Capítulo único
, o grande rapper da geração. Muitos prêmios importantes da indústria musical decoravam a parede do estúdio que tinha em sua própria casa. Mais que somente ter um rostinho rentável e um rap forte que levava os fãs à loucura com as letras, que ele mesmo quem escrevia – boa parte delas pelo menos –, ele ainda era um produtor incrível. O homem por trás do grande pelo menos fazia todas aquelas coisas, enquanto a maioria das pessoas a quem ele chegava só conhecia a casca, a máscara que ele usava para vender seu trabalho, sua arte, como muitos diziam.
Na verdade, o homem por trás de , , não pensava daquela maneira. Claro que ele era perdidamente apaixonado pela música, por escrever coisas tão viscerais e por todo dinheiro que ele ganhava com aquilo. Mas não se sentia um artista por aquilo. Muitas vezes pensava que qualquer um com sorte poderia e estaria no futuro no lugar dele.
Chegar até ali não foi fácil. Demorou quase dez anos para ele ter os grandes carros, grandes casas, grande jóias e tudo o que seu cartão black poderia comprar, sem que ele se preocupasse em como pagaria por todas aquelas coisas, como ele cantava que queria ter, nas músicas do início da carreira. E a caminhada até ali foi dolorida, então ele aceitava que todas aquelas conquistas eram uma compensação por todo sofrimento e batalhas que enfrentou até ali.
Quando era mais novo, fazendo seu rap underground pelas ruas e clubes em Daegu, pensava que quando chegasse ao topo com a sua música, finalmente se sentiria pleno e aquele vazio que sentia dentro de si, desde que se entendia por gente iria ser preenchido e ele conseguiria ser plenamente feliz. Mal sabia ele que a escalada até lá só o deixaria mais triste e rancoroso. Não é como se ele não tivesse momentos de felicidade ou que odiasse todo mundo. Ele tinha e ele amava algumas pessoas. Mas a cada degrau que subia, se sentia mais distante da paz interior.
Vivia de um amor, mas não se sentia em paz com nada na vida. Por muitas vezes se sentiu mal por se sentir daquela forma. Oras, quanta sorte ele tinha! Seguiu seus sonhos, conquistou mais do que um dia almejou, lá atrás com seus 16 anos, era mundialmente conhecido, tinha levado a música sul-coreana para fora do país, popularizando e abrindo caminho para que outros artistas do mesmo movimento e de outros, oriundos do país, pudessem ter vez e voz. Era um ícone, tinha todas as coisas que sempre quis, sua voz era finalmente ouvida e traduzida para que milhares de pessoas pudessem ouvir. Não entendia como era um fodido das idéias de não se sentir preenchido com aquelas coisas.
Ah! A verdade é que só pensava em uma coisa. Nunca chegou a desfocar dessa paixão e talvez achar algo complementar, que o faria sentir da forma que ele tanto ansiava, da forma que sua alma tanto precisava. Não entendia, não procurava entender, talvez fosse obrigado a passar por aquilo como um karma.
― , . ― parou na porta do estúdio do melhor amigo, fechando-a rapidamente quando viu a situação em que o amigo se encontrava.
tinha a senha da porta por motivos de: alguém precisar socorrer em alguma emergência, já que ninguém mais da produtora ter o código desse acesso. O rapaz era muito reservado e detestava que mexessem nas suas coisas e ou projetos sem sua permissão. Claro que o mais novo não usava a senha só para emergências como tinha sido o combinado, qualquer que fosse o momento que ele julgasse apropriado simplesmente invadia o local.
― ! O que é que aconteceu? ― se aproximou do amigo que estava encolhido em um canto do local tremendo um pouco e chorando muito.
sabia do que se tratava e, mesmo o amigo tendo acompanhamento e as crises tendo melhorado muito, ele ainda tinha alguns episódios como aquele. A saúde mental de todas as pessoas que tentavam a sorte com o entretenimento naquele país era uma questão delicada, e , que já não vinha de um histórico muito positivo para aquilo, não saiu ileso, de toda a pressão e cobrança.
― Eu tô bem, , só preciso ficar sozinho. ― Ele respirava com dificuldade entre as palavras.
― Meu ovo que vai ficar sozinho. ― O mais novo disse. ― Tomou seus remédios hoje? ― Ele questionou, mexendo no armário de coisas do mais novo.
― Aquela merda não me faz bem, . Eu me odeio ainda mais quando tomo aquela merda e fico dopado igual a um doente e não consigo trabalhar. ― O choro dele tinha diminuído um pouco.
― Você não conversou com seu médico sobre a dosagem, ? ― perguntou em um tom de reprovação e, desistindo de encontrar os remédios, pegou uma garrafa de água e foi até o amigo.
― Não e nem vou. Eu não vou ficar tomando remédio já te disse. ― A respiração dele estava voltando a ficar acelerada. ― Eu quero viver como uma pessoa normal, que saco.
― Toma aqui um pouco de água. ― enfiou a garrafa nas mãos trêmulas do amigo. ― E você tem a chance de viver uma vida melhor se seguir com o tratamento. ― Seu semblante era sério, sabia que o amigo odiava aquilo e que era teimoso como uma mula, mas precisava que o mais velho entendesse que aquilo era necessário.
― Eu não tenho recaídas com freqüência, , fica tranquilo. ― disse mais calmo, menos agressivo e estava parando de tremer.
― Eu sei, irmão, mas você sabe que não é assim que a banda toca. ― Ele se sentou ao lado do amigo e abraço o corpo de com um dos braços, passando pelos ombros. ― É aquele vazio de novo?
― Como sempre. É a minha escuridão eterna, meu buraco negro que nunca consegue se satisfizer com merda nenhuma nessa vida. ― Ele respirou fundo, bebendo mais água. ― Fui nomeado a mais uma premiação internacional hoje de manhã, a qual eu sempre quis participar e essa merda desse sentimento de vazio está me machucando tanto, . ― Ele voltou a chorar e apoiou o rosto no ombro amigo que o abraçou, apertado com os dois braços agora. ― Eu sinto muito, , de verdade. Se eu pudesse eu tirava essa merda toda de dentro de você. ― foi doce com o amigo e ficou lá o abraçando, enquanto o mais velho soluçava.
Depois de alguns minutos em um silêncio acolhedor e choros constantes, estava muito melhor, já não chorava mais e seu coração estava batendo de forma regular. Estavam esperando a comida que pediu para os dois, estava ficando tarde e muito provavelmente o mais velho não tinha se alimentado bem naquele dia. Conhecia o amigo muito bem.
― Ah, lembrei! ― disse com a boca cheia de frango.
― O que, doido? ― riu com a cara de pane que o amigo fez.
― O que eu vim fazer aqui. ― Ele engoliu a comida e bebeu um pouco do seu refrigerante.
― Ah, é! Achei que tinha virado telepata. ― O mais velho continuou sorrindo, e adorou ver o mais velho melhor.
― Babaca. Não é nada disso. ― O mais novo jogou um osso de frango em .
― Você vai limpar essa merda. ― resmungou.
― Vai me deixar falar, ou tá difícil? ― estava com vontade de socar o amigo agora.
― Tá, tá sem gracinha. Diz logo. ― Ele enfiou um pedaço grande de frango na boca, direcionando toda a atenção para o maior.
― vai dar uma festinha sábado a noite. ― O sorriso nos lábios do mais novo, semi enjoava .
― E? ― Ele disse como se aquilo fosse pouco irrelevante e era mesmo, afinal, inventava qualquer motivo para fazer reuniõezinhas para encher a cara. A mulher bebia mais que um opala.
― E você vai. ― disse como se aquilo fosse óbvio.
― Vou? ― olhou, confuso. Adorava a nova namorado do melhor amigo, ela era realmente uma mulher incrível, lutava boxe, era personal treiner do grupo do amigo, tinha um gosto musical maravilhoso e ainda criava um coelho como se fosse seu filho. Um ser humano realmente incrível e fazia o mais novo feliz, que era realmente o que mais importava. Mas ele detestava locais com muitas pessoas. e eram sociáveis demais para o gosto dele.
― Vai! vai dar essa festa de boas vindas para a melhor amiga dela, que está vindo do Brasil para passar alguns meses por aqui, pra divulgar o trabalho dela e ela me garantiu que vocês precisam se conhecer. ― tinha os olhinhos de jabuticaba brilhando como se existissem galáxias ali. Era assim que ele ficava sempre que falava da namorada: infinitamente apaixonado, como ele mesmo se denominava.
― Lá vem querer dar uma de cupido pra cima de mim, outra vez. Vocês não cansam não? ― disse, pegando o último pedaço de frango do prato de e enfiando na boca.
― Hey, meu frango. ― O mais novo protestou. ― E sim, você sabe que aquela mulher não vai sossegar. ― Ele riu. ― Vai, por favor, só um pouquinho. Você distrai a mente, deixa a feliz e de quebra ainda acaba por virar amigo de uma cosplayer super famosa lá do Brasil.
― Nem tem como te dizer não, não é? ― revirou os olhos. ― Você não vai me deixar em paz mesmo... Então eu vou, as só por uma hora ou duas, e você fica me devendo uma. Acha que vai usar do meu corpinho pra deixar seu relacionamento feliz, assim de graça?
― Mas é um mercenário mesmo, viu... ― se levantou, recolhendo a bagunça que fez e as embalagens vazias e jogou tudo no lixo. ― Vamos embora!
