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Última atualização: 31/12/2021

1. A viagem

Bronx estava em plena euforia após receber sua carta de Stanford. Estudar na universidade mais prestigiada da Califórnia era seu maior sonho de infância. E o curso de História da Faculdade de Humanidades, teria a aluna mais aplicada da cidade de Riverside, onde morava com os pais. Para o casal Bronx, a saída da filha de casa era uma mudança radical, e não estavam tão preparados assim para isso. Mesmo sabendo da enorme saudade que poderia sentir deles, a jovem só pensava em todas as aventuras que viveria no campus da universidade. Até mesmo seu quarto no alojamentos dos universitário, já estava reservado.

— Minha querida, sentirei sua falta. — disse sua mãe ao abraçá-la mais uma vez, na rodoviária.
— Não se preocupe mamãe, vou enviar mensagens sempre que puder. — assegurou a garota.
— Nos envie todo dia. — pediu a mãe, com o coração já apertado.
— É somente alguns quilômetros, em breve estarei aqui nas férias de verão. — disse a filha, dando um sorriso caloroso — E também passarei o natal em casa como prometido.
— Iremos cobrar, mocinha. — disse seu pai, lhe entregando a única mala que a filha levara.
— Também te amo, papai. — ela o abraçou e logo se apressou a entrar no ônibus.

Foram longas horas de viagem até chegarem na grande cidade. foi recebida por uma veterana, chamada Kim, que curiosamente também era sua colega de quarto. Como tudo para a garota era novidade, o primeiro lugar que desejou visitar foi a biblioteca do campus. Não que fosse nerd, apesar de sempre ter sido considerada a melhor de sua turma. Mas já tinha ouvido tanto sobre a sessão de histórias medievais que sua obsessão pela categoria não a deixaria em paz, até que pegasse pelo menos dois livros para ler. E foi o que fez. 

— É aqui que nos separamos. — disse Kim, ao deixá-la em frente ao prédio da reitoria — Já sabe onde fica o dormitório e o prédio de humanas.
— Agradeço pelo rápido tour, Kim. — disse a garota, com um sorriso singelo no rosto.
— Bem-vinda novamente a Stanford. — ela piscou de leve.
— Obrigada Kim!
— Ah, não se esqueça da nossa festa dos calouros hoje. — advertiu a veterana ao se afastar.
— Não vou me esquecer, prometo. — assegurou.

Logo após passar na secretaria para formalizar sua matrícula, com as instruções do caminho cedidas por Kim, seguiu para o prédio mais frequentado nos tempos de provas semestrais. Seus olhos brilharam com todas aquelas estantes cheias de livros de todos os gêneros, assuntos e idiomas também. Seu faro nem lhe permitiu pedir informações, os olhos que tanto procuravam, encontrou a sessão que buscava.

— Estou mesmo aqui. — sussurrou para si mesma se aproximando de uma estante.

Ela passou um tempo deslizando os dedos entre os livros, até que algo brilhou em seus olhos lhe chamando a atenção. voltou o olhar para a direção e viu uma porta entreaberta. Mesmo não sabendo se podia ou não entrar, ela seguiu até a porta e abriu. Na última prateleira de uma estante bem aos fundos da pequena sala encontrada, estava um livro empoeirado e com as bordas das páginas douradas. Se o lugar não fosse tão estranho, diria que aquele dourado poderia ser pó de ouro. Era estranho para uma biblioteca tão bonita e conservada, ter uma parte tão menosprezada e escondida como aquela, nem parecia fazer parte do lugar.

— O que é isso? — disse ela adentrando mais e seguindo até o livro.

Ao pegá-lo, soprou de leve a poeira. Então, percebeu uma elevação vindo de dentro, que ao abrir, revelou um cordão com um pingente de ouro no formato de um gato.

— Minha jovem? O que faz aqui? — perguntou um senhor se aproximando dela — Esta parte é restrita à alunos.
— Senhor. — ela fechou o livro depressa e com a outra mão, que segurou o cordão, o escondeu no bolso da calça — Me desculpe, eu achei que fosse parte da biblioteca.
— Bem, teoricamente é sim, mas alunos são proibidos. — explicou o senhor.
— E que parte é essa? — perguntou curiosa.
— Guardamos os livros em descarte aqui, até que sejam incinerados. — respondeu.
— E este livro será descartado? — ela ergueu o livro em sua mão.
— Sim. — confirmou.
— Eu posso ficar com ele? — indagou ela.

Já que seu destino era o fogo, não teria nenhum problema a jovem ficar com o objeto.

— Bem, eu não sei se…
— Por favor, ele será descartado mesmo. — insistiu ela.

O velho senhor assentiu para ela, com a condição que não contasse a ninguém sobre aquilo.

— Tenha cuidado, minha jovem. — disse ele como se soubesse de algo relacionado ao livro.

A garota assentiu sem entender aquelas palavras e seguiu para seu quarto. Sua curiosidade em saber sobre o livro era ao extremo. dividia seus gostos literários entre livros históricos, romances vitorianos e contos orientais. Ao entrar no quarto, se sentou na cama e retirou o livro que guardara.

— As mil e uma noites. — sussurrou ela ao ler o título.

Contos do desejo?! Ela fez uma cara estranha pelo subtítulo.

— Vejamos quais histórias você me reserva… — disse ao abrir o livro.

Não demorou nem dois segundos para que fosse frustrada por encontrar páginas em branco. Agora estava explicado o motivo para o livro ser incinerado. Não tinha uma só palavra escrita, capa interna, contracapa, índice. Ela fechou o livro novamente e analisou sua capa externa, foi aí que notou que nem o nome do autor tinha.

— Agora vejo o motivo de ir para o fogo. — sussurrou ela.

Bronx pegou uma caneta dentro da mochila e escreveu seu nome na primeira página do livro. Já que não tinha nada escrito nele, poderia ser sua agenda improvisada para as aulas que começariam na semana seguinte. Deixando o objeto na bancada de estudos ao lado da cama. Ela se levantou e jogou a mochila nas costas, saindo novamente do quarto. 

O dia estava lindo para conhecer mais lugares do campus e quem sabe fazer amizades. As horas se passaram e ao anoitecer, se arrumou para a tal festa dos calouros. Ela não tinha levado muita roupa em sua única mala, apenas colocou um jeans preto rasgado na coxa e uma regata branca. A noite se mostrava refrescante, e aproveitaria a tal festa dos calouros para conhecer algumas pessoas do seu curso. 

Assim que chegou na mansão da fraternidade Sigma-Theta, avistou sua colega de quarto Kim aos beijos com um desconhecido veterano. “Bem-vinda ao mundo secreto dos universitários.” Pensou consigo. A garota deu o primeiro passo adentrando mais a mansão, passando pelas pessoas que se divertiam pelo caminho até que chegou ao jardim lateral da mansão que a deslumbrou um pouco com seu estilo arquitetônico neo-clássico greco-romano.

— Impressionada?! — uma voz rouca e grossa soou atrás dela, a despertando de um breve momento de contemplação diante de uma escultura em meio ao jardim vertical.
— Mentiria se dissesse que não. — respondeu ela, mantendo o olhar na mesma direção.
— Hum. — o homem continuou sua aproximação e parou ao seu lado, deixando seu olhar na mesma direção que ela.

Alguns instantes de silêncio pairou entre ambos. Afinal os barulhos da festa estavam sendo barrados pela porta de vidro duplo acústico.

