Capítulo I
― Você é, sinceramente e definitivamente, a pessoa mais narcisista que eu já vi em toda a minha vida. ― a garota olhou para a melhor amiga com uma expressão de nojinho óbvia ao encontrá-la sentada no refeitório, com a mesa completamente forrada.
Eram literalmente dezenas de nécessaires coloridas, as quais abria e olhava uma por uma para avaliar os conteúdos, sob os olhares atentos de praticamente a metade ou mais da metade dos garotos da escola. As palavras de acabaram arrancando uma risada alta e sonora dela, que sorriu largamente e balançou os ombros, como se aquilo não a afetasse, porque realmente não afetava.
― Eu tinha que arrumar um jeito pra escolher o meu par pro baile, não tinha? Foi você mesma que falou que eu tinha que resolver isso logo, ou ia acabar indo sozinha e atrapalhando a sua noite inteira do lado do Vernon. ― dramatizou, revirando os olhos de forma exagerada e fazendo uma expressão de criança desprezada.
― Mas pedir presentes, ? Sério?! ― arqueou uma das sobrancelhas, sentando na cadeira ao lado e olhando para o caderno que ela anotava um tipo de pontuação, observando a numeração das etiquetinhas que havia colocado em cada bolsinha e colocando um número de zero a cem na frente. ― E ainda avaliar na frente da escola inteira? Se isso não é querer ser cruel… ― mas nessa parte ela não falava muito ofendida, parecia mais era orgulhosa.
― Não são presentes, as bolsas são minhas. ― ela balançou os ombros desanimada com as conclusões precipitadas da amiga, e então parou de escrever para olhá-la e sorrir de canto. ― E dentro eles podiam colocar qualquer coisa, não precisavam ser presentes, podia ser simplesmente um bilhetinho com um pedido fofo. Na verdade, esses são os que eu gosto mais, mas também os que menos tem. ― suspirou desanimada com isso, o choque de realidade de que realmente parecia ser fútil acertando bem o meio da sua cara quando viu que a maioria das coisas eram maquiagens. ― Não foi uma ideia maravilhosa?!
― Maravilhosa eu não sei, mas não estou surpresa disso ter saído dessa sua cabeça. Sonhou com isso, foi? ― questionou, e o pior de tudo era que apesar de parecer sarcasmo, não era, ela realmente estava falando sério. E soube que estava certa quando soltou um sorrisinho de canto, sem negar sua constatação. ― E como estamos? Algum pedido fofo já ganhou seu coração? ― perguntou outra vez, se esticando para ver se havia alguma pontuação que passava os cinquenta.
― Na verdade… Teve um. ― pegou a bolsinha de número vinte e oito que havia escondido embaixo do caderno em seu colo. Era vermelha, e assim que ela abriu o zíper tirou rapidamente o conteúdo, abriu a página por cima do caderno para que ninguém visse. ― Ainda não dei nota pra esse, eu não sei o que fazer…
revirou os olhos com o tom dramático, mas olhou bem a folha para ler o que estava escrito. Só havia uma frase no meio do papel, e nem mesmo estava assinada… Não entendeu porque aquilo chamaria tanto a atenção de .
― O que você acha de mim? ― leu em voz alta, na esperança de que a amiga percebesse o quão idiota aquilo soava. ― Tá, você fala que é difícil de ser conquistada e é isso que chama a sua atenção?
― Não, você não entendeu! ― soltou um muxoxo desanimado, mas no fim fora burrice sua não ter explicado algo que com certeza não tinha obrigação de saber. ― Essa letra… É a do . ― cobriu a boca ao pronunciar o nome, se certificando de ser o mais discreta possível e ter certeza que ninguém ouviria o seu sussurro.
arregalou os olhos, finalmente entendendo o porquê de tanto estardalhaço, e percebeu que também estava prestes a surtar com a amiga, mesmo que não fosse exatamente nada relacionado a si. , também conhecido como o garoto mais bonito da escola para a maioria das meninas que estudavam ali, sendo também um dos mais populares mesmo que não fizesse exatamente nada além de ser o primeiro aluno da classe e parte do clube de culinária. Ah, e junto de tudo isso, ele também era conhecido como o ex namorado de .
― Você tem certeza? ― a resposta de foi apenas um balanço exagerado e frenético de cabeça, como aqueles cachorrinhos comumente colocados em painéis solares de carros. ― Como isso aconteceu? ― questionou com a mente dando um nó e um giro de trezentos e sessenta graus em completa confusão, tentando achar algum sentido nisso.
― Também não faço a mínima ideia. ― sussurrou, encarando aquela folha como se ela fosse uma afronta e uma mensagem do próprio demônio para si. ― Foi ele que terminou, por que diabos ia querer ir no baile comigo?! ― seu tom de voz era nitidamente frustrado, e não precisava nem mesmo desde sinal para saber que os sentimentos que a amiga tinha por ainda eram capazes de bagunçar completamente a cabeça dela. ― Mas ele também continua curtindo as minhas fotos no instagram.
― Se você não sabe, eu então… ― balançou os ombros, mas até mesmo forçou a mente para pensar em algum motivo plausível além dele ser extremamente idiota. Mas isso era um fato, então… ― E o que você pretende fazer?!
― Eu não sei, não sei nem o que pensar. O pior é saber que ele não está brincando, porque ele não faria isso na brincadeira. Estou metade com vontade de meter a mão na cara dele e metade com vontade de correr e abraçar o desgraçado. ― grunhiu irritada ao terminar de falar, voltando a dobrar o papel e guardá-lo dentro da bolsinha, que colocou em seu colo outra vez, meio escondida.
― Bom, você não precisa decidir agora. Ainda falta um tempo pro baile, não falta? ― franziu o cenho, tentando se lembrar da data, mas desistiu ao perceber que não conseguiria e sorriu amarelo para a melhor amiga. ― Eu esqueci quando é.
― Falta um mês e uma semana. ― jogou a cabeça para trás, respirando fundo para acalmar os nervos e pensando que ela estava certa. Ainda tinha tempo para decidir o que fazer… Tempo o suficiente para organizar seus sentimentos por .
Ergueu o olhar e inconscientemente o procurou pelo pátio. Ele estava do outro lado da escola, sentado entre algumas garotas que pareciam elogiá-lo até a língua doer, uma vez que ele tinha um daqueles sorrisos cretinos dele. os chamava assim por conhecê-los bem: era falsa modéstia. Ele sabia o quão maravilhoso era, mas quando outras pessoas falavam, sorria e fingia que não, apenas para puxarem ainda mais seu saco. Sua expressão se emburrou no mesmo segundo conforme o via olhando nos olhos de cada uma das tietes, o peito queimando em um sentimento que não devia mais nutrir por ele. Por sorte, o primeiro sinal que anunciava o fim do horário de almoço tocou, interrompendo sua concentração de raiva e ela suspirou ao fechar o caderno com uma caneta no meio para não perder a página que fazia suas anotações.
― Vou sair daqui antes que você me obrigue a carregar metade dessas coisas pra você. ― se levantou rapidamente para realmente se retirar, e a mais nova revirou os olhos e balançou a cabeça negativamente.
― Não precisa se preocupar com isso, eu trouxe uma bolsa só pra levá-las pra casa. ― sorriu orgulhosa de si mesma, levantando e pegando a mochila enorme e vazia que estava com as alças encaixadas na cadeira que estava sentada. ― E são só trinta e seis, não exagera tanto.
― Você fala como se trinta e seis garotos se digladiando pra te levar no baile fosse pouco e depois ainda me diz que as pessoas te acharem metida é uma impressão errada. ― começou a rir com a realidade da amiga e a forma que ela dizia aquilo como se fosse extremamente normal, balançando a cabeça negativamente e a esperando terminar de guardar as coisinhas para irem juntas para aula.
Ninguém entendia bem como havia ficado tão popular, ela só tinha. Não que ela fosse feia, porque ela não era e muitos até diziam que ela parecia uma boneca, era só que ela era o oposto de todo o clichê de filme popular adolescente em personalidade. não dançava e nem cantava, as coisas que estavam na moda no colégio nos últimos anos, também odiava todos os esportes e estava no clube de teatro, algo que a maioria dos alunos achava sem graça e careta.
Sendo a única coisa que ela demonstrava algum interesse publicamente, por conta de seus papéis desenvolveu um apreço especial por maquiagem já que estava sempre usando nas peças para ajudar na imersão, a explicação para todos os conteúdos das nécessaires serem batons ou coisas do tipo. O teatro a ajudara a se tornar vaidosa, e ela abraçou aquela nova característica com dedicação, e como ninguém era exatamente próximo de além de , as pessoas começaram a relacioná-la facilmente com esse estereótipo.
O fato de sua família ser de classe alta não era uma novidade nem algo extraordinário, porque todos estavam ali pelo mesmo motivo, estudando em uma das escolas mais caras da cidade. E ser bonita também não era exatamente um diferencial, porque haviam garotas tão bonitas quanto ela que se esforçavam bem mais para chamar atenção. Como já mostrado, também não tinha a melhor das personalidades e era naturalmente um pouco narcisista e talvez demonstrasse ser um pouco confiante demais…? Ok, talvez essas fossem características que combinam com a mocinha popular dos filmes, mas…
― O que adianta se eu não quero ir com nenhum dos trinta e seis? ― questionou com um bico manhoso se formando nos lábios, chegando até seu armário para deixar a bolsa e pegar alguns livros para a próxima aula.
― Ai, tadinha…
― Ya, não fale como se não fosse nada! ― bateu a porta de metal irritada com o sarcasmo da melhor amiga, apenas para dar de cara com encostado lateralmente no armário ao lado, lhe fazendo dar um pulinho pra trás e só não se desequilibrar porque ainda estava atrás de si e serviu de apoio mesmo sem querer.
― Oi. ― o jeito como a voz dele soou fez as pernas de ficarem bambas, e para piorar ainda mais, a combinação com aquele repuxar de lábio destroçou o seu coração. Naquele momento ela amaldiçoou todas as gerações da família .
― Oi. ― respondeu, tentando soar firme e não deixar a sua voz tremular em algum momento para evidenciar seu nervosismo. Já faziam meses e nem depois de tanto tempo conseguia superá-lo.
― Então… Você já escolheu seu par pro baile?
O jeito que ele fez aquela pergunta soou irritante aos ouvidos de e ela quis praguejar baixo, mas se segurou. Ele tinha plena confiança que ela o escolheria, aquele desgraçado, por isso estava agindo daquela forma… Porque tinha certeza. Ao mesmo tempo a cena de vê-lo no meio de tantas garotas mais cedo passou outra vez na sua cabeça, e despertou um ódio que não lembrava ser tão acentuado em seu coraçãozinho.
― Sim, já. ― respirou fundo e então abriu um sorriso largo, tentando fazê-lo parecer ser genuinamente empolgado e não um sorriso de psicopata que queria voar no pescoço de sua vítima.
― Sério?! ― ergueu as sobrancelhas, falsamente surpreso, mas nem com o perigo iminente de ser desprezado pela ex namorada estar sendo uma hipótese bem real ele vacilava na postura confiante, apenas a irritando ainda mais. ― Quem é?
esticou o pescoço e ficou na ponta dos pés, fingindo estar procurando a pessoa a qual havia escolhido. O seu coração batia tão rápido quanto os milésimos passavam no relógio para formar um segundo, e ela não pensou direito quando simplesmente agarrou o braço do primeiro garoto que atravessou o corredor próximo o suficiente para que conseguisse alcançá-lo, o puxando para si sem se importar se o desconhecido tinha ficado de costas pra .
― É ele! ― decretou animada, um sorriso satisfeito enchendo seus lábios quando finalmente pareceu um tanto chocado, caindo no seu plano como um patinho.
― É ele o quê? ― o garoto que prensava contra si questionou, encarando o braço de como se pudesse decepá-lo apenas com o olhar. Mesmo estando de fones de ouvido, a garota gritou tão alto que ultrapassou a barreira formada pela música e ele escutou da mesma forma.
― Ah, ele está surpreso, eu ainda não tinha dado a notícia… ― ela disfarçou sorrindo, não contando que o escolhido iria reagir daquele jeito. ― Inclusive, agora precisamos conversar pra acertar as coisas, então…
acenou com a mão livre e simplesmente deu as costas para , trocando o braço ao qual agarrava o desconhecido e o puxando para longe o mais rápido possível apenas para se certificar que o ex não escutaria o que iria acontecer depois. Quando virou o corredor ao lado daquele que ainda não fazia ideia de quem era, ela deixou finalmente o ar escapar pela boca entreaberta, relaxando a postura e abaixando um pouco o corpo em alívio, sem perceber que o olhar assassino do rapaz que teria de enfrentar era bem pior para que já se sentisse a salvo.
― Seria muito difícil pra você me soltar? ― a voz dele lhe fez acordar e perceber que ainda estava agarrada ao seu braço, e quando o fez deu um outro pulinho para trás, erguendo as mãos no ar para soltá-lo no susto.
― M-Me desculpa, eu… Desculpa mesmo, não percebi que ainda estava te segurando, quer dizer, desculpa por ter te agarrado também, é só que eu… Eu realmente precisei! ― se enrolou ainda mais com as palavras, principalmente quando olhou para cima e encontrou a expressão infeliz e intimidadora do rapaz, o que apenas a deixou mais desesperada e a fez se encolher em seu próprio corpo, tendo vontade de começar a chorar ali mesmo. ― Desculpa…?
― Aish… ― ele simplesmente bufou irritado e voltou a colocar o fone de ouvido que havia tirado para escutá-la, revirando os olhos nas órbitas até que eles não girassem mais e voltando a sua caminhada. ― Louca.
― EI! É MUITO FEIO CHAMAR ALGUÉM QUE VOCÊ NÃO CONHECE ASSIM! ― gritou revoltada, mas ele não escutou, ou se escutou simplesmente ignorou e continuou andando, ajeitando o óculos de armação prateada e redonda que cobria os olhos durante o seu caminho e fazendo-a jogar suas costas contra a parede em desistência e frustração por tudo que estava dando errado naquele dia.
― Quer dizer então que eu, que conheço bem, posso? ― apareceu do seu lado, com as duas sobrancelhas arqueadas em uma expressão de quem a estava julgando fortemente, e gemeu de uma forma exagerada e dramática, escorregando o corpo pelo apoio. ― Louca…
❥❥❥❥❥
Se havia algo que definitivamente era, esse algo com certeza era uma stalker. Mesmo com o choque inicial de ser rejeitada tão brutalmente como havia acontecido, ela sabia que agora já tinha começado com o seu plano e não podia deixá-lo para trás de forma alguma, porque , aparentemente, havia acreditado veementemente. O seu destino com o desconhecido foi traçado assim que ele passou ao seu lado naquele momento, o que tinha certeza que não era apenas coincidência.
Só havia um probleminha, que, na verdade, não era nada pequeno.
Ele não parecia concordar com a ideia, e além disso, não fazia a mínima ideia de quem aquele garoto era. E por mínima, queria dizer que não sabia nem mesmo seu nome ou classe, também nunca havia o visto antes, mas essa parte não era muito surpreendente, visto que a escola era enorme e ela costumava passar todo o seu tempo livre no auditório ou na biblioteca. As únicas coisas que conseguiu distinguir naquele pequeno contato, quando remoeu a cena diversas vezes na própria cabeça e a analisou de todas as formas, foram: ele não era muito sociável, tinha problema de vista porque usava óculos, provavelmente gostava de música e tinha um sotaque interiorano extremamente forte e fofo - essa última parte ela que adicionou.
Respirou fundo, olhando para o teto do palco onde estava deitada e tentando pensar no que fazer. O horário de aula já havia acabado, mas ainda não era hora da reunião do clube e esse era o seu momento favorito, quando podia ficar sozinha naquele palco, porque aquela atmosfera sempre costumava lhe ajudava a pensar, mas mesmo depois de vinte e cinco minutos a única coisa que se passava na sua cabeça era que precisava descobrir o nome dele. O resto, veria depois.
Ouviu algumas risadas vindo dos corredores e se obrigou a erguer o tronco ao pensar que já estava na hora de começarem as atividades. Porém, seu corpo quase foi pra trás de novo quando viu quem passava entre as fileiras de poltronas vazias para chegar até a escada lateral do palco que ela estava. Ficou em estado de negação. Não era possível… O que aquela peste tinha ido fazer ali? Achou que depois do que havia acontecido mais cedo teria pelo menos alguns dias de folga da presença de , mas estava fatalmente errada e ele estava parado bem na sua frente outra vez com todo o seu esplendor, sua beleza, e sua característica cara de pau.
― Oi. ― ele sorriu largo, e ela se distraiu de tal forma com aquele sorriso que não foi capaz de enxergar a situação na qual estava até que ele agachou na sua frente e caiu em si.
Estava sentada no chão de pernas abertas e com o cabelo cobrindo boa parte do rosto, uma cena que seria cômica se não fosse trágica.
― Olá. ― respondeu assim que adquiriu um pouco de autoconsciência e fechou as pernas, as cruzando e colocando as mãos nos joelhos timidamente, após ajeitar os cabelos jogando-os para trás.
Sua vontade era gritar e expulsá-lo dali, mas inicialmente queria entender porque estava fazendo aquilo. Infelizmente, nem ele mesmo sabia bem porquê estava ali e o viu abrir e fechar a boca algumas vezes, provavelmente tentando achar algo para dizer.
― Eu sabia que ia te encontrar aqui… ― e então ele falou a primeira coisa que passou pela sua cabeça, não pensando que era óbvio que estaria ali já que a reunião do clube dela estava prestes a começar, e ela não ficou nem um pouco surpresa com as palavras dele, afinal, era assim que ele era.
― E pra que você queria me encontrar? ― questionou, nitidamente na defensiva e com a expressão desconfortável pelo fato de que olhar para a cara de naquele lugar a trazia diversas lembranças de quando estavam juntos e ele sempre passava um tempo ali consigo, lhe ajudando a ensaiar os textos das suas personagens. Lembranças que despertavam saudade e mexiam com o seu coração, mas essa parte ela ignorava.
― Eu só queria… Conversar com você. ― o respondeu, com um pouco dúvida no tom de voz por aquela expressão dela estar o assustando, sabendo que a garota estava prestes a lhe ameaçar de morte. ― Eu quero falar com você.
― Nós não podemos conversar, . ― ela fez questão de falar na cara dele, como se fosse óbvio, pressionando os lábios um contra outro.
― Por que não?! ― o rapaz questionou, parecendo genuinamente magoado, e aquilo apenas fez com que ela ficasse mais irritada.
― Porque foi você que terminou comigo, inferno! ― não aguentou mais e estourou, se levantando rapidamente e embrenhando ambas as mãos entre seus fios de cabelo. ― Porque você ia querer conversar comigo se foi você que não me quis mais como namorada? Me dá um tempo, .
E, mesmo que ele também estivesse de pé naquele momento, não tentou segurá-la quando começou a andar em direção a saída, passando por algumas garotas que observavam a cena chocadas. Suspirou derrotado e bateu na própria testa. Era o pior dos idiotas e não fazia ideia de como ia consertar a cagada que havia feito. A única notícia boa naquilo era que, se havia ficado irritada daquela forma, ela provavelmente ainda se importava consigo ao ponto de ainda ficar desestabilizada com a sua presença. E isso significava que talvez ainda tivesse uma chance.
❥❥❥❥❥
Só havia ido pra escola aquele dia porque havia um exame importante para fazer e não queria ser reprovada em física de jeito nenhum. Tinha respirado fundo tantas vezes nas últimas vinte e quatro horas que seu pulmão estava cansado, e pra deixá-la ainda pior, havia chego atrasada em quase uma hora, o que lhe obrigou a ficar esperando a aula de biologia começar, sozinha em outra classe. Estava literalmente largada em cima da carteira, com os dois braços jogados para frente e o rosto contra o mármore da mesa.
― Ah, você veio… ― a voz de soou surpresa quando ela entrou na sala e lhe encontrou depressiva e de qualquer jeito jogada com o tronco na carteira.
― Infelizmente, não tinha opção. ― murmurou em puro desânimo, e a mais velha balançou a cabeça negativamente com todo o tom dramático na sua voz, sentando e colocando a bolsa em cima da mesa.
― Eu descobri algo que talvez melhore seu estado de espírito. ― falou um pouco rápido, sabendo que não ia demorar muito até que a professora chegasse, a sala enchesse e terem que parar de conversar.
― O que? ― pareceu já se empolgar com a curiosidade no mesmo segundo que ouviu isso, erguendo os olhos e a cabeça rapidamente para depositar toda a sua atenção na amiga.
― . ― sussurrou tentando ser discreta, ao perceber que algumas pessoas já estavam perto delas e pareciam observá-las atentamente, mas tendo vontade de esganar quando ela fez uma cara de interrogação, olhando para si com o cenho franzido. ― O nome dele, idiota, o nome dele é .
― O que?! ― os olhos dela até mesmo brilharam com a informação, e revirou os dela com a lerdeza. ― Como você descobriu isso?
― A escola inteira só está falando dele por causa do que você fez ontem. ― suspirou desanimada em dar a notícia, já sabendo que a amiga com certeza iria ter uma overreaction quando completasse a informação. ― Estão dizendo que ele é seu namorado novo e que você chutou o de uma vez por causa disso.
― Puta que pariu…
― Com licença…? ― a professora interrompeu a chamada para arquear uma das sobrancelhas ao ouvir o palavreado de , e ela arregalou os olhos assim o que percebeu o que havia feito, se levantando rapidamente e começando a gaguejar.
― E-eu… Preciso resolver uma emergência! ― não pensou bem quando simplesmente pegou a sua bolsa e saiu correndo pela porta, deixando o olhar insatisfeito da mulher cair em , que simplesmente desviou a atenção para a capa dura do seu caderno como se não soubesse de nada sobre isso e não tivesse nada haver com as merdas que a amiga estava constantemente fazendo.
❥❥❥❥❥
Havia acabado de testar um tipo de abuso de poder, e mordeu o lábio inferior de forma nervosa quando saiu da sala dos professores, cumprimentando e agradecendo o inspetor que estava guardando a porta e autorizou a sua entrada. Sabia que havia aprontado, mas era por uma boa causa no final… A sua causa. A sua causa que lhe levara a olhar a ficha de estudante de , e acabara de descobrir tudo o que precisava sobre ele e um pouco mais, o que a deixava até mesmo se sentindo mal por ter invadido tanto a privacidade do rapaz.
A própria não entendeu bem a cagada que ela própria fez ao chegar no corredor depois de sair do alcance de qualquer olhar que fosse, e bateu na própria testa como ato de autopunição por ter ido longe demais, parando bem ao lado do bebedouro para retomar o ar. Não que tivesse sido muito grave… Falou que precisava consultar a ficha de um aluno que queria entrar no clube de teatro. Não especificou se esse aluno era , nem precisou, o inspetor deixou antes que terminasse, então não era exatamente mentira, era…? Sempre tinha alguém querendo entrar no clube de Teatro, não…?
A sua burrada se pagou assim que ergueu o olhar para o corredor e o encontrou ali, andando calmamente com as mãos nos bolsos e os fones no ouvido, fazendo-a prender a respiração e arregalar os olhos. Só podia ser destino. Ele era tão intimidante quanto lembrava-se com aquela maldita e atraente linha do maxilar quadrada e bem marcada combinada com aquela cara de preguiça e sono com os óculos apoiados no nariz completando, e, por algum motivo tudo o que quis fazer quando ergueu o olhar do chão para o bebedouro, esbarrando em si no caminho, foi se esconder.
Até que ele simplesmente voltou a abaixar o olhar e apertou o botão do bebedouro, abaixando um pouco para alcançar a água com os lábios e seguindo o que faria sem nem mesmo desviar a atenção outra vez, e ela se sentiu completamente ofendida por sua presença ser ignorada daquela forma.
― ! ― chamou no mesmo tom alto que lembrava-se de ter gritado da primeira vez que se viram, assim teria certeza de que ele escutaria mesmo com os fones no ouvido.
Ele queria continuar ignorando, mas três coisas foram mais fortes do que a sua vontade de simplesmente virar de costas e sair andando de volta para a aula. A primeira, era o fato dela gritar tão alto. A segunda, a forma que ela falava o seu nome tão naturalmente como se fossem íntimos. E, a terceira, o jeito que a droga da escola inteira estava lhe encarando - essa parte ele não se importava - e lhe abordando - isso que o irritava - para questionar sobre o “relacionamento” deles, sendo que nem mesmo sabia o nome dela.
― Qual é o seu interesse em mim, exatamente? ― simplesmente ergueu outra vez o tronco, guiando o olhar impaciente até a garota que pareceu se retrair ainda mais quando a sua atenção recaiu nela.
― C-Como assim? O que você quer dizer com isso?
precisou parar, fechar os olhos e contar até dez, pedindo aos céus paciência para manter-se calmo diante daquela situação. Argh, tudo o que queria era se concentrar nos estudos e ser um adolescente recluso e antissocial em paz. Por que aquilo estava acontecendo? Por que justo consigo, inferno?! O que havia feito pra merecer?!
― Qual é o motivo que te leva a gritar o meu nome no corredor e agarrar o meu braço enquanto eu ando? ― resolveu tentar ser didático, talvez ela tivesse algum déficit de atenção, o que parecia ser bem óbvio se analisasse bem a expressão perdida a qual ela encarava seu rosto e o jeito que ela estava parada, como se fosse começar a correr no mínimo movimento que fizesse.
― Talvez o seu nome seja bonito e eu goste de pronunciá-lo…? ― sorriu amarelo, e ele revirou os olhos, como se a piada fosse a pior coisa que houvesse escutado em toda a sua existência. ― E bem… Você foi a primeira pessoa que passou perto o suficiente para eu agarrar o braço. ― o abrir de lábios tremeu, assim como as mãos escondidas que estavam levemente pressionadas contra a parede tremiam, principalmente porque ele continuou lhe encarando fixamente, sem falar ou se mover, demonstrando que queria uma explicação. ― É uma longa história…
― Eu não quero saber, então. Só quero que me deixem em paz, e como a culpa disso não estar acontecendo é sua, você também deveria dar um jeito de resolver. ― respondeu, suspirando desanimado e passando as costas de sua mão esquerda nos lábios para eliminar qualquer rastro de água por ali.
― Me desculpa, eu sei que é culpa minha estarem te infernizando, mas é que, no fim… Eu preciso de você. ― soltou meio no desespero vendo que ele já estava querendo se afastar, e a olhou como se estivesse completamente louca.