― Vamos quem? Eu ainda preciso trabalhar. ― disse, soltando uma risada debochada.
― Nananinanão, o senhor vai embora comigo, nem que eu tenha que te arrastar pelos cabelos. Vai descansar e amanhã, se eu estiver de bom humor, deixo você vir trabalhar.
― Era só isso que me faltava mesmo, um pirralho de dois anos de idade me falar o que eu posso ou não fazer! ― Ele disse, rindo e pegando suas coisas que estavam espalhada pelo lugar.
― Não vou discutir esse tipo de coisa com você, , vou aproveitar que eu nunca passo frio, porque estou coberto sempre de razão e evitar a fadiga.
Os dois caíram na risada e saíram do lugar, cada um indo para a sua casa.
SÁBADO À NOITE…
não sabia por que deixava que o mais novo influenciasse tanto em sua vida. Era sempre assim, ele abria aqueles olhos brilhantes de jabuticaba e a palavra não ou qualquer outra com conotação negativa sumiam do seu vocabulário. Talvez fosse porque o mais novo foi um dos primeiros amigos que ele conheceu quando se mudou ou somente pelo fato dele gostar do outro como um irmão. Mas ele sempre conseguia o que queria com o mais velho. Olhou para o grande prédio de apartamentos em que a personal morava e suspirou. Entrou e, como sempre, sem precisar ser anunciado, subiu até o andar onde a mulher dividia com as amigas. Não que o apartamento delas fosse enorme, mas elas com certeza sabiam otimizar o espaço do lugar. E como ela marcou ali, ele tinha certeza ainda maior que seria uma reunião pequena mesmo, como tinha dito. De qualquer maneira, depois daquela semana extremamente maçante, estressante e desgastante, uma festa por menor que fosse, era o último lugar onde queria estar. Mas a vida nem sempre era como ele queria.
Em uma de suas mãos carregava uma garrafa de whisky, pois, se ia ter que conviver com outros seres humanos, o faria na presença de seu álcool favorito. Deu uma batida na porta do apartamento com a mão livre, mesmo com uma campainha, que até ele julgava ser a melhor opção para anunciar a chegada de alguém, gostava de bater em portas, era uma de anunciar que ele tinha chego, já que quase ninguém mais fazia aquele tipo de coisa.
― O chegou! ―Ele ouviu a voz de gritar ao longe.
― Cadê? ― Escutou perguntar confuso.
― Vai atender a porta, menino. ― Ouviu a voz de outra vez.
― Mas eu não ouvi a campainha ou o interfone, amor, você já tá bêbada? ― Escutou o amigo falar e abriu um sorrisinho. Sabia que ia “apanhar” da namorada por ser lerdo e falar aquele tipo de coisa.
― Ai, , sai da minha frente, vai. ― Um barulho de pano sendo batido em alguma coisa foi escutado.
― AAAAAU. ― protestou.
― O melhor amigo é seu, e você nem sabe das manias de velho dele? Me poupe! ― Ele ouviu a voz da mulher se aproximando da porta.
― Você sabe que dá pra ouvir tudo aqui de fora, né? ― Foram as primeiras palavras que saíram da boca dele.
― Não é como se fosse mentira, né, ? ― respondeu sorridente.
― Touche! ― Ele deu seu característico meio sorriso e estendeu a mão que segurava a bebida para ela.
― Entra, neném. ― Ela pegou a bebida da mão dele e deu passagem para que ele passasse. ― Você chegou cedo. As meninas estão se arrumando e eu, como já nasci naturalmente linda, estou só terminando de arrumar algumas últimas coisas. ― O sorriso no rosto de podia iluminar facilmente toda a cidade.
― Quer ajuda? ― Ele perguntou depois de tirar seus sapatos e esperar que ela fechasse a porta atrás de si.
― Não, meu amor, muito obrigada, eu só estou pegando os copos e deixando as comidinhas da próxima rodada fáceis para qualquer um de vocês pegar depois. ― Ela mandou um beijinho no ar e desapareceu para a copa do apartamento.
seguiu para a sala e viu os amigos amontoados na frente do notebook, provavelmente montando a playlist do evento. Já estavam por lá os outros três rapazes que faziam parte da banda em que cantava e pelo que o mais novo havia dito pra ele por mensagem durante aquela semana, só estava faltando o namorado de uma das amigas de pra chegar e é claro, como tinha dito antes, as duas amigas que dividiam o lugar com ela e a amiga do Brasil, que estavam se arrumando.
― Espero que no mínimo tenha nessa playlist de vocês. ― disse chamando a atenção do grupo de rapazes pra si.
― Ah, , música ruim só passamos no final da festa. ― O guitarrista da banda de disse, rindo.
― Mas, eu disse , e não The Rabbits pra você falar isso, pode ficar tranquilo. ― Ele devolveu no mesmo tom, zombando da música que a banda fazia.
― , onde está seu... ― ouviu uma voz desconhecida e se virou – no que em sua mente aconteceu em câmera lenta em direção ao timbre que chamou tanto sua atenção. ― , onde está ? ― O coreano dela era impecável, assim como seus cabelos ruivos, ondulados por algo que ela tinha passado no cabelo. ― Na cozinha, . ― disse cortês para a mulher de estatura muito menor que a dele, que passou como um raio por sua visão, indo até o local indicado pelo mais novo.
A imagem da mulher parada, fazendo simplesmente nada ficou grudada em sua mente. Mesmo tento sido só por poucos segundo que ele tinha colocado seus olhos nela, sua mente simplesmente congelou naquele momento e ele ficou ali, no mesmo lugar e posição, simplesmente paralisado. Era estranho demais tudo aquilo pra ele. Quantas pessoas novas já não encontrou na vida? Que sensação diferente era aquela?
― Estava na minha maleta ― disse, indo até a sala acompanhada da amiga.
― Eu não achei lá junto com as outras coisas. ― A mulher disse, sorrindo.
― , você viu meu rímel? ― perguntou, quando finalmente adentrou o cômodo.
― Acho que está na sua bolsa, meu amor! ― O rapaz disse, sem tirar os olhos do aparelho eletrônico.
― Ah é. ― Ela disse, enxugando as mãos no pano de prato que carregava no ombro. ― Sabia que tinha esquecido alguma coisa na minha make. ― Riu.
― Mas, você tá linda, minha filha! Esses cílios postiços são maravilhosos, nem precisa de rímel. ― A amiga comentou, dando um cutucãozinho de leve nela.
― Eu senti tanto a sua falta, sua quenga maravilhosa. ― disse, abraçando a amiga de lado, apertado.
― Eu também, principalmente desses insultos gratuitos. ― Elas caminharam, ainda abraçadas, em direção aos quartos.
― Ah, , quero te apresentar a minha neném. ― abriu seu grande sorriso. ― Essa é a , acho que o já disse dela pra você. esse é o . ― Direcionou sua atenção para os dois.
― Meu Deus, , você conhece todos os famosos da Coréia, é? ― Foi a primeira coisa que saiu da boca da amiga depois das apresentações.
― Então, você sabe quem eu sou? ― perguntou meio tímido. Era surreal pensar que pessoas do outro lado do mundo conhecesse seu trabalho a ponto de o reconhecer, mesmo que estivesse tão informal e despojado.
― Quem não conhece o Grande ? ― disse, gentil.
― É ótimo que você conheça o , até porque lenda atemporal. Graças a Deus vivemos na mesma geração que o grande gênio. Maaaas, aqui, debaixo desse teto e em todas as outras vezes que estivermos vivendo socialmente, ele é só , um idoso preso no corpo de um dos caras mais incríveis que a vida me deu de presente. ― disse de forma terna e passou uma das mãos pelo braço do amigo, deixando um pequeno carinho ali. Sabia que a amiga não iria ficar tietando o rapaz, mesmo ele sendo um dos artistas preferidos dela do mundo e ela tendo aquele papo de almas ligadas que ela sempre falava pra , que mesmo acreditando muito nessas coisas só ria e esperava pelo momento de apresentar os amigos. Mas, ela sabia também que o rapaz, mesmo amando ser e fazer o que fazia, gostava e precisava de gente ao seu redor que o fizesse se sentir o mais “normal” possível. prezava muito por aquilo, sabia como toda aquela pressão era desgastante para o homem.
― Lógico, isso é essencial. Eu só não queria parecer uma pessoa desesperada que a amiga disse que ia apresentar um cara e ela já sabendo tudo sobre alguém que nunca teve contato antes. ― disse, rindo da cara de choque que fez com aquele comentário. Provavelmente não era só com ela que tentava bancar o cupido.
― Eu não me incomodo. ― disse, sorrindo. ― Bom que você já conhece parte de mim, espero que tenhamos tempo para nos conhecermos mais. ― Ele continuou com o sorriso lindo no rosto.
― Espero que ter a oportunidade de conhecer todas as suas partes importantes. ― disse, sorrindo também.
só conseguia focar em como os olhos dela eram lindos. Ele encontrou infinitas galáxias neles e quase nunca via aquilo, ainda mais assim, de primeira. Ela como se ele encontrasse eles o caminho do seu lar, era estranho demais, mas ele amou sentir aquilo.
Depois daquela breve apresentação, as duas entraram para o quarto e tão logo todos já estavam juntos na sala, escutando boa música, bebendo, comendo e conversando. Todo mundo que conhecia , já tinha ouvido falar de , pelo menos uma vez na vida, e ela era realmente uma pessoa especial e encantadora e ali observando tudo. pode constatar que ela era uma mulher incrível, a luz que emanava dela era tão forte, que ele sentia mesmo que por alguns instantes, que a escuridão que tomava conta de seu corpo boa parte do tempo, sumira, ele não conseguiria explicar aquela sensação, nem se quisesse.