— Gostou do jardim? — perguntou ele, quebrando o silêncio.
— Sim, muito bem projetado, assim como o restante da casa. — ela voltou seu olhar para ele — Espero não ter invadido nenhum local proibido para visitantes, porque este aqui parece intocável. 

Brincou fazendo-o rir de leve.

— Bem… Este local é mesmo restrito… — afirmou ele.
— Ahh, é agora que sou expulsa da festa. — brincou ela, meio sem graça — Me desculpe eu…
— Não, fique tranquila… — ele riu novamente — É normal alguns calouros se perderem pelos corredores, só fiquei curioso por não ter dado a desculpa de que procurava o banheiro como os outros.

Ambos riram juntos.

— Não sou muito boa em inventar desculpas, sempre acabo me embolando toda, mas admito que estava mesmo explorando o lugar. — confessou ela — Você é um veterano que mora aqui?
— Sou o presidente dessa fraternidade. — respondeu ele com serenidade seu grau de importância ali.
— Uau, e eu aqui invadindo a sua casa. — ela se sentiu envergonhada.
— Já disse que está tudo bem. — ele sorriu de canto e esticou a mão em cumprimento — Fletcher.
Miller. — ela retribuiu o cumprimento — Prazer.
— Nome diferente, sua mãe gosta de jasmim? — perguntou.
— Não, mas gosta da Disney. — brincou ela com a referência ao responder.

Ele riu. Ambos se olharam por um tempo até que ela ficou envergonhada pela intensidade dele. Foram mais alguns minutos com uma conversa bem fluida sobre História da Arte que a deixou impressionada com tamanho conhecimento que ele apresentava ter. Assim que sentiu o celular vibrando no bolso com uma mensagem de boa noite de seus pais, notou a hora avançada no relógio.

— Acho que já invadi sua casa o suficiente por uma festa. — disse ela ao se afastar dele — Obrigada pela conversa.
— Eu que agradeço, foi divertido passar algumas horas conversando com uma caloura. — ele sorriu de canto.

sentiu seu coração acelerar um pouco pelo olhar profundo dele para ela, e respirando suavemente para voltar a sanidade mental, se retirou do jardim. Ao passar pelo hall de entrada foi abordada por sua amiga.

, você veio. — Kim não parecia cem por cento sóbria.
— Sim e já estou de saída. — assentiu.
— Por que? Não gostou da festa? — estava confusa e curiosa.
— Só estou cansada, mas me diverti um pouco. — assegurou — Quer ajuda para chegar no dormitório?
— Oh não, eu vou ficar aqui, ainda tem muita festa pela frente, vamos para a piscina no jardim dos fundos. — comentou.
— Tenha cuidado, não acho que esteja em condições para se jogar na piscina. — alertou .
— Fique tranquila, eu estou cem por cento sóbria ainda. — ela se afastou da garota aos risos, seguindo em direção a mesa de bebidas.

a observou por um tempo até que seguiu para a porta. Realmente conseguia notar que a noite seria longa para os universitários daquele lugar. Chegando na rua, olhou novamente para o celular e caminhou até o ponto de ônibus. A mansão ficava a uma distância relativamente longe do campus da Universidade, já que os alunos que pertenciam a ela tinham carro, não era problema. Entretanto, na realidade de Bronx…

— Não acredito… Sério mesmo que não tem um ônibus a esta hora? — resmungou ela, se levantando no banco e olhando para a tela do celular novamente.
— Se perdeu por aqui? — a voz de soou ao lado, brincando.
— Você?! — ela o olhou surpresa — O que faz aqui?
— Estava te observando da janela do meu quarto. — explicou ele — Não foi proposital, mas dá uma vista ampla para este lugar.
— Hum… Achei que estivesse me seguindo. — confessou ela.
— Entendo. — ele olhou para a rua — Já tem uns quarenta minutos que está aqui e sendo honesto, não vai passar mais nenhum ônibus até amanhã às seis da manhã.
— Sério?! — ela bufou um pouco desapontada — Eu deveria ter voltado mais cedo.
— Eu poderia até te oferecer uma carona, mas não querendo te deixar ainda mais em surto, colocaram um toque de recolher nos dormitórios na semana passada, não sei os motivos, e agora o prédio só fica aberto até à meia noite. — continuou ele as más notícias.
— Tá brincando né?! — ela soltou um suspiro cansado — Não acredito nisso, minha primeira noite e eu vou dormir na rua.
— Não posso te dar uma carona, mas posso te oferecer um lugar para dormir. — finalizou ele.

o olhou surpresa e ao mesmo tempo desconfiada.

— Um lugar para dormir sem nada em troca? Não consigo acreditar em sua oferta. — ela cruzou os braços atenta aos gestos dele.
— Me dê o benefício da dúvida. — insistiu ele.
— Eu não te conheço. — argumentou ela.
— Você sabe meu nome, invadiu a minha casa e conheceu meu jardim particular, somos quase próximos. — contra argumentou.

Ela riu daquilo e assentiu com a cabeça.

— Ok, você venceu, eu aceito o abrigo, desde que eu não seja vista por seus convidados, não quero ser apontada amanhã pela caloura que saiu com o veterano para ganhar méritos. — brincou ela.
— Céus, eu só estou te oferecendo o sofá a sala. — brincou de volta — Podemos entrar pela entrada privativa.
— Sua mansão tem uma entrada assim? — ela ficou boquiaberta.
— Te mostro o caminho. — ele riu seguindo em frente.

observadora, ficou atenta a cada porta e corredor que entravam, a passagem privativa era mesmo secreta e dava acesso direto ao corredor dos quartos do terceiro andar. Local este totalmente restrito aos membros de alto nível da fraternidade. Assim que entrou no quarto do presidente, a pupila dos olhos da garota dilataram com tamanho luxo, parecia mesmo o quarto de um rei de tanto conforto.

— Uau. — sussurrou ela — Isso sim me impressionou.

Ele riu, ao entrar logo atrás dela.

— Gostou? — intrigado, manteve o olhar na garota.
— É incrível, você dorme aqui todos os dias? — ela voltou seu olhar para ele admirada.

Ele assentiu com a cabeça.

— Uau. — disse, voltando o olhar para o centro do quarto.

Ela só conseguia imaginar a diferença gritante de realidade entre sua vida pacata e humilde em Riverside, com aquele quarto luxuoso em passaria a noite. caminhou até o closet e pegou algumas peças de roupa sua então entregou a ela para que pudesse se trocar e ficar mais confortável. agradeceu ainda envergonhada e caminhou até o banheiro. Quando retornou ao quarto, ele já havia trocado de roupa também, vestido com uma calça de moletom e uma camisa do Lakers. 

Ela tombou a cabeça de leve ao observá-lo de costas para ela, voltado para a varanda do quarto observando o céu.

— Pode dormir na cama, não serei um mal anfitrião que deixa sua convidada dormindo no sofá. — disse ele, percebendo sua presença.
— Nossa que cavalheiro. — comentou ela, num tom descontraído. — e você vai dormir no chão?
— Não. — ele riu e se virou para ela — O quarto ao lado está vago, vou dormir lá.
— Vai me deixar dormir no seu quarto e ir para o outro? — por essa ela não esperava — Não precisa disso, eu posso dormir naquele sofá ali que parece muito confortável.
— Me deixe ser um bom anfitrião. — pediu ele, olhando com serenidade.

Ela respirou fundo.

