie se posicionou entre os carros, as apostas entre os espectadores já rolavam a todo vapor, até mesmo pelas redes sociais, todo mundo queria saber quem era o louco desafiante.
Respirei fundo, sentindo meu coração acelerar com o ronco do motor, mais uma vez eu correria com o meu pai, simbolicamente, por mais que vovó e Mary não soubesse disso e talvez nem entendiam, aquele era o maior e mais forte motivo para continuar organizando as corridas. Pisei no acelerador assim que a bandeira se levantou nas mãos da minha amiga e parti, eu estava confiante como sempre, fazendo minhas curvas como se estivesse montando um carro.
Em alguns momentos olhava para o lado e o via emparelhado comigo, pelo modelo seu carro era uma Nissan 350Z preta, e muito bem ilustrada, que pena que ficaria suja com a poeira do meu asfalto. A ida foi tranquila, até que na terceira curva de volta passando pelo centro da cidade ele desapareceu de trás de mim, voltando a aparecer na minha frente no semáforo seguinte. Foi quando eu apertei o botão do gás nitro, para acelerar a corrida, mais alguns quilômetros à frente, o carro dele também foi acelerado, aparentemente de forma incorreta, pois começou a sair fumaça da capota da frente.
Isso me fez desconcentrar na corrida, e na última curva ele me ultrapassou, por alguns milímetros e a fumaça, chegou na minha frente.
— Então?! — disse ele ao sair do carro.
Eu ri saindo do meu carro, não acreditava que tinha perdido por uma falta de atenção da minha parte.
— Você pode ter ganhado a corrida, mas pelo visto perdeu seu carro. — disse mantendo minha superioridade — Acelerou na hora errada o que explica a fumaça, certamente acabou danificando o motor.
— Você conhece bastante de carro.
— Se me conhecesse de verdade, saberia disso. — sorri de canto — Entretanto para sua sorte, passe na minha oficina amanhã, consertarei seu carro.
— Essa é a minha recompensa por ter ganhado? — seu olhar intenso para mim me deixou perplexa.
— Entenda como quiser.
Me afastei dele seguindo para meu carro com Jenie.
— O que foi aquilo?
— Se ele queria me impressionar, acabou conseguindo. — disse para ela.
Assim que cheguei na casa da vovó, subi direito para meu quarto, estava morta de cansada e não queria dar espaço para ela me dar alguma bronca por ter chegado de madrugada.
— Aonde pensa que vai?! — perguntou ela assim que passei pela sala em direção a escada.
— Bom dia vovó. — não acreditava que ela estava me esperando, sentada em sua cadeira de balanço ao lado da janela.
— Vou me limitar a não dizer nada sobre o horário, mas tem um presente para você no seu quarto. — comunicou.
— Um presente?! — fiquei confusa — De quem?!
— Vá e veja. — curta e grossa como sempre.
— Te amo vovó!! Bom dia! — abri um sorriso descarado para ela, que ficou segurando o riso de sua cadeira.
— Vá logo menina, antes que eu te dê uma surra. — brincou.
Subi as escadas correndo e ao entrar, vi um bouquet de rosas vermelhas em cima da cama, ao lado um cartão. Estranhei a primeiro momento e logo pensei que pudesse ser de algum outro pretendente que Mary estivesse arrumando para mim, porém, assim que peguei o cartão, constatei que o dono não era quem imaginava.
— Espero que venha me visitar mais vezes, assinado Dimitri. — sussurrei ao ler — Quem esse idiota pensa que é?!
Pensei em rasgar o cartão e jogar as flores fora, mas a ideia de fazer ele engolir aquele presente estava sendo mais convidativa. Na manhã seguinte, acordei um pouco mais tarde para ir trabalhar, ainda sentia minhas costas doerem, minha cabeça pesada e eu nem tinha bebido. Mal cheguei na oficina e me deparei com Frey já xingando as novas retrucas que Jenie contratou, as aprendizes não me pareciam habilidosas na função de mecânicas, mas era esforçadas. Precisavam do emprego, a Taylor precisava ajudar a mãe que havia sido abandonada pelo marido, com outros cinco filhos pequenos para criar; já Holly era órfã e tinha acabado de ganhar sua emancipação aos 16 anos, além da guarda da irmã caçula.
Traduzindo, eu não podia demitir as duas.
— Relaxa e pare de ficar nervosa com facilidade Freya. — disse ao chegar perto dela — No final sempre dá tudo certo.
— Sei. — ela me olhou desconfiada — Acho melhor ir se trocar, antes que o corredor apareça por aqui.
— Ele não veio ainda. — ri — Achei que chegaria logo pela manhã.
Caminhei em direção as escadas rindo e segui para meu escritório, deixei as persianas entreabertas, e me troquei no meu banheiro privado. Passei alguns minutos analisando os impecáveis relatórios financeiros que Jenie fazia com orgulho, se eu fui a melhor aluna de engenharia, ela tinha sido a melhor de administração, com pontuações de dar inveja a qualquer nerd.