(...)
― Twin Flames. ― disse animada, entrando no estúdio de . ― Oi? ― Ele desfocou dos emails que estava respondendo e viu a mulher, em um vestido florido de fundo azul royal e os fios ruivos de seu cabelo amarrados em um alto rabo de cavalo, segurando um suporte de papelão com duas bebidas.
― Oi, meu amor. ― Ela sorriu gentil e deu um breve selar nos lábios dele. ― Aqui, seu americano gelado. ― Entregou a bebida pra ele.
― Obrigado, minha linda, mas o que te trouxe aqui e que papo é esse de Win Flames? ― Ele deu um gole em sua bebida e agradeceu mentalmente pela mulher aparecer ali. Estava com a cabeça cheia de trabalho, precisava se distrair um pouco e não ia conseguir sozinho.
― Não é win, é Twin, seu bobão, nunca ouviu falar? ― tirou seu cappuccino do suporte e jogou o mesmo no lixo, segurando o copo com sua bebida firme para que não o derrubasse no chão. Se sentou no colo do namorado depois que terminou o que fazia e encheu o rosto dele com beijinhos.
― Não? ― A resposta dele saiu mais como uma pergunta retórica do que como uma afirmação. ― Por que minha linda namorada, que eu absolutamente amo, veio no meu trabalho sem avisar e trouxe meu café favorito com ela e o que esse tal de twin flame tem a ver com isso? ― Ele colocou o copo sobre a mesa, passando a mão recentemente livre pelo rosto da mulher, enquanto a outra mão descansava em cima de uma das coxas dela.
― Eu já tinha ouvido falar antes, mas brevemente e você sabe que eu estou estudando um novo cosplay pro evento de akai ito¹, que vai ter no Japão dentro de alguns meses, né? ― Ela olhava nos olhos dele, quase se perdendo em sua boca. ― E como eu já estava envolvida nesse tema, pesquisei mais afundo sobre soulmates, karmics connections e twin flames, para saber as diferenças e por que eu gosto dessas coisas cósmicas e espirituais, você sabe. ― Respirou fundo, olhando os olhinhos deles quase se transformarem em dois risquinhos, com o sorriso que deu, enquanto ela fala.
adora quando a mulher desembestava a falar daquela maneira, era lindo, quase como se ela estivesse declamando um poema toda vez que abria a boca. Podia estar ela falando sobre sua posição na sociedade atual ou sobre a receita de uma sopa nova que encontrou na internet. O efeito sobre ele e como sua alma se sentia em paz vendo a mulher somente existindo era realmente surreal. Se sentia conectado a ela, desde o primeiro contato naquela festa na casa da amiga em comum deles há dois anos trás, desde lá sempre se sentia daquela forma quando estava com ela.
Sentia que, com , podia se abrir total e visceralmente. Conseguia falar sobre seus medos, anseios, planos, desejos, e tudo sobre qualquer coisa que dizia respeito a ele e a quem ele era, foi e desejava ser no futuro. Não entendia como conseguia ser assim com uma pessoa que, na época, tinha acabado de conhecer, não se abria daquela maneira nem para o melhor amigo ou seus psicólogos. E aquilo com certeza ajudou a curar seus monstros, ajudou a fechar o buraco que tinha dentro de seu peito e preencher com luz. Aprendia dia a dia ao lado dela a ser luz, a se iluminar e iluminar todos a seu redor. Sabia que a mulher se sentia de forma semelhante, pelas conversas e por tudo que ela se sentia à vontade de dizer e expressar pra ele, como se eles não conseguissem não ser transparentes um com o outro. Claro que, como todo casal, tinham pontos de vista diferentes às vezes e discussões aconteciam, mas o amor que genuinamente sentiam um com o outro era algo que nenhum sinônimo poderia definir.
― Sei, meu amor, inclusive, eu consegui alguns dias de folga. ― Ele deu um beijo longo no pescoço dela. ― Vou conseguir ir com e te ver lá, pelo menos no primeiro final de semana.
― Ai que maravilha, meu amor. ― Ela beijou os lábios dele em um selar, em comemoração à boa notícia. ― Isso me anima tanto, estou realmente trabalhando duro para apresentar todo o evento durante os três finais de semana de duração, vou precisar de todo apoio possível.
tinha se estabilizado na Ásia desde que colocou os pés lá pela primeira vez. Era uma ótima profissional no ramo de cosplayers no Brasil, e quando levou sua arte para a Ásia, que era onde a “febre” cosplayer tinha atingido níveis que nenhum outro país, nem mesmo os Estados Unidos, de onde se originou a prática atingira. Como teve boa aceitação na indústria lá, conseguiu moradia fixa na Coréia e, mesmo que a maioria dos eventos fossem no Japão e outros países vizinhos de onde estava, não achava ruim, e nem pensava em se mudar do país para outro com mais atividades, por exemplo. Estava perto dos novos amigos, da melhor amiga que já vivia há alguns anos ali e namorava um homem incrível, que nem se quisesse conseguia se afastar mais.
― Você vai se sair muito bem, . Você é incrível. ― segurou o rosto da namorada com uma das mãos e trouxe o rosto dela para mais perto do seu, iniciando um beijo, lento e calmo, sentindo cada centímetro daquela boca que tanto amava, com gostinho de cappuccino. Quantas vezes não sentiu aquele gosto naqueles lábios e a cada novo beijo, era como se fosse um sabor totalmente diferente e único. Era ela que transformava tudo em algo, praticamente mágico.
se empolgou com o beijo, colocando seu copo de qualquer jeito sobre a mesa, sem ver, pois estava de olhos fechados e assim que desocupou as mãos, as enfiou nos cabelos do amado, puxando de leve enquanto mordiscava seus lábios durante o beijo.
Quando o ar faltou, os dois separaram os lábios e respiraram fundo, olhando bem dentro dos olhos um do outro. Era muito confortável aquilo. Eles se encontravam nos olhos um do outro, eles se amavam pelo olhar, eles se sentiam, com a conexão
― Você está me distraindo, . ― Ela disse, rindo e ajeitando a postura ainda sobre o colo dele.
― Não foi minha intenção, meu amor, mas que culpa eu tenho se essa sua boquinha é tão irresistível. ― Ele disse, hipnotizado nos lábios levemente vermelhos e inchados pela intensidade do beijo que tinham acabado de dar, quase sussurrando as palavras.
― Para com isso. ― Ela escondeu o rosto nas mãos, fazendo com que o rapaz soltasse uma risadinha baixa.
― Mas eu não fiz nada. ― Ele disse, com humor na voz e ela tirou as mãos de seus olhos, só para admirar aquele sorriso tão maravilhoso que o rapaz dava.
― Está sim, está tentando me seduzir. Eu tenho uma coisa séria pra te falar, podemos deixar nossa tentativa de prover um herdeiro para o grande império pra mais tarde. ― Deu uma piscadinha e assim que terminou de falar, caiu na risada, quando viu a cara de pânico do rapaz. ― Meu deus, sua cara é sempre sensacional. ― Ela não conseguia parar de rir.
― Eu quero filhos, não pense que não, mas acho que não estou preparado agora e…
― Shh. ― Colocou o dedo sobre a boca dele, para que ficasse quieto. ― Já tivemos essa conversa, . Não precisa surtar assim. ― Deu um breve selar nos lábios dele. ― Enfim, eu acho que achei a definição para todo esse nosso lance, gatinho.
― Eu jurava que a definição, definitivamente, era “namoro”, . ― Ele viu a namorada revirar os olhos e riu de toda aquela cena, aquela expressão de “você é patético” nunca perdia a graça.
― Eu to ficando cansada dessa relação, . ― fingiu estar revoltada e cruzou os braços, fechando a cara.
― Você não teria coragem de largar um homem tão lindo, inteligente e cheiroso como eu. ― Ele fez um biquinho.
― Quer apostar quanto? ― Ela continuava séria.
― Que isso, meu amor. ― Ele riu ― Pra que essa agressividade toda. ― Viu o lábio dela se mexer em menção a uma risada. ― Diga, minha preciosidade terrestre, o que foi que essa cabecinha tão esperta e linda, concluiu para nossa relação. ― A voz dele era confortável aos ouvidos dela. E o coração dela sempre se rendia quando ele falava assim.
― Não é bem sobre a nossa relação, quer dizer é, sei lá. ― finalmente se rendeu e riu. ― Seguinte, eu vou te explicar o que eu descobri sobre Twin Flames e você me diz o que te lembra, pode ser? ― Os olhos dela estavam ansiosos pela resposta do maior, e ele era simplesmente apaixonado por aquilo, como era por tudo que vinha dela. Eram momentos como aqueles que ele entendia exatamente como o melhor amigo se sentia com a namorada e porque ele ficava tão bobão de olhos sempre brilhantes. Era daquilo que se tratava: amor, o mais profundo e ardente amor.
― Tá bom, minha linda, sou todo ouvidos. ― Ele pegou a bebida de cima do móvel e tomou mais um gole, direcionando a atenção toda para a namorada.