― Mas já? ― não resistiu em questionar ironicamente, colocando uma feição pensativa no rosto que quase a fez socá-lo.
― Não é nesse sentido. ― controlou a vontade de chamá-lo de idiota, afinal, ele tinha a personalidade difícil, o que não era difícil de perceber, e ela era quem estava em desvantagem ali. ― Eu preciso que você vá ao baile comigo.
― Você precisa de alguém pra usar para fazer ciúmes pro seu ex, é isso? ― cruzou os braços, entediado com aquela conversa que não os levaria para lugar nenhum.
― Não exatamente, mas se você quer pensar assim… ― deu de ombros, afinal, caso ele aceitasse, o que com certeza devia acontecer e aquilo era só charme, não precisava saber seus motivos. Eles nem mesmo precisavam se tornar amigos de verdade ou alguma coisa um do outro, apenas tinham que estar fingindo estarem juntos.
― Vou ter que recusar, não estou interessado. ― e então ele soltou de uma vez, bocejando entediado e então sorriu de canto quando o rosto dela se tornou pálido e a boca se entreabriu em protesto.
― Por que?! Você já tem algum par?! ― ela não acreditou na bota que estava tomando, principalmente porque ele era um novato no Colégio e não era possível que já estivesse acompanhado… Sentiu até a sua bunda doer com aquela expressão satisfeita dele quando negou. Só daquela forma para que estivesse sendo rejeitada daquele jeito.
― Não. E nem pretendo ter um.
❥❥❥❥❥
― De TODOS os garotos que queriam ir no baile com você, e olha que não eram poucos, você tinha que escolher justo um que nem aparecer lá quer? ― era para estarem estudando, mas isso claramente ficou em segundo plano quando contou o que havia acontecido mais cedo com , acabando com toda a paciência que já não era muita da melhor amiga com todo aquele drama.
― Eu agi sob pressão, não me julga assim!
― Eu sou sua melhor amiga, julgar as merdas que você faz não é só minha função, é minha obrigação também!
bufou frustrada ouvindo o que a mais velha dizia, revirando os olhos prestes enquanto estava prestes a arrancar os próprios cabelos, puxando-os fio por fio do couro cabeludo. Estava tudo dando errado naquele inferno, e não fazia a mínima ideia de como conseguiria consertar o que tinha saído fora dos trilhos e como conseguiria continuar com seu plano.
― Por que você não simplesmente escolhe outra pessoa que concorde? O não precisa saber o porque você trocou de par, só precisa ver que você está chegando com alguém no dia. ― deu a sugestão depois que viu que a coisa estava realmente séria e que a melhor amiga estava prestes a ter um ataque de nervos.
― Não, não! Esse idiota é perfeito pro papel, nós não vamos correr riscos de nos apegar porque ele odeia seres humanos, então não tem chances dele sair magoado no final. ― explicou, brincando com o copo de papel com o seu nome escrito em um dos espaços.
― O próprio roteiro do filme de adolescente clichê que você tanto detesta. ― revirou os olhos com todo aquele roteiro que a mais nova havia montado, sabendo bem que não era nada daquilo e ela apenas não sabia lidar com a rejeição mesmo, não se conformando de não estar interessado.
― Por favor! ― inflou as bochechas de ar, batendo com as costas contra a cadeira do café que era o palco da discussão e cruzando os braços à frente dos seios. Estavam no segundo andar e não havia mais ninguém ali, o que as dava total liberdade de gritar o quanto queriam.
― Tá… Então, o que você pretende fazer agora? ― questionou quando ela começou a ficar realmente irritada, segurando a vontade de rir da expressão mimada da amiga e arqueando uma das sobrancelhas. ― Conseguiu encontrar algo interessante no histórico dele?
― Nada que me ajudasse muito, eu só olhei o básico, nome, idade… Ele veio do interior também, porque quer fazer faculdade aqui. ― listou, lembrando-se de que estava certa quando reconheceu o sotaque forte que ele tinha. ― E se eu não me engano, ele é bolsista. Mas nada disso me ajuda e nem importa, eu preciso saber de alguma coisa que ele se interesse, algo que eu possa oferecer pra convencê-lo.
― Nossa… ― arregalou os olhos ao ouvi-la falando daquela forma tão compenetrada em algo que não soava assim tão bom. ― Você está se ouvindo, ?! Por que tanto esforço?
― EU VOU PRECISAR DE VOCÊ! ― obviamente ignorou o que havia questionado quando uma ideia passou pela sua cabeça, posteriormente ignorando também a expressão infeliz dela. ― De você e do fato de você ser a jornalista mais maravilhosa dessa escola inteira!
― Q-Quê?!
― Lembra aquele formulário de interesses que você usou de pesquisa de campo pra sua matéria de quais as áreas de trabalho que os alunos estavam mais interessados?! ― assentiu com a cabeça, sem entender bem onde ela queria chegar com aquilo. ― Eu preciso que você passe um desses pra ele!
― E por que eu faria isso? Já me arrependi de descobrir o nome. ― se soubesse que ela ia ficar tão obcecada… Na verdade, foi um erro seu, devia ter imaginado quando a respondeu daquela forma, não era boa em lidar com rejeição, irônico pra quem já havia rejeitado metade da escola. Balançou a cabeça, abrindo seu caderno para revisar a matéria, já que não parecia interessada em fazer isso.
― Porque fui eu que fiz o levar o Vernon no encontro às cegas, você se esquece disso?! Eu te ajudo com o seu namorado e você me ajuda com o meu! ― bateu com a mão contra a capa do caderno de , o fechando para obrigá-la a continuar prestando atenção em si.
― Você está ficando descontrolada! O não é seu namorado. ― estava prestes a surtar com tanta pressão vindo de , principalmente por saber que ela estava se enfiando em um rolo que provavelmente não conseguiria sair depois. E, quando tudo desse errado, ela encheria a sua conversa de áudios chorando e pedindo companhia.
― E quem disse que eu estou falando do ?
não percebeu o que havia feito até a amiga lhe olhar com uma expressão horrorizada, ao qual deu rosto imitou assim que se ouviu. E, quando cobriu os lábios com as palmas das mãos abertas, batendo neles como se amaldiçoasse a sua própria boca grande, já era meio que tarde demais.
❥❥❥❥❥
Costumava querer acreditar em destino, mas não era como se o fizesse verdadeiramente. Pelo menos não até pegar aquele questionário nas suas mãos e ver o próprio sorrir para si.
Aquilo não podia ser coincidência e, a sua risada maléfica soando no corredor foi até um pouco assustadora. queria cursar design gráfico para desenvolver jogos, e, o pai de era CEO de uma empresa conhecida como Quantic Dreams, uma das maiores desenvolvedoras e distribuidoras de jogos atualmente.
Ela não conseguia não sorrir tão largo quanto estava sorrindo, suas bochechas estavam até doendo pelo esforço do músculo. Já sabia exatamente como iria fazê-lo aceitar o seu “convite para o baile”.
Contemplou a oportunidade perfeita passando por seus olhos ao vê-lo sentado na arquibancada do lado de fora do prédio pela parede de vidro, entediado enquanto mexia no seu celular. Jogou os cabelos para o lado e os ajeitou, passando as pontas dos dedos por debaixo dos olhos para tirar qualquer resquício de delineador que podia estar ali borrado depois de quatro horas naquele lugar, e então atravessou o portão aberto, passando pelo jardim antes de finalmente chegar na quadra aberta.
ficava sentado enquanto praticava esportes. Sabia que não devia e nem fazia sentido compará-los, mas não resistiu em fazer a medição mentalmente. Sinceramente, pelo menos por conta disso foi mais fácil simplesmente subir até a terceira fileira mais alta da arquibancada, se sentar ao lado dele e esperar pacientemente até que o rapaz percebesse sua presença ali, o que demorou alguns dez minutos s lhe rendeu uma reação um tanto cômica.
ergueu o olhar distraído, então o abaixou de novo e, como quem vê um fantasma e quer confirmar, ergueu outra vez as orbes na sua direção, arregalando os olhos. E sua próxima ação foi apenas respirar extremamente fundo, demonstrando todo o desânimo de encontrá-la novamente.
― Eu já não terminei com você? ― ele questionou franzindo a testa, e, mesmo que fosse uma das frases mais cretinas que já havia escutado, não podia dizer que não teve vontade de rir.
― Você não foi muito convincente. ― ela brincou, e depois teve nojo de si mesma ao perceber o quão errado aquilo soava.
― Se você já é abusiva mesmo antes de um relacionamento, eu não estou surpreso o porquê do seu ex ter terminado.
― YA! ― ergueu a mão no ar, ameaçando dar um tapa em , mas ao ver que isso apenas confirmaria a sua frase somente grunhiu frustrada, sem nem pensar em como ele sabia que fora que havia terminado. ― Eu não sou abusiva!
― Me diz então o que você quer. Três dias não fizeram nascer uma vontade mágica de te conhecer melhor em mim. ― foi direto antes que ela começasse a discursar em como tinha uma personalidade maravilhosa e pacifista.
― Você sabe o que eu quero. ― começou, e só essa frase já fez com que ele apoiasse a mão no assento para impulsionar o corpo para cima e levantar, a fazendo se desesperar na mesma hora. ― Você já ouviu falar na Quantic Dreams? ― questionou rápido antes que realmente saísse andando, e mordeu o lábio para não sorrir quando ele deixou o corpo cair outra vez, voltando a se sentar e deixando até mesmo um olhar curioso cair sob ela. ― Eu posso te colocar lá.
― Você enlouqueceu? ― aquilo era errado e ofensivo em tantas direções diferentes que ele teve que controlar o seu tom de voz pra não acabar gritando e chamando - ainda mais - atenção para eles, porque desde que ela se sentara ali, o jogo de futebol já havia sido pausado três vezes porque os seus colegas de classe estavam mais concentrados em olhar para a garota do que para a bola.
― E-espera, acho que saiu pior do que eu planejei!
― É, você aparentemente faz isso constantemente.
― Então… ― ignorou aquele comentário interrompendo seu raciocínio, apenas pedindo paciência internamente para os céus. ― Não é como se eu quisesse insinuar que você é esse tipo de gente. É uma troca de favores, você vai comigo até o baile e eu posso arrumar um estágio pra você na empresa. Não vai me custar nada, o meu pai é o CEO, então… Você me ajuda, e eu te ajudo. O que você acha? ― questionou, erguendo a mão na direção do rapaz para esperar a resposta dele ansiosamente.
Eram literalmente dezenas de nécessaires coloridas, as quais abria e olhava uma por uma para avaliar os conteúdos, sob os olhares atentos de praticamente a metade ou mais da metade dos garotos da escola. As palavras de acabaram arrancando uma risada alta e sonora dela, que sorriu largamente e balançou os ombros, como se aquilo não a afetasse, porque realmente não afetava.
― Eu tinha que arrumar um jeito pra escolher o meu par pro baile, não tinha? Foi você mesma que falou que eu tinha que resolver isso logo, ou ia acabar indo sozinha e atrapalhando a sua noite inteira do lado do Vernon. ― dramatizou, revirando os olhos de forma exagerada e fazendo uma expressão de criança desprezada.
― Mas pedir presentes, ? Sério?! ― arqueou uma das sobrancelhas, sentando na cadeira ao lado e olhando para o caderno que ela anotava um tipo de pontuação, observando a numeração das etiquetinhas que havia colocado em cada bolsinha e colocando um número de zero a cem na frente. ― E ainda avaliar na frente da escola inteira? Se isso não é querer ser cruel… ― mas nessa parte ela não falava muito ofendida, parecia mais era orgulhosa.
― Não são presentes, as bolsas são minhas. ― ela balançou os ombros desanimada com as conclusões precipitadas da amiga, e então parou de escrever para olhá-la e sorrir de canto. ― E dentro eles podiam colocar qualquer coisa, não precisavam ser presentes, podia ser simplesmente um bilhetinho com um pedido fofo. Na verdade, esses são os que eu gosto mais, mas também os que menos tem. ― suspirou desanimada com isso, o choque de realidade de que realmente parecia ser fútil acertando bem o meio da sua cara quando viu que a maioria das coisas eram maquiagens. ― Não foi uma ideia maravilhosa?!
― Maravilhosa eu não sei, mas não estou surpresa disso ter saído dessa sua cabeça. Sonhou com isso, foi? ― questionou, e o pior de tudo era que apesar de parecer sarcasmo, não era, ela realmente estava falando sério. E soube que estava certa quando soltou um sorrisinho de canto, sem negar sua constatação. ― E como estamos? Algum pedido fofo já ganhou seu coração? ― perguntou outra vez, se esticando para ver se havia alguma pontuação que passava os cinquenta.
― Na verdade… Teve um. ― pegou a bolsinha de número vinte e oito que havia escondido embaixo do caderno em seu colo. Era vermelha, e assim que ela abriu o zíper tirou rapidamente o conteúdo, abriu a página por cima do caderno para que ninguém visse. ― Ainda não dei nota pra esse, eu não sei o que fazer…
revirou os olhos com o tom dramático, mas olhou bem a folha para ler o que estava escrito. Só havia uma frase no meio do papel, e nem mesmo estava assinada… Não entendeu porque aquilo chamaria tanto a atenção de .
― O que você acha de mim? ― leu em voz alta, na esperança de que a amiga percebesse o quão idiota aquilo soava. ― Tá, você fala que é difícil de ser conquistada e é isso que chama a sua atenção?
― Não, você não entendeu! ― soltou um muxoxo desanimado, mas no fim fora burrice sua não ter explicado algo que com certeza não tinha obrigação de saber. ― Essa letra… É a do . ― cobriu a boca ao pronunciar o nome, se certificando de ser o mais discreta possível e ter certeza que ninguém ouviria o seu sussurro.
arregalou os olhos, finalmente entendendo o porquê de tanto estardalhaço, e percebeu que também estava prestes a surtar com a amiga, mesmo que não fosse exatamente nada relacionado a si. , também conhecido como o garoto mais bonito da escola para a maioria das meninas que estudavam ali, sendo também um dos mais populares mesmo que não fizesse exatamente nada além de ser o primeiro aluno da classe e parte do clube de culinária. Ah, e junto de tudo isso, ele também era conhecido como o ex namorado de .
― Você tem certeza? ― a resposta de foi apenas um balanço exagerado e frenético de cabeça, como aqueles cachorrinhos comumente colocados em painéis solares de carros. ― Como isso aconteceu? ― questionou com a mente dando um nó e um giro de trezentos e sessenta graus em completa confusão, tentando achar algum sentido nisso.
― Também não faço a mínima ideia. ― sussurrou, encarando aquela folha como se ela fosse uma afronta e uma mensagem do próprio demônio para si. ― Foi ele que terminou, por que diabos ia querer ir no baile comigo?! ― seu tom de voz era nitidamente frustrado, e não precisava nem mesmo desde sinal para saber que os sentimentos que a amiga tinha por ainda eram capazes de bagunçar completamente a cabeça dela. ― Mas ele também continua curtindo as minhas fotos no instagram.
― Se você não sabe, eu então… ― balançou os ombros, mas até mesmo forçou a mente para pensar em algum motivo plausível além dele ser extremamente idiota. Mas isso era um fato, então… ― E o que você pretende fazer?!
― Eu não sei, não sei nem o que pensar. O pior é saber que ele não está brincando, porque ele não faria isso na brincadeira. Estou metade com vontade de meter a mão na cara dele e metade com vontade de correr e abraçar o desgraçado. ― grunhiu irritada ao terminar de falar, voltando a dobrar o papel e guardá-lo dentro da bolsinha, que colocou em seu colo outra vez, meio escondida.
― Bom, você não precisa decidir agora. Ainda falta um tempo pro baile, não falta? ― franziu o cenho, tentando se lembrar da data, mas desistiu ao perceber que não conseguiria e sorriu amarelo para a melhor amiga. ― Eu esqueci quando é.
― Falta um mês e uma semana. ― jogou a cabeça para trás, respirando fundo para acalmar os nervos e pensando que ela estava certa. Ainda tinha tempo para decidir o que fazer… Tempo o suficiente para organizar seus sentimentos por .
Ergueu o olhar e inconscientemente o procurou pelo pátio. Ele estava do outro lado da escola, sentado entre algumas garotas que pareciam elogiá-lo até a língua doer, uma vez que ele tinha um daqueles sorrisos cretinos dele. os chamava assim por conhecê-los bem: era falsa modéstia. Ele sabia o quão maravilhoso era, mas quando outras pessoas falavam, sorria e fingia que não, apenas para puxarem ainda mais seu saco. Sua expressão se emburrou no mesmo segundo conforme o via olhando nos olhos de cada uma das tietes, o peito queimando em um sentimento que não devia mais nutrir por ele. Por sorte, o primeiro sinal que anunciava o fim do horário de almoço tocou, interrompendo sua concentração de raiva e ela suspirou ao fechar o caderno com uma caneta no meio para não perder a página que fazia suas anotações.
― Vou sair daqui antes que você me obrigue a carregar metade dessas coisas pra você. ― se levantou rapidamente para realmente se retirar, e a mais nova revirou os olhos e balançou a cabeça negativamente.
― Não precisa se preocupar com isso, eu trouxe uma bolsa só pra levá-las pra casa. ― sorriu orgulhosa de si mesma, levantando e pegando a mochila enorme e vazia que estava com as alças encaixadas na cadeira que estava sentada. ― E são só trinta e seis, não exagera tanto.
― Você fala como se trinta e seis garotos se digladiando pra te levar no baile fosse pouco e depois ainda me diz que as pessoas te acharem metida é uma impressão errada. ― começou a rir com a realidade da amiga e a forma que ela dizia aquilo como se fosse extremamente normal, balançando a cabeça negativamente e a esperando terminar de guardar as coisinhas para irem juntas para aula.
Ninguém entendia bem como havia ficado tão popular, ela só tinha. Não que ela fosse feia, porque ela não era e muitos até diziam que ela parecia uma boneca, era só que ela era o oposto de todo o clichê de filme popular adolescente em personalidade. não dançava e nem cantava, as coisas que estavam na moda no colégio nos últimos anos, também odiava todos os esportes e estava no clube de teatro, algo que a maioria dos alunos achava sem graça e careta.
Sendo a única coisa que ela demonstrava algum interesse publicamente, por conta de seus papéis desenvolveu um apreço especial por maquiagem já que estava sempre usando nas peças para ajudar na imersão, a explicação para todos os conteúdos das nécessaires serem batons ou coisas do tipo. O teatro a ajudara a se tornar vaidosa, e ela abraçou aquela nova característica com dedicação, e como ninguém era exatamente próximo de além de , as pessoas começaram a relacioná-la facilmente com esse estereótipo.
O fato de sua família ser de classe alta não era uma novidade nem algo extraordinário, porque todos estavam ali pelo mesmo motivo, estudando em uma das escolas mais caras da cidade. E ser bonita também não era exatamente um diferencial, porque haviam garotas tão bonitas quanto ela que se esforçavam bem mais para chamar atenção. Como já mostrado, também não tinha a melhor das personalidades e era naturalmente um pouco narcisista e talvez demonstrasse ser um pouco confiante demais…? Ok, talvez essas fossem características que combinam com a mocinha popular dos filmes, mas…
― O que adianta se eu não quero ir com nenhum dos trinta e seis? ― questionou com um bico manhoso se formando nos lábios, chegando até seu armário para deixar a bolsa e pegar alguns livros para a próxima aula.
― Ai, tadinha…
― Ya, não fale como se não fosse nada! ― bateu a porta de metal irritada com o sarcasmo da melhor amiga, apenas para dar de cara com encostado lateralmente no armário ao lado, lhe fazendo dar um pulinho pra trás e só não se desequilibrar porque ainda estava atrás de si e serviu de apoio mesmo sem querer.
― Oi. ― o jeito como a voz dele soou fez as pernas de ficarem bambas, e para piorar ainda mais, a combinação com aquele repuxar de lábio destroçou o seu coração. Naquele momento ela amaldiçoou todas as gerações da família .
― Oi. ― respondeu, tentando soar firme e não deixar a sua voz tremular em algum momento para evidenciar seu nervosismo. Já faziam meses e nem depois de tanto tempo conseguia superá-lo.
― Então… Você já escolheu seu par pro baile?
O jeito que ele fez aquela pergunta soou irritante aos ouvidos de e ela quis praguejar baixo, mas se segurou. Ele tinha plena confiança que ela o escolheria, aquele desgraçado, por isso estava agindo daquela forma… Porque tinha certeza. Ao mesmo tempo a cena de vê-lo no meio de tantas garotas mais cedo passou outra vez na sua cabeça, e despertou um ódio que não lembrava ser tão acentuado em seu coraçãozinho.
― Sim, já. ― respirou fundo e então abriu um sorriso largo, tentando fazê-lo parecer ser genuinamente empolgado e não um sorriso de psicopata que queria voar no pescoço de sua vítima.
― Sério?! ― ergueu as sobrancelhas, falsamente surpreso, mas nem com o perigo iminente de ser desprezado pela ex namorada estar sendo uma hipótese bem real ele vacilava na postura confiante, apenas a irritando ainda mais. ― Quem é?
esticou o pescoço e ficou na ponta dos pés, fingindo estar procurando a pessoa a qual havia escolhido. O seu coração batia tão rápido quanto os milésimos passavam no relógio para formar um segundo, e ela não pensou direito quando simplesmente agarrou o braço do primeiro garoto que atravessou o corredor próximo o suficiente para que conseguisse alcançá-lo, o puxando para si sem se importar se o desconhecido tinha ficado de costas pra .
― É ele! ― decretou animada, um sorriso satisfeito enchendo seus lábios quando finalmente pareceu um tanto chocado, caindo no seu plano como um patinho.
― É ele o quê? ― o garoto que prensava contra si questionou, encarando o braço de como se pudesse decepá-lo apenas com o olhar. Mesmo estando de fones de ouvido, a garota gritou tão alto que ultrapassou a barreira formada pela música e ele escutou da mesma forma.
― Ah, ele está surpreso, eu ainda não tinha dado a notícia… ― ela disfarçou sorrindo, não contando que o escolhido iria reagir daquele jeito. ― Inclusive, agora precisamos conversar pra acertar as coisas, então…
acenou com a mão livre e simplesmente deu as costas para , trocando o braço ao qual agarrava o desconhecido e o puxando para longe o mais rápido possível apenas para se certificar que o ex não escutaria o que iria acontecer depois. Quando virou o corredor ao lado daquele que ainda não fazia ideia de quem era, ela deixou finalmente o ar escapar pela boca entreaberta, relaxando a postura e abaixando um pouco o corpo em alívio, sem perceber que o olhar assassino do rapaz que teria de enfrentar era bem pior para que já se sentisse a salvo.
― Seria muito difícil pra você me soltar? ― a voz dele lhe fez acordar e perceber que ainda estava agarrada ao seu braço, e quando o fez deu um outro pulinho para trás, erguendo as mãos no ar para soltá-lo no susto.
― M-Me desculpa, eu… Desculpa mesmo, não percebi que ainda estava te segurando, quer dizer, desculpa por ter te agarrado também, é só que eu… Eu realmente precisei! ― se enrolou ainda mais com as palavras, principalmente quando olhou para cima e encontrou a expressão infeliz e intimidadora do rapaz, o que apenas a deixou mais desesperada e a fez se encolher em seu próprio corpo, tendo vontade de começar a chorar ali mesmo. ― Desculpa…?
― Aish… ― ele simplesmente bufou irritado e voltou a colocar o fone de ouvido que havia tirado para escutá-la, revirando os olhos nas órbitas até que eles não girassem mais e voltando a sua caminhada. ― Louca.
― EI! É MUITO FEIO CHAMAR ALGUÉM QUE VOCÊ NÃO CONHECE ASSIM! ― gritou revoltada, mas ele não escutou, ou se escutou simplesmente ignorou e continuou andando, ajeitando o óculos de armação prateada e redonda que cobria os olhos durante o seu caminho e fazendo-a jogar suas costas contra a parede em desistência e frustração por tudo que estava dando errado naquele dia.
― Quer dizer então que eu, que conheço bem, posso? ― apareceu do seu lado, com as duas sobrancelhas arqueadas em uma expressão de quem a estava julgando fortemente, e gemeu de uma forma exagerada e dramática, escorregando o corpo pelo apoio. ― Louca…
Se havia algo que definitivamente era, esse algo com certeza era uma stalker. Mesmo com o choque inicial de ser rejeitada tão brutalmente como havia acontecido, ela sabia que agora já tinha começado com o seu plano e não podia deixá-lo para trás de forma alguma, porque , aparentemente, havia acreditado veementemente. O seu destino com o desconhecido foi traçado assim que ele passou ao seu lado naquele momento, o que tinha certeza que não era apenas coincidência.
Só havia um probleminha, que, na verdade, não era nada pequeno.
Ele não parecia concordar com a ideia, e além disso, não fazia a mínima ideia de quem aquele garoto era. E por mínima, queria dizer que não sabia nem mesmo seu nome ou classe, também nunca havia o visto antes, mas essa parte não era muito surpreendente, visto que a escola era enorme e ela costumava passar todo o seu tempo livre no auditório ou na biblioteca. As únicas coisas que conseguiu distinguir naquele pequeno contato, quando remoeu a cena diversas vezes na própria cabeça e a analisou de todas as formas, foram: ele não era muito sociável, tinha problema de vista porque usava óculos, provavelmente gostava de música e tinha um sotaque interiorano extremamente forte e fofo - essa última parte ela que adicionou.
Respirou fundo, olhando para o teto do palco onde estava deitada e tentando pensar no que fazer. O horário de aula já havia acabado, mas ainda não era hora da reunião do clube e esse era o seu momento favorito, quando podia ficar sozinha naquele palco, porque aquela atmosfera sempre costumava lhe ajudava a pensar, mas mesmo depois de vinte e cinco minutos a única coisa que se passava na sua cabeça era que precisava descobrir o nome dele. O resto, veria depois.
Ouviu algumas risadas vindo dos corredores e se obrigou a erguer o tronco ao pensar que já estava na hora de começarem as atividades. Porém, seu corpo quase foi pra trás de novo quando viu quem passava entre as fileiras de poltronas vazias para chegar até a escada lateral do palco que ela estava. Ficou em estado de negação. Não era possível… O que aquela peste tinha ido fazer ali? Achou que depois do que havia acontecido mais cedo teria pelo menos alguns dias de folga da presença de , mas estava fatalmente errada e ele estava parado bem na sua frente outra vez com todo o seu esplendor, sua beleza, e sua característica cara de pau.