Não demorou muito até que ouvi o som estranho de um motor morrendo, um largo e intrigante sorriso surgiu em minha face. Me levantei da minha mesa e desci.
— E não é que veio mesmo. — comentei ao me aproximar dele.
— Não iria desperdiçar a chance, ter meu carro consertado por você. — disse ele num tom sarcástico.
Analisei disfarçadamente seu “look” do dia, estranhamente estava mais casual com uma básica camiseta branca e jeans preto, além do all star.
— Ok, vamos analisar. — disse olhando superficialmente — Marg, faz a ficha do carro para mim.
— Sim, senhora. — disse batendo continência de forma debochada, como sempre.
Minhas amigas ficaram observando discretamente de longe, claro que assim como eu, queria saber aonde aquilo ia dar. Abri o capô do carro e comecei a observar com cuidado cada centímetro, o problema realmente é no motor e na instalação elétrica, peguei minha caixa de ferramentas e a coloquei ao lado em cima da mesa de apoio. Era complicado, não sabia por onde começar.
— Ele vai sobreviver doutora?! — brincou o homem.
— Bem, o paciente está em estado crítico, mas você veio no lugar certo. — sorri de canto, entrando na brincadeira — Então, Desafiante...
— Pode me chamar de . — ele sorriu de volta.
— , acho que seu carro ficará aqui por alguns dias. — informei.
— Devo ficar feliz por isso?! — ele manteve seu olhar fixo em mim.
— Talvez, se o seu objetivo era se aproximar de mim.
— Do que está falando?! — seu olhar ficou confuso.
— Você sabe muito bem.
Assim que peguei a chave inglesa, deu uma rasteira nele para que caísse no chão e montei em cima dele, como sempre fazia, bati a chave ao lado do seu rosto. Todos ao nosso redor ficaram espantados com minha reação, então meus seguranças se posicionaram perto, mostrando estarem armados.
— Quem é você e o que quer aqui?! — perguntei diretamente.
— O que?!
— Fala logo. — gritei — Foi o Dimitri quem te mandou não é?!
— Não, eu juro, nem conheço ele. — respondeu ainda tentando assimilar e voltando seu olhar para os seguranças — Por favor, não é isso que está pensando.
— Claro que não, Dimitri apareceria pessoalmente. — coloquei a chave inglesa no bolso do meu macacão, e comecei a vasculhar os bolsos dele.
— O que é isso, ele se remexeu no chão tentando me impedir — O que está fazendo.
— ?! O que é isso?! — perguntou Freya não entendendo minhas ações.
— É isso. — disse com satisfação ao encontrar um grampo de escuta atrás do cinto da calça — Sabia que você era certinho demais para ser das ruas, é um policial.
Logo meus seguranças apontaram para ele, então me levantei, joguei no chão o grampo e pisei em cima.
— Parece que você me pegou. — ele riu como se não fosse um problema — Acho que agora podemos conversar seriamente.
— Quem é você?! Conheço o rosto de todos os policiais de Vancouver. — disse.
— Agente Lewis, da Interpol. — disse Jenie ao entrar na oficina, como se estivesse esperando essa deixa para aparecer, estava com uma pasta nas mãos — Passei a madrugada com um amigo invadindo alguns sistemas, mas valeu a pena as câmeras de segurança terem filmado seu rosto.
— Sabia que faria o trabalho de casa. — sorri para ela, e voltei meu olhar para ele — Então, agente Lewis, acho que iria me enganar por quanto tempo?
— Confesso que não esperava por uma amiga hacker. — ele olhou para Jenie, depois para mim — Mas, estou aqui por algo do seu interesse.
— Meu interesse?!
— Dimitri Brock. — respondeu — Me parece que você o conhece bem.
— Já até comprou briga. — comentou Freya de forma debochada.
— Freya. — chamei sua atenção, o fazendo rir — Agente, não tenho nada que possa me falar com você, nem mesmo o Dimitri.
— Tem certeza?!
— Seu carro ficará pronto daqui três dias, quanto ao valor, fica por cortesia da casa. — avisei — Agora pode se retirar.
Dei as costas para ele, e segui em direção a escada.
— Era só o que me faltava. — disse ao entrar no meu escritório, sendo seguida por Jenie e Freya.
— E agora?! — perguntou Jenie — , ele correu com você, ele é um policial.
— O que quer dizer com isso?!
— Ele tem provas contra você. — disse Freya — Não precisamos ser um gênio para imaginar no que pode rolar.
— É a palavra de um… — então caiu minha ficha — Que merda, ele estava com escuta.
— Viu, eu disse que era loucura aquela corrida. — Jenie tentava não se desesperar.
— Calma, o máximo que pode é ser presa por alguns meses. — brinquei.
— Não tem graça.
— Não importa o que possa acontecer, não quero ouvi-lo. — assegurei.
