Tudo Bem...
O dia estava bonito e o perfume das flores do campo invadiam toda a mansão. Após tomar o café da manhã em meu quarto, percebi que não podia mais viver o luto do meu falecido marido, precisava voltar a minha vida. Confesso que foram anos excelentes em que permaneci casada com Dominic, e nossa união foi uma via de mão dupla. Ele me proporcionou conforto e segurança que sempre procurei em um homem e eu pude lhe dar algo que ele sempre desejou, um filho.
E agora, toda a sua fortuna havia sido entregue em testamento para sua esposa e seu único herdeiro, no caso eu e meu filho, respectivamente. Claro que sua família havia odiado aquela notícia, pois nunca aceitaram nossa união totalmente legítima. Quando nos casamos, Dominic estava passando por alguns problemas na saúde, ao que fora se agravando com o tempo até que o perdemos. O que me alegra saber é que nos sete anos que estivemos em matrimônio, foram os anos mais felizes de sua vida e pode acompanhar a formação de carácter do nosso menino.
— Senhora Tenebrae. — disse a governanta, ao dar dois toques na porta do meu quarto.
— Sim?! — olhei para seu reflexo no espelho, eu estava diante do objeto avaliando minhas olheiras escondidas pela maquiagem.
— Um casal está na sala de estar, vieram visitá-la, a senhora deseja recebê-los? — perguntou ela.
— Disseram o nome? — indaguei.
Provavelmente algum casal proveniente dos muitos negócios que meu falecido tinha, vindo para prestar as devidas condolências. Respirei fundo ajeitando a roupa em meu corpo e me voltei para ela.
— Irei recebê-los sim, apenas peço para que mantenha o pequeno Nathaniel afastado, agora que está conseguindo lidar melhor com a perda do pai, não quero que presencie mais situações desnecessárias. — pedi a ela.
— Não se preocupe senhora, ficarei com ele até as visitas irem embora. — assegurou ela.
— Agradeço Judith. — me afastei do espelho e segui em direção a porta.
Caminhei com segurança pelo corredor dos quartos, lembrando-me vividamente os momentos felizes que tive com Dominic. Tomando mais coragem para receber minhas visitas, respirei fundo e comecei a descer os degraus da escada. Logo avistei um casal próximo a porta, acompanhados do mordomo Lee. A mulher com sua atenção voltada para um vaso de porcelana chinesa ao lado da janela e seu acompanhante de costas. A primeira vista, não reconheci nenhum dos dois. Entretanto, toda a minha segurança se estremeceu assim que o homem se virou para mim e seu olhar veio de encontro ao meu.
Não conseguia acreditar, mas era ele. O homem do qual eu havia abandonado para me casar com Dominic. O homem que detinha meus desejos mais secretos e ardentes: Baker.
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e era o que chamamos de casal perfeito. Amigos de infância que descobriram o amor intenso que sentiam um pelo outro. Quanto mais ambos conviviam juntos, mais o sentimento que tinham aumentava. E mesmo com todas as dificuldades que enfrentavam em suas família, morando no bairro mais carente de Chicago, ambos tinham em quem se apoiar.
— Logo faremos maioridade, o que faremos depois da formatura? — perguntou ela, pensativa em seu futuro.
— Eu não sei. — permaneceu com a cabeça no colo da garota, ambos sob a grama do campo da escola — Mas sei que quero ficar com você para sempre.
— Hum... — ela abriu um largo sorriso e o olhou com carinho — Eu te amo.
— Eu também te amo. — ele ergueu seu corpo e virando-se para ela, a beijou com doçura — Te amo dobrado.
— Preciso ir agora, , tenho que levar os remédios para minha mãe. — disse ela, se levantando da grama — Te vejo à noite?
— Sempre. — respondeu ele.
A vida não era mesmo fácil para ambos.
tinha muitas responsabilidades em suas costas. Com a mãe doente, o pai preso injustamente e uma irmãzinha de dez anos, sua função de irmã mais velha lhe exigia desdobrar seu dia para os estudos pela manhã e dois empregos de meio período. Um à tarde na mercearia do senhor Donson e outro à noite na lanchonete do velho Jack. E como conseguia manter as boas notas? Estudando em cada segundo de folga que encontrava.