― Oi. ― ele sorriu largo, e ela se distraiu de tal forma com aquele sorriso que não foi capaz de enxergar a situação na qual estava até que ele agachou na sua frente e caiu em si.
Estava sentada no chão de pernas abertas e com o cabelo cobrindo boa parte do rosto, uma cena que seria cômica se não fosse trágica.
― Olá. ― respondeu assim que adquiriu um pouco de autoconsciência e fechou as pernas, as cruzando e colocando as mãos nos joelhos timidamente, após ajeitar os cabelos jogando-os para trás.
Sua vontade era gritar e expulsá-lo dali, mas inicialmente queria entender porque estava fazendo aquilo. Infelizmente, nem ele mesmo sabia bem porquê estava ali e o viu abrir e fechar a boca algumas vezes, provavelmente tentando achar algo para dizer.
― Eu sabia que ia te encontrar aqui… ― e então ele falou a primeira coisa que passou pela sua cabeça, não pensando que era óbvio que estaria ali já que a reunião do clube dela estava prestes a começar, e ela não ficou nem um pouco surpresa com as palavras dele, afinal, era assim que ele era.
― E pra que você queria me encontrar? ― questionou, nitidamente na defensiva e com a expressão desconfortável pelo fato de que olhar para a cara de naquele lugar a trazia diversas lembranças de quando estavam juntos e ele sempre passava um tempo ali consigo, lhe ajudando a ensaiar os textos das suas personagens. Lembranças que despertavam saudade e mexiam com o seu coração, mas essa parte ela ignorava.
― Eu só queria… Conversar com você. ― o respondeu, com um pouco dúvida no tom de voz por aquela expressão dela estar o assustando, sabendo que a garota estava prestes a lhe ameaçar de morte. ― Eu quero falar com você.
― Nós não podemos conversar, . ― ela fez questão de falar na cara dele, como se fosse óbvio, pressionando os lábios um contra outro.
― Por que não?! ― o rapaz questionou, parecendo genuinamente magoado, e aquilo apenas fez com que ela ficasse mais irritada.
― Porque foi você que terminou comigo, inferno! ― não aguentou mais e estourou, se levantando rapidamente e embrenhando ambas as mãos entre seus fios de cabelo. ― Porque você ia querer conversar comigo se foi você que não me quis mais como namorada? Me dá um tempo, .
E, mesmo que ele também estivesse de pé naquele momento, não tentou segurá-la quando começou a andar em direção a saída, passando por algumas garotas que observavam a cena chocadas. Suspirou derrotado e bateu na própria testa. Era o pior dos idiotas e não fazia ideia de como ia consertar a cagada que havia feito. A única notícia boa naquilo era que, se havia ficado irritada daquela forma, ela provavelmente ainda se importava consigo ao ponto de ainda ficar desestabilizada com a sua presença. E isso significava que talvez ainda tivesse uma chance.
Só havia ido pra escola aquele dia porque havia um exame importante para fazer e não queria ser reprovada em física de jeito nenhum. Tinha respirado fundo tantas vezes nas últimas vinte e quatro horas que seu pulmão estava cansado, e pra deixá-la ainda pior, havia chego atrasada em quase uma hora, o que lhe obrigou a ficar esperando a aula de biologia começar, sozinha em outra classe. Estava literalmente largada em cima da carteira, com os dois braços jogados para frente e o rosto contra o mármore da mesa.
― Ah, você veio… ― a voz de soou surpresa quando ela entrou na sala e lhe encontrou depressiva e de qualquer jeito jogada com o tronco na carteira.
― Infelizmente, não tinha opção. ― murmurou em puro desânimo, e a mais velha balançou a cabeça negativamente com todo o tom dramático na sua voz, sentando e colocando a bolsa em cima da mesa.
― Eu descobri algo que talvez melhore seu estado de espírito. ― falou um pouco rápido, sabendo que não ia demorar muito até que a professora chegasse, a sala enchesse e terem que parar de conversar.
― O que? ― pareceu já se empolgar com a curiosidade no mesmo segundo que ouviu isso, erguendo os olhos e a cabeça rapidamente para depositar toda a sua atenção na amiga.
― . ― sussurrou tentando ser discreta, ao perceber que algumas pessoas já estavam perto delas e pareciam observá-las atentamente, mas tendo vontade de esganar quando ela fez uma cara de interrogação, olhando para si com o cenho franzido. ― O nome dele, idiota, o nome dele é .
― O que?! ― os olhos dela até mesmo brilharam com a informação, e revirou os dela com a lerdeza. ― Como você descobriu isso?
― A escola inteira só está falando dele por causa do que você fez ontem. ― suspirou desanimada em dar a notícia, já sabendo que a amiga com certeza iria ter uma overreaction quando completasse a informação. ― Estão dizendo que ele é seu namorado novo e que você chutou o de uma vez por causa disso.
― Puta que pariu…
― Com licença…? ― a professora interrompeu a chamada para arquear uma das sobrancelhas ao ouvir o palavreado de , e ela arregalou os olhos assim o que percebeu o que havia feito, se levantando rapidamente e começando a gaguejar.
― E-eu… Preciso resolver uma emergência! ― não pensou bem quando simplesmente pegou a sua bolsa e saiu correndo pela porta, deixando o olhar insatisfeito da mulher cair em , que simplesmente desviou a atenção para a capa dura do seu caderno como se não soubesse de nada sobre isso e não tivesse nada haver com as merdas que a amiga estava constantemente fazendo.
Havia acabado de testar um tipo de abuso de poder, e mordeu o lábio inferior de forma nervosa quando saiu da sala dos professores, cumprimentando e agradecendo o inspetor que estava guardando a porta e autorizou a sua entrada. Sabia que havia aprontado, mas era por uma boa causa no final… A sua causa. A sua causa que lhe levara a olhar a ficha de estudante de , e acabara de descobrir tudo o que precisava sobre ele e um pouco mais, o que a deixava até mesmo se sentindo mal por ter invadido tanto a privacidade do rapaz.
A própria não entendeu bem a cagada que ela própria fez ao chegar no corredor depois de sair do alcance de qualquer olhar que fosse, e bateu na própria testa como ato de autopunição por ter ido longe demais, parando bem ao lado do bebedouro para retomar o ar. Não que tivesse sido muito grave… Falou que precisava consultar a ficha de um aluno que queria entrar no clube de teatro. Não especificou se esse aluno era , nem precisou, o inspetor deixou antes que terminasse, então não era exatamente mentira, era…? Sempre tinha alguém querendo entrar no clube de Teatro, não…?
A sua burrada se pagou assim que ergueu o olhar para o corredor e o encontrou ali, andando calmamente com as mãos nos bolsos e os fones no ouvido, fazendo-a prender a respiração e arregalar os olhos. Só podia ser destino. Ele era tão intimidante quanto lembrava-se com aquela maldita e atraente linha do maxilar quadrada e bem marcada combinada com aquela cara de preguiça e sono com os óculos apoiados no nariz completando, e, por algum motivo tudo o que quis fazer quando ergueu o olhar do chão para o bebedouro, esbarrando em si no caminho, foi se esconder.
Até que ele simplesmente voltou a abaixar o olhar e apertou o botão do bebedouro, abaixando um pouco para alcançar a água com os lábios e seguindo o que faria sem nem mesmo desviar a atenção outra vez, e ela se sentiu completamente ofendida por sua presença ser ignorada daquela forma.
― ! ― chamou no mesmo tom alto que lembrava-se de ter gritado da primeira vez que se viram, assim teria certeza de que ele escutaria mesmo com os fones no ouvido.
Ele queria continuar ignorando, mas três coisas foram mais fortes do que a sua vontade de simplesmente virar de costas e sair andando de volta para a aula. A primeira, era o fato dela gritar tão alto. A segunda, a forma que ela falava o seu nome tão naturalmente como se fossem íntimos. E, a terceira, o jeito que a droga da escola inteira estava lhe encarando - essa parte ele não se importava - e lhe abordando - isso que o irritava - para questionar sobre o “relacionamento” deles, sendo que nem mesmo sabia o nome dela.
― Qual é o seu interesse em mim, exatamente? ― simplesmente ergueu outra vez o tronco, guiando o olhar impaciente até a garota que pareceu se retrair ainda mais quando a sua atenção recaiu nela.
― C-Como assim? O que você quer dizer com isso?
precisou parar, fechar os olhos e contar até dez, pedindo aos céus paciência para manter-se calmo diante daquela situação. Argh, tudo o que queria era se concentrar nos estudos e ser um adolescente recluso e antissocial em paz. Por que aquilo estava acontecendo? Por que justo consigo, inferno?! O que havia feito pra merecer?!
― Qual é o motivo que te leva a gritar o meu nome no corredor e agarrar o meu braço enquanto eu ando? ― resolveu tentar ser didático, talvez ela tivesse algum déficit de atenção, o que parecia ser bem óbvio se analisasse bem a expressão perdida a qual ela encarava seu rosto e o jeito que ela estava parada, como se fosse começar a correr no mínimo movimento que fizesse.
― Talvez o seu nome seja bonito e eu goste de pronunciá-lo…? ― sorriu amarelo, e ele revirou os olhos, como se a piada fosse a pior coisa que houvesse escutado em toda a sua existência. ― E bem… Você foi a primeira pessoa que passou perto o suficiente para eu agarrar o braço. ― o abrir de lábios tremeu, assim como as mãos escondidas que estavam levemente pressionadas contra a parede tremiam, principalmente porque ele continuou lhe encarando fixamente, sem falar ou se mover, demonstrando que queria uma explicação. ― É uma longa história…
― Eu não quero saber, então. Só quero que me deixem em paz, e como a culpa disso não estar acontecendo é sua, você também deveria dar um jeito de resolver. ― respondeu, suspirando desanimado e passando as costas de sua mão esquerda nos lábios para eliminar qualquer rastro de água por ali.
― Me desculpa, eu sei que é culpa minha estarem te infernizando, mas é que, no fim… Eu preciso de você. ― soltou meio no desespero vendo que ele já estava querendo se afastar, e a olhou como se estivesse completamente louca.
― Mas já? ― não resistiu em questionar ironicamente, colocando uma feição pensativa no rosto que quase a fez socá-lo.
― Não é nesse sentido. ― controlou a vontade de chamá-lo de idiota, afinal, ele tinha a personalidade difícil, o que não era difícil de perceber, e ela era quem estava em desvantagem ali. ― Eu preciso que você vá ao baile comigo.
― Você precisa de alguém pra usar para fazer ciúmes pro seu ex, é isso? ― cruzou os braços, entediado com aquela conversa que não os levaria para lugar nenhum.
― Não exatamente, mas se você quer pensar assim… ― deu de ombros, afinal, caso ele aceitasse, o que com certeza devia acontecer e aquilo era só charme, não precisava saber seus motivos. Eles nem mesmo precisavam se tornar amigos de verdade ou alguma coisa um do outro, apenas tinham que estar fingindo estarem juntos.
― Vou ter que recusar, não estou interessado. ― e então ele soltou de uma vez, bocejando entediado e então sorriu de canto quando o rosto dela se tornou pálido e a boca se entreabriu em protesto.
― Por que?! Você já tem algum par?! ― ela não acreditou na bota que estava tomando, principalmente porque ele era um novato no Colégio e não era possível que já estivesse acompanhado… Sentiu até a sua bunda doer com aquela expressão satisfeita dele quando negou. Só daquela forma para que estivesse sendo rejeitada daquele jeito.
― Não. E nem pretendo ter um.
― De TODOS os garotos que queriam ir no baile com você, e olha que não eram poucos, você tinha que escolher justo um que nem aparecer lá quer? ― era para estarem estudando, mas isso claramente ficou em segundo plano quando contou o que havia acontecido mais cedo com , acabando com toda a paciência que já não era muita da melhor amiga com todo aquele drama.
― Eu agi sob pressão, não me julga assim!
― Eu sou sua melhor amiga, julgar as merdas que você faz não é só minha função, é minha obrigação também!
bufou frustrada ouvindo o que a mais velha dizia, revirando os olhos prestes enquanto estava prestes a arrancar os próprios cabelos, puxando-os fio por fio do couro cabeludo. Estava tudo dando errado naquele inferno, e não fazia a mínima ideia de como conseguiria consertar o que tinha saído fora dos trilhos e como conseguiria continuar com seu plano.
― Por que você não simplesmente escolhe outra pessoa que concorde? O não precisa saber o porque você trocou de par, só precisa ver que você está chegando com alguém no dia. ― deu a sugestão depois que viu que a coisa estava realmente séria e que a melhor amiga estava prestes a ter um ataque de nervos.
― Não, não! Esse idiota é perfeito pro papel, nós não vamos correr riscos de nos apegar porque ele odeia seres humanos, então não tem chances dele sair magoado no final. ― explicou, brincando com o copo de papel com o seu nome escrito em um dos espaços.
― O próprio roteiro do filme de adolescente clichê que você tanto detesta. ― revirou os olhos com todo aquele roteiro que a mais nova havia montado, sabendo bem que não era nada daquilo e ela apenas não sabia lidar com a rejeição mesmo, não se conformando de não estar interessado.
― Por favor! ― inflou as bochechas de ar, batendo com as costas contra a cadeira do café que era o palco da discussão e cruzando os braços à frente dos seios. Estavam no segundo andar e não havia mais ninguém ali, o que as dava total liberdade de gritar o quanto queriam.
― Tá… Então, o que você pretende fazer agora? ― questionou quando ela começou a ficar realmente irritada, segurando a vontade de rir da expressão mimada da amiga e arqueando uma das sobrancelhas. ― Conseguiu encontrar algo interessante no histórico dele?
― Nada que me ajudasse muito, eu só olhei o básico, nome, idade… Ele veio do interior também, porque quer fazer faculdade aqui. ― listou, lembrando-se de que estava certa quando reconheceu o sotaque forte que ele tinha. ― E se eu não me engano, ele é bolsista. Mas nada disso me ajuda e nem importa, eu preciso saber de alguma coisa que ele se interesse, algo que eu possa oferecer pra convencê-lo.
― Nossa… ― arregalou os olhos ao ouvi-la falando daquela forma tão compenetrada em algo que não soava assim tão bom. ― Você está se ouvindo, ?! Por que tanto esforço?
― EU VOU PRECISAR DE VOCÊ! ― obviamente ignorou o que havia questionado quando uma ideia passou pela sua cabeça, posteriormente ignorando também a expressão infeliz dela. ― De você e do fato de você ser a jornalista mais maravilhosa dessa escola inteira!
― Q-Quê?!
― Lembra aquele formulário de interesses que você usou de pesquisa de campo pra sua matéria de quais as áreas de trabalho que os alunos estavam mais interessados?! ― assentiu com a cabeça, sem entender bem onde ela queria chegar com aquilo. ― Eu preciso que você passe um desses pra ele!
― E por que eu faria isso? Já me arrependi de descobrir o nome. ― se soubesse que ela ia ficar tão obcecada… Na verdade, foi um erro seu, devia ter imaginado quando a respondeu daquela forma, não era boa em lidar com rejeição, irônico pra quem já havia rejeitado metade da escola. Balançou a cabeça, abrindo seu caderno para revisar a matéria, já que não parecia interessada em fazer isso.
― Porque fui eu que fiz o levar o Vernon no encontro às cegas, você se esquece disso?! Eu te ajudo com o seu namorado e você me ajuda com o meu! ― bateu com a mão contra a capa do caderno de , o fechando para obrigá-la a continuar prestando atenção em si.
― Você está ficando descontrolada! O não é seu namorado. ― estava prestes a surtar com tanta pressão vindo de , principalmente por saber que ela estava se enfiando em um rolo que provavelmente não conseguiria sair depois. E, quando tudo desse errado, ela encheria a sua conversa de áudios chorando e pedindo companhia.
― E quem disse que eu estou falando do ?
não percebeu o que havia feito até a amiga lhe olhar com uma expressão horrorizada, ao qual deu rosto imitou assim que se ouviu. E, quando cobriu os lábios com as palmas das mãos abertas, batendo neles como se amaldiçoasse a sua própria boca grande, já era meio que tarde demais.
Costumava querer acreditar em destino, mas não era como se o fizesse verdadeiramente. Pelo menos não até pegar aquele questionário nas suas mãos e ver o próprio sorrir para si.
Aquilo não podia ser coincidência e, a sua risada maléfica soando no corredor foi até um pouco assustadora. queria cursar design gráfico para desenvolver jogos, e, o pai de era CEO de uma empresa conhecida como Quantic Dreams, uma das maiores desenvolvedoras e distribuidoras de jogos atualmente.
Ela não conseguia não sorrir tão largo quanto estava sorrindo, suas bochechas estavam até doendo pelo esforço do músculo. Já sabia exatamente como iria fazê-lo aceitar o seu “convite para o baile”.
Contemplou a oportunidade perfeita passando por seus olhos ao vê-lo sentado na arquibancada do lado de fora do prédio pela parede de vidro, entediado enquanto mexia no seu celular. Jogou os cabelos para o lado e os ajeitou, passando as pontas dos dedos por debaixo dos olhos para tirar qualquer resquício de delineador que podia estar ali borrado depois de quatro horas naquele lugar, e então atravessou o portão aberto, passando pelo jardim antes de finalmente chegar na quadra aberta.
ficava sentado enquanto praticava esportes. Sabia que não devia e nem fazia sentido compará-los, mas não resistiu em fazer a medição mentalmente. Sinceramente, pelo menos por conta disso foi mais fácil simplesmente subir até a terceira fileira mais alta da arquibancada, se sentar ao lado dele e esperar pacientemente até que o rapaz percebesse sua presença ali, o que demorou alguns dez minutos s lhe rendeu uma reação um tanto cômica.
ergueu o olhar distraído, então o abaixou de novo e, como quem vê um fantasma e quer confirmar, ergueu outra vez as orbes na sua direção, arregalando os olhos. E sua próxima ação foi apenas respirar extremamente fundo, demonstrando todo o desânimo de encontrá-la novamente.
― Eu já não terminei com você? ― ele questionou franzindo a testa, e, mesmo que fosse uma das frases mais cretinas que já havia escutado, não podia dizer que não teve vontade de rir.
― Você não foi muito convincente. ― ela brincou, e depois teve nojo de si mesma ao perceber o quão errado aquilo soava.
― Se você já é abusiva mesmo antes de um relacionamento, eu não estou surpreso o porquê do seu ex ter terminado.
― YA! ― ergueu a mão no ar, ameaçando dar um tapa em , mas ao ver que isso apenas confirmaria a sua frase somente grunhiu frustrada, sem nem pensar em como ele sabia que fora que havia terminado. ― Eu não sou abusiva!
― Me diz então o que você quer. Três dias não fizeram nascer uma vontade mágica de te conhecer melhor em mim. ― foi direto antes que ela começasse a discursar em como tinha uma personalidade maravilhosa e pacifista.
― Você sabe o que eu quero. ― começou, e só essa frase já fez com que ele apoiasse a mão no assento para impulsionar o corpo para cima e levantar, a fazendo se desesperar na mesma hora. ― Você já ouviu falar na Quantic Dreams? ― questionou rápido antes que realmente saísse andando, e mordeu o lábio para não sorrir quando ele deixou o corpo cair outra vez, voltando a se sentar e deixando até mesmo um olhar curioso cair sob ela. ― Eu posso te colocar lá.
― Você enlouqueceu? ― aquilo era errado e ofensivo em tantas direções diferentes que ele teve que controlar o seu tom de voz pra não acabar gritando e chamando - ainda mais - atenção para eles, porque desde que ela se sentara ali, o jogo de futebol já havia sido pausado três vezes porque os seus colegas de classe estavam mais concentrados em olhar para a garota do que para a bola.
― E-espera, acho que saiu pior do que eu planejei!
― É, você aparentemente faz isso constantemente.
― Então… ― ignorou aquele comentário interrompendo seu raciocínio, apenas pedindo paciência internamente para os céus. ― Não é como se eu quisesse insinuar que você é esse tipo de gente. É uma troca de favores, você vai comigo até o baile e eu posso arrumar um estágio pra você na empresa. Não vai me custar nada, o meu pai é o CEO, então… Você me ajuda, e eu te ajudo. O que você acha? ― questionou, erguendo a mão na direção do rapaz para esperar a resposta dele ansiosamente.
Capítulo II
Estava simplesmente passando pelo corredor para chegar em uma mesa do refeitório quando sua mão foi agarrada alguns passos depois de ter entrado no ambiente, e quando viu já havia sido jogado em uma cadeira e a louca sentava na sua frente como se estivesse cometendo um crime, com uma expressão que, para ele, parecia um pouco psicótica.
― Mas o que é isso agora?! ― perguntou com um tom de voz irritado e o sotaque explodindo nas palavras, o fazendo ficar mais bravo ainda.
― Oi pra você também. ― ela sorriu depois de se certificar que ninguém havia lhe visto o puxando daquela forma meio agressiva, virando na direção de ao cumprimentá-lo. ― Eu estive pensando e… O estágio que eu arrumei pra você é realmente bom, são quatorze meses… E aí eu pensei que não valia tanto a pena pra mim, já que o baile é só uma noite.
― Onde você quer chegar? ― tentou fingir que o fato dela ter lhe passado aquela informação sobre o estágio não quebrou seu mal humor no meio, continuando com a expressão séria e o maxilar trincado e preguiçosamente sentado na cadeira. Pelo menos ela já tinha percebido que não gostava muito de se locomover e lhe jogara no lugar certo.
― Que eu desenvolvi um plano que me beneficia também! Afinal, ia ser muito estranho nós nem olharmos na cara um do outro durante o mês e aparecermos juntos no dia…
― Ué, podemos falar que preferimos ser discretos no nosso relacionamento? Você pode até colocar a culpa em mim e falar que eu não gosto de me expor. ― deu a ideia, começando a se desesperar por saber exatamente o que ela estava planejando. Queria até mesmo completar com um “qualquer coisa que não seja fingir que eu sou seu namorado”, mas já era tarde demais. Era aquilo mesmo que ela queria.
― É uma boa ideia, mas não. ― era óbvio pela forma que ela sorria e falava que não estava disposta a mudar de ideia, porque já estava empolgada com aquilo. podia imaginar que ela planejara exatamente cada passo que dariam a partir daquela conversa. ― Eu não vou pedir nada demais! Na verdade, é bem simples. Nós só precisamos passar o intervalo juntos e você tem que curtir todas as minhas fotos no instagram. E esporadicamente comentar. Sem contato físico e nem encontros exagerados.
― Curtir suas fotos onde…?! ― , definitivamente não era o melhor exemplo quando se falava sobre redes sociais, simplesmente porque não usava nenhuma e não sentia a mínima necessidade de começar agora. Mas, de novo, já era meio que tarde demais.
― V-Você não tem um instagram?! ― ela sentiu que estava lidando com um avô de sessenta anos preso em um corpo… Um ótimo e saudável corpo de um adolescente de dezoito anos quando descobriu isso. A expressão dele continuou a mesma, como uma confirmação de que não. Respirou fundo, balançando a cabeça. ― Quer saber… Não tem problema. Nós podemos fazer um agora!
― O que?!
― Aqui, eu vou fazer um e te mando as informações. ― tirou o próprio celular do cós da saia do uniforme, deslizando a unha para desbloquear a tela, enquanto ele a encarava nada feliz, como já estava virando rotina. ― Antes disso eu só preciso de uma coisa… ― e então rapidamente apontou a câmera pra ele, tirando uma foto do rapaz com aquela cara tão agradável e fofa.
― O que você fez?! ― tentou erguer o corpo para pegar o celular e confirmar se ela havia mesmo feito o que achava, mas a menor foi com o corpo para trás para impedi-lo e a risada que soltou apenas o deixou mais irritado.
― Olha só, você até que é fotogênico!
― Está tudo bem aqui? ― questionou quando chegou no local com Vernon, quase não encontrando a amiga por achar que ela estaria sozinha, e não com , e também se assustando porque ele parecia querer matá-la apenas pela forma que a olhava se divertir no celular.
― Sim! ― ergueu a cabeça para encontrar a melhor amiga e o namorado dela se sentando nos outros dois lugares, um ao lado do outro. O problema foi mais quem ela encontrou atrás de Vernon, entrando no refeitório também, e automaticamente seu corpo se retraiu, mas não conseguiu desviar o olhar de , que também fazia o mesmo desde que havia a encontrado.
― Depende de pra quem. ― murmurou mal humorado, desistindo de preservar a sua imagem e pegar o celular com um revirando os olhos.
― Então, você está namorando a de calças? ― Vernon não resistiu em questionar assim que ouviu o resmungar. ― O que te levou a cometer tal ato de loucura?
― Idiota. ― bufou, batendo com as costas na cadeira e balançando a cabeça negativamente por conta do comentário do namorado, mas achou válida a tentativa de iniciar a temporada de provocações. ― É óbvio que ela tem uma paixão reprimida por mim, você mesmo sempre foi quem falava isso.
― Aaaaah, é mesmo, então como a gente tá namorando agora, ela ficou triste e foi procurar alguém pra te substituir.
― Eu também não sei. ― tentou responder para disfarçar seu desconforto, mas estava meio perdida mesmo que já houvesse desviado sua atenção do ex namorado. ― Nem porque diabos ainda sou amiga de vocês.
― Como você é atriz e suas emoções são assim tão óbvias? Você não devia saber esconder melhor o que pensa? ― arqueou uma das sobrancelhas para a garota, ignorando a situação para questioná-la. Havia percebido a sua mudança de humor, mesmo que não houvesse entendido bem o motivo até seguir a direção que ela olhava e encontrar o tão falado , o que deixou tudo bem óbvio.
― Ninguém nunca disse que ela é uma boa atriz… ― brincou, com uma das mãos acima dos lábios para disfarçar o som e arrancando uma risada alta do namorado, o suficiente para irritar que encarou os dois pronta para socá-los.
― ATRIZES PRECISAM SABER DEMONSTRAR EMOÇÕES!!! ― ela gritou, se levantando e batendo com a mão na mesa antes de desprender o ar dos pulmões com raiva, dando as costas para o trio e então, simplesmente saiu andando entre os outros alunos, fazendo soltar um suspiro frustrado.
Fazia exatamente vinte e seis horas as quais havia aceitado aquilo, e já estava arrependido amargamente de ter apertado a mão de e prometido que cumpriria a sua parte do trato.
❥❥❥❥❥
Passar o dia com na empresa parecia que seria uma tortura da época medieval com requintes de crueldade, mas tudo piorou ainda mais quando chegou na recepção da sede da Quantic Dreams e descobriu que ela não estava lá com a recepcionista, que também dissera que o apresentaria a empresa antes dele pedir para ir ao banheiro como uma desculpa de ter mais alguns minutos para respirar.