— Eu gostaria. — interviu Jenie.
— O que? — dissemos eu e Freya.
— Ele mencionou Dimitri, não te deu uma curiosidade? — explicou.
— Olhando por esse ângulo.
— Não sei… Dimitri me enviou um bouquet de rosas vermelhas e um cartão. — respirei fundo — Não sei mais o que pensar.
— Aquele babaca ousou fazer isso?! — Freya boquiaberta.
Assenti com a face.
Eu não queria me preocupar com mais isso na minha vida, mandei um entregador devolver as flores e o cartão para Dimitri no final da tarde. Deixei minhas amigas na direção das corridas da noite e passei a madrugada na oficina consertando o carro do agente, quando eu pensei estar sozinha.
— Você não dorme?! — disse aparecendo da porta.
— Estou tentando garantir que você desapareça daqui, agente. — mantive minha atenção no sistema elétrico do motor — O que faz aqui?
— Quero conversar com você. — disse.
— Mas eu não quero, pode ir embora. — larguei a chave de fenda e o olhei — Agora.
— Uau, você é muito autoritária, por isso te chamam de Lady?!
— Não, foi meu pai que me deu esse apelido, as pessoas foram se acostumando com ele. — expliquei.
— Você era bem ligada ao seu pai. — comentou.
— O que sabe sobre isso?
— Você não imagina o quanto eu estudei sobre você. — ele manteve seu olhar fixo em mim.
— E nada disso deu certo para seu disfarce, o que pretendia?! — perguntei — Me fazer apaixonar por você e depois me convencer a te ajudar em algo? Não acredito que achou que eu fosse tão fácil assim.
— Bem, meu plano era um pouco mais simples, mas… A ideia de te fazer se apaixonar por mim. — ele riu — Gostei.
— Ridículo. — voltei meu olhar para o motor — Tudo bem pode falar.
— Falar o que?! — senti sua movimentação.
— O que você quer? — assim que me virei, ele já estava próximo de mim — O que quer de mim?
— Admito que quero sua ajuda, temos um inimigo em comum. — explicou.
— Essa filosofia não cola muito comigo. — ri.
— Eu sei que Dimitri tem causado alguns problemas a você, a Interpol também não gosta dele há anos, podemos nos ajudar. — insistiu.
— Eu até poderia pensar, mas não me envolvo com pessoas do seu tipo.
— Meu tipo?!
— Usam fardas.
— Agentes não usam fardas.
— Trabalha para o governo, prende pessoas, dá no mesmo. — retruquei.
— Você sempre tem respostas imediatas assim? Ou é só comigo? — ele riu.
— Ainda não viu nada. — me voltei para o carro — Já que está aqui, vai me ajudar.
— Você não pode me ajudar, mas eu posso te ajudar. — ele riu mais — Pensei que fosse consertar isso sozinha.
— Pare de falar, se não se comportar eu coloco uma bomba escondida aqui. — o ameacei brincando.
— Alô. — atendi o celular sem menor vontade.
— ?! Onde você está?! Meu amigo do hospital disse que você o deixou sozinho no restaurante. — disse minha irmã desesperada do outro lado da linha.
— Eu me levantei para ir no banheiro, nossa quando me dei conta já estava bem longe de lá, errei o caminho do banheiro. — respondi com sarcasmo — Juro que não foi de propósito.
— Eu te conheço muito bem , estou envergonhada por você. — me repreendeu — Ele é meu amigo.
— Lamento, mas ele não tinha assuntos legais, eu lá quero saber quantas veias tem no corpo humano?! — retruquei — Me desculpa Mary, mas esse foi o pior encontro que você me arrumou, e olhar que aquele dono de concessionária esnobe conseguiu perder na comparação, pelo menos ele sabia algo sobre carros, e me deixou dirigir o mustang dele.
— !
— Mary! Preciso desligar, diga a vovó que dormirei na oficina, preciso terminar o carro de você sabe quem.
Assim que coloquei o celular no bolso, tive uma surpresa desagradável.
— Ora ora, quem está aqui. — Dimitri sorriu ao se aproximar de mim, se sentando na banqueta ao lado — A garota das corridas.
— Esse bar já foi mais bem frequentado Timothy. — disse ao garçom, conhecido de anos que sempre me servia.
Timothy permaneceu em silêncio secando o copo em sua mão, mas pelo seu olhar sabia que concordava comigo.
— O que faz aqui? Pensei que nunca saísse da espelunca que chama de qg. — voltei meu olhar para ele.
— Estava passando por perto e pensei em beber algo. — respondeu — Que sorte a minha.
— Que azar o meu.
— Por favor, não acredito que ainda me odeia por causa da família do ex entregador, aquelas flores foram meu pedido de desculpas. — o cinismo escorria do seu olhar.
— Pensei que tivesse entendido minha resposta com a devolução. — mantive meu olhar nele — Não está aqui para beber, o que você quer Dimitri?
