Finalizada em: 22/11/2018

Prólogo

interrompeu seu pé de se elevar do chão para o próximo passo e respirou fundo, tentando manter a calma. Tudo bem, não tinha problema admitir que estava perdida e não adiantaria continuar andando daquela forma sem rumo. Tudo bem estar passando na frente da rodoviária pela quarta vez, depois de tentar entrar em todas as ruas que estavam à sua frente e acabar andando em círculos em todas as tentativas.
Não era nada demais, acontece. Nas melhores famílias, inclusive.
Revirou os olhos por debaixo dos óculos escuros, o sol quente das quatro da tarde piorando ainda mais a situação. Normalmente já detestava andar, andar no calor então… Pelo menos havia se lembrado de passar o filtro solar antes de sair de casa, mas depois do exercício físico, sua pele parecia queimar da mesma forma. Droga, não era possível que aquela cidade fosse tão grande assim… Na verdade, tinha certeza que não era nada grande assim para se perder desse jeito!
Haviam lhe dado pontos de referência bem específicos. Um porto, o centro com a igreja matriz e a prefeitura, a rodoviária à beira da rodovia e algumas ruas em forma de jogo da velha, talvez três ou quatro mil habitantes, nada que parecesse ser muito complexo, então por que simplesmente não conseguia de jeito nenhum encontrar algum caminho que não acabasse na rodoviária em seu final?!
Para piorar ainda mais, morria de vergonha de perguntar para alguém por ali, até mesmo para o senhor que sentava no guichê de informações. Como estrangeira, não conseguia se sentir confortável para simplesmente sair falando com as pessoas, sentia que era sua obrigação saber se encontrar ali sozinha e que seria incômodo para eles ter que ajudá-la, e sinceramente, os olhares de curiosidade que recaiam em si não ajudavam a melhorar essa impressão.
As pessoas continuavam lhe olhando mesmo que seus olhos, a maior característica que evidenciava a diferença física entre as raças, estivessem bem escondidos pelo acessório, como se apenas a sua forma de se vestir ou andar mostrassem a sua nacionalidade. Pessoalmente, de vez em quando ficava observando a si mesma, se perguntando se tinha algum defeito ou algo em si que chamasse a atenção dessa forma…
― Com licença… ― despertou com uma tímida voz baixa e masculina chamando atrás de si e até mesmo se assustou com a suavidade do tom, virando para trás com uma sobrancelha arqueada e percebendo que provavelmente não era a primeira vez que ele havia chamado.
Ela responderia, mas perdeu a fala ao encontrar o dono daquela voz. Nunca havia visto aquele garoto na vida, mas também nunca havia visto alguém tão bonito quanto aquele garoto na vida. Seus traços faciais eram másculos e delicados ao mesmo tempo, um equilíbrio perfeito combinado com olhos inocentes, de um brilho tão puro que podia-se confundir com o de uma criança. Não acreditava em amor à primeira vista, mas quem não se apaixonaria por aquele rapaz ao vê-lo?
― Não queria te incomodar, é que… ― ele agora estava ainda mais sem graça porque ela não havia respondido, e pigarreou para limpar sua garganta antes de continuar calmamente. ― É que você está na frente da porta… ― apontou para o automóvel que estava estacionado em sua frente, lhe fazendo arregalar os olhos e dar praticamente um pulo para trás, puxando a mala e se curvando na direção do rapaz.
― Eu estava distraída… Desculpe! ― murmurou, agora bem mais sem graça do que o homem e sentindo um calor na bochecha que amaldiçoou profundamente por conhecer bem aquela sensação e saber que já devia estar tão vermelha quanto um pimentão.
― Tudo bem. ― e sorriu de canto sem abrir os lábios, um pequeno e discreto sorriso que o deixava terrivelmente mais charmoso ainda e a deixava completamente e perigosamente encantada.
apenas assentiu com a cabeça, se limitando a tentar oferecer um discreto sorriso sem graça e se afastar mais três passos conforme o via entrando no automóvel, tentando manter o pouco da dignidade que restou depois daquele mico intacta. Jogou os cabelos para trás, tirando os fios que atrapalhavam sua visão e voltando a encarar a tela do celular, mesmo tendo certeza que seria impossível voltar a se concentrar no que fazia.
Se não conseguia encontrar o caminho certo para casa nem sem distrações, imagine agora que o rosto do desconhecido não parava de piscar incansavelmente na sua memória. Bateu com seu dedo indicador e anelar na própria testa, se esforçando para deixar a cena para trás.
, agora dentro do carro e sentado no banco do carona, jogava sua mochila para trás e iniciava o seu tempo de espera até o seu pai voltar da cafeteria que havia ido, do outro lado da rua. Se concentrava para evitar olhar a garota que estava do lado de fora, mas era um pouco difícil para ele ignorá-la, uma vez que a esperou se mover por alguns minutos antes de abordá-la e era extremamente óbvio que a desconhecida estava perdida.
Respirou fundo para vencer a própria timidez, tomar coragem e abrir lentamente o vidro do carro, vendo que a mulher ainda estava ali por perto e tinha os olhos focados na tela do telefone celular.
― É… ― teve que respirar fundo mais uma vez antes. ― Com licença… ― e então chamar um pouco alto, sem pensar que usava as mesmas palavras outra vez. Pareceu servir, pelo menos, uma vez que ela ergueu os olhos e também o rosto diretamente para onde estava, dando alguns passos em frente para se aproximar. ― Não quero ser intrometido, mas… Você está perdida?
― É assim tão óbvio? ― ela realmente pareceu surpresa com o fato dele ter percebido, entreabrindo os lábios em descrença. Estava jurando que estava disfarçando bem…
― Um pouco. ― abafou uma risada discreta, mas aquele mesmo sorriso charmoso que fazia suas bochechas levantarem apareceu, abobalhando a estrangeira novamente. ― Pra onde você precisa ir?
― Pra essa rua aqui. ― virou a tela do celular para o rapaz, que leu o endereço anotado atentamente depois de inclinar a cabeça para fora do automóvel para se aproximar.
― É bem fácil de chegar e é perto. É só você pegar aquela rua ali e seguir reto até depois do cruzamento, então continuar reto até chegar no centro, é um prédio de esquina, você vai achar fácil. ― a incentivou ainda mantendo a linha nos lábios, retornando a maior parte do corpo para o banco.
― Aaahh, é só ir reto… ― constatou com a explicação, começando a mentalizar o quão burra deveria ser para não ter pensado nisso antes, tendo virado a esquina depois do cruzamento de medo de se afastar demais da rodoviária e perder o único ponto de referência que tinha. Quis se bater como autopunição, mas segurou a vontade por ainda estar sendo observada pelo rapaz. ― Muito obrigada, você me salvou. ― se sentiu confiante o suficiente para abrir um largo sorriso na direção dele, mas assim que o rapaz fez o mesmo, sua confiança desapareceu. Aquele sorriso podia servir de farol à noite, tinha certeza.
― Boa sorte. ― e então ele subiu o vidro quando ela começou a se afastar e seguir o caminho que havia indicado, respirando fundo algumas vezes para lidar melhor e superar a interação social que havia tido, a sua timidez cortando seu cérebro como um raio.
Queria ajudá-la mais, mas céus, não tinha coragem nem mesmo de olhá-la mais uma vez, então oferecer uma carona era completamente fora da sua realidade, mesmo se estivessem indo para lugares próximos. Teve que encarar o assoalho do carro por alguns minutos para organizar seus batimentos cardíacos e então ter coragem de erguer novamente a cabeça para ver seu pai entrando no carro.
Ah, precisava tanto aprender a controlar sua timidez, ou nunca seria capaz de subir aos palcos…
por sua vez, apenas deixou um sorriso discreto escapar pelos seus lábios quando reviveu a cena em sua mente. Parecia que ver gente bonita era capaz de deixar as pessoas de bom humor… Engoliu o riso. Quando havia se tornado tão fútil assim?! Devia estar deslumbrada em como ele era educado e gentil, não como ele era bonito! Não aguentou e acabou rindo durante seu caminho, o que só serviu para aumentar ainda mais os olhares que caiam em si, mas, agora, nem mesmo prestava atenção neles para se sentir desconfortável.
Acabara de pensar que havia algo bom naquela cidade ser tão pequena. Pessoas de cidades pequenas costumavam se conhecer facilmente, e a chance de tornar a vê-lo mais uma vez era bem maior. Esperava que isso acontecesse logo…