— Ok, eu deixo apenas se não dormir no quarto ao lado, pode ficar no sofá. — disse ela.
— Não está com medo que eu te seduza no meio da madrugada? — brincou ele dando alguns passos para mais perto dela.
— Que veterano malicioso, não tenho medo de você. — brincou ela.
— Então eu posso tentar? — brincou ele.

Ela riu.

— Não. — respondeu brincando — Seja um bom anfitrião e não me seduza.

A noite seguiu em claro com eles conversando sobre os mais diversos assuntos que vinham na mente de . Primeiro porque realmente ela não tinha nenhuma confiança em dormir com ele no mesmo ambiente, mas estava sem graça de fazê-lo sair de seu próprio quarto, causar esta situação logo em seu primeiro dia era mesmo vergonhoso para ela. E segundo, conversar com conseguia ser ainda mais estimulador e divertido do que em seus momentos de leitura aos fundos da biblioteca do ensino médio.

Em um dado momento sentiu o cansaço bater. Estando sentada no sofá de frente para a varanda ao lado dele, inclinou um pouco o corpo e encostando a cabeça, fechou os olhos.

— Vai dormir logo agora? — perguntou — Daqui a vinte minutos o sol vai nascer, vai mesmo perder a vista?
— Só estou descansando meus olhos, não vou dormir. — sussurrou ela.

Seus planos não era mesmo dormir, apenas ver o sol nascer ao lado daquele veterano intrigante que lhe fazia sentir-se atraída.

— Você fica ainda mais linda dormindo. — comentou ele.
— Não estou dormindo. — ela disfarçou um sorriso, mantendo os olhos fechados.

Em segundos o sono chegou forte e ela realmente adormeceu. apenas sorriu e se remexendo um pouco, passou o braço por trás do pescoço dela para que a garota pudesse se aconchegar em seus braços. Logo o corpo de se aninhou ao dele e puxando uma manta proposital ao lado, o veterano apenas a cobriu, movimentando o olhar para a porta da varanda esperando o sol nascer.

— Por que você é uma caloura?! — sussurrou ele, num tom chateado.

O tempo foi passando até que foi despertando aos poucos. Não demorou até que percebesse estar aninhada nos braços de que também estava adormecido ao seu lado. Mesmo com a luz do sol em seus rostos, ele parecia eu um sono bem profundo. A garota virou seu corpo de frente para ele e ficou o observando com um sorriso discreto no canto do rosto. 

— Bom dia. — sussurrou ele, sorrindo de canto e mantendo os olhos fechados.

sentiu seu coração pulsar mais forte e acelerado, assim que ele abriu os olhos mantendo intensidade. apenas aproveitou o momento e o clima entre ambos para erguer seu corpo e beijá-la com suavidade, Bronx retribuiu o beijo de imediato, até que se forçou a voltar a sua sanidade mental e se afastou dele.

— Acho que está na minha hora, os ônibus devem ter voltado a passar. — ela se levantou do sofá — Obrigada pela noite.
— Eu que agradeço. — ele piscou de leve e sorriu — Se lembra do caminho?
— Sim, me lembro. — ela riu.

era boa em memória fotográfica. Assim que chegou em seu dormitório, se jogou na cama e finalmente pode dormir de verdade. Nem mesmo notou que ainda vestia a roupa do veterano, se cobriu com uma coberta e se rendeu às próximas horas de sono. Seus planos para o segundo dia foi passar a maior parte do tempo no quarto escrevendo no velho livro seu planejamento anual de leitura. Enquanto no lado externo do campus vários comentários circulavam, sobre a caloura que passou pelas ruas vestida com as roupas de um veterano. Bem que o boné que ela viu jogado ao chão quando passou pela cozinha foi o ápice de sua expertise para não ser reconhecida.

No dia seguinte, finalmente as aulas iniciaram. Primeira aula de uma manhã imprevisivelmente chuvosa de quarta-feira, História da Arte. Aplicada como sempre e mega ansiosa pelo que viria a seguir, foi uma das primeiras a chegar na sala. Logo avistou próximo a bancada do professor.

“Certamente ele deve ser o monitor dessa matéria, conhece tanto do assunto e está ali organizando tudo.” Pensou ela inocente. “Ele fica tão bonito vestido assim formalmente!”

Ela se manteve sentada bem ao centro da arquibancada, observando os outros alunos entrarem. Notou de leve que a maioria eram garotas e que algumas não eram do curso geral de História. Assim que um jovem rapaz que parecia o técnico de T.I se afastou de e se retirou da sala, o tal veterano se colocou mais a frente do tablado em que ficava a bancada do professor e começou a discursar.

— Bom dia a todos os calouros e veteranos, vamos começar a primeira aula de História da Arte de Stanford. — começou ele — Sejam muito bem vindos, meu nome é Fletcher, sou o professor de vocês.

Professor?! O coração de disparou de imediato, deixando-a em um surto interno. Todo o tempo da aula ela passou desviando seu olhar morrendo de vergonha, ele por sua vez agia naturalmente, como se nada tivesse acontecido. Terminando a aula, ela pegou suas coisas e saiu correndo, mesmo o ouvindo chamá-la ao longe. Constrangedor! Pensou ao longo do caminho.

As aulas que seguiram ao longo do dia, não conseguiram despertar sua atenção, pois seus pensamentos se resumiam em: Eu beijei meu professor. Logo à noite, ao chegar no dormitório, recebeu uma mensagem no whatsapp de um número desconhecido.

Está tudo bem?

Ela olhou para a mensagem, intrigada.

Quem é?

Passamos a noite juntos e pergunta quem é? 
kkkkkkkkkk

como conseguiu meu número?

você é minha aluna, não foi difícil.

como pode?
porque não disse que era meu professor?
como pode ser presidente da fraternidade?

todo professor já foi aluno na vida um dia
e não deixei de ser presidente depois que me formei
foi você quem achou que eu era um veterano

agora a culpa é minha?

Não kkkkkkkkkkkkkk
mas não se culpe

ah claro, você está tranquilo porque com certeza 
não sou a primeira aluna que você beija

na verdade é sim
não me envolvo com alunas

Ela engoliu seco surpresa.

que tal fingirmos que não aconteceu?

me desculpe, mas não conseguirei esquecer
entretanto
prometo tentar não te constranger mais

Ela soltou um suspiro aliviado e bloqueou a tela do celular. Deixando-o embaixo do travesseiro. 

— Não acredito que isso tenha acontecido justo comigo. — sussurrou.

Ela voltou seu olhar para a bancada de estudos e se lembrou do pingente que guardou na gaveta e o retirando, olhou por um tempo como se estivesse hipnotizada. As vozes no corredor lhe despertaram a atenção e ela guardou o cordão no bolso da calça. Não demorou muito até que Kim adentrou o quarto por alguns minutos, trocou de roupa e saiu novamente avisando que não dormiria ali naquele dia. soltou um suspiro cansado e pegou o velho livro que transformara em agenda, para conferir as aulas do dia seguinte. Ao abrir, notou que seu nome escrito, não estava mais lá, assim como as outras anotações, o que a deixou intrigada. Será que o papel era especial?

— Que loucura. — sussurrou — O que aconteceu com tudo que escrevi?

De repente, a lâmpada do quarto começou a falhar e se apagou. Uma luz começou a surgir do bolso de sua calça. Notando isso, ao tirar do bolso, a luz que emergia dele ficou mais forte iluminando todo o quarto. Um clarão se deu, seguido de um sopro de vento que entrou pela janela aberta, jogando-a contra a parede. Com o impacto, acabou ficando desacordada.