— Para ser sincero, em um passado próximo eu queria mandar em toda Vancouver, mas após te conhecer, meus interesses mudaram. — ele estendeu a mão para tocar em meu cabelo — Você é uma mulher muito ousada.
— Tira a mão de mim. — eu tentei fazê-lo se afastar, porém ele pegou em meu pulso com força — Posso te oferecer muitas coisas, que outras mulheres se matariam para ter.
— Eu não quero nada que venha de você. — mantive meu olhar firme.
— Então, terei que convencê-la do contrário. — ele sorriu com ar de superioridade e soltou meu pulso.
— Oi querida. — apareceu misteriosamente ao meu lado e me beijou com destreza e certa ousadia, de forma moderadamente intensa.
Me afastei de leve dele e o olhei como um pedido de explicação.
— Não sabia que estava acompanhada. — comentou Dimitri.
— Sim, ela está. — confirmou passando seu braços em minhas costas, pousando sua mão em minha cintura, aninhando meu corpo ao dele — Me desculpe a demora, tive que me atrasar um pouco, e você é quem? Seu amigo ?!
— Não. — disse tentando voltar ao eixo.
— Nos vemos depois Lady. — Dimitri se afastou de nós.
— Querida?! — mantive meu olhar para — E um beijo?!
— O que você queria que eu fizesse? — ele sorriu — Nosso amigo ainda está nos observando.
— Era só o que me faltava. — ri baixo — Porque me beijou?
— Não gostou do beijo?! — ele sorriu audaciosamente.
— Abusado, havia outras formas de se aproximar.
— Eu precisava ser convincente. — ele riu — Mas confesso que o beijo foi intencional.
Respirei fundo, até que não tinha sido tão ruim assim.
— Vocês agentes são sempre assim? — perguntei.
— Não, mas você está despertando vários lados meus. — brincou.
Ridículo. Mas charmoso!
— Porque disse que estava atrasado?
— Foi a primeira coisa que me veio a cabeça.
— Cretino. — sussurrei — Você estava todo esse tempo sentado na quinta mesa aos fundos do bar, me vigiando.
— Como sabia que era eu?! — ele parecia admirado.
— Você está me seguindo desde a hora em que saí de casa para meu encontro. — cruzei os braços — Precisa ser mais discreto em vigiar as pessoas.
— Nunca fui bom em espionagem. — ele suspirou — Podia ter me pedido carona então, já que sabia que era eu.
— E perder a oportunidade de te fazer achar que está um passo na minha frente?! — eu ri — Jamais.
— Mercenária, mafiosa.
— Com prazer. — pisquei de leve.
Ele se manteve ao meu lado todo o tempo, abraçado a mim. Não sabia se aquilo era bom ou ruim, pois já estava um tanto desnorteada pelo aroma envolvente do seu perfume, o tempo foi passando e fui ficando com sono, mas estava relutante para ir embora. Aparentemente, Dimitri estava fazendo mais um de seus negócios no bar do Timothy, porém, quando me dei conta já estava adormecida no sofá da minha oficina.
— Você me deixou dormir. — sussurrei abrindo os olhos e vendo a persiana do meu escritório
— Achei que seria melhor não te impedir. — respondeu.
— Como me trouxe, ou melhor, como conseguiu entrar aqui?! — perguntei erguendo meu corpo.
— Te trouxe de carro, estava um pouco sonolenta, e entrei pela porta da frente, sua amiga Jenie ainda estava aqui quando chegamos. — explicou.
— O que ela fazia aqui.
— Trabalhando eu acho.
— Jenie e sua mania de perfeccionismo. — mantive meu olhar na jaqueta dele que me cobria — Assim nunca vai arrumar um namorado.
— Falou a solteira da cidade. — ele riu.
— Minha vida íntima não te interessa. — o olhei de cara fechada — E não ache que mudei de ideia quando ao que disse, seu carro já está quase consertado, poderá pegá-lo amanhã à tarde e sumir daqui.
— Como eu também disse, ainda te farei mudar de ideia. — ele sorriu de canto.
Ficamos nos olhando por alguns minutos, até que o despachei para fora da oficina. Eu realmente não dormiria aquela noite, tomei um café extraforte e voltei para o trabalho em seu carro. Perder horas de sono foi gratificante, pois na tarde seguinte consegui entregar a chave em suas mãos, o carro estava cem por cento renovado.
— Três dias, você é uma mulher de palavra. — disse ele pegando as chaves.
— Nunca duvide disso. — assegurei — Agora pode ir.
Ele assentiu sem problema, entrou no carro e partiu. Achei estranho, ele não tentar me convencer ou simplesmente argumentar mais, somente se foi.
— Está muito estranho. — sussurrei.
— Pela primeira vez concordamos. — Jenie se colocou ao meu lado.