I

Quatro anos depois

Voltar para o interior era sempre um prazer para . Visitar seus pais e poder passar dias no quarto simplesmente jogando videogames e sendo bem mimado era um de seus momentos mais felizes, mas tudo estava perdendo o sentido desde que retornara no outro mês e nem mesmo passar incontáveis horas na frente do computador e comendo diversas besteiras, era o suficiente para deixá-lo feliz.
Sabia bem a raiz daquele problema vinha do fato de seu retorno ser, inicialmente, permanente. Não que se incomodasse de estar com seus pais ou de viver novamente em uma cidade pequena, o que lhe quebrava o coração, na verdade, era ter que abandonar o seu sonho e deixar tudo o que havia vivido desde os seus dezesseis anos para trás, o prazer que era pensar e respirar música as vinte e quatro horas de todos os seus dias no decorrer daqueles cinco anos como um trainee.
Era uma vida cansativa e relativamente solitária, sim. Sua única companhia eram os instrumentos musicais, o estúdio de produção e a sala de prática. Mas era aquilo que amava, e por isso, tudo se tornava mais fácil. O problema é que nem mesmo teve que a oportunidade de mostrar todos aqueles anos de esforço ao mundo: a empresa a qual estava era pequena e, infelizmente, não tinha mais condição de manter os trainees em alojamentos próprios e nem mesmo sustentar o próprio prédio.
Foi um baque ter que sair do lugar tão às pressas, nem mesmo teve tempo de pensar no que faria e, quando viu, já estava arrumando suas roupas no armário da casa que passou toda sua infância. Seus pais ainda não haviam tocado no assunto, imaginando ser delicado e não querendo o pressionar, mas a verdade é que ele estava louco para conversar sobre aquilo e colocar sua ansiedade e suas dúvidas para fora. Não sabia como devia lidar com tudo o que estava acontecendo, não sabia se deveria continuar tentando ou se tinha que desistir e se conformar em viver uma vida normal, e tudo isso estava o enlouquecendo.
Foi depois de um mês trancado que ele decidiu que talvez dar uma volta na cidade fosse auxiliá-lo a pensar melhor e organizar toda a situação. Tinha vinte e um anos e precisava decidir o seu futuro, estava com medo de acabar fazendo a escolha errada e se arrepender pelo resto da vida. Suspirou desanimado, parando de andar ao se deparar com uma placa grande de madeira anunciando aulas de dança no interior da casa de esquina. Arqueou uma das sobrancelhas confuso, nunca havia ouvido falar de uma escola de dança na cidade! Não resistiu e seus pés lhe guiaram para dentro do local, mesmo que sua mente dissesse que não devia.
Era uma escada, e após alguns degraus parou, encarando o chão e tentando raciocinar. O que estava fazendo ali, o que estava pensando?!
― Bom dia! Eu posso ajudar? ― um timbre feminino surgiu no fundo de sua mente, e só faltou esconder ainda mais o rosto no capuz do moletom que usava, assustado em como deveria reagir.
― Desculpe, eu, eu só… ― ergueu o rosto e começou a encarar insistentemente a saída, revezando entre ela e os degraus da escada e tentando formular algo que disfarçasse seu nervosismo.
― Não precisa ter vergonha. ― a desconhecida falou e, mesmo que não estivesse a olhando, sabia que ela tinha um sorriso simpático nos lábios. Era como se a ouvisse sorrindo, se é que isso é possível. ― Ainda não é o horário das aulas, então está tudo vazio. Se você quiser conhecer o lugar, acho que agora é a melhor hora, assim você pode se sentir mais confortável. ― tentou tranquilizá-lo, sem se aproximar para não intimidar ainda mais o rapaz.
Ele respirou fundo algumas vezes, juntando o fundinho de coragem que restava no fundo de seu cérebro para assentir positivamente com a cabeça, ainda sem mostrar o rosto ou olhar a mulher.
― Isso é ótimo! Me siga, vou te mostrar todas as dependências enquanto nós conversamos. Vai ajudar você a se habituar com o local. ― afinal, caso ele realmente quisesse se envolver com as aulas de dança, era imprescindível que se sentisse seguro e não tivesse vergonha na frente da professora. Girou os calcanhares, voltando para a direção da sala de prática. ― Então, você já tem alguma relação com a dança ou é um curioso?
― Eu danço há alguns anos… Cinco anos. ― contou em um tom baixo, a timidez ainda fazendo com que gaguejasse irritantemente conversando com a desconhecida. fez o mesmo que ela, os olhos cravados no chão em todos os centímetros que andava e apenas vendo os pés daquela que seguia.
― Uau! Cinco anos é bastante tempo. ― ela comentou empolgada ao ouvir as palavras dele. Todos seus alunos eram iniciantes e sem experiência, já que algumas manifestações culturais não estavam incrustadas na cidade, sendo dança uma delas, e já fazia um tempo que não encontrava alguém que tivesse uma base que pudesse lapidar, então já começara a antecipar sobre o talento dele.
Foi no terceiro andar que chegaram no estúdio de dança, o cômodo amplo que consistia de uma enorme sala única, com as paredes revestidas de espelhos e também com algumas barras de ferro horizontais em um dos cantos, comumente usadas para ajudar nas posturas de balé e dança contemporânea. Também havia uma parede inteira coberta por cortinas pesadas de tom creme, cobrindo as janelas que sabia existirem por ter as visto do lado de fora do prédio, antes de entrar. O tecido grosso acabava impedindo a claridade do dia de preencher a sala, e a música ambiente baixinha que tocava nos alto-falantes bloqueava os ruídos exteriores, impedindo-os de tirar a concentração de quem lá estava.
gastou bons minutos analisando o lugar, o ar parecendo estar pressurizado em seu pulmão. Não podia deixar de lembrar das salas de prática da empresa, nem mesmo o clima mais ameno e aconchegante dali era capaz de fazê-lo esquecer toda a pressão que passava para pegar todos os passos, todo o suor que escorrera de seu corpo quando tinha que repetir de novo, de novo e de novo a mesma coreografia. Repetia incontáveis vezes noite adentro, até que suas pernas não suportassem mais o peso do próprio corpo ou que ela estivesse perfeita.
Todo esse esforço para ser postada como um cover em um canal do YouTube, ou simplesmente ser esquecida como se todas aquelas horas de dedicação não fossem nada, como se todos aqueles anos da sua vida se esforçando pudessem ser jogados fora de um dia para o outro como haviam sido, e seu talento fosse ser enterrado no mesmo baú que seus sonhos, no gramado detrás de sua casa.
A incomum crise de ansiedade fez com que sua mente se tornasse puramente vazia. Quando conseguiu raciocinar outra vez, encontrou suas mãos trêmulas e seu peitoral se movendo intensamente para cumprir o processo da respiração rápido, rápido o suficiente para manter o fluxo de seus batimentos cardíacos acelerado, fazendo que gotículas de suor se formassem em sua testa. Mesmo que estivesse pensando outra vez, aquilo não parecia estar próximo de parar, e colocou uma das mãos acima de seu coração, sentindo-o queimando.
― Por favor, se concentra na minha voz! ― o tom de voz da mulher cortou sua mente de uma forma poderosa, e conseguiu finalmente ver algo em sua frente.
A luz branca da sala incomodava sua retina, e seus olhos perdidos buscaram outra coisa para focar que os parecesse ser mais confortável, esbarrando na mulher no caminho. Ela parecia tão nervosa quanto ele, com o rosto completamente pálido tentando pensar em uma forma de ajudá-lo a se acalmar. Não sabia bem como fazer isso, mas achou que seria bom se tentasse transmitir alguma segurança para o rapaz, por isso se esforçava para manter seu timbre firme, para que ele soubesse que não tinha perigo algum os rodeando.
Quando focou o olhar nela, a mulher congelou ainda mais. Sabia que havia pedido exatamente isso, mas agora não sabia bem como reagir e o que devia falar, uma vez que não sabia a causa daquilo que estava o deixando tão em pânico. Calmamente se aproximou, colocando uma das mãos no ombro do rapaz timidamente por saber que talvez estivesse indo muito longe e então o olhando nos olhos.
― Está tudo bem, você precisa só respirar fundo, com calma. ― ela mesma começou a inspirar e expirar, como se também precisasse do procedimento. Mas sinceramente, naquela situação, estava precisando mesmo. ― Você está seguro aqui, não precisa ter medo.
limpou sua mente e fechou seus olhos, respirando fundo diversas vezes como ela estava pedindo e evitando pensar em qualquer outra coisa para que a ansiedade não voltasse com força total. Aos poucos sentiu que os seus batimentos cardíacos começavam a normalizar e o mundo parecia parar de girar tão rápido a ponto de deixá-lo tonto, mas houve outro problema. Conforme percebia o que havia acontecido e pensava sobre isso, o seu rosto ficou completamente vermelho de desespero devido a crise e pela vergonha de tê-la tido na frente de alguém.
― Desculpe, eu… Desculpe-me… ― deu um passo tímido para trás, desfazendo o mínimo contato que tinha com a mulher que ainda apertava delicadamente seu ombro. Estava com vontade de sair correndo dali o mais rápido possível, e mesmo que ela sussurrasse que estava tudo bem, também um pouco perdida, foi exatamente isso que fez. Simplesmente virou as costas e saiu correndo, sumindo entre a porta aberta e descendo as escadas com uma rapidez assustadora.
― E-Espera! ― a dançarina ergueu as sobrancelhas e arregalou os olhos, sua mão involuntariamente tentando segurar a do desconhecido, mas seus reflexos rápidos não foram o suficiente para conseguir alcançá-lo.
Ainda estava em choque com tudo o que havia acontecido em apenas dez minutos, tentando entender porque ele agia como se estivesse fazendo algo errado quando simplesmente não estava se sentindo bem. E, também, tentando entender porque tinha aquela forte impressão que já havia o visto na vida, mesmo que não houvesse conseguido prestar muita atenção em suas feições.