--

— Hum?! — sussurrou ela, ao acordar sentindo dores na cabeça.

Um frio gelado passou por seu corpo, e em segundos notou não estar caída sobre o chão de seu quarto. Abrindo os olhos no susto de percepção, se viu deitada sobre a areia. 

— AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH! — ela soltou um grito e logo ficou estática.

Seria uma brincadeira dos veteranos da universidade? Definitivamente, não. Ela se levantou ainda zonza e começou a caminhar, sentindo parte da areia entrar em seu all star.

— Alguém?! — gritou ela — Não tem graça nenhuma, já podem sair e desligar qualquer que seja o holograma.

A todo custo, queria acreditar que ainda estava em algum lugar do campus onde os veteranos a observavam cair no trote dos calouros. Porém, a cada metro que avançava em sua caminhada, mais suas esperanças diminuíram. Até que avistou um grupo de pessoas que se abrigavam perto de uma fogueira.

— Senhor, por favor. — disse ao se aproximar do que parecia ser uma família nômade.
— Oh! — a mulher se assustou ao olhá-la.

achou curioso seus trajes que lembrava uma burca, com somente seu rosto amostra.

— Quem é você? — o homem se levantou e pegou a lança ao lado, apontando para ela.
— Por favor, não me machuque, eu só preciso de ajuda, não sei onde estou. — disse ela, tentando não ficar mais desesperada do que já se encontrava.
— Não sabe onde está? — a mulher olhou para o homem — De certo ela não é persa, menos ainda egípcia, será uma escrava fenícia que fugiu? Ou hebréia?
— Eu não sou uma escrava. — assegurei.
— O que faz no deserto sozinha? Se não é uma escrava fujona. — disse ele.

não sabia como, mas conseguia entender o que eles diziam, já que não falavam seu tradicional inglês. O mais louco de tudo, eles também entendiam o que ela falava.

— Eu estava em meu quarto, uma luz brilhante de jogou na parte e vim parar aqui… — ela parou por um momento — Vocês não vão acreditar em mim.
— O cordão. — disse a mulher, apontando para o cordão que misteriosamente estava no pescoço dela.
— O que?! — passou a mão no pescoço e sentiu o objeto nele — Isso.

Foi isso que me trouxe aqui?! Pensou ela, consigo.

— Eu já vi esse cordão antes. — comentou o homem — Quando criança. Onde o conseguiu?
— Se eu contar não vão acreditar. — disse ela, com certeza de suas palavras — Mas, preciso de ajuda, preciso saber onde estou e como faço para voltar para minha casa.
— Você está nos limites do império persa, sob o domínio do cruel rei Darius. — explicou o homem, voltando a se sentar em frente a fogueira e deixando a lança ao lado — O lado em que estamos pertence aos ladrões do deserto, uma terra sem lei e amaldiçoada pelos reis.

Império Persa? Ela engoliu seco. O que?

— Sente-se aqui, venha se aquecer. — disse a mulher, oferecendo uma capa para ela — O deserto é frio à noite, e pode haver tempestades de areia também.

assentiu com a face e pegou a capa, se cobrindo com ela. Então assentou mais próximo ao fogo e ficou observando em partes a troca de afeto do casal.

— Céus… Como vim parar aqui?! — sussurrou para si, ao alisar o pingente em seu pescoço com o dedo indicador — Como vou voltar?!

Era inacreditável, mas a jovem universitária não estava mais em Stanford, e sim em meio ao deserto da Pérsia Antiga.

Venho de um lugar,
Onde sempre se vê uma a caravana passar
Vão cortar sua orelha
Pra mostrar pra você
Como é bárbaro o nosso lar.
- Arabian Nights / Aladdin


2. O Encontro

Mesmo sentindo seu corpo cansado e sua mente fervilhando de perguntas sem respostas, passou a noite em claro com seus olhos fixos nas chamas da grande fogueira. Ao mesmo tempo que se sentia aquecida pelo calor do fogo, também se arrepiava com a brisa fria do deserto. Por mais que sua mente pedisse por uma explicação realista, aos poucos lá no fundo ela já aceitava o fato de magicamente, o tal cordão em seu pescoço tê-la transportado para aquele tempo.

— Ainda não acredito que estou aqui. — sussurrou ela, enquanto alisava com o dedo indicador o pingente do cordão em seu pescoço.
— Sua história é realmente impressionante. — comentou , o filho único do casal que a abrigara — É loucura, mas eu acredito em todas as palavras que disse.

Ele havia lhe acompanhado por toda a noite. Silencioso e observador, em sua curiosidade por entender quem era a linda mulher à sua frente, que com toda certeza não pertencia ao seu mundo.

— Agradeço por não me achar uma louca. — ela sorriu de leve e brincou — Afinal, não é todo dia que se encontra alguém como eu, que brota no meio das areias do deserto
— Como você, definitivamente não, mas já nos deparamos com prisioneiros fugitivos por essas terras. — ele sorriu de volta, mantendo o olhar nela — Me diga, como é o seu mundo?
— Hum… — ela se fez a pensativa, tentando construir uma resposta simples — É complicado de explicar como ele é, digamos que há muitas coisas que não existem no seu.
— Como o que? — insistiu ele.
— Como isso. — ela mostrou o relógio em seu pulso, que havia esquecido de retirar quando chegara ao quarto — Este é um relógio digital que marca as horas.

pegou de leve em seu braço e olhou atentamente para o objeto. Realmente parecia um artefato estranho aos seus olhos, entretanto interessante também. Aos poucos fora lhe explicando as funcionalidades do objeto que de forma misteriosa conseguia funcionar perfeitamente, mesmo ela estando naquele tempo distante do seu.

— E você? Me conte como é viver como um nômade? — ela manteve seu olhar nele, também curiosa por saber mais sobre a vivência real das pessoas daquela época — Não ter uma casa.
— Hum, não que não tenhamos uma casa, nós temos onde repousar no reino de Susã, na casa de nossa família. — explicou ele, voltando seu olhar para a fogueira em que suas chamas já se mostravam fraca — Mas, já estamos acostumados com a vida no deserto, ser comerciante tem isso.

Ele riu de leve, fazendo-a rir também.

— Oh, ambos já estão acordados, ou não conseguiram dormir? — comentou a mulher ao sair de sua tenda, pouco antes do nascer do sol e se deparar com eles — Meu filho?
— Ela não conseguiu dormir e eu não quis deixá-la sozinha. — respondeu .

O olhar da mulher se voltou para e continuava curioso, pois lhe intrigava as suas vestes estranhas nunca vistas antes. A jovem a olhou e assentiu com o balançar de sua cabeça, então se espreguiçou sentindo pontadas de dores nas costas.

— Para ser honesta, já tenho o costume de passar as noites em claro. — afirmou a jovem — Agradeço a senhora, ao e seu marido por me acolherem, sei que devo ter parecido uma ameaça por aparecer do nada em meio ao deserto e de madrugada.
— Não precisa agradecer minha querida, e pode me chamar somente de Samira. — a mulher sorriu para ela e sentou-se ao seu lado.
— Como eu já te disse, nos esbarrar com pessoas por esse deserto tem sido bem comum para nós, principalmente quando são escravos fugidos de reinos vizinhos ou ladrões do deserto. — explicou .
— Por isso acharam que eu era uma escrava. — constatou a jovem, voltando o olhar para ela.
— Sim a princípio sim, porém ao ver o seu cordão. — a mulher apontou para o objeto em seu pescoço — Presumi que pudesse não ser.
— Samira, você disse que o viu uma vez, sabe me dizer o que esse cordão tem de especial? — perguntou ela curiosa.