― Twin Flame, ou chama gêmea, como você quiser chamar é basicamente uma mesma energia, digamos divina, ou cósmica dividas em dois corpos diferentes. ― Era difícil pra definir aquele fenômeno, havia passado horas e horas lendo sobre o assunto e ficou feliz e espantada com os sinais claramente iguais às coisas que ela sentia e que eles viviam, mas realmente achar uma definição básica, era muito muito difícil. ― Tipo um encontro energético, sabe, tipo o yin yang da mesma centelha “divina” na terra. ― Olhou para o rosto do namorado, que parecia pensativo tentando entender o que a menor dizia.
― Centelha? Tipo faísca? ― Ele estava tentando compreender tudo, mas não estava obtendo muito êxito. ― Somos tipo forças opostas que precisam umas das outras para existir?
― Sua Twin Flame é como se fosse seu ponto de equilíbrio mais “perfeito” no mundo todo, tipo yin yang. Acho que somos uma mesma energia dentro de dois corpos diferentes, e assim que nos encontramos nos completamos de alguma forma, bom pelo menos foi assim que eu me senti. Veja bem. ― Ela abriu um site no computador que estava ligado a frente deles. ― Aqui nesse artigo tem alguns sinais de que se encontrou sua chama gêmea e eu me identifiquei com tudo aqui, e nos outros oito sites que eu entrei durante minha pesquisa.
se ajeitou melhor embaixo de , para que conseguisse ler todo o artigo e pontos que ele assim como ela conseguisse se identificar.
“Este ser entra na sua vida e, em um primeiro momento, o mundo para e se sente como se estivesse em casa. Se sente feliz, em paz e harmonia, confortável com aquela presença. Perto dele/a tira suas máscaras, baixa a sua guarda, mostra as suas vulnerabilidades e consegue finalmente ser quem realmente é, sem medo, culpa, ou qualquer tipo de tabu. Há um reconhecimento imediato, daquela sua parte divina. Um sentimento muitas vezes assustador, por ser tão repentino e até mesmo irreal, mas isto é real e é sentido por ambos os envolvidos.”
Ele leu o trecho em voz alta, sentindo seu coração pular no peito, poderia ser muita coincidência, mas aquilo era realmente assustador. Mostrava como ele se sentiu aquela primeira vez que colocou seus olhos na mulher. Ficou longos minutos lendo e relendo alguns pontos, e, dentro dele, entendeu do que se tratava.
― Então, quer dizer que somos almas gêmeas? ― Ele perguntou, encostando a cabeça nas costas de , e fazendo uma espécie de carinho estranho no local com a cabeça.
― Não, acredito que somos Twin Flames, você não escutou o que eu disse? ― Ela se contorcia pelas leves cócegas que sentia nas costas.
― Pra mim, parece meio que é tudo a mesma coisa. ― parou de esfregar a cabeça nas costas dela ficou prestando a atenção na mulher.
― É diferente, amor, porque quando é Twin Flame as duas partes sentem instantaneamente que tem uma conexão, enquanto os soulmates sentem ligação também, mas pode essa ligação geralmente é sentida e até mesmo cultivada gradualmente e há sofrimentos e obstáculos muitas vezes pra esse encontro. Já os Flames é algo que BAM acontece. É algo bom, sem dores do "passado". Só amor latente como se fosse parte de sua alma que te reencontrou, a parte que faltava pra você se sentir completo. ― falava animada sobre o assunto, notou que ela provavelmente tinha passado tempo demais estudando sobre os infinitos fenômenos cósmicos para chegar à conclusão de que eles eram verdadeiras chamas gêmeas. ― É uma sensação como de "amor à primeira vista", mas vai ser algo mais forte e talvez seja um sentimento que não se vai entender, sabe? Como poder sentir aquilo por alguém que acabou de conhecer? E essa pessoa vai te fazer se abrir pra ela e "curar" sua alma, se assim podemos dizer. Sabe, te ajudar a enfrentar suas dores e medos.
― Você fica tão linda falando essas coisas. Seus olhos brilham. Você toda ilumina como se fosse um bastão de luz. ― disse, assim que a mulher parou de falar.
― Meu Deus, . ― Ela se sentiu brevemente encabulada, sabia que o namorado jogava elogios do nada, mas nunca se acostumava com aquilo.
― É só a verdade, minha Twin Flame, eu estou muito feliz por termos essa conversa. Sabe, eu me senti desse mesmo jeito quando te vi pela primeira vez. Foi um sentimento diferente de tudo o que eu senti nessa vida. Você iluminou a minha escuridão, se tornou estrela no meu céu noturno e meu sol trazendo claridade a meus dias nebulosos, eu nem tenho dimensão do quanto você me fez e faz bem, sabe? Mesmo se não formos isso, ou se formos, com ou sem definição, eu sei que eu te amo e que eu quero te ver bem, te fazer bem e te fazer feliz. ― Ele olhou nos olhos da namorada, que estavam marejados.
― Que saco, , eu nunca vou me acostumar com isso! Você é perfeito. ― secou algumas lágrimas que insistiam em rolar de seus olhos.
― Eu tô longe de ser perfeito, meu amor. ― Ele acariciou de leve a bochecha dela.
― É perfeito pra mim e pronto. É meu gatinho, meu lindo, meu neném, meu amor, meu Twin Flame. ― O sorriso nos lábios dela era enorme e ele só conseguia se sentir em casa, quando o via tão genuíno e largo.
― Eu te amo, minha gatinha. ― Ele puxou de leve o rosto dela, para que ficasse mais perto do dele.
― Eu te amo, meu gatinho; ― Ela iniciou mais um beijo dessa vez mais intenso e com segundas intenções.
Podiam ser Twin Flames, soulmates, karmics connections ou o que fosse. Podiam não ser nada daquilo, mas ele tinham a plena certeza de que eram apaixonados um pelo outro, de uma forma que nunca tinham sentido antes na vida. Se transbordavam, se faziam bem, se sentiam em casa, se entendiam como ninguém, e o mais importante de tudo. Eles se amavam.
¹ Akai Ito é uma lenda japonesa, mais conhecida como “lenda do fio vermelho”, que diz que as pessoas são ligadas pelo destino com fios vermelhos em seus mindinhos, e não importa distância ou quanto tempo leve, quando for necessário as duas pessoas conectadas por esse fio vão se encontrar e viver um história juntos.
Na verdade, o homem por trás de , , não pensava daquela maneira. Claro que ele era perdidamente apaixonado pela música, por escrever coisas tão viscerais e por todo dinheiro que ele ganhava com aquilo. Mas não se sentia um artista por aquilo. Muitas vezes pensava que qualquer um com sorte poderia e estaria no futuro no lugar dele.
Chegar até ali não foi fácil. Demorou quase dez anos para ele ter os grandes carros, grandes casas, grande jóias e tudo o que seu cartão black poderia comprar, sem que ele se preocupasse em como pagaria por todas aquelas coisas, como ele cantava que queria ter, nas músicas do início da carreira. E a caminhada até ali foi dolorida, então ele aceitava que todas aquelas conquistas eram uma compensação por todo sofrimento e batalhas que enfrentou até ali.
Quando era mais novo, fazendo seu rap underground pelas ruas e clubes em Daegu, pensava que quando chegasse ao topo com a sua música, finalmente se sentiria pleno e aquele vazio que sentia dentro de si, desde que se entendia por gente iria ser preenchido e ele conseguiria ser plenamente feliz. Mal sabia ele que a escalada até lá só o deixaria mais triste e rancoroso. Não é como se ele não tivesse momentos de felicidade ou que odiasse todo mundo. Ele tinha e ele amava algumas pessoas. Mas a cada degrau que subia, se sentia mais distante da paz interior.
Vivia de um amor, mas não se sentia em paz com nada na vida. Por muitas vezes se sentiu mal por se sentir daquela forma. Oras, quanta sorte ele tinha! Seguiu seus sonhos, conquistou mais do que um dia almejou, lá atrás com seus 16 anos, era mundialmente conhecido, tinha levado a música sul-coreana para fora do país, popularizando e abrindo caminho para que outros artistas do mesmo movimento e de outros, oriundos do país, pudessem ter vez e voz. Era um ícone, tinha todas as coisas que sempre quis, sua voz era finalmente ouvida e traduzida para que milhares de pessoas pudessem ouvir. Não entendia como era um fodido das idéias de não se sentir preenchido com aquelas coisas.
Ah! A verdade é que só pensava em uma coisa. Nunca chegou a desfocar dessa paixão e talvez achar algo complementar, que o faria sentir da forma que ele tanto ansiava, da forma que sua alma tanto precisava. Não entendia, não procurava entender, talvez fosse obrigado a passar por aquilo como um karma.
― , . ― parou na porta do estúdio do melhor amigo, fechando-a rapidamente quando viu a situação em que o amigo se encontrava.
tinha a senha da porta por motivos de: alguém precisar socorrer em alguma emergência, já que ninguém mais da produtora ter o código desse acesso. O rapaz era muito reservado e detestava que mexessem nas suas coisas e ou projetos sem sua permissão. Claro que o mais novo não usava a senha só para emergências como tinha sido o combinado, qualquer que fosse o momento que ele julgasse apropriado simplesmente invadia o local.
― ! O que é que aconteceu? ― se aproximou do amigo que estava encolhido em um canto do local tremendo um pouco e chorando muito.
sabia do que se tratava e, mesmo o amigo tendo acompanhamento e as crises tendo melhorado muito, ele ainda tinha alguns episódios como aquele. A saúde mental de todas as pessoas que tentavam a sorte com o entretenimento naquele país era uma questão delicada, e , que já não vinha de um histórico muito positivo para aquilo, não saiu ileso, de toda a pressão e cobrança.
