Capítulo Único
Em toda festa de final de ano era a mesma coisa: sempre bebia mais do que devia e acabava que ele e sempre discutiam. Em cinco anos de namoro, as coisas nessa data tão importante nunca eram diferentes. Sempre iam para a casa dos pais de passar a virada e depois seguiam de carro para a casa dos pais dele, que não morava muito longe de Londres.
— Por que você não me deixa dirigir? — perguntou, virando-se para no volante.
— Porque eu ganhei este carro ontem e quero dirigi-lo. — respondeu, embolando um pouco as palavras.
— , você está alcoolizado... — levou uma mão na testa e apoiou o cotovelo na beirada da porta. — Por que sempre é a mesma história?
— Por que você simplesmente sempre tenta brigar comigo por causa disso?
— Mas você provoca, o que custa me deixar dirigir?
— Não começa, , não acabe com o meu fim de ano — bufou.
— EU, ACABANDO COM O SEU FIM DE ANO? VOCÊ QUE ACABA SEMPRE COM O MEU! — alterou a voz e começou a chorar.
— POR QUE VOCÊ AINDA CONTINUA COMIGO, ENTÃO? — se alterou também, ficando muito nervoso. Tentava não tirar sua concentração da pista, mas as lágrimas começaram a percorrer pelo seu rosto.
— EU FICO ME PERGUNTANDO A MESMA COISA TODOS OS DIAS POR QUE EU ESTOU COM VOCÊ! — gritou. Sentiu uma pontada no coração, como se seu mundo desabasse toda vez que ela brigava com ele. Por mais que várias coisas tivessem acontecido nesse relacionamento, ela sentia algo muito forte por ele, mais do que amor. Não imaginaria mais sua vida sem ele.
— ENTÃO TERMINE LOGO ESSA MERDA! — deu um último grito. Seu coração começou a acelerar e suas mãos estavam suando frio.
Uma música havia começado a tocar que, por obra do destino, era a mesma música do início do namoro. O que ele tinha acabado de falar? Será que estava ficando louco? Viver sem , isso era impossível. Ela era a única razão que o mantinha de pé diante de todos os problemas, era a única pessoa em que confiara por toda a sua vida. Sempre que precisara de alguém, era ela quem estava ao seu lado. Não poderia se imaginar sem ela, seria mais um ser humano jogado no mundo.
— Isso não está acontecendo de novo, eu estou cansada... — respirou fundo e cobriu o rosto com as mãos. — Você nunca vai mudar…
— Pare de brigar comigo. — tirou uma mão do volante e colocou sobre o rosto dela — Não faça isso de novo, vamos deixar para lá.
— Não dá para deixar para lá, eu não aguento mais o que você faz com a gente. — disse entre um soluço e o outro.
tirou a mão do rosto dela e voltou a prestar atenção na pista. A música ainda tocava alto; era uma noite muito escura e chovia bastante. Sua cabeça estava rodando muito. Ela tinha razão, sempre era culpa dele o que acontecia entre os dois.
— Termine comigo. — Ele falou, começando a chorar mais ainda. — Termine…
— Não... — o fitou e percebeu que ele estava tremendo.
— Termine, eu não te mereço. — Ele limpou algumas lágrimas e olhou para ela com o olhar mais triste e depressivo que existia no mundo.
— EU JÁ DISSE QUE NÃO, ! — gritou, tentando colocar um ponto final naquela conversa.
— POR QUE NÃO? — pareceu se alterar de novo, mas estava ficando fraco demais. Sua visão estava embaçada e sua cabeça, girando.
— Porque eu te amo... — falou com a voz bem falha.
, nesse momento, se sentiu a pior pessoa do mundo. Sem ao menos pensar, tirou uma das mãos do volante e segurou a mão dela. levantou a cabeça e o fitou, vendo que estava com os olhos vermelhos de tantas lágrimas. se esquecera completamente da pista, aproximou-se um pouco mais dela e lhe deu um beijo de leve nos lábios. Ao longe, escutou um barulho de buzinas. Havia se esquecido da estrada. Quando voltou sua atenção para a pista, estava do outro lado dela e, logo mais a frente, com toda a velocidade, estava vindo um caminhão. Sem ao menos pensar, jogou o carro de lado, fazendo-o cair e capotar várias vezes no canteiro da pista.
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abriu os olhos e sentiu uma forte dor na cabeça. Não sabia onde estava. Sentiu um frio subindo pelo seu corpo, passou a mão por ele e o sentiu todo molhado. Tentou levantar a cabeça para saber onde estava. Não se lembrava muito o que havia acontecido. Aos poucos, as lembranças e a imagem de foram se fazendo em sua cabeça. Lembrou-se da festa em que estavam, dos parentes, do carro, da briga e, em seguida, de uma luz forte vinda de um caminhão. Num estalo, levantou-se correndo, sem se importar com as dores, e começou a procurar por . Tudo estava girando. Suas pernas estavam fracas demais para andar. Encontrou o carro mais a frente virado para cima. Levou a mão à cabeça num ato de desespero. Onde ela estava? O que tinha acontecido com ela? Viu que sua cabeça estava sangrando, forçou a mão contra ela e rolou os olhos pelo local, tentando achar alguma pista de sua namorada. A chuva e a neblina não estavam ajudando muito. Não sabia como, mas tentava tirar forças de algum lugar para se manter de pé. Andou por um tempo procurando por algum sinal, até achar parte de uma blusa com a qual ela estava.
— , ...