Os dias de calmaria foram breves, uma semana depois do sumiço geral do agente, recebi uma ligação aflita da minha avó, após a hora do almoço. A padaria do senhor Martim havia sido incendiada criminalmente, parei todo o meu trabalho e corri para o local, por mais que o corpo de bombeiros fizesse todo o trabalho na prática, eu tinha que descobrir o culpado.
— Quem em sã consciência faria isso? O senhor Martim é uma boa pessoa. — indagou Jenie que havia me acompanhado.
— Não sei, mas vou descobrir. — reconheci um rosto e segui até ele — Hilth, cunhado, que bom que está aqui.
— O senhor Martim é um grande amigo do meu pai, não pude deixar de acompanhar pessoalmente. — explicou — O que faz aqui?
— Ainda pergunta, essa área é minha. — respondi — Minha avó me ligou contando, mesmo não gostando de como levo minha vida, ela sempre me liga nessas situações.
— Porque ela confia no seu senso de justiça. — concordou ponderadamente.
— E como está a situação?
— Controlamos o fogo com facilidade, estamos terminando a perícia mas quase certeza que foi criminal. — disse ele — E veio endereçado.
— Como assim?! — o olhei confusa.
— Vem comigo. — ele se aproximou do carro de bombeiros comigo — O senhor Martim estava com alguns ferimentos e escoriações, teve leve queimaduras e já o enviamos ao hospital, mas antes ele me fez prometer que te entregaria isso.
Ele retirou do banco do motoristas um bouquet de rosas vermelhas e me entregou.
— O senhor Martim disse que entenderia o recado.
— Não acredito — sussurrei ao pegar o bouquet já matando a charada — Filho da mãe.
— Você sabe quem foi, não sabe?!
— Sei. — passei a outra não no cabelo, sem saber o que faria — Cuide dos trâmites legais, não se preocupe, vou resolver isso mais tarde.
— Tenha cuidado cunhada.
— Terei.
Pedi que Jenie auxiliasse a família do senhor Martim, aquela padaria era o sustento deles, então me sentia na obrigação de ampará-los naquele momento. Passei a noite em claro no escritório da oficina, controlando minha raiva enquanto mantinha meu olhar fixo naquelas rosas. Na manhã seguinte não perdi tempo ao entrar no carro do papai e seguir em direção ao cg do inimigo. Estava cega de raiva? Sim, queria fuzilar ele.
— Eu não disse para ficar longe. — mantive um tom moderado ao fogar as fores na cara dele.
Em segundos seus homens apontaram suas armas para mim.
— Sabia que viria pessoalmente desta vez. — ele riu — Gostou da surpresa?
— Você é um monstro. — sussurrei.
— Sabe o que mais me atrai em você? E ver como mantém sua postura impecável, mesmo diante dessa situação. — ele me olhou de baixo para cima como da primeira vez — Só me faz te querer mais.
— Vai sonhando, você não me mete medo nenhum.
Ele soltou uma gargalhada.
— Eu disse que te faria mudar de ideia… Não vou desistir.
— Tem razão… — eu ri — Você realmente me fez mudar de ideia.
Me virei e saí do seu qg. Eu havia mesmo mudado de ideia, mas não era da forma que ele esperava.
Voltei para casa da minha avó e expliquei para ela e Mary, o que havia acontecido, ocultando a parte que envolvia Dimitri, não queria causar mais pânico ainda. Fui para meu quarto e me joguei na cama, pela primeira vez estava sentindo um enorme peso nas costas, me sentia culpada pelo que havia acontecido ao senhor Martim. Com isso a primeira lágrima desceu em minha face, não sabia classificar se era de tristeza, raiva, ou curiosamente de saudade dos meus pais. Certamente se papai estivesse aqui, saberia o que fazer.
Horas de sono foi a solução, ou melhor, minha única opção para uma mente cansada e cheia de problemas para resolver. Quase hibernei no quarto, estava mesmo sobrecarregada, acordei no dia seguinte pouco antes do almoço, e já ouvi certa movimentação intensa no andar de baixo. Estranhei, pois a vovó não gostava de receber visitas na hora do almoço, a menos que fosse Mary ou minhas amigas.
Me espreguicei um pouco antes de levantar, então peguei a toalha e adentrei o banheiro, precisava mesmo de uma ducha quente para acordar os músculos do meu corpo. Assim que coloquei a roupa, prendi o cabelo e desci, certamente todo aquele barulho se devia a minha sobrinha vendo tv. Dito e feito, porém um corpo estranho estava sentado no sofá da sala, com o olhar voltado para mim, da forma mais natural possível.
— ! Que bom que acordou. — disse Mary ao me ver, logo me pegou pelo braço e me puxou em direção a cozinha — Trate já de ir contando tudo.
— Como assim contando tudo?!
— Que história é essa de conhecer e começar a namorar o amigo do meu marido, sem eu te apresentar ele antes? — explicou ela.
— O que?
Namorar?!
— Não precisa fingir sua boba, ele me contou tudo. — insistiu ela.
— Ele?!
Eu mato o .