Além de me transportar para o deserto persa medieval. Pensou consigo mesma.

— Eu também estou curioso sobre isso, mãe. — voltou seu olhar para a mulher também.
— Há uma lenda que cerca este colar, os antigos diziam que ele tinha uma magia guardada que poderia mudar o destino da Pérsia em momento precisos. — contou Samira, ao erguer sua mão e tocar no pingente — A única vez que o vi como disse antes, não foi exatamente ele, mas um desenho dele.
— Onde viu? — manteve seu olhar atento a ela.
— Meu pai trabalhava no palácio do império Persa, sua função era organizar os pergaminhos dos sábios conselheiros de vossa majestade. — iniciou ela a sua história — Um dia, eu fui para ajudá-lo, foi quando achei um velho pergaminho com o desenho desse cordão e meu pai me contou sua história.
— E a lenda somente dizia que mudaria algo em específico? — se mostrou um pouco desapontada pela escassez de detalhes.
— A única coisa a mais que meu pai me disse, é que pertenceu a uma grande rainha egípcia e que estava desaparecido há mais de um século. — o olhar da mulher suavizou ao perceber a aproximação de seu marido.
— Eu aconselho não deixar que outras pessoas vejam isso em seu pescoço, vão achar que roubou. — disse o homem, ainda contrariado por ter concordado com a mulher em ajudá-la.
— Agradeço, senhor Peri. — sorriu de leve, sabia que sua única chave para voltar seria o cordão em seu pescoço, então teria que protegê-lo com sua vida se fosse preciso.
— Agora que amanheceu, temos que nos apressar, há muitos ladrões nessa região e precisamos retornar ao reino da Pérsia. — disse Peri, ao se direcionar para o filho — Venha me ajudar com os camelos .
— Sim, meu pai. — o rapaz se levantou do tapete em que estava sentado todo esse tempo e se seguiu com o pai onde estava os camelos.
— Por que vocês sempre voltam para lá, não me disseram que o tal rei é cruel? — a jovem estava confusa pela decisão dele.

Seu olhar voltou-se para Samira.

— Somos comerciantes de peles , e na Pérsia estão nossos maiores compradores, além da nossa família e amigos. — explicou ela — No mais, em alguns casos a crueldade de vossa majestade é algo positivo, não há cidade mais segura que Susã.
— É bom para os negócios, por isso vamos nos apressar pois ainda temos dois longos dias de caminhada. — ordenou Peri — Se certifique de amarrar bem as mercadorias .
— Não se preocupe pai, estou fazendo isso. — assegurou o rapaz.
— Venha , não podes viajar conosco usando essas roupas. — disse Samira, ao se levantar e puxá-la consigo — Tenho algumas peças minhas que podem te caber.
— Ah sim, tem razão.

apenas assentiu. A jovem ainda se manteve intrigada pela partida, porém preferiu não perguntar mais nada. Após se trocar, ela ajudou Samira a recolher as coisas e observou prender uma parte em um dos camelos que seguiria com o pai. Como haviam apenas três animais, viajou no terceiro camelo que carregava a outra parte das mercadorias, na companhia de . A princípio, ficou temerosa por estar montada em um animal tão temperamental como o camelo apelidado de Duna pelo rapaz. Entretanto, ao longo do caminho, agarrada a cintura dele, pode aos poucos se acostumar com o balançar da viagem.

— Está gostando da viagem? — perguntou , quebrando o silêncio entre eles.
— Já me senti enjoada algumas vezes pelo balançar, mas agora estou melhor. — ela riu baixo — Estou curiosa para saber quando foi que você começou a se acostumar com isso.

Ele soltou uma risada boba.

— Após alguns anos, o único jeito é se acostumar. — respondeu ele — Mas já está escurecendo, vamos acampar mais à frente.
— De novo? — ela soltou um suspiro fraco.
— Sim, não costumamos viajar à noite, é mais perigoso. — explicou.
— Entendo. — ela olhou rapidamente para o horizonte e viu o sol fraco do final da tarde.

A segunda noite de Jasmim fora em descanso de um sono profundo e misterioso, principalmente pelo fato da jovem ter sonhado com seu professor de história de Stanford. Na manhã seguinte, após se vestir com as roupas emprestadas de Samira, ela permitiu que a mulher lhe fizesse um penteado típico para as mulheres da região. Se não fosse pela tatuagem de cruz vazada em seu pescoço, uma figura incomum para o tempo, ela poderia facilmente se passar por uma persa.

— Pronta para mais um dia de balanço? — brincou , ao ajudá-la a subir no camelo.
— Não temos outra opção. — ela riu de volta — Acho que estou pronta.

Mais um dia de viagem para finalmente chegar ao destino da família. A jovem que sempre passou noites lendo muitas histórias fictícias medievais e livros acadêmicos de história Persa, jamais se imaginou vivendo algo parecido. Entretanto, ali estava ela contemplando todo o horizonte a sua frente, que sem modéstia revelava a beleza da cidade de Susã, a mais importante do atual império Persa.

— Como é lindo. — sussurrou ela, sentindo seus olhos brilharem.
— Agradeço o elogio. — brincou , sabendo do que ela falava.

soltou uma gargalhada boba e engraçada que o fez rir junto.

— Esta cidade realmente é muito bonita. — concordou ele, ficando um pouco mais sério — Entretanto, perigosa.
— Por causa do rei? — indagou ela.
— Também, mas sempre que visitamos Susã, uma coisa ruim acontece. — explicou ele — Não conosco, mas próximo.
— Vocês são de qual cidade? — perguntou ela.
— Minha mãe nasceu na cidade de Samaria e veio cativa para esta cidade, já o meu pai é de Susã nascido e criado. — contou ele — Em um retorno de viagem de negócios do meu pai, eles se conheceram e se apaixonaram, agora vivemos pelo deserto para vender nossas mercadorias.
— Interessante, conheço um pouco sobre a cidade de Samaria. — comentou ela, lembrando-se de muitas das suas pesquisas sobre as cidades bíblicas — E você? Nasceu em Susã mesmo?
— Sim. — assentiu.
— E sendo daqui você tem o como o seu rei? — ela manteve o olhar na cidade que aos poucos se tornava ainda mais monumental.
— Não, não gosto de me curvar a um homem como ele. — engoliu seco, lembrando-se de muitas histórias sobre o rei cruel.
— E porque ele é tido como cruel?! — perguntou ela — Não deve ser apenas por ganhar guerras e invadir cidades.

apenas permaneceu em silêncio, mantendo o olhar para frente. Pouco mais de uma hora depois, finalmente eles adentraram os portões da cidade. Seus muros tão sólidos e altos deixaram impressionada, assim como a rua do comércio abastecida de produtos dos mais diversos da época e comerciantes de todos os lugares que se possa imaginar.

Assim que chegaram à casa da família de Peri, foram recebidos por seu irmão mais velho Bari, sua esposa Saadi, acompanhados das filha Ava e a pequena Safira. Para sua surpresa, fora muito bem acolhida também pelos familiares de Peri, tanto que logo a pequena Safira com seus olhares curiosos se agarrou a ela como se fosse também sua irmã.

