Última atualização: 30/01/2019

Train for Love

Seria uma tediosa viagem de trem saindo de Liverpool até Londres, porém foram as 3 horas mais bem gastas da minha vida. O motivo? A garota do rosto feliz.

Eu estava um pouco deprimido naquele dia, talvez por minha transferência repentina paro o Hospital Universitário de Londres. Eu gostava de trabalhar em Liverpool e tinha feito muitos amigos no hospital geral, agora teria que que me adaptar à nova rotina que estava sendo posta diante de mim. Assim que deixei minhas malas no bagageiro, entrei no trem e me acomodei na segunda poltrona do terceiro vagão, classe econômica.

— Ahhh… — me espreguicei da poltrona sentindo desconforto nas costas, então me levantei e caminhei pelos vagões até chegar ao do restaurante.

Eu a vi sentada sozinha, sorrindo ao olhar pela janela. Observei todo o lugar, as mesas estavam lotadas, imaginava que nessa hora de embarque, o trem estaria mais vazio, porém me enganei. Caminhei por entre as mesas, torcendo para que alguém se levantasse e eu pudesse enfim comer alguma coisa. Saí tão atrasado que nem deu tempo de tomar o último café da manhã no albergue onde morava.

— Moço?! — chamou-me uma voz.
— Hum?! — me virei para ela e a olhei, aquele mesmo sorriso se mantinha em sua face, algo sublime que transmitia tranquilidade.
— Pode sentar aqui se quiser. — ofereceu ela, estendendo sua mão em direção da cadeira em sua frente.
— Ah, não quero incomodar. — me forcei a recusar, querendo aceitar.
— Eu insisto, por incrível que parece esse é um dos horários em que a viagem lota mais. — explicou ela — O vagão do restaurante sempre fica cheio.
— Já que insiste. — me sentei na cadeira de frente para ela — Você costuma pegar nesse horários com frequência?
— Quase todos os dias. — respondeu ao levar a xícara de cappuccino à boca.

Suspirei baixo e voltei minha atenção para o atendendo que vinha em nossa direção. Fiz o meu pedido, e me mantive alguns minutos em silêncio a observando fazer suas anotações no tablet.

— Você me parece ser muito observador. — comentou ela rindo baixo, mantendo sua atenção ao tablet.
— Me desculpe, é que você está tão concentrada e com um olhar alegre, não me contive em ficar curioso para saber o motivo. — fui sincero
— Acredite ou não, estou trabalhando. — respondeu ela abrindo um singelo sorriso novamente, sua face estava feliz e animada.
— É um tanto raro ver pessoas felizes enquanto trabalha. — comentei.
— Bem, digamos que há duas classes… — ela voltou seu olhar para mim — Pessoas que fazem o que gostam e se divertem, e pessoas que fazem o que não gostam, mas ainda assim arrumam uma forma de se divertir.
— E você está em qual classe? — perguntei.
— Hum… Confesso que por um longo tempo trabalhava com algo que não gostava, até que percebi que estava fazendo errado. — explicou ela com segurança em suas palavras.
— E hoje em dia você se diverte. — completei.
— Hoje em dia me divirto fazendo o que gosto, mas só cheguei neste nível quando aprendi a me diverti fazendo o que não gostava. — reformulou a resposta.
— Uau. — a olhei admirado.

Voltei meu olhar para o, o atendente já se aproximava de nossa mesa, trazendo o meu pedido. Tanto eu como ela, observamos seus movimentos até que se afastou de nós.

— E você? — perguntou ela.
— E o que? — a olhei confuso.
— Em que classe está?!
— Bem, digamos que até ontem estava na primeira, me divertia com o que gostava, mas agora…
— Foi demitido? — supôs ela.
— Não. — eu ri — Fui transferido, então, é meio incerto como será meus dias de trabalho agora.
— Acho que não. — seu olhar ficou pensativo.
— Hum?!
— Sendo bom ou ruim, a parte da diversão somos nós que definimos. — explicou ela rindo de leve — Se você ir pensando que será pesado demais essa mudança, certamente será, o segredo sempre está em nosso posicionamento inicial.
— Você é uma pessoa muito otimista. — a elogiei.
— Agradeço a Deus por isso. — um suspiro suave veio dela — Houve um tempo em minha vida que… Não quero nem lembrar.

Ela soltou uma gargalhada gostosa e espontânea, me fazendo rir junto.

— E hoje você é diferente?! — meu olhar estava fixo nela.
— Sim, um belo dia acordei com o sol radiante batendo em minha janela e percebi que o mundo não é tão cruel assim. — ela manteve o sorriso natural e bonito em sua face, seus olhos tinham uma ponta de brilho — Que conseguimos ver a beleza até nos olhos de uma criança, basta querermos.