― Eu tô bem, , só preciso ficar sozinho. ― Ele respirava com dificuldade entre as palavras.
― Meu ovo que vai ficar sozinho. ― O mais novo disse. ― Tomou seus remédios hoje? ― Ele questionou, mexendo no armário de coisas do mais novo.
― Aquela merda não me faz bem, . Eu me odeio ainda mais quando tomo aquela merda e fico dopado igual a um doente e não consigo trabalhar. ― O choro dele tinha diminuído um pouco.
― Você não conversou com seu médico sobre a dosagem, ? ― perguntou em um tom de reprovação e, desistindo de encontrar os remédios, pegou uma garrafa de água e foi até o amigo.
― Não e nem vou. Eu não vou ficar tomando remédio já te disse. ― A respiração dele estava voltando a ficar acelerada. ― Eu quero viver como uma pessoa normal, que saco.
― Toma aqui um pouco de água. ― enfiou a garrafa nas mãos trêmulas do amigo. ― E você tem a chance de viver uma vida melhor se seguir com o tratamento. ― Seu semblante era sério, sabia que o amigo odiava aquilo e que era teimoso como uma mula, mas precisava que o mais velho entendesse que aquilo era necessário.
― Eu não tenho recaídas com freqüência, , fica tranquilo. ― disse mais calmo, menos agressivo e estava parando de tremer.
― Eu sei, irmão, mas você sabe que não é assim que a banda toca. ― Ele se sentou ao lado do amigo e abraço o corpo de com um dos braços, passando pelos ombros. ― É aquele vazio de novo?
― Como sempre. É a minha escuridão eterna, meu buraco negro que nunca consegue se satisfizer com merda nenhuma nessa vida. ― Ele respirou fundo, bebendo mais água. ― Fui nomeado a mais uma premiação internacional hoje de manhã, a qual eu sempre quis participar e essa merda desse sentimento de vazio está me machucando tanto, . ― Ele voltou a chorar e apoiou o rosto no ombro amigo que o abraçou, apertado com os dois braços agora. ― Eu sinto muito, , de verdade. Se eu pudesse eu tirava essa merda toda de dentro de você. ― foi doce com o amigo e ficou lá o abraçando, enquanto o mais velho soluçava.
Depois de alguns minutos em um silêncio acolhedor e choros constantes, estava muito melhor, já não chorava mais e seu coração estava batendo de forma regular. Estavam esperando a comida que pediu para os dois, estava ficando tarde e muito provavelmente o mais velho não tinha se alimentado bem naquele dia. Conhecia o amigo muito bem.
― Ah, lembrei! ― disse com a boca cheia de frango.
― O que, doido? ― riu com a cara de pane que o amigo fez.
― O que eu vim fazer aqui. ― Ele engoliu a comida e bebeu um pouco do seu refrigerante.
― Ah, é! Achei que tinha virado telepata. ― O mais velho continuou sorrindo, e adorou ver o mais velho melhor.
― Babaca. Não é nada disso. ― O mais novo jogou um osso de frango em .
― Você vai limpar essa merda. ― resmungou.
― Vai me deixar falar, ou tá difícil? ― estava com vontade de socar o amigo agora.
― Tá, tá sem gracinha. Diz logo. ― Ele enfiou um pedaço grande de frango na boca, direcionando toda a atenção para o maior.
― vai dar uma festinha sábado a noite. ― O sorriso nos lábios do mais novo, semi enjoava .
― E? ― Ele disse como se aquilo fosse pouco irrelevante e era mesmo, afinal, inventava qualquer motivo para fazer reuniõezinhas para encher a cara. A mulher bebia mais que um opala.
― E você vai. ― disse como se aquilo fosse óbvio.
― Vou? ― olhou, confuso. Adorava a nova namorado do melhor amigo, ela era realmente uma mulher incrível, lutava boxe, era personal treiner do grupo do amigo, tinha um gosto musical maravilhoso e ainda criava um coelho como se fosse seu filho. Um ser humano realmente incrível e fazia o mais novo feliz, que era realmente o que mais importava. Mas ele detestava locais com muitas pessoas. e eram sociáveis demais para o gosto dele.
― Vai! vai dar essa festa de boas vindas para a melhor amiga dela, que está vindo do Brasil para passar alguns meses por aqui, pra divulgar o trabalho dela e ela me garantiu que vocês precisam se conhecer. ― tinha os olhinhos de jabuticaba brilhando como se existissem galáxias ali. Era assim que ele ficava sempre que falava da namorada: infinitamente apaixonado, como ele mesmo se denominava.
― Lá vem querer dar uma de cupido pra cima de mim, outra vez. Vocês não cansam não? ― disse, pegando o último pedaço de frango do prato de e enfiando na boca.
― Hey, meu frango. ― O mais novo protestou. ― E sim, você sabe que aquela mulher não vai sossegar. ― Ele riu. ― Vai, por favor, só um pouquinho. Você distrai a mente, deixa a feliz e de quebra ainda acaba por virar amigo de uma cosplayer super famosa lá do Brasil.
― Nem tem como te dizer não, não é? ― revirou os olhos. ― Você não vai me deixar em paz mesmo... Então eu vou, as só por uma hora ou duas, e você fica me devendo uma. Acha que vai usar do meu corpinho pra deixar seu relacionamento feliz, assim de graça?
― Mas é um mercenário mesmo, viu... ― se levantou, recolhendo a bagunça que fez e as embalagens vazias e jogou tudo no lixo. ― Vamos embora!
― Vamos quem? Eu ainda preciso trabalhar. ― disse, soltando uma risada debochada.
― Nananinanão, o senhor vai embora comigo, nem que eu tenha que te arrastar pelos cabelos. Vai descansar e amanhã, se eu estiver de bom humor, deixo você vir trabalhar.
― Era só isso que me faltava mesmo, um pirralho de dois anos de idade me falar o que eu posso ou não fazer! ― Ele disse, rindo e pegando suas coisas que estavam espalhada pelo lugar.
― Não vou discutir esse tipo de coisa com você, , vou aproveitar que eu nunca passo frio, porque estou coberto sempre de razão e evitar a fadiga.
Os dois caíram na risada e saíram do lugar, cada um indo para a sua casa.
SÁBADO À NOITE…
não sabia por que deixava que o mais novo influenciasse tanto em sua vida. Era sempre assim, ele abria aqueles olhos brilhantes de jabuticaba e a palavra não ou qualquer outra com conotação negativa sumiam do seu vocabulário. Talvez fosse porque o mais novo foi um dos primeiros amigos que ele conheceu quando se mudou ou somente pelo fato dele gostar do outro como um irmão. Mas ele sempre conseguia o que queria com o mais velho. Olhou para o grande prédio de apartamentos em que a personal morava e suspirou. Entrou e, como sempre, sem precisar ser anunciado, subiu até o andar onde a mulher dividia com as amigas. Não que o apartamento delas fosse enorme, mas elas com certeza sabiam otimizar o espaço do lugar. E como ela marcou ali, ele tinha certeza ainda maior que seria uma reunião pequena mesmo, como tinha dito. De qualquer maneira, depois daquela semana extremamente maçante, estressante e desgastante, uma festa por menor que fosse, era o último lugar onde queria estar. Mas a vida nem sempre era como ele queria.
Em uma de suas mãos carregava uma garrafa de whisky, pois, se ia ter que conviver com outros seres humanos, o faria na presença de seu álcool favorito. Deu uma batida na porta do apartamento com a mão livre, mesmo com uma campainha, que até ele julgava ser a melhor opção para anunciar a chegada de alguém, gostava de bater em portas, era uma de anunciar que ele tinha chego, já que quase ninguém mais fazia aquele tipo de coisa.
― O chegou! ―Ele ouviu a voz de gritar ao longe.
― Cadê? ― Escutou perguntar confuso.
― Vai atender a porta, menino. ― Ouviu a voz de outra vez.
― Mas eu não ouvi a campainha ou o interfone, amor, você já tá bêbada? ― Escutou o amigo falar e abriu um sorrisinho. Sabia que ia “apanhar” da namorada por ser lerdo e falar aquele tipo de coisa.
― Ai, , sai da minha frente, vai. ― Um barulho de pano sendo batido em alguma coisa foi escutado.
― AAAAAU. ― protestou.
― O melhor amigo é seu, e você nem sabe das manias de velho dele? Me poupe! ― Ele ouviu a voz da mulher se aproximando da porta.
― Você sabe que dá pra ouvir tudo aqui de fora, né? ― Foram as primeiras palavras que saíram da boca dele.
― Não é como se fosse mentira, né, ? ― respondeu sorridente.
― Touche! ― Ele deu seu característico meio sorriso e estendeu a mão que segurava a bebida para ela.
― Entra, neném. ― Ela pegou a bebida da mão dele e deu passagem para que ele passasse. ― Você chegou cedo. As meninas estão se arrumando e eu, como já nasci naturalmente linda, estou só terminando de arrumar algumas últimas coisas. ― O sorriso no rosto de podia iluminar facilmente toda a cidade.
― Quer ajuda? ― Ele perguntou depois de tirar seus sapatos e esperar que ela fechasse a porta atrás de si.
