Capítulo 1
FLASHBACK
A chuva começou a cair do lado de fora e a janela ficou entreaberta, na inútil esperança de que o vento entrasse e levasse aquele perfume, que estava por todos os lados do quarto principal do casal. tinha o hábito de deixar o cheiro daquele perfume espalhado durante dias. Mesmo sabendo que ele não estava em casa, ela conseguia saber o exato momento em que ele tinha saído e usado o único perfume que ela tinha dado para ele de presente no último Natal.
Talvez fosse algo da sua imaginação, ou às vezes estava ficando impressionada e com saudades dele, mas o cheiro hoje estava tão sufocante que ela nem ao menos conseguiu respirar direito ao entrar no quarto e acender as luzes. Passou os olhos lentamente por cada parte daquele cômodo, indo da cama para o sofá e do sofá para a pequena mesa que ficava no canto esquerdo. Em cima da mesa, o notebook, livros e enormes pilhas de estudos que estava fazendo nos últimos meses. Ela sentou na beirada da cama. Com parte do seu cabelo no ombro e a claridade, dava para notar que sua pele estava muito mais pálida e os olhos, inchados de tanto chorar.
Aquele era o 5º dia consecutivo que fazia a mesma coisa ao chegar do hospital. Colocava o jaleco para lavar, a comida para esquentar e subia para o quarto, com o coração apertado, na esperança que ele tivesse voltado para a casa. Nada. O que ela encontrava era apenas o vazio do lugar, a tristeza e a dor por não saber onde ele estava e nem o que levou o marido a desaparecer daquela maneira. Sua última recordação foi dele despedindo-se dela antes de entrar na última cirurgia da madrugada no Cheil General Hospital. Ele estava tão tranquilo que essa cirurgia seria um sucesso que nem ao menos se preocupou durante a semana, como normalmente fazia ao saber que seu paciente era um garoto de apenas cinco anos de idade. Ao contrário de muitos, ele sempre teve o sorriso em seu rosto antes de entrar para a sala de cirurgia e acreditava que, sorrindo daquela maneira, demonstrava confiança, amor e tranquilidade para o paciente e principalmente para a família, que esperava por novidades sobre o fim da cirurgia. Sendo assim, daquele jeito e daquela maneira, ninguém questionava que fosse o melhor neurocirurgião daquele país.
Todas aquelas lembranças começaram a deixar sua respiração mais pesada, e ela inflou o peito, buscando por ar quando viu uma foto dele no porta-retratos na cômoda ao lado da cama. Lentamente, decidiu fechar os olhos, deixando que as lágrimas começassem a escorrer por toda a extensão do seu rosto. Queria buscar por um lugar onde fosse possível livrar-se de todas aquelas recordações, sensações e lembranças. Mas tudo ali naquele quarto, naquela casa, naquele lugar, tudo o lembrava.
Naquele dia, depois de três meses sem , ela não sentia mais as mãos quentes e nem o corpo respondendo à sensação de frio que entrava pela janela, deixando o ambiente quase congelante. Em especial, naquele dia, o frio não causava nenhum efeito, nenhuma dor, nenhuma sensação, e tudo o que ela conseguia sentir era aquela tristeza, saudades e uma frustração por não saber as razões que o levou a abandonar sua família. Nove anos de um relacionamento foram jogados de lado, e ela não conseguia aceitar que ele nem sequer pensou nela e em , filho do casal, de apenas dois anos de idade. Ao lembrar-se de chorando à noite, chamando pelo pai, foi o auge do seu desespero. Ele não conseguia dormir direito naqueles últimos três meses, sentindo falta do pai, que insistia em todas as noites colocá-lo para dormir. A rotina na casa à noite era levando para o quarto e ficando horas ao lado do berço da criança, conversando, cantando e só saía dali quando tivesse a certeza de que o garoto dormia profundamente. E aquela rotina não existia mais. Não existia mais para levá-lo para o quarto, cantar sua música preferida ou então ficar apenas parado, acariciando sua bochecha e afagando seu cabelo para que ele pegasse no sono. estava sozinho. A única pessoa da casa que o colocava para dormir era ela, e a criança sabia que não era o bastante. Ele queria o pai. Era dele que sentia saudades, do pai que o abandonou.
Um soluço quebrou o silêncio do quarto e uma rajada de vento a fez acordar daquele momento inconsciente. Tudo o que sentiu e todas as alegrias que viveram estavam ali, marcadas naquela casa. Ela não podia correr, se esconder ou não sentir aquela angústia no peito. Tudo ali pertencia a ele. Seu coração, seu amor, seu filho e todas as conquistas durante ao longo dos anos. O coração ficou a cada minuto mais apertado, e a saudade surgiu como uma onda de choque por toda a parte do seu corpo.
— Idiota. Babaca. Cretino. — Ela xingou baixinho para que somente ela pudesse ouvir. Era isso que merecia. Ser xingado de idiota, babaca e todos os outros xingamentos possíveis que existissem no mundo. Somente uma pessoa babaca para abandonar a família daquela maneira e sumir sem ao menos explicar o que aconteceu. Só uma pessoa cretina para deixar o filho, esposa e carreira de sucesso daquela forma. Não existia explicação, não existiam limites ou compreensão para ele naquele momento.
END FLASHBACK
Cinco anos depois…
A escola nunca fora um problema para e muito menos para , que sempre sentiu um imenso orgulho do filho. O garoto, de apenas cinco anos de idade, sempre foi muito dedicado, educado e, na maior parte do tempo, gentil com os amigos e familiares. , ao contrário de todos os julgamentos de parentes e amigos, não cresceu sendo um garoto rebelde e problemático com a ausência do pai. Ele sempre foi a luz no fim de um dia triste, e não conseguia descrever a felicidade que era ter o seu bem mais precioso completando mais um ano de vida daqui a algumas horas. O grande problema em todo aniversário sempre foi a situação complicada e chata para o filho ignorar os comentários maldosos dos amigos sobre não ter a presença masculina do pai para ajudá-lo a assoprar as velas do bolo. O choro acabava sendo inevitável e o coração de uma criança, despedaçado, com a sombra de nunca ter conhecido o pai e por nunca ter compartilhado aquele dia tão importante com ele.
— Como eu vou fazer com tudo isso, ? — jogou as caixas em cima da mesa, já não suportando mais o peso daquela angústia. — Daqui a algumas horas é aniversário do , e eu só quero uma festa e linda maravilhosa para o meu filho. — Ela estava exausta de tanto enfeitar, correr de um lado para o outro daquele enorme salão de festas do condomínio.
— , você tem que aguentar um pouco mais e não começar a surtar toda vez que chega perto do aniversário do . — gentilmente estendeu a mão, colocando em cima do ombro da amiga. — Ficou tudo maravilhoso e lindo. Não precisa entrar em parafuso e surtar dessa maneira. vai amar, todo mundo vai amar e, no fim do dia, tudo vai ficar bem. — Gentilmente sorriu para que a amiga não ficasse tão afobada daquela maneira.
— E se ele me perguntar de novo sobre o ? — Exausta e deprimida com a situação, ela jogou-se no banco, cobrindo o rosto com as mãos. — Mais um aniversário e ele não aparece. Não sei nada sobre o , não sei como ainda consigo pensar nele e em todo o sofrimento que causa na minha vida e na vida do . — Desabafando, não conseguindo esconder mais a tristeza e nem a frustração com aquilo, chorou em silêncio, para não chamar a atenção de ninguém que estava organizando os últimos detalhes no salão. — Como eu queria, . Queria acreditar que quando estivéssemos cantando parabéns, o surgisse de algum canto e abraçasse o filho. Não queria mais nada no mundo a não ser esse momento único acontecendo entre os dois. — Com as lágrimas agora cobrindo parte do rosto, ela respirou fundo, desejando novamente que aquele sonho se tornasse realidade. — É pedir demais? Pedir para que o pai fique com o filho no aniversário? Pedir para que ele volte para a casa e que explique o que aconteceu todos esses anos? Por que ele fez tudo isso e abandonou uma criança inocente? — questionou, perdendo a lucidez e o controle de todo o corpo. — Eu o odeio, odeio por tudo o que ele fez e por todas essas lágrimas que eu sinto toda vez que penso nele!
— Mamãe? — A voz de surgiu um pouco mais distante, deixando os dois em choque, com medo que ele pudesse ter escutado toda a conversa. — Não gosto quando você fala que sente ódio do papai… — passou as costas das mãos pelo rosto, escondendo da mãe as lágrimas. — Papai é meu desejo de aniversário… — O garoto caminhou na direção deles, passando os braços em volta da cintura da mulher. — Eu ainda posso esperar por ele? Ele vai aparecer como no seu sonho? — Ele esperou atentamente a resposta da mãe. — Quando eu assoprar as velinhas e abrir os olhos, o papai vai aparecer? — A inocência na pergunta do filho fez todo aquele momento ficar mais dolorido e um gatilho explodir dentro do corpo dela. fechou os olhos, buscando controlar o coração e o corpo, que começou involuntariamente a liberar um tremor impossível de controlar.
— , seu pai está com você todos os dias. Dentro do seu coração e em todos os seus sonhos. — disse, calmo, notando a falta de palavras de e todo aquele surto começando a aparecer. — Pequeno, sabe quem é a luz do papai? — O homem sentou-se no chão, trazendo o garoto para o colo, onde podia conversar com ele enquanto tentava recuperar pelo menos o fôlego.
— Eu sou a luz do papai. — colocou uma das mãos no rosto envergonhado e depois sorriu bem feliz. — Papai sabe que ele é minha luz também? — Olhando para , , curioso, procurou saber mais sobre o pai.
— Claro que o sabe que é sua luz. — Ele rapidamente respondeu, esfregando o cabelo do garoto de um lado para o outro. — O seu desejo é o bem mais precioso deste mundo. Não desista de pedir e nem de sonhar, pequeno. — Os braços de passaram ao redor do garoto, que o abraçou também de maneira carinhosa.
— Nunca vou deixar de sonhar com o papai. — respondeu, afundando o rosto no peito do homem. — Papai vai encontrar a minha luz e voltar para casa. A mamãe precisa sonhar isso. — As palavras do garoto foram o fim para aquele assunto, que não deixou outro sentimento a não ser a saudades e a esperança de que, em algum momento, voltasse para a vida deles.
A chuva começou a cair do lado de fora e a janela ficou entreaberta, na inútil esperança de que o vento entrasse e levasse aquele perfume, que estava por todos os lados do quarto principal do casal. tinha o hábito de deixar o cheiro daquele perfume espalhado durante dias. Mesmo sabendo que ele não estava em casa, ela conseguia saber o exato momento em que ele tinha saído e usado o único perfume que ela tinha dado para ele de presente no último Natal.
Talvez fosse algo da sua imaginação, ou às vezes estava ficando impressionada e com saudades dele, mas o cheiro hoje estava tão sufocante que ela nem ao menos conseguiu respirar direito ao entrar no quarto e acender as luzes. Passou os olhos lentamente por cada parte daquele cômodo, indo da cama para o sofá e do sofá para a pequena mesa que ficava no canto esquerdo. Em cima da mesa, o notebook, livros e enormes pilhas de estudos que estava fazendo nos últimos meses. Ela sentou na beirada da cama. Com parte do seu cabelo no ombro e a claridade, dava para notar que sua pele estava muito mais pálida e os olhos, inchados de tanto chorar.
Aquele era o 5º dia consecutivo que fazia a mesma coisa ao chegar do hospital. Colocava o jaleco para lavar, a comida para esquentar e subia para o quarto, com o coração apertado, na esperança que ele tivesse voltado para a casa. Nada. O que ela encontrava era apenas o vazio do lugar, a tristeza e a dor por não saber onde ele estava e nem o que levou o marido a desaparecer daquela maneira. Sua última recordação foi dele despedindo-se dela antes de entrar na última cirurgia da madrugada no Cheil General Hospital. Ele estava tão tranquilo que essa cirurgia seria um sucesso que nem ao menos se preocupou durante a semana, como normalmente fazia ao saber que seu paciente era um garoto de apenas cinco anos de idade. Ao contrário de muitos, ele sempre teve o sorriso em seu rosto antes de entrar para a sala de cirurgia e acreditava que, sorrindo daquela maneira, demonstrava confiança, amor e tranquilidade para o paciente e principalmente para a família, que esperava por novidades sobre o fim da cirurgia. Sendo assim, daquele jeito e daquela maneira, ninguém questionava que fosse o melhor neurocirurgião daquele país.
Todas aquelas lembranças começaram a deixar sua respiração mais pesada, e ela inflou o peito, buscando por ar quando viu uma foto dele no porta-retratos na cômoda ao lado da cama. Lentamente, decidiu fechar os olhos, deixando que as lágrimas começassem a escorrer por toda a extensão do seu rosto. Queria buscar por um lugar onde fosse possível livrar-se de todas aquelas recordações, sensações e lembranças. Mas tudo ali naquele quarto, naquela casa, naquele lugar, tudo o lembrava.
Naquele dia, depois de três meses sem , ela não sentia mais as mãos quentes e nem o corpo respondendo à sensação de frio que entrava pela janela, deixando o ambiente quase congelante. Em especial, naquele dia, o frio não causava nenhum efeito, nenhuma dor, nenhuma sensação, e tudo o que ela conseguia sentir era aquela tristeza, saudades e uma frustração por não saber as razões que o levou a abandonar sua família. Nove anos de um relacionamento foram jogados de lado, e ela não conseguia aceitar que ele nem sequer pensou nela e em , filho do casal, de apenas dois anos de idade. Ao lembrar-se de chorando à noite, chamando pelo pai, foi o auge do seu desespero. Ele não conseguia dormir direito naqueles últimos três meses, sentindo falta do pai, que insistia em todas as noites colocá-lo para dormir. A rotina na casa à noite era levando para o quarto e ficando horas ao lado do berço da criança, conversando, cantando e só saía dali quando tivesse a certeza de que o garoto dormia profundamente. E aquela rotina não existia mais. Não existia mais para levá-lo para o quarto, cantar sua música preferida ou então ficar apenas parado, acariciando sua bochecha e afagando seu cabelo para que ele pegasse no sono. estava sozinho. A única pessoa da casa que o colocava para dormir era ela, e a criança sabia que não era o bastante. Ele queria o pai. Era dele que sentia saudades, do pai que o abandonou.
Um soluço quebrou o silêncio do quarto e uma rajada de vento a fez acordar daquele momento inconsciente. Tudo o que sentiu e todas as alegrias que viveram estavam ali, marcadas naquela casa. Ela não podia correr, se esconder ou não sentir aquela angústia no peito. Tudo ali pertencia a ele. Seu coração, seu amor, seu filho e todas as conquistas durante ao longo dos anos. O coração ficou a cada minuto mais apertado, e a saudade surgiu como uma onda de choque por toda a parte do seu corpo.
— Idiota. Babaca. Cretino. — Ela xingou baixinho para que somente ela pudesse ouvir. Era isso que merecia. Ser xingado de idiota, babaca e todos os outros xingamentos possíveis que existissem no mundo. Somente uma pessoa babaca para abandonar a família daquela maneira e sumir sem ao menos explicar o que aconteceu. Só uma pessoa cretina para deixar o filho, esposa e carreira de sucesso daquela forma. Não existia explicação, não existiam limites ou compreensão para ele naquele momento.
END FLASHBACK
Cinco anos depois…
A escola nunca fora um problema para e muito menos para , que sempre sentiu um imenso orgulho do filho. O garoto, de apenas cinco anos de idade, sempre foi muito dedicado, educado e, na maior parte do tempo, gentil com os amigos e familiares. , ao contrário de todos os julgamentos de parentes e amigos, não cresceu sendo um garoto rebelde e problemático com a ausência do pai. Ele sempre foi a luz no fim de um dia triste, e não conseguia descrever a felicidade que era ter o seu bem mais precioso completando mais um ano de vida daqui a algumas horas. O grande problema em todo aniversário sempre foi a situação complicada e chata para o filho ignorar os comentários maldosos dos amigos sobre não ter a presença masculina do pai para ajudá-lo a assoprar as velas do bolo. O choro acabava sendo inevitável e o coração de uma criança, despedaçado, com a sombra de nunca ter conhecido o pai e por nunca ter compartilhado aquele dia tão importante com ele.
— Como eu vou fazer com tudo isso, ? — jogou as caixas em cima da mesa, já não suportando mais o peso daquela angústia. — Daqui a algumas horas é aniversário do , e eu só quero uma festa e linda maravilhosa para o meu filho. — Ela estava exausta de tanto enfeitar, correr de um lado para o outro daquele enorme salão de festas do condomínio.
— , você tem que aguentar um pouco mais e não começar a surtar toda vez que chega perto do aniversário do . — gentilmente estendeu a mão, colocando em cima do ombro da amiga. — Ficou tudo maravilhoso e lindo. Não precisa entrar em parafuso e surtar dessa maneira. vai amar, todo mundo vai amar e, no fim do dia, tudo vai ficar bem. — Gentilmente sorriu para que a amiga não ficasse tão afobada daquela maneira.