— Ele está aqui desde quando? — perguntei.
— Chegou a pouco tempo.
— E quando ficou sabendo do meu suposto namoro? Desde quando Hilth o conhece?!
— Lembra quando te contei que Hilth já fez um treinamento militar? Mas resolveu mudar para o corpo de bombeiros?
— E?!
— Eles são amigos desde essa época, era ele que eu queria te apresentar há muito tempo, mas você sempre dizia que não queria farda. — explicou.
— Ele não veste farda.
— Mas fez treinamento militar, prende pessoas perigosas, dá no mesmo. — essa fala é minha.
Senti uma leve tontura, estava ainda mais desnorteada.
— Você sabe que ele é um agente da Interpol, não sabe? — perguntei — Foi ele quem correu comigo, foi o carro dele que eu consertei.
— Ou… Isso eu não sabia.
— Então o namoro é…
— Falso. — completei.
— Ai nossa, e agora?! O que ele faz aqui?!
— Ele veio ser a solução do meu problema. — mordi meu lábio inferior pensando — Onde está a vovó?
— Hilth a levou para visitar o senhor Martim no hospital.
— Ele está bem?
— Sim, felizmente a situação não é grave.
— Mary, me faz um favor, dá uma voltinha com a nossa princesa na rua, preciso conversar a sós com meu “namorado”. — pedi.
— Tudo bem, mas cuidado e juízo. — ela me olhou receosa.
Voltamos para sala e ele permanecia com aquele olhar sereno. Mary pegou Clair no colo e saiu dizendo que iriam comprar sorvete para a sobremesa.
— Parece que dessa vez, eu é que estou um passo a frente. — ele riu.
— Não tem graça. — me mantive séria.
— Que história é essa de namoro?
— Acredite ou não, foi a primeira coisa que me veio à mente. — respondeu — Sua avó não queria me deixar entrar.
— Ela não te deixaria entrar só por dizer isso. — retruquei.
— Tenho um amigo na família, seu cunhado.
— Ainda não acredito nessa parte da história.
— E juro que essa parte não foi premeditada. — ele suspirou fraco — Enfim, já que contou a Mary quem eu realmente era, porque não deixá-la participar da nossa conversa? — perguntou.
— Vai me dizer que colocou escutas aqui também?! — cruzei os braços.
— Confesso que fiquei tentado, mas respeito sua privacidade. — ele sorriu — Além do mais, sei que toda ação acontece na oficina.
Mantive meu olhar nele em silêncio.
— E por falar em ação, não foi perigoso demais tentar enfrentar o inimigo sozinho?
— Como soube?
— Voltando a nada ser premeditado, eu soube do incêndio, foi quando me deparei com Hilth, e descobri que ele era seu cunhado. — explicou — Não acredito que deixei esse detalhe passar, estava tão focado em você.
— Sei.
— Mas então, depois que ele saiu da corporação, nos encontramos em um bar para colocar a conversa em dia, foi quando ele mencionou novamente a cunhada que queria me apresentar e mostrou sua foto. — ele sorriu de forma cativante — Parece que estávamos mesmo destinados a nos encontrar.
— Não sorria assim. — o alertei.
— Gosta do meu sorriso?
— Já disse que comigo não funciona, então pare seu plano de me seduzir.
— Eu já disse que não tenho esse tipo de plano. — ele riu — Mas acho que é sua irmã que está tentando nos preparar um jantar romântico.
— Cancela o jantar, ela já sabe quem você é… E logo falarei para minha avó que não somos namorados.
— Não precisa. — ele riu — Ela não acreditou mesmo, disse que eu me vestia muito bem para namorar você, devo levar isso como elogio?
— Minha avó era costureira profissional, sabe o que é uma boa peça de alfaiataria quando vê. — apontei para seu terno — E você está usando uma.
— Estou admirado.
Parei por um momento e pensei.
— Agora eu é que estou curiosa, o Hilth...
— Sabe. — confirmou antes mesmo de ouvir a pergunta toda — Ele sabe que sou da Interpol.
— E ainda assim queria me apresentar a você, eu mato o meu cunhado.
— Nossa, você fala como se eu fosse uma pessoa má. — ele lançou um olhar de ofendido, se levantando da cadeira — Você realmente tem esse pensamento de mim?
Não sei o motivo, mas meu olhar fixou em seus lábios por um momento. Então respirei fundo e voltei a razão.
— Não importa agora, você venceu.
— O que eu venci? — ele continuou dando passos sinuosos até mim.
— Eu mudei de ideia. — respondi.
— Mudou de ideia?! Curioso, o que a fez mudar de ideia?!
— O próprio Dimitri, indiretamente. — dei um passo para frente para ficar mais próximo a ele, então sorri — Você tem razão, inimigo do meu inimigo, é meu amigo.
— Devo presumir que estamos avançando em nossa relação? — brincou.
— Você entendeu o que eu quis dizer.