Já , trabalhava na oficina de seu tio John. Também tinha compromissos de ajudar a mãe, deixada pelo marido há alguns anos, a criar seus quatro irmãos mais novos.
— Mãe, cheguei. — disse ela, ao entrar fechando a porta — Julie?! Onde está a mamãe?
— No quarto, ela ficou lá o dia todo. — respondeu sua irmã, mantendo o olhar na televisão.
— E porque a mocinha não foi para a escola hoje?
— Não tivemos aula, então achei que pudesse ficar vendo desenhos. — respondeu com um olhar inocente.
— Só mais dez minutos e então irá estudar a matéria de ontem. — ordenou ela, piscando de leve para a caçula.
adentrou mais a pequena casa onde viviam, até chegar no quarto da mãe. Seu coração se cortou ao ver a mulher prostrada na cama, olhando para a janela. A doença de sua mãe era mais psicológica do que física, entrara em depressão após o marido ser condenado a trinta anos de prisão por um crime que não cometeu. Agora vivia de remédios que ajudavam a encarar a realidade de sua família desestruturada.
— Trouxe seu remédio. — disse , ao se aproximar dela, retirando da mochila a caixa de comprimidos.
— Obrigada querida. — o olhar da mãe voltou para ela, dando um sorriso forçado no rosto.
Assim que lhe entregou o comprimido do dia e o copo com água, a garota se retirou do quarto da mãe e seguiu para seu quarto. Não levou nem cinco minutos para jogar o uniforme na mochila e sair de casa novamente em direção ao mercadinho. Mais um dia de trabalho em que precisava sobreviver para ajudar sua família a se manter.
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Meu coração acelerou um pouco. Tê-lo diante de mim era algo que nunca imaginei que aconteceria. Seu rosto sério, seu olhar enigmático, tinha mudado muito, mas sua essência intensa ainda estava ali. O que fez meu corpo arrepiar de leve. Contive meus sentimentos do passado que pareciam mais vivos que eu própria. E abri um sorriso singelo e disfarçado.
— Baker. — disse seu nome, demonstrando o reconhecer — Que surpresa vê-lo depois de tantos anos.
— Sim. — concordou ele, sorrindo de volta.
E que sorriso, do qual passei anos sentindo falta.
— Por uma louca coincidência nossas mães se encontraram no shopping e soube do seu marido, eu não imaginava que ainda estivesse casada, meus sentimentos. — comentou ele, como uma explicação de sua presença em minha casa — Sua mãe passou seu endereço, achei melhor lhe fazer uma visita pessoalmente ao invés de somente ligar.
Isso era uma loucura, depois de sete anos sem uma notícia dele o destino o coloca em minha frente novamente.
— Não tenho palavras para expressar, somente agradeço pela gentileza em ter vindo. — sorri de leve.
— Você tá mudada, deixou o cabelo crescer. — comentou ele, com um olhar impressionado.
— Sim, cresceu um pouco. — disse ao passar a mão no cabelo e jogá-lo pra cima para mostrar o volume — Ainda estou me habituando à mudança.
— Você sempre gostou de cabelo curto. — disse ele.
— Sim... — concordei, era intrigante ele se lembrar disso.
Tentei dizer mais algumas palavras, porém meu olhar se voltou na mulher ao seu lado.
— E quem é esta adorável pessoa? — perguntei a ele.
— Ah, deixe-me apresentá-las, esta é Freya, minha noiva. — disse ele, deixando o tom mais sério — Freya, esta é , a pessoa da qual te falei.
— É um prazer conhecer a melhor amiga de , ele me falou muito sobre você. — disse a mulher, abrindo um sorriso suave.
Amiga. Somente amiga. Não conseguia imaginar que havia me reduzido a somente sua amiga.