❥❥❥❥

acordou afobada, erguendo as costas de uma vez só do colchão com a respiração acelerada pelo sonho que havia tido. Não que houvesse sido exatamente um pesadelo, apenas havia sido real o suficiente para que acordasse assustada, seu corpo experimentando outra vez tudo o que se lembrava de ter sentido quando o assistiu tendo a crise de ansiedade na sua frente.
Estava sendo assim há uma semana. Toda noite revivia aquela cena perturbadora que vivera com o desconhecido, e acordava em desespero, com os dedos passando entre os fios de cabelo grudados na testa pelo suor para puxá-los para trás e tentar recobrar o equilíbrio e a calma. Podia parecer extremamente idiota por ele ser um desconhecido ou talvez fazer muito sentido para seres humanos com empatia pelo próximo, mas estava se corroendo de preocupação toda vez que lembrava dele e começava a pensar se ele havia chegado bem em casa, ou se precisava de ajuda. E digamos que lembrava dele muitas vezes por dia
Olhou para o relógio e viu que ainda eram uma e quarenta da manhã, lhe fazendo jogar o corpo para trás e pegar o travesseiro, o pressionando por cima do rosto. Aquele cara estava acabando com a sua pele fazendo com que se preocupasse e perdesse o seu sono de beleza, se um dia o encontrasse outra vez seria bom obrigá-lo a lhe pagar uma dermatologista para compensar o estresse. Esporadicamente, após se virar insistentemente de um lado para o outro diversas vezes para tentar voltar a dormir, simplesmente desistiu.
Exatamente, havia acordado de vez as duas da manhã de uma sexta-feira, sendo que fora dormir meia noite e meia, com o corpo acabado depois de dar aulas durante o dia todo. Respirou fundo, tentando manter a calma e pensar que a situação não era tão esquisita, estava só pensando demais e gastando tanto a energia do seu cérebro que tudo que queria nesse momento era comida. Nem mesmo se deu ao trabalho de cogitar cozinhar alguma coisa ou checar se tinha algo pronto nos armários, preferiu tomar um banho de dois minutos e se vestir para sair e ir até o único lugar daquela cidade que virava a noite aos finais de semana, pelo menos o único lugar com comida que virava a noite naquela cidade.
tinha certeza, ao botar os dois pés fora de casa, que a caminhada de dez minutos até essa também a ajudaria a relaxar e organizar melhor seus pensamentos, principalmente por conta do clima agradável do verão, com a noite fresca e com uma brisa suave para balançar suas roupas confortavelmente. Sorriu ao sentir o sopro do vento no seu rosto e não demorou em nada nem para chegar e nem para fazer o pedido, mesmo que o lugar estivesse bem cheio para os padrões da cidade, claramente porque todos os que queriam ir a algo próximo de uma balada, tinham que passar por lá.
― EEEI, professora! ― ouviu uma voz vindo de um burburinho formado por alguns jovens estudantes que estava no canto do bar, quando começava a andar em direção a saída, com seu glorioso X-burguer e coca cola na sacola para viagem.
ergueu a cabeça e esticou o pescoço em uma pura reação automática, sabendo que podia nem ser ela a professora, mas procurando o dono da voz. Não era como se não costumasse reconhecer seus pupilos, apenas que ainda estava em efeito retardado depois de ter acordado daquela forma. Estava prestes a desistir e voltar a andar quando encontrou no meio daquelas pessoas, e um sorriso largo abriu seus lábios.
― Hey, ! ― se aproximou do rapaz que passou entre os outros para poder alcançá-la, com um sorriso tão angelical que chegava a parecer que não era real. Na verdade, a beleza toda de era irreal e hipnotizadora, mesmo que o garoto tivesse apenas dezenove anos. ― Se divertindo bastante?
― Me divertiria mais se você ficasse aqui com a gente, Noona. ― ele fechou um pouco os lábios para oferecer um divertido smirk, um sorrisinho de canto que presunçoso, combinado com uma piscadinha de olho esquerdo para a mais velha que teve que se controlar para não dar risada.
Por mais que fosse a definição de beleza estampada no dicionário, ele era também exatamente oito anos mais novo que . Não que ela aparentasse estar assim tão próxima dos trinta anos, mas também não gostava de trazer isso a público e isso costumava deixar seus alunos… Confusos. Não era a primeira vez que isso acontecia, então ela já sabia lidar bem com essa situação. , por exemplo, era o que estava mais confuso nesse ano. Ele provavelmente achava que tinha chances, mas bem, ainda era praticamente um adolescente e ela tinha vinte e sete anos.
― Aaah, eu preciso realmente descansar. ― ela fez um bico nos lábios cheios em tom de rosa clarinho pela falta de maquiagem, mexendo nos cabelos de uma forma despojada. ― Não tenho a disposição de vocês pra passar a noite acordada.
― Como se você realmente fosse tão mais velha que a gente… ― se aproximou mais um passo, agora em uma área realmente perigosa, e riu como se não estivesse fazendo aquilo de propósito, erguendo uma das mãos para levá-la até a mecha de cabelo de que não havia sido presa no rabo de cavalo feito às pressas. ― E outra coisa, idade é só um número, Noona, não é como se realmente fosse afetar os sentimentos das pessoas. Você gosta de um cara que age de forma forte, não é? Se eu fosse você eu gostaria de alguém assim, e isso não tem nada a ver com idade…
― Huh… ― ela tentou pensar em alguma coisa para falar, começando a sentir o desconforto de estar tão perto de alguém daquela forma, principalmente se esse alguém fosse . Quem não sentiria os nervos à flor da pele se o garoto mais bonito da cidade estava claramente dando em cima de você?
Alguém que não está mais no colégio, ou alguém de vinte e sete anos. Mais especificamente, alguém maduro. É fácil descobrir qual característica dessas não combina bem com a mulher.
― Eu realmente preciso ir agora, ! Nós… Nos vemos na aula, na segunda-feira. ― tentou arriscar oferecer um sorriso sem graça para o rapaz, apenas para vê-lo se afastar dois passos e ver a sua expressão se transformar em dois segundos, de doce e infantil para provocativa e máscula.
― Como sempre, vou esperar ansiosamente.
E não esperou mais dois segundos para sair dali com passos apressados, empurrando a porta e parando com a mão acima do coração assim que saiu da porta do local. Céus, como tinha que tomar cuidado com . Ele era todas as características de uma pessoa que queria fugir comprimidas em um só ser humano: lindo, mais novo, popular e um provável fuckboy, mesmo com a carinha de inocente e o rosto angelical. Ok, tudo bem, talvez tudo isso não fosse assim tão ruim e não tivessem tantos motivos para preocupação, mas precisava manter seu foco e quanto mais desculpas pudesse arrumar para achar defeitos nele, melhor.
Oito anos não era pouca coisa, então respirou fundo para se concentrar e parar de hiperventilar pelo que havia acabado de acontecer. Não era pra tanto, simplesmente. Olhou para frente finalmente, observando o centro da cidade todo fechado e com as luzes dos postes ligadas. A praça circular que ficava de frente para a prefeitura tinha alguns adolescentes que conversavam sentados nos bancos, ou andando em volta da fonte, e torceu para que nenhum deles houvesse visto a sua crise momentânea.
Suspirou mais uma vez, finalmente voltando a raciocinar e conseguir formular que tinha que voltar pra casa, o que foi isso que fez. Dois passos depois, sentiu um pingo grosso caindo bem no topo de sua cabeça, no meio de seus fios de cabelo. Arregalou os olhos e por impulso olhou para o céu, apenas para que outro pingo grosso caísse bem no seu olho.
― A-Ai, droga! ― reclamou, rapidamente levando a mão livre até o olho agora irritado para esfregá-lo e tentar fazer o desconforto diminuir. Agora, o pingo era no seu ombro, e deixou um gemido de dor psicológica quando a água atingiu sua pele e se espalhou. ― Eu sou o ser mais azarado da Terra…
Ficava todas as suas noites em casa, na cama. E justo na que resolvia sair para comer, a chuva de verão resolvia aparecer. Podia jurar que o céu estava sem uma nuvem há vinte minutos, quando saiu de casa… Sua expressão desolada não podia ser escondida, e, sem outra opção senão começar a caminhada entre a chuva mesmo, pelo menos agradeceu pela comida ter proteção dentro da sacola e de seus respectivos embrulhos.
― Com licença… ― uma tímida voz baixa e masculina chamando atrás de si fez com que parasse, e, até mesmo se assustou com a suavidade do tom, virando para trás com uma sobrancelha arqueada e percebendo a sensação de déjà vu que tomou seu coração de uma forma assustadora quando encontrou-o ali.
Era ele. O rapaz da crise de ansiedade, dirigindo um carro que estacionou ao seu lado, com a janela baixa. E foi quando lembrou-se de que ele não era o rapaz da crise de ansiedade, ele era o mesmo desconhecido que lhe ajudara quando chegou na cidade e estava perdida. Não havia visto o rosto dele a ponto de conseguir reconhecê-lo, mas sentiu-se burra mesmo assim. O cara da rodoviária… E se obrigou a se corrigir, ele sim era o cara mais bonito daquela cidade, e não . Apenas não esperava que ele ainda estivesse naquela cidade, depois de morar ali por quatro anos e nunca mais tê-lo visto até aquela semana.
― O-oi… ― estava abobalhada, o que não era exatamente uma novidade ou fosse surpreendente. Seus cílios, agora já começando a ficarem pesados porque a água da chuva caia em seu rosto, encostavam contra a bochecha diversas vezes por estar piscando bem mais do que o necessário, e ela estava paralisada demais por vê-lo para pensar que estava começando a pingar com mais frequência.
― Você… Vai acabar ficando doente. Quer uma carona? ― estava um tanto agoniado de vê-la do lado de fora do carro daquela forma, e por isso acabou sendo direto como costumeiramente não era, apontando para o assento vazio ao seu lado.
Sabia que tinha ido até ali para buscar seu primo, mas… Bem, provavelmente estava se divertindo e agora com a chuva não sairia dali tão cedo se não fosse de carro. E com o tamanho da cidade, não deveria demorar até que a deixasse em casa e voltasse para buscá-lo, então não era um problema.
― Aceito. ― murmurou sem pensar direito, e ele assentiu com a cabeça, se esticando para abrir a porta do outro lado do carro enquanto ela dava a volta para entrar.
Quando se sentou, com cuidado para não molhar o banco, percebeu que aquilo era uma loucura. Na verdade, aquilo eram várias loucuras se juntando e formando uma loucura ainda maior. Mas talvez fosse mais sortuda do que azarada, principalmente quando sentiu um quentinho no coração e uma vontade de sorrir por saber que ele estava bem.
― Obrigada… ― murmurou depois de colocar o cinto de segurança, tentando voltar à realidade. Uma mania idiota quando sabia que não havia nenhum acidente de trânsito ali há bons anos por mal terem carros circulando, mas ainda uma mania de quem vivera em cidades grandes por muitos anos. O fato dele também estar usando o dele lhe acalmou, mas ele apenas balançar a cabeça em confirmação lhe alarmou.
Não parecia ser alguém de muitas palavras e ser tímido, se pensasse em todos os seus encontros - dois até ali - mas na verdade, sabia que a ansiedade fazia aquilo com as pessoas, e foi por isso que resolveu que iria se esforçar para falar. Só não sabia o que…
― Onde é? ― o rapaz começou a falar antes, e foi só então que percebeu que ainda estavam com o carro estacionado, e ele provavelmente esperava que desse as coordenadas para que seguisse o caminho.
Como conseguia ser tão burra?!
― Ah, desculpa… Eu… É… O estúdio, é no estúdio. ― burra, muito provavelmente era um elogio. Seu rosto estava completamente vermelho, podia sentir isso, e o rapaz subiu a janela antes de dar partida e seguir em frente.
Começou a divagar quando viraram a rua e como sua capacidade de se focar era praticamente nula, novamente, isso não era nada muito surpreendente. Será que ele também lembrava dela, do primeiro encontro deles, ou será que apenas sabia que era a mulher que estava na escola de dança naquele dia? Isso lhe deixou nervosa e mordeu os lábios algumas vezes, arrancando algumas das pelezinhas que estavam ali mesmo sabendo que isso era feio, mas não conseguia controlar sempre que começava a se sentir ansiosa. Era por isso que costumeiramente usava batons, para evitar essas cenas publicamente.
Mas mesmo se ele não lembrasse, tinha tantas outras coisas que queria falar para ele não relacionadas aquilo, mas não sabia se devia. Parecia ser muito intrometida ou invadindo a vida pessoal dele se citasse a situação que haviam passado na semana passada? Provavelmente o deixaria desconfortável, provavelmente ele não queria conversar sobre aquilo com ninguém, principalmente com uma desconhecida, mesmo que precisasse, e, quando viu, já estavam virando a esquina da sua casa e haviam passado o caminho praticamente inteiro sem ter a capacidade de abrir a boca para falar nada de útil.
― Você devia aparecer algum dia aqui no estúdio. ― soltou de uma vez, usando a pior abordagem, aparentemente, porque ele olhou para a sua cara com os olhos arregalados, assustado. ― Quer dizer… Desculpa, não que você deva, é que… Eu não sei o que aconteceu naquele dia, mas sei que você consegue enfrentar, você só precisa tentar e… Eu posso te ajudar, se você quiser, se for algo relacionado a dança ou… Meu Deus, desculpa! Eu nem sei seu nome e estou falando sobre isso, não devia, não é? Desculpa, pode esquecer tudo o que eu falei. ― se desesperou conforme a expressão dele ia ficando cada vez mais com a dúvida estampada e a pele de seu rosto mais pálida sempre que pronunciava uma palavra nova, resolvendo que era melhor se calar de uma vez, ao mesmo tempo que ele estacionava o carro em frente a sua casa, lhe fazendo levar a mão para a maçaneta desesperadamente, pegando a chave no bolso do short para não perder tempo em entrar. ― Mas… obrigada por me tirar da chuva.
.
― Oi?
― É meu nome. Eu me chamo .



