Roxo.
Roxo não costumava ser uma cor comum para estampar o céu, não? Pelo menos, eu nunca tinha visto.
Entre as árvores altas que estavam apenas com as silhuetas desenhadas na escuridão da noite, o infinito estava em tons esfumados de negro, roxo e lilás. Ou talvez eu só estivesse ficando louco, o que também era uma opção dada a situação que havia me metido, arrastado para um acampamento aleatório por meus melhores amigos porque, segundo eles, ela queria observar as estrelas do ponto mais indicado da cidade pelos guias turísticos antes de ter que ir embora.
Eu odiava acampar, não era novidade. Mas eu também odiava sair de casa e era obrigado a sair mesmo assim, então, provavelmente, na cabeça dos outros eu conseguiria suportar uma noite no meio do mato por um “bem maior”, palavras às quais eles mesmos haviam pronunciado em uma tentativa de que eu desfizesse a carranca infeliz que inconscientemente tomava minha expressão.
― Acho que não deveríamos estar aqui até tão tarde…
Murmurei quando uma brisa gélida atravessou a clareira que havíamos usado para montar as barracas, acender a fogueira e agora deitar sob a grama, e fez com que os pelos da minha nuca se arrepiassem. O fogo ainda estalava timidamente e quase completamente apagado, não era muito útil para esquentar daquela forma, mas eu sabia que estava com uma blusa pesada e não sentiria frio tão fácil. O lugar estava silencioso demais, e isso indicava que os meninos não estavam mais nos troncos comendo marshmallows como mais cedo, eu não precisava nem mesmo confirmar com meus olhos pra ter certeza.
pareceu voltar de um universo paralelo quando ouviu minha voz. De repente, aquele silêncio todo ao redor de nós se tornou massacrante, e pressionava o meu corpo contra o chão de uma forma assustadora. Eu só conseguia escutar a sua respiração que parecia ter entrado em modo automático, e ela por alguns minutos se concentrou em mantê-la regular antes de deixar sua voz soar outra vez.
― Você sabia que cada estrela no céu representa um amor que se perdeu por circunstâncias da vida? ― sussurrou baixinho, e eu arregalei um pouco os olhos com aquela teoria. ― Eu estava tentando contá-las.
― Desculpe interromper sua contagem.
já não era mais uma criança para acreditar nisso, mas, no fundo, ao pensar no que aconteceria no próximo dia, até mesmo eu queria acreditar que se fosse dessa forma, ao menos uma estrela começaria a brilhar no céu após aquela noite, para que ao menos a imensidão de tons peculiares sempre lembrasse dos momentos que vivemos juntos durante aqueles anos do intercâmbio dela. Porque eu já que sabia que um dia, todo aquele sentimento adormeceria e então nós seguiríamos em frente, mesmo que eu acreditasse que ele nunca morreria...
― Eu não quero dormir. ― comentou outra vez, e então riu um pouco baixo, como se aquela risada fosse aliviar a dor que estávamos dividindo naquele momento. Deixei meus olhos caírem sob a sua figura pálida na noite, iluminada por aquele tom místico de roxo, e a lágrima solitária que reluzia no seu canal lacrimal pareceu evaporar bem diante dos meus olhos. ― Quero ficar aqui por mais um minuto. Parece que quando eu for dormir tudo isso aqui vai acabar.
Eu não podia mentir, também não estava sendo fácil para mim. iria voltar para onde nascera e mesmo que estivéssemos prometendo que iriamos manter contato, era inevitável o que aconteceria. Nós já estavamos tomando rumos diferentes na vida e isso tirava as chances que tínhamos de ser o casal que demorou tempo o suficiente para se declarar, até que meus planos de dizer que a amava depois de dois anos nos conhecendo fossem frustrados por outras três palavras dela. “Estou indo embora”.
― Você sabe que nós vamos nos encontrar de novo um dia desses, não sabe? ― tentei sorrir na direção dela, mesmo que com aquela escuridão ela dificilmente veria a mudança na minha expressão e tentei também ser o mais convincente possível. Era o que queria acreditar, mesmo que tivesse medo de que quando nos encontrássemos outra vez, nem mesmo lembrássemos que um dia fora assim tão difícil deixá-la ir.