— Agradeço Ava, por me deixar ficar com você em seu quarto. — agradeceu ela, ao entrar no cômodo e se atentar a cada detalhe da arquitetura persa com sua colorida decoração regada a tapetes e almofadas pelo chão — Aqui é tão lindo.
— Obrigada, foi eu mesma quem decorei. — disse Ava, sorrindo de leve — Você pode dormir aqui, ali é a cama da Safi, e esta é a minha. 

A jovem viajante assentiu se aproximando do sofá almofadado, que mais parecia uma cama, então sentou-se, pegando uma almofada para pousar em seu colo. Logo ela observou mais um pouco Ava, que aparentava ter sua idade, olhando-se ao pequeno espelho próximo da porta. A bela garota persa começou a retocar sua maquiagem que acentuava seu olhar e lhe deixava mais radiante, o cabelo soltou sendo escondido pelo véu. já sabia muito sobre a cultura, costumes e tradição da mulher usar o véu como uma forma de esconder sua beleza para o marido. Pelo menos era isso que os livros de história contavam, até que a verdade caiu por terra, quando Samira lhe contou que o uso tinha a finalidade de proteger os cabelos dos fortes raios solares. 

— Você é linda, deve ter uma fila de homens querendo se casar com você. — comentou .
— Ah, agradeço o elogio, não negarei que de fato tenha alguns pretendentes, porém meu pai afasta todos. — ela soltou um suspiro de chateação — Fico me perguntando quando terei a chance de ter minha família, antes de correr o risco de um futuro mortal.
— Do que está falando? — a jovem ficou confusa pelas palavras da persa.
— A cada ano, o rei ordena que toda virgem de uma certa idade seja entregue ao palácio, lá as moças são preparadas para possivelmente se casar com vossa majestade. — explicou Ava, num tom trêmulo e baixo.
— Nossa, você parece triste. — constatou , e sussurrou consigo mesma — Na maioria das histórias que eu li, as moças ficam eufóricas para casar com um rei.
— Felizmente ano passado foi sorte minha ter saído em viagem com o tio Peri, assim não fui levada ao palácio.
— Hum…
… — Safira entrou correndo no quarto e pulou na cama ao lado da jovem.
— Safira, olha os modos, não está vendo que nossa visita veio de uma longa viagem no deserto e precisa descansar? — Ava a repreendeu.
— Está tudo bem Ava, essa pequena está bem elétrica, mas não tem problema. — sorriu de leve.
— Viu. — Saphira mostrou a língua para a irmã e saiu correndo para o corredor.
— Abusada! — Ava a xingou, porém sem sucesso.

Elas riram um pouco e logo Samira apareceu no quarto para ver se a jovem viajante estava bem instalada. Claro que a família ocultou boa parte da história de Bronx para os familiares da Pérsia, assim não correria o risco de trazer problemas para a jovem. E com o cordão muito bem escondido sobre suas vestes. Samira a incentivou a passear pelas ruas do comércio, e pediu sua sobrinha que as acompanhassem também, assim poderia se sentir mais à vontade com alguém de sua idade.

— Peles, peles da mais alta qualidade! — gritava o senhor Peri para as pessoas que iam passando pela barraca que haviam montado.

Bari e o sobrinho também estavam na barraca, ambos concentrados em suas vendas atendendo os clientes. Por um momento, se pegou com o olhar fixo em , que estava sorrindo para o bebê de uma senhora que comprava tecidos com ele.

— Que sorriso é esse? Está gostando do meu primo? — comentou Ava, observando-a.
— Não. — a jovem voltou à realidade e a olhou — é somente um amigo, o conheço há apenas três dias, como poderia gostar dele.
— Não é o que sua cara me mostrou. — Ava insistiu — Eu te entendo, meu primo é tão honrado e fofo, gentil e educado que qualquer mulher se apaixonaria por ele.
— Hum… — se mostrou desconfiada — Por acaso você está apaixonada por seu primo, Ava?
— Claro que não, ele é como um irmão mais velho para mim. — ela fechou a cara se fazendo a ofendida — Mas, até que eu apoiaria uma união entre vocês dois.
— Deixe de dizer bobagens. — riu dela.
— Hum… Venha , vamos deixá-los trabalhar e passear um pouco pela cidade. — disse Ava ao pegá-la pelo braço para guiá-la por entre a multidão.
— E para onde vamos?! — perguntou curiosa.
— Quero ir ao templo para fazer uma oferenda, enquanto isso andamos pelos arredores. — explicou ela — Tudo bem para você?
— Sim. — assentiu ela.

Para tudo naquele lugar seria um ponto a ser explorado. Se aquele cordão havia mesmo a transportado para a Pérsia antiga, tinha um propósito que ela precisava descobrir para conseguir retornar ao seu tempo. Após alguns minutos de caminhada e uma pequena distração, ela acabou se perdendo de Ava e entrando em algumas ruas aleatórias. Foi neste momento em que a confundiram com uma serva do palácio e lhe entregaram alguns cestos para serem entregues na cozinha real.

Aquilo seria uma oportunidade de explorar os pátios reais do rei cruel? Sim. E para não havia limites para sua curiosidade em viver a maior experiência de sua vida. Estar naquela época mesmo que em condições intrigantes era divertido para ela. Inicialmente, a jovem fora guiada até a cozinha, ao entregar os cestos lhe ordenaram retornar para a rua do comércio com a função de comprar outros produtos.

Em seu regresso aos portões, ela se perdeu nos muitos corredores. Sem perceber, adentrou por uma passagem chegando em um jardim lateral do palácio. Logo, a jovem percebeu uma movimentação estranha e vozes alteradas. Escondendo-se atrás de uma das palmeiras do canteiro próximo a passagem da qual entrou, ela pode ver nitidamente um homem levantar a lâmina de sua espada em frente a uma mulher que se mantinha caída ao chão em gritos de clemência.

Antes que pudesse ver o que aconteceria, ela fechou os olhos e saiu correndo o mais rápido que pode. Consequência? Seu corpo trombou em algo que no impacto a fez cair.

— Quem é você?! — uma voz grossa e rouca soou com rispidez.

abriu seus olhos e se deparou com a imagem de um homem com vestes finas e um olhar frio. Seu corpo gelou na hora, porém seu coração acelerou de imediato, pois o tal homem a fazia lembrar uma pessoa conhecida em seu tempo.

— Majestade! — outra voz soou ao fundo.

Tempo suficiente para dar a ela uma distração para fugir dali.

You can call me monster.
- Monster / EXO


3. O Harém

Em meio a sua corrida recheada de desespero, conseguiu chegar aos portões. Entretanto o caos já havia se instaurado no palácio devido ao seu rápido encontro com o rei . Em um piscar de olhos, antes dos portões se fecharem, ela sentiu alguém lhe puxar pelo braço para a direção da rua, fazendo com que se misturasse por entre a multidão. Quando finalmente ela já estava longe do perímetro do palácio, ela se deu conta que a pessoa que a resgatara, era .

— O que estava fazendo no palácio? — perguntou ele, ao apoiar o corpo da jovem em uma parede e ficar em sua frente, para protegê-la — Poderia ter morrido.
— Eu estava… — ela silêncio um pouco ao perceber alguns guardas passando.

Ela respirou fundo.