II

fechou os olhos e puxou o ar para os pulmões, parecendo estar em um anime onde você deveria concentrar toda a sua aura e energia para desbloquear a sua habilidade mais forte, que, no caso, o protagonista nem sabe que existe. A habilidade que ele buscava desbloquear era a coragem para subir aquelas escadas e se deparar com a mulher no topo delas. E bem, se esse resquício de valentia existia no seu ser, também desconhecia.
Eram duas horas antes do horário das aulas oficiais começarem, mas era naquele horário que preferia ir, sabendo que se sentiria menos pressionado se não tivesse ninguém lá. Ninguém além dela. Não era a primeira vez que ia até ali, na verdade. Havia feito aquele caminho mais vezes que do que gostaria de admitir por nunca ter coragem de completá-lo, sempre parava no pé das escadas e se recusava a subir. Isso durava até meia hora antes das quatro e meia, o horário que a aula dela ia começar. Algo que usava para si mesmo de desculpa para ir embora.
Se perguntava se, depois de três semanas, ela ainda tinha esperanças que aparecesse ali ou se já havia desistido, sem fazer ideia que lhe observava atentamente e discretamente todos os dias pela porta de correr da sacada do segundo andar, enrolada nas cortinas para não ser vista e dando o espaço e o tempo que ele precisava para fazer aquilo sozinho, mas todos os dias esperando-o ansiosamente subir aquelas escadas.
Eram uma e quarenta e oito de uma quinta-feira quando ele subiu dois degraus, e então desistiu e foi pra casa.
Eram três e vinte de uma segunda-feira quando ele subiu treze degraus, mas então desistiu e foi pra casa.
E eram duas em ponto naquela sexta-feira ensolarada, quando faltavam apenas três degraus para alcançar a porta do terceiro andar… Mas não, não conseguia. Virou as costas depois de respirar fundo algumas vezes, pronto para descer tudo correndo e voltar para casa, quando ouviu outros passos se aproximando no andar de cima. E quando virou, acabou encontrando-a. sabia que estava se esforçando e que deveria fazer sozinho, mas naquele nível… Ele também precisava que alguém lhe oferecesse a mão para lhe incentivar, e era isso que queria fazer.
― Oi. ― o sorrisinho sem graça que repuxou os lábios dela teve um efeito calmante imediato no rapaz.
Era como se sentisse que era uma boa pessoa, alguém que podia confiar e se apegar.
― Oi… ― ainda assim, seus pés pareciam estar cimentados no chão, e ela percebeu isso facilmente, alargando ainda mais o sorriso.
Foi a próxima atitude da mulher que o surpreendeu ainda mais, o deixando chocado. simplesmente desceu o primeiro e o segundo degrau da escada, se sentando entre eles e cruzando as pernas, com uma das mãos embaixo do queixo e um sorriso largo e doce.
― Seja bem vindo à minha classe especial, . Meu nome é , e hoje nós vamos conversar mais sobre você.
― Huh? E-eu?! ― não era só o fato de estar perguntando isso que evidenciava sua dúvida, mas também sua expressão facial e tom de voz trêmulo.
― Sim, essa é sua primeira tarefa como meu aluno! Me contar tudo sobre você.

❥❥❥❥

Não foi difícil descobrir o que estava acontecendo com , difícil estava sendo o processo até que ele falasse o que estava acontecendo e aquilo não era apenas pela ansiedade, mas também pela timidez excessiva e a dificuldade de se abrir com uma desconhecida, por mais que estivessem se dando bem e se aproximando a cada dia mais. As “aulas”, que não eram muito mais do que eles dois conversando, estavam acontecendo no primeiro andar do lugar, mais especificamente, na sala de estar de . E aquela era a quarta.
… ― o chamou quando sentou na almofada fofa em cima do chão do outro lado da mesa de centro, o fazendo erguer o olhar das xícaras de chá em cima do apoio para olhá-la. ― Nós já conversamos bastante e eu já sei muito sobre você, mas ainda acho que não sei o mais importante, então… Acho que está na hora de falar sobre mim também, pra te deixar mais confortável e você não pensar que está conversando com uma desconhecida.

― Não me incomoda. ― respondeu rapidamente ao ver a expressão preocupada dele, sorrindo para tranquilizá-lo. ― Bom, vamos lá… Eu nasci no Brasil, bem na época que o K-pop estava estourando. O Hallyu estava acontecendo bem na minha adolescência, então eu passei ela toda ouvindo diversos grupos, desde os mais famosos até os nem tanto. E bem, eu amava dançar, acho que era pela dança que o K-pop parecia tão legal pra mim. Então, com quatorze anos eu estava fazendo jazz, com dezesseis, contemporânea, e com dezoito, estava com tudo pronto para entrar na faculdade de dança. Tudo estava ótimo, até que eu resolvi fazer uma loucura. Peguei todo o dinheiro da poupança da faculdade e vim pra cá sem pensar duas vezes… Achei que eu fosse boa o suficiente. ― soltou uma risada amarga nessa parte, e o coração dele se quebrou ao ouvi-la.
― Quarenta e seis. Esse é o número de audições que eu fiz, e também de “nãos” que eu recebi. Eu queria muito desistir, era óbvio o porque não me aceitavam e esse motivo não era algo que eu podia simplesmente mudar, não é? ― riu de canto outra vez como se estivesse contando uma piada engraçada, apontando para seus próprios olhos em uma referência óbvia. ― Então eu acabei dividindo um apartamento com uma amiga que fiz durante as audições, com um emprego de meio período e tentando terminar a faculdade de dança. ― suspirou desanimada ao lembrar dessa parte da história e do quão pressionada estava, muitas vezes sem conseguir escolher entre comer e pagar a mensalidade da faculdade. Minah lhe ajudara imensamente nesses tempos, e sempre seria grata a ela.
― Minha amiga, esporadicamente, passou nas audições e tudo ficou ainda mais difícil. Tive que ir morar em uma república e mal tinha como me sustentar naquela época, mas eu não podia voltar pro Brasil assim, depois de tudo o que havia feito ao vir pra cá sem o consentimento dos meus pais, ia ser uma decepção enorme pra eles, além de confirmar que eu era incapaz. Então, eu fiquei. A única coisa que verdadeiramente me deixava feliz era a dança. Eu realmente amava dançar, mas os palcos… Os palcos nunca foram feitos pra mim, por isso, assim que eu me formei acabei aceitando a proposta da mãe da mesma amiga que eu dividia o apartamento. Ela queria ir para a capital acompanhar mais a filha que tinha acabado de estrear em um grupo novo, e precisava de alguém pra administrar o estúdio. Desde então eu estou aqui. Já faz tanto tempo que acham que eu sou a dona.
Mordeu o lábio, sua língua coçando para falar sobre o dia que se encontraram na rodoviária… Mas não, não queria. Na verdade, não era como se não quisesse, somente… Aquilo não era nada realmente importante, não é?
― Meu Deus… ― balbuciou, meio chocado, meio triste e meio orgulhoso com a história da mulher a sua frente. Ela havia passado tanto pra chegar até ali… Era assustador como ela ainda era tão enérgica e demonstrava tanta alegria e empolgação mesmo depois de tudo. ― Se é assim… ― os olhos de saltaram em expectativa ao que ele ia falar. ― Quantos anos você tem? ― questionou, forçando a mente para fazer as contas. O pior de tudo era nem mesmo estar brincando, queria mesmo saber! Seguindo a lógica temporal, era no mínimo vinte e três, mas com ela falando que estava lá há tanto tempo…. Será que já eram trinta?! ― Devo te chamar de Noona?!
― YA! NÃO SE ATREVA! ― ela ergueu uma das mãos ao ar, ameaçando estapeá-lo, e ele não resistiu em rir alto com a reação exagerada dela. ― Não foi por isso que eu te contei tudo, seu idiota!
― Eu sei, eu sei! ― parou de rir ao terminar de tomar o chá, voltando a colocar a xícara em cima do pires. ― Eu entendi, , eu… Muito obrigado por ter me contado tudo isso. Eu realmente entendi o que você quis dizer.