Não era como se a garota tivesse falado que estaria presente no seu primeiro dia de estágio, mas era o que ele ao menos esperava que ela fizesse… Prometeu para si mesmo que nunca mais iria reclamar da presença dela, mesmo sabendo que aquilo era mentira, mas sinceramente, estaria muito mais à vontade se fosse que estivesse ali.
teve que parar mais uma vez para impedir suas mãos de tremerem ou de seu peitoral se mover muito rápido por conta da respiração acelerada quando se encarou no espelho. Não precisava falar que estava ansioso, isso era notado pelo fato de sua testa estar brilhante de suor mesmo que fizessem agradáveis vinte graus, e teve que arrumar o penteado que tivera cuidado de fazer em casa antes que ele se desfizesse.
Ao decidir que já havia se acalmado mais, viu que não podia mais enrolar ou acabaria sendo suspeito, então retomou a postura e empurrou a porta, dando dois passos para frente e quase sendo derrubado por uma garota que estava passando correndo pelo hall.
― TÁ COM PRESSA? ― a recepcionista gritou empolgada ao vê-la, mesmo que ela estivesse passando direto por ela para ir até o balcão, mas parou ao ouvir a voz de quem procurava.
― Eu tô atrasada, Aurora! ― gritou também em resposta, voltando alguns passos para chegar na frente da amiga e dar um enorme abraço apertado nela, a tirando do chão por alguns segundos. Apesar de Aurora ser indiscutivelmente mais velha, com cara de ser universitária, era nitidamente mais alta e forte.
― Como assim, atrasada? Você nem tem expediente aqui, . ― Aurora sorriu de canto, virando os olhos nas órbitas e balançando a cabeça com a forma que a amiga falava, como se não fosse óbvio o motivo ao qual ela estava ali naquele dia.
― Hoje eu tenho. ― sorriu ao soltá-la, piscando um dos olhos e então começando a falar mais baixinho, como se desconfiasse que estava sendo observada, cobrindo os lábios com a mão e impedindo de ouvir suas próximas palavras, mesmo se estivesse perto dela. ― Você sabe se o novo estagiário já chegou?
― Sim. ― Aurora fez a mesma coisa, escondendo a boca avermelhada e se controlando para não olhar para o garoto, para que ele não percebesse que era o assunto. ― Dizem que ele aparece se você olhar pra trás.
― Aaaah, obrigada! ― ela murmurou, tirando a mão da frente do rosto e então limpando a garganta com um pigarro, jogando o cabelo para trás de uma forma extremamente extra, a ponto de virar levemente a sua cabeça para o lado e ver de relance a figura masculina atrás de si. ― ! Você já chegou!
― Sim… ― ok, por mais que ele não quisesse admitir, era reconfortante ver um rosto conhecido no meio daquele hall enorme e movimentado, mesmo se fosse o da pessoa que andava lhe dando pesadelos nos últimos dias. Só estava torcendo para ela simplesmente continuar por perto…
― Eu estava indo fazer o tour com ele pela empresa, . ― Aurora comentou como quem não queria nada, sorrindo para a amiga calmamente e então dando alguns passos para ficar entre os dois.
― Mesmo? Não precisa se preocupar então, eu mesma faço. ― fora tão gentil e simpática que parecia mesmo que ela estava fazendo aquilo apenas para ajudar, e, na situação que estava e com o seu desejo sendo realizado, simplesmente resolveu acreditar nisso e se concentrar em não mudar a expressão para uma aliviada.
― Certo, então! Qualquer coisa, você sabe onde me encontrar.
― Obrigada. ― elas se despediram com uma piscada discreta e um aceno de mão e, enquanto Aurora voltava para trás do balcão, girava os calcanhares para encarar o suposto namorado, que o fazia de volta, esperando o que ela faria a seguir. ― Então, algumas regras aqui… Primeiro, nós somos apenas conhecidos e você é o melhor aluno da escola e eu só te indiquei porque vi alguns desenhos seus e achei que você tinha talento. Meu pai sempre foi ciumento e ficou pior depois do incidente com o , então precisamos tomar cuidado e sermos discretos.
― Cuidado e ser discreto? Essa não é praticamente a nossa relação real, apenas conhecidos da escola? ― ele não entendeu como ela agia se eles realmente tivessem algo a esconder ou como se toda a farsa que montaram especificamente para o Colégio valesse para outros locais.
― Basicamente, é isso mesmo, você está certo. ― riu de nervoso ao recordar que o era o último - e provavelmente o único - cara que conhecia que não iria querer a sua imagem associada com a dele. ― Certo, então vamos…
forçou um sorriso, simplesmente iniciando uma caminhada até as catracas que marcavam a entrada das pessoas autorizadas na empresa e então passando o crachá que tirara do bolso da calça jeans, explicando para que pegariam o dele quando chegassem no departamento que ele ficaria. O silêncio entre eles era incômodo para a menina, mas ele não parecia se importar nem um pouco, ocupado observando cada detalhe do espaço ao qual estavam atravessando.
Ele permaneceu assim em todos os lugares que passaram, em todos os andares do prédio que visitavam e, sempre que voltavam no elevador para ir ao próximo, ela tinha a impressão de ver um pequeno sorriso sincero preencher os lábios carnudos, a fazendo sorrir também.
― E esse aqui é o departamento de desenvolvimento e design gráfico, onde você vai ficar. ― anunciou junto com o toque da campainha do elevador e a abertura da porta, e pôde admirar o universo que estava entrando em todo o seu esplendor. ― É o departamento favorito do meu pai, então, se esforce. Se você ir bem… Quem sabe não tenha a chance de ser efetivado?
Aquilo tudo soava muito surreal aos ouvidos do , e ele teve que parar depois de sair do meio de transporte para respirar e processar a cena. As pessoas ali estavam em sua maioria dos computadores ou reunidas em mesas com folhas de desenhos enormes expostas, discutindo sobre diversas coisas. Em poucos segundos que estava ali já podia ver o que estavam criado e era incrível. As proporções, imagens, visuais, gráficos, cenários. Tudo era feito ali.
― Olha só quem temos a honra de receber aqui! ― ele nem mesmo percebeu quando um dos funcionários se aproximou por trás de , tentando colocar uma mão no ombro dela, que recusou e se afastou rapidamente.
― … ― chamou em um tom baixo, reprimindo o ódio e a raiva de dentro de seu ser. ― Esse é um dos sócios da empresa, e o responsável pelo departamento. Seu chefe direto, senhor Park.
― É um prazer conhecê-lo, senhor. ― voltou a realidade ao ouvir seu nome, curvando a coluna em reverência ao mais velho, mas percebeu assim que levantou que ele ignorou completamente a sua presença para continuar encarando uma nitidamente irritada e desconfortável.
― Estávamos trabalhando na arte da sua personagem, quer ver? ― algo no tom de voz daquele cara não parecia certo, e mesmo sem conhecê-lo, quis muito poder socá-lo.
― Não, obrigada, estou ocupada no momento. ― ela forjou um mover de lábios condescendente, dando as costas para o homem e voltando-se para o . ― Vamos, ainda faltam alguns lugares para te apresentar.
Ele concordou, e os dois voltaram para o elevador. Quando a porta do mesmo se fechou e se sentiu segura outra vez, deixou todo o ar que segurava sair de seus pulmões lentamente, quase que como em um exercício de respiração, e tentou fazer suas mãos pararem de tremer de alguma forma, as esfregando no tecido da roupa.
― O que foi isso? ― não conseguiu segurar a pergunta, disparando assim que viu o quão afetada e nervosa aquilo a havia deixado.
― Esquece…
― Como assim, “esquece”? ― ele questionou outra vez, não gostando em nada do rumo que aquela conversa estava tomando e de como ela estava querendo lidar com aquela situação.
― Existem algumas coisas que eu aprendi nesse mundo, . A primeira, é que ele é extremamente machista e isso que você viu, infelizmente, não é incomum. Eu faço o que posso com quem posso, mas esse homem tem trinta por cento das ações, não poderíamos fazer nada, então não contei pro meu pai. Enfim, eu não o vejo muito, então…
Estava nitidamente desesperada para arrumar um assunto novo e mudar aquele, e, mesmo não gostando nada da resposta que era obrigada a dar, não era como se tivesse outra. estava pronto para abrir a boca outra vez e continuar falando, mas o elevador abriu e ela fez questão de sair rapidamente, revelando o andar da cafeteria e ele se distraiu com a confusão em seu cérebro, porque ela já havia lhe mostrado aquele lugar.
― Eu menti, já te mostrei tudo, só queria uma desculpa pra sair de lá. ― ela admitiu com um sorriso amarelo, envergonhada, mordendo a parte interna da bochecha. ― Te pago um café pra compensar. ― e então saiu andando, tentando desviar o foco outra vez.
― , isso não está certo. ― segurou a mão dela para fazê-la voltar, mas soltou assim que percebeu que estavam em público e aquilo poderia gerar rumores. ― Você não devia deixar esse cara impune desse jeito, ele pode achar que por isso tem legalidade de continuar.
― Eu sei… ― ela sussurrou como resposta, voltando a andar para falar com a atendente e dando aquele assunto como encerrado.
Quando ela retornou e sentou em um dos bancos almofadados posicionados de forma lateral, ele fez o mesmo enquanto ajeitava a armação do óculos no rosto, desanimado com o que havia presenciado. Não era como se quisesse pressioná-la, mas o homem ter dinheiro ou parte das ações da empresa não tornava as ações dele mais corretas.
― Olha, está tudo bem. Obrigada por se preocupar comigo, mas está tudo bem. ― tentou consertar ao ver que ele estava realmente preocupado, mordendo o lábio inferior nervosa. Ele assentiu com a cabeça, mas cruzou os braços, como se não acreditasse naquilo. Ela suspirou frustrada, não queria trazer problemas para o seu pai, mas também não era como se fosse capaz de discordar quando ele estava certo. Tinha que tomar alguma atitude antes que as coisas ficassem mais sérias. ― Eu vou falar com o meu pai, se isso te deixa mais calmo.
― Faça por você mesma. ― murmurou como resposta, mas então se arrependeu quando o silêncio voltou a cair sob eles. havia ficado irritado, algo evidenciado pelo sotaque mais forte em sua voz, e ela se achou extremamente infantil por estar notando aquilo em uma situação daquelas… Mas o que podia fazer quando achava aquele sotaque extremamente fofo?
Daquela vez, quem se incomodou com a falta de assunto foi o , se distraindo ao estalar os dedos e olhando o tique taque do relógio de parede do café. podia enxergar aquilo tudo que estava fazendo como nada, mas não imaginava o que aquela oportunidade era para alguém como ele. Ela não sabia, mas para , não era só a oportunidade de se envolver em algo que amava e era interessado, mas também a oportunidade de mudar a sua vida e a de sua família. E ele ia agarrá-la.
― Obrigado. ― ele soltou de uma vez, sentindo que devia falar aquilo, mesmo que não fosse de seu feitio. ― Mesmo que você tenha feito isso por um trato, obrigado.
abriu um sorriso ao ouvir aquilo. O maior que ele já havia visto nos lábios dela desde que haviam se conhecido fazendo seus olhos se fecharem levemente, e balançou a cabeça negativamente,.
― Tudo bem. Eu sei que deve parecer que eu sou só uma garota nojenta, mimada e obcecada por ter feito tudo isso por causa daquilo, mas estou feliz de ter feito. Seja bem vindo a equipe, . Tudo o que você conquistar aqui dentro a partir de hoje, é mérito exclusivamente seu.
❥❥❥❥❥
Quando saiu do vagão do metrô, viu lhe esperando encostada em um pilar da estação, brincando com um dos pingentes que balançavam no celular e girando a saia do vestido preto de um lado pro outro, mas com uma expressão tão séria no rosto que ninguém que não a conhecesse imaginaria que ela tinha uma personalidade amigável. Ele arqueou uma das sobrancelhas, sem entender porque ela estava ali ao invés de estar dentro do shopping. Parecia ser meio surreal ela andar de metrô também, na cabeça dele já havia a mentalizado com um motorista particular e uma limusine. Talvez houvesse mesmo a pintado como uma riquinha mimada e nojenta, mas, pelo menos estava desmistificando aquela imagem aos poucos, e a companhia da garota não era mais tão insuportável.
― Oi… ― cumprimentou ao parar na frente dela, e desfez a expressão emburrada para abrir um pequeno sorriso simpático.
― Oi! ― respondeu animada, desencostando do pilar para começar a andar até a entrada direta que ligava o metrô ao shopping. ― Você se atrasou. ― não resistiu em pontuar, e instantaneamente lembrou do pequeno manual que lhe passara em um dos intervalos daquelas duas semanas ao qual estavam sendo obrigados a conviver.
Um dos itens era que era pontual e odiava atrasos, porque era ansiosa e começava a figurar em sua cabeça quatrocentos motivos para justificar o atraso, nunca pensando que a pessoa estava simplesmente atrasada.
― É, eu estava estudando e perdi o ônibus. ― explicou para que ela não ficasse colocando coisa na cabeça, colocando as mãos nos bolsos e seguindo calmamente a direção que ela ia pelo lugar, já que ele mesmo nunca havia ido ali.
tinha mudado para a capital há pouco tempo. Havia acabado de fazer seis meses no dia em que apareceu na sua vida, então, ele não conhecia bem a cidade, muito menos lugares como shoppings e, só estava ali porque ela disse que era urgente, mesmo que ele não fizesse a mínima ideia do que estavam fazendo naquele lugar. Ou pelo menos não fazia até que ela entrou em uma loja que tinha ternos de sua entrada até o caixa, fazendo com que ele arregalasse os olhos, em choque. Ela havia perdido o juízo…?
― O que você está fazendo? ― questionou franzindo o cenho e sentindo uma dor de cabeça lacerar sua testa assim que entrou naquele lugar, assim como sua nuca se tensionando quase ao ponto de lhe dar um torcicolo.
― Bom… ― ela parou um pouco assustada com o quão na defensiva ele havia ficado, e então umedeceu o lábio nitidamente nervosa. ― Como você nem ia no baile, acho injusto você se virar sozinho com coisas que não queria, então achei que o mínimo que eu podia fazer era te trazer pra ver a roupa e essas coisas, já que é tudo culpa minha. ― ela explicou calmamente, ainda com medo de qual seria a reação que ele teria, mas ficando mais tranquila assim que o viu respirar e pareceu que um saco de cimento havia saído das costas do rapaz.
― A-ah…
― Vamos, vai ser divertido! ― pensou que todo aquele desânimo fosse por conta das roupas e das compras, então tentou arrumar uma forma de empolgá-lo, chamando a vendedora e pedindo cinco estilos de trajes diferentes. ― Você vai colocar e escolher lá, mas eu não quero ver.
― Por que? ― ele sinceramente ficou com medo daquilo, e dela ser doida o suficiente para responder que dava azar ver o noivo antes do casamento. Mas, felizmente, não parecia ser o caso.
― Porque eu gosto de surpresas, ué.
❥❥❥❥❥
As coisas estavam saindo do controle na cabeça de , e isso apenas o deixava ainda mais desesperado.
Era pior saber quem era o cara que curtia todas as fotos que postava, doía mais saber que ele não era só mais um dos trinta e tantos que lhe eram desconhecidos e comentavam a chamando pra sair porque ela era tão linda, mas que, aquele havia se tornado um em especial para ela. Sabia que não era mais seu namorado, mas droga, não podia evitar…
Naturalmente ele pressionava o número da garota sempre que sentia saudades, mas então lembrava que não podia fazer aquilo e desistia, indo parar outra vez nos aplicativos. Sempre que algum amigo seu curtia alguma foto dela, não conseguia não olhar, e aquilo apenas fazia com que remoesse todo o sentimento que guardava em relação a e daquela vez em especial foi ainda pior, porque ela havia postado uma foto com o novo namorado dela. Devia clicar em curtir? Aquela cena se repetia muitas vezes em seus dias, na esperança que toda vez que clicasse, ela lembrasse da sua existência e então talvez do sentimento que tinham.
Aish, por que tinha que estar tão atrasado nas memórias? Por que no mundo dele tudo estava parado desde que haviam terminado? Sentia que ainda estava pendurado no prédio prestes a cair, e que o coração de era como uma guilhotina que o cortou para fora, mas mesmo assim, ele diariamente se arrastava até ela e via toda a sua vida diária através da merda da internet. Não queria vê-la apenas pela tela de um celular… Estava a cada vez mais atormentado, mas o que ela pensava dele depois do que havia acontecido, afinal?
― Droga… ― rosnou para si mesmo, encarando a foto que ela havia tirado com , em um lugar que reconheceu facilmente ser no shopping. Respirou fundo e bloqueou a tela do celular, decidindo não clicar em curtir daquela vez, talvez ele usasse um botão de dislike se existisse, porque não havia mesmo gostado de ver aquilo.
Guardou o celular dentro do bolso depois de ver o horário, erguendo a cabeça e começando a caminhar para fora do prédio. Já estava na hora de ir para o clube, mas teve uma ideia antes. andava rodeando durante todos os momentos ao qual poderia conversar com ela no horário letivo, então… Talvez conseguissem se falar agora, se estivesse no teatro como costumava fazer. Sabia que não tinha aquele direito, mas tudo o que queria era passar aquela história a limpo.
Assim conseguiria seguir em frente e deixar tudo o que estava lhe incomodando tanto para trás. Pelo menos, era o que esperava que acontecesse. Não sabia exatamente se era o que queria, mas era o que esperava.
Virou a esquina do prédio do auditório e encontrou encostada na parede - aquela mania de se escorar nos lugares que ela não perdia por nada, sempre alternando o peso do corpo de uma perna para a outra, olhando para a tela do celular com um sorriso de canto, sozinha. Engoliu em seco ao se deparar com a cena, e respirou tão fundo que ela escutou e ergueu o olhar para ver quem era, dando um pulinho contido de susto ao lhe encontrar ali de novo.
precisou de um minuto para se recuperar de vê-la sorrindo daquele jeito para a tela, porque sabia que antigamente, aquele sorriso era direcionado para as suas mensagens. Mas até isso havia perdido…
― ! ― chamou assim que ela deu o primeiro passo em direção a porta do lugar, querendo fugir o mais rápido possível da sua presença.
― O que foi agora? ― ela ainda parecia a mesma criança desesperada e acuada sempre que se sentia pressionada, e ao mesmo tempo que teve vontade de sorrir para aquela cena, sentiu-se mal da culpa dela se sentir daquela forma ser exclusivamente sua.
― Eu quero conversar com você! Olha, eu sei que você me odeia agora, provavelmente, mas eu… Eu não. ― soltou de uma vez antes que ela saísse correndo de novo, fazendo questão de ficar próximo a saída do pequeno beco para que ela não tentasse fugir por ali. ― Eu sinto que se eu não dizer nada eu vou te perder de uma vez. Eu não acho que você se importa comigo e eu sei que você não é minha mais… Mas por que eu sinto que algo está sendo tirado de mim? Você está indo bem sem mim, festejando tanto por aí e eu não quero ver isso, mas vejo do mesmo jeito porque eu tenho que me sentir o idiota que eu sou, porque não consigo te superar.
― , nós…
― Depois que terminamos, você parece melhor, é como se você fosse uma mulher bonita e não uma estudante. ― abaixou a cabeça, colocando uma das mãos na testa para massageá-la, como se aquilo fosse capaz de aliviar tudo o que estava passando. ― Irritantemente, você continua parecendo bem. Não que eu ficaria feliz se você estivesse mal, mas… Você simplesmente não sente a minha falta?!
― O que você quer que eu faça?! Você termina comigo e acha que eu vou ficar sofrendo por sua causa, me perguntando o que eu fiz de errado? ― disparou de volta, falando como se não fosse exatamente o que ela havia feito naqueles últimos meses e controlando a voz porque se recusava a começar a chorar na frente dele. ― , mesmo se eu sentir a sua falta, você não pode voltar como se nada tivesse acontecido, porque aconteceu.
― É, eu sei, isso ac…
― ? ― a figura masculina apareceu bem ao lado de na entrada do beco, e a voz grossa de interrompeu a conversa dos dois, fazendo com que ambos arregalassem os olhos, mas ela tivesse a desculpa perfeita para fazer o que queria: correr dali e entrar no teatro, fugindo da presença do .
suspirou desanimado, tendo a certeza de ter visto aquela expressão de choro no rosto da garota. Não era como se estivesse mesmo confundindo a realidade com a farsa, mas não achava certo aquele cara ficar no pé dela depois dele mesmo ter terminado. Era cruel, principalmente porque obviamente não tinha superado. Viu-o girando os calcanhares para sair, e antes que conseguisse, o puxou pelo ombro para virar outra vez em sua direção.
― Se você ia ficar a perseguindo, justo agora que ela está querendo seguir em frente e encontrou outra pessoa, por que então decidiu terminar com a garota?
― Mas o que é isso agora?! ― perguntou com um tom de voz irritado e o sotaque explodindo nas palavras, o fazendo ficar mais bravo ainda.
― Oi pra você também. ― ela sorriu depois de se certificar que ninguém havia lhe visto o puxando daquela forma meio agressiva, virando na direção de ao cumprimentá-lo. ― Eu estive pensando e… O estágio que eu arrumei pra você é realmente bom, são quatorze meses… E aí eu pensei que não valia tanto a pena pra mim, já que o baile é só uma noite.
― Onde você quer chegar? ― tentou fingir que o fato dela ter lhe passado aquela informação sobre o estágio não quebrou seu mal humor no meio, continuando com a expressão séria e o maxilar trincado e preguiçosamente sentado na cadeira. Pelo menos ela já tinha percebido que não gostava muito de se locomover e lhe jogara no lugar certo.
― Que eu desenvolvi um plano que me beneficia também! Afinal, ia ser muito estranho nós nem olharmos na cara um do outro durante o mês e aparecermos juntos no dia…
― Ué, podemos falar que preferimos ser discretos no nosso relacionamento? Você pode até colocar a culpa em mim e falar que eu não gosto de me expor. ― deu a ideia, começando a se desesperar por saber exatamente o que ela estava planejando. Queria até mesmo completar com um “qualquer coisa que não seja fingir que eu sou seu namorado”, mas já era tarde demais. Era aquilo mesmo que ela queria.
― É uma boa ideia, mas não. ― era óbvio pela forma que ela sorria e falava que não estava disposta a mudar de ideia, porque já estava empolgada com aquilo. podia imaginar que ela planejara exatamente cada passo que dariam a partir daquela conversa. ― Eu não vou pedir nada demais! Na verdade, é bem simples. Nós só precisamos passar o intervalo juntos e você tem que curtir todas as minhas fotos no instagram. E esporadicamente comentar. Sem contato físico e nem encontros exagerados.
― Curtir suas fotos onde…?! ― , definitivamente não era o melhor exemplo quando se falava sobre redes sociais, simplesmente porque não usava nenhuma e não sentia a mínima necessidade de começar agora. Mas, de novo, já era meio que tarde demais.
― V-Você não tem um instagram?! ― ela sentiu que estava lidando com um avô de sessenta anos preso em um corpo… Um ótimo e saudável corpo de um adolescente de dezoito anos quando descobriu isso. A expressão dele continuou a mesma, como uma confirmação de que não. Respirou fundo, balançando a cabeça. ― Quer saber… Não tem problema. Nós podemos fazer um agora!
― O que?!
― Aqui, eu vou fazer um e te mando as informações. ― tirou o próprio celular do cós da saia do uniforme, deslizando a unha para desbloquear a tela, enquanto ele a encarava nada feliz, como já estava virando rotina. ― Antes disso eu só preciso de uma coisa… ― e então rapidamente apontou a câmera pra ele, tirando uma foto do rapaz com aquela cara tão agradável e fofa.
― O que você fez?! ― tentou erguer o corpo para pegar o celular e confirmar se ela havia mesmo feito o que achava, mas a menor foi com o corpo para trás para impedi-lo e a risada que soltou apenas o deixou mais irritado.
― Olha só, você até que é fotogênico!
― Está tudo bem aqui? ― questionou quando chegou no local com Vernon, quase não encontrando a amiga por achar que ela estaria sozinha, e não com , e também se assustando porque ele parecia querer matá-la apenas pela forma que a olhava se divertir no celular.
― Sim! ― ergueu a cabeça para encontrar a melhor amiga e o namorado dela se sentando nos outros dois lugares, um ao lado do outro. O problema foi mais quem ela encontrou atrás de Vernon, entrando no refeitório também, e automaticamente seu corpo se retraiu, mas não conseguiu desviar o olhar de , que também fazia o mesmo desde que havia a encontrado.
― Depende de pra quem. ― murmurou mal humorado, desistindo de preservar a sua imagem e pegar o celular com um revirando os olhos.
― Então, você está namorando a de calças? ― Vernon não resistiu em questionar assim que ouviu o resmungar. ― O que te levou a cometer tal ato de loucura?
― Idiota. ― bufou, batendo com as costas na cadeira e balançando a cabeça negativamente por conta do comentário do namorado, mas achou válida a tentativa de iniciar a temporada de provocações. ― É óbvio que ela tem uma paixão reprimida por mim, você mesmo sempre foi quem falava isso.
― Aaaaah, é mesmo, então como a gente tá namorando agora, ela ficou triste e foi procurar alguém pra te substituir.
― Eu também não sei. ― tentou responder para disfarçar seu desconforto, mas estava meio perdida mesmo que já houvesse desviado sua atenção do ex namorado. ― Nem porque diabos ainda sou amiga de vocês.
― Como você é atriz e suas emoções são assim tão óbvias? Você não devia saber esconder melhor o que pensa? ― arqueou uma das sobrancelhas para a garota, ignorando a situação para questioná-la. Havia percebido a sua mudança de humor, mesmo que não houvesse entendido bem o motivo até seguir a direção que ela olhava e encontrar o tão falado , o que deixou tudo bem óbvio.
― Ninguém nunca disse que ela é uma boa atriz… ― brincou, com uma das mãos acima dos lábios para disfarçar o som e arrancando uma risada alta do namorado, o suficiente para irritar que encarou os dois pronta para socá-los.
― ATRIZES PRECISAM SABER DEMONSTRAR EMOÇÕES!!! ― ela gritou, se levantando e batendo com a mão na mesa antes de desprender o ar dos pulmões com raiva, dando as costas para o trio e então, simplesmente saiu andando entre os outros alunos, fazendo soltar um suspiro frustrado.