Ela era mesmo impressionante e admirável.

— Mas você não me parece mesmo animado, não gosta de Londres? — perguntou ela.
— Eu gosto, só não estou acostumado com a ideia, talvez como disse eu ainda não queria me acostumar, por isso minha incerteza. — respondi.
— Mudanças são sempre assustadoras na primeira impressão. — comentou ela — Tenho certeza que aos poucos irá se acostumar. Tenho algum conhecido na cidade?
— Seria louco dizer que é só você? — eu ri, fazendo-a rir junto.
— Já é um começo. — seu olhar se desviou para a janela, me fazendo olhar junto.

Passamos alguns minutos em silêncio, contemplando a paisagem do lado de fora do trem até naturalmente voltamos a conversar sobre assuntos aleatórios que surgiam.

— Você disse que faz esse trajeto com frequência, deve ser cansativo. — comentei ao tomar um gole do expresso.
— Um pouco, mas vale a pena. — confirmou ela.
— Posso ser curioso a respeito disso? Você tem namorado em Liverpool?! — eu sabia que era uma pergunta indiscreta, mas queria muito saber.
— Não. — respondeu ela diretamente.

Senti um suspiro de alívio sair de mim.

— Eu sou voluntária em uma ong que protege e abriga animais de rua. — completou ela.
— Uau. — naquele momento eu já estava fascinado por ela.
— Você gosta de animais? — perguntou ela com um olhar interessado.
— Por incrível que pareça, sempre quiser ter um gato, mas tenho uma irmã que é alérgica. — respondi.
— E você vai morar sozinho em Londres? — indagou.
— Pretendo dividir o apartamento com algum desconhecido, as contas são caras.
— Hum….
— Por que o interesse? O que está tentando fazer? — a olhei confuso.
— Juntar o útil com o agradável, resgatamos um gatinho há duas semanas que teve que fazer uma cirurgia complicada, ele foi maltratado pelo último dono e perdeu a visão do olho esquerdo. — explicou ela.

Percebi uma ponta de tristeza em seu olhar, que durou três segundos, até que ela fixou seus olhos em mim.

— Como você gosta de gatos…
— Bem, são muitas mudanças… — sorri de forma tímida.
— Ah, por favor, não se sinta pressionado. — ela riu disfarçadamente, parecia meio sem graça.
— Mas, prometo pensar.
— Sério?! — automaticamente o brilho de seus olhos se renovaram.
— Sim. — assenti rindo da sua mudança repentina.
— Então… — ela se remexeu na cadeira e pegou sua bolsa que estava pendurada no encosto, em instante me entregou um cartão — Aqui está o cartão da ong.
— Ah, claro. — senti meu corpo gelar ao pegar o cartão.

Confesso que esperava que ela me desse seu número, mas não. Ela riu, certamente da minha reação frustrada.

— Você tem animais de estimação? — perguntei para ela.

A fim de saber um pouco mais sobre aquela garota que continuava com o sorriso cativante em seu rosto feliz.

— Sim, menos do que gostaria. — respondeu ela em risos — Infelizmente tenho que ser prudente, mas sempre que encontro algum abandonado na rua, fico tentada a adotá-lo.
— Consigo ver em seu olhar o amor que tem por eles. — sorri de leve.
— Bem, tenho três cachorros e dois gatos, imagina a confusão quando chego em casa. — ela riu — Todos vem correndo pra cima de mim.

Voltei meu olhar para a xícara de café, desejava saborear cada segundo daquele momento, e pedia a Deus para aquelas horas passarem lentamente.

— E você? Gosta de morar em Londres. — eu perguntei a ela.
— Aprendi a gostar não só da cidade, mas do país também. — respondeu.
— Você não é inglesa?
— Não. Eu nasci na Colômbia, mas fui criada aqui com meus avós. — explicou com tranquilidade, seu olhar sereno fazia seu rosto transmitir ainda mais suavidade.

Conversamos sobre mais algumas coisas e acabei descobrindo que ela havia cursado jornalismo na Universidade de Oxford.

— Então você é paramédico. — ela me olhou admirada.
— Sim. — senti uma ponta de orgulho saindo de mim.
— Uau, percebo que gosta bastante.
— Salvar vida, me faz me sentir mais vivo também. — confessei — Sempre gostei de medicina, mas não me via como um médico que fica o dia em plantões no hospital.
— Hum, interessante… Então encontrou um caminho que o leva a diversão. — constatou ela rapidamente.
— Pode se dizer que sim. — concordei — É um choque de adrenalina quando as sirenes da ambulância estão tocando pelas ruas.
— Seus olhos estão brilhando. — ela abriu um largo sorriso.

Pude perceber que seus olhos também estavam brilhando.

— Essa é uma parte da minha vida da qual não me arrependo. — eu assegurei a ela.
— Fico feliz por isso.
— Mas, é claro que a rotina é tão pesada quanto a de um hospital. — continuei — Em alguns casos, até mais pesadas.
— Imagino.
— Porém, é gratificante quando salvamos uma vida, ouvir um coração voltar a bater.

Ela desviou seu olhar para o lado.

— Uau, estamos aqui conversando todo esse tempo e nem notei que o restaurante esvaziou. — comentou.
— Devemos estar perto da estação final. — olhei para o lado também — Acho que já posso me sentar em outra mesa…
— Por favor, fique. — interveio ela, como eu queria — O tempo passa mais rápido quando estamos bem acompanhados.
— Fico aliviado em saber que estou sendo uma boa companhia para você. — sorri de forma tímida.

Enquanto ela mantinha seu sorriso suave no rosto.

— Não é todo dia que consigo companhias agradáveis como a sua. — afirmou ela — Mas apesar de alguns infortúnios, consigo levar tudo positivamente.
— Confesso que sua alegria espontânea combinada a esse sorriso, conseguiu me contagiar.
— Sério?!
— Sim.
— Me sinto ainda mais empolgada agora.

Nós rimos um pouco e logo o anúncio de que havíamos chegado à estação final em Londres soou no alto-falante.

— Bem, precisamos ir agora. — ela se levantou já ajeitando a bolsa no ombro direito — Foi um prazer te conhecer.

Trocamos sorrisos até que ela começou a se afastar. Foi então que acordei para vida e me dei conta que tinha passado 3 horas conversando com uma mulher maravilhosa, sem ao menos saber seu nome. Assim que tomei impulso e me levantei, ela passou pela porta saindo para o vagão da frente.

— Ei, espera. — gritei me levantando.

Ao passar pelo atendente, quase trombamos e o fiz derrubar a bandeja em sua mão, sorte que estava vazia. Continuei seguindo pelo vagão, passando pelas pessoas que já se agitavam para sair do trem. Por um instante temi não vê-la novamente, nem ao menos para saber seu nome, um sentimento de agonia e aflição tomou conta de mim, me fazendo esbarrar em mais algumas pessoas, enquanto lutava para passar por elas.

Quando finalmente cheguei ao lado de fora, percorri por toda a estação, até que avistei-a se aproximando de um táxi.

— Ei… Espera. — gritei enquanto corria em sua direção.
— Você!? — ela me olhou surpresa — Aconteceu algo?
— Sim… Eu não sei o seu nome.
— Verdade. — ela riu — Eu também não sei o seu.
— Pode me chamar de . — disse de forma apressada.
— Prazer , meus amigos me chamam de . — ela sorriu novamente.
?
— Sim. Mas se quiser saber meu nome… Quem sabe quando me ver novamente. — ela mordeu o lábio inferior.

Senti que ela estava segurando o riso.

— Me desculpe, mas tenho que ir.
— Espera. — eu segurei de leve em sua mão — E quando poderei te ver de novo?
— Hum… — ela me olhou com serenidade — Happy Face.
— O que? — meu olhar confuso certamente estava estampado em minha cara.
— Tenho um programa da rádio chamado Happy Face, vai ao ar todas as noites… — explicou ela — Talvez eu possa te dar algumas dicas por lá.

Ela finalmente riu, parecia estar se divertindo com aquilo.

— Até a próxima. — disse ela entrando no táxi.
— Até à noite. — assegurei fechando a porta e me abaixando para olhá-la.

Meu coração se aqueceu de imediato assim que um singelo sorriso surgiu em seu rosto. Definitivamente eu esperaria para saber mais sobre essa linda garota do rosto feliz.

“Acordei essa manhã, o sol estava radiante
Expus meu rosto feliz
Estou vivendo, sou capaz, respiro, sou grata
Em expor meu rosto feliz.”
- Happy Face / Destiny's Child

Sorriso: A alegria vem de dentro para fora, a felicidade vem de fora para dentro, mas ambas possuem algo em comum, os sorriso que surge em sua face quando estão em sua vida.” - by: Pâms



The End...



Nota da autora:
Após várias incertezas, estou feliz pelo resgate desse ficstape, escrevi Gospel Medley em junho do ano passado e aqui estou eu escrevendo outra fic pra ajudar esse ficstape ser um sucesso. Essa fic é um pouco simples, mas espero que gostem!!! Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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