❥❥❥❥

Não havia falado que tinha entendido da boca para fora. Realmente tinha, e além disso, passara todo o resto do dia e a noite pensando em tudo o que havia contado… Foi por isso que, naquele dia, decidiu que estava na hora de tentar. Queria voltar a dançar. E apesar do medo de ter outra crise, saber que estaria lá para lhe amparar caso isso acontecesse era o suficiente para lhe incentivar.
Entretanto, estava mais nervoso do que de costume para que chegasse o horário da aula. Sentia suas mãos suando e, sempre de minuto em minuto, um sorriso puxava seu lábio, nervoso e empolgado ao mesmo tempo. Mal podia esperar para mostrar tudo o que sabia para ela. Esperava que gostasse. Esperava que ela ficasse orgulhosa…
E, principalmente, esperava conseguir.
! ― ela abriu um sorriso largo quando o viu na porta da sua casa, a qual já estava se acostumando a deixar aberta para quando ele chegasse pudesse entrar sem precisar esperá-la.
― Oi, . ― ele sorriu de canto, mas não entrou daquela vez, vendo-a finalizar o chá detrás do balcão da cozinha, o qual podia ver dali do ângulo da porta.
― Está tudo bem? ― não era novidade que não sabia esconder a sua ansiedade, então não foi uma surpresa quando percebeu que havia algo errado e olhou-o com uma sobrancelha arqueada.
― Na verdade, eu queria tentar a sua rotina hoje… ― ele coçou a nuca timidamente, com um sorriso envergonhado tomando as suas feições quando viu a reação dela.
Eles já haviam conversado sobre isso antes. tinha uma rotina de músicas pop, EDM, clássica, R&B, entre outras, a qual usava para testar a habilidade de seus alunos no primeiro contato, para saber em qual tipo de aula ele se encaixaria melhor. Dissera para que ele poderia solicitar o teste quando se sentisse pronto… E o dia finalmente havia chegado.
― C-claro! ― não conseguiu segurar o nervosismo junto com uma risada empolgada e meio falhada.
Nervosismo porque estava ansiando a chegada daquele dia desde que começaram a se aproximar, mas também tinha medo de como reagiria quando chegassem ao estilo novamente. Mas a empolgação era ainda maior, porque a esperança de que ele lidaria bem com aquilo transpassava a preocupação, além de estar feliz dele estar realmente se esforçando em dar o primeiro passo.
― Vamos subir, então. ― ela largou rapidamente as xícaras em cima do balcão e então saiu dando a volta por ele, se enrolando um pouco quando chegou na porta e estava cobrindo praticamente toda a saída, sem graça de passar, pois provavelmente se esbarrariam.
suspirou quando chegou na frente dele, com medo de passar e se tocarem, mas, ao mesmo tempo, pensando se aquele não era o momento certo para se tocarem…? Estava sendo atentamente observada pelo rapaz que esperava ansiosamente o seu próximo movimento, por isso tomou a decisão o mais rápido que pode e entrelaçou os seus dedos com os dedos de , tentando não demonstrar o quão apavorada estava por dentro de fazer aquilo, começando a subir os degraus calmamente logo depois.
Ele entendeu o que queria com aquilo, mas só conseguiu segui-la e observar suas mãos conectadas enquanto subia atrás dela, até que a mulher empurrou a entrada do estúdio e ele fechou os olhos, com medo do que poderia acontecer quando os abrisse. Inconscientemente, ele também apertou a mão dela como uma busca por apoio e segurança, e ela acabou segurando o suspiro de alívio quando viu que ele não estava desconfortável e deu mais um passo, abrindo os olhos devagar.
― Está tudo bem? ― questionou, querendo confirmar que sim quando ele deixou os olhos observarem toda a extensão já conhecida do local.
― Sim. ― respondeu com a maior confiança que conseguia expressar. havia feito questão de cobrir todos os espelhos, mesmo não sabendo quando ele ia ou não ir até ali, tentando deixar o ambiente menos assustador para o mais novo, e ele se sentia reconfortado por isso.
― Podemos começar? ― ela perguntou de novo, e assentiu com a cabeça em concordância, se preparando para o que iria encarar. Sentiu as suas pernas começarem a tremer assim que soltou suas mãos e se afastou para ir até o computador, o observando de longe com olhos detalhistas, buscando qualquer sinal ruim.
Ele respirou fundo, e então deu alguns passos em frente, até o centro da sala, fechando os olhos outra vez e tentando ignorar o quanto seu corpo estava fraquejando. Quando ouviu as primeiras batidas de EDM, continuou parado, analisando a música e a sua batida, seu ritmo…. Seu corpo começou a se mover mesmo sem permissão, os movimentos se formando como se não precisassem de comando algum, apenas da batida.
E sorriu largamente, orgulhosa dele estar conseguindo, e do quanto ele era bom, observando cada vez que ele moldava o seu corpo a nova música que tocava, sempre que seus pés o faziam girar em trezentos e sessenta graus e os seus cabelos o faziam juntos. E, quando ele parou quando a última música começou, a temida música lenta, olhando para um pouco desesperado, ela apenas começou a rir, não escondendo o quanto estava feliz com o que havia assistido.
― Você fez bem, . Estou orgulhosa.

❥❥❥❥

havia retomado ao costume de acordar cedo desde que começara as aulas com . Era um bom hábito de trainee, não podia mentir, pelo menos quando não precisava ser às cinco da manhã e às oito estava bom. Tudo bem que ficava ansioso até às duas da tarde, o horário combinado do seu encontro com a mulher, tentando se distrair com alguns jogos ou livros, ou simplesmente compondo.
Eram dez e meia quando começou a descer as escadas de casa, mas deu um passo para trás quando ouviu duas vozes femininas vindo do andar debaixo. A voz de sua mãe reconheceu facilmente, mas aquela que a acompanhava… Mordeu o lábio, não querendo acreditar que realmente era ela, e que ela já havia descoberto que havia voltado para a cidade.
― Mas ele está melhor esses dias, desde que começou a frequentar o estúdio de dança, aquele que fica no centro da cidade, sabe? Quer dizer, acho que é o único que tem por aqui… ― sua mãe contou empolgada, claramente feliz por vê-lo se reerguendo aos poucos. ― No começo ainda estava nervoso, mas parece que toda vez que volta de lá, está mais leve. Estamos felizes com isso.
― Fico feliz em saber, também. Quando soube que ele tinha voltado naquelas circunstâncias, fiquei preocupada. ― fez um leve bico nos lábios, e mesmo que não estivesse vendo, podia imaginá-lo perfeitamente. ― E ele já decidiu o que vai fazer a partir de agora, se vai continuar na cidade ou vai tentar ir para Seul de novo?
― Ainda não, ele ainda está pensando. ― ah, aquilo não era nada bom… Aquele tom de voz não era nada bom. pressionou seus lábios um no outro, sabendo o que elas estavam planejando naquela conversa que era aparentemente tão inocente. ― Estava precisando de um tempo de férias depois de tudo o que aconteceu…
― Ah, eu tenho certeza que sim, mas logo tudo deve voltar aos trilhos. Queria vê-lo, mas preciso chegar logo no escritório. ― a mulher fez novamente aquele tom manhoso, e ele controlou a vontade de revirar os olhos.
Não era como se odiasse , mas ela havia perdido a noção desde que decidira ir para a capital e se tornou um trainee, e as coisas se tornaram tensas entre eles… Porque ela era uma sasaeng. Mas essa parte, só ele sabia.
― Não se preocupe, minha querida, você terá outra oportunidade. Vou avisar que você veio aqui. ― ouviu o barulho da porta se abrindo, e então as duas se despedindo e então se fechando de novo. Respirou mais fundo do que deveria, fazendo um barulho maior do que tinha calculado, e pode ver pelo vão da escada a expressão da sua mãe se fechando assim que ela percebeu que ele estava se escondendo. ― Posso saber por que você não quis ver a , senhor ?
― A-Ah, era a ? ― ele arregalou os olhos, fingindo surpresa e deixando sua mãe em dúvida, principalmente porque ele forjou um bocejo e uma expressão sonolenta que a fizeram pensar que talvez ele estivesse apenas cansado quando chegou no térreo, indo direto para a geladeira. ― Eu não reconheci a voz, achei que era uma amiga sua e não quis atrapalhar…
Não que se orgulhasse de mentir para sua mãe, mas no caso de , se tornava meio que necessário.
― Ah, sim… ― ela pareceu acreditar e parou de lhe encarar como aquela expressão brava, o fazendo ficar mais tranquilo. ― Fale com ela depois, vocês sempre foram amigos, acredito que ela vai ser uma boa companhia pra você.
― Em falar em boa companhia… ― rapidamente desviou do assunto, também achando a desculpa perfeita para entrar em um assunto que queria há já algum tempo com seus pais, afinal, ele gostava de contar exatamente tudo o que estava acontecendo na sua vida para eles. ― Eu conheci uma boa companhia.
― Já até imagino, algo envolvendo a escola de dança, não é? ― a expressão de sua mãe se tornou um pouco enigmática, e ele soube bem o que ela estava pensando. Que era uma companhia ainda melhor… Mas isso era porque ela não havia conhecido , e era exatamente isso que queria resolver.
― Sim, a minha professora é realmente uma boa pessoa. Vou convidá-la para vir até aqui algum dia desses. ― comentou como se não fosse nada demais, disfarçando ao se concentrar em montar o seu café da manhã e fingir que não importava tanto para si como realmente importava.
― Me avise quando, assim nós podemos fazer um jantar especial para ela, filho. ― sabia que sua mãe era uma boa pessoa, nunca fora preconceituosa e costumava lhe apoiar em todas as suas decisões. Mas, algo naquela frase pareceu errado, e fez com que ele desconfiasse que especial nem sempre era bom.