Fazia exatamente vinte e seis horas as quais havia aceitado aquilo, e já estava arrependido amargamente de ter apertado a mão de e prometido que cumpriria a sua parte do trato.
Passar o dia com na empresa parecia que seria uma tortura da época medieval com requintes de crueldade, mas tudo piorou ainda mais quando chegou na recepção da sede da Quantic Dreams e descobriu que ela não estava lá com a recepcionista, que também dissera que o apresentaria a empresa antes dele pedir para ir ao banheiro como uma desculpa de ter mais alguns minutos para respirar.
Não era como se a garota tivesse falado que estaria presente no seu primeiro dia de estágio, mas era o que ele ao menos esperava que ela fizesse… Prometeu para si mesmo que nunca mais iria reclamar da presença dela, mesmo sabendo que aquilo era mentira, mas sinceramente, estaria muito mais à vontade se fosse que estivesse ali.
teve que parar mais uma vez para impedir suas mãos de tremerem ou de seu peitoral se mover muito rápido por conta da respiração acelerada quando se encarou no espelho. Não precisava falar que estava ansioso, isso era notado pelo fato de sua testa estar brilhante de suor mesmo que fizessem agradáveis vinte graus, e teve que arrumar o penteado que tivera cuidado de fazer em casa antes que ele se desfizesse.
Ao decidir que já havia se acalmado mais, viu que não podia mais enrolar ou acabaria sendo suspeito, então retomou a postura e empurrou a porta, dando dois passos para frente e quase sendo derrubado por uma garota que estava passando correndo pelo hall.
― TÁ COM PRESSA? ― a recepcionista gritou empolgada ao vê-la, mesmo que ela estivesse passando direto por ela para ir até o balcão, mas parou ao ouvir a voz de quem procurava.
― Eu tô atrasada, Aurora! ― gritou também em resposta, voltando alguns passos para chegar na frente da amiga e dar um enorme abraço apertado nela, a tirando do chão por alguns segundos. Apesar de Aurora ser indiscutivelmente mais velha, com cara de ser universitária, era nitidamente mais alta e forte.
― Como assim, atrasada? Você nem tem expediente aqui, . ― Aurora sorriu de canto, virando os olhos nas órbitas e balançando a cabeça com a forma que a amiga falava, como se não fosse óbvio o motivo ao qual ela estava ali naquele dia.
― Hoje eu tenho. ― sorriu ao soltá-la, piscando um dos olhos e então começando a falar mais baixinho, como se desconfiasse que estava sendo observada, cobrindo os lábios com a mão e impedindo de ouvir suas próximas palavras, mesmo se estivesse perto dela. ― Você sabe se o novo estagiário já chegou?
― Sim. ― Aurora fez a mesma coisa, escondendo a boca avermelhada e se controlando para não olhar para o garoto, para que ele não percebesse que era o assunto. ― Dizem que ele aparece se você olhar pra trás.
― Aaaah, obrigada! ― ela murmurou, tirando a mão da frente do rosto e então limpando a garganta com um pigarro, jogando o cabelo para trás de uma forma extremamente extra, a ponto de virar levemente a sua cabeça para o lado e ver de relance a figura masculina atrás de si. ― ! Você já chegou!
― Sim… ― ok, por mais que ele não quisesse admitir, era reconfortante ver um rosto conhecido no meio daquele hall enorme e movimentado, mesmo se fosse o da pessoa que andava lhe dando pesadelos nos últimos dias. Só estava torcendo para ela simplesmente continuar por perto…
― Eu estava indo fazer o tour com ele pela empresa, . ― Aurora comentou como quem não queria nada, sorrindo para a amiga calmamente e então dando alguns passos para ficar entre os dois.
― Mesmo? Não precisa se preocupar então, eu mesma faço. ― fora tão gentil e simpática que parecia mesmo que ela estava fazendo aquilo apenas para ajudar, e, na situação que estava e com o seu desejo sendo realizado, simplesmente resolveu acreditar nisso e se concentrar em não mudar a expressão para uma aliviada.
― Certo, então! Qualquer coisa, você sabe onde me encontrar.
― Obrigada. ― elas se despediram com uma piscada discreta e um aceno de mão e, enquanto Aurora voltava para trás do balcão, girava os calcanhares para encarar o suposto namorado, que o fazia de volta, esperando o que ela faria a seguir. ― Então, algumas regras aqui… Primeiro, nós somos apenas conhecidos e você é o melhor aluno da escola e eu só te indiquei porque vi alguns desenhos seus e achei que você tinha talento. Meu pai sempre foi ciumento e ficou pior depois do incidente com o , então precisamos tomar cuidado e sermos discretos.
― Cuidado e ser discreto? Essa não é praticamente a nossa relação real, apenas conhecidos da escola? ― ele não entendeu como ela agia se eles realmente tivessem algo a esconder ou como se toda a farsa que montaram especificamente para o Colégio valesse para outros locais.
― Basicamente, é isso mesmo, você está certo. ― riu de nervoso ao recordar que o era o último - e provavelmente o único - cara que conhecia que não iria querer a sua imagem associada com a dele. ― Certo, então vamos…
forçou um sorriso, simplesmente iniciando uma caminhada até as catracas que marcavam a entrada das pessoas autorizadas na empresa e então passando o crachá que tirara do bolso da calça jeans, explicando para que pegariam o dele quando chegassem no departamento que ele ficaria. O silêncio entre eles era incômodo para a menina, mas ele não parecia se importar nem um pouco, ocupado observando cada detalhe do espaço ao qual estavam atravessando.
Ele permaneceu assim em todos os lugares que passaram, em todos os andares do prédio que visitavam e, sempre que voltavam no elevador para ir ao próximo, ela tinha a impressão de ver um pequeno sorriso sincero preencher os lábios carnudos, a fazendo sorrir também.
― E esse aqui é o departamento de desenvolvimento e design gráfico, onde você vai ficar. ― anunciou junto com o toque da campainha do elevador e a abertura da porta, e pôde admirar o universo que estava entrando em todo o seu esplendor. ― É o departamento favorito do meu pai, então, se esforce. Se você ir bem… Quem sabe não tenha a chance de ser efetivado?
Aquilo tudo soava muito surreal aos ouvidos do , e ele teve que parar depois de sair do meio de transporte para respirar e processar a cena. As pessoas ali estavam em sua maioria dos computadores ou reunidas em mesas com folhas de desenhos enormes expostas, discutindo sobre diversas coisas. Em poucos segundos que estava ali já podia ver o que estavam criado e era incrível. As proporções, imagens, visuais, gráficos, cenários. Tudo era feito ali.
― Olha só quem temos a honra de receber aqui! ― ele nem mesmo percebeu quando um dos funcionários se aproximou por trás de , tentando colocar uma mão no ombro dela, que recusou e se afastou rapidamente.
― … ― chamou em um tom baixo, reprimindo o ódio e a raiva de dentro de seu ser. ― Esse é um dos sócios da empresa, e o responsável pelo departamento. Seu chefe direto, senhor Park.
― É um prazer conhecê-lo, senhor. ― voltou a realidade ao ouvir seu nome, curvando a coluna em reverência ao mais velho, mas percebeu assim que levantou que ele ignorou completamente a sua presença para continuar encarando uma nitidamente irritada e desconfortável.
― Estávamos trabalhando na arte da sua personagem, quer ver? ― algo no tom de voz daquele cara não parecia certo, e mesmo sem conhecê-lo, quis muito poder socá-lo.
― Não, obrigada, estou ocupada no momento. ― ela forjou um mover de lábios condescendente, dando as costas para o homem e voltando-se para o . ― Vamos, ainda faltam alguns lugares para te apresentar.
Ele concordou, e os dois voltaram para o elevador. Quando a porta do mesmo se fechou e se sentiu segura outra vez, deixou todo o ar que segurava sair de seus pulmões lentamente, quase que como em um exercício de respiração, e tentou fazer suas mãos pararem de tremer de alguma forma, as esfregando no tecido da roupa.
― O que foi isso? ― não conseguiu segurar a pergunta, disparando assim que viu o quão afetada e nervosa aquilo a havia deixado.
― Esquece…
― Como assim, “esquece”? ― ele questionou outra vez, não gostando em nada do rumo que aquela conversa estava tomando e de como ela estava querendo lidar com aquela situação.
― Existem algumas coisas que eu aprendi nesse mundo, . A primeira, é que ele é extremamente machista e isso que você viu, infelizmente, não é incomum. Eu faço o que posso com quem posso, mas esse homem tem trinta por cento das ações, não poderíamos fazer nada, então não contei pro meu pai. Enfim, eu não o vejo muito, então…
Estava nitidamente desesperada para arrumar um assunto novo e mudar aquele, e, mesmo não gostando nada da resposta que era obrigada a dar, não era como se tivesse outra. estava pronto para abrir a boca outra vez e continuar falando, mas o elevador abriu e ela fez questão de sair rapidamente, revelando o andar da cafeteria e ele se distraiu com a confusão em seu cérebro, porque ela já havia lhe mostrado aquele lugar.
― Eu menti, já te mostrei tudo, só queria uma desculpa pra sair de lá. ― ela admitiu com um sorriso amarelo, envergonhada, mordendo a parte interna da bochecha. ― Te pago um café pra compensar. ― e então saiu andando, tentando desviar o foco outra vez.
― , isso não está certo. ― segurou a mão dela para fazê-la voltar, mas soltou assim que percebeu que estavam em público e aquilo poderia gerar rumores. ― Você não devia deixar esse cara impune desse jeito, ele pode achar que por isso tem legalidade de continuar.
― Eu sei… ― ela sussurrou como resposta, voltando a andar para falar com a atendente e dando aquele assunto como encerrado.
Quando ela retornou e sentou em um dos bancos almofadados posicionados de forma lateral, ele fez o mesmo enquanto ajeitava a armação do óculos no rosto, desanimado com o que havia presenciado. Não era como se quisesse pressioná-la, mas o homem ter dinheiro ou parte das ações da empresa não tornava as ações dele mais corretas.
― Olha, está tudo bem. Obrigada por se preocupar comigo, mas está tudo bem. ― tentou consertar ao ver que ele estava realmente preocupado, mordendo o lábio inferior nervosa. Ele assentiu com a cabeça, mas cruzou os braços, como se não acreditasse naquilo. Ela suspirou frustrada, não queria trazer problemas para o seu pai, mas também não era como se fosse capaz de discordar quando ele estava certo. Tinha que tomar alguma atitude antes que as coisas ficassem mais sérias. ― Eu vou falar com o meu pai, se isso te deixa mais calmo.
― Faça por você mesma. ― murmurou como resposta, mas então se arrependeu quando o silêncio voltou a cair sob eles. havia ficado irritado, algo evidenciado pelo sotaque mais forte em sua voz, e ela se achou extremamente infantil por estar notando aquilo em uma situação daquelas… Mas o que podia fazer quando achava aquele sotaque extremamente fofo?
Daquela vez, quem se incomodou com a falta de assunto foi o , se distraindo ao estalar os dedos e olhando o tique taque do relógio de parede do café. podia enxergar aquilo tudo que estava fazendo como nada, mas não imaginava o que aquela oportunidade era para alguém como ele. Ela não sabia, mas para , não era só a oportunidade de se envolver em algo que amava e era interessado, mas também a oportunidade de mudar a sua vida e a de sua família. E ele ia agarrá-la.
― Obrigado. ― ele soltou de uma vez, sentindo que devia falar aquilo, mesmo que não fosse de seu feitio. ― Mesmo que você tenha feito isso por um trato, obrigado.
abriu um sorriso ao ouvir aquilo. O maior que ele já havia visto nos lábios dela desde que haviam se conhecido fazendo seus olhos se fecharem levemente, e balançou a cabeça negativamente,.
― Tudo bem. Eu sei que deve parecer que eu sou só uma garota nojenta, mimada e obcecada por ter feito tudo isso por causa daquilo, mas estou feliz de ter feito. Seja bem vindo a equipe, . Tudo o que você conquistar aqui dentro a partir de hoje, é mérito exclusivamente seu.
Quando saiu do vagão do metrô, viu lhe esperando encostada em um pilar da estação, brincando com um dos pingentes que balançavam no celular e girando a saia do vestido preto de um lado pro outro, mas com uma expressão tão séria no rosto que ninguém que não a conhecesse imaginaria que ela tinha uma personalidade amigável. Ele arqueou uma das sobrancelhas, sem entender porque ela estava ali ao invés de estar dentro do shopping. Parecia ser meio surreal ela andar de metrô também, na cabeça dele já havia a mentalizado com um motorista particular e uma limusine. Talvez houvesse mesmo a pintado como uma riquinha mimada e nojenta, mas, pelo menos estava desmistificando aquela imagem aos poucos, e a companhia da garota não era mais tão insuportável.
― Oi… ― cumprimentou ao parar na frente dela, e desfez a expressão emburrada para abrir um pequeno sorriso simpático.
― Oi! ― respondeu animada, desencostando do pilar para começar a andar até a entrada direta que ligava o metrô ao shopping. ― Você se atrasou. ― não resistiu em pontuar, e instantaneamente lembrou do pequeno manual que lhe passara em um dos intervalos daquelas duas semanas ao qual estavam sendo obrigados a conviver.
Um dos itens era que era pontual e odiava atrasos, porque era ansiosa e começava a figurar em sua cabeça quatrocentos motivos para justificar o atraso, nunca pensando que a pessoa estava simplesmente atrasada.
― É, eu estava estudando e perdi o ônibus. ― explicou para que ela não ficasse colocando coisa na cabeça, colocando as mãos nos bolsos e seguindo calmamente a direção que ela ia pelo lugar, já que ele mesmo nunca havia ido ali.
tinha mudado para a capital há pouco tempo. Havia acabado de fazer seis meses no dia em que apareceu na sua vida, então, ele não conhecia bem a cidade, muito menos lugares como shoppings e, só estava ali porque ela disse que era urgente, mesmo que ele não fizesse a mínima ideia do que estavam fazendo naquele lugar. Ou pelo menos não fazia até que ela entrou em uma loja que tinha ternos de sua entrada até o caixa, fazendo com que ele arregalasse os olhos, em choque. Ela havia perdido o juízo…?
― O que você está fazendo? ― questionou franzindo o cenho e sentindo uma dor de cabeça lacerar sua testa assim que entrou naquele lugar, assim como sua nuca se tensionando quase ao ponto de lhe dar um torcicolo.
― Bom… ― ela parou um pouco assustada com o quão na defensiva ele havia ficado, e então umedeceu o lábio nitidamente nervosa. ― Como você nem ia no baile, acho injusto você se virar sozinho com coisas que não queria, então achei que o mínimo que eu podia fazer era te trazer pra ver a roupa e essas coisas, já que é tudo culpa minha. ― ela explicou calmamente, ainda com medo de qual seria a reação que ele teria, mas ficando mais tranquila assim que o viu respirar e pareceu que um saco de cimento havia saído das costas do rapaz.
― A-ah…
― Vamos, vai ser divertido! ― pensou que todo aquele desânimo fosse por conta das roupas e das compras, então tentou arrumar uma forma de empolgá-lo, chamando a vendedora e pedindo cinco estilos de trajes diferentes. ― Você vai colocar e escolher lá, mas eu não quero ver.
― Por que? ― ele sinceramente ficou com medo daquilo, e dela ser doida o suficiente para responder que dava azar ver o noivo antes do casamento. Mas, felizmente, não parecia ser o caso.
― Porque eu gosto de surpresas, ué.
As coisas estavam saindo do controle na cabeça de , e isso apenas o deixava ainda mais desesperado.
Era pior saber quem era o cara que curtia todas as fotos que postava, doía mais saber que ele não era só mais um dos trinta e tantos que lhe eram desconhecidos e comentavam a chamando pra sair porque ela era tão linda, mas que, aquele havia se tornado um em especial para ela. Sabia que não era mais seu namorado, mas droga, não podia evitar…
Naturalmente ele pressionava o número da garota sempre que sentia saudades, mas então lembrava que não podia fazer aquilo e desistia, indo parar outra vez nos aplicativos. Sempre que algum amigo seu curtia alguma foto dela, não conseguia não olhar, e aquilo apenas fazia com que remoesse todo o sentimento que guardava em relação a e daquela vez em especial foi ainda pior, porque ela havia postado uma foto com o novo namorado dela. Devia clicar em curtir? Aquela cena se repetia muitas vezes em seus dias, na esperança que toda vez que clicasse, ela lembrasse da sua existência e então talvez do sentimento que tinham.
Aish, por que tinha que estar tão atrasado nas memórias? Por que no mundo dele tudo estava parado desde que haviam terminado? Sentia que ainda estava pendurado no prédio prestes a cair, e que o coração de era como uma guilhotina que o cortou para fora, mas mesmo assim, ele diariamente se arrastava até ela e via toda a sua vida diária através da merda da internet. Não queria vê-la apenas pela tela de um celular… Estava a cada vez mais atormentado, mas o que ela pensava dele depois do que havia acontecido, afinal?
― Droga… ― rosnou para si mesmo, encarando a foto que ela havia tirado com , em um lugar que reconheceu facilmente ser no shopping. Respirou fundo e bloqueou a tela do celular, decidindo não clicar em curtir daquela vez, talvez ele usasse um botão de dislike se existisse, porque não havia mesmo gostado de ver aquilo.
Guardou o celular dentro do bolso depois de ver o horário, erguendo a cabeça e começando a caminhar para fora do prédio. Já estava na hora de ir para o clube, mas teve uma ideia antes. andava rodeando durante todos os momentos ao qual poderia conversar com ela no horário letivo, então… Talvez conseguissem se falar agora, se estivesse no teatro como costumava fazer. Sabia que não tinha aquele direito, mas tudo o que queria era passar aquela história a limpo.
Assim conseguiria seguir em frente e deixar tudo o que estava lhe incomodando tanto para trás. Pelo menos, era o que esperava que acontecesse. Não sabia exatamente se era o que queria, mas era o que esperava.
Virou a esquina do prédio do auditório e encontrou encostada na parede - aquela mania de se escorar nos lugares que ela não perdia por nada, sempre alternando o peso do corpo de uma perna para a outra, olhando para a tela do celular com um sorriso de canto, sozinha. Engoliu em seco ao se deparar com a cena, e respirou tão fundo que ela escutou e ergueu o olhar para ver quem era, dando um pulinho contido de susto ao lhe encontrar ali de novo.
precisou de um minuto para se recuperar de vê-la sorrindo daquele jeito para a tela, porque sabia que antigamente, aquele sorriso era direcionado para as suas mensagens. Mas até isso havia perdido…
― ! ― chamou assim que ela deu o primeiro passo em direção a porta do lugar, querendo fugir o mais rápido possível da sua presença.
― O que foi agora? ― ela ainda parecia a mesma criança desesperada e acuada sempre que se sentia pressionada, e ao mesmo tempo que teve vontade de sorrir para aquela cena, sentiu-se mal da culpa dela se sentir daquela forma ser exclusivamente sua.
― Eu quero conversar com você! Olha, eu sei que você me odeia agora, provavelmente, mas eu… Eu não. ― soltou de uma vez antes que ela saísse correndo de novo, fazendo questão de ficar próximo a saída do pequeno beco para que ela não tentasse fugir por ali. ― Eu sinto que se eu não dizer nada eu vou te perder de uma vez. Eu não acho que você se importa comigo e eu sei que você não é minha mais… Mas por que eu sinto que algo está sendo tirado de mim? Você está indo bem sem mim, festejando tanto por aí e eu não quero ver isso, mas vejo do mesmo jeito porque eu tenho que me sentir o idiota que eu sou, porque não consigo te superar.
― , nós…
― Depois que terminamos, você parece melhor, é como se você fosse uma mulher bonita e não uma estudante. ― abaixou a cabeça, colocando uma das mãos na testa para massageá-la, como se aquilo fosse capaz de aliviar tudo o que estava passando. ― Irritantemente, você continua parecendo bem. Não que eu ficaria feliz se você estivesse mal, mas… Você simplesmente não sente a minha falta?!
― O que você quer que eu faça?! Você termina comigo e acha que eu vou ficar sofrendo por sua causa, me perguntando o que eu fiz de errado? ― disparou de volta, falando como se não fosse exatamente o que ela havia feito naqueles últimos meses e controlando a voz porque se recusava a começar a chorar na frente dele. ― , mesmo se eu sentir a sua falta, você não pode voltar como se nada tivesse acontecido, porque aconteceu.
― É, eu sei, isso ac…
― ? ― a figura masculina apareceu bem ao lado de na entrada do beco, e a voz grossa de interrompeu a conversa dos dois, fazendo com que ambos arregalassem os olhos, mas ela tivesse a desculpa perfeita para fazer o que queria: correr dali e entrar no teatro, fugindo da presença do .
suspirou desanimado, tendo a certeza de ter visto aquela expressão de choro no rosto da garota. Não era como se estivesse mesmo confundindo a realidade com a farsa, mas não achava certo aquele cara ficar no pé dela depois dele mesmo ter terminado. Era cruel, principalmente porque obviamente não tinha superado. Viu-o girando os calcanhares para sair, e antes que conseguisse, o puxou pelo ombro para virar outra vez em sua direção.
― Se você ia ficar a perseguindo, justo agora que ela está querendo seguir em frente e encontrou outra pessoa, por que então decidiu terminar com a garota?
Capítulo III
Dia dos Namorados ― 2017
― Eu não acredito que você não vai mesmo dar o chocolate pra ele! ― olhou feio para , repetindo aquela mesma frase por todo o dia. Literalmente, desde que chegaram de manhã e ela não viu a amiga carregando nenhuma caixinha. E agora, ela já estava prestes a pular naquele lindo pescocinho branco e deixá-lo cheio de marcas roxas de dedos.
― Eu não quero, você pode, por favor, PARAR DE ME INFERNIZAR COM ESSA PORRA? ― perdeu a paciência de uma vez, jogando o estojo dentro da mochila com um ódio tão grande que, se fosse possível, ele provavelmente teria a rasgado e saído do outro lado.
― NÃO! Você está apaixonada por ele há anos, se não tomar uma atitude isso nunca vai acontecer! ― bateu os pés no chão, inflando as bochechas de ar, em pé ao lado da carteira da mais velha que contou até dez para não matá-la ali mesmo.
― Eu nunca disse que quero que alguma coisa aconteça. ― respondeu, esperando que ela se conformasse com o fato de estar conformada e contente com a sua paixão platônica. Sabia que no fundo, ela tinha a melhor das intenções, mas disso já diziam que o inferno era cheio. Sem contar que, quando colocava uma coisa na cabeça, se tornava um ser humano insuportável.
― Claro que você não quer. ― ela revirou os olhos infantilmente, começando a andar para fora da sala de aula quando a amiga se levantou, e amaldiçoou o fato de conhecer aquele lado dela, sendo que no início da amizade ela era tão séria e madura.
― E você, então, por que não está com a caixinha na mão correndo e entregando pro Oppa? ― questionou quando saíram e, como era horário de saída, o corredor estava um caos com gritos de garotas chamando os nomes daqueles aos quais queriam entregar os embrulhos, ou então a oportunidade do dia passaria.
― Não é óbvio? Eu não tenho nenhum Oppa. Ninguém nessa escola me chama atenção. ― suspirou desanimada, balançando a cabeça. E segundo a teoria de , era exatamente por aquilo que ela era popular e porque havia uma fila de garotos que estavam extremamente ansiosos, tentando descobrir se ela havia escolhido algum para presentear.
― Isso é porque você está muito ocupada apaixonada por personagens de jogos. ― jogou na cara dela com um sorriso de canto, desviando de algumas desesperadas que quase esbarravam em si no meio da corrida.
― São paixões platônicas também, que nem a sua. ― provocou, batendo levemente na amiga com o cotovelo apenas para irritá-la, mas apenas segurou a risada e balançou a cabeça negativamente.
― Ei! ! ― alguém chamou de trás quando as duas já chegavam na saída, e a garota virou mesmo que não houvesse reconhecido a voz, curiosa para saber quem era.
― Sim?! ― respondeu arqueando uma das sobrancelhas. Nunca tinha visto o garoto que encontrou atrás de si antes, mas achou fofo a forma que ele parecia estar morrendo de medo de falar consigo, e sorriu de canto para tentar deixá-lo mais confortável.
então respirou fundo antes de erguer um dos braços que estava escondido atrás das suas costas, segurando o embrulho com os chocolates que havia feito durante o tempo que passava no clube de culinária, e um pequeno cartão com uma frase simples nele. O que você acha de mim?
Ele queria fazer diferente. Se desse o chocolate para ela no White Day, então ele provavelmente ficaria perdido entre tantos outros que tinha certeza que ela receberia… Mas, se desse no dia dos namorados, ela lembraria dele, não? Talvez aquilo fosse chamar a atenção da garota que tanto observava naqueles tempos.
E, teve quase certeza que havia feito o certo quando ela abriu aquele sorriso adorável exclusivamente para si, fazendo-o criar uma ambição naquele instante de ter sempre, cada vez mais e mais, aquele mesmo sorriso na sua visão, sendo dado outra vez por causa da sua presença ou das suas ações.
❥❥❥❥❥
― ! ― a voz de soando ao fundo de sua mente a fez despertar do livro que estava em suas mãos, e ela preguiçosamente o deixou na mesa, erguendo o olhar para o namorado e sorrindo de canto.
Já fazia oito meses desde que ele e haviam começado a namorar, e as coisas não estavam indo exatamente da forma que planejava ou achava que iriam ir quando eles se conheceram. Não era como se fosse uma pessoa ruim, ou uma namorada ruim, ela só era muito… Desapegada. Desapegada, na verdade, era até mesmo um termo leve. A garota se concentrava tanto nos estudos e no teatro que, às vezes, tinha a impressão de estar sendo um atraso ou um peso na vida dela.
Parecia que não faria diferença se ele apenas sumisse, e isso o deixava profundamente magoado, mesmo que tentasse não demonstrar. E, outra vez, estava ali na frente dela, sorrindo como um idiota e se sentando com uma pequena caixa de chocolates na mão, que deixou em cima da mesa para que ela pegasse.
― Eu não conseguia parar de pensar em você. ― sussurrou, deixando o seu olhar cair na própria caixinha vermelha que havia escolhido entre as outras no clube, tomando cuidado para que ela ficasse impecável até o outro dia, onde a encontraria de novo.