Encontrou-a debruçada com a cabeça perto de uma pedra. Sangrava muito e parte do seu corpo estava todo ferido. Ajoelhou-se perto dela, não acreditando no que estava acontecendo. Tampou o rosto com as duas mãos e gritou bem alto. Correu para perto dela e a abraçou forte. Começou a gritar por socorro, alguém tinha que escutá-lo e vir ajudar. Mais lágrimas começaram a escorrer pelo rosto do garoto, uma falta de ar e um aperto no coração o estavam sufocando. Sua visão novamente foi ficando embaçada e, antes de apagar, conseguiu ouvir barulhos de sirenes vindas de longe.
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Exatamente três horas mais tarde, estava imóvel, sentado em um dos bancos do hospital. Ainda em choque não acreditava no que havia acontecido horas antes. Como pôde ser tão inconsequente daquela maneira? Por que com ela?
— Eu fiz isso… — Ele logo se deu conta que estava sozinho naquele hospital, perdido em pensamentos e angustiado demais com o que tinha acontecido.
— Como está se sentindo? — O médico perguntou, aproximando-se dele, preocupado com algumas escoriações que ele tinha pelo corpo. não conseguiu ficar deitado em uma cama, preferiu aguardar do lado de fora do quarto esperando por notícias de .
— Como ela está? — Ele perguntou baixo, esperando ouvir alguma coisa que pudesse ficar tranqüilo. Algo que o fizesse não se culpar mais do que estava fazendo.
— Foram muitas lesões graves pelo corpo. Precisamos aguardar um pouco. — O médico disse, calmo e confiante. — Mas ela é forte. Tenho certeza de que ela vai se recuperar.
— Muito graves? — travou os dentes, nervoso. — Graves em que sentido?
— Você quer vê-la? — Ele perguntou, abrindo espaço e mostrando um dos quartos no final do corredor. — Talvez vendo com os seus próprios olhos você se acalme um pouco.
— Não sei se devo. — Ele rolou os olhos, fechando a mão logo em seguida.
— Está tudo bem. — O médico sorriu, apoiando uma das mãos no ombro dele. — Ela precisa responder no prazo de 24 horas para sair da área de risco. Estou confiante, fique também.
relutou por mais algum tempo até finalmente ceder e acompanhar o médico até o quarto onde estava. Respirou fundo, buscando forças para entrar no quarto e se deparar com algo que ele tinha causado, uma dor, um sofrimento. Ao entrar, ao longe pôde ver a garota em uma cama branca, totalmente mobilizada e, por todo o seu corpo, enormes faixas brancas tampando os inúmeros lugares dos ferimentos. Vários aparelhos ligados ao seu corpo e, como um choque, ele congelou na porta, não acreditando no que estava vendo. Não conseguiu olhar nem ao menos para lado nenhum. Estava mortificado e remoendo toda a culpa por tê-la machucado daquele jeito.
Como pôde ser tão descuidado, como ferir algo tão frágil assim. Não iria se perdoar nunca por isso, não conseguia ao menos olhar para si mesmo naquele instante. Todo um sentimento de amargura e ódio surgiu pelo seu corpo. Nada do que fizesse poderia confortar aquela dor de culpa e tudo o que aquela garota estava sentindo deitada naquela cama. Todas as faixas, todos os ferimentos e todos aqueles aparelhos apitando por toda parte daquele quarto.
— Como você está percebendo... — O médico se aproximou da cama dela e, com uma das mãos, apontou para cada ponto branco de faixa. — Ela quebrou uma perna, um braço, teve uma pequena fratura no crânio e quebrou duas costelas. Controlamos a hemorragia interna. — Ele foi explicando lentamente e, a cada explicação e com o barulho de uma máquina apitando, o corpo de se estremeceu todo, e seus punhos estavam fechados, esperando, prontos para socar alguma coisa em sua frente. — Ela ainda corre risco de vida, mas estamos fazendo tudo o que está ao nosso alcance para que ela viva.
— Está… bem. — Ele gaguejou, tremendo mais ainda ao ver o médico deixar o quarto, e agora ele estava completamente sozinho naquele lugar. Em pequenos passos leves, ele criou coragem para se aproximar da cama e olhar mais de perto. Um enorme curativo estava no alto de sua cabeça, pressionando o que seria uma das lesões que o impacto havia lhe causado. — Amor, eu sei que você não pode me ouvir, — ele começou falando, passando o dedo levemente pelo rosto dela. — Me desculpa, por favor. Me perdoa. — deixou cair o olhar pelo corpo dela e, com a outra mão, se apoiou na cama, ficando bem próximo. — Queria dizer que estou me martirizando a cada minuto por tudo isso, não sei o que eu posso fazer para amenizar essa dor. Tudo o que eu queria era ver você acordando e sorrindo. — Aos poucos, seu rosto foi se aproximando do dela e as palavras começaram a fluir mais levemente. — Não consigo imaginar minha vida sem você. — Ele girou um pouco o rosto, contendo algumas lágrimas. — Minha vida, meus planos, meus sonhos. Tudo está ligado a você, como posso conseguir viver sem olhar para os seus olhos todos os dias? Como consigo viver sem receber o seu sorriso?
O lugar ficou em silêncio por um tempo, e ele ainda se manteve naquela posição, olhando fixamente para o rosto da garota.
— Amor, eu preciso que você acorde. Que você lute mais um pouco, seja forte! — Ele tentou mais algumas palavras e, com um pequeno toque, encostou o seus lábios na bochecha dela. — Por favor, eu preciso de você.