❥❥❥❥

― Você sabe, , nós temos que treinar mais naquilo que temos dificuldades! ― provocou quando colocou uma música lenta para tocar depois deles repassarem algumas aulas práticas, com uma risada alta se desprendendo dos seus lábios quando viu o quão duro ele automaticamente ficava quando o ritmo se tornava aquele.
― Eu preciso de aulas de iniciante pra isso, porque na empresa nós nunca dançamos música lenta. ― ele comentou também em um tom de brincadeira e mesmo que ela estivesse lhe zoando, aquela risada soava tão agradavelmente em seu ouvido que ele não conseguiu conter o sorriso tímido. Se aproximou alguns passos de , que estava atrás do notebook escolhendo a música, e então ergueu a mão. ― Você me daria a honra?
esperava que ela começasse a rir ainda mais com aquilo, mas, na verdade, foi bem ao contrário e pôde ver as maçãs do rosto da mais velha se tornando lentamente avermelhadas conforme ela aceitava e pousava delicadamente a mão por cima da sua, aceitando o convite e então o seguindo até o centro da sala.
Apesar de dizer que não sabia o que estava fazendo, a mão de instintivamente correu até sua cintura e a aproximou de si, enquanto os dedos da outra mão se alinhavam aos dela timidamente e ele iniciava uma condução calma, de dois passos para cada lado. sabia que como uma professora devia estar o conduzindo, ou no mínimo dando dicas do que ele deveria fazer, mas naquele balanço tão tranquilo acabou se perdendo nos olhos escuros do rapaz, mais concentrada em observá-lo do que em realmente seguir os passos…
Eles perderam completamente a noção do tempo. A música já havia parado há minutos, e agora eles apenas seguiam o ritmo da melodia que cantarolava baixinho, apenas para que eles tivessem noção. E, mesmo naquela melodia desconhecida e quase inaudível, ela se apaixonou pelo seu timbre.
― Eei, professora!
Uma voz conhecida dos dois os interrompeu e em um salto eles separaram os corpos, mas já era tarde demais. os observava da porta, de olhos arregalados e lábios entreabertos pelo choque da cena que havia visto, mesmo que de relance, e os dois olhavam para o adolescente como se houvessem sido pegos em pleno ato, mesmo que não estivessem fazendo exatamente nada de errado.
― Então é aqui o seu futebol toda quarta-feira? ― e, como não podia deixar de ser, a reação do rapaz foi tão espontânea e hilária que automaticamente aliviou a tensão no ar, fazendo os dois mais velhos terem que segurar a risada para não acabarem incentivado aquelas piadas ruins de . ― Há quanto tempo essa traição está acontecendo bem debaixo do meu nariz e eu não percebi?
― Espera! ― interrompeu quando raciocinou direito que ele estava falando com , e não consigo. ― Vocês se conhecem?!
― Nós somos primos. ― falou rapidamente, olhando ainda mais ultrajado para o mais velho, sentindo a dor da facada nas costas. ― Nem isso você contou, ?! Estou me sentindo deixado de lado, assim não dá!
― Desculpa… ― o citado tentou manter-se sério, sabendo que apesar de ser brincadeira, o ego do primo deveria estar realmente ferido com o que estava acontecendo. ― Já faz quase dois meses, eu ia te contar, mas nós quase não estamos nos vendo esses tempos…
― Não existem desculpas! Poxa, nós podíamos estar frequentando as aulas juntos… A não ser que… Vocês dois… AH-
― NÃO! ― e rapidamente entenderam onde aquilo iria chegar e negaram em uníssono, fazendo parecer que era ainda mais culpados.
― SIM! Vocês são namorados, não são?! ― e quando eles iam negar outra vez, mais dois alunos atravessaram a porta, os cumprimentando sem fazer a mínima ideia do que estava acontecendo. E antes que piorasse as coisas, o puxou com a maior delicadeza que tinha para o canto da sala.
― Eu te explico mais tarde, depois da aula. Mas não abre mais a boca sobre isso por hoje, ok?

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A última coisa que era, era burro. Se no primeiro contato que teve com e no mesmo ambiente ele percebeu o que estava acontecendo ali, vê-los juntos durante aquela semana que estava propositalmente chegando mais cedo deixou tudo mais óbvio. Eles estavam se gostando e, era tão genuíno que tornava-se impossível deixar passar. Os dois demonstravam nos mínimos detalhes, em como se olhavam quando o outro estava distraído, ou no pequeno sorriso sem graça que saía discretamente quando chamavam um ao outro.
E não era que estava indo cedo para atrapalhá-los, longe disso. Ele só queria poder dançar um pouco com , uma vez que o primo mais velho sempre foi a sua inspiração e por muito tempo havia sonhado quando eles teriam aqueles momentos juntos. Não queria atrapalhar aquilo que ele estava construindo com , e muito menos se incomodava com isso, porque só havia dado em cima dela antes porque ela é realmente muito bonita, não porque tinha algum interesse real.
Estava tão distraído pensando sobre isso quando estava terminando de descer as escadas que quase esbarrou sem querer em uma pessoa, erguendo a cabeça para ver quem era e encontrando um rosto já bem conhecido.
… O que você está fazendo aqui? ― ele já sabia que não podia ser nada bom. estava literalmente na porta do estúdio de dança, e mesmo que não estivesse no andar de cima, ele sabia que alguma coisa deveria estar dando errado para que ela aparecesse ali.
! ― a mulher abriu um largo sorriso doce e simpático, o sorriso que todos estavam acostumados a verem em seu rosto, mas que só sabia sentir nojo. Se soubessem quantos rumores ela havia espalhado sobre seu primo, ou quantas vezes mentira dizendo que estava indo para a capital a trabalho quando na verdade estava indo para persegui-lo… ― Faz tanto tempo que nós não nos vemos! Você parece que cresceu ainda mais!
― E eu achei que tínhamos deixado bem claro da última vez que é pra você deixar o em paz. ― ele não se acanhou em falar logo. Não suportava ficar na presença daquela louca por muito tempo.
, você sabe que não existe opção melhor pro do que eu! Devia estar me ajudando… Você não gostava da tal professora? ― ele quase perdeu a compostura ao ouvir isso, em dúvida de como a maldita ia saber de algo como aquilo, ou em como ela já sabia que e estavam próximos.
― Não te interessa. Eu vou te falar só mais uma vez, deixe o meu primo em paz e vai embora daqui. ― cruzou os braços, sinalizando que não sairia da porta do local enquanto não a visse saindo.
olhou para ele e bufou entendiada, dando meia volta e fazendo o caminho inverso ao qual sabia que faria. E então se escondeu atrás da esquina, esperando-o ir embora para retornar ao se plano inicial, agora sem interrupções. Ouvi-lo falando daquela forma apenas confirmou o que deveria fazer: seu relacionamento com estava em risco, e estava na hora de colocá-lo outra vez em segurança.
― Boa tarde! ― ela cumprimentou uma que terminava de limpar o chão da sala de prática, já se preparando para trancá-la e então descer para tomar um banho em casa e descansar.
― Boa tarde! ― a estrangeira rapidamente deixou o esfregão no canto da sala, se aproximando para recepcionar a desconhecida que a encarava dos pés a cabeça. se sentiu extremamente desconfortável com aquele olhar invasivo, como se ela estivesse mentalmente anotando todas as suas medidas e defeitos, típico de pessoas preconceituosas. Mas ignorou e fingiu que não, mantendo o sorriso simpático nos lábios. ― Eu posso te ajudar?
― Na verdade, sim. ― a desconhecida pareceu lembrar que deveria manter uma postura ali, e então voltou com a expressão doce. ― Meu nome é , eu queria saber informações sobre as aulas! O meu namorado anda passando tanto tempo aqui, imagino que deva ser muito divertido, então resolvi que quero fazer com ele. Nós somos amigos de infância, então sempre fazemos tudo juntos.
― Ah, sim, claro! ― abriu um sorriso um pouco mais largo ao ouvir a história, achando aquilo extremamente fofo e tentando não pensar em como ela parecia lhe odiar do fundo da alma. Talvez fosse coisa da sua cabeça, sempre tinha aquela primeira impressão com as pessoas, era o seu medo de rejeição falando mais alto do que a sua racionalidade. ― Quem é seu namorado? Assim posso saber qual horário ele frequenta e nós podemos te encaixar. ― andou até atrás do balcão onde seu notebook e a lista de nomes dos alunos ficava, já abrindo o caderno e esperando-a falar.
― Ele se chama . Esse é o nome do meu namorado.