— Como me encontrou? — perguntou ela.
— Eu estava voltando de uma entrega a um nobre do palácio, quando a vi correndo pelo pátio, sorte que os portões inferiores estavam abertos para os servos. — explicou ele — Como Ava pode te deixar sozinha? Mesmo a luz do dia, não é seguro andar sozinha.
— Eu me perdi dela, quando estávamos olhando algumas pulseiras. — contou ela — Me desculpe.
— Não se desculpe. — seu olhar suavizou e voltou a atenção para a rua, vendo estar tudo tranquilo — Cubra seu rosto, vamos voltar para casa.

assentiu e o seguiu em silêncio. Ainda havia guardas procurando pela mulher misteriosa que invadiu o palácio, porém estando acompanhada por , não teve mais problemas e nem suspeitas. Assim que chegaram, ela correu para o quarto a fim de se acalmar um pouco.

— Não acredito no que eu vi. — sussurrou ela, ao lembrar-se da cena da mulher sendo assassinada.
. — Ava entrou afoita no quarto — Ah, que bom que te encontrou, onde você se perdeu?
— Ava. — ela a olhou, soltando um suspiro fraco — Nem te conto as coisas que vi.
— Conte sim, agora me deixou curiosa. — a moça se aproximou dela e sentou ao seu lado — Eu estava escolhendo umas pulseiras quando você desapareceu de perto de mim, andei por toda a região do comércio e não te vi.
— Eu fiquei distraída com um gato e acabei me perdendo pelas ruas até que me confundiram com uma serva da cozinha e me entregaram algumas cestas de verduras. — começou ela a contar sua saga.
— Você entrou na cozinha do palácio, que loucura. — Ava se mostrou boquiaberta.
— O pior vem a seguir, eu acabei me perdendo pelos corredores daquele lugar e vi uma coisa que me chocou. — sua voz foi ficando mais baixa — Nem sei como contar isso.
— Deve ter sido algo bem pesado para não querer falar. — comentou Ava, voltando o olhar para a porta — estava com uma cara de chateado, foi ele quem te encontrou?
— Sim, mas está tudo bem entre nós dois. — garantiu .

O mesmo a jovem viajante do tempo não poderia garantir sobre o que acontecia no palácio. O rei em mais uma noite de tormenta, novamente fora vencido pelos pesadelos que o perseguiam a anos, e faziam dele o rei amargo de que o povo temia. E sim, havia uma história por trás que o povo conhecia em parte, mas que nem imaginava que existia.

Em meados da madrugada, despertou de um sono profundo e saiu do quarto em direção a cozinha. Estava com sede e logo encontrou o cântaro de barro com água e despejou em um copo. De relance ela percebeu que havia uma pessoa no jardim dos fundos, ao se aproximar, avistou parado no centro olhando as estrelas. Por alguns minutos ela permaneceu ali em silêncio apenas o observando, quando fora percebida por ele.

— Também está sem sono? — perguntou ele, sorrindo de canto disfarçado.
— Acordei com sede. — respondeu ela, se aproximando mais — E você?
— Um pouco preocupado. — comentou.
— Comigo? — indagou ela.
— Eles não vão parar de te procurar. — ele respirou fundo e voltou o olhar para ela.
— Este cordão me trouxe aqui por um motivo. — sussurrou ela, ao mostrar o objeto em seu pescoço e olhá-lo — Só espero que não seja algo negativo como morrer na forca.

Ela tentou brincar, mas soou temerosa sua voz. Em instantes, ela sentiu os braços de envolvê-la de forma involuntária, porém espontânea, lhe transmitindo certa segurança e proteção. Ela assentiu o abraço se aninhando um pouco a ele, no fundo já o tinha como um amigo e relutava em sentir algo além disso. Na lógica, ambos eram de épocas distintas e distantes, querendo ou não seu retorno para casa era uma incerteza que poderia acarretar em uma separação ser dolorosa no futuro. Mas sim, lá no fundo ela queria se dar ao luxo de viver algum tipo de romance persa, como nos livros de ficção que tanto lia.

— Obrigado, por se preocupar comigo. — sussurrou ela.
— Obrigado por deixar. — sussurrou ele, de volta.

Em um piscar de olhos e acelerar de dois corações curiosos, um leve e doce beijo surgiu em pleno luar. tentou manter sua sanidade intacta, mas quando se está na chuva, é para se molhar, o que significa viver intensamente essa aventura.

— E agora? — perguntou ela, ao se afastar um pouco, deixando seu olhar mais sério — Você disse que eles não vão parar de me procurar, então não posso ficar na cidade.

A realidade ainda batia à sua porta.

— Sim, esse foi o pensamento que me tirou o sono. — concordou ele — Estava pensando em sairmos da cidade por um tempo, meus pais certamente vão querer ficar aqui para não chamar atenção.
— Mas não seria perigoso? — indagou ela.
— Podemos ficar nas redondezas onde for seguro. — ele olhou para o chão, refletindo se daria certo.
— Gostei do plano, posso ir também? — a voz de Ava soou da parte menos iluminada do jardim.
— Ava?! — disseram juntos ao olharem para ela.
— Não me olhem assim surpresos. — ela deu um passo à frente, deixando sua face ser tocada pela luz da lua.
— Desde de quando está aí? — perguntou , surpresa.
— Desde o início da conversa, vocês ficam bem juntos. — ela deu um sorriso sapeca.
— Não pensei coisas impróprias. — disse , num tom mais sério e se afastando da jovem — Vou me recolher, amanhã pela manhã falarei com meu pai e partiremos o mais rápido possível.
— Sim. — assentiu .
— Se vocês forem mesmo, eu irei junto. — avisou Ava com firmeza — Não ficarei aqui para ser levada para o harém do rei.
— Porque tem tanto medo de ir para lá?! — perguntou .
— Tudo bem Ava, pode vir junto, mas precisamos ser o mais discretos possível. — reforçou ele, entendendo o pedido de sua prima.

se sentiu um pouco chateada por novamente não ter esclarecido o motivo de sua nova amiga temer tanto o palácio. E mesmo que sua lembrança da experiência vivida no lugar, haviam perguntas sem respostas e peças que não se encaixavam em sua cabeça.

Ao raiar do sol pela manhã, e Ava começaram a juntar algumas provisões para partirem. Na sala, explicava ao pai e tio tudo o que havia acontecido no dia anterior e sua ideia de deixar a cidade com ambas as moças em sua segurança. Para Bari, as palavras de seu sobrinho eram uma loucura, mas não teve argumentos para impedir que o mesmo prosseguisse com o plano, pois Ava também não estava segura estando naquela cidade e sabendo que poderia ser levada a qualquer momento. 

Quando tudo estava pronto para partirem, um alvoroço começou a ser notado e foi crescendo pelas redondezas. Uma ordem do rei estava sendo executada naquela manhã calorosa. Seus soldados invadindo as casas e retirando todas as moças virgens, com idades acima de 17 anos de suas famílias. Quando Peri percebeu o que estava acontecendo, anunciou ao filho que rapidamente juntou as bolsas de viagem. Não tinha mais volta diante daquele decreto, afinal o temido rei só tinha uma intenção com aquilo: encontrar a jovem que invadira seu palácio.

— Vocês não possuem mais tempo, devem partir agora. — disse Peri, ao fechar o portão da casa, e se escorar nele.
— Eu te ajudo. — disse Bari, ao escorar no portão também, assim poderiam dar minutos de fuga aos jovens.
— Meu querido, tenha cuidado. — disse Samira, segurando suas emoções ao abraçar o filho.