― Ah, ! ― sorriu ao ouvi-lo, deixando o olhar cair na expressão do namorado que, mesmo com aquelas palavras, parecia estar um pouco melancólica. Decidiu que a sua atenção não deveria ir para os doces naquele momento, erguendo uma das mãos para alcançar o queixo do rapaz e levantá-lo até que ele olhasse no seu rosto. ― O que está acontecendo? Você parece desanimado.
Aquela ação o fez pensar que estava errado. Se ela não se importasse, não teria percebido que não estava bem, não é? Será que era pecado perguntar…?
― … ― ele respirou fundo, criando coragem e tentando medir se soaria muito patético, ou muito carente. Será que aquilo iria parecer ego ferido, ou ciúmes do fato dela passar mais tempo no palco do auditório do que conversando consigo? ― Por que você aceitou namorar comigo, exatamente?
Às vezes apenas pensava que ela havia aceitado porque se tivesse um namorado, os outros garotos a deixariam em paz. Ou porque estava entediada…? No tempo que ficava longe dela, tinham tantos pensamentos idiotas que passavam pela sua mente e ele os agarrava tão fortemente que pareciam ser os certos.
― Hm? Que pergunta é essa? ― riu, não parecendo entender o quão sério aquilo era para ele, e então, balançou a cabeça negativamente, não acreditando que estava ouvindo aquilo, enquanto sua mão deslizou pela bochecha do rapaz até os cabelos dele, arrumando algumas mechinhas bagunçadas. ― Existem muitos motivos.
― Você pode citar alguns? ― tentou parecer mais animado para não deixá-la preocupada, forçando um sorriso sem abrir os lábios e apoiando o rosto em uma das mãos para continuar olhando-a daquele mesmo ângulo.
― Eu posso citar vários motivos. ― ela sorriu largo, aproximando os seu rosto do dele para começar a falar baixinho, assim não correriam o risco de mais ninguém escutá-los.
― ! ― outra voz masculina acabou quebrando o clima entre eles, e virou a cabeça para encontrar alguém que ela já sabia quem era, sorrindo em direção ao melhor amigo. ― Você está atrasada, esqueceu que o ensaio hoje era mais cedo?! Está todo mundo te esperando no Teatro! ― falou assim que a encontrou, parecendo completamente sem fôlego, provavelmente por ter corrido a escola inteira para procurá-la. ― A-ah, ! Oi! ― sorriu sem graça ao ver o rapaz ali, se sentindo mal por ter atrapalhado os dois e não ter notado a sua presença antes.
― Oi. ― acenou com uma das mãos, e então reprimiu um suspiro de desânimo que ficou em seus pulmões, sabendo bem o que viria a seguir.
― A-ah, desculpa, eu esqueci completamente! ― e agora ela já estava em pé, pegando o livro e o marca texto que havia deixado em cima da pequena mesa de pedra e colocando dentro da bolsa, a jogando no ombro logo depois. Então, ela se curvou por cima do objeto. ― Nós nos falamos depois, certo?! ― e então deixou um beijo tímido na sua bochecha, erguendo o corpo depois e pegando a caixinha de chocolates, a pressionando carinhosamente entre os seios.
assentiu, e mesmo com todos aqueles pensamentos ruins e sabendo que o depois que ela dizia seria bem depois, ainda estava satisfeito de assistir aquele gesto tão discreto, mas tão sincero dela. E, outra vez estava sorrindo como um idiota, vendo-a correr ao lado de até aquilo que ela mais amava na vida.
❥❥❥❥❥
Naquela mesma semana, havia tido uma ideia brilhante que iria acabar completamente com o problema que estavam tendo. Descobrira que os seus ciúmes eram da atenção que ela tanto depositava no teatro, então… Se também estivesse lá, parte daquela atenção iria para si, não? Não precisava nem mesmo largar o clube de culinária, era apenas saber administrar o seu tempo bem, passar um dia em cada e então tudo se resolveria. Não devia ter problema algum e imaginava que ela ia gostar disso, afinal, diversas vezes a visitava lá e eles treinavam alguns roteiros, e mesmo que fosse um ator extremamente péssimo perto da namorada, ainda era divertido e os rendia boas risadas. Ultimamente, ela estava até mesmo falando que estava melhorando…
Um sorriso satisfeito e feliz tomou os seus lábios com esse pensamento. Era tudo o que mais queria, e com o papel de aprovação na sua mão, estava praticamente correndo em direção ao auditório. Sabia que a reunião ainda não havia começado e ela tinha o costume de ficar lá mesmo antes para ensaiar ou simplesmente pensar, e estava empolgado em contar a novidade para , por isso não pensou duas vezes em empurrar a porta. Encontrou-a no palco, com , e os dois estavam concentrados o suficiente para não notar sua presença.
apenas continuou na parte escura da plateia, afinal, sabia o quão focados eles ficavam quando estavam encenando, e não queria atrapalhar nenhum ensaio. Mas a qualidade acústica do local, como não podia deixar de ser para um teatro, permitia que escutasse tudo o que diziam mesmo dali, e mesmo que a voz gentil de possuísse um tom naturalmente baixo.
― Quando você pretendia me falar isso?! ― ela questionou, e só conseguiu sentir orgulho da ótima atriz que ela era. Podia jurar que estava prestes a começar a chorar. ― Desde quando você estava planejando isso?
― Eu sei que eu tinha que ter falado antes, me desculpe. ― as palavras de saíam trêmulas, e a sua respiração estava claramente descompassada, algo que podia perceber mesmo que estivesse longe. ― Faz muito tempo que eu quero te falar isso, mas eu nunca tive coragem, muito menos agora que você está com ele…
O engoliu o ciúme, tentando mentalizar que era apenas um texto. Não era como se não fosse ciumento, porque ele era bem mais do que gostava de admitir. Mas também não era exatamente um sentimento certo, por isso o engolia e ignorava na maior parte das vezes, principalmente quando a via com . Se dizia que ele era seu melhor amigo, era porque ele era seu melhor amigo, e não tinha motivos para não confiar nela, não é?
― …
― , eu sempre fui apaixonado por você. ― assim como ele disparou aquelas palavras, o coração de também disparou e bateu tão rápido que ele conseguia escutá-lo, arregalando os olhos. Aquilo não parecia um texto. Não mesmo. ― Eu sei que nós éramos melhores amigos e eu pensava que você nunca iria me olhar de outra forma, mas isso nunca me impediu de te amar. Me desculpe se eu quebrei nossa confiança e agora é tarde demais…
― Não é tarde demais! ― agora, o próprio sentiu um nó na sua barriga e os olhos arderam ao ouvi-la falando aquilo. Aquilo significava mesmo que estava pensando? Não era tarde demais porque ela também gostava dele?
― … Eu sei muito bem que cavaleiros não beijam ninguém dessa forma, então me desculpe por fazer isso.
viu, de longe, dando um passo em frente, puxando-a pela mão e então juntando os lábios com os dela tão rápido que não teve tempo de reação. Ou na verdade, ele não sabia. Ele não pensou nisso naquela hora, e também não foi capaz de vê-la empurrando-o para trás, porque antes disso abriu a porta de saída e foi embora.
Eu terminei com ela no outro dia, mas nunca expliquei o porque, e ela nunca soube que eu estava lá, vendo tudo. O também foi embora daqui naquele fim de semana, estudar no exterior e foi então que eu descobri que ele estava se despedindo. Mas mesmo assim, eu estava me sentindo tão traído… Demorei meses para entender que não havia sido culpa dela.
Meses o suficiente para já ser tarde demais.
Meses o suficiente para ela já ter conhecido você.
― Eu não acredito que você não vai mesmo dar o chocolate pra ele! ― olhou feio para , repetindo aquela mesma frase por todo o dia. Literalmente, desde que chegaram de manhã e ela não viu a amiga carregando nenhuma caixinha. E agora, ela já estava prestes a pular naquele lindo pescocinho branco e deixá-lo cheio de marcas roxas de dedos.
― Eu não quero, você pode, por favor, PARAR DE ME INFERNIZAR COM ESSA PORRA? ― perdeu a paciência de uma vez, jogando o estojo dentro da mochila com um ódio tão grande que, se fosse possível, ele provavelmente teria a rasgado e saído do outro lado.
― NÃO! Você está apaixonada por ele há anos, se não tomar uma atitude isso nunca vai acontecer! ― bateu os pés no chão, inflando as bochechas de ar, em pé ao lado da carteira da mais velha que contou até dez para não matá-la ali mesmo.
― Eu nunca disse que quero que alguma coisa aconteça. ― respondeu, esperando que ela se conformasse com o fato de estar conformada e contente com a sua paixão platônica. Sabia que no fundo, ela tinha a melhor das intenções, mas disso já diziam que o inferno era cheio. Sem contar que, quando colocava uma coisa na cabeça, se tornava um ser humano insuportável.
― Claro que você não quer. ― ela revirou os olhos infantilmente, começando a andar para fora da sala de aula quando a amiga se levantou, e amaldiçoou o fato de conhecer aquele lado dela, sendo que no início da amizade ela era tão séria e madura.
― E você, então, por que não está com a caixinha na mão correndo e entregando pro Oppa? ― questionou quando saíram e, como era horário de saída, o corredor estava um caos com gritos de garotas chamando os nomes daqueles aos quais queriam entregar os embrulhos, ou então a oportunidade do dia passaria.
― Não é óbvio? Eu não tenho nenhum Oppa. Ninguém nessa escola me chama atenção. ― suspirou desanimada, balançando a cabeça. E segundo a teoria de , era exatamente por aquilo que ela era popular e porque havia uma fila de garotos que estavam extremamente ansiosos, tentando descobrir se ela havia escolhido algum para presentear.
― Isso é porque você está muito ocupada apaixonada por personagens de jogos. ― jogou na cara dela com um sorriso de canto, desviando de algumas desesperadas que quase esbarravam em si no meio da corrida.
― São paixões platônicas também, que nem a sua. ― provocou, batendo levemente na amiga com o cotovelo apenas para irritá-la, mas apenas segurou a risada e balançou a cabeça negativamente.
― Ei! ! ― alguém chamou de trás quando as duas já chegavam na saída, e a garota virou mesmo que não houvesse reconhecido a voz, curiosa para saber quem era.
― Sim?! ― respondeu arqueando uma das sobrancelhas. Nunca tinha visto o garoto que encontrou atrás de si antes, mas achou fofo a forma que ele parecia estar morrendo de medo de falar consigo, e sorriu de canto para tentar deixá-lo mais confortável.
então respirou fundo antes de erguer um dos braços que estava escondido atrás das suas costas, segurando o embrulho com os chocolates que havia feito durante o tempo que passava no clube de culinária, e um pequeno cartão com uma frase simples nele. O que você acha de mim?
Ele queria fazer diferente. Se desse o chocolate para ela no White Day, então ele provavelmente ficaria perdido entre tantos outros que tinha certeza que ela receberia… Mas, se desse no dia dos namorados, ela lembraria dele, não? Talvez aquilo fosse chamar a atenção da garota que tanto observava naqueles tempos.
E, teve quase certeza que havia feito o certo quando ela abriu aquele sorriso adorável exclusivamente para si, fazendo-o criar uma ambição naquele instante de ter sempre, cada vez mais e mais, aquele mesmo sorriso na sua visão, sendo dado outra vez por causa da sua presença ou das suas ações.
― ! ― a voz de soando ao fundo de sua mente a fez despertar do livro que estava em suas mãos, e ela preguiçosamente o deixou na mesa, erguendo o olhar para o namorado e sorrindo de canto.
Já fazia oito meses desde que ele e haviam começado a namorar, e as coisas não estavam indo exatamente da forma que planejava ou achava que iriam ir quando eles se conheceram. Não era como se fosse uma pessoa ruim, ou uma namorada ruim, ela só era muito… Desapegada. Desapegada, na verdade, era até mesmo um termo leve. A garota se concentrava tanto nos estudos e no teatro que, às vezes, tinha a impressão de estar sendo um atraso ou um peso na vida dela.
Parecia que não faria diferença se ele apenas sumisse, e isso o deixava profundamente magoado, mesmo que tentasse não demonstrar. E, outra vez, estava ali na frente dela, sorrindo como um idiota e se sentando com uma pequena caixa de chocolates na mão, que deixou em cima da mesa para que ela pegasse.
― Eu não conseguia parar de pensar em você. ― sussurrou, deixando o seu olhar cair na própria caixinha vermelha que havia escolhido entre as outras no clube, tomando cuidado para que ela ficasse impecável até o outro dia, onde a encontraria de novo.
― Ah, ! ― sorriu ao ouvi-lo, deixando o olhar cair na expressão do namorado que, mesmo com aquelas palavras, parecia estar um pouco melancólica. Decidiu que a sua atenção não deveria ir para os doces naquele momento, erguendo uma das mãos para alcançar o queixo do rapaz e levantá-lo até que ele olhasse no seu rosto. ― O que está acontecendo? Você parece desanimado.
Aquela ação o fez pensar que estava errado. Se ela não se importasse, não teria percebido que não estava bem, não é? Será que era pecado perguntar…?
― … ― ele respirou fundo, criando coragem e tentando medir se soaria muito patético, ou muito carente. Será que aquilo iria parecer ego ferido, ou ciúmes do fato dela passar mais tempo no palco do auditório do que conversando consigo? ― Por que você aceitou namorar comigo, exatamente?
Às vezes apenas pensava que ela havia aceitado porque se tivesse um namorado, os outros garotos a deixariam em paz. Ou porque estava entediada…? No tempo que ficava longe dela, tinham tantos pensamentos idiotas que passavam pela sua mente e ele os agarrava tão fortemente que pareciam ser os certos.
― Hm? Que pergunta é essa? ― riu, não parecendo entender o quão sério aquilo era para ele, e então, balançou a cabeça negativamente, não acreditando que estava ouvindo aquilo, enquanto sua mão deslizou pela bochecha do rapaz até os cabelos dele, arrumando algumas mechinhas bagunçadas. ― Existem muitos motivos.
― Você pode citar alguns? ― tentou parecer mais animado para não deixá-la preocupada, forçando um sorriso sem abrir os lábios e apoiando o rosto em uma das mãos para continuar olhando-a daquele mesmo ângulo.
― Eu posso citar vários motivos. ― ela sorriu largo, aproximando os seu rosto do dele para começar a falar baixinho, assim não correriam o risco de mais ninguém escutá-los.
― ! ― outra voz masculina acabou quebrando o clima entre eles, e virou a cabeça para encontrar alguém que ela já sabia quem era, sorrindo em direção ao melhor amigo. ― Você está atrasada, esqueceu que o ensaio hoje era mais cedo?! Está todo mundo te esperando no Teatro! ― falou assim que a encontrou, parecendo completamente sem fôlego, provavelmente por ter corrido a escola inteira para procurá-la. ― A-ah, ! Oi! ― sorriu sem graça ao ver o rapaz ali, se sentindo mal por ter atrapalhado os dois e não ter notado a sua presença antes.
― Oi. ― acenou com uma das mãos, e então reprimiu um suspiro de desânimo que ficou em seus pulmões, sabendo bem o que viria a seguir.
― A-ah, desculpa, eu esqueci completamente! ― e agora ela já estava em pé, pegando o livro e o marca texto que havia deixado em cima da pequena mesa de pedra e colocando dentro da bolsa, a jogando no ombro logo depois. Então, ela se curvou por cima do objeto. ― Nós nos falamos depois, certo?! ― e então deixou um beijo tímido na sua bochecha, erguendo o corpo depois e pegando a caixinha de chocolates, a pressionando carinhosamente entre os seios.
assentiu, e mesmo com todos aqueles pensamentos ruins e sabendo que o depois que ela dizia seria bem depois, ainda estava satisfeito de assistir aquele gesto tão discreto, mas tão sincero dela. E, outra vez estava sorrindo como um idiota, vendo-a correr ao lado de até aquilo que ela mais amava na vida.
Naquela mesma semana, havia tido uma ideia brilhante que iria acabar completamente com o problema que estavam tendo. Descobrira que os seus ciúmes eram da atenção que ela tanto depositava no teatro, então… Se também estivesse lá, parte daquela atenção iria para si, não? Não precisava nem mesmo largar o clube de culinária, era apenas saber administrar o seu tempo bem, passar um dia em cada e então tudo se resolveria. Não devia ter problema algum e imaginava que ela ia gostar disso, afinal, diversas vezes a visitava lá e eles treinavam alguns roteiros, e mesmo que fosse um ator extremamente péssimo perto da namorada, ainda era divertido e os rendia boas risadas. Ultimamente, ela estava até mesmo falando que estava melhorando…
Um sorriso satisfeito e feliz tomou os seus lábios com esse pensamento. Era tudo o que mais queria, e com o papel de aprovação na sua mão, estava praticamente correndo em direção ao auditório. Sabia que a reunião ainda não havia começado e ela tinha o costume de ficar lá mesmo antes para ensaiar ou simplesmente pensar, e estava empolgado em contar a novidade para , por isso não pensou duas vezes em empurrar a porta. Encontrou-a no palco, com , e os dois estavam concentrados o suficiente para não notar sua presença.
apenas continuou na parte escura da plateia, afinal, sabia o quão focados eles ficavam quando estavam encenando, e não queria atrapalhar nenhum ensaio. Mas a qualidade acústica do local, como não podia deixar de ser para um teatro, permitia que escutasse tudo o que diziam mesmo dali, e mesmo que a voz gentil de possuísse um tom naturalmente baixo.
― Quando você pretendia me falar isso?! ― ela questionou, e só conseguiu sentir orgulho da ótima atriz que ela era. Podia jurar que estava prestes a começar a chorar. ― Desde quando você estava planejando isso?
― Eu sei que eu tinha que ter falado antes, me desculpe. ― as palavras de saíam trêmulas, e a sua respiração estava claramente descompassada, algo que podia perceber mesmo que estivesse longe. ― Faz muito tempo que eu quero te falar isso, mas eu nunca tive coragem, muito menos agora que você está com ele…
O engoliu o ciúme, tentando mentalizar que era apenas um texto. Não era como se não fosse ciumento, porque ele era bem mais do que gostava de admitir. Mas também não era exatamente um sentimento certo, por isso o engolia e ignorava na maior parte das vezes, principalmente quando a via com . Se dizia que ele era seu melhor amigo, era porque ele era seu melhor amigo, e não tinha motivos para não confiar nela, não é?
― …
― , eu sempre fui apaixonado por você. ― assim como ele disparou aquelas palavras, o coração de também disparou e bateu tão rápido que ele conseguia escutá-lo, arregalando os olhos. Aquilo não parecia um texto. Não mesmo. ― Eu sei que nós éramos melhores amigos e eu pensava que você nunca iria me olhar de outra forma, mas isso nunca me impediu de te amar. Me desculpe se eu quebrei nossa confiança e agora é tarde demais…
― Não é tarde demais! ― agora, o próprio sentiu um nó na sua barriga e os olhos arderam ao ouvi-la falando aquilo. Aquilo significava mesmo que estava pensando? Não era tarde demais porque ela também gostava dele?
― … Eu sei muito bem que cavaleiros não beijam ninguém dessa forma, então me desculpe por fazer isso.
viu, de longe, dando um passo em frente, puxando-a pela mão e então juntando os lábios com os dela tão rápido que não teve tempo de reação. Ou na verdade, ele não sabia. Ele não pensou nisso naquela hora, e também não foi capaz de vê-la empurrando-o para trás, porque antes disso abriu a porta de saída e foi embora.
Eu terminei com ela no outro dia, mas nunca expliquei o porque, e ela nunca soube que eu estava lá, vendo tudo. O também foi embora daqui naquele fim de semana, estudar no exterior e foi então que eu descobri que ele estava se despedindo. Mas mesmo assim, eu estava me sentindo tão traído… Demorei meses para entender que não havia sido culpa dela.
Meses o suficiente para já ser tarde demais.
Meses o suficiente para ela já ter conhecido você.
Capítulo IV
Havia algo naquela história toda que estava começando a incomodar bem mais do que ele imaginava que iria. Algo que estava começando a sair do seu normal e tudo que pensou que todo aquele trato seria. Ele passou a noite anterior pensando sobre o que havia descoberto, se sentindo mal com toda a situação que havia acontecido entre os dois. Mas não era problema seu, era? E daí que eles haviam terminado o relacionamento deles magoados? E daí que o motivo era mais um mal entendido que davam chances deles voltarem do que algo realmente sério?
Sabia que, se eles realmente sentassem para conversar tinham reais chances de reatar. E, a verdade, era que era exatamente aquilo que incomodava .
Talvez houvesse se apegado mais a farsa do que fosse capaz de assumir, e agora imaginá-la acabando estava ficando difícil demais, principalmente se fosse para acabar daquele jeito.
― E-ei! Cuidado! ― a voz de soando no seu ouvindo quando jogou a bolinha de papel com uma força maior que a necessária no lixo e quase a acertou no processo com certeza não foi a melhor forma de lhe puxar de volta dos seus próprios pensamentos. Na realidade, foi até mesmo meio incômodo…
não respondeu, e nem mesmo levantou a cabeça para assisti-la se sentar na cadeira da frente, como geralmente fazia no intervalo, ficando mais desconfortável sempre que observava aquela expressão facial infeliz dele. Mesmo após e Vernon chegarem, não abriu a boca nem mesmo uma vez, ou também não se deu ao trabalho de olhar para cima e encará-los. Estava apenas refletindo sobre tudo o que estava acontecendo consigo naqueles meses, e principalmente, naquele último mês. E tudo o que havia sentido por conta daquela garota, e como tudo isso o incomodava.
― ! ― outra vez lhe chamou, e ele se recusou a olhar para cima, a fazendo bufar em irritação. ― YA, !
― O que você quer?! ― o desistiu porque sabia que ela não desistiria se não acabasse respondendo uma hora ou outra, erguendo o olhar parcialmente coberto pelas lentes dos óculos de forma entediada. Mas não estranhou, apenas imaginou que ele estivesse preocupado com alguma coisa, afinal, não era como se fosse costumeiramente simpático.
― Eu vou ter uma última apresentação de despedida no Teatro da escola hoje depois da aula, se você quiser ir assistir a peça, posso dar um jeito de te liberar do estágio e arrumar um ingresso e nós podemos ir juntos. ― ela comentou com um sorriso empolgado, mas um pouco insegura de realmente convidá-lo.
Era como colocá-lo demais em sua vida pessoal, não? Era ir longe demais e quebrar o que haviam combinado? Suas mãos estavam suando debaixo da mesa, repousadas em cima da saia quadriculada em vermelho e preto do uniforme, e ela realmente estava ansiosa para ouvir o que ele responderia, torcendo intensamente para que aceitasse.
― Não. ― ele respondeu sonoramente, e controlou tanto os seus olhos que quiseram se abrir mais, quanto a exclamação que ficou presa em sua garganta. ― Eu preciso ser responsável com o estágio. ― mentiu. Não, não era isso. Ele só não queria se aproximar mais do que já haviam se aproximado. Já havia ultrapassado o limite, e tudo o que podia fazer agora era tentar reverter a sua própria situação.
― A-ah… Você está certo, eu entendo. ― forçou um sorriso, se levantando e batendo no uniforme para desamassá-lo. estava certo não só naquilo, mas ela também havia entendido o que ele queria fazer. Aquilo que eles tinham não era um relacionamento. Não tinha pra quê achar que eram amigos ou qualquer outra coisa. ― Bom, eu tenho um último ensaio, então… Até depois.
saiu depois de acenar para os três que ficaram, e esqueceu que não estava sozinho, deixando um suspiro escapar por seu nariz, chamando a atenção de , que arqueou uma das sobrancelhas e olhou para Vernon, como se tentasse se comunicar com ele por um olhar. Já devia estar acostumada, porém, que o namorado era lerdo demais para pegar aquelas coisas no ar, então a missão de tentar descobrir o que estava acontecendo era exclusivamente sua.
― Está tudo bem? ― ela perguntou, até mesmo arrumando a postura na cadeira para conseguir olhar melhor para o , que, simplesmente balançou os ombros e assentiu com a cabeça, voltando a olhar o chão e xingando a si mesmo por ter se deixado ser óbvio.
― Olha, pela vasta experiência que eu tenho, ela não vai perguntar duas vezes, então se tiver alguma coisa pra falar… É bom dizer de uma vez. ― Vernon aconselhou assim que as coisas ficaram óbvias demais para não notar, oferecendo até mesmo um sorrisinho incentivador para um , que agora o observava meio em dúvida.
Ele precisou de um minuto e de levar a mão para massagear a própria nuca para decidir se continuaria em silêncio ou se conversaria sobre aquilo. Umedeceu os lábios e, então escolheu que era melhor falar logo de uma vez. sempre tivera a filosofia de que você sempre deveria dizer aquilo que fazia o seu coração pesar. Não entendia porque estava guardando tanto daquela vez…
― Eu descobri o que aconteceu entre ela e o . ― remexeu a outra mão impacientemente no bolso da calça, e rapidamente soltou um “ah”, como se já houvesse entendido tudo o que aquilo queria dizer, enquanto Vernon continuou olhando para o horizonte com os olhos perdidos, tentando entender.
― Mas por que isso faria você ficar tão na defensiva assim? ― mas claro que ela ainda tinha suas raízes na lerdeza para combinar com o namorado, e também não tinha conseguido ir tão longe no raciocínio. ― Sei que eles tem alguns assuntos não resolvidos, mas isso não tem que te incomodar.
― Na verdade, isso tem que me incomodar sim. ― mudou a posição na cadeira, deixando a sua coluna ereta e cruzando os braços na frente do peitoral. ― Porque eu estou interessado nela. ― a naturalidade que ele falava isso era simplesmente chocante demais para que o casal tivesse idade mental para lidar, e enquanto reprimiu o grito, Vernon entreabriu os lábios em uma expressão bem mais exagerada do que o necessário, arregalando os olhos. ― E não entendo por que ela está fazendo tudo isso quando simplesmente ainda gosta dele. Se, os dois simplesmente conversassem, eles se resolveriam e voltariam. Eu não perdi para estar em uma merda de um triângulo amoroso, principalmente sendo a ponta solta. ― suspirou frustrado, deixando finalmente tudo o que queria desabafar naquela frase, e sentindo um alívio exagerado assim que terminou.
― É por isso que você só fala com sotaque quando está perto dela? VOCÊ FICA NERVOSO? ― Vernon não resistiu em perguntar, mais porque havia achado um fato fofinho do que para zoar com a cara do , e o cutucou por debaixo da mesa para que ficasse quieto.