― Não, meu amor, muito obrigada, eu só estou pegando os copos e deixando as comidinhas da próxima rodada fáceis para qualquer um de vocês pegar depois. ― Ela mandou um beijinho no ar e desapareceu para a copa do apartamento.
seguiu para a sala e viu os amigos amontoados na frente do notebook, provavelmente montando a playlist do evento. Já estavam por lá os outros três rapazes que faziam parte da banda em que cantava e pelo que o mais novo havia dito pra ele por mensagem durante aquela semana, só estava faltando o namorado de uma das amigas de pra chegar e é claro, como tinha dito antes, as duas amigas que dividiam o lugar com ela e a amiga do Brasil, que estavam se arrumando.
― Espero que no mínimo tenha nessa playlist de vocês. ― disse chamando a atenção do grupo de rapazes pra si.
― Ah, , música ruim só passamos no final da festa. ― O guitarrista da banda de disse, rindo.
― Mas, eu disse , e não The Rabbits pra você falar isso, pode ficar tranquilo. ― Ele devolveu no mesmo tom, zombando da música que a banda fazia.
― , onde está seu... ― ouviu uma voz desconhecida e se virou – no que em sua mente aconteceu em câmera lenta em direção ao timbre que chamou tanto sua atenção. ― , onde está ? ― O coreano dela era impecável, assim como seus cabelos ruivos, ondulados por algo que ela tinha passado no cabelo. ― Na cozinha, . ― disse cortês para a mulher de estatura muito menor que a dele, que passou como um raio por sua visão, indo até o local indicado pelo mais novo.
A imagem da mulher parada, fazendo simplesmente nada ficou grudada em sua mente. Mesmo tento sido só por poucos segundo que ele tinha colocado seus olhos nela, sua mente simplesmente congelou naquele momento e ele ficou ali, no mesmo lugar e posição, simplesmente paralisado. Era estranho demais tudo aquilo pra ele. Quantas pessoas novas já não encontrou na vida? Que sensação diferente era aquela?
― Estava na minha maleta ― disse, indo até a sala acompanhada da amiga.
― Eu não achei lá junto com as outras coisas. ― A mulher disse, sorrindo.
― , você viu meu rímel? ― perguntou, quando finalmente adentrou o cômodo.
― Acho que está na sua bolsa, meu amor! ― O rapaz disse, sem tirar os olhos do aparelho eletrônico.
― Ah é. ― Ela disse, enxugando as mãos no pano de prato que carregava no ombro. ― Sabia que tinha esquecido alguma coisa na minha make. ― Riu.
― Mas, você tá linda, minha filha! Esses cílios postiços são maravilhosos, nem precisa de rímel. ― A amiga comentou, dando um cutucãozinho de leve nela.
― Eu senti tanto a sua falta, sua quenga maravilhosa. ― disse, abraçando a amiga de lado, apertado.
― Eu também, principalmente desses insultos gratuitos. ― Elas caminharam, ainda abraçadas, em direção aos quartos.
― Ah, , quero te apresentar a minha neném. ― abriu seu grande sorriso. ― Essa é a , acho que o já disse dela pra você. esse é o . ― Direcionou sua atenção para os dois.
― Meu Deus, , você conhece todos os famosos da Coréia, é? ― Foi a primeira coisa que saiu da boca da amiga depois das apresentações.
― Então, você sabe quem eu sou? ― perguntou meio tímido. Era surreal pensar que pessoas do outro lado do mundo conhecesse seu trabalho a ponto de o reconhecer, mesmo que estivesse tão informal e despojado.
― Quem não conhece o Grande ? ― disse, gentil.
― É ótimo que você conheça o , até porque lenda atemporal. Graças a Deus vivemos na mesma geração que o grande gênio. Maaaas, aqui, debaixo desse teto e em todas as outras vezes que estivermos vivendo socialmente, ele é só , um idoso preso no corpo de um dos caras mais incríveis que a vida me deu de presente. ― disse de forma terna e passou uma das mãos pelo braço do amigo, deixando um pequeno carinho ali. Sabia que a amiga não iria ficar tietando o rapaz, mesmo ele sendo um dos artistas preferidos dela do mundo e ela tendo aquele papo de almas ligadas que ela sempre falava pra , que mesmo acreditando muito nessas coisas só ria e esperava pelo momento de apresentar os amigos. Mas, ela sabia também que o rapaz, mesmo amando ser e fazer o que fazia, gostava e precisava de gente ao seu redor que o fizesse se sentir o mais “normal” possível. prezava muito por aquilo, sabia como toda aquela pressão era desgastante para o homem.
― Lógico, isso é essencial. Eu só não queria parecer uma pessoa desesperada que a amiga disse que ia apresentar um cara e ela já sabendo tudo sobre alguém que nunca teve contato antes. ― disse, rindo da cara de choque que fez com aquele comentário. Provavelmente não era só com ela que tentava bancar o cupido.
― Eu não me incomodo. ― disse, sorrindo. ― Bom que você já conhece parte de mim, espero que tenhamos tempo para nos conhecermos mais. ― Ele continuou com o sorriso lindo no rosto.
― Espero que ter a oportunidade de conhecer todas as suas partes importantes. ― disse, sorrindo também.
só conseguia focar em como os olhos dela eram lindos. Ele encontrou infinitas galáxias neles e quase nunca via aquilo, ainda mais assim, de primeira. Ela como se ele encontrasse eles o caminho do seu lar, era estranho demais, mas ele amou sentir aquilo.
Depois daquela breve apresentação, as duas entraram para o quarto e tão logo todos já estavam juntos na sala, escutando boa música, bebendo, comendo e conversando. Todo mundo que conhecia , já tinha ouvido falar de , pelo menos uma vez na vida, e ela era realmente uma pessoa especial e encantadora e ali observando tudo. pode constatar que ela era uma mulher incrível, a luz que emanava dela era tão forte, que ele sentia mesmo que por alguns instantes, que a escuridão que tomava conta de seu corpo boa parte do tempo, sumira, ele não conseguiria explicar aquela sensação, nem se quisesse.
― Twin Flames. ― disse animada, entrando no estúdio de . ― Oi? ― Ele desfocou dos emails que estava respondendo e viu a mulher, em um vestido florido de fundo azul royal e os fios ruivos de seu cabelo amarrados em um alto rabo de cavalo, segurando um suporte de papelão com duas bebidas.
― Oi, meu amor. ― Ela sorriu gentil e deu um breve selar nos lábios dele. ― Aqui, seu americano gelado. ― Entregou a bebida pra ele.
― Obrigado, minha linda, mas o que te trouxe aqui e que papo é esse de Win Flames? ― Ele deu um gole em sua bebida e agradeceu mentalmente pela mulher aparecer ali. Estava com a cabeça cheia de trabalho, precisava se distrair um pouco e não ia conseguir sozinho.
― Não é win, é Twin, seu bobão, nunca ouviu falar? ― tirou seu cappuccino do suporte e jogou o mesmo no lixo, segurando o copo com sua bebida firme para que não o derrubasse no chão. Se sentou no colo do namorado depois que terminou o que fazia e encheu o rosto dele com beijinhos.
― Não? ― A resposta dele saiu mais como uma pergunta retórica do que como uma afirmação. ― Por que minha linda namorada, que eu absolutamente amo, veio no meu trabalho sem avisar e trouxe meu café favorito com ela e o que esse tal de twin flame tem a ver com isso? ― Ele colocou o copo sobre a mesa, passando a mão recentemente livre pelo rosto da mulher, enquanto a outra mão descansava em cima de uma das coxas dela.
― Eu já tinha ouvido falar antes, mas brevemente e você sabe que eu estou estudando um novo cosplay pro evento de akai ito¹, que vai ter no Japão dentro de alguns meses, né? ― Ela olhava nos olhos dele, quase se perdendo em sua boca. ― E como eu já estava envolvida nesse tema, pesquisei mais afundo sobre soulmates, karmics connections e twin flames, para saber as diferenças e por que eu gosto dessas coisas cósmicas e espirituais, você sabe. ― Respirou fundo, olhando os olhinhos deles quase se transformarem em dois risquinhos, com o sorriso que deu, enquanto ela fala.
adora quando a mulher desembestava a falar daquela maneira, era lindo, quase como se ela estivesse declamando um poema toda vez que abria a boca. Podia estar ela falando sobre sua posição na sociedade atual ou sobre a receita de uma sopa nova que encontrou na internet. O efeito sobre ele e como sua alma se sentia em paz vendo a mulher somente existindo era realmente surreal. Se sentia conectado a ela, desde o primeiro contato naquela festa na casa da amiga em comum deles há dois anos trás, desde lá sempre se sentia daquela forma quando estava com ela.
Sentia que, com , podia se abrir total e visceralmente. Conseguia falar sobre seus medos, anseios, planos, desejos, e tudo sobre qualquer coisa que dizia respeito a ele e a quem ele era, foi e desejava ser no futuro. Não entendia como conseguia ser assim com uma pessoa que, na época, tinha acabado de conhecer, não se abria daquela maneira nem para o melhor amigo ou seus psicólogos. E aquilo com certeza ajudou a curar seus monstros, ajudou a fechar o buraco que tinha dentro de seu peito e preencher com luz. Aprendia dia a dia ao lado dela a ser luz, a se iluminar e iluminar todos a seu redor. Sabia que a mulher se sentia de forma semelhante, pelas conversas e por tudo que ela se sentia à vontade de dizer e expressar pra ele, como se eles não conseguissem não ser transparentes um com o outro. Claro que, como todo casal, tinham pontos de vista diferentes às vezes e discussões aconteciam, mas o amor que genuinamente sentiam um com o outro era algo que nenhum sinônimo poderia definir.