— Será maravilhoso trabalhar com você. — ele sorriu de canto, mantendo aquele mesmo olhar intenso em mim, fazendo meu corpo se arrepiar.
Sim, seria divertido trabalhar com ele e eu aproveitaria cada segundo.
Minutos depois Mary retornou com Clair, acompanhava de Hilth e vovó. Nós contamos toda a verdade e eles, principalmente a parte em que ajudaria em seu plano para prender Dimitri definitivamente.
— Não sei se fico aliviada pelo agente estar aqui, ou apreensiva por você está se metendo em mais confusão. — disse vovó ao terminar de lavar a louça do almoço, após todos irem embora.
— Não se preocupe vovó, eu sei os meus limites. — assegurei ao despejar a água da garrafa no copo e beber — Não darei o passo maior que minha perna.
— Como se eu não te conhecesse. — ela balançou a cabeça negativamente mantendo o olhar em mim — Você é destemida como seu pai, temo por isso.
Deu alguns passos até ela e a abracei com carinho.
— Me esforcei tanto para que não fosse assim, mas no fim, acabou herdando o gênio dobrado do seu pai. — disse ela começando a chorar.
— Eu também sinto falta dele vovó.
Permanecemos um tempo abraçadas, até minha avó se afastou de mim e riu.
— Que menina de sorte, não vai me perder essa oportunidade. — disse ela dando uma risada maldosa.
— Do que está falando vovó? — a olhei confusa.
— Do agente bonitão. — ela pegou o pano e começou a limpar o fogão.
— Você também?! Já não basta Mary dizendo que coincidências são sinais de sorte. — cruzei os braços ainda desacreditada da história de ser amigo de Hilth — Era só o que me faltava.
— Você está escolhendo demais minha neta. — ela riu de novo — Ou está com medo?
— Não tenho medo de nada vovó. — garanti.
— Sei… — ela terminou sua limpeza e me olhou — Seria pedir demais que você se casasse com um homem bom e honesto e tivesse uma vida normal e segura como a de Mary?
— Vovó, não somos nem gêmeas para termos uma vida igual. v brinquei — Além do mais, eu sei que perigoso ou não, a senhora sabe como é importante o que eu faço, eu não tenho uma vida de contravenções, minhas corridas são saudáveis, e o principal, a área onde moramos é a mais segura da cidade e não temos que presenciar crianças vendendo drogas.
— Odeio admitir, mas sinto um pequeno orgulho da grande mulher que virou, seu pai também estaria orgulhoso com isso. — admitiu ela.
— E com certeza a mamãe estaria ainda mais apreensiva que a senhora. — eu ri.
— Verdade, sua mãe tinha emocional fraco para uma vida de perigos. — ela riu junto — Mas no final, foi valente ao lado do seu pai.
— Quero ser como eles, independente do caminho que eu seguir em minha vida. — disse ao tocar a correntinha em meu pescoço, presente do último natal que passei com eles.
— Mas isso não muda o fato do agente… — ela riu de novo.
— Pare com isso, não vou me casar ou ter algum tipo de relacionamento com um homem que usa farda.
— Ele não usa farda.
— Tem distintivo e prende pessoas perigosas, dá no mesmo. — retruquei.
Ela me deixou na cozinha e saiu para o jardim dos fundos rindo da minha cara. Não acreditava que minha avó e irmã estavam se juntando para me casar, e ainda mais com esse pretendente.
Duas semanas se passaram comigo e estudando tudo sobre o passado e presente de Dimitri, para enfim conseguir arquitetura o melhor futuro para o nosso inimigo em comum, a penitenciária de segurança máxima ao norte de Whitehorse.
— E então?! — perguntou assim que entrei no meu escritório da oficina.
— O que ele faz aqui?! — perguntei desviando meu olhar para Jenie que me acompanhava.
— Não olha para mim, ele chegou de manhã cedo te procurando, disse que ficaria aqui até chegar. — ela entregou a pasta com os balanços do mês e se retirou.
— Espero que não tenha colocado escutas aqui. — disse me dirigindo para perto da mesa de trabalho e colocando a pasta perto do notebook.
— Por quem me tomas?! — ele riu.
— Você é um agente da Interpol. — resumi.
— Não se preocupe, seus negócios na oficina são todos bem vistos perante a lei. — ele piscou de leve — Pode respirar aliviada.
— Como se eu não soubesse que você sabe das minhas corridas. — cruzei os braços e o olhei séria.
— Até o momento você não causou nenhum dano à sociedade com suas corridas e todas estão sendo monitoradas pela polícia local, fique tranquila.
— Sei. — ainda não confiava — E então o que o traz aqui?
— Não me contive de ansiedade, então vim te ver. — respondeu ele — Como foi o café da manhã com a senhora Hana?
— Produtivo, ela aceitou a sua proposta e está inteiramente interessada em nos ajudar. — respondi prontamente — Descobri que ela também possui inimizades com Dimitri, então usei a nosso favor com bons argumentos.