Ela sabia o quão perigoso poderia ser para ele, proteger as duas meninas. Já Saadi já estava em lágrimas abraçando a filha e pedindo para que se cuidasse e fosse cautelosa. Em rápidas e agoniantes despedidas, os três jovens saíram por uma passagem escondida aos fundos do jardim, sendo amparados por seus pais que a muito custo impediam a entrada dos guardas na casa. A cidade estava mais uma vez em caos com a multidão apavorada e em pânico com o decreto real. 

Na medida do possível, tentou ser o mais cauteloso que conseguiu, ao passar pelos becos mais desconhecidos da cidade, escondendo-as sempre que necessitava. Entretanto, toda a esperança deles fora desabada assim que esbarraram em um grupo de cinco soldados, mesmo correndo para um lugar mais distante, Ava se apartou e foi alcançada primeiro e levada à força por um deles. Enquanto e mantiveram a direção, por alguns instantes acharam ter despistado os guardas, porém foram encurralados em um beco.

— Eu vou distraí-los e você corre. — disse , ao soltar a mão dela e fechar seus punhos.

Nem mesmo deu tempo de contestar e ele lançou seu corpo contra um dos guardas. Ela tentou escapar, porém ao vê-lo apanhar dos dois soldados ao mesmo tempo, olhou à sua volta para encontrar algum objeto que pudesse utilizar. Pegando um pedaço de madeira, bateu com força em um deles. O outro se afastou de e se voltou para ela, neste tempo o jovem persa aproveitou para tentar se recompor e ajudar a garota. Porém, mais dois soldados apareceram para o desespero deles. 

fora segurado por dois deles e começou a receber socos pelos terceiro, que ria com todo o ocorrido, enquanto era arrastada pelo quarto em direção às outras moças que foram capturadas. Quando chegou perto, ela avistou Ava sendo conduzida aos portões do palácio. 

— Eles pegaram você também. — disse Ava, ao abraçá-la — Que bom que está bem pelo menos. 
— Sim. — assentiu.
— E ?! — perguntou ela, preocupada com o primo.
— Eu não sei, ele tentou me ajudar e… — tentou segurar suas lágrimas, pois em sua mente a cena dele apanhando era nítida.

Assim estava todas as jovens virgens do reino, em lágrimas de medo e pavor, seguindo em linha reta sendo conduzidas pelos soldados. Após passarem pelo extenso pátio, repleto de canteiros de flores e pequenos arbustos, não se conteve em observar novamente a arquitetura persa diante dela. Nem em suas mais detalhadas aulas de história, ela poderia montar em sua mente um lugar tão monumental e belo quanto aquele.

Ao entrarem no palácio, Yarit, o eunuco responsável pelo harém real, as recebeu com um largo sorriso e muita empolgação. Para ele era sinal de festa ter mais donzelas sob seus cuidados, mesmo diante das circunstâncias ele faria o possível para que todas sentissem confortáveis em sua estadia ali.

— Bem vindas, jovens damas. — disse ele, num tom mais elevado — A partir de hoje, o harém real será sua nova morada, meus servos as levarão para a sala de banhos, onde serão devidamente banhadas com sais e óleos aromáticos, então cada uma receberá uma nova vestimenta. — ele continuou falando mais algumas regras a serem seguidas — Cada uma terá sua própria cama e serão divididas em grupos de cinco nos quartos do harém, pela manhã serão acordadas após o sol nascer para seu desjejum, depois serão encaminhadas para a sala de habilidades pois sua majestade aprecia uma donzela que tenha carisma e inteligência, à tarde voltarão para a sala de banhos para receber mais tratamentos corporais…

Quanto mais ele falava, mais continuava confusa com tudo o que acontecia e preocupada com uma coisa. No naquele momento que ela percebeu não estar com o seu colar no pescoço, e começou a vasculhar em sua mente o momento em que poderia tê-lo perdido.

— Eu não imaginava que seria assim. — disse uma garota, próximo a .
— Inocentes, como podem estar despreocupadas e se acostumando ao fato de estarmos presas aqui. — comentou Ava, com um tom melancólico após se levantar da banheira e se enrolar na toalha — Céus, eu só queria poder fugir daqui.
— Você não me parece muito revoltada com este lugar. — comentou em tom de brincadeira.
— E o que farei? Me revoltar e não fazer o que eles mandam? — Ava a olhou séria — Não temos escolhas, não até surgir uma oportunidade.
— Está pensando em fugir? — sussurrou para ela.
— Se houver oportunidade. — ela sorriu de canto e piscou de leve.

Assim que um eunuco se aproximou delas, ambas silenciaram-se e mantiveram a encenação de aceitarem as ordens e regras do harém. Algumas horas sendo tratadas, recebendo massagens e os banhos relaxantes, vagamente se lembrou da vez em que fora para um spa com sua mãe e obteve o mesmo tratamento de rainha. 

Ao final da noite, um leve banquete fora servido a todas. e Ava prepararam um prato para cada e se distanciaram um pouco das outras, era a vez da jovem de Stanford ter suas perguntas respondidas.

— Pronto, agora estamos aqui. — disse ao se sentar em um dos bancos acolchoados — Me diga qual é o problema com este lugar?
— Ah, me esqueci que não te contei aquele dia. — Ava soltou um suspiro fraco.
— Não, não me contou o motivo de ter tanto medo de vir para o palácio. — continuou ela.
— Ser trazia para cá é literalmente uma sentença de morte. — iniciou Ava, ao mordiscar o morango em sua mão — Lembra que eu te falei que todo o ano, o rei recolhe as virgens de uma certa idade?
— Sim. — assentiu.
— Após algumas semanas sendo preparadas no harém para se tornarem possíveis mulheres de vossa majestade. — continuou ela, escolhendo a melhor forma de explicar a amiga o futuro que as aguardava — O rei escolhe uma para o casamento real, porém, a escolhida nunca volta da noite de núpcias.
— Como assim nunca volta? — manteve um olhar atento e confuso a ela — O que acontece com a noiva?
— Na manhã seguinte à primeira noite com o rei, elas são condenadas à morte por traição à coroa. — finalizou Ava, segurando as lágrimas no canto dos olhos — O rei sempre mata suas esposas no dia seguinte à noite de núpcias, dizem que isso começou quando ele estava noivo de uma princesa e acabou sendo traído por ela, quando a mesma se envolveu com o seu irmão que naquele tempo também era o general do exército persa… Vossa majestade nunca passa muito tempo sem uma esposa é por isso que todo ano o harém recebe novas donzelas...

Jasmine se pegou estática e em choque pelas palavras de sua amiga, ditas tão abertamente e esclarecendo todo o mistério que havia por trás daquele medo de estar ali.

Já era de se esperar que Jasmine passasse a noite em claro pensando na história dos muitos casamentos de sua majestade. Toda a cena em que vira no palácio fazia sentido agora. Pouco antes do amanhecer, ela deixou os aposentos das virgens e seguiu pelo corredor lateral até chegar ao jardim, seu olhar pareceu distante assim que ficou parada em frente a uma fonte, com a atenção voltada ao céu. Curioso em como as estrelas pareciam ainda mais brilhantes naquele tempo.

— Porque será que eu vim parar aqui?! — sussurrou ela.

You can call me monster.
- Monster / EXO




Fim.



Nota da autora:
Me aventurando nessa versão do conto de As 1001 Noites, me lembro da primeira vez que vi o filme e fiquei encantada. Espero que tenham gostado, a história será finalizada por um tempo. Em breve voltaremos com mais aventuras.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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