― Sei, meu amor, inclusive, eu consegui alguns dias de folga. ― Ele deu um beijo longo no pescoço dela. ― Vou conseguir ir com e te ver lá, pelo menos no primeiro final de semana.
― Ai que maravilha, meu amor. ― Ela beijou os lábios dele em um selar, em comemoração à boa notícia. ― Isso me anima tanto, estou realmente trabalhando duro para apresentar todo o evento durante os três finais de semana de duração, vou precisar de todo apoio possível.
tinha se estabilizado na Ásia desde que colocou os pés lá pela primeira vez. Era uma ótima profissional no ramo de cosplayers no Brasil, e quando levou sua arte para a Ásia, que era onde a “febre” cosplayer tinha atingido níveis que nenhum outro país, nem mesmo os Estados Unidos, de onde se originou a prática atingira. Como teve boa aceitação na indústria lá, conseguiu moradia fixa na Coréia e, mesmo que a maioria dos eventos fossem no Japão e outros países vizinhos de onde estava, não achava ruim, e nem pensava em se mudar do país para outro com mais atividades, por exemplo. Estava perto dos novos amigos, da melhor amiga que já vivia há alguns anos ali e namorava um homem incrível, que nem se quisesse conseguia se afastar mais.
― Você vai se sair muito bem, . Você é incrível. ― segurou o rosto da namorada com uma das mãos e trouxe o rosto dela para mais perto do seu, iniciando um beijo, lento e calmo, sentindo cada centímetro daquela boca que tanto amava, com gostinho de cappuccino. Quantas vezes não sentiu aquele gosto naqueles lábios e a cada novo beijo, era como se fosse um sabor totalmente diferente e único. Era ela que transformava tudo em algo, praticamente mágico.
se empolgou com o beijo, colocando seu copo de qualquer jeito sobre a mesa, sem ver, pois estava de olhos fechados e assim que desocupou as mãos, as enfiou nos cabelos do amado, puxando de leve enquanto mordiscava seus lábios durante o beijo.
Quando o ar faltou, os dois separaram os lábios e respiraram fundo, olhando bem dentro dos olhos um do outro. Era muito confortável aquilo. Eles se encontravam nos olhos um do outro, eles se amavam pelo olhar, eles se sentiam, com a conexão
― Você está me distraindo, . ― Ela disse, rindo e ajeitando a postura ainda sobre o colo dele.
― Não foi minha intenção, meu amor, mas que culpa eu tenho se essa sua boquinha é tão irresistível. ― Ele disse, hipnotizado nos lábios levemente vermelhos e inchados pela intensidade do beijo que tinham acabado de dar, quase sussurrando as palavras.
― Para com isso. ― Ela escondeu o rosto nas mãos, fazendo com que o rapaz soltasse uma risadinha baixa.
― Mas eu não fiz nada. ― Ele disse, com humor na voz e ela tirou as mãos de seus olhos, só para admirar aquele sorriso tão maravilhoso que o rapaz dava.
― Está sim, está tentando me seduzir. Eu tenho uma coisa séria pra te falar, podemos deixar nossa tentativa de prover um herdeiro para o grande império pra mais tarde. ― Deu uma piscadinha e assim que terminou de falar, caiu na risada, quando viu a cara de pânico do rapaz. ― Meu deus, sua cara é sempre sensacional. ― Ela não conseguia parar de rir.
― Eu quero filhos, não pense que não, mas acho que não estou preparado agora e…
― Shh. ― Colocou o dedo sobre a boca dele, para que ficasse quieto. ― Já tivemos essa conversa, . Não precisa surtar assim. ― Deu um breve selar nos lábios dele. ― Enfim, eu acho que achei a definição para todo esse nosso lance, gatinho.
― Eu jurava que a definição, definitivamente, era “namoro”, . ― Ele viu a namorada revirar os olhos e riu de toda aquela cena, aquela expressão de “você é patético” nunca perdia a graça.
― Eu to ficando cansada dessa relação, . ― fingiu estar revoltada e cruzou os braços, fechando a cara.
― Você não teria coragem de largar um homem tão lindo, inteligente e cheiroso como eu. ― Ele fez um biquinho.
― Quer apostar quanto? ― Ela continuava séria.
― Que isso, meu amor. ― Ele riu ― Pra que essa agressividade toda. ― Viu o lábio dela se mexer em menção a uma risada. ― Diga, minha preciosidade terrestre, o que foi que essa cabecinha tão esperta e linda, concluiu para nossa relação. ― A voz dele era confortável aos ouvidos dela. E o coração dela sempre se rendia quando ele falava assim.
― Não é bem sobre a nossa relação, quer dizer é, sei lá. ― finalmente se rendeu e riu. ― Seguinte, eu vou te explicar o que eu descobri sobre Twin Flames e você me diz o que te lembra, pode ser? ― Os olhos dela estavam ansiosos pela resposta do maior, e ele era simplesmente apaixonado por aquilo, como era por tudo que vinha dela. Eram momentos como aqueles que ele entendia exatamente como o melhor amigo se sentia com a namorada e porque ele ficava tão bobão de olhos sempre brilhantes. Era daquilo que se tratava: amor, o mais profundo e ardente amor.
― Tá bom, minha linda, sou todo ouvidos. ― Ele pegou a bebida de cima do móvel e tomou mais um gole, direcionando a atenção toda para a namorada.
― Twin Flame, ou chama gêmea, como você quiser chamar é basicamente uma mesma energia, digamos divina, ou cósmica dividas em dois corpos diferentes. ― Era difícil pra definir aquele fenômeno, havia passado horas e horas lendo sobre o assunto e ficou feliz e espantada com os sinais claramente iguais às coisas que ela sentia e que eles viviam, mas realmente achar uma definição básica, era muito muito difícil. ― Tipo um encontro energético, sabe, tipo o yin yang da mesma centelha “divina” na terra. ― Olhou para o rosto do namorado, que parecia pensativo tentando entender o que a menor dizia.
― Centelha? Tipo faísca? ― Ele estava tentando compreender tudo, mas não estava obtendo muito êxito. ― Somos tipo forças opostas que precisam umas das outras para existir?
― Sua Twin Flame é como se fosse seu ponto de equilíbrio mais “perfeito” no mundo todo, tipo yin yang. Acho que somos uma mesma energia dentro de dois corpos diferentes, e assim que nos encontramos nos completamos de alguma forma, bom pelo menos foi assim que eu me senti. Veja bem. ― Ela abriu um site no computador que estava ligado a frente deles. ― Aqui nesse artigo tem alguns sinais de que se encontrou sua chama gêmea e eu me identifiquei com tudo aqui, e nos outros oito sites que eu entrei durante minha pesquisa.
se ajeitou melhor embaixo de , para que conseguisse ler todo o artigo e pontos que ele assim como ela conseguisse se identificar.
“Este ser entra na sua vida e, em um primeiro momento, o mundo para e se sente como se estivesse em casa. Se sente feliz, em paz e harmonia, confortável com aquela presença. Perto dele/a tira suas máscaras, baixa a sua guarda, mostra as suas vulnerabilidades e consegue finalmente ser quem realmente é, sem medo, culpa, ou qualquer tipo de tabu. Há um reconhecimento imediato, daquela sua parte divina. Um sentimento muitas vezes assustador, por ser tão repentino e até mesmo irreal, mas isto é real e é sentido por ambos os envolvidos.”
Ele leu o trecho em voz alta, sentindo seu coração pular no peito, poderia ser muita coincidência, mas aquilo era realmente assustador. Mostrava como ele se sentiu aquela primeira vez que colocou seus olhos na mulher. Ficou longos minutos lendo e relendo alguns pontos, e, dentro dele, entendeu do que se tratava.
― Então, quer dizer que somos almas gêmeas? ― Ele perguntou, encostando a cabeça nas costas de , e fazendo uma espécie de carinho estranho no local com a cabeça.
― Não, acredito que somos Twin Flames, você não escutou o que eu disse? ― Ela se contorcia pelas leves cócegas que sentia nas costas.
― Pra mim, parece meio que é tudo a mesma coisa. ― parou de esfregar a cabeça nas costas dela ficou prestando a atenção na mulher.
― É diferente, amor, porque quando é Twin Flame as duas partes sentem instantaneamente que tem uma conexão, enquanto os soulmates sentem ligação também, mas pode essa ligação geralmente é sentida e até mesmo cultivada gradualmente e há sofrimentos e obstáculos muitas vezes pra esse encontro. Já os Flames é algo que BAM acontece. É algo bom, sem dores do "passado". Só amor latente como se fosse parte de sua alma que te reencontrou, a parte que faltava pra você se sentir completo. ― falava animada sobre o assunto, notou que ela provavelmente tinha passado tempo demais estudando sobre os infinitos fenômenos cósmicos para chegar à conclusão de que eles eram verdadeiras chamas gêmeas. ― É uma sensação como de "amor à primeira vista", mas vai ser algo mais forte e talvez seja um sentimento que não se vai entender, sabe? Como poder sentir aquilo por alguém que acabou de conhecer? E essa pessoa vai te fazer se abrir pra ela e "curar" sua alma, se assim podemos dizer. Sabe, te ajudar a enfrentar suas dores e medos.
― Você fica tão linda falando essas coisas. Seus olhos brilham. Você toda ilumina como se fosse um bastão de luz. ― disse, assim que a mulher parou de falar.