❥❥❥❥

sentiu seu coração quebrar, ao mesmo tempo que também se sentiu a maior idiota do século quando ouviu aquilo. Teve que se retrair, fingir que estava tudo bem e então manter-se inabalável, mas por dentro estava quebrada, e era tudo culpa sua. Culpa sua por ter se iludido sozinha, culpa sua por ter se deixado guiar por pensamentos tão idiotas. Quando parou para pensar friamente na situação, percebeu que ele nunca dera motivos para que alimentasse aquela paixão. só estava precisando de uma amiga e, nem aquilo ela foi capaz de ser.
Fungou uma última vez, passando a mão pelo nariz e se levantando da cama, porque já era praticamente meio dia. Não tinha ideia de como iria encará-lo depois de descobrir aquilo, porque sinceramente sabia que não ia conseguir controlar seu coração e os sentimentos que já haviam crescido por ele, e iria doer bem mais tê-lo por perto. respirou fundo, lembrando-se que naquele fim de semana que viria haviam combinado que ele a levaria para jantar na sua casa, como retribuição a ajuda que ela havia lhe dado no decorrer daqueles meses.
Teria que cancelar isso quando se encontrassem. Apenas de pensar que poderia estar lá também seu corpo perdia as forças, e também seguiria os conselhos que Minah lhe dera durante a noite anterior, quando havia procurado a amiga, afinal precisava muito de alguém pra chorar no colo. Iria expor os seus sentimentos de uma vez, porque segundo a amiga assim seria mais fácil que compreendesse a situação e lhe desse um tempo para superar aquilo, até poderem ser apenas amigos de novo.
Só estava juntando coragem para fazer aquilo já faziam dezoito horas, e mesmo quando ouviu os passos subindo as escadas até o terceiro andar do local, soube que ainda não tinha o tanto que precisava. E o que havia conseguido armazenar com muito custo, foi embora assim que encontrou os olhos gentis e curvadinhos de lhe saudando. Estava sentada no chão gelado e bem encerado, mas levantou rapidamente. olhando para os lados de forma um pouco desesperada como se medisse as suas opções e o que deveria fazer agora.
― Ei, ! ― estranhou o jeito aéreo da mais velha quando ela não respondeu seu cumprimento, apenas ficando em pé parada e confusa. Ele acabou dando alguns passos para ficar em sua frente e apoiar levemente uma das mãos em seu ombro. Aquele toque que já não era mais tão desconhecido aos dois, mas deu um passo para trás ao senti-lo, fazendo-o arregalar os olhos sem entender. ― O que foi…? Está tudo bem?
― S-Sim! Me desculpa. ― ela murmurou ao ver a expressão meio magoada e preocupada dele, se sentindo ainda mais imbecil. Não queria deixá-lo chateado, inferno! Era melhor ser direta de uma vez, sentia que quanto mais tentasse adiar ou enrolar, pior acabaria sendo porque não saberia como usar as palavras até lá. ― , eu não vou poder ir na sua casa esse fim de semana…
― Aaah, é isso?! ― ele normalmente ficaria deprimido com isso, mas como havia pensado que era algo muito pior, foi até mesmo um alívio ouvir isso. ― Não se preocupe, não precisa ficar assim! Nós podemos remarcar.
― N-não! ― de novo, aquele maldito jeito dela que fazia tudo parecer pior do que realmente era, ― Quer dizer, eu acho melhor não. Olha… Você não fez nada errado, . ― fez questão de apontar quando viu aquela expressão confusa e desolada no rosto do rapaz. ― Fui eu, eu que entendi tudo errado!
― Como assim, ? O que você quer dizer? ― sentia-se tão nervoso quanto quando estavam dançando valsa e tinha que tomar cuidado para não pisar no pé da mulher.
… Eu acho que estou apaixonada por você. ― soltou de uma vez, e ao mesmo tempo que aquela confissão lhe causou um alívio enorme, também a deixou desesperada por dentro. ― Mas nós não podemos ficar juntos, então… Eu só preciso de um tempo, até conseguir lidar com isso, e eu prefiro não te ver até lá. Me desculpa.
falou tão rápido que não teve chance alguma de reação. Ele simplesmente mal viu que ela tinha saído da sala e lhe deixado sozinho ao terminar, porque estava paralisado. Havia sido como ser jogado do céu ao inferno em sequência, e sua mente estava estagnada. Descobrira que era correspondido, mas no segundo seguinte também fora, teoricamente, rejeitado. E não teve nem forças para questionar o porquê, simplesmente aceitou aquele decreto, e resolveu dar a o espaço que ela tinha pedido.

❥❥❥❥

Três dias já tinham se passado aos quais não tinha contato nenhum com .
Nesse três dias, passara apenas trancado dentro do seu próprio quarto, porque era como se tudo estivesse começando outra vez. Ela lhe ajudara tanto, tanto naqueles meses, e de uma hora pra outra era como se tivesse perdido o seu maior pilar e tivesse que encontrar outra coisa para se agarrar. E o pior é que nem sabia direito porque… Se arrependia profundamente de não ter questionado, ao menos se tivesse algum motivo plausível para se apegar e lhe convencer que os dois juntos não era algo bom, seria mais fácil deixá-la ir.
Ergueu o corpo depois de terminar uma partida, pegando sua garrafa d'água e abrindo a porta do quarto. Viu de soslaio que já eram quase sete da noite, mas ignorou isso completamente. Mesmo que já fosse hora do jantar, não estava com fome, só queria se trancar e vegetar mais um pouco.
! ― sua mãe chamou empolgada assim que apareceu na cozinha, com um sorriso largo que o fez tentar sorrir de canto também. ― A sua amiga vai se atrasar? Marcamos as sete.
Oh. Foi então que ele percebeu.
Havia esquecido de contar para os seus pais. Não que sua mãe não houvesse percebido que algo estava errado, mas ela não tinha como adivinhar se não falasse o que exatamente tinha acontecido… E agora, a mulher já terminava de ajeitar a mesa com as famosas louças para visita, ajeitando os talheres ao lado dos pratos.
― Ah, mãe… ― o tom de voz dele foi tão chateado quanto a isso que ela franziu o cenho, já esperando a notícia ruim. ― Quanto a isso, me desculpa, eu tinha que ter te avisado antes, mas esqueci. Ela… Não vem mais. ― forçou um sorriso que saiu tão convincente que sua mãe quase seria passada para trás e acreditaria que estava tudo bem, isso se não conhecesse bem o seu filho.
― Aconteceu algo que você quer falar? ― ela questionou tranquilamente, sabendo que se fizesse muito alarde com a situação ele provavelmente se retrairia ainda mais no assunto.
― Não, está tudo bem, ela só teve alguns problemas. ― não era como se gostasse de mentir, seja pra quem quer que fosse e principalmente sua mãe, mas como iria contar para ela o que havia acontecido em detalhes se ela sequer sabia que estava apaixonado por ?
― Tudo bem… ― óbvio que a senhora não acreditou, mas respeitava a vontade de seu menino e, se ele não se sentia confortável para falar, então não tinha problema. Talvez só precisasse de mais algum tempo. ― Não precisa se preocupar com isso, nós comemos mesmo assim. ― e então ela riu docemente, tentando deixar o filho menos tenso.
― Eu acho que vou jantar no quarto hoje. Mas obrigado. ― ele falou já caminhando outra vez para o andar de cima, e antes que ela dissesse que preferia que ele descesse, a campainha tocou a interrompendo e fazendo suspirar, sabendo que iria ficar feliz com o fato de não ter mais visitas ali, mas infeliz porque não pretendia aparecer por isso.

❥❥❥❥

estava desesperado para falar com , e nunca condenou com tanto fervor aquela mania que o primo tinha de dormir com o celular desligado, porque agora estava tendo que apertar a campainha de sua casa em plenas sete da manhã, o que, para os dois, ainda era madrugada. A sorte deles era que sua tia costumava acordar ainda mais cedo do que aquilo, e abriu a porta para si com um bom humor matinal assustador e um convite tentador para tomar café da manhã, algo que provavelmente aceitaria logo depois de cumprir o seu dever como o melhor primo do mundo que era.
! ― gritou assim que praticamente atropelou a porta do quarto, que por sorte não estava trancada, e nem mesmo lembrou de fechá-la depois, se jogando com todo o peso do seu corpo em cima do mais velho para acordá-lo de uma vez.
? O que diabos…?
― Isso é URGENTE! ― o adolescente voltou a gritar quando percebeu que sua estratégia havia dado certo, não deixando nem mesmo lhe xingar direito e enfiando a tela do celular na cara dele. ― Eu acordei pra tomar água e quando fui ver que horas eram, encontrei isso.
Era uma mensagem de , de uma hora e meia atrás, dizendo que iria viajar, mas deixara a chave reserva do estúdio para na caixa de correio da casa, assim ele poderia continuar treinando lá, caso quisesse.
― Ela… ELA FOI EMBORA? ― não parecia nem mesmo que estava no estágio mais profundo do sono há um minuto atrás, levantando tão desesperadamente que derrubou o primo do outro lado do colchão.
― Talvez ainda não tenha ido! Talvez ela ainda esteja na rodoviária!
Apenas aquela hipótese fez com que ele saísse correndo pela casa, não se importando se estava de pijama ou se ela dissera que não podiam ficar juntos. Daria um jeito, seja lá o que fosse que os estava impedindo, ele resolveria se isso significasse que ela não iria embora.
Ele estacionou na rodoviária, e ignorou todo mundo que o olhava como louco por estar correndo com uma calça de moletom de pijama azul escura e velha, indo direto para o guichê de informações. era conhecida o suficiente naquela cidade para qualquer um reconhecê-la facilmente e saber lhe responder se havia a visto.
A resposta só não tinha sido a que queria ter escutado.
Estava ali, no local que tinham se encontrado pela primeira vez, e ele daria qualquer coisa para encontrá-la perdida na rodoviária e ajudá-la a se encontrar outra vez. Mas isso não seria possível, porque haviam a visto… A visto indo embora.