― Ela não te contou porque está fazendo tudo isso? ― tentou não surtar e nem agir como a adolescente que era ao remoer a confissão de . Também prometeu a si mesma que não ia contar pra , e, posteriormente, obrigaria Vernon a fazer o mesmo. O balançou a cabeça negativamente, e ela tomou o ar para iniciar a explicação. ― Olha, não é nada muito chocante e você realmente está certo de pensar desse jeito. A nunca tinha se interessado em ninguém antes do , mas ela nunca soube demonstrar que gostava dele.
― Parece até alguém que eu conheço…
― EU TÔ FALANDO SÉRIO! ― olhou feio para Vernon que simplesmente ergueu as mãos no ar, se rendendo antes que ela lhe agredisse. ― E ele sempre foi muito sensível, e acumulou até que ele não aguentasse mais. ― praticamente grunhiu frustrado com aquela explicação. Então também não sabia do que havia acontecido, mesmo Vernon sendo próximo de . ― E ela ficou chateada da forma que foi. guarda rancor, então não quer esquecer, por mais que goste dele, e faz de tudo pra se afastar. Isso devia ter ficado claro quando vocês combinaram toda essa coisa. Ela não queria fazer ciúmes, queria afastar ele dela de uma vez, porque se não sabe que vai acabar voltando com ele.
Aquilo, sinceramente, não foi uma notícia muito animadora para alguém na situação de , mas pelo menos era realista e havia sido sincera, o que já era a melhor coisa que poderia acontecer naquela hipótese. Não era como se esperasse que também se apaixonasse por si como naqueles filmes adolescentes idiotas, era que… Bem, no fundo, sempre havia um pouco de esperança, por mais pessimista que fosse.
― Mas isso não quer dizer que você não possa tentar. Afinal, é você quem está convivendo e conversando com ela todos os dias, não é? ― Vernon soltou, sem pensar direito que era seu amigo e que não devia estar abrindo a boca naquela situação.
― E nós ainda temos uma peça de teatro pra ir mais tarde… E um baile no fim de semana.
❥❥❥❥❥
Mesmo que a sua última apresentação houvesse terminado da melhor forma possível, a cabeça de estava completamente em outro lugar e ela mal tinha conseguido se concentrar na encenação. Suspirou desanimada, e recusou o convite dos amigos para saírem pra comer, dizendo que iria para casa.
Havia esquecido alguns livros importantes no seu armário, e precisava ir buscá-los para usá-los para estudar durante a noite. Recusou-se a suspirar outra vez e prendeu a respiração por alguns segundos diante do armário, tentando organizar seus pensamentos e parar de se importar tanto com o que havia acontecido mais cedo com . Tentava colocar na sua cabeça que ele estava certo assim como quisera acreditar na hora, mas algo ali estava lhe tirando do sério…
Aproveitou que estava sozinha no corredor e bateu com a porta do armário com uma força desnecessária para descontar toda a frustração e confusão que estava na sua cabeça, fazendo um barulho incômodo que para ela fora libertador. Mas seu momento de redenção acabou assim que a porta se fechou e ela pode encontrar a figura de encostada no armário do lado, enquanto ele brincava com o canudo de um pirulito que podia ver pressionar a bochecha dele.
― Pra quê fazer isso… ― sua mão automaticamente foi até o coração acelerado e ela deu um pulinho para trás, colocando a outra na testa em negação, o susto sendo maior do que a vontade de socá-lo e também que a surpresa de vê-lo ali.
― . ― ele tirou o doce dos lábios e se desencostou do armário, ficando em pé exatamente na frente da garota que sentiu tantas coisas diferentes que foi até mesmo difícil de reagir. Ainda sentia-se intimidada com a presença tão forte de , e também tinha vergonha de ficar assim tão perto dele, mas havia algo novo no meio daquilo também.
― O que foi?
― Você tem certeza que é isso que você quer? Você quer mesmo ir comigo nesse baile idiota no sábado? ― ele pesou a mão na cabeça da mais baixa, abaixando o seu rosto até ficar de frente para o dela e poder olhar exatamente em seus olhos, o suficiente para sentir a respiração da garota batendo contra o seu nariz.
― Sim…? ― respondeu em um tom meio em dúvida, mais pelo choque do que ele estava fazendo do que por não ter certeza do que iria responder. Ele arqueou uma das sobrancelhas e então ela pigarreou, voltando a postura. ― Quer dizer, sim, eu quero, por que?
― … Você ainda é apaixonada pelo seu ex namorado? ― indagou novamente, e, dessa vez a pegou tão desprevenida que pode observar de perto as bochechas de ficando vermelhas aos poucos, conforme ela as inflavava de ar lentamente.
― P-Por que você iria querer saber disso?! ― respondeu com outra pergunta, tirando a mão dele se cima da sua cabeça com as suas duas e então se afastando dois passos, cruzando os braços na frente do corpo. ― EU REALMENTE NÃO QUERO RESPONDER! Inclusive, o que você está fazendo aqui mesmo…?
não resistiu em sorrir de canto com a idiotice de , se sentindo patético porque até mesmo aquilo havia se tornado adorável aos seus olhos. Talvez aquela resposta quisesse dizer que sim, que ainda estava apaixonada por , mas no fim Vernon estava certo… Era com ele que ela estava agora. Mesmo que o estar fosse físico e meio farsante, ainda era um tipo de relacionamento.
― Você fez bem na peça. ― o elogiou, e, no mesmo momento ela desfez aquela postura defensiva, transformando sua expressão em uma surpresa. Então, se aproximou os dois passos que ela havia se afastado e sorriu, e descobriu que aquele sorriso era extremamente mais bonito e encantador do que a carranca mal humorada dele - que, por si só, ela já achava extremamente bonita e charmosa. segurou seu pulso de um jeito meio atrapalhado, e então começou a puxá-la em direção a saída. ― Vamos… Vamos comer alguma coisa.
Sabia que, se eles realmente sentassem para conversar tinham reais chances de reatar. E, a verdade, era que era exatamente aquilo que incomodava .
Talvez houvesse se apegado mais a farsa do que fosse capaz de assumir, e agora imaginá-la acabando estava ficando difícil demais, principalmente se fosse para acabar daquele jeito.
― E-ei! Cuidado! ― a voz de soando no seu ouvindo quando jogou a bolinha de papel com uma força maior que a necessária no lixo e quase a acertou no processo com certeza não foi a melhor forma de lhe puxar de volta dos seus próprios pensamentos. Na realidade, foi até mesmo meio incômodo…
não respondeu, e nem mesmo levantou a cabeça para assisti-la se sentar na cadeira da frente, como geralmente fazia no intervalo, ficando mais desconfortável sempre que observava aquela expressão facial infeliz dele. Mesmo após e Vernon chegarem, não abriu a boca nem mesmo uma vez, ou também não se deu ao trabalho de olhar para cima e encará-los. Estava apenas refletindo sobre tudo o que estava acontecendo consigo naqueles meses, e principalmente, naquele último mês. E tudo o que havia sentido por conta daquela garota, e como tudo isso o incomodava.
― ! ― outra vez lhe chamou, e ele se recusou a olhar para cima, a fazendo bufar em irritação. ― YA, !
― O que você quer?! ― o desistiu porque sabia que ela não desistiria se não acabasse respondendo uma hora ou outra, erguendo o olhar parcialmente coberto pelas lentes dos óculos de forma entediada. Mas não estranhou, apenas imaginou que ele estivesse preocupado com alguma coisa, afinal, não era como se fosse costumeiramente simpático.
― Eu vou ter uma última apresentação de despedida no Teatro da escola hoje depois da aula, se você quiser ir assistir a peça, posso dar um jeito de te liberar do estágio e arrumar um ingresso e nós podemos ir juntos. ― ela comentou com um sorriso empolgado, mas um pouco insegura de realmente convidá-lo.
Era como colocá-lo demais em sua vida pessoal, não? Era ir longe demais e quebrar o que haviam combinado? Suas mãos estavam suando debaixo da mesa, repousadas em cima da saia quadriculada em vermelho e preto do uniforme, e ela realmente estava ansiosa para ouvir o que ele responderia, torcendo intensamente para que aceitasse.
― Não. ― ele respondeu sonoramente, e controlou tanto os seus olhos que quiseram se abrir mais, quanto a exclamação que ficou presa em sua garganta. ― Eu preciso ser responsável com o estágio. ― mentiu. Não, não era isso. Ele só não queria se aproximar mais do que já haviam se aproximado. Já havia ultrapassado o limite, e tudo o que podia fazer agora era tentar reverter a sua própria situação.
― A-ah… Você está certo, eu entendo. ― forçou um sorriso, se levantando e batendo no uniforme para desamassá-lo. estava certo não só naquilo, mas ela também havia entendido o que ele queria fazer. Aquilo que eles tinham não era um relacionamento. Não tinha pra quê achar que eram amigos ou qualquer outra coisa. ― Bom, eu tenho um último ensaio, então… Até depois.
saiu depois de acenar para os três que ficaram, e esqueceu que não estava sozinho, deixando um suspiro escapar por seu nariz, chamando a atenção de , que arqueou uma das sobrancelhas e olhou para Vernon, como se tentasse se comunicar com ele por um olhar. Já devia estar acostumada, porém, que o namorado era lerdo demais para pegar aquelas coisas no ar, então a missão de tentar descobrir o que estava acontecendo era exclusivamente sua.
― Está tudo bem? ― ela perguntou, até mesmo arrumando a postura na cadeira para conseguir olhar melhor para o , que, simplesmente balançou os ombros e assentiu com a cabeça, voltando a olhar o chão e xingando a si mesmo por ter se deixado ser óbvio.
― Olha, pela vasta experiência que eu tenho, ela não vai perguntar duas vezes, então se tiver alguma coisa pra falar… É bom dizer de uma vez. ― Vernon aconselhou assim que as coisas ficaram óbvias demais para não notar, oferecendo até mesmo um sorrisinho incentivador para um , que agora o observava meio em dúvida.
Ele precisou de um minuto e de levar a mão para massagear a própria nuca para decidir se continuaria em silêncio ou se conversaria sobre aquilo. Umedeceu os lábios e, então escolheu que era melhor falar logo de uma vez. sempre tivera a filosofia de que você sempre deveria dizer aquilo que fazia o seu coração pesar. Não entendia porque estava guardando tanto daquela vez…
― Eu descobri o que aconteceu entre ela e o . ― remexeu a outra mão impacientemente no bolso da calça, e rapidamente soltou um “ah”, como se já houvesse entendido tudo o que aquilo queria dizer, enquanto Vernon continuou olhando para o horizonte com os olhos perdidos, tentando entender.
― Mas por que isso faria você ficar tão na defensiva assim? ― mas claro que ela ainda tinha suas raízes na lerdeza para combinar com o namorado, e também não tinha conseguido ir tão longe no raciocínio. ― Sei que eles tem alguns assuntos não resolvidos, mas isso não tem que te incomodar.
― Na verdade, isso tem que me incomodar sim. ― mudou a posição na cadeira, deixando a sua coluna ereta e cruzando os braços na frente do peitoral. ― Porque eu estou interessado nela. ― a naturalidade que ele falava isso era simplesmente chocante demais para que o casal tivesse idade mental para lidar, e enquanto reprimiu o grito, Vernon entreabriu os lábios em uma expressão bem mais exagerada do que o necessário, arregalando os olhos. ― E não entendo por que ela está fazendo tudo isso quando simplesmente ainda gosta dele. Se, os dois simplesmente conversassem, eles se resolveriam e voltariam. Eu não perdi para estar em uma merda de um triângulo amoroso, principalmente sendo a ponta solta. ― suspirou frustrado, deixando finalmente tudo o que queria desabafar naquela frase, e sentindo um alívio exagerado assim que terminou.
― É por isso que você só fala com sotaque quando está perto dela? VOCÊ FICA NERVOSO? ― Vernon não resistiu em perguntar, mais porque havia achado um fato fofinho do que para zoar com a cara do , e o cutucou por debaixo da mesa para que ficasse quieto.
― Ela não te contou porque está fazendo tudo isso? ― tentou não surtar e nem agir como a adolescente que era ao remoer a confissão de . Também prometeu a si mesma que não ia contar pra , e, posteriormente, obrigaria Vernon a fazer o mesmo. O balançou a cabeça negativamente, e ela tomou o ar para iniciar a explicação. ― Olha, não é nada muito chocante e você realmente está certo de pensar desse jeito. A nunca tinha se interessado em ninguém antes do , mas ela nunca soube demonstrar que gostava dele.
― Parece até alguém que eu conheço…
― EU TÔ FALANDO SÉRIO! ― olhou feio para Vernon que simplesmente ergueu as mãos no ar, se rendendo antes que ela lhe agredisse. ― E ele sempre foi muito sensível, e acumulou até que ele não aguentasse mais. ― praticamente grunhiu frustrado com aquela explicação. Então também não sabia do que havia acontecido, mesmo Vernon sendo próximo de . ― E ela ficou chateada da forma que foi. guarda rancor, então não quer esquecer, por mais que goste dele, e faz de tudo pra se afastar. Isso devia ter ficado claro quando vocês combinaram toda essa coisa. Ela não queria fazer ciúmes, queria afastar ele dela de uma vez, porque se não sabe que vai acabar voltando com ele.
Aquilo, sinceramente, não foi uma notícia muito animadora para alguém na situação de , mas pelo menos era realista e havia sido sincera, o que já era a melhor coisa que poderia acontecer naquela hipótese. Não era como se esperasse que também se apaixonasse por si como naqueles filmes adolescentes idiotas, era que… Bem, no fundo, sempre havia um pouco de esperança, por mais pessimista que fosse.
― Mas isso não quer dizer que você não possa tentar. Afinal, é você quem está convivendo e conversando com ela todos os dias, não é? ― Vernon soltou, sem pensar direito que era seu amigo e que não devia estar abrindo a boca naquela situação.
― E nós ainda temos uma peça de teatro pra ir mais tarde… E um baile no fim de semana.
Mesmo que a sua última apresentação houvesse terminado da melhor forma possível, a cabeça de estava completamente em outro lugar e ela mal tinha conseguido se concentrar na encenação. Suspirou desanimada, e recusou o convite dos amigos para saírem pra comer, dizendo que iria para casa.
Havia esquecido alguns livros importantes no seu armário, e precisava ir buscá-los para usá-los para estudar durante a noite. Recusou-se a suspirar outra vez e prendeu a respiração por alguns segundos diante do armário, tentando organizar seus pensamentos e parar de se importar tanto com o que havia acontecido mais cedo com . Tentava colocar na sua cabeça que ele estava certo assim como quisera acreditar na hora, mas algo ali estava lhe tirando do sério…
Aproveitou que estava sozinha no corredor e bateu com a porta do armário com uma força desnecessária para descontar toda a frustração e confusão que estava na sua cabeça, fazendo um barulho incômodo que para ela fora libertador. Mas seu momento de redenção acabou assim que a porta se fechou e ela pode encontrar a figura de encostada no armário do lado, enquanto ele brincava com o canudo de um pirulito que podia ver pressionar a bochecha dele.
― Pra quê fazer isso… ― sua mão automaticamente foi até o coração acelerado e ela deu um pulinho para trás, colocando a outra na testa em negação, o susto sendo maior do que a vontade de socá-lo e também que a surpresa de vê-lo ali.
― . ― ele tirou o doce dos lábios e se desencostou do armário, ficando em pé exatamente na frente da garota que sentiu tantas coisas diferentes que foi até mesmo difícil de reagir. Ainda sentia-se intimidada com a presença tão forte de , e também tinha vergonha de ficar assim tão perto dele, mas havia algo novo no meio daquilo também.
― O que foi?
― Você tem certeza que é isso que você quer? Você quer mesmo ir comigo nesse baile idiota no sábado? ― ele pesou a mão na cabeça da mais baixa, abaixando o seu rosto até ficar de frente para o dela e poder olhar exatamente em seus olhos, o suficiente para sentir a respiração da garota batendo contra o seu nariz.
― Sim…? ― respondeu em um tom meio em dúvida, mais pelo choque do que ele estava fazendo do que por não ter certeza do que iria responder. Ele arqueou uma das sobrancelhas e então ela pigarreou, voltando a postura. ― Quer dizer, sim, eu quero, por que?
― … Você ainda é apaixonada pelo seu ex namorado? ― indagou novamente, e, dessa vez a pegou tão desprevenida que pode observar de perto as bochechas de ficando vermelhas aos poucos, conforme ela as inflavava de ar lentamente.
― P-Por que você iria querer saber disso?! ― respondeu com outra pergunta, tirando a mão dele se cima da sua cabeça com as suas duas e então se afastando dois passos, cruzando os braços na frente do corpo. ― EU REALMENTE NÃO QUERO RESPONDER! Inclusive, o que você está fazendo aqui mesmo…?
não resistiu em sorrir de canto com a idiotice de , se sentindo patético porque até mesmo aquilo havia se tornado adorável aos seus olhos. Talvez aquela resposta quisesse dizer que sim, que ainda estava apaixonada por , mas no fim Vernon estava certo… Era com ele que ela estava agora. Mesmo que o estar fosse físico e meio farsante, ainda era um tipo de relacionamento.
― Você fez bem na peça. ― o elogiou, e, no mesmo momento ela desfez aquela postura defensiva, transformando sua expressão em uma surpresa. Então, se aproximou os dois passos que ela havia se afastado e sorriu, e descobriu que aquele sorriso era extremamente mais bonito e encantador do que a carranca mal humorada dele - que, por si só, ela já achava extremamente bonita e charmosa. segurou seu pulso de um jeito meio atrapalhado, e então começou a puxá-la em direção a saída. ― Vamos… Vamos comer alguma coisa.
Capítulo V
nunca havia ficado tão ansioso na sua vida inteira, nem mesmo quando assinou o contrato de estágio na empresa a qual estava trabalhando agora. estava atrasada, como devia esperar que ela estaria, afinal, não era um dia qualquer, e, ele estava aprendendo a duras penas o porquê ela odiava tanto atrasos não justificados, pensando em tantas coisas sem sentido que poderiam ser o motivo… Pensando que ela havia desistido e lhe largado lá, simplesmente, por mais ridículo que isso fosse.
Sem contar a vontade extrema que tinha de vê-la e descobrir finalmente como ela estaria linda. Ele sabia que ela estaria, mas queria ver os detalhes… A única informação que tinha era que o seu vestido era roxo, porque dissera que havia escolhido a sua gravata para combinar com a sua roupa, e a sua gravata borboleta era roxa. Estava andando de um lado para o outro, e nem mesmo podia passar a mão pelos cabelos porque se não iria desarrumá-los, então se contentava em arrumar os óculos no nariz, mesmo se já tivessem arrumados.
― Ela ainda não chegou? ― questionou com um tom de voz provocador e sorrisinho ainda pior ao ver a situação que se encontrava após descer do carro e se encontrar com Vernon. O nem mesmo se deu ao trabalho de responder, simplesmente a olhou com a própria expressão do ódio.
― Não deve demorar muito, relaxa. ― Vernon tentou melhorar a situação, rindo da expressão de mesmo sabendo que não devia. ― A festa já começou, então ela provavelmente já está chegando…
― Com certeza quer fazer uma entrada triunfal e mostrar vocês dois chegando juntos pra todo mundo. ― a amiga não resistiu em continuar provocando, colocando ainda mais peso nas duas últimas palavras e fazendo revirar os olhos. Mais uma vez.
― Não precisa ficar nervoso. Não é como se você fosse ver alguém daqui da escola de novo amanhã, né. ― Vernon sorriu junto, achando que aquilo fosse consolar o amigo enquanto apenas o deixou mais desesperado ao constatar que isso também queria dizer que a sua convivência com acabaria. ― A gente vai entrar então, até depois!
O praticamente se desesperou ao ouvir aquilo, porque era melhor ter alguém para lhe distrair mesmo com provocações do que ficar sozinho com a sua própria ansiedade, piorando a cada minuto que passava e não chegava, mas meio que não teve tempo para contestar porque quando tentou virar na direção que eles estavam, o casal já estava bem longe e acenava ironicamente para ele enquanto caia em uma crise de risos que ele não entendeu direito até o próximo segundo.
― ! Eu sei que estou atrasada, desculpa, eu juro que sai cedo de casa, mas o trânsito estava realmente insuportável e… ― começou a falar tudo muito rápido, e acabou perdendo o fôlego no meio da frase, não sabia bem se era por conta da correria ou do fato de ter se virado para si, e no ato mais idiota que poderia ter tido naquele momento, ela simplesmente apoiou a mão no ombro dele, medindo-o da cabeça até os pés sem nem mesmo ter um pingo de vergonha.
A parte boa é que estava ocupado demais fazendo a exata mesma coisa para que se sentisse incomodado ou ao menos percebesse o que ela estava fazendo. E, de todas as coisas que ela podia ter escolhido falar naquele momento, era óbvio que ela escolheria a mais idiota.
― Cadê os seus óculos?! Você praticamente não enxerga sem eles. ― a expressão de era praticamente horrorizada, e não era como se ela não estivesse gostando de poder analisar direito os olhos amendoados de , só que tinha dó dele passar a noite inteira sem ver direito.
― Estão guardados. ― ele apontou para a parte de dentro do casaco do smoking, onde os bolsos eram grandes o suficiente para a caixa do acessório caber sem problema algum, e quando ela seguiu com o olhar para baixo percebeu que ainda usava o de apoio e se obrigou a dar um passo para trás.
― Você devia colocá-los. ― comentou calmamente, desviando o olhar do rapaz e ajeitando os próprios cabelos para trás para ter certeza que eles não tinham bagunçado muito quando saiu correndo do carro para chegar o mais rápido possível até .
― Não preciso. ― bom, ele estaria mentindo se não dissesse que a sua visão não estava um pouquinho embaçada como todo míope sem óculos, mas mesmo desse jeito ele podia perfeitamente ver o quão linda a garota estava naquela noite, ainda mais do que havia imaginado. ― Você está perto o suficiente para eu conseguir te ver sem problemas.
― O que…??? ― o choque de ouvir aquilo vindo de foi tamanho que não conseguiu nem ficar vermelha, e ele ignorou completamente a exagerada expressão facial da garota, a pegando pela mão e começando a andar pelo caminho de pedras que levava até o ginásio, onde a festa já havia começado.
deixou o olhar recair no chão enquanto o seguia, inconscientemente pensando outra vez no que ele tinha falado e tendo um sorriso repuxando os seus lábios, mesmo sem permissão. Só acordou quando esbarrou em uma pessoa no caminho, fazendo a sua mão se soltar da de com o impacto e, assim que ela ergueu a cabeça para pedir desculpas, congelou ao ver na sua frente. Ele estava sozinho, e parecia tão perdido quanto ela, principalmente quando seus olhos se encontraram.
― …
― … ― os olhos de automaticamente foram dele para , que lhe esperava alguns passos a frente. Mas então viu o sorrir de canto e mover a cabeça na direção de seu ex namorado, lhe incentivando que devia falar com ele, e então começando a andar na direção da festa outra vez, dessa vez com as mãos nos bolsos.
Algo nisso fez com o coração dela batesse mais forte, mas também tinha algo que prendiam os seus pés no chão, de frente para e ela apenas ficou ali, com o coração dividido, mas o corpo parado.
― Você tem estado bem esses dias? ― a voz do soou outra vez, e ele parecia tão ansioso para que ela lhe respondesse quanto ela estava para descobrir o que estava acontecendo com si mesma.
― Eu estou…
― Espera, não precisa responder. Você, quem está vivendo bem sem mim, eu sei bem. ― constatou com uma risada forçada, tentando demonstrar algum senso de humor no seu próprio fracasso. ― Fiquei curioso e fui ver, as curtidas estão brilhando. Eu fico me perguntando por que eu pensei em você? A única coisa que achei em mim, foi pena de eu mesmo. Não sei como estou vivendo como esse dias sem você, mas sei que você quer isso, porque a culpa é minha.
― … Eu também vivia bem quando estava com você. Isso não é justo, não é justo você dizer tudo o que vem a sua cabeça sem saber o que eu sinto. ― suspirou frustrada, andando calmamente até o jardim para sair do caminho das outras pessoas que circulavam, e sendo atentamente acompanhada por ele. ― Eu não estou melhor porque nós terminamos, e eu não quero te ver mal por causa disso, também.
― Isso é porque eu nunca soube o que você sentia direito… ― ele sussurrou, assistindo-a sentar no apoio da fonte da escola e ajeitar o longo e volumoso vestido roxo para não amassá-lo, erguendo o olhar para o mais alto, confusa em ouvi-lo dizer aquilo. ― Você estava sempre tão ocupada com o Teatro e o , eu comecei a achar que estava atrapalhando tudo, que era um peso pra sua vida.
― Como você conseguiu chegar nessas conclusões assim sem que eu falasse uma palavra sobre isso?! , eu e o éramos só amigos, e o Teatro… ― abaixou o olhar outra vez, apertando os dedos uns nos outros. ― Tudo bem, talvez eu fosse realmente exagerada, mas isso nunca quis dizer que eu não gostava de você. Ao invés de ser um peso, você sempre foi o que me deixava mais leve. Eu nunca imaginei que você precisasse de declarações pra saber disso… Talvez tenha sido mesmo culpa minha.
― Não! ― ele não aguentou ouvi-la dizer aquilo. Podia até ser verdade que, durante os primeiros dias sem ela, havia realmente a culpado pelo término. Mas depois acabou percebendo que ninguém exatamente tinha culpa de nada. ― Foi mais falta de comunicação dos dois do que culpa de alguém. Se eu tivesse te falado antes como eu me sentia…
― E se eu tivesse falado antes como eu me sentia, também, nós nunca teríamos chegado nesse ponto. ― constatou, sentindo a chateação pela situação crescer ainda mais em seu peito.
― Eu nunca quis ser um idiota, eu queria ser legal… Ou parecer ser legal, pra ser amado, assim como eu amava você. ― admitiu, sentando ao lado de e olhando para como ela parecia reluzir com o reflexo das lâmpadas decorativas douradas que enfeitavam exatamente todo o campus. ― Desculpa.
― Eu também tenho que te pedir desculpas. Eu realmente gostei de você, mas…
― Eu sei, isso acabou. ― ele interrompeu, o peso de ter que constatar aquilo sendo ainda mais doloroso do que imaginava que seria. Estava feliz de, pelo menos, ter a oportunidade de conversar realmente com e colocar tudo às claras, expor tudo o que sentia e saber que também tinha sido recíproco, mesmo que cada um tivesse amado de forma diferente do outro.
― Não era isso que eu ia falar…
❥❥❥❥❥
Acabava de ter dado a mão de e a benção para . Era um idiota completo, com certeza… Sempre soube que eles iriam reatar quando conversassem. Estava apenas esperando vê-los entrar por aquela porta de mãos dadas para confirmar sua teoria, e então se sentir um babaca pelo resto da noite, ou só até decidir ir pra casa. Jogar videogames nunca foi tão atrativo, e olha que para ele, era sempre atrativo.
Forçou a vista para tentar enxergar quem eram as pessoas que estavam em cima do palco cantando ao vivo. Não que fosse reconhecê-las, mas só queria algo que distraísse a sua mente por alguns segundos… Não conseguiu nem mesmo com o esforço, e então decidiu que colocaria o óculos que estava guardado. Era verdade que decidira não usá-lo naquele dia porque constantemente lhe diziam que ele ficava melhor sem porque o acessório escondia seu rosto, então queria que naquele dia ela visse o seu rosto completamente. De novo, um idiota…
Abriu as duas hastes, as encaixando no rosto e então ajeitando o apoio no nariz. E assim que terminou o processo e viu o mundo limpo de novo, um flash no meio do jogo de luzes fez a sua expressão se contorcer, mas ao mesmo tempo um sorriso querer aparecer na sua boca ao vê-la ali, com o celular na mão e uma expressão concentrada.
― Eu gosto quando você usa óculos. ― admitiu com um sorriso sem graça, se aproximando os passos que faltavam de para ficar de frente para ele, que estava sentado. ― Fica bem nas fotos. ― e então girou a tela do celular para que ele visse a que havia acabado de tirar, e ele balançou a cabeça.
― Eu sempre fico bem nas fotos. ― fingiu que seu sorriso era por arrogância, e não porque ela havia aparecido sozinha. E não por vê-la ali, na sua frente, ao invés de com . Não porque aquilo gritava que talvez não fosse completamente idiota e que sim, tinha alguma chance. E queria aproveitá-la.
― Ah, cara… ― ela apertou o nariz, fazendo cara feia e fingindo que tinha se arrependido de ter ido até ali e que iria dar meia volta para ir embora, mas a puxou pela mão para que ela voltasse e batesse contra os joelhos dele.
― Eu gosto disso. ― queria dizer que gostava do formato dos seus olhos, ou de como seus cabelos estavam arrumados naquele dia, ou de como os seus lábios pareciam ser macios… Mas não, apenas apontou para o celular dela, que pelo movimento acabou mudando de tela e abrindo o álbum inteiro que ela havia dedicado a si, com todas as fotos distraído dele que ela tirava e também as fotos dos dois. ― A quantidade de fotos ser bem maior do que eu achei que fosse. Gostei.
― Já disse, você é fotogênico.
― ! ― gritou, interrompendo a conversa dos dois que muito provavelmente não iria para lugar nenhum, com os dois esperando o outro ter coragem de falar alguma coisa que não fosse repetições daquilo que já sabiam e podiam ter um significado ambíguo.
― Oi?! ― rapidamente mudou seu foco para a melhor amiga, preocupada com aquele tom de desespero que ela tinha na voz e com o fato dela ter corrido. Só podia ser coisa séria.
― Tem alguns garotos dizendo que você trapaceou quando escolheu o seu par pro baile, e que o não estava participando do concurso ou sei lá como caralhos você quer chamar a merda que fez. E olha, eles não parecem muito felizes com você. ― apontou para trás, como se mostrasse onde é que havia escutado aqueles rumores. Não que soubesse exatamente o que eles planejavam fazer, mas aquele infelizes com você implicava diretamente que provavelmente iriam querer estragar a noite de de alguma forma.
― Como eles descobriram isso?!
― Eles disseram que foram querer saber sobre o , e disseram que ele não teria como te comprar algo decente porque ele é bolsista e veio do interior, então provavelmente também é pobre. ― não era conhecida por ser a pessoa mais sutil naquela amizade, mas não era como se considerasse aquela característica algo ruim para censurá-la.
A expressão meio desesperada que recaiu sobre durou alguns segundos, porque ele pensou rapidamente que nunca havia contado aquilo para . Também nunca tinha dito que seus pais eram agricultores e ele só havia conseguido se mudar para capital porque eles juntaram dinheiro durante anos para isso, e, se ele não conseguisse uma boa bolsa na faculdade, provavelmente seria obrigado a voltar para a sua casa no interior. Mas nunca havia achado que aquilo realmente importava, afinal, tinha plena certeza que continuaria por ali. Porém, ouvir isso ser exposto como um defeito por outras pessoas o deixou parcialmente preocupado. Será que para ela importava?
olhou para si com os olhos um pouco arregalados, e ele cogitou que sim. Seu coração já estava praticamente partido quando ela simplesmente agarrou suas duas mãos e o puxou para que levantasse com uma força que ele não imaginaria que ela tinha, e então segurou seu rosto com as duas mãos, fazendo questão de beijá-lo em um lugar onde todos veriam, fazendo com que ele automaticamente envolvesse seu corpo em um abraço quente e carinhoso, correspondendo ao beijo com uma vontade ainda maior.
Não se importava se ele era ou não de uma família tão rica quanto a sua. E se importava muito menos se ele havia mandado ou não a droga de um presente ou bilhete em uma bolsa, nem se trinta e seis garotos estavam com a bunda dolorida porque havia escolhido estar com , algo que no começo talvez pudesse ter sido por falta de opção, mas agora era simplesmente porque queria estar com .
― Você não ouviu o que ela disse? ― ele questionou quando seus lábios se afastaram, mas mesmo assim os seus olhos não conseguiam deixar de olhá-los, esperando a oportunidade que teria de beijá-los outra vez.
― E daí? Eu realmente gosto do seu sotaque.
Sem contar a vontade extrema que tinha de vê-la e descobrir finalmente como ela estaria linda. Ele sabia que ela estaria, mas queria ver os detalhes… A única informação que tinha era que o seu vestido era roxo, porque dissera que havia escolhido a sua gravata para combinar com a sua roupa, e a sua gravata borboleta era roxa. Estava andando de um lado para o outro, e nem mesmo podia passar a mão pelos cabelos porque se não iria desarrumá-los, então se contentava em arrumar os óculos no nariz, mesmo se já tivessem arrumados.
― Ela ainda não chegou? ― questionou com um tom de voz provocador e sorrisinho ainda pior ao ver a situação que se encontrava após descer do carro e se encontrar com Vernon. O nem mesmo se deu ao trabalho de responder, simplesmente a olhou com a própria expressão do ódio.
― Não deve demorar muito, relaxa. ― Vernon tentou melhorar a situação, rindo da expressão de mesmo sabendo que não devia. ― A festa já começou, então ela provavelmente já está chegando…
― Com certeza quer fazer uma entrada triunfal e mostrar vocês dois chegando juntos pra todo mundo. ― a amiga não resistiu em continuar provocando, colocando ainda mais peso nas duas últimas palavras e fazendo revirar os olhos. Mais uma vez.
― Não precisa ficar nervoso. Não é como se você fosse ver alguém daqui da escola de novo amanhã, né. ― Vernon sorriu junto, achando que aquilo fosse consolar o amigo enquanto apenas o deixou mais desesperado ao constatar que isso também queria dizer que a sua convivência com acabaria. ― A gente vai entrar então, até depois!
O praticamente se desesperou ao ouvir aquilo, porque era melhor ter alguém para lhe distrair mesmo com provocações do que ficar sozinho com a sua própria ansiedade, piorando a cada minuto que passava e não chegava, mas meio que não teve tempo para contestar porque quando tentou virar na direção que eles estavam, o casal já estava bem longe e acenava ironicamente para ele enquanto caia em uma crise de risos que ele não entendeu direito até o próximo segundo.
― ! Eu sei que estou atrasada, desculpa, eu juro que sai cedo de casa, mas o trânsito estava realmente insuportável e… ― começou a falar tudo muito rápido, e acabou perdendo o fôlego no meio da frase, não sabia bem se era por conta da correria ou do fato de ter se virado para si, e no ato mais idiota que poderia ter tido naquele momento, ela simplesmente apoiou a mão no ombro dele, medindo-o da cabeça até os pés sem nem mesmo ter um pingo de vergonha.
A parte boa é que estava ocupado demais fazendo a exata mesma coisa para que se sentisse incomodado ou ao menos percebesse o que ela estava fazendo. E, de todas as coisas que ela podia ter escolhido falar naquele momento, era óbvio que ela escolheria a mais idiota.
― Cadê os seus óculos?! Você praticamente não enxerga sem eles. ― a expressão de era praticamente horrorizada, e não era como se ela não estivesse gostando de poder analisar direito os olhos amendoados de , só que tinha dó dele passar a noite inteira sem ver direito.
― Estão guardados. ― ele apontou para a parte de dentro do casaco do smoking, onde os bolsos eram grandes o suficiente para a caixa do acessório caber sem problema algum, e quando ela seguiu com o olhar para baixo percebeu que ainda usava o de apoio e se obrigou a dar um passo para trás.
― Você devia colocá-los. ― comentou calmamente, desviando o olhar do rapaz e ajeitando os próprios cabelos para trás para ter certeza que eles não tinham bagunçado muito quando saiu correndo do carro para chegar o mais rápido possível até .
― Não preciso. ― bom, ele estaria mentindo se não dissesse que a sua visão não estava um pouquinho embaçada como todo míope sem óculos, mas mesmo desse jeito ele podia perfeitamente ver o quão linda a garota estava naquela noite, ainda mais do que havia imaginado. ― Você está perto o suficiente para eu conseguir te ver sem problemas.
― O que…??? ― o choque de ouvir aquilo vindo de foi tamanho que não conseguiu nem ficar vermelha, e ele ignorou completamente a exagerada expressão facial da garota, a pegando pela mão e começando a andar pelo caminho de pedras que levava até o ginásio, onde a festa já havia começado.
deixou o olhar recair no chão enquanto o seguia, inconscientemente pensando outra vez no que ele tinha falado e tendo um sorriso repuxando os seus lábios, mesmo sem permissão. Só acordou quando esbarrou em uma pessoa no caminho, fazendo a sua mão se soltar da de com o impacto e, assim que ela ergueu a cabeça para pedir desculpas, congelou ao ver na sua frente. Ele estava sozinho, e parecia tão perdido quanto ela, principalmente quando seus olhos se encontraram.
― …
― … ― os olhos de automaticamente foram dele para , que lhe esperava alguns passos a frente. Mas então viu o sorrir de canto e mover a cabeça na direção de seu ex namorado, lhe incentivando que devia falar com ele, e então começando a andar na direção da festa outra vez, dessa vez com as mãos nos bolsos.
Algo nisso fez com o coração dela batesse mais forte, mas também tinha algo que prendiam os seus pés no chão, de frente para e ela apenas ficou ali, com o coração dividido, mas o corpo parado.
― Você tem estado bem esses dias? ― a voz do soou outra vez, e ele parecia tão ansioso para que ela lhe respondesse quanto ela estava para descobrir o que estava acontecendo com si mesma.
― Eu estou…
― Espera, não precisa responder. Você, quem está vivendo bem sem mim, eu sei bem. ― constatou com uma risada forçada, tentando demonstrar algum senso de humor no seu próprio fracasso. ― Fiquei curioso e fui ver, as curtidas estão brilhando. Eu fico me perguntando por que eu pensei em você? A única coisa que achei em mim, foi pena de eu mesmo. Não sei como estou vivendo como esse dias sem você, mas sei que você quer isso, porque a culpa é minha.
― … Eu também vivia bem quando estava com você. Isso não é justo, não é justo você dizer tudo o que vem a sua cabeça sem saber o que eu sinto. ― suspirou frustrada, andando calmamente até o jardim para sair do caminho das outras pessoas que circulavam, e sendo atentamente acompanhada por ele. ― Eu não estou melhor porque nós terminamos, e eu não quero te ver mal por causa disso, também.
― Isso é porque eu nunca soube o que você sentia direito… ― ele sussurrou, assistindo-a sentar no apoio da fonte da escola e ajeitar o longo e volumoso vestido roxo para não amassá-lo, erguendo o olhar para o mais alto, confusa em ouvi-lo dizer aquilo. ― Você estava sempre tão ocupada com o Teatro e o , eu comecei a achar que estava atrapalhando tudo, que era um peso pra sua vida.
― Como você conseguiu chegar nessas conclusões assim sem que eu falasse uma palavra sobre isso?! , eu e o éramos só amigos, e o Teatro… ― abaixou o olhar outra vez, apertando os dedos uns nos outros. ― Tudo bem, talvez eu fosse realmente exagerada, mas isso nunca quis dizer que eu não gostava de você. Ao invés de ser um peso, você sempre foi o que me deixava mais leve. Eu nunca imaginei que você precisasse de declarações pra saber disso… Talvez tenha sido mesmo culpa minha.
― Não! ― ele não aguentou ouvi-la dizer aquilo. Podia até ser verdade que, durante os primeiros dias sem ela, havia realmente a culpado pelo término. Mas depois acabou percebendo que ninguém exatamente tinha culpa de nada. ― Foi mais falta de comunicação dos dois do que culpa de alguém. Se eu tivesse te falado antes como eu me sentia…
― E se eu tivesse falado antes como eu me sentia, também, nós nunca teríamos chegado nesse ponto. ― constatou, sentindo a chateação pela situação crescer ainda mais em seu peito.
― Eu nunca quis ser um idiota, eu queria ser legal… Ou parecer ser legal, pra ser amado, assim como eu amava você. ― admitiu, sentando ao lado de e olhando para como ela parecia reluzir com o reflexo das lâmpadas decorativas douradas que enfeitavam exatamente todo o campus. ― Desculpa.
― Eu também tenho que te pedir desculpas. Eu realmente gostei de você, mas…
― Eu sei, isso acabou. ― ele interrompeu, o peso de ter que constatar aquilo sendo ainda mais doloroso do que imaginava que seria. Estava feliz de, pelo menos, ter a oportunidade de conversar realmente com e colocar tudo às claras, expor tudo o que sentia e saber que também tinha sido recíproco, mesmo que cada um tivesse amado de forma diferente do outro.
― Não era isso que eu ia falar…
Acabava de ter dado a mão de e a benção para . Era um idiota completo, com certeza… Sempre soube que eles iriam reatar quando conversassem. Estava apenas esperando vê-los entrar por aquela porta de mãos dadas para confirmar sua teoria, e então se sentir um babaca pelo resto da noite, ou só até decidir ir pra casa. Jogar videogames nunca foi tão atrativo, e olha que para ele, era sempre atrativo.
Forçou a vista para tentar enxergar quem eram as pessoas que estavam em cima do palco cantando ao vivo. Não que fosse reconhecê-las, mas só queria algo que distraísse a sua mente por alguns segundos… Não conseguiu nem mesmo com o esforço, e então decidiu que colocaria o óculos que estava guardado. Era verdade que decidira não usá-lo naquele dia porque constantemente lhe diziam que ele ficava melhor sem porque o acessório escondia seu rosto, então queria que naquele dia ela visse o seu rosto completamente. De novo, um idiota…
Abriu as duas hastes, as encaixando no rosto e então ajeitando o apoio no nariz. E assim que terminou o processo e viu o mundo limpo de novo, um flash no meio do jogo de luzes fez a sua expressão se contorcer, mas ao mesmo tempo um sorriso querer aparecer na sua boca ao vê-la ali, com o celular na mão e uma expressão concentrada.
― Eu gosto quando você usa óculos. ― admitiu com um sorriso sem graça, se aproximando os passos que faltavam de para ficar de frente para ele, que estava sentado. ― Fica bem nas fotos. ― e então girou a tela do celular para que ele visse a que havia acabado de tirar, e ele balançou a cabeça.
― Eu sempre fico bem nas fotos. ― fingiu que seu sorriso era por arrogância, e não porque ela havia aparecido sozinha. E não por vê-la ali, na sua frente, ao invés de com . Não porque aquilo gritava que talvez não fosse completamente idiota e que sim, tinha alguma chance. E queria aproveitá-la.
― Ah, cara… ― ela apertou o nariz, fazendo cara feia e fingindo que tinha se arrependido de ter ido até ali e que iria dar meia volta para ir embora, mas a puxou pela mão para que ela voltasse e batesse contra os joelhos dele.
― Eu gosto disso. ― queria dizer que gostava do formato dos seus olhos, ou de como seus cabelos estavam arrumados naquele dia, ou de como os seus lábios pareciam ser macios… Mas não, apenas apontou para o celular dela, que pelo movimento acabou mudando de tela e abrindo o álbum inteiro que ela havia dedicado a si, com todas as fotos distraído dele que ela tirava e também as fotos dos dois. ― A quantidade de fotos ser bem maior do que eu achei que fosse. Gostei.
― Já disse, você é fotogênico.
― ! ― gritou, interrompendo a conversa dos dois que muito provavelmente não iria para lugar nenhum, com os dois esperando o outro ter coragem de falar alguma coisa que não fosse repetições daquilo que já sabiam e podiam ter um significado ambíguo.
― Oi?! ― rapidamente mudou seu foco para a melhor amiga, preocupada com aquele tom de desespero que ela tinha na voz e com o fato dela ter corrido. Só podia ser coisa séria.
― Tem alguns garotos dizendo que você trapaceou quando escolheu o seu par pro baile, e que o não estava participando do concurso ou sei lá como caralhos você quer chamar a merda que fez. E olha, eles não parecem muito felizes com você. ― apontou para trás, como se mostrasse onde é que havia escutado aqueles rumores. Não que soubesse exatamente o que eles planejavam fazer, mas aquele infelizes com você implicava diretamente que provavelmente iriam querer estragar a noite de de alguma forma.
― Como eles descobriram isso?!
― Eles disseram que foram querer saber sobre o , e disseram que ele não teria como te comprar algo decente porque ele é bolsista e veio do interior, então provavelmente também é pobre. ― não era conhecida por ser a pessoa mais sutil naquela amizade, mas não era como se considerasse aquela característica algo ruim para censurá-la.
A expressão meio desesperada que recaiu sobre durou alguns segundos, porque ele pensou rapidamente que nunca havia contado aquilo para . Também nunca tinha dito que seus pais eram agricultores e ele só havia conseguido se mudar para capital porque eles juntaram dinheiro durante anos para isso, e, se ele não conseguisse uma boa bolsa na faculdade, provavelmente seria obrigado a voltar para a sua casa no interior. Mas nunca havia achado que aquilo realmente importava, afinal, tinha plena certeza que continuaria por ali. Porém, ouvir isso ser exposto como um defeito por outras pessoas o deixou parcialmente preocupado. Será que para ela importava?
olhou para si com os olhos um pouco arregalados, e ele cogitou que sim. Seu coração já estava praticamente partido quando ela simplesmente agarrou suas duas mãos e o puxou para que levantasse com uma força que ele não imaginaria que ela tinha, e então segurou seu rosto com as duas mãos, fazendo questão de beijá-lo em um lugar onde todos veriam, fazendo com que ele automaticamente envolvesse seu corpo em um abraço quente e carinhoso, correspondendo ao beijo com uma vontade ainda maior.
Não se importava se ele era ou não de uma família tão rica quanto a sua. E se importava muito menos se ele havia mandado ou não a droga de um presente ou bilhete em uma bolsa, nem se trinta e seis garotos estavam com a bunda dolorida porque havia escolhido estar com , algo que no começo talvez pudesse ter sido por falta de opção, mas agora era simplesmente porque queria estar com .
― Você não ouviu o que ela disse? ― ele questionou quando seus lábios se afastaram, mas mesmo assim os seus olhos não conseguiam deixar de olhá-los, esperando a oportunidade que teria de beijá-los outra vez.
― E daí? Eu realmente gosto do seu sotaque.
Fim.
Nota da autora: Chego nessas notas com vontade de chorar real eu achei que isso não fosse acabar nunca, MEU DEUS DWLDDMWSMOSNAKA TEVE UMA HORA QUE EU JÁ TAVA DESISTINDO DO FICSTAPE E TRANSFORMANDO EM LONG FIC, MISERICÓRDIA, We're the champions, my friend. A parte boa é que essa fic é com certeza uma das que eu mais gostei de todas as que eu escrevi, mesmo sendo bem bobinha. Eu costumo detestar escrever histórias colegiais, porque sinceramente eu nunca fui uma colegial muito romântica, só que em um belo dia eu pego esse hino atemporal e é óbvio que tinha que ser uma colegial fofinha! E antes mesmo que eu pensasse no que queria fazer, EU TENHO UM SONHO PÉSSIMO QUE ORIGINOU A NOSSA QUERIDA PRIMEIRA CENA E PRONTO, O QUE MAIS EU POSSO QUERER? Deus jogou o plot no meu colo, só aceitei. HAUAHAUAHAUAHUA daí saiu isso, eu juro que não uso drogas, eu só sonho mesmo. Mas no fim eu gostei muito do resultado. Talvez não do final, mas gostei do resultado.
Meu medo nessa fic toda foi shippar errado e eu SHIPPEI TODO MUNDO COM TODO MUNDO E EH ISTO, todo shipp era shipp errado porque eu não tinha um shipp certo só decidi com quem a pp ia ficar no fim porque NÃO FUI EU QUEM DECIDIU QUEM ESCOLHEU FOI A AMIGUINHA pode entrar @Mari, porque eu não tive capacidade mental MESMO de decidir, mas acho que foi o melhor caminho a seguir porque acho que o plot do pp2 com a pp foi mais bem explorado UAHAUAHAUAHAUA ME DIGAM O QUE VOCÊS ACHAM E ACALMEM O CORAÇÃO DIVIDIDO DA AUTORA QUE NÃO DECIDIU VERDADEIRAMENTE ATÉ AGORA? OBRIGADA ♥
Outras Fanfics:
❥ LONGS ❥
»Trespass [K-POP ― Em Andamento ― MONSTA X]
»Kratos [K-POP ― Em Andamento ― VIXX]
»(No) F.U.N [K-POP ― Em Andamento ― SEVENTEEN]
❥ SHORTFICS ❥
»01. Into You [Ficstape #114: YOU & ME ― K.A.R.D.]
»01. Intro. New World [Ficstape #120: TEEN, AGE ― SEVENTEEN]
03. Love Me Right [Ficstape #123: Countdown ― EXO]
»04. Ride [Ficstape #119: White Night ― Taeyang]
»05. 다이아몬드 Diamond [Ficstape #111: THE WAR ― EXO]
»06. Lilili Yabbay [Ficstape #120: TEEN, AGE ― SEVENTEEN]
10. Cosmic Railway [Ficstape #123: Countdown ― EXO]
»11. Hello [Ficstape #120: TEEN, AGE ― SEVENTEEN]
»11. Hug [Ficstape #108: REPLAY ― Super Junior]
»13. Outro. Incompletion [Ficstape #120: TEEN, AGE ― SEVENTEEN]
»Incomparável [Especial Dia dos Namorados 2018 ― K-POP ― SEVENTEEN]
»MV: A [Music Video ― K-POP ― GOT7]
»MV: Callin [Music Video ― K-POP ― A.C.E]
»MV: Don’t Wanna Cry [Music Video ― K-POP ― SEVENTEEN]
»MV: Excuse Me [Music Video ― K-POP ― AOA]
»MV: Gashina [Music Video ― K-POP ― SunMi]
»MV: Hyde [Music Video ― K-POP ― VIXX]
»MV: Please Don’t… [Music Video ― K-POP ― K.Will]
»MV: Trauma [Music Video ― K-POP ― SEVENTEEN]
»MV: Heroine [Music Video ― K-POP ― SunMi]
»MV: Mysterious [Music Video ― K-POP ― Hello Venus]
»MV: Shangri La [Music Video ― K-POP ― VIXX]
»MV: Very Nice [Music Video ― K-POP ― SEVENTEEN]
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Meu medo nessa fic toda foi shippar errado e eu SHIPPEI TODO MUNDO COM TODO MUNDO E EH ISTO, todo shipp era shipp errado porque eu não tinha um shipp certo só decidi com quem a pp ia ficar no fim porque NÃO FUI EU QUEM DECIDIU QUEM ESCOLHEU FOI A AMIGUINHA pode entrar @Mari, porque eu não tive capacidade mental MESMO de decidir, mas acho que foi o melhor caminho a seguir porque acho que o plot do pp2 com a pp foi mais bem explorado UAHAUAHAUAHAUA ME DIGAM O QUE VOCÊS ACHAM E ACALMEM O CORAÇÃO DIVIDIDO DA AUTORA QUE NÃO DECIDIU VERDADEIRAMENTE ATÉ AGORA? OBRIGADA ♥
Outras Fanfics:
❥ LONGS ❥
»Trespass [K-POP ― Em Andamento ― MONSTA X]
»Kratos [K-POP ― Em Andamento ― VIXX]
»(No) F.U.N [K-POP ― Em Andamento ― SEVENTEEN]
❥ SHORTFICS ❥
»01. Into You [Ficstape #114: YOU & ME ― K.A.R.D.]
»01. Intro. New World [Ficstape #120: TEEN, AGE ― SEVENTEEN]
03. Love Me Right [Ficstape #123: Countdown ― EXO]
»04. Ride [Ficstape #119: White Night ― Taeyang]
»05. 다이아몬드 Diamond [Ficstape #111: THE WAR ― EXO]
»06. Lilili Yabbay [Ficstape #120: TEEN, AGE ― SEVENTEEN]
10. Cosmic Railway [Ficstape #123: Countdown ― EXO]
»11. Hello [Ficstape #120: TEEN, AGE ― SEVENTEEN]
»11. Hug [Ficstape #108: REPLAY ― Super Junior]
»13. Outro. Incompletion [Ficstape #120: TEEN, AGE ― SEVENTEEN]
»Incomparável [Especial Dia dos Namorados 2018 ― K-POP ― SEVENTEEN]
»MV: A [Music Video ― K-POP ― GOT7]
»MV: Callin [Music Video ― K-POP ― A.C.E]
»MV: Don’t Wanna Cry [Music Video ― K-POP ― SEVENTEEN]
»MV: Excuse Me [Music Video ― K-POP ― AOA]
»MV: Gashina [Music Video ― K-POP ― SunMi]
»MV: Hyde [Music Video ― K-POP ― VIXX]
»MV: Please Don’t… [Music Video ― K-POP ― K.Will]
»MV: Trauma [Music Video ― K-POP ― SEVENTEEN]
»MV: Heroine [Music Video ― K-POP ― SunMi]
»MV: Mysterious [Music Video ― K-POP ― Hello Venus]
»MV: Shangri La [Music Video ― K-POP ― VIXX]
»MV: Very Nice [Music Video ― K-POP ― SEVENTEEN]