— O prazer é todo meu, infelizmente não posso dizer o mesmo já que eu e perdemos contato ao longo dos anos. — mantive o sorriso no rosto — Venham, vamos nos sentar para colocar a conversa em dia.
Disse a eles, indicando o caminho da sala de estar. Assim que entramos eu os conduzi até as poltronas onde sentaria. Em um movimento falso, acabei trombando de leve em , que me segurou pela cintura. Meu coração pulsou um pouco mais forte ao sentir seu toque novamente.
— Estou curiosa para saber como se conheceram. — comentei, me afastando dele e o deixando se sentar na poltrona.
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Mais uma vez o coração de se acelerava com os beijos intensos de . Estar em seus braços lhe dava mais energia e força para enfrentar as turbulências da vida. Ela se aninhou mais um pouco junto a ele e permaneceu olhando para o teto do quarto do rapaz. Suas escapadas para a casa dele no final do expediente da lanchonete do velho Jack, era uma forma de fugir da realidade. Ali era o mundo deles.
— Sobre o que o diretor queria falar com você? — perguntou ela.
, que sempre compartilhava tudo com ela, parecia mais reservado nas últimas semanas. O que atiçava a curiosidade e preocupação de .
— Sobre uma bolsa de estudos, parece que o representante de um time de faculdade me viu jogar na quadra da escola e... — contou ele, deixando a voz mais baixa — Não te contei, porque pretendo recusar.
— O que? — ela ergueu seu corpo e o olhou — Não pode, uma bolsa de estudo é seu passaporte pra sair dessa realidade caótica que vivemos.
— Uma bolsa de estudos não vai me ajudar com minha família e me afastaria de você. — ele tocou em seu rosto — Já tenho meus próprios planos para o futuro, e todos incluem você comigo.
— E ser escravo na oficina do seu tio é um deles?! — ela deixou seu olhar mais sério — Não acho que deve recusar.
— E você? — perguntou ele.
— E posso te esperar. — ela sorriu de forma meiga — Não quero que perca nenhuma oportunidade por minha causa.
— Não diga assim. — ele envolveu seus braços ao redor dela e a trouxe mais para perto — Eu sempre trocarei tudo por você.
se inclinou de leve, tocando seus lábios nos dela de forma suave. Ele sabia muito bem o que queria, um futuro ao lado da garota mais incrível do mundo. E naquela noite, nada poderia atrapalhar o desenrolar intenso do amor dos dois.
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— E no primeiro dia de estágio dele na empresa do meu pai, eu toda desastrada acabei derramando café na camisa dele. — contou Freya rindo da situação, como se revivesse a cena em sua mente — Depois disso, tentei ao máximo me aproximar dele para me desculpar, mas é um homem tão sério e reservado. Estou curiosa para saber como você se tornou amiga dele.
— É complexo explicar isso. — eu disse a ela, tentando não encarar , que estava sentado na poltrona de frente para mim — Nosso passado é bem... Quem sabe numa próxima visita.
— Ah. — ela voltou o olhar para ele, que continuava a me encarar — Que pena.
A percebi disfarçar o ciúmes e voltar a me olhar.
— Mas poderia nos contar como conheceu seu falecido marido? — perguntou ela, como se desejasse tocar em alguma ferida.
— Bem... — seria delicado tocar nesse assunto também, mas não tinha como escapar.
O olhar de para mim, tentando ler minha mente, estava começando a me constranger.
— Eu conheci Dominic no tempo em que trabalhava em uma lanchonete à noite. — comecei a contar a ela — Foi uma noite chuvosa, que ele tinha sofrido um acidente e eu estava saindo do trabalho, o socorri e o levei para o hospital, ele ficou grato por tê-lo ajudado e ficamos próximos.
— Que interessante. — Freya passeou com o olhar pela decoração da sala, até focar em um porta-retratos — E foram se apaixonando aos poucos ou foi imediato?
Eu dei um sorriso sem graça, ao olhar instantaneamente para . Com um pulsar mais forte dentro de mim ao encarar toda aquela intensidade em minha direção. Respirei fundo, e voltei minha atenção para o mordomo Lee que se aproximava com uma bandeja de chá que eu havia ordenado servir aos convidados.