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Passados nove meses do acidente. terminava de pentear o cabelo. Como era de costume, todos os dias ia ao hospital ver . Ela não tivera a mesma sorte que ele, que sofreu apenas alguns arranhões. estava em coma conforme a pancada que havia recebido na cabeça. não se conformara nunca por ter sido ele o culpado daquilo. Se tivesse lhe escutado, nada daquilo teria acontecido. Os dois estariam bem e ele estaria com sua amada do lado. Deu uma última olhada no seu reflexo no espelho. Sua aparência estava horrível, não tinha mais nem ânimo para se arrumar. Pegou as chaves do carro em cima da mesa e seguiu seu caminho.
Chegando ao hospital, fez o mesmo trajeto de todos os dias que fazia até o quarto dela. Cumprimentou algumas enfermeiras, que sempre estavam fazendo plantão quando ele estava lá. Estava muito agradecido por elas existirem e por dedicarem parte do seu dia cuidando muito bem de . Ao entrar no quarto, deparou-se com a mesma cena triste: ela estava deitada com vários aparelhos em volta. Havia uma cadeira e um sofá ao lado da cama, algumas flores na cabeceira. Aproximou-se e lhe deu um beijo de leve nos lábios. Puxou a cadeira para mais perto da cama e ficou ali sentado, acariciando sua mão e se lembrando de como haviam sido aqueles cinco anos de namoro deles. Lembrou-se do primeiro encontro deles, da dificuldade e da persistência que ele tivera de ter para conquistá-la. sempre fora a mais popular das garotas do seu colégio e ele, sempre o mais otário diante de todos. Isso apenas dificultava a sua conquista. Ela poderia ter o garoto que quisesse. Por mais que houvesse diferenças entre eles, ela o escolhera para ser seu namorado. Era por ele que ela estava apaixonada, era ele quem ela amava.
Não sabia como, mas a única coisa que sabia no momento era que ele havia tido muita sorte por ter passado cinco longos anos ao lado dela. Algumas lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto; a imagem do acidente e da briga não saíam de sua cabeça. Como queria ter sido uma pessoa diferente, uma pessoa que merecesse, não ele. Queria voltar no tempo e começar tudo de novo, de um jeito diferente. Ser tudo aquilo para ela, tudo aquilo que ela sempre sonhara que ele fosse.
— ... — Uma enfermeira falou, aproximando-se dele, que parecia estar em um transe.
— Oi... — Ele respondeu, acordando de seus pensamentos.
— Já é tarde, por que não vai descansar? Passou o dia inteiro sentado nessa cadeira.
— Eu estou bem, vou começar a ler um pouco para ela — abriu um sorriso, olhando para a mulher.
— Mas, ... — Ela tentou convencê-lo, porém pareceu em vão.
— Está tudo bem. — sorriu.
A enfermeira nada disse, apenas concordou com a cabeça e foi se afastando aos poucos. pegou um livro que havia dentro de um sacola em cima da mesa, começou a folhear e parou em uma página que estava marcada. Olhou para e começou a ler bem baixinho. Passou o resto da tarde e o começo da noite em volta da cama. Às vezes, parava de ler e fazia pequenos comentários da história. As enfermeiras que passavam por lá ficavam emocionadas com a dedicação e com o amor que ele demonstrava por ela.
No entanto, percebiam no fundo dos olhos dele que estava sofrendo muito, que a cada dia sentia uma esperança a mais de entrar pela porta e encontrá-la de olhos abertos, sorrindo e o chamando.
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Havia se passado mais de doze meses e o estado dela ainda era estável. O quadro não havia melhorado em nada, mas também não havia piorado, o que era bom. estava sentado ao lado dela, segurando-a na mão. Lia um conto não muito conhecido de romance. O céu parecia sorrir, não havia nenhuma nuvem. Ele, pela primeira vez depois de meses, sentiu algo bom dentro do coração. Não sabia muito bem o porquê daquela sensação, mas se sentia feliz.
Largou o livro de lado e chegou mais perto de , passando a mão de leve pelo seu cabelo. Nem o acidente, cirurgias e aparelhos conseguiram tirar a beleza dela. Respirou fundo, deixando o ar percorrer pelo seu corpo, e jogou a cabeça para trás. Estava muito cansado. Mas não a abandonaria, ficaria ali o tempo que fosse preciso até ela acordar. Mesmo todas as pessoas o desanimando, falando que ela nunca poderia acordar, ele tinha certeza de que isso iria acontecer e que ele queria ser o primeiro a estar ao lado dela quando abrisse os olhos.
Suas esperanças eram sempre renovadas quando ela mexia um simples dedo, quando as pálpebras dos olhos se mexiam um pouco. Cada avanço era motivo de alegria e de esperança de que ela estaria acordando. Não sabia de onde estava tirando forças para estar ali todos os dias. Abandonara sua faculdade, trabalho, largara a sua vida para se dedicar a ela. Nada mais teria sentido para ele se ela não estivesse ao seu lado. Saiu do mundo dos seus pensamentos e se aproximou do rosto dela.
— Por que você não acorda... — Ele sussurrou no ouvido dela. — Estou sentindo tanto a sua falta, parece que parte de mim está morrendo, não quero te perder. — Uma lágrima começou a rolar pelos seus olhos e caiu na cama. — Não aguento mais isso, eu fui um idiota com você, não devia ter agido daquela forma.
soluçava em desespero, beijava os lábios dela de leve e passava as mãos pelo seu rosto.
— Perdoe-me por tudo que eu te fiz... — Ele continuou a falar. — Perdoe-me, volte para mim, por favor.
abaixou a cabeça e a encostou na cama. Segurou a mão dela com força e desatou a chorar mais forte. Sentiu que seu coração estava dilacerado. Sentia saudades de tê-la em seus braços, de sentir seu perfume. Seu sorriso, seu toque. Sentia que parte dele havia morrido, que o que traria a vida de novo seria ela acordar e a dizer que a amava mais que tudo na vida. Que era ela a pessoa certa para ele, que sem ela do seu lado perderia sua estabilidade e seu chão para viver. Levantou-se e ficou parado ao lado dela, olhando-a. Andou para um lado e outro do quarto. Debruçou-se na janela, olhou para o céu, juntou as duas mãos e fechou os olhos.
— Deus, eu nunca fui de orar ou pedir alguma coisa para o senhor. Às vezes acho que nem sei fazer isso, às vezes acho que nem tenho o direito de pedir alguma coisa. — Ele suspirou, buscando palavras certas para aquele clamor. — Tudo o que eu fiz não tem perdão. Nunca vou ser perdoado por tê-la machucado desse jeito, mas eu imploro que o senhor não a leve dessa maneira. Eu suplico que ela acorde e continue a viver todos os seus sonhos, não merece passar por tudo isso. — Por mais que tentasse controlar os impulsos, lágrimas escorreram por seus olhos, e fraquejou. — Eu a entrego em suas mãos na esperança de que o senhor faça o melhor por ela.
Em sinal de súplica, orou por mais alguns minutos, pedindo para que Deus não a tirasse dele. A realidade o acertou em cheio quando notou que ela ainda estava deitada na cama. desejou voltar ao tempo naquela noite e desviar o carro daquele caminhão. Pensou que fosse possível controlar todos os seus impulsos, mas ele estava prestes a ignorar qualquer coisa e ir até ela de uma vez por todas e gritar para que abrisse os olhos. Aquilo tinha que acabar em algum momento, ele não podia mais viver daquela maneira e nem deixar que ela continuasse sofrendo naquela cama.
Uma adrenalina controlou seu cérebro, e ele estava ficando completamente atordoado. Controle? Ele não tinha mais controle do seu corpo. Por mais que quisesse buscar esperanças naquele contato visual, ele estava se enganando. Ela não iria acordar. Não iria acordar nunca mais.
Tentou ser forte o bastante, não chorar na frente dela, mas foi inevitável pensar que, em algum momento, se ela não acordasse, teria que dizer adeus. Foi para perto da cama e falou baixinho, como se ela, e só ele, pudessem ouvir: “Eu amo você mais que tudo nessa vida”. Saiu de perto no instante em que o monitor de um dos aparelhos apitou alto e um som ensurdecedor invadiu o quarto. Ele olhou desesperado em volta, buscando por ajuda, e não soube ao certo o que aconteceu quando viu um grupo de médicos invadir o quarto, e ele apenas sentiu algumas mãos o segurando para longe da cama.
— Não, garota, por favor! Não é a sua hora! — O médico falava, iniciando uma massagem no peito da garota enquanto a enfermeira aplicava um líquido dentro do acesso da veia.
perdeu seu coração no momento em que todos começaram a correr pelo quarto desesperados. Não conseguiu focar os olhos para enxergar o que estava acontecendo de verdade. Ao longe, apenas escutou sons e barulhos de todos os aparelhos parecendo entrar em curto num único instante. Tentou correr para perto dela, mostrando que estava exatamente ali e que nunca iria sair daquele lugar. Que estaria esperando por ela todos os dias. Que a amava com todas as suas forças!
— NÃO! — O médico colocou a mão na cintura, inconformado com alguma coisa. Ele parecia não acreditar também no que estava acontecendo. Olhou para por alguns segundos e balançou a cabeça. — Hora da morte 13:15.
No momento em que escutou aquelas palavras, seus joelhos falharam, e uma força sobrenatural o puxou para baixo. Ajoelhou-se no chão, assustado com aquilo, e começou a chorar.
Ao longe, escutou algumas vozes o chamando. Percebeu que nenhuma era a de . Sua última lembrança foi de vê-la acariciar seu rosto e dizer que o amava com todas suas forças e que ele era o homem que fazia seu coração pulsar.
No minuto seguinte, tudo ficou em silêncio, e uma dor surgiu em seu peito. Ele não foi capaz de sentir mais nada, não conseguia mais vê-la em suas lembranças, apenas o silêncio e o vazio. Deitou-se no chão frio do quarto, esperando acordar daquele terrível pesadelo.
— Como vou ser capaz de viver novamente sem você? — Ele chorou, se entregando por completo à dor. Nada mais importava em sua vida. Tudo o que importava já não estava mais ali. Lançou um último olhar para a cama e gritou em desespero, não tendo forças para se levantar daquele chão. Apenas desejou que tudo aquilo fosse mentira, mas, ao longe, a viu sendo levada para longe dele. Gritou novamente por seu nome e, no minuto que passou, ele não sentiu mais nada. Apenas a dor e o vazio em seu coração.
— Por que você não me deixa dirigir? — perguntou, virando-se para no volante.
— Porque eu ganhei este carro ontem e quero dirigi-lo. — respondeu, embolando um pouco as palavras.
— , você está alcoolizado... — levou uma mão na testa e apoiou o cotovelo na beirada da porta. — Por que sempre é a mesma história?
— Por que você simplesmente sempre tenta brigar comigo por causa disso?
— Mas você provoca, o que custa me deixar dirigir?
— Não começa, , não acabe com o meu fim de ano — bufou.
— EU, ACABANDO COM O SEU FIM DE ANO? VOCÊ QUE ACABA SEMPRE COM O MEU! — alterou a voz e começou a chorar.
— POR QUE VOCÊ AINDA CONTINUA COMIGO, ENTÃO? — se alterou também, ficando muito nervoso. Tentava não tirar sua concentração da pista, mas as lágrimas começaram a percorrer pelo seu rosto.
— EU FICO ME PERGUNTANDO A MESMA COISA TODOS OS DIAS POR QUE EU ESTOU COM VOCÊ! — gritou. Sentiu uma pontada no coração, como se seu mundo desabasse toda vez que ela brigava com ele. Por mais que várias coisas tivessem acontecido nesse relacionamento, ela sentia algo muito forte por ele, mais do que amor. Não imaginaria mais sua vida sem ele.
— ENTÃO TERMINE LOGO ESSA MERDA! — deu um último grito. Seu coração começou a acelerar e suas mãos estavam suando frio.
Uma música havia começado a tocar que, por obra do destino, era a mesma música do início do namoro. O que ele tinha acabado de falar? Será que estava ficando louco? Viver sem , isso era impossível. Ela era a única razão que o mantinha de pé diante de todos os problemas, era a única pessoa em que confiara por toda a sua vida. Sempre que precisara de alguém, era ela quem estava ao seu lado. Não poderia se imaginar sem ela, seria mais um ser humano jogado no mundo.
— Isso não está acontecendo de novo, eu estou cansada... — respirou fundo e cobriu o rosto com as mãos. — Você nunca vai mudar…
— Pare de brigar comigo. — tirou uma mão do volante e colocou sobre o rosto dela — Não faça isso de novo, vamos deixar para lá.
— Não dá para deixar para lá, eu não aguento mais o que você faz com a gente. — disse entre um soluço e o outro.
tirou a mão do rosto dela e voltou a prestar atenção na pista. A música ainda tocava alto; era uma noite muito escura e chovia bastante. Sua cabeça estava rodando muito. Ela tinha razão, sempre era culpa dele o que acontecia entre os dois.
— Termine comigo. — Ele falou, começando a chorar mais ainda. — Termine…
— Não... — o fitou e percebeu que ele estava tremendo.
— Termine, eu não te mereço. — Ele limpou algumas lágrimas e olhou para ela com o olhar mais triste e depressivo que existia no mundo.
— EU JÁ DISSE QUE NÃO, ! — gritou, tentando colocar um ponto final naquela conversa.
— POR QUE NÃO? — pareceu se alterar de novo, mas estava ficando fraco demais. Sua visão estava embaçada e sua cabeça, girando.
— Porque eu te amo... — falou com a voz bem falha.
, nesse momento, se sentiu a pior pessoa do mundo. Sem ao menos pensar, tirou uma das mãos do volante e segurou a mão dela. levantou a cabeça e o fitou, vendo que estava com os olhos vermelhos de tantas lágrimas. se esquecera completamente da pista, aproximou-se um pouco mais dela e lhe deu um beijo de leve nos lábios. Ao longe, escutou um barulho de buzinas. Havia se esquecido da estrada. Quando voltou sua atenção para a pista, estava do outro lado dela e, logo mais a frente, com toda a velocidade, estava vindo um caminhão. Sem ao menos pensar, jogou o carro de lado, fazendo-o cair e capotar várias vezes no canteiro da pista.
abriu os olhos e sentiu uma forte dor na cabeça. Não sabia onde estava. Sentiu um frio subindo pelo seu corpo, passou a mão por ele e o sentiu todo molhado. Tentou levantar a cabeça para saber onde estava. Não se lembrava muito o que havia acontecido. Aos poucos, as lembranças e a imagem de foram se fazendo em sua cabeça. Lembrou-se da festa em que estavam, dos parentes, do carro, da briga e, em seguida, de uma luz forte vinda de um caminhão. Num estalo, levantou-se correndo, sem se importar com as dores, e começou a procurar por . Tudo estava girando. Suas pernas estavam fracas demais para andar. Encontrou o carro mais a frente virado para cima. Levou a mão à cabeça num ato de desespero. Onde ela estava? O que tinha acontecido com ela? Viu que sua cabeça estava sangrando, forçou a mão contra ela e rolou os olhos pelo local, tentando achar alguma pista de sua namorada. A chuva e a neblina não estavam ajudando muito. Não sabia como, mas tentava tirar forças de algum lugar para se manter de pé. Andou por um tempo procurando por algum sinal, até achar parte de uma blusa com a qual ela estava.
— , ...
Encontrou-a debruçada com a cabeça perto de uma pedra. Sangrava muito e parte do seu corpo estava todo ferido. Ajoelhou-se perto dela, não acreditando no que estava acontecendo. Tampou o rosto com as duas mãos e gritou bem alto. Correu para perto dela e a abraçou forte. Começou a gritar por socorro, alguém tinha que escutá-lo e vir ajudar. Mais lágrimas começaram a escorrer pelo rosto do garoto, uma falta de ar e um aperto no coração o estavam sufocando. Sua visão novamente foi ficando embaçada e, antes de apagar, conseguiu ouvir barulhos de sirenes vindas de longe.
Exatamente três horas mais tarde, estava imóvel, sentado em um dos bancos do hospital. Ainda em choque não acreditava no que havia acontecido horas antes. Como pôde ser tão inconsequente daquela maneira? Por que com ela?
— Eu fiz isso… — Ele logo se deu conta que estava sozinho naquele hospital, perdido em pensamentos e angustiado demais com o que tinha acontecido.
— Como está se sentindo? — O médico perguntou, aproximando-se dele, preocupado com algumas escoriações que ele tinha pelo corpo. não conseguiu ficar deitado em uma cama, preferiu aguardar do lado de fora do quarto esperando por notícias de .
— Como ela está? — Ele perguntou baixo, esperando ouvir alguma coisa que pudesse ficar tranqüilo. Algo que o fizesse não se culpar mais do que estava fazendo.
— Foram muitas lesões graves pelo corpo. Precisamos aguardar um pouco. — O médico disse, calmo e confiante. — Mas ela é forte. Tenho certeza de que ela vai se recuperar.
— Muito graves? — travou os dentes, nervoso. — Graves em que sentido?
— Você quer vê-la? — Ele perguntou, abrindo espaço e mostrando um dos quartos no final do corredor. — Talvez vendo com os seus próprios olhos você se acalme um pouco.
— Não sei se devo. — Ele rolou os olhos, fechando a mão logo em seguida.
— Está tudo bem. — O médico sorriu, apoiando uma das mãos no ombro dele. — Ela precisa responder no prazo de 24 horas para sair da área de risco. Estou confiante, fique também.
relutou por mais algum tempo até finalmente ceder e acompanhar o médico até o quarto onde estava. Respirou fundo, buscando forças para entrar no quarto e se deparar com algo que ele tinha causado, uma dor, um sofrimento. Ao entrar, ao longe pôde ver a garota em uma cama branca, totalmente mobilizada e, por todo o seu corpo, enormes faixas brancas tampando os inúmeros lugares dos ferimentos. Vários aparelhos ligados ao seu corpo e, como um choque, ele congelou na porta, não acreditando no que estava vendo. Não conseguiu olhar nem ao menos para lado nenhum. Estava mortificado e remoendo toda a culpa por tê-la machucado daquele jeito.
Como pôde ser tão descuidado, como ferir algo tão frágil assim. Não iria se perdoar nunca por isso, não conseguia ao menos olhar para si mesmo naquele instante. Todo um sentimento de amargura e ódio surgiu pelo seu corpo. Nada do que fizesse poderia confortar aquela dor de culpa e tudo o que aquela garota estava sentindo deitada naquela cama. Todas as faixas, todos os ferimentos e todos aqueles aparelhos apitando por toda parte daquele quarto.
— Como você está percebendo... — O médico se aproximou da cama dela e, com uma das mãos, apontou para cada ponto branco de faixa. — Ela quebrou uma perna, um braço, teve uma pequena fratura no crânio e quebrou duas costelas. Controlamos a hemorragia interna. — Ele foi explicando lentamente e, a cada explicação e com o barulho de uma máquina apitando, o corpo de se estremeceu todo, e seus punhos estavam fechados, esperando, prontos para socar alguma coisa em sua frente. — Ela ainda corre risco de vida, mas estamos fazendo tudo o que está ao nosso alcance para que ela viva.
— Está… bem. — Ele gaguejou, tremendo mais ainda ao ver o médico deixar o quarto, e agora ele estava completamente sozinho naquele lugar. Em pequenos passos leves, ele criou coragem para se aproximar da cama e olhar mais de perto. Um enorme curativo estava no alto de sua cabeça, pressionando o que seria uma das lesões que o impacto havia lhe causado. — Amor, eu sei que você não pode me ouvir, — ele começou falando, passando o dedo levemente pelo rosto dela. — Me desculpa, por favor. Me perdoa. — deixou cair o olhar pelo corpo dela e, com a outra mão, se apoiou na cama, ficando bem próximo. — Queria dizer que estou me martirizando a cada minuto por tudo isso, não sei o que eu posso fazer para amenizar essa dor. Tudo o que eu queria era ver você acordando e sorrindo. — Aos poucos, seu rosto foi se aproximando do dela e as palavras começaram a fluir mais levemente. — Não consigo imaginar minha vida sem você. — Ele girou um pouco o rosto, contendo algumas lágrimas. — Minha vida, meus planos, meus sonhos. Tudo está ligado a você, como posso conseguir viver sem olhar para os seus olhos todos os dias? Como consigo viver sem receber o seu sorriso?
O lugar ficou em silêncio por um tempo, e ele ainda se manteve naquela posição, olhando fixamente para o rosto da garota.
— Amor, eu preciso que você acorde. Que você lute mais um pouco, seja forte! — Ele tentou mais algumas palavras e, com um pequeno toque, encostou o seus lábios na bochecha dela. — Por favor, eu preciso de você.
Passados nove meses do acidente. terminava de pentear o cabelo. Como era de costume, todos os dias ia ao hospital ver . Ela não tivera a mesma sorte que ele, que sofreu apenas alguns arranhões. estava em coma conforme a pancada que havia recebido na cabeça. não se conformara nunca por ter sido ele o culpado daquilo. Se tivesse lhe escutado, nada daquilo teria acontecido. Os dois estariam bem e ele estaria com sua amada do lado. Deu uma última olhada no seu reflexo no espelho. Sua aparência estava horrível, não tinha mais nem ânimo para se arrumar. Pegou as chaves do carro em cima da mesa e seguiu seu caminho.
Chegando ao hospital, fez o mesmo trajeto de todos os dias que fazia até o quarto dela. Cumprimentou algumas enfermeiras, que sempre estavam fazendo plantão quando ele estava lá. Estava muito agradecido por elas existirem e por dedicarem parte do seu dia cuidando muito bem de . Ao entrar no quarto, deparou-se com a mesma cena triste: ela estava deitada com vários aparelhos em volta. Havia uma cadeira e um sofá ao lado da cama, algumas flores na cabeceira. Aproximou-se e lhe deu um beijo de leve nos lábios. Puxou a cadeira para mais perto da cama e ficou ali sentado, acariciando sua mão e se lembrando de como haviam sido aqueles cinco anos de namoro deles. Lembrou-se do primeiro encontro deles, da dificuldade e da persistência que ele tivera de ter para conquistá-la. sempre fora a mais popular das garotas do seu colégio e ele, sempre o mais otário diante de todos. Isso apenas dificultava a sua conquista. Ela poderia ter o garoto que quisesse. Por mais que houvesse diferenças entre eles, ela o escolhera para ser seu namorado. Era por ele que ela estava apaixonada, era ele quem ela amava.
Não sabia como, mas a única coisa que sabia no momento era que ele havia tido muita sorte por ter passado cinco longos anos ao lado dela. Algumas lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto; a imagem do acidente e da briga não saíam de sua cabeça. Como queria ter sido uma pessoa diferente, uma pessoa que merecesse, não ele. Queria voltar no tempo e começar tudo de novo, de um jeito diferente. Ser tudo aquilo para ela, tudo aquilo que ela sempre sonhara que ele fosse.
— ... — Uma enfermeira falou, aproximando-se dele, que parecia estar em um transe.
— Oi... — Ele respondeu, acordando de seus pensamentos.
— Já é tarde, por que não vai descansar? Passou o dia inteiro sentado nessa cadeira.
— Eu estou bem, vou começar a ler um pouco para ela — abriu um sorriso, olhando para a mulher.
— Mas, ... — Ela tentou convencê-lo, porém pareceu em vão.
— Está tudo bem. — sorriu.
A enfermeira nada disse, apenas concordou com a cabeça e foi se afastando aos poucos. pegou um livro que havia dentro de um sacola em cima da mesa, começou a folhear e parou em uma página que estava marcada. Olhou para e começou a ler bem baixinho. Passou o resto da tarde e o começo da noite em volta da cama. Às vezes, parava de ler e fazia pequenos comentários da história. As enfermeiras que passavam por lá ficavam emocionadas com a dedicação e com o amor que ele demonstrava por ela.
No entanto, percebiam no fundo dos olhos dele que estava sofrendo muito, que a cada dia sentia uma esperança a mais de entrar pela porta e encontrá-la de olhos abertos, sorrindo e o chamando.
Havia se passado mais de doze meses e o estado dela ainda era estável. O quadro não havia melhorado em nada, mas também não havia piorado, o que era bom. estava sentado ao lado dela, segurando-a na mão. Lia um conto não muito conhecido de romance. O céu parecia sorrir, não havia nenhuma nuvem. Ele, pela primeira vez depois de meses, sentiu algo bom dentro do coração. Não sabia muito bem o porquê daquela sensação, mas se sentia feliz.
Largou o livro de lado e chegou mais perto de , passando a mão de leve pelo seu cabelo. Nem o acidente, cirurgias e aparelhos conseguiram tirar a beleza dela. Respirou fundo, deixando o ar percorrer pelo seu corpo, e jogou a cabeça para trás. Estava muito cansado. Mas não a abandonaria, ficaria ali o tempo que fosse preciso até ela acordar. Mesmo todas as pessoas o desanimando, falando que ela nunca poderia acordar, ele tinha certeza de que isso iria acontecer e que ele queria ser o primeiro a estar ao lado dela quando abrisse os olhos.
Suas esperanças eram sempre renovadas quando ela mexia um simples dedo, quando as pálpebras dos olhos se mexiam um pouco. Cada avanço era motivo de alegria e de esperança de que ela estaria acordando. Não sabia de onde estava tirando forças para estar ali todos os dias. Abandonara sua faculdade, trabalho, largara a sua vida para se dedicar a ela. Nada mais teria sentido para ele se ela não estivesse ao seu lado. Saiu do mundo dos seus pensamentos e se aproximou do rosto dela.
— Por que você não acorda... — Ele sussurrou no ouvido dela. — Estou sentindo tanto a sua falta, parece que parte de mim está morrendo, não quero te perder. — Uma lágrima começou a rolar pelos seus olhos e caiu na cama. — Não aguento mais isso, eu fui um idiota com você, não devia ter agido daquela forma.
soluçava em desespero, beijava os lábios dela de leve e passava as mãos pelo seu rosto.
— Perdoe-me por tudo que eu te fiz... — Ele continuou a falar. — Perdoe-me, volte para mim, por favor.
abaixou a cabeça e a encostou na cama. Segurou a mão dela com força e desatou a chorar mais forte. Sentiu que seu coração estava dilacerado. Sentia saudades de tê-la em seus braços, de sentir seu perfume. Seu sorriso, seu toque. Sentia que parte dele havia morrido, que o que traria a vida de novo seria ela acordar e a dizer que a amava mais que tudo na vida. Que era ela a pessoa certa para ele, que sem ela do seu lado perderia sua estabilidade e seu chão para viver. Levantou-se e ficou parado ao lado dela, olhando-a. Andou para um lado e outro do quarto. Debruçou-se na janela, olhou para o céu, juntou as duas mãos e fechou os olhos.
— Deus, eu nunca fui de orar ou pedir alguma coisa para o senhor. Às vezes acho que nem sei fazer isso, às vezes acho que nem tenho o direito de pedir alguma coisa. — Ele suspirou, buscando palavras certas para aquele clamor. — Tudo o que eu fiz não tem perdão. Nunca vou ser perdoado por tê-la machucado desse jeito, mas eu imploro que o senhor não a leve dessa maneira. Eu suplico que ela acorde e continue a viver todos os seus sonhos, não merece passar por tudo isso. — Por mais que tentasse controlar os impulsos, lágrimas escorreram por seus olhos, e fraquejou. — Eu a entrego em suas mãos na esperança de que o senhor faça o melhor por ela.
Em sinal de súplica, orou por mais alguns minutos, pedindo para que Deus não a tirasse dele. A realidade o acertou em cheio quando notou que ela ainda estava deitada na cama. desejou voltar ao tempo naquela noite e desviar o carro daquele caminhão. Pensou que fosse possível controlar todos os seus impulsos, mas ele estava prestes a ignorar qualquer coisa e ir até ela de uma vez por todas e gritar para que abrisse os olhos. Aquilo tinha que acabar em algum momento, ele não podia mais viver daquela maneira e nem deixar que ela continuasse sofrendo naquela cama.
Uma adrenalina controlou seu cérebro, e ele estava ficando completamente atordoado. Controle? Ele não tinha mais controle do seu corpo. Por mais que quisesse buscar esperanças naquele contato visual, ele estava se enganando. Ela não iria acordar. Não iria acordar nunca mais.
Tentou ser forte o bastante, não chorar na frente dela, mas foi inevitável pensar que, em algum momento, se ela não acordasse, teria que dizer adeus. Foi para perto da cama e falou baixinho, como se ela, e só ele, pudessem ouvir: “Eu amo você mais que tudo nessa vida”. Saiu de perto no instante em que o monitor de um dos aparelhos apitou alto e um som ensurdecedor invadiu o quarto. Ele olhou desesperado em volta, buscando por ajuda, e não soube ao certo o que aconteceu quando viu um grupo de médicos invadir o quarto, e ele apenas sentiu algumas mãos o segurando para longe da cama.
— Não, garota, por favor! Não é a sua hora! — O médico falava, iniciando uma massagem no peito da garota enquanto a enfermeira aplicava um líquido dentro do acesso da veia.
perdeu seu coração no momento em que todos começaram a correr pelo quarto desesperados. Não conseguiu focar os olhos para enxergar o que estava acontecendo de verdade. Ao longe, apenas escutou sons e barulhos de todos os aparelhos parecendo entrar em curto num único instante. Tentou correr para perto dela, mostrando que estava exatamente ali e que nunca iria sair daquele lugar. Que estaria esperando por ela todos os dias. Que a amava com todas as suas forças!
— NÃO! — O médico colocou a mão na cintura, inconformado com alguma coisa. Ele parecia não acreditar também no que estava acontecendo. Olhou para por alguns segundos e balançou a cabeça. — Hora da morte 13:15.
No momento em que escutou aquelas palavras, seus joelhos falharam, e uma força sobrenatural o puxou para baixo. Ajoelhou-se no chão, assustado com aquilo, e começou a chorar.
Ao longe, escutou algumas vozes o chamando. Percebeu que nenhuma era a de . Sua última lembrança foi de vê-la acariciar seu rosto e dizer que o amava com todas suas forças e que ele era o homem que fazia seu coração pulsar.
No minuto seguinte, tudo ficou em silêncio, e uma dor surgiu em seu peito. Ele não foi capaz de sentir mais nada, não conseguia mais vê-la em suas lembranças, apenas o silêncio e o vazio. Deitou-se no chão frio do quarto, esperando acordar daquele terrível pesadelo.
— Como vou ser capaz de viver novamente sem você? — Ele chorou, se entregando por completo à dor. Nada mais importava em sua vida. Tudo o que importava já não estava mais ali. Lançou um último olhar para a cama e gritou em desespero, não tendo forças para se levantar daquele chão. Apenas desejou que tudo aquilo fosse mentira, mas, ao longe, a viu sendo levada para longe dele. Gritou novamente por seu nome e, no minuto que passou, ele não sentiu mais nada. Apenas a dor e o vazio em seu coração.
Fim
Nota da autora: Complicado escrever alguma coisa com as músicas do MCR, principalmente quando a música ou não faz sentindo nenhum ou então é tudo depressão.
Confesso que pensei muito em mudar o final dessa fanfic, mas depois analisando a única coisa que tinha que acontecer era exatamente isso. Minha primeira morte e última, sofri demais escrevendo essa última cena. Ainda to com o coração apertado só imaginando o que vai ser do PP e a culpa que ele vai carregar pelo resto da vida.
Espero que vocês gostem dessa fanfic. Apesar da dor é uma historia que eu gostei de escrever.
Muitos beijos e abraços. Curtam e comentem sempre que possível.
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Outras Fanfics:
FICSTAPES:
01. Call Me Baby [FICSTAPE #062: EXO – Exodus]
03. Best Of Me [FICSTAPE #070: BTS – Love Yourself: Her]
03. This Is How I Disappear [FICSTAPE #068: My Chemical Romance – The Black Parade]
03. You Are [FICSTAPE #104: GOT7 - 7 for 7]
04. Permanent Vacation [FICSTAPE #067: 5SOS -Sounds Good Feels Good]
05. Butterfly [FICSTAPE #103: BTS - Young Forever]
05. Stigma [FICSTAPE #080: BTS – You Never Walk Alone]
05. I'm Sorry [FICSTAPE #084: The Maine – Pioneer]
07. Let’s Dance [FICSTAPE #065: Super Junior – Mamacita]
10. Fire [FICSTAPE #103: BTS - Young Forever]
SHORTFICS:
Hug Me [Doramas – Shortfics]
It's You [EXO – Shortfics]
MUSIC VIDEO:
MV: Don't Forget [Music Video - KPOP]
MV: One More Chance [Music Video - KPOP]
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EM ANDAMENTO:
Fake Love [KPOP - BTS – Em Andamento]
I NEED U [KPOP – Restritas – Em Andamento]
Love Is Not Over [KPOP – Restritas – Em Andamento]
Let Me Know [KPOP – Restritas – Em Andamento]
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Time To Love [KPOP - BTS – Em Andamento]
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