Epílogo

Cinco meses depois

― Quando você vai se conformar que ela não vai voltar e parar de gastar o seu tempo aqui, ?! ― a voz de depois de tudo o que havia acontecido naqueles dias, parara de ser apenas um timbre conhecido que um dia fora agradável para se tornar um tom odiável, ao qual ele nem mesmo suportava ouvir, principalmente ali.
― Talvez quando você se conformar que eu nunca vou gostar de você como eu gosto dela. ― murmurou como resposta, ainda concentrado em puxar as cortinas do estúdio para deixar a luz do sol entrar um pouco no local.
Na verdade, detestava ter que dar aquele tipo de resposta para qualquer pessoa que fosse, mas havia passado por todo e qualquer limite e não sabia mais o que fazer para afastá-la, lhe restando apenas palavras amargas desde que descobriu que havia ido embora por causa dela. Nunca imaginou que a sua melhor amiga de infância se tornaria a protagonista dos seus pesadelos pelo simples fato de não conseguir aceitar um não.
― Nunca. Você não entende que fomos feitos um para o outro, ?! Desde crianças, nós sempre estávamos juntos, todo mundo dizia que nós íamos casar!
, nós tínhamos sete anos, as pessoas mudam, as coisas mudam… Eu não te via desse jeito nem naquela época, agora muito menos. ― suspirou desanimado, tentando manter o seu foco em outra coisa. Queria conservar aquele lugar da mesma forma que o deixara quando foi embora, uma forma de proteger o que ela mais amava, as memórias que haviam feito ali e a esperar pacientemente, mesmo não tendo a mínima ideia de quando ela voltaria, ou se voltaria. ― Você tem que ir viver e deixar isso no passado. Eu preciso de paz e você precisa ser normal.
― Quer dizer que eu não sou normal só por que eu te amo demais?! ― o ciclo começava outra vez. Sempre que era grosso, começava com o choro compulsivo, tentando fazê-lo ter pena. Nas primeiras vezes, ele até mesmo se compadecia, mas ela sempre tentava usar daqueles momentos para se aproveitar dele… E por isso, agora, ele apenas deixava-a chorar.
― Você não me ama, . Você é obcecada, não aceita que eu não goste de você. ― não que adiantasse expor aquilo trezentas vezes, ou continuar argumentando por mais dois dias seguidos… não era conhecido por ser paciente por nada.
― ISSO NÃO É JUSTO! EU CHEGUEI PRIMEIRO!
― Bom, e eu não sou a taça de prêmio de uma competição de corrida, então… ― ele teve até vontade de rir em como a própria comparação soava estranha e engraçada, mas se controlou, vendo a mulher bater com os pés no chão e sair correndo aos prantos.
sentou na cadeira que ficava atrás do pequeno balcão, respirando fundo. Aquilo, sinceramente, não era algo que lhe deixava feliz. Aquela situação toda era tóxica não só para ele, porque ele já havia aprendido a lidar da sua forma, mas para a própria . Deixou o braço cair em cima da mesa, olhando para o caderno de ali e o abrindo. Ela não respondia suas mensagens, e as de sempre dizia apenas que estava bem e pronto, mas tinha explicado para ele que havia aceitado um trabalho de coreografa para um grupo que iria estrear logo, da empresa de uma amiga, mesmo sem especificar se era ou não temporário.
A caligrafia dela era uma das poucas coisas as quais podia remoer na memória, porque não havia nenhum outro item ali que tivesse algo tão pessoal dela como aquele. Podia-se ver claramente quando ela escrevia com pressa, com calma e com capricho. Alguns nomes estavam um pouco tortos e tremidos, apesar de ainda legíveis, provavelmente porque ela estava escrevendo rápido. Outros estavam mais alinhados e bem escritos, e então, na última linha da segunda folha, havia o seu. Estava solitário, afinal, ele tinha uma classe apenas para si… E as letras que o formavam estavam perfeitamente desenhadas, como se ela houvesse as digitado, mas de forma ainda mais bonita porque tinha uma caligrafia impecável quando queria. Ele sorriu para si mesmo, sempre ficava abobalhado quando encontrava aquele detalhe e percebia o cuidado que ela tinha apenas com o seu nome, como se ele fosse especial…
Mais barulhos de passos fizeram com que se desconcentrasse, e ele rapidamente fechou o caderno, já revirando os olhos.
, eu já não disse que---
? O que você está fazendo aqui?
Ele ficou paralisado quando ouviu aquela voz, e a reconheceu facilmente mesmo depois de tanto tempo sem ouvi-la. Teve até mesmo dificuldade de erguer a cabeça, com medo de sua mente estar pregando-lhe peças, mas quando o fez não teve outra reação senão correr até e a apertar em um abraço apertado, esquecendo que ela podia não querer e recusá-lo, tamanho seu desespero e saudades de tê-la outra vez em seus braços, e sentindo todo o alívio do mundo quando ela retribuiu ao abraço da mesma forma carinhosa.
― Você está aqui… Está mesmo aqui, de verdade! ― ele sussurrou com a voz até mesmo um pouco falha e sem se importar nem um pouco com isso, a fazendo arregalar os olhos.
, você está chorando? ― se afastou um pouco para poder confirmar se ele realmente estava, mas o rapaz escondeu o rosto em seu ombro, se recusando a mostrar as lágrimas.
― Eu achei que você não fosse voltar nunca mais! ― ele começou a chorar ainda mais intensamente, e quis achar aquilo extremamente fofo, mas também se sentia mal por vê-lo daquela forma. ― Não importa o porquê você ache que não podemos ficar juntos, eu sei que nós podemos fazer isso! Mesmo que não haja caminho, vamos fazer um caminho. Ao invés de andar pelo caminho das flores, vamos juntos por todos os caminhos!
― Você… Terminou com a sua namorada? ― agora ela se sentia ainda mais chocada e um pouco culpada, e tomou alguns segundos para secar o rosto antes de olhá-la em dúvida.
― Namorada? Que namorada? Eu nunca tive namorada… ― ele franziu o cenho confuso, mas não precisou de muito para entender tudo o que havia acontecido ali. ―
― Ela mesma, veio aqui dizendo que era sua namorada de infância… ― agora o encarava sem saber direito o que pensar, aos poucos afastando as mãos do corpo do rapaz para disfarçar o quão forte estava o apertando.
― Ela nunca foi minha namorada! Sempre quis ser, mas eu nunca gostei dela… Ah, … ― ele bufou frustrado. Não estava conseguindo acreditar que perdera cinco meses aos quais podia estar ao lado dela em uma agonia aguda sem saber se um dia a teria nos braços outra vez por uma mentira de
Por um segundo ele se concentrou tanto em como aquilo lhe fez sentir-se mal que nem mesmo prestou atenção na risada agradável que começou a soar pelos lábios de , mas que o deixaram mais perdido ainda.
― Quer dizer que você nunca teve namorada? ― ela começou a rir ainda mais, e não sabia se era de nervoso ou de felicidade em saber daquilo.
― Não. Eu esperava que pudesse ser você, mas você me deu um fora antes que eu pedisse… ― relembrou o acontecido com uma expressão chateada, e ela mordeu o lábio para controlar o riso.
― Eu achei que você era comprometido e que só me queria como amiga! ― ok, aquele argumento havia sido forte o suficiente para impedi-lo de refutar. Mas então parou de rir, se concentrando no rosto do rapaz e erguendo a mão para limpar as bochechas que ainda tinham algum resquício de lágrimas. ― Você me esperou todo esse tempo, ?
― Eu também estaria lá, te esperando na rodoviária pra te ajudar com o caminho, ou aqui, da mesma forma que você me esperou subir as escadas todos os dias escondida atrás da cortina. ― ele sorriu envergonhado de constatar tanta coisa a qual ela não fazia a mínima ideia de que ele sabia, vendo até mesmo as bochechas dela se avermelharem violentamente.
― Você sabia… ― murmurou surpresa, e agora foi ele quem riu daquela reação tão espontânea dela.
― Eu nunca esqueceria o seu rosto. Mas eu prometi preservar esse lugar como ele estava, mesmo se você tivesse ido embora por estar cansada, por isso não estava na rodoviária. Eu estaria aqui se você demorasse mais também, ou se não tivesse voltado, eu continuaria esperando, por que eu gosto de você. ― admitiu, não que precisasse, aproximando lentamente o seu rosto do dela a ponto de precisar apenas de um sussurro para que a garota escutasse essa última parte. ― E você?
quase riu ao ouvi-lo perguntar aquilo. Não era óbvio o suficiente o quão apaixonada era por ele, ou a sua primeira declaração tinha sido insuficiente? Talvez ele achava que algo havia mudado naqueles cinco meses, depois dela dizer que só queria vê-lo outra vez depois de superar seus sentimentos? Enfim, não importava, porque se queria ouvindo-a confessar seus sentimentos outra vez, não havia nada agora que a impedisse de declará-los, mas de uma forma um pouco diferente quando pressionou seus lábios contra os dele de uma vez, confirmando que sim, ela também gostava. E aqueles cinco meses longe apenas a fizeram gostar mais.

Fim!




Nota da autora: Eu tô olhando essa página com notas da autora anotado há umas três horas e cheguei a conclusão de que não sei o que dizer UHSAUHSAUHSA mas espero que todo mundo que leu tenha gostado! Eu sonhei com essa ideia, mas no outro dia só conseguia lembrar do ambiente e que tinha alguma pessoa tentando atrapalhar o relacionamento dos pps. Não sei se isso é exatamente o sonho que eu tive porque eu não lembro, maaaas espero que tenha ficado bom. Um beijo pra quem leu e a sua opinião nos comentários é muito importante!








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