— Digamos que... Primeiro veio a amizade e com ela o respeito, então todo o resto apareceu. — respondi a ela de forma subjetiva.
O amor que eu tinha por Dominic era de amigo, cumplicidade e lealdade. Não se comparava ao que ainda sentia por , jamais chegaria a este nível. Meu amigo de infância sempre seria o único em meu coração. O que doía ainda mais tê-lo ali em minha frente, mostrando estar em um relacionamento feliz e estável. Mostrando que assim como eu, sua vida também havia seguido em frente.
— É tão bonita a forma em que você se refere ao seu falecido marido, consigo ver o quanto gostava dele. — Freya mantinha o olhar atento a mim — Gostaria de dizer o mesmo, porém, no nosso caso eu quem tive que insistir e conquistar esse coração duro ao meu lado. Mas no final, tudo deu certo e tenho um anel em meu dedo.
— Oh, surpreendente, posso vê-lo de perto? — pedi a ela, me fazendo de interessada.
— Claro. — Freya se levantou da poltrona que sentara ao lado de e se aproximou de mim, sentando no sofá ao meu lado, esticando a mão com o anel de noivado.
— É bonito, não é comum um anel de noivado de esmeralda e cristais. — elogiei, lembrando-me do dia em que me deu o anel de sua mãe — Mas considerando que verde sempre foi sua cor favorita.
— Verdade, mas não é tão bonito quanto o seu. — disse ela, ao pegar em minha mão e ver meu anel de diamante, o último presente de casamento que Dominic me dera, antes da doença o levar.
Não me contive em olhar para ele, que até o momento, se mantinha em silêncio. E a intensidade que emanava de sua parte continuava a mesma, um olhar de raiva e desejo para mim.
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— Me diga logo o que você quer me dar. — disse agoniada por ter que passar tanto tempo de olhos fechados.
— Deixe de ser apressada. — retirou uma correntinha do bolso e colocou no pescoço da garota — Agora pode abrir.
já havia sentido algo gelado encostar em seu pescoço, assim que abriu os olhos, passou a mão no objeto e abaixando o olhar, percebeu que havia um anel na correntinha.
— O que é isso? — perguntou ela, olhando o objeto.
— É da minha mãe, foi da minha avó, e agora é seu. — disse ele, com segurança mantendo um olhar carinhoso para ela — Aceita se casar comigo?
— ... — ela se viu sem reação por aquele pedido — Nossa formatura é daqui uma semana, não pode me pedir em casamento antes de nos formarmos.
Ambos riram de leve
— Quero me ligar a você de todas as formas possíveis. — ele segurou em sua mão e sorriu — Eu te amo.
— Eu também te amo. — sussurrou ela.
Desta vez, ergueu seu corpo e iniciou o beijo de forma doce e suave. Por dentro a garota sentia seu coração acelerar ainda mais com o toque suave de suas mãos em seu corpo. Desejava sempre estar nos braços do homem que lhe estremecia internamente.
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— Mamãe! — a voz de Nate soou pela sala.
Em instantes meu pequeno garotinho passou pela poltrona dos convidados chegando até mim. O que me fez ficar surpresa em vê-lo ali. No impulso da empolgação, ele pulou em meu colo e me deu um beijo no rosto.
— Meu pequeno. — sorri para ele ainda estática internamente e voltando o olhar para a porta, vi Judith se aproximar.
— Perdoe-me senhora Tenebrae, mas esse mocinho é muito astuto e fugiu de mim. — explicou ela.
— Imaginei. — eu voltei meu olhar para meu filho — E você? Deves obedecer a senhorita Judith.
— Eu queria ver quem eram as visitas. — explicou ele, arrancando risadas de todos.
— E as visitas estão curiosas para saber quem é você. — finalmente se pronunciou, seu olhar demonstrou bastante interesse.
— Eu sou o filho da minha mãe. — Nate ainda em meu colo, se voltou para ele de forma sorridente.