― Meu Deus, . ― Ela se sentiu brevemente encabulada, sabia que o namorado jogava elogios do nada, mas nunca se acostumava com aquilo.
― É só a verdade, minha Twin Flame, eu estou muito feliz por termos essa conversa. Sabe, eu me senti desse mesmo jeito quando te vi pela primeira vez. Foi um sentimento diferente de tudo o que eu senti nessa vida. Você iluminou a minha escuridão, se tornou estrela no meu céu noturno e meu sol trazendo claridade a meus dias nebulosos, eu nem tenho dimensão do quanto você me fez e faz bem, sabe? Mesmo se não formos isso, ou se formos, com ou sem definição, eu sei que eu te amo e que eu quero te ver bem, te fazer bem e te fazer feliz. ― Ele olhou nos olhos da namorada, que estavam marejados.
― Que saco, , eu nunca vou me acostumar com isso! Você é perfeito. ― secou algumas lágrimas que insistiam em rolar de seus olhos.
― Eu tô longe de ser perfeito, meu amor. ― Ele acariciou de leve a bochecha dela.
― É perfeito pra mim e pronto. É meu gatinho, meu lindo, meu neném, meu amor, meu Twin Flame. ― O sorriso nos lábios dela era enorme e ele só conseguia se sentir em casa, quando o via tão genuíno e largo.
― Eu te amo, minha gatinha. ― Ele puxou de leve o rosto dela, para que ficasse mais perto do dele.
― Eu te amo, meu gatinho; ― Ela iniciou mais um beijo dessa vez mais intenso e com segundas intenções.
Podiam ser Twin Flames, soulmates, karmics connections ou o que fosse. Podiam não ser nada daquilo, mas ele tinham a plena certeza de que eram apaixonados um pelo outro, de uma forma que nunca tinham sentido antes na vida. Se transbordavam, se faziam bem, se sentiam em casa, se entendiam como ninguém, e o mais importante de tudo. Eles se amavam.
¹ Akai Ito é uma lenda japonesa, mais conhecida como “lenda do fio vermelho”, que diz que as pessoas são ligadas pelo destino com fios vermelhos em seus mindinhos, e não importa distância ou quanto tempo leve, quando for necessário as duas pessoas conectadas por esse fio vão se encontrar e viver um história juntos.
Fim
Nota da autora: OOOOOI GENTE, POIS É, SOU EU DE NOVO. Eu sei, eu sei, eu me enfiei em 136483 ficstapes quando eu jurei para mim mesma que nunca mais na minha vida faria isso, mas que culpa eu tenho se eu sou apaixonada por musicas e artistas incríveis? Pois é, esse álbum da Halsey é um hinário indiscutível e eu sou perdida de amor, então resolvi escrever duas musicas. Sugas interlude pra mim é muito importante, não só por eu ser ARMY, mas pela letra e por todos os sentimentos que eu tenho quando escuto, é simplesmente uma das minhas musicas preferidas do mundo todo, e é isso.
BOOOOM essa fic foi um presente para minha melhor amiga também, tava devendo uma estória para ela há muito tempo. CRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIS, MINHA COSPLAYER PREFERIDA DO MUNDO TODO, EU TE AMO, OBRIGADA POR AGUENTAR AS MINHAS LOUCURAS SEMPRE E SEMPRE
ps: Ah minha lista de fic vai estar ai embaixo, mas ela atualizada vocês podem achar, tanto no grupo de autoras de kpop que temos em conjunto com algumas autoras do site, clicando no icone do Facebook, quanto na minha pagina de autora aqui do site, que é só clicar no ficone com o F do Obsession. Meu tt ta sempre disponivel também, podem me gritar por lá, aqui pela caixa de comentarios ou onde me acharem kkkkkk
AH NÃO DEIXEM DE COMENTAR, ISSO É MUITO IMPORTANTE PARA SABERMOS SE ESTAMOS INDO PELO CAMINHO CERTO NESSA ESTRADA, AFINAL O PUBLICO É NOSSO MAIOR INCENTIVO. MAIS UMA VEZ OBRIGADA POR LEREM, EU AMO VOCÊS.
Caixinha de comentários: A caixinha de comentários pode não estar aparecendo para vocês, pois o Disqus está instável ultimamente. Caso queira deixar um comentário, é só clicar AQUI
Outras Fanfics:
SHORTFICS:
Baby How You Like That [Restritas – Kpop – Shortfics]
Baby, I Like You [Kpop – BTS – Shortfics]
Baby, I Want You Forever [Kpop – BTS – Shortfics]
Baby We Have A Happy Ending [Kpop – BTS – Shortfics]
Do What We Do [Kpop – Restritas - Shorthfics]
Eyes, Nose, Lips [Kpop – BigBang – Shortfics]
Put'em Up [Restrita – Outros – Shortfic]
FICSTAPES:
02. Teenager [Ficstape #104: GOT7 – 7 for 7]
02. Nobody’s Perfect [Ficstape #122: Jessie J – Who You Are]
03. Crazy 4 U [Ficstape #148 – Move – Taemin]
03. 잡아줘 (Hold Me Tight) [Ficstape #103: The Most Beautiful Moment in Life: Young Forever]
04. Até o Sol Quis Ver [Ficstape #137: Exaltasamba – Ao Vivo Na Ilha da Magia]
04. Clap [Ficstape #120: Seventeen: Teen, Age]
06. Good Day For A Good Day [Ficstape #108: Super Junior – Replay]
07. Magic Shop [Ficstape #133: BTS – Love Yourself 轉‘Tear’]
07. 소름 Chill [Ficstape #111 – EXO – The War]
07. Shift [Ficstape #112 – Shinee – 1 Of 1]
07. OI [Ficstape #149: Monsta X – Shine Forever]
07. Dengo [Ficstape #150: AnaVitória – AnaVitória]
08. Tonight (오늘밤; feat. Zico) [Ficstape #119: Taeyang: White Night]
09. Retro [Ficstape #168 – SHINee – The Story of Light]
10. Fire [Ficstape #103: The Most Beautiful Moment in Life: Young Forever]
11. I Want You [Ficstape #168 – SHINee – The Story of Light]
12. Undercover [Ficstape #168 – SHINee – The Story of Light]
16. Not Today [Ficstape #080: BTS – You Never Walk Alone]
MUSIC VIDEO:
MV Beautiful Liar [Music Vídeo - KPOP]
MV Darling [Music Vídeo - KPOP]
MV Sexy Trip [Music Vídeo - KPOP]
Nota de Beta:
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
BOOOOM essa fic foi um presente para minha melhor amiga também, tava devendo uma estória para ela há muito tempo. CRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIS, MINHA COSPLAYER PREFERIDA DO MUNDO TODO, EU TE AMO, OBRIGADA POR AGUENTAR AS MINHAS LOUCURAS SEMPRE E SEMPRE
ps: Ah minha lista de fic vai estar ai embaixo, mas ela atualizada vocês podem achar, tanto no grupo de autoras de kpop que temos em conjunto com algumas autoras do site, clicando no icone do Facebook, quanto na minha pagina de autora aqui do site, que é só clicar no ficone com o F do Obsession. Meu tt ta sempre disponivel também, podem me gritar por lá, aqui pela caixa de comentarios ou onde me acharem kkkkkk
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Outras Fanfics:
SHORTFICS:
Baby How You Like That [Restritas – Kpop – Shortfics]
Baby, I Like You [Kpop – BTS – Shortfics]
Baby, I Want You Forever [Kpop – BTS – Shortfics]
Baby We Have A Happy Ending [Kpop – BTS – Shortfics]
Do What We Do [Kpop – Restritas - Shorthfics]
Eyes, Nose, Lips [Kpop – BigBang – Shortfics]
Put'em Up [Restrita – Outros – Shortfic]
FICSTAPES:
02. Teenager [Ficstape #104: GOT7 – 7 for 7]
02. Nobody’s Perfect [Ficstape #122: Jessie J – Who You Are]
03. Crazy 4 U [Ficstape #148 – Move – Taemin]
03. 잡아줘 (Hold Me Tight) [Ficstape #103: The Most Beautiful Moment in Life: Young Forever]
04. Até o Sol Quis Ver [Ficstape #137: Exaltasamba – Ao Vivo Na Ilha da Magia]
04. Clap [Ficstape #120: Seventeen: Teen, Age]
06. Good Day For A Good Day [Ficstape #108: Super Junior – Replay]
07. Magic Shop [Ficstape #133: BTS – Love Yourself 轉‘Tear’]
07. 소름 Chill [Ficstape #111 – EXO – The War]
07. Shift [Ficstape #112 – Shinee – 1 Of 1]
07. OI [Ficstape #149: Monsta X – Shine Forever]
07. Dengo [Ficstape #150: AnaVitória – AnaVitória]
08. Tonight (오늘밤; feat. Zico) [Ficstape #119: Taeyang: White Night]
09. Retro [Ficstape #168 – SHINee – The Story of Light]
10. Fire [Ficstape #103: The Most Beautiful Moment in Life: Young Forever]
11. I Want You [Ficstape #168 – SHINee – The Story of Light]
12. Undercover [Ficstape #168 – SHINee – The Story of Light]
16. Not Today [Ficstape #080: BTS – You Never Walk Alone]
MUSIC VIDEO:
MV Beautiful Liar [Music Vídeo - KPOP]
MV Darling [Music Vídeo - KPOP]
MV Sexy Trip [Music Vídeo - KPOP]
Nota de Beta: