Última atualização: 19/06/2020

Opostos

— Você acha que eu sou o que? Sua empregada? — gritei para o folgado que se achava o melhor agente daquele departamento — Eu sou uma hacker. Ok?! Hacker!
— Eu devo refrescar sua memória e dizer que você só não está em uma penitenciária porque trabalha aqui?! E para mim? — o olhar desafiante dele veio de encontro ao meu — Então pare de achar que pode escolher a hora que quer trabalhar e procure o que mandei.
— Aff… — prendi meu grito de raiva e voltei meu olhar para o computador e comecei a digitar.

Eu detestava aquele homem. 
Que me tomava toda a tranquilidade dos meus dias naquela agência. 
Bellorum se julgava o agente modelo da CIA, mas não passava de um babaca metido. Não conseguia imaginar como alguém como ele tinha uma esposa tão linda e gentil como a Mary, menos ainda uma filha tão fofa como a Sam. Tirando aqueles olhos penetrantes, o sorriso bobo, e o físico de dar inveja, nada mais nele tinha salvação. E claro, era ele, a arrogância em pessoa, o agente encarregado a cuidar de mim. Pois havia reivindicado minha permanência em sua equipe.

— Não há registros dessa placa em lugar nenhum. — disse ao pesquisar no sistema de registros de placas do país — Nem aqui, nem na Interpol, nenhuma entrada pelos portos. 
— Tenta no Mercosul, pode ter vindo de algum país da América Latina. — insistiu ele.
— Quer que eu invada o sistema do Mercosul?
— Você já invadiu o sistema do Pentágono. — ele me olhou atravessado — Isso não é nada para você... E seja discreta.

Ele achava que eu era o que? AI? Artificial Intelligence? Não, eu não sou uma máquina. Apesar do meu codinome ser Invisible Touch, não foi fácil invadir um dos sistemas do Pentágono. Foi por fazer isso que quase fui presa e agora estou aqui, tendo que aturar ele.

— E ainda exige. — sussurrei para mim — Abusado.
— O que disse?
— Nada. — mantive meu olhar no monitor digitando.

Soltei um suspiro longo e cansado. Já tinha semanas que estávamos procurando por pistas de um chefe da máfia italiana. O caso? Tráfico de pessoas. Nos dois anos que já trabalhava ativamente para CIA, parte do meu acordo de não ser presa por séculos, eu já tinha ajudado em inúmeras investigações e operações. A maioria favores prestados a Continuum. Entretanto, a única que ainda dava dor de cabeças para o agente modelo era essa. Donnie e seus capangas sabiam como não deixar rastros. O que me deixava ainda mais empolgada para encontrá-los.

— Nada aqui também. — avisei a ele.
— DROGA! — ele xingou se afastando da mesa e jogando a pasta em sua mão no chão — Não acredito que fui enganado de novo. 
— Ai nervosinho… — segurei o riso de deboche — Espera que eu ainda não tentei… — continuei digitando — Acho que consigo aqui…
— Consegue o que? — ele se aproximou novamente — Do que está falando?
— O sistema de trânsito do nossa país é contemplado de muitas câmeras e o programa que eu inventei e instalei aqui, me ajuda a escanear cada placa de carro que foi fotografada em um período de um ano. — expliquei para o inocente, metido a sabe tudo.
— Você consegue fazer isso? — indagou ele surpreso.
— Já está rodando. — girei a cadeira e olhei para ele com superioridade.

Nem sempre o músculos supera o cérebro. Pensei comigo.

— De onde tirou esse programa? — seu olhar desconfiado voltou, então cruzou os braços.
— Isso eu não vou te contar. — me levantei da cadeira e caminhei até a o sofá da sala em que eu trabalhava.

Era um lugar meio apertado, mas longe dos olhares intrigados dos outros setores da CIA. Eu era exclusiva do departamento IT. 

— Sou o seu superior. — ele engrossou a voz.

Grande coisa. Segurei o riso novamente.

— E daí? — o olhei e coloquei a mão na cintura — Meu acordo me garante trabalhar com as ferramentas que eu quiser e construir. 
— Assim que tiver a informação, me avise. — disse ele ao se voltar para a porta e sair.
— NÃO ESQUEÇA DO POR FAVOR! — gritei para ele — Babaca.

Respirei fundo e retirei o celular do bolso. 
Desbloqueei a tela e sorri automaticamente ao olhar a foto de papel de parede, do meu avô comigo. Estava com saudade dele, por causa do trabalho tinha pouco tempo para visitá-lo na casa de repouso onde morava. Uma coisa era boa de tudo isso, meu salário cobria os gastos com o vovô e lhe proporcionava conforto que tanto merecia. Eu devia minha criação a ele, que lutou muito para que eu me formasse em Princeton e fôsse uma mulher de bem. Infelizmente o decepcionei na parte do “de bem”. Sua neta só não estava na lista negra da CIA, porque agora trabalhava para ela. 

— Prometo te visitar antes do outono acabar vovô. — sussurrei ao apertar o aplicativo do spotify e colocar o fone no ouvido.

Trabalhar ao som de uma boa música era lei para mim. Tinha playlist para tudo, o que era mais legal. Me espreguicei sentindo uma leve dor na coluna e olhei para o computador, com o programa rodando o scanner, poderia ir almoçar tranquilamente. Saí da minha sala e segui pelo corredor até a porta para a escada. Não gostava de elevadores, para ser honesta, tinha um leve medo de entrar neles. Mas para todos os efeitos, eu usava as escadas para permanecer invisível naquele lugar.

Saí na rua depois de três dias confinada ali. Isso mesmo, três dias. Como não tinha uma casa ou apartamento, com meu avô na casa de repouso. Eu dormia no sofá do meu trabalho, quando ficava entediada, pagava um hotel ou algo assim. A casa do vovô estava alugada, o que ajudava ainda mais em nossa renda e pagar seus remédios de pressão ata. 

— Boa tarde Kim. — disse a garçonete da minha lanchonete favorita de Chicago.
— Olha só, a garota invisível. — brincou ela — Vai querer o de sempre?
— Não.. Hoje não, estou estressada por causa de… Quero algo novo. — respondi — Ovos mexidos com bacon, dois burritos, suco de laranja e um pedaço daquela torta de nozes com chocolate, porque eu tenho que me acalmar.
— Você está faminta hoje. — ela riu de mim anotando o pedido.
— Nem te conto. — ri junto.

Não era fome de fome, era fome de raiva. 

— Sente-se aí que já trago. — ela entrou para trás do balcão e foi entregar o pedido.

Eu me sentei na mesa aos fundos, bem longe de todos. Na visão dos meus superiores, eu não existia para o mundo e nem deveria. Meu trabalho poderia ser cobiçado por muitas pessoas e eles não queriam me perder para o crime novamente. Me desfrutei do meu brunch tranquilamente sem me preocupar em voltar correndo para obedecer as ordens do Bellorum chato. Aproveitei até para caminhar um pouco pelo quarteirão. Eu amava as folhas das árvores no outono, tão lindas. Não tinha tempo para apreciar essas pequenas coisas da vida. 

Quando voltei para o escritório, me deparei com encostado na janela da minha sala. De braços cruzados me olhando.

— Já conseguiu a informação, ? — perguntou ele.
— Ai como você é cansativo ein?! — resmunguei — Que trabalho escravo… Não posso nem sair para comer, o computador está trabalhando, ok?
— Se ele trabalha sozinho, porque temos você? — em plena rispidez na voz ele mantinha seu olhar em mim.
— Boa pergunta, me responda ela. — coloquei a mão na cintura e sorri de canto.

Segurei o riso e olhei para o computador.

— Olha… — me sentei de imediato na cadeira e digitei algumas coisas — Me parece que sua placa foi vista em alguns pontos aleatórios, com um horário específico.
— Qual? — ele puxou uma cadeira para perto e olhou o monitor.
— Primeiro, agradeça. — mantive meu olhar no monitor fechando a janela de busca.
— Diga logo e não vou agradecer. — seu tom permaneceu firme — É uma ordem!
— Mal agradecido… — sussurrei e respirei fundo, abri a janela novamente — Entre duas e… — eu olhei para o lado e paralisei um pouco, seu rosto estava bem próximo do meu — Cinco da manhã…

Seu olhar estava tão fixo e concentrado na informação que me deixou impressionada. Se tinha uma coisa que eu odiava admitir, é que Bellorum fazia bem seu serviço. Além de se dedicar muito em cada um dos casos. 

— Você pode mapear os locais? — perguntou.

Ele virou sua face para mim no rompante, que me assustou. Eu joguei meu corpo para trás no susto, por nossos rostos terem ficado muito próximos.

— Posso. — eu empurrei ele com força — Mas preciso de espaço, senão, eu não trabalho.
— Acha mesmo que pode fazer greve? — ele sorriu de canto.
— Quer pagar para ver? — o confrontei.
— Tudo bem, miss nerd. — ele se levantou rindo.
— Não vejo graça nisso. — fiz careta para ele — Ridículo.

Ele bocejou de leve e se jogou no meu sofá, fechando os olhos?

— Tá achando o que? Que minha sala virou hospedaria? — perguntei num tom indignado.

Confesso que sempre fui uma pessoa exagerada e dramática. Mas o que tinha de bonito, ele tinha de folgado.

— Estou descansando os olhos. — ele sorriu de canto — Fale menos e faça seu trabalho.

Mostrei a língua para ele e voltei minha atenção para o computador. Demorou um pouco até que juntei todas as informações relevantes para ele. A tal placa que procuramos por horas, tinha sido fotografada em três carros diferentes no período de horas que mencionei a ele. Visto duas vezes em Manhattan em uma van branca, uma vez em Los Angeles em um Chevy Impala preto e cinco vezes em uma caminhonete azul marinho no Texas. reuniu sua equipe de operação e assim começaram a traçar minuciosamente a estratégia. Enquanto eu analisava cada rota que a placa havia dado em cada carro, ele montava uma operação de busca e apreensão. 

Resultado?! 
Eu tinha encontrado uma pista forte, juntamente com um endereço intrigante ao sul do Texas, na cidade de Austin. Não demorou muito para que e sua equipe juntasse as malas para viajar. Claro que sempre me deixavam de fora das operações em campo. Por medo de eu fugir, eu acho. Mas aquilo significava que eu tinha uns dias de folga e sem ser perturbada pelo Bellorum.

- x - 

— Hum?! — disse ao esbarrar em uma caixa de sapatos no meio da rua.
— Grrrrrrrr. — ouvi um som estranho vindo de dentro.

Não que eu fosse uma garota medrosa, longe disso. Mas me abaixei lentamente pedindo a Deus para que não fosse ratos ou baratas. Assim que abri, meu coração se derreteu ao ver um filhote de gato todo encolhido e miando para mim. Seus olhos se abriram logo e senti ainda mais aperto no peito. Peguei a caixa e me levantei.

— Oh… Quem foi o desalmado que te jogou na rua assim, todo desamparado? — perguntei fazendo bico. 

Caminhei pelas ruas até entrar em uma loja de conveniência. Comprei uma caixa de leite e segui para o escritório. Me tranquei logo na minha sala e coloquei o leite em um potinho para o meu novo animal de estimação. Meu primeiro na verdade.

— Hum…. Como devo te chamar? — perguntei olhando para aquela bola de pelos branco com cinza — Que tal Puff? Acho tão fofo.

Fiquei o olhando tomar o leite, todo esfomeado. Sorri de leve com aquela imagem. Louco pensar nisso, mas em dois anos, eu finalmente tinha uma companhia naquela sala. Era um gatinho, mas era uma companhia. Os dias se passaram e tive a notícia de que a operação tinha sido um sucesso. O que me chocou um pouco. Nossas pistas eram quentes e finalmente tínhamos chegado em algum lugar. Nosso grupo tinha encontrado algumas pessoas, imigrantes ilegais no endereço, assim como um grupo que pertencia ao grupo do Donnie. 

— Ao grupo alpha da IT. — disse Sanches, o diretor geral do nosso departamento, ao levantar a xícara de café.
— Ao grupo alpha! — dissemos todos da equipe de cinco pessoas em um coral, levantando nossas canecas também.

Se existia um departamento viciado em café, era o nosso. Até nas comemorações era um brinde de café.

— Agradeço o reconhecimento senhor. — disse com seu sorriso largo de: minha equipe é a melhor.
— Imigrantes resgatados e enviados para a Interpol com sucesso. — disse Beth ao pegar uma pasta e entregar a Sanches.
— Muito bem. — ele pegou a pasta e olhou para — Só lamento ter abatido um dos peixes grandes.
— Eu também, mas não tive escolha. — a voz dele não me soava convincente.

sabia que era de suma importância capturar vivo um dos associados de Donnie. Porém, no calor do momento, ele fez questão de atirar em Jack Smith, nosso alvo. Seu olhar de orgulho pelo trabalho prestado a sociedade me irritava um pouco. Me afastei deles e voltei para minha sala, estava sentindo um leve cansaço em meu corpo. Precisava pensar no que faria, agora que o chefe Sanches tinha descoberto que eu dormia ali. Fechei a porta e me aproximei da janela para fechá-la, devido a brisa fria que entrava.

— Voltou rápido. — disse aparecendo da porta — Você é a última a sair quando tem comida envolvida.
— Me deixa em paz, vai festejar sua conquista com a Mary. — repliquei mantendo meu olhar na rua.
— O que é isso? — perguntou ele.

Ouvi o barulho de algo se arrastando. Olhei de imediato e ele estava mexendo na caixa do meu gato.

— Você trouxe um gato para cá? — ele me olhou embasbacado — Você é louca?
— Toca no meu gato e te mostro com quantos html eu consigo fazer uma bomba. — o ameacei.

Ele soltou uma gargalhada.

— Você não pode morar aqui e ainda traz um gato. — comentou ele ainda em risos — É muito louca mesmo.
— Que bom que percebeu. — cruzei os braços — E deveriam estar felizes por eu morar aqui, assim não fujo.
— Se você fugir, faço questão de te achar e te jogar naquela cela que te salvei.
— Você não me salvou. — retruquei — E deveria estar agradecido por eu ter feito o acordo com você.
— Ah, agradecido? Era só o que me faltava. — ele olhou para a parede — Que tal a gente desfazer o acordo então?!
— É ridículo isso. — bufei de raiva — Agente babaca.
— Nerd abusada. — ele se voltou para a porta e abriu — Se vira e arranja outro lugar para esse animal.
— O animal aqui é você. — revidei ao vê-lo sair — Se tocar nesse gato eu esgano ele.

Não adiantava muito eu ficar emburrada. Mas viver sob as ameaças dele me dava mais raiva do que tudo. Sentei na frente do computador e comecei a olhar os anúncios de apartamentos para alugar. Não podia ser nada caro. Os bairros de Chicago não tinha tanta diferença entre eles, mas preferia não morar em um que a criminalidade tivesse em alta. Minha melhor opção foi um loft em Chinatown, cujo o antigo morador tinha falecido a pouco tempo. Estranho. Mas era o que atendia a minha realidade financeira. Bem que eu podia receber uma bonificação. 

Uma semana se passou e eu finalmente consegui me mudar para o loft. 
Depois de chorar com o chefe Sanches que me desse grana para pagar os primeiros seis meses. Não imaginava que a CIA fosse tão pão dura com os funcionários. Estava no meu final de semana de folga com Puff, dando os toques finais em nosso cantinho do aconchego. Eu não tinha muita noção de decoração, mas o lugar tinha ficado bem aconchegante. A sala era também o quarto, o sofá cama atendia qualquer ocasião, a parte da cozinha só tinha um microondas e um frigobar além da pia, e a única parte isolada com paredes era o banheiro. Pelo menos era na cobertura e eu tinha uma escadinha que dava para o terraço. Ver as estrelas em noites de calor seria uma boa pedida. 

Me espreguicei vindo do banheiro, e peguei o controle. Ligando a tv, entrei em choque ao ver a notícia que anunciavam.

— Policial é suspeito de matar a esposa e filha de forma brutal. — sussurrei ao ver a foto de divulgada na tela da tv.

O que? Como? Pensei comigo. 
Aquilo era surreal demais para acreditar. A jornalista continuou a noticiar o caso, dizendo que ele havia sido encontrado desacordado ao lado dos corpos com uma faca na mão. A explicação, tinha tentado se matar. Aquilo não me entrava na cabeça. Ver as imagens dele sendo escoltado por policiais e pressionado por aglomerações de repórteres. Por quanto tempo eu tinha ficado offline arrumando meu loft? Peguei meu celular correndo e disquei o número de Beth, a única que era simpática comigo.

Alô. — disse ela.
— É verdade? — perguntei.
? — perguntou ela.
— Sim.
Deve estar vendo sobre o agente Bellorum.
— Sim. Beth o que houve? — me sentei no sofá mantendo meu olhar na televisão, colocando no mudo.
Não sabemos ao certo, só o que está sendo noticiado. — explicou ela — Tivemos que limpar os registros dele na agência e deixá-lo como um policial normal, assim será mais fácil ajudá-lo futuramente.
— Não me diga que acreditam que ele fez isso? — perguntei indignada — Beth, nós conhecemos ele.. Tá certo que eu detesto ele, mas é louco pela família, tivemos o prazer de conhecer a Mary por engano ano passado, não é… Isso não é real…

Eu não compreendia o que estava acontecendo. Mas sabia que não era verdade. 

Você está certa. — a voz de Beth tinha um tom ponderado — Ninguém acredita também e isso tem cheiro de vingança, pela morte de Jack, mesmo com a perícia não reconhecendo, dei uma olhada nos arquivos, os corpos tinham a assinatura sutil de Donnie.

Eu só não caí porque estava sentada já. Então isso é o que chamamos de olho por olho e dente por dente.

— O que faremos? — perguntei.
Nós não, você. — ela tossiu do outro lado.
— Eu?
Sim. Você é a única que pode entrar no sistema e determinar para que penitenciária vão mandar ele, pois é certo que ele não vai ser inocentado. — explicou ela — A forma como fizeram, foi impecável para a culpa cair em cima dele.

Nossa. Isso era o castigo que eu não desejava nem para o meu pior inimigo. Ter sua família assassinada e levar a culpa sendo inocente. 

— Ok. — assenti — Me mandem as coordenadas que eu sei o que fazer.

Entrar e sair de sistemas, mudar informações, falsificar assinaturas digitais, eram a minha especialidade. Esperei até que me enviassem as informações, mantendo a tv ligada para acompanhar as notícias em tempo real que davam. Casos como esse eram sempre manchetes nos jornais locais da cidade. No dia seguinte, Beth também enviou o endereço do cemitério e o horário do enterro. Fiquei na dúvida se iria ou não. Não era próxima e só tinha conversado com Mary uma única vez, quando a conheci. Talvez não seria prudente ir. 

— Ah… Que seja… — me levantei do sofá e troquei de roupa.

O corpo delas seriam liberados pela perícia pouco antes do final da tarde, e a pedido dos pais de Mary, ela e a filha, seriam enterradas rapidamente. O dia estava chuvoso para piorar e eu não tive coragem de me aproximar. Fiquei de longe observando tudo o que acontecia, de longe atrás de uma árvore que tinha perto. Para minha surpresa, apareceu escoltado por policiais. Choquei com a reação rápida da mãe de Mary que se aproximou dele em lágrimas e lhe deu um tapa, logo se jogando em cima dele para lhe bater mais. A senhora desesperada por ter perdido a filha, foi segurada por muitas pessoas. Notei que o pai de Mary estava sentado em uma cadeira passando mal. Se não tivesse chovendo e não tivesse todo encharcado, diria que seu rosto estava molhado pelas lágrimas.

Voltei para casa e comecei meu trabalho de transferência. 
Ele tinha sido designado para outro lugar bem distante, porém eu dei o meu jeito para que tudo ocorresse de acordo com o que Sanches queria. Olhei para a tela do computador por um tempo, me lembrando de todas as vezes que eu tinha brigado com ele, o que era quase sempre o dia todo. Ele continuaria sendo o agente metido e babaca para mim, mas era de cortar o coração o que lhe acontecia.

— Puff. — olhei para o meu gato — Deve ser triste perder a família assim. 

Meu gato veio devagar e roçou em minhas pernas, querendo carinho. O peguei no colo e me aproximei do sofá me sentando. Comecei a pensar em tudo o que tinha acontecido em minha semana em off pela mudança. Tudo isso tinha acontecido no momento em que a AI da agência estava fora. Estranho, que ninguém tinha me ligado avisando. Eu não deveria me preocupar com esses detalhes, mas eu sempre achava algumas coisas que envolviam a agência muito suspeitas.

Mais dias se passaram. 
Eu tinha pedido ao chefe para criar um home office no meu loft com todos os meus equipamentos, assim teria mais privacidade e já que Beth seria minha nova tutora na agência, podia ficar tranquila. As coisas seguiam calmas demais, até que outra notícia chocante tinha surgido. Um atentado ocorreu na penitenciária onde Bellorum se encontrava, e uma bomba explodiu em sua cela, matando ele e o outro preso. 

Uma notícia que congelou meu corpo e minha mente.

- x - 

No calendário marcava cinco meses trabalhando em casa. Fazendo meus próprios horários. Não tinha sido difícil me acostumar com aquilo. Até Puff gostava de ter a mamis o dia inteiro em casa lhe dando colo sempre que pedia. Deixei ele dormindo em sua caixa de sapatos favorita e peguei as chaves do loft, minha despensa estava vazia e precisava comprar mais ração para ele também. Meu filhote comia bem e eu também, o que me fazia pensar em mudar minha vida sedentária e praticar algum esporte. 

Fiz umas comprinhas básicas na mercearia que tinha perto, e voltei ao loft. Achei estranho uma das janelas estar aberta, logo a que dava para a escada de emergência. Eu não deixava a janela aberta à noite, principalmente quando saía de casa. Deixei o pacote no chão ao lado da porta e retirei do bolso meu discreto vidrinho de spray de pimenta. De repente, a luz caiu e tudo ficou escuro, me deixou meio amedrontada.
Ah não. Eu me lembrava de ter pagado a conta de energia.

— Quem está aí?! — perguntei de imediato, me lembrando dos filmes — Estou armada e não tenho medo.

Não era verdade nem um e nem outro, mas a melhor forma de intimidar o inimigo, é não demonstrar medo dele. 

— Você não sabe atirar, não tem uma arma e está com medo, vejo na sua voz. — disse a pessoa.

Reconheci a voz de imediato. Um pouco abafada e cansada mas era dele. O babaca agente modelo. Era surreal, ele tinha morrido. Será que comecei a ouvir vozes?

? — perguntei sentindo minha perna trêmula.
— Nerd abusada. — a voz saiu mais fraca ainda, ele tossiu. 
— Agente babaca, é você. — deu um passo para frente me afastando da porta — Onde está? Está escuro aqui. Tinha que ser ideia sua entrar assim na casa dos outros.
— Me ajuda, por favor. — senti uma movimentação partindo dele — Não sei o que houve comigo.
— Bem, vamos começar com o fato de você estar morto. — eu não queria curtir com a cara dele, mas foi mais forte que eu.
. — o tom mais forte saiu, parecia sério.
— Desculpa, foi mais forte. — comecei a mover minhas mãos enquanto dava passos pequenos para encontrá-lo — Me deixe te ajudar, como chegou aqui? Como sabia que estou aqui?
— Eu te segui até aqui… — ele tossiu novamente e ouvi seu corpo desabar no chão — Me ajuda…
. — eu tentei não me desesperar e acabei esbarrando nele, me agachei e toquei em seu braço — Cheguei, estou aqui. Vou tentar te ajudar.
— Continua lenta… — ele tentou rir, mas acabou tossindo de novo.  
— Olha aqui, é você que tá morrendo de novo. Olha como fala comigo, seu mal agradecido. Te jogo pela janela, assim você morre direito. — briguei o ajudando a se levantar e o guiando até o sofá — Vem, me deixe te ver, ver como está.
— Nem eu consigo me ver, como você poderia? — perguntou ele mantendo o tom sério.

Nesta hora imaginei que ele poderia ter perdido a visão na explosão. Ou algo do tipo.

— Eu te encontrei no escuro, vou te encontrar na luz também. — retruquei. 

se afastou de mim e abriu a cortina da janela deixando a luz do poste da rua entrar. Toda a sala ficou clara com seu gesto, tudo estava no lugar. Exceto por uma coisa, meu olhos não conseguiam vê-lo. Estática ou paralisada, não sabia ao certo minha reação, mas minha mente fundida estava.

?! — sussurrei com choque.
— Eu disse que você não conseguiria me ver. — reforçou ele com a voz baixa — Nerd abusada.

Logo senti o toque suave de sua mão no meu rosto. 
Aquilo era ainda mais surreal do que eu poderia imaginar.

— Me ajude, a me vingar de todos eles. — aquela era a primeira vez que ele me pediu algo — Por favor.

Seu tom desesperado fez meu corpo estremecer. Ele segurou em minha mão.
Invisível, ele estava totalmente invisível aos meus olhos, mas ainda assim eu conseguia sentir seu toque.

Well I've been waiting
Waiting here so long
But thinking nothing
Nothing could go wrong
But now I know
She has a built in ability
To take everything she sees.
- Invisible Touch / Genesis

Família: onde tudo começa. - by: Pâms.


FIM??!



Nota da autora:
Olha eu com mais uma fic... Não se desesperem que teremos a Parte II, e vamos sim ver essa vingança. Descobrir mais sobre o que rolou com o agente modelo Bellorum, para ter ficado invisível assim. E acompanhar mais desses conflitos entre ele e nossa Invisible Touch! Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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