Logo percebi que os olhos de fitaram na correntinha com um anel no pescoço do meu filho. O mesmo que ele me dera em nosso passado conturbado. Isso fez um frio passar por minha espinha.
— Que correntinha bonita. — comentou Freya, inocente em suas palavras — Quem lhe deu?
— É da mamãe, foi meu pai quem deu a ela. — respondeu Nate.
Aquilo era o que mais temia. O olhar de se voltou para mim, confuso e pensativo, como se vasculhasse alguma coisa nas lembranças de nosso passado.
— Poderia me mostrar onde fica o banheiro? — perguntou ao se levantar da poltrona.
— Claro. — me levantei também — Judith, poderia ficar com Nathaniel e não deixá-lo encher nossa visita de perguntas?
— Claro senhora Tenebrae. — ela sorriu ao se aproximar de mim e se sentar ao lado de Nate no sofá.
Eu dei o primeiro passo para conduzir até o lavabo de visitas.
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— Não entendo porque você é tão cabeça dura. — disse revoltada por insistir em recusar a oferta da bolsa de estudos — Além dos estudos eles vão bancar todos os seus gastos e da sua família.
— Mas você não está incluída, eu não vou sem você. — disse ele, firme em sua decisão.
Ele voltou-se para a rua, olhando os carros que passavam. Ambos estavam tendo uma pequena discussão no terraço da oficina de seu tio. mais uma vez se via inconformada pela teimosia dele. Ela queria o melhor para e sabia que ao seu lado o futuro de ambos continuaria sendo a miserável realidade em que viviam desde crianças.
— , você não vê que essa é a melhor forma de ter um futuro melhor, eu sei me cuidar. — retrucou ela.
— Já conversamos sobre isso . — ele bufou um pouco e se virou de costas para ela.
Estava com raiva, pois sabia que a cada dia ambos estavam brigando mais e sentia um pouco mais distante dele. Ele não queria acreditar que o amor de ambos estava esfriando, mas sabia que a forma estranha em que ela vinha agindo começara no dia em que ela ajudou um homem após sair da lanchonete.
Estava uma forte chuva naquele dia e por causa de um cliente de última hora, havia ficado mais tempo na oficina. Quando finalmente chegara na lanchonete para pegar sua namorada, recebeu a notícia que ela tinha ido para o hospital por socorrer um homem desconhecido. Isso foi o início para as brigas recorrentes sobre o futuro e a insistência de que ele aceitasse a bolsa de estudos. Para ele, ela achava normal ambos se afastarem, o que lhe causava tristeza e incerteza. Será que a garota ainda o amava?
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— Aqui, fique à vontade. — disse a ele, ao abrir a porta do lavabo para ela.
Assim que eu dei um passo para voltar à sala, segurou em meu braço, me fazendo parar.
— Diga a verdade. — ele manteve o tom baixo, parecia controlar todos os seus sentimentos internos — Ele é meu, não é?!
— Nathaniel acabou de perder o pai, por favor, não me pergunte isso. — eu o olhei temerosa, como se pedisse clemência — Não quero mentir para você.
Aquela resposta parecia ser tudo que desejava ouvir. Era a minha maneira de confirmar algo que não podia admitir.
— Porque foi embora? Porque se casou com ele? Pelo dinheiro? — indagou ele — Achou mesmo que eu não poderia lhe dar um futuro, nem ao nosso...
Ele se calou frustrado pela situação.
— É mais do que imagina, o dinheiro de Dominic foi uma consequência... — comecei a me explicar.
— Consequência, , você me deixou. — ele me interrompeu controlando a voz, percebi seus punhos fecharem — Depois de uma noite de amor, jurando que seu coração sempre seria meu, você me deixou apenas com um bilhete dizendo que se casaria com outro... Você e sua família sumiram por sete anos e ainda diz que não é por dinheiro?
— Falou a pessoa que está se casando com a filha do chefe. — retruquei, deixando transbordar toda a minha amargura pelo noivado dele.
— Saiba que no momento em que comecei meu relacionamento com Freya, pedi demissão da empresa do pai dela. — retrucou ele com aspereza — Estou com ela, não pelo que ela tem, mas pelo que ela é.
— E o que ela é para você?! — indaguei.
— A mulher que um dia achei que você fosse. — sussurrou ele.
Ele soltou meu braço e ficamos nos olhando por alguns segundos, dentro de mim, o desejo de lhe beijar era mais do que abrasador. Uma vontade significativa que começou a me consumir desde o momento em que meus olhos encontraram os dele, após descer as escadas. Mas precisava me controlar, ele tinha uma noiva que não tinha nenhuma culpa por nosso passado mal resolvido.
Assim que retornei à sala, pedi a Judith que levasse Nathaniel para a cozinha e lhe desse algo para comer. Me sentei novamente no sofá e sorri para Freya, começamos a conversar sobre assuntos aleatórios. A primeira impressão? Ela é uma mulher bonita, inteligente e aparentemente muito paciente. Seus comentários sobre como conquistou a atenção de me deixou com certo desconforto, principalmente quando revelou que pretendia lhe dar filhos em breve após a troca de alianças.
— Querido. — Freya voltou seu olhar para que retornava à sala — Estava contando a sua miga sobre nossos planos de ter filhos após o casamento.
— leva jeito com criança, tenho certeza que será um bom pai. — comentei, disfarçando minha ponta de amargura.
Ele apenas deu um sorriso de canto e se sentou na poltrona.
— Vamos ao chá, antes que esfrie. — eu os servi como uma boa anfitriã e logo peguei minha xícara.
também pegou a dele e os mesmos movimentos sincronizados em levá-la à boca foram feitos por nós dois. Os olhares discretos um para o outros, em um gole rápido. Naquele momento, apenas senti como se meus lábios encostassem nos dele, causando arrepios pelo meu corpo. Tentei disfarçar desviando o olhar para a porta que dava para o jardim lateral, meu coração acelerado e sentindo-me atordoada pelo momento.
— Gostaria de ver meu novo jardim de inverno? — perguntei a eles, me forçando a ficar animada — Fui eu mesmo quem projetou.
— Você é paisagista?! — perguntou Freya.
— sempre gostou de flores. — comentou , ao deixar a xícara em cima da mesa de centro.
— Bem, as pessoas acham que sou apenas uma dona de casa que se casou com um homem de negócios, mas me especializei com alguns cursos da área, possuo uma floricultura no centro de Chicago. — contei a ela, mantendo o olhar nele.
Não queria que tivesse um mau pensamento sobre mim.
Deixá-lo foi a decisão mais difícil que fiz em toda a minha vida.
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— O que está me pedindo é uma loucura Dominic. — já estava assustada pela rápida aproximação do homem em sua vida.
Já se contava três meses que ela o havia socorrido de um acidente próximo a lanchonete em que trabalhava. Por ter sido a primeira a chegar próximo e ter ligado para a emergência, se colocou como acompanhante até que o homem desconhecido acordasse no hospital. A sorte da garota foi saber que ele tinha plano de saúde e que ela não teria que pagar sua internação. Mas foi o início de uma inesperada amizade entre eles.
Dominic passou a frequentar a lanchonete do velho John, indo todas as noites. A cada atendimento, um assunto aleatório até que ele descobriu a existência de . preferiu manter aquela amizade em oculto do namorado, por achá-lo ciumento demais. Ela havia visto que Dominic possuía a solidão como companheira e precisava de uma amiga. E essa amizade poderia ser a solução que precisava para mudar sua vida.
Em um dia triste e de desespero interno, acabou desabafando com Dominic sobre a situação do pai na prisão. Sobre as dificuldades em manter a casa apenas com os dois empregos de meio período e também sobre e sua insistência em abrir mão de um futuro promissor por causa dela. A jovem não queria se sentir um fardo na vida do namorado, menos ainda agora que recebera uma notícia chocante.
— Posso lhe garantir que é a única pessoa em quem confio atualmente. — o olhar de Dominic suavizou um pouco, então ele reclinou na cadeira da lanchonete — Você precisa de algo que eu tenho sobrando e eu preciso de alguém em quem confiar ao meu lado, preciso de você.
— Eu sei que pode pagar o melhor advogado para tirar meu pai da prisão, mas... — admitiu ela.
— Mais do que isso, posso proporcionar uma realidade melhor a você e sua família, posso dar a vocês mais do que sonharam em ter. — continuou ele, sua oferta.
— É uma loucura Dominic, eu tenho um namorado e amo ele. — disse ela, com o coração apertado.
— Não pedindo para me amar, só estou pedindo para se casar comigo e me dar a chance de ter uma amiga legal e maravilhosa ao meu lado nos últimos anos da minha vida. — continuou ele.
— Do que está falando? Como assim, últimos? — ela se mostrou confusa por suas palavras.
— Estou doente , felizmente descobri no início, mas ainda há uma possibilidade de não conseguir viver por muito tempo. — Dominic começou a explicar sua situação — Quero ter a oportunidade de ter uma família, mesmo que não me ame, sua amizade é o bastante para mim, case comigo e ajudarei sua família, farei o que for preciso para que seu pai seja livre.
— Eu... Não imaginava que estivesse tão mal de saúde a este ponto. — confessou ela.
— Tenho um tumor cerebral. — disse ele com mais clareza — Não é somente por meu desejo em ter uma família, mas , eu já lhe contei sobre minha família e que meu acidente foi planejado por um deles.
— Sim, você me contou. — assentiu ela.
— Meu pai já faleceu, não tenho sentimentos por minha madrasta, ela também me detesta, meus tios e primos só desejam ter meu dinheiro, não tenho nenhum herdeiro e não quero que esses abutres fiquem com minha fortuna. — confessou ele, suas preocupações.
— E está planejando dar a uma estranha? — indagou ela.
— Confio minha vida a essa estranha. — ele pegou em sua mão, mantendo o olhar esperançoso para ela — Mais uma vez eu te peço, , por favor, case comigo?!
— Dominic, eu não... Eu estou grávida, do , não posso fazer isso com vocês dois. — disse ela, deixando cair algumas lágrimas no canto de seu olho.
— Não me importo com isso, eu cuido de vocês, me deixe dar ao seu filho, o conforto e a segurança que você e seu namorado não podem dar a ele. — insistiu Dominic.
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— Estou curiosa agora para ver seu jardim. — disse Freya ao se levantar — O que acha, querido?!
— Acho que podemos fazer isso antes de ir. — se levantou da poltrona.
De imediato, notei que Freya segurou em sua mão, entrelaçando seus dedos. Engoli seco e mantive o sorriso forçado no rosto, estendendo a mão para eles, para que me seguissem. Saímos pela porta da lateral e descemos a pequena escadaria para o jardim de inverno.
No fundo, senti um certo orgulho ao mostrar a eles meu trabalho, afinal, aquele jardim representava meu portfólio profissional e todas as minhas habilidades como paisagista.
E assim como o olhar impressionado de Freya estava no canteiro de camélias, o olhar intenso de estavam fixos em mim.
Eu não estava arrependida pela escolha que fiz no passado. Jurei a Dominic que guardaria nosso segredo e faria um bom uso de seu patrimônio após sua partida.
Entretanto, a única promessa que não sabia se cumpriria, era de ser feliz com a pessoa que eu mais amava...
Afinal, a pessoa que representava isso, era o homem que me olhava com fúria e desejo ao mesmo tempo.
Costumávamos pensar que era impossível
Agora você me chama pelo meu novo sobrenome
Memórias parecem ter sido há muito tempo atrás
O tempo sempre mata a dor.
- Cool / Gwen Stefani
“Escolhas: A vida é feita de escolhas. Quando você dá um passo à frente, inevitavelmente alguma coisa fica para trás.” - by: Pâms
FIM...
E lá vou eu com mais uma fic, agora uma mistura de romance e drama com um pedido de continuação esse final. Espero que tenham gostado.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
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