― Ainda bem, porque eu não sei me despedir. ― tentou brincar e acabou rindo baixo outra vez, novamente querendo parecer não tão machucada o quanto estava.
― É claro que nós vamos.
Aproximei meu corpo do dela devagar, me mexendo de um jeito meio atrapalhado, mas que deu certo. Como se pudesse ouvir os meus pensamentos, entendeu o que eu queria fazer antes mesmo de nos encostarmos, e então ergueu levemente o corpo para deitar outra vez sob o meu peitoral, guiando sua mão até a minha e as entrelaçando carinhosamente.
Senti minha respiração parar e falhar algumas vezes. O calor de tê-la recostada no meu corpo e senti-la tão perto era fascinante e torturante ao mesmo tempo, porque eu sabia que a partir de amanhã, não poderia fazer isso outra vez.
Quando nos levantamos, já deveria estar perto de amanhecer. Eu não queria perder aquela sensação, mas ela insistiu que a fogueira estava praticamente apagada e podia ser perigoso. Contorci meu pescoço para abaixá-lo levemente e entregar um beijo entre seus cabelos e ela me abraçou ainda mais forte do que quando estávamos deitados.
― Nós dois não temos que ter medo, . Debaixo do céu nesse momento que parece um sonho, debaixo das estrelas e daqueles que vão se tornar estrelas… Eu preciso te dizer que te amo e vou continuar te amando não importa a distância.
Notei que a respiração dela também acelerou, assim como pude ver com alguma dificuldade pela escuridão um sorriso em seu rosto. Ela interrompeu sua observação ao céu para transformá-la em uma admiração ao meu rosto, medindo cada traço mesmo na iluminação arroxeada precária.
― Eu também te amo.
Não consegui resistir e roubei um beijo que selou nossa despedida. Seus braços estavam bem presos ao meu corpo em um abraço que seria sufocante se não ela e tal situação, e, os seus lábios macios foram pressionados contra os meus de forma delicada, ao mesmo tempo que subi minha mão até seu rosto para acariciá-lo levemente com a ponta dos meus dedos.
Sua pele era como pêssego. Seus lábios tinham um gosto doce, como se fossem o melhor néctar de uma flor. E eu não sabia que não conseguiria viver sem aquele perfume de lavanda que envolveu o ar quando minha mão deslizou até a sua nuca e a trouxe pra mais perto de mim.
Mas não por muito tempo, porque quebrou o beijo e, antes que começássemos a chorar como prometemos que não faríamos, eu encostei carinhosamente os lábios em sua testa por alguns segundos e então ela entrou na cabana para dormir.
Não tinha outra reação ao qual eu poderia ter senão soltar um suspiro clichê e pesado, meus olhos inconscientemente subindo ao céu ainda roxo e estrelado, tentando ver se alguma estrela começara a brilhar com aquela despedida, mas não. O céu estava repleto e sem nuvens, mas nenhuma delas parecia ser nova. Não sentia que nenhuma delas era a sua e de .
Talvez… Aquilo fosse um sinal que eles realmente fossem se encontrar de novo algum dia, ou alguma noite. E que a vida separara o amor deles temporariamente, mas não para sempre. Talvez a estrela que começara a brilhar foi o seu coração, em esperança.

Nota da autora: Primeiramente, vocês viram essa capa? Porque eu nunca vou parar de babar nela, NUNCAAAAAA SUAHSUAHSUHA E LOGO DEPOIS DISSO quero dizer que eu amooo esse plot pelo simples motivo de que era isso que eu acreditava quando eu era criança! Nunca quis achar que as estrelas estavam no céu só por estarem, e, como eu ainda não sabia o que era zodíaco – hihi – a minha cabeça acabou criando essa historinha, então tenho um apego enorme com essa one shot. Espero que vocês também tenham gostado!
always grateful,
xoxo ♥



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