— E se ele me perguntar de novo sobre o ? — Exausta e deprimida com a situação, ela jogou-se no banco, cobrindo o rosto com as mãos. — Mais um aniversário e ele não aparece. Não sei nada sobre o , não sei como ainda consigo pensar nele e em todo o sofrimento que causa na minha vida e na vida do . — Desabafando, não conseguindo esconder mais a tristeza e nem a frustração com aquilo, chorou em silêncio, para não chamar a atenção de ninguém que estava organizando os últimos detalhes no salão. — Como eu queria, . Queria acreditar que quando estivéssemos cantando parabéns, o surgisse de algum canto e abraçasse o filho. Não queria mais nada no mundo a não ser esse momento único acontecendo entre os dois. — Com as lágrimas agora cobrindo parte do rosto, ela respirou fundo, desejando novamente que aquele sonho se tornasse realidade. — É pedir demais? Pedir para que o pai fique com o filho no aniversário? Pedir para que ele volte para a casa e que explique o que aconteceu todos esses anos? Por que ele fez tudo isso e abandonou uma criança inocente? — questionou, perdendo a lucidez e o controle de todo o corpo. — Eu o odeio, odeio por tudo o que ele fez e por todas essas lágrimas que eu sinto toda vez que penso nele!
— Mamãe? — A voz de surgiu um pouco mais distante, deixando os dois em choque, com medo que ele pudesse ter escutado toda a conversa. — Não gosto quando você fala que sente ódio do papai… — passou as costas das mãos pelo rosto, escondendo da mãe as lágrimas. — Papai é meu desejo de aniversário… — O garoto caminhou na direção deles, passando os braços em volta da cintura da mulher. — Eu ainda posso esperar por ele? Ele vai aparecer como no seu sonho? — Ele esperou atentamente a resposta da mãe. — Quando eu assoprar as velinhas e abrir os olhos, o papai vai aparecer? — A inocência na pergunta do filho fez todo aquele momento ficar mais dolorido e um gatilho explodir dentro do corpo dela. fechou os olhos, buscando controlar o coração e o corpo, que começou involuntariamente a liberar um tremor impossível de controlar.
— , seu pai está com você todos os dias. Dentro do seu coração e em todos os seus sonhos. — disse, calmo, notando a falta de palavras de e todo aquele surto começando a aparecer. — Pequeno, sabe quem é a luz do papai? — O homem sentou-se no chão, trazendo o garoto para o colo, onde podia conversar com ele enquanto tentava recuperar pelo menos o fôlego.
— Eu sou a luz do papai. — colocou uma das mãos no rosto envergonhado e depois sorriu bem feliz. — Papai sabe que ele é minha luz também? — Olhando para , , curioso, procurou saber mais sobre o pai.
— Claro que o sabe que é sua luz. — Ele rapidamente respondeu, esfregando o cabelo do garoto de um lado para o outro. — O seu desejo é o bem mais precioso deste mundo. Não desista de pedir e nem de sonhar, pequeno. — Os braços de passaram ao redor do garoto, que o abraçou também de maneira carinhosa.
— Nunca vou deixar de sonhar com o papai. — respondeu, afundando o rosto no peito do homem. — Papai vai encontrar a minha luz e voltar para casa. A mamãe precisa sonhar isso. — As palavras do garoto foram o fim para aquele assunto, que não deixou outro sentimento a não ser a saudades e a esperança de que, em algum momento, voltasse para a vida deles.
Capítulo 2
retirou algumas caixas de cima do guarda-roupa e, sem sequer esperar, um álbum fotográfico caiu no chão, espalhando todo o conteúdo pelo quarto. Ele correu os olhos por todas as fotos no chão, não recordando o motivo que o levou a guardá-lo naquele local.
Não seria novidade ele não recordar de muitas coisas, mas o motivo exato para esconder algo daquela maneira foi o que deixou mais ansioso. Ele não seria capaz de esconder algo assim se realmente não fosse importante, ou então algo que ele estivesse tentando proteger dele mesmo. Aquela confusão mental e aquela ansiedade começaram a percorrer o seu sistema, e uma tremedeira surgiu em suas pernas, não deixando que ele fosse capaz de continuar naquela mesma posição.
— O que é tudo isso? Por que eu não me lembro? — Questionando os motivos e buscando em sua curta memória, ele apenas observou com as mãos no queixo todas as fotos espalhadas. Pessoas estranhas, crianças estranhas, jovens, adultos e lugares que nunca tinha visto na vida. E, de repente, uma breve olhada para uma foto de uma garota sentada em um balanço, o sorriso lindo e perfeito, fez seu coração bater rapidamente, e todos os seus músculos ficaram tensos com aquele contato visual. Quem era? Por que estava ficando daquela maneira com os passar dos minutos?
— Quem é você? — Ele perguntou em voz alta, não conseguindo coragem para tirar aquela foto do chão. O olhar dela e aquele sorriso fizeram o seu mundo girar, e precisou de apoio do corpo no guarda-roupa para que não caísse. — Você é a garota dos meus sonhos? Da voz na minha cabeça? É você? — Ele não a conhecia ou talvez apenas não se lembrava dela. E, naquele momento, aquele sorriso estava fazendo todos os seus sentidos ficarem confusos e sua cabeça latejar.
Uma voz, apenas uma voz conseguia recordar em meio à multidão, e ele não tinha certeza se era a mesma voz daquela garota. Parte do seu coração gritava que todos os seus sonhos e pesadelos estavam bem diante dos seus olhos, e aquele olhar... Aquele olhar era familiar, doce e eterno. Naquele olhar, ele sabia que conseguia se perder e viajar em todas as vagas lembranças que restaram do seu passado. Ela? Ela era uma lembrança? Sua melhor lembrança?
— Como eu posso sentir meu coração doer dessa maneira e sentir essa saudade por alguém que não conheço? Como é possível eu ficar impressionado com esse sorriso? — Confuso e perdido ao turbilhão de sentimentos, que começaram a percorrer do seu cérebro para toda a extensão do corpo, e impulsos involuntários misturados com sensações estranhas, que não soube controlar, o fizeram jogar o corpo para trás, buscando outro móvel do quarto para apoiar-se. — O seu sorriso é algo que consegue fazer meu coração vacilar dessa maneira. Quem é você na minha vida? Por que eu sinto que te conheço e te amo? — O coração não respondia mais ao seu comando, e ele sentia a intensidade daquele sentimento crescer conforme a imagem dela surgia em seus pensamentos. O sorriso, o olhar e um jardim enorme com um balanço em uma laranjeira formaram diante dos seus olhos, e precisou desesperadamente buscar por ar para conseguir respirar direito com aquela recordação. — É você, eu sei que é você! — Uma lágrima começou a escorrer por seu rosto e ele travou uma das mãos, não controlando a vontade desesperada que surgiu de chorar por aquela garota. — Por que eu não me lembro de você, garota? Por que eu estou chorando e sentindo que eu te amo tanto? — Lentamente, ele fechou os olhos, não conseguindo mantê-los mais abertos. A dor invadiu seu peito, e ele não foi capaz de negar que, pela primeira, vez o seu mundo estivesse começando a desabar. Ela tinha um significado e uma importância em sua vida e uma parte muito importante para que seu corpo reagisse dessa maneira, não era como se fosse apenas uma lembrança qualquer. Era a sua busca e o seu ponto fraco?
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Duas semanas depois…
O consultório e todos aqueles detalhes brancos das paredes conseguiram deixar o ambiente sufocante para , que esperava, ansioso, para a sua consulta mensal. O letreiro na porta parecia mais brilhante naquela manhã e as letras mostrando o nome do Dr. Tan Chen fez um contraste ao resto das letras embaixo, que apresentavam a especialidade que antes ele exercia e hoje não era capaz nem ao menos de recordar o que era ser um neurologista. Chen guardou anos atrás todas as informações em um pendrive para que, quando passasse pela pior fase da doença, pudesse ao menos lembrar algumas coisas importantes do seu passado. Profissão, ambição, família e até mesmo recordações de momentos que, com certeza, iriam ajudá-lo a enfrentar tudo o que estava apenas começando. E, mesmo depois de dois anos, ele não conseguia aceitar que suas lembranças e todos os momentos que vivera estavam ficando vagos em sua cabeça. O seu cérebro, que antes era usado para operar, cuidar e ajudar as pessoas, estava ficando reduzido a apenas flashbacks e fragmentos de uma vida que ele não conseguia mais lembrar. Hoje, ele não tinha passado, presente e muito menos futuro. era apenas uma pessoa sem esperança, sem recordações e isolado do resto do mundo para que não sofressem com ele aquela doença, que, a cada dia, levava uma parte de sua vida.
— E o que vai acontecer comigo quando eu não me lembrar de mais nada, doutor? — , frustrado, fez a pergunta que tanto lutara naquelas últimas semanas para esquecer. O que aconteceria com a sua vida se ele esquecesse por completo de todas as outras coisas importantes?
— , a Neurostigma é uma doença muito complexa e, como você não deve recordar muita coisa sobre ela quando trabalhou na área e em pesquisas, a Neurostigma vem crescendo conforme os anos, e muitas pessoas estão ficando com estados clínicos bem avançados. — Tan Chen começou a explicar ao vê-lo tão absorto e perdido com aqueles acontecimentos e explicações. , naquele momnto, parecia não somente perdido, como também bastante confuso, sem saber exatamente o que estava fazendo ali no consultório. — O que pode acontecer com você é somente cada dia menos você se lembrar da sua vida, recordações, lembranças e, aos poucos, o que você viveu em dois, três, quatro anos atrás vão desaparecer. Seu cérebro só vai ser capaz de absorver e guardar os acontecimentos recentes. — A voz de Tan Chen ficou triste de repente, e os olhos de vagaram para a lâmpada no teto. Ele tentou buscar pela atenção dele e, com uma batida levemente na mesa, voltou a sua concentração para os olhos do doutor. — , aconteceu alguma coisa? Você tem sentido alguma coisa diferente?
— Lembranças, Doutor. Eu tive lembranças quando eu olhei para uma foto no chão. — Ele disse rapidamente, querendo contar para ele a novidade que estava guardando durante as semanas. — Sem querer, eu vi uma foto e, de repente, fechei os olhos e comecei a me lembrar do balanço, da garota e do cheiro de flores que tinha nesse jardim. — Animado, ele mexeu levemente no cabelo, e, pela primeira vez, Tan Chen viu um sorriso surgir em seu rosto. Há exatamente um ano e meio não conseguia enxergar um sorriso no rosto dele e ainda lembrava de como surgira em seu escritório procurando por ajuda. — Tan, eu sinto que às vezes consigo lembrar e escutar algumas vozes, mas eu não sei de quem são ou que lembranças são essas. Minha cabeça fica tão confusa e começa a doer muito quando me esforço dessa maneira.
— Isso é maravilhoso, . — Tan comemorou, realmente conseguindo notar uma diferença em seu paciente. Ele não estava mais perdido ou confuso. apenas sentia a vontade de entender por que, de repente, pequenas lembranças começaram a voltar dessa maneira. — Me conte, o que mais você tem lembrado? O que você anda sentindo? Como são seus sonhos e com que frequência você vem tendo esses lapsos de memórias? — Ele quis saber, curioso para todos os detalhes. Todos os avanços da Neurostigma eram discutidos pela academia de neurologistas e neurocirurgiões de diversos países pelo mundo. O estudo era bem complexo, cheio de dúvidas e curiosidades sobre o comportamento de pessoas que passaram a desenvolver a perda de memória consciente e todas as variações de humor que ela passava durante o período em que se iniciava o tratamento. Tan Chen não tinha informações sobre a volta repentina de lembranças e fragmentos assim de um paciente diagnosticado e em fase de tratamento. Talvez fosse o medicamento, ou então algum outro quadro que estivesse desenvolvendo com o contato direto com lembranças visuais de algumas coisas que causaram uma comoção e esforço maior em seu cérebro.
— Quando eu fecho os olhos, eu consigo escutar a doce voz dela... É como se eu tivesse ao seu lado, ouvindo como ela pronuncia as palavras pausadamente, o som da boca se movendo e toda a melodia de uma simples frase. — Ele fechou os olhos naquele momento, deixando que aquelas lembranças começassem a voltar aos poucos. Em sua cabeça, o rosto da garota da foto, o jardim e, agora, uma nova lembrança surgiram, deixando os seus olhos úmidos. — Eu consigo ver o rosto dela, consigo enxergar esse jardim, e ela parada bem na minha frente, segurando a minha mão. Ela está vestida de branco e, em sua cabeça, um arranjo floral. O perfume que sai dela é adocicado, sua pele é macia e o toque dos seus dedos me causa um arrepio por toda a extensão das minhas costas. — foi contando o que estava lembrando, e Tan Chen não atrapalhou aquele delírio, prestando atenção ao máximo em todos os detalhes que ele passava. — Agora ela está sorrindo. Esse sorriso derrete meu coração e me causa um desconforto no peito. Sinto saudades desse sorriso, desse olhar e de saber o que essa garota representa na minha vida. A afeição, a paixão que ela me olha é algo que eu não consigo conter as lágrimas.
— Quem é ela, ? Tente se lembrar. — Tan Chen cortou o silêncio, com as duas mãos pressionadas contra a mesa. — Olhe ao seu redor e tente ver se lembra desse momento. O que tem mais nessa cena que te chama a atenção?
— Eu consigo ouvir uma voz me chamando e sussurrando bem ao longe algumas coisas. — Ele fez uma pausa, entortando um pouco a cabeça e se esforçando para lembrar um pouco mais dos pequenos detalhes daquela cena. O sol estava bem no alto, e o jardim parecia ser um lugar que já tinha visitado em algum momento. Ele conseguia reconhecer aos poucos o canto dos pássaros, o vento forte e a posição que ele estava segurando a mão dela. — Ela, o nome dela. Qual o nome dela? — O ar começou a faltar do seu pulmão, e voltou a chorar com mais força, querendo ser capaz de escutar o nome da garota. — Qual seu nome? Fala comigo.
— , não se esforce…
— Você me ama? — Ele abaixou a cabeça, agora forçando os olhos. — Me ama? Eu também te amo. — respondia como se estivesse em um sonho. Tan Chen ficou tenso por alguns segundos, esperando que ele voltasse aos poucos daquela lembrança. Mesmo sabendo que isso era uma descoberta, ele entendia que pouco a pouco estava começando a lembrar de acontecimentos importantes e que talvez aquela lembrança fosse de sua esposa em seu casamento. — Eu te amo. Sei disso e sei que vamos ficar juntos pelo resto das nossas vidas, amor.
— …
— Eu amo.
— ! — Tan Chen alterou um pouco a voz, e ele abriu os olhos, assustado, olhando em volta da sala. — Respire fundo, ok? Apenas respire e volte lentamente para o presente.
— Doutor, eu preciso lembrar se essa garota é minha mulher. — Ele segurou firme, movendo o corpo para frente e olhando para dentro dos olhos de Tan. — Preciso saber quem é ela. Meu coração fica em uma pulsação fora do normal sempre que eu olho para ela dessa maneira. Não é algo que eu estou inventando, é algo que eu sei que aconteceu na minha vida. Algo que eu esqueci, algo que foi importante, e eu não tenho essa recordação. O que eu faço? Onde ela está? Por que eu não estou com ela? — O desespero, a busca e a confusão em seu olhar deixaram Tan Chen apreensivo. Ele não soube o que falar, e o único conselho que teve para ele foi que se acalmasse e que desse um tempo para esse esforço. A agitação, naquele momento, não era algo que fosse ajudar em nada, a não ser que ele tivesse várias crises e insônia na esperança e luta para se lembrar daquela garota. O que mais o deixou apreensivo foi todos os ricos detalhes que ele tinha descrito a cena. O avanço inesperado do seu quadro clínico era algo importante para ser discutido com seus colegas. Por mais que fossem sintomas pequenos, o quadro dele estava mudando, e a variação de humor, ficando cada vez mais constante. E o que estaria acontecendo com aqueles escapes? Ele estava realmente se lembrando de algo ou eram memórias que estavam próximas de serem esquecidas? O que causaria a se ele encontrasse com essa garota? Afinal, quem era ela?
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A forte dor de cabeça impossibilitou de ir trabalhar no café La Maison, que o tio era dono há mais de dez anos e um dos mais frequentados por turistas no inverno rigoroso de Quebec. Aquele ano que passara com o tio fez com que ele tirasse o descanso necessário e iniciasse o tratamento em um dos países que mais tinha índices de pacientes com Neurostigma. acreditava que sua melhor opção era esconder aquela doença e procurar por ajuda onde ele sabia exatamente que teria os melhores tratamentos e opções de remédios, para evitar que suas lembranças e sua vida fossem apagadas por completo.
Quebec tinha acordado com a temperatura em -9 graus, e ele conseguia ver do lado de fora da janela pequenos flocos de neve caindo e pessoas correndo de um lado para o outro no parque Saint. Este era um lugar de refúgio sempre que precisava relaxar um pouco e ficar observando o mundo continuar a girar e o seu humor sair do estágio complicado, no qual conseguia sentir raiva e ódio por qualquer coisa simples que acontecesse no dia. Dah-Ko muitas vezes ficava preocupado com aquelas mudanças bruscas de humor e, às vezes, durante o dia, procurava para que pudesse verificar se estava tudo bem com ele. A preocupação do tio, que, naquele momento, era a sua única família, era o controle entre a sua realidade e as crises que tinha durante as fortes dores de cabeça.
O tratamento novo teve início no começo da semana, e ele conseguiu sentir a diferença no corpo com um simples comprimido amarelo. Antes suas mãos ficavam frias e vários espasmos surgiam por todos os lados sem que ele pudesse manter o controle, até mesmo do seu equilíbrio. A nova medicação trouxe alguns benefícios, e ele comemorou por conseguir novamente sentir o controle do próprio corpo. Isso evitaria que ele sentisse a fraqueza nos joelhos e caísse em qualquer lugar que não tivesse um apoio.
O remédio era forte, porém muito eficaz no dia a dia. Tan Chen, além de prescrever vários outros coquetéis, optou também por vários exercícios de concentração e físicos para que ele ocupasse a mente com outras coisas, para que não ficasse somente recluso à medicação e ao tratamento, que, com o passar dos meses, iam ficam mais severos, com o surgimento de várias novidades e estudos no caso da Neurostigma.
Dah-Ko tentava não demonstrar a preocupação. Entretanto, havia algo que era totalmente errado: sabia que o tio estava bastante preocupado e que, por inúmeras vezes, deixou de abrir o café, que era a única renda familiar deles, para ficar em casa cuidando das fortes crises que o sobrinho tinha. Em especial naquele dia, ele sabia que Dah-Ko não podia fechar o café, pela temporada de inverno ser a mais frequentada de toda Quebec.
— Tio, desculpa por ser uma dor de cabeça dessa maneira. — Ele, triste, abaixou os olhos, se sentindo um peso morto para Dah-Ko. Era esse sentimento que ele tentava evitar todos os dias. não queria sentir que seu mundo fosse diferente dos outros. Ele queria que fosse capaz de ter recordações passadas e que pudesse principalmente lembrar como era o seu antigo emprego. A única lembrança vaga que existia era de uma sala completamente branca e alguns aparelhos apitando ao longe. Dah-Ko sempre contava a história que ele era um grande médico, e isso causava um grande espanto em , por não saber se era a verdade ou uma criação do seu tio para que ele se sentisse melhor. Falando em tio, ele sabia que Dah-Ko chegaria a qualquer momento para o almoço e pensou em fazer algo gostoso para o mais velho. Pelo menos os seus dotes culinários ainda eram algo que podia explorar todos os dias. O almoço era algo sagrado para os dois, e sempre estava disposto a cozinhar para o tio. Naquele dia, não seria diferente. Iria para a cozinha preparar algo muito quente e saboroso para que Dah-Ko ficasse feliz.
— Quem guardou isso aqui? Será que foi o Dah-Ko? — Ele se assustou, tropeçando em uma caixa vermelha que estava no chão ao pé da cama. Interessado e curioso ao mesmo tempo com a presença daquela caixa, ele agachou-se lentamente, recolhendo-a com todo o cuidado do mundo e apoio na cama, para que pudesse ver o que tinha dentro dela. Rapidamente abriu, sem esperar qualquer outra surpresa, e se deparou com um celular preto, vários papéis espalhados e algumas pastas transparentes com vários nomes estranhos escritos. não soube de onde surgira aquele frenesi e, parecendo saber exatamente do que se tratava aqueles papéis, ele pegou todos com ambas as mãos, e uma tremedeira começou a percorrer o seu corpo. Ele sentou-se, abrindo pasta por pasta e percorrendo os olhos por todas as anotações.
Anotação: Neurostigma
A doença Neurostigma é uma doença hereditária que provoca a degeneração progressiva de células nervosas do cérebro. O distúrbio tem sido amplamente estudado nas últimas décadas e foi inclusive, em 1995, pouco mais de um ano depois do um ano após o primeiro caso oficial da doença, que os cientistas descobriram o gene causador da afecção. Localizado no cromossomo 3.
Anotação: Sintomas de Neurostigma
Os sinais e sintomas característicos da doença surgem em decorrência de perda progressiva de células nervosas, que ficam em uma parte específica do cérebro, os gânglios de base. Essa perda afeta a capacidade cognitiva (associada à memória, lembranças e aos pensamentos, por exemplo) e o equilíbrio emocional.
— Essa é minha letra. — Ele ficou chocado com a recordação de saber que tudo o que estava escrito ali tinha exatamente a sua caligrafia. Antes de tudo acontecer e antes de saber sobre a doença, em algum momento ele estava pesquisando e escrevendo sobre isso. O bloco de anotações e o celular chamaram a sua atenção, e ele pegou o aparelho com receio de descobrir alguma coisa que afetasse ainda mais as suas emoções. Descobrir que ele pesquisava sobre a doença e encontrar todas essas anotações fez com que sua cabeça começasse a doer novamente e, daquela vez, mais forte. — Eu realmente sou um médico? O que eu procurava com todas essas anotações? Será que eu consegui descobrir algo? — remexeu um pouco mais na caixa, descobrindo outras pastas e, agora, com nomes de pessoas e fotos que ele não conseguia reconhecer. Talvez fossem pessoas próximas, amigos ou até mesmo a família que o adotou quando tinha apenas cinco anos de idade. Ele sentia aquele vazio e aquela tristeza sempre por não se recordar como era o rosto da sua mãe. Dah-Ko contava histórias dela e diariamente ele surgia com algo novo para que ele pudesse ao menos ter a sensação de que alguém era familiar, um rosto ou até mesmo alguma imagem perdida em sua cabeça que pudesse trazer de volta a pequena sensação de aconchego e carinho.
Não seria novidade ele não recordar de muitas coisas, mas o motivo exato para esconder algo daquela maneira foi o que deixou mais ansioso. Ele não seria capaz de esconder algo assim se realmente não fosse importante, ou então algo que ele estivesse tentando proteger dele mesmo. Aquela confusão mental e aquela ansiedade começaram a percorrer o seu sistema, e uma tremedeira surgiu em suas pernas, não deixando que ele fosse capaz de continuar naquela mesma posição.
— O que é tudo isso? Por que eu não me lembro? — Questionando os motivos e buscando em sua curta memória, ele apenas observou com as mãos no queixo todas as fotos espalhadas. Pessoas estranhas, crianças estranhas, jovens, adultos e lugares que nunca tinha visto na vida. E, de repente, uma breve olhada para uma foto de uma garota sentada em um balanço, o sorriso lindo e perfeito, fez seu coração bater rapidamente, e todos os seus músculos ficaram tensos com aquele contato visual. Quem era? Por que estava ficando daquela maneira com os passar dos minutos?
— Quem é você? — Ele perguntou em voz alta, não conseguindo coragem para tirar aquela foto do chão. O olhar dela e aquele sorriso fizeram o seu mundo girar, e precisou de apoio do corpo no guarda-roupa para que não caísse. — Você é a garota dos meus sonhos? Da voz na minha cabeça? É você? — Ele não a conhecia ou talvez apenas não se lembrava dela. E, naquele momento, aquele sorriso estava fazendo todos os seus sentidos ficarem confusos e sua cabeça latejar.
Uma voz, apenas uma voz conseguia recordar em meio à multidão, e ele não tinha certeza se era a mesma voz daquela garota. Parte do seu coração gritava que todos os seus sonhos e pesadelos estavam bem diante dos seus olhos, e aquele olhar... Aquele olhar era familiar, doce e eterno. Naquele olhar, ele sabia que conseguia se perder e viajar em todas as vagas lembranças que restaram do seu passado. Ela? Ela era uma lembrança? Sua melhor lembrança?
— Como eu posso sentir meu coração doer dessa maneira e sentir essa saudade por alguém que não conheço? Como é possível eu ficar impressionado com esse sorriso? — Confuso e perdido ao turbilhão de sentimentos, que começaram a percorrer do seu cérebro para toda a extensão do corpo, e impulsos involuntários misturados com sensações estranhas, que não soube controlar, o fizeram jogar o corpo para trás, buscando outro móvel do quarto para apoiar-se. — O seu sorriso é algo que consegue fazer meu coração vacilar dessa maneira. Quem é você na minha vida? Por que eu sinto que te conheço e te amo? — O coração não respondia mais ao seu comando, e ele sentia a intensidade daquele sentimento crescer conforme a imagem dela surgia em seus pensamentos. O sorriso, o olhar e um jardim enorme com um balanço em uma laranjeira formaram diante dos seus olhos, e precisou desesperadamente buscar por ar para conseguir respirar direito com aquela recordação. — É você, eu sei que é você! — Uma lágrima começou a escorrer por seu rosto e ele travou uma das mãos, não controlando a vontade desesperada que surgiu de chorar por aquela garota. — Por que eu não me lembro de você, garota? Por que eu estou chorando e sentindo que eu te amo tanto? — Lentamente, ele fechou os olhos, não conseguindo mantê-los mais abertos. A dor invadiu seu peito, e ele não foi capaz de negar que, pela primeira, vez o seu mundo estivesse começando a desabar. Ela tinha um significado e uma importância em sua vida e uma parte muito importante para que seu corpo reagisse dessa maneira, não era como se fosse apenas uma lembrança qualquer. Era a sua busca e o seu ponto fraco?
Duas semanas depois…
O consultório e todos aqueles detalhes brancos das paredes conseguiram deixar o ambiente sufocante para , que esperava, ansioso, para a sua consulta mensal. O letreiro na porta parecia mais brilhante naquela manhã e as letras mostrando o nome do Dr. Tan Chen fez um contraste ao resto das letras embaixo, que apresentavam a especialidade que antes ele exercia e hoje não era capaz nem ao menos de recordar o que era ser um neurologista. Chen guardou anos atrás todas as informações em um pendrive para que, quando passasse pela pior fase da doença, pudesse ao menos lembrar algumas coisas importantes do seu passado. Profissão, ambição, família e até mesmo recordações de momentos que, com certeza, iriam ajudá-lo a enfrentar tudo o que estava apenas começando. E, mesmo depois de dois anos, ele não conseguia aceitar que suas lembranças e todos os momentos que vivera estavam ficando vagos em sua cabeça. O seu cérebro, que antes era usado para operar, cuidar e ajudar as pessoas, estava ficando reduzido a apenas flashbacks e fragmentos de uma vida que ele não conseguia mais lembrar. Hoje, ele não tinha passado, presente e muito menos futuro. era apenas uma pessoa sem esperança, sem recordações e isolado do resto do mundo para que não sofressem com ele aquela doença, que, a cada dia, levava uma parte de sua vida.
— E o que vai acontecer comigo quando eu não me lembrar de mais nada, doutor? — , frustrado, fez a pergunta que tanto lutara naquelas últimas semanas para esquecer. O que aconteceria com a sua vida se ele esquecesse por completo de todas as outras coisas importantes?
— , a Neurostigma é uma doença muito complexa e, como você não deve recordar muita coisa sobre ela quando trabalhou na área e em pesquisas, a Neurostigma vem crescendo conforme os anos, e muitas pessoas estão ficando com estados clínicos bem avançados. — Tan Chen começou a explicar ao vê-lo tão absorto e perdido com aqueles acontecimentos e explicações. , naquele momnto, parecia não somente perdido, como também bastante confuso, sem saber exatamente o que estava fazendo ali no consultório. — O que pode acontecer com você é somente cada dia menos você se lembrar da sua vida, recordações, lembranças e, aos poucos, o que você viveu em dois, três, quatro anos atrás vão desaparecer. Seu cérebro só vai ser capaz de absorver e guardar os acontecimentos recentes. — A voz de Tan Chen ficou triste de repente, e os olhos de vagaram para a lâmpada no teto. Ele tentou buscar pela atenção dele e, com uma batida levemente na mesa, voltou a sua concentração para os olhos do doutor. — , aconteceu alguma coisa? Você tem sentido alguma coisa diferente?
— Lembranças, Doutor. Eu tive lembranças quando eu olhei para uma foto no chão. — Ele disse rapidamente, querendo contar para ele a novidade que estava guardando durante as semanas. — Sem querer, eu vi uma foto e, de repente, fechei os olhos e comecei a me lembrar do balanço, da garota e do cheiro de flores que tinha nesse jardim. — Animado, ele mexeu levemente no cabelo, e, pela primeira vez, Tan Chen viu um sorriso surgir em seu rosto. Há exatamente um ano e meio não conseguia enxergar um sorriso no rosto dele e ainda lembrava de como surgira em seu escritório procurando por ajuda. — Tan, eu sinto que às vezes consigo lembrar e escutar algumas vozes, mas eu não sei de quem são ou que lembranças são essas. Minha cabeça fica tão confusa e começa a doer muito quando me esforço dessa maneira.
— Isso é maravilhoso, . — Tan comemorou, realmente conseguindo notar uma diferença em seu paciente. Ele não estava mais perdido ou confuso. apenas sentia a vontade de entender por que, de repente, pequenas lembranças começaram a voltar dessa maneira. — Me conte, o que mais você tem lembrado? O que você anda sentindo? Como são seus sonhos e com que frequência você vem tendo esses lapsos de memórias? — Ele quis saber, curioso para todos os detalhes. Todos os avanços da Neurostigma eram discutidos pela academia de neurologistas e neurocirurgiões de diversos países pelo mundo. O estudo era bem complexo, cheio de dúvidas e curiosidades sobre o comportamento de pessoas que passaram a desenvolver a perda de memória consciente e todas as variações de humor que ela passava durante o período em que se iniciava o tratamento. Tan Chen não tinha informações sobre a volta repentina de lembranças e fragmentos assim de um paciente diagnosticado e em fase de tratamento. Talvez fosse o medicamento, ou então algum outro quadro que estivesse desenvolvendo com o contato direto com lembranças visuais de algumas coisas que causaram uma comoção e esforço maior em seu cérebro.
— Quando eu fecho os olhos, eu consigo escutar a doce voz dela... É como se eu tivesse ao seu lado, ouvindo como ela pronuncia as palavras pausadamente, o som da boca se movendo e toda a melodia de uma simples frase. — Ele fechou os olhos naquele momento, deixando que aquelas lembranças começassem a voltar aos poucos. Em sua cabeça, o rosto da garota da foto, o jardim e, agora, uma nova lembrança surgiram, deixando os seus olhos úmidos. — Eu consigo ver o rosto dela, consigo enxergar esse jardim, e ela parada bem na minha frente, segurando a minha mão. Ela está vestida de branco e, em sua cabeça, um arranjo floral. O perfume que sai dela é adocicado, sua pele é macia e o toque dos seus dedos me causa um arrepio por toda a extensão das minhas costas. — foi contando o que estava lembrando, e Tan Chen não atrapalhou aquele delírio, prestando atenção ao máximo em todos os detalhes que ele passava. — Agora ela está sorrindo. Esse sorriso derrete meu coração e me causa um desconforto no peito. Sinto saudades desse sorriso, desse olhar e de saber o que essa garota representa na minha vida. A afeição, a paixão que ela me olha é algo que eu não consigo conter as lágrimas.
— Quem é ela, ? Tente se lembrar. — Tan Chen cortou o silêncio, com as duas mãos pressionadas contra a mesa. — Olhe ao seu redor e tente ver se lembra desse momento. O que tem mais nessa cena que te chama a atenção?
— Eu consigo ouvir uma voz me chamando e sussurrando bem ao longe algumas coisas. — Ele fez uma pausa, entortando um pouco a cabeça e se esforçando para lembrar um pouco mais dos pequenos detalhes daquela cena. O sol estava bem no alto, e o jardim parecia ser um lugar que já tinha visitado em algum momento. Ele conseguia reconhecer aos poucos o canto dos pássaros, o vento forte e a posição que ele estava segurando a mão dela. — Ela, o nome dela. Qual o nome dela? — O ar começou a faltar do seu pulmão, e voltou a chorar com mais força, querendo ser capaz de escutar o nome da garota. — Qual seu nome? Fala comigo.
— , não se esforce…
— Você me ama? — Ele abaixou a cabeça, agora forçando os olhos. — Me ama? Eu também te amo. — respondia como se estivesse em um sonho. Tan Chen ficou tenso por alguns segundos, esperando que ele voltasse aos poucos daquela lembrança. Mesmo sabendo que isso era uma descoberta, ele entendia que pouco a pouco estava começando a lembrar de acontecimentos importantes e que talvez aquela lembrança fosse de sua esposa em seu casamento. — Eu te amo. Sei disso e sei que vamos ficar juntos pelo resto das nossas vidas, amor.
— …
— Eu amo.
— ! — Tan Chen alterou um pouco a voz, e ele abriu os olhos, assustado, olhando em volta da sala. — Respire fundo, ok? Apenas respire e volte lentamente para o presente.
— Doutor, eu preciso lembrar se essa garota é minha mulher. — Ele segurou firme, movendo o corpo para frente e olhando para dentro dos olhos de Tan. — Preciso saber quem é ela. Meu coração fica em uma pulsação fora do normal sempre que eu olho para ela dessa maneira. Não é algo que eu estou inventando, é algo que eu sei que aconteceu na minha vida. Algo que eu esqueci, algo que foi importante, e eu não tenho essa recordação. O que eu faço? Onde ela está? Por que eu não estou com ela? — O desespero, a busca e a confusão em seu olhar deixaram Tan Chen apreensivo. Ele não soube o que falar, e o único conselho que teve para ele foi que se acalmasse e que desse um tempo para esse esforço. A agitação, naquele momento, não era algo que fosse ajudar em nada, a não ser que ele tivesse várias crises e insônia na esperança e luta para se lembrar daquela garota. O que mais o deixou apreensivo foi todos os ricos detalhes que ele tinha descrito a cena. O avanço inesperado do seu quadro clínico era algo importante para ser discutido com seus colegas. Por mais que fossem sintomas pequenos, o quadro dele estava mudando, e a variação de humor, ficando cada vez mais constante. E o que estaria acontecendo com aqueles escapes? Ele estava realmente se lembrando de algo ou eram memórias que estavam próximas de serem esquecidas? O que causaria a se ele encontrasse com essa garota? Afinal, quem era ela?
A forte dor de cabeça impossibilitou de ir trabalhar no café La Maison, que o tio era dono há mais de dez anos e um dos mais frequentados por turistas no inverno rigoroso de Quebec. Aquele ano que passara com o tio fez com que ele tirasse o descanso necessário e iniciasse o tratamento em um dos países que mais tinha índices de pacientes com Neurostigma. acreditava que sua melhor opção era esconder aquela doença e procurar por ajuda onde ele sabia exatamente que teria os melhores tratamentos e opções de remédios, para evitar que suas lembranças e sua vida fossem apagadas por completo.
Quebec tinha acordado com a temperatura em -9 graus, e ele conseguia ver do lado de fora da janela pequenos flocos de neve caindo e pessoas correndo de um lado para o outro no parque Saint. Este era um lugar de refúgio sempre que precisava relaxar um pouco e ficar observando o mundo continuar a girar e o seu humor sair do estágio complicado, no qual conseguia sentir raiva e ódio por qualquer coisa simples que acontecesse no dia. Dah-Ko muitas vezes ficava preocupado com aquelas mudanças bruscas de humor e, às vezes, durante o dia, procurava para que pudesse verificar se estava tudo bem com ele. A preocupação do tio, que, naquele momento, era a sua única família, era o controle entre a sua realidade e as crises que tinha durante as fortes dores de cabeça.
O tratamento novo teve início no começo da semana, e ele conseguiu sentir a diferença no corpo com um simples comprimido amarelo. Antes suas mãos ficavam frias e vários espasmos surgiam por todos os lados sem que ele pudesse manter o controle, até mesmo do seu equilíbrio. A nova medicação trouxe alguns benefícios, e ele comemorou por conseguir novamente sentir o controle do próprio corpo. Isso evitaria que ele sentisse a fraqueza nos joelhos e caísse em qualquer lugar que não tivesse um apoio.
O remédio era forte, porém muito eficaz no dia a dia. Tan Chen, além de prescrever vários outros coquetéis, optou também por vários exercícios de concentração e físicos para que ele ocupasse a mente com outras coisas, para que não ficasse somente recluso à medicação e ao tratamento, que, com o passar dos meses, iam ficam mais severos, com o surgimento de várias novidades e estudos no caso da Neurostigma.
Dah-Ko tentava não demonstrar a preocupação. Entretanto, havia algo que era totalmente errado: sabia que o tio estava bastante preocupado e que, por inúmeras vezes, deixou de abrir o café, que era a única renda familiar deles, para ficar em casa cuidando das fortes crises que o sobrinho tinha. Em especial naquele dia, ele sabia que Dah-Ko não podia fechar o café, pela temporada de inverno ser a mais frequentada de toda Quebec.
— Tio, desculpa por ser uma dor de cabeça dessa maneira. — Ele, triste, abaixou os olhos, se sentindo um peso morto para Dah-Ko. Era esse sentimento que ele tentava evitar todos os dias. não queria sentir que seu mundo fosse diferente dos outros. Ele queria que fosse capaz de ter recordações passadas e que pudesse principalmente lembrar como era o seu antigo emprego. A única lembrança vaga que existia era de uma sala completamente branca e alguns aparelhos apitando ao longe. Dah-Ko sempre contava a história que ele era um grande médico, e isso causava um grande espanto em , por não saber se era a verdade ou uma criação do seu tio para que ele se sentisse melhor. Falando em tio, ele sabia que Dah-Ko chegaria a qualquer momento para o almoço e pensou em fazer algo gostoso para o mais velho. Pelo menos os seus dotes culinários ainda eram algo que podia explorar todos os dias. O almoço era algo sagrado para os dois, e sempre estava disposto a cozinhar para o tio. Naquele dia, não seria diferente. Iria para a cozinha preparar algo muito quente e saboroso para que Dah-Ko ficasse feliz.
— Quem guardou isso aqui? Será que foi o Dah-Ko? — Ele se assustou, tropeçando em uma caixa vermelha que estava no chão ao pé da cama. Interessado e curioso ao mesmo tempo com a presença daquela caixa, ele agachou-se lentamente, recolhendo-a com todo o cuidado do mundo e apoio na cama, para que pudesse ver o que tinha dentro dela. Rapidamente abriu, sem esperar qualquer outra surpresa, e se deparou com um celular preto, vários papéis espalhados e algumas pastas transparentes com vários nomes estranhos escritos. não soube de onde surgira aquele frenesi e, parecendo saber exatamente do que se tratava aqueles papéis, ele pegou todos com ambas as mãos, e uma tremedeira começou a percorrer o seu corpo. Ele sentou-se, abrindo pasta por pasta e percorrendo os olhos por todas as anotações.
Anotação: Neurostigma
A doença Neurostigma é uma doença hereditária que provoca a degeneração progressiva de células nervosas do cérebro. O distúrbio tem sido amplamente estudado nas últimas décadas e foi inclusive, em 1995, pouco mais de um ano depois do um ano após o primeiro caso oficial da doença, que os cientistas descobriram o gene causador da afecção. Localizado no cromossomo 3.
Anotação: Sintomas de Neurostigma
Os sinais e sintomas característicos da doença surgem em decorrência de perda progressiva de células nervosas, que ficam em uma parte específica do cérebro, os gânglios de base. Essa perda afeta a capacidade cognitiva (associada à memória, lembranças e aos pensamentos, por exemplo) e o equilíbrio emocional.
— Essa é minha letra. — Ele ficou chocado com a recordação de saber que tudo o que estava escrito ali tinha exatamente a sua caligrafia. Antes de tudo acontecer e antes de saber sobre a doença, em algum momento ele estava pesquisando e escrevendo sobre isso. O bloco de anotações e o celular chamaram a sua atenção, e ele pegou o aparelho com receio de descobrir alguma coisa que afetasse ainda mais as suas emoções. Descobrir que ele pesquisava sobre a doença e encontrar todas essas anotações fez com que sua cabeça começasse a doer novamente e, daquela vez, mais forte. — Eu realmente sou um médico? O que eu procurava com todas essas anotações? Será que eu consegui descobrir algo? — remexeu um pouco mais na caixa, descobrindo outras pastas e, agora, com nomes de pessoas e fotos que ele não conseguia reconhecer. Talvez fossem pessoas próximas, amigos ou até mesmo a família que o adotou quando tinha apenas cinco anos de idade. Ele sentia aquele vazio e aquela tristeza sempre por não se recordar como era o rosto da sua mãe. Dah-Ko contava histórias dela e diariamente ele surgia com algo novo para que ele pudesse ao menos ter a sensação de que alguém era familiar, um rosto ou até mesmo alguma imagem perdida em sua cabeça que pudesse trazer de volta a pequena sensação de aconchego e carinho.
Capítulo 3
moveu-se um pouco na cama, tateando com uma das mãos e procurando . Encontrou a garota sentada, perdida em pensamentos. Deslumbrando a maneira pensativa e delicada dela, , com todo cuidado, chamou-a, tentando despertar a esposa daquele transe profundo. O toque em seu braço foi o suficiente para soltar um longo suspiro e sorrir, olhando na direção dele.
— No que você está pensando? — perguntou, virando-se para ela. Cabelo desarrumado e um meio sorriso em seu rosto fizeram-na esquecer completamente de tudo. Lembrou-se que bastava apenas aquele sorriso para que ela entrasse em estado de alfa. Como nesse exato momento.
— Buscando alguma maneira de contar algo para você. — Ela respondeu, sorrindo fraco. — Sinto que não consigo esconder por muito tempo. — Ela abaixou a cabeça olhando para as mãos.
— Ei, amor. — Ele aproximou-se dela, passando os dedos lentamente por seu rosto. — Você não precisa se sentir assim. — Ele tentou animá-la. — Eu estou ao seu lado. Não precisa esconder nada de mim.
— Nada? — A voz fraca e baixa dela deixou preocupado.
— Nada. — puxou o corpo da garota para bem próximo do seu. Dessa maneira, ela estaria confortável entre os braços dele. — Não me deixe preocupado. O que está acontecendo, amor? — Ele passou um dos dedos pelo rosto dela. — Não gosto de ver você preocupada dessa maneira.
— Não consigo deixar de ficar. — Ela afundou o rosto contra o peito dele. — É o nosso sonho, mas é um momento muito delicado, e eu estou com muito medo. — Ela tentou explicar para ele de uma maneira que não fosse tão óbvia.
— Amor? Você está grávida? — engoliu um seco.
— Sim. — levantou um pouco o rosto para enxergar o dele. — Estou grávida de cinco semanas. — Lentamente, ela fechou os olhos, não querendo mais olhar dentro dos olhos do marido.
— Meu Deus! — , atônito, levou as mãos para a cabeça, muito surpreso com a novidade. — Um filho, um bebê nosso… — Ele deu uma pausa, recuperando o fôlego. — Um filho nosso. — sorriu, animado, dando um pequeno beijo nos lábios da garota.
— Você está feliz? — não deixou de ficar surpresa com aquela reação. Talvez tivesse uma ideia errada sobre o marido e os últimos acontecimentos no hospital. — Achei que você fosse surtar por causa da correria com as cirurgias. — Ela confessou.
— Nunca! — Ele abriu a boca assustado. — Nunca que você e meu filho seria um problema na minha vida. Você consegue entender? — segurou firme o corpo da garota contra o seu peito. — A minha vida toda eu sempre quis ser pai e, nesse momento, eu sou o pai mais feliz do mundo por estarmos grávidos. — Ele disse, suave, beijando o topo da cabeça dela. — Eu vou ensiná-lo a cantar, dançar, jogar basquete… — riu daquele comentário. lentamente fechou os olhos, deixando que o clima daquela conversa a levasse a ter alguns pensamentos futuros. — Meu coração quase não fica no peito imaginando quando eu chegar em casa depois de um plantão e encontrar meu filho vendo TV na sala. Quando abrisse a porta, ele correndo na minha direção, gritando: Mamãe, mamãe, o papai chegou. — Outro sorriso e seus lábios. Agora acariciava o cabelo dela bem carinhosamente. — Devo ter visto isso em algum filme. Mas imagina a sensação de ter o seu filho correndo para você esperando que o pegue, abrace muito e diga o quanto sentiu saudades. A maneira delicada dos olhos dele em te olhar com ternura dizendo: Papai, eu também senti saudades. — fez uma pausa ao perceber que a garota estava quase dormindo em seu colo. Poderia nesse momento parar de falar, mas tentou concluir o pensamento. A maneira com que ele estava eufórico com aquela notícia maravilhosa. — Você estaria na cozinha arrumando o jantar dele e eu chegaria com ele nos braços. Quando eu digo “ele”, é a forma de dizer que eu gostaria muito de ter um filho. Mas adoraria também uma menina.
— Como ele vai chamar? — Ela perguntou, tentando lutar contra o sono, que estava surgindo deliberadamente. fez uma pausa, pensando em que nome gostaria. Talvez o nome de seu avô ou nome de alguém famoso. Ficou em silêncio por alguns minutos e aquele silêncio fez a garota adormecer de verdade.
— . — Ele disse baixinho no ouvido dela. — Nosso filho vai chamar . — Imaginando como seria a sua nova vida daqui a alguns anos, abraçou forte a esposa nos braços, agradecendo mentalmente a Deus por tê-la colocado em sua vida. — É possível amar tanto uma pessoa como eu te amo, ? — Bem baixinho para que ela não despertasse, sussurrou, não conseguindo esconder a felicidade e essa paixão que existia dentro do peito. O amor, a intensidade, a cumplicidade e tudo o que desejou estavam acontecendo naquele exato momento da sua vida. A mulher que amava ao seu lado e o seu maior sonho. Um filho. O seu menino, a sua luz e o seu brilho para sempre.
A adrenalina que surgira daquele sonho fez acordar desesperada e sua pulsação, frenética, por novamente ter sonhado com o marido. Nem ao menos achava que ainda podia chamá-lo de marido. não existia na sua vida há mais de cinco anos, e aquela sensação de perda era tão sufocante que não existia mais esperanças em seu coração. Por mais que quisesse lutar contra aquele sentimento, aquela era a realidade dos seus dias atuais.
— Será que um dia ainda vamos nos encontrar novamente? — A esperança no tom da sua voz ficou tão fraca que às vezes ela travava uma luta para que seu coração fosse um pouco mais apegado a pequenas possibilidades. — Não canso de sonhar com você! Não canso de pensar em você! Não deixo de amar você todos os dias. — Ela fechou os olhos, desejando que pudesse dormir novamente com o seu único desejo e apego: sonhar novamente com .
xxxx
O celular em sua mão começou a ligar, e ele soube que aquele aparelho realmente era seu ao ver a foto de proteção de tela. A imagem dele abraçado com uma garota e novamente os seus olhos estavam perdidos e apaixonados por ela, que parecia tão feliz. Em todas as fotos em que a encontrava, estava sorrindo tão alegre que seu coração palpitava só com a sensação de saber que ela estava bem. E aquele sorriso era tão importante para ele que buscou em todo o aparelho alguma ligação que pudesse trazer lembranças, acontecimentos ou qualquer outra coisa que o levasse a essa garota da foto. Ele precisava de algum contato, de algum sentimento e de alguma sensação nova para que pudesse lutar contra aquela angústia por não conseguir sonhar mais com ela todos os dias. Mesmo sabendo o quanto o esforço era inútil, buscava trabalhar a sua mente para que pudesse segurar todas as recordações e sonhos, com a esperança de que um dia pudesse novamente lembrar-se de tudo sem precisar de todo aquele esforço.
Por mais alguns minutos, olhou para a tela do celular e ficou impressionado ao ver a agenda pessoal e notar que existia ali apenas um número. O único número marcado como importante e, em letras simples, o nome “amor” ganhou destaque, e ele sentiu as pontas dos dedos começarem a formigar. O que aconteceria se ele ligasse para aquela pessoa? Quem era ela? Qual era o seu nome e sua relação com ele?
Encarou por mais alguns segundos e resolveu criar coragem de uma vez para ligar. Buscou o celular de Dah-Ko na beirada da cama e discou no aparelho o número com o DDD correto. Ele tentou uma, duas, três vezes, e o celular, a todo o momento, parecia ficar sem área. Julgou melhor deixar guardada aquela vontade de falar com aquela pessoa e não atrapalhar quem fosse atender essa ligação. Ele não tinha mais o direito de entrar em contato seja com quem fosse. Já havia se passado cinco anos e nada mais estava do mesmo jeito. Ele nem ao menos conseguia ter uma vida normal diante de todas aquelas crises e tratamentos intensivos. A sua vida era em Quebec, ao lado de Dah-Ko, e, naquela nova vida, ele não tinha a permissão para amar, sentir saudades ou deixar seu coração acelerado daquela maneira sempre que uma foto dela aparecesse no seu campo de visão. Mesmo sabendo de tudo isso, os seus dedos tremeram e novamente, sem controlar o impulso, ele estava ligando novamente para o número. Ele não conseguia controlar aquela necessidade que estava sentindo de falar com a pessoa do outro lado e dizer tudo o que estava guardando durante tanto tempo. Todos os seus sonhos, todas as suas angústias e tristezas. De alguma maneira, por alguma razão, isso traria paz para o seu coração, e ele precisava disso.
— Olha, eu sei que deve parecer confuso quando você escutar essa mensagem e espero que minha voz seja familiar. Não quero te assustar e nem quero que você fique pensando que eu sou um maluco que está te perseguindo. Ao contrário, eu me chamo , e eu tenho certeza de que você me conhece muito bem. — Ele disse, com o coração acelerado e respirando fundo várias vezes, controlando o tremor que surgia em sua voz toda vez que ele tentava completar uma frase. não sabia o que estava fazendo e nem o que essa gravação faria com a pessoa do outro lado. Ele apenas estava falando tudo o que, naquele momento, estava sentindo. Todas as suas emoções e vontades. Ele apenas queria falar, expressar e mostrar para aquela pessoa do outro lado o tanto que ele sentia saudades e o quanto ele estava triste por não estar ao seu lado. Aquela garota era o seu passado e talvez fosse o seu futuro. — Essa gravação é algo que eu fiquei pensando durante vários dias, e o engraçado é que eu me lembro do seu rosto, do seu sorriso e do cheiro do seu perfume. — Ele fez uma pausa para respirar fundo e escolher direito as palavras. Afinal, tudo o levava a acreditar que ela era sua esposa e que aquele menino da foto era seu filho. Seu filho. O coração acelerou com aquela possibilidade e o controle, que antes não existia, passou a ser usado para que ele terminasse exatamente o seu objetivo: falar o que estava sentindo com aquela pessoa, que, só de falar seu nome em voz alta, fazia o seu corpo todo estremecer. — Não lembro como foi a minha vida com você nesses últimos anos, e isso me deixa muito triste e abalado. Queria realmente ter essa recordação tão importante, que deixa o meu coração acelerado ao olhar para a sua foto e ver esse sorriso lindo. O perfume é algo que eu consigo ainda sentir, mesmo não sabendo de onde eu consigo buscar essas recordações. Eu imagino como é ter você em meus braços todos os dias. — agora estava sério, e uma forte dor começou a surgir na sua nuca. Ele balançou a cabeça de um lado para o outro, tentando controlar essas emoções para que conseguisse terminar o que estava precisando desabafar. — É estranho, não é? Em todas essas fotos, eu não consigo achar o seu nome, e parece que me privei de todas essas informações para que não fosse capaz de ir atrás de você e desistir do tratamento. — Ele agora iniciou o assunto que talvez fosse o mais delicado de toda a ligação. Contar para aquela pessoa sobre a sua doença e sobre a sua situação atualmente. — É triste saber que eu tenho uma doença que a medicina ainda não tem muito conhecimento a respeito e que muitos casos ainda estão sendo estudados. A Neurostigma é algo que vem atingindo muitas pessoas e, em todo o caso, eu fui a vítima desta terrível doença, que tirou todas as minhas recordações, memórias e tudo da minha vida. — O choro parou na sua garganta, e ele não queria chorar, não queria demonstrar que estava derrotado ao falar da doença. Ele tinha esperanças de que, um dia, tudo voltasse ao normal. E ele precisava dessa esperança para que continuasse aquela luta que travava todos os dias ao acordar pela manhã. Era disso que ele necessitava: esperança e forças para continuar com o tratamento o tempo que fosse preciso e necessário. — Sinto muito por ter deixado você, acredito que eu tenha deixado você e o nosso… — Ele parou nesse momento, imaginando como seria o choque ao falar pela primeira vez o nome que estava escrito atrás de uma foto de um bebê na maternidade. — Como está o ? Ele cresceu? Na foto, ele parece um meninão, e eu tenho a impressão de que ele vai ser jogador de basquete. Fala para ele seguir todos os sonhos e ser um bom garoto. E também cuidar da mãe dele muito bem. Agora ele é o homem da casa. — Involuntariamente, o choro surgiu, e, daquela vez, nem o seu autocontrole foi capaz de segurar aquela dor que invadiu seu peito ao saber que não existia nenhuma parte do seu cérebro que lembrasse do nascimento do filho. Apenas uma foto dele segurando a criança nos braços na maternidade de um hospital. — Me desculpe por chorar dessa maneira, não consigo controlar essa dor, que é tão profunda. Sinto que estou morrendo todos os dias com essa solidão. — Ele limpou os olhos, afastando o celular do ouvido e jogando-o em cima da cama, não conseguindo mais condições de falar nada. O desespero invadiu todo o seu corpo, e um grito, misturado com uma crise de choro, deu espaço para o vazio, que ele tanto lutava em não sentir todos os dias. Aquele vazio de não saber quem ele era, suas lembranças e partes da sua vida passada. E se ela não soubesse quem era ele? E se realmente foi esquecido com o tempo? — Alguma parte de mim ainda se lembra da sua voz e do seu toque, e essa pequena parte consegue mandar recordações para o meu coração. Me salva desse vazio, não me deixe desaparecer dessa maneira. Sinto dor, sinto angústia e desespero por não saber mais nada da minha vida. Eu preciso de você e preciso do . — correu para agarrar o celular e dizer aquelas últimas palavras, até que outra crise de choro o atingiu novamente. Dah-Ko surgiu no quarto, desesperado com os gritos, e rapidamente envolveu o sobrinho nos braços, tentando protegê-lo de todos aqueles espasmos e crises. Ele estava ali para ser o seu porto-seguro e sua família. Tudo o que ele desejou naquele momento era que parasse de chorar e que Deus não fosse tão cruel com ele daquela maneira.
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O choque inicial com aquela ligação tinha deixado o seu corpo todo paralisado, e só conseguiu voltar a si quando entrou no quarto de repente ao ouvir os gritos desesperados dela do andar de baixo da casa. Ele brincava com e, com o susto daqueles gritos, deixou o pequeno sozinho, subindo correndo as escadas, com medo que pudesse ter acontecido algo grave com a garota.
— O que aconteceu? — Ele perguntou, ofegante, com a mão no peito ao encontrá-la deitada imóvel na cama. — ? — Desesperado, correu para a cama, segurando em seu pulso, incerto do que estava fazendo. — ? ? — passou a mão pelo rosto dela, tentando descobrir o que havia acontecido.
— Mamãe? Mamãe? — surgiu no quarto, pulando na cama ao lado da mãe e iniciando um choro sofrido e desesperado quando chamou por ela e não conseguiu mover sequer um músculo de onde estava deitada.
— ? — empurrou o corpo dela um pouco, não conseguindo raciocinar direito e nem olhar para , que tinha começado a gritar o nome da mãe bem alto. — Por favor, o que aconteceu? O que você está sentindo? — A respiração dela estava pesada, deixando o amigo atordoado, sem saber o que fazer. Jogado na cama ao lado, tinha o celular e nada mais que pudesse chamar a sua atenção. O rosto dela estava muito pálido e sua boca ficando mais branca com o passar dos segundos. — ? ? — Novamente ele tentou despertá-la daquele choque, balançando seu rosto de um lado para o outro.
— Mamãe? Fala comigo. — choramingou, deitando o rosto no peito dela e começando a soluçar de tanto chorar. — Mamãe, não me deixa… — Ele pediu, já ficando com o rostinho todo vermelho e molhado com as lágrimas. — Mamãe, não me deixa como o papai…
— Amor… — Com dificuldade, reagiu, levando uma das mãos para a cabeça do filho, que ainda estava agarrado em seu peito. — Amor… — Chamou o garoto novamente, agora puxando-o para mais perto do rosto. — Mamãe, mamãe… — tentou falar, mas sua voz não saiu de maneira correta.
— Mamãe… — fez bico, passando a mão pelo rosto e abraçando a garota pelo pescoço. — Mamãe, não me deixa…
— Não vou te deixar, meu amor. — Com a voz trêmula e com cada parte do seu corpo gritando em desespero depois daquela ligação, buscou os olhos de , implorando para que ele levasse do quarto. — Mamãe só ficou um pouco em choque com uma ligação. Nunca vou te abandonar minha vida. — Ela passou as mãos no cabelo do garoto, forçando ainda mais o seu rosto no dele. — Você é minha vida, .
— Sou? — Ele perguntou, afastando o rosto do pescoço dela e olhando dentro dos olhos da mãe. — Mamãe, fiquei assustado…
— Desculpa, minha vida… — puxou o rostinho dele, dando beijos na bochecha do filho e pedindo para que ele a desculpasse por aquele susto.
— Eu te amo, mamãe. — depositou um beijo na bochecha dela.
— ? O que você acha de buscar um pouco de água para a mamãe? — sugeriu ao vê-lo ficar mais calmo depois de abraçá-lo.
— Claro. — Ele assentiu, deixando outro beijo no rosto da mãe e correndo pela porta em direção às escadas.
— O que aconteceu? — virou-se rapidamente, encarando , que, de olhos fechados, voltou a chorar, buscando fôlego para digerir o que tinha acabado de acontecer.
— … — Ela tentou falar, lutando contra as lágrimas e as dores que seu corpo involuntariamente passou a sentir com aquele choque ao escutar a voz de . — O … — O choro voltou a tomar conta do seu rosto e da sua voz, dificultando que o amigo compreendesse. — O , no celular...
— O ? Ele ligou? — levou uma das mãos para o rosto, transtornado com aquela informação. — O que ele disse? Onde ele está? O que aconteceu? — Milhões de perguntas ao mesmo tempo deixaram a garota mais aflita e perdida.
— ! — Ela levantou imediatamente, buscando os braços do amigo. — Ele está vivo! VIVO! O está vivo. — A comemoração em sua voz foi tanta que o choro ficou com uma mistura de felicidade e euforia. nem soube quando perdeu a noção do seu corpo e dos seus pensamentos enquanto gritava animada nos braços de que o marido estava vivo. Mas a situação do marido era bem pior de tudo o que ela já tinha julgado ter acontecido para que ele desaparecesse. Por cima, sabia sobre essa raridade da Neurostigma, e seu coração voltou a apertar em saber que, em algum lugar do mundo, estava perdido e sozinho com a solidão e vazio das suas recordações.
— No que você está pensando? — perguntou, virando-se para ela. Cabelo desarrumado e um meio sorriso em seu rosto fizeram-na esquecer completamente de tudo. Lembrou-se que bastava apenas aquele sorriso para que ela entrasse em estado de alfa. Como nesse exato momento.
— Buscando alguma maneira de contar algo para você. — Ela respondeu, sorrindo fraco. — Sinto que não consigo esconder por muito tempo. — Ela abaixou a cabeça olhando para as mãos.
— Ei, amor. — Ele aproximou-se dela, passando os dedos lentamente por seu rosto. — Você não precisa se sentir assim. — Ele tentou animá-la. — Eu estou ao seu lado. Não precisa esconder nada de mim.
— Nada? — A voz fraca e baixa dela deixou preocupado.
— Nada. — puxou o corpo da garota para bem próximo do seu. Dessa maneira, ela estaria confortável entre os braços dele. — Não me deixe preocupado. O que está acontecendo, amor? — Ele passou um dos dedos pelo rosto dela. — Não gosto de ver você preocupada dessa maneira.
— Não consigo deixar de ficar. — Ela afundou o rosto contra o peito dele. — É o nosso sonho, mas é um momento muito delicado, e eu estou com muito medo. — Ela tentou explicar para ele de uma maneira que não fosse tão óbvia.
— Amor? Você está grávida? — engoliu um seco.
— Sim. — levantou um pouco o rosto para enxergar o dele. — Estou grávida de cinco semanas. — Lentamente, ela fechou os olhos, não querendo mais olhar dentro dos olhos do marido.
— Meu Deus! — , atônito, levou as mãos para a cabeça, muito surpreso com a novidade. — Um filho, um bebê nosso… — Ele deu uma pausa, recuperando o fôlego. — Um filho nosso. — sorriu, animado, dando um pequeno beijo nos lábios da garota.
— Você está feliz? — não deixou de ficar surpresa com aquela reação. Talvez tivesse uma ideia errada sobre o marido e os últimos acontecimentos no hospital. — Achei que você fosse surtar por causa da correria com as cirurgias. — Ela confessou.
— Nunca! — Ele abriu a boca assustado. — Nunca que você e meu filho seria um problema na minha vida. Você consegue entender? — segurou firme o corpo da garota contra o seu peito. — A minha vida toda eu sempre quis ser pai e, nesse momento, eu sou o pai mais feliz do mundo por estarmos grávidos. — Ele disse, suave, beijando o topo da cabeça dela. — Eu vou ensiná-lo a cantar, dançar, jogar basquete… — riu daquele comentário. lentamente fechou os olhos, deixando que o clima daquela conversa a levasse a ter alguns pensamentos futuros. — Meu coração quase não fica no peito imaginando quando eu chegar em casa depois de um plantão e encontrar meu filho vendo TV na sala. Quando abrisse a porta, ele correndo na minha direção, gritando: Mamãe, mamãe, o papai chegou. — Outro sorriso e seus lábios. Agora acariciava o cabelo dela bem carinhosamente. — Devo ter visto isso em algum filme. Mas imagina a sensação de ter o seu filho correndo para você esperando que o pegue, abrace muito e diga o quanto sentiu saudades. A maneira delicada dos olhos dele em te olhar com ternura dizendo: Papai, eu também senti saudades. — fez uma pausa ao perceber que a garota estava quase dormindo em seu colo. Poderia nesse momento parar de falar, mas tentou concluir o pensamento. A maneira com que ele estava eufórico com aquela notícia maravilhosa. — Você estaria na cozinha arrumando o jantar dele e eu chegaria com ele nos braços. Quando eu digo “ele”, é a forma de dizer que eu gostaria muito de ter um filho. Mas adoraria também uma menina.
— Como ele vai chamar? — Ela perguntou, tentando lutar contra o sono, que estava surgindo deliberadamente. fez uma pausa, pensando em que nome gostaria. Talvez o nome de seu avô ou nome de alguém famoso. Ficou em silêncio por alguns minutos e aquele silêncio fez a garota adormecer de verdade.
— . — Ele disse baixinho no ouvido dela. — Nosso filho vai chamar . — Imaginando como seria a sua nova vida daqui a alguns anos, abraçou forte a esposa nos braços, agradecendo mentalmente a Deus por tê-la colocado em sua vida. — É possível amar tanto uma pessoa como eu te amo, ? — Bem baixinho para que ela não despertasse, sussurrou, não conseguindo esconder a felicidade e essa paixão que existia dentro do peito. O amor, a intensidade, a cumplicidade e tudo o que desejou estavam acontecendo naquele exato momento da sua vida. A mulher que amava ao seu lado e o seu maior sonho. Um filho. O seu menino, a sua luz e o seu brilho para sempre.
A adrenalina que surgira daquele sonho fez acordar desesperada e sua pulsação, frenética, por novamente ter sonhado com o marido. Nem ao menos achava que ainda podia chamá-lo de marido. não existia na sua vida há mais de cinco anos, e aquela sensação de perda era tão sufocante que não existia mais esperanças em seu coração. Por mais que quisesse lutar contra aquele sentimento, aquela era a realidade dos seus dias atuais.
— Será que um dia ainda vamos nos encontrar novamente? — A esperança no tom da sua voz ficou tão fraca que às vezes ela travava uma luta para que seu coração fosse um pouco mais apegado a pequenas possibilidades. — Não canso de sonhar com você! Não canso de pensar em você! Não deixo de amar você todos os dias. — Ela fechou os olhos, desejando que pudesse dormir novamente com o seu único desejo e apego: sonhar novamente com .
O celular em sua mão começou a ligar, e ele soube que aquele aparelho realmente era seu ao ver a foto de proteção de tela. A imagem dele abraçado com uma garota e novamente os seus olhos estavam perdidos e apaixonados por ela, que parecia tão feliz. Em todas as fotos em que a encontrava, estava sorrindo tão alegre que seu coração palpitava só com a sensação de saber que ela estava bem. E aquele sorriso era tão importante para ele que buscou em todo o aparelho alguma ligação que pudesse trazer lembranças, acontecimentos ou qualquer outra coisa que o levasse a essa garota da foto. Ele precisava de algum contato, de algum sentimento e de alguma sensação nova para que pudesse lutar contra aquela angústia por não conseguir sonhar mais com ela todos os dias. Mesmo sabendo o quanto o esforço era inútil, buscava trabalhar a sua mente para que pudesse segurar todas as recordações e sonhos, com a esperança de que um dia pudesse novamente lembrar-se de tudo sem precisar de todo aquele esforço.
Por mais alguns minutos, olhou para a tela do celular e ficou impressionado ao ver a agenda pessoal e notar que existia ali apenas um número. O único número marcado como importante e, em letras simples, o nome “amor” ganhou destaque, e ele sentiu as pontas dos dedos começarem a formigar. O que aconteceria se ele ligasse para aquela pessoa? Quem era ela? Qual era o seu nome e sua relação com ele?
Encarou por mais alguns segundos e resolveu criar coragem de uma vez para ligar. Buscou o celular de Dah-Ko na beirada da cama e discou no aparelho o número com o DDD correto. Ele tentou uma, duas, três vezes, e o celular, a todo o momento, parecia ficar sem área. Julgou melhor deixar guardada aquela vontade de falar com aquela pessoa e não atrapalhar quem fosse atender essa ligação. Ele não tinha mais o direito de entrar em contato seja com quem fosse. Já havia se passado cinco anos e nada mais estava do mesmo jeito. Ele nem ao menos conseguia ter uma vida normal diante de todas aquelas crises e tratamentos intensivos. A sua vida era em Quebec, ao lado de Dah-Ko, e, naquela nova vida, ele não tinha a permissão para amar, sentir saudades ou deixar seu coração acelerado daquela maneira sempre que uma foto dela aparecesse no seu campo de visão. Mesmo sabendo de tudo isso, os seus dedos tremeram e novamente, sem controlar o impulso, ele estava ligando novamente para o número. Ele não conseguia controlar aquela necessidade que estava sentindo de falar com a pessoa do outro lado e dizer tudo o que estava guardando durante tanto tempo. Todos os seus sonhos, todas as suas angústias e tristezas. De alguma maneira, por alguma razão, isso traria paz para o seu coração, e ele precisava disso.
— Olha, eu sei que deve parecer confuso quando você escutar essa mensagem e espero que minha voz seja familiar. Não quero te assustar e nem quero que você fique pensando que eu sou um maluco que está te perseguindo. Ao contrário, eu me chamo , e eu tenho certeza de que você me conhece muito bem. — Ele disse, com o coração acelerado e respirando fundo várias vezes, controlando o tremor que surgia em sua voz toda vez que ele tentava completar uma frase. não sabia o que estava fazendo e nem o que essa gravação faria com a pessoa do outro lado. Ele apenas estava falando tudo o que, naquele momento, estava sentindo. Todas as suas emoções e vontades. Ele apenas queria falar, expressar e mostrar para aquela pessoa do outro lado o tanto que ele sentia saudades e o quanto ele estava triste por não estar ao seu lado. Aquela garota era o seu passado e talvez fosse o seu futuro. — Essa gravação é algo que eu fiquei pensando durante vários dias, e o engraçado é que eu me lembro do seu rosto, do seu sorriso e do cheiro do seu perfume. — Ele fez uma pausa para respirar fundo e escolher direito as palavras. Afinal, tudo o levava a acreditar que ela era sua esposa e que aquele menino da foto era seu filho. Seu filho. O coração acelerou com aquela possibilidade e o controle, que antes não existia, passou a ser usado para que ele terminasse exatamente o seu objetivo: falar o que estava sentindo com aquela pessoa, que, só de falar seu nome em voz alta, fazia o seu corpo todo estremecer. — Não lembro como foi a minha vida com você nesses últimos anos, e isso me deixa muito triste e abalado. Queria realmente ter essa recordação tão importante, que deixa o meu coração acelerado ao olhar para a sua foto e ver esse sorriso lindo. O perfume é algo que eu consigo ainda sentir, mesmo não sabendo de onde eu consigo buscar essas recordações. Eu imagino como é ter você em meus braços todos os dias. — agora estava sério, e uma forte dor começou a surgir na sua nuca. Ele balançou a cabeça de um lado para o outro, tentando controlar essas emoções para que conseguisse terminar o que estava precisando desabafar. — É estranho, não é? Em todas essas fotos, eu não consigo achar o seu nome, e parece que me privei de todas essas informações para que não fosse capaz de ir atrás de você e desistir do tratamento. — Ele agora iniciou o assunto que talvez fosse o mais delicado de toda a ligação. Contar para aquela pessoa sobre a sua doença e sobre a sua situação atualmente. — É triste saber que eu tenho uma doença que a medicina ainda não tem muito conhecimento a respeito e que muitos casos ainda estão sendo estudados. A Neurostigma é algo que vem atingindo muitas pessoas e, em todo o caso, eu fui a vítima desta terrível doença, que tirou todas as minhas recordações, memórias e tudo da minha vida. — O choro parou na sua garganta, e ele não queria chorar, não queria demonstrar que estava derrotado ao falar da doença. Ele tinha esperanças de que, um dia, tudo voltasse ao normal. E ele precisava dessa esperança para que continuasse aquela luta que travava todos os dias ao acordar pela manhã. Era disso que ele necessitava: esperança e forças para continuar com o tratamento o tempo que fosse preciso e necessário. — Sinto muito por ter deixado você, acredito que eu tenha deixado você e o nosso… — Ele parou nesse momento, imaginando como seria o choque ao falar pela primeira vez o nome que estava escrito atrás de uma foto de um bebê na maternidade. — Como está o ? Ele cresceu? Na foto, ele parece um meninão, e eu tenho a impressão de que ele vai ser jogador de basquete. Fala para ele seguir todos os sonhos e ser um bom garoto. E também cuidar da mãe dele muito bem. Agora ele é o homem da casa. — Involuntariamente, o choro surgiu, e, daquela vez, nem o seu autocontrole foi capaz de segurar aquela dor que invadiu seu peito ao saber que não existia nenhuma parte do seu cérebro que lembrasse do nascimento do filho. Apenas uma foto dele segurando a criança nos braços na maternidade de um hospital. — Me desculpe por chorar dessa maneira, não consigo controlar essa dor, que é tão profunda. Sinto que estou morrendo todos os dias com essa solidão. — Ele limpou os olhos, afastando o celular do ouvido e jogando-o em cima da cama, não conseguindo mais condições de falar nada. O desespero invadiu todo o seu corpo, e um grito, misturado com uma crise de choro, deu espaço para o vazio, que ele tanto lutava em não sentir todos os dias. Aquele vazio de não saber quem ele era, suas lembranças e partes da sua vida passada. E se ela não soubesse quem era ele? E se realmente foi esquecido com o tempo? — Alguma parte de mim ainda se lembra da sua voz e do seu toque, e essa pequena parte consegue mandar recordações para o meu coração. Me salva desse vazio, não me deixe desaparecer dessa maneira. Sinto dor, sinto angústia e desespero por não saber mais nada da minha vida. Eu preciso de você e preciso do . — correu para agarrar o celular e dizer aquelas últimas palavras, até que outra crise de choro o atingiu novamente. Dah-Ko surgiu no quarto, desesperado com os gritos, e rapidamente envolveu o sobrinho nos braços, tentando protegê-lo de todos aqueles espasmos e crises. Ele estava ali para ser o seu porto-seguro e sua família. Tudo o que ele desejou naquele momento era que parasse de chorar e que Deus não fosse tão cruel com ele daquela maneira.
O choque inicial com aquela ligação tinha deixado o seu corpo todo paralisado, e só conseguiu voltar a si quando entrou no quarto de repente ao ouvir os gritos desesperados dela do andar de baixo da casa. Ele brincava com e, com o susto daqueles gritos, deixou o pequeno sozinho, subindo correndo as escadas, com medo que pudesse ter acontecido algo grave com a garota.
— O que aconteceu? — Ele perguntou, ofegante, com a mão no peito ao encontrá-la deitada imóvel na cama. — ? — Desesperado, correu para a cama, segurando em seu pulso, incerto do que estava fazendo. — ? ? — passou a mão pelo rosto dela, tentando descobrir o que havia acontecido.
— Mamãe? Mamãe? — surgiu no quarto, pulando na cama ao lado da mãe e iniciando um choro sofrido e desesperado quando chamou por ela e não conseguiu mover sequer um músculo de onde estava deitada.
— ? — empurrou o corpo dela um pouco, não conseguindo raciocinar direito e nem olhar para , que tinha começado a gritar o nome da mãe bem alto. — Por favor, o que aconteceu? O que você está sentindo? — A respiração dela estava pesada, deixando o amigo atordoado, sem saber o que fazer. Jogado na cama ao lado, tinha o celular e nada mais que pudesse chamar a sua atenção. O rosto dela estava muito pálido e sua boca ficando mais branca com o passar dos segundos. — ? ? — Novamente ele tentou despertá-la daquele choque, balançando seu rosto de um lado para o outro.
— Mamãe? Fala comigo. — choramingou, deitando o rosto no peito dela e começando a soluçar de tanto chorar. — Mamãe, não me deixa… — Ele pediu, já ficando com o rostinho todo vermelho e molhado com as lágrimas. — Mamãe, não me deixa como o papai…
— Amor… — Com dificuldade, reagiu, levando uma das mãos para a cabeça do filho, que ainda estava agarrado em seu peito. — Amor… — Chamou o garoto novamente, agora puxando-o para mais perto do rosto. — Mamãe, mamãe… — tentou falar, mas sua voz não saiu de maneira correta.
— Mamãe… — fez bico, passando a mão pelo rosto e abraçando a garota pelo pescoço. — Mamãe, não me deixa…
— Não vou te deixar, meu amor. — Com a voz trêmula e com cada parte do seu corpo gritando em desespero depois daquela ligação, buscou os olhos de , implorando para que ele levasse do quarto. — Mamãe só ficou um pouco em choque com uma ligação. Nunca vou te abandonar minha vida. — Ela passou as mãos no cabelo do garoto, forçando ainda mais o seu rosto no dele. — Você é minha vida, .
— Sou? — Ele perguntou, afastando o rosto do pescoço dela e olhando dentro dos olhos da mãe. — Mamãe, fiquei assustado…
— Desculpa, minha vida… — puxou o rostinho dele, dando beijos na bochecha do filho e pedindo para que ele a desculpasse por aquele susto.
— Eu te amo, mamãe. — depositou um beijo na bochecha dela.
— ? O que você acha de buscar um pouco de água para a mamãe? — sugeriu ao vê-lo ficar mais calmo depois de abraçá-lo.
— Claro. — Ele assentiu, deixando outro beijo no rosto da mãe e correndo pela porta em direção às escadas.
— O que aconteceu? — virou-se rapidamente, encarando , que, de olhos fechados, voltou a chorar, buscando fôlego para digerir o que tinha acabado de acontecer.
— … — Ela tentou falar, lutando contra as lágrimas e as dores que seu corpo involuntariamente passou a sentir com aquele choque ao escutar a voz de . — O … — O choro voltou a tomar conta do seu rosto e da sua voz, dificultando que o amigo compreendesse. — O , no celular...
— O ? Ele ligou? — levou uma das mãos para o rosto, transtornado com aquela informação. — O que ele disse? Onde ele está? O que aconteceu? — Milhões de perguntas ao mesmo tempo deixaram a garota mais aflita e perdida.
— ! — Ela levantou imediatamente, buscando os braços do amigo. — Ele está vivo! VIVO! O está vivo. — A comemoração em sua voz foi tanta que o choro ficou com uma mistura de felicidade e euforia. nem soube quando perdeu a noção do seu corpo e dos seus pensamentos enquanto gritava animada nos braços de que o marido estava vivo. Mas a situação do marido era bem pior de tudo o que ela já tinha julgado ter acontecido para que ele desaparecesse. Por cima, sabia sobre essa raridade da Neurostigma, e seu coração voltou a apertar em saber que, em algum lugar do mundo, estava perdido e sozinho com a solidão e vazio das suas recordações.
Capítulo 4
Durante semanas, os plantões no hospital foram dobrados e, a cada dia, reunia-se com uma equipe médica diferente por todo o mundo. Ela buscava informações, detalhes, tratamentos e estudos mais avançados para a Neurostigma e alguma chance de um tratamento, para que não sofresse tanto com o avanço daquela doença. Negou aceitar o que a maioria dos neurocirurgiões alegava sobre pessoas com essa rara doença e as possibilidades mínimas de cura completa.
— O que vai acontecer quando você encontrá-lo? — questionou ao reparar no jeito inquieto da garota no banco ao lado, quando o carro lentamente foi aproximando-se do endereço indicado pelo tio de . A busca por ele durou nove semanas até finalmente conseguir o contato com alguns parentes e, no fim de uma vasta busca incessante, encontrá-lo na casa do Tio Dah-Ko, em Quebec.
— Não sei. — Perdida em meio a muitos pensamentos, ela soltou um longo suspiro, olhando no banco de trás do carro e observando o sono profundo que estava depois da viagem cansativa. — Fico pensando como vai ser a reação dele. não tem muitas recordações e… — respirou fundo, tentando não chorar. — Talvez nem se lembre do meu rosto ou meu nome. — O olhar vago e triste da garota virou-se para a janela com o coração apertado por saber que, em poucos minutos, estaria encontrando o seu grande amor.
— Tem que tomar cuidado para não o assustar e nem deixá-lo em conflito. — alertou a amiga sobre o estado mental do marido e do que choque que isso causaria nele com a presença dela no mesmo ambiente. — É delicado para o , entende? Você, mais que todos nesse mundo, precisa entender que a escolha dele foi muito delicada e que isso talvez seja um grande choque de realidade que ele não precisa no momento. — Preparando o discurso que há semanas estava guardando, resolveu de uma vez conversar com ela, por medo daquela viagem para Quebec transformar não somente a vida de , como também de . — Entendo a sua preocupação e, acredite, é a mesma que tenho. — A atenção dela desviou da janela, agora olhando na direção de . A fragilidade no assunto e a delicadeza de como ela iria abordá-lo tinham toda uma preocupação e um cuidado redobrado para não prejudicar ainda mais a situação. — Tenho medo de que ele entre em choque ou que fique mais perdido e temeroso com a minha presença.
— Então, precisamos descobrir agora como vai ser esse encontro. — parou o carro na única vaga que tinha na frente da cafeteria, e ficou paralisada por alguns segundos, olhando o enorme letreiro na entrada. Todo o seu corpo gritou em desespero por saber que não existia volta e que precisava de forças para entrar dentro daquele lugar de qualquer maneira. passou a mão pelo rosto da garota, desejando força, coragem e determinação para aquele momento especial. Rolou os olhos para dentro do carro, observando dormir profundamente, e uma última olhada para , segurando forte em uma das suas mãos. Ao longe, ela apenas escutou o click da porta sendo destravada e um vento forte cortando o seu rosto ao descer do carro e parar exatamente na entrada do lugar, que fez seu coração bater acelerado e suas pernas ficarem fracas.
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esqueceu a maneira de respirar no momento em que os seus olhos se encontraram novamente com os dele. O mesmo olhar que buscou durante tanto tempo em seus sonhos e delírios enquanto estava sozinha em seu quarto, nutrindo a esperança e a fantasia de que, um dia, fosse novamente aparecer em sua vida. E, naquele momento, aquela fantasia estava bem diante dos seus olhos, e ela não soube exatamente como se comportar ao perceber a realidade daquilo tudo. Ela nem ao menos sabia se ele iria reconhecê-la. Ele tinha o mesmo sorriso, ainda o mesmo corpo e os seus olhos pareciam bem perdidos, ao mesmo tempo atentos ao grupo de pessoas que caminharam em sua direção ao balcão. O coração dela foi capaz de bater em vários ritmos diferentes ao vê-lo sorrir de maneira tão sincera, e tudo nele era exatamente do que ainda vivia em seu coração e em suas recordações. Ele tinha sido moldado para completá-la e, hoje, depois de cinco anos, aquele mesmo sorriso era capaz de fazer com o que mundo parasse de girar e seu corpo estremecesse, sabendo que não escolheria outra pessoa no mundo a não ser somente ele, .
— Meu Deus, é ele… — A voz fraca que saiu por sua garganta deu a certeza de que ela não iria conseguir segurar por muito tempo todas as emoções que começaram a surgir enquanto observava a atenção dele sendo requisitada para o grupo, que agora estava fazendo um pedido enorme de café, rosquinhas e bolos para a mesa 12. parecia completamente envolvido com o trabalho e, apesar de saber sobre a sua especialidade, ela tinha certeza de que ele era bom em qualquer coisa que estivesse disposto a aprender.
Aquela vida em Quebec era com certeza totalmente diferente do que ele vivia há anos, e ela nem ao menos sabia se ele ainda conseguia lembrar-se de todas as cirurgias e todos os prêmios que teve ao longo dos anos, quando ainda exercia a atividade de neurocirurgião em um dos hospitais mais requisitados do país. não era qualquer pessoa do comum. Sempre dotado de grandes influências e o coração do tamanho do mundo para ajudar quem fosse preciso, a qualquer momento, e era essa a diferença que ele tinha sob todas as outras pessoas. Ele não tinha limites para as suas conquistas, e o seu coração era tão verdadeiro e único que ela não conseguia expressar aquele grande amor, que sentia transbordar por seus olhos em forma de lágrimas. Ela finalmente tinha encontrado o que tanto buscara durante todos aqueles anos, e, daquela distância, também conseguiu contemplar ainda mais o formato dos seus lábios e o leve avermelhamento das suas bochechas por causa do enorme frio que estava fazendo em Quebec nos últimos dias.
Ela não soube ao certo o que fazer e, ao julgar pelo andamento da cafeteria, sabia que tinha que agir de maneira natural para que não chamasse a atenção de todos a sua volta. estava trabalhando, e ela não podia chegar jogando todas as coisas daquela maneira em cima dele. Não podia simplesmente chegar e falar que era sua esposa e a mãe do seu filho. Talvez aquele choque causasse ainda mais uma crise e ele ficasse ainda mais abalado emocionalmente ao trazer à tona pequenos fragmentos do seu passado. O olhar dela se fixou em seu rosto e, caminhando lentamente, aproximou-se do balcão. Quando o olhar dele cruzou com o dela, o impacto daquele olhar o fez andar alguns passos para longe do balcão e colocar a mão na cabeça, como se tivesse sentido uma pontada.
— Bom dia. — Ela disse, tão direta que ele tomou um susto ao vê-la parada ali. — Tudo bem? Algo de errado? — Ela perguntou, preocupada ao vê-lo reagir tão estranho ao escutar a sua voz.
— Quem é você? Qual o seu nome? — Ele perguntou, de repente, quando seu coração ficou acelerado ao olhar diretamente para o rosto da mulher que estava parada do outro lado. Sua cabeça começou a girar e seu estômago pareceu embrulhar só de escutar aquela voz, que ainda estava ecoando por toda parte do seu cérebro. O timbre, a doçura e a maneira arrastada de falar todas as palavras fez com que ele começasse a se sentir desesperado. E tudo só piorou quando ela, naquele momento, começou a sorrir, e aquele sorriso foi como um soco em seu rosto. Aquele sorriso… aquele sorriso era o seu sorriso, o único no mundo que ele não seria capaz de esquecer. Como era possível ela estar ali? Quem era ela?
— , sou eu, a . — Ela, contendo as lágrimas disse, de maneira calma e tranquila, recebendo o choque de saber que ele realmente não a reconhecia. O olhar estava preso ao seu rosto e, a todo o momento, ele parecia buscar em seus pensamentos alguma coisa, a julgar por todas as expressões e o esforço em seu rosto. — Talvez você reconheça a minha voz ou o meu rosto. Eu só quero que você fique calmo e que respire de maneira correta. — estava certa de que ele não sabia quem ela era, mas, apenas com aquela troca de olhares, algo dentro dele parecia gritar que aquele rosto era familiar. A esperança em seu coração foi renovada ao saber que ainda existia, em alguma parte dele, a lembrança de que ela era alguém importante. Talvez dentro do seu coração ainda existisse algum amor, e torceu para que esse amor fosse tão real e verdadeiro para que ele pudesse sentir de maneira intensa.
— Eu conheço essa voz… — cambaleou um pouco para trás, colocando a mão na cabeça e baixando-a em seguida com a dor forte que o atingiu na nuca. Aquela voz era familiar, aquele sorriso e a maneira com que ela o chamou de amor, doce, suave e tão delicada, que não foi possível negar que seu coração estava começando a quase sair por sua boca. Aquela garota era importante, e aquela voz era a mesma voz que escutava todas as noites em seus sonhos. Era ela, só podia ser ela. E aquele sorriso, aquele mesmo sorriso de todas as fotos e do jardim. Do balanço e de todas as outras pequenas recordações. , seu nome era .
— Sou eu, amor.
— ? O seu nome é ? E eu sou o seu amor?
— Você sempre foi meu amor, e todos os dias eu tenho a certeza de que eu nasci para te amar, em qualquer lugar do mundo e em qualquer situação. Não importa o que esteja acontecendo com você, não me importa o que aconteceu. Nada mais tem sentido para mim se eu não estiver com você, . — Ela declarou, agora deixando que suas emoções tomassem conta do seu corpo. Os olhos começaram a ficar encharcados de tantas lágrimas, e o desespero em suas reações quase chegaram ao limite de atravessar o balcão e abraçá-lo de uma vez por todas, dizer a saudade que estava queimando em seu peito e a necessidade de sentir novamente os seus lábios massageando suavemente os dela. O gosto da sua língua e a forma com que seus braços a envolviam por completo. Aquele amor, que ela tanto lutara para esquecer e, naquele momento, estava mais presente do que nunca. Ela o amava da mesma maneira e com a mesma intensidade, dois, três, quatro e até mesmo cinco anos depois. — Olha para mim, escute a minha voz e se lembre do tanto que eu te amo e o quanto fomos felizes todos esses anos. O tanto que eu sinto a sua falta. Eu preciso de você. Nós precisamos de você, .
— Não, eu não consigo me lembrar…
— Amor, amor, fique calmo. Eu entendo que você não consegue se lembrar de tudo e que muitas coisas são estranhas, principalmente o meu rosto, mas procure dentro de você. Em alguma parte do seu coração, eu tenho certeza de que ele vai te trazer a certeza de todos esses sentimentos. — , determinada, lutou contra as lágrimas, sabendo que aquele momento de choque faria com que se sentisse ainda mais perdido do que em qualquer outra situação. A pressão e o baque que foi ao escutar a sua voz trouxe a sensação involuntária para que ele se afastasse dela no momento em que a dor começou a surgir em sua cabeça. — Não se esforce, por favor. Eu não vou a lugar nenhum e nem vou desistir de lutar por você. Estou aqui e sempre vou estar ao seu lado. Eu te amo, sempre vou amar, e meu lugar é estar com você.
— Por favor, me ajude. — Ele implorou, agora se ajoelhando no chão. A dor em sua cabeça foi aumentando gradativamente, e várias imagens começaram a surgir diante dos seus olhos. O sorriso, o choro de uma criança, o barulho de uma sala de cirurgia e o barulho do vento soprando em um jardim. O mesmo jardim da foto. O balanço agora estava em sua mente, e ele conseguia escutar todos os outros barulhos em sua volta. E ela, , sentada no balanço, falando sobre a paisagem e de como o dia estava lindo. Sua voz era tão suave que parecia não importar com nada mais que estivesse acontecendo. Ele apenas queria ficar naquela recordação durante todos os próximos minutos. A maneira com que o chamava tão carinhosamente fez o seu coração querer saltar do seu peito. Era intenso, forte e impactante.
— ! — Ela gritou, correndo para o outro lado desesperada ao vê-lo no chão. O pânico em sua voz assustou a todos os clientes, e Dah-Ko surgiu naquele instante da cozinha e correu para perto do sobrinho. Ele não a reconheceu de imediato, mas, depois de alguns segundos ao vê-la assim tão de perto, o tio de sentiu também um choque ao saber que ela era a esposa do sobrinho. — Amor, por favor. Acalme-se, . Fique comigo e não tenha uma crise, por favor, por favor!
— Fique comigo, me proteja e não me deixe sozinho. — Ele pediu, não conseguindo sentir forças para se levantar daquele chão. Os braços dela agora estavam por todo o seu corpo e, daquela distância, ele conseguiu sentir o cheiro daquele perfume, do mesmo perfume que sempre gostara e desejara um dia sentir novamente. Era ela. Aquele perfume e todas aquelas sensações que apareceram com o andar dos segundos só o levaram a ter certeza de que aquela garota era não somente alguém importante para o seu corpo, mas também para o seu coração. Nada pareceu tão certo do que esse momento que estava ao seu lado, sentindo e compartilhando aquele contato carinhoso, que seu corpo tanto buscara durante os anos. era sua paixão, seu amor e a parte que estava faltando em sua vida. Ela era o seu anjo e sua luz em meio a toda aquela escuridão. — Amor, eu preciso de você. Me faça te amar novamente, me ame novamente e traga para a minha vida todas as sensações e emoções que estou perdendo. Eu preciso de você, preciso do e preciso novamente me sentir completo. — Conseguindo forças, ele a envolveu com os seus braços, o choque daquele contato fazendo começar a chorar novamente, e tocou em seu rosto, acariciando levemente suas bochechas. A ternura em seu olhar trouxe para a garota novamente a esperança e certeza de que não existia outra pessoa no mundo para amar a não ser somente ele. — Não consigo me lembrar de tudo o que passamos e nem tenho outras recordações importantes, mas tudo o que eu quero é viver com você todos os dias da minha vida. Meu cérebro pode não te reconhecer, mas o meu coração sabe exatamente o tanto que te ama.
— O que vai acontecer quando você encontrá-lo? — questionou ao reparar no jeito inquieto da garota no banco ao lado, quando o carro lentamente foi aproximando-se do endereço indicado pelo tio de . A busca por ele durou nove semanas até finalmente conseguir o contato com alguns parentes e, no fim de uma vasta busca incessante, encontrá-lo na casa do Tio Dah-Ko, em Quebec.
— Não sei. — Perdida em meio a muitos pensamentos, ela soltou um longo suspiro, olhando no banco de trás do carro e observando o sono profundo que estava depois da viagem cansativa. — Fico pensando como vai ser a reação dele. não tem muitas recordações e… — respirou fundo, tentando não chorar. — Talvez nem se lembre do meu rosto ou meu nome. — O olhar vago e triste da garota virou-se para a janela com o coração apertado por saber que, em poucos minutos, estaria encontrando o seu grande amor.
— Tem que tomar cuidado para não o assustar e nem deixá-lo em conflito. — alertou a amiga sobre o estado mental do marido e do que choque que isso causaria nele com a presença dela no mesmo ambiente. — É delicado para o , entende? Você, mais que todos nesse mundo, precisa entender que a escolha dele foi muito delicada e que isso talvez seja um grande choque de realidade que ele não precisa no momento. — Preparando o discurso que há semanas estava guardando, resolveu de uma vez conversar com ela, por medo daquela viagem para Quebec transformar não somente a vida de , como também de . — Entendo a sua preocupação e, acredite, é a mesma que tenho. — A atenção dela desviou da janela, agora olhando na direção de . A fragilidade no assunto e a delicadeza de como ela iria abordá-lo tinham toda uma preocupação e um cuidado redobrado para não prejudicar ainda mais a situação. — Tenho medo de que ele entre em choque ou que fique mais perdido e temeroso com a minha presença.
— Então, precisamos descobrir agora como vai ser esse encontro. — parou o carro na única vaga que tinha na frente da cafeteria, e ficou paralisada por alguns segundos, olhando o enorme letreiro na entrada. Todo o seu corpo gritou em desespero por saber que não existia volta e que precisava de forças para entrar dentro daquele lugar de qualquer maneira. passou a mão pelo rosto da garota, desejando força, coragem e determinação para aquele momento especial. Rolou os olhos para dentro do carro, observando dormir profundamente, e uma última olhada para , segurando forte em uma das suas mãos. Ao longe, ela apenas escutou o click da porta sendo destravada e um vento forte cortando o seu rosto ao descer do carro e parar exatamente na entrada do lugar, que fez seu coração bater acelerado e suas pernas ficarem fracas.
esqueceu a maneira de respirar no momento em que os seus olhos se encontraram novamente com os dele. O mesmo olhar que buscou durante tanto tempo em seus sonhos e delírios enquanto estava sozinha em seu quarto, nutrindo a esperança e a fantasia de que, um dia, fosse novamente aparecer em sua vida. E, naquele momento, aquela fantasia estava bem diante dos seus olhos, e ela não soube exatamente como se comportar ao perceber a realidade daquilo tudo. Ela nem ao menos sabia se ele iria reconhecê-la. Ele tinha o mesmo sorriso, ainda o mesmo corpo e os seus olhos pareciam bem perdidos, ao mesmo tempo atentos ao grupo de pessoas que caminharam em sua direção ao balcão. O coração dela foi capaz de bater em vários ritmos diferentes ao vê-lo sorrir de maneira tão sincera, e tudo nele era exatamente do que ainda vivia em seu coração e em suas recordações. Ele tinha sido moldado para completá-la e, hoje, depois de cinco anos, aquele mesmo sorriso era capaz de fazer com o que mundo parasse de girar e seu corpo estremecesse, sabendo que não escolheria outra pessoa no mundo a não ser somente ele, .
— Meu Deus, é ele… — A voz fraca que saiu por sua garganta deu a certeza de que ela não iria conseguir segurar por muito tempo todas as emoções que começaram a surgir enquanto observava a atenção dele sendo requisitada para o grupo, que agora estava fazendo um pedido enorme de café, rosquinhas e bolos para a mesa 12. parecia completamente envolvido com o trabalho e, apesar de saber sobre a sua especialidade, ela tinha certeza de que ele era bom em qualquer coisa que estivesse disposto a aprender.
Aquela vida em Quebec era com certeza totalmente diferente do que ele vivia há anos, e ela nem ao menos sabia se ele ainda conseguia lembrar-se de todas as cirurgias e todos os prêmios que teve ao longo dos anos, quando ainda exercia a atividade de neurocirurgião em um dos hospitais mais requisitados do país. não era qualquer pessoa do comum. Sempre dotado de grandes influências e o coração do tamanho do mundo para ajudar quem fosse preciso, a qualquer momento, e era essa a diferença que ele tinha sob todas as outras pessoas. Ele não tinha limites para as suas conquistas, e o seu coração era tão verdadeiro e único que ela não conseguia expressar aquele grande amor, que sentia transbordar por seus olhos em forma de lágrimas. Ela finalmente tinha encontrado o que tanto buscara durante todos aqueles anos, e, daquela distância, também conseguiu contemplar ainda mais o formato dos seus lábios e o leve avermelhamento das suas bochechas por causa do enorme frio que estava fazendo em Quebec nos últimos dias.
Ela não soube ao certo o que fazer e, ao julgar pelo andamento da cafeteria, sabia que tinha que agir de maneira natural para que não chamasse a atenção de todos a sua volta. estava trabalhando, e ela não podia chegar jogando todas as coisas daquela maneira em cima dele. Não podia simplesmente chegar e falar que era sua esposa e a mãe do seu filho. Talvez aquele choque causasse ainda mais uma crise e ele ficasse ainda mais abalado emocionalmente ao trazer à tona pequenos fragmentos do seu passado. O olhar dela se fixou em seu rosto e, caminhando lentamente, aproximou-se do balcão. Quando o olhar dele cruzou com o dela, o impacto daquele olhar o fez andar alguns passos para longe do balcão e colocar a mão na cabeça, como se tivesse sentido uma pontada.
— Bom dia. — Ela disse, tão direta que ele tomou um susto ao vê-la parada ali. — Tudo bem? Algo de errado? — Ela perguntou, preocupada ao vê-lo reagir tão estranho ao escutar a sua voz.
— Quem é você? Qual o seu nome? — Ele perguntou, de repente, quando seu coração ficou acelerado ao olhar diretamente para o rosto da mulher que estava parada do outro lado. Sua cabeça começou a girar e seu estômago pareceu embrulhar só de escutar aquela voz, que ainda estava ecoando por toda parte do seu cérebro. O timbre, a doçura e a maneira arrastada de falar todas as palavras fez com que ele começasse a se sentir desesperado. E tudo só piorou quando ela, naquele momento, começou a sorrir, e aquele sorriso foi como um soco em seu rosto. Aquele sorriso… aquele sorriso era o seu sorriso, o único no mundo que ele não seria capaz de esquecer. Como era possível ela estar ali? Quem era ela?
— , sou eu, a . — Ela, contendo as lágrimas disse, de maneira calma e tranquila, recebendo o choque de saber que ele realmente não a reconhecia. O olhar estava preso ao seu rosto e, a todo o momento, ele parecia buscar em seus pensamentos alguma coisa, a julgar por todas as expressões e o esforço em seu rosto. — Talvez você reconheça a minha voz ou o meu rosto. Eu só quero que você fique calmo e que respire de maneira correta. — estava certa de que ele não sabia quem ela era, mas, apenas com aquela troca de olhares, algo dentro dele parecia gritar que aquele rosto era familiar. A esperança em seu coração foi renovada ao saber que ainda existia, em alguma parte dele, a lembrança de que ela era alguém importante. Talvez dentro do seu coração ainda existisse algum amor, e torceu para que esse amor fosse tão real e verdadeiro para que ele pudesse sentir de maneira intensa.
— Eu conheço essa voz… — cambaleou um pouco para trás, colocando a mão na cabeça e baixando-a em seguida com a dor forte que o atingiu na nuca. Aquela voz era familiar, aquele sorriso e a maneira com que ela o chamou de amor, doce, suave e tão delicada, que não foi possível negar que seu coração estava começando a quase sair por sua boca. Aquela garota era importante, e aquela voz era a mesma voz que escutava todas as noites em seus sonhos. Era ela, só podia ser ela. E aquele sorriso, aquele mesmo sorriso de todas as fotos e do jardim. Do balanço e de todas as outras pequenas recordações. , seu nome era .
— Sou eu, amor.
— ? O seu nome é ? E eu sou o seu amor?
— Você sempre foi meu amor, e todos os dias eu tenho a certeza de que eu nasci para te amar, em qualquer lugar do mundo e em qualquer situação. Não importa o que esteja acontecendo com você, não me importa o que aconteceu. Nada mais tem sentido para mim se eu não estiver com você, . — Ela declarou, agora deixando que suas emoções tomassem conta do seu corpo. Os olhos começaram a ficar encharcados de tantas lágrimas, e o desespero em suas reações quase chegaram ao limite de atravessar o balcão e abraçá-lo de uma vez por todas, dizer a saudade que estava queimando em seu peito e a necessidade de sentir novamente os seus lábios massageando suavemente os dela. O gosto da sua língua e a forma com que seus braços a envolviam por completo. Aquele amor, que ela tanto lutara para esquecer e, naquele momento, estava mais presente do que nunca. Ela o amava da mesma maneira e com a mesma intensidade, dois, três, quatro e até mesmo cinco anos depois. — Olha para mim, escute a minha voz e se lembre do tanto que eu te amo e o quanto fomos felizes todos esses anos. O tanto que eu sinto a sua falta. Eu preciso de você. Nós precisamos de você, .
— Não, eu não consigo me lembrar…
— Amor, amor, fique calmo. Eu entendo que você não consegue se lembrar de tudo e que muitas coisas são estranhas, principalmente o meu rosto, mas procure dentro de você. Em alguma parte do seu coração, eu tenho certeza de que ele vai te trazer a certeza de todos esses sentimentos. — , determinada, lutou contra as lágrimas, sabendo que aquele momento de choque faria com que se sentisse ainda mais perdido do que em qualquer outra situação. A pressão e o baque que foi ao escutar a sua voz trouxe a sensação involuntária para que ele se afastasse dela no momento em que a dor começou a surgir em sua cabeça. — Não se esforce, por favor. Eu não vou a lugar nenhum e nem vou desistir de lutar por você. Estou aqui e sempre vou estar ao seu lado. Eu te amo, sempre vou amar, e meu lugar é estar com você.
— Por favor, me ajude. — Ele implorou, agora se ajoelhando no chão. A dor em sua cabeça foi aumentando gradativamente, e várias imagens começaram a surgir diante dos seus olhos. O sorriso, o choro de uma criança, o barulho de uma sala de cirurgia e o barulho do vento soprando em um jardim. O mesmo jardim da foto. O balanço agora estava em sua mente, e ele conseguia escutar todos os outros barulhos em sua volta. E ela, , sentada no balanço, falando sobre a paisagem e de como o dia estava lindo. Sua voz era tão suave que parecia não importar com nada mais que estivesse acontecendo. Ele apenas queria ficar naquela recordação durante todos os próximos minutos. A maneira com que o chamava tão carinhosamente fez o seu coração querer saltar do seu peito. Era intenso, forte e impactante.
— ! — Ela gritou, correndo para o outro lado desesperada ao vê-lo no chão. O pânico em sua voz assustou a todos os clientes, e Dah-Ko surgiu naquele instante da cozinha e correu para perto do sobrinho. Ele não a reconheceu de imediato, mas, depois de alguns segundos ao vê-la assim tão de perto, o tio de sentiu também um choque ao saber que ela era a esposa do sobrinho. — Amor, por favor. Acalme-se, . Fique comigo e não tenha uma crise, por favor, por favor!
— Fique comigo, me proteja e não me deixe sozinho. — Ele pediu, não conseguindo sentir forças para se levantar daquele chão. Os braços dela agora estavam por todo o seu corpo e, daquela distância, ele conseguiu sentir o cheiro daquele perfume, do mesmo perfume que sempre gostara e desejara um dia sentir novamente. Era ela. Aquele perfume e todas aquelas sensações que apareceram com o andar dos segundos só o levaram a ter certeza de que aquela garota era não somente alguém importante para o seu corpo, mas também para o seu coração. Nada pareceu tão certo do que esse momento que estava ao seu lado, sentindo e compartilhando aquele contato carinhoso, que seu corpo tanto buscara durante os anos. era sua paixão, seu amor e a parte que estava faltando em sua vida. Ela era o seu anjo e sua luz em meio a toda aquela escuridão. — Amor, eu preciso de você. Me faça te amar novamente, me ame novamente e traga para a minha vida todas as sensações e emoções que estou perdendo. Eu preciso de você, preciso do e preciso novamente me sentir completo. — Conseguindo forças, ele a envolveu com os seus braços, o choque daquele contato fazendo começar a chorar novamente, e tocou em seu rosto, acariciando levemente suas bochechas. A ternura em seu olhar trouxe para a garota novamente a esperança e certeza de que não existia outra pessoa no mundo para amar a não ser somente ele. — Não consigo me lembrar de tudo o que passamos e nem tenho outras recordações importantes, mas tudo o que eu quero é viver com você todos os dias da minha vida. Meu cérebro pode não te reconhecer, mas o meu coração sabe exatamente o tanto que te ama.
Bônus
Andando de mãos dadas com pela cafeteria, procurou a mãe no meio de toda aquela aglomeração, deixando que seus olhos ficassem presos nas pessoas que conversavam animadamente em mesas e outras em pé, dividindo espaço no balcão para conseguir rapidamente o pedido.
— Olha a mamãe, . — falou, mostrando para o garoto onde a garota estava. — Quer ir com ela? — Perguntou, recebendo uma resposta “sim” com um curto aceno com a cabeça.
— Mamãe? — chamou a mãe ao vê-la no chão abraçada com um homem e, lentamente, o pequeno foi caminhando em direção a ela, que estava com os olhos marejados de lágrimas depois daquele reencontro com . não teve qualquer outra reação inicial a não ser o choque por tão próximo assim de . Talvez fosse bom para , mas não tinha certeza sobre o que causaria à criança ao descobrir quem ele era. — Mamãe, não chora. — Ele disse ainda mais alto, e o corpo de estremeceu nos braços da esposa, com remorso de olhar para o garoto que foi capaz de abandonar.
— Meu anjinho, vem com aqui com a mamãe. — balançou uma das mãos para que o garoto fosse até ela, e pressionou as mãos no rosto, desabando em choro. — , meu amor… — Cuidadosa com as palavras e com aquele momento delicado, respirou fundo, controlando as suas emoções para não o assustar.
— Mamãe? Por que ele também chora? — A curiosidade da criança ao envolver o pescoço da mãe com um dos braços foi imediatamente para a presença de , que ainda mantinha a cabeça baixa e uma das mãos cobrindo o rosto. O choro descompassado e a tremura ainda por todo o corpo deixaram a sua respiração ofegante e, aos poucos, ele sentia a cabeça latejar em dor.
— … — respirou fundo, sorrindo nervosa enquanto segurava uma das mãos de e a outra ainda segurando a mão do filho. — Lembra sobre a nossa conversa sobre o papai? A história que eu sempre contava a noite? — Ela perguntou, instigando o filho a falar um pouco sobre o pai, para que ficasse um pouco mais seguro em levantar o rosto e olhar para a criança.
— Lembro da história sobre o papai ser o amor da sua vida. — respondeu com um pequeno sorriso, ainda com os olhos focados na direção do homem. — Papai também é o amor da minha vida, não é? — A pergunta inocente despertou a atenção de alguns curiosos que estavam no balcão observando a cena, e Dah-Ko, do outro lado, ficou preocupado com a reação negativa que aquilo fosse causar para o sobrinho.
— Papai é o nosso amor, lembra? E você lembra que queria falar uma coisa para ele quando o papai voltasse? — Ela beijou levemente o rosto da criança, sentindo o aperto da mão de contra a sua.
— Papai … — começou a falar, buscando na memória a lembrança de todas as noites repetir aquelas mesmas palavras até cair no sono. — Senti muito a sua falta e meu coração é muito triste por você ter deixado a gente, mas não fica triste por causa disso. — Os olhinhos dele começaram a fechar, lutando contra algumas lágrimas que começaram a escorrer. — Todos os dias sonho com você, papai. — A voz do pequeno começou a falhar, e soltou um soluço agudo da garganta, não controlando mais o desespero do seu choro. — Mamãe disse que minha luz não pode ficar sem a sua. Papai, eu te amo e sinto saudades. — Ele terminou de falar, cobrindo o rosto com ambas as mãos e deixando despedaçada, chorando na mesma intensidade que . Ela queria ter forças para falar alguma coisa, mas tudo pareceu de repente ficar escuro e suas forças começaram a desaparecer do seu corpo.
— Amor…
— Mamãe, não quero chorar de novo. — O choro dele ficou mais sufocante, e , num impulso desesperado, levantou o rosto, buscando os olhinhos marejados de lágrimas do filho. Todo o seu corpo gritou com aquele choque, e tudo o que ele rapidamente sentiu foi uma dor na nuca com aquela recordação invadindo sua cabeça.
— … — A voz sufocada dele saiu com dificuldade.
— Oi. — respondeu, olhando dentro dos olhos de e iniciando um choro mais agressivo. Ele empurrou as mãos da mãe para o lado, cobrindo o rosto com as mãos quando sustentou aquele olhar terno e intenso.
— . — voltou a chamá-lo, estendendo uma das mãos e tocando levemente em seu cabelo.
— Não. — balançou a cabeça, querendo afastar-se. — Mamãe, é um sonho? — Ele perguntou, cochichando no ouvido dela.
— Não, meu pequeno. — Carinhosamente, ela afagou as bochechas dele, sabendo que era muito esperto e que tinha reconhecido no instante momento em que levantou o rosto.
— Mamãe, não é um sonho… — Ele repetiu as palavras dela olhando para . — Então, o papai…
— O papai está aqui. — completou, abrindo os braços enquanto o pequeno, assustado, pegou impulso para correr em sua direção.
— Papai! — gritou feliz, envolvendo o pescoço de com os braços. — Papai, papai… — Ele voltou a chorar, agora sendo amparado no colo de . — Não é um sonho, não é um sonho. — Ele repetia, engolindo o fôlego.
— Me perdoa, minha vida. Me perdoa por tudo… — jogou-se por completo no chão com o filho nos braços, não sentindo mais nada no seu corpo e nem lúcido sobre os outros acontecimentos ao seu redor. — Eu te amo, meu bebê. Meu sonho, minha luz… — O mundo pareceu desaparecer, e tudo o que o seu coração e mente buscaram foi aquela realidade que estava em seus braços. era a sua esperança e, por ele, seria capaz de voltar a lutar por um tratamento.
— Papai, eu te amo, sabia? — buscou o rosto dele, segurando com ambas as mãos de um lado e de outro. — Papai, não me deixa de novo? Promete? — Ele suplicou, choroso.
— Nunca, minha vida. Papai nunca mais vai embora. — beijou a ponta do nariz dele, confirmando que nunca mais iria embora. Os olhos surpresos de exploravam cada parte do rosto do pai, ainda muito curioso com a presença dele. — Minha vida é você e a mamãe. — Ele confessou, puxando a garota para mais perto e deixando um beijo suave em seus lábios. — Me perdoa por tudo, meu amor. Me perdoa por tê-la deixado sozinha todos esses anos. — A culpa por tê-los deixado surgiu, fazendo o momento mais emocionante. — Não consigo mais viver dessa maneira. Preciso de vocês na minha vida. Preciso das minhas lembranças e só consigo tudo isso se eu estiver no lugar que pertenço. — Ele fez uma pausa, recebendo um beijo carinhoso do filho. — Quero minha vida de volta. Quero meu filho. Quero minha esposa. Quero amar. Quero ser amado e sentir tudo de novo queimar dentro do meu peito. Todo esse amor, toda essa paixão que deixa o meu corpo todo fraco. — declarou, juntando forças para segurar ainda o filho nos braços. — Eu amo vocês dem... — Antes que pudesse terminar a frase, puxou o seu rosto para mais um beijo, querendo selar aquele momento como um recomeço para a sua família, que novamente estava completa.
A DOENÇA “NEUROSTIGMA” NÃO EXISTE, ELA FOI CRIADA ESPECIALMENTE PARA ESSA FANFIC.
— Olha a mamãe, . — falou, mostrando para o garoto onde a garota estava. — Quer ir com ela? — Perguntou, recebendo uma resposta “sim” com um curto aceno com a cabeça.
— Mamãe? — chamou a mãe ao vê-la no chão abraçada com um homem e, lentamente, o pequeno foi caminhando em direção a ela, que estava com os olhos marejados de lágrimas depois daquele reencontro com . não teve qualquer outra reação inicial a não ser o choque por tão próximo assim de . Talvez fosse bom para , mas não tinha certeza sobre o que causaria à criança ao descobrir quem ele era. — Mamãe, não chora. — Ele disse ainda mais alto, e o corpo de estremeceu nos braços da esposa, com remorso de olhar para o garoto que foi capaz de abandonar.
— Meu anjinho, vem com aqui com a mamãe. — balançou uma das mãos para que o garoto fosse até ela, e pressionou as mãos no rosto, desabando em choro. — , meu amor… — Cuidadosa com as palavras e com aquele momento delicado, respirou fundo, controlando as suas emoções para não o assustar.
— Mamãe? Por que ele também chora? — A curiosidade da criança ao envolver o pescoço da mãe com um dos braços foi imediatamente para a presença de , que ainda mantinha a cabeça baixa e uma das mãos cobrindo o rosto. O choro descompassado e a tremura ainda por todo o corpo deixaram a sua respiração ofegante e, aos poucos, ele sentia a cabeça latejar em dor.
— … — respirou fundo, sorrindo nervosa enquanto segurava uma das mãos de e a outra ainda segurando a mão do filho. — Lembra sobre a nossa conversa sobre o papai? A história que eu sempre contava a noite? — Ela perguntou, instigando o filho a falar um pouco sobre o pai, para que ficasse um pouco mais seguro em levantar o rosto e olhar para a criança.
— Lembro da história sobre o papai ser o amor da sua vida. — respondeu com um pequeno sorriso, ainda com os olhos focados na direção do homem. — Papai também é o amor da minha vida, não é? — A pergunta inocente despertou a atenção de alguns curiosos que estavam no balcão observando a cena, e Dah-Ko, do outro lado, ficou preocupado com a reação negativa que aquilo fosse causar para o sobrinho.
— Papai é o nosso amor, lembra? E você lembra que queria falar uma coisa para ele quando o papai voltasse? — Ela beijou levemente o rosto da criança, sentindo o aperto da mão de contra a sua.
— Papai … — começou a falar, buscando na memória a lembrança de todas as noites repetir aquelas mesmas palavras até cair no sono. — Senti muito a sua falta e meu coração é muito triste por você ter deixado a gente, mas não fica triste por causa disso. — Os olhinhos dele começaram a fechar, lutando contra algumas lágrimas que começaram a escorrer. — Todos os dias sonho com você, papai. — A voz do pequeno começou a falhar, e soltou um soluço agudo da garganta, não controlando mais o desespero do seu choro. — Mamãe disse que minha luz não pode ficar sem a sua. Papai, eu te amo e sinto saudades. — Ele terminou de falar, cobrindo o rosto com ambas as mãos e deixando despedaçada, chorando na mesma intensidade que . Ela queria ter forças para falar alguma coisa, mas tudo pareceu de repente ficar escuro e suas forças começaram a desaparecer do seu corpo.
— Amor…
— Mamãe, não quero chorar de novo. — O choro dele ficou mais sufocante, e , num impulso desesperado, levantou o rosto, buscando os olhinhos marejados de lágrimas do filho. Todo o seu corpo gritou com aquele choque, e tudo o que ele rapidamente sentiu foi uma dor na nuca com aquela recordação invadindo sua cabeça.
— … — A voz sufocada dele saiu com dificuldade.
— Oi. — respondeu, olhando dentro dos olhos de e iniciando um choro mais agressivo. Ele empurrou as mãos da mãe para o lado, cobrindo o rosto com as mãos quando sustentou aquele olhar terno e intenso.
— . — voltou a chamá-lo, estendendo uma das mãos e tocando levemente em seu cabelo.
— Não. — balançou a cabeça, querendo afastar-se. — Mamãe, é um sonho? — Ele perguntou, cochichando no ouvido dela.
— Não, meu pequeno. — Carinhosamente, ela afagou as bochechas dele, sabendo que era muito esperto e que tinha reconhecido no instante momento em que levantou o rosto.
— Mamãe, não é um sonho… — Ele repetiu as palavras dela olhando para . — Então, o papai…
— O papai está aqui. — completou, abrindo os braços enquanto o pequeno, assustado, pegou impulso para correr em sua direção.
— Papai! — gritou feliz, envolvendo o pescoço de com os braços. — Papai, papai… — Ele voltou a chorar, agora sendo amparado no colo de . — Não é um sonho, não é um sonho. — Ele repetia, engolindo o fôlego.
— Me perdoa, minha vida. Me perdoa por tudo… — jogou-se por completo no chão com o filho nos braços, não sentindo mais nada no seu corpo e nem lúcido sobre os outros acontecimentos ao seu redor. — Eu te amo, meu bebê. Meu sonho, minha luz… — O mundo pareceu desaparecer, e tudo o que o seu coração e mente buscaram foi aquela realidade que estava em seus braços. era a sua esperança e, por ele, seria capaz de voltar a lutar por um tratamento.
— Papai, eu te amo, sabia? — buscou o rosto dele, segurando com ambas as mãos de um lado e de outro. — Papai, não me deixa de novo? Promete? — Ele suplicou, choroso.
— Nunca, minha vida. Papai nunca mais vai embora. — beijou a ponta do nariz dele, confirmando que nunca mais iria embora. Os olhos surpresos de exploravam cada parte do rosto do pai, ainda muito curioso com a presença dele. — Minha vida é você e a mamãe. — Ele confessou, puxando a garota para mais perto e deixando um beijo suave em seus lábios. — Me perdoa por tudo, meu amor. Me perdoa por tê-la deixado sozinha todos esses anos. — A culpa por tê-los deixado surgiu, fazendo o momento mais emocionante. — Não consigo mais viver dessa maneira. Preciso de vocês na minha vida. Preciso das minhas lembranças e só consigo tudo isso se eu estiver no lugar que pertenço. — Ele fez uma pausa, recebendo um beijo carinhoso do filho. — Quero minha vida de volta. Quero meu filho. Quero minha esposa. Quero amar. Quero ser amado e sentir tudo de novo queimar dentro do meu peito. Todo esse amor, toda essa paixão que deixa o meu corpo todo fraco. — declarou, juntando forças para segurar ainda o filho nos braços. — Eu amo vocês dem... — Antes que pudesse terminar a frase, puxou o seu rosto para mais um beijo, querendo selar aquele momento como um recomeço para a sua família, que novamente estava completa.
Fim
Nota da autora: E então novamente eu estou aqui com Stigma reescrita. Essa história é muito especial e o plot aconteceu em uma noite quando estava
frustrada, deprimida por não conseguir nada de “legal”. No fim, me apeguei a essa história, aos personagens e tudo o que envolve a Neurostigma.
Espero que vocês gostem dessa versão e espero que vocês leiam também a segunda parte de Stigma em 03. You Are do ficstape do GOT7.
Não deixem de comentar é muito importante pra gente, ok?
Amo vocês!
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Outras Fanfics:
FICSTAPES:
01. Call Me Baby [FICSTAPE #062: EXO – Exodus]
03. Best Of Me [FICSTAPE #070: BTS – Love Yourself: Her]
03. This Is How I Disappear [FICSTAPE #068: My Chemical Romance – The Black Parade]
03. You Are [FICSTAPE #104: GOT7 - 7 for 7]
04. Permanent Vacation [FICSTAPE #067: 5SOS -Sounds Good Feels Good]
05. Butterfly [FICSTAPE #103: BTS - Young Forever]
05. Stigma [FICSTAPE #080: BTS – You Never Walk Alone]
05. I'm Sorry [FICSTAPE #084: The Maine – Pioneer]
07. Let’s Dance [FICSTAPE #065: Super Junior – Mamacita]
10. Fire [FICSTAPE #103: BTS - Young Forever]
SHORTFICS:
Hug Me [Doramas – Shortfics]
It's You [EXO – Shortfics]
MUSIC VIDEO:
MV: Don't Forget [Music Video - KPOP]
MV: One More Chance [Music Video - KPOP]
MV: That One [Music Video - KPOP]
EM ANDAMENTO:
Fake Love [KPOP - BTS – Em Andamento]
I NEED U [KPOP – Restritas – Em Andamento]
Love Is Not Over [KPOP – Restritas – Em Andamento]
Let Me Know [KPOP – Restritas – Em Andamento]
Spring Day [KPOP – BTS – Em Andamento]
Time To Love [KPOP - BTS – Em Andamento]
That's Love [KPOP - EXO – Em Andamento]
Espero que vocês gostem dessa versão e espero que vocês leiam também a segunda parte de Stigma em 03. You Are do ficstape do GOT7.
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Amo vocês!
Outras Fanfics:
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03. You Are [FICSTAPE #104: GOT7 - 7 for 7]
04. Permanent Vacation [FICSTAPE #067: 5SOS -Sounds Good Feels Good]
05. Butterfly [FICSTAPE #103: BTS - Young Forever]
05. Stigma [FICSTAPE #080: BTS – You Never Walk Alone]
05. I'm Sorry [FICSTAPE #084: The Maine – Pioneer]
07. Let’s Dance [FICSTAPE #065: Super Junior – Mamacita]
10. Fire [FICSTAPE #103: BTS - Young Forever]
SHORTFICS:
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It's You [EXO – Shortfics]
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