— Garota esperta, você daria uma boa agente. — ele elogiou.
— Deus me livre. — fiz careta e ri — Agora que já sabe, pode ir.
— Mau educada. — sussurrou.
— Eu ouvi essa.
— Temos algumas peças soltas para colocar no eixo, então o dia será longo hoje. — ele piscou e logo deu um sorriso malicioso.
— Não vai achando que pode tirar proveito da situação. — o adverti — O fato de Mary e vovó estarem empolgadas com o tal jantar da vitória não quer dizer nada.
— Eu disse que Mary estava preparando um jantar. — riu.
— Ha… Ha… — remexi de leve em meus cabelos e logo me lembrei do beijo ousado que havia me dado no bar, era um alívio não ter contado para minha irmã.
— Depois que pegarmos o Dimitri, eu vou sair de férias. — anunciou.
— E eu deveria saber disso?! — o olhei surpresa.
— Não, mas não quero que seja pega de surpresa quando eu te desafiar novamente. — ele sorriu com mais ousadia — Vou querer escolher o prêmio da próxima vez.
— E qual seria?
— Um encontro de verdade. — seu olhar fixo em mim, fez meu coração acelerar um pouco.
— E se eu ganhar?! — retruquei.
— Te dou um beijo.
— Abusado. — eu ri dele — Mas, posso considerar.
Brinquei.
— Ainda garante que seu plano não é me conquistar?! — eu instiguei.
— Bem, se tratando das coincidências da vida, acho que sou inocente, mas não nego minha vontade atual. — ele se aproximou um pouco mais de mim — Acho que foi você quem me seduziu.
— Eu é que sou…
Nem mesmo pude terminar a frase e seus lábios tocaram os meus, um beijo ainda mais intenso que o primeiro. Comparado a meus outros relacionamentos, fazia o tempo paralisar de alguma forma, como se tudo ao nosso redor desaparecesse e só existisse nós dois. Meio louco da minha parte, mas passar aquelas semanas com ele, estava sendo uma experiência que não desejava que terminasse, seus comentários sarcásticos e seu bom humor me faziam rir de tempos em tempos.
— Abusado. — me afastei dele, tentando demonstrar indignação, mas não conseguindo.
— Você precisa variar os adjetivos que arruma para me classificar. — ele riu.
— Opa… — disse uma voz vinda da porta, era Mary — Devo me empolgar com isso?!
— Não! Sim! — dissemos em coral, claro que eu negando.
— Hum… — ela tentou segurar o riso sem sucesso.
— O que faz aqui Mary? — eu perguntei.
— Ah… Quase ia me esquecendo. — ela deu alguns passos até nós e me entregou o bouquet de rosas vermelhas que estava em sua mão, juntamente com um cartão — Chegou pouco antes do almoço, como seu celular está fora de área, a vovó me ligou.
— Meu celular descarregou, coloquei na tomada há pouco tempo. — disse pegando as flores. — Dimitri realmente acha que consegue ser cavalheiro.
— “Estas rosas são minha resposta, estou ansioso para saber se vai aceitar desta vez.” — disse ao ler o cartão — O que significa?
— Que ele aceitou minha proposta, vamos fazer a corrida do ano. — expliquei.
A proposta para organizar uma corrida na área de Dimitri, era o que nosso inimigo mais queria de mim, consequentemente era também o ponto inicial do plano milimetricamente calculado de . Meu olhar focou no dele, e um sorriso de satisfação misturado a empolgação logo surgiu no rosto de , consegui sentir uma leve ponta de gratidão misturada ao prazer de ter minha ajuda.
O que me fez ficar ansiosa para próxima corrida.
"Someone call the doctor."
- Overdose / EXO
“Help: Há momentos na vida que a ajuda vem de onde menos esperamos, então fique atento e perceba quem são as pessoas que realmente pode contar.” - by: Pâms
The End...
Nota da autora:
Aqui estou com mais uma história, seguindo a trajetória das outras cidades, para meu especial que vai seguir até meu aniversário (com a ajuda de Deus)... Fiquem atentos nas minhas fics que saírem na categoria Originais aqui do FFOBS!!! Enfim, vejo vocês nas próximas histórias: Chicago e Manaus!!!
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!
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| Berlim | Chicago | Daejeon | Havana | Manaus | Seoul | Vancouver | Vegas
PRINCIPAIS
| 04. My Answer | 04. Stand By Me | 04. You Are My Everything | 05. Sweet Creature | 10. Islands | 10. Tinta de Amor | 13. Too Late | Beauty and the Beast | Beauty and the Beast II | Coffee House | Crazy Angel | Destiny's | Finally Th | First Sensibility | Genie | I Need You... Girl| Mixtape: I Am The Best | My Little Thief | Noona Is So Pretty (Replay) | Mixtape: Piano Man | Photobook | Princess of GOD | Smooth Criminal |
*as outras fics vocês encontram na minha página da autora!!
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